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Teoria Geral do Estado

João Alberto Padoveze

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“Pois o homem, relativamente
falando, é o mais corrompido
e doentio de todos os
animais, o mais
perigosamente desviado de
seus instintos – apesar disso
tudo, com certeza, continua a
ser o mais interessante!”
(Nietsche) 1

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Índice

1) Introdução

1.1) Definições de Estado

2) A sociedade

2.1) A família
2.2) O clã
2.3) As tribos

2.3.1) Tribos de âmbito local


2.3.2) Tribos de âmbito regional ou mundial
2.3.3) Por quê tribos?

2.4) A cidade
2.5) Massa e identidade

3) O nascimento do Estado

3.1) Teorias da evolução natural


3.2) Teorias contratualistas
3.3) Teorias do uso da força
3.4) Teoria constitucionalista
3.5) Teoria histórica
3.6) Teoria dos três elementos
3.7) Teoria das causas econômicas ou
patrimoniais
3.8) Análise das teorias de formação do Estado
3.9) Modos de nascimento do Estado

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3.9.1) Originário
3.9.2) Secundário
3.9.3) Derivado

3.10) A nação
3.11) A cidade-estado
3.12) O reino
3.13) O império
3.14) A república

4) Estados idealizados

4.1) Anarquia, de Bakunin


4.2) A República, de Platão
4.3) A Utopia, de Thomas More
4.4) Projeto Venus, Movimento Zeitgeist
4.5) A cidade do sol, de Tommazo Campanella
4.6) Oceana, de James Harrington
4.7) Daqui a cem anos, de Edward Bellamy
4.8) Walden II, de B.F.Skinner
4.9) As viagens de Gulliver, de Jonathan Swift
4.10) A Cidade de Deus, de Santo Agostinho
4.11) Análise de alguns pontos das sociedades
idealizadas
4.12) Distopias

5) Componentes do Estado

5.1) Povo

5.1.1) População

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5.2) Território

5.2.1) Componentes do território


5.2.2) Espaço geográfico
5.2.3) Espaço virtual
5.2.4) Espaço econômico
5.2.5) A mutabilidade do território

5.3) Governo

5.3.1) Formas ou regimes de governo

5.3.1.1) República
5.3.1.2) Monarquia
5.3.1.3) Diferenças entre república e
monarquia

5.3.2) Sistemas de governo

5.3.2.1) Parlamentarismo
5.3.2.2) Presidencialismo
5.3.2.3) Constitucionalismo
5.3.2.4) Absolutismo
5.3.2.5) Anarquismo

5.4) Complexidade

5.4.1) Instituições

5.5) Soberania

5.5.1) Definições

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5.5.2) Titularidade do direito da soberania
5.5.3) Soberania e Estado
5.5.4) Soberania e sua composição
5.5.5) Soberania e sua manutenção
5.4.6) A soberania como um direito do
Estado
5.5.7) Soberania e os tratados
internacionais
5.5.8) Soberania e as empresas mundiais
5.5.9) Soberania, Moral, Ética e Estado
5.5.10) Soberania e poderes paralelos
5.5.11) Soberania e tecnologia
5.5.12) Soberania e saúde
5.5.13) Soberania e espaço
5.5.14) Soberania e informática
5.5.15) Soberania e nacionalismo
5.5.16) Soberania e cultura
5.5.17) Soberania e os blocos econômicos
5.5.18) A nova soberania

6) A educação e o Estado Democrático de Direito

6.1) Educação e seus conceitos


6.2) Educação e sua história no Brasil
6.3) A co-responsabilidade do Estado e da família
6.4) Educação e política
6.5) Educação informal
6.6) Educação e a criança
6.7) A educação e as velhas gerações
6.8) A educação e os educandos
6.9) A educação como fonte de soberania

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7) Poder

7.1) As forças do Estado sobre o indivíduo


7.2) Teoria da separação dos poderes
7.3) Poder executivo
7.4) Poder legislativo
7.5) Poder judiciário
7.6) Sistema de freios e contrapesos
7.7) Poder social sobre o Estado

8) Divisões do Estado

8.1) Por território


8.2) Por tipo de poder
8.3) Por área de interesse

9) A tirania

9.1) Introdução
9.2) Conceito
9.3) Absolutismo clássico
9.4) Fascismo
9.5) Nazismo
9.6) Teocracia
9.7) Stalinismo
9.8) Maoísmo
9.9) Castrismo
9.10) Varguismo
9.11) Repúblicas de bananas
9.12) Tecnocracia

10) A democracia

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10.1) Introdução
10.2) Conceito
10.3) História da democracia
10.4) Fundamentos da democracia
10.5) Tipos de democracia
10.6) A conquista do voto no Brasil
10.7) A regra da maioria
10.8) Tipos de voto
10.9) Qualidade do voto

11) Constituição

11.1) O Estado e a constituição


11.2) Tipos de constituição
11.3) Requisitos mínimos para uma constituição

12) O Estado como pessoa jurídica

13) Finalidade e funções do Estado

13.1) Finalidade do Estado

13.1.1) Teoria organicista


13.1.2) Teoria mecanicista
13.1.3) Teoria dos fins particulares
objetivos
13.1.4) Teoria dos fins subjetivos
13.1.5) Teoria dos fins limitados

13.2) Funções do Estado


13.2.1) Governo

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13.2.2) Controle
13.2.3) Regulamentação
13.2.4) Auto-regulamentação
13.2.5) Manutenção da soberania
13.2.6) Único bem não disponível ao
Estado

14) Objetivos da República Federal do Brasil

14.1) Construir uma sociedade livre, justa e


solidaria
14.2) Garantir o desenvolvimento nacional
14.3) Erradicar a pobreza e a marginalização e
reduzir as desigualdades sociais e regionais
14.4) Promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, cor, sexo, idade e
quaisquer outras formas de discriminação

15) Estado democrático de direito

15.1) Responsabilidade do representante


15.2) Responsabilidade do representado
15.3) Nível de gerenciamento do Estado

16) Fundamentos do Estado Democrático de Direito


brasileiro

16.1) Características do povo brasileiro


16.2) Cidadania
16.3) Dignidade da pessoa humana
16.4) Valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa

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16.5) Pluralismo político

17) Etapas da destruição do Estado Democrático de


Direito

18) Como manter o Estado Democrático de Direito

18.1) Corrupção
18.2) Nepotismo
18.3) Paternalismo
18.3) Pequenos crimes
18.4) Laicismo
18.5) Neutralidade
18.6) O conforto obtido em detrimento da vontade
de evoluir
18.7) Consciência política
18.8) A tecnologia e a possibilidade de
participação
18.9) O Estado internacionalizado

19) Bibliografia

20) Notas

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Introdução
“Quem me recusa a proteção
da lei empurra-me para os
ermos em que habitam os
selvagens, coloca nas minhas
mãos a arma que irá me
proteger.” (Heinrich Von
Kleist, no seu livro Michael
Koolhaas)

O Estado parece-nos algo tão natural que quase


não prestamos atenção a ele. Parece-nos até insípido o
seu estudo, pois nossas relações de direitos e deveres
para com ele são ensinadas ou são absorvidas desde
nosso nascimento e por isso acreditamos que se trata
de algo ligado a nós de forma congênita.

Este pensamento logo se desfaz quando


percebemos que estaremos a vida inteira sob suas
condições. Grande parte do que somos deriva de seus
ditames e regras. Nosso comportamento, parte de
nossos sentimentos e crenças e até nossa consciência
estão intimamente ligados aos seus preceitos e normas.

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A entidade Estado é perene. Sempre existiu e,
provavelmente, sempre existirá. O ser humano, como
animal social, tem necessidade de uma escala
hierárquica que consiga estabelecer padrões de
convivência comuns a todos. Estado e sociedade estão
intimamente ligados. Provavelmente, jamais teríamos
evoluído até nossa presente forma se não existisse uma
organização que amalgamasse seres com pensamentos
tão distintos.

As formas de que se revestem os Estados, estas


sim, são transitórias e mudam ao longo da história. A
abrangência do Estado também não é eterna, visto que,
como qualquer criatura, tem um ciclo de nascimento,
vida e morte. Impérios, reinados e países se dissiparam
no tempo e outros tomaram seus lugares. Junto com
eles desapareceram seus povos e suas identidades.

Este ciclo, por si só, já confere a necessidade de


seu estudo. Para mantê-lo e aprimorá-lo tem que se
conhecer sua estrutura e sua adequação à sociedade
que ele serve ou que deveria servir.

Muitos pensadores se dedicaram ao estudo desta


entidade buscando soluções para os problemas que
permearam sua época. Alguns se preocuparam apenas
com o Estado em si e sua governabilidade; outros foram
mais além, buscando uma forma idealizada para a
relação Estado-cidadão, entendendo que esta entidade
deveria ter um fim maior, ou seja, a busca de um bem
comum.

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Uma das grandes preocupações de NIETSCHE
foi com a inexistência de um governo central que desse
uma identidade ao povo alemão, o qual, na sua época,
estava dividido em cidades-estados. Se considerarmos
que a Alemanha foi unificada entre 1862 e 1890 por Otto
Von Bismarck, podemos entender que o atual
significado da palavra Estado é bastante recente ou,
pelo menos, sua realização como tal.

NICOLÓ MACHIAVELLI, assim como Nietsche,


deteve as mesmas preocupações em reunir cidades-
estados dominadas por príncipes ou oligarquias sob um
poder central. É a idéia de país baseada em
territorialidade, povo e governo central, ou seja, os
princípios básicos do Estado. Em sua exortação para
procurar tomar a Itália e libertá-la das mãos dos
bárbaros, ele acreditava que Lorenzo de Médici seria a
pessoa ideal para isso – “Não se deve, pois, deixar
passar esta ocasião, a fim de que a Itália conheça,
depois de tanto tempo, um seu redentor. Nem posso
exprimir com que amor ele seria recebido em todas
aquelas províncias que têm sofrido por essas invasões
estrangeiras, com que sede de vingança, com que
obstinada fé, com que piedade, com que lágrimas.
Quais portas se lhe fechariam? Quais povos lhe
negariam obediência? Qual inveja se lhe oporia? Qual
italiano lhe negaria o seu favor? A todos repugna este
bárbaro domínio. Tome, portanto, a vossa ilustre casa
esta incumbência com aquele ânimo e com aquela
esperança com que se abraçam as causas justas, a fim
de que, sob sua insígnia, esta pátria seja nobilitada.”2

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Machiavelli não conseguiu ver a realização de
seu sonho pois morreu em 1527 e a unificação da Itália
ocorreu somente entre 1815 e 1870, no chamado
Risorgimento.

Outros, como Rosseau e Montesquieu, buscaram


expor formas nas quais o Estado deveria se estabelecer,
objetivando diminuir seu poder frente ao indivíduo e dar-
lhe proteção. A busca por este equilíbrio se faz até hoje.

Definições de Estado

Para os gregos, o termo civitas ou polis


equivaliam a Estado, igual a res publica dos romanos.
No Império romano, no auge de sua expansão, os
vocábulos Imperium e Regnum passaram a exprimir a
idéia de Estado. Na Idade Média, o termo Laender
traduz a idéia de país e território.3 Os povos germânicos
adotaram o termo reich e staat.

O fim da Idade Média marcou o início do conceito


de país e, por conseqüência, do próprio Estado. A
reunião de feudos sob um governo central determinou o
surgimento de uma mentalidade diferente, que fez com
que o cidadão passasse a ter novos sentimentos em
relação à sua situação geográfica. O sentimento de
pertencer a uma cidade ou a um determinado local foi
sendo suplantado por um mais abrangente que envolvia
o país. Dessa nova disposição surgiu o conceito atual de
Estado.

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Estado é uma palavra polissêmica e seu
significado atual surgiu por volta do século XVI.
Podemos transpor o significado usual de estado, que
significa “situação” para o próprio conceito de Estado,
visto que deriva de status reipublicae, que era usado
para designar a ordem permanente da coisa pública e
dos negócios de Estado na Roma antiga. O desuso do
segundo termo fez com que os escritores da Idade
Média empregassem apenas o termo Status, que
permanece até hoje.4 Explicação possível para o desuso
da segunda palavra é que a forma republicana de
governo praticamente inexistiu durante o período
medieval. 5 A palavra tornou-se de uso corrente através
dos escritos de Maquiavel.

DE CICCO e GONZAGA ensinam que a palavra


Estado vem do verbo stare, que significa “estar firme”.
Para eles, está relacionado etimologicamente com a
palavra “estabilidade”. Definem Estado com uma
instituição organizada política, social e juridicamente,
ocupa um território definido e, na maioria das vezes, sua
lei maior é uma Constituição escrita. É dirigido por um
governo soberano reconhecido interna e externamente,
sendo responsável pela organização e controle social,
pois detém o monopólio legítimo do uso da força e da
coerção. 67

ARISTÓTELES diz que o Estado é uma


associação de homens com capacidade para suprir sua
existência.8

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MARX afirma que o Estado é o produto e a
manifestação do antagonismo inconciliável das classes.
9

OPPENHEIMER define o Estado como uma


instituição social, que um grupo vitorioso impôs a um
grupo vencido, com o único fim de organizar o domínio
do primeiro sobre o segundo e resguardar-se contra
rebeliões internas e agressões externas. 10

DALLARI conceitua Estado como a ordem jurídica


soberana que tem por fim o bem comum de um povo
situado em determinado território.11

GEORGES SCELLE ensina que o Estado é uma


ordem jurídica imediatamente subordinada à ordem
jurídica internacional, dotada das atribuições de
regulamentar a quase-totalidade dos interesses gerais
de uma coletividade política institucionalmente
organizada e fixada sobre um território determinado, e
cujos governantes dispõem da competência maior, tal
como o direito internacional estabelece. 12

Para DARCY AZAMBUJA, o Estado é uma


sociedade, pois se constitui essencialmente de um
grupo de indivíduos unidos e organizados
permanentemente para realizar um objetivo comum. E
se denomina sociedade política, porque, tendo sua
organização determinada por normas do Direito Positivo,
é hierarquizada na forma de governantes e governados
e tem uma finalidade própria: o bem público. 13

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QUINTÃO SOARES diz que o Estado apresenta-
se com forma histórica de organização jurídica de poder,
na sua manifesta qualidade do poder soberano, peculiar
às sociedades civilizadas, que sucede a outras formas
de organização política.14

HEGEL define o Estado como totalidade ética: a


realidade da idéia ética, o espírito ético enquanto
vontade patente, evidente por si mesma, substancial,
que pensa e conhece a si mesma, que cumpre o que
sabe e como sabe. 15

KANT define o Estado apenas pelo seu ângulo


jurídico ao concebê-lo como a reunião de uma multidão
de homens vivendo sob as leis do Direito. 16

JELLINEK apresenta o Estado, juridicamente,


como a corporação de um povo, assente em um
determinado território e dotada de um poder originário
de mando. 17

KELSEN sintetiza o conceito de Estado como


norma coativa normativa da conduta humana.18

CARRÉ DE MALBERG diz que o Estado é uma


comunidade de homens fixada sobre um território
próprio e dotada de uma organização que emana para
certo grupo estabelecido na relação com os seus
membros um poder superior de mando, ação e
coerção.19

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DUGUIT conceitua o Estado como uma força
material irresistível, limitada apenas pelo direito. 20 Ele
considera o Estado como uma coletividade que se
caracteriza apenas por assinalada e duradoura
diferenciação entre os fortes e fracos, onde os fortes
monopolizam a força, de um modo concentrado e
organizado. 21

HELLER explica que o Estado é uma unidade de


dominação, independente no interior e no exterior, que
atua de modo contínuo com meios de poder próprio,
sendo delimitado no pessoal e territorial.22

Para BURDEAU, o Estado é uma


institucionalização do poder e GURVITCH afirma que é
o monopólio do poder.23

Segundo RANELLETTI, o Estado é um povo


fixado num território e organizado sob um poder
supremo originário de império, para atua com ação
unitária os seus próprios fins coletivos.24

PEDRO SALVETTI NETO afirma que o Estado é


a sociedade necessária em que se observa o exercício
de um governo dotado de soberania a exercer seu poder
sobre uma população, num determinado território, onde
cria, executa e aplica seu ordenamento jurídico, visando
o bem comum. 25

Estado é uma instituição organizada política,


social e juridicamente, ocupando um território definido,
dirigida por um governo que possui soberania

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reconhecida interna e externamente. Um Estado
soberano é aquele que tem um governo, um povo e um
território. Essa é a mais difundida concepção de Estado.

O Estado é a expressão máxima do desejo


natural do homem de viver em uma sociedade
organizada. O Estado é a organização dos padrões de
liderança e comportamento dentro de determinado
território. Em princípio, não é necessário que exista a
busca de um bem comum. Sua existência pode estar
atrelada a interesses pessoais ou oligárquicos.

O que define um Estado? Em primeiro plano,


pode se dizer que sua mais forte característica é o
domínio que tem sobre si mesmo. É o controle dos seus
próprios elementos que o define.

Pode parecer uma forte assertiva visto que o


fenômeno conhecido como globalização tende a
aproximar os povos em torno de parâmetros comuns
que nem sempre são condizentes com sua vontade, ou
seja, dá-se a impressão de que o Estado tem menos
domínio sobre seu território e sua população, quando
não de si próprio.

Embora estes efeitos inter-países sejam mais


presentes atualmente, podemos dizer que sempre
existiram em maior ou menor grau em todos os pontos
da História. Ela está pontuada de povos dominadores e
dominados, dando-se a impressão de que o objetivo de
cada Estado se resume apenas em conseguir a
supremacia sobre os demais.

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Chegamos em um estágio de interação tão
grande que qualquer isolamento se torna praticamente
impossível. A rapidez das comunicações faz com que os
efeitos das atividades humanas sejam sentidos por
todos de forma mais rápida e abrupta. Uma crise
econômica em algum país gera reflexos rápidos sobre
outros, quase instantâneos. Guerras, mesmo em locais
remotos, produzem conseqüências que podem
tornarem-se catastróficas para todos. A poluição gerada
por um país torna-se global e afeta todos. O “efeito
borboleta” está cada vez mais presente no dia a dia.
Atualmente, pode se dizer, realmente, que o bater de
asas de uma borboleta na Oceania provoca um furacão
em New York. Praticamente inexistem fatos locais que
não se estendam a outros países.

Com tal interação, como se pode falar de um


Estado com domínio sobre si mesmo, se ele é
constantemente afetado por situações que não lhes são
exatamente próprias?

Com certeza, existe dependência ou submissão


entre países. Dizer que um Estado é totalmente
soberano é acreditar que existe alguma capacidade de
se manter isolado dos demais, o que é impossível.

O isolacionismo esbarra na falta de capacidade


de qualquer Estado poder suprir todas as suas
necessidades com seus próprios recursos. Ele pode
manter seus cidadãos insulados dentro de seu território
e cortar grande parte da comunicação com outros

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países mas, o Estado propriamente dito, necessita de
recursos externos para manter-se como tal. Estes
recursos englobam, além dos materiais, aqueles
derivados da tecnologia e alinhamento político.

Na realidade, o próximo grande passo para a


existência de um Estado, com formato diferente daquele
que conhecemos até agora, será a capacidade de
rápida adaptação às mudanças sem perder suas
características básicas. Isto é o que definirá o Estado do
futuro. O Estado deixará de ser estático e às suas
características que são povo, território e governo, será
acrescentada uma outra: a soberania virtual.

Para se entender o Estado é necessário, antes,


que façamos um estudo sobre a sociedade.

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A sociedade
“Não é a consciência dos
homens que determina o seu
ser mas, ao contrário, é seu
ser social que determina sua
consciência” (Karl Marx)

A origem da palavra sociedade vem do latim


societas, que pode ser traduzida como uma "associação
amistosa com outros". Societas é derivado de socius,
que significa "companheiro". O significado de sociedade
está intimamente relacionado com aquilo que é social.

De acordo com o dicionário de AURÉLIO


BUARQUE DE HOLLANDA, sociedade é o agrupamento
de pessoas que vivem em estado gregário; conjunto de
pessoas que vivem em certa faixa de tempo e de
espaço, seguindo normas comuns e que são unidas
pelo sentimento de consciência do grupo; grupo de
indivíduos que vivem por vontade própria sob normas
comuns. 26

DALMO DALLARI define sociedade como o


produto da conjugação de um simples impulso

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associativo natural e da cooperação da vontade
humana. 27

GIDDINGS diz que sociedade é uma coletividade


de indivíduos reunidos e organizados par alcançar uma
finalidade comum. 28

JOLIVET caracteriza sociedade como uma união


moral de seres racionais e livres, organizados de
maneira estável e eficaz para realizar um fim comum e
conhecido de todos. 29

PARSONS considera sociedade, na condição de


complexo de relações do homem com seus
semelhantes, um tipo de sistema social contendo em si
mesmo todos os pré-requisitos essenciais para a sua
manutenção como sistema auto-sustentado. 30

CHRISTIANO FRAGOSO expõe duas teorias: a


funcionalista e a do conflito social. A funcionalista trata a
sociedade como um sistema estável e equilibrado de
elementos, cada um deles contributivo para o
funcionamento dela, e que é mantida graças ao
consenso acerca de valores comuns. A teoria do conflito
social se funda na idéia de que a sociedade é formada
por elementos contraditórios em si e explosivos, que
contribuem para o câmbio social, sendo a sociedade
mantida em virtude da coação que alguns de seus
membros exercem sobre outros.31

QUINTÃO SOARES expõe duas interpretações: a


organicista e a mecanicista. Na interpretação
organicista, a sociedade pode ser compreendida como o
conjunto de relações por intermédio das quais vários

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indivíduos vivem e atuam solidariamente, de forma
ordenada, visando estabelecer entidade nova e superior.
Seus principais teóricos são Aristóteles, Platão Comte,
Savigny e Del Vecchio. Na interpretação mecanicista, a
sociedade é um grupo derivado de um acordo de
vontades formalizado por seus próprios membros,
entrelaçados em vínculo associativos e imbuídos do
mesmo interesse comum, que apenas será obtido pelo
esforço de todos. 32

DARCY AZAMBUJA enquadra o Estado como


uma sociedade, pois se constitui essencialmente de
indivíduos unidos e organizados permanentemente para
realizar um objetivo comum. E se denomina sociedade
política, porque, tendo sua organização determinada por
normas do Direito positivo, é hierarquizada na forma de
governantes e governados e tem uma finalidade própria,
o bem público. 33

TOENNIES diz que sociedade é um grupo


derivado de um acordo de vontades, de membros que
buscam, mediante o vínculo associativo, um interesse
comum impossível de obter-se pelos esforços isolados
dos indivíduos. 34

DEL VECCHIO entende que sociedade é o


conjunto de relações mediante as quais vários
indivíduos vivem e atuam solidariamente em ordem a
formar uma entidade nova e superior. 35

Para BONAVIDES, como medida de valor, a


sociedade é algo interposto entre o indivíduo e o Estado,
sendo uma realidade intermediária, mais larga e

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externa, superior ao Estado, porém inferior ainda ao
indivíduo. 36

CELSO RIBEIRO BASTOS afirma que somente


existem sociedades humanas. Os outros animais que
vivem de forma gregária não se enquadram nesta
definição, mesmo que detenham certa organização. A
sociedade é resultante da atuação própria e exclusiva
do homem. Ele define sociedade com forma de
coordenação das atividades humanas objetivando um
determinado fim e regulada por um conjunto de normas.
37

Um animal social é aquele que vive em conjunto


com os de sua espécie e onde existe um alto grau de
interação entre seus membros. Essa associação permite
maiores possibilidades de sobrevivência individual,
juntamente com a do grupo.

O homem é um animal social. Essa capacidade


de viver em grupo permitiu que desenvolvêssemos
morfologia própria, tecnologia e uma associação que
extrapolaram os limites do mundo natural.

Viver em sociedade é natural ao homem. Ele


necessita dela para sua sobrevivência em todas as
formas, tanto física como psicológica. Nossa
necessidade de interação social é tão grande que a sua
falta, de acordo com Freud, pode produzir doenças
psíquicas e, algumas vezes, extensivas ao próprio físico.
A solidão ou o isolamento social pode provocar
doenças. Aquele que, por sua própria iniciativa, decide

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viver só, somente o faz por questões próprias ou
altruísticas.

CÍCERO diz que “a primeira causa dessa


agregação de uns homens a outros é menos a sua
debilidade do que certo instinto de sociabilidade em
todos inato; a espécie humana não nasceu para o
isolamento e para a vida errante, mas com uma
disposição que, mesmo na abundância de todos os
bens, a leva a procurar o apoio comum.” 38

Como ARISTÓTELES sustenta, os seres


humanos que vivem distantes da sociedade são
anormais, dentro de uma escala que varia da demência
à santidade.39

SÃO TOMÁS DE AQUINO afirma que o homem


vive de forma solitária em três situações: excellentia
naturae, quando se trata de homens virtuosos que
buscam a perfeição espiritual, coruptio naturae, quando
se trata de homens que tem deficiências mentais e mala
fortuna, quando alguém é obrigado a viver de forma
solitária por fato acidental. 40

NIETSCHE fala do horror que os homens sentem


a respeito dos solitários – “O santo pôs-se a rir de
Zaratustra e falou assim: Então vê lá como te arranjas
para te aceitarem os tesouros. Eles desconfiam dos
solitários e não acreditam que tenhamos força para dar.
As nossas passadas soam solitariamente demais nas
ruas. E, ao ouvi-las perguntam assim como de noite,

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quando, deitados nas suas camas, ouvem passar um
homem muito antes do alvorecer: Aonde irá o ladrão?” 41

Estamos tão imbuídos da idéia de que somos um


ser social que não conseguimos nos imaginar
sobrevivendo fora deste âmbito. Curiosamente, ao
mesmo tempo em que renegamos aqueles que vivem
fora ou à margem da sociedade, podemos exaltá-los
como heróis. Essa figura, a princípio, é sempre solitária;
ela contraria a sua própria natureza social. Sua solidão
caracteriza-se por não conseguir enquadrar-se dentro
dos parâmetros comuns a todos. Ele se torna herói
porque quebra paradigmas sociais, ou seja, ele luta
contra a sociedade na qual vive, desejando mudá-la de
alguma forma ou simplesmente por acreditar que a sua
forma de ser e pensar deve ser imposta a todos.

Este é um dos grandes paradoxos da sociedade:


apesar de ela ser essencial para a sobrevivência do
indivíduo, a maioria das mudanças que nela ocorre são
frutos de um ou poucos indivíduos. Em si, a sociedade
tende a ser estática ou propensa a mudanças lentas,
pelo simples fato de que ela busca uma acomodação
pois os conflitos podem desagregá-la.

Apesar da situação da maioria dos heróis não-


míticos ser desfavorável ao próprio indivíduo, é inegável
que suas idéias podem atravessar séculos, influenciar
comportamento de gerações e provocarem mudanças
no planeta. O indivíduo quebra o pensamento
hegemônico do grupo e altera seus pensamentos. Pode
se dizer que o herói não é sua figura física mas as idéias

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que partem dele. Um herói é o produtor de idéias que se
alastram pelas camadas da população. Ele catalisa as
pessoas ou as divide por conta de seu pensamento.

Ele pode ser um grande produtor de cismas. São


suas idéias que fracionam a sociedade e a subdividem.
Os adeptos de seu pensamento podem entrar em
choque com os demais e, quando não aceitos, tendem a
formar grupos divergentes daquele ao qual pertenciam.

Quando aceitas paulatinamente ou se forem a


expressão do sentimento geral, suas idéias podem
provocar a união de indivíduos dispersos em uma
sociedade única ou unificar e uniformizar uma
coletividade quando existe uma diversidade muito
grande de pensamentos.

Dependendo do alcance de suas idéias, das


dificuldades existentes em vivenciá-las ou por estar
conforme apenas para determinados tipos de pessoas,
pode ocorrer o nascimento de um grupo ou tribo, que,
embora não se torne grande em seu conjunto, tem
poder suficiente para incutir alguns dos seus conceitos,
no geral amenizados, em outros grupos humanos.

Não existe sociedade que seja homogênea, pois


esta condição indica estaticidade, que conduz ao seu
desaparecimento. Esta fusão, criação e dissolução de
grupos, que alteram, criam ou eliminam determinados
comportamentos ou formas de pensar, faz parte da
dinâmica complexa de uma sociedade.

caius_c 28
Por mais complexa que seja, no entanto, toda
sociedade é composta por núcleos chamados família.

A família

O termo “família” é derivado do latim “famulus”,


que significa “escravo doméstico”, termo criado na
Roma Antiga para designar um novo grupo social que
surgiu entre as tribos latinas, ao serem introduzidas à
agricultura e também escravidão legalizada.

Segundo ATKINSON e MURRAY, a família é um


sistema social uno, composto por um grupo de
indivíduos, cada qual com um papel atribuído, e, que,
embora diferenciados, consubstanciam o funcionamento
do sistema como um todo. 42

O primeiro conceito de família é o clássico, que


engloba pai, mãe e filhos. Fundamentalmente a família
tradicional é um grupo de pessoas ligadas por
descendência a um ancestral comum. Esse conceito
pode ser chamado de nuclear, pois considera apenas a
família isolada da sociedade. Esta forma também é
chamada de conjugal.

No entanto, outras formas são consideradas


como famílias. A monoparental é aquela formada de
pais únicos devido a fenômenos divórcio, óbito,
abandono de lar ou outros fatores que reduzem a família
conjugal. A família ampliada é aquela estruturada dentro
de uma família nuclear à qual se acrescenta os

caius_c 29
ascendentes e descendentes, formando-se por pais,
avós, filhos, netos e parentes com grande afinidade.

Existem outras formas de famílias denominadas


alternativas que são as famílias comunitárias e as
famílias homossexuais. A família comunitária é aquela
que se rege pelo princípio comunal onde existe uma
relação muito forte entre os membros e onde existe a
responsabilização de todos por todos. As pequenas
tribos são exemplos típicos de famílias comunitárias
onde todos procuram zelar pelo bem estar do próximo
para que o mesmo lhe de reciprocidade. As famílias
homossexuais são formadas por indivíduos do mesmo
sexo, geralmente um par, e que, vez ou outra pode
incluir crianças adotadas ou filhos biológicos dos
parceiros.

Alguns fatores nos impelem naturalmente à


formação da família. Podem ser físicos ou psicológicos.
Um dos fatores físicos é a neotenia.

Neotenia é a retenção de características juvenis


na forma adulta. Nosso cérebro nasce pequeno e
expande-se à medida que crescemos. O crânio do
nascituro é feito de ossos moles e abertos para que
possam dar espaço a um crescimento futuro de nosso
cérebro. O ser humano é o animal que tem o maior
período neotênico.

Retemos características infantis que nos mantém


anatomicamente generalistas, ou seja, não nos
especializamos para um determinado estilo de vida. Isso

caius_c 30
significa que não nos adaptamos a uma situação única
ou determinada. Este processo nos confere
maleabilidade para enfrentarmos ambientes distintos ou
diferentes.

Os seres humanos amadurecem sexualmente por


volta dos doze anos de idade e nossos ossos do crânio
se fundem aos dezesseis. No entanto, nossa
capacidade de aprender não se reduz ao longo do
tempo, exceto quando sofremos restrições de ordem
física, mental ou social. Temos o maior período de
amadurecimento conhecido entre os animais, uma
dependência por grande período dos nossos pais mas
podemos manter um padrão de conhecimento acima
dos outros seres por causa dessa característica.

Para os pais, esse processo significa despender


grande quantidade de energia e tempo no processo de
criação dos filhos. Embora os seres humanos estejam
aptos à reprodução por volta dos doze ou catorze anos
e, teoricamente, estarem aptos a formar uma nova
família, é normal que o período se estenda por mais
anos até estarem completamente amadurecidos para
poderem enfrentarem o ambiente que os cerca.

É comum as leis estipularem idades-limite para


vínculo jurídico dos filhos com seus pais. Damos
gradação a essa separação. No Brasil, por lei somos
capazes legalmente de certos atos aos dezesseis e, a
partir dos dezoito somos considerados capazes de agir
com responsabilidade própria. O nosso Estatuto da
Criança e do Adolescente, considera crianças os

caius_c 31
indivíduos com idade limite de doze anos incompletos;
os adolescentes estão na faixa acima dos doze
completos e abaixo dos 18 anos.

A neotenia não deve ser encarada apenas como


um período prolongado no qual temos um espaço para
um maior aprendizado. Ela também pode ser
considerada com um fator de aglutinação social visto
que, por ter um período maior, ela nos favorece com
uma capacidade maior de socialização.

Essa longa relação entre pais e filhos promove


uma base social que chamamos de família. A família é a
primeira célula de uma sociedade.

Além dos fatores materiais, ainda existem os


psicológicos, que são inúmeros. Variam desde a
necessidade biológica de procriação, fatores culturais e
sociais até os imperativos oriundos de nosso
subconsciente. Como seres sociais, precisamos ter
relacionamentos que perdurem através de determinado
tempo e a família é a estrutura que mais adequada para
isto.

Estes vínculos afetivos que temos,


provavelmente, derivam da monogamia, que é a forma
mais aceita pelas populações no mundo. A própria taxa
de nascimento reflete isso, visto que o número de
mulheres é ligeiramente superior ao dos homens.
Acreditamos que a poliandria e a poligamia são padrões
mais culturais do que genéticos. Embora não se possa

caius_c 32
afirmar que a monogamia esteja em nosso DNA, é obvio
que sua manifestação é bem mais ampla.

Alguns pensadores discordam que esta forma de


casamento ou acasalamento esteve presente em toda
nossa história. BACHOFEN declarou que no início da
família os seres humanos viviam em promiscuidade e
que não existia nenhuma relação duradoura entre
homem e mulher, sendo que a descendência contava-se
unicamente através da linha materna.43

Se levarmos em conta que todas as sociedades,


por mais primitivas que possam nos parecer,
estabelecem regras para que exista uma convivência
pacífica e que a reprodução é sempre compatibilizada
através de determinadas normas, podemos excluir a
consideração dos mesmos. Se este estado animal
existiu foi muito antes do homem estabelecer-se como
ser pensante. É certo que algumas sociedades não
estabeleceram ou não estabelecem uma distinção
familiar da maneira como os europeizados vêem. No
entanto, mesmo assim, existem regras de conduta que
são de comum acordo a todos. Para que exista uma
sociedade, obrigatoriamente, tem que existirem regras.

Essa teoria também esbarra no horror que temos


do incesto. Estudos comprovam que existem
mecanismos naturais que fazem com que os parceiros
evitem consangüinidade. Percepções sensoriais
inconscientes como cheiro e diagrama do rosto
diminuem consideravelmente a probabilidade de incesto
ou consangüinidade.

caius_c 33
ENGELS acredita que as teorias de LEWIS H.
MORGAN44 sobre o surgimento da família e da
sociedade eram as mais corretas. Para ele, existiam três
fases bem distintas: estado selvagem, barbárie e
civilização.

O estado selvagem consistia, segundo ele, em


três etapas: inferior, na qual os homens ainda viviam em
árvores e começa a desenvolver uma linguagem
articulada; média, quando os homens introduziram o
peixe em sua alimentação e aprenderam a usar o fogo e
a fase superior que começa com a invenção do arco e
flecha.

A fase inferior da barbárie tem início com a


introdução da cerâmica; a fase média é aquela em que,
no Leste, os homens iniciam a domesticação dos
animais e no Oeste com a produção irrigada de
hortaliças e emprego de tijolo cru nas construções; a
superior começa com a fundição do minério de ferro, e
passe à fase da civilização com a invenção da escrita
alfabética e seu emprego para registros literários. O
desenvolvimento da família realiza-se paralelamente ao
histórico, mas ele não oferece critérios tão conclusivos
para a delimitação dos períodos.

BERTAND RUSSELL considera a família como o


mais forte e mais instintivamente obrigatório dos grupos
sociais. Para ele a formação da família está relacionada
com o longo período de lactância dos seres humanos e
a dificuldade de obtenção de alimentos pela mãe. O pai

caius_c 34
seria o elemento provedor necessário para a
sobrevivência do grupo. 45

Podemos dizer que a família é um componente


natural do homem face à sua necessidade física e social
e que sua constituição pode ser datada dos tempos em
que o homem se tornou um animal gregário.

A família é um dos resultados da própria evolução


do homem como animal pensante e consciente.

Embora a família seja base da sociedade, isso


não quer dizer que a sociedade derivou única e
exclusivamente de uma família. É quase inconcebível
que uma única família, mesmo aquelas no sentido
ampliado, tenha sido base de uma sociedade. O horror à
endogamia faz parte de todas as espécies. Noé, ao
embarcar apenas um casal de cada espécie em sua
arca, produziria um amontoado de seres com
características inferiores àquelas que a natureza dita
como essenciais para manutenção e evolução das
espécies. Mesmo que fossem dois casais, o fantasma
da endogamia ainda rondaria os seres e transformaria a
espécie em algo não condizente com o que a realidade
natural necessita. Portanto, uma sociedade é composta
por um número de seres que não permitam ou diminuam
consideravelmente o perigo da endogamia, o que
implica em dizer que ela deva ser composta de várias
famílias.

caius_c 35
O clã

O horror que representa a endogamia impele o


homem à procura de uma miscigenação para fora de
sua família. Ao fazer isso, o homem cria laços com
outros agrupamentos familiares formando um clã.

A característica básica do clã é o sentimento


grupal reunido em torno de um ancestral considerado
como comum. Não implica necessariamente em uma
vinculação genética ou consangüínea. A grosso modo, é
a reunião de várias famílias através de casamentos de
alguns de seus membros. Em algumas sociedades
como a escocesa e a irlandesa, a identificação dos seus
membros se dá através do sobrenome.

Os clãs podem ser classificados como


patrilineares ou matrilineares, de acordo com a sua
vinculação masculina ou feminina, podendo ser, ainda,
bilaterais, quando consiste de todos os descendentes de
um ancestral maior.

Algumas associações informais definem-se como


clãs dentro de uma esfera econômica ou política,
mesmo que seus membros não tenham parentescos.
Em alguns lugares, o brasão ou cota de armas é o
elemento que liga as famílias em si.

A maioria dos clãs são exógamos, o que significa


que não podem casar-se entre si e possui um líder
oficial, tal como um chefe, uma matriarca ou patriarca. A
união dos clãs forma a tribo.

caius_c 36
Para FUSTEL DE COULANGES, provavelmente,
o Estado originou-se desses grupos.46

As tribos

O termo tribo é usado para definir agrupamentos


sociais antes da formação do Estado, para designar
grupos indígenas ou, mais recentemente, para designar,
também, grupos dentro de uma sociedade ampla que
tenham certos valores culturais diferentes dos demais.
Conceitualmente, poderíamos dizer que uma tribo é um
conjunto de pessoas que expressam uma mesma
opinião e ou que agem e interagem dentro de uma
cultura que lhes é própria.

O início da sociedade está na tribo e não na


família, embora aquela seja composta por estas. Ela é a
primeira forma efetivamente social porque permite que
seja expandida através da reprodução exógama ou da
agregação de indivíduos de outras tribos.

Ela é o desenvolvimento social natural do homem


na sua busca para a satisfação de seu instinto mais
básico: viver em sociedade. O homem é um animal
social e não pode fugir das características que esse fato
impõe. A sociedade está dentro de seus genes.

Conceitualmente, poderíamos dizer que uma tribo


é um conjunto de pessoas que expressam uma mesma
opinião e que agem e interagem com essa base. Na sua
forma mais primitiva, existe uma cultura que lhe é
própria. A forma expandida da tribo é a nação.

caius_c 37
Atualmente as tribos ou nações se embutem em
países e seguem suas regras. Um país é uma criação
artificial do homem enquanto que uma nação se formou
naturalmente ao longo da existência do homem.
Exemplos clássicos de nações embutidas em países
são as existentes na África. Durante o período de
dominação colonial, os países da Europa repartiram o
território africano entre si sem levar em consideração a
miscelânea étnica e cultural existente entre os povos
africanos.

O conceito de tribo ressurgiu de uma forma mais


ampla quando os povos mais avançados
tecnologicamente criaram o conceito de aldeia global ou
globalização. Com o avanço das comunicações e da
possibilidade de se ter notícias ou de se conectar
instantaneamente a qualquer parte do mundo, surgiu a
teoria de que o mundo se encaminharia para uma fase
tribal onde todas as pessoas se conheceriam e se
comunicariam entre si.

A dita globalização, advinda do conceito de aldeia


global, é de natureza mais econômica do que social. As
tribos ricas usam desse conceito para manter os demais
sob seu jugo. É uma nova forma de colonização que não
necessita da utilização de exércitos como no período
colonial. A cultura e os conceitos dessas sociedades são
transmitidos continuamente para outras com o intuito de
uma dominação cultural e social que favorece a
dominação econômica. Como disse Franklin Delano
Roosevelt - “A verdade é que onde nossos filmes

caius_c 38
chegam, vendemos nossos produtos”.47 Na fase
dourado do cinema como arte, essa afirmação enfatizou
o poder de mídia para o consumo através da inserção
cultural alienígena em outra cultura. Primeiro se vendem
idéias e depois se vende o produto. Puro mercantilismo.

A dominação de outra tribo considerada inferior é


feita através de conceitos, mídia e aliciamento de
membros da mesma. Como dizia Machado de Assis, “Ao
vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”.48

Pensando no conceito de nações ou tribos dentro


de países, podemos ver que, mesmo que a língua,
crença e costume sejam iguais, existem tribos que se
formam dentro dessas. Acreditando que as tribos foram
assimilando ou conquistando outras até formarem
países, podemos dizer que se chega um ponto em que o
próprio tamanho do país não permite que o pensamento
seja único ou uniforme, gerando outras tribos cuja
principal característica é a forma de pensamento. Talvez
possamos comparar um país a uma planária que se
agiganta a tal ponto que é obrigada a se romper e nesse
processo origina outro ser. Esse processo pode
esfacelar países. Caso clássico são os impérios
macedônico e romano. Com o enfraquecimento da
dominação militar, os mesmos explodiram e geraram
países distintos, cujas marcas iniciais eram as nações. A
Guerra Civil Americana é outro exemplo de
esfacelamento a que está sujeito um país devido às
suas diferenças culturais e sociais. O Norte e o Sul
ainda são antagônicos em seus pensamentos e
procederes, embora estejam vinculados entre si pelo

caius_c 39
processo que forma um país. A antiga Tcheco-
Eslovaquia é outro exemplo onde podemos afiançar que
o poder das tribos pode explodir uma aliança artificial
que é um país. Em 1993, a república se dividiu em dois
países: a República Tcheca e a República Eslovaca.
Outro exemplo é a antiga União Soviética, composta de
vários países, com a dominância russa, que
desapareceu em 1991, após surgirem conceitos como a
Perestroika e a Glasnost. Mesmo com o regime do
comunismo, a União Soviética não conseguiu sobreviver
às diferenças culturais que regiam os povos.

Podemos dizer que o país tem sua força presente


em todas as instâncias mas que o poder das nações ou
tribos, a longo prazo, pode suplantá-lo e fazê-lo retornar
ao que deveria ser naturalmente. Todas as guerras civis
são exemplos do tribalismo existente em países.

Acreditando que o poder das nações existe e


pode fracionar países, somos levados a acreditar que a
diversidade atual, existente em todos eles, até nos mais
avançados, podem fazê-los derrogar às suas antigas
origens, ou seja, torná-los um emaranhado de tribos ou
nações.

Por ser múltiplo por natureza e por tender a uma


associação com aqueles que têm um pensamento
similar, os homens tendem a concentrar-se em grupos
pequenos que podemos afiançar que se tratam de
modernas versões das tribos.

caius_c 40
Isso não quer dizer que o surgimento de tribos
esfacelaria naturalmente um país. Algo desse tipo pode
acontecer quando as diferenças são grandes o
suficiente para provocarem essa divisão. No entanto,
mesmo que o país não se esfacele, as tribos podem
provocar dissensões internas e o conseqüente
enfraquecimento de um poder central. Se considerarmos
o mundo com uma “aldeia global”, então podemos
extrapolar o poder das tribos para o conjunto mundial.
Algumas tribos têm poder suficiente para provocar
mudanças ou alterar equilíbrios dentro do cenário
mundial. Elas conseguem afetar o poder do próprio
Estado.

Podemos classificar as tribos em dois tipos:

a) As de âmbito local
b) As de âmbito regional ou mundial

Tribos de âmbito local

FREUD define grupos como certo número de


indivíduos que colocaram um só e mesmo objeto no
lugar de seu ideal de ego e, consequentemente, se
identificaram uns com os outros em seu ego. 49

Nessa categoria podemos enquadrar as tribos


voltadas para algumas formas de arte, esportes ou
formas alternativas de vida. Fãs de determinado cantor,
banda, conjunto musical ou tipo de música são as que
mais representam esse tipo de tribo. Algumas que se
dedicam a esportes como skate, surf, radicais ou

caius_c 41
qualquer outro tipo também pertencem a esse tipo de
tribo.

Raul Seixas lançou o movimento chamado


Sociedade Alternativa em 1971, cujo pensamento inicial
era a formação de uma nova sociedade sustentada pela
igualdade, liberdade e crenças esotéricas baseadas em
pensamentos de Aleister Crowley, que se
50
autodenominava a Grande Besta 666. Suas idéias
sobre a Sociedade Alternativa ainda existem e são
cultuadas mas representam um pensamento que não
afeta o restante da sociedade pois são idéias, crenças e
um tipo de comportamento local. Durante a ditadura
militar1, este movimento foi reprimido e abafado, pois era
visto como opositor do regime. Seu mentor, Raul Seixas,
foi perseguido, preso e torturado pelo DOPS2 por essas
idéias, terminando por exilar-se nos Estados Unidos.

Movimentos como os da contra-cultura hippie


tiveram seu apogeu durante a década de 60,
principalmente nos Estados Unidos, e terminaram
conseguindo muito pouco daquilo que propunham ou
que pretendiam transformar. Mesmo as idéias que
sobreviveram ficaram restritas ao plano teórico ou de
nenhuma ação. Promovido pela juventude americana
rica e escolarizada que recusava as injustiças e
desigualdades da sociedade, buscava um retorno à vida
natural e adoção de filosofias orientais. Seu maior lema -
“Paz e Amor”, acabou sendo apenas um propagador do
uso de drogas na sociedade. Foi combatido pelo
1
1964-1985
2
Departamento de Ordem Social e Política.

caius_c 42
governo americano porque era contra o envolvimento
dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã. Provocou a
criminalização das drogas que até então podiam ser
vendidas e consumidas livremente.

Na década de 70 surgiram os punks. Punk


significa algo como madeira podre ou coisa ruim.
Buscando uma forma de viver sem o Estado, de maneira
fraterna e libertária, a proposta inicial do movimento era
de ser um anteparo contra a burguesia, o capitalismo e
o consumismo desenfreado. Essa tribo, rapidamente, se
rompeu e gerou outras tribos como o anarcopunk.
Restrito às periferias e com poucos adeptos na classe
média, não sofreu repressões por parte do Estado.

Outro movimento foi o hip hop. Hip hop significa


balançar os quadris no sentido de dançar. Nascido nas
ruas, sua principal intenção era promover uma igualdade
social ou chamar a atenção dos governos para a
situação caótica das periferias, subúrbios e favelas.
Dividiu-se em outras tribos como os rappers, gangsta
rappers, breakers e outros mais. O funk é derivado do
hip hop.

Uma parte desses movimentos surge nas


periferias como forma de chamar a atenção sobre sua
situação social, denunciando fatos e tomando atitudes
contra aquilo que consideram atentatórios à sua pessoa.
Geralmente se espalha pela camada urbana mais pobre
até atingir um tamanho em que a mídia o considera
como algo a ser noticiado. Quando caem no gosto da
classe média ocorre sua adaptação e tendem a ser

caius_c 43
menos agressivos. Nesse ponto, geralmente, sua
proposta de mudanças deixa de ter valores e passa a
ser apenas um elemento comercial.

Muito localizado, esse tipo de tribo procura


promover reforma pessoal ou em determinados setores
da sociedade. No entanto, sua base é incipiente e
vagamente filosófica, o que determina um ciclo rápido
em sua evolução e desaparecimento. No geral restam
apenas breves conceitos que não determinam nenhum
modo de vida a ser adotado pela geração seguinte,
pouco influindo na relação sociedade-Estado.
Frequentemente esses movimentos tribais fazem parte
apenas de um estágio de vida da pessoa,
principalmente a juventude, e se esvai com o tempo.

Geralmente esses movimentos tribais são


ruidosos e podem até marcar uma época. O grau de
comprometimento de seus adeptos com sua filosofia é
mais voltado para o exterior do que para a sua fixação e
propagação. São marcados por uma música e roupas
típicas mas dificilmente vão alem disso. Adotou-se o
nome de “tribos urbanas” para esse tipo de movimento.

A grosso modo poderia se dizer que representa


mais um gosto pessoal do que uma forma precisa de
pensamento que induza a um comportamento, embora
sejam marcadas com símbolos e exteriorizações.
Praticamente, não afetam a sociedade em si. São
expressões bem localizadas.

caius_c 44
No entanto, devido à sua ostentação e idéias
contrárias ou além de sua época, são vistos como
perturbadores da ordem social e política, principalmente
em Estados totalitários.

Possíveis mudanças dentro do Estado podem


ocorrer se existir uma alteração efetiva de pensamento e
comportamento social. Como estas tribos geralmente se
compõem de jovens, esta possibilidade pode acontecer
quando esta geração estiver dentro dos âmbitos do
poder. De qualquer forma, é sempre gradativa por conta
de sua aceitação social.

Tribos de âmbito mundial ou regional

As tribos de âmbito mundial ou regional, no


entanto, podem ter o poder de influir na sociedade e no
Estado. Tribos como o Greenpeace podem provocar
mudanças no comportamento de vários países e até em
suas leis. Sua atuação faz com que governos e
empresas adequem suas atividades de forma a produzir
o menor dano possível ao meio ambiente.

No conceito de tribos podemos incluir também as


grandes empresas que dominam uma fatia considerável
de um determinado mercado. Um exemplo disso é a
poderosa Monsanto. Quebrando uma promessa feita em
1999, a empresa está desenvolvendo a tecnologia
Terminator para culturas não alimentícias como o
algodão, tabaco, gramas e cultura farmacêutica. Essa
tecnologia produz plantas geneticamente modificadas
que produzirão sementes estéreis. Outro tipo de cultura

caius_c 45
modificada produzida pela mesma empresa são os
transgênicos. Transgênicos são plantas criadas em
laboratório com técnicas da engenharia genética que
permitem "cortar e colar" genes de um organismo para
outro, mudando a forma do organismo e manipulando
sua estrutura natural a fim de obter características
específicas. Não há limite para esta técnica; por
exemplo, é possível criar combinações nunca
imaginadas como animais com plantas e bactérias.51
Essas tecnologias podem tornar a agricultura mundial
dependente de empresas como a Monsanto. O controle
mundial de alimentos poderia estão nas mãos de
apenas uma empresa. Uma tribo conseguiria dominar
governos, países e nações com apenas alguns
elementos.

Outro tipo de tribo de âmbito mundial são as que


têm crenças como elemento de ligação entre seus
membros.

Atualmente, podemos dizer que a religião


muçulmana é a que provoca mais reflexões sobre o
poder das crenças dentro do cenário mundial. Embora a
maior parte de seus seguidores se encontrem nos
países árabes do Oriente Médio e do norte da África, o
islamismo é uma das religiões com mais adeptos no
planeta.

Se levarmos em conta alguns conceitos como a


Jihad, podemos imaginar que ainda estamos na Idade
Média e que os cruzados foram substituídos pelos

caius_c 46
mujahid3. Este conceito é usado para validar ataques
terroristas ou ações contra pessoas ou países
considerados inimigos. Esta religião de paz é usada
para promover ações que ferem seus próprios
princípios.

Crenças como o evangelicismo fundamentalista


tendem a fazer com que seus adeptos neguem
verdades científicas ou deixem de utilizar determinadas
formas de tecnologia para somente manter seus
membros sob controle. Algumas adquirem a forma de
empresa, principalmente as chamadas “eletrônicas”, que
utilizam a fé de seus membros para benefício de alguns
membros apenas.

Essas tribos têm o poder e a vontade de


arrebanhar para si o maior número possível de
integrantes. Geralmente elas acreditam que o
gigantismo é a forma mais simples de sustentação,
manutenção e ampliação de seu poder.

Com tendências ao gigantismo, essas tribos


incorrem no mesmo problema das grandes tribos.
Outras tribos se formam dentro delas e disputam entre si
o poder central.52 No caso do islamismo, existem duas
grandes correntes, a sunita e a xiita, que produzem
distorções na forma de expressão da fé e competem
entre si para a tomada do poder central em alguns
países.

3
Aquele que faz o jihad

caius_c 47
Exemplo de fracionamento de uma grande tribo é
a Reforma, promovida por Lutero. A Igreja Católica
dividiu-se em duas partes depois que Martinho Lutero
divulgou suas idéias, embora isso não fosse,
provavelmente, sua primeira intenção e sim a de
reformar a Igreja como um todo.

Anterior à Martinho Lutero, já tinha ocorrido um


fracionamento na Igreja, quando Miguel Cerulário, o
patriarca de Constantinopla, foi excomungado pelo Papa
Leão IX, em 1054, tendo como base uma disputa
teológica acerca da Santíssima Trindade, entre
dissidentes seguidores de Miguel Cerulário e a
instituição oficial. Um reflexo histórico dessa cisão foi a
tomada de Constantinopla pelos turcos, sob o comando
de Maomé II, beneficiada com a ajuda de europeus,
devido à cisão provocada por essa disputa. Antes da
tomada da cidade pelos turcos, Constantinopla já tinha
sido saqueada pelos cruzados em 1203.

Levando em conta o Concilio de Nicéia, a


excomunhão de Miguel Cerulário e a Reforma, a
excomunhão de Henrique VIII, podemos afirmar que
uma grande tribo teve processos de rupturas que
originaram outras tribos.

Esse mesmo processo parece ser comum a toda


grande tribo. Uma idéia diversa é apresentada, aceita e
disseminada entre seus integrantes. No momento que
certa parcela dessa população aceita a nova idéia uma
nova tribo se cria e se destaca da tribo inicial, podendo
até se tornarem antagônicas.

caius_c 48
Podemos considerar como tribos as etnias ou
nações dentro de um país. Embora sejam controladas
pelo poder estatal, algumas vezes as diferenças são
tantas que elas podem provocar mudanças ou
rompimentos da ordem vigente.

Na África do Sul duas tribos se destacaram: os


brancos e negros. Com uma constituição adotada em
1948 que promovia a separação racial (apartheid),
essas tribos conviveram entre si com o mínimo de
contato social e com prevalência da tribo dos brancos
sobre a dos negros. Muito direitos civis eram negados
aos negros como o voto, acesso a alguns empregos e
sua localização dentro das cidades ou do país era
definida para evitar o menor contato possível com os
brancos. Tentou-se inclusive dividir o país para que a
segregação fosse maior. A maior parte das terras (87%)
foi destinada aos brancos e 13% aos negros, na forma
de republiquetas. Em 1990 essa lei foi abolida e seu
principal adversário, Nelson Mandela, foi libertado e
ganhou as eleições seguintes, sendo o primeiro
presidente negro da África do Sul.

A República da Iugoslávia é formada por duas


repúblicas: a Sérvia e Montenegro. A sérvia administra
as regiões da Volvodina - com forte presença húngara -
e do Kosovo, uma província do sul - com 80% da
população albanesa. Montenegro assegura ao país
acesso ao mar Adriático. Na década de 90, século XX,
Kosovo reinvindica autonomia e a retirada das forças
sérvias da região, apoiada por tropas da Otan. Slobodan

caius_c 49
Milosevic, não aceita a presença de tropas estrangeiras
em Kosovo, o berço do nacionalismo sérvio, e uma
guerra é deflagrada. O resto é história.

Países cuja miscelânea tribal é extremamente


antagônica entre si correm riscos de esfacelamento.

Estas tribos têm grande influência no Estado. Sua


capacidade econômica, social e política produzem
efeitos dentro da estrutura estatal de tal ordem que
provocam grandes alterações dentro da mesma. Se não
estão atreladas à governança, elas buscam tomar o
poder, seja diretamente ou através de artifícios.

Por quê tribos?

As mudanças sociais na tribo, em seu conceito


clássico, praticamente inexistem porque a coesão
produz uma coerção social tão forte que impede que
novos padrões sejam aceitos. Elas ocorrem somente
quando certo gigantismo apossa-se da tribo e a coerção
torna-se fraca ou maleável a ponto de tornarem
possíveis algumas mudanças, mesmo que gradativas.

A tribo precisa da coesão para sobreviver e, por


isso, ela a transforma em coerção. Intimidados
socialmente, os indivíduos buscam o ajustamento
completo ao seu quadro. A lei, dentro de uma tribo,
provavelmente é mais dura do que em outro
agrupamento social maior.

caius_c 50
Se o ideal é um grande grupo que possa fazer
frente a todo e qualquer outro grupo, porque as grandes
tribos se fracionam? Se o normal seria a associação de
pessoas dentro de um ideal ou de uma forma de vida,
por que existe essa constante separação de membros
para a formação de outras tribos?

A causa maior e mais provável é a ânsia de poder


de alguns membros da tribo, quando ela se agiganta.
Como os aglomerados humanos dispõem de uma
seqüência de comando e dentro dessa seqüência
existem privilégios, é fato que os que estão na escala
inferior tentarão subir. Como a escala se afina à medida
que sobe, a gerência do grupo somente é possível com
a queda daqueles que estão acima ou com a formação
de novo grupo, quando essa escala é interrompida.

As grandes tribos têm uma tendência à anomia.


Nossa capacidade social parece estar restrita à
capacidade social de uma tribo. Quando a sociedade
começa a ficar de um tamanho que escapa à nossa
compressão e capacidade associativa, existe uma
ruptura entre seus membros. Para que essa ruptura não
dê origem a um conflito, a tribo recém formada contém
elementos parciais da tribo da qual se originou somados
aos elementos que a distinguem da mesma. Podemos
fazer a analogia com um filho que carrega
características de seus pais mas se torna um ser
diferente deles.

Como exemplo, podemos citar a Igreja Anglicana


que surgiu com o corte de relações com a Igreja

caius_c 51
Católica com o rei Henrique VIII. O então papa
Clemente VII, pressionado pelo Imperador Carlos V,
negou a dissolução do casamento do rei Henrique VIII
com Catarina de Aragão. Desejoso de um filho e com
relações amorosas com Ana Bolena, o rei ignorou a
proibição canônica que o impedia de se casar com ela.
Essa atitude valeu a ele a excomunhão em 1533.
Henrique VIII rompeu relações com a Igreja Católica e
fundou a Igreja Anglicana, da qual se declarou líder.

Em 1965 foi abolido o pluripartidarismo no Brasil,


criando-se apenas dois partidos: Arena, da situação e
MDB, da oposição.53 Em 1979 o pluripartidarismo é
instituído novamente.54 Isso foi visto por críticos como
uma manobra do governo para impedir que a oposição
obtivesse grandes vitórias eleitorais, como a que tinha
ocorrido em 1974. Imediatamente as tribos da Arena e
MDB se dissolveram e se transformaram em uma série
de outros partidos, cada um com uma ideologia e
comando próprio.

O gigantismo parece ser o ponto inicial para o


fracionamento e a criação de novos grupos, seja por
conta da variedade de pensamento do ser humano, sua
incapacidade de ir além do conceito tribal de
convivência ou simplesmente pela ânsia de poder de
alguns de seus membros formarem outras facções onde
possam ser os líderes. Como dizia Julio César: “Prefiro
ser o primeiro em uma aldeia do que o segundo em
Roma”.

caius_c 52
Pode-se argumentar que a multiplicidade faz
parte do ser humano e é isso que faz com que os
grandes grupos se fracionem e se transformem em
novos grupos. É um ponto a considerar e sempre válido.
Realmente, o ser humano é múltiplo por natureza e
quando não encontra um pensamento adequado ao seu,
costuma se aproximar de pessoas com o mesmo
pensamento e formar um novo grupo. No entanto, essa
multiplicidade é contraditória em si, pois se o ser
humano é múltiplo, ele deveria ter condições de conviver
adequadamente com outros grupos, mesmo que fossem
divergentes de seus pensamentos.

Para o Estado existe o risco de que uma tribo se


aposse do poder e o utilize como fonte apenas de suas
prerrogativas. Esta possibilidade existe em um Estado
democrático por conta de uma possível aceitação destes
ideais pelo fato de seus governantes terem sido
empossados através de sufrágio, o que daria
legitimidade para seus atos.

Democracia deve ser entendida como um


equilíbrio entre os diversos segmentos da sociedade. O
uso do poder, mesmo dentro daquilo que se entende por
legalidade, não legitima atos que ferem o princípio
básico que é a busca do bem comum.

A cidade

A agricultura fixou o homem a terra e foi o


primeiro passo para a criação das cidades. No entanto,
pela própria faina diária e pelo relativo distanciamento

caius_c 53
social e territorial em que vive o agricultor, isso não seria
suficiente para que ela se criasse por si.

FUSTEL DE COULANGES sustenta que a cidade


não cresceu como um círculo que se estende. Ela
nasceu, de forma planejada, do agrupamento das tribos,
baseada em uma religião comum. A cidade era uma
confederação, sendo obrigada a respeitar a
independência religiosa e civil das tribos, das fratrias4 e
das famílias.55

O mais provável, é que as cidades foram surgindo


a partir de entrepostos comerciais ou pontos de trocas
de mercadorias, sendo que algumas surgiram como
ponto de parada ou apoio para comerciantes e
exploradores. Por não terem ainda uma estrutura de
comando, podemos chamar esses agrupamentos de
povoações. Outros podem ter surgido debaixo de uma
propriedade patriarcal que admitiu a convivência de
outras pessoas que não eram de seu círculo familiar. De
qualquer forma, essas povoações surgiram embasadas
em alguma atividade econômica.

Essas povoações, na qual os elementos


familiares não subsistiam e nem os da tribo, se
expandiram e tornaram-se centros econômicos, sendo
chamadas de cidades. Quando isso ocorreu, os clãs
tentaram apossar-se de seu controle. Para isso se
valeram da sua já estabelecida hierarquia patriarcal,

4
Fratria é um termo antropológico para uma divisão de parentesco
constituída por dois ou mais clãs distintos na Grécia pré-clássica. Cada
tribo era constituída por várias fratrias.

caius_c 54
baseada em cultos religiosos. Alem do controle
econômico, isso implicava em controle das normas e
regras a vigorarem na cidade. Essas normas derivativas
do poder patriarcal foram o prenúncio remoto do
estabelecimento do Estado.

Sendo um centro econômico, as cidades


passaram a ser vítimas de assédio por parte de outros
povos. Isso originou o aparecimento das fortificações e
do enclausuramento da população dentro de limites
geográficos. Cada cidade circunscreveu um território por
onde estendia seu domínio. Desse fato nasceram as
fronteiras.

Estabelecido em um local, o homem passou a ter


sentimentos de posse sobre o mesmo, o que formou
sentimentos como nacionalidade e soberania.

A base psicológica para os sentimentos de


nacionalidade e soberania nada mais é que o da
territorialidade.56 MC ANDREW, citando Sack, define
este conceito como sendo a tentativa de influenciar e
controlar as ações alheias através de reforço sobre
uma área geográfica e sobre os objetos nela contidos.57

As cidades, devido a sua maior complexidade,


passaram a ser regidas por leis diversas daquelas que
atendiam os clãs ou tribos, pois, nestes casos, o
costume e a forma direta de autoridade eram suficientes
para manterem as regras sociais.

caius_c 55
Nelas o mando direto não era mais suficiente,
parte por causa da diversidade de culturas da população
e parte por sua maior quantidade de pessoas. O seu
tamanho já não permitia a aplicação direta da
autoridade. Para que ela se estendesse a todos foi
necessário criar as instituições, cuja função principal era
fazer com que essa autoridade fosse disseminada de
forma eficaz entre todos.

Massa e identidade

Dentro da sociedade podemos considerar para


efeito de estudo do Estado dois fenômenos: massa e
identidade.

Massa é uma sociedade que age de forma


padronizada, onde a expressão da individualidade é
considerada como afronta direta à sua estabilidade. A
massa assume uma identidade única, onde todos
aqueles que a compõem pensam e comportam-se de
maneira homogênea.

Esta homogeneidade visa atender interesses da


classe dominante, porque produz submissão e induz ao
cumprimento de determinações sem qualquer
questionamento. A produção de um pensamento e
comportamento único faz parte do controle que o Estado
exerce sobre o indivíduo.

A massa ocorre porque não existem elementos


de comparação. É composta de êxtase face às
demonstrações coletivas do Estado e subserviência aos

caius_c 56
seus ditames. Ela acredita que o Estado é um ente
superior, quase divino e que seus integrantes são a
expressão dessa divindade.

A massa se vigia e se policia. Ela não admite


quebra de identidade e os infratores são punidos pelas
distorções que apresente face a ela. O elemento
repressor que se acredita que deveria ser de exclusiva
atribuição do Estado, passa a fazer parte do indivíduo,
pois ele passa a entender que seu uso lhe foi delegado
pela classe governante, quando se trata de perda de
identidade social.

Não são apenas os regimes totalitários que se


beneficiam da massificação social. Os ditos
democráticos também utilizam esta forma de controle. A
diferença principal entre os dois é que os métodos dos
primeiros são mais diretos, enquanto que os segundos
valem-se de formas mais avançadas de controle de
pensamento, notadamente através da mídia.

A massa é facilmente controlável. Suas ações


podem ser direcionadas de acordo com as pretensões
do Estado. Os objetos da crença podem ser mudados
facilmente, mesmo que sejam opostos entre si. O que
antes era considerado bom e necessário, pode ser
transformado em mal e inútil, pois a memória é
sobreposta por novos conceitos que fazem perder o
sentido dos antigos.

A identidade registra uma coesão social parecida


com a da massa, pois o indivíduo assume-se como

caius_c 57
parte do grupo. A principal diferença é que ele pode ser
uma voz ativa interferente no comportamento ou
pensamento dos demais. A busca da homogeneidade é
feita com base em acordos ou entendimentos, sendo
impingida através do raciocínio lógico e
sentimentalização.

A identidade parte do princípio de que o indivíduo


é construtor de seu meio social e que suas ações estão
pautadas na busca de um bem social coesivo. A
repressão existe apenas quando a discordância de um
foge da lógica racional do grupo, podendo provocar
cisão permanente. Ela é considerada apenas como
último recurso. Nestes casos, é o próprio grupo que usa
sua força contra o indivíduo, inexistindo um confronto
pessoal e sim de idéias.

A identidade é a meta de um Estado democrático.


Ela estabelece uma efetiva relação de direito-dever
entre governantes e governados. Ela promove uma
interação entre os mesmos de forma a atender os
objetivos que lhes são comuns.

O controle da identidade é feito através da


aceitação pelo indivíduo daquilo que ele entende como
adequado para si e para os demais. É um controle que
parte da premissa de que o sistema está racionalizado
de forma construtiva e que seu entendimento é comum
ao grupo.

caius_c 58
O nascimento do Estado
“É inútil confiar-se na virtude
de alguns indivíduos ou de
grupos de indivíduos.”
(Bertrand Russel) 58

Existem muitas teorias sobre o aparecimento do


Estado ou sua constituição. Diversos pensadores e
filósofos tentaram descrever como teria sido sua
formação.

As principais teorias são:

a) Evolução natural
b) Contratualista
c) Uso da força
d) Constitucionalista
e) Histórica
f) Dos três elementos
g) Das causas econômicas ou patrimoniais

caius_c 59
Teorias da evolução natural

Alguns pensadores acreditaram ou acreditam que


o Estado surgiu de maneira natural em função da
reunião de famílias em torno de um objetivo comum.

Para ARISTÓTELES houve uma evolução natural


para constituição do Estado partindo da família, cuja
função seria a de atender as necessidades diárias do
indivíduo – os homo pyens5 ou homo capiens6.59 A
primeira sociedade constituída de muitas famílias foi o
burgo, que visava a utilidade comum, porém não
diária.60 A sociedade formada por inúmeros burgos
constituiu-se uma cidade completa, com todos os meios
para se prover a si mesma.61 Na ordem natural, o
Estado sobrepõe-se à família e a cada indivíduo, visto
que o todo deve, obrigatoriamente, ser posto antes da
parte.62

FUSTEL DE COULANGES diz que a família foi o


primeiro embrião do Estado. Sua forma expandida é o
clã, no qual um patriarca ou pai de família comanda os
demais. A união dos clãs gerou a cidade. No entanto,
Fustel afirmava que o princípio constitutivo da família foi
a religião e que esse elemento foi a primeira amálgama
das cidades, sua lei inicial e elemento comum a todos. 63

5
Literalmente, tirando o pão da mesma arca
6
Literalmente, que comem da mesma majedoura

caius_c 60
Para ROBERT FILMER, cada família primitiva se
ampliou dando origem ao Estado.64

ROBERT LOWIE diz que o Estado é um germe,


uma potencialidade, em todas as sociedades humanas,
as quais, todavia, prescindem dele quando se mantém
na forma simples e pouco desenvolvida. Quando
atingem certo grau de complexidade, o Estado se
constitui de forma espontânea. 65

Teorias contratualistas

As teorias contratualistas partem do princípio de


que existiu em alguma época remota um pacto entre os
homens para formarem os Estados.

THOMAS HOBBES, em seu livro Leviatã, afirma


que os homens deram-se conta do estado de anarquia
em que viviam e abdicaram de parte de sua
individualidade para a formação de uma hierarquia que
pudesse instaurar a ordem. O máximo elemento
controlador dessa estrutura seria uma assembléia ou um
homem – “A única maneira de instituir um tal poder
comum, capaz de defendê-los das invasões dos
estrangeiros e das injúrias uns dos outros, garantindo-
lhes assim uma segurança suficiente para que,
mediante seu próprio labor e graças aos frutos da terra,
possam alimentar-se e viver satisfeitos, é conferir toda
sua força e poder a um homem, ou a uma assembléia
de homens, que possa reduzir suas diversas vontades,
por pluralidade de votos, a uma só vontade.”66

caius_c 61
Para ele, o Estado era um monstro artificial,
descrito assim: “Porque pela arte é criado aquele grande
Leviatã a que se chama Estado, ou Cidade7, que não é
senão um homem artificial, embora de maior estatura e
força do que o homem natural, para cuja proteção e
defesa foi projetado. E no qual a soberania é uma alma
artificial, pois dá vida e movimento ao corpo inteiro; os
magistrados e outros funcionários judiciais ou
executivos, juntas artificiais; a recompensa e o castigo
(pelos quais, ligados ao trono da soberania, todas as
juntas e membros são levados a cumprir seu dever) são
os nervos, que fazem o mesmo no corpo natural; a
riqueza e prosperidade de todos os membros individuais
são a força; Salus Populi (a segurança do povo) é seu
objetivo; os conselheiros, através dos quais todas as
coisas que necessita saber lhe são sugeridas, são a
memória; a justiça e as leis, uma razão e uma vontade
artificiais; a concórdia é a saúde; a sedição é a doença;
e a guerra civil é a morte. Por último, os pactos e
convenções mediante os quais as partes deste Corpo
Político foram criadas, reunidas e unificadas
assemelham-se àquele Fiat, ao Façamos o homem
proferido por Deus na Criação.”67

SPINOSA forma opinião de que os homens foram


forçados a pôr termo ao estado de natureza em que
viviam e fizeram um pacto entre si, abdicando de todos
os direitos, exceto os de pensar, falar e escrever.

GROTIUS acredita que foi por simpatia recíproca.

7
Em latim, civitas

caius_c 62
PUFFENDORF afirma que o Estado se
estabeleceu por conta do receio dos homens maus
pelos homens bons. O Estado, inicialmente, foi uma
forma de defesa constituída para que pudesse
estabelecer uma paz social entre os indivíduos.68

JEAN JACQUES ROUSSEAU afirma, também,


que os homens uniram-se para formar o Estado através
de um pacto, de um contrato social. – “Eu imagino os
homens chegados ao ponto em que os obstáculos,
prejudiciais à sua conservação no estado natural, os
arrastam, por sua resistência, sobre as forças que
podem ser empregadas por cada indivíduo a fim de se
manter em tal estado. Então esse estado primitivo não
mais tem condições desubsistir, e o gênero humano
pereceria se não mudasse sua maneira de ser. Ora,
como é impossível aos homens engendrar novas forças,
mas apenas unir e dirigir as existentes, não lhes resta
outro meio, para se conservarem, senão formando, por
agregação, uma soma de forças que possa arrastá-los
sobre a resistência, pô-los em movimento por um único
móbil e fazê-los agir de comum acordo.” 69

Teorias do uso da força

As teorias do uso da força como criadora do


Estado dizem que ele somente nasce com a anexação
de grupos por outros e que esse conjunto que se forma
passa a denominar-se Estado.

GRUMPLOWICZ diz que o Estado é produto da


subjugação de um grupo social pelo outro, com

caius_c 63
estabelecimento de uma organização que permita essa
dominação.70

OPPENHEIMER expressa-se da mesma forma


que Grumplovicz, reafirmando que nenhum Estado
nasceu senão pela força. Para ele o estado foi criado
para regular as relações entre vencidos e vencedores,
com conseqüente exploração econômica deste sobre o
outro.71 Outros como LESTER WARD e CORNEJO
aderem à essa idéia de que os Estados foram formados
pela violência e dominação de um grupo sobre outro.72

Para PIOTR KROPOTKIN, o Estado só apareceu


quando as relações de propriedade dividiram a
sociedade em classes reciprocamente hostis, baseando-
se na idéia de que a coação seria necessária para que o
homem tivesse uma atitude socialmente correta. O
Estado impediria a hostilidade fazendo as classes
pobres obedecerem as mais ricas.73

Teoria constitucionalista

Alguns autores têm uma visão essencialmente


jurídica sobre a criação do Estado. Para eles, o Estado
somente passa a existir quando se estabelece uma
constituição ou lei maior que o rege.

Para CARRÉ DE MALBERG, o Estado passa a


existir quando constitui lei que seja para todos. Para ele
pouco importa o modo como o poder se formou ou como
são designadas as pessoas que o exercem. O que
determina a existência do Estado é o momento em que

caius_c 64
a coletividade estatal se organiza, exercendo o poder
através de órgãos especializados. 74

Teoria histórica

A teoria histórica não busca uma explicação geral


para a formação do Estado. Ela procura detectar, de
forma bastante particular, a origem de cada um deles.

BLUNTSCHI afirma que a origem dos Estados


pode ser estudada de duas maneiras: a primeira é
através da sua história e a segunda é através da
especulação sobre sua formação.75

Segundo ele, três são os modos pelos quais os


Estados se formam, do ponto de visto histórico:

1) Modo originário é aquele em que a formação é


totalmente nova, nascendo da população e do
país, sem a preexistência de um Estado

2) Modo secundário é a formação do Estado pela


união de outros Estados para a formação de um
novo ou seu fracionamento para formar outros.

3) Modo derivado é aquele em que a criação do


Estado se dá pela influência externa ou de outros.

Teoria dos três elementos

Essa teoria parte do princípio de que o Estado


surgiu somente quando os povos se tornaram

caius_c 65
sedentários. Sendo o Estado composto de povo,
território e governo, seria impossível que qualquer
sociedade nômade estabelecesse uma organização que
fosse além da família ou do clã.

Visto desta forma, a origem do Estado seria sua


própria definição. No instante em que todos os seus
componentes estivessem presentes, sua constituição
seria automática.

Segundo HAURIOU, a civilização começou com a


fixação do homem na terra, assim como as
instituições.O estabelecimento de famílias ou clãs dentro
de um território permitiu que as relações se firmassem e
que uma organização comum fosse criada. 76

Teoria das causas econômicas ou patrimoniais

PLATÃO supõe que o Estado tenha sido formado


para que os homens aproveitassem os benefícios da
divisão do trabalho, integrando-se as diferentes
atividades profissionais.77

Para HELLER, a posse gerou o poder e a


propriedade gerou o Estado.78

PREUSS sustenta que a característica do Estado


é a soberania territorial, portanto, patrimonial. 79

Para MARX, o Estado é um órgão de dominação


de classe, um órgão de submisso de uma classe por
outra; é a criação de uma "ordem" que legalize e

caius_c 66
consolide essa submissão, amortecendo a colisão das
classes. Para os políticos da pequena burguesia, ao
contrário, a ordem é precisamente a conciliação das
classes e não a submissão de uma classe por outra;
atenuar a colisão significa conciliar, e não arrancar às
classes oprimidas os meios e processos de luta contra
os opressores a cuja derrocada elas aspiram.80

ENGELS diz que o Estado é um produto da


sociedade numa certa fase do seu desenvolvimento. É a
confissão de que essa sociedade se embaraçou numa
insolúvel contradição interna, se dividiu em
antagonismos inconciliáveis de que não pode
desvencilhar-se. Mas, para que essas classes
antagônicas, com interesses econômicos contrários, não
se entre devorassem e não devorassem a sociedade
numa luta estéril, sentiu-se a necessidade de uma força
que se colocasse aparentemente acima da sociedade,
com o fim de atenuar o conflito nos limites da "ordem".
Essa força, que sai da sociedade, ficando, porém, por
cima dela e dela se afastando cada vez mais, é o
Estado”.81

Análise das teorias de formação do Estado

As teorias contratualistas parecem mais


convidativas porque evocam sentimentos que julgamos
comuns a todos. Os homens, para não viverem mais em
seu estado natural, resolveram estabelecer um acordo
entre si onde restringiram suas liberdades e concederam
poderes sobre si para alguém que deveria cuidar do
bem comum.

caius_c 67
JEAN PAUL-MARAT8, ensinado por Zaffaroni,
“admitia a tese contratualista afirmando que os homens
se reuniram em sociedade para garantir-se seu direito,
mas observava que através das gerações, a falta de
todo freio ao aumento das fortunas fez com que uns
enriquecessem a custa de outros e que um pequeno
número de famílias acumulasse riquezas, ao tempo em
que uma enorme massa foi ficando na indigência,
vivendo em terra ocupada por outros e sem poder
apropriar-se de nada.” 82

O homem é, por natureza, um animal social.


Aristóteles afirma que é um animal político e que, aquele
que não vive com outros homens é um ser superior ou
vil. Por conta dessa natural tendência em nos
associarmos, acreditamos que, também, seria natural
que os homens se reunissem sobre o comando de um
só ou de uma assembléia.

