Você está na página 1de 650

NOVÍSSIMO DICIONÁRIO

DE ECONOMIA
NOVÍSSIMO DICIONÁRIO
DE ECONOMIA
Organização e supervisão de
PAULO SANDRONI

1999
Copyright © Círculo do Livro, 1999

Todos os direitos reservados

Colaboradores da 1ª edição do Novíssimo Dicionário de Economia


Adriano Biava, Antônio Corrêa de Lacerda, Carlos Donizeti M. Maia, Claudemir Galvani, Cláudia
Helena Cavalieri, Celso Waac Bueno, Cleusa Sacardo, Cristina Helene P. Mello, Francisco Vignoli,
Gilmar Masiero, Gilval Mosca Froelich, Jair Pereira dos Santos,
José Benedito Zarzuela Maia, José Márcio Camargo, Ladislau Dowbor, Márcia Flaire Pedrosa, Maria
Teresa Audi, Orozimbo José de Moraes, Renaldo Antônio Gonçalves, Ricardo Bonanno, Rubens
Sawaya, Saulo de Tarso e Sousa, Sigmar Malvezzi, Sílvio Miyazaki (consultoria)
Alessandro Maia Carmona, Christina M. Borges, Gilvanir Batista da Silva, Jorge Luís Okomura,
Luciano Nava, Luís Alberto M. Sandroni, Marise Rauen Viana, Mateus Dias Marçal (pesquisa)

CÍRCULO DO LIVRO
Direitos exclusivos da edição em língua portuguesa no Brasil
adquiridos por Círculo do Livro Ltda.
que se reserva a propriedade desta tradução

EDITORA BEST SELLER


uma divisão do Círculo do Livro Ltda.
Rua Paes Leme, 524 - 10º andar - CEP 05424-010
Caixa Postal 9442 - São Paulo, SP

1999

Impressão e acabamento: Gráfica Círculo


Apresentação

“Medo maior que se tem é de vir canoando num ribeirãozinho e dar, sem
espera, no corpo dum rio grande”, no dizer de Guimarães Rosa, é o que nos
aconteceu pela terceira vez, agora em 1999. De fato, esta é a terceira revisão de
um trabalho de pesquisa inicialmente publicado há catorze anos. A missão do
Dicionário de Economia em sua primeira versão foi ajudar os leitores da coleção
Os Economistas, lançada em meados da década passada. Seus 48 títulos foram
esquadrinhados por um verdadeiro exército de “garimpeiros”, que selecionaram
cerca de 1 500 conceitos que poderiam apresentar alguma dificuldade aos leitores.
Alertávamos, contudo, desde então, que o dicionário era um guia, mas a travessia
ficava por conta do leitor.
A primeira revisão ocorreu em 1989, quando incorporamos mais quinhentos
verbetes, ampliamos os anteriores e acrescentamos boa quantidade de termos
sobre a economia brasileira, além de incluirmos todos os novos verbetes sobre
os planos Cruzado, Bresser e Verão. Iniciamos também uma prática que felizmente
se intensifica cada vez mais: a incorporação de sugestões de leitores, tanto no
que se refere a conceitos novos como à correção de erros, que são inevitáveis. As
opiniões dos usuários, entre os quais destaco as dos alunos da Faculdade de
Economia e Administração da Universidade Católica e da Escola de Administração
de Empresas da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, foram de grande valia.
Na revisão de 1994, ampliamos consideravelmente o número de verbetes re-
lacionados com conceitos teóricos, mas também incorporamos muitos elementos
da área de estatística. Em função do intenso processo inflacionário então existente,
além de esmiuçarmos o Plano Collor, introduzimos vários termos novos vincu-
lados à questão monetária e à política fiscal.
Nesta 1.ª edição do Novíssimo Dicionário de Economia, foram incorporados cerca
de 1 500 verbetes novos, relacionados com as mudanças na economia brasileira
depois do Plano Real (mesmo com o risco de rápida obsolescência), com as con-
seqüências do processo de globalização, as crises do Sudeste Asiático, os ataques
especulativos, as análises do risco e da incerteza, o nascimento do Euro, biografias
de economistas nacionais e estrangeiros e, também, com a nossa formação histórica,
econômica e financeira.
Embora já tenhamos ultrapassado os 4 mil verbetes, o dicionário é obra aberta,
que não comporta ponto final. Como também é obra essencialmente coletiva,
esperamos continuar contando com o apoio e as críticas dos leitores, indispensáveis
para o aprimoramento futuro de nosso trabalho.

Paulo Sandroni
7 ABECIP

estas iniciais estiverem incluídas num contrato


de seguros, significa que o contrato cobre todos

A
os riscos.
A/D. Iniciais da expressão em inglês assets and
depreciation, que significa “ativos e depreciação”.
A1. Abreviação de first class, que significa “pri-
meira classe”. Aplicada a títulos e/ou ações, in-
dica que são papéis de primeira linha, isto é,
A. A letra A tem uma série de significados como papéis de elevada confiabilidade, grande liqui-
abreviação de conceitos ou termos técnicos em dez e rentabilidade, emitidos por empresas só-
economia e finanças. Pode significar: 1) aceite; lidas e de boa reputação no mercado.
2) action (ação, em francês); 3) anna (unidade AB INTESTATO. Expressão em latim que sig-
monetária da Índia); 4) argent (dinheiro, em fran- nifica “sem deixar testamento”, quando aconte-
cês); 5) assinado; 6) auditado; 7) classificação su- ce no caso de quem morre sem deixar testamento
perior de títulos e/ou ações de acordo com a ou herdeiro testamentado. Existe uma tendência
Moody’s Investor Bond Rating e a Standard & de aportuguesar a expressão para “abintestado”.
Poor’s Bond Rating; 8) American Stock Exchan-
ge (Nova York). Veja também Moody’s Investors ABAIXO DA LINHA (Below the Line). Expres-
Service; Standard & Poor’s. são utilizada na análise do Balanço de Pagamen-
tos, designando o ponto ou a linha que separa
AA. Iniciais da expressão em inglês after arrival, as transações correntes (Balança Comercial + Ba-
que significa “depois da chegada” e designa lança de Serviços + Transferências Unilaterais)
uma situação na qual determinada ação — um do Movimento de Capitais (Investimentos, Em-
pagamento, por exemplo — só se realizará de- préstimos e Financiamentos, Amortizações e Ca-
pois da chegada de uma mercadoria ou de um pitais de Curto Prazo). Este enfoque é impor-
navio que a transporta. Significa também uma tante na medida em que um déficit em transa-
classificação de qualidade de títulos ou ações ções correntes obriga a uma entrada substancial
desenvolvida pela Standard & Poor’s e pela de capitais para equilibrar o Balanço de Paga-
Moody’s Investors. Veja também Moody’s In- mentos. Acima da Linha (Above the Line) são as
vestors Service; Standard & Poor’s. transações correntes. O termo também é utili-
AAA. Classificação dada pela Standard & Poor’s zado entre as empresas, para as quais despesas
aos títulos de corporações ou de governos (mu- “acima da linha” são aquelas utilizadas na pu-
nicipais) da mais elevada qualidade, nos quais blicidade e propaganda diretas, e os gastos abai-
o pagamento do principal e dos juros é realizado xo da linha referem-se a outros tipos de promo-
no vencimento. Os títulos classificados por ção de vendas como brindes, ofertas a preço de
aquela empresa como AAA, AA, A, e BBB e custo etc.
aqueles classificados como Bbb para cima pela ABAMEC — Associação Brasileira dos Analis-
Moody’s Investors são considerados títulos para tas de Mercado de Capitais. Organismo que
investimento de bancos e instituições de pou- congrega profissionais do mercado financeiro,
pança como títulos recomendáveis de investi- com sede no Rio de Janeiro.
mento. Veja também Bond Rating; Moody’s In-
vestors Service; Standard & Poor’s; Títulos de ABANDONMENT VALUE. Expressão em in-
Investimento. glês que significa o montante que pode ser ob-
tido mediante a liquidação de um projeto antes
AAAA. Iniciais de American Association of Ad- que seu ciclo de vida econômica tenha termina-
vertising Agencies (Associação Americana de do. Veja também Valor de Sucata.
Agências de Publicidade), também chamada de
Quatro As. Sediada em Nova York, congrega as ABANDONO DE SERVIDÃO. Situação na qual
principais agências de publicidade dos Estados o proprietário do prédio serviente deixa, por
Unidos, possuindo um código de ética e de prá- quaisquer motivos, de usar uma servidão, po-
tica de negócios. dendo assim o proprietário do prédio dominan-
te fazer uso dela. Veja também Servidão.
AAD. Iniciais das expressões em inglês appro-
priation account data, que significa “data de re- ABCISSA. O eixo horizontal (x) num gráfico
gistro contábil”, e at a discount, que significa bidimensional onde os valores de uma variável
“com desconto”. são registrados.
AAR. Iniciais da expressão em inglês against all ABECIP — Associação Brasileira das Entida-
risks, que significa “contra todos os riscos”. Se des de Crédito Imobiliário e Poupança. Socie-
ABERDEEN 8

dade civil de direito privado, sem fins lucrativos, que congrega as empresas de capital aberto, com
criada como entidade de classe das empresas sede no Rio de Janeiro.
de crédito imobiliário, de âmbito nacional. Tem
como finalidades: colaborar no aprimoramento ABRH. Iniciais de Associação Brasileira de Re-
de suas associadas, zelar pelo legítimo interesse cursos Humanos.
de suas associadas, cooperar com o governo e ABRIDOR DE CUNHOS. Denominação dada
outras instituições nacionais, estrangeiras e in- àqueles que preparavam os moldes (geralmente
ternacionais que objetivem propiciar o desen-
em ferro) nos quais os metais preciosos (ouro e
volvimento do setor de crédito imobiliário, e exi-
prata, mas também o bronze) eram batidos
gir o cumprimento de normas éticas.
(prensados) para a fabricação de moedas. Os
ABERDEEN, Lei. Veja Lei Aberdeen. abridores de cunhos eram recrutados geralmen-
te entre os ourives, isto é, entre aqueles que já
ABERTURA DOS PORTOS. Ato pelo qual o tinham alguma experiência em lidar com metais
regente português dom João VI liberou os portos preciosos. O primeiro abridor de cunhos no Bra-
brasileiros para o comércio com as nações ami- sil foi Domingos Ferreira Azambuja, que desem-
gas, particularmente a Inglaterra, extinguindo penhou esta função na recém-criada Casa da
dessa forma o monopólio comercial de Portugal Moeda, em Salvador (Bahia), a partir de 1694.
com o Brasil Colônia. Foi decretado pela Carta
Régia de 28 de janeiro de 1808, em Salvador, a ABSENTEÍSMO. Sistema de exploração agríco-
conselho do visconde de Cairu e logo que o prín- la caracterizado pelo fato de o proprietário viver
cipe regente chegou ao Brasil, premido pela in- muito distante de suas terras e raramente visi-
vasão napoleônica. Representou um sério golpe tá-las para administrar a produção. O proprie-
para a política mercantilista de Portugal e um tário absenteísta vê em sua propriedade exclu-
passo importante rumo à separação política do sivamente uma fonte de renda, não estabelecen-
Brasil. Veja também Cairu, Visconde de; Mer- do vínculos mais profundos com a terra e com
cantilismo. os que nela trabalham. Exemplo de absenteísmo
encontra-se nos proprietários rurais irlandeses
ABNT — Associação Brasileira de Normas Téc- dos séculos XVIII e XIX, que viviam na Ingla-
nicas. Sociedade civil sem fins lucrativos fun- terra. Essa situação foi descrita por Maria Ed-
dada no Rio de Janeiro em 1940 pelo engenheiro geworth, no início do século XIX, em seu ro-
Paulo Sá, com o objetivo de elaborar normas mance The Absenteist. O termo é usado também
técnicas para atividades de cunho científico, co- para designar o número de faltas, ou a porcen-
mercial e industrial e incentivar a padronização tagem de ausências dos empregados ao trabalho,
de medidas no país. Abrange especificações, mé- numa empresa, instituição governamental etc.
todos de ensaio, de execução de serviços e obras, Quando esta porcentagem ultrapassa 2%, con-
códigos de segurança e terminologia. Suas de-
sidera-se que a empresa onde isso acontece está
terminações são adotadas pelos governos fede-
enfrentando um problema de absenteísmo. Veja
ral, estaduais e municipais nas compras e con-
também Agricultura; Sistemas Agrários.
tratos de serviços. A ABNT é a representante
do Brasil na ISO (International Organization for ABSOLUTISMO. Forma de governo na qual a
Standardization). Veja também ISO 9 000. autoridade do monarca, que se confunde com
o próprio Estado, se investe de poderes absolu-
ABO. Iniciais da expressão em inglês admnistra-
tos, limitados apenas por sua vontade. Organi-
tion by objectives, isto é, “administração por ob-
zação política característica do período de for-
jetivos”, conceito introduzido durante os anos
mação e consolidação dos Estados modernos,
50 por Peter Drucker, e da expressão em alemão
dominou a sociedade européia entre os séculos
Absatz-und Bezugsorganisation, que significa “or-
ganização de compras e marketing” (marketing XV e XVIII. No plano da economia, correspon-
and purchasing organization). Veja também Druc- deu à época da Revolução Comercial ou do mer-
ker, Peter. cantilismo. Originário da crise do feudalismo, o
Estado absolutista, aliado à burguesia mercantil,
ABOVE THE LINE. Veja Abaixo da Linha. empreendeu a integração do mercado nacional,
quebrando as barreiras regionalistas do feudo e
ABRAPP. Sigla de Associação Brasileira das En- da comuna; instituiu o protecionismo econômi-
tidades Fechadas de Previdência Privada. co; criou impostos e armou exércitos; realizou
ABRASÃO. Em relação às moedas, especial- as conquistas ultramarinas e impôs o monopólio
mente as de prata e ouro, consiste na perda de do comércio colonial. Foi ainda nesse regime que
peso devido ao uso e à circulação. a aristocracia (nobreza e clero) assegurou a ma-
nutenção de muitas formas de exploração das
ABRASCA — Associação Brasileira das Socie- terras, típicas do feudalismo, intensificando-se,
dades Anônimas de Capital Aberto. Organismo ao mesmo tempo, a apropriação das terras co-
9 AÇÃO DE COMPANHIA FECHADA

munais por grandes proprietários. Veja também com o Plano Cruzado. Veja também Plano Col-
Burguesia; Feudalismo; Mercantilismo; Revo- lor; Plano Cruzado.
lução Comercial.
AÇÃO. Documento que indica ser seu possui-
ABSTINÊNCIA. Privação voluntária do consu- dor o proprietário de certa fração de determi-
mo atual em nome de uma produção futura nada empresa. Existem vários tipos de ações,
maior mediante a acumulação de capital. Ex- cada um dos quais definindo formas diversas
posta pela primeira vez por Nassau Senior e de- de participação na propriedade e nos lucros da
fendida por outros economistas como forma bá- empresa. Ações ao portador (extintas pelo Plano
sica de acumulação de capital, a teoria da abs- Collor) não trazem expresso o nome de seu pos-
tinência foi vivamente criticada por Karl Marx, suidor, sendo, portanto, daquele que as tiver em
que mostrou como a acumulação primitiva ca- seu poder. Ações nominativas pertencem exclusi-
pitalista se fez por outros processos. Veja tam- vamente à pessoa nelas nomeada e só podem
bém Acumulação Primitiva de Capital; Forma- ser negociadas mediante registro em livro espe-
ção de Capital. cial da empresa que as emitiu. Ações endossáveis
são ações nominativas que podem ser negocia-
ABUNDÂNCIA. Estado de fartura e riqueza
das mediante simples endosso de seu proprie-
que possibilitaria a plena satisfação de todas as
tário. Ações ordinárias conferem a seu possuidor
necessidades econômicas, seja as de bens de con-
o direito de eleger a diretoria da empresa; em
sumo, seja as de serviços. As utopias econômicas
contrapartida, seus possuidores somente têm di-
colocam-na como meta final da atividade hu-
reito à distribuição dos dividendos depois de
mana. Veja também Escassez; Utopia.
paga a porcentagem prioritária a que têm direito
ABUNDANCISMO. Teoria econômica defendi- os portadores de ações preferenciais. Ações pre-
da por John Kenneth Galbraith em seu livro The ferenciais são aquelas cujos possuidores têm di-
Affluent Society (A Sociedade Afluente), publi- reito de receber uma porcentagem fixa dos lu-
cado em 1958. Para Galbraith, o alto estágio a cros, antes de distribuídos os dividendos da em-
que chegaram a tecnologia, a produção e a dis- presa. Quando a ação preferencial é emitida com
tribuição de bens de consumo tornou plenamen- a cláusula de direitos cumulativos, isso dá a seus
te possível a superação das precárias condições possuidores o direito de participar não só dos
econômicas em que vivem as camadas mais po- dividendos do ano em curso, mas também dos
bres da população. Seriam necessárias, no en- anos anteriores, na porcentagem estabelecida,
tanto — ainda segundo Galbraith —, certas re- desde que esses dividendos não tenham sido
formas que, sem alterar a estrutura do sistema distribuídos por qualquer razão. Caso a empresa
capitalista, criassem mecanismos compensató- entre em liquidação, as ações preferenciais go-
rios para impedir uma excessiva desigualdade zam da mesma prioridade. Em alguns casos, os
entre as diversas camadas da população. Entre possuidores de ações preferenciais podem ter
esses mecanismos estão o controle dos mono- direito a voto, mas em menor extensão que o
pólios e as associações de proteção ao consumi- portador de ações ordinárias. Veja também Pla-
dor. Veja também Galbraith, John Kenneth. no Collor.
AÇAMBARCAMENTO. Prática comercial que AÇÃO AGUADA. Aquela resultante da emis-
consiste em reter ou açambarcar matérias-pri- são de ações cujo valor nominal excede o capital
mas, bens de capital ou gêneros de primeira ne- investido numa empresa, resultando na baixa
cessidade, com o objetivo de provocar uma ele- do preço de mercado das já existentes. Veja tam-
vação nos preços, dominar o mercado ou elimi- bém Watered Stock.
nar concorrentes. O açambarcamento é pratica-
do sobretudo pelos grandes monopólios que do- AÇÃO BOJUDA. Veja Ação Cheia.
minam determinado setor da produção ou do
AÇÃO CARECA. Veja Ação Cheia.
comércio. No Brasil, é considerado crime contra
a economia popular de acordo com o art. 3º, AÇÃO CHEIA. Ação que contém dividendos
inciso IV, da lei nº 1 521, de 26-12-1951. A pena e/ou bonificações a receber e que também con-
varia de dois a dez anos de prisão. Apesar de tém direitos de subscrição de novas ações em
contar com mais de 40 anos de existência, esta decorrência de aumento do capital de uma em-
lei tem sido desrespeitada com grande freqüên- presa, também chamada Ação Bojuda. O con-
cia, sendo raros os casos de empresários açam- trário de Ação Vazia ou Careca, isto é, da ação
barcadores que tenham cumprido pena de pri- cujos direitos de dividendos, bonificações e
são por retenção de gêneros de primeira neces- subscrições já foram exercidos.
sidade, especialmente durante as épocas de con-
gelamento de preços, como aconteceu durante AÇÃO DE COMPANHIA FECHADA. Ação de
os diversos planos econômicos a partir de 1986 empresa não registrada junto às autoridades
AÇÃO DE FRUIÇÃO 10

competentes e, portanto, impedida de ser nego- se, por exemplo, a um Banco Central cujos di-
ciada nas Bolsas de Valores. rigentes mantêm contatos regulares com funcio-
nário graduados dos ministérios da Fazenda (ou
AÇÃO DE FRUIÇÃO. Ação emitida em subs-
Finanças), legisladores e políticos em geral, a
tituição àquelas que já foram totalmente amor-
tizadas antes do prazo normal de liquidação ou fim de obter, para a sua instituição, a legitimi-
de remissão. dade para a sua política ou atos que pratica.
Geralmente, este termo se aplica com mais pro-
AÇÃO DE PRIMEIRA LINHA. É a ação cor- priedade nos casos em que os bancos centrais
respondente às empresas mais sólidas do mer- são autônomos ou independentes do governo
cado, que apresentam a mais elevada liquidez central de um país.
e rentabilidade. Veja também Blue-chip.
ACCRUAL. Termo em inglês que significa o re-
AÇÃO DE SEGUNDA LINHA. Veja Blue-chip. gistro de transações financeiras (nos livros de
AÇÃO ENDOSSÁVEL. Veja Ação. contabilidade) antes da receita ou despesa efe-
tiva dos valores envolvidos nessas transações.
AÇÃO LISTADA EM BOLSA. É aquela que Um exemplo é o lançamento de créditos de ven-
apresenta todas as qualidades e preenche os re- da antes que o dinheiro correspondente seja efe-
quisitos exigidos pela direção das Bolsas de Va- tivamente recebido. No caso de uma dívida,
lores para participar de seus pregões. Veja tam- quanto maior for a garantia de pagamento,
bém Pregão. maior será a freqüência com que este método
AÇÃO NOMINATIVA. Veja Ação. poderá ser utilizado. O caso inverso denomina-
se nonaccrual. O accrual pode ser entendido tam-
AÇÃO ORDINÁRIA. Veja Ação. bém como o reconhecimento de receitas e des-
pesas no transcurso da existência de uma de-
AÇÃO PREFERENCIAL. Veja Ação. terminada operação financeira.
AÇÃO SINÉRGICA. Quando dois estímulos ACCRUAL DATE. Expressão em inglês que sig-
combinados provocam um resultado maior do nifica data final de uma provisão.
que a soma dos resultados dos estímulos atuan-
do separadamente. Por exemplo, se a política ACEITE. Compromisso de pagar a quantia ex-
dos investimentos públicos em infra-estrutura pressa em letra de câmbio, nota promissória ou
for combinada com a isenção de impostos sobre duplicata de fatura, na data de seu vencimento.
atividades que utilizarão os produtos dali oriun- O aceite pleno ou completo é representado pela
dos, o efeito final do investimento sobre o in- expressão aceito, seguida de data e assinatura
cremento da renda poderá ser maior do que se do sacado (aquele que se compromete a pagar).
as duas medidas não fossem tomadas simulta- O aceite condicional envolve condições expressas
neamente. pelo sacado no documento, como, por exemplo,
a de pagar em outra praça que não a da emissão
AÇÃO VAZIA. Veja Ação Cheia. do documento.
ACASO. Veja Estatística; Probabilidade. ACELERAÇÃO. Veja Princípio de Aceleração.
ACC — Antecipação de Contratos de Câmbio. ACH. Iniciais da expressão em inglês automated
Mecanismo pelo qual exportadores recebem por clearinghouse, que significa “compensação auto-
antecipado (o que tem variado entre 90 e 180 mática”.
dias) a conversão das divisas a serem obtidas
por exportações futuras em moeda nacional, e ACHESON, Dean Gooderham (1893-1971). Es-
aplicam estes recursos no mercado financeiro tadista norte-americano que serviu no Departa-
sendo compensados por uma eventual defasa- mento de Estado nas presidências de Roosevelt
gem cambial, através de elevadas taxas de juros. e Truman, tornando-se secretário de Estado em
Veja também Defasagem Cambial; Política 1949. Desenvolveu uma política de reconstrução
Cambial. econômica da Europa, após a Segunda Guerra
ACCELERATED DEPRECIATION. Veja Depre- Mundial, no período da Guerra Fria, caracteri-
ciação Acelerada. zado por prolongadas tensões entre Estados
Unidos e União Soviética. O objetivo era recu-
ACCOUNTABILITY. Termo em inglês que sig- perar economicamente a Europa para livrá-la de
nifica capacidade de prestar contas, e que no uma possível dominação pela União Soviética.
mercado financeiro representa a legitimidade e Acheson ajudou assim a criar a Doutrina Tru-
confiança que uma instituição financeira goza man, o Plano Marshall e a Organização do Tra-
junto ao público ou aos seus acionistas. Aplica- tado do Atlântico Norte (Otan).
11 ACORDO INTERNACIONAL DO CAFÉ

ACHTEL. Antiga unidade de medida utilizada ACORDO DE BRETTON WOODS. Veja Con-
na Alemanha, que significa a oitava parte de ferência de Bretton Woods.
um todo e que admitia grande variabilidade. Por
exemplo, como medida de volume de vinhos, ACORDO DE BUTTON WOOD TREE. Acor-
um achtel equivalia a 0,1785 litro. do estabelecido no final do século XVIII, nos
Estados Unidos, que lançou as bases do que se-
ACID-TEST RATIO. Veja Índice de Liquidez ria a Bolsa de Valores de Nova York.
Seco.
ACORDO DE JAMAICA. Denominação dada
ACIDENTALIDADE. Termo aplicado à eleva- ao acordo assinado entre os países membros do
ção rápida de preços devida a causas externas, FMI em reunião de janeiro de 1976 em Kingston
estranhas ao funcionamento considerado “nor- (Jamaica), onde aprovaram alguns pontos de
mal” de uma economia: desde alterações climá- reordenamento do sistema monetário interna-
ticas incomuns, como um período anormalmen- cional, destacando-se os seguintes: 1) reconhe-
te longo de baixas temperaturas, até guerras lo- cimento oficial do sistema de taxas flutuantes,
calizadas em países fornecedores de matérias- embora dentro da recomendação da busca da
primas. A acidentalidade influencia fortemente estabilidade das taxas cambiais pelos signatá-
os índices que medem custo de vida e inflação rios; 2) extinção do preço oficial do ouro, e com-
(INPC; IPA), em grau que varia conforme o cri- promisso do FMI em vender parte de seus es-
tério adotado pelas autoridades monetárias. toques do metal para, com os recursos obtidos,
Veja também Inflação. formar-se um fundo de ajuda aos países subde-
senvolvidos; reforço aos Direitos Especiais de
ACIDENTE ZERO. Um nível de acidentes mui- Saque; 3) viabilização do acesso dos países sub-
to baixo é um elemento importante do sistema desenvolvidos que tivessem problemas com o
Just in Time. A ocorrência de acidentes numa desequilíbrio de seus Balanços de Pagamento —
empresa não apenas pode causar danos irre- criados pela crise do petróleo (1973) — a em-
versíveis à integridade física e mental dos tra- préstimos do FMI. Veja também Acordo Smith-
balhadores, como criar um clima negativo entre soniano; Bretton Woods; Direitos Especiais de
os mesmos em relação ao desenvolvimento da Saque; FMI.
produção. Este estado de coisas pode durar mui-
to e a sensação de insegurança sobreviver à eli- ACORDO GERAL DE TARIFAS E COMÉR-
minação objetiva das causas reais que ocasiona- CIO. Veja GATT.
ram o acidente. Técnicas preventivas de aciden-
tes e de segurança em geral são também inse- ACORDO INTERNACIONAL DO CAFÉ. Con-
paráveis do método Just in Time. Veja também vênio firmado em Nova York, em 1962, entre
Just in Time. os países produtores de café e os principais paí-
ses consumidores do produto, com objetivo de
ACIMA DA LINHA. Veja Abaixo da Linha. criar mecanismos internacionais de controle da
produção e comercialização do café. Isso decor-
ACIONISTA MAJORITÁRIO. É aquele que, reu dos problemas causados pela superprodu-
em geral, possui pelo menos metade mais uma ção cafeeira, que se verificou em 1957 e que pro-
das ações de uma empresa e, portanto, retém o vocou uma catastrófica desvalorização do pro-
controle da mesma. Em casos especiais, o termo duto no mercado internacional. Entrou em vigor
se aplica também ao acionista que, embora não em 1964. Em 1965, os signatários do acordo es-
possua mais da metade das ações de uma em- tabeleceram um sistema de cotas de exportação
presa, é o acionista individual que detém uma para cada país produtor, bem como uma escala
porcentagem relativa maior entre os acionistas de preços. Para manter o equilíbrio entre a oferta
de uma empresa. e a demanda, a Organização Internacional do
A CONTRARIO SENSU. Expressão em latim Café (OIC) ficava autorizada a retirar do mer-
que significa “ao contrário” ou “pela razão con- cado certa quantidade do produto sempre que,
trária”. durante quinze dias consecutivos, se verificasse
uma queda nas cotações. O mesmo deveria ocor-
ACORDO DA BASILÉIA. Acordo firmado em rer no caso de um movimento de elevação dos
1988 no âmbito do BIS (Bank for International preços, quando o equilíbrio seria restabelecido
Settlements — Banco Internacional de Compen- com a colocação, no mercado, de certa quanti-
sações ou Banco Para Pagamentos Internacio- dade de café. O acordo é renovado peri-
nais), contendo resoluções para o requerimento odicamente, e, sempre que se estabelecem ne-
de capital próprio das instituições financeiras gociações para a sua renovação, estas são acom-
(associadas) em função do risco apresentado em panhadas de uma série de divergências entre os
suas operações financeiras. Veja também BIS países produtores — que buscam mais vanta-
(Bank for International Settlements). gens na comercialização do produto — e os paí-
ACORDO SMITHSONIANO 12

ses consumidores. Essas divergências ocorrem Opep, e o Acordo Internacional do Café. Veja
também entre os próprios países produtores também Acordo Internacional do Café; Opep.
(disputa pelo aumento das cotas individuais) e
entre os países consumidores, sobre os preços ACRE. Uma das mais antigas medidas agrícolas
que devem ser pagos aos exportadores. Veja de área, ainda utilizada hoje, especialmente nos
também IBC. Estados Unidos. Sua origem esteve associada à
quantidade de terra que uma junta de bois podia
ACORDO SMITHSONIANO. Acordo estabe- arar em um dia. Na medida em que este padrão
lecido pelo Grupo dos Dez, em dezembro de podia variar muito, fixou-se o acre como equi-
1971, para adotar taxas de câmbio flutuantes. A valente a uma área de 40 varas de comprimento
conferência, realizada no Smithsonian Institute, por 4 varas de largura. A área de um acre foi
em Washington, foi convocada para resolver o estabelecida — e permanece até hoje — em 160
problema do colapso das taxas fixas de câmbio varas quadradas ou 4 840 jardas quadradas, o
(adjustable peg), que existiam desde a Conferên- que equivale a 4 046,873 m2. Um Acre Foot é
cia de Bretton Woods, em 1944, e indiretamente medida de volume correspondente à capacidade
pela decisão dos Estados Unidos de abandonar de uma área de um acre por um pé (foot) de
o padrão câmbio-ouro. A conferência levou a profundidade, ou o equivalente a 43 560 pés cú-
um acordo em 1972, com a Comunidade Eco- bicos ou o equivalente a 325 851 galões (do sis-
nômica Européia, para limitar os movimentos tema consuetudinário norte-americano) de água.
monetários e cambiais numa faixa estreita de Veja também Conversão das Unidades de Pesos
flutuação na CEE, chamada snake (serpente), fi- e Medidas; Galão; Sistemas de Pesos e Medi-
xando as taxas de câmbio à moeda mais forte das; Unidades de Pesos e Medidas.
da Comunidade, o marco alemão.
ACRS. Iniciais das expressões em inglês accele-
ACORDOS DE OTTAWA. Série de acordos co- rated capital recovery system e accelerated cost re-
merciais assinados entre a Grã-Bretanha e seus covery system, que significam respectivamente:
domínios, por ocasião da Conferência Econômi- “sistema de recuperação acelerada do capital”
ca Imperial, realizada em Ottawa, Canadá, em e “Sistema de recuperação acelerada dos custos”.
1932. Segundo os acordos, ficava estabelecido o
princípio da Preferência Imperial nas relações ACSP — Associação Comercial de São Paulo.
comerciais entre as partes, propondo-se a Grã- Entidade privada de utilidade pública, sem fins
Bretanha a reduzir substancialmente, em favor lucrativos, que congrega todos os setores da ati-
dos domínios, os impostos sobre mercadorias vidade econômica (agricultura, pecuária, indús-
importadas, conforme determinavam as leis de tria, comércio, prestação de serviços e profissões
impostos sobre importações em 1932. E os do- liberais), tendo como objetivo: defender, ampa-
mínios concordavam em facilitar tarifas prefe- rar, orientar e coligar as empresas que ela re-
renciais para os produtos manufaturados ingle- presenta. Mantém-se das contribuições de seus
ses e os provenientes de suas colônias. A maior associados e de rendas oriundas das prestações
parte dos acordos tinha a duração de cinco anos. de serviços para as empresas associadas, tais
como o Serviço Central de Proteção ao Crédito
ACORDOS DE OURO PRETO. Acordos esta- (SCPC), que registra clientes considerados ne-
belecidos entre os países do Mercosul — Brasil, gativos, ou seja, aqueles que atrasam mais de
Argentina, Paraguai e Uruguai — em Ouro Preto sessenta dias o pagamento de seus compromis-
(Minas Gerais), dando seqüência aos ajustes ne- sos, bem como os títulos protestados de pessoas
cessários para o cumprimento do Tratado de As- físicas. Além do SCPC, a ACSP mantém o Ins-
sunção. Veja também Mercosul. tituto de Economia Gastão Vidigal, que realiza
estudos setoriais de interesse das empresas e
ACORDOS INTERNACIONAIS DE MERCA- atende a consultas dos associados, fornecendo-
DORIAS. Acordos entre os principais países lhes informações, dados estatísticos e orientação.
produtores e consumidores de certas mercado- Também mantido pela ACSP é o Serviço de Ga-
rias, com finalidade de impedir que os preços rantia ao Crédito Mercantil e de Serviços (Se-
sofram flutuações excessivas e assegurar cotas gam), que funciona como uma bolsa de infor-
de produção para os exportadores e de forne- mações.
cimento para os consumidores. Em passado re-
cente, vários desses acordos foram assinados en- ACTO. O termo possui dois significados: 1) an-
tre os países interessados: o do estanho (firmado tiga medida de comprimento utilizada pelos ro-
pela primeira vez em 1956 e várias vezes reno- manos e equivalente a cerca de 35,5 m; 2) prefixo
vado até 1976), o do cacau (1973), o da bauxita de origem grega com o significado de peso ou
(1974), o da borracha natural (1976) e outros. carga, como, por exemplo, actometria, que é a
Particularmente importantes são os acordos in- medição de cargas transportadas em carros por
ternacionais referentes ao petróleo, por meio da intermédio do actômetro.
13 ADDITIONAL WORKER HYPOTHESIS

ACTÔMETRO. Veja Acto. AD ABSURDUM. Expressão em latim que sig-


nifica “por absurdo”.
ACTUALS. Termo em inglês que designa as
commodities cuja negociação resulta na entrega AD ARBITRIUM. Expressão em latim que sig-
física das mesmas ao cliente. Nesse sentido, nifica “à escolha”, “à vontade” ou “arbitraria-
qualquer commodity, como o café, o cacau, o co- mente”.
bre ou a prata, pode ser classificada como actuals
AD CORPUS. Expressão em latim que significa,
desde que sua negociação resulte na entrega
na venda de um imóvel, um acordo sobre o pre-
efetiva do produto. Veja também Mercado de
ço considerando a casa um todo e não sua me-
Opções.
tragem, isto é, sem especificar a metragem da
ACU — Asian Currency Unit. Unidade de conta casa.
para depósitos em dólares mantidos em contas
separadas em Cingapura, Hong-Kong e outros AD HOC. Expressão em latim que significa
centros financeiros importantes da Ásia. O ter- “para isso” ou “para esse caso”, como acontece
mo se aplica aos depósitos em dólares de não- com pessoas que ocupam cargos transitoriamen-
residentes nos centros financeiros asiáticos. Não te ou foram nomeadas ad hoc, isto é, para cum-
é o equivalente asiático para a ECU (European prir determinada função transitoriamente.
Currency Unit).
AD INFINITUM. Processo que se desenvolve
AÇÚCAR. Veja Lei do Açúcar. sem limite ou sem fim em relação a dinheiro
ou a tempo. Por exemplo, alguns títulos trazem
ACUMULAÇÃO DE AÇÕES. Fase do mercado cláusulas segundo as quais paga-se ao seu pos-
de ações caracterizada pela compra maciça das suidor uma anuidade indefinidamente.
ações de determinada empresa por parte de al-
guns poucos investidores. Estes, depois de do- AD ITEM. Expressão em latim que designa um
minarem o mercado, põem à venda as referidas produto que é adicionado a uma mercadoria já
ações junto ao conjunto de investidores, fixando vendida como um acessório que muda a forma
preços mais elevados e com isso auferindo gran- pela qual o produto original é utilizado.
des lucros.
AD LITEM. Expressão em latim que significa
ACUMULAÇÃO DE CAPITAL. Veja Formação “para o processo” ou em razão da causa.
de Capital.
AD NUTUM. Expressão em latim que significa
ACUMULAÇÃO PRIMITIVA DE CAPITAL. “segundo a vontade” ou “ao arbítrio” de uma
Também conhecida como acumulação originá- das partes. A expressão se utiliza quando al-
ria. Processo de acumulação de riquezas ocor- guém revoga uma nomeação ou um contrato
rido na Europa entre os séculos XVI e XVIII, que assinou, tendo poderes para fazê-lo a qual-
que possibilitou as grandes transformações eco- quer momento sem apresentar razões. As pes-
nômicas da Revolução Industrial. Foi estudado soas nomeadas para cargos de confiança na ad-
e descrito por Karl Marx, que tomou a Inglaterra ministração pública são demissíveis ad nutum
como modelo de sua teoria. A acumulação pri- pela autoridade que os nomeou.
mitiva de capital, para Marx, se desenvolveu a
partir de dois pressupostos: 1) a concentração AD VALOREM. Expressão em latim que sig-
de grande massa de recursos (dinheiro, ouro, nifica “segundo o valor” ou “conforme o valor”.
prata, terras, meios de produção) nas mãos de Na cobrança ou no cálculo de um imposto, tri-
um pequeno número de proprietários; 2) a for- buto ou taxa, é aquele estimado como uma per-
mação de um grande contingente de indivíduos centagem do valor de uma mercadoria. Não se
desprovidos de bens e obrigados a vender sua trata de uma quantia fixa, mas dependente do
força de trabalho aos senhores de terra e donos valor da mercadoria que está sendo tributada.
de manufaturas. Historicamente, isso foi possí- Quando o tributo cobrado é uma quantia fixa,
vel graças às riquezas acumuladas pelos nego- o mesmo é denominado tributo específico.
ciantes europeus com o tráfico de escravos afri- AD VALOREM DUTY. Imposto lançado de
canos, ao saque colonial (metais preciosos), à acordo com o valor de uma mercadoria, em con-
apropriação privada das terras comunais dos traposição ao Specific Duty. Veja também Spe-
camponeses, ao protecionismo às manufaturas cific Duty.
nacionais e ao confisco e venda, a baixo preço,
das terras da Igreja por governos revolucioná- ADDITIONAL WORKER HYPOTHESIS. Ex-
rios. Com o advento da Revolução Industrial, pressão em inglês que designa um processo no
conclui Marx, a acumulação primitiva foi subs- qual a queda da renda real de uma família du-
tituída pela acumulação capitalista. Veja tam- rante um período de baixa do ciclo econômico
bém Formação de Capital. pode resultar num efeito-renda na medida em
ADELANTADO 14

que a mesma família tenderá a incorporar um 7 805, de 1º de novembro de 1972 (Lei do Zo-
número maior de seus membros no mercado de neamento), de maneira a permitir que o coefi-
trabalho com a finalidade de manter o nível de ciente de aproveitamento de um lote situado nas
renda da família. Segundo esta concepção, a taxa Zonas 3, 4 e 5 possa ser aumentado até o limite
de participação dos trabalhadores na força de máximo de 4 (a área construída poderá ser 4
trabalho ativa tenderia a evoluir de maneira con- vezes a área do lote), desde que a taxa de ocu-
trária ao ciclo econômico: aumentaria na fase de pação do lote (porcentagem da área do lote ocu-
baixa e diminuiria na fase de alta. Na medida pada pelo primeiro pavimento de uma edifica-
em que a oferta de postos de trabalho diminui ção) seja inferior ao máximo permitido para a
na fase de baixa do ciclo, esta hipótese não se zona, nas proporções estabelecidas pelas seguin-
confirmaria na prática. De fato, as pesquisas tes fórmulas: 1) nos lotes com área inferior a 1
mostram que a taxa de participação aumenta 000 m2, c = T / t + (C – 1) 2) para lotes com
na fase de expansão e diminui na fase de reces- área igual ou superior a 1 000 m2, c = T / t x
são. Esta hipótese se limitaria apenas a algumas C; c = coeficiente de aproveitamento do lote a
faixas de trabalhadores de baixos salários cuja ser utilizado; t = taxa de ocupação do lote a ser
renda familiar já se encontra próxima do nível utilizado; C = coeficiente de aproveitamento má-
de subsistência e cujos membros, para evitar a ximo do lote (especificado em lei para cada
miséria, aceitam empregos que pagam salários caso); T = taxa de ocupação máxima do lote (es-
ou que têm uma remuneração muito baixa. pecificado em lei para cada caso). De acordo com
este dispositivo, em nenhuma hipótese o Coe-
ADELANTADO. Na administração das colô-
ficiente de Aproveitamento poderá ser superior
nias espanholas nas Américas (Índias Ociden-
a 4. Veja também Coeficiente de Aproveitamen-
tais), o Adelantado era o governador de uma
to; Lei de Zoneamento; Taxa de Ocupação.
região colonial, investido diretamente pela au-
toridade real. Ele exercia seu poder, praticamen- ADIVAL. Antiga medida agrária equivalente a
te sem limites, sobre os habitantes da região qua- 12 braças, ou 26,4 m, uma vez que cada braça
se sem nenhum controle do próprio rei.Veja mede 2,2 m.
também Encomienda.
ADJUDICAÇÃO. Ato judicial pelo qual a pro-
ADENAUER, Konrad (1876-1967). Chanceler da
priedade de uma coisa penhorada ou de seus
Alemanha Ocidental no período 1949-63, que se
rendimentos é transferida de uma pessoa ou em-
notabilizou por comandar a recuperação econô-
mica e financeira do país, depois da derrota na presa para seu credor. Difere da arrematação
Segunda Guerra Mundial. Exercendo atividades pelo fato de que nesta a transferência se faz de-
políticas antes da guerra, foi preso pelos nazistas pois do leilão determinado pela autoridade ju-
em duas ocasiões. Em 1947, tornou-se líder da diciária competente. A adjudicação pode se re-
União Democrática e Cristã e ascendeu ao cargo ferir tanto a bens quanto a rendimentos. Veja
de chanceler. Para obter êxito na reconstrução também Arrematação.
do país, integrou-o no Mercado Comum Euro-
peu e na Organização do Tratado do Atlântico ADJUSTABLE PEG. Expressão em inglês que
Norte (Otan). designa o sistema de taxas de câmbio no qual
a taxa de câmbio de um país é fixada em relação
ADERÊNCIA. Propriedade que os pontos de a outra moeda (em geral o dólar), porém de tal
uma curva, ou valores de uma função, têm de forma que possa ser alterada de tempos em tem-
se aproximar mais ou menos dos pontos de um pos. Este sistema foi estabelecido na Conferência
diagrama ou de valores observados. Quanto de Bretton Woods, em 1944, mas, com o enfra-
maior for essa aproximação, maior será o grau quecimento do dólar e da libra esterlina, entrou
de aderência, e vice-versa. em decadência no final dos anos 60, sendo subs-
tituído pelo Crawling Peg. Veja também Confe-
ADF. Iniciais da expressão em inglês after de- rência de Bretton Woods; Crawling Peg; Pa-
ducting freight, que significa “depois de descon- drão-câmbio-ouro.
tados ou deduzidos os fretes”.
ADMINISTRAÇÃO. Conjunto de princípios,
ADIBOR. Iniciais de Abu Dhabi Interbank Offer normas e funções cuja finalidade é ordenar os
Rate, isto é, a taxa de juros interbancária prati- fatores de produção de modo a aumentar sua
cada na praça de Abu Dhabi — capital dos Emi- eficiência. Desde o século XIX, a administração
rados Árabes Unidos — com as mesmas carac- científica tem-se desenvolvido como resposta
terísticas da Libor. Veja também Libor. aos problemas e desafios enfrentados pelas em-
presas com o avanço da Revolução Industrial.
ADIRON (Fórmula de). Dispositivo que modi- A mecanização, a automação, a produção e o
fica o artigo 24 da Lei Municipal (São Paulo) nº consumo em massa forçaram as empresas a cres-
15 ADMINISTRATIVE LAG

cer extraordinariamente, de forma tal que os pa- do a formulação de objetivos, programas e es-
drões tradicionais de direção e controle se tor- tratégias mercadológicas, e em geral englobando
naram inadequados. A posição do capitão de o desenvolvimento de produtos, organização e
indústria, do empresário tradicional que tudo recrutamento de pessoal para realizar planos, a
controlava pessoalmente, foi seriamente abalada supervisão das operações de mercado e o con-
e começaram a surgir os especialistas em admi- trole do desempenho mercadológico.
nistração. A preocupação com a formação de um
corpo de conhecimentos sistematizados sobre as ADMINISTRAÇÃO POR EXCEÇÃO. Método
tarefas administrativas acentuou-se no início do de administração mediante o qual os subordi-
século XX, sobretudo na França, Estados Unidos nados mantêm seus superiores informados ape-
e Inglaterra. Frederick Taylor e Henri Fayol fo- nas dos eventos excepcionais que requerem tra-
ram os primeiros clássicos da administração. tamento especial ou decisões da diretoria, mas
Taylor preocupou-se mais com aspectos direta- não informam de detalhes que meramente con-
mente ligados ao trabalho nas fábricas, como firmam que tudo está marchando de acordo com
racionalização de tarefas, estudos de tempos e o que foi planejado. Por não receber dados sobre
movimentos de produção — em suma, com o as coisas que estão seguindo conforme os pla-
aumento da produtividade e da eficiência. Já nos, sua atenção pode se concentrar na correção
Fayol inaugurou uma nova tendência, defen- das falhas. Este método de administração está
dendo a tese de que a racionalização do trabalho relacionado com a técnica de Reporting by Res-
não se refere apenas à produção bruta em dado ponsability e a Lei de Pareto. Veja também Ótimo
instante do processo, mas a toda a estruturação de Pareto.
da empresa; os pontos capitais de uma admi-
ADMINISTRAÇÃO POR OBJETIVOS. Con-
nistração científica seriam, portanto, prever, or-
ganizar, comandar, coordenar e controlar. Por ceito de administração que estabelece uma série
isso, Fayol ocupou-se sobretudo em analisar de elementos que devem constar do processo
funções propriamente administrativas. Teóricos administrativo como: 1) o que deve ser feito,
posteriores procuraram mostrar que, além dos estabelecendo-se prioridades; 2) de que forma
processos, é importante estudar os comporta- devem ser realizadas as tarefas propostas (ou a
mentos. Sustentam que o poder de decisão não produção); 3) quais serão os custos daquilo que
se limita ao topo da escala hierárquica, mas ocor- vier a ser realizado; 4) quando deverá ser rea-
re em todos os níveis de uma empresa, onde se lizado aquilo que foi determinado no item (i);
encontrem pessoas e não apenas agentes pro- 5) o que constitui um desempenho satisfatório;
dutivos. Um dos representantes dessa tendência 6) quais e em que proporção estão sendo con-
é o sociólogo Robert K. Merton. Outra corrente seguidos avanços; 7) como e quando processar
enfatiza a necessidade de levar em conta que as correções. De acordo com este conceito de
qualquer empresa está necessariamente ligada administração, a direção de uma organização ou
a determinada sociedade: autores como Wright instituição ou empresa não apenas define a priori
Mills apontam distorções ideológicas de caráter os resultados que deverão ser obtidos e as etapas
conservador nas abordagens acadêmicas e in- que deverão ser vencidas para consegui-los, mas
sistem em que as condições econômicas, sociais também estabelece os critérios para avaliar o de-
e políticas deveriam merecer a atenção dos teó- sempenho de todos os envolvidos na realização
ricos da administração. Nesse sentido, desta- das tarefas. Já em 1954, Peter Drucker recomen-
cam-se ainda os trabalhos dos sociólogos da es- dava que em todas as áreas nas quais as ativi-
cola de Max Weber. Esse pensador alemão mos- dades pudessem afetar o desempenho da em-
trou como tanto a teoria quanto a prática da presa deviam ser estabelecidos objetivos e metas
administração dita científica surgiram a partir a serem alcançados. Veja também Drucker, Pe-
de condições econômicas peculiares aos países ter; MBA.
desenvolvidos, enquanto as economias subde-
senvolvidas apresentam formas administrativas ADMINISTRADOR DE RECURSOS DE TER-
aparentemente mais frágeis. Para os weberianos, CEIROS. Função desempenhada por pessoa es-
o que muitas vezes sugere ineficiência, na pers- pecializada que administra as carteiras de in-
pectiva das teorias acadêmicas, pode constituir vestimentos de empresas ou pessoas físicas nos
um conjunto de recursos altamente funcionais bancos e instituições de investimento.
e adequados à sociedade em questão. Veja tam-
bém Burocracia; Gerencialismo. ADMINISTRATIVE LAG. Expressão em inglês
que significa o lapso de tempo existente entre
ADMINISTRAÇÃO MERCADOLÓGICA. Con- o reconhecimento da necessidade de tomar uma
ceito definido como o planejamento e o controle medida no campo financeiro, fiscal, monetário
de toda a atividade mercadológica de uma em- ou administrativo e o momento em que as me-
presa, ou de uma divisão de uma firma, incluin- didas necessárias são realmente tomadas. Este
ADR 16

lapso pode ser de grande importância no âmbito AFFIDAVIT OF TITLE. Consiste num affidavit
financeiro, onde o atraso na tomada de uma me- obtido pelo vendedor de um imóvel certificando
dida pode trazer conseqüências importantes ao comprador que não existe nenhum defeito
para o resultado de processos. ou falha no título de propriedade do vendedor.
ADR. Veja American Depositary Receipt. AFL-CIO. Sigla da American Federation of La-
bor-Congress of Industrial Organizations. Pode-
ADUANEIRA, União. Veja União Alfandegária. rosa central sindical dos operários norte-ameri-
AE. Iniciais da expressão em alemão Abrech- canos, oriunda da fusão de duas entidades sin-
nungseinheit, que significa “unidade de conta”. dicais. A primeira surgiu em 1886, congregando
trabalhadores do mesmo ofício, e a segunda foi
AES USIBUS OPTIUS ORO. Expressão em la- organizada em 1935, associando os operários
tim que significa “o cobre é mais apropriado sem especialidade. A fusão ocorreu em 1955, sob
para circular (como moeda) do que o ouro”. Du- a presidência de George Meany; atualmente, a
rante a época colonial, a Coroa Portuguesa fazia central reúne cerca de 125 sindicatos e mais de
esta recomendação para que as barras de ouro 15 milhões de trabalhadores. Na AFL-CIO, cada
deixassem de funcionar como moeda e em seu sindicato é livre; no entanto, para assinar acor-
lugar fossem utilizadas as moedas de cobre vin- dos coletivos quanto a aumentos salariais e ou-
das de Portugal. Na prática, reconhecia-se o tras reivindicações específicas, é necessária a ob-
princípio que fora enunciado por sir Thomas tenção do apoio da direção geral. A entidade é
Gresham, de que a “moeda má expulsa a moeda tradicionalmente anticomunista e conservadora
boa”. Veja também Crise do Xenxém; Lei de no que diz respeito às políticas interna e externa
Gresham. dos Estados Unidos. Veja também Sindicalis-
mo; Sindicato.
AFEGANE. Unidade monetária do Afeganistão.
Submúltiplo: Pul ou Kron. AFOLHAMENTO, Sistema de. Forma de pro-
dução agrícola, utilizada durante a Idade Média,
AFFECTIO SOCIETATIS. Expressão em latim em que as terras cultiváveis eram divididas em
que significa o sentimento de afeição ou afini- faixas ou folhas. Parte das terras permanecia lon-
dade que liga sócios de uma sociedade por quo- go tempo em pousio para recuperar sua capa-
tas de responsabilidade limitada. Aplica-se no cidade produtiva. Veja também Pousio; Rotação
caso de organizações de menor porte onde os de Cultivos.
laços de confiança e lealdade entre os proprie-
tários são elementos fundamentais para o bom AFORAMENTO. Veja Enfiteuse.
desempenho das atividades de uma empresa.
A FORTIORI. Expressão em latim que significa
AFFIDAVIT. Expressão latina que, na prática “por mais razão ainda”.
bancária, significa uma declaração escrita, jura-
mentada por intermédio do testemunho de um AFRETAMENTO. Contrato por meio do qual
tabelião. Os affidavits são geralmente exigidos o proprietário de um navio ou outro meio de
dos tomadores de empréstimos para que pos- transporte, mediante um preço previamente es-
tulem a obtenção de uma hipoteca. Este instru- tipulado, compromete-se a cedê-lo, parcial ou
mento pode ser utilizado também quando, por totalmente, para o transporte de mercadorias ou
alguma razão (incêndios, guerras etc.), os regis- de pessoas.
tros civis de uma comunidade foram destruídos
e uma pessoa deseja provar, por exemplo, sua AFTALION, Albert (1874-1956). Estatístico e eco-
idade, ou como uma declaração imposta por um nomista francês de origem búlgara. Professor
governo a estrangeiros portadores de valores das universidades de Lille e de Paris e autor de
mobiliários que, para receber determinadas isen- várias obras, exerceu grande influência entre os
ções ou vantagens no pagamento de impostos, economistas franceses, no período que vai da
devem provar e assegurar sua condição de es- Primeira à Segunda Guerra Mundial. Sua mais
trangeiros. Veja também Affidavit of Perfor- conhecida contribuição é a teoria das crises, que
mance; Affidavit of Title. se enquadra na teoria dos ciclos econômicos. Di-
vergindo de muitos outros economistas, Afta-
AFFIDAVIT OF PERFORMANCE. Atestado le- lion achava que a crise econômica não é simples
gal pelo qual o funcionário de um meio de co- resultado de deficiências ou erros de planeja-
municação (como o rádio, a tevê ou o cinema) mento, mas um fenômeno que tem raízes no
testemunha que o programa ou mensagem co- próprio processo de produção tomado como um
mercial do patrocinador foi realmente transmi- todo. Para ele, esse processo gera a crise porque:
tida (irradiada) com autorização, e que tal do- 1) a produção de bens de consumo se funda
cumento é enviado ao anunciante ou sua agência necessariamente na produção de bens de capital;
como prova de prestação de serviço. 2) mas é a produção de bens de consumo que
17 AGOSTINHO

aciona a de bens de capital, e isso só acontece AGER PUBLICUS. Expressão latina que desig-
depois de uma imprevisível expansão do con- na as terras de uso comunitário existentes na
sumo; 3) ocorre que o tempo exigido para a pro- Europa até o advento do capitalismo. O produto
dução de bens de capital é bem maior que aquele do trabalho realizado nessas áreas funcionava
exigido para a dos bens de consumo, de tal for- como reserva na eventualidade de más colheitas
ma que não é possível combinar os dois sem nas demais terras, para cobrir as necessidades
defasagens. E são essas defasagens os momentos da guerra, dos eventos religiosos e de outras
críticos do processo de produção. Aftalion ficou despesas da comunidade.
também conhecido por sua crítica ao socialismo: ÁGIO. Termo de origem italiana usado antiga-
para ele, a distribuição igualitária dos bens en- mente em Veneza para designar a diferença na
fraquece o incentivo para o trabalho, e a supres- troca entre moedas depreciadas e o metal do
são da propriedade privada anula a acumulação qual eram constituídas. Essas trocas eram efe-
de capital. Entre suas principais obras estão: Les tuadas pelos bancos de Veneza, Hamburgo, Gê-
Crises Périodiques de Surproduction (As Crises Pe- nova, Amsterdã e de outras cidades comerciais
riódicas de Superprodução), 1913; Les Fonde- e financeiras, os quais fixavam o ágio em cada
ments du Socialisme: Étude Critique (Os Funda- caso. De forma genérica, o ágio significa um prê-
mentos do Socialismo: Estudo Crítico), 1923; mio resultante da troca de um valor (moedas,
Cours de Statistique (Curso de Estatística), 1928. ações, títulos etc.) por outro. No comércio in-
ternacional de moedas, é a diferença entre o va-
AFTER-SALES-SERVICES (Serviços Pós-Ven- lor nominal e o real da moeda negociada. Oca-
das). Expressão em inglês que significa o con- sionalmente, o termo é utilizado para indicar
junto de serviços como assistência técnica, rede um prêmio pago por uma letra de câmbio es-
de lojas onde podem ser adquiridas peças de trangeira. O ágio pode surgir também quando
reposição, consertos etc. postos à disposição de o preço oficial de um produto (ou preço de ta-
um consumidor depois que a venda de um pro- bela) está fixado num nível muito baixo e sua
duto é efetuada. compra só se concretiza se o interessado estiver
disposto a pagar mais por essa transação. A di-
AGE. Iniciais de Assembléia Geral Extraordinária. ferença entre o preço oficial e o que o comprador
AGENDA 21. Documento assinado entre os go- realmente paga é considerada o ágio daquela
transação. Esse tipo de fenômeno ocorre quando
vernos de 170 países que se reuniram na Con-
há tabelamento ou congelamento de preços,
ferência Mundial do Meio Ambiente realizada
como aconteceu durante os planos econômicos
no Rio de Janeiro em 1992, com o objetivo de
de estabilização no Brasil durante os anos 80 —
promover o desenvolvimento sustentável no
especialmente em ocasião do Plano Cruzado, em
mundo a partir do século XXI. Isso significa que 1986 — e no início dos anos 90 com o Plano
cada um dos seus signatários, dentro dos prazos Collor. O ágio pode aparecer nesse contexto tam-
definidos, adotará um conjunto de atitudes e bém se, embora não haja congelamento, existir
procedimentos incorporados às suas políticas vi- uma forte descompensação entre oferta e de-
sando melhorar a qualidade de vida no planeta. manda, como aconteceu, durante os primeiros
meses do Plano Real, com a aquisição de auto-
AGENTE DEL CREDERE. Tipo de agente co-
móveis populares. Quando em lugar de um pre-
mercial ou distribuidor que, assim como um
ço maior paga-se um preço menor por um título,
consignatário, não compra as mercadorias com uma ação ou uma moeda, ocorre um “deságio”.
as quais transaciona, mas que eventualmente Veja também Câmbio; Letra de Câmbio; Plano
aceita a responsabilidade em última instância Collor; Plano Cruzado; Plano Real.
pelo pagamento das mercadorias transacionadas
se o cliente final não honrar seu compromisso AGLOMERAÇÃO. Veja Efeito Aglomeração.
de pagá-las.
AGO. Iniciais de Assembléia Geral Ordinária.
AGENTE PROVOCADOR. Indivíduo que in-
cita, geralmente sendo contratado para isso, uma AGOROT. Veja Shekel Novo.
greve ou uma revolta, ou mesmo resistência AGOSTINHO, Santo (354-430). Filósofo cristão.
aberta contra orientações da gerência de uma Manifestou seu temor de que o comércio afas-
empresa para desmoralizar um movimento sin- tasse o homem da procura de Deus e achava
dical ou a união dos trabalhadores em torno de que o cristão não deveria ser mercador; admi-
suas reivindicações. Na medida em que este tindo-o, no entanto, como um mal necessário,
agente pode conseguir que uma greve tenha iní- para ele, só se deveria cobrar pelas mercadorias
cio antes do momento mais propício para os tra- o justo preço. Não considerava a escravidão algo
balhadores, sua atuação contribui para o fracas- natural, como se pensava, em geral, na Antigui-
so da mesma. dade; aceitava-a, contudo, como punição do pe-
AGRÁRIO 18

cado. Em sua obra, influenciada por Platão, en- lação entre esses três fatores está ligada aos pa-
contra-se a primeira grande síntese filosófico- péis que a agricultura de um país cumpre no
teológica do cristianismo. Escreveu A Cidade de conjunto da organização social e econômica: 1)
Deus e Confissões. O de fornecedora de alimentos para o mercado
interno; 2) O de fornecedora de um excedente
AGRÁRIO. Veja Reforma Agrária; Sistemas agrícola capaz de ser exportado e proporcionar
Agrários. divisas para o país; 3) O de geradora de pou-
AGREGADO. Lavrador pobre, não proprietá- pança para a implantação ou desenvolvimento
rio, que se estabelece na propriedade de outro do setor industrial; 4) Ou, ainda, de acordo com
em troca de alguma espécie de pagamento. No o regime de propriedade vigente (grande, média
Brasil, entre os vários tipos de agregados, des- ou pequena), o papel de fornecedora principal
tacam-se: 1) O que planta e cria animais em pe- de mão-de-obra para as atividades urbano-indus-
quena escala em propriedade alheia, pagando triais. Veja também Contag; Revolução Agríco-
esse uso com alguns dias de trabalho por sema- la; Revolução Industrial; Sociedade Nacional
na, mediante remuneração inferior à de um as- de Agricultura; Terceiro Mundo.
salariado na mesma propriedade; 2) O que mora AGROINDÚSTRIA. Atividade constituída pela
numa casa fornecida pelo proprietário do sítio junção dos processos produtivos agrícolas e in-
ou fazenda, retribuindo com um dia de trabalho dustriais no âmbito de um mesmo capital social,
semanal; 3) O que planta e cria numa porção ou, quando tal não acontece, a atividade carac-
de terra alheia e paga ao proprietário uma par- teriza-se por uma grande proximidade física en-
cela do produto final. Nos engenhos de açúcar tre a área que produz a matéria-prima agrícola
do Nordeste brasileiro, o agregado é também e o seu processamento industrial. Com a cres-
conhecido por “morador”. O termo “agregado” cente preponderância da indústria sobre a agri-
pode também significar agregado macroeconô- cultura e a subordinação desta última à primei-
mico. Veja também Valor Agregado. ra, proporções crescentes das atividades agríco-
AGRIBUSINESS. Termo em inglês constituído las encontram-se hoje totalmente submetidas ao
das palavras agriculture e business, e que designa capital industrial, sendo esta uma tendência
as empresas industriais cujos produtos têm mundial. Veja também Agribusiness.
como base um produto agrícola, geralmente AGROVILA. Núcleo habitacional e produtivo
uma commodity como, por exemplo, as empresas construído geralmente em áreas rurais para o
que fabricam cigarros a partir do fumo, ou que desenvolvimento da agricultura e destinado a
produzem bebidas a partir da cevada. São tam- receber populações que estão sendo deslocadas
bém chamadas agroindústrias. Veja também de outras áreas por razões climáticas ou devido
Commodity. à construção de obras públicas como, por exem-
AGRICULTURA. Atividade produtiva integran- plo, barragens que servem como reservatórios
te do setor primário da economia. Caracteriza-se para a produção de energia elétrica.
pela produção de bens alimentícios e matérias- AGUAR AÇÕES. Ato que resulta em ações cujo
primas decorrentes do cultivo de plantas e da valor ao par excede o valor do patrimônio lí-
criação de animais. Na produção agrícola en- quido (tangível) que as mesmas representam.
tram três fatores básicos: o trabalho, a terra e o Este tipo de situação pode ser criado de diversas
capital. Numa unidade agrícola, quando o em- maneiras: 1) emitindo ações em troca de dinhei-
prego de capital é o fator predominante, diz-se ro ou propriedades cujo valor é inferior ao valor
que se trata de agricultura intensiva. No caso de ao par das ações; 2) entregando ações aos acio-
ser a terra o fundamental, trata-se então de agri- nistas como bônus; 3) emitindo ações contra um
cultura extensiva. A predominância do fator ca- ativo fictício ou intangível. A magnitude desse
pital, típico da agricultura moderna, permite alta processo pode ser medida pelo excesso do valor
produtividade por área cultivada e é encontrada ao par do conjunto de suas ações em comparação
sobretudo nos países industrializados (no Brasil, com seus ativos tangíveis (patrimônio líquido).
ocorre principalmente nas regiões Sul e Sudes- Veja também Ação Aguada.
te). A agricultura extensiva, no entanto, com a
utilização abundante de terras, é característica AIESEC — Associação Internacional de Estu-
dos países do Terceiro Mundo, onde a grande dantes em Ciências Econômicas e Comerciais.
propriedade é a marca da estrutura fundiária. Foi fundada em 1948 por estudantes de sete paí-
A predominância do fator terra, aliás, marcou ses europeus com a finalidade de ajudar na re-
até recentemente a história da agricultura, alte- construção da Europa devastada pela guerra. É
rando-se a relação com o trabalho e o capital uma organização apartidária, sem fins lucrativos
somente a partir da Revolução Industrial, cujas e oferece as seguintes oportunidades a seus in-
técnicas se estenderam ao setor agrícola. A re- tegrantes: 1) que se desenvolvam profissional-
19 ALAVANCAGEM

mente; 2) programas educacionais que visem à desenvolvidos (Bolívia, Equador e Paraguai); os


formação de líderes; 3) contatos com estudantes mais desenvolvidos (Argentina, Brasil e Méxi-
de outros países por intermédio de programas co); e os intermediários (Colômbia, Chile, Peru,
de viagens; 4) contactos com grandes empresas Uruguai e Venezuela). A organização estrutu-
nacionais e internacionais. Nos programas de in- ra-se em três órgãos: o Conselho de Ministros
tercâmbios, destaca-se o de intercâmbio de es- dos Negócios Estrangeiros, instância suprema
tagiários. Hoje, é a maior organização interna- encarregada da condução dos negócios políticos
cional dirigida por estudantes, estando presente e de integração econômica; a Conferência de
em 81 países e em mais de 750 universidades. Avaliação e de Convergência, que deve reunir-se
No Brasil a associação está presente em São Pau- de três em três anos e onde tomam assento os
lo (FGV e FAAP — Fundação Armando Álvares representantes plenipotenciários dos onze paí-
Penteado), no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, ses membros; o Comitê de Representantes, ór-
Brasília, Salvador, Curitiba, Joinville, Porto Ale- gão permanente encarregado de executar a apli-
gre, São Leopoldo, Santa Maria e Vitória. cação do tratado. O primeiro secretário-geral da
Aladi, eleito em 1980, foi o economista para-
AJUDA EXTERNA. Veja Dependência; Inves- guaio Júlio César Schupp. A organização está
timento Estrangeiro; Subdesenvolvimento; sediada em Montevidéu, Uruguai. Veja também
Unctad. Alalc; Alca; Mercosul.
AJUSTAMENTO. Linha descrita pela ligação ALALC — Associação Latino-Americana de Li-
dos pontos de um gráfico cartesiano no corres- vre-Comércio. Organização internacional criada
pondente a uma série estatística. Quando os pelo tratado de Montevidéu, em fevereiro de
pontos estão dispersos pelo gráfico, traça-se uma 1960, e extinta vinte anos depois. Previa o esta-
linha que passe o mais próximo possível de to- belecimento de uma área de livre-comércio, que
dos os pontos representados. seria a base para um mercado comum latino-
americano, à semelhança do Mercado Comum
AKA. Abreviação da expressão em inglês also
Europeu, com redução de tarifas e eliminação
known as, que significa “também conhecido por”
de barreiras comerciais. Assinaram o tratado Ar-
ou “aliás”.
gentina, Brasil, Chile, México, Paraguai, Peru e
AKTIE (Stamm). Termo em alemão que signi- Uruguai; ingressaram depois Colômbia e Equa-
fica ação ordinária. Ela representa direitos par- dor (1961), Venezuela (1966) e Bolívia (1967). A
ticipativos na direção de uma empresa e signi- Alalc desenvolveu-se bastante no início, fazendo
fica uma porção do capital da mesma. com que as exportações regionais quase dobras-
sem de 1961 a 1965, passando de 490 para 835
AKV. Iniciais da expressão em alemão Allgemei- milhões de dólares. De 1960 para 1970, foram
ne Kreditvereinbarungen, que significa “acordo aprovadas quase 900 concessões tarifárias, faci-
geral de empréstimos”. Veja também General litando as transações comerciais. Após esse iní-
Arrangements to Borrow. cio promissor, porém, a organização entrou em
crise: de 1970 a 1980, aprovaram-se apenas 2 mil
ALADI — Associação Latino-Americana de In- novas concessões tarifárias. As causas da crises
tegração. Organização internacional criada pelo nunca chegaram a ser exatamente definidas.
Tratado de Montevidéu, assinado em 12 de Uma das explicações levantadas diz respeito à
agosto de 1980, em substituição à antiga Asso- diferença de desenvolvimento econômico entre
ciação Latino-Americana de Livre-Comércio os membros da organização: os mais pobres não
(Alalc). O objetivo do tratado, que passou a vi- teriam condições de participar das negociações
gorar em 18 de março de 1981, era obter uma da mesma forma que os outros, e estes acabavam
entidade mais flexível, mais dinâmica e sem os recebendo os maiores benefícios. A instabilidade
erros da antecessora, capaz de estimular as re- política e econômica na região, principalmente
lações comerciais na América Latina. As princi- durante a década de 70, também teria favorecido
pais modificações da Aladi em relação à Alalc a crise. A Alalc foi extinta em 31 de dezembro
foram a possibilidade de acordos bilaterais entre de 1980. Em seu lugar, os países membros cria-
países e o estabelecimento de diferenças entre ram outra organização, menos ambiciosa e mais
os membros da associação, de acordo com seu flexível: a Aladi — Associação Latino-America-
estágio de desenvolvimento econômico. A Aladi na de Integração. Veja também Aladi; Mercosul;
não abandona o objetivo de criar um mercado Alca.
comum latino-americano, mas enfatiza que este
é um objetivo a longo prazo, ao qual chegará ALAVANCAGEM. Termo usado no mercado
de forma gradual. A Aladi é composta de onze financeiro para designar a obtenção de recursos
países, representando mais de 90% da popula- para realizar determinadas operações. Num sen-
ção e do território da América Latina. Esses paí- tido mais preciso, significa a relação entre en-
ses estão divididos em três grupos: os menos dividamento de longo prazo e o capital empre-
ALCA 20

gado por uma empresa. Assim, o quociente En- consideradas contrárias aos interesses da pro-
dividamento de Longo Prazo/Capital Total Em- dução nacional. O caráter protecionista das ati-
pregado reflete o grau de alavancagem aplicado. vidades alfandegárias acentuou-se nas econo-
Quanto maior for o quociente, maior será o grau mias ocidentais desde o mercantilismo, receben-
de alavancagem. do a atenção dos governos. Veja também Co-
mércio Internacional; Mercantilismo; Tarifas;
ALCA — Área Livre de Comércio das Améri- União Alfandegária.
cas. Proposto pelos Estados Unidos no início dos
anos 90, este organismo permitiria uma integra- ALFANUMÉRICO (Caracteres). Todos os ca-
ção comercial entre os países das Américas, es- racteres alfabéticos ou numéricos, isto é, todas
pecialmente daqueles pertencentes ao Nafta (Es- as letras de A a Z e todos os números de 0 a 9.
tados Unidos, México e Canadá) e Mercosul
(Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai). Na me- ALGOL — Algorithmic Language. Linguagem
dida em que essa integração poderia afetar o algorítmica baseada na qual os procedimentos
desenvolvimento do Mercosul, o Brasil vem se numéricos são minuciosamente especificados
opondo aos prazos curtos para a sua implemen- numa forma-padrão ao computador. O Algol é
tação propostos pelos Estados Unidos. Veja tam- o resultado de uma cooperação internacional
bém Fast Track; Mercosul; Nafta. para a obtenção de uma linguagem algorítmica
padronizada tendo como precursora a Internatio-
ALCABALA. Termo de origem árabe que de- nal Algebric Language. Veja também Algoritmo.
signa imposto cobrado pela Coroa Espanhola a
partir do século XIV, incidindo sobre as vendas ALGORITMO. O termo tem origem no mate-
ou permutas de bens móveis. A alcabala incidia mático árabe Al-Kwarismi. Modernamente, sig-
praticamente sobre toda e qualquer transação e nifica as disposições especiais que se fazem com
permaneceu como importante meio de arreca- elementos matemáticos, com o objetivo prático
dação governamental na Espanha até o século e simples de efetuar cálculos. Um algoritmo
XIX. pode ser entendido como um método que indica
direções para que os cálculos sejam um processo
ALFA (α). Medida do retorno do investimento finito e que garanta o alcance de um resultado.
de uma ação particular quando for tomado como São exemplos de algoritmos o de Eratóstenes,
ponto de referência o índice S&P 500. Desta for- para a obtenção de números primos, o de Eu-
ma, no cálculo da inclinação de uma linha, a + clides, que, com divisões sucessivas, permite ob-
bx = y, se considerarmos b = 0, o que significa ter o maior divisor comum entre dois números
eliminar a volatilidade de uma ação, obteremos inteiros, o dispositivo de Briot-Ruffine, para a
o resultado pretendido. Se alfa for positivo e divisão de um polinômio por um polinômio de
equivalente a 10%, significará que o retorno do 1º grau, um programa de computador etc.
investimento nesta ação será 10% superior àque-
le alcançado pelo índice S&P 500; se o alfa for ALIANÇA PARA O PROGRESSO. Programa
igual a 0 (zero), a ação específica se comportará de cooperação multilateral criado em agosto de
em termos de rendimento da mesma forma que 1961 pelos signatários da Carta de Punta del
o índice S&P 500; e se o alfa for negativo e igual Este, com o objetivo de incrementar o desenvol-
a 15%, significará que o rendimento da ação em vimento econômico-social da América Latina. A
questão será 15% inferior ao indicado pelo índice idéia da aliança foi lançada pelo presidente nor-
S&P 500. Veja também Beta; S&P 500. te-americano John Kennedy, em março de 1961,
como resposta aos acontecimentos revolucioná-
ALFA 3 (α3). Medida estatística de distribuição rios em Cuba e às pressões de setores políticos
calculada pela fórmula: e governamentais latino-americanos preocupa-
dos com a situação econômica e social da região.
α3 = m3
(m2)3⁄2
Concretizada na reunião especial do Conselho
Interamericano Econômico e Social da Organi-
onde m2 e m3 são o segundo e o terceiro mo- zação dos Estados Americanos, realizada em
mentos de X em relação a sua média. Veja tam- Punta del Este, a aliança foi estruturada segundo
bém Momento. os princípios da operação Pan-Americana
(OPA), proposta pelo presidente Juscelino Ku-
ALFÂNDEGA. Repartição governamental que bitschek e aprovada em 1960, de acordo com a
fiscaliza a entrada e saída de mercadorias em Ata de Bogotá, assinada por dezenove países.
cada país, para assegurar o pagamento das ta- Em Punta del Este, os participantes proclama-
rifas correspondentes e o cumprimento das nor- vam sua decisão de “associar-se num esforço
mas locais de comércio internacional. Cumpre comum para alcançar o progresso econômico
também à alfândega impedir a prática do con- mais acelerado e a justiça social mais ampla para
trabando e a entrada no país de mercadorias seus povos, respeitando a dignidade do homem
21 ALLAIS, Maurice

e a liberdade pública”. Abrangendo um período ALIGATOR SPREAD. Veja Spread.


inicial de dez anos (1961-71), o programa visava
concretamente à redistribuição da renda, à eli- ALIMENTO DE BASE. É o alimento ou ali-
minação do analfabetismo, à reforma agrária, à mentos que constituem a base da alimentação
industrialização, ao desenvolvimento de proje- habitual de uma população. Por exemplo, no
tos de habitação popular e à integração das eco- caso brasileiro, o arroz e o feijão podem ser con-
nomias latino-americanas por um mercado co- siderados alimentos de base. Em algumas regiõ-
mum. Para viabilizar essas metas, os Estados es brasileiras, como no Nordeste, a farinha tam-
Unidos destinaram uma verba inicial de 20 bi- bém constitui um alimento de base. Geralmente,
lhões de dólares, ficando os demais governos quando os preços desses produtos sobem, o cus-
obrigados a contribuir com quantias equivalen- to da alimentação também sofre uma elevação.
tes à ajuda recebida do exterior. A coordenação ALL OR NONE (AON). Expressão utilizada no
e o controle do programa da aliança estavam a mercado financeiro indicando que uma ordem
cargo do Conselho Interamericano Econômico e de compra ou venda deve ser realizada por in-
Social, em colaboração com o Banco Interame- teiro ou então não deverá ser concluída. Se um
ricano de Desenvolvimento, a Associação Lati- corretor não conseguir executar a ordem (AON)
no-Americana de Livre-Comércio (Alalc), a Co- de um cliente por inteiro, ela não deverá ser
missão Econômica — da ONU — para a América concluída parcialmente. Mas a mesma não de-
Latina (Cepal), o Fundo Monetário Internacional verá ser cancelada, a menos que seja do tipo fill
(FMI) e o Banco Internacional para a Reconstru- or kill, isto é, “cumpra-se ou cancele”.
ção e Desenvolvimento (Bird). Embora acenasse
com reformas sociais e econômicas, a aliança, ALLA RINFUSA. Expressão em italiano que
com o tempo, mostrou-se inoperante: de um significa uma cláusula comercial segundo a qual
lado, pelos crescentes cortes na ajuda externa o embarque de mercadorias indevidamente em-
norte-americana, e, de outro, por apoiar-se em baladas ou acondicionadas pagará taxas corres-
governos conservadores, comprometidos com a pondentes a mercadorias vendidas a granel
situação vigente nos países participantes. como a madeira, o carvão e substâncias líquidas.

ALIENAÇÃO. Em Direito, o termo tem o sig- ALLAIS, Maurice (1911- ). Economista e mate-
nificado genérico de transferência da proprie- mático francês da escola econômica neoliberal,
dade de uma coisa ou direito de uma pessoa que pressupõe uma ordem natural derivada da
(física ou jurídica) para outra. Em economia po- livre decisão dos indivíduos, na qual a economia
lítica, a alienação é um dos conceitos básicos do de mercado e o livre mecanismo de preços são
marxismo, significando a perda sofrida pelo tra- requisitos fundamentais. Utilizando o que cha-
balhador de uma parte de seu ser, quando o mou de “teorema fundamental do rendimento
capitalista se apropria do fruto de seu trabalho. social”, procurou demonstrar que “todo sistema
Marx partiu da teoria da alienação do filósofo econômico, se quiser utilizar melhor seus recur-
Feuerbach, para quem o homem abdicaria de sos raros e não-renováveis, deve recorrer, expli-
sua própria essência ao criar a imagem de um citamente ou não, a um sistema de preços equi-
ser absoluto, superior (Deus), que, embora cria- valente ao do equilíbrio da concorrência perfei-
do pelo homem, é visto por este como seu cria- ta”. E sustentou que uma economia eficiente,
dor. Para Marx, a alienação ocorre não apenas seja coletivista ou privada, “deve organizar-se
nesse plano religioso (do homem a Deus), como numa base descentralizada e concorrencial”. Al-
acreditava Feuerbach, mas em muitos outros do- lais fez estudos sobre a teoria do equilíbrio eco-
mínios; alienação do cidadão ao Estado, do sol- nômico geral e da eficiência máxima, as funções
dado a sua bandeira, e, principalmente, do tra- do capital e seu desempenho no processo de
balhador ao capital. No sistema capitalista, se- crescimento capitalista, a pesquisa operacional
gundo Marx, os produtos do trabalho humano aplicada à economia, além da formulação de
passam a ser meras mercadorias que subjugam uma teoria quantitativa da moeda, em que es-
o homem, em vez de servir a ele, como era de tabelece uma dependência funcional entre o va-
esperar, já que são criações suas. Veja também lor da demanda monetária existente e os valores
Fetichismo da Mercadoria; Mais-valia; Marx, anteriores da taxa de expansão da renda nacio-
Karl Heinrich. nal. Também desenvolveu análises de economia
aplicada em pesquisas de minérios e infra-es-
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. Transferência ao trutura de transportes. Defende a integração eco-
credor do domínio e posse de um bem, em ga- nômica da Europa. Trabalhou no Centro de Aná-
rantia ao pagamento de uma obrigação que lhe lises Econômicas e na Escola Nacional Superior
é devida por alguém. O bem é devolvido a seu de Minas de Paris. Ganhou o Prêmio Nobel de
antigo proprietário depois que ele resgatar a Economia em 1988. Entre outras obras, escreveu:
dívida. A la Recherche d’une Discipline Économique (À Pro-
ALLE RECHTE VORBEHALTEN 22

cura de uma Disciplina Econômica), 1943; Éco- ALONGSIDE-DATE. Expressão em inglês que
nomie et Intérêt (Economia e Juro), 1947; L’Europe significa a data na qual se espera que um navio
Unie, Route de la Prosperité (A Europa Unida, Ca- esteja na posição correta no cais e preparado
minho da Prosperidade), 1959; e L’Impôt sur le para receber uma determinada carga.
Capital et la Réforme Monétaire (O Imposto sobre
ALQUEIRÃO. Veja Alqueire.
o Capital e a Reforma Monetária), 1977. Veja
também Paradoxo de Allais. ALQUEIRE. Denominação de unidade de área
e de capacidade (volume) utilizada pelo Sistema
ALLE RECHTE VORBEHALTEN. Expressão em Antigo Brasileiro de Unidades, antes da adoção
alemão que significa literalmente “todos os di- do Sistema Métrico Decimal, e também deno-
reitos reservados”, e que indica uma cláusula minada Quartel. Esta unidade é até hoje utili-
contratual comercial segundo a qual, nas expor- zada no meio rural, embora tenha equivalências
tações ou na aceitação de determinadas transa- diferentes, dependendo da região. São conheci-
ções comerciais (condições das mercadorias, das pelo menos 10 dimensões diferentes para o
quantidade das mesmas etc.), nenhum defeito alqueire, como mostra o quadro abaixo:
ou alteração se encontra visível. Esta expressão
aplica-se também ao caso de edições de livros, Braças Metro Hectares Estado onde é
vídeos, filmes etc. nas quais todos os direitos utilizado
de reprodução estão reservados com o editor. Alqueire 50 x 50 110 x 110 1,2100 SP, MG
Alqueire 50 x 75 110 x 165 1,8150 MG, MT
ALLEINSTEUER. Veja Imposto Único.
Alqueire 50 x 100 110 x 220 2,4200 MA, ES, RJ,
Paulista SP, MG, PE,
ALLEN, Roy George Douglas (1906-1983). Eco- SC, RS, MT,
nomista inglês, lecionou na London School of GO
Economics a partir de 1928, trabalhou no Te- Alqueire 75 x 80 165 x 176 2,9040 MG
souro e, no final da Segunda Guerra Mundial, Alqueire 79 x 79 173,8 x 173,8 3,0206 MG
foi indicado como professor de estatística na Alqueire 80 x 80 76 x 176 3,0976 ES, SP, MG
Universidade de Londres. Sua maior contribui- Alqueire 75 x 100 65 x 220 3,6300 RJ, MG
ção ao desenvolvimento da teoria econômica Alqueire 100 x 100 220 x 220 4,8400 AC, RN, BA,
data de 1934 quando, em conjunto com John Mineiro ES, RJ, SP, SC,
Hicks, publicou um artigo no qual se demons- MT, GO, MG
trava, mediante curvas de indiferença, que para Alqueire 100 x 150 220 x 330 7,2600 MG, MT
(Alqueirão)
explicar o sentido descendente de uma curva
de demanda é suficiente assumir que os bens Alqueire 200 x 200 440 x 440 19,3600 MG, BA, GO
(Alqueirão)
podem ser classificados de uma forma ordinal,
isto é, quando se ordenam vários bens, aquele
que representa a maior utilidade é colocado no Apesar da enorme variedade de dimensões, as
topo da escala. Suas obras mais importantes são mais utilizadas ainda hoje na agricultura brasi-
as seguintes: Mathematical Analysis for Economists leira (como medida de área) são o Alqueire Pau-
(Análise Matemática para Economistas), 1938; lista e o Alqueire Mineiro. Como medida de ca-
Statistics for Economists (Estatística para Econo- pacidade, o alqueire era utilizado pela Casa da
mistas), 1949; Mathematical Economics (Economia Moeda do Brasil antes da adoção do Sistema
Matemática), 1956; Macroeconomic Theory — A Métrico Decimal e equivalia a aproximadamente
Mathematical Treatment (Teoria Macroeconômica 10 canadas ou 26 litros. Veja também Sistemas
— Uma Abordagem Matemática), 1967. de Pesos e Medidas.
ALLONGE. Expressão em inglês que designa ALQUEIRE DO NORTE. Medida de área agrá-
um pedaço de papel anexado a um documento ria utilizada no Norte e no Nordeste do país e
para fornecer espaço onde endossos possam ser equivalente a 27 225 m2. Veja também Alqueire.
feitos, quando não sobra mais espaço no local
do documento destinado a esse fim. ALQUEIRE MINEIRO. Veja Alqueire.

ALMUDE. Medida de capacidade utilizada pela ALQUEIRE PAULISTA. Veja Alqueire.


Casa da Moeda do Brasil antes da adoção do
sistema métrico decimal e equivalente a 12 ca- ALTA. Momento em que as ações e demais tí-
nadas ou a aproximadamente 32 litros. Veja tam- tulos transacionados em Bolsa apresentam uma
bém Sistema Internacional de Unidades. elevação significativa de preços, normalmente
causada pelo incremento da demanda. Nos pe-
ALODIAL. Designação dos bens que podem ser ríodos em que a economia atravessa uma fase
possuídos livremente e sobre os quais não existe de prosperidade do ciclo econômico, o mercado
restrição alguma no caso de alienação. de ações geralmente é estimulado por uma
23 AMENITY VALUE

maior demanda de títulos e ações, e os preços da majoração dependia de o produto poder ou


apresentam uma tendência à elevação, embora não ser produzido no Brasil, bem como de sua
tais reflexos não sejam automáticos: isto é, pode importância para o mercado interno. Até a pro-
haver uma defasagem entre um momento de mulgação das Tarifas Alves Branco, os produtos
prosperidade e uma tendência à alta no mercado importados eram taxados em apenas 15%. As
de ações. Veja também Ação; Bolsa de Valores. mercadorias inglesas gozavam desse privilégio
desde 1810 (tratados de 1810 de comércio e na-
ALTER EGO DOCTRINE. Expressão anglo-la-
vegação). Com o tempo, essa tarifa foi estendida
tina que significa o princípio ou a doutrina ju-
às demais nações que comerciavam com o Brasil.
rídica que sustenta que, quando uma subsidiária
Além de amenizar os problemas orçamentários
é um mero instrumento da matriz — a ponto
de não possuir autonomia alguma — e é utili- do Segundo Reinado, a tarifa favoreceu alguns
zada simplesmente para que esta última supere setores da economia brasileira, embora tenha
obstáculos legais ou mesmo pratique fraudes (ge- sido alvo de violentos protestos dos países ex-
ralmente contra o fisco), os tribunais ignoram a portadores, sobretudo da Inglaterra e dos co-
ficção de que se trata de duas empresas separadas. merciantes ligados ao setor de importação. Veja
também Tratados de 1810.
ALTHUSSER, Louis (1918-1990). Filósofo fran-
cês de origem argelina que se notabilizou na AMA-KUDARI. Expressão em japonês que sig-
década de 60 por defender uma nova interpre- nifica literalmente “cair do céu” e aplicada nos
tação do pensamento marxista. Analisando as casos em que um elevado posto numa empresa
idéias de Marx do ponto de vista da distinção privada é ocupado por pessoa aposentada de
entre ideologia e ciência, Althusser opôs-se às altos cargos administrativos governamentais.
interpretações correntes na época, que centra- Na medida em que no Japão os cargos vagos
vam o marxismo na teoria da alienação e o apro- mais elevados são geralmente ocupados por pes-
ximavam de Hegel. Para Althusser, seria neces- soas do próprio corpo de funcionários de uma
sário restabelecer o sentido econômico do mar- empresa (na base do emprego por toda vida
xismo. Ler o Capital, publicado em 1964, e A Favor numa só empresa), o Ama-Kudari representa
de Marx, de 1965, estão entre suas principais uma prática criticável e desagradável para o cor-
obras. Veja também Alienação; Hegel; Marxis- po gerencial de uma empresa onde ela acontece.
mo.
AMARTYA SEN (1935- ). Nascido na Índia e
ALUGUEL. Preço pago pela utilização de um professor do Trinity College, em Cambridge (In-
bem alheio — particularmente um imóvel —, glaterra), pesquisou sobre a fome em Bangla-
calculado por unidade de tempo. No Brasil, desh, em 1974, e recebeu o Prêmio Nobel em
como na Inglaterra e outros países, o aluguel Economia por seus trabalhos teóricos na área
de imóveis é controlado por legislação específi- social e por haver contribuído para uma nova
ca. Veja também Arrendamento; Leasing; Lei compreensão dos conceitos a respeito de misé-
do Inquilinato. ria, pobreza e bem-estar social em regiões po-
bres, onde a principal atividade ainda é a agri-
ALVARÁ. Em termos jurídicos, é a ordem, com cultura.
equivalência de mandado judicial, expedida por
um juiz, determinando que seja cumprida uma AMBUSH MARKETING. Expressão em inglês
sentença ou despacho. Em termos administrati- que significa literalmente “marketing de embos-
vos, tem a conotação de licença (alvará para por- cada”, isto é, quando uma empresa consegue
te de armas, alvará para comércio etc.). Em de- fazer aparecer de alguma forma sua marca em
terminadas condições, o juiz pode expedir um evento patrocinado por outra. Por exemplo, du-
alvará permitindo que pessoas impedidas por rante a Copa do Mundo de 1994, em alguns jo-
algum motivo possam realizar venda de bens. gos da seleção brasileira de futebol cuja trans-
missão era patrocinada por uma marca de cer-
ALVES BRANCO, Manuel (1797-1855). Nasceu veja, sua principal concorrente colocou placas
em Salvador (Bahia), foi o segundo Visconde de nas laterais do gramado e contratou espectado-
Caravelas, jurista e estadista, foi ministro da Fa- res uniformizados com sua marca, que acabaram
zenda, da Justiça, e presidente do Conselho de aparecendo mais tempo durante a transmissão
Ministros do Império. Durante seu mandato dos jogos do que a própria marca do patrocinador.
como ministro da Fazenda, decretou as primei-
ras tarifas alfandegárias do Brasil, em 1844, que AMENITY VALUE. Expressão em inglês que se
passaram a ser conhecidas como Tarifas Alves refere às condições existentes no entorno de uma
Branco. Modificou as tarifas alfandegárias de propriedade imobiliária que geralmente elevam
quase 3 mil produtos importados aumentando o seu valor como, por exemplo, boa vizinhança,
os impostos em 30, 40, 50 e até 60%. O valor escolas, parques, áreas verdes etc.
AMERICAN DEPOSITARY RECEIPT 24

AMERICAN DEPOSITARY RECEIPT (ADR). rua. Veja também Bolsa de Valores; Insider;
Emissão de certificados, por bancos norte-ame- New York Stock Exchange; Wall Street.
ricanos, representativos de ações de empresas
sediadas fora dos Estados Unidos. Na medida AMIN, Samir (1931- ). Economista egípcio es-
em que tais certificados são negociáveis no mer- tudioso dos problemas dos países em desenvol-
cado de valores mobiliários nos Estados Unidos, vimento. Formado pela Universidade de Paris,
cria-se na prática a possibilidade de esse mer- trabalhou como assessor da Organização para
o Desenvolvimento Econômico, no Cairo, de
cado de títulos estar negociando ações de em-
1957 a 1960; foi conselheiro técnico para o setor
presas de outros países. Existem quatro tipos
de planejamento do governo do Mali, de 1960
de programas de negociação desses papéis (ní-
a 1963; é diretor do Instituto Africano para De-
veis I, II, III e “restrito”), os quais se diferenciam
senvolvimento Econômico e Planejamento des-
pelas vantagens de negociação de cada tipo de
de 1970. Professor de economia nas universida-
papel. No caso brasileiro, existem três modali-
des de Poitiers, Paris e Dakar, publicou vários
dades de ADRs: 1) Depositary Receipts (inves-
livros, que tratam principalmente dos proble-
tidor estrangeiro) são certificados que repre-
mas econômicos dos países do Terceiro Mundo:
sentam ações ou outros títulos de direito sobre Três Experiências Africanas de Desenvolvimento:
ações emitidos por uma instituição do exterior Mali, Guiné e Gana (1965); A Economia do Maghreb
e assegurados com títulos depositados em cus- (1967); O Mundo dos Negócios Senegaleses (1968);
tódia especial no Brasil. A base legal destas emis- O Maghreb no Mundo Moderno (1970); A Acumu-
sões é constituída pelas resoluções 1 927/1992, lação em Escala Mundial (1970); A África do Oeste
2 337/1996, 2 356/1997 e pela regulamentação Bloqueada (1971); O Desenvolvimento Desigual
do anexo V à resolução 1 289/1987 e pela circular (1973); A Nação Árabe (1978).
2 728/1996; 2) Depositary Receipts (investidor
brasileiro). As condições são estabelecidas para AMORTIZAÇÃO. Redução gradual de uma dí-
o registro de investimentos brasileiros no exte- vida por meio de pagamentos periódicos com-
rior em DRs, assegurados com títulos emitidos binados entre o credor e o devedor. Os emprés-
por empresas com matriz no Brasil. A base legal timos e hipotecas bancários são, em geral, pagos
é a circular 2 741/1997; 3) Brazilian Depositary dessa forma. No caso de empréstimos a longo
Receipts (investidor brasileiro) são certificados prazo, a amortização se faz mediante tabelas es-
que representam títulos emitidos por empresas peciais nas quais se incluem os juros relativos
estatais ou similares, com matriz no exterior e ao capital a reembolsar. Na técnica contábil, usa-
emitidos por instituição no Brasil. A base legal se o termo para designar as parcelas retiradas
é constituída pela resolução 2 318/1996, pela cir- anualmente pelo proprietário da empresa a fim
cular 2 723/1996 e pela instrução CVM (Comis- de atender à depreciação de certos bens ativos
são de Valores Mobiliários) 255/1996. como móveis, maquinaria e outros. Veja também
Dívida; Tabela Price.
AMERICAN STOCK EXCHANGE (Ase ou
Amex). A segunda maior Bolsa de Valores dos AMORTIZAÇÃO ACELERADA. Forma de
Estados Unidos, transacionando cerca de 10% amortização de um ativo (um equipamento p.e.)
de todas as ações negociadas no país. A Bolsa a uma velocidade superior à vida útil desse ati-
proporciona um lugar físico para as transações vo. Esta forma de depreciação é utilizada para
com ações, as quais têm de pertencer a uma em- inflar custos ou para a obtenção de benefícios
presa registrada, ou seja, uma empresa que fiscais. Esta forma aplica-se também no caso de
preencha os requisitos estabelecidos pela junta dívidas que são pagas em um número de pe-
ríodos inferior ao estipulado no contrato, se o
de diretores da Bolsa. As exigências para registro
devedor assim desejar, podendo inclusive obter
na American Stock Exchange são menores do
descontos nas taxas de juros cobradas.
que as existentes na Bolsa de Valores de Nova
York (New York Stock Exchange). As compa- AMORTIZAÇÃO NEGATIVA. Aumento do
nhias registradas devem apresentar relatórios fi- prin cipal de uma dívida, quando os pagamentos
nanceiros anuais e informes quinzenais de suas parciais da mesma são insuficientes para cobrir
movimentações e ganhos, além de impedir a o montante correspondente aos juros. A diferença
ação de insiders. Se o interesse do público dimi- é incorporada ao principal de tal maneira que a
nuir muito por um título ou ação, a empresa dívida, em lugar de diminuir, aumenta com o
correspondente poderá perder seu registro. A passar do tempo. É o que tem acontecido no Bra-
American Stock Exchange é muito antiga e teve sil com muitos contratos de aquisição da casa
início quando os corretores se encontravam na própria posteriores a 1988, nos quais as presta-
rua para transacionar lotes de ações. Só no início ções não cobrem os juros que incidem sobre o
do século XX essa Bolsa de Valores passou a saldo remanescente, o que tem causado crescente
ocupar um lugar coberto, saindo portanto da inadimplência entre os mutuários.
25 ANÁLISE DE BAYES

AMOSTRA. Conjunto de técnicas estatísticas bulação durante certo tempo, também um nú-
que possibilita, a partir do conhecimento de uma mero de ampéres passa por um fio condutor de
parte (a amostra), obter informações sobre o energia elétrica. O nome deve-se ao cientista
todo (universo). Para realizar uma amostragem, francês André Ampère. Veja também Sistema
é preciso, antes de mais nada, dividir o universo Internacional de Unidades.
em partes chamadas “unidades amostrais”.
Exemplificando: para selecionar uma amostra- AMPLITUDE. Tratando-se de um ciclo, é a me-
tade da diferença entre os valores absolutos do
gem de residentes de um município, a unidade
máximo e do mínimo das ordenadas desse ciclo,
amostral pode ser a pessoa, a família, o domi-
uma vez eliminada a tendência secular da res-
cílio, o quarteirão. Em seguida, é necessário de-
pectiva série. Pode ser entendida também como
terminar o tamanho da amostra, ou seja, o nú-
a diferença entre os preços máximo e mínimo
mero de unidades amostrais que deve ser pes- de um determinado título ou ação alcançada
quisado. Uma amostragem pode ser de dois ti- num determinado pregão ou num determinado
pos: probabilística (aleatória) ou não-probabilística espaço de tempo. Veja também Gráfico Máximo
(não-aleatória). Neste último caso, as unidades e Mínimo; Pregão; Tendência Secular.
amostrais são escolhidas intencionalmente. Na
amostragem probabilística, as unidades amos- AMSTEL CLUB. Denominação do grupo for-
trais resultam de uma seleção feita inteiramente mado pelos principais bancos e casas financeiras
ao acaso. A generalização a todo o universo das da Inglaterra e da Europa, cuja função é, me-
informações obtidas pelo estudo das unidades diante acordos recíprocos, financiar as importa-
amostrais só tem completa validez quando ba- ções e exportações dos países membros.
seada na amostragem probabilística. Veja tam-
bém Amostragem Aleatória; Amostragem Es- AMTLICHE KURSMAKLER. Expressão em ale-
tratificada; Amostra Piloto; Amostra Viesada; mão que designa os corretores das Bolsas de
Valores indicados (na Alemanha) pelo governo,
Estatística; Pesquisa de Mercado; Teorema do
cujas funções se assemelham aos Jobbers da Bolsa
Limite Central.
de Valores de Londres. Os corretores não indi-
AMOSTRA PILOTO. Denominação da amos- cados pelo governo são denominados Freie Mak-
tra que precede a amostragem propriamente ler. Veja também Stock Jobber; Broker.
dita, e que é obtida com a finalidade de avaliar
AMTLICHER MARKT. Expressão em alemão
— entre outras coisas — a variabilidade da po-
que significa o mercado oficial onde são nego-
pulação em estudo sobre a qual basear-se para
ciadas as securities nas Bolsas de Valores da Ale-
calcular o tamanho da amostra posterior.
manha. Outros mercados onde esse tipo de ne-
AMOSTRA VIESADA. É a resultante de um gociação se desenvolve são o mercado semi-ofi-
sistema de seleção que contém erro sistemático. cial denominado Geregelter Freieverkehr, e o
Veja também Amostra; Viés. não-oficial, Telefonverkehr. Veja também Am-
tliche Kursmakler.
AMOSTRAGEM ALEATÓRIA. Também deno-
minada amostra probabilística, é aquela em que ANÁLISE DA VARIÂNCIA. Veja Desvio Pa-
se pode calcular previamente qual é a pro- drão.
babilidade de obter cada uma das amostras pos-
ANÁLISE DE BAYES. A Análise de Bayes é
síveis de serem selecionadas (de uma popula-
utilizada no processo de tomada de decisões,
ção). Para tanto, é necessário que a seleção possa
na medida em que o tomador de decisões nem
ser considerada um experimento aleatório, dos
sempre pode limitar-se às probabilidades a priori
que constituem a base da teoria da pro-
ou subjetivas, uma vez que as informações ob-
babilidade na qual se fundamenta a estatística
tidas inicialmente são insuficientes para a toma-
matemática.
da eficaz de decisões. O tomador de decisões
AMOSTRAGEM ESTRATIFICADA. Tem a fi- deve complementar as informações a priori com
nalidade de melhorar as estimações estatísticas as informações objetivas obtidas mediante a ex-
mediante o agrupamento prévio dos elementos perimentação, com o intuito de reduzir as in-
de uma população que tenha certas caracterís- certezas e tomar decisões com maior garantia
ticas (sexo, faixas etárias, raça etc.) semelhantes de êxito. O Teorema de Bayes permite resolver
entre si. Assim, uma população é dividida em essa questão. Utilizando as probabilidades a
estratos e em cada um deles se faz uma seleção priori e o resultado da amostra obtida experi-
aleatória simples. mentalmente, o Teorema de Bayes nos permite
obter as chamadas “probabilidades revisadas”,
AMPÈRE. Unidade de medida da intensidade ou a posteriori. Estas probabilidades podem ser
de corrente elétrica. Por analogia com a quan- consideradas em seguida como probabilidades
tidade de água (litros) que passa por uma tu- a priori para que se obtenha outra amostra que
ANÁLISE DE REGRESSÃO 26

torne possível a obtenção de outras pro- ANÁLISE SWOT. Veja Swot.


babilidades “revisadas”, ou a posteriori, que se-
rão mais precisas do que as primeiras, e assim ANALISE TÉCNICA. Na análise do movimen-
sucessivamente. Em síntese, a Análise de Bayes to dos preços das ações, é o método que consi-
é um modelo em aberto que nos permite incor- dera única e exclusivamente os preços e volumes
porar novas informações na medida em que es- registrados, apresentados seja na forma de grá-
tas vão se produzindo. A Análise de Bayes é, ficos (grafismo) ou outra qualquer, para deter-
portanto, uma análise adaptativa e seqüencial minar a formação de tendências no mercado e
que se ajusta ao caráter cambiante da realidade orientar investimentos dos aplicadores no pre-
econômica. Este importante teorema formulado sente ou no futuro, tanto para ações individuais
por Bayes (pastor e estatístico inglês) no século como para conjuntos de ações.
XVII havia sido praticamente esquecido por in- ANALÓGICO. Veja Computador.
corporar a utilização da probabilidade “subjeti-
va”. Reabilitada pelos teóricos da decisão esta- ANARCO-SINDICALISMO. Variante do anar-
tística, a Análise de Bayes volta a ter grande quismo que se desenvolveu na Europa no final
importância na atualidade. Vejamos um exem- do século XIX e início do século XX. Considerava
plo da Análise de Bayes aplicada à indústria. que o sindicato era o principal órgão de luta e
Suponhamos um empresa que possui duas plan- de organização dos trabalhadores e núcleo da
tas onde são fabricados rolamentos, sendo a pri- futura sociedade anarquista. Somente a ação di-
meira mais antiga cronológica e tecnologicamen- reta nas fábricas e a greve geral espontânea e
te e que produz 40% do total fabricado. Se um revolucionária poderiam transformar radical-
rolamento for apanhado aleatoriamente da pro- mente a sociedade capitalista. O principal teó-
dução total, tem 40% de probabilidade de ter rico do anarco-sindicalismo foi o francês Geor-
sido fabricado na planta nº 1. Nesse caso, temos ges Sorel. Sua doutrina teve grande aceitação
as magnitudes da probabilidade anterior. No en- nos círculos operários e sindicais da França, da
tanto, a planta nº 1 produz duas vezes mais ro- Itália e da Espanha, sendo divulgada nos Esta-
lamentos com defeito do que a planta nº 2. Se dos Unidos, no Brasil e em outros países lati-
um rolamento defeituoso for encontrado, o res- no-americanos por emigrantes europeus. No
ponsável por qual das plantas deverá ser acio- Brasil, o anarco-sindicalismo foi no início do sé-
nado? Se levarmos em conta apenas a pro- culo a principal corrente política que orientou
babilidade anterior, o mais provável é que este a prática do movimento sindical mais comba-
rolamento com defeito tenha vindo da planta tivo; dele surgiram os primeiros agrupamentos
nº 2, uma vez que dela provém 60% da produ- marxistas que fundariam o Partido Comunista
ção. Mas, ao revisarmos essa probabilidade an- Brasileiro, em 1922. Veja também Anarquismo;
terior com o fato de a planta nº 2 produzir ape- Sindicalismo.
nas 1/3 dos rolamentos defeituosos, o mais pro-
ANARQUISMO. Doutrina política que prega a
vável é que o rolamento em questão tenha sido
abolição do Estado como ponto de partida para
produzido na planta nº 1, pois a probabilidade
a construção de uma sociedade alternativa, onde
de que a mais antiga tenha produzido o defeito
as relações entre os indivíduos sejam livres,
é de 57,2% contra 42,8% da planta nº 2, a mais
igualitárias e desprovidas de qualquer coerção.
nova. Esta probabilidade revisada é a pro-
babilidade a posteriori de Bayes. Por isso, os partidários do anarquismo são tam-
bém chamados de libertários. Nessa perspectiva,
ANÁLISE DE REGRESSÃO. Veja Regressão, o anarquismo rejeita qualquer princípio de au-
Análise de. toridade — seja do Estado, de instituições, de
grupos sociais ou de indivíduos. Essa proposta
ANÁLISE DE SENSIBILIDADE. Forma de abor- política implica uma nova organização econô-
dagem na qual um modelo é outra vez exami- mica da sociedade. De inspiração socialista, pro-
nado mudando-se uma de suas variáveis para põe a abolição da propriedade privada capita-
ver o que aconteceria com o resultado final.
lista, o fim da exploração do homem pelo ho-
ANÁLISE MULTIVARIÁVEL. Parte da Esta- mem, a coletivização dos meios de produção e
tística Matemática que se dedica ao estudo de a solidariedade entre os produtores (trabalha-
situações nas quais aparecem distribuições de dores). A administração geral da vida social ba-
probabilidade multidimensionais, tais como o seia-se na autogestão de cada unidade produti-
problema da estimação de médias e matriz de va; coletivamente, os trabalhadores decidiriam
covariâncias de diferentes distribuições multi- sobre as formas de organização do trabalho, pro-
dimensionais, em especial a normal, testes de dução, troca e distribuição dos produtos e rela-
hipóteses sobre um conjunto de variáveis em cionamentos com o conjunto da sociedade. Em
face de outro, estimação de coeficientes de re- escala regional e nacional, as unidades produ-
gressão, correlações canônicas etc. tivas se uniriam livremente em federações não-
27 ANGSTROM

burocráticas, que teriam funções administrati- reservas suficientes e de um balanço de paga-


vas, legislativas e executivas, podendo seus mentos sob controle para evitar o jogo especu-
membros serem destituídos a qualquer momen- lativo em torno de uma futura desvalorização
to, de acordo com a vontade dos indivíduos que do câmbio.
os elegeram. No século XIX, o anarquismo foi
uma das tendências mais expressivas no movi- ÂNCORA MONETÁRIA. Instrumento de po-
mento operário europeu. Embora tenha vários lítica monetária utilizado para estabilizar o valor
precursores, foi o francês Pierre Joseph Prou- de uma moeda numa conjuntura de grande ele-
dhon o primeiro a considerar-se anarquista. Para vação de preços e que consiste fundamental-
ele, no entanto, a abolição do Estado e da pro- mente no compromisso (legal ou não) de que
priedade capitalista viriam gradualmente, como as autoridades monetárias não emitirão moeda
resultado de um processo de organização dos para cobrir eventuais déficits governamentais,
trabalhadores e pequenos proprietários em coo- tornando o Banco Central independente do Te-
perativas de produção e colaboração mútua. Já souro Nacional. Novas emissões só teriam lugar
para o anarquista russo Mikhail Bakunin, dis- se houvesse correspondente aumento das reser-
cípulo de Proudhon, o fim do capitalismo e o vas internacionais.
advento de uma sociedade anarquista só seriam ANDAR DE LADO. Expressão utilizada geral-
possíveis por meio da ação revolucionária das mente no mercado financeiro para indicar uma
massas. Concordava nisso com os marxistas, situação na qual não há uma tendência clara de
chamados, entretanto, por Bakunin de “socialis- elevação ou baixa neste mercado, isto é, os ope-
tas autoritários”, por defenderem a organização radores estão aguardando que se delineie uma
política dos trabalhadores em partidos e advo- tendência e, enquanto isso, são prudentes em
garem a manutenção do Estado como instru- suas aplicações.
mento de construção da nova ordem econômica.
O anarquismo teve grande influência na Espa- ANDIMA. Iniciais de Associação Nacional de
nha, na França, na Itália, na Suíça e em Portugal. Instituições de Mercado Aberto. Instituição do
Foi trazido para o Brasil pelos imigrantes euro- mercado financeiro, sem fins lucrativos, que
peus no final do século XIX, tornando-se a prin- congrega mais de 310 associados, incluindo ban-
cipal tendência ativa no movimento sindical até cos comerciais, múltiplos, de investimento e cor-
meados dos anos 20. Veja também Bakunin; retoras. Sua finalidade é desenvolver novos pro-
Kropotkin; Proudhon; Sindicalismo; Socialismo. dutos e serviços para o mercado no qual está
inserida, e também o desenvolvimento dos sis-
ANATOCISMO. Termo que designa o paga- temas eletrônicos que acelerem e tornem mais
mento de juros sobre juros, isto é, a capitalização fáceis as operações financeiras, assim como a
de juros que foram acumulados por não ter sido criação de novas oportunidades de negócios en-
liquidados nos respectivos vencimentos. tre seus associados.

ANBID — Associação Nacional dos Bancos de ANEL DE MOEBIUS. Anel que contém uma
Investimento e Desenvolvimento. Entidade for- torção em determinado ponto de tal forma que,
mada por várias instituições financeiras sedia- dados dois pontos, pode-se uni-los mediante
das no Rio de Janeiro. uma linha sem passar pelas bordas. Constitui
até certo ponto um paradoxo, uma vez que, tra-
ANCHOR TENANT. Expressão em inglês que tando-se de uma figura tridimensional, possui
designa a principal loja num shopping center. apenas uma superfície.
Em alguns casos, o compromisso de uma “loja-
âncora” em se estabelecer num shopping center ANEXO 4. Dispositivo que permite a entrada
é condição para que o mesmo venha a ser cons- de capital estrangeiro segundo certas condições.
truído.
ANFAC — Associação Nacional de Factoring.
ÂNCORA CAMBIAL. Instrumento de política Associação que congrega as empresas de facto-
econômica utilizado para estabilizar o valor de ring no Brasil. Veja também Factoring.
uma moeda fixando-se seu valor na taxa cam- ANGLE OF INCIDENCE. Veja Ângulo de In-
bial. O instrumento é empregado nos casos de cidência.
inflação acelerada ou de hiperinflação, em con-
junto com outras políticas (congelamento de pre- ANGSTROM. Unidade de medida de compri-
ços, p.e.), para estabilizar os preços e as desva- mento de onda de luz, eletricidade ou calor. É
lorizações da moeda. A âncora cambial pode ser uma das menores unidades de medida, equiva-
acompanhada por uma política de conversibili- lendo a um décimo de milionésimo de milíme-
dade total ou parcial. A adoção desse mecanis- tro, ou 10-8 cm. Seu símbolo é Å. Veja também
mo exige, no entanto, que o país disponha de Unidades de Pesos e Medidas.
ÂNGULO DE INCIDÊNCIA 28

ÂNGULO DE INCIDÊNCIA. Ângulo formado ANTI-CORN LAW LEAGUE. Liga fundada em


no ponto de cruzamento entre a linha de receita Manchester (Inglaterra) em 1839 sob a liderança
de vendas e a linha dos custos totais num gráfico de Richard Cobden, que procurava a abolição
de Break-Even. Os administradores geralmente das leis dos cereais. Correspondia aos interesses
procuram conseguir o maior ângulo de incidên- dos industriais na medida em que, abolidas as
cia possível, pois isso significa que a empresa leis, o trigo importado dos países continentais
obtém uma alta lucratividade assim que o ponto como a França ou a Polônia poderiam baratear
de Break-Even é ultrapassado. Veja também o produto, e, com isso, o preço da mão-de-obra
Ponto de Equilíbrio (Break-even Point). também diminuiria.
ANIMUS LUCRANDI. Expressão em latim que ANTICRESE. Contrato pelo qual o devedor en-
significa “intenção de lucrar ou de tirar provei- trega provisoriamente um imóvel de sua pro-
to” de alguém ou de alguma situação. priedade como forma de pagamento dos juros
e saldo gradual da dívida. O credor pode usu-
ANNUITY BONDS. Expressão em inglês que fruir diretamente do imóvel ou arrendá-lo a ter-
significa títulos que proporcionam um montante ceiros.
de juros fixos anuais e de duração perpétua, isto
é, não possuem prazo de vencimento. ANTIDUMPING. Veja Dumping.
ANO-BASE. É aquele tomado como referência ANTIGONISH. Movimento cooperativo orga-
numa série de números-índices. Por exemplo, o nizado pelo monsenhor Coady, que conseguiu
índice de preços de determinado produto apre- infundir nos pescadores do norte do Canadá e
sentou a seguinte evolução: nos mineiros da ilha do Cabo Bretão o sentido
de sua capacidade e de suas responsabilidades.
1989 — 100
Graças a isso, várias pessoas deprimidas e mi-
1990 — 111 seráveis conseguiram se reerguer mediante a
ajuda mútua, de tal forma que Antigonish se
1991 — 137 tornou importante modelo de organização do
1992 — 146 cooperativismo.

1993 — 159 ANTILOGARITMO. Função inversa de um lo-


garitmo. É a base do logaritmo elevada à po-
1994 — 168 tência do número cujo antilogaritmo se deseja
determinar. Veja também Logaritmo.
1995 — 175
ANTIMONOPOLY LAW. Veja Lei Antimono-
1996 — 182
pólio.
Nesse caso, 1989 representa o ano-base, e pode-
mos afirmar que o preço desse produto em 1996 ANTITRUSTE. Veja Legislação Antitruste.
era 82% maior do que em 1989. AON. Veja All or None.
ANO FISCAL. Período geralmente corresponden- APARTHEID. Denominação da política oficial
te a 12 meses, no final do qual as contas são fechadas implementada pelo governo da África do Sul
para determinar resultados das operações financei- a partir de 1948, diferenciando direitos sociais
ras, tributárias, orçamentárias etc. Não necessaria- e políticos entre brancos e negros, e cerceando
mente coincide com o ano calendário. na prática o exercício da cidadania por parte
ANO-LUZ. Medida astronômica de distância, destes últimos. A base do apartheid consistia na
sendo aquela percorrida pela luz em um ano. separação (significado da palavra em afrikaner)
Como a velocidade da luz é de 300 mil km por entre brancos e negros, impedindo que os últi-
segundo, em um ano ela terá percorrido cerca mos permanecessem ou circulassem em espaços
de 9 460 bilhões de km, ou o equivalente a 9,46 físicos e sociais destinados exclusivamente a
x 1015 m. Veja também Sistemas de Pesos e Me- brancos. Esta política racista, que significou a
didas. morte de milhares de negros, foi condenada pela
ONU, e está sendo desmontada a partir da as-
ANÕES DE ZURIQUE. Veja Gnomos de Zu- censão, em 1994, de Nelson Mandela ao governo
rique. da África do Sul.

ANOVA. Termo formado pelas iniciais da ex- APE — Associação de Poupança e Empréstimo.
pressão em inglês Analysis of Variance, que sig- As APEs são sociedades cooperativas que têm
nifica Análise da Variância. Veja também Des- como finalidade a concessão de empréstimos ex-
vio Padrão. clusivamente aos associados. Particularmente
29 APOTHECARY

atuantes no Brasil, são as APEs pertencentes ao perderam poder aquisitivo desde 1979. Os tra-
Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo balhadores rurais se aposentam aos 60 anos de
e filiadas ao Sistema Financeiro da Habitação. idade e as trabalhadoras, aos 55 anos. O cálculo
dos futuros benefícios será baseado nos últimos
APO. Veja Administração por Objetivos. 36 salários de contribuição, corrigidos moneta-
riamente. No início de 1998, foram aprovadas
APÓLICE. O termo tem origem no italiano po-
novas e importantes regras para o sistema pre-
lizza, que significa promessa, isto é, promessa
videnciário brasileiro. As modificações mais im-
de pagamento se cumpridas determinadas con-
portantes são as seguintes: a idade para apo-
dições. Entre as principais apólices estão as apó- sentadoria passa a ser de 60 anos para as mu-
lices da dívida pública e as apólices de seguro. As lheres (antes era 55) e de 65 anos para os homens
primeiras referem-se a um empréstimo feito por (antes era 60). A idade mínima passa a ser 53
seu possuidor ao governo do município do Es- anos para os homens e 48 para as mulheres,
tado ou da União. As apólices de seguro são para aqueles que, estando trabalhando, ainda
documentos nos quais a empresa emitente se não cumpriram 30 anos (mulheres) e 35 anos
compromete a pagar a pessoas ou firmas (no- (homens) de contribuição; aqueles que já cum-
meadas no próprio documento) certa importân- priram esses prazos poderão se aposentar a
cia, no caso de ocorrerem certos fatos, tais como qualquer tempo. A aposentadoria proporcional
a morte do segurado ou a perda de determinado será mantida para quem já está trabalhando: o
bem. Veja também Seguro; Título. trabalhador que já cumpriu o prazo mínimo (30
anos para os homens e 25 para as mulheres)
APOSENTADORIA. É o direito que tem o se- poderá solicitar a aposentadoria proporcional;
gurado de retirar-se da atividade profissional e caso não tenha completado o prazo mínimo, terá
passar a receber um pagamento periódico por de trabalhar 40% a mais do que o tempo que
conta da instituição previdenciária. Esse afasta- está faltando para solicitar a aposentadoria pro-
mento ocorre quando o segurado não pode mais porcional. Quem ingressar no mercado de tra-
trabalhar, por invalidez ou velhice, ou depois balho depois de sancionada a reforma previden-
que houver exercido por longo tempo, fixado ciária não terá direito à aposentadoria propor-
em lei, sua atividade profissional. A finalidade cional e não poderá se aposentar com menos de
é manter o poder aquisitivo do segurado, ou 60 anos (homens) e 55 anos (mulheres), tendo
parte dele, garantindo-lhe um substitutivo do de trabalhar no mínimo 35 anos (homens) e 30
salário. No Brasil, há quatro tipos de aposenta- anos (mulheres) para solicitar a aposentado-
doria para os trabalhadores urbanos: 1) por in- ria.Veja também Previdência Social.
validez: devida ao segurado que, após 12 contri-
buições mensais, é considerado incapaz para APOTHECARY (Sistema). Este sistema para me-
qualquer atividade que lhe garanta a subsistên- dida de líquidos e remédios teve origem na mu-
cia; 2) por velhice: devida, após 60 contribuições dança do sistema de venda de drogas e remédios
mensais, ao segurado que completa 65 anos (ho- que até o início do século XVII podiam ser ob-
mens) ou 60 anos (mulheres) de idade; 3) por tidos tanto nas “farmácias” como nas vendas
tempo de serviço: devida, após 60 contribuições das demais mercadorias. Os farmacêuticos (apot-
mensais, ao segurado que conta no mínimo 30 hecaries em inglês) conseguiram do rei uma au-
anos de serviço; 4) especial: devida ao segurado torização de exclusividade na venda de remé-
que tenha trabalhado em atividades considera- dios e drogas e os comerciantes foram proibidos
das perigosas, insalubres ou penosas. O tempo de vender tais produtos. Mas havia o problema
de trabalho nesses casos varia entre 15, 20 e 25 de como os farmacêuticos aviavam as receitas
anos. Os mineiros que trabalham no subsolo, dos médicos. Em 1618, os farmacêuticos orga-
por exemplo, perfurando rochas, podem reque- nizaram um livro de receitas chamado Farma-
rer aposentadoria depois de 15 anos de trabalho; copéia, onde se estabeleciam as formas de com-
um mergulhador, depois de 20 anos; e um en- por cada remédio, e para as dosagens era utili-
genheiro químico, depois de 25. De acordo com zada uma combinação das medidas do sistema
a Constituição de 1988, nenhuma aposentadoria troy e das antigas medidas para vinho. A partir
poderá ser inferior a um salário mínimo. Além de 1825, esta atividade passou a ter um sistema
disso, tanto homens como mulheres poderão se padronizado de pesos, e, atualmente, o sistema
aposentar proporcionalmente; os primeiros aos apothecary utiliza, além dos elementos do seu
30 anos de serviço e as últimas aos 25. Os rea- próprio sistema, aqueles do sistema métrico e
justes das aposentadorias serão feitos na mesma ainda, eventualmente, dos sistemas troy e avoir-
época e com os mesmos índices obtidos pelos dupois. A unidade básica deste sistema, como
trabalhadores da ativa, e a Previdência Social no caso dos sistemas troy e avoirdupois, é o grão,
tem 6 meses, a partir de outubro de 1988, para que equivale em todos os sistemas a 64,8 mg.
corrigir os proventos das aposentadorias que Vinte grãos são equivalentes a um escrópolo ou
APOTHECARY SYSTEM 30

1,295 978 g. O escrópolo era o nome que se dava mentos (redução das taxas de juro, facilidades
antigamente a uma pequena pedra utilizada creditícias) e à expansão da demanda interme-
como medida de peso para quantidades muito diária e final. Essa expansão da demanda pro-
pequenas. Três escrópolos equivalem a uma voca uma pressão sobre os preços; assim, uma
dracma (ou dram), o que, por sua vez, é igual fase de aquecimento é geralmente acompanhada
a 3,889 g. Oito dracmas equivalem a uma onça de pressões inflacionárias. Veja também Mone-
apothecary, que tem o mesmo peso da onça no tarismo; Política Monetária.
sistema troy, isto é, 31,103 g. No sistema apo-
thecary, 12 onças são equivalentes a uma libra ARANHA, OSVALDO Euclides de Sousa
ou 373 g, o mesmo que no sistema troy. Os far- (1894-1960). Político e estadista brasileiro por
macêuticos usam também medidas líquidas de duas vezes ministro da Fazenda de Getúlio Var-
capacidade com unidades muito pequenas. A gas (1930-31 e 1953-54). Nesse cargo, após a Re-
menor de todas é o “mínimo”, que equivale mais volução de 1930, criou um novo sistema alfan-
ou menos a uma gota e corresponde a 0,06161 degário e organizou um esquema de consolida-
ml. Sessenta mínimos correspondem a uma ção da dívida externa, transferindo para o go-
dracma líquida ou o equivalente a 3,696 ml, e verno federal todas as dívidas contraídas no ex-
oito dracmas correspondem a uma onça líquida terior pelos Estados e municípios. Ministro das
ou o equivalente a 25,573 ml. Assim como a Relações Exteriores em 1938-44, negociou em
maioria das medidas de peso teve origem no 1939, nos Estados Unidos, os empréstimos para
grão, as medidas líquidas tiveram origem no vi- a construção da usina de Volta Redonda. No
nho e nas formas de consumo deste. Assim é último governo de Vargas, colocou em prática
que uma antiga medida já fora de uso, o gill, o Plano Aranha, restringindo o crédito e estru-
correspondia a quatro onças líquidas ou a 0,118 turando um sistema de câmbio múltiplo por
litro ou o que se considerava um gole de vinho. meio da Instrução 70 da Superintendência da
Moeda e do Crédito (Sumoc).
APOTHECARY SYSTEM. Veja APOTHECA-
RY (Sistema). ARAPENE. Antiga medida agrária francesa de
superfície que variava, conforme a região, entre
APPRAISAL. Termo em inglês que significa o 3 400 e 5 100 m2. Ela aparece como unidade de
ato de avaliar uma propriedade imobiliária, mo- medida nos textos dos fisiocratas, especialmente
biliária ou pessoal. Essas avaliações são feitas de François Quesnay. Seu correspondente na
por motivos tributários, de pagamento de segu- Alemanha era o morgen (manhã) ou o equiva-
ros, para a venda de imóveis, para a garantia lente a que um agricultor poderia lavrar durante
colateral de dívidas etc. Quando se trata de ava- esse período do dia.
liar objetos raros como antiguidades ou obras
de arte, ou ainda títulos, ações etc. de difícil ne- ARBITRAGEM. Atividade do mercado finan-
gociação para os quais não existe a rigor um ceiro e de commodities que consiste em comprar
preço de mercado, o especialista que efetua tais mercadorias — mas especialmente moeda es-
estimativas recebe o nome de evaluator (avalia- trangeira — numa praça e vendê-la em outra
dor). por preço maior. Tal atividade tende a igualar
o preço nas duas praças em questão, exercendo
APR — Ações Preferenciais Resgatáveis. Cor- assim uma função reguladora e estabilizadora
respondentes, no Brasil, às Redeemable Preference nos mercados. Isso ocorre porque o aumento da
Shares, utilizadas na Inglaterra e em outros paí- demanda de uma mercadoria ou de uma moeda
ses para acelerar as privatizações. numa praça onde o preço é mais baixo faz com
que este aumente, ocorrendo o inverso na praça
APRECIAÇÃO. Veja Valorização. onde o preço é mais elevado. No Brasil, a arbi-
APRÉS MOI, LE DELUGE. Expressão em fran- tragem é predominantemente cambial: os ban-
cês que significa literalmente “Depois de mim, cos que operam com moeda estrangeira pos-
o dilúvio”, utilizada em vários contextos, mas suem arbitradores que se encarregam de trocar,
basicamente naquele em que uma pessoa, go- nas praças internacionais, de uma para outra
vernante, empresário, utiliza meios para conse- moeda estrangeira as disponibilidades de divi-
guir seus objetivos sem se importar com o futuro sas que possuem, assim se precavendo contra
imediato, consumindo de forma predatória ou possíveis quedas e/ou auferindo lucros com a
vandálica os elementos de que dispõe num de- operação. A prática de arbitragem é comum no
terminado momento. mercado de títulos, ações, metais preciosos e
commodities como trigo, café, soja e outras. Na
AQUECIMENTO. O termo tem sido utilizado verdade, a prática é também muito antiga, tendo
para designar uma fase de expansão na econo- se iniciado no século XVI no chamado “câmbio
mia, provocada por uma política econômica (es- por arbítrio”, isto é, as transações com as dife-
pecialmente a monetária) favorável aos investi- rentes moedas. O lucro era obtido por meio das
31 ARIDA, Pérsio

diferentes cotações das moedas nas diferentes mais conversível, sendo substituída pelo dólar
praças ou mercados. Aquele que praticava o nas relações comerciais internacionais, a área do
câmbio por arbítrio atuava como fornecedor dólar perdeu seu significado inicial. Veja tam-
(vendedor) nos mercados onde o dinheiro estava bém Dólar, Escassez de.
caro e tomador (comprador) nos mercados onde
o dinheiro estava barato. Durante a segunda me- ÁREAS E VOLUMES (Cálculo de). 1) Áreas —
tade do século XVI, a Espanha foi palco de um Círculo: π x r2, onde π = 3,1415927... e r (o raio
processo muito amplo de câmbio por arbitra- do círculo cuja área se deseja medir); Retângulo:
gem, pois com a chegada do ouro e da prata Base (B) x Altura (A); Triângulo: Base (B) x Al-
da América o dinheiro tornou-se “barato” na tura (A) / 2; Paralelogramo: Base (B) x Altura
Península Ibérica e “caro” no resto da Europa. (A); Segmento de círculo: a / 360 x π x r2; Tra-
Arbitragem é também o julgamento de um con- pézio: Base Maior (B1) + Base Menor (B2) / 2
flito cuja solução das diferenças entre as partes x Altura (A). 2) Volumes — Cubo: Lado (L)3;
litigantes é dada por uma pessoa (árbitro ou Paralelepípedo: Base (B) x Comprimento (C) x
juiz), sendo seu fundamento a confiança que as Altura (A); Cilindro: π x r2 x Altura (A); Cone:
partes litigantes depositam nessa pessoa, uma π x r2 x Altura (A) / 3; Esfera: 4 / 3 x π r3;
vez que o resultado final não é passível de re- Pirâmide: Área da Base (B) x Altura (A) / 3.
curso. ARGUMENTO DE INDÚSTRIA NASCENTE.
ÁREA DA LIBRA. Abrange um grupo de paí- Veja Infant Industry Argument.
ses e territórios da Commonwealth (Comunidade
ARGUMENTUM AD HOMINEM. Expressão
Britânica de Nações), que vinculam suas moedas
em latim que significa “argumento para todos
à libra esterlina e mantêm, escrituralmente, a
os usos”, ou que pode ser utilizado em qualquer
maior parte de suas reservas cambiais no Banco
circunstância.
da Inglaterra. Foi criada em 1931, quando a Grã-
Bretanha abandonou o padrão-ouro, e adquiriu ARIDA, Pérsio (1952- ). Nasceu em São Paulo;
contornos mais precisos durante e após a Se- depois de cursar História e Filosofia na Univer-
gunda Guerra Mundial. Pela Lei de Controle sidade de São Paulo, formou-se em economia,
Cambial de 1947, a área da libra foi reconhecida em 1975, na mesma universidade. Estudou no
oficialmente, estabelecendo-se que: 1) os paga- Massachussets Institute of Technology (MIT).
mentos em libras esterlinas entre os países mem- Retornou ao Brasil e tornou-se professor do Ins-
bros seriam livres de controle; 2) os países in- tituto de Pesquisas Econômicas (IPE) da USP
tegrantes deveriam manter, em Londres, sua entre 1980 e 1982, quando passou a incorporar
contabilidade em libras esterlinas; 3) as reservas o quadro de professores da PUC do Rio de Ja-
em ouro e dólar da área seriam custodiadas pela neiro. Em 1984, tornou-se pesquisador visitante
Inglaterra, em benefício dos países membros. do Smithsonian Institution, em Washington,
Formada, inicialmente, pelos países da Common- onde apresentou um trabalho em parceria com
wealth em 1976, a área restringia-se ao Reino Uni- André Lara Resende, Inertial Inflation and Mone-
do, ilhas do Canal, ilha de Man, República da tary Reform in Brazil, que posteriormente passou
Irlanda e Gibraltar. a ser conhecido como Proposta Larida. Em 1985,
trabalhou no Ministério do Planejamento (ges-
ÁREA DE LIVRE-COMÉRCIO. Associação co-
mercial de vários países, entre os quais são ex- tão João Sayad) como secretário de coordenação
tintas todas as tarifas e cotas de importação, sub- e, em 1986, trabalhou no Banco Central — di-
sídios de exportação e outras medidas governa- retor da área bancária —, sendo um dos formu-
mentais semelhantes. Cada país, entretanto, con- ladores do Plano Cruzado. Ao sair do governo,
tinua livre para determinar as formas de comér- incorporou-se à iniciativa privada como mem-
cio com as demais nações. bro do conselho de administração do Unibanco.
Obteve seu doutoramento em 1992 com a tese
ÁREA DO DÓLAR. Formada por um grupo de Essays on Brazilian Estabilization Programs (En-
países cujas contas em libras esterlinas podiam saios Sobre os Programas de Estabilização Brasilei-
ser livremente convertidas em dólares, durante ros). Assumiu a presidência do Banco Central
o período de escassez dessa moeda, nos anos durante a permanência de Fernando Henrique
imediatamente posteriores à Segunda Guerra Cardoso como ministro da Fazenda (final do go-
Mundial. Conhecidos também como “países da verno Itamar Franco), ali permanecendo até
conta americana”, incluíam Estados Unidos e 1995, durante o governo Fernando Henrique
suas dependências, Canadá, Bolívia, Colômbia, Cardoso, tendo sido um dos formuladores do
Costa Rica, Cuba, República Dominicana, Equa- Plano Real. Suas obras mais importantes são as
dor, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, seguintes: Inflação, Recessão e Desajuste Estrutural
México, Nicarágua, Panamá, Venezuela, Libéria (1983); Inflação Zero — Brasil, Argentina, Israel
e Filipinas. À medida que a libra foi se tornando (1986) e História do Pensamento Econômico como
ARISTOCRACIA 32

Teoria e Retórica (1983). É sócio do Opportunity da administração doméstica” (que inclui o lar,
Asset Management. Veja também Plano Cruza- a aldeia e a cidade) e a “ciência do abastecimen-
do; Plano Real. to”. Na primeira área, encontram-se suas idéias
a respeito da propriedade privada, da escravi-
ARISTOCRACIA. Governo de um Estado por dão e outras. No estudo do abastecimento, Aris-
seus “melhores” cidadãos, no conceito original tóteles elaborou um recurso fundamental da teo-
usado por Platão quando formulou, como tipo ria econômica moderna: a distinção entre valor
ideal de governo, uma república dirigida por de uso e valor de troca: “Há dois usos para todas
filósofos. Segundo Aristóteles, “a virtude define as coisas que possuímos; ambos pertencem à coi-
a aristocracia como a riqueza define a oligar- sa em si, mas não da mesma maneira, pois um
quia”. Com o tempo, aristocracia passou a de- é próprio delas e outro impróprio ou secundário.
signar não uma forma de governo, mas a própria Por exemplo, um sapato se usa para calçar e
camada que monopoliza o poder na sociedade. para trocá-lo. São dois, portanto, os usos do sa-
Nela se incluem proprietários de terras, senhores pato”. Analisando as trocas, Aristóteles admite
feudais e indivíduos possuidores de bens de o uso do dinheiro, mas combate a hipertrofia
raiz. O termo atualmente designa também ca- das trocas quando estas passam a ter como único
madas privilegiadas no interior de um mesmo fim a acumulação de dinheiro. Nesse caso, diz,
grupo social. Veja também Elite; Oligarquia. o dinheiro perde sua função essencial e torna-se
um fim em si mesmo. Aqui se encontra sua con-
ARISTOCRACIA OPERÁRIA. Expressão que
denação da usura; seus argumentos nesse sen-
designa a camada superior do operariado do
tido desempenharam importante papel na dou-
ponto de vista salarial ou de outros elementos
trina cristã e na economia medieval.
que diferenciem este setor de outros grupos de
trabalhadores. No prefácio de seu livro A Situa- ARITMÉTICA POLÍTICA. Tendência estatísti-
ção da Classe Operária na Inglaterra, de 1889, En- ca surgida na Inglaterra durante o século XVII,
gels reconhece que a camada superior da classe e que tinha como principal preocupação o es-
operária, pelas diferenças de remuneração que tudo estatístico dos fenômenos sociais e políti-
obtinha devido a um certo grau de controle so- cos. Os representantes dessa tendência elabora-
bre a oferta, passava a constituir uma “aristo- ram as (primeiras) tabelas de mortalidade. Seus
cracia operária”. Lênin faz referência ao mesmo principais representantes foram William Petty,
fenômeno, localizando sua causa na exploração John Graunt e o astrônomo Edmund Halley.
imperialista que países como a Inglaterra exer-
ciam em nível mundial. Essa exploração permi- ARMADILHA DA LIQUIDEZ. Veja Liquidity
tia à burguesia, ao mesmo tempo que se aristo- Trap.
cratizava, neutralizar (com o aburguesamento)
a força de certos setores do proletariado com ARO — Antecipação de Receita Orçamentária.
Ação de um governo de comprometer receitas
uma remuneração mais elevada. Veja também
orçamentárias futuras para o financiamento ou
Engels; Gorz; Lênin.
custeio de suas atividades presentes, ou apre-
ARISTÓTELES. Filósofo grego (383-322 a.C.), sentá-las como garantias de operações financei-
um dos pensadores mais influentes de todos os ras ou comerciais.
tempos. Em suas obras Política, Ética a Nicômaco
e Ética a Eudemo, foi o primeiro a abordar os ARPANET. Rede de informações criada no in-
problemas econômicos de um ponto de vista terior dos Estados Unidos para apoio do Exército
analítico. Criticou a utopia política de Platão, e das Forças Armadas daquele país, e que foi a
precursora da Internet. Veja também Internet.
opondo-se a que, entre os membros da classe
governante, os bens materiais, as esposas e os ARRAS. É o sinal ou princípio de pagamento
filhos fossem comunitários. Para ele, a proprie- devolvido em dobro quando do arrependimento
dade privada é melhor do que a comunitária do vendedor, ou soma perdida quando do ar-
por incentivar a atividade econômica, ressalvan- rependimento do comprador. É aplicável a todos
do, contudo, que ela deveria submeter-se ao in- os contratos de fazer e não fazer, e significa tam-
teresse coletivo. Considerava a produção supe- bém a quantia em dinheiro desembolsada por
rior ao comércio, admitindo este dentro de certos uma das partes para assegurar a realização de
limites. Defendeu a escravidão que existia em um contrato ou o seu cumprimento, recebendo
seu tempo por achar que alguns homens são geralmente o nome de sinal.
escravos “por natureza”, mas somente os não-
helênicos deveriam ser escravizados. Aristóteles ARRÁTEL. Medida de peso utilizada pela Casa
defendeu a criação de uma ciência dos fatos eco- da Moeda do Brasil antes da adoção do Sistema
nômicos, determinou o campo da economia, Métrico Decimal e equivalente a 16 onças ou
analisou a troca e esboçou uma teoria da moeda. aproximadamente 457,104 g (cada onça avoirdu-
Distinguiu duas áreas na economia: a “ciência pois equivalendo a 28,569 g). Veja também Onça.
33 ARUBAITO

ARREMATAÇÃO. Compra em leilão dos bens trabalhador é dono dos meios de produção e
de um devedor, para que, com a quantia obtida, do produto de seu trabalho. No artesanato,
seja saldada a dívida ou parte dela. Este tipo usam-se instrumentos de trabalho rudimentares,
de solução ocorre nos casos em que o credor a divisão do trabalho é elementar (o artesão exe-
obtém judicialmente a execução da dívida. cuta todas ou quase todas as etapas da produ-
ção) e a produção pode destinar-se ao consumo
ARRENDAMENTO. Contrato pelo qual o pro- próprio ou ao mercado. A atividade artesanal,
prietário de um imóvel passa para uma pessoa presente em toda a história do homem, adquiriu
ou empresa (o arrendatário) o direito de uso e feição própria no Neolítico. Na Antiguidade
exploração do mesmo durante certo tempo, em Clássica, era executada sobretudo pelos escravos
troca de determinada soma paga geralmente em domésticos no âmbito da propriedade patriarcal.
dinheiro, mas também em produto ou em tra- Sua importância na história econômica vem da
balho, ou combinando duas ou três dessas mo- Idade Média, quando se tornou uma das prin-
dalidades. Na agricultura menos desenvolvida, cipais atividades dos homens livres que viviam
as duas últimas formas podem aparecer com cer- nas cidades nascentes. Antes, no início do feu-
ta freqüência. dalismo, o trabalho artesanal era realizado na
ARRENDAMENTO MERCANTIL. Veja Leasing. casa do próprio camponês ou pelos servos ar-
tesãos no castelo feudal: o camponês medieval,
ARRESTO DE PRÍNCIPE. Veja Fato do Príncipe. para vestir-se, tinha de tosquiar a ovelha, fiar,
tecer e costurar. Somente a partir do século XII,
ARRESTO. Veja Embargo. com o desenvolvimento do comércio e das ci-
dades, foi que se processaram modificações na
ARROBA. Medida de peso utilizada pela Casa organização do trabalho artesanal: o artesão dei-
da Moeda do Brasil antes da adoção do Sistema xou a agricultura e passou a dedicar-se exclu-
Métrico Decimal e equivalente a 32 libras ou sivamente ao seu ofício. Surgiu então o sistema
14,3073 kg. A arroba também é considerada um de corporações (onde trabalhavam mestres e
peso equivalente a 15 kg e, nesse caso, denomi- aprendizes), que produziam para um mercado
nada arroba métrica. O símbolo da arroba é @. pequeno, mas em desenvolvimento. Isso perdu-
ARROBA MÉTRICA. Veja Arroba. rou até o século XVI. Mas, daí ao século XVIII,
à medida que aumentava a demanda de pro-
ARROTEAMENTO. Técnica de cultivo do solo dutos nas cidades e se aperfeiçoavam os instru-
que até o advento da rotação de cultivos (sec. mentos de trabalho, o artesão foi perdendo sua
XVIII) consistia em dividir os campos de cultivo independência, passando a ser tarefeiro de um
em duas partes, sendo uma semeada, enquanto comerciante ou de um manufatureiro rico, ou
a outra permanecia em repouso, recuperando simplesmente assalariado. Com o advento da
sua fertilidade. Esse tipo de arroteamento era Revolução Industrial (séculos XVIII-XIX), o ar-
denominado de bienal, o mais comum utilizado tesanato tornou-se, na Europa, uma atividade
durante toda a Idade Média, apesar de existir produtiva marginal. O artesão foi substituído
também o roteamento trienal, cujo uso era es- pelo operário, que realiza apenas uma operação
porádico. Veja também Rotação de Cultivos; no processo de produção. Atualmente, o arte-
Rotação de Terras. sanato constitui atividade importante entre os
povos tribais e ainda expressiva em economias
ARROW, Kenneth (1921- ). Economista norte- subdesenvolvidas. Embora muito desenvolvido
americano professor da Universidade de Har- nos países orientais, é valorizado nas sociedades
vard e ex-consultor para assuntos econômicos industriais do Ocidente, sobretudo em termos
do governo dos Estados Unidos. Em 1972, di- estéticos. Veja também Corporação.
vidiu o Prêmio Nobel de Economia com J.R.
Hicks. Ligado aos neoclássicos, dedicou-se ao ARTIFICIAL CURRENCY. Veja Moeda Artifi-
estudo da chamada economia do bem-estar. cial.
Usando técnicas da econometria, procurou es-
tabelecer uma teoria da escolha social a partir ARUBAITO. Termo em japonês derivado da
das preferências individuais. Entre suas obras, palavra em alemão arbeit, que significa traba-
destacam-se Social Choice and Individual Values lho. Arubaito quer dizer trabalho em tempo
(Escolha Social e Valores Individuais), 1951, e parcial, trabalho temporário, ou trabalho no-
Public Investment, The Rate of Return and Optional turno (serão), moonlighting. As empresas, no Ja-
Fiscal Policy (Investimento Público, a Taxa de pão, geralmente têm uma categoria de traba-
Lucro e Política Fiscal Opcional), 1970, escrito lhadores denominados arubaito, que trabalham
em colaboração com Mordecai Kurz. regularmente em tempo integral, mas são pa-
gos por hora ou por dia e que não gozam de
ARTESANATO. Atividade produtiva individual benefícios e vantagens que têm os empregados
ou de pequenos grupos de pessoas em que o regulares. O termo também se aplica àqueles
ASCII 34

que fazem “bicos”, como os estudantes nos pe- ASSINATURAS DIGITAIS. Veja Digital Sig-
ríodos de férias. natures.
ASCII. Iniciais de Standard Code for Informa- ASSÍNTOTA. Valor para o qual tende a variá-
tion Interchange, que significa o código-padrão vel dependente de uma função na medida em
norte-americano para intercâmbio de informa- que a variável dependente se torna muito gran-
ções. É um código número 8 (7 dígitos e pari- de ou muito pequena, embora sem alcançá-la.
dade). Este código foi criado e desenvolvido com Na expressão Y = a + 1/X, Y se aproxima de a
a finalidade de padronizar e facilitar as comu- na medida em que X se torna muito grande.
nicações entre diferentes equipamentos de pro-
cessamento de dados. AT. Veja Kip Novo.

ASIENTO. Contratos estabelecidos entre a Co- ATACADO. Comércio em grande escala, reali-
roa Espanhola com empresas ou pessoas, me- zado entre produtores, grandes empresas de co-
diante os quais estas últimas obtinham da pri- mércio e varejistas, para que o produto possa
meira em arrendamento o monopólio sobre de- chegar ao consumidor final. No setor agrícola,
terminado tipo de exploração comercial. Esses os produtores geralmente se defrontam com
contratos tinham duração de três anos, podendo poucos compradores e não têm condições de de-
ser prorrogados, e foram amplamente difundi- fender seus preços de venda. Os atacadistas, por
dos nas colônias espanholas a partir do século sua vez, ao concentrarem a produção, podem
XVI até o século XVIII. Veja também Encomienda. comprar barato do produtor e vender mais caro
ao varejista. Essa estrutura oligopólica-oligop-
ASSAY. Veja Ensaio; Teste de Teor. sônica faz com que o consumidor final seja o
maior prejudicado no mercado de gêneros de
ASSET SWAP. Expressão em inglês que signi- primeira necessidade. O economista Ignácio
fica substituição de ativos, geralmente feita no Rangel atribui a essa estrutura uma das fontes
mercado financeiro para melhorar a situação da do processo inflacionário brasileiro. Veja tam-
carteira de empréstimos de um banco mediante, bém Oligopólio; Oligopsônio.
por exemplo, a conversão de títulos com taxas
de juros fixas por outros com taxas de juros flu- ATAQUE ESPECULATIVO. Situação do mer-
tuantes quando as análises financeiras indicam cado financeiro internacional, especialmente o
que as taxas de juros tenderão a subir no curto cambial, quando uma moeda de determinado
ou no médio prazo. Veja também Swap. país encontra-se debilitada e seu governo não
tem reservas suficientes para evitar uma desva-
ASSIGNATS. Papel-moeda emitido pelo gover- lorização. O ataque especulativo ocorre exata-
no revolucionário na França entre 1790 e 1795. mente quando existe a probabilidade de uma
Era lastreado nas terras expropriadas do clero
desvalorização, especialmente no caso de um
e da nobreza emigrada. Houve grande inflação
país apresentar déficits sucessivos em sua ba-
de assignats entre aqueles anos e, em 1796, eles
lança comercial ou déficits em transações cor-
foram substituídos por outras emissões, sendo
rentes. Os investidores naquela moeda abando-
ambas posteriormente repudiadas. Os assignats
nam suas posições vendendo intensivamente
eram na verdade bônus hipotecários garantidos
aquelas divisas, e, se o governo emissor da re-
por 400 milhões de francos de capital territorial
ferida moeda não dispuser de reservas suficien-
real em terras pertencentes à ex-Coroa e ao clero
tes, pode ser obrigado a desvalorizá-la. Casos
(decreto de dezembro de 1789 ordenando a ven-
da desses bens para constituir o lastro dos as- mais recentes ocorreram com o peso mexicano
signats). no final de 1994 e com o baht da Tailândia em
julho de 1997. O real brasileiro sofreu também
ASSIMETRIA. Conceito de estatística que sig- um ataque sem um desenlace desfavorável no
nifica a medida descritiva do desequilíbrio de primeiro semestre de 1995, quando foi anuncia-
uma distribuição. Por exemplo, a distribuição do o sistema de bandas cambiais. Veja também
da propriedade fundiária no Brasil é altamente Banda Cambial.
assimétrica. Um grande número de proprietá-
rios possuem pequenas propriedades, um nú- ATIVO. Conjunto de bens, valores, créditos e
mero menor agrupa-se em torno da propriedade semelhantes, que formam o patrimônio de uma
média, e um número ínfimo concentra em suas empresa, opondo-se ao passivo (dívidas, obri-
mãos as maiores áreas. A representação gráfica gações etc.). Nos balanços das empresas, o ativo
dessa assimetria mostraria uma elevação da cur- é subdividido em vários itens, de modo a dis-
va à esquerda e um alongamento da cauda à tinguir-se o dinheiro em caixa (saldos bancários,
direita. Nesse caso, a assimetria seria positiva títulos que podem ser vendidos imediatamente),
ou assimétrica à direita. Veja também Cauda; o depósito a curto prazo (recebimentos em trân-
Medidas de Achatamento. sito, empréstimos a curto prazo), o estoque de
35 AUDITORIA

mercadorias (inclusive as mercadorias em con- Inglaterra e levou o país à guerra com os ho-
signação), os terrenos e edificações, as instala- landeses das Províncias Unidas (1652-54).
ções e máquinas, as luvas e os direitos e privi-
légios. Conceitos particularmente importantes ATTENTION ECONOMY. Expressão em in-
no balanço de uma empresa são o de ativo cir- glês cuja tradução literal é “economia da aten-
ção”. Abordagem para estudar o novo contexto
culante ou disponível e o de ativo fixo ou imo-
dos mercados cada vez mais dependentes e, por-
bilizado. O ativo circulante compreende o dinhei-
tanto, saturados de publicidade e propaganda,
ro em caixa, os saldos bancários e todos os va-
contando com apenas 24 horas por dia para cha-
lores que podem ser convertidos em dinheiro mar a atenção dos clientes potenciais para seus
imediatamente. O ativo fixo são os imóveis, os produtos e serviços. Esses estudos se intensifi-
equipamentos, os utensílios, as ferramentas, as caram com a globalização dos sistemas de in-
patentes, tudo aquilo que é essencial para a em- formação mediante redes de computadores
presa continuar operando e que não pode ser quando os sites passaram a ser também arenas
convertido em dinheiro imediatamente. de propaganda e marketing de produtos e ser-
viços globalizados. Esta nova abordagem ajuda
ATIVO FINANCEIRO. Ativo caracterizado por a explicar também por que a remuneração de
direitos decorrentes de obrigações assumidas artistas, esportistas e personalidades globais
por agentes econômicos, normalmente negocia- vem alcançando cifras astronômicas e por que
dos no mercado financeiro. Compreendem prin- as despesas com promoção (marketing e propa-
cipalmente títulos públicos, certificados de de- ganda) de um produto ou serviço equivale ou
pósitos bancários (CDBs), debêntures e outros. mesmo supera muitas vezes os respectivos cus-
tos de produção.
ATIVO REALIZÁVEL A LONGO PRAZO. É
o ativo de uma empresa que só pode ser trans- ATUÁRIA. Área do conhecimento que, utilizan-
formado em dinheiro, isto é, realizado, a longo do-se da Matemática Financeira, do Cálculo das
prazo, o que significa um prazo superior a três Probabilidades e de dados estatísticos, tem por
anos. objeto de estudo o cálculo dos seguros em geral.
O termo vem do latim actuarius, designação da-
ATIVOS DIGITAIS. Denominação dada ao con- queles que, na Roma Antiga, elaboravam as acta
junto de informações de que uma empresa pode publica do Senado, assim como daqueles que se
dispor (que a capacita a usar suas competências). dedicavam à contabilidade e à intendência da
administração do exército. Mais tarde, na Ingla-
ATIVOS INTANGÍVEIS. Veja Intangíveis.
terra, era a denominação dada à atividade exer-
ATIVOS TANGÍVEIS. Em contraposição aos cida pelo contador ou técnico de uma compa-
ativos intangíveis, são aqueles representados nhia de seguros ou um lloyd.
pela propriedade de edifícios, máquinas, equi- AUDITAR. Realizar uma auditoria, nas contas
pamentos e estoques. Veja também Ativos In- de uma empresa pública ou privada, por pes-
tangíveis. soas especializadas ou auditores profissionais.
ATIVOS-OBJETO. Veja Derivativos. AUDITORIA. Exame analítico minucioso da
contabilidade de uma empresa ou instituição.
ATO BANCÁRIO DE 1933 (Banking Act of A auditoria é realizada por peritos que analisam
1933). Reforma da legislação bancária efetuada as operações contábeis desde seu início até o
pelo Congresso dos Estados Unidos, para redu- balanço final, concluindo pela correção ou in-
zir a instabilidade financeira do sistema bancário correção das mesmas. Para isso, o auditor se ba-
norte-americano durante a grande depressão seia: 1) nos procedimentos de controle interno
dos anos 30. O ato deu controle efetivo da po- da empresa; 2) nos registros contábeis, de ope-
lítica monetária à Junta de Governadores da Re- rações e outros; 3) em documentos de fontes ex-
serva Federal, criando o Comitê Federal de Open ternas, tais como bancos e fornecedores. Há dois
Market e o Federal Deposit Insurence Corpora- tipos de auditoria: auditoria interna, realizada por
tion. Os itens 16, 20, 21 e 32 do Ato, separando funcionários da própria empresa ou instituição;
os bancos comerciais dos bancos de investimen- auditoria externa, feita por uma firma de presta-
to, são mais conhecidos como Glass-Steagall Act. ção de serviços, contratada especialmente para
esse fim. Os relatórios emitidos por um auditor
ATO DE NAVEGAÇÃO. Decreto de Oliver seguem normas estabelecidas pelas associações
Cromwell, promulgado em 1651, pelo qual so- de classe. A expressão “auditoria” tem se esten-
mente os navios ingleses poderiam entrar ou sair dido a vários setores específicos: estão nesse
dos portos britânicos. O decreto estabelecia, as- caso a auditoria mercadológica, a de pessoal e
sim, o monopólio da navegação pelos navios da a fiscal.
AUFSICHTSRAT 36

AUFSICHTSRAT. Veja Lei da Co-Gestão. aos acionistas e em sua aplicação na empresa


para aumentar a capacidade produtiva. Além
AUSTRAL. Unidade monetária da Argentina de de isentar a empresa do pagamento de juros, o
1984 até 1991, quando foi substituída pelo peso. autofinanciamento viabiliza sua autonomia em
Submúltiplo: centavo. Veja também Plano relação às agências financeiras e ao mercado de
Austral. capitais. A prática do autofinanciamento é cri-
AUTARQUIA. Serviço estatal descentralizado ticada por retirar dos acionistas a possibilidade
e com autonomia econômica, embora tutelado de investir os lucros em outros setores da eco-
pelo poder público. No Brasil, surgiu depois de nomia, ou mesmo utilizar parte deles para o con-
sumo pessoal.
1930 para atender ao grande número de serviços
que deveriam ser prestados pelo Estado e des- AUTOGESTÃO. Modalidade de administração
centralizar os encargos em órgãos especializados que consiste em entregar as decisões ao conjunto
dotados de orçamento próprio e maior flexibi- dos trabalhadores a partir de seus locais de tra-
lidade. As autarquias brasileiras classificam-se balho e de moradia. Num sistema de autogestão,
em econômicas (caso do extinto Instituto Brasi- os operários de cada empresa decidem sobre as
leiro do Café), industriais (Instituto de Pesquisas metas de produção, salários e como sua unidade
Tecnológicas, IPT, de São Paulo), creditícias (Cai- produtiva deve se relacionar com a totalidade
xa Econômica Federal), assistenciais (Instituto da economia nacional. Em sua origem, a auto-
Nacional de Previdência Social), corporativas (Or- gestão econômica vincula-se ao ideário anar-
dem dos Advogados do Brasil) e culturais (Con- quista, embora de forma diversa esteja presente
selho Nacional de Pesquisas). Alguns anos de- também no pensamento de Karl Marx. Foi na
pois de sua criação, as autarquias brasileiras pas- Iugoslávia que a autogestão se tornou uma prá-
saram a perder suas características de autono- tica, em contraposição ao modelo econômico
mia e flexibilidade, ficando cada vez mais sub- centralizado dos demais países socialistas da Eu-
metidas à administração direta do Estado. Logo ropa Oriental, sobretudo o da ex-União Sovié-
após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), rí- tica. Veja também Co-gestão.
gidas medidas de padronização, controle e uni-
formização alcançaram as autarquias, tornando AUTOMAÇÃO. Iniciada e difundida no século
sua administração quase tão rígida quanto a dos XX, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial,
órgãos diretamente subordinados ao poder pú- a automação confiou as operações de controle,
blico. As autarquias são entidades de direito pú- regulagem e correção do processo de produção
blico, o que as distingue das empresas estatais, a aparelhos que substituem o trabalho intelec-
que são entidades de direito privado. O termo tual do homem. Tornou-se possível com a in-
autarquia pode se referir também à situação na venção dos computadores, servomecanismos e
qual um país se isola do comércio internacional, reguladores e com o desenvolvimento da ciber-
colocando uma série de restrições, como tarifas nética. Permite a realização rapidíssima de enor-
ou limitações quantitativas, numa tentativa de me quantidade de operações de cálculo e pro-
ser auto-suficiente, normalmente por razões de gramação, deixando à intervenção humana a in-
emprego ou defesa de uma indústria nascente, venção das próprias máquinas, sua programa-
mas também políticas e/ou religiosas. Na atua- ção inicial e o conserto de desvios graves. A
lidade, com a globalização e a intensa integração automação barateou os custos de produção e ele-
do comércio e das finanças, é muito difícil a um vou, em proporções gigantescas, a produtivida-
país manter-se economicamente isolado como de do trabalho. Trouxe, ao mesmo tempo, con-
aconteceu durante algum tempo, por exemplo, seqüências econômicas que provocaram modi-
com a ex-União Soviética. ficações na estrutura da sociedade e suscitaram
novos conflitos sociais. Veja também Ciberné-
AUTO-SUFICIÊNCIA ECONÔMICA. Veja Na- tica; Mecanização.
cionalismo.
AUTORIDADES MONETÁRIAS. Conjunto de
AUTOCATALÍTICA (Curva). Veja Curva de instituições e organizações que estabelecem nor-
Crescimento. mas e as executam no sentido de controlar o
volume de moeda em circulação, de meios de
AUTOCONSUMO. Veja Economia de Subsis- pagamento e as condições de crédito e de finan-
tência. ciamento na economia. As autoridades monetá-
AUTOCORRELAÇÃO. É a relação de uma va- rias são as seguintes no Brasil: Conselho Mone-
riável com ela própria no passado. Isto é, os tário Nacional (CMN), Banco Central do Brasil
valores presentes de uma variável são influen- (Bacen), Banco do Brasil (BB) e a Comissão de
ciados por seus valores passados. Valores Mobiliários (CVM). Veja também Banco
Central do Brasil; Banco do Brasil; Comissão
AUTOFINANCIAMENTO. Procedimento finan- de Valores Mobiliários; Conselho Monetário
ceiro que consiste na não-distribuição dos lucros Nacional.
37 AXIOMAS DA PREFERÊNCIA

AUXÍLIO-DESEMPREGO. Veja Seguro-Desem- anônima — da transferência de ações nomina-


prego. tivas ou endossáveis, ou do vínculo (penhor,
caução) estabelecido sobre determinada ação.
AUXÍLIO-NATALIDADE. De acordo com a lei
nº 8 112, de 11 de dezembro de 1990, o auxílio AVOIRDUPOIS. Termo de origem francesa que
natalidade é devido à servidora que, por motivo literalmente significa “bens de peso” e que de-
de nascimento de filho, recebe uma quantia signa um sistema de pesos utilizado no comér-
equivalente ao menor vencimento do serviço pú- cio, especialmente entre os países de língua in-
blico, mesmo no caso de natimorto. No caso da glesa e pela maioria dos países que com eles
mãe não ser servidora, o benefício caberá ao ma- comerciam. Este sistema pertence ao Sistema Im-
rido ou companheiro, no caso em que este o perial Inglês e é utilizado em quase todas as
seja. Se se tratar de parto múltiplo, esse valor pesagens, com exceção de metais, pedras pre-
será acrescido de 50% por nascituro. ciosas e de remédios na atividade farmacêutica.
As unidades do sistema avoirdupois são as se-
AVAL. Palavra de origem árabe, hawala, que sig- guintes: o grão (gr), a dracma (dr), a onça (oz),
nifica mandato. Na prática comercial, consiste a libra (lb), o quintal (cwt) e a tonelada (t). Veja
numa garantia dada por uma pessoa sob a forma também Sistemas de Pesos e Medidas; Troy
de sua assinatura num documento ou título ou (Sistema).
contrato comercial ou financeiro, obrigando-se
a pagar uma dívida se o titular da mesma não AXIOMA DA AVIDEZ. Veja Axiomas da Pre-
puder fazê-lo. A pessoa que concede o aval é ferência.
denominada avalista. O procedimento concreti-
za-se pela assinatura do avalista no anverso ou AXIOMA DA GANÂNCIA. Veja Axiomas da
no verso do título de crédito em questão. Diz-se Preferência.
que o aval é “pleno” ou “preto” quando a as-
sinatura do avalista é precedida pela expressão AXIOMAS DA PREFERÊNCIA. Na Teoria da
“por aval”; se isso não ocorre, diz-se que o aval Demanda (do consumidor), parte-se do pressu-
é “branco”. É uma obrigação que decorre da sim- posto que os consumidores agem racionalmente
ples assinatura do avalista, pouco importando e de acordo com axiomas os quais, combinados,
sua causa ou origem. É também uma obrigação constituem uma teoria (verificável) do compor-
autônoma e independente, produzindo efeito tamento do consumidor. Esses axiomas (da pre-
mesmo que as outras assinaturas sejam falsas. ferência), decorrentes da análise de curvas de
Se o avalista falir ou tornar-se insolvente, o cre- indiferença, são basicamente os seguintes: 1)
dor não poderá exigir que outro o substitua. axioma da completness, o qual tão-somente assi-
nala que o consumidor é capaz de indicar todas
AVAL BRANCO. Veja Aval. as combinações possíveis de bens de acordo com
suas preferências; 2) axioma da transitividade,
AVAL PLENO. Veja Aval.
o qual assinala que se uma combinação de bens
AVAL PRETO. Veja Aval. Y é preferível a outra combinação X, e X, por
sua vez, é preferível a Z, então, por transitivi-
AVALIADOR. Veja Appraisal. dade, Y é preferível a Z. A violação (negação)
deste axioma seria indicador de irracionalidade,
AVALISTA. Veja Aval. ou uma situação de paradoxo, como acontece
AVERAGE. Termo em inglês que significa “mé- no prova desenvolvida por Maurice Allais (veja
dia” em sentido genérico, o ponto médio de um Paradoxo de Allais); 3) axioma da seleção, o qual
conjunto de dados, independentemente da fór- simplesmente assinala que o consumidor busca
mula utilizada para calculá-lo. Ou seja, este ter- sempre seu estado de maior preferência (os axio-
mo genérico não especifica se a média é aritmé- mas 1 e 3 são considerados axiomas de racio-
tica, geométrica, harmônica etc. Veja também nalidade, enquanto os demais são denominados
Mean; Média; Média Aritmética; Média Geo- axiomas de comportamento); 4) axioma da do-
métrica; Média Harmônica. minância, o qual estabelece que os consumidores
preferirão mais e não menos bens disponíveis.
AVERBAÇÃO. Anotação feita por autoridade Este axioma é também conhecido como o axioma
competente em qualquer documento, referindo- da “ganância ou avidez”, da não-saciedade ou
se a fato que altere o conteúdo do documento da monotonicidade; 5) axioma da continuidade,
em questão. É o caso, por exemplo, da anotação o qual afirma que existe um conjunto de pontos
de uma sentença de divórcio feita em um regis- que forma um limite (ou uma curva de indife-
tro de casamento, ou da prorrogação de prazo rença), que constitui uma linha divisória sepa-
de uma hipoteca. Em direito fiscal, é a declaração rando as combinações preferidas daquelas rejei-
que confirma, num documento, o recolhimento tadas, ou melhor, que uma curva de indiferença
do imposto exigido por lei. Averbação é também apresenta um formato linear e não de uma nuvem
o registro — em livro especial de uma sociedade de pontos ou de um borrão; 6) axioma da con-
AYUNTAMIENTO 38

vexidade, o qual afirma que a curva de indife- cada um exigindo graus diferentes de habilidade
rença é convexa em relação à origem. Veja tam- e força, o empregador pode comprar exatamente
bém Curva de Indiferença; Paradoxo de Allais. a quantidade necessária de trabalho para cada
etapa”. Dessa forma, o empregador poderia eco-
AYUNTAMIENTO. Na administração das co- nomizar com o pagamento de força de trabalho,
lônias espanholas nas Américas, era a denomi- pois, se um mesmo trabalhador realiza tanto o
nação dada aos novos povoados em que se con- trabalho simples quanto o complexo, o empre-
centravam as moradias dos novos habitantes. gador teria de pagá-lo, durante o tempo em que
se dedicasse ao primeiro, pela cotação do se-
gundo, que é a mais elevada, pois, caso contrá-
rio, não conseguiria esse tipo de trabalhador. É

B
interessante assinalar que, mesmo afirmando
que o Princípio de Babbage foi deduzido por
ele ao analisar o sistema fabril existente na épo-
ca, não apenas na Inglaterra mas também no
continente, Babbage reconhece que um certo
Gioja, no livro Nuovo Prospetto delle Scienze Eco-
nomiche (tomo I, capítulo IV), editado em Milão
em 1815, já havia enunciado o mesmo princípio.
B. Inicial de uma série de termos cujos signifi-
cados, em economia e finanças, podem ser os BABEUF, François Noël (1760-1797). Revolucio-
seguintes: 1) baht (unidade monetária da Tailân- nário francês conhecido como Gracchus Babeuf.
dia); 2) balboa (unidade monetária do Panamá); Autor de Manifesto dos Iguais e Análise, pregava
3) belga (ex-unidade monetária da Bélgica); 4) a luta por uma sociedade igualitária, a proprie-
bani (ex-unidade monetária da Romênia); 5) bo- dade comum das terras e de todos os bens so-
lívar (unidade monetária da Venezuela); 6) bond ciais, o direito e a obrigatoriedade ao trabalho.
(título); 7) barrel (barril); 8) classificação de risco Foi guilhotinado por conspirar contra o Diretório.
de investimento da Moody’s Investors Service
e da Standard & Poors, que significa, no pri- BABY BONDS. Títulos com baixa denominação
meiro caso, falta de características de um inves- não superiores a 100 dólares emitidos para cap-
timento desejável, e no segundo, um investi- tar aplicações de pequenos investidores e am-
mento especulativo, isto é, de risco elevado. pliar os mercados para este tipo de papel. Os
Baby Bonds não se classificam como good deli-
B/L. Iniciais de Bill of Lading. Veja também Bill very, isto é, não podem ser utilizados para co-
of Lading. lateralizar dívidas.
BABBAGE, Charles (1791-1871). Nasceu na In- BABY BUSTERS. Expressão em inglês que de-
glaterra e é pouco reconhecido por suas contri- signa uma nova geração de administradores
buições para o pensamento econômico. Seu que, em contraposição aos yuppies, atribuem me-
nome é mais associado à origem do computador nor importância a dinheiro e status, valorizando
(a elaboração da máquina analítica de Babbage) mais o bem-estar na empresa, mesmo que isso
do que ao fato de ter tecido interessantes críticas signifique uma remuneração monetária relativa-
a Adam Smith. Educou-se no Trinity College, mente menor. Veja também Yuppie.
em Cambridge, e, ainda estudante, iniciou a So-
ciedade Analítica com Herschel e Peacock, para BACHA, Edmar Lisboa (1942- ). Nasceu em Mi-
a reforma da matemática na Inglaterra. Seu in- nas Gerais e formou-se em economia pela Fa-
teresse pela matemática foi a base de suas con- culdade de Ciências Econômicas da Universida-
tribuições para a economia e a estatística. Depois de Federal de Minas Gerais, em 1963. Obteve o
de Cambridge, Babbage transferiu-se para Lon- mestrado em 1965 e o doutorado em Yale em
dres, onde desenvolveu o trabalho durante o res- 1968 com a tese An Econometric Model for the
to de sua vida em torno da máquina analítica, World Coffee Market: The Impact of Brazilian Price
talvez a primeira tentativa de fabricar uma má- Policy (Um Modelo Econométrico para o Mercado
quina de calcular. Seu livro mais importante é Mundial de Café: O Impacto da Política de Preços
On the Economy of Machinery and Manufactures do Brasil). Foi pesquisador associado do Massa-
(Sobre a Economia de Maquinaria e Manufatu- chussets Institute of Technology (MIT) junto à
ras), de 1832. Uma de suas contribuições mais Oficina de Planificación Nacional, em Santiago
importantes para a economia é o chamado Prin- do Chile, onde permaneceu até 1969. Entre 1970
cípio de Babbage, que traz uma visão diferente e 1972, trabalhou na Escola de pós-graduação
das vantagens da divisão do trabalho enuncia- em economia da Fundação Getúlio Vargas, no
das antes por Adam Smith: “Pela divisão do tra- Rio, e no Ipea. Em 1971, publicou, em conjunto
balho a ser realizado nos diferentes processos, com Lance Taylor, Foreign Exchange Shadow Pri-
39 BAER, Werner

ces: A Critical Review of Currency Theories (Pre- muda suas posições de títulos de longo prazo
ços-Sombras do Comércio Externo: Uma Revisão crí- para aqueles de curto prazo, diz-se que ele en-
tica das Teorias da Moeda). A partir de 1972, tor- curtou seu porta-fólio ou se caracterizou como
nou-se professor da Universidade de Brasília, backup.
onde fundou a pós-graduação em economia. En-
tre 1983 e 1984, ocupou a Tinker Chair, no De- BACKWARDATION. Termo utilizado nas Bol-
partamento de Economia da Columbia Univer- sas de Valores quando um operador deseja pos-
sity. No ano seguinte, tornou-se presidente do tergar a entrega de ações vendidas num deter-
IBGE (governo Sarney), tendo participado da minado pregão. Isto pode ser conveniente para
implantação do Plano Cruzado; em 1994, como o operador (corretor), na medida em que ele
assessor especial do então ministro da Fazenda acredita que o preço das ações ou dos títulos
Fernando Henrique Cardoso, participou da ela- vendidos vai sofrer variações que o beneficiem,
boração do Plano Real. Assumiu a presidência ou por outra razão qualquer. O operador nego-
do BNDES em 1994, permanecendo ali até 1995, cia com o corretor para postergar a entrega das
quando se desligou da entidade. Suas obras mais ações, tendo de obter o consentimento do com-
importantes, além das já mencionados, são as prador. A concessão feita pelo comprador ao
seguintes: Os Mitos de uma Década: Ensaios de
vendedor se traduz em certa quantia paga pelo
Economia Brasileira (1976); Política Econômica e
segundo ao primeiro e recebe o nome de back-
Distribuição de Renda (1978); Introdução à Macroe-
conomia: uma Abordagem Estruturalista (1985). wardation. A operação inversa denomina-se con-
Veja também Belíndia; Plano Cruzado; Plano tango. Veja também Contango; Mercado a Futuro.
Real. BACKWASH EFFECTS. Expressão em inglês
BACKBONE. Termo em inglês que significa que significa, literalmente, “efeitos de retarda-
“tronco” ou “espinha”, e que, no âmbito da In- mento”. O termo é utilizado quando o cresci-
ternet, designa os grandes troncos de informa- mento econômico numa região provoca efeitos
ções daquele sistema, operando a partir de pro- adversos em outras, na medida em que o capital
vedores. e o trabalho destas possam migrar para a pri-
meira. Veja também Efeito Backwash.
BACK-END LOAD. Expressão em inglês do
mercado financeiro que significa a quantia paga BAD. Em oposição à palavra em inglês good,
por investidor no momento do resgate de um que significa “bem” (ou algum produto que pro-
título. Este dispositivo é utilizado para desen- voca satisfação no consumidor), bad (mau, ruim)
corajar o aplicador a resgatar seu dinheiro, na designa uma mercadoria ou um produto que
medida em que esta retirada tem um custo. O
representa uma desutilidade ao seu consumidor,
mesmo que deferred sales charge, exit fee e redemp-
e que se torna cada vez mais comum em eco-
tion charge.
nomia, especialmente na área de estudos dos
BACK-OFFICE. Expressão em inglês do merca- custos externos.
do financeiro que designa os setores de conta-
bilidade e processamento existentes nas institui- BADLANDS. Termo em inglês que significa li-
ções financeiras. Tais setores têm sido lembrados teralmente “terras ruins”, isto é, terras pobres.
em função da necessidade de controle sobre as
várias operações financeiras inovadoras que sur- BAER, Werner (1931- ). Professor de economia
gem constantemente. Essas unidades devem ter da Universidade de Illinois, Estados Unidos, es-
capacidade para interpretar adequadamente as tudioso dos problemas econômicos brasileiros.
informações necessárias aos objetivos e à estru- Lecionou nas universidades de Harvard, Yale e
tura das operações realizadas pelos operadores, Vanderbilt; foi professor visitante na Universi-
de maneira a constituir um sistema confiável de dade de São Paulo e na Fundação Getúlio Vargas
controle gerencial e contábil. e assessor da Fundação Ford no Brasil. Colabo-
rador freqüente de revistas econômicas norte-
BACKUP. Expressão em inglês que significa sú-
americanas, publicou os livros A Industrialização
bita mudança numa tendência de mercado.
e o Desenvolvimento Econômico do Brasil (1965),
Quando as taxas de juros estão subindo, as co-
tações dos títulos de renda fixa, como, por exem- Siderurgia e Desenvolvimento (1969), Inflation and
plo, os títulos do Tesouro (dos Estados Unidos), Growth in Latin America (Inflação e Crescimento
tendem a cair e o rendimento dos títulos auto- na América Latina), em 1970, organizado junta-
maticamente se eleva. Como os portadores des- mente com o professor brasileiro Isaac Kerste-
ses títulos não podem liquidá-los tão facilmente netzky, e The Brazilian Economy: Its Growth and
como podiam antes da mudança de tendência, Development (A Economia Brasileira: Seu Cres-
o mercado sofre um backup. Quando um inves- cimento e Desenvolvimento), em 1979. Escreveu
tidor, antecipando-se a uma inflexão do mercado, ainda o ensaio O Crescimento Brasileiro e a Expe-
BAGAROTE 40

riência do Desenvolvimento (1964/75), publicado mo autogestionário, partindo do local de traba-


no livro O Brasil na Década de 70 (1978). lho, prescindiria do Estado, tido como a base
de todos os males sociais. Bakunin expôs sua
BAGAROTE. Denominação popular das moe- doutrina sobretudo em O Estado e a Anarquia
das ou notas de mil réis. (1873). Veja também Anarquismo.
BAGEHOT, Walter (1826-1877). Economista e BALANÇA COMERCIAL. Relação entre as ex-
jornalista inglês que se notabilizou como diretor portações e as importações de um país. Quando
(1860-77) do semanário The Economist, de pro- o valor das exportações excede o das importa-
priedade de seu sogro. À frente desse órgão, foi ções, o país apresenta um superávit e torna-se
um influente analista dos fatos econômicos da credor do estrangeiro; quando, ao contrário, as
época. Sua obra Lombard Street, a Description of importações superam as exportações, o país está
the Money Market (Lombard Street, uma Descri- em dívida com o estrangeiro e apresenta um
ção do Mercado de Dinheiro), de 1873, é consi- déficit em sua balança comercial. Uma série de
derada um excelente estudo do papel do Banco fatores influi sobre a ocorrência de um déficit
da Inglaterra nas finanças inglesas da época e ou de um superávit na balança comercial. Entre
do sistema de crédito ali vigente. A obra é tam- os mais importantes, podemos citar: 1) a evolu-
bém célebre por suas idéias a respeito das crises ção dos preços das importações e das exporta-
econômicas, explicadas como resultantes de más ções de um país; 2) a evolução dos volumes im-
colheitas agrícolas. Escreveu ainda Universal Mo- portados e exportados. Um desequilíbrio entre
ney (Dinheiro Universal), 1869, Physics and Po- os preços de exportação e de importação poderá
litics (Física e Política), 1872, e Postulates of En- provocar um déficit na balança comercial, o mes-
glish Political Economy (Postulados de Economia mo acontecendo com alterações nos volumes das
Política Inglesa), 1876. importações e exportações. A balança comercial
BAHT. Unidade monetária da Tailândia. Sub- é também chamada balança visível e faz parte do
múltiplo: satang. balanço de pagamentos. Um país pode ter um
superávit na balança comercial e um déficit no
BAIXA. Momento em que as ações e demais balanço de pagamentos; é o que ocorre geral-
títulos transacionados em Bolsa apresentam mente com os países subdesenvolvidos. Veja
uma redução significativa de preços, geralmente também Balanço de Pagamentos; Capacidade
causada pela retração dos compradores. Se a bai- para Importar; Comércio Internacional; Rela-
xa for muito pronunciada e tender a se agravar, ções de Troca.
poderá provocar uma reação em cadeia, resul-
tando numa queda generalizada das cotações BALANÇA DE SERVIÇOS. Veja Balanço de
das ações, caracterizando uma situação de pâ- Pagamentos.
nico na qual todos desejam vender seus títulos BALANCETE. Levantamento dos saldos deve-
para não perder mais ainda. Foi o que ocorreu dores e credores de uma empresa, devidamente
na Bolsa de Nova York, no final de outubro de registrados em seu livro-razão. Costuma-se fazê-
1929, iniciando a maior crise econômica capita- lo mensalmente (balancete parcial), com duas
lista de todos os tempos. Veja também Ação. finalidades: retratar o andamento dos negócios
BAIZA. Veja Rial. da empresa mês a mês e controlar os lançamen-
tos feitos no mês para verificar sua exatidão.
BAKER. Veja Plano Baker. Faz-se também o balancete anualmente (balan-
cete geral), o que prepara o balanço exigido por
BAKUNIN, Mikhail Alexandrovitch (1814- lei. Veja também Balanço.
1876). Revolucionário russo, criador do anar-
quismo coletivista. Discípulo de Proudhon, re- BALANCIM. Prensa para cunhar moeda, origi-
belou-se contra os princípios mutualistas do nalmente criada na França com o nome de ba-
mestre e negou a eficácia das cooperativas de lancier, que funcionava pressionando-se o cunho
trabalhadores numa sociedade dominada pelo sobre o disco mediante um parafuso sem fim
capital. Afirmava que as cooperativas ou a au- movido por força humana. Foi introduzido no
togestão só poderiam ser a base de uma nova Brasil em 1693 e utilizado até 1855, quando se
sociedade por meio de uma revolução radical iniciou a cunhagem por meio de máquinas a
que expropriasse os burgueses e os proprietários vapor. A inauguração dessa nova tecnologia
rurais. Para ele, a organização política e econô- contou com a presença de D. Padro II. Em 1860,
mica da sociedade deveria ocorrer de baixo para a Casa da Moeda fabricou uma máquina de cu-
cima, pela livre união dos trabalhadores em as- nhar movida a vapor com capacidade para
sociações, comunas, até chegar a uma grande cunhar 45 moedas por minuto. Atualmente, a
federação nacional e internacional. Esse organis- cunhagem de moedas no Brasil é feita em má-
41 BALANÇO DE PAGAMENTOS

quinas elétricas com capacidade para produzir peso no balanço de pagamentos de países com
oito moedas por segundo. grande dívida externa, como é o caso do Brasil).
As transferências unilaterais registram as entra-
BALANÇO. Levantamento contábil que demons- das ou saídas de divisas decorrentes, por exem-
tra a situação econômico-financeira de uma em- plo, do envio de recursos ao exterior para a ma-
presa. Agrupando racionalmente os saldos cre-
nutenção de embaixadas e serviços consulares,
dores e os saldos devedores da empresa em certo
de imigrantes que mandam parte de seus salá-
período, o balanço representa a exata situação
rios para familiares em seus países de origem
econômico-financeira da empresa e constitui o
etc. O resultado conjunto dessas três contas é
documento oficial com que se dão por encerra-
consolidado nas transações correntes. Se houver
das as operações contábeis do período em ques-
superávit, diz-se que o país tem superávit em
tão. No balanço, os saldos das contas não apa-
conta corrente, ou, no caso oposto, déficit em
recem como crédito e débito (como no balance-
conta corrente. A conta de capital registra os
te), mas como ativo e passivo. O ativo é cons-
investimentos diretos, isto é, as entradas de ca-
tituído por todos os bens e haveres da empresa;
o passivo são as obrigações e encargos de qual- pital de risco das empresas estrangeiras que se
quer espécie. Um balanço só tem valor legal estabelecem no Brasil e as saídas de investimen-
quando extraído dos livros oficiais da empresa tos de empresas nacionais que se estabelecem
e assinado pelo dono (ou donos) e por atuário, no exterior; os empréstimos e financiamentos
contador ou guarda-livros. obtidos por residentes no Brasil, no exterior (en-
tradas de divisas) e as saídas representadas por
BALANÇO, Análise de. Estudo de um balanço, empréstimos concedidos a não-residentes; as
feito por sua decomposição e comparação, com amortizações, isto é, o pagamento de parte ou
a finalidade de avaliar o comportamento finan- da totalidade de uma dívida, representando
ceiro de uma empresa. A análise pode ser feita uma saída de divisas quando residentes no Bra-
por comparação com os balanços de exercícios sil transferem esses recursos para não-residen-
anteriores ou posteriores (análise horizontal), es- tes, e uma entrada, quando acontece o inverso;
tudando-se o comportamento e a evolução de e os capitais de curto prazo, que significam em-
determinada conta em períodos sucessivos; ou préstimos e financiamentos por um prazo infe-
podem se comparar as diversas contas que com- rior a um ano.A soma das transações correntes
põem um só balanço e sua participação no total e do movimento de capitais proporciona o re-
(análise vertical). sultado final do balanço de pagamentos. Se as
receitas totais (entradas) superarem as despesas
BALANÇO DE PAGAMENTOS. Registro de
todas as transações de caráter econômico-finan- totais (saídas), o balanço de pagamentos apre-
ceiro realizadas por residentes de um país com sentará um superávit; se ocorrer o inverso, ha-
residentes dos demais países. O balanço de pa- verá um déficit, e, se os valores forem equiva-
gamentos é constituído basicamente de quatro lentes, o balanço de pagamentos estará equili-
contas ou balanças. Dependendo da natureza da brado. No caso de países endividados e anfi-
transação econômica ou financeira, que dá lugar triões de empresas multinacionais, como o Bra-
à receita ou despesa de divisas, podem ser clas- sil, a conta de serviços apresenta-se geralmente
sificadas como operações em transações correntes deficitária devido à pressão ali exercida pelos
ou movimento de capitais. As transações correntes juros e pelos lucros e dividendos remetidos ao
incluem as contas de comércio ou balança co- exterior. Se esse déficit não for compensado por
mercial de serviços ou balança de serviços e as um superávit na balança comercial (as transfe-
transferências unilaterais. O movimento de ca- rências unilaterais são geralmente de pouca
pitais constitui uma conta também chamada de monta), a conta de capital terá de acusar um
conta de capital. A balança comercial registra os superávit muito elevado para que não ocorra
valores FOB das exportações e o valor das im- um déficit no balanço de pagamentos. É preciso
portações. Se o valor das exportações superar o salientar, no entanto, que as contas do balanço
das importações, diz-se que a balança comercial de pagamentos se influenciam mutuamente: por
apresenta um superávit. Se acontecer o contrá- exemplo, se na conta de capital entrar uma gran-
rio, teremos um déficit; e, se os valores forem de quantidade de investimentos diretos e de em-
equivalentes, a balança comercial estará em préstimos de financiamentos, algum tempo de-
equilíbrio. A balança de serviços registra as re- pois isto significará uma saída mais intensa de
ceitas e despesas de diversos tipos de transação, lucros e dividendos e juros pela conta de servi-
destacando-se os transportes, os seguros, as via- ços, provocando e/ou aumentando um eventual
gens internacionais, os royalties, a assistência téc- déficit. Veja também Balança Comercial; Divi-
nica, os lucros e os juros (estes últimos de grande sas; FOB; Incoterms; Lei 4 131; Royalty.
BALBOA 42

Síntese do balanço de pagamentos de 1986 préstimos. O banco executa várias outras ope-
(Em milhões de dólares correntes) rações conexas, como pagamento e cobrança em
1. Balança comercial 8 349 nome de terceiros, venda e desconto de títulos
1. Exportações 22 293 e operações com moedas estrangeiras. Na prá-
1. Importações (14 044) tica, a atividade bancária diminui a necessidade
2. Balança de serviços (12 911) de dinheiro para a realização de negócios e tran-
2. Viagens internacionais (486) sações, sobretudo na medida em que “cria” di-
2. Transportes (432) nheiro na forma da chamada moeda escritural
2. Seguros (121) (os depósitos bancários, movimentados por
2. Lucros e dividendos (1 236) meio de cheques). A origem dos bancos confun-
2. Juros (9 093) de-se com a própria moeda, sobretudo quando
2. Outros (inclui royalties, esta começou a ser negociada em cima de bancos
2. assistência técnica, de madeira (daí a expressão) nos mercados da
2. reinvestimentos etc.) (1 543) Antiguidade. Estudos arqueológicos compro-
3. Transferências unilaterais 86 vam a existência de atividades bancárias na Ba-
4. Transações correntes (1+2+3) (4 476) bilônia e na Fenícia. Tais atividades decorriam
5. Movimento de capitais (7 340) das dificuldades de transporte, que faziam com
2. Investimentos diretos 340 que muitos negociantes confiassem aos “ban-
2. Empréstimos e financiamentos 3 095 queiros” a incumbência de efetuar pagamentos
2. Amortizações (11 590) e cobranças em lugares distantes. Na Grécia, os
2. Capitais de curto prazo 540 primeiros centros bancários conhecidos (Delfos,
2. Outros capitais 274 Éfeso) estavam ligados aos templos religiosos,
6. Erros e omissões (540) que funcionavam como lugares seguros para
7. Superávit ou déficit (4+5+6) (12 356) aqueles que quisessem guardar seus tesouros.
A partir do século IV a.C. surgem os banqueiros
Síntese do balanço de pagamentos de 1996
laicos, chamados “trapezistas” (do grego trape-
(Em milhões de dólares correntes)
zión, que significa “banca”, “mesa pequena”).
1. Balança comercial 5 539
Em Roma, no século II a.C., as operações ban-
1. Exportações 47 747
cárias eram privilégio de uma categoria de ci-
1. Importações (53 286)
dadãos, os publicanos, mas na época imperial
2. Balança de serviços (21 707)
surgem os argentarii ou mensarii, cuja principal
2. Juros (9 840)
ocupação era o câmbio de moedas estrangeiras,
2. Outros (inclui royalties,
mas que também aceitavam depósitos e faziam
2. assistência técnica,
empréstimos. Na Idade Média, a atividade ban-
2. reinvestimentos, seguros etc.) (11 867)
cária deixou de existir até o século XI, quando
3. Transferências unilaterais 2 899
ressurgiu em íntima ligação com o desenvolvi-
4. Transações correntes (1+2+3) (24 347)
5. Movimento de capitais 33 012 mento do comércio. Judeus, lombardos e os
2. Investimentos diretos 16 005 membros da Ordem dos Templários destaca-
2. Empréstimos e financiamentos 27 104 ram-se na nova atividade. Os templários enri-
2. Amortizações (14 423) queceram extraordinariamente o patrimônio da
2. Capitais de curto prazo 3 995 ordem, financiando as Cruzadas; atribui-se a
2. Outros capitais 331 eles a criação dos arbítrios de câmbio e da con-
6. Erros e omissões 683 tabilidade por partidas dobradas. Em grandes
7. Superávit ou déficit (4+5+6) 9 348 feiras comerciais, como as de Champagne e
Lyon, na França, faziam-se grandes operações
A diferença mais importante entre as duas datas de câmbio e, para evitar o transporte de volu-
é: o superávit comercial dá lugar a um déficit, mosas somas de dinheiro, criou-se a letra de pa-
embora o déficit do balanço de pagamentos seja gamento. A extraordinária expansão do comér-
substituído por um superávit em função da en- cio no Renascimento e no século XVII foi a res-
trada maciça de capitais a partir de 1995. ponsável pelo aparecimento de grandes ban-
queiros (Medici, Fugger) e numerosos estabele-
cimentos bancários, como a Casa di San Giorgio
BALBOA. Unidade monetária do Panamá. Sub- (Gênova, 1586), Banco di Rialto (Veneza, 1587),
múltiplo: centésimo. Banco di Sant’Ambrosio (Milão, 1593), Banco de
Amsterdã (1609), Banco de Hamburgo (1619) e
BALCÃO. Veja Mercado de Balcão.
Banco de Roterdã (1635); nessa época, surgem
BANCARROTA. Veja Falência. a letra de câmbio e a técnica do desconto. No
século XVII, foi importante a participação dos
BANCO. Empresa cuja atividade básica consiste banqueiros (ourives) londrinos que, aceitando
em guardar dinheiro ou valores e conceder em- depósitos à vista, passaram a empregar o che-
43 BANCO DE DESENVOLVIMENTO

que. Foi também nesse século que os bancos pas- senvolvimento Asiático, uma linha de crédito
saram a emitir dinheiro. Em virtude dos abusos “suave” estabelecida em 1973, e patrocinada por
que se cometeram nessa função, o Estado inter- contribuições dos sócios e transferências do pró-
veio, reservando-se o direito de emissão e crian- prio capital do banco.
do estabelecimentos especializados; o primeiro
banco emissor oficial foi o Banco da Inglaterra, BANCO CENTRAL. Instituição financeira go-
fundado em 1694. No século XIX, em íntima li- vernamental que funciona como o “banco dos
gação com a extraordinária expansão do comér- bancos” e do próprio governo. Destina-se a as-
cio e da indústria, surgiram poderosas organi- segurar a estabilidade da moeda e o controle
zações bancárias. Na atualidade, podem-se dis- do crédito num país. Tem o monopólio da emis-
tinguir vários tipos de bancos, conforme sua es- são de papel-moeda, exerce a fiscalização e o
pecialidade. O banco comercial (também chamado controle dos demais bancos e controla a impor-
banco de depósitos) é o tipo mais comum. Faz ope- tação e exportação de dinheiro e metais precio-
rações de depósitos, empréstimos a curto prazo, sos. Na Inglaterra, as funções de banco central
descontos, saques, cobranças, câmbio, além de são exercidas pelo Bank of England; na França,
prestar serviços como transferência de dinheiro pelo Banque de France; nos Estados Unidos,
e recebimento de impostos, entre outros. O banco pelo Federal Reserve System; no Brasil, pelo
de investimento opera no recebimento e aplicação Banco Central do Brasil. O Banco Central do Bra-
de recursos a longo prazo, por meio de instru- sil é uma das autoridades monetárias. Veja tam-
mentos financeiros como repasse de recursos do bém Autoridades Monetárias.
exterior, financiamento a capital de giro, emis- BANCO CENTRAL DO BRASIL. Instituição fi-
são de certificados de depósito, letras de câmbio nanceira federal criada pela lei nº 4 595, de
e outros títulos. O banco de desenvolvimento (ou
31/12/1964. Substituiu a antiga Sumoc (Supe-
de fomento) é especializado na aplicação de re-
rintendência da Moeda e do Crédito) e algumas
cursos exclusivamente no incremento de uma
funções então exercidas pelo Banco do Brasil.
atividade, industrial ou agrícola, de particular
Tem, principalmente, as seguintes atribuições:
interesse para a economia do país. O banco de
executar a política financeira do governo, emitir
exportação dedica-se a operações de intercâmbio
papel-moeda, autorizar o funcionamento de ins-
comercial com outros países (um exemplo é o
tituições financeiras e fiscalizar suas operações
Eximbank, dos Estados Unidos). O banco hipo-
de acordo com leis específicas, receber depósitos
tecário trabalha com empréstimos sob garantia
compulsórios e voluntários do sistema financei-
de hipoteca imobiliária. Veja também Banco
ro nacional, realizar operações de compra e ven-
Central; Caixa Econômica; Moeda.
da de títulos públicos federais (de empresas de
BANCO AFRICANO DE DESENVOLVIMEN- economia mista ou estatais), custodiar e admi-
TO. Instituição de financiamento internacional, nistrar as reservas nacionais em ouro e moedas
criada por acordo entre países independentes estrangeiras, controlar o crédito e o capital es-
africanos em 1964. Em 1981, a participação de trangeiros, representar o governo brasileiro pe-
países não-africanos foi autorizada, e dele tor- rante os organismos financeiros internacionais.
naram-se membros os Estados Unidos. O banco É uma das autoridades monetárias. Veja tam-
concede empréstimos de longo prazo principal- bém Banco do Brasil; Comissão de Valores Mo-
mente para a agricultura. biliários; Conselho Monetário Nacional.

BANCO ÁRABE PARA O DESENVOLVI- BANCO COMERCIAL. Instituição financeira


MENTO ECONÔMICO DA ÁFRICA. Banco pública ou privada que se caracteriza por ter
de desenvolvimento fundado em 1975 pelos paí- como atividade principal a intermediação do
ses árabes, para estimular o desenvolvimento crédito, em geral a curto e médio prazos, ou
de países africanos não-árabes por meio da seja, captar de agentes com recursos disponíveis
transferência de capital e assistência técnica dos (superavitários) e emprestar para aqueles que
países árabes. O banco colabora com o Banco necessitam de tais recursos (deficitários), a fim
Africano de Desenvolvimento na coordenação de movimentar suas atividades econômicas. No
de projetos e em seu financiamento. Brasil, após a criação dos chamados Bancos Múl-
tiplos, que podem deter mais de uma carteira,
BANCO ASIÁTICO DE DESENVOLVIMEN- vários bancos comerciais adotaram essa forma,
TO. Instituição financeira de desenvolvimento uma vez que a mesma permite maior flexibili-
internacional, organizada em 1966, para prestar dade e versatilidade em suas operações. Veja
assistência econômica e técnica aos países em também Banco Múltiplo.
desenvolvimento da Ásia. A associação é aberta
aos países membros da Comissão Econômica e BANCO DE DESENVOLVIMENTO. Designa-
Social para a Ásia e o Pacífico da ONU. O banco ção dada a instituições financeiras voltadas para
empresta recursos por meio do Fundo de De- o financiamento de programas específicos, vin-
BANCO DE INVESTIMENTO 44

culados ao desenvolvimento do país ou de uma exerce o controle do banco, cabendo-lhe a no-


região. No Brasil, além do caso típico do Banco meação do presidente e dos principais diretores.
Nacional de Desenvolvimento Econômico e So- O Banco do Brasil tem como atribuições princi-
cial (BNDES), criou-se a figura do banco de de- pais: incrementar a produção nacional e executar
senvolvimento especificamente como uma ins- a política financeira e creditícia do governo; ar-
tituição financeira pública não-federal, com sede recadar os depósitos voluntários das instituições
na capital do Estado que detém seu controle financeiras; executar a política de preços míni-
acionário. Destina-se ao suprimento de recursos mos dos produtos agropecuários; comprar e fi-
a médio e longo prazos para programas e pro- nanciar a produção de produtos exportáveis;
jetos do Estado em que está sediado. Os bancos conceder empréstimos e descontos por meio de
de desenvolvimento tiveram grande importân- suas carteiras de Crédito Geral (Crege), de Cré-
cia durante os anos 70 no Brasil. Posteriormente, dito Agrícola e Industrial (Creai), e de Comércio
com a crise de financiamento do setor público Exterior (Cacex); arrecadar impostos ou rendas
e o problema do estrangulamento externo cau- federais e colocar no mercado obrigações, apó-
sado pela expansão do respectivo endividamen- lices e letras do Tesouro Nacional; ser agente
to durante os anos 80, a presença e participação recebedor e pagador fora do país; executar o
desses bancos tendeu a se reduzir. serviço de compensação de cheques e outros pa-
péis; receber com exclusividade, sob a forma de
BANCO DE INVESTIMENTO. Designação dada
depósitos, as disponibilidades financeiras dos
a instituições financeiras voltadas para captaçõ-
ministérios e demais repartições federais, civis
es e financiamentos de médio e longo prazos,
e militares. Fundado em outubro de 1808, por
normalmente voltados ao investimento das em-
dom João VI, o Banco do Brasil foi fechado em
presas, bem como a operações diversas na área
1829. Foi reaberto em 1851, por iniciativa do ba-
das sociedades anônimas como a colocação de
rão de Mauá, fundindo-se posteriormente com
ações. No Brasil, a modalidade “banco de in-
o Banco Comercial (1853) e com o Banco da Re-
vestimento” foi criada pela lei nº 4 728 de 14-
pública do Brasil (1905). Em 1964, com a criação
07-65, também chamada de Lei da Reforma do
do Banco Central, perdeu suas funções de agente
Mercado de Capitais.
do Tesouro Nacional para levar ao sistema ban-
BANCO DE LA PROVINCIA DE BUENOS AI- cário as emissões de papel-moeda. Em 1990, o
RES. Uma das primeiras entidades financeiras Banco do Brasil estava colocado entre as cem
da América Latina, o Banco da Província de Bue- maiores instituições financeiras do mundo. É
nos Aires foi fundado em 6/9/1822, seis anos uma das autoridades monetárias. Veja também
depois de alcançada a independência na Argen- Banco Central do Brasil; Comissão de Valores
tina e um dia antes da declaração da inde- Mobiliários; Conselho Monetário Nacional.
pendência do Brasil. Conhecido como o “Pro-
víncia” no jargão financeiro, é o maior banco BANCO DO NORDESTE DO BRASIL. Socie-
argentino e tem representações em São Paulo, dade de economia mista criada em 1953 pelo
Nova York, Santiago, Montevidéu, Caracas, Pa- governo federal para atuar como banco de de-
namá, Milão e Madri. senvolvimento do Nordeste. Sediado em Forta-
leza, seu espaço de ação engloba toda a área do
BANCO DE TROCOS. Instituição criada no Polígono das Secas, que inclui todos os Estados
Brasil em agosto de 1808, antes da fundação do nordestinos e parte de Minas Gerais. Financia
Banco do Brasil, que efetuava a permuta de bar- construções de açudes, barragens, perfuração de
ras de ouro existentes em mãos de particulares poços, compra de máquinas agrícolas e instala-
por moedas de ouro. ções de indústrias.
BANCO DE ÚLTIMA INSTÂNCIA. Também BANCO MÚLTIPLO. Instituição financeira que
denominado prestamista de última instância, é opera com mais de uma carteira. De acordo com
uma das principais funções e fundamentos dos as regras estabelecidas pelo Conselho Monetário
bancos centrais. A necessidade de uma instância Nacional e o Banco Central, os bancos múltiplos
desse nível tem origem durante as crises finan- devem constituir-se com no mínimo duas das
ceiras ou econômicas, quando a confiança do seguintes carteiras, sendo uma delas obrigato-
público nas instituições privadas se reduz muito riamente comercial ou de investimento: 1) co-
e torna-se indispensável trocar esses papéis por mercial; 2) de investimento e/ou de desenvol-
títulos de maior solidez e confiabilidade emiti- vimento, esta última exclusiva para bancos pú-
dos pelos bancos centrais. blicos; 3) de créditos imobiliários; 4) de crédito,
financiamento e investimento; 5) de arrenda-
BANCO DO BRASIL. A maior organização mento mercantil. Veja também Banco Central;
bancária do país. É uma sociedade anônima de Conselho Monetário Nacional.
economia mista, na qual o governo federal de-
tém 51% das ações. Com essa maioria, o governo BANCO MUNDIAL. Veja BIRD.
45 BARAN, Paul Alexander

BANCO NACIONAL DA HABITAÇÃO (BNH). tre os séculos XVI e XVIII, cuja finalidade era
Instituição criada pela lei nº 4 380, de 1964, e capturar índios para utilizá-los como escravos,
extinta em 1986 pelo decreto-lei nº 2 291. Exerceu mas também a obtenção de metais e pedras pre-
o papel de órgão normativo e fiscalizador do ciosas. Juntamente com as Entradas (organiza-
Sistema Financeiro da Habitação, tendo sido o das pelo governo com as mesmas finalidades),
órgão gestor do Fundo de Garantia por Tempo as Bandeiras constituíram um elemento decisivo
de Serviço (FGTS). Veja também FGTS; Sistema na expansão do território brasileiro além dos li-
Financeiro Habitacional. mites determinados pelo Tratado de Tordesi-
lhas. Veja também Tratado de Tordesilhas.
BANCO PARA PAGAMENTOS INTERNA-
CIONAIS (Bank for International Settlements BANDUNG. Veja Conferência de Bandung.
— BIS). Instituição financeira criada em 1930 e
sediada em Basiléia (Suíça). Tem como objetivo BANK CHARTER ACT. Lei inglesa de 1844 ins-
promover a cooperação entre os bancos centrais tituindo o controle sobre as emissões bancárias,
e facilitar as operações financeiras internacio- em decorrência da crise financeira de 1825-1837.
nais. Funciona, sobretudo, como coordenador de A lei permitia aos bancos apenas uma pequena
movimentações financeiras internacionais de emissão fiduciária, acima da qual seria exigido
curto prazo. Muitas das funções que lhe cabia o respaldo em ouro. Nenhum novo banco estava
exercer passaram para o Fundo Monetário In- autorizado a fazer emissões, e aqueles que já
ternacional (FMI), embora o BIS tenha mantido, tivessem realizado essa operação não poderiam
no âmbito europeu, o papel de banco dos bancos aumentá-la. O Banco da Inglaterra ficava auto-
centrais. É dirigido por representantes dos ban- rizado a elevar suas emissões fiduciárias em dois
cos centrais da Grã-Bretanha, Alemanha, França, terços das emissões desautorizadas de qualquer
Itália, Suíça, Holanda, Bélgica e Suécia. outro banco.

BANCOR. Nome proposto por Keynes (John BANK FOR INTERNATIONAL SETTLE-
Maynard) na Conferência de Bretton Woods (Es- MENTS. Veja Banco para Pagamentos Interna-
tados Unidos, 1944), durante a criação do Fundo cionais.
Monetário Internacional (FMI), para uma moeda BANKING PRINCIPLE. Princípio segundo o
internacional inteiramente destinada a ajustar qual as emissões de moeda não devem ser feitas
desequilíbrios dos balanços de pagamentos, em- em função da quantidade de reservas ou encai-
bora permanecendo cada país com seu sistema xes de metais preciosos monetizados, como que-
monetário particular. Segundo o projeto de Key- riam os defensores do currency principle, mas em
nes (também conhecido como Plano Keynes), o função das necessidades da economia.
Bancor não estaria totalmente desvinculado do
padrão-ouro, embora este metal não fosse to- BANTO. Termo em japonês que designa um
mado como base absoluta de seu valor. A pro- executivo contratado pelo proprietário de uma
posta não foi aceita por pressão dos delegados empresa para administrá-la. Os bantos eram ad-
norte-americanos, que pretendiam transformar ministradores profissionais que na época ante-
o dólar, sua moeda nacional, no padrão inter- rior à Segunda Guerra Mundial ganharam gran-
nacionalmente aceito, com as vantagens ineren- de influência nas empresas que constituíam os
tes a essa adoção. Veja também FMI — Fundo zaibatsus. Possuíam algumas características es-
Monetário Internacional; Keynes, John May- peciais como a perseverança, a capacidade de
nard; Plano Keynes. trabalho, a lealdade à empresa e à família à qual
pertencia a empresa e o respectivo zaibatsu. De-
BANDEIRA DE CONVENIÊNCIA. Artifício fis- pois da guerra, durante a ocupação, com a dis-
cal muito utilizado por companhias internacio- solução dos zaibatsus, os bantos foram destituídos
nais de navegação mercante, cujos navios trafe- de suas funções, criando-se um vazio de diri-
gam sob a bandeira de outra nação. A bandeira gentes nas empresas japonesas que foi logo ocu-
de conveniência assegura taxas tributárias e sa- pado pelos escalões inferiores, formando uma
lários da tripulação bem menores do que seriam camada de dirigentes que hoje gozam de maior
nos países de origem. Em 1969, por exemplo, liberdade na direção das empresas do que seus
433 navios mercantes dos Estados Unidos na- antecessores. Veja também Doyukai; Zaibatsu.
vegavam sob as bandeiras de oito outros países,
sobretudo Panamá e Libéria. Os sindicatos dos BAR CODE. Veja Código de Barras.
trabalhadores marítimos denunciam essa mano-
bra como uma violação aos direitos de seus fi- BARAN, Paul Alexander (1910-1964). Economis-
liados. ta russo, radicado nos Estados Unidos, estudioso
do subdesenvolvimento e do capitalismo mo-
BANDEIRAS. Designação das expedições orga- nopolista. Cursou economia no Instituto Plek-
nizadas por proprietários de terras paulistas en- hanov, em Moscou, continuando seus estudos
BARATARIA 46

e pesquisas na Alemanha, onde esteve ligado meros escritos, entre os quais os mais conheci-
ao Instituto de Frankfurt. Nos Estados Unidos, dos são: Questão Militar; Abolicionismo; Trabalhos
doutorou-se em Filosofia (Harvard) e lecionou Jurídicos; Swift (1889); Queda do Império; Diário
na Universidade de Stanford. Durante a Segun- de Notícias (1890); A Constituição de 1891 (1896);
da Guerra Mundial, esteve a serviço do governo Cartas de Inglaterra (1902); Réplica (1919) e Oração
norte-americano como especialista em assuntos aos Moços. Veja também Encilhamento.
soviéticos e como técnico em questões de pla-
nificação e controle de preços. Foi então um dos BARELLI, Walter (1938- ). Nasceu em São Pau-
iniciadores do planejamento econômico nos Es- lo e graduou-se em economia pela Faculdade
tados Unidos e um dos primeiros economistas de Economia e Administração da Universidade
a analisar a problemática do subdesenvolvimen- de São Paulo em 1963. Obteve o título de doutor
to. Durante a época do macarthismo, foi perse- em economia em 1976 pela Faculdade Municipal
guido por sua filiação teórica marxista. Suas de Economia e Administração de Osasco (SP).
principais obras são A Economia Política do De- Foi diretor-técnico do Dieese, entre 1967 e 1989,
senvolvimento (1957), e, juntamente com Paul e professor da Fundação Getúlio Vargas e da
Sweezy, O Capital Monopolista (1966). Pontifícia Universidade Católica (pós-gradua-
ção) de São Paulo, onde deu cursos sobre eco-
BARATARIA. Também denominado ribaldia ou nomia do trabalho. Entre 1990 e 1992 desenvol-
ribaldaria, é todo e qualquer ato, de natureza cri- veu cursos de economia do trabalho no Instituto
minosa, praticado pelo capitão de um navio no de Economia da Universidade Estadual de Cam-
exercício de seu emprego, ou pela tripulação ou pinas. Em outubro de 1992, assumiu o Ministério
por ambos, que resulte em dano grave ao navio, do Trabalho no governo Itamar Franco. Seu livro
aos passageiros ou à carga, em oposição à pre- mais importante é Distribuição Funcional dos Ban-
sumida vontade do dono do navio. cos Comerciais (1976). Walter Barelli tem escrito
vários artigos sobre distribuição da renda, salá-
BARBOSA, Fernando de Holanda. Graduou-se rios e questões trabalhistas. Atualmente é mi-
em economia pela Faculdade Cândido Mendes nistro do Trabalho e tem tentado introduzir a
(Rio de Janeiro) em 1968, e obteve o título de prática dos contratos coletivos como forma de re-
doutor pela Universidade de Chicago em 1975. lacionamento entre empregados e empregadores.
Seus trabalhos e pesquisas têm examinado as
questões da inflação e suas relações com o de- BARRACÃO. Veja Peonagem.
senvolvimento econômico no Brasil. Seus livros
mais importantes são: A Inflação Brasileira no Pós- BARREIRAS COMERCIAIS. Normas alfande-
Guerra: Monetarismo X Estruturalismo (1983) e En- gárias decretadas pelos governos para controlar
saios sobre Inflação e Indexação (1986). Foi secre- o intercâmbio internacional de mercadorias. Na
tário da Política Econômica do Ministério da Fa- prática, são tarifas, cotas, depósitos e licenças
zenda entre novembro de 1992 e março de 1993, de importação destinados a proteger as merca-
nas gestões de Gustavo Krause e Paulo Haddad. dorias nacionais ou até mesmo os produtos de
Atualmente é diretor de pesquisa da Escola de outro país, com o qual não existam acordos co-
Pós-Graduação em Economia da Fundação Ge- merciais não-restritivos. Veja também Protecio-
túlio Vargas (Rio de Janeiro). nismo.

BARBOSA, Rui de Oliveira (1849-1923). Polí- BARREN MONEY. Expressão em inglês que
tico e jurista brasileiro, ministro da Fazenda no significa “dinheiro improdutivo”, isto é, que não
governo provisório republicano (de janeiro de proporciona juros nem nenhum outro tipo de
1889 a novembro de 1891). Partidário da indus- renda (ganho).
trialização do país, sua política financeira, co-
nhecida historicamente como Encilhamento, ca- BARRIL. Antiga unidade de capacidade para
racterizou-se pelo estímulo sem limites à expan- produtos secos e líquidos, admitindo pesos di-
são do crédito e à formação de sociedades por ferentes dependendo do produto acondicionado
ações. A inexistência de instrumentos eficazes no barril. O costume fixou pesos determinados
de controle dessas medidas, por parte do go- para barris de um mesmo produto. Assim, um
verno, possibilitou uma grande especulação na barril de carne bovina, de porco ou peixe pesa
Bolsa de Valores, inflação e surgimento de com- 90,6 kg, enquanto um barril de farinha pesa 88,5
panhias-fantasmas. Essa situação gerou uma for- kg. A prática e o costume determinavam qual
te oposição dos proprietários rurais, levando-o era o peso de um barril (antes do sistema métrico
à renúncia. Sensível às tensões sociais, em 1919, decimal) em termos de stones (pedras), sendo o
por ocasião de sua segunda campanha eleitoral stone uma medida de peso também muito antiga,
à presidência da República, defendeu a neces- composta de uma pedra especial pesando cerca
sidade de uma legislação específica para atender de 6,200 kg cada. A farinha, por exemplo, era
aos conflitos entre capital e trabalho. Deixou inú- acondicionada em barris de 14 stones ou 88,5
47 BASE MONETÁRIA AMPLIADA

kg. Frutas e legumes, no entanto, quando são missão de Energia Atômica da ONU (1946),
acondicionados em barris, não são medidos por onde propôs o Plano Baruch (controle interna-
peso, mas sim por volume; nesse caso, conside- cional da energia nuclear).
ra-se que um barril deve ter 7 056 polegadas
BASE. É o valor de um determinado momento
cúbicas ou 115 626 cm3. Se o barril for utilizado
(ou atribuído a um determinado momento) que
para acondicionar algum líquido, sua medida se
serve de termo de comparação, quando se quer
dá por galões: a maioria dos barris costumava ter
calcular uma sucessão de números-índices. Por
cerca de 31 galões ou aproximadamente 118 l. exemplo, entre 1950 e 1960, o valor das expor-
Questões relacionadas com o transporte e o ato tações brasileiras em bilhões de cruzeiros cor-
de carregar e descarregar determinaram a exis- rentes foi o seguinte:
tência de barris mais fáceis de transportar e ma-
nejar com 15 galões ou o equivalente a 56,775 l. (A) valor das (B) índice do
Os óleos, no entanto, são acondicionados em exportações valor das
exportações
barris de maior capacidade denominados “tam-
(em bilhões de cruzeiros correntes, 1950 = 100)
bores”, que contêm de 50 a 55 galões (de 189,250
a 208,175 l). Veja também Sistema Internacional 1950 24,91 100,5

de Unidades. 1951 32,51 130,5


1952 26,01 104,4
BARRO, Robert. Veja Expectativas Racionais. 1953 32,01 128,5

BARROS DE CASTRO, Antônio (1938- ). Nas- 1954 42,91 172,2


ceu no Rio de Janeiro e graduou-se em economia 1955 54,51 218,8
pela Faculdade de Economia da Universidade 1956 59,51 238,5
Federal do Rio de Janeiro em 1959. Em 1976, 1957 60,61 243,3
obteve o título de doutor em economia pela Uni- 1958 63,71 255,8
versidade Estadual de Campinas. Foi professor
1959 109,4 439,3
e pesquisador do Instituto Latino-Americano de
1960 147,1 590,7
Pesquisas Econômicas e Sociais (Ilpes), professor
da Escolatina (Universidade do Chile) e profes-
sor-visitante da Universidade de Cambridge (In- Se considerarmos 1950 o ano-base e atribuirmos
glaterra) entre 1963 e 1974. Seus livros mais im- a ele o valor 100, os demais valores (guardando
portantes são: Introdução à Economia — Uma as mesmas proporções da coluna A) serão ex-
Abordagem Estruturalista (em co-autoria com pressos pela coluna B.
Carlos Lessa), Sete Ensaios sobre Economia Brasi-
leira e A Economia Brasileira em Marcha Forçada BASE MONETÁRIA. Denominação dada ao con-
(em co-autoria com Francisco Pires de Souza). junto de moeda em circulação no país mais os
Seus estudos e pesquisas têm se voltado para o depósitos à vista junto às autoridades monetá-
problema da industrialização. Foi presidente do rias. No Brasil, esta última parcela é constituída
Instituto dos Economistas do Rio de Janeiro (Ierj) pelo recolhimento compulsório dos bancos junto
entre 1980 e 1981, e presidente do Conselho Re- ao Banco do Brasil e também pelos depósitos à
gional de Economia (RJ) entre 1982 e 1983. As- vista do público junto à mesma instituição. Ao
sumiu a presidência do BNDES (Banco Nacional contrário do que acontece na maioria dos países,
de Desenvolvimento Econômico e Social) entre a regulamentação do sistema bancário brasileiro
outubro de 1992 e março de 1993. É professor possibilita a formação de depósitos não apenas
da Faculdade de Economia e Administração e pelos bancos comerciais, mas também pelas au-
do Instituto de Economia Industrial da Univer- toridades monetárias. Isto é, no Brasil, o Banco
sidade Federal do Rio de Janeiro. do Brasil acumula as funções de banco comercial
e de agente financeiro das autoridades monetá-
BARUCH, Bernard Mannes (1870-1965). Finan-
cista norte-americano. Aos trinta anos já acu- rias. A atuação sobre a base monetária, no sen-
mulara grande fortuna como especulador em tido de estimular sua expansão ou provocar sua
Wall Street, tornando-se então conselheiro eco- contração, desempenha um papel de grande im-
nômico de vários presidentes dos Estados Uni- portância em qualquer política de combate à in-
dos. Destacou-se no governo de Woodrow Wil- flação. Veja também M 1; M 2; M 3; M 4; M 5.
son, durante a Primeira Guerra Mundial, quan-
do presidiu o Conselho das Indústrias Bélicas e BASE MONETÁRIA AMPLIADA. Formada pe-
participou das conversações de paz de Versa- lo papel-moeda em poder do público (circula-
lhes. Serviu ainda aos presidentes Franklin Roo- ção) mais as reservas bancárias, e mais os títulos
sevelt, no esforço industrial da Segunda Guerra do Banco Central e do Tesouro Nacional. Veja
Mundial, e Harry Truman, como delegado à Co- também Base Monetária.
BASE MONETÁRIA RESTRITA 48

BASE MONETÁRIA RESTRITA. Formada pe- pela PUC (RJ) em 1977. Tornou-se mestre em
lo papel-moeda em poder do público (circula- História Econômica pela London School of Eco-
ção) mais as reservas bancárias. Veja também nomics and Political Science em 1978. Trabalhou
Base Monetária. no Centro de Estudos Monetários e de Economia
Internacional do Instituto Brasileiro de Econo-
BASE-STOCK METHOD. Expressão em inglês mia (Ibre) da FGV (RJ) entre 1979 e 1989. Foi
que significa, no âmbito da administração de professor do departamento de economia da PUC
estoques, “o último a entrar, o primeiro a sair”. (RJ) entre 1980 e 1984. A partir de 1989, é pro-
O mesmo que Lifo. Veja também Lifo. fessor da Escola de Administração de Empresas
da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Em
BASIC. Sigla de Beginner’s All-Purpose Sym- 1985 tornou-se secretário-especial de Assuntos
bolic Instruction Code (Código de Instrução Econômicos do Ministério do Planejamento, sen-
Simbólica de Usos Múltiplos para Iniciantes). É do posteriormente assessor-especial do Ministé-
uma linguagem de programação de computa- rio da Fazenda (gestão Dílson Funaro) para as-
dores simples e relativamente fácil, de grande suntos da dívida externa. Entre 1989 e 1993, tra-
aceitação, própria para aplicação em microcom- balhou na Fundap como chefe do Centro de
putadores. Veja também Cibernética; Compu- Análises Macroeconômicas e na Assessoria Es-
tador. pecial de Assuntos Internacionais. Seus livros
BASTIAT, Frédéric (1801-1850). Economista fran- mais importantes são os seguintes: Mito e Rea-
cês, grande polemista e ardente defensor do li- lidade na Dívida Externa Brasileira (1983), Da Crise
beralismo econômico. Discípulo de Jean-Baptiste Internacional à Moratória Brasileira (1988) e A Luta
Say, defendeu a tese de que a liberdade serve pela Sobrevivência da Moeda Nacional: Ensaios em
ao progresso e este amplia a produção; ao mes- Homenagem a Dílson Funaro (1992), em conjunto
mo tempo, procurou desmontar ironicamente com Luiz Gonzaga Belluzzo.
todos os argumentos em favor do protecionismo BAUD. Veja Baudio.
econômico. O renome que alcançou com suas
obras — sobretudo Sophismes Économiques (So- BAUDIO. Unidade de medida da velocidade de
fismas Econômicos) e Harmonies Économiques modulação num sistema de transmissão de da-
(Harmonias Econômicas), 1850 — junto a um dos. Um baudio significa 1 bit por segundo. Ge-
público mais amplo resultou em sua eleição para ralmente, a medida é apresentada em termos
a Assembléia Nacional francesa em 1848. Por de bits por minuto. Transmissões telefônicas sig-
razões de saúde, não chegou a exercer o cargo. nificam, em geral, uma taxa de 300 baudios. Veja
Veja também Liberalismo. também BIT.
BATCH. Acumulação de elementos de informa- BBO. Iniciais da expressão em inglês billion bar-
ção com a finalidade de formar grupos. A dife- rels of oil, que significa “bilhão de barris de pe-
rença com o processo on line (em linha) é que tróleo”.
o processamento de cada unidade de informação
não se realiza imediatamente. BBOE. Iniciais da expressão em inglês billions
of barrels of oil equivalent, que significa “bilhões
BATCH PRODUCTION. Expressão em inglês de barris equivalentes de petróleo”.
que significa a produção de uma certa quanti-
dade de produtos, mas ainda não em condições BDR. Veja American Depositary Receipts.
de uma produção contínua ou padronizada.
BEAR. Palavra inglesa que significa literalmente
BATISTA, Homero (1861-1924). Ministro da Fa- “urso”, mas que, aplicada no mercado de ações
zenda no governo de Epitácio Pessoa (1919- e títulos, significa operador que acredita que a
1922). Em sua gestão, procurou garantir o equi- cotação dos títulos ou ações vai subir. Isto é, é
líbrio orçamentário e o saneamento do meio cir- um especulador que aposta na baixa, vendendo
culante, restabelecendo o fundo de conversibi- títulos, ações etc. que não possui, esperando
lidade do papel-moeda, instituído em 1889. comprá-las por um preço mais baixo antes do
Criou as Carteiras de Redesconto e de Crédito vencimento, e realizando lucros. Este termo já
Agrícola do Banco do Brasil, implantou a fisca- existia na Inglaterra no início do século XVIII,
lização bancária e reorganizou a administração e parece ter tido origem no mercado financeiro
do Tesouro Nacional. Em 1919, apresentou à Câ- do dito popular “não venda a pele antes de ma-
mara um projeto de lei propondo a redução das tar o urso”. O contrário de bull.
tarifas alfandegárias, o que provocou protestos
dos industriais e a rejeição da matéria. BEAR HUG. Nas aquisições do controle acio-
nário de empresas, esta expressão significa uma
BATISTA JR., Paulo Nogueira (1955- ). Nas- oferta apresentada pelo comprador bem acima
ceu no Rio de Janeiro e graduou-se em economia do valor de mercado das ações da empresa-alvo.
49 BEHAVIORISMO

Se a diretoria recusar, estará correndo o risco de Economia Pública). Na obra Dei Delitti e delle
de violação de um dos princípios da boa admi- Pene (Dos Delitos e das Penas), de 1764, Beccaria
nistração, que é zelar pelos interesses dos acio- condena o sistema penal e penitenciário da épo-
nistas. ca, sobretudo os processos secretos, as torturas
e a desigualdade das penas em função de dife-
BEAR PANIC. Situação na qual aqueles que ven- renças de classe social. A partir dessa obra, fo-
deram a descoberto, isto é, sem possuir as ações ram criados os fundamentos jurídicos da Decla-
ou títulos, diante de indícios de que tais títulos ração dos Direitos do Homem e do Cidadão,
irão ter suas cotações em elevação no mercado, documento básico da Revolução Francesa.
são obrigados a comprá-las antes que as mesmas
se elevem mais ainda, e, com tal ação, pressio- BEFIEX — Comissão Especial para a Conces-
nem a demanda e a elevação ainda mais intensas são de Benefícios Fiscais e Programa Especial
dessas cotações, criando um verdadeiro pânico de Exportação. Programa de incentivo às expor-
no mercado. Veja também Bear. tações criado no âmbito federal em 1972 e pelo
qual cada dólar importado deveria gerar três dó-
BEAR RAID. Expressão em inglês que designa lares em exportações. O programa concede às
uma ação concertada de vendedores a desco- empresas isenção parcial do Imposto sobre Pro-
berto, isto é, daqueles que venderam títulos para dutos Industrializados (IPI) e isenções parciais
entrega futura sem possuí-los e que forçam uma na importação de componentes essenciais. Veja
baixa nas cotações dos mesmos, vendendo títu- também Drawback.
los, ações ou commodities contra os quais o raid
se efetua. Os possuidores desses títulos, acredi- BEGGAR-MY-NEIGHBOUR POLICIES. Expres-
tando tratar-se de um movimento real de baixa, são em inglês que designa políticas econômicas
apressam-se em vendê-los, o que provoca uma adotadas por um país para melhorar suas con-
queda nas cotações, disso se aproveitando aque- dições internas — como ampliação de seu mer-
les que venderam a descoberto para comprá-los cado interno, seu nível de emprego — e que,
por baixo preço, para viabilizar a entrega futura geralmente, prejudicam as economias de seus
dos títulos já vendidos. Veja também Bear; Bear vizinhos. Por exemplo, um país pode pretender
Panic. aumentar seu nível interno de atividade econô-
mica (emprego) estimulando as exportações e
BEAR SPREAD. Expressão em inglês utilizada
inibindo as importações mediante uma forte
para designar uma estratégia de mercado na
desvalorização cambial, incrementando seu ní-
qual um operador vende contratos nos meses
vel interno de emprego em detrimento dos de-
próximos (torna-se curto) e compra contratos
mais países.
para meses futuros (torna-se longo), esperando
que as taxas de juros do curto prazo aumentem BEHAVIORISMO. Em psicologia, corrente de
mais rapidamente do que as de longo prazo e pensamento oriunda das experiências sobre
que o preço de mercado das divisas, dos títulos comportamento realizadas por Pavlov (1849-
etc. estejam caindo. O contrário de bull spread. 1936) e enunciadas por John Watson (1878-1958),
Veja também Bull Spread. de grande influência durante os anos 20 deste
século até a década seguinte. A denominação
BEAR SQUEEZE. Expressão em inglês utiliza-
vem do termo em inglês behaviour (comporta-
da no mercado financeiro quando o Banco Cen-
mento) e enfatiza a importância dos fatos obje-
tral de um país intervém no mercado de câmbio
tivos passíveis de observação, basicamente a fór-
para forçar especuladores (curtos) a vender uma
mula estímulo-resposta como base de uma psi-
determinada moeda para cobrir suas posições,
evitando assim que os mesmos realizem grandes cologia científica. Em administração, a Escola
lucros. Isto geralmente é feito quando um Banco Bahaviorista refere-se à Teoria das Organizações
Central oferece para comprar mais de uma moe- e, embora tenha como fonte inspiradora a cor-
da local do que se encontra disponível no mer- rente behaviorista em psicologia, não deve ser
cado cambial, geralmente provocando grandes confundida com ela. A origem da Escola Beha-
perdas para os especuladores. viorista encontra-se na oposição da Escola de
Relações Humanas à Escola Clássica. Ela é um
BECCARIA, Marquês de (Cesare Bonesana) desdobramento da primeira e, embora compar-
(1738-1794). Criminalista e economista italiano. tilhasse grande parte das formulações desta úl-
Foi um dos primeiros a tratar do comércio in- tima, não aceitava a concepção de que se o tra-
ternacional, a defender a aplicação da matemá- balhador desenvolvesse suas atividades num
tica à economia e analisar a função do capital ambiente de satisfação, isto por si só garantiria
e a divisão do trabalho. Suas aulas na cadeira um trabalho eficiente. Ou melhor, a Escola Be-
de economia política da Universidade de Milão haviorista seria um desdobramento da Escola
foram publicadas postumamente (1824) sob o das Relações Humanas, mas com uma ruptura
título Elementi di Economia Pubblica (Elementos com alguns elementos prescritivos tanto da Es-
BELÍNDIA 50

cola Clássica como da Escola das Relações Hu- BEM DE GIFFEN. Um bem cuja demanda au-
manas. menta quando o seu preço sobe e diminui quan-
do seu preço desce, aparentemente contrariando
BELÍNDIA. Palavra formada pelas iniciais de a lei da demanda. Essa forma de comportamento
Bélgica e Índia para denotar uma situação de dos consumidores foi verificada por Robert Gif-
polarização entre riqueza e pobreza, de tal forma fen (1837-1910) ao observar as famílias mais po-
que num mesmo país teríamos a riqueza da Bél- bres comprando mais pão à medida que os pre-
gica e a pobreza da Índia. O termo foi batizado ços deste produto iam aumentando. Isso acon-
pelo economista Edmar Bacha durante os anos tece quando a magnitude absoluta do efeito-ren-
70 referindo-se à situação brasileira. da (em relação aos preços) é maior do que a
magnitude negativa do efeito-substituição. Ou
BELLUZZO, Luiz Gonzaga de Mello (1942- ).
seja, embora mais caro, o pão ainda é o produto
Nasceu em São Paulo e graduou-se em Ciências
mais barato, o que faz com que os consumidores
Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da
deixem de comprar outros produtos (mais caros)
Universidade de São Paulo em 1965. Em 1975,
de sua dieta, para comprar mais pão. A elasti-
obteve o título de doutor em economia pela Uni-
cidade-renda da demanda para um “bem de Gif-
versidade Estadual de Campinas. Foi secretário
fen” é negativa.
especial de Assuntos Econômicos do Ministério
da Fazenda entre 1985 e 1987, e um dos elabo- BENCH MARK. Expressão em inglês que sig-
radores e executores do Plano Cruzado. Entre nifica “ponto de referência” ou “unidades-pa-
1988 e 1990, foi secretário de Ciência e Tecno- drão”, para que se estabeleçam comparações en-
logia e Desenvolvimento Econômico do Estado tre produtos, serviços, processos, títulos, taxas
de São Paulo (governo Quércia), e secretário-es- de juros etc., de tal modo a saber se os demais
pecial de Assuntos Internacionais do Estado de produtos, serviços, títulos etc. se encontram aci-
São Paulo (governo Fleury) a partir de 1991. Seus ma ou abaixo em relação ao que serve como
livros mais importantes são: Valor e Capitalismo, referência. Por exemplo, as taxas de juro dos
de 1980, cujo conteúdo é a tese de doutoramento; títulos de 90 dias do Tesouro norte-americano
Um Estudo sobre a Crítica da Economia Política e servem como benchmark para todas as taxas de
O Senhor e o Unicórnio — a Economia dos Anos juro praticadas nos Estados Unidos. A atividade
80, de 1984. É colaborador de vários jornais e do bench mark (ou benchmarking) vem sendo de-
revistas, entre eles Isto É-Senhor, Gazeta Mercantil senvolvida nos últimos anos com grande inten-
e Folha de S. Paulo. Atualmente, é professor de sidade em relação aos produtos industriais de-
economia do Instituto de Economia da Univer- vido ao acirramento da concorrência internacio-
sidade Estadual de Campinas (Unicamp). nal trazida pela globalização dos mercados e
pelo global sourcing. Veja também Global Sour-
BELLWETHER. Termo em inglês que designa
cing; Globalização.
um título do mercado financeiro considerado o
indicador da direção que o mercado como um BENCH MARK DATA. Expressão em inglês
todo tomará. Os títulos da IBM foram conside- que significa “dados de referência”.
rados durante muito tempo tendo esta caracte-
rística no mercado de ações norte-americano. No BENCH MARK JOBS. Funções típicas numa or-
caso brasileiro, as ações da Telebrás e de outras ganização utilizadas como exemplo ou pontos
estatais de primeira linha de certa forma enqua- de referência em relação aos quais outras fun-
dram-se nesta classificação. ções podem ser comparadas por classificação de
postos, pontuação etc.
BELOW THE LINE. Veja Abaixo da Linha.
BENCHMARKING. Veja Bench Mark.
BELT AND BRACES. Expressão em inglês que
significa literalmente “cinturão e suspensório”. BENEFÍCIOS ADICIONAIS. Veja Benefícios
Trata-se de uma política que se bifurca em duas Salariais.
vias separadas de ação, sendo que cada uma
poderá alcançar o objetivo almejado se a outra BENEFÍCIOS SALARIAIS. Em inglês, fringe be-
falhar. Ou melhor, se o cinturão não segurar a nefits. Benefícios oferecidos pelas empresas, a tí-
calça, o suspensório o fará. tulo de pagamento adicional dos salários, a seus
funcionários de alto nível. Dessa forma, os ren-
BEM. Iniciais da expressão em inglês big emer- dimentos sobre os quais incidem impostos e de-
gent markets, isto é, “grandes mercados emer- duções são reduzidos. Os benefícios mais co-
gentes”. Esta expressão começou a ser dissemi- muns são: fornecimento de automóvel (desde o
nada a partir da conferência em Cingapura (de- simples leasing do veículo até pagamento de to-
zembro de 1996) da Organização Mundial do das as despesas, inclusive motorista), casa, es-
Comércio (OMC), e inclui cerca de doze países, cola para os filhos, clube para toda a família,
entre os quais o Brasil. Veja também OMC. passagens e estadas no período de férias, cartões
51 BENS DURÁVEIS

de crédito e planos especiais de saúde e de se- aumentam sua utilidade. Exemplos de bens
guro de vida. O vale-alimentação e o vale-trans- complementares são o café e o açúcar, o auto-
porte também podem ser considerados benefí- móvel e a gasolina, a eletricidade e a lâmpada
cios salariais. elétrica. Do ponto de vista mercadológico, os
bens complementares apresentam certas pecu-
BENEFÍCIOS SOCIAIS. Conjunto das melho- liaridades porque a comercialização de cada um
rias auferidas por uma comunidade em decor- deles está associada à do outro: quando ocorre,
rência da implantação de uma indústria, ainda por exemplo, uma queda significativa na de-
que o empreendimento não esteja voltado para manda dos cigarros, é de esperar uma queda
tais objetivos. Entre os benefícios sociais, estão correspondente na demanda de isqueiros.
o aumento de oportunidades de emprego, o in-
cremento às atividades comerciais e de lazer, o BENS DE CAPITAL. São bens que servem para
saneamento básico e a abertura de estradas. Veja a produção de outros bens, especialmente os
também Multiplicador. bens de consumo, tais como máquinas, equipa-
mentos, material de transporte e instalações de
BENELUX. União alfandegária entre Bélgica, uma indústria. Alguns autores usam a expressão
Holanda e Luxemburgo, criada em 1944 em Lon- bens de capital como sinônimo de bens de pro-
dres e posta em prática gradualmente até 1948. dução; outros preferem usar esta última expres-
Seu objetivo, além da eliminação das tarifas são para designar algo mais genérico, que inclui
aduaneiras entre esses países e da adoção de ainda os bens intermediários (matéria-prima de-
tarifas comuns para as importações de outras pois de algumas transformações, como, por
nações, foi a completa integração econômica dos exemplo, o aço) e as matérias-primas.
países membros (um tratado nesse sentido foi
ratificado em 1960). O esquema do Benelux teve BENS DE CONSUMO DURÁVEIS. Bens de
grande influência na criação do Mercado Co- consumo que prestam serviço durante um pe-
mum Europeu, organização integrada também ríodo de tempo relativamente longo, como uma
por esses três países. As tarifas do Benelux foram máquina de lavar roupa ou um automóvel. Di-
unificadas às do Mercado Comum em julho de ferem dos bens de consumo não-duráveis, como
1968. os alimentos, que são usados uma única vez.
Além dessa diferença intrínseca, os bens de con-
BENS. Tudo o que tem utilidade, podendo sa- sumo duráveis diferem dos não-duráveis pelo
tisfazer uma necessidade ou suprir uma carên- fato de que sua comercialização está sujeita a
cia. Os bens econômicos são aqueles relativamente oscilações muito maiores, devido a modismos,
escassos ou que demandam trabalho humano. à situação econômica geral e a outras influências.
Assim, o ar é um bem livre, mas o minério de
ferro é um bem econômico. Existem vários tipos BENS DE PRIMEIRA ORDEM. Conceito de-
de bens econômicos, podendo-se distingui-los senvolvido pelos marginalistas (Carl Menger,
por sua natureza, por sua função na produção, Stanley Jevons) para classificar os bens de acor-
por suas relações com outros bens, por suas pe- do com sua distância do ato final de consumo.
culiaridades no que se refere à comercialização Quanto mais baixa a ordem de um bem, mais
etc. Entre as principais distinções feitas pelos próximo estaria ele do consumo final. Os bens
economistas estão: os bens de consumo (um ali- de segunda ordem seriam, por exemplo, aqueles
mento, um par de sapatos), os bens de capital ou bens que dariam origem aos de primeira ordem,
de produção (máquinas, equipamentos), os bens e assim por diante. Os bens de ordem mais bai-
duráveis (uma casa), os bens não-duráveis (uma xa, se não forem dádivas da natureza, sempre
fruta), os bens mistos (um automóvel é bem de se originam da combinação de bens de ordens
capital para um motorista de táxi e bem de con- superiores. Veja também Jevons, Stanley; Men-
sumo para a pessoa que o usa por prazer), os ger, Carl; Marginalistas.
bens necessários (alimentos, roupas), os bens su-
pérfluos (uma jóia), os bens complementares (pneu BENS DE PRODUÇÃO. Veja Bens de Capital.
e volante de automóvel) e os bens sucedâneos BENS DURÁVEIS. Categoria de bens que têm
(margarina, em relação à manteiga). utilidade durante um grande período de tempo,
BENS ALODIAIS. Bens dos quais um indiví- abrangendo, portanto, os bens de consumo du-
duo pode dispor livremente, sem necessidade ráveis e os bens de capital. As indústrias que
de licença de qualquer outra pessoa e que, con- produzem bens duráveis são muito mais afeta-
seqüentemente, se comunicam entre os cônjuges das pelas crises econômicas do que as que se
e se repartem entre os co-herdeiros. dedicam aos bens não-duráveis. Sua expansão
é de tal modo condicionada pela expansão do
BENS COMPLEMENTARES. São os bens eco- consumo — conforme o princípio da aceleração
nômicos que devem ser combinados para satis- — que qualquer queda ou simples nivelamento
fazer uma necessidade; usados em conjunto, eles na procura dos bens não-duráveis implica vio-
BENS INTERMEDIÁRIOS 52

lenta queda na produção de bens de capital e man) contra as proibições de escravização de


de bens de consumo duráveis. Veja também indígenas no Norte do Brasil (Pará) e contra as
Bens de Consumo Duráveis. abusivas condições impostas pela Companhia
de Comércio do Maranhão para a importação
BENS INTERMEDIÁRIOS. Bens manufatura- de nativos africanos que resolvessem o proble-
dos ou matérias-primas processadas que são em- ma da falta de braços existente na região na épo-
pregados para a produção de outros bens ou ca. A rebelião teve início em 1684 e foi uma das
produtos finais. O lingote de aço, originário de primeiras contra o domínio da Metrópole, com
uma siderúrgica, é um bem intermediário que, relativo êxito inicial. Os insurretos aprisionaram
numa fábrica de autopeças, pode se transformar o governador, formaram uma junta que deter-
em chassi, roda ou eixo, produtos que também minou a abolição do monopólio na importação
são bens intermediários na fabricação do auto-
de escravos e a deportação dos jesuítas (que de-
móvel — um produto final, acabado. Os pro-
fendiam os índios), cujas propriedades foram
dutos intermediários, portanto, são insumos que
ocupadas. Contra essa afronta à autoridade da
em geral uma empresa compra de outra para
Metrópole, foi organizada uma expedição puni-
elaboração dos produtos de sua especialidade.
tiva, que aprisionou e condenou à morte Manuel
Até o produto final, a produção passa por uma
Beckman e outros líderes do movimento. No
cadeia de bens intermediários, em decorrência
Norte, assim como em outras regiões do país,
da divisão do trabalho.
a falta de mão-de-obra durante o século XVII
BENS LIVRES. Bens que satisfazem necessida- foi um problema que só foi parcialmente resol-
des e suprem carências, mas são tão abundantes vido com a importação maciça de escravos. An-
na natureza que não podem ser monopolizados tes disso, porém, especialmente os jesuítas se
nem exigem trabalho algum para ser produzi- opunham à escravização dos indígenas, conse-
dos, não tendo, portanto, preço; por exemplo, guindo obter da Coroa Portuguesa algumas re-
o ar ou a luz do sol. gras que os proprietários de terras consideravam
inexequíveis, como, por exemplo, pagar salários
BENS-SALÁRIO. Conjunto de bens que em a esses trabalhadores e conceder-lhes um perío-
cada país constitui a cesta de consumo básico do relativamente longo para que pudessem cui-
do trabalhador, segundo seu padrão de vida. dar de suas próprias roças. Os colonos sempre
São formados pelos artigos de primeira neces- se opuseram a tais regras, que com toda a certeza
sidade para o trabalhador e sua família, como somente poderiam ser implementadas contra a
os alimentos, o vestuário, a habitação, o trans- vontade destes, isto é, pela força.
porte e os serviços de educação e saúde. Por lei,
o salário mínimo deveria ser suficiente para pro- BERLE JR., Adolf Augustus (1895-1971). Diplo-
porcionar ao trabalhador essa quantidade míni- mata e economista norte-americano que se des-
ma de bens, indispensáveis a sua sobrevivência tacou no estudo do capitalismo em seu país. Par-
familiar. ticipou da delegação dos Estados Unidos que
negociou a paz da Primeira Guerra Mundial
BENTHAM, Jeremy (1748-1832). Filósofo, ju- (1914-1918), atuou como diplomata especializa-
rista e economista inglês, criador do utilitarismo. do em América Latina nos governos de Roose-
Em 1787, escreveu Defence of Usury (Proibição velt, Truman e Kennedy, e foi embaixador dos
da Usura), onde se alinha com Adam Smith, a
Estados Unidos no Brasil (1945-1946). Formado
favor da liberdade de iniciativa econômica do
em Direito por Harvard, foi professor da Uni-
indivíduo. Com An Introduction to the Principles
versidade de Colúmbia de 1927 a 1964 e escreveu
of Morals and Legislation (Uma Introdução aos Prin-
vários livros sobre assuntos políticos e econô-
cípios da Moral e da Legislação), de 1789, Bentham
micos. Sua obra econômica de maior repercus-
expôs a doutrina utilitarista que o tornaria cé-
são, The Modern Corporation and Private Property
lebre. Considerando que apenas o egoísmo e a
(A Moderna Sociedade Anônima e a Proprieda-
busca da felicidade motivam a conduta humana,
de Privada), escrita em colaboração com Gardi-
defendia um sistema de governo que harmoni-
zasse os interesses, garantindo a maior satisfa- ner C. Means e publicada em 1932, mostra como
ção possível ao maior número de pessoas. Em se processou a concentração capitalista nos Es-
Plan of a Parliamentary Reform, in the Form of a tados Unidos. Nela, Berle prevê que a economia
Catecism (Plano de Reforma Parlamentar, sob a For- norte-americana seria inteiramente absorvida
ma de Catecismo), de 1817, propôs reformas de- pelas duzentas maiores empresas do país se fos-
mocráticas do sistema político inglês, defenden- se mantida a taxa de crescimento verificada nos
do eleições anuais, sufrágio universal e voto se- anos de 1909 a 1929. Ainda sobre a concentração
creto. Veja também Utilitarismo. da economia em grandes empresas, destaca-se
na obra de Berle o livro The Twentieth Century
BEQUIMÃO. Rebelião liderada por Manuel Capitalist Revolution (A Revolução Capitalista do
Beckman (Bequimão é uma corruptela de Beck- Século Vinte), de 1955.
53 BETA

BERNOULLI (Família). A família Bernoulli, per- o movimento revisionista, tentativa de rever a


tencente à religião protestante, oriunda da Ho- obra de Marx, retirando-lhe o caráter revolucio-
landa, estabeleceu-se na Suíça. Foi uma família nário e propondo a persuasão e educação gra-
da qual se originaram, no final do século XVI dual como meios de alcançar o socialismo. Foi
e ao longo do século XVII, oito matemáticos bri- amigo íntimo e colaborador de Engels durante
lhantes, e todos eles tiveram um papel impor- muitos anos e destacado representante da so-
tante no desenvolvimento do cálculo matemá- cial-democracia alemã. Logo após a morte de
tico. Os irmãos Jacob (1654-1705), Johann (1667- Engels (1895), contudo, e por influência do so-
1748) e Daniel (1700-1782), o segundo filho de cialismo fabiano inglês, abandonou toda idéia
Johann, foram destacados matemáticos. Jacob e de transformação revolucionária da sociedade,
Johann eram amigos de Liebniz, com quem tro- declarando que o Partido Social-democrata de-
caram nutrida correspondência por meio da veria ser um partido da reforma. Em sua prin-
qual pode-se dizer que o cálculo matemático se cipal obra, Die Voraussetzungen des Sozialismus
desenvolveu. Jacob estudou os problemas do und die Aufgaben der Sozialdemocratie (As Premis-
tautochrone, do brachistochrone, da geometria, da sas do Socialismo e as Tarefas da Social-Demo-
dinâmica e outros, inclusive o problema isope- cracia), de 1899, Bernstein nega o conceito mar-
rimétrico. Foi o primeiro a mudar, em 1690, o xista da intensificação da luta de classes e da
nome até então utilizado de calculus summatoris inevitabilidade da revolução, preconizando
para calculus integralis, que se mantém até hoje. meios graduais para melhorar as condições dos
Seu livro Ars Conjectandi foi publicado postu- operários mediante a ação sindical e política. E,
mamente em 1713. Nesta obra foram encontra-
em lugar da concepção marxista do socialismo
das as regras que tornaram seu nome destacado
como o resultado necessário de processos his-
na teoria da probabilidade. Ele foi professor de
tóricos objetivos, apresenta-o como uma escolha
física experimental na Universidade da Basiléia
da humanidade, de acordo com padrões éticos
e, mais tarde, tornou-se professor de matemá-
e morais. Do ponto de vista econômico, Berns-
tica. Ensinou matemática a seu irmão Johann,
tein ataca, em seu livro, a teoria marxista do
que o sucedeu como professor na mesma uni-
versidade. As descobertas de Johann aparece- colapso capitalista. Apoiando-se na situação eco-
ram nas publicações Acta Eruditorum e Journal nômica da Europa Ocidental, usou dados esta-
des Savants. Em 1701, o início do cálculo das va- tísticos para mostrar que o capitalismo estaria
riações foi utilizado em sua solução para o cál- apenas diferenciando e não polarizando as clas-
culo do problema isoperimétrico. Ele introduziu ses, e também para condenar o determinismo
o termo functio, a origem do termo atual “fun- econômico do processo histórico. Bernstein foi
ção”, amplamente utilizado em matemática. deputado no Reichstag, onde exerceu três man-
Apesar das discrepâncias entre os irmãos e tam- datos. Durante a Primeira Guerra Mundial, foi
bém entre pais e filhos, os Bernoulli eram pes- um dos fundadores do Partido Social-democrata
quisadores brilhantes e grandes professores, que Independente. Exerceu ainda o cargo de secre-
ensinaram não apenas seus filhos, mas também tário do Tesouro do governo alemão.
matemáticos como Euler. Daniel Bernoulli des-
BESSIE. Apelido das ações da Bethlehem Stell
tacou-se especialmente na teoria da pro-
Co. na Bolsa de Valores de Nova York.
babilidade, dando também contribuições no
campo da hidrodinâmica e da teoria cinética dos BETA. Termo analítico utilizado para descrever
gases. Nicolau Bernoulli, neto de Johann, dis- diferenças de preços em instrumentos financei-
tinguiu-se como professor de matemática em ros, comparando o preço imediato de um título
São Petersburgo. O irmão mais novo de Daniel, específico ao movimento em geral de um mer-
Johann (1710-1790), sucedeu seu pai Johann Sr. cado. Se a diferença for grande, o título é con-
como professor na Universidade de Basiléia. O siderado possuidor de um beta elevado em re-
filho de Johann Jr., também chamado Johann lação aos demais, e, se a diferença for diminuta,
(1744-1807), foi catedrático de matemática na o título terá um beta pequeno. O Índice Standard
Academia de Berlim. Um filho do terceiro Jo-
& Poor’s 500 (que inclui as cotações de quinhen-
hann, chamado Jacob (1759-1789), foi professor
tas ações da Bolsa de Nova York) é o ponto de
de física experimental na Universidade de Ba-
referência e tem um beta igual a 1. Uma ação
siléia. Nicolau (1687-1759), neto do fundador da
específica mais volátil do que essa média teria
família Nicolau (1623-1708) e filho de Nicolau
um beta superior a 1, isto é, suas cotações au-
Bernoulli, o pintor (1662-1716), ocupou entre
mentariam ou cairiam mais rapidamente do que
1716 e 1719 a cátedra de matemática em Pádua,
que pertencera a Galileu. Veja também Lei dos as da S&P 500. Em geral, as ações com betas
Grandes Números; Risco. superiores a 1 são mais arriscadas, enquanto
aquelas com índices inferiores a 1 são mais se-
BERNSTEIN, Eduard (1850-1932). Político e pen- guras e suas oscilações, menos pronunciadas.
sador alemão. Fundou, em fins do século XIX, Veja também Alfa; S&P 500.
BETINHO 54

BETINHO. Veja Fome. bricar pesticidas numa fábrica da Union Carbi-


de, provocou a morte de no mínimo 2 500 pes-
BETRIEBSRAT. Termo em alemão que significa soas (a cifra exata é difícil de estabelecer, uma
conselho de trabalhadores, que constitui um re- vez que muitas famílias enterraram seus mortos
quisito legal nas indústrias da Alemanha, de fora da cidade onde o acidente ocorreu) e mais
acordo com a Lei de Co-gestão (Co-determina- de 200 mil pessoas foram feridas pelo desastre.
ção). Veja também Aufsichtsrat; Lei da Co-ges- O acidente provocou também seqüelas nos so-
tão; Vorstand. breviventes atingidos pelo gás: vários bebês nas-
BETTELHEIM, Charles (1913- ). Economista fran- ceram deformados e ocorreram muitos abortos
cês, autor de vários livros sobre a planificação espontâneos em Bhopal. Veja também Mal de
socialista e os problemas da planificação em ge- Minamata.
ral. Em 1936, visitou a União Soviética pela pri- BIB (Brazil Investment Bond). Veja Plano Bra-
meira vez, e seis anos depois publicou seu pri- dy; TJLP.
meiro livro sobre a planificação socialista. Logo
após o término da Segunda Guerra Mundial, pu- BIBOR. Veja Ibor.
blicou o segundo livro a respeito do mesmo as-
sunto, do ponto de vista teórico e prático. Sua BID — Banco Interamericano de Desenvol-
visão sobre a formação soviética modificou-se vimento. Instituição internacional sediada em
substancialmente depois da revolução cultural Washington, foi criada em 1959 para prestar aju-
chinesa e dos acontecimentos no Leste europeu da financeira aos países da América Latina e do
no início dos anos 70, especialmente na Polônia. Caribe. Subscrita inicialmente pelas nações ame-
Sua obra mais importante é a trilogia Les Luttes ricanas, conta desde 1974 com doze nações fora
de Classe en URSS, cujo primeiro volume, cor- do hemisfério, entre elas a Grã-Bretanha. Seus
respondente ao período 1917-23, foi lançado no principais acionistas são Estados Unidos, Cana-
Brasil em 1975 com o título A Luta de Classes na dá, Brasil, Argentina e México.
União Soviética. Na obra, sustenta a tese de que
na União Soviética prevalece o capitalismo de BIG-BANG. Expressão em inglês utilizada ori-
Estado e não um Estado socialista. O segundo ginalmente no campo da astronomia para ex-
volume, que analisa o período 1923-1930, foi edi- plicar a origem do universo, e tomada de em-
tado na França em 1977. Bettelheim escreveu préstimo pelo mundo financeiro para designar
ainda L’Économie Soviétique (A Economia Sovié- o que ocorreu na Bolsa de Valores de Londres
tica), 1950, e Problémes Théoriques et Pratiques de (London Stock Exchange) no dia 27/10/1986,
la Planification (Problemas Teóricos e Práticos da quando várias mudanças foram operadas nesta
Planificação), 1952. instituição de existência secular, no sentido de
eliminar barreiras que impediam maior compe-
BEVERIDGE, William Henry (1879-1963). Eco- tição nos mercados financeiros londrinos. Por
nomista inglês que se notabilizou por seus es- exemplo, foram eliminadas as comissões fixas
tudos sobre desemprego e propostas de previ- dos operadores, e em seu lugar estabeleceu-se
dência para os trabalhadores. Em 1911, colabo- um sistema de remuneração por faixas; foram
rou com o então secretário do Interior Winston eliminadas as distinções até então existentes en-
Churchill na instituição de um seguro-desem- tre jobbers e brokers e passou-se a permitir que
prego. Entre 1919 e 1937, dirigiu a London operadores não-britânicos tivessem acesso ao
School of Economics, e em 1941 tornou-se pre- floor da Bolsa de Valores. Veja também Broker;
sidente do comitê administrativo interministe- Jobber.
rial encarregado de analisar o sistema previden-
ciário vigente na Inglaterra. Disso resultou o Pla- BIG BLUE. Apelido das ações da IBM (Interna-
no Beveridge, em 1942, que serviu de base para tional Business Machines) em função da cor do
a reforma da estrutura da previdência social na seu logotipo. Constitui um dos papéis mais im-
Inglaterra e em vários outros países. Suas con- portantes da Bolsa de Nova York.
cepções teóricas encontram-se nos livros Unem-
ployment, 1931, e Full Employment in a Free Society BIG BOARD. Expressão que designa o grupo
(Pleno Emprego numa Sociedade Livre), 1944. de diretores da Bolsa de Valores de Nova York.
Veja também Plano Beveridge. A expressão é também utilizada para designar
a própria Bolsa de Valores de Nova York.
BEVERIDGE PLAN. Veja Plano Beveridge.
BIG EIGHT. Expressão em inglês que designa
BHOPAL. Nome de cidade na Índia Central as oito grandes empresas norte-americanas de
onde ocorreu um dos maiores desastres ecoló- contabilidade e auditoria, que realizam esses
gicos de origem industrial do mundo. Em de- serviços para as maiores e mais importantes cor-
zembro de 1984, um vazamento de isocianato porações daquele país, e são as seguintes: Arthur
de metila, produto químico utilizado para fa- Andersen, Coopers and Lybrand, Ernest Whit-
55 BIMETALISMO

ney; Deloitte Haskins & Sells; Peat, Marwick, 1771. Em 1803, pelo Alvará de 13 de novembro
Mitchell & Co.; Price Water House; Touche Ross; daquele ano às Reais Casas da Fundição de
Arthur Young. Ouro, foi autorizada a emissão de bilhetes para
a permuta do ouro em pó, com o objetivo de
BIG MAC INDEX. Veja Índice Big Mac. coibir a circulação do metal como moeda e fa-
BIG PUSH. Expressão em inglês que significa, cilitar as operações comerciais.
literalmente, “grande arrancada”. Este conceito BILHETES DE EXTRAÇÃO. Conhecimentos de
originou-se nas teses de Rosenstein-Rodan sobre depósito emitidos pelas administrações das Ca-
o desenvolvimento dos países em processo de sas da Moeda no início do século passado, ne-
industrialização. Ele defendia a tese de que o gociáveis por endosso e garantidos pelos ativos
desenvolvimento equilibrado com grandes in- do orgão emissor. Constituíram um precursor
vestimentos em diversos campos poderia supe- do papel-moeda. O Alvará de 13 de maio de
rar os problemas das indivisibilidades dos paí- 1803, do Príncipe Regente de Portugal e de Al-
ses cujos mercados internos eram estreitos. Se garve, dizia, entre outras coisas, o seguinte:
um grande número de indústrias fosse implan- “...Autorizo os administradores da mesma Casa
tado simultaneamente, cada uma poderia re- (da Moeda) a darem um bilhete extraído dos
presentar a demanda de outra, de tal maneira seus livros ou registros, no qual se declare a
que os setores que na ausência dessa demanda quantidade e título do ouro com que o mineiro
seriam anti-econômicos tornar-se-iam viáveis, entrar; indicando-se o valor total, e o dia em
permitindo um rápido e equilibrado desenvol- que achará na Casa da Moeda o seu ouro fabri-
vimento da economia. As críticas a esse tipo de cado, e cunhado; o qual dia não podendo em
concepção se concentraram em dois pontos: 1) caso algum ser alterado, poderá este bilhete ser
o hiperinvestimento levaria necessariamente a posto em circulação, e correrá como uma Letra
processos inflacionários expressivos; 2) não seria de Câmbio a vencer; fazendo-se nas costas dele
realista supor que um programa maciço de in- o seu trespasse para que o último portador fique
vestimentos fosse realizado pela simples expec- autorizado a receber o seu valor, quando quiser
tativa de que a demanda correspondente surgi- ir cobrá-lo à Casa da Moeda”.
ria na raiz dos próprios investimentos que es-
tivessem sendo realizados. Veja também Hipe- BILHETES DE PERMUTA. Títulos emitidos a
rinvestimento; Indivisibilidades. partir de 1803, similares aos “bilhetes de extra-
ção”, que eram uma espécie de conhecimentos
BILATERALISMO. Prática de acordos especiais de depósitos, negociáveis por endosso e garan-
de comércio e de pagamentos assinados entre tidos pelo ativo das Administrações da Casa da
dois países. Consiste, em geral, na fixação de Moeda, contra as quais eram sacados.
cotas de importação e taxas alfandegárias pri-
vilegiadas, não aplicadas ao comércio com os BILHETES DE PERMUTA DO OURO EM
demais países. O bilateralismo tornou-se uma PÓ. Emitidos em 1808 pela Capitania das Minas
prática comum no comércio internacional a par- Gerais com os valores representativos já impres-
tir da crise econômica de 1930 e intensificou-se sos em importâncias correspondentes a vinténs
de ouro nas denominações de 37,5; 75; 150; 300
depois da Segunda Guerra Mundial, como re-
e 600 réis. Foram autorizados pelo Alvará de 1º
curso para recuperar as economias destruídas
de setembro de 1808, que tratava de cédulas de
pelo conflito e criar mecanismos de controle do
papel-moeda.
comércio mundial. Ao mesmo tempo foi com-
batido como prejudicial ao comércio internacio- BILL OF LADING. Expressão em inglês que
nal como um todo, surgindo assim a necessidade significa conhecimento de embarque ou de
de um acordo global: isso foi conseguido por transporte e que consiste num documento que
meio do Acordo Geral de Tarifas e Comércio o responsável pelo transporte de uma mercado-
(General Agreement on Tariffs and Trade — ria (por trem, navio etc.) entrega ao seu pro-
GATT). Outra contrapartida às relações bilate- prietário, declarando que ela foi recebida para
rais são os acordos multinacionais regionais, transporte até um determinado destino, estabe-
como o Mercado Comum Europeu, que man- lecendo as condições sob as quais essa merca-
têm, contudo, um caráter restritivo em relação doria está sendo transportada.
aos países que não compõem esses grupos. Veja
também Multilateralismo. BIMETALISMO. Sistema monetário em que a
unidade monetária de um país é estabelecida
BILHETES DA REAL EXTRAÇÃO DE DIA- em lei em termos de dois metais — via de regra
MANTES. Certificados representativos da pro- o ouro e a prata —, numa relação de valor es-
priedade de diamantes, emitidos pelo Arraial pecífica entre eles. Cada metal é aceito em quan-
do Tejuco, na Capitania de Minas Gerais, e au- tidades ilimitadas para cunhagem e o que for
torizados pelo Regimento de 2 de agosto de cunhado deve ser aceito como moeda legal (legal
BIMETALISMO MANCO 56

tender). O principal problema dos sistemas bi- à evolução biológica. Veja também Teoria da
metalistas é a manutenção da relação de valor Complexidade.
entre os dois metais, tendo-se em vista a flutua-
ção de preços dos mesmos nos mercados interno BIRD — Banco Internacional de Reconstrução
e externo. Se tais flutuações provocarem a des- e Desenvolvimento. Instituição financeira inter-
nacional ligada à ONU e conhecida também
valorização de um metal em relação ao outro,
como Banco Mundial (World Bank). Criado em
as moedas cunhadas no metal desvalorizado
1944, na Conferência de Bretton Woods, teve o
tenderiam a expulsar de circulação as moedas
objetivo inicial de financiar os projetos de recu-
cunhadas no metal valorizado. O sistema foi uti- peração econômica dos países atingidos pela
lizado nos países europeus e nos Estados Unidos guerra. Sediado em Washington, reúne 139 paí-
durante o século XIX, embora de forma descon- ses (1980). Fornece empréstimos diretos a longo
tínua, em grande medida porque se acreditava prazo (15 a 25 anos) aos governos e empresas
que um sistema monetário baseado apenas em (com garantias oficiais), para projetos de desen-
um metal poderia resultar em deflação se a ofer- volvimento e assistência técnica. O maior volu-
ta do metal a ser monetizado não acompanhasse me de recursos, desde que o banco começou a
a expansão da atividade econômica, especial- operar, em 1946, até 1981, foi dirigido aos setores
mente do comércio. No entanto, se a relação de de energia, transporte e agricultura. As contri-
valor entre os dois metais fosse modificada pelas buições de cada país-membro ao capital do Bird,
flutuações dos respectivos preços, o metal de assim como o direito ao voto, são estabelecidas
valor relativo mais alto seria exportado, perma- proporcionalmente à participação do país no co-
necendo no país o metal de menor valor, ten- mércio internacional. O maior acionista do Bird
dendo assim o sistema para o monometalismo. é o governo dos Estados Unidos, que tem poder
Com a generalização do uso do papel-moeda, de veto sobre as decisões da organização. O ban-
no final do século XIX e início do XX, a neces- co opera por meio de duas agências filiadas: a
sidade de um sistema bimetalista perdeu sua Corporação Financeira Internacional e a Asso-
razão de ser. Veja também Mágico de Oz; Mo- ciação Internacional de Desenvolvimento.
nometalismo.
BIRR. Unidade monetária da Etiópia. Submúl-
BIMETALISMO MANCO. Veja União Latina. tiplo: cent.

