Você está na página 1de 7

Estrutura e Legislação da Aviação Civil

Módulo 3 – Unidade 8

ACORDOS INTERNACIONAIS

Ao final desta Unidade, você deverá ser capaz de:

 Explicar o propósito dos acordos internacionais firmados no âmbito da


aeronavegabilidade.

 Explicar como é definido o nome de um acordo e seu nível de assinatura.

 Relacionar os escopos dos acordos com cada etapa do ciclo de vida do produto
aeronáutico.

 Explicar como é desenvolvido o nível de confiança necessário para se firmar um


acordo.

 Listar os acordos internacionais de aeronavegabilidade mais importantes.

1
Estrutura e Legislação da Aviação Civil
Módulo 3 – Unidade 8

Nesta última Unidade do curso vamos ter uma visão geral dos acordos internacionais
de aeronavegabilidade.

 Os acordos internacionais são entendimentos para cooperação entre as autoridades de


aviação civil, que visam benefício mútuo.
 Por meio da assinatura do acordo, uma AAC reconhece a competência da outra para
conduzir funções de regulação da aeronavegabilidade de um modo comparável ao seu.
 Os acordos internacionais de aeronavegabilidade podem receber diferentes
nomenclaturas e podem ser firmados por autoridades de diferentes níveis hierárquicos.
 O desenvolvimento de acordos de aeronavegabilidade requer que um nível de confiança
adequado seja estabelecido entre as autoridades.
 Muitos dos acordos de aeronavegabilidade da ANAC foram firmados com o objetivo
principal de permitir a exportação de aeronaves brasileiras.

Os acordos internacionais são entendimentos para cooperação entre as


autoridades de aviação civil, que visam benefício mútuo.

Necessariamente, esses acordos são baseados em um alto grau de confiança na


competência técnica e capacidade regulatória das Autoridades de Aviação Civil – AACs dos
Estados envolvidos no acordo.

De maneira geral, os acordos relacionados às atividades de aeronavegabilidade são


firmados entre duas “partes”, portanto caracterizando-se como acordos “bilaterais”, mas nada
impede que sejam firmados entre diversas partes, resultando em um acordo “multilateral”.

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 49, I, determina ser da competência


exclusiva do Congresso Nacional “resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos
internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional”,
sendo que cabe ao Presidente, segundo o art. 84, VIII, “celebrar tratados, convenções e atos
internacionais”.

O art. 49, I, no entanto, deixa aberta a possibilidade de existência de acordos que não
exijam o consentimento do Congresso Nacional, desde que, conforme exposto, não acarretem
“encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional”. São exemplos a maioria dos
acordos relacionados com aeronavegabilidade, de grande especificidade técnica.

2
Estrutura e Legislação da Aviação Civil
Módulo 3 – Unidade 8

O mais importante acordo firmado pelo Brasil no âmbito aeronáutico é a Convenção


de Chicago, como foi apresentado em Unidades anteriores.

Conforme instituído no art. 8º, VI, da Lei nº 11.182, de 27 de setembro de 2005, Lei de
Criação da ANAC, compete à agência negociar, realizar intercâmbio e articular-se com
autoridades aeronáuticas estrangeiras, para validação recíproca de atividades relativas ao
sistema de segurança de voo, inclusive quando envolvam certificação de produtos
aeronáuticos, de empresas prestadoras de serviços e fabricantes de produtos aeronáuticos,
para a aviação civil.

Por meio da assinatura do acordo, uma AAC reconhece a competência da outra


para conduzir funções de regulação da aeronavegabilidade de um modo
comparável ao seu.

Os acordos bilaterais se apresentam como um meio para que os países possam fazer
sua atividade internacional de regulação usando ao máximo o sistema de certificação de outra
AAC.

Geralmente, os acordos internacionais são citados nos RBACs como facilitadores de


processos. A importação de produtos aeronáuticos, por exemplo, pode ser facilitada pela
existência de um acordo bilateral com esse propósito. A ANAC utilizará as determinações de
cumprimento com requisitos feitas pela AAC primária para emitir a sua aprovação. Esse
procedimento pode ser estabelecido para os diversos outros processos, conforme o escopo
do acordo.