Um dos fatores de sobrevivência do Homus


sapiens foi usar a agregação social como forma de
sobrepujar outros animais. Porém, no Homus sapiens,
essa agregação social ainda está numa fase animal
onde a reunião é feita apenas com propósitos de poder,
dominação ou pura sobrevivência. O atual sentimento
de grupo pode ser comparado aos das manadas: um
animal social usa a manada para seu exclusivo
beneficio. Podemos dizer que o Homus sapiens, embora
seja um animal social, tem muitos elementos

8
1743-1793

caius_c 68
sociopatas9, ou seja, sua sobrevivência física depende
da manada e ele a usa para seus fins. O sentimento
gregário existe como forma de defesa individual e não
como elemento de agregação social.

Para o Homus sapiens, a sociedade funciona à


base da coerção e não da coesão. A partir do momento
em que as tribos se expandiram, a coesão social foi
substituída, em grande parte, pela coerção social. O seu
comportamento passou a ser direcionado e dirigido
pelas normas de conduta criadas para conter a natural
agressividade do homem.

Ao fazer isso, as classes dominantes se


apropriaram das fórmulas do convívio social e as
modificaram com o propósito de manterem as camadas
sociais sob seu comando. O conceito de viver em
sociedade passou a ser definido como forma de
dominação e isso deixou no inconsciente humano um
paradoxo: para viver bem é preciso seguir as regras
mas seguindo as regras ele se deixa subjugar pelas
classes dominantes.

Posto isso, esse contrato social que determinaria


posições de cada indivíduo dentro de uma sociedade na
qual poucos levam todas as vantagens, parece até
pueril.

As teorias de evolução natural de um núcleo


básico – a família – para formas expandidas como o clã
9
Este termo não é reconhecido oficialmente pelas ciências do
comportamento

caius_c 69
e a associação destes para formar a cidade ou o Estado
encerram as mesmas questões das teorias do contrato
social. É certo que as cidades nasceram como núcleos
de necessidade social, principalmente de comércio,
mas, ao acreditarmos que essa geração foi fruto de
uniões de clãs em comum acordo, caímos no mesmo
problema que envolve os contratos sociais: a
idealização de uma união através de acordos
espontâneos entre os homens, visando apenas seu bem
comum.

A maioria das cidades nasceu como ponto de


abastecimento para exploradores, militares ou
comerciantes, tornando-se, depois, agrupamentos
sociais efetivos, quando se mostraram seguras. No
Brasil, os bandeirantes utilizaram esse método com
freqüência, visto que era uma forma de avançar
lentamente e com segurança através do interior de um
país que desconheciam. Fustel de Coulanges sustenta
que as cidades gregas e romanas foram criadas a partir
da necessidade de outra cidade ou de um grupo, sendo
chamadas colônias. Apesar de serem independentes,
sua afinidade com a cidade-mãe as tornavam aliadas
naturais, o que ampliava o poder político e territorial de
suas criadoras. Em um mundo de cidades-estado, isso
era altamente significativo.

As teorias da evolução natural esbarram em


outros pontos que as tornam quase impraticáveis.
Apesar da família ser considerada como núcleo da
sociedade, ela não é um agrupamento social visto que
não pode se expandir alem dos limites de procriação do

caius_c 70
casal. O horror natural que temos do incesto impede que
exista essa expansão. O clã se depara com o mesmo
problema porque, para que exista reprodução saudável,
é necessário que as partes não tenham
consangüinidade. A alternativa é que sejam buscados
pares em outras famílias ou clãs distantes. Isso poderia
ser um elemento que geraria fusão entre eles e que
poderia ampliar-se em uma forma mais ampla de
sociedade. A questão é qual do patriarca desses clãs
abdicaria de seus poderes totais até então, para
converter-se em subordinado de outro, junto com toda
sua gente.

As teorias da força agradam aqueles que


acreditam que o ser humano é um predador selvagem e
que utiliza seus semelhantes para fins próprios. A
anexação de tribos ou clãs por outras através do uso da
força implica em submissão ou escravidão da vencida e
não sua integração ao meio social. Um exemplo
histórico muito claro é a subjugação dos messênios
pelos espartanos que, apesar se fazerem parte do
território de Esparta, tinham como única função prover o
sustento da mesma, sendo vedada qualquer
aproximação entre os seus. A diferença de população
entre um e outro obrigou a extrema militarização de
Esparta onde cada cidadão era um soldado e vivia sobre
as regras rígidas do Estado.

Essas teorias explicam a formação de impérios,


mas não a existência do Estado em si. Há de se convir
que uma guerra de anexação exige uma liderança que
esteja embasada em um agrupamento social que tenha

caius_c 71
os requisitos básicos que admitimos como essenciais à
existência do Estado como povo, território e governo.

As que assumem o Estado como concepção


jurídica, admitem que ele somente é criado a partir do
estabelecimento de uma constituição ou leis que
gerenciem o território e o povo. As constituições, como
as entendemos, somente tiveram seu início, segundo
alguns autores, com a assinatura da Magna Carta, em
1215,10 por João Sem Terra, da Inglaterra, limitando
seus poderes e concedendo direitos aos seus nobres.
Esta carta foi a primeira força coercitiva do poder
absoluto.

Se entendermos constituição como um conjunto


de leis, mesmo que não sejam escritas, qualquer tribo é
merecedora do título de Estado, visto que todos os
agrupamentos sociais dispõem de códigos de conduta e
coerção. Descartar-se-ia também, nessa idealização
jurídica, todos os Estados totalitários cuja linha mestra
legal é a vontade de seu ditador.

As teorias históricas são condizentes para


aqueles que desejam estudar a formação de
determinado país ou Estado e que deseja ter um ponto
qualitativo de transformação dessa sociedade. Elas não
explicam a formação de modo geral do Estado em si

10
Magna Carta Libertatum seu Concordiam inter regem Johannen at
barones pro concessione libertatum ecclesiae et regni angliae (Grande
carta das liberdades ou concórdia entre o Rei João e os Barões para a
outorga das liberdades da Igreja e do rei inglês) .

caius_c 72
mas apenas a de determinado país. É mais uma regra
para estudo do que uma teoria.

A teoria dos três elementos é bastante limitativa


pois confere apenas as três qualidades essenciais do
Estado que são povo, território e governo. Isso também
nos remete ao problema de considerarmos uma tribo
como um Estado, pois elas, exceto as nômades,
dispõem dessas qualidades.

As que invocam a economia e a patrimonialidade


como origem do Estado estão eivadas, na maioria, de
sentimentos classistas. Mesmo as que não estão,
sugerem que o Estado subsiste apenas como elemento
controlador da população, utilizado pelas classes
economicamente dominantes para submeter o resto da
população. Isto pode explicar a atuação do Estado mas
não sua origem. Supor que todo e qualquer Estado
surgiu por conta da dominação de um grupo sobre o
outro impediria qualquer tentativa de democracia, visto
que nesta forma de governo, os indivíduos da classe
dirigente são escolhidos pelo povo.

Todas essas teorias, que não explicam


satisfatoriamente a formação do Estado, nos remetem
ao começo desse livro e procura na definição de Estado
a busca pelos seus primórdios - Estado é uma
instituição organizada política, social e juridicamente,
ocupando um território definido, dirigida por um governo
que possui soberania reconhecida interna e
externamente.

caius_c 73
Provavelmente, a formação dos Estados ocorreu
por diversas maneiras, sendo inútil buscar uma única
teoria para explicá-la. Talvez os elementos mais
importantes que definam, de forma atual, o Estado seja,
além dos seus três elementos básicos, a soberania e
sua complexidade.

A soberania é o elemento que mantém coeso o


conjunto do Estado face às pressões internas e
externas. É o sentimento materializado que amalgama
todas as suas instituições para que trabalhem em torno
de objetivos comuns ao mesmo tempo em que faz com
que haja pouca ou nenhuma interferência de elementos
estranhos a ele.

A complexidade social é determinante para


estabelecimento de instituições, cuja função é
compartimentalizar o Estado e distribuir suas funções.
Um Estado moderno não sobreviveria sem elas, visto
que não poderia estender seus poderes à população de
forma efetiva. Nas sociedades com baixa densidade
populacional o mando é direto e imediato, não existindo
necessidade de nenhuma outra forma para que o poder
seja exercido. Nas sociedades mais densas, esse
mando tem que ser exercido através de instituições pré-
definidas, cuja função é fazer com que ele flua até o
comum cidadão.

Modos de nascimento do Estado

Os Estados têm um ciclo de nascimento, vida e


morte dentro da história. Entende-se que eles podem

caius_c 74
surgir dos seguintes modos: originário, secundário e
derivado.

A extinção do Estado pode ocorrer através das


variadas causas como desastres naturais, guerras,
absorção por outro Estado, etc.

Modo originário

O Estado nasce da própria sociedade, como


conseqüência da evolução natural da mesma.

Existem elementos aglutinadores provenientes da


população que se amoldam para formar o Estado. O
catalisador destes elementos, normalmente, é um líder
carismático que consegue obter o poder através da
confiança ou sujeição.

Modo secundário

Modo secundário é aquele em que o Estado


nasce da união ou divisão de outros Estados.

Modo derivado

É aquele que ocorre por força de movimentos


exteriores tais como colonização, concessão dos direitos
de soberania, conquista, etc. 83

caius_c 75
Nação

Cumpre falar de nação, pois, muitas vezes, esse


termo é utilizado como sinônimo de povo ou país. Pode
até ser usando metafórica ou comparativamente, no
entanto, seu significado é bastante diferente.

Segundo definição de DARCY AZAMBUJA,


nação é um grupo de indivíduos que se sentem unidos
pela origem comum, pelos interesses comuns e,
principalmente, por ideais e aspirações comuns. Povo é
entidade jurídica: nação é uma entidade moral no
sentido rigoroso da palavra.84

MANCINI define nação como uma sociedade


natural de homens, na qual a unidade de território,
origem costumes, língua e a comunhão de vida criaram
a consciência social. 85

EDWARD MACNALL BURNS diz que nação é um


conceito étnico, usado para designar um povo unido por
laços de língua, costumes e origem racial, por um
passado comum ou pela crença num comum destino;
uma nação pode ocupar ou não um território definido,
mas não possui o elemento soberania. 86

GONZAGA e DE CICCO traduzem, em palavras


simples, o conceito de nação como a manifestação de
um povo através da História.87

HAURIOU define nação como um grupo humano


no qual os indivíduos se sentem mutuamente unidos,

caius_c 76
por laços tanto materiais como espirituais, bem como
conscientes daquilo que os distingue dos indivíduos
componentes de outros grupos nacionais. 88

CELSO RIBEIRO BASTOS ensina que nação é


um conjunto de seres humanos, reunidos por conta de
um aglutinante, que pode ser histórico, cultural,
biológicos e outros, e que desejam preservar suas
características. Para ele, o conceito de nação está
relacionado com a organização política do povo e sua
personalidade jurídica. 89

Talvez o exemplo mais claro de nação seja a dos


judeus antes da formação do Estado de Israel, fundado
em 14 de maio de 1948. O fracasso da revolta de Bar
Kokhba contra o império romano determinou a expulsão
dos habitantes da região em 132 a.c. Por conta disso, os
judeus espalharam-se por quase todos os países,
mantendo, no entanto, sua religião e parte de seus
costumes, que foram elementos primordiais para
manutenção de sua identidade como nação.

A nação pode estar embutida no Estado mesmo


que não identifique-se com outros grupos existentes
dentro dele. Uma identidade própria é sua principal
característica.

A convivência de uma nação dentro de um


Estado que não lhe seja próprio nem sempre foi
pacífica. O neocolonialismo, iniciado na metade do
século XIX, pelas nações industrializadas e que
buscavam fontes de matéria-prima, mão de obra barata

caius_c 77
e mercado para seus produtos, produziu a divisão da
África, durante a Conferência de Berlim de 1885,
distribuindo territórios e população entre si. Etnias, tribos
e nações, historicamente antagônicas entre si, foram
juntadas em países artificiais. Isso produziu revoltas
contra essas nações dominantes ou contra governos
estabelecidos por elas. Extermínios e chacinas foram a
tônica predominante desde então. Um dos mais
tristemente célebres foi massacre dos tutsis pelos hutus,
em 1994, que eram a etnia predominante em Ruanda.
Estima-se que morreram quase um milhão de tutsis com
golpes de machetes, facões importados da China, dados
pelos hutus, além de estupros generalizados contra as
mulheres tutsis.

Atualmente, acredita-se que a nação curda é a


etnia mais numerosa do planeta sem um Estado próprio.
Seu povo está dividido entre a Turquia, Síria, Iraque,
Azerbaijão, Irã e Armênia. Em 1988, um ataque do
exército do Iraque, então sob o governo de Saddam
Hussein, com armas químicas, matou cerca de cinco mil
curdos.

Algumas nações, como as indígenas, por serem


juridicamente consideradas como parcialmente
incapazes, são protegidas pelo Estado que as englobou.
No Brasil, em 2005, existiam 488 terras indígenas
demarcadas, que representavam 12,41% do território
brasileiro. Nesse período, outras 123 ainda estavam em
processo de identificação e demarcação. Segundo o
relatório Povos Indígenas no Brasil, lançado no final de

caius_c 78
2006 pelo Instituto Socioambiental (ISA), existiam 225
etnias no país.90

O fenômeno da nação deve ser entendido dentro


de uma definição sociológica. Seus limites podem estar
dentro do Estado como extrapolá-los, embora sempre
esteja submissa ao mesmo. Seus costumes devem se
encaixarem dentro da legislação para que tenham algum
valor jurídico. Cabe uma ação por parte do Estado se o
seu modus vivendi afronta o direito.

A cidade-estado

A cidade-estado foi a primeira forma efetiva de


Estado como o conhecemos. Dispunha de povo,
território, governo, soberania e complexidade estrutural.
Seria a forma mais básica de um Estado.

As cidades-estado gregas são o exemplo mais


claro. Mesmo habitadas por povos que falassem a
mesma língua e tivessem os mesmos costumes, sua
autonomia era evidente. As contínuas guerras entre elas
e as mudanças de alianças que se permitiam, indicam o
grau de governo próprio que cada uma dispunha.

Historicamente não precisamos ir tão longe para


encontrarmos cidades-estado. Na Renascença, a Itália
estava pontilhada delas e a Alemanha foi palco dessa
forma de governo até sua unificação.

Fatos que podem ter contribuído para a criação


das cidades-estado foram a distância entre elas e seu

caius_c 79
domínio por oligarquias. Esses dois fatores impediriam
que houvesse uma unificação natural entre elas e um
único governo. Para que isso ocorresse deveria existir
uma liderança que fosse comum a elas ou que
houvesse conquista de uma pela outra. A conquista ou
unificação sobre uma mesma liderança originou os
reinos.

O reino

Por reino devemos entender o Estado que


abrange diversas cidades, e que tenha um povo e
governo comum. Podemos considerá-lo como evolução
das cidades-estado para a qualidade de país.

Na Europa, o declínio das cidades começou com


a queda do Império Romano. Em 455 d.C., os vândalos
saquearam Roma. Em 476 d.C., o último imperador
romano, Romulus Augustulus, abdicou do trono. No
oeste, o império romano chegou ao fim, mas continuou
no leste até o século XV.

Com o fim do poder central, parte da Europa


retraiu-se para uma vida agrícola em volta dos castelos
feudais, de onde obtinham proteção em troca de
servidão. As cidades decaíram e voltaram a ser postos
de trocas ou de pequeno comércio.

Além da baixa tecnologia empregada na


agricultura, estudos comprovam que o clima contribuiu
para manter os alimentos escassos e população
reduzida. Isso contribuiu para que o feudalismo fosse a

caius_c 80
forma padrão de governo. Os anos de 671, 764, 860,
913, 1074, 1150, 1205, 1225, 1264, 1282, 1299, 1306,
1408, 1423, 1435, 1443, 1458, 1460, 1465, 1481 e
1491, tiveram invernos frios e prolongados. O período
de 1257-1258 caracterizou-se por chuvas abundantes
em toda a Europa, que prejudicou as
plantações,provocando fome geral. Na Inglaterra, em
764, o gelo do inverno perdurou por toda a primavera e
em 871, tal fato repetiu-se.91

No século XII, deu-se o que convencionou


chamar-se de Renascimento desse período. Um dos
efeitos foi a renovação das cidades. Muitas das cidades,
que eram chamadas de burgos, libertaram-se do jugo do
senhor feudal através da luta armada ou pagamento,
passando a ser controlada pela burguesia florescente.
Estas cidades independentes, agora chamadas
comunas, começaram a planejar uma forma de governo,
com direito a prefeito e magistrados, que estabeleciam
tributos, elaboravam leis e mantinham a cidade
defendida.92 Foi o retorno do velho conceito de cidade-
estado grega.

Uma piora climática provocou períodos de fome,


como em 1315-1317. Outros eventos, como a peste
negra e guerras prolongadas, fizeram a vida florescente
das cidades retroceder. Essa situação vigorou até início
da Idade Moderna, com a fase conhecida como
Renascença, quando as cidades ressurgiram e
assumiram seu papel de centro controlador da
sociedade.93

caius_c 81
Nesse período, o conceito de país começou a
existir, principalmente através de alguns fatos, como a
Reconquista, nome pelo qual é conhecido o período que
vai do século VIII a 1492, durante o qual as terras
invadidas pelos muçulmanos foram retomadas pelos
cristãos. Em Portugal, esse período terminou em 1253.

Carlos Martel11 expandiu seus domínios ao


conquistar os reinos francos de Austrásia, Nêustria e
Borgonha. Em 732 d.C., impediu o avanço dos
muçulmanos sobre a Europa ao vencer a batalha de
Poitiers. Depois de sua morte, no entanto, seu reino foi
dividido entre seus filhos Carlomano e Pepino, o Breve.
Este último reunificou novamente o reino mas, no
entanto, dividiu-o entre Carlomano e Carlos Magno. A
unificação da França sob um único rei, Carlos Magno,
ocorreu em 771, com a morte de seu irmão Carlomano.

O primeiro rei da Inglaterra considerado como tal


foi Egbert de Wessex12, embora seu título fosse de
Bretwalda, que pode ser traduzido como Sobressenhor
da Bretanha. O título de rei surgiu com Alfredo, o
Grande, que governou entre 871 e 899. Essa infra-
estrutura e padrão sobreviveram mesmo com a
conquista da Inglaterra por Guilherme, o Conquistador,
em 1066, considerado por alguns como o primeiro rei da
Inglaterra.

Esses países que se formaram ao longo do


tempo, com anexações de territórios e povos correlatos
11
668-741 d.C.
12
m. 839 d.C.

caius_c 82
sob o mesmo domínio são exemplos típicos de reinos. A
formação da Europa deu-se quase nessa forma, com a
aglutinação de povos com a mesma identidade sob um
mesmo comando.

Aqueles que assim não procederam, carregando


dentro de um mesmo reino povos distintos, foram se
fracionando ou então acabam enfrentando problemas
para manutenção da unidade. Como exemplo, podemos
citar o país basco, sob domínio da Espanha, que luta
por sua independência desde o século XIX. A renúncia
ao movimento armado, através da organização ETA,
ocorreu em 2006. No entanto, continua, de forma
pacífica, as tentativas para que essa região se torne
independente.

A antiga Iugoslávia é exemplo de reino


estabelecido com diferentes povos e diferentes culturas,
e que terminou em esfacelamento do Estado inicial. Em
2006, a Eslovênia, Croácia, Macedônia e Bósnia-
Herzegovina, obtiveram sua independência.

Mesmo tendo um comando único, o reino precisa


de identificação entre seus habitantes para se firmar
como entidade própria. Um reino é a consolidação de
uma cultura sobre um território debaixo de um mesmo
governo.

O império

A diferença maior entre império e reino é que este


procura manter uma territorialidade baseada em povos

caius_c 83
com identidade semelhante. Isso termina por produzir
um tratamento isonômico a todos, que gera um
sentimento de unidade.

O império é voraz. Ele conquista para poder obter


todas as vantagens para si. Não busca integração entre
povos mas sua submissão. Sua força reside na violência
física ou econômica.

Alguns deles situam-se em posição intermediária


entre reino e império. A China, que era composta de
cidades-estado, com registros que datam do século XVI
a.C., foi unificada no ano 221 a.C., por Qin Shi Huang
Di, que tomou para si o título de Primeiro Imperador da
China.94 Embora composta por etnias diferentes, a
padronização dos sistemas de pesos, medida, moeda,
sistema legal e até largura de carroças, abolição dos
sistemas legais próprios, criação de províncias
subordinadas ao Imperador, etc, produziu semelhanças
entre a população e não diferenças.

Com o Japão não foi diferente. Sua unificação no


século IV pelo clã Yamato transformou uma série de
pequenos estados feudais espalhados pelas suas mais
de três mil ilhas em um império nos moldes da China.95
Essa unificação produziu um Estado central controlador
de um povo cuja cultura era bastante homogênea.

Embora tenha diversas dominações de acordo


com o seu período histórico, o Império Romano é o
exemplo mais antigo e conhecido de dominação.
Fundada em 753 a.C., pelos mitológicos Rômulo e

caius_c 84
Remo, teve uma expansão acelerada nos séculos III e II
a.C., através de conquistas que iniciaram-se na Itália,
esparramando-se pela Europa, África e Oriente Médio.

Nos moldes de dominação física, um dos


impérios mais recentes é o inglês. Durante o período
vitoriano13, a Inglaterra detinha sob seu jugo quase um
quinto das terras do planeta. Juntamente com ela, sob a
égide do neocolonialismo, Estados Unidos, França,
Espanha, Portugal, Japão e outros, partiram em busca
de territórios para si, com o intuito de buscar matéria-
prima e revender seus produtos industrializados.

Podemos considerar a Segunda Guerra como o


ápice do neocolonialismo. As nações do chamado Eixo,
Alemanha, Itália e Japão, tentaram dominar militarmente
aquilo que haviam repartido teoricamente entre si, que
era a Europa, África e Ásia.

HITLER expressa bem essa idéia de conquista


em seu livro “Minha luta” – “Não tolereis jamais a
formação de duas potências continentais na Europa.
Divisai em toda tentativa de formar, nas fronteiras
alemãs, uma segunda potência militar como um ataque
contra a Alemanha, mesmo que se trate de um Estado
apenas capaz de se transformar em potência militar; e
vede nisso, não só um direito, como um dever, de, por
todos os meios, mesmo com o emprego de força
armada, evitar a formação de um tal Estado, ou destruí-
lo, caso ele já se tenha formado. Diligenciai para que a

13
1837-1901

caius_c 85
força de nosso povo não se baseie em colônias e, sim,
em território na Europa.”96

O império pode existir na forma de dominação


militar-ideológica. A antiga União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas14 é o exemplo mais recente. Foi
composta pelos países pertencentes ao Antigo Império
Russo e perdurou de 1922 a 1991.

Depois da Segunda Guerra Mundial, a dominação


militar deixou de ter grande importância, visto que surgiu
uma forma melhor de subjugar os povos: pela
econômica. Disfarçado de inúmeras formas, o
neocolonialismo sobrevive através desse novo meio.

A República

Podemos considerar a república como um


sistema de governo anômalo, visto que floresceu na
antiguidade, em sua maior parte, na Grécia e Roma
antiga, de forma oligarquizada, sempre como cidade-
estado, quando o comum era a forma tirânica, reinado
ou império.

Na Europa, após a Idade Média, retornou na


forma greco-romana em alguns países, como a Itália e
Holanda.

No século XVII, existiu uma experiência


republicana na Inglaterra sob o comando de Oliver

14
URSS

caius_c 86
Cromwell15, ao qual se atribui a condenação à morte do
rei Carlos I e sua decapitação em janeiro de 1649. A
monarquia foi abolida e o país teve uma experiência
republicana entre 1649 e 1653. Neste ano, Cromwell
dissolveu o parlamento e tomou o poder como um
ditador.

O alvorecer da República, na forma como a


conhecemos, deu-se com a Independência Americana
em 1783 e com a Revolução Francesa em 1789-1799.

A França viveu três períodos republicanos


distintos: a Primeira República, iniciado em 1792 e
findada com a tomada do poder por Napoleão em 1799,
com o chamado “Golpe 18 de Brumário”16, quando foi
instituído o consulado. A Segunda República, entre 1848
e 1851, não teve o apoio necessário da população e
pereceu. A Terceira República foi proclamada em 1871,
depois da derrota da França na Guerra Franco-
prussiana. Em 1880 o regime monárquico foi
definitivamente abolido e a forma republicana de
governo foi confirmada.

A Itália teve um breve período republicano entre


1802 e 1805, tendo como presidente Napoleão
Bonaparte. Deixou de existir em 26 de maio de 1805,
quando transformou-se no Reino de Itália (1805-1814),
com a coroação de Napoleão Bonaparte como rei da
Itália. Tornou-se novamente república após a queda de
Benito Mussolini em 1945.
15
1599-1658
16
09 de novembro, no calendário gregoriano

caius_c 87
A República de Weimar, na Alemanha, foi
instaurada logo após a Primeira Guerra Mundial, em
1918. Sobreviveu até 1933, com a subida de Hitler ao
poder.97 Depois da Segunda Guerra, dividida em
Alemanha Ocidental e Oriental, assumiu a forma
republicana naquela e comunista nesta. Com a
reunificação das Alemanhas em 1990, após a Queda do
Muro de Berlim, ela adotou integralmente o regime
republicano. Da República de Weimar, no entanto,
restou sua constituição que serviu de base ou exemplo
para as de outros países.

Portugal pôs fim à monarquia em 05 de outubro


de 1910. Após inúmeros combates contra as forças
monarquistas, as tropas republicanas conseguiram
tomar o poder. Esta primeira fase republicana durou
pouco devido à instabilidade provocada pela falta de um
governo que fosse consensual e que pudesse articular-
se entre a panacéia idealista que fervia na época. Ela
retornou em 28 de maio de 1926.

Nas Américas do Sul e Central, foram instaladas


algumas repúblicas após as guerras de independência.
Muitas delas serviram apenas para disfarçar o regime
oligárquico ou tirânico imposto aos povos. Outras eram
apenas fachadas para a dominação neocolonialista. A
quantidade de revoltas, quarteladas e mudanças de
governos, produziu o termo pejorativo “república de
bananas”, que designou a maioria deles.

No Brasil, a república foi instituída em 15 de


novembro de 1899, pelo Marechal Deodoro da Fonseca,

caius_c 88
que se tornou o primeiro presidente do país. O golpe
militar, que estava previsto para 20 de novembro de
1889, teve de ser antecipado. No dia 14, divulgou-se a
notícia (que posteriormente se revelou falsa) de que era
iminente a prisão de Benjamin Constant Botelho de
Magalhães e Deodoro da Fonseca. Por isso, na
madrugada do dia 15 de novembro, Deodoro iniciou o
movimento que pôs fim ao regime imperial.

Os revoltosos ocuparam o quartel-general do Rio


de Janeiro e depois o Ministério da Guerra. Depuseram
o Ministério e prenderam seu presidente, Afonso Celso
de Assis Figueiredo, Visconde de Ouro Preto. Na tarde
do mesmo dia 15, na Câmara Municipal do Rio de
Janeiro, foi solenemente proclamada a República. D.
Pedro II, que estava em Petrópolis, retornou ao Rio.
Pensando que o objetivo dos revolucionários era apenas
substituir o Ministério, o imperador tentou ainda
organizar outro, sob a presidência do conselheiro José
Antônio Saraiva. No dia seguinte, o major Frederico
Sólon Sampaio Ribeiro entregou a D. Pedro II uma
comunicação, cientificando-o da proclamação do novo
regime e solicitando sua partida para a Europa, a fim de
evitar conturbações políticas.

Podemos considerar a forma republicana como


uma conquista de idéias iniciadas por teóricos como
Platão, Aristóteles e outros, na Grécia antiga, assim
como por Cícero, em Roma. Mesmo alguns absolutistas
como Jean Bodin, na Idade Média, defendiam alguns de
seus princípios. Na França, podemos destacar Diderot,

caius_c 89
Condorcet, Rousseau, Blanqui, Lamartine, Auguste
Blanc e Augusto Comte.

Estas idéias, disseminadas aos poucos através


de uma sociedade que acreditava que os reis existiam
por vontade divina, vieram apenas no encalço de um
dos sentimentos mais básicos do ser humano que é
viver em liberdade, dentro de uma sociedade que seja
efetivamente voltada para o bem comum.

No entanto, a República é fato recente na História


humana e, de certa forma, ainda pode ser considerada
como um regime incomum, visto que não existe na
maioria dos países. Podemos considerar que ela ainda
está na sua infância.

caius_c 90
Estados idealizados
“Construamos, pois, em
pensamento, uma cidade,
cujos alicerces serão as
nossas necessidades.” –
(Platão)98

Os Estados idealizados foram criados pela


imaginação de autores que buscavam uma solução ou
alternativa para os governos de sua época. Nenhum
deles se impôs por serem altamente idealizados. No
entanto, seu estudo nos fornece parâmetros para
avaliarmos a necessidade humana de regulamentação
social e, também, vistos no contrapostos, dão uma boa
visão dos governos das épocas em que viveram seus
autores.

Anarquia

Anarquia também é considerada como uma forma


de governo, ou melhor, uma forma de não-governo.
Pode ser considerada, também, como uma forma de
vida ou pensamento, que foi relativamente difundida no
final do século XIX e início do século XX. ZÉLIA GATTAI

caius_c 91
expôs de maneira singela esse pensamento em seu livro
“Anarquistas, graças a Deus”.99

Seu maior expoente foi Bakunin. MIKHAIL


BAKUNIN17 entende que o Estado é apenas uma forma
de dominação imposta por uma classe sobre outra –
“Numa palavra, rejeitamos toda legislação, toda
autoridade e toda influência privilegiada, titulada, oficial
e legal, mesmo emanada do sufrágio universal,
convencido de que ela só poderia existir em proveito de
uma minoria dominante e exploradora, contra os
interesses da imensa maioria subjugada”.

Ele rejeita a idéia de um governo central, visto


que acredita que a liberdade individual é mais
importante para os homens - “Decorre daí que rejeito
toda autoridade? Longe de mim este pensamento.
Quando se trata de botas, apelo para a autoridade dos
sapateiros; se se trata de uma casa, de um canal ou de
uma ferrovia, consulto a do arquiteto ou a do
engenheiro. Por tal ciência especial, dirijo-me a este ou
àquele cientista. Mas não deixo que me Imponham nem
o sapateiro, nem o arquiteto, nem o cientista. Eu os
aceito livremente e com todo o respeito que me
merecem sua inteligência, seu caráter, seu saber,
reservando todavia meu direito incontestável de crítica e
de controle.”

O controle social, segundo ele, seria a aceitação


pelo indivíduo de leis que ele denomina como naturais.
Essas leis, esses princípios, seriam inerentes a todos.
17
1814-1876

caius_c 92
Essa forma de viver sem um governo central é
denominada anarquia.

Por tratar-se de uma filosofia atentatória ao poder


dos governos, foi reprimida e detratada por estes.
Alguns de seus adeptos voltaram-se para a tomada dos
governos baseados na premissa da violência,
produzindo atentados e alguns assassinatos, o que
aumentou a repressão contra os anarquistas.

Como filosofia, talvez, a anarquia proposta por


Bakunin e outros teóricos seja uma expressão de revolta
do homem que quer libertar-se dos seus jugos e
caminhar por suas próprias razões.

A República, de Platão100

Escrita no século IV a.C., o tema central de seu


livro é a justiça. Na forma de diálogo, cujo personagem
central é Sócrates, constrói-se hipoteticamente uma
cidade, uma república.

Platão divide sua República em três classes: a


dos artesãos, comerciantes e lavradores, a dos
guerreiros e a dos magistrados. Estes últimos seriam
escolhidos entre os guerreiros mais sábios.

Ele acredita que três virtudes são necessárias


para a cidade: sabedoria, coragem e moderação. Todas
elas seriam necessárias aos magistrados, coragem e
moderação para os guardiães e moderação para o povo.

caius_c 93
Uma quarta virtude, a justiça, faria parte da cidade como
um todo.

Para os guardiães seria necessário dar uma


educação que englobasse ginástica e música. A
primeira seria para que eles tivessem corpos saudáveis
e a segunda para que pudessem ser pacíficos entre os
seus. Eles não deveriam possuir nada que não fossem
objetos próprios. Suas necessidades deveriam ser
supridas pela cidade.

Platão propõe controle sobre as obras escritas e


faladas. Para ele, elas deveriam servir como fonte de
exaltação e exemplo das virtudes para os cidadãos,
principalmente os jovens. - “Mas bastará velar sobre os
poetas e obrigá-los a não introduzirem nas suas
criações senão a imagem do bom caráter? Não
devemos vigiar também os outros artesãos e impedi-los
de introduzirem o vício, a incontinência, a baixeza e a
feiúra na pintura dos seres vivos, na arquitetura ou em
qualquer outra arte?”

De certa forma, ele propõe controle sobre a


vitalidade da população através da eugenia. Os que têm
corpo enfermiço ele recomenda que se deixe morrer.
Essa mentalidade se avança para o plano moral quando
ele recomenda que os que têm alma perversa e sejam
incorrigíveis sejam condenados à morte pelos juízes.

Platão propõe que existam casamentos coletivos


entre os guardiães e as melhores mulheres de sua
República – “Todas as mulheres dos nossos guerreiros

caius_c 94
pertencerão a todos: nenhuma delas habitará em
particular com nenhum deles. Da mesma maneira, os
filhos serão comuns e os pais não conhecerão os seus
filhos nem estes os seus pais.”

A educação dos filhos dos guardiães será de


responsabilidade de amas especiais e viverão dentro de
um bairro específico. Aqueles que forem julgados falhos
de corpo ou caráter serão levados a paradeiro
desconhecido e secreto. Essa educação a ser
ministrada é umas das grandes preocupações de
Platão. Ele acredita que ela definirá o caráter do cidadão
e, por extensão, da sua República. Assim sendo, ela
deve ser ministrada desde a infância para meninos e
meninas.

Por fim, ele menciona que a Filosofia e as


habilidades políticas deveriam convergir para aqueles
que estivessem no poder, pois seria a única maneira de
propiciar tratamento justo para os cidadãos e satisfazer
suas necessidades.

Utopia, de Thomas More101

Thomas More ou Thomas Morus, na sua forma


latinizada, publicou sua mais famosa obra em 1516.

A palavra utopia significa “lugar que não existe.


Com o passar dos anos adquiriu o significado de algo
extremamente idealizado e fantástico ou algo que
desejamos e não poderemos alcançar.

caius_c 95
Originalmente, no livro homônimo de Thomas
More, era uma comunidade que vivia em paz, dividia
seus bens e tinham o mesmo padrão de vida. Não
existiam guerras e, quando elas aconteciam, eles
preferiam contratar mercenários ao invés de enviar seus
cidadãos para a luta.

As cidades eram planificadas e tinham as


mesmas dimensões. Se a população de uma excedia o
limite estabelecido, seus habitantes mudavam-se para
outras que pudessem comportá-los ou criavam uma
nova.

Seus governantes eram escolhidos por votação e


ficavam por tempo determinado no cargo. Todos tinham
a obrigação, independente do cargo, de trabalhar na
agricultura por determinado período.

No entanto, era uma sociedade que permitia a


escravidão e a eutanásia. Suas leis eram poucas e
inexistiam advogados, pois os próprios cidadãos se
defendiam nos tribunais, visto que eram grandes
conhecedores das leis.

O primeiro passo para o casamento era mostrar a


noiva nua para o noivo e vice-versa, por pessoas de
confiança, para aprovação recíproca, pois se pretendia
que o casamento fosse isento de qualquer engano. O
adultério era punido com a escravidão e a simples
solicitação de qualquer favor sexual era considerada
como estupro.

caius_c 96
Os utopianos não assinavam tratados com
nenhum outro país pois acreditavam que os príncipes
pouco os respeitavam e, portanto, nenhum deles valia.

A religião era livre e cada um adorava seu deus


particular, embora a maioria adotasse a crença em um
deus único, a quem denominavam pai.

Projeto Venus 102

O Projeto Venus é a mudança de padrões da


sociedade atual para uma de alta tecnologia, com
economia baseada em recursos e não no sistema
monetário. Faz parte do Movimento Zeitgeist, que é um
termo alemão que significa espírito da época ou espírito
do tempo, que propaga suas idéias através de CDs e
pela internet.

Para os adeptos, o mundo atual não está sendo


gerido por governos e sim por uma corporatocracia,
liderada por um grupo de indivíduos que gerenciam as
grandes empresas e que controlam a mídia e os
políticos. O lema principal destes corporatocratas é a
maximização dos lucros, independente do impacto
social e ambiental. O mundo, para eles, é apenas um
“negócio”.

A mudança do atual sistema financeiro é o


principal alvo do movimento, visto que ele acredita que
qualquer evolução humana seria impossível dentro de
suas premissas. As crenças seriam outro impedimento
para que o ser humano prospere.

caius_c 97
O uso intensivo de alta tecnologia e seu acesso
por todas as pessoas, permitiria que o homem se
libertasse das atividades perigosas ou destrutivas do
intelecto, fazendo com que ele voltasse todo seu
potencial para a criação de melhorias para o bem
comum.

Para alcançar essa nova sociedade, o movimento


propõe que:

1) Sejam boicotadas todas as grandes instituições


financeiras;
2) Usar a internet como principal fonte de notícias,
visto que a mídia transmite somente aquilo que
os corporatocratas desejam;
3) Boicote a toda instituição militar e não-
alistamento.
4) Boicote as companhias e formas de energia
poluidoras. Uso de energia limpa como eólica,
solar, geotérmica, etc;
5) Rejeição ao atual sistema político, por acreditar
que a democracia que conhecemos é, na
realidade, um sistema opressivo comandado
pelas empresas; e
6) Juntar-se ao Movimento Zeitgeist.

Com o uso da tecnologia para solucionar os


problemas humanos, a divisão equitativa dos recursos e
com a sobrevivência garantida, o ser humano não
cometeria mais crimes e, portanto, a lei poderia ser
extinta.

caius_c 98
Uma sociedade justa e produtiva não precisaria
de governos e o Estado seria extinto naturalmente –
“Erradicado do mundo, o Estado não faz nada, pois não
há Estado.”103

A cidade do sol, de Tommazo Campanella104

Nascido em 05 de setembro de 1568 e falecido


em 1639, Tommazo Campanella é considerado um dos
mártires do livre pensamento. Durante sua vida foi
perseguido, o que lhe valeu ter ficado preso por 26
anos. Sua obra, A Cidade do Sol, é comparada às de
Platão e Thomas More.

Sua cidade do sol era dividida em sete círculos


circundados por muralhas. Situava-se em uma planície
sob a linha do equador, perto de Taprobana, uma ilha
do mar das Índias, hoje Ceilão.

A cidade é governada por um sacerdote supremo,


Hoh, também chamado de Metafísico, com autoridade
absoluta, tanto no plano espiritual como temporal. Ele é
auxiliado por outros três, chamados Pon, Sin e Mor,
nomes que equivalem a Potência, Sapiência e Amor.

A Sapiência tem o governo de tudo que se


relaciona com a paz e guerra. O Amor é o responsável
pela organização da reprodução, buscando a excelência
da prole. A Potência preside os mestres da guerra e
comanda os atletas.

caius_c 99
Os cidadãos vivem sobre o regime da comunhão
de bens e das mulheres, presididos por magistrados que
impedem que um tenha mais que outro – “jus naturale
est id quod natura omnia animalia docuit.18 É, pois, certo
que, por direito natural, todas as coisas são comuns.”
(p.51)

Os habitantes chamam-se entre si de irmãos,


adquirindo o nome de pais depois da idade de vinte e
dois anos. Antes dessa idade, cada um diz-se filho.

Os crimes cometidos são julgados pela lei do


talião, embora existam mecanismos que atenuam o
castigo. A pena mais comum é a privação da mesa
comum e proibição de acesso às mulheres e outras
honras, pelo tempo que o magistrado julgar necessário.
Os crimes de injúria são punidos de forma discreta ou
aquele que se julga imerecedor pode prová-lo na guerra
pública. Os primeiros artífices são todos juízes e punem
com o exílio, a pancada, a desonra, a privação da mesa
comum, a interdição ao templo, a proibição das
mulheres. E, quando os excessos são muito graves,
punem também com a morte. A execução do condenado
é feita pelo próprio povo, em praça pública.

Tanto os homens como as mulheres usam roupas


iguais, próprias para a guerra, sendo que nos homens
os joelhos são descobertos e nas mulheres as togas os
encobrem.

18
"0 direito natural é aquele que a natureza ensina a todos os animais."

caius_c 100
A educação é dada para os dois sexos de forma
igual. A ginástica é feita nos moldes da antiga Esparta e
os atletas, tanto homens como mulheres, a fazem nus.
Os magistrados aproveitam essa oportunidade para
definirem os casais que deverão procriar entre si. Todos
devem conhecer as técnicas de agricultura, pecuária e
da guerra. Os mais aptos nos estudos são escolhidos
para fazerem parte do corpo de magistrados, que são
escolhidos através de votação. Em um mundo
governado por monarcas hereditários, Tommazo lança
um vitupério – “Estamos tão certos de que um sábio
pode ter aptidões para o bom governo de uma república
quanto vós, que preferis homens ignorantes, julgados
hábeis somente porque descendem de príncipes ou são
eleitos pela prepotência de um partido.” (p. 12)

O trabalho, no entanto, embora possa ser


comum, é dividido de acordo com a capacidade física de
cada sexo.

A reprodução é controlada. Os homens e


mulheres unem-se de acordo com suas capacidades
físicas, mentais e espirituais, que são determinadas
pelos magistrados. É uma modalidade de concúbito, na
qual só geram os melhores, em épocas próprias para
geração, de acordo com a astrologia e a idade de cada
um. A masturbação é vista como falha grave e para
evitá-la permite-se relações sexuais com mulheres
grávidas, estéreis, matronas e velhos mais idosos,
desde que aprovadas pelo Grande Doutor da medicina.
Os homossexuais, quando surpreendidos, são
obrigados a conduzirem seus sapatos na cabeça

caius_c 101
durante dois dias, como castigo. Os reincidentes podem
ser condenados à pena capital.

Os solares não costumam possuir servos,


encarregando-se, eles próprios das tarefas.

Acreditam na imortalidade da alma que, ao sair


do corpo é acompanhada pelos espíritos bons ou maus,
conforme sua vida na terra. Admitem a metempsicose
da alma apenas uma vez ou outra, por especial justiça
de Deus. A astrologia é vista como forma de estabelecer
ligação temporal e espiritual entre homem e céu.

Os solares são guerreiros. Combatem aqueles


que atentem contra a república, a religião e a
humanidade. Ajudam seus vizinhos a livrarem-se de
seus inimigos, enviando, primeiro, um sacerdote
chamado Forense, para que peça a eles a restituição da
presa, a libertação dos aliados ou cessação da tirania.
Não concedidos, os solares fazem a guerra. Dessa
forma, eles se tornam os defensores do direito natural e
da religião.

Os chefes militares solares que foram vencidos


em batalha são infamados e o soldado que primeiro
fugiu é condenado à morte. – “É batido com vergas
quem não socorre o amigo, e quem se mostrou
desobediente é encerrado num recinto para ser
devorado pelas feras, pondo-se-lhe nas mãos um
bastão, de forma que, se vencer os ursos e os leões que
o guardam, o que é quase impossível, será novamente
admitido na sociedade.” (p.24) As leis do direito natural

caius_c 102
são impostas às cidades subjugadas e seus filhos são
educados na Cidade do Sol.

Tomazzo acrescenta em sua Cidade do Sol


alguma tecnologia inexistente como carroças com velas
e mecanismos nas rodas que facilitam sua locomoção.

Também, mostra-se partidário da teoria de Gaia,


a mãe-terra, considerando o planeta como um
organismo vivo – “Acreditam ser o mundo um grande
animal, vivendo nós no seu ventre como os vermes no
nosso, e, por isso, não pertencemos à providência
própria das estrelas, do sol e da terra, mas somente à
de Deus, porque, em relação a estas, entendidas para
outro escopo, somos apenas uma sua amplificação,
tendo nascido e estando vivendo por acaso; mas, em
relação a Deus, do qual as coisas são instrumentos,
fomos criados com preciência e ordem, destinando-nos
a um grande fim.” (p.36)

Daqui a cem anos, de Edward Bellamy 105

O personagem central do livro de Bellamy,


Juliano West, vai dormir no ano de 1887 e acorda em
Boston no ano de 2000, cento e treze anos, três meses
e onze dias depois.

A luta de classes foi resolvida com a criação de


um monopólio único que controla toda a indústria e
comércio, sob administração do povo. Não existindo
mais a guerra de capitais e exploração do empregado, a
sociedade trabalha de forma justa.

caius_c 103
Os governos não têm mais poderes bélicos, nem
partidos ou políticos. A nação assumiu todas as
responsabilidades pelo capital. A nação é o único
patrão. As pessoas têm que prestar serviços nas
indústrias ou serviços intelectuais durante certo período
da vida, sendo esse contingente chamado de exército
industrial. As pessoas executam serviços de acordo com
suas aptidões naturais. Os salários são pagos em forma
de crédito, sendo que cada cidadão pode retirar nos
armazéns aquilo que necessita. O merecimento do
salário é feito com base moral. Os que não podem
trabalhar como os deficientes físicos ou velhos recebem
o mesmo quinhão dos produtos.

As lojas foram substituídas por armazéns de


amostra, onde se adquire o produto e um armazém
central remete o mesmo através de dutos pneumáticos.
Os artigos, não sendo vendáveis, impedem a
acumulação de bens pelo cidadão. A produção é
controlada pelo governo calculando-se as necessidades
de consumo, através de corporações.

O general de cada corporação é eleito por


sufrágio, tendo, porém, o direito de nomear pessoas
para os postos abaixo dele.

As escolas de medicina, tecnologia, arte, música,


teatro e instrução liberal, são abertas ao ingresso de
todos. Aqueles que estão desclassificados para atuar no
exército industrial e não tem habilitações especiais

caius_c 104
trabalham como atendentes ou em serviços que não
exijam habilidades.

As nações trocam seus produtos através de


secretarias. Cada uma define sua necessidade à outra,
sendo que o preço é único em todos os países. Os
monopólios foram extintos.

Os crimes são considerados atavismo, visto que o


motivo maior, a cobiça, não existe mais porque todos
têm as mesmas oportunidades e comodidades. Os
advogados não existem neste mundo de Bellamy e as
leis são poucas.

O sistema financeiro foi abolido, não existindo


dívidas ou juros. O desperdício de materiais e mão de
obra foram eliminados, o que resultou em uma produção
isenta de valores adicionais. Não existindo mais compra
e venda, não existe a necessidade de dinheiro.

Bellamy, acreditando que as mulheres são


inferiores em força e inteligência aos homens, reserva-
lhes trabalhos que julga de acordo com sua capacidade,
estando sujeitas a uma disciplina diversa daquela que
rege os homens no exército industrial. A competição
profissional entre homens e mulheres inexiste, sendo
que cada sexo compete somente entre si. No entanto,
elas não dependem dos maridos para sua manutenção,
tendo ganho próprio.

Existem ranços de eugenia na obra de Bellamy –


“Mais importante, talvez, do que qualquer das causas

caius_c 105
que eu mencionei então, como tendentes a purificar a
raça, foi o efeito da seleção sexual, sem embaraços,
sobre a qualidade de duas ou três gerações sucessivas.
Suponho que quando fizer um estudo mais completo de
nosso povo, encontrará nele não só melhoramento
físico, mas mental e moral.” 106 Os casamentos, apesar
de serem escolhas individuais, são baseados em
desempenho físico e intelectual do casal. Os celibatários
são aqueles considerados como inaptos para
reprodução.

Oceana, de James Harrington107

James Harrington19 editou Oceana em 1656.


Esse país imaginário era composto de 50 tribos, cada
uma com dois mil membros. Cada tribo era dividida em
paróquias.

Os representantes de Oceana eram escolhidos


por voto, sendo que somente os chamados homens
livres ou proprietários poderiam votar. As eleições eram
anuais.

O governo era composto de duas câmaras. Uma


delas era o senado composto por 300 proprietários que
debatiam os temas e outra, chamada de Tribo
Prerrogativa votava nos mesmos. A educação era
gratuita e compulsória para os homens.

Oceana era dirigida por uma aristocracia com


poderes limitados, sendo que o voto era secreto, as
19
(1611-1677)

caius_c 106
eleições eram indiretas e os mandatos por tempo
limitados.

Walden II, de B.F.Skinner108

Seu livro foi baseado na obra de Henry David


Thoreau intitulada Walden ou A Vida nos Bosques, que
propunha soluções individuais e o afastamento da
sociedade para a realização pessoal. Skinner, na sua
obra, adota algumas das soluções de Thoreau e
acrescenta outras, visto que, segundo ele, a obra de
Thoreau era para “um”, enquanto que sua proposta era
para “todos.

Walden II é uma fazenda coletivizada. A


população passa a maior parte de seu tempo em
barracões climatizados onde suas necessidades são
supridas pela própria comunidade. O contato com o
exterior é limitado e o dinheiro foi substituído por
créditos ganhos por horas trabalhadas. O trabalho físico
é obrigatório mesmo para aqueles cujas funções são de
caráter administrativas e mantido num nível mínimo por
razões psicológicas. A riqueza pessoal inexiste. Todos
na comunidade devem envolver-se em trabalhos,
independente da idade. O número de horas trabalhadas
é regulado pelo próprio indivíduo.

A sociedade idealizada por Skinner está baseada,


principalmente, no que ele chama de engenharia
comportamental, social ou cultural. Grande teórico do
behaviorismo, sua proposta para padrões aceitáveis

caius_c 107
sociais deriva do condicionamento dado às pessoas
desde seu nascimento.

A procriação é incentivada logo após o


surgimento da puberdade, mas procura-se limitar o
número de filhos. A comunidade fornece os meios para
sustento do casal e para a educação das crianças, logo
o mesmo não tem impedimentos para contrair
matrimônio na adolescência. Procura-se suprimri a
família como unidade econômica, social e psicológica.

As crianças são mantidas sob supervisão


contínua dos adultos até os treze anos. Neste período
elas são ensinadas a controlarem emoções negativas
através de um sistema de aborrecimentos e frustrações
ao qual a criança é exposta. À medida que vão se
ajustando, as dificuldades vão sendo aumentadas de
acordo com sua capacidade.

A educação ética é completada aos seis anos de


idade e aos treze termina a supervisão contínua dos
adultos e o controle de sua vida é transferido das
autoridades para a própria criança e para outros
membros da comunidade.

A vida cultural na comunidade é intensa,


desprovida de modismos. A pesquisa científica pura é
relegada a segundo plano ao dar-se preferência para
soluções advindas dos próprios usuários ou realizadores
dos serviços. A automação de atividades e uso de
máquinas é considerada essencial para o bem estar do
indivíduo.

caius_c 108
A comunidade é gerida por seis Planejadores,
três homens e três mulheres, que cuidam da política,
revisam o trabalho dos Administradores e tem algumas
funções judiciais. Não existem punições para os
transgressores, apenas sanções.

Ele acredita que as ações políticas não são


eficazes - Mesmo que se consiga ganhar o poder, não
se conseguirá usá-lo com mais sapiência que seus
predecessores.

As viagens de Gulliver, de Jonathan Swift 109

Jonathan Swift traz algumas distopias em seu


livro. Em todas as sociedades que percorreu, exceto a
Terra dos Hyhnhnm, as demais são relatos onde a
crítica de seu tempo se faz presente, principalmente em
Lilipute, o trecho mais conhecido, onde a falta de
qualidade das pessoas e suas intrigas políticas as fazem
pequenas. É o retrato de seu tempo.

Os Hyhnhnm, habitantes de uma ilha, são cavalos


dotados de inteligência superior. Seu contraposto são os
Yahoos, criaturas semelhantes aos homens, peludos,
grosseiros, sujos e indóceis, que executam o trabalho
destinado aos animais.

Os Hyhnhnm não possuem vocábulos para as


palavras verdade ou mentira, visto que sempre falam a
verdade. Possuidores de poucas paixões, desconhecem

caius_c 109
o significado de outras tantas palavras que os humanos
tão usualmente usam.

Existe um sistema natural de casta onde os


alazões brancos e cinzentos ficam em estado de
servidão pois são considerados como inferiores aos
baios castanhos, cinzentos ruços e pretos.

Os casamentos são regulados de acordo com as


cores da pelagem e a conformação física dos pares. O
divórcio e a separação são permitidos porém não são
colocados em praticados. Os casais costumam ser fiéis
por toda a vida. A castidade pré-nupcial é vista como
fruto da razão e não de preconceito ou receio.

A educação dos filhos é feita pelo casal. À mulher


compete cuidar do corpo e da saúde enquanto que o pai
deve atende ao espírito e razão. O mesmo tipo de
educação é dado aos dois sexos.

Não existem livros no país, visto que seus


habitantes não sabem ler. A história, tradição e cultura
são transmitidas de geração em geração de forma oral.
Apreciam poesia e gostam de declamar poemas.

Embora envelheçam não têm doenças. Encaram


a morte como um fato de vida, sem dar a ela uma
conotação trágica. Vivem em média setenta e cinco
anos. Pressentindo a morte, costumam despedir-se de
seus amigos e parentes.

caius_c 110
O governo do país é feito através de um sistema
parecido com o parlamentarismo, para onde convergem
deputados dos diferentes cantões. Os decretos da
assembléia geral são chamados de exortação, visto que
entendem que seria impossível a um ser racional
desobedecê-lo.

A convivência com seres de elevado grau de


racionalidade, ética e moral produz tal repugnância aos
homens que Gulliver, ao retornar à Europa, torna-se
quase um misantropo, evitando contato com seus
semelhantes.

A Cidade de Deus, de Santo Agostinho 110

A Cidade de Deus, de Santo Agostinho, situa-se


me dois planos: o primeiro é a libertação interior do
homem através da fé e da crença em Deus; o segundo,
é sua própria elevação aos céus, após a morte, por
conta dessa fé. A Cidade de Deus contrapõe à Cidade
dos Homens, que também tem dois planos: o primeiro
compõe-se dos pagãos, os que renegam a fé cristã; o
segundo é daqueles que, embora cristãos, não a
vivenciam plenamente.

Estas dualidades estendem-se à cidade de


Roma, onde se compara a que vivia sob a égide dos
deuses greco-romanos e que a vive agora sob a do
deus cristão. Justifica-se sob o ponto de vista histórico o
poder político-religioso dos papados.

caius_c 111
Ele busca aproximar alguns filósofos antigos com
as verdades de seu tempo. Estabelece-se uma ponte
entre aqueles que acreditavam em um Deus único e
criador supremo, com a religião cristã. Alem dos
filósofos, ele acrescenta todos aqueles que viveram uma
vida virtuosa.

A Cidade de Deus situa-se mais no interior dos


homens do que em outro lugar. Existe uma justificativa
para o poder temporal desde que ele seja usado para
incremento desta fé.

Análise de alguns pontos das sociedades


idealizadas

Inexistem soluções para grandes comunidades.


Provavelmente, a forma de encarar sua própria
sociedade e buscar alternativas para seus males ou
suas deficiências é o que determina a criação das
imaginárias cidades ou coletividades afastadas. A
solução não se encontra nos padrões no qual vive o
autor mas fora deles. É uma forma, também, ao isolar a
sociedade que julga perfeita, de não contaminar o novo
padrão com o antigo. No caso do Projeto Vênus o que
se busca é a instituição de um novo comportamento
social dentro da própria sociedade que consiga alterar a
atual estrutura.

Ponto constantemente repetido nelas é a


educação precoce das crianças ou condicionamento, no
caso de Skinner. Constitui crença básica nestes autores
que não se pode construir uma sociedade “perfeita” sem

caius_c 112
que seus elementos sejam educados para isso. Em
todas elas existe detalhamentos de como esta educação
deve ser conduzida para que o indivíduo sem torne um
ente produtivo para a sociedade.

As diferenças de classes parecem não ser


possíveis de serem resolvidas em qualquer obra.
Sempre existe um sistema de castas onde algumas
predominam, independentemente se eleitas ou não.
Existe, no entanto, o controle das dirigentes pelas
dirigidas. De maneira geral, as responsabilidades e a
responsabilização das classes dirigentes são sempre
maiores do que as das demais. Há sempre um
prenúncio de um Estado Democrático de Direito em
todas elas.

Um prelúdio para a emancipação da mulher


encontra-se na República, de Platão. Ele acredita que
deve ser ministrada a mesma educação para os dois
sexos e que não se pode negar responsabilidades às
mulheres, mesmo as da magistratura, embora as
considere inferiores. – “Conseqüentemente, meu amigo,
não há nenhuma atividade que conceme à
administração da cidade que seja própria da mulher
enquanto mulher ou do homem enquanto homem; ao
contrário, as aptidões naturais estão igualmente
distribuídas pelos dois sexos e é próprio da natureza
que a mulher, assim como o homem, participe em todas
as atividades, ainda que em todas seja mais fraca do
que o homem.”

caius_c 113
No entanto, a condição das mulheres varia do
servilismo ao igualitarismo subserviente. Nenhum autor
conseguiu vislumbrar a igualdade sexual em suas obras
de forma efetivamente completa. No Walden II elas
compõem o quadro dirigente mas ainda são vistas da
mesma forma que na época do autor, ou seja, com
mínimas iniciativas, quase desprovidas de autoridade.
No Projeto Vênus, talvez por ser mais recente, não
existe nenhuma referência que estabeleça alguma
diferença entres os sexos.

Ponto comum é o uso ou a busca de alta


tecnologia dentro das sociedades. Os autores crêem
que esta é uma forma de minimizar o trabalho braçal ou
bruto, dando ao homem condições e tempo para poder
prosperar intelectualmente. O Projeto Vênus vai mais
além e acredita que a tecnologia possa substituir a
própria lei pois todos os dispositivos devem ser
programados para impedir infrações. Neste caso, parece
óbvio que uma lei deva estar vigente para que todos os
aparatos tecnológicos estejam dotados dessa
capacidade.

Algumas dessas sociedades “perfeitas”, mesmo a


de Skinner, sugerem que deva existir alguma forma de
eugenia e controle da procriação e que isto é uma
atribuição do governo. A eugenia visa criar uma casta ou
nova espécie humana que sobrepuje ou, no caso de
Thomas Morus, fazer com que o padrão físico e mental
de cada par seja compatível com o do outro. O controle
da prole está ligado ao uso dos recursos existentes na
sociedade.

caius_c 114
Distopias

Distopia significa “lugar mau”. Uma distopia é o


pensamento, a filosofia ou o processo discursivo
baseado numa ficção cujo valor representa a antítese da
utópica ou promove a vivência em uma "utopia
negativa". São geralmente caracterizadas pelo
totalitarismo, autoritarismo bem como um opressivo
controle da sociedade. Nelas, caem-se as cortinas, e a
sociedade mostra-se corruptível; as normas criadas para
o bem comum mostram-se flexíveis. Assim, a tecnologia
é usada como ferramenta de controle, seja do Estado,
de instituições ou mesmo de corporações.

O gigantismo do Estado e seu total controle sobre


o indivíduo é tema dominante nestas obras. Em
algumas, o elemento controlador da sociedade é uma
empresa ou algumas empresas, temor este
representado nas assertivas do Projeto Vênus contra a
corporatocracia. O homem é controlado em todas as
suas formas, ou seja, física, mental, espiritual e
socialmente. O uso da força e da propaganda maciça
fazem parte deste controle. Elas representam ou
mostram o lado sombrio do Estado.

Este Estado poderoso pode controlar a população


através da formação de castas biológicas, uso de
drogas e condicionamento intenso, como o “Admirável
mundo novo”20, de Aldous Huxley. A propaganda
maciça, o isolamento, a ideologia e a força são os
recursos usados pelo Estado para manter seu domínio
20
1932

caius_c 115
na “Revolução dos bichos”21 e “1984”22, de George
Orwell. A união da violência do indivíduo e do Estado,
extrapolada através do uso de drogas, é o tema
dominante da “Laranja mecânica”23 de Anthony Burgess.

Algumas delas, como “O planeta dos macacos”24,


de Pierre Boulle, e “A máquina do tempo”25, de
H.G.Wells, mostram mundos destruídos pelas guerras,
de onde emergem raças distintas, que se conflitam. Na
obra de H.G.Wells, os morlocks evoluíram a partir das
classes trabalhadores, obrigadas a viverem em
subterrâneos, e que tornam-se predadores dos elóis,
pacíficos e amáveis, que evoluíram a partir das classes
mais favorecidas e vivem na superfície. Na de Pierre
Boulle, os macacos evoluem em inteligência e os
homens degradam-se na escala evolutiva.

A “Fazenda modelo”26, de Chico Buarque de


Hollanda, mostra a opressão de um Estado totalitário,
contra o qual não existe possibilidade de luta e o uso de
uma máquina oculta de repressão. No romance “Não
verás país nenhum”27, de Ignácio de Loyola Brandão, os
escassos recursos são utilizados para manter a elite em
um ambiente controlado e seguro, enquanto que o resto
da população tenta sobreviver com o pouco que resta,
sujeita à violência do Estado.
21
1945
22
1948
23
1962
24
1963
25
1895
26
1974
27
1981

caius_c 116
Enquanto que as utopias buscam a sociedade
perfeita, aquela que irá tirar o homem de um estado de
necessidade e o conduzirá, geralmente através da moral
e da criação de uma nova sociedade, a um novo degrau
de civilização, as distopias representam o medo do
homem que acredita que a sociedade em que ele vive
irá se deteriorar a tal ponto que o conduzirá a um mundo
sem liberdade, regido por governos totalitários e sem a
possibilidade de qualquer direito humano.

caius_c 117
Componentes do Estado
“Os representantes das nações
adiantavam-se ao público e
apresentavam sua homenagem ao vate
da França. Um porteiro, com voz
estentórica, anunciava-os: "Monsieur le
Représentant de l'Anglaterre!" E Victor
Hugo, com voz de dramático trêmulo,
virando os olhos, dizia: "L'Anglaterre!
Ah, Shakespeare!" O porteiro continuou:
"Monsieur le Représentant de
l'Espagne"! E Victor Hugo: "L'Espagne!
Ah, Cervantes!" O porteiro: "Monsieur le
Représentant de L'Allemagne!" E Victor
Hugo: "L'Allemagne! Ah, Goethe!"
"Monsieur le Représentant de la
Mésopotamie!". Victor Hugo, que até
então permanecera impertérrito e
seguro de si mesmo, pareceu vacilar.
Mas logo se viu que o achara e que
recobrara o domínio da situação.
Efetivamente, com o mesmo tom
patético, com a mesma convicção,
respondeu à homenagem do rotundo

caius_c 118
senhor dizendo: "La Mésopotamie! Ah,
L'Humanité!"”111

Tradicionalmente, os componentes do Estado são


povo, território e governo. A estes decidimos
acrescentar soberania e complexidade. Soberania
porque não tem sentido um Estado não ser autônomo
ou ter capacidade para gerenciar seus elementos e
complexidade porque ele tem necessidade de
instituições para distribuir sua autoridade por entre a
população.

DUGUIT entende que o elemento formal é o


poder político da sociedade, que surge do domínio dos
mais fortes sobre os mais fracos, sendo que o material é
o elemento humano. 112

Outros autores admitem que os componentes


materiais são povo e território, sendo que o elemento
formal é o governo.

Povo

Povo é uma palavra polissêmica. Seus


significados muitas vezes se confundem e se sobrepõe,
notadamente quando se trata de assemelhá-lo com
país, nação ou Estado. Vem do latim populu e do
etrusco pupluna.

BONAVIDES traz três conceitos diferentes de


povo: político, jurídico e sociológico. 113

caius_c 119
No conceito político, povo é o quadro humano
sufragante, que se politizou. É aquela parte da
população capaz de participar, através de eleições, do
processo democrático, dentro de um sistema variável de
limitações, que depende de cada país e época.

Juridicamente, povo é a expressão do conjunto


de pessoas vinculadas de forma constitucional e estável
a um determinado ordenamento jurídico.

Do ponto de vista sociológico, segundo


Bonavides, existe uma equivalência do conceito de povo
com o de nação. O povo é compreendido como toa a
continuidade do elemento humano, projetado
historicamente no decurso de várias gerações e dotado
de valores e aspirações comuns.

Na definição de DARCY AZAMBUJA, povo é a


população do Estado, considerada sob o aspecto
puramente jurídico, é o grupo humano de indivíduos
sujeitos às mesmas leis, são os súditos, os cidadãos de
um mesmo Estado.114

Para CELSO RIBEIRO BASTOS, povo é o


conjunto de pessoas que fazem parte do Estado, sendo
que o que determina quem dele faz parte é o direito. Ele
também conceitua povo como sendo o conjunto unido
por um sentimento de nacionalidade, gerada por alguma
forma de identidade. 115

FILOMENO define povo como a parcela da


população de determinado Estado que com ele mantém

caius_c 120
vínculos de natureza política, além dos de natureza
jurídica. Ele também o define como o conjunto de
cidadãos. 116

Para DE CICCO e GONZAGA, povo é o conjunto


de cidadãos que mantém necessariamente vínculos
políticos e jurídicos, definida, inclusive, sua
nacionalidade naquele Estado. 117

ROUSSEAU diz que os “associados, que


compõem a sociedade, e o Estado, recebem
coletivamente o nome de povo, cabendo-lhe a
designação particular de cidadãos quando participam da
atividade soberana, e sujeitos, quando submetidos às
leis do Estado.”118

DALLARI conceitua povo como o conjunto de


indivíduos que, através de um momento jurídico, se
unem para constituir o Estado, estabelecendo com este
um vínculo jurídico de caráter permanente, participando
da formação da vontade do Estado e do exercício do
poder soberano. 119

CANOTILHO assinala que, nas democracias


atuais, o povo deve ser entendido em sentido político,
isto é, grupos de pessoas que agem segundo idéias,
interesses e representações de natureza política. 120

Erroneamente, dá-se à palavra povo o mesmo


sentido de nação, Estado ou país. Na realidade, povo é
um dos componentes do Estado e, sendo parte, não
pode ser confundido com o todo.

caius_c 121
Esse termo ainda tem certa conotação pejorativa
quando figura como termo que define parte da
população como aquela que não está vinculada ao
poder ou que tem baixa capacidade econômica e ou
cultural.

ARISTÓTELES define como cidadão aquele que


tem capacidade para chegar à magistratura. Os demais
estão excluídos desta prerrogativa.121 Para ele, aqueles
que são obrigados a trabalhar para alguém são os
servos e aqueles que trabalham para o público são
mercenários e artesãos.

O CARDEAL RICHELIEU28, em seu testamento


político, comparou o povo aos animais de carga – “É
preciso compará-los às mulas que, estando
acostumadas à carga, estragam-se por um longo
repouso muito mais do que com o trabalho”.122

Na Idade Média, praticamente só existiam duas


classes: a nobreza e os servos, sendo que estes eram
totalmente destituídos de vontade própria e obrigados a
trabalharem para seus senhores. Estes senhores
feudais detinham o poder de cobrança de impostos e
taxas que podiam ser de várias formas como a
corvéia29, talha30, banalidades31 e capitação32. Além

28
1585-1642
29
Trabalho gratuito ao senhor feudal durante três ou mais dias da semana
30
Tributo pago ao senhor feudal para custeio da defesa do feudo
31
Tributo pago ao senhor feudal para uso dos bens, equipamentos e
instalações de sua propriedade

caius_c 122
dessas, existia o pagamento de taxa da mão morta
pelos filhos de um pai falecido, que permitia que
continuassem a trabalhar nas mesmas terras, sob o jugo
do mesmo senhor feudal.

A ascensão do povo ao poder, ou seja, os que


não eram nobres, deu-se por conta do crescimento
econômico da burguesia, que culminou com a
Revolução Francesa, ocorrida entre 05 de maio de 1789
e 09 de novembro de 1799, abolindo a servidão e os
direitos feudais, além de proclamar os ideais de
liberdade, fraternidade e igualdade.

A burguesia que tinha sido povo, passou a deter o


poder econômico, principalmente por conta das novas
tecnologias que começaram a surgir, e apropriou-se do
poder, promulgando uma constituição em 1791,
baseada nos ideais revolucionários.

No entanto, existiu um forte combate a essa nova


forma de governo na Europa. Não se podia admitir, na
época, que as classes sociais mais baixas tivessem o
poder de destronar reis e, principalmente decapitá-los,
como ocorreu com Luís XVI e sua esposa Maria
Antonieta, em 1793.

A Revolução Francesa salvou-se na Batalha de


Valmy, quando um exército esfarrapado, mal nutrido,
com poucas armas mas com muitos ideais, cantando a

32
Imposto pago por “cabeça” ao senhor feudal

caius_c 123
Marselhesa33, conseguiu derrotar uma coalizão anti-
francesa em Verdun, em 1792.

Os ideais democráticos quase pereceram quando


Napoleão, que tinha sido o grande algoz dos
monarquistas europeus, proclamou-se imperador, em
1804. Derrotado em 1815, na Batalha de Waterloo, na
Bélgica, foi exilado para a Ilha de Santa Helena, no
Atlântico sul, onde morreu seis anos depois. O trono
francês, agora vago, foi preenchido por Luís XVIII, no
mesmo ano dessa derrota.

No entanto, os exércitos de Napoleão levaram


consigo os ideais da Revolução Francesa, espalhando-
os pela Europa. Junto com eles seguiram os do
Iluminismo, com seus princípios racionais e
progressistas, que defendiam novas interpretações da
economia e governos. Embutido, seguia a idéia de que o
Estado deveria ser a garantia dos direitos humanos
básicos como a vida, a liberdade e a propriedade.

Outra revolução estava em franca ascensão,


alavancada pela invenção da máquina a vapor por
James Watt, em 1763: a Industrial. Se antes os meios
de produção estavam restritos à existência de grandes
propriedades nas mãos dos nobres, agora eles estavam
passando para as mãos da burguesia porque estes
possuíam capital e iniciativa e não dependiam da posse
de terra.

33
Hino nacional da França

caius_c 124
Necessitando de espaço suficiente apenas para
montar fábricas, com maquinários que podiam produzir
quantidades nunca antes vistas, os burgueses tornaram-
se os novos detentores do poder econômico.

Ocorreu um fenômeno inédito na História


humana: uma urbanização crescente por conta da mão
de obra que se necessitava para estas novas indústrias.
De repente, as cidades viram-se entulhadas de pessoas
que mantinham-se em um nível de pobreza maior do
que as do campo. Na cidade, tudo se produzia mas tudo
se tinha que comprar. No campo podia existir miséria
mas dificilmente a fome. Nas cidades as duas passaram
a coexistir por conta dos baixos salários pagos aos
trabalhadores.

As tensões entre as classes sociais tornaram-se


mais amplas. Antes não se questionava, ou muito
pouco, os privilégios e a riqueza dos nobres ou a
pobreza dos seus vassalos. Os aglomerados humanos,
até então, eram pequenos, permitindo controle maior
sobre as pessoas. Nas cidades, sem a repressão direta
e com possibilidades de organizarem-se, os direitos
humanos passaram a ser encarados como naturais ao
homem e passiveis de serem exigidos daqueles que
detinham os poderes, no caso a burguesia.

A Revolução Industrial marcou o início de nova


luta entre estes burgueses, que detinham os meios de
produção, e o operariado, que foi a nova denominação
dada ao povo.

caius_c 125
Essa luta desencadeada por uma nova forma de
opressão originou novas teorias, como o comunismo e
socialismo, cuja pretensão era propiciar efetiva
participação do povo no seu próprio gerenciamento, ao
mesmo tempo em que delegava ao Estado total poder
sobre tudo que ele continha, principalmente os meios de
produção.

A aplicação dessas teorias em alguns países


como a Rússia e Cuba terminaram por gerar uma nova
classe social advinda desse povo e que passou a
governar de forma oligárquica.

Nos chamados países democráticos, em tese, a


possibilidade de escolha e alternância no poder daria ao
povo a capacidade de gerir-se através de seus
representantes. No entanto, existe o que se
convencionou chamar de corporatocracia, que é o
exercício do poder através de empresas possuidoras do
poder econômico.

Resumindo, o povo, por não ter capacidade


econômica ou cultural, continua a ser apenas o
elemento basal da sociedade que sustenta uma parcela
privilegiada da população.

O que se permitiu na Revolução Industrial, um


avanço para a aquisição dos direitos humanos e
participação nos governos, com as novas idéias, a
urbanização e a tecnologia, parece estar sendo usado
como ferramentas para um retorno do ser humano à
escravidão, em outra forma.

caius_c 126
População

População é um conceito demográfico e


estatístico. É o número que determina as pessoas
presentes dentro de um determinado local, em um
momento específico. A população não tem vínculo com
o Estado através da nacionalidade ou cidadania.

Em Estatística chama-se população ao conjunto


de todos os valores que descrevem o fenômeno que
interessa ao investigador. Em Sociologia define-se como
um conjunto de pessoas adscritas a um determinado
espaço, num dado tempo.

População é uma massa de dados enquanto que


povo é um dos elementos que constituem o Estado.

Território

A palavra território refere-se a uma área


delimitada sob a posse de um animal, de uma pessoa
ou grupo de pessoas, de uma organização ou de uma
instituição. O termo é empregado na política, na biologia
e na psicologia. Há vários sentidos figurados para a
palavra território, mas todos compartilham da idéia de
apropriação de uma parcela geográfica por um indivíduo
ou uma coletividade.

DARCY AZAMBUJA afirma que território é o país


propriamente dito, e portanto país não se confunde com

caius_c 127
povo ou nação e não é sinônimo de Estado, do qual
constitui apenas um elemento. 123

Segundo STRECK e MORAIS, o território de um


Estado é composto, além do solo no qual a população
vive e produz, de subsolo, de espaço aéreo e de uma
estipulada extensão marítima. É nessa delimitação que
será exercido o poder estatal. 124

CASTILHOS GOUCOCHEA diz que “"a primeira


divisa foi riscada no terreno pelo primeiro ser que
compreendeu sua posição em face do semelhante mais
próximo. Da propriedade individual passou à soberania
coletiva, isto é, à casa, à cidade, da cidade à província e
desta ao país. Tudo tem limites, raias, lindes, cercas,
muros ou designação outra que vise as caraterísticas
das posses materiais, de alguém, homem ou entidade
social" 125

MILTON SANTOS diz que a utilização do território


pelo povo cria o espaço. 126

CLAUDE RAFFESTIN diz o contrário - É


essencial compreender bem que o espaço é anterior ao
território. O território se forma a partir do espaço, é
resultado de uma ação conduzida por um ator
sintagmático em qualquer nível. 127

PAULO HENRIQUE FARIA NUNES afirma que


território é todo e qualquer espaço caracterizado pela
presença de um poder. 128

caius_c 128
FILOMENO entende ser o território parte
imprescindível para a existência do próprio Estado, por
simples razão lógica evidente.129

Para DONATO DONATTI, o território não seria


um elemento constitutivo do Estado, mas condição de
sua existência.130

KELSEN considera a delimitação territorial uma


necessidade, mas que o território não chega a ser um
componente do Estado mas apenas o espaço em que
circunscreve a validade da ordem jurídica estatal, pois
esta depende de um espaço certo, ocupado com
exclusividade.131

BURDEAU diz que se trata de um direito real


institucional, exercido diretamente sobre o solo, e seu
conteúdo é determinado pelo que exige a instituição
estatal.132 É o quadro natural dentro do qual os
governantes exercem suas funções.133

JELLINEK expressa que o direito do Estado ao


território é apenas um reflexo da dominação sobre as
pessoas, sendo um direito reflexo, não um direito em
sentido subjetivo.134 O território só possui sentido
jurídico quando permeado por uma organização política,
pois sem indivíduos humanos não há território, apenas
partes da superfície terrestre.135

RANELLETTI propõe a posição de que o território


é o espaço dentro do qual o Estado exerce seu poder de
império.136

caius_c 129
QUEIROZ LIMA e SAHID MALUF asseveram que
o território, tanto quanto a população e o governo, são
condições sine qua non para a existência do Estado.137

DE CICCO e GONZAGA definem território como


a área compreendida nos espaços geográficos terrestre,
fluvial, marítimo, aéreo e diplomático, nos limites
definidos pela lei, em que o ordenamento jurídico tem
coercitividade.138

QUINTÃO SOARES conceitua território estatal


como a base espacial do poder jurisdicional do Estado,
isto, o locus onde se exerce o poder coercitivo estatal
sobre os indivíduos humanos.139

Podemos definir território como espaço


controlado por indivíduo ou entidade. Dentro deste
conceito cabe o poder jurisdicional que o Estado tem
sobre ele. É o chamado principio da territorialidade, onde
o Estado submete ao seu direito sobre todos aqueles
que se encontram em sua área de controle. O principio
da extra-territorialidade ocorre por conta de situação
onde existe influência do direito internacional.

Componentes do território.

Adotamos três formas de componentes do


território: geográfico, virtual e econômico.

A primeira impressão quando se fala de território


é de que se trata somente da geografia ocupada por um
Estado. No entanto, algumas partes do território não são

caius_c 130
geográficas como navios, aeronaves e satélites, sendo
que existe o poder jurisdicional sobre eles. Outros
territórios como embaixadas situam-se dentro de outros
países e, todavia, o Estado exerce seu poder sobre elas.

O espaço virtual traz como sua mais forte


característica a nova mídia que se instaurou depois da
invenção da internet e outros meios de comunicação.

O componente econômico do território é espaço


em que o Estado mantém domínio sobre a circulação e
produção de bens e que pode estar bem distante
geograficamente do país ao qual pertence efetivamente.
Embora tenha que seguir as regras do país onde se
instalam, os grupos econômicos estão sujeitos ao poder
jurisdicional de seu Estado original.

Espaço geográfico

Um dos componentes do território é a geografia


do Estado. Nela estão inclusas a superfície terrestre,
rios, lagos, ilhas e outros acidentes geográficos. Quando
é o caso, litoral e mares, cuja extensão controlada é
particular de cada país. Antigamente, entendia-se que a
delimitação do mar envolvia possibilidades de sua
defesa, por isso convencionou-se que a distância era a
de um tiro de canhão, que correspondia a três milhas.
Obviamente, com a invenção de artefatos de guerra que
extrapolam essa distância, como mísseis
intercontinentais, essa convenção foi abandonada. No
caso do Brasil, a extensão de suas águas territoriais é,

caius_c 131
atualmente, de duzentas milhas. Inclui-se nessa
geografia delimitante o espaço aéreo.