BIMODAL. Característica de uma distribuição BIS (Bank for International Settlements). Veja
que possui duas modas. Veja também Moda. Banco para Pagamentos Internacionais.

BINÁRIO. Veja Sistemas de Pesos e Medidas. BIS. Iniciais da expressão em inglês british im-
perial system, que designa o sistema de pesos e
BINARY DIGIT. Veja Bit. medidas utilizado na Inglaterra, e também o
Bank for International Settlements. Veja também
BIOMASSA. Total da matéria orgânica contida Banco para Pagamentos Internacionais.
em determinado espaço, incluindo todos os ani-
mais e vegetais. Para a economia, interessa a BIT. O termo admite vários significados: 1) de-
biomassa que possa ser utilizada como matéria- nominação popular dada pelos americanos ao
prima, especialmente na produção de energia. real espanhol desde os tempos em que a Espa-
Com a crise do petróleo em 1973, intensificou-se nha colonizou a Flórida. Mais tarde, quando ha-
a pesquisa de novas fontes energéticas de ex- via poucos bits (pedacinhos em inglês) em cir-
culação e o dólar equivalia a oito reais espa-
ploração mais imediata. Do estudo da biomassa
nhóis, os americanos cortavam notas de dólar
surgiram, por exemplo, projetos para a produ-
em quatro pedaços, passando cada um deles a
ção de combustíveis como o etanol, o metanol
valer dois reais ou dois bits. Até hoje nos Estados
(a partir da cana-de-açúcar, mandioca, madeira
Unidos, na gíria, vinte e cinco centavos de dólar
etc.) e o gás metano (por industrialização de de- correspondem a dois bits, e meio dólar, a quatro
tritos orgânicos). No Brasil, destaca-se o plano bits; 2) contração da expressão em inglês binary
Proálcool, de produção de combustível para veí- digit (dígito binário), o bit é a unidade elementar
culos. de informação em computadores digitais, po-
dendo adotar o valor “um” ou o valor “zero”.
BIONOMICS. Termo em inglês formado pelas
Por exemplo, 1 101 é um número de quatro bits.
palavras biology e economics. Considera a econo-
O dígito binário significa um algarismo na re-
mia ecossistemas, e não maquinismos. Esta nova
presentação binária de um número; 3) o bit sig-
concepção foi desenvolvida pelo Bionomics Ins- nifica também uma pequena parte de um pro-
titute (San Rafael, Califórnia, EUA) e a idéia cen- grama radiofônico.
tral é que os indivíduos, as organizações e os
mercados existem numa teia complexa e adap- BITRIBUTAÇÃO. Ocorre quando dois impos-
tativa na qual o progresso tecnológico é análogo tos, decretados por entidades diferentes, inci-
57 BLUE-CHIP

dem sobre o mesmo bem ou fato gerador. Um envolvendo mecanismos para o comércio de
caso típico é a superposição dos impostos de produtos agrícolas no âmbito do Gatt. Elaborado
dois ou mais países. Alguns países sujeitam ao em 1992 depois de exaustivas discussões envol-
Imposto de Renda os lucros e dividendos aufe- vendo especialmente interesses dos Estados
ridos no estrangeiro por cidadãos que conti- Unidos e da França, teve como principais obje-
nuam residindo no país. Como esses contribuin- tivos os seguintes: 1) transformar todas as bar-
tes também devem pagar o imposto no país reiras não-tarifárias (como a fixação de cotas)
onde a renda é gerada, ficam sujeitos à dupla em tarifas, que serão reduzidas em 36% para os
tributação. países industrializados e em 24% para os países
em desenvolvimento; 2) os países cujos merca-
BLACK. Termo em inglês cujo significado é “ne- dos agrícolas estão fechados terão de importar
gro”, geralmente utilizado no mundo dos negó- pelo menos 3% do consumo interno do produto,
cios para designar o mercado ilegal de moeda subindo para 5% num prazo de seis anos; 3) os
estrangeira (no Brasil, especialmente o dólar), subsídios aos produtos agrícolas que distorcem
mas também se aplica a mercadorias contraban- o comércio serão cortados em 20% num prazo
deadas ou que não podem ser vendidas sem de seis anos, e em 13,3% para os países em de-
uma licença especial do governo. O grau de le- senvolvimento; 4) o valor dos subsídios diretos
gitimidade desses mercados pode ser tão grande às exportações será reduzido em 36% em 6 anos,
que os principais orgãos de comunicação de um enquanto o volume será reduzido em 21%. O
país — como acontece no Brasil — divulgam as período base é 1986-1990 ou 1991-1992, caso as
cotações do Black, do Negro ou do Paralelo dia- exportações fossem mais elevadas naquele pe-
riamente. Veja também Mercado Negro; Mer- ríodo; 5) as nações mais pobres estarão isentas
cado Paralelo. dessas regras na área agrícola.
BLACK MONDAY. Expressão em inglês que BLANC, J.J. Charles Louis (1811-1882). Socia-
designa um dia da semana (no caso uma segun- lista francês e um dos líderes da revolução de
da-feira) em que houve uma forte queda na Bol- 1848. Defendia uma reforma social baseada na
sa de Valores de Nova York. Nesse caso, tra- criação de associações operárias de produção,
tou-se do dia 19 de outubro de 1987, quando a mas sob a égide do Estado. Segundo ele, a ri-
média Dow Jones caiu 508 pontos na Bolsa de queza produzida deveria ser repartida da se-
Nova York, provocando um início de pânico, guinte forma: 25% para um fundo de amortiza-
na medida em que os aplicadores acreditavam ção do capital, 25% para um fundo de seguro
que estava se iniciando uma crise semelhante à social, 25% para um fundo de reserva, 25% para
de 1929, fato que, na realidade, não aconteceu. repartir entre os trabalhadores. Escreveu as
Veja também Black Tuesday; Dow Jones; Pâ- obras: Organização do Trabalho (1840), História de
nico. Dez Anos (1841) e Direito ao Trabalho (1848).

BLACK SCHOLES MODEL. Fórmula matemá- BLISS POINT. Expressão em inglês que signi-
tica bastante utilizada na avaliação de preços fica “ponto de felicidade” ou de “êxtase”. Es-
de contratos de opção. O modelo tenta estabe- pecificamente na teoria do consumidor, refere-se
lecer se os contratos de opções estão com seus ao ponto em que este experimenta uma total
preços razoavelmente bem ajustados, mediante saciedade em relação aos bens consumidos, sen-
a comparação do preço do instrumento (opção) do que tal ponto se encontra dentro de suas li-
mitações orçamentárias. Ele só pode ser alcan-
e o preço (strike price) do exercício da opção, a
çado se o consumidor não agir de acordo com
volatilidade do instrumento, o tempo que resta
o “axioma da dominância”, isto é, se não preferir
até a data da opção, e as taxas correntes de juro.
sempre mais de todos os bens existentes. Veja
O modelo black scholes também foi adaptado
também Axiomas da Preferência.
para a gerência dos ativos-passivos dos bancos
e da precificação das taxas de juro caps and collors. BLOCK TRADE (Transação em Bloco). Expres-
são inglesa utilizada nas Bolsas de Valores para
BLACK TUESDAY (Terça-feira Negra). Dia designar um negócio que envolve um lote ex-
29/10/1929, data da grande quebra da Bolsa de traordinariamente grande de ações, de uma só
Valores de Nova York, quando o volume de vez.
transações dobrou e o Dow Jones caiu, no início
do pregão, de 252 para 238 e, no encerramento, BLUE — Best Linear Unbiased Estimator. Veja
para 212. Teorema de Gauss-Markov.

BLADING. Veja Bill of Lading. BLUE-CHIP. Termo em inglês utilizado no jar-


gão das Bolsas de Valores para designar as ações
BLAIR HOUSE (Plano). Plano estabelecido en- mais estáveis de maior liquidez, mais seguras
tre os Estados Unidos e a Comunidade Européia e de maior rentabilidade. São também chamadas
BLUE COLLARS 58

de Ações de Primeira Linha, para diferenciá-las ou desenvolvimento de projetos de engenharia,


das Ações de Segunda Linha, que são ações de bem como atuar como agente do BNDES. Veja
menor liquidez, de menor segurança e menos também BNDES.
procuradas pelos investidores. No Brasil, são
consideradas blue-chips as ações das grandes em- BNH — Banco Nacional da Habitação. Insti-
presas estatais como o Banco do Brasil, a Petro- tuição de crédito vinculada ao Ministério do In-
brás e a Vale do Rio Doce. terior, criada em 1964 para financiar a execução
do Plano Nacional da Habitação. Fornecia finan-
BLUE COLLARS. Expressão em inglês que sig- ciamento a curto prazo para os construtores de
nifica literalmente “colarinho azul” e designa moradias e a longo prazo para os compradores
aqueles trabalhadores de fábrica diretamente li- de casa própria. Atuava também no fornecimen-
gados à produção. Veja também White Collar. to de recursos na implantação de projetos de
infra-estrutura urbana, destinados a melhorar as
BLUE SKY BARGAINING. Expressão em in-
condições de moradia da população. Utilizava
glês utilizada especialmente nos Estados Unidos
no âmbito das negociações coletivas entre em- recursos provenientes do Fundo de Garantia por
pregados e empregadores, quando as reivindi- Tempo de Serviço (FGTS) e de letras imobiliárias
cações dos primeiros se fazem em bases total- lançadas no mercado financeiro. O BNH foi ex-
mente irrealistas. tinto pelo decreto-lei nº 2 291, de 21 de novem-
bro de 1986. A Caixa Econômica Federal sucedeu
BNDES — Banco Nacional de Desenvolvimen- ao BNH em todos os seus direitos e obrigações,
to Econômico e Social. Instituição financeira fe- incluindo a administração do seu passivo e ati-
deral criada em 1952 para fomentar o desenvol- vo, do pessoal, dos bens móveis e imóveis, na
vimento dos setores básicos da economia brasi- gestão do Fundo de Garantia do Tempo de Ser-
leira, nos planos público e privado. Surgiu como viço, do Fundo de Compensação de Variação
órgão técnico para executar o programa de rea- Salarial, do Fundo de Assistência Habitacional,
parelhamento econômico elaborado pela Comis- do Fundo de Apoio à Produção de Habitação
são Mista Brasil—Estados Unidos, e recebeu para a População de Baixa Renda e das opera-
auxílio do Banco Internacional para Reconstru- ções de crédito externo realizadas pelo BNH
ção e Desenvolvimento (Bird) e do Banco de Ex- com a garantia do Tesouro Nacional. Veja tam-
portação e Importação dos Estados Unidos bém SFH.
(Eximbank). Por decreto-lei presidencial de
25/5/1982, a instituição recebeu a responsabili- BODEMERIA. Termo muito antigo, já registra-
dade de gerir o então criado Fundo de Investi- do no Código de Hamurabi 1 800 anos antes de
mento Social (Finsocial) e teve a palavra “social” Cristo, e que consistia num empréstimo ou
acrescentada a seu nome. numa hipoteca contraída pelo proprietário de um
navio para financiar sua viagem. Se o navio nau-
BNDESPAR — BNDES Participações S.A. So- fragasse, o empréstimo não precisaria ser pago.
ciedade por ações, subsidiária do Banco Nacio- É uma das formas mais antigas de seguro ma-
nal de Desenvolvimento Econômico e Social rítimo e, durante a época romana, quando co-
(BNDES). Com sede em Brasília, objetiva pro- meçaram a surgir os seguradores, essa forma
porcionar apoio: 1) à dinamização e ao fortale-
continuava a ser praticada.
cimento das empresas nacionais que atuam nos
diversos setores da economia do país; 2) à trans- BODIN, Jean (1530-1596). Jurista francês da Re-
ferência, incorporação e desenvolvimento de tec- nascença, precursor do mercantilismo. Monge
nologia; 3) ao desenvolvimento gerencial das carmelita, deixou o convento para dedicar-se à
empresas nacionais; 4) ao fortalecimento do teoria do Estado e trabalhar como consultor do
mercado de capitais; 5) à execução de programas Parlamento de Paris e do duque de Anjou, um
e projetos correlatos. Esse apoio se dá, funda- dos líderes católicos franceses que propunham
mentalmente, por meio das seguintes formas de a unidade nacional em torno do poder real. Em
ação: participação no capital social das empresas seu clássico A República, 1576, Bodin estabeleceu
nacionais, mediante a subscrição e integraliza- a doutrina da soberania do Estado como poder
ção de ações e cotas, preferencialmente em pro- central independente das corporações, do Par-
porções minoritárias; financiamento a empresas lamento e do papado. Em economia política, Bo-
nacionais, a título de adiantamento de partici- din distinguiu-se por um avançado estudo sobre
pação societária; garantia de subscrição de ações a moeda: Réponse aux Paradoxes de Sire de Ma-
ou debêntures conversíveis em ações; aval nos lestroit (Resposta aos Paradoxos do Senhor de
empréstimos em moeda nacional ou estrangeira Malestroit), 1568. Nessa obra, sustentou que a
e outras formas de colaboração compatíveis com alta dos preços na França era devida principal-
o objetivo social da empresa. A BNDESPAR mente ao grande afluxo de ouro e prata do Novo
pode contratar em seu próprio nome a aquisição Mundo e não à política real. Tornou-se assim
59 BOISGUILLEBERT, Pierre de

um pioneiro da teoria quantitativa da moeda. feições de casa e não têm condições de aquecê-
Condenava ainda os monopólios e os gastos ex- las nos locais onde trabalham. Na região Nor-
cessivos das cortes e, embora fosse adepto de deste do país, são chamados de corumbas; no
uma autoridade central soberana, achava que ela sudeste, de volantes, birolos, peões etc.
deveria obter o “consentimento dos súditos”,
para os quais defendia o direito à propriedade BOICOTE. Termo derivado do nome do capitão
privada e à liberdade de comércio. inglês C. Boycott, um corretor de terras com
quem os irlandeses se recusaram a tratar durante
BOGEY. Termo em inglês utilizado nos Estados os motins de 1879-1881 desencadeados contra a
Unidos nos primórdios do sistema de pagamen- legislação fundiária inglesa. O termo generali-
to por peça ou por tarefa. Os trabalhadores fi- zou-se para designar hoje em dia qualquer re-
xavam uma meta de produção por conta própria cusa coletiva de consumidores e compradores
quando as taxas de pagamento por peça conti- de adquirir produtos de certas fontes ou em-
nham uma folga e restringiam o volume total presas por considerar os preços ou as condições
produzido, temendo que a administração redu- em que são vendidos extorsivos ou inaceitáveis.
zisse as taxas de pagamento por peça. O boicote pode acontecer também por parte dos
BÖHM-BAWERK, Eugen von (1851-1914). Es- sindicatos de trabalhadores, cujos membros se
tadista e economista austríaco, um dos expoen- recusam, por exemplo, a transportar produtos
tes da escola austríaca e do marginalismo, es- de uma empresa onde não se respeitam os di-
pecialista na teoria do capital e dos juros. Pro- reitos trabalhistas, ou de países onde se pratica
fessor de economia da Universidade de Viena, o apartheid. Atualmente, com a generalização das
foi deputado e ministro das Finanças de seu país lutas ecológicas para a proteção do meio am-
por duas vezes (1895-1898 e 1900-1904). Escre- biente, o boicote vem acontecendo em relação
veu Grundzüge der Theorie des Wirtschaftlichen Gü- a lojas que vendem, por exemplo, casacos de
terwertes (Elementos da Teoria do Valor Econô- pele oriundos de animais em extinção. Quando
mico dos Bens), 1886; Kapital und Kapitalzins (Ca- esse tipo de ação se reveste de base jurídica,
pital e Juros), 1884, e Positive Theorie des Kapitales como, por exemplo, a recusa da venda de armas
(Teoria Positiva do Capital), 1889. Para Böhm- para países onde não se respeitam os direitos
Bawerk, os juros são o resultado de mecanismos humanos, o procedimento é denominado “em-
psicológicos que levam o indivíduo a depreciar bargo”. Veja também Embargo.
o futuro e valorizar o presente; o juro seria, as-
BOILER ROOM. Expressão em inglês da gíria
sim, a diferença entre o maior valor que o in-
do mercado financeiro que significa um escri-
divíduo confere a um bem presente e o menor
valor que atribui ao bem futuro. A isso se acres- tório geralmente localizado em pontos de difícil
centam — segundo o autor — uma razão de acesso, utilizado por corretores inescrupulosos
ordem econômica (um capital imediatamente para entrar em contato com clientes da lista de
disponível vale mais que um não imediatamente “otários” tentando vender-lhes títulos, ações etc.
disponível) e uma razão de ordem técnica (o de elevado risco e de empresas de solvência du-
tempo exigido pelo processo de produção capi- vidosa.
talista). Com essa teoria, Böhm-Bawerk preten- BOISGUILLEBERT, Pierre de (1646-1714). Eco-
deu mostrar que o sistema capitalista repousa nomista francês, precursor dos fisiocratas, um
sobre leis naturais que não podem ser transgre- dos primeiros representantes do liberalismo eco-
didas quando se quer utilizar eficazmente as for- nômico. Autor de Le Détail de la France (A Par-
ças produtivas; pretendeu também combater as ticularidade da França), de 1697, e de Le Factum
teorias socialistas sobre a exploração da força
de la France (O Memorial da França), de 1707,
de trabalho pelo capital. Veja também Escola
em que critica acerbamente a política econômica
Austríaca; Marginalismo.
de Colbert, ministro das Finanças de Luís XIV.
BÓIA-FRIA. Denominação dada ao trabalhador Essas obras valeram-lhe o exílio e foram apreen-
agrícola que não tem emprego de caráter per- didas. Boisguillebert propunha uma reforma fis-
manente (com um mesmo empregador). O bóia- cal que abolisse grande parte dos impostos, por-
fria vive em condições muito precárias na peri- que para ele o consumo é a fonte da riqueza da
feria das cidades pequenas ou médias e trabalha nação e esta só pode aumentar na medida em
por curtos períodos de tempo em várias fazen- que aquele aumente também, o que só seria pos-
das, sendo contratado por intermediários. Por- sível com a supressão dos impostos que pesam
tanto, não tem vínculo empregatício com o seu sobre os consumidores. Defendendo medidas de
real empregador, que, por meio desse mecanis- proteção à agricultura, antecipou certas teses dos
mo, se exime de pagar os encargos sociais cor- fisiocratas. Outras obras: Traité des Grains (Tra-
respondentes. O nome bóia-fria origina-se do tado sobre os Cereais) e Dissertation sur la Nature
fato de que esses trabalhadores trazem suas re- des Richesses, de l’Argent et des Tributs (Disserta-
BOLETIM 60

ção sobre a Natureza das Riquezas, da Prata e York Futures Exchange, Sydney Futures Exchan-
dos Impostos), publicadas em 1712. ge (Austrália), The International Futures Ex-
change Ltd. (Bermudas), Financial Futures Mar-
BOLETIM. Resenha diária do movimento de ket, Montreal Stock Exchange (Montreal, Que-
uma Bolsa de Valores. Elementos essenciais dos bec), Toronto Stock Exchange Futures Market,
boletins das Bolsas são: o comportamento do Winnipeg Commodity Exchange, London Inter-
índice; a quantidade de negócios efetuados; o national Futures Exchange, London Metal Ex-
volume das transações expresso em moeda cor- change, Hong-Kong Commodity Exchange, To-
rente; a relação das ações que mais subiram, que kyo International Financial Futures Exchange e
mais baixaram, que foram mais negociadas; as Gold Exchange of Singapore. Veja também Mer-
cotações de abertura e de fechamento; os preços cado a Futuro; Mercado a Termo.
máximos e mínimos. Veja também Cotação.
BOLSA DE MERCADORIAS. Mercado centra-
BOLETO (ou Boleta). Documento de circulação lizado para transações com mercadorias, sobre-
interna das Bolsas de Valores, no qual se resu- tudo os produtos primários de maior importân-
mem os pormenores de uma operação. Os bo- cia no comércio internacional e no comércio in-
letos contêm informações sobre quem comprou, terno, como café, açúcar, algodão, cereais etc.
quem vendeu, os títulos ou ações negociados,
(as chamadas commodities). Realizando negócios
o preço, as condições da transação e as datas.
tanto com estoques existentes quanto com esto-
BOLHA DE CONSUMO. Ocorre quando o con- ques futuros, as Bolsas de Mercadorias exercem
sumo final cresce repentinamente, mas sem ter papel estabilizador no mercado, minimizando
condições de continuidade. Como uma bolha, as variações de preço provocadas pelas flutua-
tem existência efêmera. Por exemplo, no Brasil, ções da procura e reduzindo os riscos dos co-
logo após o Plano Cruzado, a estabilização dos merciantes. Com a expansão do comércio inter-
preços, a redução das taxas de juro, a elevação nacional no fim da Idade Média, surgiram, nos
episódica dos salários e a transferência de re- séculos XV e XVI, grandes corporações de co-
cursos antes aplicados nas Cadernetas de Pou- merciantes e banqueiros que criaram as primei-
pança para o consumo provocaram uma expan- ras Bolsas propriamente ditas: a de Bruges
são muito intensa deste, mas que não teve con- (1487), a de Antuérpia e a de Amsterdã (1561),
tinuidade nos meses subseqüentes. as de Lyon, Bordeaux e Marselha (1595), a de
Paris (1639). Essas Bolsas tiveram influência no
BOLÍVAR. Unidade monetária da Venezuela.
extraordinário crescimento do capitalismo co-
Submúltiplo: céntimo.
mercial dos séculos XVI e XVII. Na atualidade,
BOLIVIANO. Unidade monetária da Bolívia. as mais importantes bolsas de mercadorias do
Submúltiplo: centavo. mundo são as de Chicago, Nova York e Londres;
suas cotações regulam os preços de quase todo
BOLSA DE EMPREGOS. Organismo governa- o comércio internacional. No Brasil, a primeira
mental ou sindical destinado a centralizar infor- foi a Bolsa de Mercadorias do Rio de Janeiro,
mações sobre o número de empregos disponí- inaugurada em 1912, na qual se faziam negócios
veis no mercado de trabalho. As empresas for- de café, açúcar e algodão. Desativada no ano
necem à entidade interessada dados sobre as va- seguinte, em 1920 foi substituída pela Bolsa de
gas existentes e essas informações são transmi- Café, que servia também para transações de açú-
tidas aos trabalhadores desempregados. As Bol- car e de algodão. Em 1913, o governo do Estado
sas de Empregos foram criadas na Inglaterra no
de São Paulo criou a Bolsa de Café de Santos.
início do século XX, difundindo-se posterior-
Em 1917, abriu-se a Bolsa de Mercadorias de
mente para outros países europeus. No Brasil,
essa atividade está institucionalmente reservada São Paulo.
ao Ministério do Trabalho, por intermédio do BOLSA DE VALORES. Instituição em que se
Sistema Nacional de Empregos (Sine). negociam títulos e ações. As Bolsas de Valores
BOLSA DE FUTUROS. Mercado de commodi- são importantes nas economias de mercado por
ties onde os contratos de futuros em instrumen- permitirem a canalização rápida das poupanças
tos financeiros ou as mercadorias físicas, como para sua transformação em investimentos. E
o trigo e a soja, são comercializados. Ações e constituem, para os investidores, um meio prá-
opções também são comercializadas nessas Bol- tico de jogar lucrativamente com a compra e
sas. As mais importantes são as seguintes: Chi- venda de títulos e ações, escolhendo os momen-
cago Board of Trade, Chicago Mercantile Ex- tos adequados de baixa ou alta nas cotações.
change/International Monetary Market, Com- Em suas origens, as Bolsas de Valores confun-
modity Exchange Inc. (Nova York), Mid-Ame- diam-se com as Bolsas de Mercadorias, mas a
rica Commodity Exchange Inc. (Chicago), New partir do século XVIII, com o extraordinário au-
61 BOND RATING

mento das transações com valores mobiliários concorrentes e a conjuntura econômica do país.
e, sobretudo, com o surgimento e posterior de- Mas há uma influência fundamental exercida
senvolvimento das sociedades por ações, ini- também por circunstâncias psicológicas: por
ciou-se um processo de especialização do qual exemplo, um clima de exagerado otimismo em
resultou o aparecimento de Bolsas dedicadas ex- relação a determinada empresa pode levar à su-
clusivamente a operações com títulos e ações. pervalorização de suas ações. De situações como
Na atualidade, as mais importantes Bolsas de essa podem surgir distorções perigosas no mer-
Valores do mundo são as de Nova York, Lon- cado. A fim de conter excessos e manter sua
dres, Paris e Tóquio. No Brasil, antes de 1800 credibilidade, as Bolsas, com certa freqüência,
já se negociava com papéis, mas só em 1845 sur- estabelecem limites máximos para a valorização
giu a primeira regulamentação governamental. dos papéis negociados. Além disso, as Bolsas
O Código Comercial Brasileiro de 1850 refere-se têm o dever de orientar os investidores por meio
às “praças de comércio”, precursoras das atuais de revistas, boletins, conferências que informem
Bolsas. Em 1893, estabeleceu-se a primeira Bolsa: sobre dados, tais como o comportamento das
a Bolsa de Fundos Públicos, com sede no Rio ações, as quantidades de compra e venda e os
de Janeiro. Atualmente, as mais importantes bol- índices de liquidez e rentabilidade de cada pa-
sas do país, pela ordem, são as de São Paulo, pel. No Brasil, a atividade das Bolsas é fiscali-
do Rio de Janeiro e de Porto Alegre. Duas fases zada pela Comissão de Valores Mobiliários, do
distintas marcam o funcionamento diário de Ministério da Fazenda. A partir de 15 de março
uma Bolsa de Valores: a da fixação das cotações de 1990, com o Plano Collor, segundo a medida
por anúncio (ou por chamada) e a da fixação provisória de nº 162, os papéis da Bolsa de Va-
por oposição. A primeira fase consiste num pre- lores, até então isentos, passaram a sofrer a in-
gão, em que os interessados declaram em voz cidência de 25% do Imposto de Renda sobre os
alta os preços que estão dispostos a pagar (ou ganhos líquidos do capital. Veja também Ação;
receber) pelos papéis que lhes interessam (ou Bolsa de Mercadorias; Bolsa de Valores de
queiram vender): trata-se, portanto, de um lei- Nova York; CNBV; Mercado de Capitais; Tí-
lão, no qual a regra básica é o encontro da oferta tulos; Wall Street.
e da procura. Terminada a primeira fase, inicia- BOLSA DE VALORES DE NOVA YORK. A
se a da fixação das cotações por oposição: a fim maior e mais importante Bolsa de Valores do
de conter uma possível flutuação extremada dos mundo, localizada no nº 11 da Wall Street, em
preços, a direção da Bolsa coteja (daí a expressão Nova York. Também conhecida como Big Board,
por oposição) os preços da primeira fase e fixa inclui as trinta empresas que formam o Dow
a cotação de cada papel para o restante do dia, Jones. Ela é auto-regulada por um conselho de
de tal forma que nenhum negócio poderá ser 20 membros que acompanha e regula as ativi-
feito fora da cotação estabelecida. As transações dades comerciais de seus 1 300 membros. Veja
podem ser feitas a pronto (também chamadas também Dow Jones.
à vista) ou a termo (a prazo). Na primeira mo-
dalidade, os papéis negociados são entregues BOM. Iniciais da expressão em inglês beginning
imediatamente após o registro da transação na of month, que significa “início do mês” e designa
Bolsa. Na segunda, os papéis só são entregues a posição no mês em que um pagamento deverá
ao fim de um prazo estabelecido pelas partes; ser efetuado, ou um título pago ou um compro-
entre a compra e a entrega, o comprador pode misso saldado.
revender os papéis que adquiriu, com isso ga-
nhando ou perdendo conforme as oscilações da BONA FIDE. Expressão latina que significa li-
cotação nesse período. Os negócios nas Bolsas teralmente “boa fé”. Utilizada na prática de ne-
não podem ser feitos diretamente por qualquer gócios entre empresas, bancos etc. quando um
pessoa ou empresa. Cada Bolsa de Valores cre- registro ou lançamento errado é feito de maneira
dencia certo número de pessoas, os corretores, não intencional.
que funcionam como intermediários entre com- BONA MONETAS. Veja Moeda de Boa Lei.
pradores e vendedores. São eles o centro ner-
voso do sistema, pelo conhecimento aprofunda- BOND RATING. Expressão em inglês utilizada
do que possuem dos títulos existentes no mer- no mercado financeiro para a qualificação de tí-
cado. O mercado da Bolsa é regulado, em pri- tulos transacionados no mercado. A classificação
meiro lugar, por fatores econômicos mais obje- desses papéis é realizada por várias empresas,
tivos, tais como a situação real da empresa que mas as que têm maior tradição e respeitabilidade
põe seus papéis à venda, suas condições de pro- são a Standard & Poor’s e a Moody’s Investors
dução e comercialização, a capacidade adminis- Service. As formas de classificação de títulos
trativa de sua direção, a situação das empresas dessas empresas são as seguintes:
BONIFICAÇÃO 62

Standard Moody’s peculação, especialmente de ações e títulos.


& Poor’s Investors Service Como o nível geral dos negócios apresenta uma
Da Mais Alta Qualidade AAA Aaa tendência à flutuação, variando segundo fatores
De Alta Qualidade AAA Aaa econômicos e também políticos e sociais, um pe-
Acima da Média AAA Aaa ríodo de prosperidade econômica ou boom é ge-
ralmente seguido de momentos de recessão ou,
Médios BBB Baa
às vezes, de crise profunda ou depressão. Foi o
Predominantemente Especu- BBA Baa
lativos
que ocorreu em 1929, quando chegava ao fim o
movimento ascendente de um ciclo econômico
Especulativos de Baixo Nível BAA Baa
nas sociedades capitalistas, tendo início a de-
Baixa Qualidade CCC Caa pressão mais grave que o mundo capitalista já
Altamente Especulativos CCA Caa sofreu. Veja também Ciclo Econômico; Depres-
Pior Qualidade sem pagamen- CAA Caa são Econômica.
to de juros
Em Default DDD BOPAL. Veja Bhopal.
Em Arrears DDA BORDERÔ. Palavra de origem francesa utiliza-
Valor Duvidoso DAA da na terminologia bancária brasileira para de-
signar a relação de títulos de crédito que o clien-
Veja Também Default. te leva ao banco para realizar uma operação de
desconto ou cobrança, entre outras.
BONIFICAÇÃO. Vantagem concedida pelo ven-
dedor ao comprador, seja pela diminuição do BORRACHA. Veja Ciclo da Borracha.
preço da mercadoria vendida, seja pela entrega
de uma quantidade maior que a estipulada. No BÖRSENORDNUNG. Termo em alemão que
mercado de ações, bonificação é a distribuição designa os regulamentos aplicados nas Bolsas
gratuita de ações novas aos acionistas (na pro- de Valores da Alemanha.
porção da quantidade de ações já possuídas por
BORTKIEWICZ, Ladislaus Von (1868-1931).
cada acionista) em virtude da incorporação ao
Nasceu em São Petersburgo, Rússia, de uma fa-
capital de reservas ou lucros acumulados ou da
mília de origem polonesa, e estudou na Univer-
reavaliação do ativo de uma empresa.
sidade de Estrasburgo. Lecionou durante 30
BONUM COMMUNIONIS. Expressão em la- anos na Universidade de Berlim. A obra de Bort-
tim que significa “bem comum” e é interpretada kiewicz abrange um leque bem amplo de as-
pelos utilitaristas como uma soma aritmética de suntos envolvendo a estatística, a economia e a
todos os indivíduos. Veja também Utilitarismo. matemática, entre outros. Foi considerado um
dos grandes acadêmicos de seu tempo no campo
BÔNUS. Bonificação em ações concedida aos da metodologia estatística. Sua “lei dos peque-
acionistas de uma empresa quando esta aumen- nos números” ou “eventos raros” (Das Gesetz
ta seu capital. Às vezes, a distribuição de bônus der Kleinem Zählen), de 1898, chamou muita aten-
faz-se por sorteio, como forma de incentivar a ção científica e desencadeou uma acirrada po-
venda das ações da empresa. No Brasil, bônus lêmica no Giornale degli Economisti (1907-1909),
são também os títulos de dívida pública emiti- em particular devido à aplicação dessa lei aos
dos em séries ao portador e com vencimento 280 soldados prussianos mortos por coices de
em data predeterminada; servem para pagamen- seus cavalos entre 1874-1894. No campo da eco-
to de débitos fiscais e são uma forma de o go- nomia, as contribuições de Bortkiewicz abran-
verno antecipar a receita. geram da teoria do valor à teoria e política mo-
netárias. Suas críticas à teoria dos juros de
BÔNUS DE SAÍDA. Veja Exit Bonds. Böhm-Bawerk, Der Kardinalfehler der Böhm-Ba-
werk Zinstheorie (O Principal Erro da Teoria dos
BÔNUS DE SUBSCRIÇÃO. São títulos nego-
Juros de Böhm-Bawerk), foram publicadas em
ciáveis que conferem ao titular direito de subs-
1906. Bortkiewicz acreditava que as teses apre-
crever ações. Podem ter como finalidade a venda
sentadas pela “teoria da produtividade” (do ca-
de ações ou debêntures, contribuindo para pro-
pital) haviam sido definitivamente refutadas por
gramar e/ou agilizar um aumento de capital.
Böhm-Bawerk, mas a explicação alternativa des-
BOODLE. Termo em inglês, utilizado especial- te também não era satisfatória. De acordo com
mente na Inglaterra, para designar dinheiro fal- Böhm-Bawerk, métodos de produção mais lon-
sificado ou oriundo de atividades ilícitas. gos eram tecnicamente mais produtivos do que
métodos mais curtos, de tal forma que bens de
BOOM. “Explosão” em inglês: período de rá- capital atuais poderiam proporcionar maiores
pida e elevada expansão das atividades econô- quantidades de bens de consumo do que capitais
micas, geralmente acompanhado de grande es- futuros: eis aí a fonte do juro do capital. Mas,
63 BOULWARISMO

argumenta Bortkiewicz, se compararmos dois BOTERO, Giovanni (1540-1617). Economista ita-


investimentos, do mesmo montante e composi- liano da Renascença, defensor do mercantilismo
ção e iniciados em momentos diferentes com a e do industrialismo. Em sua obra Delle Cause
mesma eficiência, cada um deles produzirá a della Grandezza e Magnificenza delle Città (Sobre
mesma quantidade de produto, só que em mo- as Causas da Grandeza e da Magnificência das
mentos diferentes. Portanto, a superioridade ale- Cidades), 1558, critica as idéias do inglês John
gada por Böhm-Bawerk dos bens de capital pre- Halles, seu contemporâneo, defendendo a tese
sentes sobre os futuros não passa de um simples de que o número de habitantes de um país de-
intervalo de tempo, o que, por si só, não explica pende da massa de meios de subsistência dis-
a origem dos juros. Em seguida, Bortkiewicz tra- poníveis. Com isso foi, de certa forma, um pre-
ta de uma outra explicação proposta por Böhm- cursor de Malthus. Aconselhava também que se
Bawerk: a escassez de capital. A crítica é que incrementasse, ao lado da agricultura, a produ-
tal escassez só pode ser temporária e devida a ção industrial.
erros de previsão. Uma vez que o capital, de
acordo com Böhm-Bawerk, não é outra coisa que BOTTOM FISHER. Expressão em inglês que
“um produto intermediário”, a ação dos meca- significa literalmente “pescador de fundo do
nismos de mercado nivelariam a escassez ou ex- poço”, isto é, aquele que busca comprar títulos
cessos dos diferentes capitais nos diferentes se- cujos preços atingiram seus níveis mais baixos
tores.As críticas a Böhm-Bawerk levaram Bort- antes do início de uma esperada recuperação.
kiewicz a examinar as críticas daquele a Marx, Esse tipo de operação pode ocorrer com empre-
sobre a origem do lucro e sobre a questão da sas que estejam no limiar da falência, o que torna
transformação de valores em preços de produ- essas operações de alto risco.
ção. Apoiando-se nas contribuições de Tugan- BOTTOMRY. Termo em inglês que significa o
Barankowsky (1905) sobre o tema, Bortkiewicz ato de tomar dinheiro emprestado dando como
desenvolve uma sugestão, indicada pelo próprio garantia um navio ou sua carga.
Marx, de que o valor do capital constante e do
capital variável deveria ser transformado em BOULDING, Kenneth Ewart (1910- ). Econo-
preços, da mesma maneira que o valor do pro- mista inglês radicado nos Estados Unidos, liga-
duto. Dessa forma, poder-se-ia determinar si- do à escola institucionalista, estudou a influência
multaneamente preços e taxa de lucro. Apesar de fatores psicológicos e sociológicos na vida
de todos esses enfoques, não se deve concluir econômica. Seguindo a linha de pensamento de
que Bortkiewicz tivesse uma posição objetivista Veblen, Boulding propôs uma nova dimensão
em teoria econômica. Admitia que tanto as in- para a economia que abrangesse as estruturas
fluências objetivas como subjetivas (marginalis- sociais. Em sua principal obra, The Reconstruction
tas) deveriam ser consideradas na determinação of Economics (A Reconstrução da Economia), de
dos preços. Quanto à origem do lucro (e dos ju- 1950, salientou a função dos estoques, em vez
ros), sustentava que Marx tivera a visão correta dos fluxos, propondo uma macroteoria da dis-
de que o lucro tem origem na mais-valia, o que tribuição. Também enfatizou o papel social do
permite que as mercadorias sejam trocadas por empresário. Trabalhando numa perspectiva teó-
seu valor. Isto é, o lucro não surgiria da elevação rica de evolução econômica, Boulding propôs
do preço de uma mercadoria no momento de ainda a integração da economia a conceitos
sua venda, nem devido aos “serviços produtivos como o de equilíbrio ecológico e dinâmica bio-
do capital”. Bortkiewicz não considera o lucro, lógica. Considera que, além do sistema de trocas,
no entanto, como o fruto da exploração, mas a vida social se organiza segundo um sistema
como uma “dedução” do valor de uma merca- de desequilíbrio e um sistema integrativo. Sus-
doria. tentou que a política econômica não pode ser
julgada apenas por critérios econômicos. E, em
BOT. Iniciais das seguintes expressões em in- seu primeiro livro, Economic Analysis (Análise
glês: 1) build, operate and transfer (“construir, ope- Econômica), 1941, procurou sintetizar a teoria eco-
rar e transferir”), que significa tipos de contratos nômica neoclássica e keynesiana num só corpo
entre o setor público e o setor privado, no qual teórico. Foi professor das universidades de Mi-
este último constrói e opera um determinado chigan e Colorado. Escreveu ainda The Image (A
serviço público, como, por exemplo, o forneci- Imagem), 1956; Conflict and Defense (Conflito e De-
mento de água, energia elétrica ou transporte e, fesa), 1962, e Ecodynamics (Ecodinâmica), 1978.
posteriormente (depois de amortizado o inves-
timento), transfere ao setor público a obra; 2) BOULWARISMO. Forma de negociação de
abreviação inglesa do termo “comprado”; 3) ini- acordos coletivos de trabalho iniciada por Le-
ciais de Balance of Trade (Balança Comercial); muel Boulware, antigo vice-presidente para rela-
4) iniciais de Board of Trustees (Conselho de ções industriais da General Electric (Estados
Curadores). Unidos) e que consistia em fazer uma proposta
BOURBON 64

da empresa ao sindicato da categoria de traba- ou aproximadamente 2,20 m. Na Alemanha, cor-


lhadores ou, passando por cima deste, dirigir-se respondia ao faden e media 1,80 m. Veja também
diretamente aos trabalhadores e recusar-se a Unidades de Pesos e Medidas; Sistemas de Pe-
prosseguir negociando, na base do “pegar ou sos e Medidas.
largar”. Essa prática foi considerada contrária
ao êxito das negociações pela Junta Nacional de BRACEAGEM (Brassagem). Pagamento feito à
Relações de Trabalho dos Estados Unidos, e con- autoridade emissora pela cunhagem de moeda
trária ao espírito da Lei Taft-Hartley, isto é, con- metálica quando o montante cobre apenas o cus-
siderando que o processo de negociação coletiva to da fabricação da moeda. Quando o montante
sobre os termos e as condições de trabalho têm excede este custo, o pagamento passa a chamar-
como fundamentos a boa-fé, o compromisso e se senhoriagem. Veja também Senhoriagem.
concessões mútuas. Veja também Taft-Hartley
BRACERO (Sistema). Programa iniciado du-
(Lei).
rante a Segunda Guerra Mundial nos Estados
BOURBON. Variedade de café desenvolvida no Unidos para compensar a falta de mão-de-obra
Brasil e que se apresenta como: Bourbon Ama- na agricultura americana. Consistiu na impor-
relo (tem todas as características do Bourbon Co- tação de mão-de-obra mexicana (os braceros), a
mum, só que o fruto é amarelo), Bourbon Ca- fim de que os salários não subissem em demasia
turra (uma variedade de elevada produção, de nos períodos de colheita, especialmente nos Es-
arbusto pequeno e resistente ao sol), Bourbon tados do Texas e da Califórnia. Desde então, o
Pontiagudo (crescimento lento do arbusto e de termo designa mão-de-obra não especializada
baixa produtividade), Bourbon Santos (denomi- de trabalhadores agrícolas. Esses trabalhadores
nação do café cuja origem é a semente Moka; também foram denominados espaldas mojadas
depois do terceiro ou quarto ano de colheita, a (“costas molhadas”), sendo que, para migrar du-
semente muda de formato, tornando-se menos rante a época de colheita nos Estados Unidos,
arredondada e mais plana, recebendo a deno- tinham de atravessar, geralmente de forma clan-
minação de Flat Bean Santos, sendo um café ba- destina, o rio Grande, que separa os dois países.
rato e utilizado para mesclas.
BRACIAGEM. Veja Braceagem.
BOURSE. Termo em francês que significa Bolsa
ou o lugar onde são transacionados títulos, mer- BRADIES. Bônus da dívida brasileira apelida-
cadorias ou força de trabalho (Bourses du Tra- dos de bradies logo após a adesão do Brasil ao
Plano Brady, em 1994. O Plano Brady foi idea-
vail). A palavra tem origem na denominação do
lizado por Nicholas Brady, ex-secretário do Te-
lugar onde, durante o século XVI, eram feitas
souro dos Estados Unidos. Ele conseguiu refi-
transações cambiais e comerciais: o hotel da fa-
nanciar vários países endividados ao propor aos
mília Van der Burse.
bancos credores que abrissem mão de uma parte
BOX. Termo em inglês que significa “caixa”, dos créditos a receber em troca de novos títulos
onde eram guardados os comprovantes da ope- lastreados por papéis do Tesouro dos Estados
ração homônima. Na prática financeira, significa Unidos, considerados de risco zero pelo merca-
uma operação de tesouraria de captação ou apli- do. O Brasil emitiu cerca de US$ 50 bilhões de
cação de recursos que é realizada mediante a bradies. No mercado internacional da dívida ex-
combinação de várias operações de compra e terna brasileira, há nove tipos de papéis dife-
venda de opções, consistindo em: 1) compra de rentes — conhecidos por nomes diversos e que
opção de compra; 2) venda de opção de compra; se dividem em várias modalidades —, quais se-
3) compra de opção de venda; 4) venda de opção jam: Exit Bonds: valor de 1 bilhão de dólares,
de venda, com o mesmo vencimento, embora emissão em setembro de 1989, vencimento em
com preços de exercício e prêmios diferentes. A setembro de 2013, em 30 parcelas semestrais
captação ou aplicação de recursos é o resultado iguais a partir de março de 1999, juros de 6%;
IDU (Interest Due and Unpaid): valor total de 7,2
líquido dos prêmios recebidos e pagos. As ope-
bilhões de dólares, emissão em janeiro de 1991,
rações que envolvem um box são negociadas em
vencimento em janeiro de 2001, em 15 parcelas
conjunto nas Bolsas de Valores.
desiguais a partir de janeiro de 1994, juros va-
BOY. Iniciais de beginning of year, expressão em riando entre 7,8125 e Libor semestral + 0,8125%
inglês que significa “começo do ano” e designa (pre-Brady Bonds); Par Bonds (Bônus ao Par): valor
o momento no qual uma dívida deverá ser paga total de 10,5 bilhões de dólares, emissão em abril
ou um compromisso saldado. de 1994, vencimento em abril de 2024, juros va-
riando de 4% a 6%, amortizações em 60 parcelas
BRAÇA. Medida de comprimento utilizada pela semestrais; DCB (Debt Convertion Bond): valor to-
Casa da Moeda do Brasil, antes da adoção do tal de 8,5 bilhões de dólares, emissão em abril
Sistema Métrico Decimal, e equivalente a 2 varas de 1994, vencimento em abril de 2012, em 17
65 BRAND BOND

parcelas semestrais a partir de abril de 2004, ju- BRAIN DRAIN. Expressão em inglês que sig-
ros Libor semestral + 0,875%; FLIRB (Front-Loaded nifica “fuga de cérebros”, isto é, a emigração de
Interest Reduction Bond): valor total de 1,7 bilhão um país para outro de cientistas e pessoal alta-
de dólares, emissão em abril de 1994, vencimen- mente qualificado. Este fato se dá seja por razões
to em abril de 2009, em 13 parcelas semestrais econômicas, quando a remuneração no país de
a partir de abril de 2003, juros variando entre destino é muito superior à recebida no país de
4% e Libor semestral + 0,8125%; C-BOND (Front- origem e as condições de trabalho (acesso a equi-
Loaded Interest Reduction with Capitalization Bond): pamentos materiais etc.) são também superiores,
valor total de 7,4 bilhões de dólares, emissão seja por razões políticas, quando a intolerância
em abril de 1994, vencimento em abril de 2014, se traduz em perseguições, tornando a vida des-
em 21 parcelas semestrais a partir de abril de ses cientistas insegura. Um dos casos mais fa-
2004, juros crescentes a partir de 4% para as pri- mosos de brain drain foi a emigração de Albert
meiras parcelas e de até 8% para as últimas; EI Einstein para os Estados Unidos, a fim de esca-
BOND (Eligible Interest Bond): valor total de 4,3 par da perseguição dos nazistas contra os judeus
bilhões de dólares, emissão em abril de 1994, na Alemanha a partir de 1933. O Brasil também
vencimento em abril de 2006, em 19 parcelas sofreu um brain drain durante os anos da dita-
semestrais a partir de abril de 1997, com mon- dura militar, mas as razões políticas, com a aber-
tantes variando entre 1% para as primeiras e tura democrática do final dos anos 70, cede lugar
8% para as últimas, juros Libor semestral + à emigração por razões econômicas, provocada
0,8125; DISCOUNT BONDS Series Z: valor total pela crise econômica dos anos 80.
de 7,3 bilhões de dólares, emissão em abril de
1994, vencimento em abril de 2024, o valor total BRAINSTORMING. Termo em inglês que sig-
nifica, literalmente, tempestade ou tormenta ce-
no vencimento, juros Libor semestral + 0,8125;
rebral, isto é, um esforço concentrado da inteli-
NMBs (New Money Bonds): valor total de 2,1 bi-
gência do pessoal mais qualificado de uma em-
lhões de dólares, emissão em abril de 1994, ven-
presa na busca da solução de um problema. Ge-
cimento em maio de 2009, em 17 parcelas se-
ralmente é utilizado quando, por exemplo, uma
mestrais a partir de abril de 2001, juros Libor
empresa deseja encontrar o melhor nome para
semestral + 0,8125 (e mais 670 milhões de dó-
um produto novo, com determinadas caracte-
lares emitidos em outubro de 1988, com venci-
rísticas etc. Um dos traços mais destacados do
mento em outubro de 1999, em 14 parcelas se-
brainstorming é o estímulo para que cada um
mestrais a partir de abril de 1993 e juros Libor
apresente suas sugestões sem inibição e que ne-
semestral + 0,8125 (chamados de Old New Money
nhum membro do grupo se dedique mais em
Bonds). Veja também Plano Brady; Pre-Brady
criticar as propostas alheias do que em apresen-
Bonds; TJLP.
tar as suas próprias. Este método de produção
BRADY. Veja Plano Brady. de idéias foi desenvolvido nos Estados Unidos
depois da crise de 1929 e supõe que as pessoas
BRAGA, Cincinato César da Silva (1864-1953). designadas se mantenham num mesmo espaço
Nasceu em Piracicaba (SP) de uma família tra- e durante determinado tempo. As melhores
dicional e ingressou na Faculdade de Direito em idéias são selecionadas e aperfeiçoadas, sendo
1881, formando-se em 1886. Ainda como estu- então preparadas para serem adotadas ou não
dante, participou da Confederação Abolicionista pela administração da empresa. Quando o ob-
Acadêmica, e, depois, como advogado, envol- jetivo é avaliar os problemas que uma solução
veu-se abertamente nas campanhas em favor da provocará, o processo é chamado de “brainstor-
República e da Abolição da Escravatura. Elegeu- ming invertido”. Para evitar a desorganização
se à Assembléia Constituinte de São Paulo em ou a participação daqueles que têm dificuldades
1891, e, no ano seguinte, a deputado federal. na verbalização de idéias, estas são apresentadas
Tornou a se eleger deputado federal por São por escrito e o método é chamado de brainwri-
Paulo em 1894, 1897 e 1900. Na Câmara Federal, ting.
Cincinato Braga participou das Comissões de
Constituição e Justiça, Diplomacia e Tratados, e BRAINSTORMING INVERTIDO. Veja Brains-
de Finanças, tendo sido relator de diversos or- torming.
çamentos. Não conseguindo reeleger-se em BRAINWRITING. Veja Brainstorming.
1902, fundou no ano seguinte, com outras per-
sonalidades, uma sociedade para explorar ter- BRAND BOND. Expressão em inglês que sig-
renos na capital do Estado. Essa empresa ad- nifica “título de marca”, isto é, título emitido
quiriu várias áreas nos bairros do Pacaembu, sobre uma marca de grande aceitação e que por
Jardim América e outros, para logo em seguida si só constitui um valor intangível ou ativo in-
transferi-los a capitais ingleses que formaram a tangível. Por exemplo, marcas mundiais como
Companhia City de São Paulo. a Coca-Cola, que valem bilhões de dólares.
BRANQUEAMENTO 66

BRANQUEAMENTO. Veja Lavagem. segue bilheterias que proporcionem uma receita


dessa magnitude.
BRASIL-DEPENDÊNCIA. Expressão criada no
âmbito das relações comerciais Brasil-Argentina BREAK POINT. Veja Ponto de Corte.
no interior do Mercosul e que designa uma si-
tuação na qual a Argentina seria muito mais de- BREAKING DEPOSIT. Expressão em inglês que
pendente do Brasil (pois mantém uma balança significa a retirada de fundos de uma aplicação
comercial favorável) do que o Brasil em relação antes de seu prazo de vencimento. Geralmente
à Argentina. Veja também Balança Comercial; essa ação não dá lugar ao recebimento dos ren-
Mercosul. dimentos proporcionais ao tempo em que os re-
cursos foram aplicados, e vem acompanhada em
BRASSAGEM. Veja Braceagem. alguns casos de multa.

BRAVERMAN, Harry (1920-1976). De origem BRENTANO, Lujo (Ludwig Josef) (1844-1931).


operária, não conseguiu obter, por problemas Nasceu na Alemanha e estudou Economia em
financeiros, educação superior. Trabalhou como Heidelberg e Gottingen. A partir de 1871, ensi-
operário especializado na indústria siderúrgica nou economia política em Berlim, Breslau, Vie-
e envolveu-se na vida sindical e no movimento na, Leipzig e Munique. Um fato decisivo em
socialista. Ajudou a fundar o jornal The American sua carreira foi a participação no Seminário de
Socialist em 1954 e trabalhou como seu co-editor Estatística vinculado ao Instituto Prussiano de
por cinco anos. Em 1967, tornou-se diretor-ad- Estatística. Seu diretor era Ernst Engel, cujo in-
ministrativo da revista Monthly Review Press, teresse nas condições sociais da classe trabalha-
onde trabalhou até o seu falecimento. Sua obra dora teve grande influência sobre Brentano. En-
mais conhecida, Trabalho e Capital Monopolista gel defendia um esquema de participação nos
(1974), é um estudo clássico a respeito do pro- lucros como forma de resolver a questão social.
cesso de trabalho na produção capitalista. Nela, Em 1868, Brentano o acompanhou a uma visita
o autor destaca, em primeiro lugar, os esforços à Inglaterra, onde estudou os efeitos dessa me-
da gerência em obter controle crescente sobre o dida. Mas a experiência o convenceu da inade-
processo de trabalho, com o intuito de raciona- quação da participação nos lucros para a refor-
lizar a produção e extrair mais valor dos traba- ma do capitalismo, sugerindo outra alternativa:
lhadores produtivos. Em segundo lugar, que es- a melhoria da posição do trabalhador no mer-
ses esforços da gerência levam inevitavelmente cado de trabalho pela criação de sindicatos.
à homogeneização das tarefas e à redução da Brentano acreditava que essa era a única ma-
capacitação necessária nos empregos produti- neira de assegurar à classe trabalhadora maior
vos. Em terceiro lugar, que essa tendência se participação no crescimento geral da riqueza. In-
aplica aos estágios mais avançados do desen- teressou-se pela história dos sindicatos, que ras-
volvimento capitalista, com a proliferação de treou até as corporações de ofício (guildas) me-
empregos de escritório (colarinho-branco). Em- dievais em seu livro On the History and Develop-
bora as duas últimas tendências sejam discutí- ment of Guilds, and the Origin of Trade Unions
veis, não resta dúvida de que a primeira ajudou (Sobre a História do Desenvolvimento das Guil-
a recuperar e a estimular a análise marxista dos das e a Origem dos Sindicatos). Outro ponto
processos de trabalho. analisado e de grande interesse foram as dis-
cussões sobre os efeitos positivos na produtivi-
BRAZILIAN DEPOSITARY RECEIPTS. Veja dade da redução da jornada de trabalho. Ele
American Depositary Receipts. também considerava a introdução de um siste-
ma geral de seguridade social um ponto inte-
BREAK EVEN. Expressão em inglês do merca-
ressante para a reforma do capitalismo. Como
do financeiro utilizada quando uma transação
pretendia resolver a questão social sempre nos
de compra ou venda de títulos se realiza sem limites do sistema econômico existente, rejeitava
lucro ou prejuízo. as posições de Marx e dos social-democratas ale-
BREAK EVEN POINT. Veja Ponto de Equilí- mães do século XIX. Enfatizava que as condições
brio. desiguais da existência material eram absoluta-
mente necessárias para o desenvolvimento da
BREAK EVEN RULE. Expressão em inglês uti- humanidade. Outros campos de estudo de Bren-
lizada na indústria cinematográfica que designa tano foram as teorias da população de Malthus
a regra de que um filme deve gerar de receita e a teoria do valor, tendo ele se inclinado pela
aproximadamente 3 vezes seu custo de produ- concepção marginalista. Durante a República de
ção para alcançar o ponto de equilíbrio econô- Weimar, permaneceu preocupado com a política
mico-financeiro. Esta regra é na verdade mais social, especialmente com a luta pela jornada de
uma exceção, pois a maioria dos filmes não con- oito horas.
67 BUFFER

BRESSER PEREIRA, Luís Carlos (1934- ). Ba- BROKER. Veja Stock Broker.
charel em Direito, doutor pela Faculdade de Eco-
nomia e Administração da Universidade de São BROOK FARM. Comunidade agrícola fundada
Paulo (USP) e livre-docente na mesma univer- em 1841, em West Roxbury, Massachusetts, Es-
sidade a partir de 1984, é também professor-ti- tados Unidos, pelo casal George e Sophia Ripley.
tular da Escola de Administração de Empresas Inspirada no igualitarismo de Fourier, Brook
da Fundação Getúlio Vargas, onde leciona desde Farm organizou-se segundo o sistema do falans-
1959. Membro do Cebrap desde 1970, fundou, tério. A experiência, que recebeu o apoio de in-
no início dos anos 80, a Revista de Economia Po- telectuais como Nathaniel Hawthorne e Ralph
lítica. Diretor administrativo do Grupo Pão de Waldo Emerson, terminou em 1847, devido a pro-
Açúcar (1963-1983), presidente do Banespa blemas financeiros. Veja também Falanstério.
(1983-1985) e secretário de governo durante a BROOKINGS-SSRC. Veja Macromodelo; Mo-
gestão de Franco Montoro, em abril de 1987 as- delo Brookings.
sumiu o Ministério da Fazenda em substituição
a Dílson Funaro, tendo permanecido no cargo BTN — Bônus do Tesouro Nacional. Criado
até dezembro do mesmo ano. Em sua gestão no pela medida provisória nº 48, este título teve
Ministério da Fazenda deu prosseguimento, em- seu valor fixado em 1 cruzado novo, retroativo
bora com algumas modificações, à linha hete- a 1º de fevereiro de 1989. Ele é corrigido pela
rodoxa de seu antecessor, implementando uma inflação medida pelo IPC. Na realidade, o BTN
série de medidas denominadas Plano de Con- dá continuidade à extinta OTN sem, no entanto,
trole Macroeconômico, mais conhecido como considerar a inflação do mês de janeiro de 1989.
Plano Bresser. O fracasso do plano para conter Com o fim da correção monetária, o Bônus do
a inflação precipitou sua demissão em dezembro Tesouro Nacional foi oficialmente extinto em 1º
de 1987. Em 1995, assumiu como ministro a Se- de fevereiro de 1991. O valor de um BTN, no
cretaria de Administração Federal (SAF), deno- dia da promulgação da medida, era de 126,8621
minada Ministério da Administração e Reforma cruzeiros. BTN representa também as iniciais de
do Estado (MARE) no governo Fernando Hen- Brussels Tariff Nomenclature, que consiste num
rique Cardoso. Entre seus livros destacam-se: sistema de classificação comercial para finalida-
Desenvolvimento e Crise no Brasil (1969), Tecnobu- des alfandegárias. Atualmente, mais de 100 paí-
rocracia e Contestação (1972), Estado e Subdesen- ses aceitam esta classificação. Veja também Pla-
volvimento Industrializado (1977), Inflação e Reces- no Verão.
são (1984), em co-autoria com Yoshiaki Nakano,
e Lucro, Acumulação e Crise (1986). BÜCHER, Karl (1847-1930). Historiador e eco-
nomista alemão, representante da Jovem Escola
BRETTON WOODS. Veja Conferência de Bret- Histórica, que é basicamente descritiva. Bücher
ton Woods. fez uma periodização da história econômica em
três fases: economia doméstica fechada (autar-
BRIBOR. Veja Ibor.
quia sem trocas), economia urbana (permuta
BRIDGE-LOAN. Veja Empréstimo-Ponte. sem moeda, com produção direta para o con-
sumidor) e economia nacional. Essa divisão foi
BROFENBRENNER, Martin (1914- ). Nasceu utilizada por certo tempo na análise da Idade
nos Estados Unidos e formou-se na Universida- Média e da passagem à economia moderna. Bü-
de de Washington, obtendo o doutoramento na cher foi professor em Dorpat, Basiléia, Karlsruhe
Universidade de Chicago, em 1934. Aluno de e Leipzig. Entre suas obras destacam-se Die Ents-
Oskar Lange, sua carreira profissional se diver- tehung der Volkswirtschaft (O Surgimento da Eco-
sificou por temas como macroeconomia, econo- nomia Política), 1893; Beiträge zur, Wirtschafts-
mia monetária, história do pensamento econô- geschichte (Contribuições à História da Econo-
mico, economia marxista e economia japonesa. mia), 1922.
Embora Brofenbrenner seja um economista neo-
clássico treinado em Chicago, sua contribuição BUFFER. Termo em inglês que, relacionado com
à teoria da distribuição da renda modifica aquela os estoques, significa uma quantidade marginal
concepção de tal forma que é capaz de equacio- de matérias-primas ou produtos acabados man-
nar tanto questões levantadas pela economia tidos em estoque como precaução diante de pro-
clássica quanto pela neomarxista. Foi um dos blemas imprevistos de escassez ou para enfren-
primeiros a desenvolver análises do desenvol- tar aumentos excepcionais da demanda. No
vimento econômico japonês. Entre suas obras campo da informática, designa a parte interna
mais importantes, citam-se Income Distribution de um sistema de processamento de dados, que
Theory (Teoria da Distribuição da Renda), 1971, serve como memória intermediária entre duas
e Macroeconomic Alternatives (Alternativas Ma- memórias, ou para operar sistemas com dife-
croeconômicas), 1979. rentes tempos de acesso ou formatos, utilizados
BUG 68

para conectar um equipamento de entrada ou realizando lucros. É o contrário de bear. O termo


de saída à memória interna. já era utilizado desde princípios do século XVIII
em Londres.
BUG. Veja Mark-I.
BULL SPREAD. Expressão em inglês utilizada
BUG DO MILÊNIO (Y2K). Denominação dada no mercado financeiro para designar aquele ope-
ao problema existente na maioria dos principais rador que compra contratos (títulos) nos meses
sistemas informatizados do mundo, relacionado próximos, tornando-se “comprado”, e vende con-
com a data na passagem do milênio. Na passa- tratos nos meses futuros tornando-se “vendido”,
gem do dia 31 de dezembro de 1999 para 1º de esperando realizar lucros se os preços subirem.
janeiro de 2000, os computadores farão a leitura
do ano apenas pelos dois últimos dígitos e re- BULLDOG BONDS. Expressão em inglês que
gistrarão 1/1/2000 como se fosse 1/1/1900. A designa os títulos estrangeiros denominados em
menos que sejam reprogramados, esses sistemas libras esterlinas e emitidos em Londres.
informatizados causarão grandes transtornos,
especialmente na atividade financeira. Em in- BULLET LOAN. Expressão em inglês que de-
glês, o bug do milênio é denominado pela sigla signa um empréstimo pago de uma só vez no
Y2K. Veja também Mark I. seu vencimento. É similar ao Baloon Maturity
Loan, mas com a diferenca de que não possui
BUKHARIN, Nikolai Ivanovitch (1888-1938). nenhuma fonte predeterminada para o paga-
Economista e político russo, um dos principais mento da dívida. Para liquidar essa dívida, o
teóricos do Partido Bolchevista. Sua principal devedor poderá ter de refinanciá-la de acordo
obra, O Imperialismo e a Economia Mundial (1915), com a taxa de juros corrente, vender ativos ou
precedeu o estudo de Lênin sobre a mesma ques- vender os titulos colaterais. Veja também Ever-
tão. Publicou também A Economia da Renda (crí- green Loan.
tica ao marginalismo, em 1914), A Economia do
Período de Transição (1918), O ABC do Comunismo BULLION. Veja Lingote.
(1919, com Preobrajensky) e Teoria do Materia-
lismo Histórico (1921). Posicionou-se contra as BURGUESIA. Classe social composta dos pro-
medidas de Stálin durante a coletivização for- prietários do capital que vivem dos rendimentos
çada da agricultura e defendeu o prolongamento por ele gerados. Pertencem à burguesia os in-
da Nova Política Econômica (NEP), instituída dustriais, os comerciantes, os banqueiros, os em-
por Lênin após o comunismo de guerra. Advo- presários agrícolas e os donos de empresas de
gou também a continuidade, ainda que por certo serviços. Originalmente, o termo era aplicado
período, da pequena produção camponesa, aos habitantes dos aglomerados urbanos da Ida-
como compatível com a construção do socialis- de Média que se dedicavam ao comércio, à usura
mo. Foi fuzilado em 1938, durante um dos gran- e ao artesanato. Os interesses dessa burguesia
des “expurgos” de Stálin, e reabilitado em 1988 eram extremamente limitados pelo poder dos
durante o governo de Mikhail Gorbatchev. senhores feudais, que serviam de obstáculo tam-
bém às aspirações políticas dos reis. Por isso,
BULIONISMO. Designação dada ao sistema freqüentemente, burgueses e monarcas aliavam-
monetário em que o papel-moeda é livremente se para lutar contra a nobreza feudal, surgindo
conversível em metal e deve estar integralmente assim um dos fundamentos das monarquias na-
garantido por um encaixe metálico. O nome vem cionais. O crescimento econômico e social da
de bullion, que em inglês significa lingote ou bar- burguesia em ascensão chocou-se, finalmente,
ra de ouro ou prata. O mercantilismo espanhol com o poder dos soberanos, da nobreza e do
foi caracterizado como bulionista por apoiar-se clero, provocando os acontecimentos da Revo-
no grande fluxo de ouro e prata proveniente lução Francesa, que aboliu a monarquia e os pri-
das colônias na América. O bulionismo foi uma vilégios hereditários dos nobres senhores de ter-
concepção monetária muito apreciada durante ras. Concentrando em suas mãos os negócios
o século XIX e também muito combatida antes, do Estado, sobretudo na Europa, a burguesia
principalmente por William Petty, François criou condições propícias ao pleno desenvolvi-
Quesnay e Adam Smith. Veja também Escola mento do modo de produção capitalista. O ad-
das Contrapartidas Metálicas; Metalismo. vento da Revolução Industrial, nos séculos XVIII
e XIX, consolidou a força econômica da burgue-
BULL. Palavra inglesa cujo significado literal é sia e também gestou uma nova classe social —
“touro”. Porém, no mercado acionário ou de tí- o proletariado —, desprovida de meios de pro-
tulos, é a forma popular (gíria) para indicar a dução e dona apenas de sua força de traba-
pessoa que, acreditando que o valor desses tí- lho.Veja também Revoluções Burguesas.
tulos ou ações vai aumentar, compra-os, espe-
rando vendê-los no futuro antes do dia do ven- BURNHAM, James (1905- ). Sociólogo norte-
cimento por um preço mais elevado e, portanto, americano, autor de The Managerial Revolution
69 BUYING THE INDEX

(A Revolução dos Gerentes), 1941. Nessa obra, a 36,361 l. Esta diferença deve-se ao fato de que
sustenta que a evolução do capitalismo, longe os americanos utilizavam a antiga medida do
de conduzir ao socialismo, como afirmam os bushel inglês desde a época da colônia e a In-
marxistas, levaria, em futuro próximo, ao ge- glaterra fez uma reforma do seu sistema no se-
rencialismo, sistema caracterizado pelo domínio culo XIX mudando alguns destes valores, o que
dos tecnocratas. As exigências do progresso tec- não foi seguido pelos norte-americanos. No en-
nológico fariam com que os capitalistas, donos tanto, mesmo no interior dos Estados Unidos
dos meios de produção, cedessem gradualmente existem diferenças de Estado para Estado e na
o controle de suas empresas a administradores forma como um recipiente acondiciona, por
superespecializados, que constituiriam a nova exemplo, frutas ou legumes, isto é, se cheio ou
classe dominante. Outras obras do autor: The raso; no primeiro caso, maçãs, por exemplo, for-
mando uma pilha que ultrapassa a borda do
Coming Defeat of Communism (A Iminente Der-
recipiente, e no segundo, indo apenas até a al-
rocada do Comunismo), 1950, e Suicide of the
tura da borda deste. Como medida de capaci-
West (O Suicídio do Ocidente), 1964. dade o bushel parece ter mudado muito no de-
BUROCRACIA. Literalmente, o termo significa correr do tempo: esta denominação é derivada
o governo dos funcionários da administração. de uma palavra celta (povos que viveram nas
Inicialmente aplicado ao conjunto dos funcioná- Ilhas Britânicas e no Norte da Europa) que sig-
rios públicos, hoje em dia se refere, generica- nifica “punhado”; e, tomando a palavra ao pé
mente, a qualquer organização complexa, pú- da letra, seriam necessários muitos punhados
para constituir um bushel. Assim como na tone-
blica ou privada, baseada numa rígida hierar-
lada de registro, o peso de um bushel varia de
quização e especialização das funções. O conflito
acordo com os produtos que estiverem acondi-
entre autoridade e competência, nas grandes or-
cionados num recipiente. Por exemplo, um bu-
ganizações, tende a ser resolvido pelos meca- shel de sal pesa mais do que um bushel de carvão,
nismos internos de defesa da burocracia — nor- de tal forma que os americanos resolveram fixar
mas, hierarquia, especialização —, com freqüen- um peso para cada bushel de cada mercadoria
te prejuízo da racionalidade e da eficiência, que a ser medida, e assim ele só varia se for “raso”ou
são a própria razão de ser do organismo buro- “cheio”. O seam é um múltiplo do bushel, equi-
crático. As primeiras burocracias surgiram para valendo a 8 deles ou 281,904 kg, e sua origem
movimentar o aparelho administrativo dos relaciona-se com a quantidade que poderia ser
grandes impérios do passado (China, Assíria, carregada no alforje de um cavalo; o peck, é um
Babilônia, Egito, Roma).Também a Igreja Cató- submúltiplo, equivalendo a um quarto de bushel;
lica, depois de sua afirmação como religião uni- uma quarta equivale a um oitavo de peck o que
versal e oficial, desenvolveu um eficiente siste- significa 1 / 32 de bushel, e uma pinta (pint) —
ma burocrático, centralizado no poder papal. O inicialmente medida para vinhos — equivale à
processo de consolidação do capitalismo foi metade de uma quarta ou 1/ 64 de bushel. Veja
acompanhado de intenso desenvolvimento dos também Medidas de Cereais; Unidades de Pe-
mecanismos burocráticos, não só em nível esta- sos e Medidas.
tal, mas também no plano empresarial. Isso fez
BUSH INITIATIVE. Proposta desenvolvida pe-
com que os cientistas sociais passassem a ana- lo presidente norte-americano George Bush, em
lisar o funcionamento da burocracia como um 1990, que constituiu uma espécie de preparação
fenômeno típico do sistema capitalista, expres- à criação do Nafta. Veja também NAFTA.
são concreta de sua racionalidade. Embora para
um deles, Max Weber, não haja contradição ne- BUTT. Antiga medida de capacidade ainda hoje
cessária entre burocracia e democracia, para utilizada na Inglaterra para vinho, correspon-
muitos estudiosos da questão o sistema buro- dente a 130 galões ou 492 l. A palavra inglesa
crático é um dos principais impedimentos para bottle (garrafa), embora utilizada também como
o exercício da democracia. No que se refere às medida de vinho, é originária de butt, tendo uma
sociedades de organização socialista, o fenôme- capacidade muito menor.
no da burocracia foi analisado por Trotsky em BUTUT. Veja Dalasi.
sua crítica ao stalinismo. Veja também Admi-
nistração; Gerencialismo. BUYING-IN. Processo de obtenção de aprova-
ção para oferecer um produto ou serviço subes-
BUSHEL. Denominação de medida de capaci- timando-se seu custo total.
dade para produtos secos como cereais, frutas,
legumes etc. Esta medida utilizada tanto no Sis- BUYING THE INDEX. Expressão em inglês
tema Imperial Inglês como no Consuetudinário que significa literalmente “comprando o índice”.
Americano difere um pouco entre eles: no pri- No mercado financeiro e de ações dos Estados
meiro equivale a 35,238 l, enquanto no segundo Unidos, designa a compra de ações ou títulos
BY-BIDDER 70

na proporção determinada pela empresa de sob o comando de um computador. Veja tam-


aconselhamento de investimentos Standard & bém CAD; CAM.
Poor’s, na expectativa de que tal operação ob-
tenha o mesmo resultado das 500 grandes cor- CADASTRO. Conjunto de informações econô-
porações norte-americanas analisada pela refe- micas, financeiras, comerciais e outras, referen-
rida empresa. tes a pessoas ou empresas. Permite decidir quan-
to aos riscos de qualquer operação comercial
BY-BIDDER. Veja Puffer. com a empresa ou pessoa cadastrada.

BYTE (Binary Term). Unidade básica de infor- CADE — Conselho Administrativo de Defesa
mação, composta de oito bits. do Consumidor. Órgão criado em 10/9/1965,
cuja finalidade é a defesa da concorrência e a
vigilância, prevenção e repressão aos abusos do
poder econômico. O Cade foi reformulado e re-
forçado pela lei nº 8 884, de 1994, e hoje tem

C
representado um papel importante, especial-
mente diante da integração brasileira aos mer-
cados mundiais e da vinda maciça de capital de
investimento para o Brasil, em muitos casos para
a aquisição de empresas já existentes, ou facili-
tando fusões de empresas brasileiras e estran-
geiras.
C. Inicial de: 1) carat; 2) cash (dinheiro vivo); 3) CADERNETA DE POUPANÇA. Contas sobre
cent (centavo); 4) centime (unidade monetária cujos depósitos são creditados mensalmente (lei
francesa); 5) collateral (garantia); 6) colón (unida- de agosto de 1983) juros e correção monetária,
de monetária de Costa Rica e El Salvador); 7) uma vez observada a condição de que saques
córdoba (unidade monetária da Nicarágua). Veja e depósitos sejam feitos em épocas predetermi-
também Carat; Collateral. nadas. O funcionamento das Associações de
Poupança e Empréstimo foi decretado em 1966
C-BOND (Front-loaded Interest Reduction
com o objetivo de propiciar a aquisição de casa
with Capitalization Bond). Veja Bradies; Plano
própria a seus associados, desenvolvendo o há-
Brady; TJLP.
bito da poupança. Sua atuação efetiva data de
CA. Iniciais da expressão em inglês chief ac- junho de 1968, e, em 1974, os depósitos em ca-
countant, que significa “diretor” ou “chefe de derneta de poupança já representavam 17,4% do
contabilidade”. total de depósitos feitos em todo o país. A partir
de 1980, medidas econômicas adotadas pelo go-
CABEÇA-DE-PORCO. Veja Hogshead. verno federal, como a limitação das taxas de ju-
ros e a correção monetária, provocaram uma re-
CAÇA. Veja Pré-história. dução temporária da poupança privada interna,
mas uma grande campanha de recuperação do
CACAU. Veja Ciclo do Cacau. prestígio da poupança e a liberação dessas taxas
CAD. Iniciais da expressão em inglês computer acarretaram o enorme crescimento da poupança
aided design, que significa “projeto assistido por privada, que se verificou a partir de então. Com
computador”. É o método mediante o qual se a extinção do BNH, decretada pelo Plano Cru-
realiza um projeto — que pode ser um simples zado 2, em novembro de 1986, a caderneta de
desenho — com o auxílio de um computador. poupança foi perdendo sua finalidade de ins-
Normalmente, o computador possui em sua me- trumento de financiamento da casa própria para
mória informações e outros elementos correlatos transformar-se em mecanismo de financiamento
ao projeto que se deseja desenvolver. Por meio da dívida pública. Mesmo assim, estimulados
de um terminal de vídeo, esses elementos são pelos altos juros nominativos, nos períodos de
apresentados, modificados ou combinados de alta inflação de 1988 e 1989, os depósitos em
diferentes formas com o auxílio de uma “caneta caderneta de poupança continuaram a crescer.
eletrônica”. Em fevereiro de 1990, um mês antes da insti-
tuição do Plano Collor, os depósitos em cader-
CAD/CAM. Sistema de produção baseado na neta de poupança chegaram a representar 25%
interligação dos métodos CAD e CAM, isto é, dos ativos financeiros do país. Com o desestí-
um produto é projetado por um computador mulo provocado pelo Plano de Estabilização Fi-
(CAD), passando diretamente para a fase de exe- nanceira aplicado em março de 1990, quando
cução (CAM, computer aided manufacturing — grande parte de seus valores foram “bloquea-
“produção assistida por computador”), também dos” pelo governo, os depósitos em caderneta
71 CAIXA DE CONVERSÃO

de poupança começaram naturalmente a decres- 1862, em que analisou as conseqüências sociais


cer. Em maio do mesmo ano, eles representavam de uma economia baseada no escravismo, in-
apenas 20% dos ativos financeiros. Enquanto fluenciando a opinião pública inglesa em favor
isso, sua finalidade como instrumento do mer- dos Estados do Norte na Guerra Civil norte-
cado imobiliário para a construção de moradias americana. O livro é considerado um exemplo
praticamente deixou de existir. A partir de julho de interpretação econômica da História feita in-
de 1994, com o advento do Plano Real e a es- dependentemente do marxismo. Em Some Lea-
tabilização de preços, a caderneta de poupança ding Principles of Political Economy Newly Expoun-
voltou a ser uma opção de investimento finan- ded (Alguns Princípios Condutores da Economia
ceiro, apesar da “desilusão monetária” (confu- Política Expostos de Maneira Nova), de 1874,
são entre taxas de juros reais e nominais), em- Cairnes fez uma rigorosa exposição dos funda-
bora não recuperasse sua função de instrumento mentos da Escola Clássica inglesa, abalados com
para o financiamento da construção de mora- o abandono da teoria do fundo de salário por
dias. Veja também BNH; Desilusão Monetária; Mill, em 1869. A obra também procurou gene-
Plano Collor; Plano Real; Plano Verão. ralizar o conceito de grupos não-concorrentes
tanto ao comércio interno quanto ao internacio-
CAE. Iniciais da expressão em inglês computer
nal. Cairnes formou-se no Trinity College, em
aided engineering, que significa o ensaio técnico
Dublin, Irlanda. Iniciou sua carreira como jor-
ou a concepção de engenharia produzidos com
nalista, sendo em seguida professor de econo-
o auxílio ou por intermédio de um computador.
mia política em Dublin, em Galway e em Lon-
Veja também CAD; CAD/CAM; CAM.
dres. Veja também Escola Clássica.
CAETERIS PARIBUS. Expressão em latim que CAIRU, Visconde de (José da Silva Lisboa)
significa “permanecendo constantes todas as de- (1756-1835). Economista e político brasileiro, in-
mais variáveis”. Muito utilizada em economia
trodutor dos estudos de economia política no
quando se deseja avaliar as conseqüências de
país. Como conselheiro de dom João VI, influen-
uma variável sobre outra, supondo-se as demais
ciou a decisão do regente na abertura dos portos
inalteradas.
brasileiros (1808). Discípulo de Adam Smith, es-
CAFÉ. Veja Acordo Internacional do Café; Ci- creveu Princípios de Economia Política (1804), pri-
clo do Café; IBC. meira obra do gênero em português e na qual
divulga as idéias de Smith, Malthus e Ricardo.
CAFÉ TIPO SANTOS. Veja Santos. Publicou ainda Observações sobre o Comércio Fran-
co no Brasil (1808-1809), Observações sobre a Fran-
CAIPIRA 63. Denominação dada à Resolução queza da Indústria e Estabelecimento de Fábricas no
2 148 do Banco Central, de março de 1995, au- Brasil (1810), Observações sobre a Prosperidade do
torizando a entrada de capitais por um prazo Estado pelos Liberais Princípios da Nova Legislação
mínimo de 180 dias para empréstimo à agricul- do Brasil e Refutação das Declamações contra o Co-
tura. Como a resolução permitia também que mércio Inglês (1810), Ensaios sobre o Estabelecimen-
tais recursos fossem utilizados para aplicações to dos Bancos para o Progresso da Indústria e Riqueza
em títulos com garantia cambial, o mecanismo Nacional (1811), Extrato das Obras de Burke (1812).
foi amplamente utilizado neste âmbito (muito Veja também Abertura dos Portos.
mais rentável e seguro), em detrimento da agri-
cultura. Em março de 1998, o Banco Central re- CAIXA. Veja Facilidades de Caixa; Livro-caixa.
solveu dificultar essa utilização dos recursos ex-
ternos determinando que pelo menos 50% des- CAIXA DE CONVERSÃO. Instituição criada em
ses recursos fossem utilizados no crédito rural. 1906 pelo governo do presidente Rodrigues Al-
ves como instrumento de uma política de esta-
CAIRNES, John Elliott (1823-1875). Economis- bilidade cambial. A motivação central para a
ta irlandês conhecido como “o último dos eco- criação desta instituição foi a tendência da queda
nomistas clássicos”, representante da Escola das cotações do preço do café no mercado in-
Econômica Clássica inglesa. Sua obra principal, ternacional devido à superprodução de café ob-
The Character and Logical Method of Political Eco- servada no final do século XIX e início do século
nomy (O Caráter e o Método Lógico da Economia XX no Brasil. O estabelecimento de uma taxa
Política), de 1857, enfatiza a importância do mé- de câmbio de 15 d. (pence) por mil réis, além de
todo dedutivo e é considerada um tratado de- significar o retorno ao padrão-ouro, ia ao en-
finitivo sobre a metodologia da Escola Clássica. contro dos interesses dos cafeicultores e expor-
O livro fez parte de uma longa controvérsia tadores de café, que estavam sendo prejudicados
quanto ao objeto e método da economia política, não só pelas baixas cotações do produto no mer-
mantida por Cairnes com Stuart Mill e Nassau cado internacional, mas também pelas fortes os-
Senior. Cairnes aplicou seu método em estudos cilações da própria taxa de câmbio. Associada
como The Slave Power (O Poder Escravo), de à política de defesa dos preços do café estabe-
CAIXA DE ESTABILIZAÇÃO 72

lecida mediante o Convênio de Taubaté, a Caixa zadas, como o dólar e a libra esterlina: em 1931,
de Conversão contribuiu para a manutenção de as reservas em ouro eram praticamente inexis-
uma taxa cambial estabilizada até o início da tentes, e em moedas estrangeiras o Brasil man-
Primeira Guerra Mundial. Veja também Convê- tinha apenas 14 milhões de dólares. Veja tam-
nio de Taubaté; Caixa de Estabilização; Padrão- bém Caixa de Conversão; Conversibilidade; Pa-
ouro. ridade do Poder de Compra; Padrão Câmbio-
ouro; Padrão-ouro.
CAIXA DE ESTABILIZAÇÃO. Instrumento de
estabilização da moeda criado durante o gover- CAIXA DE SOCORRO E POUPANÇA. Veja
no do presidente Washington Luís pelo decreto Condorcet, Marquês de.
nº 5 108, de 18/12/1926. A criação deste instru-
mento significou a volta do Brasil ao padrão- CAIXA DOIS. Jargão utilizado nos meios em-
ouro (ou ao padrão câmbio-ouro), e a taxa cam- presariais e jornalísticos para designar as des-
bial foi fixada em 6 d. (pence) por mil réis. Para pesas e receitas de uma empresa que não são
muitos que desejavam a volta à paridade de 1846 registradas oficialmente e, portanto, podem dar
(27d./mil réis), ou à correspondente à de 1906, lugar a transações sem o respectivo pagamento
de 15d./mil réis (Caixa de Conversão), esta des- de impostos. Além disso, como se trata de re-
valorização significava um aviltamento da moe- cursos não existentes oficialmente, podem dar
da nacional — inclusive esta taxa foi apelidada lugar a usos irregulares e/ou ilícitos, geralmente
de Taxa Vil —, embora beneficiasse os produ- utilizados para financiar campanhas eleitorais
tores de café, especialmente os exportadores, e de políticos e obter dos mesmos favores gover-
correspondesse mais ou menos a uma taxa de namentais. Os recursos que alimentam o caixa
equilíbrio correspondente à paridade do poder dois geralmente, mas não necessariamente, têm
de compra da libra e do mil-réis. Os fundamen- origem também em fontes irregulares e ilegais
tos da Caixa de Estabilização estavam vincula- como, por exemplo, é o caso do narcotráfico.
dos à rejeição do recurso à deflação como meio
de estabilizar as economias que, depois da Pri- CAIXA ECONÔMICA. Estabelecimento bancá-
meira Guerra Mundial, haviam sofrido fortes rio oficial, do tipo autárquico, sem fins lucrati-
processos inflacionários, como a Alemanha, a vos, criado com a finalidade de captar e admi-
Áustria, a França e a Itália, à convicção de que nistrar as pequenas poupanças populares. No
as taxas deveriam ter como referencial a pari- Brasil, os governos federal e estaduais mantêm
dade do poder de compra, e à manutenção das Caixas Econômicas. Após a criação do Sistema
taxas cambiais estabelecidas por uma política Brasileiro de Poupança e Empréstimo, vinculado
fiscal rígida, isto é, sem déficits nas contas pú- ao BNH, a função de captar poupanças popu-
blicas que exigissem a emissão de moeda para lares passou a ser exercida também pelas insti-
cobri-los e, conseqüentemente, uma pressão in- tuições privadas filiadas a esse sistema. Veja
flacionária que colocasse em perigo a estabili- também BNH; Caderneta de Poupança.
dade cambial. O ideal de Washington Luís era
que toda a moeda emitida se tornasse conver- CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Instituição fi-
sível. Isso, no entanto, não acontecia: em relação nanceira, sob a forma de empresa pública, vin-
ao total de moeda em circulação, as emissões culada ao Ministério da Fazenda. Foi fundada
da Caixa de Estabilização alcançaram apenas em 1860 e sua atual constituição foi estabelecida
1/3 do total. No entanto, a fixação dessa taxa em 1969 e alterada em 1973. A empresa é pro-
cambial, considerada baixa (isto é, o mil-réis des- duto da unificação das 22 antigas Caixas Eco-
valorizado em face da libra), fez com que hou- nômicas Federais, autônomas, distribuídas pelos
vesse um fluxo de capitais estrangeiros para o Estados e Distrito Federal, substituídas por fi-
Brasil para a compra de ativos que teriam se liais. A Caixa atua num sistema de regionaliza-
tornado baratos devido a essa desvalorização. ção — as agências vinculam-se às agências re-
De fato, as reservas cambiais do Brasil entre 1925 gionais e estas, às respectivas filiais. Em dezem-
e 1929 cresceram de 69 milhões de dólares (54 bro de 1990, a Caixa Econômica Federal tinha
em ouro e 15 em moedas estrangeiras) para 177 em todo o país 2 157 unidades operacionais, das
milhões (sendo 150 em ouro e 17 em moedas quais 1 816 eram agências, 224 postos de aten-
estrangeiras). Com a crise econômica iniciada dimento bancário e 117 postos de arrecadação
em outubro de 1929, o fundamento da Caixa de e pagamento. Ao mesmo tempo, contava com
Estabilização desaparece e o sistema de conver- 70 062 funcionários, distribuídos entre a matriz,
sibilidade é abandonado. No entanto, a manu- as sedes das superintendências regionais e as
tenção da mesma taxa cambial praticamente du- unidades operacionais. A CEF é o maior agente
rante o ano de 1930 provoca o desaparecimento do Sistema Financeiro da Habitação e também
das reservas em ouro e a manutenção de apenas gestora do Programa de Integração Social (PIS)
uma fração das reservas anteriores em moedas e do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social
estrangeiras, que seriam em seguida desvalori- (FAS). O PIS, um programa de participação dos
73 CALL LOANS

empregados nos lucros das empresas, foi insti- ralmente designa uma empresa cuja situação fi-
tuído em 1970. Seu primeiro exercício financeiro nanceira, de custos, de formação de preços é
ocorreu em 1971-1972. A finalidade do PIS é pro- inextrincável, e com tal ausência de transparên-
porcionar a formação de patrimônio individual cia que sugere a existência de irregularidades.
do empregado e estimular a poupança em todos Nos aviões, a caixa-preta registra tudo o que
os níveis, corrigindo deformações na distribui- acontece durante um vôo e, em caso de acidente,
ção de renda e possibilitando acumulação de re- é possível descobrir suas causas mediante esses
cursos a serem aplicados no aumento da pro- registros, uma vez que ela é fabricada de tal
dução nacional. A partir de 1974, os recursos forma a resistir a impactos, ao calor e à umidade.
do PIS, juntamente com os do Programa de For-
mação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep), CAIXAS DE LIQUIDAÇÃO. Organismos su-
passaram a ser aplicados pelo então Banco Na- bordinados às Bolsas de Valores, que efetuam
cional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), a liquidação das operações a termo e a compen-
hoje Banco Nacional de Desenvolvimento Eco- sação das operações (à vista ou a termo) reali-
nômico e Social (BNDES). Desde então, cabe à zadas entre as corretoras. Também recebem e
Caixa apenas reaplicar parte dos recursos do guardam os valores dados como margem de ga-
PIS, já alocados para financiamentos de capital rantia nas operações feitas no pregão, emitem
de giro, repassando-se ao BNDES as amortiza- certificados, realizam os desdobramentos e con-
ções dos empréstimos anteriores concedidos versões e fazem as transferências de títulos ne-
para capital fixo. O FAS, que entrou em vigor gociados. Veja também Bolsa de Valores; Des-
em 1975, concentra seus recursos nas áreas so- dobramento; Operação a Termo; Pregão.
ciais básicas — educação, saúde e saneamento,
previdência, assistência social e trabalho —, mo- CAIXINHA. Denominação popular da gorjeta
vimentando recursos originários da renda líqui- ou propina, especialmente quando se trata das
da das loterias, de dotações orçamentárias da relações entre empresas privadas e a adminis-
União, de operações de repasse e financiamento, tração pública, no âmbito das quais os primeiros
e, ainda, dos resultados operacionais da Caixa. “pagam” com propinas (caixinha) os favores re-
No final do exercício de 1990, de acordo com a cebidos pelos representantes da última.
transformação da Caixa Econômica Federal em
Banco Múltiplo, no sentido de participar nos di- CÁLCULOS BOOLEANOS. Cálculos que se
versos segmentos da atividade de intermediação utilizam da álgebra de Boole. Em informática,
financeira, a captação de recursos por meio da funcionam com o emprego de classes, preposi-
caderneta de poupança, CDBs/RDBs e outras ções, elementos de circuitos on-off. São operações
aplicações alcançou o total de 1,1 trilhão de cru- lógicas de n variáveis que permitem tomar uma
zeiros. Enquanto isso, os depósitos a curto prazo decisão por meio de uma comparação. Por
totalizavam 2,8 trilhões de cruzeiros, o que re- exemplo, uma comparação entre as variáveis A
presentou um crescimento real de 17% em rela- e B permite a tomada de uma das três decisões:
ção ao ano anterior. A quantidade de contas de A>B, A=B e A<B. Especificamente, operações
depositantes, no final do ano, situava-se em 24,9 como and (e), or (ou) e not (não) ocorrem com
milhões, assim divididos: 21,6 milhões de contas variáveis de dois estados. Compreendem os ope-
em cruzeiros e 3,3 milhões em cruzados novos. radores: and (e), or (ou), not (não), except (exceto),
Com a extinção do Banco Nacional de Habita- if (se, condicional), then (então) e else (senão).
ção, decretada pelo Plano Cruzado 2, em CALL. Termo em inglês cuja tradução literal é
21/11/1986, a Caixa Econômica Federal assumiu “chamada” e que, no mercado financeiro, tem
as atribuições daquela instituição. Além disso, a pelo menos dois significados: 1) opção de com-
Caixa mantém programas de financiamento de prar um título ou ativo de acordo com um preço
táxis a álcool, de apoio à pequena e à média em- especificado e dentro de um prazo determinado;
presa, de crédito educativo e de fomento à cons-
2) processo de remissão (redeem) de um título
trução de centros sociais urbanos e módulos es- ou ação preferencial antes de seu prazo de ven-
portivos. Veja também BNDES; BNH; PIS-Pasep.
cimento.
CAIXA-PRETA. Nome popular que se dá aos
CALLABLE. Termo em inglês derivado do ver-
sistemas cujos mecanismos internos não são
bo to call (chamar); significa “resgatável”, e, re-
acessíveis à observação. A expressão pode de-
ferindo-se a um título, indica que o mesmo é
signar o que ocorre seja dentro de uma empresa, resgatável e em que condições isso pode acon-
com registros financeiros irregulares, seja em tecer.
computação, quando um sistema qualquer só é
passível de ser estudado por meio do que entra CALL LOANS. Expressão em inglês que desig-
e do que sai, e não do que se passa em seu na os empréstimos que devem ser pagos no mo-
interior. No jargão do mundo dos negócios, ge- mento em que sejam chamados pelo credor.
CALL MONEY 74

CALL MONEY. Dinheiro emprestado por ban- caráter regional, servindo como órgão repre-
cos geralmente para corretores das Bolsas de Va- sentativo de seus membros junto aos poderes
lores, que pode ser requisitado de volta a qual- constituídos. Há também câmaras de comércio
quer momento. O call money também é conhe- em âmbito internacional, com o objetivo de in-
cido como day-to-day money ou demand money. centivar o intercâmbio comercial entre dois paí-
ses, cada um dos quais mantém, no outro, es-
CALL OPTION. Veja Opções de Compra.
critório de informações e mostruário dos pro-
CALL SALE. Expressão em inglês que significa dutos que pode oferecer ao mercado local.
literalmente “venda à chamada”. Designa a ven-
CÂMARA DE COMPENSAÇÃO. Organização
da de um produto de qualidade específica sob
que reúne vários bancos de uma localidade com
um contrato que prevê a fixação, pelo compra-
o objetivo de liquidar os débitos entre eles, com-
dor, de um preço no futuro, baseando-se num
pensando todos os cheques emitidos contra cada
mínimo especificado de pontos acima ou abaixo
um de seus membros, mas apresentados para
do preço corrente de algum mês futuro, também
cobrança em qualquer um dos outros. A com-
especificado, no dia em que o preço do contrato
pensação dos cheques se faz de maneira pura-
for fixado, sendo o dia escolhido pelo compra-
mente escritural, evitando-se assim o transporte
dor. Este tipo de operação denomina-se também
de grandes importâncias em dinheiro. A primei-
“chamada do comprador” (e é mais utilizado
ra câmara de compensação que surgiu foi a Clea-
no mercado de algodão).
ring-House, de Londres, em 1775; a de Nova
CALORIA. Unidade de medida de calor, sendo York data de 1853. No Brasil, a compensação
definida como a quantidade de calor necessária de cheques é feita pelo Banco do Brasil. Veja
para elevar de um grau centígrado a tempera- também Banco; Banco do Brasil.
tura de um grama de água. Veja também Uni- CAMBÃO, Regime de. É o trabalho realizado
dades de Pesos e Medidas. pelos foreiros no plantio e durante a colheita de
CALOTE. O não-pagamento de uma dívida. cana-de-açúcar nos engenhos nordestinos, em
troca de salários irrisórios ou mesmo de forma
CALVINO, João (1509-1564). Teólogo francês, gratuita. Veja também Foreiro.
um dos expoentes da Reforma protestante. Suas
idéias estão expostas na obra A Instituição da Re- CAMBIAL. Denominação dada aos certificados
ligião Cristã (1536). Acusado de heresia, refu- de compra de moeda estrangeira, utilizados na
giou-se em Genebra, onde liderou ampla refor- importação de mercadorias. Veja também Câm-
ma social, política e religiosa, que teria profunda bio; Confisco Cambial; Controle Cambial; Cor-
influência em todo o Ocidente, sobretudo nas reção Cambial; Política Cambial.
cidades mercantis. Quanto às idéias econômicas, CÂMBIO. Operação financeira que consiste em
Calvino divergia de Lutero, o outro grande re- vender, trocar ou comprar valores em moedas
formador da época, pois defendia a cobrança de de outros países ou papéis que representem
juros, desde que moderada, e o comércio, quan- moedas de outros países. Para essas operações,
do não proporcionasse lucros exagerados. Con- são utilizados cheques, moedas propriamente
siderava o sucesso no trabalho e nos negócios ditas ou notas bancárias, letras de câmbio, or-
um sinal de que o indivíduo estaria sob o sopro dens de pagamento etc. Até o século passado,
da graça divina. Por essas idéias, Calvino de- a maioria das moedas tinha seu valor determi-
sempenhou papel de relevo na justificação ideo- nado por certa quantia de ouro e prata que re-
lógica do capitalismo comercial. Tese nesse sen- presentavam. Atualmente, não há mais o lastro
tido foi defendida por Max Weber na obra A metálico para servir de relação no câmbio entre
Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1905). as moedas, e as taxas cambiais são determinadas
Veja também Reforma. por uma conjunção de fatores intrínsecos ao
CAM. Iniciais da expressão em inglês computer país, principalmente a política econômica vigen-
aided manufacturing, que significa “produção as- te. O câmbio não possui apenas o valor teórico
sistida por computador”. Consiste no método de determinar preços comparativos entre moe-
mediante o qual um produto é fabricado de for- das, mas a função básica de exprimir a relação
ma automática e com o comando de um com- efetiva de troca entre diferentes países — a troca
putador. Veja também CAD/CAM. de moedas é conseqüência das transações co-
merciais entre países. No Brasil, a rede bancária,
CÂMARA DE COMÉRCIO. Associação desti- liderada pelo Banco do Brasil, é a intermediária
nada a congregar comerciantes e industriais que nas transações cambiais. Os exportadores, ao re-
compartilham os mesmos interesses em deter- ceberem moeda estrangeira, vendem-na aos
minado ramo de atividade econômica. Pode ter bancos; e os bancos revendem essa moeda aos
75 CÂMBIO PORTUGUÊS

importadores para que paguem as mercadorias na compra de moeda estrangeira por turistas
compradas. Essas transações são sempre regu- brasileiros que viajavam ao exterior, criando na
ladas pelo governo, que fixa os preços de com- prática um dólar mais caro do que o oficial para
pra e venda das moedas estrangeiras. Veja tam- esse tipo de atividade. Estão no mesmo caso a
bém Política Cambial. taxação variável dos produtos de importação
(com alíquotas maiores para os chamados su-
CÂMBIO, Letra de. Veja Letra de Câmbio. pérfluos) e o confisco cambial incidente sobre
produtos de exportação como o café.
CÂMBIO DUPLO. Veja Câmbio Múltiplo.
CÂMBIO NEGRO (ou Câmbio Paralelo). Com-
CÂMBIO LIMPO. Veja Clean Float. pra e venda ilegais de moedas estrangeiras, aci-
CÂMBIO LIVRE. Regime de operações do mer- ma das taxas oficiais, com o objetivo de lucro.
cado de divisas sem interferência das autorida- O mecanismo básico do câmbio negro consiste
des monetárias. A liberação da taxa cambial faz em obter divisas pela taxa oficial (ou ligeiramen-
te acima) e vendê-las ao preço vigente nas tran-
com que o valor das moedas estrangeiras flutue
sações paralelas. O mercado paralelo de divisas
de acordo com o interesse que despertam no
está mais sujeito a oscilações que o mercado ofi-
mercado, segundo a interação da oferta e da pro-
cial, pois o valor das transações obedece estri-
cura. O câmbio livre é também chamado de flu-
tamente aos mecanismos da oferta e da procura.
tuante ou errático. As flutuações da taxa cambial Nos períodos que antecederam a desvalorização
apresentam uma série de riscos, pois o mercado do cruzeiro, por exemplo, observou-se uma de-
de divisas passa a sofrer variações determinadas manda acentuada de moedas fortes, principal-
também por fatores políticos, sociais e até psi- mente o dólar, ocasionando a escassez de divisas
cológicos. Quando, por exemplo, um país sofre no mercado. O câmbio negro intensifica-se
uma crise de liquidez, o regime de câmbio livre quando o controle cambial se torna mais rígido,
estimula a especulação com moeda estrangeira, geralmente em situações de crise no balanço de
o que eleva excessivamente sua cotação e agrava pagamentos. As transações ilegais são muito va-
sua escassez. Da mesma forma, os importadores riadas, incluindo desde a simples compra e ven-
passam a utilizar maior quantidade de divisas da de divisas entre particulares (turistas, em sua
(moeda estrangeira) para suas compras, queren- maior parte) até complexas operações de trans-
do evitar pagá-las mais caro com o avanço da ferência irregular de vultosas somas para o ex-
crise, o que agrava a crise de liquidez. Veja tam- terior, as quais retornam depois ao país para
bém Câmbio Negro. estimular ainda mais a especulação de moedas
estrangeiras. Essas operações supõem a existên-
CÂMBIO MANUAL. Designação do ato de tro- cia de redes de especuladores de divisas que
ca física da moeda de um país pela de outro. atuam em vários países, tendo às vezes a coni-
As operações manuais de câmbio só se fazem vência de funcionários de instituições monetá-
em dinheiro efetivo e restringem-se a quem viaja rias e financeiras. Veja também Câmbio Livre.
ao exterior, seja a negócios ou turismo, ou em
troca da moeda nacional: quem viaja ao exterior CÂMBIO OFICIAL. Conjunto das taxas de con-
recebe divisas estrangeiras na forma de moeda versão de divisas em relação à moeda nacional,
legal ou de traveller’s checks (cheques de viagem). fixadas pelas autoridades monetárias. As cota-
Nas transações de comércio exterior ou de país ções oficiais das moedas estrangeiras nos regi-
a país, utilizam-se divisas sob a forma de letras mes de controle cambial baseiam-se em taxas
de câmbio, cheques, ordens de pagamento ou rígidas, em geral um pouco mais baixas do que
títulos de crédito. se estivessem sujeitas à flutuação da oferta e da
procura. Essas cotações são mantidas por deter-
CÂMBIO MÚLTIPLO. Sistema de câmbio em minados períodos e sua correção reflete o índice
que as taxas variam de acordo com a destinação de desvalorização da moeda nacional em relação
do uso da moeda estrangeira. Acaba funcionan- à moeda forte ou moeda-padrão (geralmente o
do como um tipo de subsídio para a compra de dólar).
alguns produtos e/ou como taxação na compra
de outros. É adotado tanto para a importação CÂMBIO PARALELO. Veja Câmbio Negro.
quanto para a exportação, e alguns países o ado- CÂMBIO POR ARBÍTRIO. Veja Arbitragem.
tam oficialmente. O Brasil não possui câmbio
múltiplo, mas certas regulamentações de natu- CÂMBIO PORTUGUÊS. Forma coloquial de de-
reza cambial criam efeito semelhante. A taxa de signar a operação de compra de moeda estran-
câmbio para a compra de petróleo, por exemplo, geira realizada pelo exportador e enviada ao im-
é mais baixa do que a taxa oficial. Ao contrário, portador como forma real de reduzir o preço
durante certo tempo, houve uma taxação de 25% de venda do produto sem alterar o valor da ex-
de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) portação. Veja também Subfaturamento.
CÂMBIO SUJO 76

CÂMBIO SUJO. Veja Dirty Float. que qualquer atraso numa delas significa atraso
de igual magnitude na conclusão do projeto. As
CAMBISTRY. Termo em inglês que significa a atividades que não fazem parte do caminho crí-
ciência do câmbio de moeda estrangeira, espe- tico se denominam não-críticas, e um atraso em
cialmente no que se refere ao estabelecimento sua execução não significa necessariamente um
do método mais barato de remeter valores para atraso na terminação do projeto. Com esses ele-
o exterior. Ela implica o conhecimento dos sis- mentos, o planejador responsável pela coorde-
temas de pesos e medidas de vários países do nação geral do projeto possui uma visão de con-
mundo, o toque dos metais utilizados para a junto e pode estabelecer com exatidão as res-
cunhagem de moedas, métodos de manejo com ponsabilidades de cada participante. Existem
lingotes, operações de provas sobre metais (es- dois grandes grupos de técnicas de caminho crí-
pecialmente os preciosos), emissão de letras de tico: o CPM (Critical Path Method), que consi-
câmbio, ordens de pagamento postais, parida- dera a duração das tarefas perfeitamente deter-
des comerciais e computações nas arbitragens minada, e o PERT (Program Evaluation and Re-
cambiais. view Technique), que considera a duração das
CAMBRIDGE. Veja Escola de Cambridge. tarefas variável. Veja também CPM; PERT.

CAMEL RATING. Coeficiente utilizado para CAMPANELLA, Tommaso (1568-1639). Filóso-


medir a solidez de um banco. A palavra Camel fo e reformador social italiano. Monge domini-
é formada pelas iniciais das palavras em inglês cano, foi perseguido pela Inquisição por suas
capital, asset (ativo), management (gerência), ear- idéias igualitárias. Defendeu a partilha das ter-
nings (ganhos) e liquidity (liquidez); o coeficiente ras feudais e, depois de liderar uma rebelião
varia entre 1 e 5 e é utilizado pelas agências de camponesa na Calábria, ficou preso por 27 anos.
supervisão dos bancos para avaliar as condições Influenciado por Platão, escreveu La Città del Sole
nas quais se encontra um banco. O nível 1 é (A Cidade do Sol), 1623, obra que descreve uma
dado aos bancos que se encontram nas posições sociedade ideal, caracterizada pela comunhão de
o mais possível sólidas. Os níveis 4 e 5 corres- bens e de mulheres.
pondem àqueles bancos que se encontram em CAMPESINATO. O conjunto dos grupos so-
situação delicada e devem ser objeto de perma- ciais de base familiar que, em grau diverso de
nente observação. Este coeficiente é utilizado autonomia, se dedica a atividades agrícolas em
apenas pela gerência de um banco, isto é, o pú- glebas determinadas. Em termos gerais, carac-
blico não tem acesso a ele. teriza-se por produzir baseando-se no trabalho
CAMERALISMO. Variante do mercantilismo di- da família, empregando eventualmente mão-de-
fundida na Áustria e na Alemanha em meados obra assalariada; por possuir a propriedade dos
do século XVIII. Representava um amplo siste- instrumentos de trabalho (enxadas, arados, ani-
ma de administração pública e organização dos mais de tração etc.); por ter autonomia total ou
negócios financeiros. Ao contrário dos mercan- parcial na gestão da propriedade; por ser dono
tilistas ingleses, os cameralistas privilegiavam a de parte ou da totalidade da produção. Segundo
centralização industrial e não a expansão comer- sua relação com a propriedade, o campesinato
cial. Defendiam o aumento da população como pode ser dependente ou não. Eram dependentes
forma de incrementar o produto nacional e es- os servos medievais (considerados parte da pró-
timulavam o mercado interno mediante incen- pria terra) e os camponeses livres, que viviam
tivos ao consumo de produtos locais, visando sob a proteção do senhor feudal e lhe pagavam
depender menos das importações. Para os ca- um tributo em forma de trabalho (corvéia). Em-
meralistas, as receitas governamentais eram o bora a utilização do termo seja objeto de ampla
mais importante elemento de riqueza das na- discussão e controvérsias, atualmente estão nes-
ções. Veja também Mercantilismo. sa última categoria os rendeiros, meeiros ou par-
ceiros, que entregam ao proprietário parte do
CAMINHO CRÍTICO. Técnica de planejamen- produto ou pagam a ele uma renda (em dinhei-
to e controle da produção quando esta exige ro, em produto ou em trabalho, ou nessas formas
grande número de tarefas, muitas das quais re- combinadas) para cultivar determinada área. O
querendo execução simultânea. Consideram-se campesinato independente abrange, fundamen-
todas as condições que precisam ser satisfeitas talmente, o grupo familiar que tem a posse total
para a execução das tarefas. Isso leva à divisão da gleba em que trabalha. Na Idade Média, o
do projeto em tarefas elementares, cada uma das campesinato tornou-se base de todo o sistema
quais precisando ser claramente definida. É ne- social. Ao longo do processo de evolução do
cessário também estabelecer a seqüência em que capitalismo, sua existência tem sido constante-
as tarefas serão realizadas e o exato tempo de mente ameaçada diante do avanço da grande
cada uma. As atividades que fazem parte do propriedade e das técnicas de cultivo a ela ine-
caminho crítico são denominadas críticas por- rentes. O exemplo mais radical dessa tendência
77 CAPACIDADE PARA IMPORTAR

é a Inglaterra, onde a pequena propriedade cam- Adam Smith; o texto dessa obra por ele estabe-
ponesa praticamente desapareceu. Na História lecido em 1904 tornou-se padrão de todas as
recente do Brasil, o campesinato tem desempe- edições posteriores. Publicou ainda, em 1896, as
nhado importante papel no desbravamento das conferências do mesmo autor (Lectures on Justice,
regiões de expansão da fronteira agrícola (Norte Police, Revenue and Arms) e escreveu Theories of
e Centro-oeste), onde têm sido intensos seus Production and Distribution (Teorias da Produção
conflitos com a grande propriedade. Em geral, e da Distribuição), 1924, e A Review of Economic
à medida que a produção capitalista avança, o Theory (Retrospecto da Teoria Econômica), 1929.
campesinato vai perdendo espaço, enquanto Veja também Smith, Adam.
cresce o contingente de assalariados itinerantes
(os chamados bóias-frias) que compõem o pro- CANO, Wilson (1937- ). Nasceu em São Paulo
letariado rural. e formou-se em Economia na Faculdade de Eco-
nomia e Administração da Pontifícia Universi-
CAMPOS, Roberto de Oliveira (1917- ). Eco- dade Católica de São Paulo em 1962. Em 1975,
nomista, diplomata e político brasileiro, princi- obteve o título de doutor pela Universidade Es-
pal mentor do modelo econômico desenvolvido tadual de Campinas (Unicamp), SP, tornando-se
ao longo dos governos militares pós-1964. Foi professor titular daquela instituição em 1986.
conselheiro econômico da Comissão Mista Bra- Entre 1966 e 1980, colaborou com a Cepal como
sil-EUA (1950-1953); diretor econômico (1952- professor, desenvolvendo cursos sobre Elabora-
1953), diretor superintendente (1954-1958) e pre- ção e Avaliação de Projetos em diversos países
sidente (1958-1959) do BNDE (Banco Nacional latino-americanos. Sua obra está voltada para
de Desenvolvimento Econômico); embaixador as questões do desenvolvimento industrial. Seus
itinerante na Europa (1961) e embaixador nos livros mais importantes são os seguintes: Raízes
Estados Unidos (1961-1964). Ministro do Plane- da Concentração Industrial em São Paulo (1990), De-
jamento entre 1964-1967, foi o principal artífice sequilíbrios Regionais e Concentração Industrial no
fiscal e de investimentos do governo Castelo Brasil: 1930-1970 (1985) e Reflexões sobre o Brasil
Branco. A partir de 1967, atuou no setor privado, e a Nova (Des) Ordem Internacional (1993). Atual-
mas em 1975 tornou-se embaixador do Brasil mente, é professor de Economia do Instituto de
na Grã-Bretanha. Licenciou-se desse cargo ao se Economia da Unicamp.
eleger, em 1982, senador pelo Estado do Mato
Grosso, e, em 1990, deputado federal pelo Rio CANTILLON, Richard (1680-1734). Banqueiro
de Janeiro, pelo PDS (Partido Democrático So- e economista francês de origem irlandesa, pre-
cial). De 1956 a 1961, foi professor de Moeda e cursor dos fisiocratas e de Adam Smith. Seu Es-
Crédito e Ciclo Econômico na Universidade do sai sur la Nature du Commerce em Géneral (Ensaio
Brasil. É autor das seguintes obras: Economia, sobre a Natureza do Comércio em Geral), co-
Planejamento e Nacionalismo (1963), Ensaio de His- nhecido desde 1730, mas só publicado em 1755,
tória Econômica e Sociologia (1963), A Moeda, o Go- expõe as contradições do mercantilismo então
verno e o Tempo (1964), A Técnica e o Riso (1966), vigente. A obra esteve por muito tempo esque-
Ensaios Contra a Maré (1968), Tempos e Sistemas cida e foi redescoberta por Stanley Jevons, no
(1970) e A Nova Economia Brasileira (1974), esta final do século XIX. É considerada a mais sis-
última escrita em colaboração com Mário Hen- temática exposição dos princípios econômicos
rique Simonsen. que se fez antes de A Riqueza das Nações, de
Adam Smith. Cantillon começa por definir a ter-
CANA-DE-AÇÚCAR. Veja Ciclo da Cana-de- ra como única fonte de riqueza, na forma de
açúcar. um excedente econômico (acima dos custos de
produção), e o trabalho como força geradora
CANADA. Medida de capacidade para líquidos dessa riqueza. Trata, em seguida, dos problemas
utilizada pela Casa da Moeda do Brasil antes monetários, das trocas e dos juros. Estuda ainda
do sistema métrico decimal e equivalente a apro- o comércio exterior, o câmbio, os bancos e o crédito.
ximadamente 2,6 l. Veja também Sistemas de Pe-
sos e Medidas; Unidades de Pesos e Medidas. CAP (Interest Rate). Veja Collar.

CANF. Iniciais da expressão em inglês cost and CAPACIDADE PARA IMPORTAR (Índice da).
freight, que significa “o custo e o frete”, isto é, Capacidade medida pela razão entre o valor das
quando o preço da mercadoria inclui o seu custo exportações (preço x quantidade) e o preço das
e o respectivo frete. importações. Geralmente, este índice é calculado
pela seguinte fórmula: Cpi = P exp. x Q exp.
CANNAN, Edwin (1861-1935). Economista in- / P imp., onde o preço das exportações, a quan-
glês, renomado por seus estudos de história das tidade exportada e o preço das importações são
doutrinas econômicas e sobretudo pela edição incorporados à fórmula mediante índices a par-
crítica e comentada de A Riqueza das Nações, de tir de determinado ano-base. Por exemplo, entre
CAPACIDADE OCIOSA 78

1929 e 1939 este índice observou a seguinte evo- região das minas: cada minerador, ou pessoa
lução: estabelecida em outras atividades, pagava um
imposto à Coroa proporcional ao número de es-
Ano Export. Export. Import. Capacidade cravos que possuísse.
Índices de Índices de Índices de p/
preço quant. preço importar CAPITAL. É um dos fatores de produção, for-
1929 100 100 100 ,100 mado pela riqueza e que gera renda. É repre-
1931 174 115 118 72,1 sentado em dinheiro. O capital também pode
1933 163 118 109 68,2 ser definido como todos os meios de produção
1935 185 133 179 63,1 que foram criados pelo trabalho e que são uti-
lizados para a produção de outros bens. Assim,
1937 188 141 200 62,0
o capital de uma empresa ou de uma sociedade,
1939 177 187 208 69,2
por exemplo, é constituído pelo conjunto de seus
recursos produtivos que foram criados pelo tra-
Observa-se que a capacidade para importar não balho humano. Os recursos naturais, como a ter-
diminui tanto quanto as relações de troca, isto ra, por exemplo, não são considerados capital.
é, a relação entre os preços das exportações e o O conceito de capital abrange somente os meios
das importações, porque o volume ou a quan- de produção social, ou seja, aqueles utilizados
tidade exportada pelo Brasil naquele período em atividades que se inserem na divisão do tra-
cresceu 87% (cem em 1929 para 187 em 1939), balho. O que significa, num sistema capitalista,
neutralizando pelo menos em parte a forte ele- que o capital abrange os recursos usados na pro-
vação dos preços de importação, que mais do dução de bens e serviços destinados à venda,
que dobraram (cem em 1929 para 208 em 1939) isto é, as mercadorias. Aqueles meios de pro-
no mesmo período. Veja também Relações de dução que são utilizados para a satisfação direta
Troca. das necessidades dos produtores não fazem par-
te do capital. É o caso dos aparelhos e ferra-
CAPACIDADE OCIOSA. Diferença entre o vo-
mentas domésticos. Na teoria marxista, capital
lume efetivo da produção e o que seria possível
é o resultado da acumulação da mais-valia, ob-
produzir com a capacidade instalada. Se, por
tida pelos empresários pela exploração do tra-
exemplo, uma indústria de televisores possui
balho de seus operários ou empregados. O ca-
equipamentos capazes de produzir mil apare-
pital de uma firma ou empresa equivale aos re-
lhos por mês, mas só fabrica oitocentos, sua ca-
cursos produtivos: equipamentos, instalações,
pacidade ociosa é de 20%. O conceito é mais
estoques. Se esses recursos são propriedade da
comumente aplicado nas atividades industriais,
firma, constituem capital próprio, e seus pro-
mas vale também para outros setores. Nos paí-
prietários têm direito a receber os lucros pro-
ses altamente industrializados, a capacidade
duzidos por aquele capital; se forem tomados
ociosa constitui com freqüência sério problema,
de empréstimo, então constituem capital de ter-
sendo geralmente sintoma de recessão econô-
ceiros, os quais recebem juros como remunera-
mica e de desemprego. Nos países subdesen-
ção. O conjunto dos meios de produção de uma
volvidos, em geral, está ligada a planejamento
sociedade constitui seu capital real, que se ex-
inadequado, superdimensionamento da maqui-
pande quando novos meios de produção são co-
naria, escassez de matérias-primas e estreiteza
locados em atividade. Sua propriedade é ates-
do mercado; pode ainda fazer parte de mano-
tada por títulos negociáveis. Ao circular no mer-
bras monopolistas visando aumentos de preços
cado financeiro, esses títulos acabam por incor-
ou a manutenção de preços altos. porar um valor que já não corresponde ao do
CAPATAZIA. Taxa cobrada pelo movimento de capital que lhe deu origem, mas às expectativas
mercadorias nos portos e em seus armazéns, de sua lucratividade futura. O conjunto desses
com uso de trabalhadores e equipamentos por- papéis negociáveis denomina-se capital finan-
tuários. A taxa de capatazia é comumente arre- ceiro e engloba também títulos de crédito, títulos
cadada pelas alfândegas em benefício das com- da dívida pública, os quais não representam ne-
panhias que exploram os portos. cessariamente nenhum capital real. De modo
que o capital financeiro engloba os papéis ne-
CAPITAÇÃO. Tributação cobrada per capita, gociáveis e títulos que rendem juros. O montante
isto é, incidente sobre cada indivíduo morador do capital financeiro de uma sociedade tem uma
de uma comunidade, área ou região. Substituída relação bem distanciada de seu capital real. A
modernamente por outras formas de imposto teoria marxista considera que o conceito de ca-
(sobre a renda, sobre o consumo etc.), foi comum pital se assenta não na propriedade de determi-
na Antiguidade e na Idade Média. No Brasil, nado tipo de meios de produção, mas numa for-
foi regulamentada por Carta Régia em 1735 e ma específica de relação social, que se apresenta
subsistiu em forma pura até 1750, sobretudo na sob a forma de objetos: dinheiro, meios de pro-
79 CAPITAL DE GIRO

dução, mercadoria. A conceituação de capital pital, adquire seu caráter social. Depois de
aparece referida a uma situação histórica con- Adam Smith, alguns autores clássicos introdu-
creta: a sociedade capitalista. Os meios de pro- ziram modificações nos conceitos de capital.
dução e o trabalho humano constituem fatores Para Stuart Mill, capital é a provisão acumulada
indispensáveis para a produção social, mas é do produto do trabalho que fornece abrigo, pro-
no contexto do capitalismo que esses meios de teção, ferramentas e materiais para a realização
produção se tornam capital, de propriedade dos do processo produtivo, além de oferecer alimen-
capitalistas: assim como o trabalho humano as- tos para os trabalhadores empenhados na pro-
sume a forma de trabalho assalariado. O capital dução. Para a corrente marginalista, capital é o
surge, então, como resultado da mais-valia que conjunto de bens destinados a servir para ulte-
o capitalista obtém do trabalho de seus empre- rior produção, podendo ser considerado o con-
gados. Mesmo quando o capital inicial foi obtido junto dos bens intermediários. Entre os econo-
pelo esforço pessoal de um capitalista, no pro- mistas matemáticos, o capital se constitui pelo
cesso de produção ele se transforma em mais- excedente da produção sobre o consumo. Veja
valia acumulada. Os juros e os lucros não são também Bens de Capital; Capitalismo; Compo-
considerados renda do capital, e sim mais-valia sição Orgânica do Capital; Formação de Capi-
apropriada do trabalhador. Historicamente, o tal; Ganhos de Capital; Mercado de Capitais;
modo de produção capitalista desempenha o pa- Rotação do Capital.
pel de concentrar e desenvolver os meios de pro-
dução, que até então se encontravam dispersos CAPITAL ABERTO. Característica do tipo de
e pouco desenvolvidos. A teoria marxista dis- sociedade anônima em que o capital, repre-
tingue ainda entre capital constante e capital va- sentado pelas ações, é dividido entre muitos e
riável. Capital constante é aquela parte do valor indeterminados acionistas. Além disso, essas
do capital empregada na compra dos meios de ações podem ser negociadas nas Bolsas de Va-
produção: máquinas, matérias-primas e outros lores.
materiais. O valor desse capital não sofre alte-
ração durante o processo de produção, não po- CAPITAL ASSET PRICING MODEL. Veja Mo-
dendo, pois, constituir a fonte do aumento do delo de Precificação de Ativos de Capital.
capital inicial. O capital variável é a quantidade
CAPITAL CIRCULANTE. Parte do capital des-
de capital gasto na compra da força de trabalho
tinada às despesas correntes de uma empresa
e tem seu valor aumentado no processo de pro-
dução. Esse aumento se efetua por meio da ob- com matérias-primas, salários, matérias auxilia-
tenção da mais-valia, o que faz do capital va- res, combustíveis, energia elétrica, e com esto-
riável o responsável pelo aumento do capital ques de mercadorias. Nesse sentido, é também
inicial. O conceito inicial de capital remonta ao chamado de capital de giro. Do ponto de vista
período de desenvolvimento comercial da Idade da concepção marxista, é a parte do capital não
Média, quando foram criadas novas formas de fixa, isto é, aquela que não é destinada à compra
escrituração mercantil para o controle dos ne- de equipamentos, máquinas e instalações. Do
gócios. Nessa época, capital designava a quantia ponto de vista financeiro, pode ser considerada
de dinheiro com que se iniciava qualquer ativida- aquela parte do capital que é financiada com
de comercial. À medida que seu uso foi se con- créditos de longo prazo. A magnitude do capital
solidando, seu significado foi ganhando cono- circulante de uma empresa é um indicador do
tações mais amplas: assim, após os grandes des- seu grau de liquidez no mercado. Veja também
cobrimentos, representava o acervo das compa- Capital Fixo; Capital Variável.
nhias comerciais ou as parcelas de dinheiro com
que os associados contribuíam para a formação CAPITAL CONSTANTE. Na teoria marxista
de uma companhia. Capital era dinheiro inves- do valor, a parte do capital total que apenas
tido, nada tendo a ver com os bens nos quais transfere seu valor para as mercadorias que es-
o dinheiro fora aplicado. Alguns séculos depois, tão sendo produzidas, não criando a mais-valia.
Adam Smith apontou diferenças entre o capital Em termos materiais, é composto pelos meios
social e o capital individual. Da totalidade das de produção: máquinas, equipamentos, edifí-
riquezas do homem, uma parte é utilizada para cios, matérias-primas, combustíveis etc. Veja
suprir suas necessidades individuais; outra também Capital; Capital Variável; Composição
pode ser utilizada para obter renda ou lucro. A Orgânica do Capital; Mais-valia.
primeira parte constitui apenas consumo coti-
diano. A parcela destinada à obtenção de renda CAPITAL DE GIRO. Parte dos bens de uma
constitui capital. Para que dê lucros, deve ser empresa representados pelo estoque de produ-
investido em alguma atividade econômica, sain- tos e pelo dinheiro disponível (imediatamente
do da posse de seu investidor para retornar de- e a curto prazo). Também chamado de capital
pois. É em tal circulação que essa riqueza, o ca- circulante.
CAPITAL DE RISCO 80

CAPITAL DE RISCO. Capital investido em ati- lado, os recursos dos bancos transferem-se tam-
vidades em que existe a possibilidade de perdas. bém para a indústria, mediante a compra de açõ-
Em geral, esses investimentos são realizados por es, o que permite a criação de um “sistema de
capitalistas privados. No balanço de pagamen- participações” por meio do qual um pequeno
tos, os capitais de risco são os investimentos di- capital bancário passa a controlar somas muito
retos realizados por empresas estrangeiras no superiores de capitais industriais. Ao mesmo
Brasil (entrada) e por empresas brasileiras no tempo se dá a concentração e a centralização do
exterior (saídas). Os movimentos desses capitais próprio capital financeiro com a formação de
são registrados na conta de capital do balanço grandes conglomerados que passam a influir
de pagamentos. Veja também Balanço de Paga- não apenas na direção de um setor, mas de toda
mentos; Risco. a economia nacional, projetando-se no plano in-
ternacional. A dominação que os países impe-
CAPITAL ESTRANGEIRO. Veja Investimento rialistas exercem sobre os países subordinados
Estrangeiro; Lei da Remessa de Lucros. ocorre em grande medida por meio do capital
financeiro.
CAPITAL FECHADO. Característica do tipo de
sociedade anônima em que o capital, repre- CAPITAL FIXO. Em termos da contabilidade
sentado por ações, é dividido entre poucos acio- de uma empresa, é aquele representado por imó-
nistas. Além disso, as ações não são negociáveis veis, máquinas e equipamentos. É também cha-
em Bolsas de Valores e são transmitidas ou ne- mado de ativo fixo. De acordo com a concepção
gociadas apenas sob consenso dos acionistas. marxista, é a parte não circulante do capital
CAPITAL FINANCEIRO. No sentido microeco- constante, isto é, a parte do capital utilizada em
nômico, capital financeiro significa todas as par- máquinas, equipamentos, instalações etc. Veja
celas do capital de uma empresa que se encon- também Ativo; Capital Constante.
tram em estado de liquidez, isto é, podem ser CAPITAL HUMANO. Conjunto dos investimen-
transformadas em qualquer ativo físico de forma tos destinados à formação educacional e profis-
imediata. Do ponto de vista macroeconômico, sional de determinada população. O índice de
é todo capital empregado nos mercados de tí-
crescimento do capital humano é considerado
tulos (Bolsas de Valores, Bolsas de Mercadorias)
um dos indicadores do desenvolvimento econô-
e todo aquele movimentado pelos bancos e ins-
mico. O termo é usado também para designar
tituições financeiras em geral. O capital finan-
as aptidões e habilidades pessoais que permitem
ceiro pode também ser entendido como o capital
ao indivíduo auferir uma renda. Esse capital de-
representado por títulos, obrigações, certificados
riva de aptidões naturais ou adquiridas no pro-
e outros papéis negociáveis e que podem ser
convertidos em dinheiro com rapidez. Do ponto cesso de aprendizagem. Nesse sentido, o con-
de vista histórico, é o capital que se forma pela ceito de capital humano corresponde ao de ca-
fusão do capital dos monopólios bancários e in- pacidade de trabalho.
dustriais nos países imperialistas. A existência CAPITAL INTENSIVO. Forma de produção
do capital financeiro e a conseqüente aparição em que a proporção de capital empregado é
de uma oligarquia financeira constitui uma das muito elevada em relação aos demais insumos
características fundamentais do imperialismo. A ou fatores de produção, particularmente em re-
formação do capital financeiro, que corresponde lação ao custo do fator trabalho. Nesse sentido,
às últimas décadas do século passado e primei- mede-se a intensidade de emprego de capital
ras do século atual, resultou da elevada concen- por pessoa empregada. Isso ocorre especifica-
tração e centralização do capital nos setores in-
mente em certos tipos de indústria, como a quí-
dustrial e bancário desenvolvidas especialmente
mica e a nuclear, que têm um volume muito
na Europa durante o período anterior. De acordo
grande de capital fixo. Veja também Trabalho
com Lênin, em sua obra O Imperialismo, Fase Su-
Intensivo.
perior do Capitalismo, “a concentração da produ-
ção, os monopólios que surgem dessa concen- CAPITAL VARIÁVEL. Na teoria marxista do
tração, a fusão ou união dos bancos com a in- valor, a parte do capital total que sai valorizada
dústria, tal é a história do nascimento do capital do processo de produção mediante a criação da
financeiro e o conteúdo desse conceito”. Utili- mais-valia. Do ponto de vista material, é a parte
zando recursos monetários livres, os bancos não do capital utilizada para a compra de força de
apenas concedem às empresas industriais em- trabalho e, portanto, para o pagamento de sa-
préstimos a curto prazo, mas também créditos lários. Veja também Capital; Capital Constante;
a médio e longo prazos. Com isso obtêm a pos- Composição Orgânica do Capital; Mais-valia.
sibilidade de participar no desenvolvimento e
na administração das empresas, como também CAPITALISMO. Sistema econômico e social
de influir em seu próprio destino. Por outro predominante na maioria dos países industria-
81 CAPITALISMO TARDIO

lizados ou em fase de industrialização. Neles, a intermediários. No final do século, acentuavam-


economia baseia-se na separação entre trabalha- se as tendências à concentração, com cartéis,
dores juridicamente livres, que dispõem apenas trustes e monopólios, o que, no século XX, re-
da força de trabalho e a vendem em troca de sultaria na formação de gigantescas empresas
salário, e capitalistas, os quais são proprietários multinacionais. Para elas, o planejamento a lon-
dos meios de produção e contratam os traba- go prazo é fundamental, devido à tendência à
lhadores para produzir mercadorias (bens diri- diminuição da taxa de lucro. As crises são fre-
gidos para o mercado) visando à obtenção de qüentes, provocando falências, desemprego e in-
lucro. Vários cientistas sociais de destaque pro- flação em boa parte do mundo. Para amenizar
curaram explicar o surgimento e o funcionamen- essas crises, é crescente a intervenção do Estado
to do capitalismo. Para Werner Sombart, a es- na economia. Veja também Burguesia; Burocra-
sência do capitalismo não está na economia, mas cia; Capital; Capitalismo Tardio; Força de Tra-
no “espírito” que se desenvolveu dentro da bur- balho; Lucro; Mais-valia; Marx, Karl Heinrich;
guesia que surgiu na Europa no fim da Idade Meios de Produção; Multinacional; Reforma;
Média. Esse espírito teria levado os burgueses Revolução Industrial; Sombart, Werner; We-
a perceber que o melhor método para adquirir ber, Max.
riqueza não era acumular capital. Max Weber
caracteriza o capitalismo pela predominância da CAPITALISMO DE ESTADO. Envolvimento di-
burocracia: as empresas deixaram de ser domés- reto do Estado no setor produtivo e de serviços,
ticas e passaram a ter vida própria, exigindo, tendência verificada tanto em países “capitalis-
devido ao tamanho crescente, sistemas contábeis tas” quanto em “socialistas”. Particularmente
e administrativos altamente racionais para ga- nos países subdesenvolvidos, o Estado atua
rantir a obtenção de lucro. Para Karl Marx, o onde faltam recursos para o investimento pri-
que define o capitalismo é a exploração dos tra- vado ou nos setores em que a taxa de lucro não
é compensadora para as empresas privadas lo-
balhadores pelos capitalistas. O valor do salário
cais ou multinacionais. Brasil, México, Venezue-
pago corresponderia apenas a uma parcela mí-
la são alguns dos países onde o setor público
nima do valor do trabalho executado. A dife-
tem participação superior a 50% na formação
rença, denominada mais-valia, seria apropriada
anual de capital fixo. Veja também Estatismo.
pelos proprietários dos meios de produção sob
a forma de lucro. Historicamente, o capitalismo CAPITALISMO TARDIO. Conceito desenvol-
tem passado por grande evolução. Em sua ori- vido pelo economista belga Ernest Mandel em
gem está o empobrecimento da nobreza euro- seu livro O Capitalismo Tardio (1972), e que ca-
péia, devido aos gastos com as cruzadas e à fuga racterizaria a atual fase do capitalismo mono-
dos camponeses para as cidades (burgos). A par- polista, desencadeada a partir de uma terceira
tir do século XIII, sobretudo em alguns portos revolução tecnológica (1940-1945), com a cres-
do Norte da Itália e do mar do Norte, os bur- cente introdução da automação na produção, a
gueses passaram a enriquecer, criando bancos internacionalização e centralização do capital em
e dedicando-se ao comércio em maior escala, conglomerados multinacionais, a rápida depre-
primeiro na própria Europa e depois no resto ciação e o encurtamento do tempo de rotação
do mundo. Além disso, em vez de apenas com- do capital fixo e a busca do superlucro como
prar os produtos dos artesãos para revendê-los, principal estímulo de acumulação. Mandel des-
passaram a criar manufaturas e a contratar ar- taca o capitalismo em uma fase concorrencial,
tesãos para produzi-las, substituindo o antigo surgida como resultado da Revolução Industrial
vínculo de servidão feudal pelo contrato salarial. no fim do século XVIII, dividida em duas sub-
Aumentaram as oportunidades de trabalho, o fases, entre 1848 (ano que classifica como o do
volume de dinheiro e o mercado de consumo, início da primeira revolução tecnológica, com a
tornando-se necessárias a ampliação e a proli- produção de motores a vapor) e 1873; e o capi-
feração das manufaturas. Nos séculos XVIII e talismo monopolista ou imperialista, também
XIX, esse processo provocou, especialmente na subdividido em duas fases: a clássica, marcada
Inglaterra, a Revolução Industrial, com a meca- pelo esgotamento da expansão da primeira re-
nização das fábricas. A par da formação dos es- volução tecnológica, e a do capitalismo tardio,
tados nacionais, também a Reforma, a Revolu- moldado pela terceira revolução tecnológica,
ção Puritana e a Revolução Francesa foram mar- com a introdução da automação na produção e
cos importantes na luta da burguesia para a con- o desenvolvimento da energia nuclear. A segun-
quista do poder político, que havia pertencido da revolução tecnológica, iniciada em 1896, com
à nobreza durante a Idade Média. No século a criação e aplicação do motor elétrico e do mo-
XIX, o capitalismo apresentava-se definitiva- tor a explosão, apesar de sua repercussão, não
mente estruturado, com os industriais e ban- caracteriza para Mandel nenhuma subfase es-
queiros centralizando as decisões econômicas e pecífica do capitalismo. O crescente uso da au-
políticas, e os comerciantes atuando como seus tomação e da regulação eletrônica da produção,
CAPITALIZAÇÃO 82

que caracterizaria o capitalismo tardio, provoca, governo possa saldar seus compromissos. Em
segundo Mandel, aumento da composição or- ambos os casos, essa operação geralmente re-
gânica do capital e queda da taxa de lucro, de- sulta em aumento do endividamento do poder
finindo uma crise estrutural do modo de pro- público.
dução capitalista ou “uma crise histórica de va-
lorização do capital”, já que nas fábricas intei- CAPTURE THEORY. Teoria do campo da regu-
ramente automatizadas, não havendo trabalho lação desenvolvida por George Stigler (1911- ).
humano, também não haverá produção de mais- Esta teoria desenvolve a concepção de que um
valia. O desenvolvimento tecnológico, mediante ramo industrial regulamentado pode beneficiar-
o aumento de despesas com pesquisas e sua or- se dessa regulamentação “capturando” ou su-
ganização como ramo autônomo da divisão do bordinando a agência governamental encarre-
trabalho (possibilitada pela valorização das ren- gada de gerenciar tal regulamentação. As razões
das tecnológicas, que se tornaram a principal para que isso aconteça são várias: 1) a indústria
fonte de superlucros), proporcionou uma depre- geralmente dispõe de conhecimentos técnicos
sobre o setor bem maiores do que a agência go-
ciação mais rápida do capital fixo e o encurta-
vernamental, o que significa que esta última até
mento do tempo de sua rotação, exigindo um
certo ponto depende da indústria nesse âmbito;
planejamento empresarial mais abrangente. Esse
2) os funcionários da agência governamental po-
fato explicaria a centralização do capital por
dem sair dos quadros da indústria, ou então es-
meio dos conglomerados multinacionais e a ten-
tes poderão ocupar no futuro posições nas agên-
dência inerente ao capitalismo tardio de ampliar
cias governamentais; 3) a agência governamen-
o controle sistemático sobre todos os elementos
tal por vezes necessita que a indústria reconheça
dos processos de produção, circulação e repro- sua necessidade e obtenha cooperação informal
dução. No plano ideológico, o capitalismo tardio por parte da indústria.
substituiu a crença no individualismo e na com-
petição sem limites pela fé na ciência e na téc- CARAJÁS. Veja Projeto Carajás.
nica, cujos princípios devem organizar e planejar
a sociedade e a economia. Veja também Capi- CARAT. A palavra de uso internacional tem
talismo; Mandel, Ernest. dois significados: 1) como unidade de peso, o
carat (métrico) é equivalente a 3 086 grãos do
CAPITALIZAÇÃO. Veja Empresas de Capita- sistema troy e é utilizado para pesar pedras pre-
lização. ciosas, especialmente diamantes; 2) como uni-
dade de medida de qualidade, é utilizado entre
CAPITANIAS HEREDITÁRIAS. Grandes ex-
joalheiros, ourives, etc. para denotar o toque ou
tensões de terras do Brasil colonial doadas à ex- a pureza do ouro ou outros metais, sendo a vi-
ploração hereditária pela Coroa portuguesa. gésima quarta parte de qualquer peso, isto é, o
Dom João III, rei de Portugal, implementou as ouro puro é metal de 24 carats. Uma pulseira
capitanias com a perspectiva de defender o ter- que por peso é metade ouro e metade latão tem
ritório recém-descoberto e desenvolvê-lo me- um toque de 12 carats. A expressão “ouro de 18
diante a colonização, pois os custos eram muito carats” significa que o ouro possui um toque de
elevados. A Coroa passou então a doar as ca- 18/24, isto é, consiste em 18 partes de ouro puro
pitanias (quinze ao todo) aos membros da corte, e 6 partes de outro metal que constitui a liga.
comerciantes ricos etc. As capitanias eram regi-
das pela Carta de Doação, instrumento por meio CARDOSO, Fernando Henrique (1931- ). Nas-
do qual se atribuíam os direitos e deveres do ceu no Rio de Janeiro e desenvolveu seus estu-
donatário. A crise do sistema deu-se devido à dos de sociologia em São Paulo, onde se gra-
falta de capital dos donatários para desenvolver, duou e tornou-se professor da Faculdade de Fi-
povoar e defender as capitanias e à rebeldia dos losofia, Ciências e Letras da Universidade de
colonos. O sistema de capitanias hereditárias vi- São Paulo. Entre 1964 e 1968, trabalhou na Co-
gorou de 1534 até a época pombalina (1750- missão Econômica para a América Latina (Cepal),
1777). na Faculdade Latino-americana de Ciências So-
ciais (Flacso), em Santiago, no Chile, e lecionou
CAPM (Capital Asset Pricing Model). Veja Ca-
na Sorbonne, em Paris, na França. Em 1969, foi
pital Asset Pricing Model.
um dos fundadores do Centro Brasileiro de Aná-
CAPTAÇÃO. Designação dada geralmente ao lise e Planejamento (Cebrap). Em 1978, elegeu-se
ato de venda de títulos por parte das autorida- suplente de senador por São Paulo, assumindo
des monetárias para a obtenção de recursos (di- o mandato quando o titular, André Franco Mon-
nheiro) no mercado. A captação pode ser utili- toro, tornou-se governador daquele Estado em
zada tanto no sentido de retirar liquidez do mer- 1983. Em 1986, elegeu-se senador por São Paulo
cado, quando a política monetária é contracio- e, em outubro de 1992, tornou-se ministro das
nista, como para obter recursos com os quais o Relações Exteriores no governo Itamar Franco.
83 CARRY-OVER

Em maio de 1993, foi nomeado ministro da contribuintes. Corresponde a uma parcela im-
Fazenda. Em 3 de outubro de 1994, foi eleito portante da renda nacional.
presidente da República para o período de
1/1/1995 a 31/12/1998. Seus livros mais impor- CARGA UNITIZADA. Expressão do comércio
tantes são: Autoritarismo e Democratização (1975); internacional que designa a carga transportada
Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional: o Ne- por containers, pallets ou pelo sistema roll-on/roll-
gro na Sociedade Escravocrata do Rio Grande do Sul off. Veja também Contêiner.
(1962); Homem e Sociedade: Leituras Básicas de So- CARIBBEAN FREE TRADE ASSOCIATION
ciologia Geral (1966), em colaboração com Octá- (CARIFTA). Zona de livre comércio estabeleci-
vio Ianni; Dependência e Desenvolvimento na Amé- da em 1968 por alguns países do Caribe como
rica Latina: Ensaio de Interpretação Sociológica Barbados, Guiana, Jamaica, Trinidad e Tobago.
(1970), em colaboração com Enzo Falleto. Em 1973, esta associação transformou-se no Ca-
ribbean Common Market (Mercado Comum do
CARDOSO DE MELLO, Zélia (1953- ). For- Caribe), designado pela sigla Caricom.
mou-se em economia pela Faculdade de Econo-
mia e Administração da Universidade de São CARICOM. Veja Caribbean Common Market.
Paulo em 1975. Obteve o título de mestre pela
mesma instituição em 1981. Entre 1983 e 1986, CARIFTA. Veja Caribbean Free Trade Associa-
trabalhou na Companhia de Desenvolvimento tion.
Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo CARIMBO. Aplicado por punção em moedas
como assessora. Entre 1986 e 1987, trabalhou na a fim de alterar para menos o seu primitivo valor
Secretaria do Tesouro Nacional durante a gestão facial. Moedas de cobre de 80 réis, por exemplo,
de Andrea Calabi. Posteriormente, montou uma emitidas durante a primeira metade do século
empresa de consultoria econômica, tendo pres- XIX no Brasil, receberam naquela época o ca-
tado serviços ao então governador de Alagoas,
rimbo com a denominação “40", valor que a
Fernando Collor de Mello. Durante a campanha
moeda carimbada passou a ter, isto é, 40 réis.
presidencial de 1989, foi contratada por este para
Embora aplicado nas moedas para a redução de
a elaboração do programa econômico do futuro
seu valor, pode ser aplicado nas cédulas para
governo e, com a vitória do candidato, foi es-
colhida como ministra da Economia. Durante transformar unidades monetárias antigas em
sua gestão (março de 1990 a maio de 1991), pre- atuais, ou para lastrear uma moeda não conver-
parou e colocou em execução dois planos de sível tornando-a conversível, como, por exem-
estabilização, o Plano Collor e o Plano Collor 2. plo, aconteceu no Brasil com as emissões da Cai-
Apesar das medidas drásticas utilizadas, espe- xa de Conversão (1906) e com a Caixa de Esta-
cialmente durante o primeiro Plano Collor, com bilização (1926), e também, mais recentemente,
os bloqueios dos depósitos à vista e a prazo, com a adoção dos vários planos para eliminar
das aplicações financeiras e cadernetas de pou- a inflação, quando se mudava a unidade mone-
pança durante dezoito meses, a estabilização não tária colocando-se um carimbo nas cédulas emi-
foi alcançada e a inflação prosseguiu num ritmo tidas anteriormente e atualizando seu valor. Ca-
acelerado. Atualmente, Zélia Cardoso de Mello é rimbo é também a denominação que os opera-
professora de Economia na Faculdade de Econo- dores do mercado financeiro dão aos aumentos
mia e Administração da Universidade de São Pau- de capital via aumento do valor nominal das
lo. Veja também Plano Collor e Plano Collor 2. ações que o constituem. Veja também Bracea-
gem; Caixa de Amortização; Caixa de Conver-
CARÊNCIA. Período de tempo, concedido pelo são; Escudete; Legislação Monetária Brasileira;
credor, durante o qual o devedor não paga o Recunho; Senhoriagem.
principal da dívida, mas apenas os juros.
CARRY BACK. Expressão em inglês que, lite-
CAREY, Henry Charles (1793-1879). Economis- ralmente, quer dizer “carregar para trás”, utili-
ta norte-americano, um dos criadores da teoria zada pelas empresas para evitar a incidência do
da “harmonia de interesses” entre o capital e o Imposto de Renda em determinado ano, quando
trabalho. Em relação às questões da renda da as perdas observadas num período podem ser
terra, aceitava a tese de Ricardo sobre a inexis- lançadas retroativamente ou no exercício se-
tência da renda absoluta e considerava o arren- guinte (carry forward), para reduzir a média dos
damento uma forma de pagamento dos juros lucros tributáveis.
correspondentes ao capital investido na terra.
Veja também Renda Absoluta; Renda da Terra; CARRY FORWARD. Veja Carry Back.
Renda Diferencial.
CARRY-OVER. Expressão inglesa (“transpor-
CARGA FISCAL. Soma de todos os impostos te”) utilizada no mercado de títulos negociáveis.
e tributos fiscais e sociais que são cobrados dos O detentor de um título pode adiar a data do
CARRYING COSTS 84

resgate, recebendo juros pelo prazo maior, en- ciação por parte de um banqueiro, comerciante
quanto o emitente do título pode dispor do di- ou operador de Bolsa de Valores. Especificamen-
nheiro para outras atividades. te, designa as seções dos bancos especializadas
apenas num tipo de operação, tais como carteira
CARRYING COSTS. Custos de manutenção de de crédito agrícola, carteira de descontos e carteira
estoques, ou “custos de carregação”. de câmbio.
CARTA DE CRÉDITO. Carta cujo signatário CARTEIRA DE AÇÕES. Veja Porta-fólio.
autoriza o destinatário a entregar a uma terceira
pessoa certa importância em dinheiro ou deter- CARTEIRA DE TÍTULOS. Veja Porta-fólio.
minada quantidade de mercadorias. A entrega
se faz sob a garantia do signatário, de forma CARTEL. Grupo de empresas independentes
que ele exerce o papel de fiador da operação. que formalizam um acordo para sua atuação
coordenada, com vistas a interesses comuns. O
CARTA DE INTENÇÃO. Documento enviado tipo mais freqüente de cartel é o de empresas
pelo governo brasileiro ao Fundo Monetário In- que produzem artigos semelhantes, de forma a
ternacional (FMI) contendo medidas de política constituir um monopólio de mercado. O termo
econômica (fiscais, monetárias, administrativas “cartel” refere-se em geral ao mercado interna-
e patrimoniais) a serem adotadas para ajustar a cional — onde chegam a existir cartéis de países
economia aos desequilíbrios provocados em seu —, enquanto se prefere utilizar termos como
setor externo. Geralmente, as Cartas de Intenção truste e sindicato para os mercados regionais. Os
contêm medidas que levam a economia à reces- objetivos mais comuns dos cartéis são: 1) con-
são. Quando as metas nelas contidas são exe- trole do nível de produção e das condições de
cutadas, raramente os objetivos são alcançados venda; 2) fixação e controle de preços; 3) controle
em sua integridade. Do ponto de vista da rene- das fontes de matéria-prima (cartel de compra-
gociação da dívida externa, esses documentos dores); 4) fixação de margens de lucros e divisão
contêm os elementos para que os credores, me- de territórios de operação. As empresas que for-
diante endosso do FMI, possam avaliar as con- mam um cartel mantêm sua independência e
dições futuras para o pagamento da dívida ex- individualidade, mas devem respeitar as regras
terna. Nenhuma das Cartas de Intenção que o aceitas pelo grupo, como a divisão do mercado
Brasil assinou junto ao FMI depois de 1982 che- e a manutenção dos preços combinados. Em ge-
gou a ser cumprida. Veja também Autoridades ral, formam um fundo comum que serve de re-
Monetárias; Dívida Externa; FMI. serva orçamentária ao cartel. Esse fundo é uti-
lizado para punir as empresas do grupo que
CARTA DE RECOMPRA. Documento utiliza- não respeitarem o acordo e também para impe-
do no mercado financeiro mediante o qual um dir que outras empresas penetrem em mercados
vendedor (geralmente um banco ou uma insti- já dominados. Na maioria dos países, a formação
tuição financeira), devidamente habilitado pelo de cartéis que atuem internamente é proibida,
Banco Central, se compromete a recomprar de por configurar uma situação de monopólio. No
um comprador (seu cliente) os títulos negocia- entanto, a cartelização é fenômeno normal nas
dos sob determinadas condições de preço, prazo economias capitalistas, tanto as desenvolvidas
e taxa de desconto. quanto as subdesenvolvidas. A atuação dos car-
CARTÃO DE CRÉDITO. Documento financei- téis elimina a concorrência; os consumidores po-
ro que dá a seu possuidor o direito de fazer dem ser lesados por preços construídos artifi-
compras em estabelecimentos comerciais, inde- cialmente e por produtos obsoletos; as fontes
pendentemente de pagamento imediato; o pos- de matérias-primas ficam submetidas a compra-
suidor apenas assina a fatura correspondente à dores que fixam condições de compra, preços
compra. A instituição financeira que emitiu o etc. Para o mercado externo, entretanto, alguns
cartão se incumbe de pagar ao vendedor e cobrar países chegam a estimular a cartelização como
a dívida do comprador (e possuidor do cartão), forma de constituir grupos para organizar ra-
geralmente em parcelas mensais acrescidas de cionalmente a produção e competir em igual-
juros. A principal função econômica dos cartões dade de condições nesse mercado. Veja também
de crédito é estimular poderosamente o consu- Monopólio; Truste.
mo. Veja também Consumo.
CARTELIZAÇÃO. Veja Cartel.
CARTA PARTITA. Expressão italiana que sig-
nifica um acordo para o afretamento (leasing) CARTISMO. Um dos primeiros movimentos
de um navio ou de parte dele por determinado político-reivindicatórios da classe operária, ocor-
tempo ou para uma viagem específica. rido na Inglaterra entre 1838 e 1848. Seu nome
deriva da Carta do Povo, um programa de seis
CARTEIRA (Porta-fólio). Conjunto dos títulos pontos que os operários apresentaram ao Par-
ou valores monetários que são objeto de nego- lamento, reivindicando: 1) sufrágio universal
85 CASAS DE CUSTÓDIA

masculino; 2) igualdade de direitos eleitorais; 3) corre às antigas empresas que fabricavam nosso
voto secreto; 4) legislaturas anuais; 5) abolição meio circulante, como aconteceu durante a in-
do censo eleitoral (baseado na propriedade); 6) trodução do Plano Real, quando a urgência em
remuneração das funções parlamentares. Inte- fabricar uma grande quantidade de moeda exi-
grado por diversas correntes político-ideológi- giu que uma parte fosse produzida no exterior.
cas (democratas, socialistas, jacobinos) e sob a A Casa da Moeda renovou seu parque industrial
liderança de Feargus O’Connor, William Lovett, durante os anos 80, e hoje conta com um parque
Julian Harney e Brontere O’Brien, o movimento tecnológico de elevada qualidade, produzindo
cartista promoveu numerosas manifestações de moedas, passaportes, selos etc. para outros paí-
denúncias das condições de vida dos trabalha- ses tanto da América do Sul (Paraguai e Vene-
dores e defendeu a jornada de dez horas de tra- zuela) como para a África (Guiné-Bissau). A
balho e o direito à organização de classe e re- Casa da Moeda produz anualmente cerca de 1
presentação parlamentar. O final do movimento bilhão de cédulas e moedas para substituir o
coincidiu com a derrota da revolução de 1848 meio circulante desgastado ou perdido, e tam-
na Europa. Apesar disso, até 1867 todos os pon- bém para expandi-lo. Nos períodos de inflação
tos da Carta do Povo, com exceção da legislatura acelerada vividos durante os anos 80 e início
anual, foram incorporados à lei inglesa. dos anos 90, a Casa da Moeda passou a produzir
e/ou carimbar uma quantidade maior de papel-
CASA DA GUINÉ E MINA; CASA DA ÍN- moeda e moedas metálicas, em função das exi-
DIA. Instituições da administração colonial por- gências da própria inflação. Além do dinheiro,
tuguesa, criadas no final do século XV para con- a Casa da Moeda detém o monopólio da pro-
trolar o comércio de Portugal com a África e a dução brasileira de selos fiscais e postais, pas-
Ásia. A elas competia organizar as frotas marí- saportes, diplomas, carteiras de motorista, cé-
timas destinadas a essas regiões, armazenar as dulas de identidade e medalhas comemorativas
mercadorias e fixar os preços. Os lucros das duas oficiais. Veja também Casa dos Pássaros; Legis-
casas constituíram por muito tempo cerca de lação Monetária Brasileira.
metade da receita da Coroa portuguesa.
CASA DA MOEDA DA BAHIA. Veja Casa da
CASA DA MOEDA. Instituição encarregada da Moeda; Legislação Monetária Brasileira.
fabricação da moeda e do meio circulante em
geral no Brasil. Desde 1643, funcionou no Rio CASA DA MOEDA DE VILA RICA. Veja Ca-
de Janeiro uma oficina para a remarcação dos sa da Moeda; Legislação Monetária Brasileira.
patacões portugueses que mais tarde, em 1698,
pela Carta Régia de 12/1, se transforma em Casa CASA DE CONTRATAÇÃO. Organismo cria-
da Moeda do Rio de Janeiro. Alguns anos antes, do na Espanha em 1503, composto por um te-
em 1694, havia sido criada a primeira Casa da soureiro, um controlador e um secretário, en-
Moeda na colônia, na Bahia (lei de 8/3). Em carregado de supervisionar as relações comer-
1720, é criada a Casa da Moeda de Vila Rica, ciais e marítimas entre as Índias e a metrópole,
MG, que funciona até 1734, quando é extinta, assegurar proteção aos comboios que iam para
permanecendo apenas as casas da moeda do Rio a América e cuidar da entrada das rendas da
de Janeiro e da Bahia. Em 1834 (decreto de 13/3), Coroa (especialmente os metais preciosos) de-
as atividades da Casa da Moeda da Bahia são correntes dessas atividades econômicas. As Ca-
encerradas, passando a existir apenas a Casa da sas de Contratação desempenharam também o
Moeda do Rio de Janeiro. Em 1950, a lei nº 1 216, papel de escola de navegação, de organismo de
de 28/10, criou o Museu da Casa da Moeda, pesquisas oceanográficas e, posteriormente, de
onde são conservadas as moedas e o papel-moe- Corte Soberana de Justiça nas relações comer-
da emitidos por aquela instituição, e também ciais com as Índias.
outros elementos como vales, certificados, do- CASA DOS PÁSSAROS. Local no centro do
cumentos e materiais que serviram como dinhei- Rio de Janeiro onde funcionou a Casa da Moeda
ro ou instrumento de crédito no decorrer de nos- do Brasil entre 1814 e 1868. O nome deveu-se
sa História. Atualmente, é uma autarquia vin- ao fato de a construção ali erguida ser destinada
culada ao Ministério da Fazenda, e, desde 1969, originalmente a um Museu de História Natural,
fabrica o papel-moeda em circulação no Brasil, onde foram acumulados, logo depois, muitos
além de cunhar as moedas metálicas do nosso animais embalsamados, especialmente pássaros.
meio circulante. Até 1969 o papel-moeda em cir-
culação no Brasil era fabricado por empresas es- CASAS DE CUSTÓDIA. Denominação dada às
trangeiras como a Thomas de La Rue, da Ingla- antigas casas onde eram depositadas moedas de
terra, e a American Bank of Notes, dos Estados ouro e prata em relação às quais eram emitidos
Unidos. Apesar de contar com imensa capaci- certificados de depósito, que posteriormente
dade de produção de papel-moeda e de moeda passaram a circular como notas (dinheiro), dan-
metálica, eventualmente o governo brasileiro re- do origem aos bancos. Veja também Dinheiro.
CASAS DECIMAIS 86

CASAS DECIMAIS. Quantidade de dígitos exis- te pela hereditariedade, o sistema de castas obe-
tentes depois da vírgula decimal. Por exemplo, dece a um conjunto de valores rígidos que fixa
a constante π (pi) pode ser apresentada da se- para cada casta seus direitos e obrigações, bem
guinte maneira: 3,1415, possuindo neste caso como a forma de relacionamento entre elas. O
quatro casas decimais, isto é, quatro dígitos de- sistema de castas mais conhecido é o da Índia,
pois da vírgula. Se desejássemos maior precisão mas ocorre também no Ceilão e existiu no Egito
para o cálculo da área de um círculo, podería- Antigo. Para muitos estudiosos do tema, todas
mos agregar mais casas decimais: por exemplo, as sociedades escravistas (até mesmo do Império
3,1415927, quando a constante π (pi) passaria a brasileiro) baseavam-se num sistema de castas.
ter sete casas decimais. Se não quiséssemos uma O sistema indiano tem quatro castas: os brâma-
precisão muito grande, poderíamos trabalhar nes (sacerdotes), os xátrias (guerreiros), os vai-
com um número bem menor de casas decimais, xás (mercadores) e os sudras (camponeses e tra-
por exemplo, 3,14, quando teríamos apenas duas balhadores); há ainda os párias, indivíduos so-
casas decimais, e assim sucessivamente. As fra- cialmente desqualificados que não integram ne-
ções têm seus equivalentes em decimais, sendo nhuma das castas socialmente reconhecidas e
que as mais utilizadas são as seguintes: 1/2 = 0,5; que, em muitas regiões, formam o principal con-
1/4 = 0,25; 1/8 = 0,125; 3/4 = 0,75; 3/8 = 0,375; tingente de trabalhadores braçais. As pessoas só
5/8 = 0,625; 7/8 = 0,875. Veja também Pi (π). podem se casar dentro da mesma casta, são o-
brigadas a partilhar os mesmos rituais religio-
CASH COMMODITY. Veja Produto Físico. sos, os mesmos alimentos e a mesma profissão,
transmitida de pai para filho. A mobilidade so-
CASH COW. Expressão em inglês que significa
cial nesse sistema é mais uma questão coletiva
uma empresa que entrega aos seus acionistas do que individual: uma pessoa poderá melhorar
todos os ganhos a que têm direito na forma de
sua condição dentro do grupo, mas só elevará
dividendos, isto é, em dinheiro, e não como bo- sua posição de casta se o fenômeno atingir toda
nificações em ações ou outra forma não mone- a sua família ou sua linhagem. Para Max Weber,
tária. essa rigidez social contribuiu para manter a so-
CASH MARKET. Veja Mercado à Vista. ciedade indiana em situação de imobilismo, im-
pedindo que a produção artesanal realizada nas
CASH FLOW. Veja Fluxo de Caixa. oficinas avançasse para um sistema fabril. Isso
porque numa oficina só trabalhavam pessoas
CASO FORTUITO. É o evento da natureza que, pertencentes à mesma casta e a inovação tecno-
por sua imprevisibilidade e inevitabilidade, cria lógica era condenada pela tradição. O sistema
para o contratante a impossibilidade intranspo- de castas na Índia foi profundamente abalado
nível de executar um contrato. Por exemplo, a a partir da dominação inglesa e, mais tarde, pelo
ocorrência de um terremoto em regiões não su- desenvolvimento industrial do país. Mesmo as-
jeitas a tal fenômeno pode tornar inexeqüível a sim, as castas persistem com grande força nas
construção de um túnel. Nesse caso, aplica-se o zonas rurais.
dispositivo, pois não houve culpa do contratante
se o contrato tornou-se inexeqüível. Veja tam- CATASTROFISTA. Denominação dada ao ana-
bém Força Maior. lista de mercado ou de uma economia que está
sempre prevendo catástrofes nos negócios ou no
CASSEL, Gustav (1866-1945). Economista neo- desempenho de uma economia. É sinônimo de
clássico sueco. Em sua juventude, sofreu a in- visão pessimista levada ao extremo. Veja tam-
fluência de Alfred Marshall. Em 1904, tornou-se bém Sinistrose.
professor de Economia Política da Universidade
de Estocolmo. Suas obras Grundriss einer Elemen- CATEGORIAS. Conceitos fundamentais para o
taren Preislehre (Esboço de um Estudo Elementar estudo da realidade. Por exemplo, as categorias
dos Preços), 1899, e The Nature and Necessity of produção, consumo, circulação, preço, lucro, ca-
Interest (Natureza e Necessidade do Juro), 1903, pital, salário, trabalho são usadas por todas as
foram contribuições importantes para a teoria escolas econômicas; mas a categoria produtivi-
do juro e para a análise do ciclo econômico. Es- dade marginal do capital é característica da es-
creveu ainda Memorando sobre os Problemas Mo- cola marginalista, enquanto os marxistas recor-
netários do Mundo (1920) e A Crise do Sistema Mo- rem a categorias como mais-valia, valor-traba-
netário Mundial (1932), obra na qual defende o lho, valor de uso e valor de troca.
controle permanente do dinheiro em circulação.
Veja também Escola Neoclássica. CATOLICISMO SOCIAL. Veja Doutrina So-
cial da Igreja.
CASTAS, Sistema de. Organização social for-
mada por camadas fechadas e distribuídas hie- CATS. Iniciais da expressão em inglês Certificate
rarquicamente segundo padrões étnicos, religio- of Accrual on Treasury Securities, que designa
sos e ocupacionais. Transmitido individualmen- emissões do Tesouro norte-americano vendidas
87 CAVEAT SUBSCRIPTOR

com grande desconto no valor de face e sem


cupons ou pagamento de juros. O rendimento
deste título é obtido no seu vencimento quando
o possuidor recebe o valor de face do mesmo.
Os cats não podem ser resgatados antes do ven-
cimento. Este tipo de título é adequado para in-
vestimentos de longo prazo, como, por exemplo, cauda
aqueles relacionados com planos de aposenta-
doria.

CATS AND DOGS. Expressão em inglês do


jargão financeiro que significa títulos altamente
especulativos, em particular ações que não pro- CAURI. Veja Zimbo.
porcionam dividendos, e são de valor indeter-
minado ou mesmo nulo. CAUSAÇÃO CIRCULAR. Teoria desenvolvida
pelo economista sueco Gunnar Myrdal, segundo
CATS CALL OPTIONS. Veja Opções de Com- a qual problemas sociológicos e econômicos são
pra Cats. provocados por causas que se encadeiam em cír-
culo vicioso. Assim, países subdesenvolvidos
CATS CASH MARKET. Veja Mercado à Vista não possuem condições de melhorar o nível da
Cats. população, que, por sua vez, não consegue tirar
CATS FORWARD MARKET. Veja Mercado a o país do subdesenvolvimento. Myrdal acredi-
Termo Cats. tava que esse círculo poderia ser rompido graças
a reformas sociais, políticas e econômicas que
CATS ODD-LOT MARKET. Veja Mercado Fra- atuassem diretamente em determinados pontos
cionário Cats. do círculo. Por exemplo, a melhoria das condi-
ções de saúde e educação do povo possibilitaria
CATS PUT OPTIONS. Veja Opções de Venda uma produção nacional mais elevada e menores
Cats. gastos sociais, o que acabaria por redundar em
aumento da riqueza da nação; enfim, seria cria-
CAUÇÃO. Contrato pelo qual uma pessoa se do um outro círculo vicioso que propiciaria o
obriga a satisfazer e cumprir as obrigações con- desenvolvimento do país. Veja também Myrdal,
traídas por um terceiro, se este não as cumprir. Gunnar Karl.
“Prestar caução” significa fazer depósito em va-
lores, títulos da dívida pública, papéis de crédito CAUTELA. Certificado representativo das açõ-
ou hipoteca de bens de raiz, para responder pe- es, emitido pelas sociedades anônimas. As cau-
los desfalques que se possam dar na adminis- telas, também chamadas de títulos múltiplos,
tração, gerência ou tesouraria de que se é en- são entregues aos acionistas para depois ser
carregado. Também é caução o depósito em tí- substituídas por ações.
tulos da dívida pública como garantia da serie-
dade de uma licitação ou do cumprimento de CAVALEIRO DE MÉRÉ. Veja Risco.
um contrato. CAVALO-VAPOR. Veja Horse Power.
CAUCUS. Reunião de um pequeno grupo de CAVEAT EMPTOR. Expressão em latim que
membros influentes de uma organização (em- significa “que o comprador esteja avisado” e que
presa) para estabelecer a estratégia de atuação constitui um princípio jurídico. Segundo este
numa assembléia geral. O termo tem maior di- princípio, o comprador deve estar (ou se supõe
fusão nos Estados Unidos, onde nas negociações estar) consciente das condições da mercadoria
coletivas entre empregados e empregadores é que está comprando, como preço, adequação,
também utilizado no sentido do estabelecimento qualidade etc., para posteriormente não sofrer
de um recesso para que cada parte possa discutir perdas e não ter respaldo legal para reclamações,
em separado questões sobre as quais cada grupo exceto nos casos de fraudes ou de garantias ex-
não tem uma posição prévia. pressas nos contratos de compra e venda. Veja
também Caveat Venditor.
CAUDA. Em estatística, significa as partes ex-
tremas de uma curva de freqüência em que as CAVEAT SUBSCRIPTOR. Expressão em latim
densidades de freqüência são significantemente que significa “que o subscritor esteja avisado”,
menores que para o restante da curva, embora isto é, que o subscritor de um título, ação etc.
sem um delimitação precisa entre ela e o restante esteja consciente das condições da operação que
(o corpo) da curva. Por exemplo: está prestes a realizar.
CAVEAT VENDITOR 88

CAVEAT VENDITOR. Expressão latina que reito a dividendos. Opõe-se a ED, que significa
significa “que o vendedor seja avisado” e que ex-dividendo (sem direito a dividendo).
constitui um princípio jurídico segundo o qual
se supõe que o vendedor deve estar consciente CDB — Certificado de Depósito Bancário. Do-
e informado das condições da venda que está cumento que comprova ter seu possuidor feito
realizando, para não ter o direito de reclamações um depósito a prazo fixo em estabelecimento
posteriores, exceto nos casos de fraudes ou de financeiro. É negociável, rende juros e, no Brasil,
garantias expressas nos contratos de compra e na época em que existia a correção monetária,
venda. Veja também Caveat Emptor. esta era agregada aos juros, sendo pré ou pós-
fixada.
CB. Abreviatura utilizada nos boletins emitidos
pelas Bolsas de Valores, indicando que deter- CDE — Conselho de Desenvolvimento Econô-
minada ação está sendo comercializada com di- mico. Criado pela lei nº 6 036 de 1/5/1974, para
reito a bonificação. Opõe-se a EB, que significa assessorar o Executivo na formulação da política
ex-bonificação (sem direito a bonificação). Veja econômica e, em especial, na coordenação das
também Boletim; Bonificação. atividades dos ministérios afins, de acordo com
a orientação definida no Plano Nacional de De-
CBIC — Câmara Brasileira da Indústria da senvolvimento Econômico. É presidido pelo pre-
Construção. Entidade de caráter nacional, com sidente da República e integrado pelos ministros
sede em Brasília-DF, que congrega sindicatos, da Economia, Agricultura e Infra-Estrutura, ten-
associações de classe, empresas e profissionais do como secretário-geral o ministro-chefe da Se-
da área de construção civil em geral, serviços cretaria de Planejamento.
de engenharia e consultoria. Objetiva defender
os interesses da engenharia nacional e promover CDI — Conselho de Desenvolvimento Indus-
seu desenvolvimento, em cooperação com as au- trial. Órgão federal criado em agosto de 1969,
toridades governamentais. É filiada à Federação para ser o principal formulador e coordenador
Internacional da Indústria da Construção (Fiic). da política industrial brasileira. Cabe-lhe esta-
Realiza, semestralmente, o Encontro Nacional da belecer programas e condições para a implan-
Indústria da Construção (Enic), que reúne em- tação dessa política, assim como providenciar a
presários e dirigentes classistas de todo o país compatibilização dos planos regionais de desen-
para a discussão de temas e propostas de ação volvimento industrial com os programas nacio-
para o setor. nais. Presidido pelo secretário da Indústria e Co-
mércio, é integrado também pelos ministros da
CBOE. Iniciais de Chicago Board Options Ex- Economia, Infra-Estrutura e Estado-Maior das
change (Bolsa de Opções de Chicago). Forças Armadas e pelos presidentes dos princi-
pais bancos estatais (BNDES, Banco Central e
CBT. Iniciais de Chicago Board of Trade (Bolsa
de Mercadorias de Chicago). Banco do Brasil) e das grandes entidades re-
presentativas do setor privado (confederações
CC-5. Denominação das contas correntes espe- da indústria e do comércio). O trabalho do CDI
ciais de pessoas físicas e empresas não residentes é organizado por seis grupos setoriais, integra-
no Brasil, mediante as quais entravam grandes dos ao gabinete do secretário-geral e correspon-
quantidades de dólares, que alimentavam a ofer- dentes às indústrias de bens de capital; produtos
ta dessa moeda no mercado interno até o final intermediários não-metálicos; cimento, papel e
de abril de 1996. Foi quando norma do Banco celulose; bens de consumo; indústrias metalúr-
Central estipulou que quantias superiores a 10 gicas básicas; químicas, petroquímicas e farma-
mil dólares deveriam ter sua origem justificada, cêuticas; automotivas e seus componentes. De
o que reduziu sensivelmente a entrada de moe- todos esses grupos fazem parte representantes
da norte-americana por essa via, e fez o black de órgãos ministeriais, autarquias e Forças Ar-
(mercado negro de dólares) reaparecer. madas.

CCQ — Círculo de Controle de Qualidade. É CDM. Iniciais da expressão em inglês chief de-
a organização, geralmente nos locais de trabalho cision makers, que significa “chefe dos tomadores
(mas também em âmbito de empresa), de grupos de decisão”.
de trabalhadores, por meio de iniciativa patro-
nal, com a finalidade principal de discutir as CEBRAE — Centro Brasileiro de Assistência
formas para melhorar a produção e o controle Gerencial às Pequenas e Médias Empresas. En-
de qualidade dos produtos. tidade vinculada ao Ministério do Planejamento,
criada em 1972. Em 9/10/1990, mediante o de-
CD. Abreviatura usada nos boletins emitidos creto-lei nº 99570, passou a chamar-se Serviço
pelas Bolsas de Valores, indicando que deter- Brasileiro de Assistência Gerencial à Pequena e
minada ação está sendo comercializada com di- Média Empresa (Sebrae). Veja também SEBRAE.
89 CEMIG

CEBRAP — Centro Brasileiro de Análise e Pla- CEE. Iniciais de Comunidade Econômica Euro-
nejamento. Instituição privada, sem fins lucra- péia. Veja também Comunidade Européia.
tivos, criada em São Paulo em 1969 por um gru-
po de cientistas sociais afastados de suas funções CEME — Central de Medicamentos. Órgão cria-
docentes na Universidade de São Paulo por mo- do em junho de 1971 por decreto presidencial,
tivos políticos. Especializada em pesquisas, es- com os objetivos de: 1) controlar a compra e o
tudos e assessoria técnica no campo das ciências fornecimento de medicamentos aos diversos se-
sociais, funciona independentemente dos órgãos tores da administração federal e fundações, re-
governamentais brasileiros, recebendo dotações gulando também a produção e distribuição de
remédios dos laboratórios subordinados ou vin-
de organismos nacionais e internacionais para
culados aos Ministérios da Marinha, Exército,
o desenvolvimento de suas atividades. Publica
Aeronáutica, Saúde, Trabalho e outros com os
livros e revistas como Cadernos Cebrap e Estudos
quais mantivessem convênio; 2) fornecer remé-
Cebrap. Edita, desde 1981, a revista quadrimes-
dios a preços acessíveis ou mesmo gratuitamen-
tral Novos Estudos Cebrap. te à população de baixa renda, bem como in-
CECA — Comunidade Européia do Carvão e tervir diretamente em sua produção, incentivan-
do Aço. Organização criada em 1951 pelo Tra- do a instalação, em território nacional, de ma-
tado de Paris e integrada mais tarde à Comu- térias-primas necessárias à confecção de medi-
camentos essenciais. Em seu primeiro plano di-
nidade Européia juntamente com o Mercado Co-
retor, de julho de 1973, a Ceme definia como
mum Europeu e a Euratom. Reúne Alemanha,
uma de suas metas o desenvolvimento de uma
Bélgica, França, Itália, Luxemburgo, Holanda, indústria farmacêutica genuinamente nacional e
Inglaterra, Irlanda, Dinamarca, Grécia, Portugal o apoio à pesquisa científica e tecnológica. Em
e Espanha. Tem como origem o Plano Schuman, 1975, porém, o órgão foi transformado em mero
que propunha unificar, sob um controle único distribuidor de remédios, passou para a esfera
e um mercado comum, a produção de aço e car- do Ministério da Previdência e transferiu a parte
vão da Alemanha e da França, com possibilidade de pesquisa ao Ministério da Indústria e Co-
de participação dos demais países europeus oci- mércio. Em 1979, técnicos do Ministério da Pre-
dentais. O tratado estabelece, no âmbito do car- vidência e da própria Central de Medicamentos
vão, ferro, aço e sucata, que os países-membros elaboraram um projeto de transformação da
se comprometem a eliminar entre si barreiras Ceme em empresa pública vinculada ao Minis-
alfandegárias, restrições monetárias, cotas de tério da Saúde, visando a incrementar a fabri-
importação, diferenças nos preços dos transpor- cação de insumos e medicamentos no país. Esse
tes, subsídios governamentais que impeçam a projeto, porém, não foi aprovado pela Secretaria
livre concorrência, e políticas discriminatórias do Planejamento. Em 1983, elaborou-se o Pro-
de preços. Proíbe ainda a formação de cartéis e grama Nacional da Indústria Químico-Farma-
cêutica, destinado a substituir as importações no
determina autorização prévia para o desenvol-
setor, fortalecendo a produção interna de maté-
vimento de concentrações verticais. O órgão exe-
rias-primas destinadas à fabricação de remédios
cutivo da Comunidade é a Alta Autoridade, se- da área da Ceme por empresas de capital na-
diada em Luxemburgo e formada por um repre- cional. Em 1990, com a reforma ministerial, a
sentante de cada país. Conta ainda com um Con- Ceme saiu do âmbito da Previdência e foi vin-
selho de Representantes, um Tribunal de Justiça culada ao Ministério da Saúde, onde desempe-
e uma Assembléia, integrada por parlamentares. nha a função de compradora e distribuidora de
remédios.
CEDI NOVO. Unidade monetária de Gana.
Submúltiplo: pesewa. CEMIG — Centrais Elétricas de Minas Gerais
S.A. Primeira empresa estatal brasileira de ele-
CÉDULA. Nome genérico dado a qualquer tipo tricidade e que serviu de modelo para as outras
de promessa de pagamento por escrito e, por centrais elétricas estaduais. Sua criação em 1952,
extensão, nome popular do papel-moeda. O ter- quando Juscelino Kubitschek era governador de
mo aplica-se também aos recibos emitidos por Minas Gerais, assinalou a quebra do monopólio
casas de penhor (cédula de penhor), nos quais das duas multinacionais que atuavam no setor
se especificam os objetos empenhados, o valor da energia elétrica no Brasil: a Light, no eixo
emprestado e o prazo de resgate. E, no Imposto Rio—São Paulo, e a Amforp, que detinha os mer-
de Renda, designa cada formulário específico a cados do Interior paulista, Vitória, Belo Hori-
ser preenchido pelo contribuinte, de acordo com zonte e Curitiba. A Cemig supria, em 1989, qua-
a categoria a que pertence (assalariado, proprie- se 15% do mercado brasileiro de energia elétrica
tário rural etc.). e, em números absolutos, era responsável pelo
segundo mercado energético nacional. Atendia
CÉDULA DE PENHOR. Veja Cédula. a 3 077 000 consumidores, atingindo 5 145 lo-
CENARISTA 90

calidades. Em sua área de concessão estavam básicos, como hospitais, escolas e creches. E a
instaladas indústrias responsáveis, em termos densidade demográfica permite ao governo di-
globais, por 100% da produção brasileira de mi- recionar as correntes migratórias, incentivando
nério de ferro e de ferro-níquel, 47% da produ- o desenvolvimento de determinadas regiões. Os
ção de ligas de ferro, 52% de alumínio, 85% de censos industrial, comercial, agropecuário e de
zinco, 47% da siderurgia, 33% do cimento e 70% serviços permitem o levantamento de dados re-
dos laticínios. Quando a Cemig começou a ope- lativos à mão-de-obra empregada, distribuição
rar, a única usina em funcionamento no Estado salarial, produtividade média, capital emprega-
era a de Gafanhoto, na cidade industrial de Con- do, estoques, índice de preços etc. São dados
tagem. A capacidade instalada da Cemig, em fundamentais para a construção de uma política
1989, chegava a 4 465 000 quilowatts, dos quais econômica baseada nos aspectos reais do país.
70% atendiam à demanda industrial. A energia
é produzida por dezenas de usinas espalhadas CENTIL. Veja Percentil.
pelas principais bacias hidrográficas do Estado
(rios Grande, Paranaíba, São Francisco, Jequiti- CENTRALIZAÇÃO. Veja Economia Centrali-
nhonha, Doce e Paraíba), das quais as maiores zada.
são as de São Simão (2,680 milhões de quilo- CENTRO DE ARBITRAGEM OMPI. Veja
watts), Emborcação (1 milhão de quilowatts), Ja- OMPI.
guara (660 mil quilowatts), Três Marias (516 mil
quilowatts) e Volta Grande (516 800 quilowatts). CENTRO INTERNACIONAL PARA A DECI-
SÃO DE DISPUTAS DE INVESTIMENTOS
CENARISTA. Pessoa que se dedica a estabele- (International Centre for the Settlement of In-
cer cenários de provável evolução futura dos vestment Disputes). Organização internacional
acontecimentos no plano da economia, da ad- que serve, às partes contratantes de investimen-
ministração e dos negócios em geral. Na medida tos, de fórum para resolver os conflitos de pa-
em que existem enormes massas de recursos fi- gamentos ou questões semelhantes. O centro foi
nanceiros e de investimento, que são aplicados criado em 1966 pelo Acordo sobre Disputas de
no médio e longo prazos, o papel dos cenaristas Investimentos entre Estados e empresas priva-
torna-se cada vez mais importante como ponto das estrangeiras, por iniciativa do Banco Inter-
de referência para a realização menos insegura nacional de Reconstrução e Desenvolvimento
de investimentos e aplicações financeiras. Em (Bird).
alguns casos, os cenaristas são também chama-
dos de futurólogos. CEO. Iniciais da expressão em inglês chief exe-
cutive officer, que significa o diretor-presidente
CENSO. Registro estatístico de determinada po- de uma empresa ou seu diretor-executivo mais
pulação, segundo critérios como sexo, idade, importante e com maiores poderes.
ocupação, religião etc. No Brasil, o primeiro cen-
so foi realizado em 1872 e destinava-se apenas CEPAC — Certificado de Potencial de Área de
à contagem da população; depois houve o censo Construção. Título criado em março de 1995 no
de 1890, e, desde então, um a cada dez anos. município de São Paulo, que faculta ao proprie-
Em 1920, o campo de investigação ampliou-se tário construir em seu terreno além do que a
e, a partir de 1970, o recenseamento incluía os Lei de Zoneamento permite. Estes certificados
censos demográfico (população e habitação), são adquiridos pelos particulares junto à prefei-
agropecuário, industrial, comercial e de serviços; tura, e esta, com os recursos obtidos com a ven-
esses últimos a cada cinco anos. No censo de- da, investe na construção de obras públicas. Veja
mográfico, são investigados tamanho e compo- também Operações Interligadas; Operações Ur-
sição populacional, estrutura familiar, movi- banas.
mentos migratórios, escolaridade, potencial e
qualificação da mão-de-obra, padrões de renda CEPAL — Comissão Econômica para a Amé-
individual e familiar, fecundidade e situação ha- rica Latina. Órgão regional das Nações Unidas,
bitacional. Esses dados são parâmetros para o ligado ao Conselho Econômico e Social; foi cria-
aferimento de outros dados estatísticos, e com do em 1948 com o objetivo de elaborar estudos
eles obtém-se uma visão ampla da estrutura eco- e alternativas para o desenvolvimento dos paí-
nômico-social do país. A estratificação da po- ses latino-americanos. É integrado por repre-
pulação ativa, por idade, ajuda a determinar a sentantes de todos os países do hemisfério e con-
estrutura da demanda de emprego. Renda e con- ta com a participação especial dos Estados Uni-
sumo dão idéia da poupança gerada pela po- dos, Grã-Bretanha, França e Holanda. Tem sede
pulação e como canalizá-la, na forma de inves- em Santiago do Chile e promove uma conferên-
timentos governamentais, para zonas prioritá- cia a cada dois anos para debater seus projetos
rias. A estratificação por idade pode ainda de- e analisar a situação dos países-membros. Os
terminar a necessidade de equipamentos sociais primeiros estudos da Cepal caracterizaram a
91 CESP

América Latina como região fornecedora de pro- CERTIFICADO DE ORIGEM. Documento que
dutos primários e consumidora de produtos in- comprova o país de origem de mercadorias tran-
dustrializados vindos do exterior. Buscando a sacionadas no mercado internacional. O certifi-
superação desse quadro de subdesenvolvimen- cado é exigido pelas autoridades alfandegárias
to, formou-se no organismo um quadro de es- quando os produtos do país em questão são be-
pecialistas renomados dos países da região (eco- neficiados por tarifas preferenciais.
nomistas, administradores, sociólogos) que, tra-
balhando numa direção comum, tornaram-se co- CERTIFICADO DE PRIVATIZAÇÃO. Como
nhecidos como integrantes da Escola da Cepal. complemento da medida que previa a desesta-
Esses técnicos (entre eles, Raul Prebisch — o tização de empresas públicas, o governo insti-
grande inspirador da Comissão —, mas também tuiu, em 15 de março de 1990, mediante medida
Celso Furtado, Felipe Herrera, Oswaldo Sunkel) provisória nº 157, o Certificado de Privatização,
título do Tesouro Nacional, nominativo e ine-
defenderam a necessidade de promover a in-
gociável, cujos detentores terão direito a utili-
dustrialização da América Latina e a diversifi-
zá-lo como pagamento de ações de empresas
cação geral de sua estrutura produtiva. Nesse
do setor público que venham a ser desestatiza-
sentido, propuseram medidas para uma melhor
das. A utilização dos certificados de privatização
distribuição da renda, reorganização adminis-
deverá ser limitada a leilões, especialmente con-
trativa e fiscal, planejamento econômico, refor-
vocados para a finalidade de venda de ações de
ma agrária e formas de colaboração entre os paí- empresas do setor público, a critério de órgão
ses para superar as deficiências concorrenciais ou instituição criada para esse objetivo ou, na
no mercado internacional (o que contribuiu para falta deste, do Ministério da Economia. Por ou-
a criação da Alalc — Associação Latino-Ameri- tro lado, cabe ao Conselho Monetário Nacional
cana de Livre-comércio). Além disso, a Cepal regular sobre os volumes e condições de compra
elaborou programas educacionais e de saúde dos Certificados de Privatização por parte da
pública, energia e transporte. Atualmente, mi- previdência privada, sociedades seguradoras e
nistra cursos de formação nas diversas áreas do de capitalização, além de instituições financeiras.
planejamento e presta assessoria técnica aos go-
vernos. As formulações que celebrizaram a Es- CESP — Companhia Energética de São Paulo.
cola da Cepal têm sido criticadas como incor- Empresa estatal paulista vinculada à Secretaria
retas por tentar repetir, num quadro histórico e de Obras e Meio Ambiente e associada à Ele-
econômico bastante diverso, os caminhos per- trobrás. Fundada em 1966, resultou da fusão de
corridos pelas nações industrializadas no século onze empresas estaduais de energia elétrica e
XIX. Veja também Furtado, Celso; Prebisch, da incorporação de várias usinas, algumas por
Raul. meio de nacionalização. Além do governo de
São Paulo, seu acionista majoritário, participam
CERCAMENTO. Veja Enclosure. do capital da Cesp a Eletrobrás, a Fundação
Cesp e várias outras entidades e órgãos públicos
CERTIFICAÇÃO DE SISTEMA DA QUALI-
e particulares. Em patrimônio líquido, era em
DADE. Processo mediante o qual uma institui-
1983 a terceira maior empresa do país, depois
ção credenciada de certificação realiza uma au- da Eletrobrás e da Petrobrás. Em 1975, a empresa
ditoria em uma empresa produtora de bens assumiu o controle acionário da Companhia
e/ou serviços para avaliar se o sistema de qua- Paulista de Força e Luz (CPFL), antiga Amforp
lidade implantado está de acordo com uma das (American Foreign Power), que em 1965 fora in-
normas da série ISO 9000. corporada pela Eletrobrás. Em 1977, teve o nome
CERTIFICADO. Na área de investimento finan- Centrais Elétricas de São Paulo S.A. mudado
ceiro ou monetário, o termo designa os docu- para o atual, estendendo o âmbito de sua atua-
mentos que atestam compra de papéis (por ção a outras áreas energéticas. Em 1979, consti-
exemplo, certificado de compra de ações) ou va- tuiu com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas
lores (certificado de investimento). Alguns cer- do Estado de São Paulo (IPT) o consórcio Pau-
lipetro, para exploração de petróleo, que não ob-
tificados (por exemplo, certificado de depósito
teve êxito e foi desativado em 1983. Ao ser fun-
bancário, CDB) são negociáveis.
dada em 1966, a Cesp tinha uma potência ins-
CERTIFICADO DE COMPRA DE AÇÕES. No talada de 662 mil quilowatts; em dezembro de
Brasil, documento emitido por entidade finan- 1988, essa potência chegava a 9 milhões de qui-
ceira que comprova ter o seu possuidor adqui- lowatts. Suas principais usinas são as de Capi-
rido cotas de um fundo de investimento como, vara, no rio Paranapanema, com 640 mil quilo-
por exemplo, o Fundo 157. watts; Engenheiro Sousa Dias (antiga Jupiá) e
Ilha Solteira, no rio Paraná, com 1,411 milhão
CERTIFICADO DE DEPÓSITO BANCÁRIO. de quilowatts e 3,230 milhões de quilowatts res-
Veja CDB. pectivamente; Água Vermelha, no rio Grande,
CESTA BÁSICA DE ALIMENTOS 92

com 1,380 milhão de quilowatts, e Paraibuna, mutatis mutandis, aos Direitos Especiais de Saque
no rio Paraibuna, com 86 mil quilowatts. Com (DES) do FMI. Veja também DES; FMI.
suas novas usinas de Porto Primavera, Rosana,
Taquaruçu e Três Irmãos, a Cesp produziu, em CETERIS PARIBUS. Veja Caeteris Paribus.
1988, 83% da energia elétrica consumida no Es- C & F. Expressão do comércio internacional que
tado de São Paulo. A Cesp mantém, em suas significa custo e frete, seguida geralmente da
zonas de atuação, programas de reflorestamen- indicação do porto de destino. Nessa modalida-
to, para compensar áreas desmatadas para a de, o vendedor assume todos os custos neces-
construção de suas usinas e reservatórios; pis- sários para transportar a mercadoria ao local de
cicultura, para conservação de espécies ameaça- destino designado, mas o risco de perdas e da-
das pelas alterações do meio ambiente; e desen- nos, bem como de qualquer aumento das des-
volvimento socioeconômico (eletrificação rural, pesas, é transferido do vendedor ao comprador
irrigação artificial, drenagens de áreas inundá- no momento em que a carga é colocada a bordo
veis etc.). Desenvolve ainda projetos de fontes do navio que a transportará para o porto de
alternativas de energia como metanol, solar, bio- embarque. Código ou abreviatura, CFR. Veja
massa, hidrogênio e processos eletroquímicos. também CIF; INCOTERMS.
Em 1981, fundou-se a Agência para Aplicação
da Eletricidade por meio de um convênio CFO. Iniciais da expressão em inglês chief finan-
Cesp/CPFL/Eletropaulo, visando à substitui- cial officer, que significa diretor-financeiro, ou
ção, nas indústrias, de derivados de petróleo por chefe da diretoria financeira.
eletricidade. As dificuldades financeiras decor- CFR. Veja C & F.
rentes de um elevado grau de endividamento e
da fixação de tarifas em níveis reduzidos oca- CGS. Iniciais das unidades fundamentais do sis-
sionaram uma queda na capacidade de investi- tema métrico decimal: centímetro (centimeter),
mento da empresa durante os anos 80 e no início grama (gram), segundo (second). Veja também
da década de 90. As dificuldades financeiras que Sistemas de Pesos e Medidas.
o próprio Estado de São Paulo atravessou du-
rante aquele período obrigaram o governo es- CGT. Veja Confederação Geral dos Trabalha-
tadual a estabelecer um amplo programa de pri- dores.
vatizações no setor energético, o que incluiu a CHADWICK, Edwin (1800-1890). Administra-
própria Cesp. A partir de 1996, durante o go- dor público e reformador social, sir Edwin Chad-
verno Mário Covas, o processo de privatização wick nasceu em Manchester, Inglaterra. For-
foi iniciado e a Cesp deverá ser alienada durante mou-se em direito e seu radicalismo o colocou
o ano de 1998. em contato com economistas e políticos de ins-
piração ricardiana. Foi secretário de Bentham e
CESTA BÁSICA DE ALIMENTOS. Conjunto
também amigo de Nassau Senior. Redigiu com
de bens que entram no consumo básico de uma
este último um relatório que em grande medida
família de trabalhadores, variando conforme o levou à completa reestruturação da Lei dos Po-
nível de desenvolvimento social do país. No Bra- bres em 1834. Seu trabalho mais importante
sil, a cesta básica de alimentos foi definida pelo como administrador público foi o Report on the
decreto-lei nº 399, de 30/4/1938, e calculada Sanitary Condition of the Labouring Population
para atender às necessidades de um trabalhador (1842), que estabeleceu as bases para medidas
adulto.Veja também: Bens-salário; Ração Essen- de modernização urbana da saúde pública (es-
cial Mínima. pecialmente esgotos) em toda a Inglaterra. Sua
CESTA DE MOEDAS. Depois da desvaloriza- obra foi bastante influenciada pelas análises or-
ção do dólar em 1971 e da perda de confiança todoxas, porém, em alguns aspectos, Chadwick
estava bem à frente de seu tempo. Por exemplo,
nesta moeda por parte do mercado financeiro
em seu trabalho nota-se a presença do problema
internacional, o recurso da cesta de moedas
das externalidades relacionadas com os custos
como índice de variação dos ativos financeiros
dos acidentes industriais. Ele considerava que
vem crescendo no mundo. O recurso a esse me-
os custos dos acidentes ocorridos na construção
canismo visa a evitar as bruscas variações que
de ferrovias deveriam ser absorvidos pelas pró-
uma única moeda utilizada como padrão ou re-
prias empresas. Contudo, só depois de 50 anos
ferência possa trazer para o mercado financeiro as primeiras leis de proteção aos trabalhadores
internacional. Na prática, se estabelece um de- foram aprovadas na Inglaterra, e a justificativa
terminado número de moedas de diferentes paí- teórica (econômica) para esse tipo de legislação
ses (geralmente os desenvolvidos) que entram só apareceu 100 anos depois naquele país.
numa cesta, determina-se uma ponderação para
cada uma delas, e o resultado é uma espécie de CHAEBOLS. Também denominados xibow, são
moeda contábil internacional que corresponde, conglomerados empresariais existentes na Co-
93 CHAYANOV

réia do Sul, reunindo capitais financeiros e in- monstra que todo empresário detém o mono-
dustriais e dirigidos por grandes famílias que pólio de seu produto cuja especificidade — seja
dominam importantes setores da economia do por meio de uma marca, seja por apresentação
país. Os chaebols assemelham-se aos zaibatsu ja- especial ou peculiaridade física — é explorada
poneses. Veja também Zaibatsu. pela publicidade, visando a vencer a concorrên-
cia de produtos semelhantes no mercado. Essa
CHAIN. Unidade de medida de comprimento noção de concorrência monopolista, mais que
utilizada nos Estados Unidos na agrimensura e uma mudança de técnica, implica uma nova vi-
topografia, equivalente a 66 pés, contendo 100 são do sistema econômico, já prenunciada por
links, e cada um com 7,92 polegadas cada. Existe Piero Sraffa em 1926 e por Joan Robinson em
também o chain de 100 links, cada um medindo 1932 (em seu estudo sobre a concorrência im-
um pé (foot). Veja também Conversão das Uni- perfeita). Titular da cadeira de Economia da Uni-
dades de Pesos e Medidas; Link; Sistemas de versidade de Harvard, Chamberlin publicou
Pesos e Medidas; Unidades de Pesos e Medidas. também Towards a More General Theory of Value
CHAMADA DE ACIONISTAS. Convocação dos (Por uma Teoria Mais Geral do Valor), 1957, e
acionistas de uma empresa, a fim de que pa- The Economic Analysis of Labour Union Power
guem a importância restante de suas subscrições (Análise Econômica do Poder dos Sindicatos),
de ações. Isso ocorre porque, no momento em 1958.
que subscrevem as ações, os acionistas pagam CHATELIER (Le). Veja Princípio de Le Chate-
apenas uma porcentagem de seu valor total; de- lier.
pois de algum tempo é que são chamados a com-
pletar a importância devida para integralizar as CHATTEL MORTGAGE. Expressão em inglês
respectivas participações acionárias na empresa que significa o penhor sobre bens que perma-
que lançou as ações. necem em poder do devedor, o que pode ocorrer
na atividade agrícola, industrial ou mercantil em
CHAMADA DE CAPITAL. Subscrição de no- relação a safras, mercadorias, bens móveis, ar-
vas ações de uma empresa pelo seu valor no- rendamentos etc.
minal. Quando uma empresa tem ações cotadas
em Bolsa e o valor nominal de suas ações é in- CHAYANOV, Alexander Vasilevitch (1888-
ferior ao seu valor de mercado ou de Bolsa, esta 1939). Um dos mais destacados estudiosos da
chamada pode ser uma forma disfarçada de dis- economia camponesa russa do início do século.
tribuir lucros, pois aqueles que têm o direito de Dirigiu a cadeira de Economia Agrícola na
subscrição (os acionistas da empresa) podem União Soviética até 1930, quando foi preso. Co-
subscrevê-las e, ato contínuo, vendê-las por um nhecido em toda a Europa, teve vários de seus
valor mais elevado na Bolsa ou então vender os escritos publicados em alemão, dentre eles A
próprios direitos de subscrição. Em condições Teoria da Economia Camponesa, editado em Berlim
normais, no entanto, uma empresa faz uma cha- em 1923, que pode ser considerado uma versão
mada de capital para aumentar os recursos dis- abreviada de sua principal obra, Peasant Farm
poníveis para investimento (a fim de não recor- Organization, editada em 1966 nos Estados Uni-
rer ao mercado financeiro, endividando-se) ou dos pela American Economic Association. Chaya-
para o financiamento de suas atividades em ge- nov defende a proposição de que a economia
ral. camponesa deve ser tratada como um sistema
econômico próprio, como um sistema não-capi-
CHAMADA DO COMPRADOR. Veja Call
talista de economia nacional, rejeitando a utili-
Sale.
zação de conceitos extraídos da análise do sis-
CHAMBERLIN, Edward Hastings (1899-1967). tema capitalista para o estudo das relações exis-
Economista norte-americano, conhecido por sua tentes no campo russo. Formula o conceito de
obra The Theory of Monopolistic Competition (A fazenda familiar camponesa, onde a produção
Teoria da Concorrência Monopolista), de 1933. repousa apenas no trabalho dos próprios mem-
Nela, propõe um enfoque da teoria econômica bros da família, sem a utilização de trabalho as-
que rompe com os antigos conceitos de concor- salariado ou da compra da força de trabalho por
rência pura (ou perfeita) ou do puro monopólio outros meios. Seu conceito baseava-se nas ca-
e introduz o conceito de concorrência monopo- racterísticas da economia camponesa russa,
lista, que, para ele, caracteriza as condições reais onde 90% ou mais das famílias camponesas não
em que a maioria das empresas opera nas eco- utilizavam trabalho assalariado. Em sua teoria,
nomias de mercado. Chamberlin considera ha- ocupa lugar central o conceito de equilíbrio entre
ver uma íntima combinação da concorrência e trabalho e consumo, equilíbrio entre a satisfação
do monopólio na maioria das situações econô- das necessidades familiares e o trabalho penoso.
micas: transportando a noção de monopólio da Nessa relação, cada família busca a produção
empresa para o produto que ela fabrica, de- anual para a satisfação de suas necessidades bá-
CHEQUE 94

sicas. Porém, isso envolve trabalho penoso, fa- CHEQUE CRUZADO EM PRETO. Veja Cheque.
zendo com que a família não leve seu trabalho
além do ponto em que o possível aumento na CHEQUE CRUZADO. Veja Cheque.
produção é superado pelas dificuldades do tra- CHEQUE DE VIAGEM. Veja Cheque.
balho.
CHEQUE NOMINAL. Veja Cheque.
CHEQUE. Ordem escrita, emitida por uma pes-
soa em talão especial (o sacador), para que uma CHEQUE PRÉ-DATADO. A transformação do
instituição financeira (um banco, o sacado) pa- cheque de meio de pagamento à vista como ins-
gue certa quantia a outra pessoa (o beneficiário). trumento de crédito, isto é, como meio de pa-
Não é instrumento de crédito, mas um meio de gamento a prazo. Para o vendedor de uma mer-
pagamento rápido, que facilita muito as opera- cadoria que concede o crédito, esse instrumento
ções comerciais e se enquadra na categoria de é mais seguro do que outras formas. Tem sido
moeda escritural. O cheque pode ser nominal muito utilizado no Brasil, especialmente durante
quando tem expresso o nome do beneficiário, e as épocas de intenso processo inflacionário. Veja
ao portador, quando não contém esse nome, de- também Cheque; Factoring.
vendo ser pago pelo sacado a qualquer pessoa
CHEQUE VISADO. Veja Cheque.
que o apresente. O cheque cruzado (atravessado
por duas linhas paralelas) só pode ser pago pelo CHESF — Companhia Hidrelétrica do São
sacado a outra instituição financeira; nesse caso, Francisco. Empresa de economia mista, sediada
o beneficiário precisa depositá-lo na instituição em Recife, subsidiária da Eletrobrás, criada em
em que tenha conta. O cheque cruzado em preto 1948, quando começou a construção da Hidre-
contém, entre as duas linhas paralelas, o nome létrica de Paulo Afonso, com a finalidade de pro-
da instituição encarregada de recebê-lo do sa- duzir e transmitir energia para todo o Nordeste
cado. O cheque é visado quando o sacado, antes brasileiro. Sua área de atuação abrange os Es-
de pagar a importância devida, atesta a existên- tados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco,
cia de fundos para isso, pondo o visto (visando) Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e
no cheque, no banco onde possui conta. O che- Maranhão. Integram o sistema da Chesf as usi-
que é endossado quando o beneficiário assina no nas hidrelétricas de Paulo Afonso (I, II, III e IV),
dorso do cheque, transferindo o benefício para Apolônio Sales (ex-Moxotó), Boa Esperança, Fu-
um terceiro. O cheque de viagem é “comprado” nil, Bananeiras, Araras, Curemas, Piloto, Sobra-
no banco para ser descontado em qualquer de dinho, Pedra do Cavalo, Itaparica, as termelé-
suas agências ou do sistema integrado com os tricas de Bongi, Aratu, Cotegipe (A e B) e São
demais bancos, ou mesmo para efetuar paga- Luís. Com 12 500 km de linhas de transmissão,
mentos em lojas que aceitem esse tipo de ins- beneficia uma área onde vivem 36 milhões de
trumento de crédito; quando destinado a via- pessoas (1983). A maior obra de geração da
gens internacionais, chama-se traveller’s check e Chesf é a usina de Paulo Afonso IV.
geralmente é emitido em moeda forte (dólar,
marco, libra, iene, franco etc.). O cheque é sem CHETURN. Veja Ngultrun.
fundos quando o emitente não tem em sua conta CHI-QUADRADO. Teste estatístico para des-
o dinheiro correspondente; popularmente, é cobrir se a diferença entre duas estimativas de
também chamado de cheque-borracha (porque duas pesquisas tem alguma significância.
vai, é depositado... e volta). O cheque-bumeran-
gue, esta também uma denominação popular, é CHINFRÃO. Moeda cunhada durante o reinado
aquele preenchido propositalmente de modo in- de D. Affonso em Portugal, entre 1450 e 1481.
correto, para que não possa ser descontado, vol-
CHIP. Placa de silício de diminuta dimensão,
tando para a pessoa que o emitiu. Embora não
capaz de conter transistores, diodos e circui-
seja instrumento de crédito, o cheque pré-datado
tos integrados, essenciais na fabricação de
tem ampla difusão no Brasil, e funciona como
computadores.
um verdadeiro instrumento de crédito fora do
controle da política monetária do Banco Central, CHIPS. Sigla de Clearing House Interbank Pay-
especialmente depois da disseminação das em- ment System. Um sistema altamente especiali-
presas de factoring, que atuam em muitos casos zado de compensação interbancária, constituído
como intermediários financeiros. Veja também em 1970. Operado pela New York Clearing As-
Factoring. sociation, o Chips é um serviço privado, que
funciona como uma espécie de Câmara de Com-
CHEQUE AO PORTADOR. Veja Cheque. pensação altamente sofisticada, abrangendo
CHEQUE-BORRACHA. Veja Cheque. bancos de todo o mundo e aparecendo como o
mais aperfeiçoado sistema interbancário de pa-
CHEQUE-BUMERANGUE. Veja Cheque. gamentos. A entidade registra um movimento
95 CICLO DA BORRACHA

médio de nada menos que 175 bilhões de dólares saúde oferece mais vantagens do que os con-
por dia em todo o mundo. correntes e possibilita a inscrição de novos só-
cios oriundos de outros planos, sem período de
CHÕ. Medida de superfície utilizada na agri- carência, está estimulando essa prática.
cultura da China e do Japão, equivalente a 109 m.
Uma área de 109 m ou 1 chõ de lado, ou o equi- CHU SHO KIGYO. Expressão em japonês que
valente a 118,81 m2, era denominada tsubo, e significa pequenas e médias empresas. Essas
cada tsubo era dividido em dez partes iguais de- empresas — como em outras economias — têm
nominadas tan. Veja também Alqueire. grande importância na economia japonesa. As
empresas classificadas nessa categoria, isto é, as
CHON. Veja Uon. que na indústria manufatureira têm menos de
trezentos funcionários ou menos de 100 milhões
CHOQUE HETERODOXO. Política econômica de ienes de capital (em 1994, eram necessários
de combate à inflação que consiste em aplicar aproximadamente 100 ienes para comprar um
o congelamento de preços em todos os níveis dólar); no comércio atacadista, aquelas com me-
durante um período determinado de tempo e nos de cem funcionários e menos de 30 milhões
liberar as políticas monetária e fiscal. Diante da de ienes de capital, e, no comércio varejista e
inflação intensa que diversos países vêm sofren- nos serviços, aquelas com menos de cinqüenta
do a partir do final dos anos 70, a política do funcionários e menos de 10 milhões de ienes de
choque heterodoxo foi aplicada em vários casos, capital, congregavam 80% de toda a força de
destacando-se a Argentina, Israel, Bolívia e Bra- trabalho e 98% das empresas no Japão no início
sil. Veja também Choque Ortodoxo; Plano Aus- dos anos 90.
tral; Plano Bresser; Plano Collor; Plano Collor
2 e Plano Cruzado. CHUVA ÁCIDA. É aquela cujo pH da água ou
da neve é inferior a 5,6, indicando grau de acidez
CHOQUE ORTODOXO. Política econômica de elevado. Este fenômeno decorre da existência de
combate à inflação que consiste em realizar um elementos ácidos na atmosfera — que contami-
corte brusco na expansão monetária e redução nam a água da chuva ou da neve quando estas
intensa do déficit público, acompanhado de uma caem na terra —, como também da evaporação
liberalização dos preços para que estes encon- de águas já contaminadas (rios, lagos etc.) que,
trem livremente seu ponto de equilíbrio no mer- ao cair em terra, a acidificam tornando-a impró-
cado. Esta política tem como resultantes a ele- pria para o cultivo.
vação da taxa de juros, a redução dos gastos
públicos (investimentos), a contenção do consu- CIBERNÉTICA. Em seu livro Cybernetics (Ci-
mo e, conseqüentemente, a recessão econômica, bernética), 1948, Norbert Wiener define ciberné-
cuja duração e profundidade dependem de uma tica como o “estudo do controle da comunicação
série de fatores. Veja também Choque Hetero- no animal e na máquina”. Assim, constitui um
doxo. ramo da teoria da informação que compara os
sistemas de comunicação e controle de aparelhos
CHOUKI SAI. Expressão em japonês que sig- produzidos pelo homem com aqueles dos orga-
nifica títulos com prazos de maturação superior nismos biológicos. Muitas comparações podem
a cinco anos, isto é, títulos de longo prazo. Os ser feitas, por exemplo, entre o processamento
de médio prazo — entre um e cinco anos — de dados nos computadores e várias funções do
são denominados Chyuki Sai, e os de curto prazo cérebro; as teorias da cibernética podem ser apli-
— menos de um ano —, Tanki Sai. Todos eles cadas em ambos com a mesma validade. Veja
podem ser emitidos ao portador ou nominati- também Automação; Computador.
vos.
CICLO. É a denominação dada a um movimen-
CHUN. Veja Uon. to completo de uma onda elétrica. As ondas de
rádio, por exemplo, são medidas em ciclos, e,
CHURN. Termo em inglês que significa a perda como seu movimento é muito rápido, são me-
de lealdade do consumidor em relação a deter- didas em quilociclos e megaciclos, que corres-
minado produto ou marca. A velocidade das pondem respectivamente a mil e um milhão de
inovações, a universalização das informações, o ciclos por segundo.
barateamento das comunicações e o acirramento
da concorrência entre os grandes conglomerados CICLO DA BORRACHA. Período da história
internacionais pode provocar nos consumidores econômica do Brasil marcado pela grande ati-
rápidas mudanças em suas preferências. Na me- vidade de extração do látex da borracha nos se-
dida em que os mercados se tornam mais efi- ringais da Amazônia, para exportação. Essa ati-
cientes, essas mudanças ficam menos custosas vidade atingiu seu apogeu na primeira década
e estimulam os deslocamentos em benefício do do século XX, quando o Brasil era o maior pro-
consumidor. Por exemplo, quando um plano de dutor mundial do látex, que respondia por 26%
CICLO DA CANA-DE-AÇÚCAR 96

do valor das exportações nacionais. A valoriza- CICLO DE VIDA. Etapas definidas em cada
ção da borracha no mercado internacional de- sociedade, nas quais se divide o período de vida
corria do desempenho da indústria automobi- de um indivíduo. Geralmente, o ciclo de vida
lística na Europa e nos Estados Unidos, o que se estende do nascimento até a morte, embora
intensificou a procura de matéria-prima para a o indivíduo já se torne um ente social antes do
produção de pneus. O predomínio brasileiro na nascimento, e muitas religiões afirmem a exis-
produção passou a declinar depois que os in- tência da alma depois da morte. Do ponto de
gleses iniciaram a cultura da seringueira no vista social, as etapas do ciclo de vida de um
Oriente, sobretudo na Tailândia e em Cingapu- indivíduo marcam a sua preparação para assu-
ra. Em 1914, o Brasil respondia apenas por me- mir papéis sociais e institucionais. Dependendo
tade da produção, e, em 1930, contribuía somen- do período histórico, do grau de desenvolvi-
te com 3%. mento de cada sociedade e de sua cultura, cada
povo tem a delimitação dessas etapas de forma
CICLO DA CANA-DE-AÇÚCAR. Período da diferente. Atualmente, nos países desenvolvidos
história econômica do Brasil em que a cultura e onde a esperança de vida superou os 70 anos,
açucareira era a principal atividade produtiva esses limites são em linhas gerais os seguintes:
da colônia. As primeiras mudas de cana-de-açú- 1) infância: até os sete anos; 2) adolescência: dos
car foram trazidas da ilha da Madeira, em 1502, sete aos 13 anos; 3) juventude: dos 14 aos 25;
e em meados do século XVI as plantações ca- 4) maturidade: entre os 26 e 60 anos; 5) velhice:
navieiras se estendiam por grandes extensões de 61 e mais. Estes limites de etapas variam tam-
do litoral brasileiro, concentrando-se sobretudo bém em relação aos sexos.
em Pernambuco e na Bahia. Na metade do sé-
culo XVII, o Brasil era o maior produtor mundial CICLO DO CACAU. Conjunto de característi-
de açúcar, mas gradativamente perdeu essa po- cas econômicas, políticas e socioculturais de de-
sição para as concorrentes mundiais, particular- terminada região — o sul da Bahia — no final
mente as Antilhas. Embora nunca tenha desa- do século XIX e nas primeiras décadas do século
parecido no Brasil colonial, a cultura canavieira XX, quando ali florescia a cultura cacaueira.
foi substituída no século XVIII como principal Planta nativa da América, o cacaueiro, plantado
fonte de renda da colônia pela atividade mine- na Bahia desde o século XVI, só se difundiu
radora, que deu origem ao Ciclo do Ouro. O como lavoura comercial a partir do século XIX.
comércio açucareiro, segundo as normas do Pac- O Brasil logo se tornou o primeiro produtor
to Colonial e da política mercantilista, era mo- mundial, o que veio fortalecer o predomínio, em
nopólio da Coroa e toda a produção, destinada escala regional, da figura do “coronel” do Sul
ao mercado externo. Em decorrência disso, a da Bahia, plantador de cacau. Posteriormente,
economia canavieira moldou no Brasil uma so- a liderança mundial passou à Costa do Ouro
ciedade que correspondia aos objetivos de sua (atual Gana) e à Nigéria. Na década de 70, po-
produção: os engenhos localizavam-se em lati- rém, em decorrência do aprimoramento técnico
fúndios e a mão-de-obra empregada, o escravo no cultivo, o Brasil voltou a ocupar o primeiro
negro, tornar-se-ia a base da economia brasileira lugar na produção mundial de cacau.
até o final do século XIX. Praticamente não exis-
tia uma camada social intermediária entre o se- CICLO DO CAFÉ. Período da história econô-
nhor e o escravo, o que configurava uma socie- mica do Brasil, compreendido entre 1830 e 1930,
dade tipicamente patriarcal. marcado pelo desenvolvimento da cultura do
café, produto dominante no comércio exterior
CICLO DE FLUXO DE CAIXA. Número de dias do país e motivador da expansão da fronteira
transcorridos entre a aquisição de matérias-pri- agrícola na época. Introduzido no Brasil por vol-
mas (no caso de uma indústria) e a conversão ta de 1727, o cultivo do café atingiu um peso
da venda do produto acabado em caixa. Quanto significativo no conjunto da economia nacional
mais curto for esse ciclo, melhor para a empresa,
em meados do século XIX, quando se tornou o
pois a rotatividade de seu capital será maior, e
principal produto de exportação. Contribuíram
menor sua dependência de empréstimos e fi-
para isso o declínio da economia açucareira do
nanciamentos.
Nordeste, a ruína da cultura do algodão e a de-
CICLO DE KONDRATIEFF. Veja Ciclo Eco- cadência da mineração, que liberaram grandes
nômico. contingentes de mão-de-obra escrava e recursos
financeiros para serem empregados em ativida-
CICLO DE KUZNETS. Ciclo sugerido por Si- des mais lucrativas. Ao mesmo tempo ocorria
mon Kuznets com duração aproximada de vinte um aumento da demanda de café na Europa e
anos (uma geração), cuja força propulsora se- nos Estados Unidos, e a ruína da agricultura
riam as mudanças populacionais e a expansão cafeeira em Java (devido a uma praga) e no Haiti
da construção de moradias decorrentes. Veja (por levantes de escravos), fatos que contribuí-
também Ciclo Econômico; Kuznets, Simon. ram para transformar o Brasil no maior forne-
97 CICLO ECONÔMICO

cedor do mercado mundial (desde 1840). Até Surgiram cidades ricas em Minas Gerais, e es-
1870, o principal centro de comercialização e ex- treitaram-se os laços entre as várias regiões da
portação do produto foi o Rio de Janeiro, pois colônia. O ouro brasileiro favoreceu o esplendor
a principal área produtora era o vale do rio Pa- da Corte de dom João V e as iniciativas econô-
raíba. Com o esgotamento das possibilidades micas do marquês de Pombal, mas fluiu, em
agrícolas da região, a expansão da cultura do sua maior parte, para a Inglaterra, estimulando
café deslocou-se para o Oeste paulista (região a Revolução Industrial. Com o esgotamento das
de Campinas), atingindo em seguida o Oeste jazidas, aguçou-se a contradição entre a metró-
novo, rumo a Ribeirão Preto e Araraquara. En- pole e sua colônia, dando origem à Inconfidência
tão, Santos tornou-se o principal centro expor- Mineira.
tador do produto e expandiram-se as ferrovias.
O desenvolvimento da economia cafeeira em CICLO DO PAU-BRASIL. Primeiro período da
São Paulo teve profundas conseqüências para o história econômica do Brasil, caracterizado pela
conjunto da sociedade brasileira. A necessidade exploração da árvore do mesmo nome (Caesal-
pinia cristal) e o pau-brasil do México (Caesalpinia
de mão-de-obra provocou o incremento à imi-
echinata). Estendeu-se desde os primeiros anos
gração de europeus (paralelamente à desagre-
após a descoberta até o início da segunda me-
gação do trabalho escravo) e as riquezas acu-
tade do século XVI, quando perdeu a primazia
muladas na comercialização do café proporcio-
para a cultura da cana-de-açúcar. Sendo ativi-
naram a ampliação, sem precedentes, das ativi-
dade apenas extrativa, consistia na coleta da ma-
dades industriais, comerciais e financeiras. No
deira e sua remessa para a metrópole, onde era
plano político, implantou-se a hegemonia de São
utilizada em marcenaria de luxo, fabricação de
Paulo, cujo papel foi decisivo na proclamação
violinos, indústria naval e, principalmente,
da República. Ao iniciar-se o século XX, o Brasil
como corante. A Coroa portuguesa arrendava
detinha três quartos da produção mundial de partes da região litorânea a comerciantes, que
café e acumulava grandes estoques, configuran- lhe deveriam entregar uma renda fixa e obriga-
do-se uma crise de superprodução. Para enfren- vam-se a construir feitorias: os primeiros nú-
tá-la, os principais Estados produtores (São Pau- cleos de população européia no Brasil. Um dos
lo, Rio de Janeiro e Minas Gerais) reuniram-se primeiros arrendatários da Coroa foi Fernão de
em 1906 na Convenção de Taubaté e estabele- Noronha. Ao lado dos portugueses, os espa-
ceram um plano de valorização do produto nhóis e, principalmente, os franceses, também
(compra de toda a produção, proibição de novos se dedicaram à extração do pau-brasil na costa
plantios, retenção dos estoques enquanto os pre- brasileira, disso surgindo inúmeros conflitos que
ços não atingissem níveis adequados). Uma levaram a Coroa a criar as capitanias hereditá-
nova política de valorização, em âmbito federal, rias. A extração do pau-brasil continuou sendo
foi implantada em 1933 com a criação do De- uma atividade relativamente rendosa até mea-
partamento Nacional do Café (queima de esto- dos do século XIX, quando a invenção de co-
ques, erradicação de velhos cafezais). Com o rantes artificiais a tornou dispensável.
abandono dessa política no governo Dutra
(1946-51), sobreveio nova crise e, em 1952, o go- CICLO ECONÔMICO. Flutuação periódica e
verno Vargas restabeleceu o controle criando o alternada de expansão e contração de toda ati-
Instituto Brasileiro do Café (IBC). A partir de vidade econômica (industrial, agrícola e comer-
então, a participação do café no conjunto das cial) de um país ou de um conjunto de países.
exportações diminuiu sensivelmente, e em mea- Um ciclo típico consiste num período de expan-
dos da década de 70 as manufaturas já suplan- são econômica, seguido de uma recessão, de um
tavam aquele produto em termos de produção período de depressão e um novo movimento
de divisas. No início da década de 80, o café ascendente ou de recuperação econômica. Os ci-
participava com cerca de 10% do valor total das clos de longa duração, chamados ciclos de Kon-
exportações brasileiras. dratieff, são marcados por períodos de sessenta
anos de ascensão ou declínio da economia mun-
CICLO DO OURO. Período da história colo- dial. Distinguem-se do ciclo Juglar, de seis a dez
nial do Brasil, entre o final do século XVII e o anos, e do ciclo dos estoques ou ciclo Kitchin, de
final do século XVIII, em que a extração de ouro cerca de quarenta meses. Já na história econô-
e diamantes teve decisiva importância econômi- mica brasileira, o termo ciclo é usado para de-
ca. Cerca de dois terços das lavras se concen- signar os períodos de predomínio de determi-
traram em Minas Gerais, com o restante distri- nados produtos coloniais de exportação como
buído entre Goiás, Mato Grosso e Bahia. A ex- o açúcar, o ouro e o café. O registro das variações
ploração do ouro determinou um rápido cres- cíclicas, com períodos alternados de altas e bai-
cimento da população brasileira e sua inte- xas dos níveis da atividade econômica, remonta
riorização. A importação de escravos africanos ao fim do século XVIII. As teorias dos ciclos
triplicou em relação aos dois séculos anteriores. econômicos são numerosas e variadas. As teo-
CICLO KENNEDY DE NEGOCIAÇÕES 98

rias da superprodução e subconsumo explicam vos mercados e a ação da guerra, pois os perío-
os ciclos com base no aumento da produção, dos de alta coincidem com a atividade bélica.
dos lucros e dos investimentos, sem um corres- A teoria dos ciclos curtos (do economista francês
pondente aumento dos salários e do poder de Clément Juglar, o primeiro a assinalar a natureza
compra dos consumidores. As teorias monetá- periódica das crises) divide-se em teorias exó-
rias baseiam-se na quantidade de moeda em cir- genas e endógenas. As primeiras procuram as
culação e nas variações dos níveis das taxas de causas dos ciclos no meio exterior à economia.
juros e de investimentos. E as teorias psicológi- Desse modo, o ciclo econômico seria provocado
cas argumentam que a atividade econômica é por um ciclo físico (Jevons), psicológico (Pareto),
influenciada por ondas de pessimismo e de oti- técnico (Schumpeter) ou demográfico (Lösch).
mismo. Uma explicação genérica dos ciclos é As teorias endógenas procuram as causas do ci-
que, sempre que a demanda total de bens e ser- clo no próprio processo econômico, visando a
viços é menor do que a necessária para manter demonstrar basicamente a formação e a trans-
a produção no seu nível de desenvolvimento, missão de um processo cumulativo de alta ou
há queda na produção e no emprego. Isso pode baixa dos preços e as razões da suspensão desse
ser provocado pela tendência crônica da econo- processo. Assim, Wicksell argumentou que isso
mia a uma superpoupança (ou subconsumo) ou se deveria à disparidade entre a taxa natural do
por uma escassez de investimentos para preen- juro e a taxa do mercado. Já Kaldor e Kalecki
cher a insuficiência da demanda. Iniciada uma destacaram a idéia de expectativa de investi-
fase de recessão, a redução tende a ser cumu- mento, construindo um modelo econométrico de
lativa, com queda dos preços, esgotamento dos ciclo a partir do atraso entre a decisão do in-
estoques, adiantamento de investimentos e sub- vestimento e o resultado do investimento reali-
consumo. Mas, em determinado ponto, há ne- zado. Outros modelos econométricos de ciclos,
cessidade de substituir os estoques e equipa- trabalhando com dados fornecidos ou não pela
mentos desgastados, ainda que apenas para realidade, foram construídos por Leontief, pela
manter os baixos níveis da demanda de bens escola sueca (Lundberg), e também por Harrod,
de consumo. Isso conduz a um aumento do in- Samuelson e Hicks, atualmente os mais conhe-
vestimento, que, mesmo pequeno, leva a novo cidos. A maioria das teorias dos ciclos baseia-se
crescimento da produção, da renda e do consu- nas variáveis e determinantes do investimento
mo, tornando atrativo novos investimentos e e seus efeitos, vendo na renda nacional o me-
realimentando o ciclo econômico. A expansão canismo do multiplicador. Em combinação com
pode levar a economia a novo surto de prospe- o princípio do multiplicador, usa-se a teoria do
ridade, com seus habituais pontos de estrangu- acelerador para mostrar o ajustamento do grau
lamento: preços em alta e problemas de manu- de investimento à variação das vendas.
tenção do equilíbrio no comércio exterior. Nesse CICLO KENNEDY DE NEGOCIAÇÕES. Veja
ponto, pode haver uma tendência à subpoupan- Kennedy Round.
ça ou ao superinvestimento, e as tentativas de
corrigir as tendências inflacionárias podem levar CICLO KITCHIN. Flutuação curta e rítmica da
os empresários a rever suas expectativas de lu- atividade econômica, batizada ciclo Kitchin de-
cro, reduzindo os investimentos, com o que se vido a Joseph Kitchin, que foi o primeiro analista
inicia nova fase de contração da atividade eco- a estudá-lo em detalhes. O ciclo Kitchin é um
nômica. O estudo dos ciclos econômicos está in- ciclo regular de flutuação dos preços, da pro-
timamente ligado ao das crises, que podem ser dução, do emprego etc., de duração de quarenta
caracterizadas como um momento descontínuo meses. Utilizado por Schumpeter em sua análise
e desastroso de uma evolução cíclica contínua. dos ciclos econômicos, é explicado por mudan-
Embora tenha havido apenas três ciclos secula- ças em estoques e por pequenas ondas de ino-
res, ou de Kondratieff, no período que vai de vação, especialmente em equipamentos que po-
1790 a 1950, a teoria dos ciclos longos divide-se dem ser produzidos rapidamente. Superpostos
em dois grupos. Os adeptos da teoria quantita- aos ciclos longos de Juglar e de Kondratieff, exis-
tiva da moeda explicam as ondas seculares de tiriam três ciclos Kitchin em cada Juglar e de-
altas dos preços pelo aumento da massa mone- zoito em cada Kondratieff. Veja também Ciclo
tária, e, no caso da conversibilidade do ouro, Econômico.
pelo aumento do volume de ouro em circulação.
Outros destacam a influência das inovações téc- CIDADES. Veja Urbanização.
nicas que se sucederam no século XIX (vapor,
ferrovias, petróleo e eletricidade), como enfatiza CIDADES LIVRES. Cidades da Europa que,
Schumpeter: com a instalação das novas formas durante a Idade Média, conquistaram total ou
de energia e de transporte, a demanda ultrapas- parcialmente sua autonomia em relação ao pro-
sou a oferta, provocando a alta dos preços. Essa prietário da terra na qual se localizavam. Habi-
corrente destaca a influência da abertura de no- tadas por artesãos e comerciantes, sobretudo a
99 CIRCUIT BREAKER

partir do século XII, as cidades ou burgos pro- CIF. As estatísticas das exportações e importa-
curavam por vários meios — negociações ou ções brasileiras divulgadas pelo Banco Central
luta aberta — ter sua própria administração e geralmente são apresentadas na base FOB (free
livrar-se das numerosas taxas impostas pelo se- on board), isto é, sem incluir os custos dos se-
nhor do feudo. guros e dos fretes, os quais são registrados na
Conta de Serviços do Balanço de Pagamentos.
CIÊNCIA ECONÔMICA. Veja Economia. Veja também Balanço de Pagamentos; Incoterms.
CIÊNCIAS AFINS. Como ciência social, decor- CIFR. Veja Zero.
rente da atividade do homem organizado em
sociedade, a economia se relaciona com diversas CIM. Iniciais da expressão em inglês computer
outras ciências. Como atividade prática ou teó- integrated manufacturing, que significa a integra-
rica, é exercida sob certas condições permanen- ção total de todas as fases de produção realiza-
tes ou variáveis, que se manifestam no sujeito das com a assistência de um computador —
da atividade econômica ou no meio social onde CAD, CAD/CAM, CAE — num processo único,
ela atua. As condições do meio social estão re- de tal forma a integrar e automatizar um pro-
lacionadas com fatores geográficos, históricos, cesso produtivo. Veja também CAD; CAD/
culturais e com as instituições sociais. Assim, a CAM; CAE.
economia mantém relações estreitas com a his- CINTURÃO VERDE. Faixa de terra, de largura
tória, a sociologia, a psicologia, a política, o di- variável (em geral, alguns quilômetros), que cir-
reito, a geografia e a demografia. E, por sua na- cunda as grandes regiões urbanas e deve ser
tureza teórica, relaciona-se com a lógica, a ma-
mantida intata. Tem a finalidade de conter a ex-
temática e a filosofia.
pansão urbana, evitar ou direcionar conurbações
CIÊNCIAS SOCIAIS. Uma das principais di- (ligação contínua entre regiões urbanas) e tam-
visões do conhecimento humano. Conjunto de bém controlar problemas ecológicos, como po-
matérias que estudam o homem em relação com luição da atmosfera e dos mananciais.
seu meio físico, cultural e social. Embora muitos
cientistas sociais em geral tentem modelar suas CIP — Conselho Interministerial de Preços.
disciplinas conforme as ciências naturais, aspi- Órgão federal, subordinado à Secretaria do Pla-
rando atingir um nível semelhante de consenso, nejamento, criado em 1968 pela lei nº 63 196. É
seus esforços nesse sentido continuam a ser frus- responsável pela sistemática reguladora de pre-
trados devido à imperfeição de suas ferramentas ços, dentro dos objetivos da política econômica
conceituais em relação à complexidade de sua do governo. O controle de preços pelo CIP pode
matéria de estudo e ao campo limitado que exis- se dar de vários modos: liberação parcial, libe-
te para experimentos controlados. Há teóricos, ração vigiada, acordos setoriais e apreciação pré-
por outro lado, que afirmam a fundamental di- via dos reajustes por produtos. A liberação parcial
ferença entre o arcabouço lógico das ciências na- ocorre quando somente alguns produtos fabri-
turais (cujo modelo é matemático) e o das ciên- cados por uma empresa ficam sujeitos ao con-
cias sociais (cujo modelo seria jurídico); justa- trole. Na liberação vigiada, os aumentos do preço
mente por isso, essas últimas seriam argumen- de um produto são comparados aos índices de
tativas e dialógicas, não permitindo universali- preços elaborados pela Fundação Getúlio Var-
dade e consenso quanto a postulados e conclu- gas. Quando ocorre um aumento não justificá-
sões, ao contrário, permanecendo abertas, por vel, o produto passa para o controle direto do
sua natureza própria, às reinterpretações e às CIP. O controle setorial verifica-se quando os rea-
polêmicas. Incluem-se entre as ciências sociais justes de preços dizem respeito a todo o setor
a antropologia, a arqueologia, a criminologia, a de produção. Em todos os casos, os percentuais
demografia, a economia, a educação, a ciência de reajustes determinados pelo CIP têm como
política, a psicologia e a sociologia. base os custos de produção. Embora o CIP tenha
poderes para castigar de forma drástica as em-
CIF (Cost, Insurance and Freight). Expressão presas que ignorem suas determinações (até
do comércio internacional que significa “custo, mesmo com a expropriação de mercadoria), suas
seguro e frete”, geralmente seguida da designa- represálias consistem geralmente no corte dos
ção do porto de destino. Nessa modalidade, o créditos junto ao sistema financeiro público.
vendedor assume todos os custos necessários
para transportar a mercadoria a seu destino de- CIRCUIT BREAKER. Expressão em inglês que
signado, além de contratar seguro marítimo con- significa literalmente “interruptor de circuito” e
tra risco de perdas e danos, que cobre apenas é utilizada quando ocorrem oscilações muito for-
as condições mínimas exigidas, “livre de avaria tes na Bolsa de Valores, fazendo com que a co-
particular” (FPA ou free of particular average), que tação das ações ou outros títulos que estão bai-
é o preço CIF mais 10%. Código ou abreviação, xando muito seja interrompida para evitar que
CIRCUITO 100

efeitos momentâneos possam desencadear o pâ- teiros, recursos do mar, recursos humanos e
nico. Este dispositivo foi utilizado pela primeira apoio oceanográfico.
vez no Brasil na crise do final de outubro de
1997, provocada pela crise das Bolsas dos países CITY, The. Região do centro de Londres que
asiáticos. Em Bolsas mais importantes, como a congrega as principais instituições financeiras
de Nova York e Londres, o sistema já é utilizado do país. Reúne o Banco da Inglaterra, impor-
há mais tempo. tantes bancos comerciais e as principais casas
de câmbio e de comércio internacional. Esse cen-
CIRCUITO. Em economia, é o movimento de tro financeiro, também chamado de Square Mile,
duplo sentido existente no processo produtivo, comparável a Wall Street, desempenha quatro
formando um circuito que fecha o mercado e funções básicas: 1) facilitar o pagamento de qual-
revela a interdependência dos fatos econômicos. quer quantia, com rapidez e segurança, sem a
Esse processo é marcado por dicotomias: exis- utilização de papel-moeda; 2) financiar a pro-
tem produtores e consumidores, oferta e procu- dução e o transporte de matérias-primas em
ra, compra e venda. Incluem-se no circuito os todo o mundo; 3) centralizar a captação de pou-
compradores e vendedores dos fatores de pro- panças e suas aplicações; 4) centralizar opera-
dução, entre eles o próprio trabalho. A noção ções de câmbio e de comércio internacional. Veja
de circuito, de caráter orgânico e dinâmico, também Old Lady of Treadneedle Street; Wall
opõe-se à de equilíbrio, que é mecânica e está- Street.
tica. Foi explicitada, pela primeira vez, no céle-
CLARA BOW. Apelido das ações da Interna-
bre Tableau Économique, de Quesnay. Ganhou
tional Telephone & Telegraph (ITT) na Bolsa de
destaque na análise econômica a noção do cir-
Valores de Nova York.
cuito (ou circulação) monetária, sobretudo para
os estudos de conjuntura. Veja também Ques- CLARK, Colin Grant (1905- ). Economista aus-
nay, François; Tableau Économique. traliano, destacou-se, a partir de 1940, por de-
monstrar, usando dados estatísticos, os efeitos
CIRCULAÇÃO. Conjunto de estruturas e me-
do progresso técnico sobre a evolução econômi-
canismos referentes à distribuição do produto
ca. Sobre o assunto, escreveu The Conditions of
gerado socialmente entre os diferentes elemen-
Economics Progress (As Condições do Progresso
tos participantes da criação desse produto. Essa
Econômico), 1940, e The Economics of 1960 (A
distribuição baseia-se nos mecanismos de dis-
Economia de 1960), 1942. Colin Clark parte de
tribuição da renda, referidos à estrutura de clas-
estudos sobre a renda nacional para relacionar
se da sociedade. Veja também Classe Social.
os graus de evolução dos países e a produtivi-
CÍRCULO VICIOSO. Conceito derivado da con- dade do trabalho. Nesses estudos, reintroduziu
cepção de Gunnar Myrdal de causação circular uma distinção já esboçada pelos demógrafos do
como, por exemplo, a explicação do subdesen- século XVIII: a divisão das atividades em setores
volvimento pela escassez de poupança, e esta primário (agricultura), secundário (indústria) e
pelo subdesenvolvimento. Ao círculo vicioso terciário (serviços). Essa distinção generalizou-
opõe-se o círculo virtuoso, quando, por exem- se também por expressar o desenvolvimento das
plo, o aumento dos níveis médios de educação sociedades industrializadas, da terra à fábrica,
viabiliza o aumento da produtividade, e esta da fábrica ao escritório. Veja também Setores
o aumento da riqueza, que, por sua vez, per- de Produção.
mite o aumento dos recursos destinados à edu- CLARK, John Bates (1847-1938). Economista nor-
cação. Veja também Causação Circular; Efeito te-americano, principal representante da escola
Sinérgico. marginalista nos Estados Unidos. Estudou em
CÍRCULO VIRTUOSO. Veja Círculo Vicioso. Heidelberg e Zurique, tornando-se, em 1895,
professor-titular de Economia na Universidade
CIRM — Comissão Interministerial para os Re- de Colúmbia. Em Philosophy of Wealth (Filosofia
cursos do Mar. Criada em 1968, destina-se a reu- da Riqueza), 1885, procura reformular os pos-
nir toda a informação necessária à definição de tulados dos economistas clássicos. Distribution
uma política de exploração dos recursos naturais of Wealth (Distribuição da Riqueza), 1899, sua
marítimos do Brasil. Contribui para orientar a obra mais conhecida, estende o princípio mar-
participação do país num comitê de 35 nações ginalista à análise da produção e distribuição e
que estuda a utilização do fundo dos mares. A introduz o conceito de “produto marginal”. Para
comissão é presidida pelo ministro da Marinha John Bates Clark, o lucro aparece sempre como
e tem competência como órgão executivo. Em resultado de um desequilíbrio provisório devido
1981, aprovou o I Plano Nacional de Recursos a uma concorrência imperfeita ou a um jogo de
do Mar, a ser desenvolvido por meio de cinco preços. Essa é uma posição intermediária entre
subprogramas: sistemas oceânicos, sistemas cos- as explicações estáticas e as dinâmicas, pois sus-
101 CLAY-CLAY

tenta que numa concorrência perfeita (estática), salário). Seria essa, também, a base objetiva dos
nunca há lucro e que sem desequilíbrio e sem conflitos político-sociais e das transformações
lucro não há progresso. Escreveu ainda Essen- históricas. Outros autores consideram que,
tials of Economic Theory (Fundamentos da Teoria atualmente, a hierarquização social se processa
Econômica), 1907. Veja também Marginalismo. no âmbito das diferenças profissionais. Argu-
mentam que a mobilidade social nas modernas
CLARK, John Maurice (1884-1963). Economis- sociedades industriais, em decorrência da am-
ta norte-americano, filho de John Bates Clark, pliação das oportunidades, contribuiria para a
sucedeu o pai na cadeira de Economia na Uni- expansão das camadas médias e para a atenua-
versidade de Colúmbia em 1926. Em sua obra ção dos conflitos de classe, mais próprios do
Economics of Overhead Costs (Economia dos Cus- capitalismo passado. Nas pesquisas de mercado,
tos Fixos), 1923, estuda a questão dos custos fi- as classes são identificadas pura e simplesmente
xos baseando-se nas condições de mercado dos por estarem dentro de certas faixas (A, B, C, D
Estados Unidos. Essa obra foi importante no de- etc.) construídas a partir dos níveis de renda e
senvolvimento das análises dinâmicas. Em 1917, de consumo dos indivíduos.
John Maurice Clark publicou, no Journal of Po-
litical Economy, o artigo “Business Acceleration and CLÁSSICA. Veja Escola Clássica.
the Law of Demand” (“Aceleração dos Negócios
e a Lei da Demanda”). Nele, introduziu e de- CLÁSSICO. Denominação dada aos selos anti-
senvolveu o conceito de acelerador, que relaciona gos, quase sempre os das primeiras emissões
a taxa de crescimento da demanda de bens de dos países. No Brasil, os selos clássicos são olho-
consumo e a taxa de crescimento da demanda de-boi e olho-de-cabra. Veja também Selo Postal.
de bens de produção. Esse conceito tornou-se CLÁSSICOS. Veja Escola Clássica.
um dos princípios básicos da moderna teoria
macroeconômica. Em 1963, publicou Essays in CLÁUSULA DE NAÇÃO MAIS FAVORECI-
Preface to Social Economics (Ensaios Introdutórios DA. Cláusula existente em tratados de comércio,
à Economia Social). mediante a qual dois países estabelecem vanta-
gens mútuas entre si, diferenciando-se em rela-
CLASSE MÉDIA. Conjunto das camadas so-
ção a todos os demais países.
ciais situadas entre a burguesia e o proletariado,
especialmente o urbano. O processo de desen- CLÁUSULA SOCIAL. No âmbito da Organiza-
volvimento capitalista ampliou significativa- ção Mundial do Comércio (OMC), é a designa-
mente os estratos médios da sociedade atual, ção dada às cláusulas incluídas nos acordos por
que se diversificaram em relação ao trabalho e força dos países desenvolvidos. Tais cláusulas
ao nível de renda. Devido a essa heterogenei- dariam a esses países o direito de colocar bar-
dade, costuma-se dividir a classe média em alta, reiras alfandegárias específicas se fosse consta-
média e baixa. Assim, embora se incluam na tada a exploração de trabalho infantil ou escra-
classe média os pequenos empresários, atual- vo, por exemplo, nas importações realizadas dos
mente ela é formada sobretudo por profissionais países de menor desenvolvimento, isto é, se es-
assalariados que trabalham no setor de serviços tes estivessem praticando o “dumping social”.
(saúde, bancos, educação, comunicação) e em Veja também Dumping Social.
funções especializadas do setor industrial.
CLAY-CLAY. Expressão em inglês que designa
CLASSE SOCIAL. Cada um dos grandes gru- uma situação em uma função de produção na
pos diferenciados que compõem a sociedade. Os teoria do crescimento, segundo a qual a relação
critérios para definir-se um grupo social como entre capital e trabalho não varia nem antes, nem
classe são motivo de divergências. De modo ge- depois de realizado o investimento. Clay em in-
ral, nessa caracterização privilegiam-se fatores glês significa “argila” ou “barro” e é empregada
socioeconômicos tais como riqueza, apropriação em relação ao capital no sentido de argila en-
dos meios de produção, posição no sistema de durecida, isto é, com falta de maleabilidade. Se
produção, profissão, nível de consumo e origem opõe a putty-putty (putty significando uma mas-
dos rendimentos, entre outros. Considera-se ain- sa moldável), que denota uma situação na qual
da que os membros de uma classe social, além as proporções entre o capital e o trabalho podem
de terem no conjunto os mesmos interesses, ten- ser continuamente modificadas tanto antes
dem a compartilhar valores semelhantes. Para quanto depois do investimento, dessa forma
Marx, o que caracteriza uma classe social é sua dando à relação capital/trabalho grande varia-
posição no processo de produção, sua relação bilidade. A situação intermediária, putty-clay, se-
com o sistema de propriedade. No capitalismo, ria aquela na qual essas proporções pudessem
ele identificou duas classes sociais principais: variar antes do investimento; mas uma vez feito
burguesia (proprietários dos meios de produ- o investimento, haveria grande rigidez nessa
ção) e proletariado (trabalhadores que vivem de proporcionalidade, ou seja, a relação capital/tra-
CLE 102

balho poderia variar antes do investimento, mas Luxemburgo, Holanda, Noruega, Portugal, Sué-
não depois que este tivesse sido realizado. cia, Suíça, Turquia, Grã-Bretanha, Estados Uni-
dos, Canadá e Japão. Constituída em 1961, a
CLE. Veja Combined Leverage Effect. OCDE teve origem na Organização Européia de
CLEAN FLOAT. Veja Dirty Float. Cooperação Econômica (Oece), reunida em 1948
pelos países da Europa Ocidental para a distri-
CLIGNOTANT. Termo em francês que, por buição entre si dos recursos do Plano Marshall.
analogia a uma lâmpada que se acende de forma A OCDE tinha um âmbito de operações muito
intermitente, indica que alguma coisa vai mal mais amplo do que a Oece e um dos seus ob-
em determinado setor ou no conjunto da eco- jetivos era “contribuir para a expansão do co-
nomia. Por exemplo, existem vários clignotants mércio mundial com base em práticas multila-
ou sinais de alerta numa economia: a elevação terais e não discriminatórias”, o que significava
das taxas de juros, a elevação ou queda do con- a ampliação do comércio com todos os países
sumo de energia elétrica, a elevação do preço do mundo. Na realidade, os anos do pós-guerra
de matérias-primas de uso generalizado etc. se caracterizaram por grandes superávits no ba-
lanço de pagamento dos Estados Unidos e pela
CLIOMETRIA. Denominação do conjunto de
escassez de dólares em nível internacional. Para
estudos e pesquisas sobre história que se utiliza
defender sua indústria, seu nível de emprego
da econometria. A denominação vem de Clio,
interno e manter em equilíbrio seus balanços de
a deusa inspiradora dos estudos do passado e
pagamentos, os países industrializados da Eu-
suas medições quantitativas. Foi iniciada por
ropa apoiaram as exportações em grande escala.
economistas americanos durante os anos 60 e
A contrapartida foram algumas vantagens ofe-
70 em pesquisa sobre o papel que as ferrovias
recidas aos importadores, especialmente no que
tiveram no desenvolvimento dos Estados Uni-
dos no século XIX. Existem controvérsias sobre se refere ao financiamento de suas compras nos
a denominação da disciplina, alguns preferindo países europeus. A América Latina tornou-se
História Econométrica, História Quantitativa ou um pólo de atração para a expansão das expor-
Nova História Econômica. tações européias, não apenas porque constituía
um mercado em dinâmica de crescimento, mas
CLP — Controlador Lógico Programável. Dis- também porque havia acumulado reservas ex-
positivo que pode ser programado para contro- pressivas durante a Segunda Guerra Mundial.
lar uma ou mais funções de um processo pro- Mas essa capacidade aquisitiva não se manteve
dutivo. por muito tempo, e já na década de 50 alguns
países latino-americanos, começando pela Ar-
CLT — Consolidação das Leis do Trabalho. gentina e pelo Brasil, encontraram dificuldades
Conjunto de normas constitucionais que regem para saldar seus compromissos com os países
as relações entre empregados e empregadores. da Oece. Para tratar desses casos, foi constituído
O código, promulgado em 1º de maio de 1943, um espaço de negociações chamado Clube de
mediante o decreto-lei nº 5 452, reúne toda a Paris, isto é, uma reunião dos credores para dis-
legislação trabalhista elaborada após a Revolu- cutir o problema da dívida dos países que não
ção de 1930. A CLT sofreu, ao longo de seus pertenciam ao organismo. O Brasil já recorreu
anos de vigência, uma série de alterações que
várias vezes ao Clube de Paris para a renego-
não lhe modificaram, no entanto, o substrato bá-
ciação de sua dívida externa, tendo celebrado,
sico.
em julho de 1988, um acordo com esse organis-
CLUBE DE INVESTIMENTOS. Sociedade que mo. Veja também FMI.
congrega investidores com a finalidade de ope-
CLUSTERS. Termo em inglês que significa “blo-
rar no mercado de ações. Difere dos fundos mú-
cos” ou “agrupamentos”, utilizado em vários
tuos de investimento por não haver obrigato-
contextos para designar o agrupamento de ele-
riedade de patrimônio mínimo. Administrados
mentos comuns para um determinado fim. Em
pelos próprios sócios, os clubes de investimento
informática, por exemplo, o termo é utilizado
são supervisionados por sociedades corretoras
para designar agrupamentos ou conglomerados
que atuam nas Bolsas de Valores.
formados por computadores em geral de médio
CLUBE DE PARIS. Atualmente, o Clube de Pa- porte, por servidores — de terminais, arquivos
ris ou Clube dos Credores ou, ainda, Grupo dos e discos — e por periféricos. No setor industrial,
Dez, consiste num mecanismo para discutir os o termo é usado quando se deseja, por exemplo,
refinanciamentos multilaterais das dívidas dos paí- destacar agrupamentos ou ramos industriais de-
ses que não são membros da Organização de Coo- dicados à exportação que tenham alguma carac-
peração e Desenvolvimento Econômico (OCDE), terística comum, como o fato de ser produtos
formada por Áustria, Bélgica, Dinamarca, Fran- de consumo de massa, bens duráveis, semidu-
ça, Alemanha, Grécia, Islândia, Irlanda, Itália, ráveis etc.
103 CNP

CMN — Conselho Monetário Nacional. Órgão dinado à presidência da República, com o ob-
federal criado em 31/12/1964 pela lei que im- jetivo de criar as diretrizes para a racionalização
plantou a reforma bancária no país. Formado do consumo e o aumento da produção nacional
segundo o modelo do Federal Reserve System, de petróleo, a substituição de seus derivados por
dos Estados Unidos, veio substituir a Superin- outras fontes de energia e as medidas a serem
tendência da Moeda e do Crédito (Sumoc) como adotadas na hipótese de redução abrupta — to-
órgão responsável pelas normas dos ajustes dos tal ou parcial — dos suprimentos externos do
meios de pagamento de acordo com as neces- produto. Presidida pelo ministro da Infra-estru-
sidades do país, devendo regular o valor interno tura, é formada pelo ministro da Economia, pe-
da moeda, corrigir surtos inflacionários ou de- los secretários de Energia e de Planejamento,
flacionários e coordenar as políticas creditícia, pelo chefe do Gabinete Militar e pelo secretário
monetária, fiscal, orçamentária e da dívida pú- do Conselho de Segurança Nacional. A criação
blica (interna e externa). É responsável ainda pe- da CNE foi conseqüência direta da chamada cri-
las emissões de papel-moeda, pela fixação de se internacional do petróleo, em 1979. Na oca-
normas para a política cambial, pela aprovação sião, 70% do transporte de mercadorias, 90% do
de orçamentos monetários, pela limitação das transporte de passageiros e boa parte da ativi-
taxas de juros, descontos e comissões, e pela dis- dade industrial do país dependiam do petróleo.
ciplina do crédito, entre outras atividades de ca- CNEN — Comissão Nacional de Energia Nu-
ráter mais burocrático. As reuniões da CMN são clear. Autarquia ligada ao Ministério da Infra-
realizadas pelo menos uma vez por semana. Par- estrutura. É o órgão encarregado de coordenar,
ticipam do conselho representantes dos minis- orientar, supervisionar e executar a política nu-
térios da área econômica, de outros órgãos pú- clear brasileira, orientando as instituições liga-
blicos e de entidades representativas do setor das ao setor nuclear, financiando seus progra-
privado. mas e a formação de pessoal. Foi criada em 1956,
CMTC — Companhia Municipal de Transpor- com o nome de Comissão de Energia Atômica,
tes Coletivos. Fundada em 1947, na cidade de vinculada ao Conselho Nacional de Pesquisas.
São Paulo, como companhia de economia mista, Controla diversos órgãos, como o Instituto de
diante do desinteresse da Light (antiga conces- Engenharia Nuclear da Universidade Federal do
sionária) de continuar operando os serviços. A Rio de Janeiro, o Instituto de Pesquisas Radia-
CMTC implantou em São Paulo, na década de tivas da Universidade Federal de Minas Gerais
50, uma frota de trólebus que foram pouco a e a Associação de Produção de Monazita.
pouco substituindo os antigos bondes, assim
como uma grande frota a diesel. Com o cresci- CNI — Confederação Nacional da Indústria.
mento da cidade, empresas particulares foram Entidade sindical de cúpula do empresariado
aumentando sua participação e, em 1975, a industrial brasileiro, reúne representantes das
CMTC, embora concessionária exclusiva, conta- federações estaduais da indústria. Fundada em
va apenas com 15% do total do transporte co- 1942, no âmbito da estrutura sindical montada
letivo na cidade. Essa participação aumentou pelo governo, substituiu duas entidades que a
para 30% até o final dos anos 80 e início dos precederam: Sociedade Auxiliadora da Indústria
anos 90, quando sua frota total em operação al- Nacional (1827-1904) e Centro Industrial Brasi-
cançou cerca de 3 mil ônibus dos 8 500 existen- leiro — CIB (1904-42). Junto ao governo, a CNI
tes. Em 1991 constituiu a primeira frota de ôni- atua apresentando sugestões, reivindicações e
bus movidos exclusivamente a gás natural (cerca críticas aos programas oficiais de desenvolvi-
de sessenta veículos). A partir de 1993, teve iní- mento industrial. Colaborou na criação do an-
cio o seu processo de privatização, com a pas- tigo Ministério do Trabalho, Indústria e Comér-
sagem de oitenta das 156 linhas para o setor cio. O Serviço Nacional de Aprendizagem In-
privado. dustrial (Senai) e o Serviço Social da Indústria
CNBV — Comissão Nacional de Bolsa de Va- (Sesi) são entidades filiadas à CNI, destinadas
lores. Entidade civil brasileira que congrega as a proporcionar formação profissional e ativida-
Bolsas de Valores do país. des culturais aos trabalhadores.