As vantagens na concretização de acordos internacionais incluem:

 promoção de uma maior harmonização internacional de normas e processos;


 reconhecimento recíproco de competência técnica e capacidade regulatória;
 aceitação recíproca de aprovações;
 eficiência no uso de recursos das AACs pela redução de redundância de
processos;
 redução de encargos econômicos para regulados e abertura de mercados;
 estabelecimento de protocolos de comunicação e resolução de conflitos entre
AACs.

Os escopos dos acordos de aeronavegabilidade podem ser diversos, conforme o


interesse e as tratativas entre as AACs. Um sumário dos acordos bilaterais firmados pelo

3
Estrutura e Legislação da Aviação Civil
Módulo 3 – Unidade 8

Brasil na área de aeronavegabilidade e o escopo de cada um deles pode ser encontrado na


página eletrônica da ANAC relacionada aos acordos internacionais. Os escopos dos acordos
e sua correlação com o ciclo de vida do produto podem ser vistos na figura a seguir.

Os temas normalmente abordados em acordos são:

 Projeto – compartilhamento de informações de projeto, delegação de inspeção


de conformidade, delegação de testemunho de ensaio, reconhecimento de
aprovação de projeto; incluindo atividades relacionadas a aprovações e
ensaios ambientais.
 Produção – fabricação de produtos aeronáuticos fora do Estado de Projeto;
delegação de monitoramento da produção.
 Importação/Exportação – reconhecimento de aprovações de
aeronavegabilidade para exportação.
 Intercâmbio de aeronaves – dupla vigilância sobre aeronaves sujeitas a
contrato de intercâmbio; delegação de responsabilidade sobre a
aeronavegabilidade.
 Organizações de manutenção – reconhecimento de aprovação de
organizações de manutenção; delegação do monitoramento.
 Cooperação – atividades de treinamento, compartilhamento de informações de
dificuldades em serviço e diretrizes de aeronavegabilidade.

4
Estrutura e Legislação da Aviação Civil
Módulo 3 – Unidade 8

Os acordos internacionais de aeronavegabilidade podem receber diferentes


nomenclaturas e podem ser firmados por autoridades de diferentes níveis
hierárquicos.

Na própria negociação do acordo, respeitando a legislação dos países, é que são


definidos o título, o propósito e o formato do acordo, assim como qual autoridade deverá firmá-
lo.

Acordos de aeronavegabilidade são normalmente assinados pelo representante maior


da AAC do país, mas existem acordos firmados por representantes de mais alto nível
hierárquico, no Poder Executivo, assim como aqueles firmados por chefes dos departamentos
de aeronavegabilidade ou gerentes. Apesar de recomendado por questão de reciprocidade,
nem sempre os acordos são firmados por representantes dos Estados de mesmo nível
hierárquico.

Para os acordos de aeronavegabilidade, têm sido usados os nomes:

 Memorandum of Understanding – MoU ou Memorando de Entendimento;


 Protocol of Understanding – PoU ou Protocolo de Entendimento;
 Work Arrangement – WA ou Acordo de Trabalho;
 Technical Arrangement – TA ou Acordo Técnico;
 Memorandum of Agreement – MoA ou Memorando de Acordo.

Observe que os nomes não representam uma tipologia de acordo necessariamente. O


conteúdo de um MoU, PoU, MoA, etc. podem ser muito semelhantes, enquanto que um MoU
da área de aeronavegabilidade pode ser completamente diferente de um MoU voltado a
treinamento, por exemplo.

A nomenclatura ainda pode variar conforme a esfera de aplicação do acordo. Por


exemplo: o acordo firmado entre Brasil e Canadá recebeu o nome de TA-M, por se referir a
um Acordo Técnico no âmbito de manutenção.

Os Implementation Procedures – IPs ou Procedimentos de Implementação são


acordos com procedimentos autorizados por um acordo de mais alto nível (acordo guarda-
chuva). Possuem um caráter bastante técnico e sua elaboração normalmente envolve os
diferentes setores das AACs.