Exceção a ser considerada é o território


controlado pelo Brasil na Antártida, situado abaixo do
paralelo 60o. S, entre os meridianos 28o. O e 53o. O. Em
1975, o Brasil aderiu ao Tratado da Antártida, instalando
a Base Antártica Ferraz de Vasconcelos, cuja principal
função é servir como esteio para expedições científicas
brasileiras neste continente. Sua população é de 48
pessoas no inverno, podendo chegar a 100 durante o
verão.

Colônias e países subjugados também são


territórios daquele que exerce a soberania. Pontos
destacados da geografia de um país que são regidos
pelas leis deste fazem parte de seu governo e, portanto,
também são territórios. Um exemplo que foge um pouco
a esta regra é o caso de Hong Kong. Depois de passar
cento e cinqüenta e seis anos sob o domínio britânico, a
ilha, em 01 de julho de 1997, voltou a fazer parte da
China continental. No entanto, como desfruta do status
de Região Administrativa Especial, ela tem um alto grau
de autonomia, exceto na área de defesa e política
externa, continuando a ser um porto livre e um centro
financeiro internacional.

A fórmula administrativa de Hong Kong,


sintetizada pela máxima “um país, dois sistemas”,
também é aplicada a Macau. Colônia portuguesa na
Ásia desde o século XVI, foi transferida para a China em

caius_c 132
20 de dezembro de 1999. Macau manterá o mesmo
grau de autonomia de Hong Kong até 2049.

Outros pontos também são considerados


territórios como as embaixadas, navios, aeronaves, etc.
Isto nos leva a pensar que o território pode não ser fixo,
que pode ter certa mobilidade física. Uma nave espacial
ou um satélite giram ao redor da Terra e ainda são
territórios do país ao qual pertencem. Uma estação
orbital tripulada é um bom exemplo de território móvel.
Existindo o argumento que são apenas artefatos ou que
as naves são transitórias, isso não impede que exista
um domínio do país sobre eles.

Uma discussão que poderia ser levada adiante é


sobre a quebra de soberania dos países através do uso
de satélites por outros, que vasculham todas as regiões
do planeta, a maioria com objetivos militares. Consta
que 75% dos satélites lançados a partir de 1957 foram
com essa finalidade. Outro exemplo de satélite militar,
que é muito utilizado hoje em dia pela sociedade civil,
são os satélites de posicionamento global, que fornecem
coordenadas acuradas de localização geográfica aos
portadores de terminais manuais com antenas para
captar o sinal dos mesmos34.

A corrida espacial iniciada com o lançamento do


satélite russo Sputnik, em 1957 e consagrada pela
chega do homem na lua em 1969, parecia ser, no início,
ou para o comum das pessoas, uma conquista que se
estabeleceria apenas com bases científicas. Com
34
Global Positioning System –GPS

caius_c 133
grande potencial econômico e militar dos satélites, sua
utilização mais comum é dentro destas duas áreas.

O sonho das pretensões militares espaciais foi,


ou continua sendo, o chamado IDE (Iniciativa de Defesa
Estratégica), batizado de “Guerras nas Estrelas” pela
mídia, concebido em 1983 pelo então presidente Ronald
Reagan, cujo objetivo inicial era fornecer um “escudo de
proteção” para os Estados Unidos, contra o lançamento
de mísseis balísticos intercontinentais. Continuado pelo
presidente Bill Clinton e George W. Bush, perdeu suas
pretensões com o término da chamada “Guerra Fria” e o
fim da União Soviética, dissolvida oficialmente em 26 de
dezembro de 1991.

Por se tratar de um sistema de detecção e


informação, em tese, esse projeto não contraria o artigo
IV do chamado Tratado do Espaço Exterior, que diz –
“Os Estados Partes neste Tratado comprometem-se a
não colocar em órbita à volta da Terra quaisquer objetos
transportando armas nucleares ou quaisquer outras
espécies de armas de destruição maciça, a não instalar
tais armas nos corpos celestes e a não manter, sob
quaisquer formas, as armas no espaço exterior.” Essa
preocupação com o uso do espaço exterior como base
para dominação de países está expressa no mesmo
tratado, onde se veda, em seu artigo II, a apropriação de
qualquer corpo celeste – “O espaço exterior, incluindo a
Lua e outros corpos celestes, não poderá ser objeto de
apropriação nacional por reivindicação de soberania,
uso, ocupação ou qualquer outro processo.”

caius_c 134
Desde que cumprido, esse tratado impede a
expansão territorial dos países para o espaço exterior,
fazendo com que a administração de possíveis bases
instaladas em corpos celestes esteja sob orientação
internacional. O espaço sideral não é território específico
de nenhum país. Os artefatos lançados, tripulados ou
não, estão sob a jurisdição do país que o lançou,
portanto, são territórios do mesmo.Provavelmente, em
um futuro não muito distante, os conceitos territoriais
deverão ser revistos.

Espaço virtual

Outro componente atual do território é o chamado


espaço virtual que poderia ser definido como o mundo
onde as pessoas interagem através da rede mundial de
computadores. Sua versão mais popular é a internet,
que é o nome genérico para essa ligação entre
computadores. É um território que depende de
tecnologia mas ultrapassa fronteiras.

À primeira vista pode-se acreditar que trata-se


apenas de veiculação de mídia e interação entre
pessoas. No entanto, o território virtual está tornando-se
substituto de bens, transformando-os em promessas de
bens. Exemplo típico são as contas bancárias onde as
transações são eletrônicas e o papel-moeda, o “dinheiro
vivo”, inexiste. Antigas instituições como cheques estão
desaparecendo ou tendo uso restrito devido a este tipo
de transação.

caius_c 135
O Movimento Zeitgeist afirma que 3% do
suprimento monetário existe em moeda física. Os outros
97% existem somente nos computadores.140 É certo que
se todos fossem sacar suas reservas ao mesmo tempo,
nenhum banco teria o lastro suficiente para transformar
a promessa de bens em bem efetivo.

Os governos tentam controlar o conteúdo da


internet através de bloqueios a sites que consideram
como inadequados ou restringindo a captação de sinais.
Os países islâmicos, ditatoriais, Cuba, China e outros,
mantém controle quase que absoluto dessas
informações virtuais. Este controle é desafiado por
especialistas denominado hackers35, que conseguem
acesso quase ilimitado dentro da rede. O lado negro
dessa tribo, especialistas denominados crackers36, é a
invasão em sistemas financeiros e disseminação de
vírus.

Neste território, a perda de privacidade do


indivíduo está tornando-se um fator de preocupação.
Além das informações espontâneas deixadas pelos
usuários em blogs, sites, comunidades e formulários,
aventa-se a possibilidade de que informações possam
ser obtidas pelos governos através de programas de
rastreio de informações. Dizem que um programa
chamado Echelon pode capturar e analisar qualquer
chamada telefônica, e-mail ou transmissão de fax e telex
em qualquer parte do planeta, não importando o meio de
transmissão utilizado. As mensagens podem ser
35
Literalmente, decifradores
36
Literalmente, quebradores

caius_c 136
minuciosamente examinadas à procura de palavras-
chave. Qualquer mensagem que contenha uma dessas
palavras é automaticamente gravada e transcrita para
posterior exame.141

O cruzamento de informações eletrônicas obtidas


de forma legal pelos governos e instituições produz um
perfil do indivíduo que pode ser usado para fins
diversos. Tornou-se comum a venda de listas com
informações pessoais ou empresarias. Estas
informações legais aliadas às que são obtidas de forma
ilícita podem produzir um controle do indivíduo pelo
Estado ou por instituições igual ao retratado nas
distopias.

Por outro lado, a expressão individual nunca


esteve tão presente em outra mídia, além da diversidade
de informações. O rápido acesso a elas está dando um
novo impulso ao intercâmbio cultural e as pessoas estão
se comunicando mais. Isto pode produzir uma
aproximação entre indivíduos e a quebra das barreiras
culturais, sociais e políticas, aproximando efetivamente
as populações do conceito de globalização social.

O controle desse território virtual, tão volátil, está


mais em mãos de empresas do que de governos
propriamente dito. Na área de comunicações,
estabeleceu-se uma verdadeira corporatocracia, onde
as empresas do ramo, todas gigantes, estabeleceram
seu domínio. Este, segundo SÉRGIO MATTOS, é
concedido pelo Estado aos meios de comunicação como
forma de pressão e controle. A ajuda oficial pode ser a

caius_c 137
concessão de rádios ou televisões, isenção de impostos
e empréstimos obtidos junto aos bancos oficiais.142

Na digressão acima existe uma pergunta: por quê


um espaço que não é físico, com controle dividido, pode
ser chamado de território? A resposta é simples: é uma
região habitada por pessoas ou, pelo menos, por suas
projeções eletrônicas. Nas regiões mais cosmopolitas e
onde existem facilidades para obtenção de tecnologia, o
uso da rede de comunicações é uma necessidade. Esse
mundo virtual que era apenas uma diversão ou
brinquedo quando foi disseminada, por volta de 1990,
ganhou importância fenomenal ao se transformar em um
meio de transmissão de bens pelo comum cidadão. Sua
importância econômica está se tornando tamanha que
não estar presente neste mundo virtual é transformar-se
naquelas criaturas superiores ou inferiores que São
Thomas de Aquino e Aristóteles dizem poderem se
transformar aqueles que vivem em completa solidão ou
fora de uma sociedade.

Espaço econômico

JOHN ADAMS dizia – “Existem dois modos de


conquistar e escravizar uma nação: uma é pela espada
e a outra é pelas dívidas”.143

Os países projetam seu domínio sobre outros


territórios através de suas empresas. A dependência
econômica de um país faz com que sua soberania
inexista ou seja tão tênue que impeça que existam
medidas que lhes seja apenas de proveito próprio. Isso

caius_c 138
faz com que seu espaço físico ou sua geografia não lhe
pertença mais. Não tendo mais poderes sobre seu
espaço físico, seu território controlado passa a pertencer
àquele que o domina.

A expressão mais comum desse poderio é


através do neocolonialismo, ou seja, desovar produtos
industrializados em troca de matéria-prima e/ou mão de
obra barata. Nessa transação, os países industrializados
pagam pouco e vendem caro, gerando grandes dívidas
aos não ou pouco industrializados países, geralmente os
fornecedores de seus materiais básicos.

Um produto, hoje em dia, é composto de partes


que são produzidas em países diversos. Essas partes, a
maioria, são feitas em países que fornecem mão de
obra barata, com matéria-prima de outros países que as
vendem barato. A montagem do produto final pode ser
feita no país de origem ou em outro. A vantagem, além
da econômica, é que ninguém, exceto a matriz, tem
tecnologia suficiente para produzir o produto por inteiro,
que termina por ser vendido a outros países, incluindo
aqueles que produziram suas partes ou forneceram sua
matéria-prima.

A vantagem para o país que produz as partes é


aparente porque cria empregos e aumenta sua
exportação. No entanto, a compra do produto acabado
provoca uma diferença na balança comercial entre os
dois países, obrigando o produtor a contrair dívidas.

caius_c 139
O exemplo acima é a mais clássica e
disseminada das formas econômicas para dominação
de um país pelo outro e conseqüente controle de seu
território.

Outra prática é a eliminação das indústrias locais


para fornecimento dos produtos que elas fabricavam.
Um exemplo recente é o que se convencionou chamar
de “salaula”, que, em uma língua nativa africana,
significa algo como “roupa do homem branco morto”. 144

O processo da salaula começa com doação de


roupas usadas, principalmente nos Estados Unidos e
Europa, aos templos religiosos ou instituições de
caridade. Essas doações são vendidas para
intermediários que as estocam até formarem um lote.
Esses lotes são comprados, geralmente por hindus, nos
Estados Unidos, e embarcados em navios até a Europa
onde se completa a carga. Depois, o navio parte para
países africanos como Zâmbia, onde a carga é vendida
para atacadistas locais. Esses atacadistas dividem a
carga em fardos, revendendo-os para atacadistas
menores que, por fim, vendem os fardos para varejistas
locais.

Essa prática, a salaula, extinguiu as indústrias


têxteis de vários países africanos, visto que a
competição tornou-se impossível. Uma roupa usada nos
Estados Unidos ou Europa é quase nova e seu custo
aos primeiros adquirentes, no caso templos religiosos e
instituições de caridade, é zero, continuando baixo em
todas as etapas da comercialização, inclusive para o

caius_c 140
consumidor final, que, por causa de seu baixo poder
aquisitivo, não se importa muito com o fato de serem
roupas usadas.

Outra prática econômica de dominação é a


transformação do mercado de determinado produto em
feudo empresarial. De Beers é uma empresa de origem
sul-africana sediada em Antuérpia, na Bélgica, que
controla grande parte do comércio mundial de
diamantes. Os diamantes formam-se em algum lugar no
interior da terra e são expelidos, através de vulcões,
dentro de rochas chamadas kimberlitos. Quando estas
alcançam a superfície sofrem processos de erosão e
liberam os diamantes. Alguns deles são carregados por
águas correntes e terminam em riachos ou rios, onde
são encontrados. Outros são minerados dentro da
própria camada de kimberlito.

Descobrindo onde existem vulcões extintos e


kimberlitos, é possível determinar com relativa precisão,
através de satélites, as regiões onde possam existir
diamantes. Isso implica em dizer que não é uma pedra
preciosa tão rara que justifique seu preço final. Se o
preço está relacionado com demanda e procura, dever-
se-ia acreditar que seria um produto barato.

Empresas como a De Beers, principalmente,


mantém a raridade do produto através da compra de
toda e qualquer oferta de pedra bruta do mercado,
liberando a venda da pedra em formato de jóia de
acordo com a demanda do mercado. Na realidade,
essas empresas produzem a escassez no mercado,

caius_c 141
apesar de estarem com estoques altíssimos do produto.
É um dos grandes monopólios do mundo. A lógica é
simples: se eu não comprar outros comprarão e eu
perco meu negócio.

Esse poderio econômico estendeu-se às regiões


conflituosas onde os diamantes foram, e ainda são em
alguns casos, elementos chaves para manutenção de
exércitos. A África foi o continente mais sacrificado por
essa política de monopólio. Ela possui minas de
diamante espalhadas por quinze de seus 53 países. Ela
é responsável pela produção de 50% das pedras
consumidas no mundo, um mercado que movimenta
cerca de 50 bilhões de dólares por ano. Em doze desses
países produtores, como nos casos da África do Sul,
Namíbia e Botsuana, os diamantes são um produto de
exportação como outro qualquer. Não exercem nenhum
efeito negativo sobre a sociedade. Em três países, no
entanto, pode-se afirmar que a pedra já matou,
indiretamente, mais de 1 milhão de pessoas nas últimas
duas décadas. Angola, Congo e Serra Leoa foram os
países cujas guerras foram financiadas pelos diamantes,
que foram chamados de “diamantes sujos” ou
“diamantes de sangue”.

Nestes lugares, companhias mineradoras ou seus


intermediários estimulam o prosseguimento dos
combates fornecendo armas e mercenários. Em alguns
casos apóiam governos; em outros dão suporte a
grupos guerrilheiros. A recompensa é o acesso fácil aos
garimpos de diamante. Apenas como forma de ilustrar o
interesse das grandes empresas, observe-se o seguinte

caius_c 142
cálculo: um garimpeiro africano ganha em torno de 800
dólares por um diamante de boa qualidade, pesando 2
quilates. Se bem lapidado, ele pode ser vendido por
10.000 dólares em uma joalheria de Nova York, com um
lucro de 1.150%.145

Dominação econômica implica em controle de


território, seja efetuado diretamente através de governos
ou os dissimulados através de empresas.

Quando todos os recursos indiretos falham,


recorre-se aos diretos. A invasão do Iraque constitui-se
exemplo clássico e recente do que o poderio militar
pode substituir o poder econômico quando esse falhar.
Calcula-se que suas reservas de petróleo podem chegar
a 200 bilhões de barris. Este potencial pode tornar esse
país o segundo maior produtor do mundo, atrás da
Arábia Saudita e na frente do Irã. Estas reservas tornam
o país essencial para a manutenção da economia. 146

Uma das desculpas para sua invasão foram os


ataques de 11 de setembro de 2001, quando quatro
aviões comerciais foram seqüestrados, sendo que dois
deles colidiram com as torres do World Trade Center,
em Manhattan, Nova York. O terceiro avião foi lançado
contra o Pentágono, no Condado de Arlington, Vírginia.
Os destroços do quarto avião foram encontrados em
Shanksville, Pensilvânia, o que fez supor que os
tripulantes e passageiros entraram em luta contra os
seqüestradores.

caius_c 143
Os ataques foram atribuídos á organização
terrorista Al-Qaeda. Alegou-se que Saddam Hussein,
então presidente, teria financiado ou colaborado com os
ataques, além de fabricar e estocar armas químicas.
Sua malfadada invasão ao Kuwait em 1990 transformou-
o em vilão mundial e sua recusa em aceitar tutela dos
países dependentes de seu petróleo fez dele o principal
objetivo na Operação Iraque Livre em 2003, quando
exércitos de uma coalizão liderada pelos Estados
Unidos invadiram o Iraque, depuseram o governo e
enforcaram Saddam Hussein.

Como de vê pelo exposto acima, o poder


econômico, na maioria dos casos, é uma das principais
formas de manter domínio sobre determinado território.
As grandes empresas e seus governos são aliados e
valem-se um do outro para desempenhar o papel de
dominador de outras nações.

A mutabilidade do território

HERÁCLITO DE ÉFESO37 dizia que não


podemos entrar duas vezes no mesmo rio, porque, ao
entrarmos pela segunda vez, não serão as mesmas
águas que estarão lá, e a mesma pessoa já será
diferente.

CÍCERO diz que "Nenhum povo teria pátria se


tivesse de devolver o que usurpou” 147

37
540 a.C. - 470 a.C (datas aproximadas)

caius_c 144
O princípio da mutabilidade também se aplica ao
território. Por mais que a geografia permaneça, o poder
dentro dela se transfere para diversos povos de acordo
com o caminhar da História. Algumas vezes, a própria
geografia se altera, produzindo extinção de povos ou
mudança de identidade para aqueles que sobreviveram.

Conquistas, acordos, vendas, desaparecimento


de povos por motivos diversos e toda uma gama de
acontecimentos, às vezes até naturais, fazem com que o
poder exercido dentro de um determinado território se
modifique. Existe uma máxima – utis possidetis – que
diz que a terra é de quem a ocupa, sendo assim, não
restam dúvidas que o território, na sua variável controle,
se modifica ao longo da linha do tempo.

No Brasil, podemos citar o estado do Acre como


exemplo dessa mutabilidade. Ele pertenceu ao governo
boliviano até início do século XX. Porém, sua população
era predominantemente brasileira e constituía-se em
território quase independente. Em 1899, a Bolívia tentou
reafirmar sua soberania sobre o território, provocando
revoltas dos brasileiros e confrontos na região
fronteiriça, gerando o episódio que ficou conhecido com
“A Questão do Acre”. Em 1903, com a assinatura do
Tratado de Petrópolis, o Brasil incorporou-o
definitivamente. O território passou para o domínio
brasileiro em troca do pagamento de dois milhões de
libras esterlinas, de terras de Mato Grosso e do acordo
de construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré.
Este tema foi retratado de forma deliciosa e folhetinesca

caius_c 145
por Márcio de Souza, em seu livro “Galvez, o imperador
do Acre.” 148

Governo

Governo vem do grego kubernao, parte superior


do leme de um navio que serve para dirigi-lo. Em
português, cana de leme ou timão.

Para ARISTÓTELES, governo é a autoridade


suprema do Estado. Ele entendia que as palavras
Constituição e Governo queriam dizer a mesma coisa.
149

ROUSSEAU diz que governo é um corpo


intermediário estabelecido entre os súditos e o soberano
para sua mútua correspondência, encarregado da
execução das leis e da manutenção da liberdade, tanto
civil como política. Acrescenta que é o exercício legítimo
do poder executivo, príncipe ou magistrado, o homem
ou o corpo incumbido desta administração. 150

Para FILOMENO, governo nada mais é do que o


conjunto dos órgãos do Estado que colocam em prática
as deliberações dos órgãos legislativos. É a face visível
do Estado, e expressão de sua própria soberania,
enquanto poder supremo existente nos limites de seu
território. Ele ainda o conceitua como a organização
necessária para o exercício do poder político do Estado.
151

caius_c 146
DE CICCO e GONZAGA entendem o governo
como sendo o conjunto ordenado das funções do
Estado que deve garantir a ordem jurídica.152

Para GERALDO DE MESQUITA JUNIOR,


governo, em seu sentido mais amplo, é todo mecanismo
de direção e controle das mais diversas instituições e
organizações.153

LÚCIO LEVI define governo como o “conjunto de


pessoas que exercem o poder político e que determinam
a orientação política de uma determinada sociedade”,
ressalvando que “existe uma segunda acepção do termo
governo, mais própria da realidade do Estado moderno,
a qual não indica apenas o conjunto de pessoas que
detêm o poder de governar, mas o complexo dos órgãos
que, institucionalmente, têm o exercício do poder. Neste
sentido, o governo constitui um aspecto do Estado”. 154

De acordo com cartilha da Receita Federal,


governo é o conjunto de órgãos responsáveis pela
realização da administração pública, através de poderes
delegados pelo povo.155

Governo pode ser entendido como o conjunto de


instituições, organizações e lideranças responsáveis
pela administração pública e pela direção dos Estados.

O conceito de governo pouco varia no


entendimento de diversos autores, sendo que alguns
deles nem o conceituam. Podemos definir governo como
a forma institucionalizada do poder de autoridade de

caius_c 147
uma sociedade. Genericamente, é o gerenciamento das
coisas e pessoas.

Formas ou regimes de governo

Para ROUSSEAU, a forma de governo foi


estabelecida em função de um momento histórico: “As
diversas formas de governo tiram a sua origem das
diferenças mais ou menos grandes que se encontraram
entre os particulares no momento da instituição. Um
homem era eminente em poder, em virtude, em riqueza,
em crédito; só ele foi eleito magistrado, e o Estado se
torna monárquico. Se muitos, mais ou menos iguais
entre si, superavam todos os outros, eram eleitos
conjuntamente, e se teve uma aristocracia. Aqueles cuja
fortuna ou talentos eram menos desproporcionados, e
que menos se tinham afastado do estado de natureza,
guardaram em comum a administração suprema, e
formaram uma democracia.” 156

Para ARISTÓTELES, existem três formas de


monarquia, aristocracia e república. A degeneração
desses três regimes é a tirania, a oligarquia e a
demagogia, cuja característica principal seria o
descompromisso com o bem público ou coletivo. A
tirania aproveitaria apenas ao monarca, a oligarquia
apenas aos ricos e nobres e a demagogia apenas aos
pobres. A melhor forma de governo, segundo ele, seria
aquela que combinasse as três formas legítimas de
governo, ou seja, monarquia, aristocracia e república, de
modo que assegurassem os direitos e deveres, em
nome de um bem comum. Independente do regime

caius_c 148
adotado, os governantes deveriam prestar contas aos
governados, pois todos eram considerados como iguais
perante a lei. 157

BLUNTSCHLI acrescenta à classificação de


Aristóteles a teocracia ou ideocracia, que é a forma de
governo cujo poder emana de Deus. A forma corrupta
seria a clerocracia ou idolocracia, em que o clero
governa no interesse próprio, sendo a veneração de
Deus substituída pela de ídolos. 158

CICERO acrescenta às formas de governo


enumeradas por Aristóteles, o que ele chama de forma
mista, que é a redução dos poderes da monarquia, da
aristocracia e da democracia através de instituições
como o senado aristocrático ou câmara democrática. 159

MAQUIAVEL acreditava que somente existiria


dois tipos de Estado: repúblicas e principados. – “Todos
os Estados, todos os governos que tiveram e têm
autoridade sobre os homens, foram e são ou repúblicas
ou principados.” Os principados é o poder singular, de
um único homem, enquanto que a república é um poder
plural, de várias pessoas. A república, segundo ele,
abrangeria a aristocracia e a democracia. 160

MONTESQUIEU definia os governos pelo que ele


chamava de natureza - Existem três espécies de
governo: o republicano, o monárquico e o despótico.
Para descobrir sua natureza, basta a idéia que os
homens menos instruídos têm deles. Suponho três
definições, ou melhor, três fatos: "o governo republicano

caius_c 149
é aquele no qual o povo em seu conjunto, ou apenas
uma parte do povo, possui o poder soberano; o
monárquico, aquele onde um só governa, mas através
de leis fixas e estabelecidas; ao passo que, no
despótico, um só, sem lei e sem regra, impõe tudo por
força de sua vontade e de seus caprichos".161

DALLARI adota a corrente mais nova que


entende que somente existem dois tipos de governos:
república e monarquia. A monarquia, depois da
Segunda Guerra Mundial estaria sendo extinta ou
subsistindo de forma constitucionalista e com limitações,
sendo substituída gradativamente pela forma
162
republicana.

AZAMBUJA adota a mesma corrente de Dallari


acrescentando a análise de RODOLPHE LAUN das
formas de governo de acordo com origem, organização
e ao exercício. Quanto às origens, os governos seriam
democráticos ou de dominação; quanto à organização,
os governos seriam de fato ou de direito e quanto ao
exercício seriam absolutos ou constitucionais.163

KELSEN define duas formas de governo: a


autocracia e a democracia. A democracia implica
sujeitos politicamente livres; cidadãos que participam da
criação e concordam com a ordem jurídica vigente. Na
autocracia, o indivíduo não participa das decisões do
governo, estando subordinados a uma ordem jurídica
que devem obedecer sem restrições.164

caius_c 150
Preferimos o entendimento de que existem duas
formas de governo: a representativa e a não-
representativa. A representativa é aquela em que o
poder máximo do Estado é eleito através de votos pelo
povo, tanto na forma direta como indireta. A principal
característica é a necessidade da renovação do poder
concedido ou dos elementos que exercem o poder pelo
voto do povo. A não-representativa é aquela em que não
existe anuência expressa do povo através do voto,
sendo, na maioria das vezes, vitalícia e/ou hereditária.

Dentro da categoria das não-representativas


estão aquelas em que as eleições para a escolha do
líder supremo são realizadas por único partido político,
pelo partido dominante ou pela cúpula do partido. O
poder, também, pode ser transmitido por vontade do
antigo líder. Nesta categoria, geralmente, existe
vitaliciedade no cargo mas não hereditariedade.

República

República vem do latim “Res publica”, cujo


significado literal é “coisa pública”.

Para MONTESQUIEU república e democracia


são sinônimos. Ele considera a expressão do povo
através do voto como qualidade fundamental deste tipo
de governo - “Quando, na república, o povo em conjunto
possui o poder soberano, trata-se de uma democracia.
O povo, na democracia, é, sob certos aspectos, o
monarca; sob outros, é súdito. Só pode ser monarca
com seus sufrágios, que são suas vontades. A vontade

caius_c 151
do soberano é o próprio soberano. Logo, as leis que
estabelecem o direito de sufrágio são fundamentais
neste governo.”165

CÍCERO, em seu livro “Da República”, acrescenta


que o Estado deve ser governado pelo povo, embasado
em leis e com objetivos comuns a todos – “É pois, -
começou o Africano, - a República coisa do povo,
considerando tal, não todos os homens de qualquer
modo congregados, mas a reunião que tem seu
fundamento no consentimento jurídico e na utilidade
comum.” 166

DALLARI também afirma que república e


democracia são sinônimos. Destarte, estabelece que
nem sempre o povo participaria do governo,
considerando isso como uma possibilidade. - “A
república, que é a forma de governo que se opõe à
monarquia, tem um sentido muito próximo do significado
de democracia, uma vez que indica a possibilidade de
participação no povo no governo.”167

Para RUI BARBOSA, república é a forma de


governo onde existem três poderes constitucionais:
legislativo, executivo e judiciário. Os dois primeiros
derivariam de eleição popular.168

QUINTÃO SOARES adota a qualificação de


república como regime de governo que tem as seguintes
características: temporiariedade, eletividade e
responsabilidade política do chefe de governo. 169

caius_c 152
DE CICCO e GONZAGA adotam o conceito da
temporariedade do exercício das funções executivas,
tanto da chefia do governo como do Estado.170

AZAMBUJA adota, também, a eletividade e


temporariedade do chefe de Estado como as principais
características da república.171

O conceito que melhor define a república é


aquele que constitui como sua característica principal a
transitoriedade da permanência no poder de indivíduo
ou grupo, através de eleição com respaldo popular.

Monarquia

A palavra monarca vem do grego monarkhia, que


pode ser traduzida como “um líder ou chefe” e,
posteriormente do latim monarchìa, referindo-se a um
soberano único, nominalmente absoluto. Com o tempo,
a palavra foi sendo utilizada para designar outras formas
de governo, como a ditadura. O uso moderno da palavra
monarca é geralmente usada para se referir a um
sistema hereditário tradicional de governo, sendo que
monarquias eletivas são consideradas, no geral,
exceções.

Segundo o Dicionário Houaiss, uma palavra


parônima a "monarquia" é nomarquia, que vem do grego
nomarkhía ("nome" e "governo"), referindo-se ao
território governado pelo monarca. Em seu uso
moderno, refere-se a uma divisão administrativa da
Grécia.172

caius_c 153
Na definição clássica, monarquia é a forma de
governo em que o poder está nas mãos de um
indivíduo, de uma pessoa física. Essa definição,
segundo AZAMBUJA, não se aplicaria aos estados
modernos, uma vez que o órgão supremo de poder não
é mais o indivíduo só.173

FILOMENO conceitua como governo de apenas


uma pessoa, no sentido de esta ter o mando sobre
determinado grupo de outras pessoas perante as quais
se impõe. Ele acrescenta que é o regime onde se tem a
figura de um monarca a exercitar funções executadas,
de forma limitada ou não.174

Podemos adotar hereditariedade, vitaliciedade e


unicidade como as principais características da
monarquia. A unicidade se deve ao fato que somente
uma pessoa pode ser considerada como monarca. Se
assim não fosse, seria uma oligarquia ou, no mínimo,
uma diarquia.

Diferenças entre república e monarquia

Nas monarquias o cargo de chefe do Estado é


hereditário e vitalício, nas repúblicas é eletivo e
temporário.

Segundo DALLARI, as características


fundamentais da monarquia são: vitaliciedade,
hereditariedade e irresponsabilidade. O monarca
governa durante sua vida ou enquanto tiver condições
de fazê-lo e sua escolha se faz simplesmente pela linha

caius_c 154
de sucessão. O caráter da irresponsabilidade confere-
lhe a faculdade de não ter que explicar seus atos a
ninguém. Em nosso entendimento, a irresponsabilização
do monarca somente caberia em uma monarquia
absolutista. 175

Ainda de acordo com DALLARI, as características


da república são opostas às da monarquia, pois são a
temporariedade, eletividade e responsabilidade. Os
cargos são temporários e preenchidos através de
votação e o chefe de Estado responde por suas ações,
devendo dar explicações sobre elas ao povo e às
instituições.176

Deve-se acrescentar à monarquia mais uma


característica que historicamente lhe conferiu legalidade:
sua constituição divina. Dizia-se, ou ainda alguns dizem,
que o poder dos reis era concedido por Deus e,
portanto, intransferível.

JACQUES-BÉNIGNE BOSSUET apresentou três


razoes para justificar o direito divino dos reis. A primeira
razão é considerar que a monarquia seria a forma mais
natural de governo e que se perpetua por si própria; a
segunda é que existiria uma relação entre o tratamento
dispensado ao Estado e ao seu filho e sucessor; a
terceira seria a obediência natural dos súditos, fruto da
dignidade da casa real. O trono do rei seria o trono do
próprio Deus.177

JEAN BODIN assim escreveu “(...) Nada havendo


de maior sobre a terra, depois de Deus, que os príncipes

caius_c 155
soberanos, e sendo por Ele estabelecidos como seus
representantes para governarem outros homens, é
necessário lembrar-se de sua qualidade, a fim de
respeitar-lhes e reverenciar-lhes a majestade com toda
obediência, a fim de sentir e falar deles com toda a
honra, pois quem despreza seu príncipe soberano
despreza a Deus, de Quem ele é a imagem na terra.”178

EUCLIDES DA CUNHA mostra em seu livro “Os


sertões”, esse pensamento que predominou no Brasil
após a proclamação da república e que determinou a
extirpação de Canudos, considerada como um foco de
insurgência restaurativa da monarquia. “O rebelado
arremetia com a ordem constituída porque se lhe
afigurava iminente o reino de delícias prometido.
Prenunciava-o a República — pecado mortal de um
povo — heresia suprema indicadora do triunfo efêmero
do anticristo.”179

Esta forma de enxergar a monarquia como um


atributo de Deus é um conceito cármico. Em outras eras
ou mesmo hoje em alguns países, onde existiam ou
existem impossibilidade de ascensão social ou
mudanças no estilo de vida, a forma mais prática de
atribuir essas limitações ao ser humano para poder
controlá-lo é estigmatizar de que tudo não passa de
vontade divina e contra a qual não se deve rebelar,
principalmente contra o governo.

O sistema republicano contém um ingrediente


que estremece as relações Estado-cidadão
periodicamente: a mudança de governo e das diretrizes.

caius_c 156
Cada novo governante está imbuído de predisposições
pessoais e das do seu partido, o que implica em
confrontar as do governo anterior e fazer mudanças que
julga necessário. Esta necessidade de adaptar-se a
cada nova mudança de governo parece assustar
aqueles que defendem a monarquia.

Uma república é um perpétuo renovar de


intenções e ações. Além disso, exige um esforço maior
da população ao exigir-se dela que promova as
mudanças de governo no tempo exigido pela lei. Em
uma monarquia clássica, participação popular restringe-
se a um eterno aceitar o que lhe é imposto. A rebelião é
a única forma de impor-se ao seu governante. A
república exige politização do indivíduo. Não basta ele
apenas se administrar; ele tem o dever e o direito de
participar da governança. Na república, o indivíduo tem
que adquirir uma consciência social e tornar-se cidadão
por conta de suas próprias afirmações. Ele tem que
escolher e posicionar-se dentro das opções que lhes
são oferecidas ou criar outras quando julgar que estas
não lhes satisfazem. Este eterno fruir é o que torna a
república um sistema de governo passível de evolução.

No Brasil, em 21 de abril de 1993 foi feito um


plebiscito sobre o regime e o sistema de governo. As
hipóteses aventadas foram a monarquia parlamentar e a
república e os sistemas parlamentarista e
presidencialista. O povo manteve o regime republicano e
o sistema presidencialista.

caius_c 157
Sistemas de governo

Entende-se como sistema de governo a


tipificação das relações entre as instituições políticas
enquanto que a forma de governo se refere aos seus
aspectos macros de organização. Estes sistemas de
governo tanto cabem no regime republicano como no
monárquico, existindo, na prática, todas as variações
possíveis.

Parlamentarismo

Seu nome deriva da palavra francesa parler, que


significa falar. Considera-se as Cortes em Portugal
como tendo sido as antecessoras de um verdadeiro
parlamento. As primeiras Cortes realizadas em Portugal
foram as Cortes de Coimbra, em 1211, em que
participaram representantes da nobreza, do clero, e do
povo.

O sistema parlamentarista ou parlamentarismo é


um sistema de governo no qual o poder Executivo
depende do apoio direto ou indireto do parlamento para
ser constituído e para governar. Este apoio costuma ser
expresso por meio de um voto de confiança. Não há,
neste sistema de governo, uma separação nítida entre
os poderes Executivo e Legislativo, ao contrário do que
ocorre no presidencialismo.

QUINTÂO SOARES conceitua-o como forma de


regime representativo dentro do qual a direção dos
negócios públicos pertence ao parlamento e ao chefe de

caius_c 158
Estado, por intermédio de um gabinete responsável
perante a representação nacional. 180

DE CICCO e GONZAGA caracterizam este


sistema como aquele em que a figura do Chefe de
Estado se diferencia da figura do Chefe do Governo. Isto
permite sua utilização nos regimes monárquicos, onde o
rei é o chefe de Estado e o primeiro-ministro é o chefe
do governo.181

DALLARI expõe como principais características a


distinção entre Chefe de Estado e Chefe de Governo,
chefia do governo com responsabilidade política e
possibilidade de dissolução do parlamento para
realização de novas eleições.182

ADERSON DE MENEZES define


parlamentarismo como o tipo de governo representativo
que, com base nas relações estreitas de dois poderes,
coloca o executivo sob confiança do legislativo e conduz
a vida estatal equilibrada, mediante as técnicas da
responsabilidade política do gabinete e da dissolução
parlamentar. 183

Para DUGUIT, o regime parlamentar “repousa


essencialmente sobre a igualdade dos dois órgãos do
Estado, o Parlamento e o Governo, sua íntima
colaboração em toda atividade do Estado e na ação que
exercem um sobre o outro para se limitarem
reciprocamente”.184

caius_c 159
Este sistema tem três princípios básicos: a
igualdade entre o executivo e o legislativo; o da
colaboração entre os dois poderes; e a reciprocidade de
ação de cada um desses poderes sobre o outro.

Existe a possibilidade de dissolução do


parlamento, quando o primeiro-ministro julgar oportuno
que uma nova eleição lhe dê maioria. O cargo do
primeiro-ministro pode ser ocupado enquanto ele tiver a
confiança do parlamento, do chefe de Estado e da
população. Esta possibilidade permite que ele seja
removido rapidamente do cargo ou permaneça nele pelo
tempo que durar a confiança que se deposita nele.

O Brasil teve duas experiências parlamentaristas.


A primeira foi implantada pela Constituição de 1824,
outorgada por Dom Pedro I, quando ficou estabelecido
que os legítimos detentores da soberania nacional eram
o imperador e o parlamento, denominado Assembléia
Geral. Dois partidos, o liberal e o conservador,
alternavam-se no poder. Este parlamento podia ser
dissolvido pelo Imperador a qualquer momento,
carecendo, portanto, de efetiva representatividade. Este
sistema de governo perdurou até o final do Segundo
Império.

A segunda experiência foi entre 1961 a 1963,


considerada como solução para o vácuo de poder
deixado pela renúncia de Jânio Quadros e a investidura
de seu vice-presidente João Goulart38. Foi mais um

38
Também conhecido por Jango

caius_c 160
sistema semi-presidencialista do que parlamentarista,
pois dividiu as funções do Executivo entre os membros
do Conselho de Ministros.

Presidencialismo

O presidencialismo reúne em uma só pessoa o


chefe de Estado e o chefe do governo.

AZAMBUJA caracteriza o presidencialismo pela


independência dos poderes, sua colaboração entre si e
sua limitação recíproca. O Poder Executivo é exercido
de maneira autônoma pelo Presidente da República,
que atua como chefe do Estado e do Executivo.185

DALLARI indica as seguintes características do


presidencialismo: o presidente da república é chefe do
Estado e chefe do governo, a chefia é unipessoal, a
escolha é através de voto e por prazo determinado,
sendo que o presidente tem poder de veto.186

DE CICCO e GONZAGA enumeram as seguintes


características do presidencialismo:187

a) A chefia de governo e a chefia de


Estado ficam concentradas nas mãos de
uma única pessoa: o Presidente da
República;
b) O Presidente da República é eleito para
mandato determinado, não
respondendo, ordinariamente, perante o
Poder Legislativo;

caius_c 161
c) O Presidente da República possui
ampla liberdade para formação de seu
ministério;
d) O Parlamento, de igual forma, não pode
ser dissolvido por convocação de
eleições gerais pelo Poder Executivo; e
e) É compatível apenas com República,
sendo inviável em uma monarquia.

QUINTÃO SOARES conceitua presidencialismo


como o sistema político representativo no qual a direção
dos negócios públicos se concentra no órgão unipessoal
do Presidente da República, ao enfeixar as funções de
chefe de Estado e de governo. A chefia de governo deve
ter poder de veto e ser legitimada por vontade popular.
188

BONAVIDES assinala que a responsabilidade do


presidente é penal e não política; ele responde por crime
de responsabilidade no exercício da competência
constitucional. Para ele, os encargos presidenciais
abrangem sumariamente:189

a) A chefia da administração, através de


ministérios e serviços públicos federais,
entregues a pessoas da confiança do
presidente, responsáveis perante este,
que livremente os escolhe e demite;
b) O exercício do comando supremo das
forças armadas;
c) A direção e orientação da política
exterior com atribuições de celebrar

caius_c 162
tratados e convenções, declarar guerra
e fazer paz, debaixo das ressalvas do
controle exercido pelo poder legislativo,
nos termos estatuídos pela Constituição.

Constitucionalismo

Segundo definição de CANOTILHO,


"constitucionalismo é a teoria que ergue o princípio do
governo limitado indispensável à garantia dos direitos
em dimensão estruturante da organização político-social
de uma comunidade. Neste sentido, o constitucionalismo
moderno representará uma técnica específica de
limitação do poder com fins garantísticos. O conceito de
constitucionalismo transporta, assim, um claro juízo de
valor. É, no fundo, uma teoria normativa da política, tal
como a teoria da democracia ou a teoria do
liberalismo."190

DALLARI afirma que três grandes objetivos


resultaram no constitucionalismo: a afirmação da
supremacia do indivíduo, a necessidade de limitação de
poder dos governantes e a crença na racionalização do
poder. 191

Não se considera o constitucionalismo como uma


forma de governo e sim o uso de leis de cunho geral,
geralmente uma constituição, que define a estrutura
governamental, seus poderes e suas limitações. Por
princípio, ninguém deve estar acima das leis.

caius_c 163
A simples presença de uma Constituição ou leis
formalizadas equivalentes em determinado Estado não
conduz necessariamente à sua classificação como
constitucionalista. O que o consagra nesta classificação
é a efetiva subordinação do indivíduo e do Estado às
leis.

Absolutismo

Absolutismo é a concentração de todos os


poderes do Estado em uma só pessoa.

O absolutismo é uma teoria política que defende


que uma pessoa (em geral, um monarca) deve deter um
poder absoluto, isto é, independente de outro órgão,
seja ele judicial, legislativo, religioso ou eleitoral.

L`Etat c`est moi39 é uma célebre frase atribuída


ao rei Luis XIV40 da França, no apogeu do Estado
absolutista, que tipifica a concentração de poderes no
Estado absolutista e o pensamento daquele que o
detém.

O absolutismo compreende ou compreendeu


muitas formas. Pode-se dizer que ele foi o regime
predominante em toda a História humana .Em muitos
casos ele assumiu a identidade do seu máximo
governante. Em outros, o culto à personalidade foi

39
O Estado sou eu
40
1638-1715

caius_c 164
instalado e a identificação do regime derivou-se do
nome do próprio governante.

Anarquismo

Anarquismo vem do grego anarkhos, que significa


"sem governantes", é uma filosofia política que engloba
teorias e ações que visem a eliminação de todas as
formas de governo compulsório. De um modo geral,
anarquistas são contra qualquer tipo de ordem
hierárquica que não seja livremente aceita, defendendo
tipos de organizações horizontais e libertárias.

Para os anarquistas, anarquia significa ausência


de coerção, e não ausência de ordem. Uma das visões
do senso comum sobre o tema é o que se denomina por
"anomia", ou seja, ausência de leis. Existe em torno
desta questão um debate acerca da necessidade ou não
de uma moral anarquista, ou se a natureza humana
bastaria por si só na manutenção pacífica das relações.

BAKUNIN, considerado o maior expoente do


anarquismo, vocifera contra a opressão do Estado face
aos seus cidadãos: “É óbvio que a liberdade não será
restituída à humanidade, e que os verdadeiros
interesses da sociedade – quaisquer que sejam os
grupos, organizações sociais ou indivíduos que a
compõem – só serão satisfeitos quando os Estados não
mais existirem. Está claro que todos os chamados
interesses gerais que o Estado deveria representar são
de fato uma abstração, uma ficção, uma mentira. Estes
interesses, na realidade, não são nada mais que a

caius_c 165
negação total e contínua dos interesses reais das
regiões, comunas, associações e da grande maioria dos
indivíduos submetidos ao Estado. O Estado é um
enorme matadouro, um vasto cemitério no qual, sob a
sombra e o pretexto de abstração, todas as reais
aspirações e forças ativas de um país deixaram-se
enterrar generosa e pacificamente.”192

No Brasil, o anarquismo chegou por volta de


1850, trazido pelos imigrantes europeus. No município
de Palmeiras, no Paraná, chegou a ser estabelecida a
Colônia Cecília por imigrantes italianos, , regida pelos
princípios anarquistas, entre 1890 e 1893. Em 1906 é
organizado o Congresso Operário, no Rio de Janeiro,
que define práticas de ação anarquista. Entre 1909 e
1919 são criadas escolas para trabalhadores nos
moldes da doutrina. As greves de 1917, 1918 e 1919
foram comandadas por eles. Com a fundação do Partido
Comunista, em 1922, o movimento perdeu força e
deixou de ter alguma representatividade política.

Complexidade

Para EDGAR MORIN complexus significa o que


foi tecido junto; de fato, há complexidade quando
elementos diferentes são inseparáveis constitutivos do
todo e há um tecido interdependente, interático e inter-
retroativo entre o objeto do conhecimento e seu
contexto, as partes e o todo, o todo e as partes, as
partes entre si. Por isso, a complexidade é a união entre
a unidade e a multiplicidade. 193

caius_c 166
Complexidade é uma das características do
Estado. Se mantivéssemos outras e excluíssemos esta,
a sociedade seria apenas uma tribo. Esta complexidade
é proporcional ao número de cidadãos.

As necessidades básicas do indivíduo são as


mesmas dentro de uma sociedade simples ou complexa
mas apresentam formas distintas para sua satisfação.
Dentro da evolução de uma sociedade simples para
uma mais complexa, novas necessidades vão surgindo
e algumas terminam por se tornarem básicas. O que
pode ser totalmente dispensável em uma sociedade
pode ser de vital premência em outra.

Nas sociedades simples não existe a


necessidade da figura do Estado, apenas a figura de um
dirigente ou um conselho. Com mando direito e fácil
recepção da autoridade pelo indivíduo, um sistema mais
complexo seria incoerente e até inaceitável. As
necessidades do indivíduo e da própria comunidade são
prontamente apresentadas e as soluções, via de regra,
são rápidas e facilmente assimiláveis.

Com o crescimento demográfico, que implica


necessariamente em um território maior para sua
acomodação, as linhas de comunicação entre os que
governam e os que são governados tornam-se frágeis e
quase inaudíveis. Sem uma linha mestra para alinhavar
os pensamentos do indivíduo e os da comunidade,
emerge uma ruptura e inicia-se um processo anômico.
Neste momento é que deve surgir o Estado para nortear
a vida dentro da sociedade.

caius_c 167
O Estado é complexo por sua própria natureza.
Esta complexidade proveniente da natureza da própria
sociedade obriga que o mando não consiga ser direto.
Apesar do poder do Estado ser uno e indivisível, existe a
necessidade de que ele flua através de órgãos ou
instituições para que surta efeito até o comum cidadão.

Instituições

Instituições são as estruturas do Estado criadas


para disseminação do seu poder.

Elas podem ser de dois tipos: materiais e formais.


As materiais são compostas pela estrutura física onde o
poder do Estado é centralizado tais como prédios,
edifícios, contingente de pessoas, etc. Formais são
aquelas que induzem comportamentos como leis,
costumes, ideologias e outras. Podem ser escritas ou
não. Sua principal característica é a observação de
preceitos pela comunidade que os considera como
forma de conduta pessoal e coletiva. A não aderência
aos seus pressupostos pode provocar sanções sociais
ou estatais. Inclui-se nesta categoria a estrutura de
poder.

Sua composição varia de acordo com o regime ou


sistema político. No entanto, três delas são
consideradas como principais: legislativo, executivo e
judiciário.

caius_c 168
Cada uma delas tem uma função: o legislativo faz
as leis, o executivo governa e a judiciário regula o
equilíbrio entre os poderes, Estado e sociedade. Estas
três instituições dispõem de ramificações suficientes
para que seu poder atinja todos os segmentos sociais.

Soberania

A palavra soberania vem do latim medieval


superanus e era aplicada a todos que estavam no alto
de uma ordem qualquer. Significa, na sua forma mais
abrangente, aquilo ou aquele que está acima de outros.

O primeiro a estabelecer uma definição para


soberania foi JEAN BODIN que diz que “soberania é o
poder perpétuo de uma República”. Como República
leia-se Estado. Bodin acreditava que o poder soberano
dos príncipes e reis era delegado diretamente por Deus
a eles. 194

SAMPAIO DORIA define soberania como o poder


supremo, exclusivo e auto-determinante de dar ordens
incontrastáveis, sancionadas pela força, chegando a
dizer que soberania é só interna, nunca internacional.195

Para JEAN-JACQUES ROUSSEAU, a soberania


advém do poder que se origina do povo – “somente a
vontade geral tem possibilidade de dirigir as forças do
Estado, segundo o fim de sua instituição, isto é, o bem
comum; pois, se a oposição dos interesses particulares
tomou necessário o estabelecimento das sociedades, foi
a conciliação desses mesmos interesses que a tornou

caius_c 169
possível”.196 O pacto social dá ao corpo político um
poder absoluto sobre todos os seus membros, e esse
poder é aquele que, dirigido pela vontade geral, se
chama soberania.

Para ele a soberania era inalienável e indivisível –


“Digo, pois, que outra coisa não sendo a soberania
senão o exercício da vontade geral, jamais se pode
alienar, e que o soberano, que nada mais é senão um
ser coletivo, não pode ser representado a não ser por si
mesmo; é perfeitamente possível transmitir o poder, não
porém a vontade.” – “Pela mesma razão que a torna
alienável, a soberania é indivisível, porque a vontade é
geral, ou não o é; é a vontade do corpo do povo, ou
apenas de uma de suas partes. No primeiro caso, essa
vontade declarada constitui um ato de soberania e faz
lei; no segundo, não passa de uma vontade particular ou
um ato de magistratura: é, no máximo, um decreto.”197

Para JEAN BODIN, a soberania é uma,


indivisível, indelegável, irrevogável, perpétua e poder
supremo. 198

Para EMMANUEL J. SIÉYÈS, soberania é poder


que emana da nação ou da sociedade representada por
aqueles que atuam em seu nome. 199

CARL SCHMITT, em texto de 1922, chamado


“Teologia Política” define: “É soberano aquele que
decide sobre situação excepcional”, o que equivale a
propor para o Estado, a fonte de todo direito e de toda
lei.” 200

caius_c 170
Para GISELE LEITE, a soberania é conceito
histórico e relativo, ainda que considerado como
elemento essencial do Estado conforme Jellinek que se
preocupa com a soberania sob prisma do direito
internacional como um dado essencial constitutivo do
Estado. Externamente, a soberania é apenas qualidade
do poder, que a organização estatal poderá ostentar ou
deixar de ostentar. A soberania interna fixa a noção de
predomínio que o ordenamento estatal exerce em certo
território e numa determinada população sobre os
demais ordenamentos sociais. Aparece então o Estado
como portador de uma vontade suprema e soberania - a
suprema potestas. 201

De acordo com ROSEMIRO PEREIRA LEAL,


soberania é declarada como princípio ou fundamento
necessariamente vinculado ao Estado, quando, a rigor,
é ela, em si mesma, um conjunto autônomo de
princípios jurídicos, de regras e institutos sociais e
políticos justificadores do poder nacional. 202

Podemos definir soberania como a capacidade


gerencial de cada país. É a exteriorização da sua
vontade de comandar seu próprio destino.

Titularidade do direito da soberania

As tentativas de legitimação da soberania


originaram doutrinas teocráticas e democráticas.

As teocráticas estabeleceram três princípios,


todos baseados na origem divina. A primeira dita que os

caius_c 171
governantes são seres divinos e o seu poder foi dado
diretamente por Deus; o governante é o próprio deus-
vivo. Neste caso, não existe possibilidade de
contestação ou insubmissão a ele, pois isto significa
blasfêmia ou sacrilégio. A segunda, ocorre uma
investidura de poder por um elemento superior aos
homens, mas o investido nele mantém sua condição
humana; a condição de governante é dada por Deus,
não cabendo, também, nenhuma insubmissão contra
ele, o que seria uma heresia. A terceira, a da investidura
providencial, admite que apenas a origem do poder é
divina; permitindo eventual participação dos governados
na escolha dos governantes. Em todas elas reside a
vinculação do poder dos homens com o poder divino.

As democráticas estabelecem que o titular do


direito da soberania é o povo e o Estado. A doutrina da
soberania popular funda-se sobre a igualdade política
dos cidadãos, onde cada fração de soberania individual
é componente do todo. A doutrina da soberania nacional
estabelece que a Nação é a depositária única e
exclusiva da autoridade soberana; povo e Nação
formam uma só entidade, compreendida como um ser
abstrato e personificado, dotado de vontade própria,
superior às vontades individuais.

Soberania e Estado

A soberania nasce da necessidade humana de


definir limites de posses para si ou para um grupo. A
soberania nasce como um sentimento inicial derivado da
posse de um território ou de alguma coisa. Soberania,

caius_c 172
na sua fase inicial, é tudo aquilo que o ser humano,
como indivíduo ou como grupo, toma para si e se julga
apto a cuidar, quer seja para sua própria sobrevivência
ou como forma de situar-se dentro de um espaço que
julgue seu.

Partindo desse sentimento inicial, a soberania


toma outra forma mais abrangente: soma-se ao
sentimento de posse a capacidade de mantê-lo sob seu
domínio. Sem essa capacidade de domínio, a soberania
fica apenas no plano das idéias. Ao sentimento de
soberania soma-se o espaço que se determina como
pertencente ao grupo em todas as suas formas. O
espaço soberano é composto de um limite territorial e de
todos os elementos dentro dele, tanto físicos como
ideais.

Indo um pouco mais além, a soberania se


transforma na forma ideal de ter sob uma jurisdição
todos os elementos que compõe esse espaço soberano
que considera como essencial para a sobrevivência do
grupo. A soberania se transforma na capacidade de
administração de um espaço sem a interferência de
elementos estranhos.

O espaço soberano não é imutável pois, a cada


dia, novos componentes são agregados ou modificados,
de acordo com a evolução das relações entre os países.
Não se deve confundir limites territoriais com limites
geográficos pois aqueles vão muito alem desses. Como
limites territoriais podemos estabelecer a definição clara
de todos os componentes da soberania em si, nas suas

caius_c 173
mais diversas formas. O espaço soberano é aquele que
se toma como idéia a partir do sentimento de soberania
e os limites territoriais são a definição desse espaço.

A soberania tem que ser reafirmada


constantemente. As pretensões que temos com relação
a ela não são inertes. Sempre ela se vê ameaçada por
diversos fatores e, por isso, um de seus componentes é
sua própria reafirmação constante. Quem não reafirma
sua soberania, perde-a rapidamente.

Sendo um sentimento, como podemos reafirmá-la


constantemente? A resposta vem das condições dos
sentimentos que julgamos necessário manter. É igual
aos sentimentos familiares ou de amizade que
precisamos renovar constantemente, dando
demonstrações efetivas para que não se solapem ou
desapareçam.

A soberania tem duas formas:

a) a do Estado
b) a do indivíduo.

Para poder existir, o Estado precisa ter forças


suficientes para manter a jurisdição sobre o espaço
soberano. Quando o Estado é desvinculado de seu
povo, essa tarefa pode se transformar em sua exclusiva
competência. Um Estado que se mantenha apenas pela
repressão não terá apoio efetivo de seu povo. Não tendo
apoio do povo, o Estado terá que se valer de seus
elementos para manter o domínio sobre o espaço

caius_c 174
soberano. Como regra geral, um povo reprimido pelo
seu próprio Estado não se importará quando sua
soberania estiver ameaçada por outros povos e,
algumas vezes, até preferirá que o Estado que o oprime
seja deposto, na esperança que aqueles que o
derrubaram façam com que sua vida seja melhor. Um
povo sem o sentimento de soberania é um povo que
tenderá a desaparecer através de sua pura e simples
extinção ou através de sua assimilação por um povo
invasor.

A soberania parte de um sentimento individual e


se completa quando atinge a maioria dos elementos do
povo que o tem na mesma forma. Um indivíduo tem dois
tipos de soberania: a própria e a coletiva.

a) A soberania própria restringe-se aos elementos


que compõe seu universo individual e sobre o qual tem
domínio.
b) A coletiva é aquela em que o indivíduo adere
ao conceito estatal de soberania.

Em um Estado sintonizado com as necessidades


de seu povo, o próprio indivíduo encarrega-se da
manutenção da soberania juntamente com o Estado.
Existindo uma reciprocidade de cuidados entre o Estado
e o indivíduo, ocorre uma transformação nesse último: o
indivíduo toma a forma de cidadão. Tomando a forma de
cidadão, os conflitos entre Estado e cidadão tornam-se
menores e as necessidades de um e de outro passam a
ser, praticamente, as mesmas. Nesse ponto, o Estado
torna maior sua função de cuidar dos cidadãos e os

caius_c 175
cidadãos cuidam para que o coletivo que o Estado
administre seja mais ameno. Podemos até dizer que um
Estado nesse estágio se transforma em um “grupo
familiar ideal” onde cada um cuida de outro para que
todos ganhem mais com o esforço coletivo. Nenhum
Estado tem sentido se não foi estabelecido com base
em uma reciprocidade. O cidadão deve ao Estado na
mesma proporção em que o Estado deve para o
cidadão. O Estado não é de ninguém. O Estado não é
um objeto. O Estado é humano. O Estado deve servir e
não superar-se em forma além daquilo que o cidadão
deseja para si e para a sociedade.

Preservando a soberania do Estado e do cidadão,


estabelece-se a preservação dos próprios direitos e
deveres formalizados pela Constituição. Sendo a
formalização da Constituição a positivação dos ideais de
uma sociedade, ela transforma-se na formadora dos
limites territoriais que deseja para a sua soberania e do
seu cidadão.

Soberania e sua composição

A soberania é composta de vários elementos.


Para que seja completa existe a necessidade dela se
manter igualmente nas três formas abaixo:

- a soberania militar
- a soberania econômica
- a soberania cultural

caius_c 176
Por princípio, podemos dizer que a soberania
militar é a mais fácil de ser mantida. Historicamente
estamos em um período em que as invasões militares
são relativamente pequenas em relação ao passado. Os
pontos de conflitos existentes são aqueles que existem
desde tempos remotos e os que surgem são
prontamente reprimidos pelos órgãos internacionais.

A necessidade da manutenção da paz vai alem


dela própria. Pontos de conflitos interferem na economia
e estabilidade política mundial, podendo alastrar-se para
outros países. Com o potencial de destruição em massa
que dispomos, a probabilidade da extinção da espécie
humana por ela própria torna-se maior quando explode
um conflito. Assim sendo, os demais países procuram
abafar esses focos para que eles não se transformem
em algo que os atinja.

Mesmo que alguns países não a detenham por si


próprio, como o Japão, essa soberania militar pode ser
delegada a outros governos ou órgãos mundiais. Por
vezes, essa soberania militar pode ser ampliada através
de tratados como os da Otan ou do antigo Pacto de
Varsóvia. É certo que alguns países como os Estados
Unidos e Inglaterra mantêm entre si uma cooperação
nesse sentido, embora nesse caso esteja mais
vinculado a uma dominação militar do que manutenção
da soberania propriamente dita. Outros países se
preservam através da neutralidade como a Suíça ou
com pactos de não agressão.

caius_c 177
A soberania econômica, atualmente, está
bastante vinculada à dita “globalização”. Esse fenômeno
surgiu a partir da intensa inovação tecnológica,
principalmente nas informações. A rede mundial de
computadores foi um dos pontos mais fortes dessa nova
fórmula de convivência mundial. Outro ponto foi a
criação de grupos econômicos como a União Européia,
Nafta, Mercosul e outros, e poderá, a longo prazo,
determinar a forma econômica como o mundo deverá se
comportar. A soberania economia estará vinculada à
capacidade que o país tem de se manter
economicamente viável, independente ou auto-
suficiente.

Apesar desses grupos econômicos formados por


países, podemos dizer que o maior fator de dominação
econômica partirá das empresas gigantescas que estão
se formando. O nível de compra de empresas ou
formação de grupos econômicos está em seu nível mais
alto e isso determinará a economia mundial e a
soberania de cada país. Torna-se mais difícil a cada dia
uma empresa manter-se sem essa união com outras. Os
grupos econômicos estão dominando o planeta e se
imiscuindo na administração dos Estados. O país que
não conseguir manter sua soberania econômica estará
fadado ao insucesso como nação e terminará por ser
administrado por essas companhias ou pelos seus
países de origem.

Por soberania cultural devemos entender a forma


de comportamentos, idéias e ideais sob os quais um
grupo se une e se identifica. A cultura é o primeiro dos

caius_c 178
elementos que define um povo como Nação, visto que
os laços existentes são comuns a todos e todos os
entendem como necessários para sua própria
existência.

A soberania cultural é o primeiro ponto a ser


atacado pelos grupos econômicos. Para se vender é
necessário que o produto seja aceito e para que isso
aconteça é necessário que o povo o tome como
necessário ou fundamental para sua sobrevivência ou
apenas para sentir-se conjugado com o coletivo. Um
povo que descarta sua cultura em função de uma cultura
externa sentir-se-á mais identificado com a cultura
invasora do que com sua própria. Perdendo sua
identidade cultural, o país se tornará apenas uma
extensão daquele que o aculturou. Aculturando-se o
povo, o Estado deixa de ter as funções precípuas das
quais deveria se compor e transforma-se apenas em um
elemento da dominação externa que deveria combater.
Como exemplo, podemos citar a teoria americana que
considera a América do Sul como seu “quintal” e os
países árabes como “fornecedores de petróleo”. Essas
teorias propiciaram invasões em países árabes e a
colocação de governos subordinados aos seus
interesses nos países sul-americanos, frontalmente
contra os interesses dos seus próprios povos. A famosa
“Doutrina Monroe” e o “Plano Marshall”, conduzidas
pelas idéias do “Destino Manifesto”, fazem parte desses
ideais ou idéias que procuram manter a dominação
econômica e cultural de outros povos em benefício de
outro.

caius_c 179
A não manutenção da soberania gera uma
subcultura voltada aos interesses daqueles que
impingem a própria sobre outros povos e conseqüente
dependência econômica.

A capacidade de um Estado em manter sua


soberania é o que determina sua duração. Sendo fraco,
o Estado se perderá e ao seu povo. Sendo adequado, o
Estado se transforma no pólo positivo que se conjuga
com o cidadão para manter a energia vital dos quais os
dois se nutrem.

O elemento – soberania territorial – é


conseqüência da manutenção das três soberanias
citadas acima.

Soberania e sua manutenção

A Declaração dos Direitos do Homem e do


Cidadão, de 1789, no seu parágrafo 3º., diz: “O princípio
de toda soberania reside essencialmente na Nação.
Nenhuma corporação, nenhum indivíduo, pode exercer
autoridade que aquela não emane expressamente.”

A Declaração Universal dos Direitos Humanos41,


de 1948, no seu artigo XXI, expõe a necessidade da
soberania do indivíduo e do Estado, através da relação
democrática entre eles:

41
Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III), da Assembléia Geral
das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948

caius_c 180
1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no
governo de seu país, diretamente ou por intermédio de
representantes livremente escolhidos.

3. A vontade do povo será a base da autoridade do


governo; esta vontade será expressa em eleições
periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto
secreto ou processo equivalente que assegure a
liberdade de voto.

Essa declaração exclui os governos autocráticos


pois estes não têm sua legitimidade baseada na vontade
do cidadão. Em tese, sendo uma Declaração Universal
dos Direitos Humanos e não atingindo determinados
países, pode se entender que não existe o
reconhecimento daqueles que tem este tipo de governo
como um Estado efetivo.

A própria Organização das Nações Unidas reflete


a preocupação com seu poder soberano sobre as
nações no seu art. 493, onde diz que “O poder
internacional é autônomo e soberano, especificamente
distinto dos poderes dos Estados nacionais.” 203

A preocupação com a soberania do Estado e do


indivíduo encontra-se expressa em muitas constituições.
A de Portugal, em seus princípios fundamentais, define
o seguinte:204

Artigo 1.º - Portugal é uma República soberana,


baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade

caius_c 181
popular e empenhada na construção de uma sociedade
livre, justa e solidária.

Artigo 2.º - A República Portuguesa é um Estado


de direito democrático, baseado na soberania popular,
no pluralismo de expressão e organização política
democráticas, no respeito e na garantia de efetivação
dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e
interdependência de poderes, visando a realização da
democracia econômica, social e cultural e o
aprofundamento da democracia participativa.

Artigo 3.º - 1. A soberania, una e indivisível,


reside no povo, que a exerce segundo as formas
previstas na Constituição.

Na Constituição argentina declara-se também sua


capacidade soberana e a origem da mesma:205

Artículo 33.- Las declaraciones, derechos y


garantías que enumera la Constitución, no serán
entendidos como negación de otros derechos y
garantías no enumerados; pero que nacen del principio
de la soberanía del pueblo y de la forma republicana de
gobierno.

Artículo 37.- Esta Constitución garantiza el pleno


ejercicio de los derechos políticos, con arreglo al
principio de la soberanía popular y de las leyes que se
dicten en consecuencia. El sufragio es universal, igual,
secreto y obligatorio.

caius_c 182
A Constituição de Cuba, atualizada em 2002,
assim diz, no seu Capítulo I, Fundamentos Políticos,
Sociais e Econômicos do Estado:

Artículo 3.- En la República de Cuba la soberanía


reside en el pueblo, del cual dimana todo el poder del
Estado. Ese poder es ejercido directamente o por medio
de las Asambleas del Poder Popular y demás órganos
del Estado que de ellas se derivan, en la forma y según
las normas fijadas por la Constitución y las leyes.

A Constitución de la República Bolivariana de


Venezuela, Titulo I, Princípios Fundamentales, diz:206

Artículo 1. La República Bolivariana de Venezuela


es irrevocablemente libre e independiente y fundamenta
su patrimonio moral y sus valores de libertad, igualdad,
justicia y paz internacional, en la doctrina de Simón
Bolívar, el Libertador.

Son derechos irrenunciables de la Nación la


independeicia, la libertad, la soberania, la inmunidad, la
integridad territorial y la autodeterminacion nacional.

A Constituição do Paraguai de 1992, na sua parte


I, Título I, em suas declarações fundamentais, dos
direitos, dos deveres e das garantias, assim define:

Artículo 2 - De la Soberania - En la República del


Paraguay y la soberanía reside en el pueblo, que la
ejerce, conforme con lo dispuesto en esta Constitución.

caius_c 183
A Constituição do Chile estabelece suas bases
soberanas::207

Artículo 5º .-La soberanía reside esencialmente


en la Nación. Su ejercicio se realiza por el pueblo a
través del plebiscito y de elecciones periódicas y,
también, por las autoridades que esta Constitución
establece. Ningún sector del pueblo ni indivíduo alguno
puede atribuirse su ejercicio.

A Constituição do Brasil de 1988, no seu Título I,


dos princípios fundamentais, diz:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada


pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania;

II - a cidadania;

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre


iniciativa;

V - o pluralismo político.

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que


o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição.

caius_c 184
Entre as constituições de Cuba, Portugal,
Argentina e Paraguai, a soberania é de responsabilidade
do povo que a exerce através dos governos, conforme
disposto em suas constituições. Na do Chile existe o
conceito de que a soberania está na Nação e é exercida
pelo povo através de plebiscitos e eleições. Neste caso,
o conceito de soberania está vinculado a uma forma
democrática de Estado pois assegura que nenhum
indivíduo pode exercer-la por si só em conformidade
com o disposto na Declaração dos Direitos Humanos e
do Cidadão de 1789.

Essa preocupação expressa pelos países nas


suas constituições em manter sua soberania é a forma
de situar-se como elemento controlador de seu espaço
através do Estado e tendo como base o seu próprio
povo. O Estado mantém o cidadão e o cidadão promove
o Estado.

No Brasil, o Estado fundamenta-se sobre a


soberania, ou seja, sem ela o Estado não existiria como
tal, sendo que a sua competência é do Congresso
Nacional e da União, conforme disposto na Constituição
Federal de 1988, e ao povo cabe a sua expressão
apenas através do voto.

No entanto, o conceito de soberania do povo, na


Constituição, fere o próprio conceito da soberania em si,
pois lhe permite a participação apenas na escolha de
seus representantes e não lhe dá nenhum poder para
retirá-los da administração do Estado quando a
confiança do voto que lhe deu for abalada por infrações

caius_c 185
da lei. A soberania do indivíduo é limitada pelo próprio
Estado e existe uma separação forte entre as duas
partes: de um lado o indivíduo e de outro o Estado.
Existe uma limitação da soberania do indivíduo em
contraposição à soberania do Estado, ou seja, ambas
estão claramente definidas e situadas dentro de um
espaço em que não se completam. Essa aparente
soberania do indivíduo em relação à eleição de seus
representantes, na verdade tolhe a própria, pois não lhe
confere nenhum poder alem desse.

Não se pode outorgar sua própria soberania a


outro e isso a elimina naturalmente. A partir do momento
em que a damos para outro, nós a deixamos de ter. O
correto seria que a soberania do Estado e do cidadão
não fossem separadas, mas complementares e
justapostas, como se fossem dois quadros
transparentes que ao serem colocados um sobre o outro
determinassem a real imagem.

Quando o cidadão passa a fazer parte do Estado,


ele passa a ter prerrogativas que não teria se fosse um
comum. É como se essa transmigração lhe desse
poderes que não pudessem ser tirados ou lhe dessem
privilégios além daquilo que a lei permite. É uma
separação de corpos que inviabiliza os principais
conceitos da própria democracia, visto que outorga
apenas parte de poderes ao cidadão enquanto que lhe
dá plenos poderes quando o mesmo passa a fazer parte
da máquina estatal. Os mecanismos que existem, como
as CPIs, partem do próprio Estado e, por isso, podem se
tornam ineficazes no controle dos representantes do

caius_c 186
povo, visto que sua composição é feita pelos próprios
parlamentares. A única abertura que existe é no artigo
14, alínea III, onde, nos termos da lei, pode ser posta
em votação na Câmara dos Deputados alguma lei vinda
diretamente do povo. Como as exigências são grandes
para se firmar como iniciativa popular, essa forma de
soberania se torna inócua.

Para que a soberania do povo seja mantida é


necessário a criação de canais judiciais para
interpelação dos políticos pelo indivíduo, quando esses
não tiverem a atuação conveniente. Essa interpelação
do cidadão frente ao seu eleito reforçaria os laços que
os ligaram durante as eleições. Seria a forma de cobrar
os políticos pela sua atuação.

Partindo dessas duas responsabilidades sobre a


soberania: a do povo e do Estado, podemos dizer que a
mesma pode existir de três formas:

a) A soberania exercida pelo povo


b) A soberania exercida pelo Estado
c) A soberania exercida em conjunto pelo Estado e
pelo povo

A soberania exercida pelo povo restringe-se


apenas àquela em que o mesmo protege-se e aos seus
direitos frente ao seu próprio governo. É algo um tanto
vago visto que o povo não tem poderes e nem força,
pois os delega ao Estado para que o exerça em nome
dele.

caius_c 187
A soberania exercida pelo Estado é a mais
comum, pois somente ele dispõe de órgãos
especializados para isso. O argumento de que a
composição do Estado é feito a partir do povo é
acadêmico, pois, efetivamente, existe uma distância
entre povo e Estado na maioria dos países. Como o
Estado dispõe de aparelhagem própria, é certo que
somente o mesmo teria condições de manter a própria
soberania.

Nos países totalitários somente existe essa


condição, pois sua concepção de governo o afasta da
população e a oprime para que não ocorram revoltas ou
a própria derrubada dos governantes. Com a opressão
do próprio povo, o conceito de soberania atende apenas
à manutenção de uma classe no poder dentro de um
território. O Estado precisa se manter soberano para
que as oligarquias regentes continuem a ter as
vantagens do poder. Um Estado totalitário é um
desperdício e um retrocesso. Ao usar energia e
capacidade para manter-se, ele não a usa para o
benefício da Nação. Não beneficiando a Nação, o
Estado torna-se apenas a propriedade de alguns.
Tornando-se uma propriedade privada, ele deixa de ser
Estado. Deixando de ser Estado, ele sujeita-se os
ditames comerciais pelos quais se regem as
propriedades privadas.

Esse mesmo pensamento pode ser usado com os


Estados que desrespeitam a soberania de outros
Estados, pois passam a considerar esses como uma
posse sua e se dão ao direito de usá-los como lhes

caius_c 188
convém. Um Estado que admite outro como sua
propriedade perde o direito de ser Estado e passa a ter
a mesma condição deste.

Mesmo nos países dito democráticos existe um


distanciamento entre o Estado e o povo. A partir do
momento em que é eleito, o cidadão passa a utilizar o
Estado em benefício próprio e do grupo que está
representando, deixando de atuar para aqueles a quem
realmente deveria. Exemplos típicos são a concessão
de orçamentos especiais para determinados setores da
sociedade ou para determinadas regiões onde se
espera um resultado político. Uma idéia que parta de um
oposicionista jamais vingará por melhor que seja, visto
que sua implantação favorecerá politicamente a este.
Um Estado democrático de direito ainda é um ideal
distante.

A soberania exercida em conjunto pelo Estado e


pelo povo seria a ideal. Um Estado somente se torna
soberano quando está sintonizado com seu povo e a ele
se dedica. Neste estágio, o Estado atinge sua real
dimensão que é a de cuidar do povo que representa.
Cuidando do povo que o representa, existe a
reciprocidade: o cidadão passa a encarar o Estado
como seu benfeitor e usa das formas que lhe cabe para
solidarizar-se com esse Estado. Nesse estágio, o
conceito de Estado passa a ser outro, divergindo
totalmente daqueles que existem atualmente. Podemos
até dizer que o Estado se tornar em um Status Magnus,
onde a sua existência está totalmente vinculada a

caius_c 189
satisfação das necessidades do cidadão em conjunto
com as suas próprias.

Alem dessa reciprocidade entre Estado-cidadão,


a soberania está diretamente ligada à economia e seu
reflexo sobre o bem estar do cidadão. Países com
economias fracas ou pobres terão dificuldades na
manutenção de sua soberania.

O próprio Direito, na sua forma de Justiça,


somente existe quando as condições lhes são
favoráveis. Em países totalitários ou imperialistas, seu
uso restringe-se à manutenção do Estado e não lhe
confere o grau que deve ter. Dependendo da forma
política na qual o Estado situa-se, sua função básica de
proteger direitos e distribuir deveres é inexistente.

A soberania como um direito do Estado

Exercer a soberania é dever do Estado e é


também seu pleno direito. Sendo um dever, ela é
exercida pelo povo e/ou pelo Estado. Enquanto direito, a
existência do Estado está ligada diretamente ao seu
exercício. Embora o Estado tenha inicialmente nascido a
partir de um sentimento de soberania, ele se mantém
graças a ela e sua contínua reafirmação. Sendo assim,
são concorrentes e a existência de um determina a de
outro, não existindo um Estado sem uma soberania e
não existindo a soberania se o Estado e/ou povo não a
exercer.

caius_c 190
Retirando o direito à soberania de um Estado, ele
torna-se apenas um território onde a vontade de outros
prevalece. Se a vontade de outros prevalece sobre o
Estado, então ele deixa de ser autônomo. Perdendo a
autonomia, o Estado deixa de ter jurisdição sobre seus
limites e conseqüentemente deixa de ter as qualidades
necessárias para ser um Estado. Sem o direito à
soberania, o Estado não teria o próprio direito de se
afirmar como tal.

Quando não constituída na forma de Estado, a


Nação, no conceito que conhecemos, não tem esse
direito. Historicamente, os povos organizados em forma
de Estado sempre negaram esse direito às Nações,
vendo-as apenas como elos fracos e tomando-as sob
sua jurisdição. No século XVIII, XIX e XX, podemos ver
mais claramente isso, onde as nações européias e os
Estados Unidos, dividiram continentes, como a África,
entre si e consideraram as Nações como parte de seu
próprio Estado. Os Estados Unidos, durante a época de
sua formação como o país que conhecemos, negou
totalmente esses direito às nações Indígenas que
habitavam o seu atual território e em cima dessa
negação à sua soberania, dizimou-as e lhes tomou seus
territórios.

Podemos considerar a Invasão do Iraque em


2003 como negação de sua soberania, mesmo que os
motivos alegados para isso tenham sido de “ordem
humanitária”, “defesa da democracia” ou “pela paz
mundial”. Costuma-se dar o nome de imperialismo a
essa negação do direito à soberania às nações. Em

caius_c 191
2006 iniciou um debate a respeito da balcanização do
Iraque, ou seja, sua divisão em três Estados, de acordo
com a etnia curda e as divisões muçulmanas xiitas e
sunitas. Já separados naturalmente dentro do território
iraquiano, sua divisão em países, segundo alguns
especialistas, transformaria em governáveis as regiões.
Nos Bálcãs, essa separação trouxe alguma paz à
região, no entanto, a formação de um Estado xiita, com
a maior parte do petróleo iraquiano em seu território,
favoreceria um Irã atômico que aumentaria sua
influência na região e um Curdistão que poderia querer
tomar parte do território turco onde vive uma parcela da
população curda. Em tese, isso deveria ocorrer em
outras regiões como o país Basco e Irlanda do Norte,
cujos desejos de autonomia geraram a formação de
grupos ditos terroristas que lutam ou lutaram pela sua
própria soberania, ou, então, o contrário com a
reunificação das Coréias como já aconteceu com a
Alemanha, que conseguiu recuperar sua soberania
antes nas mãos dos Estados Unidos, Inglaterra e
Rússia.

Como se vê, um Estado que perde sua soberania


tende a desaparecer como Estado, como muito já
aconteceu na história das Nações.

Soberania e os tratados internacionais

Os conceitos de soberania são vistos com


suspeição, segundo Bonavides, pois existe uma
necessidade de criar uma ordem internacional, que deve
ter um primado sobre a ordem nacional. 208

caius_c 192
Os tratados internacionais, longe de serem uma
intromissão ou uma forma de ingerência na soberania,
na realidade, representam uma extensão da própria
soberania aos países signatários, visto que se pode
atuar através deles nos mesmos.

Embora a recíproca seja verdadeira, não existe


ingerência de outros Estados na soberania visto que os
tratados internacionais, quando aprovados pelo
Congresso Nacional, tornam-se parte integrante da lei.
Sendo lei, passam a valer na sua própria forma.