CNC. Iniciais da expressão em inglês computer CNP — Conselho Nacional do Petróleo. Órgão
numerical control, que significa “máquina ope- do Ministério da Infra-estrutura, responsável
ratriz controlada por computador“. Veja tam- por formular a política nacional do petróleo e
bém MFCN (Máquina-ferramenta de Contro- do carvão mineral, controlar o abastecimento de
le Numérico). petróleo em todo o país e fixar o preço de seus
derivados. A criação do CNP pelo presidente
CNE — Comissão Nacional de Energia. Órgão Getúlio Vargas, em abril de 1938, juntamente
transitório criado em 1979 e diretamente subor- com a regulamentação das jazidas e a descoberta
CO-GESTÃO 104

de petróleo em Lobato (janeiro de 1939), assi- COBAL — Companhia Brasileira de Alimen-


nalaram a segunda fase da luta pelo controle tos. Empresa federal vinculada ao Ministério da
estatal do petróleo no Brasil (a fase anterior era Agricultura, criada em 1962 com o objetivo de
a da livre iniciativa no setor, e a posterior, a do assegurar o abastecimento de gêneros alimentí-
monopólio estatal, começou com a criação da cios em todo o país. Atua como reguladora do
Petrobrás em outubro de 1953). A União exerce mercado, evitando a excessiva especulação, e
o monopólio do petróleo por intermédio do atende diretamente áreas não cobertas devida-
CNP, como um órgão orientador e fiscalizador, mente pelo setor privado. Em 1972, a Cobal as-
e da Petrobrás e suas subsidiárias, como órgãos sumiu a direção do Sistema Nacional de Cen-
de execução. A instituição dos contratos de risco, trais de Abastecimento (Sinac), com participação
em 1976, retirou da Petrobrás o monopólio de societária no capital das Centrais de Abasteci-
pesquisa e exploração. mento (Ceasas), vinculadas ao sistema. A função
do Sinac é organizar a produção e intermediação
CO-GESTÃO. Forma de participação dos tra- de produtos de origem hortifrutigranjeira, ven-
balhadores na administração da empresa, por dendo-os ao comerciante varejista por melhores
meio de representantes eleitos em votação dire- preços. Em 1979, a Cobal instalou a Rede Somar
ta. É uma experiência típica da Europa Ocidental de Abastecimento para gêneros de primeira ne-
(Alemanha, França, Inglaterra), variando sua cessidade. A rede formou-se por meio de con-
forma de organização em cada um desses países. vênios com varejistas independentes instalados
De modo geral, no regime de co-gestão os re- em áreas de baixa renda, tornando-se a maior
presentantes dos trabalhadores são consultados rede varejista do país. A Cobal compra grandes
sobre questões salariais, benefícios sociais pro- quantidades de gêneros e os distribui a esses
movidos pela empresa, dispensa de emprega- varejistas, objetivando a redução de preços para
dos, utilização de novas tecnologias, e são tam- o consumidor. Mantém ainda postos de venda
bém informados sobre os planos de expansão nas chamadas “áreas de alto risco”, como as
da empresa e seu balanço anual. Veja também frentes de trabalho nas regiões de seca, nos ga-
Autogestão. rimpos, nas povoações ribeirinhas da Amazônia
e na periferia das grandes cidades. Os preços
COASE, Ronald Harry (1910- ). Nasceu em
da Somar só são subsidiados em casos excep-
Middlesex, na Inglaterra, e graduou-se em Eco- cionais em áreas consideradas muito pobres,
nomia pela London School of Economics em
onde o Instituto Nacional de Alimentação e Nu-
1932. Tornou-se professor na Universidade de trição (Inan) financia produtos básicos. Além
Liverpool e na própria London School, entre dos supermercados da Rede Somar, dos super-
1935 e 1951. Nos anos 50 transferiu-se para os
mercados Cobal e dos postos de venda, a em-
Estados Unidos, onde lecionou na Universidade presa possui mercados volantes para abasteci-
de Buffalo, na Universidade de Virgínia e na
mento pelas estradas e mercados flutuantes para
Universidade de Chicago. Nesta última, dirigiu, as hidrovias amazônicas.
entre 1964/1982, o Journal of Law and Economic.
A colaboração mais importante de Coase para COBB-DOUGLAS (Função de Produção). Uma
a ciência econômica consiste em seus estudos função com a fórmula Q = A.La.Kb, onde Q é a
sobre as economias externas ou externalidades. produção, A, a e b são constantes e L e K são,
Esses estudos e a preocupação com o tema ti- respectivamente, o trabalho e o capital. A função
veram início numa monografia, The Nature of é homogênea do grau a+b, uma vez que a mul-
the Firm (A Natureza da Firma), quando Coase tiplicação de L e K por uma constante c elevará
ainda cursava a graduação, culminando com o resultado na proporção de ca+b. Assim, Q1 =
suas análises sobre os custos de transação nas A.cLa.cKb = Ka+b(A.LaKa). Se a soma dos expoen-
concessões de faixas para transmissões de rádio tes for igual à unidade, a função Cobb-Douglas
e televisão. Tais análises permitiram a Coase for- é linear homogênea, isto é, o retorno será uma
mular o que veio a ser denominado Teorema constante em relação à escala de produção: se,
de Coase, estabelecendo que as externalidades por exemplo, o capital e o trabalho empregados
não determinam uma alocação imperfeita de re- aumentarem 50%, o produto também aumentará
cursos, desde que os custos de transação sejam em 50%; se esta soma for maior do que a uni-
nulos. Os textos mais importantes de Coase fo- dade, a função terá retornos crescentes à escala;
ram publicados entre 1959 e 1979 no Journal of e se a soma for inferior à unidade, o retorno
Law and Economics, destacando-se “The Federal será decrescente à escala. Veja também Função
Communications Commission” (1959), “The Homogênea.
Problem of Social Cost” (1960) e “Payola in Ra-
dio and Television Broadcasting” (1979). Por COBOL. Sigla da expressão inglesa Common Bu-
suas contribuições, Coase recebeu o Prêmio No- siness Oriented Language (Linguagem Comercial
bel de Economia em 1991. Veja também Teore- Comum Orientada), um tipo de linguagem uti-
ma de Coase. lizado na elaboração de programas de compu-
105 COEFICIENTE DE CONCENTRAÇÃO

tador e destinado principalmente a empresas. para ano: um preço relativamente elevado e uma
Veja também Informática. oferta reduzida alternando-se com um preço re-
lativamente baixo e uma oferta abundante. O
COBRA — Computadores e Sistemas Brasilei- termo cobweb, que em inglês significa “teia de
ros S.A. Empresa estatal criada em 1974 com o aranha”, tem origem no fato de que o gráfico
objetivo de incorporar à economia uma indústria que expressa tais oscilações de preços guarda
nacional de computadores. Em princípio, limi- semelhança com uma teia de aranha.
tava-se a prestar assistência às áreas militares,
especialmente serviços de controle e automação COD. Iniciais de cash on delivery (pagamento
das novas fragatas da Marinha fabricadas com contra entrega ou reembolso postal).
tecnologia inglesa. Em 1975, a Cobra comprou
projetos tecnológicos da corporação norte-ame- CÓDIGO COMERCIAL BRASILEIRO. Conjun-
ricana Sycor e obteve a transferência de know- to de leis que regula o comércio em todos os
how para a produção do primeiro minicompu- seus aspectos. Foi criado pela lei nº 556, de
tador comercial brasileiro, o Cobra 400. Ao mes- 22/6/1850, inspirado nos códigos espanhol,
francês e português. Posteriormente, acrescen-
mo tempo, assinou contratos com organizações
taram-se várias outras leis, entre as quais a Lei
brasileiras com programas de tecnologia de
Cambiária (1908), a Lei do Cheque (1912), a Lei
computador em fase de desenvolvimento. Num
das Sociedades Limitadas (1919), a Lei das So-
contrato com o Serviço Federal de Processamen-
ciedades por Ações (1940), a Lei das Falências
to de Dados (Serpro), adquiriu os direitos de (1945, modificada em 1966), a Lei do Mercado
desenvolvimento de duas linhas de equipamen- de Capitais (1965) e a Lei das Sociedades Anô-
to, os modelos TR e TD, que se transformariam nimas (1977).
em seu maior sucesso comercial. Em 1977, a em-
presa entrou no mercado de minicomputadores COEFICIENTE BETA. Medida da sensibilidade
para aplicações comerciais. Em 1980, por meio de uma ação específica em relação às alterações
do Projeto Guaranis, surgia o Cobra 530, pri- do mercado acionário em seu conjunto. É a me-
meiro computador projetado, desenvolvido e fa- dida de um risco sistemático.
bricado no Brasil, resultado do trabalho conjunto
de cientistas da Universidade de São Paulo COEFICIENTE DE ACELERAÇÃO. É o coefi-
(USP), responsáveis pelo projeto de hardware, e ciente pelo qual o investimento adicional cresce
da Pontifícia Universidade Católica do Rio de em função de um aumento na produção. Por
Janeiro (PUC), responsáveis pelo projeto de soft- hipótese, esse investimento adicional deve ser
ware. Mais de 50% das ações da Cobra pertencem proporcionalmente maior do que o incremento
a órgãos estatais — Banco do Brasil, Caixa Eco- na produção, uma vez que o capital fixo (má-
nômica Federal, Banco Nacional de Desenvol- quinas, equipamentos etc.) tem um valor maior
vimento Econômico e Digibrás —, e quase 40% do que o valor de sua produção anual. Veja tam-
das ações pertencem à holding Eletrônica Digital bém Princípio de Aceleração.
do Brasil S.A. (EDB), formada por onze bancos
nacionais, pelas Bolsas de Valores do Rio de Ja- COEFICIENTE DE ACHATAMENTO (Curtose,
neiro e de São Paulo e pela Caixa Econômica Kurtosis). Veja Medidas de Achatamento.
do Estado de São Paulo. Em 1982, as vendas da COEFICIENTE DE APROVEITAMENTO.
empresa equivaleram à soma das vendas de to- Conceito da Lei de Zoneamento que estabelece
das as suas concorrentes nacionais no setor de em cada caso o máximo de área construída que
computadores comerciais de portes pequeno e um lote urbano comporta. No município de São
médio. Veja também Computador; Informática. Paulo, o máximo permitido é um coeficiente 4,
COBRA. Veja Snake. embora os dispositivos das Operações Interliga-
das e Operações Urbanas possam ultrapassar
COBWEB. Representação gráfica das condições pontualmente tais limites. Veja também Adiron
existentes num mercado competitivo, no qual a (Fórmula de); Lei de Zoneamento; Operações
venda de um produto perecível (em geral pro- Interligadas; Operações Urbanas; Taxa de
duto agrícola), que exige certo tempo para a sua Ocupação.
produção, tem uma demanda relativamente
constante durante determinada época. O perío- COEFICIENTE DE CONCENTRAÇÃO (Espa-
do em que se realizam as vendas é muito curto cial). Medida estatística do grau de concentração
e o tempo necessário para a produção, muito de atividade econômica num determinado es-
longo, para que a oferta possa ser alterada por paço geográfico (município, Estado ou país). Em
qualquer produtor depois do início das vendas. termos concretos, mede-se tal concentração com-
A cada ano, portanto, a oferta depende do preço parando a atividade a ser medida com um ref-
do mercado do ano anterior. Isso tende a pro- erencial de distribuição espacial como, por
vocar consideráveis oscilações no preço de ano exemplo, a população. Se a distribuição de uma
COEFICIENTE DE CRESCIMENTO VEGETATIVO 106

atividade como a industrial se concentrar de ma- COEFICIENTE Q (de Tobin). Coeficiente obti-
neira diferente da população, o coeficiente de do dividindo-se o valor de mercado dos ativos
concentração tenderá a ser elevado; ao contrário, de uma empresa pelo seu valor de reposição.
se esta forma de distribuição acompanhar a dis- Se este valor for superior a 1 (um), significa que
tribuição da população, seu coeficiente de dis- a empresa em questão realizou decisões acerta-
tribuição espacial será muito pequeno. A fór- das de investimento.
mula para calcular este coeficiente é: Σj Caj –
Cij, onde Caj representa a porcentagem da ati- COEFICIENTE DE GINI. Medida de concen-
vidade a (indústria, por exemplo) na localidade tração, mais freqüentemente aplicada à renda,
j, e Cij é a porcentagem da característica utili- à propriedade fundiária e à oligopolização da
zada como base ou referencial i (população, por indústria. O coeficiente de Gini é medido pela
exemplo) na localidade j. A expressão entre bar- relação ou pela fórmula geral,
ras significa valores absolutos, uma vez que em n
alguns casos Caj pode ser menor do que Cij. G = 1 – ∑ (Yi + Yi–1)(Xi – Xi–1),
Quanto mais próximo de zero for o valor final i=1
do somatório, menos concentrada espacialmente
estará a atividade sendo considerada (no caso, sendo xi a porcentagem acumulada da popula-
a indústria); quanto mais elevado for o valor do ção (pessoas que recebem renda, proprietários
somatório, maior será o grau de concentração. de terra, indústrias etc.) até o estrato i; yi, a por-
centagem acumulada da renda, área, valor da
COEFICIENTE DE CRESCIMENTO VEGETA- produção etc., até o estrato i; e n, o número de
TIVO. Considerando-se uma determinada po- estratos de renda, área, valor da produção etc.
pulação num certo período de tempo, é o resto
da diferença que tem por minuendo o coeficiente
total de natalidade, e por subtraendo, o coefi- 1,0 A
ciente bruto de mortalidade. 0,9
0,8
COEFICIENTE DE DETERMINAÇÃO. Tam-
bém conhecido como R2, ou Coeficiente de Cor- 0,7
relação Múltipla, é uma medida estatística que 0,6
designa o poder explicativo de uma equação. 0,5
Em termos mais concretos, é a proporção de va- 0,4 α
riação na variável dependente que é devida à
0,3
variação combinada das variáveis explicativas
(independentes), e é expressa pela fórmula 0,2
0,1
Σe2 45o
R2 = 1 – , 1,0
Σy2 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 B

Onde Σe2 é o resíduo da soma dos quadrados, Aumentando a concentração da renda, da pro-
e Σy2 é a soma dos quadrados da variável de-
priedade fundiária ou do valor da produção,
pendente. Desta forma, R2 varia entre zero e 1.
cresce a curvatura da curva de Lorenz e, por-
Quanto mais o coeficiente se aproximar do zero,
menor será o poder explicativo, ou, o que é o tanto, a área entre a curva e a linha que passa
mesmo, maior será a variação residual como a 45o no gráfico. O índice ou coeficiente de Gini
uma proporção do total; e quanto mais se apro- se aproximaria de 1, refletindo o aumento da
ximar de 1, maior será o seu poder explicativo. concentração. Se a distribuição da renda, da pro-
priedade da terra, do valor da produção indus-
COEFICIENTE DE MORTALIDADE. Veja Mor- trial etc. fosse igualitária, a curva de Lorenz coin-
talidade. cidiria com a linha de 45o e o coeficiente de Gini
seria igual ou muito próximo de zero. Os valores
COEFICIENTE DE MORTALIDADE INFAN-
do coeficiente de Gini variam, portanto, entre 1
TIL. É o coeficiente demográfico (de uma socie-
e zero; quanto mais próximo de 1 for o coefi-
dade e relativo a um determinado período) que
ciente, maior será a concentração na distribuição
se obtém dividindo-se o total de óbitos de me-
de qualquer variável, acontecendo o contrário à
nores de um ano de idade (excluídos os nascidos
mortos) pelo total de nascidos vivos; o resultado medida que esse coeficiente se aproxima de zero.
é geralmente multiplicado por mil ou por 10 mil. Por exemplo, em 1972 o índice de Gini para a
distribuição da renda no Brasil alcançou 0,622,
COEFICIENTE PEARSON DE ASSIMETRIA. e o da propriedade da terra, em 1984, atingiu
Veja Medidas de Assimetria. 0,839. Veja também Lorenz, Curva de.
107 COLETIVISMO

COEFICIENTE DE NATALIDADE. Veja Nata- Incrementou a atividade comercial para superar


lidade. os mercados holandeses e criou várias compa-
nhias de comércio, como a das Índias Ocidentais
COETERIS PARIBUS. Veja Caeteris Paribus. e das Índias Orientais; aumentou os impostos
COFIE — Comissão de Fusão e Incorporação sobre artigos importados e construiu numerosas
de Empresas. Entidade vinculada ao Ministério vias de comunicação. Criou privilégios para vá-
da Economia e criada com a finalidade de esti- rias empresas privadas e fundou fábricas esta-
mular a formação de conglomerados industriais tais. Ministro da Marinha desde 1668, levou à
pela fusão de empresas. A Cofie propõe-se tam- frente a transformação da França numa grande
bém a incentivar a abertura de capital das pe- potência naval. Incentivou ainda as ciências e
quenas e médias empresas, na tentativa de for- as artes. Escreveu Mémoires sur les Affaires de Fi-
talecer o mercado de ações. nance de France (Memórias sobre os Assuntos Fi-
nanceiros da França), 1663. Veja também Mer-
COIVARA. Sistema de preparação do solo, mui- cantilismo.
to usado no interior do Brasil, desde os primór-
dios da colonização, especialmente nas áreas de COLBERTISMO. Denominação dada à política
fronteiras agrícolas, e que consiste em juntar em mercantilista levada a cabo na França durante
pilhas os galhos e outras partes das árvores da o período em que Jean-Baptiste Colbert (1619-
floresta queimada e atear-lhes fogo outra vez. 1683) foi ministro das Finanças de Luís XIV. Veja
A coivara era utilizada pelos índios, e, realizada também Colbert, Jean-Baptiste; Mercantilismo.
em pequena escala, não significava uma ameaça
à fertilidade geral das terras e ao equilíbrio eco- COLCÓS. Cooperativa de produção agrícola exis-
lógico das matas. Mas sendo utilizada em gran- tente na ex-União Soviética, cuja forma de fun-
de escala, como acontece atualmente, causa da- cionamento era a seguinte: os membros traba-
nos ecológicos irreversíveis. lhavam em uma gleba da qual eram co-proprie-
tários. Com a reforma agrária de 1918, todas as
COLATERAL. Título (security) dado ao empres- terras passaram à propriedade do Estado, que
tador por quem toma emprestado, como penhor confiou parte delas a essas cooperativas, com
pelo futuro pagamento do empréstimo. O em- usufruto perpétuo e gratuito. Cada colcós era
prestador torna-se assim credor assegurado. No administrado por um Conselho eleito por todos
caso de default, pode utilizar esse título (ven- os membros e que se incumbia de distribuir en-
dendo-o no mercado, por exemplo) como paga- tre eles a renda líquida (não reinvestida), de
mento da dívida, e no caso de o valor do título acordo com a cota de trabalho de cada um. Cada
colateral não ser suficiente, pode agir imediata- família tinha o direito de usufruir de pequena
mente como credor cujo devedor se tornou ina- área de terra, anexa à residência. O trabalho era
dimplente. Qualquer propriedade que tenha um altamente mecanizado, com o apoio das Esta-
valor relativamente estável no mercado e con- ções de Máquinas e Tratores, que atendiam, cada
siderável liquidez pode ser utilizada como co- uma, a grupos de dez a vinte colcoses. Na dé-
lateral. No entanto, o mais comum são títulos cada de 70, havia cerca de 40 mil colcoses, ocu-
da dívida pública de economias desenvolvidas, pando uma área total de 104 milhões de hectares.
ações de grandes empresas, imóveis e outros. Veja também Sovkhoz.
Título colateral é alguma coisa de valor — ge-
ralmente títulos —, facilmente convertida em di- COLCOZE. Veja Colcós.
nheiro, depositada como uma garantia junto ao
credor para assegurar o pagamento de um em- COLETIVA, Fazenda. Veja Colcós; Sovkhoz.
préstimo. Geralmente (mas não em todos os ca-
COLETIVISMO. Sistema político-social basea-
sos), seu valor é superior àquele do empréstimo.
do no controle da atividade econômica pela co-
Se o devedor for incapaz de pagar a dívida na
letividade ou pelo Estado. Os coletivistas negam
data estabelecida, o credor estará liberado para
a propriedade privada dos meios de produção
vender o “colateral” e recuperar o dinheiro em-
e afirmam que só vivendo em comunidade e a
prestado com o produto dessa venda. Veja tam-
ela se submetendo é que os indivíduos podem
bém Default.
ser efetivamente livres e realizar todas as apti-
COLBERT, Jean-Baptiste (1619-1683). Estadista dões pessoais. De inspiração socialista, foi en-
francês que, como ministro das Finanças de Luís fatizado sobretudo pelas correntes anarquistas,
XIV, foi o principal responsável pela aplicação cujo coletivismo tem como base a autogestão po-
da política mercantilista. Começou por obrigar lítica e econômica a partir dos locais de trabalho.
os homens de negócios a devolver parte de seus O coletivismo de inspiração marxista enfatiza o
lucros ao Tesouro Nacional. Empreendeu pro- papel transitório do Estado como instrumento
funda reforma fiscal, acabando com o confuso de planificação e coordenação econômica. Veja
sistema de taxações herdado da Idade Média. também Anarquismo; Comunismo.
COLIGADAS 108

COLIGADAS. Veja Empresas Coligadas. COLÔNIA CECÍLIA. Comunidade agrícola de


inspiração anarquista criada em 1890 no muni-
COLINEARIDADE. Termo que, em estatística, cípio de Palmeira (Paraná). Seu principal fun-
designa uma elevada correlação entre duas va- dador foi o agrônomo italiano Giovanni Rossi,
riáveis, isto é, ambas têm a mesma trajetória li- que conseguiu do imperador dom Pedro II a doa-
near. Numa análise de regressão, duas variáveis ção das terras para a organização da colônia. Che-
independentes podem estar altamente correla- gou a agrupar cerca de trezentas pessoas e existiu
cionadas, mantendo entre si elevada colineari- até 1893. A experiência foi narrada por Rossi em
dade, de tal forma que não é possível estabelecer Quaderni della Libertà, revista publicada em São
o efeito de cada uma delas sobre a variável de- Paulo em 1932. Veja também Anarquismo.
pendente. Por exemplo, a elevação das vendas
de um produto (variável dependente) pode ter COLONIAL, Pacto. Veja Pacto Colonial.
sido influenciada por um aumento de salários
e pela redução das taxas de juros, não sendo COLONIALISMO. Sistema de relações econô-
possível distinguir no curto prazo qual das va- micas, políticas, sociais e culturais que tornam
riáveis independentes teve a influência maior. dependente uma sociedade (a colônia) em rela-
Nesse caso, pode-se utilizar apenas a variável ção a outra (a metrópole). Pressupõe assim a
independente julgada a mais importante (o au- perda da autonomia de territórios colonizados,
mento de salários, no caso), ou combinar as duas sob ocupação militar e totalmente subordinados
variáveis independentes numa só, ou ainda es- à metrópole. Nesse sentido, o colonialismo apre-
colher uma terceira que substitua as duas pri- senta-se como um fenômeno resultante da Re-
meiras. Quando existe um grau de correlação volução Comercial européia (séculos XV e XVI),
muito elevado, com mais de duas variáveis, o que atingiu o apogeu no século XIX, prolongan-
fenômeno é denominado multicolinearidade. Veja do-se até os anos imediatamente posteriores à
também Análise de Regressão; Correlação. Segunda Guerra Mundial. Durante esse período,
utilizando formas diferentes de dominação, Por-
COLLAR. Garantia de taxas de juros máximas tugal, Espanha, Holanda, Bélgica, Alemanha,
e mínimas registradas em contratos para prote- França e Inglaterra construíram seus impérios
ger tanto o tomador de empréstimo quanto o coloniais. No primeiro momento (séculos XVI e
emprestador. O sistema consiste num “piso” XVII), a expansão colonial correspondeu à ne-
(floor) e num “teto” (cap). O piso (floor) garante cessidade de conquistar fontes fornecedoras de
ao credor que as taxas de juros não cairão mais produtos (metais preciosos, especiarias, açúcar
além de um determinado ponto; o teto (cap) ga- e outros produtos tropicais) indispensáveis ao
rante ao tomador que as taxas de juros não ul- comércio europeu em desenvolvimento. Assim
trapassarão um determinado ponto superior. se deu a colonização da América, da Ásia e a
primeira colonização da África. A segunda fase
COLLATERAL. Veja Colateral. do colonialismo (segunda metade do século XIX)
diz respeito às transformações verificadas no
COLLATERAL TRUSTS BONDS. Expressão em âmbito do modo de produção capitalista. A pro-
inglês que significa obrigações ou títulos garan- dução em larga escala levou à exportação de
tidos pelo penhor de outras obrigações ou títu- capitais, à conquista de novos mercados consu-
los. midores e ao controle de fontes fornecedoras de
matérias-primas: petróleo, borracha, minérios e
COLOCAÇÃO DIRETA. Situação na qual uma produtos tropicais. Deu-se então a nova partilha
empresa aumenta seu capital lançando novas da África, a penetração na China e a dominação
ações, e os únicos credenciados a adquiri-las são inglesa na Índia — e a hegemonia das metró-
aqueles que já possuem ações dessa empresa, e poles do capitalismo sobre a vida econômica,
têm o direito de adquiri-las em proporção às política e cultural de países de passado colonial
que já possuem. que, depois da independência, continuavam
como fonte de produtos primários para o mer-
COLOCAÇÃO INDIRETA. Situação na qual uma cado mundial. Veja também Capitalismo; Co-
organização financeira subscreve a totalidade lonização; Dependência; Imperialismo.
das emissões de novas ações de uma empresa
que aumenta seu capital para colocá-las ao pú- COLONIZAÇÃO. Processo de ocupação efetiva
blico em geral, no mercado secundário. e prolongada de determinado território por meio
de atividades agrícolas, pastoris, extrativas e co-
COLÓN. Unidade monetária da Costa Rica. merciais. Um dos primeiros exemplos históricos
Submúltiplo: cent. de expansão colonizadora foi o das cidades-es-
tados gregas, sobretudo Atenas, cujos cidadãos
COLÓN SALVADORENHO. Unidade mone- se estabeleceram em outros pontos do mar Egeu,
tária de El Salvador. Submúltiplo: centavo. Jônico, Adriático e Mediterrâneo, levando para
109 COMERCIALIZAÇÃO

aqueles locais sua cultura e estrutura social. Mo- COMANDO NUMÉRICO. Processo no qual a
dernamente, o conceito de colonização liga-se atividade de uma máquina ou equipamento é
ao sistema de dominação colonialista imposto realizada mediante informações de caráter nu-
pela Europa a vastas regiões da Ásia, África e mérico.
América Latina, no decorrer da Revolução Co-
mercial (séculos XV e XVI) e da Revolução In- COMBINED LEVERAGE EFFECT. Expressão
dustrial (séculos XVIII e XIX). Foi no contexto em inglês que significa alavancagem combinada
da Revolução Comercial que se desenvolveu a — financeira e operacional —, que indica o efeito
colonização portuguesa no Brasil, com a explo- sobre o rendimento por ação de determinada
ração do pau-brasil, a economia açucareira, a variação nas vendas.
cotonicultura e a mineração. O processo de co- COMECON — Conselho Econômico de Assis-
lonização pode ocorrer nos limites do território tência Mútua. Órgão de integração econômica
do próprio país, levando ao povoamento e à in- do bloco socialista. Criado em 1949 pela ex-
corporação econômica de uma região: isso ocor- União Soviética, Bulgária, Hungria, Polônia, Ro-
reu com vastas regiões da União Soviética e do mênia e Tchecoslováquia, teve a admissão pos-
Canadá; no Brasil, processa-se ainda a ocupação terior da Albânia (desde 1949 e desligada em
do Centro-oeste e da Amazônia. Veja também 1961), Alemanha Oriental (1950), Mongólia
Colonialismo. (1962), Cuba (1972) e Vietnã (1978). A ex-Iugos-
lávia tinha participação parcial desde 1964, e,
COLONO. Trabalhador livre, empregado na agri-
como observadores, participavam Afeganistão,
cultura cafeeira paulista a partir da extinção da
Angola, Etiópia, Laos, Moçambique e República
escravidão. O colonato foi também a relação de Popular do Iêmen. O objetivo do Comecon era
produção típica no período de implantação da a integração planificada das economias nacio-
cultura de café no norte do Paraná e marcou nais, associadas segundo os princípios de uma
sua presença na zona rural desses dois Estados “divisão socialista do trabalho”: cada país-mem-
até a década de 60. A partir de então, os colonos bro iria se especializar num ramo da economia,
foram sendo substituídos por trabalhadores as- conforme seus recursos naturais e seu nível tec-
salariados, sobretudo os chamados bóias-frias. nológico. Isso obrigava certos países a renunciar
O contrato entre o colono e o proprietário do a um desenvolvimento mais abrangente, tornan-
cafezal levava em conta, além do trabalho indi- do-os dependentes da União Soviética em seto-
vidual do colono, a força de trabalho de toda a res-chaves como o de bens de capital, o que le-
família, incluindo as crianças. Trabalhador sol- vou a Romênia a insubordinar-se em relação às
teiro não era aceito como colono. Como paga- determinações impostas pela direção do Come-
mento para cuidar do cafezal — em geral 5 mil con. Havia dois organismos financeiros ligados
pés de café —, o colono recebia um pagamento ao Comecon: o Banco Internacional para Coo-
em dinheiro, casa e um lote de terra, onde plan- peração Econômica, fundado em 1963, e o Banco
tava milho, feijão, arroz, hortaliças e criava ani- de Investimentos Internacionais, fundado em
mais. Segundo Thomas Holloway, no início do 1970. O Comecon tinha sede em Moscou. Com
século XX cerca de 80% dos ganhos do colono a extinção da União Soviética, o Comecon foi
eram provenientes de rendas não salariais. Isto também extinto em 1991.
é, consistiam na remuneração representada pela COMERCIALIZAÇÃO. Processo intermediário
casa e pelo que lhe rendiam os gêneros produ- entre o produtor e o consumidor. Consiste em
zidos na terra cedida pelo dono do cafezal. Parte colocar os bens e serviços produzidos à dispo-
dessa produção era vendida nas pequenas cida- sição do consumidor, na forma, tempo e local
des do Interior paulista, possibilitando ao colono em que ele esteja disposto a adquiri-los. Atual-
certa acumulação. Com esses recursos ele podia mente, a comercialização se realiza com a apli-
adquirir uma gleba de terra e tornar-se um pe- cação das técnicas e dos processos da mercado-
queno proprietário. Os primeiros contingentes logia (ou marketing), que estudam o mercado
de colonos eram formados de imigrantes euro- para descobrir quais os produtos e serviços que
peus, sobretudo italianos, que vieram para o ele demanda e em quais quantidades (mediante
Brasil no final do século XIX e início do século pesquisas de mercado), e orienta os testes de
XX. Formaram o primeiro mercado consumidor comercialização (para avaliar a aceitação do pro-
potencial de artigos produzidos no Brasil, con- duto), assim como as atividades de promoção
tribuindo decisivamente para o crescimento das e distribuição. A comercialização deve adequar-
atividades fabris em São Paulo. Veja também se às características do produto e ao mercado a
Ciclo do Café. que ele se destina. Alguns tipos de bens, como
máquinas e equipamentos, exigem a venda di-
COMANDITA, Sociedade em. Veja Sociedade reta do produtor ao consumidor, enquanto os
em Comandita. produtos chamados de consumo de massa de-
COMÉRCIO 110

pendem de outro tipo de comercialização. Há fenícios, foram alcançadas maiores distâncias e


produtos, como os alimentos básicos, cuja co- diversificaram-se as mercadorias. Até o século
mercialização é mais simples. A estrutura da co- VIII a.C., quando os gregos introduziram a moe-
mercialização sofreu várias mudanças a partir da nas relações de troca, o comércio era feito
de 1945, modernizando-se, segundo a experiên- mediante o escambo, isto é, com a simples troca
cia dos Estados Unidos e de outros países in- de uma mercadoria por outra. A introdução da
dustrializados que desenvolveram o marketing. moeda ampliou consideravelmente a circulação
A venda tornou-se mais direta e impessoal, me- dos bens. Desde a Antiguidade até o início da
diante o uso do correio (por mala direta), anún- Idade Moderna, os artigos de luxo e ornamen-
cios em revistas etc., e em massa, com o surgi- tação constituíam a maior parte dos bens co-
mento dos supermercados, grandes lojas de de- merciáveis. No fim do século XVIII, quando
partamentos e shopping centers. Veja também ocorreu a Revolução Industrial na Inglaterra, as
Consumo; Mercadologia. atividades comerciais passaram a envolver em
maior escala mercadorias destinadas ao consu-
COMÉRCIO. Troca de valores ou de produtos, mo das populações e matérias-primas para as
visando ao lucro. Os atos de comércio promo- indústrias. Ao mesmo tempo, o interior dos con-
vem a transferência de mercadorias entre os in- tinentes foi aberto ao comércio pela construção
divíduos, deslocando-os de regiões onde são de ferrovias. No século XX, o desenvolvimento
abundantes para outras onde não existem em tecnológico permitiu grande expansão e aprimo-
quantidade suficiente para satisfazer o consumo. ramento extremo dos mecanismos de distribui-
Além de sua função econômica fundamental, o ção comercial. A estrutura de comercialização
comércio estimula a expansão dos meios de co- passou a abranger todo tipo de mercadoria, e
municação e transporte e o intercâmbio cultural foram criados grandes centros comerciais dis-
entre as comunidades. Ao cumprir importante tribuidores (shopping centers). Nas sociedades de-
função social, qual seja a de possibilitar a troca senvolvidas, o comércio é hoje uma atividade
de mercadorias, estimulando em conseqüência preponderante, que absorve grandes parcelas da
a produção e o consumo, o comércio torna-se população economicamente ativa e contribui de
mais ou menos necessário de acordo com a di- modo significativo para o produto nacional. Nas
versificação da estrutura produtiva de uma so- regiões mais desenvolvidas do Brasil, como o
ciedade: quanto mais aprofundada for a divisão Estado de São Paulo, onde o nível de urbaniza-
do trabalho social, mais necessária será a função ção e os mercados são maiores, a participação
mediadora do comércio entre os grupos sociais. é ainda mais acentuada, chegando a absorver
O comércio pode ser varejista, quando vende mais de 10% da força de trabalho local. Veja
as mercadorias diretamente ao consumidor, ou também Comercialização; Consumo; Distribui-
atacadista, quando compra do produtor para ção; Escambo; Mercadologia; Moeda; Venda.
vender aos varejistas. O comércio atacadista, em
COMÉRCIO A VAREJO. Veja Varejo.
geral mais volumoso e menos diversificado, ad-
quire a mercadoria em grandes quantidades COMÉRCIO ATACADISTA. Veja Atacado.
para revendê-la em partidas menores e a preços
mais elevados. Se, por um lado, a presença do COMÉRCIO BILATERAL. Veja Bilateralismo.
atacadista onera o preço a ser pago pelo consu-
COMÉRCIO INTERNACIONAL. Intercâmbio
midor, por outro torna possível que os produ-
de bens e serviços entre países, resultante de
tores escoem rapidamente o produto sem ter de suas especializações na divisão internacional do
negociar diretamente e com grande número de trabalho. Seu desenvolvimento depende basica-
pequenos e médios varejistas. Em relação ao ata- mente do nível dos termos de intercâmbio (ou
cadista, o varejista dispõe de maior flexibilidade relações de troca), que se obtém comparando o
para decidir quanto à dimensão do estabeleci- poder aquisitivo de dois países que mantenham
mento, volume das transações, diversificação comércio entre si. Quando um país precisa ex-
dos produtos e práticas de atendimento. Desde portar maior quantidade de determinada mer-
seu início, o comércio está ligado ao desenvol- cadoria para importar a mesma quantidade de
vimento das técnicas de transporte e comunica- bens, diz-se que há uma deterioração de suas
ções. A primeira forma de comércio de grande relações de troca. O comércio internacional teve
distância foi a caravana, envolvendo a transação um primeiro grande impulso com a utilização
de produtos simples como tecidos, corantes e da via marítima pelos fenícios. Na Antiguidade,
objetos de metal e de cerâmica, entre as cidades sucederam-se como centros do comércio mun-
e aldeias do Egito e da Mesopotâmia. As cara- dial as cidades de Tiro e Sídon, sob predomínio
vanas eram agrupamentos de mercadores que fenício, Atenas, sob o grego, e Alexandria, no
percorriam juntos as rotas nos desertos, tendo período helenístico. Sob o Império Romano, a
os oásis como entrepostos. Mais tarde, com o base econômica era a troca de produtos entre
desenvolvimento do comércio marítimo pelos as regiões banhadas pelo Mediterrâneo. Com a
111 COMÉRCIO MUDO

decadência romana e as invasões bárbaras re- denunciado como conveniente apenas às nações
duzindo o volume do comércio na península Itá- industrializadas, pois na prática impedia que os
lica, o centro comercial se transfere gradativa- outros países se industrializassem. Em contra-
mente para o Mediterrâneo oriental, que se cons- posição, formulou-se a doutrina do protecionis-
titui em entreposto de ligação entre a Europa e mo, preconizando barreiras alfandegárias contra
a Ásia. Na época das Cruzadas, os empórios a importação de mercadorias que competissem
bizantinos perdem a supremacia para os novos com as indústrias passíveis de serem desenvol-
centros comerciais de Veneza e Gênova, enquan- vidas no país. O protecionismo foi posto em prá-
to algumas cidades da Alemanha e dos Países tica em primeiro lugar pelos Estados Unidos e
Baixos se organizam formando a Liga Hanseá- pela Alemanha, que disputavam os mercados
tica, que procura obter franquias em outros paí- de produtos industriais com a Grã-Bretanha,
ses para a colocação de suas mercadorias. Quan- sendo seguidos, gradualmente, pela maioria dos
do a queda de Constantinopla nas mãos do Im- países. A acirrada disputa de mercados culmi-
pério Otomano (1453) interrompe as correntes nou com a Primeira Guerra Mundial, durante
comerciais entre a Europa e a Ásia, novas rotas a qual se desorganizou o comércio internacional
marítimas são descobertas e utilizadas pelos eu- com o bloqueio das linhas industriais de nume-
ropeus. Nessa tarefa, Portugal e Espanha des- rosos países produtores de matérias-primas. Es-
cobrem novas terras e os produtos tropicais da tes aproveitaram a oportunidade para se indus-
América engrossam o tráfico mundial de mer- trializar. A desorientação do comércio interna-
cadorias. O comércio sai do Mediterrâneo para cional persistiu durante o período que se seguiu
os oceanos: os grandes descobrimentos maríti- ao conflito, predominando uma acentuada ten-
mos completavam o quadro iniciado com o apa-
dência ao controle governamental das ativida-
recimento dos Estados Nacionais na Europa,
des mercantis. As tentativas de restaurar as li-
configurando um comércio realmente interna-
berdades comerciais de antes da guerra fracas-
cional. Desde que se traçaram fronteiras entre
saram com a crise de 1929. A disseminação da
as nações, criaram-se barreiras ao fluxo de mer-
indústria em diversos países da Europa e no
cadorias, que passa a ser fiscalizado e regula-
mentado segundo políticas comerciais próprias. Japão, constituindo ameaça ao monopólio mun-
A primeira doutrina a definir uma política co- dial exercido pelas grandes potências, causou
mercial para os Estados Nacionais foi o mercan- nova retração das atividades comerciais. Nesse
tilismo, que prevaleceu na Europa do início do contexto, eclodiu a Segunda Guerra Mundial,
século XVI ao final do XVIII. Essa doutrina de- de que resultou nova redistribuição dos merca-
fendia, como objetivo primordial da política na- dos entre os países vitoriosos. Após a guerra,
cional, o máximo afluxo de ouro e prata ao país, numa tentativa de desobstruir as vias de inter-
pois sua retenção seria o meio mais adequado câmbio comercial, concluiu-se em Genebra o
de acumular riqueza. Para isso, praticava-se Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT).
uma política comercial que estimulasse as ex- Os países-membros negociam periodicamente
portações e restringisse as importações, de modo acordos de redução mútua das barreiras tarifá-
a garantir o maior saldo favorável possível na rias. Embora o efeito geral dessas reduções possa
balança comercial. Daí a tendência dos países ser interpretado como uma volta ao livre-cam-
mais adiantados a importar somente o essencial, bismo, na verdade a expansão do comércio in-
numa tentativa de auto-suficiência, e a mono- ternacional tem ocorrido sob cuidadoso controle
polizar certos fluxos de mercadorias para au- dos governos. São numerosos os acordos inter-
mentar as exportações. Esse monopólio era man- nacionais de mercadorias, buscando conciliar os
tido à força e subordinava totalmente os inte- interesses dos países compradores e vendedores
resses das colônias aos da metrópole, que mo- para evitar as bruscas oscilações de preços. Ou-
nopolizava o comércio exterior de suas depen- tro incremento ao comércio internacional tem
dências. Com o início da Revolução Industrial, sido a constituição dos blocos de países (como
no fim do século XVIII, a Inglaterra, encontran- o Mercado Comum Europeu — MCE) integran-
do-se numa situação em que suas mercadorias do seus mercados e, às vezes, suas economias.
podiam competir vantajosamente com as de- Desde meados da década de 70, com a crise eco-
mais, passou a opor ao mercantilismo o livre- nômica internacional evidenciada pelo grande
cambismo. Essa doutrina, que num contexto li- aumento nos preços do petróleo, surgiu um
beral mais amplo preconiza o mínimo de inter- novo surto de protecionismo, embora, formal-
ferência governamental, nega sentido econômi- mente, se conservassem os princípios da liber-
co às fronteiras nacionais e propõe ampla liber- dade de comércio. Veja também Custos Com-
dade de comércio. Tal liberdade propiciaria a parativos; Exportação; GATT; Importação; Tro-
especialização internacional e facilitaria o desen- ca, Relações de.
volvimento da concorrência, permitindo a am-
pliação dos mercados. Largamente difundido no COMÉRCIO MUDO. Forma primitiva de troca
século XIX, o livre-cambismo foi desde o início realizada sem a intervenção de negociações orais
COMÉRCIO MULTILATERAL 112

e pela avaliação silenciosa que cada um faz do ciel Filho. Todos esses técnicos foram transferi-
produto pertencente ao outro. dos para o BNDE (criado em 1952) com a dis-
solução da Comissão Mista em 1953.
COMÉRCIO MULTILATERAL. Veja Multila-
teralismo. COMISSÃO NACIONAL DE POLÍTICA AGRÁ-
RIA. Criado em 1951 e instalado no ano seguin-
COMISSÃO. Porcentagem do valor de uma te, este organismo surgiu num momento do go-
transação comercial, paga sempre que há um verno Getúlio Vargas em que as questões eco-
intermediário, a título de honorários por seus nômicas (abastecimento de alimentos, produti-
serviços. Está presente em todas as negociações vidade) coincidiam com as sociais e políticas (re-
realizadas em Bolsas de Valores e de Mercado- forma agrária, extensão da previdência e de po-
rias e nas negociações imobiliárias que envol- líticas salariais ao homem do campo, coopera-
vem corretores. Por isso, recebe também o nome tivismo, regulamentação das relações de traba-
de corretagem. lho etc.). Embora as propostas dessa comissão
tenham sido bloqueadas pelos proprietários ru-
COMISSÃO DE FÁBRICA. Forma de organi- rais, o grupo de técnicos que se envolveu com
zação dos trabalhadores que reúne represen- esses problemas reuniu informações e interpre-
tantes dos funcionários de uma mesma empresa. tações que contribuíram para o conhecimento
Sua atuação desenvolve-se em torno das reivin- da realidade agrária brasileira. Dela fizeram par-
dicações concretas surgidas no local de trabalho: te Luís Simões Lopes, Josué de Castro, Antônio
aumento de salários, melhoria das condições de Arruda Câmara, José Arthur Rios, Carlos Me-
trabalho, fixação da jornada de trabalho, con- deiros da Silva, Hermes Lima, Raul Cardoso de
tratação e dispensa de empregados, alimentação, Melo Filho, Rui Miller Paiva e outros.
transporte e outras. As comissões de fábrica sur-
giram na Europa no século XIX. Reprimidas na COMMERCIAL PAPERS. Expressão em inglês
época, atualmente constituem um importante que significa títulos que servem para a realiza-
mecanismo das relações trabalhistas nos países ção de empréstimos entre empresas mediadas
europeus. No Brasil, as primeiras comissões de por um banco. Isto é, são títulos de crédito emi-
tidos por uma empresa, representativos de sua
fábrica surgiram após 1945, mas foi a partir das
dívida perante o credor, utilizados para a cap-
greves operárias de 1978 que elas começaram a
tação de recursos. São usados no Brasil para su-
ser vistas nos meios sindicais e em certos setores
perar os obstáculos impostos pelas autoridades
do empresariado como instrumento básico das
monetárias à concessão de crédito pelos bancos
reivindicações dos trabalhadores e passaram a ao setor privado da economia. Veja também
ser implantadas em várias empresas. Nota Promissória.
COMISSÃO DE PLANEJAMENTO ECONÔ- COMMITMENT FEE. Expressão em inglês que
MICO. Comissão idealizada por Eugênio Gudin significa a taxa anual cobrada por bancos em-
em 1944 para contrabalançar as propostas do prestadores a título de reserva, sempre que os
Conselho Nacional de Política Industrial e Co- recursos liberados e postos à disposição do to-
mercial, liderado por Roberto Simonsen, e para mador não são levantados ou utilizados dentro
preparar a economia para os tempos de paz. de determinado prazo ou condições. Geralmen-
Com a deposição de Getúlio Vargas no ano se- te, esses empréstimos e/ou financiamentos são
guinte, a Comissão foi extinta, embora o plano os que requerem uma contrapartida do tomador,
ferroviário que preparou tenha sido adotado em e este não dispõe desta contrapartida em tempo
1946 e reformulado no Plano Salte. hábil. Em geral, são empréstimos feitos por ban-
cos oficiais internacionais ao setor público, seja
COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRI- da administração direta, seja da indireta, como
CA LATINA. Veja Cepal. tem acontecido no Brasil com os empréstimos
COMISSÃO MISTA BRASIL-EUA. Organis- do Banco Mundial à União, ou aos Estados. De-
mo criado em 1950 e instalado em 1951, tinha pendendo do montante dos recursos liberados,
por objetivo estudar os problemas básicos da o commitment fee pode alcançar níveis muito ex-
economia brasileira e propor projetos para o de- pressivos, isto é, o tomador paga multa por não
senvolvimento do país, cujo financiamento seria ter utilizado o empréstimo, como é o caso dos
realizado por bancos dos Estados Unidos. A Direitos Especiais de Saque (DES) ou da Euro-
prioridade seria dada aos setores de energia, pean Currency Unit (ECU). Veja também DES;
transporte e agricultura, considerados pontos ECU; Moeda Escritural.
críticos para o desenvolvimento econômico do COMMODITIES. Veja Commodity.
país. Participaram da comissão Roberto de Oli-
veira Campos, Ari Torres, Glycon de Paiva, Lu- COMMODITY (Commodities). O termo signifi-
cas Lopes, Valentim Rebouças e José Soares Ma- ca literalmente “mercadoria” em inglês. Nas re-
113 COMPANHIAS DE COMÉRCIO

lações comerciais internacionais, o termo desig- COMPANHIA HOLANDESA DAS ÍNDIAS


na um tipo particular de mercadoria em estado OCIDENTAIS. Sociedade por ações formada
bruto ou produto primário de importância co- em 1621 com capitais de mercadores e apoiada
mercial, como é o caso do café, do chá, da lã, pelo governo das Províncias Unidas dos Países
do algodão, da juta, do estanho, do cobre etc. Baixos (Holanda). Tinha o monopólio do comér-
Alguns centros se notabilizaram como impor- cio holandês com as Américas e a África, além
tantes mercados desse produtos (commodity ex- da prerrogativa de conquistar territórios e ad-
change). Londres, pela tradição colonial e comer- ministrá-los. Foi a serviço dessa companhia que
cial britânica, é um dos mais antigos centros de os holandeses ocuparam o Nordeste brasileiro
compra e venda de commodities, grande parte na primeira metade do século XVII. Sob sua
das quais nem sequer passa por seu porto. Veja orientação também se estabeleceram colônias na
também Mercado de Commodities. América do Norte, nas Antilhas e na África, de-
pois perdidas para Portugal, Espanha e Ingla-
COMPAGNIE DE LA LOUISIANE ET DE terra. Dedicada desde 1675 ao tráfico de escra-
L’OCCIDENT. Veja Mississippi Bubble. vos, a companhia foi extinta em 1794, depois
de ser encampada pelo governo holandês.
COMPANHIA. Veja Sociedade Anônima.
COMPANHIA HOLANDESA DAS ÍNDIAS
COMPANHIA DE INVESTIMENTO. Empre- ORIENTAIS. Sociedade por ações fundada em
sa comercial constituída com a finalidade de in- 1602 por um grupo de banqueiros e mercadores
vestir principalmente na compra de participa- holandeses com o apoio do governo. Monopo-
ções em outras empresas, sem procurar conse- lizava o comércio com o Oriente, conquistava
guir o controle delas. Em geral, são sociedades territórios e administrava-os em nome do go-
anônimas que procuram atrair capital com a verno holandês. Expulsou os portugueses de vá-
venda de suas ações ao público. Apesar do re- rios pontos da Ásia, dominando praticamente
lativo risco, e por isso mesmo, oferecem boa ren- toda a Indonésia, as ilhas Molucas e o Ceilão,
de onde levava para a Europa cravo, canela, noz-
tabilidade.
moscada, chá, café, metais e tecidos. Teve grande
COMPANHIA DO MISSISSÍPI. Veja Missis- prosperidade até meados do século XVIII, quan-
sippi Bubble. do os dividendos pagos aos acionistas chegavam
a 50%. Entrou em decadência a partir de 1750
COMPANHIA GERAL DO COMÉRCIO DO devido à concorrência de outras nações na ex-
BRASIL. Organização comercial e militar da Co- pansão colonial, e foi extinta em 1798.
roa portuguesa, criada em 10/12/1949. Operava COMPANHIAS DAS ÍNDIAS ORIENTAIS.
frotas de guerra para proteger os navios portu- Companhias comerciais de capital privado, apoi-
gueses dos ataques da marinha holandesa. De- adas por governos europeus do século XVII e
tinha também o monopólio da exportação do voltadas para a comercialização monopolista
pau-brasil e do comércio de azeite, farinha de dos produtos trazidos do Oriente (Índia, Indo-
trigo, bacalhau e vinho trazidos para a colônia. nésia, Molucas, Ceilão, China) após a descoberta
Responsável pela recuperação do comércio entre da rota marítima para as Índias por Vasco da
Brasil e Portugal, prejudicado pela presença ho- Gama. As companhias mais importantes foram
landesa no Nordeste brasileiro, tornou-se afinal a inglesa e a holandesa, mas todas competiam
deficitária e foi extinta em 1720. para a obtenção da hegemonia comercial da re-
gião e a conquista de territórios para a implan-
COMPANHIA GERAL DO GRÃO-PARÁ E tação de colônias. A Companhia Inglesa das Ín-
MARANHÃO. Instituição do comércio ultrama- dias Orientais (1600-1858) dominou o comércio
rino português criada em junho de 1755 por ini- com a Índia, além de controlar a quase totali-
ciativa do marquês de Pombal. Teve influência dade do território indiano. William Pitt restrin-
decisiva na valorização da economia do Norte giu seu poder em 1784, e, em 1858, suas prer-
do Brasil, onde introduziu a mão-de-obra escra- rogativas foram transferidas à Coroa inglesa.
va, vendendo 26 mil africanos a juros baixos e,
COMPANHIAS DE COMÉRCIO. Instituições
depois, sem juros. Financiou o cultivo de arroz típicas do período mercantilista, criadas por co-
branco e a comercialização das chamadas “dro- merciantes e governos europeus para controle
gas do sertão” (cacau, cravo, baunilha etc.). De- e incremento das relações comerciais entre a me-
tinha o monopólio comercial dos produtos da trópole e as colônias, ou ainda para a conquista
metrópole (vinhos, manteiga, azeite etc.), sendo e administração de territórios coloniais. Organi-
por isso muito combatida pelos comerciantes da zadas com objetivos monopolistas, constituíam
colônia. Foi dissolvida por dona Maria I, em 1777, uma versão atualizada das antigas associações
ao terminar seu prazo legal de funcionamento. de mercadores medievais, como a Liga Hanseá-
COMPENSAÇÃO 114

tica, e recebiam dos monarcas europeus o pri- assumem posição crítica em relação ao complexo
vilégio de exclusividade comercial com deter- industrial militar, esse sistema articula-se no
minada região colonial, o direito de administrá- sentido de impulsionar cada vez mais “a eco-
la e até mesmo de cobrar impostos. (Por isso, nomia armamentista permanente”. Além do as-
também ficaram conhecidas como “companhias pecto puramente político — segurança nacional
privilegiadas”.) Suas características variavam de —, a corrida armamentista não corresponde ape-
acordo com o país de origem: em Portugal, a nas aos interesses das companhias produtoras
Companhia Geral do Comércio do Brasil (1649) de armamentos, mas representa, em certa me-
teve o objetivo de defender o território colonial dida, uma saída para as crises cíclicas inerentes
e a frota comercial portuguesa contra piratas à economia capitalista. É uma tese polêmica e
franceses, ingleses e holandeses. De forma di- preocupou sobretudo teóricos marxistas, de
versa e para fins diferentes foram criadas as Rosa Luxemburgo a Ernest Mandel.
companhias Inglesa, Francesa e Holandesa das
Índias Orientais e Ocidentais. No Brasil colonial, COMPORTAMENTO. Em termos econômicos,
o modo como as pessoas procuram obter o bem-
a primeira sociedade comercial portuguesa foi
estar material individual e coletivo. O homem
a Companhia Geral do Comércio do Brasil
econômico procuraria reunir os recursos sob seu
(1649), inspirada pelo padre Antônio Vieira, con-
controle com o mínimo de esforço e redistribuí-
selheiro de dom João IV. Tinha o monopólio
los de um modo que proporcionasse o máximo
sobre o vinho, o azeite, a farinha, o bacalhau e
de satisfação, individual ou coletiva. A partir
a venda do pau-brasil, e podia proibir a fabri-
desse ponto de vista, o comportamento econô-
cação de produtos que concorressem com os da
mico consistiria no exercício da escolha entre
metrópole. Além dela, foram criadas a Compa-
vários bens e nas respectivas despesas que im-
nhia Geral do Grão-Pará e Maranhão (1755) e a
plicam sua aquisição. O equilíbrio seria alcan-
Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba çado quando o indivíduo não encontrasse meios
(1759), voltadas para o controle do comércio re- de mudar seu gasto entre um bem ou outro que
gional com Lisboa. As companhias privilegia- significasse uma melhoria em seu bem-estar ma-
das, em escala mundial, desapareceram defi- terial. Em contraposição ao racionalismo dos
nitivamente no século XIX, com o desenvolvi- economistas clássicos e sua abstração de “ho-
mento do capitalismo industrial, interessado mem econômico”, surgiu uma corrente econô-
em expandir a produção e penetrar em todos mica behaviorista que argumenta que os fenô-
os mercados. menos econômicos devem ser interpretados e
COMPENSAÇÃO. Em microeconomia, ajuste estudados como fenômenos de comportamento.
de contas entre duas pessoas ou empresas que Assim, para os behavioristas como Mitchell, a
sejam reciprocamente credoras e devedoras, me- economia deve deixar de “ser um sistema de
diante a apuração das diferenças. As contas de lógica pecuniária, um estudo mecânico dos equi-
compensação são registros de direitos e obriga- líbrios estáticos em situações inexistentes, para
tornar-se uma ciência da conduta humana”. Os
ções contingentes ou condicionais; por seu ca-
críticos da corrente behaviorista sustentam que,
ráter transitório e/ou hipotético, aparecem no
querendo tratar a economia com métodos e prin-
ativo e no passivo dos balanços em partidas do-
cípios da biologia e da psicologia, ela acabou
bradas, que têm origem simultânea, e são eli-
reduzindo o indivíduo e seu comportamento
minadas da mesma forma.
econômico a um feixe passivo que apenas rea-
COMPETIÇÃO. Veja Concorrência. giria aos estímulos do mundo exterior.

COMPLEXITY THEORY. Veja Teoria da Com- COMPOSIÇÃO ORGÂNICA DO CAPITAL.


plexidade. Conceito formulado por Karl Marx ao analisar
o processo de produção capitalista. Consiste na
COMPLEXO INDUSTRIAL MILITAR. Expres- relação entre o valor do capital constante e do
são cunhada pelo ex-presidente dos Estados capital variável, cujas variações se fazem sentir
Unidos D. Eisenhower, para designar a íntima na modificação da taxa de lucro. A composição
associação que existia entre as empresas produ- orgânica do capital resulta da relação de pro-
toras de material bélico, os altos comandos mi- porcionalidade existente entre o capital constan-
litares e líderes políticos norte-americanos. O te (c) e o capital variável (v), expressa na fórmula
complexo industrial militar representava, na de- Coc = c/ c+v. Ela será tanto mais elevada quanto
núncia feita por Eisenhower, o conjunto das for- maior for a parcela de capital constante em re-
ças sociais e políticas que detinham a hegemonia lação à parcela de capital variável. Se o capital
da sociedade norte-americana, influenciando de- variável aumentar, mas o capital constante apre-
cisivamente os rumos de sua vida política, eco- sentar um crescimento mais intenso (o que nor-
nômica e as relações com o exterior, sobretudo malmente acontece), ocorrerá uma elevação da
com a União Soviética. Para muitos analistas que composição orgânica do capital, com efeitos na
115 COMUNICAÇÃO

taxa de lucro. No mundo atual, a tendência das nhecimento do homem passaria por três estados:
empresas capitalistas orienta-se no sentido de o teológico ou fictício, o metafísico ou abstrato
elevar a composição orgânica do capital, com e, por último, o científico ou positivo. Com o
maior utilização de maquinarias e utensílios e positivismo, Comte tenta encontrar leis invariá-
um consumo maior de matérias-primas (elemen- veis do social e combate o negativismo dos ilu-
tos que compõem o capital constante); em con- ministas, que, segundo ele, estimulavam a re-
trapartida, vem ocorrendo uma queda relativa volução e a desordem social. A sociologia de
no volume de mão-de-obra utilizada (capital va- Comte tenta unir dois elementos antagônicos na
riável). Para compreender a relação da compo- realidade da época: a ordem e o progresso. As-
sição orgânica do capital com a taxa de lucro, sim, caberia ao sociólogo, como cientista, propor
devem ser consideradas a rotação de capital e soluções que dessem conta da harmonia social
a taxa de mais-valia. Tendo isso em vista, pode- (ordem) e de sua dinâmica (progresso), preco-
se afirmar que quanto mais alta for a composição nizando um desenvolvimento ordenado da so-
orgânica do capital, menor será a taxa de lucro, ciedade. Em sua obra, a sociedade supera o in-
e quanto mais alta for a mais-valia e mais intensa divíduo, as instituições surgem como um todo
a rotação do capital, maior será a taxa de lucro. harmonioso sem elementos contraditórios e as
Assim, pode-se dizer que a taxa de lucro varia mudanças decorreriam dos estudos dos cientis-
na razão direta da taxa de mais-valia e da ro- tas, que desprezariam as opiniões leigas. Escre-
tação do capital, e na razão inversa da compo- veu Curso de Filosofia Positiva (1830), Discurso so-
sição orgânica do capital. Veja também Mais- bre o Espírito Positivo (1844) e Sistema de Política
valia; Rotação do Capital. Positiva (1851-1854).

COMPOSITE COMMODITY THEOREM. Veja COMUNA. Comunidade de caráter igualitário,


Teorema da Mercadoria Composta. criada com objetivos econômicos e políticos. A
comuna popular é a unidade econômico-admi-
COMPUTADOR. Aparelho eletrônico dotado nistrativa característica da zona rural chinesa.
de esquemas lógicos de raciocínio e memória, A organização comunal na China processou-se
capaz de efetuar milhões de operações por se- a partir de 1958 como meio de promover a co-
gundo, utilizado nos mais variados campos da letivização da agricultura. A comuna é proprie-
ciência, da técnica e da administração. O pri- tária dos meios de produção (terra e instrumen-
meiro computador eletrônico, que usava válvu- tos de trabalho) e tem a seu cargo o governo
las eletrônicas em substituição aos relés eletro- local, a organização da produção, do abasteci-
mecânicos, mais lentos, foi o Electronic Nume- mento e dos serviços de educação e saúde. Na
rical Integrator and Calculator (Eniac), que con- Idade Média européia, comunas eram as cidades
tinha 18 mil válvulas e foi construído nos Esta- autônomas, particularmente na Itália e em Flan-
dos Unidos entre 1944 e 1946. A introdução de dres. Eram governadas por mercadores ricos e
transistores e circuitos integrados reduziu con- estavam voltadas para a defesa dos seus habi-
sideravelmente o tamanho dos aparelhos, pos- tantes (comerciantes e artesãos). A autonomia
sibilitando sua aplicação nos projetos espaciais. das comunas decorreu de freqüentes revoltas de
Computadores analógicos servem para medir e seus habitantes contra o senhor da cidade (bispo
comparar grandezas; os digitais, por sua vez, são ou barão), e também da compra desse direito,
utilizados para contar. Possuem seis partes prin- por meio de vultosas quantias. O termo “comu-
cipais: unidade de entrada, unidade central de na” também designa os governos revolucioná-
processamento, milhares de registros de memó- rios que se instalaram na França durante a re-
ria (que armazenam as informações), unidade volução de 1789 e 1871 (a Comuna de Paris).
aritmética e lógica (em que as operações são rea- Nesta última, as massas parisienses, influencia-
lizadas no sistema binário), unidade de controle das por ideais socialistas, sublevaram-se contra
e unidade de saída. Os dados codificados per- o governo conservador em decorrência da der-
correm os circuitos eletrônicos e chegam à uni- rota sofrida pela França na guerra com a Prússia.
dade de saída, onde são traduzidos para a lin-
guagem usual pelos compiladores. Esses empre- COMUNICAÇÃO. Do ponto de vista de orga-
gam diversos sistemas, entre os quais o Formula nização de empresas, a comunicação é o fenô-
Translation (Fortran), em programações de ca- meno pelo qual um emissor (empresa) influen-
ráter científico, e o Common Business Oriented cia ou esclarece um receptor (público) e vice-
Language (Cobol), no processamento comercial. versa. Além desses dois elementos — emissor
e receptor —, a comunicação conta ainda com
COMTE, Auguste (1798-1857). Pensador fran- alguns outros elementos básicos: mensagem, có-
cês, fundador do positivismo e um dos criadores digo e veículo. Em uma empresa, destacam-se
da sociologia científica. Foi secretário do filósofo dois tipos de comunicação: interna, responsável
francês Saint-Simon (1760-1825) e desenvolveu pelas informações necessárias ao funcionamento
a Lei dos Três Estados, segundo a qual o co- da empresa; externa, que permite o relaciona-
COMUNICAÇÃO HORIZONTAL 116

mento entre empresa e sociedade e a integração que controla os orçamentos das três comunida-
da empresa nessa sociedade. A comunicação ex- des. Veja também Tratado de Maastricht.
terna é composta por dois sistemas: um sistema
para fora, que fornece ao meio exterior informa- COMUNISMO. Doutrina que defende a aboli-
ções sobre a empresa, e um sistema de informações ção da propriedade privada dos meios de pro-
(ou inteligência), que fornece à empresa infor- dução, a distribuição igualitária dos bens pro-
mações sobre o exterior. No primeiro caso, além duzidos pela sociedade e que a organização da
do relacionamento com fornecedores de produ- riqueza social seja feita pela própria comunidade
de produtores. Propõe ainda a extinção do Es-
tos e serviços, inclui-se todo o complexo pro-
tado, o autogoverno da coletividade e o fim das
mocional da empresa. No segundo, são utiliza-
classes sociais. As primeiras formas de organi-
das as técnicas de pesquisa de mercado e de
zação humana são classificadas como modali-
opinião para sondar as necessidades do mercado
dades de comunismo primitivo. Nelas não havia
quanto a produtos e serviços ou para saber qual
diferenciação social e a existência do grupo ba-
a receptividade dos produtos e serviços que já
seava-se na cooperação entre todos os indiví-
estão sendo oferecidos. Nesse sistema incluem-
duos, que gozavam dos mesmos direitos e de-
se ainda as informações referentes à situação, à
veres. Não havendo Estado ou hierarquia social
atividade e aos planos de concorrentes, forne- rígida, essas organizações sociais sustentavam-
cedores e clientes. se não na sujeição de alguns indivíduos a outros,
COMUNICAÇÃO HORIZONTAL. É a comu- mas na responsabilidade de todos perante a co-
nicação que se processa entre duas pessoas per- munidade. No pensamento social moderno, o
tencentes a um mesmo nível hierárquico dentro comunismo apresenta-se como sistema econô-
de uma organização. mico a ser implantado em lugar do capitalismo,
a partir da destruição deste por uma revolução
COMUNIDADE. Agrupamento humano cujos social conduzida pelos trabalhadores. Idéias co-
participantes possuem interesses comuns e estão munistas, no entanto, já aparecem na Antigui-
efetivamente identificados entre si. É oposta, ge- dade. Na obra A República, Platão descreve uma
ralmente, à idéia de sociedade, na medida em sociedade ideal cuja camada dirigente obedece
que lhe são atribuídas as características de ho- a normas comunitárias de vida, embora o mes-
mogeneidade, afetividade e consenso, enquanto mo não ocorra com as camadas inferiores e os
à sociedade são atribuídas as propriedades de escravos. Na Idade Média, as heresias que se
heterogeneidade, interdependência e racionali- propagavam entre alguns setores do baixo clero
dade, além de luta e hostilidade. O sociólogo e entre os camponeses estavam comumente im-
alemão Ferdinand Tönnies, em sua obra Ge- pregnadas de aspirações igualitárias. A partir
meinschaft und Gesellschaft (Comunidade e Socie- do Renascimento, com as mudanças trazidas
dade), 1887, estabelece uma tipologia segundo pela desagregação da economia do feudalismo
a qual a comunidade seria o agrupamento hu- e pela Revolução Comercial, alguns autores
mano onde predominassem a economia domés- idealizaram sociedades comunistas, como as
tica e a organização social fundada nas relações descritas nas obras Utopia, de Thomas Morus,
de parentesco e no prestígio. Veja também So- e A Cidade do Sol, de Tommaso Campanella. Com
ciedade. a consolidação do modo de produção capitalista,
no decorrer da Revolução Industrial, o sonho
COMUNIDADE ECONÔMICA EUROPÉIA. de uma sociedade comunista tornou-se mais fre-
Veja Mercado Comum Europeu — MCE. qüente. As condições desumanas de vida a que
foi lançado o nascente proletariado geraram se-
COMUNIDADE EUROPÉIA. Denominação não- veras condenações à propriedade capitalista, re-
oficial dada ao conjunto da Comunidade Eco- voltas operárias e propostas de reforma social.
nômica Européia do Carvão e do Aço, Comu- Robert Owen, na segunda década do século XIX,
nidade Européia de Energia Atômica e Mercado propôs aos trabalhadores e artesãos ingleses a
Comum Europeu. As três organizações, que já criação de uma sociedade alternativa baseada
tinham algumas instituições em comum, só se nas cooperativas industriais e agrícolas. À me-
uniram oficialmente em 1967, quando seus di- dida que o capitalismo se impunha, cresciam as
rigentes passaram a compor a comissão das co- associações secretas, seitas e sindicatos, que se
munidades européias, que cuida da implementa- insurgiam contra as novas relações de produção.
ção dos acordos. Em junho de 1977, foi instituída Na França, as idéias reformadoras de Charles
ainda a corte dos auditores das comunidades eu- Fourier e Saint-Simon tiveram grande repercus-
ropéias. Da administração conjunta das comuni- são entre os trabalhadores. Ambos, ao lado de
dades européias fazem parte ainda o Conselho Robert Owen, seriam mais tarde chamados por
de Ministros (um de cada país-membro), que é Marx de socialistas utópicos, pois pretendiam
órgão decisório máximo, e o Parlamento Europeu, resolver os problemas dos trabalhadores sem in-
117 COMUNISMO DE GUERRA

tervir diretamente nas relações entre as classes, dos libertários e não comunistas. As divergên-
isto é, sem procurar desenvolver o antagonismo cias entre anarquistas e marxistas desenrolaram-
entre a burguesia e o proletariado. Manifesta- se ao longo de toda a I Internacional. A partir
ções e revoltas operárias eclodiram na Inglaterra de 1880, sobretudo, os termos “comunista” e
(o movimento cartista), na França (rebeliões em “socialista” ficaram ligados fundamentalmente
Lyon e Paris) e na Alemanha, em toda a primeira aos seguidores de Marx. Com a vitória da Re-
metade do século XIX. Na França, até os acon- volução Russa de 1917, o movimento comunista
tecimentos da Comuna de Paris (1871), o movi- expandiu-se por todo o mundo, sendo fundados
mento insurrecional de tendência comunista es- partidos comunistas em dezenas de países.
teve ligado basicamente às idéias de Auguste Aglutinados em torno da Internacional Comu-
Blanqui, partidário dos métodos conspirativos nista, sediada em Moscou, esses partidos em-
de François Babeuf (Gracchus). Novas aborda- preenderam movimentos insurrecionais e con-
gens da questão social na sociedade capitalista quistaram o poder em vários países. Mais tarde,
surgiram a partir de 1848, após os levantes ope- o movimento comunista contemporâneo passou
rários na França e na Alemanha. Então, as idéias por divergências que ganharam várias tendên-
dos socialistas utópicos perdiam influência e cias opostas, cada uma delas atribuindo a si pró-
duas tendências passavam a disputar a hege- pria a maior fidelidade ao pensamento de Marx
monia dos movimentos comunista e operário: e Engels. Assim ocorreu na divergência entre
os partidários de Karl Marx e Friedrich Engels Lênin e os representantes da II Internacional,
(fundadores do socialismo científico) e os par- no rompimento entre Stálin e Trotski, na de-
tidários de Joseph Proudhon, um dos pioneiros núncia de Stálin por Kruschev, nas divergências
do anarquismo. Em seu Manifesto Comunista e conflitos entre a União Soviética e a China,
(1848), Marx e Engels submeteram a uma crítica entre esta e a Albânia e no afastamento dos di-
rigorosa as relações sociais capitalistas e susten- rigentes do eurocomunismo em relação aos so-
taram que, intensificando a luta de classes, os viéticos. Atualmente, em conseqüência da desa-
trabalhadores poderiam destruir a dominação gregação dos regimes comunistas dos países do
da burguesia e construir a sociedade comunista. Leste Europeu, os partidos comunistas dos paí-
Para eles, ao desenvolver enormemente as forças ses capitalistas também entraram em colapso.
produtivas nos mercados nacionais e interna- Com uma estrutura burocrática muito rígida,
cionais e ao concentrar cada vez mais a riqueza com a excessiva centralização da economia e
social, o capitalismo criava as condições de sua com um aparato político repressivo, os regimes
própria superação. Por isso, ambos se insurgiam comunistas do Leste Europeu não puderam
contra as propostas dos socialistas utópicos e acompanhar a revolução tecnológica que mar-
afirmavam que a libertação dos trabalhadores cou os países capitalistas desenvolvidos a partir
deveria ser obra dos próprios trabalhadores. dos anos 70. Como durante todo esse período
Derrotando pela força a burguesia e apossan- continuaram a dar prioridade à indústria pesada
do-se do poder do Estado, os operários expro- e de armamentos, as populações desses países
priariam os capitalistas e coletivizariam todos continuaram à margem da produção dos pro-
os meios de produção e de distribuição de bens. dutos de consumo, responsável pela melhoria
Os dois pensadores pouco se detiveram sobre do padrão de vida dos seus vizinhos ocidentais.
as características e as formas de organização da À exceção de Cuba, da Coréia do Norte e da
futura sociedade da abundância, onde o trabalho Albânia, em todos os demais países o planeja-
deixaria de ser um sacrifício na qualidade de mento central deu lugar ao mercado como prin-
trabalho alienado e iria se tornar um prazer para cipal alocador de recursos. Na China, embora a
todos os membros da sociedade, porque seria orientação seja na direção de uma economia de
um trabalho livre e consciente. Ao mesmo tem- mercado, o regime político ainda continua fe-
po, cada pessoa receberia da sociedade o sufi- chado e dominado pelo Partido Comunista. Veja
ciente para satisfazer suas necessidades físicas também Anarquismo; Capitalismo; Marxismo;
e culturais. Com o desaparecimento das classes Socialismo; Utopia.
sociais, o Estado perderia suas funções, que se-
riam gradativamente absorvidas pela sociedade COMUNISMO DE GUERRA. Conjunto de me-
civil. O desaparecimento do Estado era também didas de rígido controle político e econômico
uma tese central dos anarquistas, principais ad- adotadas pelos bolcheviques após a Revolução
versários de Marx. Representados por Proudhon Russa para enfrentar a guerra civil e a interven-
e posteriormente por Bakunin, os anarquistas ção estrangeira. Abrange o período que vai de
sustentavam que a extinção do Estado e das clas- outubro de 1917 ao final de 1921, quando as
ses sociais deveria ser imediata (isto é, não seria forças brancas, apoiadas por tropas inglesas,
um processo gradativo), e a autogestão econô- francesas e japonesas, tentavam impedir a con-
mica e política, a prioridade do movimento an- solidação da revolução socialista liderada por
ticapitalista. Por isso, preferiam ser considera- Lênin e Trotski. Ao mesmo tempo que concen-
CONCENTRAÇÃO 118

travam todos os poderes do Estado, os bolche- estaduais, os Encontros Nacionais da Classe Tra-
viques submeteram toda a economia nacional balhadora (Enclat). Divididos em comissões de
ao esforço de guerra, buscando a “estrita regu- trabalho, os sindicalistas discutiram direito do
lamentação da produção e do consumo num trabalho, previdência social, política salarial e
país cercado” e adotando as seguintes medidas: econômica, política agrária, problemas nacionais
1) nacionalização das empresas; 2) expropriação e sindicalismo. Entre as resoluções da I Conclat,
dos bens de todos os emigrados; 3) confisco de destacam-se as reivindicações por um Código
toda a produção agrícola; 4) controle estatal da Nacional do Trabalho, seguro-desemprego, di-
comercialização dos alimentos; 5) racionamento reito de greve, convenção coletiva de trabalho,
dos artigos de primeira necessidade; 6) trabalho salário mínimo real unificado, jornada de traba-
obrigatório para todos (sob o lema “quem não lho de quarenta horas semanais, liberdade e au-
trabalha não come”); 7) coletivização das gran- tonomia sindicais, garantia de emprego, parti-
des propriedades rurais. Com a guerra e o im- cipação dos trabalhadores na administração da
pacto dessas decisões, a economia foi totalmente previdência social e reforma agrária. Decidiu-se
desorganizada. A produção industrial reduziu- ainda a criação de uma Central Única dos Tra-
se a um quinto da anterior à guerra e a produção balhadores (CUT) e, para viabilizá-la, foi eleita
de carvão ficou apenas em um décimo da nor- uma comissão nacional composta por 56 sindi-
mal. A população de Moscou ficou reduzida à calistas urbanos e rurais, de todos os Estados.
metade e a de Petrogrado diminuiu em 70%. As reivindicações aprovadas foram encaminha-
Com a devastação dos campos e a resistência das ao governo federal.
dos camponeses em aceitar o confisco das co-
lheitas — que reduzia as provisões familiares CONCORDATA. Recurso jurídico que permite
a continuação do comércio da empresa insol-
dos pequenos e médios agricultores —, a fome
vente (incapaz de saldar seus débitos nos prazos
matou milhões de pessoas. No final de 1921,
contratuais). Distingue-se, portanto, da falência,
com o fim da guerra civil e a retirada das forças
quando a empresa insolvente cessa todas as suas
estrangeiras, o Partido Comunista, objetivando
atividades. Há dois tipos de concordata judicial:
a reconstrução econômica do país, decidiu ado-
a preventiva, utilizada antes da falência; e a sus-
tar a Nova Política Econômica (NEP). Veja tam-
pensiva, que surge durante o processo de falên-
bém NEP; Planos Qüinqüenais.
cia, permitindo recolocar a empresa em funcio-
CONCENTRAÇÃO. Situação em que um pe- namento. Para pedir concordata, o empresário
queno número de empresas detém parte consi- deve atender a vários requisitos, entre eles o
derável do capital, investimentos, vendas, força exercício regular de comércio por mais de dois
de trabalho, ou qualquer outro elemento que sir- anos; possuir um ativo superior a 50% do pas-
va de medida ao desempenho de um setor in- sivo quirografário (aquele que não está onerado
dustrial, econômico ou de serviços. Costuma-se por direito real ou pessoal de preferência, como
calcular o índice de concentração de um setor ve- hipotecas); não ter título protestado e não ter
rificando-se qual percentual que determinado requerido outra concordata há menos de cinco
número de empresas detém sobre o total (de anos. Uma vez decretada a concordata pelo juiz,
vendas, por exemplo) do setor. O grau de con- todos os credores habilitados são obrigados a
centração é importante elemento da estrutura aceitá-la, mesmo que discordem. Todos os ven-
econômica do mercado e varia desde a concor- cimentos dos créditos sujeitos à concordata são
rência considerada normal (pequena concentra- antecipados e passam a receber juros de 12% ao
ção), passando pelo oligopólio e chegando até ano até seu pagamento. O prazo máximo é de
o monopólio (grau máximo de concentra- dois anos, mas, em qualquer caso, pelo menos
ção).Veja também Concorrência; Monopólio; dois quintos da dívida devem ser liquidados no
Oligopólio. primeiro ano. Apesar do concordatário conti-
nuar administrando seu negócio, o juiz nomeia,
CONCENTRAÇÃO DE RENDA. Veja Renda, entre os credores, um comissário com papel fis-
Concentração da. calizador. Existe também a concordata amigável:
espécie de convenção realizada entre o deve-
CONCLAT — Conferência Nacional da Classe dor e seus credores. No entanto, por seu caráter
Trabalhadora. Encontro de líderes sindicais dos extrajudicial, não vincula obrigatoriamente os
trabalhadores brasileiros, realizado pela primei- credores que dela discordarem. Veja também
ra vez de 20 a 23 de agosto de 1981 na Praia Falência.
Grande, São Paulo. Teve a participação de 5 036
delegados, representantes de 1 091 entidades de CONCORRÊNCIA. Também chamada livre-con-
classe — sindicatos urbanos e rurais, federações, corrência. Situação do regime de iniciativa pri-
associações de funcionários públicos, associaçõ- vada em que as empresas competem entre si,
es pré-sindicais e confederações de trabalhado- sem que nenhuma delas goze da supremacia em
res — e foi precedida de assembléias sindicais virtude de privilégios jurídicos, força econômica
119 CONDILLAC, Étienne Bonnot de

ou posse exclusiva de certos recursos. Nessas 4) inexistência de barreiras à livre movimentação


condições, os preços de mercado formam-se per- dos fatores de produção e dos empresários. O
feitamente segundo a correção entre oferta e pro- modelo impõe também, do lado da demanda:
cura, sem interferência predominante de com- 1) existência de muitos compradores, nenhum
pradores ou vendedores isolados. Os capitais deles capaz de variar o volume de suas compras
podem, então, circular livremente entre os vários a ponto de influir nos preços; 2) informação
ramos e setores, transferindo-se dos menos ren- completa sobre preços, locais de venda etc.; 3)
táveis para os mais rentáveis em cada conjuntura nenhum problema de locomoção; 4) homoge-
econômica. Nesse caso, o mercado é concorren- neidade do produto, ou seja, é indiferente com-
cial em alto grau. De acordo com a doutrina prar de um ou de outro vendedor. Num mer-
liberal, propugnada por Adam Smith e pelos cado assim estruturado, cada produtor operaria
economistas neoclássicos, a livre-concorrência com a mais alta taxa de eficiência, seu produto
entre capitalistas constitui a situação ideal para teria o mais baixo custo e seu lucro seria o mí-
a distribuição mais eficaz dos bens entre as em- nimo necessário para manter o também neces-
presas e os consumidores. Com o surgimento sário número mínimo de produtores. O conceito
de monopólios e oligopólios, a livre-concorrên- de concorrência perfeita é usado apenas por seu
cia desaparece, substituída pela concorrência valor analítico, pois não existe na prática. Veja
controlada e imperfeita. Veja também Cartel; também Mercado.
Concorrência Pública; Monopólio; Oligopólio;
CONCORRÊNCIA PÚBLICA. Procedimento ad-
Truste.
ministrativo governamental destinado a selecio-
CONCORRÊNCIA IMPERFEITA. Situação de nar o fornecedor de um serviço ou um bem.
mercado entre a concorrência perfeita e o mo- Consiste na tomada de preços e exame das pro-
nopólio absoluto — e que, na prática, corres- postas de cada concorrente, segundo critérios e
ponde à grande maioria das situações reais. Ca- prazos previamente fixados. A convocação de
racteriza-se sobretudo pela possibilidade de os qualquer interessado é realizada com antecedên-
vendedores influenciarem a demanda e os pre- cia mínima de trinta dias, mediante edital am-
ços por vários meios (diferenciação de produtos, plamente divulgado. O edital é publicado em
publicidade, dumping etc.). Veja também Con- resumo no Diário Oficial (da União, dos Estados
corrência; Concorrência Monopolista; Concor- e dos Municípios) durante três dias consecuti-
rência Perfeita; Mercado. vos, e uma ou mais vezes em jornal diário de
grande circulação (da capital) com a indicação
CONCORRÊNCIA MONOPOLISTA. Situação do local em que os interessados poderão obter
de mercado caracterizada pela existência de o texto integral e todas as informações sobre o
duas ou mais empresas cujos produtos são mui- objeto da solicitação. Pode a administração, con-
to semelhantes sem serem substitutos perfeitos forme o vulto da concorrência, utilizar-se ainda
um do outro, de forma tal que cada empresa de outros meios de publicidade para ampliar a
pode manter certo grau de controle sobre os pre- área de competição.
ços. Na concorrência monopolista — que é um
caso de concorrência imperfeita —, existem ele- CONCORRÊNCIA PURA. Veja Concorrência
mentos tanto da concorrência quanto do mo- Perfeita.
nopólio. Segundo E.H. Chamberlin, teórico do CONCORRENCIAL. Veja Concorrência.
assunto, “cada vendedor tem o monopólio do
seu produto, mas fica sujeito à concorrência CONDIÇÃO MARSHALL-LERNER. Veja Ler-
de produtos substitutos, mais ou menos im- ner, Abba P.
perfeitos”. Veja também Concorrência; Con-
corrência Imperfeita. CONDILLAC, Étienne Bonnot de (1715-1780).
Pensador francês, defensor da teoria utilitarista
CONCORRÊNCIA PERFEITA. Modelo, criado do valor. Desenvolveu seu pensamento baseado
pela economia clássica, da forma que assumiria na idéia de que todo o conhecimento deriva das
um mercado se fossem satisfeitas as seguintes sensações. Publicou, em 1776, Le Commerce et le
condições: 1) existência de grande número de Gouvernement Considérés Relativement l’Un à l’Au-
vendedores, cada um dos quais incapaz de for- tre (O Comércio e o Governo Considerados em
çar a baixa nos preços por não poder fornecer suas Relações Recíprocas), desenvolvendo uma
uma quantidade maior de produtos do que os teoria econômica que tem como ponto central a
demais; 2) todos os compradores e vendedores noção de valor. Rejeitando as concepções dos
com o mais completo conhecimento dos preços fisiocratas, sustenta que a fonte do valor é a uti-
e disponibilidades do mercado local e de outras lidade, entendendo esta não como uma quali-
praças; 3) inexistência de significativas econo- dade física das coisas, mas como decorrente da
mias de escala, de modo a nenhum vendedor importância que o indivíduo atribui às mesmas
poder crescer a ponto de dominar o mercado; para satisfação de suas necessidades. Procura
CONDITIO JURIS 120

ainda relacionar utilidade com escassez. Suas Mundo. Apesar de divergências entre os blocos
idéias exerceram influência sobre Jean-Baptiste pró-Ocidente, pró-comunista e neutro, a confe-
Say e, mais tarde, foram desenvolvidas pelos rência aprovou resoluções defendendo a coope-
marginalistas em sua teoria do valor-utilidade. ração econômica e cultural entre os países par-
Veja também Utilitarismo. ticipantes, a autodeterminação, o repúdio ao co-
lonialismo e a reafirmação dos princípios da De-
CONDITIO JURIS. Expressão em latim que claração Universal dos Direitos Humanos, da
significa “condição jurídica”. Por exemplo, a ONU. Participaram da conferência: Afeganistão,
posse de um funcionário nomeado pelo poder Arábia Saudita, Camboja, Ceilão (atual Sri Lan-
público é sua conditio juris para o exercício de ka), China, Costa do Ouro (atual Gana), Filipi-
suas funções. nas, Egito, Etiópia, Iêmen, Índia, Indonésia, Irã,
Iraque, Japão, Jordânia, Laos, Líbano, Libéria,
CONDOMÍNIO. Tipo de domínio conjunto, por
Líbia, Nepal, Paquistão, Síria, Sudão, Tailândia,
duas ou mais pessoas, de propriedade que não
Turquia, Vietnã do Norte, Vietnã do Sul. Parti-
foi ou não pode ser dividida. Normalmente, é
ciparam como observadores representantes de
empregado em propriedades imobiliárias dota-
Chipre, Estados Unidos e do congresso nacional
das de áreas de uso comum. Em investimentos,
africano (da África do Sul).
adotou-se também essa fórmula, tipo de pro-
priedade coletiva, por permitir ao conjunto de CONFERÊNCIA DE BRETTON WOODS. Nome
proprietários usufruir de vantagens maiores do pelo qual ficou conhecida a Conferência Mone-
que as que teriam isoladamente. O condomínio tária e Financeira das Nações Unidas, realizada
pode ser: fechado, se o número de proprietários em julho de 1944, em Bretton Woods (New
é limitado pelo regulamento, e aberto, se não há Hampshire, Estados Unidos), com repre-
restrições à entrada de novos condôminos. sentantes de 44 países, para planejar a estabili-
zação da economia internacional e das moedas
CONDORCET, Marquês de (1743-1794). Marie-
nacionais prejudicadas pela Segunda Guerra
Jean Nicholas Caritat, pensador francês liberal,
Mundial. Os acordos assinados em Bretton
condenado à morte durante a Revolução Fran-
Woods tiveram validade para o conjunto das
cesa (período da ditadura jacobina, época do
nações capitalistas lideradas pelos Estados Uni-
Terror), escreveu o livro Esquisse d’un Tableau
dos, resultando na criação do Fundo Monetário
Historique des Progrès de L’Esprit Humain (Ensaio
Internacional (FMI) e do Banco Internacional de
de um Quadro Histórico do Progresso do Espí-
rito Humano) em 1794, ano em que se suicidou Reconstrução e Desenvolvimento (Bird). Veja
também Bird; FMI.
na prisão. Em seu livro defendeu a propriedade
privada, que considerava estimulante ao estudo, CONFERÊNCIA DE BRUXELAS. Conferência
à educação e ao desenvolvimento da individua- monetária internacional realizada em Bruxelas
lidade. Propôs também a criação de uma “Caixa (Bélgica) em 1920 sob o patrocínio da Liga das
de Socorro e Poupança” para eliminar a pobreza Nações, que tratou fundamentalmente da esta-
e, dessa forma, a humilhação e a corrupção que bilidade do câmbio à raiz da desorganização
a acompanhavam, e todos os seus membros se- econômica e financeira do comércio internacio-
riam felizes. Esta proposta foi muito criticada nal provocada pela Primeira Guerra Mundial.
por Malthus, que dizia: “Se os ociosos e negli- Essa conferência recomendou a criação de or-
gentes são colocados em pé de igualdade em ganizações internacionais destinadas a ajudar os
relação a seus créditos e ao sustento futuro de países mais débeis, uma Caixa de Compensação
suas famílias, da mesma forma que os ativos Internacional e o estabelecimento de bancos cen-
trabalhadores, podemos esperar ver os homens trais nacionais, cuja finalidade seria manter a es-
exercerem aquela animada atividade de melho- tabilidade monetária interna dos países. Veja tam-
rar sua condição, que forma hoje a principal cau- bém Banco para Pagamentos Internacionais.
sa da prosperidade pública?”.
CONFERÊNCIA MUNDIAL DO MEIO AM-
CONDORCET. Veja Condorcet, Marquês de; BIENTE. Veja Agenda 21.
Critério de Condorcet.
CONFERÊNCIA DE CANCÚN. Continuação da
CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS PA-
Conferência para a Cooperação Econômica In-
RA O COMÉRCIO E DESENVOLVIMENTO.
Veja UNCTAD. ternacional (Conferência de Paris), realizada em
1975, onde pela primeira vez na história con-
CONFERÊNCIA DE BANDUNG. Primeira con- temporânea se reuniram representantes de 22
ferência intercontinental de países africanos e países desenvolvidos e em desenvolvimento
asiáticos, realizada em Bandung, Indonésia, em para debater pendências econômico-financeiras.
abril de 1955, e que foi um marco inicial na ten- A Conferência de Cancún ocorreu nos dias 22
tativa de organização dos países do Terceiro e 23 de outubro de 1981, naquela cidade turística
121 CONHECIMENTO DE DEPÓSITO

do México, e visava também a retomar o diálogo ciparam da conferência os seguintes países: Ale-
entre Norte e Sul, iniciado na Conferência de manha Ocidental, Áustria, Canadá, Estados Uni-
Paris. Foi precedida por reuniões preparatórias dos, França, Inglaterra, Japão e Suécia (Norte);
dos países do Terceiro Mundo, que buscavam Arábia Saudita, Argélia, Bangladesh, Brasil, Chi-
definir uma estratégia comum de atuação. A na, Costa do Marfim, Guiana, Índia, Iugoslávia,
principal reivindicação desses países, entre eles México, Nigéria, Filipinas, Tanzânia e Venezuela
o Brasil, era que se iniciasse um processo de (Sul).
negociação global na busca de soluções para os
problemas dos países subdesenvolvidos. Preten- CONFERÊNCIA MONETÁRIA E FINANCEI-
dia-se uma abordagem global e integrada dos RA DAS NAÇÕES UNIDAS. Veja Conferência
de Bretton Woods.
problemas de relacionamento econômico entre
o Norte e o Sul, em lugar dos tradicionais en- CONFIDENCE BUILDING. Expressão em in-
tendimentos bilaterais. Outros dois pontos im- glês que significa “construção da confiança” e
portantes preocupavam os países subdesenvol- que designa uma situação na qual um Estado,
vidos: de um lado, os preços baixos para a ex- antes desacreditado econômica e financeiramen-
portação de suas matérias-primas; de outro, as te no mercado, adota uma política de recupera-
altas taxas de juros cobradas nos Estados Uni- ção de sua credibilidade.
dos, em prejuízo dos países não-produtores de
petróleo, que obtinham dólares por meio de em- CONFISCO CAMBIAL. Quantia retida pelo go-
préstimos. Por pressão norte-americana, ficou verno brasileiro do montante de dólares obtidos
acertado que a Conferência de Cancún não teria pelos exportadores de certos produtos, em suas
caráter negociador, consistindo basicamente nu- transações com o exterior. O confisco cambial
ma troca de pontos de vista entre os chefes de foi aplicado pela primeira vez em 1953, nas ex-
Estado. Não se expediu tampouco nenhum do- portações de café, com o objetivo de controlar
cumento final. O presidente dos Estados Unidos, o preço do produto no mercado internacional e
fornecer divisas ao governo para financiamento
Ronald Reagan, presente à conferência, mani-
de outras atividades, especialmente a indústria.
festou-se contrário a qualquer tipo de negocia-
Em certas ocasiões, esse confisco também é apli-
ção global. A posição defendida pelo Brasil, de
cado às exportações de açúcar, soja e outros pro-
inter-relacionamento da economia mundial na
dutos, sobretudo quando eles atingem elevadas
presente conjuntura, com a abordagem global
cotações no exterior. Veja também Exportação.
de todos os problemas, e não apenas setorial e
gradualista, foi encampada pela maioria dos paí- CONGLOMERADO. Tipo de organização no
ses em desenvolvimento, com o apoio da França, qual várias empresas que atuam nos mais dife-
entre os desenvolvidos, seguida da Alemanha rentes setores e ramos da economia pertencem
Federal e de uma “predisposição favorável” do à mesma holding. O que caracteriza o conglome-
Japão. Para Reagan, porém, o desenvolvimento rado é a diversidade. Nele, nenhuma empresa
dos países do Terceiro Mundo dependeria do é fornecedora de elementos à linha de produção
auxílio que prestassem a si próprios, por meio de outra; por exemplo: uma siderúrgica, uma
de investimentos privados e do comércio inter- fábrica de perfumes e uma fazenda de gado.
nacional, sem esperar por ajuda maciça das na- Essa diversificação setorial visa a garantir uma
ções mais ricas. Em seu discurso, o presidente taxa média de lucratividade à holding, especial-
norte-americano enfatizou que a melhor manei- mente em situações de crise e recessão, em que
ra de acabar com a pobreza é dar rédeas livres alguns setores são menos atingidos que outros.
ao capitalismo por intermédio do setor privado, A fusão horizontal de empresas significa uma
em vez de contar com ajuda externa em massa tendência a conglomerizar uma economia. Veja
e melhor tratamento comercial. Representando também Holding.
o Brasil, o chanceler Saraiva Guerreiro reivindi-
cou a revisão dos padrões de intercâmbio co- CONGLOMERIZAR. Veja Conglomerado.
mercial; criticou as multinacionais pelo controle CONGRESS OF INDUSTRIAL ORGANIZA-
do mercado internacional; classificou de prote- TIONS. Veja AFL-CIO.
cionista e discriminatória a proposta de gradua-
ção dos países desenvolvidos e disse que os paí- CONHECIMENTO DE DEPÓSITO. Documen-
ses socialistas do Leste Europeu não poderiam to firmado por companhias de armazéns gerais,
eximir-se “da parcela de responsabilidade que ou semelhantes, dado como comprovação de re-
lhes cabe no campo da cooperação internacio- cebimento de mercadorias que ficarão sob sua
nal”. Criticava, assim, também a ausência da guarda. O conhecimento de depósito é um título
União Soviética, que não participou da confe- de propriedade, podendo, portanto, ser nego-
rência, apesar de oficialmente convidada. Parti- ciado à vontade por seu possuidor.
CONHECIMENTO DE EMBARQUE 122

CONHECIMENTO DE EMBARQUE. Documen- tura e fazer previsões, que serão utilizadas na


to firmado por uma empresa transportadora, elaboração de políticas econômicas mais eficien-
dado como comprovação de que tem em seu tes. Essas previsões são condicionais e aproxi-
poder uma mercadoria que irá transportar. mativas, uma vez que outras variáveis, de na-
Quando se trata de transporte marítimo, o co- tureza física (variações climáticas, por exemplo),
nhecimento de embarque é firmado por um política, social etc., também influem sobre a con-
agente ou capitão do navio, com especificação juntura. Veja também Ciclo Econômico; Crise
do nome deste, o porto de destino, o número e Econômica.
o peso das mercadorias embarcadas, as condi-
CONJUNTURA ECONÔMICA (Revista). Re-
ções de frete e o nome da pessoa ou empresa
vista mensal de análise econômica editada pela
a que se destinam as mercadorias. Com as adap-
Fundação Getúlio Vargas/Instituto Brasileiro de
tações necessárias, os conhecimentos de embar-
Economia. Criada pelo economista Richard Le-
que fluvial, ferroviário, rodoviário e aeroviário
winshn, em novembro de 1947, seu primeiro nú-
são semelhantes ao marítimo.
mero era um boletim mimeografado. Seu obje-
CONJUNTURA ECONÔMICA. Termo que de- tivo é divulgar os resultados de pesquisas sobre
fine, de forma mais dinâmica do que “situação a conjuntura econômica, observando as oscila-
econômica”, o fluxo e o refluxo das atividades ções da marcha dos negócios, a evolução finan-
de uma economia ou, de maneira mais genérica, ceira e monetária e suas repercussões sobre a
o estudo da totalidade das condições de merca- economia nacional. Divulga mensalmente índi-
do. O conceito de conjuntura originou-se em ces nacionais e regionais de preços em diversos
meados do século XIX, quando se observou, pela setores, um perfil das contas nacionais e as úl-
primeira vez, a periodicidade das crises econô- timas pesquisas na área econômica. Publica, a
micas. A freqüente instabilidade das condições cada ano, os resultados econômico-financeiros
das maiores sociedades anônimas do país. As
econômicas acarreta períodos de queda da pro-
edições de fevereiro apresentam, desde 1950, um
dução e do nível de emprego, de declínio dos
retrospecto das atividades econômicas do ano
preços e lucros (período de contração ou conjun-
anterior, e as edições de setembro trazem a re-
tura descendente). Há também épocas de recupe-
lação das quinhentas maiores sociedades anô-
ração, com aumento da produção, expansão da
nimas não-financeiras do Brasil.
oferta de emprego e melhoria dos padrões de
vida (período de expansão ou conjuntura ascen- CONSELHO DA EUROPA. Veja Europa, Con-
dente). Uma recuperação muito rápida, no en- selho da.
tanto, pode gerar inflação e especulação, muitas
vezes causando nova queda. Essa alternância da CONSELHO DE POLÍTICA ADUANEIRA. Ór-
prosperidade à depressão e vice-versa, que ca- gão do Ministério da Fazenda criado em 1957
racteriza o ciclo econômico, é um movimento para coordenar e orientar a política alfandegária
observável em todas as economias capitalistas, do país. Surgiu da necessidade de proteger a
desenvolvidas ou não. Para alguns autores, o indústria brasileira de bens manufaturados, por
termo “conjuntura” designa o conjunto de fato- meio da unificação das várias taxas de câmbio
res estritamente econômicos que influem na (taxas múltiplas de câmbio) até então em vigor.
marcha da economia, eliminando assim a inci- A partir de sua fundação, as tarifas para pro-
dência de forças naturais e de condições sociais dutos importados passaram a ser fixadas em
extra-econômicas. Outros definem conjuntura função de sua necessidade para o mercado na-
como a soma total das condições que afetam o cional e da existência de produto similar fabri-
cado no país. Durante o governo Collor (1990-
mercado, qualquer que seja a sua natureza. Os
1992) esse conselho passou a ser vinculado ao
indicadores de conjuntura são um grande número
Ministério da Economia, que reunia os Minis-
de variáveis econômicas, que se encontram em
térios da Fazenda e do Planejamento. Com o
relações múltiplas e complexas: produção, esto-
desmembramento do Ministério da Economia
ques, número de pessoas empregadas, taxa de
durante o governo Itamar Franco (1992-1994) e
juros, receita e despesa do governo, dívida pú-
a reconstituição do Ministério da Fazenda, o
blica, taxa de formação de capital, renda nacio-
Conselho de Política Aduaneira voltou a ser vin-
nal e índices de preços, entre outros. A análise
culado ao Ministério da Fazenda.
conjunta desses indicadores e de seus movimen-
tos fornece um quadro da situação econômica CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA —
em que se encontra o país naquele momento, Cofecon. Órgão criado pela lei nº 1 411 de agosto
ou seja, em que ponto se encontra a economia de 1951, em conjunto com a designação profis-
dentro do ciclo econômico. Sua identificação e sional do economista. É de sua responsabilidade
mensuração permitem delinear a evolução fu- a supervisão e fiscalização do exercício da pro-
123 CONSISTÊNCIA

fissão no país. Quando de sua fundação, cou- sem ter seguido a cartilha do Consenso de Wa-
be-lhe a organização dos conselhos regionais de shington, alguns autores vêm criticando, ulti-
economia nos Estados da federação. Ainda hoje mamente, a rigidez dessas políticas e tentando
aprova e examina o regimento interno desses encontrar alternativas de tal forma a combinar
conselhos. Sua diretoria é eleita entre os repre- um vigoroso combate à inflação com o progresso
sentantes dos conselhos regionais do país. econômico e social dos países em desenvolvimen-
to. Esta última tendência vem sendo denominada
CONSELHO FISCAL. Órgão de uma sociedade Pós-Consenso de Washington. Veja também Ba-
anônima, composto de no mínimo três pessoas, lanço de Pagamentos; Bird; FMI; Recessão.
escolhidas pelos sócios e encarregadas de fisca-
lizar e aprovar as contas da sociedade. CONSENSO NEOKEYNESIANO. Denomina-
ção dada ao domínio das concepções keynesia-
CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL. Veja nas na análise macroeconômica, no campo aca-
CMN. dêmico em geral e na política econômica durante
os anos 60. Na política econômica, essa influên-
CONSELHO ULTRAMARINO. Órgão da Co-
cia e predomínio foram característicos do go-
roa portuguesa criado em 1643 para orientar a
verno Kennedy, com a nomeação, em 1960, de
política colonial do reino, substituindo a Casa
um conselho de assessores econômicos de orien-
das Índias. Fundado após a Restauração portu-
tação keynesiana presidido por Walter Heller.
guesa, quando o país se libertou do domínio
Em vez de uma política de equilíbrio orçamen-
espanhol (1580-1640), era formado por altos fun-
cionários da Coroa e integrantes da nobreza. tário, o governo Kennedy acabou optando por
uma política de déficits fiscais que permitiria
Teve importância decisiva na reconquista dos
uma expansão econômica sem precedentes, a
territórios coloniais portugueses ocupados pela
criação de milhões de empregos e o aumento
Holanda, entre eles o Nordeste brasileiro.
do produto real do país. O sucessor de Kennedy,
CONSENSO DE WASHINGTON. Conjunto de Lyndon Johnson, deu prosseguimento a essa po-
trabalhos e resultado de reuniões de economis- lítica econômica. No entanto, os acontecimentos
tas do FMI, do Bird e do Tesouro dos Estados traumáticos da década seguinte representaram
Unidos realizadas em Washington D.C. no início um forte golpe nessa concepção de política eco-
dos anos 90. Dessas reuniões surgiram recomen- nômica. A guerra do Vietnã, a crise do sistema
dações dos países desenvolvidos para que os financeiro internacional com a desvalorização
demais, especialmente aqueles em desenvolvi- do dólar em 1971, o abandono do padrão-ouro
mento, adotassem políticas de abertura de seus no câmbio, a inflação de mais de um dígito, o
mercados e o “Estado Mínimo”, isto é, um Es- desemprego e a recessão mostraram as limita-
tado com um mínimo de atribuições (privati- ções dessa abordagem para promover a expan-
zando as atividades produtivas) e, portanto, são da renda.Veja também Curva de Phillips;
com um mínimo de despesas como forma de Reagnomics; Supply Side Economics.
solucionar os problemas relacionados com a cri-
se fiscal: inflação intensa, déficits em conta cor- CONSERVE — Programa de Conservação e
rente no balanço de pagamentos, crescimento Distribuição de Energia. Foi lançado em maio
econômico insuficiente e distorções na distribui- de 1981 pelo Ministério da Indústria e do Co-
ção da renda funcional e regional. O resultado mércio, com o objetivo de reduzir o consumo
mais importante dessas políticas (pelo menos no de energia importada — principalmente na for-
que se refere à América Latina) tem sido o êxito ma de óleo combustível extraído do petróleo. É
no combate à inflação nos países em que, du- aplicado em empresas com maioria de capital
rante os anos 80 e mesmo no início dos anos nacional, com preferência para as pequenas e
90, ela atingia níveis intoleráveis. Além disso, o médias empresas industriais. As empresas com
livre funcionamento dos mercados, com a eli- programas aprovados pelo Conserve contam
minação de regulamentações e intervenções go- com financiamentos do BNDES para cobrir até
vernamentais, também tem sido uma das mo- 80% do valor global de cada programa.
las-mestras dessas recomendações. Embora os CONSIGNAÇÃO. Contrato pelo qual o pro-
países que seguiram tal receituário tenham sido prietário de mercadorias as entrega a um co-
bem-sucedidos no combate à inflação, no plano merciante, ficando este obrigado a prestar contas
social as conseqüências foram desalentadoras: apenas da parte que efetivamente vender no pra-
um misto de desemprego, recessão e baixos sa- zo combinado previamente.
lários, conjugado com um crescimento econô-
mico insuficiente, revela a outra face dessa moe- CONSISTÊNCIA. Termo do campo da estatís-
da. Na medida em que alguns países, como a tica que significa uma característica desejável
China, por exemplo, têm combinado inflação dos estimadores econométricos. Um estimador
baixa com crescimento econômico acelerado, consistente é aquele cuja média tende para o
CONSOL 124

verdadeiro valor do parâmetro, e cuja variância deral de novembro de 1987, de acordo com as
tende a zero, na medida em que o tamanho da orientações da portaria nº 330 de 23 de setembro
amostra torna-se muito grande. Por exemplo, o de 1987 do Ministério da Fazenda. Dá-se também
estimador calculado mediante os mínimos qua- o nome de consórcio ao grupo de empresas for-
drados é um estimador consistente se não exis- mado para a execução de uma obra ou financia-
tirem problemas econométricos. Veja também mento de um projeto de grande envergadura.
Blue.
CONSÓRCIO MODULAR. Sistema de fabrica-
CONSOL. Denominação dada, no mercado fi- ção estabelecido pela Volkswagen em sua planta
nanceiro da Inglaterra e dos Estados Unidos, ao de fabricação de caminhões em Resende (RJ) em
título que proporciona juros (coupon) indefini- 1996, com o intuito de melhorar a produtividade
damente, isto é, para sempre, não tendo portanto e incrementar a qualidade de seus produtos. A
prazo de vencimento. Este termo tem origem idéia básica é que cada fornecedor de peças e
em títulos Gilt-Edged emitidos durante uma componentes execute a montagem da peça que
operação de conversão e consolidação de dívida forneceu e seja responsável pela qualidade de
em 1888 na Inglaterra. Em 1914, grande parte seu produto. Esse processo de “terceirização”
da dívida pública inglesa era registrada em con- da parte mais importante de uma planta desse
sols, formando o maior título individual transa- tipo (a linha de montagem) significa que nela
cionado na Bolsa de Valores. Em função de sua apenas uma porção muito pequena — de 10 a
segurança como títulos da dívida pública, eles 15% — são funcionários da própria empresa. Os
tinham fama de ativos financeiros muito seguros demais são vinculados às empresas fornecedo-
e de alta liquidez, sendo que os bancos os man- ras, denominadas parceiros. O edifício onde se
tinham como reservas líquidas. Em 1888, essas desenvolvem as atividades pertence à Volkswa-
ações foram emitidas com vencimento em 1923 gen, mas cada fornecedor tem um espaço nele
ou depois desta data, o que os tornou na prática que administra como se fosse um condomínio.
títulos sem data ou sem vencimento. O cresci- Cada empresa tem uma “doca” especial para
mento da dívida pública inglesa durante duas descarregar suas peças, e, durante a montagem
guerras mundiais, especialmente depois de 1945, do veículo, não intervêm os funcionários da
e o fato de que a partir de certo momento só Volkswagen; apenas um funcionário denomina-
foi permitido emitir títulos com data de venci- do “maestro” supervisiona todas as etapas de
mento reduziu os consols a uma pequena fração produção de um determinado número de veí-
dos títulos emitidos relacionados com a dívida culos. Os funcionários da empresa só entram na
pública. fase de teste dos caminhões. Todo caminhão,
no entanto, sai da fábrica com a assinatura do
CONSOLIDAÇÃO DA DÍVIDA FLUTUAN- “maestro”, o responsável pela qualidade daque-
TE. Conversão das obrigações de curto prazo le veículo diante dos consumidores. Em 1996,
em obrigações (permanentes) de longo prazo. as empresas fornecedoras que estão participan-
Veja também Funding. do desse sistema são as seguintes: Iochpe-Ma-
xion; Rockwell; Remon; MWM; Cummins; Ei-
CONSÓRCIO. Reunião de pessoas físicas ou ju- senmann; Delga e VDO. Veja Também Just in
rídicas interessadas na compra de determinados Time; Terceirização.
bens (automóveis, lanchas, caminhões, tratores,
videocassetes etc.) e que formam uma caixa co- CONSTITUIÇÃO DE 1988. Promulgada em
mum. No Brasil, os consórcios são regulamen- 5/10/1988, é a oitava Carta Magna do país e
tados pelo governo federal, e essas regulamen- alterou alguns pontos na área econômica e tra-
tações sofrem alterações quando a política eco- balhista. Ordem econômica: os impostos sobre cir-
nômica se orienta no sentido de inibir ou am- culação de mercadorias e serviços fundem-se
pliar o consumo de determinados bens. Os con- num único imposto (ICMS); o ICM e os impostos
sórcios reúnem um número variável de partici- únicos sobre energia elétrica, minerais, combus-
pantes, que contribuem com uma quantia men- tíveis e lubrificantes, transportes e comunicações
sal proporcional ao número de meses em que passam para os Estados. Ampliam-se os fundos
o grupo se manterá. Por exemplo: um grupo de de participação dos Estados e municípios para
cem participantes com duração de cinqüenta 47% das receitas do Imposto de Renda e do Im-
meses significará que cada um deles contribuirá posto sobre Produtos Industrializados. A trans-
mensalmente com, no mínimo, a qüinquagésima ferência dos recursos dar-se-á ao longo de cinco
parte do preço do bem em questão. Nesse exem- anos até atingir os 47%. O usucapião passa a
plo, a cada mês pelo menos duas pessoas rece- existir para aquele que ocupar área urbana de
berão o bem pretendido, sendo que a escolha até 250 m2 por cinco anos ininterruptos, sem
se faz geralmente por sorteio. A regulamentação oposição por parte do proprietário. Todas as ci-
dos consórcios foi estabelecida pela Instrução dades com população acima de 20 mil habitantes
Normativa nº 152 da Secretaria da Receita Fe- deverão ter um plano diretor para orientar seu
125 CONSUMIDOR, Soberania do

desenvolvimento. A reforma agrária mantém os particulares. O mais conhecido órgão federal


preceitos do Estatuto da Terra, mas exclui da nessa área é a Food and Drug Administration,
desapropriação as terras produtivas e pequenas que controla os padrões de pesos, medidas, se-
e médias propriedades. Passam a existir dois ti- gurança e publicidade dos produtos. A partir
pos de empresa: a empresa brasileira, constituí- de 1965, nos Estados Unidos, a luta dos consu-
da sob as leis brasileiras e com sede e adminis- midores adquiriu dimensões internacionais, sob
tração no país, e a empresa de capital nacional a liderança de Ralph Nader, que dirigiu um am-
cujo controle efetivo esteja em caráter perma- plo movimento de fiscalização popular, obrigan-
nente sob a titularidade direta ou indireta de do várias empresas a fabricar produtos menos
pessoas físicas domiciliadas e residentes no país. nocivos à saúde humana e ao meio ambiente.
Fica estabelecido o limite de juros a 12% ao ano No Brasil, a defesa do consumidor é uma preo-
em todos os créditos e operações financeiras, de- cupação relativamente recente e ainda muito li-
pendente de regulamentação complementar. A mitada ao poder público. A primeira iniciativa
exploração de minérios será efetuada exclusiva- ocorreu em São Paulo, onde foi criado, em 1976,
mente por brasileiros ou empresa brasileira de o Sistema Estadual de Proteção ao Consumidor
capital nacional. Trabalhadores: a multa indeni- (Procon), vinculado à Secretaria de Economia e
zadora sobre o valor do Fundo de Garantia pas- Planejamento do Estado. É integrado por dois
sa de 10 para 40%. A jornada de trabalho não órgãos: o Conselho Estadual de Proteção ao
poderá ultrapassar 44 horas semanais, e, para Consumidor (deliberativo) e o Grupo Executivo
os trabalhadores em empresas de turnos inin- de Proteção ao Consumidor (executivo). A partir
terruptos, a jornada será de seis horas; a remu- de leis existentes nos Estados Unidos e na Eu-
neração da hora extra sobre o salário normal ropa, o Congresso Nacional aprovou, em
passa de 25 para 50%. Em gozo de férias, o tra- 11/9/1990, a lei nº 8 078, com um amplo código
balhador terá direito a um terço a mais de seu de defesa do consumidor. Apesar de vários de
salário. O valor do aviso prévio será proporcio- seus artigos terem sido vetados pelo presidente
nal ao tempo de serviço e nunca inferior a um Fernando Collor de Mello, a lei aprovada pelo
salário. As licenças concedidas às trabalhadoras Congresso não foi alterada em sua essência. Em
gestantes passam de 89 para 120 dias. A licen- vigor desde 11/3/1991, são nove artigos que re-
ça-paternidade, que não existia, garante ao pai sumem todo o código. Entre os direitos básicos
cinco dias de ausência ao trabalho quando o fi- dos brasileiros incluem-se o de ter informações
lho nascer. O direito de greve é assegurado a corretas e claras sobre os produtos que consumir
todas as categorias. A lei definirá as atividades e o de ser protegidos contra a publicidade en-
essenciais, nas quais os trabalhadores em greve ganosa e abusiva e contra métodos comerciais
deverão garantir a manutenção dos serviços. Os coercitivos. Em nenhuma hipótese a vida, a se-
trabalhadores rurais terão legislação trabalhista gurança e a saúde das pessoas podem ser colo-
semelhante à dos trabalhadores urbanos. Os fun- cadas em risco por produtos e serviços consi-
cionários públicos terão limites salariais propor- derados nocivos. Também é direito do consu-
cionais aos maiores vencimentos, que serão de midor a modificação de cláusulas contratuais
deputados, senadores e ministros de Estado e que proporcionem prestações desproporcionais
do Supremo. A remuneração dos aposentados aos seus rendimentos. Ele ainda pode recusar a
e pensionistas nunca será inferior a um salário revisão de qualquer contrato, se isso implicar
mínimo. O reajuste será feito na mesma época prestações muito onerosas. Veja também Nader,
e com os mesmos índices dos trabalhadores ati- Ralph.
vos. Serão corrigidos os proventos de aposen-
tados e pensionistas que vêm perdendo poder CONSUMIDOR, Soberania do. Papel determi-
aquisitivo desde 1979. nante do consumidor numa economia de mer-
cado, em relação à compra e venda de bens e
CONSUMIDOR, Defesa do. Movimento de en- serviços. Segundo o princípio da soberania, sen-
tidades civis e governamentais existente em vá- do o consumidor a peça-chave do mercado, ele
rios países, visando à criação de um corpo de é também o elemento orientador do que é pre-
leis que estabeleçam padrões de qualidade, se- ciso produzir, limitando-se o produtor a seguir
gurança e higiene para os artigos e serviços ven- seus desejos e necessidades. A soberania seria
didos à população. A defesa do consumidor sur- exercida à medida que existisse concorrência en-
giu nos Estados Unidos com a fundação das en- tre os produtores, por meio do poder de decisão
tidades Consumer’s Research (1929) e Consu- dos consumidores em relação à compra dos
mer’s Union (1936), como reação aos preços ex- bens. Na prática, contudo, essa soberania tende
torsivos fixados pelos monopólios. Atualmente, a ser neutralizada pelos mecanismos impositi-
existem nos Estados Unidos cerca de mil pro- vos da concorrência monopolista e pela influên-
gramas de defesa do consumidor, desenvolvi- cia da publicidade. E, afinal, é o nível de renda
dos por agências governamentais e entidades dos consumidores que determina objetivamente
CONSUMIDOR, Superávit do 126

os limites dessa soberania. Veja também Con- tra escasso e diminui-se a produção daquilo que
sumo; Mercado. se revela supérfluo. É viável quando as dimen-
sões do mercado são pequenas e as necessidades
CONSUMIDOR, Superávit do. Diferença entre dos consumidores bastante limitadas e estáveis.
o preço que o consumidor paga por uma mer- A segunda maneira de ajuste entre produção e
cadoria ou serviço e a quantia máxima que ele consumo consiste no planejamento antecipado
estaria disposto a desembolsar para adquiri-la. da produção, dimensionando-a assim à capaci-
A existência do superávit do consumidor ba- dade do mercado. É um método característico
seia-se na tendência a diminuir a utilidade mar- das economias planificadas, como a socialista,
ginal de uma mercadoria em relação ao aumento em que não ocorre a oferta de ampla variedade
de seu consumo; assim, um consumidor pode de formas diferentes do mesmo produto. Por
pagar o máximo de mil reais pela primeira uni- último, existe a prática mercadológica típica da
dade de certa mercadoria, oitocentos reais pela sociedade capitalista moderna ou sociedade de
segunda (pois ele já é possuidor dessa mesma consumo: levar o consumidor, mediante a má-
mercadoria) e seiscentos reais pela terceira uni- quina publicitária e todas as técnicas de marke-
dade. Isso porque a propensão a consumir vai ting, a sentir necessidade de consumir aquilo
diminuindo em função da quantidade já adqui- que é produzido. Veja também Mercadologia;
rida. O conceito foi introduzido na teoria do va- Necessidade; Publicidade.
lor por Alfred Marshall. Sua concepção do pro-
blema, no entanto, gerou algumas críticas (apli- CONSUMO, Função. Veja Propensão a Consu-
cáveis ao conjunto de sua teoria de demanda mir.
do consumidor) porque se baseia na hipótese
CONSUMO CONSPÍCUO. É o dispêndio feito
de que a utilidade é mensurável da mesma for-
com finalidade precípua de demonstração de
ma que o lucro, as rendas e a produção. J. R.
condição social, manifestando-se por meio da
Hicks redefiniu a teoria da demanda de Mar-
compra de artigos de luxo e de quaisquer gastos
shall, baseando-se na utilidade ordinal e na aná-
ostentatórios. É praticado principalmente pelas
lise da indiferença.
camadas sociais de alta renda, cujo padrão de
CONSUMISMO. Veja Sociedade de Consumo. vida as camadas de renda mais baixa procuram
imitar. O conceito foi estabelecido e definido
CONSUMO. Utilização, aplicação, uso ou gasto pelo economista norte-americano Thorstein Ve-
de um bem ou serviço por um indivíduo ou blen em sua obra A Teoria da Classe Ociosa (1899).
uma empresa. É o objetivo e a fase final do pro- Veja também Veblen, Thorstein Bunde.
cesso produtivo, precedida pelas etapas de fa-
bricação, armazenagem, embalagem, distribui- CONSUMO IMPRODUTIVO. Ocorre quando
ção e comercialização. Numa sociedade em que os bens ou serviços produzidos se destinam à
a divisão social e técnica é relativamente com- satisfação física e/ou espiritual dos indivíduos
plexa, a apropriação e a transformação dos ele- e o produto não tem continuidade no processo
mentos da natureza são separadas, no tempo e produtivo: é destruído, gasto ou assimilado pelo
no espaço, de seu uso para a satisfação de ne- consumidor individual ou familiar. É o caso do
cessidades humanas. Por exemplo: a maçã co- consumo de gêneros alimentícios, roupas, calça-
lhida na Argentina pode vir a ser consumida só dos, eletrodomésticos e automóveis particulares.
no Brasil. Geralmente, o consumo é considerado
CONSUMO PRODUTIVO. Consumo de pro-
uma atividade que se desenvolve no âmbito da
dutos que retornam ao processo de produção
família, definida como unidade de consumo. Mas
— sob a forma de insumos ou bens intermediá-
há também o consumo no interior das empresas rios (matérias-primas elaboradas) — para serem
— especialmente nas fábricas — que utilizam transformados em novos produtos.
insumos ou bens provenientes de outras unida-
des produtivas (consumo produtivo). A separação CONTABILIDADE. Setor das ciências de ad-
entre produção e consumo suscita algumas ministração que cuida da classificação, registro
questões importantes para a atividade econômi- e análise de todas as transações realizadas por
ca, uma vez que as necessidades humanas e as uma empresa ou órgão público, permitindo des-
formas de satisfazê-las variam de acordo com sa forma uma constante avaliação da situação
vários fatores (idade, sexo, nível de renda). Tra- econômico-financeira. Tem por objeto o patri-
ta-se de saber de que modo podem os produ- mônio econômico das pessoas físicas ou jurídi-
tores conhecer as necessidades dos consumido- cas, comerciais ou civis, bem como o patrimônio
res, ou seja, como a produção se ajusta ao con- público e as questões financeiras do Estado. Seu
sumo. Há basicamente três maneiras. Uma con- objetivo é permitir o controle administrativo e
siste no processo de tentativa e erro: na busca o fornecimento de informações precisas a inves-
para conhecer as aspirações e desejos do con- tidores, credores e ao público. Envolve todos os
sumidor, aumenta-se a produção do que se mos- aspectos empresariais ou públicos que possam
127 CONTÊINER

ser expressos em números, como o ativo (pro- cabeçada por José Francisco da Silva, venceu as
priedade), o passivo (dívidas), as receitas e des- eleições e, desde essa época, a Contag vem se
pesas, os lucros e perdas e os direitos de inves- empenhando pela efetivação da reforma agrária.
tidores. A contabilidade, como simples registro, Edita um boletim, O Trabalhador Rural.
surgiu com as trocas de bens e serviços na An-
tiguidade. Na Babilônia, esses registros foram a CONTAINERIZATION. Termo em inglês que
base para a cobrança de impostos. Em 200 a.C., significa um sistema de transporte e distribuição
na república romana, as contas governamentais de mercadorias em contêineres padronizados,
eram apresentadas na forma de lucros e perdas que evita a necessidade de manipulação de pro-
e constantemente fiscalizadas pelos questores. dutos de volume e/ou volume heterogêneo,
Aos poucos, os dados registrados nas contas go- simplificando as tarefas de carga, descarga e dis-
vernamentais foram aumentando, mas só no fim tribuição de mercadorias nos terminais ferroviá-
da Idade Média, com os comerciantes italianos, rios, portuários, aeroviários e rodoviários, redu-
é que a contabilidade se incorporou aos negócios zindo os respectivos custos.
privados, que cresciam e se diversificavam. Foi
então que se desenvolveu o sistema de conta- CONTANGO. Situação na qual os preços spot
bilidade por registro duplo ou por partidas do- ou à vista de um determinado ativo financeiro
bradas, utilizado atualmente. Com a Revolução são mais baixos do que os preços de futuros ou
Industrial, o novo aumento no volume de ne- a termo deste mesmo ativo. Em termos situa-
gócios também levou ao aprimoramento do sis- cionais, é a quantia paga por um operador (es-
tema contábil. Nessa ocasião, começaram a ser peculador) que comprou ações e deseja poster-
feitas restrições à prática de contabilidade por gar o recebimento das mesmas. Essa quantia,
pessoas não qualificadas. O desenvolvimento do calculada de acordo com os juros sobre o valor
sistema capitalista no século XX, que deu origem da transação, é proporcional ao tempo que durar
a grandes corporações transacionais, criou novas a postergação do fechamento da operação. É o
exigências de aperfeiçoamento da contabilidade, inverso de Backwardation. Veja também Back-
atendidas basicamente pela introdução dos sis- wardation; Mercado a Futuro; Mercado Spot.
temas de computação. Veja também Adminis-
CONTAS NACIONAIS. Sistema de agregados
tração; Balanço; Contas Nacionais; Orçamento;
estatísticos correlatos que registra a atividade
Partidas Dobradas; PIB; PNB; Renda Nacional.
econômica global de um país num período de-
CONTABILIDADE NACIONAL. Veja Contas terminado, geralmente um ano. O registro con-
Nacionais. tábil é feito pelo método das partidas dobradas,
de tal maneira que os agregados são apresenta-
CONTABILIDADE SOCIAL. Veja Contas Na- dos duas vezes: a débito de uma conta e a crédito
cionais. de outra. Ao débito corresponde uma despesa
CONTA CORRENTE. Na acepção mais gené- ou um pagamento; ao crédito, um fundo origi-
rica, é uma conta entre duas ou mais pessoas nário da produção interna do país ou procedente
físicas ou jurídicas em que são lançados os cré- do estrangeiro. Os sistemas de contas nacionais
ditos e débitos das operações entre elas. Em ter- constituem indispensável instrumento de análi-
mos bancários, é a contabilidade entre um banco se para a macroeconomia. Obedecem a uma pa-
e seu cliente, pessoa física ou jurídica, em que dronização internacional estabelecida pela ONU
são computados os créditos e débitos desse e incluem os seguintes itens gerais: conta do pro-
cliente. O mesmo termo é utilizado internacio- duto interno, conta da renda nacional, conta dos
nalmente para indicar as transações efetuadas consumidores, conta do governo, conta das tran-
entre dois países, com respectivos créditos e dé- sações com o exterior e conta consolidada de
bitos, ou entre um país e os demais. capital. Cada conta se compõe de agregados e
subagregados, apresentados a preços correntes
CONTAG — Confederação Nacional dos Tra- e em termos reais, isto é, a preços deflacionados
balhadores na Agricultura. Entidade sindical (corrigidos do efeito inflacionário). Somente com
brasileira, sediada em Brasília, fundada em de- os agregados em termos reais é possível esta-
zembro de 1963. Integrada por 21 federações re- belecer tendências do desenvolvimento ma-
gionais, tem na base 2 500 sindicatos rurais, com croeconômico e comparar os resultados de
cerca de sete milhões de associados (1980). Tem anos diferentes. Veja também Balanço de Pa-
como objetivo a defesa dos interesses e direitos gamentos; Formação de Capital; Investimen-
dos assalariados agrícolas, pequenos proprietá- to; Renda Nacional.
rios, parceiros, meeiros e arrendatários que vi-
vem em regime de economia familiar. Em abril CONTÊINER. Sistema de embalagem de mer-
de 1964, sofreu intervenção do Ministério do cadorias em recipientes metálicos para o trans-
Trabalho. Em 1968, uma chapa de oposição, en- porte, o que aumenta a velocidade de embarque
CONTINGENCIAMENTO 128

e desembarque, reduzindo, portanto, os custos leão para fechar a Europa ao comércio britânico,
de transporte. foi em grande parte anulado pelas atividades
de contrabandistas. O contrabando floresce par-
CONTINGENCIAMENTO. Política econômica ticularmente nos casos de produtos sobre os
de intervenção governamental que consiste em quais incidem altas taxas alfandegárias (seda,
imposição de limites à produção, comercializa- álcool e chá na Inglaterra do século XVIII, ou
ção interna e importação ou exportação de um café e tabaco na maior parte da Europa, na mes-
produto. Com maior freqüência, o contingencia- ma época) ou onde haja proibições na importa-
mento é empregado para deter em determinado ção (narcóticos) e exportação (armas e divisas).
nível a importação de certo produto, estimulan- Os artigos mais propícios a ser contrabandeados
do sua produção no país. são os altamente taxados e os de pequenas di-
CONTINGENCIAR. Ação relacionada com a mensões, como relógios e drogas. Algumas con-
administração do orçamento governamental dições geográficas favorecem o contrabando:
mediante o qual um governo regula as despesas costas marítimas extensas, fronteiras remotas ou
de acordo com as receitas, de tal forma a não a proximidade de um território favorecido por
apresentar dificuldades financeiras no decorrer condições fiscais especiais — a ilha de Man já
de um exercício, embora a lei orçamentária pos- constituiu tal ameaça à Inglaterra, até 1765, ou
sa autorizá-lo a realizar despesas maiores do que Gibraltar em relação à Espanha; outros exem-
as que realiza em determinado período. plos são Hong-Kong, Macau e Andorra.

CONTINGENT VALUATION. Expressão em CONTRABANDO-FORMIGA. Contrabando rea-


inglês que significa uma técnica de valor não- lizado em pequenas quantidades, geralmente
monetário, isto é, procura-se aferir, por meio de contando com a complacência das autoridades
questionário, a concordância dos consumidores de um país, como acontece na fronteira entre o
em pagar por melhorias na prestação de um ser- Paraguai e o Brasil, onde, quando um sem-nú-
viço, melhorias essas que ainda não foram im- mero de “sacoleiros” atravessam a ponte que
plementadas. Trata-se, portanto, de avaliar a po- une ambos os países, compram no Paraguai e
tencialidade de um mercado hipotético, e não trazem mercadorias a preços muito mais baixos
do mercado existente, e é obtida mediante ques- para o Brasil, como cigarros (os mesmos cigarros
tões que procuram analisar o grau de consenti- brasileiros exportados para aquele país sem,
mento dos consumidores em efetuar pagamen- contudo, a incidência de impostos), pequenos
tos por serviços de que ainda não dispõem, com aparelhos eletrônicos, peças de vestuário etc.
o grau de qualidade que se pretende criar. Por Veja também Sacoleiros.
exemplo, busca-se, por meio dessa técnica, ava-
CONTRA BROKER. Expressão em inglês que
liar até que ponto os habitantes de determinada
designa o corretor que está do lado da compra
localidade estariam dispostos a pagar pela me-
numa ordem de venda, ou do lado da venda
lhoria das condições ambientais, pela existência
numa ordem de compra.
de áreas verdes nas proximidades do meio ur-
bano, ou pelo tratamento adequado ao proces- CONTRATO. Acordo de vontades entre duas
samento do lixo. ou mais pessoas que, reciprocamente, se atri-
buem direitos e obrigações. Os contratos são em
CONTO (de Réis). Unidade monetária utiliza-
geral escritos e, em alguns casos, a lei prevê uma
da no Brasil durante o século XIX até meados
forma solene para sua celebração, mas podem
do século XX, equivalente a 1 milhão de réis,
ser também consensuais ou verbais. Em princí-
ou a mil réis.
pio, ninguém é obrigado a vincular-se contra-
CONTRABANDO. Ato de importar ou expor- tualmente. Para que o contrato possua validade
tar mercadorias proibidas ou sonegar o paga- jurídica, exige-se que as partes tenham capaci-
mento de direitos ou impostos devidos ao Es- dade de contratar e que o objetivo do contrato
tado pela entrada e saída de mercadorias. Ge- seja lícito. A parte que causar o rompimento do
nericamente, o contrabando inclui o conceito de contrato se sujeita a ser constrangida pela Justiça
descaminho: todo e qualquer ato fraudulento a atender aos danos causados à outra parte. Em-
com o fim de evitar o pagamento dos direitos bora a própria natureza do contrato tenha como
estabelecidos sobre a entrada, saída, fabricação fundamento a concordância das partes, há con-
ou consumo de mercadorias. O contrabando tem tratos, como o de adesão, no qual o objeto do
sido praticado onde quer que haja restrições al- pacto é determinado de antemão por uma das
fandegárias. No século XVII, quando a Espanha partes, enquanto a outra se limita a aceitá-lo.
proibiu o comércio de suas colônias com outros Há outros tipos de contrato, destacando-se: aces-
países, contrabandistas ingleses praticavam lu- sório (subordinado a um principal ou a ele opos-
crativo comércio nas costas da América do Sul. to), administrativo (entre pessoa física ou jurídica
O Bloqueio Continental, estabelecido por Napo- e o poder público), gratuito (em que só uma das
129 CONTROLE DO MEIO CIRCULANTE

partes se beneficia), oneroso (que impõe ônus às é a coletividade. O conteúdo político do contrato
partes, como os de locação, compra e venda), social é essencialmente democrático, pois o po-
bilateral (em que as partes assumem obrigações der e a autoridade estão vinculados à soberania
recíprocas), unilateral (em que as obrigações são popular, que é indivisível e inalienável: ela não
apenas de uma parte), coletivo (entre grupos ou pode ser partilhada, mas pode ser delegada em
entidades representativas dos mesmos), comer- suas funções executivas (de governo). A lei,
cial (na esfera do direito comercial), de trabalho como ato da vontade geral, coletiva e expressão
(entre empregado e empregador), judicial (fir- de soberania, é de vital importância, pois deter-
mado perante um juiz). mina o destino do Estado. Veja também Rous-
seau, Jean-Jacques.
CONTRATO DE GAVETA. Sistema de trans-
ferência de contratos de compra, geralmente de CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA. Tributo ge-
imóveis, mediante o qual o vendedor continua rado pela valorização imobiliária decorrente das
sendo o titular de um financiamento, e o com- obras públicas realizadas pelo governo. Essa va-
prador paga o restante de um financiamento de lorização significa um acréscimo patrimonial
posse de uma procuração que lhe dá plenos di- dos detentores das propriedades imobiliárias be-
reitos, para que as condições vantajosas desse neficiadas. Uma parte dessa valorização poderia
financiamento não sejam perdidas por mudança se transformar em receitas públicas mediante a
de titularidade. Os contratos de financiamento cobrança da contribuição de melhoria, muitas
de casa própria — entre os quais os financia- vezes viabilizando investimentos infra-estrutu-
dos pelo extinto Banco Nacional da Habitação rais que de outra forma seriam muito custosos
(BNH) —, com condições muito favoráveis, são para ser realizados. A Constituição de 1988 fa-
submetidos a esse tratamento. Como o contrato culta à União, aos Estados e aos municípios a
de compra e venda só é registrado no final do instituição de contribuições de melhoria decor-
financiamento e permanece guardado até então, rentes da realização de obras públicas.
recebe o nome de “contrato de gaveta”.
CONTROLE CAMBIAL. Controle que as auto-
CONTRATO DE GESTÃO. Contratos celebra-
ridades monetárias exercem sobre o comércio
dos entre empresas estatais, por intermédio de
de moedas estrangeiras, por meio do sistema
suas diretorias e o acionista majoritário — o Es-
bancário (basicamente, pelo Banco Central). Esse
tado —, mediante ministérios, quando se trata
controle estende-se sobre toda a compra e venda
da União (governo federal), ou secretarias, quan-
de divisas pelas pessoas residentes e empresas
do se trata de Estados (governos estaduais),
estabelecidas no país. É apoiado sobretudo na
constituindo um compromisso gerencial com
metas e objetivos de produção a serem alcança- fixação das taxas de câmbio oficiais e numa série
dos em determinado período de tempo. O ob- de restrições para a compra de moeda estran-
jetivo básico desses contratos é estabelecer maior geira e sua remessa para o exterior. Um dos me-
transparência na gestão das empresas estatais e canismos mais comuns do controle cambial é a
permitir ao Estado um maior controle e super- venda obrigatória, ao Estado, da moeda estran-
visão sobre as empresas das quais é acionista geira recebida pelos exportadores. Outro é a li-
majoritário. O Estado de São Paulo implantou mitação para a aquisição de divisas pelos que
esses contratos a partir de 1992, em suas em- viajam ao exterior; no Brasil, a partir de 1991,
presas estatais, e o governo federal também ini- segundo decisão do Ministério da Economia,
ciou sua implantação na Companhia Vale do qualquer cidadão pode adquirir livremente dó-
Rio Doce e, em 1994, na Petrobrás. lares, desde que comprovada sua utilização.
Veja também Política Cambial.
CONTRATO DE MÚTUO. Veja Mútuo, Con-
trato de. CONTROLE DE PREÇOS. Veja Preços, Con-
trole de.
CONTRATO DE RISCO. Veja Risco, Contrato de.
CONTROLE DE QUALIDADE. Processo que
CONTRATO SOCIAL. Conceito elaborado pelo permite a uma empresa verificar, por meio de
filósofo francês Rousseau, segundo o qual a so- métodos estatísticos, a qualidade dos produtos
ciedade se origina de um acordo convencional que produz. À medida que a concorrência in-
entre os homens, com o objetivo de eliminar dis- ternacional vem se intensificando, o controle de
putas e possibilitar a vida em comum. A teoria qualidade torna-se uma exigência cada vez
do contrato social de Rousseau parte do seguinte maior e as empresas têm dedicado uma atenção
postulado: “A liberdade é um direito e um de- crescente a esse problema. Veja também ISO
ver”. A viabilidade da liberdade geral resulta 9000.
da renúncia individual a certas prerrogativas,
para que assim os homens se tornem cidadãos, CONTROLE DO MEIO CIRCULANTE. Veja
criadores e participantes da “vontade geral”, que Meio Circulante, Controle do.
CONTROVÉRSIA DE CAMBRIDGE 130

CONTROVÉRSIA DE CAMBRIDGE. Debate recém-unificada. Como o ministro da Educação


travado entre a Escola de Cambridge (Univer- em Berlim dava quase exclusiva preferência aos
sidade de Cambridge, Inglaterra) e a Escola Neo- adeptos de Schmoller na indicação de professo-
clássica, do Massachusetts Institute of Tecnology res universitários, a polêmica incorporou (além
(MIT), Cambridge, Massachusetts (Estados Uni- das questões do método e da política econômica)
dos) sobre a validade da abordagem neoclássica também as questões relacionadas com a liber-
em economia. Esse debate envolveu os econo- dade acadêmica, pois os ataques de Menger a
mistas mais destacados do MIT, como P. Sa- Schmoller abarcavam toda a comunidade uni-
muelson e R. Solow, e da Escola de Cambridge, versitária composta, em grande medida, de
como J. Robinson, P. Sraffa e N. Kaldor. O ponto “partidários” deste último. Sobre a importância
central da controvérsia girava em torno do con- da teoria e de estudos empíricos em economia,
ceito de capital e do papel por ele desempenha- no entanto, ambos concordavam. As divergên-
do numa função de produção agregada. De acor- cias estavam na ênfase que se devia dar a cada
do com a Escola de Cambridge, a possibilidade instância e no desenvolvimento das conclusões.
da reciclagem de técnicas seria suficiente para in- Menger argumentava que a economia “pura”
validar muitos dos supostos da Escola Neoclás- poderia ser desenvolvida por meio de análises
sica e especialmente sua teoria do crescimento lógicas cujas conclusões seriam amplamente
econômico. A Escola Neoclássica, embora admi- aplicáveis e, portanto, úteis do ponto de vista
tindo que a possibilidade de reciclagem enfra- prático. Proposições apoiadas em dados empí-
quecia suas concepções sobre o capital, não con- ricos, no entanto, seriam corretas apenas até os
cordava que por essa razão a teoria deveria ser limites dos dados em que as proposições se ba-
abandonada. Tal debate ainda prossegue, em- seassem. Na medida em que os dados empíricos
bora com menor ímpeto, uma vez que os de- eram sempre parciais e limitados no espaço e
fensores da Escola de Cambridge consideram no tempo, as conclusões deles emanadas seriam
que suas críticas foram comprovadas. Veja tam- problemáticas e de generalização limitada. Pro-
bém Escola de Cambridge; Escola Neoclássica; posições corretas e de aplicação geral poderiam
Reciclagem; Teoria Neoclássica do Crescimen- ser desdobradas por meio de rigorosa análise
to Econômico. lógica de supostos não limitados no tempo, es-
CONTROVÉRSIA DO CAPITAL. Veja Contro- paço ou circunstâncias especiais. Para Menger,
vérsia de Cambridge. os dados empíricos atuariam como uma espécie
de ponte entre a economia pura (teoria) e as
CONTROVÉRSIA DO MÉTODO (Metho- questões de política aplicada à economia, mas
denstreit). Polêmica desenvolvida entre Carl advertia que isso só poderia ser feito mediante
Menger e Gustav Schmoller no final do século exaustivos estudos empíricos. Schmoller tam-
XIX, considerada um dos principais debates me- bém defendia o uso de estudos empíricos e da
todológicos na história da ciência econômica. teoria econômica, mas de acordo com uma com-
Teve início com a publicação do livro de Menger binação diferente. Ele rejeitava o método lógico
sobre o método (1883), que recebeu de Schmoller dedutivo de Menger por três razões: os pressu-
uma resenha crítica muito desfavorável, a qual postos eram irreais, seu elevado nível de abs-
foi respondida com a mesma veemência por tração tornava a teoria irrelevante para resolver
Menger no ano seguinte (1884), no The Errors of os problemas do mundo real e não continha ele-
Historicism (Os Erros do Historicismo). Na ver- mentos empíricos. Dessa forma, a teoria seria
dade, as críticas de parte a parte estavam en- inútil para esclarecer as principais questões com
raizadas em discordância mais profunda, e não as quais os economistas se defrontavam: de que
apenas em questões metodológicas. Enquanto maneira se desenvolveram as instituições eco-
Menger acreditava que o comportamento eco- nômicas do mundo moderno, alcançando seu
nômico implicava um sistema social constituído presente estágio, e quais são as leis e as regu-
por indivíduos movidos por interesses egoístas, laridades que as governam? Para Schmoller, o
Schmoller considerava que os indivíduos for- método mais apropriado era a indução dos prin-
mavam grupos, nações, com objetivos e interes- cípios gerais por intermédio dos estudos histó-
ses grupais, embora também individuais. O rico-empíricos. Veja também Menger, Carl; Mé-
mais importante é que as concepções de Menger todo; Schmoller, Gustav.
resultavam e davam especial ênfase à primazia
das políticas liberais (laissez-faire), que deveriam CONVENÇÃO DE LOMÉ. Denominação dada
ser as mais abrangentes para permitir o funcio- a uma série de acordos de comércio e cooperação
namento dos mecanismos de ajuste e equilíbrio econômica assinados, a partir de 1975, na capital
dos mercados. As conclusões de Schmoller iam do Togo, entre a Comunidade Econômica Eu-
em direção oposta, supondo a intervenção do ropéia e países da África, do Caribe e do Pacífico.
Estado por meio de políticas governamentais Esses acordos substituíram e ampliaram o esta-
como as emanadas pelo governo da Alemanha belecido na Convenção de Yaoundé entre a Co-
131 CONVEXIDADE

munidade Econômica Européia e países da Áfri- assegurados. Depois da Segunda Guerra Mun-
ca e a República Malgaxe. O aspecto mais im- dial, por exemplo, os títulos de dívida pública
portante desses acordos foi a garantia dada pela ingleses foram trocados por outros, com juros
CEE de eximir de tarifas (e sem exigir recipro- menores. Ações ou debêntures podem ser tro-
cidade) todos os produtos manufaturados ou de cadas, com mudanças na sua essência, isto é,
agricultura tropical oriundos desses países. Veja passar de nominativas para ao portador ou de
também Convenção de Yaoundé. ordinárias para preferenciais. Veja também
Consols.
CONVENÇÃO DE YAOUNDÉ. Conjunto de
acordos assinados em Yaoundé (Camarões), a CONVERSÃO DAS UNIDADES DE PESOS
partir de 1963, entre a Comunidade Econômica E MEDIDAS. Medidas do Sistema Imperial In-
Européia e a Associação de Países da África e glês e do Sistema Consuetudinário Americano
da República Malgaxe, estabelecendo uma série e suas conversões ao Sistema Métrico Decimal:
de políticas recíprocas e não-discriminatórias de Ver tabelas nas págs. 647, 648 e 649.
comércio, ajuda financeira, assistência técnica e
eliminação gradual de barreiras alfandegárias. CONVERSÃO DE DÍVIDA. Troca de títulos de
A Convenção de Yaoundé prevaleceu até 1975, dívida pública, vencidos ou a vencer, por outros
quando foi substituída pela Convenção de Lomé. com vencimentos a prazo mais longo. Equivale,
Veja também Convenção de Lomé. na prática, a uma rolagem da dívida, já que seu
vencimento é “empurrado” para o futuro. No
CONVÊNIO DE TAUBATÉ. Convênio assina- que se refere à dívida externa de um país, pode
do em Taubaté (SP), em 1906, por representantes consistir na transformação de parte dessa dívida
dos três Estados maiores produtores de café — em capital de risco, operação que geralmente
São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro —, implica um deságio no ato de conversão. Veja
com o objetivo de valorização do produto no também Capital de Risco; Deságio.
mercado internacional por meio do controle da
oferta. As cláusulas eram as seguintes: 1) a fim CONVERSIBILIDADE. Originalmente, era a
de garantir o equilíbrio entre a oferta e a de- possibilidade de trocar-se moeda-papel ou pa-
manda do café no mercado internacional, o go- pel-moeda por seu correspondente em ouro
verno federal interviria no mercado para com- amoedado, segundo cotações determinadas. Du-
prar os excedentes; 2) o financiamento necessá- rante o século XX, a conversibilidade existiu no
rio para essas compras e para a manutenção de Brasil por dois períodos curtos: entre 1906 e 1914
estoques seria feito mediante empréstimos es- com a Caixa de Estabilização, e entre 1926 e 1930
trangeiros; 3) o serviço da dívida externa resul- com a Caixa de Conversão. Atualmente, o termo
tante seria pago com um imposto em ouro sobre indica a situação em que uma moeda é livre-
cada saca de café exportada; 4) os governos dos mente trocável por moedas estrangeiras, segun-
países produtores deveriam desencorajar a ex- do taxas de câmbio determinadas ou preços es-
pansão das plantações. O ponto vulnerável des- tabelecidos pela oferta e demanda da moeda. A
se acordo residia no fato de o controle ser da conversibilidade monetária é considerada fun-
oferta e não da produção, o que aumentava con- damental para o desenvolvimento e a manuten-
sideravelmente o risco de superprodução. A cri- ção do comércio internacional. Em contraparti-
se econômica mundial de 1929-33 mostrou a ex- da, cria possibilidades de evasão de divisas e
tensão dessa vulnerabilidade. Veja também Cri- crises no balanço de pagamentos. Por isso, mui-
se Econômica; Dardanismo. tos países impõem limites à conversibilidade de
suas moedas. O real, por exemplo, só é conver-
CONVERGÊNCIA, Tese da. Concepção de que sível em moedas estrangeiras em condições de-
as economias capitalistas e socialistas, embora terminadas pela política cambial — viagens ao
partindo de pontos completamente opostos, exterior, por exemplo, e segundo uma quantia-
convergiriam crescentemente nas formas de limite. Veja também Caixa de Conversão; Caixa
comportamento, pensamento, instituições e mé- de Estabilização; Comércio Internacional; Pa-
todos. Essa hipótese foi levantada originalmente drão Câmbio-ouro; Padrão-Ouro.
pelo economista holandês Jan Tinbergen, no sen-
tido de que tal convergência seria inevitável em CONVERSOR. Em informática, é um equipa-
função da necessidade de padrões similares do mento capaz de transformar dados de uma for-
desenvolvimento tecnológico. Com as transfor- ma para outra, a fim de torná-los adequados a
mações ocorridas nos países do Leste Europeu um certo equipamento. Um conversor é por
e na ex-União Soviética depois de 1989, a tese exemplo uma unidade que transforma quanti-
foi totalmente superada. dades analógicas em quantidades digitais. Veja
também Computador.
CONVERSÃO. Mudança das características de
uma ação ou título, inclusive nos rendimentos CONVEXIDADE. Veja Função Convexa.
COOPERATIVA 132

COOPERATIVA. Empresa formada e dirigida COOPETITION. Termo em inglês constituído


por uma associação de usuários, que se reúnem das palavras cooperation (cooperação) e competi-
em igualdade de direitos com o objetivo de de- tion (concorrência), isto é, uma contradição em
senvolver uma atividade econômica ou prestar termos, na medida em que se trata de uma coo-
serviços comuns, eliminando os intermediários. peração entre competidores. Este conceito é apli-
O movimento cooperativista contrapõe-se às cado nos casos em que empresas competidoras,
grandes corporações capitalistas de caráter mo- mas desejosas de criar um novo mercado ou de
nopolista. Conforme a natureza de seu corpo reduzir riscos que envolvem investimentos vul-
de associados, as cooperativas podem ser de pro- tosos em inovações, cooperam entre si, até que
dução, de consumo, de crédito, de troca e comercia- o resultado seja alcançado, para então continuar
lização, de segurança mútua, de venda por atacado em sua trilha de competição. Não é raro encon-
ou de assistência médica. As mais comuns são as trar empresas que se enfrentam ferozmente em
cooperativas de produção, consumo e crédito; determinados mercados, cooperando amistosa-
há ainda as cooperativas mistas, que unem mente em outros. Por exemplo, as empresas Sun,
numa só empresa essas três atividades. Na Eu- IBM, Apple e Netscape entraram num processo
ropa e nos Estados Unidos, as cooperativas de de cooperação para sustentar o novo programa
crédito são a principal fonte do crédito rural, e para computadores Java, a fim de enfraquecer
na União Soviética formam a base de economia a Microsoft. A linha divisória entre o que vem
dos kolkhozes. No Brasil, a formação de coope- sendo denominado coopetition e a formação de
rativas é regulamentada por lei desde 1907. In- cartéis não é muito clara. As instituições encar-
ternacionalmente, a atividade é incentivada pela regadas de zelar pela manutenção da concor-
Aliança Cooperativa Internacional. Veja também rência ainda não definiram tais limites, que se-
Cooperativismo. param as duas formas de comportamento. Fa-
talmente, serão levadas a fazê-lo e até mesmo
COOPERATIVISMO. Doutrina que tem por a consolidar uma legislação correspondente, na
objetivo a solução de problemas sociais por meio medida em que essa aproximação entre empre-
da criação de comunidades de cooperação. Tais sas possa resultar em benefícios para o público.
comunidades seriam formadas por indivíduos Veja também Cartel; Concorrência.
livres, que se encarregariam da gestão da pro-
dução e participariam igualitariamente dos bens COORDENADAS CARTESIANAS. Método de
produzidos em comum. Sua realização prática representação gráfica no qual se constroem duas
linhas perpendiculares, sendo a horizontal de-
prevê a criação de cooperativas de produção,
nominada “eixo de X ” e a vertical, “eixo de Y”.
consumo e de crédito. O cooperativismo pre-
O ponto de intersecção chama-se “origem” e de-
tendeu representar uma alternativa entre o ca-
signa-se pela abreviação “0", ou o ponto zero a
pitalismo e o socialismo, mas sua origem en-
partir do qual medem-se as distâncias horizon-
contra-se nas propostas dos chamados socialis-
tais e verticais.
tas utópicos. O iniciador deste movimento foi
o inglês Robert Owen, que patrocinou a criação COPELAÇÃO. Veja Ouro.
da primeira cooperativa na Europa, a sociedade
Pioneiros Equitativos de Rochdale, em 1844, in- COPEQUE. Veja Rublo.
tegrada por tecelões. Na França, o movimento
COPYRIGHT. Direito de cópia ou de reprodu-
cooperativista representou uma negação do ca-
ção, em inglês. Direito de propriedade que tem
pitalismo e foi incentivado por Charles Fourier,
o autor de uma obra literária, artística ou
Saint-Simon e Louis Blanc, os quais procuraram
científica.
organizar cooperativas de produção, principal-
mente com os artesãos arruinados pela Revolu- CORBISIER, Roland. Veja ISEB.
ção Industrial. Mais tarde, em lugar do conteúdo
socialista, o cooperativismo adquiriu caracterís- CORD. Medida de volume para madeira utili-
ticas mais atenuadas de reforma social, nas for- zada nos Estados Unidos, equivalente a uma pi-
mulações de Beatrice Potter Webb, Luigi Luz- lha de 4 pés de altura por 4 pés de largura e 8
zatti e Charles Gide. No Brasil, o cooperativismo pés de comprimento. Veja também Sistemas de
iniciou-se no final do século XIX, principalmente Pesos e Medidas; Unidades de Pesos e Medidas.
no meio rural. Atualmente, é regulamentado por CÓRDOBA. Unidade monetária da Nicarágua.
leis especiais e subordinado ao Conselho Na- Submúltiplo: centavo.
cional de Cooperativismo, órgão do Ministério
da Agricultura. Conta ainda com uma institui- CORECON — Conselho Regional de Econo-
ção financeira especial, o Banco Nacional de Cré- mia. Órgão estadual vinculado ao Cofecon, que
dito Cooperativo. Veja também Banco Nacional tem por finalidade zelar pelo exercício da pro-
de Crédito Cooperativo; Fourier, Charles; Gide, fissão em nível estadual, proporcionando inclu-
Charles; Owen, Robert; Webb, Beatrice. sive a habilitação legal mediante registro pro-
133 CORONELISMO

fissional. O Corecon é responsável também pelo mica sobre as Corn Laws acentuou-se entre 1838
registro de pessoas jurídicas que exerçam a ati- e 1846, com a mobilização promovida pela Liga
vidade de economista. Os membros do Corecon contra as Corn Laws (criada pelos industriais)
(conselheiros) têm seus cargos renovados em e que recebeu a adesão de trabalhadores. Essa
um terço de seu número a cada ano. questão, em particular, foi tratada por Marx em
seu Discurso sobre o Livre-cambismo.
CORN BELT. Expressão que designa as regiões
onde se cultivam os principais cereais, como tri- CORNER. Termo em inglês que significa uma
go, arroz, cevada, milho etc. Em sentido estrito, situação na qual um investidor ou um grupo
corn significa “milho”, mas no sentido genérico articulado de investidores controla a maior parte
refere-se ao cereal mais importante de uma re- da oferta de uma ação ou título, podendo influir
gião (na Europa e nos Estados Unidos, geral- decisivamente sobre suas cotações. Desse termo
mente o trigo). Assim, a tradução mais apro- deriva a expressão cornering the market, que sig-
priada seria “cinturão cerealista”. nifica uma compra volumosa de um título ou
commodity de tal forma que o(s) comprador(es)
CORN-HOG RATIO. Expressão em inglês que passa(am) a deter o controle dos respectivos pre-
significa o coeficiente determinado pelo número ços. Quando isso acontece, aqueles que porven-
de bushels de milho igual em valor de cem li- tura tenham vendido a descoberto, isto é, ven-
bras-peso de carne de porco. Este coeficiente in- deram um volume maior do que os títulos pos-
dica — dados os preços de mercado dos dois suídos, deverão pagar cotações muito elevadas
produtos — se os fazendeiros tenderão a vender para honrar seus contratos. Embora esta prática
o milho que produzirem ou o utilizarão para seja considerada ilegal na maioria das Bolsas de
alimentar seus porcos e vender a carne destes Valores, ela continua sendo praticada. Veja tam-
no mercado. bém Bolsa de Valores.
CORN LAWS (Leis dos Cereais ou Leis do Tri- COROA. Unidade monetária da Islândia (Nova
go). Legislação inglesa que restringia a impor- Coroa Islandesa; Submúltiplo: aurar), da Dina-
tação de cereais. Essas leis existiam desde a Ida- marca (Coroa Dinamarquesa; submúltiplo: ore),
de Média, mas se tornaram uma questão central da Noruega (Coroa Norueguesa; submúltiplo:
na primeira metade do século XIX, gerando acir- ore), da Suécia (Coroa Sueca; submúltiplo: ore),
rada polêmica entre donos de terras e indus- da República Tcheca (Coroa Tcheca; submúlti-
triais. O isolamento imposto à Inglaterra durante plo: haléru). Territórios e dependências: Groen-
as guerras napoleônicas contribuiu para a ele- lândia (Dinamarca, Coroa — ore), Ilhas Faroë
vação dos preços dos cereais, particularmente o (Dinamarca, Coroa — ore), Sual Bard (Noruega,
trigo, beneficiando os donos de terras, que ti- Coroa — ore).
nham a maioria no Parlamento e queriam man-
ter as restrições às compras de trigo russo, nor- CORONELISMO. Termo que designa, no Bra-
te-americano e francês. Como o preço dos cereais sil, o tipo social do grande proprietário rural de
ingleses era muito alto, isso resultava numa comportamento despótico e patriarcal que, por
pressão constante sobre os salários, pois os tra- força do consenso geral de um sistema de o-
balhadores tinham nos cereais seu gasto princi- brigações e favores, confunde em sua pessoa
pal. Os industriais, sobretudo de Manchester atribuições de caráter privado e público. O “co-
(centro da produção de tecidos), insurgiram-se ronel” protege e sustenta economicamente seus
contra a manutenção das restrições impostas pe- agregados, exigindo deles obediência e fidelida-
las Corn Laws, pois de um lado queriam bara- de a sua chefia política. O termo surgiu no pe-
tear o preço de mão-de-obra (via importação de ríodo da Regência, com a criação da Guarda Na-
trigo mais barato) e, de outro, queriam intensi- cional, em 1831, um corpo militar formado por
ficar a exportação de produtos industriais para cidadãos armados em que o governo confiava
a Rússia, os Estados Unidos, a França e outros e que atuou várias vezes na repressão a movi-
países, que só podiam pagar esses produtos com mentos internos de rebeldia. Posteriormente, a
gêneros alimentícios. Era a política do livre-cam- Guarda Nacional perdeu sua função militar, tor-
bismo. A discussão pôs em confronto não só nando-se meramente honorífica e decorativa. O
industriais e latifundiários, mas também os eco- posto de coronel, o mais elevado da guarda, era
nomistas clássicos: Malthus colocou-se ao lado concedido aos indivíduos de maior força eco-
dos proprietários rurais, e Ricardo (que era tam- nômica e política nos municípios, em geral gran-
bém deputado) tomou o partido dos industriais. des proprietários rurais. Com o correr do tempo,
No seu trabalho teórico, Ricardo procurou ainda o termo “coronel” passou a designar os fazen-
ligar o preço dos cereais aos problemas de re- deiros mais abastados que, em cada município,
partição da renda, crescimento da população, ocupavam posições de liderança política, tor-
aumento da renda diferencial, salários e desen- nando-se os pontos de apoio locais do ordena-
volvimento do comércio internacional. A polê- mento político que caracterizou a Primeira Re-
CORPORAÇÃO 134

pública (1889-1930). O grande proprietário rural só podia ser pedreiro quem pertencesse à cor-
estendia seu domínio econômico e político a cen- poração dos pedreiros ou só podia ser comer-
tenas e até milhares de pessoas, que dependiam ciante de lã quem fizesse parte da guilda cor-
dele como agregados, meeiros ou colonos, tipi- respondente. Até os mendigos tinham suas cor-
ficando-se no exercício de um poder mercantil porações. As atividades de cada membro da cor-
e patriarcal-patrimonial. Embora produzisse poração eram regulamentadas por estatutos,
para o mercado, muitas vezes para o mercado cuja violação era punida severamente pelos pró-
externo, o “coronel” comportava-se como pa- prios tribunais da entidade — um privilégio que
triarca e chefe de clientela em seus domínios. era comprado ao senhor feudal. A corporação
Em torno do latifúndio, formava-se uma teia de controlava a qualidade da produção artesanal
reciprocidades e de lealdades mútuas. Em troca de seus membros, determinava o preço das mer-
de emprego, de um pedaço de terra para culti- cadorias, fiscalizava o aprendizado de ajudantes
var, de empréstimos ou outros “favores”, os e jornaleiros (que recebiam por dia ou jornada
agregados deviam incondicional fidelidade ao de trabalho) e realizava exames de capacitação
partido do coronel. A aplicação do sistema elei- para o aprendiz tornar-se mestre artesão e poder
toral pelo regime republicano, em vez de solapar ingressar na corporação. As corporações tam-
a força do coronelismo, conservou-lhe e deu-lhe bém tiveram importante papel político. Muitas
feição particular. O voto, teoricamente livre, con- cidades eram totalmente controladas pelas cor-
tinuou a ser, no Interior do país, um “voto de porações dos comerciantes; estes impediam a
cabresto”, cegamente atribuído pelo eleitorado participação político-administrativa das associa-
dependente economicamente aos candidatos de ções artesanais, que se sublevaram várias vezes
seu chefe político, que impunha ainda seu do- contra isso. Em troca de privilégios, muitas cor-
mínio eleitoral com as “atas falsas” e “eleições porações apoiaram os reis na luta contra os se-
de bico de pena”. Desse modo, durante a Pri- nhores feudais, durante o processo de formação
meira República, o poder central apoiou-se nos dos Estados Nacionais.
coronéis, que dele obtinham todas as prerroga-
tivas no setor municipal, onde controlavam a CORPORAÇÃO FINANCEIRA INTERNACIO-
vida econômica e política e dominavam o apa- NAL (International Finance Corporation).
relho administrativo, judiciário e policial. A par- Agência financeira das Nações Unidas criada em
tir de 1930, com o desenvolvimento e crescimen- 1956 e filiada ao Banco Mundial (Bird). Desti-
to da economia industrial e da urbanização, com na-se a prestar ajuda — nas formas de crédito
o peso cada vez maior da classe operária e das a longo prazo ou subscrição de capital — a em-
camadas médias urbanas, e com a adoção do presas privadas em países subdesenvolvidos,
voto secreto e o aperfeiçoamento do poder cen- sem necessidade de garantias governamentais.
tral nos municípios, o sistema de coronelismo Pode também investir em novos empreendi-
passou a enfraquecer-se, entrando em irre- mentos, mas essa participação limita-se, geral-
versível decadência nas últimas décadas. Isso se mente, a 25% do investimento total. Edita um
deu com a transformação das grandes proprie- relatório anual (Annual Reports).
dades rurais em empresas agrícolas capitalistas,
nas quais a mão-de-obra é assalariada e obrigada CORPORATIVISMO. Doutrina que prega a
a grande mobilidade, não permitindo vínculos harmonização dos desajustes da economia de
de dependência pessoal. Outros fatores que so- mercado e dos conflitos sociais por meio da cria-
laparam as bases políticas do coronelismo fo- ção de um sistema de corporações (unidades
ram a modernização dos meios de transporte profissionais) formadas por representantes de
e comunicação e a cada vez maior presença patrões e empregados. A corporação, eficiente
do poder central nos municípios. Veja também e autodisciplinada, regulamentaria as relações
Patriarcalismo. entre capital e trabalho, organizaria a produção
e seus limites, respondendo ainda pela qualida-
CORPORAÇÃO. Associação profissional de co- de dos produtos e pela comercialização. O cor-
merciantes ou artesãos da Idade Média. Conhe- porativismo abrange várias tendências doutri-
cidas também como confrarias, grêmios, fraterni- nárias, algumas enfatizando os problemas eco-
dades ou guildas, as corporações situavam-se nas nômicos e sociais, outras voltando-se mais para
cidades e comunas medievais. Desenvolveram- a ação do Estado como criador, controlador e
se entre os séculos XII e XIV, acompanhando o beneficiário do sistema corporativo. Todas cul-
processo do renascimento comercial. Foi na Itá- tuam o dirigismo estatal, visto como caminho
lia onde mais proliferaram; na França, perdura- intermediário entre o liberalismo e o socialismo,
ram até 1791, quando foram abolidas por lei. ambos condenados. As doutrinas corporativis-
Eram organizações fechadas, cujos membros tas surgiram no final do século XIX como reação
monopolizavam o exercício de determinada pro- ao espontaneísmo do liberalismo econômico
fissão ou atividade comercial. Numa comuna, para resolver os desequilíbrios do mercado, e
135 CORREÇÃO PREFIXADA

ao coletivismo defendido pelos socialistas. Con- CORREÇÃO CAMBIAL. Atualização das taxas
sideravam a luta de classes algo artificial, desa- cambiais, segundo a política econômica gover-
gregador e que deveria ser destruído por meio namental e a situação interna do país. Uma in-
da conciliação dos interesses conflitantes criados flação elevada pode provocar violento aumento
pelo capitalismo. Influenciados pelo catolicismo de custos dos produtos para exportação: acele-
tradicionalista e pelo saudosismo medieval, os rando-se a correção cambial, pode-se evitar que
defensores do corporativismo viam nas corpo- os aumentos de custo internos dificultem as ex-
rações romanas e medievais o padrão do meca- portações. A correção cambial pode ser utili-
nismo conciliador, capaz de unir interesses de zada também como um indexador de valores
patrões e empregados, como no passado unia de contratos, especialmente nas compras de
os de mestres e aprendizes e controlava a pro- bens duráveis a prazo. Veja também Desvalo-
dução artesanal. O ideal corporativista surgiu rização; Maxidesvalorização; Política Cam-
com a obra de La Tour du Pin, a ação parla- bial; Valorização.
mentar de Albert de Mun e as publicações da
revista Association Catholique, que se empenha- CORREÇÃO MONETÁRIA. Mecanismo finan-
ram na busca de uma ordem social cristã que ceiro criado em 1964 pelo governo Castelo Bran-
amenizasse os problemas sociais gerados pela co. Consiste na aplicação de um índice oficial
Revolução Industrial. Esse ideal foi uma das ins- para o reajustamento periódico do valor nomi-
pirações da encíclica Rerum Novarum (1891) e nal de títulos de dívida pública (Obrigações Rea-
influenciou muitos intelectuais europeus, entre justáveis do Tesouro Nacional) e privados (letras
eles o sociólogo Émile Durkheim. Foi na década de câmbio, depósitos a prazo fixo e depósitos
de 20, em decorrência dos efeitos da Primeira de poupança), ativos financeiros institucionais
Guerra Mundial e da crise econômica, que o cor- (FGTS, PIS, Pasep), créditos fiscais e ativos pa-
porativismo se concretizou como política de Es- trimoniais das empresas. Os índices de correção
tado, particularmente na Itália de Mussolini e monetária são calculados de acordo com a taxa
no regime salazarista português. Na Itália, foi oficial de inflação, tendo por objetivo compensar
oficializado em 1934, com a criação das 22 cor- a desvalorização da moeda. Com a decretação
porações subordinadas ao Ministério das Cor- do Plano Cruzado, em fevereiro de 1986, e a
porações: eram formadas por representantes de criação da Obrigação do Tesouro Nacional (OTN)
patrões, empregados, técnicos e representantes em substituição à ORTN, a correção monetária
do Partido Fascista; no topo do sistema ficava foi eliminada, sendo reintroduzida a partir de
o Conselho Nacional das Corporações, integran- 1987, quando a inflação retornou a níveis muito
te da Camera dei Fasci e delle Corporazioni — que elevados. Novamente, em 1991, em decorrência
substituiu a Câmara dos Deputados. Os mem- do Plano Collor 2, a correção monetária foi ofi-
bros das corporações, nomeados pelo governo, cialmente abolida com a extinção do Bônus do
atuavam nas questões trabalhistas e na regula- Tesouro Nacional (BTN). Com o recrudescimen-
mentação da economia. Toda essa estrutura ti- to da inflação, a correção monetária volta a ser
nha por base uma nova organização sindical, praticada até a adoção do Plano Real (1º/7/1994),
estreitamente vinculada ao Estado e estruturada quando é outra vez desativada. Veja também
não por setor industrial, mas por profissão. O Plano Cruzado; Plano Real; Plano Verão.
corporativismo aboliu, na teoria e na prática, o
pluralismo sindical, considerado um dos males CORREÇÃO MONETÁRIA PREFIXADA. Veja
do liberalismo. No Estado corporativo, os sin- Correção Prefixada.
dicatos, para não desenvolver atividades tidas
CORREÇÃO PREFIXADA. Mecanismo de po-
como anti-sociais, tornam-se coisa pública,
lítica econômica pelo qual as autoridades deter-
apêndices do Estado para servir de instrumentos
minam, antecipadamente, qual será a desvalo-
de conciliação e de paz social. Foi essa a política
rização da moeda em determinado período. Essa
sindical imposta pelo corporativismo fascista na
política, em geral, exige também prefixação da
Itália e em Portugal, e que também inspirou a
correção cambial. Baseia-se na premissa de que
regulamentação das atividades sindicais no Bra-
sil a partir de 1930. Um dos principais teóricos com uma correção prefixada (quase sempre sub-
do corporativismo brasileiro foi Oliveira Viana, valorizada), as expectativas inflacionárias pode-
que via como uma aplicação dos princípios cor- rão ser mais bem controladas, com resultados
porativistas a tendência crescente de intervenção benéficos no verdadeiro comportamento dos
do Estado na economia e a política desenvolvida preços. Em geral, no Brasil, tem sido adotada a
pelos monopólios capitalistas em relação ao con- correção pós-fixada. O termo também indica os
trole dos mercados e ao dimensionamento da títulos cujo rendimento é determinado anteci-
produção. padamente. Nesses casos, os investidores estão
sempre jogando contra a inflação: se diminuir,
CORPUS. Veja Trust. ganham mais; se aumentar, perdem.
CORRELAÇÃO 136

CORRELAÇÃO. Grau em que duas variáveis na verdade, um fenômeno nada ou pouco tem
estão relacionadas linearmente, seja por meio de a ver com o outro. Por exemplo, a freqüência
causalidade direta, indireta ou por probabilida- de aparecimento das manchas solares e a fre-
de estatística. A correlação é medida geralmente qüência de casamentos no interior da Bahia. Es-
pelo coeficiente: tes fenômenos podem encontrar-se estatistica-
mente correlacionados, mas eles não se deter-
Σx.y minam reciprocamente.
r= ,

√ Σ x2 √

Σ y2
CORRETAGEM. Atividade do intermediário en-
onde x e y são os desvios das médias das duas tre o vendedor e o comprador de títulos, pro-
variáveis respectivamente. Este coeficiente pode priedades imobiliárias etc. Nas Bolsas de Valo-
assumir valores entre -1 e 1. O primeiro indica res brasileiras, as taxas de corretagem variam
uma perfeita correlação negativa e o segundo, cumulativamente de acordo com o montante da
uma perfeita correlação positiva, enquanto o va- operação, desde 1,5% para valores menores, até
lor 0 (zero) ou próximo de zero indica não haver 0,5% para valores maiores. Nos casos de pro-
correlação entre as duas variáveis. Valores pró- priedades imobiliárias, esta taxa costuma ser
ximos dos extremos indicam a existência de cor- maior. O profissional que realiza esta atividade
relação, seja ela positiva ou negativa; valores denomina-se corretor. Veja também Broker;
afastados dos extremos indicam não haver cor- Jobber.
relação entre as variáveis. É necessário conside-
CORRETOR. Veja Corretagem.
rar, no entanto, que o coeficiente r indica apenas
a medida em que duas variáveis estão linear- CORRIDA BANCÁRIA. Saques generalizados
mente relacionadas, pois duas variáveis podem que depositantes fazem em seus bancos devido
estar perfeitamente relacionadas de forma não- à perda de confiança na solvência dos bancos
linear como, por exemplo, y = x2, e resultar num ou por notícias alarmantes sobre iminência de
valor muito baixo para r. guerra, cataclismos etc. No passado, as corridas
se caracterizavam pela presença dos depositan-
CORRELAÇÃO DE POSTOS (Coeficiente de). tes nos guichês dos bancos. Hoje, com os siste-
A correlação de postos é um conceito estatístico mas eletrônicos integrados, uma corrida pode
que significa a dependência estatística entre os acontecer de forma silenciosa (“corrida silencio-
pares de postos de um mesmo conjunto de in- sa”), isto é, por ordens de saque emitidas pelos
divíduos relativamente a duas classificações, sistemas integrados de computadores, nos quais
sendo uma delas tomada como ponto de refe- os depositantes transferem seus depósitos de
rência, e o seu coeficiente Pi calculado da se- um banco para outro ou fazem aplicações em
guinte maneira: suponhamos dez indivíduos instituições que representem maior segurança.
portadores de certo atributo que, pela apreciação Geralmente, quando uma corrida se generaliza,
de dois observadores, são classificados por or- as autoridades monetárias autorizam o fecha-
dem decrescente (ou por um observador, segun- mento temporário dos bancos declarando feria-
do dois atributos). Uma dessas observações dos bancários mais ou menos longos. Muitos
pode ser tomada como ponto de referência ou bancos, no entanto, podem quebrar (isto é, fe-
fundamental e seus elementos substituídos pela char suas portas unilateralmente) antes que a
seqüência 1, 2, 3, .... 10, números estes que pas- autorização chegue.
sarão a identificar os indivíduos. Então teremos
as seguintes séries: CORRIDA SILENCIOSA. Veja Corrida Bancária.
a) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10;
b) 2 4 1 3 6 5 7 10 9 8. CORTE TRANSVERSAL, Análise de. Método
Comparando-se cada elemento de b) com os se- de estudo econômico que consiste em fazer o
guintes, conta-se +1 se for menor, e -1 se for levantamento de uma “fatia” da população ou
maior. O mesmo se faz com o segundo termo, de setores produtivos, em determinado período
comparando-o aos sucessivos e assim por dian- de tempo. Esses dados são posteriormente ex-
te. A soma algébrica de todos esses valores será trapolados para o resto de cada conjunto que
equivalente a W, e o Coeficiente de Correlação estava representado no corte. Exemplo de aná-
de Postos π será igual a π = 2W/n(n-1). Se a lise de corte transversal é a Pesquisa Nacional
correspondência entre as duas classificacões for por Amostragem Domiciliar (PNAD), realizada
perfeita e direta, π = +1; se perfeita mas inversa, anualmente pelo IBGE, com o intuito de conhe-
π = -1; se for igual a zero, inexistirá correlação. cer constantemente a variação do comportamen-
No exemplo anterior, π será igual a W = 32 e to econômico dos vários segmentos da popula-
π = 2 x 32/90 = 0,711. ção. Esses dados, depois de extrapolados, ser-
vem de base para dar o peso relativo de cada
CORRELAÇÃO FALSA. Situação em que duas produto no cômputo da inflação, do custo de
variáveis aparecem altamente relacionadas, mas, vida e do INPC.
137 COTAÇÃO

CORUMBA. Veja Bóia-fria. em certos casos e condições, permitia grande


progresso da indústria. A fama de Cossa deve-se
CORVÉIA. Trabalho gratuito que o camponês, também, em boa medida, aos ensaios biblio-
notadamente na primeira fase da Idade Média, gráficos que publicou, como o Guida allo Studio
era obrigado a prestar ao senhor feudal. Este dell’Economia Politica (Guia para o Estudo da
dividia suas terras em parcelas ou glebas — re- Economia Política), 1876, reeditado com amplia-
tendo uma parte e entregando o restante a seus ções em 1892, com o título Introduzione allo Studio
servos — para que fossem por eles lavradas. Os dell’Economia Política (Introdução ao Estudo da
servos eram obrigados a trabalhar a terra do se- Economia Política).
nhor feudal com seus próprios instrumentos de
trabalho, durante alguns dias por semana, du- COST PLUS. Expressão em inglês da área do
ração que variava de região para região, mas cálculo tarifário (energia elétrica, transportes
que em todos os casos representava uma carga etc.) que consiste no retorno sobre o investimen-
consideravelmente pesada para o servo. Veja to feito (modelo tradicional), que se diferencia
também Jobagie. do sistema britânico do “preço-teto” ou price cap,
que implica na cobrança de um determinado
CO-SENO. Veja Funções Trigonométricas. preço por um serviço, mesmo que não seja re-
munerativo do capital empregado.
COSIPA — Companhia Siderúrgica Paulista.
Empresa de economia mista do grupo Siderbrás, COSTA, Artur de Sousa (1893-1957). Financis-
produtora de aço e laminados planos. Localiza- ta e político brasileiro, presidente do Banco da
da em Cubatão (SP), foi criada em 1953 com Província do Rio Grande do Sul e, em 1931, do
recursos do BNDES, em colaboração com o go- Banco do Brasil. Ocupou a pasta da Fazenda de
verno do Estado. Em 1975, seu controle acioná- 1934 até a deposição de Vargas, em 1945. Nesse
rio passou do BNDES para a Siderbrás, que de- período, empreendeu a reforma tributária e reor-
tinha 95% do seu capital social. Em 1983, a Co- ganizou o sistema de arrecadação de impostos,
sipa começou a operar sua primeira unidade, gerando recursos para o Estado impulsionar o
com capacidade inicial de produção de 500 mil processo de industrialização do país. Entre 1940
toneladas de aço por ano. Em 1965, inaugurou e 1944, efetuou a renegociação da dívida externa
seu complexo siderúrgico integrado, a usina José brasileira, tendo antes suspenso o pagamento
Bonifácio de Andrada e Silva, que ocupa uma de juros e parcelas de amortização aos credores.
área de 10,5 milhões de m2 e se distribuiu por Nessa época introduziu o regime de câmbio li-
dezenove unidades fabris, para a transformação vre, criou o Banco de Crédito da Borracha, fun-
das matérias-primas em aço e seu processamen- dou a Companhia Vale do Rio Doce e instituiu
to em laminados planos não-revestidos. A usina o cruzeiro como padrão monetário brasileiro. Foi
está localizada a 70 km do pólo industrial da também o criador da Cacex (Carteira de Expor-
capital paulista, o maior e mais importante do tação do Banco do Brasil) e da Sumoc (Superin-
país, e liga-se ao porto de Santos (também o tendência da Moeda e do Crédito). Foi deputado
maior do país) por um canal de acesso de 5 km federal pelo Partido Social Democrático (PSD)
de extensão. Seu terminal marítimo recebe toda de 1946 até sua morte, em 1957.
a matéria-prima destinada à produção de aço,
COT. Veja BOT.
procedente de outros Estados brasileiros e do
exterior. Também desse terminal saem suas ex- COTA. Também denominado “quota” no âm-
portações, que representam parcela substancial bito do comércio internacional, é o limite quan-
das exportações brasileiras de aço. Foi privati- titativo para a importação de determinados pro-
zada no dia 20 de agosto de 1993, tendo sido dutos, especialmente os primários. A limitação
adquirida pela Usiminas por intermédio da por cotas é considerada mais efetiva que as ta-
Brastubo. rifas diferenciadas de importação, pois não de-
pende da elasticidade da demanda. Cota é tam-
COSSA, Luigi (1831-1896). Nasceu na Itália e
bém a fração com que cada sócio participa do
foi professor de economia política na Universi- capital de uma sociedade por cotas de respon-
dade de Pádua, de 1858 até sua morte. Sua in- sabilidade limitada.
fluência se exerceu menos pela obra que pro-
duziu diretamente e mais pelos alunos que teve. COTAÇÃO. Preço de cada um dos títulos, açõ-
É considerado um dos “socialistas de cátedra” es, moedas estrangeiras ou mercadorias que es-
italianos e como tal foi acusado por Ferrara de tão sendo transacionadas. O termo é usado prin-
ser “germanófilo, socialista e corruptor da ju- cipalmente nas Bolsas de Valores ou de Merca-
ventude italiana”. Cossa foi muito influenciado dorias. A Cotação de Abertura é a primeira co-
por Roscher — com quem estudou — e aceitava tação de uma ação num dia de pregão; a Cotação
a idéia da relatividade histórica das leis econô- de Fechamento é a última negociação com uma
micas. Também admitia que o protecionismo, ação num dia de pregão; a Cotação Máxima é
COTAÇÃO DE ABERTURA 138

a mais elevada que uma ação teve durante um COUNTERVAILING DUTY. Expressão em in-
pregão; a Cotação Mínima é a mais baixa que glês que significa literalmente “taxa contraba-
uma ação teve num pregão, e a Cotação Média lançadora”, isto é, uma taxa alfandegária intro-
é o preço médio pelo qual uma determinada duzida acima dos tributos de importação de um
ação foi negociada em Bolsa durante um pregão. produto com o propósito específico de neutra-
lizar ou contrabalançar um subsídio às expor-
COTAÇÃO DE ABERTURA. Veja Cotação. tações, ou um dumping praticado pelo país de
COTAÇÃO DE FECHAMENTO. Veja Cotação. origem desse produto. Veja também Dumping.

COTAÇÃO DO BLACK. Veja Black. COUNTERVAILING POWER. Expressão em


inglês que significa literalmente “força contra-
COTAÇÃO MÁXIMA. Veja Cotação. balançadora”, e que consiste num conceito de-
senvolvido por John Kenneth Galbraith, segun-
COTAÇÃO MÉDIA. Veja Cotação. do o qual um excessivo poder econômico por
parte de um grupo pode ser combatido e neu-
COTAÇÃO MÍNIMA. Veja Cotação.
tralizado pela força de um grupo contrário. O
COTTAGE ECONOMY. Título de um livro es- exemplo mais freqüentemente citado é o de um
crito por William Cobbett, jornalista e escritor empregador (ou grupo de empregadores) pode-
que exerceu grande influência no início do sé- roso recebendo a oposição de um poderoso sin-
culo XIX. O livro consistia numa espécie de eco- dicato (ou de um grupo de sindicatos).
nomia doméstica rural, e com ele o autor pro-
COUNTRY LIMIT. Expressão em inglês utili-
curava fazer reviver as atividades domésticas e
zada no mercado financeiro internacional para
familiares. Dava conselhos sobre como preparar
designar o limite colocado por um banco no total
a cerveja em casa, não apenas por ser mais eco-
de empréstimos a ser concedido a devedores
nômico, mas também porque era um estímulo
tanto públicos como privados de um país. Esse
para que os homens passassem as noites em casa
teto é estabelecido pela direção de cada banco
em vez de ir para a taverna se embebedar. Para
e pode ser ampliado, dependendo das garantias
Cobbett, uma mulher que não soubesse fazer
proporcionadas pelo país devedor.
pão era “indigna de confiança” e “um peso para
a comunidade”. Ele assegurava aos pais que a COUNTRY OF ORIGIN. Veja País de Origem.
melhor maneira de garantir um bom casamento
para as filhas era conseguir que elas se tornas- COUNTRY RISK. Risco que os devedores tanto
sem “destras, hábeis e ativas nas tarefas indis- públicos como privados de um determinado
pensáveis de uma família”. As covinhas e as país representam para os bancos de outros paí-
faces rosadas não bastavam. Saber fazer pão e ses que concedem créditos ao primeiro.
cerveja, desnatar o leite e fabricar manteiga é
que permitia a uma mulher que fosse uma pes- COUPLING-UP. Expressão em inglês que sig-
soa digna de respeito. Haveria outra imagem nifica dobrar um turno de trabalho para garantir
mais tocante para o Senhor do que a de um a continuidade da produção. Empregados que
“trabalhador que, voltando do trabalho duro tenham responsabilidades de dobrar turnos po-
num dia frio de inverno, senta-se com sua mu- dem receber adicionais de salário especiais.
lher e filhos em volta de um bom fogo, enquanto COUPON. Veja Cupom.
o vento assobia na chaminé e a chuva tamborila
no telhado?”. COUPON BONDS. Expressão em inglês que
significa títulos ao portador, isto é, não regis-
COULISSE. Um dos mercados de títulos na Bol- trados em nome do possuidor, ao contrário dos
sa de Valores de Paris. O Parquet, no andar prin- registered bonds, que são nominativos. Os coupon
cipal, também denominado Corbeille, é onde os bonds são pagáveis ao portador, os títulos mu-
títulos mais importantes são comercializados. O dando de mãos sem necessidade de endosso.
papel da “Pequena Coulisse” é análogo ao de- Os juros sobre esses títulos são recebidos (em
sempenhado pela American Stock Exchange em geral semestralmente) destacando os cupons na
relação à Bolsa de Nova York, isto é, o local medida do seu vencimento e apresentando-os
onde os títulos de importância secundária são ao emissor (a organização devedora) ou ao agen-
transacionados. Veja também American Stock te fiscal (financeiro) do emissor.Veja também
Exchange; Curb Market. Zero Coupon Bond.
COULOMB. Unidade de medida da quantidade COUPON RATE. Expressão em inglês que sig-
de eletricidade que passa por um ponto de um nifica um título que traz declarada a taxa de
fio (condutor elétrico) em um tempo determi- juros que proporcionará.
nado. O nome tem origem no físico francês
Charles Coulomb. Veja também Ampère; Ohm; COUPONS. Certificados anexados a um título
Unidades de Pesos e Medidas; Volt; Watt. e que representam os montantes de juros devi-
139 CRAWLING PEG

dos no prazo de vencimento, estabelecidos na tas. A medida estatística da covariância entre a


própria emissão do título. variável x e a variável y no conjunto de pares
(xi, yi), onde i = 1, 2, 3, .... n, é dada pela fórmula
COURNOT, Antoine Augustin (1801-1877). Filó-
n __ __
sofo e professor de matemática francês, um dos
precursores da Escola Neoclássica (juntamente Σ (xi – x) (Yi – Y)
i=1
com Thünen e Gossen) por sua contribuição à COVxy = ,
teoria do valor-utilidade. Seu livro Recherches sur N
les Principes Mathématiques de la Théorie des Ri- que expressa a média aritmética dos produtos
chesses (Pesquisas sobre os Princípios Matemá- dos afastamentos em relação às médias aritmé-
ticos da Teoria das Riquezas), de 1838, é consi- ticas. A média aritmética de xi é x, e de yi é y.
derado o ponto de partida da teoria matemática
em economia. Nessa obra, ele considera que o CPM. Iniciais da expressão em inglês Critical
único fundamento da riqueza é o valor da troca. Path Method, denominação de uma das técnicas
Mostra que relações de mercado como demanda, de Caminho Crítico (que considera a duração
preço e oferta podem ser expressas em equações das tarefas perfeitamente determinada). CPM
funcionais e que as leis econômicas podem ser também significa Control Program for Microcom-
formuladas em linguagem matemática. A parte puters: programa de controle ou sistema opera-
central dos Principes é uma teoria dos preços de cional usado em grande parte dos modelos de
monopólio, em que o autor chega a determinar microcomputadores.
com precisão, em função da demanda de um
bem, o preço que será fixado pela empresa. As CPU (Central Processing Unit). Dispositivo ou
aplicações matemáticas de Cournot aos proble- máquina integrado em um sistema que contém
mas do preço no regime de concorrência per- a unidade aritmética e de controle e a memória
feita, de monopólio ou do que se conhece hoje central.
como duopólio foram esquecidas por muito
tempo e só retomadas por marginalistas como CR. Grafia da unidade monetária “cruzeiro
Jevons e Walras. Escreveu ainda Exposition de la real”, instituída no Brasil a partir de 2/8/1992
Théorie des Chances et des Probabilités (Exposi- e que vigorou até o advento do Real, em
ção da Teoria das Chances e das Probabilida- 1º/7/1994. Veja também Real.
des), 1843. CRASH. Denominação dada a uma forte queda
nas Bolsas de Valores. O crash mais famoso teve
COUTINHO, Luciano Galvão (1946- ). Nasceu
início no dia 24/10/1929, na Bolsa de Valores
em Recife (PE) e formou-se em economia na Fa-
de Nova York, inaugurando a grande crise eco-
culdade de Economia e Administração da Uni-
nômica mundial dos anos 30. Mais recentemen-
versidade de São Paulo, em 1968. Obteve dou-
toramento pela Universidade de Cornell (Esta- te, em 19/10/1987, a Bolsa de Nova York voltou
dos Unidos) e é professor titular da Universi- a sofrer uma queda acentuada, de cerca de 22%
dade de Campinas desde 1986. Foi presidente num só dia, mas que não teve conseqüências
do Conselho Regional de Economia da 2ª Região depressivas como a de 1929, isto é, as Bolsas
(São Paulo) em 1983 e em 1990, e secretário-geral mais importantes do mundo se recuperaram ra-
do Ministério da Ciência e Tecnologia entre 1985 pidamente e as economias dos países industria-
e 1988. Colabora com vários jornais como arti- lizados continuaram crescendo.
culista, entre os quais Gazeta Mercantil, Folha de CRAWLING PEG. Sistema de taxas de câmbio
S. Paulo, O Estado de S. Paulo e na revista Exame. flexíveis no qual um país trataria de manter sua
É professor de Economia do Instituto de Eco- moeda num valor fixo ou ao par, mas poderia
nomia da Unicamp. mudá-lo gradualmente, se isso fosse necessário
para corrigir um “desequilíbrio fundamental”
CÔVADO. Medida de comprimento utilizada
pela Casa da Moeda do Brasil antes da adoção no seu balanço de pagamentos. O sistema an-
do Sistema Métrico Decimal e equivalente a 3 terior, estabelecido em Bretton Woods, signifi-
palmos ou a 66 cm. cava que as mudanças dos valores ao par das
taxas de câmbio seriam realizadas com pouca
COVARIAÇÃO. Variação concomitante, em gran- freqüência, e, quando isso ocorresse, a alteração
deza e sinal, dos termos de duas séries crono- seria de uma só vez e por “degraus”, isto é, por
lógicas que se medem tomando os afastamentos meio de um adjustable peg. A intenção do craw-
dos termos de cada série em relação a sua res- ling peg é evitar possíveis desordens no fluxo
pectiva tendência secular. Veja também Cova- internacional de capitais por meio de uma mar-
riância; Tendência Secular. cha vagarosa da taxa de câmbio de um patamar
para outro. Para isso é necessário também que
COVARIÂNCIA. Medida estatística do grau em ela seja acompanhada por uma política apro-
que duas variáveis aleatórias se movimentam jun- priada de taxa de juros. Por exemplo, se fosse
CRAWLING PEG ASCENDENTE 140

necessário desvalorizar a moeda de um país em próprio imóvel é garantia do empréstimo, sob


6%, isso poderia ser realizado em três etapas de forma de hipoteca. As facilidades de crédito le-
2% para que a taxa interna de juros não tivesse vam os consumidores à tentação de uma me-
de ser elevada em 6% de uma só vez, e com lhoria imediata do padrão de vida, dado o ime-
isso o capital fluísse para países onde não hou- diatismo do consumo a crédito. Nos casos de
vesse desvalorização. Quando o sistema do ad- recessão prolongada ou de depressão econômi-
justable peg de Bretton Woods começou a se de- ca, no entanto, a tendência é de inadimplemento
sintegrar sob a influência dos fluxos de capital (ou falta de pagamento) generalizado, o que aca-
especulativo, no final dos anos 60, a adoção do ba por agravar a crise. O crédito ao governo ba-
sistema de taxas flexíveis de câmbio, com suas seia-se na expectativa de que os impostos futu-
dificuldades inerentes, começou a se tornar ine- ros serão capazes de cobrir o valor do emprés-
vitável. Este sistema permitia que os países de- timo e seus juros. Em geral, o governo obtém
fendessem o valor ao par de suas moedas e mu- crédito por meio da emissão de títulos de dívida
dassem este valor sem provocar uma ruptura pública negociáveis (como as ORTNs). Já o fi-
no sistema como um todo. A grande dificuldade nanciamento de obras de infra-estrutura, como
é que o crawling peg torna muito difícil ou mes- estradas e usinas, é conseguido junto a órgãos
mo impossível usar a política de taxas de juros internacionais (como o Bird) e consórcios de
no controle interno da economia. Por exemplo, bancos de grande porte. Finalmente, o crédito à
se um país tiver um déficit no balanço de pa- produção baseia-se na suposição de que será pago
gamentos e ao mesmo tempo níveis elevados por si mesmo, isto é, o investimento gerará
de desemprego, ao desvalorizar o câmbio (craw- meios necessários para o pagamento da dívida,
ling peg descendente; quando se trata de uma seus encargos e ainda sobrará algo para o lucro.
valorização cambial, temos o crawling peg ascen- Os créditos à produção podem ser a curto prazo
dente) para eliminar o déficit, teria de elevar as (crédito comercial) ou a longo prazo (crédito de
taxas de juros internas para evitar a fuga de ca- investimento). O crédito comercial, para pagamen-
pitais. Isso seria inibidor dos investimentos e, to no prazo de trinta a 129 dias, serve, na maioria
portanto, inconsistente com a política de com- dos casos, para a formação do capital de giro
bate ao desemprego. Veja também Adjustable da empresa. O crédito de investimento, a longo
Peg; Balanço de Pagamentos; Conferência de prazo, com vencimentos previstos para alguns
Bretton Woods. anos, tem o papel de desenvolver determinadas
áreas, inclusive proporcionando recursos para
CRAWLING PEG ASCENDENTE. Veja Craw- a pesquisa tecnológica. O crédito agrícola é feito
ling Peg. a médio prazo (vencimento em um ano ou mais)
e empregado na compra de insumos e imple-
CRAWLING PEG DESCENDENTE. Veja Craw- mentos. O governo tem criado carteiras agríco-
ling Peg. las, tanto nos bancos particulares como nos es-
CRÉDITO. Transação comercial em que um tatais, a juros subsidiados, com a intenção de
comprador recebe imediatamente um bem ou desenvolver o setor.
serviço adquirido, mas só fará o pagamento de- CRÉDITO CONTINGENTE (ou Crédito Stand-
pois de algum tempo determinado. Essa tran- by). Linha de crédito oferecida pelo Fundo Mo-
sação pode também envolver apenas dinheiro. netário Internacional aos países-membros, até o
O crédito inclui duas noções fundamentais: con- limite de suas respectivas cotas. É um emprés-
fiança, expressa na promessa de pagamento, e timo de curto prazo (geralmente um ano) e re-
tempo entre a aquisição e a liquidação da dívida. quer, para ser liberado, uma carta de intenções
O crédito direto ao consumidor financia a compra do país que solicita o crédito. Veja também Carta
de qualquer produto de consumo e até viagens. de Intenção; FMI.
O comprador passa a usufruir imediatamente
de um bem que será pago com sua renda pes- CRÉDITO-PRÊMIO. Linha de crédito criada
soal. Em muitos casos, as próprias vendedoras pelo governo federal para incentivar principal-
financiam o cliente, mas, em escala cada vez mente os setores ligados à exportação. Consiste
maior, financeiras especializadas pagam o ven- num empréstimo feito pelo Banco Central e que
dedor e “compram” a dívida e também o risco corresponde a uma porcentagem dos aumentos
de não-pagamento. O lucro da financeira é for- de faturamento das empresas exportadoras num
mado pelos juros cobrados do comprador. Os dado período. Em 29/12/1982, por exemplo, o
cartões de crédito, extremamente difundidos nos governo baixou um decreto-lei criando um cré-
Estados Unidos e alcançando boa receptividade dito-prêmio de 10% para as empresas que con-
no Brasil, são também uma forma de crédito seguissem converter seus empréstimos em moe-
direto ao consumidor. O financiamento de casas da estrangeira em investimentos no país (por
e apartamentos constitui o chamado crédito imo- exemplo, na compra de suas ações), diminuindo
biliário. Envolve pouco risco, pois em geral o assim a dívida externa. O pagamento do crédi-
141 CRISE DO XENXÉM

to-prêmio é feito pelo sistema de desconto da da receita nacional poupada e investida e pelo
receita tributária: os bancos descontam o paga- grau de aperfeiçoamento tecnológico. Os países
mento do empréstimo do volume de impostos industrializados atravessaram uma fase de cres-
que arrecadam das empresas para o Tesouro Na- cimento econômico e prosperidade desde o fim
cional. da Segunda Guerra Mundial até o início da dé-
cada de 70. Em 1974-1975, entretanto, o cresci-
CRÉDITO QUIROGRAFÁRIO. Veja Falência. mento da produção industrial em todo o mundo,
que foi de 6 a 7% ao ano na década de 60, co-
CRÉDITO SUBSIDIADO. Tipo de empréstimo meçou a declinar, enquanto o desemprego atin-
feito pelo governo a uma taxa de juros menor gia níveis elevados. Veja também Desenvolvi-
que a vigente no mercado. Pode ser implícito ou mento Econômico.
explícito. O implícito, destinado principalmente
aos financiamentos agropecuários e às exporta- CRESCIMENTO EQUILIBRADO. No âmbito
ções, corresponde à diferença entre as taxas de da teoria do crescimento econômico, é a situação
juros normais desses empréstimos e o custo real na qual todas as variáveis do crescimento eco-
pago pelo governo para a captação desse dinhei- nômico se alteram nas mesmas taxas proporcio-
ro. Crédito subsidiado explícito são os fundos nais na dinâmica econômica. Embora possa pa-
aplicados em programas especiais como o Proa- recer paradoxal, essas taxas de crescimento po-
gro, o Proterra e o Fundag, criados para incen- dem ser iguais a zero ou negativas. Veja também
tivar certas regiões ou atividades econômicas Crescimento Econômico.
por meio de empréstimos a taxas de juros ex-
tremamente baixas, variando entre 12 e 25%. CRESCIMENTO NATURAL. Veja Crescimen-
Atualmente, o crédito subsidiado (implícito e ex- to Vegetativo.
plícito) corresponde a 60% de todo o crédito con-
cedido (2,5 trilhões de cruzeiros, em 1982, contra CRESCIMENTO VEGETATIVO. Na popula-
4,2 trilhões do total de créditos aprovados). To- ção de determinado país, Estado, município ou
davia, com o programa de estabilização finan- cidade, em determinado intervalo de tempo, é
ceira proposto pelo Plano Collor, lançado em o resto da diferença que tem por minuendo o
15/3/1990, foram cortadas todas as formas de número de nascimentos e por subtraendo o de
crédito subsidiado, principalmente os que eram óbitos. É o mesmo que crescimento natural de
dados à agricultura e às exportações, em con- uma população.
formidade com a medida provisória nº 161,
aprovada pelo Congresso. CRIME DE 1873. Denominação dada pelos de-
fensores do bimetalismo (padrão ouro e prata)
CRÉDITO SUPLEMENTAR. Crédito destinado nos Estados Unidos à lei de 1873 que estabelecia
a reforçar as dotações consignadas no Orçamen- as condições para a cunhagem da prata, mas
to em vigor. A abertura de crédito suplementar que em termos práticos desmonetizava o metal.
depende de prévia autorização legislativa. Veja também Desmonetização; Mágico de Oz.
CREMATÍSTICA (ou Ciência das Riquezas). CRIME FALIMENTAR. Veja Falência.
Conceito criado por Aristóteles para designar
as atividades de comércio realizadas a distância. CRISE ASIÁTICA. Denominação genérica à
Ele distingue esse conceito do de economia, que crise que os países do Sudeste (Tailândia, Fili-
seria a atividade econômica basicamente agrí- pinas, Malásia e Indonésia) e do Nordeste (Co-
cola e ligada à cidade. Num sentido diferente, réia, Taiwan, Cingapura, Hong-Kong, China e
o termo foi retomado no século XIX por alguns Japão) sofreram a partir de meados de 1997 e
autores que consideraram a crematística uma que consistiu na forte desvalorização de suas
ciência econômica das coisas e da realidade moedas — com as exceções da China e Hong-
pura, distinguindo-a do conceito tradicional de Kong —, na baixa acentuada de suas Bolsas de
economia, que estaria excessivamente impreg- Valores, na interrupção do crescimento econô-
nado de filosofia moral e política. Veja também mico e até na queda de governos, como foi o
Aristóteles. caso da Indonésia em 1998. Veja também Novo
Acordo de Empréstimo.
CRESCIMENTO ECONÔMICO. Aumento da
capacidade produtiva da economia e, portanto, CRISE DO XENXÉM. Crise sofrida pelo siste-
da produção de bens e serviços de determinado ma monetário brasileiro logo depois de procla-
país ou área econômica. É definido basicamente mada a independência em 1822 e que durou até
pelo índice de crescimento anual do Produto Na- 1835. Sua eclosão deveu-se basicamente ao fato
cional Bruto (PNB) per capita. O crescimento de de D. João VI e sua corte, ao voltarem para Por-
uma economia é indicado ainda pelo índice de tugal em abril de 1821, terem levado todas as
crescimento da força de trabalho, pela proporção reservas metálicas do Tesouro, obrigando o Ban-
CRISE ECONÔMICA 142

co do Brasil a emitir papel-moeda sem lastro. partir desse ponto, haveria um aumento cres-
A aceitação cada vez mais precária desse tipo cente dos preços, uma desorganização no mer-
de moeda fez com que desaparecessem aquelas cado financeiro e de capitais, entrando a econo-
de ouro e prata de circulação, levando D. Pedro mia em processo de contração, pois os preços,
I a autorizar particulares a cunhar moedas de que se mantiveram relativamente estáveis du-
cobre cujo valor nominal era superior ao seu rante a fase de prosperidade, apesar da excessiva
peso legal de 10 réis por oitava. As moedas de taxa de juros para os investimentos, já não se
cobre assim cunhadas eram denominadas “xen- revelam rentáveis. Essa contração é também cha-
xém”. Para ter uma idéia da desproporção entre mada de recessão, pois a taxa de crescimento
o valor nominal e o valor do cobre no qual as da renda nacional decresce em termos absolutos.
moedas eram cunhadas, basta examinar o dis- O agravamento da fase recessiva caracteriza a
curso do deputado Lino Coutinho, na Câmara depressão, com aumento da taxa de desempre-
do Deputados em 20/5/1826, que encaminhava go, queda da capacidade produtiva, restrição
um projeto para resolver a crise do “xenxém”: dos investimentos e alta liquidez bancária. As
“...uma libra de cobre custa dezoito vinténs e, crises são classificadas em endógenas (crises de
cunhada, produz o valor de dois mil réis”. Na superprodução, venda, crédito e especulação) e
época, 18 vinténs equivaliam a 360 réis. exógenas (de causas não-econômicas, como guer-
ras, desastres naturais e epidemias). Veja tam-
CRISE ECONÔMICA. Perturbação na vida eco- bém Ciclo Econômico; Conjuntura; Depressão;
nômica, atribuída pela economia clássica a um Prosperidade; Recessão.
desequilíbrio entre produção e consumo, loca-
lizado em setores isolados da produção. Nas CRITÉRIO DE CONDORCET. Denominação
economias pré-capitalistas, as crises derivavam de sistema de escolha coletiva na qual a alter-
da escassez súbita no abastecimento de bens, nativa escolhida é de tal natureza que derrota
provocada por fenômenos naturais (secas, inun- todas as demais numa série de comparações por
dações, epidemia etc.) ou por acontecimentos so- pares (uma diante da outra), utilizando a regra
ciais como guerras e insurreições. Na economia de maioria simples. Este critério deve-se ao mar-
capitalista, embora também possam ocorrer per- quês de Condorcet, que analisou esta questão
turbações derivadas da escassez, as crises eco- no final do século XVIII. Por exemplo, se em
nômicas características do sistema são as de su- três cidades diferentes, quatro candidatos se
perprodução. Essas crises constituem uma fase apresentassem para representá-las e a preferên-
regular do ciclo econômico, caracterizada pelo cia do eleitorado fosse a seguinte:
excesso geral da produção sobre a demanda, pri-
meiro no setor de bens de capital e, em seguida, Cidades A, B, C
no setor de bens de consumo. Em conseqüência,
há queda brusca na produção, falência de em- Candidatos X, Y, W, Z
presas, desemprego em massa, redução de sa- Cidades A, B, C
lários, lucros e preços etc. A mais séria crise eco-
nômica mundial foi a de 1929-1933, chamada Candidatos 1º lugar W W W
Grande Depressão. Na teoria marxista, a noção
de crise está associada ao conceito de mais-valia Candidatos 2º lugar X Y Z
devido à tendência de o capital concentrar-se
mais e mais em poucas mãos e também à pau- Como o candidato W vence X na cidade A, vence
perização relativa da classe trabalhadora; por Y na cidade B, e vence Z na cidade C, teremos
isso, as crises tornam-se mais freqüentes e mais configurado o Critério de Condorcet.
fortes, o que levaria o sistema a uma ruptura.
As teorias mais modernas de conjuntura deno- CRITÉRIO DE IGUAL VEROSSIMILHANÇA.
minam a fase de crise de depressão. O desen- Veja Critério de Laplace.
volvimento econômico é entendido como um CRITÉRIO DE LAPLACE. Também denomi-
processo cíclico, dividido em várias fases, com nado “critério de igual verossimilhança”, consiste
pontos de mudanças nas partes inferior e supe- em atribuir a todas as situações de uma matriz
rior do ciclo. A partir de um ponto abaixo de de decisões igual probabilidade e, em seguida,
sua linha de equilíbrio, o processo de desenvol- utilizar o critério da esperança matemática.
vimento econômico sairia de uma fase de recu-
peração para uma fase de expansão, com au- CRITÉRIO DE SAVAGE. Critério de decisão
mento da taxa de investimento, aumento rela- que se fundamenta naquilo que se deixa de ga-
tivo da soma de salários, acréscimo do consumo. nhar por desconhecer o que vai acontecer com
Segue-se a fase de prosperidade (boom), na qual as condições gerais que um tomador de decisões
os fatores de produção estariam plenamente enfrentará no futuro. Esta perda não representa
ocupados e, em conseqüência, não poderiam outra coisa senão o custo da incerteza. O toma-
mais fazer crescer a renda nacional e o lucro. A dor de decisões deve tentar minimizar o custo
143 CRUZADO

da incerteza ou o que ele deixa de ganhar por CROWDING IN. Veja Crowding Out.
desconhecer as mudanças nas condições que
têm influência sobre suas atividades. Se da ma- CROWDING OUT. Expressão em inglês que
triz de decisões que, por exemplo, expressa ní- significa “efeito deslocamento”. É utilizada ge-
veis de lucro, subtrairmos todos os elementos ralmente para designar uma situação em que os
de cada coluna do maior valor encontrado, ob- gastos governamentais deslocam (crowd out) al-
teremos uma segunda matriz de decisões, que gum outro componente dos gastos, embora sem
expressará aquilo que se pode deixar de ganhar alterar a despesa agregada. Num sentido mais
por desconhecer as alterações que uma atividade concreto, significa que se o governo tomar gran-
sofrerá no futuro. O tomador de decisões deve des empréstimos no mercado, a elevação das
optar por aquela fila da matriz de decisões que taxas de juros (que o governo está disposto a
minimize o que se deixa de ganhar. pagar e pode fazê-lo) deslocaria tomadores do
setor privado (não-governamentais), que não te-
CRITÉRIO DE WALD. Também denominado riam condições de pagar taxas tão elevadas. Na
“critério pessimista”, o critério de Wald consiste prática, as coisas não se desenvolvem exatamen-
em escolher numa matriz de decisões a fila que te assim, pois na medida em que as taxas de
proporcione ao tomador de decisões o maior dos juros sobem, novas fontes de crédito surgem
menores lucros que possam ser obtidos, e por para suprir essa demanda. O contrário desse
isso é também chamado de critério “maxmin”. processo é o crowding in, quando os gastos go-
Nesse caso, o tomador de decisões se contentaria vernamentais estimulam os investimentos pri-
em ganhar o máximo de suas possibilidades mí- vados, em vez de deslocá-los ou inibi-los.
nimas. Este critério se assemelha ao critério de
“minimax” que Von Neumann e Morgenstern CROWN JEWELS. Veja Jóias da Coroa.
idealizaram para a teoria dos jogos de estratégia.
Wald adaptou o critério de “minimax” aos pro- CRUZADAS. Conjunto das expedições milita-
blemas da teoria da decisão. res empreendidas pelos europeus entre o final
do século XI e o século XIII, para acabar com a
CRITÉRIO OTIMISTA. Critério segundo o qual dominação dos turcos muçulmanos sobre Jeru-
o tomador de decisões escolhe a fila da matriz salém e outras regiões do Império Bizantino
de decisões que proporciona o máximo dos onde se iniciara o cristianismo. Além do senti-
maiores lucros que podem ser obtidos. mento religioso, o movimento foi animado por
importantes motivações econômicas. As Cruza-
CROSS-COLLATERAL. Expressão em inglês das ofereciam a possibilidade de saque às cida-
que significa uma garantia (collateral) utilizada des orientais e o acesso a glebas de terra numa
para diversos empréstimos sob um mesmo acor- época em que na Europa já não havia mais feudo
do de títulos. Também denominado dragnet clau- a ser doado. Para as cidades italianas, particu-
se e mother hubbard, é em essência o sistema no larmente Gênova, Veneza e Pisa, que domina-
qual a garantia para cada empréstimo serve para vam a venda de produtos orientais no Ocidente,
um conjunto de empréstimos. o empreendimento era um meio de ampliar seus
privilégios comerciais junto às cidades mediter-
CROSS-DEFAULT. Expressão em inglês que
râneas do Oriente fornecedoras de sedas, mus-
designa uma cláusula nos contratos de emprés-
timo (geralmente quando o empréstimo é rea- selinas, tapetes e especiarias. Assim, na organi-
lizado por vários emprestadores por intermédio zação da IV Cruzada, o doge de Veneza forneceu
de um sindicato) que dá ao emprestador o di- 4 500 cavalos, 30 mil soldados, 4 500 cavaleiros,
reito de acelerar o recebimento da dívida se o alimentos e armas, com a condição de receber
devedor deixar de pagar outra dívida, isto é, é metade do saque e das terras conquistadas.
declarado em default em relação a outro credor. Além disso, as Cruzadas provocaram o deslo-
camento, pela Europa, de milhares de pessoas,
CROSS HEDGE. Expressão em inglês que sig- antes isoladas nos feudos, aldeias e pequenos
nifica literalmente “salvaguarda cruzada”, ou burgos. Isso intensificou o rompimento com o
seja, o estabelecimento de um hedge contra o ris- particularismo e o imobilismo feudal e ampliou
co de variações nas taxas de juros mediante a as relações de troca entre as regiões. E o contato
compra de títulos financeiros a futuro num ativo com o Oriente divulgou e aumentou a pro-
diferente, mas relacionado com o primeiro. Este cura dos produtos daí originários, cujo co-
mecanismo é utilizado quando no mercado de mércio era monopolizado pelos italianos.
futuros não existem os títulos possuídos ou Veja também Feudalismo.
quando é mais lucrativo não utilizar o mesmo
mercado. CRUZADO. Denominação de moeda originária
da Europa, intimamente vinculada às Cruzadas,
CROWDING HYPOTHESIS. Veja Hipótese do expedições de caráter militar e religioso cujo ob-
Congestionamento. jetivo principal era reconquistar a Terra Santa
CRUZEIRO 144

em poder dos muçulmanos. A moeda que pas- Plano Collor, também chamado Plano Brasil
sou a ter essa determinação surgiu inicialmente Novo, uma profunda reforma monetária. Em
na Espanha, cunhada em prata, e seu uso em agosto de 1993, passou a ser chamado cruzeiro
Portugal foi determinado por D. Afonso V, em real, valendo mil cruzeiros. Veja também Cru-
1457, ao receber do papa Pio II a Bula da Cru- zado; Unidades Monetárias Brasileiras.
zada, que o autorizava a participar da guerra
santa contra os mouros. Ao iniciar-se a coloni- CRUZEIRO NOVO. Veja Unidades Monetárias
zação no Brasil, em 1532, o cruzado passou a Brasileiras.
integrar o meio circulante brasileiro, embora em CS. Abreviatura usada nos boletins emitidos pe-
pequena escala. Cunhado em ouro de 22 quila- las Bolsas de Valores, indicando que determi-
tes, nele se destacava, em uma das faces, a Cruz nada ação está sendo comercializada com direito
de São Jorge, com a legenda In Hoc Signo Vinces à subscrição de novas ações. Opõe-se a ES, que
("Sob Este Signo Vencerás"), dístico inscrito em significa ex-subscrição (sem direito a subscri-
grande parte da moedagem portuguesa para ção).
perpetuar a visão que, segundo a lenda, teve D.
Afonso Henriques antes da batalha de Ourique CSQ. Veja Certificação de Sistema da Quali-
(1139), da qual foi vencedor. Derrotados os mou- dade.
ros e triunfante o cristianismo, ficou a legenda CTA — Centro Técnico Aeroespacial. Antigo
como um marco de fé. Esse mesmo lema, tam- Centro Técnico de Aeronáutica, localizado em
bém segundo a lenda, foi o que apareceu, no São José dos Campos (SP), fundado com o ob-
céu, inscrito em uma cruz, ao imperador romano jetivo de desenvolver pesquisas aeronáuticas.
Constantino, o Grande, na véspera da batalha Mais tarde, suas atribuições foram ampliadas,
da ponte Milvius, no ano 312, em que derrotou passando a incluir as investigações espaciais. No
Maxêncio. Com o advento do ciclo do ouro, no CTA, funcionam o Instituto Tecnológico da
século XVIII, foi também cunhado no Brasil, na Aeronáutica (ITA), destinado à formação de en-
Casa da Moeda do Rio de Janeiro, entre 1707 e genheiros e técnicos em aeronáutica, e a Em-
1727, e na Casa da Moeda de Minas Gerais, entre braer, empresa dedicada à produção de aviões.
1724 e 1727. Seu valor nominal era de 400 réis Ao CTA subordinam-se o Instituto de Pesquisa
e circulava no Brasil e em Portugal. Mais tarde e Desenvolvimento (IPD), o Instituto de Ativi-
passou a ter o valor de circulação de 480 réis, dades Espaciais (IAE), o Instituto de Fomento
sendo denominado “cruzado novo”, e o de valor e Coordenação Industrial (IFCI) e o Instituto de
de 400 réis, “cruzadinho”. A cunhagem do cru- Ensaios e Padrões (IEP).
zado, no Brasil Colônia e no Império, foi reali-
zada em prata em substituição às patacas, que CUACHA. Unidade monetária de Malavi (sub-
integravam a moedagem provincial. Em feve- múltiplo: tambala) e da Zâmbia (submúltiplo:
reiro de 1986, com a decretação do Plano Cru- ngui).
zado e a reforma monetária correspondente, o CUANZA. Unidade monetária de Angola. Sub-
padrão monetário brasileiro passou a denomi- múltiplo: luei.
nar-se cruzado. Em janeiro de 1989, com a de-
cretação do Plano Verão, o cruzado foi substi- CUM DIVIDEND. Expressão anglo-latina que
tuído pelo cruzado novo. Este último foi extinto significa que um título contém dividendos, isto
em março de 1990, em decorrência da reforma é, o comprador de uma ação cum dividend rece-
decretada pelo Plano Collor. Em seu lugar foi berá os dividendos que este título proporcionar.
reintroduzido o cruzeiro como padrão monetá- É o contrário de ex-dividend.
rio. Em agosto de 1993, durante o governo Ita-
mar Franco, ocorreu nova mudança no padrão CUM RIGHTS. Expressão anglo-latina que sig-
monetário, agregando-se a palavra real ao cru- nifica que o portador de um título goza de todos
zeiro, sendo a nova moeda denominada cruzeiro os direitos que este título contém.
real. O cruzeiro real deixou de existir a partir CUNHA TRIBUTÁRIA. Expressão que desig-
de 1º/7/1994, quando foi substituído pelo Real. na a presença de impostos, taxas e demais co-
Veja também Unidades Monetárias Brasileiras. branças sobre as aplicações financeiras, tendo
por resultado um aumento da taxa de juros das
CRUZEIRO. Unidade monetária brasileira, im-
mesmas. O Imposto sobre Operações Financei-
plantada em novembro de 1942, em substituição
ras (IOF) é um caso típico de “cunha tributária”.
ao mil-réis. Em 1967, passou a valer mil cruzei-
Veja também IOF.
ros antigos, chamando-se durante algum tempo
cruzeiro novo. A partir de 28/2/1986, foi subs- CUNHAGEM. Antes da invenção da cunha-
tituída pelo cruzado. O cruzeiro foi reintrodu- gem, muitos bens móveis foram utilizados como
zido, como padrão monetário, a partir de meio de troca e padrão de valor. Esses bens eram
15/3/1990, quando foi realizada, por meio do relacionados uns com os outros, formando uma
145 CUNHAGEM

escala de valores. Os povos primitivos utiliza- produção de moedas tão diminutas e finas que
vam nas trocas intertribais, como dinheiro, os bastava cunhá-las de um só lado; e também pe-
produtos que via de regra representavam a ri- las emissões privadas de moeda. Desde o início,
queza na comunidade. Nas trocas com as demais a cunhagem foi uma prerrogativa de quem de-
tribos, a seleção de produtos dependia das pre- tinha o poder. Durante a Idade Média, era pra-
ferências dos outros povos. A partir daí, as ma- ticada não apenas pelo soberano, mas também
térias-primas começaram aparentemente a ser por aqueles que obtinham esse direito como
utilizadas como dinheiro, em substituição aos uma concessão feudal. Em conseqüência, entre
produtos acabados. Essa tendência pode ser ob- os séculos IX e XII, a cunhagem foi completa-
servada com mais clareza no caso dos metais, mente descentralizada. Durante a primeira fase
como o ferro, o cobre e o bronze, que gradual- medieval, esse fato não teve grande importância,
mente foram superando outros meios de troca. em função do incipiente desenvolvimento do co-
(É muito provável que os sistemas de pesos te- mércio. Mais tarde, com a expansão deste, tais
nham sido criados para medir os metais precio- concessões foram se extinguindo e, na Inglaterra
sos.) As civilizações antigas alcançaram esse es- e na França no tempo de Henrique VII, só o rei
tágio de desenvolvimento, fundamental para o tinha o poder de cunhagem. Durante os séculos
início do processo de cunhagem, no século VIII XII e XIII, com a descentralização política, o pri-
a.C., embora as primeiras notícias de cunhagem vilégio de cunhagem obtido por alguns (assim
datem do século VII a.C.: a Lídia (Ásia Menor) como outros privilégios reais) era exercitado
já nessa época produzia peças de uma liga de com a finalidade de realizar os maiores ganhos
ouro e prata chamada electrum. A escolha dos possíveis. As receitas da cunhagem dependiam
metais era determinada mais pelas necessidades não apenas da diferença permitida legalmente
econômicas imediatas e pelas oportunidades do entre o valor da face da moeda e o seu conteúdo
que por ordens dos governantes. O desenvolvi- metálico (a senhoriagem), mas particularmente na
mento do comércio, no entanto, superou as li- gradual e desautorizada redução do conteúdo
mitações ditadas pela distribuição geográfica metálico das unidades-padrão ou no peso e teor
dos metais, cuja escolha serviria de base material das moedas individuais. Mais importante, no
para a moeda. É por esta razão que na Grécia entanto, do ponto de vista da receita de quem
Antiga, assim como em Roma, depois da morte cunhava, era a produção total realizada: para
de César, moedas de ouro e prata foram cunha- aumentá-la, as moedas sofriam alterações cons-
das em substituição às de bronze. Na Idade Mé- tantes, o que exigia a necessidade de sua recu-
dia, com a retração do comércio, apenas moedas nhagem e renovação. Tais alterações consistiam
de cobre e prata foram cunhadas, com exceção tanto na elevação do valor de face das moedas
de uma cunhagem temporária de ouro durante como na redução do seu conteúdo metálico: com
a época carolíngea. Com o crescimento da de- a emissão de novas moedas depreciadas, as an-
manda de moedas, as cunhagens de ouro foram tigas eram geralmente “convocadas” à recunha-
retomadas com os florins florentinos, e os zecchini gem, de acordo com os novos padrões. Depois
de Veneza. Desde então, o ouro constituiu-se de certo tempo de depreciações, a medida in-
no metal preferido para a cunhagem de moedas, versa era adotada, e as moedas eram outra vez
e no comércio internacional na forma de lingo- convocadas, agora para sua valorização e con-
tes. O desenvolvimento da técnica de cunhagem, seqüente recunhagem. Assim, em algumas lo-
no entanto, foi relativamente lento. Só a partir calidades da Alemanha e da Áustria, durante o
do século XVI a produção deixou de ser manual século XIV, as cidades adquiriam do senhor feu-
e passou a ser mecânica. Em 1786, Boulton in- dal (detentor dos direitos de cunhagem) o pri-
troduziu a força a vapor na cunhagem, e em vilégio de controlar as depreciações de suas
1839, Ulhhörn inventou a prensa de cunhagem, moedas, elevando seu valor por meio da recu-
que acelerou enormemente seu processo de fa- nhagem. As recunhagens também eram proces-
bricação. O desenvolvimento econômico pro- sadas em função das dificuldades de circulação
porcionado por esses avanços técnicos é digno oriundas das imperfeições das técnicas de pro-
de nota. O custo de produção da cunhagem, que dução existentes até o século XVIII. Mas a his-
até o século XVIII oscilava entre 10 e 20% do tória da cunhagem até o início do século passado
valor da moeda, foi reduzido nas moedas de (com variação de país para país, especialmente
ouro a menos de 0,3%. As novas técnicas de no continente europeu) é a história de uma longa
cunhagem permitiriam também a uniformidade série de experimentos destinados a extrair da
das moedas, o que facilitava a aceitação por seu cunhagem o máximo de receita possível. No Bra-
valor de face, e não por peso, como ocorria em sil, os precursores do processo de cunhagem fo-
Roma, na Idade Média e mesmo na era moderna. ram as oficinas de fundição, onde se fundia o
A modernização das técnicas resolveu também ouro oriundo das minas recém-descobertas du-
um dos problemas mais graves do setor: a es- rante o século XVIII. Depois de pago o quinto à
cassez de moeda. A inadequação da oferta mo- Coroa, o ouro era fundido em barras com mar-
netária foi provavelmente a responsável pela cação do peso em onças, oitavas e grãos (medi-
CUNHAGEM DECIMAL 146

das usadas antes da adoção do sistema métrico ou brinde na compra de determinados produtos.
decimal no Brasil), o número de ordem, o título Veja também Coupon Bonds; Zero Coupon Bond.
ou toque, e o ano da fundição. Com a multipli-
cação das casas de fundição, as barras passaram CUPOM CAMBIAL COBERTO. Denominação
a ter os nomes ou as iniciais da respectiva oficina da taxa de rendimento efetivo (juros) de opera-
e as iniciais do chefe de cunhagem. Essas peças ções financeiras indexadas ao dólar, que podem
eram entregues aos proprietários acompanhadas ser aplicações com risco cambial coberto por de-
de um certificado ou guia que comprovava a rivativos, um swap de moedas, ou operações nos
posse como legítima e a efetivação do pagamen- mercados futuros de juros ou câmbio. Veja tam-
to do quinto. Mais tarde, com a intensificação bém Derivativos; Swap.
do comércio e para minimizar a falta de moedas CURB MARKET. Denominação dada aos mer-
no Brasil, a Metrópole autorizou que se fizesse cados de ações que originalmente se desenvol-
aqui a marcação de novas características em pe- viam fisicamente na rua, isto é, em locais des-
ças de outros países, especialmente moedas es- cobertos. A maioria desses mercados hoje opera
panholas, francos franceses, liras, moedas chile- em locais apropriados. Sua função original era
nas e argentinas. Essas alterações eram realiza- oferecer uma oportunidade para a transação de
das nas oficinas monetárias, que entravam em títulos que não estavam inscritos nas Bolsas de
funcionamento ou eram extintas dentro das ne- Valores, na medida em que não preenchiam as
cessidades ditadas pelas diversas conjunturas da condições estabelecidas por esses mercados.
época. Mas as freqüentes variações no valor das Constituíam, na verdade, mercados secundários
moedas que circulavam no Brasil, os aumentos e complementares para as Bolsas de Valores das
e rápidos rebaixamentos desses valores, as inú- grandes cidades norte-americanas. Em Nova
meras remarcações, as constantes proibições, as York, por exemplo, o mercado conhecido ante-
refundições e os recolhimentos em prazos cur- riormente como New York Curb Exchange hoje
tíssimos levaram à quase paralisação do comér- denomina-se American Stock Exchange. Veja
cio. Para superar essas dificuldades, foi autori- também American Stock Exchange.
zado o funcionamento de uma Casa da Moeda
no Brasil, no final do século XVII. Essa autori- CURRENCY BOARD (Comitê da Moeda). A
zação ocorreu durante o governo de D. Pedro II principal característica dos Currency Boards é
de Portugal, cognominado “O Pacífico”, que por a garantia de trocar moeda nacional numa taxa
Carta Régia de 8/3/1694 criou a Casa da Moeda determinada e fixa por reservas de moeda es-
na Bahia, a primeira do Brasil. Quatro anos depois trangeira. O Currency Board pode atuar também
ela foi transferida para o Rio de Janeiro. Veja tam- como um órgão emissor de moeda nacional con-
bém Casa da Moeda; Senhoriagem. tra lastro de moeda estrangeira mantida em re-
serva. Nessa medida, as emissões no Currency
CUNHAGEM DECIMAL. Sistema de circula- Board não são fiduciárias, ou melhor, sua acei-
ção monetária que utiliza a base dez. Quase to- tação decorre do fato de a moeda ser conversível
dos os sistemas mundiais operam nessa base. a qualquer momento e em qualquer quantidade
A importante exceção era a Inglaterra, onde, até por moeda forte (que se encontra em reserva).
1971, uma libra esterlina valia 20 xelins e cada Esse sistema foi muito utilizado nas colônias in-
xelim, 12 pence. A partir daquela data, a libra glesas da África, Ásia, Caribe e Oriente Médio
esterlina manteve o seu valor e foi dividida em até a independência, e em alguns casos de crise
100 novos pence (p), que equivalem a 2,4 dos ou de forte instabilidade política, como aconte-
antigos. ceu durante a guerra civil na Rússia, entre 1918
e 1921, nas regiões do Norte dominadas pelos
CUPOM. No mercado de capitais, cupom é a Brancos (contra-revolucionários). Hoje existem
parte destacável de uma ação ou obrigação uti- Comitês da Moeda em Cingapura, Brunei,
lizada no momento do pagamento dos dividen- Hong-Kong e na Estônia, depois da separação
dos ou da entrega de bonificações. O cupom da ex-União Soviética. A idéia da introdução de
também significa a taxa de juros estampada na um Currency Board no Brasil vem sendo dis-
face de um título de dívida, cujo emissor se com- cutida pelas autoridades monetárias como um
promete a pagar na data do vencimento, contra dos instrumentos para evitar a hiperinflação
recibo do cupom anexado ao título. Em outra e/ou dotar a moeda nacional de estabilidade.
acepção, quando há racionamento de alguma A condição prévia, no entanto, para que se es-
mercadoria (durante guerras, por exemplo), os tabeleça o Currency Board, é a existência de re-
governos emitem talões de cupons, cada um de- servas em quantidade suficiente para sustentar
les servindo para a aquisição de certa quanti- as emissões de moeda para a movimentação dos
dade da mercadoria racionada. Cupons são tam- negócios numa economia. É necessário também
bém cédulas destacáveis de jornais e revistas que que essas reservas se mantenham dentro de cer-
funcionam como um recurso de marketing, dan- tos limites, isto é, que a conversibilidade não pro-
do ao possuidor o direito de receber desconto voque sua redução a ponto de inviabilizar o pró-
147 CURVA DE CRESCIMENTO

prio sistema. Depois da crise financeira no Su- de demanda; isso, dependendo do caso, pode
deste Asiático durante o segundo semestre de equivaler a alguns meses ou, em caso extremo,
1997, a Indonésia vem tentando implantar esse a algumas horas. Veja também Longo Prazo.
sistema para aumentar a confiança da população
na rúpia, mas as autoridades do FMI condicio- CURVA A B C. Veja Método ABC.
naram um vultoso empréstimo a que o governo
CURVA DA DEMANDA. Relação entre o pre-
daquele país não adotasse aquele sistema, pois
a moeda local e a taxa de câmbio permaneceriam ço de mercado de um produto e a quantidade
engessadas, o que poderia não contribuir para desse mesmo bem que os consumidores desejam
que o país obtivesse os necessários superávits adquirir. É representada numa escala gráfica
comerciais. (daí ser também chamada Escala da Demanda)
em cujos eixos registram-se os preços do mer-
CURRENCY BONDS. Expressão em inglês que cado (eixo vertical) e a quantidade de produto
significa títulos cujos termos de emissão estabe- que os consumidores adquiririam àqueles pre-
lecem que o pagamento de juros e o resgate do ços (eixo horizontal). As alterações na Curva da
principal no vencimento serão feitos em moeda Demanda ocorrem em função das variações no
legal, para distingui-los dos gold bonds, que an- preço e na renda dos consumidores. Por exem-
teriormente, nos Estados Unidos, eram pagos plo, se ocorrer a elevação no preço da soja no
em moedas de ouro. mercado internacional, os consumidores deve-
rão demandar uma quantidade menor desse
CURRENCY SWAP. Expressão em inglês que produto no mercado. Ao contrário, se as safras
designa uma obrigação contratual mantida entre forem muito boas, os preços deverão cair e os
dois sujeitos que se comprometem a entregar consumidores deverão consumir mais desse
determinada soma em dinheiro na moeda de produto. Para estabelecer-se o equilíbrio anterior,
determinado país, contra uma soma em dinheiro deverá ocorrer retração na oferta, o esgotamento
na moeda de outro país em intervalos e condi- dos estoques, a elevação dos preços e a retração
ções estabelecidos. conseqüente da demanda. Veja também Bem de
CURSO FORÇADO. Atributo do papel-moeda Giffen; Curva Marshalliana da Demanda.
(e das moedas metálicas que não sejam de metais CURVA DA OFERTA. Relação entre o preço
preciosos) que faz dele um meio irrecusável de de mercado de um produto e a quantidade desse
pagamento. O papel moeda oficial é atualmente mesmo bem que os produtores se dispõem a
de curso forçado, o mesmo não acontecendo com destinar aos consumidores. É representada
o cheque ou a nota promissória. Nos antigos
numa escala gráfica (daí ser também chamada
sistemas monetários baseados no padrão-ouro,
Escala da Oferta) em cujos eixos registram-se os
em épocas de grave crise econômico-financeira,
preços do mercado (eixo vertical) e a quantidade
de convulsões sociais ou de guerras, os governos
de produto destinada aos consumidores (eixo
decretavam o curso forçado do seu papel-moeda
ou das notas bancárias, tornando obrigatória a horizontal). As alterações na Curva da Oferta
sua aceitação e ao mesmo tempo desobrigando ocorrem em função das variações no preço e, é
os bancos emissores, ou o Tesouro Nacional, de claro, da procura dos consumidores. Por exem-
convertê-los em ouro amoedado, ou em moedas plo, se ocorrer a elevação no preço da soja no
metálicas, suspendendo dessa forma a conver- mercado internacional ou a elevação do consu-
sibilidade. Este atributo do papel-moeda tem mo do produto, os agricultores tenderão a am-
origem em determinação governamental, obri- pliar as culturas da soja até o ponto em que os
gando a aceitação desse tipo de moeda despro- custos dos fatores de produção assegurem um
vida de lastro metálico (ouro ou prata). lucro compensador; até esse ponto, a curva será
ascendente. Todavia, tenderá a decrescer quan-
CURTO PRAZO. Termo aplicado aos vencimen- do houver uma saturação na capacidade consu-
tos (de créditos ou débitos) que ocorrerão dentro midora do mercado, que, então, ficará aquém
de pouco tempo. O período de tempo varia em da oferta do produto. Para estabelecer o equilí-
função do setor: um investimento financeiro a brio e para a curva tornar-se outra vez ascen-
curto prazo no open market refere-se a uma apli- dente, deverá ocorrer retração na oferta e o fim
cação para ser resgatada no dia seguinte (apli- dos estoques.
cação overnight); em outros setores, pode signi-
ficar até um ano de prazo. No âmbito financeiro, CURVA DE CRESCIMENTO. Em geral, é a ex-
curto prazo, geralmente referindo-se a um pro- pressão do tamanho de uma população y como
cesso de endividamento, é aquele inferior a um uma função de um tempo t e a descrição de sua
ano. Em outra acepção, Alfred Marshall definiu trajetória de crescimento. A expressão se aplica
curto prazo como o período insuficiente para também ao caso de um indivíduo. Se a taxa re-
que o abastecimento de insumos destinado à lativa de crescimento diminui numa taxa cons-
produção de commodities responda a mudanças tante, isto é, se
CURVA DE ENGEL 148

1 dy recadação, resultaria numa redução. Ao contrá-


. = –b b>0
y dt rio, uma redução da taxa de impostos propor-
cionaria um aumento da arrecadação. Para La-
a curva é conhecida como Curva de Gompertz, fer, a economia norte-americana se encontraria
e pode ser escrita como: na secção descendente da curva, onde a arreca-
y = ae-bt dação é inversamente proporcional à variação
da taxa fiscal. As causas principais desse fenô-
se o valor assintótico de y, na medida em que meno são a evasão fiscal (quando os impostos
t tende ao infinito, for uma constante positiva são muito elevados) e o desestímulo provocado
C, então: sobre os negócios em geral. No entanto, a in-
y = C+ae-bt tenção da Curva de Lafer não era determinar a
taxa de impostos que maximizaria a receita, mas
esta curva é também conhecida como Curva Ex- chamar a atenção dos formuladores de política
ponencial Modificada. econômica para os efeitos dinâmicos de uma po-
Uma Curva de Crescimento na qual lítica tributária.

dy
= bY (k – y) Curva de Lafer
dt Arrecadação
fiscal A taxa de impostos Tx2 maximiza a arrecadação
é chamada de Logística ou Autocatalítica, e sua (valor) (A2), enquanto a taxa Tx1, embora maior que
forma explícita é Tx2, proporciona uma arrecadação menor (A1).

K A2
Y=
1 + e –kbt
A1
uma forma mais geral do tipo
K
Y=
1 + e cø(t) 0
Tx2 Tx1 100
onde ø(t) é uma função do tempo, é chamada
Logística. CURVA DE LEXIS. É a que representa a extin-
ção gradual de uma mesma geração humana,
CURVA DE ENGEL. Curva elaborada pelo es- anotando-se as idades nas abcissas e o número
tatístico alemão Ernest Engel, relacionando ren- de sobreviventes nas ordenadas.
da das famílias e suas despesas com alimentos.
Os estudos realizados por Engel mostraram que CURVA DE LORENZ. Veja Lorenz, Curva de.
essas despesas eram relativamente maiores nas
famílias mais pobres do que nas mais ricas, isto CURVA DE NÍVEL. Processo de representação
é, os mais pobres comprometiam uma porcen- gráfica que consiste em: 1) projetar normalmente
tagem relativamente grande de sua renda com sobre o plano dos xy os pontos de um estereo-
alimentos, embora em termos absolutos os gas- grama; 2) reunir por uma linha contínua (Curva
tos dessas famílias com alimentação fossem con- de Nível) os pontos de igual cota ou aqueles
sideravelmente menores do que aqueles observa- cujas cotas estão contidas dentro de dados in-
dos nas famílias mais ricas. Veja também Engel, tervalos cuja amplitude constitui o “módulo” do
Ernest. gráfico. É usada, em geral, para representação
gráfica de distribuição de freqüência a dois atri-
CURVA DE INDIFERENÇA. Veja Indiferen- butos. As curvas de nível têm origem na topo-
ça, Curva de. grafia. Na economia, elas servem para repre-
sentar as curvas de indiferença. Veja também
CURVA DE LAFER. Teoria desenvolvida pelo Curva de Indiferença.
economista monetarista norte-americano Arthur
Lafer, segundo a qual existe uma relação pecu- CURVA DE PARETO. Também denominada
liar entre a arrecadação tributária e a taxa de Curva de Distribuição de Pareto ou Lei da Dis-
impostos na economia. Quando esta última é tribuição da Renda, é uma relação empírica des-
baixa, a relação é diretamente proporcional, mas crevendo o número de pessoas Y cuja renda é
depois de ultrapassar um ponto de maximização X, apresentada por Pareto em 1897, na forma
da arrecadação, a relação passa a ser inversa-
mente proporcional. Assim, a partir de deter- A
Y= ou Y = A (X – a)–α
minado nível de tributação, qualquer elevação (X – a)α 0≤x<∞
da taxa, em lugar de provocar aumento da ar-
149 CURVA LOGÍSTICA

cuja representação gráfica é Taxa de


Reajuste dos
Salários
Y Monetários
(Inflação)

Taxa de Desemprego A
A = Taxa Natural de Desemprego

a CURVA DE RENDIMENTO INVERTIDA. Cur-


va resultante de uma situação no mercado fi-
P X nanceiro na qual as taxas de juros de curto prazo
são mais elevadas do que as de longo prazo,
resultando numa curva de inclinação negativa.
Sendo X o eixo das abscissas e nele marcadas as Em condições normais de mercado, a curva tem
rendas e, no eixo das ordenadas, o número mínimo uma inclinação positiva, isto é, quanto maior
de pessoas Y cujas rendas sejam iguais ou superiores for o prazo de vencimento coeteris paribus, maior
a X, geramos uma Curva de Pareto. Verifica-se que será a taxa de juros. Essa inversão pode acon-
quando X➞a, Y➞∞, enquanto X➞∞, Y➞0, tendo tecer quando as autoridades monetárias provo-
portanto a Curva de Pareto duas assíntotas X cam um aperto monetário tornando o crédito
= a e Y = 0. Se deslocarmos o eixo Y até o ponto mais difícil e, conseqüentemente, as taxas de ju-
p correspondente à menor renda, então a = O e ros mais elevadas. Nos países onde existe rela-
a equação de Pareto terá a forma. tiva estabilidade de preços, as taxas de juros de
longo prazo são influenciadas mais pelas expec-
A tativas inflacionárias do que pela política mo-
Y= = A.X – α netária das autoridades monetárias. Portanto, a
Xα Curva de Rendimento Invertida é considerada
um fenômeno transitório não ultrapassando
Esta é a forma simplificada e utilizada na prática, quinze meses, e é considerada sinal de que a
já que as informações sobre o número de pessoas economia está entrando numa recessão.
com pequenas rendas são imprecisas. Veja tam-
bém Curva de Lorenz; Índice de Gini; Índice CURVA EM SINO. Veja Curva Normal; Distri-
de Pareto. buição Normal; Risco.
CURVA IS-LM. Veja Curvas IS-LM.
CURVA DE PHILLIPS. Representação gráfica
de uma regularidade estatística, encontrada em CURVA J (Jota). Imediatamente depois da des-
1958 por A.W.H. Phillips ao estudar a economia valorização da moeda de um país, este pode acu-
inglesa entre 1861 e 1957. A curva indicaria a sar um déficit no balanço de pagamentos. Logo
existência de uma relação inversamente propor- após, no entanto, o país obterá um superávit
cional entre o nível de desemprego e a taxa de em conta corrente. O nome da Curva J tem ori-
variação dos salários monetários. A.W.H. Phil- gem no formato gráfico deste movimento: se co-
lips não apenas observou a existência dessa re- locarmos o resultado da balança comercial no
eixo y e o tempo no eixo x, então a Curva J
lação no caso inglês, como também concluiu que
mostrará um déficit inicial para ser rapidamente
ela era consideravelmente estável durante um transformado em superávit, na medida em que
período de quase cem anos. Economistas como os efeitos da desvalorização cambial se genera-
Paul Samuelson realizaram estudos semelhantes lizam. Este fenômeno deve-se ao fato de que a
para os Estados Unidos, encontrando as mes- resposta das importações à mudança nos preços
mas tendências, embora bem menos conclusi- relativos não se processa imediatamente, resul-
vas do que as de Phillips. Do ponto de vista tando em déficits nos primeiros momentos de-
da política econômica, a Curva de Phillips pois da desvalorização.
mostra que em muitos casos a redução do de-
semprego implica elevação dos salários mone- CURVA LOGÍSTICA. Veja Logística, Curva.
tários e, portanto, inflação; ou, ao contrário, CURVA MARSHALLIANA DA DEMANDA.
uma política de combate à inflação (redução Curva de Demanda inspirada em conceitos de
dos salários monetários) significa aumento da Alfred Marshall, na qual a quantidade deman-
taxa de desemprego. dada em resposta aos preços depende não ape-
CURVA NORMAL 150

nas do nível de renda, mas também incorpora Partindo do ponto de equilíbrio A, correspon-
o efeito substituição. Veja também Efeito Subs- dente à taxa natural de desemprego, o governo
tituição; Marshall, Alfred. aumenta a demanda agregada na tentativa de
reduzir o desemprego. A demanda aumenta, os
CURVA NORMAL. Expressão gráfica de uma empresários contratam mais trabalhadores e o
distribuição normal. Tem a forma aproximada desemprego diminui. Com o aumento do nível
de uma secção transversal de um sino. Teorica- de emprego, os salários aumentam e ocorre o
mente a curva se estende de -∞ a ∞, tendo o deslocamento sobre a Curva de Phillips de curto
eixo horizontal como assíntota. É também cha- prazo de A para B. Supondo que não ocorra
mada de Curva em Sino, Curva de Gauss ou nenhum aumento de produtividade, os preços
Curva Sigmóide. Veja também Distribuição aumentam, os salários reais diminuem e o de-
Normal; Probabilidade; Risco. semprego volta para o ponto C. Agora existe
uma taxa de inflação positiva no nível de de-
estende-se de -∞ a ∞ semprego natural, pois aqueles que permane-
cem empregados formulam suas demandas sa-
lariais mais elevadas com base nas expectativas
de futura elevação de preços, para compensar
as taxas positivas de inflação. Se nenhuma ação
for tomada pelo governo, esta taxa de inflação
de equilíbrio permanecerá. Mas se o governo
tentar reduzir outra vez o desemprego abaixo
da taxa natural de desemprego, nos moveremos
-∞ µ ∞
para uma segunda Curva de Phillips de curto
curva normal µ = média prazo, primeiro para o ponto D e, posteriormen-
te, para o ponto E. Os pontos A, C e E estão
CURVA SIGMÓIDE. É aquela cuja forma se situados numa Curva Vertical de Phillips. O sis-
assemelha à Curva Normal de Distribuição. Veja tema tenderia a uma taxa natural de desempre-
também Curva Normal. go. Veja também Curva de Phillips; Expectati-
vas Racionais.
CURVA VERTICAL DE PHILLIPS. Hipótese
de que, a longo prazo, não existe um trade-off CURVAS DE PROGRESSÃO DOS SALÁ-
(troca conflituosa) entre as mudanças na taxa RIOS. Curvas registradas em gráficos, relacio-
nominal de salários e o nível de desemprego, nando o salário de um trabalhador com sua ida-
como indicava originalmente a Curva de Phillips. de ou experiência. Elas são utilizadas nos casos
Contrastando com a hipótese original de Phillips, em que não é possível estabelecer uma gradua-
Milton Friedman, em 1968, levantou o problema ção precisa das faixas salariais, como acontece,
de que a questão central não são os salários no- por exemplo, entre o pessoal dedicado à pes-
minais, mas sim os reais. A hipótese é que os quisa ou de elevada capacidade técnica. Em al-
trabalhadores assalariados estão preocupados gumas empresas, as curvas são utilizadas como
com os seus salários reais e, portanto, suas de- parâmetro para a realização de revisões salariais
globais.
mandas sobre os salários nominais são feitas para
compensar as taxas esperadas de inflação. Assim, CURVAS IS-LM. Interpretação formal da teoria
dW = F(U)t + λdPe geral de Keynes, as curvas IS-LM representadas
t
em diagramas mostram: a primeira delas, a Cur-
onde dw é a mudança nas taxas nominais de va IS, as combinações possíveis entre taxas de
salário;U é a taxa de desemprego e dPe, as mu- juros e renda nacional, que mantêm em equilí-
danças esperadas nos preços, todas no período brio o mercado de bens e serviços (mercadorias);
t e λ = 1. Este movimento é ilustrado no gráfico. a segunda, a Curva LM, representa as combi-
Taxa de nações possíveis entre taxas de juros e renda
Reajuste dos
Salários
nacional, que mantêm o mercado monetário em
Monetários equilíbrio. John Hicks (1904-1989) inicialmente
(Inflação) batizou a curva LM apenas como L, mas Alvin
D
W2 E Hansen (1887-1975) rebatizou-a como LM, en-
fatizando que a curva representa pontos nos
W1 B C quais L (demanda por moeda) = M (oferta de
moeda). Essas curvas e sua interação repre-
sentam em síntese a relação de equilíbrio entre
taxas de juros e produto nacional e podem ser
U A utilizadas para testar a eficácia de políticas fis-
Taxa de Desemprego cais. A curva IS representa a esfera dos gastos,
151 CUSTO BRASIL

ou o setor real da economia, e mostra que os tanto, na medida em que chama a atenção para
gastos de consumo, de investimento ou as des- as condições de equilíbrio do sistema, não fo-
pesas do governo se elevam quando as taxas de caliza devidamente a estrutura subjacente e uma
juros diminuem. A curva LM, por outro lado, das questões que perpassam toda a obra key-
mostra que, no âmbito financeiro, um aumento nesiana: a incerteza que caracteriza o mercado
nos gastos só é viabilizado com um deslocamen- monetário e financeiro. Veja também Curva de
to para cima das taxas de juros. A razão disso Phillips; Reagnomics; Supply Side Economics.
estaria na teoria da preferência pela liquidez das CUSHION THEORY. Expressão em inglês que
pessoas, proposta por Keynes, segundo a qual designa uma teoria segundo a qual o preço de
as pessoas preferem manter seus valores na for- uma ação deve subir se muitos investidores es-
ma mais líquida possível, isto é, na forma de tiverem em posições vendidas, uma vez que tais
dinheiro ou de depósitos à vista, para realizar posições devem ser cobertas pela compra de açõ-
transações — dadas as oportunidades — e in- es. Os analistas de mercado consideram existir
vestir nos mercados financeiros especulativos. uma tendência altista se as posições vendidas
Quando os gastos se elevam, as pessoas neces- de uma determinada ação registrarem um nível
sitam de mais dinheiro para realizar as transa- duas vezes superior ao número de ações nego-
ções. Se o volume de dinheiro em circulação fos- ciadas diariamente. Isso acontece porque a ele-
se fixo, as pessoas só poderiam realizar seu de- vação de preços força os portadores de posições
sejo de aumentar os gastos se os saldos mone- vendidas a cobrir suas posições comprando ações,
tários mantidos para garantir a liquidez dimi- fazendo com que o preço destas suba ainda mais.
nuíssem. Para que essa redução ocorra, é neces-
CUSTO ALTERNATIVO. Veja Custos de
sário que as taxas de juros aumentem. Na esfera
Oportunidade.
financeira, portanto, a relação é entre maiores
gastos e taxas de juros mais elevadas. O perfil CUSTO/BENEFÍCIO, Análise de. Processo usa-
da curva LM é, portanto, ascendente. Os níveis do para a determinação da eficiência econômica
de equilíbrio entre renda (produto) e taxas de global de investimentos públicos em obras in-
juros são fornecidos pela intersecção das curvas fra-estruturais. Comparam-se os custos com os
IS e LM. Do ponto de vista da eficácia da política benefícios sociais que provavelmente resultarão
fiscal, as curvas IS-LM funcionariam da seguinte do investimento. Segundo esse processo, deve-
maneira: maiores despesas do governo ou re- se escolher, entre vários projetos, aquele que
dução dos impostos aumentariam a renda das apresenta a maior diferença positiva entre os be-
pessoas e, portanto, provocariam maiores dis- nefícios globais (econômicos e sociais) e os cus-
pêndios na seqüência. A curva IS seria deslocada tos globais. As dificuldades apresentadas por
de IS1 para IS2. Este aumento dos gastos pro- esse processo de análise são a quantificação dos
voca uma necessidade adicional de dinheiro benefícios e dos custos sociais e a determinação
para as transações, o que, por sua vez, provoca de uma taxa de juros para os capitais emprega-
uma elevação das taxas de juros. O aumento dos. O método tem sido usado particularmente
inicial dos gastos Y3 - Y1 sofre uma redução para a análise dos benefícios advindos da cons-
(passa a Y2 - Y1), mas o impacto final da política trução de estradas e outros empreendimentos
fiscal ainda promove o crescimento da renda ou públicos. Veja também Benefícios Sociais.
do produto, pois Y2 - Y1 é positivo. CUSTO BRASIL. Denominação genérica dada
a uma série de custos de produção, ou despesas
LM
incidentes sobre a produção, que tornam difícil
ou desvantajoso para o exportador brasileiro co-
locar seus produtos no mercado internacional,
ou então tornam inviável ao produtor nacional
competir com os produtos importados. Tais cus-
tos estariam relacionados com aspectos legais
(legislação trabalhista, por exemplo, e os encar-
gos sociais), institucionais (excesso de burocra-
cia para a instalação de empresas ou para a ex-
IS2 portação de produtos), tributários (excesso de
tributos sobre produtos que direta ou indireta-
IS1 mente participam das exportações ou sofrem
Y1 Y2 Y3 concorrência de produtos estrangeiros), de in-
fra-estrutura (falta de estradas bem conservadas,
comunicações deficientes e caras) e corporativas
Este esquema representa uma determinada in- (domínio de sindicatos de trabalhadores sobre
terpretação da Teoria Geral de Keynes. No en- certos tipos de atividade, dificultando a incor-
CUSTO DE VIDA 152

poração do progresso técnico e o aumento da CUSTO HISTÓRICO. Princípio adotado em


produtividade). contabilidade segundo o qual todos os elemen-
tos de uma demonstração financeira devem ser
CUSTO DE VIDA, Índice do. Medida da va- baseados no custo de aquisição (ou original), su-
riação dos preços de bens e serviços consumidos pondo que a unidade monetária utilizada nessa
por uma amostra representativa da população demonstração não sofra desvalorização no pe-
de uma região, em certo período de tempo. Per- ríodo considerado, ou, quando isso ocorrer,
mite avaliar quantitativamente o poder de com- compensando com a respectiva atualização mo-
pra dos salários e o valor real da moeda. Os netária daqueles custos.
diversos métodos de cálculo do índice do custo
de vida tomam como base o orçamento-padrão CUSTO MARGINAL DO CAPITAL. Sendo o
de uma amostra de famílias e incluem uma série custo de uma unidade adicional de uma deter-
de bens e serviços básicos devidamente ponde- minada mercadoria ou produto, o custo margi-
rada. Para que o índice esteja sempre atualizado, nal do capital é o custo de obtenção de fundos
é necessário rever periodicamente o orçamento- adicionais, o que geralmente equivale às taxas
padrão e o preço de cada um dos itens. No Bra- de juros vigentes no mercado para tal tipo de
sil, os primeiros estudos sistemáticos sobre o as- operação.
sunto datam de 1936 e tinham por objetivo for-
necer elementos para a fixação do salário míni- CUSTOMARY SYSTEM (Sistema Consuetudi-
mo, instituído dois anos mais tarde pelo governo nário). Sistema de unidades de medidas em vi-
Vargas. Na atualidade, as principais instituições gor nos Estados Unidos, derivado do Sistema
que se dedicam ao assunto são a Fundação Ge- Imperial Inglês (Britânico), embora com algu-
túlio Vargas, do Rio de Janeiro, o Instituto de mas variações, especialmente no que se refere
Pesquisas Econômicas da Universidade de São à medida de substâncias líquidas. Mas assim
Paulo, o Departamento Intersindical de Estatís- como o Sistema Imperial Inglês, o Sistema Con-
tica e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), de São suetudinário dos Estados Unidos tem o pé (me-
Paulo, e o IBGE. Esses índices não são direta- dida de comprimento) e a libra (medida de peso)
mente comparáveis entre si porque diferem em como suas unidades básicas. Ambos os sistemas
seus campos de aplicação. O índice da Fundação estão sendo paulatinamente substituídos pelo
Getúlio Vargas mede, desde 1944, as variações Sistema Internacional. Veja também Sistema In-
de preços para o conjunto da população carioca ternacional de Pesos e Medidas.
e oferece uma média para os diferentes níveis
de renda. O do Instituto de Pesquisas Econômi- CUSTOS. Avaliação, em unidades de dinheiro,
cas mede as variações de preço para uma classe de todos os bens materiais e imateriais, trabalho
de renda modal na cidade de São Paulo. O Diee- e serviços consumidos pela empresa na produ-
se ocupa-se das variações do custo de vida dos ção de bens industriais, bem como aqueles con-
trabalhadores de São Paulo, dividindo-os em sumidos também na manutenção de suas insta-
três estratos, de acordo com os salários recebi- lações. Expresso monetariamente, o custo resul-
dos. E, finalmente, o do IBGE calcula o INPC ta da multiplicação da qualidade dos fatores de
em bases nacionais. Veja também DIEESE; FGV; produção utilizados pelos seus respectivos preços.
IBGE; INPC. CUSTOS (Minimização de). Para qualquer ní-
CUSTO DO PRAZO. Diferença que pode exis- vel de produção, é a combinação do emprego
tir, especialmente nos gastos públicos, entre o de fatores (em geral capital e trabalho) que torna
momento em que uma despesa é realizada e o os custos mínimos.
momento em que é efetivamente paga. Nas eco-
CUSTOS COMPARATIVOS (ou Lei das Van-
nomias onde existe um processo inflacionário
intenso e onde o mecanismo da correção mone- tagens Comparativas). Conceito de custos in-
tária não se aplica em todos os contratos, esse troduzido na teoria do comércio exterior por Da-
prazo pode criar fortes distorções dos valores vid Ricardo, em 1817. Para efeito de simplifica-
reais efetivamente transacionados, causando ção, relacionam-se os custos de produção dos
perdas para os fornecedores do setor público produtos A e B, produzidos por dois países dis-
ou para o próprio setor público, dependendo tintos (1 e 2), comparando-os. Os custos de pro-
da forma na qual os contratos forem assinados dução do produto A são expressos em relação
e as formas indexadas ou não das receitas pú- aos custos de produção do produto B. Possui a
blicas. No caso brasileiro, durante o período de vantagem comparativa o país em que for menor
vigência da URV (28/2/1994 a 30/6/1994), as a relação dos custos de produção dos produtos
administrações (governos) que converteram A e B. Ricardo introduziu esse conceito como
para a URV suas despesas, e não tiveram suas prova de que é vantajosa para um país sua es-
receitas também convertidas, acusaram desequi- pecialização internacional. Veja também Ricar-
líbrios financeiros sérios. do, David.
153 CVM

CUSTOS DE CARREGAÇÃO. Veja Carrying talações da fábrica, depreciação, mão-de-obra in-


Costs. direta, impostos, seguro etc.