5
Estrutura e Legislação da Aviação Civil
Módulo 3 – Unidade 8

O desenvolvimento de acordos de aeronavegabilidade requer que um nível de


confiança adequado seja estabelecido entre as autoridades.

A construção da confiança entre os Estados pode requerer avaliações recíprocas dos


sistemas de aviação civil. O objetivo de tal análise é determinar se os sistemas são
equivalentes a ponto de assegurar resultados similares.
A seguir estão alguns exemplos de áreas que podem ser avaliadas:
 Legislação – são analisados o escopo e as provisões dos regulamentos, o
processo normativo, os materiais de guia e os procedimentos de revisão.
 Organização – a estrutura organizacional da AAC, suas delegações e
credenciamentos, a localização dos escritórios, e seus programas e
mecanismos para melhoria contínua são avaliados.
 Documentos de processos – são avaliados os documentos de aprovação de
projeto, de certificação de qualidade, certificação de aeronavegabilidade,
aprovações de aeronavegabilidade continuada, de delegação de
responsabilidade, etc.
 Atividades de fiscalização – são examinadas as atividades de monitoramento
de detentores de certificados e como a AAC revisa e emenda suas aprovações.
 Atividades de enforcement – São avaliadas as atividades de enforcement, os
processos administrativos, incluindo a habilidade de revogar ou suspender
certificados, de aplicação de multas e suas proibições relacionadas à
falsificação de dados.
 Comunicações – O processo de coordenação interna e externa da AAC é
avaliado, assim como os meios de comunicação com os fabricantes,
operadores e outros detentores de certificados.
Durante o processo de avaliação do sistema da outra autoridade, pode-se considerar
necessário acompanhar um processo em andamento (shadow process). Pode ser justificável
que ocorra esse tipo de atividade quando uma AAC ainda não teve a oportunidade de
conhecer em detalhe o processo da outra. Nesse caso, a avaliação vai além da análise
documental, requerendo um trabalho lado a lado entre as AACs em um processo real.

6
Estrutura e Legislação da Aviação Civil
Módulo 3 – Unidade 8

Muitos dos acordos de aeronavegabilidade da ANAC foram firmados


com o objetivo principal de permitir a exportação de aeronaves
brasileiras.

Os dois principais acordos em vigência atualmente tiveram esse objetivo


inicial também, porém seus escopos têm sido ampliados. É o caso do acordo
firmado com os EUA (Bilateral Aviation Safety Agreement – BASA), e do acordo
com a União Europeia (Acordo Brasil-UE).
O BASA é um tratado internacional, ratificado pelo Congresso Nacional,
promulgado em 4 de abril de 2006. Aborda questões amplas das relações entre
os Estados no âmbito da aeronavegabilidade, deixando pontos de especificidade
técnica para definição em IPs. Desse modo, questões mais suscetíveis a
alterações são mantidas em um nível hierárquico inferior, em que as alterações
podem ser implementadas com maior celeridade.
O Acordo Brasil-UE também é um tratado internacional e foi promulgado
em 18 de setembro de 2015. É similar ao BASA firmado com os EUA, porém
inova em dois aspectos interessantes:
 Criação de comitês: são criados três comitês com competências
normativas, permitindo que os procedimentos sejam
estabelecidos sem a necessidade de aprovações internas
adicionais nas autoridades.
 Aceitações recíprocas: o texto prevê explicitamente que haverá
aprovações que serão aceitas diretamente pela outra autoridade,
sem a necessidade de validação.
Há diversos outros acordos firmados pela ANAC, mas não entraremos
em detalhes neste curso. Ao lado estão as bandeiras de todos os parceiros do
Brasil com os quais foram firmados acordos de aeronavegabilidade.

Ficamos por aqui. Espero que o curso seja proveitoso para o seu trabalho!
Reveja os tópicos em destaque trazidos dentro das caixas azuis no início das Unidades
e verifique se você foi realmente capaz de cumprir os objetivos traçados para cada aula.

Você também pode gostar