Se existisse uma mentalidade mundial


progressista e futurista, os tratados internacionais teriam
o poder de nivelar as legislações vigentes em todos os
países e poderiam gerar uma efetiva aldeia global. Em
um mundo ideal, as leis teriam o poder de unificar os
Estados dentro de uma mesma ordem onde existiria um
equilíbrio das relações e onde as necessidades
humanas fossem supridas.

Embora a legislação de cada país reflita os


valores de sua cultura, os tratados internacionais são o
consenso do que todo país considera como valores
primordiais, unificando-os em forma de lei. Melhor
analisados, esses valores primordiais são aqueles
derivados da própria essência do ser humano.

Alguns tratados internacionais, como o Protocolo


de Kyoto42, procuram estender responsabilidades e

42
1997

caius_c 193
obrigações para a comunidade internacional de
necessidades mundiais que refletem as de cada país,
procurando uma solução de um problema que afeta a
todos. Se apenas um país, isoladamente, tentasse
tomar uma medida que julgasse necessária para o
mundo todo, essa por si teria pouco ou nenhum efeito.
Estendendo a necessidade para todos, cada país pode
ter certeza de que sua soberania, em suas muitas
formas, será adaptada conjuntamente com a de outros,
onde as conseqüências serão de todos e não apenas de
um. As soberanias se amoldam em defesa de um bem
comum à comunidade internacional.

No Brasil, a recepção dos tratados internacionais


está inserida dentro da Constituição Federal de 1988,
Título II, no seu artigo 5º, alínea LXXVIII43, onde diz
que:

§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta


Constituição não excluem outros decorrentes do regime
e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil
seja parte.

§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre


direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa
do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos
dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes
às emendas constitucionais.

43
Dos Direitos e Garantias Fundamentais. Capítulo I, Dos Direitos e
Deveres Individuais e Coletivos

caius_c 194
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal
Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado
adesão.

No entanto, a soberania nacional deve prevalecer


quando não existe um tratado internacional sobre
determinado assunto. Uma notícia veiculada pelo
Tribunal Superior do Trabalho, em 24 de outubro de
2006, diz que “a Sexta Turma do Tribunal Superior do
Trabalho negou provimento ao agravo de instrumento da
organização não-governamental norte-americana
Partners of the Americas contra decisão que reconheceu
o vínculo de emprego de uma ex-diretora.

A ONG alegava a incompetência da Justiça do


Trabalho para julgar a matéria, mas a relatora do
agravo, ministra Rosa Maria Weber, afastou a
argumentação. A Vara do Trabalho reconheceu a
existência de vínculo de emprego e determinou a
anotação do contrato de trabalho na carteira da
trabalhadora, além de condenar a ONG ao pagamento
de diversas verbas trabalhistas.

Esta recorreu ao Tribunal Regional do Trabalho


da 10ª Região44 mas não obteve sucesso. Da mesma
forma, o recurso de revista para o TST foi “trancado”
pelo TRT, levando-a a entrar com agravo de
instrumento. A ministra Rosa Maria Weber observou em
seu voto que a Partners of the Americas insistiu na tese
da incompetência da Justiça do Trabalho, ao argumento

44
Distrito Federal e Tocantis

caius_c 195
de que “não existe fundamento e condição legal que lhe
atribua competência sob essa jurisdição”.

Ressaltou, porém, que o TST já firmou


entendimento ”no sentido de que, havendo conflito de
leis trabalhistas no espaço, a controvérsia deve ser
resolvida com base na ‘lex loci executionis’, ou seja, a
relação jurídica trabalhista é regida pelas leis vigentes
no país da prestação de serviços, conforme prevê a
Súmula 270 do TST”.

De acordo com o TRT e a Vara do Trabalho, “o


contrato sob exame foi firmado em território nacional e
nele executado, razão pela qual a legislação nacional a
ele se aplica, já que as partes não ajustaram cláusula
em sentido contrário”.

A relatora destacou, ainda, que, “ao contrário do


sustentado pela Partners of Americas, a competência da
Justiça Trabalhista brasileira, no caso, é inafastável”
porque, conforme o artigo 114 da Constituição Federal e
o artigo 651 da CLT, não havendo ressalvas, o domicílio
do empregador não é importante para fins de fixação da
competência nacional. 45

Soberania e as empresas mundiais

Alem dos países ou blocos econômicos, podemos


dizer que parte da economia mundial é dirigida por

45
AIRR 306/2003-010-10-40.4.

caius_c 196
grandes empresas que se estendem alem das
nacionalidades e regem os destinos do mundo.

Existe uma tendência para a criação de


conglomerados através de fusões e aquisições de
empresas. O número de fusões e aquisições no Brasil
cresceu 46% de janeiro a setembro de 2006 em relação
ao mesmo período de 2005, segundo relatório da
consultoria PricewaterhouseCoopers46. Foram
realizadas 286 transações, sendo 203 aquisições e
controle. O levantamento mostrou que, das 264
transações envolvendo aquisição de controle ou compra
de participação minoritária, 43% foram lideradas por
estrangeiros. No ano de 2005 foram realizados 49% a
mais de transações em relação a 2004, conforme a
mesma fonte.209

A formação de conglomerados não é um


fenômeno brasileiro e sim mundial. A compra de
empresa por outras, a tomada do controle acionário, a
formação de redes de empresas dentro de um mesmo
ramo, como as de supermercados, a união de pequenas
empresas para compra unificada de produtos visando
barateamento, indica que a pequena empresa solitária
ficará restrita aos limiares da economia onde não exista
interesse das grandes empresas. Como casos típicos
podemos citar a Ambev brasileira que controla grande
parte do mercado brasileiro de cerveja, deixando apenas
os espaços alternativos para as pequenas empresas, a
compra do Banespa pelo Santander, a do BankBoston
pelo Itaú ou a compra da canadense Inco pela
46
PwC

caius_c 197
Companhia Vale do Rio Doce, que a transformou na
segunda maior empresa do ramo em 2006.

Setores cruciais como os de energia,


comunicações e financeiro são dominados por gigantes
do setor que não dão espaço para outras empresas. Em
parte, isso se explica pela necessidade de um enorme
capital que somente essas empresas detêm. Em parte,
essa necessidade de gigantismo e açambarcamento dos
mercados deriva da necessidade de eliminação ou
diminuição da concorrência.

Marx dizia que as empresas assumiriam o


controle umas das outras e que, no final, existiria
apenas uma empresa, o que justificaria o domínio
estatal sobre os meios de produção. O que ele não deve
ter imaginado é que as empresas sairiam dos limites dos
seus próprios países. Se levarmos em conta sua teoria,
poderíamos concluir que o controle dos meios de
produção deveria ter um órgão regulador mundial visto
que ele extrapola o próprio Estado.

O gigantismo das empresas sempre gera uma


necessidade de favorecimento político para os setores
que domina. Essa necessidade econômica de
gigantismo das empresas extrapola os limites territoriais
dos seus países de origem e visa estabelecer padrões
políticos e legais para sua sustentabilidade e
hegemonia. Esse favorecimento, nos países
democráticos, se traduz através dos lobbys existentes
no Congresso Nacional e no financiamento de
campanhas políticas onde o candidato, se eleito, ficará

caius_c 198
sob a tutela das empresas e de seus interesses. Isso
pode gerar a criação de leis que favoreçam apenas
essas empresas, o que amplia os seus domínios. A
partir desse instante, a soberania do país fica ameaçada
pelos interesses dessas empresas cujos objetivos, alem
dos econômicos, estão próximos aos objetivos de
hegemonia de seus países de origem. Uma parte da
política e da legislação acaba se transformando em
favorecimento de empresas, muitas vezes em
contradição com as necessidades do país e de seu
próprio povo. Favorece-se uma empresa em detrimento
de uma sociedade.

Embora seja legal o financiamento de candidatos


pelas empresas, é difícil imaginar que eles não irão
trabalhar apenas em função delas. Há de se convir que
as empresas, independente de ser legal ou não, sempre
financiaram candidatos ás eleições. A única vantagem
na legalização e na demonstração de gastos encontra-
se na transparência e na informação dada. Menos mal.

Para contrapor essa forma de domínio, a


legislação brasileira procura manter sua soberania
econômica através da Constituição Federal de 1988,
Título VII, Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo
I, Dos Princípios Gerais da Atividade Econômica:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na


valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem
por fim assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:

caius_c 199
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante
tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental
dos produtos e serviços e de seus processos de
elaboração e prestação;
VII - redução das desigualdades regionais e
sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de
pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que
tenham sua sede e administração no País.
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre
exercício de qualquer atividade econômica,
independentemente de autorização de órgãos públicos,
salvo nos casos previstos em lei.

A lei no. 8884, de 11 de junho de 1994, define os


crimes contra a economia e estabelece
responsabilidades, no seu Título I - Das Disposições
Gerais, Capítulo I - Da Finalidade:

Art. 1º Esta lei dispõe sobre a prevenção e a


repressão às infrações contra a ordem econômica,
orientada pelos ditames constitucionais de liberdade de
iniciativa, livre concorrência, função social da
propriedade, defesa dos consumidores e repressão ao
abuso do poder econômico.

caius_c 200
Parágrafo único. A coletividade é a titular dos
bens jurídicos protegidos por esta lei.

Devemos notar bem esse parágrafo único que


confere às empresas um cunho social e considera suas
funções como bens jurídicos da comunidade. O Capítulo
III, estabelece o Conselho Administrativo de Defesa
Econômica, mais conhecido como Cade, junto com a
Secretária de Desenvolvimento Econômico, como
órgãos competentes para regularem as relações que as
empresas devem ter perante a sociedade, negando-lhes
o domínio econômico sobre o mercado que atuam.

As leis são uma forma de manutenção da


soberania ao evitar que grupos econômicos
estabeleçam poderes alem daquilo que lhes são
próprios. As empresas devem estar enquadradas dentro
da lei e não lhes serem superiores.

No entanto, somente a lei não consegue conter


os abusos econômicos nos quais o Estado perde parte
de sua soberania. A lei sem aplicação efetiva é apenas
uma nulidade. Cabe, antes da lei, uma forma pluralista
de defesa contra os poderes econômicos que interferem
na soberania, onde os diversos setores da sociedade se
obrigariam a conter os excessos ditados por essas
empresas. Para que exista um produto é obrigatório que
exista seu consumo. Sem consumo, o produto não
existe e, sem produto, a empresa não existe. Em uma
sociedade determinada a fazer prevalecer sua
soberania, a consciência do consumo de produtos de
determinada empresa devem estar ligados à própria

caius_c 201
ética da empresa. Uma empresa sem ética produz falta
de ética. Um cidadão que adquire algo dessas empresas
contribuirá para que inexista uma vontade da empresa
em submeter-se à soberania do povo e do Estado.

Podemos afirmar que um novo elemento deveria


ser acrescentado aos produtos ou serviços que uma
empresa oferece: a ética. Sem ela, o produto torna-se
nocivo à própria sociedade que o consome. Essa ética
deveria se compor, dentro do conceito de qualidade do
produto, a forma e as condições em que ele é
produzido. Aqueles que são produzidos com condições
de trabalho aviltantes, modificação nociva ou destruição
do meio ambiente ou contrário àquilo que se entende
como dentro da legalidade, deveriam ser excluídos do
próprio mercado através de leis.

Soberania, Moral, Ética e Direito

A Ética, a Moral e o Direito também são


elementos componentes da soberania visto que elas
fornecem padrões que vão alem da lei e que se
constituem formas de pensamento e comportamento da
sociedade, determinantes de sua composição e
atuação.

A Moral surgiu antes do Direito. É certo supor que


as pequenas tribos ou comunidades não precisassem
de leis ordenadas visto que a pequena complexidade de
suas relações não necessitasse nada alem daquilo que
o costume ditava. Nas pequenas comunidades, tudo se
confundia: a Moral, o Direito e o Costume. Os povos de

caius_c 202
agora que têm poucos integrantes ainda não tem a
necessidade de focarem-se no que costumamos chamar
de Direito. Pode-se dizer que o Direito passa a ter
necessidade de existir no momento em que as relações
sociais tornam-se complexas e onde a Moral e o
Costume já não têm a mesma força coercitiva e coesiva.
Como exemplos típicos, podemos citar os povos da
Amazônia e os Aborígines da Austrália, onde prevalece
a lei da Moral e do Costume.

A Moral é própria e cada um a tem como entende,


no entanto, para se chegar ao Costume é necessário
que a de cada um molde-se junto com as de outros em
uma única forma para que se transforme em algo de uso
coletivo. A Moral é individual mas o Costume é coletivo.
Nesse instante, a Moral de cada um amalgama-se com
a de outros e transforma-se no primeiro estágio da lei
que é o Costume.

A Moral é um passo precioso para que o indivíduo


integre-se na comunidade. Sendo animais sociais temos
que ter parâmetros que regulem nossa convivência. A
Moral é o primeiro olhar crítico para essa convivência
social onde o indivíduo julga a forma como deseja que
sua parte que lhe cabe dentro daquela sociedade lhe
seja dada.

A Moral por si só é egoísta visto que parte da


premissa central do indivíduo. Nesse instante de seu
nascimento, a Moral não é repressora; é apenas uma
forma de situar-se dentro de um contexto social. Diria
que nesse instante é uma maneira de ver formas de se

caius_c 203
obter alguma vantagem ou nivelamento para si dentro
do grupo social.

Quando a Moral inicial do indivíduo entra em


choque com a Moral de outro, passa a existir um meio
termo ou uma miscelânea de ambas de onde se origina
o Costume. Costume é a média coletiva da Moral dos
indivíduos.

Solidificando-se, o Costume passa a exercer


força sobre o próprio indivíduo. A Moral Média da
Coletividade passa a influenciar a própria moral de cada
um. Sendo uma média é de supor que ela não atenda
todos os requisitos da Moral Inicial e o indivíduo passe a
mesclar a Moral Inicial com a Moral Média Coletiva e
extrair dela uma nova Moral. Essa nova moral ao entrar
em conflito com outras, passa a exigir um novo
Costume. Esse processo pode durar longos períodos
em uma coletividade visto que o Costume arraiga-se na
mesma. Sendo o Costume uma forma de coesão social
porque antecipa ou resolve conflitos, a coletividade evita
transformá-lo para que a paz social não seja danificada.
Mesmo que o Costume passe a confrontar-se com uma
nova Moral, o mesmo pode ser utilizado até sua
exaustão para evitar esse desmoronamento social. Esse
processo ocorre nas pequenas comunidades onde todos
se conhecem e cada um depende de outro para sua
sobrevivência. Por analogia, podemos dizer que a Moral
faz parte da nossa própria sobrevivência como espécie,
nos estágios iniciais da civilização como a entendemos.

caius_c 204
A partir do momento em que a comunidade
começa a crescer e seus membros tornam-se mais
distantes ou naquele momento em que a divisão do
trabalho faz com que cada um passe a exercer funções
diferentes de outros e onde necessite do produto do
trabalho de outros, o Costume arraiga-se com mais
firmeza e passa a ter uma maior força social coercitiva e
coesiva. O distanciamento dos indivíduos dentro de uma
comunidade tem que produzir uma nova força que torne
branda as relações sociais e onde os choques entre
indivíduos possam ser solucionados através de regras.
Até esse momento, o Costume ainda tem essa função.

O Direito nasce de uma ruptura da ordem social.


Essa ruptura pode advir de uma população maior, de
uma ocorrência natural ou humana que provoque
alterações sociais ou então da própria informação
advinda de um mundo globalizado onde as interações
sociais são rápidas. Pode-se dizer que a Informação
hoje em dia é um grande transformador da sociedade
visto que ela circula com mais rapidez e as
comparações entre as relações sociais entre os povos
são mais imediatas. O Direito e o Costume de um povo
são colocados em frente à de outro e isso conduz a
pensamentos que podem gerar um novo conceito na
Moral Inicial do indivíduo o que provoca o inevitável
choque com a Moral Média Coletiva e a necessidade de
alterações no Costume e no Direito.

Quando a Moral do indivíduo passa a conflitar


com a Moral Média da Coletividade e
conseqüentemente com o Costume, as forças coesivas

caius_c 205
e coercitivas caem e começa a existir a necessidade de
uma melhor forma para solução dos conflitos. Essa
melhor forma toma emprestadas as noções que a Moral
e o Costume impõem e conjuga um novo quadro de
relações e obrigações entre os indivíduos.

Enquanto a Moral e o Costume são mais frágeis


na sua aplicação, o Direito isenta-se da individualidade e
firma-se como uma força coercitiva onde a visão pessoal
deixa de ter a importância que tem na Moral e Costume.
O Direito é a melhor média da aplicação dos
reguladores das relações sociais. Sendo média é de
supor que não atenda todos os requisitos individuais e
possa gerar sentimentos que conduzam à negação de
sua importância. No entanto, sua aplicabilidade é de
responsabilidade do Estado. Sendo um órgão que paira
acima do cidadão, o sentimento inicial de negação do
Direito é contrabalançado com o sentimento de que seu
uso parte de um elemento que todos julgam aptos a
aplicá-lo o que supera a inconformidade do cidadão com
relação a ele.

De certa forma podemos dizer que Moral,


Costume e Direito estão ligados ao número de pessoas
de uma comunidade e sua complexidade nas relações
sociais. Entre a Moral e o Direito, encaixa-se a Ética que
poderíamos classificar como um Costume Ordenado. A
Ética é a transformação positiva da moral que atende as
necessidades de determinado grupo.

O crescimento do Direito como forma reguladora


das relações sociais tem relação direta com a

caius_c 206
credibilidade do Estado. Um Estado desvinculado das
aspirações coletivas é um estado fraco ou tirânico,
gerando descrença em relação às leis que ele aplica.
Existindo descrença, o cidadão volta-se para o Costume
ou a Moral onde as relações são mais brandas e de
comum acordo. Nesse caso, as leis podem parecer ao
cidadão apenas elementos de controle ou de
impedimento para uma boa convivência social. Quando
o Estado é forte e voltado para as aspirações sociais, as
leis são vistas pelo cidadão como realmente elas
deveriam ser, ou seja, apenas formas reguladoras da
sociedade. O Direito na sua forma de Justiça somente
existe nessa situação. Na outra forma, o Direito
transforma o cidadão em um refém do Estado, apenas.

Alem de seu poder regulador, o Direito ainda


pode ser visto como um elemento transformador da
sociedade. Uma norma que atenda às necessidades de
um ideal gera comportamentos voltados para esse ideal
e conduz o cidadão e a Nação a ele. Como exemplo,
podemos citar as normas reguladoras do meio
ambiente. Embora o cidadão não sinta a necessidade de
cuidar dessa área, é dever do Estado antecipar um
resultado e fazer com que a sociedade se conduza para
a realização dele. O Direito, dentro de um Estado
voltado às aspirações de seu povo, é a forma mais
concreta e prática dos elementos reguladores e
transformadores da sociedade.

caius_c 207
Soberania e poderes paralelos

Existem alguns poderes paralelos que podem


afetar a soberania de um povo, sendo que um deles é o
que se convenciona chamar de crime organizado, onde
um de seus maiores exemplos é o narcotráfico, que
transpõe barreiras nacionais e pode até estender-se aos
governos dos povos ou, então, competir com eles na
administração de um país como é o caso da Colômbia e
das FARCs (Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia) ou do Cartel de Medellín que teve seu
apogeu com Pablo Escobar. O Rio de Janeiro também é
um exemplo de poderes paralelos ao governo, onde as
quadrilhas tomam tal vulto que chegam a estender seus
poderes junto à população. Em São Paulo destaca-se o
PCC (Primeiro Comando da Capital) e sua onda de
atentados em 2006, que mostrou a fragilidade do
governo de então.210

Existem quatro etapas do controle do Estado por


grupos de narcotraficantes: 211

a) A primeira é quando os traficantes demonstram


seu poder através da capacidade de gerar pânico, terror
e deixar as autoridades sem ação, mesmo que seja por
algumas horas

b) A segunda etapa, que poderia caminhar junto


ou não com a primeira, seria a capacidade dos
traficantes de corromper autoridades e não apenas
policiais ou seguranças das prisões.

caius_c 208
c) A terceira etapa seria a divisão da sociedade
em relação à forma de combate a esses grupos.

d) A quarta etapa seria a dúvida da sociedade em


relação ao Estado e sua capacidade de resolver o
problema.

Se à primeira vista parece apenas um problema


policial, uma análise mais detalhada revela que,
existindo incapacidade do Estado em gerenciar as
atividades de seu território e incapacidade em reprimir
ações que agridem a sociedade como um todo, a
soberania se enfraquece na mesma proporção dessa
incapacidade.

Se o Estado não se torna capaz de jurisdicionar


seu território de acordo com as suas propostas, ele
deixa de ser soberano e passa a ser apenas um mau
administrador.

Alguns países como a Bolívia, tentam assumir o


controle dessa modalidade de crime, dando a ele uma
forma legal como a anunciada em 22 de setembro de
2006, quando o presidente Evo Morales, aumentou de
12 para 15 mil de hectares a superfície do cultivo legal
de coca, visando combater a pobreza existente na
região de Yungas, em La Paz. Nesse caso existe um
contra-senso porque o destino final desse cultivo é
invariavelmente a produção de cocaína e seu uso como
droga. Ao mesmo tempo em que o Estado procura
manter sua soberania ao anunciar o controle sobre a

caius_c 209
produção de narcóticos, ele aumenta a força do
narcotráfico, ao lhe dar condições legais de cultivo.

Uma forma do Estado manter sua soberania é


tomar para si todo o controle da produção e do uso de
narcóticos. Isso, com certeza, fere suscetibilidades em
muitos setores da sociedade que acreditam que o
Estado deva combater esse tipo de coisa. No entanto,
ao assumir o controle, o Estado retira o poder dos
narcotraficantes e os enquadram dentro da lei.
Enquadrando-os dentro da lei, o Estado passa a ser
mais eficiente, podendo obter para si recursos oriundos
da produção e comércio dos mesmos, como impostos.
O controle oficial dos usuários daria a eles um
tratamento mais digno á sua condição de doentes.

Em muitos aspectos de nossa sociedade, é


necessário que o Estado acabe com sua própria
hipocrisia. Alguns elementos que julgamos indignos em
nossa sociedade como o consumo de drogas em todas
as suas formas, nas quais se incluem o álcool e o
tabaco, e a prostituição, derivam da própria condição
humana e, milenarmente, existiu em todas as
sociedades. Sendo parte da sociedade, seu controle
deveria ser feito pelo Estado, o que asseguraria uma
nova forma de paz social. A partir do momento em que
Estado determinasse a legalidade nas formas da lei, os
poderes paralelos diminuiriam e a soberania do Estado
seria mais acentuada.

Podemos citar, também, o terrorismo como um


poder paralelo. Provavelmente, deriva da guerra de

caius_c 210
guerrilhas, onde um grupo menor tenta obter vantagens
através do uso de táticas de surpresas e não
confrontação direta. Muitos países conseguiram sua
independência através do uso da guerrilha como Israel e
Estados Unidos, no início da Guerra da Independência.
A França e a Iugoslávia, durante a II Guerra Mundial,
conseguiram ajudar as forças de libertação no que se
convencionou chamar de Resistência. Cuba talvez seja
o exemplo mais clássico da derrubada de um governo
por guerrilheiros e Che Guevara tornou-se símbolo da
luta armada de pequenos grupos contra governos
totalitários. Na Guerra do Vietnã, grande parte da vitória
conseguida contra os Estados Unidos foi através da
Guerra de Resistência ou Guerrilha. No entanto, o
terrorismo assumiu uma nova forma,
predominantemente urbana e ligada a alvos civis, o que
lhes confere absoluta ilegalidade e repulsa. Sua função
atualmente é demonstrar a incapacidade dos governos e
lhes tirar o domínio sobre seu território através do
descrédito que suas ações conferem aos mesmos.
Como a soberania é um sentimento que confere
poderes práticos ao Estado, ao deixar de tê-la, o Estado
começa a se inviabilizar como tal.

Podemos considerar os excluídos, em suas várias


formas, como um poder paralelo ao Estado quando se
conseguem organizar ou quando provocam distúrbios na
sociedade. Na França, em 2006, os distúrbios
provocados pelos moradores dos bairros carentes,
principalmente em Clichy-sous-Bois, na maioria
muçulmanos e netos de imigrantes vindos do norte da
África, onde o desemprego tem taxas de 40%, quando a

caius_c 211
média nacional é de 10%, são exemplos típicos do que
a discriminação pode provocar em termos de
confrontação entre cidadão e Estado. Sem terem
nenhuma representação na Assembléia Nacional, com
as ruas de seus bairros povoadas de desempregados,
pequenos criminosos e traficantes, sem perspectiva de
um futuro, suas alternativas se tornam muito poucas.
Considerando-se como deserdados da atenção do
Estado, sua reação contra ele se faz e o Estado passa a
debater-se em uma luta interna que não deveria existir
se existisse atenção por parte.

No Brasil, a desatenção no que se refere à


Reforma Agrária e a vagarosidade com que a conduz
propicia movimentos como o MST (Movimento dos Sem-
Terra). Essa desatenção com o cidadão e suas
necessidades, provoca o surgimento de movimentos
imbuídos de algum ideal e que congrega uma parcela da
população identificada com esses movimentos. Desses
movimentos surgem lideranças que usam a
confrontação com o Estado como forma de obter aquilo
que propuseram como suas necessidades. Esses
movimentos, embora tenham base na discriminação, na
desatenção, às vezes na ilegalidade da atuação do
Estado, ou outras formas de como se sentem atingidos,
produzem um poder paralelo ao próprio Estado e podem
acabar em puro banditismo. Partindo de uma
necessidade ou ideal, os movimentos agigantam-se e
podem gerar tal antagonismo contra o Estado que
passam a se valer de meios não lícitos para se firmarem
ou para obterem aquilo que desejam. Muitas
organizações criminosas, como a Máfia, PCC, e a

caius_c 212
Yakuza, surgiram a partir das necessidades não
atendidas pelo Estado ou na discriminação deste com
relação a determinadas partes da população.

Algumas dessas organizações ainda têm o


agravante de usarem o próprio Estado como forma de
se manterem. A inserção de alguns de seus membros
ou simpatizantes na estrutura do Estado lhes confere
poderes que o próprio Estado não tem. Nesses casos
ocorre um fenômeno estranho pois o Estado se alia à
criminalidade e lhe confere proteção quando não lhe dá
maiores vantagens.

Um Estado que queira manter sua soberania


através da paz interna precisa constantemente avaliar
as necessidades dos cidadãos e procurar atendê-las na
forma mais adequada e no tempo mais correto. Um
Estado que tenha uma boa solução mas que demore em
apresentá-la de forma concreta no tempo adequado,
transforma a solução em um problema, visto que o
Estado pode esperar mas o cidadão não pode.

O Estado deveria se ver sempre como solução e


nunca como causador de problemas. Suas prerrogativas
de pacificação social deveriam ir alem do fato
acontecido ou acontecendo e estabelecer suas bases
antes que elas lhe sejam exigidas de forma contestatória
à sua legitimidade. Sendo o cidadão detentor da
soberania que legitima o Estado, é ele quem determina
ou não sua legalidade.

caius_c 213
O próprio Estado se nega a soberania quando
não atende as necessidades dos cidadãos ou não os
capacita para que eles atendam por si próprios suas
necessidades. Sendo a soberania um conjunto que
existe somente através de um vínculo entre cidadão e
Estado, ela de deteriora ou desaparece quando um dos
dois ou ambos não a reafirmam ou não a determinam
constantemente.

Quando o cidadão se desacredita do Estado, ele


passa, pela própria natureza humana a acreditar em
outras coisas que nem sempre são as mais adequadas
para o conjunto Estado-cidadão. Em uma democracia, o
inverso nunca pode ocorrer, ou seja, o Estado nunca
pode desacreditar do cidadão.

Esse descrédito do cidadão em relação ao


Estado, torna-os conflitantes e confrontantes. Às vezes,
a própria existência do Estado se torna ameaçada, na
sua forma, devido a esse confronto. Não tendo um
Estado que satisfaça suas necessidades, o cidadão
passa a valer de todas as maneiras possíveis para
ludibriá-lo, quando não se organiza de forma a mudar
sua estrutura. A Revolução Francesa, a Revolução
Cubana e a Revolução Russa são exemplos claros de
que uma forma de governo pode ser mudada por causa
da insatisfação do cidadão em relação ao tratamento
que o Estado lhe dispensa. O esfacelamento da União
Soviética e sua entrada no capitalismo também é
exemplo do não atendimento das necessidades do
cidadão pelo Estado.

caius_c 214
Embora raras, essas mudanças de formas de
governo oriundas da insatisfação popular sempre tem
um ponto em comum: o uso dela em função de alguma
ideologia. Determinado grupo canaliza essa insatisfação
para determinados ideais, conseguindo uma adesão
quase que total da população para a mudança a que se
propõe. Geralmente essa ideologia é oposta à forma
daquela que compõe o Estado naquele momento,
colocando uma mudança radical como forma de
superação dos problemas existentes. Essa oposição
total é a forma de tentar se desvincular totalmente da
situação com a promessa de outra completamente
diferente. O totalmente diferente é a maneira que se
acredita como solução e isso conduz à transformação
da forma do Estado em outra, geralmente sem avaliar os
riscos que isso conduz. Toda revolução é boa e a
promessa de uma nova vida também mas uma mudança
radical sempre gera problemas que não existiam antes
ou se pode esquecer de que algumas formas de
sustentação social podem ainda ser válidas mesmo em
frente a uma nova situação. Geralmente, os problemas
advindos de uma revolução total são superados mais
pela esperança de uma melhor vida do que pela própria
revolução em si.

Uma ruptura da forma de governo é a negação do


que existia antes e dada como totalmente inválida para
o cidadão e a validação de que o novo será sempre
melhor do que o antigo simplesmente pelo fato de ser
algo a ser experimentado. Geralmente, as revoluções
paulatinas, onde se abandona aquilo que não presta
para aquilo que nos convém, são mais eficazes e

caius_c 215
produtivas pois não criam vácuos entre o Estado e o
cidadão mas apenas complementam o seu indissolúvel
binômio pois promove adaptações mais facilmente
absorvidas do que aquelas detonadas por uma ruptura
brusca da forma de governo. O novo, para ser bom,
precisa se basear no velho e nem tudo que é velho é
ruim.

As bruscas mudanças de forma de governo


provocam um período em que o Estado encontra-se
desorganizado e sujeito a possíveis ameaças à sua
soberania. O mais comum nessas situações é que o
Estado se feche e se transforme em uma comunidade
isolada das influências de outros países. Esse período é
necessário para a soberania se reafirme nos moldes da
nova forma de governo. Normalmente é um período
tenso pois a comunidade internacional ainda não tem os
parâmetros pelos quais o país irá se reger e nem sabe
como será o relacionamento com essa nova forma de
governo. Esse período pode ser confundido como um
desgoverno e pode propiciar tentativas de derrubar essa
nova forma de governo através de sanções econômicas
ou pela pura e simples invasão militar, como ocorreu na
madrugada de 17 de abril de 1961, quando 1.500
exilados cubanos organizados e armados pela CIA47 e,
dizem, apoiados pela Máfia, desembarcaram na Baía
dos Porcos, em Cuba, na tentativa de derrubar o
governo de Fidel Castro, recém-implantado.

O que mais assusta outros países com essas


rupturas bruscas de forma de governo é a possibilidade
47
Agência de Inteligência Americana

caius_c 216
de que essa nova forma de governo não esteja em
sintonia com aquilo que a comunidade internacional
julgue boa para si. Nisso existe um contra-senso pois
muitas dessas mudanças que aconteceram,
principalmente na América Latina e África, foram de
caráter totalitário como as ocorridas na década de 70 na
Argentina e Brasil, com a instalação de governos
militares, e, no entanto, elas foram saudadas pela
comunidade internacional europeu-americana como
adequadas.

Por que a comunidade internacional ratifica


algumas rupturas de governo enquanto que em outras
ela parte para uma retaliação militar ou econômica? A
resposta, a princípio, está na ideologia com a qual a
nova forma de governo se identifica. Novas formas de
governo que se dizem democráticas, mesmo que sejam
totalitárias, são as que a comunidade europeu-
americana trata como bem vindas.

Até o esfacelamento da União Soviética, os


países se definiam como democráticos ou comunistas,
independente de serem totalitários ou não. Isso definia o
critério de aceitação da nova forma de governo pelos
pólos opostos liderados pela Rússia e pelos Estados
Unidos.

No entanto, a aceitação ou não da nova forma de


governo está vinculada à atuação de sua economia em
relação a outros países. Aqueles que fecham sua
economia ou tentam se tornar independentes
economicamente são os que sofrerão retaliações.

caius_c 217
Aqueles que cuja nova forma de governo é apenas uma
troca de oligarquias governantes e que não tem
qualquer pretensão de liberação econômica, são os que
têm aceitação imediata.

As grandes distâncias entre as classes sociais


geram problemas. Sociedades onde existe uma
pequena parcela rica e a imensa maioria pobre ou com
graduações acentuadas entre uma classe e outra, não
se confraternizam. Essa distância econômica e social
gera acomodação ou ódio. O próprio governo se dificulta
em função do atendimento insuficiente necessário
àqueles que pouco possuem quando não os ignoram
totalmente. Por si só, essa discrepância leva ao
isolamento de parcelas da sociedade do seu próprio
governo. Não existindo essa interação, o Estado deixa
de atender um requisito básico para sua existência e
não pode ser considerado como tal, visto que rege
apenas a riqueza, eximindo-se das suas
responsabilidades face à maioria da população. O ideal
seria a pulverização dos tipos de classe dentro da
sociedade, onde existissem muitas outras entre a
pobreza e a riqueza pois isso daria a população uma
maior mobilidade social.

Onde existe apenas duas classes: pobres e ricos


existe naturalmente uma confrontação entre elas. Onde
existem possibilidades de mudanças de uma classe
para a outra através do esforço próprio do cidadão
existe a esperança de mudanças de seu padrão de vida.
Nos estados totalitários geralmente existem apenas
duas classes: a dos governantes e governados. Nos

caius_c 218
Estados claramente democráticos, essas se completam
através da existência de inúmeras classes econômicas e
sociais intermediárias. Não existe soberania sem capital,
e esse deve estar distribuído da melhor forma para a
população.

Soberania e tecnologia

A tecnologia não está presente em todos os


lugares. Hoje existe aquilo que se chama de excluídos
eletrônicos. Alguns povos ainda vivem em estado quase
natural e outros estão em tal estado de pobreza que
seria ridículo tentar dar a eles tecnologia se lhes faltam
água, comida e abrigo. Esses ainda se encontram no
mesmo estado que nossos ancestrais que moravam em
cavernas com o agravante de saberem que outros
povos vivem em melhor situação do que eles.

Existe uma camada mundial da população que se


encontra em estado privilegiado devido as prerrogativas
reais de uso de tecnologia. Essa camada domina as
demais que não tem essa possibilidade. Podemos dizer
que essa camada tecnológica divide-se de duas formas:
a primeira no relacionamento entre países e a segunda
com a formação de classes dominantes dentro do
próprio país. Uma forma de dominação de classes pôde
ser vista na Arábia Saudita onde o uso das antenas
parabólicas foi proibido após a Guerra do Golfo. Aliás,
uma das grandes preocupações dos dominantes
sauditas eram as revistas levadas pelos soldados
americanos ao seu país. Esses foram proibidos de
recebê-las ou mantê-las em sua posse. Sem uma

caius_c 219
integração com outras culturas fica mais fácil um
governo manter seu poder através dos valores de uma
cultura que não se pode questionar.

Países como Estados Unidos usam e abusam do


poder da tecnologia para manterem sua dominação em
face ao resto do mundo. Embora o centro de fabricação
e pesquisas esteja disseminado em outras partes do
planeta, como os chamados tigres asiáticos, a
manutenção de poderio militar com base em uma
tecnologia pelos Estados Unidos gera um domínio sobre
os demais. Comum é a invasão de outros países com
pretextos estranhos quando se sabe que o mesmo não
dispõe de poderio militar para uma defesa eficaz. No
entanto podemos salientar que a tecnologia por si só
não garante domínio militar. Exemplos clássicos são o
Vietnã, o Afeganistão e o Iraque onde a resistência
humana suplantou o domínio pela tecnologia. Um ponto
a mais para o espírito humano.

Atualmente somos reféns dos países que detém


tecnologia nuclear. A quantidade existente de armas
nucleares poderia destruir o planeta diversas vezes.
Desenvolvida e usada como arma nuclear durante a
Segunda Guerra Mundial, deu aos Estados Unidos a
primazia militar sobre outros povos. Outros países como
a Rússia, Inglaterra, França, Índia, Paquistão, Israel e
outros conseguiram domínio sobre essa tecnologia e
também produziram esse tipo de arma. É inegável que
qualquer um deles as usará em caso de invasão. Se
imaginarmos um conflito entre árabes e israelenses
onde esses últimos estejam sendo invadidos e a ponto

caius_c 220
de perder a guerra, com certeza haverá uso dessas
armas para evitar uma derrota ou para destruir o inimigo
conjuntamente. A questão no caso dessas armas é que
seus efeitos não se limitam ao local de ação pois nuvens
radioativas se espalharão sobre outras partes do planeta
e povos que nada teriam a ver com esse conflito
sofrerão os efeitos desse uso. Se a guerra por si só já
afeta outros povos que não fazem parte dela, imagine
uma com o uso de armas nucleares. Seria uma
catástrofe total.

Pior que a dominação militar produzida pela


tecnologia é a dominação econômica ditada pela própria
tecnologia. Países com alto nível de tecnologia
conseguem produzir bens a um preço mais baixo e de
forma mais rápida. Isso obviamente gera um
desequilíbrio em balanças comerciais em países que
precisam importar esses produtos. Os países pobres
que não dispõe de recursos tecnológicos cada dia se
vêem mais endividados por causa desse desnível
tecnológico.

Algumas vezes, o impedimento de uso de


tecnologia por alguns povos é descaradamente aberto.
Exemplo clássico é o de Delmiro Gouveia, no Brasil. Em
1909 ou 1910, Delmiro reuniu especialistas de diversas
áreas no distrito de Pedras, município de Água Branca,
no extremo oeste de Alagoas, a 400 quilômetros do
litoral, para a construção da primeira hidrelétrica
brasileira. O empreendimento organizado pelo cearense
Delmiro Gouveia, que compreendia em explorar a
cachoeira de Paulo Afonso para gerar energia elétrica

caius_c 221
para abastecer o Recife. Como o projeto não foi
aprovado, a construção da hidrelétrica teve início
apenas para abastecer uma fábrica de linhas. O
empreendimento passou a conflitar com os interesses
dos ingleses, visto que eles detinham o quase
monopólio de exportação de produtos têxteis para o
Brasil. A Machine Cotton, inglesa, registrou no Chile e
Argentina a marca Estrela, que era a marca das linhas
produzidas por Delmiro Gouveia, o que forçou o produto
brasileiro a ter seus rótulos trocados. A Machine Cotton
propôs a compra total ou parcial da empresa de Delmiro
Gouveia e foi recusada. Em 1917, Delmiro Gouveia foi
assassinado em circunstâncias nunca esclarecidas.
Depois de sua morte, os comerciantes passaram a ser
chantageados para não venderem as linhas da marca
Estrela. Alem de uma comissão, a Machine Cotton dava
aos comerciantes um bônus semestral no valor de 5%
das vendas totais. A Machine Cotton passou a retirar
esse bônus dos brasileiros que compravam as linhas
Estrelas clandestinamente. O que definiu a falência das
Linhas Estrelas foi o dumping praticado pela Machine
Cotton que passou a vender seu produto pela metade
do preço que alcançavam na Inglaterra. Depois de forçar
sua desvalorização, a Machine Cotton comprou as
ações das Linhas Estrela, de São Paulo, que se tornou
sua subsidiária. Em 1926 foi aprovada uma lei que
defendia o produto nacional quintuplicando o valor da
taxa de importação sobre linhas de coser. Dois anos
depois a lei foi revogada. Em 1929 a Machine Cotton
comprou as Linhas Estrela e em 1930 providenciou para
que todo equipamento da empresa fosse desmontado e
jogado na cachoeira de Paulo Afonso. Apesar de ter

caius_c 222
ocorrido à quase um século, parece bem atual, embora
as táticas contemporâneas sejam mais discretas e mais
eficazes.

De certa forma podemos fazer uma comparação


entre Delmiro Gouveia e o atual programa nuclear
brasileiro, que vive em conflito com as comunidades
internacionais. A Agência Internacional de Energia
Atômica tentou repetidas vezes ter acesso total às
dependências da fábrica de Resende, alegando uma
necessidade de controle sobre o urânio enriquecido para
evitar seu desvio para fabricação de armas nucleares,
fato esse impedido pela própria Constituição Brasileira.
Esse acesso total permitiria o conhecimento de toda a
tecnologia brasileira para construção de usinas
atômicas. Desenvolver tecnologia é um processo caro e
ter acesso a uma tecnologia tira o poder de quem a
desenvolveu.

O programa nuclear brasileiro prevê a construção


de mais sete usinas nucleares até 2025, procurando
reduzir a dependência causada pela crise do gás em
2006, devido à estatização das instalações da Petrobras
na Bolívia, que gerou uma crise na produção de energia
elétrica através das usinas termoelétricas que utilizam o
gás como combustível. Essa crise foi superada através
de um acordo entre a Petrobras e a Bolívia em outubro
do mesmo ano mas deixou marcas no que concerne à
dependência do Brasil em relação aos outros países,
mesmo aqueles que julgamos mais fracos
economicamente.

caius_c 223
Atualmente, as hidrelétricas são mais caras que
as usinas atômicas e, no curto prazo, seus danos
ambientais são maiores do que essas últimas. Não se
trata de estar dentro do chamado “clube atômico”, mas
sim de desenvolver e usar uma energia que se mostra
necessária no mundo inteiro.

Usada para dominação de diferentes formas, a


tecnologia parece estar fadada a mau uso. Em nosso
estado primitivo a usamos para nos defender de outros
animais, depois a usamos para nos defendermos de
outras tribos, depois para a dominação militar e agora a
usamos para todas as formas de dominação seja militar,
econômica ou cultural.

A multipolaridade econômica que se acredita


viver com a formação de blocos econômicos, na
realidade, estará restrita ao domínio da tecnologia. Muito
provavelmente, existirá uma bipolaridade entre os
países: os que possuem alta tecnologia e os que não a
possuem. Aqueles que não a possuem viverão como
sempre viveram ou serão obrigados a importar produtos
que não conseguem produzir. Importando produtos,
provavelmente, sua balança comercial terá déficits o que
pode ser traduzido como dependência econômica e
conseqüente perda de soberania.

O domínio das diferentes tecnologias, em todas


as áreas, reafirma a soberania do país em todos os
campos.

caius_c 224
Soberania e saúde

Em 22 de agosto de 2001, o então ministro da


saúde José Serra, anunciou a quebra de patente do
remédio Nelfivanir que fazia parte de um coquetel anti-
aids. Essa medida possibilitou o surgimento de outras
quebras de patente. À primeira vista parece uma
agressão às pesquisas desenvolvidas pelas empresas e
seus direitos de patente. No entanto, trata-se de um
exercício de soberania ao afirmar que a saúde dos
cidadãos deve ser distribuída não em função de suas
rendas mas sim de suas necessidades. Trata-se da
democratização de uma tecnologia que ficava apenas
nas mãos de algumas empresas sendo que a
necessidade de seu uso por outras é devida à própria
natureza do produto. O Direito somente existe se não
contraria as aspirações e necessidades de um povo.
Contrariando essas aspirações e necessidades, o
Direito deixa de ser o próprio e passa a ser apenas um
estorvo e sendo estorvo deve ser encarado como tal.

A saúde da população está diretamente ligada à


sua produtividade. Um cidadão saudável produz melhor
e muito mais do que um cidadão não saudável. Sendo
assim, o Estado precisa cuidar para que as
necessidades básicas da saúde sejam atendidas e
satisfeitas. O personagem Jeca Tatu212, criado por
Monteiro Lobato, enfatizava essa necessidade ao ser
mostrado como um ser sem vontade criado pelas más
condições sanitárias em que vivia. “Jeca Tatu não é
assim, ele está assim”, afirma ele. Sendo retrato de uma
população de sua época, a afirmação está clara no que

caius_c 225
concerne ao seu estado, visto que não é irreversível
mas sim totalmente solucionável.

A própria Constituição de 1988, no seu Capitulo II,


dos Direitos Sociais, confere como direito a saúde no
seu artigo 6º.

Art. 6o São direitos sociais a educação, a saúde, o


trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.

No Capítulo II, da União, no art. 23º., a Constituição


dá as competências na área da saúde:

Art. 23. É competência comum da União, dos


Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

II - cuidar da saúde e assistência pública, da


proteção e garantia das pessoas portadoras de
deficiência;

Sendo um direito social e de competência comum, o


Estado deve zelar para que a saúde seja uma forma de
manutenção e aquisição de sua soberania, mesmo que
isso contrarie algumas proteções dadas a produtos
farmacêuticos oriundos de outros países mas cuja
necessidade seja maior do que a prevalência dos
direitos da empresa sobre eles. Sendo a saúde uma
prioridade do cidadão, o seu direito supera o direito das
empresas. Não existindo uma compreensão dessas

caius_c 226
empresas com relação à facilitação do uso desses
medicamentos pela população, o Estado deve fazer
prevalecer sua soberania.

Soberania e o espaço

Como poder paralelo podemos citar, também,


uma forma ainda restrita mas que futuramente será de
grande importância na definição de soberania: satélites
e conquista do espaço. Satélites significam informação e
informação é o elemento essencial que define e definirá
o estabelecimento da soberania de cada país.
Informação significa tecnologia, economia e tudo o que
afeta a vida dos cidadãos e do Estado. Afetando a vida
e forma, seu uso e o poder de gerenciá-la definirá o
próprio Estado e sua soberania.

Conforme publicado no site www.ig.com.br, em


19 de outubro de 2006, Agência Estado, 13:35 18/10:
”As provisões fazem parte da primeira revisão da política
espacial americana em quase dez anos. A nova política
foi assinada por Bush há mais de um mês, mas a notícia
veio à tona recentemente em reportagem publicada pelo
Washington Post. Apesar de não ter sido anunciada ao
público, partes desclassificadas da decisão foram
publicadas na página da Agência de Políticas Científica
e Tecnológica na internet. "A liberdade de ação no
espaço é importante para os Estados Unidos como
potência aérea e marítima", diz o texto. "Com o objetivo
de proporcionar conhecimento, descoberta e
prosperidade econômica e de reforçar a segurança
nacional, os Estados Unidos precisam dispor de

caius_c 227
capacidades especiais robustas, funcionais e eficazes",
prossegue Bush na ordem. A nova política defende que
os EUA tenham direito de trânsito sem interferência pelo
espaço e afirma que Washington considerará qualquer
interferência deliberada como um "desrespeito a seus
direitos". "Em conformidade com essa política, os
Estados Unidos irão: preservar seus direitos,
capacidades e liberdade de ação no espaço; dissuadir
ou impedir outros países de interferir nesses direitos ou
de desenvolver a capacidade de fazê-lo; adotar as
medidas necessárias para proteger sua capacidade
espacial; responder a interferências; e negar, se
necessário, que adversários façam uso de capacidades
especiais hostis aos interesses nacionais dos Estados
Unidos", afirma o texto. A Casa Branca esclareceu que a
nova política determinada por Bush em nenhum
momento fala sobre o desenvolvimento ou envio de
armas para uso no espaço sideral. Segundo o governo
americano, os EUA reivindicam direito à autodefesa e à
proteção de seus interesses e bens no espaço.
Frederick Jones, porta-voz do Conselho de Segurança
Nacional dos Estados Unidos, defendeu a nova política,
alegando que os desafios e as ameaças aos EUA
mudaram ao longo da última década e que a política
espacial estava desatualizada.”

Esse pensamento sintetiza a importância que o


espaço tem para a manutenção da soberania. No
Capitulo II, art. 20, da União, da Constituição Federal de
1988, os bens definidos pela União não explicitam o
espaço como algo seu e as leis internacionais que
regem o assunto são claras ao estabelecer que o

caius_c 228
espaço não pode constituir território de nenhum país. Na
Constituição de 1988, de no seu Capítulo II, artigo 22,
inciso XXVIII, estabelece-se a competência privativa da
União sobre legislação aeroespacial.

Esta essa competência é atribuída ao Comando


da Aeronáutica, através do decreto 3080, onde se define
que:

"Poder Aeroespacial é a capacidade resultante da


integração dos recursos de que dispõe a nação para a
utilização do espaço aéreo e do espaço exterior, quer
como instrumento de ação política e militar, quer como
fator de desenvolvimento econômico e social, visando
conquistar e manter os Objetivos Nacionais”. 48

O Decreto 3080 de 10 de junho de 1999, no seu


art. 32, confere competência ao Comando da
Aeronáutica para pesquisa e desenvolvimento
aeroespacial

Art. 32 - Compete ao Comando da Aeronáutica

VII - incentivar e realizar atividades de pesquisas e


desenvolvimento relacionadas com as atividades
aeroespaciais;

IX - estimular a indústria aeroespacial.

48
Escola Superior de Guerra

caius_c 229
Pergunte-se: um satélite militar em órbita não é
uma ameaça à soberania de um país? Um satélite que
colhe informações sobre um país e não as transmite
para ele próprio, não dá informações privilegiadas para
outros, que as podem usar contra o próprio país? A
criação de estações espaciais não expande a soberania
dos países ao próprio espaço? O seu uso se restringirá
somente para fins científicos e pacíficos? As estações
espaciais não são o primeiro passo para uma conquista
do próprio espaço? O espaço é de quem, afinal? O
Espaço é de quem o conquista ou pode ser dividido
como a Antártida o foi, com base no interesse de cada
país? Quem dominar o espaço, dominará o planeta?
Deixo as questões em aberto para que se pense sobre
elas a respeito de sua influência sobre os direitos de
soberania de um Estado.

Soberania e informática

Um Estado, atualmente, não poderá ser soberano


sem uma base tecnológica e, dentro dessa base, sem
definições claras quanto ao uso da informática.

A Portaria MEC n. 522, de 09 de abril de 1997,


criou o Programa Nacional de Informática na Educação,
demonstrando a preocupação do Estado em oferecer
uma base de informática para o cidadão em geral.
Embora essa preocupação seja de âmbito mais
profissional e social, visto que é praticamente impossível
viver sem seu uso, ao disseminar seu uso e fazer com
que ele seja natural na sociedade, ela confere condições

caius_c 230
maiores para o Estado exercer sua soberania sobre
esse ponto.

A lei 9609, de 19 de fevereiro de 1998, dispõe


sobre a proteção da propriedade intelectual de programa
de computador, sua comercialização no país, e dá
outras providências. No seu capítulo II, ela garante, no
seu artigo 2º. e parágrafo 2º. A proteção dos direitos do
autor:

Art. 2º O regime de proteção à propriedade


intelectual de programa de computador é o conferido às
obras literárias pela legislação de direitos autorais e
conexos vigentes no País, observado o disposto nesta
Lei.

§ 2º Fica assegurada a tutela dos direitos relativos


a programa de computador pelo prazo de cinqüenta
anos, contados a partir de 1º de janeiro do ano
subseqüente ao da sua publicação ou, na ausência
desta, da sua criação.

§ 4º Os direitos atribuídos por esta Lei ficam


assegurados aos estrangeiros domiciliados no exterior,
desde que o país de origem do programa conceda, aos
brasileiros e estrangeiros domiciliados no Brasil, direitos
equivalentes.

Em contraposição, a lei 11871, de 19 de


dezembro de 2002, do Rio Grande do Sul, expressa a
preocupação na utilização de softwares livres de
restrição:

caius_c 231
Art. 1º - A administração pública direta, indireta,
autárquica e fundacional do Estado do Rio Grande do
Sul, assim como os órgãos autônomos e empresas sob
o controle do Estado utilizarão preferencialmente em
seus sistemas e equipamentos de informática
programas abertos, livres de restrições proprietárias
quanto a sua cessão, alteração e distribuição.

§ 1º - Entende-se por programa aberto aquele


cuja licença de propriedade industrial ou intelectual não
restrinja sob nenhum aspecto a sua cessão, distribuição,
utilização ou alteração de suas características originais,
assegurando ao usuário acesso irrestrito e sem custos
adicionais ao seu código fonte, permitindo a alteração
parcial ou total do programa para seu aperfeiçoamento
ou adequação.

Art. 2º - As licenças de programas abertos a


serem utilizados pelo Estado deverão, expressamente,
permitir modificações e trabalhos derivados, assim como
a livre distribuição destes nos mesmos termos da
licença do programa original.

Parágrafo único - Não poderão ser utilizados


programas cujas licenças:

I - impliquem em qualquer forma de discriminação


a pessoas ou grupos;

II - sejam específicas para determinado produto


impossibilitando que programas derivados deste tenham

caius_c 232
a mesma garantia de utilização, alteração e distribuição;
e

III - restrinjam outros programas distribuídos


conjuntamente.

A informática se baseia em dois elementos:


equipamento e programa. Sem este último, o
equipamento é inútil. A preocupação do governo do Rio
Grande do Sul é afirmar sua independência em relação
às empresas elaboradoras de programas,
principalmente os operacionais como o Windows.

Algumas empresas gigantes do setor procuram


se tornar mais gigantes. A IBM comprou a Palisades
Technology Partners, para incluir na sua linha de
produtos softwares usados por credores hipotecários –
empresas especializadas em financiamento imobiliário.
A lista de clientes da Palisades inclui as dez maiores
empresas do setor.213 Outras como a Microsoft detém
grande parte do mercado dos programas operacionais,
mesmo que sofram a concorrência de programas
abertos como o Linux. A criação do próprio Linux é uma
tentativa de dar, às pessoas em geral e ao Estado,
liberdade no que se refere às necessidades do uso de
sistemas operacionais. Tendo a liberdade de escolha,
teremos soberania.

O uso da rede mundial de computadores está


transformando as sociedades e as formas como elas se
conduzem. Alem de um instrumento, a informática é um
elemento modificador de comportamentos devido a

caius_c 233
gama de informações instantâneas que ela contém e às
facilidades que ela traz às pessoas.

Em 23 de novembro de 2001, trinta países


assinaram a Convenção de Budapeste, cujo objetivo é o
de combater a criminalidade na Internet. O acordo se
tornou um pouco controvertido devido à possibilidade de
uma eventual utilização abusiva de dados pessoais.
Esse acordo foi um dos passos para regular as
atividades da Internet e seu controle pelos países
signatários, através da filtragem de conteúdo, e criação
de legislação específica para combater esses crimes
que alguns denominam como cibercrimes.

Essas duas preocupações, a de conter o


cibercrime e a independência com relação aos
produtores de programas operacionais ou de sistemas,
mostram claramente que o uso da informática extrapola
os limites territoriais dos países e afetam sua soberania
através do uso virtual das comunicações, ao mesmo
tempo em que insere seu uso como forma de soberania
de Estado.

Soberania e nacionalismo

O nacionalismo nasceu da identificação de um


povo em relação a outro. Sua origem remonta à Grécia
Clássica, onde as cidades-estado impunham a si própria
uma identificação. Seria a imposição de uma
personalidade estatal em face à outra.

caius_c 234
Depois da queda do Império Romano, começou o
processo de formação de países e isso gerou uma nova
onda de nacionalismo como forma demonstrativa da
soberania exercida por determinado povo sobre
determinada região. Durante os séculos XVII e XVIII,
ocorreu uma redefinição de fronteiras na Europa e a
acentuação do conceito de nacionalismo.

No século XIX e XX, o nacionalismo extremou-se


a tal ponto que justificou a pretensão colonizadora de
muitos países e algumas guerras como a Segunda em
que a Alemanha procurou manter sobre seu domínio o
que ela chamava de “espaço vital” , ou seja, as regiões
da Europa que continham os produtos, minerais ou
qualquer outra coisa que julgasse necessária para sua
manutenção. O curioso nessa época é que Alemanha,
Itália e Japão “fatiaram” o mundo de acordo com suas
pretensões hegemônicas e a base para justificá-la foi o
nacionalismo, onde as qualidades auto-atribuídas de
seus povos eram superiores às de qualquer outro povo
o que justificava a partilha em função de suas
necessidades como nações.

Durante a Guerra Fria, o nacionalismo fundiu-se e


formou dois grandes adversários como pólos
reguladores do mundo: os Estados Unidos e a União
Soviética. O nacionalismo exacerbado ficou definido em
duas ideologias: a democracia e o comunismo. As
justificavas para qualquer intervenção ou ingerência na
soberania de outros povos eram a “salvação do mundo
livre” ou a “luta contra o imperialismo capitalista”.

caius_c 235
Após a queda do Muro de Berlim, em 9 de
novembro de 1989, símbolo mais claro da falência do
sistema comunista, o nacionalismo voltou na sua antiga
forma, com cada povo tentando ser ele próprio como a
Alemanha assim o fizera com sua reunificação.

Restando apenas os Estados Unidos como


hegemon, o nacionalismo americano se transformou na
mesma justificativa dada pelos países do Eixo, na
Segunda Guerra Mundial, para ter sob seu domínio o
“espaço vital” que necessitaria para sobreviver como
nação, com o agravante de que esse espaço vital é o
mundo inteiro. As demais nações, segundo esse
pensamento, têm que orbitar em torno desse país.

Mas o tempo dos impérios parece estar fadado a


ter um fim. Uma única nação não consegue mais
controlar todas as demais. O custo dessa dominação é
alto demais, embora os lucros pareçam, à primeira vista,
extremamente vultosos. A criação dos blocos
econômicos, substituindo o antigo nacionalismo e
modificando a soberania dos países, foi a melhor
resposta européia contra essa hegemonia americana.
Não se trata mais de um confronto em dois ou mais
países mas de um confronto entre um país e um bloco
econômico fortalecido e dono do mesmo poder de fogo.
Embora, atualmente exista um equilíbrio, os sinais da
balança comercial americana parecem estar dando
mostras que sua economia já não tem a mesma força
que em outros tempos e da União Européia, desde que
consiga manter-se unida, tem uma estabilidade maior
que a americana.

caius_c 236
Se partirmos do princípio que o mundo se dividirá
em blocos econômicos, pergunta-se qual a necessidade
de um nacionalismo, sendo que o seu entendimento
sempre parece ser o da xenofobia e o da justificativa
para exercer domínios? A resposta é simples: embora
existam blocos econômicos, cada país mantém suas
próprias afirmações e não as nega em função desses
blocos. A personalidade de cada país se mantém
mesmo que esteja aliado a outros por causa de um
objetivo.

Nacionalismo vem de nacionalidade e é a


identificação do ser humano com o país ou Nação ao
qual pertence. Esse sentimento sempre foi usado como
forma de sustentação de governos ou para suas
pretensões hegemônicas e ainda o é. No entanto, como
tudo o mais, o sentimento do nacionalismo tem seu lado
bom quando usado de forma correta pois é ele que
traduz as formas como a população se comportará
diante de afirmações de outros países em sua
soberania.

As poucas tentativas, no Brasil, para firmar-se


uma nacionalidade própria e compatível com o país
foram infrutíferas ou estavam imbuídas de idéias
fascistas como o Movimento Integralista49. As
movimentações culturais como as promovidas por
Monteiro Lobato, Mario de Andrade e Oswald de
Andrade tornaram-se mais curiosidades do que uma
forma de mostrar a necessidade de um nacionalismo.
49
1932-1937

caius_c 237
Heróis ou anti-heróis, como Macunaíma e Jeca Tatu, ao
invés de se firmarem como símbolos do que não
deveríamos ser, tornaram-se espelhos do que
deveríamos ser: pobres, raquíticos, sem futuro e
sobrevivendo apenas devido às malícias naturais que
possuímos.

Quando Macunaíma214 foi definido como um


“herói sem caráter”, provavelmente, Mário de Andrade
quis fazer referência não só às suas habilidades de
resolver problemas sem levar em conta alguma ética ou
moral mas também como um espelho do povo brasileiro
com relação à sua identidade, ou seja, uma pessoa sem
características definidas, pois o herói nasce índio negro,
em uma tribo distante, vai para a cidade grande, vira
branco e se metamorfoseia em inseto, peixe e pato, de
acordo com as circunstâncias. Se levarmos mais a
fundo, a própria composição do povo brasileiro de sua
época, cheia de imigrantes que ainda mantinham seus
traços e ligações sentimentais com seu país de origem,
mais os naturais da terra perdidos em distantes regiões
e com culturas próprias, se daria a impressão de uma
não-uniformidade do povo brasileiro como uma Nação.
Sendo heterogêneo, a sua capacidade de ter um
pensamento único como Nação estaria comprometida. A
Semana da Arte Moderna, em 1922, foi uma forma de
tentar dar um rosto a uma Nação que ainda não o tinha.
A esse rosto podemos dar o nome de nacionalismo.

Nos chamados “anos de chumbo” fomentou-se


uma campanha nacionalista cuja finalidade era a
repressão de movimentos contrários ao próprio governo.

caius_c 238
A famosa campanha “Brasil: ame-o ou deixe-o” é seu
maior exemplo. Nessa fase de nossa história ocorreu o
inverso que o governo pretendia pois a campanha
nacionalista identificou-se com o regime militar e como
uma forma de repressão aos grupos que atuavam em
prol de um regime democrático. Até então existia uma
mentalidade nacionalista onde as pessoas,
independentemente do lado em que estavam,
acreditavam que estavam fazendo algo em prol do país.
A partir desse momento, a identificação nacionalista
passou a traduzir uma identificação com o regime militar
e passou a ser renegada pela população em geral.

O governo militar proibiu as manifestações


nacionalistas assim como os desfiles de 07 de setembro
usando a epidemia de meningite de 1972 a 1975 como
desculpa para evitar as aglomerações. Na realidade,
embora parecesse de cunho sanitário, foi uma forma de
evitar que existissem passeatas ou outras formas
públicas de manifestação contra o governo.

Após o período militar, restou pouco do


nacionalismo em si. Os planos econômicos como
Bresser, Verão I, Verão II, Cruzado, etc, falharam nas
suas tentativas de conseguir uma estabilidade
econômica e produziram apenas uma necessidade de
sobrevivência na população, que a afastaram da vida
política. Mesmo a campanha de impedimento de Collor,
em 1992, não conseguiu introduzir novamente o
sentimento nacionalista no povo, embora existisse uma
relativa participação popular. Saindo de um regime
militar e de uma relativa estabilidade econômica, mesmo

caius_c 239
que forçada, a população viu-se novamente com
carência de produtos e empregos e isso gerou um
retrocesso político no país, com o desinteresse cada
mais acentuado da população.

Os períodos econômicos conturbados que


seguiram-se até uma estabilização da economia no
governo de Fernando Henrique Cardoso, através do
chamado Plano real, iniciado em 1993 quando ainda era
Ministro da Fazenda do governo Itamar Franco,
produziram uma amorfia e um desinteresse pela política
em si e pela condução do Estado. O Estado voltou a ser
uma entidade desligada do povo e tornou-se algo
distante de uma realidade.

Esse desinteresse já vinha sendo fomentado


pelos regimes militares e manifestou-se mais
abruptamente com as crises econômicas. A importação
de crenças arrivistas, vindas principalmente dos Estados
Unidos, também contribuiu para esse distanciamento
político, visto que pregavam uma nova visão baseada na
obtenção de vantagens apenas através da fé individual
e não através de atos voltados para a coletividade. Com
esse quadro, o próprio governo deixou de fomentar
sentimentos nacionalistas, temendo que os mesmos
conduzissem a população a atitudes como as
registradas no governo de Fernando Collor, que o
conduziram à retirada da presidência. Historicamente,
podemos dizer que o nacionalismo começou a deixar de
existir em 1970, com as campanhas promovidas pelo
governo militar, reforçou-se com a crise econômica de
1973, causada pelo petróleo, e com os planos

caius_c 240
econômicos dos governos Sarney, Collor, sendo
gradativamente sendo eliminado até os dias de hoje.

Como crédito, podemos dizer que a ditadura de


Vargas foi o único período em que se tentou concretizar
uma mentalidade nacional através da criação de
empresas nacionais, como a Petrobras, para a
exploração de recursos naturais e com a fomentação de
idéias nacionalistas.

Sem ter uma mentalidade nacionalista própria


que fomenta e mantém a soberania, o Brasil ainda vive
das idéias de outros e seu povo e economia sempre
orbitam em torno de algum ideal não próprio. Não se
trata daquele nacionalismo exagerado que cheira a
xenofobia mas sim de se ter um sentimento que traduza
nossa herança cultural e se reproduza na nossa
independência.

Soberania e cultura

Dois grandes elementos fazem com que a


soberania decaia de sua forma primitiva e assuma
outras: a formação de blocos econômicos e a invasão
cultural.

A invasão cultural é um problema mais


subcutâneo e está ligado à mentalidade colonizada que
ainda temos. Historicamente, nossa mentalidade esteve
ligada às metrópoles que nos dominaram. Até a fase da
independência éramos portugueses, no I Império

caius_c 241
éramos franceses, no II Império éramos ingleses e
atualmente somos americanos.

Esta invasão é um passo primordial para a


submissão dos países aos outros. Existindo submissão,
inexiste a soberania. Conforme frase de Daniel Azevedo
Marques “Povo sem cultura é povo sem liberdade”.215
Acrescente a esta o dito de Fidel Castro: “¿Cómo puede
haber democracia si no hay cultura, si no hay
educación?”. 216

Cultura não é apenas o uso das tradições legadas


ou da produção de material próprio mas um estilo de
vida. A cultura é a forma na qual os povos se encaixam
como nações e da qual depende sua forma de pensar.
Sem uma forma própria de pensamento, os povos
tendem a adotar outros que lhes são alienígenas e essa
adoção termina em submissão àqueles a quem ela
pertence.

Essa preocupação na Constituição de 1988


estende-se aos demais países da América Latina, no
seu art. 4º.

Parágrafo único. A República Federativa do Brasil


buscará a integração econômica, política, social e
cultural dos povos da América Latina, visando à
formação de uma comunidade latino-americana de
nações.

No art. 5º., a Constituição estabelece direitos ao


cidadão quanto à dilapidação do patrimônio cultural

caius_c 242
promovida pelo próprio Estado, dando a ele a
possibilidade de impedir qualquer degradação.

LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para


propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao
patrimônio público ou de entidade de que o Estado
participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente
e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor,
salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do
ônus da sucumbência;

A preservação da cultura é de competência


comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, conforme art. 23.

Sendo de competência do Estado e sendo dado


ao cidadão o direito de propor ação contra o próprio
Estado quando este se descuida desse dever, é certo
que deveria existir uma abrangência maior no que
concerne à proteção da cultura, que é dada no Capítulo
III , Da Educação, da Cultura e do Desporto, Seção II:

Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno


exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da
cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e
a difusão das manifestações culturais.

A própria língua é fator cultural determinante.


Temos que ser poliglotas mas não podemos esquecer
nossa forma mais comum de expressão. A apropriação
de palavras e expressões sem o devido
aportuguesamento ou sem antes a verificação de um

caius_c 243
correlato em nossa língua contribui para que ela seja
desvalorizada e por extensão nossa própria cultura. A
colocação de nomes estrangeiros em empresas é
indício claro de que essa tendência à desculturização é
extremamente forte e por que acaba gerando um
aculturamento de um país dominador.

Objetos culturais alienígenas como filmes, livros,


idéias e outros, ocupam o espaço destinado àqueles
que deveriam ser dos nacionais. Como na física básica
existe o conceito de que dois corpos não podem ocupar
o mesmo espaço ao mesmo tempo, é certo supor que
uma cultura sobrepõe-se à outra e lhe tira as formas que
deveria produzir em um modo de vida própria. O
primeiro passo para a perda da soberania de um Estado
é sua submissão cultural e, sabedor disso, o próprio
Estado tem que fazer com que ela não exista.

Ter cultura própria não significa renegar aquilo


que outros países produzem de bom. Uma cultura
própria absorve aquilo que julga adequada para si,
podendo ou não dar-lhe uma nova faceta que a
transforme em um produto próprio.

Soberania e os blocos econômicos

A formação de grupos econômicos surgiu a partir


da dissolução do bloco soviético e o estabelecimento de
uma economia americana mundial. Duas políticas: a

caius_c 244
glasnost50 e a perestroika51 foram as que detonaram a
antiga União Soviética.

A Perestroika tinha conotação de reestruturação


econômica, visto que a economia e o sistema comunista
da União Soviética estavam apresentando sintomas de
falência. Um dos pontos chaves da política era a
contenção de gastos na defesa nacional com a
desocupação do Afeganistão, a redução de armamentos
em conjunto com os Estados Unidos e a não
interferência em países comunistas. No entanto, devido
a motivos diversos como o insucesso na promoção da
criação de empresas privadas e semi-privadas, as
reticências com relação a uma reforma na agricultura, a
indisposição dos membros do Partido Comunista em
aceitar reformas e outros, a União Soviética
desmantelou-se como um bloco político e econômico.

A Glasnost tinha como meta uma política de


liberdade de expressão, principalmente na execução de
reformas na economia e indústria soviética. No entanto,
essa política ajudou a provocar uma onda de
nacionalismo nos diversos países e etnias componentes
do bloco soviético e promoveu a separação política do
grupo soviético. Depois da adoção dessas políticas, a
União Soviética deixou de ser o principal oponente dos
Estados Unidos e cedeu a primazia mundial para esse
país.

50
Literalmente, transparência
51
Literalmente, reconstrução

caius_c 245
A União Européia, como bloco econômico,
nasceu a partir da Comunidade Econômica Européia e
Comunidade Européia, entrando em vigor em 01 de
novembro de 1993. O principal objetivo da União
Européia foi formar um bloco econômico através de uma
moeda única, o euro, uma política aduaneira válida para
seus membros, rompendo antigas barreiras tarifárias e
políticas conjuntas no setor pesqueiro, comercial e de
transporte. Com uma base econômica firmada, a União
Européia passou a comportar-se como um imenso país.
O euro foi uma de suas principais criações. Ao
estabelecer uma moeda única, a partir de janeiro de
2002, a Europa estabeleceu-se como o principal
oponente econômico dos Estados Unidos.

Outros blocos surgiram como o Mercosul e o


Nafta. O Mercosul nasceu em 01 de 1995 com a união
aduaneira dos países membros: Brasil, Argentina,
Uruguai, Paraguai, Venezuela, Bolívia e Chile. O
Mercosul não se firmou como um bloco econômico,
embora tenha facilitado o comércio e as relações entre
os países.

Ao contrário dos países europeus cuja forte


economia propicia uma união efetiva e a utilização de
uma moeda única, o Mercosul cambaleia devido às
diferenças ainda não resolvidas e a falta de apoio às
economias em crise como a da Argentina em 2002. A
crise brasileiro-boliviana relacionada à nacionalização
do gasoduto construído pela Petrobras, em 01 de maio
de 2006, reflete bem as diferenças que impedem o
crescimento do Mercosul como um bloco econômico

caius_c 246
capaz de enfrentar a União Européia e o Nafta.
Contribuem para seu lento desenvolvimento o próprio
tratado que o rege, pois dificulta a aprovação e
aplicação de leis.

O Nafta ou Tratado Norte-Americano de Livre


Comércio, também surgiu como forma de enfrentar a
União Européia. A união do Canadá, México e Estados
Unidos da América como bloco econômico foi firmado
em 01 de 1994, visando eliminar as barreiras
alfandegárias entre os três países. Suas portas estão
abertas para os países sul-americanos que quisessem
aderir a ele.

A diferença primordial entre a União Européia é a


adoção de uma moeda única e a união de seus países
componentes como um todo enquanto que os demais
blocos ainda estão limitados à eliminação das barreiras
alfandegárias e poucas formas de união. Os países da
União Européia deixaram de lado alguns antigos
conceitos de soberania e adotaram outros como forma
de se manterem enquanto que os demais blocos ainda
se prendem aos antigos conceitos. A soberania inicial
que existia nos limites de cada país, foi ampliada para
os limites do bloco econômico. Podemos dizer que cada
país passou a contar com duas formas de soberania:

a) A própria
b) A do bloco econômico

A soberania própria foi modificada e tornou-se


mais tênue em função das necessidades do bloco

caius_c 247
econômico mas nem por isso deixa de existir. Um país
como a França ou a Inglaterra continua com os mesmo
princípios que existiam como países únicos mas
adaptaram sua forma de controle soberano aos padrões
do bloco econômico.

Em contrapartida, a soberania do bloco


econômico tornou-se mais rígida devido à necessidade
de coesão entre os distintos países e suas diferentes
culturas. Para manter essa coesão, a soberania do
bloco econômico passa a ter uma necessidade de maior
força. A soma das soberanias próprias é bem menor do
que a soberania do bloco econômico. Uma torna-se
tênue para que a outra se fortaleça.

Podemos dizer que a União Européia aderiu ao


conceito do Contrato Social de Rousseau, onde o
indivíduo, no caso países, se priva de alguns direitos e
assume outros deveres em função de sua organização
social através do Estado. O Estado deixa de ser
opressor e passa a ser o elemento chave da agregação
social e da promoção do homem como indivíduo e ser
social. Citando o próprio, podemos dizer que antes de
um Contrato de Submissão é necessário um Contrato de
Associação, criando-se assim um Pacto Social. Isso
explica em grande parte o motivo pelo qual um país
atenua os conceitos de soberania e assume uma nova
forma de manutenção de sua individualidade.

Se esse princípio é tão claro e fácil, por que não o


adotamos em nosso Mercosul? A resposta é complexa
mas pode ser parcialmente respondida com a própria

caius_c 248
história mundial e da América Latina. Um dos motivos
históricos é a própria formação da América Latina em si
nos seus primórdios onde ela era vista apenas como
uma fonte de recursos para os países europeus,
notadamente Espanha e Portugal. A idéia de exploração
desenfreada, baseada nas teses colonialistas dos
países europeus e Estados Unidos, ainda perdura na
“mente nacional”. Os nacionais ainda mantêm os
mesmos pensamentos de seus colonizadores onde o
principal era o enriquecimento rápido e fácil e
conseqüente retorno ao seu país de origem.

A separação da América Latina em dois blocos


também contribui para essa dificuldade de adoção de
uma mentalidade voltada para as nações que a compõe.
Simon Bolívar, conhecido como El Libertador, foi um
idealista que propôs uma integração continental com as
Conferências Pan-americanas, em 1826. No entanto,
somente compareceram os governos da Colômbia,
Guatemala, México, Peru e Estados Unidos. Seu
objetivo era promover liberdade para as nações, sem o
mando das metrópoles da época, a independência
política e econômica dos países latinos e a união dos
povos como objetivos de formar blocos para a discussão
de problemas políticos e econômicos, tanto na esfera
latina como na mundial. O Brasil não compareceu à
conferência.

Até o final da Segunda Guerra Mundial, a política


e economia dos países sul-americanos eram
direcionadas pelos países europeus. No Brasil, a
influência da Inglaterra perdurou até a entrada de

caius_c 249
Getulio Vargas no poder e o início da guerra. Nesse
período, uma onda nacionalista, ajudada pelo
crescimento econômico promovido por Getulio, criou
uma série de empresas estatais visando preservar e
explorar as riquezas nacionais como o petróleo e ferro e
tentou firmou um conceito de Nação que ainda não
existe no país.

A partir da queda de Getúlio e do fim da guerra,


os Estados Unidos, fortalecidos pela destruição da
Europa e pela sua indústria crescente e não atingida
pela guerra, passaram a adotar a política do “Big Stick”
ou “grande porrete” no Brasil, política essa que já vinha
sendo utilizada desde há muito tempo em outros países.
Embora sua aparente filosofia fosse a de promover a
paz mundial, na realidade, essa política é uma forma de
manter as portas abertas dos países para sua
economia, afrontando as normas do Direito
Internacional, suprimindo soberanias ou simplesmente
anexando territórios como o Texas, em 1846, durante a
Guerra da Anexação, e a Califórnia do mesmo México.
Os exemplos dessa afronta às soberanias, através
dessa política, são muitos: em 1921 invadiram a
Republica Dominicana e novamente em 1963. O Haiti foi
invadido em 1914, El Salvador em 1921, Honduras em
1924, Nicarágua em 1926 e na década de 80, século
XX, com o fornecimento de armas para os “contras”,
Guatemala em 1954, Cuba em 1961, embora sem êxito,
Vietnã em 1964, intervenção no Chile em 1973 e
assassinato de Salvador Allende, Granada em 1983,
Panamá em 1989, Afeganistão em 2001, Iraque em
2003. No Brasil, destaca-se a revolução de 1964, onde

caius_c 250
existiu uma nítida participação americana no evento
através do embaixador de então Lincoln Gordon.

Embora os Estados Unidos seja o exemplo mais


atual que temos na supressão pura e simples das
soberanias, alguns países como a Inglaterra, que teve
seu auge durante a época vitoriana no que concerne ao
uso de outros países para fins próprios, a França, a
Bélgica, a Itália, a Holanda e outros, praticamente
dominaram os demais países ou continentes com suas
políticas, quando não usaram de recursos militares para
isso.

Excetuando o breve período de Getulio Vargas,


na sua melhor fase, praticamente o Brasil se viu
dominado por políticas Européias e, depois, pela
americana. Com esse histórico de invasões americanas
e européias, podemos perguntar por que o Brasil ainda
não sofreu uma intervenção militar desses países. A
resposta basicamente encontra-se no alinhamento de
nossos sucessivos governos com a política desses
países e a submissão econômica a eles. A perda da
soberania não é militar mas econômica e cultural. O
domínio é feito através de outras formas mais sutis mas
muito mais eficientes. No entanto, não podemos
descartar esse tipo de intervenção visto que o Brasil
dispõe de dois elementos essenciais para a vida futura:
o maior volume de água doce do planeta e a maior
reserva de nióbio do planeta, metal essencial para
novas tecnologias.

caius_c 251
Apesar de acreditarmos que nossa história seja
feita apenas de bons momentos pois não a estudamos a
fundo, o Brasil passou por inúmeros períodos
tumultuados onde se poderia fracionar a federação e
onde sempre existiu uma possibilidade real de
esquartejamento do país. A soberania sempre esteve
ameaçada em mais de um momento histórico, devido a
movimentos militaristas.Historicamente, existiram quatro
ameaças militares à soberania brasileira:

a) A Invasão Holandesa em 1621 e 1630, na Bahia


e Pernambuco
b) A Guerra do Paraguai, com invasão da província
do Mato Grosso em 1864, pelas tropas
paraguaias, imortalizada no livro do Visconde
Taunay “A retirada da Laguna”.
c) O conflito Brasil-Inglaterra no II Império, com a
questão Christie, em 1861
d) A crise do Acre em 1902, com a Bolívia, resolvida
com a compra da área pelo Brasil.