CUSTOS DE OPORTUNIDADE. Conceito de CUSTOS INEVITÁVEIS. Custos que, conside-


custos utilizado por Marshall. Segundo esse con- rados a curto prazo, coincidem com os custos
ceito, os custos não devem ser considerados ab- fixos.
solutos, mas iguais a uma segunda melhor opor-
tunidade de benefícios não aproveitada. Ou seja, CUSTOS SOCIAIS. Despesas feitas durante o
quando a decisão para as possibilidades de uti- processo de produção e que não são pagas pelos
lização de A exclui a escolha de um melhor B, que as ocasionaram, mas por terceiros, ou são
podem-se considerar os benefícios não aprovei- transferidas para toda a sociedade. Trata-se das
despesas acarretadas, por exemplo, pela polui-
tados decorrentes de B como opportunity costs,
ção do ar e das águas, pela destruição da fauna
custos de oportunidade. Veja também Marshall,
e da flora, pelos acidentes de trabalho e pelas
Alfred.
doenças profissionais, entre outros fatores. De-
CUSTOS DE PRODUÇÃO. Soma de todos os terminar esses custos é muito difícil, pois apenas
custos originados na utilização dos bens mate- uma parte deles chega a ser identificada em
riais (matéria-prima, mão-de-obra, depreciação grandezas monetárias.
e amortização de máquinas, patentes, gastos di- CUSTOS SUPLEMENTARES. Custos que, na
versos) de uma indústria na elaboração de seus contabilidade financeira da empresa, não apa-
produtos. recem contrapostos por nenhuma despesa, mas
precisam entrar no cálculo de custos, pois sig-
CUSTOS DE TRANSAÇÃO. Conceito relacio- nificam concretamente gastos. Por exemplo: cál-
nado com os custos necessários para a realização culo do aluguel de um imóvel da empresa, uti-
de contratos de compra e venda de fatores num lizado por ela mesma.
mercado composto por agentes formalmente in-
dependentes. Esses custos são comparados com CUSTOS VARIÁVEIS. Parte do custo total que
aqueles necessários à internalização dessas ati- varia conforme o grau de ocupação da capaci-
vidades no âmbito da própria empresa e cons- dade produtiva da empresa: por exemplo, custos
tituem um critério importante na tomada de de- com matérias-primas, salários por produção e
cisão nas empresas modernas. O conceito tem outros.
relevância também nas teorias desenvolvidas
por Ronald Coase que, mediante suas formula- CUT — Central Única dos Trabalhadores. Uma
ções, denominadas Teorema de Coase, estabe- das centrais sindicais brasileiras, fundada em
leceu que as externalidades (economias exter- agosto de 1983 em congresso que contou com
a participação de 5 059 trabalhadores, delegados
nas) não determinam uma alocação imperfeita
de sindicatos urbanos e rurais. No congresso,
de recursos desde que os custos de transação
foi eleita uma coordenação composta de 86
sejam nulos. Veja também Coase, Ronald; Eco-
membros, tendo como presidente o ex-presiden-
nomias Externas; Teorema de Coase.
te do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernar-
CUSTOS DIRETOS. Custos que podem ser iden- do do Campo, Jair Meneguelli. A CUT e a CGT
tificados diretamente com uma unidade do pro- constituem as duas grandes centrais do movi-
mento sindical brasileiro. Por seu programa e
duto. É o caso dos custos decorrentes do con-
pelas greves e ações coletivas que tem patroci-
sumo de matéria-prima, embalagem e mão-de-
nado no campo e na cidade desde a sua origem,
obra — a parte do salário paga ao operário que
a CUT é considerada mais à esquerda do que
trabalha diretamente no produto, segundo o pe- a CGT. Veja também CGT; Conclat.
ríodo de tempo gasto com a unidade que está
sendo produzida. CUTTHROAT COMPETITION. Expressão em
inglês que significa competição selvagem (matar
CUSTOS FIXOS. Custos que permanecem inal- ou morrer), que sempre termina em perdas para
terados, independentemente do grau de ocupa- as empresas envolvidas e cuja intenção é elimi-
ção da capacidade da empresa. São custos ori- nar o concorrente. As perdas sofridas pela em-
ginados pela própria existência da empresa, sem presa vencedora são compensadas em seguida
levar-se em conta se ela está produzindo ou não pela elevação de preços e pela ausência ou re-
(aluguéis, juros, instalações etc.). dução da concorrência. Esse tipo de competição
é também denominado War Rate, isto é, Guerra
CUSTOS INDIRETOS. Custos relacionados com de Preços.
a fabricação e que não podem ser economica-
mente identificados com as unidades que estão CVM — Comissão de Valores Mobiliários. Co-
sendo produzidas. Por exemplo: aluguel das ins- missão criada pela lei nº 6 385, de 7/12/1976,
CVRD 154

inspirada na Securities and Exchange Commis- CWO. Iniciais da expressão em inglês cash with
sion, dos Estados Unidos, para exercer uma fun- order, que significa “pagamento com o pedi-
ção até então atribuída ao Banco Central: regu- do”, isto é, o pedido de uma mercadoria ou
lar, prestar consultoria e julgar, em instância ad- serviço deve ser acompanhado pelo devido pa-
ministrativa, as operações e dispositivos do Mer- gamento.
cado de Valores Mobiliários. Sob a jurisdição
da CVM, estão as Bolsas de Valores e sociedades CY PRÉS (Doutrina). Expressão em francês que
corretoras, os bancos de investimentos, as so- significa “por aproximação” e é aplicada no caso
de instituições de caridade que, por uma razão
ciedades distribuidoras e as companhias abertas,
ou outra, não podem exercer suas atividades em
os agentes autônomos de investimento e as car-
total concordância com os termos em que a ins-
teiras de depósitos de valores mobiliários, os
tituição foi criada. Nesses casos, os tribunais po-
fundos e sociedades de investimento e os audi-
dem adotar a doutrina cy prés, universalmente
tores independentes, os consultores e analistas
reconhecida na legislação internacional, e deter-
de valores mobiliários. A CVM, juntamente com
minar que a instituição (trust) desenvolva suas
o Conselho Monetário Nacional, estabelece as
atividades de tal forma a se aproximar o mais
normas e diretrizes para o funcionamento do
possível do desejo original do doador dos bens
mercado de valores. ou recursos à disposição da instituição. Esta
CVRD — Companhia Vale do Rio Doce S.A. doutrina está baseada no princípio de que, em
Empresa de economia mista criada em 1942, ten- última instância, é o Estado o protetor de todos
do o governo federal como acionista majoritário. os objetos de caridade.
É a maior empresa de mineração de ferro do CYBERPHOBIA. Termo relacionado com os es-
mundo e a principal exportadora mundial do tudos dos impactos da incorporação do progres-
produto. Sua criação resultou do mesmo esforço so técnico sobre os trabalhadores e que consiste
de nacionalização dos setores básicos que levaria no medo ou nas fobias causadas pela presença
à criação da Companhia Siderúrgica Nacional e de computadores e aparelhos a eles relacionados
da Petrobrás. Incorporou a Companhia Brasilei- nos locais de trabalho.
ra de Mineração e Siderurgia, à qual se integra-
vam a Estrada de Ferro Vitória—Minas e a Ita- CYCLICAL ASSYMETRY. Expressão em inglês
bira Mining Company. Opera nos Estados de cuja tradução literal é “assimetria cíclica”. É uti-
Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, lizada nos Estados Unidos para designar que a
Pará e Mato Grosso do Sul. O transporte de mi- política monetária da Reserva Federal é mais efi-
nério das jazidas ao porto de embarque é feito caz durante uma fase do ciclo econômico do que
pela ferrovia Vitória-Minas, com 550 km. Quase em outra.
toda a exportação é realizada pelo porto de Tu-
barão, em Vitória, inaugurado em 1966. A Vale,
com mais de vinte subsidiárias, extrai minério

D
de ferro, manganês e alumínio e promove pro-
jetos de reflorestamento e de industrialização de
celulose, fertilizantes, fosfato, titânio e outros
metais raros. Opera ainda com transportes ma-
rítimo e ferroviário, pesquisas geológicas e en-
genharia de projetos. Tem uma filial em Nassau,
Bahamas (Itabira International Company Ltd. —
Itaco) e outra na Alemanha, a Itabira Eisenerz
D. Inicial de: 1) debênture; 2) default (classificação
G.m.b.H. Sua principal subsidiária, a Docenave
da Standard & Poor’s); 3) delivery (entrega); 4)
(Vale do Rio Doce Navegação S.A.), fundada em
demand (Curva da Demanda); 5) dinar (unidade
1961 e com sede no Rio, é a segunda maior em-
monetária da Tunísia); 6) discount (desconto); 7)
presa de navegação do Brasil, encarregando-se
dólar (unidade monetária dos Estados Unidos).
da construção de navios e transporte a granel
(minério de ferro, carvão, óleo cru, bauxita, açú- DAÇÃO EM PAGAMENTO. Conceito utiliza-
car, rocha fosfática, cereais e fertilizantes). Entre do em administração pública, que significa a en-
as subsidiárias, destacam-se ainda a Florestas trega de um bem que não seja dinheiro para a
Rio Doce S.A. (Belo Horizonte), a Rio Doce Ma- liquidação de uma dívida. Aquilo que, dado em
deiras S.A. — Docemade (Vitória) e a Amazônia pagamento, pode ser de qualquer natureza e es-
Mineração S.A. (Belém). A Vale tem exclusivi- pécie, desde que o credor consinta no recebi-
dade na exploração dos 18 bilhões de toneladas mento da prestação devida. Por exemplo, este
de ferro da serra dos Carajás, no Pará. dispositivo era utilizado nas operações interli-
155 DAVANZATI, Bernardo

gadas nas quais, em troca do aumento do po- de Spencer afasta-se do neoliberalismo, que de-
tencial construtivo de um terreno, seu proprie- fende algum grau de intervenção do Estado para
tário entregava à prefeitura municipal um de- garantir a concorrência. Veja também Spencer,
terminado número de habitações de interesse so- Herbert.
cial para a remoção de favelas. Nesse caso, as
moradias eram entregues como dação em paga- DATA MINING. Expressão em inglês que sig-
mento desse compromisso (atualmente, o paga- nifica a extração de conhecimentos dos dados
mento pode ser feito em dinheiro, o que sim- encontrados nos modernos meios de estocagem
plifica consideravelmente o processo). dos mesmos. A combinação de computadores
cada vez mais rápidos, a capacidade de arma-
DADOS DE REFERÊNCIA. Veja Bench Mark. zenamento de dados de forma barata e o pro-
gresso nas comunicações tornam possível com-
DAEs. Veja NICs. binar, para efeitos de marketing, por exemplo,
dados fornecidos por diversas fontes para traçar
DAISY CHAIN. Expressão em inglês que sig-
o perfil de tendências de novos consumidores.
nifica “corrente da felicidade”, que designa a
É verdade que formas de pesquisa como essa,
realização de transações entre manipuladores
que se assemelham ao ato de cavar uma mina
num mercado financeiro para criar uma aparên-
até encontrar metais preciosos, tornam cada vez
cia de que determinados títulos ou ações estarão
mais tênues os limites entre o que são dados de
em processo de alta, como forma de atrair in-
domínio público (lista telefônica, por exemplo)
vestidores incautos e ingênuos. Quando estes
e aquilo que pertence a cada cidadão e somente
últimos entram no mercado comprando ações
com sua autorização poderia ser utilizado. Veja
ou títulos e elevando, assim, as respectivas co-
também Marketing.
tações, os especuladores vendem maciçamente
seus títulos e ações, realizando lucros e deixando DATIO IN SOLUTUM. Expressão em latim que
os incautos com papéis “micados”. Veja também significa “dação em pagamento”, no sentido em
Especulação; Mico. que, dessa forma, se extinguiu uma obrigação.
DALASI. Unidade monetária da Gâmbia. Sub- DAVANZATI, Bernardo (1529-1606). Comercian-
múltiplo: butut. te, tradutor e economista, Davanzati nasceu em
Florença, e ali trabalhou até o final de sua vida.
DARDANISMO. Palavra derivada de Dardanus, Suas obras mais importantes foram Notizie dei
feiticeiro fenício que destruía as colheitas. Sig- Cambi (Anotações sobre o Câmbio), 1582, na qual
nifica a destruição consciente de uma colheita
ele explica as operações com moedas estrangei-
ou produção agrícola, para que os preços não
ras, e Lezione delle Monete (Lições sobre a Moeda).
caiam por excesso de oferta e a lucratividade se
Sua análise sobre o câmbio mostra como as taxas
mantenha satisfatória. No Brasil, o caso mais ex-
flutuam entre gold points, de acordo com a oferta
pressivo de dardanismo foi a queima do café
e a demanda de notas, sendo tais gold points de-
nas fornalhas das locomotivas nos primeiros
terminados por um prêmio de risco, custo de
anos da década de 30, para evitar que os preços
transporte e perda de juros, enquanto os fundos
caíssem ainda mais no mercado internacional,
estão em trânsito. As considerações de Davan-
deprimido pela crise econômica a partir de 1929.
zati sobre a moeda constituem uma das primei-
DARWINISMO SOCIAL. Escola do pensamen- ras versões da visão dos metalistas sobre a ori-
to sócio-econômico surgida na Europa no final gem e a natureza do dinheiro. Ele destaca as
do século XIX e que teve em Herbert Spencer vantagens do dinheiro sobre o escambo, por fa-
seu principal teórico. Aceita as proposições neo- cilitar as trocas entre países e a divisão do tra-
clássicas e condena a intervenção do Estado nos balho. Para explicar a origem do valor do di-
mecanismos de mercado e em outras esferas da nheiro, Davanzati apresenta uma primitiva teo-
vida social; e, apoiando-se em Darwin, trans- ria quantitativa, que relaciona o valor dos esto-
planta para a vida econômico-social a teoria da ques de mercadorias com o estoque de moeda.
seleção natural, segundo a qual os menos aptos Embora consciente da importância da circulação
tenderiam a desaparecer. A intervenção do Es- monetária, não relacionou isto com o conceito
tado no “organismo” social — segundo os se- da velocidade de circulação. Davanzati criticava
guidores de Spencer — seria contrária à evolu- as desvalorizações monetárias por meio da re-
ção natural. A empresa monopolista — principal cunhagem, e defendia que a moeda deveria cir-
característica do capitalismo moderno — resul- cular “de acordo com o seu valor intrínseco”,
taria do processo de seleção na vida econômica isto é, pela quantidade fixa de material que a
e, portanto, seria benéfica, na medida em que compunha. Na tradição metalista, definia o di-
afastaria os menos aptos. Nessa questão, a teoria nheiro como “ouro, prata e cobre” cunhados
DAVOS 156

pela autoridade pública, transformando-se no deve ser repetido, embora não seja estritamente
preço e na medida das coisas. O dinheiro não- necessário fazê-lo.
metálico ou não-conversível somente poderia
circular junto ao público pela coerção. DEADLINE. Termo em inglês que significa
“prazo final”, isto é, data ou momento final para
DAVOS (Fórum de). Denominação dada ao Fó- que um projeto seja finalizado ou uma decisão
rum Econômico Mundial que se realiza anual- seja tomada.
mente na cidade suíça de Davos, reunindo che-
fes de Estado e ministros (especialmente da área DEAR MONEY. Veja Dinheiro Caro.
econômica e financeira) para discutir os grandes
problemas que afetam a economia mundial. Não DEBÊNTURE. Título mobiliário que garante ao
tem caráter deliberativo. comprador uma renda fixa, ao contrário das açõ-
es, cuja renda é variável. O portador de uma
DAWES PLAN. Veja Plano Dawes. debênture é um credor da empresa que a emitiu,
DAY AFTER RECALL. Expressão em inglês que ao contrário do acionista, que é um dos pro-
significa literalmente “lembrança do dia seguin- prietários dela. As debêntures têm como garan-
te”. Utilizada em propaganda e marketing, de- tia todo o patrimônio da empresa. Debêntures
signa a lembrança que o público reteve de uma conversíveis são aquelas que podem ser conver-
peça publicitária veiculada na véspera. tidas em ações, segundo condições estabelecidas
previamente.
DAY-TO-DAY MONEY. Veja Call Money.
DÉBITO. Em contabilidade, especialmente no
DAY TRADE. Expressão em inglês que signi- sistema de partidas dobradas, é qualquer quan-
fica a realização de uma operação financeira e tia devida pela empresa, contrapondo-se ao cré-
sua liquidação no mesmo dia, isto é, a compra dito. Assim, por exemplo, a compra de uma má-
e a venda de um título por um mesmo operador quina entra como dívida na coluna de débito,
num mesmo dia. Dessa forma, um ganho ou ao mesmo tempo que a máquina, como equipa-
uma perda são imediatamente obtidos. O me- mento, entra como crédito de mesmo valor. Veja
canismo também é conhecido como in-and-out também Crédito; Partidas Dobradas.
trade. Por exemplo, um operador realiza o se-
guinte negócio: adquire às 9:00 (no início do pre- DEBREU, Gerard (1921- ). Nascido na França
gão) 100 onças de ouro por 37,5 mil dólares. e naturalizado norte-americano, Gerard Debreu
Vende às 14:00 (no final do pregão) 100 onças é um economista matemático, ganhador do Prê-
de ouro por 37 650 dólares. Na medida em que mio Nobel em economia em 1983 por seus tra-
uma operação compensa a outra, esta liquidação balhos relacionados com a Teoria do Equilíbrio
tem preferência sobre as demais, e o operador Geral. Debreu retomou e examinou em detalhe
realiza um ganho bruto (sem contar a comissão) as questões levantadas por Smith e Walras re-
de 150 dólares. lacionadas com o equilíbrio dos mercados, es-
pecialmente de que maneira um sistema de mer-
DCB (Debt Convertion Bond). Veja Plano Bra- cados descentralizados poderia levar à desejável
dy; TJLP. coordenação dos planos individuais dos consu-
DCP. Veja Freight or Carriage Paid To. midores. Em seu trabalho em conjunto com Ar-
row, ele foi capaz de provar a existência de pre-
DDP. Veja Delivered Duty Paid. ços proporcionadores de equilíbrio, confirman-
do desta forma a lógica da visão de Smith e
DE MOIVRE, Abraham. Veja Distribuição Nor- Walras. Debreu respondeu a duas questões adi-
mal; Risco. cionais neste campo. Em primeiro lugar, ele es-
DE NOVO. Expressão de origem latina que, uti- tabeleceu de que maneira as condições sob as
lizada no âmbito financeiro, significa um banco quais a mão invisível de uma economia de mer-
novo que recebe uma carta de autorização cons- cado poderia assegurar a eficiência alocativa dos
tituindo-se, dessa forma, em uma nova socieda- fatores e recursos. Em segundo lugar, ele ana-
de financeira numa determinada economia. Esta lisou a questão da estabilidade do equilíbrio de
forma se distingue quando alguém adquire, por uma economia de mercado e foi capaz de mos-
meio de compra, controle acionário etc., um ban- trar que, em economias de grande porte, com
co já em funcionamento, isto é, que já possui inúmeros agentes de mercado, o equilíbrio seria
uma carta de autorização para funcionar. estável. Seu livro mais importante, Theory of Va-
lue (Teoria do Valor), 1959, é conhecido por sua
DEAD HORSE WORK. Expressão em inglês abrangência (universalidade) e sua elegante
que significa trabalho pelo qual os trabalhadores abordagem analítica, uma vez que Debreu foi
foram pagos por adiantamento ou aquele que capaz, no mesmo modelo de equilíbrio, de in-
157 DEFICIENCY PAYMENT

tegrar a teoria da locação (location), a teoria do dimentos em cada uma das cédulas da declara-
capital e a teoria do comportamento em condi- ção do Imposto de Renda. Permitem, assim, uma
ções de incerteza. redução da renda sobre a qual o imposto incide.
Cada cédula possui deduções próprias, em fun-
DEBT RELIEF. Expressão em inglês que signi- ção do tipo de fonte que originou o rendimento.
fica “redução da dívida”, e ocorre quando, dian- Dessa forma, a cédula A/B (rendimentos de ca-
te da impossibilidade de um devedor pagar uma pital) permite deduções com despesas de comis-
dívida, o credor proporciona uma redução dela são e corretagem, necessárias para receber os
(às vezes acompanhada de uma redução tam- rendimentos em questão. Na cédula C (rendi-
bém nas taxas de juros), de forma tal que o de- mentos do trabalho assalariado), podem-se de-
vedor possa honrá-la. Veja também Plano Ba- duzir despesas relacionadas com o exercício da
ker; Plano Brady. profissão, como compra de uniformes e roupas
especiais ao exercício profissional, despesas ju-
DECIL. Veja Percentil. diciais (para recebimento dos rendimentos),
compra de publicações e materiais necessários
DECIMAL (Sistema). Veja Sistemas de Pesos ao desempenho de funções técnicas e outras.
e Medidas. Veja também Imposto de Renda.
DECISÕES, Tomada de. Processo que envolve DEEP-DISCOUNT BOND. Expressão em in-
desde o estabelecimento de uma política empre- glês que designa, no mercado financeiro, aqueles
sarial ou governamental até a execução de uma títulos com um cupom (taxa de juros) muito bai-
política já determinada, pelo julgamento de da- xo ou mesmo sem proporcionar juros, mas ven-
dos e escolha de meios necessários para alcançar didos com um desconto muito grande, isto é,
um objetivo. A tomada de decisões tornou-se por um preço muito abaixo do seu valor de face.
mais formal e científica a partir da introdução Quando o título não tem cupom, isto é, não paga
de métodos matemáticos, como a programação juros, denomina-se pure-discount ou original-is-
linear, o uso de computadores e outras inova- sue-discount bond. Veja Também Zero Coupon
ções. Esses avanços, contudo, apenas proveram Bonds.
o processo decisório de meios mais confiáveis
para determinar claramente as conseqüências de DEFASAGEM CAMBIAL. Situação na qual a
moeda de um país encontra-se valorizada em
cursos alternativos de ação; a escolha final de
relação às moedas fortes, o que constitui um de-
política apropriada continua nas mãos do exe-
sestímulo às exportações. Dependendo do grau
cutivo.
dessa defasagem, os exportadores deverão ser
DECLARAÇÃO DE FILADÉLFIA. Proclamação compensados com isenções tributárias e/ou
histórica numa das conferências da Organização vantagens financeiras como, por exemplo, acon-
Internacional do Trabalho (OIT), em 1944, contra tece com as Antecipações de Contratos de Câm-
a pobreza e pela liberdade de expressão e or- bio (ACC). Veja também ACC.
ganização dos trabalhadores. DEFAULT. Termo de origem francesa que sig-
nifica a declaração de insolvência do devedor de-
DECRETO-LEI 1.401. Veja Sociedade de Inves-
cretada pelos credores quando as dívidas não são
timento D.L. 1.401.
pagas nos prazos estabelecidos. A cláusula de de-
DECRETO-LEI 157. Assinado em 10/2/1967 pelo fault fez parte dos contratos assinados pelo go-
governo federal, dispunha sobre a criação de verno brasileiro em seus empréstimos ou avais
fundos fiscais de investimento, com a finalidade com as instituições financeiras internacionais.
de estimular a capitalização de empresas com DEFICIENCY PAYMENT. Expressão em inglês
ações negociáveis nas Bolsas de Valores e refor- que significa “pagamento por compensação” e
çar o mercado de capitais. Por meio desse be- que consiste num instrumento utilizado pelo go-
nefício fiscal, as pessoas físicas passaram a poder verno norte-americano para compensar os agri-
aplicar até 12% do Imposto de Renda devido cultores que aderirem ao programa de redução
na compra de cotas de fundos fiscais de inves- de área cultivada de determinado produto, para
timento, administrados por instituições financei- que não haja excesso de produção. Esta com-
ras especializadas. Após um período mínimo de pensação é paga ao agricultor se o preço de mer-
cinco anos, as cotas poderiam ser vendidas, re- cado não alcançar o preço-meta (target price),
cebendo o investidor o dinheiro aplicado, acres- previamente determinado pelo governo e que
cido da valorização das cotas correspondentes. busca assegurar um grau de rendimento normal
O fim de sua vigência foi decretado em 1983. (médio) para o agricultor. A magnitude deste
pagamento por compensação depende da dife-
DEDUÇÕES DO IMPOSTO DE RENDA. Des- rença entre o preço-meta e o preço de mercado
pesas que podem ser subtraídas do total de ren- do produto em questão ou o preço-empréstimo
DÉFICIT 158

de suporte (aquele que for o mais elevado). Esses Setor Público Consolidado: resultado operacio-
mecanismos de incentivo e desincentivo têm sig- nal e primário e juros reais em porcentagens do
nificado (nos Estados Unidos) que mais de 75% PIB.
dos grãos para alimentação humana (especial- Observa-se que, embora o resultado primário
mente o trigo) participam deste programa. Este tenha sido em geral positivo, o operacional tem
pagamento por compensação não pode, no en- se mostrado negativo, uma vez que o peso dos
tanto, ultrapassar 50 mil dólares por produtor. juros produzidos pelo elevado grau de endivi-
damento público tem mais do que superado o
DÉFICIT. Em linguagem contábil, é um excesso
superávit primário.
de passivo em relação ao ativo, isto é, as des-
pesas e pagamentos são maiores que o fatura- DÉFICIT CAMBIAL. Veja Superávit Cambial.
mento e o total de crédito. Nas finanças públicas,
fala-se em déficit orçamentário quando as des- DÉFICIT EM CONTA CORRENTE. Também
pesas são superiores à arrecadação, e em déficit denominado déficit em transações correntes, é
da balança comercial quando o valor total das aquele que ocorre quando a soma das balanças
importações é superior ao total das exportações. comercial e de serviços e de transferências uni-
Nas contas do governo, o déficit pode ser con- laterais do balanço de pagamentos mostra um
siderado déficit primário (inclui todas as receitas resultado negativo, isto é, de déficit. Veja tam-
e todas as despesas do governo menos juros) e bém Balanço de Pagamentos.
déficit operacional. A diferença entre os dois é que
o segundo inclui as despesas com juros das dí- DÉFICIT EM TRANSAÇÕES CORRENTES.
vidas interna e externa do setor público. O qua- Veja Déficit em Conta Corrente.
dro abaixo mostra a evolução do déficit opera-
DÉFICIT OPERACIONAL. Veja Déficit.
cional e primário do setor público consolidado,
isto é, incluindo União, Estados, municípios e DÉFICIT ORÇAMENTÁRIO. Mecanismo de
empresas estatais entre 1985 e 1994: equilíbrio econômico proposto por Keynes, vi-
sando superar os problemas criados pelas crises
1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 cíclicas da economia capitalista. Segundo Key-
nes, cabe ao Estado o papel de restabelecer o
Resultado operacional
equilíbrio econômico por meio de uma política
fiscal, creditícia e de gastos, realizando investi-
4,4 -3,6 -5,7 -4,8 -6,9 1,3 -0,2 -2,8 1,3 0,5
mentos ou inversões reais que atuem, nos pe-
Governo Federal ríodos de depressão, como estímulo à economia.
-1,1 -1,3 -3,2 -3,4 -3,9 2,3 -0,1 -1,2 -1,0 1,3 Dessa política resultaria um déficit sistemático
Estados e municípios no orçamento. Nas fases de prosperidade, ao
-1,0 -0,9 -1,6 -0,4 -0,6 -0,4 0,7 -0,7 -0,1 -0,6
contrário, o Estado deve manter uma política
tributária alta, formando com isso um superávit,
Empresas estatais
que deve ser utilizado para o pagamento das
-2,3 -1,4 -,09 -1,0 -2,4 -0,6 -0,8 -0,9 -0,2 -0,2 dívidas públicas e para a formação de um fundo
de reserva a ser investido nos períodos de de-
Resultado primário pressão. Esse tipo de proposta orçamentária fi-
2,6 1,6 -1,0 0,9 -1,0 4,6 2,9 0,7 1,8 4,1
cou conhecido como orçamento cíclico e decor-
reu da verificação feita por Keynes de que o
Governo Federal
equilíbrio orçamentário não constitui um bene-
1,6 0,4 -1,8 -1,0 -1,4 2,7 1,0 0,7 0,6 2,6 fício para a economia; ao contrário, atua de for-
Estados e municípios ma prejudicial, já que contribui para agravar a
0,1 -0,1 -0,6 0,5 0,3 0,2 1,5 0,0 0,6 0,8 conjuntura do ciclo, seja ele de expansão ou de
Empresas estatais
depressão. A teoria keynesiana dos orçamentos
cíclicos constitui uma tentativa de encontrar saí-
0,9 1,3 1,4 1,4 0,1 1,7 0,4 0,0 0,6 0,7
da para o laissez-faire, e serve para confirmar a
falência do sistema liberal-individualista e rea-
Juros líquidos firmar a necessidade de intervenção estatal per-
-0,7 -5,2 -4,7 -5,7 -5,9 -3,3 -3,1 -3,5 -3,0 -3,7 manente na economia. Veja também: Keynes,
John Maynard; Orçamento.
Governo Federal
-2,7 -1,7 -1,4 -2,4 -2,5 -0,4 -1,1 -1,8 -1,5 -1,4 DÉFICIT PRIMÁRIO. Veja Déficit.
Estados e municípios
DÉFICIT PÚBLICO. Veja Déficit e Déficit
-1,1 -0,8 -1,0 -0,9 -0,9 -0,6 -0,8 -0,7 -0,7 -1,4
Operacional.
Empresas estatais
-3,2 -2,7 -2,3 -2,4 -2,5 -2,3 -1,2 -1,0 -0,8 -0,9 DEFLAÇÃO. Queda persistente do nível geral
de preços, o oposto da inflação. Caracteriza-se
159 DELFIM NETO, Antônio

pela baixa oferta de moeda em relação à oferta permanecerão com valores reais comparáveis.
de bens e serviços ou pela queda na demanda Veja também Deflacionar.
agregada (associada, por exemplo, a um maior
índice de poupança). Esse excesso de oferta de DEKASSEGUIS. Originalmente, o termo em ja-
bens — ou carência de demanda — aumenta o ponês significa “migrante ou trabalho fora da
índice de capacidade ociosa na economia e causa residência”. Era empregado no Japão para de-
um acirramento da concorrência entre os pro- signar os trabalhadores do Norte e Nordeste que
dutos, que disputam os poucos consumidores iam à procura de trabalho nas regiões desen-
disponíveis, o que leva a uma rápida queda nos volvidas de Tóquio e Osaka. Hoje, o termo é
preços. Cai o investimento e, conseqüentemente, utilizado para designar os descendentes de ja-
há queda no produto real e aumento no desem- poneses nascidos no Brasil que voltam ao Japão
prego. A deflação, assim, pode acabar provo- como trabalhadores temporários, tendo em vista
cando depressão (como a que ocorreu em 1929- que o desemprego aumentou em nosso país nos
1933 nos Estados Unidos). Normalmente, com- últimos anos. Calcula-se que o número desses
bate-se a deflação por meio de um aumento nos trabalhadores brasileiros que se transferiram
gastos públicos e um maior grau de endivida- para o Japão já supera os 230 mil, isto é, um
mento público, como forma de aumentar a de- número superior ao dos imigrantes japoneses
manda agregada. Veja também Deflacionar; De- que vieram ao Brasil no início deste século. Cal-
flator; Demanda Agregada; Inflação. cula-se também que esses trabalhadores tempo-
rários no Japão enviem para o Brasil uma média
DEFLACIONAR. Ato de comparar um preço de 1,5 bilhão de dólares anualmente, o que já
corrente específico com a inflação média exis- representa um valor expressivo e que contribui
tente numa economia em determinado período, para a obtenção de um resultado positivo em
mediante um índice de inflação (IGP-Índice Ge- transações correntes no balanço de pagamentos,
ral de Preços; IPC-Índice de Preços ao Consu- embora parcela desse valor possa entrar sem o
midor etc.) denominado deflator. Para calcular devido registro no Banco Central. Com a reces-
a evolução do salário real, é necessário defla- são da economia japonesa em 1993, e com a con-
cionar o salário nominal por meio de um deflator seqüente redução de postos de trabalho, es-
que reflita a evolução dos preços dos produtos pecialmente aqueles onde se empregavam os
adquiridos pelos assalariados de forma habitual, “dekasseguis”, esse fluxo migratório come-
como é o INPC (IBGE). Assim, por exemplo, çou a diminuir.
entre julho de 1994 e julho de 1997, o salário
mínimo nominal cresceu 71,4%, enquanto o DEL CREDERE (Acordo). Expressão em italia-
INPC (IBGE) aumentou 57,2%, o que resultou no que designa uma comissão extra paga por
num aumento de 9,3% no salário mínimo real uma empresa (geralmente exportadora) a um
entre as duas datas, como mostram os números agente quando este assume o risco de que o
abaixo: cliente que adquiriu mercadorias do primeiro é
solvente e honrará o compromisso de pagar pelo
INPC Salário Salário Salário Real Índice
(IBGE) Nominal R$ Nominal SN/IPC x 100
que comprou.
1994 100 70 100 100 DELEGAÇÃO. Processo pelo qual a autoridade
1995 130,5 100 142,8 109,4 é distribuída de cima para baixo numa organi-
1996 149,9 112 160 106,7
zação.
1997 157,2 120 171,4 109,3 DELFIM NETO, Antônio (1929- ). Economista
e político brasileiro. Cursou a Faculdade de
(Base: julho/1994 = 100) Ciências Econômicas e Administração da Uni-
versidade de São Paulo, da qual se tornou pro-
Veja também Deflação.
fessor catedrático. Em 1966, foi secretário da Fa-
DEFLATOR. Índice de correção das flutuações zenda do Estado de São Paulo e, em março de
monetárias utilizado para determinar o preço 1967, assumiu o Ministério da Fazenda, man-
tendo-se no cargo até março de 1974. Nesse pe-
real dos produtos. O deflator é calculado a partir
ríodo, correspondente aos governos Costa e Sil-
do valor do volume de bens e serviços, a preços
va e Garrastazu Medici, foi considerado o prin-
constantes produzidos durante um período (um cipal artífice do “milagre brasileiro”. Embora
mês, um ano): essa é a referência inalterável, teoricamente ligado à escola monetarista neo-
utilizada então como divisor para o valor do clássica, ao liberalismo econômico e ao anties-
volume de bens e serviços produzidos em qual- tatismo, Delfim Neto utilizou-se amplamente
quer outro período. O quociente da divisão será dos instrumentos de intervenção estatal na eco-
o deflator, que mostrará a variação do poder nomia. Com o início do governo Geisel, em 1974,
aquisitivo da moeda. Os preços corrigidos por foi nomeado embaixador brasileiro na França.
esse deflator crescerão em valor absoluto, mas Em 1979, assumiu o Ministério do Planejamento,
DELINQUENT INTEREST 160

no governo Figueiredo. Para enfrentar a falência DEMAND MONEY. Veja Call Money.
do “milagre”, a recessão do final da década de
70, valeu-se fundamentalmente de recursos téc- DEMANDA. Na teoria microeconômica, a de-
nicos monetaristas, enfatizando o controle dos manda (ou procura) é a quantidade de um bem
salários como meio de combater a inflação. Com ou serviço que um consumidor deseja e está dis-
a elevação da dívida externa e diante da impos- posto a adquirir por determinado preço e em
sibilidade de o país saldar seus compromissos determinado momento. Dessa forma, a deman-
financeiros no exterior, conduziu as negociações da deve explicar o comportamento de um con-
sumidor tomado individualmente como, por
com os credores estrangeiros e com o Fundo
exemplo, um sujeito interessado na compra de
Monetário Internacional (FMI). Esse fato e o
arroz. A demanda depende de fatores como: 1)
agravamento da crise tornaram-no o principal
preferência do consumidor — dada uma mu-
alvo das críticas dirigidas ao governo Figueire-
dança na preferência do consumidor, a demanda
do. Delfim Neto escreveu O Problema do Café no
pelo bem em questão será conseqüentemente
Brasil, tese de doutoramento. Nessa obra, analisa afetada; 2) poder de compra do consumidor,
as políticas dos governos brasileiros de valori- sem o qual a demanda não existe em termos
zação forçada do café e aponta as distorções que econômicos; 3) preços dos outros bens, tanto os
essas medidas acarretam para outros setores da bens substitutos como os complementares; 4)
economia brasileira. Ao mesmo tempo, mostra preço do bem em questão, pois, pelos mecanis-
como isso contribui para tornar competitivo, no mos comuns do mercado, quanto mais alto for
mercado internacional, o café produzido a cus- o preço, menor será a quantidade demandada;
tos elevados em outros países. Foi eleito depu- 5) qualidade do bem; 6) expectativas do consu-
tado federal em 1986, reeleito em 1990 e nova- midor quanto à renda pessoal e preços. Dada a
mente eleito em 1994. impossibilidade prática de relacionar todos es-
ses fatores com a quantidade demandada, os
DELINQUENT INTEREST. Expressão em in-
economistas isolam um fator, considerando os
glês que significa “juro de mora”. Veja também outros constantes. Veja também Consumidor,
Juro de Mora. Soberania do; Consumo; Elasticidade da De-
DELIVERED AT FRONTIER. Expressão do co- manda; Mercado; Necessidade; Oferta.
mércio internacional que significa “entregue na DEMANDA AGREGADA (ou Demanda de
fronteira”, seguida do nome do lugar de entrega Mercado ou Demanda Global). Quantidade de
na fronteira entre dois países. Nessa modalida- bens ou serviços que a totalidade dos consumi-
de, as obrigações do vendedor cessam quando dores deseja e está disposta a adquirir em de-
a mercadoria chega à fronteira, mas antes de terminado período de tempo e por determinado
passar na alfândega do país designado no con- preço. Obtém-se, portanto, a demanda agregada
trato. Este termo foi criado para descrever o de um produto somando-se todas as demandas
transporte por rodovia ou ferrovia, mas serve individuais desse produto. A demanda agrega-
para ser utilizado por qualquer meio de trans- da depende de todos os fatores que determinam
porte. Código ou abreviação: DAF. Veja também a demanda individual mais o número de com-
Incoterms. pradores do bem ou serviço em questão exis-
tentes no mercado. É a soma das despesas das
DELIVERED DUTY PAID. Expressão do co- famílias, do governo e os investimentos das em-
mércio internacional que significa impostos e ta- presas, consistindo na medida da demanda total
xas pagas até o local de destino indicado no de bens e serviços numa economia. Tanto a po-
país importador pelo vendedor. Esta modalida- lítica monetária (determinação das taxas de ju-
de, ao contrário do ex work, significa a obrigação ros) e a política fiscal (determinação dos impos-
máxima para o vendedor, que é responsável tos e gastos governamentais) tentam influenciar
pelo pagamento de todos os impostos e taxas a demanda agregada para alcançar metas dese-
alfandegárias no país importador, sendo que o jadas de crescimento e emprego.
ponto crítico ou o ponto de transferência dos
riscos e custos dá-se no estabelecimento do com- DEMANDA CONJUNTA. É a procura de bens
prador. Salvo acordo em contrário, as operações que têm entre si uma relação de complementa-
de descarga correm por conta do vendedor. ridade, sendo por isso também chamada de de-
Código ou abreviação: DDP. Veja também EXW; manda complementar. Determinados produtos são
Incoterms. complementares de tal forma — lapiseira e gra-
fite, por exemplo — que a demanda de um gera
DELTA. Termo que designa — no campo das automaticamente a demanda de outro. Mesmo
opções — quanto o preço de uma opção varia, existindo efeitos de interdependência entre os
dada uma variação no preço do ativo, objeto bens complementares, os aumentos ou quedas
sobre o qual incide a opção. Veja também Alfa; em suas demandas não são necessariamente
Beta. iguais. A complementaridade pode diminuir ou
161 DEMANDA EFETIVA

mesmo cessar devido a uma mudança nos há- Keynes os classificava como “clássicos”. Ou seja,
bitos do consumidor (levando-o a deixar de usar as explicações dos marginalistas para a existên-
conjuntamente dois bens complementares) ou a cia de superprodução eram que esta não decor-
inovações tecnológicas (como a dos motores a ria de entesouramento devido à falta de con-
álcool, que alteraram a complementaridade en- fiança, mas de temporários períodos de ajustes
tre veículos automotivos e petróleo). dos preços relativos. Assim, embora divergis-
sem de Smith, Ricardo e Mill sobre a origem do
DEMANDA EFETIVA (ou Demanda Solven- valor, os contemporâneos de Keynes (margina-
te). Num sentido amplo, é a demanda de bens listas) sustentavam que as discrepâncias entre
e serviços para os quais existe capacidade de o nível de emprego e o nível de pleno emprego
pagamento, uma vez que, na economia de mer- seriam determinadas por causas temporárias não
cado, a demanda solvente é a única que conta, persistentes e eliminadas a longo prazo. É claro
embora seja inferior àquela decorrente das ne- que as críticas que Keynes já esboçava a essas
cessidades do conjunto da população. Num sen- concepções tiveram um reforço considerável nos
tido mais específico, trata-se de um conceito de- anos subseqüentes à crise econômica de 1929,
senvolvido por Keynes em A Teoria Geral do Em- quando os níveis de desemprego ultrapassaram
prego, do Juro e do Dinheiro (1936) para repre- 20% da força de trabalho — o que estourava
sentar as forças determinantes nas mudanças da qualquer limite do que se pudesse considerar
escala de produção e do emprego tomados glo- desemprego friccional de curto prazo. Em outras
balmente. Keynes atribuiu aos economistas clás-
palavras, os mecanismos automáticos de ajus-
sicos o ponto de partida da discussão sobre os
tamento não ocorreram como afirmavam os clás-
determinantes da oferta e da demanda, sobre
sicos e os neoclássicos, embora Keynes reconhe-
os níveis de produção geral e, em particular, ao
cesse que enquanto os primeiros pelo menos ad-
debate entre Ricardo e Malthus a discussão so-
mitiam que aquilo que era poupado transfor-
bre a possibilidade de superprodução generali-
mava-se em investimento (e, portanto, em de-
zada de mercadorias, problema que desembo-
manda de meios de produção), a teoria neoclás-
cou no que se tornou conhecido como a Lei dos
sica pressupunha a validez da Lei de Say sem
Mercados de Say, ou, abreviadamente, Lei de
Say. O conceito de demanda efetiva de Keynes dar à questão nenhuma discussão adicional.
e sua teoria pretendiam substituir a Lei de Say, Para Keynes, tratava-se então de substituir a in-
embora o conceito já esboçado no seu livro Trea- suficiente Lei de Say pela nova concepção da
tise on Money (Tratado sobre a Moeda), 1930, demanda efetiva. Portanto, ele divergia das con-
fosse mais além e constituísse uma crítica ou cepções dos clássicos em dois pontos fundamen-
antítese da teoria monetária dos economistas tais. O primeiro consistia em admitir que os sa-
clássicos. A Lei de Say afirmava que era a pro- lários superavam o nível de subsistência dos tra-
dução que determinava a demanda, pois, se a balhadores de tal forma que as despesas com
produção é que capacita as pessoas a comprar, bens de consumo não exauriam a renda total
então a demanda não poderia ser inferior àquela, obtida pelo trabalho. De acordo com a teoria do
isto é, incapaz de realizar a produção. Embora consumo de Keynes, isso significava que à me-
fosse admitido o excesso de produção em alguns dida que a produção crescia, aumentava tam-
mercados, este seria compensado por escassez bém a diferença entre o custo do fator trabalho
em outros. J. S. Mill, no entanto, já havia per- e as despesas globais com consumo. A menos
cebido que o dinheiro permitia a separação da que tal diferença fosse coberta com gastos de
troca em duas etapas, de tal forma que aquele investimentos, haveria problemas para a reali-
que vende não necessariamente compra no mes- zação da produção no mercado, e os empresá-
mo ato. Mas isso só poderia causar transtornos rios acusariam perdas. O segundo ponto da di-
passageiros no equilíbrio entre oferta e deman- vergência estava relacionado com o automat-
da, uma vez que o dinheiro era demandado ou ismo da transformação das poupanças em in-
retido apenas para ser em seguida gasto. Para vestimento, defendido pelos clássicos. Se o in-
a escola marginalista, um excesso de oferta so- vestimento produzisse perdas, ou mesmo mu-
mente poderia acontecer no caso em que o preço danças nas taxas de juros, se provocasse altera-
da oferta superasse a utilidade marginal. Mas ções no valor do capital, maiores ganhos futuros
num mercado competitivo, o ajustamento entre poderiam ser obtidos pela ação de não investir.
oferta e demanda ocorria pela mudança nos pre- Ou seja, numa economia monetária, nada ga-
ços relativos, embora por algum tempo, isto é, rantia que a maximização do retorno na forma
de forma transitória, pudesse ocorrer um exces- monetária maximizaria também tanto a capaci-
so de oferta. Assim, embora houvesse divergên- dade produtiva quanto a demanda por força de
cias entre os clássicos, como Smith e Ricardo, e trabalho. Para Keynes, o nível de produção no
marginalistas, como Marshall e Pigou, sobre ou- qual o custo marginal de produção fosse equi-
tros temas, na medida em que coincidiam na valente ao preço esperado da oferta seria deter-
questão da oferta e demanda pela produção, minado pelo nível de investimento e pela pro-
DEMARCAÇÃO DIAMANTINA 162

pensão a consumir. E esse nível de produção possíveis de equilíbrio, mas não o único. Nesse
seria obtido dinamicamente pelas mudanças nas sentido, a concepção de Keynes é mais geral do
taxas de investimentos baseadas nas expectati- que a concepção clássica de Say, segundo a qual
vas dos empresários sobre seus lucros futuros. o ponto limite de equilíbrio seria alcançado no
Nesse sentido, a demanda efetiva dependeria, nível de pleno emprego.
acreditava Keynes, da soma de dois fatores, isto Veja também Eficiência Marginal do Capital;
é, das expectativas do que vai ser consumido e Lei de Say; Propensão a Consumir.
daquilo que vai ser investido. Portanto, além de
uma explicação sobre o consumo baseada na DEMARCAÇÃO DIAMANTINA. Durante a dé-
propensão de consumir, a teoria da demanda cada de 1720, foram descobertos diamantes na
efetiva necessitava explicar o que determinava região da Serra do Espinhaço, no centro de Mi-
as flutuações no investimento. Os neoclássicos nas Gerais. A importância econômica das pedras
resolviam este problema assumindo que o in- justificou um controle mais estrito da Coroa so-
vestimento era compatível com o pleno emprego bre toda a área. O governo português cercou-a
por meio da taxa de juros, porém Keynes con- chamando-a de Demarcação Diamantina, e de-
siderava que a falha devia-se ao fato de essa terminou inicialmente que sua exploração se fi-
escola não ter conseguido desenvolver uma teo- zesse na forma de contratos de arrendamento
ria satisfatória dos juros e das taxas de juros. por particulares. Surgiram os contratadores, pes-
Para Keynes, os elementos materiais que con- soas que tomavam em arrendamento áreas den-
cretizam os investimentos são adquiridos por- tro da Demarcação. O mais célebre deles foi João
que seu custo presente (ou preço da oferta) são Fernandes de Oliveira, que se notabilizou tanto
inferiores ao preço presente de seus ganhos fu- pelo montante da fortuna amealhada quanto por
turos antecipados (ou preço da demanda). ter sucumbido aos encantos de uma escrava ne-
Quanto maior for essa diferença, maior será a gra, Chica da Silva. Em 1771, o sistema foi mu-
taxa esperada de retorno. Na medida em que dado, criando-se a Real Extração. Inaugurava-se
uma mudança no preço de um bem de capital a época dos intendentes. Nomeados pela me-
durável influenciará sua taxa de retorno, uma trópole, autônomos ante o governo das Minas,
teoria que explique o preço dos bens de capital eles deviam obedecer e comandar a Demarcação
também explicará as taxas de retorno que Key- segundo um regimento próprio, que o povo cha-
nes denomina eficiência marginal de capital. Como mou de Livro da Capa Verde, por ser desta cor
o preço de demanda de um bem de capital está a capa do exemplar existente na Sede da Inten-
baseado no valor dos ganhos futuros esperados, dência. Veja também Distrito Diamantino.
descontados pelas taxas de juros, uma teoria dos
DEMARRAGEM (Demurrage). Taxa cobrada por
juros torna-se crucial para a teoria da demanda
uma empresa transportadora pela permanência
efetiva. Keynes estabelece primeiro uma dife-
de veículos ou embarcações fretados além do
rença entre o dinheiro e os meios que materia-
período destinado para a descarga.
lizam o capital, cada um deles tendo um preço
da demanda e da oferta. No caso do primeiro, DEMING, Edwards (1900-1994). Engenheiro e
é a preferência pela liquidez e a política dos bancos estatístico norte-americano, foi o introdutor dos
que determinariam a taxa de juros. O nível de processos de controle de qualidade no Japão a
investimento dependeria, portanto, da eficiência partir dos anos 50. Sua importância foi tão gran-
marginal do capital e da taxa de juros: quando de para o desenvolvimento da economia japo-
ambas se igualassem, estaria determinado o ní- nesa no pós-guerra que, em 1960, o imperador
vel de produção de equilíbrio escolhido pelos lhe conferiu a Medalha da Segunda Ordem do
empresários. No entanto, como a propensão a Tesouro Sagrado, e foi criado um prêmio de qua-
consumir em sua trajetória significa que o in- lidade denominado Prêmio Deming. Veja tam-
vestimento terá de crescer de acordo com a am- bém Deming Prize.
pliação da diferença entre a renda e o consumo
(à medida que a renda cresce), as taxas de juros DEMING PRIZE. Um dos mais importantes prê-
teriam de ser compatíveis com as taxas de in- mios concedidos no mundo empresarial japonês,
vestimentos. Mas a determinação das taxas de assim denominado em homenagem ao dr. Ed-
juros pela eficiência marginal do capital e a pre- wards Deming, o introdutor dos conceitos de
ferência pela liquidez não garantem essa nive- controle de qualidade no Japão. O Prêmio De-
lação automática. Em outras palavras, como os ming foi criado pela Associação Japonesa de
empresários estão em busca da maximização de Ciência e Engenharia (Juse) e é distribuído
sua renda, ou retorno monetário, e não do em- anualmente às empresas que mais se destacaram
prego ou da produção física, não se deve esperar no desenvolvimento da qualidade de seus pro-
que suas decisões de investimentos caminhem dutos. A contribuição de Deming — consultor
para um ponto de equilíbrio de pleno emprego. de renome internacional — foi tão significativa
O nível de pleno emprego seria um dos pontos para o Japão que em 1960 o Imperador confe-
163 DEMOGRAFIA

riu-lhe a Medalha da Segunda Ordem do Te- coligação com o Partido Comunista e compar-
souro Sagrado. Nos Estados Unidos, onde De- tilhando o poder. Essas características mantive-
ming nasceu, sua contribuição também é reco- ram-se até por volta de 1948-1949; a partir de
nhecida: em 1956, ele recebeu a Medalha Shew- então, acentuou-se a identidade com a União
hart de Qualidade e, em 1983, o Prêmio Samuel Soviética. Com a queda do muro de Berlim em
S. Wilks da Associação Americana de Estatística. 1989 e a extinção da União Soviética, as demo-
Apesar de ter iniciado sua carreira no campo cracias populares existentes em países como a
específico do controle de qualidade, as contri- Tchecoslováquia, Romênia, Polônia e Hungria
buições de Deming vão mais além, abordando deram lugar a democracias parlamentares, com
outros temas de administração, especialmente ampla representação partidária e abandono do
os relacionados com o estilo de gerência. Veja-se, modelo seguido até então da ex-União Soviética.
por exemplo, seu livro Qualidade: a Revolução da
Administração, em que ele estabelece os catorze DEMOGRAFIA. Estudo estatístico das coletivi-
princípios básicos da prática administrativa. dades humanas. Os dados para esse estudo, que
Veja também Prêmio Baldridge. abrange o tamanho, a distribuição territorial e
as mudanças de uma população, são obtidos por
DEMOCRACIA. Regime de governo que reco- meio dos censos, estatísticas vitais e outras ob-
nhece o direito de todos os membros da socie- servações específicas. O estudo de populações
dade participarem das decisões políticas, direta antigas é feito por meio de documentos, que
ou indiretamente. A democracia direta, na qual constituem o campo da demografia histórica.
as decisões políticas são tomadas pelo conjunto Distinguem-se duas áreas na demografia: a aná-
de todos os cidadãos, somente é possível onde lise demográfica, que relaciona a composição po-
a população é pequena, como ocorria em algu- pulacional à natalidade (ou fertilidade), morta-
mas cidades da Grécia Antiga. Na moderna de- lidade e migração, por meio de levantamento
mocracia representativa, as decisões políticas são de dados, cálculo de índices e elaboração de mo-
tomadas por representantes eleitos pelo povo. delos matemáticos; e o estudo populacional, que
A democracia representativa começou a desen- relaciona esses dados numéricos a fatores de or-
volver-se durante os séculos XVIII e XIX na In- dem social, psicológica, econômica, política, so-
glaterra, na França e nos Estados Unidos. Sua ciológica, cultural e geográfica. Mortalidade, fer-
instituição central é o Parlamento representativo, tilidade e migrações são os componentes básicos
no qual se tomam decisões por maioria de votos. da dinâmica populacional. A mortalidade é ex-
Instituições intrínsecas à democracia repre- pressa por um índice geral que relaciona o nú-
sentativa são: eleições regulares, com livre es- mero total de mortes, ocorridas num local e em
colha de candidatos; sufrágio universal; liber- determinada época, com o total da população
dade de organização de partidos políticos; in- do local nessa data. Outros índices relacionam
dependência dos poderes executivo, legislativo mortes ou causas específicas de morte (doenças
e judiciário; liberdade de expressão e de impren- cardiovasculares, acidentes de trânsito etc.) a
sa; preservação das liberdades civis e dos direi- grupos específicos (por idade, sexo etc.) da po-
tos das minorias. A Revolução Americana, a Re- pulação. A fertilidade resulta de duas variáveis:
volução Francesa e o crescimento da classe mé- a fecundidade, ou potencial que a mulher tem
dia que se seguiu à Revolução Industrial foram para conceber, e a exposição à possibilidade de
fatores importantes na formação das democra- conceber, que pode ser interrompida tempora-
cias modernas. A teoria da democracia repre- riamente por causas como gravidez, parto, abor-
sentativa incorpora os conceitos de direitos na- to e lactação. O índice ou taxa geral de fertilidade
turais e igualdade política dos homens, expres- relaciona o número de nascimentos vivos num
sos por filósofos como John Locke, Voltaire, local e época com o número de mulheres em
Jean-Jacques Rousseau e John S. Mill. Veja tam- idade fértil no mesmo local e época. Já o com-
bém Democracia Popular. ponente das migrações depende de fatores entre
DEMOCRACIA INDUSTRIAL. Veja Co-gestão. os quais se destaca o da restrição ao número de
migrantes imposta por um país. A migração
DEMOCRACIA POPULAR. Regime social e pode ser medida diretamente, por meio de re-
político surgido nos países da Europa Oriental gistro de entrada e saída de pessoas em deter-
que ficaram sob a influência soviética, após a minado período, ou indiretamente, por meio de
Segunda Guerra Mundial. No início, apresenta- dados censitários e registros civis. Atualmente,
ram a peculiaridade de não ser democracias no são as migrações internas, ligadas ao processo
sentido ocidental da expressão, nem Estados so- de urbanização, que mais alteram a estrutura
cialistas, como a União Soviética. Assim, em vá- da população, afetando a força de trabalho e as
rios setores da economia, permanecia a proprie- taxas de nupcialidade das regiões de origem e
dade privada dos meios de produção e diversos de destino. A estrutura populacional é analisada
partidos políticos podiam existir, formando uma por meio de classificação das pessoas em cate-
DEMURRAGE 164

gorias a partir de características biológicas e so- dustrial, estruturando-se como um sistema pe-
ciais básicas, como sexo, idade e estado civil. O riférico, que se estende pelo chamado Terceiro
sexo é um elemento da maior importância para Mundo (África, Ásia e América Latina). De
a demografia: a ocorrência de nascimentos, óbi- modo geral, as nações dependentes baseiam sua
tos e casamentos depende diretamente da pro- economia no setor primário (agropecuário e ex-
porção de homens e mulheres numa população; tração mineral), mas a dependência pode sub-
e o sexo também influi na distribuição das pes- sistir mesmo quando o país possui, como o Bra-
soas pelas profissões e nas migrações. Quanto sil, um setor secundário consideravelmente de-
à idade, a estrutura etária de uma população senvolvido. Essa subordinação processa-se na
influi diretamente sobre: 1) a fertilidade, pois medida de tecnologia, de matérias-primas ela-
delimita uma época reprodutiva; 2) a mortali- boradas, de equipamentos e de capitais para in-
dade, em que é um importante diferencial; 3) o vestimentos internos ou compras no exterior.
número de indivíduos inseridos na força de tra- Um dos aspectos principais da dependência tem
balho e a relação entre estes e os economica- sido justamente o endividamento constante e
mente dependentes. O estado civil, da mesma acelerado dos países dependentes, cujas divisas
forma, é um fator diferencial para a fertilidade auferidas com as exportações acabam sendo in-
e a mortalidade: a idade ao casar e a proporção suficientes para cobrir os déficits do balanço de
de pessoas casadas relacionam-se diretamente pagamentos. A importação sistemática de tec-
com a fertilidade, e há indícios de que a mor- nologia para diversificação do sistema produti-
talidade é menor entre as pessoas casadas do vo nacional contribui para gerar distorções so-
que entre as não casadas. Além desses fatores ciais: a utilização de tecnologias sofisticadas li-
essenciais, a atuação dos componentes da mu- bera, nesses países, grandes contingentes de
dança populacional depende de características mão-de-obra, que não encontram trabalho no se-
como nível de educação, status ocupacional, tra- tor de serviços, como comumente ocorre nos paí-
ços culturais e religiosos, entre outros. Proble- ses desenvolvidos. Esses contingentes vão au-
mas como o da chamada explosão demográfica, mentar o número de desempregados e subem-
que é o crescimento intenso e desordenado da pregados. A estrutura social das nações depen-
população, têm sido objeto de diversas doutri- dentes reforça os laços de subordinação, na me-
nas populacionais: a de Thomas Malthus, no fi- dida em que há solidariedade de interesses entre
nal do século XVII, foi a primeira a chamar a as camadas dirigentes locais e os centros eco-
atenção sobre as conseqüências de um cresci- nômicos externos. Muitos industriais de países
mento populacional rápido e chegou a ser revi-
subdesenvolvidos realizam suas atividades as-
vida no século XX com o neomalthusianismo.
sociando-se a empresas estrangeiras ou mesmo
Veja também Censo; Malthusianismo; Morta-
vendendo a elas seus estabelecimentos indus-
lidade; Natalidade; Neomalthusianismo; Polí-
triais. Paralelamente, podem subsistir alguns
tica Populacional; População.
grupos econômicos nacionais mais fortes, sem
DEMURRAGE. Veja Demarragem. vínculo orgânico com grupos internacionais e
com eles concorrendo em escala local e mesmo
DENARIUS. Veja Dinheiro. internacional. As relações de dependência esten-
dem-se à esfera cultural e aos padrões de com-
DENIER. Antiga unidade de medida de peso
portamento, com a adoção de hábitos de vida
dos fios para tecidos, utilizada até hoje para pe-
e de consumo, valores, modas e formas de pen-
sar a seda, o náilon e o raiom. Surgiu durante
samento gerados nos países mais desenvolvidos.
o século XVI, quando a França desenvolveu a
Veja também Desenvolvimento Econômico; Im-
indústria da seda e escolheu um peso para o
perialismo; Subdesenvolvimento.
fio, instituindo uma moeda chamada denarius,
em francês denier. Assim, um fio de 1 denier teria DEPÓSITO BANCÁRIO. Quantia em dinheiro
cerca de 9 mil quilômetros por quilograma. À confiada a um banco por uma pessoa ou em-
medida que aumenta o número de deniers, o presa. Pode ser de dois tipos: à vista ou a prazo
comprimento do fio por peso diminui, isto é, fixo. Os depósitos à vista podem ser retirados pelo
quanto maior o denier, mais grosso é o fio. depositante a qualquer momento e não rendem
DENÚNCIA VAZIA. Veja Lei do Inquilinato. juros. Os depósitos a prazo fixo só podem ser re-
tirados após o prazo combinado e rendem juros.
DEPENDÊNCIA. Sistema de relações econômi-
cas, financeiras, políticas e culturais que mantém DEPÓSITO COMPULSÓRIO. Dispositivo de
as nações subdesenvolvidas subordinadas aos política monetária utilizado pelo Banco Central
grandes centros do mundo desenvolvido. A si- quando deseja reduzir a liquidez do sistema
tuação de dependência atinge especialmente os e/ou restringir a capacidade de expansão de cré-
países de passado colonial recente, além dos que dito do sistema bancário. Consiste em estabele-
se iniciaram mais tarde no desenvolvimento in- cer uma taxa de depósitos compulsórios que
165 DERIVATIVOS

cada banco deverá efetuar junto ao Banco Cen- residual (sucata), pelo seu período estimado de
tral em relação aos empréstimos que realizar e vida útil. Se, por exemplo, o custo (preço de
aos depósitos que obtiver, sendo que tais depó- aquisição) de uma máquina é de R$ 10000,00 e
sitos compulsórios não proporcionam juros para o seu valor residual (sucata) é de R$ 2000,00 e
o banco depositante. Assim, por exemplo, se um seu período de vida útil é estimado em oito anos,
banco emprestar R$ 10000,00 e o compulsório a depreciação (linear) anual será igual a: 10000
for igual a 15%, terá de depositar R$ 1500,00 no – 2000/8 = 1000.
Banco Central. Portanto, para realizar este em- DEPRESSÃO ECONÔMICA. Fase do ciclo eco-
préstimo, ele deverá captar R$ 11500,00 e, con- nômico em que a produção entra em declínio
seqüentemente, terá de elevar a taxa de juros acentuado, gerando queda nos lucros, perda do
cobrada, pois deverá dispor de 15% a mais de poder aquisitivo da população e desemprego.
recursos para emprestar o mesmo volume que Para minorar seus efeitos, os governos procuram
vinha fazendo anteriormente. O objetivo do go- tomar medidas que possibilitem aumentar o
verno com esta política é encarecer os emprés- consumo e o nível de emprego. Entre essas me-
timos e ao mesmo tempo retirar dinheiro de cir- didas estão a redução do Imposto de Renda, o
culação, reduzindo a liquidez do sistema. No aumento dos investimentos em obras públicas,
início de 1995, considerando que o Plano Real a diminuição das taxas de redesconto e a emis-
estava ameaçado pelo excesso de demanda, o são de papel-moeda. A maior parte dessas me-
governo brasileiro adotou um compulsório de didas foi teorizada por Keynes, durante o go-
15%. Veja também Banco Central; Liquidez; verno do presidente Franklin Delano Roosevelt,
Plano Real; Política Monetária. nos Estados Unidos, após a depressão de 1929.
Veja também Ciclo Econômico; Crise Econômi-
DEPRECIAÇÃO. Redução do valor ativo em ca; Grande Depressão; Pleno Emprego; Recessão.
conseqüência de desgaste pelo uso, obsolescên-
cia tecnológica ou queda no preço de mercado DERIVADA. Alterações da variável dependen-
— geralmente de máquinas, equipamentos e edi- te de uma função originadas por cada unidade
ficações. O cálculo da depreciação pode ser feito de variação na variável independente, calcula-
pelo custo original (ou custo histórico) ou pelo das a partir de intervalos infinitesimais desta
custo atual (ou custo de reposição). Os métodos última. O processo de cálculo da derivada é cha-
para calcular a depreciação são o da linha reta, mado de diferenciação em relação à variável in-
o do balanço decrescente e o da anuidade e fun- dependente. Nas funções não-lineares, a deriva-
do de amortização. O método de linha reta consiste da será ela mesma função da variável inde-
em dividir o custo original do ativo considerado pendente. A derivada da derivada é chamada
pelo seu número provável de anos de vida; o de derivada segunda, e assim sucessivamente.
quociente resultante é debitado como um custo A derivada tem uma interpretação gráfica na
anual. O método do balanço decrescente consiste inclinação do gráfico da função. Dessa forma, a
em deduzir, ano a ano, uma porcentagem fixa derivada primeira de qualquer função total pode
do valor decrescente do ativo; a amortização é ser considerada sua função marginal. Assim, a
maior nos primeiros anos do ativo, quando os derivada primeira da função do custo total em
custos de manutenção e de reparação são pe- relação à quantidade é o seu custo marginal. A
quenos. O método da anuidade e fundo de amorti- derivada da função Y = f(X) é convencionalmen-
zação leva em consideração os juros que, supos- te grafada Y/dX ou f’(X).
tamente, se acrescentariam ao capital investido DERIVATIVOS. Operações financeiras cujo va-
no início; somados o preço de custo inicial e os lor de negociação deriva (daí o nome derivati-
juros, divide-se o total pelo número de anos e vos) de outros ativos, denominados ativos-ob-
procede-se como no método da linha reta. jeto, com a finalidade de assumir, limitar ou
DEPRECIAÇÃO ACELERADA. Método de con- transferir riscos. Abrangem um amplo leque de
tabilidade que consiste na redução do valor em operações: a termo, futuros, opções e swaps, tan-
livros de um ativo num ritmo superior, no início to de commodities quanto de ativos financeiros,
de sua operação, ao do período final de sua exis- como taxas de juros, cotações futuras de índices
tência. Está baseado na teoria de que o valor de etc. A utilização ampliada dos derivativos no
um ativo é maior durante o primeiro período mundo todo tem gerado uma preocupação cres-
de sua vida útil, quando ele está novo e tem cente por parte dos bancos centrais, autoridades
ganhos potenciais maiores do que quando já está monetárias e de supervisão bancária e técnicos,
envelhecido. dada a dificuldade de avaliação de sua dimen-
são e suas conseqüências em termos de riscos,
DEPRECIAÇÃO LINEAR. Método de depre- já que as atividades financeiras se tornam cada
ciação de um ativo fixo que consiste em dividir vez mais globalizadas. Veja também Futuro(s);
o seu custo (preço de aquisição), menos o valor Opções; Operações a Termo; Swaps.
DERRAMA 166

DERRAMA. Imposto ou contribuição que inci- sacordo entre as partes, caberá ao juiz determi-
de arbitrariamente sobre os habitantes de uma nar o valor.
localidade, obrigando-os pela força a pagar ao
fisco determinada quantia. Essa prática de arre- DESAQUECIMENTO. Fase de retração da eco-
cadação foi empregada pela Coroa portuguesa nomia, com restrição ao crédito, aumento nas
no Brasil colonial, na região aurífera de Minas taxas de juros e diminuição nas demandas in-
Gerais. Isso ocorreu a partir de 1762, quando a termediária e final. Com isso pretende-se elimi-
economia mineradora dava sinais de esgota- nar a pressão de demanda sobre os preços, di-
mento e a arrecadação de impostos não atingia minuindo os fatores inflacionários.
a cota mínima de 100 arrobas de ouro anuais DESCARREGAR. Veja Unload.
estipulada pela metrópole. A cada ano, o go-
verno português escolhia uma vila de minera- DESCENTRALIZAÇÃO. Política governamen-
dores, que era ocupada pelas tropas até que os tal de estímulo ao desenvolvimento de regiões
habitantes cobrissem, com ouro e moedas, a taxa menos desenvolvidas, por meio de relocalização
determinada. A última derrama ocorreu em 1789 de setores empresariais nessas áreas. Em geral,
e foi a causa imediata da Inconfidência Mineira. utilizam-se diversos tipos de incentivos (fiscais,
creditícios) e subsídios, pois de outra forma as
DES. Veja Direitos Especiais de Saque. empresas não se instalariam por conta própria.
DESÁGIO. Depreciação que sofre o papel-moe- Considerando que um sistema geral de incenti-
da em relação ao preço do ouro. O termo tam- vos tende a ser ineficiente e improdutivo, os go-
bém se aplica à depreciação do valor nominal vernos se inclinam a uma política de descentra-
de um título ou do preço de tabela de uma mer- lização seletiva (escolhendo tanto os locais como
cadoria em relação ao seu valor real no mercado. as empresas que recebem os benefícios) e a um
Veja também Ágio. sistema de incentivos temporários, eliminando-
os depois, progressivamente. Veja também Lo-
DESAPROPRIAÇÃO. Transferência compulsó- calização Industrial.
ria de um bem público ou privado para o Estado
ou para quem ele determinar. Pelo Direito bra- DESCOBRIMENTOS MARÍTIMOS. Conse-
sileiro, a desapropriação deve ocorrer com fun- qüências das grandes navegações iniciadas por
damento em utilidade pública, necessidade pú- Portugal e Espanha no século XV com o objetivo
blica ou interesse social, e deve ser feita me- de explorar novas rotas marítimas para comer-
diante prévia e justa indenização, podendo ter ciar com o Oriente. Os descobrimentos não só
por objeto qualquer bem móvel ou imóvel, cor- de um novo caminho para as Índias, mas de
póreo ou incorpóreo. Na desapropriação para todo o continente americano (configurando o
fins de reforma agrária, a indenização pode ser que já se chamou de revolução geográfica), si-
paga com títulos da dívida pública. Essa desa- tuam-se no contexto da revolução comercial ini-
propriação é da competência apenas da União ciada no século XIV, como desenvolvimento das
e só pode ocorrer em áreas qualificadas legal- trocas entre as cidades italianas e o Norte da
mente como latifúndios e cuja exploração seja Europa, a introdução de moedas de circulação
considerada contrária aos princípios básicos da geral e a acumulação de capitais excedentes, en-
ordem econômica e social. A indenização, nesse tre outros fatores. Os países da península Ibérica
caso, não é calculada por critério de mercado, buscavam uma nova rota para o Oriente, pois
mas segundo aqueles definidos por lei. No en- eram obrigados a pagar altos preços pelos pro-
tanto, a Constituição de 1988 estabelece que não dutos importados da Ásia pelas cidades italia-
poderão ser desapropriadas para fins de reforma nas, que monopolizavam o comércio com o
agrária as pequenas e médias propriedades, as- Oriente através do mar Mediterrâneo até serem
sim como as propriedades produtivas. Quando barradas pelos turcos em 1453, quando estes to-
se baseia no princípio da utilidade pública, a maram Constantinopla. Essa busca foi facilitada
desapropriação pode ser realizada pela União, pelos progressos do conhecimento geográfico,
Estados, municípios, Distrito Federal e Depar- pelo uso de instrumentos de navegação, como
tamento Nacional de Estradas de Rodagem. a bússola e o astrolábio, e pela caravela, embar-
Após a declaração de utilidade pública, é feita cação de grande tonelagem e notável desempe-
a apuração do valor do bem; em caso de haver nho, desenvolvida em Portugal. Em meados do
necessidade premente para o usufruto do bem século XV, os portugueses descobriram e colo-
pelo poder público, este deve efetuar em juízo nizaram a Madeira e os Açores e exploraram a
um depósito prévio de indenização, enquanto costa africana até a Guiné. Em 1497, Vasco da
corre o processo de desapropriação. Legalmente, Gama contornou a extremidade sul da África,
em caso de imóvel urbano destinado à residên- chegando no ano seguinte à Índia. Na mesma
cia, o expropriado tem o direito de recusar o época, o genovês Cristóvão Colombo, a serviço
preço oferecido pelo expropriador. Havendo de- da Espanha, chegava ao continente americano
167 DESCONTO

(1492), seguido por outros navegantes e conquis- descobertas novas jazidas, umas revelando-se
tadores, como Cortez e Pizarro. Resultou daí a mais rendosas, outras menos, o valor dos metais
fundação de um vasto império colonial espa- preciosos sofria flutuações, que se refletiam nos
nhol, que incluía a atual porção sudoeste dos preços das mercadorias; nesse contexto, jogavam
Estados Unidos, a Flórida, o México, as Antilhas, os mercadores e banqueiros. Veja também Co-
a América Central e toda a América do Sul, com mércio; Comércio Internacional; Feudalismo;
exceção do Brasil, descoberto pelos portugueses Revolução Industrial.
em 1500. Seguiram-se viagens inglesas e fran-
cesas: as de Giovanni e seu filho, Sebastiano Ca- DESCONSTITUCIONALIZAR. Termo que sig-
boto, em 1497-1498, deram base às pretensões nifica o ato de retirar da Constituição elementos
inglesas na América do Norte, reforçadas em que impediriam maior flexibilidade para o go-
1607 com a colonização da Virgínia; as de Cartier verno de um Estado, passando os respectivos
asseguraram aos franceses o Canadá oriental no dispositivos para leis ordinárias. Esse processo
início do século XVII e, cem anos depois, Joliet, foi batizado em função das iniciativas daqueles
La Salle e o padre Marquette permitiram à Fran- que consideram os dispositivos da Constituição
ça estabelecer-se no vale do Mississípi e na re- de 1988 no Brasil excessivamente normatizadores.
gião dos Grandes Lagos. Os holandeses, ao se
libertarem do domínio espanhol, lançaram-se DESCONTO. Quantia deduzida do valor no-
também à conquista de terras e, embora tives- minal de notas promissórias, letras de câmbio
sem de entregar aos ingleses sua colônia de e duplicatas, quando são pagas antes do prazo
Nova Holanda, na região do rio Hudson, man- estipulado. A mais freqüente operação de des-
tiveram suas possessões de Malaca, as Molucas conto é a realizada pelos bancos, que recebem
e os portos da Índia e da África tomados aos por um preço menor as duplicatas emitidas por
portugueses no começo do século XVII. O co- uma empresa contra seus clientes. Em geral, o
mércio, que até os descobrimentos se limitara termo designa qualquer abatimento feito pelos
ao Mediterrâneo, assumiu pela primeira vez comerciantes no preço de suas mercadorias. No
proporções mundiais, oceânicas. Seu eixo des- mercado financeiro, o termo também é denomi-
locava-se nitidamente do Oriente, terra de so- nado “desconto simples”, em contraposição ao
nhos e luxos, para um Ocidente mais prático e desconto composto, que significa a diferença en-
imediatista. O monopólio do tráfico oriental
tre o valor de face de um título (ou valor futuro
mantido pelas cidades italianas foi eliminado, e
a ser obtido na data de seu vencimento) e o seu
os portos de Lisboa, Bordeaux, Liverpool, Bristol
e Amsterdã ocuparam o primeiro plano. Com valor na data em que é transacionado. Esta di-
a descoberta e o crescente consumo dos produ- ferença representa, para quem adquire um títu-
tos tropicais americanos e africanos, como taba- lo, o rendimento esperado por essa aplicação.
co, chocolate, melaço e marfim, ocorreu um au- Por exemplo, se um título com valor de face
mento considerável no volume do comércio. In- igual a R$ 1000,00, com data de vencimento em
tensificou-se também o tráfico de escravos. Mas um mês, for vendido por R$ 950,00, a diferença
o resultado mais importante dos descobrimen- de R$ 50,00 representa o ganho que o comprador
tos foi a expansão do suprimento de metais pre- obterá quando, no vencimento, trocar este título
ciosos. Calcula-se que o total do ouro e da prata por R$ 1000,00. Existem duas modalidades de
em circulação na Europa quando Colombo des- calcular o desconto: o desconto “por fora” e o
cobriu a América havia aumentado de cinco ve- desconto “por dentro”. No primeiro caso, mul-
zes por volta de 1600, uma inflação de metais tiplica-se o valor de face de um título pela taxa
preciosos que provocou violenta alta de preços, de desconto, e o resultado pelo prazo compreen-
beneficiando os comerciantes e prejudicando a dido entre o momento da compra do título e o
nobreza fundiária sujeita a rendas fixas. Os me- seu vencimento. Por exemplo, se quisermos cal-
tais preciosos vinham da pilhagem dos tesouros cular o desconto “por fora” de um título de R$
incas e astecas e principalmente das minas do 1000,00, com vencimento em um mês e com taxa
México, do Peru e da Bolívia. Nenhuma outra
de desconto de 5% ao mês, teríamos: 1000 x 0,05
causa influi tão decisivamente no desenvolvi-
mento da economia capitalista como esse des- x 1 (mês) = 50 ou R$ 50,00. No segundo caso,
comunal aumento das reservas de metal precio- ou do desconto “por dentro”, também chamado
so na Europa. A acumulação de riquezas para de racional, multiplica-se o valor atual do título
investimento futuro é uma característica essen- pela taxa de desconto, e o resultado pelo prazo
cial do capitalismo, e os homens dispunham en- compreendido entre a aquisição do mesmo e seu
tão de riqueza sob uma forma que podia ser vencimento. Por exemplo, se um título estiver
convenientemente armazenada para uso subse- sendo vendido por R$ 950,00 e a taxa de des-
qüente. O rápido afluxo de metais preciosos in- conto for de 5%, o desconto “por dentro” será
duziu ainda à especulação: à medida que eram igual a 950 x 0,05 x 1 (mês) = 47,50, ou seja, o
DESCONTO COMPOSTO 168

desconto “por dentro” será igual a R$ 47,50. Veja a obtenção de empregos, pressionaria para baixo
também Desconto Composto; Redesconto. o nível de salários, evitando assim sua elevação.
O desemprego seria, desse modo, uma conse-
DESCONTO COMPOSTO. É o desconto deter- qüência do próprio processo de acumulação de
minado pela diferença entre o valor futuro de capital, e os desempregados funcionariam como
um título e seu valor atual, calculado a partir reguladores das taxas de salário dos trabalha-
da capitalização composta. Assim como no des- dores e, em certa medida, das taxas de lucro
conto simples, existem duas modalidades de cál-
dos capitalistas. Alguns economistas de linha
culo, o desconto “por fora” e o desconto “por
monetarista recomendam a manutenção de uma
dentro”. No primeiro caso, o desconto de um
taxa permanente de desemprego, por considerar
título de prazo equivalente a n períodos, com
que o pleno emprego da força de trabalho dis-
taxa de desconto composto “por fora”, é calcu-
lado a partir da seguinte fórmula: Dc = VF – VF ponível — defendido por Keynes — impulsio-
(1 – i)n. Por exemplo, se quisermos calcular o naria a elevação dos salários, provocando uma
desconto composto de um título de R$ 20000,00, conjuntura inflacionária que acabaria reduzindo
com vencimento em três meses, descontado a a acumulação de capitais. O desemprego é clas-
uma taxa de 3% ao mês, teremos: Dc = 20000 – sificado em várias categorias conforme suas cau-
20000 (1 – 0,03)3 = 1746,54. No segundo caso, sas. Nas grandes recessões econômicas, quando
isto é, no desconto “por dentro”, o desconto é a produção declina drasticamente, manifesta-se
calculado de acordo com a seguinte fórmula: Dc o chamado desemprego cíclico, ligado a uma fase
= VF x (1 + i)n - 1 / (1 + i)n. Utilizando os mesmos de queda do ciclo econômico. O desemprego dis-
valores do exemplo anterior, teríamos: Dc = farçado ou subemprego consiste na remuneração
20000 x[(1 + 0,03)3 - 1 / (1 + 0,03)3] = 3551,70. muito abaixo de padrões aceitáveis, que afeta
trabalhadores não registrados, mas que nem por
DESCONTO POR DENTRO. Veja Desconto. isso deixam de compor a força de trabalho de
DESCONTO POR FORA. Veja Desconto. uma nação. Alguns países desenvolvidos cria-
ram o auxílio-desemprego ou seguro-desemprego,
DESCONTO RACIONAL. Veja Desconto. instrumento governamental destinado a mino-
rar o problema social gerado pelo desemprego.
DESCONTOS AGREGADOS. Prática comer- O desemprego friccional ou normal ocorre por de-
cial de concessão de descontos na compra de sajuste ou falta de mobilidade entre a oferta e
determinadas mercadorias como forma de man- a procura, quando empregadores com vagas
ter o cliente ou incentivá-lo a adquirir outros
desconhecem a existência de mão-de-obra dis-
produtos.
ponível, enquanto trabalhadores desemprega-
DESDOBRAMENTO. Ato pelo qual uma em- dos desconhecem as ofertas reais de trabalho.
presa com ações negociadas em Bolsa desdobra Em certas atividades, como agricultura e hote-
cada uma das ações em duas, três ou mais, todas laria, ocorre o desemprego sazonal, limitado a cer-
com o valor nominal igual ao da ação desdo- tas épocas do ano por não haver oferta homo-
brada. Para ter validade, o desdobramento pre- gênea de emprego durante o ano inteiro. O de-
cisa ser emitido pelas Caixas de Liquidação, ane- semprego tecnológico ou estrutural origina-se em
xas às Bolsas de Valores. Veja também Caixas mudanças na tecnologia de produção (aumento
de Liquidação; Split-Up. da mecanização e automação) ou nos padrões
de demanda dos consumidores (tornando obso-
DESECONOMIAS DE ESCALA. A elevação uni- letas certas indústrias e profissões e fazendo sur-
tária de custos decorrente de um aumento no
gir outras novas): em ambos os casos, grande
volume (escala) de produção, seja de uma em-
número de trabalhadores fica desempregado a
presa, de um setor, região ou país.
curto prazo, enquanto uma minoria especializa-
DESECONOMIAS EXTERNAS. Veja Economias da é beneficiada pela valorização de sua mão-
Externas. de-obra. Veja também Emprego; Pleno Empre-
go; Seguro-desemprego.
DESEMPREGO. Situação de ociosidade invo-
luntária em que se encontram pessoas que com- DESEMPREGO CÍCLICO. Veja Desemprego.
põem a força de trabalho de uma nação. Uma
das principais tentativas de formulação de uma DESEMPREGO CONJUNTURAL. Veja Desem-
teoria econômica para explicar o desemprego prego.
surgiu com o conceito de exército industrial de DESEMPREGO DISFARÇADO. Veja Desem-
reserva, também denominado por Marx de “po- prego.
pulação excedente relativa”: uma massa de tra-
balhadores seria constantemente desempregada DESEMPREGO ESTRUTURAL. Veja Desem-
pelo progresso técnico e, na concorrência para prego.
169 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

DESEMPREGO FRICCIONAL. Veja Desem- zir-se e aumentar. A verdadeira dificuldade está


prego. em mobilizar esse excedente, pois a interferência
no uso desses recursos costuma contrariar inte-
DESEMPREGO MARGINAL. Veja Desemprego. resses que, muitas vezes, se encontram repre-
sentados com muita força junto ao poder.
DESEMPREGO PARCIAL. Veja Desemprego.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO. Cres-
DESEMPREGO SAZONAL. Veja Desemprego.
cimento econômico (aumento do Produto Na-
DESEMPREGO SETORIAL. Veja Desemprego. cional Bruto per capita) acompanhado pela me-
lhoria do padrão de vida da população e por
DESEMPREGO TECNOLÓGICO. Veja Desem- alterações fundamentais na estrutura de sua eco-
prego. nomia. O estudo do desenvolvimento econômi-
co e social partiu da constatação da profunda
DESEMPREGO VOLUNTÁRIO. Veja Desem-
desigualdade, de um lado, entre os países que
prego.
se industrializaram e atingiram elevados níveis
DESENTESOURAMENTO. Veja Preferência de bem-estar material, compartilhados por am-
pela Liquidez; Propensão a Poupar. plas camadas da população, e, de outro, aqueles
que não se industrializaram e por isso perma-
DESENVOLVIMENTISMO. Ideologia que no neceram em situação de pobreza e com acen-
Brasil caracterizou particularmente o governo tuados desníveis sociais. Durante o século XIX,
Kubitschek e que identifica o fenômeno do de- a industrialização de muitos países da Europa
senvolvimento a um processo de industrializa- e da América do Norte reduziu os demais países
ção, de aumento da renda por habitante e da à condição de colônias políticas e/ou econômi-
taxa de crescimento. Os capitais para impulsio-
cas dos primeiros. A guinada para o desenvol-
nar o processo são obtidos junto às empresas
vimento, ocorrida a partir da Segunda Guerra
locais, ao Estado e às empresas estrangeiras. As
Mundial, foi quase sempre precedida por mu-
políticas ligadas ao desenvolvimentismo con-
centram sua atenção nas questões relativas à danças políticas profundas (especialmente a
taxa de investimentos, ao financiamento externo conquista da independência política e a forma-
e à mobilização da poupança interna. São me- ção de governos que colocavam o desenvolvi-
nosprezadas pela teoria as questões relativas à mento nacional como objetivo principal); a partir
distribuição da renda, concentração regional da daí fortaleceu-se a idéia de “desenvolvimento”,
atividade econômica, condições institucionais, um processo de transformação estrutural com
sociais, políticas e culturais que influem sobre o objetivo de superar o atraso histórico em que
o desenvolvimento. Ao fazê-lo, o desenvolvi- se encontravam esses países e alcançar, no prazo
mentismo opõe-se à escola estruturalista origi- mais curto possível, o nível de bem-estar dos
nária da Comissão Econômica para a América países considerados “desenvolvidos”. O desen-
Latina (Cepal), que vê o desenvolvimento como volvimento de cada país depende de suas ca-
um processo de mudança estrutural global. racterísticas próprias (situação geográfica, pas-
sado histórico, extensão territorial, população,
DESENVOLVIMENTO AUTÔNOMO. Desen- cultura e recursos naturais). De maneira geral,
volvimento de um país à custa de seus próprios contudo, as mudanças que caracterizam o de-
meios, sem que se crie uma situação de depen- senvolvimento econômico consistem no aumen-
dência em relação a outros mais desenvolvidos. to da atividade industrial em comparação com
Teoricamente, para o desenvolvimento de um
a atividade agrícola, migração da mão-de-obra
país é preciso mobilizar o excedente potencial
do campo para as cidades, redução das impor-
de sua economia, encaminhando-o para setores
tações de produtos industrializados e das ex-
prioritários, de cujo crescimento depende todo
o resto (indústrias de base, transporte, energia portações de produtos primários e menor de-
etc.). Para muitos estudiosos, apesar da crença pendência de auxílio externo. A Organização
de que os países subdesenvolvidos, por serem das Nações Unidas usa os seguintes indicadores
pobres, não possuem capital suficiente para sus- para classificar os países segundo o grau de de-
tentar seu próprio desenvolvimento, isso não se senvolvimento: índice de mortalidade infantil,
justifica. Nesses países há considerável perda de expectativa de vida média, grau de dependência
recursos, sob a forma de exportação de capitais, econômica externa, nível de industrialização,
importações desnecessárias, desenvolvimento potencial científico e tecnológico, grau de alfa-
de setores não prioritários, gastos militares ex- betização, instrução e condições sanitárias. Entre
cessivos, desemprego e subemprego, o que, em os muitos obstáculos ao desenvolvimento, estão:
princípio, poderia ser evitado. Os recursos assim 1) a dificuldade de toda a população integrar-se
poupados constituem um excedente acumulá- na economia nacional (entre outros fatores, por
vel, que, uma vez reinvestido, tende a reprodu- inexistência de um sistema de transporte eficien-
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 170

te que interligue, de fato, as regiões do país); 2) pradores e vendedores serão obrigados a rever
o isolamento social, cultural ou econômico, re- seus planos.
presentado por barreiras lingüísticas e religiosas
entre diferentes setores da população e por sub- DESEQUILÍBRIO FUNDAMENTAL. Conceito
sistemas econômicos alienados do conjunto da elaborado quando da criação do Fundo Mone-
tário Internacional (FMI) no Acordo de Bretton
economia nacional (empresas estrangeiras, lati-
Woods (New Hampshire, EUA, 1944), mas que
fúndios etc.); 3) a dificuldade de encaminhamen-
acabou não sendo bem definido por aquela or-
to do excedente potencial da economia para os ganização. Apesar dessa falta de definição esta-
setores prioritários (indústria de base, transpor- tutária, um desequilíbrio fundamental consiste
te, energia etc.), de cujo crescimento depende num desequilíbrio de um balanço de pagamen-
todo o processo; 4) o desperdício de recursos tos (déficit ou superávit) que tenha natureza per-
(sob a forma de exportação de capitais, consumo sistente ou permanente. Em casos como esse,
supérfluo, gastos militares excessivos, especula- em que o ajustamento ou a volta ao equilíbrio
ção financeira) que, investidos, poderiam repro- não se daria rapidamente, a única solução seria
duzir-se e ampliar. A chamada “escassez de ca- a desvalorização da moeda correspondente (no
pital”, típica dos países não desenvolvidos, sur- caso de um déficit persistente) ou a sua valori-
ge algumas vezes sob a forma de carência de zação, se o superávit for crônico. Veja também
divisas para importar bens e serviços essenciais Adjustable Peg; Balanço de Pagamentos; Con-
ao desenvolvimento: é o chamado “estrangula- ferência de Bretton Woods; Crawling Peg; FMI.
mento externo” da economia. Essa dificuldade
DESILUSÃO MONETÁRIA. Em contraposi-
é muitas vezes agravada pelo fato de o país não
ção à ilusão monetária, significa o desencanto
desenvolvido depender política e economica-
quando, depois de um plano de estabilização,
mente de uma grande potência que — em maior
com a inflação se reduzindo muito, os consu-
ou menor grau — monopoliza seu comércio ex- midores percebem que os preços, embora está-
terno. Esses laços de dependência são muitas veis, se encontram num patamar muito elevado
vezes reforçados por investimentos do país in- em relação aos seus rendimentos. A expressão
dustrializado em alguns setores em expansão do foi cunhada para refletir o que aconteceu no Bra-
país que pretende se desenvolver. Embora esses sil logo depois da implantação do Plano Real
investimentos possam inicialmente aliviar o “es- em 1º/7/1994. Veja também Ilusão Monetária;
trangulamento externo”, ao proporcionar divi- Plano Real.
sas e/ou equipamentos, às vezes acabam por
agravá-lo, pela evasão de divisas na forma de DESINDUSTRIALIZAÇÃO. Processo de desa-
remessa de lucros, royalties e juros ao país in- parecimento de importantes empresas de setores
vestidor. Nesse caso, o desenvolvimento não industriais de países latino-americanos como o
tem como mola propulsora o mercado interno, Chile, a Argentina e, em menor escala, o Mé-
mas sim um grau de dependência maior ou me- xico e o Brasil, devido à adoção de políticas
de ajuste aos desequilíbrios externos origina-
nor ao mercado externo ou às grandes potências
dos pela dívida externa. Essas políticas de ajus-
econômicas. Veja também Dependência; Sub-
te causaram profundas e prolongadas crises,
desenvolvimento.
contribuindo para a falência de muitas empre-
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. Con- sas industriais e a perda de competitividade
ceito que pertence ao campo da ecologia e da em nível internacional.
administração e que se refere ao desenvolvimen- DESINFLAÇÃO. Remoção de pressões inflacio-
to de uma empresa, ramo industrial, região ou nárias da economia, visando a manter o valor
país, e que em seu processo não esgota os re- da unidade monetária. A desinflação é obtida
cursos naturais que consome nem danifica o por meio da restrição direta da expansão do con-
meio ambiente de forma a comprometer o de- sumo, pelo controle das vendas a prazo, pelo
senvolvimento dessa atividade no futuro. superávit orçamentário, pela elevação da taxa
de juros, pela restrição do crédito e por outras
DESEQUILÍBRIO. Situação em que um sistema medidas que exerçam controle sobre os gastos
econômico não está em equilíbrio devido a al- custeados por empréstimos. Essas medidas não
terações das forças internas (endógenas) que pretendem reverter o processo inflacionário pro-
agem sobre ele. Um exemplo clássico do mer- vocando súbitas baixas de preços, fazendo per-
cado em desequilíbrio é aquele em que o total der quem se beneficiava com a inflação e ganhar
de mercadorias oferecidas é inferior ao total de quem perdia com ela. Visam simplesmente cor-
mercadorias que os compradores estão dispos- rigir e limitar os aspectos prejudiciais da inflação
tos a adquirir. Alguns compradores não reali- em termos macroeconômicos. Existem pelo me-
zarão seus projetos, os preços subirão e os com- nos duas dificuldades operacionais para a im-
171 DESNACIONALIZAÇÃO

plantação de políticas desinflacionárias: durante DESINVESTIMENTO. Ou investimento negati-


determinado tempo, essas medidas tendem a re- vo, é o contrário de investimento. Ocorre quando
duzir a quantidade de empregos a um nível mui- uma empresa não faz a reposição dos bens de
to abaixo do politicamente aceitável; além disso, capital (máquinas, equipamentos, veículos, imó-
quando as medidas desinflacionárias adotadas veis, instalações) à medida que eles se desgastam
pelo governo são muito violentas, podem pro- pelo uso. Desse modo, há uma redução do ativo
vocar a deflação. A necessidade de medidas de- fixo. Veja também Depreciação; Investimento.
sinflacionárias pode ser atenuada, sob o ângulo
da oferta, na proporção em que a produtividade DESMONETIZAÇÃO. Em sentido amplo, o
da economia aumenta. Por outro lado, a redução termo significa a retirada de circulação de uma
da procura monetária total é conseqüência do forma específica de moeda por determinação go-
aumento nas poupanças privadas, do aumento vernamental. Aplica-se a cédulas ou moedas me-
relativo da tributação em comparação com os tálicas que passam a ser declaradas sem valor,
gastos governamentais, de medidas específicas perdendo assim qualquer obrigação de curso
visando a reduzir os gastos em consumo e em forçado. Em sentido estrito, significa que um
investimento, e da redução das despesas go- metal (especialmente o ouro ou a prata) deixa
vernamentais para que se situem em nível de ser cunhado como moeda. No campo da nu-
abaixo ao da arrecadação. Veja também Defla- mismática, refere-se a um selo que, por força de
ção; Inflação. decreto ou mudança política de governo, perdeu
o valor para franquia postal.
DESINTERMEDIAÇÃO. Fenômeno em que as
pessoas deixam de investir em títulos ou em DESNACIONALIZAÇÃO. Processo pelo qual
outras formas de poupança e passam a utilizar grupos ou empresas estrangeiras adquirem o
dinheiro no consumo de bens duráveis. Esse controle de uma parcela crescente da economia
processo ocorre quando os rendimentos finan- de um país. A desnacionalização de uma eco-
ceiros são inferiores às taxas da inflação. Ao nomia pode ocorrer de três maneiras distintas:
mesmo tempo, os juros cobrados nos emprésti- 1) compra de empresas nacionais por grupos
mos ao consumidor, também inferiores à infla- estrangeiros; 2) concorrência que esses grupos
ção, favorecem o endividamento para compras fazem às companhias nacionais, desalojando-as
imediatas. Esse processo ocorreu no Brasil, em do mercado; 3) ocupação de setores dinâmicos
1980, quando a correção monetária foi fixada em da economia por capitais estrangeiros. O pri-
45%, mas a inflação foi muito superior. Veja tam- meiro mecanismo talvez seja o mais polêmico,
bém Inflação. mas tudo indica ser o de menor importância,
DESINTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA. Proces- na medida em que os antigos proprietários de
so de deslocamento da realização de transações empresas nacionais conservam seu patrimônio,
de intermediação do setor financeiro para o setor mantendo assim a possibilidade de investir em
não-financeiro da economia. As raízes deste fe- outras áreas da economia nacional. No caso da
nômeno estão fincadas na atuação direta de concorrência, as empresas estrangeiras pene-
grandes empresas no mercado de capitais, na tram em setores onde já existem investimentos
criação de um mercado de títulos e valores que nacionais importantes e, aproveitando-se de
não dependem diretamente da atuação de ins- vantagens como maiores recursos financeiros,
tituições financeiras e na criação de mecanismos tecnologia mais avançada e maior experiência,
inovadores de transações financeiras que dis- tendem a reduzir a participação das empresas
pensem a atividade clássica de intermediação nacionais no mercado, levando-as à estagnação
das instituições financeiras. Quando, por exem- ou à falência. Na terceira forma de desnaciona-
plo, investidores ou poupadores retiram suas lização, as empresas estrangeiras ocupam seto-
aplicações de intermediários financeiros (ban- res novos e importantes, onde inexistem inves-
cos, caixas econômicas etc.) e emprestam dire- timentos nacionais ou onde estes são relativa-
tamente a investidores ou consumidores com- mente pequenos. Durante todo o século XIX e
prando títulos de dívida como duplicatas, ou até a primeira metade do século XX, os países
mesmo cheques pré-datados, estão operando no industrializados tolheram a incipiente indústria
sentido da desintermediação financeira. Nos dos países agrícolas com a exportação de seus
momentos em que os diferenciais de taxas de produtos manufaturados. O dispositivo de de-
juros aumentam entre o que um cliente de um fesa encontrado pelos países agrícolas foi o da
banco paga por um empréstimo e o que recebe alteração de suas tarifas aduaneiras, que torna-
por aplicar seus recursos nas instituições finan- ram mais caros os referidos produtos, incenti-
ceiras, a desintermediação torna-se mais atraen- vando as indústrias locais. Foi assim que as in-
te, valendo a pena para o aplicador correr maio- dústrias da Alemanha e dos Estados Unidos se
res riscos, mas obter uma remuneração maior defenderam da desigual concorrência inglesa no
por seu investimento. final do século XIX e início do século XX. Com
DESORDEM 172

o término da Segunda Guerra Mundial, esse tipo a preços de mercado, quando calculado sob a
de concorrência tornou-se extremamente difícil ótica do dispêndio. Veja também PNB.
devido à escassez geral de divisas em todo o
mundo. Os países subdesenvolvidos, interessa- DESREGULAÇÃO. Tendência que surgiu du-
dos em adquirir equipamentos e matérias-pri- rante o final dos anos 70 nos países industria-
mas necessários para a sua incipiente industria- lizados, recomendando a redução da participa-
lização, foram particularmente afetados. Assim, ção do Estado — direta ou indireta — na eco-
os artigos vindos dos países que já contavam nomia e nos mercados, baseada na tese de que
com indústrias desenvolvidas esbarravam con- as empresas, os preços e a alocação de recursos
tra um obstáculo bem maior que o representado são controlados e administrados mais eficazmente
pelas barreiras aduaneiras, que na verdade sem- pelas forças do mercado do que por regulamentos
pre podiam ser contornadas mediante a reunião governamentais. As políticas econômicas origina-
dos preços dos produtos exportados. Com a das dessa tendência abarcaram desde as privati-
aguda escassez de divisas do pós-guerra, os zações até a redução da carga tributária.
mercados em potencial simplesmente não con-
tavam com meios para adquirir os bens ofere- DESSAZONALIZAÇÃO. Operação de retirada
cidos, independentemente dos preços do mer- da sazonalidade, isto é, variações estacionais de
cado. A solução encontrada foi criar unidades uma série estatística. A sazonalidade, ou os efei-
produtivas completas instaladas dentro dos tos de ocorrências sazonais regulares sobre uma
mercados a serem conquistados, dando origem série estatística, pode provocar alterações sobre
ao processo de desnacionalização das economias as tendências fundamentais desta mesma série.
nacionais. A Constituição de 1988 estabeleceu Mediante métodos estatísticos como a utilização
uma série de restrições ao capital estrangeiro: de médias móveis, dummy variables e mesmo a
vedou sua participação direta ou indireta na as- retirada por subtração dos índices estacionais,
sistência à saúde; reservou aos brasileiros natos pode-se efetuar a dessazonalização. Veja tam-
ou naturalizados há mais de dez anos a pro- bém Sazonalidade.
priedade de empresas jornalísticas de radiodi-
fusão e televisão; vedou ao capital estrangeiro DESVALORIZAÇÃO. Redução oficial do valor
do setor financeiro a criação de novas agências real da moeda de um país em relação a moedas
ou o aumento de sua participação nas institui- estrangeiras. Na maioria dos casos, essa opera-
ções com sede no país até que sejam fixadas ção tem o objetivo de eliminar o déficit acumu-
condições em lei, e proibiu novos contratos de lado no balanço de pagamentos por meio de
risco para a prospecção de petróleo. Criou tam- mecanismos de depreciação cambial. Decidida
bém a figura da empresa brasileira de capital pelas autoridades monetárias, essa medida tem
nacional, como sendo aquela que tem seu con- o efeito de tornar mais caras as importações, ini-
trole efetivo — capital e gestão — em mãos de bindo-as, e de estimular as exportações, uma vez
pessoas físicas domiciliadas e residentes no país, que o exportador recebe mais unidades de moe-
atribuindo-lhe tratamento preferencial na aqui- da nacional para cada unidade de moeda es-
sição de bens e serviços do poder público e de- trangeira convertida à nova taxa de câmbio.
terminando que somente ela pode receber do Além disso, a desvalorização tende a produzir
Estado concessão para pesquisa e lavra de jazi- fortes pressões inflacionárias. Quando a depre-
das, minas e outros recursos minerais, com ex- ciação ou redução do valor da moeda era feita
ceção do petróleo e minerais nucleares. As con- por diminuição de seu peso e/ou do lastro ouro,
cessões já estabelecidas com empresas de capital ocorria a chamada desvalorização de cunhagem.
estrangeiro tornam-se nulas caso a exploração
não tenha sido iniciada. DESVIO PADRÃO. Medida estatística da va-
riação absoluta ou dispersão de uma distribui-
DESORDEM (Coeficiente de). Medida do grau ção de freqüência em torno de sua média (quan-
de ordenação com que aparece uma seqüência to menor o desvio, maior a representatividade
(Yi) quando comparada a uma ordenação de re- da média), obtida mediante o cálculo da raiz
ferência (Xi). Pode ser representada pelo Coefi- quadrada da média aritmética dos quadrados
ciente Pi de Correlação de Postos. Veja também dos desvios da distribuição de freqüência. Esta
Correlação de Postos (Coeficiente de). forma de cálculo da variância ou dispersão em
torno da média é conhecida também pela deno-
DESPESA INTERNA BRUTA. Denominação minação de médias quadráticas ou médias dos míni-
dada ao Produto Interno Bruto (PIB) quando cal-
mos quadrados, e sua fórmula geral de cálculo é
culado sob a ótica do dispêndio. Veja também

√ 
Σ Xi . fi
PIB. 2
Dp =
DESPESA NACIONAL BRUTA. Valor contá- n
bil equivalente ao Produto Nacional Bruto (PNB), xi = xi – x = desvio em relação à média
173 DIALÉTICA

N = número total de casos ou de elementos de a ajuda de bombas e pelo cerco de cardumes


uma distribuição jovens, ainda em crescimento, nos lagos margi-
nais da região amazônica, com resultados de-
Exemplo: sastrosos sobre o equilíbrio ecológico local. No
que diz respeito à destruição da flora, o Brasil
Desvio em Quadrado de Multiplicado
Freqüência relação à desvio da pela freqüência
vem sendo devastado desde a época colonial,
média média com a eliminação pura e simples das florestas
xi fi xi=Xi–x x=17 xi2 X2i. fi de pau-brasil do Norte e Nordeste. Atualmente,
17 130 – 10 100 3000 a situação não mudou muito. Mato Grosso é
12 140 1– 5 125 1000 um dos Estados mais afetados pelos desmata-
17 110 – 10 110 1000 mentos, tendo já perdido a cobertura florestal
22 150 – 15 125 1250 de 2,8 milhões de hectares de seu território (ou
27 125 – 10 100 2500 3,2% de seus 88,1 milhões de hectares). O Estado
do Pará apresenta situação igualmente calami-
155 7750 tosa, pois de seus 122,7 milhões de hectares, 2,2
milhões (cerca de 1,8%) encontram-se comple-
Dp = √
  = 7,071
7750 tamente desmatados, sendo que metade apenas
155 nos últimos quatro anos. O desmatamento do
Estado de Goiás mostra-se proporcionalmente
DETERIORAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRO- mais grave, pois de seus 28,6 milhões de hecta-
CA. Veja Relações de Troca. res, incluídos na chamada “Amazônia Legal”,
mais de 1 milhão (ou perto de 3,6%) já foram
DETERMINANTES. Veja Teoria dos Determi- desmatados. Em Rondônia, a velocidade do des-
nantes. matamento mostra-se realmente chocante, pois,
dos 23 milhões de hectares do território, já foram
DETERMINISMO. Doutrina filosófica segundo
desmatados aproximadamente 350 mil. A prin-
a qual todos os fenômenos estão submetidos a
cipal causa desses desmatamentos tem sido a
leis e se ligam entre si de acordo com o princípio
pecuária, que faz com que quilômetros e mais
da causalidade. Em Demócrito de Abdera (460-
quilômetros de reservas florestais seculares se-
370 a.C.), filósofo grego sistematizador do ma-
jam derrubadas para a formação de pastagens.
terialismo e do atomismo, encontra-se a primei-
E, apesar dos números impressionantes, as fa-
ra expressão do determinismo: é um processo
que depende mais de certezas do que de pro- zendas que receberam aprovação da Superin-
babilidades. Na Idade Moderna, o determinismo tendência do Desenvolvimento da Amazônia
ganhou nova força com o grande desenvolvi- (Sudam) para se fixar na Amazônia ainda não
mento das ciências da natureza. No terreno da derrubaram nem metade da área a que têm di-
economia, os teóricos admitem que os fatos es- reito de acordo com a legislação.Veja também
tão subordinados a leis, mas estas são vistas, Ecologia.
em geral, como tendências, isto é, expressando DIA DE OPÇÃO. Data na qual uma opção (de
certa direção que os fatos tomarão, a partir do compra ou de venda) expira, a não ser que seja
momento em que se cumpram certas condições. concretizada. Se o exercício da opção não for
rentável, seu custo pode ser considerado um
DEVASTAÇÃO. Exploração predatória dos re-
custo menor, na medida em que possa ser uti-
cursos naturais de um país ou região, com con-
lizada tanto no caso de compra ou de venda,
seqüências prejudiciais para o meio ambiente,
para reforçar uma posição “comprada” (short)
a fauna e a flora. No que diz respeito à devas-
ou “vendida” (long). Veja também Long; Opção;
tação da fauna, os dados relativos ao Brasil são
impressionantes. Em Mato Grosso, por exemplo, Short.
contrabandistas e caçadores ilegais têm sistema- DIAGRAMAS IS-LM. Veja Curvas IS-LM.
ticamente dizimado diversas espécies naturais
do Pantanal, estimando-se que somente no ano DIALÉTICA. Termo filosófico empregado em
de 1982 tenham sido mortos aproximadamente diferentes acepções, ao longo da história do pen-
1 milhão de jacarés, que tiveram suas peles con- samento ocidental. Em Platão (428 ou 427-348
trabandeadas sobretudo para a Bolívia. Também ou 347 a.C.), designa o processo de aquisição
na Amazônia a exploração inescrupulosa e os da verdade por meio da ascese intelectual, que
crescentes desmatamentos estão ameaçando se- conduz ao mundo das idéias, entendidas estas
riamente a perpetuação das 2 mil espécies de como essências imutáveis e fundamentos racio-
peixes que formam a fauna ictíica mais rica do nais das coisas sensíveis. Em Aristóteles (383-322
mundo, quando comparada com as 165 espécies a.C.), é o conjunto das formas de raciocínio pro-
de peixes conhecidas em toda a Europa central. vável, à diferença da lógica, que se ocuparia da
A pescaria desses peixes costuma ser feita com certeza. Na Idade Moderna, prepondera certo
DIBOR 174

desprezo pela dialética, com Kant (1724-1804), DÍGITO. Antiga medida de comprimento, even-
por exemplo, considerando-a simples “lógica da tualmente utilizada ainda na Inglaterra e equi-
aparência”. É com Hegel (1770-1831) que o ter- valente à largura de um dedo, ou o correspon-
mo ganha novas forças, tornando-se o eixo cen- dente a 1,87 cm. É também equivalente a um
tral de sua filosofia; para esse filósofo alemão, algarismo. Veja também Unidades de Pesos e
a dialética é tanto o processo racional de desen- Medidas.
volvimento das idéias quanto o processo de de-
senvolvimento da própria realidade, desenvol- DILEMA DO PRISIONEIRO (Prisioner’s Di-
vimento esse marcado pela tensão dos opostos lema). O termo está relacionado com a teoria
e pela contradição. Ainda para Hegel, é a dia- dos jogos e a teoria da decisão, e refere-se ao
lética das idéias que determina a dialética da caso em que criminosos são submetidos a um
realidade. Marx (1818-1883) inverte essa relação interrogatório em separado. Cada criminoso
e opõe ao idealismo dialético hegeliano o ma- sabe que se ninguém confessar sobre a partici-
terialismo dialético e o materialismo histórico, pação própria e dos demais no crime, ele será
segundo os quais a dialética é constituída pelas libertado ou no máximo terá uma pena muito
contradições reais, que se manifestam principal- pequena. Mas se um deles confessar, e os demais
mente nos níveis político, social e econômico. não o fizerem, esse um poderá ser libertado, en-
Para Marx, é dialético, por exemplo, o movi- quanto os outros sofrerão pesadas penas. Se to-
mento histórico que faz com que o enriqueci- dos confessarem, todos receberão penas, embora
mento da burguesia implique, necessária e con- menos severas do que se apenas um confessar.
traditoriamente, o fortalecimento do proletaria- O incentivo, nesse caso, para o indivíduo racio-
do (quanto maior a acumulação capitalista, tanto nal é confessar e deixar os demais sofrerem as
maior a massa explorada). A tradição hegeliana conseqüências. Porém, se todos forem racionais
é continuada nos séculos XIX e XX por pensa- e agirem desta forma, o resultado para todos
dores como Croce (1866-1952), Gentile (1875- será pior do que seria se todos pudessem entrar
1944) e Colingwood (1889-1943). Veja também num acordo prévio para ninguém confessar.
Hegel, Georg W. Friedrich; Marx, Karl Hein- Este caso busca ilustrar como o comportamento
rich; Marxismo; Materialismo Histórico. racional no âmbito microeconômico pode pro-
duzir um resultado aparentemente irracional na
DIBOR. Veja Ibor. esfera macroeconômica. Veja também Equilí-
brio de Nash; Teoria dos Jogos.
DIEESE — Departamento Intersindical de Es-
tatística e Estudos Sócio-Econômicos. Instituto DIN. Iniciais de Deutsche Industrie Normenaus-
de pesquisas criado em 1955 em São Paulo, com schutz (ou Deutsche Industrie Normen), que sig-
o objetivo de assessorar os sindicatos de traba- nifica Comissão de Normas da Indústria Alemã,
lhadores. Fornece periodicamente dados relati- sistema criado em 1922 na Alemanha e trans-
vos a custo-desemprego, produtividade e nível formado em convenção internacional, e empre-
do salário real. Realiza estudos críticos sobre po- gado em muitos países para o formato de papel
lítica econômica e medidas governamentais que de impressão (livros, jornais etc.).
atinjam os interesses do trabalhador. O Dieese
é mantido por sindicatos e associações profis- DINAR. Unidade monetária da Argélia (dinar
sionais que utilizam seus serviços. Tem filiais argelino; submúltiplo: cêntimo), do Bahrein (di-
no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, nar do Bahrein; submúltiplo: fil), do Iêmen do
Recife, Curitiba e Brasília. Edita um boletim Sul (dinar sul-iemenita; submúltiplo: fil), do Ira-
mensal. que (dinar iraquiano; submúltiplo: fil ou dirrã),
da Jordânia (dinar jordaniano; submúltiplo: fil),
DIGITAL. Veja Computador. do Kuweit (dinar kuweitiano; submúltiplo: fil
ou dirrã), da Líbia (dinar líbio; submúltiplo: dir-
DIGITAL SIGNATURES. Expressão em inglês rã) e da Tunísia (dinar tunisiano; submúltiplo:
que corresponde a “assinaturas digitais” e sig- millième).
nifica formas de autenticação de documentos,
informações etc., no mundo da informática, que DINHEIRO. Denominação genérica do meio de
substituam as assinaturas em tinta e papel. Os pagamento mais comum em praticamente todos
problemas de segurança envolvidos são consi- os países. Nas línguas ocidentais, é a designação
deráveis, pois na mesma medida em que um do meio de pagamento geralmente utilizado nas
sistema seguro de assinaturas digitais pode ser trocas, a moeda metálica. Assim, a palavra di-
um mecanismo confiável (sem riscos) para o de- nheiro, em português, tem origem na palavra
senvolvimento rápido dos negócios, pode tam- latina denarius, moeda de prata equivalente a
bém servir de guarida para a contravenção ou dez ases, que eram moedas de cobre de uso cor-
o crime “seguros”, desde que criminosos e de- rente na Roma Antiga. Em inglês, o termo money
linqüentes tenham acesso a tais mecanismos. conservou o sentido específico de moeda até o
175 DINHEIRO

final do século passado, quando se generalizou sibilita o entesouramento ou reserva de dinheiro


seu significado como dinheiro. A vigência do sem que este perca o seu valor, o que originou
metalismo, ou correspondência do valor da o processo de poupança, elemento básico na for-
moeda ao ouro ou à prata, fez com que em al- mação de capital. Para que possa cumprir todas
guns países ainda hoje esses metais nobres sejam essas funções, o dinheiro deve necessariamente
sinônimos de dinheiro, como na Alemanha (geld, apresentar algumas características, como a divi-
da palavra gold que, em alemão, significa ouro) sibilidade, a durabilidade, a estabilidade e a ho-
e na França (argent, que em francês significa tam- mogeneidade. Ou melhor, o material no qual o
bém prata). Da mesma forma, até poucos anos dinheiro está representado e que lhe serve de
atrás era comum no Brasil ouvir-se a expressão base deve ser divisível para facilitar as operações
“ganhar uns cobres”, pois durante o século XIX de compra e venda e o transporte; a durabili-
e início do século XX, existiam muitas moedas dade é essencial, pois não seria conveniente que
cunhadas em cobre, assim como na Argentina um material que representasse o valor ou fosse
o dinheiro é designado pela palavra plata (prata) uma forma de manutenção da riqueza se diluís-
e o nome do próprio país evoca a palavra argent se ou estragasse de forma tal a provocar uma
(prata, em francês). É interessante observar tam- perda para o seu possuidor; mesmo o papel-
bém como certas palavras indicativas de alguma moeda fabricado com material mais facilmente
relação com o dinheiro revelam ainda períodos destrutível do que as moedas metálicas é feito
remotos da história dos meios de pagamento. com papel de alta resistência. A estabilidade é
Os termos “pecúnia” e “pecuniário”, por exem- também muito importante, pois não é conve-
plo, originam-se da palavra latina pecus, que sig- niente que a mercadoria que sirva como expres-
nifica gado, o que indica a utilização que se fazia são do valor de todas as demais tenha seu valor
no passado remoto de bois e outros animais variável, isto é, as oscilações para mais ou para
como meio de troca e pagamento. Nas chamadas menos podem prejudicar o desenvolvimento
sociedades primitivas ou em estágio ainda mui- dos negócios. Tais oscilações são características
to próximo de uma economia natural, os mais de épocas inflacionárias ou deflacionárias, e não
variados objetos serviram como meio de troca: dependem em geral do material de que é feito
conchas, colares, ossos, peles, sementes etc. A o dinheiro. A homogeneidade do material que
generalização de um único meio de pagamento, constitui o dinheiro também é muito importante
isto é, a transformação de uma mercadoria como para evitar que existam diferenças de valor, por
o gado, o sal, ou um metal como o ouro, ou a exemplo, em duas moedas do mesmo valor fa-
prata em equivalente geral, uma mercadoria na cial, mas compostas de um material que possa
qual todas as demais expressavam o seu valor, representar mais valor num caso do que em ou-
e a fixação de unidades monetárias repre- tro. O valor do dinheiro é inversamente propor-
sentaram o fim do período do escambo, quando cional ao índice geral de preços. Se a quantidade
as trocas e os pagamentos se faziam in natura, de dinheiro crescer em maior proporção do que
ou seja, quantidade x de um produto trocada a quantidade de bens e serviços existentes no
por quantidade y de outro. Além da determi- mercado, haverá elevação do índice geral de pre-
nação de ser equivalente do valor de todas as ços (se considerarmos que a velocidade de cir-
demais mercadorias, o dinheiro adquiriu uma culação da moeda permanece constante); se a
série de outras funções como decorrência do quantidade de dinheiro crescer menos intensa-
próprio desenvolvimento do mercado num pri- mente do que os bens e serviços colocados no
meiro momento e do capitalismo em geral. A mercado, haverá queda de preços ou deflação,
primeira característica, prévia a todas as demais, supondo também que a velocidade de circulação
é de ser um meio de troca, utilizado no inter- da moeda não se altere. Com o desenvolvimento
câmbio de mercadorias, serviços, e mesmo na do capitalismo, a função da moeda de diferir
aquisição de dinheiro estrangeiro (divisas). Ou- pagamentos ganhou enorme importância ao en-
tra função do dinheiro é a de representar uma grossar as possibilidades de crédito brindadas
medida de valor que serve para comparar o va- pelos bancos. O crédito, ou a moeda escritural,
lor das mercadorias entre si, tomando por base também deve ser levada em conta quando ava-
o preço de cada uma em relação à mercadoria- liamos o total de meios de pagamento existentes
padrão (equivalente geral), que passou a ser o numa economia, e, portanto, este tipo de moeda
próprio dinheiro. A terceira função é a de diferir também deve ser levada em consideração quan-
pagamentos, isto é, o dinheiro permite realizar do estimamos as relações entre a quantidade de
determinadas transações estabelecendo-se pra- moeda em circulação, os bens e serviços colo-
zos para o pagamento, vencidos os quais o com- cados no mercado, a velocidade de circulação
prador deverá pagar o valor estipulado no mo- da moeda e o resultante nível geral de preços.
mento em que adquiriu uma mercadoria. Uma O termo também era utilizado no passado para
quarta e última função, intrinsecamente vincu- designar o título ou o toque das moedas de pra-
lada à anterior, é a de reserva de valor, que pos- ta. O máximo que poderia ser alcançado seria
DINHEIRO BARATO 176

uma moeda de 12 dinheiros, isto é, uma moeda DIRECTOR’S LAW. Veja Lei de Director.
totalmente fabricada com prata. Uma moeda de
prata de 9 dinheiros seria constituída de 3/4 de DIREITO COMERCIAL. Parte do direito pri-
prata e 1/4 de outro metal, que formaria sua vado que regula o exercício da atividade mer-
liga. As moedas cunhadas em Portugal e no Bra- cantil e todos os atos a ela inerentes. Divide-se
sil tinham o toque de 11 dinheiros, ou 11/12, em direito comercial terrestre, direito comercial ma-
ou 0,91666 de toque. “Dinheiro” era também a rítimo e direito comercial aéreo, tendo em vista as
denominação dada às moedas de cobre em Por- peculiaridades de cada um desses ramos de ati-
tugal durante o reinado de D. João I. Veja tam- vidade mercantil. O direito comercial internacional
bém Deflação; Inflação; Moeda Escritural; trata do comércio entre as nações.
Moeda; Moeda Legal; Moeda-papel; Papel- DIREITO DE SUBSCRIÇÃO. Veja Subscrição.
moeda; Teoria Quantitativa do Valor da Moe-
da; Velocidade de Circulação da Moeda; Xen- DIREITO DO TRABALHO. Conjunto das nor-
xém, Crise do. mas jurídicas que regulam as relações entre em-
pregados e empregadores. Nas primeiras déca-
DINHEIRO BARATO. Situação criada por uma das de desenvolvimento do capitalismo indus-
política governamental de manutenção de em-
trial, seguindo os princípios do pensamento li-
préstimos a juros baixos, de forma a tornar mais
beral, o Estado não intervinha nas relações entre
barato o dinheiro e incrementar a atividade eco-
trabalhadores e indústrias, a não ser para repri-
nômica em todos os campos. Opõe-se à política
mir as revoltas operárias, ficando os acordos
do dinheiro caro.
eventuais entre essas duas partes como fenôme-
DINHEIRO CARO (Dear Money). Situação cria- nos localizados na área do direito privado. Com
da por política governamental que se caracteriza o desenvolvimento das pressões sociais exerci-
por juros altos, e com a qual as autoridades pro- das pelo movimento operário e pelas organiza-
curam reprimir gastos demasiados em períodos ções socialistas contra as péssimas condições de
de grande prosperidade, como medida de pre- vida dos operários, surgiram as primeiras leis
venção de crises. Opõe-se à política do dinheiro de proteção ao trabalho de crianças e mulheres,
barato. principalmente na Inglaterra. Essas conquistas
trabalhistas ampliaram-se no final do século XIX
DINHEIRO DE EMERGÊNCIA. Veja Werbes- e início do século XX, quando os partidos de
tändiges Notgeld; Crise do Xexém. tendência socialista se firmaram como organi-
zações políticas fortes. Assim, a questão traba-
DINHEIRO DE PLÁSTICO. Denominação po-
lhista adquiriu dimensão pública e estruturou-se
pular dos cartões de crédito que em determina-
um ordenamento jurídico ligado aos interesses
das circunstâncias substituem (com vantagem)
dos segmentos assalariados da moderna socie-
a moeda legal, seja o papel-moeda ou os che-
dade industrial. No Brasil, a legislação traba-
ques. Este tipo de moeda pode ser entendido
lhista surgiu fundamentalmente após a Revolu-
como aqueles cartões que efetuam compras de
pequeno valor para evitar problemas de troco ção de 1930 e foi reunida na Consolidação das
e que são descontados na conta corrente do Leis do Trabalho (CLT). Veja também CLT; Jus-
usuário e abastecidos de fundos por essa mesma tiça do Trabalho.
conta. DIREITO INTELECTUAL. Direitos exclusivos
DINHEIRO FÁCIL. Veja Easy Money. do autor de obra intelectual (produção literária,
científica ou artística e do autor de invenção de
DINHEIRO QUENTE. Veja Hot Money. qualquer campo, descoberta científica, desenho
industrial, marca comercial e nome de produto).
DINHEIRO VIVO. Veja Numerário. O direito intelectual reúne dois aspectos distin-
tos: a propriedade industrial, que envolve royal-
DIP. Termo que designa uma pequena queda ties, patentes e as criações com utilidade prática
nas cotações das ações e títulos no mercado fi-
(invenções, desenvolvimentos tecnológicos etc.),
nanceiro depois de vários pregões em que ocor-
e os direitos do autor, que envolvem criações
reu uma tendência de alta. Se as análises con-
estéticas e o próprio autor. Os direitos do autor
cluírem que a tendência de elevação das cota-
são formados por dois itens: os direitos morais,
ções prosseguirá, é o momento de investir nesse
mercado. O grande problema é, portanto, não inalienáveis e intransferíveis (paternidade da
apenas identificar o próprio dip, mas também obra e exigência de manter a integridade da
as tendências do mercado imediatamente depois. obra, por exemplo), e direitos patrimoniais, que
podem ser transferidos a terceiros (exploração
DIRECT BUSINESS. Expressão em inglês que comercial da obra, adaptação etc.). Para a defesa
significa negócios à vista, utilizada nas Bolsas da propriedade intelectual, formou-se, em 1967,
de Valores quando as ações são vendidas à vista. em Estocolmo, a Organização Mundial de Pro-
177 DIRTY FLOAT

priedade Intelectual (Ompi), que se tornou, a que tornava o DES a reserva para ser utilizada
partir de 1974, uma agência especializada da Or- em caso de déficit no respectivo balanço de pa-
ganização das Nações Unidas (ONU). A Ompi gamentos. Os DES são utilizados apenas para
tem entre seus objetivos básicos: assistência aos acertos entre os bancos centrais de cada país e
países para o desenvolvimento de leis apropria- o FMI, e não têm uma existência tangível, isto
das; promoção e disseminação de criações inte- é, não existem notas nem moedas de DES, nem
lectuais; cooperação, a pedido dos países, na for- um símbolo para designá-los. Até meados de
mação de instituições governamentais. 1974, os DES eram avaliados em termos do ouro
e do dólar. Mas, uma vez que esse sistema dava
DIREITO NATURAL. Conjunto de normas que lugar a flutuações acentuadas em função do en-
têm por fundamento a própria natureza humana fraquecimento da moeda norte-americana, os
e, portanto, são consideradas universais e imu- países líderes do comércio internacional pres-
táveis. Contrapõe-se ao direito positivo, que é obra
sionaram para que se fixasse o valor dos DES
dos poderes do Estado. O princípio do direito
numa cesta de moedas. Esta cesta é formada
natural vem da Antiguidade greco-romana (jus
por moedas de dezesseis países da Europa Oci-
naturae) e foi incorporado à ética cristã. Assumiu
dental, dos Estados Unidos, do Canadá, do Ja-
caráter revolucionário no contexto do pensa-
pão e da África do Sul. O resultado é que os
mento iluminista do século XVIII, dando res-
DES tornaram-se mais estáveis do que cada
paldo ideológico à Revolução Francesa (com sua
Declaração dos Direitos do Homem e do Cida- moeda individual, e o seu uso se expandiu. Veja
dão) e ao movimento de independência dos Es- também Crawling Peg; FMI; Onça Troy; Pa-
tados Unidos. Foi com base no direito natural drão-ouro; Padrão Câmbio-ouro.
que Rousseau elaborou sua teoria do Estado, DIRIGISMO. Tendência de o Estado manter
como resultado de um contrato social, e o pen- uma intervenção reguladora permanente numa
samento liberal radical forjou o direito de os ci- economia capitalista, em contraposição ao ab-
dadãos rebelarem-se contra a tirania. Moderna- senteísmo do Estado liberal. Sem conduzir ne-
mente, os princípios do direito natural, ao mes- cessariamente à estatização de empresas priva-
mo tempo que são usados para defender os di- das, a ação governamental pode existir sob as
reitos humanos contra o arbítrio do Estado, são formas de regulamento, participação, controle e
empregados também como principal argumento planejamento da produção. Inclui medidas como
ideológico do pensamento conservador contra tabelamento de mercadorias, serviços e salários,
o socialismo. Este, ao pretender abolir a pro-
controle do comércio exterior, incentivos fiscais
priedade privada dos meios de produção, estaria
e creditícios, concessão de contratos de forneci-
violentando um dos direitos naturais.
mento ao Estado e execução de obras públicas.
DIREITOS ESPECIAIS DE SAQUE (DES). Um A evolução das economias ocidentais revela a
tipo de reserva ou moeda internacional criada presença crescente do dirigismo, embora nos úl-
em 1967, na Conferência do Fundo Monetário timos anos as críticas dos defensores da não-in-
Internacional realizada no Rio de Janeiro, para tervenção tenham crescido e alguns países eu-
substituir o ouro como o principal meio de li- ropeus, como a Inglaterra, por exemplo, tenham
quidação de transações financeiras internacio- iniciado um vigoroso processo de desestatização
nais, e por essa razão também denominado da economia. Veja também Estatismo; Libera-
“ouro-papel”. Cada país pode saldar os déficits lismo; Mercantilismo.
de seu balanço de pagamentos com DES, ouro
DIRRÃ. Unidade monetária do Marrocos, sub-
ou com moedas fortes. Os DES foram criados
para aliviar as tensões criadas pela escassez de múltiplo: centime; e dos Emirados Árabes Uni-
ouro e de outros tipos de reserva em face de dos, submúltiplo: fil. Veja também Dinar; Rial.
um comércio internacional em expansão. A ofer- DIRTY FLOAT. Expressão em inglês que sig-
ta de ouro estava crescendo num ritmo pequeno
nifica literalmente “flutuação suja” e que, no
(menos de 2% ao ano) e os sucessivos déficits
mercado cambial, designa um processo no qual
externos dos Estados Unidos e da Inglaterra en-
a taxa de câmbio de um país sofre intervenções
fraqueceram o dólar e a libra esterlina a tal ponto
que os demais países foram perdendo a con- no mercado pelas autoridades monetárias desse
fiança nestas moedas. Até 1971, o governo ame- país (especialmente o Banco Central). A maioria
ricano conseguiu manter a paridade do dólar das moedas ocidentais, incluindo o dólar dos
em 35 dólares por onça troy de ouro, mas suas Estados Unidos e o iene japonês, mas também
reservas caíram tanto que esta paridade foi sus- o franco francês, o marco alemão e a lira italiana,
pensa naquele ano, e dali em diante adotou-se e em especial a moeda brasileira, o real, sofrem
o sistema de taxas de câmbio flutuantes (crawling intervenções das respectivas autoridades mone-
peg). Dentro de certos limites, cada país poderia tárias, e, portanto, caem na categoria do dirty
trocar sua própria moeda no FMI por DES, o float. O oposto de dirty float é clean float, isto é,
DISARRAY 178

“flutuação limpa”, aquela livre de intervenções ganha econômica utilizem a discriminação co-
das autoridades monetárias e dependente ape- mercial de forma prejudicial, foram criadas or-
nas das forças do mercado. ganizações internacionais, entre as quais se des-
taca o Acordo Geral de Tarifas e Comércio
DISARRAY. Veja Desordem (Coeficiente de). (Gatt), com funções de estruturar uma conduta
geral no intercâmbio entre os países. Veja tam-
DISCLOSURE. Termo em inglês do mercado bém GATT; OMC.
financeiro e das Bolsas de Valores que significa
a obrigação de todas as empresas que lançam DISCRIMINAÇÃO DE PREÇOS. Adoção de
títulos no mercado revelar (to disclose) todas as preços diferentes para o mesmo produto con-
informações relevantes de sua situação econô- forme o comprador, prática que pode ser ado-
mico-financeira aos investidores potenciais. tada em situações de monopólio. A discrimina-
ção de preços pode ocorrer basicamente em duas
DISCO (Disquete). Em informática, peça feita situações: 1) quando os produtos não podem
de plástico recoberto de material magnético (dis- ser revendidos (é o caso, por exemplo, dos ser-
co flexível ou disquete) ou de alumínio (disco viços de água, esgoto, eletricidade) ou no caso
rígido), utilizada para o armazenamento de da- de impedimento por barreiras alfandegárias; 2)
dos de computador. quando os compradores não podem locomover-
se à procura de preços mais baixos ou produtos
DISCO WINCHESTER. Disco magnético rígi- substitutos. Para a discriminação de preços, há
do, cuja cabeça de leitura não toca o disco: um sempre necessidade de grandes grupos diferen-
efeito aerodinâmico a mantém suspensa a uma tes de consumidores (domésticos e industriais
distância de alguns milésimos de milímetro da ou mercado interno e externo, por exemplo).
superfície. Como a elasticidade da demanda desses grupos
é diferente, pode-se aplicar um preço mais ele-
DISCOUNT. Técnica de marketing de acordo vado ao grupo com menor elasticidade. Assim,
com a qual são concedidos descontos atraentes a maior margem de lucro nesses mercados mais
na venda de determinados produtos em lugares ou menos cativos compensa a menor lucrativi-
determinados, para atrair a clientela ou os “só- dade nos mercados onde existe maior competi-
cios”. Esta prática é mais usual entre os super- ção. E, de qualquer modo, essa prática mono-
mercados em relação aos alimentos não perecí- polista (também possível em situações de oli-
veis, bebidas, artigos de higiene pessoal etc. A gopólio e concorrência imperfeita) supõe que os
organização do sistema muitas vezes exige a que compram mais barato não consigam reven-
congregação de sócios que, pagando uma de- der o produto aos que compram mais caro.
terminada anuidade ou mensalidade, têm acesso
a essas lojas onde os descontos podem alcançar DISPERSÃO. Conceito do campo da estatística
25% ou 30% se o cliente ou sócio adquirir pro- que significa a propriedade ou a qualidade de
dutos em certa quantidade. O discount já se en- um atributo de variar nos diversos indivíduos
contra bem difundido nos Estados Unidos e co- (homogêneos) em que esse atributo foi obser-
meça a ser introduzido agora no Brasil. vado, ou a propriedade que as medidas da in-
tensidade de um mesmo atributo têm de variar
DISCRIMINAÇÃO COMERCIAL. Prática da nas diversas observações feitas sobre um mesmo
política de comércio exterior de um país res- indivíduo. É o mesmo que variabilidade.
ponsável pela criação de estímulos ou desestí-
mulos (taxas alfandegárias diferenciadas, con- DISSÍDIO COLETIVO. Processo que corre nos
troles de câmbio, acordos bilaterais de comércio tribunais da Justiça do Trabalho com o objetivo
etc.) para a negociação em determinados mer- de solucionar conflitos entre patrões e empre-
cados. A discriminação comercial é utilizada gados. As partes conflitantes são representadas
principalmente para a correção de desequilíbrios por suas organizações de classe (sindicatos de
no balanço de pagamento entre países. Assim, trabalhadores e de patrões), e o processo ins-
se a balança comercial entre o país A e o país taura-se quando uma delas recorre à Justiça do
B é muito desfavorável ao país A, A pode criar Trabalho para se pronunciar sobre questões dis-
mecanismos que desestimulem a compra de pro- cordantes que não puderam ser resolvidas por
dutos de B, ou B pode criar estímulos à compra meio de negociações. O dissídio coletivo pode
de produtos do país A. A criação de cotas de- ser de natureza jurídica ou de natureza econô-
terminadas e diferenciadas por país para o co- mica. No dissídio jurídico, a sentença do tribunal
mércio de determinados produtos (café e açúcar, diz respeito a interpretações do texto de acordos
por exemplo) também é uma forma de discri- coletivos de trabalhos existentes. Já o dissídio
minação comercial, com vistas a manter certo econômico trata da criação de novas condições
equilíbrio nas relações comerciais entre países. de trabalho para determinada categoria profis-
Para evitar que países com maior poder de bar- sional. Há também o dissídio individual, que diz
179 DIVERSIFICATION PAYOFFS

respeito a conflitos entre um empregado e seu Abraham De Moivre em 1730, mas formalizada
patrão e cujo processo é iniciado nos órgãos de por Karl F. Gauss com a seguinte expressão:
primeira instância (juntas de Conciliação e Jul-
gamento), cabendo recurso aos tribunais de se- 1 (x – µ)2
f (x) = e–
gunda instância (TRT e TST). O instituto do dis- σ√
2 π 2σ2
sídio coletivo foi criado pela Carta del Lavoro da
Itália, na época de Mussolini, e incorporado à Principais características da Curva Normal:
legislação trabalhista brasileira depois de 1930. 1) o ponto de máxima função é o ponto x = u,
É garantido pelo artigo 142 da Constituição Fe- onde u é a média da distribuição; 2) os pontos
deral do Brasil, e suas fases estão estabelecidas de inflexão são x = ±σ, onde σ é o desvio pa-
na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), a drão; 3) a curva é simétrica em relação a u, e 4)
partir do artigo 856. Veja também Trabalho, a curva é assintótica ao eixo horizontal em am-
Convenção Coletiva do. bas as direções. Veja também Desvio Padrão;
Média; Variável Normal Reduzida.
DISTRIBUIÇÃO. Modo como se processa a re-
partição da riqueza e dos bens socialmente pro- DISTRITO DIAMANTINO. A grande produ-
duzidos entre os indivíduos e entre os diversos tividade das minas de diamantes, que permitiu
segmentos da população em determinada socie- enorme acumulação de riqueza por parte dos
dade. O caráter e os mecanismos de distribuição “contratadores”, e a convicção de que estes frau-
do produto social variam de época para época davam o fisco levaram as autoridades do reino
e dependem diretamente da organização da pro- a pretender explorar diretamente as minas. Para
dução e da forma de propriedade nela vigente. tal fim organizou-se uma Junta da Administra-
A distribuição decorre, portanto, do próprio pro- ção Geral dos Diamantes, e dentro de uma ex-
cesso produtivo e é por meio dela que os bens tensa região no entorno onde se encontravam
chegam aos consumidores, aproximando, assim, as minas estabeleceu-se o Distrito Diamantino.
os inúmeros produtores separados pela divisão Proibia-se a entrada de qualquer pessoa sem a
social do trabalho. A forma de distribuição mais permissão do Intendente, e este reinava absoluto
evidente é a distribuição física dos produtos, fe- no perímetro do distrito, não necessitando pres-
nômeno que se desenvolve nas relações de troca, tar conta de seus atos a ninguém, exceto no que
isto é, na esfera da comercialização dos produ- se referia à produção de ouro, resultante do tra-
tos. Há também a distribuição funcional, que re- balho de milhares de escravos pertencentes à
cebeu atenção especial nas análises dos econo- Coroa. Veja também Contratadores.
mistas clássicos e que se refere à repartição do DITADURA DO PROLETARIADO. Veja Pro-
produto global entre os vários agrupamentos so- letariado, Ditadura do.
ciais. Tal repartição, segundo esses economistas,
relaciona-se diretamente com a participação de DIVERSIFICAÇÃO. Participação de uma mes-
cada grupo ou classe social no processo produ- ma firma na produção ou venda de diferentes
tivo; relaciona-se também com a propriedade tipos de bens e serviços. Ao adotar esse proce-
dos fatores de produção e aparece sob a forma dimento, as empresas procuram precaver-se
de juros, lucros, rendas e salários. Veja também contra prejuízos causados por oscilações bruscas
Renda. nos mecanismos de mercado (demanda, preços),
admitindo que isso não ocorrerá ao mesmo tem-
DISTRIBUIÇÃO BINOMIAL. Modelo matemá- po em relação a todos os bens e serviços que
tico para a distribuição de um número de “su- negociam, podendo, portanto, manter a taxa mé-
cessos” em n tentativas, quando a probabilidade dia geral de seus rendimentos. Uma firma com
de um sucesso permanece constante em qual- grande produção na área de bens duráveis (au-
quer tentativa e estas são independentes. Tam- tomóveis, geladeiras), que têm maior possibili-
bém é conhecida como a distribuição da soma dade de flutuação de demanda, pode diversifi-
de n variáveis aleatórias de Bernoulli, cada uma car sua produção atuando em setores de deman-
com a mesma probabilidade Ø e 1-Ø de sucesso da mais estável (ou menos elástica), como o de
ou fracasso. Veja também Bernoulli. gêneros alimentícios, cujas vendas tendem a su-
bir de acordo com o aumento da população.
DISTRIBUIÇÃO DA RENDA. Veja Renda.
DIVERSIFICATION PAYOFFS. Expressão em
DISTRIBUIÇÃO NORMAL. Distribuição ori- inglês cujo significado literal é “ganhos por di-
ginalmente estudada em conexão com erros de versificação”. Tais ganhos estão relacionados
medida e por isso também denominada “curva com: 1) a redução dos riscos (princípio da não
normal de erros”. A distribuição normal é um dos colocação dos ovos numa cesta só); 2) a estabi-
pilares da Teoria Estatística e sua equação (Cur- lização dos ganhos, eliminando-se as bruscas os-
va Normal) foi primeiramente deduzida por cilações que podem ocorrer se a empresa se de-
DÍVIDA 180

dica apenas a um produto ou serviço; 3) o au- com residentes no exterior. Os débitos podem
mento das sinergias, pois o resultado positivo ter origem no próprio governo, em empresas
de uma área pode influenciar as demais; 4) a estatais e em empresas privadas. Neste último
melhor alocação de recursos materiais e huma- caso, isso ocorre com aval do governo para o
nos, isto é, os recursos existentes poderão ser fornecimento das divisas que servirão às amor-
melhor alocados, pois a empresa oferece inter- tizações e ao pagamento dos juros. Os residentes
namente um leque mais amplo de alternativas; no exterior que forneçam os empréstimos e fi-
5) a adaptação às necessidades dos consumido- nanciamentos podem ser governos, entidades fi-
res e à comparabilidade do desempenho dos vá- nanceiras internacionais, como o Fundo Mone-
rios setores da empresa que se dedicam a cada tário Internacional ou o Banco Mundial, bancos
produto e/ou serviço visando o aprimoramento e empresas privadas. Os empréstimos são ge-
da direção global da empresa. ralmente realizados em moeda estrangeira, des-
vinculados de programas e projetos de investi-
DÍVIDA. Total dos débitos contraídos por uma mento específicos, ao contrário dos financiamen-
pessoa física ou jurídica junto a outras pessoas tos, que na maior proporção de seu montante
físicas ou jurídicas. A sociedade capitalista mo- requerem a aprovação de um projeto (constru-
derna estimula o consumo, essencial para que ção de estradas, hidrelétricas etc.) para serem
se mantenha a produção e se gerem riquezas. liberados. A dívida externa registra apenas
A dívida passou a ser uma forma de acelerar o aqueles empréstimos e financiamentos cujo pra-
consumo, baseando-se na expectativa de uma zo de vencimento é superior a um ano; os re-
renda futura. Além disso, aumenta a velocidade cursos cujo prazo de vencimento é inferior a um
da circulação de dinheiro, pois de outra forma ano — os capitais de curto prazo — não são
ele ficaria estagnado em poupanças mantidas registrados no montante da dívida externa. A
para a compra dos produtos. dívida externa pode ser considerada dívida ex-
terna bruta quando dela não são subtraídas as
DÍVIDA, Administração da. Termo aplicado à
reservas, e dívida externa líquida quando resul-
política econômica desenvolvida pelas autorida-
tante da dívida externa bruta menos as reservas.
des, de forma a controlar a composição e a na-
Veja também Balanço de Pagamentos; Carta de
tureza das dívidas públicas, tanto interna como
Intenção; Dívida Interna; Moratória; Plano Ba-
externamente. Para o financiamento de novos
ker; Plano Brady.
débitos e para a rolagem de débitos maduros (ven-
cidos ou com vencimento muito próximo), os DÍVIDA FLUTUANTE. Dívida cujo período de
governos emitem novos títulos. Um dos objeti- amortização ou resgate não ultrapassa doze me-
vos dessa medida é estimular a estabilização da ses. Compreende os restos a pagar, os serviços
atividade empresarial, o crescimento econômico da dívida a pagar e os débitos de tesouraria.
e a gradual redução da dívida. A dívida pública Pode ser entendida também como o conjunto
é parte considerável da base monetária de um dos débitos de curto prazo assumidos pelo go-
país e, portanto, sua administração (e colocação verno e representados por títulos negociáveis.
de novos títulos) influencia fortemente todo o Como os títulos de curto prazo permitem maior
mercado financeiro. Emitindo, por exemplo, tí- liquidez ao meio circulante, uma dívida flutuan-
tulos com vencimentos variáveis, as autoridades te muito alta pode provocar pressões inflacio-
econômicas influem na liquidez geral (quanto nárias. Por isso, é comum que os governos pro-
menor for o prazo de vencimento, maior liqui- curem transformar a dívida flutuante em dívida
dez terá um título e, portanto, mais rapidamente consolidada, isto é, com vencimento a longo pra-
se converterá em dinheiro). Em períodos de zo, para restringir a liquidez no mercado.
maior expansão, o governo utiliza-se de títulos
a longo prazo, reduzindo aqueles de curto prazo DÍVIDA FUNDADA. Dívida proveniente de re-
e diminuindo a liquidez da economia como um cursos obtidos pelo governo sob a forma de fi-
todo. Em período de recessão, o governo rola a nanciamentos ou empréstimos, mediante cele-
dívida por meio de títulos de curto prazo, com bração de contratos, emissão ou aceite de títulos
o intuito de restaurar a liquidez de todo o sis- ou concessão de quaisquer garantias que repre-
tema e estimular o crescimento. sentem compromisso assumido para resgate em
exercício subseqüente.
DÍVIDA CONSOLIDADA. Conjunto dos dé-
bitos de longo prazo, sem data determinada de DÍVIDA INTERNA. Total dos débitos assumi-
pagamento, que o governo assume por meio da dos pelo governo junto às pessoas físicas e ju-
emissão de títulos negociáveis. rídicas residentes no próprio país. Sempre que
as despesas do governo superam a receita, há
DÍVIDA EXTERNA. Somatório dos débitos de necessidade de dinheiro para cobrir o déficit.
um país, garantidos por seu governo, resultantes Para isso, as autoridades econômicas podem op-
de empréstimos e financiamentos contraídos tar por três soluções: emissão de papel-moeda,
181 DNOCS

aumento da carga tributária e lançamento de tí- à décima parte da produção do camponês ou


tulos. A emissão de papel-moeda nem sempre mestre artesão. Originou-se na França no século
é inflacionária, mas, em muitos países, há ne- IV e difundiu-se por toda a Europa. O pároco
cessidade de autorização do legislativo. O au- ou dizimeiro era o encarregado da cobrança. No
mento da carga tributária, além de ser uma me- Brasil colonial, a Coroa portuguesa cobrava o
dida politicamente antipática, pode trazer con- dízimo graças a uma bula papal que concedia
seqüências recessivas, pela diminuição do meio esse direito à Ordem de Cristo, cujo mestre era
circulante. Finalmente, a colocação de títulos o rei de Portugal. O dízimo foi abolido na Eu-
junto ao público pode gerar altas violentas nas ropa a partir da Revolução Francesa e, no Brasil,
taxas de juros, provocando um aumento da pró- perdurou até a independência. Enquanto durou,
pria dívida interna (agora acrescida dos juros). consistia numa contribuição in natura ou sobre
Dessa forma, dependendo do nível do déficit, as rendas auferidas de aproximadamente 10%,
podem ser combinadas as três soluções, com incidente sobre a produção agrícola, destinada
maior ou menor ênfase em cada uma das alter- a assegurar a subsistência dos membros do clero,
nativas, de tal maneira que sejam evitados os a celebração dos cultos e o serviço de assistência
males de cada uma delas. hospitalar e manutenção de Santas Casas, que
DÍVIDA SÊNIOR. Dívida cujo pagamento tem se encarregavam também do sepultamento dos
prioridade sobre qualquer outra obrigação. No mortos. Hoje, o dízimo tem mais um significado
caso de uma empresa estar sendo liquidada, a simbólico do que uma prestação devida e de-
venda de ativos desta empresa deve ser utilizada terminada que os cidadãos devam pagar. Veja
prioritariamente para o pagamento das dívidas também Quinto.
sênior. DNER — Departamento Nacional de Estradas
DIVIDENDO. Renda atribuída a cada ação de de Rodagem. Autarquia vinculada à Secretaria
uma sociedade anônima. É obtida dividindo-se dos Transportes, cuja tarefa é: 1) elaborar e exe-
o lucro do exercício financeiro pelo número total cutar o planejamento da política rodoviária fe-
de ações. Em sentido amplo, dividendo é toda deral; 2) supervisionar os sistemas rodoviários
espécie de cota, porcentagem ou contribuição estaduais e municipais, de modo a integrá-los
obrigatória em qualquer rateio, divisão ou re- no sistema rodoviário nacional; 3) encarregar-se
partição. da construção, melhoria e administração de ro-
dovias, pontes e outras obras viárias; 4) controlar
DIVISÃO DO TRABALHO. Veja Trabalho, Di- a aplicação dos recursos provenientes do Im-
visão do. posto Único sobre Lubrificantes e Combustíveis
Líquidos e Gasosos, da arrecadação do pedágio
DIVISAS. Letras, cheques, ordens de pagamen- e dos demais recursos destinados ao sistema ro-
to etc. que sejam conversíveis em moedas es- doviário nacional.
trangeiras, e as próprias moedas estrangeiras de
que uma nação dispõe, em poder de suas enti- DNOCS — Departamento Nacional de Obras
dades públicas ou privadas. Veja também Re- Contra as Secas. Autarquia federal subordinada
servas; Reservas-ouro. ao Ministério da Infra-estrutura e ligada à Su-
dene. As grandes secas que assolaram o Nor-
DIVISIA, François Jean-Marie (1889-1964). Nas- deste no final do século passado deram origem,
ceu na Argélia e formou-se em engenharia em em 1909, à Inspetoria de Obras Contra as Secas
1919. Tornou-se professor de economia aplicada (Iocs), que em 1924 passou a chamar-se Inspe-
na École Polytechnic entre 1929 e 1959. Foi mem- toria Federal de Obras Contra as Secas (Ifocs);
bro fundador da Sociedade Econométrica em Pa-
e em 1945 surgiu o DNOCS, subordinado ao
ris e seu presidente em 1935. Também presidiu
antigo Ministério da Viação e Obras Públicas.
a Sociedade Estatística de Paris e a Sociedade
Só a partir de junho de 1963 é que o órgão passou
Econométrica Internacional. Entre suas obras
a ter autonomia administrativa, com fontes es-
mais importantes destacam-se L’Indice Monetaire
pecíficas de receita. O DNOCS atua dentro do
et la Teorie de la Monnaie (O Índice Monetário e
chamado Polígono das Secas, área de quase 1
a Teoria da Moeda), 1926, Economie Rationnelle
milhão de quilômetros quadrados, delimitada
(Economia Racional), 1928, e Traitement Écono-
métrique de la Monnaie l’Interêt et l’Emploi (Tra- por uma lei de 1951, abrangendo os Estados do
tamento Econométrico do Dinheiro, do Juro e Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Per-
do Emprego), 1962. Na primeira obra, desenvol- nambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e parte de Mi-
veu o chamado Índice de Divisia, seu índice de nas Gerais. Seus objetivos são: 1) realizar estudos
preços com ponderações variáveis. e projetos para prevenir e combater os efeitos
das secas no Nordeste; 2) executar e operar esses
DÍZIMO. Tributo obrigatório cobrado pela Igre- projetos e atividades indicados pelo ministério,
ja Católica durante a Idade Média. Correspondia relativos aos recursos hídricos, objetivando es-
DNPM 182

pecialmente a irrigação e a construção de açudes and Social Progress (Empresa Capitalista e Pro-
e de poços profundos. Veja também Sudene. gresso Social), 1925; Soviet Economic Development
since 1917 (Desenvolvimento da Economia So-
DNPM — Departamento Nacional da Produ- viética desde 1917), 1928; Economia Política e Ca-
ção Mineral. Órgão do Ministério da Infra-es- pitalismo, 1937; Marx as Economist (Marx como
trutura, criado em março de 1934, que tem por Economista), 1943; Papers on Capitalism, Develop-
finalidade o planejamento, coordenação e exe- ment and Planning (Estudos sobre o Capitalismo,
cução dos estudos geológicos em todo o terri- Desenvolvimento e Planejamento), 1967; Welfare
tório brasileiro, bem como a supervisão, fiscali- Economics and the Economics of Socialism (Econo-
zação e controle da exploração dos recursos mi- mia do Bem-estar e Economia do Socialismo),
nerais do país. 1969; Theories of Value and Distribution since Adam
Smith (Teorias do Valor e da Distribuição desde
DOBB, Maurice Herbert (1900-1976). Economis- Adam Smith), 1973.
ta marxista inglês. Elaborou uma análise teórica
e histórica do desenvolvimento do capitalismo, DOBRA. Moeda cunhada em ouro no período
além de trabalhos sobre a formação de salários, colonial no Brasil. A “de quatro escudos”
o cálculo econômico racional e a transformação equivalia a 6 400 réis e a de “oito escudos”,
dos sistemas econômicos. Professor do Trinity a 12 800 réis. É também a unidade monetária
College da Universidade de Cambridge desde de São Tomé e Príncipe. Submúltiplo: centavo.
1924, Dobb ocupa lugar de importância entre
os economistas marxistas contemporâneos pelo DOBRÃO. Moeda cunhada em ouro no Brasil
rigor de suas análises e pela amplitude de sua colonial, com valor equivalente a 24 mil réis.
obra; nela se destacam a teoria econômica, os
problemas do socialismo e a história do desen- DOENÇA DE MINAMATA. Veja Minamata,
volvimento do capitalismo. Profundo conhece- Mal de.
dor da teoria econômica neoclássica, criticou-a DÓLAR. Unidade monetária dos Estados Uni-
e rejeitou-a em seu livro Os Salários, 1926. Dobb dos da América e de outros catorze países. A
foi um dos primeiros economistas a reconhecer denominação tem origem provavelmente no tha-
a importância política da intervenção dos sin- ler, velha moeda que circulou na Alemanha, ou
dicatos e dos poderes públicos no estabeleci- no daler sueco. Desde 1971, quando os Estados
mento de uma política de salários. Também foi Unidos abandonaram oficialmente o padrão
um dos primeiros economistas ocidentais a es- câmbio-ouro, e a conversibilidade do dólar em
tudar, desde o início, a economia socialista so- ouro numa taxa fixa, o valor de moeda norte-
viética, defendendo o socialismo centralizado americana tem flutuado livremente em relação
em On Economic Theory and Socialism (Teoria Eco- às outras moedas nos mercados internacionais
nômica e Socialismo), 1955. Em seguida, porém, de câmbio. Na realidade, o dólar sofreu uma
admitiu uma transição para uma economia des- forte desvalorização desde 1971, quando uma
centralizada, realizando uma crítica à burocracia onça troy de ouro equivalia a 35 dólares; em 1997
e discutindo os temas da democracia dos traba- uma onça de ouro valia (em dólares) cerca de
lhadores e da democracia econômica. Realizou dez vezes mais do que em 1971. A partir de
ainda uma ampla análise econômica e histórica 1996, no entanto, o dólar vem se fortalecendo
do desenvolvimento do capitalismo em Studies em relação às demais moedas, especialmente
in the Development of Capitalism, 1946 (traduzido porque a situação fiscal dos Estados Unidos vem
no Brasil como A Evolução do Capitalismo), na melhorando e as projeções indicam a eliminação
qual destaca as características do capitalismo do déficit público até o ano 2000. Veja também
contemporâneo. A obra traz à tona as novas fun- Unidades Monetárias Internacionais.
ções econômicas do Estado e os problemas de-
correntes do surgimento de um setor socialista DÓLAR, Escassez de. Fenômeno econômico-fi-
mundial e das novas nações do Terceiro Mundo, nanceiro (dollar gap) que se caracteriza por ex-
voltadas para medidas de planejamento econô- cessiva demanda de dólares no mercado mun-
mico e de capitalismo de Estado como meio de dial. Ao mesmo tempo, não ocorre um movi-
ultrapassar o atraso econômico. Dobb analisou mento equivalente nas operações cambiais, en-
os problemas de crescimento econômico dos paí- volvendo as moedas nacionais que se encontram
ses do Terceiro Mundo e investigou as relações desvalorizadas em relação ao dólar. Embora o
entre o crescimento econômico e as linhas gerais fenômeno já tivesse ocorrido logo depois da Pri-
de política econômica em An Essay on Economic meira Guerra Mundial com o dólar e também
about Growth and Planning (Um Ensaio sobre o com a libra esterlina, a escassez do dólar foi um
Crescimento Econômico e Planejamento), 1960. caso típico do fim da Segunda Guerra Mundial
Além de publicar, junto com o economista Piero até meados dos anos 50, quando a moeda nor-
Sraffa, as obras completas de David Ricardo, es- te-americana substituiu definitivamente a ingle-
creveu os seguintes livros: Capitalist Enterprise sa no âmbito internacional. Nessa época, os paí-
183 DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA

ses europeus, asiáticos e africanos devastados DOMINAÇÃO ECONÔMICA. Veja Depen-


pelo conflito lançaram-se a uma intensa busca dência; Imperialismo.
de dólares para fazer frente às necessidades da
reconstrução; ao mesmo tempo não dispunham DOMÍNIO. Toda soma de poder ou de direito
de reservas em ouro nem contavam com um que se tem sobre uma coisa ou uma pessoa. Em
comércio exportador capaz de captar divisas. alguns casos, a palavra indica a propriedade de
bens móveis ou imóveis, mas, a rigor, proprie-
Esse desequilíbrio passou então a ser coberto
dade e domínio são dois conceitos diferentes: é
por meio de empréstimos aos Estados Unidos,
possível ter domínio sobre um bem sem que se
contenção de importações e emprego de meca-
seja proprietário dele.
nismos eficientes para o controle cambial. Essas
medidas, no entanto, se revelariam insuficientes DOMÍNIO IMINENTE. Direito que tem o Es-
para a recuperação das economias destruídas tado de desapropriar bens particulares, median-
pela guerra, o que levou à implantação, na Eu- te indenização.
ropa, do Plano Marshall, marcado por uma gran-
de captação de investimentos norte-americanos DOMÍNIO PÚBLICO. Bens que pertencem ao
na região. Com isso, houve uma gradual recu- Estado (União, Estados e municípios), inaliená-
peração da capacidade produtiva européia e veis, e que podem ser usufruídos por toda a
equilibraram-se as relações cambiais internacio- população; são obras literárias e artísticas, ruas,
nais baseadas no dólar. Atualmente, muitos or- praças, rios, praias etc. No caso de obras literá-
ganismos financeiros internacionais (como o rias, estas tornam-se de domínio público depois
FMI) atuam como instrumentos de prevenção a de passados cinqüenta anos de sua publicação.
uma possível escassez de dólares. Veja também DOMÍNIO ÚTIL. Veja Enfiteuse.
Plano Marshall.
DONG. Unidade monetária do Vietnã. Submúl-
DOLLAR GAP. Veja Dólar, Escassez de. tiplo: xu ou hao.
DOMAR, Evsey David (1914- ). Economista e DONOR. Veja Trust.
matemático norte-americano que desenvolveu
um modelo abstrato de crescimento econômico. DOTAÇÃO ORÇAMENTÁRIA. Toda e qual-
Para isso, baseou-se no pressuposto keynesiano quer verba prevista como despesa em orçamen-
de que o investimento é igual à poupança; acres- tos públicos e destinada a fins específicos. Qual-
centou, entretanto, uma segunda igualdade, que quer tipo de pagamento que não tem dotação
considerou necessária para assegurar o equilí- específica só pode ser realizado se for criada
brio do pleno emprego: a de que o crescimento uma verba nova ou dotação nova para suprir a
da renda nacional deve ser igual ao da capaci- despesa.
dade produtiva. Em seu modelo, Domar conclui DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA. Conjunto
que o equilíbrio econômico e o pleno emprego dos pronunciamentos da Igreja Católica Roma-
só podem ser concebidos numa situação de cres- na, com base nos textos da Bíblia e dos pensa-
cimento. E a taxa de crescimento que assegura dores cristãos, apresentando normas para aná-
esse equilíbrio do pleno emprego será igual ao lise e solução dos problemas sociais. Tais decla-
produto da propensão à poupança pelo coefi- rações não possuem valor dogmático, consti-
ciente de intensidade do capital. Domar iniciou tuindo, porém, documentos oficiais, sob a forma
sua teoria do crescimento no artigo “Capital Ex- de encíclicas, discursos e mensagens sociais dos
pansion Rat of Growth and Employment” ("Ex- papas, e das conclusões sobre temas sociais pu-
pansão do Capital, Taxa de Crescimento e Em- blicadas pelos bispos em conjunto e pelas con-
prego"), publicado em 1940 na revista Econome- ferências episcopais. A doutrina social da Igreja
trica. Desenvolveu esse trabalho em seguida está compendiada principalmente nas grandes
num artigo para a American Economic Review, in- encíclicas sociais. Rerum Novarum, a primeira de-
titulado “Expansion and Employment” ("Expan- las, foi promulgada em 1891 pelo papa Leão XIII,
são e Emprego"), 1946, e no livro Essays in the diante das condições miseráveis da classe pro-
Theory of Economic Growth (Ensaios sobre a Teo- letária criadas pela Revolução Industrial, quan-
ria do Crescimento Econômico), 1957. Veja tam- do chegavam até a Igreja as tensões entre o ca-
bém Modelo Harrod-Domar. pitalismo e o socialismo marxista. Procurando
manter-se eqüidistante dos dois sistemas, defen-
DOMICÍLIO PARTICULAR. É o domicílio de dia o direito de livre associação dos trabalha-
uma família censitária. Este conceito estatístico dores e a intervenção do Estado na economia,
se caracteriza pelo local onde uma pessoa dor- denunciava o liberalismo capitalista e apontava
me. Assim, o estabelecimento comercial, indus- o socialismo como o perigo mais ameaçador.
trial, de serviços, escolar etc. no qual uma pessoa Quarenta anos depois, ainda dentro da crise
dorme é considerado seu domicílio particular. mundial causada pela depressão econômica nor-
DOW JONES 184

te-americana, Pio XI publicou a encíclica Qua- DOW JONES AVERAGES. Veja Médias Dow
dragesimo Anno (1931), ratificando a anterior e Jones.
elaborando um modelo alternativo: o corpora-
tivismo cristão. O mesmo papa publicou ainda DOW THEORY. Teoria explicativa do movi-
as encíclicas Non Abbiamo Bisogno (1931), contra mento das cotações das ações baseada na inter-
o fascismo, e Mit Brennender Sorge (1937), contra pretação das oscilações das médias Dow Jones,
o nazismo. João XXIII, com a abertura do Con- que considera as tendências das ações das prin-
cílio Vaticano II e com duas encíclicas, dá ao cipais empresas industriais e de transportes dos
pensamento social da Igreja uma direção mar- Estados Unidos. Para a determinação da direção
cantemente realista. Na Mater et Magistra (1961), das principais tendências, a teoria as classifica
a palavra “socialização” aparece pela primeira como: a) primárias, consistindo nos maiores mo-
vez nos documentos pontifícios. Em 1963 surge vimentos de alta ou baixa; b) secundárias, que
a Pacem in Terris, apontando como sinais dos são reversões temporárias nas tendências pri-
tempos a ascensão das classes trabalhadoras, a márias. As flutuações diárias não são conside-
promoção da mulher e o fim do colonialismo. radas individualmente, mas tomadas em seu
O concílio, com o documento intitulado Gaudium conjunto formam os dois primeiros movimen-
et Spes e a obra de Paulo VI, acentua o papel tos. As cotações de fechamento das empresas
da pastoral social. Duas encíclicas marcam esse industriais e de transporte (originalmente as em-
período: a Populorum Progressio (Paulo VI, 1967) presas de estradas de ferro) são usadas apenas
e a Laborem Exercens (João Paulo II, 1981). Como como dados básicos. A tendência primária é
nos demais documentos, defende-se aí a digni- comparada com as marés; a tendência secundá-
dade do trabalho e sua primazia sobre o capital, ria, com as ondas, e as flutuações diárias, com
condena-se a luta de classes e se proclama a as espumas. O objetivo de previsão na aplicação
legitimidade e a função social da propriedade da Teoria Dow é determinar a direção da ten-
privada, inclusive dos meios de produção. Do- dência primária (a maré). Uma vez estabelecido,
cumentos particularmente importantes para a o movimento primário prossegue na mesma di-
doutrina social da Igreja são os aprovados na II reção, embora interrompido por movimentos se-
e na III Celam (Conferência Geral do Episcopado cundários, até que se confirme uma mudança
Latino-Americano). A II Celam, realizada em de direção do movimento. As tendências das
Medellín (Colômbia), em 1968, assumiu a cons- empresas industriais têm de ser confirmadas pe-
ciência da necessidade de libertação das massas las empresas de transporte, ou vice-versa, na in-
pobres da América Latina e consagrou a expe- dicação da mudança das tendências primárias.
riência das comunidades de base, núcleos cris- Em sua versão atual, a Teoria Dow foi reformu-
tãos que se inspiram na chamada teologia da lada por William P. Hamilton, sucessor de Char-
libertação. A III Celam, reunida em 1979 em Pue- les Dow (depois da morte deste em 1902) na
bla (México), sob a presidência de João Paulo chefia de redação do Wall Street Journal. Veja
II, definiu a missão pastoral como “opção pre- também Teoria das Vagas.
ferencial pelos pobres”. Entre as Conclusões de
Puebla, lê-se: “Esta opção, exigida pela escanda- DOWBOR, Ladislau (1941- ). Nasceu na França
e obteve a graduação em economia política pela
losa realidade dos desequilíbrios econômicos da
École des Sciences Sociales et Politiques (Faculté
América Latina, deve levar a estabelecer uma
convivência humana digna e a construir uma de Droit) da Universidade de Lausanne (Suíça)
sociedade justa e livre”. Em 1993, a encíclica Ve- em 1968, obtendo o doutoramento em Ciências
ritas Splendor deslocou o eixo das preocupações Econômicas pela Escola Central de Planificação
sobre as questões sociais, que marcaram encí- e Estatística de Varsóvia, na Polônia. Seus tra-
clicas anteriores, para problemas mais gerais e balhos e pesquisas têm se desenvolvido no cam-
abstratos. A verdade, o sentido moral dos atos po da política econômica, com destaque para o
e a liberdade, entendida não como inde- planejamento central, a participação comunitá-
pendência ou autonomia, mas como a possibili- ria e os mecanismos de concertamento interna-
dade e a capacidade de agir bem, passam a cons- cional. Trabalhou nessa direção, como consultor
tituir os principais temas dessa nova encíclica. de projetos das Nações Unidas, em países em
desenvolvimento da África e da América Latina.
DOW JONES. Índice utilizado para o acompa- Entre seus livros mais importantes, destacam-se:
nhamento da evolução dos negócios na Bolsa Formação do Capitalismo Dependente no Brasil
de Valores de Nova York. Seu cálculo é feito a (1977) e Salários e Lucros na Divisão Internacional
partir de uma média das cotações entre as trinta do Trabalho (1982). Entre 1989 e 1991, foi Secre-
empresas industriais de maior importância na tário dos Negócios Extraordinários da Prefeitura
Bolsa de Valores, as vinte companhias ferroviá- de São Paulo. Atualmente, é professor de eco-
rias mais destacadas e as quinze maiores em- nomia no curso de pós-graduação da Pontifícia
presas concessionárias de serviços públicos. Universidade Católica de São Paulo.
185 DU PONT DE NEMOURS, Pierre Samuel

DOYUKAI. Termo em japonês que significa as- anos 80 (Instrução Normativa SRF nº 52, de
sociação empresarial fundada em 1946 por um 3/6/1983), criou-se o Drawback Verde-Amarelo,
grupo de jovens e progressistas dirigentes das que é um sistema praticamente idêntico ao sis-
corporações mais importantes do Japão. Insatis- tema tradicional do drawback, com a única dife-
feitos com as lideranças empresariais até então rença que a matéria-prima utilizada no produto
predominantes e diante da crise do pós-guerra, exportado é comprada no mercado interno, ao
cerca de setenta executivos (atualmente são mais contrário do sistema tradicional, em que ela é
de mil) fundadores da associação procuraram importada.
formular uma ideologia empresarial ou admi-
nistrativa compatível com a situação do pós- DRIVE. Termo em inglês que significa um sú-
guerra. Desse pequeno núcleo inicial, a associa- bito ataque sobre as cotações de títulos ou com-
ção cresceu para tornar-se uma importante or- modities por parte dos vendedores, numa tenta-
ganização do mundo dos negócios, gozando de tiva de reduzir os respectivos preços.
grande influência e prestígio. As principais ca-
DRUCKER, Peter (1909- ). Consultor de empre-
racterísticas dessa associação são as seguintes:
sas norte-americano, acadêmico e ensaísta sobre
1) sua preocupação fundamental foi articular
temas de administração que popularizou o con-
uma ideologia empresarial com as condições im-
postas por uma nova era (pós-guerra); 2) o corpo ceito de management by objectives (administração
de associados é quase exclusivamente formado por objetivos) e que também contribuiu para o
por executivos com as características daqueles desenvolvimento da prática do planejamento
que surgiram no pós-guerra, representando por- nas grandes empresas. É considerado um dos
tanto as posições dessa nova camada de admi- principais autores da Escola Neoclássica. Seus
nistradores; 3) todas as manifestações de caráter livros mais importantes são os seguintes: The
ideológico emitidas pela associação são resul- Practice of Management (Prática da Administra-
tantes de cuidadosas e extensas discussões que ção), 1954; An Introductory View of Management
vão desde os líderes até a base dos associados; (Introdução à Administração), 1973; Innovation
4) como principal porta-voz das concepções des- and Entrepreneurship (Inovação e Espírito Em-
sa nova classe de dirigentes empresariais, o preendedor), 1985; Managing for the Future (Ad-
Doyukai tem tido grande influência na formação ministrando para o Futuro), 1992, e The Post Ca-
de novos administradores, uma vez que seus pitalist Society (A Sociedade Pós-Capitalista),
associados têm ganho posições de destaque e 1993. Veja também ABO.
liderança nas principais empresas japonesas.
DRY FARMING. Expressão inglesa que signi-
DRACMA. Antiga moeda cunhada em prata a fica o desenvolvimento da agricultura nas con-
partir do século IV a.C. e cujo valor, inicialmen- dições do solo semi-árido. Esta forma de cultivo
te, correspondia a 4,9 g de prata, mas que, pos- teve especial relevância no desenvolvimento da
teriormente, foi reduzido para 3,40 g. É também agricultura dos Estados Unidos durante o século
unidade de medida de peso para pedras e metais XIX, quando a colonização se estendeu a oeste
preciosos, equivalente a 27,3437 grãos ou 1,771 g, do rio Mississípi. Os moinhos de vento tiveram
e que se mantém até hoje no sistema Avoirdu- especial importância como força motriz para a
pois. Atualmente, o Dracma é grafado com captação de água no subsolo.
“Dram” em inglês. É também a denominação
DU PONT DE NEMOURS, Pierre Samuel. Ad-
da unidade monetária da Grécia, tendo como
ministrador, político e economista francês (1739-
submúltiplo o ieptae.
1817), um dos mais influentes membros do gru-
DRAGNET CLAUSE. Veja Cross-collateral. po dos fisiocratas. Discípulo de Quesnay, em
1764 publicou L’Importation et l’Exportation des
DRAM. Veja Dracma. Grains (A Importação e a Exportação de Cereais),
defendendo as teses de Turgot em favor da li-
DRAs. Iniciais de Depósitos a Prazo de Reapli- berdade do comércio internacional de cereais.
cação Automática. Veja também TBF (Taxa Bá- Em 1765, tornou-se diretor do Journal de l’Agri-
sica Financeira). culture, du Commerce et des Finances. Em 1768,
DRAWBACK VERDE-AMARELO. Veja Draw- publicou Origines et Progrès d’une Science Nou-
back. velle (Origens e Progresso de uma Ciência Nova),
considerado um excelente resumo da doutrina
DRAWBACK. Termo em inglês que significa fisiocrática. Com a morte de Turgot em 1781,
literalmente “devolução” ou “reembolso” e que, Du Pont de Nemours passou a ser a eminência
utilizado no comércio internacional, significa a parda de muitos políticos da época e autor da
devolução de impostos alfandegários pagos por maior parte das reformas econômicas e admi-
mercadorias importadas e que são reexportadas nistrativas que se processaram entre 1780 e 1789.
para um terceiro país. No Brasil, no início dos Após a eclosão da Revolução Francesa, foi preso,
DUAL CURRENCY BOND 186

exilando-se depois nos Estados Unidos, onde co- DUE PROCESS OF LAW. Expressão em inglês
laborou com Jefferson (1743-1826) num plano de que significa literalmente “devido processo le-
educação nacional. De volta à França em 1809, gal”. Constitui um princípio universal dos es-
ali permaneceu até 1814, quando se instalou de- tados de direito, com origem no direito anglo-
finitivamente nos Estados Unidos. Neste país, americano, e seu principal elemento é a garantia
deixou importantes descendentes, entre os quais constitucional do direito de defesa a todo acu-
o criador do grande complexo de indústrias quí- sado. Dessa forma, processo administrativo sem
micas que leva seu nome. oportunidade de defesa, ou com a defesa cer-
ceada, torna-se nulo.
DUAL CURRENCY BOND. Expressão em in-
glês que designa título que proporciona juros DUESENBERRY. Veja Hipótese Modigliani-
numa moeda, mas no vencimento é pago em Duesenberry.
outra. Por exemplo, um título desse tipo pode
ser emitido por um banco alemão, pagando ju- DÜHRING, Karl Eugen (1833-1921). Filósofo po-
ros em marcos alemães, mas no vencimento sitivista alemão conhecido por atacar as concep-
pode ser convertido em dólares dos Estados ções de Karl Marx e Friedrich Engels em seus
Unidos. escritos e conferências feitos a partir de 1870.
Engels, por sua vez, escreveu em resposta o lon-
DUALISMO. Concepção segundo a qual as eco- go livro Herrn Eugen Dührings Umwälzung der
nomias encontram-se divididas em dois setores Wisenschaft (A Subversão da Ciência pelo Senhor
que de certa forma se opõem, como, por exem- Eugen Dühring), 1878, conhecido como o Anti-
plo, a indústria e a agricultura, ou um setor mo- Dühring, e que adquiriu grande importância
derno e um arcaico, um avançado e outro atra- para a teoria do materialismo dialético e histó-
sado, um rural e outro urbano. Esta concepção rico. O pensamento de Dühring alia ao positi-
origina-se em Malthus (Thomas Robert, 1766- vismo de Comte a economia política de H.C.
1834), o qual considerava a economia constituída Carey, o materialismo mecanicista e o socialismo
de dois setores: a agricultura e a indústria. Essa utópico. Foi professor na Universidade de Ber-
metodologia era utilizada para facilitar a com- lim de 1864 a 1877 e escreveu Kapital und Arbeit
preensão do todo. No Brasil, o dualismo desen- (Capital e Trabalho), 1865; Careys Umwälzung der
volveu-se a partir dos anos 50 com as concepções Volkswirtschaftslehre und Sozialwissenschaft (Re-
estruturalistas (os Dois Brasis ou o Dualismo volução de Carey na Teoria Econômica e na So-
Estrutural), sendo que as estruturas atrasadas ciologia), 1865; Kritische Geschichte der Philosophie
do meio rural seriam um impedimento ao de- (História Crítica da Filosofia), 1869; Cursus der
senvolvimento dos setores dinâmicos como a in- National und Sozialökonomie (Curso de Economia
dústria, na medida em que não eram capazes Política e Social), 1873-1892, uma de suas obras
de proporcionar alimentos e matérias-primas de maior sucesso.
baratas para a indústria, provocando de um lado
DUMMY (Variable). Uma variável que consi-
a inflação (oferta inelástica de alimentos) e de
dera as alterações exógenas ou mudanças de in-
outro uma pressão sobre as importações desses
clinação de uma curva numa relação economé-
produtos, contribuindo para os déficits comer- trica. Por exemplo, as variáveis dummy podem
ciais. A solução seria a reforma agrária, para ser utilizadas para a estimação das influências
quebrar essa estrutura arcaica, modernizando-a. sazonais sobre um conjunto de dados. Atribuin-
Veja também Estruturalistas; Plano Trienal (de do a uma dummy o valor 1 para os meses do
Desenvolvimento Econômico e Social). inverno e 0 para os demais, ela indicará em que
medida uma relação econométrica (por exem-
DUALISMO ESTRUTURAL. Veja Dualismo. plo, preços de produtos agrícolas e quantidades
produzidas) se alterará durante o inverno em
DUCADO BRASILEIRO. Moeda cunhada no
relação aos demais meses do ano. Quando o ter-
Brasil durante a ocupação holandesa (1645-
mo é aplicado a respeito de diretores de empre-
1654), com valores equivalentes a 3, 6 e 12 flo-
sas, funcionários graduados, acionistas etc., de-
rins. Foram as primeiras moedas cunhadas em
signa uma pessoa que atua como representante
território brasileiro e tinham o formato retangu- de outra, mas que só o faz formalmente, isto é,
lar ou rombóide, com as iniciais GWC repre- não assume responsabilidades reais pela função
sentando o nome da Geoctroyerde Westindische desempenhada, como, por exemplo, acontece
Compagnie (Companhia Privilegiada das Índias quando uma pessoa é designada a um cargo
Ocidentais), companhia holandesa que finan- apenas para completar o número exigido por
ciou a ocupação de 1645 a 1654. Cunhadas em lei etc. Veja também Dummy Incorporators.
ouro, as moedas tinham um valor 20% superior
às da Holanda, a fim de que não saíssem do DUMMY INCORPORATORS. Expressão em
Brasil e pudessem ser mais tarde recolhidas. inglês que designa as pessoas que durante o pe-
187 DURKHEIM, Émile

ríodo de formação de uma empresa atuam como dicial a ambas, é comum que as empresas en-
incorporadores e diretores, em seguida passan- trem em acordo, estabelecendo preços únicos e
do essas funções para os reais proprietários. Esta tomando outras medidas análogas, com o que
prática existe e as pessoas que assumem essas criam na prática um monopólio. O estudo do
funções são pagas para que os reais proprietá- duopólio é de interesse analítico para os econo-
rios não tenham de perder tempo comparecendo mistas, por constituir um caso simplificado de oli-
a uma série de reuniões necessárias à formação gopólio. Veja também Monopólio; Oligopólio.
de uma nova empresa.
DUOPSÔNIO. Situação de mercado caracteriza-
DUMPING. Prática comercial que consiste em da pela existência de apenas dois compradores
vender produtos a preços inferiores aos custos, de determinada mercadoria ou serviço. É o con-
com a finalidade de eliminar concorrentes e/ou trário de duopólio. Veja também Monopsônio.
ganhar maiores fatias de mercado. No mercado
internacional, o dumping pode ser persistente DUPLICATA. Título privado de crédito me-
quando existem subsídios governamentais para diante o qual o comprador de um bem se com-
o incremento das exportações e as condições de promete a pagar ao vendedor, no prazo fixado,
mercado permitem uma discriminação de pre- a importância estipulada. Corresponde a uma
ços tal que a maior parte dos lucros de uma cópia da fatura que, nas vendas comerciais a
empresa que o pratica seja obtida no mercado prazo, o vendedor é obrigado a entregar ao com-
interno. O dumping temporário é utilizado para prador; este devolverá ao vendedor a duplicata
afastar concorrentes de determinados mercados assinada, caso as condições da transação aten-
quando um país necessita colocar neles exce- dam ao combinado. A duplicata contém o nú-
dentes de certos produtos, sem prejudicar os mero e a importância da fatura, os nomes e os
preços praticados em seu mercado interno. A domicílios do vendedor e do comprador, a data
Comunidade Econômica Européia (agora União de vencimento, a cláusula, a ordem e o lugar
Européia) proíbe o dumping. E o Acordo Geral onde deve ser feito o pagamento. Em geral, o
de Tarifas e Comércio (Gatt) — agora substi- vendedor negocia a duplicata com um estabe-
tuído pela Organização Mundial do Comércio lecimento bancário e este encarrega-se de cobrá-
(OMC) — permite a introdução de tarifas es- la do comprador. As duplicatas são protestáveis
peciais ou sobretaxas de importação como for- por falta de assinatura, devolução ou pagamen-
ma de limitar os efeitos de tal política. Essas to. Emitir uma duplicata sem venda de merca-
medidas, entre outras, são denominadas me- dorias (fraude a que recorrem certas empresas
didas antidumping. quando escasseia o crédito na praça) é crime
punível por lei.
DUMPING SOCIAL. À medida que a globali-
zação da produção, isto é, produção e forneci- DURKHEIM, Émile (1858-1917). Pensador fran-
mento de produtos em escala mundial, se apro- cês, foi um dos criadores da sociologia científica.
funda, vai atingindo o capital, os bens e a tec- Para ele, os fatos sociais devem ser estudados
nologia, mas não os trabalhadores. Os países que como “coisas”, independentes das consciências
vêm perdendo condições competitivas, especial- individuais, assim como os fenômenos físicos.
mente em face daqueles que contam com mão- Opôs-se à tendência de transformar a sociologia
de-obra barata e pagam encargos sociais muito num simples raciocínio dedutivo a partir de leis
baixos, acusam estes últimos de estar praticando universais, como pretendia Augusto Comte e
dumping social, isto é, sacrificando seus trabalha- seus seguidores positivistas. O que caberia à so-
dores (em seu bem-estar) para conquistar mer- ciologia seria procurar leis que expressassem
cados de seus vizinhos. Veja também Dumping; com precisão as relações empíricas entre os gru-
Global Sourcing; Globalização. pos sociais. Para isso, seriam necessários dois
requisitos: a existência de um objeto específico
DUMPING TEMPORÁRIO. Veja Dumping. — o fato social — e a possibilidade de se ob-
DUODECIMAL (Sistema). Veja Sistemas de Pe- servar e explicar esse objeto de modo análogo
sos e Medidas. ao das demais ciências. Em seu primeiro grande
livro, Da Divisão do Trabalho Social, 1893, Durk-
DUOPÓLIO. Situação de mercado caracteriza- heim caracteriza a sociedade moderna pelo au-
da pela existência de apenas dois vendedores mento da divisão do trabalho social, exigido pela
de determinada mercadoria ou serviço. As em- crescente complexidade das atividades econô-
presas que o compõem estão de tal modo ligadas micas. Isso instaura um tipo de solidariedade
que qualquer mudança verificada numa delas que ele chama de “orgânica”, baseada na dife-
irá influenciar a outra. Por isso, cada empresa renciação dos indivíduos; ela se contrapõe à so-
procura estar sempre atenta não só ao que a lidariedade mecânica, característica das socieda-
outra faz, mas também ao que fará no futuro. des sem escrita, onde os indivíduos diferem
Para amenizar essa tensão, que pode ser preju- pouco entre si e partilham os mesmos valores
DUROS 188

e sentimentos. Num livro posterior, O Suicídio, rem os benefícios decorrentes destinados aos
Estudo Sociológico, 1897, trata a divisão orgânica que pagaram as taxas, as mesmas serem consi-
do trabalho como um desenvolvimento normal deradas preços. No Brasil, os recursos obtidos
e desejável para as sociedades humanas, pois dessa forma e vinculados a determinados fins
aumentaria a iniciativa pessoal em substituição são denominados recursos “carimbados”.
à autoridade da tradição, mas ressalva que é
necessário que a tarefa de cada um corresponda EASY MONEY. Dinheiro que pode ser obtido
a seus desejos e aptidões. a taxas muito baixas de juros e sem dificuldade,
por existir grande liquidez no sistema bancário
DUROS. Denominação popular dada na Espa- de uma economia.
nha, desde o século XIX, às moedas de prata de
5 pesetas, cunhadas em 1860, e que se mantêm EB. Veja CB.
até hoje naquele país. EBIT. Iniciais da expressão em inglês earnings
DUTIES ON BUYER’S ACCOUNT. Veja Ex- before interest and taxes, que significa “rendimen-
Quay. tos antes dos juros e impostos”. Dependendo
da magnitude destes últimos, uma situação ini-
DUTY PAID. Veja Ex-Quay. cialmente muito favorável pode transformar-se
numa situação empresarial bastante precária.
DÚZIA. Maneira mais comum de contagem de
unidades de mercadorias no comércio. Corres- ECOLOGIA. Área das ciências biológicas que
ponde a doze unidades, e o termo vem do latim estuda os seres vivos em relação com o ambien-
duodecim (doze) — duo (dois) e decem (dez). Doze te. A maior unidade ecológica conhecida, a bios-
dúzias formam uma grosa, e doze grosas rece- fera — que abrange todos os ambientes onde
bem a denominação de grande grosa. vivem os seres vivos —, pode ser dividida em
subunidades ecológicas menores, os ecossistemas.
DWT. Veja Pennyweight. Um deserto, uma floresta tropical ou um lago
são ecossistemas nos quais existe um delicado
equilíbrio entre os organismos e o ambiente.
Uma pequena modificação pode alterar esse

E
equilíbrio e modificar o ecossistema. As mudan-
ças naturais nos ecossistemas são relativamente
lentas, o que permite que eles evoluam junto
com as modificações. As alterações ambientais
provocadas pelo homem, no entanto, são vio-
lentas e suas conseqüências, muitas vezes irre-
versíveis. A mão humana foi responsável pela
destruição de muitos ecossistemas e pela extin-
E. Inicial de uma série de termos em economia, ção de inúmeras espécies de animais e vegetais.
entre os quais: 1) exportações; 2) escudo (unidade A utilização desregrada de inseticidas e herbi-
monetária de Portugal); 3) estimativa; 4) The Eco- cidas, por exemplo, além de poluir o ambiente
nomist (Revista). do homem e contaminar seus próprios alimen-
tos, permite o crescimento populacional de es-
EAGLE. Termo em inglês que significa, literal- pécies mais resistentes ou que não encontram
mente, “águia”, utilizada para designar antigas mais seus inimigos naturais. Como conseqüên-
moedas de 10 dólares em ouro cunhadas nos cia, baratas, pernilongos, mosquitos diversos
Estados Unidos. Em 1934, deixaram de ser cu- proliferam, destruindo lavouras e alimentos ar-
nhadas. mazenados e transmitindo doenças ao homem
EARLY-BIRD FARMER. Expressão em inglês e aos animais domésticos. Outro exemplo é a
que designa os agricultores (fazendeiros gran- destruição de florestas para a extração predató-
jeiros) nos Estados Unidos que adotam as tec- ria de madeira. A falta de vegetação, além de
nologias mais avançadas para o setor, aumen- alterar o clima, diminui a capacidade de infil-
tam a produtividade de suas fazendas e conse- tração da água no subsolo, provocando a escas-
guem sobreviver na acirrada concorrência exis- sez de fontes de água potável e de recursos hí-
tente nesse setor. Veja também Laggards. dricos. As violentas enxurradas que se formam
devido à inexistência do obstáculo vegetal, além
EARMARKING. Termo em inglês que significa de erodir o solo, carregam sua parte mais fértil,
a prática, em administração pública, de vincular exigindo dos agricultores grandes investimentos
certos gastos com as receitas obtidas de taxas em adubos e fertilizantes. A terra carregada as-
determinadas. Esta medida é controvertida, pois soreia rios, e estes, pela diminuição da vazão
pode trazer certa rigidez ao gasto público, em- de suas águas, provocam enchentes, que des-
bora exista também a possibilidade de, por se- troem lavouras e criações de animais. A Cons-
189 ECONOMIA APLICADA

tituição de 1988 estabeleceu, no artigo nº 225, conomia. A palavra “economia”, na Grécia An-
uma série de dispositivos em defesa do meio tiga, servia para indicar a administração da casa,
ambiente, declarando a floresta amazônica bra- do patrimônio particular, enquanto a adminis-
sileira, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-gros- tração da polis (cidade-estado) era indicada pela
sense e a zona costeira patrimônio nacional, e expressão “economia política”. A última expres-
determinando sanções penais e administrativas são caiu em desuso e só voltou a ser empregada,
às pessoas físicas ou jurídicas cuja conduta for na época do mercantilismo, pelo economista
lesiva ao meio ambiente, independentemente da francês Antoine Montchrestien (1615); os econo-
obrigação de reparar os danos causados. As usi- mistas clássicos utilizavam-na para caracterizar
nas nucleares deverão ter sua localização defi- os estudos sobre a produção social de bens vi-
nida em lei federal, sem o que não poderão ser sando à satisfação de necessidades humanas no
instaladas. Veja também Bhopal; Economias Ex- capitalismo. Foi somente com o surgimento da
ternas; Devastação; Minamata, Mal de; Pigou, escola marginalista, na segunda metade do sé-
Arthur C. culo XIX, que a expressão “economia política”
foi abandonada, sendo substituída apenas por
ECONOMÊS. Designação dada por não-econo- “economia”. Desde então, é a denominação do-
mistas ao linguajar, geralmente de difícil com- minante nos meios acadêmicos, enquanto o ter-
preensão, utilizado por economistas em suas mo “economia política” ficou restrito ao pensa-
análises, textos, discursos etc. sobre a conjuntura mento marxista. Modernamente, de acordo com
econômica de um país.
os objetivos teóricos ou práticos, a economia se
ECONOMETRIA. Ramo da economia que cui- divide em várias áreas: economia privada, pura,
da do estabelecimento de leis quantitativas para social, coletiva, livre, nacional, internacional, es-
os fenômenos econômicos. Partindo da teoria tatal, mista, agrícola, industrial etc. Ao mesmo
econômica geral, analisa os dados fornecidos tempo, o estudo da economia abrange numero-
pela estatística, mediante a aplicação de métodos sas escolas que se apóiam em proposições me-
matemáticos. Com isso, prepara o quadro de va- todológicas comumente conflitantes entre si.
riáveis concretas que poderá servir de base a Isso porque, ao contrário das ciências exatas, a
uma programação econômica. Um dos aspectos economia não é desligada da concepção de mun-
inovadores da econometria foi a possibilidade do do investigador, cujos interesses e valores
de exprimir, em linguagem matemática, as leis interferem, conscientemente ou não, em seu tra-
econômicas, anteriormente formuladas de forma balho científico. Em decorrência disso, a econo-
literária, o que dificultava sua comprovação em- mia não apresenta unidade nem mesmo quanto
pírica. Na econometria, o método segue quatro a seu objeto de trabalho, pois este depende da
fases: especificação (construção do modelo eco- visão que o economista tem do processo pro-
nométrico a partir do modelo econômico suge- dutivo. Veja também Economia Política.
rido); estimativa (determinação aproximada de
ECONOMIA APLICADA. Emprego pragmáti-
parâmetros para os modelos econométricos); ve-
co do conhecimento das leis econômicas visando
rificação (aceitação ou rejeição das hipóteses
a disciplinar e orientar a atividade produtiva.
apoiadas em determinada teoria econômica);
Enquanto a chamada “economia pura” cuida da
previsão (apresentação dos dados que permitam
formulação conceitual abstrata da realidade eco-
orientar uma política econômica). Veja também
Escola Matemática; Estatística. nômica, a economia aplicada tem a função nor-
mativa de determinar alternativas, métodos e
ECONOMIA. Ciência que estuda a atividade processos de produção tanto no âmbito da em-
produtiva. Focaliza estritamente os problemas presa quanto no da sociedade. Na medida em
referentes ao uso mais eficiente de recursos ma- que utiliza recursos técnicos para atender às ne-
teriais escassos para a produção de bens; estuda cessidades práticas do processo econômico, a
as variações e combinações na alocação dos fa- economia aplicada vai se especializando e se ra-
tores de produção (terra, capital, trabalho, tec- mifica em: economia industrial, economia agrícola,
nologia), na distribuição de renda, na oferta e economia comercial e economia financeira. Essa es-
procura e nos preços das mercadorias. Sua preo- pecialização corresponde ao objetivo de racio-
cupação fundamental refere-se aos aspectos nalizar os processos de produção, distribuição
mensuráveis da atividade produtiva, recorrendo e consumo. A normatização da ciência econô-
para isso aos conhecimentos matemáticos, esta- mica nas economias de mercado é característica
tísticos e econométricos. De forma geral, esse do capitalismo moderno, marcado pelo poder
estudo pode ter por objeto a unidade de pro- da empresa monopolista e pela intervenção do
dução (empresa), a unidade de consumo (famí- Estado na atividade produtiva. O controle dos
lia) ou então a atividade econômica de toda a processos produtivos baseado na aplicação dos
sociedade. No primeiro caso, os estudos perten- conhecimentos fornecidos pela teoria econômica
cem à microeconomia e, no segundo, à macroe- também é — pelo menos no plano da ideologia
ECONOMIA CENTRALIZADA 190

— o elemento norteador da economia dos países redução nos custos. Também chamadas de eco-
socialistas. Veja também Economia. nomias internas, as economias de escala resul-
tam da racionalização intensiva da atividade
ECONOMIA CENTRALIZADA (ou Central- produtiva, graças ao empenho sistemático de
mente Planificada). Denominação dada às eco- novos engenhos tecnológicos e de processos
nomias socialistas, por oposição à descentrali- avançados de automação, organização e espe-
zação que caracteriza as economias capitalistas cialização do trabalho. Representada fisicamente
ou de mercado. Distingue-se pela propriedade por gigantescas unidades de produção, as em-
estatal dos meios de produção e pela planifica- presas de economia de escala possibilitam o em-
ção centralizada da economia nacional. O Esta- prego de amplo contingente de mão-de-obra al-
do, por meio de órgãos especializados, admi- tamente qualificada, grande capacidade de es-
nistra a produção em geral, determinando seus
tocagem de produção e de matérias-primas. Seu
meios, objetivos e prazos de concretização; or-
elevado grau de especialização garante melhores
ganiza os processos e métodos de emprego dos
processos e métodos de controle de qualidade
fatores de produção; controla de forma rígida
da produção e maior uniformidade na padro-
os custos e preços dos produtos; controla ainda
nização dos produtos. Além disso, os recursos
os mecanismos da distribuição e dimensiona o
colocados a sua disposição possibilitam maiores
consumo. Embora tenha aparecido pela primeira
investimentos na pesquisa e na criação de novos
vez nos trabalhos de Sismondi, a questão da eco-
produtos, além da elaboração de eficientes cam-
nomia do bem-estar adquiriu destaque no âm-
panhas publicitárias e sólidas estratégias de
bito do pensamento econômico com a obra de
marketing. Todos esses fatores integrantes da
A.C. Pigou: Economics of Welfare (Economia do
economia de escala estão fora do alcance das
Bem-estar), 1920. Pigou procurou superar o ca-
pequenas e médias empresas. Conseqüentemen-
ráter subjetivo do bem-estar, os estados de cons-
ciência, e submetê-lo a uma quantificação com te, a tendência é a concentração monopolista,
base na moeda. Isto é, a quantidade de satisfação fundamentalmente de caráter multinacional,
de bens deve ser igual à quantidade de moeda. com a eliminação dos concorrentes. As econo-
A partir de 1934, essa questão foi aprofundada mias de escala não comportam mercados con-
com o surgimento da nova economia do bem-estar, sumidores limitados. Sua existência está direta-
escola à qual estão ligados os nomes de Hicks, mente ligada ao consumo de massa, capaz de
Kaldor, Little, Lerner, Hoteling, Samuelson, absorver em todos os níveis a produção em série.
Lange, Bergson e outros. Retomando o sistema ECONOMIA DE SUBSISTÊNCIA. Produção
das configurações ótimas de Pareto, esses eco- agrícola de bens de consumo imediato e para o
nomistas concluíram que a obtenção do bem- mercado local. Ao contrário do que a designação
estar econômico seria o resultado da escolha fei- possa sugerir, ela tem algum caráter mercantil,
ta entre os inúmeros ótimos de produção. Ao diferenciando-se por isso da agricultura de auto-
contrário de Pareto, que dizia que a imposição subsistência ou economia natural, cuja produção
de uma configuração máxima ou ótima implica é destinada à subsistência do produtor, pratica-
o prejuízo da concorrente (não se pode, por mente não existindo um excedente. Praticada
exemplo, dar a alguém sem tirar de outrem), os desde a Antiguidade greco-romana, a economia
adeptos da nova economia do bem-estar preco- de subsistência constitui a atividade mais im-
nizam a eliminação desse prejuízo, desde que, portante da economia medieval, sobretudo a
alcançada a nova configuração ótima, os que me-
partir do século XI, com a ampliação das relações
lhoram de situação garantam a existência de re-
de troca nos mercados locais e nas feiras. No
cursos suficientes para indenizar os que foram
Brasil colonial, era praticada nos engenhos e fa-
socialmente prejudicados. Essa formulação abre
zendas (milho, feijão, arroz) ou nos núcleos de
espaço para aplicação de políticas governamen-
imigração colonizadora européia, baseada na
tais distributivas que garantam o bem-estar so-
pequena propriedade (Rio Grande do Sul, Santa
cioeconômico do conjunto dos indivíduos (a
Catarina e Paraná). No período pós-abolicionis-
mais ampla escolha de bens e serviços) sem al-
ta, foi obra dos colonos que trabalhavam nas
teração do sistema econômico. Veja também Es-
fazendas de café. Na atualidade, está ligada às
tado do Bem-Estar.
pequenas propriedades agrícolas, que abaste-
ECONOMIA CENTRALMENTE PLANIFICA- cem os centros urbanos de cereais, leguminosas
DA. Veja Economia Centralizada. e tubérculos.

ECONOMIA DA ATENÇÃO. Veja Attention ECONOMIA DO BEM-ESTAR. Veja Pareto,


Economy. Vilfredo.
ECONOMIA DE ESCALA. Produção de bens ECONOMIA DO LADO DA OFERTA. Veja
em larga escala, com vistas a uma considerável Supply Side Economics.
191 ECONOMIA POLÍTICA

ECONOMIA FECHADA. Economia típica de ECONOMIA MERCANTIL. Sistema econômi-


uma região isolada. Não há importação nem ex- co voltado para a produção de mercadorias, ou
portação de produtos. O intercâmbio de merca- seja, bens destinados às trocas. É o contrário da
dorias não se realiza além dos limites territoriais economia natural ou de auto-suficiência. A eco-
determinados pelos agentes econômicos locais: nomia de produção mercantil simples era caracte-
produtores, intermediários e consumidores. rística das formações sociais pré-capitalistas,
Esse tipo de economia praticamente não existe quando só uma parte da produção se destinava
no mundo atual. Mas é útil como modelo para à troca, feita diretamente pelo produtor ou por
analisar de que forma o total das despesas de um mercador. A economia mercantil feudal de-
consumo, gastos governamentais, investimentos senvolveu-se a partir de produtores isolados,
e tributos interagem para determinar os níveis donos dos meios de produção, que produziam
do emprego e da renda nacionais. Na classifi- para um mercado bem limitado. Foi só com o
cação de sistemas econômicos de Werner Som- surgimento do capitalismo que a produção mer-
cantil tornou-se dominante e universal, envol-
bart, é um tipo de economia voltada fundamen-
vendo todos os bens e serviços, além da própria
talmente para a auto-subsistência, com o uso de
força de trabalho. Todas as relações econômicas
instrumentos e trabalho rudimentares. Veja tam-
são baseadas na mercadoria e na moeda. Cada
bém Economia de Subsistência. empresa destina à venda toda a sua produção.
ECONOMIA INFORMAL. Parte da economia É a produção mercantil ampliada. Veja também
que abrange pequenas unidades dedicadas à Economia Natural.
produção ou venda de mercadorias ou à pro- ECONOMIA MISTA. Sistema econômico em
dução de serviços. Sua denominação vem do que uma parte dos meios de produção pertence
fato de que a maioria dessas unidades não é ao Estado e a outra, a empresários particulares.
constituída de acordo com as leis vigentes, não Existe em muitos países capitalistas, particular-
recolhe impostos, não mantém uma contabili- mente nos de regime social-democrata. Nessas
dade de suas atividades, utiliza-se geralmente condições, o Estado, além de orientar a econo-
da mão-de-obra familiar e seus eventuais assa- mia, detém a propriedade de importantes em-
lariados não são registrados. Este setor é tam- presas em setores considerados estratégicos
bém denominado de economia subterrânea, (bancos, indústrias de base, transporte, saúde e
clandestina etc. Veja também Microempresa. educação).
ECONOMIA LIVRE. Sistema econômico basea- ECONOMIA NATURAL. Forma de organiza-
do na livre ação da empresa privada, na ausência ção econômica em que os bens produzidos se
de mecanismos restritivos à concorrência, ao in- destinam à satisfação das necessidades dos pró-
vestimento, ao comércio e ao consumo. Corres- prios produtores, raramente havendo um exce-
ponde aos princípios do liberalismo econômico, dente. Representa, portanto, uma economia de
segundo o qual a única função do Estado seria auto-suficiência, ao contrário da economia de
garantir a livre concorrência entre as empresas. subsistência, que tem algum caráter mercantil.
Nas condições atuais do capitalismo, o sistema A economia natural foi característica dos siste-
de economia livre é em grande parte limitado mas econômicos pré-capitalistas, como as comu-
pela ação dos monopólios e pela intervenção es- nidades tribais, o escravismo patriarcal e o feu-
tatal. Veja também Liberalismo. dalismo. Só nos casos de comunidades comple-
tamente isoladas, contudo, é que a economia na-
ECONOMIA MADURA. Conceito criado por tural chega a ser caracterizada. Na sociedade ca-
Rostow para designar o estágio de crescimento pitalista contemporânea, a economia natural
de uma economia, no qual ela possui tecnologia subsiste apenas como forma residual. Veja tam-
e recursos para desenvolver sua produção, po- bém Economia de Subsistência.
dendo ou não fazê-lo. É uma problemática típica ECONOMIA POLÍTICA. Ciência que estuda as
das economias altamente desenvolvidas, expres- relações sociais de produção, circulação e dis-
sa na dicotomia desenvolvimento versus estag- tribuição de bens materiais, definindo as leis que
nação. A maturidade de uma economia, em seu regem tais relações. Procura também analisar o
ponto crítico, iria se traduzir num esgotamento, caráter das leis econômicas, sua especificidade,
na chegada a uma fase estacionária, marcada sua natureza e suas relações mútuas. Nesse sen-
por queda nos investimentos e no nível de em- tido, é uma ciência fundamentalmente teórica,
prego, e pela não-utilização dos recursos dispo- valendo-se dos dados fornecidos pela economia
níveis, em decorrência da retração no mercado descritiva e pela história econômica. Para atin-
consumidor. Para Keynes, a saída estaria na in- gir seu objetivo, a economia política recorre a
tervenção do Estado na economia, elaborando um conjunto de categorias que formam seu ins-
políticas de investimento e de emprego. trumental teórico e a uma metodologia capaz
ECONOMIA PÓS-KEYNESIANA 192

de conduzir o investigador científico a um co- como economia. Essa postura teórica foi iniciada
nhecimento objetivo do processo produtivo e de pela escola neoclássica: William Stanley Jevons,
suas leis. Impossibilitada de recorrer à experi- Carl Menger, Léon Walras e Vilfredo Pareto. A
mentação, como ocorre nas ciências exatas, a abordagem abstrata de conteúdo histórico e so-
economia política vale-se da abstração, que se cial foi substituída pelo enfoque quantitativo
baseia na observação comparativa dos processos dos fatores econômicos. A inovação mais im-
estudados. A partir daí, procura estabelecer as portante na tradição neoclássica ocorreu com a
relações mais gerais, eliminando os aspectos se- obra de J.M. Keynes, que refutou a teoria do equi-
cundários e ocasionais da problemática econô- líbrio automático da economia capitalista, apre-
mica. A síntese desse procedimento metodoló- sentando uma nova visão do problema do de-
gico é a formulação de teorias econômicas que semprego, dos juros e da crise econômica. Após
definem a posição de indivíduos e até mesmo a Segunda Guerra Mundial, o pensamento eco-
de grupos sociais em face dos fenômenos e dos nômico capitalista vem seguindo duas linhas
fatos econômicos. Embora a questão dos pro- fundamentais: a dos pós-keynesianos, com sua
blemas econômicos tenha sido objeto de preo- ênfase nos instrumentos de intervenção do Es-
cupação de pensadores da Antiguidade clássica tado e voltada para o planejamento e o controle
(Aristóteles) e da Idade Média (Santo Tomás de do ciclo econômico, e a corrente liberal neoclás-
Aquino), foi somente na era moderna que surgiu sica, também chamada de monetária, que volta
o estudo empírico e sistemático dos fenômenos sua atenção fundamentalmente para as forças
econômicos de um ponto de vista científico. Esse espontâneas do mercado. No que diz respeito à
estudo assumiu a denominação de economia po- economia política marxista, trava-se em seu in-
lítica, sendo o termo “política” sinônimo de “so- terior um amplo debate (sobretudo no Ociden-
cial”, segundo a tradição aristotélica de que o te), visando a aprofundar certos aspectos teóri-
homem é um animal político, isto é, um animal cos não desenvolvidos por Marx e também a
social. Os estudos de economia política come- levar adiante a análise crítica do capitalismo mo-
çaram com a escola mercantilista, cujos princi- derno. Ao mesmo tempo, empreende-se um es-
pais representantes foram Thomas Mun, Josiah forço semelhante visando à abordagem, também
Child e Antoine Montchrestien. Este último foi crítica, dos problemas econômicos do chamado
quem restabeleceu a nomenclatura grega: eco- socialismo real, e à tentativa de elaborar a eco-
nomia política. Avanço considerável dos estu- nomia política a partir das formações sociais pré-
dos econômicos ocorreu com os fisiocratas no capitalistas. Veja também Economia.
século XVIII (Quesnay, Turgot), conhecidos
como les économistes, que, ao contrário dos mer- ECONOMIA PÓS-KEYNESIANA. Conjunto de
cantilistas, deslocaram o foco de sua análise da formulações e propostas de um grupo de eco-
circulação para a produção, fundamentalmente nomistas — entre os quais se destacam Joan Ro-
para a produção agrícola. Com a escola clássica binson e Paul Davidson —, que, tomando como
— William Petty, Adam Smith e David Ricardo ponto de partida as idéias de Keynes e Kalecki
—, a economia política definiu claramente seu sobre a crítica das idéias convencionais acerca
contorno científico integral, passando a centra- do equilíbrio, desenvolveu uma nova macroe-
lizar a abordagem teórica na questão do valor, conomia. A ênfase dessa abordagem é a natureza
cuja única fonte original foi identificada no tra- dinâmica da economia de mercado (que utiliza
balho, tanto agrícola quanto industrial. A escola o dinheiro como intermediário de trocas), que
clássica firmou os princípios da livre-concorrên- está sujeita a grande dose de incerteza. A dinâ-
cia, que exerceram influência decisiva no pen- mica dos mercados, que envolve uma noção de
samento econômico capitalista. A escola marxis- tempo cronológico, nem sempre encontra-se em
ta, fundada por Karl Marx e Friedrich Engels,
equilíbrio e o comportamento dos agentes eco-
seguindo a teoria do valor-trabalho, chegou ao
nômicos em tais mercados nem sempre respon-
conceito de mais-valia, fonte do lucro, do juro
de adequadamente aos estímulos proporciona-
e da renda da terra. Centrando seu estudo na
anatomia do modo de produção capitalista, o dos, de forma a alcançar qualquer ponto de oti-
marxismo desvendou a lei principal desse sis- mização. Alguns autores pós-keynesianos colo-
tema e forneceu a base doutrinária para o pen- caram menor ênfase na dinâmica de curto prazo
samento revolucionário socialista. Com Marx e e concentraram suas atenções nas condições que
Engels, a economia política passou a ver o ca- permitiriam uma taxa de crescimento estável a
pitalismo como um modo de produção histori- médio e longo prazos. Seguindo as teses de Sraf-
camente determinado, sujeito a um processo de fa, alguns autores dessa corrente estudaram as
superação. A partir de 1870, a concepção ampla tendências de longo prazo da economia capita-
da economia política foi sendo paulatinamente lista e a divisão do excedente entre o capital e
abandonada, dando lugar a uma visão mais res- o trabalho e as contradições que cercam essas
trita do processo produtivo, que ficou conhecido relações. Tais contradições criariam incertezas,
193 ECU

o que impediria que uma economia crescesse (ou já existentes) em decorrência da implantação
num ritmo estável, correspondendo a todas as de um serviço público (por exemplo, energia elé-
expectativas dos agentes. Veja também Keynes, trica) ou de uma indústria, proporcionando à
John Maynard; Kalecki, Michal; Robinson, primeira vantagens antes inexistentes. Por
Joan; Sraffa, Paolo. exemplo, a construção de uma rodovia pode
permitir aos produtores agrícolas próximos cus-
ECONOMIA QUANTITATIVA. Parte da econo- tos de transporte mais baixos e acesso mais rá-
mia que trata da quantificação e análise dos fe- pido aos mercados consumidores. A existência
nômenos econômicos passíveis de mensuração. de economias externas permite em geral uma
Para isso, recorre à matemática e à estatística. redução de custos para as empresas e significa
Muitas categorias econômicas podem ser obje- uma importante alavanca do desenvolvimento
tivamente mensuráveis, como preço, lucro, cus- econômico. Muitas empresas, antes de tomar a
tos, renda etc., enquanto outras, como concor- decisão de se instalar em determinados locais,
rência, conflitos entre capital e trabalho e nível avaliam seu potencial presente e futuro de eco-
de satisfação das necessidades, só podem ser nomias externas. O contrário acontece quando
quantificadas em suas manifestações exterio- a instalação de certas atividades traz aumentos
res. Para Oskar Lange, entretanto, os manuais de custos para as empresas ou afugenta clientes
de economia teórica estão sempre repletos de ou, ainda, desestimula a demanda de certos pro-
inferências matemáticas, mesmo que em suas dutos. Nesse caso, ocorrem as “deseconomias
páginas não apareçam registradas fórmulas externas”, como, por exemplo, quando indús-
matemáticas. trias contaminam com chumbo as pastagens e
águas adjacentes: o leite produzido na região
ECONOMIA SOBRECARREGADA. Estado da
pode ter sua demanda em queda não apenas
economia sujeita a um processo inflacionário re-
por constatar-se que o produto contém aquele
primido. Nesse contexto, a demanda de bens metal, como pelo simples fato de que os consu-
suplanta a oferta, desequilíbrio que pressiona o midores, sabendo da origem do leite, se recusam
sistema no sentido de uma elevação rápida dos a comprá-lo, por precaução. Veja também Coase,
preços. Essa tendência não segue seu curso na- Ronald; Teorema de Coase.
tural quando os preços passam a ser adminis-
trados por um rigoroso controle governamental. ECONOMIAS INTERNAS. Forma de econo-
Como esse controle não é geral, ocorrendo tra- mia de escala em que a própria empresa cria a
dicionalmente em bens de consumo de primeira infra-estrutura necessária a sua expansão e à re-
necessidade, os investimentos tendem a deslo- dução de seu custo unitário de produção. Seria
car-se para os setores econômicos não controla- o caso de uma empresa que constrói uma estrada
dos. Nos setores cujos preços estão administra- de ferro para que seu produto seja escoado com
dos, os empresários são obrigados a voltar a mais facilidade. Esse procedimento requer re-
atenção fundamentalmente para a venda dos es- cursos financeiros que só estão ao alcance de
toques. Isso pode levar ao esgotamento dos es- grandes empresas. Esse processo de expansão
toques, que não são renovados, configurando-se tende a gerar situações de monopólio.
uma violenta queda na oferta. Por isso, a eco-
nomia sobrecarregada é também chamada de ECONOMISTAS DO LADO DA OFERTA.
economia vazia. Uma economia revela-se também Veja Supply Side Economics.
sobrecarregada quando se tenta levar à frente
ÉCONOMISTES, les (os Economistas). Deno-
uma política de projetos econômicos muito além
minação pela qual eram conhecidos em sua épo-
dos recursos internamente disponíveis.
ca (século XVIII) os fisiocratas franceses, lidera-
ECONOMIAS DE AGLOMERAÇÃO. Caso es- dos por Quesnay, e que depois se generalizou
pecial de economias externas quando é possível aos estudiosos da economia.
reduzir custos pelo fato de várias empresas ou
ECT — Empresa Brasileira de Correios e Te-
atividades estarem localizadas umas próximas
légrafos. Empresa pública criada em 1969, em
das outras, o que permite reduzir despesas, por
substituição ao antigo Departamento de Cor-
exemplo, com transportes (fretes) e o tempo de
reios e Telégrafos do Ministério da Viação. Vin-
fornecimento de uma empresa a outra.
culada ao Ministério das Comunicações, tem por
ECONOMIAS DE ESCALA. Redução de cus- objetivo planejar, implantar e explorar os servi-
tos unitários decorrente de um aumento no vo- ços postais e telegráficos.
lume (escala) de produção, seja de uma empresa,
setor, região ou país. ECU. Iniciais de European Currency Unit (Uni-
dade Monetária Européia) ou European Mone-
ECONOMIAS EXTERNAS (Externalidades). tary Unit. A ECU é uma unidade monetária não
Benefícios obtidos por empresas que se formam tangível, isto é, moeda escritural cujo valor é
ECUMENÓPOLE 194

formado por uma cesta de moedas dos países mica baseada apenas em escalas de preferência.
da Comunidade Européia: marco alemão (deuts- Edgeworth editou The Economic Journal de 1891
chmark), franco francês, libra esterlina (inglesa), a 1926, e a maioria de sua obra consiste em ar-
lira italiana, franco belga, guilda holandesa, co- tigos publicados em revistas especializadas, de-
roa dinamarquesa, franco luxemburguês, punt pois reunidos em Papers Relating to Political Eco-
irlandês e uma participação de 20% de ouro. nomy (Artigos Relacionados com Economia Po-
Foi criada quando o Conselho Europeu estabe- lítica), 1925. Seus livros Theory of Monopoly (Teo-
leceu o Sistema Monetário Europeu, em 1978. ria do Monopólio), 1897, e Theory of Distribution
O nome foi dado não apenas porque correspon- (Teoria da Distribuição), 1904, o consagraram
de às iniciais das palavras em inglês European como um dos primeiros especialistas no uso da
Currency Unity, mas também porque era o matemática na teoria econômica.
nome de uma moeda cunhada na França por EDITIO PRINCEPS. Expressão latina que sig-
Luís IX, no século 13. As proporções de cada nifica “primeira edição” e utilizada por antiquá-
moeda que compõe a cesta são determinadas rios e operadores de mercado nos leilões de li-
por uma Junta da Comunidade Européia, tendo vros raros.
como base o PNB e a situação financeira de cada
país emissor. Essas proporções são revisadas a EFEITO. Quando associada a um atributo, a pa-
cada cinco anos para a assimilação de alterações lavra significa um mecanismo econômico carac-
nas economias de cada país e para a inclusão terístico, como, por exemplo, “efeito demons-
de novos membros. Com a aprovação do Tra- tração”, “efeito Arizona”, “efeito Pigou” etc.
tado de Maastrich (1992), a ECU deveria trans-
formar-se em unidade monetária dos países que EFEITO AGLOMERAÇÃO. Denominação dada
constituem a União Européia até 1997, se a maio- aos efeitos positivos ou negativos decorrentes
ria dos países-membros preenchesse as condi- da aglomeração de empresas (industriais, co-
merciais, financeiras etc.) num só local, produ-
ções necessárias. Se isto não for possível, aqueles
zindo vantagens para que novos empreendi-
países que atenderem às condições entrarão so-
mentos se instalem nesse mesmo local (em geral
zinhos numa união de moeda única em
uma cidade) ou provocando também desvanta-
1º/1/1999. França, Alemanha e Benelux já con- gens, que atuam como fator de repulsão a novos
cordaram em adotá-la a partir de 1999. Até 2002, empreendimentos. Entre os efeitos positivos, po-
ela deve circular em paralelo com as moedas dem ser citados a ampliação do mercado de fa-
nacionais, e a partir de então, deverá subsistir tores, a ampliação do mercado final e as possi-
apenas a moeda única. As condições macroeco- bilidades de integração vertical e horizontal;
nômicas exigidas para que tal objetivo seja al- nesse caso, diz-se que há ganhos de aglomera-
cançado são no entanto duras: déficit fiscal no ção. Os efeitos negativos decorrem, por exem-
máximo em 3% do PIB, inflação entre 2 e 3% plo, do crescimento da poluição, das dificulda-
anual, taxa de câmbio fixa e redução da relação des no trânsito e no transporte, da elevação do
dívida interna/PIB. preço dos terrenos etc. Veja também Economias
Externas; Economias de Escala.
ECUMENÓPOLE. Para Doxiadis, seria a cidade
universal. Doxiadis argumentava que os espaços EFEITO ARIZONA. Ilusão que consiste em to-
humanos evoluiriam numa seqüência lógica: mar a conseqüência pela causa. Por exemplo, a
desde o espaço ocupado pelo homem sozinho, mortalidade devida à tuberculose em décadas
passando pela cidade, metrópole, conurbação, passadas era mais elevada no Arizona do que
megalópole, região urbana, continente urbano e nos demais Estados norte-americanos. Este fato
tendo a ecumenópole como conseqüência final poderia levar à conclusão de que aquele Estado
do crescimento ilimitado da população. Veja é muito insalubre, quando, na realidade, por ter
também Urbanização. um clima muito seco, é para lá que se dirigem
os portadores da doença mencionada, desejosos
ED. Veja CD. de cura.
EDGEWORTH, Francis Ysidro (1845-1926). Eco- EFEITO AVERCH-JOHNSON. É aquele rela-
nomista e matemático inglês, professor nas uni- cionado com empresas obrigadas a proporcionar
versidades de Londres e Oxford. Em sua pri- um determinado retorno sobre o capital inves-
meira obra, Mathematical Psychics (Psicologia tido ou uma taxa mínima de lucro, sendo indu-
Matemática), 1881, elaborou e desenvolveu os zidas a escolher combinações de capital e tra-
conceitos da Curva de Indiferença e da Curva balho mais intensivas em capital do que as que
de Contrato, mostrando as contradições da teo- seriam escolhidas se não houvesse tal obrigação.
ria do valor de Jevons; esses conceitos foram
utilizados posteriormente por Pareto para de- EFEITO BACKWASH. Conceito desenvolvido
monstrar a possibilidade de uma teoria econô- por Gunnar Myrdal (1898-1987), segundo o qual
195 EFEITO DOMINÓ

o desenvolvimento econômico de uma região se dá quando o que aconteceu na economia de


de um país pode ter efeitos perversos no de- um país — especialmente uma crise, agravada
senvolvimento de outras. Esse efeito se daria es- por algum plano econômico — provoca a sen-
pecialmente mediante o deslocamento de fatores sação de que vai ocorrer num país vizinho por
de produção — capital e trabalho — de regiões ele ter as mesmas características e haver elabo-
de desenvolvimento lento para regiões de de- rado planos semelhantes. Por exemplo, logo de-
senvolvimento acelerado. Se o desenvolvimento pois da crise financeira e cambial do México em
econômico de uma região ultrapassa o ritmo das 1994, temia-se que o mesmo ocorresse na Ar-
regiões vizinhas, o efeito backwash operaria no gentina e no Brasil por “contágio”. Veja também
sentido de ampliar a diferença, e o resultado Efeito Tequila.
seria a ampliação do fosso que separa as taxas
de desenvolvimento no plano inter-regional. EFEITO DE HALO. Denominação do processo
Trata-se, do ponto de vista metodológico, do que ocorre quando, na avaliação de desempenho
conceito de causação circular cumulativa apli- de uma pessoa, ou no ato de contratação de um
cado ao desenvolvimento regional. Veja também novo funcionário, o avaliador deixa-se influen-
Causação Circular. ciar por um aspecto do caráter ou do desempe-
nho do entrevistado. Assim, um erro ou um
EFEITO BANDWAGON. Efeito mediante o qual, acerto cometidos pelo entrevistado, ou elemen-
à medida que o preço de uma mercadoria di- tos pontuais de antipatia, ou de simpatia, podem
minui e a demanda de alguns setores da socie- condicionar toda a avaliação, prejudicando a
dade aumenta, outros setores, imitando esse análise dos demais fatores.
comportamento, tenderão a aumentar a sua de-
manda também. Dessa forma, a demanda au- EFEITO DEMONSTRAÇÃO. Tendência dos paí-
mentará além do previsto, pois consumidores ses de menor desenvolvimento socioeconômico
adicionais se agregam ao bandwagon, fazendo de imitar ou tentar reproduzir em seu território
com que a curva de demanda se desloque mais os hábitos de consumo e de vida dos países mais
do que proporcionalmente à queda nos preços. desenvolvidos, acarretando pressões sobre as
Veja também Efeito Manada. importações. Durante os anos 60, no Brasil, al-
guns autores atribuíram ao efeito demonstração
EFEITO BUMERANGUE. Conseqüências ne- as dificuldades registradas em nossa balança co-
gativas de uma decisão econômica ou empresa- mercial e os respectivos déficits, atribuindo ao
rial que voltam sobre quem a tomou. Por exem- efeito demonstração a necessidade de desvalo-
plo, durante a crise do petróleo nos anos 70, a rizações cambiais, que por sua vez alimentavam
brusca elevação dos preços do produto pelos o processo inflacionário. O efeito demonstração
países exportadores provocou efeito semelhante também caracteriza uma situação na qual os ele-
nos preços de produtos finais que tinham o pe- mentos de um estrato social procuram copiar
tróleo como principal matéria-prima (petroquí- padrões de comportamento de estratos supe-
micos) e que eram importados pelos países ex- riores, tentando demonstrar um status que não
portadores de petróleo. possuem. O efeito demonstração é intensamente
EFEITO CANIBALISMO. A expressão é utili- utilizado na publicidade, sugerindo que bastaria
zada em vários contextos empresariais, em todos o simples consumo de determinados produtos
eles denotando uma ação que, embora melhore para ascender na escala social.
a situação num aspecto, o faz à custa da piora EFEITO DESLOCAMENTO. Veja Crowding
em outro. Assim, esse efeito pode ser observado Out.
quando uma empresa lança um produto cujas
vendas se ampliam no mercado à custa da re- EFEITO DEUSENBERY. Veja Efeito Demons-
dução das vendas de outro produto da mesma tração.
empresa; ou também quando uma empresa con-
segue sobreviver no mercado utilizando seu fun- EFEITO DOMINÓ. Quando algum aconteci-
do de depreciação para cobrir despesas corren- mento, geralmente negativo do ponto de vista
tes (ficando, portanto, sem condições de repor econômico, se encadeia com outro, provocando
no futuro seu capital fixo); ou mesmo de uma efeito semelhante e assim sucessivamente, “até
forma mais direta, quando uma empresa — de que todas as peças do jogo de dominó” sejam
transportes, por exemplo —, sem recursos para derrubadas. Por exemplo, a falência de uma
comprar peças de reposição, retira-as de um de grande empresa pode provocar o mesmo efeito
seus veículos (imobilizando-o) para que outro em várias outras empresas, acarretando daí uma
possa ser consertado e funcionar. crise geral. O termo tem mais aplicação na po-
lítica e na área militar, e foi muito utilizado du-
EFEITO CONTÁGIO. Por analogia ao que rante o tempo da guerra fria, quando se acre-
acontece com uma epidemia, o efeito contágio ditava que a passagem de um país da órbita
EFEITO FISHER 196

capitalista para a socialista poderia provocar um EFEITO KEYNES. Efeito decorrente de uma
efeito dominó. mudança na demanda de mercadorias e servi-
ços, provocada por uma alteração no nível geral
EFEITO FISHER. Concepção desenvolvida pelo de preços. Por exemplo, se acontecer uma queda
economista e matemático norte-americano Ir- geral no nível dos preços, existirão mais sobras
ving Fisher (1867-1947), segundo o qual a dife- monetárias para ser aplicadas com finalidades
rença positiva entre as taxas nominais de juros especulativas. Disso resultará uma elevação nos
e as taxas reais (ajustadas de acordo com o poder títulos de risco do mercado financeiro e uma
de compra do dinheiro) reflete a taxa de inflação queda na taxa de juros, o que, por sua vez, es-
futura ou antecipada. timulará o investimento e fará aumentar a de-
EFEITO HARRIS-TODARO. Originalmente atri- manda por mercadorias e serviços. Se houver
buído a Todaro (1968), mas conhecido como Hi- uma elevação geral dos preços, os efeitos inver-
pótese de Harris-Todaro pelas contribuições de sos ocorrerão.
Harris (1970), é uma conseqüência da tentativa
EFEITO LIBERATÓRIO. Característica de uma
de explicar a continuidade da migração do cam-
moeda, geralmente papel-moeda, de ser recebi-
po para a cidade mesmo quando a taxa de de-
da obrigatoriamente (por força de lei) por um
semprego nas cidades é muito elevada. Esses
credor para a efetuação de um pagamento ou
autores observaram que, especialmente em paí-
a liquidação de uma dívida.
ses em desenvolvimento, o migrante abandona
um emprego rural, onde recebe um salário S, EFEITO LOCK-IN. A tendência de conservar tí-
tentando obter um salário S’ mais elevado nos tulos cuja cotação caiu no mercado financeiro
centros urbanos, embora correndo o risco de per- de tal forma a evitar uma perda.
manecer desempregado. A observação desse
comportamento levou-os a substituir o conceito EFEITO MALYNES. Efeito destacado por Ge-
de equivalência de salários pelo de equivalência de rard Malynes (mercantilista do século XVII),
salários esperados como a condição básica de equi- quando uma desvalorização da moeda de um
líbrio num mercado de trabalho segmentado, país, em vez de eliminar um déficit comercial
mas homogêneo. de um país, agrava-o devido à inelasticidade das
importações.
EFEITO HICKS. Também denominado Efeito
Renda, consiste no comportamento dos consu- EFEITO MANADA. Também denominado Efei-
midores diante da baixa do preço de um bem to Bandwagon, ocorre quando o comportamento
A, fazendo com que o poder de compra assim dos agentes econômicos, especialmente no mer-
economizado se desloque para a compra de um cado financeiro, se assemelha ao de uma mana-
produto B, cuja aquisição não era viabilizada de da; se alguns agentes praticam algumas ações
acordo com os níveis de renda anteriores. — comprando ou vendendo maciçamente certos
títulos —, o resto tende a acompanhar, mesmo
EFEITO IMITAÇÃO. Veja Efeito Demons-
que essa não seja a melhor atitude ou ação mais
tração.
correta a ser tomada, ou mesmo que não existam
EFEITO “J”. Efeito imediato de uma desvalori- razões objetivas para isso.
zação cambial, quando um determinado volume
de importações exige um dispêndio maior de EFEITO ORLOFF. Expressão popular inspirada
moeda nacional e acelera a saída de recursos, em um comercial de televisão sobre uma bebida
piorando em vez de melhorar a situação de dé- que aparentemente não causava efeitos de res-
ficit comercial. saca. Nesse comercial, um personagem apresen-
tava-se bem-disposto a ele próprio (depois de
EFEITO JANEIRO. Tendência, nos Estados Uni- ter bebido), dizendo: “Eu sou você amanhã”. O
dos, de elevação das cotações das ações de pe- Efeito Orloff é aplicado nos casos brasileiro e
quenas e médias empresas nos primeiros dias argentino, indicando que o que acontecia na Ar-
de janeiro, como movimento contrário ou com- gentina (Plano Austral e falência do mesmo)
pensador da tendência vendedora — e, portanto, aconteceria um pouco depois no Brasil (Plano
de baixa das cotações — nos últimos dias de Cruzado e fracasso do mesmo). Veja também
dezembro, entre Natal e ano-novo, quando mui- Efeito Tequila; Plano Austral; Plano Cruzado.
tas empresas necessitam maquiar seus balanços,
disfarçar seus ganhos ou mesmo ampliar sua EFEITO PIGOU. Também conhecido como efei-
liquidez para enfrentar as despesas de final de to de balança real, foi enunciado por Arthur Cecil
ano. Isso acontece mais freqüentemente com pe- Pigou, para quem o volume de emprego poderia
quenas e médias empresas, mas também pode ser aumentado em conseqüência do declínio de
ser o caso de empresas grandes. Veja também preços. Com isso, o poder de compra dos salá-
Window Dressing. rios aumentaria, elevando também o consumo,
197 EFEITO VEBLEN

a margem de lucro e, finalmente, o nível de em- neamente, de forma articulada, para a obtenção
prego. de um fim. Nesse caso, o efeito sinérgico pode
ser representado pela fórmula: 2 + 2 = 5.
EFEITO PONZI. Situação de um devedor que,
para pagar as dívidas passadas, só pode fazê-lo EFEITO SPREAD. Conceito desenvolvido por
contraindo mais dívidas no presente. O nome Gunnar Myrdal (1898-1987), relacionando os
refere-se a Charles Ponzi, um estelionatário íta- efeitos benéficos do desenvolvimento de uma
lo-americano que, durante os anos 20 deste sé- economia regional sobre as economias de outras
culo, prometia pagar taxas de juros extraordi- regiões. Esses efeitos benéficos seriam decorren-
nariamente elevadas para quem lhe emprestasse tes da ampliação dos mercados para os produtos
dinheiro, e pagava essas dívidas com novos en- das demais regiões e a difusão do progresso téc-
dividamentos, até quebrar. Ponzi foi preso e sua nico a partir da região mais desenvolvida. Tra-
empresa, fechada. A partir dessa experiência, a ta-se de um caso particular de causação circular
mesma situação relacionada com as finanças de cumulativa e apresenta resultado contrário ao
um país ou de uma empresa foi batizada com do Efeito Backwash. Veja também Causação Cir-
esse nome. Veja também Ponzi Games. cular; Efeito Backwash.

EFEITO PREÇO. Modificação na demanda de- EFEITO SUBSTITUIÇÃO. Denominação dada


corrente de uma alteração no preço de um de- à alteração provocada na demanda de um bem
terminado produto. Essa modificação pode ser quando seu preço se modifica, supondo que a
influenciada não apenas pela renda dos consu- renda real permaneça constante. O conceito de
midores, mas também pela possibilidade que es- renda real tem abordagens diferentes. Segundo
tes têm de substituir o produto cujo preço foi Hicks, renda real constante significa que o con-
alterado. Em termos matemáticos teríamos: Efei- sumidor permanece na mesma curva de indife-
to Preço = Efeito Renda + Efeito Substituição. rença. Para Slutsky a renda real permanece cons-
Esta equação é também chamada de Equação tante se o consumidor puder comprar sua com-
de Slutsky. Veja também Efeito Renda; Efeito binação de bens original antes que a alteração
Substituição; Slutsky, Eugen. de preço ocorra. Veja também Hicks, John;
Slutski, Eugen.
EFEITO RENDA. Efeito provocado sobre a ren-
da real dos consumidores quando os preços au- EFEITO TANZI. Relação entre a arrecadação
mentam ou diminuem. Como conseqüência des- tributária e as taxas de inflação desenvolvida
sa alteração na renda real, deve-se esperar que pelo economista italiano Vito Tanzi. Como existe
os consumidores comprarão mais (ou menos) uma defasagem entre o fato gerador de um tri-
de todos os produtos, inclusive aquele cujo pre- buto e o momento de sua efetiva arrecadação,
ço se alterou. Veja também Efeito Substituição. quanto maior for a inflação nesse período, me-
nor será a arrecadação real do governo, provo-
EFEITO SALTER. Com o aumento da produti- cada pela desvalorização da moeda na qual os
vidade e redução de custos e preços, expandem- impostos são pagos. A partir dos últimos anos
se a demanda e as vendas, além de crescerem da década de 80, o intenso processo inflacionário
a competitividade e as exportações. A Lei de brasileiro contribuiu para a redução das receitas
Verdoorn e o Efeito Salter referem-se a um cír- tributárias reais, de tal forma que foi necessário
culo virtuoso em que o crescimento econômico indexar os tributos (estabelecer correção mone-
gera ganhos de produtividade, os quais, por sua tária para o seu pagamento) para reduzir o Efei-
vez, engendram o crescimento econômico. to Tanzi.

EFEITO SAUVY. Também denominado Princí- EFEITO TEQUILA. Denominação popular dada
pio do Crescimento das Necessidades, é o fenô- à crise cambial sofrida pelo México no final de
meno de insatisfação psicológica permanente 1994, em função de fortes déficits em seu balanço
dos consumidores, mesmo que seu padrão de de pagamentos. A crise representou uma enor-
vida esteja melhorando. me fuga de capitais e o peso mexicano sofreu
uma intensa desvalorização, representando uma
EFEITO SERENDIP. A obtenção de um resul- quebra na estabilidade de preços que vinha sen-
tado exatamente inverso daquele desejado. O do sustentada desde 1989 e lançando o país
nome é oriundo de um conto de Walpole, Os numa forte recessão. O nome tem origem na be-
Três Príncipes de Serendip, ambientado no Ceilão, bida homônima cujos efeitos de ressaca podem
onde tudo acontecia ao contrário. ser comparados ao que aconteceu com a crise
cambial mexicana.
EFEITO SINÉRGICO. Melhora do desempe-
nho global de vários agentes econômicos, em- EFEITO VEBLEN. Processo destacado pelo eco-
presariais, administrativos etc., à medida que nomista e sociólogo norte-americano Thorstein
eles unem seus esforços e os aplicam simulta- Veblen (1857-1929), segundo o qual quando
EFFICIENT FRONTIER 198

ocorre uma baixa de preço de certos produtos, que significa a taxa de desconto que torna o va-
os consumidores sequiosos de diferenciação so- lor presente dos rendimentos líquidos esperados
cial são levados a abandonar o seu consumo. de um ativo de capital igual ao seu preço de
Inversamente, quando o preço de certos produ- oferta, supondo não haver elevação no preço de
tos se eleva, a sua demanda ou consumo, em oferta dos elementos que constituem o ativo con-
vez de diminuir, pode aumentar pela mesma siderado. Consiste nas taxas de retorno espera-
razão anterior. Nesse caso, ele é denominado das em relação às oportunidades de investimen-
“preço psicológico”, de grande influência nas es- to existentes. Veja também Propensão a Investir.
tratégias de marketing na era da concorrência
EFTA — Associação Européia de Livre-Comér-
oligopólica.
cio (European Free Trade Association). Orga-
EFFICIENT FRONTIER. Veja Fronteira da Efi- nismo de cooperação econômica criado em 1960,
ciência. visando a abolir, entre os países-membros, as
tarifas alfandegárias na comercialização de pro-
EFFICIENT MARKET HYPOTHESIS. Veja Hi- dutos industrializados. Esse objetivo foi alcan-
pótese do Mercado Eficiente. çado em 1966. Quanto aos produtos agrícolas,
as facilidades comerciais e alfandegárias devem
EFICÁCIA. Significa fazer o que necessita ser
resultar de acordos bilaterais entre os países-
feito para alcançar determinado objetivo. Este
membros. Sediada em Genebra, a associação é
conceito é distinto do de eficiência por se referir
integrada por Áustria, Finlândia, Islândia, No-
ao resultado do trabalho de um empregado, isto
ruega, Portugal, Suécia e Suíça. Em 1973, a Grã-
é, se este ou o seu produto é adequado a um Bretanha, um dos países fundadores da EFTA,
fim proposto. Dessa forma, um trabalhador deixou o organismo, ingressando no Mercado
pode produzir um produto adequado (ideal- Comum Europeu. Em julho do ano anterior, as
mente a um consumidor), mas se não realizar duas associações já haviam assinado um acordo,
as tarefas correspondentes com eficiência, o re- objetivando abolir, por um prazo de cinco anos,
sultado final não será apropriado. O ideal é que as tarifas no comércio de produtos industriali-
o resultado de uma tarefa seja eficaz (adequado zados. Veja também Mercado Comum Europeu
a um objetivo) e que a tarefa seja realizada com — MCE.
eficiência. Em resumo, fazer a coisa certa de for-
ma certa é a melhor definição de trabalho efi- EI BOND (Eligible Interest Bond). Veja Plano
ciente e eficaz. Brady; TJLP.
EFICIÊNCIA. Este conceito é distinto do de efi- EIGHTY-TWENTY RULE. Veja Regra do Oi-
cácia por se referir à forma de realizar uma ta- tenta-Vinte.
refa. Se um trabalhador realizar uma tarefa de
acordo com as normas e padrões preestabeleci- EINZIG, Paul (1897-1973). Einzig nasceu e for-
dos, ele a estará realizando de forma eficiente. mou-se na Hungria, tendo obtido doutorado na
No conceito de eficiência, não se examina se Universidade de Paris. Em 1919, radicou-se na
aquilo que foi produzido com eficiência é eficaz, Inglaterra, onde se tornou editor de política do
isto é, se o produto ou o resultado do trabalho Financial Times. Seus estudos se desenvolveram
eficiente está adequado à finalidade proposta. na área das finanças internacionais e da moeda.
Por exemplo, se um médico realizar uma inter- Sua obra A Dinamic Theory of Forward Exchange
venção cirúrgica num paciente, poderá fazê-lo (Uma Teoria Dinâmica do Câmbio a Termo),
com grande eficiência, mas se a intervenção tiver 1961, descreve os métodos de intervenção dos
sido realizada no órgão errado, ela não terá a bancos centrais nos mercados de câmbio a ter-
mínima eficácia. Dessa forma, uma ação pode mo, no período entre as guerras mundiais, e
ser eficiente sem ser eficaz. também a prática dos bancos centrais da Áustria
e da Rússia no final do século XIX. Einzig mos-
EFICIÊNCIA DE PARETO. Veja Ótimo de Pa- trou que, exceto no caso de perfeita arbitragem,
reto. os mercados a termo de câmbio têm de ser con-
siderados explicitamente numa análise de curto
EFICIÊNCIA ECONÔMICA. Relação entre o
prazo dos movimentos internacionais de capital.
valor comercial de um produto e o custo unitário
de sua produção. Portanto, a eficiência econô- No livro Primitive Money in its Ethnological, Hi-
mica aumenta quando aumenta a relação entre torical and Economic Aspects (O Dinheiro Primi-
o valor de um produto em relação a seu custo tivo nos seus Aspectos Etnológicos, Históricos
unitário, mantendo-se as qualidades que satis- e Econômicos), 1949, Einzig rejeita a hipótese
façam as normas técnicas. de que o dinheiro desenvolveu-se primitiva-
mente pela expansão da divisão do trabalho e
EFICIÊNCIA MARGINAL DO CAPITAL. Con- pelo aumento da complexidade das trocas, o que
ceito desenvolvido por John Maynard Keynes, tornou o escambo crescentemente complicado.
199 ELASTICIDADE DA DEMANDA

Para ele, muito mais importante era a designa- por outros produtos similares. Existem duas ca-
ção de uma mercadoria para o uso em “paga- tegorias de elasticidade: 1) elasticidade perfeita,
mentos” não comerciais, como nos sacrifícios re- quando uma diminuta mudança nos preços pro-
ligiosos. voca grande alteração no consumo; 2) elasticidade
imperfeita, quando uma mudança no preço não
EITC. Iniciais da expressão em inglês earned in- interfere na quantidade do consumo. A elasti-
come tax credit, que significa “crédito fiscal por cidade também pode ser definida de forma ma-
remuneração recebida” e constitui um instru- temática, como medida da força de reação de
mento sugerido por Milton Friedman e adotado uma grandeza econômica tomada como variável
por lei durante o governo Gerald Ford, em 1975, independente. Assim, a reação de uma grande-
nos Estados Unidos. Consistia num complemen- za, quando a outra se altera, é expressa pela
to à remuneração de quem recebesse abaixo de variação relativa da variável independente. Se
um mínimo estipulado. Veja também Imposto duas grandezas econômicas, a e b, se relacionam
de Renda Negativo. segundo a equação b = f(a), designa-se por N a
EJIDO. Forma de propriedade comunal da terra elasticidade de a em relação a b. O conceito de
existente entre os povos indígenas antes da con- elasticidade estendeu-se a outros campos do es-
quista do México. Este sistema prevaleceu mes- tudo econômico, passando a englobar a elasti-
mo durante os primeiros anos do período colo- cidade de custos, a elasticidade-renda, a elasti-
nial. Posteriormente, sobretudo depois de 1860 cidade de produção e outras. Atualmente, é bas-
e até o fim do regime de Porfirio Díaz (1911), tante utilizado em estudos de mercado, espe-
numerosas comunidades foram privadas de cialmente naqueles onde há uma preocupação
suas terras e estas transformadas em proprie- com a análise da procura, que engloba a elasti-
dade de grandes fazendeiros, com os antigos cidade-preço, a elasticidade-renda e a elastici-
ocupantes passando a ser seus trabalhadores. dade mista. Nesses casos, tomando-se o preço
Durante a Revolução Mexicana, uma das prin- como variável dependente da demanda ou da
cipais reivindicações dos trabalhadores agrícolas oferta, pesquisa-se a elasticidade do preço em
foi o retorno ao sistema original desenvolvido relação à oferta e à demanda. Em alguns estudos
pelos indígenas, isto é, que as terras voltassem teóricos, é utilizado o conceito de elasticidade de
a ser propriedade comunitária e cultivadas em substituição, que é a relação entre as variações
parcelas individuais entregues a cada uma das relativas dos preços e quantidades de dois bens
famílias pertencentes à comunidade. de consumo ou dois fatores de produção.

ELASTICIDADE. Relação entre as diferentes ELASTICIDADE CRUZADA DA DEMAN-


quantidades de oferta e procura de certas mer- DA. É a variação na quantidade demandada de
cadorias, em função das alterações verificadas um produto provocada pela alteração de preço
em seus respectivos preços. De acordo com esse de outro produto. Ela é estimada de acordo com
conceito, as mercadorias podem ser classificadas a seguinte equação:
em bens de demanda inelástica ou fracamente elás-
dQi dPj dQiPj
ticas, e bens de demanda fortemente elástica. Os . 100 ÷ . 100 =
primeiros englobam os bens de primeira neces- Qi Pj dPjQi
sidade, indispensáveis à subsistência diária da onde Qi é a quantidade do produto i, e Pj é o
população. O sal é o mais característico entre preço do produto j. As variações nas quantida-
os bens de demanda inelástica. Consumido em des e preços estão representadas por d. Se os
pequenas quantidades, mas tratando-se de in- produtos i e j forem substituíveis, a elasticidade
grediente indispensável à alimentação cotidiana, cruzada será positiva, pois uma redução no pre-
as alterações no preço do sal praticamente em ço do produto j resultará na queda da demanda
nada afetam sua procura. Entre os bens de de- do produto i, na medida em que i será substi-
manda inelástica, encontram-se também alguns tuído por j. Se os bens forem complementares,
produtos de luxo, utilizados pela camada mais a elasticidade cruzada será negativa. Se não hou-
rica da população, que continua comprando es- ver relação entre os produtos i e j, a elasticidade
ses artigos, mesmo que os preços se elevem bas- cruzada será zero. Veja também Elasticidade de
tante. Os bens de demanda fortemente elástica Substituição.
são aqueles que não são indispensáveis à sub-
sistência da população, sendo geralmente utili- ELASTICIDADE DA DEMANDA. Medida da
zados pelos setores médios da sociedade. Sele- variação na demanda de uma mercadoria. A de-
cionados cuidadosamente pelos consumidores, manda, considerada a quantidade de certa mer-
uma elevação do preço desses artigos acarreta cadoria comprada por unidade de tempo, de-
imediata diminuição da demanda. Demanda pende de alguns fatores: do preço da mercado-
fortemente elástica caracteriza também os arti- ria, da renda do consumidor, do preço de outras
gos que podem ser, sem problemas, substituídos mercadorias, do gosto do consumidor, entre ou-
ELASTICIDADE DE SUBSTITUIÇÃO 200

tros. Quando há qualquer mudança num desses a 1, a demanda tem elasticidade unitária — ha-
fatores, ocorre variação na quantidade compra- verá a mesma variação percentual na quantida-
da da mercadoria na unidade de tempo em ques- de demandada e no preço. Quando o coeficiente
tão. A elasticidade da procura mede a variação é menor que 1, a demanda é inelástica — uma
relativa da quantidade comprada na unidade de variação percentual no preço resulta numa va-
tempo, quando ocorre uma variação em um dos riação percentual menor na quantidade deman-
fatores citados anteriormente, mantendo-se cons- dada. De modo semelhante, o coeficiente da elas-
tantes os demais. Em vista disso, mede-se a elas- ticidade-preço da oferta é obtido pela divisão da
ticidade-preço da demanda, a elasticidade-renda variação percentual da quantidade ofertada pela
da demanda e outras variáveis. Veja também variação percentual dos preços. Assim, haverá
Demanda. oferta com elasticidade unitária quando o coefi-
ciente for igual a 1; oferta elástica, quando ele
ELASTICIDADE DE SUBSTITUIÇÃO. Medi- for maior que 1, e oferta inelástica, quando for
da que serve para determinar o grau de facili- menor que 1. Veja também Oferta.
dade ou dificuldade com que os consumidores
substituem uma mercadoria por outra, o mesmo ELASTICIDADE-RENDA DA DEMANDA.
ocorrendo com os produtores diante do empre- Medida da variação na quantidade demandada
go dos mais diversos fatores de produção. O de um bem quando a renda do consumidor é
grau de elasticidade de substituição de uma alterada, mantendo-se constantes todos os ou-
mercadoria é representado pelo resultado da di- tros fatores que influenciam a demanda. Para
visão da mudança proporcional, na qual as duas obter o coeficiente de elasticidade-renda da de-
mercadorias se combinam, pela mudança pro- manda, divide-se a variação percentual da quan-
porcional na relação de suas utilidades margi- tidade demandada pela variação percentual na
nais. Quando o resultado da divisão é elevado renda do consumidor. Caso o coeficiente seja
(alta elasticidade de substituição), significa que negativo, o bem é chamado inferior e apresentará
grandes mudanças nas proporções combinadas queda na demanda quando houver aumento na
levariam a uma pequena mudança na utilidade renda do consumidor; é o que acontece, por
marginal relativa. Quanto aos fatores de produ- exemplo, com a margarina, cuja demanda dimi-
ção, a elasticidade de substituição é encontrada nui quando a renda do consumidor aumenta e
quando se divide a mudança proporcional na ele prefere adquirir manteiga. Se o coeficiente
relação de combinação de dois fatores pela mu- for positivo, o bem é chamado normal, e quando
dança proporcional na relação de suas produti- ocorre um acréscimo relativo na renda, a de-
vidades marginais físicas. Um resultado alto in- manda também se eleva em termos relativos; é
dica um elevado índice de substituição entre os o que sucede com os bens de luxo e os chamados
fatores considerados, enquanto um baixo valor supérfluos. Veja também Demanda.
revela uma baixa tendência à substituição.
ELECTRO. Liga de ouro e prata encontrada di-
ELASTICIDADE-EMPREGO. Coeficiente que retamente na natureza. Esta liga foi muito usada
mede a sensibilidade do emprego, isto é, suas na fabricação de moedas na Antiguidade, e as
variações diante das alterações da produção em proporções de cada metal eram aproximada-
cada setor ou numa economia como um todo. mente de 75% de ouro e 25% de prata. A cor
Por exemplo, se o produto industrial aumentar da liga era amarelo-pálido.
5% e o nível de emprego na indústria apenas
1%, estaremos diante de uma situação de ine- ELECTRONIC BANKING. Expressão em in-
lasticidade. Este conceito tem ganho importân- glês que significa a forma de transferência de
cia na mesma medida que o crescimento do fundos entre bancos ou instituições financeiras
produto (especialmente o industrial) nos paí- por meio de sinais eletrônicos em vez de ins-
ses mais desenvolvidos tem sido realizado, nos trumentos como cheques, certificados de depó-
últimos anos, com um aumento do emprego sito etc.
muito pequeno.
ELEFANTE BRANCO. Expressão de uso muito
ELASTICIDADE-PREÇO. Relação entre a va- amplo, mas que, aplicada aos negócios, designa
riação relativa na quantidade procurada ou ofer- empreendimento inviável do ponto de vista eco-
tada de um bem e uma variação relativa de seu nômico-financeiro, por serem suas despesas
preço. O coeficiente de elasticidade-preço da de- muito superiores às receitas possíveis. O termo
manda pode ser obtido dividindo-se a variação tem origem no balanço entre o que custa manter
percentual dos seus preços. Caso o coeficiente um elefante e os rendimentos que podem ser
seja maior do que 1, a procura é dita elástica, extraídos dele mediante sua atividade.
ou seja, uma variação percentual no preço re-
sultará numa variação percentual maior na ELETROBRÁS — Centrais Elétricas Brasilei-
quantidade procurada. Se o coeficiente for igual ras S.A. Empresa estatal brasileira criada em
201 EMBRAER

25/4/1961, vinculada ao Ministério das Comu- bitualmente assumiram a liderança do processo


nicações e com sede em Brasília. Controla de- econômico: elite dinástica, proveniente da aristo-
zesseis empresas estatais subsidiárias e partici- cracia agrária (caso do Japão); elite de classe média,
pa, como acionista, de vinte empresas controla- composta de membros de uma nova classe em-
das por governos estaduais e organismos regio- presarial (Inglaterra e Estados Unidos); intelec-
nais. É o órgão responsável pela execução da tuais revolucionários de tendência socialista (ex-
política nacional de energia elétrica, contando União Soviética, China, Cuba); administradores
para isso com recursos internos e externos. coloniais, representantes do poder metropolitano
nas colônias (África e Ásia); e líderes nacionalistas,
ELIGIBLE INTEREST PAPER. Veja Bradies. recrutados no interior das camadas superiores
ou nas Forças Armadas de países em desenvol-
ELIGIBLE PAPER. Expressão em inglês que sig-
vimento (Egito, Líbia).
nifica ativos financeiros que um Banco Central
está disposto a comprar (redescontar) ou aceitar ELs (Eligible Interest Bonds). Veja Bradies.
como garantia de empréstimos em circunstân-
cias especiais em suas negociações com deter- EM ESPÉCIE. Veja In Natura.
minadas instituições, geralmente do setor pri-
EMBARGO. Em termos jurídicos, embargo é o
vado. Veja também Bradies.
impedimento, obstáculo ou embaraço judicial
ELISÃO FISCAL. Método que empresas encon- utilizado por uma pessoa para evitar uma ação
tram, amparadas nos desvãos da legislação, para de outra que seja prejudicial a seus interesses
não pagar impostos ou pagar menos do que de- ou direitos. Compreende desde a suspensão de
veriam. Isto se deve ao fato da legislação per- despachos ou sentenças judiciais até a interdição
mitir brechas, ou interpretações que são apro- de bens, com o conseqüente arresto ou seqüestro
veitadas especialmente por grandes empresas, dos mesmos. Pode ser uma forma de defesa de
ou conglomerados. quem é executado por dívida ou obrigação, ou
do executante, para garantir bens suficientes
ELITE. Minoria influente que toma as decisões para o pagamento de uma dívida da qual é cre-
no interior de uma classe ou grupo social. Dis- dor. No âmbito internacional, é a suspensão do
tinguem-se várias elites, abrangendo os mem- comércio ou do crédito entre dois países como
bros dos grupos ocupacionais que possuem sta- forma de pressão econômica e/ou política. Os
tus elevado no conjunto da sociedade: a elite po- Estados Unidos utilizaram e continuam utilizan-
lítica, a elite intelectual, a elite empresarial e a elite do esta arma em maior ou menor grau contra
militar estão entre as mais poderosas. O conceito Cuba, contra a ex-União Soviética (quando de-
de elite nas ciências políticas e sociais foi par- terminaram o embargo à venda de cereais àquele
ticularmente estudado pelos sociólogos italianos país em represália à invasão do Afeganistão) e
Vilfredo Pareto e Gaetano Mosca, no início do contra a África do Sul, devido à política do apar-
século XX. Para eles, a elite seria formada por theid praticada pelos governos até a eleição do
indivíduos superiores, socialmente bem organi- presidente Nelson Mandela. Veja também Blo-
zados. Ambos se preocuparam especificamente queio; Apartheid.
com a análise das elites políticas, controladoras
do poder e donas de todas as vantagens pro- EMBARGO DE PRÍNCIPE. Veja Fato do Prín-
cipe.
porcionadas pela função. Opunham-se, dessa
forma, às teorias que centralizavam a análise po- EMBRAER — Empresa Brasileira de Aeronáu-
lítica e social no mecanismo das classes sociais tica S.A. Sociedade de economia mista dedicada
e no conflito existente entre elas. Atualmente, o à fabricação de aviões e que, em 1982, situava-se
estudo das elites relaciona-se com a complexi- entre as dez maiores fabricantes do mundo no
dade das chamadas sociedades de massa, que setor de aviação geral. Possui filiais na França
abrigam poderosas organizações burocráticas e nos Estados Unidos, e até 1982 tinha produzido
(empresas oligopólicas, partidos políticos, sin- 2 915 aparelhos. O governo federal detém 51%
dicatos, meios de comunicação de massa e or- do capital flutuante e 8% do capital integraliza-
ganizações estatais). Todas essas organizações do. Criada em 1968, sob supervisão do Minis-
seriam dominadas por elites específicas. O so- tério da Aeronáutica (ao qual está vinculada), a
ciólogo Wright Mills, analisando a sociedade empresa tem sede em São José dos Campos (SP).
norte-americana em seu livro As Elites do Poder, Resultou das atividades de um grupo de enge-
distingue três elites fundamentais — dirigentes nheiros do Instituto Tecnológico da Aeronáutica
de empresas, líderes políticos e chefes militares —, (ITA), que projetou e desenvolveu os aviões
todas basicamente recrutadas no interior do Bandeirante e Xavante, grandes sucessos comer-
mesmo estrato social e unificadas em torno de ciais da aviação brasileira. Com produção nor-
objetivos comuns. Outros sociólogos norte-ame- mal iniciada em 1973, o Bandeirante, turboélice
ricanos distinguem cinco tipos de elite que ha- para vinte lugares, fazia parte, em 1982, das li-
EMBRAFILME 202

nhas comerciais de mais de vinte países. Outros de (FM, por exemplo) e televisão. A partir de
sucessos de vendas da Embraer são o avião mi- 1967, a empresa instalou troncos de microondas
litar de treinamento Tucano e o avião agrícola de alta capacidade ligando todos os Estados do
Ipanema. Em 1985, a empresa iniciou a operação Brasil e a estação do sistema internacional de
comercial do Brasília, um turboélice para trinta comunicações via satélite. Em 1975, a Embratel
lugares, o maior modelo a ser construído no país integrou o país ao sistema internacional de dis-
e do qual se projeta uma versão militar para cagem direta (DDI). No mesmo ano, a instalação
patrulhamento marítimo e transporte de tropas. de novos equipamentos colocava o Brasil entre
Também se encontram em desenvolvimento os cinco maiores usuários do sistema interna-
versões do jato de ataque AM-X, em conjunto cional de comunicações via satélite. Veja tam-
com as indústrias italianas Aermacchi e Aerita- bém Informática.
lia. As dificuldades financeiras durante os anos
90 levaram a sua privatização em 1994, quando EMBRATER — Empresa Brasileira de Assis-
foi adquirida por um consórcio formado pelo tência Técnica e Extensão Rural. Empresa pú-
grupo Bozano Simonsen, Sistel (fundo de pre- blica vinculada ao Ministério da Agricultura, foi
vidência da Telebrás), Previ (fundo de previdên- criada em junho de 1974 com o objetivo de pro-
mover, estimular e coordenar programas visan-
cia do Banco do Brasil), a Fundação Cesp e o
do à difusão nas áreas rurais de conhecimentos
Clube de Investimentos dos Empregados da
agrícolas econômicos e sociais. Da mesma forma
própria Embraer.
que a Embrafilme e outras autarquias, a Embra-
EMBRAFILME — Empresa Brasileira de Fil- ter foi extinta em 15/3/1990, segundo medida
mes S.A. Sociedade de economia mista criada provisória de nº 151, mais tarde referendada
em 1969 pelo decreto-lei nº 862, em substituição pelo Congresso como parte de um programa de
ao Instituto Nacional do Cinema. A criação da diminuição das atividades econômicas do go-
empresa teve como objetivo incentivar o desen- verno federal.
volvimento da indústria cinematográfica nacio-
EMBRATUR — Empresa Brasileira de Turis-
nal sob os aspectos técnico, artístico e cultural,
mo. Entidade governamental criada em 1966
mediante a concessão de financiamento, de co-
com o objetivo de incentivar a indústria turística
mercialização, distribuição e divulgação dos fil-
no país. A atuação da Embratur faz-se por meio
mes no mercado interno e externo, assim como
de incentivos fiscais à iniciativa privada para
o registro dos aspectos socioculturais do país,
construção e aperfeiçoamento da infra-estrutura
por meio de pesquisa, prospecção, recuperação
turística do país e do controle de qualidade dos
e conservação de filmes, além da produção e
serviços de interesse turístico. Além de incenti-
difusão de filmes educativos, técnicos e cientí- vos fiscais, o governo participa também com in-
ficos. A Embrafilme, assim como outras autar- vestimentos no setor, obtidos do Imposto de
quias do governo federal, foi extinta em 15/3/1990, Renda das pessoas jurídicas.
segundo medida provisória de nº 151, posterior-
mente aprovada pelo Congresso como parte de EMH. Iniciais da expressão em inglês efficient
um plano de estabilização financeira que visava, market hypothesis, que significa Hipótese do Mer-
entre outras medidas, diminuir a participação cado Eficiente. Veja também Hipótese do Mer-
do Estado em várias atividades. cado Eficiente.
EMBRAMEC. Veja BNDESPAR — BNDES EMISSÃO FIDUCIÁRIA. Emissão de papel-
Participações S.A. moeda cujo valor de face não corresponde a uma
reserva real de ouro ou outro metal precioso. O
EMBRATEL — Empresa Brasileira de Teleco- termo “fiduciária”, que se aplica hoje pratica-
municações S.A. Empresa de economia mista, mente a todo o papel-moeda em circulação no
constituída em setembro de 1965 pelo governo mundo (e também às moedas constituídas de
federal com a finalidade de implantar e explorar metal não precioso), refere-se à “fé” ou “con-
industrialmente os serviços de telecomunicaçõ- fiança” (do latim fides e fiducia) que merece o
es. É uma sociedade por ações, de cujo capital emissor do papel-moeda. A generalização das
podem participar somente a União (com 51% emissões fiduciárias em todo o mundo decorreu
obrigatoriamente), bancos e empresas governa- do gradativo declínio do padrão-ouro e do pa-
mentais. Até 1972, estava diretamente ligada ao drão câmbio-ouro. Veja também Fiat Money;
Ministério das Comunicações. Com a criação da Moeda Fiduciária; Padrão Câmbio-ouro; Pa-
Telebrás, tornou-se uma subsidiária dessa em- drão-ouro.
presa, transferindo-lhe os recursos do Fundo
Nacional de Telecomunicações. A Embratel cen- EMISSOR. País, autoridade monetária ou ins-
traliza nacionalmente o controle sobre os servi- tituição responsável pela emissão e colocação de
ços de telefones, telegrafia, telex, transmissão de moeda (metálica ou papel-moeda) em circula-
dados, transmissão radiofônica de alta-fidelida- ção. Entre essas instituições no Brasil, destacam-
203 EMPRESA

se em cada época os bancos, o Tesouro Nacional, namental e empresarial. Numa economia de


o Banco Central e as Caixas de Conversão e de mercado, distinguem-se três categorias entre a
Estabilização. população economicamente ativa: empregado-
res, empregados e trabalhadores autônomos. Os
EMITENTE. Pessoa física ou jurídica responsá- empregadores e, por vezes, os autônomos são
vel pela emissão de um título (em geral nego- aqueles que possuem capital próprio, ou tomado
ciável) como cheque, nota promissória, duplica- de empréstimo, que lhes permite empregar ou-
ta, ação etc. e por seu pagamento na data do tras pessoas. Já os empregados não precisam dis-
vencimento. por de recursos próprios, apenas de sua capa-
EMPENHO. Termo utilizado na área de admi- cidade de trabalho e de algum empregador que
nistração e finanças públicas para designar o irá contratá-los. O nível de emprego consiste na
compromisso de pagamento, no caso assumido relação entre aqueles que podem e desejam tra-
pelo governo, dentro dos limites determinados balhar e os que efetivamente o conseguem, isto
das dotações orçamentárias e utilizados em con- é, aqueles que, em tese, são necessários para criar
dições específicas. Emanado por autoridade o produto social. Os que possuem condições fí-
competente, cria obrigação de pagamento para sicas ou mentais e desejo de enquadrar-se na
a administração governamental. divisão social do trabalho constituem a oferta
da força de trabalho. Essa oferta depende da
EMPENHO ESTIMATIVO. Ato gerador de o- situação econômica e social do país. Os aspectos
brigação para o governo, referente a pagamentos sociais influem na oferta da força de trabalho
de despesas cujo montante não se pode previa- na medida em que determinam a idade em que
mente determinar. uma pessoa estaria habilitada ao desempenho
de determinada atividade, a participação das
EMPENHO GLOBAL. Ato gerador de obriga-
mulheres no trabalho, o prestígio conferido a
ção para o governo, referente a pagamento de
certas funções, entre outros fatores. A procura
despesas contratuais sujeitas a parcelamento de
de força de trabalho é o resultado da demanda
serviços periódicos ou de base mensal.
de bens e serviços, do volume de mão-de-obra
EMPENHO ORDINÁRIO. Ato gerador de o- necessário para produzi-los e do grau em que
brigação para o governo, referente a pagamento a capacidade de produção das empresas é uti-
de despesas cujo montante pode ser previamen- lizado. Todos esses fatores — e o nível de em-
te determinado. prego em geral — dependem da existência de
uma demanda de consumo por parte da popu-
EMPIRISMO. Doutrina filosófica segundo a lação. Se essa demanda for relativamente baixa,
qual a origem de todo o conhecimento é a ex- parte da capacidade instalada das empresas fi-
periência sensível. Opõe-se ao racionalismo, cará ociosa e parte da força de trabalho, desem-
para o qual a origem do conhecimento é a pró- pregada. Para evitar que isso aconteça, os go-
pria razão. Encontrado já na Antiguidade grega, vernos de países capitalistas adotam certas me-
entre os sofistas e outros filósofos, o empirismo didas para elevar o consumo de mercadorias e
desenvolveu-se na Idade Moderna a partir de serviços, de modo que a economia seja condu-
Francis Bacon (1521-1626). Grandes filósofos em- zida à situação de pleno emprego, na qual todos
piristas foram John Locke (1632-1704), George os que têm capacidade, aptidão e desejo de tra-
Berkley (1685-1753) e David Hume (1711-1776). balhar possam efetivamente fazê-lo. Veja tam-
No século XIX, o filósofo e economista Stuart bém Emprego; Desemprego.
Mill (1806-1873) foi seu maior representante. No
século XX, o empirismo assumiu novas formas, EMPREGO, Conselho Nacional de. Órgão in-
constituindo o chamado empirismo lógico, de terministerial ligado às áreas econômica e social
Bertrand Russel (1872-1970) e outros. No terreno e coordenado pelo Ministério do Trabalho. Cria-
da economia, o empirismo e o racionalismo apa- do em maio de 1977, o Conselho tem a função
recem como base metodológica dos especialistas de orientar as ações do governo e traçar uma
que tendem a privilegiar ora uma ora outra des- política de emprego para todo o país. Os dados
sas posições. para isso são fornecidos pelo Sistema Nacional
EMPREENDIMENTO. Veja Empresa. de Emprego (Sine).

EMPREGO. Em sentido amplo, é o uso do fator EMPRESA. Organização destinada à produção


de produção por uma empresa. Estritamente, é e/ou comercialização de bens e serviços, tendo
a função, o cargo ou a ocupação remunerada como objetivo o lucro. Em função do tipo de
exercida por uma pessoa. A oferta total de em- produção, distinguem-se quatro categorias de
pregos que um sistema econômico pode pro- empresas: agrícola, industrial, comercial e financei-
porcionar depende do que se produz, da tecno- ra, cada uma delas com um modo de funciona-
logia empregada e da política econômica gover- mento próprio. Independentemente da natureza
EMPRESA PRIVADA 204

do produto, a empresa define-se por seu estatuto o do capitalista, dono da empresa. A busca de
jurídico, podendo ser pública, privada ou de eco- maior produtividade, a crescente diversificação
nomia mista. Uma empresa pode ser organizada do mercado e o rápido progresso tecnológico
de várias formas, dependendo da maneira como fizeram com que as empresas se tornassem cada
o capital se divide entre os proprietários. Nas vez mais complexas, o que resultou numa maior
pequenas e médias empresas, a direção é, habi- divisão do trabalho e na intensa participação de
tualmente, entregue aos proprietários. Já nas técnicos especializados. Delegando poderes, o
grandes empresas, é freqüente a contratação de proprietário das grandes firmas atua como um
administradores profissionais para dirigi-las. As juiz das decisões dos quadros superiores, dei-
pequenas e médias empresas organizam-se na xando de ser dono-administrador para ser ape-
forma de sociedades por cotas, com responsabili- nas dono. O administrador, por seu lado, só é
dade limitada ou não, ou sob a forma de socie- considerado empresário quando assume os ris-
dades anônimas de capital fechado. As grandes em- cos do empreendimento (por participação no ca-
presas organizam-se geralmente na forma de so- pital e nos lucros, por exemplo). Veja também
Gerencialismo.
ciedades anônimas de capital aberto, com ações (co-
tas unitárias) livremente negociáveis nas Bolsas EMPRESAS COLIGADAS. Empresas juridica-
de Valores. Veja também Administração. mente independentes, mas cuja direção pertence
aos mesmos sócios. Isso ocorre quando esse con-
EMPRESA PRIVADA. Organização pertencen- junto de sócios detém um percentual de parti-
te a indivíduos ou grupos, que produz e/ou co- cipação suficiente para assegurar o comando da
mercializa bens ou serviços com o objetivo de empresa.
lucro. Apesar do crescente aumento da ingerên-
cia estatal nas atividades econômicas, a empresa EMPRESAS DE CAPITALIZAÇÃO. Instituições
privada predomina nos grandes países capita- financeiras que oferecem ao público um tipo de
listas, cuja economia se assenta na instituição poupança — os títulos de capitalização — no qual
da propriedade privada. Veja também Econo- se assume o pagamento de pequenas parcelas
mia Mista; Estatismo; Livre-Empresa. mensais. O reembolso do capital é geralmente
feito após períodos superiores a dez anos; então
EMPRESA PÚBLICA. Organização que se des- o portador do título recebe a quantia estabele-
tina a garantir a produção de bens e serviços cida, acrescida de juros. Esses rendimentos cos-
fundamentais à coletividade (transporte, energia tumam ser inferiores aos pagos pelas cadernetas
elétrica, combustível etc.). É criada por lei e é de poupança, mas os portadores de títulos de
de responsabilidade do Estado. Os contratos, a capitalização concorrem mensalmente a prêmios
organização da empresa, os métodos de finan- em dinheiro.
ciamento, de contabilidade etc. seguem as nor-
mas do direito privado, o que lhes permite agir EMPRESAS ESTRANGEIRAS. São aquelas so-
de acordo com princípios comerciais. Em geral, ciedades que não possuem a sede de sua admi-
a empresa pública é dirigida a atividades que nistração (a matriz) no Brasil. Dependem de au-
requerem investimentos muito elevados e apre- torização do governo federal para que suas fi-
sentam retorno lento, sendo por isso pouco atra- liais, sucursais, subsidiárias ou agências operem
tivas para a iniciativa particular. Ao mesmo tem- no Brasil. No entanto, como tais empresas po-
po, a empresa pública costuma ter assegurado derão sempre se associar a empresas brasileiras,
o monopólio de sua atividade. Veja também basta que tal ocorra para que as empresas pos-
Economia Mista; Estatismo. sam superar este obstáculo e se instalar em ter-
ritório nacional sem a necessidade de pedido
EMPRESA RURAL. Veja Estatuto da Terra. de autorização ao governo brasileiro.

EMPRESA SUBSIDIÁRIA. Veja Subsidiária. EMPRESAS FORMA-U. Empresas nas quais o


processo de decisão está centralizado num gru-
EMPRESÁRIO. Pessoa ou grupo de pessoas que po superior de executivos cujas responsabilida-
inicia e/ou administra uma empresa, assumindo des funcionais aplicam-se a tudo o que a em-
a responsabilidade por seu funcionamento e efi- presa produz. Esta forma de organização geral-
ciência. Encarrega-se de reunir e coordenar os mente é característica de pequenas e médias em-
fatores de produção no processo produtivo, ava- presas. Quando aplicada a grandes, geralmente
liar os mecanismos de oferta e demanda e as- provoca uma perda de controle.
sumir os riscos inerentes ao empreendimento. EMPRÉSTIMO. Quantia de dinheiro obtida
É quem cuida do suprimento de capital, compra com o compromisso de devolução ao fim de de-
e combina os insumos e decide o nível da pro- terminado prazo, mediante remuneração (juro).
dução. No início da Revolução Industrial e du-
rante boa parte da primeira metade do século EMPRÉSTIMO AMARRADO. Veja Crédito
XIX, o papel do empresário confundia-se com Contingente.
205 ENCILHAMENTO

EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO. É aquele pre- econômico que traduz toda a atividade humana
visto no artigo 148 da Constituição, que reza o em termos de lucro. Veblen usou o termo ao
seguinte: “A União, mediante lei complementar, analisar os atributos funcionais da moderna clas-
poderá instituir empréstimos compulsórios, a) se capitalista em sua obra principal, The Theory
para atender a despesas extraordinárias, decor- of the Leisure Class (A Teoria da Classe Ociosa),
rentes de calamidade pública, de guerra externa 1899, na qual desmistifica a maioria dessas fun-
ou de sua iminência; b) no caso de investimento ções, apontando seu caráter fictício. Também
público, de caráter urgente e de relevante inte- utilizou o termo “cultura pecuniária” para refe-
resse nacional, observado o disposto no artigo rir-se ao processo mental e às racionalizações
150”. No parágrafo único, lê-se o seguinte: “A de conduta surgidas sob o capitalismo.
aplicação dos recursos provenientes de emprés-
timo compulsório será vinculada à despesa que ENAP. Iniciais de Escola Nacional de Adminis-
fundamentou sua instituição”. tração Pública, organismo vinculado ao Minis-
tério da Administração e Reforma do Estado
EMPRÉSTIMO-JUMBO. Denominação dada a (Mare), tendo por finalidade a formação de ad-
um empréstimo quando este ultrapassa a cifra ministradores públicos, o treinamento de servi-
de 1 bilhão de dólares. Geralmente, é concedido dores do serviço público federal e a formulação
por um consórcio (syndicate) de bancos, uma vez de estruturas organizacionais para o melhor de-
que seria uma quantia muito grande para as dis- sempenho dos servidores da União. Sua sede
ponibilidades de apenas um banco. O Brasil já está localizada em Brasília.
obteve empréstimos dessa natureza a partir de
1982, em função da crise de seu balanço de pa- ENCARGOS SOCIAIS. Conjunto de obriga-
gamentos e da dívida externa. Veja também Ba- ções trabalhistas que devem ser pagas pelas em-
lanço de Pagamentos; Dívida Externa; Exposu- presas mensalmente ou anualmente, além do sa-
re; Syndicate. lário do empregado. No Brasil, incluem-se entre
os encargos sociais os depósitos feitos no Fundo
EMPRÉSTIMO COLATERAL. Empréstimo de de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), o
curto prazo em relação ao qual o devedor de- percentual da firma devido ao Instituto de Ad-
positou junto ao credor algum tipo de título co- ministração da Previdência e Assistência Social
lateral, como ações, certificados de depósitos (Iapas), o seguro de vida e o 13º salário. De modo
bancários etc. que poderá ser vendido no mer- geral, esses encargos podem acarretar para a em-
cado se a dívida não for paga no seu vencimento. presa um desembolso mensal entre 50 e 90% a
Veja também Colateral. mais em relação ao salário de cada empregado.
Veja também Custo Brasil.
EMPRÉSTIMO COMPENSATÓRIO. Recurso
financeiro que cada país sócio-cotista do Fundo ENCILHAMENTO. Política financeira de estí-
Monetário Internacional pode obter como cré- mulo à indústria, adotada por Rui Barbosa quan-
dito de emergência, sem necessidade de subme- do ministro da Fazenda (novembro de 1889 a
ter-se às exigências do próprio FMI, para ajustar janeiro de 1891), após a proclamação da Repú-
internamente sua economia. Para obter o em- blica. Baseava-se no incremento do meio circu-
préstimo, o país solicitante deve provar que sua lante com a criação de bancos emissores (tendo
balança comercial se encontra em desequilíbrio como lastro não libras-ouro, mas títulos da dí-
devido à deterioração da relação de trocas, isto vida pública), cujos empréstimos teriam de ser
é, à baixa dos preços das exportações e elevação aplicados apenas no financiamento de novas
dos preços das importações, e que o déficit re- empresas industriais (e não na agricultura). Por
sultante contribuiu para um saldo negativo no isso, incentivou-se intensamente a criação de so-
balanço de pagamentos. ciedades anônimas, concitando-se o público a
EMPRÉSTIMO-PONTE (Bridge Loan). Em- investir seu capital na indústria e no comércio.
préstimo internacional de emergência, a curto Com créditos, garantias oficiais e um ambiente
prazo, feito para que um país possa cobrir ne- psicológico favorável, a Bolsa de Valores do Rio
cessidades imediatas de pagamento. É sempre de Janeiro entrou em intensa atividade e a po-
vinculado a um empréstimo a prazo maior já lítica do ministro foi popularmente identificada
contratado e que, ao ser liberado, será usado com o encilhamento dos cavalos logo antes da
em parte para pagar o empréstimo-ponte. Tra- largada na pista dos hipódromos, quando a ati-
ta-se, portanto, de um mero expediente adotado vidade dos apostadores se torna frenética. As
enquanto se aguarda a liberação de um crédito. ações em alta rápida e constante faziam a for-
tuna de uma infinidade de especuladores. Sur-
EMULAÇÃO PECUNIÁRIA. Conceito criado giram com isso numerosas empresas inexeqüí-
pelo economista e sociólogo norte-americano veis e mesmo fictícias. O investimento especu-
Thorstein Veblen (1857-1929) em resposta à abs- lativo na Bolsa tornou-se um fim em si mesmo
tração do “homem econômico” e ao processo e não o que imaginava Rui Barbosa, esperançoso
ENCLOSURE 206

de ver esse dinheiro empregado de fato em ati- pode ser conseqüência de uma necessidade em-
vidades industriais produtivas. O resultado foi presarial (como, por exemplo, a compra de ma-
uma desenfreada espiral inflacionária e de fa- quinário para enfrentar a concorrência) ou de
lências. Esses efeitos negativos foram politica- um erro na tomada de decisões (retorno do in-
mente usados pelos inimigos de Barbosa, loca- vestimento mais lento do que o esperado, por
lizados sobretudo na cafeicultura e nas firmas exemplo, com perda de liquidez para a empre-
importadoras, cujos interesses o ministro con- sa). Na área governamental, acontece a mesma
trariara. Rui Barbosa procurara responder às ne- coisa: a urgência na concretização de uma obra
cessidades do mercado nacional, que contava de grande vulto ou um erro no planejamento
naquela altura com grande contingente de imi- podem levar o país a maior endividamento. Em
grantes e, em certa medida, fora ampliado tam- qualquer dos casos (setor privado ou governa-
bém com os negros libertos. Seu projeto objeti- mental), há necessidade de um limite de endi-
vava ainda limitar os privilégios dos cafeiculto- vidamento, variável segundo o tipo de atividade
res, que não pagavam impostos territoriais e e composição da dívida. Na área privada, os
eram beneficiados por um sistema cambial fixo limites são estabelecidos pelo bom senso e pela
que transferia para o conjunto da população os direção da empresa; na área pública, são deter-
prejuízos causados pelas baixas dos preços do minados por leis, uma vez que as dívidas pú-
café. Veja também Barbosa, Rui de Oliveira. blicas afetam de maneira determinante todo o
comportamento econômico da sociedade.
ENCLOSURE. Expressão inglesa que significa
cercamento. A partir do século XVII, na Ingla- ENDOSSO. Assinatura no verso (do latim in-
terra, passou a designar o processo de elimina- dorsum, “nas costas”) de um título, pelo qual o
ção dos campos abertos ou pastos comuns me- proprietário (endossante) transfere sua posse para
diante o cercamento de terras, que passaram a outrem (endossatário). O endosso pode ser em
constituir propriedade privada dos landlords. O branco (ou incompleto, não-qualificado, subentendi-
processo de cercamento provocou a substituição do), quando o endossante apenas assina sem in-
de lavouras por pastagens para a produção de dicar o endossatário; ou em preto (nominativo, ple-
lã (matéria-prima por excelência da florescente no, completo, qualificado, expresso), quando o fa-
indústria têxtil inglesa), causando a ruína dos vorecido é nomeado no título.
camponeses que antes habitavam essas terras e
sua migração maciça para as cidades. Veja tam- ENERGÉTICA, Política. Consiste nas opções re-
bém Landlord. ferentes à exploração das diferentes fontes de
energia, com base nos recursos energéticos, eco-
ENCOMENDEROS. Veja Encomienda. nômicos e tecnológicos disponíveis. Praticamen-
te toda a energia disponível na Terra provém,
ENCOMIENDA. Durante o período colonial na direta ou indiretamente, da energia solar (98%,
América Espanhola, a encomienda consistia numa 99%). Dela se originam as fontes renováveis de
concessão real que inaugurou o sistema de tri- energia, entre as quais a energia elétrica, e as
buto em trabalho. Foi usada primeiro na Espa- não-renováveis (carvão, petróleo, gás natural e
nha sobre os mouros vencidos e mais tarde na xisto). Além da energia solar, há ainda energia
América Latina sobre os índios nativos. Estes geotérmica (calor provocado pela atividade na-
tinham de pagar tributo sobre as terras que ha- tural do urânio e tório existentes no interior da
viam sido concedidas a fidalgos espanhóis. Em Terra), a energia das marés e a energia nuclear
troca, recebiam proteção e instrução cristã. Esse (proveniente de átomos). O desenvolvimento
sistema destruiu as populações indígenas, espe- tecnológico condicionou, ao longo do tempo, as
cialmente na região do Caribe, o que levou a possibilidades de exploração das diferentes fon-
Coroa espanhola a suprimir o sistema. Depois tes de energia disponíveis. Em alguns casos, a
de 1542, foi substituído pelo repartimiento, siste- tecnologia se encontra plenamente desenvolvida
ma em que os índios deveriam prestar serviços e então se pode falar de fontes convencionais
aos conquistadores, seus soldados, oficiais e de energia (carvão, petróleo, gás natural, energia
missionários. Na verdade, tratava-se de um sis- hidrelétrica, fotossíntese). Em outros casos, a tec-
tema de trabalho forçado. nologia é incipiente, há barreiras econômicas ou
ENCUMBRANCE. Termo em inglês que signi- de padrão de consumo. Fala-se então de fontes
fica uma obrigação ou gravame que incide sobre não-convencionais de energia (marés, ventos,
uma propriedade imobiliária — como, por xisto, energia geotérmica, fissão nuclear, energia
exemplo, uma hipoteca —, que reduz o valor solar). Por último, há as fontes exóticas, em que
líquido da mesma, ou a parte de valor real que a tecnologia ainda não está demonstrada, como,
o proprietário tem sobre ela. por exemplo, no caso da fusão nuclear. É im-
possível também falar de fontes renováveis de
ENDIVIDAMENTO. Aumento das dívidas de energia (hidrelétrica, fotossíntese) e não-renová-
uma empresa ou governo. O endividamento veis ou fósseis (carvão, petróleo, gás natural).
207 ENGELS, Friedrich

Os países industrializados dependem em larga Engel) e das leis que também levam seu nome.
escala do petróleo, que historicamente substi- Seus primeiros estudos em conjunto com o so-
tuiu o carvão como principal fonte de energia. ciólogo francês Frédéric Le Play versaram sobre
A exploração da energia hidrelétrica, por sua a composição das despesas das famílias. Os da-
vez, atingiu seus limites máximos nesses países, dos obtidos levaram Engel a acreditar na exis-
com a tecnologia atualmente existente. Prevendo tência de uma relação entre a renda familiar e
o esgotamento dos recursos energéticos conven- os gastos com alimentação. Esta foi uma das pri-
cionais não-renováveis do planeta, e impulsio- meiras relações funcionais estabelecidas quanti-
nados pela crise do petróleo, esses países inves- tativamente em economia. Engel observou tam-
tem hoje no aproveitamento de fontes não-con- bém que as famílias com renda mais elevada
vencionais e exóticas, particularmente a nuclear. tendiam a gastar mais com alimentação, mas que
No Brasil, a energia hidrelétrica oferece ainda a participação desses gastos na renda variava
grandes possibilidades de aproveitamento, pois de forma inversa à magnitude desta. Ou seja,
apenas 20% dos seus 120 milhões de quilowatts com o aumento da renda diminuía proporcio-
são aproveitados atualmente. A fotossíntese, nalmente a despesa com alimentação, mesmo
com o Programa Nacional do Álcool, passou a que esta crescesse de forma absoluta. Trata-se
ocupar lugar de destaque na política energética da lei mais importante de Engel. Por exemplo,
nacional, visando à substituição do petróleo im- no caso brasileiro, ela pode ser observada no
portado, visto que as perspectivas de auto-su- exame dos resultados da Pesquisa Nacional por
ficiência na produção de petróleo são remotas. Amostragem Domiciliar (PNAD) de 1974: en-
A utilização da energia nuclear, apesar de já pos- quanto as famílias mais pobres gastavam 62,8%
suir um programa em desenvolvimento, esbarra de sua renda com alimentação, as mais ricas uti-
nas dificuldades econômicas do país e nos pro- lizavam apenas 6,3%, para uma média nacional
blemas de transferência de tecnologia. A isso de 25,3%. No entanto, os mais ricos despendiam
acrescentam-se as exigências de maior partici- cerca de oito vezes mais com alimentação do
pação da comunidade científica e da indústria que os mais pobres em termos absolutos. Esta
nacional. O consumo de energia per capita no regularidade estatística levou Engel a inferir
Brasil atual é de 1 quilowatt, prevendo-se que que, no processo de desenvolvimento econômi-
atinja 3 a 4 quilowatts no ano 2000. O consumo co, a participação relativa da agricultura tende-
atual, nos Estados Unidos, é de aproximada- ria a diminuir na renda nacional. Mediante a
mente 10 quilowatts. Veja também Fontes de tabulação de uma pesquisa entre famílias ope-
Energia. rárias belgas em 1857, Engel foi o primeiro a
mostrar que as despesas familiares com alimen-
ENERGIA. Veja Energética, Política; Fontes de tação dependiam da renda ou da despesa total
Energia. realizada. A representação gráfica dessa tendên-
ENERGIA EÓLICA. Energia obtida mediante o cia tornou-se conhecida como Curva de Engel.
deslocamento dos ventos por meio de moinhos, Entre 1860 e 1882, Engel dirigiu o Instituto Es-
velame de navios etc. tatístico da Prússia, em Berlim, e em 1885 foi
um dos fundadores do Instituto Estatístico In-
ENFITEUSE. Contrato que atribui ao titular o ternacional.
direito de explorar um imóvel alheio, sem lhe
destruir a essência, mediante o pagamento de ENGELS, Friedrich (1820-1895). Pensador ale-
um foro anual. O contrato de enfiteuse é per- mão, colaborador de Karl Marx na elaboração
pétuo e distingue-se dos demais direitos reais dos princípios do socialismo científico e do ma-
constituídos sobre coisa alheia por sua ampli- terialismo histórico. Abordou temas de filosofia,
tude: seu detentor tem, além de uso (domínio história, etnologia, ciências naturais, estratégia
útil), os direitos de hipotecar, alienar e transmitir militar e economia política. Filho de um rico in-
por sucessão hereditária. O proprietário tem, no dustrial alemão de Manchester (Inglaterra), seus
entanto, o direito de receber, além do foro, o trabalhos sobre economia antecedem as pesqui-
laudêmio, que é uma porcentagem do valor da sas de Marx sobre o modo de produção capita-
transação, sempre que o domínio útil é transfe- lista. Em 1843, escreveu o artigo Umrisse zur Kri-
rido a outra pessoa. Essa porcentagem varia de tik der Nationalökonomie (Esboços para uma Crí-
caso para caso e de cidade para cidade. Geral- tica da Economia Política), considerado por
mente, as propriedades enfitêuticas são áreas da Marx — que só conheceria o autor no ano se-
Marinha, ou pertencentes à Cúria Metropolita- guinte — uma obra profunda, que influenciaria
na, ou aos descendentes da família real brasi- sua teoria econômica. Em Die Lage der arbeitenden
leira. Veja também Foro; Laudêmio. Klasse in England (A Situação da Classe Operária
na Inglaterra), 1845, trabalho pioneiro de pes-
ENGEL, Ernest (1821-1896). Estatístico alemão quisa de campo, Engels analisa as conseqüências
mais conhecido pela descoberta da Curva (de sociais da Revolução Industrial nas condições
ENGENHARIA HUMANA 208

de vida dos operários (condições que o levariam criação do termo é atribuída aos pensadores nor-
a tornar-se partidário de uma solução comunista te-americanos Roscoe e Pound, mas uma for-
desde 1845). Publicou com Marx Die deutsche mulação mais elaborada foi proposta por Karl
Ideologie (A Ideologia Alemã), 1845/1846, e Die Popper, que parte de princípios inerentes à en-
heilige Familie (A Sagrada Família), 1845. Às vés- genharia técnica ou à mecânica aplicados às re-
peras do movimento revolucionário europeu de lações sociais.
1848, ambos publicaram Das kommunistische Ma-
nifest (O Manifesto Comunista). Sozinho, publi- ENIAC. Denominação do primeiro computador
cou ainda Der deutsche Bauernkrieg (A Guerra fabricado nos Estados Unidos, em 1946, para as
Camponesa na Alemanha), 1850; Anti-Dühring, Forças Armadas daquele país. A sigla Eniac é
1877; Der Ursprung der Familie, des Privateigen- composta pelas iniciais da expressão electronic
tums und des Staates, 1884 (A Origem da Família, numeric integrator computer (computador e inte-
da Propriedade e do Estado); Ludwig Feuerbach grador numérico eletrônico), que pesava 24 to-
und das Ende der Klassischen deutschen Philosophie neladas e tinha 24 m de comprimento. Esse pri-
(Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica meiro computador rudimentar foi inventado pe-
Alemã), 1888; Die Entwicklung des Sozialismus von los engenheiros John Mauchty e Prosper Eckert.
der Utopie zur Wissenschaft (Do Socialismo Utó- Ele consumia uma quantidade enorme de ener-
pico ao Socialismo Científico), 1892. Colaborou gia elétrica e esquentava muito, o que tornava
intensamente na redação do Livro Primeiro de sua operacionalidade muito complicada.
O Capital, de Marx. Depois da morte do amigo, ENSAIO. Ato de avaliar um metal precioso em
editou os livros Segundo e Terceiro da mesma termos de seu peso e pureza (toque). Veja tam-
obra, com numerosas notas explicativas, além bém Toque.
de redigir o capítulo “Rotação do Capital”, do
qual Marx deixara apenas o título. Como reco- ENTENTE CORDIALE. Expressão do campo
nhecimento da contribuição de Engels à teoria da política internacional e da diplomacia que
econômica de Marx, passaram a ser editados, significa um acordo ou um pacto de interesses
como apêndice de O Capital, dois trabalhos eco- entre duas ou mais nações.
nômicos de sua autoria: Lei do Valor e Taxa de
Lucro e A Bolsa. Veja também Marx, Karl Hein- ENTESOURAMENTO. Veja Preferência pela
rich. Liquidez; Propensão a Poupar.

ENGENHARIA HUMANA. Veja Ergonomia. ENTRADAS. Veja Bandeiras.

ENGENHARIA INDUSTRIAL. Termo utiliza- ENTREPOSTO. Grande centro de armazena-


do, no Brasil, em três sentidos: engenharia de gem de mercadorias originárias do exterior e que
produção, engenharia especializada em um se- devem ser reexportadas, estando isentas de ta-
tor industrial e engenharia de fábrica. A enge- xas alfandegárias. Destacam-se atualmente,
nharia de produção ocupa-se com a otimização do como grandes entrepostos mundiais, os portos
aproveitamento dos recursos produtivos de uma europeus de Roterdã e Antuérpia.
empresa. Projeta, amplia, modifica e avalia o de-
sempenho de homens, máquinas e equipamen- ENTROPIA. Significa a tendência à perda, à de-
tos. Trata normalmente do arranjo físico dos pré- sintegração e à desorganização. O reverso da se-
dios, disposição interna etc. A engenharia espe- gunda lei da termodinâmica é a entropia nega-
cializada restringe-se a setores particulares da in- tiva (ou negentropia), ou seja, o suprimento de
dústria. A especialização tornou-se imprescin- informação adicional (ou elementos adicionais)
dível devido ao desenvolvimento tecnológico, capaz não apenas de repor as perdas, mas de pro-
pois cada ramo industrial possui tecnologia pró- porcionar integração e organização nos sistemas.
pria, sendo que, em alguns casos, há apenas um ENTROPIA NEGATIVA. Veja Entropia.
método para produzir determinado produto. A
engenharia de fábrica está ligada essencialmente ENVIRONMENT. Termo em inglês que signi-
à operação dos sistemas de apoio. Ocupa-se com fica “entorno”, aplicado geralmente no sentido
a instalação e manutenção de máquinas e equi- de meio ambiente, e relacionado com a ciência
pamentos, conservação e limpeza de prédios e da ecologia.
vias de acesso, instalação, operação e manuten-
ção dos serviços de utilidade geral, como energia E&OE. Iniciais da expressão em inglês Errors
elétrica, água, esgotos, ventilação etc. and Omissions Excepted, que significa “salvo erros
e omissões”. Se esta declaração aparece como
ENGENHARIA SOCIAL. Matéria que trata da nota de um documento contendo dados finan-
organização e transformação de comunidades ceiros, isso significa que os mesmos não são ne-
socioeconômicas segundo uma ação central di- cessariamente precisos, estando sujeitos a erros
rigida, voltada para determinados objetivos. A e omissões.
209 EQUIPARAÇÃO SALARIAL

EOM. Iniciais da expressão em inglês end of compradores se ajustariam às dos vendedores.


month, que significa “fim do mês”, geralmente O equilíbrio pode ser estável ou instável, parcial
utilizada para determinar a época de um paga- ou geral. Será estável se houver uma tendência
mento, ou a realização de uma transação, ou para que o equilíbrio original se restaure, mesmo
mesmo se o vencimento de um título acontece que haja ligeiras perturbações no preço ou na
no início ou no final de um mês. quantidade produzida. No entanto, se uma per-
turbação acidental (dos preços ou das quanti-
EOQ. Iniciais da expressão em inglês economic dades produzidas) não gerar tais tendências,
ordering quantity, que significa a magnitude de diz-se que o equilíbrio é instável. Em outros ter-
um pedido que resulta ao mesmo tempo no me- mos, quando a vertente da Curva da Oferta for
nor custo de aquisição e de manutenção de es- mais acentuada que a vertente da Curva da De-
toques. manda, ocorrerá uma situação de equilíbrio es-
EOY. Iniciais da expressão em inglês end of year, tável; por outro lado, se a vertente da curva da
que significa “fim do ano”, designando um mo- oferta for menos acentuada do que a vertente
mento no qual vence um título, deverá ser rea- da curva da demanda, ocorrerá um equilíbrio
lizada uma operação comercial ou financeira, ou instável. O equilíbrio parcial refere-se a dados res-
mesmo uma dívida deverá ser saldada. tritos — por exemplo, a análise da evolução no
preço de um produto, enquanto os outros se
EPS. Iniciais da expressão em inglês earnings per mantêm constantes — e foi estudado por Mars-
share, que significa “rendimento por ação”. hall. O equilíbrio geral supõe a análise de todas
as variáveis relevantes para o problema em es-
EQUAÇÃO CÚBICA. É aquela na qual a po- tudo — por exemplo, produção e preços de to-
tência mais alta de uma variável independen- dos os setores industriais — e foi estudado por
te é igual a três (3). Por exemplo, a equação Walras. Veja também Ponto de Equilíbrio; Wal-
Y = a + bX + cX2 + dX3 é uma equação cúbica, ras, Leon.
pois seu último termo dX é elevado ao cubo.
EQUILÍBRIO DE NASH. Conceito desenvolvi-
EQUAÇÃO DE CAMBRIDGE. Veja Teoria do no âmbito da Teoria dos Jogos por John Nash
Quantitativa da Moeda. e relacionado com a tomada de decisões anta-
gônicas de dois jogadores que alcançam uma
EQUAÇÃO DE LIPSEY. Equação desenvolvi- situação de equilíbrio, mas que individualmente
da por R.G. Lipsey na Inglaterra, em 1960, que, prefeririam outras alternativas ou escolhas in-
à semelhança da Curva de Phillips, relaciona ta- dividuais. Para conseguir um acordo ou uma
xas de salários monetários (nominais) com o ní- situação melhor, os jogadores deveriam aban-
vel de desemprego, mas levando em conta as donar suas posições antagônicas e trabalhar
mudanças nos preços no varejo durante os úl- num sentido cooperativo, ou pelo menos neutro,
timos doze meses. de tal forma a que um não atrapalhe o outro.
EQUAÇÃO DE REGRESSÃO. Veja Regressão, Quando tal acontece, a nova situação denomi-
Análise de. na-se Solução de Nash. Veja também Dilema
do Prisioneiro; Nash, John; Teoria dos Jogos.
EQUAÇÃO DE SLUTSKY. Veja Efeito Preço.
EQUILÍBRIO DO CONSUMIDOR. Situação na
EQUILÍBRIO. Condição hipotética do mercado qual o consumidor maximiza sua utilidade (sa-
na qual a oferta é igual à procura. Expressa a tisfação) tendo como restrição um determinado
estabilidade do sistema de forças que atuam na nível de renda. Num gráfico (ou mapa) de in-
circulação e troca de mercadorias e títulos. Um diferença, esta situação é obtida quando o con-
sistema econômico é considerado em equilíbrio sumidor alcança a Curva de Indiferença situada
quando todas as variáveis permanecem imutá- no ponto mais elevado, dadas as limitações de
veis em determinado período. Se as condições seu nível de renda.
de oferta e demanda permanecem inalteradas,
os preços tendem também a permanecer está- EQUILÍBRIO GERAL. Veja Equilíbrio.
veis. Freqüentemente, condições externas (polí- EQUILÍBRIO PARCIAL. Veja Equilíbrio.
ticas, sociais) atuam sobre o equilíbrio de preços
e acabam alterando essa situação de estabilida- EQUIPARAÇÃO SALARIAL. Aplicação do prin-
de. Se a oferta baixa os custos de mercadorias, cípio de direito trabalhista segundo o qual a tra-
ocorre um aumento de demanda, levando à alta balho igual deve corresponder salário igual. Esse
dos preços. E se os preços sobem, os produtos princípio constou no Tratado de Versalhes
permanecem estocados (ou os capitais não ne- (1919), na Carta das Nações Unidas (1945) e na
gociados) e os preços tendem a cair. Portanto, Convenção nº 100 da Organização Internacional
somente ao preço de equilíbrio a oferta e a de- do Trabalho (OIT). No Brasil, o princípio foi in-
manda seriam iguais, pois as preferências dos corporado às constituições de 1934 e 1946 e de-
EQUITY 210

talhado no artigo nº 461 da Consolidação das ERRO NÃO-AMOSTRAL. No cálculo estatís-


Leis do Trabalho (CLT), que impõe várias con- tico, é todo aquele que não pode ser imputado
dições para que a equiparação seja reclamada às flutuações das amostras.
na Justiça: os empregados devem exercer a mes-
ma função, na mesma empresa e localidade, com ERROS E OMISSÕES. Item do balanço de pa-
a mesma perfeição técnica e a mesma produti- gamentos onde são computados os erros e omis-
vidade. Além disso, a legislação trabalhista bra- sões cometidos durante o ano no registro das
sileira admite salários maiores para o emprega- operações das várias contas desse balanço. Por
do que tenha um tempo de serviço na casa de exemplo, no final de 1997 o governo anunciou
dois anos a mais que outro na mesma função. um déficit na balança comercial de 8,536 bilhões
de dólares; no início de 1998, constatou um erro
EQUITY. Termo em inglês que significa a dife-
rença entre o valor de uma propriedade e todas e uma omissão que reduziram o déficit para
as demandas que existam contra ela. Por exem- 8,372 bilhões. O erro foi cometido no registro
plo, a equity de um proprietário em relação a de uma operação de 91 mil dólares, que foi com-
sua casa é a diferença entre o valor atual da putada como 90 milhões de dólares. E a omissão
casa menos o montante de sua hipoteca. Apli- foi devida ao cancelamento de Declarações de
cada ao mercado de ações, significa o valor lí- Importação, no valor de 73 milhões de dólares,
quido de uma empresa da qual um acionista não utilizadas pelas empresas na segunda quin-
possuía ações, ou seja, o valor do ativo que ex- zena de dezembro de 1997. Veja também Ba-
ceda o do passivo. Significa também o capital lança Comercial; Balanço de Pagamentos.
livre de uma empresa ou de uma pessoa, isto
é, seu patrimônio líquido. Ou ainda, a diferença ERTRAGSWERT. Termo em alemão que, de
entre a soma de seus ativos e de seus passivos. acordo com a conceituação marginalista, signi-
fica “valor de rendimento”, ou “valor dos bens
ERA. Termo utilizado em numismática que de- de produção”, também denominado Produktivi-
signa o ano de cunhagem de uma moeda. tätswert (valor de produtividade). Com esta de-
ERGONOMIA. Termo formado das palavras finição pode-se, por exemplo, diferenciar o valor
gregas ergon (trabalho) e nomos (uso, regulamen- de uso dos bens de produção do valor de uso
tação), designa a ciência que estuda os ritmos dos bens de consumo.
e métodos de trabalho na perspectiva de uma
ESCALA, Deseconomia de. Aumentos nos cus-
melhor adaptação do homem ao processo de tra-
balho. Também denominada “engenharia hu- tos unitários dos produtos de uma empresa que
mana”, estuda as características físicas e psico- atua segundo os princípios de uma economia
lógicas dos seres humanos em situações de tra- de escala. As deseconomias de escala revertem,
balho. Objetiva planejar ambientes, produzir na prática, a tendência das economias de escala
instrumentos e adotar métodos de trabalho que de aproveitamento racional e intensivo de fato-
permitam aumentar a eficiência do trabalhador. res de produção; conseqüentemente, revertem
também a tendência de queda nos custos uni-
ERRO DE ESTIMAÇÃO. Diferença existente tários dos produtos. Essa reversão pode decorrer
entre a estimativa e o valor verdadeiro. de fatores internos e externos a determinada em-
ERRO DE PRIMEIRA ESPÉCIE. Veja Erro do presa. Os fatores internos dizem respeito a de-
Tipo I. ficiências gerenciais: falta de coordenação ou
controle administrativo, ou burocratização e
ERRO DE SEGUNDA ESPÉCIE. Veja Erro do centralização excessivas. Os fatores externos de-
Tipo II. sencadeadores de deseconomias de escala resul-
tam da escassez de insumos utilizados pela em-
ERRO DE TERCEIRA ESPÉCIE. Veja Erro do
presa, o que pode decorrer de processos de de-
Tipo III.
seconomia na empresa fornecedora. Assim, o fe-
ERRO DO TIPO I (Erro de Primeira Espécie). nômeno de deseconomia interna, em determi-
No exame de uma hipótese estatística, consiste nada empresa, pode desencadear deseconomia
na rejeição desta hipótese, sendo ela verdadeira. externa nas empresas que formam o mercado
consumidor do que ela produz. Veja também
ERRO DO TIPO II (Erro de Segunda Espécie). Economia de Escala.
No exame de uma hipótese estatística, consiste
em não rejeitá-la sendo ela falsa. ESCALA DE MIONNET. Série graduada de
círculos para medir o módulo das moedas.
ERRO DO TIPO III (Erro de Terceira Espécie).
No exame de uma hipótese estatística, consiste ESCALA LOGARÍTMICA. Na elaboração de
em rejeitá-la quando ela é falsa, mas por um gráficos, é aquela em que se aplica apenas a uma
motivo errado. das coordenadas a escala logarítmica aos pontos
211 ESCOLA BANCÁRIA

a serem representados no plano, enquanto a ou- de forma mais eficiente os recursos disponíveis,
tra coordenada se aplica à escala aritmética. Ela agilizando as formas de produção e distribuição
é também denominada escala semilogarítmica. dos bens em questão.
Esta forma de representação gráfica é muito uti-
lizada nas variáveis que têm um crescimento ESCHEAT. Termo em inglês que designa situa-
exponencial, como, por exemplo, nos casos de ção na qual uma propriedade abandonada (imó-
hiperinflação, quando os preços num curto es- veis, saldos bancários etc.), deixada por uma
paço de tempo sofrem variações muito grandes. pessoa falecida sem herdeiros e sem fazer tes-
Esta forma facilita a representação gráfica desses tamento, é transferida para o Estado.
fenômenos.
ESCOLA AUSTRÍACA. Também conhecida
ESCALA MÓVEL. Veja Salário, Escala Móvel de. como Escola de Viena, a Escola Austríaca é cons-
tituída por um grupo de economistas que lecio-
ESCAMBO. Troca de bens e serviços sem a in- nou na Universidade de Viena e sustentou al-
termediação do dinheiro. É o estágio mais pri- gumas idéias comuns, mais tarde englobadas no
mitivo nas relações de troca e caracteriza as so- marginalismo. Nascida com Carl Menger (1840-
ciedades de economia natural. Nas sociedades 1921), a escola continuou com Friedrich von
modernas, o escambo pode ressurgir em mo- Wieser (1851-1926) e Eugen von Böhm-Bawerk
mentos de elevada taxa inflacionária, em que os (1851-1914). A tradição austríaca encontra-se
consumidores perdem a confiança no papel- também nos trabalhos de Ludwig Edler von Mi-
moeda. Isso ocorreu na Alemanha depois da Se- ses (1881-1973), de Friedrich August von Hayek
gunda Guerra Mundial, quando o marco, hiper- (1899- ) e de John Richard Hicks (1904- ). O ponto
desvalorizado, foi substituído, nas relações de
de partida de Carl Menger consistiu em chamar
troca mais simples, pelo café e pelo cigarro. O
a atenção para os fundamentos psicológicos do
escambo pode ocorrer também entre dois países,
valor, voltando a certas idéias de Condillac, que
quando suas trocas se realizam à base de mer-
criticava os economistas clássicos que pesquisa-
cadoria por mercadoria. Logo após a descoberta
vam a origem do valor nas coisas e não no homem.
do Brasil, o escambo foi intensamente empre-
Baseando-se nessa idéia, Menger constatou que
gado nas relações entre europeus e indígenas,
para o carregamento de pau-brasil. Os índios a intensidade de um desejo decresce com sua
cortavam a madeira e a deixavam na praia, para satisfação e daí concluiu que o valor de um bem
ser colocada nos navios, e recebiam em troca (supondo que ele seja divisível, como um pe-
facas, espelhos e bugigangas de fabricação eu- daço de pão) é determinado por sua última por-
ropéia.Veja também Comércio. ção, ou seja, por sua porção menos desejável.
Esse é o princípio da utilidade marginal. A con-
ESCASSEZ. Em termos econômicos, a escassez clusões semelhantes chegaram os economistas
surge do pressuposto de que as necessidades William Stanley Jevons (1835-1882) e Léon Wal-
humanas são infinitas, ao passo que os bens ou ras (1834-1910), mas foram os representantes da
os meios de satisfazê-las são sempre finitos. De escola austríaca os que melhor exploraram o
acordo com as teorias econômicas neoclássicas, princípio. Reduzindo todos os fatos econômicos
o homem pode produzir o suficiente de qual- a valores e partindo da nova noção de valor
quer bem econômico para satisfazer completa- que formularam, os austríacos acreditaram po-
mente determinada necessidade, mas jamais po- der reconstituir abstratamente os mecanismos
derá produzir o suficiente de todos os bens para da vida econômica. Assim, eles propuseram no-
atender simultaneamente a todas as necessida- vas explicações para o valor dos bens de pro-
des. De acordo com essa definição, as ciências dução, os juros, a moeda e a distribuição dos
econômicas serviriam exatamente para gerir a bens. Veja também Marginalismo.
escassez. Por outro lado, os bens econômicos são
escassos porque normalmente se dispõe apenas ESCOLA BANCÁRIA. Denominação dada a um
de quantidades limitadas de recursos produti- grupo de economistas e financistas ingleses que
vos necessários para criar os bens em questão, defendia a emissão de notas pelo sistema ban-
recursos estes que compreendem basicamente o cário inglês entre 1825-1860, em contraposição
trabalho, a terra e o capital. Mas o total dos bens aos defensores da Escola das Contrapartidas
econômicos que se podem produzir com tais re- Metálicas. Essa denominação parece ter sido de-
cursos é bastante influenciado pela técnica e pelo vida a Samuel Jones Lloyd, numa declaração pe-
grau de especialização, isso sem falar das com- rante o Commitee on Banks of Issue, em 1840.
plexas determinantes políticas que freqüente- Os membros mais destacados dessa escola fo-
mente afetam a produção e a distribuição dos ram Tooke, John Fularton, James Wilson e J. W.
bens. Assim, os economistas estudam também Gilbart. Opunham-se à Escola das Contraparti-
os processos produtivos pelos quais a escassez das Metálicas, que defendia a regulação auto-
pode ser reduzida, empregando plenamente e mática da emissão de notas. Para eles, os bancos
ESCOLA CLÁSSICA 212

privados deveriam ter liberdade de emitir o vo- ficiando-se do aumento da produtividade. Smith
lume de notas que desejassem, com a condição conclui, então, pela remoção de todas as barrei-
de que pudessem ser convertidas em ouro quan- ras ao comércio interno e externo. A política li-
do os portadores exigissem. Nessas circunstân- vre-cambista deveria ser posta em prática, uma
cias, o volume de notas bancárias em circulação vez que só ela conduziria ao desenvolvimento
seria regulamentado não pela quantidade de das forças produtivas. O padrão mercantilista
metal em reserva, mas pela concorrência entre de regulamentação estatal e controle passa tam-
os bancos, e variaria de acordo com a situação bém a ser claramente contestado. A política eco-
dos negócios e as necessidades do público. Veja nômica deveria ser medida por seus efeitos so-
também Escola das Contrapartidas Metálicas. bre o processo de riqueza e por suas conseqüên-
cias sobre a acumulação de capital e especiali-
ESCOLA CLÁSSICA. Linha de pensamento eco- zação do trabalho. A verdadeira fonte de riqueza
nômico que vai da publicação do livro A Riqueza de um país é seu trabalho, e ela só pode ser
das Nações, de Adam Smith, em 1776, aos Prin- elevada com o aumento da produtividade, com
cípios de Economia Política, de John Stuart Mill, a extensão de sua especialização e com a acu-
de 1848, e é marcada pela obra de David Ricardo, mulação do produto sob a forma de capital. Es-
Princípios de Economia Política e Tributação, de sas proposições seriam endossadas por Ricardo,
1817. Fundada por Smith e Ricardo, a escola que colocou o trabalho como determinante do
clássica desenvolveu-se nos escritos de Malthus, valor de troca. O valor de determinada merca-
Stuart Mill, McCulloch, Senior e do francês Jean- doria seria dado pela quantidade de trabalho
Baptiste Say. Com os representantes da escola empregada para produzi-la. O trabalho seria,
clássica, a economia adquiriu caráter científico portanto, fonte de todo o valor. Em suas análi-
integral quando passou a centralizar a aborda- ses, Ricardo localiza uma contradição entre o
gem teórica na questão do valor, cuja única fonte valor de troca e o preço relativo das mercadorias,
original era identificada no trabalho em geral. que só seria resolvida muitos anos mais tarde
Além da teoria do valor-trabalho, do uso do mé- por Marx, ao analisar a transformação do valor de
todo dedutivo, do materialismo e da preocupa- troca em preço de produção. As principais ques-
ção em simplificar e generalizar as proposições tões da escola clássica são as que se incluem
econômicas e de uma visão de conjunto da evo- hoje dentro da teoria do valor e da distribuição.
lução econômica, a escola clássica baseou-se nos A distribuição do produto nacional continuou
preceitos filosóficos do liberalismo e do indivi- sendo tratada de modo tradicional, por meio da
dualismo e firmou os princípios da livre-con- divisão do produto em três partes destinadas a
corrência, que exerceram decisiva influência no remunerar o trabalho (salários), o capital (o lu-
pensamento revolucionário burguês. A escola cro) e a terra (renda). Em seguida, o trabalho
clássica também é caracterizada por enfatizar a de Say e seus discípulos, os rendimentos do ca-
produção, relegando a segundo plano o consu- pital, denominados juros, passaram a ser consi-
mo e a procura. Para Adam Smith, o objeto da derados de modo separado dos lucros. A teoria
economia está indicado no título completo de clássica do valor destaca o fato de que os preços
sua obra: é uma investigação sobre a natureza dos bens produtivos eram proporcionais aos res-
e as causas da riqueza das nações, entendendo- pectivos custos de produção, quando prevale-
se por riqueza os bens que possuem valor de ciam as leis de livre-concorrência do mercado.
troca. Adam Smith distingue o valor de uso do Porém, os custos não significavam apenas as
valor de troca das mercadorias, destacando que despesas em capital dos produtores, mas, prin-
este último é determinado pela quantidade de cipalmente, os “custos reais”, o custo do esforço
trabalho necessária para produzi-las. Para os humano em produzir determinado produto em
fisiocratas, apenas o trabalho na agricultura pro- detrimento da produção de outro. A teoria dos
duzia valor. Smith refutou-os, demonstrando to- preços desdobra-se numa teoria da repartição
das as atividades que produzem mercadorias. que visa a explicar a renda, a terra, o salário, o
E, contra as concepções mercantilistas, Smith ar- juro e o lucro. Ao mesmo tempo, a escola clássica
gumenta que a riqueza é constituída pelos va- apresenta uma visão de conjunto da dinâmica
lores de troca, e não pela moeda, que é apenas econômica, na qual os elementos decisivos são
o meio que permite a circulação dos bens. Ba- o princípio do crescimento populacional de
seando-se na teoria do valor-trabalho, Smith Malthus, a lei dos rendimentos não-proporcio-
mostra que o crescimento da riqueza de uma nais e o princípio da acumulação de capital. O
nação depende essencialmente da produtivida- utra característica da economia clássica é a su-
de do trabalho, que, por sua vez, é função do posição do emprego constante de todas as fontes
grau de especialização, ou da extensão, obtida produtivas disponíveis. A teoria clássica é ela-
pela divisão do trabalho, determinado pela ex- borada em função de um equilíbrio automático
pansão do mercado e do comércio. Nesse pro- que ignora as crises e os ciclos econômicos. Des-
cesso, todos os participantes ganhariam, bene- se modo, a oferta deve criar necessariamente sua
213 ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO FAZENDÁRIA

procura (Say), e a soma dos salários e dos ganhos ficam crises e depressões da atividade econômi-
retidos pelos consumidores deve corresponder ca, destacam a questão do desemprego eventual
à quantidade global de bens oferecidos no mer- e econômico, a distribuição desigual de renda
cado. No contexto pragmático da escola clássica, e a oposição entre os interesses individuais e
destaca-se ainda a teoria de Ricardo sobre a ren- coletivos. Mas falta a essas críticas uma visão
da da terra, que estava relacionada ao aumento global do sistema econômico diante da visão in-
da população, o que explicava a alta renda fun- tegrada e coerente apresentada pela escola clás-
diária da Inglaterra. Ricardo admitia que o pro- sica. Marx é o primeiro autor a contestar ver-
prietário rural ocupava áreas menos férteis à me- dadeiramente a análise realizada pelos clássicos,
dida que a população aumentava. Desse modo, tanto nas suas premissas e objetivos como em
os proprietários das terras mais férteis benefi- suas conclusões, ao desenvolver a análise do
ciavam-se com a elevação dos custos de produ- processo capitalista baseado na concepção ma-
ção em outras áreas, uma vez que os preços dos terialista da História e na luta de classes, embora
produtos seriam mantidos para cobrir os custos conservasse dos clássicos parte do instrumental
mais elevados em terras de baixa categoria. As- analítico e alguns conceitos, como a teoria do
sim, acabariam tendo uma maior receita, inde- valor-trabalho, que utilizou para desenvolver o
pendentemente do capital e do trabalho aplica- conceito de mais-valia.
dos na produção. Esse excedente econômico foi
denominado por Ricardo de renda diferencial ESCOLA DAS CONTRAPARTIDAS METÁ-
da terra. Com o crescimento dessa renda dife- LICAS. Destacada escola econômica da Ingla-
rencial, os proprietários rurais iriam se apropriar terra, na primeira metade do século XIX. Con-
de um excedente econômico maior, em detri- siderava apenas o papel-moeda e moedas como
mento dos capitalistas, que teriam seus lucros dinheiro. Entrou em debate aberto com a escola
reduzidos, a ponto de colocar em perigo a acu- bancária sobre o papel específico do Banco da
mulação de capital, prejudicando o desenvolvi- Inglaterra em emitir papel-moeda e a quantida-
mento econômico. Para superar esse problema, de necessária para suprir a economia, que pas-
Ricardo propõe o livre-cambismo no comércio sou a ser regulado pelo Peel’s Bank Act de 1844.
internacional, que permitiria aproveitar as me- A escola das contrapartidas metálicas defendia
lhores terras em escala mundial. Formula, assim, que a regulamentação da emissão do fluxo de
a teoria das vantagens comparativas, na qual dinheiro deveria corresponder a uma contrapar-
demonstra as vantagens de um país importar tida metálica (o ouro), e assim manter um equi-
determinados produtos, mesmo que pudesse líbrio automático da emissão de papel-moeda
produzi-los por preço inferior, desde que suas com o movimento de entrada e saída de ouro.
vantagens comparativas em outros produtos O Banco da Inglaterra passou a seguir essa orien-
fossem maiores. Contra a intervenção estatal, a tação, mantendo uma relação constante entre
escola clássica apóia-se no liberalismo e no in- seus empréstimos, investimentos, papéis, ações
dividualismo. Os clássicos ingleses propõem um e sua total liquidez. Por sua vez, a escola ban-
sistema de liberdade econômica, pois seria me- cária argumentava que, como o papel-moeda era
diante o mecanismo impessoal do mercado que conversível em ouro, não havia necessidade de
se conseguiria harmonizar os interesses indivi- regulamentar sua emissão, pois a conversibili-
duais. Entretanto, as revoluções que ocorreram dade preveniria qualquer problema de supere-
na Europa no período de 1830 a 1848 mostraram missão e as necessidades do comércio regula-
que a harmonia de uma “ordem natural” e do riam automaticamente o volume de papel-moe-
não-intervencionismo preconizado pela escola da emitido. Além disso, a demanda de papel-
clássica era remota. O liberalismo e o individua- moeda seria atendida pela expansão de depósi-
lismo começam então a sofrer várias críticas de tos bancários, que teria o mesmo efeito que a
pensadores preocupados com os problemas eco- expansão da emissão de papel-moeda. A escola
nômicos e sociais. E já na obra de Stuart Mill, das contrapartidas metálicas contra-argumenta-
considerada um resumo de todo o pensamento va que a checagem da emissão de papel-moeda
da escola clássica, surgem indícios de aceitação proporcionada pela conversibilidade em ouro
de algumas restrições à liberdade individual. A não operava em tempo para prevenir sérios pro-
ssim, contra o liberalismo da escola clássica de- blemas comerciais de liquidez. O papel-moeda
senvolvem-se, a partir de 1830, reações doutri- deveria ser visto como o valor do ouro que ele
nárias que apresentam diferentes concepções de representava e sua quantidade de emissão de-
mundo. Surgem a doutrina intervencionista de veria flutuar de acordo com o balanço de paga-
Sismonti, o industrialismo de Saint-Simon, o na- mentos do país. Veja também Escola Bancária.
cionalismo de List, o liberalismo otimista de Bas-
tiat e o socialismo utópico de Fourier e Proud- ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO FAZENDÁ-
hon. Esses autores apontam algumas das prin- RIA. Unidade de ensino vinculada ao Ministério
cipais falhas do pensamento clássico — identi- da Fazenda e destinada à formação de pessoal
ESCOLA DE CAMBRIDGE 214

especializado (auditores, fiscais, técnicos etc.) ESCOLA DE CHICAGO. Escola de pensamen-


para o próprio Ministério. to econômico monetarista, reunida em torno de
Milton Friedman e outros professores da Uni-
ESCOLA DE CAMBRIDGE. Conjunto dos pen- versidade de Chicago, e que sustenta a possibi-
samentos econômicos desenvolvidos em duas lidade de manter-se a estabilidade de uma eco-
fases distintas por um grupo de economistas li- nomia capitalista apenas por meio de medidas
gados à Universidade de Cambridge, na Ingla- monetárias, baseadas nas forças espontâneas do
terra. O primeiro e maior nome do grupo foi mercado. Milton Friedman, o principal teórico
Alfred Marshall, teórico do marginalismo e ti- do grupo, considera a provisão de dinheiro o
tular da cadeira de economia política de Cam- fator central de controle no processo de desen-
bridge até 1908. Marshall foi sucedido por seu volvimento econômico. Explica as flutuações da
discípulo Arthur C. Pigou, teórico da política atividade econômica não pelas variações do in-
do bem-estar social e que lecionou em Cambrid- vestimento, mas apenas pelas variações de ofer-
ge até 1944. Em todo esse período, o pensamento ta de dinheiro — entendida como a demanda
econômico de Cambridge foi caracterizado pelo monetária que depende da renda permanente
refinamento da teoria marginalista e da teoria dos agentes econômicos. A escola de Chicago
econômica clássica, com ênfase nas teorias do baseia-se na teoria quantitativa da moeda, for-
valor, da distribuição e do equilíbrio, assim mulada por meio de uma equação que estabelece
como nas análises microeconômicas. Depois da uma relação entre os preços, o número de tran-
Segunda Guerra Mundial, entretanto, os econo- sações e o volume do dinheiro e sua velocidade
mistas de Cambridge refutaram os preceitos bá- de circulação na economia: a quantidade de di-
sicos da teoria marginalista, ou o que se tornou nheiro em circulação é considerada o determi-
conhecido como teoria econômica neoclássica, nante principal do nível dos preços, que pode
desenvolvendo idéias baseadas no trabalho de ser influenciável por determinadas formas de
John Maynard Keynes e abrindo um grande de- política monetária. Dessa maneira, a inflação,
bate com o pensamento ortodoxo. As principais por exemplo, é vista como fenômeno puramente
figuras nesse debate do pós-guerra foram Joan monetário. Apoiando-se numa forte crença nos
Robinson e Nicholas Kaldor. Nesse período, mecanismos de competição e nas forças do livre
também passaram por Cambridge e exerceram mercado, a escola de Chicago é contrária a qual-
considerável influência pelo rigor dos trabalhos quer política pós-keynesiana de participação do
o italiano Piero Sraffa e o polonês Michal Ka- Estado na expansão das atividades econômicas,
lecki. Em sua nova postura, a escola de Cam- sustentando que qualquer intervenção desse
bridge passou a enfatizar a análise macroeco- tipo é inútil e nociva e que apenas uma correta
nômica, em contraste com as análises microeco- política monetária pode levar à estabilidade eco-
nômicas baseadas na utilidade marginal. E re- nômica. Além de Friedman, destacam-se na es-
futou diretamente alguns dogmas da teoria mar- cola de Chicago os economistas Henry Simons,
ginalista, como o de que haveria uma relação F. A. von Hayek, Frank Knight e George Stigler.
funcional direta entre a taxa de lucro e a apli- A atuação de Friedman como conselheiro eco-
cação intensiva de capital. Os economistas de nômico do governo chileno do general Pinochet
Cambridge demonstraram a possibilidade da re- provocou veementes protestos de setores libe-
ciclagem do capital e criticaram os marginalistas rais da comunidade científica internacional, tor-
por tirarem conclusões sobre os grandes agre- nando conhecida do grande público a Escola de
gados econômicos a partir de microanálises, ar- Chicago como inspiradora de recentes políticas
gumentando que a função dos agregados de pro- econômicas ortodoxas recessivas, praticadas por
dução não é compatível na prática com as mi- governos autoritários sul-americanos. Veja tam-
crofunções econômicas. Criticaram também a bém Friedman, Milton; Monetarismo.
teoria neoclássica da distribuição, que relaciona
o fator preço com a produtividade marginal. E ESCOLA DE LAUSANNE. Escola de pensamen-
passaram a desenvolver uma teoria do cresci- to econômico marcada pelas obras do economis-
mento econômico fundamentada em Keynes, ta francês Léon Walras (1834-1910), primeiro ca-
tendo como objetivo o pleno emprego, por meio tedrático de economia da Faculdade Lausanne,
do qual se poderia determinar uma redistribui- e de seu sucessor e discípulo, o italiano Vilfredo
ção de lucros e salários. De modo geral, essa Pareto (1848-1923). A escola caracteriza-se tam-
abordagem tenta equacionar o subemprego de bém pela formulação da teoria do equilíbrio ge-
recursos econômicos, privilegiando o investi- ral, desenvolvida por Walras, e pela ênfase no
mento como o motor da economia, em contraste tratamento matemático dos problemas econômi-
com a teoria neoclássica, que, detendo-se no equi- cos. Walras e Pareto procuraram demonstrar
líbrio do pleno emprego, destaca a poupança, em como todos os valores econômicos determinam-
vez do investimento, como fator de crescimento. se mutuamente, definindo uma interdependên-
Veja também Keynesianismo; Marginalismo. cia geral dos mercados de produtos e dos fatores
215 ESCOLA HISTÓRICA

de produção (ou de serviços produtivos, segun- do direito de Savigny e considera o empirismo


do a expressão de Walras). Essa interdependên- histórico a base de toda pesquisa econômica.
cia seria assegurada pela ação do empresário, Sem muita clareza de método, Roscher utiliza
que utiliza os fatores de produção para produzir o material histórico como ilustração e fonte de
e vender bens e serviços, e pelo fato de que as inspiração dos problemas econômicos. Com
receitas totais provenientes de todas as vendas Bruno Hildebrand, que publica em 1848 Die Na-
dos meios de produção devem igualar — numa tionalökonomie der Gegenwart und Zukunft (A Eco-
concorrência pura e equilibrada — as receitas nomia Política do Presente e do Futuro), a escola
totais obtidas pelas vendas de todos os bens de histórica torna-se mais explicativa, procurando
consumo. À noção de interdependência de mer- formular leis do desenvolvimento econômico, e
cados, acrescenta-se a de equilíbrio. Walras e Pa- mais consistente na oposição ao classicismo. Hil-
reto procuraram definir as condições de um debrand nega a pretensão da escola clássica de
equilíbrio estável, onde existiriam forças que ter encontrado as leis da economia natural, vá-
compensariam automaticamente os desvios e lida em todos os tempos, e distingue os proble-
desequilíbrios, restabelecendo o equilíbrio geral. mas econômicos práticos da análise teórica, à
qual se dedica. Propõe-se ainda estudar a evo-
ESCOLA DE MANCHESTER. Parte da escola lução da experiência econômica humana, para
clássica de pensamento econômico que se de- chegar a uma história econômica da cultura, que
senvolveu na cidade industrial inglesa de Man- se desenvolveria junto com outros ramos da his-
chester entre 1820 e 1850. Foi inspirada no mo- tória e da estatística. Karl Knies foi mais preciso
vimento contra as Corn Laws, liderado por Ri- na exposição dos problemas metodológicos da
chard Cobden e John Bright. Propunha a revo- escola. Em Die politische Ökonomie von Standpunk-
gação dessas leis restritivas à importação de ce- te der geschichtlichen Methode (A Economia Polí-
reais e defendia o livre-comércio para a Ingla- tica do Ponto de Vista do Método Histórico),
terra, baseando-se nas idéias de David Ricardo 1883, revela-se um crítico mais sistemático da
e no princípio do laissez-faire. Opunha-se à po- escola clássica que Roscher e Hildebrand, aos
lítica protecionista e a qualquer intervenção do quais se opõe, mostrando que Roscher confunde
Estado, mesmo na área social, argumentando diferentes ramos da investigação econômica e
que a iniciativa privada e os mecanismos da con- criticando as leis do desenvolvimento de Hilde-
corrência seriam os melhores meios de obter-se brand por fazerem concessões à teoria pura. Sus-
prosperidade e crescimento. Veja também Corn tenta que o método histórico é a única forma
Laws. legítima de economia, que não poderia propor-
ESCOLA DE VIENA. Veja Escola Austríaca. cionar leis como as ciências físicas, mas apenas
descobrir certas regularidades no desenvolvi-
ESCOLA HISTÓRICA. Caracterizada pela im- mento social, sugerindo analogias. Propõe ainda
portância primordial concedida à História no es- aos economistas que evitem polêmicas metodo-
tudo do processo econômico, surgiu em 1840, lógicas, mas produzam obras sobre os proble-
na Alemanha, como reação à escola econômica mas econômicos do ponto de vista histórico. A
clássica e teve influência durante cerca de quatro escola histórica alemã teve continuidade com
décadas. Seus principais componentes, na pri- Gustav Schmoller (1838-1917) e seus discípulos
meira fase (1840-60), foram Wilhelm Roscher Adolph Wagner e K. Bücher, inaugurando, a
(1817-1894), Bruno Hildebrand (1812-1878) e partir de 1870, uma segunda fase basicamente
Karl Knies (1821-1898). Em sua crítica ao clas- positiva e descritiva, e desenvolvendo uma forte
sicismo, a escola histórica alemã nega que as tendência para a investigação histórico-econô-
leis econômicas possam ter validade universal, mica. Já não se nega a existência de leis sociais,
argumentando que não podem ser consideradas mas coloca-se em dúvida a capacidade do mé-
absolutas e de atuação perpétua, mas, ao con- todo clássico para desvendá-las. Também não
trário, devem ser relativas e variáveis com o tem- se procura formular leis gerais do desenvolvi-
po e o lugar. Rejeitando o processo dedutivo mento, mas simplesmente analisar os fatos eco-
como método, enfatizou o relativismo. Ao mes- nômicos e as instituições, argumentando que os
mo tempo, insistiu sobre a unidade da vida so- mecanismos econômicos são relativos às insti-
cial, afirmando que existe uma interação estreita tuições do momento. A nova escola histórica ale-
entre os diferentes aspectos sociais, o que tor- mã tornou-se conhecida também por entrar em
naria impossível a uma única ciência esgotar o conflito com os marginalistas, na chamada “con-
campo a ser investigado. A primeira obra que trovérsia sobre o método” (o Methodenstreit), que
marca a escola histórica alemã é a de W. Roscher, durou duas décadas. A polêmica foi iniciada
Grundriss zu Vorlesungen über die Staatswirtschaft pelo marginalista austríaco Carl Menger, com a
nach geschichtlicher Methode (Esboço de um Curso publicação de seu Untersuchungen über die Met-
de Economia Política Segundo o Método Histó- hode der Sozialwissenschaften und der Politischen
rico), 1843, que se baseia nos métodos da escola Ökonomie insbesondere (Pesquisas sobre o Método
ESCOLA LIBERAL 216

das Ciências Sociais e da Economia Política em tinham verificado, surgiu na II Internacional


Especial), 1883. Menger usa a discussão do mé- uma tendência revisionista da teoria marxista.
todo das ciências sociais em geral para atacar Seu principal porta-voz foi Eduard Bernstein
as idéias da escola histórica, argumentando que, (1850-1932), que propôs substituir o conteúdo
se é necessária uma base histórica para a solução revolucionário do marxismo pela concepção de
dos problemas econômicos, não se poderia dis- uma evolução reformista e gradual. O revisio-
pensar a utilização dos conceitos gerais nem a nismo “direitista” de Bernstein foi combatido
procura de regularidades sob a forma de leis. pelo “centro” ortodoxo representado por Karl
Kautsky (1854-1938) e pela “esquerda” social-
ESCOLA LIBERAL. Veja Escola Clássica. democrata de Rosa Luxemburgo (1870-1919). A
controvérsia que se seguiu referiu-se basicamen-
ESCOLA MARXISTA. Escola de pensamento
te à teoria do colapso do sistema capitalista e à
econômico fundada por Karl Marx e Friedrich
Engels. Consiste num conjunto de teorias eco- natureza das crises que levariam a seu fim e ao
advento do socialismo: as crises provocadas pela
nômicas (a mais-valia), filosóficas (o materialis-
mo dialético), sociológicas (o materialismo his- tendência decrescente da taxa de lucros e as cau-
tórico) e políticas, desenvolvido a partir da fi- sadas pelo subconsumo das massas. Nessa dis-
losofia de Hegel, do materialismo filosófico fran- cussão, destacou-se a posição do economista re-
cês do século XVIII e da economia política in- visionista russo Tugan-Baranovski, para quem
glesa do início do século XIX. A síntese dessas as crises se deviam à “desproporção” entre os
formulações foi apresentada em O Capital (1867), vários ramos da produção. Mas o destaque
em que, a partir da teoria do valor-trabalho da maior nessa controvérsia coube a Rosa Luxem-
escola clássica inglesa, Marx desenvolve o con- burgo. Em A Acumulação do Capital, 1913, ela ar-
ceito de mais-valia como trabalho excedente, gumenta que acumulação de capital era impos-
não-pago, fonte do lucro, do juro e da renda da sível num sistema capitalista fechado, adaptan-
terra. A partir da teoria da mais-valia, Marx ana- do a teoria de Marx às novas condições do im-
lisa o processo de acumulação de capital no sis- perialismo econômico e político do início do sé-
tema capitalista, mostrando haver uma correla- culo XX. Pouco antes, o dirigente socialista aus-
ção entre a crescente acumulação e concentração tríaco Rudolf Hilferding havia publicado seu fa-
de capital e a pauperização do proletariado e a moso livro, O Capital Financeiro (1910), no qual
proletarização da classe média, situações que mostra que o imperialismo é uma conseqüência
causariam a eclosão das contradições básicas do do desenvolvimento dos monopólios, controla-
sistema. Entre os principais fatores que contri- dos pelo capital financeiro. As concepções des-
buíram para as crises periódicas no sistema ca- ses autores foram desenvolvidas por Lênin em
pitalista, Marx destacou: o progressivo decrés- O Imperialismo, Etapa Superior do Capitalismo,
cimo da taxa de lucro (a diminuição da mais- 1916, em que caracteriza o capitalismo moderno
valia), decorrente do maior aumento do capital por sua própria dinâmica de formação e am-
constante (máquinas e equipamentos) em rela- pliação de mercados por meio da dominação co-
ção ao capital variável (mão-de-obra emprega- lonial e da guerra. A ação do capital monopolista
da); o dinamismo anárquico do sistema, ligado internacional dividiria os países em dois grupos:
à busca incessante de lucros maiores e expresso os de estrutura financeira e industrial poderosa
no fato de os progressos técnicos tornarem os (em permanente expansão econômica) e os atra-
antigos instrumentos de trabalho ultrapassados sados (fornecedores de matéria-prima e mão-de-
antes de sua utilização normal; a desordem dos obra barata), em relação de dependência com
mercados provocada pela contradição básica en- os primeiros. A importância da contribuição teó-
tre o aspecto coletivo dos meios de produção rica e prática de Lênin para a teoria marxista
(as grandes unidades técnicas) e o caráter pri- deu origem à expressão marxismo-leninismo. O
vado de sua apropriação. A queda do regime marxismo-leninismo atribui ao Partido Comu-
capitalista ocorreria por força de suas próprias nista o papel de consciência teórica e liderança
contradições internas, mas a mudança seria im- prática do proletariado na derrocada do capita-
pulsionada pela luta de classes, pela ação revo- lismo, doutrina vitoriosa na Revolução Russa de
lucionária do proletariado, que implantaria um 1917. Mais tarde, durante os primeiros anos de
regime socialista, com a socialização dos meios regime soviético, destacou-se a posição do eco-
de produção, estágio preparatório para a fase nomista Preobrajenski, autor de uma proposta
definitiva do comunismo. Entretanto, após a de industrialização imediata e de um rápido
morte de Marx e Engels, a rápida industrializa- progresso técnico, em detrimento da expansão
ção da Alemanha e o fortalecimento do Partido do setor agrícola. Após a morte de Lênin, sur-
Social-Democrata e dos sindicatos melhoraram giram novamente posições “direitistas”, “es-
as condições de vida dos operários alemães. querdistas” e “centristas” no âmbito da expe-
Nesse contexto, considerando que as previsões riência soviética (e na Internacional Comunista).
de pauperização progressiva das massas não se Seus principais porta-vozes eram, respectiva-
217 ESCOLA ORGÂNICA

mente, Nikolai Bukharin (1888-1938), Leon maticamente as teorias econômicas, mas sujei-
Trotski (1879-1940) e Joseph Stalin (1879-1953), tando-as à comprovação empírica. Veja também
que esmagou seus adversários e adotou uma po- Econometria.
lítica que oscilou entre as concepções de Bu-
kharin e Trotski, ambos teóricos de peso. Após ESCOLA NEOCLÁSSICA. Escola de pensamen-
a estagnação dogmática que caracterizou o pe- to econômico predominante entre 1870 e a Pri-
ríodo stalinista, houve um revigoramento da meira Guerra Mundial, também conhecida como
pesquisa teórica no campo do marxismo. De- escola marginalista, por fundamentar-se na teo-
senvolveu-se uma série de polêmicas, centradas ria subjetiva do valor da utilidade marginal para
particularmente em torno das contribuições de reelaborar a teoria econômica clássica. Seus pre-
Mao Tsé-Tung, Antonio Gramsci, Rosa Luxem- cursores foram Thgünen, Gossen e Cournot. São
burgo, Georg Lukács, Louis Althusser e outros. considerados seus fundadores os economistas
No campo da teoria econômica, depois da im- Carl Menger, na Áustria — iniciador do grupo
portante contribuição do economista polonês da chamada escola austríaca —, William Jevons,
Oskar Lange à planificação socialista, dando-lhe na Inglaterra, e Léon Walras — criador do grupo
fundamento matemático, destacam-se as contri- de Lausanne, na França. E, como representantes
buições teóricas do belga Ernst Mandel, dirigen- da segunda geração neoclássica, destacam-se Al-
te da IV Internacional (fundada por Trotski em fred Marshall, em Cambridge, Eungen von
1938) e autor de penetrante análise do capita- Böhm-Bawerk, em Viena, Vilfredo Pareto, em
lismo contemporâneo, que denomina de “capi- Lausanne, e John Bates Clark e Irving Fisher,
talismo tardio”; do economista inglês Maurice nos Estados Unidos. Os economistas neoclássi-
Dobb, no estudo dos problemas econômicos do cos negaram a teoria do valor-trabalho da escola
socialismo; do austríaco Andre Gorz, nas aná- clássica, substituindo-a por um fator subjetivo
lises das contradições do capitalismo e numa — a utilidade de cada bem e sua capacidade de
estratégia alternativa de transição para o socia- satisfazer as necessidades humanas —, acredi-
lismo; do francês Charles Bettelheim, autor de tando que o mecanismo da concorrência (ou a
importante estudo da estrutura de classes na interação da oferta e da demanda), explicado a
União Soviética; e dos norte-americanos Paul partir de um critério psicológico (maximização
Sweezy e Paul Baran, na análise das características
do lucro pelos produtores e da utilidade pelos
do capitalismo monopolista contemporâneo. Veja
consumidores), é a força reguladora da ativida-
também Marx, Karl Heinrich; Marxismo.
de econômica, capaz de estabelecer o equilíbrio
ESCOLA MATEMÁTICA. O uso da matemá- entre a produção e o consumo. A análise da es-
tica na análise dos princípios e problemas eco- cola neoclássica caracteriza-se fundamentalmen-
nômicos foi feito pela primeira vez pelo econo- te por ser microeconômica, baseada no compor-
mista francês Antoine Cournot, na obra Recher- tamento dos indivíduos e nas condições de um
ches sur les Principes Mathématiques de la Théorie equilíbrio estático, estudando os grandes agre-
des Richesses (Pesquisa sobre os Princípios Ma- gados econômicos a partir desse ponto de vista
temáticos da Teoria das Riquezas), 1838. Após e com uso da matemática. Tem como postulados
esse trabalho precursor, a análise matemática foi a concorrência perfeita e a inexistência de crises
amplamente utilizada pelo teórico marginalista econômicas, admitidas apenas como acidentes
Stanley Jevons (1835-1882), autor de General Mat- ou conseqüências de erros. Após a Grande De-
hematical Theory of Political Economy (Teoria Geral pressão de 1929-1933, os princípios da teoria
Matemática da Economia Política), 1862, e pelos neoclássica foram contestados por Keynes, que
marginalistas Léon Walras (1834-1910) e Vilfre- desenvolveu uma análise macroeconômica e in-
do Pareto (1848-1923), da escola de Lausanne, troduziu o conceito de equilíbrio de subempre-
que elaboraram formulações matemáticas sobre go. Veja também Marginalismo.
as condições do equilíbrio econômico geral. Ou-
tros autores expressaram matematicamente ques- ESCOLA OPERACIONAL. Veja Escola Neo-
tões teóricas tradicionais da economia e esten- clássica.
deram a teoria a novos temas, como o da dinâ-
mica econômica. Destaca-se o livro pioneiro do ESCOLA ORGÂNICA. Termo que designa
norte-americano Paul Samuelson, Foundations of aqueles que fazem uma analogia entre a socie-
Economic Analysis (Fundamentos da Análise Eco- dade (a economia, o mundo dos negócios) com
nômica), 1947. Ao lado do desenvolvimento da o organismo humano. Assim, por exemplo, para
matemática, da estatística e de sua aplicação iso- os adeptos desta escola, as estradas de ferro se-
lada na análise econômica, surgiu, a partir da riam o sistema arterial; os fios do telégrafo, o
década de 30, uma tentativa mais complexa de sistema nervoso; a Bolsa de Valores, o coração
conjugar essas duas técnicas à análise teórica e etc. Tais paralelos foram desenvolvidos com
sistemática: a econometria, que formula mate- grande detalhe por Herbert Spencer.
ESCOLA SUECA 218

ESCOLA SUECA. Grupo de economistas sue- dos (ou estados) possíveis, normalmente deno-
cos (Myrdal, Lundberg, Lindhal, Heckscher, Oh- minados sucesso ou fracasso, bom ou mau, li-
lin) que, inspirados na obra de Knut Wicksell, gado ou desligado. Essas escolhas são também
notabilizaram-se por estudos sobre as relações denominadas binárias ou comutativas, isto é, os
temporárias entre os fenômenos econômicos. resultados podem ser 0 ou 1. É um caso especial
Em 1934, Myrdal desenvolveu, em seu livro Mo- da distribuição binomial. Veja também Bernoul-
netary Equilibrium (Equilíbrio Monetário), a aná- li (Família); Distribuição Binomial; Variável
lise das antecipações econômicas, introduzindo Aleatória de Bernoulli.
as distinções entre o que chamou de “ex-ante”
e “ex-post”, ou seja, a definição das quantidades ESCOLHA PÚBLICA. Veja Public Choice.
econômicas em termos de ações projetadas no ESCRAVIDÃO. Condição em que um ser hu-
início de um período e de medidas realizadas mano, o escravo, é propriedade de outro, o se-
no fim do mesmo período. Em seguida, Lund- nhor, dono absoluto do produto de seu trabalho.
berg, em seus Studies in the Theory of Economic Em sua forma plena, a condição de escravo é
Expansion (Estudos sobre a Teoria da Expansão perpétua e hereditária, isto é, transmissível aos
Econômica), 1937, e Lindhal, na obra Studies in descendentes do cativo. O escravo constitui tam-
the Theory of Money and Capital (Estudos sobre bém uma mercadoria, podendo portanto ser ob-
a Teoria do Dinheiro e do Capital), 1939, utili- jeto de compra e venda, herança, doação, alu-
zaram a análise de seqüência, que indica como guel, hipoteca e seqüestro judicial. A escravidão
uma situação econômica se transforma em outra surgiu no processo de desagregação da primi-
e explica os processos de ajustamento das va- tiva comunidade tribal, quando eram feitos pri-
riáveis econômicas no tempo. Como Myrdhal, sioneiros de guerra. No Egito Antigo, na África
Lindhal insiste na importância das antecipações Negra e nos impérios orientais, prevaleceu a es-
das receitas, dos investimentos, dos movimentos cravidão doméstica, pois raramente o escravo
de preços, dos juros etc. Para Lindhal, é a partir era empregado em trabalhos produtivos. Foi na
dessas antecipações que se calcula o valor do Grécia e em Roma que surgiram as primeiras
capital, e este, por sua vez, determinará a im- economias escravistas: os escravos eram empre-
portância da renda global e do movimento dos gados em trabalhos domésticos, artesanato, mi-
preços. Ohlin não acredita na eficácia prática das neração, agricultura e navegação. Durante a Ida-
taxas monetárias de juros para determinar a de Média, a escravidão permaneceu apenas
quantidade de investimentos e o conjunto da como elemento residual, raro, mas durante a re-
atividade econômica, mas sim nos planos “ex- conquista cristã da península ibérica (séculos
ante” de poupança, de consumo e de antecipa- XIII-XV), ela recrudesceu com o aprisionamento
ção da renda. Lundberg, por sua vez, procurou de guerreiros muçulmanos. Depois, com a co-
dinamizar o equilíbrio monetário com seus mo- lonização européia do continente americano, a
delos de seqüência, que se aplicam, em particu- escravidão voltou a ser amplamente praticada:
lar, no estudo da influência dos diferentes tipos foram escravizados milhões de indígenas e cerca
de expansão (da produção de bens de consumo de 15 milhões de negros africanos foram trazidos
e investimentos de capital) sobre o desenvolvi- como escravos para trabalhar nas minas e plan-
mento econômico. Ao contrário das análises eco- tações do Novo Mundo. A escravidão negra em
nômicas estáticas, que estudavam apenas a po- terras americanas estendeu-se do século XVI ao
sição final do equilíbrio econômico e o resultado XIX, sendo Cuba (1880) e o Brasil (1888) os últimos
das forças em ação, a dinâmica das seqüências países a decretar definitivamente sua extinção.
desenvolvidas pelos economistas suecos estuda
o jogo das forças econômicas e seus encadea- ESCRÓPULO. Medida de peso para pedras pre-
mentos temporais. O desenvolvimento da aná- ciosas, utilizada pela Casa da Moeda do Brasil
lise dinâmica contribui para a explicação das flu- antes da adoção do Sistema Métrico Decimal e
tuações econômicas, que não estavam integradas equivalente a 6 quilates ou aproximadamente
nos sistemas de equilíbrio estático. E essa expli- 1,125 g.
cação foi elaborada simultaneamente com a
construção de uma teoria macroeconômica da ESCROW (Fideicomisso). Termo em inglês em-
renda global e da teoria dinâmica. Veja também pregado no mercado financeiro internacional e
Ex-ante; Ex-post. que significa um acordo por escrito entre três
partes, mantido em custódia pela terceira parte
ESCOLHA. No campo da numismática, são as e só liberado por esta se as condições constantes
cotações que indicam se um selo é perfeito ou do acordo forem preenchidas pelas duas primei-
imperfeito. Denominam-se selos de primeira es- ras. Geralmente, essa “terceira” que mantém o
colha os selos perfeitos. documento do acordo em custódia é um banco
ou uma trust company. É obrigada a seguir es-
ESCOLHA BERNOULLI. Modelo matemático tritamente os termos do acordo mantido entre
para um experimento com apenas dois resulta- as outras duas partes. Esse mecanismo é utili-
219 ESPIRAL INFLACIONÁRIA

zado para a cobrança de tributos e de seguros consiste em comprar títulos ou commodities


de propriedades imobiliárias hipotecadas. Mas quando seus preços estão baixos, ou em baixa,
também pode ser usado em outras circunstân- e vender esses mesmos títulos ou commodities
cias, como no caso do México durante a rene- quando os preços estão em alta ou alcançam
gociação de sua dívida externa, a partir de 1989. um ponto máximo de elevação. As áreas prefe-
ridas para a ação dos especuladores são as Bol-
ESCROW BOND. Expressão em inglês do mer- sas de Valores e de Mercadorias ou os gêneros
cado financeiro que significa um título mantido de primeira necessidade. E no caso da especu-
com uma opção de compra ou sujeito a alguma lação com produtos agrícolas, ou provenientes
outra condição limitativa. O escrow bond pode da mineração, ou do extrativismo vegetal, a es-
ser também um título cuja autorização de emis- peculação ocorre geralmente com o produto em
são já existe, mas ainda não emitido, sendo man- estado bruto, e não com o já processado por
tido como alternativa por um curador (trustee) algum sistema de beneficiamento, pois as osci-
até que recursos adicionais sejam necessários lações de preço para cima ou para baixo são
para a realização de melhorias ou expansão de muito mais acentuadas nas matérias-primas do
uma atividade específica. que nos produtos acabados. Nos períodos de
ESCUDETE. Punção de pequeno escudo em crise econômica ou de grande instabilidade fi-
moedas existentes (em circulação) com o obje- nanceira, os especuladores tendem a atuar com
tivo de alterar para maior o valor das mesmas, maior desenvoltura. No entanto, como a base
em cumprimento a determinações governamen- da atuação desses operadores é a incerteza, e
tais. Veja também Carimbo; Cunhagem; Recu- esta torna-se presente em maior ou menor grau
nho; Senhoriagem. em todos os processos econômico-financeiros,
mesmo nos momentos de estabilidade os espe-
ESCUDO. Unidade monetária de Portugal, Cabo culadores estão presentes nos mercados de risco,
Verde e Macau. Submúltiplo: centavo. como são, por exemplo, as Bolsas de Valores e
de Mercadorias. Veja também Inflação.
ESPADIM DE OURO. Moeda cunhada em
Portugal a partir de 1489 por D. João II e equi- ESPERANÇA MATEMÁTICA. Supondo que x
valente a meio justo. Veja também Justo. é uma variável aleatória discreta com valores:
x1, x2, ... xn e probabilidades respectivas: p(x1),
ESPALDAS MOJADAS. Veja Bracero. p(x2),... p(xn), sua esperança matemática (ou sua
média) será a magnitude: E (a) = x1 p(x1) + x2
ESPECIALIZAÇÃO. Processo mediante o qual
p(x2) + ... xn p(xn). Por exemplo, se x assumir
um empregado se dedica a realizar apenas um
os valores: 0, 1, 2, e 3 com probabilidade: 1/2,
tipo de tarefa ou atividade, de tal forma que
1/4, 1/8 e 1/8, sua esperança matemática será:
seu rendimento esperado aumente. O termo
0 (1/2) + 1 (1/4) + 2 (1/8) + 3 (1/8) = 7/8. Se
pode ser aplicado também no comércio interna-
todas as p (xi) forem iguais, a esperança mate-
cional, no qual alguns países se especializam na
mática se reduz a: (1/n) (x1 + x2 + ... + xn), ou
produção e exportação de determinados tipos
seja, à média aritmética dos valores da variável.
de mercadorias.
A característica fundamental da esperança ma-
ESPÉCIE (em). Literalmente, a expressão “em temática de uma variável aleatória está em sua
espécie” significa “na mesma classe ou catego- propriedade de aproximar com grande exatidão
ria”. Ou seja, uma obrigação a ser paga “em a média aritmética de qualquer número de rea-
espécie” significa pagamento realizado na forma lizações aleatórias da variável, especialmente
especificada no contrato. No entanto, generica- quando o número de eventos (casos) é grande.
mente o termo é utilizado quando se designa No caso de uma variável aleatória contínua com
uma operação qualquer realizada em dinheiro. função de densidade f(x) e valores possíveis en-
No mercado financeiro, no entanto, significa di- tre os limites a e b, a definição de sua esperança
nheiro em sua forma metálica — moedas de matemática é a mesma, com a ressalva de que
ouro ou prata — para distingui-lo do dinheiro as somas do caso discreto se convertem em in-
como papel-moeda e outros meios de pagamen- tegrais no caso contínuo. Assim, Σ (a) = ∫ x f(x)
to. O termo também é utilizado para designar dx.
ouro e prata monetários na forma de lingotes.
ESPIRAL INFLACIONÁRIA. Processo em que
ESPECTROFOTOMETRIA DE ABSORÇÃO elementos interligados, que participam da infla-
ATÔMICA. Veja Toque. ção, funcionam como geradores de mais infla-
ção, num processo auto-alimentador. Teorica-
ESPECULAÇÃO. Compra e venda sistemática mente, os aumentos de preços devidos à inflação
de títulos, ações, imóveis etc. com a intenção de deveriam provocar retração na demanda e, con-
obter lucro rápido e elevado, aproveitando a os- seqüentemente, diminuição nos preços. Se assim
cilação dos preços. A atuação de um especulador ocorresse, a inflação se extinguiria por si mesma.
ESPÓLIO 220

Na prática, a inflação tende a ser cumulativa. ESTABILIZAÇÃO. Geralmente, o termo vem


Os empresários recusam-se a diminuir suas mar- associado a políticas monetárias efetuadas por
gens de lucro, e o aumento de custos dos pro- bancos centrais, para reduzir ou limitar as flu-
dutos primários é repassado totalmente, e em tuações de uma moeda nacional nos mercados
“cascata”, ao consumidor. O aumento de preços financeiros internacionais, comprando ou ven-
conduz à elevação do custo de vida e, por con- dendo reservas de, ou para, outros bancos cen-
seguinte, às reivindicações salariais por parte trais. Quando um Banco Central intervém no
dos trabalhadores. As pequenas e médias em- open market para vender suas reservas, o valor
presas que operam em mercados muito concor- dessa moeda nacional tende a cair ou, na melhor
ridos não podem repassar diretamente a seus das hipóteses, permanece o mesmo. No entanto,
consumidores os aumentos de salários. Mas as um Banco Central pode intervir também para
grandes empresas oligopolistas transferem to- evitar que o valor de uma outra moeda diminua
talmente o ônus dos aumentos salariais dos fun- no mercado internacional: em agosto de 1993,
cionários, mediante os aumentos nos preços dos para impedir que o dólar norte-americano caísse
produtos. Isso ocasiona a elevação no custo de abaixo dos 100 ienes — rompendo uma barreira
vida, novas reivindicações salariais e novos au- “psicológica” —, o Banco Central do Japão ad-
mentos nos custos dos produtos, levando a pre- quiriu mais de 1 bilhão de dólares, sustentando
ços finais mais altos. Se o processo inflacionário assim o valor da moeda norte-americana acima
se mantém, pode-se chegar à nova componente daquele patamar. O termo estabilização também
da espiral inflacionária. A expectativa de au- se aplica a políticas de ajuste que os países do
mento de preços leva à antecipação de compras Terceiro Mundo realizaram durante os anos 80,
com a finalidade de evitar os futuros aumentos. em função da crise ocasionada pelo seu elevado
O crescimento na demanda, além de provocar endividamento externo. Esses planos de ajuste
um aumento de preços, traduz-se também em foram quase sempre acompanhados por inten-
aumento de produção. Assim, os empresários sos processos inflacionários e, nesses casos, a
fazem maiores investimentos, há uma demanda estabilização significou não apenas intervenções
acelerada de mão-de-obra e os empregados con- dos bancos centrais no âmbito da política mo-
seguem salários melhores, tudo isso alimentan- netária, mas também nos planos fiscal, cambial,
do a espiral custos-preços-finais-salários. Final- administrativo etc., alterando-se as taxas de ju-
mente, deve-se salientar a componente psicoló- ros, de câmbio, de salários e de impostos. Veja
gica do processo: os empresários passam a cal- também Plano Cruzado; Plano Collor; Plano
cular os preços em função dos custos futuros, Real.
antecipando índices inflacionários que só exis-
tiriam muito mais tarde. Veja também Inflação. ESTADO, Capitalismo de. Veja Capitalismo de
Estado.
ESPÓLIO. Totalidade de bens deixados por
uma pessoa, após sua morte. Caso existam her- ESTADO DO BEM-ESTAR (Welfare State). Sis-
deiros, o juiz do espólio faz a partilha dos bens, tema econômico baseado na livre-empresa, mas
segundo os ditames legais e acordos estabeleci- com acentuada participação do Estado na pro-
dos entre os herdeiros. Enquanto a partilha não moção de benefícios sociais. Seu objetivo é pro-
estiver legalmente concluída, não se pode dispor porcionar ao conjunto dos cidadãos padrões de
de nenhum bem do espólio (imóvel, dinheiro vida mínimos, desenvolver a produção de bens
em conta bancária etc.) sem concordância judi- e serviços sociais, controlar o ciclo econômico e
cial explícita. ajustar o total da produção, considerando os cus-
tos e as rendas sociais. Não se trata de uma eco-
ESTABILIDADE. Situação da economia de um nomia estatizada; enquanto as empresas parti-
país caracterizada pela ausência relativa de flu-
culares ficam responsáveis pelo incremento e
tuações cíclicas. Depende basicamente do nível
realização da produção, cabe ao Estado a apli-
da produção, do emprego e dos preços, fatores
cação de uma progressiva política fiscal, de
que costumam flutuar em conjunto de forma cí-
clica. No plano da produção e do emprego, modo a possibilitar a execução de programas
pode-se considerar situação de estabilidade de moradia, saúde, educação, Previdência social,
aquela em que o produto nacional e o emprego seguro-desemprego e, acima de tudo, garantir
crescem de forma modesta, porém a taxas rela- uma política de pleno emprego. O Estado do
tivamente constantes. Em termos de preços, es- bem-estar corresponde fundamentalmente às di-
tabilidade significa um índice de preços com flu- retrizes estatais aplicadas nos países desenvol-
tuações mínimas ou a ausência relativa de flu- vidos por governos social-democratas. Nos Es-
tuação e deflação. No plano governamental, bus- tados Unidos, certos aspectos do Estado do bem-
ca-se a estabilização por meio das políticas mo- estar desenvolveram-se particularmente no pe-
netária, fiscal e salarial e dos mecanismos de ríodo de vigência do New Deal. Segundo Paul
controle de preços. Sweezy, economista norte-americano, alguns ru-
221 ESTALÃO

dimentos do Estado do bem-estar foram aplica- ESTAGFLAÇÃO. Situação na economia de um


dos no governo de Bismarck (1815-1898), no Im- país na qual a estagnação ou o declínio do nível
pério Germânico. No campo teórico, o ponto de de produção e emprego se combinam com uma
partida da formulação dos contornos do Estado inflação acelerada. O fenômeno contraria a teo-
do bem-estar tem seus fundamentos na obra de ria clássica segundo a qual a inflação tenderia
A.C. Pigou, Economics of Welfare (Economia do a declinar com o aumento do desemprego. Fe-
Bem-estar), 1920. Posteriormente, sua natureza nômeno típico do pós-guerra, a estagflação tem
foi rigorosamente analisada e defendida pelo se acentuado em quase todas as economias ca-
economista inglês John Strachey e pelo sueco pitalistas desenvolvidas depois da chamada cri-
Gunnar Myrdal. Para Myrdal, trata-se de uma se do petróleo (1973-1979). As medidas essen-
economia organicamente estruturada pela ação cialmente monetaristas adotadas pelos governos
do poder público. Essa intervenção ocorre no norte-americano e britânico para reverter essa
plano dos poderes central, estadual e municipal. tendência têm sido acompanhadas, no entanto,
Ao mesmo tempo, o controle público sobre a por considerável elevação dos preços, dos índi-
economia é limitado pelo controle que a socie- ces de desemprego e da recessão econômica. En-
dade civil tem sobre o Estado. Embora Myrdal tre 1963 e 1966, o Brasil atravessou um período
tenha como ponto de referência para a sua aná- de estagflação quando o PIB chegou a diminuir
lise as social-democracias escandinavas, ele afir- (1964-1965) e a inflação ainda não havia sido
ma que o Estado do bem-estar é ainda um ob- dominada. A partir de 1981, o fenômeno reapa-
jetivo futuro. Será, segundo ele, uma sociedade receu com inusitada força, permanecendo até o
na qual se torne possível a realização dos prin- primeiro semestre de 1984. Depois da fase de
cípios de fraternidade, liberdade e igualdade, crescimento correspondente ao biênio 1985-1986,
prometidos pela Revolução Francesa. Mesmo a estagflação voltou a caracterizar a economia
brasileira com índices inflacionários elevados e
discordando de Karl Marx, o ensaísta sueco diz
um crescimento do PIB pequeno. A partir de
que o Estado do bem-estar, no futuro, corres-
1994, com a introdução do Plano Real e da re-
ponderá ao “reino da felicidade”, sonhado pelo
forma monetária (advento do real), a inflação
autor de O Capital.
baixou consideravelmente e o PIB voltou a cres-
ESTADO GENDARME. Estado cujo papel ou cer de forma expressiva. Veja também Inflação;
participação econômica foi reduzida ao mínimo Plano Cruzado; Plano Real.
e se limita a fornecer alguns serviços coletivos
ESTAGNAÇÃO. Situação em que o produto na-
que as empresas privadas não podem oferecer
de maneira satisfatória. Como tais serviços estão cional (ou produto per capita) não mantém nível
geralmente associados à ordem pública, desig- de crescimento à altura do potencial econômico
na-se tal Estado de Estado Gendarme. Coloca-se do país. Pode ocorrer, por exemplo, que mesmo
em oposição ao Estado Organizador ou Estado com amplo emprego dos recursos disponíveis,
Previdência. o índice de crescimento do produto não supere
o índice de aumento da população ou até fique
ESTADO MÍNIMO. Veja Consenso de Wa- abaixo dele. Uma demanda global deficiente
shington; Smith, Adam. pode gerar esse quadro de estagnação numa eco-
ESTADOS NACIONAIS. Forma de Estado que nomia que tenha grande capacidade de cresci-
se estruturou na Europa a partir do final da Ida- mento: é o caso, segundo alguns economistas,
de Média e que definiu a fisionomia territorial das dificuldades que envolviam as economias
e política das modernas nações européias. Cor- norte-americana e inglesa, ameaçadas pela es-
respondem ao período de consolidação do ab- tagnação e pelo desemprego, no início da década
solutismo monárquico, quando os reis, apoiados de 80. Segundo os economistas da escola key-
pela burguesia, conseguiram firmar seu poder nesiana, a tendência à estagnação é uma das ca-
perante o papado e os senhores feudais. A po- racterísticas do capitalismo, caso a economia
lítica econômica dos Estados Nacionais foi o concorrencial seja relegada a seus mecanismos
mercantilismo, que favoreceu a acumulação pri- naturais. Para combater essa tendência, advo-
mitiva de capitais, posteriormente aplicados na gam a intervenção do Estado na economia, como
Revolução Industrial. Embora voltada para o de- instrumento de controle da taxa de juros e in-
senvolvimento comercial, a estrutura econômica centivador de novos investimentos.
dessas nações (Inglaterra, França, Portugal, Es-
panha) baseava-se na exploração agrícola domi- ESTALÃO. Termo às vezes encontrado em tex-
nada pela nobreza e pela Igreja, no artesanato tos em português sobre finanças e problemas
corporativista e na nascente produção manufa- monetários, que corresponde a “padrão”. É uma
tureira. Veja também Feudalismo; Mercantilis- tradução da palavra francesa étalon. Veja tam-
mo; Revolução Industrial. bém Padrão.
ESTÁTICA COMPARATIVA 222

ESTÁTICA COMPARATIVA. Método de aná- extrapolando-se os dados para a totalidade do


lise econômica com o qual o investigador com- grupo. Os dados coletados são analisados sob
para, nas mais variadas situações de equilíbrio, vários parâmetros, destacando-se o desvio pa-
o conjunto de características de um modelo eco- drão e a média da distribuição dos dados. A
nômico, teoricamente construído. Trata-se de distribuição, por sua vez, pode ser representada
um conceito proveniente da física e serve para graficamente (por histograma, polígono de fre-
indicar a teoria do equilíbrio de forças, que se qüências ou curva de freqüências). Em termos
contrapõe à da dinâmica, na qual os elementos ideais, o estatístico procura criar um modelo ma-
de um modelo são estudados em sua transfor- temático da distribuição dos dados, especial-
mação. A noção de estática e dinâmica foi in- mente se ele se aproxima da normalidade, isto
troduzida na economia por Stuart Mill, mas sua é, se os dados distribuem-se simetricamente em
aplicação mais abrangente na teoria econômica torno da média, configurando uma curva em
foi feita por Schumpeter. forma de sino. Existem diferentes testes para de-
ESTATISMO. Participação do Estado nas ativi- terminar se um modelo é conveniente. Utilizada
dades econômicas, nas quais ele atua como em- praticamente em todas as ciências em que exista
presário em setores da produção industrial e de um elemento de probabilidade envolvido, a es-
serviços. Embora o fenômeno do estatismo ocor- tatística é de importância fundamental para a eco-
ra nas economias capitalistas mais desenvolvi- nomia política. Veja também Amostra; Censo;
das, foi nos países subdesenvolvidos que a pe- Econometria; Média; Probabilidade; Variável.
netração do Estado na economia surgiu como ESTATÍSTICA ECONÔMICA. É o campo da
uma necessidade nacional. Na Ásia, África e estatística aplicada que tem por objetivo o es-
América Latina, o Estado foi o principal respon- tudo e a apresentação dos dados relativos à pro-
sável pelos projetos de implantação das indús- dução, à distribuição, à circulação e ao consumo
trias de base (siderurgia, petróleo, geração de da riqueza em determinada economia.
energia) e sistemas de transportes e comunica-
ções. Nas colônias afro-asiáticas que se tornaram ESTATÍSTICA INDUTIVA. Veja Indução Es-
independentes após a Segunda Guerra Mundial, tatística.
o Estado formou seu patrimônio com base nas
empresas estrangeiras nacionalizadas pelos mo- ESTATÍSTICO DAS NAÇÕES UNIDAS, Es-
vimentos de libertação vitoriosos. No Brasil, o critório. Central de dados estatísticos das Na-
Estado responde por cerca de um terço dos in- ções Unidas. No âmbito de suas funções, presta
vestimentos dirigidos para os setores produti- serviços aos países interessados, publica estu-
vos, domina mais da metade do capital bancário dos, pesquisas, guias e manuais sobre assuntos
e tem presença empresarial preponderante em estatísticos, organiza seminários e conferências
vários setores básicos. Veja também Dirigismo; e mantém centros de treinamento de âmbito in-
Liberalismo; Nacionalização; Privatização. ternacional, possibilitando o intercâmbio de ex-
periências sobre estatísticas dos países desen-
ESTATÍSTICA. Ramo da matemática que lida volvidos e subdesenvolvidos. Veja também ONU.
com os dados numéricos relativos a fenômenos
sociais ou naturais, com o objetivo de medir ou ESTATUTO DA TERRA. Lei nº 4 504 de
estimar a extensão desses fenômenos e verificar 30/11/1964, que regula os direitos e obrigações
suas inter-relações. Os métodos estatísticos são concernentes aos bens imóveis rurais, tendo
necessários para permitir o estudo de fenômenos como objetivo promover e executar a política
numericamente extensos (fenômenos de massa), agrícola e a reforma agrária. A política agrícola
classificando e abreviando os dados obtidos e é entendida como um conjunto de medidas que
procurando determinar a existência de tendên- orientem as atividades agropecuárias com o in-
cias características que se acentuam com o au- tuito de garantir à propriedade rural sua plena
mento do número de observações. A estatística utilização, harmonizando-a com o processo de
descritiva cuida da classificação e apresentação industrialização. A reforma agrária é entendida
dos dados. A estatística inferencial ou analítica es- como uma meta que estabeleça um sistema de
tuda os meios de coleta dos dados, sua análise relações entre o homem, a propriedade rural e
e interpretação; aqui, os métodos estatísticos o uso da terra capaz de promover a justiça social,
permitem a elaboração de inferências estatísti- o progresso, o bem-estar do trabalhador rural e
cas, isto é, fazer afirmações gerais, com escassa o desenvolvimento econômico do país. Para a
margem de erro, também medida estatistica- consecução de tais objetivos, o Estatuto da Terra
mente a partir de informações incompletas sobre estabeleceu que o cadastramento dos imóveis
o grupo (população) em estudo. Como é prati- rurais passaria a ser efetuado com base num
camente impossível examinar todos os elemen- “módulo” de propriedade, ou seja, uma proprie-
tos de uma população, considera-se apenas uma dade familiar capaz de assegurar ao trabalhador
amostra representativa (casual ou sistemática), rural um rendimento suficiente para seu pro-
223 ESTRATÉGIA EMPRESARIAL

gresso e seu bem-estar econômico e social. Esse ESTERLINO (A). Termo que aparece vinculado
módulo varia de acordo com as condições geo- à libra quando se trata de unidade monetária
gráficas de cada região. A partir dessa concei- da Inglaterra e não unidade de peso do sistema
tuação, passou-se a chamar minifúndio a área que imperial inglês e do consuetudinário americano.
não corresponde a um módulo; empresa rural, o O esterlino é também medida de pureza da pra-
imóvel rural cuja área seja de até seiscentas vezes ta: no passado, representava prata com 92,5%
o módulo e no qual pelo menos metade da área de pureza. Hoje, seu padrão é igual a 50%.
cultivável seja explorada de forma racional; la-
tifúndio por exploração, as propriedades com as ESTOCÁSTICO, Modelo. Veja Modelo Esto-
mesmas dimensões da empresa rural, mas cuja cástico.
área explorada é inferior ao que seria admitido
racionalmente; e latifúndio por dimensão, o imóvel ESTOQUE. Quantidade de um bem armazena-
cuja área ultrapassa seiscentas vezes o módulo. do ou em conservação (matérias-primas, com-
O Estatuto da Terra estabelece também que o bustíveis, produtos semi-acabados ou acaba-
acesso à propriedade rural se fará mediante a dos). Os bens podem ser estocados para venda,
distribuição ou redistribuição de terras por in- abastecimento de entressafra ou simplesmente
teresse social, com o intuito de condicionar o para especulação. O estoque deve ser peri-
uso da terra a sua função social e obrigar a sua odicamente avaliado para possibilitar o balanço
exploração racional; compra e venda; doação; anual de uma empresa. O volume total de es-
herança; e reversão ao poder público de terras toques numa economia tende a crescer com o
indevidamente ocupadas e exploradas por ter- produto nacional e, a curto prazo, está sujeito
ceiros. Para fixação da importância a ser paga a flutuações conjunturais (valorização ou depre-
em caso de desapropriação, o estatuto estabelece ciação, conforme o nível dos preços ou a situação
que serão levados em conta o valor declarado cambial). Veja também Açambarcamento; Just
do imóvel para efeito do imposto territorial ru- in Time.
ral, o valor constante do cadastro acrescido das
benfeitorias e seu valor venal. As terras são dis- ESTOQUE DE SEGURANÇA. É aquele man-
tribuídas, sob a forma de propriedade familiar, tido para enfrentar problemas e imprevistos ou
a agricultores cujos imóveis rurais sejam com- acidentes com a renovação do suprimento, de
provadamente destinados a associações de agri- tal forma que o processo produtivo não sofra
cultores, sob a forma de cooperativas, quando interrupções por falta de matérias-primas, peças,
se desejar a formação de glebas destinadas à ex- equipamentos etc.
ploração extrativa, agrícola, pecuária ou agroin-
ESTRANGULAMENTO. Veja Ponto de Estran-
dustrial. Os beneficiados pela reforma serão ini-
gulamento.
cialmente os proprietários do imóvel desapro-
priado, desde que desejem explorar, diretamen- ESTRATÉGIA EMPRESARIAL. Denominação
te ou por meio de suas famílias, uma parcela dada à maneira de agir das empresas dentro de
do imóvel desapropriado, como posseiros, as- uma perspectiva temporal e em decorrência de
salariados, parceiros ou arrendatários, e aqueles análise de uma determinada conjuntura. As es-
que tenham comprovada competência para a tratégias adotadas podem ter várias classifica-
prática de atividades agrícolas e que não pos- ções, entre as quais se destacam as seguintes:
suem terras. A Constituição de 1988 estabeleceu 1) estratégia tradicional — aquela adotada num
que são insuscetíveis de desapropriação a pe- mercado que se caracteriza pela ausência de ino-
quena e a média propriedade rural (a definição vações tecnológicas relevantes (mercados estag-
de uma e de outra será determinada em lei com- nados); 2) estratégia dependente — aquela que ca-
plementar), desde que seu proprietário não pos-
racteriza a situação de empresas vinculadas à
sua outra, e a propriedade produtiva, qualquer
relação de subcontratação com outras empresas
que seja o seu tamanho. O órgão responsável
geralmente de maior porte; 3) estratégia oportu-
pela execução e promoção dessa reforma era o
nista — aquela relacionada com a identificação
Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (Ibra).
de nichos do mercado tecnologicamente dinâ-
Posteriormente, essas atribuições passaram para
micos que não interessam às grandes empresas;
o Incra. Com a extinção do Incra, em 1987, elas
4) estratégia ofensiva — tem como ponto de par-
foram assumidas pelo Ministério da Reforma e
do Desenvolvimento Agrário (Mirad) e, em tida a convicção de que ser o primeiro a intro-
1990, com a desativação desse Ministério, essas duzir determinada inovação no mercado repre-
atribuições passaram a pertencer ao Ministério senta uma vantagem que pode se traduzir em
da Agricultura. Veja também Incra. lucros mais elevados no curto prazo; 5) estratégia
defensiva — aquela que considera interessante
ESTÉREO. Medida de capacidade equivalente acompanhar com uma certa defasagem as em-
a 1 metro cúbico. presas mais agressivas na incorporação de ino-
ESTRATIFICAÇÃO 224

vações (progresso técnico), mas introduzindo hegemonia do setor industrial sobre as ativida-
uma diferenciação no produto para torná-lo des primárias. A supremacia do setor secundá-
mais competitivo; 6) estratégia imitativa — aquela rio, correspondente a uma estrutura industrial,
que reconhece um atraso em relação às demais foi característica dos países altamente desenvol-
no que se refere à incorporação do progresso vidos a partir da Revolução Industrial. Mais re-
técnico, mas que administra com competência centemente, a ênfase tem-se deslocado, nesses
essa diferença, sem deixar que se amplie. Veja países, para o setor de serviços. Há estudos que
também Nicho. se baseiam no nível de produtividade para ca-
racterizar uma estrutura econômica, que corres-
ESTRATIFICAÇÃO. Modo pelo qual, nas di- ponderia ao grau de presença de apenas dois
versas sociedades, se estrutura um sistema de setores fundamentais: setor moderno, de produ-
posições e papéis sociais dos indivíduos, dis- tividade elevada, graças a técnicas avançadas de
postos em diferentes camadas (estratos), que produção, e o setor tradicional, baseado em téc-
correspondem a diversos graus de poder, rique- nicas primitivas e, portanto, com baixa produ-
za e prestígio. As diversas posições (ocupações) tividade. Freqüentemente, na mesma economia,
não são igualmente importantes socialmente, coexistem uma estrutura moderna e uma tradi-
nem requerem o mesmo grau de treinamento. cional. Uma terceira análise focaliza a estrutura
Para garantir que as posições sejam preenchidas do mercado como dado básico da complexidade
de forma completa e sem atritos, associam-se a de uma estrutura econômica. Numa economia
elas certas recompensas, tornando atraentes as não desenvolvida, há basicamente um setor de
mais significativas e de mais difícil desempenho. mercado externo muito especializado em produ-
Essas recompensas refletem os critérios da es- tos agrícolas ou extrativos, destinados à expor-
tratificação social. Em geral, as pesquisas sobre tação; podem existir ainda um setor de mercado
estratificação social tomam como índices: mon- interno (incluindo os produtos manufaturados)
tante e origem das rendas, propriedades, edu- e um setor de subsistência, voltado para o auto-
cação, prestígio da profissão, área residencial e consumo e com baixa produtividade. Nesse
etnia. A teoria da estratificação social vigora so- caso, o desenvolvimento da estrutura econômica
bretudo na sociologia norte-americana e consti- dependeria da expansão do setor de mercado
tui um tema polêmico nas ciências sociais. Seus interno — isso estimularia o aumento da pro-
críticos salientam seu caráter a-histórico e a ten- dutividade agrícola, a expansão da área de ser-
tativa de constituir-se num esquema universal, viços em geral e levaria a uma crise de setor
válido para qualquer tipo de sociedade; além voltado para a subsistência. O conceito marxista
disso, apontam a confusão que se estabelece en- de estrutura econômica liga-se ao conceito mais
tre as noções de status, camada e classe social. amplo de totalidade social. Assim, a estrutura
Outros reconhecem a existência objetiva da es- (ou infra-estrutura) representa a base econômica
tratificação, mas procuram analisá-la no conjun- da sociedade, sobre a qual se ergue a superes-
to da estrutura social e, paralelamente, no da ca- trutura (relações jurídicas, políticas e demais for-
racterização e do desempenho das classes. Veja mas de consciência social). Essa estrutura cor-
também Classes Sociais; Mobilidade Social. responde ao modo de produção dominante
ESTRUTURA ECONÔMICA. Conjunto de ele- numa formação social e, mais especificamente,
mentos relativamente estáveis que se relacionam ao conjunto das relações sociais de produção
no tempo e no espaço para formar uma totali- (forma de propriedade, instrumentos de traba-
dade econômica. Na economia descritiva, a es- lho e seu desenvolvimento tecnológico e classes
trutura corresponde à relação entre os três gran- sociais). É o fio condutor que, em última ins-
des setores de atividade: primário (atividade tância, explica os fenômenos político-sociais de
agrícola e extrativa), secundário (atividade de uma época. Mas a relação entre a estrutura e a
transformação fabril) e terciário (serviços em ge- superestrutura que ela engendra não se dá me-
ral, inclusive o comércio e os transportes). O canicamente, é uma relação dinâmica, dialética:
crescimento desses setores não ocorre de forma os fenômenos econômicos determinam os polí-
harmônica, mas desigual, e essa defasagem se- ticos, mas são também por eles influenciados.
torial é um elemento básico para avaliar a es- Veja também Conjuntura; Desenvolvimento
trutura que corresponde ao grau de desenvol- Econômico; Sistema Econômico; Setores de
vimento de uma economia. Nessa perspectiva, Produção; Revolução.
considera-se menos desenvolvido um país de ESTRUTURA INDUSTRIAL. Veja Organização.
estrutura agrária, aquele cuja principal atividade
econômica corresponde à agricultura. Isso por- ESTRUTURA SOCIAL. Em termos gerais, a to-
que os elementos característicos do progresso talidade formada pelo conjunto das relações so-
estariam no setor secundário, o que implica a ciais. Abrange toda interação entre indivíduos,
225 EULER, Leonhard

grupos, classes sociais e o conjunto de normas, sáveis à realização da mesma e eliminar os mo-
valores e padrões de comportamento que nor- vimentos supérfluos ou desnecessários, com o
teiam essas relações. O conceito de estrutura tem intuito de racionalizar o trabalho e aumentar a
variado de acordo com a posição teórica e me- produtividade. Veja também Estudo de Tempos.
todológica do cientista social. O termo foi em-
ESTUDO DE TEMPOS. Estudos realizados em
pregado pela primeira vez em ciências sociais
geral num processo de trabalho fabril, a fim de
por Herbert Spencer, que fez uma analogia entre
determinar o tempo adequado para a realização de
a sociologia e a biologia em que a noção de es-
uma tarefa. Veja também Estudo de Movimentos.
trutura aparece vinculada à de função: o con-
junto das funções diferenciadas formaria a es- ESTUDO DE TEMPOS E MOVIMENTOS. Es-
trutura em torno da qual ocorreria o funciona- tudo que reúne o Estudo de Tempos e os Estudos
mento do “organismo” social. A partir dessa re- de Movimentos, no sentido de determinar o
ferência, o conceito de estrutura ganhou força tempo adequado ou normal para que um tra-
e características próprias nas obras de Émile balhador execute os movimentos indispensáveis
Durkheim, Radcliffe-Brown e Talcot Parsons. De ou necessários à realização de uma tarefa.
forma particular, e mais modernamente, a noção
de estrutura passou a nortear os estudos de Lévi- ET ALII. Expressão em latim que significa, li-
teralmente, “e outros”, utilizada quando, ao re-
Strauss e sua análise estrutural das relações de
ferir-se a um artigo ou livro de autoria de vários
parentesco nas comunidades tribais. A formu-
autores, cita-se o principal ou o primeiro em
lação marxista de estrutura social relaciona-se ordem alfabética, seguido da expressão et alii.
com as noções de modo de produção e formação
social, consideradas em sua dinâmica histórica: ET SIC DE COETERIS. Expressão em latim que
nesse sentido, a estrutura está sujeita a trans- significa “e assim por diante”, e cuja abreviação
formações, determinadas pelo grau de desen- é etc.
volvimento das forças produtivas das relações
de produção. EUCKEN, Walter (1891-1950). Economista ale-
mão neoliberal que tentou integrar a tradição
ESTRUTURALISMO. Corrente de pensamento da abordagem da escola histórica alemã com a
econômico latino-americana inspirada nos tra- teoria econômica neoclássica, desenvolvendo o
balhos dos componentes da Cepal, que analisava estudo comparativo de sistemas econômicos. In-
o desenvolvimento econômico do ponto de vista fluenciado pelo conceito de “tipos ideais” de
dos obstáculos estruturais que impediam um Max Weber, Eucken desenvolveu a noção de
crescimento maior dessas economias. Na expli- “ordem econômica”, entendida como um con-
cação do fenômeno inflacionário, os estrutura- junto de elementos funcionais que estabelecem
listas acreditavam que estruturas inadequadas as condições para o funcionamento do processo
como a agrária, por exemplo, tornavam inelás- econômico. Elaborou uma “morfologia econô-
tica a oferta de alimentos e matérias-primas, o mica” com base em dois tipos abstratos de or-
que significava elevação de preços nos centros ganização: 1) economia dirigida ou centralizada;
urbanos. A deterioração das relações de troca 2) economia de troca, descentralizada, em que
provocaria déficits comerciais e do balanço de as ações das unidades econômicas indepen-
pagamentos, obrigando tais países a desvalori- dentes seriam coordenadas por meio do merca-
zações cambiais constantes, sendo estas outro do e da moeda. Professor nas universidades de
alimentador do processo inflacionário. As solu- Tübingen e de Freiburg, Eucken influiu no mo-
ções propostas: para o primeiro caso, a reforma vimento para liberalizar a economia alemã após
agrária; para o segundo, a transição de uma eco- a Segunda Guerra Mundial. Sob esse tema des-
nomia exportadora de matérias-primas para ou- taca-se seu artigo “On the Theory of the Cen-
tra que vendesse ao exterior principalmente pro- trally Administered Economy: an Analysis of
dutos manufaturados. O autor mais influente the German Experiment” (“Sobre a Teoria da
dessa escola de pensamento econômico é o ar- Administração Econômica Centralizada: uma
gentino Raul Prebisch. Entre os economistas bra- Análise da Experiência Alemã”), 1948. Escreveu
sileiros, o mais importante estruturalista é cer- também os livros Kapitaltheoretsche Untersuchun-
tamente Celso Furtado. Veja também Furtado, gen (Considerações Teóricas sobre o Capital),
Celso; Plano Trienal; Prebisch, Raul; Relações 1934, e Grundlagen der Nationalökonomie (Os Fun-
de Troca. damentos da Economia Política), 1940.

ESTRUTURALISTAS. Veja Estruturalismo. EULER, Leonhard (1707-1783). Matemático e fí-


sico suíço cujas proposições os marginalistas uti-
ESTUDO DE MOVIMENTOS. Análise dos mo- lizaram nas teorias da produção e da distribui-
vimentos de um trabalhador ao realizar uma ta- ção, formulando o chamado teorema de Euler.
refa, para determinar aqueles que são indispen- A teoria marginalista da distribuição afirma que
EURATOM 226

a remuneração dos fatores de produção (terra, manha (1,98 marco), Holanda (2,23 florins), Ir-
trabalho e capital) corresponderá ao valor do landa (0,80 libra irlandesa), Itália (1957,61 liras),
produto produzido pela última unidade do fator Luxemburgo (40,78 francos luxemburgueses),
empregado. A partir de hipóteses simplificado- Portugal (202,70 escudos) e Espanha (168,22 pe-
ras sobre o modo como os fatores de produção setas). Os países que permaneceram fora da
se combinam para produzir uma mercadoria, o união monetária nessa primeira fase também ti-
teorema de Euler demonstra a forma pela qual veram suas moedas nacionais cotadas em ter-
a teoria da produtividade marginal explica a me- mos de euros: Grécia (357,00 dracmas), Dina-
lhor combinação de fatores de produção e a dis- marca (7,54 coroas dinamarquesas), Suécia (9,43
tribuição da renda entre esses fatores. A utili- coroas suecas) e Grã-Bretanha (0,65 libra ester-
zação desse teorema resolveu o problema da lina). A cotação do dólar dos Estados Unidos
agregação, que preocupava os primeiros teóricos foi fixada como referência em US$ 1,166 = 1
da produtividade marginal: o teorema permitiu Euro. Veja também ECU; Tratado de Maas-
demonstrar como a soma da remuneração dos tricht; União Monetária Européia.
principais fatores de produção (terra, trabalho
EUROBANK. Banco da Europa Ocidental, es-
e capital), determinada pela produtividade mar-
pecialmente aquele que recebe depósitos, que
ginal de cada fator, seria acrescida ao produto
concede empréstimos e proporciona crédito nas
total. Também com base nas proposições mate-
moedas dos vários países que constituem a
máticas de Euler, construíram-se os modelos
União Européia.
econômicos dinâmicos, principalmente sobre as
flutuações do ciclo econômico. EUROBILL OF EXCHANGE. Expressão em in-
glês que designa uma letra de câmbio emitida
EURATOM — Comunidade Européia de Ener- e aceita da forma usual, mas denominada em
gia Atômica. Organismo de colaboração cientí- moeda estrangeira e aceita para ser paga fora do
fica criado em março de 1957 para coordenar as país cuja moeda foi utilizada na letra de câmbio.
pesquisas e os projetos de produção industrial
de energia atômica, com fins pacíficos, do Mer- EUROBOND. Título emitido por uma empresa
cado Comum Europeu. Sediada em Bruxelas, norte-americana ou não-européia. Neste tipo de
possui centros de pesquisa em Ispra (Itália), Geel mercado, esses títulos são geralmente de venci-
(Bélgica), Karlsruhe (Alemanha), Culham (Ingla- mento entre dez e quinze anos.
terra) e Petten (Holanda). Desde 1967 integra a
Comunidade Européia. Veja também Comuni- EURO-CANADIAN DOLLARS. Dólares cana-
dade Européia; Tratado de Maastricht. denses negociados nos mercados da União Eu-
ropéia (euromarkets).
EURCO. Iniciais de european composite unit, que
significa uma unidade de conta não oficial e pri- EUROCARD. Cartão de crédito europeu desen-
vada baseada nas moedas dos países da Comu- volvido pelo sistema bancário alemão e aceito
nidade Européia. Esta unidade é composta por na maior parte dos países europeus.
tais moedas, na proporção da importância eco-
nômica de cada país na Comunidade Européia. EUROCHEQUE. Um tipo de cartão de crédito
Veja também ECU. para a compra de mercadorias na maior parte
dos países europeus.
EURIBOR. Iniciais de european interbank offered
rate, ou a taxa de juros oferecida pelo Banco Cen- EUROCLEAR. Sistema de compensação e de-
tral Europeu, que representará os países da pósitos computadorizado, para a manutenção
União Monetária Européia e se encarregará da em custódia, entrega e pagamento dos Euro-
política monetária e cambial (emissão de euros, bonds. É propriedade de 120 bancos e corretoras
fixação das taxas de juros e de câmbio) da região. de títulos, e gerenciada pelo Morgan Guaranty.
Veja também Euro; Libor. Veja também Eurobonds.
EURO. Denominação da moeda unificada que EUROCOMMERCIAL PAPER. Título comercial
a União Européia adotará em 1999 e que deverá emitido em moeda européia (eurocurrency).
circular a partir de 2002. O Euro, no entanto,
somente será adotado pelos países que em 1997 EUROCOMUNISMO. Uma das tendências do
atingiram as metas relacionadas com o déficit movimento comunista internacional, represen-
público (inferior a 3% do PIB) e o endividamento tada por alguns partidos comunistas da Europa
interno (inferior a 60% do PIB) fixadas pelo Tra- (particularmente Itália, França e Espanha), cuja
tado de Maastricht. Esses países são os seguin- linha política se fundamenta na revisão de al-
tes, com as cotações de suas moedas nacionais gumas teses básicas do marxismo-leninismo.
em euros, em 1º/1/1999: Áustria (13,91 xelins), Partindo de uma nova interpretação da natureza
Bélgica (40,78 francos belgas), Finlândia (6,63 do Estado e do significado da democracia, nega
markkas), França (6,63 francos franceses), Ale- a necessidade da ditadura do proletariado na
227 EUROPEAN BANK FOR RECONSTRUCTION AND DEVELOPMENT

construção do socialismo e defende o pluripar- EURODOLLARS. Depósitos de curto prazo, e


tidarismo em lugar do sistema de partido único, fonte de alta qualidade de recursos para os ban-
que é tradicional nos países de regime comu- cos, realizados em bancos ou filiais sediadas no
nista. No plano econômico, a socialização dos estrangeiro (fora dos Estados Unidos), denomi-
meios de produção seria feita de forma gradual, nados em dólares.
incluindo inicialmente apenas as empresas mo-
nopolistas e as grandes corporações, enquanto EUROEQUITY. Equity share (ações patrimoniais)
os setores médio e pequeno da indústria per- denominadas numa moeda diferente da moeda
maneceriam em mãos privadas. do país no qual elas são negociadas.

EUROCRATA. Denominação popular aplicada EUROFER. Cartel do ferro e do aço dos países
àqueles funcionários que trabalham em Bruxelas do Mercado Comum Europeu. Sediado em Lu-
ou Luxemburgo em comissões, conselhos e ati- xemburgo, foi fundado oficialmente em 1976 e
vidades relacionados com o Mercado Comum é dirigido por um conselho de cinqüenta pessoas
Europeu. eleitas pelas companhias produtoras de aço lo-
calizadas na comunidade. Uma das prerrogati-
EUROCREDIT. Qualquer empréstimo denomi- vas da Eurofer é negociar com grupos mono-
nado em moeda européia (eurocurrency). polistas semelhantes, como os seis maiores pro-
dutores de aço do Japão.
EUROCREDIT SECTOR. Seção do mercado
EUROFRANCS. Francos belgas, suíços e fran-
europeu na qual os bancos funcionam como em-
ceses negociados nos mercados financeiros eu-
prestadores de longo prazo mediante a constan-
ropeus.
te rolagem de empréstimos de médio e curto
prazos, a taxas de juros flutuantes. EUROGUILDERS. Guildas holandesas nego-
ciadas no mercado monetário europeu.
EUROCURRENCY. Moedas de vários países
depositadas em bancos europeus, utilizadas no EUROLAND. Veja Euro.
mercado financeiro europeu.
EUROMARKS. Marcos alemães negociados no
EUROCURRENCY MARKET. Veja Mercado mercado monetário europeu.
de Euromoedas.
EUROMONEY. Veja Eurocurrency.
EURODÓLAR. Termo aplicado atualmente à
moeda norte-americana que é depositada em EUROPA, Conselho da. Organismo criado em
bancos comerciais da Europa, Oriente Médio e 1949 para desenvolver a cooperação econômica,
Japão e que resulta dos gastos ou empréstimos social, cultural e científica entre os países-mem-
feitos pelos Estados Unidos no exterior. Em de- bros. Outro de seus objetivos é salvaguardar os
corrência do poder de conversibilidade das di- direitos humanos e as liberdades fundamentais
versas moedas nacionais, o mercado dos euro- do cidadão no plano continental. Sua jurisdição
dólares (ou euromoedas) acabou por englobar abrange ainda os problemas decorrentes de atos
o conjunto das moedas estrangeiras escritural- terroristas, emigração de trabalhadores e segu-
mente depositadas na Europa, formando-se as- rança coletiva. Sediado em Estrasburgo, é inte-
sim uma grande reserva monetária em disponi- grado por Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre,
bilidade no mercado internacional. As transa- Dinamarca, Espanha, França, Grécia, Holanda,
ções e a conversibilidade realizam-se por meio Inglaterra, Irlanda, Islândia, Itália, Liechtenstein,
de uma operação financeira que envolve os ban- Luxemburgo, Malta, Noruega, Portugal, Suécia,
cos comerciais e os bancos centrais de cada país, Suíça e Turquia. Os órgãos principais do con-
tendo Londres como o principal mercado. Veja selho são o Comitê de Ministros, a Assembléia
também Petrodólar. Parlamentar (na qual as representações se ali-
nham de acordo com suas tendências políticas:
EURODOLLAR COLLATERALIZED — CDs liberais, conservadores, socialistas, democratas
(Certificados de Depósito). Certificados de de- cristãos) e a Corte de Direitos Humanos.
pósito de no mínimo 100 mil dólares para in-
vestidores estrangeiros emitidos por Federally EUROPEAN BANK FOR RECONSTRUCTION
Chartered and Federal Savings and Loan Insu- AND DEVELOPMENT. Banco Europeu de Re-
rance Corporation. construção e Desenvolvimento fundado em
15/1/1990 pelos doze membros da Comunidade
EURODOLLAR DEPOSITS. Depósitos bancá- Européia. A finalidade do banco é realizar em-
rios, geralmente rendendo juros e por tempo de- préstimos que contribuam para a reconstrução
terminado, denominados em Dólares dos Esta- das economias dos países do ex-bloco soviético.
dos Unidos, mas feitos em bancos fora desse O banco iniciou suas operações em abril de 1991
país. e está sediado em Londres. Também denomi-
EUROPEAN COMMUNITY 228

nado European Development Bank (Banco de estáveis, ampliando a quantidade de moeda em


Desenvolvimento Europeu). circulação, mas ao mesmo tempo com o Tesouro
lançando títulos da dívida pública no mercado,
EUROPEAN COMMUNITY. Veja Comunida- para neutralizar esta expansão dos meios de
de Européia. pagamento.
EUROPEAN CURRENCY BAND. Veja Serpente.
EVENING UP. Expressão do mercado de ações
EUROPEAN CURRENCY UNIT. Veja ECU. que designa uma situação na qual, para cobrir
seus contratos, operadores “longos” vendem
EUROPEAN INVESTMENT BANK. Banco de ações, e operadores “curtos” compram simulta-
Investimento Europeu, criado pelo Tratado de neamente, de tal forma que a demanda e a oferta
Roma como instituição financeira da Comuni- de ações se equilibram e as alterações das cota-
dade Econômica Européia, cuja finalidade é fi- ções são de pouca significância.
nanciar projetos de investimento nos países que
compõem o Mercado Comum Europeu. Veja EVERGREEN CREDIT. Veja Evergreen Loan.
também Tratado de Maastricht.
EVERGREEN LOAN. Empréstimo que não exi-
EUROPEAN MONETARY UNION (EMU). Veja ge do devedor pagamentos periódicos, isto é,
União Monetária Européia. não tem data de vencimento, embora o credor
possa convertê-lo num empréstimo por tempo
EUROPEAN MONETARY UNITY. Veja ECU. determinado, sendo que, no vencimento, ele
pode ser renovado ou pago.
EUROPEAN NARROW MARGIN ARRAN-
GEMENT. Veja Serpente. EWG. Iniciais da expressão em alemão Euro-
päische Wirtschaft Gemeinschaft, que significa
EUROSTERLING. Depósitos em libras esterli- Comunidade Econômica Européia.
nas obtidos por um banco fora do Reino Unido.
EX-ALL. Expressão em inglês que, aplicada ao
EUROSYNDICATED LOANS. Empréstimos mercado de ações, significa que as ações vendi-
concedidos por grandes bancos com prazos de das nessas condições são transacionadas sem ne-
vencimento entre três e dez anos, mediante a nhum direito ou privilégio que as mesmas con-
formação de sindicatos internacionais de bancos têm, como, por exemplo, dividendos pendentes,
para cada caso específico. Os fundos para os o direito de subscrever novas ações etc.
empréstimos são retirados do Euromarket.
EX-ANTE. Expressão criada por Gunnar Myrdal
EUROYEN BONDS. Títulos emitidos em ienes e que se aplica às quantidades de investimento,
no Euromercado. Antes de junho de 1986, o mer- poupança ou consumo planejadas como ação
cado de Euroyenes estava confinado às empre- para um período que se inicia. Portanto, sendo
sas japonesas e estrangeiras, governos de países quantidades hipotéticas, funcionam como rota
soberanos e organizações supranacionais como para planos econômicos gerais, que serão depois
o Banco Mundial. Os bancos estrangeiros esta- confrontados com os cálculos ex-post, realizados
vam impedidos de emitir certificados de depó- no fim do período. Veja também Ex-post; Myr-
sito em Euroyenes. Em junho de 1986, o Minis- dal, Gunnar Karl.
tério de Finanças do Japão autorizou os bancos EXCESSO DE ARRECADAÇÃO. Saldo positi-
dos Estados Unidos e outros bancos estrangeiros vo das diferenças acumuladas mês a mês entre
a levantar recursos em ienes como parte da li- a arrecadação prevista e a realizada, conside-
beralização do mercado financeiro japonês, des- rando-se ainda a tendência do exercício.
ta forma permitindo a bancos não japoneses (es-
trangeiros) o acesso a recursos de baixo custo. EXCHEQUER. Nome oficial da conta do Chan-
Em pouco tempo essas emissões superaram o cellor of the Exchequer do Reino Unido com o
outro instrumento de obtenção de recursos, os Banco da Inglaterra. Corresponderia, nos Esta-
samurai bonds, que são títulos emitidos em ienes dos Unidos, às contas do Departamento do Te-
no Japão por não-residentes. Veja também Sa- souro com os Bancos da Reserva Federal. No
murai Bond. Brasil, se aproximaria da conta do Tesouro Na-
cional junto ao Banco Central. Esta conta é des-
EVALUATOR. Veja Appraisal. tinada às grandes receitas do país e é de onde
são pagas as despesas do governo.
EVEN KEELING. Expressão em inglês que de-
signa um processo de controle da liquidez apli- EXCHEQUER BILLS. Denominação das anti-
cado pelos bancos que constituem a Reserva Fe- gas notas promissórias emitidas pelo governo
deral (Federal Reserve Banks), nos Estados Uni- inglês. Sua emissão teve início em 1696 e cons-
dos, e que consiste em manter as taxas de juros tituíram, durante muito tempo, o principal título
229 EXÓTICAS

da dívida flutuante da Inglaterra. Foram subs- se deslocam para a cidade em decorrência da


tituídas pelos Treasury Bills (Letras do Tesouro mecanização da agricultura; pequenos proprie-
inglês). tários e artesãos arruinados. Marx salientou o
fato de que o capitalismo, mesmo em época de
EXCHEQUER BONDS. Denominação dada na prosperidade, necessita da existência de um nú-
Inglaterra aos títulos emitidos pelo governo in- mero razoável de trabalhadores desempregados
glês ou pelas indústrias nacionalizadas e garan- com a finalidade de impedir uma maior pressão
tidas pelo governo, e que são negociados na Bol- sobre o preço dos salários. Veja também Marx,
sa de Valores de Londres. Karl Heinrich.
EXCISE TAX. Imposto seletivo lançado sobre EX-FACTORY. Veja EXW (Ex Works).
produtos determinados ou sobre as importaçõ-
es, com o intuito de proteger atividades internas, EXIMBANK (Export and Import Bank of the
priorizar as importações de determinadas regiõ- United States). O Banco de Exportação e Im-
es ou de países e elevar a arrecadação tributária. portação dos Estados Unidos é uma instituição
criada em 1934 pelo governo norte-americano,
EX-DIVIDENDO. Condição aposta a uma ação, com o objetivo de promover o comércio exterior
significando que, por determinado período, após nos anos que se seguiram à Grande Depressão.
a transação, o vendedor reterá os dividendos. Em Mais tarde, passou a financiar programas de go-
decorrência, o preço da ação sofre uma redução. vernos e empresas do exterior na compra exclu-
EXECUÇÃO. Ato pelo qual a autoridade judi- siva de equipamentos e serviços norte-america-
cial obriga uma pessoa física ou jurídica a cum- nos (crédito contingenciado). Atuando sobretu-
do na área do Terceiro Mundo, o Eximbank foi
prir algo que era de seu dever, em decorrência
também responsável pelo financiamento dos
de solicitação processual de uma parte prejudi-
cada. Resume-se no cumprimento de uma sen- planos de reconstrução dos países europeus
tença, constrangendo o réu (devedor) a assumir após a Segunda Guerra Mundial, até a institui-
uma obrigação que é comprovadamente de sua ção do Plano Marshall.
responsabilidade. É a parte final de uma ação EX-INTEREST. Expressão que, aplicada a um
judicial. título, significa que o próximo cupom de juros
a vencer foi destacado.
EXERCÍCIO. Período de tempo de doze meses
em que o orçamento financeiro de uma empresa EXIT BONDS. Expressão em inglês que desig-
deve ser executado. Ao final do exercício, deve- na “bônus de saída”, que são os títulos emitidos
se fazer um balanço das atividades, em função e negociados para que credores que tenham uma
do qual são calculados impostos, lucros, divi- participação pequena numa dívida possam ser
dendos etc. As sociedades anônimas são obri- pagos, tornando a renegociação dessa dívida
gadas a publicar os balanços de cada exercício com os demais credores mais fácil. Veja também
em jornais de ampla circulação, para informação Bradies; Plano Baker; Plano Brady.
de seus acionistas e do público.
EXIT FEE. Veja Back-End Load.
EXÉRCITO INDUSTRIAL DE RESERVA. Ex-
pressão empregada por Karl Marx para designar EX-MILL. Veja EXW (Ex Works).
o conjunto dos trabalhadores desempregados.
A esse mesmo contingente humano ele deu tam- EX NUNC. Expressão em latim que significa
bém a denominação de população relativa exce- “de agora em diante”, “sem efeito retroativo”,
dente. Ao contrário de todos os economistas que especialmente nos contratos em que não há re-
o precederam, Marx analisou a existência do troatividade de efeitos. Quando há retroativida-
exército industrial de reserva como um fenôme- de de efeitos, a expressão latina correspondente
no inerente à própria produção capitalista. Para é ex tunc.
ele, os capitalistas, a fim de vencerem os con- EX-OFFICIO. Literalmente, a expressão latina
correntes, são obrigados a empregar continua- significa “em virtude de um ofício”. No mundo
mente novas máquinas, com o intuito de bara- dos negócios, o termo é utilizado para identificar
tear os custos de produção e aumentar a pro- alguns deveres e prerrogativas que recaem sobre
dutividade do trabalho. O emprego de novas o titular de um cargo, mas que não constituem
máquinas e novos equipamentos leva à dimi- parte das tarefas regulares desse cargo. Assim,
nuição da parte relativa à mão-de-obra, o que o presidente de uma corporação, em virtude de
provoca o chamado desemprego tecnológico. sua posição, pode ser o presidente (ex-officio) do
Marx analisa também outras formas de criação conselho de diretores da mesma empresa.
do exército industrial de reserva: mão-de-obra
de jovens que não são absorvidos em sua tota- EXÓTICAS. Termo que designa, no campo das
lidade pelo mercado de trabalho; trabalhadores opções, aquelas destinadas a atender a interesses
agrícolas que têm empregos temporários ou que específicos das organizações. Como as caracte-
EXPECTATIVAS 230

rísticas são especiais, tornam-se de difícil colo- agentes econômicos como racional, no sentido
cação nos mercados padronizados, isto é, nas de que tais agentes formam suas expectativas
Bolsas de Valores, sendo negociadas mais fre- (e agem de acordo com elas) sobre o desenvol-
qüentemente pelos bancos. Tais formas torna- vimento futuro da economia não apenas exami-
ram-se conhecidas e vieram a ser designadas por nando o passado, mas também o presente, ao
cap, floor e collar, podendo também ser encon- levar em consideração todas as ações governa-
tradas outras como, por exemplo, as Opções de mentais e do mundo dos negócios (nacionais e
Barreira, as Opções Asiáticas, as Opções Retros- internacionais) que possam influir, por exemplo,
pectivas (look back) e outras. Veja também Cap; sobre a taxa de inflação. No início dos anos 60,
Collar; Floor. o economista John Muth afirmou que as expec-
tativas dos indivíduos (no contexto de um mo-
EXPECTATIVAS. Conceito usado por Keynes delo) são racionais quando são idênticas às pre-
para designar o grau de incerteza em relação dições desse modelo. No final da mesma década,
ao futuro. Um indivíduo fará um investimento, as idéias de Muth apareceram num artigo de
dependendo da taxa de juros e das expectativas. Robert Lucas e Leonard Rapping. As conclusões
Se as expectativas, por exemplo, forem boas (oti- apoiavam a idéia monetarista da existência de
mistas), ele provavelmente investirá. Esse con- uma taxa natural de desemprego. Leonard Rap-
ceito, considerado uma das grandes contribui- ping abandonou esta linha de pesquisa rejeitan-
ções de Keynes à economia, foi também desen- do este enfoque da economia neoclássica em fa-
volvido pela escola sueca. As expectativas são vor de um enfoque neo-keynesiano. Lucas, no
importantes para a teoria da preferência pela entanto, prosseguiu e, em conjunto com Edward
liquidez. A demanda de dinheiro para satisfazer Prescott, escreveu, em 1971, um artigo utilizan-
o motivo especulativo depende das expectativas do o conceito explorando as conseqüências das
sobre as mudanças da taxa corrente de juros. expectativas racionais sobre o comportamento
Se, por exemplo, a taxa corrente é baixa e os dos investimentos. As conclusões coincidiram
preços das ações são altos, é de esperar que os com as da economia clássica: a moeda é neutra
preços das ações caiam. Diante dessa perspec- e a política governamental intervencionista é ine-
tiva, as pessoas preferirão ter dinheiro a ações, ficaz. Por esta razão, esta corrente também é de-
porque seu custo de manutenção é baixo e, dessa nominada nova economia clássica. Esta corrente de
forma, evitarão perdas de capital, se caírem — pensamento econômico colidiu frontalmente com
como se espera — os preços das ações. Veja tam- as concepções dos neo-keynesianos, e os princi-
bém Conjuntura Econômica; Expectativas Ra- pais representantes nesse debate, do lado da nova
cionais; Previsão Econômica; Propensão a In- economia clássica, são: Thomas Sargent, Neil Wal-
vestir; Propensão a Poupar. lace, Bennett McCallum, Robert Barro e Robert
EXPECTATIVAS ADAPTATIVAS. Expressão Towsend. Veja também Economia Clássica; Ex-
que significa a formação de expectativas sobre pectativas Adaptativas; Neokeynesiano.
o comportamento futuro de uma variável, ou EX-PLANTATION. Veja EXW (Ex Works).
de um processo econômico, ou de uma econo-
mia que se baseia apenas no comportamento EXPOENTE. Número que se afixa no alto de
passado dessa mesma variável, processo econô- um outro, em tipo menor, indicando quantas
mico ou economia. Em outras palavras, os agen- vezes este outro deve ser multiplicado por si
tes econômicos adaptariam seu comportamento mesmo. Por exemplo: 103 significa que 10 deve
futuro ao desempenho de um processo econô- ser multiplicado três vezes por ele próprio: 10
mico baseando-se apenas na evolução passada x 10 x 10 = 1 000. No caso, o número três afixado
e recente desse mesmo processo. Foi Milton no alto do número dez (103) é o seu expoente
Friedman quem introduziu este conceito no de- ou sua potência. Veja também Logaritmo; Po-
bate travado entre os defensores das expectati- tência.
vas racionais (monetaristas) e os neo-keynesia-
nos, argumentando que os indivíduos ajustam EXPONENCIAL. Quando relacionada com uma
suas expectativas correntes para corrigir erros função, tem a conformação em que a variável
de previsão cometidos em períodos precedentes. dependente está vinculada ao número e elevado
Veja também Expectativas Racionais; Fried- a alguma potência contendo a variável inde-
man, Milton; Neokeynesiano. pendente, onde e = 2,718, a base dos logaritmos
naturais. Um exemplo é Y = a.ebX, onde X é a
EXPECTATIVAS HOMOGÊNEAS. Concepção variável independente e a e b são constantes.
de que todos os indivíduos (que atuam no mercado Estas funções são apropriadas para a descrição
financeiro) têm as mesmas crenças no que se refere do crescimento de variáveis no tempo, como os
a investimentos futuros, lucros e dividendos. preços, a população etc.
EXPECTATIVAS RACIONAIS. Conceito da EXPORTAÇÃO. Vendas, no exterior, de bens e
corrente monetarista que interpreta a ação dos serviços de um país. Resulta, como a importa-
231 EXW

ção, da divisão internacional do trabalho, pela no porto designado. Código ou abreviação: EXS.
qual os países tendem a especializar-se na pro- Veja também Incoterms.
dução dos bens para os quais têm maior dispo-
EX-SITU. Expressão em latim que significa “fora
nibilidade de fatores produtivos, garantindo um
de lugar” (no sentido físico) e aplicada nos casos
excedente exportável. Exportar mais do que im-
em que se quer designar, por exemplo, a ma-
portar era o mecanismo preconizado pelos mer- nutenção de uma planta fora de seu lugar na-
cantilistas, no século XVII, como a única maneira tural de crescimento, como acontece nos jardins
de atrair metais preciosos para um país e tor- botânicos ou mesmo nos laboratórios.
ná-lo rico e poderoso. Atualmente, considera-se
ainda a exportação um dos principais instru- EXPOSURE. A expressão, de origem inglesa, sig-
mentos de uma política de pleno emprego. As nifica “grau de exposição” de um banco em re-
exportações são chamadas visíveis quando en- lação a suas aplicações nos diversos países. Tec-
volvem mercadorias, e invisíveis quando se trata nicamente, representa a porcentagem de em-
de serviços (turismo, transportes, serviços ban- préstimos e financiamentos que um banco tem
cários, juros, dividendos, seguros, fundos dos em cada país em relação ao total de seus em-
préstimos e financiamentos. Quando um banco
migrantes, heranças, donativos). As mercadorias
tem uma percentagem grande de seus emprés-
ou serviços exportados como pagamento de juro
timos comprometida com um só devedor, seu
sobre empréstimos ou amortização de capital,
grau de exposição ou sua vulnerabilidade au-
não sendo pagas por quem as recebe, não cap- menta, especialmente quando este devedor
tam moeda estrangeira, constituindo as chama- apresenta sinais de inadimplência.
das exportações não-remuneradas. Veja também
Balança Comercial; Comércio Internacional; EXPURGAR. Verbo utilizado geralmente para de-
Importação; Troca, Relações de. signar o ato de purificar, limpar, ou eliminar aquilo
que é considerado nocivo ou prejudicial. Em eco-
EX-POST. Expressão criada por Myrdal para in- nomia, o termo tem sido utilizado para referir a
dicar a quantidade de investimentos, poupança retirada de um ou mais produtos que compõem
e consumo realizados em determinado período. a cesta cujos preços estabelecem os índices infla-
Como são cálculos processados posteriormente, cionários, ou mesmo desconsiderando períodos
baseiam-se em quantidades reais e suas conclu- (semana, quinzena) nos quais os preços se alte-
sões são fundamentais para a definição de pla- raram, mas não foram registrados nos índices,
nos e projetos calculados ex-ante. Veja também alterando via de regra para menos o valor destes.
Ex-ante.
EXQ. Veja Ex-Quay.
EX-QUAY. Expressão do comércio internacional
EXS. Veja Ex-Ship.
que significa “no cais”, seguida da indicação do
porto onde deverão ser colocadas as mercado- EXTERNALIDADES. Veja Economias Externas.
rias. O vendedor coloca a mercadoria à dispo-
sição do comprador no porto, no lugar conven- EXTRAPOLAÇÃO. Veja Interpolação e Extra-
cionado no contrato de venda, arcando com to- polação.
dos os custos e riscos de transporte do produto EXTRAPOLAÇÃO DE TENDÊNCIA. Método
até esse local. Existem, no entanto, dois tipos de previsão vinculado à regressão estatística, se-
de contratos ex-quay: a modalidade duty paid, gundo o qual a direção e a magnitude experi-
quando a responsabilidade de liberar a merca- mentadas por uma variável no passado terão a
doria na alfândega do país importador cabe ao mesma configuração no futuro. Isto é, os valores
vendedor, e duties on buyer’s account, quando tais futuros de uma variável tenderão a situar-se
despesas são arcadas pelo comprador. Código numa linha de tendência geral. Na medida em
ou abreviação: EXQ. Veja também Incoterms. que esses valores podem situar-se acima ou abai-
EX-RIGHTS. Expressão que se aplica quando xo da linha de tendência, aquele que utiliza esse
instrumento de previsão poderá traçar linhas de
uma ação é vendida e todos os direitos e privi-
tendências alternativas ou possíveis.
légios que a mesma possui permanecem com o
vendedor, isto é, ela é vendida sem direitos. EXTRATOS. Forma simplificada de apresenta-
ção de uma conta corrente, com a relação dos
EX-SHIP. Expressão do comércio internacional
débitos, créditos e saldo.
que significa “no navio”, seguida da designação
do porto de destino. O vendedor coloca a mer- EXW. Abreviação de ex-works e o mesmo que
cadoria à disposição do comprador a bordo do ex-mill, ex-factory, ex-plantation, e que significa
navio escolhido, sendo o frete pago pelo ven- que a responsabilidade sobre a mercadoria posta
dedor. A transferência de custos e riscos faz-se na porta da fábrica recai sobre o comprador. Veja
a bordo do navio, no ponto de descarga usual, também Incoterms; Ponto Crítico.
F 232

FACTOR DRIVEN. Expressão em inglês que


significa vantagens competitivas de um país ba-

F
seadas na abundância de fatores de produção,
especialmente matérias-primas.
FACTORING. Atividade pela qual uma insti-
tuição financeira especializada compra e admi-
nistra as duplicatas de outras empresas, ou ou-
tros títulos a receber, inclusive cheques pré-da-
tados. Com esse sistema, cria-se a possibilidade
F. Inicial de: 1) farthing (unidade monetária in- de uma redução no custo do dinheiro (ou do
glesa); 2) fen (unidade monetária chinesa); 3) fo- crédito) das empresas, uma vez que se elimina
rint (unidade monetária húngara); 4) franco (uni- a intermediação dos bancos nos descontos de
dade monetária francesa). duplicatas. Ao mesmo tempo, as empresas pas-
sam a ter maior capital de giro, uma vez que
FAA. Iniciais da expressão em inglês free of all
as instituições que operam com factoring adian-
average, que significa “livre de avarias” ou “sem
tam os valores das duplicatas (de 50 a 80%, por
avarias”.
exemplo) antes de seus vencimentos, cobrando
FABIANA. Veja Sociedade Fabiana. pelo adiantamento menos do que os bancos em
termos de taxas de juros. O sistema de factoring
FÁBRICA. Conjunto industrial constituído de é adotado sobretudo como um serviço a peque-
instalações, equipamentos e trabalhadores vol- nas e médias empresas, ou, no comércio inter-
tados para a transformação de matérias-primas. nacional, como um serviço aos exportadores.
A produção fabril distingue-se da produção ar- Este tipo de atividade está ganhando muito im-
tesanal e da produção manufatureira por con- pulso no Brasil, já existindo até mesmo uma As-
centrar grande número de trabalhadores com sociação Nacional de Factoring (Anfac). Veja
funções especializadas, as quais são executadas também Capital de Giro; Duplicata.
com o auxílio de máquinas-ferramentas. As fá-
bricas podem ser de dois tipos: de processamento FACTOR-PRICE FRONTIER. Expressão cunha-
da por Paul Samuelson para designar a inclina-
e de montagem. As primeiras obtêm o produto
ção negativa do trade-off entre a taxa de salários
mediante transformação de matérias-primas por
e a taxa de lucros no âmbito da teoria do cres-
meios mecânicos, químicos ou físico-químicos.
cimento. Os economistas da Escola de Cambrid-
Nas fábricas de montagem (como as de auto-
ge preferem a expressão wage/rate of profit fron-
móveis), o produto final resulta da combinação
tier, enquanto Hicks (sir John Hicks) referia-se
de peças e subconjuntos mecânicos produzidos
ao mesmo processo como wage-frontier.
nas fábricas de processamento. Há ainda as fá-
bricas que combinam os dois tipos acima cita- FADEN. Veja Braça.
dos. As primeiras fábricas surgiram na Inglater-
ra com a Revolução Industrial, no final do século FAF. Veja Fundo de Aplicação Financeira.
XVIII, quando a introdução da máquina a vapor FAISCADORES. Indivíduos que realizavam a
na produção permitiu o aumento da produtivi- mineração do ouro independentemente, e que,
dade e a intensificação da divisão do trabalho; ao contrário da produção em “lavras”, não se
atualmente, o desenvolvimento desses fatores se fixavam num lugar. Exerciam suas atividades
apóia na automação. Veja também Artesanato; em áreas franqueadas a todos, mas cada um tra-
Indústria; Localização Industrial. balhando por si e isoladamente. O sistema ad-
mitia também a presença de escravos, que tra-
FACÃO, Passar o. No jargão dos operários e
balhavam para seus proprietários entregando a
trabalhadores, particularmente os industriais,
estes certa proporção do ouro produzido, e em
designa o ato de demitir empregados em grande caso de produção excepcionalmente elevada, po-
número, e de uma só vez. diam ganhar com isso sua liberdade. Veja tam-
FACILIDADES DE CAIXA. Atitude tomada por bém Lavras.
bancos, em relação a clientes preferenciais — FALÁCIA. Sinônimo de sofisma, estudado e clas-
empresas, sobretudo —, permitindo que perma- sificado por Aristóteles. Consiste em concluir
neçam com caixa a descoberto (sem liquidez), partindo-se de uma proposição particular para
especialmente em ocasiões de grande concen- uma universal, ou em tratar o que é acidental
tração de pagamentos. Não chega a ser uma ope- como essencial. Também se aplica a proposições
ração de crédito, mas uma tolerância motivada que parecem verdadeiras sem o ser. As falácias
pelo interesse em manter determinados clientes. econômicas envolvem com freqüência o elemen-
233 FAMÍLIA CENSITÁRIA

to tempo e a chamada composição da proposi- brigações, ele liquidar precipitadamente seu ati-
ção. A falácia que utiliza o tempo ocorre em vo, ou o estoque de mercadorias a preço inferior
proposições econômicas que não definem clara- ao custo, ou então lançar mão de meios ruinosos
mente sua dependência do fator tempo. Por (como o empréstimo de dinheiro a juros eleva-
exemplo, muitos autores acreditam que não dos), ou ainda utilizar-se de meios fraudulentos
pode ser considerada verdadeira a proposição para conseguir dinheiro necessário para o pa-
segundo a qual, numa economia dinâmica, su- gamento de suas dívidas; 3) se ele convocar os
jeita a vários choques e influências, as principais credores solicitando prazo maior para o paga-
variáveis (salários, lucros, preços e custos) en- mento de obrigações a vencer, pedindo remissão
contrarão sempre seu nível de crescimento, mas (desistência) de créditos, ou propondo-lhes a
sim que elas estarão sempre tendendo a encontrar cessão de bens. A falência pode ser pedida pelo
esse nível. A falácia de composição da propo- próprio comerciante (aliás, é sua obrigação legal,
sição deve-se à prática de ampliar, no final do se estiver em insolvência) ou por credor munido
argumento, a significação de termos utilizados de título de dívida líquida e certa. Uma vez de-
de modo restritivo em seu início. Esse tipo de cretada a falência, inicia-se o processo de exe-
confusão produz grande número de erros vul- cução: todos os bens do falido são liquidados e
gares, que consistem em supor que o que é ver- repartidos proporcionalmente entre os credores,
dadeiro em relação a uma parte será, apenas segundo as prioridades definidas em lei: 1) cré-
por isso, tido como verdadeiro em relação ao ditos com direitos reais de garantia (hipotecas,
todo. Por exemplo, afirmar que uma ação con- por exemplo); 2) créditos com privilégio especial
siderada útil para um indivíduo ou uma em- sobre determinado bem (garantia por caução,
presa o será também para o conjunto de um até o limite do título caucionado, por exemplo);
país. Outros tipos de falácias surgem quando
3) créditos com privilégio geral (empregados,
quantidades variáveis são tratadas como fixas
FGTS, dívidas fiscais etc.); 4) créditos quirogra-
— como na antiga “lei de bronze” de Lassale,
fários (todos os demais não privilegiados e, por-
pela qual os salários tenderiam a equilibrar-se
tanto, os últimos na ordem de rateio do paga-
no nível da simples subsistência. Alfred Mar-
mento). A massa falida é administrada por um
shall procurou denunciar esse tipo de sofisma,
síndico escolhido entre os credores e sob super-
introduzindo na teoria econômica uma nova
compreensão pela qual diferentes fatores deter- visão do juiz da falência. Todos os credores de-
minam-se mutuamente. vem apresentar, em juízo, provas de suas con-
dições, o que é chamado de habilitação de cré-
FALANSTÉRIO. Comunidade organizada de dito. Em todo processo de falência é feita uma
acordo com os princípios socialistas defendidos investigação do procedimento do falido para ve-
por Charles Fourier. Os falanstérios eram estru- rificar a existência ou não de atos considerados,
turados em bases cooperativas, e a repartição por lei, crimes falimentares. Considera-se crimi-
dos bens produzidos coletivamente se fazia se- nosa a falência se, para que ela ocorresse, o co-
gundo o capital empregado, a capacidade e o merciante tiver agido dolosamente (com inten-
trabalho de cada membro da comunidade. Os ção deliberada de prejudicar seus credores), ou
partidários de Fourier criaram falanstérios na culposamente (se ele dirigiu os negócios com
Europa, nos Estados Unidos e no Brasil, mas omissão ou imperícia). Veja também Concordata.
não tiveram condições de sobreviver às impo-
sições do sistema capitalista. Veja também Fou- FALLEN ANGELS. Expressão em inglês que sig-
rier, Charles. nifica literalmente “anjos caídos” e que, no jar-
gão do mercado financeiro, designa um título
FALÊNCIA. Situação em que, por força de de- ou ação com boa classificação de crédito por par-
cisão judicial, uma empresa é declarada insol- te das empresas especializadas (como a Stand-
vente, ou seja, incapaz de saldar seus débitos ards and Poor’s ou a Moody’s) e que, posterior-
nos prazos contratuais estabelecidos. Duas con- mente, tem a sua qualificação em queda para
dições são básicas para a declaração de falência: níveis em que não se recomenda ao investidor
o caráter comercial da empresa, isto é, ela deve adquiri-los como investimento. Veja também
ser enquadrada no que, em direito comercial, é Moody’s Investors Service; Standard & Poor’s.
considerado comércio, e a situação real ou pre-
sumida de insolvência. A insolvência do comer- FAMÍLIA CENSITÁRIA. Conceito adotado pela
ciante (empresa) pode ser apenas presumida, se- Fundação IBGE (Instituto Brasileiro de Geogra-
gundo circunstâncias expressas no artigo 2º da fia e Estatística) e que designa tanto o conjunto
Lei de Falências: 1) se, ao sofrer uma execução de pessoas que, em virtude de parentesco, ado-
judicial qualquer, ele não pagar, não depositar ção, subordinação, hospedagem ou simples de-
a quantia necessária ou não nomear bens à pe- pendência, vivem em domicílio comum sob a
nhora que bastem para satisfazer a obrigação; direção e comando de uma pessoa, como a pes-
2) se, na iminência de vencimento de suas o- soa que vive só, em domicílio independente.
FANEGA 234

FANEGA. Unidade de medida utilizada no Bra- FARQUHAR, Percival (1864-1953). Empresário


sil antes da adoção do sistema métrico decimal norte-americano ligado à construção de várias
e equivalente a aproximadamente 55 l. A fanega estradas de ferro no Brasil, onde chegou em
era uma antiga medida de capacidade utilizada 1905. Foi fundador da Light and Power (1905),
na Espanha e em grande parte dos países de da Brasil Railway (1906) e das estradas de ferro
colonização espanhola, equivalente a 55,5 ou Sorocabana (1907) e Madeira-Mamoré (1912).
56,5 l. Veja também Unidades de Pesos e Me- Obteve concessão do governo brasileiro para a
didas. reconstrução dos portos de Belém, Rio Grande
e Rio de Janeiro, além de ligar-se à atividade
FANNO, Marco (1878-1965). Economista italia- agropecuária e madeireira. Em 1920, mediante
no e professor de economia política nas univer- contrato com o governo de Epitácio Pessoa, Far-
sidades de Sassari, Messina e Pádua. Sua obra quhar fundou a Itabira Iron Ore & Co. (Com-
se classifica na escola do equilíbrio geral predo- panhia de Minério de Ferro de Itabira), que se
minante na Itália durante os anos 30. Nessa épo- encarregaria de extrair e exportar o minério,
ca, seus estudos mais importantes versaram so- além de construir uma ferrovia, um porto e uma
bre a elasticidade da demanda e sobre questões siderúrgica. Acusado de ser agente do capital
monetárias. No entanto, seu trabalho mais im- estrangeiro por várias personalidades influen-
portante trata das flutuações econômicas. No li- tes, teve a concessão de exploração dos minérios
vro La Teoria delle Fluttuazioni Economiche (A Teo- cassada em 1931 por Getúlio Vargas, pois até
ria das Flutuações Econômicas), 1947, desenvol- então não iniciara os trabalhos de prospecção
ve uma síntese das principais teorias existentes mineral. Ainda assim, a Companhia de Mine-
sobre o tema e apresenta farto material histórico ração e Siderurgia, fundada em 1939, incorporou
e empírico. O eixo principal do trabalho é um a Itabira Iron, ficando o grupo de Farquhar com
exame detalhado do papel do crédito na deter- 48% das ações. Em 1942, quando o governo fe-
minação da duração dos ciclos econômicos. deral criou a Vale do Rio Doce, a Companhia
de Mineração foi comprada e anexada ao patri-
FAO — Organização para Alimentação e Agri-
mônio estatal. Continuando suas atividades, en-
cultura (Food and Agriculture Organization).
tre 1944 e 1950, Farquhar criou a Acesita, que
Órgão das Nações Unidas fundado em 1943 e
passou a ser controlada pelo Banco do Brasil,
inaugurado em 1945 na reunião de Quebec (Ca-
em 1952, por endividamento.
nadá). Sediada em Roma, a FAO tem por obje-
tivo elevar os níveis de alimentação e nutrição FARTHING. Moeda de cobre inglesa de valor
das populações carentes do mundo, promoven- equivalente a 1/4 de penny, constituindo a moe-
do o aumento dos níveis de produtividade da da de menor valor no sistema monetário inglês.
agricultura e uma melhor e mais eqüitativa dis- Em 1960, o farthing foi oficialmente retirado de
tribuição de alimentos em escala internacional. circulação devido ao seu valor irrisório.
É dirigida por um conselho de representantes
de 31 países, eleitos pela conferência bianual de FAS (Free Alongside Ship). Expressão do co-
todas as nações associadas. mércio internacional que significa “posto no cos-
tado do navio” seguida da especificação “porto
FAPIS. Iniciais de Fundos de Aposentadoria de embarque indicado”. De acordo com esta mo-
Programada Individual. dalidade, as obrigações do vendedor terminam
quando a mercadoria for colocada no cais no
FARAD. Unidade de medida da capacidade
costado do navio, ou em embarcações utilizadas
(quantidade) de eletricidade que um corpo (ob-
para realizar o carregamento no navio que fará
jeto qualquer) pode armazenar. O nome tem ori-
o transporte, passando o comprador, a partir
gem no inventor inglês Michael Faraday, que
desse momento, a arcar com todos os custos e
construiu o primeiro gerador elétrico.
riscos de perdas e danos. Diversamente do FOB
FARDO. Antiga unidade de medida de peso (free on board), o FAS exige que o comprador
do algodão, usada até hoje e admitindo pesos desembarace a mercadoria na alfândega para a
muito variados, dependendo do país que o pro- exportação, sendo também por sua conta a de-
duz e exporta. Por exemplo, nos Estados Unidos, signação do navio e o pagamento do frete ma-
um fardo de algodão pesa 226,5 kg; no Egito, rítimo. Veja também FOB; Incoterms.
317,1 kg; na Índia, 181,2 kg; no Brasil e no Peru,
113,25 kg. O algodão pode ser medido também FASCISMO. Regime político totalitário que se
por blocos, que são grandes rolos de fios com caracteriza por domínio de um partido único,
cerca de 2,5 kg, ou por sacos pesando 63 kg nos hipertrofia do aparelho policial, exaltação nacio-
Estados Unidos e 126 kg na Inglaterra. Veja tam- nalista, pregação do antiliberalismo, do antico-
bém Sakellerides. munismo e defesa da ação do Estado como prin-
cipal dirigente da economia nacional. Embora
FARMER. Veja Via Farmer. se tenha desenvolvido também na Alemanha
235 FATURA

(nazismo), Espanha (franquismo) e Portugal (sa- seu território por razões sanitárias, políticas, fi-
lazarismo), foi na Itália, no período entre guer- nanceiras ou judiciais, tal ato é denominado ar-
ras, que o fascismo adquiriu um corpo doutri- resto de príncipe ou embargo de príncipe.
nário, o qual se materializou no governo de Be-
nito Mussolini. No plano econômico, o fascismo FATORES DE PRODUÇÃO. Elementos indis-
pensáveis ao processo produtivo de bens mate-
combateu o capitalismo liberal típico do século
riais. Tradicionalmente, desde Say, são conside-
XIX e aparelhou o Estado de organismos buro-
rados fatores de produção a terra (terras culti-
cráticos para dirigir e controlar a atividade eco-
váveis, florestas, minas), o homem (trabalho) e o
nômica e minimizar ao máximo as tensões so-
capital (máquinas, equipamentos, instalações,
ciais. Para realizar essa tarefa, os Estados fas-
matérias-primas). Atualmente, costuma-se in-
cistas instituíram o corporativismo, que se ba-
cluir mais dois fatores: organização empresarial e
seava na organização profissional e setorial de o conjunto ciência/técnica (pesquisa). Há ainda
patrões e empregados. Embora em sua origem os que consideram cada insumo um tipo parti-
o fascismo se tenha caracterizado por forte sen- cular de fator de produção. De modo geral, os
timento anticapitalista, pois pregava uma nação fatores de produção são limitados e, por isso,
livre do “capitalismo de rapina” — sobretudo eles se combinam de forma diferente conforme
o capital financeiro —, depois de investidos no o local e a situação histórica. Por exemplo, o
poder, os fascistas tornaram-se instrumento dos emprego de máquinas na agricultura moderna
grandes grupos monopolistas italianos e ale- diminui o peso específico do trabalho e mesmo
mães, aos quais interessava a política expansio- da terra como fatores de produção, enquanto
nista de grande nação e o combate ao movimen- aumenta o peso do capital; já na agricultura es-
to reivindicatório dos operários. Profundamente cravista ou extensiva, o peso maior encontra-se
enraizado nos setores da classe média, o fascis- na terra e no trabalho, pois o emprego de ins-
mo foi fruto da crise social e econômica em que trumentos de produção (máquinas) e adubos é
a Europa enveredou após a Primeira Guerra significativamente inferior ao dos dois primeiros
Mundial — devastada pelo conflito, por uma fatores. Do mesmo modo, no período manufa-
espiral inflacionária incontrolável, pelo desem- tureiro, a ênfase maior estava no trabalho, pois
prego, e abalada pelas tensões políticas entre as os meios de produção empregados eram ainda
correntes liberais, social-democratas e socialistas. artesanais, ao contrário do que ocorre com o uso
de tecnologia moderna, que minimiza o papel
FAST TRACK. Expressão em inglês que signi- do trabalho no processo produtivo e enfatiza o
fica literalmente “via rápida” e que se refere a do capital. A forma como estão distribuídos os
um mandato especial que o governo norte-ame- fatores de produção tem particular importância
ricano busca obter do Congresso para negociar na teoria dos preços dos fatores e na teoria dos
com outros países novos acordos de liberaliza- custos de produção, sendo portanto fundamen-
ção do comércio, especialmente a criação da Alca tal na produtividade e rentabilidade da empresa.
(Área Livre de Comércio das Américas). Veja Por isso, a atenção do empresário deve recair
também Alca. num dimensionamento correto dos fatores fixos
(máquinas, instalações) e dos fatores variáveis
FAT. Iniciais de Fundo de Amparo ao Traba- (matérias-primas e mão-de-obra). Veja também
lhador. Capital; Capital Intensivo; Lei dos Rendimen-
tos Decrescentes; Organização; Tecnologia;
FATO DO PRÍNCIPE (Teoria do). Conceito de
Terra; Trabalho; Trabalho Intensivo.
administração pública que designa qualquer ato
governamental imprevisto e imprevisível, posi- FATORIAL. Designado pelo ponto de exclama-
tivo ou negativo, que onere substancialmente a ção (!), significa uma seqüência decrescente de
execução de contratos celebrados com terceiros. multiplicações como, por exemplo, 6! = 6 x 5 x
Se tal onerosidade torna intolerável ou impede 4 x 3 x 2 x 1 = 720.
que o contrato seja cumprido, o poder público
estará obrigado a aceitar a rescisão do contrato FATURA (ou Nota Fiscal). Documento contábil
e garantir as indenizações cabíveis à parte con- que comprova a venda de uma mercadoria ou
tratada. O princípio que rege este dispositivo é de um serviço. Como os impostos são cobrados
o mesmo que se aplica nas indenizações pagas sobre os valores registrados nas faturas, elas são
ao expropriado por utilidade pública ou inte- documentos que permitem a circulação das mer-
resse social: o poder público não pode causar cadorias. Sem fatura ou nota fiscal, os produtos
danos ou prejuízos aos administrados, mesmo não podem circular e, se o fizerem, estarão su-
quando isso acontece em benefício da coletivi- jeitos ao confisco, pois presume-se que há neste
dade. Nesse caso, cabe o pagamento de uma caso sonegação de impostos. No caso de venda
indenização. Quando o poder público proíbe a ao exterior, existe a “fatura pró-forma”, que con-
saída de um navio ou aeronave estrangeira de siste num documento emitido pelo exportador,
FATURA PRÓ-FORMA 236

sem valor contábil, jurídico ou fiscal, sendo ape- Cruzado, em 1986), o governo aplicou um re-
nas considerado um instrumento de apoio à ex- dutor sobre as prestações dos mutuários, ele-
portação, que serve de base para a confecção da vando consideravelmente a diferença entre as
fatura comercial definitiva. prestações e o saldo devedor, fazendo crescer o
rombo no FCVS. A partir de 1988, os novos fi-
FATURA PRÓ-FORMA. Veja Fatura. nanciamentos deixaram de ser cobertos pelo
FCVS.
FATURAMENTO. Conjunto dos recebimentos,
expresso em unidades monetárias, obtidos por FEBRE DAS TULIPAS. Denominação dada a
uma empresa em determinado período com a um processo especulativo que se desenvolveu
venda de bens ou serviços. Em outros termos, na Holanda no século XVII, envolvendo a co-
é o número de unidades vendidas multiplicado mercialização de opções de compra e venda de
pelo preço de venda unitário. Diferencia-se de tulipas. À medida que se transacionavam as op-
receita, que também inclui os valores obtidos ções, mas não as próprias tulipas, os preços aca-
de outras fontes, como aplicações financeiras ou baram se descolando do valor das tulipas, e a
vendas a prazo. crise resultante ocasionou enormes perdas
para os produtores e investidores nesse mer-
FAVORECIDO. Nas atividades de títulos e va- cado especulativo.
lores mobiliários, é o credor, aquele a quem será
paga a importância em dinheiro quando do res- FECHAMENTO. Termo utilizado nas Bolsas de
gate dos títulos ou vencimento das obrigações. Valores para indicar o último leilão realizado
Nos setores de seguros, pecúlio ou pensão, o no pregão. O fechamento pode ser em alta, quan-
favorecido denomina-se beneficiário, isto é, do os preços superam a média do dia, ou em
aquele que se torna titular do direito. baixa, quando os preços são inferiores à média
do dia.
FAZENDA. Denominação dada aos órgãos pú-
blicos federais, estaduais ou municipais que cui- FEDERAL RESERVE SYSTEM. Veja Sistema
dam da administração financeira e monetária do de Reserva Federal.
país, Estado ou município, sendo responsáveis
pela arrecadação de impostos, taxas e tributos, FEELING. Termo em inglês que significa, lite-
fiscalização e distribuição de bens públicos, ela- ralmente, “sentimento” ou “ter o pressentimen-
boração de políticas econômicas e contabilidade to” de alguma coisa. Como as decisões empre-
das contas públicas. sárias, dos investidores em geral, dos especula-
dores nas bolsas ocorrem numa base de consi-
FAZENDA ESTATAL. Tipo de exploração agrí- derável incerteza, muitas decisões, para serem
cola dos países socialistas, em que a terra e os tomadas, dependem do feeling desses agentes
instrumentos de trabalho pertencem ao Estado, econômicos.
que também controla e organiza a produção.
Veja também Sovkhoz. FEITORIA. Estabelecimento promovido pela
Coroa portuguesa no Brasil colonial, constituído
FCVS (Fundo de Compensação das Variações de dez a vinte portugueses comandados por um
Salariais). Este fundo foi criado em 1967 para feitor e localizado no litoral para viabilizar o
compensar os agentes financeiros (bancos) que carregamento de produtos, como o pau-brasil,
faziam financiamentos habitacionais dentro das em navios que tinham como destino os portos
condições do Sistema Financeiro da Habitação europeus. Dentre as feitorias mais importantes,
(SFH). Pelas regras do SFH, a dívida dos mu- destacou-se a de Pernambuco e a do Rio de Ja-
tuários era gravada com os juros pagos pelas neiro.
cadernetas de poupança, mas as prestações eram
corrigidas pelas variações salariais (dos mutuá- FELIPETA. Veja Ponzi Games.
rios). Como os dois índices não se desenvolviam FEN. Veja Iuan.
na mesma proporção, a diferença era coberta
pelo FCVS, no final dos contratos. Ou melhor, FEPASA — Ferrovia Paulista S.A. A segunda
no final dos contratos, havia um resíduo, pois maior empresa ferroviária do país (mais de 5
as prestações (corrigidas pelos reajustes sala- mil km de vias), criada em 1971 com a unificação
riais) não cobriam a totalidade da dívida (rea- das cinco estradas de ferro que operavam no
justada pela remuneração da poupança). Essa Estado. Além do transporte de cargas, que cons-
diferença se ampliou durante os anos 80 com a titui sua principal atividade, a empresa atende
elevação da inflação e das taxas de juros, pois ao transporte de passageiros de longo percurso
os salários foram reajustados em níveis bem in- e ao transporte dos habitantes dos subúrbios da
feriores. O FCVS tornou-se crescentemente de- região Oeste da Grande São Paulo. As linhas da
ficitário. Entre 1985 e 1990, durante o governo Fepasa vão até as divisas com Mato Grosso do
Sarney (mais especificamente durante o Plano Sul e com o Paraná e penetram em Minas Gerais,
237 FEUDALISMO

o Estado com o qual a rede paulista mais se no dinheiro, que se apresenta, nas relações so-
integra. As vias da Fepasa fazem confluência ciais, dotado de uma força sobrenatural que pro-
em diversos pontos com a Rede Ferroviária Federal. porciona poder a seus possuidores. Supõe-se
que a capacidade de tudo poder comprar seja
FERMAT, Pierre de (1601-1665). Advogado e uma propriedade natural da moeda, do ouro,
médico francês que contribuiu para o desenvol- quando na realidade essa força estranha é de-
vimento da Teoria das Probabilidades e da aná- terminada não pelo dinheiro em si, mas pelas
lise do risco. É também chamado de O Criador relações sociais entre produtores de mercado-
de Enigmas, tal a quantidade de desafios mate- rias.
máticos que elaborou, sendo o mais complexo
deles o denominado Último Teorema de Fermat, FEUDALISMO. Organização social e econômi-
que só foi resolvido mais de trezentos anos de- ca típica da Idade Média européia, caracterizada
pois, em 1995, pelo matemático inglês Andrew pelo sistema de grandes propriedades territo-
Wiles. Esse desafio consistia em encontrar a pro- riais isoladas (feudos) pertencentes à nobreza e
va de que não existe solução para números in- ao clero e trabalhadas pelos servos da gleba,
teiros na fórmula pitagórica: x2 + y2 = z2, quando numa economia de subsistência. O sistema era
o expoente for maior que 2. Veja também Pro- organizado segundo uma extensa e intrincada
babilidade; Risco. hierarquia de feudos. A terra, única fonte de
poder, era recebida pelo senhor em caráter he-
FERREIRA LAGE, Mariano Procópio (1821- reditário. O senhor beneficiário da doação de
1872). Engenheiro brasileiro, foi um dos maiores um feudo tornava-se vassalo do doador (suse-
empresários de seu tempo, notabilizando-se rano), qualquer que fosse o título nobiliárquico
pela idealização e construção da primeira rodo- deste (rei, duque, conde, visconde, marquês, ba-
via do Brasil, a União Indústria, construída entre rão), ficando ambos ligados por laços de leal-
1856 e 1861. Com 144 km de extensão, ligando dade e ajuda mútua. A propriedade da terra não
Juiz de Fora (MG) a Petrópolis (RJ), teve grande era plena. O senhor que a recebia em doação
significado econômico por facilitar o escoamento não podia vendê-la, e a propriedade era herda-
da produção cafeeira da Zona da Mata mineira da, una e indivisível, pelo filho primogênito.
para o porto do Rio de Janeiro. Sua antiga re- Essa estrutura de relações de vassalagem torna-
sidência foi transformada em museu (Museu va o poder muito descentralizado. Na prática,
Mariano Procópio) em Juiz de Fora. os próprios reis eram senhores feudais com do-
FERTILIDADE. Veja Natalidade. mínios limitados. Em cada feudo, o senhor fazia
as leis, administrava a Justiça, cunhava moedas,
FETICHISMO DA MERCADORIA. Conceito da exigia impostos aos mercadores que transitavam
economia marxista segundo o qual nas condi- por suas terras e estipulava o tributo que os cam-
ções da produção mercantil, baseada na proprie- poneses, livres e servos, tinham de pagar. Cada
dade privada dos meios de produção, desenvol- feudo era economicamente auto-suficiente. Nele,
ve-se a ilusão ou representação ideológica de eram produzidos os alimentos necessários aos
que as mercadorias são dotadas de propriedades servos e ao nobre, bem como roupas, instrumen-
inatas, forças extra-humanas que terminam por tos de trabalho e armas. Os camponeses paga-
influir no destino das pessoas. Trata-se, portan- vam impostos ao senhor em produtos (parte da
to, de algo análogo ao fetichismo religioso do colheita), em trabalho gratuito nas terras senho-
selvagem, que diviniza os objetos por ele mesmo riais (corvéia) ou em dinheiro. Também os ha-
produzidos. Segundo Marx, esse fenômeno bitantes da cidade (burgo) tinham de pagar uma
ocorre porque, numa economia em que a divisão taxa ao senhor das terras em que viviam. O feu-
social do trabalho alcançou grande complexida- dalismo nasceu da desintegração do Império Ro-
de e na qual os produtores (trabalhadores) não mano e do modo de produção escravista, atin-
têm nenhum controle sobre o produto de seu gindo seu apogeu entre os séculos XI e XIV. Seu
trabalho, os vínculos entre os indivíduos e os declínio deveu-se à conjugação do desenvolvi-
grupos sociais aparecem sob a forma de troca mento das atividades comerciais e artesanais nas
de coisas-mercadorias e não claramente como cidades (atividades cerceadas pelo isolamento
relações sociais entre classes. Nesse contexto, as mútuo dos feudos), com a ampliação do poder
mercadorias não se apresentam como resultado monárquico, que aos poucos foi abolindo o par-
do trabalho humano apropriado pelo capitalista, ticularismo feudal e estendendo as fronteiras
mas como coisas dotadas de vida própria. As para o comércio. A servidão da gleba foi supri-
relações entre objetos, coisas, mercadorias mas- mida em quase toda a Europa entre os séculos
caram as relações sociais, as formas de proprie- XIII e XV, mas os camponeses continuaram su-
dade, a alienação real que existe entre o traba- jeitos a vários encargos feudais, que só seriam
lhador e os objetos por ele criados. O fetichismo definitivamente extintos nas sucessivas revolu-
da mercadoria revela-se com maior intensidade ções burguesas que implantaram a ordem capi-
FGTS 238

talista no Velho Continente. O feudalismo tam- cimo de 40%; 2) para aplicação do capital em
bém existiu no Japão até a segunda metade do atividades comerciais, industriais ou agropecuá-
século XIX e em vários países do Norte da África rias; 3) na compra de casa própria pelo Sistema
e do mundo árabe até o século XX. Na Rússia, Financeiro da Habitação ou para o abatimento
os servos só foram libertados em 1861. Na Es- das respectivas prestações; 4) diante de uma ne-
panha e em Portugal não houve feudos, mas a cessidade premente: doença pessoal ou familiar
ordenação social e as relações de produção feu- e desemprego; 5) no casamento do empregado
dais permaneceram na península até meados do do sexo feminino. No caso de falecimento do
século XIX, quando foram eliminadas pelas re- optante, o FGTS é pago a seus dependentes ha-
voluções liberais. Veja também Artesanato; Es- bilitados na Previdência Social. Quando não há
tados Nacionais; Mercantilismo. dependentes reclamantes, depois de dois anos
FGTS — Fundo de Garantia por Tempo de Ser- do falecimento do optante os depósitos revertem
viço. Fundo formado, no Brasil, por depósitos em benefício do FGTS.
bancários feitos em nome dos empregados, para
FGV — Fundação Getúlio Vargas. Entidade
prover indenizações trabalhistas. Criado pelo fundada em 1944 com o objetivo de dedicar-se
governo federal em 13/9/1966, obrigou as em- à pesquisa no campo das ciências sociais, da ad-
presas sujeitas à Consolidação das Leis do Tra- ministração e da economia. De acordo com o
balho (CLT) a depositarem até o dia 30 de cada decreto-lei nº 6 693, assinado pelo então presi-
mês, em conta bancária vinculada, 8% do salário dente Getúlio Vargas, ficou autorizada “a cria-
de cada funcionário que renunciasse ao sistema ção de uma entidade que se proponha ao estudo
de indenização até então vigente e optasse pelo e divulgação dos princípios e métodos da orga-
fundo. O prazo de opção para os que, na ocasião, nização racional do trabalho e ao preparo de
já trabalhavam na empresa era de 365 dias; para pessoal qualificado para a administração pública
os que fossem admitidos dessa data em diante, e privada, mantendo núcleos de pesquisa, esta-
esse mesmo prazo começava a ser contado a par- belecimentos de ensino e serviços que forem ne-
tir da data de admissão. Apesar da possibilidade cessários”. A FGV reúne características de esco-
de opção prevista na lei, em geral as empresas la, editora e centro de estudos, pesquisa e coo-
levavam o recém-admitido a aceitar o sistema peração técnica. Desde sua constituição, vem
do FGTS como condição para a contratação. Os cooperando com órgãos oficiais federais, esta-
depósitos feitos mensalmente em nome do em- duais e municipais, bem como com entidades
pregado eram sujeitos, até o Plano Real, a cor- internacionais. Os primeiros trabalhos da enti-
reção monetária e juros de 3% ao ano. Para os dade foram publicados em 1945, e desde então,
optantes admitidos antes da Lei nº 5 705, de com a criação de escolas superiores de economia,
21/9/1971, o pagamento dos juros é feito da administração pública e administração de em-
seguinte forma: 3% nos dois primeiros anos, 4% presas, no Rio de Janeiro, São Paulo e Nova Fri-
do terceiro ao quinto ano de permanência na burgo, tornou-se um dos mais importantes cen-
mesma empresa, 5% do sexto ao décimo ano e tros de ensino do país, com cursos de graduação,
6% do décimo primeiro ano em diante. Quando mestrado, doutorado e de especialização. No
ocorre o desligamento do funcionário de uma campo da economia, em que suas pesquisas têm
empresa e sua admissão em outra, a conta vin- maior relevância, a fundação atua por intermé-
culada é transferida para um estabelecimento dio do Instituto Brasileiro de Economia, que fun-
bancário de escolha do novo empregador. O de- ciona, praticamente, como um órgão de asses-
pósito do FGTS é obrigatório por parte da em- soramento do poder público. A FGV edita as
presa nos seguintes casos de afastamento do em- seguintes publicações: revistas Correio da Unesco,
pregado da empresa em que trabalha: para pres- Administração de Empresas, Conjuntura Econômica,
tação de serviço militar; por motivo de doença, Administração Pública, Direito Administrativo, Ciên-
até um período de quinze dias; por acidente de cia Política, Arquivos Brasileiros de Psicologia, Fó-
trabalho; por motivo de gravidez e parto, entre rum Educacional e Revista Brasileira de Economia.
Veja também Conjuntura Econômica.
outros. O optante pode utilizar o FGTS nas se-
guintes situações: 1) ao ser dispensado sem justa FGV — Escola de Administração de Empresas
causa, dispondo então de todos os depósitos fei- de São Paulo (Eaesp). Criada em 1954, a Escola
tos em sua conta e ficando a empresa obrigada de Administração de Empresas da Fundação Ge-
a pagar mais 40% desse montante (antes da túlio Vargas foi sediada em São Paulo por ser
Constituição de 1988, esta multa era de 10%); esta cidade, na época, um dos maiores centros
quando a dispensa ocorre por justa causa, o em- industriais da América Latina. A idéia partiu
pregado tem direito aos depósitos, juros e cor- do prof. Luiz Simões Lopes, que designou um
reção monetária relativos ao período em que es- grupo de trabalho que iniciou o desenvolvimen-
teve na empresa, perdendo no entanto o acrés- to do projeto Eaesp a partir de 1951, em convênio
239 FIESP

com a Campanha de Aperfeiçoamento de Pes- FIBONACCI, Leonardo (1175-1240). Matemáti-


soal de Ensino Superior (Capes) e o governo co italiano, também conhecido como Leonardo
dos Estados Unidos. O primeiro corpo docente de Pisa, foi o primeiro a aliar a matemática à
foi formado por professores da FGV, um grupo geometria. Desenvolveu a chamada Série Fibo-
de professores assistentes via concurso e outro nacci, na qual cada número de sua série é a soma
formado por professores da Michigan State Uni- dos dois anteriores. Seu trabalho só foi publi-
versity, mais conhecidos como “Missão Ameri- cado depois de muitos séculos, em 1857. A Série
cana”. Em 1954, ano de fundação da Eaesp, foi Fibonacci é constituída dos números 1, 1, 2, 3,
criado um curso intensivo de administração; no 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, 233, 377... e assim
ano seguinte, tiveram início os cursos de gra- sucessivamente. A relação básica — a que ocorre
duação em administração de empresas; em 1959, a partir do décimo segundo número da série —
foram criados os cursos de pós-graduação em entre dois números consecutivos da Série Fibo-
administração de empresas e o Núcleo de Pes- nacci é 0,618. A Série Fibonacci é utilizada na
quisas e Publicações (NPP), além da Associação Teoria das Vagas, desenvolvida por Ralph Nel-
de Ex-Alunos; em 1961, foi lançada a Revista de son Elliot (1871-1948), para a explicação dos mo-
Administração de Empresas (RAE); em 1963, a vimentos oscilatórios das cotações dos ativos fi-
Eaesp tornou-se reconhecida pelo governo; em nanceiros — títulos, opções etc. A Série de Lucas,
1965, criou-se o Fundo de Bolsas; em 1966, os derivada da de Fibonacci, difere desta na me-
cursos de extensão universitária; em 1969, o cur- dida em que seus dois números iniciais são 1 e
so de administração pública; em 1975, o curso 3, o que significa que a série prossegue com 4,
de administração de saúde e hospitalar; em 1989, 7, 11, 18, 29, 47, 76, 123, 199 etc. Veja também
o curso de pós-graduação em economia de em- Teoria das Vagas.
presas; em 1993, o Master in Business Adminis-
FICHTE, Johann Gottlieb (1762-1814). Filósofo
tration (MBA). Em 1994, a Eaesp oferecia os se-
alemão da época do romantismo. Na obra Der
guintes cursos: graduação: administração de em-
geschlossene Handelstaat (O Estado Comercial Fe-
presas e administração pública. Pós-graduação:
chado), 1800, ele defende a criação de um Estado
mestrado em administração de empresas; mes-
socialista autárquico, sem moeda, com a econo-
trado em administração pública; mestrado em mia regida por planos qüinqüenais e a produção
economia de empresas; doutorado em adminis- e distribuição de bens rigorosamente planejadas.
tração de empresas; doutorado em economia de
empresas, (MBA). Especialização: especialização FIDEICOMISSÁRIO. Veja Fideicomisso.
em administração para graduados (Ceag); espe-
cialização em administração hospitalar e siste- FIDEICOMISSO. Modo de adquirir o domínio
mas de saúde (Ceahs); programa de educação fiduciário de uma coisa com a condição de en-
continuada para executivos (GVPEC). tregá-la a um terceiro logo que sejam cumpridas
determinadas condições ou um prazo resolutó-
FIABCI — Federação Internacional das Profis- rio imposto. A pessoa encarregada dessa missão
sões Imobiliárias. Federação de associações na- é denominada fideicomissário. Utiliza-se este
cionais, fundada em Paris em 1951, que constitui dispositivo, por exemplo, na designação de dois
um enlace internacional para cerca de um mi- ou mais herdeiros sucessivos. O fideicomisso
lhão de agentes imobiliários, promotores e cons- impõe ao herdeiro (fiduciário) a obrigação de,
trutores, administradores de imóveis, avaliado- por sua morte, ou dentro de certos prazos, ou
res, consultores, peritos em financiamento imo- condições, transferir a herança a um terceiro (fi-
biliário, agrupados em 84 associações nacionais deicomissário) já designado no testamento. Veja
em 51 países dos cinco continentes. Sua sede é também Fiduciário.
em Paris. É credenciada junto às Nações Unidas,
onde participa na busca de soluções para os as- FIDUCIAL. Veja Moeda Fiduciária.
sentamentos humanos. FIESP — Federação das Indústrias do Estado
FIANÇA. Garantia dada por uma pessoa (fia- de São Paulo. Órgão sindical de representação
dor) de que pagará parte ou o total das dívidas dos interesses dos industriais do Estado. Con-
de outra pessoa, se esta não puder pagá-las. grega mais de 100 mil indústrias, grandes, mé-
dias e pequenas, reunidas em 106 sindicatos di-
FIAT MONEY. Expressão anglo-latina que sig- ferentes. Surgiu a partir do Centro das Indús-
nifica o papel-moeda emitido sem nenhuma vin- trias do Estado de São Paulo (Ciesp), fundado
culação com metais preciosos ou obrigação de em abril de 1928, e que mudou o nome para
convertê-lo em moedas metálicas compostas Federação das Indústrias em 1931. Em 1942, a
desses metais. Diferencia-se a rigor da moeda Fiesp foi reconhecida pelo Ministério do Traba-
fiduciária, papel-moeda que contém uma pro- lho como órgão sindical de representação. Em
messa de conversão em moeda metálica com- 1943, ressurgiu o Ciesp, como sociedade civil
posta de metais preciosos (ouro e prata). de utilidade pública. As duas entidades atuam
FIFO 240

conjuntamente, uma como entidade sindical e com a gestão dos recursos públicos, privados,
outra cuidando do funcionamento das empre- dinheiro, crédito, títulos, ações e obrigações per-
sas, no plano técnico e administrativo. tencentes ao Estado, às empresas e aos indiví-
duos. Refere-se ao sistema financeiro, que en-
FIFO. Iniciais da expressão inglesa first in, first globa os estabelecimentos financeiros e seus
out, que significa “primeiro a entrar, primeiro a agentes: bancos centrais, bancos comerciais, ban-
sair”, sistema utilizado na prática financeira, cos de desenvolvimento, de investimentos, ins-
bancária, de gestão de estoques e de telecomu- tituições não-bancárias de crédito (como, por
nicações, em que o primeiro elemento a entrar exemplo, as associações de poupança e emprés-
é o primeiro a sair (ou ser atendido). O sistema timos), instituições cooperativas, sociedades de
Fifo é o clássico sistema observado nas filas. Veja investimento, casas de câmbio, Bolsas de Valo-
também Filo; Lifo. res, corretoras e agentes intermediários na co-
FIL. Veja Dinar; Dirrã; Rial. locação de valores. As finanças constituem re-
presentações simbólicas e indiretas de ativida-
FILHOTE. Termo do jargão das Bolsas de Va- des econômicas reais. Os papéis financeiros, por
lores para designar as ações concedidas na forma exemplo, representam e promovem fenômenos
de bonificação. Veja também Desdobramento. econômicos, como a transferência de fundos
acumulados por pessoas ou entidades, destina-
FILIGRANA. Veja Marca D’ Água. dos ao pagamento de, em última instância, al-
gum trabalho produzido. A poupança é também
FILL OR KILL (FOK). Expressão em inglês uti-
parte importante das finanças e constitui o pro-
lizada no mercado financeiro para designar
duto do trabalho que excede as necessidades da
aquelas operações que, se não forem concluídas
população. Numa sociedade monetarista, a pou-
dentro de determinadas condições, deverão ser
canceladas, isto é, não devem permanecer à es- pança é encaminhada ao setor financeiro para
pera de que as condições estipuladas aconteçam ser acumulada e aplicada. No regime capitalista,
no mercado. a captação da poupança é realizada por empre-
sas privadas. Num regime socialista, é o Estado
FILLÉR. Veja Florim. que monopoliza a captação da poupança. As ins-
tituições financeiras são entidades que se dedicam
FILO. Iniciais da expressão inglesa first in, last à captação, intermediação e aplicação de recur-
out (o primeiro a entrar e o último a sair), uti- sos financeiros. Podem ser públicas ou privadas
lizada na prática financeira, bancária, ou de con- e, no Brasil, devem ter autorização do Banco
trole de estoques, indicando uma ordem em que Central para operar. Se forem empresas estran-
os elementos entram e saem de um registro. No geiras, necessitarão de autorização de funciona-
comércio internacional, são também as iniciais mento por meio de decreto do poder executivo.
de free in liner out, significando que, no frete As principais instituições no Brasil são: Conse-
pago pelo transporte de uma mercadoria, as des- lho Monetário Nacional, Banco Central do Bra-
pesas de embarque correm por conta do expor- sil, Banco do Brasil, Banco de Desenvolvimento
tador e as de desembarque, por conta do arma- Econômico e Social (BNDES), Banco Nacional
dor do navio. Veja também Fifo; Lifo. da Habitação (BNH), sociedades de crédito imo-
biliário, associações de poupança e empréstimo,
FINAME — Agência Especial de Financiamen-
to Industrial. Instituída por decreto federal em cooperativas habitacionais, cooperativas de cré-
setembro de 1966 e transformada em empresa dito, bancos comerciais privados, sociedades fi-
pública em 1971, tem o objetivo de: 1) atender nanceiras, Bolsas de Valores, sociedades distri-
às exigências financeiras da crescente comercia- buidoras de valores, sociedades corretoras e ou-
lização de máquinas e equipamentos fabricados tras. As finanças empresariais tratam da vida fi-
no Brasil; 2) concorrer para a expansão da pro- nanceira das empresas e possuem um corpo de
dução nacional de máquinas e equipamentos, conhecimento bem definido. Em sua origem, as
mediante facilidade de crédito aos respectivos entradas das empresas provêm da contribuição
produtores e aos usuários; 3) financiar a impor- dos sócios para a formação do capital social. Essa
tação de máquinas e equipamentos industriais entrada, em geral, costuma ser aumentada pela
não produzidos no país; 4) financiar e fomentar obtenção de financiamento. Já em funcionamen-
a exportação de máquinas e equipamentos in- to, a principal fonte de recursos da empresa pro-
dustriais de fabricação brasileira. Desenvolve vém das vendas de seus produtos. Essas vendas
suas atividades basicamente com recursos colo- podem ser efetuadas à vista, caracterizando-se
cados a sua disposição pelo BNDES e outras então uma entrada financeira, ou a prazo, que
agências financeiras da União e dos Estados. caracterizará uma entrada denominada forma-
ção de crédito. Quanto aos gastos: na fase de
FINANÇAS. Área da economia que engloba os implantação e nas de ampliação, a empresa gasta
ramos de atividade e os processos relacionados recursos em investimentos. Quando em funcio-
241 FINANÇAS PÚBLICAS

namento, a saída de recursos resulta da compra Ricardo e J.B. Say, o estudo das finanças públicas
dos fatores (mão-de-obra, matéria-prima, ener- tornou-se bastante normativo, fixando regras
gia e serviços), do pagamento de encargos (juros, para a seleção dos gastos públicos e para a cria-
aluguéis e impostos) e de quaisquer outros gas- ção de tributos, os quais deveriam perfazer a
tos necessários à produção ou comercialização quantia estritamente necessária para o atendi-
de seus produtos. Mais modernamente, em de- mento dos compromissos governamentais. A
corrência da complexidade da vida econômica partir do século XX, o campo de ação do Estado
e do crescimento da renda de algumas categorias passou a se expandir. A crise dos anos 30 deixou
de pessoas, surgiu um novo ramo das finanças, ao Estado a responsabilidade de tentar evitar
que se encarrega de estudar alguns temas espe- novas crises econômicas, por meio de uma ação
cíficos. Denomina-se finanças individuais e estuda regularizadora. A Segunda Guerra Mundial só
problemas como o orçamento familiar, a utili- veio acentuar essa tendência. Para cumprir sua
zação de mecanismos de crédito para o consu- nova função, o Estado ampliou também sua ati-
midor, a aplicação mais vantajosa para a pou- vidade financeira. Criou novos impostos, au-
pança privada e a diversificação das fontes de mentando a receita na mesma proporção em que
renda pessoal. Historicamente, a palavra “finan- aumentaram os gastos. Houve um crescimento
ças” foi inicialmente aplicada para referir-se à progressivo dos órgãos estatais encarregados
“Fazenda Real”, que constituía a parte dos bens das finanças públicas, que, ao se expandir, tor-
do Estado à qual o rei tinha direito para satis- naram os mecanismos de arrecadação de impos-
fazer suas necessidades. Depois, passou a ser tos e a administração das dívidas governamen-
empregada para designar a administração dos tais cada vez mais burocratizados e complexos.
dinheiros públicos. À medida que se ampliava Nas finanças públicas, estão incluídas a receita
o setor financeiro das nações, que se expandiam e a despesa públicas. Em geral, a receita é obtida
os negócios da Bolsa de Valores e as transações por meio de tributos (impostos e taxas), de ren-
imobiliárias, que se desenvolvia o sistema ban- das patrimoniais (aluguéis, juros, dividendos de
cário e crescia o sistema de crédito, a palavra bens e valores patrimoniais), de rendas indus-
“finanças” ampliou também seu significado até triais (renda líquida de serviços públicos e in-
atingir a abrangência dos dias de hoje, quando, dustriais e saldos das empresas estatais), con-
em termos econômicos, engloba todo o setor fi- tribuições parafiscais (previdência); transferên-
nanceiro nacional e internacional. cias correntes e empréstimos. Quando emite pa-
pel-moeda, o Estado obtém recursos extraordi-
FINANÇAS PÚBLICAS. Setor que controla a nários. No entanto, essa emissão de papel-moe-
massa de dinheiro e de crédito que o governo da deve ser aprovada pelo legislativo. O controle
federal e os órgãos a ele subordinados movi- é necessário porque se a emissão não correspon-
mentam em um país. Abrange não só as ope- der a um aumento equivalente do Produto In-
rações relacionadas com o processo de obtenção, terno Bruto, ela terá ação inflacionária na eco-
distribuição e utilização dos recursos financeiros nomia do país. A despesa pública é realizada
do Estado, como também a atuação dos orga- pelos órgãos da administração governamental.
nismos públicos em setores da vida econômica. Em geral, nela se incluem: o pagamento do cor-
Essa atuação amplia o âmbito da ação financeira po de funcionários dos diversos órgãos públicos,
do Estado que, nos dias de hoje, constitui agente em todos os níveis (municipal, estadual e fede-
econômico determinante do volume da renda ral); a compra de material e equipamento para
nacional e da distribuição dessa renda entre os os diversos setores dos ministérios e demais ór-
diferentes grupos sociais. Ao mesmo tempo que gãos da administração pública; os investimentos
atua como recolhedor de tributos e aplicador públicos; as subvenções; os subsídios etc. A des-
desses tributos em benefícios sociais, salários e pesa e a receita públicas são controladas pelo
obras públicas, o Estado tem ampliado sua ação orçamento nacional. No conceito de finanças pú-
por meio de empresas estatais, que operam em blicas, também estão incluídas as finanças com
diferentes setores da economia e por meio de o exterior, as quais, basicamente, dizem respeito
um controle mais direto do comércio exterior e à renda das exportações de bens e serviços, re-
dos mecanismos de consumo, investimentos e ceitas de serviços como fretes, turismo, juros,
distribuição de matérias-primas. Esses controles assistência técnica, lucros, investimentos diretos
podem ser complementares ou alternativos com e empréstimos e financiamentos. É o saldo apre-
relação aos instrumentos financeiros mais co- sentado pelo balanço de pagamentos do país que
muns. Tradicionalmente, as finanças públicas re- vai indicar se ele é devedor ou credor de outras
feriam-se às operações desenvolvidas para se nações. O setor financeiro público, por intermé-
obter, distribuir e utilizar os recursos financeiros dio de seus órgãos competentes, é encarregado
necessários para o cumprimento da finalidade de receber ou efetuar pagamentos aos países es-
do Estado. Sob a influência das doutrinas de trangeiros. Essas transações com o exterior
economistas clássicos, como Adam Smith, David são geralmente feitas em moedas fortes como
FINANCEIRA 242

o dólar dos Estados Unidos, em Direitos Espe- elaborar projetos e programas de desenvolvi-
ciais de Saque ou mesmo em ouro monetário. mento econômico. Até o final de 1989 esteve vin-
Veja também Balanço de Pagamentos; Déficit; culada ao Ministério do Planejamento e Coor-
Direitos Especiais de Saque; Moeda Forte; denação Geral. A partir de 1990, suas atribuições
Orçamento. passaram para o Ministério da Economia. Os
recursos a seu dispor são aplicados prioritaria-
FINANCEIRA. Instituição especializada no for- mente em estudos que visem à implementação
necimento de crédito ao consumidor e no finan- das metas setoriais estabelecidas no plano de
ciamento de bens duráveis e de investimentos,
ação do governo. Uma de suas metas é contri-
operando principalmente por meio do aceite de
buir para o aperfeiçoamento da tecnologia na-
letras de câmbio. Boa parte do capital das fi-
cional, principalmente no que se refere à enge-
nanceiras provém de investimentos realizados
nharia de projetos e assistência técnica. Financia
pelo público (tanto pessoas físicas como empre-
também estudos de aproveitamento de recursos
sas), que é atraído por rendimentos elevados.
naturais. Os clientes da Finep são as empresas
Na verdade, a maior parte do dinheiro envol-
nacionais e as universidades, institutos e centros
vido nas operações das financeiras provém de
de pesquisa tecnológica. Seu apoio financeiro
bancos comerciais, dos quais as financeiras são,
concretiza-se por meio de três linhas de atuação,
freqüentemente, subsidiárias. Em outros casos,
as financeiras são subsidiárias de grandes em- representadas pelos programas de Apoio ao De-
presas (como fábricas de automóveis), que assim senvolvimento Tecnológico da Empresa Nacio-
procuram facilitar o crédito aos consumidores nal (Adten), Apoio a Usuários de Serviços de
de seus produtos. Consultoria (Ausc) e Apoio à Consultoria Na-
cional (ACN). O programa Adten financia a rea-
FINANCIAL TIMES. Diário inglês, apresenta- lização de projetos de desenvolvimento tecno-
do como “o jornal de negócios da Europa”. Res- lógico e de formação de recursos humanos nas
peitado pela qualidade de suas informações, empresas nacionais. Pelo programa Ausc, são
destaca-se pela ênfase na cobertura internacional concedidos recursos às entidades de natureza
e pela diversidade de postura de seus colunistas. pública ou privada, de modo que possam con-
Fundado em 1888, pertence ao grupo Pearson tratar empresas de consultoria para desenvolver
Longman Ltd., que também edita outros jornais seus projetos nos setores econômico e/ou social.
e boletins na Grã-Bretanha e uma revista nos O programa ACN tem por finalidade prestar
Estados Unidos (a World Business Weekly). Desde colaboração financeira às empresas nacionais de
1979, o Financial Times é impresso simultanea- consultoria, favorecendo a gradativa nacionali-
mente em Londres e Frankfurt, na Alemanha zação do setor. A Finep funciona também como
(de onde é despachado, com algumas páginas Secretaria Executiva do Fundo Nacional de De-
especiais, para os Estados Unidos, chegando às senvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT)
bancas quase junto com o Wall Street Journal). e da Comissão Coordenadora dos Núcleos de
Considerado tradicionalmente o jornal mais ren- Articulação com a Indústria (CCNAI), cabendo-
tável da Inglaterra, o Financial Times tinha, em lhe promover a substituição de importações de
1990, uma tiragem em torno de 280 mil exem- bens de capital e serviços de engenharia deman-
plares, 30% dos quais circulavam no exterior. dados pelas empresas estatais.
FINANCIAMENTO DO DÉFICIT. Política eco- FINEX — Fundo de Financiamento da Expor-
nômica de compensação do déficit orçamentário tação. Organismo criado pela Lei nº 5 025, de
por meio de emissão de títulos de dívida pú- 10/6/1966, que unificou o comando da política
blica. Evita a emissão de papel-moeda, o que do comércio exterior no Conselho de Exportação
causaria pressão inflacionária imediata, e tam- (Concex). Coordenado pela Carteira de Crédito
bém facilita o controle de desempenho da eco- e Exportação (Cacex), o Finex tem como função
nomia, por meio da combinação de papéis com apoiar crediticiamente as vendas no exterior de
vencimentos de curto e de longo prazo. À me- bens de capital e de consumo duráveis. Seus
dida que o montante da dívida pública cresce, recursos financeiros são fornecidos por uma li-
o serviço dessa dívida pode ser um fator deter-
nha de crédito rotativo em favor do Banco do
minante de déficits futuros, e, nesse caso, o fi-
Brasil. A parcela financiada pelo Finex é de no
nanciamento do déficit mediante o endivida-
máximo 85% do valor da venda ao exterior, fi-
mento pode resultar num acelerador do próprio
cando os outros 15% por conta do importador,
déficit. O montante do déficit geralmente dá a
medida da Necessidade de Financiamento do que deve efetuar o pagamento até a data do
Setor Público (NFSP). Veja também Déficit; Dí- embarque da mercadoria. De acordo com a Re-
vida, Administração da; Efeito Ponzi. solução nº 68, de 14/5/1971, o Finex passou a
financiar também a exportação em consignação
FINEP — Financiadora de Estudos e Projetos de bens de capital e de consumo duráveis, em
S.A. Empresa criada em 1967 com o objetivo de até 80% do valor CIF da mercadoria, por prazos
243 FISCAL

de 180 dias, que poderão ser prorrogados pelo criada em 27/11/1973 por um grupo de profes-
mesmo período. A Resolução nº 68 estendeu a sores do Departamento de Economia da Uni-
atuação do fundo no crédito à venda de estudos versidade de São Paulo. Tendo como objetivos
e projetos técnico-econômicos e de engenharia a pesquisa e a divulgação na área de economia,
utilizados em empreendimentos de companhias a Fipe mantém regularmente diversas publica-
brasileiras no exterior, também numa proporção ções: a Revista de Estudos Econômicos, a série Es-
de 85% da parcela financiada. tudos Econômicos, a série Relatórios de Pesquisa,
os Ensaios Econômicos e um boletim mensal cha-
FINOR — Fundo de Investimentos do Nordes- mado Informações Fipe.
te. Organismo criado pelo governo federal para
apoiar financeiramente empresas nacionais ou FIRM CENTERED ECONOMY. Expressão em
estrangeiras estabelecidas ou que venham a se inglês utilizada nas análises de economia urbana
estabelecer dentro da área de atuação da Sudene e desenvolvimento regional. Denomina a eco-
(Superintendência do Desenvolvimento do Nor- nomia formal na qual, geralmente, os preços têm
deste). O apoio financeiro do Finor dá-se pela forte inflexibilidade para baixo e prevalecem as
participação acionária ou pela aquisição de de- formações oligopolistas. A obtenção de um lu-
bêntures, conversíveis ou não em ações. Somen- cro, depois de cobertos todos os custos, é fun-
te as empresas industriais, agrícolas, agropecuá- damental para a sua reprodução. Contrapõe-se
rias, agroindustriais ou de telecomunicações po- ao conceito de bazaar economy. Características:
dem receber esse apoio. A participação do Finor tecnologia e capital intensivo, organização bu-
na estrutura financeira de cada projeto varia, rocrática, capital de grande magnitude, emprego
sendo estabelecida de acordo com o grau de relativamente reduzido, trabalho predominan-
prioridade atribuído pela Sudene ao referido temente na forma assalariada, preços fixos e mo-
projeto, em função de seu interesse no desen- vendo-se para cima, crédito bancário institucio-
volvimento regional. nal, relação impessoal e institucionalizada com
a clientela, publicidade indispensável e compon-
FINTA. Durante o ciclo do ouro no Brasil, a do parte considerável dos custos, ajuda gover-
Coroa cobrava os respectivos impostos por meio namental importante (subsídios, isenções).
de vários mecanismos. Um deles era o “quinto”,
que consistia no pagamento por parte dos pro- FIRMA. Veja Teoria da Firma.
dutores, a título de imposto, de 20% de todo o
FIRMWARE. Em informática, termo que desig-
ouro produzido nas minas. Como a fiscalização
na o conjunto de microprogramas permanentes
de quanto ouro era produzido consistia num
colocados em memória ROM (read only memory),
processo de difícil execução, apesar dos “regis-
considerados suporte inalterável da programa-
tros” instalados nos caminhos e estradas, en-
ção. Um exemplo são os sistemas operacionais
quanto não se criou uma Casa de Fundição e
se proibiu a circulação do ouro em pó, estabe- e as linguagens tradutoras.
leceu-se um pagamento total constituído de uma FIRST-CLASS PAPER. Expressão em inglês que
cota comum para o conjunto dos produtores, significa, literalmente, “papel de primeira clas-
variando de 25 a 30 arrobas por ano. Esta cota se”; aplicada ao mercado financeiro, significa
denominava-se finta. A partir de 1725, com o es- um título gilt edged endossado por empresas de
tabelecimento das Casas de Fundição voltou-se elevada reputação em função dos produtos que
ao sistema de cobrança do “quinto”. Veja também produzem, responsabilidade financeira e ampli-
Arroba; Capitação; Quinto; Renda Presumida. tude de crédito. Em contraposição aos second and
third class papers, endossados por empresas me-
FIO DE SEGURANÇA. Dispositivo de seguran-
nores e não tão sólidas do ponto de vista finan-
ça colocado nas cédulas e outros documentos
ceiro e creditício. Veja também Gilt Edged.
de valor, constituído de um fio de metal ou plás-
tico luminescente, que pode conter sinais mag- FISCAIS, Incentivos. Veja Incentivo Fiscal.
néticos, ou códigos especiais de tal forma a di-
ficultar as falsificações e facilitar o reconheci- FISCAIS DO SARNEY. Denominação popular
mento de papel-moeda, ou outros títulos de va- dada às pessoas que, munidas de tabelas de pre-
lor falsificados. ços congelados, iam especialmente aos super-
mercados verificar se os preços praticados cor-
FIP. Iniciais da expressão em inglês free in pipe- respondiam àqueles oficiais ou não. Isso acon-
line, que significa, nos contratos de compra e teceu em ocasião da vigência do Plano Cruzado,
venda de petróleo, que o produto será entregue em 1986, durante a presidência de José Sarney
ao comprador na entrada do oleoduto, se o com- (1985-1990). Veja também Plano Cruzado.
prador assim o desejar.
FISCAL, Política. Corresponde à ação do Estado
FIPE — Fundação Instituto de Pesquisas Eco- quanto aos gastos públicos e à obtenção da re-
nômicas. Entidade privada de ensino e pesquisa ceita pública. Sua área de ampliação acompa-
FISCO 244

nhou o crescimento do papel do Estado e do está desenvolvida no livro The Purchasing Power
setor público na demanda efetiva de bens e ser- of Money (O Poder de Compra do Dinheiro),
viços, uma vez que a atividade fiscal afeta o 1911, e em sua forma mais simples é sintetizada
poder aquisitivo dos diferentes segmentos da na célebre equação MV = PT, onde M é a massa
economia e da sociedade, bem como os tipos de moeda em circulação, V a velocidade de cir-
de bens e serviços que serão produzidos e con- culação dessa moeda, P o nível geral dos preços
sumidos. As fontes principais de receita do Es- e T o índice do volume de negócios ou transa-
tado são: 1) impostos; 2) empréstimos; 3) venda ções efetuadas no tempo pelos sujeitos econô-
de bens, serviços e concessões; 4) emissão de micos. Desse modo, a equação mostra que o vo-
dinheiro. Os efeitos decorrentes da utilização de lume do dinheiro em circulação multiplicado
cada um desses métodos são distintos. Afetam pela velocidade de circulação é igual ao nível
de maneira diversa os preços relativos, o con- geral de preços multiplicado pelo volume de ne-
sumo, o emprego e a distribuição de renda. Den- gócios ou número de transações. Conclui-se que
tre os objetivos buscados pela política fiscal po- o nível geral dos preços varia na razão inversa
dem incluir-se: 1) sistema de preços adequados, do volume dos negócios e na razão direta da
tendo em vista que as atividades que se deseja quantidade de dinheiro e da velocidade de sua
estimular, bem como seu volume, são determi- circulação. Num livro anterior, The Rate of Inte-
nadas em grande parte pelos preços; 2) nível de rest (A Taxa de Juros), 1907, substancialmente
consumo conveniente; 3) nível de emprego de- revisado em 1930, Fisher parte da teoria dos ju-
sejável; 4) distribuição da renda, objetivo fun- ros de Böhm-Bawerk para elaborar uma moder-
damental que relaciona de imediato a política na teoria da avaliação de investimento. Para ele,
fiscal e a questão do poder político na sociedade a taxa de juros é dominada pela interação de
— seja porque a eficiência de uma economia está duas forças: a disposição ou ansiedade dos indiví-
em grande parte determinada pela forma como duos em utilizar um rendimento presente para
é dividida a riqueza criada, seja porque afeta obter um rendimento maior no futuro; e o que
diretamente os preços, a quantidade de consu- chama de princípio de oportunidade de investimen-
mo e o volume e a estabilidade do emprego. to, a habilidade em converter um rendimento
Veja também Carga Fiscal; Fundos Fiscais; In- atual num rendimento futuro, que denomina de
centivo Fiscal; Orçamento Fiscal; Reforma Tri- taxa de retorno sobre o custo, e que Keynes disse
butária; Sonegação Fiscal. ser o mesmo que a eficiência marginal do capital.
FISCO. Órgãos públicos federais, estaduais ou Essa taxa de retorno sobre o custo é definida
municipais que cuidam da arrecadação e fisca- por Fisher como uma taxa de desconto que equa-
lização de taxas, tributos e impostos. Veja tam- liza o valor presente ou atual do rendimento
bém Fazenda; Imposto; Receita Federal. nas possíveis alternativas de investimentos aber-
tas, e que depende em seu retorno das taxas de
FISCUS SEMPER LOCUPLES. Expressão em juros utilizadas. Fisher também contribuiu para
latim que significa “o fisco é sempre merecedor classificar as idéias sobre a natureza do capital,
de fé”. fazendo uma distinção entre um acervo ou es-
toque de capital e renda como um fluxo de mer-
FISCUS SEMPER SOLVENDO CENSITUR. cadorias e serviços ao longo do tempo. Assim,
Expressão em latim que significa que o “fisco por exemplo, uma casa é um acervo de capital,
(o Estado) é sempre considerado solvente”. mas seu uso a torna um fluxo de rendimento.
FISHBACKING. Método de transporte por fre- Também desenvolveu numerosos estudos sobre
te no qual dois tipos de veículos são usados si- o dólar compensado, um dólar com valor cons-
multaneamente, sendo um deles um cargueiro. tante de compra, e uma teoria dos números-ín-
Por exemplo, um caminhão carregado com mer- dices, estabelecendo as condições ideais de uma
cadorias transportado por um navio até o seu indexação de preços. Fisher foi professor de po-
destino. Ao chegar ao porto de desembarque, o lítica econômica da Universidade de Yale (1898-
caminhão segue o seu trajeto por terra, ou até 1935) e um dos fundadores da Remington Rand,
atingir o ponto na cidade onde será descarregado. Inc. (1926), da qual foi diretor até seu falecimen-
to. Além da economia, interessou-se também
FISHER, Irving (1867-1947). Economista e ma- por outros campos, defendendo várias causas,
temático norte-americano, um dos maiores ex- como a paz mundial e a medicina preventiva.
poentes do monetarismo. Formulou a célebre Entre outras obras, escreveu: Mathematical Inves-
equação que relaciona as trocas na quantidade tigations in the Theory of Value and Prices (Inves-
de dinheiro e as trocas no nível geral dos preços. tigações Matemáticas na Teoria do Valor e dos
Em sua versão da teoria quantitativa da moeda, Preços), 1892; The Nature of Capital and Income
distingue dois tipos de unidades monetárias: a (A Natureza do Capital e da Renda), 1906; Ele-
moeda metálica e as notas bancárias de um lado, mentary Principles of Economics (Princípios Ele-
e os depósitos bancários de outro. Essa teoria mentares de Economia), 1912; Stabilizing the Dol-
245 FLIRB

lar (Estabilizando o Dólar), 1920; The Making of ticadas por este e por toda a escola clássica. Veja
Index Numbers (A Elaboração de Números-índi- também Escola Clássica; Liberalismo; Mercan-
ces), 1922; The Theory of Interest (A Teoria dos tilismo; Quesnay, François.
Juros), 1930; e Booms and Depressions (Altas e De-
pressões), 1932. FIVE C’s OF CREDIT. Expressão em inglês re-
lacionada com as iniciais de cinco palavras (que
FISIOCRATAS. Grupo de economistas france- começam por c) e que constituem critérios para
ses do século XVIII que combateu as idéias mer- a concessão de crédito. Essas cinco palavras são:
cantilistas e formulou, pela primeira vez, de ma- caráter, capacidade, capital, colateral (garantias) e
neira sistemática e lógica, uma teoria do libera- condições. As quatro primeiras estão relacionadas
lismo econômico. Transferindo o centro da aná- com a capacidade de pagamento do devedor,
lise do âmbito do comércio para o da produção, enquanto a última diz respeito às condições ge-
os fisiocratas criaram a noção de produto líqui- rais do mercado financeiro.
do: sustentaram que somente a terra, ou a na-
tureza (physis, em grego), é capaz de realmente FIXPRICE. Conceito desenvolvido pelo econo-
produzir algo novo (só a terra multiplica, por mista John Hicks, que significa preços fixados
para os produtos industriais de acordo com o
exemplo, um grão de trigo em muitos outros
custo mais uma margem de lucro. Veja também
grãos de trigo). As demais atividades, como a
Flexprice.
indústria e o comércio, embora necessárias, não
fazem mais do que transformar ou transportar FLAN BRUNI. Veja Proof.
os produtos da terra (daí a condenação ao mer-
cantilismo, que estimulava essas atividades em FLAT. No mercado financeiro, o termo significa
detrimento da agricultura). Dividiam, portanto, que o preço de um título inclui qualquer juro
a sociedade em três classes: os produtores (agri- acumulado desde o último recebimento. Os tí-
cultores), os proprietários de terra (a nobreza e tulos, na verdade, são vendidos a um preço que
o clero) e as “classes estéreis” (os demais cida- exclui os juros acrescentados, sendo estes incluí-
dãos). Descobriram que existe uma circulação dos de acordo com a taxa estabelecida no título.
da renda entre essas três classes: os agricultores As ações, ao contrário, geralmente são vendidas
e proprietários compram produtos e serviços flat, isto é, excluídos os dividendos acrescentados.
dos demais grupos, que depois fazem retornar FLAT-FEE. Comissão paga, no Brasil e no ex-
essa renda comprando produtos agrícolas (o que terior, a uma pessoa física ou jurídica por seu
é exposto no Tableau Économique, de Quesnay). papel de intermediário em negócio mobiliário.
Achavam que isso correspondia a uma ordem
natural regida por leis imutáveis como as leis FLAT YIELD. O montante anual pago como ju-
físicas: toda intervenção do Estado é condenável ros a um título (security), expresso como por-
quando não se limita a garantir essa ordem. Por centagem de seu preço de compra.
isso, defenderam a mais ampla liberdade eco-
FLEXIBILIDADE. Em informática, sistema ca-
nômica (contra as barreiras feudais, ainda im-
paz de oferecer possibilidades de diferentes apli-
perantes na época, e o intervencionismo mer-
cações. O termo é freqüentemente utilizado para
cantilista) e lançaram a célebre máxima do libe- indicar que as novas tecnologias possibilitam a
ralismo: laissez-faire, laissez-passer ("deixar fazer, produção de diferentes modelos ou tipos com
deixar passar"). Propuseram também a supres- os mesmos equipamentos. No âmbito da política
são de todas as taxas, com sua substituição por econômica, designa uma fase que geralmente su-
um imposto único, que incidiria sobre a pro- cede a algum tipo de congelamento de preços,
priedade, já que esta seria a única fonte de ri- quando se admite que estes possam se mover
queza e os proprietários apenas se apropriariam dentro de certos limites, caracterizando a “fle-
da renda da terra sem contribuir para o aumento xibilidade de preços” ou a “flexibilização de pre-
do produto líquido, enquanto os agricultores, ços”.Veja também Plano Bresser.
os comerciantes e os artesãos deveriam ficar ali-
viados da carga tributária para que se facilitasse FLEXITIME. Veja Horário Flexível.
a circulação da renda. Para manter essa ordem
FLEXPRICE. Conceito desenvolvido por John
natural, o Estado deveria assumir o papel ex-
Hicks, relacionado com os preços gerados em
clusivo de guardião da propriedade e garantidor
setores altamente competitivos (na agricultura,
da liberdade econômica. O principal repre- por exemplo) que admitem grandes oscilações
sentante dos fisiocratas foi François Quesnay, e são negociados nos mercados futuros e a ter-
ao qual se juntaram o ministro Turgot, o mar- mo. Veja também Fixprice.
quês de Mirabeau e Du Pont de Nemours, entre
outros. Suas teses exerceram influência sobre FLIRB (Front-Loaded Interest Reduction Bond).
Adam Smith, embora tenham sido bastante cri- Veja Plano Brady; TJLP.
FLOOR 246

FLOOR. Termo em inglês cujo significado literal nas modernas teorias do emprego e do ciclo eco-
é “chão” ou “piso” e que, aplicado no mercado nômico. No processo produtivo, são gerados um
financeiro, significa a taxa de juros mínima que fluxo de bens e mercadorias (produto) e um flu-
um banco pode impor sobre um empréstimo xo de rendimentos (renda). O primeiro denomi-
contratado na base de juros flutuantes. Geral- na-se fluxo real e o segundo, fluxo nominal. O
mente, esse tipo de mecanismo é negociado con- fluxo real, ou seja, as rendas geradas no processo
juntamente com um “teto” ou máximo que a produtivo, destina-se ao consumo e à poupança.
taxa pode alcançar, denominado interest rate cap. O fluxo nominal dirige-se ao mercado para su-
Quando essas duas garantias financeiras apare- prir as necessidades de consumo. Certa propor-
cem juntas, são denominadas interest rate collar. ção desses bens é diretamente absorvida pelas
O floor protege o emprestador de uma eventual empresas.
queda brusca das taxas de juros, enquanto o cap
assegura ao devedor que as taxas de juros não FMI — Fundo Monetário Internacional. Orga-
representarão custos insuportáveis no caso de nização financeira internacional criada em 1944
uma elevação pronunciada das taxas de juros na Conferência Internacional de Bretton Woods
no mercado financeiro. (em New Hampshire, Estados Unidos). É uma
agência especializada da Organização das Na-
FLOOR TRADER. Denominação que se dá, na ções Unidas (ONU) com sede em Washington,
atividade das Bolsas de Valores, à pessoa que, e que faz parte do sistema financeiro interna-
sendo membro desta instituição, organiza pes- cional, ao lado do Banco Internacional de Re-
soalmente suas próprias operações no círculo construção e Desenvolvimento (Bird). O FMI foi
onde se realizam as operações de futuros (no criado com a finalidade de promover a coope-
piso da Bolsa). Veja também Collar. ração monetária no mundo capitalista, de coor-
FLORIM. Em 1252, para fortalecer e ampliar denar as paridades monetárias (evitar desvalo-
suas prósperas transações comerciais, Florença rizações concorrenciais) e de levantar fundos en-
começa a emitir uma moeda de ouro denomi- tre os diversos países-membros, para auxiliar os
nada fiorino d’oro. As únicas moedas de ouro que encontrem dificuldades nos pagamentos in-
que circulavam na Europa na época eram árabes. ternacionais. Quase todos os países relativamen-
E o florim de ouro converteu-se pouco a pouco te industrializados (com exceção dos países so-
em moeda “internacional” e manteve seu valor cialistas) fazem parte da organização. Cada país
e peso inalterados durante muito tempo. Junta- contribui com cotas-parte para o fundo (uma
mente com o gros de prata, passa a constituir quarta parte em ouro e o restante em moeda
uma moeda confiável, que ajuda a tornar mais nacional corrente) e nomeia um delegado e um
estável a circulação monetária e de mercadorias suplente como seus representantes. O fundo é
na Europa por mais de dois séculos, apesar dos dirigido por vinte diretores (cinco nomeados pe-
abusos de reis e príncipes que durante certas los países que detêm o maior número de cotas
épocas conseguiram rebaixar o seu valor. Atual- e os restantes eleitos entre os representantes),
mente, o florim é a unidade monetária da Ho- que elegem entre si um diretor-geral. Uma das
landa (submúltiplo: cent), da Hungria (florim principais funções do fundo é regular as pari-
húngaro, submúltiplo: fillér) e do Suriname (flo- dades das moedas (sua relação com o ouro). Nos
rim surinamês, submúltiplo: cent). primeiros anos da atuação do fundo, se um país
desejasse alterar a relação, deveria encaminhar
FLUTUAÇÃO SUJA. Veja Dirty Float. uma proposta ao FMI, para que este estudasse
as conseqüências da modificação no âmbito do
FLUXO DE CAIXA (Cash Flow). O pagamento
comércio internacional. Assim, a organização
ou recebimento efetivo de dinheiro por uma em-
tentava manter constante as taxas de compra e
presa ou instituição governamental. Na medida
venda das várias moedas entre si. A partir de
em que tais fluxos não coincidem necessaria-
1971, com a queda da cotação das moedas em
mente com os momentos nos quais os bens ou
ouro, o Grupo dos Dez (Estados Unidos, Ingla-
serviços são adquiridos, se não houver um pla-
nejamento financeiro adequado uma empresa terra, Canadá, Alemanha Ocidental, França, Bél-
pode encontrar-se em dificuldades para saldar gica, Holanda, Itália, Suécia e Japão) formou um
seus compromissos, mesmo que esteja numa po- novo “valor central”, desvalorizando o dólar em
sição economicamente sólida. 10% e permitindo uma variação das demais
moedas em 2,25% em torno desse valor. Para
FLUXO ECONÔMICO. Movimento de uma regular os auxílios aos países com problemas
mercadoria, serviço ou título iniciado em um nos balanços de pagamentos, criou-se, em 1967,
mercado e para ele dirigido, ou realizado no in- o Direito Especial de Saque (DES), que funciona
terior da economia em seu conjunto. O conceito como uma moeda escritural de aceitação inter-
de fluxo econômico para o conjunto do país — nacional e cuja paridade é regulada por um con-
consumo, produção, investimento — é utilizado junto de dezesseis moedas. Cada país-membro
247 FONTES DE ENERGIA

tem seu DES na proporção das cotas que possui. seja trabalhador braçal. À deficiência calórica
Valores mais altos podem ser solicitados dire- soma-se a falta de proteínas, vitaminas e sais
tamente à diretoria do FMI. De qualquer forma, minerais. Sociologicamente, a fome resulta de
os auxílios são vinculados à finalidade que será uma desigual distribuição das riquezas social-
atendida com a quantia e devem ser devolvidos mente produzidas. Para que se tenha uma idéia,
em prazos que variam de três a cinco anos. Sem- a safra de grãos brasileira em 1997 alcançou 80
pre que solicitada, a entidade envia repre- milhões de toneladas. Se dividirmos por uma
sentantes para auxiliar na solução de problemas população de 160 milhões de pessoas, teremos
econômicos dos países-membros, especialmente 500 kg de grãos por pessoa/ano, o que equivale
quando esses enfrentam situações econômicas a cerca de 1,3 kg de grãos por pessoa/dia (a
instáveis (inflação acentuada, queda de expor- média mundial é um pouco inferior a 1 kg). Se
tações etc.), permitindo uma rápida adoção de tal distribuição fosse possível (trata-se apenas
medidas corretivas, para que as dificuldades in- de um exercício teórico que serve para dar-nos
ternas não se reflitam no comércio internacional. uma indicação de que o problema não está na
Também nos casos de pedidos de auxílio, o FMI produção, mas sim na distribuição), ninguém
oferece sua assistência, fiel a uma política do morreria de fome ou de subnutrição no Brasil.
tipo monetarista (taxa cambial única e fixa, moe- O fenômeno ocorre também em decorrência de
da conversível, corte nos gastos públicos, con- flagelos naturais (secas, inundações, epidemias,
tenção salarial etc.), que nem sempre correspon- pragas). É um fenômeno típico dos países sub-
de aos interesses dos países que almejam o de- desenvolvidos ou do Terceiro Mundo, onde im-
senvolvimento, pois costuma provocar efeitos peram profundas desigualdades sociais e são es-
depressivos na economia, com custos sociais cassos os recursos produtivos. Para os estudio-
elevados. sos do problema, a fome só será extinta por meio
de uma série de medidas de alcance social, como
FMS. Iniciais da expressão em inglês flexible ma- reforma agrária, melhor distribuição da renda,
nufacturing systems, que significa sistemas flexí- diversificação da produção, aumento da produ-
veis de manufatura. tividade agropecuária e cooperação internacio-
nal, especialmente da parte dos países ricos. Em
FOA. Veja Fob Airport. 1993, foi criado no Brasil o Programa Nacional
de Combate à Fome, inspirado e dirigido pelo
FOB (Free on Board). Expressão do comércio sociólogo Betinho (Herbert José de Souza), até
internacional que significa “posto a bordo”, se- a sua morte, ocorrida em 1997. Veja também
guida da indicação do porto de embarque. Nessa FAO; Subdesenvolvimento.
modalidade, o exportador (vendedor) é obriga-
do a colocar a mercadoria a bordo do navio de- FONDO SPECCHIO. Veja Proof.
signado no contrato de venda, cessando sua res-
ponsabilidade sobre a mesma no momento em FONDS D’ETAT. Veja Valeurs.
que ela transpõe a amurada do navio. As for-
FONTES DE ENERGIA. Termo que indica cor-
malidades de exportação são executadas pelo
rentes de água, vento, sol e combustíveis que,
vendedor. Código ou abreviação: FOB. Veja tam-
com meios apropriados, fornecem energia e tra-
bém Fas; Incoterms.
balho ao homem. A primeira fonte de energia
FOB AIRPORT. Expressão do comércio inter- utilizada pelo homem foi a força de seus pró-
nacional que significa “livre a bordo” ou “posto prios músculos. Depois, o homem passou a uti-
a bordo” de um avião, seguida da designação lizar a força de animais domesticados, do calor
do aeroporto de embarque. Nessa modalidade, do fogo, das correntes de água e do vento. No
as obrigações do vendedor terminam com a en- século XIX, o carvão mineral e vegetal era o com-
trega da mercadoria ao transportador aéreo no bustível que movia máquinas a vapor, na in-
aeroporto de partida, e não, como no FOB ma- dústria e nos transportes. No final daquele sé-
rítimo, no navio. A escolha da empresa aérea, culo, o petróleo, na forma de seus derivados,
o pagamento do frete, dos impostos e taxas cor- começou a ser cada vez mais utilizado, tornan-
rem por conta do comprador. O desembaraço do-se imprescindível no decorrer do século XX.
alfandegário na exportação, no entanto, é feito A energia elétrica também passou a encontrar
pelo vendedor. Código ou abreviação: FOA. aplicações cada vez mais amplas. Produzida a
Veja também Incoterms. partir da queima de carvão ou de derivados de
petróleo, ou em grandes usinas hidrelétricas, seu
FOK. Veja Fill or Kill. consumo, em uso industrial ou doméstico, pas-
sou a significar o grau de industrialização e bem-
FOME. Estado de carência de alimentos. Do estar de um povo. Em meados do século XX,
ponto de vista bioquímico e médico, inicia-se nova fonte de energia começou a ser aproveitada
logo abaixo do consumo de 2 500 calorias diárias pelo homem: a energia atômica. Utilizada em
para um adulto de estatura mediana e que não navios e submarinos e em grandes usinas pro-
FOOT 248

dutoras de eletricidade, a energia atômica en- dos ativos e passivos, como, por exemplo, acon-
contra também aplicações específicas nas áreas tece com os swaps. No Brasil, as instituições fi-
médica e científica. A crise do petróleo na dé- nanceiras são obrigadas a registrar tais opera-
cada de 70 acelerou a busca por fontes alterna- ções em contas de compensação, e, em casos es-
tivas de energia ou formas mais sofisticadas de pecíficos, a apontar em contas patrimoniais o efei-
aproveitamento das fontes tradicionais. A ener- to atualizado das operações nos balanços e ba-
gia elétrica, obtida a partir de recursos hídricos, lancetes. Veja também Marcar ao Mercado; Swap.
passou a ser incrementada nos países que pos-
suem condições geográficas favoráveis. Em ou- FORAIS. Denominação dada aos documentos
tros, como na França, construíram-se grandes emitidos pela monarquia portuguesa conceden-
fornos e usinas solares e aproveitou-se a força do terras a determinadas pessoas, e que conti-
das marés para a produção de energia elétrica. nham normas para o desenvolvimento desses
Na Itália, utiliza-se a força vulcânica para pro- contratos. As Capitanias Hereditárias no Brasil
duzir eletricidade. No entanto, como todas as foram regulamentadas por forais, os quais esta-
formas de energia são, em última análise, sim- beleciam os direitos e deveres dos donatários e
ples transformações da energia térmica produ- das pessoas que viviam nessas terras. Veja tam-
zida pelo sol, a maioria dos projetos volta-se bém Capitanias Hereditárias.
para o aproveitamento dessa fonte não poluente
e não esgotável. Utilizando grandes sistemas FORBEARANCE. Termo em inglês que admite,
concentradores de calor ou células que transfor- no âmbito financeiro e dos negócios, dois sig-
mam a energia solar diretamente em eletricida- nificados: 1) decisão do credor de não exercer
de, ou fazendo uso de pequenos sistemas do- seus direitos legais sobre um devedor default,
mésticos, a engenharia de sistemas solares de- em troca de promessa deste de regularizar os
senvolveu-se muito. Em termos domésticos, fo- pagamentos no futuro; 2) alívio temporário
ram incrementados sistemas energéticos simples dado por uma autoridade monetária em relação
mas eficientes, como aquecimento solar, bombas a um banco que não cumpriu com os disposi-
movidas pelo vento ou biodigestores, que pro- tivos que regulam as atividades bancárias, por
duzem gás a partir do lixo. Veja também Crise se localizar em regiões onde existe forte recessão
do Petróleo; Recursos Naturais. ou se encontrar em crise econômica. Nesse caso
também, o banco tem de se comprometer a se
FOOT. Veja Pé. enquadrar nos dispositivos financeiros num fu-
turo imediato.
FOOTSIE. Apelido do índice ponderado das
cem principais ações (ações alpha) negociadas FORBONNAIS, François (1884-1965). Econo-
na Bolsa de Valores de Londres, identificado mista francês, colaborou com a confecção da En-
pela sigla FT-SE 100 (Financial Times-Stock Ex- ciclopedie e escreveu duas obras importantes em
change 100 Stock Index), publicada pelo Financial seu tempo, Elements de Commerce (Elementos do
Times de Londres. Veja também Alfa. Comércio), 1754, e Principes et Observations Eco-
nomiques (Princípios e Observações Econômi-
FOR (Free On Rail). Expressão do comércio in- cas), 1767. A primeira foi a pioneira na França
ternacional que significa “posto no vagão”, se- em utilizar elementos matemáticos na análise de
guida da indicação do ponto de entrega na fron- equilíbrio das taxas de câmbio entre mais de
teira. Esta modalidade é específica para o trans- dois países, nas condições do bimetalismo quan-
porte ferroviário e engloba dois tipos de acordo: do existem diferenças nas relações de preço en-
o primeiro, em que o vendedor assume os custos tre o ouro e a prata. A outra é uma obra polê-
e riscos do transporte da mercadoria até o seu mica, a maior parte dedicada à crítica do Tableau
carregamento no vagão, e o outro, onde essa Economique (Quadro Econômico) de François
responsabilidade termina na chegada dos pro- Quesnay, especialmente quanto às bases empí-
dutos à estação ferroviária. Código ou abrevia- ricas das teses dos fisiocratas.
ção: FOR. Veja também Incoterms.
FORÇA DE TRABALHO. Número de pessoas
FOR A TURN. Expressão utilizada no mercado com capacidade para participar do processo de
financeiro para designar uma compra ou uma divisão social do trabalho em determinada so-
venda especulativas com a finalidade de realizar ciedade. A forma e o grau de aproveitamento
um pequeno mas rápido ganho. desse potencial humano dependem de como a
sociedade está organizada, do regime de pro-
FORA DE BALANÇO. Expressão do mercado priedade e do nível de desenvolvimento das for-
financeiro que designa as operações financeiras ças produtivas. Numa tribo indígena, o baixo
que não são registradas nas contas patrimoniais nível de desenvolvimento tecnológico exige o
do balanço de um banco ou de qualquer em- esforço de todos os indivíduos na atividade de
presa. No entanto, a existência dessas contas sobrevivência. Numa sociedade moderna, in-
pode acarretar alterações futuras na estrutura dustrial, regida pela economia de mercado, as
249 FORDISMO

contingências econômicas e o uso de inovações FORD, Henry (1863-1947). Empresário norte-


tecnológicas determinam as oscilações no preço americano, pioneiro da indústria automobilísti-
da força de trabalho (aumento ou diminuição ca e inovador dos processos de produção com
do salário real), o desemprego e o subemprego. a introdução da linha de montagem na fabrica-
Ao mesmo tempo, ao crescerem a complexidade ção em série de automóveis. Originário de uma
e a diversificação de uma economia, incorpo- família de agricultores do Estado de Michigan,
ram-se à atividade produtiva urbana contingen- tornou-se mecânico aos dezesseis anos, traba-
tes sociais até então voltados para atividades tra- lhando em várias oficinas em Detroit. Entre 1892
dicionais, como artesanato, agricultura de sub- e 1896, construiu um automóvel peça por peça
sistência e serviços domésticos. É o caso da força e, em 1903, fundou a Ford Motor Company, com
de trabalho feminina, amplamente empregada outros homens de negócios. Em 1919, tinha o
em tarefas do setor secundário e, sobretudo, do controle acionário da empresa. Conhecido como
setor terciário. o “homem que pôs a América do Norte sobre
rodas”, foi o primeiro fabricante a tornar o au-
FORÇA MAIOR. Evento humano que, por sua tomóvel um produto de consumo de massa.
imprevisibilidade e inevitabilidade, torna im- Conseguiu isso baixando os custos por meio da
possível para o contratante a execução de um produção em série e incrementando as vendas
contrato. Por exemplo, a eclosão de uma greve pelo barateamento do produto. Para enfrentar
que paralise completamente a produção de pe-
a concorrência, aperfeiçoou ainda mais a linha
ças e componentes de um produto cuja data de
de montagem, adquiriu plantações de seringuei-
entrega não pode ser adiada. Veja também Caso
ras, minas de carvão e ferro e uma frota de na-
Fortuito.
vios. Criou o modelo mais popular dos carros
FORÇAS PRODUTIVAS. Forças naturais (in- norte-americanos — o Modelo T —, conhecido
clusive o próprio homem) apropriadas pelo ho- no Brasil como Ford Bigode, que atingiu o re-
mem para a produção e reprodução de sua vida corde de vendas de quinze milhões de unidades
social. A parte material das forças produtivas, entre 1908 e 1926. Apesar da visão empreende-
isto é, os instrumentos e os objetos de trabalho, dora e inovadora, Ford era extremamente con-
constituem a base material e técnica da socie- servador, negando-se a rever iniciativas que ti-
dade. A principal força produtiva, no entanto, veram êxito e atualizar o processo de adminis-
é o próprio homem, que cria instrumentos de tração industrial. Não admitia especialistas em
trabalho cada vez mais poderosos, aperfeiçoa administração nem queria pessoas formadas em
seus objetos de trabalho e combina ambos no universidades no seu quadro de funcionários.
sentido de ampliar constantemente a produção. Por muito tempo negou-se a produzir carros que
Isso significa que as forças produtivas tendem não fossem de cor preta. Opôs grande resistência
a crescer constantemente. Essa expansão opera à produção do Modelo A, em 1927, quando o
modificações nas relações de produção e no Modelo T (Ford Bigode) já estava superado e
modo de produção. Assim, a determinado nível os concorrentes ameaçavam seu poderio. Duran-
de desenvolvimento das forças produtivas cor- te a Segunda Guerra Mundial, construiu a maior
respondem determinadas relações de produção. linha de montagem do mundo para produzir
De acordo com Marx, “(...) o que distingue as os bombardeiros B-54. Adversário ferrenho dos
épocas econômicas não é o que se produz, mas sindicatos, adotava uma ação paternalista nas
como se produz, isto é, com que instrumentos relações trabalhistas: diminuiu a jornada de tra-
de trabalho se produz. Os instrumentos de tra- balho de seus empregados e pagava cerca de 20
balho não são apenas o barômetro indicador do dólares semanais, quando a média dos salários
desenvolvimento da força de trabalho do ho- nas outras empresas era de 11 dólares; só a partir
mem, mas também o expoente das condições de 1941 é que passou a aceitar a sindicalização
sociais em que se produz”. Em determinada fase de seus empregados. Veja Também Fordismo.
de seu desenvolvimento, as forças produtivas
entram em contradição com as relações de pro- FORD BIGODE. Veja Ford, Henry.
dução existentes. Nos modos de produção es-
FORDISMO. Conjunto de métodos de raciona-
cravista, feudal e capitalista, se, no princípio, as
lização da produção elaborado pelo industrial
relações de produção significaram um estímulo
norte-americano Henry Ford, baseado no prin-
para o desenvolvimento das forças produtivas,
cípio de que uma empresa deve dedicar-se ape-
posteriormente, com o desenvolvimento destas
nas a produzir um tipo de produto. Para isso,
últimas, transformaram-se em freios a sua ulte-
a empresa deveria adotar a verticalização, che-
rior expansão. A revolução social seria a forma
pela qual essa contradição se resolveria. gando a dominar não apenas as fontes das ma-
térias-primas, mas até os transportes de seus
FORCE MAJEURE. Veja Força Maior. produtos. Para reduzir os custos, a produção de-
veria ser em massa, e dotada de tecnologia capaz
FORCED SALE. Veja Venda Forçada. de desenvolver ao máximo a produtividade de
FORD PINTO 250

cada trabalhador. O trabalho deveria ser tam- gam aos proprietários um foro ou renda pela
bém altamente especializado, cada operário rea- utilização da terra.
lizando apenas um tipo de tarefa. E para garantir
elevada produtividade, os trabalhadores deve- FORFAITIERUNG. Veja Forfaiting.
riam ser bem remunerados e as jornadas de tra-
balho não deveriam ser muito longas. Em sín- FORFAITING. Operação de financiamento de
tese, Henry Ford desenvolveu três princípios de títulos a receber semelhante ao factoring. Na Ale-
administração, em seu livro My Life and Work, manha e na Áustria, são denominados forfaitie-
que podem ser assim resumidos: 1) princípio rung. Enquanto uma operação de factoring ge-
da intensificação — consiste em reduzir o tempo ralmente implica títulos a receber de curto pra-
de produção com o emprego imediato dos equi- zo, no forfaiting um banco compra títulos a re-
pamentos e matérias-primas e a rápida coloca- ceber de longo prazo com um máximo de ven-
ção do produto no mercado; 2) princípio da eco- cimento de oito anos. Ao banco de forfaiting não
nomicidade — consiste em reduzir ao mínimo cabe recorrer ao vendedor das mercadorias, objeto
o estoque da matéria-prima em transformação, da operação financeira (se o comprador não pa-
de tal forma que uma determinada quantidade gar), mas em compensação adquire os títulos com
de automóveis (a maior possível) já estivesse um desconto substancial. Os principais centros
sendo vendida no mercado antes do pagamento do forfaiting são Zurique e Viena, de onde os gran-
das matérias-primas consumidas e dos salários des bancos processam o forfaiting por intermédio
de suas filiais ou subsidiárias especializadas.
dos empregados; 3) princípio de produtividade
— consiste em aumentar a quantidade de pro- FORMAÇÃO DE CAPITAL. Conjunto de pro-
dução por trabalhador na unidade de tempo me- cessos pelos quais uma economia poupa recur-
diante a especialização e a linha de montagem. sos, que de outra maneira serviriam ao consumo
Os princípios do Fordismo foram amplamente improdutivo, e os transforma em capital. A re-
difundidos não apenas nos Estados Unidos, mas petição dos ciclos produtivos seria impossível
em todo o mundo, tornando-se uma das bases se toda produção fosse consumida. Parte da pro-
da organização do processo de produção nas dução anual deve ser destinada à renovação do
indústrias durante muito tempo, e, embora de capital depreciado e, mais ainda, à ampliação
maneira modificada, mantendo-se até hoje em da capacidade produtiva. Ordinariamente, a
muitos países. Veja também Economia de Es- poupança é feita pelas empresas, que deixam
cala; Especialização; Ford, Henry; Just in Time; de distribuir parte de seus lucros e a destinam
Montagem, Linha de; Organização; Racionali- a seus fundos de investimento; ou pelas pessoas
zação; Verticalização. físicas, que separam do consumo privado parte
FORD PINTO. Modelo da linha Ford criado no de seus rendimentos para aplicá-la numa em-
presa. A criação de novas empresas faz parte
início dos anos 60 e que apresentava grandes
dos processos de formação de capital, os quais,
problemas de segurança, uma vez que o tanque
em seu somatório, constituem um dos agrega-
de gasolina ficava muito exposto aos choques dos das contas nacionais. O problema histórico
traseiros, provocando incêndios nos veículos em da formação originária do capital é controverso
decorrência de colisões e morte dos ocupantes, na economia política. Segundo o economista Se-
que permaneciam presos nas ferragens. nior, os primeiros capitais surgiram da absti-
nência, isto é, dos trabalhadores frugais que re-
FOREIGN BONDS. Expressão utilizada no mer-
duziram o consumo pessoal para poder aumen-
cado financeiro dos Estados Unidos para desig-
tar seus recursos produtivos. Segundo Karl
nar títulos emitidos por devedores estrangeiros Marx, o período de acumulação originária do
no mercado interno de determinado país. A de- capital, a partir do século XV, incluiu a expulsão
nominação específica desses títulos geralmente dos camponeses de suas terras, a ruína dos ar-
leva o nome do país de origem do devedor, e tesãos despojados de seus meios de produção,
a sua denominação de valor é feita na unidade os lucros com a dívida pública, o protecionismo,
monetária do país em cujo mercado interno é o crédito usurário, a fraude comercial, o saque
lançado. Esses títulos são também denominados das colônias e o tráfico de escravos. Atualmente,
yankee bonds, e sua classificação é realizada por o problema da formação de capital nos países
empresas de orientação de investidores como, subdesenvolvidos tem sido um dos mais deba-
por exemplo, a Standard & Poor’s. Muitos yankee tidos nos meios científicos e nos organismos in-
bonds se encontram na listagem da Bolsa de Va- ternacionais. À exceção dos exportadores de pe-
lores de Nova York. tróleo, a formação de capital nos países expor-
tadores de matérias-primas e gêneros alimentí-
FOREIRO. Literalmente, aquele que paga o foro. cios vincula-se negativamente à deterioração dos
Na região Nordeste do Brasil, os foreiros são os termos de intercâmbio no comércio internacional
pequenos arrendatários não capitalistas que pa- e ao agigantamento de sua dívida externa.
251 FRAÇÃO

FÓRMULA DE BAYES. Fórmula utilizada para FOURIER, François-Marie Charles (1772-1837).


o cálculo de algumas probabilidades condicio- Pensador francês, um dos principais repre-
nais às vezes denominadas probabilidade de sentantes do chamado socialismo utópico ou ro-
“causas”. Permite que se expressem a posteriori mântico. Desenvolveu uma filosofia social de
probabilidades em termos de probabilidade a base naturalista — ligada à corrente de Rousseau
priori e outras probabilidades conhecidas, e, por- e George Sand —, que considera o homem uma
tanto, que se revisem as probabilidades à luz criatura fundamentalmente boa. Essencial a sua
de nova evidência. A fórmula tem um papel fun- doutrina é a idéia de uma evolução natural do
damental em alguns enfoques da inferência es- homem, na qual se poderiam distinguir quatro
tatística, sendo assim representada: fases: a primitiva, a selvagem, a patriarcal e a
civilizada. Esta última, que Fourier considera a
P (Aj) . P(B/Aj) de seu tempo, estaria fadada a dar lugar a uma
P(Aj/B) = quinta: a fase da harmonia. O autor via nas de-
Σ P (Ai) . P(B/A)
sordens sociais provocadas pelo comércio e pelo
afã de lucro dos empresários e detentores do
i = 1, 2,...n poder econômico os sinais de decadência da ci-
j = 1, 2,...n vilização. Ao liberalismo econômico, causador
dessa situação, contrapunha a “liberdade das
FORO. Localidade onde se devem desenrolar
paixões”, baseada na “atração social”. Para con-
eventuais questões judiciais. Em contratos, as
cretizar suas idéias, propôs a criação de comu-
partes envolvidas devem escolher um foro (por nidades cooperativas livres, os falanstérios, ba-
exemplo, São Paulo), onde será levada qualquer ses de uma nova organização social. Suas idéias
ação entre elas. Em outros casos, os foros são encontram-se registradas em vários livros, entre
determinados pelo domicílio de uma das partes os quais se destaca Théorie des Quatre Mouve-
envolvidas. O foro pode ser também uma mo- ments et des Destinées Générales (Teoria dos Qua-
dalidade de pagamento de renda da terra. A tro Movimentos e dos Destinos Gerais), 1808.
utilização do termo neste sentido ocorre geral- Fourier é também a denominação de um sistema
mente no Nordeste brasileiro. de medidas em tipografia e artes gráficas. Veja
também Cooperativismo; Falanstério; Gide,
FORT KNOX. Dependência do Exército norte- Charles; Medidas Tipográficas; Socialismo; So-
americano, localizada no Estado de Kentucky, cialismo Utópico.
onde o governo federal mantém suas reservas
em ouro. FOURIER. Veja Medidas Tipográficas; Fourier,
François-Marie Charles.
FORTRAN. Sigla da expressão inglesa formula
translation (formulação transposta). Um tipo de FOUR PERCENT RULE. Veja Regra do Quatro
linguagem utilizada na elaboração de progra- por Cento.
mas para computador, voltado principalmente FOURTH MARKET. Expressão em inglês que
para a aplicação científica e acadêmica. significa literalmente “quarto mercado” e que
FORTUNE 500. Designação dada a qualquer designa a prática de negociação direta de gran-
das empresas que apareçam relacionadas na lis- des blocos de valores mobiliários entre investi-
tagem apresentada anualmente pela revista For- dores institucionais, para evitar o pagamento de
corretagem. Este mercado é facilitado pela exis-
tune sobre as maiores e melhores empresas nor-
tência do Instinet (Institutional Networks Co.),
te-americanas.
sistema registrado nos Estados Unidos junto à
FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL. Veja Da- Comissão de Valores Mobiliários como Bolsa de
vos (Fórum de). Valores. Veja também Instinet.
FPA. Expressão do comércio internacional (free
FORWARD. Veja Operações a Termo.
of particular average) que significa “livre de ava-
FOT (Free on Truck). Expressão do comércio rias particulares”. Veja também Incoterms.
internacional que significa “posto no caminhão”, FPS. Designação das unidades absolutas do Sis-
seguida do nome do lugar para entrega na fron- tema Imperial Inglês e Consuetudinário Ameri-
teira. Esta modalidade é específica para o trans- cano: foot (pé), pound (libra-peso) e second (se-
porte rodoviário e apresenta duas variantes: no gundo). Veja também Sistemas de Unidades de
primeiro caso, o vendedor assume os custos e Medidas.
riscos do transporte da mercadoria até seu car-
regamento no caminhão; no segundo caso, essa FRAÇÃO. Parte de um todo. No mercado fi-
responsabilidade termina na chegada dos pro- nanceiro, as frações são utilizadas para designar
dutos ao terminal rodoviário de caminhões. Có- a existência de um valor inferior a um inteiro
digo ou abreviação. Veja também For; Incoterms. — em geral lote de ações, títulos etc. —, e no
FRACTIONAL GOLD STANDARD 252

caso das taxas de juros ou de câmbio, a cotação FREE CARRIER (Named Point). Expressão do
de uma moeda pode ser registrada como tantos comércio internacional que significa franco trans-
inteiros de outra fração. Por exemplo, em 1929, portador (ponto designado) e designa uma mo-
o mil réis era cotado em 5 d. (pence) e 115/126, dalidade que, na verdade, é uma adaptação da
isto é, quase 6 pence. As frações mais utilizadas modalidade FOB às condições do transporte in-
e suas equivalências decimais são as seguintes: termodal. A diferença com o FOB consiste em
1/2 = 0,5; 1/4 = 0,25; 1/8 = 0,125; 3/8 = 0,375; que o ponto crítico passa a ser o ponto desig-
5/8 = 0,625; 3/4 = 0,75; 7/8 = 0,875. Veja também nado, isto é, quando a mercadoria é entregue
Casas Decimais. em custódia ao transportador, e não quando co-
locado a bordo do navio. Código ou abreviação:
FRACTIONAL GOLD STANDARD. Expres- FRC. Veja também FOB; FOB Airport; Inco-
são em inglês que significa padrão-ouro parcial, terms.
isto é, um sistema no qual uma unidade de ouro
monetário pode lastrear mais de uma unidade FREIE MAKLER. Corretores autônomos (livres)
de papel-moeda em circulação. Esta modalidade que atuam nas Bolsas de Valores da Alemanha.
de padrão-ouro prevaleceu em quase todos os Eles atuam paralelamente aos corretores oficial-
países capitalistas avançados depois da crise mente designados (Amtliche Kursmakler) e aos
econômica de 1929, até o final dos anos 60. Veja representantes dos bancos nas Bolsas de Valores
também Padrão Câmbio-ouro; Padrão-ouro. da Alemanha.