Embora a invasão holandesa se tenha dado em


um período em que inexistia um país chamado Brasil, a
sua existência como território português ou como uma
colônia o fazia parte integrante de uma nacionalidade.
Assim sendo, sua invasão constituiu uma ameaça à sua
soberania como território português.

Alem das ameaças externas, podemos citar as


seguintes ameaças internas:

caius_c 252
a) As revoltas durante II Império, como a
Cabanagem (1835 a 1840), a Sabinada (1837 a
1838, a Balaiada (1831 a 1841), a Farroupilha
(1835-1845)
b) A Revolução de 1932, com seu caráter
separatista

Também podemos acrescentar como forma de


dissolução da soberania nacional os movimentos
separatistas atuais dos estados do sul. Embora sejam
sufocados, eles existem como idéia. Suas premissas
principais são as de que o Brasil é um país que “não deu
certo” e que as riquezas do sul e sudeste são usadas
para a manutenção dos estados mais pobres da região
norte e nordeste, aliadas ao fato de que a origem da
população, de predominância européia, diverge da de
outros estados. Movimento como “O Sul é o meu país”
ganharam sua força durante certo período mas foram
contidos através de uma repressão contra seus
membros. Provavelmente, essas idéias vieram da
Revolução Farroupilha, de 1835 a 1845, e mantiveram-
se como idéia distorcida entre a população. No entanto,
do ponto de vista econômico, podemos dizer que
algumas regiões como o Centro-Oeste que teve um
impulso nas décadas de 80 e 90 do século XX e o
desenvolvimento de algumas regiões do nordeste
através do plantio irrigado, invalidam a premissa de que
o sul e sudeste sustentariam economicamente outras
regiões em prejuízo das próprias. Essa idéia torna-se
vaga e transfere o desenvolvimento de cada região para
a esfera da “vontade política”.

caius_c 253
O mercado de crédito de carbono, nascido
através do Protocolo de Kyoto em 1997, e sua
administração pelo Banco Mundial, pode ser uma fonte
de renda para os estados amazônicos ou para outros,
visto que a manutenção de florestas começa a se tornar
um bom negócio. Aliando-se isso a uma exploração da
região de forma sustentável de sua biodiversidade, cai
por terra a teoria separatista sobre a sustentação
econômica de outras regiões pelo sul e sudeste.

Atualmente, podemos considerar os seguintes


obstáculos à manutenção da soberania nacional:

a) Dependência econômica de outros países


b) Invasão cultural

Se o Mercosul fosse algo mais concreto e as


economias que o compõe conseguissem equiparar-se
para o seu funcionamento, a dependência econômica
com relação a outros blocos econômicos seria menor.
Como existe muita discrepância entre as economias,
existe uma forte tendência a não concretização do
Mercosul como um elemento igual à União Européia. Se
algo desse tipo ocorrer, será em um futuro bem distante.
Sendo assim, a dependência econômica pode acentuar-
se mais, visto que se trata da luta de um país contra
blocos econômicos fortes que tradicionalmente sempre
dominaram a América do Sul.

A fórmula mais simples para um enfrentamento


econômico é o desenvolvimento de uma tecnologia
superior em todos os aspectos e a insubmissão cultural.

caius_c 254
A nova soberania

Podemos dizer que a soberania como a


conhecemos está se extinguindo. Os pontos citados
como a globalização, invasão cultural, formação de
blocos econômicos, internet, tecnologia, formação de
tribos, estão produzindo um desafio no que concerne à
manutenção da soberania pelos países.

Não adianta fechar-se às tendências mundiais ou


ignorá-las pois nenhum país consegue isolar-se em um
mundo globalizado. Aqueles que o faziam, como a
China, passaram a sentir as necessidades de estarem
participando desse evento e abriram suas portas para
outros países. Essa abertura de portas significa que
existe uma troca onde se pode perder ou ganhar,
dependendo da forma como os países se conduzem.

A soberania está se tornando virtual e cada vez


mais retornando ao seu antigo modo como sentimento.
Sendo um sentimento, ele deve ser trabalhado para que,
a partir dele, surja uma forma concreta de
estabelecimento dessa soberania.

Como primeiro passo, podemos dizer que a


educação será parte integrante desse sentimento de
soberania. A necessidade do uso da educação para
firmar esse sentimento e lhe dar contornos reais é
básica e deve ser fomentada primordialmente pelo
Estado. O Estado tem que retornar aos seus primórdios
e dar aos cidadãos o sentimento de Nação que é

caius_c 255
superior ao Estado visto que esse é apenas a
organização das formas como a Nação deve se conduzir
enquanto que esta é a expressão máxima da forma
como o cidadão sente-se integrado em uma sociedade
que lhe é própria.

caius_c 256
A educação e o Estado
Democrático de Direito
“Independência é uma prioridade
absoluta na vida de uma nação, a auto-
estima, a alta auto-estima de uma nação,
o orgulho de um povo, a proliferação de
uma cultura. Mas, antes de mais nada, a
gente deveria tentar entender o que
“independência” significa. E, se ela tocar
nas raízes da ignorância ou alguém
lucrar com ela, nada feito. De volta a
estaca ZERO. É uma linha quase
invisível. Como aquela que o bandeirinha
indica que o cara estava no impedimento
depois que a torcida berrava
GOOOOOOLLLLLLL !” (Gerald
217
Thomas)

Educação e seus conceitos

PLATÃO, em seu livro Fédon, diz que a alma não


leva outra coisa para o Hades alem de sua educação e
seu modo de vida – “Ao chegar ao Hades, nada mais
leva consigo a não ser a instrução e a educação,

caius_c 257
justamente, ao que se diz, o que mais favorece ou
prejudica o morto desde o início de sua viagem para lá.”
218

De acordo com PAULO FREIRE, a educação


nunca é neutra e sim, sempre, política. Uma de suas
bases é a alfabetização e conscientização política de
jovens e adultos.219 Sua Pedagogia da Libertação tem
conotações políticas iguais às de LEONARDO BOFF e
sua Teologia da Libertação, onde se justificam
mudanças radicais a partir de situações radicais de
opressão. A Teologia da Libertação está inserida na
última fase do pensamento ocidental onde se valoriza a
história, a cultura e a diversidade de formas de
manifestação do encontro do homem com Deus. 220

PAULO FREIRE adota o sistema socrático onde a


pergunta promove a própria resposta e valoriza o
pensamento crítico. Na sua Pedagogia de Autonomia,
existem propostas de práticas pedagógicas necessárias
à educação como forma de construir a autonomia de ser
do educando, valorizando e respeitando sua cultura e
seu acervo de conhecimentos empíricos junto à
individualidade.221

ANTONIO JOAQUIM SEVERINO, na sua


Filosofia da Educação – Construindo a Cidadania, diz
que educação é uma prática social e também política
cujas ferramentas são constituídas pelos elementos
simbólicos produzidos pela subjetividade e mediados
pelos instrumentos culturais. Como tal, sua ação se dará

caius_c 258
mais diretamente sobre os aspectos simbólicos da
existência humana. 222

Para KARL MARX, a escola é uma instituição


burguesa, pois advém da sociedade capital. Para ele, a
escola como parte integrante de uma sociedade
burguesa seria incapaz de se transformar em uma
instituição antagônica à dinâmica social à qual está
vinculada.223

No caput do artigo 1º. Da Lei 9394, de 29 de


dezembro de 1996, existe a seguinte definição de
educação, no que tange à sua abrangência: “A
educação abrange os processos formativos que se
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana,
no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa , nos
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e
nas manifestações culturais”. O seu parágrafo 2º diz que
deve “se vincular à prática do trabalho e à prática
social.”. No artigo 2º reafirma que é dever do Estado e
da família.

Os conceitos definidos como responsabilidade do


Estado, no que concerne à educação, restringem-se
apenas à formação profissional do cidadão e não da
formação do cidadão em si.

O termo educação deveria ser ampliado para


“formação de cidadãos”, pois não basta apenas um
desenvolvimento profissional para que um indivíduo se
torne um membro adequado para uma sociedade.

caius_c 259
De acordo com o Relatório da Unesco da
Comissão Internacional sobre a Educação para o século
XXI, “as políticas educativas são um processo de
enriquecimento dos conhecimentos, do saber-fazer, mas
também e talvez em primeiro lugar, como uma via
privilegiada de construção da própria pessoa, da relação
entre indivíduos, grupos e nações.” 224

Um país é a dimensão do seu próprio povo. Um


país é um resumo de seus próprios cidadãos. A
dimensão que queremos dar a um país é a dimensão
que damos aos elementos humanos que o compõe.
Uma educação baseada somente na formação
profissional cria apenas operadores de máquinas.

Qualquer objeto nunca é visto como real. É


próprio do ser humano dar interpretações a algo que vê,
ouve ou sente. Um peixe dentro da água, devido à
refração, nunca estará no real local que o vemos; uma
história será sentida em algum ponto e transmitida no
seu total em relação a esse ponto; qualquer texto ou
palavra será entendido de forma diversa por várias
pessoas. Vivemos de interpretações e elas nunca são o
reflexo real de um objeto mas apenas como uma forma
que imaginamos. A interpretação, na realidade é a
construção de um novo objeto a partir do próprio. Isso é
comum e normal, no entanto, é imprescindível que
tenhamos dentro de nós as várias formas de se ver o
mesmo objeto. Para que isso ocorra é necessário que
tenhamos uma educação que nos permita isso.

caius_c 260
Educação e sua história no Brasil

Historicamente, a educação formal sempre se


restringiu às classes dominantes da sociedade. Ela
passou a ser estendida às outras classes a partir da
Revolução Industrial, onde a necessidade de mão de
obra especializada gerou a educação pública. Essa
educação estava mais vinculada à formação de
profissionais que a indústria exigia. Embora tenham
existido núcleos de escolarização em todas as fases da
história, ela sempre esteve restrita a alguns poucos
privilegiados.

No Brasil, a educação, inicialmente, esteve nas


mãos da Companhia de Jesus, os jesuítas, que
chegaram aqui em março de 1549, junto com o
governador Tomé de Souza e comandados pelo Padre
Manoel da Nóbrega. Os jesuítas fundaram a primeira
escola elementar em Salvador no mesmo ano. Um dos
primeiros educadores foi José de Anchieta, sendo autor
da Arte da Gramática das línguas mais usadas na costa
brasileira. Para afastar os índios dos interesses dos
colonizadores, os jesuítas fundaram as missões, onde
eram catequizados e orientados ao trabalho agrícola.

Em 1570, existiam cinco escolas de instrução


elementar em Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente,
Espírito Santo e São Paulo de Piratininga, alem de três
colégios no Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia. Os
jesuítas, alem de se dedicarem à alfabetização e ao
ensino religioso, mantinham cursos de Letras e Filosofia,
onde se estudava Teologia e Ciências Sagradas,

caius_c 261
Gramática Latina, Humanidades, Retórica, Lógica,
Metafísica, Moral, Matemática e Ciências Físicas e
Naturais. Nesse período, os que pretendiam seguir
profissões liberais iam estudar, geralmente, na Europa,
em Coimbra, Portugal ou na Universidade de
Montpellier, na França.

Os jesuítas permanecerem como mentores da


educação brasileira, até serem expulsos pelo Marques
de Pombal, em 1759.

Entre 1760 e 1808, seguiu-se o que se


convencionou chamar de Período Pombalino, com a
educação direcionada para servir aos interesses do
Estado, em contraposição ao Período Jesuítico, onde a
escola servia os interesses da Fé. Através do Alvará de
1750, onde suprimia as escolas jesuíticas, criou as aulas
régias de Latim, Grego e Retórica, alem da Diretoria de
Estudos.

Em 1824, a primeira constituição brasileira é


outorgada e no seu artigo 179, declara-se como gratuita
para todos os cidadãos a escola primária.

Em 1827, um projeto de lei propõe a criação de


pedagogias em todas as cidades e vilas, propondo uma
seleção para professores e a abertura das escolas para
as meninas.

Em 1834, um Ato Adicional à Constituição dispõe


que as províncias passariam a ser responsáveis pela

caius_c 262
administração do ensino primário e secundário. Em
1835, surge a primeira escola normal do país em Niterói.

Entre 1889 e 1929, existiram quatro reformas do


sistema escolar brasileiro:225

- A reforma de Benjamin Constant, que tinha


como princípios a gratuidade, a liberdade e laicidade do
ensino.

- A Reforma Rivadávia Correa, de 1911, retomou


a orientação positivista, pregando a liberdade de ensino,
a abolição do diploma em troca de um certificado de
assistência e aproveitamento, transferindo os exames
de admissão ao ensino superior para as faculdades.

- A Reforma de Carlos Maximiliano, em 1915,


reoficiliza o ensino no Brasil.

- A Reforma João Luiz Alves introduz a cadeira de


Moral e Cívica com a intenção de conter os protestos
contra o então presidente Arthur Bernardes.

Entre 1930 e 1936, com o Brasil saindo da


agrariedade e procurando uma industrialização,
ocorreram outras reformas:226

- Em 1930 foi criado o Ministério da Educação

- Em 1931, o governo organiza o ensino


secundário e as universidades brasileiras

caius_c 263
- O Decreto 19.850, de 11 de abril, cria o
Conselho Nacional de Educação e os Conselhos
Estaduais de Educação

- O Decreto 19.851, de 11 de abril, institui o


Estatuto das Universidades Brasileiras que
dispõe sobre a organização do ensino superior no
Brasil.

- O Decreto 19.852, de 11 de abril, dispõe sobre a


organização da Universidade do Rio de Janeiro.

- O Decreto 19.890, de 18 de abril, dispõe sobre


a organização do ensino secundário.

- O Decreto 20.158, de 30 de julho, organiza o


ensino comercial, e regulamenta a profissão de
contador.

- O Decreto 21.241, de 14 de abril, consolida as


disposições sobre o ensino secundário.

- Em 1932 é lançado o Manifesto dos Pioneiros


da Educação Nova, redigido por Fernando de
Azevedo.

- Em 1934 a nova Constituição dispõe, pela


primeira vez, que a educação é direito de todos,
devendo ser ministrada pela família e pelos
Poderes Públicos.

- Em 1934 é criada a Universidade de São Paulo.

caius_c 264
- Em 1935 é criada a Universidade do Distrito
Federal .

Entre 1937 e 1945 ocorrem novas mudanças


devidas ao Estado Novo, período em que Getulio
Vargas permaneceu como ditador, em uma época em
que a Alemanha tentava o domínio militar da Europa.

- É outorgada uma nova Constituição em 10 de


novembro de 1937, que prevê uma preparação
de uma maior especialização da mão de obra em
função das novas predisposições industriais do
país.

- A gratuidade e obrigatoriedade do ensino são


mantidas, e a constituição enfatiza o ensino pré-
vocacional e profissional, dando preferência às
atividades manuais em detrimento às intelectuais.

Em 1942, são reformados alguns ramos do


ensino, através das Leis Orgânicas de Ensino:

- O Decreto-lei 4.048, de 22 de janeiro, cria o


Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial -
SENAI.

- O Decreto-lei 4.073, de 30 de janeiro,


regulamenta o ensino industrial.

- O Decreto-lei 4.244, de 9 de abril, regulamenta


o ensino secundário.

caius_c 265
- O Decreto-lei 4.481, de 16 de julho, dispõe
sobre a obrigatoriedade dos estabelecimentos
industriais empregarem um total de 8%
correspondente ao número de operários e
matriculá-los nas escolas do SENAI.

- O Decreto-lei 4.436, de 7 de novembro, amplia o


âmbito do SENAI, atingindo também o setor de
transportes, das comunicações e da pesca.

- O Decreto-lei 4.984, de 21 de novembro,


compele que as empresas oficiais com mais de
cem empregados a manter, por conta própria,
uma escola de aprendizagem destinada à
formação profissional de seus aprendizes. O
ensino ficou composto por cinco anos de curso
primário, quatro de curso ginasial e três de
colegial.

- O Decreto-lei 6.141, de 28 de dezembro de


1943, regulamenta o ensino comercial (SENAC).

No período de 1946 a 1963, adota-se uma nova


constituição mais liberal e democrática que determina a
obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e dá
competência à União para legislar sobre as diretrizes e
bases da educação.

- Em 1946 o então Ministro Raul Leitão da Cunha


regulamenta o Ensino Primário e o Ensino Normal

caius_c 266
- Foi promulgada a Lei 4.024, em 20 de dezembro
de 1961, que elimina o monopólio estatal sobre a
educação.

- Em 1950, em Salvador, no Estado da Bahia, é


inaugurado o Centro Popular de Educação
(Centro Educacional Carneiro Ribeiro), dando
início a idéia de escola-classe e escola-parque.

- Em 1952, em Fortaleza, Estado do Ceará, o


educador Lauro de Oliveira Lima inicia uma
didática baseada nas teorias científicas de Jean
Piaget.

- Em 1953 é criado o Ministério da Educação e


Cultura.

- Em 1961 a Prefeitura Municipal de Natal, no Rio


Grande do Norte, inicia uma campanha de
alfabetização ("De Pé no Chão Também se
Aprende a Ler"). A técnica didática, criada pelo
pernambucano Paulo Freire, propunha-se a
alfabetizar em 40 horas adultos analfabetos. A
experiência teve início na cidade de Angicos, no
Estado do Rio Grande do Norte, e, logo depois,
na cidade de Tiriri, no Estado de Pernambuco.

- Em 1962 é criado o Conselho Federal de


Educação. Este substitui o Conselho Nacional de
Educação. São criados também os Conselhos
Estaduais de Educação.

caius_c 267
- Ainda em 1962 é criado o Plano Nacional de
Educação e o Programa Nacional de
Alfabetização, pelo Ministério da Educação e
Cultura. Em 1964, um golpe militar aborta todas
as iniciativas de se revolucionar a educação
brasileira, sob o pretexto de que as propostas
eram "comunizantes e subversivas".

- A criação da Universidade de Brasília, em 1961,


permitiu vislumbrar uma nova proposta
universitária, com o planejamento, inclusive, do
fim do exame vestibular, valendo, para o ingresso
na Universidade, o rendimento do aluno durante o
curso de 2o grau.

- Foi criado o Movimento Brasileiro de


Alfabetização – Mobral, extinto depois por
denúncias de corrupção.

Em 1971 é instituída a Lei 4.024, a Lei de


Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A
característica mais marcante desta Lei era tentar dar a
formação educacional um cunho profissionalizante.

No período da abertura política entre 1986 e


2001, as discussões sobre uma forma democrática e
aberta de ensino voltaram à tona, dando uma ênfase
política à Educação e um sentido mais amplo. Em 1996
é aprovada a Lei de Diretrizes e Bases para a
Educação.

caius_c 268
Em 1990 é lançado o projeto de construção de
Centros Integrados de Apoio à Criança - CIACs, em todo
o Brasil.

Depois da queda do regime militar, foram criados


muitos programas de ensino como Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental
e de Valorização do Magistério (FUNDEF), Programa de
Avaliação Institucional (PAIUB), Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Básica (SAEB), Exame Nacional
do Ensino Médio (ENEM), etc.

Como não podia deixar de ser, a Educação


sempre se moldou por dois fatores:

a) Políticos

b) Econômicos

Os dois motivos são concorrentes e correlatos.


Um não existe sem o outro, um se molda ao outro.
Quando se escolhe uma forma política para um país, se
escolhe a forma econômica pela qual ele pretende se
conduzir e quando se escolhe a forma econômica, ela
deságua no modo de condução do país que é a política.

Todos os passos dados pela Educação


originaram-se da forma como o país situava-se política e
economicamente no momento. Durante o período
essencialmente agrário do país que vai até 1930, a
escola preocupou-se apenas em dar os rudimentos aos
seus alunos, visto que não existia a necessidade de

caius_c 269
uma mão de obra especializada. Entre 1930 e 1945
inicia-se um processo de industrialização promovida
principalmente pelo governo Getulio Vargas, ampliando
as necessidades da Educação para a formação de
profissionais adequados à industrialização. Uma nova
classe social expande-se: a classe burguesa, formada
pelos industriais e comerciantes, substituindo as antigas
oligarquias monoculturistas no governo. Com a entrada
de capitais estrangeiros no país, a partir de 1958/1960 e
instalação de multinacionais enfocadas no novo
capitalismo que surgiu no período pós-guerra nos EUA,
passou a existir uma necessidade maior de profissionais
voltados para a indústria. O período pós 1960
transforma a escola em um centro de formação voltado
não só para a indústria mas também para outras áreas
como a financeira. Embora tenha evoluído bastante, a
Educação ainda tem as bases capitalistas desse
período, ou seja, voltou-se apenas para a formação de
profissionais, o que perdura até agora. Os exemplos
mais típicos são o Senai e o Senac cujos objetivos são a
formação de profissionais para a indústria e comércio,
respectivamente.

Em todos esses períodos, a Educação


acompanhou a economia e a política adotada pelos
governos. No entanto, em nenhum momento ela se
preocupou com a formação de cidadãos efetivamente.
Mesmo que tenha existido alguma formação política nas
escolas, ela sempre esteve voltada para a manutenção
dos governos.

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A co-responsabilidade do Estado e da Família na
Educação

No Capítulo III, da Educação, da Cultura e do


Desporto, Seção I, Da Educação, o Estado se
estabelecer como detentor da educação, junto com a
família:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do


Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.

A Constituição define a educação como um “direito


de todos” e atribui ao Estado e à família o dever de
efetivá-la junto à população. Ao Estado cabe
estabelecer as formas, dar os elementos necessários,
vigiar e proteger a educação e à família cabe o dever de
fazer com que seus membros a tenham, além de
fornecer parâmetros adequados para que a criança
possa conviver adequadamente no meio social.

Educação e política

Como se vê na história da educação brasileira,


ela sempre foi influenciada pela política da época e
considerada como forma de manutenção dos grupos no
poder. A formação do indivíduo está vinculada às
pretensões políticas do Estado, quaisquer que sejam.
Isso não teria nenhum problema se a educação não

caius_c 271
fosse usada, como ainda é, para dar ao indivíduo a
dimensão que o Estado quer ter de si próprio, diferente
daquilo que o cidadão almeja como ideal para si próprio.
O objetivo é moldar a pessoa às características do
Estado e não o de lhe dar bases para promover o
próprio Estado através do uso do contraditório, da crítica
e da participação efetiva. Mesmo que ainda assim o
fosse, a Educação ainda seria usada como instrumento
político e assim deve ser. A Educação é ponto inicial
para a formação do cidadão e conseqüente fôrma na
qual Estado irá se moldar.

Partindo do princípio de que o cidadão é a base


do Estado e que sua educação é o reflexo da própria
condição do Estado, por que não dar ao cidadão uma
educação compatível com um Status Magnus? Por que
não dar a educação adequada para que se formem as
bases para um Estado diferenciado onde as relações
entre as partes sejam adequadas a uma forma mais
efetiva de convivência entre cidadão e poder?

A resposta está, como sempre, na composição do


Estado. Se grupos ou tribos se apossam de sua
gerência, não se irá querer que outros grupos ou tribos
lhe retirem o poder. Embora o exemplo mais claro disso
esteja nos Estados totalitários, podemos transpor essa
idéia para os ditos Estados democráticos pois ainda não
se chegou a uma plenitude no que se refere à
participação do cidadão dentro do Estado, exceto após
sua eleição para cargos, onde se desvirtua sua fase
inicial democrática e onde existe uma transformação
para a oligarquia. Um cidadão está imbuído da

caius_c 272
democracia até sua eleição para algum cargo
governamental. Após seu estabelecimento na
administração do Estado, sua mentalidade, por força de
si próprio, das circunstâncias ou daqueles que o
rodeiam, se transforma e assume a forma oligárquica.
Nesse instante, apesar de ter uma base democrática, o
Estado assume o papel de pequenos grupos
comandarem outros para benefício de si próprios ou dos
seus.

A própria Constituição Brasileira confere


fundamento ao Estado na soberania, onde ele detém
poderes sobre si próprio e sobre os elementos que o
compõe. A soberania popular se restringe ao voto e
conseqüente eleição de seus representantes, o que a
alija, em tese, da condução do próprio Estado. Embora
representado, o cidadão deixa de ter poderes ao
entregá-los para aqueles que foram eleitos.
Teoricamente, isso seria uma forma prática de condução
da democracia visto que se todos participassem da
administração do Estado o mesmo implodiria por causa
do excesso de mando. No entanto, a representação
dada pelo cidadão se desvirtua após a eleição e os
ideais que se perseguia através de uma representação,
reconfiguram-se nos ideais que o partido assume como
seus ou dos quais precisa para sobreviver ou agigantar-
se dentro do Estado. É o momento em que a
representação popular deixa de existir e
consequentemente a soberania do cidadão.

A Educação, no seu componente político, deveria


dar ao cidadão o conhecimento e a prática necessária

caius_c 273
para que ele pudesse exercer com seriedade sua atual
soberania que consiste no voto e eleição de seus
representantes, ao mesmo tempo em que lhe deveria
dar todas as formas possíveis de condução para a
manutenção de sua soberania e por conseqüência a do
próprio Estado. Essa forma de soberania é o que se
costuma chamar de exercício da cidadania, que deveria
ser a forma de como o cidadão atua dentro da
sociedade e na relação sua com o Estado.

Educação informal

Alem da educação formal, cujo dever é da família


e do Estado, o indivíduo sofre outras influências na sua
educação, através do grupo e da mídia. Os costumes do
grupo influem fortemente na educação do cidadão e a
mídia veicula idéias que nem sempre estão de acordo
com as pretensões de um Estado Democrático de
Direito.

Em um país democrático, é justo que se tenha


liberdade de expressão e que as diferentes visões das
diferentes situações devam ser de acesso a todos. A
democracia se faz com a diversidade. No entanto,
devem existir alguns parâmetros básicos para a
condução dessas idéias. Não se trata de auto-censura
ou da censura propriamente dita mas de concepções
maiores das quais outras devem derivar.

Estatisticamente, a maioria da população tem na


televisão seu principal veículo de informação, lazer e
cultura. Como somos animais visuais, a televisão se

caius_c 274
mostra como a fonte mais adequada para uma interação
social na sociedade em que o indivíduo vive. Como
forma melhor de comunicação, ela pode transmitir
formas de pensamentos e comportamentos que, se não
analisados adequadamente, podem ser considerados
como corretos, mesmo que não o sejam.

Sua influência é tão grande que um estudo


publicado na revista científica The Lancet, em 31 de
outubro de 2006, garante que a família brasileira passou
a ter menos integrantes a partir da popularidade das
telenovelas que retratam a vida em famílias pequenas.
Os pesquisadores afirmaram que o planejamento
familiar brasileira formou-se a partir desse hábito de
assistir telenovelas e sua identificação com os
personagens e que essa tendência ocorreu sem
nenhuma intervenção governamental.227

Todos os veículos de informação podem ser


considerados como educadores ou maus educadores.
Tendo essa potencialidade, é certo que deveriam se
dotarem de parâmetros que produzissem efeitos sociais
benéficos. Os próprios produtores deveriam estar
imbuídos de princípios que estivessem de acordo com
aqueles que a sociedade precisa ter e procurassem se
manter dentro deles. Isso não nega aos veículos o
princípio do contraditório que faz parte do próprio
conceito de democracia.

Alem dos veículos de comunicação em massa


ainda existem outras formas de educação informal. A
principal, com certeza, é a família, visto que é dela que

caius_c 275
obtemos os primeiros conceitos sobre nossa condução
como indivíduos. Famílias mal formadas ou
estremecidas, geralmente, produzem formas distorcidas
de se ver a realidade que nos cerca. Famílias
estruturadas transmitem a solidez da qual se constituiu
aos seus membros. A família é a primeira formadora dos
costumes, base de todo Direito.

Saindo do âmbito familiar, o indivíduo se


confronta com as diversas realidades que outros
indivíduos ou grupos lhes apresentam. O grupo restrito
da família deixa de ter a importância que tinha e passa a
se constituir apenas como base para novas relações.
Sendo uma base forte, ela sustentará os indivíduos
durante sua vida inteira, servindo de comparação para
as novas interações que ele passa a sofrer. Sendo fraca
ou distorcida, as novas interações, independente de seu
conteúdo, passarão a dominar o comportamento e as
idéias do indivíduo. A Constituição se preocupa com
esse fato ao transmitir o dever da Educação à família. A
família é o primeiro elo na socialização do cidadão e sua
integração vivencial. Se considerarmos que,
historicamente, os núcleos familiares foram as bases
dos primeiros Estados na sua formação, e de que a
sociedade é composta desses núcleos, podemos afirmar
que uma família é uma réplica em miniatura do próprio
Estado e que o Estado deveria assumir isso como parte
integrante de sua própria existência ao encarar os seus
componentes como próximos e se basear nas relações
que tomamos como ideais para o convívio.

caius_c 276
Teorias estranhas, produzidas a partir das
necessidades dos países colonizadores de afirmarem
sua superioridade como povos, também fazem parte
dessa educação informal. São como lendas urbanas
transmitidas através das gerações e cujas origens se
perderam no tempo. Elas induzem a um pensamento
pré-fabricado por outros povos e assumidas como
próprias, reforçando condutas e modo de vida. As mais
comuns são:

a) Teoria da tropicalidade
b) Teoria da mentalidade colonizada
c) Teoria da multiplicidade de raças
d) Teoria da docilidade do povo brasileiro

A teoria da tropicalidade reza que os povos


tropicais são naturalmente preguiçosos porque a
natureza tropical lhes dá tudo que necessitam e por
isso, ao contrário dos povos europeus, eles não
necessitam de grandes esforços para obterem o
necessário para sua sobrevivência. De acordo com essa
teoria, as estações definidas do clima europeu teriam
dado a eles um estilo de vida e uma compleição física e
mental necessária que os fariam trabalharem de acordo
com elas e que sem esse trabalho eles não
conseguiriam sobreviver. Um inverno rigoroso cujas
provisões não tivessem sido previamente administradas
nas outras estações, os exterminaria. Nos países
tropicais, com estações menos definidas ou apenas com
duas estações: a das águas e das secas, favorece a
natureza e a abundancia está sempre presente o que
elimina a necessidade de planejamento ou trabalho para

caius_c 277
sobreviver. De acordo com essa teoria, o homem
tropical precisa apenas estender a mão para tirar seu
sustento da natureza. Presumo que essa teoria foi
inspirada, em parte, pela natural rebeldia de nossos
indígenas em relação ao trabalho escravo imposto a
eles pelos europeus. Essa necessidade de liberdade foi
assumida como má índole para o trabalho pelos seus
conquistadores. Uma das lendas do Amazonas conta a
história de Ajuricaba, um chefe indígena que, capturado
e sendo levado para o cativeiro em uma canoa, atirou-se
ao rio e afogou-se, preferindo a morte à prisão. Dizem
que as águas do Rio Negro não se misturam às do
Solimões como protesto pela sua morte. A escravidão
negra começou a partir do pressuposto de que os da
terra não serviam para o trabalho braçal forçado. Essa
teoria também engloba o conceito de que as altas
temperaturas dos trópicos favoreceriam uma natural
preguiça no ser humano.

A teoria da mentalidade colonizada deve ter tido


origem nas esperanças dos portugueses de virem ao
Brasil para enriquecerem e depois voltarem para seu
país de origem. Dizem que o saudosismo está presente
em todas as almas lusitanas e que a sua pátria é seu
único lar. O povo português tem outras características,
mais históricas, que é a da miscigenação fácil e sua
adaptabilidade aos países para os quais migram. Ao
mesmo tempo em que desejam voltar à sua terra,
dificilmente o fazem pois se adaptam ao país onde
estão. Essa visão de um Brasil colônia de
enriquecimento fácil ainda podia ser notada nas
décadas de 30 e 40 do século XX, onde uma pesquisa

caius_c 278
mostrou que, por mais estabelecidos que estivessem
aqui, ainda existia a perspectiva de um retorno ao seu
país de origem. Essa teoria foi reforçada com o
atrelamento da economia do Brasil Imperial à Inglaterra
e depois com dominância americana após a Segunda
Guerra Mundial, quando os produtos brasileiros eram
inferiores aos importados devido, principalmente, à falta
de incentivo e proteção à indústria nacional. O produto
nacional indicava a qualidade do país em relação aos
outros.

Essa teoria produziu outra: a da exploração dos


governantes em cima dos governados. No Brasil colônia
os governantes eram portugueses, nos períodos que
seguiram até a era de Getulio Vargas eram submissos
aos ingleses e depois da Segunda Guerra aos
americanos. Essa oligarquia vinculada à outra Nação
assumiu como prática própria aquela ditada pelos seus
dominadores, considerando-se a si mesmos como
elementos dominadores e dando ao resto da população
a pecha de simples explorados. A visão colonizadora
dos antigos portugueses ou dos novos impérios
transferiu-se para os governantes e transformou-se junto
à população em uma individualidade que impede a
união para fins voltados para a sociedade.

A teoria da multiplicidade de raças diz que no


Brasil a heterogeneidade da sua população devido às
diferentes etnias, não produz um pensamento único e
isso acarreta distorções nas formas como a população
age face às necessidades nacionais. O exemplo mais
típico que usam nessa argumentação é a

caius_c 279
homogeneidade da população japonesa e seu
pensamento único. Dizem que o Japão do pós-guerra
somente conseguiu se reerguer devido à aparente
unicidade étnica o que lhes deu a vantagem de um
pensamento único voltado para a recuperação de seu
país.

A teoria da docilidade do povo brasileiro vem da


sua natural diversidade e de sua capacidade de
aceitação e convivência com outros povos. Presumo
que parte dessa teoria se deva ao fato do brasileiro ser
naturalmente cortês e nas premissas de Sergio Buarque
de Holanda, que definiu a identidade brasileira
resultante da colonização portuguesa voltada para a
afetividade em suas relações sociais do Brasil Colônia,
onde ele se relacionaria econômica ou politicamente
com aqueles com quem tivesse um envolvimento
emocional. Isso originou a assertiva de que o “brasileiro
é um povo fácil de se governar”.

Essas teorias esdrúxulas e sem sentido são


usadas como argumentos como explicação para a
aparente inércia da população em relação à atuação de
seus governos e são transmitidas informalmente,
produzindo um fenômeno que é a individualidade e a
incapacidade de acreditar nas camadas que governam o
país. Isso transforma o brasileiro em um ser cortês,
social e camarada, ao mesmo tempo em que ele não se
considera como parte de sua sociedade e termine por
usá-la apenas como forma de ascensão social. Essa
característica é passada pelas gerações através dessas

caius_c 280
teorias estranhas à sua própria índole e o transforma em
um ser individualista.

O brasileiro não é um soldado: ele é um


guerrilheiro solitário, com ideais apenas dele, que
espera na mira dormida, atrás de uma rocha, sua vítima
passar, conforme tão bem descrito por Euclides da
Cunha, no seu livro “Os sertões” e que despende sua
energia apenas nos momentos de luta. Com pouca
tecnologia e descrente de um poder estatal, ele se faz
valer por si mesmo e procura atingir apenas os objetivos
que se atribuiu. Ele evita confrontos diretos mas que não
se esquiva de uma luta onde seu rosto não apareça.
Ainda subsiste em sua mente a forma comportamental
da colônia onde os da terra eram obrigados a
reverenciar seus governantes alienígenas para não
perecer ao mesmo tempo em que procurava tirar para si
o melhor proveito. Essa aparente aceitação do poder
que recai sobre si lhe vale a fama de ser passivo frente
aos seus governantes. Mas a história brasileira está
recheada de eventos que contradizem frontalmente essa
afirmativa sobre sua passividade e que não lhe é
mostrada na educação formal. O que lhe mostram é a
imagem de um país com história serena, onde existiram
poucos conflitos e a maioria foi resolvida de forma quase
pacífica. A Educação formal faz da inverdade histórica
um motivo para que a população seja indiferente aos
seus governos e acentuem sua individualidade.

Nos países onde a educação formal é fraca,


deficiente ou inexistente, as mudanças de pensamento
são quase nulas. A educação informal é arraigada nos

caius_c 281
costumes e se transmite antes da formal através da
família. Essa educação aliada ao bombardeio contínuo
de uma mídia faz com que ela tenha tamanha força que
nem sempre é superada pela educação formal, quando
uma não está aliada à outra. Os interesses da mídia são
predominantemente econômicos e políticos. Se não
existe um interesse governamental em fazer com que
ela se torne uma forma de educação voltada para os
interesses da comunidade, ela atuará como elemento
amortizador de mentalidades e produtora de
individualidades.

O Estado é responsável pelo que circula na mídia


simplesmente porque a concessão desses serviços é
dada pelo próprio Estado, conforme disposto na
Constituição de 1988, no seu Capítulo V, da
Comunicação Social, embora a censura seja vedada.

No entanto, apesar de não poder existir censura,


o Estado tem o poder de regular o conteúdo através do
§ 3º do mesmo artigo e no artigo 221. Os princípios das
programações das emissoras serão os seguintes:

- preferência a finalidades educativas, artísticas,


culturais e informativas;

- promoção da cultura nacional e regional e


estímulo à produção independente que objetive sua
divulgação;

- regionalização da produção cultural, artística e


jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;

caius_c 282
- respeito aos valores éticos e sociais da pessoa
e da família.

Embora os meios de comunicação sejam de


propriedade privada, o Estado se outorga o direito de
regular suas programações e conceder concessões.
Isso faz que seja de sua responsabilidade o conteúdo
transmitido por esses meios.

O que falta, então, ao brasileiro para se afirmar


como uma única Nação? A primeira, com certeza, é
visão de sua essencialidade social, já que é
naturalmente disposto a isso. Sua aparente
individualidade é a forma que encontrou para se
proteger física e mentalmente de seus governos. Essa
visão somente pode ser inserida através da Educação,
tanto formal como informal, de tal forma que
desmistifique essa índole atribuída errônea e
historicamente a ele. O brasileiro precisa passar a se ver
como realmente é e essa visão de si próprio lhe dará
espaço para uma visão social.

A segunda é o surgimento de líderes que estejam


voltados para a totalidade do Brasil e não apenas para
seus grupos. Parece difícil que surja um líder com uma
mentalidade social dentro de uma sociedade
individualista. Realmente é difícil, mas o primeiro líder
seria especial, diferente de todos os outros. Os demais,
já imbuídos de uma mentalidade social, surgiriam
naturalmente da comunidade. Esse líder teria que ter
necessariamente um governante cujos anseios fossem
derivados diretamente do povo. Essa identificação seria

caius_c 283
a primeira base para o crédito a lhe ser dado ao mesmo
tempo em que lhe concederia a legalidade para sua
atuação.

A terceira fase e definitiva seria a formação de


uma mentalidade única voltada para o social. Com um
período histórico de crença em seus líderes, as
afirmativas da Nação passariam a ser do próprio
cidadão. Seria o exercício da soberania do cidadão em
conjunto com a soberania do Estado, o que o
transformaria em um Status Magnus.

Educação e a criança

O desligamento da criança de seu núcleo familiar


é cada vez mais precoce. Idealmente, uma criança
passa a sofrer influência de uma educação formal a
partir dos seus três anos quando ingressa no Jardim da
Infância. Nessa fase, pela própria estrutura do ser
humano, ainda existe uma forte ligação com os elos
fabricados dentro de si pela família. Toda criança tem
um tendência natural ao egoísmo que precisa ser
modificada através da Educação. Essa naturalidade, se
deixada à solta, gera a extrema individualidade e, em
casos extremos, a sociopatia.

Com o desligamento sucessivo da influência da


família, o indivíduo passa a ter outras, principalmente
através da educação que recebe formalmente e cuja
competência é do Estado.

A educação consiste em três partes:

caius_c 284
a) A socialização do indivíduo
b) A manutenção do modus vivendi da sociedade
c) Fornecimento de parâmetros para que o indivíduo
se modifique e a própria sociedade, quando
necessário.

A criança é naturalmente egoísta e o mundo gira


em torno de si própria. Se a deixarmos por conta sem a
necessária educação, ela tomará como adequado o
conceito de manada, onde o grupo existe apenas para
que o indivíduo possa dele se aproveitar e usa-lo
apenas em benefício próprio. Apesar de sermos animais
sociais, isso não nos dá o conceito natural de vivência
social. Essa naturalidade apenas nos agrupa e nos
mantém juntos, sem nos dar a consciência real do que
deveria ser viver em sociedade. Seriamos o equivalente
a um peixe dentro de um cardume ou um gnu dentro de
sua manada, ou seja, estaríamos juntos apenas como
forma de proteção e não como forma de uma mútua
convivência ideal. A primeira fase da educação é nos
fornecer sociabilidade e retirar de nós o natural egoísmo
com o qual nascemos.

Existe a necessidade da imposição da educação


por parte de uma instituição que esteja acima do
indivíduo, visto que por si só o indivíduo não a adquiriria.
Sendo dever do Estado e da família e sendo essas
instituições as mais adequadas para essa imposição,
nada mais natural que assim o façam. Sendo a família
uma entidade natural na qual o indivíduo nasce e cresce
e, depois procura formar sua própria, a educação é

caius_c 285
transmitida da mesma base natural da qual ela se
constitui. As gerações se sucedem dentro desse núcleo
e transmitem-na como uma herança.

A segunda base da educação é a de manter as


formas pelas quais nós nos identificamos e pelas quais
nos conduzimos. Uma sociedade precisa ter padrões
próprios e de conhecimento de todos. Se pensarmos em
uma sociedade onde cada um tem suas próprias formas
de se conduzir, teríamos uma pane no sistema social
pois a cada momento teríamos que fazer acordos com
nossos semelhantes e isso tiraria a capacidade de
sabermos antecipadamente como deveríamos nos
comportar ou agir em relação a outrem. Uma sociedade
é a extensão de um acordo coletivo aprendido,
geralmente através da família, e nos quais nos
baseamos para nossos comportamentos.

A segunda fase é de responsabilidade maior do


Estado que deve formalizar a condução da educação e
dar a ela uma simultaneidade na qual todos se
identifiquem naquele tempo e espaço como parte de um
grupo estável ao mesmo tempo em que uniformiza o
conjunto de conhecimentos e comportamentos que
todos deveriam ter. A educação familiar não tem esse
poder de uniformizar a educação visto que uma diverge
da outra em muitos pontos. Ao Estado compete
uniformizar as formas da educação, sua condução e sua
aplicação.

Essa uniformização da educação pode esconder


duas formas de manutenção de Estados totalitários:

caius_c 286
a) A não-educação como forma dos Estados
totalitários se manterem. Partindo da premissa
básica de que quanto mais o cidadão é
desinformado mais ele deixa se conduzir ou
aceita as pretensões dos grupos que compõe o
governo, o Estado nega a educação completa ou
apenas dá parte dela no que se refere ao
profissionalismo. No máximo, a sua intenção é a
formação de mão de obra especializada.

b) Modernamente, os Estados totalitários com base


marxista desvirtuada valeram-se da educação
para sua afirmação como Estado, uniformizando
e dando uma base ideológica única.

O desnível da educação afeta a própria soberania


do Estado ao dar bases distintas para o cidadão situar-
se dentro da sociedade. Sendo a educação um conjunto
de conhecimentos que dá condições sociais para o
cidadão, ao ser diferente de um para outro, gerará
distorções do modo de pensar, na forma de comportar-
se ou nas oportunidades que possa ou queira vir a ter. O
desnível gera indiferenças ou revoltas no indivíduo,
podendo provocar a negação do Estado como seu
condutor e, por conseqüência, nega-se o dever de
protegê-lo como algo que não seja seu. Ao escusar-se
do direito de defender o Estado como se fosse sua
extensão, a soberania do próprio Estado pode ser
ameaçada pois ela parte primeiramente do sentimento
do cidadão em relação à Nação. A soberania do cidadão

caius_c 287
dentro do Estado é a base e o reforço da soberania do
próprio Estado no que concerne às ameaças a ela.

Essas duas bases da educação são inerentes a


toda sociedade: primeiro socializamos o indivíduo e
depois damos a ele as bases sociais de comportamento.

A terceira base é aquela em que a educação


fornece condições para que o indivíduo use daquilo que
aprendeu, compare com as atuais necessidades e tente
promover mudanças próprias ou da sociedade em que
vive, buscando formas que darão um melhor contorno à
sociedade em que vive. È o conceito de tese-antítese-
síntese de Marx aplicado à forma de condução da
sociedade, onde uma situação concreta é analisada e
conduzida de forma abstrata até se chegar a um novo
conceito que passa a ser adotado. Esse novo conceito é
válido até o instante em que é novamente analisado
gerando um novo conceito e assim sucessivamente. A
complementaridade também cabe nessa base, onde
novos conceitos vão sendo trazidos para dentro do
conjunto pelo qual o indivíduo e a sociedade se regem.
O ensino das formas de se conduzir ao contraditório ou
à complementaridade é básico para que existam
mudanças ou adaptações. Uma das máximas das
teorias de evolução é aquela em que diz que perece
aquele que não se adapta. Com a sociedade também é
assim: a sociedade que não sabe adaptar-se
desaparece como tal. Sendo a sociedade um reflexo do
indivíduo e sendo o indivíduo o próprio reflexo da
sociedade, os dois devem estar preparados para usar

caius_c 288
das formas necessárias para progredirem
conjuntamente.

Sendo o Estado o regulador das ações sociais, é


certo dizer que a educação dita o contexto sobre o qual
a sociedade age e o Estado atua. A educação é a
essência do indivíduo e da sua transformação para o
estágio de cidadão, o que a transforma na própria
essência da sociedade.

Se o Estado quer progredir como tal deve fazer


com que o cidadão tenha a capacidade de avaliação da
situação e tenha habilidade em fazer com que ela
perdure ou se transforme de acordo com as
necessidades. Um Estado com cidadãos inertes terá a
mesma qualidade.

A educação e as velhas gerações

Um dos grandes problemas da educação é a


perda de gerações. Qualquer mudança que ocorra na
sua forma, ela tem início apenas nos cidadãos que
estão na idade adequada, ou seja, qualquer reforma que
temos na Educação somente terá reflexos, no mínimo,
daqui a 20 anos, visto que essas mudanças são válidas
apenas para as novas gerações. Hoje em dia, um
Estado que espera vinte anos para que novas idéias
comecem a surtir efeitos é um Estado que está fadado a
perder sua soberania ou a perecer simplesmente visto
que o tempo espera cada vez menos os retardatários. A
velocidade com que o mundo se conduz exige que os

caius_c 289
Estados tenham uma maior capacidade de adaptação
às formas como se faz presente.

Não se trata de um retorno aos bancos escolares


de todo e qualquer cidadão em uma reforma
educacional completa mas da veiculação através de
outras fontes da síntese de como ela se conduz e que
de ao cidadão as informações necessárias para que
todas as gerações possam se integrar no mesmo
movimento.

Educação não se resume aos bancos escolares


mas sim sobre uma gama vasta de informações que
produzem uma forma de agir e pensar em cada cidadão.
Uma Educação Reformadora precisa incutir capacidade
de raciocínio e discernimento no cidadão de modo que
ele tenha condições de avaliar e agir, quando
necessário, quando aquilo que lhe é apresentado não
lhe convém.

A educação e os educadores

Não existiria a educação se não existissem os


educadores. Por educadores podemos entender aquele
que transmite o seu conhecimento a outros, sob
quaisquer das formas, conferindo a ele o conhecimento
e a aptidão necessária para que possa construir-se e
aos que o cercam. No entanto, o educador na forma
ideal sempre tem que estar um passo adiante de seus
educandos. O eterno aprendizado faz parte da arte de
ser um educador.

caius_c 290
A educação formal e informal tem uma influência
preponderante sobre a atuação do cidadão sobre sua
vida futura. Por menos que se queira “traumatizar” uma
criança ou queira que ela tenha um começo de vida
“feliz e alegre”, isso pode levar a vida dela para uma
espécie de buraco negro de onde ela não escapará.
Existe uma diferença muito grande em parecer bom e
ser bom efetivamente. Nem sempre as atitudes que
temos para com uma pessoa podem ser consideradas
“boas” mas os reflexos dessa atitude geram coisas
boas. Não dispensar um treinamento duro e exaustivo
para um soldado, sabendo que ele terá que suportar
muito alem disso, é negar a ele o direito da própria
sobrevivência. Uma escola que não dá as condições
necessárias para que a criança se desenvolva e faça
com que ela tenha um desenvolvimento, será uma
escola vã, por onde a criança passará, onde não deixará
nenhum legado e da qual se lembrará apenas nos seus
momentos amargos de derrota, onde se lamentará por
não ter tido a instrução necessária para poder
sobreviver por si própria.

Na percepção individual ou coletiva da identidade,


a cultura exerce papel primacial para delimitar as
diversas personalidades, os padrões de conduta e ainda
as características próprias de cada grupo humano.

ANTONIO JOAQUIM SEVERINO, na sua


Filosofia da Educação – Construindo a Cidadania, diz
que o conjunto de produtos de representações
simbólicas e de procedimentos apresentados pelos
homens que não são decorrentes da atuação direta das

caius_c 291
forças mecânicas da natureza constitui o que se chama
de cultura. 228

Para o teórico MILTON SANTOS, o conhecimento


e saber se renovam do choque de culturas, sendo a
produção de novos conhecimentos e técnicas produto
direto da interposição de culturas diferenciadas com o
somatório daquilo que anteriormente existia. Para ele, a
globalização que se verificava já em fins do século XX
tenderia a uniformizar os grupos culturais, e logicamente
uma das conseqüências seria o fim da produção
cultural, enquanto gerador de novas técnicas e sua
geração original. Isto refletiria, ainda, na perda de
identidade, primeiro das coletividades, podendo ir até ao
plano individual. 229

A inserção de padrões errados no comportamento


ou na mente das pessoas e seu uso generalizado fazem
com que se tome como certo aquilo que é errado. O
mundo é feito de idéias. São elas que determinam o
comportamento. Idéias erradas promovem
comportamentos errados. Idéias corretas dão o melhor
nível sobre o qual se baseiam as relações sociais.
Jonathan Swift, em seu livro “As viagens de Gulliver”
descreve bem essa situação quando aporta em Lapúcia
e Balnibarbo, onde o conhecimento distorcido se
transforma em algo negativo para a sociedade.230

Como cultura não devemos apenas ver as


diferentes manifestações da sociedade ou sua forma de
conduzir. A cultura é a forma primeva na qual a
sociedade se acorda e sobre a qual os pensamentos

caius_c 292
dos indivíduos gravitam. A cultura deve ser vista como a
introspecção das formas de condução da sociedade. A
educação, em suas diferentes formas, se transforma em
comportamento e isso determina a cultura de cada país.

A Educação como fonte de soberania

À primeira vista, em função dos analfabetos e


desprofissionalizados, pode parecer que a educação
deveria ser dada apenas como forma de se alfabetizar e
dar condições de ganho à população através de uma
profissão.

A Educação não conseguirá resolver todos os


problemas do cidadão e também não é sua função
precípua. Sua função principal é dar aos cidadãos as
melhores ferramentas possíveis para estimular sua
participação dentro de uma sociedade, buscando que
ele faça o melhor para si e para a sociedade da qual
participa.

É certo que toda educação influi na economia do


cidadão e do Estado, no entanto, toda educação é
política. A Educação não deve buscar apenas a
formação profissional ou tentar moldar cidadãos
anuentes com a formação política do Estado. Apesar de
ser um dever do Estado, a Educação deveria estar
desvinculada da política vigente do Estado. A Educação
deveria ser usada para moldar o próprio Estado e não
ser usada para conformar a população dentro dos
parâmetros que o Estado estabeleceu para si.

caius_c 293
A Educação deveria basear-se em dois princípios:

a) Princípios econômicos ou de mercado, onde se


ensina e se dá condições para o cidadão de ter
uma profissão condizente com as necessidades
de mercado.

b) Princípios de cidadania, onde se fornece ao


indivíduo todas as possibilidades para que ele se
torne um cidadão ao mesmo tempo em que lhe
imbui a capacidade crítica tão necessária à
manutenção ou transformação da sociedade. A
Educação forma a soberania do cidadão e, por
extensão, a do próprio Estado.

Para se ter soberania é necessário que a


Educação seja vista como um todo, onde o cidadão
sinta-se como parte do Estado e o Estado se reconheça
como espelho da Nação que ele administra.

Algumas matérias deveriam ser introduzidas no


currículo escolar como Constituição, estudos sobre
Moral, Ética e História. A Constituição deveria ser dada
em doses homeopáticas em todos os anos até o
colegial. Esse estudo paulatino seria a forma mais
adequada de fixação das convenções do país, direitos e
deveres na mente do cidadão. Como ser cidadão de um
país se eu não conheço as linhas mestras de sua
condução? Esse estudo seria a base dos conceitos a
serem adquiridos sobre soberania e cidadania. Moral e
Ética deveriam ser matérias constantes no mesmo
currículo pois são bases do Direito e por conseqüência

caius_c 294
das obrigações e deveres do cidadão não somente sob
as penas da lei mas na forma de transferir para o íntimo
de cada um a necessidade de pensar e se comportar
tendo como referência um padrão aceitável por todos.
Por último, deveria existir uma mudança na matéria
História, dando ênfase ao seu lado crítico e formando-a
de modo que saibamos o que somos, de onde viemos e
para onde queremos ir.

Para que não existam perdas de gerações, o


ensino formal dessas deveria ser configurado de modo a
ser veiculado pela mídia nas suas diferentes formas
para que atinjam a todos. Não se trata de campanhas de
marketing mas sim de um ensino informal ministrado de
forma que aja compreensão e aceitação.

Não devemos esquecer que uma educação


somente existe quando se tem o empenho dos
educandos e educadores. Não reprovar alunos pelo
simples fato que isso se torna oneroso para o Estado ou
apenas para cumprir metas estabelecidas pelo Estado
ou pela comunidade internacional, ou, então, porque
algumas teorias esdrúxulas sobre educação afirmam
que não se deve exigir muito dos educandos, gera
apenas uma mentalidade subdesenvolvida nas duas
partes onde uma se exime de se dar da melhor forma
como educador e a outra parte se escusa de receber
conhecimentos que serão essenciais para sua
sobrevivência como profissional ou cidadão. Acreditar
que o mínimo de esforço pode produzir bons resultados
é negar que o ser humano necessita do árduo trabalho
para poder se promover e confundir as mentes com

caius_c 295
noções de que fazer pouco lhe trará algum benefício
pessoal. Ao se reprovar uma criança em determinada
matéria, o Estado não está agredindo-a ou lhe negando
qualquer direito. Pelo contrário, o Estado está dando a
ela mais uma chance de aprender aquilo que ela não
conseguiu da primeira vez.

Por último, deveria existir uma Escola para


Políticos, com reprovação e aprovação igual a todas as
demais. Quem quer governar um país precisa saber
como fazê-lo. A Política deveria ser uma carreira como
as demais, onde se deve ter o conhecimento para poder
exercê-la. O Estado precisa de pessoas preparadas
para ocupar os cargos que detém e esses devem estar
preenchidos com o que temos de melhor em material
humano. Os políticos seriam mais produtivos e mais
voltados à sua própria Nação se a entendessem como
parte de si mesmo e se vissem como substrato da
cidadania e da soberania.

Não existe uma fragilização da soberania por


causa das mudanças que ocorrem no mundo e que nos
atingem nas suas mais diferentes formas. O que existe é
a necessidade de conceituação de uma nova soberania.
A soberania estará cada dia mais virtual e com mais
parâmetros do que tinha até hoje. Não se trata apenas
da defesa de um território mas sim da defesa de idéias,
ideais e de um modo de vida que julgamos necessário à
nossa própria pessoa.

Sendo um sentimento e tendo suas qualidades,


ela seria etérea se não fosse uma necessidade como

caius_c 296
fundamento no modo de nos conduzir. O sentimento de
soberania define nossas pretensões sobre a forma na
qual queremos nos moldar.

Sendo um sentimento, ela deve ser imbuída


dentro de nós desde as primeiras idades para que
permaneça como elemento chave da composição de um
cidadão. Se for incutida desde nossos primeiros
momentos, o sentimento de soberania torna-se
referência para todos os nossos atos.

O único processo que pode incutir esse


sentimento de soberania é a Educação. Mesmo que a
educação seja um dever do Estado e da família, aquele
tem a força necessária para padronizar a educação e
dar os contornos necessários a ela. Ao padronizar a
educação, o Estado influi na Educação que a família
dará aos seus membros. O Estado se torna o promotor
e o mentor desse sentimento e repassa à família através
de seus próprios membros. Dessa forma, a
responsabilidade do Estado no que se refere à
Educação passa a ser total e o dever que a família tem
com relação à educação passa a ser o compromisso de
vigiar seus membros no que concerne à aquisição dessa
Educação. O Estado fornece a Educação e a família
assegura que seus membros a terão.

Com o devido processo educativo, a soberania


não se fragiliza e, sim, se reforça nas suas pretensões.
Com a educação adequada, o cidadão passa a ter
consciência das pretensões do Estado, que são o
espelho de suas próprias como cidadão.

caius_c 297
Afinal, qual o lucro da soberania? Se
necessitamos tanto dela, qual seria a sua maior
premissa? A principal premissa da soberania é a
liberdade. Sem ela, deixamos de ser humanos. Com ela
podemos ser o que quisermos. Há de se seguir adiante
como nunca se seguiu antes.

caius_c 298
Poder
"Não é o poder que corrompe
o homem. O homem é que
corrompe o poder." (Ulisses
Guimarães)

SALVETTI NETO define poder como a imposição


real e unilateral de uma vontade.231

AZAMBUJA adota a posição de Duguit ao


explicitar o poder e a autoridade como expressões de
ordem que reina no mundo físico e moral. Deriva da
própria natureza das coisas e não poderia ter sua causa
primária senão na inteligência e vontade suprema de
Deus.232

BONAVIDES diz que o poder representa


sumariamente aquela energia básica que anima a
existência de uma comunidade humana num
determinado território, conservando-a unida, coesa e
solidária. Ele entende que a força e a competência se
entrelaçam. A força é o poder de fato enquanto que a
competência é o poder de direito. Suas características
principais são a imperatividade, natureza integrativa do
poder estatal,capacidade de auto-organização, unidade

caius_c 299
e indivisibilidade do poder, princípio da legalidade e
legitimidade e a soberania. 233

AFONSO ARINOS define poder como a


faculdade de tomar decisões em nome da coletividade.
234

Para CELSO RIBEIRO BASTOS, o poder é


intrínseco a toda forma de organização, exercendo
funções de coordenação e coesão. É um fenômeno
social e bilateral porque decorre da união de duas ou
mais vontades. 235

Poder é a força pela qual o Estado afirma-se


sobre o indivíduo. Essa força, a princípio, é total. Tudo
pertence ao Estado. O Estado detém todas as
prerrogativas sobre o cidadão e o submete de acordo
com seu regime e forma de governo. No entanto, ele
próprio pode regulamentar sua ingerência sobre os
cidadãos.

O poder político nasceu junto com os grupos


humanos. Nestes primórdios, os grupos eram pequenos
e familiares. Entende-se que em um estado primitivo de
racionalidade, o poder somente existe através de uma
única liderança que se mantém pela força bruta.

Esta forma de liderança surgiu quando os


homens se tornaram predadores de grandes animais.
Entende-se que a individualidade em grupos de animais
herbívoros é maior do que em carnívoros. Isto explica-se
pelo simples fato que existe a necessidade, para se

caius_c 300
abater grandes presas, de uma cooperação ligada
através de uma forte liderança. Predadores que abatem
pequenas presas, mesmo que sejam sociais, não
necessitam da cooperação do grupo. Neste caso, o
grupo serve como suporte para sua sobrevivência.

Quando o homem passou a ter consciência de si


e, principalmente, da morte, surgiu uma segunda forma
de liderança: o xamanismo. Sem poder explicar os
fenômenos naturais e com medo de sua temporalidade,
buscou-se no espiritual o conforto necessário para sua
mente. Mesmo que as respostas não fossem exatas ou
claras, elas se tornaram explicações para muitos dos
problemas que afligiam o homem primitivo. Ao poder
temporal do líder do grupo juntou-se o poder espiritual
do xamã. Ambos passaram a regrar a vida social e
individual do homem. A sobrevivência pela caça e o
medo da morte deram início ao poder político.

Esta convivência histórica e biológica com estas


formas de liderança, produziu uma natural servidão no
homem comum. Por não mais poder viver de outra
forma que não fosse em social, por sentir que deveria
existir um ente que regulasse as relações humanas e
por acreditar que existia algo superior ao próprio homem
nesta condição, o homem passou a aceitar naturalmente
o poder político.

A servidão natural foi reforçada através da


criação de castas pelos indivíduos dominantes. A
liderança que era algo adquirido através de atributos
pessoais foi substituída pelo estamento.

caius_c 301
Este congelamento da posição social do indivíduo
promoveu uma distância muito grande entre os
dominados e dominadores. A relação que era essencial
para a sobrevivência de ambos desaprumou-se na
balança, favorecendo a classe dominante. Os
dominados passaram a ter que desempenhar as
funções para a própria sobrevivência ao mesmo tempo
em que tinham que manter a classe dominante no
poder.

Até a Revolução Industrial, o uso do poder


político deu-se, quase sempre, através da força
associada com a submissão cultivada através dos
estamentos. Com a industrialização os liames
estamentais foram se afrouxando, permitindo mobilidade
social. A partir deste ponto o poder formou-se pelo
domínio dos meios de produção, que eram controlados
por elementos que também detinham o poder político.

A associação direta do controle dos meios de


produção e do poder político por uma elite foi amenizada
quando passou a existir a produção em massa. Isto
permitiu que os equipamentos se barateassem e
pudessem ser adquiridos por pessoas que não estavam
ligados diretamente a esta oligarquia. Ocorreu uma
democratização dos meios de produção e isto permitiu
que eles se expandissem.

Esta expansão quebrou a hegemonia econômica


e política destes poucos grupos. No entanto, ela formou
novos grupos que passaram a disputar, também,o

caius_c 302
poder. Quando se fala de poder econômico, atualmente,
tem que se entender que ele muda de mãos
constantemente, de acordo com a capacidade ou
rapacidade das empresas ou grupos financeiros.

A efetiva democracia e o Estado Democrático de


Direito tiveram seu início quando a mobilidade social
passou a integrar o cotidiano do indivíduo, por conta da
própria democratização dos meios de produção. O
poder deixou de ser objeto exclusivo de alguns para se
tornar algo acessível a todos, dentro de um sistema
regulador de seu uso. Assim, o poder político passou a
ser algo que poderia ser partilhado.

O poder, dentro desta forma de governo, passa a


ser controlado e suas atribuições mudam. O poder
controla ao mesmo tempo em que é controlado. Seus
paradigmas são revistos para que seu uso retorne a
uma de suas condições mais primevas: o bem comum.

No Estado Democrático de Direito, a submissão


ao poder político se faz pela racionalidade e pela lógica
do direito, nunca pela coerção. O cidadão tem a exata
compreensão das forças que controlam a sociedade e
direciona-as para obtenção dos melhores resultados
para si próprio e aqueles que o rodeiam.

As forças do Estado sobre o indivíduo

O Estado exerce duas forças sobre o indivíduo:

a) Opressiva

caius_c 303
b) Liberativa

A força opressiva é aquela cujo domínio sobre o


cidadão é total. É o poder ilimitado sobre o indivíduo.
MAX WEBER afirma que o Estado é uma associação
política institucionalizada e especializada em
dominação. Para ele, o Estado é o único detentor legal
do uso da força.236 Esta força opressiva determina
apenas deveres ao indivíduo e as sanções para quem
não os observa.237

A força liberativa é aquela em que o Estado


estabelece padrões de vivência para o indivíduo de
forma aceitável pela sociedade. Quando ele faz isso,
concede direitos para o cidadão que pode, inclusive,
usá-los contra o próprio Estado.

Estas duas forças atuam sobre a liberdade do


indivíduo. Se considerarmos que o mais alto grau de
falta de liberdade é o autoritarismo estatal e o mais alto
grau de liberdade do cidadão é a anomia, a diferença
entre as forças liberativa e opressiva determinará em
qual ponto o Estado situa-se entre estes dois pólos. Em
tese, a democracia estaria no meio dos dois.

Isso também estabelece o grau de controle que o


próprio Estado exerce sobre si. Um Estado autoritário
entende que todas as vantagens têm que ser para si,
permitindo algumas para o indivíduo apenas quando ele
pode auferir maiores ganhos. Um Estado democrático
estabelece um padrão para que as partes se beneficiem
da convivência mútua.

caius_c 304
O poder atua de duas maneiras: a primeira é a
própria força do Estado sobre o indivíduo, ou seja, ele
usa de todos os seus meios para se fazer obedecido; a
segunda é a própria disposição do indivíduo em
submeter-se a ele, onde se entende que existem
vantagens dentro dessa obediência.

PLATÃO faz uma assertiva temerária ao dizer


que “nenhum governante, seja qual for a natureza da
sua autoridade, na medida em que é governante, não
objetiva e não ordena a sua própria vantagem, mas a do
indivíduo que governa e para quem exerce a sua arte; é
com vista ao que é vantajoso e conveniente para esse
indivíduo que diz tudo o que diz e faz tudo o que faz.” 238
Se considerarmos que uma das funções primordiais do
Estado é o benefício do cidadão e que o equilíbrio das
forças opressiva e liberativa é forma pela qual ele a
exerce, esta assertiva estaria correta. Qualquer
vantagem que o governante possa ter seria seu
pagamento pelos serviços que estaria prestando aos
governados.239

O poder que o Estado exerce sobre o indivíduo


pode ser de várias formas. Em um país autocrático, o
poder exercido é o da opressão, que engloba todas as
formas de policiamento e repressão, o que pode incluir a
violência. Em um país democrático, existe um equilíbrio
entre as várias formas, cujo objetivo é manter os
diversos poderes em igualdade para que nenhum possa
sobrepor-se ao outro e para que um exerça poder de
polícia sobre o outro.

caius_c 305
Teoria da separação dos poderes

Mesmo Esparta, que não pode ser considerada


como um ideal de democracia, temia o que se chamava
de tirania. Para evitá-la, dois reis eram eleitos para
governarem a cidade, vindo de duas famílias distintas,
Ágidas e Euripôntidas, que possuíam iguais poderes.
Esta forma de governo chama-se diarquia52. Seus
motivos eram simples: suprimir o poder absoluto de uma
só pessoa e ter um governo contínuo, caso um dos reis
viesse a faltar.

A idéia de separação dos poderes é antiga.


ARISTOTELES distinguiu a assembléia-geral, o corpo
de magistrados e o corpo judiciário. 240

Durante a monarquia, Roma foi governada por


rei, senado e Assembléia Curial. O rei era juiz, chefe
militar e religioso. No desempenho de usas funções,
submetia-se a fiscalização da Assembléia Curial e do
Senado. O senado era um conselho formado por
cidadãos idosos, responsáveis pela chefia das grandes
famílias. As principais funções do Senado eram: propor
novas leis e fiscalizar as ações dos reis. A Assembléia
Curial era composta de cidadãos agrupados em cúrias.
Seus membros eram soldados em condições de servir o
exército. A Assembléia tinha como principais funções:
eleger altos funcionários, aprovar ou rejeitar leis,
aclamar o rei.
52
Governo de duas pessoas.

caius_c 306
JOHN LOCKE estipulou que deveriam existir três
poderes: legislativo, executivo e federativo. No seu
conceito, o legislativo teria a máxima prerrogativa, sendo
auxiliado pelos outros. A ele competia prescrever as leis
de modo a serem utilizadas como poder coercitivo da
comunidade civil para sua preservação e de seus
membros. Seus representantes reunir-se-iam
periodicamente e apenas quando necessário. Para
evitar que esse poder se tornasse absoluto, não poderia
exercer outras funções - “não convém que as mesmas
pessoas que detêm o poder de legislar tenham também
em suas mãos o poder de executar as leis, pois elas
poderiam se isentar da obediência às leis que fizeram, e
adequar a lei a sua vontade, tanto no momento de fazê-
la quanto no ato de sua execução, e ela teria interesses
distintos daqueles do resto da comunidade, contrários à
finalidade da sociedade e do governo.”241

O poder executivo seria permanente e exercido


pelo rei. Ele garantiria a execução das leis à medida que
fossem feitas e durante sua validade. O poder federativo
teria a competência para fazer a guerra e a paz, ligas e
alianças, e todas as transações com todas as pessoas e
comunidades que estão fora da comunidade civil.

Foi MONTESQUIEU quem definiu a separação


clássica entre legislativo, executivo e judiciário. Ele diz
que “tudo estaria perdido se o mesmo homem, ou o
mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo
exercesse os três poderes: o de fazer as leis, o de
executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes
ou as querelas entre os particulares.”242

caius_c 307
Ensina ALEXANDRE DE MORAES que a
separação de poderes é essencial, tornando-se princípio
fundamental da organização política liberal, sendo
transformada em dogma pelo art. 16 da Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789: - “Toda
sociedade na qual a garantia dos direitos não está
assegurada, nem a separação de poderes estabelecida
não tem constituição.” 243

Em alguns países, o poder judiciário está


subordinado ao Executivo, embora tenha autonomia.

A idéia de separação de poderes tem origem nos


ideais democráticos. A concentração de poderes em
uma só pessoa ou em uma só instituição gera aquilo
que chamamos, de modo geral, de autoritarismo, em
todas as suas nuances. A separação dos poderes é a
garantia técnica e jurídica do Estado liberal.

No Brasil, o conceito da separação de poderes já


está imbuído na Constituição Outorgada de 1824, onde
se diz:

Art. 9. A Divisão, e harmonia dos Poderes


Políticos é o princípio conservador dos Direitos dos
Cidadãos, e o mais seguro meio de fazer effectivas as
garantias, que a constituição offerece;

Art. 10. Os Poderes Políticos reconhecidos pela


Constituição do Império do Brazil são quatro: o Poder

caius_c 308
Legislativo, o Poder Moderador, o Poder Executivo e o
Poder Judicial.

O Poder Moderador, teorizado por Benjamin


Constant, seria destinado a estabelecer o equilíbrio
entre os demais poderes e exercido pelo Imperador, ou,
ainda, seria a chave de toda organização política, ou
melhor, o fecho da abóbada, a cúpula do governo. 244

As Constituições de 1889, 1934, 1946, 1967 e


1969 consagram o princípio da tripartição dos poderes.
A de 1937, outorgada por Getúlio Vargas silencia-se
sobre o assunto, pois considera o Presidente da
República como autoridade máxima do país.

Esta tripartição dos poderes mantém-se na


Constituição Federal de 1988 onde se estabelece, em
seu artigo 2o., que “são Poderes da União,
independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o
Executivo e o Judiciário”. Cabe ressaltar que ela define
o Ministério Público como órgão autônomo face aos três
poderes.

A distribuição de poderes diversos entre


entidades ou pessoas distintas, desde que sejam
autônomos, promove, além da redução de atuação
absoluta de cada deles, uma necessária interação para
que o Estado possa exercer suas funções. Este sistema
é o que convencionou chamar-se de freios e
contrapesos, onde cada força equilibra a outra.

caius_c 309
Estas subdivisões é a forma atual mais adequada
para um Estado democrático. Sendo subdivisões do
poder total, cada um deles detém as mesmas
características, ou seja, todos carregam em seu bojo as
forças opressivas e liberativas que, aliadas à necessária
interação, transformam em termo médio as vontades de
cada um. O termo médio pretende ser a melhor resposta
para os problemas sociais ou estatais e busca evitar as
soluções extremadas.

Alguns autores, como MAGALHÃES, entendem


que existem outras modalidades de poderes, visto que,
no Brasil, alguns órgãos não estão subordinados a
nenhum deles, como o Ministério Público e os Tribunais
de Contas O Ministério Público tem uma autonomia
especial, que lhe permite proteger, fiscalizar o respeito à
lei e à Constituição, e logo, os direitos fundamentais da
pessoa, o patrimônio publico, histórico, o meio ambiente,
o respeito aos direitos humanos, etc. O Ministério
Público não pode estar vinculado a nenhum dos poderes
tradicionais, especialmente porque sua função
preponderante é a de fiscalização e proteção da
democracia e dos direitos fundamentais e não de
legislação, administração, governo, ou jurisdição. O
mesmo ocorre com os Tribunais de Contas, que embora
necessitem nova forma de escolha de seus membros
para que assumam este novo status, não podem
pertencer a nenhum dos poderes tradicionais para
exercer com eficiência sua função fiscalizadora. Para
ele, os poderes deveriam ser divididos em funções:
legislativa, jurisdicional, constitucional, administrativa,
governo, simbólica e fiscalização. 245

caius_c 310
Poder executivo

De acordo com a Enciclopédia Pastoralis, poder


executivo é o poder do Estado que, nos moldes da
constituição de um país, possui a atribuição de governar
o povo e administrar os interesses públicos, cumprindo
fielmente as ordenações legais.246

Poder executivo é aquele onde se concentra a


função administrativa do Estado. É o que cumpre ou faz
cumprir aquilo que foi determinado como sendo de
alguma vantagem para a sociedade e/ou Estado.

No caso da União, o poder executivo é exercido


pelo Presidente da República, auxiliado pelos seus
Ministros de Estado.53 Esse conceito é estendido aos
estados e municípios, nas pessoas do governador e
prefeito, além de seus secretários.

Apesar de serem separados, às vezes, os


poderes podem exercer funções de outros. Montesquieu
já previra isso em seu Espírito das Leis, inserindo o
poder de veto ao Executivo como forma de participação
no processo legislativo. Ao poder legislativo não caberia
nenhuma atuação sobre o Executivo - O poder
executivo, como já dissemos, deve participar da
legislação com sua faculdade de impedir, sem o que ele
seria logo despojado de suas prerrogativas. Mas se o
poder legislativo participar da execução o poder
executivo estará igualmente perdido. Se o monarca
53
Artigo 76, Constituição Federal de 1988.

caius_c 311
participasse da legislação com poder de decidir, não
haveria mais liberdade. Mas, como é necessário, no
entanto, que participe da legislação para se defender, é
preciso que tome parte nela com a faculdade de
impedir.247

No Brasil, além do poder de veto e sanção, o


Executivo obtém o poder de legislar através das
medidas provisórias. Eterna fonte de debates, as
medidas provisórias podem ser adotadas pelo executivo,
com força de lei, embora deva submetê-las de imediato
ao Congresso Nacional. Não sendo convertidas em lei
dentro de sessenta dias poderão ser prorrogados.
Mesmo não sendo aprovada após esse período, sua
força de lei permanece durante o tempo em que esteve
vigente.

O poder de veto é uma prerrogativa do sistema


de controle mútuo entre os Poderes: quando o
Presidente considerar um Projeto de Lei aprovado pelo
Congresso Nacional como inconstitucional ou contrário
ao interesse público, poderá vetá-lo total ou
parcialmente. Contudo, o veto presidencial poderá ser
derrubado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados
e Senadores reunidos em sessão conjunta, mediante
votação secreta.

Poder legislativo

As principais funções do poder legislativo são:


elaboração das leis e fiscalização dos atos da União, em
geral. As leis têm uma hierarquia onde a Constituição

caius_c 312
predomina. Os segmentos do poder legislativos são
federais, estaduais e municipais.

Para LOCKE, o poder principal era o legislativo.


Os demais dele derivariam e estariam a ele
subordinado. Entende-se hoje que os poderes são
iguais, harmônicos e independentes entre si.248

No Brasil, a expressão máxima deste poder


constitui-se da Câmara dos Deputados e Senado, que
formam o Congresso Nacional. Essa organização é
denominada bicameralismo.

Entre as atribuições privativas da Câmara dos


Deputados referentes à função de fiscalização exercida
pelo Poder Legislativo em relação ao Poder Executivo,
podemos citar as seguintes: autorizar, por dois terços de
seus membros, a instalação de processo contra o
Presidente e o Vice-Presidente da República e os
Ministros de Estado; proceder à tomada de contas do
Presidente da República, quando não apresentadas ao
Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a
abertura da sessão legislativa.

Já no Senado Federal, encontram-se entre suas


atribuições privativas as de processar e julgar o
Presidente e o Vice-Presidente da República , Ministros
de Estado, Comandantes das Forças Armadas,
Ministros do Supremo Tribunal Federal, Procurador-
Geral da República e Advogado-Geral da União nos
casos de crime de responsabilidade; aprovar operações

caius_c 313
de empréstimo externo da União, Estados, Distrito
Federal e Municípios, dentre outras.

O que distingue um de outro, basicamente, é que


a Câmara dos Deputados cuida dos interesses do
cidadão, nas suas mais variadas formas, enquanto que
o Senado atua em favor dos estados.

Poder judiciário

Ao poder judiciário compete julgar os conflitos de


acordo com as leis elaboradas pelo poder legislativo.
Cabe ao poder judiciário aplicar a lei – que é abstrata,
genérica e impessoal – a um caso específico.

Um dos princípios básicos do poder judiciário é


sua imparcialidade, ou seja, ele não pode favorecer
nenhuma das partes do conflito. Desse princípio deriva
outro, o da inércia, ou seja, o judiciário somente pode
atuar quando provocado; ne procedat iudex ex officio, ou
seja, o juiz não procede de ofício.

Outra característica básica do judiciário é a


jurisdicionalidade, ou seja, ele somente pode atuar
dentro de determinado território e função. Esta também
deriva do conceito de imparcialidade.

Ao Judiciário cabe a defesa da Constituição e das


instituições democráticas. A função de controle da
constitucionalidade das leis, dos atos da Administração
e das políticas públicas, não reflete, contudo, a
superioridade do Judiciário sobre o Legislativo ou

caius_c 314
Executivo, mas a supremacia da Constituição, sobre as
leis e atos administrativos. Neste controle, outros
poderes e o próprio Judiciário podem ser partes de um
litígio.

O Superior Tribunal Federal é o órgão que busca


a manutenção das leis dentro dos princípios
constitucionais. Entende-se que as leis devem estar
coadunadas com um suporte fático e quando se
extrapola o entendimento além do constitucional, é regra
que o STF defina sua conformidade com a Constituição
Federal. A própria criação das leis ou ela em si podem
ser confrontadas com estes princípios.

Cabendo ao Judiciário apenas o julgamento,


ainda ele tem alguns poderes que alguns classificam
como legislativos, como a promulgação de súmulas
vinculantes, que definem julgamentos para casos
padrões. Trata-se mais de um entendimento que busca
desafogar o Judiciário de casos repetitivos cujas
sentenças já estão sacramentadas. Isso pode gerar um
engessamento nas decisões monocráticas, porém, este
entendimento padrão pode ser questionado se existir
uma nova visão jurisprudencial sobre o assunto.