FRANCHISING. Método de comercialização de FREIGHT OR CARRIAGE PAID TO. Expres-


são do comércio internacional que significa “fre-
produtos ou serviços no qual o franqueado ob-
te ou transporte pago até (local do destino)”.
tém o direito de uso de uma marca (geralmente
Nessa modalidade, o vendedor escolhe a em-
nome comercial), com ou sem exclusividade, e
presa de transporte e paga o respectivo frete da
opera de acordo com um padrão de qualidade
mercadoria até o local estabelecido no contrato.
estabelecido pelo franqueador, em troca do pa- Os riscos de avaria e perda da mercadoria ou
gamento de um determinado montante em di- aumento dos custos durante o trânsito são trans-
nheiro (franquia). feridos do vendedor ao comprador quando da
FRANQUIA. Livre entrada e saída de merca- entrega da mercadoria ao primeiro transporta-
dor. As despesas com alfândega, na exportação,
dorias no país ou em determinado local (porto
são pagas pelo vendedor. O código ou abrevia-
livre ou zona franca), sem pagamento de im-
ção é DCP. Veja também Incoterms.
postos e sem controle alfandegário. Os materiais
diplomáticos, por exemplo, gozam dessa fran- FREIGHT TON. Termo em inglês que significa
quia. No setor de seguros, especialmente de au- “tonelada de frete” e equivale a 40 pés cúbicos.
tomóveis, franquia é a importância não coberta
pela seguradora, isto é, a despesa que necessa- FREQÜÊNCIA. Número de vezes que um even-
riamente é feita pelo proprietário do veículo, in- to acontece na unidade de tempo. O termo se
dependentemente do valor do prejuízo (com ex- aplica aos campos mais variados da ciência. Por
ceção da perda total, quando deixa de existir exemplo, o número de ciclos de ondas de rádio
franquia). que se formam e se movem num segundo cons-
titui a sua freqüência. Quando uma rádio anun-
FRC. Veja Free Carrier. cia que está operando em tantos megaciclos, para
que os ouvintes possam sintonizar o rádio na-
FREE BANKING. Expressão em inglês que de- quele ponto, significa que a estação está emitin-
signa um sistema monetário no qual, num re- do tantos milhões de ondas de rádio por segundo.
gime de competição, a emissão de moeda se rea-
liza por meio de um grande número de bancos FRETE. Quantia paga pelo aluguel de embar-
emissores. Seus defensores argumentam que as cação ou pelo transporte de mercadorias em
vantagens sobre o sistema central banking (único trens, navios, caminhões ou aviões. O preço do
emissor) é que a competição entre os bancos pri- frete costuma constar nos conhecimentos de em-
vados seria uma garantia de estabilidade da barques, e a cláusula CIF nos preços das mer-
moeda, enquanto, no outro sistema, o Banco cadorias indica que estes incluem o frete, o custo
e o seguro. Veja também Afretamento.
Central estaria sujeito às pressões inflacionárias
provocadas por seu controlador, o governo. FRIEDMAN, Milton (1912- ). Economista nor-
Atualmente, não é muito utilizado pelos países, te-americano, recebeu o Prêmio Nobel de eco-
que preferem ter o seu sistema vinculado a um nomia em 1976. Principal teórico da escola mo-
único banco emissor (central banking). Esse sis- netarista e membro da Escola de Chicago, para
tema foi utilizado durante o século passado na a qual a provisão de dinheiro é o fator central
Escócia, no Canadá e em algumas regiões dos de controle no processo de desenvolvimento
Estados Unidos. Veja também Banco Central. econômico. Para Friedman, as variações da ati-
253 FUKUMI

vidade econômica não se explicam pelas varia- tróleo um patrimônio de 22 navios-tanques de


ções do investimento, mas pelas variações da fabricação estrangeira, totalizando 220 mil tone-
oferta de moeda. Assim, as intervenções multi- ladas de porte bruto (tpb). Em 1952, a Fronape
formes do Estado na vida econômica de um país passou para a jurisdição do CNP. Em 1953, a
poderiam ser substituídas pelo controle cientí- lei nº 2 004 (que criou a Petrobrás) estabelecia
fico da evolução da massa de moeda em circu- como monopólio da União não só a pesquisa e
lação. A política monetária visaria à redução das a lavra das jazidas nacionais e a refinação do
possibilidades de intervenções específicas da au- petróleo nacional ou estrangeiro, mas também
toridade pública e à introdução no sistema de seu transporte. Em conseqüência disso, o patri-
um grau mais elevado de auto-regulação dos mônio e as atividades da Fronape foram trans-
aspectos do ambiente social que constituem as feridos para a Petrobrás. A Fronape figura entre
determinantes básicas do funcionamento da eco- as maiores empresas mundiais de petroleiros e
nomia. Há conexões entre as opiniões de Fried- constitui a maior frota petroleira do hemisfério
man sobre a política econômica nacional e a in- sul. Em 1982, possuía 63 navios próprios com
ternacional. Na esfera internacional, ele advoga capacidade total de 4 877 599 toneladas de porte
a adoção de taxas de câmbio totalmente flexí- bruto.
veis, que seriam determinadas pelo livre jogo
das forças do mercado. Milton Friedman é co- FRONTEIRA AGRÍCOLA. Região compreen-
lunista da revista Newsweek, leciona na Univer- dida dentro das fronteiras nacionais de um país,
sidade de Chicago desde 1946 e é membro do ocupada pela produção agrícola efetiva. No Bra-
Departamento Nacional de Pesquisas Econômi- sil, essas fronteiras ampliaram-se consideravel-
cas dos Estados Unidos. Foi conselheiro do go- mente nas últimas décadas, provocando prati-
verno chileno do general Pinochet. Entre suas camente a duplicação da área ocupada pela
obras principais, encontram-se: Essays in Positive agropecuária, na direção dos Estados de Mato
Economics (Ensaios em Economia Positiva), 1953; Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Goiás,
Capitalismo e Liberdade,1962; A Monetary History Amazonas e Pará.
of the United States (Uma História Monetária dos
Estados Unidos),1963; Inflation Causes and Con- FRONTEIRA DA EFICIÊNCIA (Efficient Fron-
sequences (Causas e Conseqüências da Inflação), tier). Em finanças, significa a curva que re-
1963. Veja também Monetarismo. presenta os porta-fólios (carteiras) com os mais
altos retornos relativos ao risco.
FRINGE BENEFITS. Veja Benefícios Salariais.
FT-SE 100. Veja Footsie.
FRISCH, Ragnar (1895-1973). Economista no-
rueguês, criador do termo “econometria” e um FUGGER, Família. Clã alemão de mercadores
dos fundadores da Sociedade Internacional de e banqueiros, típicos representantes do mercan-
Econometria, em 1930, nos Estados Unidos. Re- tilismo e financiadores da nobreza européia. A
cebeu o primeiro Prêmio Nobel de ciências eco- fortuna da família iniciou-se com Hans Fugger
nômicas, em 1969, juntamente com Jan Tinber- (?-1409), filho de um tecelão de Graben, locali-
gen. Elaborou modelos de política econômica (os dade vizinha de Augsburgo. A partir daí, a casa
“modelos decisionais”), cuja finalidade é mos- Fugger alcançou grande prosperidade com o do-
trar os efeitos de diversas políticas econômicas mínio do comércio europeu do sal e a exportação
em determinado país, em determinado momen- de prata das minas do Tirol e de cobre da Hun-
to e estudar as diversas combinações possíveis gria. Financiando príncipes e reis, os Fugger ad-
dos “níveis de comando”, sua coerência com os quiriram privilégios e foram enobrecidos. Atin-
fins da política econômica perseguidos e sua giram o apogeu com Jakob II, o Rico (1459-1525),
coerência entre eles. É autor, entre outros en- cujos negócios se estendiam pela Europa Oci-
saios, de Propagation Problems and Impulse Pro- dental e Central, pelo Mediterrâneo, pelo Báltico
blems in Dynamic Economics (Problemas de Pro- e, por intermédio de Lisboa, se incorporaram
pagação e Problemas de Impulso em Economia ao comércio ultramarino de especiarias asiáticas.
Dinâmica), 1933. Jakob Fugger foi o financiador dos imperadores
Maximiliano e Carlos V, cuja eleição imperial
FRONAPE — Frota Nacional de Petroleiros. assegurou com um empréstimo de 544 mil flo-
Empresa estatal brasileira criada em 1950 com rins. Na segunda metade do século XVI, a casa
o objetivo de realizar o transporte de petróleo Fugger entrou em declínio, e seu banco faliu
e derivados no país e no exterior, além de rea- em 1607.
lizar a respectiva armazenagem e comércio. Até
então o transporte de produtos petrolíferos vi- FUKUMI. Termo em japonês que designa uma
nha sendo feito quase exclusivamente por na- situação na qual o valor de mercado de deter-
vios estrangeiros, cujos fretes acarretavam ao minados ativos supera seu valor em livros. Tam-
país grande evasão de divisas. Ao ser criada, a bém denominado capital virtual, capital latente
Fronape recebeu do Conselho Nacional de Pe- ou potencial.
FULL COUPON BOND 254

FULL COUPON BOND. Expressão em inglês (dentro de certos limites), uma vez que orga-
que designa os títulos que pagam uma taxa de nismos, populações e mesmo a produção agrí-
juros próxima ou um pouco acima das taxas cor- cola (por unidade de área) não podem crescer
rentes de mercado. indefinidamente. A formalização do modelo
parte da seguinte concepção:
FULLARTON, John (1780-1849). Economista es-
cocês, importante analista da atividade bancária. dP
= K (A – P0)
Sua obra On the Regulation of Currencies (Sobre dX
a Regulamentação das Moedas), 1844, insere-se
na controvérsia em torno do Peel’s Act de 1844, ou seja, a taxa de aumento na produção em de-
que reformulava a estrutura e as funções do Ban- corrência de um aumento na utilização de fer-
co da Inglaterra. Fullarton opôs-se à escola mo- tilizantes (fP/fX) é proporcional à diferença en-
netária, sustentando que a conversibilidade das tre a produção máxima a ser obtida (A) e a pro-
notas emitidas era a única exigência para a es- dução (P0) existente se a quantidade de fertili-
tabilidade da moeda. Veja também Escola Ban- zantes fosse nula. Assim,
cária. dP
= kdx, integrando obteremos A – P0 = Ce–kx
FUNARO, Dílson Domingos (1933-1989). En- (A – P0)
genheiro, empresário e político brasileiro, gra- P0 = A – Ce–kx se x = 0 então C = A – P0,
duado pela Universidade Mackenzie em 1957.
Presidente da empresa Trol S.A. (fabricante de P = A – Ce–kx P = A – (A – P0)e–kx
brinquedos), participou ativamente de organi- se x → ∞ P → A
zações empresariais brasileiras e latino-america-
nas, como o Sindicato da Indústria do Plástico se x → 0 P → P0
do Estado de São Paulo, a Federação das Indús-
trias do Estado de São Paulo e a Associação La- Na versão original P0 = 0, então a função é da
forma P = A. (1 – ekx)
tino-Americana da Indústria do Plástico. Em
1969, assumiu a Secretaria da Economia e Pla- se P0 = 0 P = A (1 – ekx) graficamente teríamos
nejamento do Estado de São Paulo. Posterior-
mente, foi indicado para a Secretaria da Fazenda se P0 > 0 se P0 > 0
durante o governo de Abreu Sodré. Ocupou o P = A . (A – P0) C–kx P = A . (1 – C–kx)
PA PA
Ministério da Fazenda no governo de José Sar-
ney, entre agosto de 1985 e abril de 1987, nota-
bilizando-se pela implantação do Plano Cruza-
do, no início de 1986, e pela declaração da mo-
ratória da dívida externa, em 1987. O período
P0
final de sua gestão caracterizou-se por um pro- x x
cesso inflacionário muito intenso e aparente-
mente fora de controle, o que contribuiu deci-
sivamente para a sua exoneração. Veja também A constante K é denominada coeficiente de efi-
Plano Cruzado. cácia do fertilizante em questão.

FUNÇÃO CÔNCAVA. Função cuja curva se FUNÇÃO DE PRODUÇÃO. A relação entre a


apresenta de forma côncava em relação à ori- produção de um bem e os insumos ou fatores
gem, e, portanto, função cuja derivada segunda de produção necessários para produzi-lo. Uma
é negativa. função de produção pode ser apresentada na
forma genérica Q = f(L,K,t), onde Q é o produto,
FUNÇÃO CONSUMO. Veja Propensão a Con- L é a força de trabalho, K é o capital e t é o
sumir. progresso técnico. Outros fatores de produção,
como as matérias-primas, podem fazer parte
FUNÇÃO CONVEXA. É toda função convexa também da função de produção. Embora tenha
em relação à origem, e, portanto, uma função sido elaborada originalmente no âmbito da teo-
cuja derivada segunda é positiva. ria da firma, é possível estender o conceito para
uma economia onde o produto nacional resul-
FUNÇÃO DE MITSCHERLICH (Lei de Mits- taria do emprego dos fatores de produção exis-
cherlich). Função muito utilizada em economia tentes. Nesse caso a função de produção é uma
agrícola e em estudos agronômicos, desenvol- função de produção agregada e teria a mesma forma
vida por Mitscherlich (1939) mediante experi- anterior, sendo, no entanto, o Q equivalente ao
mentos correlacionando quantidades de fertili- Produto Nacional Bruto, e K e L o total de capital
zantes com o nível de produção. Tal função re- e de força de trabalho empregados, respectiva-
fere-se a fenômenos de crescimento restrito mente. Veja também Cobb-Douglas.
255 FUNDAÇÃO

FUNÇÃO ESTOCÁSTICA. Diz-se que Y é uma sobreviventes à idade, x, 1x; número de mortos
função estocástica de X, se a cada valor de X dentro do intervalo x a x mais 1, dx; pro-
corresponde uma distribuição de valores de Y; babilidade px de vida; probabilidade qx de mor-
nesse caso, Y é uma variável aleatória que pode te ou coeficiente anual de mortalidade; coefi-
ser expressa como Y = g(x) + α, onde g é uma ciente instantâneo de mortalidade ux, na idade
função no sentido comum da palavra e α é uma x; coeficiente central mx de mortalidade; vida
variável aleatória, X podendo ser um vetor. média completa ex; vida média abreviada ex;
vida provável (não possui notação universal) e
FUNÇÃO HOMOGÊNEA. Uma função é ho- população estacionária Lx.
mogênea do grau n se a multiplicação de todas
as variáveis independentes por uma constante FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS. Funções defi-
V resultar na multiplicação da variável depen- nidas em termos das propriedades dos triângulos
dente por Vn. Assim, a função Y = X2+Z2 é ho- retângulos, como o seno (sen), o co-seno (cos) e a
mogênea do segundo grau, uma vez que tangente (tg). Num triângulo retângulo, se os lados
(VX)2+(VZ)2 = V2(X2+Z2) = V2Y. Uma função ho- adjacentes ao ângulo reto são de comprimento X
mogênea do primeiro grau é denominada linear (horizontal) e Y (vertical), e o ângulo entre a
homogênea. Uma função de produção homogê- hipotenusa (H) e o lado horizontal é α, então,
nea do primeiro grau apresenta retornos cons- Tg α = Y/X, Sen α = Y/√ 
X2 + Y2 , Cos α =
tantes à escala, isto é, se todos os fatores utili- X/√
X2 + Y2 . Por meio dessas relações, conheci-
zados (trabalho e capital) aumentarem 50%, o dos, por exemplo, a dimensão do cateto oposto
produto resultante também aumentará 50%. e o ângulo formado pelo cateto adjacente e a
Veja também Cobb-Douglas. hipotenusa, é possível calcular as dimensões
destes últimos.
FUNÇÃO NÃO-LINEAR. Relação matemática
entre variáveis que não constituem uma função
linear, como, por exemplo, funções do tipo: a)
Y = aX1X2; b) Y = aXn; c) Y = a.e bX.
FUNÇÃO-PERDA (Loss-function). Denomina- H
ção dada a uma função desutilidade que uma x
política macroeconômica deseja minimizar. O
conceito também pode ser estendido a políticas α
empresariais ou a objetivos individuais, mas,
neste último caso, já escapa ao âmbito da ciência y
econômica. A função-perda é usualmente apre-
sentada como a diferença ao quadrado dos va-
FUNDAÇÃO. Entidade jurídica sem finalidade
lores das variáveis atuais e seu nível desejado,
lucrativa, destinada à prestação de serviços à
ponderada por parâmetros associados às variá-
coletividade. É criada por meio da constituição
veis. Formalmente, poderíamos apresentar a
de um patrimônio — por doação ou testamento
função-perda da seguinte forma: L = #1[d*-d]2
—, que é próprio e independente de indivíduos.
+ #2[p*-p] onde, por exemplo, d* e p* são res-
A origem mais remota das fundações é a dotação
pectivamente a taxa de desemprego e a taxa de
instituída para a construção e manutenção da
inflação atuais; d e p são as taxas de desemprego
Biblioteca de Alexandria, no Egito helenístico.
e de inflação desejadas. Os parâmetros (pesos)
Mais tarde, tornou-se comum com o uso dos
#1 e #2 têm suas magnitudes estabelecidas pelos
fundos de caridade levantados pela Igreja. As
gestores da política econômica. A minimização
primeiras fundações brasileiras foram as Santas
da função-perda capacita os executores de uma
Casas de Misericórdia, criadas no período colo-
política econômica a estabelecer um trade-off
(troca) entre os objetivos d e p. O desenvolvi- nial e que visavam a fornecer assistência médica
mento conceitual e formal da função-perda se à população. Atualmente, o Brasil conta com nu-
deve aos trabalhos dos economistas Jan Tinber- merosas fundações sustentadas por contribui-
gen e Henri Theil. Veja também Trade-off. ções regulares do poder público, como a Fun-
dação Getúlio Vargas (de estudos econômicos),
FUNÇÕES BIOMÉTRICAS. São grandezas ab- a Fundação Padre Anchieta (mantenedora da TV
solutas ou relativas, estabelecidas sobre a hipó- Educativa do Estado de São Paulo) e a Fundação
tese de que o número de sobreviventes a uma Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
qualquer idade X é função contínua e diferen- (IBGE), responsável pelos censos e índices eco-
ciável do valor dessa idade, desde X = 0 até X nômicos oficiais. A lei estabelece normas para
= alfa, idade extrema da tábua de mortalidade a criação das fundações, que são regidas por
adotada. As notações universais para cada uma estatutos próprios, aprovados e fiscalizados pela
dessas grandezas são as seguintes: número de Justiça.
FUNDAMENTAL DISEQUILIBRIUM 256

FUNDAMENTAL DISEQUILIBRIUM. Veja De- ativo fixo da empresa (imóveis, máquinas etc.)
sequilíbrio Fundamental. e destina-se à renovação desse ativo.

FUNDAMENTALIST. Designação dada, nos FUNDO DE PENSÃO. Espécie de pecúlio ou


Estados Unidos, ao operador de Bolsa cujas de- poupança formada por um conjunto de peque-
cisões de vender ou comprar se baseiam mais nos investidores e poupadores, com o intuito
nas tendências ou desenvolvimentos imediatos de garantirem para si uma pensão mensal, de-
da oferta e da demanda, e menos nas análises pois de um prazo determinado. Em geral, os
técnicas ou dos grafistas. Veja também Grafis- fundos de pensão (assim como pecúlios e outros
mo; Grafista. sistemas da previdência privada) são organiza-
dos por empresas financeiras que fazem aplica-
FUNDING. Termo do mercado financeiro que ções com a soma do dinheiro dos pequenos pou-
geralmente significa a substituição de uma dí- padores. Depois de um prazo (em geral, sempre
vida de curto prazo por uma dívida de longo superior a dez anos), o indivíduo passa a receber
prazo. Originalmente, no entanto, o termo esta- seu dinheiro de volta, acrescido de juros e cor-
va relacionado com a substituição de uma dívida reção, como uma espécie de complementação de
fundada por uma dívida com um prazo certo aposentadoria. A Constituição de 1988 veda
de vencimento. Veja também Curto Prazo; Lon- qualquer subvenção ou auxílio do poder público
go Prazo. às entidades de previdência privada com fins
lucrativos.
FUNDING LOAN. Moratória concedida pelos
credores a um Estado devedor. Em troca, são FUNDO DE RESERVA LEGAL. Em contabili-
emitidos novos títulos correspondentes aos en- dade, é a parte do lucro líquido de uma empresa
cargos da dívida e das operações com os exce- que fica retida para cobrir eventuais perdas, des-
dentes comerciais. O termo incorporou-se à his- pesas extraordinárias ou mesmo um investi-
tória brasileira, pois esse recurso foi utilizado mento.
várias vezes pelos credores do Brasil no exterior,
a partir da Independência. FUNDO DE SALÁRIOS. Doutrina da escola
clássica desenvolvida em meados do século XIX,
FUNDO. Conjunto de recursos monetários em- segundo a qual o salário médio do trabalhador
pregados como reserva ou para cobrir despesas define-se pela quantidade de capital disponível
extraordinárias. No setor de finanças públicas, nas mãos dos empregadores, dividida pelo nú-
o termo refere-se às verbas destinadas ao de- mero de trabalhadores. Dessa forma, os salários
senvolvimento de determinados setores; estão não poderiam subir enquanto o capital dispo-
nesse caso as aplicações incentivadas nas áreas nível do empregador não aumentasse, o que,
da Sudene e da Sudam e os fundos de incentivos por sua vez, dependeria do aumento da pou-
fiscais. pança; a redução da poupança seria a única for-
ma plausível de aumentos efetivos de salários.
FUNDO DE AMORTIZAÇÃO. Reserva de ca- A escola clássica desenvolveu a teoria de fundo
pital mantida por uma empresa, destinada a co- de salários a partir da idéia dos fisiocratas de
brir a amortização de dívidas e o pagamento que os salários são pagos aos trabalhadores an-
dos devidos juros. O fundo de amortização pode tes da venda de seu produto. A curto prazo,
ser utilizado também para fazer frente a even- existe um número determinado de trabalhado-
tuais prejuízos ou despesas extraordinárias. res e certa quantidade de poupança para pagar
FUNDO DE APLICAÇÃO FINANCEIRA. Cria- os salários, o que determinaria o salário médio.
do pelo Plano Collor 2, em substituição aos fun- A longo prazo, o salário relaciona-se com o grau
dos de curto prazo, o fundo de aplicação finan- mínimo de subsistência necessário para susten-
ceira (FAF) foi instituído com o objetivo de obter tar a força de trabalho, e está vinculado a pa-
os recursos necessários para o desenvolvimento, drões de qualidade de vida determinados por
a expansão e a modernização das empresas pú- lei. Se os salários aumentassem além desses pa-
blicas e privadas. Seus investidores poderão mo- drões, a população deveria aumentar, e, no caso
vimentar livremente seu capital, aplicado em inverso, diminuir. Ainda a longo prazo, o nível
quaisquer agências ou instituições credenciadas, de demanda pela força de trabalho é determi-
sendo que sua remuneração será calculada pela nado pelo montante do fundo de salários, que
Taxa Referencial Diária (TRD), descontando-se depende, por sua vez, do nível de poupança dos
Imposto de Renda e lucros obtidos para as apli- empregadores. Segundo John Stuart Mill, isso
cações inferiores a trinta dias. significa que “a demanda de bens não é a mesma
coisa que a demanda de trabalho”, já que um
FUNDO DE DEPRECIAÇÃO. Reserva em di- aumento do consumo reduziria a poupança e,
nheiro formada pelas empresas e regulamentada desse modo, o fundo de salários. Por outro lado,
por lei. É suprida pela taxa de depreciação do a produtividade não influencia os salários reais,
257 FUNGÍVEL

que são calculados pela taxa de lucros do em- prorrogado por mais dezoito meses, vigorando
presário, pois a poupança depende dos lucros portanto até junho de 1997. Seu objetivo era fi-
obtidos. Desse modo, a poupança é obtida em nanciar projetos da área social considerados
proporções iguais no capital fixo e no capital prioritários pelo governo. Os recursos do fundo
variável (os salários), fazendo com que a com- seriam originados na retenção de uma parcela
posição orgânica do capital, na denominação de das seguintes receitas federais: 1) 20% dos gastos
Marx, permaneça constante. Ricardo questionou constitucionais com educação; 2) 20% da arre-
esse aspecto da teoria do fundo de salários ao cadação do IPMF destinado a programas de ha-
realizar uma análise do efeito de máquinas e bitação popular; 3) adicional de 3% sobre o lucro
equipamentos sobre o emprego, desviando o in- dos bancos; 4) PIS dos bancos, isto é, 0,75% sobre
vestimento do fundo de salários e reduzindo a a receita operacional bruta dos mesmos; 5) Im-
demanda pelo fator trabalho. Já W.T. Thornton
posto de Renda do funcionalismo público (agora
criticou a doutrina do fundo de salários, argu-
exclusivamente destinado ao FSE). O FSE con-
mentando que os salários são determinados pe-
siste, na realidade, em um desbloqueio de re-
los fatores de oferta e procura estabelecidos pelo
mercado. Stuart Mill aceitou parcialmente o ar- cursos que antes tinham destinação mais amar-
gumento de Thornton, admitindo que a idéia rada do que atualmente, isto é, com o FSE, o
do fundo de salários seria mais apropriada no governo federal ganha flexibilidade para realizar
contexto de um processo de produção descon- suas despesas. A previsão era que fossem obti-
tínuo, como no caso das safras agrícolas, do que dos dessas fontes 16 bilhões de dólares de ar-
num processo contínuo de produção industrial. recadação em 1994. Em 1997 foi outra vez pror-
rogado até o final de 1998.
FUNDO MONETÁRIO ÁRABE. Criado em
1976, o Fundo Monetário Árabe é uma institui- FUNDOS FISCAIS. Fundos de investimentos
ção financeira que busca acelerar a integração e no mercado de ações, formados por quantias
o desenvolvimento dos países árabes. As prin- abatidas do Imposto de Renda devido pelos con-
cipais atividades do fundo são: 1) corrigir de- tribuintes. No Brasil, os fundos de investimentos
sequilíbrios no balanço de pagamentos dos paí- com recursos de incentivos fiscais foram criados
ses-membros por meio de empréstimos espe- a partir do decreto-lei nº 157, de 10/2/1967, que
ciais; 2) manter a taxa de câmbio estável entre acabou dando nome a esse tipo de fundo. O
as moedas dos países árabes; 3) assegurar em- objetivo era estimular a poupança, iniciar os con-
préstimos aos países árabes para a eliminação tribuintes na área do mercado de capitais, obter
de déficits decorrentes da implantação de pro- recursos para empresas médias e pequenas por
jetos de desenvolvimento; 4) encorajar a adoção meio de ações e estimular os negócios das Bolsas
de uma moeda árabe unificada. de Valores. Esses fundos beneficiam apenas as
pessoas físicas, e o valor das aplicações é calcu-
FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL.
lado no momento da declaração do Imposto de
Veja FMI.
Renda. As porcentagens de aplicação variam de
FUNDO MÚTUO. Conjunto de recursos forma- acordo com os rendimentos do contribuinte e
dos pela soma de valores aplicados por diversos com os índices preestabelecidos pelo governo.
investidores e administrados por uma corretora Depois de calcular quanto deve de imposto, o
de valores ou banco de investimentos. Trata-se contribuinte pode abater desse total certa por-
de uma espécie de condomínio, no qual cada centagem para aplicação no mercado de capitais.
um dos aplicadores é proprietário de cotas. A Essa parte do imposto pago que foi transforma-
corretora ou banco de investimentos reúne os da em ações pode ser resgatada alguns anos de-
recursos levantados e os aplica na compra de pois. O governo renuncia ao controle direto de
títulos, ações ou valores mobiliários. Os rendi- parcelas de arrecadação tributária, que seriam
mentos obtidos são distribuídos aos cotistas do a ele alocadas, confiando à iniciativa privada o
fundo de acordo com o número de cotas que papel de administradora. Os fundos são admi-
possuem. nistrados por corretoras ou bancos de investi-
mento, obrigados a informar regularmente aos
FUNDO PERDIDO. Veja Investimento a Fun- cotistas a receita dos dividendos das ações, o
do Perdido. número de cotas adquiridas, o valor destas e
quais as que estão livres para resgate. Os fundos
FUNDO SOCIAL DE EMERGÊNCIA. Fundo 157 foram extintos em 1983.
aprovado em 23/2/1994 pelo Congresso revisor
por 402 votos a favor, 95 contra e 3 abstenções FUNGÍVEL. Aplicado ao mercado financeiro, o
e previsto para vigorar em 1994 e 1995, quando termo significa um instrumento financeiro de
seria submetido à legislação complementar, de- valor equivalente a outro e facilmente trocável
cidindo-se sobre sua continuidade. Em 1995 foi ou substituível.
FUNRURAL 258

FUNRURAL — Fundo de Assistência ao Tra- nos três anos anteriores ao pedido de aposen-
balhador Rural. Órgão executor do Programa tadoria. Se a aposentadoria por invalidez decor-
de Assistência ao Trabalhador Rural (Prorural). rer de acidentes de trabalho, o segurado terá
Sua administração é presidida pelo presidente direito a 75% do maior salário mínimo vigente
da Previdência e Assistência Social, ou seu re- no país; 3) pensão — concedida aos dependentes
presentante, mais seis membros designados pelo do segurado após sua morte, corresponde a 50%
Ministério da Saúde, Ministério do Trabalho, do maior salário mínimo vigente no país, ces-
Ministério da Agricultura, Instituto Nacional da sando seu pagamento quando os direitos do úl-
Previdência e Assistência Social, Confederação timo pensionista terminarem; 4) auxílio-funeral
Nacional da Agricultura e Confederação Nacio- — tem a finalidade de indenizar quem realizou
nal dos Trabalhadores na Agricultura. Sua ati- o funeral do segurado falecido, das despesas de-
vidade básica é conceder benefícios aos traba- vidamente comprovadas, até o valor do maior
lhadores rurais, classificados do seguinte modo: salário mínimo vigente no país; 5) auxílio ina-
1) trabalhador rural — aquele que presta servi- tividade — concedido àqueles que possuem 70
ços ao empregador em estabelecimentos rurais, anos ou mais e que comprovem a inexistência
recebendo salários ou pagamento em produtos de renda ou meios de subsistência; essa com-
agrários; 2) produtor rural — aquele que, sendo provação se faz por meio de atestado passado
proprietário ou não, trabalha sem ajuda de ter- por autoridade administrativa ou judiciária local
ceiros em atividades rurais, individualmente ou ou, ainda, por meio de declaração do interessado
com a ajuda familiar, desde que em condições com testemunho de duas pessoas que o conhe-
de mútua independência e colaboração. Dessa çam. Sendo assim, tanto as autoridades como
forma, esse conceito abrange parceiros meeiros, as testemunhas devem conhecer o requerente
arrendatários e posseiros; 3) pescadores — aque- no prazo mínimo de cinco anos. O Funrural tam-
les que, na condição de pequenos produtores, bém presta serviços de saúde que compreen-
trabalhando individualmente ou com a família, dem: prevenção de doenças, educação sanitária,
desde que não possuam nenhum vínculo em- assistência à maternidade e à infância, atendi-
pregatício, fazem da pesca seu meio de vida, mento médico ou cirúrgico, assistência odonto-
sendo necessário pagarem prestações ao Proru- lógica (clínica e cirúrgica) e exames complemen-
ral; 4) garimpeiros — aqueles que exercem tra- tares. Para a realização de tais serviços, o Fun-
balho de garimpagem, faiscação e cata; 5) sa- rural não pode contratar ou manter pessoal, mas
fristas — aqueles trabalhadores cujo contrato de- celebrar convênios com estabelecimentos hospi-
pende de variações sazonais da atividade agrá- talares ou ambulatórios, de modo que os mes-
ria. São igualmente beneficiários seus depen- mos sejam mantidos pela União, Estados, mu-
dentes, na medida em que possuam o nome ano- nicípios, instituições de previdência social, uni-
tado na carteira profissional ou declaração de versidades, fundações, entidades privadas, coo-
dependência feita pelo segurado e confirmada perativas de produtos rurais, enfim, empresas
pela entidade de classe a que pertença, seja de que executem serviços de saúde e que sejam idô-
trabalhadores, seja de empregadores. Sendo as- neas. Atualmente, essas tarefas foram encampa-
sim, esses trabalhadores têm direito aos seguin- das pelo Inamps. Cabem às entidades sindicais
tes benefícios: 1) aposentadoria por velhice, que os encargos concernentes à anotação de depen-
corresponde ao maior salário mínimo vigente dentes, ao encaminhamento de trabalhadores ao
no país, concedida ao trabalhador rural que tiver serviço de saúde e à fiscalização do atendimento
completado 65 anos de idade, cabendo ao chefe do trabalhador rural. Os serviços sociais têm por
de família e/ou pessoas isoladas, de modo que finalidade propiciar assistência jurídica, colabo-
não se repita numa mesma família, mesmo que ração nos serviços de prevenção às doenças e
a mulher (cônjuge) preencha os requisitos para de educação sanitária, sendo isso efetuado me-
o recebimento; 2) aposentadoria por invalidez diante acordo ou convênio com estabelecimen-
— corresponde ao maior salário mínimo vigente tos de ensino, entidades sindicais, instituições
no país e é concedida ao trabalhador rural por- públicas e privadas. O financiamento de tal pro-
tador de enfermidade ou lesão orgânica que o grama baseia-se na contribuição de 2% sobre o
torne totalmente, e em caráter definitivo, inca- valor comercial dos produtos rurais, sendo esse
paz de exercer qualquer atividade; enquanto recolhimento efetuado pelo produtor quando ele
esse aposentado não completar 55 anos, o Fun- vende diretamente ao consumidor, ou esse en-
rural poderá efetuar perícia médica para manu- cargo caberá às cooperativas quando estas fize-
tenção ou cancelamento do benefício. Ambas as rem o trabalho de intermediação. Acresce ainda
aposentadorias atingem o trabalhador rural que mais 0,5% para custeio das prestações em casos
comprove o exercício de sua atividade durante de acidentes de trabalho. As empresas urbanas
doze meses, mesmo em períodos descontínuos, também contribuem com 2,4% da folha de sa-
259 FWH

lário-de-contribuição de seus empregados. O Brasileira (1962). Posteriormente, reviu suas po-


empregador rural, por sua vez, contribui com sições desenvolvimentistas puramente econômi-
1,2% do valor da respectiva produção rural do cas e passou a dar maior importância aos fatores
ano anterior, e com 0,6% do valor da parte da sociais e políticos. Desse período, datam, entre
propriedade rural mantida sem cultivo, segundo outros, os livros Subdesenvolvimento e Estagnação
a última avaliação feita pelo Incra. O controle na América Latina (1966), Um Projeto para o Brasil
de arrecadação de tais tributos cabe ao Instituto (1968) e A Fantasia Organizada (1985). Tornou-se
de Administração Financeira e Assistência Social ministro da Cultura no governo de José Sarney,
(Iapas) que, posteriormente, os repassa ao Fun- entre 1985 e 1988. É, junto com Raul Prebisch,
rural. um dos mais expressivos representantes do pen-
samento estruturalista da Cepal no Brasil. Veja
FURLONG. Antiga medida de distância utili- também Cepal; Estruturalistas; Prebisch, Raul.
zada na Inglaterra e equivalente a 201,168 m ou
1/8 de milha terrestre. Sua origem provável en- FUSÃO. União de duas ou mais companhias,
contra-se nas medidas de áreas na agricultura. formando uma única grande empresa, geral-
O termo furlong deriva de furrow, denominação mente sob controle administrativo da maior ou
do sulco deixado pelo arado. mais próspera delas. Esse tipo de associação per-
mite reduções de custos, mas pode levar a prá-
FURNAS CENTRAIS ELÉTRICAS S.A. Empre- ticas restritivas ou monopolistas. Veja também
sa de economia mista, subsidiária da Eletrobrás Monopólio.
e ligada ao Ministério das Minas e Energia. Pro-
duz e transmite energia elétrica em toda a região FUSÃO HORIZONTAL. Fusão de duas empre-
Sudeste e parte da região Centro-Oeste. Sua sas que produzem o mesmo produto no mer-
atuação abrange os Estados do Rio de Janeiro, cado. Por exemplo, duas empresas que produ-
São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás zem cerveja. Geralmente, esse tipo de fusão
(até o paralelo 12) e Distrito Federal, área de acontece entre uma empresa grande (com alta
maior concentração do parque industrial brasi- participação no mercado) e outra de menor porte
leiro e onde é consumida cerca de 75% da pro- e menor participação no mercado.
dução nacional de energia elétrica. Criada em
FUSÃO VERTICAL. Fusão de duas empresas
28/02/1957, com o nome de Central Elétrica de
que produzem produtos que pertencem a dife-
Furnas S.A. e com sede em Passos, MG, tinha
rentes etapas do processo produtivo. Por exem-
por objetivo construir a curto prazo a primeira
plo, quando uma empresa que produz calçados
usina hidrelétrica de grande porte no Brasil (Fur-
se funde com uma empresa que produz couro,
nas, no rio Grande, inaugurada em 1963 e com
ocorre uma fusão vertical.
capacidade de 1 216 megawatts). Em 1971, a sede
foi transferida para o Rio de Janeiro. A empresa FUSO. Veja Typp.
contava, em 1982, com um complexo de sete usi-
nas hidrelétricas, três termelétricas e uma nu- FUSO HORÁRIO. Unidade de registro da hora
clear (Angra I), totalizando uma potência de 8 correspondente a 15 graus da circunferência da
107 megawatts. Terra e determinado em relação ao Prime Meri-
dien (Primeiro Meridiano — Greenwich, Lon-
FUROSHIKI (Overtime). Termo em japonês que dres, Inglaterra), podendo assumir um valor de
significa trabalho que o empregado leva para 12 positivos ou negativos, estando a oeste ou a
casa e que, na realidade, significa horas extras leste desse ponto de referência. Veja também
não computadas e pelas quais o trabalhador Greenwich; Linha Internacional da Data.
nada recebe.
FUTSU KABUSHIKI. Expressão em japonês
FURTADO, Celso Monteiro (1920- ). Econo- equivalente a ações ordinárias, isto é, ações que
mista brasileiro, primeiro superintendente e representam direitos de propriedade sobre uma
idealizador da Superintendência do Desenvol- empresa, dando ao seu possuidor a faculdade
vimento do Nordeste (Sudene), ministro do Pla- de receber dividendos, bonificações e de votar
nejamento no governo de João Goulart (1961- nas assembléias de acionistas.
1964). Foi também um dos diretores da Cepal
(1949) e do BNDE (1953). Após o golpe militar FUTURÓLOGO. Veja Cenarista.
de 1964, teve os direitos políticos suspensos e FUTURO(S). Veja Mercado a Futuro.
exilou-se, passando a lecionar na Sorbonne (Pa-
ris), nas universidades de Washington (Estados FWH. Iniciais da expressão em inglês flexible
Unidos) e de Cambridge (Inglaterra). Antes de working hours, que significa “jornada flexível de
1964, escreveu livros importantes, como Forma- trabalho”. Veja também Jornada Flexível de Tra-
ção Econômica do Brasil (1959) e a A Pré-revolução balho.
G 260

setores da sociedade (sindicatos, cooperativas


etc.) em blocos de pressão. Em The Affluent So-

G
ciety (A Sociedade Afluente), 1958, Galbraith de-
fende a tese de que os recursos absorvidos pela
produção dos bens de consumo supérfluos de-
veriam ser canalizados para investimentos pú-
blicos e de bem-estar social. Por sua posição li-
beral e pela crítica mordaz aos monopólios e
aos mitos da sociedade industrial, Galbraith tor-
nou-se conhecido do grande público, notabili-
G. Iniciais de: 1) geld (unidade monetária alemã; zando-se pela capacidade de expor claramente
literalmente, “dinheiro”); 2) gourde (unidade mo- complexos problemas econômicos. Escritor pro-
netária do Haiti); 3) groschen (unidade monetária lífico, em sua numerosa obra destacam-se ainda:
austríaca); 4) groszy (unidade monetária polone- A Theory of Price Control (Uma Teoria do Con-
sa); 5) guaraní (unidade monetária do Paraguai); trole de Preços), 1952; The Great Crash, 1929 (O
6) guilder ou gulden (unidade monetária holan- Colapso da Bolsa, 1929), 1955; The Economics Dis-
desa); 7) guirsh (unidade monetária da Arábia cipline (A Disciplina Econômica), 1967; The New
Saudita). Industrial State (O Novo Estado Industrial),
1967; Economics, Peace and Laughter (Economia,
G-7. Veja Grupo dos Sete. Paz e Humor), 1971; Economics and the Public
G-7 + 1. Veja Grupo dos Sete. Purpose (Economia e Senso Público), 1974; The
Age of Uncertainty (A Era da Incerteza), 1977;
G-10. Veja Grupo dos Dez. e mais recentemente (1996), A Sociedade Justa:
uma Perspectiva Humana. Veja também Poder
GA. Iniciais da expressão em inglês gold auctions, Compensador.
que significa “leilão de ouro”.
GALIANI, Ferdinando (1728-1787). Escritor e
GAB. Iniciais da expressão em inglês general economista italiano, um dos representantes do
agreements to borrow. Veja também General mercantilismo e alto funcionário do reino de Ná-
Agreements to Borrow. poles. Seu livro Della Moneta (Sobre a Moeda),
GALÃO. Medida antiga de capacidade para lí- 1750, tornou-se um clássico por sustentar que,
quidos utilizada até hoje nos Estados Unidos e além da utilidade, a raridade de uma coisa in-
tervém na determinação de seu valor. Na obra
na Inglaterra. O galão americano — Sistema
Diálogos sobre o Comércio de Trigo (1770), comba-
Consuetudinário — equivale a 3,785 l e o inglês
teu as teorias dos fisiocratas da época e defendeu
— Sistema Imperial —, a 4,546 l. Na Inglaterra,
o mercantilismo, sustentando a opinião de que
costumava-se também utilizar um galão duas
vezes e meia maior do que o imperial para medir a exportação de cereais não deveria ser livre.
vinho. O galão é também dividido em quartas Veja também Mercantilismo.
e pintas, mas sendo que o sistema decimal fa- GALON. Veja Galão.
cilita as contas, os americanos utilizam a divisão
do galão em décimos quando, por exemplo, en- GALTON, Francis. Veja Distribuição Normal;
chem o tanque de gasolina de seus carros. Veja Quincunx de Galton; Risco; Triângulo de Pascal.
também Sistema Consuetudinário Americano;
Sistema Imperial Inglês; Unidades de Pesos e GAMA. Termo (letra grega) que designa o in-
Medidas. dicador de riscos sobre opções. Sinaliza a varia-
ção do indicador Delta para uma variação so-
GALBRAITH, John Kenneth (1908- ). Econo- frida pelo valor do ativo, objeto sobre o qual
mista e escritor norte-americano, nascido no Ca- incide a opção. O indicador Delta mostra quanto
nadá, destacado crítico do poder das grandes o preço de uma opção varia, dada uma variação
empresas monopolistas e da tecnocracia. Gal- no preço do ativo, objeto sobre o qual incide a
braith desenvolveu seu trabalho teórico no sen- opção. Veja também Alfa; Beta; Delta.
tido de mostrar que a moderna economia capi-
talista, dominada por grandes organizações mo- GAMBLER’S RUIN PROBLEM. Veja Proble-
nopolistas, é um fato consumado, que deve ser ma da Ruína do Jogador.
enfrentada com uma nova atitude por parte da
sociedade e do Estado. Em Capitalismo, 1952, in- GANHOS DE CAPITAL. Todo lucro obtido em
troduz o conceito de poder compensador e ques- transações comerciais, em conseqüência da es-
tiona o espírito competitivo da sociedade indus- peculação com capital, e não da aplicação de
trial norte-americana, dominada por grandes trabalho. Incluem compra e venda de ações, alu-
empresas, sugerindo a organização de diferentes guéis, venda de veículo ou imóvel e juros de
261 GATILHO SALARIAL

investimentos financeiros, entre outras modali- GAP COMUM. Veja Gap.


dades. Diferenciam-se da renda, na qual o lucro
é obtido em atividade produtiva, depois de des- GAP DE CORTE. Veja Gap.
contados os custos de produção. Veja também
GAP DE FUGA. Veja Gap.
Renda.
GAP EXAUSTIVO. Veja Gap.
GANHOS NÃO OPERACIONAIS. Veja Ga-
nhos de Capital. GARANTIA. Compromisso adicional que se es-
GANILH, Charles (1785-1836). Nasceu na França tabelece numa transação, como forma de asse-
e tornou-se conhecido como economista pela gurar sua realização e/ou lisura. Geralmente,
elaboração de dois livros: Systemes d’Economie envolve a posse de um bem de valor, que é dado
Politique (Sistema de Economia Política), 1809, e em garantia. Uma forma muito comum é a hi-
poteca de um imóvel como garantia de pagamen-
Dictionnaire d’Economie Politique (Dicionário de
to de uma dívida. Outras são o penhor e a fiança.
Economia Política), 1826. Estes livros constituem
Na área comercial, a garantia é estabelecida em
os primeiros estudos sistemáticos de que se tem
documento para assegurar a qualidade do pro-
notícia sobre a história do pensamento econô-
duto. Assim, durante certo período de tempo e
mico e suas teorias. No entanto, sua contribuição
em determinadas condições, o fabricante obri-
nova é muito pequena, não indo muito além de
ga-se a repor ou restaurar o equipamento. No
uma introdução para leigos das principais teses
Sistema Financeiro da Habitação, por exemplo,
de Adam Smith. Ganilh, apesar disso, criticava
institui-se a garantia na construção do imóvel:
Smith em dois pontos: defendia o protecionismo o construtor obriga-se, durante cinco anos, a re-
em relação às indústrias francesas nascentes, de parar qualquer dano devido a problemas de
certa forma antecipando o Das Nationale System construção. Veja também Fiança; Penhor.
der Politischen Ökonomie (Sistema Nacional de
Economia Política), 1841, de Frederic List, e re- GARDENALLI, Geraldo (1946- ). Nasceu na ci-
jeitava o conceito de Smith de trabalho produ- dade de Tietê (SP) e formou-se em economia
tivo; para Ganilh, qualquer trabalho que fosse pela Faculdade de Economia São Luís, tornan-
trocado por dinheiro daria lugar a algum valor, do-se mestre em administração de empresas
e, portanto, seria produtivo. pela Escola de Administração de Empresas da
Fundação Getúlio Vargas (São Paulo). Seus tra-
GAP. Termo em inglês que significa lacuna, fos- balhos e pesquisas têm se dirigido para as ques-
so ou diferencial, e é aplicado em vários con- tões relacionadas com as finanças públicas e o
textos: por exemplo, technological gap significa a desenvolvimento econômico nacional. Seu tra-
diferença tecnológica que separa duas econo- balho mais importante é Reforma Econômica para
mias, uma mais avançada e outra mais atrasada. o Brasil, Anos 90, em co-autoria com Yoshiaki
O termo pode ser utilizado também no mercado Nakano. Foi presidente da Ordem dos Econo-
financeiro, quando, por exemplo, num gráfico mistas de São Paulo entre 1991-1992. Entre 1990
de barras e num movimento de alta, o preço e 1991, durante o governo Collor, foi secretário
máximo de um título num determinado pregão da Fazenda Nacional do Ministério da Econo-
é inferior ao preço mínimo do mesmo título no mia, Fazenda e Planejamento (gestão Zélia Car-
pregão seguinte. Os gaps podem ser de vários doso de Mello). Atualmente, é professor de eco-
tipos: gap comum, gap de corte, gap de fuga (ou de nomia do Departamento de Economia da Escola
medida) e gap exaustivo. Os primeiros ocorrem de Administração de Empresas da Fundação Ge-
em formações de reversão ou consolidação de túlio Vargas, em São Paulo.
tendências de mercado, sendo áreas de baixa ne-
gociação. Os segundos tendem a ocorrer logo GARY DINNERS. Expressão em inglês que sig-
após um rompimento de tendência. Os gaps de nifica “acordo de cavalheiros” e utilizada no sen-
fuga surgem durante um movimento de subida tido de celebração de acordos verbais (não es-
ou de descida, logo após a ultrapassagem de critos) sobre questões que violam a legislação
uma área de congestão. E os gaps exaustivos (especialmente a antitruste, nos Estados Uni-
ocorrem no final de uma rápida e íngreme alta dos), entre empresários, na formação de preços.
ou baixa, sinalizando que a tendência chegou
ao seu limite. Veja também Gráfico de Barras; GATILHO SALARIAL. Dispositivo criado pelo
Pregão. decreto-lei nº 2 283, que originou o Plano Cru-
zado. Conforme o decreto, os salários seriam
GAP ANALYSIS. Expressão em inglês usada reajustados automaticamente, isto é, o gatilho
em pesquisa de mercado e que significa uma dispararia sempre que a inflação atingisse 20%.
técnica estatística utilizada para identificar la- Desta forma, os salários seriam protegidos con-
cunas (gaps) no atendimento a um mercado ou tra uma elevação futura dos preços. No início
em sua cobertura. Veja também Gap. de 1987, o processo inflacionário retornou com
GATO 262

redobrada intensidade, superando mensalmente entre os membros, e durante os anos 50, as res-
aquela percentagem. O gatilho salarial passou trições sobre as importações foram largamente
então a disparar todo mês, tornando o disposi- reduzidas. Entre outros compromissos, os mem-
tivo anômalo para a política econômica gover- bros do Gatt devem fornecer detalhes a respeito
namental de combate à inflação, que tem na re- de quaisquer subsídios criados, e, se estes forem
dução dos salários reais um de seus pilares de passíveis de prejudicar os interesses de qualquer
sustentação. Com a substituição do ministro da outro membro, deve então ser discutida sua re-
Fazenda Dílson Funaro por Bresser Pereira, esse dução ou eliminação. Como a orientação para
dispositivo foi eliminado, sendo introduzida o livre-comércio favorece a situação privilegiada
uma nova política salarial. Veja também Funaro, dos países altamente industrializados em detri-
Dílson Domingos; Plano Cruzado; Plano Bres- mento dos países subdesenvolvidos, estes têm
ser; URP. pleiteado e, às vezes, obtido, nas reuniões pe-
riódicas do Gatt, algumas modificações do acor-
GATO. Denominação dada ao intermediário de do original que os favorecem. O princípio básico
força de trabalho que contrata trabalhadores no do Gatt tem sido também contrariado pelo pro-
meio rural. Os trabalhadores contratados pelo tecionismo de alguns países, sobretudo os in-
gato, para a realização de tarefas numa fazenda, dustrializados, e pelo surgimento de blocos eco-
não mantêm vínculos empregatícios com o pro- nômicos e mercados regionais institucionaliza-
prietário. O fazendeiro paga ao gato pelo serviço dos (como o Mercado Comum Europeu), cuja
prestado e este remunera os trabalhadores con- existência é levada em conta por ocasião das
tratados, ficando, evidentemente, com uma co- negociações tarifárias internacionais. Em 1990,
missão. O gato geralmente possui um caminhão o Gatt reunia 96 países. Em 1995, em Marrakesh
ou outro meio para o transporte dos trabalha- (Marrocos), esses países assinaram um acordo
dores de suas residências até a fazenda e vice- constituindo a Organização Mundial do Comér-
versa. cio (OMC), organismo de caráter permanente,
em substituição ao Gatt, que tinha um caráter
GATT — Acordo Geral de Tarifas e Comércio temporário. Veja também Comércio Internacio-
(General Agreement on Tariffs and Trade). nal; OMC; Protecionismo; Tarifas; Troca, Re-
Tratado multilateral de comércio internacional
lações de; Unctad.
firmado em Genebra em 1947, tendo por prin-
cípio básico o livre-comércio, o Gatt constituiu- GAUSS, Karl F. Veja Distribuição Normal;
se numa organização internacional com um se- Risco.
cretariado em Genebra, que entrou em operação
em 1948. O tratado é constituído por um código GB. Veja Gold Bond.
de tarifas e regras de comércio estabelecido em
comum acordo pelas 23 nações signatárias, in- GEIA — Grupo Executivo da Indústria Auto-
clusive os Estados Unidos, componentes de uma mobilística. Organismo criado pelo governo
comissão especial da ONU. O acordo foi origi- brasileiro em 1956. Planejou a implantação da
nariamente projetado pela comissão como um indústria automobilística no país, estudando in-
meio temporário de lidar com as questões de centivos governamentais e outras medidas que
tarifa e comércio ao longo de linhas multilate- favorecessem esse objetivo.
rais, até que a International Trade Organization GENERAL AGREEMENTS TO BORROW
(ITO — Organização Internacional do Comércio) (GAB). Acordos estabelecidos entre os países
fosse estabelecida, mas em 1950 o Senado dos componentes do Grupo dos Dez e o FMI, para
Estados Unidos rejeitou a carta da ITO, e o Gatt que esses países fizessem empréstimos em suas
tornou-se efetivo. O Gatt rege-se por três prin- moedas ao FMI, para financiar saques de países
cípios básicos: tratamento igual, não discrimi- membros do G-10. A Suíça também fez parte
natório, para todas as nações comerciantes; re- do acordo. O G-10 e a Suíça resolveram estender
dução de tarifas por meio de negociações; eli- o GAB para todos os países membros do FMI.
minação das cotas de importação. Nos termos
do Gatt, as negociações para redução de tarifas GENERAL AVERAGE. Expressão em inglês
seguiram desde o início o padrão estabelecido que significa “grande avaria”. É utilizada na ati-
pelos anteriores Tratados Recíprocos de Comér- vidade de seguros e significa uma perda resul-
cio ou acordos (bilaterais) entre pares de países, tante de um sacrifício voluntário (que teve êxito)
cuidando de produto por produto. As conces- ou despesas incorridas sob circunstâncias ex-
sões bilaterais assim alcançadas eram estendidas traordinárias, com o objetivo de impedir ou evi-
a todos os signatários pelo uso da cláusula de tar um perigo maior e iminente à segurança co-
nação mais favorecida e pela incorporação de mum. As perdas de “grande avaria” são distri-
todos os acordos individuais a um documento buídas entre todos os interesses que passaram
multilateral. Em seus primeiros anos, o Gatt pelo risco e que foram registrados na Ata de
priorizou a redução e a estabilização das tarifas Grande Avaria.
263 GETAT

GENRYO KEIEI. Expressão em japonês que de- direção das empresas. Para ele, a forma mais
signa o processo que acometeu, em meados da desenvolvida de sociedade de gerentes é aquela
década de 70, as empresas japonesas, as quais na qual os meios de produção estão sob o con-
foram submetidas a enormes pressões para re- trole e propriedade do Estado. A ex-União So-
duzir custos de todas as formas possíveis, e a viética foi o único país do mundo onde esse
administração das empresas deslocou sua aten- processo esteve totalmente concluído. Nos Es-
ção das questões relacionadas com o crescimen- tados Unidos, essa mudança estaria em marcha
to econômico para as questões decorrentes dos desde o New Deal.
custos explosivos da energia, alta inflação e
recessão. Foi durante esse período que o pro- GERMAN-PFANDBRIEF. Veja Pfandbrief.
cesso de introdução de robôs nas linhas de GESSELCHAFTLICHER GEBRAUCHSWERT.
montagem começou a se disseminar em muitas Expressão em alemão que significa “valor de uso
atividades industriais no Japão. Veja também social”, correspondente, na Alemanha, à elabo-
Robotização. ração filosófica, durante o século XIX, da teoria
GEN-SAKI. Expressão em japonês que designa da utilidade marginal. Veja também Teoria da
o mercado monetário de curto prazo no Japão, Utilidade Marginal; Teoria do Bem-estar;
utilizado como mercado secundário para recom- Wieser.
pra e revenda de títulos de médio e longo prazos GETAT — Grupo Executivo das Terras do Ara-
do governo e das corporações daquele país. O guaia-Tocantins. Criado em 1980 por decreto
mercado Gen-Saki se desenvolveu no Japão por- presidencial, subordinado à Secretaria Geral do
que não existe naquele país um mercado secun-
Conselho de Segurança Nacional, destina-se a
dário para transações com títulos emitidos pelo
“regularizar questões relacionadas com terras no
Banco do Japão.
sudeste do Pará, norte de Goiás e oeste do Ma-
GEORGE, Henry (1839-1897). Jornalista e eco- ranhão”. Na exposição de motivos apresentada
nomista norte-americano. Propôs o imposto úni- pelo ministro da Agricultura e pelo secretário-
co sobre a renda da terra em Progresso e Pobreza geral do Conselho de Segurança Nacional, his-
(1880), obra que revela grande influência de toria-se a situação fundiária e social da região:
Adam Smith, Ricardo e Stuart Mill. Argumen- “Desde o ano de 1945, quando se intentou a
tava que a renda da terra resulta do crescimento colonização do vale dos rios Araguaia-Tocan-
da economia do país e não do esforço do seu tins, através da Fundação Brasil Central, essa
proprietário; que o progresso econômico acaba região vem-se caracterizando por titulação fun-
fazendo da terra um fator cada vez mais escasso diária extremamente indefinida. As grandes ro-
dovias amazônicas têm-se constituído em con-
e que os proprietários de terras improdutivas
duto de fluxo migratório intenso e desordenado,
se beneficiariam à custa do capital e do trabalho;
carreando para essa área um grande número de
e, finalmente, que os governos deveriam apro-
famílias em busca de terras férteis e disponíveis
priar-se dessa renda por meio de um imposto
(...). A concentração humana assim formada ge-
único sobre o valor da terra improdutiva. A ar-
rou a luta pela posse e pelo uso da terra entre
recadação seria destinada a obras públicas. Suas
invasores, posseiros e presumidos proprietários.
idéias tiveram grande repercussão nos Estados A grande extensão da área, a fragilidade das
Unidos nas últimas décadas do século XIX, e estruturas dos órgãos públicos e os enormes in-
Henry George chegou a disputar as eleições para teresses envolvidos criaram um ambiente de in-
a prefeitura de Nova York como candidato do certeza, insegurança e violência. O problema
Partido do Imposto Único. fundiário está na origem de grande parte dos
GEREGELTER FREIEVERKEHR. Veja Amtli- conflitos, lutas e mortes que provocam instabi-
cher Markt. lidade social e comprometem o desenvolvimen-
to econômico e a própria segurança nacional”.
GERENCIALISMO. Doutrina econômica, social O Getat exerce as atribuições previstas no Esta-
e política segundo a qual tanto nos países capi- tuto da Terra para alienação de imóveis, discri-
talistas como nos países socialistas predomina minação das terras devolutas federais, reconhe-
a tendência para elevação dos gerentes à con- cimento de posses legítimas, incorporação ao pa-
dição de classe dominante. Para James Burnham, trimônio público de terras devolutas ilegalmente
seu principal teórico, autor do livro A Revolução ocupadas e celebração de convênios com os Es-
dos Gerentes, os tecnocratas, executivos e admi- tados e municípios quanto às terras devolutas
nistradores de empresa, nos países capitalistas, estaduais e municipais. Também coordena as
cada vez mais sobrepõem seus interesses tanto atividades dos diversos órgãos federais, esta-
aos trabalhadores quanto aos proprietários acio- duais e municipais existentes na área, que tem
nistas. Estes vão se transformando em meros a extensão aproximada de 200 mil km2 e foi con-
rentistas, sem nenhum poder ou influência na siderada pelo Instituto Nacional de Colonização
GEWINN UND VERLUST RECHNUNG 264

e Reforma Agrária (Incra) a mais conflagrada Giffen é mais conhecido por seu nome estar li-
do país em termos de propriedade de terras e gado a um efeito da teoria do consumidor, co-
a mais tensa socialmente. O Getat tem seis mem- nhecido como Paradoxo de Giffen. No entanto,
bros, todos eles nomeados diretamente pelo pre- Giffen parece jamais ter formulado tal paradoxo.
sidente da República. Quem deu origem a essa indevida atribuição foi
Marshall, quando ele mencionou o nome de Gif-
GEWINN UND VERLUST RECHNUNG. Ex- fen na 3ª edição dos Principles. O que veio a ser
pressão em alemão que significa “balanço de lu- denominado Paradoxo de Giffen consiste no au-
cros e perdas”. mento da demanda de um bem quando seu pre-
ço aumenta, em função da redução da renda
GIANNETTI DA FONSECA, Eduardo (1957- ).
real do consumidor. Este comportamento daria
Nasceu em Minas Gerais e graduou-se em eco-
à Curva da Demanda de certos produtos uma
nomia em 1978 e em ciências sociais em 1979,
inclinação positiva. Marshall assim resumiu o
na Universidade de São Paulo (USP). Obteve
paradoxo: “Como assinalou o senhor Giffen,
seu PhD na Universidade de Cambridge (Ingla-
uma elevação no preço do pão altera tanto os
terra), em 1988, com a tese “Beliefs in Action:
recursos das famílias dos trabalhadores pobres,
Economic Philosophy and Social Change”. Tor-
e eleva tanto a utilidade marginal do dinheiro
nou-se professor de história do pensamento eco- para eles, que são forçados a reduzir seu con-
nômico na Faculdade de Economia e Adminis- sumo de carne e de alimentos farináceos mais
tração (FEA) da USP, em 1988. Foi pesquisador caros; sendo o pão ainda o alimento mais barato
do Instituto Fernand Braudel de Economia Mun- que podem obter, eles consumiriam mais, e não
dial e, entre 1993 e 1994, foi colaborador do jor- menos do mesmo”.
nal Folha de S. Paulo. Entre suas obras mais im-
portantes destacam-se: Vícios Privados, Benefícios GIGABYTE. Também designado por gbyte ou
Públicos? A Ética na Riqueza das Nações (1993); GBY. Medida equivalente a 1 000 megabytes. Veja
As Partes e o Todo (1995); Auto-Engano (1997). É também Megabyte.
professor da Faculdade de Economia e Admi-
nistração da Universidade de São Paulo. GIGAFLOPS (GFlops). Bilhões de contas por
segundo que representam a unidade de medida
GIDE, Charles (1847-1932). Economista francês de tempo de operação de supercomputadores.
de tendência liberal, teórico do cooperativismo.
Escreveu um dos mais difundidos manuais de GILL. Denominação antiga utilizada nos países
economia, Principes d’Économie Politique (Princí- de língua inglesa como medida de volume de
pios de Economia Política), 1884, que estabele- líquidos ou sólidos; equivale a 1/4 de pint, ou
ceu uma atitude mais aberta no ensino da eco- a 4 onças. No passado, media um copo de vinho
nomia, ao adotar uma perspectiva econômico- e, hoje, é utilizada eventualmente para referência
social. Como teórico do movimento cooperati- de bebidas como o café. Veja também Onça;
vista na França, Gide reabilitou a tradição de Pint; Sistema Apothecary.
Fourier. Para ele, o desenvolvimento das coo-
GILT EDGED. Denominação dos títulos de lon-
perativas deveria absorver gradualmente todos
go prazo emitidos em libras esterlinas pelo Ban-
os ramos de atividade econômica, estendendo-se
co da Inglaterra e conhecidos no mercado como
dos bens de produção aos de consumo, a ponto gilts (dourados), pois seu risco de default é mí-
de estabelecer uma “república cooperativa”, nimo. Aplicada a títulos, ações, papéis em geral,
com características próprias e diferenciada do significa alta qualidade, grande mérito, elevada
socialismo e do capitalismo. Entre suas obras segurança ou o mais alto nível. Um título gilt
destacam-se ainda: Economie Sociale (Economia edged tem aceitação geral e, portanto, grande li-
Social), 1883; Cours d’Économie Politique (Curso quidez. Os títulos emitidos pelas corporações
de Economia Política), 1909; Histoire des Doctri- dos Estados Unidos e classificados como AAA
nes Économiques (História das Doutrinas Econô- também são considerados gilt edged. Veja tam-
micas), juntamente com Charles Rist, 1909; e Les bém AAA; Default; First-Class Paper.
Colonies Communistes et Cooperatives (As Colô-
nias Comunistas e Cooperativas), 1930. Gide foi GILT EDGED MARKET. Expressão em inglês
professor da Universidade de Paris de 1898 a que designa o mercado onde são negociados os
1920. Veja também Cooperativismo; Fourier, gilt edged securities, isto é, títulos do governo in-
Charles. glês.
GIFFEN, Robert (1837-1910). Nasceu na Ingla- GILT EDGED SECURITIES. Denominação dos
terra e iniciou sua carreira como jornalista em títulos de longo prazo (30 anos e mais) emitidos
Londres, em 1862. Mais tarde, tornou-se chefe pelo governo inglês com taxas de juros fixas e
do departamento de estatística na Câmara do pagas no vencimento. São títulos muito seguros,
Comércio e, em 1889, seu secretário-assistente. isto é, quase sem risco algum de default, como
265 GODWIN, William

acontece com aqueles emitidos pelo Tesouro partir da ascensão de Mikhail Gorbatchev à Se-
norte-americano. Veja também Gilt Edged. cretaria Geral do Partido Comunista Soviético.
Consistia basicamente na concessão de maior li-
GINI, Corrado (1884-1965). Nasceu na Itália e berdade de expressão e de manifestação a am-
formou-se na Universidade de Bolonha em ciên- plos setores da população em relação aos pro-
cia social e estatística. Lecionou economia, esta- blemas de ordem cultural, econômica ou polí-
tística, sociologia e demografia nas universida- tica. O significado de glasnost está intimamente
des de Cagliari, Pádua e Roma. É mais conhe- ligado à perestroika (reestruturação econômica),
cido dos economistas pelo coeficiente de con- no sentido de que aquela visava a fornecer o
centração da renda que leva seu nome, o Coefi- esteio político para o desenvolvimento desta.
ciente de Gini. Suas contribuições, no entanto, fo- Assim, a abertura democrática trazida pela glas-
ram além da elaboração desse índice. Apresen- nost procurava responder às contradições inter-
tou uma teoria dinâmica da sociedade na qual nas da burocracia soviética para a viabilização
os fatores demográficos, como taxas distintas de da reforma econômica. Veja também Perestroika.
natalidade entre as classes e a mobilidade social,
têm um papel determinante. Realizou estudos GLASS-STEAGALL ACT. Veja Ato Bancário
que contribuíram para a formulação de Wiener de 1933.
(cibernética) e as teorias do desequilíbrio eco-
nômico de Von Bertalanffy. Pesquisou também GLEITZEIT. Termo em alemão que significa jor-
as causas e conseqüências das migrações inter- nada flexível de trabalho.
nacionais, e apresentou novos enfoques para a
análise das migrações internas. Foi fundador e GLOBAL SOURCING. Veja Globalização.
primeiro presidente (1926-1932) do Instituto GLOBALIZAÇÃO. Termo que designa o fim
Centrale di Statistica (Instituto Central de Esta- das economias nacionais e a integração cada vez
tística). Veja também Coeficiente de Gini. maior dos mercados, dos meios de comunicação
GINZA. Denominação do maior distrito comer- e dos transportes. Um dos exemplos mais inte-
cial do Japão, situado no centro de Tóquio. Gin- ressantes do processo de globalização é o global
za significa “cunhagem da prata” de gin (prata) sourcing, isto é, o abastecimento de uma empresa
e za (cunhagem). por meio de fornecedores que se encontram em
várias partes do mundo, cada um produzindo
GIRO. Veja Giro, Capital de; Giro System. e oferecendo as melhores condições de preço e
qualidade naqueles produtos que têm maiores
GIRO, Capital de. Veja Capital de Giro. vantagens comparativas. Veja também Vanta-
gens Comparativas.
GIRO SYSTEM. Expressão originada na prática
do sistema bancário alemão e utilizada também GLUT THE MARKET. Expressão em inglês que
por outros países europeus, e que consiste na significa o ato de abarrotar ou saturar o mercado
manutenção de contas (giro) para facilitar a com determinada mercadoria ou conjunto de
transferência de fundos da conta de devedores mercadorias.
para a de credores, apenas mediante ordens di-
retas dos devedores para o banco. Dessa forma, GNOMOS DE ZURIQUE. Denominação dada
o pagamento em dinheiro ou em cheque emitido pelo ministro do Trabalho inglês, durante a crise
pelo devedor para o credor é eliminado, sim- da libra esterlina em 1964, aos especuladores do
plificando as operações. Na época do Reichs- mercado financeiro de Zurique. Também cha-
bank, não apenas os bancos, mas também o pú- mados de “anões de Zurique”.
blico em geral mantinham tais contas naquela
instituição, e o Reichsbank possuía cerca de qui- GODWIN, William (1756-1836). Pensador in-
nhentas filiais em todo o país, além de manter glês, de linha anarquista idealista. Pastor pro-
um sistema de compensação com o sistema Giro testante, aderiu ao ateísmo por influência dos
do Reichspost, correspondente ao serviço de cor- enciclopedistas franceses e desenvolveu uma fi-
reio. No moderno sistema bancário alemão, esta losofia social inspirada em Rousseau. Tornou-se
prática encontra-se generalizada e centralizada conhecido com a obra Enquiry Concerning the
por intermédio do Bundesbank. Principles of Political Justice (Investigação Sobre
os Princípios de Justiça Política), 1793, na qual
GL. Forma abreviada de Graus de Liberdade. ataca firmemente o governo (atribui-se a ele a
Em inglês, DF (degrees of freedom). Veja também frase “Todo governo, mesmo o melhor, é um
Graus de Liberdade. mal”), a família (sua mulher, Mary Wollstone-
craft, foi a primeira teórica do feminismo) e a
GLASNOST. Palavra russa que significa “trans- propriedade privada. Para Godwin, a única pro-
parência”. Foi usada para designar o conjunto priedade legítima é a que resulta de uma dis-
de medidas político-culturais empreendidas a tribuição das coisas segundo as necessidades de
GOING CONCERN VALUE 266

cada um. Apontava os governos como os prin- burgo, a Polônia e a Itália. Durante a Conferência
cipais responsáveis pela manutenção do estatuto Econômica Mundial de Londres, em julho de
da propriedade privada, do direito de herança 1933, estes países lutaram para que os 35 países
e de todas as conseqüentes desigualdades so- que haviam abandonado o sistema, depois da
ciais. Não defendeu a derrubada violenta dos crise econômica de 1929, se comprometessem a
governos, acreditando que eles pudessem ser voltar ao sistema como um pré-requisito à eli-
naturalmente dissolvidos pelo desenvolvimento minação de barreiras ao comércio exterior. Com
dos homens e da sociedade. Considerava que o a desvalorização do dólar, em janeiro de 1934,
homem é produto do meio e poderia atingir a estes países ficaram isolados na manutenção das
perfeição por intermédio da razão e da com- antigas paridades de suas moedas e sofreram
preensão mútua. A crítica desse otimismo de uma pesada fuga de ouro para os Estados Uni-
Godwin foi um dos pontos de partida para a dos. Esta evasão só cessou e teve o seu sinal
teoria econômica de Malthus. trocado durante a Segunda Guerra Mundial,
como resultado do lend-lease e outros gastos mi-
GOING CONCERN VALUE. Expressão em in- litares feitos pelos americanos na Europa.
glês que significa a diferença de valor entre uma
empresa já em funcionamento, ou uma proprie- GOLD BOND (GB). Denominação dos títulos
dade onde já se desenvolve uma atividade co- que são resgatáveis na forma de moedas de
mercial, e uma empresa ou uma propriedade ouro. Veja também Currency Bonds.
pronta e completa para ser operada, mas ainda
não em funcionamento. O termo é utilizado no GOLD BRICK. Expressão em inglês que signi-
mercado imobiliário para diferenciar o valor de fica literalmente “tijolo de ouro”, mas, utilizada
uma propriedade imobiliária, sobre a qual já se no mercado financeiro de títulos ou empreen-
desenvolve uma atividade comercial, de outro dimentos financeiros, tem um sentido pejorati-
que tem apenas o potencial para que tal acon- vo, denotando título sem valor, empreendimen-
teça. Veja também Highest and Best Use; Ope- to falido ou mesmo fraudulento, que possui, po-
rações Interligadas; Plottage. rém, a aparência de algo sólido e atrativo.

GOLDANHEILE. Termo em alemão que signi- GOLD BULLION STANDARD. Sistema mo-
fica empréstimo em ouro ou bônus de emprés- netário adotado em 1925 pela Inglaterra, que
timo em ouro, e que foram emitidos durante o consistia num padrão-ouro no qual não se co-
processo hiperinflacionário alemão do início dos locavam em circulação moedas de ouro, e as
anos 20 e antes da aparição dos Rentenmarks cédulas eram conversíveis em barras ou lingotes
(marcos-papel). Constitui mais uma tentativa de de ouro. Era, na realidade, uma variante do pa-
proporcionar à população uma moeda de valor drão-ouro na qual não há a conversibilidade do
estável. Foram emitidos 500 milhões de marcos- papel-moeda em moedas de ouro. A vantagem
ouro em Goldanheile, que serviriam como meio deste sistema é a existência de uma economia
de troca. O valor dessas emissões era mantido de ouro, por este não circular como dinheiro
estável em termos de dólares, embora o governo internamente, embora conservando a sua con-
não dispusesse de cobertura (reservas em ouro versibilidade ou movimento no âmbito interna-
ou moedas fortes) para sustentá-las. Os Golda- cional. Os Estados Unidos, entre 1934 e 1971,
nheile, embora não tivessem um lastro efetivo, mantiveram um gold bullion standard restrito, isto
serviram por sua vez para lastrear as emissões é, o dólar era conversível em âmbito internacio-
dos Rentenmarks, na medida em que estes po- nal, mas não internamente, embora cotizado em
deriam ser trocados ou equivaliam a uma soma ouro para efeitos contábeis até o fechamento da
fixa de Goldanheiles (marcos-ouro). gold window, em agosto de 1971 (quando o dólar
foi desvalorizado e deixou de ser conversível
GOLD AUCTIONS. Veja GA. em âmbito internacional numa taxa fixa). Veja
também Padrão Câmbio-ouro; Padrão-ouro.
GOLD BASIS. Expressão em inglês que desig-
na a situação na qual a moeda de um país é GOLD FIXING. Processo de fixação diária das
composta de uma certa quantidade (peso) de cotações do ouro no mercado internacional, o
ouro e a mesma é o padrão monetário, e sua que se faz simultaneamente em Londres, Paris
unidade, padrão de valor. e Zurique, às 10:30 da manhã e às 3:30 da tarde,
por especialistas dos bancos oficiais do mercado
GOLD BLOC. Expressão que significa literal- de ouro.
mente “bloco de ouro”, utilizada para designar
os países europeus que durante a onda de sus- GOLDEN AGE GROWTH. Expressão em in-
pensão do padrão-ouro, entre 1931 e 1932, se glês que significa literalmente “época dourada
mantiveram dentro daquele sistema. Faziam de crescimento”. Cunhada por Joan Robinson
parte deste bloco a França (assumindo a lide- (1903-1983), significa uma situação de cresci-
rança), a Suíça, a Holanda, a Bélgica, o Luxem- mento equilibrado na qual a taxa de crescimento
267 GOOD WILL

garantido (warranted) é igual à taxa natural de Unidos. Por esta razão, as flutuações cambiais
crescimento no pleno emprego. O termo foi uti- eram muito pequenas e demarcadas pelos custos
lizado por Joan Robinson para enfatizar a baixa de transferência de ouro monetário de um país
possibilidade de uma situação dessas acontecer para outro. O gráfico abaixo mostra estes limites
numa economia capitalista sem a intervenção de flutuação:
governamental.
GOLDEN SHARE. Expressão em inglês que
significa a parte do capital acionário de uma em-
presa que está sendo vendida (ou privatizada) Gold-point de saída
4,10
por parte de seu(s) proprietário(s), para venda
futura quando o conjunto das ações for valori- Paridade metálica
4,00
zado pelo fato de a empresa ter sido vendida
ou privatizada. Gold-point de entrada
3,90
GOLD-POINTS. Limites superior e inferior nas
taxas de câmbio entre dois países que partici-
pavam de um sistema de padrão-ouro. Quando GOLD-POINT DE ENTRADA. Veja Gold-points.
esses limites ou pontos eram atingidos, torna-
va-se mais rentável transferir o ouro do que GOLD-POINT DE SAÍDA. Veja Gold-points.
comprar divisas estrangeiras. A operação desse
mecanismo consistia no seguinte: no sistema do GOLD STANDARD. Veja Padrão-ouro.
padrão-ouro (1870-1914), havia uma grande es-
tabilidade nas taxas de câmbio, e tal estabilidade GOLD TRANCHE. Os primeiros 25% da con-
devia-se, pelo menos em parte, a um mecanismo tribuição de um país-membro ao Fundo Mone-
de compensação denominado gold-points. Se, por tário Internacional, normalmente em lingotes de
exemplo, a taxa de câmbio ou a paridade entre ouro.
duas moedas fortes atreladas ao padrão-ouro, GOLDEN RULE. Literalmente, a expressão sig-
como a libra esterlina e o dólar dos Estados Uni-
nifica “regra dourada” e se refere à forma oti-
dos, fosse 1 L = 4 US$, e, por alguma razão de
mizada de crescimento que proporciona o má-
mercado, a demanda pela moeda inglesa no
ximo de consumo sustentado às pessoas numa
mercado norte-americano aumentasse de inten-
economia. O termo foi criado por E.S. Phelps,
sidade, o preço da libra esterlina ultrapassaria que o usou em seu artigo “Fable for Growth-
a paridade fixada de 1 para 4. Nesse caso, para
men” (“Fábula para os Homens do Crescimen-
aqueles que necessitassem adquirir libras ester-
to”), publicado na American Economic Review, em
linas, seria mais interessante liquidar suas o-
1961, no qual eram apresentados os problemas
brigações no exterior, não na moeda inglesa, mas
econômicos de um imaginário Reino da Solóvia,
sim em ouro monetário (ou amoedado). A re- como uma paródia a Robert Solow, um dos prin-
messa de ouro monetário, no entanto, deman-
cipais representantes da teoria neoclássica do
daria um certo custo em frete, seguro etc. Se,
desenvolvimento econômico.
por exemplo, este custo fosse equivalente a 10
centavos de dólar, a cotação da libra esterlina GOOD DELIVERY. Condição que os títulos de-
nos Estados Unidos jamais poderia ultrapassar positados como garantia colateral, junto a um
4,10 dólares, pois se isto ocorresse, seria mais banco ou um corretor, devem possuir. A con-
vantajoso enviar o ouro monetário para saldar dição de good delivery dos títulos significa que
compromissos externos, pois, mesmo com o acrés- eles devem ser genuínos, reconhecidos por seu
cimo dos custos de envio, ainda seria um preço proprietário, isto é, não ter sua propriedade con-
por libra inferior ao praticado no mercado entre testada, de tal maneira que possam ser vendidos
as duas moedas. Esse valor era denominado a qualquer momento, se for necessário.
gold-point de saída, pois, acima dele, o ouro sairia
dos Estados Unidos. Ao contrário, se a cotação GOOD WILL. Expressão em inglês que signi-
da libra esterlina caísse no mercado norte-ame- fica literalmente “boa vontade”, mas que, apli-
ricano, isso não poderia dar-se abaixo dos 3,90 cada à atividade das empresas, denota a repu-
dólares, pois, para qualquer valor inferior, seria tação que estas e/ou seus produtos gozam junto
vantajoso para aqueles que dispusessem de li- aos consumidores. Uma empresa obtém essa
bras na Inglaterra — como os bancos norte-ame- condição por intermédio da qualidade de seus
ricanos, por exemplo — convertê-las em ouro e produtos, de propaganda e publicidade dos
enviar o ouro para os Estados Unidos. Esse pon- mesmos, mas também mediante atitudes e pro-
to era denominado, por essa razão, gold-point de cedimentos como o financiamento de campa-
entrada, pois, abaixo dele, o ouro, em vez de nhas humanitárias, a defesa do meio ambiente,
sair, fluiria para o mercado interno dos Estados o apoio a esportistas e artistas etc., que de uma
GORZ, André 268

forma direta ou indireta ajudam a criar uma ima- humana por meio do utilitarismo e do uso do
gem positiva junto aos consumidores (efetivos método matemático. Ignorada durante muitos
ou potenciais) de seus produtos. O good will con- anos, a obra foi redescoberta e citada em 1871
siste num ativo da empresa e, no caso de venda por Willian Jevons, um dos teóricos da utilidade
desta, ele é avaliado e entra como parte do valor, marginal, na introdução de Theory of Political
na categoria de bens intangíveis. Veja também Economy (Teoria da Economia Política). A partir
Intangíveis. do pressuposto de que toda conduta humana
tem por objetivo um máximo de satisfação, Gos-
GORZ, André (1924- ). Nasceu em Viena e ra- sen desenvolve algumas leis, das quais duas são
dicou-se na França após a Segunda Guerra Mun- conhecidas como Leis de Gossen. A primeira
dial. Seus escritos estão concentrados na análise apresenta o princípio da utilidade decrescente:
das contradições da sociedade capitalista e da “A quantidade de uma mesma satisfação dimi-
transição para o socialismo. Uma das premissas nui constantemente à medida que a realizamos
principais de Gorz é a de que o desenvolvimento sem interrupção, até obter a saciedade”. A se-
das forças produtivas do capitalismo se deu de gunda lei, decorrente da primeira e do postulado
modo a impedir uma apropriação coletiva por de que é impossível obter satisfação completa
parte do proletariado. A superação do capita- de todas as necessidades, expõe o princípio de
lismo, sua negação em nome de uma racionali- que se pode obter o máximo de prazer com um
dade diferente, só poderia resultar da ação de nível uniforme de satisfação de cada necessida-
camadas que representam ou prefiguram a dis- de. O restante da obra de Gossen é dedicado à
solução de todas as classes, inclusive da classe elaboração e às conseqüências econômicas des-
operária. Chega-se, por esse caminho, ao tema sas leis, como: “As unidades isoladas de um
central de Adeus ao Proletariado (1980): a abolição mesmo bem terão diferentes valores segundo a
do trabalho. Para Gorz, esse termo sintetizaria quantidade que dele se possua”; ou “Além de
um processo em curso, e em rápida aceleração, uma certa quantidade, uma unidade desse bem
nos países mais industrializados da Europa Oci- perderá inteiramente seu valor”. O autor tam-
dental. Neles, ocorreria a ampliação do espaço bém classifica os objetos que podem ter valor
da liberdade, do tempo livre, destinado a ativi- (que, para ele, é sempre relativo) em: bens de
dades autônomas, a partir da redução progres- consumo (os que são capazes de proporcionar
siva da necessidade de trabalhar para comprar imediatamente uma satisfação), bens de segunda
o direito à vida. Outras obras: La Morale de l’His- classe (de que se necessita conjuntamente para
toire (A Moral da História), 1960; Stratégie Ou- obter a satisfação) e bens de terceira classe (os bens
vière et Néo-capitalisme (Estratégia Operária e empregados na produção de outros bens). Veja
Neocapitalismo), 1966; The Socialisme Difficile (O também Utilidade Marginal.
Socialismo Difícil), 1967; Fondements pour une
Morale (Fundamentos para uma Moral), 1977. GOURDE. Unidade monetária do Haiti. Sub-
múltiplo: centime.
GOSPLAN — Comissão Estatal de Planeja-
mento. Órgão central de planificação econômica GOURNAY, Vincent de (1712-1759). Negocian-
da ex-União Soviética. Foi criado em 1921, para te francês ligado aos fisiocratas. É atribuída a
garantir a execução do plano de eletrificação ele a autoria da máxima “laissez-faire, laissez-pas-
apresentado por Lênin no ano anterior. Com a ser” (“deixar fazer, deixar passar”), no sentido
elaboração do I Plano Qüinqüenal, em 1928, a de não se restringir o livre-comércio, e que pas-
Gosplan tornou-se o mais importante órgão da sou a sintetizar o liberalismo econômico. Gour-
política econômica daquele país. O modelo de nay exerceu uma influência direta sobre Ques-
planejamento que desenvolveu se tornou o pa- nay e Turgot com seu proselitismo liberal. E, ao
drão da organização econômica socialista, sendo contrário de Quesnay, que dava primazia à agri-
seguido por todos os países do Leste europeu, cultura, destacou a importância básica da indús-
exceto a Iugoslávia, que adotou um planejamen- tria.
to descentralizado.Veja também Planificação;
Planos Qüinqüenais. GOUVEIA, Delmiro Augusto da Cruz (1863-
1917). Empresário brasileiro, pioneiro da indus-
GOSSEN, Herman Heinrich (1810-1858). Eco- trialização. Depois de fazer fortuna com o co-
nomista alemão que, apesar de não ter exercido mércio de couro, dedicou-se à atividade açuca-
nenhuma influência durante sua vida, antece- reira, com a Usina Beltrão, em Pernambuco.
deu com seus teoremas a teoria da utilidade Construiu em Recife o Mercado Modelo Derby
marginal. Sua principal obra é Entwicklung der (1899) — que contava com hotel, teatro e parque
Gesetze des menschlichen Verkehrs und der daraus de diversões —, onde o preço das mercadorias
Fliessenden regeln für menschliches handeln (Desen- estava abaixo da concorrência. Em conseqüência
volvimento das Leis do Intercâmbio Humano e de rixas com outros coronéis que dominavam
Regras Decorrentes para a Atuação do Homem), a política em Pernambuco, o mercado foi incen-
1854. Nela, procura analisar as leis da conduta diado pela polícia em 1900. Transferindo-se en-
269 GRÁFICO PONTO-FIGURA

tão para Pedra, lugarejo perdido no sertão ala- GRÁFICO DE BARRAS. É a representação grá-
goano, às margens do São Francisco, Delmiro fica que consiste em construir retângulos, cha-
Gouveia voltou ao comércio de couro e à agro- mados barras, em que uma das dimensões é pro-
pecuária, divulgando na região o uso da palma porcional à magnitude a ser representada, sendo
como forragem para o gado. Ao mesmo tempo, a outra arbitrária, porém igual para todas as bar-
tentou inutilmente influenciar o governo do Es- ras que são colocadas paralelamente umas às
tado de Alagoas para o aproveitamento hidre- outras, horizontal ou verticalmente. No âmbito
létrico do São Francisco. Decidiu levar adiante do mercado financeiro, o gráfico de barras é en-
o empreendimento por conta própria: importou tendido como aquele que registra, por meio de
técnicos e equipamentos da Europa e inaugurou, uma barra, as cotações máxima e mínima que
em 1913, a primeira usina hidrelétrica de Paulo um determinado título alcançou (ou o mercado
Afonso. Em Pedra, Gouveia tornou-se um pio- como um todo) em cada pregão. No mercado de
neiro da industrialização do Nordeste com a ins- títulos e ações, as projeções baseadas num gráfico
talação da fábrica de fios e linhas Estrela (pri- de barras levam em conta não apenas os preços,
meira, no gênero, da América Latina). Além de mas também as quantidades negociadas.
abastecer o mercado regional, a empresa expor-
tava para o Chile e o Peru. Ao lado da fábrica, Cotação
o industrial construiu centenas de casas para os Abertura
18.000 máxima
operários, escolas e chafarizes, e instalou luz elé- fechamento

trica. Desenvolveu um plano de previdência so- 17.500 mínima


cial implantando serviço médico, caixa de pre- 17.400

vidência, descanso dominical e uma jornada diá- 17.000


16.600
ria de apenas oito horas. O sucesso da empresa 16.350
chamou a atenção da firma inglesa Machine Cot- 16.000
ton, que tentou por todos os meios comprar a
fábrica. Por motivos políticos e questões de ter-
ras, Delmiro Gouveia entrou em conflito com 15.000
vários coronéis da região, o que ocasionou seu
misterioso assassinato a bala. Seus herdeiros, DIAS DE PREGÃO
não podendo resistir às pressões da Machine
Cotton, venderam a fábrica à empresa estran- Por exemplo, no 1º dia de pregão, o índice da Bolsa de
geira (produtora das linhas Corrente), que a Valores abriu em 17.400, teve uma máxima em 17.500
mandou demolir e lançar os escombros no rio pontos, uma mínima em 16.350 e fechou em 16.600 pontos.
São Francisco.
Veja também Gráfico Ponto-figura.
GRADIENTE DE FERTILIDADE. No caso da
experimentação agrícola, é a linha que repre- GRÁFICO DE CURVAS DE NÍVEL. Veja Cur-
senta essa fertilidade como função das sucessi- va de Nível.
vas áreas onde tais experimentos se desenvolvem.
GRÁFICO DE FREQÜÊNCIA ACUMULADA.
GRÁFICO CUMULATIVO. Todo gráfico que, Veja Ogiva.
para o valor xj da variável, registra o correspon-
dente valor Ef(xi) da soma dos valores da função GRÁFICO DE VOLUMES. Representação grá-
f(xi), menores ou que precedem xj, inclusive o deste. fica que consiste em constituir figuras planas
que são a perspectiva de sólidos cujos volumes
GRÁFICO DE ÁREAS. Construção de figuras, são proporcionais às magnitudes a serem re-
geralmente em círculo, divididas em áreas pro- presentadas.
porcionais às magnitudes a serem representadas.
GRÁFICO MÁXIMO E MÍNIMO. Em cada
35% ponto xi da abcissa, marcam-se duas ordenadas
fM(xi-1) e fm(xi-1), valores no ponto anterior de
uma função f(x) do tempo, tais como preços,
9% quantidades etc. Traça-se uma poligonal dos
máximos e outra dos mínimos, ou reúnem-se
aqueles dois pontos da ordenada por um bas-
tonete.
3%
GRÁFICO PONTO-FIGURA. Gráfico utilizado
para projeções no mercado de títulos e ações e
25% que leva em consideração apenas os preços des-
ses papéis como variável relevante. Veja tam-
28% bém Gráfico de Barras; Grafismo.
GRAFISMO 270

GRAFISMO. Análise e projeção das cotações dicionados a que as famílias mantenham seus
das ações e títulos do mercado financeiro, em filhos na escola. Geralmente, esses recursos são
geral a partir da elaboração de gráficos de pre- utilizados para a compra de ferramentas ou ani-
gões anteriores. Veja também Dow Theory; mais para o auxílio da produção doméstica. O
Gap; Gráfico de Barras; Gráfico Ponto-figura; índice de inadimplência é muito baixo em com-
Teoria das Vagas. paração com bancos que operam em maior es-
cala de valores, oscilando entre 2,0 e 2,5%. Já
GRAFISTA. Operador ou analista do mercado existem bancos deste tipo (Bancos do Povo) na
acionário que baseia suas aplicações nas infor- Bolívia, Peru, Equador, Costa do Marfim, Hon-
mações e projeções proporcionadas pelos gráfi- duras e Guatemala. No Brasil, Porto Alegre criou
cos elaborados a partir do que ocorreu no pas- um Banco do Povo em 1995, que concede pe-
sado. Veja também Dow Theory; Grafismo; quenos empréstimos para micro e pequenos em-
Teoria das Vagas. presários. No final de 1996, o BNDES criou uma
GRAFO. Conjunto de elementos unidos por fle- linha de crédito para que Estados e municípios
chas representando relações entre elementos de estabeleçam organizações que emprestem para
uma atividade. Em todos os grafos existem arcos capital de giro, criador de renda.
ou flechas e vértices. A teoria dos grafos é uma GRANDE DEPRESSÃO. Período da maior cri-
derivação da teoria dos conjuntos e faz parte se econômica mundial, entre os anos de 1929 e
do que vem sendo denominado matemática mo- 1933. Atingiu, em primeiro lugar e mais pro-
derna. Existem muitos tipos ou famílias de gra- fundamente, a economia norte-americana, espa-
fos. Um organograma, por exemplo, onde se es- lhando-se em seguida para a Europa e os países
tabeleçam relações de autoridade e responsabi- da África, Ásia e América Latina. A crise ini-
lidade entre os distintos setores de uma empre- ciou-se no âmbito do sistema financeiro na cha-
sa, é um grafo. No entanto, o tamanho de um mada Quinta-Feira Negra (24/10/1929), que a
arco ou flecha de um grafo não é proporcional história registra como sendo o primeiro dia de
à dimensão real do fenômeno que representam. pânico na Bolsa de Nova York. Era um momento
GRAFO-PERT. Tipo de grafo que mostra a in- de intensa especulação na Bolsa, e a economia
terdependência ou ordem temporal que existe norte-americana estava em plena prosperidade.
entre as distintas atividades ou tarefas elemen- De repente, 70 milhões de títulos foram jogados
tares que integram um projeto complexo. Os ar- no mercado sem encontrar uma contrapartida
cos ou flechas representam as distintas tarefas da demanda. A desconfiança com os aconteci-
ou atividades elementares, enquanto os vértices mentos da Bolsa espalhou-se para outros ramos
ou nós, também chamados sucessos, aconteci- da atividade econômica, atingindo a produção.
mentos ou eventos, representam a terminação A queda da renda nacional levou a uma retração
de metas parciais do projeto. Em todo Grafo-pert na demanda, ao aumento dos estoques e à ver-
existe um vértice (nó) do qual partem atividades, tiginosa queda dos preços. Muitas atividades
mas que nenhuma nele termina; este vértice re- econômicas foram se paralisando, e, como uma
presenta o início do projeto. Assim como existe bola de neve, sucederam-se as falências e mi-
um vértice no qual as atividades terminam, mas lhões de trabalhadores ficaram desempregados.
sem nenhuma ter início nele, este vértice repre- Nos Estados Unidos, entre 1929 e 1933, havia
senta o término de um projeto. A construção do cerca de 15 milhões de desempregados, 5 mil
Grafo-pert constitui a primeira fase de uma aná- bancos paralisaram suas atividades, 85 mil em-
lise Pert (caminho crítico). Se, por exemplo, um presas faliram, as produções industrial e agrí-
projeto está constituído das atividades W, V, X, cola reduziram-se à metade. Quando a crise atin-
Y, Z, K, a inter-relação ou ordem temporal entre giu proporções internacionais, o comércio mun-
estas atividades é a seguinte: a atividade W pre- dial ficou reduzido a um terço, e o número de
cede a atividade X; as atividades W e V prece- desempregados chegou a cerca de 30 milhões.
dem a atividade Y; a atividade X precede a ati- Na Europa, os primeiros países atingidos foram
vidade Z e a atividade Y precede as atividades a Inglaterra, a Alemanha e a Áustria. Na França,
Z e K. faliram a Citroën, o Banco Nacional do Comércio
e a Companhia Geral de Transportes. No Brasil,
GRAMEEN BANK. Banco fundado em Bangla- o principal efeito da crise manifestou-se na que-
desh, em 1983, pelo economista Muhammad Yu- da vertical dos preços do café, levando o gover-
nus, destinado a emprestar recursos para pes- no federal a comprar grande parte das safras e
soas de baixa renda. Depois de quinze anos de a destruir 80 milhões de sacas do produto, para
funcionamento, o Grameen Bank conta com diminuir os estoques e sustentar o preço. Essa
mais de 2 milhões de clientes (mais de 90% mu- destruição de bens — algodão nos Estados Uni-
lheres). Os empréstimos são feitos em pequena dos, trigo no Canadá — ocorreu em outras eco-
escala — de 20 a 30 dólares em média — e con- nomias capitalistas. A elevação das tarifas al-
271 GREENBACKS

fandegárias por muitos países reduziu o nível dial média anual, durante a década de 90, deste
do comércio internacional, agravando a crise. O cereal situa-se em torno de 600 milhões de to-
padrão-ouro foi sendo abandonado: em 1935, neladas. Em qualquer sistema, o peso do grão
apenas Bélgica, França, Holanda, Polônia e Suíça é o mesmo, variando apenas a quantidade de
o mantinham. A depressão trouxe também con- grãos necessária para compor cada medida. É a
seqüências na estrutura da sociedade, particu- menor unidade de peso do Sistema Imperial In-
larmente nas relações do Estado com o processo glês e do Sistema Consuetudinário Americano.
produtivo. Em todas as grandes economias ca- No Brasil, antes da adoção do Sistema Métrico
pitalistas, coube ao Estado instituir mecanismos Decimal, era utilizado pela Casa da Moeda do
para controlar a crise e reativar a produção. Brasil e equivalia a 49,6 mg. Veja também Libra;
Ocorria assim o abandono dos princípios do li- Onça; Pennyweight; Unidades de Pesos e Me-
beralismo econômico, que entregava aos pró- didas; Sistemas de Pesos e Medidas.
prios mecanismos de mercado a função de sa-
neamento dos desequilíbrios que porventura GRÃO DE QUILATE. Veja Quilate.
surgissem nas atividades econômicas. Esse tipo GRAU DE ASSIMETRIA. É a intensidade re-
de procedimento esteve presente por muito tem- lativa com que uma curva de freqüência se afasta
po na administração do presidente norte-ame- do tipo simétrico, expressa por uma fórmula que
ricano Hoover, na época à frente do governo o representa em grandeza e sinal.
dos Estados Unidos. Somente em 1933, quando
o democrata Franklin Delano Roosevelt assumiu GRAU DE SOLVÊNCIA. Veja Solvência.
o governo, é que se aplicou de forma contun-
dente a intervenção do Estado na economia, para GRAUS DE LIBERDADE. O número de dados
a superação da crise, por meio da aplicação do que podem variar independentemente entre si.
New Deal. A crise não chegou a afetar a União Uma amostra de n observações terá n graus de
Soviética, que pouco antes acabara de entrar na liberdade. Mas o cálculo da média da amostra
fase da planificação econômica centralizada, significaria a perda de um grau de liberdade,
pois ela se encontrava relativamente isolada do pois mudanças independentes nas n-1 observa-
resto do mundo, no campo econômico. A falên- ções da amostra implicariam necessariamente
cia da política econômica liberal aplicada até en- uma mudança compensadora na enésima obser-
tão fortaleceu as concepções estatizantes e in- vação, para manter inalterado o valor da média
tervencionistas na economia. Veja também Ciclo da amostra. Da mesma forma o cálculo de K
Econômico; Crise Econômica; New Deal; Re- estimativas paramétricas, num problema econo-
cessão; Sexta-feira Negra. métrico, significa a perda de K graus de liber-
dade, ou gl = n-k. Geralmente, os graus de li-
GRANDE GROSA. Veja Dúzia.
berdade entram como parâmetros de distribui-
GRANEL. Forma em que são vendidas ou trans- ção de probabilidade, como nos casos das dis-
portadas determinadas mercadorias, isto é, sem tribuições de Student(t) e de Chi-Quadrado(X2),
uma embalagem acondicionando-as em reci- e podem afetar fundamentalmente sua forma.
pientes (sacos, barris, caixas etc.). É muito co-
mum entre os grãos (milho, soja, arroz) ou al- GREENBACKS. Durante a Guerra Civil nos Es-
guns líquidos, como os derivados do petróleo. tados Unidos (1861-1865), o crédito do governo
federal estava tão baixo que os bancos eram re-
GRANTOR. Veja Trust. lutantes em emprestar dinheiro para que aquele
financiasse suas atividades bélicas. O Congresso
GRÃO. Denominação da menor unidade dos
votou então uma lei permitindo a emissão de
sistemas avoirdupois e troy e forma básica de to-
moeda fiduciária para financiar a guerra, e o
das as pesagens. Foi provavelmente o primeiro
de todos os padrões e deve ter sido criado a Tesouro emitiu cerca de 450 milhões de dólares
partir do comércio do trigo, pois se constituía, não lastreados em ouro. Essas emissões tinham
desde o início, de um grão tirado do meio de curso forçado, com exceção do pagamento dos
uma espiga de trigo. Cada grão corresponde a juros da dívida interna pública e das taxas de
64,798 mg, sendo necessários, portanto, 7 mil importação. As notas dessa emissão receberam
grãos para compor uma libra de 453 g. No fa- o nome de greenbacks porque foram impressas
moso livro de Malba Tahan, é reproduzida a num papel de cor verde. Em pouco tempo essas
lenda do homem que inventou o jogo de xadrez notas perderam parte de seu valor (ainda du-
e, como recompensa, solicita ao rei o pagamento rante a guerra). Depois do término da guerra,
em grãos de trigo na proporção de 2 elevado a os banqueiros e os empresários forçaram (e ti-
64; o resultado final equivale a mais de 110 tri- veram êxito) o governo a trocá-las pelo seu valor
lhões de toneladas de trigo, produção inalcan- original em ouro. Veja também Conversibilida-
çável quando se considera que a produção mun- de; Curso Forçado; Lastro; Moeda Fiduciária.
GREEN CARD 272

GREEN CARD. Documento que torna legal o 1871). No Brasil, a greve tem sido proibida e
trabalho de imigrantes nos Estados Unidos. É reprimida por quase todos os governos republi-
muito cobiçado, uma vez que permite a perma- canos. Considerada recurso anti-social na Cons-
nência em território norte-americano de imi- tituição de 1937, foi reconhecida como direito
grantes com mão-de-obra sem qualificação. Em dos trabalhadores na Carta de 1946, mas voltou
geral, o trabalhador nessas atividades (relacio- a sofrer restrições em 1964 pela lei nº 4 330. Rea-
nadas com a faxina e a cozinha) é denominado gindo à sucessão de greves ocorridas no país
dishwasher (lavador de pratos) e pizzaman (faze- em 1978, o governo assinou o decreto-lei nº 1 632,
dor de pizzas). tornando passível de enquadramento na Lei de
GREENFIELDS. Designação das áreas de fron- Segurança Nacional os grevistas de vários seto-
teira econômica onde são instaladas plantas in- res básicos (água e esgotos, energia elétrica, pe-
dustriais para gozar de vantagens de tipo eco- tróleo, gás, bancos, transportes, comunicações,
nômico (mercado de trabalho com força de tra- carga e descarga, saúde) e de certos ramos da
balho barata e abundante), ou políticas (sindi- indústria. Para o sindicato promotor de uma gre-
catos de trabalhadores pouco atuantes), ou tri- ve considerada ilegal, a lei permitia a cassação
butárias (isenção de impostos). da diretoria sindical e seu enquadramento em
processo criminal. A Constituição de 1988 asse-
GREENWICH. Localidade próxima de Londres gura o direito de greve, reconhecendo aos tra-
onde passa o primeiro meridiano (prime meri- balhadores a competência para decidir sobre a
dien) em relação ao qual se fixa o horário mun-
oportunidade de exercê-lo e os interesses que
dial. Esse primeiro meridiano tem o valor zero,
por meio dele deverão ser definidos. A nova
e os demais 24 são fixados de quinze em quinze
Constituição estabelece ainda que uma lei com-
graus (na linha do equador), doze positivos no
sentido leste e doze negativos no sentido oeste, plementar definirá os serviços ou atividades es-
equivalendo cada quinze graus a um fuso ho- senciais, dispondo sobre o atendimento das ne-
rário.Veja também Linha Horária Internacional. cessidades inadiáveis da comunidade, e as penas
às quais estarão submetidos aqueles que come-
GRESHAM, Lei de. Veja Lei de Gresham. tem abusos no exercício desse direito.
GRESHAM, Thomas (1519-1579). Financista in- GRIDLOCK. Situação na qual, numa rede de
glês. Como conselheiro da rainha Elizabeth I transferência de valores via cabo, a incapacidade
(1533-1603), promoveu a restauração do valor de um banco de saldar suas obrigações em re-
da libra, que tinha sido desvalorizada por Hen- lação a outros bancos pode causar situações se-
rique VIII (1491-1547), e criou a Bolsa de Valores melhantes nestes últimos, provocando um efeito
de Londres. Atribui-se a ele a formulação da dominó e causando sérios transtornos no mer-
Lei de Gresham. Veja também Lei de Gresham. cado financeiro internacional. O risco de uma
GREVE. Interrupção coletiva do trabalho para situação semelhante ocorrer denomina-se “risco
atendimento de reivindicações. Geralmente, a sistêmico”. Veja também Risco Sistêmico.
greve é deflagrada por causa de problemas sa- GRILAGEM. Apropriação ilícita de terras, por
lariais, para a obtenção de melhorias nas con- meio da expulsão de seus proprietários, possei-
dições de trabalho ou para o reconhecimento da ros ou índios, e legalização do domínio median-
atividade sindical. Uma greve pode ser parcial te documentos falsos. O sujeito do ato de grila-
(numa empresa ou em várias empresas de um gem é o grileiro. Veja também Posse.
setor) ou geral (atingindo a maioria das ativida-
des de uma região). Em geral, os trabalhadores GROS (Grossus). Moeda de prata emitida em
deixam temporariamente de ir ao serviço e or- Veneza a partir do final do século XII e que
ganizam-se em piquetes, mas há greves em que equivalia a 1 soldo carolíngio, mas convertido
eles permanecem no local de trabalho, como a em moeda real (unidade monetária) em vez de
greve tartaruga (que consiste na lentidão delibe- ser apenas unidade de conta. Esta moeda foi
rada na execução das tarefas) e a greve de braços cunhada também na França, com o nome de gros
cruzados (paralisação total no interior da empre- tournois ou gros de São Luís, e se converteu numa
sa). A resolução das greves depende em grande moeda internacional graças, em grande parte,
parte do grau de militância dos trabalhadores, ao auge e prosperidade das feiras da Champag-
das condições financeiras dos sindicatos e da ne. Veja também Florim; Libra.
capacidade de negociação deles e dos empresá-
rios, assim como dos instrumentos legais que GROS TOURNOIS. Veja Gros.
regulem a questão. O direito de greve é asse- GROSA. Veja Dúzia.
gurado nos países capitalistas mais avançados
desde fins do século XIX (na Inglaterra, desde GROSCHEN. Veja Xelim.
273 GRUPO DOS 77

GROSSMANN, Henryk (1881-1950). Economis- ses da região andina. Os signatários do acordo,


ta austríaco de linha marxista que desenvolveu conhecido como Pacto Andino, foram Bolívia,
uma teoria do colapso do sistema capitalista a Colômbia, Equador, Peru e Chile. Em 1973, a
partir da escassez da mais-valia e da expansão Venezuela associou-se ao grupo e, em 1977, o
do capital, provocando controvérsias entre os Chile abandonou-o. Firmado em bases mais res-
teóricos marxistas na década de 30. Sua teoria tritas e homogêneas que as da Alalc, à qual esses
é elaborada no livro Das akkumulations und Zu- países já pertenciam, o Pacto Andino conseguiu
sammenbruchsgesetz des kapitalistischen System (A multiplicar por dez o comércio entre os signa-
Lei da Acumulação e do Colapso do Sistema tários de 1969 a 1979. Um dos itens mais conhe-
Capitalista), 1929. Baseia-se num esquema abs- cidos do acordo é a decisão nº 24, de 31/12/1970,
trato de reprodução desenvolvido por Otto a respeito do capital estrangeiro: os investidores
Bauer, em que a taxa de crescimento da força estrangeiros deveriam transferir 51% de suas
de trabalho é estabelecida em 5%, a taxa de mais- ações para os investidores locais; e as empresas
valia em 100% e a do capital constante em 10% não poderiam remeter para o exterior mais do
ao ano, duas vezes maior que a do capital va- que 14% de seus lucros, exceto quando houvesse
riável. Grossmann extrapola esse esquema abs- autorização do pacto. Em 1976, o Chile tentou
trato para um período de 35 anos, no fim dos revogar essa decisão e, não obtendo nenhum re-
quais, segundo ele, haveria uma escassez de sultado positivo, retirou-se da organização em
mais-valia para a acumulação do capital, com janeiro de 1977. Em 1975, pelo Acordo de Car-
o conseqüente desmoronamento do sistema. Vá- tagena, os países do pacto criaram um plano de
rias críticas foram feitas à teoria do colapso de desenvolvimento integrado da indústria petro-
Grossmann. A principal delas é que seu esque- química. A sede do Pacto Andino funciona em
ma, aplicado mecanicamente, torna a taxa de Lima, no Peru.
acumulação de capital dependente da taxa do
crescimento da população (que é estabelecida GRUPO DOS DEZ. Veja Clube de Paris.
numa cifra muito alta) e na suposta necessidade GRUPO DOS SETE. Grupo internacional for-
de que o capital constante aumente duas vezes mado pelos dirigentes das sete mais importantes
mais que o capital variável. E que, além disso, potências econômicas e que se reúnem anual-
a teoria ignora a relação entre a produção e o mente para coordenar a política econômica, mo-
consumo (o problema da realização) e o signi- netária e financeira mundial. Também conheci-
ficado da taxa decrescente de lucro. Grossmann do como G-7, compreende a Alemanha, Japão,
escreveu também sobre a teoria dos ciclos eco- Itália, França, Grã-Bretanha, Canadá e Estados
nômicos e foi professor nas universidades de Unidos. Devido à importância política e militar
Frankfurt e Leipzig. Publicou ainda Simonde de da Rússia, esta vem sendo convidada a partici-
Sismondi et Ses Théories Économiques (Simonde de par das reuniões, dando lugar à denominação
Sismondi e Suas Teorias Econômicas), 1924, e o de G-7+1, que passou a denominar-se Grupo
artigo “The Evolucionist Revolt against Classical dos Oito. Quando o Grupo dos Sete se reúne
Economics” ("A Revolta Evolucionista contra a sem a presença da Itália e do Canadá, o grupo
Economia Clássica"), 1943. passa a denominar-se Grupo dos Cinco ou G-5.
GROSSOS. Moeda cunhada entre l450 e 1481 em GRUPO DOS OITO. Veja Grupo dos Sete.
Portugal, durante o reinado de D. Affonso V.
GRUPO DOS 77. Grupo de países subdesen-
GROSZ. Veja Zloty. volvidos da Ásia, África e América Latina, que
GRUNDRISSE. Palavra alemã que significa se reuniram pela primeira vez na Conferência
“fundamento”. Utilizada para designar a obra da Unctad (Conferência das Nações Unidas para
de Marx Grundrisse der Kritik der politischen Öko- o Comércio e Desenvolvimento), realizada em
nomie (Fundamentos para a Crítica da Economia Genebra em 1964. Atualmente, o grupo engloba
Política), escrita entre 1857 e 1858, editada pelo mais de cem nações do Terceiro Mundo, que se
Instituto Marx-Engels-Lênin de Moscou em reúnem periodicamente para discutir os meca-
1939-1941. Na realidade, os Grundrisse foram ela- nismos e as relações do comércio internacional
borados, no dizer do próprio Marx, como “um e exigir dos países industrializados pagamentos
conjunto de manuscritos redigidos com grandes mais justos para seus produtos. As posições as-
intervalos, em diferentes períodos, para o escla- sumidas por esses países são geralmente discu-
recimento de minhas próprias idéias e não para tidas em conferências que antecedem as reu-
publicação”. niões da Unctad, no interior da qual formam
um grupo de pressão. O Grupo dos 77 não tem
GRUPO ANDINO. Organização econômica la- secretariado, mas na 62ª Conferência realizada
tino-americana criada em maio de 1969 com o na Argentina, em abril de 1983, este país propôs
objetivo de melhorar a cooperação entre os paí- que fosse criado um secretariado permanente e
GRUPO MISTO DE ESTUDOS BNDE-CEPAL 274

que todas as medidas aprovadas em conjunto ões, eles se programam para que nenhum deles
fossem adotadas, obrigatoriamente, por todos os tome decisões que possam afetar as demais em-
países participantes. A proposta foi rejeitada por presas, além de manter posse cruzada de ações
vários países, inclusive o Brasil. Nessa reunião para impedir as aquisições agressivas de alguma
estiveram presentes delegados de 106 nações do empresa do grupo por investidores de fora. O
Terceiro Mundo. Mitsubishi Bank atua como a principal entidade
financeira das empresas do grupo, proporcio-
GRUPO MISTO DE ESTUDOS BNDE-CE- nando-lhes a maior parte do financiamento ne-
PAL. Criado em 1953 para estudar a aplicação cessário. Veja também Keiretsu; Zaibatsu.
à economia brasileira dos métodos de planeja-
mento e propostas elaboradas pela Cepal. For- GTC. Iniciais da expressão em inglês good’till
mado por técnicos do BNDE e da Cepal, sob a canceled, que significa uma ordem de um cliente
presidência de Celso Furtado, o grupo realizou a um corretor, que deve permanecer válida até
análises da situação financeira, dos gargalos do ser executada ou cancelada. Veja também GTM;
desenvolvimento, para direcionar os investi- GTW.
mentos no sentido de superá-los. Os resultados
desse relatório serviram de base para a elabo- GTM. Iniciais da expressão em inglês good this
ração do Plano de Metas de Juscelino Kubits- month, que significa uma ordem dada por um
chek. As atividades desse organismo foram en- cliente a um corretor, para comprar ou vender
cerradas em 1957. Veja também BNDES; Cepal; títulos, que permanece válida durante o mês em
Furtado, Celso; Plano de Metas. que foi emitida. Findo esse prazo, se não tiver
sido executada, perde a validez, isto é, estará
GRUPO MITSUBISHI. Mitsubishi significa, em automaticamente cancelada. Veja também GTC;
japonês, três (mitsu) diamantes (bishi), que é o GTW.
logotipo internacional do grupo. Ele consiste no
Keiretsu mais coeso centrado num banco no Ja- GTW. Iniciais da expressão em inglês a good this
pão com origens nos Zaibatsu de antes da Se- week, que significa uma ordem de um cliente
gunda Guerra Mundial. O grupo é composto para seu corretor, a fim de comprar ou vender
de mais de 160 empresas em praticamente todos títulos, válida durante a semana na qual foi emi-
os setores da economia, empregando cerca de tida. Findo este prazo, se a ordem não tiver sido
500 mil trabalhadores. As três mais importantes executada estará automaticamente cancelada.
empresas do grupo são a Mitsubishi Corpora-
GUARANI. Unidade monetária do Paraguai.
tion, o Mitsubishi Bank e a Mitsubishi Heavy
Submúltiplo: céntimo.
Industries. A origem do Grupo Mitsubishi re-
monta à época anterior à Segunda Guerra Mun- GUARDIAN AD LITEM. Expressão em latim
dial, no Ziabatsu Mitsubishi, um poderoso con- que significa a pessoa determinada por um tri-
glomerado que iniciou sua trajetória entre 1870 bunal para representar os interesses de um me-
e 1880. Seu fundador chamava-se Y. Iwasaki, nor de idade num processo.
cuja família controlava a empresa (o grupo) por
intermédio de uma holding. Inicialmente, o gru- GUDIN, Eugênio (1886-1986). Engenheiro e eco-
po se concentrava nas atividades de transporte nomista, o representante mais expressivo da es-
marítimo, financeira, cambial e de mineração. cola monetarista neoliberal no Brasil. No início
Mais tarde, passou à construção naval, montan- do século, participou da construção de várias
do estaleiros em Nagasaki, com subsídios go- estradas de ferro no Nordeste, a serviço de com-
vernamentais. Durante a Segunda Guerra Mun- panhias inglesas. Depois, voltou-se para a área
dial, o grupo produziu equipamentos bélicos e econômica, assumindo, em 1938, a cátedra de
deu sustentação aos dirigentes militares japone- economia monetária e financeira na Faculdade
ses. Depois da guerra, as forças de ocupação de Ciências Econômicas da Universidade Fede-
tornaram a holding fora de lei (Lei Antimono- ral do Rio de Janeiro. Delegado brasileiro à Con-
pólio) e dissolveram os Zaibatsu, inclusive a Mit- ferência Monetária de Bretton Woods (1944), foi
subishi. Todas as empresas do grupo tornaram- diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI)
se independentes do ponto de vista legal, mas e do Banco Mundial (Bird). Foi ministro da Fa-
os vínculos pessoais entre seus dirigentes per- zenda no governo Café Filho (1954), executando
maneceram, o que constituiu a base para a res- uma reforma cambial da qual fez parte a ins-
tauração do grupo no pós-guerra. Os membros trução 113, da antiga Superintendência da Moe-
do grupo mantêm laços de diversos tipos. Por da e do Crédito (Sumoc), que regulamentou a
exemplo, o Clube de Sexta-Feira (Kinyokai) é o importação de bens de capital sem cobertura
momento mensal de encontro — na segunda cambial pelas firmas estrangeiras. Posteriormen-
sexta-feira de cada mês —, no qual os presiden- te, foi um dos mais sérios críticos do processo
tes das trinta empresas mais importantes se en- de industrialização por substituição de impor-
contram para trocar impressões. Nessas ocasi- tações nos governos Kubitschek e Goulart. Além
275 GYOSEI SHIDO

da intensa atividade jornalística, escreveu: As metrópole”. Sua conclusão é de que a causa do


Origens da Crise Mundial (1931), Capitalismo e sua subdesenvolvimento não está em “instituições
Evolução Monetária (1935), Princípios de Economia envelhecidas” ou na “falta de capital”, mas sim
Monetária (1943) e Rumos da Política Econômica no próprio desenvolvimento capitalista dos paí-
(1945). ses centrais e na absorção, por estes, do exce-
dente econômico gerado nos países periféricos.
GUERRA DE PREÇOS. Competição entre duas O desenvolvimento nos países subdesenvolvi-
ou mais empresas pela conquista de mercados, dos não é visto como conseqüência da difusão
caracterizada pela baixa de preços até que as
do progresso, permitida pelo contato com países
mais fracas se inviabilizem e saiam do mercado.
desenvolvidos. Pelo contrário, quando esses la-
Como, geralmente, nesses casos, o objetivo é eli-
ços são mais fracos é que o desenvolvimento
minar a concorrência, os preços caem muito,
dos países satélites ocorreria de maneira mais
chegando a ficar abaixo dos custos durante um
intensa. A tese da existência do feudalismo na
tempo maior ou menor. A empresa vencedora
história da América Latina também é negada
se compensa elevando, depois, substancialmen-
em seus escritos, tendo como conseqüência a im-
te, seus preços, o que se torna mais fácil com o
possibilidade de uma revolução burguesa em
desaparecimento dos concorrentes ou com a re-
países que já são parte integrante do sistema
dução destes. Veja também Cutthroat Compe-
capitalista mundial. Conclui pela necessidade e
tition.
inevitabilidade da revolução socialista como
GUILDA. Veja Corporação. próximo estágio da história da América Latina.
Entre suas obras, destacam-se: Capitalismo e Sub-
GUINÉU. Moeda de ouro inglesa, emitida entre desenvolvimento na América Latina — Estudos da
1663 e 1813. Em 1717, seu valor foi fixado em História do Chile e do Brasil; América Latina: Sub-
21 xelins, sendo ela, portanto, mais valiosa que desenvolvimento ou Revolução. Veja também Sub-
a libra, cujo valor era de 20 xelins. Veja também desenvolvimento.
Libra.
GUSHER. Denominação dada a um poço de pe-
GULD (EN). Antiga moeda alemã e austríaca, tróleo que produz grandes quantidades, espe-
equivalente ao florim, subdividida em Kreutzers cialmente se o petróleo jorra, isto é, não tem de
e Pfennings. ser bombeado.

GUNDER FRANK, André (1929- ). Economis- GYOSEI SHIDO. Expressão em japonês cuja
ta alemão especializado no tema do subdesen- tradução literal corresponde a “indução admi-
volvimento, que considera inerente ao sistema nistrativa” e que significa o processo mediante
capitalista. Nascido em Berlim e educado nos o qual os organismos governamentais japoneses
Estados Unidos, Gunder Frank doutorou-se em obtêm a adesão de indivíduos e/ou empresas
economia em 1957 pela Universidade de Chica- a políticas e práticas consideradas desejáveis
go, com uma dissertação sobre a agricultura so- pelo governo. Embora não exista um vínculo
viética. Lecionou ciências econômicas e sociais legal que induza as empresas a seguir tais orien-
em diversas universidades norte-americanas e, tações governamentais, algumas sanções infor-
em 1962, veio para a América Latina, onde per- mais são impostas àquelas que não aderem vo-
maneceu durante quatro anos. Lecionou teoria luntariamente. Essa prática intervencionista não
sociológica na Universidade de Brasília, desen- é nova no Japão, onde os burocratas tiveram
volvimento econômico na Universidade de Chi- sempre grandes poderes administrativos para
cago e problemas do desenvolvimento latino- inspirar e propor legislação que permitisse uma
americano na Universidade Nacional do México. canalização de esforços da sociedade — espe-
Suas obras estudam particularmente a relação cialmente no campo econômico — para a reali-
entre o desenvolvimento do sistema capitalista zação de grandes objetivos nacionais. Mas esta
em escala mundial e o subdesenvolvimento dos tendência se manifestou de maneira especial de-
países latino-americanos. Para Gunder Frank, o pois da Segunda Guerra Mundial, durante a fase
subdesenvolvimento na América Latina é o re- de reconstrução do país, quando foram aprova-
sultado da participação do continente, durante dos dispositivos legislativos permitindo ao go-
vários séculos, no processo de desenvolvimento verno determinar diretamente planos de inves-
capitalista em nível mundial. Estudou particu- timentos para setores estratégicos, como o refino
larmente a história econômica e social do Brasil de petróleo, indústria naval e a marinha mer-
e do Chile e formulou a tese do “desenvolvi- cante, assim como planos de racionalização de
mento do subdesenvolvimento”. O traço carac- outros setores industriais. A indução adminis-
terístico da economia desses países seria dado trativa é realizada concretamente por meio de
pela posição que ocupam na relação “satélite- vários mecanismos de comunicação de diretri-
GYÕSHA 276

zes, sugestões, avisos, advertências e estímulos, (Estudo Sobre a Teoria do Investimento), 1960,
mas, geralmente, tais recomendações são ema- seu objetivo é proporcionar uma fundamentação
nadas do Shingikai, isto é, do Conselho Delibe- microeconômica mais segura para a teoria ma-
rativo Ministerial, que é uma divisão do pode- croeconômica da demanda de investimento.
roso Ministério da Indústria e do Comércio In-
ternacional (Miti). A partir de 1970, a resistência HABERLER, Gottfried (1900- ). Economista da
escola neomarginalista austríaca que reformulou
do setor empresarial à “indução administrativa”
a teoria dos custos comparados no comércio in-
aumentou bastante, na mesma medida em que
ternacional, ligando-a à moderna teoria do equi-
vários setores se tornaram menos dependentes
líbrio geral. A teoria clássica baseava-se no va-
dos auxílios governamentais e que, mediante o lor-trabalho. Com a crítica dessa teoria pela es-
incremento da produtividade, passaram a pres- cola marginalista austríaca, houve esvaziamento
cindir do forte protecionismo, que foi uma das da teoria dos custos comparados no comércio
características do desenvolvimento japonês no internacional e a necessidade de uma explicação
pós-guerra. mais precisa no enfoque da teoria marginalista
do valor. Foi o que Haberler fez. Para isso, partiu
GYÕSHA. Termo em japonês formado por gyõ
das combinações possíveis de quantidades de
(negócio, comércio, profissão) e sha (homem,
dois bens que podem ser produzidos com quan-
pessoa, partido), utilizado para diferenciar em-
tidades específicas de fatores de produção, em
presas privadas, cujo objetivo é o lucro, de or-
um país determinado. Formulou desse modo
ganizações governamentais ou instituições pú-
uma Curva de Substituição dos dois produtos,
blicas (sem objetivo de lucro). No passado, o
também chamada “curva de limite de produção
termo era usado para designar os comerciantes
possível”, que descarta toda referência à teoria
que faziam negócios com o governo, e tinha uma
do valor-trabalho, considera simultaneamente
certa conotação pejorativa. Atualmente, o termo
vários fatores de produção e permite indicar
é utilizado para designar até mesmo as maiores
quais são os ganhos ou desvantagens obtidos
corporações industriais comerciais ou financei-
no comércio internacional. Haberler também es-
ras, e, com o prefixo dõ (que significa “o mes-
creveu sobre a teoria de transferências interna-
mo”), perde qualquer conotação pejorativa. Dõ-
cionais de capital e de reparações e sobre a teoria
Gyõsha significa simplesmente “empresa do
da paridade do poder de compra. Analisou as
mesmo ramo de negócios”.
vantagens e desvantagens dos sistemas de câm-
bio fixo e flutuante. Sintetizou as principais teo-
rias do ciclo econômico. Ao estudar o problema
do nível de preço e valor da moeda, adotou a

H
medição de suas variações pelo método dos nú-
meros-índices. Foi professor nas universidades
de Viena e Harvard e consultor da Liga das Na-
ções e do Departamento do Tesouro dos Estados
Unidos. Entre suas obras destacam-se ainda Der
Sinn der Indexzahlen (O Significado dos Núme-
ros-índices), 1927; Der internationale Handel (O
Comércio Internacional), 1933; The Theory of In-
HAAVELMO, Trygve (1911- ). Nasceu na No- ternational Trade, With its Application to Commer-
ruega e se formou na Universidade de Oslo. Em cial Policy (A Teoria do Comércio Internacional
1933, ingressou no Instituto de Economia, re- com Suas Aplicações na Política Comercial),
cém-criado por Ragnar Frisch, como pesquisa- 1936; Prosperity and Depression (Prosperidade e
dor-assistente. As primeiras contribuições de Depressão), 1937; e Economic Growth and Stability
Haavelmo ocorreram no campo da teoria eco- (Crescimento Econômico e Estabilidade), 1974.
nométrica, no tempo em que passou nos Estados
Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial. HABILITAÇÃO DE CRÉDITO. Veja Falência.
Seu artigo na revista Econométrica (1943) foi o
primeiro a considerar as implicações estatísticas HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL. De-
da simultaneidade dos modelos econômicos. nominação dada às moradias utilizadas em pro-
Mais tarde, de volta à Noruega, Haavelmo se cessos de desfavelização e de pequenas dimen-
deslocou da econometria para a teoria econômi- sões (até cerca de 40 m2), geralmente financiadas
ca. Seu livro Study in the Theory of Economic Evo- com recursos públicos a fundo perdido. Veja
lution (Estudos sobre a Teoria da Evolução Eco- também Fundo Perdido; Operações Interligadas.
nômica), 1954, é uma ampla abordagem das con- HALÉRU. Veja Coroa.
tribuições que a economia analítica pode realizar
para entender as desigualdades econômicas HALF CROWN. Literalmente, “meia coroa”,
mundiais. Em Study in the Theory of Investment denominação dada a uma moeda de prata in-
277 HARROD, Roy Forbes

glesa de valor igual a 2,5 xelins, cunhada a partir vestimento privado absorver toda a poupança
de 1551. Em 1971, quando a cunhagem decimal gerada num nível de pleno emprego. Como isso
foi implantada no Reino Unido, esta moeda dei- não poderia ser alcançado com os instrumentos
xou de ser cunhada. Veja também Cunhagem da política monetária, só a expansão da política
Decimal. fiscal poderia aproximar os níveis de poupança
e investimento. Assim, o objetivo central do ple-
HAMBURGUÊS. Veja Método Hamburguês. no emprego necessitava de uma política fiscal
HAMMERED. Termo em inglês que, literalmen- e orçamentária para ser concretizado. A expe-
te, significa “martelado”, e que, no jargão das riência econômica do pós-guerra, no entanto,
Bolsas de Valores, significa que uma empresa mostrou que eram necessários, além dos instru-
de corretagem perdeu seus direitos de operar mentos fiscais, aqueles da política monetária,
nessas Bolsas devido a sua incapacidade de sal- para obter o pleno emprego. Hansen, pragma-
dar compromissos com credores ou com outras ticamente, apoiou a síntese neoclássica de mea-
firmas de corretagem. A denominação vem do dos da década de 60.
fato de que o anúncio da suspensão é feito de- HAO. Veja Dong.
pois que o golpe de um martelo de madeira pede
silêncio aos operadores. Veja também Hamme- HARD CASH. Veja Soft Money.
ring the Market.
HARD CURRENCY. Veja Hard Money.
HAMMERING THE MARKET. Expressão em
inglês que, literalmente, significa “martelar o HARD MONEY (Hard Currency). Expressão
mercado”. Aplicada no mercado de ações, ca- em inglês que significa literalmente “moeda
racteriza uma situação em que os especuladores dura”, isto é, moeda forte na qual todos confiam,
realizam vendas maciças de ações por acreditar não apenas em âmbito nacional, mas também
que os preços estão inflados e que é iminente internacional, como acontece especialmente com
uma baixa nas cotações, e portanto, que é o mo- o dólar dos Estados Unidos e também, em me-
mento para a realização de lucros. Veja também nor escala, com o franco suíço, a libra inglesa e
Realização de Lucros. o marco alemão. Hard Money significa tam-
bém moeda metálica de ouro ou prata (mas
HAND. Termo em inglês que significa literal- especialmente de ouro), em oposição ao papel-
mente “mão” e que, aplicado como unidade de moeda, considerado soft money. Veja também
medida de comprimento ou de altura, é equi- Soft Currency.
valente a 4 polegadas. É utilizado principalmen-
te (nos Estados Unidos) para a medida da altura HARD SPOT. Expressão do mercado de ações
de cavalos. utilizada para indicar uma ação que se destacou
no pregão, por sua firmeza ou estabilidade,
HANSEN, Alvin (1887-1975). Nasceu nos Esta- quando todas as demais ações tiveram cotações
dos Unidos e formou-se pela Universidade de fracas e oscilantes.
Wisconsin, em 1919. Seus primeiros trabalhos
versaram sobre as questões dos movimentos cí- HARDWARE. Termo em inglês que designa o
clicos da economia: Cycle of Prosperity and De- conjunto dos componentes eletrônicos, dos ter-
pression (Ciclos de Prosperidade e Depressão), minais e periféricos de um computador, como
1921, e Business Cycle Theory (Teoria do Ciclo impressora, leitora de cartões, microfone, vídeo,
Econômico), 1927. Mais tarde, iniciou seus tra- scanner etc. Veja também Software.
balhos em Harvard, ao mesmo tempo que era
editada a Teoria Geral de Keynes. Hansen tor- HARROD, Roy Forbes (1900-1978). Economis-
nou-se um dos principais expositores das idéias ta inglês que, baseado em Keynes, procurou de-
de Keynes nos Estados Unidos. Ajudou também monstrar, por meio de um modelo puramente
a formar, por intermédio do Seminário de Po- abstrato, as condições teóricas do crescimento
lítica Fiscal, em Harvard, uma geração de eco- equilibrado da economia capitalista. Apresentou
nomistas especializados em política econômica. sua teoria no artigo “An Essay in Dynamic Theo-
Dessa época datam os trabalhos mais importan- ry” (“Um Ensaio sobre Teoria Dinâmica”), 1939,
tes de Hansen, como Full Recovery and Stagnation e a desenvolveu no livro Towards a Dynamic Eco-
(Recuperação Total e Estagnação), 1938; Fiscal nomy (Para uma Economia Dinâmica), 1948. O
Policy and Business Cycles (Política Fiscal e Ciclos modelo de Harrod baseia-se na igualdade key-
Econômicos), 1941; e Business Cycle and National nesiana entre poupança e investimento. Consi-
Income (Ciclos Econômicos e Renda Nacional), dera ainda o coeficiente capital/produto (núme-
1951; mais tarde, elaborou um livro-texto muito ro de unidades de capital necessárias à elabo-
utilizado: A Guide to Keynes (Um Guia para Key- ração de uma unidade do produto) e a propen-
nes), 1953. A temática central dessas obras é o são à poupança; e pressupõe que o único fator
desemprego causado pela incapacidade do in- de produção é o capital, sendo que o fator tra-
HARROD-DOMAR 278

balho se associa a ele em proporções predeter- juntamente com Gunnar Myrdal. Membro da es-
minadas, e que o crescimento demográfico influi cola austríaca neomarginalista, Hayek refundiu
apenas sobre o crescimento da renda per capita. a teoria do ciclo econômico de Von Mises, in-
De modo geral, o modelo de crescimento equi- tegrando-a à teoria do capital de Böhm-Bawerk
librado tenta demonstrar que, se a quantidade e desenvolvendo um sistema teórico para a aná-
de dinheiro poupada pelos consumidores for lise das modificações na estrutura de produção,
igual à quantidade investida pelas empresas em de acordo com as flutuações do nível geral da
cada período, a economia tenderá a crescer a atividade econômica. Ao estudar as flutuações
uma taxa adequada; e essa taxa será determi- das atividades econômicas, Hayek deu ênfase
nada pela propensão marginal à poupança e especial às desproporções que ocorrem entre os
pelo incremento da taxa de investimento do ca- ramos da produção, particularmente aqueles
pital. O modelo de Harrod seria complementado que se relacionam com a construção e a produ-
pelo de E.R. Domar, e sua análise pós-keyne- ção de bens de capital, e os que produzem bens
siana de crescimento teria continuidade nas de consumo. Entre outras obras, escreveu: Mo-
obras de Kaldor e Robinson. Entre outras obras, netary Theory and the Cyele (Teoria Monetária e
Harrod escreveu International Economics (Econo- o Ciclo Econômico), 1929; Prices and Production
mia Internacional), 1933; The Life of John Maynard (Preços e Produção), 1931; Profits, Interest, Inves-
Keynes (A Vida de John Maynard Keynes), 1951; tment (Lucros, Juros e Investimento), 1939; The
Policy against Inflation (Política contra a Inflação), Pure Theory of Capital (A Teoria Pura do Capital),
1958; Reforming the World’s Money (Reformando 1941; The Road to Serfdom (O Caminho da Ser-
o Dinheiro Mundial), 1965; Towards a New Eco- vidão), 1944; Individualism and Economic Order
nomic Policy (Para uma Nova Política Econômi- (O Individualismo e a Ordem Econômica), 1948;
ca), 1967; Dollar-Sterling Collaboration (A Cola- The Constitution of Liberty (A Constituição da Li-
boração entre o Dólar e a Libra Esterlina) 1968; berdade), 1961; Law, Legislation and Liberty (Lei,
e Money (Dinheiro), 1969. Legislação e Liberdade), três volumes, 1973; e
Denationalization of Money (Desnacionalização do
HARROD-DOMAR. Veja Modelo Harrod-Do- Dinheiro), 1976.
mar.
HBR. Iniciais de Harvard Business Review, revista
HARSANYI, JOHN (1920- ). Nascido em Bu- editada pela Harvard Business School (Escola
dapeste (Hungria) e naturalizado norte-ameri- de Administração de Harvard).
cano, Harsanyi foi professor da Universidade
da Califórnia e obteve o Prêmio Nobel de Eco- HEAD GAMES. Veja Mind Games.
nomia, em 1994, por seus trabalhos sobre a Teo-
ria dos Jogos. Veja também Teoria dos Jogos. HEAD-HUNTER. Expressão em inglês que sig-
nifica literalmente “caçador de cabeça”. Aplica-
HAWTREY, Ralph George (1879-1975). Econo- da ao mundo empresarial, designa a pessoa ou
mista inglês, teórico do ciclo econômico sob o representante de uma empresa especializada em
enfoque da escola do equilíbrio monetário. Es- identificar, selecionar e recrutar para terceiros
tudando a questão monetária após a Primeira os executivos, administradores e cientistas mais
Guerra Mundial, ressaltou a influência dos juros talentosos e capazes para desempenhar deter-
sobre as diversas fases do ciclo. A quantidade minadas funções, geralmente de alta gerência,
de dinheiro que os consumidores e investidores em empresas determinadas. Esta técnica é uti-
estão dispostos a poupar ou despender seria de- lizada de preferência colocando-se anúncios em
terminada pela taxa de juros. As flutuações eco- jornais, pois, geralmente, os profissionais sele-
nômicas dependeriam das variações na quanti- cionados já estão trabalhando. Por se tratar de
dade de dinheiro disponível, especialmente o uma transferência de uma empresa para outra,
crédito bancário. Os bancos centrais, após certo em geral acompanhada de uma melhoria sala-
tempo, teriam de conter o volume do crédito rial, aqueles que se encontram nesse caso pre-
para manter sua liquidez; assim, os empresários ferem se transferir com a máxima discrição, isto
também teriam de conter sua atividade, e ha- é, sem correr o risco de manifestar um pretenso
veria um freio à expansão econômica. Entre as descontentamento com a empresa onde estão
obras de Hawtrey destacam-se Good and Bad Tra- trabalhando.
de (Bom e Mau Negócio), 1913, e Currency and
Credity (Dinheiro e Crédito), 1919. HECKSCHER, Eli Filip (1879-1952). Economista
sueco, estudioso da época mercantilista. Enun-
HAYEK, Friedrich August von (1899-1992). Eco- ciou o princípio, desenvolvido por seu discípulo
nomista austríaco, naturalizado inglês, repre- Bertil Ohlin (1899-1979), que explica o comércio
sentante da corrente neoliberal, contrária a qual- internacional a partir da abundância ou da ra-
quer intervenção do Estado na economia. Ga- ridade relativa dos fatores de produção nos paí-
nhador do Prêmio Nobel de Economia de 1974, ses: os países tenderiam a exportar os bens para
279 HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich

a produção dos quais contam com abundância que obteve na primeira operação (dois mil dó-
de fatores. Heckscher enunciou pela primeira lares) menos o que perdeu na segunda (500 dó-
vez esse princípio num artigo publicado em 1919 lares). O resultado final nesse caso seria de 1
e reimpresso na obra coletiva Readings in the 500 dólares. As operações de Hedge não têm
Theory of International Trade (Leituras sobre a por finalidade obter lucros com as sucessivas
Teoria do Comércio Internacional), 1949. Em operações de compra e venda de commodities,
1931, publicou Mercantilism (Mercantilismo), em títulos etc., mas sim permitir aos operadores de-
dois volumes, considerada uma obra de consulta fesas e proteção contra as flutuações de preço
obrigatória sobre as teorias e políticas da era que essas mercadorias sofrem no decorrer do
mercantilista. Heckscher também desenvolveu tempo. Veja também Spot.
trabalhos na área da estatística e sobre movi-
mentos populacionais na Suécia. Escreveu ainda HEDGING. Termo em inglês que designa a prá-
The Continental System: An Economic Interpreta- tica do hedge. Veja também Hedge.
tion (O Sistema Continental: Uma Interpretação
HEDONISMO. Concepção fundamental para o
Econômica), 1922, e An Economic History of Swe-
desenvolvimento do pensamento econômico e
den (Uma História Econômica da Suécia), 1954. da formulação de teorias econômicas desde a
Veja também Mercantilismo. época dos fisiocratas, que consiste em todo com-
HECKSCHER-OHLIN, Princípio. Veja Hecks- portamento humano como sendo naturalmente
cher, Eli Filip; Ohlin, Bertil Gotthard. dirigido no sentido de assegurar o máximo de
satisfação e prazer ou o mínimo de sacrifício.
HECKSCHER-OHLIN THEOREM. Veja Teore-
ma de Heckscher-Ohlin. HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich (1770-1831).
O mais importante filósofo alemão da primeira
HEDGE. Termo em inglês que significa “salva- metade do século XIX. Esforçou-se por unificar
guarda”. É um mecanismo utilizado por opera- todo o conhecimento num vasto sistema lógico
dores do mercado financeiro e de commodities e racional, com o objetivo de apreender o real
para se resguardarem de uma flutuação de pre- em sua totalidade. Uma das preocupações de
ços. É comum, por exemplo, que operadores do Hegel foi a de eliminar a distância que, na con-
mercado de commodities atuem também no mer- cepção de seus antecessores, separava o ser do
cado a termo, de tal forma que a baixa de preços conceito. Assim, Fichte e Schelling haviam con-
num destes mercados atue no sentido negativo cluído que o ser só se determina na oposição e
numa das operações, mas positivo em outra. Ve- na luta com seu oposto. De Fichte, Hegel aceita
jamos o exemplo de um operador da Bolsa de
a noção de dialética como processo de afirma-
Cereais que compra soja spot (entrega imediata)
ção, negação e negação da negação, isto é, sín-
e vende para entrega futura. Suponhamos que
tese; e de Schelling, a noção de idealismo obje-
este operador compre, no dia 1º de maio, 10 mil
tivo e da identidade do sujeito e do objeto na
sacas de soja ao preço de 12,75 dólares cada saca
consciência do absoluto. Hegel leva às últimas
na Bolsa de São Paulo, o que equivale a 127 500
conseqüências o “trabalho do negativo”, con-
dólares. Desejando proteger-se contra flutuações
no preço da soja, vende nesse mesmo dia na cluindo que o conceito é um conhecimento do
Bolsa de Chicago 10 mil sacas de soja a futuro ser, que se cumpre como um retorno a si, depois
por 12,95 dólares, o que equivaleria a um total da saída de si e da exteriorização na natureza.
de 129 500 dólares. Nesta operação haveria um Essa idéia é central no sistema de Hegel e jus-
ganho bruto de 2 mil dólares. No entanto, as tifica as divisões de sua filosofia em: fenomeno-
operações de hedge devem ser entendidas numa logia do espírito, na qual a consciência se eleva
seqüência, pois as flutuações de preços no pre- progressivamente das formas elementares de
sente e no futuro obrigam um operador a cons- sensação até a ciência; lógica, que estuda o ser,
tituir salvaguardas ao longo do tempo; e, em a essência e o conceito; filosofia da natureza, que
algumas destas operações, ele pode até mesmo, apresenta o momento em que o espírito se torna
acusar perdas. Assim, continuando com nosso estranho a si mesmo, alienando-se em natureza;
exemplo, se o preço a futuro baixasse (situan- e filosofia do espírito, que descreve o retorno do
do-se em 12,65 dólares), este operador poderia espírito a si, por meio do direito, da moral, da
vender 5 mil sacas de soja a um produtor de religião e, finalmente, da filosofia. Segundo He-
óleo por um preço 10 centavos menor do que gel, a filosofia atinge as coisas, a natureza e a
o preço futuro e, portanto, a 12,55 dólares, e, história em sua verdade, ou seja, é vista como
para proteger-se desta venda, comprar 5 mil sa- momentos de realização de um espírito que, por
cas de soja no mercado futuro a 12,65 dólares, meio deles, toma consciência de si. Esse processo
acusando, nesse caso, uma perda de 63 250 – leva à transformação dos dados dos sentidos em
62750 = 500 dólares. No final dessas duas ope- pensamento, conduz da individualidade à uni-
rações de hedging, o ganho do operador seria o versalidade. E sua realização é marcada pelo rit-
HEINRICH’S LAW 280

mo ternário da dialética: a realidade é posta em teórico do valor subjetivo e do equilíbrio eco-


si (tese), em seguida manifesta-se fora de si (an- nômico geral. Professor na Universidade de Ox-
títese) para, finalmente, retornar a si (síntese). ford (1952-65), recebeu o Prêmio Nobel de Eco-
Para Hegel, o espírito absoluto realiza-se gra- nomia de 1972 (com Kenneth Arrow). Num ar-
dativamente através da história, assumindo a tigo de 1934, junto com R.G. Allen, “A Recon-
forma de espírito objetivo (arte, ciência, religião sideration of the Theory of Value” ("Uma Re-
e demais criações humanas). A verdade seria, consideração da Teoria do Valor"), Hicks iniciou
assim, historicamente determinada, correspon- uma nova exposição de Marshall, utilizando-se
dendo a cada uma das fases do desenvolvimento do conceito de curvas de indiferença de Pareto.
do espírito e contendo em si o germe da con- O artigo foi ampliado em seguida em sua obra
tradição. A identidade entre o real e o racional mais importante, Value and Capital (Valor e Ca-
faz com que a compreensão do real — basica- pital), 1939, em que procura realizar uma expo-
mente histórica — somente possa ser construída sição definitiva da teoria do valor subjetivo e
por meio de uma lógica dialética, movida pela da teoria marginalista do equilíbrio geral. Hicks
idéia de negação determinada. O final do pro- tenta demonstrar as deficiências da versão de
cesso em que o absoluto se relativiza em história Marshall da conduta do consumidor e mostrar
seria a liberdade absoluta: por intermédio da que o método de Pareto permite superá-las, de-
consciência filosófica, o espírito absoluto torna- senvolvendo e complementando o próprio mé-
se autoconsciência. No plano político, essa cul- todo das curvas de indiferença. Argumenta que
minação é identificada por Hegel com a criação a teoria de Marshall continua baseando-se nos
do Estado prussiano. O hegelianismo foi o úl- conceitos de utilidade decrescente, embora des-
timo dos grandes sistemas filosóficos do Oci- de a obra de Menger se negasse a possibilidade
dente, exercendo decisiva influência nas ciências de medir a utilidade. Segundo Hicks, a análise
sociais, no marxismo, no existencialismo e em
das curvas de indiferença permite superar essa
algumas correntes do pensamento cristão. Obras
dificuldade, proporcionando um sistema de
principais: Die Phänomenologie des Geistes (A Fe-
equilíbrio que exige menos dados que o método
nomenologia do Espírito), 1807; Wissenschaft der
da utilidade marginal. Assim, em vez do prin-
Logik (A Ciência da Lógica), 1812-1816; e Ency-
cípio da utilidade decrescente, Hicks utiliza o
clopädie der philosophischen Wissenschaften (Enci-
que chama de “taxa marginal de substituição”,
clopédia das Ciências Filosóficas), 1817. Veja
que mede uma série de combinações de quan-
também Marxismo.
tidades entre duas mercadorias mais ou menos
HEINRICH’S LAW. Sistematização estatística preferidas ou indiferentes ao consumidor. Na
sobre acidentes de trabalho na indústria, segun- obra A Contribution to the Theory of the Trade Cycle
do a qual a cada morte de trabalhador por aci- (Uma Contribuição à Teoria do Ciclo Econômi-
dente correspondem, em média, 29 que foram co), 1950, Hicks elaborou uma teoria baseada
feridos pela mesma causa e trezentos que fica- na distinção entre investimento induzido (do
ram expostos ao acidente e, por pouco, não fo- tipo interno), dirigido pelo desenvolvimento
ram vítimas dele. normal do crescimento econômico, e investi-
mento autônomo (de origem externa), demons-
HERANÇA. Conjunto de bens que, após a morte trando, por meio de modelos matemáticos, como
de seu proprietário, se transmite a seus suces- o princípio do acelerador pode levar a vários
sores. Pode ser testamentária (quando disposta tipos de flutuações. Entre suas obras destacam-
pelo falecido por via de testamento), legal (a se ainda The Theory of Wages (A Teoria dos Sa-
que cabe ao herdeiro por força de lei), jacente lários), 1932; A Revision of Demand Theory (Uma
(aquela cujos herdeiros são desconhecidos) e va- Revisão da Teoria da Demanda), 1956; Capital
cante (a que é reconhecida pela autoridade ju- and Growth (Capital e Crescimento), 1965; Critical
dicial como não tendo herdeiros e que, portanto, Essays in Monetary Theory (Ensaios Críticos sobre
passa ao domínio do Estado). a Teoria Monetária), 1967; A Theory of Economic
HERSTATT. Veja Quebra do Herstatt. History (Uma Teoria da História Econômica),
1969; The Crisis of Keynesian Economics (A crise
HETEROCEDASTICIDADE. Conceito de esta- da Economia Keynesiana), 1975, e Capital and
tística que designa uma distribuição de freqüên- Time: A Neo-Austrian Theory (Capital e Tempo:
cia em que todas as distribuições condicionadas Uma Teoria Neo-austríaca), 1976.
têm desvios-padrão (afastamentos) diferentes.
Veja também Desvio-padrão. HIFO. Termo constituído das iniciais das ex-
pressões highest in, first out (“o mais alto a entrar,
HICKS, John Richard (1904-1989). Economista o primeiro a sair”), que designa um sistema para
inglês da corrente marginalista contemporânea, determinar o custo das primeiras peças que es-
281 HIPERINFLAÇÃO

tão sendo fabricadas, em função dos preços mais ramos da história e da estatística. Estudando o
elevados do que se tem em estoque nos arma- processo do desenvolvimento econômico, dis-
zéns. tinguiu nele três estágios: economia natural, eco-
nomia do dinheiro e economia do crédito. Sua
HIGH FARMING. Expressão em inglês que de- principal obra, Die Nationalökonomie der Gegen-
signa a forma de desenvolvimento da agricul- want und Zukunft (A Economia Política do Pre-
tura durante o século XIX, isto é, uma agricul- sente e do Futuro), 1848, é uma oposição mais
tura organizada com uma clara separação entre trabalhada ao pensamento genérico da escola
as funções de direção e de execução do processo clássica e marca a segunda fase da primeira es-
produtivo, e na qual apareciam claramente as cola histórica alemã. Hildebrand também desen-
figuras do capitalista agrário (arrendatário), do volveu trabalhos no campo da estatística e fun-
proprietário de terras (rentista) e do trabalhador dou o Centro de Estatística da Turíngia.
assalariado agrícola. Este modelo de desenvol-
vimento da produção agrícola, pela eficiência HILFERDING, Rudolf (1877-1941). Economis-
em termos de produtividade que apresentava, ta e político marxista alemão, embora nascido
chegou a influenciar — durante o século XIX — na Áustria, um dos pioneiros na análise do ca-
países como a França e o Japão, onde predomi- pitalismo monopolista. Foi professor da escola
nava o sistema camponês e os arrendamentos de quadros do Partido Social Democrata da Ale-
eram geralmente não-capitalistas. manha e editor do jornal partidário Vorwärts
(1907-1915). A partir da Primeira Guerra Mun-
HIGH POWERED MONEY. Expressão em in-
dial, tornou-se um dos mais destacados teóricos
glês correspondente a “base monetária”. Veja
do socialismo reformista, ocupando, em 1923 e
Base Monetária.
1928-1929, o Ministério das Finanças da Repú-
HIGH-TECH. Contração da expressão, em in- blica de Weimar. Exilou-se em 1933 e foi assas-
glês, high technology, que significa literalmente sinado na França pelos nazistas, em 1941. Em
“tecnologia avançada”. Em geral, aplica-se aos sua crítica ao capitalismo, Hilferding demons-
processos e produtos novos que representam e trou como a concentração do capital conduziu
incorporam os processos tecnológicos mais a um papel decisivo dos bancos no processo de
avançados e desenvolvidos. crescimento industrial, fenômeno que não se
manifestara ainda nas condições do capitalismo
HIGHEST AND BEST USE. Expressão em in- concorrencial observado por Marx. O novo es-
glês utilizada no mercado imobiliário norte- tágio do capitalismo, na visão de Hilferding, ca-
americano na avaliação de um terreno. Por este racterizava-se pela hegemonia do “capital con-
conceito, entende-se que um terreno urbano trolado pelos bancos e utilizado pelos indus-
deva ser avaliado pelo seu máximo e mais efi- triais”. Antes da publicação de O Capital Finan-
ciente aproveitamento, independentemente do ceiro, 1910, Hilferding destacou-se como compe-
uso que tal terreno tenha no momento da ava- tente discípulo de Marx ao rebater as críticas
liação. Em termos financeiros, este conceito está feitas por Böhm-Bawerk a possíveis contradi-
relacionado com a utilização da qual resultaria ções entre o Livro Primeiro e o Livro Terceiro
o máximo retorno líquido do investimento que de O Capital, nas passagens em que Marx trata
for realizado no mencionado terreno. Veja tam- da troca de equivalentes, isto é, sobre a questão
bém Appraisal. dos preços e suas relações com a teoria do va-
lor-trabalho. Essa resposta recebeu a denomina-
HILDEBRAND, Bruno (1812-1878). Economis-
ção de A Crítica de Böhm-Bawerk a Marx (1904).
ta alemão da primeira escola histórica. Inspirou-
se na filosofia histórica e negou a pretensão dos HIPÉRBOLE. O gráfico de uma função do tipo
partidários da escola clássica, que afirmavam ter Y = a+bx-c, onde c é uma constante positiva.
encontrado as leis da economia natural, válidas Estas funções são geralmente utilizadas para
em todos os tempos e para todos os países. Com representar curvas de demanda, dada a equação
Hildebrand, a escola histórica alemã tornou-se de suas propriedades teóricas. O caso especial
mais explicativa e assumiu uma posição mais da hipérbole retangular, cuja equação é Y = bx-1
consistente em oposição ao pensamento clássico. = b/x, resultará numa curva de demanda (se Y
Ele opôs-se à idéia de que é possível descobrir corresponder às quantidades e x aos preços),
a “fisiologia” da vida econômica e separou os com elasticidade-preço constante e igual a –1.
problemas práticos de política econômica da
análise teórica, concentrando-se nesta última. HIPERINFLAÇÃO. Caso especial de inflação
Propôs-se a estudar a evolução econômica da galopante, em que os preços aumentam tanto
humanidade para chegar a uma história econô- (em geral por uma expansão substancial dos
mica da cultura, desenvolvida junto com outros meios de pagamento) que as pessoas não pro-
HIPERINVESTIMENTO 282

curam reter dinheiro, mesmo por poucos dias, crescente da renda (antecedendo portanto o pen-
em razão da rapidez com que diminui seu poder samento dos economistas marginalistas do sé-
de compra. Cai assim a confiança dos agentes culo XIX), Bernoulli mostrou que, embora o jogo
econômicos na estabilidade da moeda e eles pro- tivesse um valor esperado do prêmio infinito,
curam gastá-la o mais rapidamente possível. tinha um valor esperado finito da utilidade. A
Isso provoca um aumento na velocidade de cir- hipótese é, portanto, de grande interesse como
culação da moeda e acelera ainda mais o au- a primeira tentativa de substituir a maximização
mento dos preços. O mais famoso caso de hi- da utilidade por algum objetivo de ganhos mo-
perinflação (um trilhão por cento entre agosto netários inferiores num contexto de risco e in-
de 1922 e novembro de 1923) ocorreu na Ale- certeza. Veja também Bernoulli, Família; Para-
manha, após a Primeira Guerra Mundial. Veja doxo de Allais.
também Inflação.
HIPÓTESE DE STUDENT. Na análise estatís-
HIPERINVESTIMENTO. Situação na qual os tica, é a hipótese relativa ao valor de um parâ-
níveis de investimento realizados ou projetados metro de uma população normal cuja variância
para uma economia superam seu nível de pou- não se especifica, usando-se então uma sua es-
pança e requerem formas especiais de financia- timativa.
mento, seja mediante poupanças externas ou de
processos inflacionários mais ou menos agudos. HIPÓTESE DO CICLO DE VIDA. Hipótese de
Veja também Investimento. que os indivíduos (famílias) consomem uma
parte constante do valor presente de sua renda,
HIPOTECA. Garantia de pagamento de uma dí- durante seu tempo de vida, em cada período
vida dada sob a forma de um bem imóvel (com desta. Esta proporção dependerá dos gastos e
exceção de navios e aviões, que também podem preferências de cada consumidor, mas na me-
ser hipotecados). Embora conserve a posse do dida em que a distribuição da população por
bem, o devedor só readquire sua propriedade idade e renda é mais ou menos constante, estas
após o pagamento integral da dívida. Se a dívida funções individuais de consumo podem ser
não for paga, ou se só for paga uma parte dela, agregadas para formar uma função de consumo
ao fim do prazo contratado, o credor pode exe- agregada. De acordo com essa hipótese, uma
cutar a hipoteca, assumindo a propriedade total amostra aleatória de domicílios segundo nível
do bem. de renda apresentaria um número despropor-
HIPÓTESE DA EFICIÊNCIA ESPECULATI- cionalmente grande de pessoas de meia-idade
VA. A proposição empírica de que os preços a na faixa superior dos níveis de renda, e um nú-
futuro ou a termo não representam outra coisa mero desproporcionalmente grande de jovens e
que não os preços spot esperados. idosos na faixa inferior. Domicílios “jovens” e
“idosos” têm uma elevada propensão a consu-
HIPÓTESE DE BERNOULLI. Solução propos- mir, ou rendimentos presentes, ou poupanças.
ta pelo matemático Daniel Bernoulli, durante o Os domicílios jovens tomam empréstimos para
século XVIII, ao Paradoxo de São Petersburgo. consumir no presente e pagar com renda futura,
O problema consistia em explicar por que os e os domicílios idosos consomem suas poupan-
indivíduos se negavam a apostar somas muito ças acumuladas no passado. Em contraste, os
elevadas no seguinte jogo: lança-se uma moeda domicílios de “meia-idade” ou estão pagando
até que dê, por exemplo, coroa. Se der coroa no suas dívidas contraídas anteriormente, ou estão
segundo lançamento, o jogador recebe como poupando para a velhice, e, portanto, têm uma
prêmio 22 unidades (monetárias) como prêmio. baixa propensão média a consumir. Conseqüen-
Se der coroa no terceiro lançamento, o prêmio temente, os domicílios de baixa renda possuem
será equivalente a 23 unidades monetárias. Se uma propensão média a consumir muito eleva-
der coroa no quarto lançamento, o prêmio será da, acontecendo o contrário com os de renda
24 e assim sucessivamente. A soma das pro- elevada. Uma vez que as rendas do trabalho (sa-
babilidades da ocorrência de prêmios seria a uni- lários) primeiro aumentam e depois diminuem,
dade, mas, para um número infinito de lança- nesta trajetória de longo prazo, a propensão mé-
mentos, o valor esperado de prêmios é infinito. dia a consumir variará inversamente em relação
Dessa forma, seria lógico esperar que os joga- à renda, no transcorrer do ciclo econômico, como
dores apostassem grandes somas de dinheiro sugerido pela função consumo de curto prazo.
nesse jogo. Para explicar por que isso não acon-
tecia, Bernoulli argumentava que os jogadores HIPÓTESE DO CONGESTIONAMENTO
estavam menos interessados na recompensa mo- (Crowding Hypothesis). Concepção desenvol-
netária do que na utilidade de tal recompensa. vida nos Estados Unidos de que barreiras à en-
Assumindo a hipótese da utilidade marginal de- trada e imperfeições informacionais (desequilí-
283 HISTOGRAMA

brios de informação) fariam com que certos gru- cam os adeptos da Análise Técnica e da Análise
pos (por exemplo, mulheres e negros) se con- Fundamental, estes também desfecham suas crí-
centrassem em certo tipo de atividade, dedican- ticas àqueles que acreditam na Hipótese do Mer-
do-lhe sua força de trabalho e fazendo com que cado Eficiente. Em outras palavras, as cotações
os salários caíssem, determinando um nível sa- das ações nas Bolsas de Valores são as melhores
larial menor nelas do que nas demais. estimativas de seu valor real, devido ao alta-
mente eficiente sistema do mecanismo de preços
HIPÓTESE DO MERCADO DE TRABALHO
(flutuações) inerente ao mercado de ações nas
DUAL. Hipótese segundo a qual o mercado de
Bolsas de Valores. Esta hipótese estende-se tam-
trabalho estaria dividido em dois setores, o pri-
bém às taxas de câmbio: neste caso, a hipótese
mário e o secundário. Os bons empregos, isto
é, aqueles que proporcionam bons salários, pers- é que as taxas a termo (futuro) são a melhor
pectivas de promoção, segurança, benefícios e aproximação do que serão as taxas spot no futuro.
vantagens, constituiriam o setor primário; e os HIPÓTESE MODIGLIANI-DUESENBERRY.
empregos ruins, destinados aos que não conse- Hipótese sobre a importância dos hábitos para
guem entrar no primeiro, constituiriam o setor a explicação das flutuações do consumo. A hi-
secundário. Neste último, os salários seriam for- pótese de Modigliani, também sustentada por
mados pela competição e existiriam postos de Duesenberry, afirma que os gastos de um con-
trabalho para todos. A entrada no setor primário
sumidor não dependem unicamente da renda
não se daria tanto pela falta de capital humano
corrente, mas também do nível de sua última
e treinamento, mas por fatores institucionais
renda máxima. Esta hipótese se baseia no fato
como a discriminação, a prática restritiva de sin-
de que os consumidores planejam seu consumo
dicatos e pela simples escassez relativa de em-
de acordo com seu nível máximo anterior de
pregos bem remunerados. A solução para o pro-
vida, até que um novo nível superior de renda
blema não adviria apenas pela remoção dos obs-
determine novos hábitos. Se a renda diminuir,
táculos institucionais, mas também pela criação
de empregos mais bem remunerados. Esta con- a taxa de poupança diminuirá, podendo inclu-
cepção entra em choque com a visão neoclássica, sive ser negativa. A aplicação da hipótese às eco-
que interpreta as desvantagens no mercado nomias americana, canadense e alemã, no pe-
como um resultado de deficiências nos investi- ríodo entre guerras, deu resultados aceitáveis,
mento em capital humano. Veja também Capital com a variante de T.E. Davis (The Consumption
Humano. Function as a Tool for Prediction), que, em lugar
da renda máxima, coloca o nível de consumo
HIPÓTESE DO MERCADO EFICIENTE. A for- máximo alcançado.
mulação central desta hipótese é que os preços
das ações nas Bolsas de Valores têm um movi- HIS. Veja Habitação de Interesse Social.
mento aleatório. A análise do movimento dos
HISTOGRAMA. Representação gráfica de dis-
preços durante um período longo confirma este
tribuições de freqüência obtida construindo tan-
movimento, na medida do grau de correlação
tos retângulos contíguos quantas forem as clas-
encontrado nestes movimentos. Os proponentes
ses da distribuição, de tal forma que suas bases
destas formulações consideram, portanto, que
as abordagens da Análise Fundamental e da colineares sejam proporcionais às amplitudes de
Análise Técnica são de pouca valia para a pre- classe, e suas áreas, proporcionais às respectivas
visão dos futuros movimentos dos preços das freqüências. Se as amplitudes de classe forem
ações, pois se baseiam em dados do passado, todas iguais, as alturas dos retângulos serão pro-
cujas flutuações foram aleatórias. Esta concep- porcionais às freqüências.
ção do comportamento do mercado se baseia
nas seguintes premissas: 1) existem inúmeros
participantes num mercado eficiente; 2) todos
têm acesso às informações relevantes que afetam
os preços das ações; 3) estes participantes com-
petem livremente e em igualdade de condições
pelas ações no mercado de tal forma que as co-
tações das mesmas refletem seus valores (patri-
moniais). Neste contexto, e na medida em que
novas informações surgem aleatoriamente, seus
reflexos nos preços fazem com que estes também
se comportem aleatoriamente. Na mesma me-
dida em que os adeptos desta concepção criti-
HISTOGRAMA DE FREQÜÊNCIAS ACUMULADAS 284

HISTOGRAMA DE FREQÜÊNCIAS ACUMU- tribuição de Hobson foi a explicação das crises


LADAS. Representação gráfica de freqüências econômicas pelo subconsumo, desenvolvida em
acumuladas obtidas marcando, sobre o eixo das Physiology of Industry (Fisiologia da Indústria),
abcissas, segmentos sucessivos proporcionais às 1889, livro escrito em colaboração com A.F. Mu-
mery. Essa teoria do subconsumo baseia-se na
190 idéia de que os gastos do capital e do consumo
180 experimentam um desequilíbrio entre si devido
Empregados por Faixa Salarial

ao excesso da poupança de uma minoria privi-


Número Acumulado de

150 legiada, que freia a utilização dos meios de pro-


dução disponíveis. Defende um investimento
constante da poupança como meio de incentivar
a demanda de bens, tese que seria desenvolvida
mais tarde por Keynes, em sua Teoria Geral
70 (1936). Numa obra posterior sobre o problema
do desemprego, Hobson argumenta que a re-
partição injusta da renda é um dos fatores que
20
provocam o excesso de poupança e a insuficiên-
cia do consumo. Acrescenta que a solução para
2 4 8 10 12 a crise estaria na realização de obras públicas
Faixas Salariais financiadas pelo Estado. Outra contribuição im-
portante de Hobson está na obra Imperialism: A
amplitudes de classe; e, sobre eles, construindo Study (Imperialismo: Um Estudo), 1902. Após
6
retângulos contínuos, cujas alturas são propor- comparar as despesas públicas feitas nos em-
cionais às respectivas freqüências acumuladas. preendimentos coloniais e os lucros dos capita-
listas, argumenta que a Inglaterra deveria aban-
HISTORICAL COST. Veja Custo Histórico. donar o imperialismo por basear-se em impostos
elevados dos contribuintes para sustentar ga-
HKIBOR. Iniciais de Hong Kong Interbank Of- nhos particulares. Repleto de dados e cifras, o
fer Rate, isto é, a taxa de juros interbancária pra- livro foi freqüentemente utilizado por autores
ticada na praça de Hong-Kong, com as mesmas marxistas como Hilferding e Lênin. Militante do
características da Libor. Veja também Libor. Partido Trabalhista inglês desde 1914, suas
HOBBES, Thomas (1588-1679). Pensador inglês idéias desempenharam um importante papel na
de concepção rigorosamente materialista e mer- evolução da doutrina do partido. Além de nu-
cantilista, autor de uma importante obra de teo- merosos artigos e panfletos, publicou 35 livros,
ria política: Leviatã, 1651. Nela, é retomada a afir- destacando-se, além dos citados, The Evolution
mação de que “o homem é o lobo do homem”. of Modern Capitalism (A Evolução do Capitalismo
Para superar o conflito permanente entre os ho- Moderno), 1894; The Industrial System (O Sistema
mens, a única via possível seria o estabelecimen- Industrial), 1909; Work and Wealth (Trabalho e
to de um contrato social para criar um Estado Riqueza), 1914; The Economics of Unemployment
todo-poderoso que controlaria todos os indiví- (A Economia do Desemprego), 1922, e Confes-
duos. O soberano de tal Estado teria poder ab- sions of an Economic Heretic (Confissões de um
soluto para fazer respeitar esse contrato acima Herege em Economia), 1938.
dos interesses de grupos. Considerava a liber-
HODGSKIN, Thomas (1787-1869). Pensador so-
dade de comércio uma lei natural. O economista
cialista inglês da corrente anarquista, crítico de
William Petty foi seu discípulo. Veja também
Ricardo, Malthus e de outros autores clássicos
Petty, William.
do início do século XIX. Hodgskin condenava
HOBSON, John Atkinson (1858-1940). Econo- o capitalismo e propunha reformas sociais a par-
mista e reformador social inglês. Precursor de tir das lutas dos trabalhadores por meio das as-
Keynes, sustentou que a causa fundamental da sociações de trabalhadores e do Parlamento.
crise econômica é a predominância da poupança Seus escritos econômicos são baseados na idéia
em detrimento do consumo, com a conseqüente de que o trabalho é a única fonte de riqueza e
queda da produção. Socialista fabiano, Hobson que os trabalhadores são privados da riqueza
definia-se como um herético entre os economis- que produzem. No livro Labour Defended against
tas de sua época. Recusando-se a separar a eco- the Claims of Capital (A Defesa do Trabalho con-
nomia da ética, opunha ao bem-estar econômico tra as Pretensões do Capital), 1825, e em Popular
o bem-estar humano. Criticou a teoria margina- Political Economy (Economia Política Popular),
lista da utilidade final como uma “futilidade fi- 1827, um dos primeiros manuais socialistas de
nal”, procurando substituí-la por uma nova aná- economia, Hodgskin denuncia os proprietários
lise da distribuição da renda. A principal con- rurais e os capitalistas por reduzirem os salários
285 HOMOLOGAÇÃO

ao mínimo possível e confiscarem todo o exce- completo. As concepções que perpassam e fun-
dente do valor criado pelo trabalho, sustentando damentam a administração japonesa são holís-
que os trabalhadores devem receber integral- ticas na medida em que consideram o conjunto
mente o valor do que produzem. Entretanto, dos trabalhadores de uma empresa, o grupo ou
Hodgskin não era um adversário da proprieda- o coletivo, e não o indivíduo, ou dão mais ênfase
de privada e reprovava a intervenção do Estado a tais aspectos de totalidade.
na economia, sustentando que apenas os sindi-
catos operários poderiam suprimir a exploração HOMEM ECONÔMICO (Homo Economicus).
do trabalho pelo capital. Publicou ainda The Na- Conceito criado pelos economistas da escola
tural and Artificial Rights of Property Contrasted clássica (Adam Smith, David Ricardo etc.) e uti-
(Os Direitos Natural e Artificial da Propriedade lizado pelos administradores, segundo o qual o
homem seria perfeitamente racional e capaz de
Comparados), 1832.
fundamentar suas decisões exclusivamente por
HOGSHEAD. Antiga medida inglesa de capa- razões econômicas, preocupando-se em obter o
cidade que significa literalmente “cabeça de por- máximo de benefício com o mínimo de sacrifício
co”, e, dependendo do lugar, admite variações de modo imediato. O homem econômico agiria
entre 63 (pequena) até 140 (grande) galões, ou racionalmente no sentido de maximizar sua ri-
o correspondente a 238 até 530 l aproximada- queza e assim introduzir novos métodos pro-
mente. Veja também Sistemas de Pesos e Me- dutivos para enfrentar a concorrência no mer-
didas; Unidades de Pesos e Medidas. cado. O conceito foi uma abstração conveniente
da escola clássica, útil nas discussões e análises
HOLDING. Designação de empresa que man- econômicas e na elaboração de suas teorias. Con-
tém o controle sobre outras empresas mediante trapondo-se a essa noção abstrata do homem, a
a posse majoritária de ações destas. Em geral, escola histórica alemã procurou estudar o com-
a holding não produz nenhuma mercadoria ou portamento do verdadeiro homem, situando-o
serviço específicos, destinando-se apenas a cen- em diferentes épocas históricas e condições so-
tralizar e realizar o trabalho de controle sobre ciais. Veja também Escola Clássica; Escola Es-
um conjunto de empresas geralmente denomi- truturalista; Escola Neoclássica.
nadas subsidiárias. Nesse caso, ela é denomina-
da pure holding company ou “holding pura”. A HOMESTEAD, Lei do. Lei aprovada em 1862,
empresa que, além de operar, isto é, produzir durante o governo Lincoln, nos Estados Unidos,
bens e serviços, também controla subsidiárias é estabelecendo a distribuição de terras no Oeste
denominada holding operating company, isto é, de forma quase gratuita, na proporção de 160
“empresa holding operadora”. Essa forma de or- acres (cerca de 65 hectares). O homestead estabe-
ganização empresarial, um dos estágios mais lecia, em resumo, que a propriedade da terra
avançados da concentração de capital, permite era de quem conseguisse demarcá-la durante
um dia, legitimando dessa forma as posses que
a uma holding controlar um capital muito maior
os agricultores iam obtendo ao desbravar o Oes-
que o seu, obtendo lucros desproporcionalmente
te. A lei representou um poderoso estímulo para
elevados. Nos Estados Unidos, por exemplo, o
a colonização do Oeste dos Estados Unidos e
grupo Van Sweringen, dono de estradas de ferro
atraiu um enorme fluxo migratório para aquele
no valor de mais de 2 bilhões de dólares, era
país. Além disso, o homestead eliminava um po-
controlado por uma holding com um investimen-
deroso empecilho ao desenvolvimento da agri-
to inferior a 20 milhões de dólares. As multina-
cultura, na medida em que, pela nova lei, a pro-
cionais costumam centralizar o controle de suas
priedade da terra não pressupunha a proprie-
subsidiárias espalhadas pelo mundo numa hol- dade de escravos, nem essa última, a proprie-
ding instalada no país de origem ou em algum dade de terras.
outro onde a legislação fiscal seja mais branda.
Veja também Concentração; Oligopólios; Zai- HOMO FABER. Expressão em latim que signi-
batsu. fica o homem enquanto atividade criadora ou
produtiva, isto é, aquele que realiza uma ativi-
HOLDING EM PIRÂMIDE. Uma sociedade con- dade orientada para um fim, a atividade pro-
trola uma outra, que controla uma terceira e as- dutiva consciente, que o distingue dos outros
sim sucessivamente, inexistindo, no entanto, animais.
participações recíprocas. Isso permite que a em-
presa holding, com um montante de capital re- HOMOCEDASTICIDADE. Propriedade de uma
lativamente baixo, controle um conjunto de em- distribuição de freqüência em que todas as dis-
presas cujo capital é várias vezes superior ao tribuições condicionais, como, por exemplo, a va-
capital da controladora. Veja também Holding. riância, possuem o mesmo afastamento-padrão.
HOLÍSTICO. Termo derivado do grego hólos, HOMOLOGAÇÃO. Ato pelo qual a autoridade
que significa o todo, ou aquilo que é inteiro e reconhece ou aprova um outro ato, dando-lhe
HORAS EXTRAS 286

validade jurídica. No direito do trabalho, é a parte das reservas brasileiras são constituídas
aprovação, pela autoridade competente — a De- de operações hot money.
legacia Regional do Trabalho ou o sindicato pro-
fissional —, da demissão do empregado com HP. Veja Horse-power.
mais de um ano de serviço numa empresa. HUAN. Veja Uon.
Quando o empregado trabalha há menos de um
ano numa firma, a homologação é feita na pró- HULBERT RATING. Classificação do desem-
pria empresa. No ato da homologação, verifica- penho dos investimentos recomendados pelas
se o cumprimento de todos os direitos traba- publicações especializadas no assunto, realizada
lhistas, tais como comprovação da guia de re- pelo Hulbert Financial Digest. A classificação es-
colhimento do Fundo de Garantia por Tempo de tima as perdas e ganhos daqueles investidores
Serviço (FGTS), férias, 13º salário e aviso prévio. hipotéticos que tivessem seguido a orientação
dessas revistas especializadas na constituição de
HORAS EXTRAS. Horas trabalhadas pelo em- seus porta-fólios. Veja também Moody’s Inves-
pregado além da jornada de trabalho normal fi- tors Service; Porta-fólio; Standard & Poor’s.
xada por lei ou por contrato coletivo de trabalho.
É um recurso amplamente utilizado pelas em- HUME, David (1711-1776). Filósofo escocês, o
presas, para aumentar a produção sem precisar maior representante do ceticismo no século
contratar novos trabalhadores e arcar, conse- XVIII e um dos precursores do liberalismo eco-
qüentemente, com os respectivos encargos so- nômico. Levou às últimas conseqüências o em-
pirismo de Francis Bacon (1561-1626) e John Loc-
ciais. No Brasil, o valor da hora extra é fixado
ke (1632-1704), concluindo que o conhecimento
pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
humano não pode alcançar a certeza, mas so-
O valor da hora extra ou suplementar deve ser,
mente o provável. Kant afirmava que Hume o
no mínimo, 20% superior ao da hora normal, e
despertara de seu “sono dogmático”. Adam
nos dias de descanso (domingo) e feriados, a Smith, considerado o fundador da ciência eco-
majoração é de 100%. No entanto, a Constituição nômica, também foi muito influenciado por ele:
de 1988 estabeleceu que a remuneração do ser- nas obras filosóficas de Hume, estão desenvol-
viço extraordinário deve ser no mínimo 50% su- vidas algumas das teses fundamentais do libe-
perior à do normal. ralismo, como, por exemplo, a de que a pro-
HORSE-POWER. Expressão em inglês que sig- priedade não é um direito natural e seu primeiro
fundamento é o trabalho. As idéias exclusiva-
nifica unidade de potência ou trabalho. James
mente econômicas estão em oito ensaios que fa-
Watt calculou que um cavalo normal podia le-
zem parte de Political Discourses (Discursos Po-
vantar um peso de 550 libras (cerca de 250 kg) à
líticos), 1752. Particularmente importante é o pri-
altura de um pé (30 cm) em um segundo. Foi meiro ensaio, no qual o autor trata dos proble-
estabelecido então que uma máquina com a mes- mas do comércio exterior, atacando a tese central
ma potência seria denominada máquina de 1 HP. do mercantilismo (de que a riqueza privada é
A potência pode ser medida também em watts, o fundamento da riqueza pública) e mostrando
sendo um HP igual a 746 watts. O cavalo-vapor, que os comerciantes e donos de manufaturas
também usado para medir potência, equivale a absorvem recursos que poderiam servir ao for-
735 watts. Outra medida também utilizada, em- talecimento do Estado. Nesse texto, Hume pro-
bora com menor frequência, é o man-power, que cura mostrar que o comércio exterior exerce o
equivale ao trabalho de elevar um peso de 90 papel de fornecedor do estímulo inicial à indús-
libras (cerca de 40 kg) a uma altura de 30 cm. tria, com o que aumenta o número de empregos,
a demanda interna e a riqueza da nação. Passada
HOT ISSUE. Expressão do mercado acionário essa fase inicial, no entanto, o comércio exterior
que significa literalmente “emissão quente” e deixaria de ser essencial ao desenvolvimento da
que designa emissões recentes de ações muito indústria, tornando-se um mal que deveria ser
demandadas pelo público e que, por esta razão, combatido, pois as pessoas ricas causariam um
sofrem elevação em suas cotações. crescimento ilimitado da demanda interna. O
mercantilismo é também atacado quando afirma
HOT MONEY. Expressão inglesa que significa
que a abundância de moeda (trazida pelo co-
literalmente “dinheiro quente”, isto é, são apli-
mércio exterior) não é a causa da baixa nas taxas
cações em títulos ou no câmbio, atraídas por
de juros, pois estas dependeriam dos lucros no
taxas de juros elevadas ou diferenças cambiais comércio e na indústria, tese posteriormente re-
significativas, de curtíssimo prazo, podendo tomada por Smith e Ricardo.
deslocar-se de um mercado para outro com
grande agilidade. Esse tipo de operação pode HUNDREDWEIGHT. Termo em inglês que sig-
provocar grandes turbulências, especialmente nifica medida de peso equivalente a um quintal,
no equilíbrio cambial de um país. Atualmente, 100 libras ou 45,359 kg.
287 IBC

HUNG UP. Expressão em inglês que tem dois IAA — Instituto do Açúcar e do Álcool. Fun-
significados parecidos: 1) descreve a situação de dado em 1933, o IAA era um órgão autárquico
um investidor ou especulador que comprou tí- vinculado ao Ministério da Indústria e Comér-
tulos cujos preços caíram e que não podem ser cio. Encarregava-se da definição e direção da
revendidos, a não ser com uma perda; 2) des- economia canavieira nacional, controlando a
creve a situação de uma empresa repleta de tí- produção, o comércio, a exportação e os preços
tulos indesejáveis e de baixa liquidez que imo- do açúcar e do álcool de cana. O IAA sucedeu
bilizam seu capital e a impedem de aproveitar à Comissão de Defesa do Açúcar, criada em 1931
as oportunidades que apareçam no mercado. com o objetivo de enfrentar a grande crise açu-
careira mundial, reflexo da quebra do sistema
HURDLE RATE. A taxa mínima de retorno es- financeiro internacional de 1929. Desde sua cria-
perada pela aplicação de capital num determi- ção até 1965, o IAA orientou a produção do açú-
nado projeto. Se a taxa de retorno esperada for car e do álcool (mediante a fixação de cotas de
inferior à hurdle rate, o projeto será rejeitado. A produção), visando a garantir o equilíbrio entre
hurdle rate deverá ser pelo menos equivalente produção e consumo interno. Eventuais exces-
ao custo marginal do capital. Veja também Cus- sos de produção eram exportados por meio do
to Marginal do Capital. IAA, mas os riscos eram assumidos pelo pro-
dutor. Em 1965, a política do órgão foi substan-
HYMER, Steven Herbert (1934-1974). Economista cialmente alterada com a criação do Fundo Es-
canadense radicado nos Estados Unidos, Hymer pecial de Exportação, que equiparou os preços
recebeu seu título de doutoramento no Massa- do mercado interno aos do mercado internacio-
chussets Institute of Technology (MIT), em 1960. nal, incentivando assim as exportações. A partir
Depois de trabalhar em Gana por alguns anos, de então, o governo passou a pagar a diferença
regressou aos Estados Unidos, onde lecionou em entre os preços internos e os preços internacio-
Yale de 1964 a 1970. Inclinando-se no sentido nais, mais baixos. Além de executar a política
do marxismo, no final dos anos 60, foi afastado açucareira nacional, o IAA dava assistência a
de Yale e se transferiu para a New School for plantadores e usineiros, promovia o aumento
Social Research, onde ajudou a fundar e desen- do consumo e a exportação do produto, fixava
volver um programa de economia política até preços, arrecadava impostos e fiscalizava o cum-
sua morte prematura, em 1974. As contribuições primento da legislação. Em 15/3/1990, em de-
mais importantes de Hymer foram suas análises corrência da política do governo federal de eli-
sobre o investimento no exterior das empresas minar empresas estatais deficitárias e autar-
multinacionais. Afastando-se da teoria tradicio- quias, o Instituto do Açúcar e do Álcool foi ex-
nal do comércio internacional, considerava os tinto pela medida provisória de nº 151, referen-
investimentos diretos no exterior das empresas dada em abril pelo Congresso Nacional.
multinacionais uma conseqüência de suas con-
IAEA — Agência Internacional de Energia Atô-
tradições internas e da tendência a ampliar seu mica (International Atomic Energy Agency).
controle territorial. Suas contribuições também Organismo de colaboração internacional, criado
se desdobraram no desenvolvimento das análi- em 1957 e ligado à Organização das Nações Uni-
ses da economia política marxista. Seus ensaios das (ONU). Sediada em Viena, destina-se a pro-
mais significativos a esse respeito, assim como mover o emprego da energia atômica para fins
as análises sobre as corporações multinacionais, pacíficos. Conta com a participação de 113 paí-
foram publicados postumamente no livro The ses-membros e serve de intermediário entre eles
Multinational Corporation (A Corporação Multi- para o fornecimento de combustível e intercâm-
nacional), 1979. Veja Também Análise Técnica; bio de informações científicas e tecnológicas no
Mercado Spot. campo das pesquisas nucleares.

IBC — Instituto Brasileiro do Café. Autarquia


vinculada ao Ministério da Indústria e Comér-

I
cio, cuja principal finalidade era executar a po-
lítica cafeeira nacional em nível da produção e
de sua comercialização interna e externa. Foi
criado em dezembro de 1952 e tinha como atri-
buições fundamentais: 1) realizar estudos neces-
sários ao planejamento da política cafeeira; 2)
prestar assistência técnica e econômica à cafei-
cultura; 3) controlar a comercialização do café;
I. Inicial de: 1) income (renda); 2) interest (juros). 4) promover a expansão do consumo do pro-
duto; 5) executar e fazer cumprir a legislação
I-SENN. Veja Índice Senn. cafeeira, julgar os processos fiscais e aplicar as
IBDF 288

sanções pertinentes. Em 15/3/1990, como parte meio ambiente e poluição necessários ao conhe-
do programa de estabilização financeira do go- cimento da realidade física, econômica e social
verno (Plano Collor), que, entre outras medidas, do país, para fins de planejamento econômico
eliminou empresas estatais deficitárias ou au- e social e segurança nacional. Entre os trabalhos
tarquias onerosas ao Estado, o IBC foi extinto de informação levados a efeito pelo IBGE des-
pela medida provisória de nº 151, aprovada no tacam-se o processamento dos dados das esta-
mês seguinte pelo Congresso. tísticas a cargo da instituição; o desenvolvimen-
to de sistemas de obtenção de informações de
IBDF — Instituto Brasileiro de Desenvolvi- características geográficas, de questões geodési-
mento Florestal. Entidade autárquica vinculada cas, cartográficas e de recursos naturais; e a coor-
ao Ministério da Agricultura, criada em 1967. denação do Sistema Estatístico Nacional. O IBGE
Tem como objetivo formular a política florestal, publica mensalmente a Revista Brasileira de Es-
bem como orientar, coordenar e executar ou fa- tatística e o Boletim Estatístico.
zer executar as medidas necessárias à utilização
racional, à proteção e à conservação dos recursos IBM. Iniciais de International Business Machi-
naturais renováveis e ao desenvolvimento flo- nes, uma das mais importantes empresas mun-
restal do país. Elabora ainda planos de implan- diais de fabricação de equipamentos para as em-
tação de florestas e reflorestamento, promove presas, especialmente computadores. A evolu-
pesquisas e controla a utilização racional das flo- ção das cotações de suas ações são um indica-
restas pela indústria. O instituto possui um ór- dor da evolução geral dos negócios nos Esta-
gão consultivo e normativo, a Comissão de Po- dos Unidos.
lítica Florestal, reunindo representantes do po-
der público, autárquicos e organizações patro- IBOR. Iniciais da expressão em inglês interbank
nais, cuja função é orientar e facilitar a coorde- offered rate, que significa a taxa (de juros) adotada
nação e execução da política florestal, nos termos pelos bancos que emprestam a outros bancos
regulados pelo poder executivo. A receita do numa moeda determinada e num local deter-
IBDF é constituída por dotações orçamentárias minado. As mais importantes são as seguintes:
da União; créditos especiais abertos por lei; ren- Libor (London Interbank Offered Rate); Luxibor
das provenientes da exploração e venda de pro- (Luxemburgo Interbank Offered Rate); Mibor; Ki-
dutos florestais; rendas de qualquer natureza re- bor; Hkibor (Hong Kong Interbank Offered Rate);
sultantes do exercício de suas atividades ou da Dibor; Bribor e Bibor.
exploração de imóveis sob sua jurisdição; em- IBOVESPA — Índice da Bolsa de Valores de
préstimos, subvenções, dotações e outras rendas São Paulo. Número que exprime a variação mé-
que eventualmente receber; e produtos de mul- dia diária dos valores das negociações, na Bolsa
tas. O IBDF controla a produção de cada indús- de Valores de São Paulo, de uma carteira de
tria que opera na área sob sua jurisdição, esta- ações de cerca de cem empresas selecionadas.
belecendo padrões de conservação e instituindo O crescimento ou diminuição desse número —
a obrigatoriedade de plantio de árvores para que é expresso em unidades chamadas “pontos”
cada metro cúbico utilizado, em número variá- — representa a tendência geral dos preços das
vel conforme o tipo de indústria. Administra ações negociadas na Bolsa. Os critérios para a
ainda os 34 parques nacionais e reservas bioló- escolha das ações que compõem a carteira se
gicas do país. Mas seu esforço ressente-se da baseiam sobretudo na participação delas no vo-
falta de pessoal especializado: pouco mais de 3 lume de negócios e em sua presença nos pre-
mil guardas florestais, quando seriam necessá- gões. Quando alcança números muito elevados
rios 80 mil. Essa situação reflete-se num índice (50 mil pontos), o índice é ajustado para um
anual de reflorestamento variável entre 300 mil número-base (cem pontos), para facilitar os cál-
e 400 mil hectares, a partir de 1973, insuficiente culos.
para as necessidades brasileiras. O esquema de
incentivos fiscais do IBDF para projetos de re- IBV — Índice da Bolsa de Valores. Número
florestamento para pessoas jurídicas é mais ge- que exprime a variação média diária dos valores
neroso na região Norte/Nordeste, onde o inves- das negociações, na Bolsa de Valores do Rio de
tidor pode abater 25% do Imposto de Renda de- Janeiro, de uma carteira de ações de cerca de
vido; nas outras regiões, esse abatimento é de cem empresas. Veja também Ibovespa; Núme-
17,5%. Veja também Reflorestamento. ro-índice.
IBGE — Instituto Brasileiro de Geografia e Es- ICERC. Sigla em inglês correspondente a Co-
tatística. Órgão vinculado à Secretaria de Pla- mitê Interministerial de Avaliação de Risco So-
nejamento da Presidência da República. Sua atri- berano, instância criada pelo governo norte-
buição básica consiste em fornecer informações americano, depois da crise internacional da dí-
e estudos de natureza estatística, geográfica, car- vida externa em 1982, para proteger seu sistema
tográfica, demográfica, de recursos naturais, financeiro. Durante os anos 80, a classificação
289 ILIQUIDEZ

brasileira foi sendo rebaixada até alcançar o seu vista variados sobre o tema podem ser encon-
nível mais baixo depois da moratória de 1987 trados em Georg Lukács, Antonio Gramsci, Lu-
(durante o governo Sarney), quando foi consi- cien Goldmann, Louis Althusser, Maurice Gau-
derada value impaired ou o equivalente a crédito delier e outros. Fora do marxismo, estudaram
duvidoso. Após o acordo em 1994 sobre a dívida a ideologia Georges Gurvitch e Karl Mannheim.
externa nos termos do Plano Brady, a classifi-
cação do Brasil vem melhorando e o deságio IDU (Interest Due and Unpaid). Veja Plano
sobre os títulos da dívida securitizada vem di- Brady; TJLP.
minuindo no mercado internacional. Veja tam- IENE. Unidade Monetária do Japão. Submúlti-
bém Moody’s Investors Service; Plano Brady; plo: sen ou rin.
Standard & Poor’s.
IEPTAE. Veja Dracma.
ICM — Imposto sobre Circulação de Merca-
dorias. Introduzido no Brasil em 1/12/65 em IGNORÂNCIA OPORTUNISTA. Expressão cu-
substituição ao Imposto de Vendas e Consigna- nhada por Gunnar Myrdal (1898-1987) para de-
ções (IVC), o ICM é cobrado, em cada Estado signar economistas que, para provar suas teo-
da federação, por ocasião da primeira operação rias, enfatizam elementos irrelevantes e igno-
de venda de uma mercadoria. Nas etapas sub- ram elementos importantes na análise de uma
seqüentes da circulação dessa mercadoria, o tri- realidade.
buto incide apenas sobre o valor acrescentado
em relação à operação anterior. De acordo com IGP — Índice Geral de Preços. Índice calculado
a Constituição de 1988, o ICM e o Imposto sobre pela Fundação Getúlio Vargas desde os anos 40.
Serviços (ISS) foram fundidos num único im- O IGP é composto pelo Índice de Preços por
posto, o ICMS. Atacado (IPA), que participa com 60%, pelo Ín-
dice de Preços ao Consumidor (IPC) da cidade
ICMS. Veja ICM. do Rio de Janeiro, com a participação de 30%,
e do Índice Nacional de Custo da Construção
IDDC. Iniciais de International Debt Discount Civil (INCC), com o peso de 10%. O índice de
Corporation. maior participação no IGP, o IPA, é calculado
IDEMSONANS. Termo latino que significa li- sob o conceito de Oferta Global (OG), de Dis-
teralmente “o mesmo som” e que é um docu- ponibilidade Interna (DI) e de Mercado (M). Na
mento legal no qual a fidelidade absoluta na Oferta Global, são consideradas a produção in-
grafia de um nome não é exigida, desde que terna e as importações, e na Disponibilidade In-
soe da mesma forma que a grafia correta, em terna são excluídas as exportações da Oferta
se tratando de nome próprio, como, por exem- Global; o IGP-M (de Mercado) tem a mesma
plo, Yeda, Ieda ou Yedda. composição que o IGP-DI, embora seja calculado
tomando-se os preços entre os dias 21 do mês
IDEOLOGIA. Um dos conceitos mais contro- anterior e 20 do mês em curso, e não entre os
versos no âmbito da filosofia, da sociologia e dias 1º e 30 de cada mês; a diferença deve-se à
da historiografia, designando, na acepção mais necessidade de determinar a rentabilidade dos
geral, um conjunto de idéias peculiar a uma clas- ativos financeiros. Dependendo do IPA que se
se ou camada social. O termo foi criado no co- utilize na composição do IGP, este índice será
meço do século XIX pelo francês Destutt de Tra- apresentado como Oferta Global (OG) ou como
cy, com a significação de ciência que tem por Disponibilidade Interna (DI).
objeto o estudo das idéias. Foi retomado por
Karl Marx e Friedrich Engels em A Ideologia Ale- IGREJA, Doutrina Social da. Veja Doutrina So-
mã (1845), com o sentido de consciência social cial da Igreja.
falsa que os agentes intelectuais de uma classe ILHAS DE FABRICAÇÃO. Consistem no agru-
elaboram, obscurecendo a natureza objetiva dos pamento de máquinas de tal forma que cada
interesses materiais dessa mesma classe. Toda “ilha” possa confeccionar completamente um
ideologia seria, por conseguinte, incompatível certo conjunto ou “família” de peças semelhan-
com a ciência social, considerada como conhe- tes. Com esse procedimento, são eliminados os
cimento verdadeiro dos fenômenos sociais. As transportes entre as seções e o fluxo do processo
ideologias manifestar-se-iam na política, no di- de fabricação é feito como se estivesse em linha.
reito, na moral, na arte, na religião e na filosofia, No setor de usinagem, as ilhas de fabricação
integrando, na concepção marxista, a superes- substituem a organização produtiva tradicional,
trutura social. O conceito tomou, no entanto, sig- compreendida pelas seções de tornos, fresas, re-
nificações diferentes dentro do marxismo e fora tíficas etc.
dele. Para Lênin, na obra Que Fazer? (1903), a
ideologia do proletariado seria científica, iden- ILIQUIDEZ. Falta de liquidez, isto é, falta de
tificando-se com o próprio marxismo. Pontos de dinheiro para realizar pagamentos. Por proble-
ILUSÃO FISCAL 290

mas gerenciais, por exemplo, uma empresa pode IMPERIALISMO. Política de dominação terri-
chegar a um excesso de estoque e ter sua liqui- torial e/ou econômica de uma nação sobre ou-
dez comprometida, já que boa parte do capital tras. O conceito passou a ser difundido em fins
está em forma de mercadorias. Nesses casos, do século XIX, com a expansão econômica e po-
costuma-se fazer uma liquidação, isto é, vender lítica da Grã-Bretanha. Na época, representava
rapidamente o estoque, transformando-o em di- o desejo de cada uma das nações mais desen-
nheiro. volvidas de adquirir, administrar e explorar eco-
nomicamente territórios menos avançados, com
ILUSÃO FISCAL. Situação na qual os benefí- a finalidade principal de comércio, mas algumas
cios ocasionados por determinados gastos do vezes para eliminar um risco estratégico em sua
governo são claramente percebidos pelos bene- competição mútua. Atualmente, os termos “im-
ficiários, não acontecendo o mesmo, no entanto, perialismo econômico”, “neocolonialismo” e
com os custos. Este fenômeno pode levar a mui- “dependência” são comumente usados para de-
tas distorções nos gastos públicos. finir as relações econômicas dos países desen-
ILUSÃO MONETÁRIA. Processo que consiste volvidos com os países pobres. Para o pensa-
basicamente em confundir a correção monetária mento de orientação liberal, o imperialismo
de aplicações financeiras com ganhos reais, ou constitui uma política expansionista de grandes
com juros reais incidentes sobre as mesmas. No potências industriais que poderia ser evitada. Já
Brasil, com o intenso processo inflacionário a para o pensamento de orientação marxista, o im-
partir do início dos anos 80 e com os sucessivos perialismo é uma fase inevitável do desenvol-
planos de estabilização a partir do Plano Cru- vimento da economia capitalista, devido à pró-
zado, a brusca redução dos patamares inflacio- pria natureza dessa economia. O inglês J.A. Hob-
nários (e, portanto, da correção monetária) levou son, um dos primeiros autores a estudar as ca-
muitos aplicadores em cadernetas de poupança, racterísticas econômicas dessa política em Impe-
Fundos de Aplicações Financeiras etc. a retirar rialismo (1902), vinculou-a às exportações de ca-
o dinheiro para destiná-lo ao consumo, uma vez pitais e à conquista de fontes de matérias-primas
que a remuneração dessas aplicações havia se e mercados. Para J.A. Schumpeter (Imperialismo
tornado insignificante, quando, na realidade, e Classes Sociais, 1919-1927), a política imperia-
seu rendimento real havia permanecido o mes- lista não tem relação com a natureza do capita-
mo. Em função da ilusão monetária — e também lismo, por essência pacifista, mas com um im-
para facilidade de cálculos —, países que en- pulso atávico de luta, próprio de estruturas e
frentam taxas inflacionárias extremamente ele- camadas sociais pré-capitalistas, que não pode-
vadas costumam realizar reformas monetárias, riam existir sem guerras e conquistas territoriais.
dividindo o valor da moeda anterior por 100, Hilferding em O Capital Financeiro (1910), Buk-
1 000 ou mais, num esforço de criar a ilusão de hárin em A Economia Mundial e o Imperialismo
que os preços diminuíram. (1915) e principalmente Lênin em O Imperialismo,
Etapa Superior do Capitalismo definiram o capital
IMBEL — Indústria de Material Bélico do Bra- financeiro como a fusão do capital bancário com
sil. Empresa pública com sede em Brasília e vin- o capital industrial, o que marcaria a passagem
culada ao Ministério do Exército. Criada em do capitalismo de livre-concorrência para o ca-
1975 com o objetivo de: 1) colaborar no plane- pitalismo dos monopólios. Nessa fase ocorreria
jamento e fabricação de material bélico pela a formação de grandes excedentes de capitais
transferência de tecnologia; 2) dar incentivo à nos países industriais adiantados, capitais esses
implantação de novas indústrias e prestação de que precisariam ser exportados, tornando a ex-
assistência técnica e financeira; 3) promover, portação de capitais mais importante que a ex-
com base na iniciativa privada, a implantação portação de mercadorias. Outras características
e o desenvolvimento da indústria de material do imperialismo seriam a necessidade das gran-
bélico de interesse do Exército; 4) administrar, des potências de garantir mercados e fontes de
industrial e comercialmente, seu próprio parque matérias-primas e a luta — até mesmo por meio
de material bélico por força de contingência de de guerras — pela repartição territorial das es-
pioneirismo, conveniência administrativa ou no feras de influência e das áreas coloniais e semi-
interesse da segurança nacional. Cabe ainda à coloniais. Lênin partiu das teses econômicas de
Imbel estabelecer planos visando ao desenvol- Marx em O Capital e desenvolveu os estudos
vimento do setor de material bélico, bem como empíricos e teóricos de J.A. Hobson e Hilferding,
formar pessoal técnico habilitado para essa in- afirmando que o imperialismo não é uma polí-
dústria. tica eventual, mas faz parte da natureza da evo-
IMIGRAÇÃO. Veja Migração. lução do próprio capitalismo. Uma atualização
da teoria marxista sobre o imperialismo, estu-
IMO. Iniciais de International Maritime Orga- dado sob o aspecto da grande empresa norte-
nization. americana, foi feita por Paul Baran e Paul Swee-
291 IMPOSTO

zy em O Capitalismo Monopolista (1966). Veja IMPORTAÇÕES, Substituição de. Veja Subs-


também Capitalismo; Colonialismo; Comércio tituição de Importações.
internacional; Dependência; Monopólio; Mul-
tinacionais; Subdesenvolvimento. IMPOSTO. Taxas obrigatórias pagas ao Estado,
que devem reverter à coletividade sob forma de
IMPLIED VOLATILITY. Expressão em inglês benefícios de interesse geral: transporte, educa-
que significa o grau de volatilidade implícita ção, saúde etc. Historicamente, esse pagamento
pelo preço de mercado de uma opção. Alguns despontou sob a forma de tributo, exprimindo
operadores compram opções quando o seu grau uma relação de força que um povo vencido de-
de volatilidade é baixo, e as vendem quando via a seus dominadores. Na Idade Média, pre-
seu grau de volatilidade é alto. Utilizando o Mo- valeceu a idéia de que o imposto não podia ser
delo Black Scholes, um operador que conheça estabelecido sem o consentimento dos contri-
o preço da opção, seu preço de exercício e outros buintes; ou que o imposto era estabelecido a
fatores, pode determinar a volatilidade de um rogo do rei. Seria assim uma ajuda que se ofe-
título. Veja também Black Scholes Model; Vo- recia ao soberano, como um complemento de
latilidade. seus recursos normais. Mais tarde essas formas
de tributos ganharam o sentido de obrigatorie-
IMPORTAÇÃO. Entrada de mercadorias e ser- dade, de coisa imposta; uma imposição que não
viços estrangeiros num país. Os serviços, cujo pode ser exercida sem o consentimento dos con-
valor não figura na receita comercial, constituem tribuintes, consentimento este que, nos regimes
as importações invisíveis. Para manter a balança representativos, é atribuído ao poder legislativo.
comercial favorável ou ao menos equilibrada, A obrigatoriedade dos impostos pode ser en-
os países submetem as importações a diversas tendida em termos de uma relação contratual
formas de controle. Os importadores podem re- entre os cidadãos e o Estado, que lhes protege
correr ao mercado financeiro internacional para os bens e a própria vida. De acordo com outra
obter o crédito necessário ao pagamento de suas teoria, o imposto corresponderia ao preço que
importações. Para facilitar essas transações, com o indivíduo paga pelos serviços prestados pelo
o aumento do volume do comércio mundial, fo- Estado à coletividade; outros o vêem como uma
ram criados instrumentos de troca, como os cer- espécie de dívida social, com a qual os cidadãos
tificados de crédito sobre operações futuras e teriam de arcar pelo simples fato de fazer parte
os direitos especiais de saque que cada país tem da comunidade política. Os impostos podem ser
junto ao FMI, variando conforme suas cotas nes- de vários tipos: imposto pessoal — grava os bens,
te órgão. Veja também Comércio Internacional; levando em conta o contribuinte que deles usu-
Incoterms. frui e seu grau de bem-estar; imposto real — in-
cide sobre a matéria tributável, sem levar em
IMPORTAÇÃO, Restrições à. Medidas restri- consideração a pessoa do contribuinte, sua si-
tivas impostas à importação de produtos por tuação ou grau de riqueza; imposto direto — afeta
um país consistentes em tarefas, cotas ou depó- a riqueza dos contribuintes, incidindo direta-
sitos de importação. São geralmente impostas mente sobre seus capitais ou suas rendas, e de-
com o objetivo de: 1) corrigir um déficit no ba- pende da importância das riquezas possuídas
lanço de pagamentos, substituindo o consumo ou das rendas ou salários recebidos; imposto in-
de bens importados pelo de bens produzidos direto — decorrente da produção e comerciali-
no país. A extensão desse efeito dependerá da zação (geralmente, incide sobre vendas, produ-
tos industrializados, importação etc.); imposto
elasticidade da demanda pelas importações em
por cotas — sua tarifa é fixada pela lei fiscal,
questão, isto é, do grau em que o mercado local
sem que seja determinado o produto total; im-
dispõe de substitutos aceitáveis; 2) aumentar a
posto por contingente — a lei fixa determinada
economia do bem-estar social de um país às ex-
quantia, o contingente; não se estabelece tarifa;
pensas de outros, na medida em que haja poder imposto progressivo — aumenta em proporção
para explorar os supridores estrangeiros, por maior que o valor sobre o qual incide; imposto
meio, por exemplo, de monopólio, sem perigo proporcional — aumenta na mesma proporção
de retaliação; 3) proteger o mercado da indústria que o valor gravado; imposto regressivo — tem
nacional enquanto ela está se estabelecendo. um impacto menor ao incidir sobre as faixas
Restrições não-tarifárias incluem direitos fis- baixas de renda. A distinção entre imposto pro-
cais, tais como taxas de valor de acréscimo. gressivo e imposto regressivo é tênue, referida
Outros exemplos de restrições são as taxas do- a seu móvel de aspiração: o primeiro pretende-
mésticas aplicadas de acordo com as caracte- ria, sobretudo, sobrecarregar os contribuintes de
rísticas técnicas dos produtos. Veja também rendas mais elevadas; o segundo teria a finali-
Balança Comercial; Protecionismo; Substitui- dade de aliviar os mais despossuídos. No Brasil,
ção de Importações. os impostos indiretos são geralmente regressi-
IMPOSTO DE CONSUMO 292

vos e os impostos diretos, progressivos. Entre a primeira cobrança feita sobre o exercício fi-
os impostos diretos podemos citar o imposto nanceiro de 1924. O Imposto de Renda é direto
sobre a renda, que apresenta alíquotas crescen- e progressivo, isto é, incide diretamente sobre
tes em relação à elevação das faixas de renda. uma pessoa física ou jurídica, e a taxação é pro-
Entre os impostos indiretos temos o Imposto so- gressivamente proporcional ao valor do rendi-
bre Produtos Industrializados, Imposto sobre mento. Por isso, é considerado o imposto mais
Circulação de Mercadorias e Serviços, Imposto justo. O sistema de arrecadação, apesar das cons-
de Importação etc. Uma característica do sistema tantes mudanças feitas, sustenta-se em duas ba-
tributário do Brasil e dos demais países subde- ses: o imposto arrecadado na fonte e o imposto lan-
senvolvidos é a preponderância dos impostos çado. O imposto arrecadado na fonte é retido e
indiretos. A posição secundária da tributação di- recolhido pelas fontes pagadoras do rendimen-
reta pode ser atribuída à inexistência de um sis- to, enquanto o lançado baseia-se na declaração
tema de arrecadação eficiente, ao baixo nível de do contribuinte.
renda da população e à constante premência de
recolhimento imediato dos impostos. Muitos IMPOSTO DE RENDA NEGATIVO. O concei-
economistas atribuem aos impostos indiretos to de Imposto de Renda negativo surgiu como
uma pressão inflacionária maior que a dos im- um dos mecanismos de transferência de renda
postos diretos, devido ao fato de as empresas inseridos no plano mais geral dos esforços de
transferirem para o consumidor o valor dos im- reformas dos sistemas de bem-estar, durante os
postos pagos, elevando o preço da venda de seus anos 60, nos Estados Unidos. Os ancestrais desse
produtos. Veja também Orçamento. programa devem ser encontrados, no entanto,
na Lei dos Pobres, na Inglaterra, durante o sé-
IMPOSTO DE CONSUMO. Tributo federal subs- culo XIX, e no Dividendo Social promovido por
tituído, em 1966, pelo IPI. lady Rhis-Williams, também na Inglaterra, de-
pois da Segunda Guerra Mundial. Embora o ter-
IMPOSTO DE EXPORTAÇÃO. Imposto cria-
mo tenha sido criado por Milton Friedman, ao
do, em 1979, com o propósito de reduzir a queda
apresentar um esquema sintético do sistema no
na receita de exportações em função da maxi-
seu livro Capitalism and Freedom (Capitalismo e
desvalorização do cruzeiro daquele ano, bem
Liberdade), 1962, o Imposto de Renda negativo
como de elevar o preço de vários produtos para
tem sido preocupação de economistas conven-
o consumidor externo, contendo a exportação
cidos da necessidade de ampliar transferências
desses produtos e garantindo seu fornecimento
como uma componente da redução da pobreza,
no mercado interno. Foi utilizado também por
em vista da ineficácia dos programas então exis-
ocasião da maxidesvalorização de 1983, com alí-
quotas que variaram de 5 a 20% sobre 69 pro- tentes. A idéia básica do Imposto de Renda ne-
dutos da pauta de exportações, tanto primários gativo é fixar um nível de renda mínimo, e todos
como industrializados. A redução desse imposto aqueles que não alcançassem esse nível recebe-
é progressiva, à medida que se vão atenuando riam uma quantia em dinheiro para complemen-
os efeitos da maxidesvalorização. Embora possa tar sua renda. Outros benefícios que visam o
ser aplicado sobre qualquer bem ou serviço, tem bem-estar e são concedidos in natura aos mais
sido utilizado em bens primários, como café, pobres seriam substituídos, inclusive para re-
soja, algodão, açúcar e produtos agropecuários. forçar o fundo que viabilizasse financeiramente
o programa. No Brasil, o Imposto de Renda ne-
IMPOSTO DE LAREIRA. Tipo de imposto exis- gativo vem sendo discutido e defendido pelo
tente na Inglaterra no século XVII e incidente senador Eduardo Suplicy por meio de um Pro-
sobre a(s) lareira(s) existente(s) numa casa. Se- grama de Renda Mínima transformado em projeto
gundo William Petty, este imposto era o mais de lei e já aprovado no Senado em primeira dis-
fácil, claro e apropriado, na medida em que cussão. Veja também EITC.
era fácil determinar o número de lareiras exis-
tentes numa comunidade por meio do número IMPOSTO DIRETO. Veja Imposto.
de chaminés existentes, e que não eram facil-
mente removíveis como as pessoas. Veja tam- IMPOSTO DO SELO. Veja Lei do Selo.
bém Capitação.
IMPOSTO DO VINTÉM. Taxa de vinte réis so-
IMPOSTO DE RENDA. Tributo cobrado das bre as passagens de bonde do Rio de janeiro,
pessoas físicas e jurídicas sobre os rendimentos cuja inclusão na lei do orçamento deu motivos
auferidos no exercício de suas atividades pro- a um movimento popular que se estendeu de
fissionais ou comerciais, ou ainda sobre os ren- 1º a 4 de janeiro de 1880. Após vários choques
dimentos resultantes da aplicação de seus capi- entre a população revoltada e as tropas da Bri-
tais. O Imposto de Renda no Brasil foi criado gada Policial, do Corpo de Bombeiros e do Cor-
pelo presidente Artur Bernardes, em 1922, sendo po de Imperiais Marinheiros, o imperador D.
293 IN AND OUT

Pedro II resolveu suspender a cobrança do im- presa responsável pelo recolhimento desse im-
posto, o que foi confirmado pelo Parlamento posto junto ao fisco.
quando da abertura de seus trabalhos, no dia
1º de maio daquele ano. IMPOSTO SELETIVO. Veja Excise Tax.

IMPOSTO EM BENEFÍCIO DO BANCO DO IMPOSTO SOBRE VENDAS. Veja ICM.


BRASIL. Imposto criado durante o reinado de IMPOSTO SONEGADO. É o imposto não pago
D. João VI no Brasil, de 12$800, incidente sobre de forma dolosa, isto é, o contribuinte sabe que
cada negociante, livreiro, boticário, sobre lojas tem que pagar e, conscientemente, não recolhe
de ouro, prata, estanho e artigos de cobre, tabaco aos cofres públicos as importâncias devidas, em-
etc., isentas somente as lojas de barbeiro e sa- bora exista expressa disposição legal para fazê-
pateiro. lo. Vários estudos desenvolvidos pela Secretaria
IMPOSTO INDIRETO. Veja Imposto. da Receita Federal indicam que o nível de so-
negação é muito elevado no Brasil, sendo que
IMPOSTO INFLACIONÁRIO. O imposto in- para cada real de imposto pago corresponderia
flacionário é aquele decorrente das receitas ob- outro de imposto sonegado. Veja também Re-
tidas pelo governo pela emissão de moeda. Toda ceita Federal (Secretaria da); Sonegação Fiscal.
emissão de moeda que o governo realiza signi-
IMPOSTO ÚNICO. Tipo de imposto que cons-
fica automaticamente que ele aumenta sua ca- tituiria a única fonte de receita do governo. O
pacidade de adquirir bens e serviços, pagar dí- imposto único pode incidir sobre a receita, o
vidas etc., isto é, fazer frente às despesas gover- capital, a propriedade etc., mas a forma que tem
namentais. É como se um governo tivesse obtido recebido mais atenção dos estudiosos é sobre o
tais recursos dos tributos que lança. Como tal valor da terra. A idéia do imposto único sobre
atitude, via de regra, provoca inflação, pois o o valor da terra foi lançada pelo economista e
aumento das emissões, expandindo os meios de político americano Henry George, em sua obra
pagamento, resulta numa elevação dos preços, Progresso e Pobreza, e tem certa afinidade com o
denomina-se esta arrecadação “imposto inflacio- impôt unique dos fisiocratas. Segundo Henry
nário”. Nos países onde a inflação é muito baixa, George, a renda econômica da terra era resul-
e onde, portanto, o governo emite uma quanti- tado do crescimento da economia e não do es-
dade muito pequena de moeda adicional, este forço individual; em conseqüência, os governos
imposto não representa uma parcela significa- tinham uma justificativa para apropriar-se dessa
tiva do total de receitas de um governo: nos renda, eliminando a necessidade de cobrar ou-
países industrializados da Europa e América do tros impostos. No Brasil, o principal defensor
Norte, entre 1960 e 1978, esta receita média não do projeto do imposto único (adaptado às con-
alcançou 1% do PIB desses países. Nos países, dições brasileiras) é o economista e vereador
no entanto, onde o processo inflacionário é mui- Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, pro-
fessor da Escola de Administração de Empresas
to intenso, estas receitas podem alcançar níveis
da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.
expressivos. Por exemplo, durante os anos 20,
nas hiperinflações dos países europeus, como a IMPÔT UNIQUE. Veja Imposto Único.
Alemanha, esta participação alcançou cerca de
10% do PIB e quase a totalidade da arrecadação IMPUTED INTEREST. Veja Juros Imputados.
do governo central. Mais recentemente, na Ar-
INA — Indicador do Nível de Atividade. Índice
gentina, entre 1960 e 1975, as receitas do imposto
apurado pela Fiesp (Federação das Indústrias
inflacionário alcançaram em média cerca de 6% do Estado de São Paulo) e que estima o nível
do PIB e quase 50% do total de receitas do go- de capacidade ociosa na indústria no Estado de
verno. Veja também Braceagem; Senhoriagem. São Paulo.
IMPOSTO PROGRESSIVO. Veja Imposto. INADIMPLÊNCIA. Falta de cumprimento das
IMPOSTO PROPORCIONAL. Veja Imposto. cláusulas contratuais em determinado prazo.
Além de permanecer em débito, a parte inadim-
IMPOSTO RETIDO NA FONTE. Todo impos- plente fica sujeita ao pagamento de juros de
to que é descontado em sua própria fonte ge- mora, multa contratual ou outros encargos.
radora. Nessa fonte, existe a figura do respon-
INAMPS. Veja INSS.
sável, solidário com o contribuinte e que deve
proporcionar o pagamento do imposto devido. IN AND OUT. Expressão em inglês utilizada
Por exemplo: no Brasil, o Imposto de Renda é entre especuladores para designar uma opera-
deduzido do salário no momento em que o em- ção de compra imediatamente seguida por uma
pregado recebe sua remuneração, ficando a em- venda, ou vice-versa. Por exemplo, a compra de
INCENTIVO FISCAL 294

um título e sua venda no mesmo dia é uma terior 1941). Estas definições foram estabelecidas
operação in and out. no XXVII Congresso Nacional do Comércio Ex-
terior, realizado nos Estados Unidos em 1940, e
INCENTIVO FISCAL. Subsídio concedido pelo são ainda aplicadas naquele país, embora a ten-
governo, na forma de renúncia de parte de sua dência seja a uniformização em torno dos inco-
receita com impostos, em troca do investimento terms, pois estes proporcionam uma aplicação
em operações ou atividades por ele estimuladas. mais universal. A importância dos incoterms está
Os incentivos podem ser diretos ou indiretos. no estabelecimento do que se denomina “ponto
Quando concedidos na forma de isenção do pa- crítico”, isto é, aquele momento de transferência
gamento de um imposto direto, como o imposto de obrigações, ou seja, quando o vendedor (ex-
sobre a renda, beneficiam o contribuinte; no caso portador) é considerado isento de responsabili-
de um imposto indireto, tendem a diminuir o dade legal sobre a mercadoria entregue ao com-
preço da mercadoria produzida pela empresa prador, tendo direito a receber o pagamento es-
que recebe a isenção, beneficiando também o tipulado na medida em que, daquele ponto em
consumidor. Veja também Fundos Fiscais. diante, as despesas e os riscos correm por conta
do comprador (importador). A relevância dos
INCERTEZA. Situação em que, partindo-se de
determinado conjunto de ações, chega-se a vá- incoterms é sua capacidade de definir com pre-
rios resultados possíveis. Os resultados são co- cisão, e sem deixar margem a dúvidas, o ponto
nhecidos, mas não a probabilidade de eles ocor- crítico das transações. Os incoterms são os se-
rerem. Caso as probabilidades sejam conhecidas, guintes: ex work; freight or carriage paid to; delivered
fala-se em risco. Veja também Risco. duty paid; free carrier (franco-transportador); na-
med point (ponto designado); FAS; FOB; C&F;
INCH. Veja Polegada. CIF; ex ship; ex quay; FOB Airport; FOR/FOT; de-
livered at frontier. As fortes mudanças ocorridas
INCOMPATÍVEIS. Veja Mutuamente Exclusivos. nas modalidades de transporte e nos procedi-
mentos documentais do comércio internacional
INCORPORAÇÃO. Aquisição de uma empresa criaram a necessidade de uma revisão dos inco-
por outra. Pode ser feita pela compra à vista terms capaz de colocá-los em sintonia com essas
das ações, pagando-se por elas um preço supe- transformações. Entre as mudanças mais impor-
rior ao preço de mercado, ou adquirindo-se o tantes encontram-se as seguintes: 1) estabeleci-
controle acionário a longo prazo. As incorpora- mento de um único operador responsável por
ções são realizadas, em geral, para aumentar o todas as etapas do sistema de transporte, com
poder de monopólio dos grupos empresariais e apenas um contrato de transporte abrangendo
diminuir a concorrência. O termo “incorpora- todo o percurso, da origem ao destino; 2) entrega
ção” traz implícito o sentido de que a aquisição das mercadorias (exceto quando se trata de gran-
foi feita sem total acordo por parte da incorpo- des volumes) na estação de fretes ou terminais
rada, diferindo, por isso, da fusão. Veja também em vez de no navio, o que torna ociosos os in-
Concorrência; Fusão; Merger. coterms, que têm como ponto crítico (ponto de
INCORPORAÇÃO DE RESERVAS. Processo transferência de responsabilidades) o costado do
contábil pelo qual os lucros retidos e não dis- navio (free alongside ship, por exemplo); 3) a con-
tribuídos nos exercícios anteriores (fundos de teinerização impossibilitou a constatação de ava-
reserva etc.) passam a ser contabilizados como rias durante o trânsito de uma mercadoria, a
integrantes do capital da empresa. não ser antes do embarque ou depois do de-
sembarque, quando o contêiner é aberto; 4) a
INCOTERMS. Abreviação da expressão em in- substituição do conhecimento de embarque tra-
glês international commercial terms, que significa dicional por faturas e recibos fornecidos por sis-
“termos do comércio internacional”. Os inco- temas de dados computadorizados, o que pos-
terms surgiram em 1936, quando a Câmara de sibilita a revenda da mercadoria antes mesmo
Comércio Internacional resolveu editar um livro de sua chegada ao destino, mediante a entrega
consolidando e interpretando as várias fórmulas do documento ao novo comprador. A partir de
contratuais que vinham havia muito sendo uti- 1980, foram introduzidos dois novos termos,
lizadas pelos comerciantes internacionais. Esse além da atualização de um já existente. Os dois
conjunto de normas ficou conhecido como In- novos são os seguintes: 1) free carrier, que é uma
coterms 1936. Em 1953, foi reformulado, tendo adaptação do termo FOB para adaptá-lo às pe-
sofrido algumas emendas e adições em 1967, culiaridades do transporte intermodal, isto é, en-
1976 e 1980, sendo que, atualmente, o novo con- quanto no sistema FOB o vendedor cumpre suas
junto de regras denomina-se Incoterms 1980. obrigações e isenta-se de responsabilidade quan-
Além dos incoterms, existem também as Revised to a risco de perdas e danos da mercadoria no
American Foreign Trade Definitions 1941 (Defini- momento do embarque (quando a mercadoria
ções Americanas Revisadas para o Comércio Ex- é colocada a bordo do navio), na nova versão
295 INDICADOR SOCIAL

o ponto crítico é o “ponto designado”, ou seja, Ministério de Assuntos Fundiários. Tinha como
quando o produto é entregue em custódia ao finalidade fazer o levantamento cadastral das
transportador; 2) freight/carriage and insurance propriedades agrícolas e a demarcação de áreas
paid to (named point of destination) CIP. Segue os prioritárias para colonização e reforma agrária,
mesmos princípios do CIF (cost, insurance and além de cuidar das medidas executivas para sua
freight), sendo que o vendedor arca com os cus- implementação. O Incra foi extinto por decreto-
tos de transporte e seguro até o ponto acordado lei assinado pelo presidente José Sarney em
entre as partes. Os riscos de perdas e avarias e 21/10/1987. As atribuições do Incra passaram
os aumentos de despesas são transferidos não a ser desempenhadas diretamente pelo Minis-
mais no momento do embarque (como ocorre tério da Reforma e do Desenvolvimento Agrário
no sistema CIF), o que atende apenas ao trans- (Mirad). As superintendências regionais do In-
porte marítimo, mas quando da entrega da mer- cra foram mantidas e seus diretores estão vin-
cadoria ao primeiro transportador, adaptando- culados diretamente ao gabinete do ministro.
se desta forma a qualquer tipo de transporte,
INCRA, Cadastramentos do. Levantamentos ca-
inclusive o intermodal. A atualização do termo
dastrais das propriedades agrícolas realizados
existente refere-se a freight/carriage paid to. Este
periodicamente, a partir de 1967, com a finali-
termo não é novo, tendo sido apenas atualizado
dade da cobrança do Imposto Territorial Rural
às condições do transporte integrado ou inter-
e a classificação das propriedades rurais como
modal. É praticamente igual ao anterior, com a
minifúndio, empresa rural, latifúndio por explo-
única diferença de que não exige do vendedor
ração e latifúndio por dimensão, com o objetivo
a contratação do seguro. Alguns incoterms ad-
de realizar a reforma agrária. Veja também In-
mitem variações, sendo as mais importantes as cra; Reforma Agrária.
seguintes: 1) FOB americano. Neste caso, os cus-
tos de transporte até o porto ou aeroporto de INDENTURE. Termo em inglês que significa
embarque e aqueles referentes ao desembaraço um acordo por escrito entre uma corporação que
alfandegário na exportação não estão a cargo emite título de dívida e quem o adquire (o cre-
do vendedor, mas sim do comprador. O FOB dor), estabelecendo data de vencimento, taxa de
americano fica num ponto intermediário entre juros e outras condições do acordo.
o ex work e o free carrier; 2) ex work. Nesta mo-
dalidade, os custos de carregamento da merca- INDEXAÇÃO. Mecanismo de política econômi-
doria da fábrica para o veículo do transportador ca pelo qual as obrigações monetárias têm seus
correm por conta do comprador. No entanto, valores em dinheiro corrigidos com base em ín-
caso haja acordo entre as partes, a responsabi- dices oficiais do governo. No Brasil, por exem-
lidade desta operação pode passar ao vendedor; plo, os salários, pensões e aluguéis residenciais
3) CIF landed. Os custos de descarregamento, in- eram corrigidos em função da variação do Índice
clusive despesas de chatas e cais, correm por Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). De-
conta do vendedor, apesar dos riscos de trans- pois de 1986, com o Plano Cruzado, o Plano
porte da mercadoria passarem para o compra- Bresser (1987) e o Plano Verão (1989), as regras
dor a partir do momento em que ela ultrapassar de indexação sofreram várias alterações, sendo
efetivamente a amurada do navio, no porto de até suspensas durante algum tempo. Desde a
embarque. Esta variante pode representar riscos aplicação do Plano Collor 2, a indexação como
para o vendedor, no caso de o porto de destino medida de correção monetária foi oficialmente
ser mal equipado, o que pode causar despesas abolida. No entanto, com a aceleração da infla-
adicionais e não previstas ao exportador; 4) CIF ção entre 1991 e 1994, ela voltou a ser admitida,
landed/ex quay (duties on buyer’s account). No que para ser outra vez eliminada (pelo menos par-
se refere a custos, estes dois termos se equiva- cialmente) com o advento do Plano Real. Veja
lem, uma vez que cabe ao vendedor arcar com também Plano Bresser; Plano Collor 2; Plano
as despesas de desembarque da mercadoria. Cruzado; Plano Real; Plano Verão.
Mas no que se refere aos riscos, há uma diferença ÍNDIAS OCIDENTAIS. Veja Companhia Ho-
importante, pois enquanto no primeiro caso (CIF landesa das Índias Ocidentais.
landed) a transferência se dá no porto de embar-
que, viajando a mercadoria por conta do com- ÍNDIAS ORIENTAIS. Veja Companhia das Ín-
prador, no último, a transferência de riscos ocor- dias Orientais; Companhia Holandesa das Ín-
re no porto de destino, quando, até então, a mer- dias Orientais.
cadoria esteve sob responsabilidade do vende-
dor. INDICADOR SOCIAL. Procedimento estatísti-
co que objetiva quantificar o grau de bem-estar
INCRA — Instituto Nacional de Colonização ou qualidade de vida de uma população. A ne-
e Reforma Agrária. Órgão do governo federal cessidade de detectar esses índices decorreu do
criado em 1970 e vinculado em 1982 ao novo descontentamento generalizado do uso do con-
INDICADORES ECONÔMICOS 296

ceito de crescimento do produto nacional bruto Σ Pn . w


Iap =
como principal referencial para se aferir o grau Σ Po . w
de desenvolvimento social de uma comunidade.
O conceito de indicador social procura superar Onde Pn são os preços do ano n, Po são os preços
essas características puramente quantitativas da do ano base, e W são os pesos designados a
produção. Incluem-se, portanto, como indicado- cada preço. No Brasil, os Índices Agregados Pon-
res sociais: nível de emprego, qualidade habita- derados mais utilizados para a estimativa da in-
cional, nível de instrução, mobilidade social, ser- flação são os seguintes: Índice Geral de Preços-
viços de transporte e de saúde, educação e perfil Disponibilidade Interna (IGP-DI), apurado pela
cultural global, oportunidades de lazer, grau de Fundação Getúlio Vargas (FGV) entre os dias
depredação dos recursos naturais não-renová- 1º e 30 de cada mês, composto por uma média
ponderada do Índice de Preços ao Consumidor
veis, poluição do ar, da água e sonora, entre
(30%), da cidade do Rio de Janeiro, do Índice
outros dados. De posse desse tipo de informa-
de Preços no Atacado (60%) e do Índice Nacional
ção, o poder público, em qualquer nível, estaria
da Construção Civil (10%) e utilizado na corre-
mais capacitado a planejar e desenvolver uma
ção de contratos; Índice Geral de Preços de Mercado
política social. Veja também Bem-estar, Econo-
(IGP-M), o mesmo que IGP-DI, mas apurado
mia do; Desenvolvimento Econômico. entre os dias 21 e 20 de cada mês; Índice Nacional
INDICADORES ECONÔMICOS. Conjunto de de Preços ao Consumidor (INPC), apurado pelo
dados estatísticos, passíveis de mudança e os- IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-
cilações, capaz de dar uma idéia do estado de tística) de 1º a 30 de cada mês, entre as faixas
uma economia em determinado período ou de renda de um a oito salários mínimos em onze
data. Também chamados indicadores de conjun- regiões metropolitanas (São Paulo, Rio de Janei-
ro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, Belém,
tura, em geral fornecem dados sobre produção,
Fortaleza, Salvador, Curitiba, Goiânia e Brasília),
comercialização e investimentos. Entre os indi-
utilizado para a correção de contratos; Índice do
cadores econômicos mais relevantes estão os re-
Custo de Vida (ICV), apurado pelo Dieese (De-
ferentes a desemprego, oferta de empregos, em-
partamento Intersindical de Estudos e Estatística
préstimos bancários, reservas, preços de certos
Sócio-Econômicos) entre os dias 1º e 30 de cada
produtos (como petróleo), taxas de juros, mo-
mês nas faixas de renda de um a trinta salários
vimentos de importação e exportação, produção mínimos no município de São Paulo, utilizado
industrial geral e setorial, produção de aço e veí- para correção de acordos (salariais) setoriais, es-
culos, preços de materiais de construção e con- tando presente como índice de correção salarial
sumo energético, entre outros. de várias categorias até o advento do Plano Real;
ÍNDICE. Veja Número-índice. Índice do Custo de Vida da Classe Média (ICVM),
apurado pela Ordem dos Economistas de São
ÍNDICE AGREGADO PONDERADO. Índice Paulo entre os dias 1º e 30 de cada mês nas
agregado de preços pelo qual se estabelece, para faixas de renda de dez a quarenta salários mí-
cada um, um peso ou ponderação. É utilizado, nimos no município de São Paulo e utilizado
por exemplo, na determinação do custo de vida para correção de contratos; Índice de Preços ao
e suas variações, na medida em que os vários Consumidor (IPC), apurado pela Fundação Ins-
produtos participam de forma diferenciada no tituto de Pesquisas Econômicas (Universidade
consumo habitual de uma população, variando de São Paulo) entre os dias 1º e 30 de cada mês
também de acordo com as diversas faixas de nas faixas de dois a seis salários mínimos no
renda dessa população. Por exemplo, o consumo município de São Paulo, utilizado para a corre-
de pimenta é muito menor do que o de arroz ção de impostos municipais e estaduais; Índice
e feijão, na alimentação habitual das famílias de Preços ao Consumidor em Real (IPCr), apurado
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-
brasileiras: uma alteração de 10% em seu preço
tica (IBGE) (a partir da vigência do Plano Real)
não terá a mesma influência sobre a variação
entre os dias 16 do mês anterior até o dia 15 de
do custo de vida do que a mesma alteração no
mês de referência, nas faixas de um a oito sa-
preço do arroz ou do feijão. Os índices agrega-
lários mínimos nas onze regiões metropolitanas
dos ponderados também admitem distinções,
correspondentes ao INPC, utilizado para a cor-
uma vez que uns incluem um leque mais amplo
reção de salários e contratos em geral.
de preços do que outros, ora registrando os pre-
ços do atacado, isto é, praticados entre empre- ÍNDICE BIG MAC. Indicador do poder de com-
sários, e ora os preços apenas do varejo, ou seja, pra das principais moedas mundiais, tendo
preços praticados entre empresários e os consu- como referencial o preço do sanduíche homô-
midores finais. A formula genérica desses índi- nimo produzido com as mesmas matérias-pri-
ces é a seguinte: mas e vendido praticamente em todo o mundo.
297 ÍNDICE DE LIQUIDEZ CORRENTE

Criado pela revista The Economist, de Londres, onde π = participação percentual no mercado
suas variações mensais podem refletir alterações de cada empresa. Quando um único banco con-
de custos e aumentos ou perdas de eficiência trola todo o mercado (monopólio ou monopsô-
em cada economia na produção dos componen- nio), o índice de Herfindahl é igual a 1. Nos
tes que entram na composição nessa peça básica casos de oligopólios ou oligopsônios, quando
das unidades do fast-food. A União dos Bancos existem poucos bancos explorando um mercado,
Suíços tem uma versão do índice relacionada o índice será próximo a 1, e quanto mais con-
com o poder de compra, comparando quanto correncial for o mercado, mais o índice será pró-
tempo de trabalho necessita o assalariado médio ximo de 0. Supondo a existência de seis bancos
para comprar um Big Mac. Em 1997, os pontos num determinado mercado, com participações
extremos eram: duas horas para o caso de um nos depósitos de 30%, 25%, 20%, 15% e 5%, a
assalariado em Caracas (Venezuela) e nove mi- soma dos quadrados dessas participações será
nutos para um trabalhador em Tóquio (Japão). 0,22. Se os dois maiores bancos se fundirem, o
Veja também Cassel, Gustav; Paridade do Po- índice aumentará para 0,37, o que pode ser con-
der de Compra. siderado uma fusão anticoncorrencial. No en-
tanto, se a fusão ocorrer entre os dois menores
ÍNDICE CAMPONÊS. Veja Kondratieff, Niko- bancos, a alteração no índice será desprezível,
lai Dmitrievitch. isto é, ele passará para 0,225, e, portanto, esta
fusão não seria anticoncorrencial. O índice de
ÍNDICE DE ATIVIDADE ECONÔMICA DO
Herfindahl é apenas um dos indicadores dos
NEW YORK TIMES. Veja New York Times
efeitos da fusão de bancos sobre o mercado, e
Business Index.
dentro desta limitação, não pode ser considera-
ÍNDICE DE BOLSA DE VALORES. Valor nu- do a palavra final numa análise de concentração
mérico equivalente à média das cotações de cer- de mercados, na medida em que é apenas apro-
to grupo de ações, consideradas representativas ximativo.
de todo o mercado, em determinado momento.
Pela comparação dos índices apurados sucessi- ÍNDICE DE LASPEYRES. Índice de preços agre-
vamente pelas Bolsas de Valores, pode-se saber gado ponderado no qual o numerador é a soma
se o mercado se encontra em alta, estável ou dos preços correntes ponderados pelas quanti-
em baixa, o que orienta os investidores em suas dades de um período-base, e o denominador é
aplicações no futuro próximo. O acompanha- a soma dos preços do período-base, ponderados
mento do índice é feito em geral por meio de da mesma forma. A fórmula para o cálculo é a
um gráfico simples que registra sua evolução seguinte:
no tempo: um ano, um mês, uma semana ou n
até mesmo ao longo de um dia. Σ Pn . Qo
i=1
ÍNDICE DE FISHER. Também denominado “Ín- Índ. Lasp. = n
dice Ideal de Fisher”, é um número que tem a Σ Po . Qo
finalidade de eliminar o viés para cima do Índice i=1
de Laspeyres, e o viés para baixo do Índice de
Paasche, calculando a média geométrica entre onde Pn = preço no ano n; Po = preço no ano-
ambos: base; Qo = quantidade no ano-base.

If = √

Σ Pn . qn Σ Pn . qo ÍNDICE DE LERNER. Um indicador do poder
. . 100 de monopólio de uma empresa, definido pela
Σ Po . qn Σ Po . qo
fórmula:
Onde Pn = preços do ano n; Po = preços no
ano-base; Qn = quantidades no ano n; Qo = Preço — Custo Marginal
quantidades no ano-base. L=
Preço
ÍNDICE DE GINI. Veja Coeficiente de Gini. Quando existe concorrência perfeita, o preço se
iguala ao custo marginal, e, portanto, L será =
ÍNDICE DE HERFINDAHL. Índice idealizado
pelo economista Orris Herfindahl, para a deter- 0. Quando o preço supera o custo marginal, o
minação dos efeitos anticompetitivos potenciais índice torna-se positivo e varia entre 0 e 1. Quan-
de uma fusão de bancos. O índice mede o grau to mais próximo L estiver de 1, maior será o
de concentração por meio da soma das partici- grau de monopólio exercido pela empresa.
pações individuais de cada empresa, elevadas ÍNDICE DE LIQUIDEZ CORRENTE. Medida
ao quadrado, de tal forma que de liquidez calculada mediante a divisão do ati-
IH = Σ π2 vo circulante da empresa pelo seu passivo cir-
i culante. Quanto maior for este índice, tanto
maior será a liquidez da empresa.
ÍNDICE DE LIQUIDEZ SECO 298

ÍNDICE DE LIQUIDEZ SECO (Acid-test Ra- onde pn = preços no ano n; po = preços no ano-
tio). Medida de liquidez que retira do ativo cir- base; qn = quantidades no ano n; qo = quanti-
culante os estoques de duvidosa realização, di- dades no ano-base.
vidindo-se o resultado pelo passivo circulante.
Este índice é, portanto, menor ou igual ao índice ÍNDICE IDEAL DE FISHER. Veja Índice de
de liquidez corrente, e quanto maior for, maior Fisher.
será a liquidez da empresa.
ÍNDICE MARSHALL-EDGEWORTH. Um nú-
ÍNDICE DE OFELIMIDADE. Índice desenvol- mero-índice para o cálculo da variação de preços
vido por Vilfredo Pareto (1848-1923), que rela- proposto por Marshall e Edgeworth como uma
ciona o grau de prazer ou satisfação de combi- alternativa para as fórmulas de Laspeyres e
nações de dois bens de tal forma que: 1) tal ín- Paashe, com a intenção de eliminar o viés de
dice seja idêntico para duas combinações entre cada uma delas:
as quais a escolha seja indiferente para o con-
sumidor; 2) tal índice seja diferente para duas Σ [Pn (qo + qn)]
IME =
combinações entre as quais uma seja preferível Σ [Po (qo + qn)]
à outra (a preferida deve ter um índice maior).
Veja também Indiferença, Curva de; Ofelimi- A desvantagem deste índice é a falta de com-
dade; Pareto, Vilfredo. parabilidade entre os diferentes anos, na medida
em que os padrões de ponderação se deslocam.
ÍNDICE DE OSCILAÇÃO. Numa série estatís- Veja também Índice de Fisher; Índice de Las-
tica cronológica de x termos, é a média aritmé- peyres e Índice Paasche.
tica das x–1 diferenças, em valor absoluto, entre
cada termo e o que se lhe segue imediatamente, ÍNDICE NIKKEI. Índice criado em 1950 e cons-
tomados todos eles na sua ordem natural de tituído pelos preços médios (não ponderados)
apresentação. de 225 ações relacionadas na primeira secção da
Bolsa de Valores de Tóquio, e estimado pelo Ni-
ÍNDICE DE PARETO. É aquele em que a elas- hon Keizai Shimbum, Inc. (editor do principal
ticidade da função de distribuição é igual ao pa- jornal de economia e negócios no Japão, o Nihon
râmetro e é constante, ou: Keizai Shimbum, fundado em 1876 e com circu-
lação diária de mais de 3 milhões de exempla-
dy X  dy X 
E= . = – α ou |E| = . =α res). Ele é calculado diariamente por meio de
dx Y  dx Y  uma média não-ponderada de 225 ações sele-
O parâmetro indica o decréscimo do número de cionadas dentre cerca de 1 200 registradas na
pessoas quando se passa de uma classe de renda primeira seção da Bolsa de Valores de Tóquio.
para outra mais elevada. Se α = 1,5 e passamos Como o índice não é ponderado, pode dar lugar
de uma classe de renda X0 para uma classe X1 a manipulações e, em alguns casos, passar uma
(sendo X10), ou que a renda da classe X1 seja impressão falsa sobre o desempenho na Bolsa
10% superior à renda da classe X0, o número de Valores, pois transações com grandes lotes
de pessoas que ganha X1 será 15% menor (α é de ações de empresas pequenas ou médias po-
1,5) do que aquele que ganha X0. Analisando dem provocar alterações muito fortes no índice.
os dados estatísticos relativos à renda de diver- Como o índice foi criado em 1950, existe um
sos países, Vilfredo Pareto descobriu que a gran- viés no sentido da indústria pesada. Em 1982,
deza do parâmetro em termos absolutos situa- foi introduzido o Índice Nikkei Ampliado, con-
va-se entre os limites 1,2 e 1,9, sendo a média tendo a média de quinhentas ações registradas
1,5. O valor de X pode ser considerado uma na primeira seção da Bolsa de Valores de Tóquio.
medida da desigualdade da distribuição da ren- Contendo um número maior de ações, este ín-
da. Quanto maior for o valor do parâmetro, tan- dice reflete melhor as flutuações do mercado
to mais côncava será a hipérbole e tanto maior acionário no Japão. Veja também Topix.
a diferença entre as rendas dos vários grupos
da população. ÍNDICE NIKKEI AMPLIADO. Veja Índice
Nikkei.
ÍNDICE DE VALOR. Índice que mede as va-
riações no valor da produção, do consumo etc., ÍNDICE PAASCHE. Índice de preços, agregado
comparando as variações nos preços e nas quan- e ponderado, no qual a ponderação dos preços
tidades num determinado ano (mês, semana é feita pelas quantidades produzidas, compra-
etc.) com os preços e as quantidades num ano- das, vendidas etc. em determinado período de
base. tempo. A fórmula é:
Σ Pn . qn Σ Pn . qn
Iv = Ip = . 100
Σ Po . qo Σ Po . qn
299 INDÚSTRIA

onde Po = preço no ano-base; Pn = preço no ritana a pregar que o mercado e o câmbio ha-
ano n; Qn = quantidade produzida no ano n. viam sido instituídos por Deus. Na atualidade,
Veja também Índice Ideal de Fisher; Índice o individualismo econômico integra de forma
de Laspeyres. atenuada a doutrina do neoliberalismo, que ad-
mite a ação do Estado não apenas como guar-
ÍNDICE SENN. Índice do Sistema Eletrônico de dião da propriedade privada e da livre-iniciati-
Negociação Nacional das Bolsas de Valores do va, mas também como regulador da estabilidade
Rio de Janeiro, Bahia, Sergipe, Alagoas, Minas monetária e das finanças nacionais. A crítica ao
Gerais, Espírito Santo, Brasília, Paraná, Pernam- individualismo está centrada em seu oposto, o
buco, Paraíba e Santos. Este índice, que computa coletivismo, defendido pelos socialistas a partir
as oscilações de preços de cinqüenta ações, in- de Saint-Simon. Veja também Capitalismo; Co-
dica a movimentação dos negócios nas Bolsas letivismo; Contrato Social; Direito Natural; Di-
de Valores destes Estados e cidades. rigismo; Laissez-faire; Liberalismo; Utilitaris-
INDIFERENÇA, Curva de. Lugar geométrico mo.
em que são representadas todas as combinações INDIVISIBILIDADE. Característica de um fa-
possíveis de vários produtos que, para o con- tor de produção cuja utilização não pode ser
sumidor, têm a mesma escala de preferência. efetivada abaixo de um determinado nível ou
Foi criada por Pareto para demonstrar a possi- número de unidades. Se, por exemplo, uma má-
bilidade de construir uma teoria baseada somen- quina ou equipamento tiver um nível mínimo
te em escalas de preferências individuais. To- de produção superior ao que pode ser absorvido
mando-se duas mercadorias quaisquer A e B, a pelo mercado consumidor, a indivisibilidade
preços fixos, combinam-se as quantidades uni- (técnica) deste fator pode significar a existência
tárias de cada uma, estabelecendo-se assim os de capacidade ociosa, elevação de custos ou, no
pontos em que para o consumidor é indiferente limite, a não-realização de um investimento para
adquirir uma ou outra combinação de quanti- a produção de um produto que enfrenta estas
dades de A e B. Cada ponto sobre a curva re- dificuldades. Por outro lado, a existência desta
presenta uma combinação diferente da preferên- indivisibilidade pode estimular a empresa a con-
cia do consumidor pelos dois produtos. A Curva quistar novos mercados e, assim, operar com
de Indiferença é traçada de tal modo que, se o uma máquina a plena capacidade.
consumidor tivesse de escolher um desses pon-
tos, não saberia qual preferir, pois para ele não INDIVISIBILIDADES. Conceito econômico que
haveria diferença entre as combinações oferecidas. relaciona as limitações técnicas de um investi-
mento produtivo (especialmente na indústria)
INDIVIDUALISMO. Doutrina segundo a qual com a demanda correspondente. Existem certos
o centro da vida humana se encontra na ação produtos cuja escala de produção mínima ren-
do indivíduo, naturalmente livre, e não na co- tável muitas vezes supera a demanda existente,
letividade ou no Estado. Fruto das idéias de John como acontece, por exemplo, com a produção
Locke, David Hume e outros pensadores do sé- de aço. Dessa forma, por ter atingido seu limite
culo XVII e XVIII, o individualismo serviu de mínimo de divisão, este investimento torna-se
base ao liberalismo econômico clássico, que ado- inviável em função da demanda insuficiente
tou a livre-concorrência como princípio máximo desses produtos. O problema das indivisibilida-
e teve em Adam Smith seu maior representante. des atinge mais fortemente os países em pro-
Foi a expressão teórica da luta da nascente bur- cesso de industrialização, cujos mercados inter-
guesia contra as restrições econômicas impostas nos são estreitos ou de pequena magnitude. Veja
pelo Estado absolutista mercantilista, e em favor também Big Push.
da livre-iniciativa e do livre-cambismo. Dudley
North foi o primeiro ideólogo a expressar cla- INDUÇÃO. Veja Método Indutivo.
ramente a ética individualista. Dizia que os ho-
mens são por natureza egoístas, motivados ape- INDUÇÃO ADMINISTRATIVA. Veja Gyosei
nas por interesses próprios. Deveriam, contudo, Shido.
ser deixados livres, sem leis restritivas nem fa- INDUÇÃO ESTATÍSTICA. É a parte da esta-
vorecimentos, pois assim se desenvolveriam as tística que tem por fim, baseando-se no estudo
potencialidades naturais de cada indivíduo e, de conjuntos chamados amostras, chegar a con-
pela soma dessas potencialidades — expressa clusões que dizem respeito a conjuntos que
no livre jogo das forças do mercado —, atingir- contêm os primeiros e que são denominados
se-ia o bem comum. O individualismo se apro- populações. Possui o mesmo significado de in-
xima estreitamente da ética protestante, que, ao ferência estatística.
insurgir-se contra a doutrina escolástica da Igre-
ja medieval, glorificava o lucro e a usura, che- INDÚSTRIA. Conjunto de atividades produti-
gando os adeptos mais extremados da seita pu- vas que se caracterizam pela transformação de
INDÚSTRIA DE BASE 300

matérias-primas, de modo manual ou com au- de ponta as fábricas de aviões, de automóveis,


xílio de máquinas e ferramentas, no sentido de de aparelhos eletrônicos e de computadores, en-
fabricar mercadorias. De uma maneira bem am- tre outras.Veja também Tecnologia de Ponta.
pla, entende-se como indústria desde o artesa-
nato voltado para o autoconsumo até a moderna INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO. Setor
produção de computadores e instrumentos ele- da produção industrial voltado para a transfor-
trônicos. A indústria moderna surgiu com a Re- mação de matérias-primas em bens, distinguin-
volução Industrial (séculos XVIII-XIX), como re- do-se, portanto, da produção agrícola e da in-
sultado de um longo processo que se iniciou dústria extrativa vegetal e mineral. Abrange to-
com o artesanato medieval, passando pela pro- dos os momentos da produção industrial: ma-
dução manufatureira (primeiro momento da or- térias-primas elaboradas (aço), bens de capital
ganização fabril). A indústria contemporânea ca- (máquinas-ferramentas, autopeças) e bens de con-
racteriza-se pela produção em massa nas fábri- sumo (automóveis, roupas). Inclui-se nessa cate-
cas, na qual os objetos padronizados resultam goria a produção agroindustrial, como açúcar, su-
da intensa mecanização e automação do proces- cos e beneficiamento de produtos agrícolas.
so produtivo. Outra característica é a racionali-
zação do trabalho, objetivando o aumento da INDÚSTRIA EXTRATIVA MINERAL. Veja
sua produtividade e o máximo rendimento das Mineração.
máquinas. Ocorreu também uma radical mu- INDÚSTRIA NASCENTE. Conceito protecio-
dança na estrutura da direção e da propriedade nista aplicado aos setores industriais em forma-
das indústrias: as sociedades anônimas torna- ção. Esses setores não alcançariam o tamanho
ram-se a forma mais freqüente de propriedade suficiente para trabalhar com uma economia de
e a organização do processo produtivo passou escala competitiva se não recebessem proteção,
à responsabilidade de um corpo de técnicos ad- especialmente quando a competição é com in-
ministradores, ao qual cabe realizar o planeja- dústrias estrangeiras. Uma indústria nova, de
mento da produção e a política de investimen- um país em desenvolvimento, estaria sempre em
tos. Nos países altamente industrializados, mui- posição vulnerável de concorrência em relação
tas empresas perderam seu caráter local, tornan- às indústrias já estabelecidas de países adianta-
do-se grandes corporações multinacionais. Dis- dos. No entanto, essa indústria poderia conquis-
tinguem-se as indústrias em vários ramos, con-
tar uma vantagem comparativa se tivesse con-
forme os bens que produzem: indústrias de bens dições de iniciar sua atividade sem a concorrên-
de capital ou bens de produção (máquinas, equi-
cia externa. Após a independência dos Estados
pamentos), indústrias de bens intermediários (ma-
Unidos, o estadista Alexander Hamilton susten-
térias-primas para outras empresas) e indústrias
tou que as indústrias nascentes deveriam ser
de bens de consumo (artigos de utilidade indivi-
protegidas com tarifas especiais até superar essa
dual ou familiar). São classificadas como indús-
fase. A tese seria retomada mais tarde pelo eco-
trias tradicionais ou de trabalho intensivo as que
nomista Friedrich List e apoiada até mesmo por
ocupam grande contingente de mão-de-obra e
ortodoxos como Marshall e Taussig.
se apóiam em tecnologia atrasada; e como in-
dústrias modernas ou de capital intensivo as por- INDUSTRIAL. Veja Engenharia Industrial; Lo-
tadoras de tecnologia sofisticada, com operá- calização Industrial; Organização; Psicologia
rios altamente especializados e elevada taxa de Industrial; Relações Industriais; Revolução In-
investimento por pessoa empregada. Veja tam- dustrial.
bém Artesanato; Automação; Fábrica; Indus-
trialização; Manufatura; Mecanização; Revo- INDUSTRIALISMO. Doutrina que considera a
lução Industrial. indústria a meta principal do homem e da so-
ciedade. Refere-se aos princípios e valores da
INDÚSTRIA DE BASE. Empresa ou setor in- sociedade gerada pela Revolução Industrial, que
dustrial que alimenta os demais. São indústrias fazem a apologia da mecanização da produção
de base as que operam a extração de minérios e dos processos sociais dela decorrentes. O ter-
e sua transformação em matéria-prima para ou- mo foi usado pela primeira vez por Thomas Car-
tros setores industriais, e também as indústrias lyle, em 1830.
de produção de energia elétrica. Veja também
Tecnologia de Base. INDUSTRIALIZAÇÃO. Processo histórico-so-
cial por meio do qual a indústria fabril se torna
INDÚSTRIA DE PONTA. Empresa ou setor in- o setor predominante da economia de um país.
dustrial que realiza a montagem final de um Começou na Inglaterra com a Revolução Indus-
conjunto de peças fornecidas por outras fábricas, trial, espalhando-se depois pela Europa, Estados
concluindo assim um processo fabril que abran- Unidos e Japão. Embora em certos casos (como
ge várias unidades produtoras. São indústrias no Brasil) inicie-se com a implantação da indús-
301 INFLAÇÃO

tria leve (produtos alimentícios e têxteis), o pro- solidados — até que, mediante os ganhos de
cesso de industrialização caracteriza-se pela for- escala e aumento de produtividade, tenham con-
mação de um núcleo de indústria pesada, pro- dições de competir no mercado internacional em
dutora de matérias-primas básicas e de máqui- pé de igualdade e não necessitem mais de pro-
nas-ferramentas (indústrias de base) e alimen- teção. Veja também Tese de Manoilescu.
tadora de todo o parque industrial. O processo
de industrialização corresponde a um intenso INFERÊNCIA. Quando uma informação sobre
desenvolvimento urbano (urbanização) e do se- determinado processo ou população se baseia
tor de serviços, particularmente o relacionado numa amostra extraída dos mesmos, as conclu-
com as atividades comerciais e financeiras. Tem sões resultantes dessa informação são denomi-
como pressuposto a existência de um mercado nadas inferências. Por exemplo, se uma empresa
interno e capitais disponíveis para serem inves- decide quanto vai produzir de um determinado
tidos nas atividades industriais. No Brasil, essas artigo a partir do consumo médio daquele arti-
condições surgiram no final do século XIX, go, estimado a partir do consumo médio de uma
quando se implantaram as primeiras indústrias amostra, esta decisão terá sido baseada numa
no país, mas o processo só se intensificou du- inferência.
rante a Segunda Guerra Mundial, sendo reto-
INFERÊNCIA ESTATÍSTICA. Veja Indução
mado entre 1956 e 1960 e atingindo seu auge
Estatística.
na década de 70.
INFLAÇÃO. Aumento persistente dos preços
INDUSTRIAL WORKERS OF THE WORLD em geral, de que resulta uma contínua perda
(IWW). Organização sindical fundada nos Esta- do poder aquisitivo da moeda. É um fenômeno
dos Unidos em 1905, sob inspiração anarco-sin- monetário, e isso coloca uma questão básica: se
dicalista e que chegou a ter mais de 100 mil é a expansão da oferta de moeda que tem efeito
membros. Adversária do conservadorismo da
inflacionário ou se ela ocorre como resposta à
American Federation of Labor (AFL), tinha
maior demanda de moeda provocada pela in-
apoio entre os trabalhadores não-qualificados da
flação. A inflação, normalmente, pode resultar
cidade e do campo e defendia o confronto direto
de fatores estruturais (inflação de custos), mo-
com os patrões e o aparelho repressivo como
netários (inflação de demanda) ou de uma com-
forma de destruir o capitalismo. Durante a Pri-
binação de fatores. Entretanto, independente-
meira Guerra Mundial, liderou violentos movi-
mente da causa inicial do processo de elevação
mentos grevistas no país; acusados de traição,
dos preços, a inflação adquire autonomia sufi-
seus dirigentes foram presos e a organização
ciente para se auto-alimentar por meio de rea-
praticamente destruída pela ação policial. Veja
ções em cadeia (a elevação de um preço “pu-
também AFL-CIO; Sindicalismo; Teamsters.
xando” a elevação de vários outros). Desse
INEFICIÊNCIA TÉCNICA. Veja X-Efficiency. modo, configura-se a chamada espiral inflacio-
nária. A escola monetarista atribui papel deci-
INÉRCIA INDUSTRIAL. Termo utilizado em sivo às expectativas inflacionárias como impul-
economia industrial e teoria da localização para sionadoras das elevações da taxa de juros, das
caracterizar uma situação em que uma empresa maiores demandas salariais, dos reajustes siste-
não muda o local onde está estabelecida, mesmo máticos da taxa cambial e, por extensão, como
quando sua localização deixa de ser a mais van- fator explicativo da autonomia relativa do pro-
tajosa do ponto de vista de sua rentabilidade. cesso inflacionário. Tudo surgiria espontanea-
Tal comportamento pode ser explicado pelo fato mente em função do comportamento racional
de que os custos de relocação podem superar dos agentes dentro de mercados competitivos.
(vigorando determinadas condições) os lucros Os estruturalistas, por sua vez, explicam a in-
extraordinários originados em uma eventual flação pelo fato de as demandas salariais deixa-
mudança de localização. rem de ser uma questão exclusivamente econô-
mica; elas adquirem caráter sociopolítico, envol-
INÉRCIA INFLACIONÁRIA. Veja Inflação vendo sindicatos, empresas e o governo, o que
Inercial. contribui para generalizar a prática da fixação
INERCIAL. Veja Inflação Inercial. dos preços em função dos aumentos de custos,
em detrimento do rigor impessoal dos mercados
INFANT INDUSTRY ARGUMENT. Expressão competitivos. Dessas duas posições originam-se
em inglês que significa “argumento de indústria modelos diferenciados para o processo inflacio-
nascente” e designa o argumento utilizado pelas nário. Segundo os monetaristas, o índice de pre-
atividades industriais emergentes, especialmen- ços depende do nível de produção física, da ve-
te em países de industrialização recente, e que locidade-renda da moeda e do estoque nominal
por esta razão necessitam de proteção contra os de moeda. Como os dois primeiros mudam de
concorrentes externos — mais poderosos e con- forma estável no mercado livre, os movimentos
INFLAÇÃO DE CUSTOS 302

do índice geral de preços refletiriam unicamente Para medir a variação nos preços dos insumos
os movimentos do estoque nominal de moeda, e fatores de produção (e demais produtos inter-
determinados pela política econômica. Os pla- mediários), usam-se índices de Preços ao Pro-
nos de gastos do governo, excessivos em relação dutor ou, em termos agregados, o Índice de Pre-
à capacidade de tributação e endividamento do ços ao Atacado (IPA). No Brasil, a inflação é
Tesouro Nacional, devidos a crédito subsidiado medida pelo Índice Geral de Preços (IGP), da
ou a uma política econômica incompetente (por Fundação Getúlio Vargas, e pelo IPC, elaborado
exemplo, taxas de juros abaixo do nível de equi- pela Fundação IBGE. Veja também Correção
líbrio), fariam com que se expandissem os meios Monetária; Deflação; Deflator; Estagflação; Hi-
de pagamentos para cobrir esses gastos. Como perinflação; IGP; Imposto Inflacionário; IPC;
não haveria aumentos equivalentes no produto Moeda; Preço; Senhoriagem.
real ou na velocidade com que a moeda circula,
os preços subiriam. O combate à inflação deveria INFLAÇÃO DE CUSTOS. Processo inflacioná-
respeitar a “espontaneidade” do mercado (au- rio gerado (ou acelerado) pela elevação dos cus-
mentando o desemprego, se necessário) para tos de produção, especialmente das taxas de ju-
procurar reverter as expectativas inflacionárias. ros, de câmbio, de salários ou dos preços das
importações.
Seria necessário emitir títulos, aumentar os im-
postos e, sobretudo, neutralizar a ação dos me- INFLAÇÃO DE DEMANDA. Também chama-
canismos de reajustes, espontâneos ou não, de da de inflação dos compradores, é o processo
preços, salários, câmbio e taxa de juros. Em con- inflacionário gerado pela expansão dos rendi-
trapartida, os não-monetaristas lembram o im- mentos. Ocorre que os meios de pagamento cres-
pacto inflacionário do aumento de salários, do cem além da capacidade de expansão da eco-
custo de certos insumos (por exemplo, o petró- nomia, ou antes que a produção esteja em plena
leo, no caso brasileiro), da indexação dos preços capacidade, o que impede que a maior demanda
de certos produtos ao custo de produção, da decorrente da expansão dos rendimentos seja
estagnação da produtividade de bens de consu- atendida. Com isso, aumentam os preços e, por
mo etc. Para combater a inflação, o governo de- extensão, os salários e os rendimentos em geral,
veria intervir diretamente nos reajustes de pre- dando origem a uma espiral inflacionária.
ços, salários, câmbio e juros, para eliminar o po-
der de barganha dos agentes econômico-sociais INFLAÇÃO DE PAPEL-MOEDA. Expressão
“inflacionantes” (por exemplo, as grandes em- utilizada para designar uma inflação decorrente
presas e os sindicatos). Na ausência de um me- de emissão excessiva de moeda (papel) não con-
canismo de correção monetária, a inflação tende versível. Nos países onde existia a conversibili-
a favorecer os devedores e especuladores, pre- dade interna do papel-moeda, sempre que as
judicando os credores, as classes de renda fixa, emissões desta superavam as possibilidades go-
os pensionistas e os investidores conservadores. vernamentais de convertê-las em metal precioso,
Ela redistribui a renda entre setores (por exem- dizia-se que havia uma inflação de papel-moeda.
plo, agricultura/indústria) e/ou grupos de ren-
INFLAÇÃO GALOPANTE. Surto inflacionário
da (por exemplo, lucros/salários). Além disso,
em que os preços sobem rapidamente, a inflação
a inflação tende a mudar os hábitos de consumo
se mantém alta (no mínimo de 20 a 50%) e se
e a incentivar a aplicação em bens de valorização
torna crônica, tendendo a se realimentar. O Bra-
garantida, mesmo com o surto inflacionário
sil sofreu inflação galopante em 1958-1964 e a
(jóias, imóveis etc.). E pode ainda estimular a partir de 1978. A economia pode se adaptar a
queda da poupança, se a remuneração desta não esse carrossel de preços crescentes por mecanis-
se adaptar aos novos níveis de aumento de pre- mos de correção monetária. Mas, caso haja perda
ços. Em princípio, o índice ideal para medir a de confiança na moeda, a remarcação desenfrea-
inflação resultaria do deflator implícito do pro- da de preços pode resultar na hiperinflação. Veja
duto nacional gerado em determinado período também Inflação.
de tempo, que daria uma medida, a uma certa
periodicidade, do crescimento dos preços dos INFLAÇÃO INERCIAL. Processo inflacionário
bens de consumo, dos bens de produção e de muito intenso, gerado pelo reajuste pleno de
todos os serviços gerados no intervalo de tempo preços, de acordo com a inflação observada no
relevante com o concurso da força de trabalho. período imediatamente anterior; os contratos
Por motivos de ordem prática, outros índices contêm cláusulas de indexação que restabelecem
são usados. Para medir a variação dos preços seus valores reais após intervalos fixos de tem-
dos produtos finais consumidos pela população, po. Na medida em que esses intervalos são cada
usam-se os Índices de Custo de Vida (ICV) ou vez menores e os reajustes cada vez maiores e
de Preços ao Consumidor (IPC), tendo como concedidos com a mesma intensidade para to-
base os hábitos de consumo de uma família-pa- dos os preços, estes tendem a ficar alinhados.
drão (para toda a sociedade ou para certa classe). Embora variando com grande intensidade, um
303 INPI

congelamento manteria as mesmas posições re- INGOT. O mesmo que lingote, utilizado no caso
lativas anteriores, garantindo a neutralidade da do ouro, ou uma das formas nas quais o ouro
operação, isto é, não haveria nem ganhadores é mantido como reserva de um país. Veja tam-
nem perdedores se a inflação deixasse de existir bém Lingote.
repentinamente pelo congelamento de preços.
Veja também Choque Heterodoxo; Plano Cru- IN NATURA. Expressão em latim que significa
zado. produto ou matéria-prima que se encontra em
estado natural, isto é, submetido a poucas etapas
INFLAÇÃO REPRIMIDA. Também chamada de dos processos de trabalho. Quando esta expres-
inflação contida ou oprimida, é aquela que se são aparece associada a forma de pagamento,
caracteriza por uma taxa de elevação dos preços significa que o mesmo foi realizado não em di-
inferior à taxa de expansão do meio circulante. nheiro, mas em produto, seja ele de origem agrí-
Essa não-elevação dos preços, em geral, é con- cola ou mineral. Contrapõe-se a pagamento “em
seqüência de bem-sucedidos controles governa- espécie”, que significa a intervenção do dinheiro
mentais sobre os preços. Quando vários setores (moedas metálicas fundamentalmente, mas tam-
da economia planejam despesas que excedem a bém papel-moeda) na conclusão de transações
capacidade de produção dessa economia, os pla- comerciais.
nos não podem ser cumpridos. Uma possibili-
dade de ajustamento seria então dada pela alta INNOVATION DRIVEN. Expressão em inglês
dos preços, visto que a pressão da demanda que significa vantagens competitivas de um país
atuaria nesse sentido. Mas, estando sob controle, baseadas no número elevado de inovações no âm-
os preços não podem se alterar. O hiato infla- bito dos processos produtivos e dos produtos.
cionário permanece sob a forma de inflação re- INOVAÇÃO. Introdução de novos produtos ou
primida. Veja também Inflação. serviços, ou de novas técnicas para sua produ-
INFORMÁTICA. Disciplina matemática que cui- ção, ou funcionamento. Pode consistir na apli-
da da transmissão de informações e da sua rep- cação prática de uma invenção, devidamente de-
resentação matemática. O objetivo principal da senvolvida (como o transistor). Também são ino-
vações as novas formas de marketing, vendas,
informática é ampliar ao máximo o número de
publicidade, distribuição etc. que resultem em
informações transmitidas e diminuir ao mínimo
custos menores e/ou faturamentos maiores.
os erros que possam acontecer durante as trans-
Além do grande impacto que podem produzir
missões. Em computação, as informações são
na própria vida social, as inovações têm um
transformadas em bits (do inglês binary digits,
importante papel de estímulo à atividade eco-
ou “dígitos binários”); cada bit é uma alternativa
nômica, na medida em que implicam novos
sim-ou-não, representada matematicamente por
investimentos.
0 ou 1. Cinco bits apenas representam qualquer
letra do alfabeto, e as mensagens são repre- INPC — Índice Nacional de Preços ao Consu-
sentadas por seqüências de bits. A informática midor. Média ponderada de índices elaborados
preocupa-se ainda com os “suportes” de infor- pela Fundação IBGE para dez regiões metropo-
mação (cartões perfurados, fitas perfuradas, fitas litanas brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro,
magnéticas etc.) e com o modo como esses su- Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Salva-
portes devem ser manipulados para ter máxima dor, Recife, Belém, Fortaleza e Brasília). O INPC
eficiência. Veja também Automação; Cibernéti- é elaborado sob dois conceitos: o amplo, corres-
ca; Computador. pondendo a famílias com renda mensal entre
um e trinta salários mínimos, e o restrito, cor-
INFRA-ESTRUTURA. Conjunto de instalações respondendo a famílias com renda entre um e
e equipamentos empregados na extração, trans- cinco salários mínimos. O INPC restrito tem sido
porte e processamento de matérias-primas es- calculado para dois intervalos diferentes de le-
senciais, nos meios de treinamento da força de vantamento de preços: um deles relativo ao mês-
trabalho e na fabricação de bens de capital. calendário, e o outro correspondente ao período
Abrange indústria extrativa mineral, ferrovias, compreendido entre o dia 16 do mês anterior e
rodovias, navegação, siderurgia, metalurgia de o dia 15 do mês de referência. Este último cálculo
não-ferrosos, indústria energética e mecânica. é também denominado IPC, e constitui a base
Na concepção marxista, infra-estrutura designa para o reajuste ou a indexação de contratos.
a base econômica da sociedade, o modo de pro-
dução dominante e, mais especificamente, o con- INPI — Instituto Nacional da Propriedade In-
junto das relações de produção. Essa infra-es- dustrial. Órgão integrante do Sistema Setorial
trutura econômica determina a superestrutura de Ciência e Tecnologia do Ministério da Indús-
político-social historicamente correspondente. tria e Comércio. Foi criado em 11/12/70, pela
Veja também Indústria de Base; Modo de Pro- lei nº 5 648, substituindo o antigo Departamento
dução; Superestrutura. da Propriedade Industrial. Principais atribuições
INPUT-OUTPUT 304

no plano nacional: executar as normas que re- produto pode ter, é bem mais dispendioso do
gulam a propriedade industrial (marcas e pa- que a inspeção amostral. Veja também Inspeção
tentes); adotar medidas capazes de acelerar e Amostral.
regular a transferência de tecnologia; pronun-
ciar-se quanto à conveniência de assinatura, ra- INSS — Instituto Nacional do Seguro Social.
tificação ou denúncia de convenções, tratados, Autarquia que regula e prevê aposentadorias e
convênios e acordos sobre a propriedade indus- pensões, assistências médica, odontológica e far-
trial. Com a reforma ministerial de 1990, o órgão macêutica, reabilitação profissional e serviço so-
passou a ser subordinado ao novo Ministério cial a cerca de 18,5 milhões de segurados e seus
da Infra-estrutura. dependentes. O instituto presta a seus segurados
mais de trinta benefícios diferentes. Os mais im-
INPUT-OUTPUT. Veja Insumo-Produto. portantes são: salário-maternidade (correspon-
INQUILINATO. Veja Lei do Inquilinato. dente ao salário da segurada e pago durante
quatro meses, pouco antes e posteriormente ao
IN REM. Expressão em latim que significa um parto); auxílio-natalidade (correspondente a um
processo jurídico direcionado contra uma coisa salário mínimo da região e pago à segurada ou
(objeto), em vez de contra uma pessoa. Geral- dependente do segurado); auxílio-doença (cor-
mente, esses processos envolvem a divisão de respondente a no máximo 90% do salário de be-
propriedade imobiliária. nefício); vários tipos de aposentadoria; auxílio-
INSIDER. Termo aplicado, especialmente no funeral (indenização das despesas do funeral do
mercado de ações, a uma pessoa que dispõe de segurado, até o máximo de duas vezes o salário
informações privilegiadas sobre a situação de de referência da região). Para receber esses be-
empresas que têm seus títulos cotados em Bolsa nefícios, exige-se que o segurado seja contribuin-
e que, fazendo uso delas (antes que as mesmas te pelo menos durante doze meses. Até 1966, a
sejam acessíveis ao público), pode realizar gran- previdência social urbana no Brasil esteve a car-
des lucros comprando e/ou vendendo ações. A go dos vários Institutos de Aposentadoria e Pen-
legislação em geral pune a ação dos insiders, em- sões, que beneficiavam separadamente comer-
bora com graus diferenciados de severidade. ciários, ferroviários, servidores públicos, empre-
gados em transportes de cargas, bancários, in-
INSIDER INFORMATION. Veja Insider. dustriários, portuários e marítimos. A partir de
IN-SITU. Expressão em latim que significa “den- 26/11/1966, de acordo com o decreto-lei nº 72,
tro de um lugar” (no sentido físico) e se aplica o antigo INPS absorveu esses institutos e tam-
quando se quer designar a manutenção de uma bém o Serviço de Assistência Médica Domiciliar
planta ou de um conjunto de plantas no seu e de Urgência (Samdu) e o Serviço de Reabili-
lugar natural de crescimento. tação Profissional (Suserps). O custeio da Pre-
vidência Social provém de contribuições dos tra-
INSOLVÊNCIA. Situação em que uma pessoa balhadores segurados, das empresas e de dota-
física ou jurídica é incapaz de pagar seus com- ções orçamentárias do governo federal. A lei nº
promissos. A caracterização da insolvência per- 6 036, de 1º/5/1974, criou o Ministério da Pre-
mite que, independentemente de qualquer pe- vidência e Assistência Social, no qual incluiu o
dido formal por parte dos credores, seja decre- INPS. Em 1º/9/1977, este passou a atender ape-
tada a falência.
nas à concessão dos benefícios, sendo criado o
INSPEÇÃO AMOSTRAL. É a que incide ape- Instituto Nacional de Assistência Médica e Pre-
nas sobre uma amostra do conjunto do material vidência Social (Inamps), para o atendimento
a ser julgado. médico-hospitalar, e o Instituto de Administra-
ção Financeira da Previdência e Assistência So-
INSPEÇÃO POR AMOSTRAGEM. Técnica uti- cial (Iapas), para o serviço de arrecadação. Como
lizada, especialmente em grandes empresas, parte do Plano Collor, em 15/3/1990, o poder
para a verificação da qualidade de um conjunto executivo instituiu o INSS como autarquia fe-
de produtos por meio de amostras dele extraí- deral, mediante a fusão do Iapas com o INPS.
das. Esta técnica foi introduzida por H.F. Dodge
e H.G. Romig e publicada pelo Bell Systen Tech- INSTAR OMNIUM. Expressão em latim que
nical Journal, em 1929. significa “seguir o costume comum”.