Sistema de freios e contrapesos54

O sistema de freios e contrapesos nada mais é do


que o controle que os poderes exercem sobre si, nas
suas mais variadas formas.

54
Checks and balances

caius_c 315
A idéia de controle, aqui entendido é tanto o
exercício como o resultado de funções específicas que
destinam-se a realizar a contenção do poder do Estado,
seja qual for sua manifestação, dentro do quadro
constitucional que lhe for adscrito.

DIOGO DE FIGUEIREDO MOREIRA NETO


entende que existem os seguintes controles: de
cooperação, de consentimento, de fiscalização e de
correção. 249

O controle de cooperação é o que se perfaz pela


co-participação obrigatória de um poder no exercício de
função de outro. Pela cooperação, o poder interferente
tem a possibilidade de intervir no desempenho de uma
função típica do poder interferido, com a finalidade de
assegurar-lhe a legalidade ou a legitimidade do
resultado por ambos visado.

O controle de consentimento é o que se realiza


pelo desempenho de funções atributivas de eficácia ou
de exeqüibilidade a atos de outro poder. Pelo
consentimento, o poder interferente satisfaz a uma
condição constitucional de eficácia ou de exequibilidade
de ato do poder interferido, submetendo-o a um crivo de
legitimidade e de legalidade.

O controle de fiscalização é o que se exerce pelo


desempenho de funções de vigilância, exame e
sindicância dos atos de um poder por outro. Pela
fiscalização, o poder interferente tem a atribuição
constitucional de acompanhar e de formar conhecimento

caius_c 316
da prática funcional do poder interferido, com a
finalidade de verificar a ocorrência de ilegalidade ou
ilegitimidade em sua atuação.

O controle de correção é o que se exerce pelo


desempenho de funções atribuídas a um poder de
sustar ou desfazer atos praticados por outro. Pela
correção pode-se suspender a execução, ou de
desfazer, atos do poder interferido que venham a ser
considerados carentes de legalidade ou de legitimidade.

Para que existam estes controles de um poder


sobre o outro, é imprescindível a normatividade em lei.
Esta inserção na lei deve atribuir explicitamente a
competência de cada poder sobre o outro e quais as
formas em que ela pode se manifestar.

A ingerência de um poder sobre o outro deve ser


o suficiente para que cada um deles esteja sob a
supervisão de outro ao mesmo tempo em que não
provoque engessamento na atuação de cada um deles.
Um controle somente é efetivo quando propicia garantia
de qualidade, eliminando desvios. Quando afeta a
efetividade ou eficácia torna-se lesivo ao próprio
produto. Como o produto dos poderes é o bem comum,
no momento em que o controle passa a afetá-lo, é
necessário que seja revisto.

Entende-se que a separação de poderes não


pode ser encarada como uma divisão do poder estatal,
devendo ser compreendida como funções do mesmo.

caius_c 317
Poder social sobre o Estado

Poder social sobre o Estado é aquele que emana


da sociedade e que tem a capacidade de influenciar sua
conduta. Ele pode produzir modificações, estabilidade
ou alterar a forma de governo. Devemos desconsiderar
desta definição aquele que é exercido pelos grupos de
pressão sem apoio popular. Embora emanem de setores
da sociedade, não refletem necessariamente a vontade
popular.

Sua forma mais radical é a revolução com apoio


popular, podendo até alterar a forma de governo do
Estado. Exemplos claros são a Revolução Russa de
1917 e a Revolução Francesa de 1789, onde o povo foi
fator fundamental para o sucesso das mesmas e onde
ocorreram mudanças de regime.

Esta forma de poder emerge, geralmente, por


conta das vicissitudes que o povo está passando, como
fome e perspectiva zero, a falta de credibilidade do
governo atual e o aparecimento de líderes carismáticos
que possuem uma base ideológica fundamentalista.

Ocorre um antagonismo crescente entre a massa


popular, guiada por seus líderes carismáticos, e um
governo fraco e repressivo. Este entende que precisa
demonstrar força para manter-se e provoca confrontos e
conflitos que aumentam a resistência contra si.
Provavelmente, se o rei Luiz XVI e o czar Nicolau II
cedessem em alguns pontos, distribuíssem comida para

caius_c 318
o povo e lhe desse alguma perspectiva, as Revoluções
Francesa e Russa não teriam acontecido.

A independência da Índia, promovida por


Mahatma Gandhi55, é um forte exemplo do poder social
sobre o Estado. Através da desobediência civil e de uma
ideologia fundamentalista pacifista, ele conseguiu unir
temporariamente as diversas facções políticas e
religiosas para obter a independência de seu país.

Menos espetacular mas com os mesmo


resultados é a força social que se manifesta aos poucos
e, num crescendo, atinge um clímax onde o Estado não
encontra outra alternativa a não ser aceitar mudanças
em sua estrutura. Ela deriva de uma insatisfação política
que espraia-se entre a população de forma quase
subcutânea até provocar atos que demonstram o
repúdio social ao regime. A ditadura militar imposta no
Brasil em 1964 foi sendo derrotada aos poucos através
de uma campanha sistemática que formou uma opinião
popular contrária até chegar a um ponto onde a
mudança de regime se fez necessária.

O poder social pode se manifestar de forma a


manter o sistema de regime. Ele existe em países onde
cujos governos mantêm a confiança dos cidadãos. Sua
ocorrência é mais manifesta onde a sociedade é
politizada e existe um alto padrão de vida. Nestes casos,
a vontade popular é que a estrutura do Estado não se
altere, pois qualquer mudança pode diminuir as
expectativas do indivíduo.
55
1869 - 1948

caius_c 319
As mudanças de costumes podem ser
consideradas como poder social, porque influem na
legislação do país, na interpretação da lei vigente ou no
tratamento que se dá a inúmeras situações que
envolvem a relação cidadão-Estado.

caius_c 320
Divisões do Estado
“O primeiro que, tendo
cercado um terreno, se
lembrou de dizer: Isto é meu,
e encontrou pessoas
bastante simples para o
acreditar, foi o verdadeiro
fundador da sociedade civil.”
(Rousseau) 250

Partindo do princípio que o Estado tem como uma


de suas características a complexidade, é comum que
ele subdivida-se para poder melhor administrar. Mesmo
em Estados absolutistas e tirânicos, onde existe uma
centralização de poder, existe a necessidade de fazer
com que o poder emanado do ponto máximo flua para
todas as camadas da população.

Estas divisões, geralmente, são feitas com base


no território, no tipo de poder e na área de interesse.

caius_c 321
Divisão por território

As divisões por território são as mais comuns.


Geralmente, elas partem do princípio da administração
por região. Traduzem-se como divisões ou subdivisões
do Poder Executivo. As mais extensas são os
estados, territórios e províncias.

O estado é uma unidade funcional político-


administrativa que detém relativa independência em
face ao Estado. Esta independência face ao Estado ou
Poder Federal pode ser inserida nas duas formas mais
comuns: a federação e a confederação.

A palavra federação vem do latim foederatione


que significa aliança ou união. Foi recebida na língua
portuguesa através do Frances fédération.

JELLINEK definiu confederação com a união


permanente e contratual de Estados independentes que
se unem com o objetivo de defender a território da
confederação e assegurar a paz inter, além de outras
finalidades que podem ser pactuadas; necessitando de
uma organização permanente, no caso o Poder Federal,
sem ferir a soberania dos estados, que se obrigam a
exercer em comum certas funções ou exercê-las em
casos determinados.251

caius_c 322
JOSÉ ADELINO MALTEZ entende que a
confederação é uma mera associação de governos que
instituem um órgão central que é encarregado da
política de segurança e da política externa, sendo
marcado processualmente pela regra da unanimidade e
pela existência de veto de cada estado, sendo que o
centro não pode mudar a divisão de poderes entre o
governo central e os subsidiários. Nas federações o
Estado detém o poder supremo, estando os demais
sujeitos ao poder central, embora detenham autonomia
na sua administração. 252

AZAMBUJA define federação com um Estado


formado pela união de vários estados, que perdem a
soberania em favor da União Federal. 253

IVO COSER ensina que “a definição


contemporânea de federalismo o apresenta como um
sistema de governo no qual o poder é dividido entre o
governo central e os governos regionais. O federalismo
é definido, em sua acepção positiva, como um meio-
termo entre um governo unitário, com os poderes
exclusivamente concentrados na União, e uma
confederação, na qual o poder central seria nulo ou
fraco. Por sua vez, a confederação é caracterizada
como uma aliança entre Estados independentes. O
governo central não poderia aplicar as leis sobre os
cidadãos sem a aprovação dos Estados, que seriam, em
última instância, a fonte da soberania. A diferença
essencial entre federação e confederação é que, na
primeira, o governo central possui poder sobre os
cidadãos dos Estados ou províncias que compõem a

caius_c 323
União sem que essa ação tenha de ser acordada pelos
Estados”. 254

As diferenças mais marcantes entre Federação e


Confederação são as derivadas do domínio que o poder
central exerce sobre os estados membros. Na
confederação pode existir o direito de secessão dos
estados-membros enquanto que na federação a união é
perpétua.

Cabe assinalar que os estados federados ou


confederados não dispõem de soberania externa, por
maior que seja a sua autonomia interna. Somente o
Estado dispõe desta prerrogativa. Eventualmente,
principalmente nas confederações, os estados-membros
podem ter algum poder para celebrar tratados
internacionais, desde que não contrariem a política
federal.

GEORGES SCELLE dispõe dois princípios


capitais do sistema federativo: a lei da participação e a
lei da autonomia. No primeiro, os estados-membros
participam dos processos que regem as políticas válidas
para toda a organização federal; no segundo, eles
podem estabelecer uma ordem constitucional própria,
desde que em observância à constituição federal. 255

Em um Estado Democrático de Direito entende-se


que a solução dos problemas deve partir das unidades
básicas, os municípios. Isso confere maior rapidez e
benefícios para o cidadão, pois existe um contato direto
entre estes dois entes. Quando o problema extrapola a

caius_c 324
municipalidade, cabe ao Estado-membro a autoridade
para resolvê-lo. Estando além de sua jurisdição, o
Estado é a entidade que deve se colocar em ação.

Territórios são unidades administrativas sem


poder de decisão. Estão subordinados diretamente ao
poder central ou a algum estado. Os poderes executivo,
legislativo e judiciário estão presentes, porém, são da
alçada da entidade que o controla. Sua autonomia é
relativamente baixa, concentrando-se mais nos
municípios e não dispõe de constituição própria.

As províncias seguem o mesmo padrão do


território com a ressalva de que sua vinculação com o
poder central é direta, podendo ser considerada apenas
como uma jurisdição. A palavra tem origem provável no
latim pro vicere, que significa respectivamente “em
nome de” e “controlar ou dominar”.

Os estados, territórios e províncias são macros


divisões do espaço geográfico cujo objetivo é melhor
controle da administração central para disseminação do
poder que se origina do Estado.

Em alguns países ainda existe a subdivisão em


condados, usada habitualmente como uma divisão
administrativa, como os Estados Unidos, a Irlanda e o
Reino Unido. 56

Abaixo do estado, território e província, vem a


divisão em municípios. Entre os antigos romanos, era a
56
Nos EUA, county, na Inglaterra shire.

caius_c 325
cidade que tinha o privilégio de se governar segundo
suas próprias leis. O município engloba uma cidade,
suas vilas e uma extensão geográfica limitada por
outros. O município é dotado de personalidade jurídica,
tendo certa autonomia administrativa e órgãos político-
administrativos próprios. Também pode ser denominado
concelho, como em Portugal. No Brasil, o órgão
administrativo máximo é a prefeitura e o legislativo é a
câmara municipal.

Divisão por tipo de poder

O Estado pode ser dividido por tipo de poder. Os


estados são as divisões dos Poderes Executivo e
Legislativo. Explica-se isto pelo fato de que os mesmos
estão obrigatoriamente presentes em todos eles e nas
cidades que os compõe. Esta presença é que consolida
a autonomia dos mesmos dentro de parâmetros
estabelecidos.

Uma das características do Poder Judiciário é a


sua inércia, ou seja, ele tem que ser provocado para
atuar face a um conflito, diferente dos demais poderes.
Esta característica dá-lhe jurisdição ou poder sobre a
matéria do conflito e não sobre a população em si.
Sendo assim, sua divisão pode extrapolar a
territorialidade e adotar critérios próprios para sua
atuação.

No Brasil, comarca é uma divisão judiciária que


designa um território específico que delimita a
competência de juiz ou Juízo de primeira instância,

caius_c 326
podendo ultrapassar os limites de um município e
englobar outros.

Dentro das comarcas e dos juízos existem as


varas que são o território de competência da prestação
jurisdicional por tipo. Como exemplo, podemos citar
varas de infância, cível, criminal, juizados especiais, de
família, etc. O agrupamento de comarcas é a
circunscrição e sua divisão é o distrito judiciário.

Dentro do sistema judiciário, os Tribunais de


Justiça são aqueles que detém poder jurisdicional sobre
os Juízos. É onde se pode recorrer das sentenças
proferidas por juízes de primeira instância. Os Tribunais
de Justiça são órgãos colegiados constituídos de juízes
de segunda instância, denominados desembargadores.

O Superior Tribunal de Justiça é um dos órgãos


máximos do Poder Judiciário no Brasil. Sua função
precípua é zelar pela uniformidade de interpretações da
legislação federal brasileira. O Superior Tribunal Federal
é responsável pelo julgamento das matérias
constitucionais. Além destes, ainda existem os Tribunais
Regionais do Trabalho, os especializados na Justiça
Militar e na Justiça Eleitoral.

A divisão do Poder Judiciário é feita por matéria,


podendo manter ou criar uma territorialidade própria.

caius_c 327
Divisão por área de interesse

O Estado também pode ser dividido por áreas de


interesse econômicas ou tributárias. Igual ao Poder
Judiciário, estas áreas podem extrapolar a comum
divisão executiva e legislativa dos Estados, porque
abrangem extensões delimitadas por objeto.

Usualmente são órgãos criados para o fim que


distribuem a competência de seu território, que pode
englobar apenas parcela distribuída da população
dentro de uma faixa pré-concebida.

A divisão em regiões econômicas do Brasil é um


exemplo desta divisão por área de interesse: sul,
sudeste, nordeste, norte e centro-oeste. Esta divisão,
quando criada em 1969 pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, levou em conta, principalmente,
as condições geográficas. No entanto, devido às
disparidades econômicas entre eles, tentou-se fomentar
a igualdade através da atuação de órgãos como a
nascida SUDENE57 e recriada com o nome de ADENE58
em 2002, cuja função principal deveria ser a de
promover o desenvolvimento econômico da Região
Nordeste.

Dentro destas áreas de interesse pode existir


uma união de vários municípios ou Estados para
administração de um bem comum, como no caso de rios
e bacias hidrográficas.
57
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste.
58
Agência de Desenvolvimento do Nordeste

caius_c 328
Cabe, também, no conceito de divisão por área
de interesse, as reservas e terras indígenas, que são
territórios tutelados pela União, conforme § 2o. do
capítulo II da Lei 6001, de 19 de dezembro de 1973,
onde se permite que as tribos mantenham suas
tradições, suas leis e seu modo de vida desde que não
ofensivos à Constituição.

Podemos acrescentar o Ministério Público como


divisão do poder do Estado por área de interesse, visto
que sua competência é nacional e sua autonomia é
própria, não estando vinculado a nenhum órgão.
Embora tenha fortes vínculos com o Poder Judiciário,
com este não se confunde por ser um órgão
predominantemente fiscalizador.

caius_c 329
A tirania
“Tu serás sempre, ó Poder,
destituído de piedade, e
capaz de tudo!” (Ésquilo)256

Introdução

Na tirania, o cidadão é refém do Estado. Toda e


qualquer instituição estatal foi criada para controle do
Estado sobre o mesmo, não cabendo quase nenhuma
proteção para aqueles que não se submetem aos seus
ditames. Não há garantias de direito e as leis são
ditadas como forma de proteção ao Estado.

A tirania engloba muitas facetas mas o que


predomina é a concentração de poder em uma única
pessoa e negação de direitos aos que estão abaixo
dela. Geralmente, existe uma minoria privilegiada
agregada ao tirano que o auxilia no exercício do poder,
existindo um forte estado policial, sendo que a liberdade
de expressão é reprimida.

A tirania e suas diferentes facetas é regra na


condução do Estado; as formas democráticas são a
exceção.

caius_c 330
Estabelecemos a tirania como gênero de governo
onde não existe o poder de escolha dos governantes
pelos governados. As espécies são múltiplas, cabendo
definições próprias para cada uma pois tem formas
específicas onde se instala.

Conceito

ARISTÓTELES considera a tirania como uma


forma degenerada de governo, onde o poder é
controlado por uma só pessoa.257 Este conceito, na
época, ainda não tinha conotação pejorativa atual. Este
controle do poder por uma só pessoa não era visto,
necessariamente, como uma instituição abusiva ao
povo. Para Aristóteles, que entendia que a democracia e
a oligarquia eram as formas mais corretas para o
exercício do poder, o uso deste por uma só pessoa
configurava uma aberração. 258

Para ALVARO PAIS59, tirano é aquele que é o


dono da força; o que oprime; o que não rege pela
justiça; aquele que não possui justamente o poder, mas
o usurpa; aquele que quer ser temido e busca os
interesses pessoais; aquele que domina com a paixão
da ambição e aquele que rouba os bens dos súditos.
Perante Deus, o tirano é o fugitivo da face do Senhor;
aquele que não governou segundo a vontade do
Senhor; aquele que edificou uma torre que o Senhor
detestou; aquele que transgrediu a lei da natureza;
aquele que fez opressões e mortes e o apóstata daquilo
que devia fazer a seus irmãos.259
59
1275/1280 - 1349

caius_c 331
MAQUIAVEL não questiona sobre a ilicitude da
tirania. Para ele, desejoso de ter uma Itália unificada,
seria a forma mais prática para estabelecimento do
poder.260

JOHN STUART MILL60 entende que pode existir


tirania dentro da democracia, que ele chamou de “tirania
da maioria”, quando os interesses das minorias são
relevados por uma maioria eleitoral. Esta maioria
entende que não cabem direitos ou formas de proteção
para aqueles que não pertencem ao seu grupo. Como
exemplo podemos citar o Partido Revolucionário
Institucional (PRI), do México, que governou o país de
forma ininterrupta de 1929 a 2000. Em 1990, o escritor
peruano Mario Vargas Llosa, chamou o México de “a
ditadura perfeita”. 261

Para AZAMBUJA, a tirania é um mau governo,


que visa exclusivamente o interesse do governante em
prejuízo dos interesses dos governados.262

Absolutismo clássico

O absolutismo clássico é aquele em que um


soberano único engloba todos os poderes. Este
soberano ascende ao trono por conta de hereditariedade
ou direito consangüíneo.

60
1806-1873

caius_c 332
Segundo MERKL, o direito pública esgota-se num
único preceito jurídico, que estabelece um direito
ilimitado para administrar, estruturado sobre princípios
segundo os quais quod regi placuit lex est61, the king
can do no wrong62, le roi ne peut mal faire63. Ele
denominou esta forma de governo de Estado de
Polícia.263

O rei não pode ser submetido aos tribunais, pois


seus atos se colocam acima de qualquer ordenamento
jurídico. O absolutismo clássico está imbuído da
premissa de que a realeza deriva da vontade de Deus, o
que o torna imune a qualquer crítica ou interferência de
outras pessoas.

Este conceito de divinização da realeza está


disseminado, inclusive, pela população. A história conta
que, após o enforcamento de Tiradentes, um dos
religiosos falou, tomando um tema do Eclesiastes264 – in
cogitatione tua regi ne detrahas, quias aves coeli
portabunt vocem tuam.64 Esse pensamento traduz a
aceitação tácita da palavra do rei como forma de lei.

As Ordenações Afonsinas comparam os crimes


de lesa-majestade com a hanseníase : -“Lesa-majestade
quer dizer traição cometida contra a pessoa do Rei, ou
seu Real Estado, que é tão grave e abominável crime, e

61
O que agrada ao rei tem força de lei
62
O rei não pode estar errado, no sentido de que o rei nunca erra.
63
O rei não pode estar errado, no sentido de que o rei nunca erra.
64
Não atraiçoes teu rei nem em pensamento. As próprias aves levar-te-iam
o sentido deles.

caius_c 333
que os antigos Sabedores tanto estranharam, que o
comparavam à lepra; porque assim como esta
enfermidade enche todo o corpo, sem nunca mais se
poder curar, e empece ainda aos descendentes de
quem a tem, e aos que ele conversam, pelo que é
apartado da comunicação da gente: assim o erro de
traição condena o que a comete, e empece e infama os
que de sua linha descendem, posto que não tenham
culpa.”265

Basicamente, entende-se que a realeza é divina


porque a escolha do governante via hereditariedade
somente é possível por graça de Deus. A supremacia de
um sobre outros deriva de um poder superior que exerce
sua escolha pró um indivíduo. As literaturas, profanas ou
as consideradas sagradas, sempre trazem a figura do
“escolhido” que é aquele que regerá determinado povo
ou Estado. Esta “escolha” é sempre feita por entidade
superior ao “escolhido”, que vislumbra nele as
qualidades necessárias para exercer liderança. Estas
qualidades são transmitidas aos descendentes via
hereditariedade, estabelecendo um padrão de
divinização para todas gerações.

Fascismo

O conceito de fascismo, a princípio, é o de um


Estado controlado por corporações regidas pelo Estado,
dirigido por um único indivíduo. Posteriormente, o
conceito estendeu-se a qualquer forma de governo ou
liderança totalitária. Popularmente, costuma designar

caius_c 334
pessoa que tenta impor-se somente através de
autoridade.

Para BENITO MUSSOLINI o Estado deveria ser


dirigido por um ditador. Sua idéia de Estado
Corporativista englobava três instituições: O Grande
Conselho e as Milícias que atuariam no plano político,
além das Corporações que seriam instituições estatais
para controle da economia – “O corporativismo é uma
economia disciplinada e portanto, controlada, pois não
se pode pensar em uma disciplina sem o devido
controle.”266

Para que o corporativismo fosse aplicado, três


condições eram necessárias:

a) Um partido único
b) Um Estado totalitário
c) Um período de altíssima tensão ideal

Por período de altíssima tensão ideal deve-se


entender a repressão interna aos dissidentes e
conquistas territoriais externas. O partido único é
derivado da necessidade existente em todo Estado
totalitário de manter sua supremacia sem oposição.

As corporações são definidas como instrumentos


que, sob a égide do Estado, realiza a disciplina integral,
orgânica e unitária das forças produtoras, em vista do
desenvolvimento da riqueza, da força política e do bem
estar do povo. O número delas pode variar em
conformidade com as necessidades do Estado. Um

caius_c 335
Conselho Nacional de Corporações substitui as casas
legislativas como fonte de leis.

O Estado, no fascismo, é intervencionista em


todas as áreas, principalmente a econômica. No plano
político, não se discute a autoridade do governo.

Nazismo

O nazismo foi um regime político instaurado em


1934 na Alemanha por Adolfo Hitler e que se inspirava
no fascismo italiano de Mussolini mas levado a um grau
mais extremo. Além das características fascistas
(totalitarismo, nacionalismo, militarismo, imperialismo,
culto da personalidade e repressão violenta), o nazismo
defendia também o anti-semitismo e o racismo
(considerava a raça ariana, de que os alemães seriam
os melhores representantes, como superior a todas as
outras). Atualmente, o termo nazismo é utilizado para
designar todos os ideais racistas e nacionalistas
violentos.
Sua característica mais marcante foi a submissão
total à personalidade do Führer, que em alemão significa
o "condutor", "guia", "líder" ou "chefe" e que deriva do
verbo führen “para conduzir”. Todo e qualquer integrante
das forças armadas era obrigado a fazer o seguinte
juramento: “Faço perante Deus este sagrado juramento
de que renderei incondicional obediência a Adolf Hitler,
o Führer do povo e do Reich alemão, supremo
comandante das forças armadas, e de que estarei
pronto como um corajoso soldado a arriscar minha vida
a qualquer momento por este juramento." 267

caius_c 336
Componentes místicos também foram
acrescentados a este regime. A própria suástica, seu
símbolo mais visível e lembrado, tem uma história
bastante antiga na Europa, aparecendo em artefatos de
culturas européias pré-cristãs. No começo do século XX
era largamente utilizado em muitas partes do mundo,
considerado como amuleto de sorte e sucesso. Entre os
nórdicos, a suástica está associada a uma Runa, Gibur,
ou Gebo.

Ela reapareceu num reconhecido trabalho


arqueológico de Heinrich Schliemann, quando descobriu
esta imagem no antigo sítio em que localizara a cidade
de Tróia, sendo então associada com as migrações
ancestrais dos povos "proto-indo-europeus" dos Arianos.
Ele fez uma conexão entre estes achados e antigos
vasos germânicos, e teorizou que a suástica era um
"significativo símbolo religioso de nossos remotos
ancestrais", unindo os antigos germânicos às culturas
gregas e védicas.268

Os nazistas utilizaram-se destas idéias, desde os


primórdios dos movimentos chamados "völkisch",
adotando a suástica como símbolo a "identidade ariana"
- conceito este referendado por teóricos como Alfred
Rosenberg, associando-a às raças nórdicas - grupos
originários do norte europeu. 269

Para referendar este regime foram utilizados


elementos filosóficos, principalmente os de Niestche.
Convém destacar que muito de suas idéias foram
adaptadas ou reescritas de maneira a servirem como

caius_c 337
base para o mesmo. Dizem que uma de suas filhas foi a
principal modificadora de seus escritos, tentando captar
as atenções dos dirigentes nazistas para si.

O racismo e o anti-semitismo foram responsáveis


pelo chamado Holocausto, onde milhões de judeus e
integrantes de grupos considerados como inferiores
foram sistematicamente eliminados.

Prevaleceu, também, a idéia da eugenia, onde se


buscou estabelecer um padrão de raça, dita ariana, com
biótipos elencados, cuja função seria a de governar os
demais povos.

Teocracia

Pode parecer estranho incluir a teocracia nos


regimes totalitários mas isso tem razões de ser. A
teocracia não permite liberdade de escolha no quesito
religião. Isso, por si só, já confere a ela seu caráter não-
democrático.

A lei maior na teocracia são os ditames contidos


em algum livro, considerado sagrado, e todas as leis
que derivam dela tem que ser adequadas à religiosidade
contida na mesma.

As crenças incluem dogmas que não costumam


ser alterados pois são considerados como advindos de
entidades superiores ao homem e, portanto,
inquestionáveis. Isso imputa a estas leis um caráter não-
adaptativo às modificações que ocorrem na sociedade.

caius_c 338
Essa rigidez impede que novos conceitos sobre direitos
ou deveres, principalmente os relativos aos direitos
humanos, sejam protegidos pelo Estado.

Grande parte desses livros, que regem a lei e a


religiosidade, foi escrita em épocas remotas, e sua
configuração não lhes confere a atualidade que exige-se
nas leis.

Comum nessa forma de governo é o


estabelecimento de oligarquias surgidas entre aqueles
que são detentores do direito de serem intermediários
entre o homem e seu deus. Cabe, em alguns casos, o
estabelecimento de um governante supremo que tem o
poder de comandar todos os aspectos do homem,
desde o físico até o espiritual. Não existe a possibilidade
de questionamento dos governantes pelo simples fato
de que sua palavra é derivada de uma ordem divina que
se estende a todos.

Muitas crenças e religiões estabelecem castas ou


hierarquias com base em sexo, cor, idade e outros. A
liberdade feminina, como exemplo, é tolhida por muitas
delas, justificando uma natural submissão ao homem
através de elementos contidos em livros sagrados.
Naquelas em que se estabelecem castas, a imobilidade
social é determinada pelo nascimento. Em outras, os
elementos jovens da sociedade não são capazes de
decidirem seus destinos. Algumas não fornecem suporte
para aqueles que adentraram demais na idade. Esse
determinismo social, onde as pessoas estão fadadas a
um destino previamente traçado por conta de

caius_c 339
nascimento ou outro qualquer, isenta o Estado de
qualquer tratamento igualitário.

O Estado laico, ao contrário, não privilegia


nenhuma instituição que possa tomar seu controle. Isso
exclui a possibilidade de que suas determinações sejam
baseadas em situações que não sejam de fato. No
Estado Democrático de Direito, a busca pelo bem
comum supera todas as barreiras criadas pelas crenças
ou religiões. Existe maior adaptabilidade dos meios para
se conseguir os fins.

Stalinismo

O stalinismo surgiu adaptando as teses de Lênin


para um Estado totalitário, cuja prevalência se deu pela
violência e opressão. Seu fautor, Stalin65, fazia parte do
staff comunista russo subordinado à Lênin. Após a
morte deste, em 1924, Stalin apossou-se do poder,
expurgando os membros do partido que pudessem
fazer-lhe qualquer oposição. Sua regra básica era o
envio dos dissidentes aos campos de concentração
localizados na Sibéria, denominados gulags66, que
também serviam para punição de crimes comuns.
Diferentemente do modelo maoísta, não existia
possibilidades de retratação ou reincorporação aos
quadros do governo ou do partido.

65
1878-1953
66
Abreviatura, em russo, para “Administração Geral dos Campos de
Trabalho Correcional e Colônias”

caius_c 340
O comunismo, inspirado nas teorias de Marx e
implantado por Lênin, serviu de apoio ao totalitarismo,
dando subsídios para implantação de um estado policial.
Uma burocracia centralizada foi implantada com duas
finalidades: controle dos cidadãos e emperramento de
qualquer atividade que pudesse se voltar contra o
Estado. Uma hierarquia rígida estabeleceu-se, onde
somente os membros do partido poderiam ter acesso às
estruturas governamentais onde qualquer ascensão ou
promoção somente poder-se-ia dar através do
consentimento político.

Essa forma ideológica de comunismo deu-se


inicialmente nos meios industriais de produção,
estendendo-se depois para os campos com a
coletivização das propriedades. Parte deste impulso
industrial surgiu para impedir a tomada da Rússia pelos
nazistas, com estabelecimento de fábricas de armas e
munições onde as principais características dos
produtos eram a resistência, a simplicidade e o baixo
custo, aliadas a formas rápidas de produção. Tornaram-
se famosos seus tanques T-34 produzido a partir de
1940 que foram responsáveis, em grande parte, para o
avanço sobre a Alemanha nazista e para a manutenção
dos estados controlados pela União Soviética. Os fuzis
AK-47, produzidos a partir de 1947, tornaram-se a arma
de fogo mais usada em combates no mundo inteiro e
símbolo de povos em luta.

O avanço do stalinismo deu-se durante a


Segunda Guerra Mundial, após a derrocada nazista na
Batalha de Stalingrado que permitiu o avanço das tropas

caius_c 341
russas até Berlim. Alguns Estados liberados, como a
Polônia e Ucrânia, foram anexados como parte da então
chamada União Soviética e tiveram que assumir uma
posição subserviente ao poder emanado por Moscou.

A União Soviética foi uma barreira de países


criados para a proteção da Rússia contra seus inimigos
representados pelos Estados Unidos e pela democracia
européia. O pós-guerra trouxe uma nova divisão do
mundo. que entendia-se como ideológica. entre
comunismo e capitalismo, embora a realidade tenha
mostrado que era apenas uma nova forma de domínio
colonialista. Por força do equilíbrio de armas,
principalmente atômicas, instalou-se o que se chamou
de Guerra Fria, onde as disputas eram travadas em
países do terceiro mundo.

O stalinismo durou enquanto Stalin se manteve


no poder, entre 1928 e 1953. Este período foi
magistralmente retratado por George Orwell em seu livro
“A Revolução dos Bichos”270 e o terror existente nos
gulags por Alexander Soljenítsin, em seu livro
“Arquipélago Gulag”271, cuja dedicatória já evoca o
sofrimento contido em suas páginas - "Dedico este livro
a todos quantos a vida não chegou para o relatar. Que
eles me perdoem não ter visto tudo, não ter recordado
tudo, não me ter apercebido de tudo."

Seu sucessor, Nikita Serguêievitch Khrushchov67


abrandou o regime mas manteve o estado de Guerra
Fria e a divisão política do mundo.
67
1894-1971

caius_c 342
Maoismo

No pensamento de Lênin a tomada do poder


deveria dar-se pela violência através de uma guerra
civil. Depois de estabelecido, o governo poderia
implantar uma política comunista. O maoísmo partiu do
princípio que o primeiro passo seria a tomada do poder
nos campos, estrangulando as cidades e forçando sua
rendição.

Desde princípio surgiu o principal foco do


comunismo chinês que era o controle absoluto dos
campos através da coletivização supervisionada pelo
governo. O esvaziamento das cidades impediu que um
número suficiente de pessoas pudesse ser reunido para
promover grandes manifestações ou possíveis revoltas.
Este modelo serviu para outros países asiáticos em
suas lutas. Esta coletivização provocou uma grande
fome e mortandade por conta da desorganização de seu
implemento.

A China isolou-se tanto política como


ideologicamente de outros países. Seu governo
embasado em uma nova ideologia, agora denominada
marxismo-leninismo-maoismo, estava distante da
praticada pela Rússia e sua fraca produção industrial
neste período não representava ameaça aos países
capitalistas. O fechamento de suas fronteiras contribuiu
para que fosse encarada apenas como um gigante
inerte, sem pretensões hegemônicas.

caius_c 343
A China, ao contrário da União Soviética, primou-
se por tentar manter a pureza ideológica de seu regime.
Os dissidentes eram reeducados em campos especiais
e poderiam retornar ao partido desde que fossem
considerados como efetivamente adeptos do sistema. O
caso mais célebre é o do imperador Puh Yuh que foi
“reeducado” e terminou seus dias como jardineiro. Puh
Yuh foi conivente ou aliado dos japoneses quando de
sua invasão da Manchúria, durante a Segunda Guerra
Mundial.

Acreditando que a pureza ideológica era


essencial para que o regime implantado fosse
consolidado, Mao Tse Tung68 iniciou o que se chamou
de Revolução Cultural.

A Revolução Cultural da China69, ocorrida entre


1966 e 1967, levou milhares de jovens a iniciar um
movimento cujo objetivo era manter o fervor
revolucionário e um estado constante de luta e
superação. Tendo em mãos o Livro Vermelho que
sintetizava os pensamentos do seu líder Mao Tse Tung,
estes jovens, basicamente da Guarda Vermelha,
tomaram fábricas, coletivizaram o campo, expurgaram
membros do partido considerados como reacionários ao
mesmo tempo em que eliminaram toda e qualquer
resistência ao sistema de governo. Um dos resultados
da Revolução Cultural foi a quase extinção dos cursos
superiores na China.

68
1893-1976
69
Também chamada Grande Revolução Proletária ou Desabrochar das
Cem Flores

caius_c 344
Após a morte de Mao Tse Tung, a China entrou
em um processo de industrialização que a tornou uma
das maiores potência econômicas da atualidade. Mais
flexível e menos isolada, tornou-se um pólo exportador
de produtos cuja concorrência afetou os países de
primeiro mundo.

Com as reformas iniciadas por Deng Xiaoping em


1978, a ideologia maoísmo abrandou-se e pode-se dizer
que se tornou meramente decorativa dentro do governo
chinês.

Castrismo

Ousamos dizer que o castrismo somente existiu


por conta de dois fatores: o primeiro foi a recusa
americana em apoiar um governo comunista que
acabara de depor Fulgêncio Batista, um ditador aliado, e
o segundo foi a mitificação da Revolução Cubana
através da morte de um de seus líderes: Che Guevara.

Che Guevara70 tornou-se símbolo de rebeldia e


sua figura ainda é estampada em camisetas de grupos
que se consideram inovadores ou rebeldes. Sua missão
de propagar a revolução pelo continente sul-americano
foi frustrada pela sua morte nas selvas bolivianas.

Fidel Castro tornou-se ditador cubano em 01 de


janeiro de 1959, após a fuga de Batista de Cuba,
derrotado pela guerrilha que se iniciara no final de 1956.
70
1928-1967

caius_c 345
Por conta de seu pequeno território e indústria
incipiente, a Revolução Cubana lastreou-se pela
produção de açúcar, sua maior fonte de divisas,
extração de cobre e um controlado turismo. Embargada
economicamente pelos países capitalistas, seu capital
passou a vir de Moscou, de quem se tornou aliada.

A educação técnica dos cidadãos foi uma das


grandes preocupações do governo, junto com
desenvolvimento de esportes. As olimpíadas sempre
foram a principal vitrine para a propaganda do regime
castrista. Em algumas áreas, como a medicina, Cuba
chegou a tornar-se ponto de referência, por conta de
suas pesquisas.

Politicamente existiu forte repressão contra os


dissidentes. Os cidadãos que desejavam alguma forma
de liberdade e um padrão de vida maior puseram-se em
barcos e tentaram cobrir a distância que os separavam
de Miami. Muitos conseguiram mas muitos pereceram. A
volta, para eles, era considerada como impossível pois
poderiam contaminar o sistema com idéias adquiridas
em outros países.

Carente de muitos recursos, não se pode dizer


que ocorreram mortes por fome como na Rússia ou
China. Sua pequena população e território foram
essenciais para manter o controle estatal sobre os
mesmos.

caius_c 346
Depois da saída de Fidel Castro do poder, em 31
de julho de 2006, e a ascensão de seu irmão Raul
Castro, os salários controlados pelo governo, na maioria
exíguos, foram liberados e tentativas de aproximação
com seu principal inimigo, os Estados Unidos, estão
sendo feitas. Assim como a China e a Rússia, Cuba
parece estar destinada a ingressar no mundo capitalista.

Varguismo

O varguismo nasceu em um período em que as


ditaduras eram comuns na America do Sul e mundo em
geral. Sua ascensão ao poder deu-se através de um
golpe de estado em 1930, e tentou confirmar-se
legalmente com a edição da Constituição outorgada de
1937.

A permanência de Getúlio Vargas71 no poder


deveu-se em grande parte ao populismo. Por conta
disto, existiu pequena resistência à sua permanência no
poder. As poucas tentativas, como a insurreição
integralista, foram prontamente abafadas. A Revolução
Constitucionalista de 1932, liderada por São Paulo, foi
outro foco de resistência rapidamente debelado.

Neste período foram criadas empresas estatais


para controlar a produção de matéria prima de base,
como o petróleo e o aço. A Consolidação das Leis do
Trabalho surgiu neste período mais como forma de
manter o operariado ao lado do governo do que para
proteção do trabalhador propriamente dito, embora sirva
71
1882-1954

caius_c 347
para isto. Ao mesmo tempo em que as leis favoreciam o
crescimento da indústria e a proteção do trabalhador,
outras buscavam restringir o poder legislativo ao
máximo, ampliando o poder executivo.

O posicionamento do Brasil ao lado dos aliados


durante a Segunda Guerra Mundial foi mais uma forma
de obter recursos financeiros do que ideológica
propriamente dita. Temeroso que o Brasil juntasse
forças com o Eixo – Alemanha, Itália e Japão -, os
Estados Unidos despejou dólares no país, que serviram
para alavancar a indústria em um país que era
essencialmente agrário.

O varguismo buscou dar impulso, também, à


educação, criando um sistema escolar onde
predominava o estudo técnico, que visava produzir mão
de obra para a indústria que florescia.

Foi um período de repressão aos opositores do


regime. Graciliano Ramos, em seu livro “Memórias do
cárcere”, sintetiza as agruras pelas quais passaram os
dissidentes neste período.

O regime durou até o final da Segunda Grande


Guerra, com a deposição de Getulio Vargas.

O fascismo, nazismo, stalinismo e varguismo


primaram-se pela forma como o Estado apoderou-se da
economia, dando um impulso rápido à industrialização.
Países com fraca economia viram-se, subitamente,
dotados de fábricas e empregos, o que lhes valeu apoio

caius_c 348
da população. O castrismo e maoísmo buscaram na
produção agrícola e coletivização das propriedades o
elemento chave para sua manutenção como regime por
conta da necessidade de suprir-se de alimentos em
virtude de seu isolacionismo. Todos eles, no entanto,
imprimiram aos regimes as imagens de seus ditadores.
Governo, ditador e ideologia se fundiram em um só
elemento.

O nazismo buscou em mitos antigos e simbologia


extensa a confirmação da superioridade da raça ariana
e seu destino como dominadora de outros povos. O
fascismo, menos ideológico, primou-se mais pela
brutalidade aos opositores do regime do que pela
conversão aos seus princípios. O stalinismo, embora
embasado nas teorias marxista-leninistas, forjou-se pela
dominação pura e simples dos países satélites,
enquanto que o castrismo e o maoísmo tentaram instilar
um novo pensamento político à população.

Marca registrada de todos eles foi a repressão


política e a supressão das liberdades individuais e
coletivas. O nível de brutalidade contra a população
variou em cada regime mas existiu em todos eles.

Repúblicas de bananas

Repúblicas de bananas é o termo genérico que


designou países da América do Sul e Central assolados
por contínuas quarteladas e golpes militares. O termo
bananas foi usado como forma pejorativa para designar
um único produto que estes países exportavam, o que

caius_c 349
qualificava a incipiente economia destes países. O
termo república, neste caso, é também pejorativo,
porque todas se arvoravam como democracias embora
fossem manifestadamente tiranias.

A expressão foi criada por O. Henry, pseudônimo


de William Sidney Porter72, humorista e cronista
americano, em seu livro de contos Cabbages and Kings,
de 1904. A "República das Bananas" original era
Honduras, onde o termo apareceu devido à forte
presença das empresas United Fruit Company e
Standard Fruit, que dominavam o importante setor da
exportação de bananas. A United Fruit Company, por
exemplo, nunca escondeu que queria se meter na
política - mesmo através do uso da força. Exemplo disso
foi quando, em 1910, um barco partiu de New Orleans
rumo a Honduras com o objetivo de instalar um novo
presidente pela força, pois o governo daquele país não
cortara nos impostos em favor da companhia. O novo
presidente empossado permitiu que a empresa ficasse
livre de pagar impostos durante 25 anos. 272

A rapidez da mudança de governos em função


destes golpes militares e a brutalidade contínua contra a
população foi elemento comum nestas republiquetas.
Seu alinhamento com os Estados Unidos, juntamente
com sua insignificância econômica e política não lhes
valiam qualquer intervenção ou interferência por conta
de outros países.

72
1862-1910

caius_c 350
A ascensão ao poder se dava com o uso do
próprio exército regular do país, insuflado ou utilizado
por alguns dos seus graduados. Vez ou outra, eram
contratados mercenários, geralmente por multinacionais
que tinham interesse em controlar alguma riqueza local,
liderados por algum político ou militar do próprio país.

Estas repúblicas tiveram seu início com a


libertação dos países da América do Sul e Central da
tutela espanhola, por volta do início do século XIX, após
a invasão napoleônica da península ibérica, em 1808.
Esta independência propiciou o aparecimento de
elementos que tentaram apossar-se e manter-se no
poder através do uso indiscriminado da violência. Seu
apogeu deu-se nos períodos da Guerra Fria, diminuindo
à medida que os governos foram se tornando mais
democráticos e mais estáveis.

Embora menos visíveis, estas formas de


“repúblicas” ainda persistem por todo o planeta.

Tecnocracia

Tecnocracia significa, literalmente, governo dos


técnicos, que, pelo controle dos meios de produção,
tendem a superar o poder político ao invés de apoiar
suas atividades. A primeira manifestação da tecnocracia
é atribuída ao sociólogo francês Claude-Henri de
Rouvroy, conde de Saint-Simon73. Ele propôs, em
Réorganisation de la Société Européenne, de 1814, a
substituição da política pela ciência da produção, o
73
1760-1825

caius_c 351
"governo dos homens" pela "administração das coisas".
273

Em sua proposição original, buscava-se um


modelo científico que aliviaria o homem de sua carga de
trabalho, que ficaria a cargo de máquinas. Claude-Henri
acreditava que uma pessoa trabalharia duas horas por
dia, no máximo, e que todos teriam um padrão de vida
elevado. 274

Este modelo que buscava o bem estar do homem


através da ciência foi desvirtuado. Atualmente ela pode
ser entendida como um governo de técnicos que busca
soluções sem considerar aspectos morais, éticos e
sociais.

A tecnocracia é aplicada de forma subcutânea


nos governos; ela não existe como um regime. Como
tal, ela pode facilmente se embutir em qualquer forma
de governo, seja totalitário ou democrático. Uma de
suas características é sua invisibilidade dentro do
sistema.

Sua atuação se dá através de grupos inseridos


em outros. Reveste-se da aplicação de teorias
científicas para justificar seus atos. Leva-se em conta a
obtenção dos resultados, o que justifica qualquer dano
colateral que possa ocorrer, existindo uma
insensibilidade com relação a prejuízos que possam
acontecer dentro da sociedade.

caius_c 352
Ela é formada por uma elite intelectualizada que
goza de respeito em seu meio, embora seja quase
desconhecida do grande público. Compõem-se de
grandes técnicos, brilhantes cientistas e excelentes
pesquisadores. Geralmente, essas pessoas são
reconhecidas como parte da vanguarda em sua
especialidade. Por conta disso, suas verdades são
quase inquestionáveis pois não existem elementos para
comparação.

Existe insídia na tecnocracia. Ela se apresenta


em múltiplas formas ou se mascara sob outras. Sua
proposição final não é a busca do poder em si, apenas
quer espaço livre para sua atividade; não precisa
transcender ou aparecer, quer apenas firmar suas
vontades.

caius_c 353
A democracia
“Que votos agradáveis! Antes morrer de
fome, alarvemente, do que ter de pedir
a tanta gente quanto já nos pertence.
Como logo vestido, assim, que faço —
grande bobo! — pedindo a Pedro e a
João o voto estulto? ...Eis outros votos
que nos chegam. Vossos votos,
senhores. Foi por vossos votos que eu
combati; velei por vossos votos; recebi
duas dúzias de feridas, ou mais, por
vossos votos. Vi batalhas e ouvi três
vezes seis; só pelos vossos votos fiz
muitas coisas; umas, grandes; outras,
pequenas. Bem; os vossos votos.
Desejara ser cônsul.” (Shakespeare)74

Introdução

Coriolano, o herói oligárquico de Shakespeare, é


a expressão do desprezo que as classes dominantes
têm pelas outras, que chamam simplesmente de povo,
como se a palavra tivesse cunho pejorativo. Este

74
Coriolano, de William Shakespeare, cena III

caius_c 354
pensamento foi predominante, e talvez continue, na
maioria de todos os governos, mesmo naqueles que
existiu ou existe alguma pecha democrática.

Os conceitos absolutistas ou não-democráticos


provêm do que se pode chamar de “razão animal”. Esta
razão impõe a supremacia do mais forte sobre o mais
fraco, na forma física ou baseada nas espertezas.
Implica sempre em desproporção no gozo de resultados.

Uma das bases que define a supremacia de uma


classe sobre a outra é a organização. As dominantes
sempre são organizadas, dispondo de estruturas que
mantém as demais sob seu jugo. As dominadas, quando
muito, possuem líderes esparsos que sempre são
suprimidos se mostram algum poder de reunir os demais
sob um objetivo comum.

O que difere a democracia de outros regimes é a


capacidade que existe dentro do povo de poder
manifestar-se contra aqueles que possam oprimi-lo, de
forma organizada e legal e dispondo de recursos para
tal.

Conceito

O termo democracia vem do grego demo, que


significa povo e kracia, que significa governo. De forma
ampla, significa governo do povo.

BENJAMIN CONSTANT escreve que o sistema


representativo outra coisa não é senão uma

caius_c 355
organização, mediante a qual a nação incumbe alguns
indivíduos de fazerem aquilo que ela não pode ou não
quer fazer por si mesma. Para ele é uma procuração
dada a certo número de pessoas pela massa do povo,
que deseja que seus interesses sejam defendidos e que
nem sempre tem tempo de defendê-los por si mesma.
275

Para KELSEN, a democracia é sobretudo um


caminho: o da progressão para a liberdade. 276

De acordo com QUINTÃO SOARES, é, também,


um conceito histórico, pois contempla uma estrutura de
poder construída de baixo para cima, localizada na
soberania popular, em distintos momentos históricos.277

Para DALLARI, a idéia moderna de um Estado


democrático implica na afirmação de certos valores
fundamentais da pessoa humana, bem como a
exigência de organização e funcionamento do Estado
tendo em vista a proteção destes valores. 278

Para GUY-GRAND, a democracia é um equilíbrio


entre os direitos da pessoa e os direitos da sociedade,
entre a liberdade e a soberania. Nos períodos de guerra
ou revolução, no entanto, ela deve ser suprimida para
garantir a salvação pública.279

AZAMBUJA a define como o regime em que o


povo se governa a si mesmo, quer diretamente, quer por
meio de funcionários eleitos por ele para administrar os

caius_c 356
negócios públicos e fazer as leis de acordo com a
opinião geral. 280

Para MARX, LENIN e ENGELS, em um governo


comunista, o conceito de democracia seria o de
igualdade entre as classes ou sua ausência e não sua
forma de governo. 281

BOBBIO afirma que a democracia é um produto


da luta da classe trabalhadora pelo poder. Para ele, o
Estado é pré-requisito necessário à emancipação
humana para ganhar e ampliar direitos políticos dentro
do Estado e através dele, usando seu poder para
estender a democracia para outras instituições. 282

Deve-se entender, no entanto, que o conceito de


democracia é utópico e não se aplica totalmente aos
governos, até o momento. O próprio conceito de
igualdade entre os cidadãos ainda não se firmou na
prática. Sopesar as diferenças individuais e grupais,
dando-lhes tratamento adequado para que se nivelem
social e politicamente é tarefa contínua que conduzirá
ao Estado Democrático de Direito.

O quanto de poder do povo sobre seu governo


ainda não se definiu completamente. Existem acessos e
possibilidades de intervenção mas existem burocracias
e outras barreiras que os impedem. Ainda tem que se
medir a governabilidade em face dessa intervenção,
pois se existe a necessidade de controle deve também
existir um espaço para atuação dos representantes sem
interferência direta. Se assim não fosse, não existiria a

caius_c 357
necessidade de eleição dos mesmos. O quanto das
ações dos representantes face às aspirações de seus
representados também é assunto que deveria estar
melhor normatizado.

História da democracia

Provavelmente, a democracia surgiu como forma


de limitação de poder entre as oligarquias, advinda de
costumes dos povos indo-arianos, como aqueus, eólios,
dórios, jônios, que se estabeleceram na Grécia no
chamado período pré-homérico75. Estas populações
invasoras são em geral conhecidas como "helênicas",
pois sua organização de clãs fundamentava-se, no que
concerne à mística, na crença de que descendiam do
deus Heleno, filho de Deucalião e Pirra.

No período Arcaico76, iniciou-se a formação da


polis77, com a expansão da divisão do trabalho, do
comércio, da indústria e do processo de urbanização. É
neste período que vários modelos de polis vão se
constituindo, definindo a estrutura interna de cada
cidade-estado.283 Neste período, os princípios da
democracia, na sua forma antiga, passaram a fazer
parte da estrutura governamental de algumas cidades.

Esta forma de governo era oligarquizada, pois


somente parte da população tinha o direito de ser

75
Entre 1900 e 1100 a.C.
76
Entre 800 a 500 a.C.
77
Cidade

caius_c 358
cidadão. Este direito, geralmente, era derivado da
família e dos bens que possuía.

FUSTEL DE COULANGES assim descreve a vida


de um cidadão ateniense, neste período – “Vede como
se passa a vida de um ateniense. Um dia é chamado à
assembléia de seu demo, onde deve deliberar a respeito
dos interesses religiosos ou financeiros dessa pequena
associação. Outro dia é convocado para a assembléia
da tribo: trata-se de regulamentar uma festa religiosa, ou
de examinar as despesas, ou de promulgar decretos, ou
de nomear chefes ou juízes. Três vezes por mês,
regularmente, deve assistir à assembléia geral do povo,
e não tem direito de faltar. Ora, a reunião é longa e ele
não vai apenas para votar: chegando pela manhã) tem
de ficar até uma hora avançada do dia para ouvir os
oradores. Não pode votar se não chegou no princípio da
reunião, e se não ouviu todos os discursos. Esse voto é
para ele um negócio dos mais sérios; ora se trata de
nomear chefes políticos ou militares, isto é, aqueles a
quem seu interesse e sua vida vão ser confiados por um
ano; ora é um imposto que deve ser criado, ou uma lei
que deve ser modificada; ora deve votar sobre a guerra,
sabendo que terá de dar seu sangue, ou o de seus
filhos. Os interesses individuais estão unidos
inseparavelmente ao interesse do Estado. O homem
não pode ser nem indiferente, nem leviano. Se se
engana, sabe que logo sofrerá as conseqüências, e que
em cada voto arrisca a fortuna e a vida. No dia em que
se decidiu a malograda expedição da Sicília, não havia
cidadão que não soubesse que um dos seus participaria
da mesma, e que devia aplicar toda sua atenção para

caius_c 359
avaliar todas as vantagens e perigos que semelhante
guerra poderia trazer. Havia absoluta necessidade de
reflexão e de esclarecimento, porque um desastre para
a pátria representava para cada cidadão diminuição de
sua dignidade pessoal, de sua segurança, de sua
riqueza. O dever do cidadão limitava-se ao voto.
Quando chegava sua vez, ele se tornava magistrado do
demo ou da tribo. Cada dois anos, em média, era
heliasta, isto é, juiz, e passava todo esse ano nos
tribunais, ocupado em ouvir os advogados e em aplicar
as leis. Talvez não houvesse cidadão que não fosse
chamado duas vezes na vida para fazer parte do
Senado dos Quinhentos; então, durante um ano,
sentava-se todos os dias, da manhã à noite, recebendo
os depoimentos dos magistrados, fazendo-os prestar
contas, respondendo aos embaixadores estrangeiros,
redigindo as instruções dos embaixadores atenienses,
examinando todos os casos que deviam ser submetidos
ao povo, e preparando todos os decretos. Enfim, ele
podia ser magistrado da cidade, arconte, estratego,
astínomo, se a sorte ou o sufrágio o designasse para
esses cargos. Vê-se que era trabalhoso ser cidadão de
um Estado democrático; era o mesmo que ocupar quase
toda uma existência, deixando muito pouco tempo para
os trabalhos pessoais e a vida doméstica. Por isso
Aristóteles dizia, com muita justiça, que o homem que
tinha necessidade de trabalhar para viver não podia ser
cidadão. Tais eram as exigências da democracia. O
cidadão, como o funcionário público de nossos dias,
pertencia inteiramente ao Estado. Dava-lhe seu sangue
na guerra, seu tempo na paz. Não era livre de deixar de
lado os negócios públicos para se dedicar com mais

caius_c 360
cuidado aos negócios particulares. Antes, devia
negligenciar a estes para trabalhar em proveito da
cidade. Os homens passavam a vida a se governar. A
democracia não podia durar senão sob a condição do
trabalho incessante de todos os cidadãos. Por pouco
que o zelo se afrouxasse, ela devia ou perecer ou se
corromper”.284

Um dos grandes problemas da democracia


clássica grega foi a impossibilidade de formação de
grandes líderes. Temendo a tirania, os que se
destacavam eram alijados do poder, quando não
condenados ao ostracismo. Esta punição implicava em
exílio por dez anos, sendo que os bens daquele que era
expulso ficavam para a cidade. Um exemplo clássico é o
de Temístocles, vencedor da Batalha de Salamina78,
que foi condenado ao ostracismo e depois acusado de
alta traição. Ele terminou por encontrar refúgio entre os
persas, a quem havia vencido.

A admiração dos gregos pela oratória, fez com


que fosse comum a demagogia79, onde o cidadão
buscava alcançar seus objetivos através do
convencimento de outros. Isto propiciava o
aparecimento de líderes fugazes que combatiam
aqueles que se destacavam ou queriam apenas seu
próprio benefício. Este termo, atualmente, é usada no
contexto de condução do povo a uma falsa situação.

78
480 a.C.
79
Literalmente, a arte de conduzir o povo

caius_c 361
A democracia grega clássica teve seu mais forte
abalo durante a Guerra do Peloponeso80, quando
Esparta, vitoriosa, colocou seus aliados no poder, e
extinguiu-se com a tomada de Atenas por Felipe II, da
Macedônia, na célebre Batalha de Queronéia, em 338
a.C.

O conceito de democracia foi absorvido pelos


romanos, na forma de república, perdurando durante o
período de 509 a.C até 27 a.C.

A república romana, embora calcada nos ideais


democráticos, tinha o mesmo formato da democracia
ateniense, ou seja, era oligarquizada. A população era
dividida entre patrícios e plebeus, sendo que somente
os primeiros tinham direitos de gerenciamento de Roma.

Ela nasceu de um conflito entre o último rei


romano, Tarquínio, e a aristocracia. Conta o historiador
romano Tito Lívio que, no governo, sob um despotismo
indisfarçável, o orgulhoso Tarquínio eliminou ou
desterrou todos os que eram partidários de Sérvio Túlio
e confiscou os bens de famílias poderosas, recebendo o
título pelo qual ficou conhecido na história: "o Soberbo",
isto é, o Orgulhoso, que equivalia em grego a "tirano".
Foi deposto por uma revolta patrícia em 509 a.C.

Segundo a lenda, Tarquínio, muito odiado entre


os romanos, era ainda copiado pelo filho Sexto
Tarquínio, que se apaixonou pela bela e casta Lucrécia,
filha de um influente aristocrata e já casada com um
80
431 a 404 a.C.

caius_c 362
notável patrício, obrigando-a ao adultério. Lucrécia, em
resposta suicidou-se, levando seus familiares e, em
seguida, a população de Roma, depois de se inteirarem
dos fatos, à rebelião, destronando Tarquínio e
instalando a República.

Seu fim deu-se com a ascensão de Otávio


Augusto ao poder, depois que derrotou seu rival Marco
Antonio na batalha naval de Àccio81, na costa da Grécia.
Em 27 a.C. recebeu o título de imperador, encerrando o
ciclo da república romana.

Neste período, existiram conflitos entre as classes


patrícia e plebéia, por conta da exploração que esta
última sofria e da quase inexistência de direitos para ela.

As disputas pelo poder político em Roma tiveram


início com as propostas de reforma apresentadas pelos
irmãos Tibério e Caio Graco, eleitos tribunos da plebe
em 133 e 123 a.C., respectivamente. Tibério apresentou
uma proposta de reforma agrária, causando uma forte
reação por parte da aristocracia patrícia, que mandou
assassiná-lo juntamente com muitos de seus
seguidores. Caio Graco, inspirado na concepção de
democracia ateniense, procurou transferir as decisões
políticas da esfera exclusiva do senado para a
Assembléia popular. Seu destino, no entanto, não foi
muito diferente do de seu irmão, pois uma nova
repressão aristocrática pôs fim às idéias reformistas,
levando-o a cometer suicídio.

81
31 a.C

caius_c 363
O conflito entre os anseios da camada popular e
dos membros da aristocracia prossegue. Após a morte
dos irmãos Graco, a disputa entre Mário - cônsul da
República, chefe do partido popular - e Sila -
representante do senado - expressava a intensificação
das lutas políticas. Mais uma vez, na história da política
republicana, predominava a força da elite conservadora
e Sila tornou-se ditador da República.

Durante o governo de Sila, a aristocracia


consolidava seu poder, a medida que o ditador limitava
o poder dos tribunos da plebe. Os plebeus responderam
prontamente através de uma nova revolta, desta feita
liderada por Catilina, senador de grande prestígio
popular, o qual representava os interesses desta
camada social. No entanto, o cônsul Cícero denunciou a
conspiração de Catilina, acusando-o de tentar um golpe
de estado e transformando-o em inimigo de Roma.

Este conflito entre classes promoveu a primeira


greve registrada da história, em 494 a.C, quando os
plebeus retiraram-se para o Monte Sagrado e
ameaçaram formar ali uma nova república, deixando a
cidade totalmente desprotegida e à mercê de possíveis
invasores, por conta de sua total falta de direitos. Os
patrícios foram obrigados a ceder, criando-se então os
Tribuno da Plebe, cargo exercido exclusivamente por
plebeus para defender os interesses de classe.285

caius_c 364
No período republicano ocorreu a famosa Revolta
dos Escravos82, liderada por Spartacus ou Espártaco,
gladiador de origem trácia, que conduziu um exército de
rebeldes que chegou a ter quase 100.000 ex-escravos.
Foi derrotado pelo cônsul Crasso, que mandou crucificar
os sobreviventes, por volta de 6.000, ao longo de toda a
Via Apia, caminho que conduzia a Roma.

Estas revoltas populares ou de escravos somente


existiram porque o conceito de república estava
permeado por outros como liberdade, representatividade
e possibilidade de ascensão social. Dentro de um
governo autoritário, fechado e de castas definidas, não
existiriam ideais suficientes para que prosperassem.
Elas somente se dariam quando a sobrevivência física e
coletiva estivesse sob séria ameaça.

A República Romana, entremeada de guerras


civis e lutas de classes, deu lugar ao Império Romano,
que perdurou até 476 d.C., no lado ocidental e até 1453,
no lado oriental.

Os conceitos de república e democracia foram


relegados ao esquecimento até a Renascença. Neste
período, refloresceu a classe dos burgueses, que
passaram a ter poder econômico e nenhum poder
político.

Embora a democracia seja o “governo do povo”,


podemos dizer que ela começou a existir a partir do

82
73 a.C a 70 a.C.

caius_c 365
momento em que começou a formação de um poder
econômico advindo de uma classe que não pertencia à
nobreza e que não tinha privilégios de sangue. Na
democracia grega clássica e na República Romana, os
detentores do poder político eram os aqueles que
tinham o poder econômico.

A Renascença propiciou o aparecimento dessa


nova classe, vinda do povo, e que passou a exigir
direitos de gerência na administração do Estado por
conta de seus próprios interesses.

A prosperidade da burguesia firmou-se com o


advento do Mercantilismo, ocorrido entre o século XV e
XVIII, que buscava uma progressiva autonomia da
economia frente à religião, à política e à moral. Embora
fosse patrocinado pelo Estado e subordinado a ele, essa
forma de economia exigia investimentos que se buscava
junto aos detentores de capital, no caso, os burgueses.

PETER LEESON, professor da Universidade


George Mason, diz em seu The Invisible Hook: The
Hidden Economics of Pirates83, que os primeiros
sintomas da moderna democracia surgiram nos navios
piratas que tiveram sua época áurea no Caribe entre
1670 a 1730. Segundo ele, os capitães piratas eram
eleitos pela tripulação, juntamente com os imediatos,
que contribuíam para evitar a concentração dos poderes
em uma só pessoa, visto que eram responsáveis pela
logística e distribuição dos saques. Qualquer um deles
podia ser deposto e substituído, caso não mostrassem
83
O gancho invisível: a organização econômica desconhecida dos piratas

caius_c 366
serviço. As regras que regeriam a tripulação eram
acertadas antes do embarque e os infratores eram
punidos de acordo com este código, que também previa
como os butins seriam repartidos. Também se fixava
prêmios por bravura e indenizações para os feridos. Os
navios chegavam a ter até um quarto de tripulantes
negros e eram indiferentes a homossexuais. Todos
recebiam tratamento de igual para igual - com direito a
um quinhão do butim e um voto nas enquetes. 286

Dois grandes fatores contribuíram para firmar um


novo conceito de democracia: a Revolução Francesa em
1789 e a Independência dos Estados Unidos em 1783.
Ambas foram frutos de uma burguesia crescente aliada
aos novos ideais que surgiram com o Iluminismo.

A Revolução Francesa afrontou diretamente os


princípios dos regimes monárquicos, quebrando os
paradigmas existentes até então. As cabeças coroadas
da Europa passaram a temer aqueles a quem mais
desprezavam, o povo, concluindo que precisavam
estabelecer parâmetros que igualassem as classes
sociais para se resguardarem em seus tronos.

A Independência Americana cometeu a maior


heresia que se achava possível: a instalação de um
governo que não fosse hereditário ou sucessório e cujos
governantes eram eleitos pelo povo. Provavelmente, a
insignificância política dos Estados Unidos, na época,
aliada ao fato de estar do outro lado do oceano, levaram
os governos monárquicos a considerarem que essa

caius_c 367
democracia que nascia não lhes era adversária ou
conflitante com seus interesses.

Buscando a conquista de novos territórios a


oeste, a livre iniciativa foi incentivada a ponto de
estabelecer uma nova forma econômica: o capitalismo,
onde a busca do lucro a qualquer preço foi o tom maior.
A descoberta de ouro na Califórnia deu início a um
deslocamento maciço da população, que antes se
concentrava na costa leste ou nas treze colônias iniciais,
para os territórios a oeste. Estes processos criaram uma
nova classe burguesa: a dos empresários que, com
capital próprio e sem vínculos com o governo,
amealharam grandes fortunas;

Essa prosperidade burguesa foi acentuada com a


Revolução Industrial e com a introdução dos conceitos
capitalistas. Nesta fase, o Estado deixou de ser
patrocinador das empreitadas para tornar-se captador
de lucros e interventor nas situações que
desfavorecessem as atividades econômicas. As grandes
empresas deixaram de ser subordinadas ao Estado e
passaram a ser parceiras do mesmo. Esta parceria,
onde o poder econômico das empresas junta-se ao
poder político do Estado, ainda perdura na maioria das
democracias até hoje.

A parceria entre empresas e Estado produziu um


lucro excessivo concentrado nas mãos de poucos ao
mesmo tempo em que relegava a classe produtora a
uma miséria construída na base da exploração e no
pagamento de ínfimos salários. Deu início a uma luta

caius_c 368
pelos direitos, que convencionou-se chamar de Luta de
Classes, dando início à novos pensamentos que
criticavam os regimes dos governos e propunha novas
formas sociais como o comunismo e o socialismo.
Alguns extremistas, como Bakunin, pregavam a auto-
tutela do cidadão e seu desvinculo com o Estado.

Entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, os


conceitos democráticos foram confrontados com os
autoritários que surgiam, como o nazismo, fascismo e o
comunismo. A luta de classes, onde a população
empregada vivia em condições quase que de pura
sobrevivência, levou a crer que os ideais democráticos
dos governos nada mais eram do que uma nova forma
de tirania onde uma classe privilegiada economicamente
detinha o poder de exploração sobre as demais. O
contraposto para os ideais democráticos eram os do
autoritarismo, onde os governos se propunham a cuidar
das camadas da população da mesma forma, buscando
um nivelamento econômico entre elas.

Após a Segunda Guerra Mundial, o conceito de


democracia foi confrontado com o do comunismo,
iniciado pela Revolução Russa de 1917.

A prosperidade dos Estados Unidos, com seu


parque industrial intacto por não ter tido ataques durante
a guerra, levou-o a tornar-se mentor econômico e
político dos países europeus, cujas economias tinham
sido arrasadas. O Plano Marshall, criado em julho de
1947, forneceu subsídios aos países europeus para sua
reconstrução.

caius_c 369
Josef Stalin, governante supremo da União
Soviética, não permitiu que nenhum dos países sob seu
controle aderisse ao plano, pois considerava-o como
uma forma expansionista americana que poderia
redundar em destruição do sistema de governo
soviético. Antes, aliados pelo inimigo comum que era a
Alemanha nazista, tornaram-se desconfiados uns em
relação a outros, cada um acreditando que o outro
queria ou poderia ter um poder que se tornasse mundial.

Criou-se, então, um campo de batalha político


que estendeu-se a todos os países, gerando conflitos
em inúmeros deles. Esta fase, conhecida como Guerra
Fria, foi um confronto entre os Estados Unidos,
detentores dos ideais democráticos e capitalistas, e a
União Soviética, que propagava a sua revolução
comunista ao mundo como forma mais aceitável de
governo. Neste período, o conceito de democracia e
capitalismo estiveram estreitamente ligados, dando ao
vulgo a impressão que eram apenas um.

Por estarem em condições de se destruírem


mutuamente, por conta do arsenal nuclear de cada um,
os campos de batalha foram transferidos para outros
países como Vietnã, Laos, Afeganistão, etc. Alguns
deles foram divididos por conta dessas ideologias, como
a Coréia, onde o paralelo 38 tornou-se a fronteira entre
duas diferentes formas de governo, no sul patrocinada
pelos Estados Unidos, e, ao norte, pela União Soviética.

caius_c 370
O ápice de confrontação, onde ela poderia se
tornar direta, deu-se com a instalação de mísseis
intercontinentais em Cuba, de onde poderiam atingir
facilmente os Estados Unidos. O episódio, conhecido
como Crise dos Mísseis de Cuba84 ou Crise Caribenha,
desencadeou ameaças de guerra nuclear e, durante
treze dias, o mundo esteve à beira de possível
holocausto mundial. O então presidente dos Estados
Unidos, John Kennedy, e o então primeiro-ministro
Nikita Kruchev, chegaram a um acordo onde os mísseis
em Cuba seriam retirados pela União Soviética e os
mísseis instalados na Turquia seriam desativados pelos
Estados Unidos. Alguns historiadores acreditam que foi
uma jogada política de Kruchev para, além da retirada
dos mísseis da Turquia, conseguir benesses
econômicas para a União Soviética.

O confronto ideológico democracia-comunismo


terminou com a dissolução da União Soviética e a
reunificação dos lados ocidental e oriental da Alemanha.

Pode se dizer que parte desse confronto foi


vencida pela produção de avançadas tecnologias que
permitiu o restabelecimento de economias como a do
Japão, Coréia, Taiwan e dos países europeus, em geral.
O sistema estatal de controle econômico do comunismo
não teve condições de suportar sozinho o enorme
investimento que era necessário para que se
produzissem bens que pudessem competir nesse novo
mercado.

84
1962

caius_c 371
Os conceitos de globalização foram o golpe final
neste confronto ideológico-econômico. O
desenvolvimento das comunicações e o crescimento
desmedido de algumas empresas, que agora não tem
mais restrições ideológicas, permitem que as partes de
um produto ou o próprio produto sejam feitas em
qualquer país onde o custo é menor. A busca de
matérias-primas se dá onde ela é mais barata, sem a
necessidade de dominação territorial. Os exércitos
parecem ter-se tornados obsoletos nesta nova forma de
dominação econômica. Fica mais barato dominar um
país economicamente pelas empresas do que
militarmente por um governo.

Os conceitos de globalização criados inicialmente


para popularizar a idéia de uma economia mundial sob o
domínio de empresas, criaram dois paradoxos: o
primeiro foi o agigantamento das companhias com
conseqüente influência sob os governos locais e o outro
foi a adesão de países considerados fechados, como a
China, ao novo processo. A criação da União Européia,
em 1992, foi uma forma de estabelecer um equilíbrio
entre as economias européias e as demais.

O enfraquecimento da disputa entre capitalismo-


comunismo e democracia-autoritarismo trouxe novos
concorrentes aos mercados mundiais. Essa corrida
econômica, ainda não terminada, começou a inverter a
esfera de influência econômica dos países,
principalmente a dos Estados Unidos. As rivalidades
ideológicas parecem estar resumidas, hoje em dia,
apenas à tomada de mercados pelas empresas.

caius_c 372
Fundamentos da democracia

Para ARISTÓTELES, a democracia consiste na


igualdade segundo os números e não de acordo com o
mérito. A opinião da maioria deve ser o objetivo a ser
perseguido. Para ele, os pobres seriam mais poderosos
que os ricos, em tal regime, por conta de seu maior
número. A democracia, seria então, um governo dos
pobres e a eles dirigido. 287

Para KELSEN, o exame da base filosófica da


democracia não deve objetivar constituir-se em uma
justificação absoluta da democracia. Uma reflexão
filosófica, livre da metafísica e da religião, é incapaz de
reconhecer um valor social qualquer à exclusão de
outro. A única justificação da democracia que se pode
permitir uma filosofia relativista, baseada na ciência, é
uma justificação funcional. A decisão sobre o valor
social a ser posto em prática deve ficar a cargo dos
indivíduos atuantes na realidade política. A democracia
encontra seu fundamento apenas na hipótese de se
entender que a liberdade e a igualdade são os valores
que devem ser postos em prática. A democracia
justifica-se por ser a forma de governo mais
funcionalmente ajustada a realizar os valores liberdade
e igualdade.288

BOBBIO, apud Voltaire Schilling, identifica duas


situações adversas à democracia: uma visão
tecnocrática de um lado e uma postura indiferente do
outro. A primeira reduz-a a um ritual mecânico de

caius_c 373
sucessivas eleições, enquanto que a outra, ao dizer que
podia ser eleito qualquer um, a desqualificava. 289

Para ele, a democracia tem como fundamentos:

- Estar sempre em transformação. O seu estado


natural é a dinâmica, enquanto que no
despotismo predomina a estática, sempre igual a
sim mesmo;

- O direito e o poder são duas faces da mesma


moeda. Somente o poder cria o direito, e só ao
direito cabe limitar o poder;

- O centro da atenção da democracia repousa


numa concepção individualista da sociedade. Ela
somente se desenvolve onde os direitos de
liberdade têm sido reconhecidos por uma
constituição;

- Trata-se de um conjunto de regras que


estabelece quem está autorizado a tomar
decisões coletivas e quais são os seus
procedimentos;

- Baseia-se na regra de que a democracia é o


regime da maioria e que o Estado Liberal é o
suposto histórico-jurídico do Estado Democrático;

- É um regime que define o bom governo como


aquele age em função do bem comum e não do
seu exclusivo interesse, e se move através de leis

caius_c 374
estabelecidas, claras para todas, e não por
determinações arbitrárias;

- Considera um governo excessivamente paternal


como negativo, insistindo que a democracia é um
governo de leis por excelência

BRENO RODRIGO DE MESSIAS LEITE diz que


os fundamentos da moderna democracia são justiça,
cidadania e mercado. Os dois primeiros se justificam
como direitos do homem a estarem presentes em
qualquer democracia. O mercado, para ele, representa
um valor importante na massificação da democracia
econômica. O cidadão pode acessar o mercado e
estabelecer transações econômicas elementares ou
complexas, o que certificaria a universalidade de
oportunidades, mesmo dentro de uma sociedade
desigual. O mercado é uma rede que estabelece uma
conexão tensão entre o princípio da justiça e da
cidadania. Aqueles que não estiverem dentro das
relações de mercado não são capazes de exercício da
plena cidadania.290

Para QUINTÃO SOARES, a democracia moderna


se propõe a proteger a liberdade do indivíduo, enquanto
pessoa, estabelecendo os mecanismos da
291
representação política e limites ao poder estatal.

O fundamento básico da democracia é o voto, a


representatividade política da maioria. É poder dado ao
povo de renovar seus governantes, de acordo com
critérios estabelecidos e de conhecimento geral. Impor

caius_c 375
limites ao poder do Estado é decorrente dessa própria
capacidade de eleição. Sendo o povo o objeto primordial
do Estado, deve-se buscar satisfazer as necessidades
da população de acordo com a capacidade do mesmo.
O hiato existente entre Estado e povo diminui
consideravelmente visto que um tem poder sobre o
outro.

Tipos de democracia

De forma geral, existem dois tipos de democracia:


a direta e a indireta, também chamada de
representativa. Democracia direta é aquela em os
cidadãos elegem diretamente os representantes do
legislativo e executivo. Democracia indireta é aquela
onde o povo escolhe alguns representantes que irão
eleger outros para os cargos mais elevados.

Na direta, existe a pressuposição de que a


representatividade será maior devido ao fato de que os
eleitores serão em maior número e, portanto, existirá
uma gama maior de opiniões a favor dos candidatos. Na
indireta, presume-se que os representantes eleitos pelo
povo terão capacidade maior para elegerem aqueles
que preencherão os cargos mais elevados.

No Brasil, o presidente da República é eleito


diretamente pelo povo. Nos Estados Unidos, o
presidente é eleito por um Colégio Eleitoral formado por
538 delegados. Estes delegados é que são eleitos pela
população. A Constituição Americana, na sua 12a.
Emenda, permite que o presidente seja escolhido pela

caius_c 376
Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, caso
nenhum candidato obtenha mais de 270 votos. O vice é
escolhido, então, pelo Senado dos Estados Unidos da
America.

A conquista do voto no Brasil

Conforme definição de BONAVIDES, sufrágio é o


poder que se reconhece a certo número de pessoas de
participar direta ou indiretamente na soberania, isto é,
na gerência da vida pública. 292

A Constituição Outorgada de 1824, previa


participação popular restrita à votação dos “eleitores de
província”, em “assembléias paroquiais”, os quais
elegiam os representantes da nação. Estes eleitores
tinham que ser qualificados e não ter os impedimentos
constantes em seus artigos 92 e 94:

Art. 92. São excluidos de votar nas Assembléas


Parochiaes.

I. Os menores de vinte e cinco annos, nos quaes se


não comprehendem os casados, e Officiaes Militares,
que forem maiores de vinte e um annos, os Bachares
Formados, e Clerigos de Ordens Sacras.

II. Os filhos familias, que estiverem na companhia


de seus pais, salvo se servirem Officios publicos.

III. Os criados de servir, em cuja classe não entram


os Guardalivros, e primeiros caixeiros das casas de

caius_c 377
commercio, os Criados da Casa Imperial, que não forem
de galão branco, e os administradores das fazendas
ruraes, e fabricas.

IV. Os Religiosos, e quaesquer, que vivam em


Communidade claustral.

V. Os que não tiverem de renda liquida annual cem


mil réis por bens de raiz, industria, commercio, ou
Empregos.

Art. 93. Os que não podem votar nas Assembléas


Primarias de Parochia, não podem ser Membros, nem
votar na nomeação de alguma Autoridade electiva
Nacional, ou local.

Art. 94. Podem ser Eleitores, e votar na eleição dos


Deputados, Senadores, e Membros dos Conselhos de
Provincia todos, os que podem votar na Assembléa
Parochial. Exceptuam-se

I. Os que não tiverem de renda liquida annual


duzentos mil réis por bens de raiz, industria, commercio,
ou emprego.

II. Os Libertos.

III. Os criminosos pronunciados em queréla, ou


devassa.

Art. 95. Todos os que podem ser Eleitores, abeis


para serem nomeados Deputados. Exceptuam-se

caius_c 378
I. Os que não tiverem quatrocentos mil réis de
renda liquida, na fórma dos Arts. 92 e 94.

II. Os Estrangeiros naturalisados.

III. Os que não professarem a Religião do Estado.

A Constituição de 1824 previa a existência do


“poder moderador”, exclusivo do imperador, que lhe
dava poderes sobre os partidos e permitia ingerências
no legislativo e judiciário.293

A Constituição de 1891, já republicana, previa a


eleição do presidente e vice-presidente da república
através de voto direto, em seu artigo 47.

Quanto às regras eleitorais, determinou-se que o


voto no Brasil continuaria "a descoberto" (não-secreto) –
a assinatura da cédula pelo eleitor tornou-se obrigatória
– e universal. Por "universal" entenda-se o fim do voto
censitário, que definia o eleitor por sua renda, pois ainda
se mantiveram excluídos do direito ao voto os
analfabetos, as mulheres, os praças-de-pré, os
religiosos sujeitos à obediência eclesiástica e os
mendigos.

A Constituição de 1934 estendeu o voto às


mulheres e tornou-o obrigatório aos maiores de 18 anos.

caius_c 379
O voto passou a ser secreto, confirmando o
Código Eleitoral de 1932.85

A Constituição de 1937 restabelece a eleição


indireta para presidente através de um Colégio
Eleitoral86, e altera seu mandato de quatro para seis
anos Outorgada pelo então presidente Getulio Vargas,
transforma-se em mantenedora de sua posição como
ditador.

A Constituição de 1946 prevê universalidade do


voto e o restabelece como direta e confirma seu caráter
secreto. 87 Excluiu como eleitores os analfabetos, os que
não sabiam exprimir-se na língua nacional, os privados
de direitos políticos e os praças de pré.88

A Constituição de 1967, novamente, estabelece


eleições indiretas para presidente e vice-presidente,
abolindo o voto secreto para tal.89 Mantém a eleição de
governadores e vices pelo sufrágio universal, direto e
secreto.90

A Constituição de 1969 manteve o sistema


eleitoral da de 1967. Ela, no entanto, concentrou os

85
Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, obra conjunta de Assis
Brasil, João Cabral e Mário Pinto Leiva. Este Código adotou o voto
feminino e o sufrágio universal, direto e secreto.
86
Artigo 84, Constituição Federal de 1937
87
Artigo 134 – Constituição Federal de 1946
88
Artigo 132 – Constituição Federal de 1946
89
Art 76 - O Presidente será eleito pelo sufrágio de um Colégio
Eleitoral, em sessão, pública e mediante votação nominal.
90
Artigo 13 – Constituição Federal de 1967

caius_c 380
poderes no Executivo e permitiu que o presidente, na
época Costa e Silva, fosse substituído por uma junta
militar, apesar de existir um vice-presidente.91

A Constituição de 1988, também conhecida como


“Constituição cidadã”, retomou o voto direto para as
eleições presidenciais, tornando o voto obrigatório para
os maiores de dezoito anos e facultativo para os
maiores de setenta anos, analfabetos e para aqueles
com idade entre dezesseis e dezoito anos. Somente
aqueles que prestam serviço militar obrigatório e os
estrangeiros.92

Como se pode perceber pelas idas e vindas do


voto direto e indireto, este último teve lugar nos períodos
em que o poder esteve concentrado nas mãos de
poucos ou de um. Ampliando o pensamento, podemos
concluir que o voto direto torna-se arma contra
instituições autoritárias ou elitistas. Seu uso, de forma
universal e obrigatório, caracteriza uma democracia.

A regra da maioria

O dramaturgo Nelson Rodrigues dizia, muito


apropriadamente que “a unanimidade é burra”. Entende-
se que no processo democrático ela não possa existir
por conta das muitas opiniões existentes entre os
votantes. Supõe-se que a decisão a ser tomada, face a
uma votação, deva ser aquela que a maioria apoiou.

91
Ato Institucional no. 12, de 01 de setembro de 1969
92
Artigo 14, Constituição Federal de 1988

caius_c 381
Como as regras devem ser claras no processo
democrático, deve-se estabelecer o conceito do que
seja maioria.

De forma geral, existem cinco tipos definidos:

1) Maioria simples não qualificada, que se


resume na metade dos votos mais um;
2) Maioria absoluta, que é a metade mais
um do universo eleitoral;
3) Maioria relativa, ou seja, metade mais
um dos votantes;
4) Maioria qualificada, cujo número varia,
geralmente, entre dois terços ou três
quartos;
5) Qualquer maioria, que é a maior entre
as minorias

Dentro de um universo ideal democrático, deve se


entender que a maioria traduz a vontade geral e,
portanto, deve ser obedecida. Os votos vencidos devem
apoiar, então, os ganhadores, para que a
implementação da vontade tenha sucesso.

A definição da forma majoritária da eleição tem


estreita relação com a importância do objeto votado.
Para aquelas em que há exigência de número maior de
votos vencedores, presume-se que o assunto seja de tal
relevância que, obrigatoriamente, ele deva ter o apoio
da maior parte dos votantes.

caius_c 382
Tipos de voto

Os votos, quanto á sua disposição legal, podem


ser obrigatórios ou facultativos. Por obrigatório entende-
se aquele em que toda a população é obrigada a votar
nos seus representantes, sendo que existem
penalizações para quem não o faça. Em alguns países,
o voto é facultativo, ou seja, somente as pessoas que
desejam participar do processo político e identificam-se
como tal tem direito ao voto.

Quanto à forma, os votos podem ser secretos ou


abertos. Na maioria do processo democrático eletivo,
considera-se que o voto secreto seja a forma mais
adequada para a escolha dos representantes pois evita
que existam represálias contra o eleitor. A forma aberta
somente é utilizada em casos onde presume-se que
possa existir responsabilização pessoal do eleitor face à
sua posição. Esta modalidade é utilizada de forma
bastante restrita e apenas em alguns casos especiais.

Qualidade do voto

Discute-se muito sobre a qualidade do voto


obrigatório, acreditando-se que grande parcela da
população não teria condições de escolher seus mais
altos governantes ou representantes por questões como
baixa escolaridade ou falhas culturais, o que os
sujeitaria às propagandas da mídia, ou seja, o candidato
que tivesse a melhor campanha ou dispusesse de
recursos maiores seria o naturalmente eleito, por conta
dessa influência. Durante os anos de chumbo, este foi o

caius_c 383
argumento mais disseminado contra esta forma de
eleição. A indireta, ao contrário, estaria restrita à eleição
de representantes determinados que teriam opinião
formada sobre o assunto e de conhecimento dos
eleitores.

As experiências brasileiras com democracia


indireta, nos anos de chumbo, revelaram que existe
maior facilidade para os governantes conseguirem apoio
para os seus candidatos através dos órgãos do Estado,
o que inclui favorecimentos ou ameaças aos
dissidentes. Neste período, a oposição esteve alijada do
poder por conta desta pressão.

Pressupõe-se que na eleição direta exista menor


possibilidade de manipulação, visto que o número maior
de eleitores impede que exista forma direta e individual
de pressão sobre os mesmos. A crescente urbanização
e o barateamento das telecomunicações, principalmente
televisão e internet, propiciou um maior
acompanhamento dos candidatos, seja através da
propaganda ou de notícias, aos eleitores. A forma
conhecida como “curral eleitoral”, onde os coronéis do
interior mantinham disciplina férrea sobre os eleitores,
praticamente desapareceu por conta dessa maior
divulgação.

A obrigatoriedade do voto induz o eleitor a ficar


atento sobre seus direitos de ter uma representatividade
adequada ao seu caso. Ela transforma o cidadão em
ente político e o responsabiliza pela governabilidade do
país. Mesmo que pareça que o voto obrigatório pareça

caius_c 384
inconstitucional à primeira vista, pois parece estar contra
o direito de liberdade de cada cidadão, na realidade é a
forma legal mais adequada para induzi-lo a cuidar de si
e de sua comunidade através da escolha adequada de
seus representantes.

A democracia, como vimos, é a forma de governo


onde os representantes são eleitos pelo povo, de forma
direta ou indireta. No entanto, o apogeu da democracia
somente existe quando ela começa a tomar a forma de
um Estado Democrático de Direito.

caius_c 385
Constituição
“Ninguém respeita a
Constituição, mas todos
acreditam no futuro da nação.
Que país é esse?” (Renato
Russo) 294

A palavra constituição é o ato de constituir,


organizar, dar forma, estabelecer. Significa, também,
modo de ser.

Para JOSE AFONSO DA SILVA, a Constituição


do Estado, considerada sua lei fundamental, seria a
organização dos seus elementos essenciais: um sistema
de normas jurídicas, escritas ou costumeiras, que regula
a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo de
aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento de
seus órgãos e os limites de sua ação. Em síntese, a
Constituição é o conjunto de normas que organiza os
elementos constitutivos do Estado".295

ANTONIO PAULO CACHAPUZ DE MEDEIROS


define como o conjunto de normas, reunidas numa lei,
concernente à forma do poder, ao estabelecimento de

caius_c 386
seus órgãos, aos limites de sua atuação, proclamando e
garantindo os direitos individuais e sociais.

CELSO BASTOS ensina que é um complexo de


normas jurídicas fundamentais, escritas ou não, capaz
de traçar as linhas-mestras de um dado ordenamento
jurídico. Constituição, nesta acepção, é definida a partir
do objeto de suas normas, vale dizer, a partir do assunto
tratado por suas disposições normativas.

Alguns historiadores, como Loewenstein e


Hauriou, afirmam que os Estados Constitucionais
nasceram no Mediterrâneo Oriental, Grécia Antiga ou
entre os hebreus.296

Esta forma de Estado, assim como a democracia


como a conhecemos, em nosso entendimento,
efetivamente surgiu após o Período Medieval, quando
se deu início à unificação de países sob um governo
central.

As constituições nasceram com o objetivo de


limitar este poder central que tornou-se absoluto. A
primeira referência que se tem dessa restrição é a
Magna Carta, assinada pelo em então rei da Inglaterra
João Sem Terra, em 1215, obrigado a isto pelos seus
barões. Na sua primeira versão, tinha uma cláusula, a
de número 61, que dizia que um comitê de vinte e cinco
barões poderia reformar qualquer decisão real. A
cláusula 39 determinava que nenhum homem livre
poderia ser preso ou privado de sua propriedade senão
através de um julgamento legal por seus pares ou pela

caius_c 387
lei da terra. A quadragésima diz que não se venderá,
não se recusará ou se atrasará direito ou justiça.

Esta carta foi repudiada por João Sem Terra


depois que os barões deixaram Londres, sob a alegação
de que tinha sido assinada sob coerção. Depois de sua
morte, em 1216, seu filho Henrique III confirmou sua
validade. Com o passar do tempo ela sofreu algumas
alterações mas não perdeu sua intenção inicial, que era
a de limitar o poder central, estabelecendo direitos e
deveres para governantes e governados.

As constituições modernas foram lastreadas


pelas constituições americana e francesa, de 1787 e
1791, respectivamente.

O Estado e a constituição

O Estado pode existir sem uma constituição. Não


é condição sine quae nom para sua existência. Tanto
não é que ela pode ser considerada um fenômeno
recente na história humana, enquanto que o Estado
parece estar acompanhando o homem desde que se
tornou gregário.

Um Estado totalitário não necessitaria, em tese,


de um código maior que o definisse, visto que as
prerrogativas de um poder absoluto tornam-se a própria
lei. Aqueles que são regidos por preceitos religiosos, os
teocráticos, também não precisariam, visto que seus
livros sagrados dariam o suporte para o Estado.

caius_c 388
Independente da forma pela qual se reveste o
Estado, uma constituição escrita e cumprida garante sua
legalidade. A função desta legalidade é propiciar o
cumprimento dos padrões da relação entre Estado e
cidadão. Estas regras podem firmar uma paz social.

Constituições não cumpridas têm o dom de


provocar caos e revoluções. Quando não formam elos
entre os segmentos da sociedade, podem causar
conflitos que ensejam confrontos. Se os seus
pressupostos distanciam governantes dos governados,
acirram os ânimos daqueles que se sentem injustiçados
e promovem disputas pelo poder.

Nos regimes totalitários, a interpretação dos


pressupostos constitucionais é do Estado. Não se
admitindo controvérsia sobre sua posição de dominância
total, qualquer forma de pensamento que contrarie esta
conformação não é aceita. O mais comum nestes casos
é a pura e simples repressão.

Nesta forma de governo, a lei maior pode ser


substituída pelas diretrizes do partido político. Na prática
pouca coisa se altera, porém deve se entender que uma
Constituição é gerada pela entidade denominada
Estado, enquanto que diretrizes são determinadas por
um grupo de pessoas ou, quiçá, apenas por uma
pessoa, no caso um governante supremo.

Nos regimes teocráticos as pré-disposições


contra o regime podem ser abafadas pela visão de que
o governo estabelecido tem sua legitimidade

caius_c 389
assegurada pelas entidades divinas. Possíveis revoltas
podem ocorrer por força de nova interpretação de seus
livros sagrados, o que retiraria a legalidade dos atuais
governantes.

As formas de governo totalitária e teocrática


tendem a serem estáticas, propiciando poucas
possibilidades de avanço social, pois mudanças podem
provocar a queda do próprio regime. Já os governos
democráticos precisam ser dinâmicos por conta de sua
própria condição. Esta dinâmica exige que sejam dadas
novas interpretações às normas contidas em suas
constituições. Podemos considerar isto como ajuste face
às novas realidades sociais.

Estes ajustes devem ser ratificados através


repetições constantes em julgados de casos idênticos,
dentro de determinado período de tempo. Isto se faz
necessário para evitar que mudanças ocorram por
questões ligadas a puro modismo, devendo-se partir do
princípio que a lei deve garantir segurança para os atos
praticados.

Tipos de Constituição

Existem várias classificações de constituições,


porém, em relação ao Estado interessa as que são
outorgadas e a originárias.

As constituições outorgadas nascem da


necessidade de compartilhamento do poder entre um
governo totalitário e determinadas camadas da

caius_c 390
população. A princípio é uma limitação de um poder que
pode se tornar abusivo. É uma forma de restringir o
poder. Revela o medo do poder estabelecido de
insurgências dessas camadas da população. Isto
significa que o aparato repressivo do regime não tem
poderes suficientes para manter o total controle sobre os
governados ou existe um crescendo opositivo ao
regime.

Sendo fruto das inquietações e receios do


governante, atende dois princípios básicos: o primeiro é
a manutenção do poder, do status quo, pela
demonstração de boa vontade do governante em
relação aos governados, através da outorga de uma lei
maior que estaria acima do mesmo; o segundo é que,
sendo uma outorga do governante, existe a
possibilidade de que a mesma possa ser modificada
pelo próprio.

As constituições originárias surgem depois de


uma ruptura política ou social. Existindo um abismo
ideológico entre o sistema anterior e o atual, faz-se
premente uma atualização da lei para que ela enquadre
as novas premissas e bases. Sua característica mais
marcante é a inovação.

Sendo fruto de quebra de paradigmas, ela não


precisa ser necessariamente democrática. Seus
atributos dependem exclusivamente da nova forma
instalada de governo ou regime.

caius_c 391
Esta forma de constituição não deriva de
nenhuma outra. O poder constituinte não subordina-se a
nenhuma condição e não sofre qualquer limite, estando
capacitado para manter, alterar ou criar as novas regras
do Estado.

Requisitos mínimos para uma constituição

LOEWENSTEIN enumera os requisitos mínimos


para uma Constituição autêntica: 297

a) Diferenciação das diversas tarefas estatais e sua


atribuição a diferentes órgãos ou detentores do
poder, para evitar a concentração do poder nas
mãos de um só individuo;

b) Um mecanismo planejado, que estabeleça a


cooperação dos diversos detentores do poder,
significando ao mesmo tempo, uma limitação e
uma distribuição do exercício do poder;

c) Um mecanismo planejado com antecipações de


parcelas autônomas do poder, a fim de evitar que
qualquer deles, numa hipótese de conflito,
resolva o embaraço sobrepondo-se aos demais;

d) Um mecanismo planejado para adaptação


pacífica da ordem fundamental às mutáveis
condições sociais e políticas, ou seja, um método
racional de reforma constitucional para evitar o
recurso à ilegalidade, à força ou à revolução;

caius_c 392
e) Reconhecimento expresso de certas esferas de
autodeterminação individual, isto é, dos direitos
individuais e das liberdades fundamentais,
prevendo sua proteção contra a interferência de
um ou de todos os detentores do poder.

KELSEN parte do princípio que uma constituição


compõe-se de uma norma fundamental hipotética. Com
base nesta norma, os membros do povo selecionam as
normas de comportamento social que consideram
fundamentais. Estas formam a primeira Constituição,
chamada de abstrata ou teórica. Através de uma
representação legal, estas normas são expressas como
regras jurídicas fundamentais, tornando-se uma
Constituição positiva. Os requisitos mínimos, neste
caso, seriam os costumes estabelecidos e a noção de
justiça do povo, que se convertem em uma lei maior. 298

Uma constituição deve expressar dois


sentimentos: o primeiro é o estabelecimento de bases
sólidas para que o Estado seja administrado e o
segundo é traçar seus rumos. A base sólida implica em
referendar algo imediatamente palpável e material. É
expressão da necessidade de segurança jurídica da
sociedade. Dar rumos ao Estado implica em estabelecer
a legalidade dos esforços em direção ao que se julga
mais adequado para ele e para a sociedade. É
referendar ou programar a vontade presente em
situações futuras que se deseja alcançar.

caius_c 393
O Estado como pessoa jurídica
“A justiça humana, ou, se se quiser, a
justiça política, não sendo mais do que
uma relação estabelecida entre uma
ação e o estado variável da sociedade,
também pode variar, à medida que
essa ação se torne vantajosa ou
necessária ao estado social. Só se
pode determinar bem a natureza dessa
justiça examinando com atenção as
relações complicadas das inconstantes
combinações que governam os
homens.” (Cesare Beccaria) 299

O conceito de Estado como pessoa jurídica


aparece com SAVIGNY, que o considerava como uma
ficção, pois admitia que apenas os sujeitos do direito
eram os indivíduos, únicos dotados de consciência e
vontade.300

Para Savigny, “o conceito primitivo de pessoa, ou


seja, de sujeito de direito, deve coincidir com o conceito
de homem, e esta primitiva identidade dos dois
conceitos pode ser expressa com a seguinte fórmula:

caius_c 394
qualquer ser humano, e apenas o ser humano, tem
capacidade de direito”.301

KELSEN, através de sua concepção normativista


do direito e do Estado, entende que o Estado tem
personalidade jurídica, mas é um sujeito artificial. Para
ele, o Estado é a personificação da pessoa jurídica.302

Para DUGUIT, o Estado não é uma pessoa, pois


Vontade do Estado, Interesse do Estado, são meras
abstrações. O Estado é um fato e não uma pessoa, não
tem pensamento nem vontade. O Estado é “um grupo
humano fixado em um território determinado, em que os
mais fortes impõem sua vontade aos mais fracos”. A
vontade dos governantes é a vontade do Estado.303

CARRÉ DE MALBERG afirma que a nação se


torna uma pessoa jurídica no momento em que
organiza-se em Estado, e que o Estado é a nação
juridicamente organizada.304

A teoria do Estado-orgão admite unicamente o


Estado como pessoa jurídica, condição negada à nação.
O Estado seria uma pessoa em si, cuja personalidade
jurídica consistiria no produto ou expressão de uma
organização real, na qual a nação intervém como
elemento estrutural, tal como o território e a soberania.

JELLINEK concebe a teoria da personalidade


jurídica do Estado ao explicitar que sujeito, em sentido
jurídico, não é uma essência, mas uma capacidade
criada mediante a vontade da ordem jurídica. O homem

caius_c 395
deve ser compreendido como pressuposto da
capacidade jurídica do Estado, vez que todo direito é
uma relação entre seres humanos.305

Para GROPALLI, a personalidade jurídica não é


um conceito metafísico mas técnico. Para ele, a
personalidade jurídica do Estado contempla, não só a
capacidade de Direito Público, que se manifesta no
exercício do poder público através de atos de imperium,
mais a capacidade de Direito Privado, que se manifesta
pelo exercício de direitos de caráter patrimonial através
dos atos de gestão.306

Como conceito civil de pessoa jurídica podemos


dizer que é a unidade de pessoas naturais ou de
patrimônio, que visa à consecução de certos fins,
reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos
e obrigações; são três os seus requisitos:

a) Organização de pessoas ou de bens;


b) Licitude de seus propósitos ou fins;
c) Capacidade jurídica reconhecida por norma.

Uma pessoa jurídica é a transposição da pessoa


física para uma realização social. É a fórmula que busca
a divisão do indivíduo para identificá-lo como pessoa
comum e pessoa social.

Tornando-se pessoa social, o indivíduo


predispõe-se a fazer com que ela extrapole sua própria
existência, submetendo-se assim á sua vontade onde o
objetivo que propõe é maior do que si próprio. Portanto,

caius_c 396
uma pessoa jurídica é um objetivo da pessoa natural,
que adquire tal força que se mostra maior que a própria
e pode, inclusive, não necessitar mais de seu criador,
visto que adquire uma identidade própria.

O Estado é uma realização social porque é


constituído de pessoas imbuídas da vontade de
gerenciamento das questões da sociedade.

O Estado é uma estrutura na qual os homens se


encaixam para manter a função para a qual ele foi
destinado. Ele não precisa mais de determinadas
pessoas, ele necessita de indivíduos que tenham
determinadas funções.

Mesmo nas diversas formas, regimes ou sistemas


de governo, o Estado ainda mantém-se como sujeito de
direitos e deveres. Logicamente, quanto mais se
aproxima da forma ideal do Estado Democrático de
Direito, a balança entre direitos e obrigações pende
mais para estas últimas. Quanto mais se aproxima das
formas tirânicas, torna-se mais detentor de direitos.

Não restam dúvidas que o Estado organiza as


formas sociais. Sem ele, não existiriam parâmetros que
promovessem uma convivência pacífica entre os
cidadãos.

Cabem dúvidas quanto à licitude de seus


propósitos ou fins, visto que essa definição provém de
seus integrantes. Entendendo que o objetivo final seja o
bem público na sua forma mais ampliada, pode-se crer

caius_c 397
que sejam justos. Entendendo que o objetivo final seja
apenas favorecer determinado grupo em prejuízo de
outros, caracterizando-se ilicitude, podemos dizer que
não se trata de uma pessoa jurídica mas apenas uma
reunião da malta.

Sendo detentor dos poderes, a capacidade


jurídica do Estado é inquestionável. Sua capacidade de
regulamentação e auto-regulamentação o torna produtor
e cumpridor de leis e administrador dos indivíduos sob
sua tutela.

Resta ainda a capacidade de imperium do


Estado. Nada pode abalar sua autoridade e tudo e
todos estão sujeitos aos seus ditames. Isto lhe confere o
poder máximo, com a conseqüente exigência de
obediência aos seus atos reguladores. Este poder é
freado por ele próprio, nos Estados democráticos, por
não poder ir além dos direitos dados aos seus cidadãos.
Nos Estados totalitários, esse poder pode beirar ao
supremo, visto que os direitos dos cidadãos são poucos
ou inexistem.

caius_c 398
Finalidade e funções do Estado
“Eu quisera nascer num país em que o
soberano e o povo só pudessem ter
um único e mesmo interesse, a fim de
que todos os movimentos da máquina
tendessem sempre unicamente à
felicidade comum; como isso só
poderia ser feito se o povo e o
soberano fossem a mesma pessoa,
resulta que eu quisera nascer sob um
governo democrático, sabiamente
moderado.”(Rousseau)307

Finalidade do Estado

Uma vida em sociedade implica em benefício


para o indivíduo. Sendo o Estado o elemento
organizador da sociedade, configura, a princípio, a
proposição de que ele seria o principal fautor deste
benefício para o indivíduo. No entanto, tem que se
entender que a relação Estado-cidadão não é a mesma
sociedade-indivíduo, e que nem sempre implica em
benefícios para aquele que não se encontra dentro da
estrutura de poder.

caius_c 399
Diversas teorias tentam explicar a precípua
finalidade do Estado. As mais comuns são: organicista,
mecanicista, fins particulares objetivos, fins subjetivos e
dos fins limitados.

Teoria organicista

O Estado é considerado como um organismo


vivo, dotado de funções e finalidades próprias. É o
Estado quem cria o papel do indivíduo, pois lhe concede
direitos e deveres. O detentor de todo e qualquer poder
é o Estado e este prevalece sobre o indivíduo.

Teoria mecanicista

Para os mecanicistas a sociedade significa


apenas a mera soma dos indivíduos e não um corpo de
indivíduos. O Estado está a serviço dos interesses
individuais e não tem qualquer finalidade e que a vida
em sociedade é uma mera sucessão de fatos, não
sendo passíveis de serem dirigidas pelo Estado.

Teoria dos fins particulares objetivos

O Estado tem objetivo próprio que variam de


acordo com suas particularidades. Ele atende uma de
suas várias atividades dependendo do momento
histórico.

caius_c 400
Teoria dos fins subjetivos

Fins subjetivos é o produto da inter-relação entre


Estado e interesses individuais. O Estado é formado
pela união de interesses individuais.

Teoria dos fins limitados

A finalidade principal do Estado é a guarda das


instituições e a manutenção das relações sociais.
Busca-se a menor interferência estatal possível dentro
da sociedade.

Dentro desta teoria, ESPINOZA afirma que o fim


do Estado consiste na manutenção da liberdade
espiritual, enquanto KANT diz que é o mesmo é
mantenedor da ordem jurídica, sem preocupações de
outra natureza. 308

Funções do Estado

As principais funções do Estado são: governo,


controle, regulamentação e auto-regulamentação.

Como função devemos entender não a


necessidade de sua existência mas a forma de
manifestá-la aos seus tutelados. Essa existência não
teria sentido se não extrapolasse a sua existência para
os cidadãos. Por ser uma necessidade social do ser
humano, um Estado que não se manifestasse de
alguma maneira estaria indo de forma contrária à ela e,
portanto, não teria razão de existir.

caius_c 401
Governo

Existem inúmeras definições para governo. As


mais comuns são as seguintes:

a) É "a organização, que é a autoridade


governante de uma unidade política," "o
poder de regrar uma sociedade
política," e o aparato pelo qual o corpo
governante funciona e exerce
309
autoridade.

b) É o conjunto de pessoas que dirigem


um país. 310

c) É o conjunto de instituições,
organizações e lideranças responsáveis
pela administração pública e pela
direção dos Estados. O conceito de
governo abrange as possibilidades de
participação no poder. 311

Governo, em nosso entendimento, é a forma mais


ampla de manifestação do Estado. Traduz-se na criação
e aplicação de normas que regem o sistema sobre o
qual serão edificados todos os seus atos.

Controle

Como já dissemos anteriormente, o Estado tem


poder sobre tudo e todos. Esse poder controla todos os

caius_c 402
atos do cidadão e todos os bens existentes em seu
território.

A necessidade do controle se faz presente visto


que sem ele não pode existir base para o Estado
afirmar-se como tal.

Controle implica em contabilizar, escriturar, obter


dados de todas as formas e tipos, processá-los, mantê-
los de forma acessível aos interessados, registrar e toda
a gama possível dessa modalidade.

Regulamentação

Como gerenciador da sociedade, o Estado


precisa regular suas múltiplas formas de interação.

Em parte, a sociedade se regula através dos


costumes, que é a forma habitual de interação, na qual
as partes, sem ter um elemento formal, procedem de
acordo com aquilo que está estabelecido em seu
universo de convívio.

O costume é aceito formalmente, nas lacunas da


lei, como fonte reguladora da sociedade, ou seja, o
Estado assume que, embora ela não seja dele
procedente, é válida como se fosse.

O nosso ordenamento jurídico consagra o


acolhimento de tais regras não-escritas quando, diante
do caso concreto, a lei não for satisfatória, de modo a
proporcionar um julgamento justo, aquele que vá ao

caius_c 403
encontro do bem-estar social, da paz, da harmonia. A
propósito, diz o art. 4º, da Lei de Introdução ao Código
Civil: "Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de
acordo com a analogia, os costumes e os princípios
gerais de direito”.

No entanto, a forma mais comum de


regulamentação que emana do Estado é a lei. Segundo
CLÓVIS BEVILÁQUA, lei é "a ordem geral obrigatória
que, emanando de uma autoridade competente
reconhecida, é imposta coativamente à obediência
geral".312

Sem lei ou alguma forma de regulamentação


social, ditada por um comando que todos julguem que é
o mais adequado, a sociedade não existiria ou se
esfacelaria, ficando o indivíduo sujeito aos ditames
naturais onde prevalece a força bruta ou a razão da
estupidez.

Auto-regulamentação

O nível de auto-regulamentação é a linha que


define os Estados totalitários dos representativos.

Auto-regulamentação é o estabelecimento de
limites de poderes dos Estados, seus deveres para com
o cidadão e as formas de acesso ao poder por aqueles
que assim o desejem e estejam capacitados para isso.

Com a auto-regulamentação, o Estado pretende


manter-se como entidade efetivamente representativa

caius_c 404
do indivíduo, estabelecendo padrões que levem a
promover o bem público, dando garantias nas variadas
formas para o cidadão, tornando-se um guardião das
melhoras normas de convivência.

A auto-regulamentação se dá por ações sociais


contra o Estado, quando a sociedade se julga oprimida,
desacatada ou sem a sua proteção. Por conceder
poderes ao Estado para que a regulamente, ela tem que
ter o poder de mudar conceitos, parâmetros, forma de
condução, estrutura, atuação e todas as formas que
julgue que afetem o bem público e impeçam que os
objetivos do Estado relacionados com o cidadão sejam
atingidos.

Manutenção da soberania

Sem dispor de soberania, o Estado não pode


cumprir as suas precípuas funções ou extingue-se. Uma
de suas funções é cuidar de sua própria existência.

Esta manutenção de soberania implica em ditar


normas de conduta em relação a outros Estados e
situações advindas destes.

Único bem não disponível ao Estado

Apesar de tudo pertencer ao Estado e do controle


que ele exerce sobre a vida dos cidadãos desde seu
nascimento, existe um bem do qual ele jamais possa
dispor: a vida de seus cidadãos.

caius_c 405
Pode-se argumentar que ao tirar a vida de
determinados cidadãos existe o resguardo pelo Estado
de todo o resto da sociedade, visto que a presença
destes no meio pode provocar danos à mesma.

Apesar do Estado ser um fato permanente na


vida das pessoas, seu regime e sistema de governo
oscila na sua historicidade. As pessoas que compõe sua
estrutura não são eternas e mudam continuamente.
Sendo assim, o que cabe em determinada situação,
torna-se repreensiva ou inimaginável em outra.

Alguns casos exemplificam bem essa situação


como o de Nelson Mandela, preso entre 1962 e 1990
por sua atividades políticas e, depois da queda do
apartheid na África do Sul, eleito presidente para o
exercício de 1994 a 1999. Lech Walesa foi presidente do
sindicato polonês Solidariedade, sendo preso varias
vezes quando o mesmo foi posto fora da lei entre 1980 e
1989. Com a mudança de regime, foi eleito presidente
da Polônia para o exercício de 1990 até 1995.

Se os Estados pudessem ter poder sobre a vida


desses cidadãos, a história seria completamente
diferente. O Estado não deixou de existir, apenas mudou
de forma.

É obvio que existem exemplos em que o Estado e


a sociedade perderam ao invés de ganhar com a
manutenção da vida do indivíduo. Hitler foi preso em
1924 por conta de sua malfadada tentativa de tomada
do poder conhecida como putsch da cervejaria.

caius_c 406
Sentenciado a cinco anos de prisão, foi anistiado após
cumprir seis meses.

Esse risco, no entanto, o Estado, na sua mais


ampla definição, precisa correr, visto que a previsão do
futuro ainda não é uma ciência exata.

Estes casos pressupõem que ele deixou de


cumprir suas obrigações principais que são promover a
justiça face á sociedade, tentar reintegrar o infrator aos
padrões sociais existentes e, acima de tudo, tentar
prevenir a infração.

Essas obrigações estão mais relacionadas ao


infrator comum, aquele que exaspera o dia a dia dos
cidadãos, mas devem estender-se a todos, pelos
seguintes motivos:

a) Se existe insatisfação política que se


traduz em manifestações,
principalmente de forma violenta,
significa que o regime ou a forma de
governo do Estado não está condizente
com as aspirações ou necessidades
daqueles a quem governa. As
mudanças se fazem necessário para
que não ocorram anomias ou
mudanças violentas de governo.
b) Se existe alta taxa de infração, significa
que o Estado está deixando de cumprir
sua obrigação em manter o bem público
e a saúde social da comunidade. Cabe,

caius_c 407
portanto, redefinição de seus objetivos
e formas de alcançá-los.

Ao tirar a vida de seus cidadãos, o Estado tira a


oportunidade de possíveis mudanças e sonega à
sociedade a visão de que algo precisa ser mudado. Isso
também pode criar instabilidade ao governo, pois mortes
podem causar revoltas ou mártires de causas. Por mais
horrenda que tenha sido a infração, nenhuma
condenação à morte obteve apoio de todos os setores
da sociedade.

caius_c 408
Objetivos fundamentais da
República Federativa do Brasil
“É um processo longo e lento:
dar a alguém uma
consciência social. É difícil
ver a nossa própria vida em
relação ao mundo todo. Nós
aprendemos sobre as duas
coisas de maneiras
diferentes”. (Skinner)313

O artigo 3o., da Constituição Federal de 1988,


estabelece os objetivos da República Federativa do
Brasil, que são:

1) Construir uma sociedade livre, justa e


solidária;
2) Garantir o desenvolvimento nacional;
3) Erradicar a pobreza e a marginalização e
reduzir as desigualdades sociais e regionais;
4) Promover o bem de todos,sem preconceitos
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação

caius_c 409
Sociedade livre, justa e solidária

O Estado brasileiro propõe-se a construir uma


sociedade livre, justa e solidária. Ele é o mentor dessa
transformação social. Sendo assim, supõe-se que ele e
sua estrutura governamental estão imbuídos de todos os
componentes necessários para isso, o que implica em
dizer que qualquer ato atentatório contra esse objetivo,
da parte do Estado, implica em inconstitucionalidade e
até em imoralidade, pela transcendência.

Uma sociedade livre é aquela que escolhe seus


próprios caminhos e usa dos mecanismos estatais para
produzir líderes que realizem seus desejos. Neste caso,
sociedade livre não pode ser sinônimo de democracia,
visto que esta última é apenas o instrumento que se
considera mais válido para atingir seu ideal de liberdade.

Ser livre compreende ter a medida certa de


direitos e deveres, na forma suficiente para poder agir
dentro de determinados parâmetros, cuja existência se
faz necessária para que os circundantes tenham as
mesmas oportunidades. Ser livre é ter poder de escolha
sobre as opções comuns a todos. Estas prerrogativas
individuais são estendidas a todos, na sua melhor forma.

Uma sociedade justa é aquela em que todos


estão sob a proteção do Estado. Esta justiça está
distribuída em todas as suas formas e é exercida de
maneira igual para todos.

caius_c 410
Essa justiça tem que equilibrar a heterogeneidade
dos indivíduos através de dispositivos que possam
nivelar todos ao mesmo nível de oportunidade e
atenção. Cabe aqui reforços para os que estão em
patamares diferentes daquilo que se convencionou
chamar de homem médio, ao mesmo tempo que cabe
medidas restritivas para aqueles que lhes são
superiores.

Estas medidas produzem uma homogeneização


social, onde todos que a compõem podem usufruir da
melhor maneira das estruturas que formam a sociedade
e a dirigem, sem entraves provocados por diferenças
individuais.

Apesar dessa homogeneização social, não cabe


na justiça social a transformação de todos em uma
massa uniforme e sem distinção. Justiça social implica
em fornecer, também, suporte extra para os que
superam o homem médio na sua capacidade física e
intelectual.

O contra-senso neste primeiro objetivo é a


construção de uma sociedade solidária. A solidariedade
é muito subjetiva para que o Estado possa atuar sobre o
cidadão e induzi-lo a praticar atos que tenham cunhos
sociais ou sejam direcionados para outros sem objeto de
lucro. Solidariedade não se impõe ou se aprende;
solidariedade é um sentimento mais próprio de uns do
que de outros.

caius_c 411
A resposta para transformar este ideal em algo
concreto parte principalmente das leis que equilibram a
heterogeneidade individual. Embora não se possa
ensinar alguém a ser solidário ou forçá-lo a ser, pode-se
regulamentar ações que provoque um estado no qual
todos tenham que reproduzi-las da mesma forma e no
mesmo nível. Os melhores exemplos são as leis que
protegem os idosos, a criança e o adolescente, os
deficientes físicos, etc.

Estas leis podem, em algum futuro, produzir o


sentimento solidário que se espera de todos, baseado
na compreensão natural das diferenças existentes entre
os cidadãos.

Garantir o desenvolvimento nacional

O primeiro objetivo da República é extenso o


suficiente para englobar todos os demais. Pode parecer
redundante a colocação dos demais em nossa
Constituição mas é a forma de tornar o mais claro
possível os passos para se construir uma sociedade
justa, livre e solidária.

O sentido amplo para desenvolvimento nacional é


a produção e distribuição equitativa dos recursos
existentes para todos os cidadãos ao mesmo tempo em
que se evita dependência externa para a produção dos
mesmos.

Uma sociedade livre somente pode existir quando


não depende ou depende pouco de recursos externos.

caius_c 412
Dependência externa produz servidão. Soberania,
autonomia, independência e liberdade somente existem
quando se pode gerenciar de forma livre e igualitária os
recursos, que devem ser próprios ou obtidos de forma
que não exista submissão a poderes externos ou
paralelos ao Estado.

Desenvolvimento implica na obtenção de novas


tecnologias e distribuição das existentes para que os
cidadãos façam o melhor uso dela. Essa capacidade,
hoje em dia, está diretamente ligada à própria
governabilidade do Estado. Um Estado sem tecnologia
está fadado à submissão ou extinção.

A criação de meios de produção e o controle dos


mesmos produz desenvolvimento. O Estado deve
abster-e de transformar-se em empresa e produzir bens,
exceto em casos que se façam necessários. O controle
desses meios, no entanto, além de prerrogativa do
Estado, é uma necessidade. Esse controle produz
impostos para que ele possa manter sua estrutura e
fornece proteção aos cidadãos e às empresas.

A proteção aos cidadãos estende-se do produto


ás relações de emprego. A qualidade de todo o
processo que envolve capital e trabalho deve ser
monitorada pelo Estado através de regulamentação e
fiscalização. Não compete ao Estado imiscuir-se
diretamente a não ser em caso de infração ou mais que
evidente interesse nacional.

caius_c 413
A proteção às empresas engloba o descrito
acima, acrescentando os inerentes à sua condição de
pessoa jurídica e objetivo social. Compete ao Estado
equilibrar o necessário desenvolvimento com a proteção
dos recursos naturais e a qualidade de vida dos
cidadãos.

O patrimônio do Estado é o cidadão. Tudo o que


torna necessário para que o ser humano atinja esta
condição torna-se responsabilidade do Estado. A
proteção que se faz necessário ao cidadão torna-se
mais abrangente ao se dar a mesma condição para tudo
aquilo que o cerca.

Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as


desigualdades sociais e regionais

De acordo com ANTÔNIO PEDRO ALBERNAZ e


ELAINE GUROVITZ, a percepção da pobreza como
conceito relativo é uma abordagem de cunho
macroeconômico, assim como o conceito de pobreza
absoluta. A pobreza relativa tem relação direta com a
desigualdade na distribuição de renda. É explicitada
segundo o padrão de vida vigente na sociedade que
define como pobres as pessoas situadas na camada
inferior da distribuição de renda, quando comparadas
àquelas melhor posicionadas. O conceito de pobreza
relativa é descrito como aquela situação em que o
indivíduo, quando comparado a outros, tem menos de
algum atributo desejado, seja renda, sejam condições
favoráveis de emprego ou poder. Essa conceituação,
por outro lado, torna-se incompleta ao não deixar

caius_c 414
margem para uma noção de destituição absoluta,
requisito básico para a conceituação de pobreza.
Também acaba gerando ambigüidade no uso indiferente
dos termos pobreza e desigualdade que, na verdade,
não são sinônimos.314

O legislador ao referir-se à pobreza não pode dar-


lhe um cunho mais preciso. No entanto, devemos
entender que trata-se da incapacidade do indivíduo de
obter ou ter recursos que confiram-lhe a sobrevivência
física e social.

A falta de recursos primários como comida, água


e habitação já traduzem a situação extrema de pobreza,
implicando diretamente em sua sobrevivência física. Em
plano superior, cabe falta de recursos secundários como
condições sanitárias, energia e outros elementos que
tornaram-se necessários por conta da própria evolução
da sociedade. Neste plano convivem as necessidades
físicas com as sociais. Indo além, em plano terciário,
cabe falta de recursos que sejam necessários para dar
ao cidadão as oportunidades que a sociedade oferece e
dar ao cidadão um padrão adequado de vida. Aqui falta-
se cultura, educação, disponibilização de recursos
tecnológicos e outros mais.

A evolução social transfere o patamar da pobreza


para níveis mais elevados. O termo “excluído digital”,
criado pelo Professor Jorge Nogueira, já aponta para um
nível de pobreza que está mais além daquele que
conhecemos. A pobreza já se transfere para a falta ou
impossibilidade de uso rotineiro das tecnologias
necessárias para a sobrevivência em uma sociedade

caius_c 415
que está cada vez mais se tornando mecânica,
automatizada e digital.315

Marginalização vem de margem, que significa


aquilo que não está no fluxo de determinada coisa ou
está ao redor do principal ou afastado dele. Significa
discriminação também. Marginal, dentro de um contexto
social, é aquele que vive afastado ou discriminado. Tem
conotação de bandido, pária ou desocupado. Em suma,
marginal é o indivíduo ou coisa que não está integrada à
sociedade, vivendo em condições ou normas diferentes
da maioria.

Quando se pretende erradicar a marginalização,


não se trata apenas de reduzir criminalidade ou fazer
com que o indivíduo passe a viver sob as regras da
maioria. Significa acolher e dar condições aos
elementos afastados do fluxo social. Esta condição
extrapola ao conceito de que o aparato policial é o único
recurso para por fim à esta situação.

Parte da marginalidade, em seu amplo sentido,


deriva da condição de pobreza. É ela que produz, em
muitas situações a condição marginal do indivíduo. Sem
recursos, o indivíduo torna-se absolutamente incapaz de
adequar-se à uma sociedade que está cada dia mais
exigente em relação à preparação do cidadão. Esta
preparação inclui alto nível de escolaridade e uso de
elementos tecnológicos em seu dia a dia.

Outra parte provém de determinadas


características dos indivíduos que impelem-no, por força
própria ou de acima dele, a participar de forma

caius_c 416
alternativa e nem sempre em seu benefício, de grupos
que são discriminados pela sociedade. Grupos
homossexuais são os exemplos mais claros desta
situação.

A marginalização, exceto raros casos, não é


individual. Ela é característica de grupos. Ela pode
transmitir-se de geração em geração ou espalhar-se
dentro grupos que contenham as mesmas condições.

Vez ou outra, ela torna-se fruto de subculturas


que, sem acesso às condições consideradas como
normais, exaltam a própria marginalidade e
transformam-na em sua própria forma de vida. Quando
enraizada nessa premissa, a marginalidade assume
uma forma que somente pode ser combatida através da
reeducação ou educação.

Sendo um país extenso, de climas e geografias


diferentes, com realidades políticas e históricas
desiguais, o Brasil, embora não seja o único, possui
zonas econômicas que variam da extrema riqueza a
mais pérfida pobreza.

Estas zonas, por vezes, estão próximas


geograficamente de si, como é caso de favelas ao lado
de condomínios de luxo. Outras vezes estende-se
dentro do conjunto cidade-campo, onde estes últimos,
geralmente, estão em situação desfavorável.

Embora, em termos macros, ainda existam


diferenças significativas entre as regiões geografias do
país, acreditamos que as antigas definições de pobreza

caius_c 417
baseadas na comparação entre sul-sudeste e norte-
nordeste estão desaparecendo. Bolhas de crescimento
econômico que propiciam o acesso dos elementos
desfavorecidos aos padrões ditados pelo conceito de
cidadania foram se formando e estão se espalhando de
forma a trazerem para seu bojo aqueles que estão em
situação de pobreza ou marginalização.

Erradicar significa eliminar completamente.


Erradicar pobreza, marginalização e desigualdades
parece ser um ideal utópico difícil de ser atingido, visto
que sempre foram e são componentes de qualquer
grupo social. Há de se convir, porém, que sua
diminuição a um grau efetivamente baixo representa
atuação efetiva de um verdadeiro Estado Democrático
de Direito. Minimizar as diferenças, tendo como
parâmetro os altos padrões, já induz que aquela
sociedade caminha efetivamente para aquilo que deve
ser seu ideal: o ser humano.

Promover o bem de todos,sem preconceitos de


origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação

Talvez fosse mais correto, dentro de um Estado


Democrático de Direito, trocar o termo “promover” pelo
“garantir”.

Este último objetivo traduz a forma igualitária pela


qual todos os cidadãos devam ser tratados. O bem de
todos que se promove deve atingir todos os grupos
sociais existentes, sem qualquer discriminação por
conta de sua dessemelhança.

caius_c 418
Esta promoção pode estender-se aos ditames da
lei, quando se dá tratamento diferenciado para
determinados grupos por conta de sua incapacidade de
atuação frente aos dominantes. É o famoso lema "tratar
de forma igual os iguais e de forma desigual os
desiguais na medida em que se desigualam.” Este
princípio é o que convencionou chamar-se de isonomia.

Precisamos entender que o princípio da isonomia


busca a igualdade através do equilíbrio entre as partes.
Todos podem ser iguais perante a lei, porém, na maioria
das vezes, existem diferenças econômicas ou sociais
que podem permitir que determinado indivíduo ou grupo
sempre obtenha vantagens em função dessas
diferenças.

O princípio isonômico deve estabelecer restrições


para aqueles que tenham vantagens excessivas ao
mesmo tempo em que melhora as condições daqueles
que estão em patamar inferior. Esta diferença deve
produzir o necessário equilíbrio entre as partes para que
possam concorrer de forma igual às oportunidades
sociais.

O legislador, ao proferir o princípio da isonomia


como um dos objetivos da República Federativa do
Brasil, teve o cuidado de acrescentar os que nos
parecem mais comuns como motivos de discriminação
que são a origem, raça, sexo, cor e idade. O termo “bem
de todos” é amplo o bastante para englobar todos os
cidadãos, no entanto, não existe redundância ao
acrescentar os elementos que mais comumente são

caius_c 419
discriminados. Reafirma-se, apenas, o princípio da
isonomia ao enunciá-los.

caius_c 420
Estado Democrático de Direito
"Não te dei, ó Adão, nem rosto, nem
um lugar que te seja próprio, nem
qualquer dom particular, para que teu
rosto, teu lugar e teus dons, os
desejes, os conquistes e sejas tu
mesmo a possui-los.Encerra a
natureza outras espécies em leis por
mim estabelecidas. Mas tu, que não
conheces qualquer limite, só mercê do
teu arbítrio, em cujas mãos te coloquei,
te defines a ti próprio. Coloquei-te no
centro do mundo, para que melhor
possas contemplar o que o mundo
contém. Não te fiz nem celeste nem
terrestre, nem mortal nem imortal, para
que tu, livremente, tal como um bom
pintor ou um hábil escultor, dês
acabamento à forma que te é própria".
(Pico de la Mirandola).

A tirania usa o medo dos homens para governar;


o Estado Democrático de Direito utiliza seus melhores
desejos. O Estado de Direito é um paradigma alicerçado
no princípio da soberania popular.

caius_c 421
Para MORTATI, a soberania popular contempla
três fases históricas:316

a) Na primeira, o povo era considerado como massa


amorfa, fora do Estado;
b) Na segunda, consolidada pela Revolução
Francesa, a titularidade do poder era atribuída à
nação considerada como povo concebido numa
ordem integrante;
c) Na terceira, o titular da soberania tornou-se
Estado, pois se a soberania é um direito, seu
titular só pode ser uma pessoa jurídica, o que não
ocorre com a Nação.

A titularidade do Estado do poder soberano, no


Estado Democrático de Direito, somente tem sentido
quando emanada do povo. Este consentimento dado
aos que detém o poder é feito através do voto direto ou
indireto, de forma periódica.

Este Estado busca assegurar condições reais de


igualdade e liberdade para todos. Para que isso se
estabeleça são necessárias as seguintes medidas:

a) A inserção constitucional da cláusula social;


b) A ampliação do voto de forma universal e
igualitária;
c) A estruturação dos direitos de colaboração
política na forma de partidos;
d) Desenvolvimento dos programas ideológicos
dos partidos políticos com propostas de
políticas públicas e,

caius_c 422
e) A criação de novos mecanismos de formação
de opinião pública nas complexas sociedades
de massas.

A inserção da cláusula social na Constituição


garante a legitimidade do regime e da forma de governo.
Este estabelecimento somente pode ocorrer na
existência de uma ruptura da ordem social que se
manifesta em esquematização das novas condições de
governo. Esta ruptura pode ser de inúmeras formas que
variam desde a criada através de atos violentos até
aquela acordada pela sociedade.

O estabelecimento do Estado Democrático de


Direito na Constituição implica em direcionar todas as
suas disposições para que se formulem leis que sirvam
de lastro para se cumprir os objetivos propostos por este
Estado.

Uma democracia necessariamente implica em


escolha dos representantes da sociedade através de
voto secreto. O segredo sempre será necessário porque
o anonimato do eleitor previne futuras retaliações por
qualquer elemento que se torne hostil por conta de sua
escolha.

Existem controvérsias a respeito da


obrigatoriedade do voto imposta pelas leis brasileiras
pois outros países reconhecidamente democráticos
consideram que a participação política do cidadão deve
ser espontânea e de livre escolha. Argumenta-se que a
obrigatoriedade contrariaria o próprio principio da

caius_c 423
democracia, visto que torna uma imposição a
participação do cidadão no processo político de escolha.
Alguns países, como o Estados Unidos, podem,
inclusive, recusarem eleitores por conta de sua
manifesta tendência política.

A universalização do voto busca abranger todos


os seguimentos sociais e configurar o processo de
escolha como o de maior representatividade possível.
Possibilitar que grupos diversos tenham porta-vozes de
sua causa dentro da estrutura política pode garantir um
equilíbrio nas decisões governamentais e evitam a
formação de oligarquias ou a tomada de poder por
grupos que almejam apenas seus objetivos.

Ao tornar o valor de cada voto igual para todos


cria-se a forma mais adequada para definir uma maioria
que espelha os anseios de grande parte da sociedade.

Busca-se com a criação de partidos políticos uma


aglutinação de pessoas com os mesmos ideais,. Sem
essa concentração, os ideais individualizados tornariam
inepta a vida política.

Cada partido deve ser reflexo de formas


democráticas de governo que, se fossem uniformes a
todos, tornaria o princípio da diversidade política, tão
cara a um Estado Democrático de Direito, simplesmente
inútil.

A quantidade de partidos deve ser adequada de


modo que não produza excesso, ao mesmo tempo em

caius_c 424
que não configure falta de representatividade dos
diversos setores sociais. Considerar que deva apenas
existir duas formas de representação política como
oposição e situação, configura estreiteza de
pensamento porque leva a confusão permanente de que
apenas o partido que detém o poder deva governar,
enquanto que o outro deve encarregar-se de ser seu
eterno adversário.

O pluripartidarismo, além de constituir maior


diversidade social, implica em divisão do governo entre
os partidos. Torna-se quase impossível que um só
partido governe nesta forma de representação política.
Essa impossibilidade implica em adoção de métodos de
governabilidade que satisfaçam os setores que cada um
representa e, portanto, em última análise, o cidadão que
elegeu seus líderes.

Em um Estado Democrático de Direito não basta


apenas a participação dos cidadãos, é necessário que
estes tenham condições de ter um pensamento crítico
em relação à sua atuação como eleitor. Essa atuação
regula as atividades de seus representantes porque
fiscaliza suas ações.

Uma democracia efetiva somente pode existir se


existe a responsabilidade do representante face ao
representado e vice-versa. O representado tem que ter
tino e poderes suficientes para excluir aqueles que não
correspondem ás suas expectativas ou às do próprio
Estado.

caius_c 425
Responsabilidade do representante

A partir do momento em que o Estado se


preocupa apenas consigo ele deixa de ser um Estado de
Direito. Deixando de ser um Estado de Direito, ele não
favorece mais a sociedade. Não favorecendo mais a
sociedade, ele deixa de ser legítimo e, deixando de ser
legítimo, deve ser substituído de imediato. Sem um
Estado responsável não existe uma sociedade
responsável.

Vemos o Estado como uma entidade sem corpo e


vagamente indefinível. Em primeira instância, julgamos
até que ele é algo sobrenatural e que foge de nossa
compreensão. No entanto, o Estado é algo sólido e
composto por pessoas. Quando atribuimos
responsabilidades ao Estado, na verdade, estamos
atribuindo responsabilidades à pessoas que acreditamos
que tenham mais capacidade de gerenciar partes da
sociedade. Logo, a responsabilidade de quem promove
coesão na sociedade é muito maior do que aquele que
limita essa capacidade aos grupos dos quais participa.
Tendo mais responsabilidades sociais é justo supor que
essas pessoas devam ter um ganho maior. No entanto,
a partir do momento em que essa confiança é quebrada
por algo provocado por um ente que faz parte do
conjunto do Estado, o alcance de suas ações é bem
maior do que aquela praticada por outros. Sendo maior
o alcance, as conseqüências também serão. O crime
seria duplo: a quebra da confiança dos que o elegeram
e a extensão do dano social. Nada mais correto que as
penas sejam também duplicadas nesses casos. Alguém

caius_c 426
que participa do Estado e comete um dolo deveria
responder por isso com mais severidade do que outro
qualquer. Seria um crime social e não restrito a alguns
grupos ou indivíduos.

A responsabilidade do representante tem que


estar expressa em lei. Tornando-se pessoa pública, a
extensão de seus atos extrapola sua pessoa física e
produz efeitos dentro da sociedade. Assim sendo, o
grau de responsabilização é maior do que o é o do
cidadão comum. Por conseguinte, as infrações tornam-
se mais graves e as penas devem se ajustar ao tanto de
dano que produziu.

O dano produzido não se restringe apenas ao


material. O representante que envereda-se por
caminhos escusos, contrários à lei e ao interesse
público, torna-se elemento de descrédito da instituição e
do Estado.

O crime deixa de ser comum quando o


representante o comete. Em um crime comum, os
atingidos são poucos e, no geral, restringe-se a uma
situação particular em determinado momento. Quando
cometido por um representante, o crime alastra-se por
toda a sociedade ou parte dela. Com um número maior
de atingidos, deixa de ser crime comum e enseja uma
punição maior.

Um roubo ou furto atinge número limitado de


pessoas. Um desvio ou malversação de verbas públicas
infere um dano social extensível ao que se pretendia

caius_c 427
fazer com ela. Logo, o objeto do roubo ou furto, embora
seja o mesmo, diferencia-se pelo uso do próprio objeto,
visto que tem um cunho social.

O dano à credibilidade da Administração Pública


e do próprio Estado pode tomar níveis alarmantes
quando os crimes são contínuos e impunes. O Estado
sobrevive e vive por conta da confiança que lhe deposita
o comum cidadão. Instalando-se a desconfiança entre
governantes e governados, a regra que impera é a de
prevalência de um sobre o outro, cada qual querendo
apenas vantagens ou buscando soluções que afastam
gradativamente a sociedade do conjunto de regras que
ela mesma estatuiu para que tornasse harmônica a
convivência.

Responsabilidade do representado

A responsabilidade do representado face ao


representante não tem como ser titulado em lei pelo
próprio anonimato que a escolha por voto confere.
Cabe-lhe, no entanto, a função de fiscal da atuação do
representante, buscando a idoneidade e a eficiência do
mesmo.

A forma mais comum e menos eficiente para


evitar que o representante produza danos é a sua
exclusão do quadro governante através de sua não
eleição. Essa prática torna-se difícil por conta da
lealdade de eleitores que não levam em conta a atuação
do representante mas apenas o carisma que dele
emana. A mídia é elemento comum de manipulação e

caius_c 428
mantém, quando não aumenta, um quadro eleitoral que
permite a permanência desses elementos no poder.

É possível ao comum cidadão entrar com


processo contra aquele que julga falto de idoneidade,
causador de danos ou infrator. No entanto, essa
possibilidade é pouco divulgada e muito onerosa para o
indivíduo, que prefere abster-se de tal prática.

A grande falha da atual democracia é a quase


impossibilidade de ações populares que regulem as
atividades de seus representantes.

Para que se faça ouvir, o cidadão precisa


associar-se a entidades governamentais ou não-
governamentais, quando não precisa criar uma própria.
Para aqueles que têm pouco de seu tempo, usado para
sua sobrevivência e de sua família na sua maior parte,
essas aberrações dentro do sistema são de difícil
acerto.

O sistema tenta corrigir essas falhas ou faltas


através de mecanismos acionados pelos próprios
representantes, o que não lhes conferem tanta
credibilidade, visto que estão imbuídos de interesses
próprios, partidários, oligárquicos, etc.

Em razão da possibilidade de o Judiciário


controlar a moralidade dos atos administrativos, e ante a
necessidade de observância do princípio da inércia da
jurisdição, a Constituição Federal estabeleceu dois
meios de controle da moralidade administrativa, a saber:

caius_c 429
1) A ação popular93 é utilizada para desconstituir
atos lesivos à moralidade administrativa, devendo
ser subscrita por um cidadão, mediante prova da
cidadania, com título de eleitor e comprovante de
votação de apresentação obrigatórios;

2) Ação Civil Pública94, cujo objetivo é a proteção de


interesses transindividuais. Em sendo o ato
imoral, violador de direitos metaindividuais, a
ação civil pública é o instrumento correto para
controle da moralidade, podendo dela surgir as
sanções descritas no tópico a seguir.

É certo que os representantes devam ter uma


proteção extra para que não lhes sejam tolhidos todos
os movimentos. Sua própria situação de representante,
dono de poder de decisão, precisa ser preservada para
momentos em que deva tomar medidas benéficas mas
que não sejam de agrado popular ou de todos.

Derivada de uma situação anterior, onde


prevalecia perseguição aos opositores do regime, a
Constituição Federal de 1988 outorgou uma série de
medidas protetoras baseando-se na premissa de que o
próprio Estado poderia voltar-se contra alguns que
fossem contrários contra o grupo dominante. Essa
proteção, dentro de um Estado Democrático de Direito,
é usada, às vezes, para tornar impunes aqueles que

93
Prevista na Constituição Federal/88, em seu art. 5.º, inc. LXXIII
94
Prevista na Lei n.7.347/85

caius_c 430
usam do sistema em próprio proveito ou dos seus,
desprezando o cidadão que o colocou naquele lugar.

Essa proteção atinge o ápice quando denega aos


poderes constituídos para tal fim o necessário
julgamento dos atos infracionários. Para evitar tirania e
manter controle sobre a situação, a classe representante
adotou poderes para julgar aqueles que dela fazem
parte.

Sendo tribunal de si própria, a representação


corre o risco de tornar-se espúria e corrupta, pois
existem facilidades para obtenção de acordos baseados,
principalmente, na situação política de cada um. A
História tem nos ensinado que os maiores merecedores
do opróbrio social terminam seus dias montados no
poder que os sustenta.

Nos casos de crime comum de tais


representantes, a pena deve ser comum. Para crimes de
lesa-sociedade, a pena deve ser ampliada de acordo
com o malefício provocado.

Para que sejam julgados adequadamente, a


representação deve ser retirada e todos os poderes
concernentes a ela. Reduzido a cidadão comum, a
justiça ordinária é totalmente capaz de dar o tratamento
adequado a cada caso, de acordo com a lei.

O afastamento do possível infrator do âmbito


político não implica em cassação de mandato até a
sentença final, irredutível. No entanto, todos os seus

caius_c 431
poderes políticos deveriam ser retirados a partir do
momento em que a denúncia fosse aceita pelos
tribunais.

Essa forma de tratamento reduziria a


possibilidade de cometimento de crimes por conta de
representantes, sabedores que teriam seus privilégios
retirados. Implicaria, também, em direcionamento das
atividades governamentais para suas funções principais
que são as de administrar e legislar, ao mesmo tempo
em que confere ao Poder Judiciário a sua função que é
a de julgar.

A existência de mecanismos fáceis para o


cidadão poder fazer valer seus direitos frente ao
representante, constituiria uma vitória democrática. Sem
precisar dispor muito de seu tempo e energia, ele
poderia acioná-los de forma cômoda e eficaz.

Suas apreensões ou denúncias seriam


encaminhadas para um setor competente que tivesse
autonomia suficiente para levá-las a bom termo,
mantendo o cidadão informado dos passos do processo.

Sabendo que suas apreensões e denúncias


seriam devidamente investigadas, o cidadão teria maior
confiança nos seus representantes, ao mesmo tempo
em que estes invitariam maiores esforços para
manterem-se dignos como tal.

Com a investigação, pode-se, também,


acrescentar maior credibilidade ao representante, pois

caius_c 432
esta não termina necessariamente em condenação. Mal
entendidos poderiam ser resolvidos e o eleitor poderia
ter uma maior confiança naquele em quem depositou
seu voto.

Nível de gerenciamento do Estado

Entende-se que um Estado Democrático de


Direito deve atender as necessidades sociais, deixando
para a iniciativa privada as formas de produção e
distribuição de produtos e serviços.

O Estado reduz seu papel de executor ou


prestador direito de serviços, mantendo-se entretanto no
papel de regulador e provedor ou promotor destes,
principalmente dos serviços sociais como educação e
saúde, que são essenciais para o desenvolvimento, na
medida em que promovem cidadãos; e para uma
distribuição de renda mais justa, que o mercado é
incapaz de garantir, dada a oferta muito superior à
demanda de mão de obra especializada. Como
promotor desses serviços, o Estado continuará a
subsidiá-los, buscando, ao mesmo tempo, o controle
social direto e a participação da sociedade.

Cabe ao Estado todo e qualquer controle que


afete as relações econômicas e sociais. Ele o faz
através de seus poderes, ora legislando, fazendo ou
judicando os conflitos. A fiscalização faz parte de seus
atributos, para que não se rompa a teia da lei que
equilibra as relações.

caius_c 433
Este controle pode ser feito através de seus
próprios meios ou delegado a entidades, quando
necessário ou ser oneroso demais para a estrutura
estatal. Não se rompe, porém, o controle estatal quando
delegado a entidades particulares.

Que o Estado deva cuidar das necessidades


sociais não resta dúvida. Itens como saúde e educação
não podem ser deixados de forma total para a iniciativa
privada. A saúde física e política da população é
responsabilidade do Estado.

A saúde do cidadão é a saúde do Estado.


Relegá-la a segundo plano, não lhe dar prioridade ou
deixar a cargo exclusivo da iniciativa privada, transforma
a população em uma massa inerte, improdutiva e
corroída por enfermidades. A sociedade deteriora-se
nas crises de saúde e transforma o Estado em
governante sem governados.

Neste caso, o Estado deve tornar-se concorrente


da iniciativa privada, procurando dar à população o
máximo possível de recursos e facilidades para que
possa manter-se saudável. Tornar-se ativo apenas em
calamidades que exijam uma estrutura que a iniciativa
privada não tem, não torna o Estado nenhum mentor da
saúde pública. A atuação do Estado deve ser ampla e
irrestrita neste setor. Ela deve ir desde a prevenção até
a recuperação.

Produzir ambientes que evitem a deterioração da


saúde faz parte dessa atuação. Mantê-los também é sua

caius_c 434
obrigação, tanto no macro como no microcosmo
ambiental. O conceito de ambiente deve ser amplo,
englobando tanto aquele em que o homem vive como
aquele do qual depende.

Outro ponto em que o Estado deve ser


concorrente da iniciativa privada, quando não superior, é
na educação.

A educação é básica para a constituição de


cidadãos. Não implica apenas em capacitação técnica
mas a formação completa do ser humano, cuidando
para que ele tenha condições e capacidade de viver em
uma sociedade cada dia mais complexa, de forma
harmônica com seus semelhantes.

Deve ser acrescentado, pela educação, um


espírito crítico e saudável buscando dar a cada um a
capacidade de visualizar o bem público como seu
próprio e lutar por ele quando houver alguma
degradação. A educação pode transformar o homem em
um ser realmente social.

Saber criticar é bom mas o cidadão também deve


ser educado de tal forma que saiba buscar seus direitos
e tenha os instrumentos adequados para tal. Esse
cidadão participativo politicamente é um objetivo a ser
almejado pelo Estado Democrático de Direito.

As interferências no campo econômico devem


limitar-se a controle e regulamentação. As exceções

caius_c 435
cabem em setores onde a iniciativa privada não quer ou
não pode atuar.

Um Estado que toma para si o máximo de


atribuições possíveis nos setores de produção e
distribuição descumpre sua finalidade de ater-se aos
elementos essenciais ao mesmo tempo em que enseja o
surgimento de um totalitarismo baseado na economia do
país. Uma das características dos Estados totalitários é
colocar sobre sua tutela direta os meios de produção e
distribuição, deixando pouco espaço para a iniciativa
privada.

Essa limitação do Estado não implica em deixar


que as empresas tornem-se gigantescas a ponto de
interferir na atuação dele próprio ou dominando setores
econômicos. Os cartéis e monopólios configuram poder
paralelo, quando não se tornam concorrentes.

O ideal seria que não existissem possibilidades


de formação destes entres econômicos. Uma economia
saudável pressupõe que exista espaço suficiente para
que empresas de diversos calibres disputem o mercado
de forma saudável, através dos mecanismos da
concorrência. Em penúltimo caso, não existindo número
suficiente de empresas e nem a possibilidade de
instalação de outras, para que possa existir a
concorrência, cabe ao Estado controlar estes entes e
mantê-los sob sua fiscalização. Em último caso, quando
tratar-se de produto ou serviço essencial, o Estado pode
atribuir-se as funções de produzir e distribuir.

caius_c 436
Fundamentos do Estado
Democrático de Direito Brasileiro
“O ser vivo necessita e
deseja antes de mais nada e
acima de todas as coisas dar
liberdade de ação à sua
força, ao seu potencial. A
própria vida é vontade de
potência.” (Nietzche)317

O artigo 1o. da Constituição Federal de 1988


estabeleceu os fundamentos do Estado Brasileiro
consagrando-o como um Estado Democrático de Direito,
formado pela união indissolúvel dos Estados, Municípios
e Distrito Federal.

Esta indissolubilidade expressa na Constituição


Federal não permite que existam movimentos
separatistas ou que leis possam ser criadas com
manifesto desejo de que o país seja dividido ou
desmembrado.

caius_c 437
Existe a crença geral de que o Brasil seja um país
que teve uma historia relativamente tranqüila e isenta de
luta, inspirada, talvez, no temperamento do brasileiro, no
qual sempre se acreditou que fosse pacífico.

A História desmente esse tão propalado passado


sem guerras ou do caráter do homem médio brasileiro.
Algumas figuras históricas como Tiradentes mostram
que a rebeldia armada fez parte da história brasileira. A
Guerrilha no Araguaia, nos anos 70, é outro exemplo
clássico de insurgência do povo contra governos.

Abaixo segue uma lista que desmente nosso


passado pacifico:

Período colonial

Século XVI

• França Antártica - invasão francesa, Rio de


Janeiro (1555-1567)
• Confederação dos Tamoios - revolta indígena,
Rio de Janeiro (1556-1567)
• Guerra dos Aimorés - índios contra luso-
brasileiros, Bahia (1555-1673)
• Guerra dos Potiguares - índios contra luso-
brasileiros, Paraíba e Rio Grande do Norte (1586-
1599)

caius_c 438
Século XVII

• Bandeirantes, bugreiros, entradas e bandeiras -


expedições civis-militares de exploração e
captura de indígenas (séculos XVI e XVII)
• Quilombos e Guerra dos Palmares - redutos de
escravos africanos fugidos, Nordeste (séculos
XVII e XVIII)
• França Equinocial - invasão francesa, Maranhão
(1612)
• Levante dos Tupinambás - índios contra luso-
brasileiros, Espírito Santo e Bahia (1617-1621)
• Invasão holandesa, Presença neerlandesa no
Brasil, Guerra Luso-Neerlandesa e Insurreição
Pernambucana (Guerra da Luz Divina) - conflito
entre luso-brasileiros e holandeses, Nordeste
(principalmente Pernambuco e Paraíba) (14 de
fevereiro de 1630 a 26 de janeiro de 1654)
• Revolta de Amador Bueno - insurreição popular,
São Paulo (1641)
• Motim do Nosso Pai - Pernambuco (1666)
• Revolução de Beckman - revolta de
comerciantes, Maranhão (25 de fevereiro 1684-
1685)
• Confederação dos Cariris - índios contra luso-
brasileiros, Paraíba e Ceará (1686-1692)

Século XVIII

• Guerrilha dos Muras - índios contra luso-


brasileiros (século XVIII)

caius_c 439
• Guerra dos Emboabas - confronto entre
bandeirantes e mineiros, São Paulo e Minas
Gerais (início de 1700)
• Revolta do Sal - Santos (1710)
• Guerra dos Mascates - confronto entre
comerciantes e canavieiros, Pernambuco (1710-
1711)
• Revolta de Felipe dos Santos - revolta de
mineradores contra política fiscal, Minas Gerais
(1720)
• Guerra dos Manaus - índios contra luso-
brasileiros, Amazonas (1723-1728)
• Resistência Guaicuru - índios contra luso-
brasileiros, Mato Grosso (1725-1744)
• Guerra Guaranítica - Portugal e Espanha contra
jesuítas e guaranis catequizados, Região Sul
(1751-1757)
• Inconfidência Mineira - conspiração abortada
independentista e republicana, Minas Gerais
(1789)
• Conjuração Carioca - conspiração abortada
independentista, Rio de Janeiro (1794-1795)
• Conjuração Baiana, Revolução dos Alfaiates -
revolta independentista e abolicionista, Bahia
(1798)

Século XIX

• Conspiração dos Suassunas - conspiração


abortada independentista, Pernambuco (1801)

caius_c 440
• Invasão da Guiana Francesa - invasão e
ocupação da Guiana Francesa ao Brasil (1809-
1817)
• Incorporação da Cisplatina - invasão e anexação
do Uruguai ao Brasil (1816)
• Revolução Pernambucana - revolta
independentista e republicana, Pernambuco
(1817)
• Revolução Liberal de 1821 - revolta
independentista, Bahia e Pará (1821)
• Independência da Bahia - revolta
independentista, Bahia (1821-1823)
• Guerra da independência do Brasil - brasileiros
contra militares legalistas portugueses, Bahia,
Piauí, Maranhão, Pará e Uruguai (1822-1823)

Império

Século XIX

• Confederação do Equador - revolta separatista,


Nordeste (1823-1824)
• Guerra da Cisplatina - Brasil contra Argentina e
rebeldes uruguaios (1825-1828)
o Revolta dos Mercenários - mercenários
contra Império do Brasil, Rio de Janeiro
(1828)
• Noite das Garrafadas - insurreição popular e
confronto entre brasileiros e portugueses, Rio de
Janeiro (abril de 1831)
• Cabanada - insurreição popular, Pernambuco e
Alagoas (1832-1835)

caius_c 441
• Federação do Guanais - revolta separatista e
republicana, Bahia (1832)
• A Rusga - revolta entre conservadores (queriam
manter o império) e republicanos, Mato Grosso
(1834)
• Cabanagem - insurreição popular, Pará (1834-
1840)
• Revolta dos Malês - insurreição religiosa, Bahia
(1835)
• Revolução Farroupilha - revolta separatista e
republicana, Rio Grande do Sul (1835-1845)
• Sabinada - insurreição popular, Bahia (7 de
novembro de 1837-1838)
• Balaiada - insurreição popular, Maranhão (1838-
1841)
• Revoltas Liberais - revoltal liberal, São Paulo e
Minas Gerais (1842)
o Revolta dos Lisos - revolta liberal, Alagoas
(1844)
• Motim do Fecha-Fecha - Pernambuco (1844)
• Motim do Mata-Mata - Pernambuco (1847-1848)
• Insurreição Praieira - revolta socialista,
Pernambuco (1848-1850)
• Guerra contra Oribe e Rosas - Brasil e rebeldes
uruguaios e argentinos contra Uruguai e
Argentina (1850-1852)
• Revolta do Ronco de Abelha - Nordeste (1851-
1854)
• Levante dos Marimbondos - Pernambuco (1852)
• Revolta da Fazenda Ibicaba - São Paulo (1857)
• Motim da Carne sem Osso - insurreição popular,
Bahia (1858)

caius_c 442
• Guerra contra Aguirre - Brasil e rebeldes
uruguaios contra Uruguai (1864-1865)
• Guerra do Paraguai - Brasil, Argentina e Uruguai
contra Paraguai (1865-1870)
• Revolta dos Muckers - insurreição popular-
messiânica, Rio Grande do Sul (1868-1874)
• Revolta do Quebra-Quilos - insurreição popular,
Nordeste (1874-1875)
• Guerra das Mulheres - insurreição popular,
Nordeste (1875-1876)
• Revolta do Vintém - insurreição popular, Rio de
Janeiro (1880)
• Golpe de 15 de novembro - golpe militar, Rio de
Janeiro (1889)

República

Século XIX

• Revolução Federalista - guerra civil, Rio Grande


do Sul (1893-1894)
• Revolta da Armada - revolta militar conservadora,
Rio de Janeiro, (1894)
• República de Cunani - insurreição popular-
separatista, Amapá (1895-1900)
• Guerra de Canudos - insurreição popular-
messiânica, Bahia (1896-1897)

Século XX

• Revolução Acreana - insurreição popular-


separatista, Acre (1900-1903)

caius_c 443
• Revolta da Vacina - insurreição popular, Rio de
Janeiro (1903)
• Revolta da Chibata - revolta militar, Rio de
Janeiro (1910)
• Guerra do Contestado - insurreição popular-
messiânica, Santa Catarina e Paraná (1912-
1916)
• Revolta dos 18 do Forte - primeira revolta do
movimento tenentista, Rio de Janeiro (1922)
• Coluna Prestes - insurreição militar (1923-1925)
• Revolução de 1930 - golpe de Estado civil-militar
(1930)
• Revolta de Princesa - insurreição política
local/coronelista, Paraíba (1930)
• Revolução de 1932, Revolução Constitucionalista
de 1932 - revolta político-militar; guerra civil, São
Paulo (1932)
• Intentona Comunista - insurreição comunista, Rio
de Janeiro, Pernambuco e Rio Grande do Norte
(1935)
• Intentona Integralista - insurreição integralista,
Rio de Janeiro (1938)
• Força Expedicionária Brasileira na Segunda
Guerra Mundial - Itália (1943-1945)
• Revolução de 1964, Golpe militar de 1964 - golpe
de Estado político-militar (1964)
• Luta armada - guerrilha urbana e rural (1965-
1972)

Podemos apontar duas características básicas na


maioria das lutas descritas acima: a revolta popular face

caius_c 444
a algum governo ou governante e a idéia do
separatismo que permeou muitas delas.

As revoltas populares brasileiras existiram por


dois motivos: o distanciamento dos governos da
população, onde a relação sempre foi de dominador-
dominado e a idéia de que o governo central não
dispunha de vontade ou recursos para atender todo o
território, de onde sempre surgiram as idéias
separatistas.

Por conta deste histórico e para reafirmar a


territorialidade do país, a Constituição Federal de 1988
deixou expressa a impossibilidade de qualquer atitude
separatista.

Características do povo brasileiro

Consideramos que o povo brasileiro tem algumas


características que diferem da mentalidade popular
acerca delas. É necessário entende-las para que o
Estado possa prover melhor a sua população.

Geralmente o povo brasileiro é visto como


indolente e preguiçoso. Mas é justamente o contrário.
Empregados que ganham baixos salários tem casa
própria, carro, eletrônicos, etc. Como eles conseguem
comprar esses bens? A minha afirmação é a de que
eles trabalham em horas extras, fazem bicos,
economizam seu dinheiro. Mesmo alguns migrantes
com fama de indolentes, depois de estabelecidos, fazem
mutirões, constroem suas casas, criam suas famílias.

caius_c 445
Os brasileiros que trabalham no exterior são bem vistos
pela população local e, muitas vezes, conseguem obter
um padrão de vida muito mais alto do que conseguiriam
ter em seu país de origem. Então, de onde surgir essa
noção de que não estamos nem aí para o trabalho?
Tentando acertar, eu diria que essa idéia firmou-se em
grande parte na década de 60 e 70 em função de um
estilo de vida sempre à beira da praia, com muita
cerveja e carnaval, criado pela mídia e por artistas e
congêneres, que exaltaram ao máximo essa vida
tranqüila que, na realidade, o brasileiro tem poucos dias
durante o ano. Outro motivo é que o brasileiro sempre
foi oprimido e raramente se mexe para fazer algo em
prol de um governo ou de sua empresa. Ele sente-se
distanciado ao extremo e procura se resguardar na
indiferença. Porém, quando motivado, ele trabalha
arduamente e com devoção.

Como exemplo, podemos citar os que fazem


mutirões de construções, os que trabalham para suas
igrejas ou religiões, os pais que ajudam as escolas a
manterem-se através de suas associações, etc. O
brasileiro aproveita seu fim de semana para arrumar seu
carro, sua casa ou para ganhar um pouco de dinheiro
com seus bicos.

Ao contrário do que costumam dizer, é de nosso


entendimento que o povo brasileiro é basicamente
violento, embora não costume exprimir abertamente
emoções e sentimentos. É um povo cortês, que limita-se
a concordar ou discordar levemente de algo em
reuniões sociais ou abertamente. Por não demonstrar o

caius_c 446
que pensa, costuma ser muito difícil atingi-lo em seu
âmago quando se trata de motivá-lo.

No entanto, costuma demonstrar seu


descontentamento com ações furtivas, desprezando seu
serviço ou tentando obter vantagens de forma escusa.
Ele não costumar falar abertamente, mas age quando a
oportunidade se apresenta.

Podemos sentir a violência com que ele se


expressa apenas olhando os jornais. Quantos quebra-
quebras, saques e linchamentos ocorrem durante o dia?
Muitos dos que participam deles são pessoas que tem
casa, família e um círculo de amizades, sendo honestas
e queridas em seu bairro. Como sempre foi oprimido e
sabendo que as ações abertas causam repressão direta,
ele procura não ser atingido através de ações
encobertas e que não sejam imputadas a ele. O
brasileiro não é um soldado que batalha em campo
aberto; é um guerrilheiro que esconde, atira e foge, não
dando oportunidade para ser pego ou morto.