INSPEÇÃO TOTAL. No processo de inspeção INSTINET. Termo utilizado no mercado finan-


de um conjunto de produtos, ou lotes de peças, ceiro norte-americano, formado pelas palavras
é a que incide sobre a totalidade dos elementos institutional net, que consiste num sistema total-
desse conjunto ou lote. Este processo de inspe- mente automatizado de comunicações mediante
ção, embora realize o controle máximo que um o qual um terminal de computador é instalado
305 INSUMO-PRODUTO

no departamento de operações financeiras de oferta. Para isso, valem-se de um sistema con-


cada subscritor — a grande maioria investidores tábil que centra sua atenção na maneira como
institucionais ligados por um circuito telefônico as funções tecnológicas de produção das várias
privado —, conectado ao computador central. indústrias afetam as relações entre as indústrias
Cada terminal de assinante dispõe de uma uni- e determinam a estrutura industrial do sistema
dade impressora que registra instantaneamente econômico. Os dados proporcionados pelo sis-
as ordens (de compra ou venda) emitidas ou tema contábil insumo-produto são relacionados
recebidas. Os assinantes apresentam suas ofertas na tabela de insumo-produto, constituída dos
no sistema com o nome, a quantidade, o preço números correspondentes às quantidades de
e os prazos das ações que desejam transacionar. produto que cada indústria comprou e vendeu
Por meio deste sistema, os investidores institu- às outras unidades industriais, no conjunto da
cionais podem se comunicar e transacionar di- economia. As indústrias devem ser cuidadosa-
retamente com outros investidores, sem a ne- mente selecionadas; de acordo com a finalidade
cessidade de um corretor. da análise e em conformidade com seu número,
a tabela de insumo-produto apresentará um nú-
INSTITOR. Termo de origem latina que designa mero correspondente de linhas — uma para
aquele que administra ou dirige os negócios de cada indústria — e de colunas, também uma
um banco, representando a outrem em funções para cada indústria. Cada linha mostrará para
de preposto. onde irá o produto de uma indústria; cada co-
luna mostrará a quantidade de insumo que cada
INSTITUCIONALISMO. Escola de pensamen-
indústria empregou. Essa tabela e suas variações
to econômico que surgiu na década de 20 nos
são utilizadas para analisar o impacto que a de-
Estados Unidos, influenciada principalmente
manda de um valor extra de certo tipo de pro-
pela obra de Thorstein Veblen (1857-1929). De-
duto pode causar na economia. As teorias ela-
senvolve uma análise econômica baseada no es-
tudo das estruturas, regras e comportamentos boradas sobre as estatísticas de insumo-produto
de instituições — como empresas, cartéis, sin- têm várias utilizações: 1) indicam a expansão
dicatos, o Estado e seus organismos. Ressaltando requerida em áreas de importância econômica,
o papel da estrutura e da organização política a longo prazo, servindo como subsídio para os
e social na determinação dos acontecimentos órgãos governamentais orientar seus investi-
econômicos, os institucionalistas entraram em mentos e garantir um crescimento econômico
aberta polêmica com os economistas ortodoxos, adequado; 2) ajudam a determinar a viabilidade
criticando-os por distorcerem a realidade pelo da obtenção de qualquer nível de produção,
uso de modelos puramente teóricos e matemá- comparando os custos de obtenção de vários ní-
ticos, não levando em conta o ambiente institu- veis e dando a conhecer os insumos requeridos
cional que envolve a economia. Para os institu- para atingir determinado nível; 3) permitem pre-
cionalistas, não é a racionalidade, mas os ins- ver o impacto que uma variação no padrão de
tintos e costumes que movem o comportamento exportação provocará na estrutura industrial,
econômico; não é a competição pelo mercado, bem como as variações nos requisitos de impor-
mas a competição por riqueza e poder. Desse tação, decorrentes de alterações na estrutura da
modo, defendem a importância de outras dis- demanda (o impacto dessas variações nas tran-
ciplinas sociais, como a sociologia, a política e sações externas pode ser acompanhado até a ve-
a antropologia no estudo e na solução dos pro- rificação dos seus efeitos sobre o balanço de pa-
blemas econômicos. Entre os economistas mais gamento); 4) facilitam a investigação do resul-
conhecidos dessa tendência, além de Veblen, es- tado de políticas de desenvolvimento regional,
tão W.C. Mitchell (1874-1948) e Gunnar K. Myr- em contraposição ao crescimento e à variação
dal (1898-1987). nacional; 5) facilitam o acompanhamento do im-
pacto de uma variação dos preços dos fatores
INSTITUTO BROOKINGS. Veja Plano Brady. sobre o nível e a estrutura do preço dos produtos
INSTRUMENTO NEGOCIÁVEL. Qualquer tí- finais. E também são utilizadas para acompa-
tulo que pode ser comercializado e possui valor nhar o impacto das variações de produtividade
de mercado. São instrumentos negociáveis os sobre a estrutura da economia e o nível de pro-
cheques, notas promissórias, termos de garantia, dução.Os modelos insumo-produto contêm um
certificados de depósitos, ações e debêntures. Al- número considerável de suposições simplifica-
guns desses títulos, em casos excepcionais, não doras, tais como os retornos constantes (inde-
podem ser negociados: é o caso do cheque avulso. pendentes da escala de produção) e a ausência
de substituição entre os produtos (demanda fi-
INSUMO-PRODUTO, Análise do. Análise de nal) e entre os insumos (demanda intermediá-
modelos que pretendem detalhar as implicações ria). Em termos matemáticos, a análise do insu-
de determinada demanda ou de determinada mo-produto é representada por funções de pro-
INSUMO-PRODUTO 306

dução lineares, que descrevem as relações entre se faz o pagamento de uma só vez, denomina-se
todos os setores da economia. Assim, integralização no ato.

a11 X1 + a12 X2 + ... + a1n Xn + F1 = X1 INTERAÇÃO. É toda subseqüência de


n(1\=n\=N) elementos da mesma qualidade,
an1 X1 + an2 X2 + ... + ann Xn + Fn = Xn em uma seqüência de N elementos de
m(1\=m\=N), qualidades mutuamente exclusi-
onde X1 representa o produto do iésimo setor
vas. Também se diz repetição ou chorrilho.
da economia; aij representa a quantidade do ié-
simo produto usado na produção de uma quan- INTERCÂMBIO, Termos de. Veja Relações de
tidade do produto j. F1 representa a demanda Troca.
final do iésimo produto. Portanto, a produção
total do iésimo setor é subdividida em quanti- INTEREST RATE PARITY THEOREM. Veja
dades usadas na produção de todos os outros Teorema da Paridade das Taxas de Juros.
produtos, as quais são por sua vez finalmente
consumidas. Em termos matriciais o sistema po- INTERFACE. Forma pela qual se estabelece a
deria ser escrito da seguinte maneira: A X + F comunicação entre o computador e os periféricos,
= X, onde A é a matriz dos coeficientes de in- ou local ou locais onde dois sistemas ou sub-
sumo-produto aij geralmente denominada ma- sistemas interagem entre si. A comunicação de
triz de coeficientes técnicos. X é o vetor de pro- dados por meio de interfaces pode realizar-se ba-
dução intermediária de produtos, e F é o vetor sicamente por dois métodos: o paralelo e o serial.
da demanda final. Dessa maneira, é possível de- No primeiro caso, todos os sinais se integram
terminar as quantidades necessárias de produ- a uma palavra ou dado e são transferidos si-
ção em cada setor para satisfazer uma dada de- multaneamente por meio de um grupo de linhas
manda final de tal forma que X = [I-A]-1 F. paralelas. A comunicação do tipo serial se dá
quando diversos sinais se transferem, um atrás
INSUMO-PRODUTO. Veja Insumo-Produto, do outro, sobre a mesma linha de comunicação.
Análise do. Veja também Periféricos.
INTANGIBLES. Veja Intangíveis. INTERIM DIVIDEND. Dividendo pago por
antecipação ao dividendo periódico normal. Al-
INTANGÍVEIS. Designação dada a valores que gumas empresas costumam fazer pequenos
não têm uma representação física imediata, adiantamentos de dividendos (às vezes trimes-
como acontece com as mercadorias em geral. São trais) para tornar suas ações mais atrativas nas
“intangíveis” do ponto de vista contábil, por Bolsas de Valores. Esses adiantamentos são des-
exemplo, as patentes, as franquias, as marcas, contados no momento em que o dividendo nor-
os copyrights, o goodwill etc. mal é pago. No Brasil, os bancos são obrigados
a pagar dividendos semestrais.
INTEGRAÇÃO. Veja Cartel; Fusão; Holding;
Integração Horizontal; Integração Vertical; INTERNA CORPORIS. Expressão em latim
Verticalização. que significa algo que se dá dentro de um âmbito
INTEGRAÇÃO HORIZONTAL. Processo oca- determinado, ou que se resolve dentro de uma
sionado pela fusão de duas ou mais empresas organização ou instituição sem se desdobrar
que operam no mesmo estágio e com os mesmos para o exterior. É muito utilizada para designar
produtos. Pode-se também dizer que existe in- processos que se desenvolvem dentro de orga-
tegração horizontal quando as empresas são in- nizações fechadas e submetidas a uma rígida
tegradas por utilizar a mesma matéria-prima, hierarquia e disciplina, como acontece nas For-
embora não fabriquem o mesmo produto. A in- ças Armadas.
tegração horizontal pode permitir que as em- INTERNACIONALIZAÇÃO. Veja Multina-
presas ganhem em termos de economia de es-
cional.
cala, contem com maior poder econômico, ope-
rem com um sistema mais amplo de revende- INTERNACIONAL SOCIALISTA. Designação
dores e, em última instância, diminuam a con- comum a sucessivas associações mundiais de
corrência, conquistando faixas maiores do mer- trabalhadores, com objetivos socialistas. A I In-
cado. Veja também Verticalização. ternacional foi criada em Londres em 28/9/1864,
INTEGRAÇÃO VERTICAL. Veja Verticalização. sob a liderança de Marx e Engels. Reunia enti-
dades operárias de toda a Europa, de tendências
INTEGRALIZAÇÃO. Conclusão do pagamento políticas as mais variadas, e tinha como lema a
de um título ou ação, comprados para serem palavra de ordem de Marx de que a emancipa-
pagos em etapas, como ocorre nas subscrições ção da classe trabalhadora é obra dos próprios
de ações ou debêntures conversíveis. Quando trabalhadores. Dissolveu-se em 1876, depois da
307 INTERPOLAÇÃO E EXTRAPOLAÇÃO

derrota da Comuna de Paris (1871), e também INTERNATIONAL ALGEBRIC LANGUAGE.


em conseqüência das agudas divergências entre Veja Algol.
os partidários de Marx (com maioria no comitê
central) e os anarquistas, liderados por Mikhail INTERNATIONAL BROTHERHOOD OF
TEAMSTERS (Fraternidade Internacional dos
Bakunin, expulsos em 1872. Paralelamente, com
Caminhoneiros). A maior organização sindical
o desenvolvimento acelerado do capitalismo eu-
do mundo, com mais de 2 milhões de associados
ropeu, acirraram-se os conflitos sociais, o que
em 1969. Fundada em 1888, aglutina sobretudo
contribuiu para o surgimento de fortes partidos motoristas de caminhões, além de trabalhadores
socialistas, organizados segundo o modelo do de armazéns, da indústria alimentícia e de ou-
Partido Social Democrata alemão. Em 1889, esses tros setores. Sua jurisdição estende-se aos Esta-
partidos fundaram em Paris a II Internacional dos Unidos, Canadá e Porto Rico, e cada asso-
ou Internacional Socialista, que se definiu ofi- ciação local goza de autonomia em relação à di-
cialmente pelo marxismo. Entre seus líderes, reção central. Publica mensalmente, em Wa-
destacavam-se Karl Kautsky, Lênin, Rosa Lu- shington, o jornal International Teamster.
xemburgo, Eduard Bernstein, Jean Jaurés e Wi-
lhelm Liebknecht. Dirigiu numerosas lutas por INTERNATIONAL STANDARD CLASSIFI-
melhorias nas condições de trabalho — sobre- CATION OF OCCUPATIONS. Classificação pa-
tudo pela jornada de oito horas, pelo sufrágio dronizada de ocupações desenvolvida pela Or-
universal e contra a guerra. As discussões em ganização Internacional do Trabalho (OIT) como
torno das teses centrais do marxismo e sobre os um referencial para permitir comparações inter-
nacionais das ocupações.
caminhos de instauração do socialismo dividi-
ram a II Internacional em duas grandes tendên- INTERNATIONAL TRADE ORGANIZATION.
cias: uma pregava a transformação gradual do Veja Organização Internacional do Comércio.
capitalismo por meio de reformas sociais, outra
defendia a luta revolucionária para a conquista INTERNET. Rede internacional de intercomu-
do poder pelos trabalhadores. O rompimento nicações aberta a quem queira se associar e es-
total entre as duas correntes ocorreu às vésperas tabelecer comunicações (enviando e recebendo
da Primeira Guerra Mundial, quando os socia- mensagens e informações) de uma rede que se
listas alemães, franceses e ingleses, que partici- espalha por mais de setenta países com cerca
de 30 milhões de associados e 48 mil redes di-
pavam dos parlamentos, votaram a favor dos
ferentes. Esta rede mundial de computadores é
créditos de guerra. Já a corrente liderada por
acessada por milhões de usuários diariamente.
Lênin e Rosa Luxemburgo propunha a transfor-
mação da guerra em luta revolucionária contra INTERPOLAÇÃO E EXTRAPOLAÇÃO (ou
o capitalismo: foi o que fizeram os bolcheviques Análise Regressiva). Técnica matemática utili-
na Rússia. Em meio aos acontecimentos revolu- zada para medir a relação entre variáveis, com
cionários na Rússia e à guerra mundial, a II In- o objetivo de fazer previsões ou determinar a
ternacional se desfez e os seguidores de Lênin existência de correlação entre essas variáveis.
fundaram, em 1919, em Moscou, a III Interna- Serve para estimar valores não conhecidos de
cional ou Internacional Comunista. Foi nessa uma variável dependente a partir de uma série
época que surgiram em todo o mundo os par- de valores conhecidos e correspondentes a de-
tidos comunistas marxistas-leninistas, orienta- terminados valores de uma variável inde-
dos pela III Internacional, segundo o modelo da pendente. Em outros termos: enquanto, dada
Revolução Russa e do Partido Comunista da uma equação, ao ser resolvida ela pode ser ex-
União Soviética. A III Internacional tornou-se pressa em diversos pontos e representada por
em pouco tempo um instrumento de difusão da um gráfico, com a análise regressiva ocorre o
inverso — dada uma série de pontos, trata-se
política soviética e, após a morte de Lênin, do
de descobrir a equação. Em economia, a análise
pensamento ideológico de Stálin. O rompimento
regressiva é utilizada para destacar tendências
político-ideológico entre Stálin e Trotski, moti-
ou padrões de comportamento a partir de ob-
vado por interpretações divergentes sobre a con- servações. Um exemplo clássico é o do aumento
dução da construção do socialismo na Rússia e dos gastos com alimentação a partir do cresci-
da revolução mundial, levou Trotski e seus par- mento da renda. A renda é a variável inde-
tidários a fundarem, em 1938, na França, a IV pendente, e os gastos com alimentação são a
Internacional. Em 1943, em plena guerra, Stálin variável dependente. Com base num número
desfez a III Internacional para consolidar sua apreciável de informações, pode-se saber, com
política de aliança antinazista com os Estados relativa certeza, a tendência dos gastos futuros
Unidos e a Inglaterra. A Internacional trotskista com alimentação, em função das prováveis ren-
continua a existir, mas dividida em numerosas das. A análise regressiva é um dos recursos mais
facções. Veja também Comunismo; Socialismo. comuns da econometria.
INTERPOLATRIZ 308

INTERPOLATRIZ. De um conjunto de valores é o processo pelo qual se faz a exata demons-


ou de pontos, é a função ou sua imagem geo- tração da situação econômica de uma pessoa fa-
métrica usada para a interpolação dos mesmos. lecida, antes de realizar a partilha entre os her-
deiros. Em contabilidade, é a base sobre a qual
INTERVALO DE CONFIANÇA. Termo esta- se faz o balanço de uma firma.
tístico que significa um intervalo entre dois nú-
meros em que temos x% de confiança de que INVERSÃO. Termo que, aplicado em economia,
se encontra o verdadeiro valor de um parâmetro. tem o mesmo significado que investimento. Na
Veja também Desvio Padrão; Média. verdade, trata-se de um termo em espanhol (cas-
telhano), inversion, traduzido diretamente para
INTERVENCIONISMO. Veja Dirigismo; Gyo- o português como “inversão”. Os textos de eco-
sei Shido. nomia dos anos 50 e 60, escritos no Brasil, re-
ceberam forte influência do pensamento estru-
INTERVENTION POINTS. Veja Support Points.
turalista da Cepal, cujas principais obras foram
INTI. Unidade monetária do Peru. Submúltiplo: elaboradas por economistas argentinos e chile-
centavo. nos. Veja também Investimento.

INTRABRAND COMPETITION. Expressão em INVERTED YIELD CURVE. Veja Curva de


inglês que significa um processo de concorrência Rendimento Invertida.
entre empresas que se encontram fabricando um INVESTIDOR INSTITUCIONAL. Pessoa jurí-
produto de uma mesma marca, geralmente me- dica que, por força de determinações governa-
diante algum tipo de franchising ou pagamento mentais, é obrigada a investir parte de seu ca-
de royalties. pital no mercado de ações, constituindo uma
INTRA-EMPREENDEDOR. Denominação dada carteira segura e com rentabilidade média ra-
a indivíduo que é empreendedor no âmbito in- zoável. Por exemplo: fundos de incentivo fiscal
(fundo 157), fundos de pensão e seguradoras.
terno das empresas.
INVESTIMENTO. Aplicação de recursos (di-
INTRANET. É uma rede interna de uma orga-
nheiro ou títulos) em empreendimentos que ren-
nização empresarial que utiliza tecnologias da
derão juros ou lucros, em geral a longo prazo.
Internet para permitir que os funcionários da
Num sentido amplo, o termo aplica-se tanto à
empresa “naveguem” pela rede e compartilhem
compra de máquinas, equipamentos e imóveis
informações eletrônicas com grande facilidade
para a instalação de unidades produtivas como
(não confundir com Internet). É uma versão par- à compra de títulos financeiros (letras de câm-
ticular da World Wide Web, a parte multimídia bio, ações etc.). Nesses termos, investimento é
da Internet, disponível só para as pessoas que toda aplicação de dinheiro com expectativa de
trabalham na empresa. Veja também Internet; lucro. Em sentido estrito, em economia, inves-
WWW. timento significa a aplicação de capital em meios
INVARIÂNCIA. Conceito relacionado com a que levam ao crescimento da capacidade pro-
Teoria da Decisão e utilizado para caracterizar dutiva (instalações, máquinas, meios de trans-
escolhas incoerentes mas não necessariamente porte), ou seja, em bens de capital. Por isso, con-
incorretas, quando o mesmo problema aparece sidera-se também investimento a aplicação de
sob perspectivas diferentes. Por exemplo, se A recursos do Estado em obras muitas vezes não
for preferível a B, e B preferível a C, então pes- lucrativas, mas essenciais por integrarem a in-
fra-estrutura da economia (saneamento básico,
soas racionais deveriam preferir A a C. Se tal
rodovias, comunicações). O investimento bruto
não ocorre — não importando o motivo —, diz-
corresponde a todos os gastos realizados com
se que há falta de invariância nesse comporta-
bens de capital (máquinas e equipamentos) e
mento ou nessas decisões. Esta concepção, a
formação de estoques. O investimento líquido ex-
existência de invariância, é o ponto central do
clui as despesas com manutenção e reposição
enfoque da utilidade de Oskar Morgenstern e
de peças, equipamentos e instalações desgasta-
Johannes von Neumann no desenvolvimento da
das pelo uso. Como está mais diretamente liga-
Teoria dos Jogos. Veja também Morgenstern,
do à compra de bens de capital e, portanto, à
Oskar; Neumann, Johannes von; Paradoxo de ampliação da capacidade produtiva, o investi-
Allais; Teoria das Decisões; Teoria dos Jogos; mento líquido mede com maior precisão o cres-
Variância. cimento da economia. Os investimentos realiza-
INVASÃO DO COBRE. Veja Crise do Xenxém. dos na compra de equipamentos e instalações
são registrados nas contas nacionais no item
INVENTÁRIO. Relação pormenorizada dos bens “formação de capital fixo” (ou investimento
e valores de uma pessoa ou firma. Em direito, fixo). Os investimentos com capital circulante
309 IPEN

(formados pelos estoques de produtos finais) aos países exportadores de capital.Veja também
compõem o item “variação de estoques”. Dife- Dependência; Multinacional.
rencia-se ainda a formação interna de capital
dentro de um país e os investimentos realizados INVESTIMENTO INDUZIDO. O investimen-
no exterior. Geralmente cada país define o que to realizado em decorrência de um aumento de
considera investimento de uma forma específica renda é chamado induzido. Contrapõe-se ao
e que corresponda melhor às suas necessidades conceito de investimento autônomo, que ocorre
econômicas. em virtude de fatores externos como inovações
tecnológicas, guerras, política governamental
INVESTIMENTO A FUNDO PERDIDO. É o etc. Há uma relação entre renda e investimento:
investimento realizado sem expectativa de re- o aumento da capacidade de consumo de uma
torno do montante investido. Esse tipo de in- economia incentiva os investimentos. O aumen-
vestimento é geralmente realizado pelo Estado, to da renda induz a uma elevação do consumo
no sentido de melhorar as condições de existên- e a um incremento da capacidade de produção.
cia de setores de baixa renda, como na constru- Quando essa capacidade se esgota, pode ser au-
ção de moradias populares, saneamento básico, mentada por meio de novos investimentos. São
ou mesmo realizações de obras de infra-estru- esses investimentos, destinados a atender à de-
tura como estradas, que estimulam os investi- manda gerada pelo aumento da renda, que são
mentos privados por meio da oferta de um pro- chamados de induzidos.
duto ou serviço antes inexistentes.
INVESTMENT DRIVEN. Expressão em inglês
INVESTIMENTO AUTÔNOMO. Investimen-
que significa vantagens competitivas de um país
to que não está relacionado com alterações nos
baseadas na elevada capacidade de investir em
níveis de renda. Os investimentos públicos, os
máquinas, equipamentos e em incorporação do
investimentos que acontecem em função de
progresso técnico.
avanços tecnológicos, ou aqueles que se reali-
zam sem expectativa de obtenção de uma taxa INVESTMENT SECURITIES. Veja Títulos de
média de lucro, ou mesmo os realizados a fundo Investimento.
perdido, são considerados investimentos autô-
nomos. Veja também Investimento a Fundo IOF — Imposto sobre Operações Financeiras.
Perdido; Investimento Induzido. Instituído em 20/10/1966, incide sobre as ope-
rações de crédito e seguro realizadas por insti-
INVESTIMENTO ESTRANGEIRO. Aquisição
tuições financeiras e seguradoras. São contri-
de empresas, equipamentos, instalações, esto-
buintes do imposto os tomadores de crédito e
ques ou interesses financeiros de um país por
os segurados. O recolhimento, de responsabili-
empresas, governos ou indivíduos de outros
dade da instituição financeira, é efetuado men-
países. O investimento de capital estrangeiro
salmente ao Banco Central do Brasil. Em contas
pode ser direto, quando aplicado na criação de
correntes, o IOF é gerado sobre o saldo devedor:
novas empresas ou na participação acionária em
empresas já existentes; e indireto, quando assume se uma conta fica devedora, imediatamente in-
a forma de empréstimos e financiamentos a lon- cide sobre ela um imposto sobre o valor devido.
go prazo. Os investimentos privados no exterior No caso de cheques especiais, o imposto é sobre
são feitos geralmente em decorrência de algu- o saldo médio devedor mensal. O imposto é co-
mas motivações básicas: 1) visando a um lucro brado sobre: 1) o deferimento de empréstimo
maior, ou a maiores facilidades fiscais e/ou le- de soma utilizável de uma só vez, parcelada-
gislativas do que se conseguiria no próprio país; mente ou sob forma de conta corrente; 2) o des-
2) na expectativa de variações cambiais favorá- conto de títulos cambiários, em moeda nacional;
veis; 3) por temor a mudanças políticas ou fiscais 3) o valor global dos prêmios de seguro pagos.
no país de origem. O investimento governamental,
IPA. Iniciais de Índice de Preços do Atacado e
por sua vez, é realizado geralmente por razões
da expressão em inglês, utilizada nas atividades
políticas, diplomáticas ou militares, independen-
de seguros, including particular average, que sig-
temente de possíveis rendimentos econômicos,
nifica “incluídas avarias parciais (particulares)”.
mas pode ter a função de equilibrar, a longo
prazo, o balanço de pagamentos do país de ori- Veja também Índice Agregado Ponderado.
gem. Para o país receptor, o investimento es- IPC. Veja INPC.
trangeiro pode ser um meio de estimular o cres-
cimento econômico quando o nível de poupança IPEN — Instituto de Pesquisas Energéticas e
interna for insuficiente para atender às necessi- Nucleares. Denominação que recebeu, a partir
dades potenciais de investimento, embora isso de 1979, o Instituto de Energia Atômica (IEA),
geralmente acentue o grau de dependência eco- fundado em 1956. Até novembro de 1982, cons-
nômica e política do país anfitrião em relação tituía uma entidade autárquica do Estado de São
IPI 310

Paulo, subordinada à Secretaria de Estado dos uma alíquota de 0,25%, sempre que o dinheiro
Negócios da Indústria, Comércio, Ciência e Tec- saísse da conta de um cliente. Inicialmente, o
nologia, participando do Plano Nacional de imposto foi proposto com a dupla finalidade de
Energia Nuclear mediante convênios firmados aumentar a arrecadação tributária do governo
com a Comissão Nacional de Energia Nuclear federal e combater a sonegação, revelando por
(Cnen) e as Empresas Nucleares Brasileiras (Nu- intermédio dos cheques as movimentações rea-
clebrás). Os objetivos básicos do Ipen têm sido lizadas, especialmente pelo setor informal da
a investigação e o desenvolvimento da energia economia. No entanto, as expectativas da receita
nuclear para aplicações pacíficas, bem como a — cerca de 600 milhões de dólares mensais —
formação de pessoal técnico especializado e apli- pareceram superestimadas, pois as liminares
cação da tecnologia nuclear na solução de pro- contra o pagamento do imposto concedidas a
blemas brasileiros. O ponto de partida e centro Estados e municípios e também a alguns setores
forte de todo o seu trabalho tem sido o reator privados reduziram essas receitas em até 40%.
de investigação montado no campus da Univer- Os saques do Fundo de Garantia do Tempo de
sidade de São Paulo (USP); ali se realizou a pri- Serviço estavam isentos do IPMF, assim como
meira reação nuclear produzida em cadeia na os pensionistas e aposentados do INPS, que re-
América Latina. Em 1º/11/1982, porém, o Ipen ceberão 0,25% a mais em seus benefícios para
passou a ser controlado pelo governo federal, compensá-los do imposto. Em setembro de 1993,
com a denominação de Unidade Administrativa o Supremo Tribunal Federal acolheu demanda
de São Paulo (Cnen). e emitiu liminar suspendendo o pagamento do
IPMF em todo o território nacional. Em 1995, o
IPI — Imposto sobre Produtos Industrializa- governo conseguiu aprovar a adoção da CPMF
dos. Tributo criado pelo governo brasileiro em (Contribuição Provisória sobre Movimentações
12/11/1966, em substituição ao Imposto de Con- Financeiras), com as mesmas características do
sumo. Recolhido na fonte de produção das mer- IPMF, devendo vigorar de 1º/1/96 a 31/12/98.
cadorias, é incorporado ao preço destas, sendo, Veja também CPMF.
portanto, pago pelo consumidor no ato da com-
pra. Incide proporcionalmente sobre o preço do IPSO JURE. Expressão em latim que significa
produto, em taxas variáveis: a taxa é mais ele- “pela lei”, em função da lei, ou em decorrência
vada sobre artigos considerados supérfluos e de da lei.
luxo (cigarros, automóveis) e mais baixa sobre
IPT — Instituto de Pesquisas Tecnológicas
bens de primeira necessidade (alguns dos quais
S.A. Organização de pesquisa e assessoria téc-
podem ser isentos da tributação). A Constituição
nico-científica, criada em 1934 como autarquia
de 1988 estabeleceu que o IPI permanecerá se- da Universidade de São Paulo (USP) e transfor-
letivo (em função da essencialidade do produto), mada em empresa de economia mista em 1975.
será cumulativo e não incidirá sobre produtos Tem como atribuições executar projetos de pes-
industrializados destinados ao exterior (expor- quisa nas áreas de engenharia e indústria e co-
tações). Estabeleceu também que a União entre- laborar na formação de técnicos de nível supe-
gará 47% do total arrecadado aos Estados e ao rior.
Distrito Federal (21,5%), aos municípios (22,5%)
e 3% para a aplicação em programas de finan- IRINEU EVANGELISTA DE SOUZA. Veja
ciamento do setor produtivo das regiões Norte, Mauá, Barão e Visconde de.
Nordeste e Centro-oeste.
IRISH DIVIDEND. Expressão que significa, li-
IPK. Iniciais de Índice de Passageiros por Qui- teralmente, “dividendo irlandês”, mas que, no
lômetro, que, no cálculo das tarifas de meios de jargão do mercado financeiro norte-americano,
transportes coletivos (ônibus, trens etc.), é o di- se aplica à situação em que o possuidor de ações,
visor da totalidade dos custos fixos e variáveis. em vez de receber dividendos por elas, é cha-
Quanto maior for o IPK, considerando constan- mado a pagar algum tipo de contribuição ne-
tes os custos fixos e variáveis, menor deverá ser cessária à manutenção das mesmas.
a tarifa, e vice-versa.
ISBN. Iniciais da expressão em inglês Interna-
IPMF — Imposto Provisório sobre Movimen- tional Standard Book Number, que significa o pa-
tação Financeira. Mais conhecido como “impos- drão internacional de numeração de livros, que
to do cheque”, entrou em vigor em 26/8/1993, consiste num código para a identificação de uma
e foi extinto em 1º/1/1995. Este imposto incidia publicação, afixado geralmente na quarta-capa
fundamentalmente sobre os depósitos em contas da mesma, composto de dez dígitos assim dis-
correntes, poupanças, depósitos especiais nas postos: os dois primeiros indicam a área lingüís-
contas remuneradas, assim como sobre os rece- tica do livro; os quatro seguintes, a editora; os
bimentos em dinheiro mediante ordens de pa- três subseqüentes, o número de ordem da obra
gamento. O imposto era cobrado de acordo com na produção da editora, e o dígito final (que
311 ISO 9 000

também pode ser uma letra) é o verificador que Para as pessoas físicas, a isenção fiscal mais co-
indica ao computador examinar a exatidão das nhecida é a do Imposto de Renda para aqueles
informações anteriores. que recebem uma renda líquida inferior a um
piso determinado. Quanto a empresas, as auto-
ISCO. Veja International Standard Classifica- ridades podem isentar determinados produtos,
tion of Occupations. em função da sua necessidade de consumo (por-
ISEB — Instituto Superior de Estudos Brasi- tanto, uma forma de barateamento desses pro-
dutos). Da mesma forma, outros tipos de im-
leiros. Instituto público criado em 4/7/1955
postos (Imposto Predial e Territorial, impostos
pelo decreto-lei nº 57 608. Surgiu como uma es-
de exportação etc.) podem ser abolidos durante
pécie de sucessor do Instituto Brasileiro de Eco-
determinado período e para certas atividades.
nomia, Sociologia e Política (Ibesp), formado em Veja também Imposto; Incentivo fiscal.
1953 pelo chamado Grupo de Itatiaia, composto
por Hélio Jaguaribe, Álvaro Vieira Pinto, Cân- ISO 9 000. Certificado que atesta a aplicação
dido Mendes, Alberto Guerreiro Ramos, Nélson permanente de padrões de qualidade reconhe-
Werneck Sodré e Roland Corbisier. O Iseb su- cidos internacionalmente, o que é indispensável
bordinava-se diretamente ao ministro da Edu- para participar do mercado internacional. A ori-
cação e Cultura, embora gozasse de “autonomia gem da ISO 9 000 remonta a 1987, quando, dian-
administrativa e plena liberdade de pesquisa, te da enorme proliferação de normas para a fa-
de opinião e de cátedra”, segundo seu regula- bricação de produtos industriais, a ISO — In-
mento geral. Compunha-se inicialmente de três ternational Organization for Standardization
(Organização Internacional para a Normaliza-
órgãos principais: o conselho consultivo, cons-
ção) estabeleceu o Comitê Técnico TC/176 —
tituído por cinqüenta membros designados pelo
Garantia de Qualidade, com a finalidade de ana-
ministro da Educação e Cultura, escolhidos en- lisar criticamente as diversas normas existentes
tre “cidadãos representativos dos diversos ra- e consolidar seus diversos conteúdos. As nor-
mos do saber ou da ação, relacionados com os mas resultantes dessa análise foram denomina-
estudos ou as atividades sociais, econômicas e das ISO 9 000 e adotaram a maioria dos ele-
políticas do país”; o conselho curador, órgão di- mentos contidos nas normas inglesas identifica-
retivo, com oito membros também designados das pela sigla BS 5 750 — 1979. No mesmo ano,
pelo ministro; e a diretoria executiva, encarre- a Comunidade Européia adotou a ISO 9 000 com
gada de executar as deliberações do conselho a designação de série EN-29 000. No Brasil, elas
curador, exercida por um diretor eleito pelo con- correspondem à série NBR-19 000. Em 1995, já
selho curador e escolhido entre seus membros. existiam quase cem países com participação no
Além desses órgãos, o Iseb era integrado por comitê da ISO, sendo que o Brasil é representado
cinco departamentos, responsáveis pela organi- pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
zação de cursos e outras atividades patrocinadas (ABNT). Na realidade, desde que os grandes
pela instituição. Durante quase nove anos de ati- compradores mundiais começaram a exigir ga-
vidades, o Iseb organizou cursos, conferências, rantias dos padrões de qualidade para os pro-
seminários de estudos e pesquisas diversas, con- dutos que estavam adquirindo, a normalização
tando com a participação de representantes de dos padrões utilizados por cada país se impôs
não só como uma necessidade técnica, mas tam-
vários setores do aparelho do Estado — Forças
bém econômica. A tendência ao global sourcing,
Armadas, Congresso Nacional etc. — e da so-
isto é, à globalização dos fornecedores, acelerou
ciedade civil — empresários, líderes sindicais, ainda mais a adoção de normas de qualidade
profissionais liberais, funcionários públicos, pro- que fossem aceitas mundialmente. Os setores re-
fessores, estudantes universitários etc. Re- lacionados com segurança, como o Departamen-
presentou nesse processo um foco de elaboração to de Defesa dos Estados Unidos, cujos forne-
de ideologia nacionalista, despertando a hosti- cedores contam-se aos milhares em vários países
lidade dos setores estimulados contra o presi- do mundo, a indústria de energia nuclear, os
dente João Goulart. O Iseb foi extinto no dia produtores de equipamentos médicos e os pro-
13/4/1964 pelo decreto-lei nº 53 884, assinado dutores de petróleo foram os primeiros que, ao
por Paschoal Ranieri Mazzilli, que assumira in- exigir normas muito rígidas de qualidade, im-
terinamente a presidência após a deposição de pulsionaram a adoção das normas ISO. Embora,
Goulart. Pouco antes, nos primeiros dias de para muitos, a imposição do certificado de qua-
abril, a sede do Iseb foi invadida por grupos lidade tenha significado, num primeiro momen-
paramilitares e seus arquivos foram queimados. to, quase uma barreira não-tarifária que invia-
bilizava a entrada de certos produtos em deter-
ISENÇÃO FISCAL. Forma de incentivo fiscal minados mercados, com a generalização do pro-
em que uma pessoa física ou jurídica fica libe- cesso de certificação, o selo da ISO passou a ser
rada do pagamento de determinados impostos. um verdadeiro passaporte de entrada nos mer-
ISO 9 660 312

cados mais exigentes.A série ISO 9 000 é forma- do período Meiji), foi a praticada no Japão desde
da basicamente por três normas contratuais: ISO meados do século XVII: quase todos os estran-
9 001, ISO 9 002 e ISO 9 003, voltadas especial- geiros foram expulsos, foram proibidas a entra-
mente para a indústria, e duas normas com di- da e a saída dos próprios japoneses e imposto
retrizes para a elaboração de sistemas de qua- um rígido controle ao intercâmbio comercial
lidade, ISO 9 004-1 e ISO 9 004-2, versão para com a China e a Holanda. Mas o termo “isola-
serviços. A certificação das normas ISO 9 000 cionismo” entrou no vocabulário internacional
geralmente requer a intervenção de uma empre- em decorrência da política exterior dos Estados
sa especializada em auditorias e credenciada por Unidos, que em vários momentos foi caracteri-
organismos oficiais de credenciamento. Essas zada como isolacionista. São indicativos dessa
auditorias são geralmente rigorosas, pois embo- política a Doutrina Monroe, a relutância do país
ra as normas ISO da série 9 000 sejam suficien- em participar da Primeira Guerra Mundial e a
temente abrangentes, respeitando a trajetória e recusa de entrar para a Liga das Nações. Esse
o tamanho da empresa que requer a certificação, mesmo procedimento repetiu-se em relação à
não existe flexibilidade no que se relaciona ao Segunda Guerra Mundial, que só contou com a
problema da consistência e coerência entre o sis-
participação dos Estados Unidos depois que a
tema documentado e o implementado. A utili-
base naval norte-americana de Pearl Harbor foi
zação das normas ISO da série 9 000 geralmente
atacada pelos japoneses. Exemplos mais recentes
envolve três elementos: 1) o cliente comprador,
que exige uma demonstração de que o fornece- de política isolacionista: a China, no período da
dor está utilizando sistemas de qualidade de Revolução Cultural (1966-1969), e a Albânia,
acordo com as normas ISO 9 000; 2) o fornecedor desde seu rompimento político com a China
que necessita seguir as normas ISO 9 000 em (1977).
sua(s) própria(s) unidade(s); 3) os fornecedores ISONOMIA. Princípio segundo o qual todos
do fornecedor (ou os sub-contratados) que ne- os indivíduos de uma comunidade devem re-
cessitam demonstrar a este último que estão
ceber tratamento igual por parte das autorida-
adotando sistemas de qualidade na produção
des tributárias.
de seus produtos com as normas ISO 9 000. Uma
vez obtida a certificação, a tendência é que uma ISOQUANTA. Representação gráfica, também
empresa só adquira produtos e/ou serviços de conhecida por linha de igual produção, linha de
empresas também certificadas pelas normas ISO isoproduto e curva de indiferença de produção.
9 000. Especialmente para os exportadores, que Corresponde, num gráfico bidimensional, a uma
necessitam colocar seus produtos em mercados curva em que todos os pontos indicam combi-
altamente competitivos e onde a qualidade é nações dos fatores que apresentam a mesma
pré-requisito básico, a ausência da certificação quantidade de produção. Em outras palavras,
pode representar a perda de contratos de grande uma isoquanta representa o mesmo nível de pro-
valor. No Brasil até o final de 1995, mais de mil
dução resultante da utilização diferenciada de
empresas já haviam obtido a certificação das
dois insumos. O que determina o perfil de uma
normas ISO 9 000.
isoquanta é o grau de substitutibilidade entre
ISO 9 660. Norma da International Standards os fatores, referido numa tabela de igual pro-
Organization para a gravação e leitura de dados dução. Num grau de substituição perfeito, a iso-
em CD-ROM, padrão atual dos CD-ROMs uti- quanta é representada por uma linha reta. Quan-
lizados em PC’s. do a substitutibilidade existe, mas não é perfeita,
tem-se uma linha curvilínea convexa em relação
ISO 14 000. Normas da International Standards à origem. Não havendo substitutibilidade entre
Organization para os processos relacionados os fatores de produção, a isoquanta é repre-
com a preservação do meio ambiente e os pro- sentada por linhas em ângulo reto.
cessos de proteção econológica. O Comitê Téc-
nico 207 da ISO, especificamente voltado para IT. Iniciais da expressão em inglês information
questões ambientais, estuda a criação da ISO technology, que significa “tecnologia de informa-
14 000 com base na norma inglesa BS-7 750 para ção” e designa toda uma série de tecnologias
empresas que tenham sistemas de gestão am- vinculadas à informática, utilizadas no âmbito
biental — garantir ao consumidor que os pro- da administração das finanças e dos negócios
cessos utilizados na fabricação do produto que em geral.
ele está consumindo sejam ambientalmente sus-
tentáveis. ITO. Iniciais de International Trade Organiza-
tion, organismo criado no âmbito da ONU, em
ISOLACIONISMO. Doutrina de política exte- 1948.
rior que preconiza evitar o relacionamento de
um país com outros. Exemplo extremo de po- IUAN. Unidade Monetária da China. Submúl-
lítica isolacionista, só encerrada em 1868 (início tiplo: jiad ou fen.
313 JETRO

IVA — Imposto sobre Valor Agregado. Este ponês fundado em 1974 para oferecer assistência
imposto está sendo examinado para constituir técnica aos países em desenvolvimento e aos
um dos elementos da reforma tributária prepa- emigrantes japoneses. Criado pelo governo ja-
rada pelo governo, a ser enviada ao Congresso ponês, este órgão pode fazer empréstimos e emi-
até o final de 1998. Em conjunto com o Imposto tir títulos.
sobre Vendas a Varejo (IVV) e o Imposto Sele-
tivo (excise tax), poderiam substituir o Imposto JARDA (YARD). Medida de comprimento equi-
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços valente a 36 polegadas ou 0,914 m. Sua origem
(ICMS), o Imposto sobre Produtos Industriali- é incerta. No norte da Europa, parece ter-se ori-
zados (IPI) e o Imposto sobre Serviços (ISS), o ginado do comprimento da cinta utilizada pelos
PIS/Pasep e a Contribuição Social para o Finan- soldados. Nos países do sul, seria o equivalente
ciamento da Seguridade Social (Cofins) sem per- ao dobro do cúbito. Como um cúbito equivalia
da de receita final e simplificando bastante o a aproximadamente 45 cm, uma jarda teria cerca
recolhimento de impostos pela Receita Federal. de 90 cm. Conta-se também que, no início do
Veja também Excise Tax. século XII, o rei Henrique I, da Inglaterra, de-
terminou que a jarda correspondesse à distância
IVV. Veja IVA. entre seu nariz e o polegar de seu braço esticado.
No decorrer do tempo, a jarda admitiu muito
pouca variação, tanto que seu valor oficial é hoje
91,440 cm. Veja também Unidades de Pesos e

J
Medidas.
JARI. Veja Projeto Jari.
JAVA. Veja Coopetition.
JBRI. Iniciais de Japan Bond Research Institute,
denominação da empresa japonesa que realiza
pesquisas, para os investidores no Japão, sobre
JAGUARIBE, Hélio. Veja Iseb. a qualidade das ações e títulos emitidos por em-
presas japonesas e internacionais. Veja também
JAPAN CHAMBER OF COMMERCE AND Standard & Poor’s; Moody’s Investors.
INDUSTRY (Nihon Shõko Kaigisho). Câmara
Japonesa do Comércio e Indústria, organização JEDI (Level). Iniciais da expressão em inglês
que representa as pequenas e médias empresas. just enough desirable inventory, que significa, li-
Fundada em 1922, congrega mais de quinhentas teralmente, “o nível mínimo de estoque deseja-
câmaras locais de comércio e indústria e tem do”, e que se opõe ao conceito de estoque zero,
cerca de 1,4 milhão de membros. a ser alcançado a qualquer custo.

JAPAN COMMITTEE FOR ECONOMIC DE- JEIRA. Antiga unidade de superfície utilizada
VELOPMENT. Denominação em inglês da Kei- no Brasil antes do Sistema Métrico Decimal
zai Dõyu Kai, organização japonesa de empre- e equivalente a uma área variável entre 19 e
sários e executivos de várias empresas. A fina- 36 hectares. Veja também Sistema Métrico
lidade da organização é promover o progresso Decimal.
e a estabilidade na economia japonesa, fazendo
propostas com o objetivo de melhorar a situação JET-LAG. Efeito causado sobre um pessoa que
econômica do país como um todo, evitando con- viaja por avião e atravessa muitos fusos horários
tudo assumir posicionamentos políticos. Quan- num período curto de tempo, e tem de se adap-
do foi fundada, em 1946, era composta de líderes tar, física e mentalmente, a um novo ciclo ou
empresariais progressistas, preocupados com a ritmo de tempo de vigília e sono. Com a gene-
reconstrução do Japão e com a democratização ralização de rápidos transportes aéreos e a mul-
de sua vida política e social. Mais tarde, mesmo tiplicação de viagens de negócios no sentido les-
com o extraordinário desenvolvimento observa- te—oeste ou oeste—leste, este termo passou a
do pela economia japonesa, esta organização constar do vocabulário dos executivos das em-
permaneceu com suas preocupações sociais, presas, especialmente as multinacionais.
sempre enfatizando as responsabilidades sociais
das empresas e uma vinculação estreita com as JETRO. Iniciais da denominação, em inglês, da
universidades. Japan External Trade Organization (Nihon Bõeki
Shinkõkai), que é a associação japonesa para o
JAPAN INTERNATIONAL COOPERATION fomento do comércio exterior, organização su-
AGENCY (JICA). Denominação em inglês da pervisionada pelo Ministry of International Tra-
Kokusai Kyõryoku Jigyõdan, órgão público ja- de and Industry (Miti). Até 1970, a principal fun-
JETSAM 314

ção da Jetro era obter informações para ajudar capital pode ser medido em termos de tempo,
as empresas japonesas, tanto grandes como pe- além de quantidade. Um aumento do capital in-
quenas, a expandir suas exportações. Escritórios vestido seria o mesmo que o aumento do pe-
da Jetro foram criados nos principais centros de ríodo de tempo em que o capital é empregado.
comércio mundiais e campanhas de marketing Embora se considerasse um “ardente defensor
foram planejadas para impulsionar o comércio da liberdade de comércio”, Jevons declarou-se
exterior japonês. Com o aumento da competiti- a favor do protecionismo na Inglaterra, em sua
vidade do Japão, a partir dos anos 70, e os su- obra The State in Relation to Labour (O Estado
perávits comerciais japoneses se ampliando, a em Relação ao Trabalho), 1882. Seus trabalhos
Jetro começou a se encarregar também de fo- em economia aplicada e economia política foram
mentar as importações. Veja também MITI. reunidos no livro Investigations in Currency and
Finance (Investigações em Moeda e Finanças),
JETSAM. Veja Jettinson. 1884. Examinou especialmente o problema das
JETTINSON. Ato de atirar ao mar a carga de flutuações econômicas, chegando ao ponto de
tentar relacionar os ciclos com a atividade solar.
um navio para deixá-lo mais leve quando há
Veja também Marginalismo; Menger, Karl;
perigo de naufrágio. Geralmente, um cargueiro
Walras, Leon.
não se responsabiliza pela ocorrência de jettin-
son. Este risco deve ser coberto pela apólice de JGB. Iniciais de japanese government bond, isto é,
seguro das mercadorias embarcadas. título do governo japonês.
JEVONS, William Stanley (1835-1882). Econo- JIAD. Veja Iuan.
mista inglês da escola marginalista, professor de
lógica em Manchester e de economia política em JIDOKA. Termo em japonês que corresponde
Londres, onde se destacou por combinar a aná- a “automação”. Veja também Automação.
lise teórica com a estatística. Ao mesmo tempo JIS. Iniciais de Japanese Industrial Standards
que Menger e Walras, Jevons elaborou, inde- (Normas Industriais Japonesas), que é o órgão
pendentemente, a teoria da utilidade marginal, nacional que estabelece parâmetros para a in-
em 1870. Sua principal obra, The Theory of Poli- dústria no Japão.
tical Economy (A Teoria da Economia Política),
1871, reuniu todas as análises anteriores basea- JIT. Veja Just in Time.
das na utilidade para formular uma teoria mais
abrangente do valor, da troca e da distribuição. JLTPR. Iniciais de japanese long term prime rate,
Para isso, o autor desenvolveu uma exposição que significa a taxa de juros cobrada pelos ban-
matemática das leis do mercado e da teoria do cos japoneses a seus clientes preferenciais (de
valor-utilidade, que seria o ponto central de sua primeira linha), para empréstimos de mais de
teoria. Tomou como ponto de partida o indiví- um ano.
duo e suas necessidades e, baseando-se nos prin- JOBAGIE. Palavra de origem francesa que de-
cípios da filosofia hedonista de Bentham, definiu signa prestações em trabalho que, na época feu-
utilidade como a capacidade que um objeto tem dal, o servo proporcionava ao senhor, caso ocor-
de provocar o prazer ou impedir a dor. A ex- ressem necessidades extraordinárias na produ-
plicação de Jevons para a formação do valor de ção. Assemelhava-se à corvéia, e na Europa im-
troca e do preço baseia-se numa adaptação da plicava que cada aldeia fornecesse anualmente
Segunda Lei de Gossen. Afirma que, quando um grupo de pessoas (trabalhadores) para a jo-
uma mercadoria é capaz de satisfazer necessi- bagie, proporcional ao tamanho de sua popula-
dades em vários usos diferentes, ela fica distri- ção.Veja também Corvéia.
buída entre eles de tal modo que seu grau de
utilidade será o mesmo em todos os usos. Jevons JOBBER. Veja Stock Jobber.
não chegou a apresentar uma teoria subjetiva
JOB CLUSTER. Termo em inglês cuja tradução
completa, mas negou o trabalho como fonte de
literal é “nichos ocupacionais”, mas que significa
valor. Para ele, o trabalho gasto na produção da
um grupo estável de ocupações ou profissões,
mercadoria “passara e se havia perdido para dentro de um mercado interno de trabalho, que
sempre”, não podendo exercer nenhuma in- se encontram tão vinculadas que possuem de-
fluência sobre o preço. Apenas de modo indireto terminações de salário comuns. Estes empregos
o trabalho poderia afetar o valor de um produto, estão vinculados como: 1) resultado do tipo de
valor este definido pelo grau final de utilidade, tecnologia utilizada na empresa; 2) resultado da
por meio da seguinte relação: “O custo da pro- organização administrativa da produção ou
dução determina a oferta, que determina o grau como resultante dos usos e costumes no interior
final de utilidade, que por sua vez determina o da empresa.
valor”. Jevons também legou uma contribuição
importante à teoria do capital. Afirmou que o JOGO DE BALLA. Veja Risco.
315 JUNTA DE CONCILIAÇÃO E JULGAMENTO

JOGO DE ESTRATÉGIA PURA. Veja Jogo de JUGLAR, Clément (1819-1905). Economista fran-
Estratégia. cês, pioneiro no estudo dos ciclos econômicos e
na constatação da natureza periódica das crises.
JOGOS. Veja Teoria dos Jogos. Seu nome denomina os ciclos curtos, o “ciclo
JOGOS DE AZAR. Veja Jogos de Estratégia. Juglar”, de oito a dez anos, de variações alter-
nadas na atividade econômica. Médico, Juglar
JOGOS DE ESTRATÉGIA. Ao contrário dos interessou-se pela economia ao estudar os fenô-
jogos de azar, nos quais o resultado depende menos demográficos. Em seguida, passou a ana-
unicamente do acaso, os jogos de estratégia são lisar as crises econômicas, que, para ele, tinham
aqueles em que o resultado depende total ou causas naturais, inevitáveis mas previsíveis e
parcialmente das decisões (ou estratégias) toma- que retornariam em ciclos. Destacou-se como es-
das pelos jogadores individuais. Por exemplo, tatístico realizando previsões acuradas da reto-
enquanto o cara-ou-coroa é um jogo de azar (de- mada das atividades econômicas, o que também
pende inteiramente do acaso), o pôquer é um lhe permitiu acumular uma grande fortuna por
jogo de estratégia, pois seu resultado depende meio da especulação. Professor da Escola Livre
em grande parte das decisões de cada jogador. de Ciências Políticas de Paris e fundador da So-
O jogo de estratégia pura é aquele em que cada ciedade de Estatística de Paris, seu mais impor-
jogador tem uma jogada ótima que não depende tante trabalho foi Des Crises Commerciales et de
do conhecimento prévio do jogo do opositor. Leur Retour Périodique en France, en Angleterre et
Este tipo de jogo é também identificado como aux États-Unis (Das Crises Comerciais e Seu Re-
Ponto de Sela. A palavra “jogo”, no sentido an- torno Periódico à França, à Inglaterra e aos Es-
terior, pode aplicar-se às mais variadas situações tados Unidos), 1862, a primeira obra a fornecer
e campos de atividade, especialmente no âmbito uma descrição pormenorizada do ciclo econô-
dos negócios. Veja também Ponto de Sela; Teo- mico e a insistir na periodicidade das crises. Pu-
ria dos Jogos. blicou ainda Du Change et de la Liberté d’Émission
(Da Troca e da Liberdade de Emissão), 1868, e
JOGOS DE SOMA ZERO. Veja Teoria dos Jogos. Les Banques de Dépôt, d’Escompte et d’Émission (Os
JÓIAS DA COROA. Expressão utilizada quan- Bancos de Depósito, de Desconto e de Emissão),
do uma empresa, na iminência de ser incorpo- 1884.
rada por outra, ou pedir concordata, ou mesmo JUMBO. Veja Empréstimo-jumbo.
falir, vende seus ativos mais importantes, como
faziam príncipes e reis no passado, que, diante JUNIOR SECURITY. Obrigação (título) que
de dificuldades financeiras, vendiam ou lança- tem um baixo nível de prioridade para ser sal-
vam mão das jóias da Coroa. dada contra liquidação de ativos. Estes títulos
têm menos prioridade do que os senior securities.
JOINT-VENTURE. Expressão em inglês que
Geralmente, as prioridades seguem a seguinte
significa “união de risco” e designa o processo
ordem: títulos de hipotecas, bonds, debêntures,
mediante o qual pessoas, ou, o que é mais fre-
ações preferenciais e ações ordinárias.
qüente, empresas se associam para o desenvol-
vimento e execução de um projeto específico no JUNK BOND. Expressão em inglês que designa
âmbito econômico e/ou financeiro. Uma joint- título (bond) de péssima qualidade, isto é, título
venture pode ocorrer entre empresas privadas, de alto risco com classificação de crédito inferior
entre empresas públicas e privadas, e entre em- ao nível BB. Em geral, são títulos emitidos por
presas públicas e privadas nacionais e estran- empresas de baixa credibilidade no mercado. Tí-
geiras. Durante a vigência da joint-venture, cada tulos que oferecem rendimentos elevados, mas
empresa participante é responsável pela totali- cujo risco é também muito alto. Estes títulos ob-
dade do projeto. No caso brasileiro, esta moda- têm classificações BB ou mais baixas, de acordo
lidade foi estimulada especialmente durante os com o sistema de classificação da Moody’s In-
anos 70, envolvendo empresas privadas nacio- vestors Service e da Standard & Poor’s. Veja
nais, empresas estatais e empresas estrangeiras. também Moody’s Investors Service; Standard
JORNADA FLEXÍVEL DE TRABALHO. Siste- & Poor’s.
ma de trabalho no qual cada trabalhador tem a JUNKER. Veja Via Junker.
liberdade de escolher, dentro de determinados
limites, isto é, respeitando um período no qual JUNTA DE CONCILIAÇÃO E JULGAMEN-
todos os trabalhadores devem estar simultanea- TO. Órgão de primeira instância da Justiça do
mente no processo de produção, seu horário de Trabalho brasileira, responsável pelo julgamen-
entrada e de saída na empresa. Veja também to dos dissídios individuais entre patrão e em-
Core Time. pregado. Cada junta é constituída de dois juízes
JURO 316

classistas (vogais), representantes dos emprega- pela “espera”, ou seja, uma compensação pelo
dores e dos empregados, e de um juiz togado fato de o dono do capital deixar de dispor desse
(presidente). Os vogais são escolhidos entre os dinheiro. Keynes explicou a cobrança de juros
eleitos de cada sindicato de classe, numa lista pela escassez de capital (fator objetivo) e por
tríplice enviada ao Tribunal Regional do Traba- um elemento subjetivo, a “renúncia” do dono
lho (TRT). De posse dessas listas, o tribunal no- do capital à liquidez. As várias correntes eco-
meia o número de vogais para as vagas exis- nômicas também se posicionam sobre as varia-
tentes nas diversas Juntas de Conciliação e Jul- ções da taxa de juros. Para os economistas clás-
gamento. Esses organismos da Justiça do Tra- sicos, essas variações são decorrência das varia-
balho foram criados pelo governo federal, em ções na taxa de lucro, cujo movimento acompa-
1932. As decisões das juntas podem ser alteradas nham. Na teoria marginalista, a taxa de juros
pelo TRT, desde que uma das partes em litígio vem associada à taxa de lucro marginal e não
recorra a essa instância superior. à taxa de lucro médio. A contribuição decisiva
para a teoria do juro foi oferecida por John M.
JURO. Remuneração que o tomador de um em- Keynes, para quem a quantidade de moeda, alia-
préstimo deve pagar ao proprietário do capital da à preferência pela liquidez, é que determina
emprestado. Quando o juro é calculado sobre o a taxa de juros. Esta seria determinada pela ofer-
montante do capital, é chamado de juro simples. ta e procura da moeda, que tanto pode ser uti-
Para o cálculo do juro composto, o juro vencido lizada em investimentos quanto em consumo ou
e não pago é somado ao capital emprestado, for- especulação. A conseqüência prática da teoria
mando um montante sobre o qual é calculado keynesiana do juro foi possibilitar a manipula-
o juro seguinte. Suponhamos um empréstimo ção da oferta monetária disponível e, conseqüen-
de R$ 1000,00 a 5% ao ano, por um período de temente, alterar a taxa de juros, transformada
três anos. Se o contrato estabelecer juros simples, em instrumento de uma política de desenvolvi-
o resultado será: juros simples = 3 X 5% de R$ mento econômico ou de combate à inflação. Al-
1000,00 = R$ 150,00 guns keynesianos propuseram a instituição de
uma taxa de juros alta, atuando como fator
Se o juro for composto, o resultado será: de desestímulo ao gasto de recursos escassos e
juros do 1º ano = 5% de R$ 1000,00 = R$ 50,005 de incentivo à poupança. A essa posição contra-
juros do 2º ano = 5% de R$ 1050,00 = R$ 52,501 pôs-se o próprio Keynes, quando considerou
juros do 3º ano = 5% de R$ 1102,50 = R$ 55,125 que a extensão da poupança é determinada pelo
___________
fluxo de investimento e este, por sua vez, cresce
R$ 157,625 com uma taxa de juros baixa. A política econô-
O juro composto (R$ 157,625) é maior do que mica ideal seria a de baixar a taxa de juros até
o juro simples (R$ 150,00). Na medida em que o ponto em que, em relação à curva de lucro,
o juro composto é calculado sobre um montante alcançasse o mais alto nível de atividade eco-
cada vez maior, seu resultado será sempre maior nômica, com pleno emprego. Deve-se dizer, po-
do que o juro simples. O cálculo do juro com- rém, que a determinação da taxa de juros como
posto pode ser simplificado mediante a fórmula instrumento de política econômica tem sido con-
j = c(1+i)n – c, onde j é o juro a ser calculado; siderada pouco eficaz, uma vez que o peso do
c é o capital emprestado; i é a taxa de juro; n é juro no custo da produção não é significativo.
o número de períodos (um ano, uma semana Antes da expansão comercial e do desenvolvi-
etc.) ou intervalos nos quais o juro é composto. mento do capitalismo, a cobrança de juros cons-
No exemplo anterior, o cálculo do juro composto tituía um problema ético. Chamada de usura,
seria o seguinte: j = R$ 1000 (1+0,05) – R$ 1000 era terminantemente proibida pela Igreja na Ida-
= 157,625. Do ponto de vista teórico, os econo- de Média. Mas, com a expansão do comércio,
mistas clássicos como Adam Smith, Ricardo e as novas exigências de capitais mais vultosos
Marx associam de alguma forma a taxa de juro estimularam a cobrança de juros. A reboque dos
à taxa de lucro. Marx, por exemplo, considera fatos, a Igreja teve de fazer concessões e passou
o juro a participação financeira no lucro (forma a proibir somente a cobrança de juros em em-
de expressão da mais-valia) do capitalista pro- préstimos destinados ao consumo pessoal. No
dutivo, e afirma que a taxa de juro deve ser século XVI, a reforma calvinista aceitou e justi-
inferior à taxa média de lucro, resultante da pro- ficou “teologicamente” a cobrança de juros, mas
dução capitalista. Os economistas clássicos atri- foi somente no século XVIII que os estudiosos
buíam a cobrança de juros à produtividade do começaram a buscar uma justificativa econômica
capital, ou seja, ao lucro que o capital propor- para a cobrança de juros sobre os empréstimos
ciona a quem o possui. A cobrança também foi monetários. Embora ainda existam limites para
considerada o pagamento de um serviço, isto é, a cobrança de juros, esses limites, atualmente,
da possibilidade de dispor de um capital. Outros possuem finalidade econômica e são estabeleci-
viram na cobrança de juros uma compensação dos pelas autoridades monetárias de cada país.
317 JUST IN TIME

No Brasil, a Constituição de 1988 estabeleceu diferença entre os juros ordinários e os exatos


que o juro real máximo a ser cobrado pelo sis- (ano de 365 dias) é calculado por meio da razão
tema financeiro é de 12% ao ano. Esse disposi- 365/360 = 1,01388 e representa 1,388%, o que
tivo constitucional necessita de lei complemen- não é desprezível, tratando-se de grandes somas
tar para ser regulamentado, uma vez que a aplicadas a juros.
Constituição não esclarece o que significa juro
real nem estabelece as sanções para aqueles que JUROS PRÉ OU PÓS-FIXADOS. Veja Pré-fi-
infringirem a norma. Veja também Keynes, John xada (Juros).
Maynard; Marx, Karl Heinrich; Renda; Tabela
JUS CUNNI E MONETA. Expressão em latim
Price.
que significa um dos direitos reais durante a
JURO BANCÁRIO. A taxa de juros cobrada pe- Idade Média, isto é, o direito de cunhar moedas.
los bancos nas operações efetuadas junto aos Veja também Senhoriagem.
clientes varia com o tipo de operação realizada:
cheque especial, empréstimo pessoal, desconto JUS SANGUINIS. Expressão em latim que sig-
de duplicata, capital de giro etc. Os valores são, nifica o princípio segundo o qual só se reconhece
em geral, fixados pelos movimentos do merca- como nacional a pessoa nascida de pais nacio-
do, isto é, giram em torno de taxas comuns a nais.
todos os bancos, com pequenas variações con- JUS SOLI. Expressão em latim que significa o
forme a política de cada estabelecimento. princípio adotado por alguns países segundo o
JURO NOMINAL. É o juro correspondente a qual o indivíduo conserva a cidadania vinculada
um empréstimo ou financiamento, incluindo a ao país em que nasceu, independente da nacio-
correção monetária do montante emprestado. nalidade de seus genitores.
Quando a inflação é zero, inexistindo correção JUS UTENDI ET ABUTENDI. Expressão em
monetária, o juro nominal é equivalente ao juro latim que significa o direito de usar e dispor de
real. uma coisa ou um bem.
JURO REAL. É o juro cobrado ou pago sobre
JUST IN TIME (JIT). Também denominado Sis-
um empréstimo ou financiamento, sem contar
tema de Produção Toyota, ou Sistema Kanban,
a correção monetária do montante emprestado. e também traduzido como “produção apenas-
a-tempo”, é um sistema de controle de estoques
JUROS COMPOSTOS. Veja Juro.
desenvolvido pela empresa homônima, no qual
JUROS DE MORA. Juros decorrentes da mora, as partes e componentes são produzidos e en-
tregues nas diferentes seções um pouco antes
isto é, do atraso no pagamento de algo, em con-
de ser utilizadas. A definição mais sintética deste
seqüência de ato do devedor.
sistema seria “a peça certa, no lugar certo, no
JUROS EXATOS. São aqueles incidentes to- momento certo”. A Toyota começou a desen-
volver este sistema durante os anos 30, mas só
mando-se por base um ano de 365 dias. Veja
iniciou sua difusão no final dos anos 50 e início
também Juros Ordinários.
dos 60. A principal razão que levou a sua adoção
JUROS FLUTUANTES. Vigentes no mercado e difusão, nas palavras de Taiichi Ohno, vice-
no momento do pagamento dos juros das dívi- presidente daquela empresa e um de seus prin-
das contraídas. Ao contrário dos juros fixos, pa- cipais implementadores: “O sistema Toyota de
gos durante todo o período do empréstimo, de produção (just in time-Kanban) nasceu da neces-
acordo com uma taxa preestabelecida em con- sidade de desenvolver um sistema de produção
trato, os juros flutuantes trazem surpresas muito de pequenas quantidades de automóveis dife-
desagradáveis para os devedores, pois podem rentes no mesmo processo produtivo”. Esta ne-
elevar-se acentuadamente antes do término do cessidade estava vinculada ao princípio de “su-
pagamento de um empréstimo, onerando ex- prir o mercado com aquilo que é demandado,
traordinariamente o serviço da dívida, como quando é demandado, e na exata quantidade
aconteceu com o Brasil no final dos anos 70 e necessária”. Esta razão fundamental também
início dos anos 80. ajudou não apenas a minimizar o nível de es-
toques, reduzindo os respectivos custos finan-
JUROS IMPUTADOS. Juros considerados efe- ceiros, como também as necessidades de espaço
tivamente pagos, apesar de não ter havido um físico (tão caro no Japão) para a armazenagem
desembolso real em dinheiro para efetivá-lo. dos estoques. Este sistema permite grande agi-
lidade para a mudança de modelos nas linhas
JUROS ORDINÁRIOS. São aqueles incidentes de montagem, e, portanto, adaptação mais rá-
tomando-se por base um ano de doze meses, pida às alterações nos gostos dos consumidores
de trinta dias cada, ou um ano de 360 dias. A e da demanda em geral. Esta forma de admi-
JUST IN TIME SEQÜENCIAL 318

nistração da produção, que reduz sensivelmente JUSTO PREÇO. Critério moral do valor de uma
os custos, aumentando a produtividade, se di- mercadoria, isto é, o justo preço é o considerado
fundiu rapidamente no Japão e em todo o mun- moralmente correto para a compra e venda de
do, inclusive no Brasil. No Japão, no entanto, a uma mercadoria. O termo está associado à época
redução dos estoques provocou um extraordi- medieval e a São Tomás de Aquino. De acordo
nário aumento dos fluxos, e as empresas que com este conceito, o mercado não seria o local
adotaram este sistema passaram a depender onde os preços se formariam. Veja também Pre-
crescentemente do sistema de transportes. E a ço Justo.
expansão destes últimos sobrecarregou o trân-
sito, tornando mais freqüentes os congestiona- JUSTUM PRETIUM. Veja Justo Preço.
mentos nas principais cidades japonesas. O tra-
balho nas atividades de transporte e trânsito tor-
nou-se mais duro e pesado e, de certa forma,

K
perigoso. Ou melhor, se no interior das empre-
sas o trabalho tendeu para os “5 S”, isto é, tra-
balho limpo, ordenado, organizado etc., em seu
exterior as atividades tornaram-se mais duras,
tendendo a transformar-se em Trabalho 3 K, ou
seja, trabalho duro, pesado e perigoso. A difusão
do just in time no Japão exigiu não apenas uma
melhoria no sistema de transportes, mas tam-
bém maior segurança no cumprimento dos con- K. Inicial de: 1) kip (unidade monetária do Laos);
tratos com as empresas fornecedoras no que se 2) kopeck (unidade monetária russa); 3) krona
refere à qualidade e à pontualidade. Conceitos (unidade monetária da Islândia e da Suécia); 4)
krone(ur) (unidade monetária da Dinamarca e da
como acidente zero, defeito zero, atraso zero,
Noruega); 5) kroon (unidade monetária da Estô-
passaram a fazer parte do vocabulário corrente
nia); 6) kurus (unidade monetária da Turquia);
das empresas que adotaram o just in time.
7) kuacha (unidade monetária da Zâmbia e do
JUST IN TIME SEQÜENCIAL. Denominação Malawi); 8) kyat (unidade monetária de Myan-
dada ao sistema quando aplicado a duas ou mais ma, antiga Birmânia).
empresas que mantêm contratos de fornecimen-
KABUTO-CHO. Denominação do centro finan-
to entre si e que utilizam, em suas linhas pro-
ceiro do Japão, distrito de Tóquio que repre-
dutivas, o processo just in time. Nesse caso, os
senta, para aquele país, o mesmo que Wall Street
dois sistemas necessitam estar sincronizados na para os Estados Unidos. Ali estão sediadas as
medida em que um, para se desenvolver, de- principais empresas e organizações financeiras
pende do fornecimento do outro. Veja também japonesas.
Just in Time.
KAFFIRS. Termo utilizado na Inglaterra para
JUSTIÇA DO TRABALHO. Instituição do po- denominar as ações das minas de ouro da África
der judiciário responsável pelo julgamento dos do Sul. São títulos negociados no mercado de
dissídios individuais e coletivos entre patrões e balcão (over the counter), nos Estados Unidos, sob
trabalhadores, abrangendo todos os conflitos a forma de recibos de depósitos de ações que
originários das relações de trabalho. É formada representam direitos de participação sobre cer-
pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), Tri- tificados custodiados por bancos no exterior. De
bunais Regionais do Trabalho (TRTs) e Juntas acordo com a legislação sul-africana, os kaffirs
de Conciliação e Julgamento. Sua organização devem distribuir quase a totalidade de seus ren-
foi prevista nas Constituições de 1934 e 1937, dimentos aos acionistas como dividendos, o que
mas como órgão normativo. Foi instituída com torna muito atraente — do ponto de vista da
caráter judiciário em 1941 e reconhecida pela rentabilidade — o investimento nestas ações.
Constituição de 1946 como órgão do poder ju- Além disso, estas ações oferecem aos investido-
diciário, independente do poder executivo, do- res um investimento em ouro, o que significa
tado de instâncias especializadas nos julgamen- um hedge contra a inflação. Antes do governo
tos de dissídios trabalhistas, com quadros de de Nelson Mandela, estes atrativos econômicos
magistrados de carreira, passando também a no- eram em certa medida anulados pelas incertezas
mear seus próprios funcionários. Veja também que a situação política apresentava.
Junta de Conciliação e Julgamento; TRT; TST.
KAHN, Richard F. (1905-1982). Economista in-
JUSTO. Moeda cunhada por D. João II, rei de glês que desenvolveu suas atividades em Cam-
Portugal, a partir de 1489, em ouro de 22 qui- bridge, entre as décadas de 30 e 70. Desenvolveu
lates, valendo 600 reais. o conceito keynesiano de multiplicador e, no
319 KALECKI, Michal

campo da economia do bem-estar, estudou as fragilidade do princípio do equilíbrio automá-


condições para atingir um ótimo social. Sua obra tico da escola clássica e desenvolveu uma teoria
mais importante é Selected Essays on Employment da dinâmica capitalista e dos seus ciclos de con-
and Growth (Ensaios Escolhidos sobre Emprego e juntura e crise. Em 1933, publicou, numa revista
Crescimento), 1973. Veja também Multiplicador. polonesa, o primeiro esboço de sua teoria, “Pró-
ba-Teorii Koniunktury” ("Esboço de Uma Teoria
KAISHAS. Denominação dada, no Japão, às
do Ciclo Econômico"), trabalho apresentado no
maiores empresas.
mesmo ano numa conferência da Sociedade In-
KALDOR, Nicholas (1908-1986). Nasceu em Bu- ternacional de Econometria, na Holanda. Dois
dapeste, na Hungria. De 1927 a 1947, estudou e anos depois, o trabalho sairia na Revue d’Écono-
lecionou na London School of Economics. De- mie Politique e na revista norte-americana Eco-
pois de passar dois anos na Comissão Econô- nometrica. Era um dos primeiros modelos mate-
mica para a Europa, em Genebra, transferiu-se máticos construídos para explicar os ciclos eco-
para a Universidade de Cambridge, onde se tor- nômicos de conjuntura, mas não despertou aten-
nou membro do King’s College e, em 1966, pro- ção na época e foi completamente ofuscado, em
fessor da mesma instituição. Em 1974, em reco- 1936, pela publicação de A Teoria Geral do Em-
nhecimento às suas contribuições, foi elevado à prego, do Juro e da Moeda, de Keynes. Sustentou
condição de barão Kaldor of Newham. Kaldor que o nível de atividade econômica depende dos
sempre se envolveu com problemas práticos da investimentos: se eles aumentarem, subirão os
política econômica. Como membro da British níveis de atividades e de emprego, haverá maior
Royal Commission, no início dos anos 50, ad- demanda de bens e também os lucros dos ca-
quiriu renome internacional no campo da tribu- pitalistas serão maiores. A demanda efetiva au-
tação. Mas tratava constantemente das questões mentará se o Estado gastar mais do que arrecada
internas e internacionais mais importantes em e se o país conseguir exportar mais do que im-
livros, artigos, cartas aos jornais e em conferên- porta, mas a decisão básica continuará nas mãos
cias e discursos. Foi conselheiro especial do Bri- dos capitalistas: se eles investirem, a produção
tish Chancellor of the Exchequer em 1964/1968 e os lucros aumentarão até o ponto em que os
e 1974/1976, e também de governos de outros lucros acumulados (a poupança) sejam equiva-
países e de várias organizações internacionais. lentes ao investimento. Por sua vez, a insufi-
Embora defendesse o sistema de mercado e de ciência do investimento em relação à poupança
empresas privadas, freqüentemente aconselhou causa a contração da produção e a subutilização
a intervenção governamental para tornar as eco- da capacidade produtiva. Isso ocorre quando a
nomias capitalistas mais produtivas e equilibra- poupança cresce em excesso devido à baixa dos
das, e concebeu várias políticas e instrumentos salários reais. Na Suécia, em contato com Gun-
com esta finalidade. No entanto, o maior inte- nar Myrdal, Kalecki inicia um livro, mas o aban-
resse de Kaldor e a principal causa de sua re- dona ao tomar conhecimento do livro de Key-
putação como economista foi a teoria ou a ex- nes, propondo sugestões semelhantes às suas.
plicação de como as economias funcionam. Mas Na Inglaterra, conhece Joan Robinson e Piero
as preocupações teóricas sempre estiveram re- Sraffa, e, em seguida, Keynes, que o convida a
lacionadas com a observação da realidade. Seu trabalhar em Cambridge. Kalecki aceita e pre-
envolvimento com questões práticas contribuiu para uma obra em que expõe de modo mais
(e beneficiou) com seus trabalhos teóricos: foi amplo sua teoria: Essay in the Theory of Economic
um grande consumidor de estatística e trabalhos Fluctuations (Ensaio sobre a Teoria das Flutua-
empíricos de outros economistas. Seus livros ções Econômicas), 1939. Este livro e o seguinte,
mais importantes são: Essay on Economic Stability Studies in Economic Dynamics (Estudos de Dinâ-
and Growth (Ensaios sobre Estabilidade e Cres- mica Econômica), 1943, são seus mais importan-
cimento Econômico), 1960; Capital Accumulation tes trabalhos sobre a teoria dos ciclos. Para Ka-
and Economic Growth (Acumulação de Capital e lecki, o mundo capitalista é regido pelas decisões
Crescimento Econômico), 1961; Causes of the Slow dos empresários quanto a investir, pelo Estado
Rate of Growth of the Uk (Causas do Lento Cres- quanto ao equilíbrio orçamentário e pelo comér-
cimento do Reino Unido), 1966; e Conflict in Po- cio internacional. Nesse sistema, os ciclos de
licy Objectives (Conflitos nos Objetivos de Polí- conjuntura são inevitáveis, mas a profundidade
tica Econômica), 1971. das crises e sua duração dependem de decisões
políticas, e não apenas das forças cegas do mer-
KALECKI, Michal (1899-1970). Economista po- cado. Essa posição era heterodoxa nos meios
lonês, um dos pioneiros da crítica sistemática à marxistas da época, que esperavam, como ab-
doutrina do marginalismo. Ao mesmo tempo e soluta fatalidade ao final da guerra, uma reedi-
independentemente de Keynes, demonstrou a ção da crise dos anos 30. Desse modo, Kalecki
KAMERALISMUS 320

desempenhou, no lado marxista, um papel se- se tornou mais difundida no final dos anos 60,
melhante ao de Keynes entre os marginalistas, quando ocorreu uma série de fusões entre gran-
embora com impacto e êxito menores. Ainda du- des empresas do setor siderúrgico e automobi-
rante a guerra, em 1943, escreveu um artigo pro- lístico, aumentando o grau de concentração em-
fético: “The Political Aspects of Full Employ- presarial no Japão. Embora tais fusões tenham
ment” (“Aspectos Políticos do Pleno Emprego”). chamado a atenção do governo, a utilização dos
No final, prevê que o desenvolvimento da con- dispositivos antitruste naquele país foi muito
juntura econômica dependeria cada vez mais de pouco eficaz, limitando-se a alguns produtos de
decisões políticas, sugerindo que as crises cícli- consumo final de pouca importância do ponto
cas poderiam ser atenuadas por meio da política de vista do valor agregado.
econômica, e elaborando a noção de “ciclo de
conjuntura política”, que ajuda a entender as KANT, Emmanuel (1724-1804). Filósofo alemão
de profunda influência no pensamento moder-
contradições do capitalismo contemporâneo.
no. Em suas três obras principais, Crítica da Razão
Depois de curtos períodos em Oxford, Paris,
Pura (1781), Crítica da Razão Prática (1788) e Crí-
Montreal e Varsóvia (onde contribui para a pla-
tica do Juízo (1790), fez uma profunda análise do
nificação da economia socialista polonesa), Ka-
conhecimento, superando a posição empiris-
lecki assumiu, em 1946, um cargo no secretaria-
mo/racionalismo que marcava a filosofia oci-
do da ONU. Ali, editou os Relatórios sobre a Eco-
dental desde os pensadores gregos. No plano
nomia Mundial, até 1954, quando se demitiu sob
econômico, social e político, Kant desenvolveu
pressão política dos representantes norte-ame-
algumas teses que podem ser consideradas uma
ricanos. Veja também Marginalismo.
justificação da sociedade burguesa e do libera-
KAMERALISMUS. Veja Cameralismo. lismo; em Metaphysik der Sitten (Metafísica dos
Costumes), 1797, defendeu a propriedade pri-
KAN’EI KOJO. Expressão que designa, no Ja- vada, o livre intercâmbio dos bens e o privilégio
pão, as indústrias dirigidas pelo governo japo- de cidadania exclusivamente aos proprietários.
nês em vários ramos de atividade, como esta-
leiros, indústria têxtil, entre 1868 e o final de KANTOROVITCH, Leonid Vitalovitch (1912-
período Meiji, em 1912, como parte da política 1986). Economista e matemático russo, elaborou
de importação e transferência de tecnologia do o primeiro modelo matemático de programação
Ocidente visando o desenvolvimento industrial linear. Recebeu o Prêmio Nobel de Economia
do país. de 1975 por suas aplicações da matemática aos
problemas econômicos. Especializado na pes-
KANDIR, Antônio (1953- ). Nasceu em São quisa de um emprego ótimo dos recursos e dos
Paulo e graduou-se em engenharia mecânica meios de produção numa economia socialista,
pela Escola Politécnica da Universidade de São publicou em 1939 O Método Matemático de Or-
Paulo em 1975, obtendo o título de doutor em ganização do Planejamento da Produção. Esta obra
economia pelo Instituto de Economia da Uni- foi uma das primeiras tentativas de planejamen-
versidade Estadual de Campinas em 1984. Foi to econômico por meio da programação linear.
presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Eco- Em Os Melhores Usos dos Recursos Econômicos
nômica Aplicada) entre 1990 e 1991. Tornou-se (1960), Kantorovitch desenvolveu modelos ma-
secretário especial de Política Econômica do Mi- temáticos de otimização dos recursos e concluiu
nistério da Economia, Fazenda e Planejamento que, para obter um resultado ótimo dos inves-
no início do governo Collor até maio de 1991. timentos no conjunto da economia, é necessário
Em seus trabalhos e pesquisas, tem se interes- remunerar com um ganho extra as empresas
sado pelos temas do desenvolvimento econômi- pela utilização de métodos mais racionais de
co e da inflação. Seu livro mais importante é A produção, com uma taxa igual à da produtivi-
Dinâmica da Inflação (1989). É professor de eco- dade marginal realizada pelo equipamento na
nomia do Instituto de Economia da Universida- empresa. Kantorovitch aplicou seus modelos de
de Estadual de Campinas e articulista do jornal otimização dos recursos em problemas de pla-
a Folha de S. Paulo. Foi eleito deputado federal nejamento, transportes, teorias do preço e do
pelo PSDB de São Paulo em 1994 e foi nomeado investimento, progresso técnico e outras áreas
ministro do Planejamento em 1996. da economia socialista. Foi professor nas uni-
versidades de Leningrado, Glasgow, Grenoble,
KANRI KAKAKU. Expressão em japonês que Helsinque, Paris e Cambridge e diretor do Ins-
significa preços administrados (fixados unilate- tituto de Sistemas e Estudos da Academia de
ralmente) pelo setor oligopólico da economia, Ciências, Comércio e Técnica de Moscou. Escre-
em contraposição aos preços resultantes da in- veu ainda Solução Ótima em Economia (1972), En-
teração da oferta e da demanda num mercado saio sobre Planejamento Ótimo (1976) e Análise Fun-
de livre concorrência. A utilização da expressão cional (1977).
321 KEIDANREN

KARAT. Na cunhagem de moedas de ouro, ou cista do partido. Condenou a Revolução Russa


na fabricação de peças de joalheria, o metal que de 1917, criticando o poder discricionário dos
participa na liga com o ouro (para dar a este líderes bolcheviques. Em 1883, Kautsky fundou
maior consistência) é medido em karats, sendo a revista marxista Die Neue Zeit, que editou até
o ouro em “quilates”. Assim, por exemplo, um 1917. Todos os seus escritos posteriores visavam
anel de ouro de 18 quilates terá dezoito partes à difusão e à popularização do marxismo. A
de ouro e seis partes de outro metal que compõe maior parte de suas idéias, que foram aprovei-
a liga, ou 6 karats. tadas para a orientação prática de sua política,
está em seu livro mais famoso, Karl Marx Öko-
KAROB. Veja Quilate.
nomische Lehren (As Doutrinas Econômicas de
KAROSHI. Termo em japonês (ka = demasiado; Karl Marx), 1887, no qual defende a proposta
ro = trabalho; shi = morte) que significa “morte de um marxismo evolutivo, que deveria levar
súbita provocada por excesso de trabalho”, tam- à revolução como um fenômeno natural. Em di-
bém conhecida como síndrome da morte súbita. versos escritos, aplicou os métodos marxistas à
Esse processo, que ocorre entre trabalhadores interpretação da História, como na obra Thomas
de escritório ("colarinhos brancos") relativamen- More und seine Utopie (Thomas More e sua Uto-
te jovens, vem chamando cada vez mais a aten- pia), 1888. A maior parte de sua obra, contudo,
ção atualmente no Japão. A morte do trabalha- está impregnada de outras concepções, como o
dor ocorre geralmente por enfarte do miocárdio iluminismo e o evolucionismo social, mesmo em
ou hemorragias internas. Alguns estudiosos do seu principal livro teórico, Die Materialistische
tema atribuem o aumento da incidência do ka- Geschicht-sauffassung (A Concepção Materialista
roshi às formas intensas e extensas de trabalho da História), 1927. Entretanto, Kautsky é lem-
(o Japão é o país que tem jornadas de trabalho brado por duas importantes contribuições à teo-
mais extensas entre os países desenvolvidos), ria socialista: a publicação do livro pioneiro A
determinadas pela concorrência internacional. Questão Agrária, 1899, um dos primeiros estudos
As grandes empresas onde esse processo acon- do desenvolvimento do capitalismo no campo
tece com mais freqüência procuram não reco- sob o ponto de vista marxista; e a edição das
nhecer publicamente o fato, assim como as pró- notas manuscritas que formariam o quarto vo-
prias autoridades governamentais. No entanto,
lume de O Capital, de Marx, publicadas com o
as novas gerações que surgiram na época da
título de Theorien über den Mehrwert (Teorias da
prosperidade no Japão tendem a reagir contra
Mais-valia), 1905-1910. Em O Marxismo e Sua Crí-
esse tipo de problema, não aceitando jornadas
tica, 1900, reviu a teoria da pauperização, que
tão longas ou intensas de trabalho, dedicando
mais tempo ao lazer e ao consumo. seria relativa: “a quantidade de produtos que che-
ga a cada trabalhador pode crescer; a parte que
KATO KYÕSÕ. Expressão em japonês que sig- lhe chega dos produtos que criou diminui”.
nifica “excesso de competição” entre as empre- Kautsky foi ministro-adjunto dos Negócios Es-
sas e que teve origem na enorme expansão da trangeiros do governo socialista alemão de 1919,
economia japonesa durante os anos 50, e numa editando documentos que provavam a respon-
desaceleração do início dos anos 60, quando as sabilidade do governo imperial no desencadea-
empresas apresentaram excesso de capacidade mento da Primeira Guerra Mundial: Wie der
instalada. Weltkrieg Entstand (Como Eclodiu a Guerra
Mundial), 1919. Trabalhou em Viena de 1924 a
KAUTSKY, Karl Johann (1854-1938). Político 1938. Com a ocupação alemã, foi refugiar-se em
alemão, principal teórico da II Internacional. Foi Amsterdã, na Holanda. Escreveu ainda O Socia-
inspirador do Programa de Erfurt sobre a luta lismo e a Política Colonial (1907), O Caminho do
de classes, adotado pelo Partido Social Demo- Poder (1909), A Ditadura do Proletariado (1919) e
crata Alemão em 1891, e que propõe um cami- Terrorismo e Comunismo (1919).
nho evolutivo para o socialismo. Após a morte
de Engels (1895), de quem foi secretário, tor- KD. Iniciais da expressão em inglês knocked down,
nou-se a figura de maior destaque do movimen- que significa “desmontado”, isto é, que um de-
to marxista internacional. A trajetória teórica de terminado produto (automóveis, por exemplo)
Kautsky foi singular: tornou-se marxista sob a chega desmontado a seu destino; também pode
influência de Eduard Bernstein, mas combateu significar Kuwait Dinar, isto é, a denominação da
o revisionismo deste e o radicalismo de Rosa unidade monetária do Kuweit (dinar kuweitiano).
Luxemburgo, tornando-se porta-voz do marxis- KEEP OFF. Veja KO.
mo centrista, que se opunha à ala mais radical
do Partido Social Democrata. Durante a Primeira KEIDANREN. Termo em japonês composto pe-
Guerra Mundial, formou uma minoria de socia- las iniciais da expressão Keizai Dantai Rengokai,
listas independentes, contrários à política beli- que significa Federação das Organizações Eco-
KEIRETSU 322

nômicas. A Keidanren é uma das quatro maiores solução do Zaibatsu. A coordenação dos keiretsu
organizações empresariais do Japão, sendo as é realizada por intermédio de associações dos
três outras a Nikkeiren, o Comitê Japonês para presidentes das empresas mais importantes, não
o Desenvolvimento Econômico e a Câmara do existindo entre eles, contudo, diferenciações hie-
Comércio e da Indústria do Japão. A Keidanren rárquicas. A participação acionária no interior
foi criada em 1946, como resultado da reorga- das empresas que constituem um keiretsu é con-
nização das associações empresariais na Japão, sideravelmente menor do que no período do
depois que os Zaibatsus foram dissolvidos pelas Zaibatsu, não ultrapassando os 5% das ações.
forças militares de ocupação norte-americanas. Os keiretsu podem admitir várias modalidades:
Em 1952, no entanto, com a retirada dessas for- o keiretsu intermercados, constituído por várias
ças, a Keidanren absorveu o Nihon Sangyo Kyo- empresas em torno de um banco comercial; o
gikai (Conselho Industrial do Japão), aumentan- keiretsu vertical, associação de uma única grande
do consideravelmente sua força e influência. As empresa com várias empresas satélites de um
principais funções do Keidanren são coordenar mesmo setor industrial organizado de acordo
as várias reivindicações das diferentes indústrias com uma rígida estrutura hierárquica. Os keiret-
e atividades empresariais afiliadas e submetê-las sus verticais, por sua vez, podem ser divididos
ao governo como propostas para estimular o de- em três tipos: os Sangyoo, ou keiretsus de produ-
senvolvimento econômico. A Keidanren possui ção, os quais se encontram organizados em hie-
vários comitês e órgãos consultivos que desen- rarquias de subcontratados (várias camadas),
volvem estudos sobre política econômica, polí- que são fornecedores da empresa principal; os
tica de comércio exterior, energia e política in- Ryuutsuu, ou keiretsus de distribuição, que se or-
ternacional, através dos quais mantém relações ganizam em sistemas lineares de distribuição
com entidades semelhantes da Europa, Estados que operam sob o nome de uma grande empresa
Unidos e América Latina. A influência da Kei- do setor produtivo ou de um grande atacadista;
danren é considerável não apenas na economia, e os Shihon, que são os keiretsus do âmbito finan-
mas também na política no Japão: esta organi- ceiro, isto é, que não operam com base em pro-
zação influiu decisivamente para que os dois dutos físicos (produção ou distribuição), mas
partidos conservadores do Japão (o Nihon Mis- nos fluxos de capitais por eles representados, a
huto e o Jiyuto, partidos Liberal e Democrático) partir da empresa principal.
se fundissem, formando um poderoso partido KEIZAI DÕYU KAI. Veja Japan Committee for
conservador que governou o Japão do pós-guer- Economic Development.
ra até os anos 90.
KENNEDY ROUND. A sexta de uma série de
KEIRETSU. Designação de organização de gru- negociações iniciadas em 1947, entre os signa-
po de empresas privadas japonesas originadas tários do Tratado Geral de Tarifas e Comércio
da dissolução do Zaibatsu, depois da Segunda (GATT), com vistas à redução das barreiras co-
Guerra Mundial. Tais conglomerados existiam merciais sobre uma base multilateral. Realizada
na época do Zaibatsu com um grau de integra- entre 1964 e 1967, essa negociação distinguiu-se
ção muito maior do que ocorre hoje em dia. Os das anteriores pelo fato de o presidente Kennedy
maiores keiretsu da época do Zaibatsu eram o ter sido autorizado pelo Congresso norte-ame-
Mitsui Keiretsu, o Mitsubishi Keiretsu e o Su- ricano a negociar uma redução tarifária até 50%
mitomo Keiretsu. Os keiretsu admitem outras abaixo das determinações do Ato de Expansão
formas também, como os Kin’yu Keiretsu, isto é, Comercial. Tomaram parte na Kennedy Round
conglomerados financeiros; os Shihon Keiretsu, os 58 mais importantes países comerciais do
ou conglomerados de capital; e os Kigyo Keiretsu, mundo, à exceção da União Soviética e da Re-
ou conglomerados de empresas. O Kin’yu Kei- pública Popular da China, ausentes das nego-
retsu é um grupo de empresas que toma em- ciações. Algumas tarifas foram reduzidas em
préstimos no Banco que dá ao grupo seu nome. 50%, mas a média geral das reduções esteve em
O Shihon Keiretsu é aquele constituído por em- torno de 30%. Além disso, foi elaborado um cro-
presas que têm a mesma matriz, e o Kigyo Kei- nograma para o cumprimento do acordo. A pri-
retsu é constituído por um grupo de empresas meira etapa, a ser executada pelos Estados Uni-
que realiza subcontratos para a mesma empresa. dos, começou em 1968 e desdobrou-se em cinco
Os keiretsu formados atualmente pela Sumito- estágios anuais. A segunda, a cargo do Mercado
mo, Mitsui e Mitsubishi são bem diferentes da- Comum Europeu, Associação Européia de Livre
queles formados pelas mesmas empresas duran- Comércio e Japão, determinava que dois quintos
te o período do Zaibatsu. A primeira e principal da redução de tarifas poderiam ser levados a
diferença é que hoje não existe uma holding con- efeito em julho de 1968. Novas reduções ocor-
troladora dos vários grupos: essa prática foi eli- reram em 1970, 1971 e 1972. Em 1973, os repre-
minada no Japão depois da Segunda Guerra sentantes dos países signatários, reunidos em
Mundial, com a Lei Antimonopólio e com a dis- Tóquio, concordaram em executar a sétima eta-
323 KEYNES, John Maynard

pa de reduções tarifárias, iniciada em 1974. Veja de liberdade de comércio, a produção cria seu
também GATT; OMC. próprio mercado. Assim, para os marginalistas,
a depressão e o desemprego que atingiram os
KEOGH PLAN. Plano aprovado nos Estados países capitalistas a partir de 1929 simplesmente
Unidos, no início da década de 60, permitindo não existiram, ou não passaram de desajuste
uma tributação diferida para os autônomos e temporário a ser autocorrigido. Keynes criticou
empregados de pequenas e médias empresas esse conjunto de crenças, mostrando que, a cada
que apliquem dinheiro em programas de apo- momento, o nível de emprego numa economia
sentadoria. As retiradas só podem ser feitas de- capitalista depende da demanda efetiva, ou seja,
pois dos 59,5 anos e só podem ter início antes da proporção da renda que é gasta em consumo
dos 70,5. Retiradas fora destes limites estão su- e investimento. E que, ao contrário da Lei de
jeitas a Imposto de Renda e multas. Say, numa economia monetária é possível rece-
KEYNES, John Maynard (1883-1946). O mais ber sem imediatamente gastar o dinheiro, ou
seja, é possível vender sem comprar. Qualquer
célebre economista da primeira metade do sé-
culo XX, pioneiro da macroeconomia. Seus es- quantia de dinheiro pode ser aplicada lucrati-
tudos sobre o emprego e o ciclo econômico dei- vamente, mas em certos casos pode haver van-
taram por terra os conceitos da ortodoxia mar- tagem em reter o dinheiro, em entesourá-lo.
ginalista, e as políticas por ele sugeridas con- Quando isso acontece, a demanda efetiva de
duziram a um novo relacionamento, de inter- mercadoria cai e o número de atividades tam-
venção, entre o Estado e o conjunto das ativi- bém diminui, reduzindo a renda. Ao analisar
dades econômicas de um país. Keynes estudou as variações de produção e emprego, Keynes
e foi professor em Cambridge. Discípulo de Al- concluiu que o fator responsável pela alteração
fred Marshall, o “papa do marginalismo”, foi do volume de emprego é a procura da mão-de-
nomeado redator do Economic Journal em 1911. obra (e não sua oferta, como pensavam os neo-
Dois anos depois, tornou-se secretário e redator clássicos). Assim, o desemprego é resultado de
da Sociedade Real de Economia e, em 1915, in- uma demanda insuficiente de bens e serviços,
gressou no serviço público. Seria o representante e só pode ser resolvido por meio de investimen-
financeiro do Tesouro britânico na Conferência tos — o fator dinâmico na economia, capaz de
de Paz, em 1919. As obras de Keynes mostram assegurar o pleno emprego e influenciar a de-
que suas preocupações estavam sempre ligadas manda. Na análise keynesiana, as crises econô-
a questões práticas, a políticas de conjuntura. micas foram atribuídas a variações nas propen-
Ele não parecia interessado em reconstruir a teo- sões a investir e consumir e ao aumento da pre-
ria econômica a partir da análise do valor, mas ferência pela liquidez (o entesouramento). A
em verificar por que motivo as teses margina- economia pode encontrar seu nível de equilíbrio
listas, nas quais fora educado, conduziam a po- com uma alta taxa de desemprego, e assim per-
líticas econômicas inconsistentes. Em 1930, es- manecer, a menos que o governo intervenha
creveu o Treatise on Money (Tratado sobre a Moe- com uma política adequada de investimentos e
da), em que, a pretexto de tratar da moeda e incentivos que sustentem a demanda efetiva,
do nível de preços, preparou as bases da análise mantendo altos níveis de renda e emprego, de
do nível geral da produção. Esse problema seria modo que, a cada elevação da renda, o consumo
desenvolvido em seu principal livro, The General e o investimento também cresçam. Para isso, é
Theory of Employment, Interest and Money (A Teo- preciso dotar o Estado de instrumentos de po-
ria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda), lítica econômica que permitam: regular a taxa
publicado em 1936, que contestou o conjunto de juros, mantendo-a abaixo da “eficiência mar-
de dogmas sobre os quais repousava o margi- ginal do capital” (a expectativa de lucros); in-
nalismo. Escrito durante os anos da Grande De- crementar o consumo por meio da expansão dos
pressão, A Teoria Geral abalou irremediavelmen- gastos públicos; expandir os investimentos por
te as inovações clássicas do liberalismo econô- meio de empréstimos públicos capazes de ab-
mico, mostrando a inexistência do princípio do sorver os recursos ociosos. Muitas dessas idéias
equilíbrio automático na economia capitalista. foram propostas antes da crise de 29, mas só
Supunha-se até então, nos meios marginalistas, foram reunidas num corpo teórico consistente
que uma economia de mercado encontrava “na- em A Teoria Geral, em 1936. O impacto do livro
turalmente” seu equilíbrio numa situação em entre intelectuais foi enorme. Apesar de algumas
que todos os que desejassem trabalhar por uma das principais teses já terem sido antecipadas
remuneração correspondente a sua produtivida- por Gunnar Myrdal e Michal Kalecki, a obra de
de poderiam fazê-lo. Acreditava-se também que Keynes oferecia aos economistas soluções con-
nessa economia jamais poderia haver superpro- cretas para os problemas de conjuntura. O im-
dução, pois a cada venda corresponderia uma pacto político também foi grande, mas retarda-
compra. Repetia-se dessa maneira a Lei dos Mer- do: apenas no pós-guerra a receita keynesiana
cados de Say, segundo a qual, em um regime foi apreendida e cuidadosamente aplicada pelos
KEYNESIANISMO 324

países capitalistas. O pleno emprego tornou-se econômica a curto prazo, para os meios de ven-
um objetivo explícito, e os instrumentos de po- cer a depressão e para a tendência à estagnação,
lítica econômica do Estado foram postos em manifestada a longo prazo pelo sistema econô-
ação. Em 1944, Keynes representou a Inglaterra mico. Os trabalhos mais importantes baseados
na Conferência Monetária de Bretton Woods, nas idéias de Keynes surgiram nos Estados Uni-
que criou o Fundo Monetário Internacional dos, elaborados por um grupo de jovens eco-
(FMI). Na ocasião, propôs o abandono do pa- nomistas liderados por Alvin Hansen, professor
drão-ouro e a estabilização internacional da em Harvard. Alguns desses trabalhos referem-se
moeda. Em 1946, Keynes tornou-se presidente ao arcabouço técnico de A Teoria Geral; outros
do FMI, mas o apego dos Estados Unidos ao procuram analisar as relações entre os salários
padrão-ouro tornou impraticável a aplicação das reais e nominais, tendo como preocupação o
medidas por ele preconizadas. Veja também Es- equilíbrio no desemprego, bem como os fatores
cola Neoclássica; Keynesianismo; Macroecono- que contribuem para o esgotamento dos perío-
mia; Marginalismo. dos de elevado nível de atividade econômica e
o início das depressões. Mas os trabalhos teóri-
KEYNESIANISMO. Modalidade de interven-
cos de maior alcance dos keynesianos prendiam-
ção do Estado na vida econômica, com a qual
se às tendências, a longo prazo, da economia
não se atinge totalmente a autonomia da em-
capitalista (a chamada teoria do declínio das
presa privada, e que prega a adoção, no todo
ou em parte, das políticas sugeridas na principal oportunidades de investimento) e à possibilida-
obra de Keynes, A Teoria Geral do Emprego, do de de o nível de atividade econômica ser in-
Juro e da Moeda, 1936. Tais políticas propunham fluenciado ou determinado pelo governo me-
solucionar o problema do desemprego pela in- diante uma política monetária e fiscal. Veja tam-
tervenção estatal, desencorajando o entesoura- bém Economia Pós-Keynesiana.
mento em proveito das despesas produtivas, por KfW. Veja Kreditanstalt für Wiederaufbau.
meio da redução da taxa de juros e do incre-
mento dos investimentos públicos. As propostas KHOUM. Veja Uguia.
da chamada “revolução keynesiana” foram fei-
tas no momento em que a economia mundial KIBOR. Veja Ibor.
sofria o impacto da Grande Depressão, que se
KIBUTZ. Fazenda coletiva de Israel onde se pra-
estendeu por toda a década de 30 até o início
tica o regime de co-propriedade e cooperação
da Segunda Guerra Mundial. Suas idéias in-
mútua voluntária. Todas as atividades adminis-
fluenciaram alguns pontos do New Deal, o pro-
trativas e produtivas são realizadas comunal-
grama de recuperação econômica de Franklin
D. Roosevelt (1933-1939). De fato, sob o estímulo mente. O kibutz fornece a seus habitantes aloja-
de grandes despesas governamentais, impostas mento, alimentação, berçários e educação ele-
pelo conflito mundial, a crise do desemprego mentar, de acordo com as necessidades de cada
deu lugar à escassez de mão-de-obra na maioria indivíduo. A educação fica a cargo da própria
dos países capitalistas. Para a maioria dos eco- comunidade. Os primeiros kibutzim surgiram no
nomistas, era a comprovação da eficácia das pro- início do século XX, originando-se dos ideais so-
postas keynesianas. Surgiu a convicção de que cialistas dos imigrantes sionistas russos. Muitos
o capitalismo poderia ser salvo, desde que os kibutzim acabaram se tornando organizações
governos soubessem fazer uso de seu poder de econômicas fortes, que incluem indústrias de
cobrar impostos, reduzir juros, contrair emprés- transformação.
timos e gastar dinheiro. Após 1945, a teoria eco- KILLING. Termo em inglês que, aplicado ao
nômica keynesiana converteu-se em ortodoxia, mercado de ações, significa a realização de um
tanto para os economistas quanto para a maioria grande e inesperado lucro.
dos políticos. O keynesianismo lançou raízes
principalmente nos Estados Unidos, temerosos KILOPOND (KP). Antiga medida de força, sen-
de que o regresso dos veteranos de guerra pu- do 1 kp = 9,80665 newton. Veja também Uni-
desse provocar nova depressão. Em 1946, foi dades de Pesos e Medidas.
aprovada a Lei do Emprego, que transformou
em obrigação legal do governo manter o pleno KIMEI KABUSHIKI. Expressão que, no mer-
emprego mediante empréstimos e financiamen- cado acionário japonês, significa ações nomina-
tos de obras públicas. No período imediatamen- tivas, isto é, ações emitidas com o nome do pos-
te posterior à guerra, a política econômica e uma suidor e registradas nos livros da empresa emis-
parcela importante dos trabalhos teóricos dos sora. A propriedade destas ações pode ser trans-
keynesianos centraram-se no problema da ma- ferida, mas os direitos que elas tenham (divi-
nutenção do pleno emprego. Assim, as pesqui- dendos etc.) só serão transferidos quando o
sas voltavam-se para as flutuações da atividade nome do novo proprietário for registrado nos
325 KNIES, Karl Gustav

livros da empresa. A maioria das ações no Japão KINYOKAI. Veja Grupo Mitsubishi.
são deste tipo.
KIN’YU. Veja Keiretsu.
KINA. Unidade monetária da Papua-Nova Gui-
né. Submúltiplo: toea. KIN’YU KEIRETSU. Expressão em japonês que
designa os Keiretsu Financeiros ou os seis grupos
KINDLEBERGER, Charles P. (1910- ). Econo- financeiros centralizados em bancos como o Mit-
mista norte-americano, especialista em estrutura subishi, Mitsui, Sumitomo, Fuyo, Sanwa e Dai-
financeira. Em seus estudos, enfatizou o papel Ichi Kangyo. Veja também Keiretsu.
dos países que emprestam dinheiro como última
KIP. Medida de peso designada pelas iniciais
fonte de recursos, desenvolvendo a teoria de que
de kilopound, ou mil libras (peso), ou o equiva-
os Estados Unidos funcionam como um banco,
lente a meia tonelada (curta), isto é, tonelada
intermediando a condução do sistema financeiro
de 2 mil libras, ou equivalente a 907,184 kg.
internacional e provendo o mundo ocidental
com liquidez. Kindleberger também elaborou KIP NOVO. Unidade monetária do Laos. Sub-
estudos sobre o balanço de pagamentos dos paí- múltiplo: at.
ses como reflexo do nível de desenvolvimento
de suas economias e da estrutura de suas ativi- KITING. Termo em inglês que designa uma
dades. Dentro dessa perspectiva, pesquisou a prática às vezes ilegal (irregular) de emitir che-
evolução dos fatores de troca do comércio in- ques contra uma conta bancária que não possui
ternacional e as causas do desequilíbrio estru- fundos para cobri-los, na esperança de que, an-
tural dos balanços de pagamentos. Segundo Kin- tes de o cheque ser apresentado para desconto
dleberger, esse desequilíbrio não pode ser ana- ou compensação, os fundos necessários serão
lisado em termos puramente monetários, e sim depositados nessa conta para permitir o saque.
dos produtos, e poderia resultar de diversos fa-
tores: a modificação da demanda internacional, KLEIN, Lawrence Robert (1920- ). Economista
mudança de técnica ou um fato institucional (ta- norte-americano. Depois de formar-se pela Uni-
rifas aduaneiras), alteração da oferta nacional versidade da Califórnia (1942), trabalhou com
(perda de safras, por exemplo) ou perda de ren- econometria no Instituto Tecnológico de Mas-
das no exterior. Em todos esses casos, o dese- sachusetts, sob a supervisão de Paul Samuelson.
quilíbrio só poderia ser resolvido por transfor- Dando prosseguimento aos trabalhos do holan-
mações na estrutura econômica e por esforço de dês Ian Tinbergen, procurou produzir um ins-
adaptação e inovação. O desequilíbrio no balan- trumento que pudesse prever a evolução das
ço de pagamentos poderia ainda ser provocado conjunturas e estudar os efeitos das diferentes
no plano dos fatores de produção. Seria o caso medidas da economia política. Em 1976, foi coor-
de uma economia dualista na qual os salários denador do grupo que assessorou, em assuntos
fossem mais elevados no setor de exportação de natureza econômica, o então candidato Jim-
do que nos setores industriais domésticos, e os my Carter à presidência dos Estados Unidos.
investimentos da área da exportação não fossem Em 1980, foi laureado com o Prêmio Nobel de
absorvidos pelo conjunto da economia, condu- Economia por seus trabalhos em econometria.
zindo a uma grave inflação. E haveria ainda um KLEIN-GOLDBERG (Modelo). Veja Modelo
“desequilíbrio secular” quando, num país toma- Klein-Goldberger.
dor de empréstimos, o capital proveniente do
exterior fosse insuficiente para financiar o exce- KNIES, Karl Gustav (1821-1898). Economis-
dente de importação, ou, no caso contrário, ta alemão que, junto com Wilhelm Roscher e
quando as exportações de capital fossem infe- Bruno Hildebrand, foi um dos fundadores da
riores à poupança do excedente de investimento. escola econômica histórica alemã. Influenciados
Nesses casos, as relações entre poupança e in- principalmente pelas idéias de Auguste Comte,
vestimento devem ser modificadas pela política o fundador do positivismo, esses autores pro-
monetária ou fiscal. Kindleberger foi durante vá- curaram criar uma ciência econômica por meio
rios anos professor do Instituto de Tecnologia do exame dos fatos históricos, ao mesmo tempo
de Massachusetts (MIT). Escreveu, entre outras que faziam a crítica da escola clássica. Knies foi
obras: International Short-term Capital Movements o mais preciso na exposição dos problemas me-
(Movimentos Internacionais de Capital de Curto todológicos da escola histórica. Em seu livro Die
Prazo), 1937; Economic Growth in France and Bri- Politsche Ökonomie von geschichtlichen Standpunkte
tain, 1851-1950 (Crescimento Econômico na (A Economia Política do Ponto de Vista Histó-
França e na Inglaterra, 1851-1950), 1964; The rico), 1883, mostra-se um crítico mais decidido
World in Depression, 1929-1939 (O mundo em De- da escola clássica que Roscher e Hildebrand, aos
pressão, 1929-1939); Manias, Panic and Crashes quais se opõe. Aponta a confusão metodológica
(Manias, Pânico e Quebras), 1978; e International de Roscher, que mistura diferentes ramos da in-
Money (Dinheiro Internacional), 1981. vestigação econômica, e critica Hildebrand por
KNIGHT, Frank 326

fazer concessões à teoria pura com suas leis do History and Method in Economics, 1956. Veja tam-
desenvolvimento. Sustenta que o estudo histó- bém Escola de Chicago; Lucro Puro.
rico é a única forma legítima da economia, que
não poderia formular leis como as ciências físi- KNOCKOUT. Apelido das ações da Coca-Cola
cas, mas apenas descobrir regularidades no de- na Bolsa de Valores de Nova York.
senvolvimento da sociedade, sugerindo analo-
KNOWLEDGE WORKER. Termo em inglês
gias. Propõe aos economistas que evitem provar
que significa, literalmente, “trabalhador com co-
a superioridade do método histórico, mas, ao
nhecimentos” ou “conhecedor”. O termo foi in-
mesmo tempo, produzam obras que tratem dos
troduzido por Peter Drucker, para caracterizar
problemas econômicos sob o ponto de vista his-
o trabalhador moderno, pós-capitalista, como
tórico. Com Knies encerra-se a primeira fase da
aquele que não se baseia principalmente no uso
escola histórica (1840-1860), que teve continui-
da força física (manpower) para realizar seu tra-
dade, sob novo prisma (passou-se à discussão
balho, mas na capacitação sob a forma de co-
metodológica das ciências sociais em geral), com
nhecimentos.
Gustav Schmoller e seus discípulos.
KNIGHT, Frank (1885-1973). Nascido em Illi- KO. Iniciais da expressão em inglês keep off, uti-
nois, nos Estados Unidos, Frank Knight formou- lizada especialmente na atividade de seguros e
se em economia e filosofia e incorporou-se, como que significa evitar assumir qualquer risco em
professor de economia, à Universidade de Iowa, determinada negociação de um contrato, até que
em 1919, e, mais tarde, em 1928, passou a lecio- investigações sejam feitas em relação ao negócio.
nar na Universidade de Chicago, onde perma- KOBO. Veja Naira.
neceu até a sua morte. Realizou vários estudos
sobre ética e metodologia, mas talvez sua prin- KOKUDAINO. Prática desenvolvida no Japão,
cipal contribuição tenha sido o fruto da discus- durante a era Edo (1600-1868), de pagamento
são travada com J.B. Clark e com as concepções da taxa anual de renda (mengu) em dinheiro,
de Alfred Marshall sobre a existência de lucros em vez de arroz, o meio de pagamento mais
num estado estacionário. Os discípulos de Mars- comum naquela época. Utilizava-se o kokudaino
hall (Knight, por sua vez, foi discípulo de Clark) quando o transporte de grãos era inconveniente
sustentavam que o lucro somente poderia ser ou quando colheitas fracas limitavam os esto-
apropriado pelos empresários nas épocas de ques de arroz. Os métodos de medição e as taxas
mudanças. Numa economia estacionária, a ren- de conversão do pagamento in natura para o pa-
da somente aparecia na forma de salários, juros gamento em espécie diferiam de lugar para lu-
e renda (no sentido de renda da terra, por exem- gar. Esta prática aumentou consideravelmente
plo). Os lucros seriam a remuneração da capa- depois de meados do século XVIII, na medida
cidade empreendedora dos empresários, que sa- em que a economia monetária se expandiu, mas
beriam fazer investimentos e organizar a pro- o xogunato (governo), preocupado com a redu-
dução em condições de mudanças. Knight ar- ção dos estoques de arroz, colocou limitações
gumentava que não eram as mudanças em si ao kokudaino e encorajou o pagamento em arroz.
que geravam os lucros, mas as discrepâncias en-
tre a realidade e os resultados esperados, isto KOKUSAI. Termo em japonês que significa “tí-
é, as expectativas. A incerteza sobre o futuro tulo do governo” ou “título da dívida pública”.
seria a causadora do lucro. De acordo com esta No Japão, as finanças públicas são normatizadas
linha de raciocínio, Knight desenvolveu o seu pela Lei das Finanças Públicas, segundo a qual
conceito de lucro puro: seria a recompensa do o governo central deve operar com um orça-
empresário por investir e organizar a produção mento equilibrado. Mas ela autoriza a emissão
em atividades em que prevalecia a incerteza, isto de títulos da dívida pública para o financiamen-
é, nas quais não era possível quantificar o risco. to de projetos de investimento do governo. A
Numa época em que a teoria econômica predo- lei, no entanto, proíbe que o Banco do Japão
minante enfatizava a tomada de decisões sob (Banco Central do Japão) adquira estes títulos.
condições de concorrência perfeita e sob leis es- Eles só poderão ser vendidos no mercado aberto
tabelecidas da probabilidade, as concepções de (open market) para bancos (privados), empresas
Knight não tiveram o impacto que mereciam. (corporações) ou indivíduos. Esta restrição bus-
Knight foi um dos fundadores da Escola de Chi- ca evitar pressões inflacionárias pela expansão
cago, e seus livros mais importantes são os se- da base monetária, se o governo se endividasse
guintes: Risk, Uncertainity and Profit (Risco, In- com a principal autoridade monetária do país.
certeza e Lucro), 1921; The Economic Organization Entre 1947 e 1964, o governo japonês operou
(A Organização Econômica), 1930; Freedom and com equilíbrio orçamentário, mas a partir de
Reform (Liberdade e Reforma), 1947; Essay on the 1965, a emissão dos kokusai tornou-se mais fre-
327 KRUGERRAND

qüente e, atualmente, em conjunto com os títulos sion, o maior centro norte-americano de econo-
de dívida emitidos pelas empresas públicas, al- metria. Professor das universidades de Chicago
cança um percentual expressivo, tratando-se po- e de Yale, Koopmans destacou-se por seus tra-
rém de endividamento de médio e longo prazos. balhos de aplicação da estatística matemática em
métodos econométricos e no estudo da dinâmica
KOLMOGOROFF, Nicolai Andrei (1903-1987). econômica. Na área monetária, procurou preci-
Matemático russo, tornou-se professor de ma- sar a fórmula do equilíbrio monetário mostran-
temática do Instituto de Moscou em 1929. Con- do a relação entre a oferta e a demanda da moe-
siderado fundador da moderna teoria da pro- da pelo próprio funcionamento da economia e
babilidade, deu contribuições significativas à ressaltando a incidência do entesouramento e
teoria das funções reais. Sua obra mais impor- do investimento. Entre outras obras, publicou:
tante é Grundbegriffe der Wahrscheinlichkeitsrech- Linear Regression Analysis of Economic Time Series
nung (Fundamentos Conceituais do Cálculo de (Análises de Regressão Linear de Séries de Tem-
Probabilidades), 1933. po Econômico), 1937; Statistical Inference in Dy-
namic Economic Models (Inferência Estatística em
KONDRATIEFF, Nicolai Dmitrievitch (1892-
Modelos de Dinâmica Econômica), 1950; Activity
1930). Economista e estatístico russo. Seu nome
Analysis of Production and Allocation (Análise Ati-
está associado ao estudo dos ciclos econômicos
va da Produção e Alocação), 1951; e Studies in
longos, ou ciclos seculares, de quarenta a ses-
Econometric Method (Estudos em Métodos Eco-
senta anos, os chamados ciclos Kondratieff. A
nométricos), 1953.
maioria dos economistas admite a existência de
três ciclos Kondratieff no período que vai de KREDITANSTALT FÜR WIEDERAUFBAU.
1790 a 1950. O primeiro estende-se até 1850, Banco oficial alemão criado em 1948, dedicado
compreendendo 24 anos de alta e 36 de baixa; ao financiamento da reconstrução da Alemanha
o segundo, entre 1850 e 1896, corresponde a 23 no pós-guerra. Com a prosperidade alemã a par-
anos de alta e 23 de baixa da atividade econô- tir dos anos 60, tornou-se uma agência de de-
mica, e o terceiro, de 1896 a 1940, com 22 anos senvolvimento e de financiamento para países
de alta e 22 de baixa. Entretanto, a marcação em desenvolvimento, entre eles o Brasil. A sede
das datas dos ciclos Kondratieff é um problema do Kreditanstalt se encontra em Frankfurt.
de conceituação imprecisa. Por exemplo, não se
sabe quando terminou a baixa iniciada supos- KREUTZERS. Veja Guld(en).
tamente em 1920 e se, atualmente, estamos ou
não numa fase de baixa de um novo ciclo Kon- KRON. Veja Afegani.
dratieff. Kondratieff foi ministro da Alimentação
no governo provisório de Kerenski, logo após KROON. Unidade monetária da Estônia.
a Revolução de Fevereiro de 1917 (não confundir
com a de Outubro do mesmo ano). Posterior- KROPOTKIN, Piotr Alekseievitch (1842-1921).
mente, fundou o Instituto do Comércio de Mos- Príncipe e geógrafo russo, destacado líder e teó-
cou e participou da elaboração do primeiro pla- rico do anarquismo. Abandonou a carreira e a
no qüinqüenal agrícola da União Soviética. Seus posição social em 1871, para dedicar-se às ati-
trabalhos em estatística agrícola incluem a ela- vidades revolucionárias. Foi preso em 1874, mas
boração do chamado “índice camponês” de pro- conseguiu fugir da Rússia. Esteve preso na Fran-
dutos comprados e vendidos pelos agricultores. ça entre 1883 e 1886 e, em seguida, viveu na
Entre suas obras destacam-se os livros Mirovoe Inglaterra, dedicando-se aos estudos, escreven-
Khoziaistro i Ego Kon’inktury Vo Vremia i Posle Voiny do e proferindo conferências. Retornou à Rússia
(A Economia Mundial e suas Condições durante em 1917, mas reprovou a Revolução de Outubro
e depois da Guerra), 1922; Bolshie Tsikly Kon’in- e viveu no isolamento até a morte. Entre seus
ktury (Os Ciclos Longos de Conjuntura), 1928; e livros destacam-se A Conquista do Pão (1888), Au-
o artigo “As Ondas Seculares na Vida Econômi- xílio Mútuo (1902) e A Grande Revolução Francesa,
ca”, 1925. Veja também Ciclos Econômicos. 1789-1903 (1909). Em A Conquista do Pão, consi-
derada sua obra principal, defende teses próxi-
KONDRATIEFF, Ciclos de. Veja Ciclo Econô- mas das de Bakunin, outro grande teórico do
mico; Kondratieff, Nikolai D. anarquismo, e também se preocupa com os pro-
KONZERN. Termo em alemão que significa blemas da indústria, negando as vantagens da
“negócio” ou “organização comercial”. produção em grandes empresas e prevendo um
retorno às pequenas unidades produtivas, com
KOOPMANS, Tjalling C. (1910-1985). Econo- a difusão da energia elétrica.
mista holandês radicado nos Estados Unidos,
Prêmio Nobel de Economia de 1975. Conside- KRUGERRAND. Moeda de ouro de uma onça-
rado um dos expoentes da econometria e da es- troy (31,104 g) cunhada pela África do Sul. Os
tatística matemática, dirigiu a Cowles Commis- krugerrands são vendidos a um valor ligeiramen-
KRUGMAN 328

te superior em relação ao valor de seu conteúdo nomia de 1971. Destacou-se por um tipo de pes-
metálico. Em 1985, os Estados Unidos proibiram quisa que alia as investigações estatísticas ao
sua importação. As outras moedas em ouro co- aperfeiçoamento de conceitos teóricos e aos es-
mercializáveis são as seguintes: a moeda mexi- tudos históricos. No famoso artigo “National In-
cana de 50 pesos, a austríaca de 100 coroas e a come” (“Renda Nacional”), 1933, publicado na
maple leaf canadense. Encyclopaedia of the Social Sciences, vol. XI, Kuz-
nets expôs claramente as várias definições e clas-
KRUGMAN, Paul R. Economista norte-ameri- sificações dos itens que integram a contabilidade
cano, professor do Massachussets Institute of social, associando-os com as proposições funda-
Technology (MIT) e ganhador da medalha John mentais da teoria econômica relacionadas a sa-
Bates de 1992. Tem desenvolvido seus trabalhos lários, lucros, capital e juros. Em seu livro Na-
sobre economia internacional como consultor do tional Income and its Composition 1919-1938 (Ren-
Council of Economic Advisers e é autor de nu- da Nacional e sua Composição 1919-1938), uti-
merosos artigos e livros sobre este tema. Ganhou lizou abundante material histórico para analisar
notoriedade ao analisar as debilidades das eco- a evolução da renda nacional norte-americana
nomias do Sudeste asiático antes da crise de numa perspectiva demográfica, política, social
1997, mostrando que elas se encontravam vul- e técnica do crescimento. Analisou também as
neráveis e ataques especulativos. variações cíclicas da atividade econômica e es-
KRUPP, Família. Família de industriais alemães tendeu a aplicação de seus conceitos ao estudo
que se tornou famosa como a maior fabricante comparativo da estrutura do crescimento da
Alemanha e da Inglaterra e sua influência na
de armas do mundo e por estar ligada, durante
distribuição da renda. Em sua análise da dinâ-
muito tempo, ao militarismo alemão, contribuin-
mica, utilizou o conceito de coeficiente de capi-
do até mesmo para a ascensão do nazismo. A
empresa dos Krupp, em Essen, foi fundada em tal, que é a relação capital-produto entre capital
1811 por Friedrich Krupp (1787-1826), com uma aplicado e a produção anual, e serve para medir,
pequena fundição de aço e, sob a direção de em termos tecnológicos, a intensidade do capital
e, em termos financeiros, o índice de capitaliza-
seu filho Alfred (1812-1887), transformou-se na
ção. Salientou ainda os aspectos demográficos
maior fabricante de aço fundido do mundo. A
do crescimento e da distribuição da renda. Kuz-
família teve importante papel como fornecedora
de armas na Guerra Franco-prussiana e na Pri- nets foi professor nas universidades John Hop-
meira e Segunda Guerras Mundiais. Alfred kins (1954-1960) e Harvard (1960-1971). Entre
Krupp von Bohlen und Halbach (1907-1967), outros livros, escreveu: Secular Movements in Pro-
presidente da empresa desde 1943, foi preso em duction and Prices (Movimentos Seculares na Pro-
dução e nos Preços), 1930; Seasonal Variations in
1948 como criminoso de guerra por ter utilizado
Industry and Trade (Variações Sazonais na Indús-
prisioneiros de campos de concentração nazistas
tria e no Comércio), 1934; National Income since
como escravos em suas fábricas durante a guer-
ra, sendo anistiado em 1951. Após a guerra, a 1869 (Renda Nacional desde 1869), 1946; Modern
empresa foi reorganizada, retendo ainda grande Economic Growth (Crescimento Econômico Mo-
parte de suas posses, e dedicou-se à produção derno), 1966; e Economic Growth of Nations (Cres-
cimento Econômico das Nações), 1971.
de equipamentos industriais pesados.
KULAKS. Camponeses da Rússia czarista que KYAT. Unidade monetária de Myanma.
eram possuidores de grandes áreas cultiváveis.
Distinguiam-se pela exploração impiedosa de
seus assalariados e pelos empréstimos usurários

L
aos camponeses pobres, daí derivando a deno-
minação pejorativa kulak, que significa “punho”.
Com a coletivização forçada da agricultura sob
Stálin, a oposição dos kulaks foi violentamente
reprimida e eles acabaram presos ou deportados
para a Sibéria.
KURTOSIS. Veja Medidas de Achatamento.
KURUSH. Veja Lira; Rial. L. Inicial de: 1) lempira (unidade monetária de
Honduras); 2) leu (unidade monetária da Romê-
KUZNETS, Simon Smith (1901-1985). Econo- nia); 3) lev (unidade monetária da Bulgária); 4)
mista norte-americano de origem russa, teórico libra (medida de peso); 5) lira (unidade mone-
do crescimento econômico. Foi pioneiro no de- tária da Itália); 6) litas (unidade monetária da
senvolvimento de uma base conceitual para o Lituânia); 7) litro.
cálculo da renda nacional dos Estados Unidos,
trabalho que lhe valeu o Prêmio Nobel de Eco- LAARI. Veja Rufiá.
329 LANGE, Oskar

LAB. Iniciais de “livre a bordo”; o mesmo que e cedo ou tarde se atrasam tecnologicamente.
FOB (free on board). Sua produtividade é menor do que a dos demais
e, não agüentando a concorrência, começam a
LABEL. Termo em inglês que significa marca e operar com prejuízo; no limite, são obrigados a
é utilizado na Grã-Bretanha para designar um abandonar o ramo de atividades. Veja também
selo, ou uma etiqueta, ou sinal especial que os Early-Bird Farmer.
operários, com a finalidade de boicotar a venda
de um produto que produzem, colocam nele LAISSEZ-FAIRE, LAISSEZ-PASSER (“Deixar
para indicar ao consumidor o empregador que Fazer, Deixar Passar”). Palavras de ordem do
não cumpre as condições de trabalho estabele- liberalismo econômico, proclamando a mais ab-
cidas com o sindicato a que pertencem. soluta liberdade de produção e comercialização
de mercadorias. O lema foi cunhado pelos fi-
LABINI, Paolo Sylos (1920- ). Economista ita- siocratas franceses no século XVIII, mas a polí-
liano, discípulo de Schumpeter, dedicou-se ao tica do laissez-faire foi praticada e defendida de
estudo do comportamento das grandes empre- modo radical pela Inglaterra, que estava na van-
sas industriais. Em Oligopólio e Progresso Técnico guarda da produção industrial e necessitava de
(1956), rompe com a teoria tradicional da em- mercados para seus produtos. Essa política opu-
presa e seus pressupostos: a teoria da concor- nha-se radicalmente às práticas corporativistas
rência perfeita, a hipótese da livre-concorrência e mercantilistas, que impediam a produção em
e mesmo a hipótese da concorrência imperfeita larga escala e resguardavam os domínios colo-
ou monopolista, tal como apresentada por Joan niais. Com o desenvolvimento da produção ca-
Robinson. Labini adota a hipótese do oligopólio. pitalista, o laissez-faire evoluiu para o liberalismo
O progresso técnico e a acumulação do capital econômico, que condenava toda intervenção do
seriam os elementos principais da evolução dos Estado na economia. Veja também Liberalismo;
mercados, elementos desprezados na análise tra- Mercantilismo.
dicional. Na obra Sindacati, Inflazione e Produtti-
vità (Sindicatos, Inflação e Produtividade), 1972, LAMB. Termo em inglês que se aplica ao ope-
desenvolve um modelo econométrico da econo- rador inexperiente que investe seu dinheiro na
mia italiana, tomado como base para uma aná- Bolsa às cegas. Por seguir as tendências de mer-
lise dos movimentos de preços, salários e inves- cado, isto é, por comprar quando a maioria está
timentos. Conclui, então, pela impossibilidade comprando e vender quando a maioria está ven-
de uma política de renda que regule salários e dendo, é denominado “carneiro”, por seguir o
preços segundo modelos preestabelecidos. Su- rebanho e ser, portanto, presa fácil para os es-
gere, em vez disso, a introdução de uma política pertalhões e especuladores experientes.
econômica baseada em mecanismos de consulta
LAME DUCK. Expressão em inglês que, lite-
sistemática entre governo e sindicatos, no con-
ralmente, significa “pato manco”, e que, aplica-
texto do planejamento econômico e também da
da ao mercado financeiro, especialmente nas
política social.
Bolsas de Valores, significa pessoa que se en-
LAFFEMAS, Barthélemy de (1545-1612). Econo- contra em dificuldades financeiras em relação
mista francês da escola mercantilista. Como su- aos especuladores.
perintendente-geral do comércio da França des- LANCE. Oferta de preço para compra de um
de 1602, incrementou as atividades mercantis e lote de ações ou para arrematar peças vendidas
promoveu a implantação de numerosas indús- em leilão.
trias têxteis. Escreveu duas obras, que testemu-
nharam o espírito e as práticas do mercantilis- LANDLORD. Termo em inglês que significa,
mo: Règlement pour Dresser les Manufactures du literalmente, “senhor da terra”. É o correspon-
Royaume (Regulamento para Construir as Ma- dente ao latifundiário no Brasil.
nufaturas do Reino), 1597, e Comme l’on Doit Per-
mettre la Liberté du Transport de l’Or e del’Argent LANGE, Oskar (1904-1965). Economista e polí-
Hors du Royaume et par Tel Moyen Conserver le tico polonês. Emigrou para os Estados Unidos
Nôtre et Attirer Celui des Étrangers (Como se Deve em 1934, onde lecionou em universidades. Na-
Dar Liberdade ao Transporte de Ouro e Prata turalizou-se norte-americano em 1943, porém re-
Fora do Reino e por Tal Meio Conservar o que tomou a nacionalidade polonesa em 1945. Re-
É Nosso e Atrair o que É dos Estrangeiros), 1602. presentou seu país em Washington (1945-1946)
Para aumentar a produção, Laffemas propunha e no Conselho de Segurança da ONU (1946-
o desenvolvimento de invenções que possibili- 1948). Como vice-presidente do conselho de mi-
tassem o trabalho de crianças. nistros e presidente da Associação Central de
Cooperativas, influiu praticamente na planifica-
LAGGARDS. Termo em inglês utilizado para ção da economia da Polônia. No âmbito da teo-
designar, nos Estados Unidos, os agricultores ria, figura como um dos mais importantes fun-
que não adotam as tecnologias mais avançadas dadores da econometria. Empenhou-se em in-
LAPLACE 330

corporar, à economia política marxista, as téc- que se opunham: a nacionalista e a socialista.


nicas mais modernas de pesquisa e quantifica- Partidário da unidade alemã, liderada pela Prús-
ção e em dar à planificação socialista um fun- sia, lutou pelo estabelecimento do sufrágio uni-
damento matemático científico. Escreveu Wstep versal, para ele um objetivo da classe operária
Ekonometrii (Introdução à Econometria), 1957; e um meio de o Estado servir aos interesses da
Ekonomia Polityczna (Economia Política), 1959; maioria e realizar o socialismo. O pensamento
Essays on Economic Planning (Ensaios sobre Pla- de Lassalle, inspirado em Fichte e Hegel, está
nificação Econômica), 1960; Caloszi Roswoj w presente na sua principal obra, Das System der
swietle Cybernetki (Totalidade e Desenvolvimen- erworbenen Rechte (O Sistema dos Direitos Ad-
to à Luz da Cibernética), 1962; e Problèmes d’Éco- quiridos), 1861, na qual defende uma linha so-
nomie Socialiste et de Planification (Problemas da cialista distante das concepções de Marx. Con-
Economia Socialista e da Planificação), 1964. clui que a sociedade européia se tornaria socia-
lista gradualmente, acompanhando uma mu-
LAPLACE. Veja Risco; Teorema do Limite Cen- dança do que chamou de “espírito do povo”.
tral. Aceitava a teoria da chamada Lei de Bronze dos
LARA RESENDE, André Pinheiro de (1951- ). Salários, segundo a qual a pressão demográfica
Nasceu no Rio de Janeiro e formou-se em eco- que sucede a todo aumento salarial torna geral-
nomia pela PUC (RJ) em 1973. Obteve o mes- mente impraticável esse aumento. Para fugir a
trado em 1975 e o PhD em 1979, pelo Massa- isso, defendeu a formação de cooperativas ope-
chussets Institute of Technology, com a tese “In- rárias de produção, subsidiadas pelo Estado.
flation and Oligopolistic Prices in Semi-indus- Lassalle defendia a aliança com o governo como
trialized Economies” (“Inflação e Preços Oligo- caminho para o socialismo e colaborou com Bis-
pólicos em países semi-industrializados”). Em marck para alcançar tal objetivo, embora, após
1984, apresentou, juntamente com Pérsio Arida, sua morte, os socialistas tenham sido persegui-
uma proposta de estabilização da economia bra- dos sistematicamente pelo Estado. O Partido So-
sileira, que então atravessava um intenso pro- cialista Alemão, contudo, adotou em 1875 um
cesso inflacionário. O trabalho tinha o título de programa inspirado em Lassalle, no que foi con-
“Inertial Inflation and Monetary Reform in Bra- testado por Marx em A Crítica ao Programa de
zil” e passou a ser conhecido como “Proposta Gotha (1875). Lassalle escreveu ainda Über die
Larida”. Em 1986, ocupou o cargo de diretor da Verfassung (Sobre a Constituição), 1863, e Arbei-
Dívida Pública e Mercado Aberto do Banco Cen- terprogramm (Programa dos Trabalhadores), 1863.
tral e colaborou na concepção e elaboração do A maioria de seus escritos foi reunida postu-
Plano Cruzado. Depois do malogro do Plano mamente em Gesammelte Reden und Schriften (Co-
Cruzado, participou de atividades na iniciativa letânea de Discursos e Escritos), 1919.
privada: conselho de administração das Lojas
Americanas, diretor do Brasil Warrant Admi- LA SALLE STREET. Denominação da rua onde
nistração de Bens (grupo Moreira Salles), vice- se encontra o centro financeiro de Chicago. Veja
presidente do Unibanco, diretor da Companhia também Lombard Street; Old Lady of Thread-
Siderúrgica de Tubarão e fundador do Banco needle Street; Wall Street.
Matrix, em 1993. Em agosto de 1993, voltou ao LASPEYRES, Etienne (1834-1913). Economista e
governo durante a gestão de Fernando Henrique estatístico alemão. Laspeyres estudou em Hei-
Cardoso no Ministério da Fazenda, como nego- delberg e, de 1874 a 1900, lecionou na Univer-
ciador-chefe da dívida externa brasileira, tendo sidade de Giessen. Suas contribuições mais im-
sido um dos principais formuladores do Plano portantes foram no campo da estatística, espe-
Real. Veja também Plano Cruzado; Plano Real. cialmente a estatística de preços. Entre seus pri-
LARIDA. Veja Arida, Pérsio; Lara Resende, An- meiros trabalhos, são mais conhecidas as pes-
dré Pinheiro de. quisas sobre preços das mercadorias em Ham-
burgo entre 1851 e 1863. Mais tarde publicou
LASSALLE, Ferdinand (1825-1864). Filósofo po- vários estudos a respeito do mesmo tema. O
lítico alemão, socialista, discípulo de Fichte e de mais importante deles versa sobre os movimen-
Hegel. Fundou, em 1863, a Associação Geral dos tos gerais de preços na segunda metade do sé-
Trabalhadores Alemães, o primeiro partido ope- culo XIX e sobre os preços na Prússia de pro-
rário da Alemanha, transformado depois no Par- dutos agrícolas entre 1821 e 1895. Em conexão
tido Social Democrata. Defendeu a transforma- com seus estudos de preços, Laspeyres também
ção progressiva da sociedade por meio de re- deu importantes contribuições à técnica dos nú-
formas sociais conduzidas pelo Estado. Partici- meros-índices. Ele estabeleceu a fórmula de nú-
pou do movimento revolucionário de Düssel- mero-índice, na qual o numerador é a soma dos
dorf, em 1848, que resultou na sua prisão. As- preços correntes ponderados por um período-
sumiu então a liderança do Partido Operário base, e o denominador é a soma dos preços do
Alemão, lutando pela fusão de duas tendências período-base ponderados da mesma forma. No
331 LAUDÊMIO

entanto, nunca aplicou sua fórmula, pois dados LASTRO METÁLICO. Quantidade de metal
insuficientes não permitiram que ele determi- precioso mantida em reserva, em geral ouro,
nasse “as quantidades de todos os bens consu- mas também prata, para garantir a conversibi-
midos num país”. No folheto Die Kathedersocia- lidade do papel-moeda em circulação. Esses me-
listen und die Statischen Congresse (Os Socialistas tais preciosos eram geralmente amoedados, isto
de Cátedra e o Congresso de Estatística), Las- é, ouro ou prata monetários, que poderiam ser
peyres propugnava entre outras coisas por uma trocados, de acordo com uma taxa de câmbio
economia quantitativa que pudesse traçar as re- fixada em lei, pelo papel-moeda em circulação.
gularidades nos fenômenos sociais. Este sistema de conversibilidade correspondente
ao padrão-ouro ou ao padrão câmbio-ouro já
LA TOUR DU PIN CHAMBLY DE LA CHAR- não existe mais. No entanto, durante os períodos
CE, René, Marquês de (1834-1924). Pensador ca- em que vigorou no Brasil, a conversão do mil-
tólico e monarquista francês, principal teórico réis, por exemplo, garantida pela Caixa de Es-
do corporativismo no século XIX. Impressiona- tabilização em 1926, estabelecia que o mil-réis
do pelos acontecimentos da Comuna de Paris, poderia ser trocado por 0,2 gramas de ouro fino
fundou com Albert de Mun os primeiros círculos (amoedado).
operários, dentro de um espírito corporativo.
Suas concepções foram apresentadas numa série LATIFUNDIÁRIO. Veja Latifúndio.
de ensaios escritos entre 1882 e 1907, reunidos
no livro Vers un Ordre Social Chrétien (Rumo a LATIFÚNDIO. Tipo de grande propriedade ru-
uma Ordem Social Cristã). Neles, La Tour du ral caracterizada pela existência de vasta área
Pin condenou o lucro das grandes empresas, de- inculta ou cultivada com tecnologia primitiva e
fendeu a função social da propriedade particu- baixo investimento de capital. Já existia na An-
lar, recusou o regime assalariado e propôs, em tiga Roma, onde as terras confiscadas aos povos
seu lugar, a remuneração dos operários pela par- vencidos nas guerras eram entregues a aristo-
tilha dos lucros entre o trabalho e o capital. Essas cratas e a oficiais do Exército, que, não podendo
posições, que o colocam entre os pioneiros da explorá-las plenamente, mantinham-nas como
doutrina social da Igreja, fundamentaram sua sinal de nobreza. Isso foi causa de revoltas cam-
proposta de regime corporativista. Em síntese, ponesas que abalaram a República e o Império.
cada corporação deveria possuir um patrimônio Na Idade Média, o latifúndio predominou como
coletivo; seria reconhecida a capacidade e ne- estrutura agrária básica do regime feudal, for-
cessidade profissional de patrões e trabalhado- mado por uma grande gleba senhorial e peque-
nas extensões exploradas pelos camponeses.
res; as corporações teriam poderes regulamen-
Persistiu de forma diferenciada até a atualidade
tares e judiciários e seus delegados formariam
em todo o mundo, com exceção dos países so-
o “grande conselho”, espécie de Senado nacio-
cialistas, onde foi extinto pela coletivização das
nal. As idéias de La Tour du Pin influenciaram
terras. Sua presença é maior nos países subde-
decisivamente a formação do “neocorporativis-
senvolvidos, onde constitui grande obstáculo ao
mo” defendido pela ultraconservadora Action
progresso econômico, social e político. No Brasil,
Française. Veja também Corporativismo.
o latifúndio originou-se das sesmarias doadas
LASTRO. Termo que, antigamente, tinha o sig- pela Coroa portuguesa no período colonial. Até
nificado do carregamento de uma coisa qual- o final do século XIX, caracterizou-se pela ex-
quer, mas que, na prática da navegação, significa ploração do trabalho escravo e pela monocultura
um peso de 2 toneladas (curtas), ou 4 mil libras, voltada para o mercado externo. Constituíam
ou 1 812 kg. Mas é uma medida que admite também unidades políticas até certo ponto au-
grande variabilidade. Usa-se atualmente o lastro tônomas em relação ao poder central. Apesar
como capacidade para navios, podendo assumir das transformações econômicas ocorridas no
o valor de 1 ou 2 toneladas (curtas). O lastro país a partir da década de 30, a presença dos
pode ainda equivaler a 82,5 bushels (2 907 l) nos latifúndios continua forte nos dias atuais. Veja
Estados Unidos e a 80 bushles (2 819 l) na In- também Estatuto da Terra; Minifúndio; Refor-
glaterra, tratando-se de uma carga seca, isto é, ma Agrária; Sistemas Agrários.
cereais, o que equivale a respectivamente 2 907 LATIFÚNDIO POR DIMENSÃO. Veja Estatu-
e 2 819 l. No tempo em que a pólvora era trans- to da Terra.
portada em barris, o lastro seria equivalente a
24 barris deste produto, sendo cada barril equi- LATIFÚNDIO POR EXPLORAÇÃO. Veja Es-
valente a 100 libras ou 45,3 kg; tratando-se de tatuto da Terra.
carga de peixes (arenques), o lastro poderia equi-
valer a 10 mil, 13 200, 20 mil peixes ou doze LAUDÊMIO. Tributo de origem feudal. Incide
sacos de lã. Veja também Lastro Metálico; Pa- sobre a venda de terras usufruídas em regime
drão-ouro; Sistemas Monetários; Unidades de de enfiteuse. Quando ocorre a transferência da
Pesos e Medidas. propriedade (terra e benfeitorias) de um usu-
LAUDERDALE, James Maitland, Conde de 332

frutuário para outro, o proprietário da terra, determinado, como acontecia com as lavras.
além de dar seu consentimento, tem direito a Veja também Faiscadores.
certa porcentagem do preço da terra e de suas
benfeitorias. Ou seja, uma porcentagem compete LAW, John (1671-1729). Financista escocês radi-
ao senhorio direto, nos aforamentos, quando o cado na França, adepto da teoria quantitativa
domínio útil do imóvel é alienado com o seu da moeda. Law, como os mercantilistas seus
consentimento. Em geral, o pagamento do laudê- contemporâneos, considerava que o aumento do
mio cabe ao vendedor. Veja também Enfiteuse. dinheiro, fator de desenvolvimento, estimularia
o crescimento da produção e do poder do país.
LAUDERDALE, James Maitland, Conde de Acrescentava que o ouro e a prata, então escas-
(1759-1839). Político e economista inglês. Ba- sos, poderiam ser substituídos por papel-moeda
seando-se em Condillac, introduziu um elemen- emitido por um banco central controlado pelo
to utilitário nas interpretações da teoria do valor governo. Fundou tal banco (Banque Royale), em
de Adam Smith. Argumentou que riqueza é 1716, e a Compagnie des Indes Occidentales, em
tudo o possui utilidade, que a riqueza individual 1719, com apoio estatal. A companhia mono-
possui utilidade e escassez, e esses dois fatores polizava o comércio no Território do Mississípi.
determinam o valor. Negou a distinção entre As atividades do banco, no entanto, resultaram
trabalho produtivo e improdutivo, adotando o em especulação desenfreada, política inflacioná-
ponto de vista de Jean-Baptiste Say sobre os fa- ria e pânico na economia francesa em 1720. As
tores de produção. Sua principal obra é An In- teorias de Law encontram-se em sua obra Con-
quiry into the Nature and Origin of Public Wealth siderações sobre a Moeda e o Comércio, com uma
and into the Means and Causes of its Increase (Uma Proposta para Suprir a Nação de Dinheiro (1705).
Investigação sobre a Natureza e a Origem da
Riqueza Pública e sobre os Meios e Causas do LAY DAY. Expressão em inglês que significa o
Seu Crescimento), 1804. Em Three Letters to the dia no qual um navio pode permanecer no porto
Duke of Wellington (Três Cartas ao Duque de sem pagar taxas de permanência.
Wellington), 1829, Lauderdale faz uma exposi-
LAY-OUT. Disposição ou distribuição dos ele-
ção pioneira de uma teoria do excesso de pou-
mentos de um todo. Aplicado a uma fábrica,
pança.
significa a disposição das máquinas, dos equi-
LAUSANNE, Escola de. Veja Escola de Lausanne. pamentos, das diversas seções, da organização
do processo técnico de produção no espaço físico
LAVAGEM. Termo geralmente utilizado para disponível.
designar a operação de transferir dinheiro oriun-
do de operações irregulares, escusas ou ilícitas, LBO. Iniciais da expressão em inglês leveraged
como aquele originário no tráfico de drogas (di- buyout. Veja Leveraged Buyout.
nheiro sujo), para contas regulares ou operações LE CHATELIER. Veja Princípio de Le Chate-
financeiras oficiais. Esta operação às vezes é lier.
também denominada “branqueamento”, em
oposição às operações do black, isto é, do mer- LEAP-FROGGING. Expressão em inglês que
cado negro. significa o processo desencadeado pela conquis-
ta de uma reivindicação salarial por um grupo
LAVAGEM DE DINHEIRO. Ato de legalizar de empregados, que encoraja outros grupos a
dinheiro oriundo de atividades ilegais — como obter algo semelhante, sob a fundamentação de
o contrabando ou tráfico de drogas — no mer- que os diferenciais de salários dentro de uma
cado financeiro mediante a aquisição de pro- empresa ou de uma organização devem ser
priedades (imóveis, fazendas etc.), a compra de mantidos.
bilhetes premiados de loteria ou a abertura de
contas-fantasmas nas instituições financeiras. LEASING (ou Arrendamento Mercantil). Ope-
ração financeira entre uma empresa proprietária
LAVRAS. Empreendimentos para a exploração de determinados bens (veículos, máquinas, uni-
do ouro, correspondentes à fase de auge do res- dades fabris etc.) e uma pessoa jurídica, que usu-
pectivo ciclo no Brasil, e que dispunham de re- frui desses bens contra o pagamento de presta-
cursos de certa importância e equipamentos es- ções. Os contratos são sempre com tempo de-
pecializados, reunindo grande número de tra- terminado, ao fim do qual a empresa arrenda-
balhadores (geralmente escravos) sob um único tária tem opção de compra do bem. A grande
comando. Esta forma de organização da produ- vantagem do leasing é a não-imobilização de ca-
ção se manteve enquanto a fertilidade das jazi- pital, sobretudo em casos de bens de alto preço,
das era elevada. Posteriormente, quando estas que terão utilização limitada.
foram se esgotando, esta forma cedeu lugar à
atividade dos “faiscadores”, que eram indiví- LEBRET, Padre Louis Joseph (1897-1966). Eco-
duos isolados que não se fixavam num ponto nomista e escritor francês, estudioso do subde-
333 LEGISLAÇÃO MONETÁRIA BRASILEIRA

senvolvimento e dos problemas dos países do patacas e pesos espanhóis; provisão de


Terceiro Mundo. Fundou, em 1941, o movimen- 29/3/1568 — determina a circulação do real; lei
to Economie et Humanisme, cujos estudos e de 25/111582 — estabelece a correspondência
obras editados tiveram intensa difusão na África de valores entre as moedas espanholas e as por-
Negra e na América Latina. Criou também o tuguesas; regimento de 15/8/1603 — determina
Instituto Internacional de Investigação e de For- a abertura de uma Casa de Fundição em Minas
mação para o Desenvolvimento Harmonizado Gerais; decreto de 1640 — estabelece as orde-
e a revista Développement et Civilisation. No Bra- nanças ou ordens de pagamento, garantidas pe-
sil, em 1944, proferiu um curso sobre economia las rendas reais provenientes de arrecadações;
humana na Escola de Sociologia e Política de lei de 1º/7/1641 — sanciona a circulação dos
São Paulo. Lebret sintetizou seus estudos na reales castelhanos; lei de 27/7/1641 — determina
obra Suicide ou Survie de l’Occident (Suicídio ou que sejam refundidas todas as moedas de prata
Sobrevivência do Ocidente), 1959, na qual ques- da colônia; alvará de 26/2/1643 — determina a
tiona a finalidade do progresso tal como é en- instalação de oficinas monetárias no Maranhão,
carado na chamada civilização ocidental, e pro- Bahia e Rio de Janeiro; alvará de 8/7/1643 —
cura mostrar que o desenvolvimento não deve determina a fundição de moedas de prata; do-
ser considerado simplesmente sob um prisma cumento de 1645 — estabelece o valor das pri-
econômico, técnico e industrialista. meiras moedas cunhadas no Brasil (ouro-gul-
den), fixando o acréscimo de 20% sobre as de
LEGADO. Parte precisamente determinada de igual representatividade cunhadas na Holanda
uma herança que a pessoa falecida deixa em tes- (lei do Conselho de Finanças durante a ocupação
tamento para alguém (legatário). Este pode ser holandesa); documento de 28/5/1652 — deter-
ou não herdeiro legítimo. O legado também mina a aplicação de um carimbo com a era de
pode ser doado a instituições. 1643 nas patacas castelhanas que fossem de
LEGISLAÇÃO ANTITRUSTE. Conjunto de leis “bom-toque”, transformando-as em moedas de
promulgadas nos Estados Unidos para restringir cruzado (Capitania de São Paulo); em 1654, sem
a ação monopolista de certas grandes empresas. que se conheça o documento de autorização, é
Iniciou-se em 1890 com a aprovação da Lei Sher- efetuado o batimento de moedas de emergência,
man, que tornava ilegais os contratos e combi- de prata-stuber (Conselho de Finanças, durante
nações monopolistas para o controle do comér- a ocupação holandesa); alvará de 6/7/1663 —
cio interno e exterior. Em 1914, as restrições fo- determina a seguinte paridade de valores: cru-
ram ampliadas pela Lei Clayton, que proibia a zado = $ 500 réis, meio cruzado = $ 250 réis,
imposição de preços monopolistas para eliminar meia pataca = $ 200 réis, moeda de $ 120 =
concorrentes e a concentração de empresas de $ 150 réis, moeda de $ 100 = $ 120 réis, moeda
um ramo sob uma mesma direção. Na Europa, de $ 60 = $ 80 réis, moeda de $ 50 = $ 60 réis;
os instrumentos jurídicos antimonopolistas só carta régia de 6/7/1677 — determina que o go-
foram aprovados depois da Segunda Guerra vernador do Rio de Janeiro informe sobre a ne-
Mundial. Na prática, às vezes essas leis têm sido cessidade de o açúcar circular como dinheiro,
inócuas: os grandes trustes do petróleo e do pela falta de moeda; portaria de 23/3/1679 —
fumo, por exemplo, foram dissolvidos por oca- determina a contramarca, com o valor de $ 640,
sião da Lei Sherman, mas se reconstituíram pos- das patacas do valor de $ 620 (Portaria do Con-
teriormente. No Japão, esta legislação foi criada selho Ultramarino); lei de 17/10/1685 — proíbe
em 1947 com a dissolução dos Zaibatsu. Veja a circulação de moedas de ouro e de prata que
também Monopólio; Truste; Zaibatsu. não tenham peso legal; decreto de 26/5/1686
— estabelece que as moedas de ouro e de prata,
LEGISLAÇÃO MONETÁRIA BRASILEIRA. entradas nas Oficinas Monetárias para serem
Conjunto de leis, decretos, alvarás, avisos, ban- contramarcadas, retornem à circulação após re-
dos, regimentos, provisões, cartas régias, docu- ceber uma serrilha denominada “cordão”; lei de
mentos, que ao longo de nossa história regeram 9/8/1686 — estabelece a obrigatoriedade da
o meio circulante brasileiro. No início, durante contramarca e do “cordão” nas moedas de ouro;
a época colonial, essa legislação era aquela que lei de 14/6/1688 — proíbe a circulação de moe-
Portugal estabelecia para sua própria moeda; das de prata, cerceadas e por cercear, e deter-
posteriormente, podemos distinguir mais três mina que o retorno ao meio circulante se faça
fases distintas: Brasil Colônia, até 1815; Reino após encordoamento (colocação do “cordão”) e
Unido de Portugal, Brasil e Algarves, até 1822; cunhagem de nova orla (serrilha); lei de
Brasil Império, até 1889, e Brasil República. As 8/3/1694 — cria a Casa da Moeda da Bahia e
disposições mais importantes sobre o meio circu- determina o levantamento em 10% do preço do
lante nesses quatro períodos foram as seguintes: ouro e da prata; alvará de 19/12/1695 — proíbe
1) Brasil Colônia: lei de 11/6/1560 — determina a circulação, no Brasil, das moedas cunhadas
a suspensão da cunhagem das moedas de 1 real; em Portugal; carta régia de 12/1/1698 — cria a
alvará de 9/2/1564 — proíbe a circulação de Casa da Moeda do Rio de Janeiro; provisão de
LEGISLAÇÃO MONETÁRIA BRASILEIRA 334

30/7/1706 — proíbe o uso de moedas metálicas as Províncias de Pernambuco e Maranhão reco-


no Maranhão, estabelecendo apenas a circulação lham pesos espanhóis, pelo valor de $ 800, para
do pano de algodão como moeda (Câmara de recunhagem pelo valor de $ 960. 2) Reino Uni-
São Luís do Maranhão); lei de 11/2/1711 — es- do de Portugal, Brasil e Algarves: lei de 16/12/1815
tabelece a área de circulação do ouro em pó; — eleva o Brasil à condição de Reino Unido de
carta régia de 15/11/1712 — determina que o Portugal, criando o Reino Unido de Portugal,
açúcar, o cacau, o cravo, o tabaco e o pano de Brasil e Algarves; lei de 13/5/1816 — cria o es-
algodão circulassem como moeda no Maranhão; cudo do Brasil, a bandeira e as armas do Reino
carta régia de 24/3/1714 — determina o resta- Unido; alvará de 23/5/1818 — determina a cu-
belecimento da Casa da Moeda da Bahia; pro- nhagem de moedas com as armas do Reino Uni-
visão de 25/3/1715 — determina a cunhagem do; decreto de 6/3/1822 — eleva o valor da moe-
de moedas de cobre; ordem de 29/10/1718 — da “meia peça” para 3$750; portaria de 6/9/1822
determina a cunhagem do cruzado de ouro com — determina a cunhagem urgente de moedas
o valor $ 480 réis ou o equivalente a 1/10 do de cobre. 3) Brasil Império: portaria de 9/9/1822
valor da moeda (Ordem do Conselho da Fazen- — determina a cunhagem de moedas de cobre
da); carta régia de 16/6/1719 — estabelece nor- na Casa da Moeda do Rio de Janeiro e na Casa
mas para a circulação do ouro em pó no distrito da Moeda da Bahia; portaria de 15/10/1822 —
das Minas, no valor de 1$000 (mil-réis) a oitava proíbe a cunhagem de moedas com as caracte-
(3,571g). Eram fundidas barras, deduzindo-se a rísticas de Portugal; decreto de 19/11/1822 —
quinta parte do ouro (imposto do quinto). Essas determina a cunhagem da primeira moeda com
barras eram marcadas com as armas reais, o as características do Brasil independente (Peça
peso, quilates e a era da fundição; carta régia da Coroação); portaria de 17/9/1823 — declara
de 19/3/1720 — cria a Casa da Moeda de Vila não ter fundamento a queixa dos deputados à
Rica, Minas, e proíbe a circulação de ouro em Assembléia Legislativa, por serem pagos com
pó; alvará de 20/3/1720 — determina a cunha- notas de banco; Constituição de 25/3/1824, em
gem do dobrão e do meio dobrão com valores seu artigo 15 # 17 — declara ser de atribuição
respectivos de 5 e 2,5 moedas; carta régia de da assembléia geral determinar o peso, o valor,
7/2/1730 — cria-se o “cruzadinho” ou o “quarto a inscrição, o tipo e as denominações das moe-
de escudo”; bando de 25/5/1730 — reduz o das, assim como o padrão dos pesos e medidas;
quinto a 12% (doze por cento); carta régia de lei de 15/11/1827 — cria a Caixa de Amortiza-
24/4/1732 — eleva o quinto outra vez para 20% ção; decreto de 23/9/1829 — determina a ter-
(vinte por cento); carta régia de 18/7/1734 — ceira emissão de cédulas do Banco do Brasil,
determina o encerramento das atividades da mediante a hipoteca de propriedades nacionais,
Casa da Moeda de Vila Rica, Minas; carta régia para garantia do pagamento das cédulas; lei de
de 1º/7/1735 — é regulado imposto de capita- 23/9/1829 — determina a extinção do primeiro
ção; alvará de 1º/9/1750 — proíbe a circulação Banco do Brasil; decreto de 1º/6/1833 — deter-
de ouro em pó em todas as capitanias e deter- mina a retirada de circulação das cédulas de
mina que a circulação de ouro se faça em barras emissão do Banco do Brasil, substituindo-as por
fundidas nas Casas de Fundição; alvará de cédulas de emissão do Tesouro Nacional; lei de
3/12/1750 — determina a abolição do imposto 3/10/1833 — determina a troca de moedas de
de capitação em Minas Gerais. Restabelece o cobre por cédulas; decreto nº 59 de 8/10/1833
quinto, com o mínimo de 100 arrobas; provisão — cria o Sistema Monetário Brasileiro; decreto
de 6/5/1799 — determina, à Casa da Moeda da de 13/3/1834 — determina o encerramento das
Bahia, a cunhagem de patacas; alvará de atividades da Casa da Moeda da Bahia, passan-
12/10/1808 — cria o primeiro Banco do Brasil do a ser a Casa da Moeda da Corte (Rio de Ja-
e autoriza a emissão de bilhetes (cédulas) ao por- neiro) a única do Império; decreto de 11/10/1837
tador; alvará de 20/11/1808 — determina o re- — determina que as moedas de cobre, sem ne-
colhimento, às Casas da Moeda do Rio de Ja- nhum recunho, passem a valer metade do valor
neiro e da Bahia, dos pesos espanhóis de $ 750, facial; decreto nº 475, de 20/9/1847 — determina
para serem carimbados como moeda provincial a cunhagem de moedas de ouro, do título 22
com o valor de $ 960; lei de 10/4/1809 — de- quilates, no valor de 20$000 e 10$000, e de prata
termina que o valor das moedas de cobre, cu- de 11 dinheiros, no valor de 2$000, 1$000 e $500
nhadas em 1803, passem a ter o aumento de (o peso e o toque dessas moedas são fixados
100%, desde que carimbadas com as armas reais; pelo decreto nº 625, de 28/7/1849); 1851 — por
provisão de 15/11/1810 — determina que a jun- iniciativa do barão e visconde de Mauá, é fun-
ta de Fazenda da Bahia compre pesos espanhóis dado o segundo Banco do Brasil, que não chega
a $ 800, para serem recunhados com o valor de a se constituir naquele ano; lei nº 863 de
$960; aviso de 4/8/1814 — determina o reco- 5/7/1853 — autoriza a incorporação de um Ban-
lhimento de pesos espanhóis, do valor facial de co de Depósitos, Descontos e Emissão na cidade
$ 800, para serem recunhados com o valor de do Rio de Janeiro (o Banco Comercial) e fixa as
$ 960; provisão de 14/12/1815 — determina que diretrizes para a unificação do sistema bancário
335 LEI ABERDEEN

nacional; lei nº 1 223 de 31/8/1853 — aprova monetário brasileiro, o “cruzado”, e são criados
os estatutos do terceiro Banco do Brasil; lei nº os dispositivos monetários para a introdução do
1 172 de 28/8/1862 — determina a fusão do ban- Plano Cruzado; comunicado mecir nº 29 de
co Rural e Hipotecário com o Banco Comercial 3/3/1986 — esclarece a equivalência em cruza-
e Agrícola e com o Banco do Brasil, reorgani- dos das cédulas e moedas em circulação; reso-
zando este último; 4) Brasil República: decreto nº lução nº 1 565 de 16/1/1989 — comunica que
1 154, de 7/11/1890 — determina a unificação o presidente do Conselho Monetário Nacional,
gradual do meio circulante e cria o Banco dos ad referendum daquele colegiado, com base no
Estados Unidos do Brasil; decreto nº 1 167 de artigo 2 do decreto nº 94 303 de 1º/5/1987 e ten-
17/12/1892 — cria o Banco da República do Bra- do em vista a medida provisória nº 32 de
sil com a fusão do Banco dos Estados Unidos 15/1/1989, resolveu que a partir de 16/1/1989
do Brasil e do Banco do Brasil; decreto 1 455 de a unidade monetária brasileira passa a denomi-
30.12.1905 — determina a extinção do Banco da nar-se “cruzado novo”, equivalente a mil cru-
República e a criação do terceiro Banco do Brasil zados, denominando-se “centavo” a centésima
(quarto de igual nome); lei nº 1 575 de 6/12/1906 parte do cruzado novo; lei nº 7 730 de 31/1/1989
— cria a Caixa de Conversão; decreto nº 5 108 — institui o “cruzado novo”, determina o con-
de 18/12/1926 — cria a Caixa de Estabilização gelamento de preços e estabelece regras de de-
e altera o sistema monetário criando o cruzeiro, sindexação da economia; medida provisória nº
dividido em centésimos e que só é efetivado em 168 de 15/3/1990 — cria o “cruzeiro” como nova
1942; decreto 19 423 de 22/11/1930 — extingue unidade do sistema monetário nacional (pela
a Caixa de Estabilização; decreto-lei nº 4 791 de terceira vez) com o valor de 1 cruzado novo;
17/10/1942 — institui o cruzeiro, dividido em resolução nº 1 689 de 18/3/1990 do Conselho
100 centavos, como unidade monetária brasilei- Monetário Nacional — institui o cruzeiro como
ra, determinando o início de sua circulação em unidade do sistema monetário nacional; lei nº
1º/11/1942; lei nº 1 216 de 28/10/1950 — cria 8 024 de 12/4/1990 — institui o cruzeiro como
o Museu da Casa da Moeda; decreto nº 42 820 unidade do sistema monetário nacional e esta-
de 16/12/1957 — regulamenta as operações de belece os dispositivos para a implantação do Pla-
câmbio e o intercâmbio comercial com o exterior, no Collor. Veja também Banco do Brasil; Caixa
bem como a entrada e saída de papel-moeda de Amortização; Caixa de Conversão; Caixa de
nacional e estrangeiro; lei nº 4 595 de 31/12/1964 Estabilização; Casa da Moeda; Conselho Mo-
— cria o Conselho Monetário Nacional e dispõe netário Nacional; Correção Monetária; Crise do
sobre a política e as instituições monetárias, ban- Xenxém; Cruzado; Cruzeiro; Mauá, Barão e
cárias e creditícias; decreto-lei nº 1 de Visconde de; Plano Collor; Plano Cruzado; Re-
13/11/1965 — institui o cruzeiro novo, que só cunho; Rentenmark; Unidades Monetárias Bra-
entra em vigor em 13/2/1967; decreto nº 60 190 sileiras.
de 8/2/1967 — regulamenta o decreto-lei nº 1
de 13/11/1965, que institui o cruzeiro novo; re- LÉGUA. Antiga medida de distância gaulesa
solução nº 47 de 8/2/1967 — estabelece que a que, dependendo do lugar, variava entre 2,5 e
partir de 13/2/1967 a unidade do sistema mo- 4,5 milhas (4,022 e 7,240 km). Nos países de lín-
netário brasileiro passará a denominar-se cru- gua inglesa, hoje ela vale 3 milhas (4 827 m).
zeiro novo; resolução nº 65 de 5/9/1967 — dis- Uma légua quadrada tem 5 760 acres ou 23,304
km2. A légua brasileira mede 6 600 m; a portu-
põe sobre o resgate dos Títulos da Dívida Pú-
guesa, 6 179,74 m; a inglesa, 5 569,34 m; a fran-
blica Interna Fundada Federal, que não possuam
cesa, 4 444,44 m; a espanhola, 5 606,57 m.
cláusula de correção monetária; resolução nº 144
de 31/3/1970 — estabelece que, a partir de LÉGUA GEOMÉTRICA. Medida de compri-
15/5/1970, a unidade do sistema monetário bra- mento do antigo sistema de medidas brasileiro
sileiro passa a denominar-se “cruzeiro” (pela se- (anterior ao métrico decimal), equivalente a 6
gunda vez, isto é, retira-se a palavra “novo” da Km. Veja também Sistema de Pesos e Medidas.
unidade monetária anterior); lei nº 5 895 de
19/6/1973 — determina a transformação da LÉGUA NÁUTICA. Medida de distância equi-
Casa da Moeda em empresa pública e ratifica valente a 3 milhas náuticas ou cerca de 5,560 km.
a exclusividade da Casa da Moeda para a fabri- LEI ABERDEEN. Dispositivo jurídico aprovado
cação de cédulas e moedas; resolução 414 de pelo Parlamento inglês em 8/8/1845, com o ob-
20/1/1977 — cria o Certificado de Recolhimento jetivo de combater o tráfico de escravos para o
Restituível pelo Conselho Monetário Nacional; Brasil. A lei, que recebeu o nome do conde de
decreto-lei nº 2 283 de 27/2/1986 e resolução Aberdeen, secretário do Exterior da Inglaterra,
nº 1 100 do Conselho Monetário Nacional de dava direito à Marinha inglesa de perseguir,
28/2/1986 — institui nova unidade do sistema apresar ou atacar, mesmo em águas brasileiras,
LEI ANTIMONOPÓLIO 336

os navios negreiros. Além disso, estabelecia que Alemanha, o órgão mais elevado é o conselho
a tripulação traficante passaria a ser julgada por de administração (Aufsichtsrat). O órgão que se
tribunais do Alto Almirantado. o Bill Aberdeen encarrega da administração do dia-a-dia, ou
teve grande influência na promulgação da Lei diretoria, denomina-se Vorstand. O termo “co-
Eusébio de Queirós (1850), que aboliu o tráfico gestão” (“co-determinação”) é utilizado de for-
negreiro. ma muito ampla para designar as múltiplas
formas mediante as quais os trabalhadores par-
LEI ANTIMONOPÓLIO (Japão). Lei aprovada ticipam da gestão das empresas das quais são
em 1947 como parte dos programas de reestru- empregados.
turação política e econômica do Japão, impostos
pelas Forças Aliadas de Ocupação. Durante a LEI DA ENTROPIA. Trata-se da transposição,
Segunda Guerra Mundial, a economia japonesa para a economia, da segunda lei da termodinâ-
encontrava-se consideravelmente concentrada mica sobre a degradação da qualidade da ener-
sob o domínio dos Zaibatsu, que eram grandes gia. Isto é, na medida em que uma economia
conglomerados industriais e financeiros e que, se torna mais complexa, os desperdícios e as
de acordo com as interpretações do governo nor- disfunções em seu interior tendem a se desen-
te-americano, teriam contribuído com as inicia- volver e a se generalizar.
tivas bélicas japonesas e, portanto, deviam ser
eliminados. Inspirada nas leis antitruste dos Es- LEI DA OFERTA E DA PROCURA (ou DE-
tados Unidos, a lei Antimonopólio bania os trus- MANDA). Conjunto de conceitos que designam
tes, os cartéis e as empresas holding, as quais a disponibilidade de bens e serviços à venda no
constituíam parte importante dos Zaibatsu. A mercado, por um lado, e sua demanda solvável,
lei proibia o monopólio privado, qualquer res- por outro. A correlação entre ambas fixa o preço
trição não justificada ao comércio e métodos in- de mercado para o comprador num dado mo-
justos de competição. Ela restringia as fusões e mento, constituindo uma lei da circulação mer-
proibia qualquer instituição financeira de pos- cantil. Os preços movimentam-se no sentido in-
suir mais de 5% das ações de qualquer empresa, verso da oferta e no sentido direto da demanda.
para evitar a concentração da propriedade e do A formação de monopólios introduz um fator
controle de empresas. Esta lei foi revisada di- deformante nessas correlações. A lei da oferta
versas vezes, e criou-se uma comissão (Fair Tra- e da procura explica as oscilações dos preços
de Comission) subordinada ao primeiro-minis- no mercado, porém não explica sua determina-
tro para implementá-la. Essa comissão, no en- ção básica, que é dada pelo valor dos bens. Veja
tanto, permaneceu como um organismo sem for- também Demanda; Oferta.
ça e não devidamente instrumentado para en- LEI DA PARCIMÔNIA. Entre duas soluções,
frentar as poderosas empresas japonesas. Em- é provável que a correta seja a mais simples.
bora a implementação dessa lei tenha sofrido
várias restrições, associada à dissolução dos Zai- LEI DA REMESSA DE LUCROS. No Brasil, a
batsu, ajudou a restaurar pelo menos em parte legislação sobre o controle da remessa de lucros
a concorrência entre as empresas no Japão, nos para o exterior teve início no governo do ge-
anos seguintes ao final da Segunda Guerra Mun- neral Gaspar Dutra (1946-1950), com o decreto
dial. Veja também Zaibatsu. nº 9 025, de fevereiro de 1946, fixando um limite
de 8% do valor registrado do capital na remessa
LEI ÁUREA. Ato que aboliu a escravidão no de lucros e dividendos. No entanto, em agosto
Brasil. Sancionado em 13/5/1888 pela regente do mesmo ano, a extinta Superintendência da
princesa Isabel, seu texto diz apenas: “Artigo Moeda e do Crédito (Sumoc) emitia a instrução
1º: é declarada extinta a escravidão no Brasil. nº 20, que abolia as limitações impostas pelo
Artigo 2º: revogam-se as disposições em contrá- decreto nº 9 025. Alguns anos mais tarde, du-
rio”. Com esse ato, o governo imperial extinguia rante o governo de Getúlio Vargas (1951-1954),
a principal barreira ao desenvolvimento do tra- em 3/1/1952, o presidente baixou o decreto nº
balho livre no país, representado sobretudo pelo 3 363, revalidando os dispositivos estabelecidos
contingente de imigrantes europeus necessários no governo anterior. O capital estrangeiro com
para a expansão da cafeicultura. Veja também
direito a retorno era apenas o que estivesse in-
Escravidão.
vestido no país, tivesse vindo do exterior e es-
LEI DA CO-GESTÃO (DETERMINAÇÃO). Le- tivesse registrado na Carteira de Câmbio do
gislação alemã que dá aos empregados de uma Banco do Brasil. Determinou-se também uma
empresa o direito de serem representados no revisão dos registros de capital estrangeiro no
conselho de administração (Aufsichtsrat), assim Brasil, para verificar se as remessas realizadas
como no works council (Betriebsrat). No sistema até então não haviam ultrapassado os percen-
de administração de dois níveis, freqüente na tuais permitidos sobre o capital efetivamente re-
337 LEI DE MALTHUS

gistrado como estrangeiro. Mas esse decreto num país, “a moeda má expulsa a moeda boa”
também não foi levado à prática. A chamada de circulação. Isso acontece porque a moeda con-
Lei do Câmbio Livre (nº 1 807), de janeiro de siderada boa tende a valorizar-se cada vez mais
1953, aboliu o registro e as limitações ao capital e desaparece de circulação, ou porque é ente-
estrangeiro, revogou a nacionalização dos lucros sourada, ou porque é fundida e trocada por uma
excedentes e liberou totalmente a movimentação maior quantidade de moeda má, ou é reservada
ao capital estrangeiro no mercado livre, ofere- para a realização de pagamentos internacionais.
cendo até mesmo uma taxa cambial favorável O enunciado dessa lei econômica aparece em
a investimentos considerados de interesse espe- diversos escritos anônimos do século XIV e num
cial para a economia do país. Em 1955, durante tratado do teólogo e estudioso dos problemas
o governo Café Filho, a Sumoc emitiu a instru- econômicos Nicolas d’Oresme (1325-1382). No
ção nº 113, de 17 de janeiro, aumentando ainda século XVI, foi retomada pelo financista inglês
mais as vantagens dos capitais estrangeiros apli- Thomas Gresham (1519-1579), conselheiro e che-
cados no Brasil. Em 1961, a questão polarizou fe da Casa da Moeda durante o reinado de Eli-
zabeth I (1533-1603), que promoveu a restaura-
novamente a opinião pública e, em 3/9/1962,
ção do valor da libra, desvalorizada por Henri-
já durante o governo João Goulart (1961-1964),
que VIII (1491-1547), e criou a Bolsa de Valores
foi promulgada a lei nº 4 131, limitando em 10%
de Londres.
do capital registrado o valor das remessas de
lucros permitida ao capital estrangeiro. Esta lei LEI DE KING. Como a demanda de produtos
foi posteriormente modificada durante o gover- agrícolas é relativamente inelástica, a receita do
no do general Castelo Branco pela lei nº 4 390, produtor agrícola varia de forma inversamente
de 29/8/ de 1964, ampliando para 12% o limite proporcional à magnitude da colheita. Veja tam-
fixado na lei anterior. Veja também Lei 4 131. bém Dardanismo.
LEI DA UTILIDADE MARGINAL DECRES- LEI DE KUZNETS. O economista Simon Kuz-
CENTE. Também denominada Primeira Lei de nets (1901-1985) realizou, depois da Segunda
Gossen (Hermann Heinrich, 1810-1858), estabe- Guerra Mundial, estudos sobre desenvolvimen-
lece que a intensidade de uma necessidade di- to econômico, relacionando desigualdades na
minui na medida em que esta necessidade é sa- distribuição da renda e nos níveis de renda per
tisfeita pelo consumo de bens e serviços, e de- capita. Verificou que países bastante pobres (ren-
saparece por completo quando o consumo atin- da per capita muito baixa) possuíam índices de
ge o nível de saturação. distribuição da renda (índices de Gini) menos
desiguais do que países que haviam iniciado seu
LEI DAS PROPORÇÕES VARIÁVEIS. Veja Lei processo de desenvolvimento, enquanto os paí-
dos Rendimentos Decrescentes. ses desenvolvidos possuíam índices de Gini
mais equilibrados do que os primeiros. Esta re-
LEI DE BRONZE DOS SALÁRIOS. Veja Las-
gularidade estatística — que admitia exceções,
salle, Ferdinand; Salários, Lei de Ferro dos.
entre as quais se destaca o caso dos países que
LEI DE COLIN CLARK-FOURASTIÉ. Veja Lei haviam realizado reformas agrárias profundas
dos Três Setores. depois da Segunda Guerra Mundial, como Tai-
wan — constituiu a base de uma concepção de
LEI DE DIRECTOR. Concepção desenvolvida que, para o desenvolvimento econômico, seria
por Aaron Director, de acordo com a qual, numa inevitável que os países subdesenvolvidos atra-
sociedade democrática, onde os governos são vessassem uma fase durante a qual as desigual-
constituídos pelo voto popular, eles tenderão a dades de distribuição da riqueza se acentuariam
seguir políticas que redistribuam a renda (me- para, posteriormente — com o desenvolvimento
diante o orçamento), tirando dos mais ricos e —, voltar a diminuir e equiparar-se com a dis-
dos mais pobres e transferindo tais recursos para tribuição mais igualitária dos países desenvol-
a população de renda média. A concepção de- vidos. Ou seja, a distribuição da renda pioraria
riva do Teorema do Votante Mediano (Median inicialmente com o desenvolvimento, para só
Voter Theorem) segundo o qual, numa democra- melhorar depois. Este processo foi denominado
cia, os candidatos tentarão refletir, em suas pro- “efeito Kuznets”. Veja também Coeficiente de
postas, as preferências dos eleitores que se en- Gini; Desenvolvimento Econômico; Renda per
contram no meio de espectro político ou social, Capita.
de tal forma que os políticos eleitos tenderiam
a realizar ações (obras, projetos etc.) em favor LEI DE MALTHUS. Enquanto a população cres-
desse eleitor médio. Veja também Public Choice. ce numa progressão geométrica (2, 4, 8, 16, 32...),
os meios de subsistência crescem em progressão
LEI DE GRESHAM. Lei econômica segundo a aritmética (2, 4, 6, 8...), o que significaria uma
qual, quando duas moedas têm circulação legal falta crônica de alimentos e a condenação à fome
LEI DE MURPHY 338

e à miséria da população, se medidas de controle terras que não se desse por meio da compra,
ao crescimento populacional não fossem tomadas. extinguindo, portanto, o regime de posses; 2)
aumentar o preço da terra e dificultar a sua ob-
LEI DE MURPHY. Concepção relacionada com tenção por parte dos trabalhadores rurais, vi-
a seguinte hipótese: se existir a possibilidade de sando a impedir a redução da oferta de força
que um item de um equipamento seja montado de trabalho na agricultura e, conseqüentemente,
ou reparado de forma errada, então alguém, em a elevação dos salários; 3) os recursos obtidos
algum lugar e em determinado momento, agirá com a venda das terras seriam destinados ao
exatamente assim. Às vezes esta “lei” é apre- financiamento da imigração de trabalhadores,
sentada da seguinte forma: “Se alguma coisa pu- com a finalidade de ampliar a oferta de força
der dar errado, ela dará errado, e, portanto, um de trabalho e impedir que os salários se elevas-
equipamento deverá ser produzido à prova de sem. A Lei de Terras foi objeto de muita con-
tolos”. trovérsia e sua regulamentação, realizada so-
LEI DE OKUN. Conceito desenvolvido pelo eco- mente em 1854. A motivação básica, no entanto,
nomista norte-americano Arthur Okun (1929- foi impedir o livre acesso dos trabalhadores à
1979), relacionando a perda do produto agrega- terra diante da evidência da falência do escra-
do decorrente de um aumento no nível do de- vismo. Os proprietários de terras de São Paulo,
semprego. A afirmação de Okun é que a elas- e também de outras regiões onde a agricultura
ticidade da razão entre o produto real e o po- se expandia com intensidade, estavam conscien-
tencial e a mudança na taxa de desemprego é tes de que, se os homens passassem a ser livres
uma constante aproximadamente igual a 3 (três). (com a abolição da escravatura), “o acesso à terra
Desta forma, se a taxa de desemprego aumen- deveria deixar de sê-lo”. Veja também Escravi-
tasse 2%, a razão entre o produto real e o po- dão; Migração.
tencial aumentaria 6%.
LEI DE VERDOORN. Popularizada por Ni-
LEI DE PARETO. Veja Ótimo de Pareto. cholas Kaldor há mais de duas décadas, afirma
que o crescimento econômico conduz, simulta-
LEI DE SAY. Também conhecida como Lei dos neamente, ao crescimento do emprego e da pro-
Mercados, foi elaborada pelo economista francês dutividade. Quando a economia cresce, produz-
Jean-Baptiste Say. Estabelece que a oferta cria se mais com as mesmas máquinas e equipamen-
sua própria demanda, impossibilitando uma cri- tos, aumentando a produtividade e reduzindo
se geral de superprodução. De acordo com esse os custos. Há também ganhos que se perpetuam
conceito de equilíbrio econômico, a soma dos no tempo, uma vez que, com o crescimento, há
valores de todas as mercadorias produzidas se- novos investimentos, acompanhados de inova-
ria sempre equivalente à soma dos valores de ções técnicas, que aumentam a produtividade.
todas as mercadorias compradas. Ou, em outras Veja também Kaldor, Nicholas.
palavras, ao ser criado, um produto está ao mes-
mo tempo abrindo um mercado para outro pro- LEI DE VERHULST. Em oposição às concep-
duto do mesmo valor. Em conseqüência, a eco- ções de Malthus, esta lei estabelece que o cres-
nomia capitalista seria perfeitamente auto-regu- cimento demográfico está submetido a um pro-
lável, não exigindo a intervenção estatal. A Lei cesso de autofreagem, sendo o fator de freagem
de Say constituiu a pedra angular da teoria eco- proporcional à magnitude da população.
nômica neoclássica, tendo exercido grande in-
LEI DE WAGNER. Forma de participação da
fluência sobre a obra de Ricardo. Keynes ques-
despesa pública na renda nacional, elaborada
tionou seriamente a sua validade nas condições
econômicas do mundo moderno. Rigorosamen- pelo economista alemão homônimo no final do
te, a lei aplicar-se-ia a uma economia baseada século XIX. O elemento central desta lei é que
no escambo, isto é, uma economia não-monetá- o desenvolvimento industrial provoca um au-
ria. Nas condições modernas, contudo, a inter- mento da participação das despesas públicas na
mediação da moeda cria sempre a possibilidade renda nacional, devido às seguintes causas: 1)
de adiar decisões de compra, portanto, interrom- um aumento relativo dos custos com adminis-
pendo as vendas, o que causa uma retração da tração pública, a garantia da lei e da ordem e
demanda, que pode resultar numa crise econô- os elementos reguladores numa sociedade que
mica. Veja também Say, Jean-Baptiste. se industrializa; 2) bens e serviços oferecidos
pelo Estado nas áreas de cultura e bem-estar
LEI DE TERRAS. Lei nº 601, promulgada no teriam uma elasticidade na renda da demanda
Brasil em 1850, mais conhecida como Lei de Ter- maior do que a unidade. Assim, na medida em
ras, visava fundamentalmente a alcançar três ob- que a renda aumentasse, a demanda por tais
jetivos, todos eles confluindo para a obtenção, bens e serviços aumentaria mais do que pro-
por parte dos fazendeiros, de mão-de-obra porcionalmente, pressionando os gastos públi-
abundante e barata: 1) proibir a aquisição de cos; 3) a industrialização seria acompanhada
339 LEI DO SELO

pela formação de oligopólios e monopólios, os término, se não houvesse manifestação das par-
quais exigiriam um grau maior de controle es- tes; 3) que a locação residencial não admitia a
tatal, o que significaria também um aumento retomada do imóvel pela “denúncia vazia”, isto
das despesas correspondentes. Embora muitas é, a retomada pela simples manifestação da von-
das economias européias tivessem apresentado tade do locador, sem apresentar nenhuma jus-
situações em que as despesas do Estado aumen- tificativa para isso, ou a rescisão unilateral do
taram mais do que proporcionalmente à renda contrato. De acordo com aquela lei, para retomar
(não necessariamente pelas razões apresentadas o imóvel, o locador necessitava comprovar que
por Wagner), na medida em que essas conclu- seria para uso próprio, ou de ascendentes, ou
sões não se baseiam em uma teoria sobre o com- descendentes diretos. A lei de 1979 incorporava
portamento humano ou na ação dos governos, também uma nova sistemática para o reajuste
o que se apresenta como “lei” não passa de uma
dos aluguéis, admitindo-se a semestralidade. O
série de constatações que podem ou não se re-
teto máximo para a correção do valor do aluguel
petir em economias que atravessam intensos
processos de industrialização. Veja também ficou sendo a variação das então existentes
Wagner, Adolph Heinrich Gotthelf. ORTNs (Obrigações Reajustáveis do Tesouro
Nacional) durante o período considerado, isto
LEI DE ZONEAMENTO. Lei que determina as é, a correção monetária do período do reajuste;
formas de uso do solo urbano (e também rural), no caso de aluguéis com reajuste anual, aplica-
visando proporcionar às cidades um desenvol- va-se a correção monetária dos doze meses an-
vimento harmônico tanto no campo econômico teriores ao mês do reajuste; no caso dos semes-
quanto no social e político. Em termos práticos, trais, dos seis meses anteriores. A lei nº 6 698
no entanto, as leis de zoneamento das cidades de outubro de 1969 complementou a lei anterior,
brasileiras contêm um sem-número de casuís- estabelecendo que, depois de cinco anos, os con-
mos que significam um desvirtuamento das fi- tratos seriam corrigidos de acordo com a varia-
nalidades de uma legislação desse tipo. Por ou- ção das ORTNs. Se o locador considerasse que
tro lado, o próprio crescimento das cidades tem o aluguel do imóvel estava abaixo do valor de
tornado obsoletas certas leis de zoneamento, mercado, poderia solicitar um revisão judicial,
sendo imperioso — em nome do melhor desen- também denominada “revisional”. A partir de
volvimento das cidades — sua urgente revisão. janeiro de 1983, os contratos residenciais novos
Veja também Operações Interligadas; Opera- passaram a ter como teto de reajuste 80% da
ções Urbanas. variação do Índice Nacional de Preços ao Con-
sumidor (INPC). Com a decretação do Plano
LEI DO AÇÚCAR. Ato do Parlamento inglês, Cruzado, os aluguéis foram congelados até
em 1764, que reforçava o monopólio comercial 28/2/1987. A partir dessa data, as condições
sobre as colônias antilhanas britânicas produto- para os reajustes foram estabelecidas pelo de-
ras de açúcar. Visava especialmente a impedir creto-lei nº 2 290 de novembro de 1986, deter-
que os colonos da América do Norte compras- minando que os reajustes voltassem a ter como
sem diretamente açúcar, melaço e rum, a preços base as então existentes Obrigações do Tesouro
mais baixos, nas colônias francesas das Antilhas. Nacional (OTNs) — não confundir com as
Medida protecionista, típica do mercantilismo, ORTNs —, embora em períodos não inferiores
contribuiu para precipitar a luta pela inde- a um ano. O decreto-lei nº 2 322, no entanto,
pendência norte-americana. voltou a estabelecer um prazo mínimo de seis
LEI DO CÂMBIO LIVRE. Veja Lei da Remes- meses para o reajuste dos aluguéis residenciais.
sa de Lucros. Em outubro de 1991, foi aprovada a lei nº 8 245,
estabelecendo algumas mudanças importantes
LEI DO INQUILINATO. Designação comum a na legislação anterior, como a livre negociação
várias leis que regulamentam as relações entre entre as partes para os novos aluguéis e a volta
o locador (proprietário do imóvel, também de- da denúncia vazia para os aluguéis antigos.
nominado senhorio) e o locatário (aquele que
LEI DO MENOR ESFORÇO. Também deno-
paga o aluguel do imóvel, ou inquilino) no Bra-
minado Princípio Hedonístico, é a tendência dos
sil, tanto as relacionadas com residências como
indivíduos a alcançar seus objetivos econômicos
com estabelecimentos comerciais. Nas últimas
com o menor esforço possível.
duas décadas, as leis mais importantes foram
as seguintes: lei nº 6 649, de maio de 1979 — LEI DO SELO. Primeiro imposto direto decre-
estabeleceu 1) que o aluguel só poderia ser cor- tado pelo Parlamento inglês, em 1765, às treze
rigido se o contrato estipulasse isso, determi- colônias norte-americanas. Consistia na obriga-
nando ainda a época e as condições do reajuste; toriedade de todos os documentos comerciais e
2) a prorrogação automática do contrato no seu legais, panfletos, cartas e jornais serem selados,
LEI DO VENTRE LIVRE 340

para que o dinheiro arrecadado cobrisse as des- centes; 2) menos do que proporcionais, quando
pesas com as tropas coloniais inglesas que se os rendimentos serão decrescentes.
encontravam na América. Os colonos reagiram
a essa imposição, argumentando que toda taxa- LEI DOS SEXAGENÁRIOS. Aprovada pelo
ção deveria ser votada e aprovada pelos seus Parlamento imperial em 28/9/1885, estabelecia
representantes, e passaram a boicotar os produ- normas para a libertação obrigatória dos escra-
tos ingleses. Por isso, o Parlamento suspendeu vos que tivessem mais de 60 anos de idade. Se-
a aplicação da lei em março de 1766. gundo essa lei, o valor do escravo decresceria
gradualmente a partir dessa idade, devendo ele
LEI DO VENTRE LIVRE. Aprovada pelo Se- pagar sua alforria com três anos de trabalho o-
nado imperial do Brasil em 28/9/1871, declara- brigatório ao senhor, até a idade máxima de 65
va livres os filhos de mulher escrava nascidos anos. Acima dessa idade, a emancipação era au-
a partir daquele momento. Estipulava, no en- tomática e paga com fundos do Estado. Proposta
tanto, que os senhores das mães poderiam ex- em 1884 pelo senador Dantas, a lei foi rejeitada,
plorar o trabalho desses libertos até que com- mas aprovada no ano seguinte na Câmara e no
pletassem a idade de 21 anos, caso não fossem Senado com base num projeto apresentado su-
indenizados pelo governo imperial. A lei decla- cessivamente pelos presidentes do conselho de
rava ainda livres os escravos de propriedade da ministros J.A. Saraiva e barão de Cotegipe.
Coroa e instituía um fundo de emancipação e
pecúlio destinado aos libertos. LEI DOS TRÊS SETORES. Na medida em que
uma economia se desenvolve, a população eco-
LEI DOS GRANDES NÚMEROS. Lei estatís- nomicamente ativa tende a se deslocar do setor
tica segundo a qual a probabilidade de um even- primário (agricultura, pecuária, extrativismo)
to se aproxima da certeza na medida em que para o setor secundário (indústria), e, em seguida,
se repete e se multiplica o número desses even- para o setor terciário (finanças, telecomunicações).
tos. Veja também Risco.
LEI ECONÔMICA. É uma relação necessária
LEI DOS MERCADOS. Veja Lei de Say. que se repete constantemente entre os diversos
elementos do processo produtivo. São leis eco-
LEI DOS PEQUENOS NÚMEROS. Lei estatís- nômicas a Lei do Valor e a Lei dos Rendimentos
tica que estabelece uma tendência para a regu- Decrescentes. As leis econômicas, além de reger
laridade dos eventos raros, definidos como os o processo produtivo, determinam seu desen-
que se afastam significativamente das médias e volvimento e suas transformações. Nesse senti-
características normais dos fatos de uma deter- do, elas têm caráter objetivo; isto é, existem in-
minada ordem. dependentemente da vontade dos homens, em-
bora manifestem a ação humana na atividade
LEI DOS RENDIMENTOS DECRESCENTES.
produtiva. Uma determinada lei econômica não
Também conhecida por Lei das Proporções Va-
atua de forma isolada, ela se relaciona com inú-
riáveis ou Lei da Produtividade Marginal De-
meras outras leis, que compõem e caracterizam
crescente. Pode ser conceituada da seguinte ma-
uma estrutura produtiva. Em sua manifestação
neira: ampliando-se a quantidade de um fator
e ação, as leis econômicas têm caráter histórico;
variável, permanecendo fixa a quantidade dos
demais fatores, a produção, de início, aumentará por um lado, ligam-se ao nível de desenvolvi-
a taxas crescentes; a seguir, após certa quanti- mento das forças produtivas de uma época ou
dade utilizada do fator variável, passará a au- de uma sociedade e, por outro, refletem as for-
mentar a taxas decrescentes; continuando o au- mas de propriedade e de divisão do trabalho
mento da utilização do fator variável, a produ- historicamente dadas. Por esse motivo, não são
ção decrescerá. Um exemplo clássico é o do au- leis eternas da natureza, mas são produtos de
mento do número de trabalhadores em certa ex- condições históricas concretas. Nessa perspecti-
tensão de terra a ser cultivada. Numa primeira va, há leis que são específicas de uma formação
fase, a produção aumenta, mas logo se chega a social, enquanto outras são comuns a várias for-
um estado de nenhum crescimento na produção, mações sociais. Assim, a Lei de Formação dos
devido ao excesso de trabalhadores em relação Preços só se manifesta em formações sociais em
à extensão de terra (que não aumentou). que as trocas se encontram num elevado grau
de desenvolvimento, particularmente nas socie-
LEI DOS RENDIMENTOS NÃO-PROPOR- dades regidas por economias de mercado. Em-
CIONAIS. O incremento da utilização de meios bora numa formação social atuem numerosas
de produção em determinado processo de tra- leis econômicas, há em cada sociedade uma lei
balho nem sempre resulta num aumento pro- econômica fundamental, que determina todas as
porcional da produção. Esse pode ser: 1) mais outras leis econômicas, e também o modo de
do que proporcional ao incremento dos meios ação dos indivíduos, dos grupos sociais e inclu-
de produção, quando os rendimentos serão cres- sive do Estado no tocante às questões econômi-
341 LEILÃO

cas práticas. O caráter objetivo e espontâneo das matriz no exterior. O artigo 31 limitava a 10%
leis econômicas aparece na consciência dos ho- as remessas anuais sobre o valor dos investi-
mens como forças cegas da natureza, como algo mentos registrados. Os excedentes seriam con-
estranho e totalmente independente das ações siderados retorno de capital e deduzidos do re-
humanas. No entanto, a desmitificação desse gistro na Sumoc, não podendo exceder a 20%
processo de divinização ou fetichismo das leis do capital registrado. Os lucros que excedessem
econômicas é de vital importância para a ação 20% deveriam ser registrados à parte, sem dar
social e produtiva dos homens. direito a futuras remessas. Outros artigos deter-
LEI NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Lei minavam que as empresas com maioria de ca-
nº 6 938, de 31/8/1981. Dispõe sobre a política pital estrangeiro não teriam acesso ao crédito
nacional do meio ambiente, seus fins e meca- das entidades oficiais brasileiras antes do início
nismos de formulação e aplicação. Além disso, comprovado de suas operações, com exceção de
constitui o Sistema Nacional do Meio Ambiente, projetos considerados de alto interesse pelo po-
cria o Conselho Nacional do Meio Ambiente e der público. Em termos fiscais, a lei nº 4 131
institui o Cadastro Técnico Federal de Ativida- estabelecia a regulamentação do pagamento do
des e Instrumentos de Defesa Ambiental. A po- Imposto de Renda na fonte para lucros e divi-
lítica nacional do meio ambiente tem por obje- dendos atribuídos a pessoas físicas ou jurídicas
tivo a preservação, melhoria e recuperação da residentes no exterior, com um acréscimo de
qualidade ambiental propícia à vida. Preocupa- 20% para empresas de setores de menor inte-
se, entre outros aspectos, com a manutenção do resse para a economia nacional. Determinava
equilíbrio ecológico; a racionalização do uso do também que os bancos estrangeiros autorizados
solo, do subsolo, da água e do ar; a proteção a funcionar no Brasil sofressem as mesmas res-
dos ecossistemas, com a preservação de áreas trições dos bancos brasileiros nas sedes de suas
representativas; o controle e zoneamento das ati- matrizes. A lei nº 4 390, promulgada em 29/8/1964,
vidades potenciais ou efetivamente poluidoras; no governo Castelo Branco, trouxe inúmeras
a recuperação de áreas degradadas; a proteção modificações à lei nº 4 131. Entre outros aspec-
de áreas ameaçadas de degradação; a educação tos, aumentou para 12% o limite de remessa de
ambiental em todos os níveis de ensino, inclu- lucros e concedeu maiores facilidades de crédi-
sive a educação da comunidade, objetivando ca- tos oficiais às empresas estrangeiras. Veja tam-
pacitá-la para participação ativa na defesa do bém Lei da Remessa de Lucros.
meio ambiente.Veja também Meio Ambiente.
LEI 4 390. Veja Lei 4 131.
LEI NATURAL. Veja Ordem Natural.
LEI SECA. Emenda constitucional que proibiu,
LEI 4 131. Lei promulgada em 3/9/1962, regu- nos Estados Unidos, a produção e a comercia-
lando o capital estrangeiro no Brasil. Também lização de bebidas alcoólicas. Vigorou de 1919
conhecida como Lei da Remessa de Lucros, de- a 1933, mas seu cumprimento foi amplamente
finia como capital estrangeiro “os bens, máqui- burlado pelo contrabando e a fabricação clan-
nas e equipamentos entrados no Brasil com dis- destina, práticas dominadas por quadrilhas que
pêndio inicial de divisas, bem como os recursos disputavam violentamente o domínio do ren-
financeiros ou monetários introduzidos no país doso negócio.
para a aplicação em atividades econômicas, des-
de que, em ambas as hipóteses, pertençam a pes- LEIBNIZ, Gottfried von. Veja Risco.
soas físicas ou jurídicas residentes, domiciliadas
LEILÃO. Processo de venda de bens no qual o
ou com sede no exterior”. Esses capitais deve- comprador em potencial procura com seus lan-
riam ser registrados na antiga Superintendência ces (ofertas de preço) vencer os demais. A regra
da Moeda e do Crédito (Sumoc). Hoje, isso é básica dos leilões é que aquele que oferecer o
feito no Banco Central, assim como as remessas preço mais elevado adquire os bens leiloados.
para o exterior e os reinvestimentos dos lucros, A tradição dos leilões é que os mesmos se pro-
igualmente considerados capital estrangeiro. A movam sob pregão, isto é, pela declaração em
remessa de juros sobre empréstimos, créditos e altas vozes do preço oferecido por cada um dos
financiamentos não poderia exceder a taxa re- interessados. Hoje, no entanto, com os modernos
gistrada no contrato; qualquer quantia superior meios de comunicação, os lances podem ser fei-
às previstas seria considerada amortização de tos de forma mais discreta (pelo telefone, por
capital. As firmas poderiam deduzir até 5% da exemplo) e informados aos demais pelo leiloei-
receita bruta no Imposto de Renda, a título de ro. Embora o leilão se assemelhe à hasta pública
royalties, do produto fabricado e vendido, fican- (os romanos plantavam uma hasta (lança) no
do proibido o pagamento de royalties e serviços sítio do leilão, isto é, o leilão dava-se sub hasta)
semelhantes por parte de uma filial brasileira à e tenha a mesma finalidade (vender em público
LEILÃO ADMINISTRATIVO 342

por almoeda ou sob pregão), mantém uma dis- esse trabalho demandará tempo para ser reali-
tinção, uma vez que é dirigido e executado pes- zado”.
soalmente pelo leiloeiro, quer se trate de leilão
judicial (quando determinado pelo juiz e cum- LEIS DO TRIGO. Veja Corn Laws.
prido sob suas ordens) ou extrajudicial, quando LEIS DOS POBRES (Poor Laws). Leis de am-
cumprido por determinação e a pedido de par- paro oficial aos pobres, surgidas na Inglaterra
ticulares, interessados diretamente na venda. no final do século XV e durante o século XVI.
Veja também Leilão Holandês; Vickrey Auc- Essas leis foram conseqüência direta das pro-
tions. fundas transformações sociais decorrentes da
exploração dos recursos naturais do Novo Mun-
LEILÃO ADMINISTRATIVO. É a modalidade
do e da abertura de novos mercados de consu-
de leilão realizado pela administração pública mo, que favoreceram a expansão do comércio
para a venda de mercadorias apreendidas como e da indústria manufatureira. Na Inglaterra, a
contrabando ou abandonadas nas alfândegas, técnica evoluiu, a produção de lã expandiu-se
nos armazéns ferroviários, portuários, aeropor- e a nação preparou-se para o processo que, dois
tuários e rodoviários de sua administração e nas séculos mais tarde, culminaria na Revolução In-
repartições públicas em geral. dustrial. Essa transformação nas formas de pro-
dução e de vida causou a proliferação da po-
LEILÃO COMUM. É aquele realizado pela ad- breza, da vagabundagem e da mendicância.
ministração pública e regido pela legislação fe- Muitas áreas agrícolas, antes cultivadas e que
deral pertinente, embora as condições de sua garantiam a subsistência de inúmeras famílias
realização possam ser estabelecidas pela admi- de camponeses, foram cercadas e transformadas
nistração interessada. Veja também Leilão Ho- em pastagens para a produção de lã. Sem con-
landês. dições de adaptar-se à rígida disciplina da ma-
nufatura ou mesmo à vida urbana, os campo-
LEILÃO HOLANDÊS. Leilão no qual o vende- neses transformaram-se em mendigos. Durante
dor (leiloeiro) oferece algum bem a um preço todo o século XVI, sucederam-se leis e decretos
inicial relativamente elevado e, em seguida, vai para diminuir essa categoria de habitantes das
reduzindo esse preço até que alguém o aceite, cidades. Geralmente desumanas, essas leis proi-
manifestando-se, e adquira o bem que está sen- biam a existência de desempregados, punindo
do leiloado. Originalmente, o leilão holandês era com severas penas o “crime” de vadiagem. Em
denominado mineing, que deriva do termo em 1530, por exemplo, Henrique VIII estabeleceu
em lei que “doentes e velhos incapacitados têm
inglês mine, isto é, a manifestação daquele que
direito a uma licença para pedir esmolas, mas
aceitava o preço declarado pelo leiloeiro e pro-
vagabundos sadios serão flagelados e encarce-
nunciava essa palavra que corresponde, em por- rados...”. A crescente influência das idéias e sen-
tuguês, à expressão “é meu”. Vendem-se vários timentos humanitários no século XIX atenuou
tipos de mercadorias dessa forma, destacando- os aspectos mais ásperos dessas leis, mas não
se o comércio de flores na Holanda e também eliminou de todo os efeitos de sua crença dog-
os títulos do Tesouro dos Estados Unidos. mática nas “virtudes redentoras” do trabalho
árduo, que penalizava sobretudo velhos e
LEIS DE ENGEL. Veja Engel, Ernest. crianças.
LEIS DE PARKINSON. Conjunto de “leis” ela- LEMPIRA. Unidade monetária de Honduras.
boradas de forma satírica por C. Northcote Par- Submúltiplo: centavo.
kinson sobre o funcionamento da administração
pública e privada, contendo no fundo críticas LEND LEASE. Programa estabelecido nos Es-
às formas burocráticas e emperradas que a ad- tados Unidos em 11/3/1941, que encaminhava
ministração, tanto pública como privada, adqui- uma lei anterior do Congresso denominada An
rira nos tempos atuais. Exemplos dessas “leis” Act to Promote the Defense of the United States, a
qual autorizava o presidente dos Estados Uni-
são, entre outros, os seguintes: 1) o trabalho ou
dos a auxiliar as nações aliadas, mediante agên-
qualquer atividade invariavelmente se estende
cias governamentais, a vender, transferir, trocar,
até preencher todo o tempo previsto para a sua liberar, emprestar etc. bens e suprimentos tanto
realização; 2) as despesas sempre se elevam até para uso militar quanto civil, necessários para
alcançar as receitas. São também “princípios”, o desenvolvimento da guerra. O programa pros-
como “o número de funcionários de uma em- seguiu depois do final da guerra e, em julho de
presa ou repartição tende a aumentar inde- 1946, um total de 50,442 bilhões de dólares havia
pendentemente da quantidade de trabalho ad- sido transferido para países aliados. Os princi-
ministrativo existente”, ou ainda, “quanto mais pais países que receberam esta ajuda foram a
tempo se dispõe para realizar um trabalho, mais Inglaterra (31,267 bilhões de dólares) e a ex-
343 LÊNIN, Vladimir Ilitch Ulianov

União Soviética (11,260 bilhões). O programa minação de “mencheviques” (minoritários).


teve uma grande importância na vitória dos Com a Revolução de 1905, Lênin voltou à Rússia.
Aliados e também contribuiu para o desenvol- Mas o fracasso do movimento levou-o novamen-
vimento da indústria bélica americana e a eli- te ao exílio. Nos anos seguintes, dedicou-se aos
minação do desemprego nos Estados Unidos. estudos filosóficos, publicando Materialismo e
Em 1945, em prosseguimento ao Acordo de Empirocriticismo, 1909, e à organização do mo-
Washington (Washington Agreement), a dívida in- vimento social-democrata, na Rússia e em escala
glesa de cerca de 25 bilhões de dólares, que a internacional. Durante a Primeira Guerra Mun-
Inglaterra havia contraído por meio do Lend dial, atacou os socialistas que aderiram às con-
Lease, foi prescrita, e os ingleses obtiveram mais cepções de defesa nacional, insistindo na neces-
cerca de 3,7 bilhões de empréstimos adicionais sidade de os operários de cada país transforma-
até 1952, com taxas de juros de 2% ao ano e rem a guerra em revolução. Participou das con-
pagáveis em cinqüenta prestações anuais a par- ferências socialistas pacifistas nas localidades
tir de 1951. suíças de Zimmerwald (1915) e Kienthal (1916).
Analisando as relações entre a sociedade capi-
LÊNIN, Vladimir Ilitch Ulianov (1870-1924). talista e a guerra, Lênin escreveu O Imperialismo,
Ativista e dirigente político socialista, teórico e Etapa Superior do Capitalismo, 1916, sua mais im-
principal líder da Revolução Russa de 1917, pri- portante contribuição à economia política.
meiro dirigente da União Soviética e fundador Apoiando-se nas concepções de Hilferding so-
da III Internacional. Iniciou sua carreira revolu- bre o capital financeiro, analisa o imperialismo
cionária em 1887, ao entrar para a Faculdade de como uma etapa do desenvolvimento do capi-
Direito da Universidade de Kazan. Repeliu o talismo em que se estabelece a hegemonia dos
terrorismo depois que seu irmão mais velho foi monopólios e dos grandes bancos. A própria di-
enforcado por ter-se envolvido num atentado nâmica de formação e ampliação de mercados
contra o czar Alexandre III. Em 1893, em São levaria o capitalismo a buscar a dominação co-
Petersburgo, uniu-se a intelectuais marxistas lonial e a guerra. Lênin aponta ainda a acentua-
que atuavam junto aos operários. No ano se- da importância que a exportação de capital ad-
guinte, publicou clandestinamente seu primeiro quiriu, a divisão do mundo entre trustes inter-
trabalho, Quem São os Amigos do Povo e como Lu- nacionais e a situação dos territórios coloniais
tam os Sociais-Democratas?, 1894. Em 1895, entrou fornecedores de matéria-prima e mão-de-obra
em contato com Plekhanov e outros marxistas barata repartidos entre as grandes potências ca-
russos exilados em Genebra. De volta à Rússia, pitalistas. E a combinação de revoltas na peri-
Lênin e seus companheiros tentaram fundar um feria do sistema com revoluções proletárias nas
jornal clandestino, mas foram presos antes da metrópoles, que tornaria inevitável o advento
publicação do primeiro número. Após catorze do socialismo. Após a queda do czar, provocada
meses de prisão, foi exilado para a Sibéria, onde pelas revoltas populares em São Petersburgo,
permaneceu três anos. Durante o exílio, com- em fevereiro de 1917, Lênin voltou à Rússia.
pletou o livro O Desenvolvimento do Capitalismo Logo em seguida, elaborou suas Teses de Abril,
na Rússia, 1899, no qual analisa a formação do propondo, entre outras medidas, a paz imediata,
mercado interno na Rússia czarista. Em 1900, a confraternização com os soldados alemães, o
seguiu para a Suíça, aproximando-se de Plek- poder para os soviets (conselhos) populares e a
hanov. Em janeiro de 1901, surgia o jornal re- expropriação de terras e fábricas. Orientados por
volucionário Iskra (A Centelha). Foi num artigo essas palavras de ordem, os bolcheviques reali-
publicado no Iskra, “A Questão Agrária e os Crí- zaram intensa propaganda junto aos operários,
ticos de Marx”, que pela primeira vez usou o camponeses e soldados. Em novembro de 1917,
pseudônimo de Lênin. O segundo Congresso do foi derrubado o governo provisório de Kerenski,
Partido Social Democrata Russo (fundado em e Lênin tornou-se presidente do Conselho dos
1898), realizado em Londres em 1903, provocou Comissários do Povo. Sob sua influência, o Con-
uma divisão no movimento socialista. Alguns gresso dos Soviets aprovou um decreto abolindo
dirigentes (Plekhanov, Martov e Axelrod) sus- a grande propriedade rural, confiscando terras
tentavam que a revolução socialista deveria ser da família imperial e da Igreja e nacionalizando
precedida por uma revolução democrático-bur- os bancos e as grandes indústrias. Em 1918, em
guesa que instaurasse o liberalismo. Lênin de- Brest-Litovsk, foi assinada a paz em separado
fendia a aliança entre operários e camponeses com a Alemanha. Em condições adversas, o re-
como condição indispensável para a vitória da cém-criado Exército Vermelho enfrentou a con-
revolução, pois a burguesia seria incapaz de as- tra-revolução, de 1918 a 1921, estimulada tanto
sumir a liderança do processo. A posição de Lê- dentro como fora da União Soviética. Até 1921
nin teve mais votos; seus adeptos ficaram co- vigorou o chamado “comunismo de guerra”,
nhecidos pelo nome de “bolcheviques” (majo- mas nesse ano começou a ser aplicada a Nova
ritários), enquanto os outros receberam a deno- Política Econômica (NEP), um retorno tático e
LEONE 344

parcial à economia de mercado, imposto pela cebeu em 1973 o Prêmio Nobel de Economia.
virtual destruição das estruturas econômicas do Ao desenvolver pela primeira vez a análise dos
país. Simultaneamente, Lênin criou o plano de grandes agregados econômicos em termos de in-
eletrificação da União Soviética. Em maio de sumo-produto, Leontief inspirou-se no sistema
1922, Lênin sofreu uma hemorragia cerebral. Em abstrato de equações do equilíbrio geral de Wal-
novembro, ditou seu testamento, no qual reco- ras, dando-lhe, porém, um conteúdo empírico,
mendava a ampliação do Comitê Central do Par- por meio de dados sobre os diferentes setores
tido Comunista, para tornar possível uma re- que se inter-relacionam no processo econômico
presentação mais democrática. Em 1923, sofreu norte-americano. Usando análise matemática e
um segundo ataque, morrendo no ano seguinte. computação, Leontief estabeleceu, à maneira de
Do ponto de vista de sua contribuição à econo- Quesnay, um “quadro econômico” dos Estados
mia política, destacam-se os escritos a respeito Unidos, em que a economia é descrita em termos
do imperialismo e seu estudo pioneiro sobre o de circulação, isto é, como um sistema integrado
desenvolvimento do capitalismo na Rússia. Nes- de fluxos e transferências de insumos e produtos
se livro, mostra a inconsistência teórica da cor- de um setor a outro da produção industrial.
rente populista, que afirmava haver a possibi- Cada setor absorve insumos de outros setores,
lidade de a Rússia ser um país agrícola, evitar além de produzir bens e serviços que serão uti-
o “estágio ocidental” do capitalismo e passar lizados, por sua vez, por outros setores, para
diretamente do feudalismo ao socialismo. Os po- serem processados ou para consumo final. Com
pulistas argumentavam que a viabilidade do ca- o uso desse quadro, é possível detectar as con-
pitalismo na Rússia era problemática, pois ar- seqüências que uma mudança num setor da eco-
ruinaria a economia camponesa, limitando seu nomia traz para outros setores e para o conjunto.
mercado interno, e não teria nenhuma possibi- Os resultados do trabalho de Leontief foram pu-
lidade de expansão devido à ocupação dos mer- blicados em 1941 no livro The Structure of the
cados externos pelos países industrializados. Ba- American Economy 1919-1929: An Empirical Ap-
seado em dados concretos, Lênin pôde mostrar plication of Equilibrium Analysis (A Estrutura da
que a ruína dos camponeses não implica a li- Economia Norte-americana 1919-1929: Uma Apli-
quidação do mercado interno para o capitalis-
cação Empírica da Análise do Equilíbrio). Numa
mo. Ao contrário, é uma conseqüência necessá-
segunda edição, em 1951, Leontief atualizou os
ria do processo de instalação e evolução do ca-
dados até 1939. Em seguida, publicou uma obra
pitalismo, que promove a industrialização, ace-
mais ampla sobre o assunto, Studies in the Struc-
lera e aprofunda as contradições já existentes
ture of the American Economy: Theoretical and Em-
na comunidade camponesa, desintegrando-a e
pirical Explorations in Input-output Analysis (Es-
liberando as massas para a formação do prole-
tudos na Estrutura da Economia Norte-ameri-
tariado. Na estrutura de sua obra, Lênin realiza
cana: Explorações Teóricas e Empíricas na Aná-
um mapeamento do conjunto da economia agrá-
ria russa, examina a mercantilização das ativi- lise de Insumo-produto), 1953. O método de
dades agrícolas e verifica a penetração do capi- Leontief, que é uma dinamização da análise es-
talismo na agricultura. Analisa em seguida as tática de Walras, pode ser aplicado tanto aos
atividades industriais, estabelecendo as fases problemas micro como macroeconômicos. Leon-
evolutivas do capitalismo na indústria russa, da tief estudou em Leningrado e Berlim, foi pro-
modalidade artesanal até o advento da grande fessor titular em Harvard desde 1946 e ocupou
indústria mecanizada, que ele examina em de- diversos cargos de assessoria no governo dos
talhes. Outras obras importantes deste autor, Estados Unidos e na ONU. Publicou ainda Es-
traduzidas em mais de cem idiomas: O Que Fa- says in Economics (Ensaios em Economia), 1966;
zer?, 1902; Duas Táticas da Social-democracia na Input-output Economics (A Economia do Insumo-
Revolução Democrática, 1905; Um Passo à Frente, produto), 1966; e The Future of the World Economy
Dois Passos Atrás, 1904; O Estado e a Revolução, (O Futuro da Economia Mundial), 1977.
1917; O Socialismo e a Guerra, 1915; e O Esquer-
LER NOVO. Unidade monetária da Albânia.
dismo, Doença Infantil do Comunismo, 1920. Veja
Submúltiplo: quindarka.
também Imperialismo; Proletariado, Ditadura
do; Social-democracia; Socialismo. LERNER, Abba P. (1905-1982). Economista nas-
cido na Rússia e com formação em universida-
LEONE. Unidade monetária de Serra Leoa. Sub-
des inglesas. Trabalhou nas universidades ame-
múltiplo: cent.
ricanas, inicialmente com desdobramentos das
LEONTIEF, Vassily (1906-1989). Economista teorias marshallianas sobre preços, até as ques-
russo radicado desde 1931 nos Estados Unidos, tões relacionadas com concorrência imperfeita
criador da análise de input-output (insumo-pro- nos trabalhos de Joan Robinson e Edward Has-
duto), que estimulou e desenvolveu o enfoque tings Chamberlin. Seu trabalho enfocou a ten-
macroeconômico com base em dados reais. Re- tativa de encontrar um conceito adequado de
345 LETTRES DE FAIRE

poder de monopólio e a defesa do igualitarismo forma de evitar o transporte de grandes somas


a partir da lei da utilidade marginal decrescente. de dinheiro e, ao mesmo tempo, reduzir os pro-
Sua obra principal é The Economics of Control (A blemas ocasionados pelas diferentes moedas cu-
Economia do Controle), na qual Lerner utiliza nhadas em cada cidade. A forma atual da letra
a análise marshalliana para defender a tese do de câmbio e seu funcionamento foram desen-
socialismo de mercado. No plano da política volvidos na Alemanha, no século XIX, quando
econômica, Lerner estabeleceu as condições nas se definiram as regras de sua circulação. A partir
quais uma mudança na taxa de câmbio de um de então, as letras de câmbio passaram a ter
país melhoraria sua balança comercial. Esta con- valor próprio, tornando-se transmissíveis e com
dição é também chamada de Condição Mar- garantia legal. Na prática, a letra de câmbio é
uma forma de crédito: em pagamento a deter-
shall-Lerner e estabelece que, supondo altos pre-
minada compra, o sacador emite a letra de câm-
ços da elasticidade da oferta, uma desvaloriza-
bio, que será resgatada no dia de seu vencimen-
ção cambial melhorará a situação em conta cor- to. O sacado, em geral uma instituição financei-
rente de um país, se a soma das elasticidades ra, deve dar o aceite, ou seja, tornar-se o devedor
da demanda interna por importações, mais a de- direto da quantia estabelecida na letra de câm-
manda externa por exportações, for maior do bio. O sacador, no entanto, é o responsável pelo
que a unidade. Veja também Balanço de Paga- pagamento, mesmo que o sacado não o faça.
mentos; Curva J (Jota); Marshall, Alfred; So- Em função da credibilidade do sacado, a letra
cialismo de Mercado. de câmbio tem maior ou menor liquidez, ou seja,
o beneficiário terá maior ou menor facilidade
LEROY-BEAULIEU, Pierre Paul (1843-1916). Eco- de vendê-la a outra pessoa (se a letra de câmbio
nomista, empresário agrícola e jornalista francês, for nominal, basta um endosso), e assim por
professor no Collège de France. Representante diante, sempre com certo deságio.
do liberalismo econômico, rejeitou a teoria da
renda de Ricardo e a Lei de Bronze dos Salários LETRA DO TESOURO. Qualquer título emiti-
de Lassalle, expondo uma visão otimista e apo- do pelo governo federal, com prazo fixo e que
logética do capitalismo. Em sua principal obra, paga juros de mercado. As letras do Tesouro
Essai sur la Répartition des Richesses (Ensaio sobre são usadas como instrumento de controle do di-
a Repartição das Riquezas), 1881, Leroy-Beau- nheiro circulante e de financiamento a investi-
lieu procura mostrar que o fundo de salários mentos e obras públicas. Recebem também o
aumenta com a riqueza das empresas. O aumen- nome de títulos de dívida pública. Veja também
to das riquezas produziria uma baixa dos juros, Título de Dívida Pública.
provocando uma diminuição do capital no pro-
duto nacional e, em conseqüência, um aumento LETRA HIPOTECÁRIA. Título de crédito emi-
da participação do trabalho. Também justificou tido por bancos hipotecários. É transmissível por
os juros como um rendimento natural do capital, endosso e garante a seu portador preferência
e o lucro, como uma justa remuneração do em- sobre todos os imóveis, capital e fundo de re-
presário pelo seu espírito empreendedor, inven- serva do banco.
tivo e pioneiro. Entre outras obras, escreveu: LETRA IMOBILIÁRIA. Título de crédito emi-
L’État Moral et Intellectual des Classes Ouvrières tido por sociedades de crédito imobiliário. Pode
(O Estado Moral e Intelectual das Classes Tra- ser emitida ao portador ou ser nominal (neste
balhadoras), 1868; Traitè de la Science des Finances caso, é transferível por endosso), rendendo ju-
(Tratado da Ciência das Finanças), 1877; e Traitè ros. Estes títulos não são emitidos com freqüên-
Théoretique et Pratique d’Économie Politique (Tra- cia, e praticamente não têm liquidez. No passa-
tado Teórico e Prático de Economia Política), do, eram também emitidos pelo extinto Banco
1895. Nacional de Habitação, ocasião em que rendiam
L’ÉTAT C’EST MOI. Expressão em francês que juros e correção monetária; os recursos levanta-
significa, literalmente, “O Estado sou eu” e que dos pela emissão destas letras destinavam-se ex-
clusivamente à construção de casas populares.
corresponde à monarquia absoluta.
Veja também Banco Nacional de Habitação.
LETRA DE CÂMBIO. Tipo de título negociável
no mercado. Consiste numa ordem de pagamen- LETRA MONETÁRIA. Veja Marca Monetária.
to em que uma pessoa (sacador ou emitente) LETTER OF INTENT. Veja Carta de Intenção.
ordena que uma segunda pessoa (sacado) pague
determinada quantia a uma terceira (tomador LETTRES DE FAIRE. Expressão em francês que
ou beneficiário). Deve trazer, de forma explícita, designava, nas feiras medievais, os contratos
o valor do pagamento, a data e o local para efe- que os vendedores assinavam para entrega fu-
tuá-lo. Acredita-se que a letra de câmbio teve tura dos produtos vendidos. Forma precursora
origem na Itália, ainda na Idade Média, como dos atuais contratos de futuros praticados nas
LEU 346

Bolsas de Valores. Veja também Mercado a Fu- ministração da empresa cujo controle acionário
turo; Mercado a Termo. é transferido.
LEU. Unidade monetária da Romênia. Submúl- LEVIATÃ. Conceito desenvolvido por Thomas
tiplo: ban. Hobbes na obra homônima, publicada em 1651.
Hobbes considerava o homem um ser livre, mas,
LEV. Unidade monetária da Bulgária. Submúl- em virtude dessa liberdade, capaz de fazer o
tiplo: stotinri. mal a seus semelhantes. Para que não exista esse
risco de destruição mútua, Hobbes via no Estado
LEVASSEUR, Pierre Émile (1828-1911). Econo-
(Leviatã) a entidade capaz de controlar a socie-
mista, estatístico e geógrafo francês. Considera-
dade e evitar os conflitos. O Estado, personifi-
do o fundador da moderna história econômica
cado na figura do rei, passa a ser o árbitro e
na França, introduziu na história os ensinamen-
controlador da sociedade. O Leviatã é uma obra
tos da economia e de outras ciências sociais. Des-
importante para justificar o absolutismo, e, do
creveu sua área de trabalho como “arte econô-
ponto de vista econômico, a forma política mais
mica”, para diferenciá-la da teoria pura, defi-
ajustada à prática do mercantilismo. Veja tam-
nindo esta como “ciência econômica”. Escreveu
bém Mercantilismo.
para a Grande Encyclopédie trabalhos de geografia
e história do Brasil. Publicou: Recherches Histo- LEWIS, William Arthur (1915-1991). Economis-
riques sur le Système de Law (Pesquisas Históricas ta inglês, especializado em modelos de desen-
sobre o Sistema de Law), 1854; Histoires des Clas- volvimento, com ênfase no papel dos setores
ses Ouvrières en France, depuis la Conquête de Jules não-capitalistas e da agricultura. Recebeu o Prê-
César jusqu’à la Revolution (História das Classes mio Nobel de Economia de 1979, juntamente
Operárias na França, desde a Conquista de Júlio com Theodore W. Schultz, por seus trabalhos
César até a Revolução), 1859; Histoires des Classes sobre os problemas do desenvolvimento dos
Ouvrières en France, depuis la Revolution jusqu’à países subdesenvolvidos. Em sua principal obra,
Nos Jours (História das Classes Operárias na Development with Unlimited Supplies of Labour
França, desde a Revolução até Nossos Dias), (Desenvolvimento com Reservas Ilimitadas de
1867; Du Rôle de l’Intelligence dans la Production Trabalho), 1954, Lewis elabora um modelo dua-
(Sobre o Papel da Racionalização na Produção), lista de desenvolvimento, no qual o grande setor
1867; Cours d’Économie Rurale, Industrielle et Com- não-capitalista da economia, localizado no cam-
merciale (Curso de Economia Rural, Industrial e po, fornece recursos para a expansão do setor
Comercial), 1869. urbano, capitalista, mediante abundantes reser-
vas de mão-de-obra, deslocadas para o setor pro-
LEVELLERS (Niveladores). Grupo de reforma-
dutivo da economia. Entretanto, Lewis não leva
dores radicais do período da Revolução Puritana
em conta que o setor não-capitalista da econo-
inglesa (1642-1651), formado por pequenos cam-
mia é o responsável pela produção de alimentos
poneses ameaçados de expulsão das proprieda-
e que uma queda de produtividade nesse setor
des rurais. Seu líder, John Lilburne, propunha
pode reverter as expectativas de um crescimento
a implantação do regime republicano, reformas
real da economia e dos salários. Ampliando o
econômicas e igualdade política e religiosa. Fo-
alcance de seu modelo, Lewis tentou explicar a
ram derrotados por Cromwell.
deterioração dos termos de trocas entre os países
LEVERAGE. Termo em inglês que significa “ala- subdesenvolvidos e desenvolvidos. Sua análise
vancagem”, isto é, a relação entre o capital pró- do comércio internacional pretende mostrar que
prio de uma empresa e o capital de terceiros e os custos de produção de matérias-primas e da
os efeitos desta estrutura de capital sobre a ren- indústria estão relacionados com a receita do
tabilidade das ações da mesma. Este índice é setor agrícola, que por sua vez depende do nível
importante na medida em que orienta as deci- de produtividade na produção de alimentos. Se-
sões financeiras da empresa no sentido de de- ria este, em última instância, o responsável pela
terminar uma estrutura ótima de capital que mi- deterioração do comércio internacional. Nascido
nimize os custos financeiros. O leverage pode ter na ilha de Santa Lúcia, no Caribe, Lewis foi du-
também um significado econômico, quando se rante vários anos vice-reitor da Universidade de
tomam como pontos de referência o volume de West Indies, professor na Universidade de Prin-
vendas e sua variação sobre a magnitude dos ceton e o primeiro presidente do Banco de De-
lucros. senvolvimento do Caribe, além de servir como
consultor econômico aos governos de Gana, Ja-
LEVERAGED BUYOUT. Expressão em inglês maica e Guiana. Escreveu mais de dez livros e
que significa a conquista do controle acionário de cem artigos, destacando-se entre eles: Econo-
de uma empresa utilizando recursos de emprés- mic Problems of Today (Problemas Econômicos
timos por um grupo de pessoas, entre as quais Atuais), 1940; The Principles of Economic Planning
geralmente se encontra algum membro da ad- (Princípios do Planejamento Econômico), 1949;
347 LIBID

The Economics of Overhead Costs (A Economia dos a nova realidade econômica, baseada na con-
Custos Fixos); The Theory of Economic Growth (A centração da renda e da propriedade. Essa de-
Teoria do Crescimento Econômico), 1955; Politics fasagem acentuou-se com as crises cíclicas do
in West Africa (Política na África Ocidental), capitalismo, sobretudo a partir da Primeira
1965; Reflection on The Economic Growth of Nigeria Guerra Mundial, quando o Estado se tornou um
(Reflexões sobre o Crescimento Econômico da dos principais agentes orientadores das econo-
Nigéria), 1967; The Evolution of the International mias nacionais. Coube a J.M. Keynes redefinir
Economic Order (A Evolução da Ordem Econô- os pressupostos da economia clássica, conside-
mica Internacional), 1978; e Aspects of Tropical rando a intervenção do Estado na economia e
Trade (Aspectos do Comércio Tropical), 1969. os próprios monopólios uma evolução racional
e natural no desenvolvimento capitalista. O li-
LIBERAL, ESCOLA. Veja Escola Clássica. beralismo econômico atual mantém-se mais no
plano da retórica, pois, na prática, há muito di-
LIBERALISMO. Doutrina que serviu de subs-
rigismo econômico na sociedade capitalista mo-
trato ideológico às revoluções antiabsolutistas derna. Também as diretrizes dos mais impor-
que ocorreram na Europa (Inglaterra e França,
tantes organismos econômico-financeiros inter-
basicamente) ao longo dos séculos XVII e XVIII,
nacionais, como o Fundo Monetário Internacio-
e à luta pela independência dos Estados Unidos. nal (FMI) e o Acordo Geral de Tarifas e Comér-
Correspondendo aos anseios de poder da bur-
cio (GATT), contradizem os princípios do libe-
guesia, que consolidava sua força econômica ralismo clássico. Veja também Dirigismo; Esta-
ante uma aristocracia em decadência, amparada
tismo; Mercantilismo; Planejamento Econômi-
no absolutismo monárquico, o liberalismo de- co; Planificação.
fendia: 1) a mais ampla liberdade individual; 2)
a democracia representativa com separação e in- LIBERMAN, Yevsey Grigorievitch (1897-1975).
dependência entre três poderes (executivo, le- Economista russo, crítico da centralização eco-
gislativo e judiciário); 3) o direito inalienável à nômica rígida da época de Stálin. Na década de
propriedade; 4) a livre iniciativa e a concorrência 60, defendeu uma relativa autonomia para as
como princípios básicos capazes de harmonizar empresas, com a possibilidade de reinvestirem
os interesses individuais e coletivos e gerar o parte do excedente por conta própria e reorien-
progresso social. Segundo o princípio do lais- tarem sua produção em função das necessidades
sez-faire, não há lugar para a ação econômica do e do desejo dos consumidores. A reforma suge-
Estado, que deve apenas garantir a livre-con- rida por Liberman na economia soviética foi au-
corrência entre as empresas e o direito à pro- torizada a título de experiência em 1964 em duas
priedade privada, quando esta for ameaçada por empresas, estendida depois a quatrocentas em-
convulsões sociais. O pensamento econômico li- presas da indústria leve e generalizada a partir
beral constitui-se, a partir do século XVIII, no de 1965. Constava de três pontos essenciais: li-
processo da Revolução Industrial, com autores berdade para as empresas ultrapassarem o plano
como François Quesnay, estruturando-se como oficial de planejamento, com a condição de as-
doutrina definitiva nos trabalhos de John Stuart segurar a liquidação dos seus estoques; direito
Mill, Adam Smith, David Ricardo, Thomas Mal- de entrarem em comunicação direta com outras
thus, J.B. Say e F. Bastiat. Eles consideravam que empresas; princípio de “direção única”, propor-
a economia, tal como a natureza física, é regida cionando certa autonomia na gestão dos recur-
por leis universais e imutáveis, cabendo ao in- sos e salários. Os resultados econômicos dessas
divíduo apenas descobri-las para melhor atuar empresas passaram a ser medidos pelo lucro
segundo os mecanismos dessa ordem natural. real, calculado segundo a contabilidade habitual
Só assim poderia o homo economicus, livre do do capital investido, e não apenas pela estrita
Estado e da pressão de grupos sociais, realizar execução do planejamento oficial. A experiência
sua tendência natural de alcançar o máximo de das idéias de Liberman mostrou a importância
lucro com o mínimo de esforço. Os princípios da eficiência ante as considerações puramente
do laissez-faire aplicados ao comércio internacio- ideológicas e refletiu as pesquisas recentes sobre
nal levaram à política do livre-cambismo, que a reabilitação do cálculo econômico e da taxa
condenava as práticas mercantilistas, as barrei- de rentabilidade das empresas, definida como
ras alfandegárias e protecionistas. A defesa do uma relação entre o lucro líquido e o montante
livre-cambismo foi uma iniciativa fundamental- de investimento. Entre os trabalhos publicados
mente da Inglaterra, a nação mais industrializa- por Liberman, destaca-se Os Métodos Econômicos
da da época, ansiosa por colocar seus produtos da Elevação da Eficiência das Empresas Socialistas,
em todos os mercados europeus e coloniais. 1967.
Com o desenvolvimento da economia capitalista
e a formação dos monopólios no final do século LIBID. Iniciais da expressão inglesa London in-
XIX, os princípios do liberalismo econômico fo- terbank bid rate, isto é, taxa de juros sob a qual
ram cada vez mais entrando em contradição com os maiores bancos do mercado interbancário
LIBOR 348

londrino estão dispostos a emprestar recursos LIBRA DE NAVIO. Unidade de peso utilizada
entre si, à diferença da taxa de concessão de na Inglaterra e correspondente a um peso que
empréstimo (libor), estabelecida pelos bancos de- varia entre 300 e 400 libras comuns, ou 136 e
sejosos de emprestar excedentes de depósitos 181 kg.
em eurodólares. A libid é mais baixa do que a
libor. LICITAÇÃO. Procedimento administrativo cujo
objetivo é verificar, entre vários concorrentes,
LIBOR. Iniciais de London interbank offer rate, que quem oferece condições mais vantajosas para
significa a taxa de juros cobrada pelos bancos contratação de obras, serviços, compras e alie-
londrinos e, juntamente com a prime rate — taxa nações da administração pública. Os princípios
cobrada pelos bancos norte-americanos a seus que regem a licitação, independentemente do
clientes preferenciais —, serve de base para a princípio da moralidade, são o da publicidade
maior parte dos empréstimos internacionais. Em e o da igualdade de tratamento entre os con-
termos mais específicos, a libor é a taxa de juros correntes.
cobrada pelos empréstimos em moedas, prazos
e magnitudes determinadas no mercado de eu- LIDERANÇA DE PREÇO. Situação de merca-
romoedas. A libor constitui uma base para a de- do que ocorre, em geral num oligopólio, quando
terminação das taxas de juros cobradas pelos uma das firmas que atuam no mercado impõe
bancos em seus empréstimos de médio prazo, seu preço, sendo seguida pelas demais. Essa li-
que geralmente não ultrapassam os dois anos. derança pode resultar da maior dimensão da
A libor flutua de acordo com a situação finan- empresa ou por seus custos de produção serem
ceira internacional; no início dos anos 80, situou- mais baixos. Pode ocorrer, entretanto, que a li-
se em patamares muito elevados, quase alcan- derança de preço seja exercida justamente pela
çando os 17% anuais (como taxa de juros no- empresa que tem os maiores custos, o que irá
minal, isto é, incluindo a inflação); na primeira requerer alguma forma de acordo entre as em-
metade dos anos 90, tem oscilado entre 4 e 7% presas para o domínio do mercado.
ao ano. Veja também Adibor; Hkibor; JLTPR;
Luxibor; Mercado de Euromoedas; Prime Rate; LIFE CYCLE HYPOTHESIS. Teoria sobre as
Sibor. decisões de poupar, considerando que as pes-
soas poupam no presente para manter um nível
LIBRA. O sistema monetário durante o reinado estável de consumo no futuro.
de Carlos Magno (747-814) rompe com o sistema
romano (baseado no ouro) ao adotar o mono- LIFO. Iniciais da expressão em inglês last in, first
metalismo de prata. Suas unidades de conta são out, que significa “último a entrar, primeiro a
a libra e o soldo, e, como unidade real, o denário. sair”, cuja sigla em português é UEPS. Este sis-
As equivalências entre elas eram as seguintes: tema é utilizado no controle de estoques, valo-
1 libra = 20 soldos = 240 denários, sendo 1 soldo rização contábil dos mesmos e em alguns casos
= 12 denários. O governo de Carlos Magno se de formação de filas. Veja também Fifo.
encarregou de garantir com grande cuidado a
manutenção do peso e do toque da prata, além LIFT A LEG. Expressão em inglês que significa,
de reservar-se o direito exclusivo de cunhar a literalmente, “levantar uma perna”, e que, apli-
libra, estabelecendo as mais pesadas sanções cada ao mercado de futuros monetário, finan-
àqueles que ousassem falsificar ou que se ne- ceiro, cambial e de commodities, significa fechar
gassem a aceitar o denário como meio de paga- um lado de um hedge long-short, antes de liquidar
mento. O soldo era também chamado soldo ca- o outro. Veja também Straddle the Market.
rolíngio. Atualmente, a libra é unidade mone-
tária de vários países, especialmente da Grã-Bre- LIGA ÁRABE. Organização criada em março
tanha, onde é denominada libra esterlina. Equi- de 1945 para promover a cooperação econômica,
valia a 20 xelins ou 240 pence. Depois da adoção cultural e política entre os países árabes. Teve
pela Inglaterra da cunhagem decimal, a partir papel de destaque durante a crise de Suez (1956),
de 1971, a libra esterlina passou a ser dividida esteve à frente dos países-membros por ocasião
em 100 novos pence, os quais equivalem a 2,4 do boicote do petróleo aos países ocidentais alia-
dos antigos, deixando-se de cunhar os xelins. dos de Israel (1972), enviou uma força de paz
Como unidade de peso, a libra é equivalente a ao Líbano (1976) e condenou os Acordos de
453,59 g. No Brasil, antes da adoção do Sistema Camp David, assinados em 1978 entre o Egito
Métrico Decimal, a Casa da Moeda utilizava a e Israel. Originariamente, abrangia Egito, Iraque,
libra-peso de 16 onças ou 447,104 g como uni- Líbano, Arábia Saudita, Síria, Transjordânia (a
dade de medida de peso. Veja também Conver- partir de 1949, Jordânia); mais tarde, ingressa-
são das Unidades de Pesos e Medidas; Cunha- ram Tunísia, Marrocos, Kuweit, Mauritânia, Iê-
gem; Sistemas de Pesos e Medidas; Unidades men do Norte, Iêmen do Sul, Argélia, Sudão,
de Pesos e Medidas. Omã, Qatar, Somália, União dos Emirados Ára-
349 LINHA DE MONTAGEM

bes e a Organização para a Libertação da Pales- preço podem ser realizados no dia de lançamen-
tina (OLP). to de uma ação ou em condições especiais, sem-
pre a critério da direção da Bolsa.
LIGA HANSEÁTICA. A mais poderosa confe-
deração de cidades e mercadores da Idade Mé- LIMITES DE TOLERÂNCIA NÃO-PARAMÉ-
dia européia, organizada com o objetivo de pre- TRICOS. São os determinados por processo que
servar os interesses dos comerciantes alemães dispensa o conhecimento da distribuição da po-
ao longo da costa do mar Báltico e outras regiões pulação de que provém a amostra sobre a qual
da Europa. Desenvolveu-se a partir de 1157 e se baseia aquela determinação.
em seu apogeu — séculos XIV e XV —, chegou
a aglutinar cerca de mil cidades sob a liderança LIMIT UP. Veja Limit Down.
de Lübeck, estendendo sua influência comercial
LINDER. Veja Tese de Linder.
e política de Novgorod (Rússia) até Londres.
Controlava a venda de pescado e sal do Báltico, LINGOTE. Forma em que são produzidos e es-
peles russas, vinhos franceses, lã inglesa e pro- tocados os metais preciosos, especialmente o
dutos de Portugal e Espanha. Para pertencer à ouro e a prata, também denominada barra de
liga, o comerciante tinha de ser alemão, pagar ouro e prata ou pela palavra em inglês bullion.
as taxas para o fundo de defesa comum e acatar A Casa da Moeda do Brasil produz lingotes de
as decisões do grupo contra os inimigos. Essas ouro nas seguintes dimensões: barra de 250 g
normas eram traçadas de três em três anos num — forma trapezoidal com 64 mm por 31 mm
congresso realizado em Lübeck. Muitas vezes de base, altura de 7 mm e topo com 67 mm por
as rotas e entrepostos comerciais eram garanti- 33 mm; barra de 1 kg — base de 99 mm por 44
dos pela força armada contra os concorrentes mm, altura de 12 mm e topo de 104 mm por
(os principais eram os flamengos e os escandi- 49 mm; barra de 100 onças (onça-troy = 31,103
navos) e também contra os senhores feudais. A g), base de 99 mm por 44 mm, altura de 31 mm
associação perdurou até 1669, enfraquecendo-se e topo de 111 mm por 56 mm; e barra de 400
na medida em que se processava a formação onças — base 198 mm por 79 mm, altura de 37
dos Estados Nacionais. mm e topo de 210 mm por 95 mm. Na atividade
tipográfica, é uma peça de chumbo (antimônio)
LIGHT COIN. Expressão em inglês que signi-
usada para deixar espaços em branco numa
fica, literalmente, “moeda leve”, isto é, moeda
composição.
que, devido à abrasão, tem o seu peso em metal
inferior ao estabelecido por lei. No caso das moe- LINHA DA POBREZA. Nível de renda que de-
das de ouro, se a redução do peso fosse maior fine a população pobre de um país. Geralmente,
do que o limite de tolerância (também determi- se considera um determinado nível de consumo
nado em lei), o seu valor legal seria reduzido de bens essenciais e quanto esse conjunto repre-
na proporção dessa perda. No caso da moeda senta em termos monetários. Aqueles que rece-
divisionária de prata, cobre e níquel, o princípio bem menos do que tal montante em dinheiro
não se aplica, uma vez que estas moedas (a não estariam abaixo da linha da pobreza. Em muitos
ser em casos excepcionais de hiperinflação) va- casos, esses números aparecem em porcenta-
lem bem mais como moeda do que como metal, gens, isto é, que porcentagem da população en-
do qual elas são feitas. Veja também Abrasão. contra-se abaixo dessa linha.
LILANGENI. Unidade monetária da Suazilân- LINHA DE MONTAGEM. Sistema de produ-
dia. Submúltiplo: cent. ção industrial no qual os trabalhadores são dis-
postos numa seqüência, de modo que o produto
LIMEAN. Iniciais da expressão inglesa London
vai sendo elaborado ao passar por eles, por meio
interbank median average rate, que é a média das
de operações sucessivas. A linha de montagem
medianas da libid e da libor no mercado mone-
pode ser instalada sobre um sistema de esteiras
tário europeu.
rolantes, no qual as operações efetuadas pelos
LIMIT DOWN. A máxima queda de preços per- trabalhadores têm um tempo preciso para ser
mitida pelo regulamento em sessões de uma Bol- realizadas, ou sobre uma grande mesa imóvel,
sa de Valores. Seu oposto, a elevação máxima em que cada trabalhador, sucessivamente, exe-
permitida, é denominado limit up. cuta uma etapa da produção de um produto. É
uma forma de organização do trabalho bem par-
LIMITES. Valores máximo e mínimo de um tí- celada e especializada, com o objetivo de au-
tulo ou ação, estabelecidos diariamente pelas mentar a produtividade industrial. O sistema de
Bolsas de Valores, fora dos quais nenhuma ope- linha de montagem está historicamente ligado
ração pode ser efetuada. Têm a finalidade de à indústria automobilística, onde foi introduzido
manter certo equilíbrio no mercado e evitar es- por Henry Ford. Veja também Consórcio Mo-
peculação desenfreada. Negócios sem limites de dular; Ford, Henry.
LINHA HORÁRIA INTERNACIONAL 350

LINHA HORÁRIA INTERNACIONAL. Linha moeda e a moeda metálica numa economia. En-
que corresponde mais ou menos ao meridiano tre títulos ou aplicações com o mesmo prazo de
180 do lado oposto do de Greenwich, no qual vencimento, terão maior liquidez aqueles títulos
o dia começa para a determinação da data. As- que possam ser vendidos mais facilmente no
sim, por exemplo, quando a segunda-feira tem mercado, como acontece, no mercado acionário,
início nesta linha, ainda é domingo em qualquer com as ações consideradas blue chips. Para uma
outro lugar do mundo. Nos últimos tempos, empresa, a liquidez é representada pelo dispo-
com a integração do mercado financeiro inter- nível (dinheiro em caixa mais títulos de merca-
nacional, essa demarcação ganhou grande im- do) e pelo realizável a curto prazo (mercadorias
portância, pois os países que se encontram a les- vendidas a prazos inferiores a seis meses, du-
te da linha ainda estão na data anterior, e os plicatas e promissórias). Veja também Blue Chip;
que se encontram a oeste já estão na data se- Liquidez Internacional; Preferência pela Liqui-
guinte. Dessa forma, as operações na Bolsa de dez; Quase-Moeda.
Valores de Tóquio, por exemplo, podem ter iní-
cio na segunda-feira pela manhã, quando a Bolsa LIQUIDEZ INTERNACIONAL. Capacidade
de Nova York ainda não começou a operar, por- que um país tem de pagar seus débitos nos pra-
que lá ainda é domingo. Este meridiano liga os zos estabelecidos em nível internacional. Como
pólos mais ou menos na altura da metade do os outros países dependem desses pagamentos
oceano Pacífico. Veja também Greenwich. para também realizarem os seus, o fato de um
país protelar ou deixar de pagar seus débitos
LINHA INTERNACIONAL DA DATA. Veja afeta a liquidez internacional ou a capacidade
Linha Horária Internacional. de os países credores realizar pagamentos. Por
LIPSEY EQUATION. Veja Equação de Lipsey. isso, nos momentos em que um país apresenta
falta de liquidez, ele pode solicitar empréstimos
LIQUIDAÇÃO. Em termos amplos, é a conver- ao Fundo Monetário Internacional (FMI), de for-
são de estoques ou ativos de uma empresa em ma a poder cumprir seus compromissos e não
dinheiro. É comum uma empresa com proble- romper o fluxo de transações internacionais ou
mas de liquidez (falta de dinheiro em caixa) pro- ainda reduzir de forma indesejável a liquidez
mover uma liquidação parcial — isso consiste, ge- internacional. Veja também FMI; Default; Dí-
ralmente, em vender estoques ou vender parte vida Externa; Reservas.
do ativo, tanto para comprar matéria-prima
como para poder pagar dívidas. Em alguns ca- LIQUIDITY TRAP (Armadilha da Liquidez).
sos, é feita a liquidação total da empresa, com Processo identificado por Keynes e que consiste
conseqüente fechamento da firma. Essa liquida- no seguinte: uma situação na qual o aumento
ção pode ser amigável ou voluntária, quando é da oferta de dinheiro não tem por conseqüência
da iniciativa dos próprios interessados; ou for- uma queda das taxas de juros, mas simplesmen-
çada, quando feita sob mandado judicial. Neste te provoca um incremento nos saldos monetá-
último caso, não é necessário ser uma falência; rios ociosos. A explicação do fenômeno é que,
alguns casos expressos em lei obrigam ao fecha- em condições normais, um aumento na oferta
mento da firma e, portanto, à liquidação de seu monetária resultaria num aumento do preço dos
ativo — isso ocorre, por exemplo, com a socie- títulos, na medida em que os indivíduos pro-
dade anônima que passe a ter menos de sete curariam adquirir ativos e não permanecer com
sócios. A liquidação precipitada, caracterizada pela moeda, e isto provocaria uma tendência para
venda de estoques e ativos a preços muito bai- queda na taxa de juros. Mas, na situação descrita
xos, sem motivos plausíveis, pode trazer prejuí- por Keynes, os indivíduos acreditam que o preço
zos aos credores (levando à insolvência da em- dos títulos estão muito elevados, e certamente
presa). Essa é uma das situações previstas em diminuirão, assim como as taxas de juros se en-
lei que permitem o pedido de falência contra o contram em níveis muito baixos, e certamente
comerciante. aumentarão no futuro imediato. Assim sendo,
acreditam que a aquisição de títulos acarretará
LIQUIDEZ. Disponibilidade em moeda corren- uma perda, e por isso mantêm o dinheiro na
te, meios de pagamento, ou posse de títulos, ou forma líquida. Em conseqüência, a expansão da
valores conversíveis rapidamente em dinheiro. oferta monetária apenas provoca o incremento
Dependendo do tipo de aplicação financeira, a dos saldos monetários ociosos, não afetando o
liquidez pode ser maior ou menor, sendo inver- nível da taxa de juros.
samente proporcional aos prazos em que as apli-
cações financeiras forem feitas: por exemplo, LIRA. Unidade monetária da Itália (lira italiana;
aplicações de longo prazo têm menor liquidez submúltiplo: centesimi), de San Marino (lira ita-
do que aplicações de curto prazo. A liquidez liana; submúltiplo: centesimi), do Vaticano (lira
absoluta, no entanto, só é possuída pelo papel- italiana; submúltiplo: centesimi), de Chipre (setor
351 LIVRE-EMPRESA

turco, lira turca; submúltiplo: kurush) e da Tur- LIVING TRUST. Veja Trust.
quia (lira turca; submúltiplo: kurush).
LIVRE-CÂMBIO. Regime no qual a taxa de
LISBOR. Iniciais da expressão em inglês Lisbon câmbio — ou preço da moeda de um país em
interbank offered rate ou taxa de juros interban- relação a outra moeda — fica livre para flutuar
cária do mercado financeiro de Lisboa (Portu- segundo as variações em sua procura e oferta
gal). Veja também Libor. mundiais, não sendo fixa em termos de um me-
tal precioso como o ouro nem mantida estável
LISENTE. Veja Loti. por iniciativa governamental. Nesse regime, se
LIS PENDENS. Expressão latina que denota a a oferta de uma moeda excede sua procura, seu
existência de alguma pendência legal (ou litígio) valor de troca tende a cair, estimulando a pro-
sobre algum título de propriedade. Em função cura e diminuindo o excesso da oferta. Tais flu-
do resguardo de direitos, sua existência deve tuações, tidas como nocivas ao comércio exte-
ser tornada pública. rior, são evitadas por métodos artificiais estabe-
lecidos pela maioria dos países (por meio de
LIST, Friedrich (1789-1846). Economista e polí- órgãos como o FMI, por exemplo), para garantir
tico alemão, teórico do nacionalismo econômico a estabilidade da taxa cambial.
e do protecionismo. Professor em Tübingen, List
liderou em 1819 uma associação de comerciantes LIVRE-COMÉRCIO. Doutrina econômica se-
e industriais alemães (o Zollverein), que lutava gundo a qual o fluxo de mercadorias e serviços
pela unificação econômica do país, com a eli- entre os países não deve ser submetido a tarifas,
minação das barreiras alfandegárias entre seus a restrições quantitativas, ou a quaisquer outros
Estados independentes e a criação de taxas para impedimentos criados ou encorajados por inter-
os produtos estrangeiros. Por sua atividade po- venção governamental direta. Baseia-se na tese
lítica, List foi condenado em 1820 e exilou-se segundo a qual o uso pleno dos recursos eco-
em vários países europeus e nos Estados Unidos nômicos mundiais e a conseqüente melhoria dos
(1825). De volta à Alemanha em 1832, continuou padrões de vida seriam inversamente propor-
a lutar pela união alfandegária, concretizada cionais às obstruções ao comércio entre países.
dois anos depois. Em 1841, List publicou sua Deriva da teoria clássica do comércio interna-
obra mais importante, Das nationale System der cional, que em fins do século XVIII reagiu contra
politischen Ökonomie (O Sistema Nacional de Eco- o protecionismo da doutrina mercantilista, re-
nomia Política), na qual expôs uma teoria pro- forçando um novo liberalismo econômico ligado
tecionista em favor da nascente indústria alemã, à doutrina do laissez-faire. O livre-comércio pre-
defendeu a industrialização como meio de su- valeceu na Inglaterra por quase um século, en-
perar o atraso econômico e atacou a doutrina quanto o país dominava o comércio internacio-
inglesa do livre-comércio, por basear-se na de- nal. Após a Primeira Guerra Mundial, o nacio-
sigualdade do desenvolvimento entre os países nalismo econômico atingiu seu apogeu e o li-
e mascarar o imperialismo inglês. Defendeu a vre-comércio foi substituído pelo protecionismo.
ativa intervenção do Estado no desenvolvimen- Depois da Segunda Guerra Mundial, no entanto,
to das forças produtivas nacionais. List classifica desenvolveram-se internacionalmente o comba-
o desenvolvimento dos países em cinco estados: te ao protecionismo e a busca de redução das
selvagem, pastoril, agrícola, agrícola-manufatu- barreiras comerciais, sobretudo em relação aos
reiro e agrícola-manufatureiro-comercial. O Es- bens manufaturados. Veja também Laissez-fai-
tado deveria realizar o equilíbrio entre a agri- re; Mercantilismo; Protecionismo.
cultura, a indústria e o comércio. Seu protecio-
nismo era parcial, por fundamentar-se na indús- LIVRE-CONCORRÊNCIA. Veja Concorrência.
tria e excluir a agricultura, e provisório, apli-
LIVRE-EMPRESA. Doutrina econômica basea-
cando-se somente às indústrias nascentes, e só
da nos princípios da propriedade e da iniciativa
até o ponto em que elas estivessem suficiente-
privadas. No regime de livre empresa, típico do
mente fortes para competir com as do exterior.
Durante seu exílio nos Estados Unidos, List es- capitalismo, o indivíduo é considerado absolu-
creveu Outlines of American Political Economy (Es- tamente livre para exercer qualquer atividade
boço de uma Economia Política Norte-america- econômica e dispor dos meios de produção da
na), 1827. forma que lhe for mais eficiente para atingir o
lucro. Para alcançar esse objetivo, as empresas
LISTA NEGRA. Lista contendo nomes de tra- são soberanas para contratar, produzir e deter-
balhadores, geralmente com capacidade de agi- minar o preço que lhes parecer mais convenien-
tação e organização sindicais (ou de greves), que te. Idealmente, a livre concorrência e o livre jogo
os empresários elaboram e distribuem entre si, das forças de mercado (oferta e procura) seriam
para que tais trabalhadores demitidos de uma os elementos controladores dessa liberdade eco-
empresa não sejam admitidos em outra. nômica. A doutrina da livre empresa está ali-
LIVRE-INICIATIVA 352

cerçada nos princípios do liberalismo econômico tado com títulos indesejáveis, ou de baixa liqui-
ou laissez-faire, que afasta qualquer participação dez no mercado.
do Estado nos mecanismos da produção e da
comercialização. A esse caberia apenas zelar LOBBY. Termo em inglês que significa, literal-
pela segurança pública e garantir o direito à pro- mente, “vestíbulo” ou “ante-sala”, mas que se
priedade. Veja também Capitalismo; Dirigismo; refere a pessoa ou grupo organizado para pro-
Intervencionismo; Laissez-faire; Liberalismo. curar influenciar procedimentos e atos dos po-
deres públicos como o Executivo, o Legislativo
LIVRE-INICIATIVA. Princípio do liberalismo e o Judiciário. Esta atividade desenvolveu-se
econômico que defende a total liberdade do in- particularmente no Legislativo dos Estados Uni-
divíduo para escolher e orientar sua ação eco- dos, onde foi regulamentada em 1946. Empresas,
nômica, independentemente da ação de grupos grupos econômicos, sindicatos e associações de
sociais ou do Estado. A liberdade para as ini- classe mantêm escritórios (ou contratam escri-
ciativas econômicas, nesse sentido, implica a to- tórios especializados) devidamente registrados
tal garantia da propriedade privada, o direito em Washington, que acompanham atentamente
de o empresário investir seu capital no ramo as atividades do Legislativo e se relacionam di-
que considerar mais favorável e fabricar e dis- retamente com os deputados e/ou senadores
tribuir os bens produzidos em sua empresa da que têm mais influência nas comissões para o
forma que achar mais conveniente à realização encaminhamento e a aprovação de leis. Tais es-
dos lucros. Os limites da livre-iniciativa, de acor- critórios preparam argumentos, organizam cam-
panhas e fazem diversos tipos de movimentação
do com a economia clássica, estariam determi-
para tentar impedir a aprovação de leis desfa-
nados no próprio sistema de concorrência entre
voráveis aos grupos ou empresas que repre-
empresários particulares, cabendo ao Estado
sentam, ou acelerar a tramitação e obter a apro-
apenas garantir a manutenção dos mecanismos
vação daquelas leis que interessam a tais grupos.
naturais da economia de mercado. Nas condi-
No Brasil, embora não exista legislação especí-
ções atuais do desenvolvimento capitalista, a ne- fica regulamentando a atividade, esses grupos
cessidade de defender o sistema dos efeitos das e escritórios de “lobistas” proliferam, especial-
crises cíclicas levou o Estado a impor limites à mente em Brasília, exercendo em alguns casos
livre-iniciativa, seja atuando diretamente no grande influência sobre a aprovação ou rejeição
processo produtivo, seja agindo como elemento de projetos de lei pelo Congresso Nacional.
orientador de investimentos e controlador de de-
sajustes sociais.Veja também Dirigismo. LOBISMO. Atividade desenvolvida pelos lob-
bies. Veja Lobby.
LIVRO-CAIXA. Livro de escrituração contábil
de uma empresa, no qual são registradas as en- LOBISTA. Veja Lobby.
tradas e saídas de dinheiro. Em geral, possui
duas colunas: a da direita, relativa às importân- LOC. Iniciais de letter of credit, que significa “car-
cias pagas; e a da esquerda, relativa às impor- ta de crédito”.Veja também Carta de Crédito.
tâncias recebidas. Nas empresas que fazem pa- LOCALIZAÇÃO INDUSTRIAL. O estudo das
gamentos e recebimentos por meio de bancos, influências que determinam a distribuição geo-
o livro-caixa pode receber mais duas colunas re- gráfica de empresas levou à elaboração de uma
ferentes a essas importâncias. Os saldos diários “teoria da localização”, que busca facilitar a to-
do livro-caixa mostram, a qualquer tempo, a mada de decisões dos empresários nesse senti-
quantidade de dinheiro em poder da empresa, do. Essa especialidade originou-se dos estudos
e devem ser transportados para outro livro, o de Von Thünen, que desenvolveu modelos de
diário, sob o título Caixa — Deve ou Haver. localização em condições de competição perfei-
ta, visando à maximização de lucros. Como re-
LIVRO DA CAPA VERDE. Veja Demarcação sultado desses modelos, a decisão para escolha
Diamantina. de local de instalação da indústria era tomada
LLOYD. Veja Atuária. em função da natureza do produto e dos custos
de transporte até o mercado consumidor. O mo-
LMT DEBT. Iniciais da expressão em inglês long delo mais simples supõe que os custos de pro-
and medium term debt, que significa “dívida de dução, em qualquer localidade, sejam os mes-
médio e longo prazos”. mos. Então, o problema resumir-se-ia em esco-
lher uma região onde os custos de distribuição
LOAD UP. Expressão em inglês que designa sejam os mais baixos possível. Na realidade, os
uma situação no mercado financeiro na qual um fatores não são tão controláveis e variam desde
operador (especulador) comprou títulos ou açõ- o custo do terreno até simpatias pessoais. Para
es no limite de sua capacidade financeira com produzir, uma empresa necessita fundamental-
fins especulativos, ou que tal operador está lo- mente de mão-de-obra, combustíveis, matérias-
353 LOMBARD STREET

primas e máquinas. Ao mesmo tempo, deve ter tando a teoria quantitativa da moeda, que rela-
acesso relativamente fácil a seu mercado consu- ciona o nível dos preços à quantidade de moeda
midor. Essas condições devem equilibrar-se de em circulação.
forma a diminuir ao máximo o custo da unidade
produzida. Em alguns tipos de indústria, um LOCK-IN EFFECT. Veja Efeito Lock-In.
dos fatores citados é o mais importante. As mi-
nerações, por exemplo, devem situar-se nos lo- LOCKOUT. Paralisação das empresas pelos
cais onde estão as jazidas. As siderúrgicas, de- próprios empregadores. Seus objetivos podem
vido ao alto custo do transporte do carvão, tam- ser: 1) frustrar a realização de uma greve; 2) in-
bém costumam procurar localizações não muito duzir os grevistas de outras empresas a voltarem
distantes das jazidas (isso explica por que as ao trabalho para não prejudicar os companhei-
primeiras fábricas do mundo concentraram-se ros das empresas fechadas pelos patrões; 3) pro-
junto às minas). E, no passado, algumas fábricas testar contra medidas governamentais; 4) forçar
situavam-se perto de quedas-d’água para apro- elevação de preços e/ou tarifas de bens ou ser-
veitamento da energia hidráulica. Atualmente, viços.
com a distribuição de energia elétrica através
de grandes distâncias, não há mais necessidade LOGARITMO NATURAL. Logaritmo de um
de a indústria ficar tão restrita à proximidade número é a potência à qual a base do logaritmo
da fonte energética. Quando o custo de trans- deve ser elevada para ser igual àquele número.
porte da matéria-prima não é fundamental, os Por exemplo, se a base de um logaritmo é w,
custos de distribuição do produto podem passar então, Log w b = 1, de tal forma que b = w1.
a ser decisórios. Indústrias de bens de consumo A base dos logaritmos mais comumente usada
duráveis (geladeira, televisores, fogões), por é a 10, dos chamados logaritmos comuns, e o
exemplo, tendem a procurar locais próximos a número e = 2,718, também chamado logaritmo
grandes centros urbanos, onde se concentra seu neperiano ou logaritmo natural, e representado
mercado consumidor. Também a intervenção pelas letras Ln.
governamental pode alterar os fatores decisó-
rios. Assim, procurando desenvolver determi- LOGÍSTICA, Curva. Uma função da forma Y
nadas regiões, os governos podem doar terre- = A/(1 + e elevado a (a+bX)), onde X e Y são
nos, conceder isenções de impostos ou subven- variáveis, A, a, b são constantes e e é a base dos
cionar os custos de serviços básicos (como água logaritmos naturais (neperianos). O gráfico des-
e energia elétrica). Veja também Incentivos Fis- ta função tem a forma de um S e esta fórmula
cais; Zona Franca; Thünen, Johann Heinrich von. às vezes é utilizada para representar o valor de
uma variável econômica no tempo, ou de uma
LOCKE, John (1632-1704). Filósofo e economis- variável demográfica (especialmente do cresci-
ta inglês, teórico do empirismo e do liberalismo. mento de uma população). Veja também Curva
Em Two Treatises on Government (Dois Tratados de Crescimento.
sobre o Governo), 1690, propõe uma monarquia
constitucional, liberal e representativa, defen- LÓIDE BRASILEIRO. Maior empresa da Ma-
dendo a tese de que os homens são iguais e rinha Mercante brasileira, criada em 1890. Esta-
livres por natureza e formam a sociedade por tal à época de sua fundação, foi transformada
livre consentimento (o contrato social) e com em sociedade de economia mista em 1967, sob
base em direitos naturais, como a integridade controle acionário do governo. Possui linhas re-
pessoal e a propriedade. Entende a finalidade gulares para todos os continentes. Tem escritó-
da vida social como a de produzir a maior quan- rios em Nova York, Tóquio, Hamburgo, Gênova
tidade possível de coisas úteis, não importando e Buenos Aires.
como sejam distribuídas. Essas idéias exerceram
LOMBARD RATE. Veja Lombarda, Taxa.
profunda influência nos teóricos clássicos do li-
beralismo econômico inglês (Adam Smith, Mal- LOMBARDA, Taxa. Taxa de juros instituída pe-
thus, Ricardo). Locke opunha-se à limitação dos los bancos na Alemanha sobre empréstimos co-
juros. Era ainda influenciado pelas idéias mer- lateralizados (garantidos) por securities. O termo
cantilistas. Já considerava o trabalho, e não a é usado oficialmente pelo Bundesbank (Banco
terra, a fonte principal do valor dos bens. Em Central da Alemanha), que fixa a taxa lombarda
Some Considerations on the Consequences of the Lo- em 0,05% acima de sua taxa de desconto. Infor-
wering of Interest and Raising the Value of Money malmente, é usada por bancos europeus quando
(Algumas Considerações sobre as Conseqüên- se refere a empréstimos garantidos por securities.
cias da Baixa dos Juros e da Elevação do Valor
da Moeda), 1692, o autor analisa a formação dos LOMBARD STREET. Rua na city londrina
preços em função da oferta e da procura, ado- onde estão sediados os principais bancos do
LOMÉ 354

país. O correspondente inglês da Wall Street de lizar”; o capital seria útil por ajudar o trabalho
Nova York. Veja também Lombarda, Taxa. a tornar-se mais produtivo; os lucros do capital
dependeriam de sua produtividade; e esta seria
LOMÉ. Veja Convenção de Lomé. determinada marginalmente pela porção do ca-
LOMI. Iniciais da expressão em inglês letter of pital menos eficiente em ajudar o trabalho.
moral intent, que significa um documento obtido Longfield realizou ainda trabalhos sobre tarifas,
por uma empresa sem as suficientes garantias taxas de juros e ciclos econômicos que se ante-
legais, geralmente dado pela matriz em relação ciparam a idéias posteriores, principalmente as
a uma filial. análises da escola austríaca. Escreveu ainda
Three Lectures on Commerce and one on Absenteeism
LONG. Termo utilizado no mercado financeiro (Três Conferências sobre Comércio e Uma sobre
para designar operador com ações ou títulos que Absenteísmo), 1835.
possui uma quantidade maior desses papéis do
que deve entregar a compradores num momento LONGO, Carlos Alberto (1941- ). Nasceu em
dado. Essa situação se aplica geralmente aos São Paulo e graduou-se em economia na Facul-
operadores do tipo bull, ao contrário dos bears, dade de Ciências Econômicas da Universidade
cuja posição é exatamente a contrária, ou seja, Mackenzie (SP) em 1971. Obteve o título de dou-
a posição por eles mantida é em geral (vendida) tor em economia pela Universidade de Rice
short. Veja também Bull; Bear; Long Account; (EUA) em 1978, e tornou-se professor titular da
Shorts. Faculdade de Economia e Administração da
Universidade de São Paulo em 1989. Seus tra-
LONG ACCOUNT. Expressão em inglês que, balhos e pesquisas têm tratado de questões tri-
aplicada ao mercado financeiro, significa que butárias e orçamentárias relacionadas com o
um título ou o conjunto de títulos adquiridos processo de desenvolvimento econômico. Seus
no mercado são mantidos na expectativa de uma livros mais importantes são: Em Defesa de um
elevação de suas cotações. Imposto de Renda Abrangente (1984), Caminhos
para a Reforma Tributária (1986) e Estado Brasileiro:
LONGA MANUS. Expressão em latim que sig- Diagnóstico e Alternativas (1990). Foi presidente
nifica, literalmente, “longa mão”, mas que, apli- da Academia Nacional de Direito e Economia
cada no campo administrativo, designa o pro- entre 1989 e 1991, e membro da Comissão Exe-
longamento do poder público. Neste sentido, cutiva de Reforma Fiscal em 1992. É membro
uma autarquia é uma longa manus ou prolonga- do Conselho de Diretores do Institute of Eco-
mento do poder público. nomics Fernand Brandel desde 1992. É professor
LONG PULL. Expressão em inglês utilizada no de economia da Faculdade de Economia e Ad-
mercado financeiro quando a compra de um tí- ministração da Universidade de São Paulo.
tulo é feita na expectativa de mantê-lo durante LONGO PRAZO. Termo aplicado aos venci-
um longo período de tempo antes que os lucros mentos (de créditos ou débitos) que ocorrerão
da operação possam ser realizados. após um período de tempo longo. Esse período
LONGFIELD, Samuel Mountifort (1802-1884). varia conforme o caso: no que se refere a uma
Economista e jurista irlandês. Primeiro professor letra de câmbio, por exemplo, o longo prazo in-
da cadeira de economia política do Trinity Col- dica aplicações superiores a 360 dias; já na com-
lege, em Dublin (Irlanda), foi precursor da teoria pra de uma casa ou um empréstimo internacio-
da utilidade marginal. Sua principal obra, Lec- nal, indica prazos de vários anos. No âmbito
tures on Political Economy (Conferências sobre financeiro, longo prazo significa um período su-
Economia Política), 1834, em geral seguiu as perior a cinco anos. Em outra acepção, Alfred
doutrinas fundamentais da economia clássica, Marshall denominou longo prazo aquele em que
mas introduziu inovações. Identificou o valor existe tempo suficiente para que o abastecimento
de um bem com sua utilidade. Afirmou que a de insumos para a produção de commodities seja
concorrência asseguraria o equilíbrio entre ofer- feito para se adaptar às mudanças na demanda.
ta e procura e que a procura seria determinada Veja também Curto Prazo.
pela utilidade. Longfield refutou a teoria do fun- LOP. Iniciais da expressão em inglês law of one
do de salário, argumentando que os salários dos price, que significa que uma mercadoria terá o
trabalhadores dependem do valor de seu traba- mesmo preço, qualquer que seja a moeda utili-
lho e não de suas necessidades, naturais ou ad- zada para comprá-la.
quiridas. Antecipou uma teoria marginal da pro-
dutividade do trabalho e do capital. A demanda LORENZ, Curva de. Representação gráfica da
de trabalhadores dependeria da “utilidade ou distribuição da renda usada pela primeira vez
valor do trabalho que eles são capazes de rea- em 1905 por M.C. Lorenz.
355 LTCM

Renda limitadas. Corresponde, nos Estados Unidos, a


%
Inc. (incorporated), embora naquele país, em al-
100 100,0
guns Estados, se utilize também a abreviação
90
“Ltd”, correspondente à palavra limited.
80
70 LOTE. Grupo de bens ou valores, iguais ou di-
60 ferentes, colocado à venda em leilão. No mer-
50 49,5
cado de títulos, é o grupo de ações ou títulos
de qualquer natureza, arrematado em leilão ou
40
35,0 em pregão normal das Bolsas. No mercado imo-
30
25,2
biliário, é um terreno objeto de parcelamento
20 de uma área maior.
18,6
13,5
10 9,1
1,0 3,2 5,9
População LOTE ECONÔMICO DE COMPRA. Trata-
10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 se da quantidade de matérias-primas, pro-
dutos semi-acabados ou acabados (peças,
Consiste em representar sobre o eixo horizontal por exemplo) que uma empresa encomenda
(em porcentagem) o total dos destinatários da de cada vez para minimizar seu custo total,
renda, e sobre o eixo vertical, a soma (ou por- levando-se em conta as despesas de armaze-
centagem também) de todas as rendas recebidas namento, os juros do capital empatado e as
no período (em geral, um ano). Ligando os pon- despesas gerais de compra.
tos desses dois eixos, pode-se traçar uma linha LOTE FRACIONÁRIO. Denominação dada nas
ascendente a partir do ponto 0, com ângulo de Bolsas de Valores a um lote que não contenha
45, o que representaria a curva de distribuição um número de unidades igual a um múltiplo
ideal da renda ou de igualdade absoluta: por inteiro do lote padrão. Veja também Lote Pa-
exemplo, 10% da renda total corresponderiam drão; Lote Redondo.
a 10% das pessoas que receberam renda ou 90%
da soma da renda total corresponderiam a 90% LOTE PADRÃO. Denominação dada nas Bol-
das pessoas a quem essa renda foi destinada. A sas de Valores à quantidade mínima de ações
representação da renda real sobre esse gráfico vendidas e compradas nos pregões. No Brasil,
mostrará como se distribuem os diferentes gru- esse lote padrão costuma ser de mil ações.
pos de pessoas em relação a essa distribuição
ideal. A curva que surge então poderá ser assim LOTE REDONDO. Denominação dada nas Bol-
interpretada: x% das pessoas mais pobres per- sas de Valores a um lote de títulos, ações etc.
ceberam y% da renda total, ou, ao contrário, y% que corresponde a um múltiplo inteiro de um
das rendas mais baixas corresponderam a x% lote padrão. Veja também Lote Fracionário.
de pessoas. A curva serve, portanto, para medir
o grau de desigualdade entre os limites opostos LOTI. Unidade monetária de Lesoto. Submúl-
da distribuição da renda. tiplo: lisente.