Esta violência é momentânea e deriva-se mais do


instante do que do indivíduo em si. O germe está dentro
dele mas somente se mostra dentro de uma multidão.
Ela é fruto de uma opressão diária e subcutânea que se
expande diante de algum evento externo.

O brasileiro não exprime seus verdadeiros


sentimentos a não ser em ocasiões especiais e dentro
de determinado círculo. Devemos ficar atentos aos
menores detalhes para tentarmos descobrirmos quais as

caius_c 447
suas opiniões sobre determinado assunto. Como não
são pessoas diretas, temos que fazer com que formulem
suas idéias e pensamentos em clima de certa intimidade
e jamais junto com outras pessoas. Pode-se explicar
facilmente essa tese pelas raízes históricas do povo
brasileiro sempre oprimido pelos seus governos. A
própria América Latina sempre foi vítima de governos
opressores, que também acabou nos transformando em
seres que não demonstram aquilo que são ou pensam.

Historicamente, o brasileiro teve poucos líderes


que o levaram a reunir-se em torno de um ideal comum.
Exceto alguns casos, os governos sempre foram
totalmente dissociados do povo com o intuito declarado
de mantê-lo afastado e apenas explorado. Sempre
tivemos governos e partidos oligárquicos, com grupos
procurando prevalecerem-se em seus interesses
específicos, o que acabou gerando um temperamento
aparentemente distante em relação a qualquer assunto
que não seja de interesse direto.

Todo brasileiro quer fazer parte do governo de


alguma forma, seja como vereador, assessor,
secretários, ou tipos assim, pois imagina que, como
parte do governo, estará garantida sua sobrevivência.
Quando ele necessita de votos para alcançar esse
objetivo, costuma proclamar seus ideais para que todos
vejam nele um possível “salvador da pátria”, ou o
“grande líder” que o povo procura. Imediatamente, após
conseguir seu objetivo, passa a comportar-se como se
fizesse parte de uma elite intocável e deixa de lado
qualquer ação que possa ajudar aqueles que votaram

caius_c 448
nele, se isso prejudicar seus interesses imediatos. Cito o
caso de escravos cuja maior ambição era a de ser o
feitor de seus semelhantes. Na posição de feitor ele teria
privilégios e não seria tratado como os outros escravos.
Todo político sofre dessa “síndrome de feitor”.

Essa falta de grandes líderes provocou um


ajustamento à situação como indivíduo. De certa forma,
o brasileiro deixou de ver-se como um ser social ou
alguém que precisa atuar dentro de um grupo e passou
a cuidar de suas próprias necessidades ou daqueles
que o cercam. Os vínculos sociais ficaram restritos a
pequenos grupos com o qual ele se identifica.

Mesmo que seja aparentemente contraditório,


acreditamos que o povo brasileiro tem líderes em
profusão, embora eles estejam sempre agindo em
surdina ou utilizando alguém como escudo, para poder
atuar da melhor maneira. Boa parte dos líderes que
mudaram nossa história atuaram nos bastidores. Como
exemplo cito os irmãos Andrada, as lojas maçônicas, os
Golberys atrás de uma lista de presidentes e os PCs
Farias, alguns deles agindo apenas em função de seus
interesses, utilizando fachadas para encobrirem suas
ações.

Podemos notar que, em certas entidades ou


religiões nas quais o brasileiro acredita, ele costuma
tomar as iniciativas, procura ir à frente e tenta conseguir
o máximo possível para aquele grupo ao qual pertence.
Essa liderança não mostrada dentro da empresa ou

caius_c 449
dentro de ambientes repressivos aflora quando a pessoa
se sente segura ou quando atinge as suas crenças.

SERGIO BUARQUE DE HOLLANDA definiu a


identidade brasileira através da figura do que ele
chamou de Homem Cordial, ou seja, aquele que constrói
suas relações sociais por meio da afetividade, dos
motivos do coração em detrimento dos da razão. Esta
identidade está vinculada à figura do paternalismo ou
coronelismo, onde se busca proteção sob o domínio de
alguém que, em troca, exerce seus máximos direitos
sobre o protegido. Esta figura estende-se aos campos
políticos e econômicos. 318

Por não poder contar com a ajuda de qualquer


tipo de governo e sempre oprimido por este, o povo
brasileiro adotou uma postura individualista ou bairrista,
perdendo o sentido do conjunto.

O brasileiro defende com unhas e dentes seu


time, seu grupo, mas não levanta um dedo quando o
assunto é defender seus país ou colaborar com
qualquer forma de governo. Alguns poucos motivos ou
líderes conseguiram fazer com que o brasileiro deixasse
de ser individualista ou bairrista, tais como: Tancredo
Neves e Ulisses Guimarães na campanha das eleições
diretas, Ayrton Senna com a sua marca registrada de
erguer a bandeira brasileira a cada vitória, Getúlio
Vargas, a seleção brasileira de futebol, a campanha a
favor da destituição de Collor e outras do gênero. Mas
ninguém até hoje, logrou unir o povo permanentemente
em torno de um ideal nacional. O máximo que

caius_c 450
conseguiram foi unir o povo em função de algum
objetivo de determinada classe do país, durante um
período limitado de tempo. Essa perda da noção de
conjunto é histórica, como foi explicada acima.

Por ser carente de grandes líderes e voltado para


seus interesses pessoais, a tendência do brasileiro é
seguir seus líderes locais com fervor e admiração.
Líderes que tenham um pouco de carisma, ideologias ou
idéias próximas de seus interesses, acabam reunindo
um grande séqüito. Exemplos típicos são os líderes
sindicalistas, dos sem-terra, atletas que se destacam,
figuras religiosas. Seguidores de místicos e gurus
existem por aí aos milhões e são categóricos em
defender esses valores que lhes pesam muito mais que
interesses a níveis nacionais. Nossos políticos sempre
falam de seus partidos, de seus estados e cidades, mas
dificilmente falarem do país em seus discursos. Por
terem a mesma característica bairrista do povo,
aumentam ainda mais essa distância que o povo tem
sobre o país como um todo.

Alguns bons exemplos históricos de como os


brasileiros seguem seus líderes com fervor esteve
presente em certos fatos durante a Guerra do Paraguai,
em que os paraguaios perceberam que havia uma
característica nas tropas brasileiras que era a de seguir
sempre atrás de seus oficiais enquanto estes
demonstrassem coragem. Qualquer vacilo por parte
destes, influenciava a tropa e eles deixavam sua
coragem de lado. Uma das maneiras de quebrar o
ânimo dos brasileiros foi o de colocar franco-atiradores

caius_c 451
que abatiam oficiais brasileiros. O estrago estava tão
grande que os oficiais passaram a se vestirem como
soldados. Nessa mesma guerra, foi proferida a famosa
frase “Quem for brasileiro que me siga” por Tamandaré,
que evitou a derrota na batalha fluvial de Riachuelo. Na
Segunda guerra, a tomada de Monte Castelo, pela FEB,
foi feita graças à coragem de oficiais e soldados. Um
general americano registrou-a em seu diário. Mais
célebre foi a resistência em Canudos, aonde os
defensores lutaram até a morte, num exemplo grandioso
e trágico da força que um líder carismático tem sobre
seus comandados.

Podemos considerar a Constituição Federal de


1988 como um marco na integração brasileira, tanto no
sentido de povo como territorial, pois buscou aproximar
o governo da população. Esse pensamento somente
adquiriu a possibilidade de concretizar-se com o
estabelecimento do Estado Democrático de Direito de
forma constitucional.

Para torná-lo possível, os seguintes fundamentos


foram elencados na Constituição Federal de 1988:

I) A soberania;
II) A cidadania;
III) A dignidade da pessoa humana
IV) Os valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa
V) O pluralismo político.

caius_c 452
A soberania já foi descrita em capítulo à parte.
Sem auto-determinação, nenhum país pode ser
considerado como tal.

Cidadania

Para HANNAH ARENDT, o primeiro direito, do


qual derivam todos os outros direitos, é o direito de ter
direitos. Tais direitos somente podem ser exigidos
através do total acesso à ordem jurídica que apenas a
cidadania oferece.319

Conforme QUINTÃO SOARES, a cidadania deve


ser compreendida como participação política do
indivíduo no Estado, ao contemplar o gozo de direitos
políticos e civis, acompanhados de direitos econômicos,
sociais e culturais.320 Para ele, a cidadania ativa no
Estado Democrático de Direito, pressupõe um cidadão
político, capaz de influenciar concretamente na
transformação da sociedade e apto a fazer suas
reivindicações perante os governantes, mediante política
deliberativa.321

Para MARSHALL, a cidadania consiste no


conteúdo de pertencer de forma igualitária a uma
determinada comunidade política, devendo ser medida
pelas instituições e pelos direitos e deveres que a
configuram; logo, a cidadania é monolítica, constituída
por diferentes tipos de direitos e instituições, e produto
das histórias sociais diferenciadas protagonizadas por
distintos grupos sociais.322

caius_c 453
Para LUIZ FLÁVIO BORGES D´URSO, cidadania
é um status jurídico e político mediante o qual o cidadão
adquire direitos civis, políticos e sociais; e deveres
relativos a uma coletividade política, além da
possibilidade de participar na vida coletiva do Estado.
Esta possibilidade surge do princípio democrático da
soberania popular.323

CELSO RIBEIRO BASTOS ensina que cidadania


é a manifestação das prerrogativas políticas de um
cidadão dentro de um Estado democrático. É um
estatuto jurídico que contém os direitos e deveres do
cidadão em relação ao Estado. 324

Cidadania é o direito/dever do cidadão participar


das atividades do Estado, buscando benefícios
recíprocos através da legalidade. Juridicamente, é a
capacidade de ter e exercer direitos/deveres.

De forma ampla, é a interação da comunidade


com o Estado, onde se busca o bem comum.
Metafisicamente, é a busca pela evolução social através
do indivíduo.

A dignidade da pessoa humana

A Declaração dos Direitos Humanos, assinada


em 1948 pelos países qe compõem a ONU, diz em seu
artigo 1o. – “Todos os seres humanos nascem livres e
iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e
consciência e devem agir em relação uns aos outros
com espírito de fraternidade.”

caius_c 454
Para KANT, a dignidade é o valor de que se
reveste tudo aquilo que não tem preço, ou seja, não é
passível de ser substituído por um equivalente. Dessa
forma, a dignidade é uma qualidade inerente aos seres
humanos enquanto entes morais: na medida em que
exercem de forma autônoma a sua razão prática, os
seres humanos constroem distintas personalidades
humanas, cada uma delas absolutamente individual e
insubstituível. Conseqüentemente, a dignidade é
totalmente inseparável da autonomia para o exercício da
razão prática, e é por esse motivo que apenas os seres
humanos revestem-se de dignidade - "No reino dos fins,
tudo tem um preço ou uma dignidade. Quando uma
coisa tem um preço, pode pôr-se, em vez dela, qualquer
outra coisa como equivalente; mas quando uma coisa
está acima de todo o preço, e portanto não permite
equivalente, então ela tem dignidade" 325

A dignidade não é um valor subjetivo, passível de


ser avaliado. Trata-se de algo além de um simples
direito do homem ou de um dever do Estado para com o
cidadão; ela faz parte da natureza do próprio ser
humano.

Não existe um conceito que determine com


precisão o que é dignidade humana. Está mais para um
sentimento do que uma situação, embora ela seja fática.

A dignidade humana é uma composição de


sentimentos e situações fáticas que definem o ser
humano como passível de uma vivência social e

caius_c 455
individual, na qual ele sinta-se inserido dentro de um
contexto onde seus direitos estão estabelecidos,
preservados e vividos, existindo a possibilidade se
evoluírem para um estágio mais avançado.

Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa

O artigo XXIII, da Declaração Universal dos


Direitos Humanos, diz que toda pessoa tem direito ao
trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas
e favoráveis de trabalho e à proteção contra o
desemprego, devendo ter igual remuneração por igual
trabalho.Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma
remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure,
assim como à sua família, uma existência compatível
com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se
necessário, outros meios de proteção social.

Entende-se que as empresas devam cumprir seu


papel social produzindo e distribuindo aquilo que os
cidadãos necessitam. Embora tenha o lucro por objetivo,
sua existência transcende essa expectativa. Uma de
suas funções é redistribuí-lo na sociedade através de
salários dignos a serem pagos para os trabalhadores.
Cabe a elas, também, dar a necessária proteção aos
empregados e suas famílias de forma ampla, cuidando
de sua saúde física e mental enquanto eles estiverem
sob seu abrigo.

Ao Estado compete ampliar esta proteção,


cuidando, também, da saúde física e mental dos
trabalhadores e suas famílias, dando-lhes a segurança

caius_c 456
necessária quando os rumos das empresas ou da
economia lhes forem desfavoráveis.

Entende-se, também, que o trabalho é a forma


mais equilibrada de obtenção de recursos para o
cidadão e sua família, visto que nem todos dispõem de
capital, recursos ou disposição para atuarem como livres
empreendedores. Por conta disso, o trabalho torna-se
um valor social a ser preservado, de forma conjunta.
Aos que trabalham para o Estado existe a mesma
assertiva.

Como o Estado tende a cuidar apenas dos


assuntos que lhes devem ser concernentes, deixando
de lado atividades produtivas ou de distribuição, cumpre
que ele proteja aqueles que pretendem ou estão
promovendo estas atividades.

Historicamente, Estado e empresas sempre foram


parceiros e detentores de grande parcela do poder
econômico. Muitas vezes se confundiram ou somaram
forças. Outras vezes, o poder do Estado foi o de grupos
econômicos que assumiram sua forma como garantia
para seus próprios negócios.

Por definição, iniciativa privada é aquela em que


não existe a participação do Estado. Os recursos para
qualquer empreitada advém de particulares, cujo
objetivo é formar uma empresa para obtenção de lucro.

Dentro da História do Brasil podemos citar a


Invasão Holandesa no nordeste, em 1636, promovida

caius_c 457
pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, como
exemplo desse sincretismo. Um dos personagens mais
marcantes dessa invasão, Mauricio de Nassau, foi
convidado para administrar os domínios por ela
conquistados, percebendo uma ajuda de custo de 6.000
florins e salário mensal de 1.500 florins, o soldo de
Coronel do Exército, além de uma participação de 2%
sobre os lucros. Corriam ainda por conta da Companhia
suas despesas de mesa e criadagem, os salários do
predicante Francisco Plante, de seu médico Guilherme
van Milaenen, e de seu secretário Tolner. Nassau
prestou juramento em 4 de agosto de 1636
comprometendo-se pelo prazo de cinco anos a ser o
Governador, Almirante e Capitão-General dos domínios
conquistados e por conquistar pela Companhia das
Índias Ocidentais no Brasil.

Essa confusão entre Estado e empresa ainda


existe. As mais notórias são as de países árabes onde a
exploração de recursos é exclusividade do Estado, o
qual encontra-se sob domínio de famílias ou grupos.

O espaço para a iniciativa privada, efetivamente,


começou no final do século XIX e início do século XX,
junto com a Revolução Industrial. Detentores de capital
próprio e:ou com idéias novas que podiam produzir
lucros, lançaram-se no mercado, produzindo o que se
poderia chamar de democratização da economia, visto
que as poucas e grandes empresas que existiam não
tinham capacidade para assenhorear-se de todos os
nichos de mercado que se formavam.

caius_c 458
A luta entre iniciativa privada e o Estado
estendeu-se até o fim da Guerra Fria, onde ruíram os
conceitos comunistas de que os meios de produção e
distribuição seriam prerrogativas estatais, embora
perdure em alguns países. O protecionismo estatal às
empresas privadas e que extrapola a cobertura que se
deve dar a elas por causa de sua função social, deve
ser entendido como forma de controle do Estado sobre
os meios de produção e distribuição.

A simples e pura aplicação do neo-liberalismo


também não deve ser entendido como saudável à
população. Sem um controle estatal efetivo, voltado para
o bem comum, essa política pode nos remeter de volta
ao chamado capitalismo selvagem, onde o lucro precisa
ser obtido de forma máxima e sem levar em
consideração a dignidade humana.

Economia saudável é aquela em que todos se


beneficiam; as empresas, o Estado e a população
devem obter, cada um, o seu lucro e que ele seja
suficiente para a sobrevivência e existência de todos, da
forma mais harmoniosa possível.

O pluralismo político

Pluralismo político é condição sine qua non para


a existência de uma democracia. A diversidade de
pensamentos da sociedade precisa ser representada
por grupos dentro do governo.

caius_c 459
Os governos tirânicos admitem somente um
partido político que não pode ser chamado por esse
nome. Na realidade, trata-se de um órgão controlador da
sociedade, quando não é repressor e coibidor de
qualquer ato que seja contra a instituição
governamental.

Em muitos países existem apenas dois partidos


que, a grosso modo, podem ser chamados de posição e
oposição, embora sejam designados por outros nomes
dependendo do país. Essa forma somente tem validade
quando existe uma tradição democrática extremamente
forte. Aqueles que ainda estão em uma fase primitiva
democrática podem ainda ser considerados como
tirânicos, visto que é comum que o Estado apenas
favorece aqueles que lhes são fiéis.

O pluralismo político é a forma mais eficiente de


fazer com que haja um rodízio de governantes nos
postos chaves da administração. Este rodízio impede
que se cristalize uma situação em que os atos
governamentais não sejam fiscalizados por outros
partidos ou pela população.

No entanto, o número de partidos não pode ser


ad infinitum, porque uma grande massa de divergências
pode produzir desgoverno ou perda dos objetivos
sociais. O correto é estipular uma quantidade que seja
representativa e expresse a busca efetiva do bem
comum.

caius_c 460
Etapas da destruição do Estado
Democrático de Direito
Mas, de fato, o vosso
raciocínio é um verdadeiro
raciocínio? Não será antes
um talento com que a
natureza vos dotou para
aperfeiçoar todos os vossos
vícios ? (Jonathan Swift) 326

O Estado Democrático de Direito pode ser uma


entidade frágil pois depende de muitos fatores para sua
instalação e manutenção. Podemos dizer que essa
forma de Estado deriva diretamente da disposição da
população em mantê-lo. Um estado totalitário pode ser
imposto e controlado por um pequeno grupo que
disponha de meios para isso. Um Estado Democrático
de Direito somente subsiste por força moral de seus
cidadãos. Esta é uma diferença primordial sobre ambos.

Para que as pessoas tenham a firmeza


necessária para que exista a vontade de estar sob os

caius_c 461
auspícios de um Estado Democrático de Direito, é
necessário que elas tenham todas as suas vantagens.

Um indivíduo que viva debaixo de um regime


totalitário tem somente duas opções: sobreviver ou
aproveitar-se dele. No Estado Democrático de Direito
tem que existir a consciência da coletividade e
disposição de luta para manter o bem comum, mesmo
que dele não se aproveite diretamente.

Nestas formas de governo estão explícitos os


contrapontos de individualidade e coletividade. Nos
regimes totalitários exacerba-se a individualidade,
enquanto que no Democrático de Direito há que se
cuidar de si e dos outros, da mesma maneira.

Um dos pontos fortes do Estado Democrático de


Direito é uma economia que busca distribuir a renda da
melhor forma possível entre os cidadãos, não só através
de capacitação mas dentro de um conceito social de
igualdade. Aqueles que se esforçam mais, com certeza,
precisam verem-se recompensados por isso, no entanto,
os que carecem de oportunidades ou talentos não
podem ser deixados à margem ou sem opções. Seus
direitos de cidadão prevalecem independentes de sua
capacidade econômica.

Não se trata de caridade ou de suportar um fardo.


Trata-se de dar mínimos recursos de sobrevivência para
aqueles que estão em situação econômica
desfavorecida. Essa medida visa diminuir conflitos ou
confrontos entre as diversas classes sociais. Se

caius_c 462
entendermos que um Estado Democrático de Direito
deve primar-se pela educação dos seus cidadãos, essa
parcela de população carente deve tornar-se mínima
com o passar dos tempos.

A educação contínua, na sua forma mais ampla, é


outro fator de sustentação do Estado Democrático de
Direito. Seu principal objetivo é formar cidadãos
capacitados que determinem o presente e o futuro do
Estado.

Estes dois sustentáculos são alvos principais para


aqueles que querem transformar essa forma de Estado
em outro tipo.

Como o Estado Democrático de Direito parte da


pressuposição coletiva da necessidade de sua
existência, o primeiro passo é transformar a consciência
global em individual. Deve-se transformar o homem em
um ser solitário, disposto a cuidar somente de si.

A primeira medida dessa transformação, embora


paradoxal, é o lançamento de uma idéia, filosofia ou
crença, que pareça valer para todos e que confronte a
atual situação do Estado Democrático de Direito. Usa-se
o inconsciente coletivo para firmar uma nova ordem
mental que estabelece desvantagens para o sistema
atual. È uma guerra de idéias, onde prevalece aquela
que se mostra mais demagógica.

Essa nova idéia, crença ou filosofia é incutida,


primeiro, nos intelectuais que tenham poder sobre a

caius_c 463
opinião pública. Depois que forma-se um bloco atraente
o suficiente para outras pessoas, passa-se ao
aliciamento dos detentores de poder econômico que
vêem vantagens no estabelecimento daquele
pensamento. Depois dessa etapa, através de diversas
formas de divulgação, ela termina por chegar de forma
amena, simples e inteligível ao resto da população.

Deve-se frisar que o setor mais resistente a estas


novas idéias é a classe média. Não tendo recursos
suficientes para ter uma padrão maior de vida, ao
mesmo tempo que os tem para levar uma vida
confortável, essa parcela da população teme as
mudanças pois seu equilíbrio econômico é frágil. Não
tendo muito a ganhar mas tendo algo para perder, ela,
geralmente, é refratária a qualquer idéia que a tire do
conforto.

Essas novas idéias trazem em seu bojo um


sentimento que mantém a unidade do povo: o
nacionalismo.

O nacionalismo é um bom sentimento quando


enquadrado dentro do conceito de defesa e proteção
daquilo que é de todos. Quando exacerbado,
transforma-se em xenofobia. O nacionalismo bom faz
com que o cidadão olhe para si e seu país e busque as
melhores soluções para ambos. O mau faz com que
todas as atenções se voltem para fora de si e de seu
próprio país.

caius_c 464
BENITO MUSSOLINI dizia que para formação do
estado que pretendia era necessário “um período de
altíssima tensão ideal”.327 Traduzindo em um português
mais claro, significa provocar tensões internacionais ou
regionais que aticem os sentimentos pátrios. Este
atiçamento provoca um aumento do sentimento
nacionalista a ponto de fazer com que os cidadãos
vejam apenas o lado mostrado pelo governo e mídia.

Exemplo claro dessa situação foi a Guerra das


Malvinas, ocorrida em 1982, entre Argentina e
Inglaterra. Em 1980, quando o modelo econômico da
Junta Militar que governava o país esgotou-se, as
tensões sociais se fizeram presentes: noventa por cento
de inflação anual, recessão profunda, empobrecimento
da classe média, endividamento externo e outras mais.

Com medo de serem depostos, para desviar a


tensão social resultante da incapacidade governante da
junta e recuperar seu crédito junto à população, foi
lançada a idéia de recuperação das Ilhas Malvinas ou
Falklands. A guerra resultou em derrota para a
Argentina e deposição dos governantes. Mais tarde, eles
foram julgados por crimes como tortura e assassinato,
sendo condenados.

Neste período, é conveniente que projetos de leis


estranhas sejam lançados através da mídia para
provocar celeuma entre a população. O conteúdo destes
projetos pode variar de leis anti-fumo até eutanásia. O
importante é que o motivo seja suficientemente polêmico
para distrair a população das leis efetivamente

caius_c 465
necessárias. Neste período de celeuma, é provável que
seja feita alguma lei que efetivamente altere a estrutura
do Estado ou forneça brechas para que se instale
alguma condição adversa à democracia. Podemos
chamar isso de técnica de prestidigitação, onde a
atenção do espectador é afastada do evento onde o fato
se desenrola.

Outras vezes busca-se um inimigo interno que


pareça comum a todos. Hitler adotou esta tática quando
passou a culpar os judeus por todos os problemas da
Alemanha advindos de sua derrota na Primeira Guerra
Mundial – “assim também o judeu não renuncia
espontaneamente a sua aspiração de uma ditadura
mundial, nem reprime o seu eterno desejo nesse
sentido. Ou ele será repelido por forças exteriores para
outro caminho ou o seu desejo de domínio universal só
desaparecerá com a extinção da raça. A impotência dos
povos, sua própria morte pela idade, baseia-se no
problema de sua pureza de sangue. E essa pureza o
judeu guarda melhor que qualquer povo da terra. Assim
segue ele o seu caminho nefasto, até que se lhe oponha
uma outra força que, em luta gigantesca, atire o invasor
do céu nos braços de Lúcifer”.328

Com a justificativa de ataques externos ou


internos, o governo passa a utilizar-se da lei para
restringir os cidadãos. Nesta fase são comuns as
nacionalizações e expropriações de bens estrangeiros,
principalmente daquele que se tornou alvo do
nacionalismo.

caius_c 466
Estas expropriações e nacionalizações reforçam
o sentimento de nacionalismo, permite uma entrada
rápida de dinheiro no caixa do governo e cria a imagem
de que os governantes são pessoas de caráter forte e
aguerrido, associando-os com ícones heróicos.

Comum nesta fase é evocar personalidades


históricas que defenderam o país em guerras externas
ou de unificação. Este chamamento busca relacionar os
governantes atuais com estes ancestrais, tentando
imprimir-lhes o mesmo caráter e dando às idéias que
regem as atuais atitudes a mesma tonalidade daquelas
que serviram no passado.

Esta aproximação visa estabelecer o que se


convencionou chamar de culto à personalidade. Quando
se atinge determinado estágio, esta identificação
assume a forma de endeusamento do governante maior.
Os personagens heróicos são deixados para a História e
o mandante supremo transforma-se em um mito vivo a
ser venerado.

No século XX foi muito comum o aparecimento de


ditaduras ou movimentos políticos que foram
identificados com o nome de seus criadores:
salazarismo, franquismo, peronismo, stalinismo,
maoísmo e outros nomes, marcaram a forma de
governo ou movimento político sob o nome de quem os
conduziu. Estes elementos imprimiram a si a imagem do
próprio Estado. Tornaram-se o próprio Estado.

caius_c 467
Essas pessoas, via de regra, são extremamente
carismáticas e catalisam as necessidades das pessoas,
fazendo-as acreditar que são capazes de supri-las. São
os elementos chaves que tornam possível a imposição
de uma doutrina crível para a maioria das pessoas.
Fundem-se na pessoa a imagem da doutrina e do
Estado.

O poder destas pessoas explica-se ao sabermos


que somos animais sociais que vivem dentro de uma
hierarquia bastante complexa. Os líderes carismáticos
possuem o dom natural da liderança e conseguem
reunir seguidores devotados que, por sua vez, atraem
outros.

Importa ressaltar que esse poder somente tem


efeito, no caso de mudança de regime do estado,
quando existe crise de confiança da população em
relação a este.

Somente a figura de um chefe supremo, cheio de


virtudes e isento de vícios não traz abnegação. Junto
com o culto á personalidade vem a louvação dos heróis
que tombaram em defesa do estado que se transforma.
Estes semi-deuses foram mortos por conta de seus
ideais e de sua lealdade ao mandante supremo. Passam
a servir de exemplo para que outros tenham o mesmo
comportamento de sacrifício em prol do novo estado.
São venerados rotineiramente pelo estado e cultos são
promovidos em seu nome. Alguns chegam a fazer parte
da literatura ou arte patrocinada pelo estado. Os
dezesseis nazistas mortos no putsch da cervejaria em

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1923, na Alemanha, foram exaustivamente citados como
exemplos de abnegação durante a época do nazismo. A
mídia transformou-os em heróis da causa social-
nacionalista.

Os meios de comunicação são os primeiros


pontos a serem controlados. Através da repressão ou
aliciamento, eles passam a produzir e veicular somente
o ponto de vista governamental. É um período de
censura e perseguição contra aqueles que destoam da
forma de governo que se instala.

MACHIAVEL diz que “as ofensas devem ser


feitas todas de uma só vez, a fim de que, pouco
degustadas, ofendam menos, ao passo que os
benefícios devem ser feitos aos poucos, para que sejam
melhor apreciados”. 329

No entanto, esta tese não pode ser usada quando


tenta se transformar um Estado Democrático de Direito
em tirania. Por se tratar de uma entidade afeita à
liberdade, o dano é feito aos poucos, de forma sub-
reptícia no começo, tornando-se brutal quando os meios
de comunicação passam a dominar a opinião pública.

Depois de dominar os meios de comunicação,


existe a fase da militarização do país. As forças
armadas viram símbolo das forças que defendem o país
contra invasores externos e da pacificação dos conflitos
internos. Os militares deixam seus quartéis e tornam-se
ostensivos frente à população. O controle da circulação
de pessoas, geralmente, é deixado a seu cargo, assim

caius_c 469
como de locais considerados estratégicos. Nesta fase, é
comum que o mandante supremo assuma alguma
identidade militar, mesmo que seja civil, e vista-se de
maneira a evocar sua dominância sobre essa entidade.
Os mais desejosos de atenção empunham medalhas em
seus uniformes, para lhes dar maior brilho.

Junto com a militarização vem o estabelecimento


de forças policiais de repressão. Estas forças
distinguem-se dos militares por ter uma atuação
subcutânea e quase secreta dentro da população. Mais
que os militares, elas são a base da violência contra os
opositores do regime. No Haiti, depois de se instalar no
poder, em 1964, François Duvalier, conhecido como
Papa Doc, instaurou feroz ditadura baseada no terror
policial de sua guarda pessoal, conhecida como tontons
macoutes95 e na exploração do vodu, tirania que se
prolongou depois de sua morte, em 1971, com a
ascensão de seu filho Baby Doc ao poder.

Quando se chega nesta fase, não existe retorno


ao Estado Democrático de Direito. A ignorância
semeada pela mídia e a repressão ditada pelo estado
tornam o povo amorfo e a resistência restringe-se a
alguns idealistas.

Não existe mais oposição porque a educação foi


tomada pelo estado, que estabeleceu os padrões
necessários para que as novas gerações não o
questionem. As novas gerações que não conheceram a
forma anterior de governo desconfiam daqueles que a
95
Traduz-se como “bichos-papões”

caius_c 470
vivenciaram. Elas são ensinadas a confrontarem os
padrões dos mais velhos com os seus, tornando-se
fiscais da pureza ideológica e obediência total ao novo
estado.

Estabelecem-se duas classes sociais: dominantes


e dominados. Embora exista hierarquia entre os
dominantes, alguns pontos lhes são comuns: pertencer
ao partido único e poder usufruir de benefícios vedados
ao resto da população. Essas benesses são distribuídas
de acordo com sua posição ou influência dentro dessa
oligarquia.

Ao resto da população, os dominados, dá-se o


suficiente para que viva, quando possível, e nenhuma
permissão para manifestar-se contra a situação. Com
baixa cultura e nenhuma oportunidade, cria-se uma
plebe quase homogênea cuja função principal é prover a
classe dominante e o estado de produtos e serviços.
Sem condição ou oportunidade para manifestar-se
contra o regime, ela passa a buscar apenas a sua
sobrevivência.

NIETSCHE diz que - “No agir mal, a plebe só


encara as más conseqüências e, no íntimo, acha que é
estúpido agir mal. Mas admite, sem mais “bom” como
idêntico a útil e agradável”.330 Este padrão de
comportamento citado mostra no que se transformam os
dominados – apenas uma massa humana de
escravos.331

caius_c 471
HOBBES explica bem esta relação entre
dominador-dominado – “Senhor do servo é também
senhor de tudo quanto este tem, e pode exigir seu uso.
Isto é, de seus bens, de seu trabalho, de seus servos e
seus filhos, tantas vezes quantas lhe aprouver. Porque
ele recebeu a vida de seu senhor, mediante o pacto de
obediência, isto é, o reconhecimento e autorização de
tudo o que o senhor vier a fazer. E se acaso o senhor,
recusando-o, o matar ou o puser a ferros, ou de outra
maneira o castigar por sua desobediência, ele próprio
será o autor dessas ações, e não pode acusá-lo de
injúria”.332

A economia fende-se em duas classes bem


distintas. Os que pertencem ao poder são detentores da
grande massa de benefícios, enquanto os demais têm
que enfrentar as vicissitudes daqueles que tem poucos
recursos. A classe média extingue-se e a
intelectualidade desaparece ou transforma-se em aliada
do regime.

Desabastecimentos são constantes em regimes


totalitários. Em parte deriva do desinteresse estatal com
as condições da população. Por outro lado, serve como
controle da mesma, visto que o instinto de sobrevivência
fala mais alto do que ideais políticos. É mais fácil
controlar indivíduos que estão em estado de
necessidade constante do que uma população que tem
recursos e, portanto, pode dedicar-se ao exercício da
cidadania. Em uma tirania existem poucas pessoas
excepcionalmente ricas e muitas pessoas extremamente
pobres.

caius_c 472
Apesar do constante desabastecimento, os
regimes totalitários não deixam que todos os recursos
faltem. Uma população privada do mínimo e do
essencial, como água e comida, pode revoltar-se face
ao desespero em que se vê. O início da Revolução
Francesa foi provocado pela fome que grassava pela
população. A famosa frase atribuída a Maria Antonieta,
quando a população disse que não tinha pão para
comer – “se eles não têm pão, que comam brioches” –
ampliou o grau de revolta no qual os franceses se
encontravam, então. A Revolução Russa de 1917 teve o
mesmo elemento detonante. Ideologias à parte, a fome
sempre fala mais alto e os famintos buscam a primeira
tábua de salvação que se apresenta.

Para a tirania sempre existe a necessidade de


alguém ou algo a se perseguir e destruir como inimigo
do estado. Pode ser um inimigo concreto ou fictício. O
importante é que a população viva com medos
constantes advindos de grupos internos ou externos.
Esse medo oficializa as medidas que o estado tem que
tomar, como a repressão militar, policial e política.

A população, vivendo aterrorizada com a


possibilidade de ter que enfrentar uma situação pior
advinda de um inimigo invisível e poderoso, passa a
acreditar que esse aparato estatal de repressão é valido,
quando não o apóia.

É importante distinguir ataques a um Estado


Democrático de Direito das quarteladas ou tomadas de

caius_c 473
poder em países onde a população já vive sob o jugo de
uma tirania. Neste caso, trata-se apenas de uma troca
de governo e não de uma mudança de regime político.

Nestas trocas de governo, o mais comum é a


tomada do poder através de ataques diretos com
efetivos militares ou paramilitares. Acontece com mais
freqüência em países cuja população tem baixo poder
aquisitivo e nenhum vínculo com o Estado. A mudança
de governo não afeta a população de modo geral. As
perseguições e matanças, geralmente, ocorrem dentro
dos grupos que desejam o poder. O povo, alijado do
poder, apenas troca de dono.

O sofrimento do povo acontece quando os grupos


não conseguem tomar o poder e o país fica dividido em
faixas de dominação. O governo não consegue deter o
grupo que almeja sua derrubada e este não consegue
expulsá-lo. Ambos passam a considerar a população,
principalmente as que estão na zona limítrofe entre os
grupos, como simpatizantes ou ativistas do adversário.
Nestes casos, a população sofre violências de todos os
lados.

A mudança de um regime político para outro que


está embasado em alguma ideologia totalmente
contrária a do governo atual costuma encadear uma
série de violências contra a população. Neste caso não
existe neutralidade pois os que acreditam nesta
ideologia irão fazer com que os demais demonstrem a
mesma fé. Não basta a colaboração, é necessário que
seja esteja totalmente inserido nas regras da nova

caius_c 474
ordem que se pretende instalar. Nestes casos, a
violência não é apenas física, ela aprofunda-se no
inconsciente do indivíduo. Torna-se comum a instalação
de campos de reeducação e a matança dos elementos
mais destacados ou mais velhos das comunidades.

Outra maneira que pode provocar a destruição do


Estado Democrático de Direito também parte do
pressuposto da transformação do cidadão em uma
figura solitária, disposta a cuidar de si apenas.

O primeiro estágio é a manutenção ou


provocação de atribulações que envolvem
completamente o cidadão em sua faina diária, de modo
que tenha nenhuma disposição para cuidar de assuntos
que não estejam diretamente ligados a ele. Deve-se
montar estruturas burocráticas que acrescentem perdas
enormes de tempo para o indivíduo e que produzam
expectativas ligadas apenas à sobrevivência. Quando o
homem chega a este nível, automaticamente sua mente
se fixa nestes pontos, não deixando-o prosseguir para
patamares acima.

Crises de abastecimento de determinados


produtos são essenciais nesta fase. Uma falta geral
produziria uma reação violenta enquanto que as parciais
induzem a procura pelo mesmo ou por substituições. O
governo deve se “esforçar” para fazer com que o mesmo
retorne às prateleiras. Quando isto ocorrer, um novo
produto deve começar a faltar, para que a preocupação
se mantenha.

caius_c 475
Com o clamor popular, o governo começa a tomar
medidas mais duras contra os “fautores” de tais crises.
Se elas tornarem-se mais constantes e mais
ameaçadoras, passa a existir predisposição para
violação ou criação de leis que extrapolem o nível
democrático. Alguns planos econômicos podem ser
criados para provocar confiança no governo.

A massificação das idéias torna-se essencial. A


divulgação de soluções e suas justificativas são
veiculadas pela continuamente pela mídia. O
pensamento popular deve se tornar único e favorável a
qualquer medida que deva ser tomada. É o tempo ideal
para deposição de governos, alteração de regimes ou
imposição de leis não-democráticas.

A forma mais subreceptícia é a derivada do


binômio pão e circo. Substitui-se a liberdade por
comodidades e distrações para o povo. Acreditando-se
com o necessário para sua sobrevivência, com
expectativas financeiras e isento de objetivos políticos,o
cidadão deixa-se conduzir pelo governo sem preocupar-
se em ter qualquer envolvimento. Esta forma somente é
possível em países com economia pujante ou em
ascensão. Pode ocorrer sob o disfarce de um Estado
constitucional e democrático.

Existe um ponto em comum nas diversas formas


de destruição do Estado Democrático de Direito: a
transformação do indivíduo em alguém solitário e
disposto a cuidar de si apenas. Faz-se com que ele se
concentre em seu universo particular e se aliene de

caius_c 476
qualquer participação de cunho social. É a política da
transformação do povo em uma manada.

caius_c 477
Como manter o Estado
Democrático de Direito
“Ninguém vive só. Sozinhos,
qualquer grão de poeira nos
faz sombra; juntos, podemos
ser uma humanidade”
(caius_c)

O Estado Democrático de Direito é frágil e forte


ao mesmo tempo, visto que sua instituição e
permanência dependem do crédito que a população lhe
concede. Suas bases estão na mente e coração das
pessoas. Ele pode ser considerado como resultado de
uma inteligência social, onde a soma das partes é
exponencial e não aritmética.

Suas principais características são: acatamento à


hierarquia das leis, respeito aos direitos humanos e a
submissão dos poderes constituídos à busca do bem
comum.

A subordinação do Estado e do cidadão às leis


torna ambos capazes de serem mentores um do outro.
A lei dada pelo Estado com objetivo de regular a

caius_c 478
estrutura estatal, as relações entre os cidadãos e entre
este e o Estado, somente torna-se válida se aplicada e
obedecida. Ela é a base, o esteio e, também a mola que
impulsiona toda a sociedade.

O respeito aos direitos humanos traduz a


necessidade de tratamento aos homens de forma igual,
buscando sua condução ao vivenciamento pleno de sua
capacidade social, intelectual, física e política.

Toda e qualquer atividade do Estado tem que


estar direcionada à promoção do bem estar social e dela
deriva. O Estado não é um simples mentor da sociedade
ou seu controlador; ele é promotor das condições que
elevam o cidadão para o patamar pleno da sua
cidadania. Ele deve buscar as condições que transforme
cada indivíduo em efetivo cidadão e dar a cada um as
oportunidades necessárias para que possa usar seus
atributos individuais em benefício dos seus e da própria
sociedade.

Exclui-se o paternalismo dessa condição.


Paternalismo é uma condição na qual se dá sem
receber. Este favorecimento é feito com base emocional,
sob os auspícios de condições particulares entre os
elementos que a compõe. Contrário a isso, a relação
entre cidadão e Estado é racional e está baseada na
reciprocidade de direitos e deveres.

O compromisso para com o bem comum do


Estado Democrático de Direito deve estender-se à
comunidade internacional. Tudo o que vise resguardar

caius_c 479
ou ampliar os direitos humanos, de forma global, deve
fazer parte de suas atenções. Não se trata de ingerência
em outros Estados mas a promoção, dentro da lei, da
qualidade de vida do ser humano. Precisamos entender
que somos parte de um contexto e que as partes devem
se ampliar para que o todo aumente.

O relacionamento do Estado Democrático de


Direito com outros países não pode tirar sua capacidade
de auto-gerenciamento. Ele tem que ter autonomia para
tomar as decisões mais acertadas para a população,
independente de pressões que possam vir da
comunidade internacional. Esta capacidade se chama
soberania.

O artigo 4o., da Constituição Federal de 1988,


enumera os princípios pelos quais o Brasil deve reger-se
nas relações internacionais.

I) Independência nacional;
II) Prevalência dos direitos humanos
III) Autodeterminação dos povos
IV) Não-intervenção
V) Igualdade entre os Estados
VI) Defesa da paz;
VII) Solução pacífica dos conflitos
VIII) Repúdio ao terrorismo e ao racismo
IX) Cooperação entre os povos para o progresso
da humanidade
X) Concessão de asilo político

Podemos condensar estes princípios em quatro:

caius_c 480
1) Soberania: os princípios da independência
nacional, autodeterminação dos povos, a
não-intervenção e a igualdade entre os
Estados. São eles que determinam a
capacidade de cada Estado de
autogerenciamento, excluindo a
possibilidade de ingerência de outros
Estados.

2) Direitos humanos: prevalência dos direitos


humanos, repúdio ao racismo e concessão
de asilo político. A meta principal do
Estado Democrático de Direito é fazer com
que ser humano tenha possibilidade de
vivenciar seus mais amplos direitos ao
lado de seus deveres.

3) Convivência pacífica: repúdio ao


terrorismo, defesa da paz e solução
pacífica para os conflitos. Como já
dissemos, os conflitos deixaram de ser
exclusivos de uma localidade. Eles
atingem de forma direta ou indireta os
demais países. Uma convivência pacífica
implica em solucionar estes conflitos de
modo a produzirem os menores danos
para os envolvidos e para a comunidade
internacional.

4) Tecnologia: cooperação entre os povos


para o progresso da humanidade. Parte

caius_c 481
das necessidades humanas está sendo
suprida pelo uso de alta tecnologia. É
praticamente impossível conceber um
Estado que não esteja empenhado em
usar e disponibilizar as facilidades
tecnológicas para seus cidadãos, ainda
mais que este uso faz parte, atualmente,
dos elementos básicos para que se possa
efetivamente vivenciar o pleno Direito.

Com relação ao terrorismo é válido ressaltar que


não existe uma definição legal sobre o mesmo. Para
alguns, trata-se de uma forma de combate a um regime
que não seja adequado a determinado povo.
Argumenta-se que deixa de existir o terrorismo quando
os que o praticam assumem o poder. A partir deste
instante, ele torna-se exemplo de libertação nacional ou
algo parecido.

No Brasil, nos anos chamados de chumbo, foram


comuns ataques terroristas contra o governo. O
seqüestro do embaixador Charles Elbrick é exemplo
clássico. Um de seus fautores foi Fernando Gabeira
que, depois de anistiado, reingressou na vida política do
país. Outro exemplo é o plano para seqüestrar o então
ministro da fazenda Delfim Neto por um grupo, onde um
de seus integrantes era a ministra-chefe da casa civil do
governo de Luis Inácio da Silva, Dilma Roussef.333

De maneira geral, podemos dizer que o Estado


Democrático de Direito caminha para os ideais
propostos de autotutela do cidadão, apregoados por

caius_c 482
Bakunin e Marx. Ele impulsiona o homem a ter
tendência natural de obediência às leis ao mesmo
tempo em que sua preocupação com o cidadão torna-se
irrestrita. Na sua forma mais idealizada, não existiriam
oligarquias em seu controle e os interesses dos seus
governantes seriam apenas aqueles voltados
efetivamente para o bem comum.

A confiança do cidadão para com o Estado não


restringe-se apenas às atividades políticas. O bem
comum tem um sentido bastante amplo e engloba a
possibilidade de ascensão social e econômica do
cidadão. Esta possibilidade somente existe em
situações em que a Economia beneficia a todos.

Estados que tenham fraca economia ou sejam


dependentes de outros não conseguem subsistirem por
si próprio. Independência econômica faz parte da
soberania dos países.

Podem existir questionamentos sobre a


impossibilidade dos países serem independentes
economicamente pelo fato da interação mundial da
Economia. Uma crise em qualquer país que tenha forte
poder econômico afeta todos os demais. Diríamos que
uma economia forte consegue atenuar, em seu território,
os efeitos dessas crises mundiais. Para aqueles que
possuem uma maior visão, pode ser uma oportunidade
de estabelecimento de novos horizontes ou da
ocupação de espaços vagos deixados pela crise.

caius_c 483
O isolamento econômico traz em seu bojo o
social e o político. Exemplo claro dessa afirmação é o
bloqueio imposto pelos Estados Unidos a Cuba, iniciado
em 07 de fevereiro de 1962334, para alguns classificado
como guerra econômica. Nestes tempos de Guerra Fria,
o país foi sustentado pela então União Soviética,
dissolvida em 26 de dezembro de 1991, que adquiria
toda a produção de açúcar da ilha, sua maior fonte de
riqueza. O desenvolvimento econômico do país foi
duramente afetado e, obviamente, sua população. Com
o início do governo de Barack Obama e o afastamento
de Fidel Castro do poder central, os laços entre os dois
países começaram a ser reatados. Neste período, a
dependência econômica de Cuba forçou-a a tornar-se
coadjuvante em guerras entre outros países e aliado
ideológico a troco de benesses econômicas.

A educação é o pilar que estabelece os princípios


da soberania e, portanto, as bases para o Estado
Democrático de Direito. Deve ser vista de maneira
ampla, onde se alia ao conhecimento técnico as mais
diversas formas para o exercício da cidadania. Aquele
fornece mão de obra adequada para sustentação e
desenvolvimento de padrões adequados para a
população. Esta, incute no cidadão, desde a mais tenra
idade, as noções de direitos e deveres e produz um
pensamento crítico saudável junto com ações produtivas
para o meio social.

O Estado Democrático de Direito é um estado de


confiança entre governo e cidadão. Assim sendo, todo e
qualquer ato ou motivo que der margem ao abalo da

caius_c 484
mesma deve ser investigado e normatizado, se for o
caso. Se as regras são dúbias, inexistem ou são
inadequadas, elas devem ser transformadas de forma
tal que satisfaça ou restabeleça a confiança.

Fatos como corrupção ou nepotismo devem ser


combatidos duramente. A primeira denota que a
estrutura estatal está sendo desvirtuada de seu objetivo
principal que é o bem comum e que está sendo usada
em benefício de poucos, geralmente em prejuízo dos
demais. O segundo indica que as oportunidades que
devem ser oferecidas a todos não estão sendo dadas.
Isto implica em desconsiderar o princípio constitucional
do tratamento igualitário a todos os cidadãos.
Acrescente-se que isso também favorece a corrupção,
visto que inexistirá qualquer crítica aos atos praticados
entre eles, solapando o princípio de freios e contrapesos
que deve existir neste tipo de Estado.

Pluripartidarismo não implica em formação de


oligarquias para valer-se da posição política para
favorecimento de grupos. Deve existir atenção para os
diversos segmentos sociais representados por seus
partidos contanto que o benefício estenda-se a todos.
Essa atenção para determinado setor social tem que ter
uma compensação para toda a sociedade. O bem
comum sempre deve ser o objetivo a ser alcançado.

A liberdade que o Estado Democrático de Direito


dá aos cidadãos não implica em não-responsabilização
por atos lesivos. O brocardo que diz que a liberdade de
um termina onde começa a de outro é perfeitamente

caius_c 485
válido em um regime democrático. Os atos lesivos
podem partir de indivíduos ou do próprio Estado. A
gravidade do ato deve ser medida pelo que se atinge e
por quem o pratica, sendo que a pena deve ser
proporcional à extensão do dano cometido e à
responsabilidade social da pessoa.

Responsabilidade social da pessoa é o atributo


que se dá à forma como o indivíduo pratica seus atos
perante a coletividade. Quanto mais elevada for a
função da pessoa por conta de sua atuação social,
maior deve ser a pena pelas ilicitudes. Os deveres são
maiores para aqueles que fazem parte da estrutura
governamental ou tomam decisões de cunho social.

As penas para aqueles que atingem o bem


público deve ser maior do que aquelas que atingem o
bem particular, mesmo que seja a mesma coisa. A
função de cada uma é o que torna o delito mais ou
menos grave. Uma coisa que seja de bem comum,
independente se sob a alçada do Estado ou do cidadão,
representa mais do que aquela cujo uso está restrito a
poucos. A pena não é em função do desbarate da coisa
mas da impossibilidade de seu aproveitamento pela
coletividade.

Corrupção

A palavra corrupção deriva do latim corruptus


que, numa primeira acepção, significa quebrado em
pedaços e numa segunda acepção, apodrecido, pútrido.

caius_c 486
Por conseguinte, o verbo corromper significa tornar
pútrido, podre.

De acordo com a Transparency International335,


organização não governamental, existe uma relação
entre a renda per capita e o nível de corrupção: quanto
maior a renda, menor o índice de corrupção. Isso
equivale a dizer que uma população que tenha um
patamar elevado de vida tem menor propensão a gerar
uma classe governante com tendência a ser corrupta.
Isso pode ser explicado pela educação formal e informal
que propicia uma capacidade laborativa que gera
maiores ganhos e que promove uma cultura pessoal e
geral que abomina ilegalidades. Um cidadão educado
para ser íntegro levará consigo esta qualidade caso
torne-se um governante.336

A corrupção política é o uso das prerrogativas do


poder em benefício próprio ou de outrem.

Nosso Código Penal entende duas formas de


corrupção: a ativa e a passiva. A passiva é a praticada
por agentes públicos, cuja definição é - solicitar ou
receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,
ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em
razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de
tal vantagem96. A ativa é a praticada por particular -
oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário

96
Artigo 317, Código Penal

caius_c 487
público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar
ato de ofício. 97

Embora simples as definições penais de


corrupção, elas não esclarecem as conseqüências da
mesma. Em nosso entendimento, a corrupção é a fonte
da maioria dos crimes que ocorrem no gerenciamento
do Estado. A primeira vista, acreditamos que se trata
apenas dos chamados “crimes de colarinho branco”,
subornos, desvios de dinheiro público, e outros. No
entanto, para se manter imune à lei e dentro do poder, o
corrupto pode valer-se de meios agressivos e violentos,
o que inclui assassinatos.

A corrupção política nunca é individual. Ela não


atinge uma ou poucas pessoas. Ela atinge o bem
público, o que significa que sua extensão vai além do
simples ato. Mais ainda, ela engloba o conceito de que o
Estado é algo amorfo e sem dono, servindo apenas
como fonte de espólio.

Para que exista corrupção é necessário que


exista anuência, cumplicidade ou condescendência. É
necessário mais de uma pessoa para praticá-la, o que
amplia os danos que ela provoca no sistema. Sendo
assim, sua capacidade de contaminação é
extremamente alta, podendo estabelecer-se de maneira
generalizada dentro do Estado.

97
Artigo 333, Código Penal

caius_c 488
A corrupção afronta toda e qualquer constituição.
Ela é responsável pela sua invalidação como lei
extensível a toda população, o que inclui, naturalmente,
seus governantes. A corrupção dissocia governo e povo,
dando ao primeiro todos os sinônimos possíveis para
grupos de pessoas que vivem parasitariamente. Para o
segundo, a lei maior torna-se a da sobrevivência natural,
onde o mais forte prevalece sempre sobre o mais fraco.

A corrupção contraria as bases de um Estado


Democrático de Direito. Ela empresta seu verbo ao
Estado e o transforma em propriedade privada.

As leis são necessárias para punir e evitar que a


corrupção se torne comum e ostensiva. No entanto,
somente a lei não consegue frear os atos dos seres
humanos. Não existiriam crimes se ela tivesse tal poder.
Somente uma convicção interior impede uma pessoa de
praticar determinados atos. O único freio do ser humano
é ele próprio. Esta qualidade, em grande parte, é obtida
através da educação.

Nepotismo

Nepotismo vem do latim nepos, que significa neto


ou descendente. Atualmente, é o termo utilizado para
designar o favorecimento de parentes em detrimento de
pessoas mais qualificadas, especialmente no que diz
respeito à nomeação ou elevação de cargos.

A Carta de Pero Vaz de Caminha é lembrada


como o primeiro caso de tentativa de nepotismo

caius_c 489
documentada no Brasil. Ao final da carta, Caminha pede
ao rei um emprego ao seu genro. A palavra "pistolão",
muito empregada no Brasil, vem de epístola, devido à
carta de apresentação, prática iniciada com a Carta de
Pero Vaz de Caminha.337

Podemos considerar o “apadrinhamento” como


uma forma de nepotismo, visto que existe uma relação
que está vinculada ao conceito de família ampliada,
embora não seja de sangue. Durante o governo
ditatorial de Getúlio Vargas, muitas das cartas
endereçadas a Filinto Muller revelam a prática de
pedidos de cargos, nomeações e outros favores, por
conta de sua condição de chefe de polícia do Estado
Novo.338

Em 2009, ocorreu um escândalo no Senado,


presidido por José Sarney, por conta dos chamados
“atos secretos”, onde decisões da Casa não foram
publicadas, principalmente as relativas a nomeações de
parentes. Por exemplo, podemos citar a nomeação de
Nathalie Rondeau em 26 de agosto de 2005 para o
Conselho Editorial do Senado. Ela é filha do ex-ministro
de Minas e Energia Silas Rondeau, afilhado político de
Sarney. O mesmo boletim que nomeou Nathalie
promoveu a mulher do então diretor-geral Agaciel Maia,
Sânzia Maia, a secretária do Órgão de Coordenação e
Execução. 339

O nepotismo alimenta-se e é alimentado pela


corrupção. Ele não só deriva desta como a promove
também. Sua derivação decorre do fato que para que

caius_c 490
ele exista é necessário que alguém burle o sistema de
alguma forma, tanto ilegalmente como legalmente.
Neste caso, criam-se leis que o justifiquem. Cremos não
ser necessário acrescentar que nem tudo que é legal é
correto. A promoção da corrupção pelo nepotismo
ocorre pelo estabelecimento de uma oligarquia, que
poderíamos chamar de familiar, que passa a controlar
ou ter acesso a canais que possibilitam o uso indevido
dos recursos do Estado. Esta oligarquia toma conta do
poder de forma velada, buscando apenas o próprio
benefício.

A corrupção e o nepotismo são formas veladas de


oligarquia. Sendo assim, não podem ser admitidas em
um Estado Democrático de Direito, visto que este tem
por fim unicamente o bem comum.

Paternalismo

Paternalismo vem do latim pater, que significa


território ou jurisdição governada por um patriarca. O
uso do termo no sentido de orientação masculina da
organização social aparece pela primeira vez entre os
hebreus no século IV para qualificar o líder de uma
sociedade judaica; o termo seria originário do grego
helenístico para denominar um líder de comunidade.

SÉRGIO BUARQUE DE HOLLANDA afiança que


o paternalismo brasileiro está intimamente ligado à
cultura por conta do processo de colonização do país,
onde os senhores de engenho, donos de extensas
propriedades distantes dos poucos centros urbanos

caius_c 491
então existentes, estabeleceram um vínculo misto de
autoridade e favorecimento com seus empregados,
escravos e aqueles de quem dele dependiam. 340

Dentro do Estado, podemos definir paternalismo


como um sistema de autoridade e favorecimento entre
um líder político e determinado grupo, baseada em uma
relação emocional.

Esta relação emocional pressupõe duas coisas: a


primeira é que a autoridade do líder é inquestionável e
que os parâmetros estabelecidos para o seu poder são
ilimitados; a segunda é a suposição de que aqueles que
estão sob seu comando são carentes de uma percepção
maior que possa produzir neles alguma vontade ou
opinião própria. Existe uma situação de tutela entre os
dois, onde o tutor tem amplos poderes e o tutelado não
tem capacidade de discernimento para comandar sua
própria vida.

O paternalismo é o irmão caçula do nepotismo.


Igual a este, é fonte primária de corrupção. Implica em
uso do poder para determinado grupo.

Ele pode estender-se alem dessa relação


imediata. O Estado pode assumir situações em que
julgue que sua tutela deva existir por conta da
incapacidade dos cidadãos. Ele pode conceder
benesses sem a respectiva contrapartida de uma
relação direito-dever entre Estado e cidadão ou atribuir-
se poderes que não sejam aqueles que apenas
deveriam regular a mesma relação. Como exemplo

caius_c 492
deste último, podemos citar o período histórico
compreendido entre 1964 e 1985, onde a escolha dos
presidentes do Brasil se deu por voto indireto. Um dos
motivos alegados então, era que o “povo ainda não
estava preparado para votar para presidente”.

A distribuição de benesses está mais vinculada


ao populismo, onde se busca a simpatia de camadas da
população, geralmente as mais carentes. Nos países
democráticos é uma forma de demagogia, onde se
procura angariar votos; nos países autoritários tenta-se
estabelecer sua legitimidade por conta de
favorecimentos. É comum que líderes paternalistas se
autodenominem como “pai do povo”, “pai da nação”,
“padrinho”, etc.

O paternalismo fere dois princípios do Estado


Democrático de Direito: o primeiro é a isonomia, pois
favorece parte da população;o segundo é a ingerência
na vida do cidadão além do que a lei deve estabelecer.
O paternalismo rompe ou desconsidera barreiras legais,
éticas e morais.

Pequenos crimes

A qualidade de uma grande obra está


estreitamente ligada ao gabarito de seus componentes.
Para se conseguir um grande todo devemos nos
concentrar em obter os melhores elementos. O padrão
dos detalhes constrói o padrão do conjunto.

caius_c 493
Citando KANT – “Não esperem que este
acontecimento consista em grandes gestos ou crimes
importantes cometidos pelos homens, após o que, o que
era grande entre os homens se tornou pequeno, ou o
que era pequeno se tornou grande (...). Não, nada disso
(...). Prestem atenção, não é nos grandes
acontecimentos que devemos procurar o signo
rememorativo, demonstrativo de prognostico do
progresso; é em acontecimentos muito menos
grandiosos, muito menos perceptíveis.” 341

Ao se falar aqui de pequenos crimes não


devemos nos ater àqueles que a jurisprudência penal
chama de pequeno potencial ofensivo. Embora os
englobe, não se trata da mesma coisa.

Podemos definir pequenos crimes, os que são


punidos por lei ou não, como aqueles em que ocorre
desfavorecimento de alguém por conta de ação ou
omissão de outrem. Nestes pequenos crimes, também
pode existir benefícios próprios ou vantagens. São
infrações às normas ou costumes em que existe
aceitação ou não-reprovação social. Como exemplo
podemos citar o “furar fila”, “a cola” estudantil, pequenas
infrações de trânsito, etc.

Se pareceu risível ao leitor é porque acredita que


pequenos atos não traduzem uma cultura e que pessoas
que não se governam formam um povo administrável.
Estes pequenos crimes traduzem o sentimento ou
pensamento da população e abrem espaço para que

caius_c 494
delitos de “colarinho branco”, corrupção e nepotismo ou
sejam aceitos como naturais ou inevitáveis.

Um Estado Democrático de Direito somente pode


ser construído lastreado por uma população que
entenda seu sentido e veja nele a necessidade de
evoluir como ser humano.

WUNDT e DURKHEIM ensinam que a cultura,


costumes, crenças, etc, estão na consciência do
indivíduo ao mesmo tempo em que situam-se fora dele.
A representação coletiva é responsável pela reposição
da realidade social, acumulação de sabedoria e ciência
no decorrer do tempo. Partindo deste princípio, deduz-
se que o indivíduo reflete a sociedade ao mesmo tempo
em que a promove. Esta interação é o que produz o
coletivo.342

SIGMUND FREUD escreve que o indivíduo é um


ser constituído a partir de sua relação com outros
indivíduos, e que neste sentido o indivíduo sempre está
vinculado a outra pessoa.343

Este conceito estende-se ao Estado. Qualquer


mudança tem que passar pela sociedade e pelo
indivíduo. Não existe a possibilidade de alterações em
qualquer um desses elementos sem que a mesma
esteja presente nos outros.

A simultaneidade da mudança, que deveria


ocorrer à primeira vista, seria fato raro ou inexistente.
Cada um dos elementos, entendendo a necessidade,

caius_c 495
promoveria em si a própria mudança que, depois de
firmada, seria transmitida aos outros. São vasos
comunicantes onde se acrescenta em um deles uma
porção a mais. A própria relação entre eles produziria
um nivelamento entre todos. É média aritmética de
vários elementos que, depois de obtida, acrescenta-se
outros valores para obter uma nova média.

A base de um povo começa pelo autodomínio de


seus cidadãos e pela consideração que tem para com
os outros em seus pensamentos e atos. O respeito às
regras institucionais está diretamente ligado ao
acatamento das regras não abrangidas pela lei.

A tecnologia pode ajudar na formação de uma


sociedade que não aceite estes pequenos crimes.
Aquilo que não é permitido pode ser facilmente impedido
de ser executado, seja pela obstaculização ou pela
possibilidade de detecção de infratores. Não se
restringe, aqui, a liberdade, apenas dá maiores forças às
leis através de outros elementos.

O combate ao que denominamos de pequenos


crimes não pode ser confundido com tolerância zero ou
repressão policial. Trata-se de fazer com que o cidadão
seja educado e viva dentro de uma ética extensiva ao
social, onde o respeito pelas instituições e pessoas seja
predominante. Frise-se novamente que não trata-se de
condicionamento destinado a produzir um
comportamento amorfo. O cidadão ético está ciente de
seus direitos e luta por eles, quando sente que os
mesmos estão ameaçados.

caius_c 496
Laicismo

DE PLÁCIDO E SILVA ensina que laico vem do


latim laicus, que é o mesmo que leigo, equivalendo ao
sentido de secular, em oposição ao do de bispo, ou
religioso. 344

No Brasil, o laicismo foi introduzido com a


Constituição de 1891, quando o Estado separou-se da
Igreja.

O laicismo é essencial para que se possa chegar


a um Estado Democrático de Direito. Ele traduz a
necessidade de sobrepor o Direito às crenças.

Temos uma herança judaico-cristã que está


embutida em nossas mentes. Sua moral e ética fazem
parte integrante de nossas leis. A civilização ocidental
cresceu sob seus auspícios e progrediu por conta delas.

Se estamos tão impregnados desta moral e ética,


por quê, então, o Estado deve andar separado destas
crenças? Em primeiro lugar, o Estado separou-se de
qualquer entidade religiosa a que tenha que submeter-
se; ele não separou da moral e ética; em segundo lugar,
as entidades religiosas são tantas que não caberia o
partilhamento do poder com algumas delas; em terceiro,
cabe dizer que a maioria delas está mais voltada a ritos
e cultos do que propriamente da moral e ética; por
último, as crenças são estáticas e seus dogmas não são
passiveis de serem mudados.

caius_c 497
O Estado precisa acompanhar a evolução social e
suas necessidades. Muitas delas esbarrariam em
conceitos que as crenças consideram imutáveis ou
contrárias ao seu doutrinamento.

Poder espiritual se traduz em poder temporal. As


instituições religiosas arrecadam tributos, formam
opiniões e geram comportamentos. Isto faz com que os
homens, ao exercerem suas crenças, esqueçam-se de
praticarem o Direito. Não podemos esquecer que o
homem ainda não consegue pensar além do âmbito da
tribo a qual pertence e ainda não consegue pensar
dentro do contexto da humanidade. As crenças induzem
à exclusão de outros grupos ou pessoas com
pensamento diverso. A possibilidade de uma delas
poder atuar junto com o Estado, de forma associativa,
produziria discriminações.

Muitas crenças consideram como aversivas


algumas formas de sexualidade, pregam a submissão
feminina ou buscam conter o avanço da ciência em
determinados setores, principalmente daqueles que
buscam soluções através de pesquisas com elementos
humanos. Assuntos tabus como pena de morte,
eutanásia, aborto e outros, não são passíveis de serem
discutidos por afrontarem dogmas religiosos. Estas
resistências podem dificultar o avanço do Direito e da
forma igualitária com que o Estado Democrático deve
tratar seus cidadãos.

caius_c 498
É certo afirmar que as crenças não convivem
pacificamente entre si. Por mais que preguem as
mesmas assertivas, costumam se confrontar e tentar
diminuir a influência de outros grupos. A fidelização de
seus membros é obtida através da divinização de seus
preceitos e a busca por novos conversos é uma
constante.

Assegurar a liberdade de crença e consciência é


atribuição do Estado. Por conta desta própria atribuição
torna-se impossível sua associação, na forma de
compartilhamento de poder, com qualquer grupo
religioso. Esta associação já delimitaria a própria
liberdade de crença e consciência daqueles que não
estão conjugados com o poder.

Neutralidade

J. H. KAISER, conceitua grupos de pressão como


organizações da esfera intermediária entre o indivíduo e
o Estado, nos quais um interesse se incorporou e se
tornou politicamente relevante, seja por conta de seus
interesses ou por determinada categoria social.

Para BONAVIDES, o grupo de pressão se define


pelo exercício de influência sobre o poder político para
obtenção eventual de uma determinada medida de
governo que lhe favoreça os interesses. Segundo ele, os
partidos políticos tem em comum com estes grupos o
fato de serem categorias interpostas entre o cidadão e o
Estado.

caius_c 499
Entende-se que os grupos de pressão são
lastreados por interesses próprios que, quase sempre,
divergem do pensamento que deve orientar ações para
que se alcance o bem comum.

Os conceitos do laicismo estendem-se aos


demais grupos cuja representatividade não seja
legitimamente popular. Em alguns casos, como os de
setores de produção, há de se buscar nas suas
reivindicações a qualidade acima. Não se pode
confundir benesses solicitadas para satisfação de
grupos empresariais ou empresas gigantescas com as
necessárias adaptações da lei para ajustes de mercado-
empresa em determinadas situações. Neste ultimo caso,
pode ser um fato em que deve existir um tratamento
desigual para contrabalançar alguma hipossuficiência.

Toda e qualquer proposta de grupos deve ser


avaliada tomando-se o todo como medida. A questão
básica para se manter a neutralidade é o resultado final.
Se ele estender-se de forma benéfica para a população
em geral, é indício de que ela está sendo aplicada.

O conforto obtido em detrimento da vontade de


evoluir

Um Estado Democrático de Direito, quando bem


sucedido, proporciona conforto ao cidadão. Este
conforto provém da estabilidade econômica que lhe
deve ser natural, aliada a uma proteção individual e
social efetiva. Não existem distâncias entre governo e
povo, sendo que um cuida de outro.

caius_c 500
Este conforto pode induzir ao pensamento de que
tudo é estável e que inexiste perigo ou perecimento
desta situação. Acreditando nisto, o cidadão pode
imaginar que existe um fluxo natural que conduz a esta
situação. Com certeza, isto é uma inverdade. Estar
confortável não implica em estar seguro.

Podemos considerar o Estado Democrático de


Direito como um organismo vivo que depende de
cuidados para que se mantenha saudável. Nesta
condição ele precisa de elementos vitais para sobreviver
e cuidados contra seus possíveis inimigos, mormente os
mais insidiosos que buscam dentro de suas próprias
bases as armas ou artimanhas para sua destruição.

Estes cuidados não implicam em desconsiderar


as bases do Estado em situações que se julguem
anômalas e nas quais se julgue que é necessário
abdicar de direitos para sobrevivência do próprio
Estado. Contrapõe-se que não se trata da sobrevivência
de governos e sim do Estado. Os governos de um
Estado Democrático de Direito devem suceder-se
naturalmente, visto que é uma de suas premissas
básicas. O Estado, este sim, deve permanecer.
Somente cabem medidas restritivas de direito quando
este, efetivamente, se encontrar ameaçado, como
invasões ou guerras.

Para restringir a idéia de estabilidade que o


conforto pode proporcionar, cada cidadão deve estar
cônscio da necessidade de sua atuação dentro da

caius_c 501
sociedade. O propelente de tais atos é que chamamos
de consciência política.

Consciência política

Escreveu George Orwell, em seu livro 1984, -


“Não era desejável que os proles98 tivessem
sentimentos políticos definidos. Tudo que se lhes exigia
era uma espécie de patriotismo primitivo ao qual se
podia apelar sempre que fosse necessário levá-los a
aceitar rações menores ou maior expediente de
trabalho. E mesmo quando ficavam descontentes, como
às vezes acontecia, o descontentamento não os
conduzia a parte alguma porque, não tendo idéias
gerais, só podiam focalizar a animosidade em ridículas
reivindicações específicas. Os males maiores
geralmente lhes fugiam à observação.” 345

Este pequeno trecho do livro expressa, de


maneira veemente, que a falta de uma consciência
política somente pode ter lugar em um Estado totalitário.
Nos Estados Democráticos de Direito, ao contrário, é
necessário que grande parte da população a tenha, por
conta de sua interação com o próprio Estado.

Mas, afinal de contas, o que é consciência


política? Para conseguir uma definição adequada é
necessário primeiro separar as palavras e dar-lhes sua
dimensão isolada.

98
Pessoas do povo, não pertencentes ao partido político.

caius_c 502
Para VYGOTSKI, a própria consciência ou a
tomada de consciência dos nossos atos e estados deve
ser interpretada como sistema de transmissores de uns
reflexos a outros que funcionam corretamente em cada
momento consciente. Quanto maior seja o ajuste com
que qualquer reflexo interno provoque uma nova série
em outros sistemas, mais capazes seremos de prestar-
nos contas de nossas sensações, comunicá-las aos
demais e vivê-las (senti-las, fixá-las nas palavras etc). 346

Para LUIZ ETEVALDO DA SILVA, política pode


ser entendida por pensamentos e/ou ações que visam
construir ou reconstruir formas de vida social. As
maneiras como as pessoas se organizam para definir o
que produzir materialmente, as reflexões éticas, a
administração da coisa pública ou privada, o papel das
instituições (Estado, igreja, escola, etc), as formas de
apropriação e divisão da riqueza, os direitos trabalhistas,
as ações voltadas à cidadania, o controle social, todos
eles são exemplos de política. 347

Para ele, não é possível entender a sociedade


humana sem as dimensões da política. Pois, todas as
ações dos indivíduos são orientadas por ela, consciente
ou inconsciente. O pensar a política está ligada a
condição antropológica do homem.

Podemos resumir consciência política como um


estado onde, naturalmente, temos condições de
entender as conseqüências dos atos próprios, da
sociedade e do Estado. Este entendimento
necessariamente deve nos conduzir a uma ação ou

caius_c 503
omissão, onde o objetivo a ser alcançado é o bem
comum.

A capacidade de discernimento é nata. No


entanto, ela pode ser distorcida pela cultura ou pelo
próprio indivíduo. Da mesma forma, ela pode ser
reforçada por estes dois elementos. A distorção ocorre
quando não existe clareza nos padrões sociais a serem
adotados. O reforço ocorre quando estes padrões estão
inseridos na cultura.

A forma mais adequada para se adquirir uma


consciência política é o estudo das pretensões sociais
desde a infância. Uma pessoa que esteja consciente de
seu momento histórico e conheça as eficácias e
deficiências do sistema político que rege sua vida,
poderá acrescentar seus valores junto àqueles que
permeiam a sociedade.

Ter consciência política não implica apenas em


conhecimento; traduz-se em efetivação da vontade
pessoal e social. É capacidade de indignar-se com fatos
que não são de direito e agir para que o mesmo não se
repita e que seus responsáveis sejam punidos de
acordo com a lei.

A tecnologia e a possibilidade de participação

A máquina estatal é grande; ela consome


recursos inestimáveis. Para se obter uma representação
legislativa da população existente no país é necessário
criar mecanismos eletivos para que exista uma grande

caius_c 504
quantidade de representantes. A estes representantes
são acrescidos outros elementos para servirem de apoio
aos processos que eles desencadeiam. Entende-se isto
como necessário para que exista uma
representatividade de fato.

O próprio processo eletivo é custoso. Por conta


disso, pergunta-se se a representatividade deve estar
ligada à capacidade financeira, pois é certo que aqueles
que não dispõem desta capacidade não poderão se
fazerem presentes em cargos que possam decidir a
estrutura social e estatal. Para se ganhar uma eleição é
necessário um bom suporte financeiro.

É certo, também, que nem sempre o


representante corresponde aos interesses e ideais do
representado. Existe uma grande possibilidade de que
ele esteja mais ligado a grupos de pressão do que ao
eleitor propriamente dito. Isto retira sua própria
representatividade.

É quase impossível que toda a população esteja


totalmente politizada. O mais provável é que apenas
certa porcentagem queira, efetivamente, participar da
vida política, com todas as suas atribuições. Sem ter um
suporte financeiro adequado e com seus representantes
ligados a grupos, deixa-se de obter a representatividade
necessária que pode se tornar uma inteligência social.

Talvez fosse menos custoso e mais adequado


que se iniciasse uma possibilidade de participação do

caius_c 505
povo no processo legislativo sem a necessidade de
eleições.

Com a tecnologia disponível, qualquer pessoa


consegue estabelecer relações com diversas partes do
mundo. Não existe a necessidade de sua presença
física; basta se ter um computador ligado a uma rede.

O corpo legislativo eleito poderia ser diminuído e


suas funções remodeladas. Os projetos de lei poderiam
partir de um cidadão comum, considerado como
capacitado e devidamente cadastrado, analisados por
um órgão adequado e votados através de uma rede.
Aqueles que fossem aprovados por estas pessoas,
seguiriam o processo normal das votações. Os projetos
de lei do corpo legislativo eleito também deveriam
passar por esta pré-aprovação antes de seguirem seu
curso. Isto garantiria a efetiva representatividade, pois
se reduziria o alcance dos grupos de pressão e
diretrizes de partidos, visto que os votantes estariam
menos suscetíveis a estas influências por serem
comuns cidadãos.

No atual sistema eletivo, assume funções aqueles


que dispõem de simpatia junto ao público e tem
capacidade midiática. Não caberia nenhuma forma
eletiva para este corpo de interessados. Eles seriam a
forma mais direta da representatividade democrática,
um retorno aos seus primórdios. As exceções à sua
participação seriam aquelas em que os projetos de lei
fossem de jurisdição exclusiva do governo, como é o
caso daqueles que envolvem impostos.

caius_c 506
Pode-se argumentar que não existiria um preparo
para que estas pessoas pudessem exercer suas
funções. Esta possibilidade existe naqueles que são
eleitos, pois a maioria não está capacitada para exercer
suas funções, estando dependente de técnicos que
compõem seu gabinete. Estas pessoas teriam que ser
devidamente capacitadas através um sistema que as
deixasse em condições de ter uma correta conduta
jurídica, fundamentada na ética e voltada para o bem
comum.

Outro possível argumento é aquele que diz que a


pessoa não estaria disponível em tempo integral para
esta função, com é o caso de um corpo legislativo eleito,
pois não teria nenhuma ajuda financeira para exercê-la.
Entende-se que o próprio interesse na participação seria
o elemento motivador que conduziria a pessoa a exercer
o cargo por sua própria vontade política.

Mesmo que o processo legislativo seja moroso


atualmente, não há como argumentar que esta nova
forma aumentaria os prazos de aprovação. Com regras
bem definidas e um sistema adequado, há de se crer
que poderia ocorrer uma maior produtividade dentro do
próprio corpo legislativo.

Pode ser uma maneira, também, de fugir da


tecnocracia, pois esta forma de governo é produzida por
burocratas instalados dentro do sistema, formadores de
opinião pública ou elementos voltados unicamente para
interesses de empresas ou grupos de pressão. Com a

caius_c 507
democratização efetiva do processo legislativo, os
lobistas teriam que despender um esforço excepcional
para aprovação de leis de seu exclusivo interesse. Com
um corpo legislativo mais espalhado e com maior
representatividade, existiriam menores possibilidades de
captação de votos para seus interesses.

Esta representatividade direita poderia se dar nos


três níveis: municipal, estadual e federal. Cada pessoa
poderia se capacitar apenas para um deles, dentro de
determinado espaço de tempo, após o que poderia
ocorrer uma renovação, desde que observados
determinados critérios, que incluiriam a produtividade e
participação do indivíduo.

Este aumento da capacidade representativa


poderia ser uma maneira de diminuir distorções,
aumentar a transparência e dar uma maior efetividade
ao processo democrático. Se provado que este sistema
fosse mais adequado e democrático, em um futuro
distante, o atual quadro legislativo, devidamente
reduzido, poderia ser transformado em um órgão
regulador desta nova forma de democracia.

O Estado internacionalizado

O Estado que pretende sobreviver como


autônomo e independente não pode viver isolado. Existe
a necessidade de interação. No entanto, suas relações
com outros Estados devem se pautar pela prioridade
que confere ao seu próprio povo.

caius_c 508
O Estado internacionalizado não busca uma nova
identidade, prefere assimilar o que existe de bom em
outros países, acrescentando-o ao seu dote natural.
Seus paradigmas são atualizados de acordo com suas
necessidades, com os menores danos sociais possíveis.

Todo corpo provoca uma curvatura no espaço-


tempo. Essa curvatura forma uma energia que atrai
outros corpos para si.

Imagine um lençol preso pelas quatro pontas com


uma bola no centro. Essa bola formará uma depressão.
Solte outra bola em uma das pontas do lençol. Ela
procurará caminhos para chegar até aquela que está no
centro.

Nós também provocamos essa curvatura. Nós


também atraímos outros corpos e somos atraídos por
eles. A diferença entre atrair e ser atraído reside apenas
em quem provoca a maior curvatura, ou seja, aquele
que tem mais energia trará até si aqueles que tem
menos.

No nosso caso, talvez devamos dar um nome a


essa energia de atração. Talvez devamos chamá-la de
BEM COMUM ou simplesmente CIDADANIA.

Talvez devamos nos unir para formar uma massa


cósmica maior que produza uma grande atração. Talvez
a CIDADANIA seja apenas uma questão de física que
podemos resolver com uma simples união de energias.

caius_c 509
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