LORO ACCOUNTS. Expressão ítalo-inglesa que, LOW GRADE. Expressão em inglês que signi-
aplicada ao mercado interbancário internacio- fica “baixa qualidade” e designa mercadorias,
nal, designa as contas correntes dos bancos de títulos, ações de qualidade inferior. Veja também
um país em bancos no exterior, nas unidades Moody’s Investors Service; Standard & Poor’s.
monetárias desses países, mantidas a favor de LTCM. Iniciais de Long Term Capital Manag-
seus clientes. Literalmente, a expressão significa ment (Administração de Investimentos de Lon-
“conta deles”. go Prazo), denominação de um fundo de inves-
LS. Abreviação da expressão em inglês place of timentos norte-americano que, ao apresentar
the seal, que significa lugar de embarque. fortes perdas durante o mês de setembro de
1998, teve de ser socorrido pelo Fed (Banco Cen-
LOTAÇÃO MODULAR. Medida da capacida- tral dos Estados Unidos), para evitar que hou-
de que um imóvel rural tem de absorver um vesse uma reação em cadeia e outro fundos fos-
determinado número de famílias de acordo com sem também afetados, gerando uma crise finan-
a sua capacidade de uso, condições regionais de ceira de grandes proporções. O fato relevante é
produção e mercado nos projetos de Reforma que este fundo tinha como consultores dois ga-
Agraria e Desenvolvimento. nhadores do Prêmio Nobel de Economia, Robert
Merton e Myron Scholes, os quais, durante os
LTDA. Abreviação de “limitada”, isto é, daque- anos 70, haviam desenvolvido fórmulas para
las sociedades empresariais nas quais a respon- realizar operações no mercado financeiro com
sabilidade de seus proprietários limita-se ao ca- risco mínimo de perdas. Veja também Prêmio
pital investido na empresa, ou seja, sociedades Nobel (Economia).
LTN 356

LTN — Letras do Tesouro Nacional. Títulos de presariado visando a um futuro rendimento, ris-
renda fixa, com taxas de juros convencionais, co do investimento, engenhosidade do empre-
emitidos pelo governo federal e utilizados para sário, posse de um fator de produção escasso
financiar obras públicas e para controlar as ope- (o capital). Para o marxismo, o lucro é uma for-
rações de open market. Quando há excesso de ma de manifestação da mais-valia, resultante da
liquidez (muito dinheiro em circulação), o go- apropriação, pelo empresário, de uma parte do
verno vende LTNs, “enxugando” o meio circu- valor criado pelos trabalhadores. O principal ob-
lante. Em caso contrário, o governo recompra jetivo de uma empresa capitalista é produzir lu-
esses títulos, repondo dinheiro em circulação. cro para seus proprietários. Todas as decisões
importantes — o que, quanto e como produzir
LUCAS, Robert E. (1937- ). Economista norte- — têm como critério básico aumentar o lucro
americano ganhador do Prêmio Nobel de Eco- do capital investido. E isso é verificado pela taxa
nomia em 1995. Professor da Universidade de de lucro da empresa: a relação entre o lucro lí-
Chicago, desenvolveu, do ponto de vista ma- quido e o capital revela em que medida esse
croeconômico, a teoria das expectativas racio- objetivo foi alcançado. Como o lucro resulta da
nais. Um dos representantes da chamada Nova diferença entre a receita das vendas e as despe-
Economia Clássica, em função dos resultados sas da produção, num mercado competitivo
obtidos com a aplicação do conceito de expec- uma das formas de elevá-lo consiste em aumen-
tativas racionais ao comportamento dos inves- tar o volume de vendas e ao mesmo tempo re-
timentos. Seus trabalhos mais importantes são duzir os custos. Nesse caso, a taxa de lucro mede
os seguintes: Real Wages, Employment and Infla- também o desempenho, ou eficiência, da em-
tion (Salários Reais, Emprego e Inflação), em co- presa. No caso de um monopólio ou oligopólio,
laboração com Leonard Rapping; Econometric quando a empresa tem relativa liberdade de fi-
Testing of the Natural Rate Hypothesis (Teste Eco- xar o preço de venda dos produtos que fabrica,
nométrico da Hipótese da Taxa Natural); Expec- a margem de lucro é muito maior. Além disso,
tations and the Neutrality of Money (Expectativas as empresas monopolistas têm melhores condi-
e a Neutralidade da Moeda); An Equilibrium Mo- ções de baixar seus custos de produção não ape-
del of Business Cycles (Um Modelo de Equilíbrio nas porque produzem em grande escala, mas
dos Ciclos Econômicos). Veja também Expecta- também porque impõem preços baixos aos seus
tivas Racionais; Expectativas Adaptativas. fornecedores de matérias-primas e insumos em
geral. Portanto, nem sempre uma alta lucrativi-
LUCRO. Rendimento atribuído especificamente dade é expressão de grande eficiência. Os ren-
ao capital investido diretamente por uma em- dimentos proporcionados pela produção social
presa. Em geral, o lucro consiste na diferença dividem-se entre as classes sociais de acordo
entre a receita e a despesa de uma empresa em com a forma como participam do processo eco-
determinado período (um ano, um semestre nômico. Os trabalhadores participam da renda
etc.). O lucro bruto é a diferença entre a receita recebendo salários; os donos de recursos natu-
obtida pela venda de mercadorias e o custo de rais ou imóveis obtêm a renda da terra ou alu-
sua produção, incluindo-se nesse custo os gastos guéis; os proprietários do capital financeiro re-
com insumos (matérias-primas), energia e ou- cebem juros; e os donos das empresas indus-
tras despesas, mais os impostos e a remuneração triais, comerciais, de serviços ou de outra natu-
da força de trabalho. O lucro líquido é calculado reza, os lucros. Numa economia capitalista mo-
subtraindo-se do lucro bruto a quantia corres- derna, os rendimentos fundamentais são os sa-
pondente à depreciação do capital fixo (máqui- lários e os lucros, que mantêm entre si uma re-
nas e equipamentos) e as despesas financeiras lação complexa. Da magnitude dos salários de-
(pagamento de juros de empréstimos). Parte do pende o poder aquisitivo da maioria da popu-
lucro líquido é paga em dinheiro para retirada lação. Por ter essa importância social, os salários
dos sócios (em empresas individuais) ou em di- não são determinados apenas por mecanismos
videndos (em sociedades anônimas). Outra par- de mercado, mas também por regras institucio-
te, destinada a ampliar o capital da empresa, é nais (salário mínimo, contratos coletivos de tra-
colocada num fundo de reserva. O lucro bruto balho etc.) que atingem todas as empresas.
é considerado excedente econômico, ou seja, um Quando os salários aumentam, cria-se uma ex-
rendimento gerado no interior da empresa, de- pansão da demanda de bens e serviços, que per-
duzidos todos os custos necessários à produção mite às empresas elevar seus preços e, assim,
da mercadoria. A produção de excedente carac- preservar suas margens de lucro. Nesse caso,
teriza vários sistemas econômicos, mas somente são especialmente beneficiadas as empresas que
no capitalismo ela assume a forma de lucro. As produzem mercadorias de consumo de massa,
escolas econômicas clássica, neoclássica e mar- onde os assalariados concentram seus gastos.
ginalista consideram o lucro uma remuneração Quando há uma queda de salários, os custos
do capital, justificada de várias maneiras: abs- das empresas tornam-se menores e aumenta a
tinência do consumo pessoal e poupança do em- margem de lucro. No entanto, isso pode ser anu-
357 LUCRO REAL

lado pela redução do consumo e conseqüente estimativas sobre o futuro com ganhos supe-
redução das vendas e da produção das empre- riores ao lucro normal, sendo a diferença o lucro
sas. Mas o aumento do lucro não tem efeito se- puro. Veja também Knight, Frank.
melhante na economia ao de uma elevação sa-
larial, pois enquanto a maior parte dos salários LUCRO REAL. Do ponto de vista financeiro, é
é empregada em gastos de consumo, grande o lucro nominal de uma empresa deflacionado
parcela do lucro é destinada à poupança. Uma por um índice oficial de variação de preços. Do
parte do lucro líquido é quase sempre retida ponto de vista tributário, é aquele correspon-
nas empresas e reinvestida. Além disso, como dente ao lucro líquido do exercício ajustado pe-
os que recebem rendimentos provenientes do las adições ou compensações prescritas ou au-
lucro costumam ter uma renda elevada, sua pro- torizadas legalmente e sobre o qual incide o Im-
pensão a poupar é maior. Desse modo, um au- posto de Renda.
mento dos lucros em detrimento dos salários LUCROS. Veja Lei da Remessa de Lucros; Par-
tem um efeito depressivo sobre a demanda geral ticipação nos Lucros.
da economia. Dependendo do grau em que a
capacidade de produção das empresas é utili- LUDITAS. Grupos de operários ingleses que no
zada, a poupança proveniente do lucro pode início do século XIX destruíam as máquinas in-
transformar-se ou não em investimento de na- troduzidas na indústria têxtil. O emprego da
tureza produtiva, gerando novos lucros, empre- máquina no processo produtivo provocou a ruí-
gos e salários. Por isso, a relação entre poupança, na de milhares de artesãos, que se viram obri-
consumo e investimento depende em grande gados a vender sua força de trabalho aos em-
parte do modo como o produto social é repar- presários. Voltaram-se então contra as máquinas
tido entre salários e lucros. Veja também Capi- que substituíam nas fábricas seus instrumentos
tal; Consumo; Investimento; Juros; Poupança; de trabalho. A prática foi reprimida com a pena
Renda; Salário. de morte (lei de 1812) e a deportação. A desig-
nação veio do nome de King Ludd, um dos lí-
LUCRO ARBITRADO. É a forma escolhida para deres do movimento. Atualmente, aqueles cida-
o lançamento do imposto quando o contribuinte dãos, especialmente nos Estados Unidos, que re-
(sujeito à tributação com base no lucro real) não jeitam a utilização de computadores ou não re-
mantém escrituração na forma estabelecida na conhecem as enormes vantagens oferecidas por
legislação comercial. esses equipamentos, e não os têm em suas casas,
têm sido denominados de neoluditas.
LUCRO CESSANTE. Lucro que o credor dei-
xou de obter durante o período em que o de- LUEI. Veja Cuanza.
vedor não cumpriu as obrigações contraídas
(por empréstimo, contratos de fornecimento de LUMEN. Veja Vela.
serviços ou execução de obras etc.). É incluído LUMPEMPROLETARIADO. Termo utilizado
entre as perdas e danos pelos quais o credor por Marx para designar a camada social que
pode requerer indenização. vive de subemprego ou de atividades marginais
como prostituição, rufianismo, mendicância,
LUCRO ÓTIMO. Veja Maximização de Lucros. roubo e tráfico de drogas. Esses indivíduos se-
LUCRO PRESUMIDO. Uma das bases para o riam incapazes de qualquer ação conseqüente
contra a sociedade capitalista.
cálculo do Imposto de Renda. Ele pode ser to-
mado opcionalmente, mas só no caso de pessoas LUTA DE CLASSES. Conflitos e antagonismos
jurídicas que preencham cumulativamente os entre as classes sociais, decorrentes da oposição
seguintes requisitos: 1) tenham receita bruta re- de interesses econômicos e políticos. Pode se ex-
duzida, e 2) a receita tenha origem fundamen- pressar de diversas formas, desde a luta econô-
talmente na venda de produtos de própria fa- mica, passando pela luta política (por exemplo,
bricação, ou de mercadorias adquiridas para re- a disputa parlamentar entre os partidos repre-
venda, ou da produção de artigos de encomenda. sentantes das diversas classes), até a luta arma-
da. O marxismo explica a história universal como
LUCRO PURO. É a diferença resultante se sub- a história da luta de classes, considerando-a a
trairmos da renda de qualquer atividade seus principal força motriz das transformações sociais.
custos de oportunidade e o lucro normal (mé-
dio) necessário para que os empresários façam LUTINE BELL. Sino tocado pela Lloyds (de
investimentos na economia. Este conceito sus- Londres) para anunciar acontecimentos impor-
citou a seguinte discussão: o “lucro puro” exis- tantes no âmbito dos seguros. Ele tocava duas
tiria num sistema de concorrência perfeita? O vezes para anunciar boas notícias e uma vez
argumento de alguns economistas defendendo para anunciar notícias ruins. O sino foi retirado
a existência de tal lucro, como Frank Knight, é do navio Lutine, que naufragou no mar do Norte
que a incerteza levaria os empresários a fazer em 1799, com uma carga de lingotes de ouro.
LUVAS 358

LUVAS. Quantia paga em dinheiro durante surge, desse modo, como uma tentativa das po-
uma negociação a título de compensação ou gra- tências capitalistas de controlar o máximo pos-
tificação. Costuma-se cobrar luvas sempre que sível do mundo não-capitalista; e as tarifas pro-
há transferência de contrato, como compensação tecionistas são o meio pelo qual cada país im-
à parte cedente (que transfere). É o caso de pon- pede aos outros o acesso a seu próprio mercado
tos comerciais, em que o cedente (o que passa interno não-capitalista. O livro de Luxemburgo
o ponto) investiu na formação de uma clientela. provocou uma acesa controvérsia no pensamen-
É também o caso da contratação de atletas, em to marxista, envolvendo Kautski, Bukhárin, Otto
que o cedente investiu na formação do nome Bauer e outros autores. Devido ao fato de abor-
do atleta e em seu desenvolvimento. dar criticamente as características da fase impe-
rialista do capitalismo, foi considerado um tra-
LUXEMBURGO, Rosa (1870-1919). Revolucio- balho precursor do estudo que Lênin realizou
nária alemã de origem polonesa, economista, di- sobre o tema.
rigente da II Internacional. Autora de A Acumu-
lação do Capital, 1913, marco da análise econô- LUXIBOR. Iniciais de Luxembourg interbank offer
mica marxista. Iniciou sua militância nas fileiras rate, isto é, taxa de juros interbancária praticada
do Partido Socialista Revolucionário polonês e, na praça de Luxemburgo, com as mesmas ca-
em 1889, já estava no exterior para escapar à racterísticas da libor.
prisão. Doutorou-se em economia política em
Zurique (Suíça), aproximando-se de Plekhanov LW. Iniciais da expressão em inglês low water,
e outros marxistas russos no exílio. Em 1898, que significa “águas rasas” ou “pouco profun-
passou a militar na social-democracia alemã. No das” e aplicada na navegação quando esta se
Congresso de Dressen (1903), reivindicou a ex- dá em águas de pouca profundidade.
pulsão de Eduard Bernstein, que propunha a
realização de reformas graduais como meio para
chegar ao socialismo. Publicou na época os ar-

M
tigos reunidos em Reforma Social ou Revolução,
1899. Ainda contra o reformismo, escreveu Greve
de Massas, Partido e Sindicatos, 1906. Voltou à Po-
lônia em 1905, para liderar o movimento de
apoio à Revolução Russa, unindo grupos socia-
listas poloneses e lituanos. Foi presa e libertada
sob fiança. Retornou à Alemanha, onde proferiu
conferências na escola do Partido Social Demo-
crata em Berlim, que deram origem a seus prin- M. Inicial de: 1) mark (unidade monetária da
cipais trabalhos. Em 1914, Rosa Luxemburgo Alemanha); 2) markka (unidade monetária da
condenou o apoio da social-democracia alemã Finlândia); 3) mediana; 4) millime (unidade mo-
à “defesa nacional” na guerra imperialista. Por netária da Tunísia); 5) mortgage (hipoteca).
fazer propaganda pacifista, ficou presa de 1915
M-1. Representação dos meios de pagamento,
a 1918. Escreveu então as Cartas da Prisão, 1921.
isto é, a soma do papel-moeda em poder do
Ainda no cárcere, fundou com Karl Liebknecht,
público e dos depósitos à vista no sistema ban-
também internacionalista e pacifista, o grupo de
cário.
ação revolucionária Spartakus. O grupo liderou,
em janeiro de 1919, um levante socialista contra M-2. Representação do estoque de moeda, cons-
o novo governo republicano de Berlim, compos- tituído pelo papel-moeda em poder do público,
to de social-democratas reformistas aliados aos mais os depósitos à vista no sistema bancário,
conservadores. A revolta foi sufocada por vo- mais os depósitos a prazo neste mesmo sistema.
luntários de extrema-direita. Rosa Luxemburgo O M-2 é, portanto, a soma do M-1 mais os de-
e Liebknecht foram presos e em seguida assas- pósitos a prazo no sistema bancário. A partir
sinados, seus corpos atirados num canal. Em A de 1991, com a criação dos fundos de aplicação
Acumulação do Capital, sua mais importante obra financeira, o M-2 passou a ser constituído por
econômica, tenta mostrar que a acumulação do M-1 mais carteiras dos fundos de investimento
capital é impossível num sistema capitalista fe- de curto prazo, mais os títulos federais, esta-
chado, por não haver uma correspondência en- duais e municipais em poder do público não-
tre o crescimento da oferta de bens e o cresci- financeiro, sendo que os fundos excluem os de-
mento da procura. Para realizar a mais-valia pósitos à vista (já contemplados em M-1) e os
num esquema de reprodução ampliada, o capi- títulos públicos excluem títulos pertencentes às
talismo necessita expandir-se para regiões ou carteiras das instituições financeiras e dos fun-
países subdesenvolvidos, não-capitalistas, ou dos de investimento. O M-2 é chamado também
para setores não-capitalistas de produção dentro de “moeda de Friedman”, pois corresponde à
dos próprios países capitalistas. O imperialismo definição de estoque de moeda utilizada por
359 MACROECONOMIA

Friedman em seu livro A Monetary History of the ração da economia sem que haja necessidade de
United States (História Monetária dos Estados compreender o comportamento de cada indiví-
Unidos). duo ou empresa que dela participam. Ao detec-
tar as forças gerais que impelem os agregados
M-3. Representação do estoque de moeda cons- em determinada direção, a macroeconomia es-
tituído por M-2 mais o total dos depósitos em tabelece as chamadas forças de “ajuste” ou
poupança. “equilíbrio”, que explicam o comportamento
M-4. Representação do estoque de moeda cons- econômico, caracterizando-o, de forma mecâni-
tituído por M-3 mais o saldo dos títulos públicos ca, como um sistema de igualdades de equilí-
federais em circulação, isto é, fora da carteira brio. É suposto que a demanda agregada de al-
do Banco Central. A partir de 1991, M-4 passou gum bem deve ser igual à oferta agregada desse
a ser constituído por M-3 mais os títulos priva- mesmo bem. A teoria macroeconômica fornece
dos, sendo estes últimos constituídos pelos de- parâmetros que permitem que a mensuração da
pósitos a prazo, letras de câmbio e letras hipo- atividade econômica geral de dado sistema sim-
tecárias, exceto aqueles pertencentes às carteiras plifique o modelo agregativo, tornando possível
das instituições financeiras e dos fundos. a utilização de um número restrito de variáveis
fundamentais. Isso porque trabalha sobre rela-
M-5. Entre março de 1990, com o lançamento ções estatísticas estáveis entre as diversas variá-
do Plano Collor, e julho de 1992, as retenções veis agregadas, eliminando muitos fatores que
efetuadas nas aplicações financeiras e nas ca- afetam o comportamento individual. Dessa ma-
dernetas de poupança criaram os chamados Va- neira, permite a análise e mesmo a previsão do
lores à Ordem do Banco Central (Vobc). Para comportamento das economias capitalistas de-
contemplar este novo e transitório estoque de senvolvidas. Essa limitação a um tipo bem de-
moeda, foi instituído o M-5, composto de M-4 terminado de formação econômico-social expli-
mais os Vobc. Veja também Base Monetária; ca-se, por um lado, pelo fato de a análise ma-
FAF; Meios de Pagamento; Plano Collor. croeconômica utilizar pressupostos e instrumen-
tais referentes às forças de mercado, que desem-
MA. Veja Mima. penham papéis de pouca ou nenhuma impor-
MACEDO, Roberto Brás Matos (1943-). Nas- tância em economias de planejamento centrali-
ceu em Belo Horizonte (MG) e formou-se em zado, inspiradas no modelo da ex-União Sovié-
economia pela Faculdade de Economia e Admi- tica. Além disso, uma análise agregativa macroe-
nistração da Universidade de São Paulo (FEA- conômica exige um instrumental estatístico bas-
USP) em 1967. Obteve o doutoramento na Uni- tante complexo, que os países capitalistas sub-
versidade de Harvard em 1974, e tornou-se pro- desenvolvidos dificilmente podem oferecer. Mais
fessor titular no Departamento de Economia da ainda, esse tipo de análise supõe como dadas
Universidade de São Paulo em 1984. Foi mem- certas condições que se apresentam como metas
bro do Conselho Editorial da Folha de S. Paulo longínquas para muitas sociedades subdesen-
(1985-1991), chefe do Departamento de Econo- volvidas: um grande estoque de capital, força
mia da FEA-USP (1985-1986), presidente da Or- de trabalho especializada, mercados financeiros
dem dos Economistas de São Paulo (1986-1991), eficientes etc. Essas condições impuseram um
presidente do Ipea, do Ministério da Economia, relativo atraso à elaboração de modelos macroe-
Fazenda e Planejamento (1991-1992) e secretário conômicos em países com as características do
especial de Política Econômica deste mesmo Mi- Brasil, que a partir de 1956 dispôs de dados es-
nistério durante a gestão de Marcílio Marques tatísticos mais precisos, elaborados pela Funda-
Moreira (governo Collor), entre 1991 e 1992. Seus ção Getúlio Vargas, e que só em 1964 começou
principais livros versam sobre questões relacio- a construir modelos macroeconômicos. A ma-
nadas com os salários: Distribuição Funcional na croeconomia tornou-se um ramo da ciência eco-
Indústria de Transformação: Aspectos da Parcela Sa- nômica a partir de 1936, com a publicação de
larial (1980), Os Salários na Teoria Econômica A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda,
(1982), e Os Salários nas Empresas Estatais (1985). de Keynes. Antes dele, os economistas clássicos
Embora aposentado, continua prestando colabo- e Karl Marx já haviam considerado o organismo
ração voluntária à FEA-USP. econômico como um todo. Keynes, porém, for-
neceu o modelo, a sistematização teórica e as
MACROECONOMIA. Parte da ciência econô- “receitas práticas”, que nas décadas seguintes
mica que focaliza o comportamento do sistema inspirariam a maioria dos economistas ociden-
econômico como um todo. Tem como objeto de tais. Entretanto, à medida que suas falhas foram
estudo as relações entre os grandes agregados aparecendo, a teoria macroeconômica foi modi-
estatísticos: a renda nacional, o nível de emprego ficada e complementada. Mais recentemente,
e dos preços, o consumo, a poupança e o inves- um grupo de economistas liderados por Milton
timento totais. Esse direcionamento fundamen- Friedman — os monetaristas — contestaram a
ta-se na idéia de que é possível explicar a ope- economia keynesiana e apresentaram uma nova
MACROMODELO 360

teoria macroeconômica que enfatiza o papel de- ser determinado dentro do próprio modelo, e
sempenhado pela demanda de moeda e crédito, não ser apresentado como dado. Os modelos
opondo-se frontalmente à intervenção direta ou empíricos modernos e as técnicas de computa-
indireta do Estado na economia. Veja também ção permitiriam o desenvolvimento de modelos
Keynes; Keynesianismo; Macromodelos; Mi- macroeconômicos abrangentes e complexos —
croeconomia; Monetarismo. todos desenvolvidos, entretanto, a partir do mo-
delo keynesiano pioneiro. Esses modelos subdi-
MACROMODELO. Visão deliberadamente sim- videm os agregados estatísticos e acrescentam
plificada do conjunto da economia, para fins de outras variáveis ao modelo básico. Valem-se de
análise ou previsão. O primeiro macromodelo técnicas econométricas para estimar as relações
foi constituído em 1936 por J.M. Keynes; basea- numéricas exatas entre as variáveis e se utilizam
va-se nas relações de renda-despesa, com refe- também de dados históricos relacionados à eco-
rência especial aos “vazamentos” e às “injeções” nomia de que tratam. Desse modo, fornecem
do circuito renda-consumo. O papel central des- previsões quantitativas sobre os resultados de
se modelo é desempenhado pelas decisões das políticas específicas e outros tipos de alterações
famílias (consumidores) no sentido de destinar econômicas. O mais simples dos macromodelos
suas rendas ao consumo ou à poupança. Quan- modernos é o de Klein-Goldberger, montado a
do expressa em termos exatos, a relação entre partir do modelo macroeconômico quantitativo
consumo e renda é denominada função-consu- de Lawrence Klein, construído em 1946 e de-
mo. A poupança, único vazamento, aparece de- senvolvido até aproximadamente 1953. O mo-
terminada pelo nível de renda real (relação fun-
delo Klein-Goldberger é o que mais se aproxima
ção-consumo ou, também, função-poupança). da estrutura básica keynesiana. Contém dezes-
Admite-se que as injeções sejam independentes
seis equações estruturais, enquanto no modelo
da renda, e o investimento, considerado como
keynesiano simples a função-consumo constitui
dado, é a principal injeção. No entanto, todas
a única equação estrutural. Considera períodos
as injeções afetam o modelo da mesma maneira.
de um ano, sendo por isso pouco utilizável para
Nesse modelo básico, a economia só pode estar
a maior parte das aplicações políticas. O macro-
em equilíbrio quando os vazamentos forem
modelo mais complexo e elaborado é o Broo-
iguais ao nível das injeções. O nível da poupan-
kings-SSRC, construído por grande número de
ça, único vazamento, depende do nível do pro-
pesquisadores (entre os quais Lawrence Klein).
duto; portanto, o único nível de produto sus-
Contém 150 relações estruturais e toma o tri-
tentável corresponde ao nível exato de renda
mestre como período básico de tempo. Apesar
para que a poupança corresponda ao investi-
de sua complexidade, foi considerado inadequa-
mento (ou total das injeções, se houver outras).
do para o tratamento dos aspectos monetários.
Da dinâmica desse modelo simplificado, os key-
Por isso, seus críticos criaram o modelo Federal
nesianos chegam a algumas conclusões: o nível
Research Board (MIT), que contém mais deta-
do produto é determinado a partir da função-
lhes monetários, embora recorra a apenas seten-
consumo e do nível de injeções; um nível muito
ta relações estruturais. Outro modelo macroe-
baixo de injeções dá origem ao desemprego; um
conômico — o de Warton — foi construído com
aumento das injeções provocará um aumento
o objetivo de servir a previsões econômicas ge-
maior no produto e na renda, em virtude do
rais para estudo de políticas. Possui 47 relações
chamado efeito multiplicador, cujo valor é igual
estruturais e seu período-base de tempo é o tri-
a 1/(1 – PMgC), onde PMgC é a propensão mar-
ginal a consumir. O modelo keynesiano implica mestre. Veja também Klein, Lawrence; Macroe-
conomia.
a possibilidade de um governo intervir para o
aumento do produto. Se o nível planejado de MAE-DAOSHI. Expressão em japonês que sig-
investimento conduzir a um nível de produto nifica, literalmente, o arremessar de passageiros
real inferior ao da capacidade produtiva, o pro- para a frente quando um ônibus freia repenti-
duto pode aumentar até o nível dessa capaci- namente. Nas finanças públicas, a expressão é
dade, mediante uma injeção adicional, igual à utilizada quando um governo aplica capitais em
diferença entre o investimento necessário para obras públicas para estimular investimentos, de-
atingir o pleno emprego e o nível planejado de sembolsando durante o segundo trimestre, por
investimento real. Isso pode ser feito por meio exemplo, aquilo que estava previsto para ser
de uma política fiscal ou do aumento do próprio gasto apenas no terceiro. No caso das empresas
investimento planejado. No entanto, para servir privadas, a expressão é utilizada quando a exe-
aos objetivos práticos das políticas econômicas, cução de um projeto ocorre antecipadamente,
os macromodelos devem ser mais complexos isto é, antes das datas previstas no planejamento.
que os keynesianos. A função-consumo, por
exemplo, deveria envolver maior número de va- MÁGICO DE OZ. Frank Baum, o autor de O
riáveis: moeda, taxas de juros, políticas de im- Mágico de Oz, não deixou nenhuma indicação
postos etc.; o investimento, por sua vez, deveria explícita a respeito, mas existem fortes razões
361 MÁGICO DE OZ

para se crer que a história de Dorothy e seus cuja fama de eminência parda do governo era
companheiros — o Espantalho, o Homem de reconhecida na época. Ele impõe uma condição
Lata, o Leão Covarde e o cachorrinho Totó — para mandar Dorothy de volta ao Kansas: que
era na verdade uma alegoria à luta feroz travada ela destruísse a Bruxa Malvada do Oeste. Esta
nos Estados Unidos no último decênio do século representaria as forças adversas da natureza (es-
passado entre os defensores do padrão-ouro e pecialmente a falta de chuvas, fatal para as co-
os adeptos do bimetalismo (padrão-ouro e pra- lheitas). Dorothy a destrói de forma bastante
ta). Dorothy é a personagem central de O Mágico simples: um balde de água basta para derretê-la
de Oz. Morava no interior do Kansas com seus e afastá-la do caminho. A arma utilizada repre-
tios fazendeiros numa casa pobre de um único senta a redenção dos agricultores num duplo
aposento, mas dotada de alçapão anticiclones. sentido: indispensável para uma boa colheita, a
A ação tem início quando um ciclone arremessa água é também sinônimo de “liquidez” na eco-
a casa, Dorothy e Totó até o mágico Reino de nomia: se a prata pudesse ser cunhada, os meios
Oz. Honesta e plena de virtudes, Dorothy repre- de pagamento se ampliariam, os preços reagi-
senta o povo americano. O ciclone é o movi- riam tirando o país da deflação e as taxas de
mento populista que em poucos anos cresce de juros tenderiam a diminuir. Era o que os agri-
pequenas reuniões de fazendeiros endividados cultores desejavam ardentemente. Dorothy re-
e quase arruinados, até se tornar um vasto mo- torna à Cidade das Esmeraldas para cobrar a
vimento que desafiou os poderosos de Washing- promessa do Mágico de Oz. Ao encontrá-lo, per-
ton e Nova York. O Reino de Oz representa os cebe que não se trata de um homem todo-po-
interesses dos banqueiros e financistas, defen- deroso, e sim de um ser comum. O padrão-ouro
sores do padrão-ouro, onde o dinheiro prevalece é desmistificado. Nada tem de mágico: é débil
sobre tudo. A Bruxa Malvada do Leste é a sua é pouco confiável. Entregue à própria sorte, Do-
mais legítima expressão: a casa de Dorothy cai rothy aprende a “voar” batendo três vezes seus
justamente sobre ela. Do impacto sobram apenas sapatos de prata um contra o outro, evidencian-
os sapatos de prata desta, ou melhor, sua porção do mais uma vez as vantagens do bimetalismo.
boa: a base do bimetalismo. Para retornar ao E retorna ao Kansas. A razão principal da luta
Kansas, Dorothy sai em busca do Mágico de Oz, pelo bimetalismo parece ter sido a idéia de que
que impera na Cidade das Esmeraldas. Em seu os estoques limitados de ouro condenavam a
caminho, Dorothy vai superando obstáculos até economia à deflação. Se o ouro fosse o único
chegar à estrada dos tijolos amarelos (o padrão- material-dinheiro ou o único metal a servir de
ouro), ante-sala da Cidade das Esmeraldas. No lastro para as emissões de papel-moeda, a am-
trajeto, encontra um espantalho (agricultores ar- pliação dos meios de pagamento dependeria da
ruinados) preso à terra por uma estaca e à mercê quantidade de ouro existente no país. Como a
dos corvos que devoram todo o milho. Dorothy quantidade de ouro estava diminuindo, tendo
liberta o Espantalho e este torna-se seu primeiro caído de 640 milhões de dólares em 1890 para
companheiro. Em seguida, ela encontra o Ho- 502 milhões em 1896, os negócios se retraíam e
mem de Lata. Paralisado pela ferrugem, ele es- os preços tendiam a cair também. Além disso,
pelha a situação dos operários industriais de- entre 1893 e 1896, não apenas houve deflação,
sempregados pela crise econômica. Dorothy re- mas também um período recessivo nos Estados
cupera os movimentos do Homem de Lata e Unidos. Para os agricultores, os grandes bene-
ganha mais um companheiro. O último a inte- ficiários dessa situação de penúria eram os ban-
grar-se à caravana é o Leão Covarde. Este re- queiros, pois mesmo que as taxas de juros es-
presenta William Jennings Bryan (1860-1925), tivessem em patamares moderados, eram os que
um grande orador populista que aos 36 anos mais ganhavam numa época de deflação. Não
conseguiu a indicação como candidato à presi- é difícil imaginar como as pressões para a cu-
dência da República nas eleições de 1896 pelos nhagem da prata devem ter-se intensificado nes-
partidos Democrata, Populista e da Prata Na- se período. Os bimetalistas estavam na ofensiva,
cional. Sua principal bandeira de luta nas elei- e o enfraquecimento das posições dos adeptos
ções de 1896 era a volta do bimetalismo (ouro do padrão-ouro contribuía para que a situação
e prata). Nas eleições de 1900, no entanto, abran- se agravasse mais ainda: o receio da desvalori-
da suas posições, sendo por esta razão conside- zação do ouro acelerava a fuga do metal para
rado um covarde por seus seguidores. Depois a Europa. A melhoria nas condições econômicas
de muitas peripécias, o grupo chega à Cidade para a cunhagem da prata impulsionou ainda
das Esmeraldas, (Washington D.C.). Ali, tudo mais a luta dos bimetalistas. A oferta do metal
era verde, isto é, da mesma cor do papel-moeda se expandiu não apenas porque a produtividade
até hoje conservada pelo dólar e que tem origem do refino aumentou, mas também porque foram
nos greenbacks. Dorothy encontra o Mágico de descobertas novas minas de grande produtivi-
Oz. Sempre operando sob um manto de mistério dade. A demanda, ao contrário, sofreu forte re-
e sombra, este representa provavelmente o pre- dução; vários países europeus passaram do bi-
sidente do Partido Republicano, Mark Hanna, metalismo ao padrão-ouro, reduzindo a utiliza-
MAIN-FRAME 362

ção da prata para fins monetários: a Alemanha pois, a partir de 1896, as condições econômicas
realizou a conversão entre 1871 e 1873, depois e financeiras haviam mudado sensivelmente.
de derrotar a França e impor uma pesada inde- Novas minas de ouro foram descobertas no
nização de guerra pagável em títulos conversí- Alasca, no Colorado, e três químicos escoceses
veis em ouro; a França, que havia mantido o haviam inventado um processo economicamen-
bimetalismo desde 1803 e apesar das importan- te rentável de extração de ouro de minério com
tes descobertas de prata (e depois de ouro), des- baixos teores usando o cianeto, dessa forma via-
monetizou a prata entre 1873 e 1874, em ação bilizando a rápida expansão da produção nas
conjunta com os demais países da União Latina recém-descobertas minas de ouro na África do
(Itália, Bélgica e Suíça), e nos anos finais da dé- Sul: se em 1886 aquele país não produzia ouro,
cada os países da União Escandinava — Dina- em 1896, isto é, dez anos mais tarde, já partici-
marca, Noruega e Suécia — e a Áustria fizeram pava com 23% da produção mundial. Além dis-
o mesmo, de tal forma que, no início dos anos so, as boas safras americanas contrastaram com
80 do século passado, apenas a Índia e a China as míseras colheitas européias. Os preços agrí-
mantinham um padrão-prata efetivo. O movi- colas aumentaram, dando início a um forte pro-
mento conjunto da expansão da oferta e a drás- cesso inflacionário (para os padrões da época)
tica redução da demanda para fins monetários que durou até o início da Primeira Guerra Mun-
fizeram com que os preços de mercado do metal dial. Os problemas que atormentavam os agri-
baixassem acentuadamente: em 1870, a cotação cultores, talvez a principal base social do mo-
da prata em relação ao ouro era 15,4; em 1873, vimento populista de Bryan, são parcialmente
havia subido para 16,4; em 1879, para 18,4; e resolvidos. Os preços agrícolas se recuperam e
em 1896, no auge da campanha presidencial, a escassez de ouro é superada pelo aumento da
quando Brayan lutava por uma cunhagem na produção nacional e mundial. Dessa forma, o
base de 16 (de prata) por 1 (de ouro), a cotação padrão-ouro deixa de constituir obstáculo para
da prata havia alcançado 30 por 1! A desvalo- a ampliação da oferta monetária. Os tempos ha-
rização da prata abria, no entanto, o caminho viam mudado e Dorothy já podia retornar (mes-
para sua monetização, pois se o valor de face mo tendo perdido seus sapatos de prata, ou exa-
das moedas fosse superior ao preço de merca- tamente por esta razão) ao encontro dos seus
do do metal, as primeiras permaneceriam cir- tios menos empobrecidos. Um novo ciclone só
culando e o metal seria mantido na forma mo- voltaria a assolar o país em 1907. Veja também
netária, o que havia se tornado inviável depois Bimetalismo; Crime de 1873; Greenbacks; Pa-
de 1836. Para os produtores de prata (concen- drão-ouro; União Escandinava; União Latina.
trados nos Estados do Oeste e do Sul), tornava-
se interessante agora destinar o metal à cunha- MAIN-FRAME. Expressão inglesa utilizada para
gem.... desde que as regras vigentes até então designar o computador principal de uma inter-
fossem mantidas. Mas em 1873, o Congresso ligação de computadores ou, também, a parte
aprovou uma lei que estabelecia o aumento do principal de um computador, isto é, sua unidade
teor de prata de cada dólar (emissão destinada lógica.
ao comércio com o México e com o Oriente, es-
MAINSTREAM. Termo em inglês que significa
pecialmente a China e o Japão) e limitava o total
a corrente central ou mais importante do pen-
do metal a ser cunhado. Na prática, inviabilizava
samento econômico numa determinada época.
o retorno da monetização da prata, pois retirava
as cláusulas fundamentais da livre e ilimitada MAIORIA QUALIFICADA. Sistema no qual as
cunhagem do metal vigente desde 1792. É claro decisões de um grupo dirigente (assembléia,
que as reações dos defensores do bimetalismo conselho, comissão etc.) são tomadas não por
foram violentas. A lei de 1873 foi alcunhada de meio da maioria simples, isto é, a metade mais
o “Crime de 1873" e sua aprovação, considerada um, mas mediante outras proporções superiores
uma conspiração dos legisladores e financistas àquela, como 3/4, 2/3 ou 3/5 dos votos.
do Leste. Este é o caldo de cultura onde nasce
o Partido Populista ou do Povo, formado fun- MAIORIA SIMPLES. Sistema no qual as deci-
damentalmente por agricultores arruinados e sões de um grupo dirigente (assembléia, conse-
trabalhadores desempregados e apoiado pelos lho, comissão, câmara etc.) são tomadas quando
produtores de prata dos Estados do Oeste e do uma proposta obtém a metade mais um dos
Sul dos Estados Unidos. O movimento cresce votos.
vertiginosamente depois da crise de 1893, e alia-
dos ao Partido Democrata referendam também MAIS-VALIA. Conceito fundamental da econo-
William Bryan à presidência da República nas mia política marxista, que consiste no valor do
eleições de 1896. Por pequena margem de votos, trabalho não pago ao trabalhador, isto é, na ex-
Bryan é derrotado por Mckinley. Nas eleições ploração exercida pelos capitalistas sobre seus
de 1900, Bryan se candidata outra vez, mas é assalariados. Marx, assim como Adam Smith e
novamente derrotado. A margem se amplia, David Ricardo, considerava que o valor de toda
363 MALTHUS, Thomas Robert

mercadoria é determinado pela quantidade de MAL PÚBLICO. Conceito que designa uma si-
trabalho socialmente necessário para produzi-la. tuação na qual o Estado é responsável ou con-
Sendo a força de trabalho uma mercadoria cujo siderado responsável por algum malefício aos
valor é determinado pelos meios de vida neces- cidadãos, à comunidade ou a toda a sociedade
sários à subsistência do trabalhador (alimentos, seja por omissão, incompetência ou descuido.
roupas, moradia, transporte etc.), se este traba- Esta caracterização pode dar lugar a ações judi-
lhar além de um determinado número de horas, ciais contra o Estado.
estará produzindo não apenas o valor corres-
pondente ao de sua força de trabalho (que lhe MALTHUS, Thomas Robert (1766-1834). Eco-
é pago pelo capitalista na forma de salário), mas nomista e clérigo inglês, um dos principais no-
também um valor a mais, um valor excedente mes da escola clássica. Filho de um culto pro-
sem contrapartida, denominado por Marx de prietário de terras, amigo de Hume e Rousseau,
mais-valia. É desta fonte (o trabalho não pago) formou-se em Cambridge e tornou-se pastor an-
que são tirados os possíveis lucros dos capita- glicano em 1797. No ano seguinte era publicada
listas (industriais, comerciantes, agricultores, sua mais célebre obra, An Essay on the Principle
banqueiros etc.), além da renda da terra, dos of Population (Ensaio sobre o Princípio da Popu-
juros etc. Enquanto a taxa de lucro — a relação lação), na qual conclui que a produção de ali-
entre a mais-valia e o capital total (constante + mentos cresce em progressão aritmética, en-
variável) necessário para produzi-la — define a quanto a população tenderia a aumentar em pro-
rentabilidade do capital, a taxa de mais-valia — gressão geométrica, o que acarretaria pobreza e
a relação entre a mais-valia e o capital variável fome generalizadas. Para Malthus, quando a
(salários) — define o grau de exploração sobre desproporção chega a extremos, as pestes, epi-
o trabalhador. Mantendo-se inalterados os salá- demias e mesmo as guerras encarregam-se de
rios (reais), a taxa de mais-valia tende a elevar-se reequilibrar (temporariamente) a situação. A
quando a jornada e/ou a intensidade do traba- única forma de evitar essas catástrofes seria ne-
lho aumenta (aumentando a mais-valia absolu- gar toda e qualquer assistência às populações
ta) ou com o aumento da produtividade nos se- pobres e aconselhar-lhes a abstinência sexual,
tores que produzem os artigos de consumo ha- com o fim de diminuir a natalidade. Os assala-
bitual dos trabalhadores (aumentando a mais- riados deveriam ter consciência de que, “com o
valia relativa). Veja também Capital Constante; número de trabalhadores crescendo acima da
Capital Variável; Capitalismo; Marx, Karl proporção do aumento da oferta de trabalho no
Heinrich.
mercado, o preço do trabalho tende a cair, ao
MAKE A MARKET. Expressão em inglês que mesmo tempo que o preço dos alimentos ten-
significa o ato de um operador de mercado que derá a elevar-se”. A tese de Malthus foi contes-
demanda e oferece por determinado preço o tada, entre outros, por Fourier e Marx, por ig-
mesmo título. norar a estrutura social da economia e as pos-
sibilidades criadas pela tecnologia agrícola. En-
MAKING A PRICE. Expressão em inglês que tretanto, “reciclada” para o terreno da evolução
significa uma situação em que um vendedor fixa e das populações de insetos e outras espécies
um preço ao qual ele aceita vender um título animais, ela forneceu a chave decisiva para a
ao comprador ou vice-versa. Esta expressão é teoria da seleção natural de Darwin e Wallace.
geralmente utilizada na Bolsa de Valores de David Ricardo e outros economistas clássicos in-
Londres. corporaram o “princípio da população” às suas
teorias, supondo que a oferta da força de tra-
MAKING-UP PRICE. Expressão em inglês que balho era inexaurível, sendo limitada apenas
tanto pode significar o preço de entrega de um pelo “fundo de salários”. Paralelamente, Mal-
título ou ação, quanto, na Bolsa de Valores de thus aplicava suas próprias teorias ao estudo
Londres, o preço de uma ação ou título no fe- da renda no livro An Inquiry into the Nature and
chamento que é carregado de um pregão para Progress of Rent (Investigação sobre a Natureza
outro. e o Progresso da Renda), 1815. Sua concepção
MALCOLM BALDRIDGE NATIONAL QUA- da renda diferencial da terra é semelhante à de
LITY AWARD. Veja Prêmio Baldridge. Ricardo, mediante a aplicação da Lei dos Ren-
dimentos Decrescentes, que admitia que o pro-
MALDIÇÃO DO VENCEDOR. Conceito rela- prietário rural ocupava áreas menos férteis à me-
cionado com a Teoria dos Jogos e que consiste dida que a população aumentava. Nos escritos
em pagar alto demais em função da determina- subseqüentes, as concepções do Ensaio sobre o
ção de vencer. Na medida em que o vencedor Princípio da População foram o ponto de partida
de uma concorrência, por exemplo, considera, para análises mais abrangentes de questões eco-
após a vitória, que poderia ter pago menos, ca- nômicas e sociais, tratadas em livros, panfletos
racteriza-se a situação de maldição do vencedor. e artigos. Surgiram assim The Poor Law (A Lei
MAMA BELL 364

dos Pobres), 1817; Principles of Political Economy trabalho mais expressivo e inovador no que diz
Considered with a View to their Pratical Application respeito à economia moderna é Der Spaetkapita-
(Princípios de Economia Política Considerados lismus — Versuch einer marxistischen Erklaerung
com Vista a sua Aplicação Prática), 1820; e De- (O Capitalismo Tardio), 1972, no qual analisa a
finitions of Political Economy (Definições de Eco- atual fase do capitalismo monopolista. Na pre-
nomia Política), 1827. Uma das polêmicas mais sente etapa de seu desenvolvimento, o modo
célebres do período foi travada entre Ricardo e de produção capitalista, segundo Mandel, tem
Malthus a respeito da chamada Lei de Say, se- como característica fundamental a intensificação
gundo a qual a produção cria seu próprio con- dos processos de automação, fenômeno definido
sumo. Malthus argumentou que um aumento por ele como uma terceira revolução tecnológica.
da poupança (vista como investimento) dimi- Esta ter-se-ia iniciado a partir de 1940, nos Es-
nuiria o consumo e aumentaria a oferta de bens tados Unidos e em outros países capitalistas de-
por meio do aumento do investimento. E tentou senvolvidos, graças ao amplo emprego da ele-
demonstrar que o nível de atividade numa eco- trônica e da energia nuclear no processo pro-
nomia de mercado depende da demanda efetiva, dutivo. Nesse contexto, Mandel procura atuali-
uma idéia que mais tarde seria retomada por zar a crítica marxista da economia capitalista,
J.M. Keynes. focalizando as leis do movimento do capital, as
alterações verificadas em sua composição orgâ-
MAMA BELL. Apelido das ações da American nica, as condições em que se dá a realização da
Telephone & Telegraph na Bolsa de Valores de mais-valia no capitalismo tardio, o papel da eco-
Nova York.
nomia armamentista nos quadros do capitalis-
MANAGED FLOAT. Veja Dirty Float. mo moderno, as possibilidades de crescimento
do sistema, a natureza das crises cíclicas, a con-
MANAGEMENT FEE. Expressão em inglês que centração e internacionalização do capital, a es-
significa “taxa de administração”, geralmente sência do neocapitalismo, a espiral inflacionária,
aplicada quando a administração ou o gerencia- a hipertrofia do setor de serviços e as caracte-
mento de um contrato cabe a uma empresa, ou rísticas da sociedade de consumo. A análise do
se concentra numa pessoa pertencente a um gru- capitalismo tardio feita por Mandel não se res-
po que assinou um contrato de empréstimo, ou tringe exclusivamente ao âmbito das relações de
de prestação de serviços. Por exemplo, quando produção, mas abrange também os aspectos su-
um banco atua como intermediário financeiro perestruturais do sistema e põe em relevo o pa-
de um empréstimo, ele cobra uma taxa de ad- pel do Estado e da ideologia dominante. Os te-
ministração do contrato denominada manage- mas abordados em O Capitalismo Tardio têm con-
ment fee. tinuidade na obra Ende der Krise oder Krise ohne
Ende? (Fim da Crise ou Crise Sem Fim?), 1977,
MANAT. Unidade monetária do Azerbaijão. uma série de ensaios que tratam sobretudo da
MANCHESTER. Veja Escola de Manchester. natureza da recessão mundial na atualidade.
Além das obras econômicas, Ernest Mandel pu-
MANDEL, Ernest (1923-1995). Economista mar- blicou inúmeros ensaios sobre problemas polí-
xista belga. Em 1940, ingressou na IV Interna- ticos, tratando principalmente das questões do
cional Socialista, organização revolucionária movimento revolucionário mundial e da pro-
fundada por Leon Trotski em 1938. Em 1952, blemática dos países socialistas. Veja também
por ocasião da primeira cisão no movimento Capitalismo; Internacional Socialista; Marxismo.
trotskista, Mandel, ao lado de Michel Pablo, tor-
MANIFESTO COMUNISTA. Redigido por
nou-se o principal dirigente da facção majoritá-
Marx e Engels e publicado um pouco antes da
ria e seu mais destacado teórico. Ao mesmo tem-
po estreitou suas ligações com o movimento revolução alemã de 1848, consiste no programa
operário como membro da comissão de estudos do comunismo. Passando em revista os regimes
econômicos da Central Sindical Belga e como econômicos e sociais existentes até então, o ma-
diretor do semanário La Gauche, órgão da ala nifesto estabelece que a luta de classes é o motor
radical do Partido Socialista Belga, do qual foi da história, sendo inevitável o desaparecimento
expulso em 1965. Como teórico marxista, adqui- do capitalismo como fase histórica do desenvol-
riu notoriedade após a publicação da obra Traité vimento da sociedade e sua superação pelo co-
d’Économie Marxiste (Tratado de Economia Mar- munismo. Veja também Comunismo; Luta de
xista), 1962. O rigor científico de suas pesquisas Classes.
manifesta-se também no estudo A Formação do MANIFESTO DE EISENACH. Veja Controvér-
Pensamento Econômico de Karl Marx, 1967, no qual sia do Método.
reconstitui detalhadamente os passos teóricos
dados por Marx, desde seus primeiros escritos MANIT. Termo resultante da abreviação das pa-
até a elaboração de O Capital. No entanto, seu lavras, em inglês, man minute, isto é, o trabalho
365 MÃO INVISÍVEL

realizado por um homem num minuto. A ex- elaborou a caracterização das sociedades de
pressão teve origem no início dos anos 20 deste massa e contribuiu para a teoria do planejamen-
século, nos Estados Unidos, quando se buscava to. Entre outras obras, escreveu ainda Mensch
reduzir todo e qualquer trabalho a um denomi- und Gesellschaft im Zeitalter des Umbaus (O Ho-
nador comum, para o cálculo da produtividade mem e a Sociedade em Época de Crise), 1935;
e dos salários. Por exemplo, o Plano Haynes de Diagnosis of our Time (Diagnóstico do Nosso
Salários estabelecia alguns coeficientes em ter- Tempo), 1943; e Freedom, Power and Democratic
mos de manits: se o trabalhador apresentasse Planning (Liberdade, Poder e Planejamento De-
uma produção superior a sessenta manits por mocrático), 1950.
hora, ele receberia uma gratificação, sendo que
no sistema Haynes um manit correspondia a 4/5 MANOILESCU. Veja Tese de Manoilescu.
do trabalho que um trabalhador normal, em con-
MANUFATURA. Estabelecimento fabril em que
dições normais, poderia render durante um mi-
a técnica de produção é artesanal, mas o trabalho
nuto.
é desempenhado por grande número de operá-
MANLESS FACTORY. Expressão em inglês rios, sob a direção de um empresário. No pro-
que significa, literalmente, “fábrica sem operá- cesso manufatureiro vigora a divisão do traba-
rios”, designando aquelas fábricas automa- lho, pela qual cada operário, utilizando instru-
tizadas onde as atividades são desenvolvidas mentos individuais, realiza uma operação par-
por robôs e sem a intervenção direta dos traba- cial. Assim, a qualidade da produção depende
lhadores; o mesmo que push-button factory, isto fundamentalmente da habilidade manual do
é, fábrica do “aperta-botão”. operário, pois não há ainda o emprego de má-
quinas. A manufatura sucedeu o artesanato,
MANNHEIM, Karl (1893-1947). Sociólogo ale- como forma de produção e organização do tra-
mão, crítico do totalitarismo. Seu livro Ideologia balho, sendo substituída pela produção indus-
e Utopia, 1929, é considerado o marco de fun- trial mecanizada. Surgiu por volta do século XIV
dação da sociologia do conhecimento. Aluno de em alguns centros urbanos da Itália, Flandres e
Max Weber, Mannheim foi professor em Frank- Inglaterra, e atingiu o apogeu nos séculos XVII-
furt e na School of Economics de Londres, na XVIII, preparando as condições materiais e téc-
década de 30. Influenciado inicialmente pelo nicas para o advento da Revolução Industrial.
marxismo, acabou abandonando-o em parte por Veja também Artesanato; Mecanização; Revo-
não acreditar que fossem necessários meios re- lução Industrial.
volucionários para construir uma sociedade me-
lhor. Seu pensamento assemelha-se em certos MANUFATURADOS. Veja Produtos Manufa-
aspectos ao de Hegel, na crença de que, no fu- turados.
turo, o homem superará o domínio que os pro-
MANUMISSÃO. Ato de libertar ou alforriar
cessos históricos exercem sobre ele. Mannheim
um escravo feito pelo senhor.
foi ainda muito influenciado pelo historicismo
alemão e pelo pragmatismo inglês. Em seu pri- MÃO. Antiga unidade de comprimento equi-
meiro e principal livro, Ideologia e Utopia, afirma valente à largura de uma mão de tamanho nor-
que todo ato de conhecimento não resulta ape- mal e correspondendo a aproximadamente a 10
nas da consciência teórica, mas também de nu- cm. Hoje em dia ela é ainda utilizada para medir
merosos elementos que provêm da vida social cavalos: a altura de um cavalo medida em mãos
e das influências e vontades a que o indivíduo compreende a distância entre suas ancas e o solo.
está sujeito. A influência desses fatores deveria Veja também Unidades de Pesos e Medidas.
ser o objeto de uma nova disciplina, a sociologia
do conhecimento. Cada fase da humanidade se- MÃO INVISÍVEL. Conceito desenvolvido por
ria dominada por certo estilo de pensamento e Adam Smith em seu livro A Riqueza das Nações,
a comparação entre vários estilos diferentes seria significando uma coordenação invisível que as-
impossível. Mas, mesmo em cada fase, surgi- segura a consistência dos planos individuais
riam tendências conflitantes, apontando para a numa sociedade onde predomina um sistema
conservação ou para a mudança de pensamento. de mercado. De acordo com Smith, um indiví-
A conservação tenderia a produzir ideologias, duo que busca apenas seu próprio interesse é
e a tendência à mudança conduziria a utopias. na verdade conduzido por uma mão invisível
O pensamento de Mannheim foi criticado sob a obter um resultado que não estava original-
a alegação de, por meio do historicismo, levar mente em seus planos. Esse resultado obtido
ao relativismo. O sociólogo refutou essa crítica, corresponderia ao interesse da sociedade. A con-
afirmando que o relativismo só existe dentro de cepção de Smith, embora tenha correspondência
uma concepção absolutista das ideologias ou de na realidade, não significa que o mercado fun-
qualquer forma de pensamento. Estudou tam- cione tão bem assim conduzido pela mão invi-
bém as relações entre o pensamento e a ação, sível. As crises, as distorções e desigualdades
MAPLE LEAF 366

na distribuição da renda, a existência de desem- símbolo secreto. É também denominada letra


prego crônico e elevado significam que a mão monetária.
invisível nem sempre proporciona a harmonia
entre os interesses individuais e os da sociedade. MARCA REGISTRADA. Sinal distintivo (pa-
Esta questão, entendida como as condições do lavra, letra, desenho, emblema) utilizado para
equilíbrio geral, foi retomada por Leon Walras individualizar um produto. É registrado no ór-
gão competente para assegurar seu uso exclu-
(1834-1910) no final do século passado, por Ar-
sivo por determinada empresa.
row (1921) e Debreu (1921), no presente século.
Veja também Equilíbrio Geral; Laissez-Faire. MARCAR AO MERCADO. Expressão do mer-
cado financeiro que significa a avaliação de uma
MAPLE LEAF. Veja Krugerrand.
posição financeira resultante de uma operação,
MAQUIA. Antiga medida de cereais correspon- mediante sua comparação com o preço vigente
dente a 2 celamins (0,863 l). Atualmente (em Por- no mercado em uma determinada data, ainda
tugal), a maquia representa a parte que o mo- que não seja a data do vencimento.
leiro recebe em cereais ou azeite pelo seu tra- MARCO. Medida de peso utilizada pela Casa
balho de moagem desses mesmos produtos, que da Moeda do Brasil antes da adoção do Sistema
para o efeito lhe são entregues pelos lavradores. Métrico Decimal e equivalente a 8 onças ou apro-
É, portanto, o preço do trabalho do moleiro. ximadamente 228,552 g. O marco é também a de-
nominação da unidade monetária da Alemanha
MAQUILADORAS. Denominação de empresas
(marco alemão; submúltiplo: pfennige) e da Fin-
situadas em lugares próximos das fronteiras de
lândia (marco finlandês; submúltiplo: penniá).
um país, onde se montam produtos com peças
e componentes vindos do país vizinho com van- MARCUSE, Herbert (1898-1979). Filósofo ale-
tagens decorrentes de mão-de-obra barata. De- mão radicado nos Estados Unidos, para onde
senvolveram-se especialmente durante os anos emigrou em 1934, fugindo à perseguição nazista.
80 na fronteira do México com os Estados Unidos. Ligado à escola de Frankfurt, foi influenciado
por Hegel, Marx e Freud, elaborando uma con-
MARAVEDÍ. Moeda cunhada por ordem de Al- cepção do indivíduo e da sociedade que funde
fonso VIII de Castela, em ouro e prata, imitando os pontos de vista do marxismo e da psicanálise.
o dinar almorávide e que também era denomi- Em uma de sua obras mais importantes, Ideologia
nado mourisco, alfonsim e morabetim. Circulou da Sociedade Industrial, 1964, Marcuse faz uma
durante muito tempo na Espanha, cunhado em análise crítica do sistema ideológico do moderno
cobre e freqüentemente mencionado por Cris- capitalismo industrial e afirma que o proletaria-
tóvão Colombo em seus diários e cartas relatan- do dos países desenvolvidos se interessa pela
do o descobrimento da América. Seu valor era conservação do sistema. O autor acha que o po-
equivalente a cerca de um centésimo de grama tencial revolucionário para derrubar o capitalis-
de ouro. Mesmo depois de ter saído de circu- mo e construir uma sociedade sem exploração
lação, permaneceu durante muito tempo como de classe e sem repressão dos impulsos naturais
unidade de conta na Espanha. encontra-se nas maiorias oprimidas, nas classes
marginalizadas e nos povos do Terceiro Mundo.
MARCA. Elemento de propaganda e marketing Seus ataques demolidores à sociedade de con-
identificador de uma empresa, organização, pro- sumo e sua reivindicação de liberdade sexual
duto, serviço etc., constituído de um nome, de como complemento indispensável da emancipa-
um símbolo visual (figurativo ou não), de um ção política e econômica tiveram grande reper-
logotipo ou da logomarca. cussão nos movimentos estudantis de 1968,
principalmente nos Estados Unidos, França e
MARCA D’ÁGUA. Um desenho ou uma forma Alemanha. Marcuse foi professor do Institute of
incorporada ao papel durante sua fabricação e Social Research da Universidade de Nova York
identificável quando colocado contra a luz. (1934-1940) e da Universidade da Califórnia
Constitui um mecanismo para tornar mais difí- (1954-1965). Entre outras obras, escreveu: Razão
ceis e custosas as falsificações, sendo uma das e Revolução, 1941; Eros e Civilização, 1955; e Mar-
características do papel utilizado para a emissão xismo Soviético, 1958.
de notas, papel-moeda, talões de cheque e de
títulos de valor em geral. É também conhecida MARGEM. Parte do valor de uma operação a
como “filigrana”. Em inglês, a expressão é water termo, efetuada em Bolsa de Valores, que o com-
mark. prador deposita como garantia de liquidação do
negócio no prazo estipulado. O depósito pode
MARCA MONETÁRIA. Marca que identifica ser feito em dinheiro ou em títulos determinados
a Casa da Moeda onde a moeda foi cunhada. pela direção da Bolsa. Nas Bolsas de Mercado-
A marca pode ser uma letra, ou um sinal, ou rias, é um percentual em dinheiro depositado
367 MARGINALISMO

pelos contratantes como garantia contra possível ria marginalista, o trabalho causa desprazer en-
oscilação de preços. O termo pode ser entendido quanto atividade e só é realizado porque seus
também como a diferença entre o preço de ven- resultados (bens e serviços) proporcionam uti-
da de um produto e seu custo de produção para lidade. À medida que o trabalho se prolonga,
o produtor, e neste caso significa o “ganho” ou sua desutilidade (o desprazer provocado pela
“a margem de lucro” do empresário. fadiga) aumenta e a utilidade marginal de seu
produto diminui. Quando a desutilidade e a uti-
MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO. É a diferen- lidade se igualam, o trabalho cessa. Analoga-
ça entre o preço de venda de um produto e seu mente, o capital é visto como bens a cujo usu-
custo variável (MC = Pv – Cv). Se o preço de fruto o indivíduo renuncia no presente para con-
venda de um produto for igual a R$ 10000,00 e sumir uma maior quantidade no futuro. Resulta,
o custo variável desse produto se elevar a R$ portanto, de uma negação do consumo indivi-
6000,00, a margem de contribuição será igual a dual imediato, na expectativa de um rendimento
R$ 4000,00. Isso significa que cada real de vendas maior no futuro, a partir da comparação entre
contribui com 40 centavos para a cobertura dos duas utilidades separadas no tempo. A partir
custos fixos, os quais, dependendo do volume dessas proposições, deduz-se que a cada bem
de vendas, podem ser ultrapassados, sendo ge- se associa um custo, um preço de oferta, que
rados, nesse caso, lucros à empresa. A margem aumenta com o volume de bens produzidos.
de contribuição é também chamada de “contri- Como cada bem é produzido mediante utiliza-
buição para o custo fixo”, “saldo marginal” ou ção de trabalho e capital, o crescimento da pro-
“receita marginal”. dução requer volumes cada vez maiores de tra-
MARGEM LÍQUIDA. Porcentagem de lucro lí- balho e capital. Com isso, o custo do trabalho
quido em relação ao total de faturamento. É a eleva-se, pois sua desutilidade cresce. Desse
diferença entre o faturamento total e os custos modo, os marginalistas explicam o fenômeno
diretos e indiretos necessários para obtê-lo. Por pelo qual a oferta de uma mercadoria só pode
exemplo, se uma construtora comercializar imó- aumentar se houver aumento de seu preço. A
veis com 25% de acréscimo sobre o preço de formação dos preços no mercado ocorre de acor-
custo, e o esforço de comercialização (salário de do com a clássica lei da oferta e da procura,
corretores, publicidade, material promocional explicada pela teoria marginalista a partir de um
etc.) consumir 15% da diferença, a margem lí- critério psicológico e de fundo racionalista. O
quida corresponderá a 10% do preço de venda. produto resultaria da combinação entre três fa-
tores de produção (trabalho, capital e recursos
MARGINALISMO. Escola e teoria econômica naturais), combinados em determinadas propor-
que define o valor dos bens a partir de um fator ções, conforme cada caso. A produtividade de
subjetivo — a utilidade, isto é, sua capacidade cada fator diminui à medida que sua quantidade
de satisfazer necessidades humanas, rompendo no processo produtivo aumenta em relação aos
com a teoria clássica do valor-trabalho. Como outros fatores. Na margem, a produtividade de
a necessidade é uma característica subjetiva, cada fator reflete seu valor, isto é, sua escassez
também a utilidade de um bem terá uma ava- relativa. Assim, um fator será tanto mais valioso
liação subjetiva; um mesmo bem ou serviço terá quanto menor for sua disponibilidade. Sendo os
diferentes utilidades e, portanto, valores dife- fatores comercializados num mercado de con-
rentes, de acordo com o indivíduo. Para explicar corrência perfeita — premissa clássica mantida
esse aspecto, a escola marginalista considera que pelos marginalistas —, demonstra-se que seus
a satisfação de cada necessidade requer certa preços (salário do trabalho, juros do capital e
quantidade de um bem ou serviço. À medida renda da terra) correspondem às respectivas
que a quantidade consumida pelo indivíduo au- produtividades marginais. O marginalismo sur-
menta, reduz-se a satisfação obtida. O valor de ge como escola e teoria econômica estruturada
cada bem é dado pela utilidade proporcionada a partir de 1870, elaborado e desenvolvido in-
pela última unidade disponível desse bem, ou dependentemente nas obras de três economistas:
seja, por sua “utilidade marginal”. Os margina- Karl Menger (Die Grundsätze der Volkswirtschafts-
listas argumentam que um bem muito abundan- lehre (Princípios da Economia Política)), William
te pode ser utilizado de formas que não são es- Jevons (The Theory of Political Economy (Teoria
senciais. À medida que ele escasseia, as formas da Economia Política)) e Léon Walras (Éléments
não-essenciais devem ser abandonadas: sua uti- d’Économie Politique Pure (Elementos da Econo-
lidade marginal aumenta. Desse modo, a utili- mia Política Pura)). No início do século XX, a
dade marginal mede a necessidade que ainda análise econômica baseada na utilidade margi-
resta a ser satisfeita e, portanto, o valor do bem. nal é refinada pelos representantes das três es-
Os fatores de produção também são objeto de colas mais importantes: a inglesa, com Alfred
uma avaliação subjetiva, ou seja, de uma desu- Marshall (1842-1924); a austríaca, representada
tilidade ou renúncia à utilidade. Segundo a teo- por Böhm-Bawerk (1851-1914) e Von Wieser
MARK DOWN 368

(1851-1926), discípulos de Menger; e a de Lau- MARKET SHARE. Expressão em inglês que


sanne, com Pareto (1848-1923), discípulo de Wal- significa, literalmente, “participação no merca-
ras. Tornou-se o fundamento da doutrina eco- do”, isto é, a fração do mercado controlado por
nômica acadêmica oficial dos países capitalistas, uma empresa ou participação no mercado nas
reafirmando o sistema de concorrência perfeita vendas de um determinado produto. Avalia-se
e a inexistência de crises econômicas, admitidas que quando uma só empresa tem uma partici-
apenas como acidentes ou conseqüência de er- pação superior a 10% de um mercado, ela já é
ros. Entretanto, a profunda crise de 1929 e a con- capaz de influir na fixação de preços nesse mer-
seqüente depressão que perdurou até a Segunda cado.
Guerra Mundial revelaram a fragilidade de suas
formulações. Houve necessidade de uma análise MARKOWITZ, Harry. Veja Prêmio Nobel;
Risco.
mais abrangente, como a desenvolvida por J.M.
Keynes, para adaptar a teoria econômica oficial MARKUP. Termo em inglês que significa a di-
à problemática contemporânea do capitalismo. ferença entre o custo total de produção de um
Keynes tinha formação marginalista, mas rom- produto e seu preço de venda ao consumidor
peu com os preceitos ortodoxos, elaborando final. A diferença indica o custo da distribuição
suas teorias da renda, consumo e investimento física, ou seja, quanto custa levar o produto de
a partir de comportamentos sociais, e não de onde está armazenado até as mãos do consu-
peculiaridades individuais. Na versão keynesia- midor final, mais o lucro do produtor dos in-
na, o marginalismo torna-se mais eclético e não termediários e varejistas. Por exemplo, se o custo
enfatiza a teoria do valor marginal, relegado a de produção de um produto é igual a R$ 20,00
textos escolares ou a interpretações de cunho e o preço ao consumidor final deve ser 30% mais
ideológico. E, ao mostrar que não existe o prin- elevado (ou um markup de 30%), o preço final
cípio de equilíbrio automático na economia ca- ao consumidor deverá ser de R$ 20,00 + 30% =
pitalista e que o investimento é o fator dinâmico R$ 26,00.
na economia, Keynes inaugura uma nova fase
de ciência econômica, que se utiliza cada vez MARSHALL, Alfred (1842-1924). Economista e
mais do instrumental matemático aplicado a matemático inglês, principal representante da
problemas práticos, mas também de uma visão segunda geração da escola marginalista inglesa
mais geral e interdependente dos grandes agre- ou escola de Cambridge. Influenciado por Cour-
gados econômicos. not, Von Thünen e Bentham, transformou vários
argumentos de Ricardo e Mill em proposições
MARK DOWN. Expressão em inglês que, nas matemáticas. Em 1879 foram publicados Pure
atividades bancárias, significa a reavaliação do Theory of Foreign Trade (Teoria Pura do Comércio
valor de títulos oferecidos como colaterais de Exterior), Pure Theory of Domestic Values (Teoria
empréstimos para troca de ações, sempre que Pura dos Valores Internos) e Elements of Econo-
ocorre um expressivo declínio de suas cotações mics of Industry (Elementos da Economia da In-
no mercado de títulos. Esta reavaliação torna-se dústria), este último em colaboração com sua
necessária como uma proteção para os emprés- mulher. Onze anos depois surgiu sua principal
timos bancários dentro do princípio de que as obra, Princípios de Economia. Marshall procurou
margens de segurança devem ser sempre man- dar um tratamento mais científico à economia,
tidas em boas condições. buscando um denominador comum para medir
a atividade humana. Assim, em Princípios, ana-
MARK-I. Calculadora eletromagnética inventa- lisa as relações entre a oferta, a procura e o valor,
da pelo físico norte-americano Howard Aiken caracterizando o comportamento econômico hu-
em 1943, contendo enorme quantidade de fios mano de uma perspectiva hedonista, como um
(800 km) e realizando operações com número delicado equilíbrio entre a busca de satisfação
de mais de vinte dígitos em poucos segundos. e a negação do sacrifício. Combinando a utili-
Em 1945, a matemática norte-americana Grace dade marginal com o custo real subjetivo, o va-
Murray Hopper encontra um inseto (bug) nos lor é determinado, segundo Marshall, pela atua-
circuitos do Mark-I, e a palavra bug passa a ser ção conjunta das forças que se localizam na ofer-
sinônimo, desde então, de tudo aquilo que cause ta e na procura. Assim, atrás da procura está a
interrupções ou panes nos circuitos dos compu- utilidade marginal, expressa nos preços de pro-
cura dos compradores; e atrás da oferta locali-
tadores.
zam-se o esforço e o sacrifício marginal dos pro-
MARKETING. Neologismo norte-americano que dutores, refletidos nos preços de oferta em que
designa a moderna técnica de comercialização. os produtos são produzidos. Nessa análise, o
Veja também Mercadologia. custo de produção surge também como deter-
minante do valor. Marshall diferencia gastos de
MARK-TO-MARKET. Veja Marcar ao Mercado. produção e custo real de produção, que consiste
369 MARX, Karl Heinrich

na desutilidade do trabalho junto com o sacri- marginais: o juro tenderia a ser igual ao sacrifício
fício de poupar o capital necessário à produção marginal da poupança, e os salários, iguais à
de uma mercadoria. Marshall aplicou esse es- desutilidade marginal do esforço. A produtivi-
quema geral a todo o campo de atividade eco- dade marginal dos salários e dos juros deveria
nômica. Desse modo, o consumidor obteria uma ser considerada parte de uma teoria completa
renda por meio de um processo de equilíbrio da distribuição. Marshall escreveu ainda Money,
entre a desutilidade do esforço e a utilidade de- Credit and Commerce (Dinheiro, Crédito e Comér-
rivada do gasto da renda obtida com essa de- cio), 1923. Devido à popularidade de seus livros
sutilidade. Do mesmo modo, o modelo de seu e de suas aulas (foi professor de economia po-
gasto seria determinado pela utilidade obtida lítica em Cambridge de 1885 a 1908), exerceu
por uma mercadoria, à custa da utilidade per- enorme influência na formação da geração pos-
dida ao não comprar outras mercadorias. Mar- terior de economistas.
shall também sugeriu que, se os custos mone-
tários de produção de duas mercadorias fossem MARTINGALE. Designação de um processo de
iguais, os custos reais também seriam semelhan- jogar pelo qual enquanto o jogador não ganha,
tes. A partir dessa analogia, elaborou o conceito, vai dobrando as apostas.
desenvolvido antes por Dupuit, de “excedente MARUTA. Veja Zaire.
do consumidor”, que expressaria o excesso de
satisfação experimentado pelo consumidor ao MARX, Karl Heinrich (1818-1883). Filósofo e
comprar um bem por um preço menor do que economista alemão, o mais eminente teórico do
estaria disposto a pagar antes de pensar em ad- comunismo. Estudante universitário em Berlim,
quiri-lo. A contribuição de Marshall ao proble- ligou-se à chamada esquerda hegeliana, frontal-
ma do valor e do preço também está em sua mente contrária ao absolutismo prussiano. Dou-
análise do equilíbrio entre a oferta e a procura. torou-se em direito pela Universidade de Iena
Ele distingue diferentes períodos de tempo em com a tese Sobre as Diferenças da Filosofia da Na-
que as forças do mercado tendem a estabelecer tureza de Demócrito e Epicuro, influenciado pela
o equilíbrio: o “valor de mercado”, determinado dialética de Hegel. De maio de 1842 a janeiro
quando a oferta é fixa; e os “valores normais”, de 1843, foi redator-chefe do jornal Rheinische
determinados num período curto, quando a Zeitung (Gazeta Renana), editado em Colônia,
oferta pode aumentar mediante estoques de tra- porta-voz do liberalismo alemão. Foi por força
balho, e a longo prazo, quando há modificações de seu trabalho jornalístico que abordou, pela
no processo produtivo. Finalmente, sugere que primeira vez, temas de natureza econômica, ao
o valor deveria ser considerado “não estático” analisar a ruína dos vinhateiros do Mosela e as
quando há mudança em todos os dados econô- questões jurídicas relativas ao furto da lenha
micos: população, gostos, técnica, capital e or- praticado pelos camponeses alemães. Datam
ganização. A distinção entre diferentes graus de dessa época os artigos “A Liberdade de Impren-
equilíbrio da oferta e da procura ajudou Mar- sa”, “Manifesto sobre a Escola Histórica do Di-
shall a relacionar todas as categorias econômi- reito”, “Debates Motivados pela Lei contra o
cas, ligando os problemas da oferta, da procura Furto da Lenha”, “Justificação do Correspon-
e do preço das mercadorias aos dos fatores de dente do Mosela”. O trato com esses problemas
produção. Desse modo ele inter-relacionou a tro- levou-o a perceber a contradição entre a con-
ca, a produção e a distribuição. Tal análise do cepção hegeliana do Estado, que deveria ser a
equilíbrio originou muitos conceitos atualmente encarnação do “interesse geral”, e as leis ema-
de uso generalizado, como as noções de “elas- nadas da Dieta Provincial renana, voltadas ba-
ticidade da oferta e da procura” e o “princípio sicamente para a defesa da propriedade privada.
de substituição”. Também está implícita, nessa Segundo Ernest Mandel, já nessa época Marx
teoria do equilíbrio do valor, uma teoria da dis- teria vislumbrado a noção da mais-valia, de am-
tribuição. Pelo uso do fator tempo, Marshall dis- pla utilização posterior. Ao analisar uma dispo-
tingue entre fatores que determinam os preços sição penal que atribui ao proprietário o trabalho
e aqueles que são determinados pelos preços. E do ladrão para compensar suas perdas, ele teria
mostrou que essa distinção não era absoluta, ex- percebido que é o trabalho forçado não-retribuí-
ceto no caso da renda da terra (sempre deter- do a fonte das “percentagens”, isto é, do lucro.
minada pelo preço), pois dependia de períodos No entanto, sua postura política nesse período
de tempo. Mas, a curto prazo, a remuneração era a de um liberal radical. A adesão ao socia-
de muitos fatores é semelhante à remuneração lismo viria a ocorrer em Paris, onde Marx se
da propriedade do solo (a renda da terra), que exilou após o fechamento do Rheinische Zeitung
produziu o que ele chamou de “quase renda”. pelo governo prussiano. Na capital francesa, ele
Quanto ao capital e ao trabalho, Marshall afir- entrou em contato com um movimento operário
mava que, a longo prazo, as remunerações des- relativamente amadurecido e com revolucioná-
ses fatores deveriam ser iguais a seus custos rios de toda a Europa, entre os quais Bakunin,
MARX, Karl Heinrich 370

teórico do anarquismo. Além disso, conheceu dura do proletariado. No mesmo período surge
Friedrich Engels, cuja amizade marcaria sua Trabalho Assalariado e Capital (conferências pro-
vida e sua obra. Foi por influência de Engels nunciadas em Bruxelas), em que Marx delineia
que Marx se voltou para o estudo dos escritos os primeiros esboços da teoria da mais-valia com
de Adam Smith, Ricardo e outros economistas base na teoria do valor-trabalho.
clássicos ingleses. Em A Miséria da Filosofia, O Manifesto Comunista
Em Paris, Marx fundou, com outros intelectuais e Trabalho Assalariado e Capital, Marx e Engels
alemães, a revista Deutsch-Französische-Jahrbü- apresentaram uma primeira visão de conjunto
cher (Anais Franco-Alemães), que teve um único do modo de produção capitalista e sua possível
número. Dois artigos da revista trazem sua as- evolução. Mas os trabalhos teóricos deveriam
sinatura: “A Questão Judaica” e “Contribuição esperar: em 1848, a eclosão do movimento re-
à Crítica da Filosofia do Direito”. Sob a influên- volucionário em vários países europeus condu-
cia do materialismo de Feuerbach, rompeu com ziu Marx e Engels de volta à Alemanha, onde
o idealismo de Hegel e procurou fundamentar editaram a Neue Rheinische Zeitung (Nova Gazeta
a análise do Estado e do direito na “autonomia Renana), procurando orientar as ações do pro-
da sociedade civil”, isto é, nas relações sociais letariado alemão.
concretas. O fracasso da revolução levou-os a novo exílio,
A partir de 1844, juntamente com Engels, dedi- dessa vez em Londres. Com a ajuda de Engels,
cou-se a fundamentar teoricamente o socialismo Marx procede a um minucioso estudo das crises
(então dominado pelo pensamento utopista). cíclicas do capitalismo, no qual a problemática
Seus estudos de economia política resultaram dos ciclos econômicos é vista em estreita relação
na elaboração de Manuscritos Econômico-Filosófi- com os problemas suscitados pela ação política.
cos de 1844 (publicados somente em 1932). O É dessa época a obra As Lutas de Classe na França
tema central é a problemática da alienação, her- 1848-1850, cuja temática do estudo e do com-
dada de Hegel e Feuerbach, mas que recebe um portamento das classes sociais se desdobra e se
fundamento socioeconômico. Para Marx, o ho- aprofunda em O 18 Brumário de Luís Bonaparte
mem alienado não é mais o indivíduo entregue (1852).
a um sonho religioso ou especulativo, mas o Após a dissolução da Liga dos Comunistas,
homem que habita uma sociedade desumaniza- Marx voltou-se para um estudo em profundi-
da, que tem seu fundamento na propriedade pri- dade da economia política. Foram anos de ex-
vada. No entanto, Marx não atinge ainda a es- trema miséria, a sobrevivência precariamente
sência da exploração nos quadros do capitalis- garantida pela ajuda de Engels e pela colabora-
mo, pois refuta com veemência a teoria do va- ção com o jornal norte-americano New York Daily
lor-trabalho elaborada por David Ricardo. Pa- Tribune. As pesquisas desenvolvidas nesse pe-
ralelamente, trabalhando em conjunto, Engels e ríodo resultaram na Contribuição à Crítica da Eco-
Marx aprofundaram o ajuste de contas com a nomia Política (1857), nos Grundrisse (conjunto de
filosofia de Hegel e Feuerbach. Isso ocorre em rascunhos só publicados em 1939 com o nome
A Sagrada Família (1844) e em A Ideologia Alemã, de Fundamentos para a Crítica da Economia Política)
na qual elaboram o primeiro esboço do mate- e nas Teorias da Mais-valia, obra que mais tarde
rialismo histórico. Marx pretendeu publicar como Livro Quarto de
O trabalho seguinte de Marx foi A Miséria da O Capital.
Filosofia (1847), em que as questões econômicas Ao mesmo tempo que redigia O Capital, Marx
receberam um tratamento especial. Marx aceitou voltou suas atenções para o movimento operá-
e incorporou a seu pensamento a teoria do va- rio, contribuindo decisivamente, ao lado de En-
lor-trabalho de Ricardo. As concepções econô- gels, para a fundação da Associação Internacio-
micas presentes na obra serviram de fundamen- nal dos Trabalhadores (I Internacional), criada
to para o ajuste de contas com o socialismo utó- em Londres em 1864. Foi numa das reuniões do
pico, particularmente com o pensamento dou- conselho geral da Internacional que expôs pela
trinário de Proudhon, autor de Filosofia da Mi- primeira vez, em forma de conferência, sua teo-
séria. ria definitiva dos salários, publicada postuma-
Foi também no ano de 1847 que Marx e Engels mente com o nome de Salário, Preço e Lucro. Afi-
escreveram O Manifesto Comunista, espécie de nal, em 1867, veio a público o primeiro volume
programa e carta de princípios da Liga dos Co- de O Capital. Os outros dois volumes, inacaba-
munistas, organização revolucionária que os dos, foram publicados em 1885 e 1894 por En-
dois amigos ajudaram a fundar. O manifesto gels, que para eles elaborou inúmeras notas ex-
apresenta, a partir das concepções do materia- plicativas e redigiu passagens incompletas.
lismo histórico, uma análise da sociedade capi- A doença contribuiu para que Marx não desse
talista. Além disso, fundamenta a teoria do so- forma final aos outros volumes de sua mais im-
cialismo científico, apresenta o programa da re- portante obra. Outro fator foi seu compromisso
volução proletária e a função histórica da dita- com a militância política: inúmeras vezes Marx
371 MATARAZZO, Francisco

abandonou seu trabalho científico para dedicar- marxismo-leninismo, modernamente difundida.


se ao movimento operário. Assim procedeu por Após a estagnação dogmática que caracterizou
ocasião da Comuna de Paris (1871), cujos acon- o período stalinista, a pesquisa teórica revigo-
tecimentos foram analisados por ele em A Guerra rou-se no campo do marxismo, dando lugar a
Civil na França, um dos mais perfeitos exemplos acesas polêmicas, centradas particularmente em
de análise política de conjuntura, pois mostra torno das contribuições de Mao Tsé-Tung, Trotski,
as concepções ideológicas, as alianças e conflitos Gramsci, Rosa Luxemburgo, Lukács, Tito, Louis
entre as classes sociais na cena política. Outra Althusser e outros. Veja também Capitalismo;
obra dedicada à formação política do proleta- Comunismo; Escola Marxista; Eurocomunismo;
riado foi a Crítica ao Programa de Gotha (1875), Mais-valia; Materialismo Dialético; Materialis-
uma análise do programa da social-democracia mo Histórico; Proletariado, Ditadura do.
alemã, publicada depois de sua morte.
Na ocasião de sua morte, em 1883, Engels disse MARXISTA. Veja Escola Marxista.
a seu respeito, na oração fúnebre: “Assim como MATARAZZO, Francisco (1854-1937). Empre-
Darwin descobriu a lei do desenvolvimento da sário ítalo-brasileiro. Nasceu em Castellabate,
natureza orgânica, Marx descobriu a lei do de- província de Salerno, Itália. Aos 27 anos veio
senvolvimento da sociedade humana: o fato tão para o Brasil com a esposa e dois filhos, esta-
simples, mas que até ele se mantinha oculto pelo
belecendo-se em Sorocaba. Dedicou-se ao co-
ervaçal ideológico, de que o homem precisa, em
mércio e montou fábricas de banha na região,
primeiro lugar, comer, beber, ter um teto e ves-
até fundar, em 1890, uma sociedade com dois
tir-se antes de fazer política, ciência, arte, reli-
irmãos que já se encontravam no país. Nesse
gião etc.; e que, portanto, a produção dos meios
de subsistência imediatos, materiais e, por con- mesmo ano, mudou-se para São Paulo, tornan-
seguinte, a correspondente fase econômica do do-se importador de bens de consumo. Em 1891
desenvolvimento de um povo ou de uma época organizou uma sociedade anônima, a Compa-
é a base a partir da qual se desenvolveram as nhia Matarazzo: era o fim da Matarazzo e Ir-
instituições políticas, as concepções jurídicas, as mãos. Em 1900 passou a importar farinha de
idéias artísticas e inclusive as idéias religiosas trigo da Argentina, aproveitando-se das dificul-
dos homens e de acordo com a qual devem ex- dades que havia na época para trazer o produto
plicar-se; e não o contrário, como se vinha fa- dos Estados Unidos, nosso tradicional fornece-
zendo até então”. dor. Com a ajuda de técnicos ingleses, construiu
Veja também Comunismo; Engels, Friedrich; então seus primeiros moinhos no bairro do Brás.
Internacional Socialista; Mais-valia; Marxismo; Do projeto faziam parte também uma sacaria e
Materialismo Histórico; Revolução Socialista; uma oficina de reparações, origem da Metalúr-
Socialismo; Utopia. gica Matarazzo. A sacaria transformou-se com
o tempo na Tecelagem de Algodão Mariângela,
MARXISMO. Denominação consagrada para a dedicada à produção de embalagens e tecidos
obra teórica de Marx e Engels e de seus segui- para vestuário. O passo seguinte foi a criação
dores. Constitui a fundamentação ideológica do de uma fábrica para extrair óleo de caroço de
moderno comunismo. Abrange uma filosofia e algodão. Paralelamente, Matarazzo voltou-se
uma sociologia. Mudou os rumos da economia
para o ramo financeiro, participando, em maio
política, principalmente com a obra O Capital,
de 1900, da fundação do Banco Commerciale Ita-
de Marx, que expõe a teoria da mais-valia e con-
liano di São Paulo. Em 1905 organizou, com ou-
sidera o capitalismo um modo de produção tran-
tros investidores, o Banco Italiano del Brasile.
sitório, sujeito a crises econômicas cíclicas, e que,
por efeito do agravamento de suas contradições Um terceiro banco foi organizado com sua par-
internas, deverá ceder o lugar ao modo de pro- ticipação em 1910. Em 1911 sua empresa trans-
dução socialista, mediante a prática revolucio- formou-se em sociedade anônima. Seis anos de-
nária. A teoria política marxista, chamada de pois, transferiu para seus filhos, particularmente
socialismo científico, considera que a luta de para Ermelino Matarazzo, o controle dos negó-
classes é o motor da história e que o Estado é cios. Por ocasião de sua morte, em 1937, o grupo
sempre um órgão a serviço da classe dominante, Matarazzo estava entre os mais importantes con-
cabendo à classe operária, como classe revolu- glomerados industriais do país, posição que con-
cionária de vanguarda, lutar pela conquista do servou até fins da década de 70. Em 1979 o grupo
Estado da ditadura do proletariado. Na II Inter- era o segundo maior na relação das principais
nacional, surgiu uma tendência que propôs empresas por patrimônio líquido, caindo para
substituir o conteúdo revolucionário do marxis- o décimo lugar em 1980 e para o vigésimo se-
mo pela concepção de uma evolução social re- gundo no ano seguinte. Em 1983, na gestão de
formista e gradual. A importância da obra teó- Maria Pia Matarazzo, várias empresas do grupo
rica e prática de Lênin deu origem à expressão entraram em regime de concordata.
MATEMÁTICA 372

MATEMÁTICA, Escola. Veja Escola Matemá- zia Engels: “A economia não cria nada direta-
tica. mente, mas apenas determina o tipo de modi-
ficações da matéria intelectual existente e ’faz’
MATERIALISMO DIALÉTICO. Concepção fi- isso de forma indireta, pois são os reflexos po-
losófica de Marx e Engels que incorpora a dia- líticos, jurídicos e morais os que exercem uma
lética de Hegel, extraída do envoltório idealista, ação mais direta sobre a filosofia”. Segundo esse
ao princípio fundamental do materialismo. Opõe- raciocínio, o desenvolvimento histórico, suces-
se ao materialismo mecanicista, pois afirma a são e descontinuidade dos diversos modos de
interferência entre causa e efeito, o automovi- produção, ocorre como um processo objetivo,
mento gerado pelas contradições internas, as determinado pelo antagonismo entre as forças
transformações qualitativas da matéria e a ne- produtivas e as relações de produção; esse an-
gação da negação como forma geral do desen- tagonismo se manifesta no plano social como
volvimento. Em gnosiologia, afirma a priorida- luta de classes. Por essa razão, Marx e Engels
de do ser sobre a consciência, sendo esta a ati- afirmaram, no Manifesto Comunista, que a histó-
vidade cerebral do homem socializado em sua
ria da humanidade é a história das lutas de clas-
relação primordialmente prática com o mundo
ses. Conseqüentemente, para o materialismo
objetivo. Aplicado à sociedade humana, consti-
histórico, as transformações histórico-sociais e
tui a teoria do materialismo histórico. Veja tam-
as revoluções não resultam da ação de grandes
bém Marxismo; Materialismo Histórico.
personalidades, mas sim da participação ativa
MATERIALISMO HISTÓRICO. Parte da con- das massas trabalhadoras. Esse foi o mecanismo
cepção marxista da história que trata dos modos que impulsionou a sucessão entre os diversos
de produção, de seus elementos constituintes e modos de produção; mas todas as estruturas so-
determinantes, de sua gênese, da transição e da ciais extintas geraram sempre novas formas de
sucessão de um modo de produção a outro. Não exploração das massas por uma nova classe do-
diz respeito apenas ao modo de produção ca- minante. Contudo, o modo de produção capi-
pitalista, mas a todos os modos de produção talista seria o último modo de produção baseado
historicamente determinados: o das comunida- na existência de classes e das contradições entre
des primitivas, o da Antiguidade, o escravista, elas. Sua extinção seria obra do proletariado re-
o asiático, o feudal, o capitalista e o socialista. volucionário, que instauraria seu próprio poder
A tese central do materialismo histórico é a de (a ditadura do proletariado) e edificaria uma so-
que o ser social determina a consciência social; ciedade baseada na propriedade coletiva dos
isto é, a atividade material, produtiva, a forma meios de produção. Essa concepção materialista
como os homens se relacionam com a natureza, do desenvolvimento da sociedade foi exposta
por meio do trabalho, é o alicerce de toda or- pela primeira vez por Marx e Engels em A Ideo-
ganização social. O sistema econômico, segundo logia Alemã, obra em que analisam criticamente
essa perspectiva, é a base sobre a qual se ergue a filosofia hegeliana e elaboram uma nova pe-
todo o edifício da sociedade; as relações de pro- riodização da história, baseada na revolução dia-
dução (formas de propriedade dos meios de pro- lética da economia. O materialismo histórico
dução, classes sociais e as relações entre elas) representa também um método de análise cien-
constituem o fundamento das instituições jurí- tífica dos vários níveis da estrutura social. É o
dicas e políticas (Estado) e das ideologias ou método presente em toda a análise do modo de
formas de consciência social (costumes, arte, re- produção capitalista focalizado em O Capital.
ligião). Segundo Marx, cada modo de produção Mas Marx não deixou uma sistematização aca-
gera uma superestrutura que lhe é correspon- bada desse método; há apenas algumas indica-
dente e que não é mais do que a expressão ideal ções ao longo de sua obra, como no Prefácio à
das relações materiais dominantes. Por isso, Crítica da Economia Política, na qual o autor de-
Marx e Engels afirmaram: “As idéias dominan- senvolve os conceitos de modo de produção e
tes são, em todas as épocas, as idéias das classes de formação social. Importante também, no mes-
dominantes. A classe que dispõe dos meios de mo sentido, é o posfácio da segunda edição de
produção material dispõe com isso, ao mesmo O Capital, escrito que contém importantes for-
tempo, dos meios de produção intelectual”. mulações sobre a dialética. Veja também Mar-
Apesar da predominância do econômico sobre xismo; Materialismo Dialético.
a superestrutura, essa relação não se dá de forma
mecânica, como um simples reflexo. Os diversos MATÉRIA-PRIMA. Produto natural ou semi-
níveis da superestrutura influem também sobre manufaturado (bem intermediário) que deve ser
a base, numa articulação dialética. O mundo da submetido a novas operações no processo pro-
política e o da ideologia possuem sua especifi- dutivo até tornar-se um artigo acabado. O mi-
cidade e leis próprias de desenvolvimento, que nério de ferro no subsolo é apenas recurso na-
lhes proporcionam uma autonomia relativa para tural; depois de extraído, torna-se matéria-prima
com o mundo da economia. A esse respeito, di- para produzir o ferro, que, por sua vez, servirá
373 MAYO, George Elton

como bem intermediário e matéria-prima para água. Por iniciativa sua, em 1851 inicia-se a reor-
produção do aço; este, finalmente, será matéria- ganização do Banco do Brasil, o que se efetiva
prima para um produto final (automóvel, na- em 1853. Em 1854 construiu a primeira ferrovia
vio). A matéria-prima, portanto, tanto pode ser do país com 14 quilômetros de extensão, ligando
proveniente do setor primário da economia o Rio de janeiro à raiz da Serra de Petrópolis.
como do secundário. A Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, inaugurada
em 1857, e o cabo telegráfico submarino com a
MATRIZ DE DECISÃO. Todo problema de de- Europa (1872), construídos por firmas inglesas,
cisão é composto dos seguintes elementos: a) vá- foram ambos empreendimentos iniciados por
rias linhas de ação a serem seguidas pelo toma- Mauá. Mas, sem condições de operar empreen-
dor de decisões, também chamadas estratégias, dimentos de tal envergadura numa economia
saídas ou alternativas; b) várias situações da rea- de base escravista e sem crédito governamental,
lidade que podem ser representadas em termos Mauá acabou falindo em 1878. Relatou sua ex-
de probabilidade, entendendo-se realidade por periência no livro Exposição aos Credores e ao Pú-
tudo aquilo que é alheio e escapa ao controle blico, publicado em 1878. Veja também Banco
do tomador de decisões, como a conjuntura eco- do Brasil.
nômica, a situação política internacional, o clima
etc.; c) um resultado, geralmente representado MAXIDESVALORIZAÇÃO. Em princípio, qual-
em termos monetários, que será diferente de- quer desvalorização drástica de uma moeda
pendendo da estratégia adotada e da situação pode ser denominada maxidesvalorização. Um
da realidade. exemplo foi a desvalorização do cruzeiro decre-
tada pela Sumoc em março de 1961, no governo
MATRIZ DE PREÇOS RELATIVOS. Veja Pre- Jânio Quadros. Entretanto, o termo corresponde
ços Relativos. especificamente às desvalorizações acionadas
em dezembro de 1979 e fevereiro de 1983. A de
MATTEI, Enrico (1906-1962). Empresário e po-
1979 visava a baratear os preços dos produtos
lítico italiano. Presidente da Agenzia Italiana di
brasileiros no mercado internacional, e foi se-
Petroleo (Agip), criada em 1926 por Mussolini;
guida pela extinção dos depósitos prévios para
transformou-a em 1953 na Ente Nazionale Idro-
importação e outras medidas: incentivos à ex-
carburi (ENI), uma empresa estatal convertida
portação, depósitos compulsórios para viagens
em grande império econômico. Para tanto, Mat-
ao exterior e Lei do Similar Nacional. A segunda
tei usou métodos audaciosos. Passou a explorar
máxi obedece à tentativa (vitoriosa) de obter me-
petróleo no exterior, pagando ao país produtor
gassuperávits na balança comercial, por meio do
25% a mais do que os trustes anglo-americanos.
aumento das exportações e redução das impor-
Para entrar no mercado da Argélia, defendeu a
tações, para viabilizar o pagamento dos juros
Frente de Libertação Nacional argelina e, em ple-
da dívida externa.
na guerra-fria, passou a comprar petróleo so-
viético, bem mais barato.Deputado democrata- MAXIMIZAÇÃO DE LUCROS (ou Lucro Óti-
cristão em 1948 e 1953, Mattei foi responsável mo). Nível de produção em que a diferença entre
pela “abertura à esquerda” de seu partido, ao os custos e as receitas obtidas com a venda dessa
forçar a constituição de um governo de centro- produção é a maior possível. Pode-se localizar
esquerda. Morreu num misterioso desastre de o ponto de lucro ótimo a partir de uma tabela
avião, havendo a hipótese de sabotagem prepa- na qual constem os custos para cada nível de
rada pela Máfia no interesse dos trustes petro- produção e o faturamento total conseguido com
líferos. Sua vida foi tema do filme O Caso Mattei, a produção naquele nível. A maximização dos
de Francesco Rosi (1971). lucros será conseguida, em teoria, quando hou-
ver a maior distância entre os custos e as receitas.
MAUÁ, BARÃO E VISCONDE DE (Irineu Outro método consiste em determinar o retorno
Evangelista de Souza) (1813-1889). Financista e obtido com a venda de uma unidade adicional
empresário industrial brasileiro associado a ca- de produção. Se o retorno for superior ao custo
pitais ingleses durante o Segundo Reinado. Com daquela unidade, a produção deverá ser aumen-
a disponibilidade de capitais decorrente da proi- tada, e repete-se o cálculo para outras unidades
bição do tráfico de escravos, criou diversas em- adicionais, enquanto as condições prevalecerem;
presas de serviços públicos, tendo como princi- se os custos se equilibrarem com as receitas, en-
pal cliente o Estado. Entre seus mais importantes tão a produção deverá ser reduzida.
empreendimentos constam: a Companhia de
Navegação a Vapor do Rio Amazonas, a Com- MAYO, George Elton (1880-1949). Australiano
panhia de Iluminação a Gás do Rio de Janeiro radicado nos Estados Unidos, foi um dos fun-
e o Estaleiro de Ponta da Areia, em Niterói, de dadores da Escola de Relações Humanas e um
onde saíam desde navios a vapor e a vela até dos críticos das concepções de Taylor e de Fayol
pontes de ferro e tubos para a canalização de da Escola Clássica. Sua principal contribuição à
MBA 374

ciência da administração foram suas descobertas (A Teoria da Política Econômica Internacional),


— juntamente com Fritz Hoethlisberger e Wil- em dois volumes, escritos em 1951 e 1955, em
liam Dickson, nos Estudos Hawthorne — da im- que demonstra os diversos efeitos da política
portância do fator humano e especialmente do econômica de comércio exterior e suas influên-
meio social nas relações industriais entre patrões cias no plano doméstico, na produção, no co-
e empregados. Trabalhou no Departamento de mércio e na alocação de recursos. Sua análise
Pesquisas Industriais em Harvard, entre 1927 e baseia-se nas condições necessárias para que
1947, e sua principal atividade esteve voltada
uma política de comércio internacional alcance
para os estudos e experimentos realizados na
os equilíbrios interno e externo. Sua grande con-
fábrica da Western Electric, em Hawthorne (Chi-
cago). Escreveu Os Problemas Humanos de uma tribuição nesse campo é a descrição de como as
Civilização Industrial (1933) e A Gerência e o Tra- decisões governamentais sobre impostos fiscais
balhador (1939). e taxas de juros afetam a política de emprego e
a balança de pagamentos. Em outra obra, The
MBA. Iniciais de Master Business Administration. Balance of Payments (O Balanço de Pagamentos),
MBPS. Iniciais da expressão em inglês “milhões 1951, procura demonstrar que os problemas do
de bytes por segundo”, que consiste em unidade balanço de pagamentos são fundamentalmente
de medida de informática e processamento de monetários e de escolha da política econômica.
dados. Esta deve combinar instrumentos para obter ao
mesmo tempo um equilíbrio interno (o pleno
McCALLUM, Bennett. Veja Expectativas Ra- emprego) e externo (o balanço de pagamentos),
cionais. o que implica, entre outras medidas, uma polí-
McCULLOCH, John Ramsay (1789-1864). Esta- tica monetária que assegure um nível constante
tístico e economista escocês, seguidor e grande de emprego. Outra obra importante é Planning
divulgador das teorias de David Ricardo. Sua and the Price Mechanism (Planejamento e Meca-
obra principal é Principles of Political Economy nismo de Preço), 1948, na qual propõe, entre
(1825). outras medidas, a redução das pressões infla-
cionárias derivadas do excesso de demanda mo-
MCE. Veja Mercado Comum Europeu — MCE. netária, a extinção dos incentivos fiscais e do
MEAÇÃO. Sistema de parceria agrícola em que controle governamental e medidas contrárias à
o produto da exploração é dividido igualmente exportação de capital. Meade formou-se em eco-
entre o proprietário da terra e o camponês meei- nomia pela Universidade de Oxford, em 1930,
ro. Segundo o costume ou acordo contratual, o participando em seguida do grupo de estudos
dono da terra faz algum adiantamento em se- dirigido por J.M. Keynes. Trabalhou no Depar-
mentes, adubos e ferramentas, mas todo o tra- tamento Econômico da Liga das Nações (1938-
balho é de responsabilidade do meeiro e de sua 1940) e, no pós-guerra, tornou-se o principal eco-
família. Difundido no Brasil depois da abolição, nomista do gabinete trabalhista, tendo um im-
o sistema ainda é freqüente no Nordeste e em portante papel ainda no estabelecimento do
Minas Gerais, em geral por meio de contratos Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT).
meramente verbais. Relação tipicamente pré-ca- No campo acadêmico, foi professor na London
pitalista, a meação existiu na França e na Itália
School of Economics e nas universidades de
a partir do final da Idade Média, sendo variáveis
Cambridge e Oxford. Outras obras: National In-
as partes do produto que cabiam ao meeiro e
ao proprietário; na França, era chamada de mé- come and Expediture (Renda Nacional e Despesa),
tayage e na Itália, de mezzadria. Foi muito prati- 1944; A Geometry of International Trade (Geome-
cada no Japão, na Índia e no sul dos Estados tria do Comércio Internacional), 1952; A Neo-
Unidos, após a abolição da escravidão. Veja tam- Classical Theory of Economic Growth (Uma Teoria
bém Parceria; Sistemas Agrários; Terça. Neoclássica do Crescimento Econômico), 1960;
The Stationary Economy (A Economia Estacioná-
MEADA. Veja Typp. ria), 1965; The Theory of Indicative Planning (A
MEADE, James Edward (1907-1995). Economis- Teoria do Planejamento Indicativo), 1967; The
ta inglês, neokeynesiano, pioneiro no campo da Growing Economy (A Economia do Crescimento),
macroeconomia e especialista em comércio in- 1968; The Controlled Economy (A Economia Con-
ternacional. Recebeu o Prêmio Nobel de Econo- trolada), 1971; The Theory of Economic Externalities
mia de 1977, juntamente com o sueco Bertil Oh- (A Teoria das Externalidades Econômicas), 1973;
lin, pelas pioneiras contribuições realizadas à The Intelligent Radical’s Guide to Economic Policy
teoria do comércio internacional e aos movimen- (Guia Radical Inteligente para a Política Econô-
tos internacionais de capital. A principal obra mica), 1975; e The Just Economy (A Economia Jus-
de Meade é Theory of International Economic Policy ta), 1976.
375 MÉDIA MÓVEL

MEAN. Termo em inglês que significa média referir-se a conjuntos cujos valores extremos são
aritmética. Veja também Average; Média Arit- extraordinariamente diferentes. Por esta razão,
mética. a média deve vir sempre acompanhada de uma
medida da dispersão, como o desvio padrão, por
MEANS, Gardiner C. (1896-1987). Economista exemplo, e deve-se evitar o cálculo da média
norte-americano. Ocupou vários cargos na ad- de duas médias, uma vez que cada conjunto
ministração das finanças públicas dos Estados pode possuir um peso ou uma importância di-
Unidos, distinguindo-se sobretudo na década de ferente no fenômeno que se deseja medir.
40. Escreveu: The Corporate Revolution in America
(A Revolução da Sociedade Anônima nos Esta- X1 + X2 + X3 … Xn n
dos Unidos); Pricing Power and the Public Interest x= = Σ Xi ,
n i=2
(O Poder de Fixar Preços e o Interesse Público);
The Structure of the American Economy (A Estru- n
tura da Economia Norte-americana); Industrial onde Σ Xi representa a soma de X1 em que i
i=2
Prices and their Relative Inflexibility (Preços In-
varia de 1 até n.
dustriais e sua Inflexibilidade); em co-autoria
com Adolf A. Berle, Jr., The Modern Corporation Por exemplo, calcular a média aritmética de 10,
and Private Property (A Moderna Sociedade Anô- 8 e 5:
nima e a Propriedade Privada); em co-autoria
com Caroline F. Wave, The Modern Economy in X1 + X2 + X3 10 + 8 + 5 23
X= = = = 7,66
Action (A Moderna Economia em Ação); e em 3 3 3
co-autoria com James C. Bonbright, The Holding
Veja também Desvio Padrão; Média Ponderada;
Company (A Empresa Holding).
Variância.
MECANIZAÇÃO. Substituição do trabalho do
MÉDIA GEOMÉTRICA SIMPLES. A média
homem pela máquina. Foi a grande inovação
geométrica de uma série de valores observados,
tecnológica da Revolução Industrial (séculos
X1, X2, X3... Xn, é a raiz enésima do produto
XVIII-XIX), quando a máquina a vapor, a ener-
destes valores.
gia elétrica e o motor a explosão passaram a ser
empregados para mover as máquinas nas fábri- n
cas de tecidos, nas minas, nos transportes e na Mg = Xg = √
 
X1 . X2 . X3 … Xn
agricultura. Ao ser implantada na Europa, a me- Mg = Xg = média geométrica X1, X2, X3 ... Xn
canização causou grande aumento na produti-
= valores cuja média se deseja encontrar. Ao con-
vidade industrial e agrícola, mas também arrui- trário da média aritmética, a média geométrica
nou milhares de artesãos, que não podiam con-
é apropriada para a obtenção da média de taxas.
correr com as modernas indústrias, deixando-os
É utilizada na construção de números-índices
sem meios de subsistência. Houve nessa época
que registram, por exemplo, as taxas de variação
várias revoltas, nas quais os operários destruíam
de preços e outros dados dessa natureza. As
as máquinas. Veja também Automação; Luditas.
vantagens da utilização da média geométrica
MÉDIA. Termo matemático utilizado em cálcu- podem ser avaliadas no seguinte exemplo:
los. A média aritmética de n termos é igual à
soma desses termos dividida por n. A média Mercadoria Preço no ano t0 Preço no ano t1
geométrica de n termos é definida como a raiz X 100 1000
n do produto desses termos. A média geomé- Y 100 1110
trica de um conjunto de números positivos é Média aritmética 100 1505
sempre menor que sua média aritmética. Média geométrica 100 1100

MÉDIA ARITMÉTICA. É a soma de um deter-


minado número de valores dividido pelo nú- Se calculássemos a média aritmética, podería-
mero dos valores. Assim, a média aritmética de mos pensar que houve um aumento substancial
5, 7, 9, 11, 13 é igual à soma destes valores 5 + nos preços entre t0 e t1. No entanto, como as
7 + 9 + 11 + 13 = 45 dividida por 5 = 9. O taxas de variação dos dois preços foram as mes-
cálculo da média aritmética pode, no entanto, mas — só que em sentido inverso —, essas va-
encobrir a variação dos valores que a compõe; riações se anularam mutuamente e a média se
por exemplo, a média calculada anteriormente manteve a mesma.
é a mesma que aquela composta dos valores 2
e 16, pois 2 + 16 = 18 dividido por 2 = 9. Em MÉDIA MÓVEL. Média obtida mediante sele-
outras palavras, as médias não informam sobre ção de um número determinado de itens de uma
a variância dos valores em torno desta média. série. A primeira média é calculada determinan-
Assim, duas médias aritméticas iguais podem do-se um número de itens de uma série (por
MEDIANA 376

exemplo, três); a segunda, retirando o primeiro c) Média aritmética simples:


item da média anterior e agregando o seguinte,
e assim sucessivamente. O exemplo abaixo re- S xi 23
= = N = Número de casos
fere-se a uma média móvel de três itens: N 3

Itens Soma de três itens Média móvel


As médias ponderadas são freqüentemente uti-
lizadas na construção de números-índices. Veja
2
também Média Geométrica; Número-índice.
6 (2 + 6 + 1) = 9 (9 ÿ 3) = 3
1 15 5 MÉDIA SUBJETIVA. Aquela obtida à custa de
8 12 4 observações das diversas magnitudes de uma
3 12 4 variável.
1 15 5 MÉDIAS DOW JONES. Médias das cotações
11 24 8 dos mercados de ações preparadas pela empresa
12 27 9 Dow Jones e publicadas diariamente no Wall
4 Street Journal. Veja Também Dow Jones.
MEDIDAS DE ACHATAMENTO (Kurtosis).
As médias móveis são freqüentemente utiliza- Medidas que procuram caracterizar a forma de
das nos casos de séries que apresentam grande distribuição quanto ao seu achatamento. O ter-
irregularidade ou oscilação, como acontece com mo médio de comparação é dado pela distri-
a produção agrícola no tocante a preços e vo- buição normal. Distribuições mais “achatadas”
lumes produzidos. Neste caso, as médias móveis do que a normal são denominadas platicúrticas;
contribuem para eliminar as variações sazonais, as menos achatadas são denominadas leptocúr-
isto é, as oscilações provocadas sobre os preços ticas, e a normal propriamente dita é denomi-
e quantidades produzidas por safras muito boas nada mesocúrtica. O coeficiente de achatamento
ou muito ruins. (K) é calculado pela seguinte fórmula:

MEDIANA. Termo matemático utilizado em es- Q3–Q1


K=
tatística. Alinhadas em ordem crescente de fre- 2(P90–P10)
qüência todas as observações de uma amostra,
a mediana é definida como a freqüência da ob- onde Q3 e Q1, e P90 e P10 são, respectivamente,
servação (valor) central; ou, se houver um nú- o 3º, o 1º quartis e o 90º e 10º percentis.
mero par de observações, a média aritmética das Se K = 0,263, a distribuição será mesocúrtica.
duas observações centrais. Ela é utilizada no lu-
gar da média em distribuições viesadas, pois, Se K < 0,263 a distribuição será platicúrtica.
nesses casos, dá uma melhor idéia de onde esta Se K > 0,263 a distribuição será leptocúrtica.
última está centrada.
O coeficiente de Curtose (Kurtosis) pode ser ob-
MÉDIA OBJETIVA. Aquela obtida à custa de tido também pelo quociente do momento cen-
várias observações da mesma magnitude. trado de 4ª ordem pelo quadrado da variância, ou
MÉDIA PONDERADA. Média na qual os nú- M4
meros que a compõem são multiplicados por α= S = Desvio Padrão
S4
valores denominados pesos ou freqüências. Por
exemplo: Este coeficiente adimensional será menor do que
três para distribuições platicúrticas, maior do
Números que compõem Pesos ou freqüências fi que três para distribuições leptocúrticas e igual
a média x1
a três para uma distribuição mesocúrtica.
10 1
18 2
15 3

a) Média aritmética ponderada:


Σ x1 . fi (10 x 1) + (8 x 2) + (5 x 3)
= = 6,83
Σ fi 6
Platicúrtica Mesocúrtica Leptocúrtica
b) Média geométrica ponderada:
MEDIDAS DE ASSIMETRIA (Coeficiente Pear-
Σ fi son de Skewness). Uma distribuição é simétrica

√xf1i . xf2e . xf33 = √

80 000 = 6,56 se a média, moda e mediana coincidem. O coefi-
377 MEIO CIRCULANTE

ciente que mede a assimetria de um conjunto É claro que essas medidas não são exatas nem
de dados é calculado pela fórmula: oficiais, pois o tamanho das xícaras e colheres
varia no tempo e no espaço. Mas são indicações
1) aproximadas para atividades que não exigem
__ ~ uma precisão muito apurada, como acontece
3 ( x – x) com a atividade de preparação de receitas para
Sk =
3 a confecção de alimentos.
2) MÉDIO PRAZO. No âmbito financeiro, médio
__ prazo significa aquele compreendido entre um
3 (x – M0) e cinco anos.
Sk =
5 MEGA TRENDS. Veja Megatendências.
3) MEGABYTE (Mbyte ou Mby). O equivalente
~
Q3 + Q1 – 2x a um milhão de bytes. Veja também Byte.
Sk =
Q3 – Q1 MEGAFLOPS (MFlops). Milhões de operações
(contas) por segundo (unidade de medida de
Se Sk = 0, a distribuição é simétrica; se Sk>0, a tempo de operação de supercomputadores).
_ Sk<0, a dis-
distribuição é assimétrica positiva; se
tribuição é assimétrica negativa. E x, ~x e M0 são, MEGATENDÊNCIAS. Conceito introduzido por
respectivamente, média, mediana e moda; S o alguns autores, como Peter Drucker e John Nais-
desvio padrão e Q3 e Q1 são, respectivamente, bitt, sobre as tendências mais importantes que
o 3º e o 1º quartis. Veja também Kurtosis; Per- ocorrerão no mundo nos próximos anos, espe-
centil. cialmente no início do próximo século, e que
terão influência sobre o mundo dos negócios e
MEDIDAS DE COZINHA. São medidas utili- nas empresas em geral, como, por exemplo, a
zadas na atividade culinária, admitindo uma tendência de integração econômica mundial, das
certa dose de imprecisão. As mais utilizadas são alianças comerciais e da personalização dos pro-
as seguintes, com as devidas conversões para o dutos e serviços (correspondendo à busca da
sistema métrico decimal e o imperial inglês: qualidade e da supremacia do consumidor).
2 xícaras de água = 1 pinta (líquida) ou 0,473 l; MEHRWERTSTEUER. Termo em alemão que
4 xícaras de água = 1 quarta líquida ou 0,946 l; significa “imposto sobre o valor agregado”, tam-
1 pinta de água = 1 libra (453 g). bém denominado Umsatzsteuer. É um dos im-
postos mais importantes da Alemanha e é divi-
Para efeitos culinários, considera-se que quase
dido entre a União (Bund) e os Estados (Länder),
todos os líquidos têm o mesmo peso, exceto
na proporção de 65% e 35%, respectivamente.
aqueles com grande viscosidade, como o melado
ou os xaropes (concentrados). As seguintes subs- MEIA. Veja Meação.
tâncias têm seu peso equivalente a 1 libra ou
453 g: MEIA SISA. Denominação de imposto de 5%
sobre a renda de cada escravo que fosse “negro
2 xícaras de açúcar refinado = 2 1/2 xícaras de ladino”, isto é, que já soubesse um ofício. Veja
açúcar cristal = 2 2/3 xícaras de açúcar mascavo também Sisa.
= 4 xícaras de farinha = 2 xícaras de manteiga
= 2 xícaras de carne moída. As seguintes subs- MEIA TONELADA. Veja Kip.
tâncias têm seu peso equivalente a uma onça:
MEIO AMBIENTE. Veja Ecologia; Lei Nacio-
2 colheres (sopa) de manteiga ou açúcar = 4 co- nal do Meio Ambiente; Sema.
lheres (sopa) de farinha = 1 colher (sopa) de sal.
MEIO CIRCULANTE, Controle do. Medidas
As demais equivalências são as seguintes: tomadas pelas autoridades financeiras de um
país, regulando o volume total do meio circu-
12 colheres (sopa) de farinha ou açúcar = 1 xí- lante. Toda vez que a atividade econômica apre-
cara; senta sinais de aceleração, com tendência de alta
nos preços e incremento da inflação, torna-se
2 colheres (sopa) de água = 1 onça líquida (29 g); necessário retirar parte do dinheiro em circula-
ção. Essa medida pode ser tomada mediante res-
60 gotas de água = 1 colher (chá);
trições ao crédito, colocação de títulos a longo
3 colheres (chá) = 1 colher (sopa); prazo, aumento dos depósitos compulsórios de
bancos (retirada de dinheiro em circulação).
16 colheres (sopa) = 1 xícara. Quando, ao contrário, surgem sinais de depres-
MEIOS DE PAGAMENTO 378

são econômica, restaura-se a liquidez por meio teoria da utilidade marginal foi também desen-
de títulos de curto prazo, diminuição do depó- volvida, na mesma época (1871) e inde-
sito compulsório de bancos etc. pendentemente, por Jevons, mas foram Menger
e seus discípulos Böhm-Bawerk e F. von Wieser
MEIOS DE PAGAMENTO. Volume da oferta que melhor a exploraram. Menger foi professor
de moeda em circulação na economia (excluídos de economia política na Universidade de Viena
os montantes mantidos em caixa pelas autori- de 1873 a 1903. Sua obra mais importante, na
dades monetárias e pelos bancos comerciais) qual desenvolve a teoria da utilidade marginal,
mais a moeda escritural (depósitos à vista do é Die Grundsätze der Volkswirtschaftslehre (Prin-
público nos bancos). Existem quatro séries dis- cípios da Economia Política), 1871. Também dei-
tintas de meios de pagamento (entre 1991 e 1992 xou contribuições no campo da teoria monetária
existiu também uma quinta, a M-5). A M-1 equi- e da metodologia das ciências humanas.
vale ao papel-moeda em poder do público e aos
depósitos à vista no setor bancário; a M-2 inclui MENU APPROACH. Veja Plano Baker.
a M-1 mais os depósitos a prazo; a M-3 engloba
a M-2 mais os depósitos em poupança; a M-4 MENU COSTS. Veja Teoria dos Custos de
adiciona à M-3 o saldo dos títulos públicos fe- Menu.
derais em circulação, isto é, fora da carteira do
MENU DE OPÇÕES. Veja Plano Baker.
Banco Central. A partir de 1991, com a criação
dos Fundos de Aplicação Financeira, as séries MERCADO, Análise de. Estudo e acompanha-
M-2 e M-4 foram modificadas. Veja também M- mento do comportamento do mercado de ações,
2; M-4; M-5. como material para inferir seu comportamento
futuro. São analisadas informações como as co-
MEIOS DE PRODUÇÃO. Conjunto formado
pelos meios de trabalho e pelo objeto de traba- tações, variações de preço em função do tempo,
lho. Os meios de trabalho incluem os instru- volumes negociados e até assuntos econômicos
mentos de produção (ferramentas, máquinas), gerais que possam influir no comportamento de
as instalações (edifícios, silos, armazéns), as di- determinados setores industriais ou comerciais
versas formas de energia e combustível e os e reduzir ou melhorar o rendimento de deter-
meios de transporte. O objeto de trabalho é o minados investimentos. Veja também Mercado.
elemento sobre o qual ocorre o trabalho huma-
MERCADO, Pesquisa de. Veja Pesquisa de
no: a terra e as matérias-primas, as jazidas mi-
Mercado.
nerais e outros recursos naturais. O termo foi
elaborado por Marx, tornando-se de uso corren- MERCADO, Reserva de. Veja Reserva de Mer-
te em economia. cado.
MELHORIA PARETIANA. Situação em que MERCADO. Em sentido geral, o termo designa
uma realocação de recursos provoca a melhoria um grupo de compradores e vendedores que
da situação de uma pessoa, sem que qualquer estão em contato suficientemente próximo para
outra sofra uma piora em sua condição. Veja que as trocas entre eles afetem as condições de
também Ótimo de Pareto. compra e venda dos demais. Um mercado existe
quando compradores que pretendem trocar di-
MELON. Termo em inglês que, aplicado ao mer-
nheiro por bens e serviços estão em contato com
cado de ações, significa um grande dividendo
vendedores desses mesmos bens e serviços. Des-
extraordinário pago em dinheiro. Quando uma
se modo, o mercado pode ser entendido como
corporação concede uma distribuição extraordi-
o local, teórico ou não, do encontro regular entre
nária de dividendos desse tipo, costuma-se dizer
compradores e vendedores de uma determinada
que os seus diretores cut a melon, isto é, “corta-
economia. Concretamente, ele é formado pelo
ram um melão” no sentido de dividi-lo.
conjunto de instituições em que são realizadas
MENDES, Cândido. Veja Iseb. transações comerciais (feiras, lojas, Bolsas de Va-
lores ou de Mercadorias etc.). Ele se expressa,
MENGER, Carl (1840-1921). Economista austría- entretanto, sobretudo na maneira como se or-
co, fundador da escola austríaca. Desenvolveu ganizam as trocas realizadas em determinado
uma teoria subjetiva do valor (teoria da utilida- universo por indivíduos, empresas e governos.
de marginal), ligando-o à satisfação dos desejos A formação e o desenvolvimento de um mer-
humanos. Para ele, as trocas ocorrem porque os cado pressupõem a existência de um excedente
indivíduos têm avaliações subjetivas diferentes econômico intercambiável e, portanto, de certo
de uma mesma mercadoria: toda a atividade grau de divisão e especialização do trabalho.
econômica resulta simplesmente da conduta dos Historicamente, isso ocorre nas cidades euro-
indivíduos e deve ser analisada a partir do con- péias no final da Idade Média. Com a formação
sumo final, como uma pirâmide invertida. Sua regular de um excedente, a antiga economia na-
379 MERCADO A FUTURO

tural ou de subsistência passa a ser substituída economia de escala, na qual, quanto maior a pro-
por um mecanismo de mercado, que é formado dução, menores são os custos e maiores os lu-
basicamente pela oferta de bens e serviços e pela cros) e o crescente intervencionismo do Estado
demanda (ou procura) desses bens e serviços. na economia (formando empresas, regulando
Da interação desses elementos surge um sistema preços, estoques e a oferta monetária, por exem-
de preços que vai orientar a economia no sentido plo). Assim, atualmente, entre as situações de
do aumento ou da redução da produção. A ofer- mercado comuns em que prevalece a concor-
ta representa o volume total de determinada rência imperfeita, destacam-se, do lado da ofer-
mercadoria que os produtores (ou vendedores) ta, o monopólio (no qual um único produtor de-
estão dispostos a vender a um determinado pre- termina toda a oferta e exerce grande poder so-
ço. Ela tende a ser diretamente proporcional ao bre o preço) e o oligopólio (em que há um pe-
preço obtido no mercado. Quanto maior o preço, queno número de vendedores, como o mercado
em geral é maior a quantidade ofertada, pois de automóveis, por exemplo, controlado por
preços maiores oferecem uma margem mais ele- poucas e poderosas empresas); e, do lado da
vada de lucro. A demanda representa o lado demanda, o monopsônio (em que um único
dos compradores (ou consumidores), cuja rea- comprador determina toda a demanda e exerce
ção tende a ser inversa: quanto mais elevado o grande influência sobre os preços) e o oligop-
preço, menos eles estarão dispostos a comprar. sônio (no qual um pequeno grupo de compra-
Oferta e procura agem assim em direções opos- dores controla o mercado e influi decisivamente
tas em relação aos preços. O equilíbrio seria teo- sobre os preços). De acordo com seu alcance, o
ricamente alcançado quando, a determinado mercado pode ainda ser classificado em local,
preço, as quantidades de bens e serviços pro- regional, nacional e mundial. Entre os fatores
curados fossem iguais às oferecidas. Aqui entra que determinam o alcance do mercado estão a
a questão da capacidade que compradores, de escala de produção, as características da merca-
um lado, e vendedores, de outro, têm de in- doria, a amplitude da demanda, o grau de or-
fluenciar o preço. Isso leva a uma classificação ganização do comércio e o estágio de desenvol-
dos mercados em cujos extremos estão a con- vimento econômico e social. E, de acordo com
corrência perfeita (suposta pela economia clás- a natureza da mercadoria, distinguem-se os mer-
sica) e o monopólio. Um mercado seria de con- cados monetário, de trabalho, de produtos etc.,
corrência perfeita quando reunisse, tanto no conforme o critério adotado. O mercado de pro-
lado da oferta como no da procura, um grande dutos pode ser dividido em mercados de bens
número de agentes econômicos (compradores e de consumo e de bens de capital. As Bolsas de
vendedores), que seriam indiferenciados entre Mercadorias e instrumentos de crédito como as
si, criando uma situação em que é indiferente letras de câmbio tornaram o mercado mais fle-
para o produtor vender a este ou àquele, desde xível e deram origem ao mercado a termo, onde
que paguem o mesmo preço, a mesma coisa se realizam contratos de compra e venda de mer-
ocorrendo com os compradores. Além disso, a cadorias para entrega posterior, fixando-se pre-
combinação dessas características de mercado ço, prazo e local de entrega e permitindo com
ideal teria de acontecer de modo que não per- antecedência a garantia de estoques para o abas-
mitisse que nenhum dos agentes pudesse indi- tecimento de cidades e países. A microeconomia,
vidualmente exercer uma influência perceptível que tem por objetivo as ações econômicas ape-
sobre o preço: qualquer vendedor que fixasse nas de indivíduos e empresas, estuda o mercado
um preço maior perderia a clientela e, do mesmo em seu funcionamento geral, características bá-
modo, os compradores não teriam condições sicas e comportamento dos agentes econômicos.
(por serem todos pequenos) de forçar a baixa Já a mercadologia (ou marketing) estuda a de-
dos preços. Economistas clássicos construíram manda e as maneiras de influenciá-la. Veja tam-
suas teorias na suposição de que a economia bém Concorrência; Consumo; Economia Natu-
capitalista fosse basicamente formada por mer- ral; Lei da Oferta e da Procura; Mercadoria; Mo-
cados desse tipo, que tenderiam, portanto, num nopsônio; Oligopsônio; Preços.
prazo mais ou menos longo, ao equilíbrio. En-
tretanto, se é que algum dia existiram, os mer- MERCADO A FUTURO. Âmbito dos compro-
cados de concorrência perfeita ou algo próximo missos de compra e venda, a preços determina-
disso praticamente desapareceram no desenvol- dos, de lotes prefixados e para uma data futura
vimento do capitalismo. O funcionamento da fixada pelas Bolsas. Tais transações são feitas
economia de mercado (expressão que é usada tanto nas Bolsas de Valores como nas Bolsas de
modernamente como sinônimo de capitalismo) Mercadorias (ou commodities) e podem ser ne-
modificou-se de modo irreversível por vários fa- gociadas também as posições, isto é, a situação
tores, entre eles o gigantismo das modernas uni- de comprador ou de vendedor no futuro, em
dades industriais (por exigências técnicas ou por determinada transação. O objetivo desse merca-
critérios de rentabilidade determinados pela do é proteger compradores e vendedores contra
MERCADO A TERMO 380

problemas imprevisíveis, como grandes oscila- como finalidade o desenvolvimento econômico


ções de preços, especulação desenfreada ou ca- dos países-membros, o incremento das trocas de
tástrofes naturais. Veja também Backwardation; bens e serviços e o aumento do nível de emprego
Contango; Mercado. e do padrão de vida nesses países. As atividades
do mercado estão subordinadas às decisões de
MERCADO A TERMO. Abrange as negociaçõ- um secretariado permanente, de um conselho
es realizadas nas Bolsas de Valores e nas Bolsas
econômico e do conselho executivo. As transa-
de Mercadorias (commodities) com vencimento
ções econômicas são respaldadas pelo Banco
acertado entre as partes para no mínimo cinco
Centro-Americano para Integração Econômica.
dias depois (em geral, trinta, sessenta, noventa
ou até 180 dias). Veja também Mercado. O livre-comércio entre os países membros só foi
estabelecido em 1966, e, apesar de terem sido
MERCADO A TERMO CATS. Veja Cats. eliminadas as tarifas sobre cerca de 95% dos pro-
dutos comercializados, permaneceram algumas
MERCADO À VISTA. Veja Mercado Spot. taxações alfandegárias, particularmente sobre
produtos agrícolas. Além disso, o desenvolvi-
MERCADO À VISTA CATS. Veja Cats.
mento e a continuidade das medidas tomadas
MERCADO ABERTO (Open Market). Merca- pela organização são constantemente interrom-
do no qual o banco central de cada país regula pidos ou dificultados por conflitos políticos entre
o fluxo da moeda comprando e vendendo seus seus integrantes. Veja também Cepal.
títulos (títulos de dívida pública). Quando há
muito dinheiro em circulação, o banco central MERCADO COMUM EUROPEU — MCE. De-
“enxuga” o mercado vendendo letras do Tesou- nominação popularizada de Comunidade Eco-
ro Nacional; quando ocorre o contrário, ele com- nômica Européia (CEE), entidade supranacional
pra esses títulos. As operações são feitas por in- que congrega doze países da Europa Ocidental.
termédio de instituições financeiras. O open ope- Seu surgimento foi incentivado pelo êxito do
ra com grande flexibilidade e sem limitações: Plano Marshall e pela necessidade de superar
vendedores e compradores não precisam estar os limites rígidos dos mercados nacionais para
presentes no mesmo recinto para que se efeti- viabilizar economias de escala na produção in-
vem as transações, em geral acertadas por tele- dustrial e agrícola e ganhos de produtividade
fone. Veja também Mercado. com o avanço da divisão do trabalho e da es-
pecialização. Precedido pela experiência da co-
MERCADO CATIVO. Mercado atendido ape- munidade européia do carvão e do aço, o MCE
nas por uma empresa ou por um grupo pequeno nasceu oficialmente com o Tratado de Roma,
de empresas mediante contratos ou porque os assinado em 1957 pela Alemanha Ocidental,
preços e a qualidade dos produtos oferecidos França, Itália, Holanda, Bélgica e Luxemburgo.
por essas empresas são altamente competitivos. Em 1973, incorporam-se à organização a Irlanda,
Em alguns casos de fornecimento para institui- a Inglaterra e a Dinamarca, as duas últimas até
ções governamentais, os mercados podem ser então integrantes da Associação Européia de Li-
cativos no sentido de que empresas públicas ou vre-Comércio. A Grécia só aderiu ao sistema em
estatais têm preferência para o fornecimento de 1981 e, a partir de 1º/1/1986, também Portugal
bens e serviços para entidades da administração e Espanha passaram a fazer parte da comuni-
pública. dade. Juntamente com outras entidades supra-
nacionais, o MCE subordina-se administrativa-
MERCADO COMPRADOR. Expressão utiliza- mente à Comunidade Européia. Segundo o Tra-
da nas Bolsas de Mercadorias ou de Valores para tado de Roma e outros instrumentos diplomá-
designar o predomínio da demanda de bens so- ticos subseqüentes, os países-membros estabe-
bre a oferta. Quando isso ocorre, diz-se que o leceram um sistema que tende a fundir seus
“mercado é comprador” e os preços geralmente mercados nacionais num mercado único, insti-
sobem. Veja também Mercado Vendedor. tuindo facilidades para a circulação entre eles
de mercadorias e serviços, capitais e mão-de-
MERCADO COMUM. Veja Área de Livre-co- obra. Tais facilidades incluem reduções recípro-
mércio. cas de tarifas alfandegárias, uniformização tri-
butária, ajustes cambiais e outras medidas. Ape-
MERCADO COMUM CENTRO-AMERICA- sar dos progressos, ainda são grandes as con-
NO. Organização econômica regional integrada tradições econômicas entre os países-membros,
por Costa Rica, El Salvador, Honduras e Nica- dificultando maior unificação. Salientam-se as
rágua. Foi criada em 1960 pelo Tratado para a diferenças de nível de desenvolvimento e as dis-
Integração Econômica da América Central, sob putas de mercado pelas multinacionais. Tomado
o patrocínio das Nações Unidas e da Comissão em conjunto, o MCE representa, contudo, uma
Econômica para a América Latina (Cepal). Tem potência econômica que rivaliza com os Estados
381 MERCADO FIRME

Unidos e com os mercados asiáticos, liderados 50 em virtude dos déficits comerciais norte-ame-
pelo Japão. Na sua nova organização como ricanos que inundavam com dólares os países
União Européia, pode congregar um PIB maior europeus. As euromoedas são emprestadas por
do que aquele formado pelos países do Nafta períodos variáveis até sete anos, mas o prazo
(Estados Unidos, Canadá e México).Veja tam- mais comum é o de doze meses. Durante a crise
bém Comecon; Comunidade Européia; Efta; do petróleo, entre 1973 e 1974, os países impor-
Nafta; União Européia. tadores de petróleo — o Brasil em especial —
fizeram grandes empréstimos nesse mercado
MERCADO DE BALCÃO. Mercado em que as
para cobrir os déficits de seus respectivos ba-
operações não são registradas nos mercados or-
lanços de pagamentos, e ao mesmo tempo este
ganizados (Bolsas). Abrangem não apenas nego-
mercado foi o principal reciclador dos recursos
ciações com ações, como também com outros ati-
obtidos naquela época como superávits comer-
vos, inclusive derivativos. Na medida em que es-
ciais dos países formadores da Organização dos
tas operações atendem a especificações determi-
nadas pelo cliente — não previstas nas negocia- Países Exportadores de Petróleo (Opep).
ções em Bolsa —, as operações realizadas no mer- MERCADO DE MOEDA ESTRANGEIRA. Cen-
cado de balcão também são denominadas “sob tros financeiros onde são comercializadas moe-
medida”, “tailor made” ou “customizadas” (termo das de outros países (divisas), e cujas transações
derivado de customer, que significa “cliente”). determinam as cotações diárias de certas moe-
MERCADO DE CAPITAIS. Toda a rede de Bol- das em relação às outras. No Brasil, a compra
sas de Valores e instituições financeiras (bancos, e a venda de moedas estrangeiras são monopólio
companhias de investimento e de seguro) que do governo, por meio do Banco do Brasil. Veja
opera com compra e venda de papéis (ações, também Moeda Estrangeira.
títulos de dívida em geral) a longo prazo. Tem MERCADO DE OPÇÕES. Veja Opção.
a função de canalizar as poupanças da sociedade
para o comércio, a indústria e outras atividades MERCADO DE OPÇÕES DE ÍNDICE. Contra-
econômicas e para o próprio governo. Distin- tos liquidados exclusivamente em moeda, não
gue-se do mercado monetário, que movimenta havendo entrega do produto (commodity) físico.
recursos a curto prazo, embora ambos tenham A maioria dos contratos futuros e de opção são
muitas instituições em comum. Os países capi- liquidados por margem antes do vencimento e
talistas mais desenvolvidos possuem mercados não terminam em entrega física do produto.
de capitais fortes e dinâmicos. A fraqueza desse
mercado nos países subdesenvolvidos dificulta MERCADO DE OURO EM BARRA. Centro fi-
a formação de poupança, constitui um sério obs- nanceiro onde se compra e vende ouro em barras
táculo ao desenvolvimento e obriga esses países (com pureza garantida de 99,9%). No Brasil, até
a recorrer aos mercados de capitais internacio- 1982, os negócios com ouro eram realizados no
nais, sediados nas potências centrais. chamado mercado paralelo. Naquele ano, a Bol-
sa de Mercadorias criou o mercado de barras,
MERCADO DE COMMODITIES. Centros fi- de 10 g até 1 kg, e a possibilidade de bancos
nanceiros onde são negociadas as commodities participarem como intermediários. Dessa forma,
(produtos primários de grande importância eco- o investidor pode comprar ou vender por tele-
nômica, como algodão, soja e minério de ferro). fone e guardar o ouro no cofre do próprio banco.
Por serem as commodities produtos de grande
MERCADO ESTREITO. Situação do mercado
importância no comércio internacional, seus pre-
de títulos em que o volume de transações é pe-
ços acabam sendo ditados pelas cotações dos
queno.
principais mercados: Londres, Nova York e Chi-
cago. A grande maioria dos negócios é realizada MERCADO FINANCEIRO. Conjunto formado
a termo, isto é, acerta-se o preço para pagamento pelo mercado monetário e pelo mercado de ca-
e entrega da mercadoria em data futura. pitais. Abrange todas as transações com moedas
e títulos e as instituições que as promovem: Ban-
MERCADO DE EUROMOEDAS. Mercado in-
co Central, caixas econômicas, bancos estaduais,
ternacional no qual as moedas dos países mais
bancos comerciais e de investimentos, corretoras
desenvolvidos do ponto de vista econômico e
de valores, distribuidoras de títulos, fundos de
financeiro são emprestadas pelos bancos desses
investimentos etc., além das Bolsas de Valores.
países. Embora este mercado seja denominado
de euromoedas, ele não está restrito às moedas MERCADO FIRME. Fase do mercado de valo-
dos países europeus ou aos seus centros finan- res mobiliários (títulos, ações) em que as cota-
ceiros. O mercado de euromoedas teve início ções dos papéis negociados e o volume das tran-
como mercado de eurodólares no final dos anos sações apresentam oscilações mínimas.
MERCADO FRACIONÁRIO 382

MERCADO FRACIONÁRIO. Conjunto das ne- mantém seus empréstimos até a data do venci-
gociações realizadas em Bolsas de Valores com mento, isto é, não vende esses créditos no mer-
lotes fracionados de cem ou mil ações. cado secundário, é denominado portfolio lender;
2) mercado onde são transacionados em primei-
MERCADO FRACIONÁRIO CATS. Veja Cats. ra-mão os títulos emitidos pelo governo (de sua
MERCADO INTERBANCÁRIO. Mercado no dívida pública) mediante leilões. Os operadores
qual os bancos e instituições financeiras com- deste mercado revendem então tais títulos no
pram e vendem instrumentos financeiros como mercado secundário aos investidores em geral;
certificados de depósito, duplicatas, aceites ban- 3) mercado no qual novas emissões de títulos,
cários etc., geralmente com prazos inferiores a de contratos futuros e de opções são oferecidas.
um ano. Veja também Gen-Saki; Pota-fólio Lender.

MERCADO LARGO. Situação do mercado de MERCADO SECUNDÁRIO. Fase do mercado


títulos em que há um grande volume de tran- de ações e títulos que vem logo em seguida ao
sações. mercado primário e se caracteriza pela obriga-
toriedade de se fazer as transações nas Bolsas
MERCADO MOBILIÁRIO. É o mercado dos de Valores. Veja também Mercado Primário.
valores mobiliários, ações, títulos, papéis em
geral. MERCADO SPOT. Mercado de commodities em
que os negócios são realizados com pagamento
MERCADO MONETÁRIO. Designa o setor do à vista e entrega imediata das mercadorias. Dis-
mercado financeiro que opera a curto prazo. tingue-se do mercado a futuro ou do mercado
Compõe-se da rede de entidades ou órgãos fi- a termo, em que os contratos são feitos para
nanceiros que negociam títulos e valores, con- pagamento e entrega posteriores. Há dois tipos
cedendo empréstimos a empresas ou particula- básicos de mercado spot: o mercado primário ou
res, a curto ou curtíssimo prazo, contra o paga- local, situado junto às zonas produtoras, e o mer-
mento de juros. Além dos bancos comerciais e cado central, localizado nos pontos de distribui-
das empresas financeiras de crédito, o mercado ção. Um exemplo deste último é o grande mer-
monetário compreende também o mercado pa- cado de petróleo do porto de Roterdã. Veja tam-
ralelo e o mercado de divisas. O movimento fi- bém Mercado de Commodities.
nanceiro a longo prazo caracteriza outro seg-
mento, o do mercado de capitais.Veja também MERCADO VENDEDOR. Expressão utilizada
Mercado de Capitais. nas Bolsas de Mercadorias e de Valores para
designar o predomínio da oferta sobre a procura.
MERCADO NEGRO. Termo aplicado para de- Quando isso ocorre, baixam os preços dos títulos
nominar a compra e a venda de bens e serviços em questão. Veja também Mercado Comprador.
feitos clandestinamente, a fim de fugir das leis
ou normas costumeiras. Surge sempre que a MERCADOLOGIA (Marketing). Conjunto de
oferta dos bens em questão é pequena ou, de técnicas matemáticas, estatísticas, econômicas,
algum modo, restrita, o que faz com que os com- sociológicas e psicológicas usadas pelos produ-
pradores se disponham a pagar por eles preços tores para estudar o mercado e conquistá-lo me-
bem acima dos praticados oficialmente. O termo diante o lançamento planejado dos produtos.
aplica-se especialmente ao mercado de moedas Para vender, as empresas usam diversos recur-
estrangeiras, em que se paga por 1 dólar, marco, sos: modificam o produto, incrementam sua uti-
iene ou libra, por exemplo, bem mais do que o lidade, ampliam o mercado pela descoberta ou
estabelecido pela taxa oficial de câmbio. criação de novos consumidores, criam novas
mercadorias ou convencem os consumidores de
MERCADO PARALELO. Mercado de títulos
que seus produtos têm mais qualidade ou uti-
cujas transações não são regulamentadas ou fis-
lidade que os dos concorrentes. Isso é feito por
calizadas pelo governo ou pelas instituições fi-
meio de exaustivas análises de mercado, que in-
nanceiras credenciadas. Trata-se de uma espécie
dicam quais as necessidades reais ou imaginá-
de mercado negro, com a diferença de que é
rias do consumidor e as motivações que o levam
tolerado pelas autoridades enquanto não ultra-
passe certos limites. à compra. Após as pesquisas, o produtor fabrica
um produto capaz de satisfazê-las. Essa mudan-
MERCADO PRIMÁRIO. A expressão tem pelo ça de orientação — produzir para atender às
menos três significados distintos: 1) mercado no aspirações do mercado — assinala o surgimento
qual um empréstimo é feito diretamente a um da mercadologia, segundo a qual o mercado
devedor, que se distingue do mercado secun- consumidor é mais importante que o produto.
dário, onde são vendidos títulos (securities) cuja A mercadologia consiste numa estratégia do
origem é o empréstimo feito no mercado pri- produtor para adequar seus recursos às opor-
mário. Um banco ou instituição de crédito que tunidades que o mercado oferece. Esses recursos
383 MERCANTILISMO

envolvem as características do produto (preço, MERCADORIA. Todo produto que se compra


aparência, embalagem, padronização, prazo de ou que se vende. É, portanto, tudo o que se pro-
entrega, qualidade e assistência técnica), sua duz para troca e não para uso ou consumo do
promoção (publicidade, promoção nos pontos produtor. Segundo Marx, a mais importante ca-
de venda, merchandising) e sua distribuição. Para racterística do capitalismo é ser um modo de
a mercadologia, as características de um produto produção de mercadorias. A mercadoria se apre-
são quase sempre determinadas pelas informa- senta, portanto, como o principal elemento uni-
ções que a empresa possui sobre as necessidades versal na sociedade burguesa e serve de media-
e preferências do mercado consumidor. Para ção a todas as relações sociais. No início de O
isso, o produtor pesquisa número, localização, Capital, seu trabalho econômico de maior alcan-
hábitos e atitudes dos consumidores efetivos e ce, Marx procura mostrar que a mercadoria tem
potenciais, usando técnicas estatísticas, psicoló- duplo aspecto: ela é ao mesmo tempo valor de
gicas e sociológicas aplicadas à pesquisa de mer- uso e valor de troca. Isto é, destina-se a atender
cado. Veja também Comercialização; Consumo; a uma necessidade humana (valor de uso), mas
Necessidade; Produto. sua principal destinação, no capitalismo, é o
mercado, no qual se realiza seu valor de troca.
MERCADOR. Indivíduo que na Antiguidade No mercado, ela é comparada com as demais
exercia a atividade comercial. Surgiu como re- mercadorias, seja por meio da troca direta, seja
sultado da divisão social do trabalho entre os pela mediação da mercadoria dinheiro. Marx
agrupamentos humanos e do conseqüente de- analisa a mercadoria a partir da teoria do va-
senvolvimento das relações de troca. À medida lor-trabalho, seguindo e desenvolvendo os es-
que se intensificava o intercâmbio de produtos tudos de Adam Smith e Ricardo. É a quantidade
entre as regiões, a figura do mercador foi ad- de trabalho necessário à produção de uma mer-
quirindo importância econômica e povos intei- cadoria o elemento que possibilita que ela seja
ros, como os fenícios, tornaram-se famosos nessa comparada às demais nas relações de troca. As-
atividade. Os mercadores constituíram também sim, o preço de uma mercadoria representa a
um dos principais segmentos sociais das cida- expressão monetária de seu valor. Veja também
des-estados da Grécia Antiga. Na Idade Média, Dinheiro; Fetichismo da Mercadoria; Preço;
sobretudo a partir do século XI, com o desen- Valor.
volvimento das atividades comerciais na Europa MERCADORIA COMPOSTA. Veja Teorema
Ocidental, os mercadores tiveram papel de des- da Mercadoria Composta.
taque na decadência do feudalismo. Percorrendo
em caravanas os feudos, feiras, burgos e castelos, MERCANTILISMO. Doutrina econômica que
vendiam na Europa medieval os tecidos e es- caracteriza o período histórico da Revolução Co-
peciarias vindas do Oriente e os produtos ori- mercial (séculos XVI-XVIII), marcado pela de-
ginários do mar do Norte e do mar Báltico. Com sintegração do feudalismo e pela formação dos
o desenvolvimento dos burgos, os mercadores Estados Nacionais. Defende o acúmulo de divi-
foram ampliando sua força econômica por meio sas em metais preciosos pelo Estado por meio
da criação de corporações, guildas e ligas, das de um comércio exterior de caráter protecionis-
quais a mais importante foi a Liga Hanseática. ta. Alguns princípios básicos do mercantilismo
Essas organizações dominavam importantes en- são: 1) o Estado deve incrementar o bem-estar
trepostos comerciais ao longo do litoral europeu nacional, ainda que em detrimento de seus vi-
e administravam burgos e cidades. Para lutar zinhos e colônias; 2) a riqueza da economia na-
contra as restrições impostas pelos padrões feu- cional depende do aumento da população e do
dais, os mercadores aliaram-se aos reis, consti- incremento do volume de metais preciosos no
país; 3) o comércio exterior deve ser estimulado,
tuindo-se então numa das principais forças de
pois é por meio de uma balança comercial fa-
sustentação das nascentes monarquias nacio-
vorável que se aumenta o estoque de metais pre-
nais. O poderio econômico dos mercadores am-
ciosos; 4) o comércio e a indústria são mais im-
pliou-se sobretudo com a prática da política portantes para a economia nacional que a agri-
mercantilista levada a efeito pelos Estados eu- cultura. Essa concepção levava a um intenso
ropeus após os grandes descobrimentos maríti- protecionismo estatal e a uma ampla interven-
mos e com a formação dos grandes impérios ção do Estado na economia. Uma forte autori-
coloniais. Os grandes recursos acumulados pe- dade central era tida como essencial para a ex-
las companhias de mercadores, aliados ao saque pansão de mercados e para a proteção dos in-
das regiões conquistadas e ao tráfico de escra- teresses comerciais. O mercantilismo era cons-
vos, possibilitaram a acumulação do capital que tituído de um conjunto de concepções desen-
formou a base dos grandes investimentos exi- volvidas na prática por ministros, administra-
gidos pela Revolução Industrial. Veja também dores e comerciantes, com objetivos não só eco-
Mercantilismo; Revolução Comercial. nômicos como também político-estratégicos. Sua
MERCHANDISING 384

aplicação variava conforme a situação do país, mércio de grãos (1770) em um ensaio sobre a
seus recursos e o modelo de governo vigente. importância da educação dedicada ao rei da Sué-
Na Holanda, o poder do Estado era subordinado cia (1775).
às necessidades do comércio, enquanto na In-
glaterra e na França a iniciativa econômica es- MERCOSUL — Mercado Comum do Cone Sul.
tatal constituía o outro braço das intenções mi- O Mercosul teve como origem os acordos bila-
litares do Estado, geralmente agressivas em re- terais de comércio estabelecidos entre o Brasil
lação a seus vizinhos. O mercantilismo inglês e a Argentina a partir de 1990. Foi criado ofi-
foi reforçado pelo Ato de Navegação de 1651. cialmente em 29/11/1991 com a assinatura do
Os mercantilistas, limitando sua análise ao âm- Tratado de Assunção (Paraguai), congregando
bito da circulação de bens, aprofundaram o co- o Brasil, a Argentina, o Paraguai e o Uruguai.
nhecimento de questões como as da balança co- Sua meta é criar uma comunidade econômica
mercial, das taxas de câmbio e dos movimentos entre os quatro países para facilitar e incremen-
de dinheiro. Entre os principais representantes tar o comércio entre eles, com a eliminação pro-
da doutrina estão os ingleses Thomas Mun e gressiva das barreiras alfandegárias entre o Bra-
Josiah Child, os franceses Barthélemy de Laffe- sil e a Argentina (um ano a mais para os outros
mas e Antoine de Montchrestien (ambos segui- dois países) e uma tarifa externa comum (TEC)
dores de Colbert na época de Henrique IV) e o contra os demais países.
italiano Antonio Serra. Veja também Revolução
Comercial. MERGER. Termo em inglês que significa incor-
poração de uma empresa por outra, perdendo
MERCHANDISING. Conjunto de técnicas de uma delas sua razão social original. Geralmente,
marketing que consiste num esforço adicional a que incorpora as demais é empresa de maior
à campanha publicitária normal de um produto, porte, que exerce domínio sobre os mercados.
com o objetivo de cristalizar sua imagem de for-
ma subliminar. De campo amplo e não muito METALISMO. Sistema monetário que tem como
preciso, mas em geral ligado à área de promoção moeda-padrão algum metal precioso (sobretudo
de vendas, o merchandising pode valer-se de um ouro e prata), com valor de troca fixo entre o
veículo de comunicação de grande impacto — metal e o dinheiro, além de cunhagem livre e
como as novelas em televisão —, cujos resulta- ilimitada. O objetivo é evitar ao máximo as flu-
dos são em geral imediatos, ou utilizar veículos tuações no valor da moeda. Quando a moeda-
não tão poderosos — como o cinema — cujo padrão é apenas um metal — sistema que foi
retorno é mais lento e difícil de ser medido. As adotado pela Grã-Bretanha em 1816, com o
técnicas de merchandising incluem principalmen- nome de padrão-ouro —, dá-se o nome de mo-
te: 1) o sampling, que consiste em amostragens nometalismo. No caso de dois metais serem uti-
e degustações em feiras e supermercados; 2) a lizados como padrão, fala-se em bimetalismo, sis-
utilização do produto na produção de novelas, tema amplamente utilizado no decorrer do sé-
filmes e fotos; 3) os acordos entre empresas — culo XIX. Na prática, esse sistema apresentava
por exemplo, quando determinado fabricante de uma grande dificuldade: com a desvalorização
roupas passa a produzir uma linha de produtos de um metal em relação ao outro, desequilibra-
com a marca de um fabricante de veículos. Veja va-se o valor da troca entre eles e em relação à
também Mercadologia. moeda. Por isso, o padrão-ouro passou a ser uti-
lizado na maioria dos países. Veja também Lei
MERCIER DE LA RIVIERE, Pierre-Paul (1720- de Gresham.
1794). Advogado, administrador e economista
francês. Entre 1749 e 1759, foi chanceler do Par- METAMODELO. É algo que transcende um
lamento Francês. Embora não seja certo que te- modelo, ou um modelo formulado num nível
nha se encontrado antes de 1765 com Quesnay de abstração mais elevado, que transforma as
ou Mirabeau, a partir dessa data tornou-se um propriedades ou os elementos estruturais dos
destacado fisiocrata e publicou uma obra que sistemas de nível inferior em proposições do
muitos — entre eles Adam Smith — considera- modelo de maior nível de abstração.
ram a exposição mais clara da doutrina fisio- METHUEN. Veja Tratado de Methuen.
crata. Em seu livro L’Ordre Naturel et Essentiel
des Societés Politiques (A Ordem Natural e Es- METICAL. Unidade monetária de Moçambi-
sencial das Sociedades Políticas), 1767, expõe es- que. Submúltiplo: centavo.
sas idéias, que são resenhadas em 1798 por Du
Pont de Nemours para as Ephémérides, confir- MÉTODO. Instrumental teórico integrado usa-
mando sua enorme importância para os fisio- do na análise dos fenômenos econômicos. Cada
cratas. As outras obras de destaque de De La escola econômica dispõe de um método, um
Riviere foram uma resposta aos diálogos de Ga- conjunto de conceitos adequados ao objeto de
liani atacando os fisiocratas na questão do co- seu estudo e em acordo com a orientação ado-
385 MÉTODO CIENTÍFICO

tada. Assim, o pesquisador procura, no decorrer letras B e C, respectivamente. Num caso con-
de seu trabalho, distinguir o essencial do aces- creto, quando se ligam num diagrama os pontos
sório em determinada realidade econômica, con- A, B e C, se terá formado a curva ABC. Veja
forme a metodologia que adotou. A questão do também Administração por Exceção.
método é o ponto inicial de diferenciamento en-
tre as correntes de pensamento, pois condiciona MÉTODO CANVASSER. Veja Método Direto
todo processo de análise. Como nos demais cam- de Recenseamento.
pos do conhecimento científico, em economia
MÉTODO CIENTÍFICO. Conjunto de regras e
existem dois métodos básicos para abordagem procedimentos que possibilitam a criação da
da realidade: o dedutivo e o indutivo. O método ciência. Os antigos gregos, sobretudo os repre-
dedutivo parte da abstração e, por meio da de- sentantes do eleatismo, foram os primeiros a se
dução lógica, procura chegar à essência dos pro- preocupar com o problema, distinguindo a mera
cessos econômicos, formulando suas leis mais opinião (dóxa) da verdadeira ciência (epistéme).
gerais, que serão comprovadas nos casos parti- As impressões sensíveis, fundamento da primei-
culares concretos. Foi esse método de investiga- ra, não poderiam produzir a certeza: somente
ção que caracterizou a escola clássica. O método as idéias constituiriam a correta via (hodós). Pla-
indutivo parte dos aspectos particulares de um tão desenvolveu a dialética, método que permi-
fenômeno, procurando chegar ao geral. Vai do tiria a ascensão ao puro mundo das idéias. Aris-
fato à lei. Apesar dessa diferença, muitos autores tóteles sistematizou a lógica, disciplina que pre-
sustentam que um método não exclui o outro: tendia ser um instrumento (órganon) mais seguro
tanto o dedutivo quanto o indutivo são utiliza- e preciso. No início da Idade Moderna, a meto-
dos de forma coerente e criativa por vários ana- dologia aristotélica foi duramente criticada por
listas de economia, que procuram buscar na rea- ser apenas um instrumento de prova e demons-
lidade empírica o fundamento de suas abstra- tração, não servindo para a descoberta de co-
ções. Esse procedimento, chamado de “aproxi- nhecimentos. O desenvolvimento das ciências
mações progressivas”, é também uma forma de da natureza, a partir do Renascimento, está li-
relacionar o âmbito da lógica com o da história. gado intimamente à formulação de uma nova
Os dois métodos básicos aparecem em cada um metodologia, em contraposição à silogística aris-
dos métodos específicos adotados em cada es- totélica: a da indução e experimentação. A pri-
cola econômica, de acordo com os objetivos do meira formulação sistemática do método indu-
analista e com o método específico que usa: his- tivo-experimental encontra-se no Novum Orga-
tórico, dialético, matemático, estatístico ou psi- num, de Francis Bacon. Na mesma época, Des-
cológico. É conforme a abrangência do método cartes escreveu o Discurso do Método, obra na
empregado em determinada investigação que qual mostra que a verdade só pode ser obtida
certos fenômenos perdem suas características por meio de procedimentos puramente racio-
meramente econômicas, à primeira vista, para nais, como os empregados pelos matemáticos.
se integrar no quadro geral da história e até mes- A tarefa de união da indução e da experiência
mo da política. com a matemática ficou reservada a Galileu e
Newton: o conhecimento científico da natureza
MÉTODO ABC. Sistema de gestão que permite só é obtido quando os dados fornecidos pela
determinar sobre que tipo de produtos convém observação e pela experimentação podem ser
manter um controle especial de estoques. Con- traduzidos em linguagem matemática que ex-
cebido por H. Ford Dickie, da General Motors, presse a regularidade, a constância e as relações
parte da verificação empírica de que apenas al- entre os fenômenos considerados. No século
guns dos itens mantidos em estoque — cerca XIX, Stuart Mill aprofundou o método indutivo
de 10% — representam aproximadamente 70% e Claude Bernard ressaltou o papel da hipótese,
do valor total imobilizado nos estoques. Outros uma idéia que dirige a experiência. Bernard
25% dos itens correspondem a quase 20% do mostrou, assim, que a dedução está sempre pre-
valor dos estoques, sendo os restantes 65% de sente na própria indução. Os estudos sobre o
itens correspondentes a um valor de apenas 10% método na matemática trouxeram à luz o fato
do total. Diante dessa realidade, o método ABC de ela ser um conjunto de proposições cuja ver-
recomenda que apenas os itens do primeiro gru- dade decorre de alguns poucos axiomas, por via
po deveriam receber um controle (científico) de pura inferência lógica. Isso se evidenciou so-
dentro da concepção da administração por ex- bretudo com o desenvolvimento da geometria
ceção. O controle sobre os demais itens poderá não-euclidiana. No século XX, a física quântica
ser menos rígido, bastando algumas aquisições colocou novos problemas, surgindo o pro-
anuais daqueles produtos para a manutenção babilismo e a física estatística. Por outro lado,
apropriada dos estoques. A denominação do o desenvolvimento das ciências humanas, a par-
método decorre do fato de denominar o primei- tir do século XIX, foi marcado pela disputa entre
ro grupo de itens pela letra A e os demais pelas os adeptos do positivismo, que defendiam o uso
MÉTODO DA GERAÇÃO QUE SE EXTINGUE 386

do método das ciências naturais no estudo dos chem eles próprios os questionários mediante
fatos sociais, e os que advogavam um estatuto entrevista (direta) com os recenseados. Também
próprio para estes. Na atualidade, defrontam-se chamado Método Canvasser.
os partidários do estruturalismo e os defensores
da abordagem genética e histórica, entre os quais MÉTODO DOS ÓBITOS. Em demografia, é o
os adeptos do marxismo. Gaston Bachelard processo de construção de tábuas de mortalida-
opõe-se às pretensões cartesianas de uma ciência de que se baseiam na classificação dos óbitos
universal, única, conforme o modelo das mate- registrados dentro de um determinado período.
máticas. Posição semelhante encontra-se nos se- Subtraindo-se sucessivamente do total da popu-
guidores da nova retórica. lação os mortos com um ano, dois anos etc., e
reduzindo-se os termos da série a fim de obter
MÉTODO DA GERAÇÃO QUE SE EXTIN- um total inicial igual a mil, tem-se uma tábua
GUE. Processo de construção de tábuas de mor- de sobrevivência.
talidade que consiste em observar uma geração
isolada até a sua completa extinção pela morte, MÉTODO DOW. Método de determinação das
anotando-se o número dos que atingem as di- tendências mais importantes no mercado de açõ-
versas idades. Assim, denotando-se o efetivo ini- es, mas não a extensão de sua duração. O mé-
cial por V0, e por V1, V2 etc. os números dos todo foi desenvolvido por Charles H. Dow. Veja
que atingem, respectivamente, o primeiro, o se- também Dow Jones.
gundo, o terceiro etc. ano de vida, a seqüência MÉTODO HAMBURGUÊS. Método aplicado
V0, V1, V2 constituirá a mencionada tábua. para o cálculo de taxas de juros (capitalização
MÉTODO DE DANTZIG. O método de Dant- simples) incidentes sobre saldos devedores. Na
época em que os bancos (no Brasil) pagavam
zig ou Simplex é um método iterativo que per-
juros sobre depósitos à vista, este método esteve
mite resolver, mediante a otimização, problemas
muito difundido. Por exemplo, se desejarmos
de programação linear. O método consiste em
calcular o montante dos juros relativos à apli-
partir de um programa-base, passando sucessi- cação de diferentes capitais por diferentes pra-
vamente a programas melhores, mais avança- zos, a uma taxa comum de juros, teremos o se-
dos, até alcançar um programa ótimo. A deno- guinte: suponhamos três aplicações diferentes
minação deve-se ao nome do autor que o propôs de R$ 10000,00, R$ 5000,00 e R$ 20000,00 pelos
e desenvolveu. prazos de 36, 35 e 34 dias a uma taxa de 22,7%
MÉTODO DEDUTIVO. Método de raciocínio ao ano. Como no método hamburguês o ano é
considerado tendo 360 dias (ou doze meses de
que consiste em ir do geral ao particular, dos
trinta dias cada), e como se trata de capitalização
princípios ou premissas aos fatos. Exemplo tí-
simples, a taxa de juros diária seria equivalente
pico de dedução é o silogismo, que de duas pre-
a 0,227 / 360 = 0,00063, ou 0,063% ao dia. O
missas gerais possibilita inferir uma conclusão
montante de juros obtido pelas três aplicações
particular, como no seguinte exemplo: todos os seria:
homens são mortais (premissa maior); Sócrates é
homem (premissa menor); logo, Sócrates é mortal Aplicação (A) x Taxa de juros (i) x Número de
(conclusão). Ciência tipicamente dedutiva é a dias (N) =
geometria, sistematizada em rigoroso encadea- 1) 10000,00 x 0,00063 x 36 = 226,80
mento do geral ao particular por Euclides no
século III a.C. Entre os economistas clássicos, é 2) 5000,00 x 0,00063 x 35 = 110,25
bastante freqüente o uso do raciocínio dedutivo, 3) 20000,00 x 0,00063 x 34 = 428,40
mas os economistas modernos têm mostrado
suas limitações. Alfred Marshall, por exemplo, O montante total de juros seria equivalente a
acha que não há lugar para longas cadeias de 226,80 + 110,25 + 428,40 = 765,45. O método ham-
deduções na economia, uma ciência que se ocu- burguês não é outra coisa senão a multiplicação
pa de fatos concretos. Apesar disso, esse autor da taxa diária de juros pelo somatório dos pro-
reconhece que tanto a indução (o contrário da dutos das diversas aplicações pelo prazo (nú-
dedução) quanto a dedução “são necessárias mero de dias) a que cada uma tiver sido feita.
ao pensamento científico, da mesma forma que Ou o equivalente a Montante de juros (Mj) =
o pé direito e o esquerdo são necessários para Taxa de juros diária
caminhar”. (i) x Σ A1 x N1 + A2 x N2 ... .... + A n x Nn;
MÉTODO DE VENEZA. Veja Partidas Dobradas. o somatório variando de t = 1 até n.
MÉTODO DIRETO DE RECENSEAMENTO. MÉTODO INDIRETO DE RECENSEAMEN-
Processo de levantamento do censo no qual os TO. Processo de levantamento do censo no qual
agentes censitários, ou recenseadores, preen- o chefe de cada unidade domiciliária é o res-
387 MÉTODOS MATEMÁTICOS

ponsável pelo preenchimento do questionário pecto tão fundamental quanto o objetivo de le-
que abrange todos os membros da família. var a cabo a experimentação do mesmo. No en-
tanto, num grande número de problemas eco-
MÉTODO INDUTIVO. Método de raciocínio nômicos, tais observações não podem ser obti-
que consiste em chegar a conclusões de validade das da realidade por ser excessivamente custo-
geral a partir de conhecimentos particulares, to- sas ou fisicamente impossíveis. Em tais casos,
mando-se a observação dos fatos do mundo em- a única alternativa é recorrer a uma amostragem
pírico como base para generalizações posterio- artificial ou simulada, que consiste em substituir
res. Contrapõe-se ao método dedutivo, que par- o universo real por um universo teórico corres-
te do conhecimento geral para o particular. O pondente, descrito por uma lei de probabilidade
método indutivo assumiu especial importância que se supõe conhecida e adequada, e em se-
no início da Idade Moderna, quando se consta- guida se obtém uma amostra da população teó-
tou que o pensamento científico deveria basear- rica mediante uma sucessão de números alea-
se nas induções a partir de observações empí- tórios. Nisso consiste o método Monte Carlo:
ricas, e não apenas da dedução silogística, até obter números aleatórios e logo em seguida con-
então considerada a única forma perfeita de co- vertê-los em observações da variável ou variá-
nhecimento. Nessa época, Francis Bacon foi o veis do modelo. A denominação Monte Carlo foi
maior teórico do método indutivo, com a obra dada por Von Neumann e Ulam, em 1940, quan-
Novum Organum. No século XIX, destacou-se o do trabalhavam em problemas relacionados com
trabalho de John Stuart Mill. Como a indução a construção de armas nucleares, que eram mui-
se baseia na seleção e observação de vários fatos to complexos para ser tratados analiticamente e
particulares, a variação de fatos escolhidos per- muito perigosos para ser resolvidos por expe-
mite a elaboração de uma teoria sempre modi- rimentação física. O nome parece ser apropriado
ficável, fluida. Assim, o maior defeito apontado na medida em que o princípio básico do método
no método indutivo e sua aplicação em econo- é o mesmo que se encontra no Cassino de Monte
mia é que ele torna impraticável atingir um grau Carlo, onde são utilizados artifícios tais como
de finalidade no pensamento econômico. Um roletas, dados, cartas etc., que permitem gerar
sistema teórico baseado apenas no método in- amostras aleatórias de populações bem defini-
dutivo está sempre aberto a novas observações, das, embora, atualmente, o método Monte Carlo
que podem levar a diferentes conclusões. A va- seja aplicado mediante simulações em compu-
lidade do sistema depende também do tipo de tadores. Veja também Von Neumann.
escolha de fatos observados e utilizados para
fazer afirmações de caráter geral. MÉTODO NÃO-PARAMÉTRICO. Veja Méto-
do Paramétrico.
MÉTODO MATRICIAL. Forma de registro de
dados econômicos, financeiros etc. de um país MÉTODO PARAMÉTRICO. Método de deci-
ou de uma empresa que implica um quadro de são em estatística, como, por exemplo, o Teste
dupla entrada. Este quadro de dupla entrada, t (student), no qual a distribuição estatística da
formado pela intersecção de linhas e colunas, amostragem é conhecida e os dados encontram-
estabelece as relações de dependência ou os coe- se numa escala ordinal. Quando a decisão não
ficientes de correlação entre variáveis econômi- requer o conhecimento dessa distribuição, diz-se
cas e financeiras significativas. O método ma- que o método é não-paramétrico. Veja também
tricial é importante do ponto de vista das in- Amostragem; Parâmetro.
fluências quantitativas entre as variáveis: por MÉTODO SIMPLEX. Veja Método de Dantzig.
exemplo, se a produção de aço depende da pro-
dução de minério de ferro, de carvão, de utili- MÉTODO DOS MÍNIMOS QUADRADOS.
zação de equipamentos, do uso de mão-de-obra Veja Mínimos Quadrados, Estimativa dos; Re-
etc., um aumento de 10% na produção final exi- gressão, Análise da.
girá uma certa porcentagem de aumento dos in-
sumos necessários. Tais relações quantitativas MÉTODOS MATEMÁTICOS. Consistem basi-
são dadas por uma matriz, e o método matricial camente na aplicação de técnicas de análise ma-
permite saber de quanto deverá ser essa produ- temática a variáveis econômicas, com o objetivo
ção de insumos para permitir o aumento da pro- de estabelecer relações entre essas variáveis. São
dução de aço. Veja também Insumo-Produto; muitas vezes utilizados como uma linguagem
Leontief, Wassily. simplificadora e um modo sintético de expressar
relações entre os dados econômicos. A relação
MÉTODO MONTE CARLO. Método que con- entre números variáveis é simbolizada em eco-
siste essencialmente em estabelecer uma amos- nomia pelo termo “função”. Assim, a demanda
tragem artificial ou simulada. Em qualquer es- é uma função do preço, que por sua vez é to-
tudo de simulação, a geração de observações so- mado como uma variável independente. Desse
bre as variáveis de um modelo constitui um as- modo, as quantidades ou números variáveis —
METRICATION 388

preços, renda, custo de produção, quantidades MICO. No jargão financeiro, significa título que
de bens comprados ou vendidos no mercado, a perdeu seu valor ou que ninguém aceita.
quantidade de fatores de produção empregados
etc. — podem ser convertidos em números de MICROCOMPUTADORES VERDES. No jar-
unidades físicas, ou em dinheiro, ou em unida- gão utilizado na área de marketing desse tipo
des de valor. As relações econômicas também de equipamento, designa aqueles aparelhos que
podem ser expressas por meio de funções ma- poupam energia elétrica, mas apresentando o
temáticas: é o caso das curvas de demanda e mesmo desempenho que os demais.
oferta, que representam a relação entre duas va- MICROCRÉDITO. Veja Grameen Bank.
riáveis econômicas. Diagramas desse tipo per-
mitem visualizar melhor uma realidade econô- MICROECONOMIA. Ramo da ciência econô-
mica. A aplicação de métodos matemáticos em mica que estuda o comportamento das unidades
economia foi desenvolvida e discutida, entre ou- de consumo representadas pelos indivíduos e
tros autores, pelo economista inglês Roy Allen, pelas famílias; as empresas e suas produções e
no livro Mathematical Analysis for Economists custos; a produção e o preço dos diversos bens,
(Análise Matemática para Economistas), 1938. E serviços e fatores produtivos. Em outras pala-
é inegável que a crescente tecnificação da eco- vras, a microeconomia ocupa-se da forma como
nomia prende-se, em boa parte, ao estabeleci- as unidades individuais que compõem a econo-
mento de hipóteses matemáticas, que podem ser mia — consumidores privados, empresas co-
verificadas ou refutadas. Deve-se lembrar, toda- merciais, trabalhadores, latifundiários, produto-
via, que o economista Paul Samuelson, um dos res de bens ou serviços particulares etc. — agem
autores que utilizaram com êxito os métodos e reagem umas sobre as outras. Surgiu no início
matemáticos, é de opinião que o conhecimento da década de 30, quando a ciência econômica
matemático é necessário apenas em algumas se dividiu em dois ramos: a microeconomia e a
áreas da alta teoria, uma vez que a economia macroeconomia (esta se interessa pelo estudo
usa em geral o método dedutivo da lógica e da
dos agregados como a produção, o consumo e
geometria e o método indutivo da estatística e
a renda do conjunto da população). Embora es-
da evidência empírica.
ses dois ramos da ciência econômica caminhem
METRICATION. Processo de conversão de me- por canais distintos, a separação é frágil, pois o
didas que não pertencem ao sistema métrico, fenômeno econômico requer o inter-relaciona-
tais como aquelas do sistema imperial inglês ou mento das teorias que se inserem nesses dois
do sistema customary (consuetudinário) dos Es- âmbitos. Apresentando uma visão “microscópi-
tados Unidos ao sistema métrico, em particular ca” dos fenômenos econômicos, a microecono-
ao sistema métrico internacional. mia engloba a teoria do consumidor, que oferece
subsídios para a análise da procura; a teoria da
MFCN — Máquina-ferramenta de Controle firma que se desdobra nas teorias da produção,
Numérico. Máquina-ferramenta — torno, fresa, dos custos e dos rendimentos constitui o alicerce
plaina etc. — ligada a um computador de co-
da análise da oferta. Os preços relativos consti-
mando numérico. Mediante uma programação
tuem a preocupação fundamental desse ramo
preestabelecida, o computador determina a se-
da ciência econômica, tanto que ela é igualmente
qüência de movimentos da máquina-ferramen-
conhecida como a teoria dos preços. Na teoria
ta: cortar, rosquear etc.
do consumidor, a microeconomia analisa a in-
MFN. Iniciais da expressão inglesa most favoured tenção dos indivíduos de se apropriarem de de-
nation, que significa “nação mais favorecida”. O terminada quantidade de bens, que satisfaça ao
termo se aplica no comércio internacional quan- máximo suas necessidades. Na teoria da firma,
do um país obtém alguma vantagem em relação é enfocado o empresário que procura combinar
aos demais, em termos de taxas alfandegárias os fatores de produção de modo a maximizar
ou impostos sobre seus produtos, inferiores aos seus lucros. Mediante essa análise, obtêm-se os
aplicados aos demais países, ou mesmo a prio- elementos necessários para a derivação das ofer-
ridade para o abastecimento de determinado tas individuais e de mercado. A combinação das
produto ou serviço. quantidades de fatores de produção, bens e ser-
viços, que os consumidores estão dispostos a
MIBOR. Veja Ibor.
adquirir, com as quantidades desses elementos
MICAR. No jargão financeiro, significa ficar que os empresários têm condições de oferecer
com um título que perdeu completamente seu impõe a determinação de um denominador co-
valor ou com um título de difícil aceitação. O mum, que é o preço. Assim, é a determinação
termo é tomado de empréstimo ao jogo de cartas desse preço que a microeconomia se propõe ao
no qual quem fica com o “mico” perde o jogo. estudar a questão sob dois ângulos: o dos fatores
389 MIGRAÇÃO

de produção e o dos bens e serviços. A micro- MICROINFORMÁTICA. Ramo da informática


economia caracteriza-se como uma ciência de que utiliza preferencialmente microcomputado-
natureza dedutiva ou teórica. Esse caráter de- res. Veja também Informática.
dutivo é decorrência da complexidade e entre-
MÍCRON. Unidade de medida de comprimento
laçamento de influências que subjazem às situa-
para distâncias muito pequenas. Equivale a 10-3mm.
ções reais que são objeto de seu estudo. O caráter
Veja também Sistemas de Pesos e Medidas.
dedutivo é realçado pelo fato de que muitas das
variáveis consideradas pela microeconomia não MICROPROCESSADOR. Unidade central de
podem ser observadas ou mensuradas. É o caso, processamento de um microcomputador, pre-
por exemplo, do grau de utilidade que os con- sente também em outros equipamentos de au-
sumidores desfrutam ao dispor de certos bens tomação.
ou serviços. A microeconomia lança mão de mo-
MIDDLEMAN. Termo em inglês que significa
delos, ou seja, construções compostas por uma
“intermediário”, isto é, aquele que se coloca en-
série de hipóteses, a partir das quais as conclu-
tre o produtor e o consumidor (aplicando-se
sões são extrapoladas. São modelos a forma
também ao mercado financeiro); é também de-
como os indivíduos efetuam suas decisões, a nominado distribuidor. Veja também Broker;
maneira como as firmas procedem etc. A partir Jobber.
da situação do mundo real, são selecionadas as
variáveis mais significativas do fenômeno que MIGRAÇÃO. Movimento populacional que se
se estuda, permitindo que a complexidade desse dirige de uma região (área de emigração) para
mundo real seja manipulada. Uma segunda ca- outra (área de imigração). Por alterar o tamanho
racterística da microeconomia é sua natureza es- e a composição das populações (distribuição por
tático-comparativa, ou seja, ela tende a confron- sexo e idade, composição da força de trabalho),
tar duas ou mais situações de equilíbrio, sem a migração é uma das bases da dinâmica popu-
se preocupar com o período intermediário entre lacional, junto com a natalidade e a mortalidade.
essas situações inicial e final. A terceira carac- Distingue-se a migração internacional (entre paí-
terística é seu enquadramento dentro do ramo ses) e a migração interna (entre regiões de um
da ciência positiva ou científica. Isso implica a mesmo país). Elas geralmente ocorrem porque
ausência de juízo de valor ou conotação ética as pessoas não encontram oportunidades sociais
e econômicas em seus locais de origem. Fatores
nas teorias microeconômicas, que se mantêm ex-
culturais e políticos também podem influir nos
clusivamente descritivas. A quarta característica
movimentos migratórios. Alguns países (entre
é seu caráter de análise de equilíbrio parcial.
eles o Brasil) têm procurado direcionar seus flu-
Esse tipo de análise consiste na adoção de uma xos migratórios, desviando-os de regiões urba-
hipótese, pressupondo-se que todas as demais nas e encaminhando-os para novas frentes de
condições que influenciem o relacionamento en- colonização. No Brasil, um dos maiores pólos
tre duas variáveis, funcionalmente dependentes, de atração para os movimentos migratórios é o
sejam mantidas constantes. A microeconomia Estado de São Paulo. No fim do século XIX,
encontra bastante aplicação no mundo atual, po- quando a imigração estrangeira se acentuou,
dendo ser utilizada como elemento de previsão grande parte dela foi encaminhada para as la-
condicionado à ocorrência de determinado even- vouras de café paulistas, então em grande ex-
to. É importante na elaboração de modelos que pansão. No século XX, a migração interna foi
retratam as situações do mundo de forma sim- responsável por violento aumento populacional
plificada. Desempenha importante papel na teo- no Estado. E, em termos interestaduais, a capital
ria do comércio internacional e encontra-se pre- constituiu o centro principal de imigração e ur-
sente no mundo dos negócios como auxiliar de banização. A participação da migração de po-
decisões administrativas relacionadas com a pulações do próprio Estado ou de outros Esta-
procura, estrutura de custos empresariais, mé- dos no crescimento demográfico da capital de
todos de fixação de preços etc. Veja também Ma- São Paulo foi de 75,9% na década 1940-1950, de
croeconomia. 61,4% em 1950-1960 e de 58,1% em 1960-1970.
Apesar do declínio da contribuição relativa, essa
MICROEMPRESA. Empresa ou firma indivi- imigração continuou aumentando em termos
dual que obtém uma receita anual inferior ou absolutos. Um dos maiores movimentos migra-
igual ao valor nominal estabelecido pelo gover- tórios da história moderna foi o êxodo europeu
no, no início de cada ano fiscal. A partir de no- em direção às Américas, iniciado no século XVI.
vembro de 1984, o Estatuto da Microempresa Outros de grande importância foram o de hin-
(lei federal nº 7 256) isentou esse tipo de empresa dus para a África, de chineses para a Malásia e
do pagamento de impostos como o IPI e o IR. de europeus para a Austrália e para a África.
Veja também Economia Informal. Em todos os casos, a principal causa foi a de-
MIL 390

fasagem entre o desenvolvimento econômico e MILHA MARÍTIMA. Veja Milha.


o crescimento populacional nos países de ori-
gem. O ponto máximo da emigração situou-se MILHA NÁUTICA. A milha náutica ou marítima
nas duas primeiras décadas do século XX. Mas, admite três equivalências: a de 6 080 pés, equi-
como o fluxo migratório tendia a saturar o mer- valente a 1 853,2 m; a de 6 080,2 pés, equivalente
cado de trabalho nos países de destino, muitos a 1 853,248 m; e a de 6 076,1033 pés, equivalente
destes, após a Primeira Guerra Mundial, insti- a 1 852 m. De acordo com o Sistema Internacio-
tuíram restrições à entrada de estrangeiros. Veja nal de Unidades, a milha náutica corresponde
também Dekasseguis. a esta última medida — 1 852 m — ou o equi-
valente ao comprimento de um minuto do me-
MIL. O termo tem vários significados: 1) pode ridiano terrestre na altura do equador. Para dis-
designar o número mil; 2) pode significar a abre- tingui-la da milha terrestre, sua abreviação é
viação de milhão; 3) pode significar unidade de mima. Veja também Milha.
medida equivalente a 0,001 polegada, e utilizada
para medir seção transversal de condutores e MILHA TERRESTRE. Unidade de medida de
comprimento equivalente a 1 609 m. Para dis-
cabos elétricos. Se um condutor elétrico tem 1 mil
tingui-la da milha náutica, sua abreviatura é
de diâmetro, possui 1 “circular mil” de área de
mite.
corte transversal. Um cabo condutor que tem 1
polegada de diâmetro possui uma seção trans- MILKING. Termo em inglês que significa a prá-
versal de 1 milhão de circular mils. Veja também tica de algumas empresas de arrancar de suas
Conversão de Unidades de Pesos e Medidas; receitas tudo o que é possível para transformar
Sistemas de Pesos e Medidas; Unidades de Pe- em lucros, isto é, muitas vezes reduzindo as re-
sos e Medidas. servas de contingência, o fundo de depreciação,
os fundos de investimento e outras práticas pe-
MIL-RÉIS. Originalmente, era a quarta parte da rigosas para a continuidade da empresa a médio
oitava de ouro de 22 quilates, ou o equivalente e longo prazo, embora mediante métodos de
a 0,8965 g de ouro amoedado. A peça principal contabilidade impróprios mas não ilegais.
do sistema era a moeda de 20 mil-réis, de cinco
oitavas de ouro, com um peso equivalente a MILL, James (1773-1836). Pensador inglês, pai
17,930 g. O mil-réis era a unidade monetária bra- de John Stuart Mill. Amigo e discípulo de Jere-
sileira até 1942, quando foi substituído pelo cru- my Bentham, desenvolveu e ajudou a difundir
zeiro. Veja também Cruzeiro; Oitava; Sistemas as teses do utilitarismo. Considerava que toda
de Pesos e Medidas; Legislação Monetária Bra- a moral se apóia no egoísmo e toda vida social
sileira. se resume nos interesses econômicos. Assim,
toda a ciência social resumir-se-ia na economia
MILHA. Medida de distância originada durante política. Escreveu Elements of Political Economy
o Império Romano, a qual equivalia inicialmente (Elementos de Economia Política), 1821, um ma-
a mil passos (milia passuum), sendo estes equi- nual de economia que retoma as idéias de Ri-
valentes a uma passada dupla contada do lugar cardo.
em que um pé deixava o chão ao ponto em que
MILL, John Stuart (1806-1873). Filósofo e eco-
voltava a ele, e equivalente a 5 pés (cerca de 1,5
nomista clássico inglês, autor de Princípios de
m). Até o ano 1500 a milha era equivalente a 5
Economia Política com Algumas de Suas Aplicações
mil pés. Para facilitar a medição da terra a milha
à Filosofia Social, 1848, a mais abrangente síntese
foi transformada em 5 280 pés, de tal forma que
da teoria econômica até aquela data. Mill ana-
o furlong, que era a medida de distância mais lisou principalmente as teses de Malthus e Ri-
comum na época, seria exatamente igual a 1/8 cardo. Abandonando o rigor doutrinário do lais-
de milha, isto é, uma milha conteria 8 furlongs. sez-faire, afirmava que deveria haver menor de-
Esta é a milha terrestre, de 5 280 pés ou 1 609,3 pendência das forças naturais e um maior grau
m. Veja também Conversão de Unidades de Pe- de intervenção governamental deliberada para
sos e Medidas; Furlong; Milha Náutica (Marí- a resolução dos problemas econômicos. No que
tima); Sistemas de Pesos e Medidas; Unidades se refere à teoria do valor, procurou demonstrar
de Pesos e Medidas. como o preço é determinado pela igualdade en-
MILHA BRASILEIRA. Medida de comprimen- tre demanda e oferta e como a demanda recí-
to equivalente a 2,2 km. proca de produtos afeta os termos do intercâm-
bio entre os países. Lançou a idéia da elastici-
MILHA GEOMÉTRICA. Medida de compri- dade da demanda (expressão introduzida mais
mento do antigo sistema de medidas brasileiro tarde por Marshall) para analisar possibilidades
e equivalente a 2 km. Veja também Sistema de alternativas de comércio. Adotou a idéia de seu
Pesos e Medidas. pai, o filósofo James Mill, de que a renda, por
391 MINIFÚNDIO

constituir um excedente (de acordo com Ricar- numa pequena vila de pescadores denominada
do), deve ser submetida à tributação. Princípios Minamata. O desastre ocorreu em virtude dos
de Economia Política tornou-se imediatamente lei- despejos de etil-mercúrio da fábrica Chisso na
tura obrigatória e fundamental em economia. baía de Minamata, de onde os pescadores da
Mill teve uma sólida formação clássica e foi pro- região retiravam o seu sustento. A contaminação
fundamente influenciado por Ricardo e Bent- por mercúrio (doença de Minamata) prejudicou
ham. Aderiu com algumas reservas à filosofia especialmente as gestantes: muitos bebês nasce-
positivista de Comte, reforçando seu repúdio às ram deformados e ocorreram vários abortos.
construções metafísicas e a adesão ao tradicional Veja também Bhopal.
empirismo inglês. Suas idéias libertárias e al-
MIND GAMES. Jogos que se baseiam, funda-
truístas levaram-no a tentar conciliar teorica-
mentalmente, no raciocínio ou na estratégia e
mente empirismo, determinismo, liberalismo e
nos quais os elementos aleatórios são irrelevantes.
socialismo, e, na ação prática, a defender o di-
reito das mulheres ao voto e o direito dos sin- MINEING. Veja Leilão Holandês.
dicatos à greve. Previu que a possibilidade dos
ganhos de escala estimularia uma progressiva MINERAÇÃO. Atividade do setor primário da
concentração industrial, com um enfraqueci- economia correspondente à indústria extrativa
mento da concorrência e elevação dos preços. mineral. Compreende os processos economica-
Para contrabalançar esse poder dos grandes em- mente rentáveis que tratam da extração, elabo-
presários, considerava benéfico o fortalecimento ração e beneficiamento de minérios. É a princi-
dos sindicatos e o recurso à greve. Entre suas pal atividade econômica de vários países do Ter-
obras destacam-se ainda A System of Logic (Um ceiro Mundo, fornecedores de minérios para os
Sistema de Lógica), 1843; Essays on Some Unset- países industrializados. Os produtos minerais
tled Questions of Political Economy (Ensaios sobre de maior importância são os energéticos — pe-
Algumas Questões não Resolvidas de Economia tróleo, gás e carvão mineral. A mineração é uma
Política), livro que ele escreveu aos 23 anos, mas das atividades mais antigas do homem, servindo
de elemento de diferenciação entre várias civi-
que só foi publicado em 1844; e Da Liberdade,
lizações que utilizavam tipos qualitativamente
1859.
diversos de metais na fabricação de suas armas
MILLIÈME. Veja Dinar. e objetos domésticos.

MILLS, Charles Wright (1916-1962). Sociólogo MINERAÇÃO, Ciclo da. Veja Ciclo do Ouro.
norte-americano. Estudou a ligação entre caráter
MINIDESVALORIZAÇÃO. Mecanismo de rea-
e estrutura social, a estratificação social nas mo-
juste cambial implantado no Brasil, em 1968, vi-
dernas sociedades de base urbano-industrial e
sando a compensar gradualmente as variações
a concentração do poder, nesse tipo de socieda-
de câmbio provocadas sobretudo pela diferença
de, em mãos de uma elite formada por empre-
entre a inflação interna do país e a inflação ex-
sários, militares e políticos profissionais. Salien-
terna. As minidesvalorizações variam entre 1 e
tou a responsabilidade social dos intelectuais e
2,5% em relação ao dólar. No ano de 1982 houve
criticou o militarismo. Defendendo posições li-
39 minidesvalorizações do cruzeiro, elevando o
berais durante muito tempo, no fim da vida pro-
preço do dólar de 97,76% em relação ao cruzeiro
pugnou o abandono do liberalismo, a seu ver
ao longo do ano. Devido à criação do IOF sobre
desprovido de bases objetivas, e aderiu a uma
o câmbio, o dólar para os turistas subiu 147,14%
posição fundamentada num marxismo crítico.
em 1982. Essa política cambial das minidesva-
Escreveu as seguintes obras: A Nova Classe Média
lorizações foi interrompida por duas vezes, com
(1951), A Elite do Poder (1956), As Causas da Ter-
duas maxidesvalorizações de 30%, decretadas
ceira Guerra Mundial (1958), A Verdade sobre Cuba
em dezembro de 1979, e em fevereiro de 1983.
(1960). Organizou a coletânea de textos Os Mar-
xistas (1962). MINIFÚNDIO. Pequena propriedade rural ex-
plorada basicamente para o autoconsumo (eco-
MIMA. Abreviação de milha marítima ou náu-
nomia de subsistência). A ausência de um ex-
tica, para diferenciá-la da milha terrestre (mite).
cedente expressivo impede o investimento
É também a abreviação utilizada nas Bolsas de
Valores para designar cotações mínimas (mi) e (compra de adubos, corretivos, ferramentas etc.),
máximas (ma) alcançadas por um título ou ação levando ao progressivo esgotamento da terra,
durante um pregão. Veja também Milha Náu- num círculo vicioso de improdutividade e po-
tica; Pregão. breza. Ao lado do latifúndio, é uma das formas
de exploração agrícola mais difundidas na Amé-
MINAMATA, Mal de. Desastre ecológico ocor- rica Latina, Oriente Médio e Extremo Oriente.
rido no Japão na segunda metade dos anos 50, Há dois tipos de minifúndio, de acordo com a
MINIM 392

forma de posse da terra. Um deles é ligado à naturais renováveis, flora, fauna e solo, organi-
posse ou ao arrendamento, sem direito de pro- zação da vida rural, reforma agrária, meteoro-
priedade. O outro tipo é a propriedade direta da logia, climatologia, pesquisas e experimentação,
terra, subdividida por sucessivas heranças, for- vigilância e defesa sanitária animal e vegetal,
ma típica da colonização do Sul brasileiro por padronização e inspeção de produtos vegetais
imigrantes europeus. Veja também Sistemas e animais ou de consumo, nas atividades agro-
Agrários; Latifúndio. pecuárias.

MINIM. Veja Sistema Apothecary. MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Criado em


15/3/1990 pela medida provisória nº 150, apro-
MINIMAX. Termo composto das palavras “mí- vada pelo Congresso Nacional em 7 de abril do
nimo” e “máximo”, e pertencente à Teoria das mesmo ano, o Ministério da Economia substi-
Decisões, em que representa uma regra segundo tuiu as atribuições dos antigos ministérios da
a qual diante de várias situações cujo desfecho Fazenda, da Indústria e Comércio e da Secretaria
é desconhecido, e diante das várias ações que Especial de Planejamento. Era constituído de ór-
poderiam ser seguidas com as respectivas pro- gãos centrais de planejamento, coordenação e
babilidades de ganho (lucro, receitas, vendas controle financeiro, com o objetivo de coordenar
etc.), recomenda-se que primeiro se verifiquem a política econômica do governo federal, assim
as várias alternativas de ganho em cado caso, e como integrar os diversos planos regionais, de-
em seguida seja escolhida aquela que represente finir a política industrial e comercial, executar
o máximo entre as probabilidades mínimas. No metas de desenvolvimento econômico e contro-
quadro abaixo, as colunas representam as várias les orçamentários, executar estudos e pesquisas
situações possíveis de resultado desconhecido, de caráter socioeconômico, dar assistência téc-
e as linhas, as probabilidades de diferentes re- nica a programas de integração da economia
A B C D E brasileira com o mercado internacional e esta-
1ª 10 25 12 17 *8
belecer medidas que conduzissem à moder-
nização da economia do país. Entre as institui-
2ª 6 4 *2 8 11
ções que eram diretamente subordinadas ao Mi-
3ª *3 5 15 7 9 nistério da Economia estavam a Secretaria da
4ª 18 23 19 *9 13 Receita Federal, o Banco Central, o Banco do
5ª *2 6 14 10 15 Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Serviço Fe-
deral de Processamento de Dados, o Banco Na-
cional de Desenvolvimento Econômico e Social
sultados. No caso anterior, o máximo ganho dos (BNDS) e outras autarquias e instituições direta
mínimos é 9, de tal maneira que a alternativa ou indiretamente ligadas às atividades financei-
escolhida seria a D, à qual 9 representa um mí- ras e de planejamento. Foi extinto no segundo
nimo. semestre de 1990, durante o governo Itamar
MÍNIMO. Veja Salário Mínimo; Sistema Apo- Franco, sendo que as instituições a ele subordi-
thecary. nadas voltaram a seus ministérios de origem,
especialmente para os ministérios da Fazenda e
MÍNIMOS QUADRADOS, Estimativa dos. Es- do Planejamento. Veja também Ministério da
timativa estatística que consiste na obtenção de Fazenda.
um valor mínimo para os desvios de uma va-
riável em relação a sua média. Este método (dos MINISTÉRIO DA FAZENDA. Ministério pú-
mínimos quadrados) é amplamente utilizado na blico responsável pela arrecadação e fiscalização
análise da regressão e da variância. Veja também da receita proveniente de impostos e encarre-
Regressão, Análise da. gado da distribuição do dinheiro arrecadado na
economia do país. Segundo as palavras de Rui
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA. Órgão do Barbosa, primeiro ministro da Fazenda do pe-
governo federal criado pelo decreto-lei 19 448, ríodo republicano (1891), são duas as medidas
de 3/12/1930. No tempo do Império, existia com que “podem considerar-se como as bases sobre
o nome de Secretaria dos Negócios da Agricul- as quais deve assentar o edifício orçamentário
tura, Comércio e Obras Públicas (decreto 1 067, e financeiro de uma nação bem constituída: a
de 20/1/1860). No início da República, foi ab- economia na despesa; a fiscalização da receita”.
sorvido pelo Ministério da Indústria, Viação e Criado em 1822, logo após a proclamação da
Obras Públicas (decreto 1 142, de 2/11/1892) e, independência, o ministério tendeu sempre ao
finalmente, em 1906, enquadrava-se como Mi- gradualismo na introdução de modificações em
nistério dos Negócios da Agricultura, Comércio seu funcionamento. A primeira e mais impor-
e Indústria (decreto 1 606, de 29 de dezembro). tante etapa de uma nova política fiscal da União
Atualmente, tem como áreas de sua competên- surgiu com a eliminação de certos entraves cons-
cia: agricultura, pecuária, caça, pesca, recursos titucionais ao bom funcionamento do sistema
393 MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL

tributário, trazida pela lei nº 4 357, de 16/7/1964, tura. Por outro lado, as questões relativas ao
modificando o Imposto de Renda e criando um desenvolvimento tecnológico e à propriedade
adicional provisório ao Imposto de Consumo. industrial passaram a ser atribuídas à Secretaria
A segunda grande modificação na arrecadação Especial de Tecnologia. Com a extinção dos mi-
federal veio mediante a reforma geral do apa- nistérios da Economia e da Infra-estrutura, re-
relho arrecadador feita pela lei nº 4 503, bem cuperou sua condição de ministério, com as
como da conjugação do Imposto de Renda e do mesmas atribuições de antes de 15/3/1990. No
Imposto Territorial Rural feita pela lei nº 4 504 segundo mandato (1999-2002) do presidente Fer-
e com as alterações dos impostos de Consumo, nando Henrique Cardoso, passou a ser denomi-
Solo e Renda introduzidas pelas leis nºs 4 502, nado Ministério do Desenvolvimento, Indústria
4 505 e 4 506, todas de 30/11/1964. Outra mo- e Comércio.
dificação importante foi feita pela lei nº 4 729,
de 14/7/1965, que caracterizou o crime de so- MINISTÉRIO DA INFRA-ESTRUTURA. Cria-
negação na administração fiscal. A partir dessa do em 15/3/1990 por medida provisória nº 150,
data, além de pesadas multas, que podem che- posteriormente referendada pelo Congresso Na-
gar até a cinco vezes o valor do tributo devido, cional, como parte da reforma administrativa do
os autores de crimes fiscais passaram a estar governo federal que permitiu a diminuição do
sujeitos a penas de detenção, que variam de seis número de ministérios, o Ministério da Infra-
meses a dois anos. O ciclo de modernização do estrutura incorpora as atribuições e atividades
dos antigos ministérios das Comunicações,
sistema tributário sofreu sua última grande mo-
Transportes, Minas e Energia, assim como parte
dificação com a lei nº 5 172, de 25/10/1966, que
das funções do Ministério da Indústria e Co-
dispõe sobre o sistema tributário nacional e ins-
mércio. Entre suas responsabilidades principais,
tituiu as normas gerais de direito tributário apli-
o ministério cuida do planejamento, adminis-
cáveis à União, aos Estados e aos municípios.
tração e desenvolvimento das empresas estatais
Todavia, em 15/3/1990, como parte da reforma
ligadas à produção industrial, mineração, ener-
administrativa que objetivava reduzir o número
gia, comunicações e transportes. Entre as em-
de ministérios, o Ministério da Fazenda foi ex-
presas que estão sob seu controle podem ser
tinto por meio da medida provisória nº 150. A especialmente citadas a Eletrobrás, a Telebrás,
medida, em seguida, foi aprovada pelo Congres- a Petrobrás, a Companhia Siderúrgica Nacional,
so Nacional (7/4/1990). Em seu lugar, foi criado o Lóide Brasileiro, a Usiminas, a Companhia
o Ministério da Economia, que passou a englo- Vale do Rio Doce e a Companhia Hidrelétrica
bar as antigas funções do Ministério da Fazenda, de São Paulo. Entre os órgãos setoriais de de-
da Secretaria Especial de Planejamento e parte senvolvimento e planejamento que estão sob a
das funções do Ministério da Indústria e Co- jurisdição do ministério incluem-se o Departa-
mércio. Durante o segundo semestre de 1992, mento Nacional de Produção Mineral, o Conse-
com a extinção do Ministério da Economia, o lho Nacional de Águas e Energia Elétrica, o Con-
Ministério da Fazenda recuperou suas atribui- selho Nacional de Telecomunicações, o Conse-
ções existentes antes de 15/3/1990. Veja também lho Nacional de Petróleo, o Conselho Nacional
Ministros da Fazenda. de Minas e Metalurgia, o Conselho Nacional de
MINISTÉRIO DA INDÚSTRIA E COMÉR- Transportes, a Comissão Nacional de Energia
Nuclear e a Comissão Executiva do Plano Na-
CIO. Criado em 1960, com o desdobramento do
cional do Carvão. Foi extinto no segundo se-
antigo Ministério do Trabalho, Indústria e Co-
mestre de 1992 e várias de suas secretarias re-
mércio, cuidava da administração e desenvolvi-
cuperaram a condição de ministério, como a da
mento, no âmbito nacional, das seguintes áreas:
Indústria e Comércio, das Comunicações, dos
comércio (exterior e interior) e indústria; seguros
Transportes e das Minas e Energia.
privados; propriedade industrial, registro do co-
mércio e legislação metalúrgica; turismo, pes- MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA E ASSIS-
quisa e experimentação tecnológicas. Estiveram TÊNCIA SOCIAL. Criado por decreto presi-
vinculados a esse ministério o Instituto Nacional dencial de 1º/5/1974, como um desdobramento
de Propriedade Industrial (INPI), o IBC, o IAA, do antigo Ministério do Trabalho e Previdência
a Superintendência da Borracha, a Embratur, a Social, ficou responsável, perante o poder exe-
Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), outras cutivo, por toda a política previdenciária e de
siderurgias nacionais, o Instituto de Resseguros assistência social do país. Tinha sob sua juris-
do Brasil etc. Com a extinção do ministério em dição o Instituto Nacional de Assistência Médica
15/3/1990, mediante medida provisória nº 150 e Assistência Social, o Instituto Nacional de Pre-
e referendada pelo Congresso Nacional em vidência Social (atual Instituto Nacional de Se-
7/4/1990, as antigas funções do Ministério da guro Social — INSS), o Instituto de Adminis-
Indústria e Comércio foram distribuídas entre tração da Previdência Social (Iapas), o Instituto
os novos ministérios da Economia e Infra-estru- de Previdência e Assistência dos Servidores do
MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA 394

Estado (Ipase), a Legião Brasileira de Assistência estudos e pesquisas de natureza socioeconômi-


(LBA), a Fundação Nacional do Bem-Estar do ca; promover a programação orçamentária e a
Menor (Funabem) e a Central de Medicamentos organização administrativa em nível nacional; e
(Ceme). Como parte da medida provisória nº coordenar a assistência técnica internacional e
150, de 15/3/1990, que previa a diminuição do os sistemas estatístico e cartográfico brasileiros.
número de ministérios, o Ministério da Previ- Foi substituído, em 1974, pela Secretaria do Pla-
dência Social foi novamente incorporado ao Mi- nejamento. Em 15/3/1990, em decorrência da
nistério do Trabalho, passando a se denominar política do governo federal, visando diminuir o
Ministério do Trabalho e Previdência Social. Os número de ministérios e secretarias, a Secretaria
institutos previdenciários passaram à jurisdição do Planejamento foi extinta pela medida provi-
do novo ministério, os institutos de assistência sória nº 150. Suas atribuições passaram ao novo
social foram entregues à Secretaria de Ação So- Ministério da Economia. No segundo semestre
cial e a Ceme, ao Ministério da Saúde. No se- de 1992, com a extinção do Ministério da Eco-
gundo semestre de 1992, durante o governo Ita- nomia, a Secretaria do Planejamento, que dele
mar Franco, a Previdência Social foi outra vez participava, ganhou novamente o nível de mi-
desmembrada do Ministério do Trabalho, recu- nistério. Durante o segundo mandato do presi-
perando sua condição de ministério, com as dente Fernando Henrique Cardoso, esse minis-
mesmas atribuições de antes de 15/3/1990, com tério foi outra vez extinto, sendo substituído em
a exceção da Ceme (Central de Medicamentos),
suas funções pelo Ministério do Orçamento e
que já havia sido repassada ao Ministério da Saú-
Gestão e pela Secretaria do Planejamento e Ava-
de, e dos institutos de Assistência Social, trans-
liação. Veja também Ministério da Economia;
feridos para o Ministério do Bem-Estar Social.
Seplan.
MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA. Cria-
MINISTÉRIO DO TRABALHO E PREVIDÊN-
do em julho de 1960 e instalado em fevereiro
CIA SOCIAL. Órgão responsável pelas decisõ-
de 1961, com a incorporação dos seguintes ór-
es do governo federal no âmbito das relações
gãos e repartições da administração federal: De-
partamento Nacional da Produção Mineral, do trabalho e previdência social, cuida da polí-
Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica, tica de salário, da organização profissional e sin-
Conselho Nacional de Minas e Metalurgia, Con- dical, da proteção ao trabalho e de toda a segu-
selho Nacional do Petróleo e Comissão de Ex- ridade social do país. Foi criado em 26/11/1930
portação dos Materiais Estratégicos. Ficaram in- como Ministério do Trabalho e Indústria e Co-
cluídas na jurisdição do Ministério das Minas e mércio. Com a criação do Ministério de Indústria
Energia as seguintes entidades: Companhia Vale e Comércio, em 1960, transformou-se em Minis-
do Rio Doce, Companhia Hidrelétrica do São tério do Trabalho e Previdência Social e, em
Francisco, Petróleo Brasileiro S.A., Comissão 1974, com a criação do Ministério da Previdência
Nacional de Energia Nuclear, Comissão Exe- Social, tornou-se apenas Ministério do Trabalho.
cutiva do Plano do Carvão Nacional. Em Todavia, com a reforma administrativa imposta
15/3/1990, pela medida provisória nº 150, apro- pela medida provisória nº 150, em 15/3/1990,
vada pelo Congresso Nacional no dia 7 do mês o Ministério do Trabalho incorporou novamente
seguinte, o Ministério de Minas e Energia foi a Previdência Social, passando a se chamar Mi-
extinto. Suas atribuições, assim como os depar- nistério do Trabalho e Previdência Social. O Mi-
tamentos e autarquias que representava, foram nistério do Trabalho, durante o Estado Novo,
transferidas para o novo Ministério da Infra-es- funcionou como órgão de controle sobre o mo-
trutura. Com a extinção do Ministério da Infra- vimento sindical. Nesse sentido, foi um pode-
estrutura no segundo semestre de 1992, recupe- roso instrumento da política populista de Ge-
rou sua condição de ministério com as atribui- túlio Vargas e seus seguidores. A partir de 1964,
ções que possuía até 15/3/1990. tornou-se um dos órgãos aplicadores das polí-
ticas econômicas dos governos, administrando
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, os reajustes salariais como meio de controle an-
INDÚSTRIA E COMÉRCIO. Veja Ministério tiinflacionário e ampliando o controle sobre a
da Indústria e Comércio. ação sindical mediante destituição de diretores
MINISTÉRIO DO ORÇAMENTO E GESTÃO. e intervenção. Com a redemocratização do país,
Veja Ministério do Planejamento e da Coorde- a partir de 1985, o governo federal foi deixando,
nadoria Geral. aos poucos, de interferir na vida sindical, en-
quanto a política salarial passou a fazer parte,
MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO E DA cada vez mais, das atribuições dos ministérios
COORDENADORIA GERAL. Instituição do po- da Economia e do Planejamento. No segundo
der executivo criada em 25/2/1967 com o obje- semestre de 1992, a Previdência Social foi outra
tivo de coordenar a atuação do governo federal; vez desmembrada do Ministério do Trabalho.
integrar os diversos planos regionais; executar Durante o segundo mandato do presidente Fer-
395 MINISTROS DA FAZENDA

nando Henrique Cardoso, o Ministério do Tra- Joaquim José Rodrigues Torres


balho passou a ser denominado Ministério do 10/5/1832-3/8/1832
Trabalho e Emprego. Veja também Ministério 6/10/1848-12/2/1853
da Previdência e Assistência Social. Veja tam- 16/7/1868-29/8/1870
bém Ministério da Previdência e Assistência
Social. Nicolau Pereira de Campos Vergueiro
13/9/1832-14/12/1832
MINISTROS DA FAZENDA — de 1822 a 1996.
Cândido José de Araújo Viana
Primeiro Reinado (Dom Pedro I): 14/12/1832-2/7/1834

Martim Francisco Ribeiro de Andrada Antônio Pinto Chichorro da Gama


4/7/1822-17/7/1823 2/7/1834-7/10/1834
24/7/1840-23/3/1841
Manuel do Nascimento de Castro e Silva
Manuel Jacinto Nogueira da Gama 7/10/1834-16/5/1837
17/7/1823-10/11/1823
21/1/1826-16/1/1827 Manuel Alves Branco
5/4/1831-7//4/1831 16/5/1837-19/9/1837
1º/9/1839-18/5/1840
Sebastião Luís Tinoco da Silva 2/2/1844-2/5/1846
10/11/1823-13/11/1823 22/5/1847-8/3/1848
Mariano José Pereira da Fonseca Cândido Batista de Oliveira
13/11/1823-21/11/1825 16/4/1839-1º/9/1839
Felisberto Caldeira Brandt Pontes de Oliveira e José Antônio da Silva Maia
Horta 18/5/1840-24/7/1840
21/11/1825-20/1/1826
4/12/1829-2/10/1830 Joaquim Francisco Viana
20/1/1843-2/2/1844
Antônio Luís Pereira da Cunha
20/1/1826-21/1/1826 Antônio Paulino Limpo de Abreu
8/3/1848-31/5/1848
João Severiano Maciel da Costa 12/1/1855-27/1/1855
16/1/1827-20/11/1827
Miguel Calmon du Pin e Almeida José Pedro Dias de Carvalho
20/11/1827-15/6/1828 14/5/1848-31/5/1848
25/9/1828-4/12/1829 24/5/1862-30/5/1862
19/9/1837-16/4/1839 15/1/1864-31/8/1864
23/3/1841-20/1/1843 12/5/1865-4/3/1866
8/4/1863-15/1/1864
Francisco de Paula Sousa e Melo
José Clemente Pereira 31/5/1848-18/8/1848
16/6/1828-18/6/1828
Bernardo de Sousa Franco
José Bernardino Batista Pereira de Almeida Sodré 18/8/1848-29/8/1848
18/6/1826-25/9/1828 4/5/1857-12/12/1858
José Antônio Lisboa Pedro de Araújo Lima
2/10/1830-3/11/1830 29/9/1848-6/10/1848
Antônio Francisco de Paula Holanda Cavalcanti Honório Hermeto Carneiro Leão
de Albuquerque 6/9/1853-12/1/1855
3/11/1830-5/4/1831 27/1/1855-5/2/1878
3/8/1832-13/9/1832
2/5/1846-17/5/1847 João Maurício Wanderley
30/5/1862-8/4/1863 23/8/1856-4/5/1857
25/6/1875-5/2/1878
Segundo Reinado (Dom Pedro II):
Francisco Sales Torres Homem
José Inácio Borges 12/12/1858-10/8/1859
7/4/1831-16/7/1831 29/8/1870-7/3/1871
Bernardo Pereira de Vasconcelos Ângelo Muniz da Silva Ferraz
16/7/1831-10/5/1832 10/8/1859-2/3/1861
MINISTROS DA FAZENDA 396

José Maria da Silva Paranhos Felisbelo Firmo de Oliveira Freire


2/3/1861-25/5/1862 30/4/1893-18/8/1894
7/3/1871-25/6/1875
Presidência Prudente José de Morais Barros
Carlos Carneiro de Campos
31/8/1864-12/5/1865 Bernardino José de Campos
20/11/1896-15/11/1898
Francisco de Paula da Silveira Lobo
4/3/1866-7/3/1866 Presidência Manoel Ferraz de Campos Sales
João da Silva Carrão
7/3/1866-3/8/1866 Joaquim Duarte Murtinho
15/11/1898-2/9/1902
Zacarias de Góis e Vasconcelos
3/8/1866-16/7/1868 Sabino Alves Barroso Júnior
2/9/1902-15/11/1902
João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu 15/11/1914-31/5/1915
5/2/1878-13/2/1878
Presidência Francisco de Paula
Gaspar da Silveira Martins Rodrigues Alves
13/2/1878-8/2/1879
José Leopoldo de Bulhões Jardim
Afonso Celso de Assis Figueiredo 15/11/1902-15/11/1906
8/2/1879-28/3/1880 14/6/1909-15/11/1910
7/6/1889-15/11/1889
Presidência de Afonso Augusto
José Antonio Saraiva Moreira Pena
28/3/1880-20/1/1882
6/5/1885-20/8/1885 David Morethson Campista
15/11/1906-14/6/1909
Martinho Alvarez da Silva Campos
20/1/1882-3/7/1882 Presidência Nilo Procópio Peçanha
João Lustosa da Cunha Paranaguá
3/7/1882-24/5/1883 José Leopoldo de Bulhões Jardim
14/6/1909-15/11/1910
Lafaiete Rodrigues Pereira
24/5/1883-6/6/1884 Presidência Hermes Rodrigues da Fonseca

Manuel Pinto de Sousa Dantas Francisco Antônio Sales


6/6/1884-6/5/1885 15/11/1910-9/5/1913

Francisco Belisário Soares de Sousa Rivadávia da Cunha Correia


28/8/1885-10/3/1888 9/5/1913-15/11/1914

João Alfredo Correia de Oliveira Presidência Venceslau Brás Pereira Gomes


10/3/1888-7/6/1889 João Pandiá Calógeras
República: 31/5/1915-6/9/1917
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada
Presidência Manoel Deodoro da Fonseca 6/9/1917-1º/11/1918
Rui Barbosa Presidência Delfim Moreira da Costa Ribeiro
15/11/1889-21/1/1891
Amaro Bezerra Cavalcanti
Tristão de Alencar Araripe 15/11/1918-17/1/1919
22/1/1891-4/7/1891
João Ribeiro de Oliveira e Sousa
Henrique Pereira de Lucena 17/1/1919-27/7/1919
4/7/1891-23/11/1891
Presidência Epitácio da Silva Pessoa
Francisco de Paula Rodrigues Alves
26/11/1891-31/8/1892 Homero Batista
15/11/1894-20/11/1896 27/7/1919-15/11/1922
Presidência Floriano Vieira Peixoto Presidência Artur da Silva Bernardes

Inocêncio Serzedelo Correia Rafael de Abreu Sampaio Vidal


31/8/1892-30/4/1893 15/11/1922-2/1/1925
397 MINISTROS DA FAZENDA

Presidência Washington Luís Sebastião Paes de Almeida


Pereira de Souza 4/6/1959-31/1/1961
Getúlio Dornelles Vargas Presidência Jânio da Silva Quadros
15/11/1926-17/12/1928
Clemente Mariani Bittencourt
Francisco Chaves de Oliveira Botelho 1º/2/1961-8/9/1961
17/12/1928-24/10/1930
Presidência João Belchior Marques Goulart
Junta Governamental
Walter Moreira Sales
Agenor de Roure 9/9/1961-14/9/1962
25/10/1930-4/11/1930
Miguel Calmon du Pin e Almeida Sobrinho
Presidência Getúlio Dornelles Vargas 1º/9/1962-22/1/1963

José Maria Whitaker Francisco Clementino de San Thiago Dantas


4/11/1930-16/11/1931 24/1/1963-20/6/1963
13/4/1955-10/11/1955 Nei Neves Galvão
Osvaldo Euclides de Sousa Aranha 20/12/1963-3/4/1964
16/11/1931-24/7/1934 Presidência Humberto de Alencar
16/6/1953-24/8/1954 Castello Branco
Artur de Sousa Costa Otávio Gouveia de Bulhões
24/7/1934-29/10/1945 4/4/1964-16/3/1967
Presidência José Linhares Presidência Artur da Costa e Silva —
(Supremo Tribunal Federal) Emílio Garrastazu Medici
José Pires do Rio Antônio Delfim Netto
1º/11/1945-1º/2/1945
17/3/1967-15/3/1974
Presidência Eurico Gaspar Dutra
Presidência Ernesto Geisel
Gastão Vidigal
Mário Henrique Simonsen
1º/2/1946-15/10/1946
16/3/1974-15/3/1979
Pedro Luís Correia e Castro
21/10/1946-10/6/1949 Presidência João Baptista de Oliveira
Figueiredo
Manuel Guilherme da Silveira Filho
10/6/1949-21/1/1951 Karlos Heinz Rischbieter
16/3/1979-17/1/1980
Presidência Getúlio Dornelles Vargas
Ernane Galvêas
Horácio Lafer 18/1/1980-14/3/1985
1º/2/1951-15/6/1953
Presidência José Sarney
Presidência João Café Filho
Francisco Oswaldo Neves Dornelles
Eugênio Gudin 15/3/1985-25/8/1985
25/8/1954-12/4/1955
Dílson Domingos Funaro
Presidência Nereu de Oliveira Ramos 26/8/1985-29/4/1987
(Senado Federal)
Luiz Carlos Bresser Pereira
Mario Leopoldo Pereira da Câmara 29/4/1987-21/12/1987
10/11/1955-31/1/1956
Maílson Ferreira da Nóbrega
Presidência Juscelino Kubitschek de Oliveira 21/12/1987-15/3/1990
José Maria Alkimin Presidência Fernando Collor de Mello
1º/2/1956-24/6/1958 (Ministério da Economia)
Lucas Lopes Zélia Cardoso de Mello
25/6/1958-3/6/1956 15/3/1990-18/5/1991
MINT PARITY 398

Marcílio Marques Moreira Econômicas) e L’Ami des Hommes (O Amigo dos


18/5/1991-5/10/1992 Homens).
Presidência Itamar Augusto Franco MISES, Ludwig Edler von (1881-1973). Econo-
mista austríaco naturalizado norte-americano,
Gustavo Krause de orientação neomarginalista e neoliberal. Mi-
5/10/1992-16/12/1992 ses privilegia o papel dos bancos na evolução
econômica, na medida em que podem emitir de
Paulo Haddad maneira ilimitada os meios de circulação. Para
16/12/1992-1/3/1993 enfrentar crises, recomenda o retorno à circula-
ção efetiva do ouro. Professor na Universidade
Eliseu Resende de Viena, no Instituto Internacional de Estudos
1º/3/1993-24/5/1993 de Genebra e na Universidade de Nova York,
Fernando Henrique Cardoso sua obra mais conhecida é The Anticapitalistic
Mentality (A Mentalidade Anticapitalista), 1956,
24/5/1993-1/4/1994
sobre a oposição intelectual à demanda das mas-
Rubens Ricupero sas em mercados livres. Mises achava que era
1º/4/1994-7/9/1994 impossível ao socialismo uma organização eco-
nômica racional, no que foi contestado por Os-
Ciro Gomes kar Lange, entre outros. Publicou também a
7/9/1994-1º/1/1995 obra-padrão da escola austríaca sobre dinheiro,
The Theory of Money and Credit (Teoria do Di-
Presidência Fernando Henrique Cardoso nheiro e do Crédito), 1934; Socialism: An Econo-
mic and Sociological Analysis (Socialismo: Uma
Pedro Sampaio Malan Análise Econômica e Sociológica), 1936; e Human
1º/1/1995 - Action, a Treatise on Economics (Ação Humana,
um Tratado de Economia), 1949.
MINT PARITY. Expressão em inglês que sig-
nifica a paridade entre duas moedas cunhadas MISSELDEN, Edward (1608-1654). Comercian-
dentro das regras do padrão-ouro, segundo a te e economista inglês da época mercantilista.
qual as taxas de câmbio são fixas e o ouro pode Misselden teve ampla experiência nos negócios,
ser transportado de um país para outro com cus- antes de escrever seu livro Free Trade, or the
to zero. Nesse caso, se, por exemplo, a taxa de Means to Make Trade Flourish (O Livre-Comércio,
conversão do marco em termos de libras ester- ou o Meio de Fazer o Comércio Florescer), 1622.
linas for xM = y L, 1 libra será equivalente a Nele, atribuiu a decadência do comércio à des-
L = M(x/y), isto é, 1 libra será trocada por valorização das moedas inglesas, ao excesso de
M(x/y) marcos; esta relação (x/y) será a mint consumo de mercadorias estrangeiras (em par-
parity entre as duas moedas. Veja também Gold- ticular bens de luxo), à exportação de lingotes
Points. de ouro pela Companhia das Índias Orientais e
à regulamentação inadequada do comércio de
MIPS. Abreviação de “milhões de instruções tecidos. A solução proposta por Misselden era
por segundo”. Unidade de medida da velocida- a elevação do valor nominal das moedas. Em-
de de execução de operações, utilizada em com- bora reconhecesse que isso elevaria os preços
putadores de grande porte. Veja também Me- das mercadorias, a ação seria compensada pela
gaflops. aceleração do comércio, resultante da expansão
da quantidade de dinheiro. Embora defendesse
MIRABEAU, Conde de (Honoré Gabriel Vic- um grau elevado de intervenção estatal na eco-
tor Riqueti) (1749-1791). Economista francês de nomia, ele não encorajava a formação de mo-
grande popularidade na Europa do século XVIII. nopólios.
Amigo e discípulo de Quesnay, escreveu com
este Philosophie Rurale ou Économie Générale et Po- MISSISSIPPI BUBBLE. O resultado final e de-
litique de l’Agriculture (Filosofia Rural ou Econo- sastroso de uma série de investimentos especu-
mia Geral e Política da Agricultura), 1763. Tal lativos de John Law (1671-1729), um financista
como seu mestre, sua análise da vida econômica escocês que, respaldado pelo governo francês,
tem um caráter mecânico e matemático. A or- do qual chegou a ser ministro das Finanças, fun-
dem econômica seria regida por leis naturais e dou a Compagnie de la Louisiane et de l’Occi-
não deveria sofrer intervenção do poder gover- dent, mais conhecida como do Mississípi. Adep-
namental. Daí a necessidade de uma simplifi- to da emissão do papel-moeda, Law obteve do
cação das finanças, sobretudo no âmbito do sis- governo francês a primeira licença (franquia)
tema fiscal. Escreveu também Les Économiques para fundar em Paris a primeira instituição fi-
(Os Econômicos); Leçons Économiques (Lições nanceira do país, o Banque Générale. Este banco
399 MITI

tinha poderes para emitir notas (papel-moeda) um dos fundadores e diretor do National Bureau
resgatáveis em metal precioso pelo peso estam- of Economic Research, na década de 20, estimu-
pado como seu valor de face. Quando o governo lou o desenvolvimento do estudo quantitativo
francês passou a aceitar esse papel-moeda para da economia norte-americana, enfatizando a
o pagamento de impostos, as taxas de juros bai- aplicação de técnicas estatísticas à investigação
xaram e o papel-moeda ganhou grande credi- dos fenômenos econômicos. Foi professor nas
bilidade, admitindo até um pequeno prêmio. universidades da Califórnia (1903-1913) e Co-
Obtendo a confiança do regente, Law conseguiu lúmbia (1913-1944) e diretor da New School of
o controle do território da Louisiania (na época Social Research (1919-1931), além de participar
dominada pelos franceses) para fins de comércio de várias comissões de estudo governamentais.
Obras principais: Business Cycles (Ciclos Econô-
e colonização. A companhia, conhecida como
micos), 1913; The Making and Uses of Index Num-
Companhia do Mississípi, depois de sua falência
bers (A Elaboração e Usos dos Números-índices),
passou a ser chamada de Mississippi Bubble (Bo-
1915; Business Cycles: The Problem and its Setting
lha do Mississípi). Entre 1718 e 1720, o Banque (Ciclos Econômicos: O Problema e seu Enqua-
Générale foi rebatizado como Banque Royale e dramento), 1927; The Backward Art of Spending
fundiu-se com a Companhia do Mississípi, sen- Money (A Cautelosa Arte de Gastar Dinheiro),
do Law ministro das Finanças do país. Devido 1937; Measuring Business Cycles (Medindo os Ci-
ao excesso de emissão de papel-moeda (Law clos Econômicos), 1946; e What Happens during
confiou na credibilidade obtida anteriormente e Business Cycles (O Que Acontece Durante os Ci-
na rentabilidade aparente das ações da Compa- clos Econômicos), 1951.
nhia do Mississípi, mas muito além das reservas
metálicas que lhes serviam de lastro), a Com- MITE. Veja Milha Terrestre.
panhia faliu. Houve um período de desenfreada
MITI. Iniciais de Ministry of International Trade
inflação e John Law foi obrigado a fugir do país.
and Industry (Ministério da Indústria e do Co-
MITA. Denominação dada aos serviços presta- mércio Exterior), denominação em inglês das pa-
dos pelos índios em forma de trabalho nas minas lavras Tsusancho ou Tsusan Sangyo Sho, que
e nas fazendas na América espanhola, durante designam este ministério no Japão. Ele é conhe-
a colonização. De acordo com a mita as comu- cido popularmente por suas iniciais em inglês
nidades indígenas eram obrigadas, mediante a Miti e foi constituído em 1949 mediante a fusão
escolha de seus caciques, a separar uma parte do Ministério do Comércio e Indústria e da Junta
de seus habitantes para desenvolver esse tipo de Comércio. Este ministério, embora empregue
de trabalho. A mita foi praticada com grande um número relativamente pequeno de funcio-
freqüência no Peru. Os índios designados pelas nários, teve e continua tendo grande importân-
tribos para prestar esse tipo de trabalho eram cia no processo de industrialização do Japão e
denominados mitayos, e embora de acordo com na notável expansão de suas exportações depois
os dispositivos oficiais devessem receber um sa- da Segunda Guerra Mundial, pois desde o prin-
lário por seus serviços, na prática tratava-se de cípio os dirigentes japoneses consideraram a
trabalho compulsório e gratuito. promoção do seu comércio internacional seu
principal objetivo. Para que tal objetivo pudesse
MITAYO. Veja Mita. ser alcançado, seria indispensável a racionaliza-
ção das empresas e a incorporação do progresso
MITCHELL, Wesley Clair (1874-1948). Econo- técnico. E o Miti, por meio de vários mecanis-
mista norte-americano, teórico dos ciclos econô- mos, entre os quais se destaca a “indução ad-
micos. Formou-se pela Universidade de Chica- ministrativa”, conseguiu realizar grande parte
go, onde sofreu influência de Thorstein Veblen, dos objetivos propostos. O Miti tem elaborado
fundador da escola institucional. Mitchell utili- políticas para que as indústrias decadentes ou
zaria mais tarde métodos “institucionais” na declinantes (em termos da concorrência interna-
abordagem de problemas econômicos, admitin- cional) sejam recicladas ou redirecionadas para
do que a estrutura política e social de um país outros produtos. Ao mesmo tempo tem delibe-
pode bloquear ou distorcer processos econômi- radamente passado ao largo da Lei Antimono-
cos normais e preconizando a importância da pólio, para permitir que certas indústrias pos-
sociologia, da política, do direito e de disciplinas sam se racionalizar, incorporar, criar novas tec-
afins no equacionamento e na solução dos pro- nologias e enfrentar melhor a concorrência in-
blemas econômicos. Mitchell fez importantes ternacional. Até meados dos anos 60 o Miti ado-
contribuições à teoria dos ciclos econômicos, de- tou uma política alfandegária com tarifas restri-
senvolvendo as noções de dinâmica econômica tivas à entrada de produtos estrangeiros que pu-
de deslocamento entre os preços de varejo e ata- dessem competir com aqueles de suas indústrias
cado, de desequilíbrio na reação dos preços so- nascentes. Ao mesmo tempo restringia os inves-
bre a demanda e de antecipação do lucro. Como timentos estrangeiros diretos no Japão até o iní-
MITSUBISHI 400

cio dos anos 80. A partir de então, devido às status. Distinguem-se a mobilidade ascendente
pressões do governo norte-americano e também (quando os indivíduos alcançam posições supe-
porque estava intensificando seus investimentos riores na hierarquia social) e a mobilidade descen-
em outros países do mundo, o Japão começou dente (quando ocorre o contrário). São ainda im-
a abrir seu mercado a produtos e a investimentos portantes os processos de mobilidade estrutural,
diretos estrangeiros, ao mesmo tempo restrin- que envolvem grandes contingentes sociais e de-
gindo voluntariamente suas exportações de au- correm de alguma transformação substancial na
tomóveis e de aço, especialmente em relação ao estrutura produtiva de um país: o processo de
mercado norte-americano, embora o Miti tenha industrialização num país de tradição agrária,
mantido as barreiras não-tarifárias ao comércio por exemplo, cria numerosas oportunidades
exterior. No início dos anos 90, devido ao per- ocupacionais para os indivíduos originários das
sistente superávit comercial japonês, especial- áreas rurais. Por isso, muitos estudiosos apon-
mente com os Estados Unidos, a pressão estran- tam as sociedades tradicionais de base agrária
geira aumentou, e o Miti tem promovido cam- como dotadas de estratificação social rígida, en-
panhas para o incremento das importações e quanto as modernas sociedades industriais pos-
para que a população aumente seus níveis de sibilitariam uma mobilidade social extremamen-
consumo, agindo de forma exatamente oposta te dinâmica. Veja também Estratificação Social.
à de décadas passadas, quando a ênfase era no
aumento da produção e na expansão das expor- MOCHIKABU KAISHA. Denominação dada no
tações. Com a crescente liberalização da econo- Japão às empresas que controlam várias ativi-
mia japonesa e a internacionalização de suas cor- dades industriais por meio do controle acionário
porações, a influência do Miti sobre a economia de empresas produtivas do setor. Durante a épo-
japonesa como um todo — particularmente em ca dos Zaibatsu, tiveram grande disseminação
relação às grandes corporações — tem de certa atuando como holdings e dominando importan-
forma diminuído. O Miti possui algumas agên- tes setores da economia japonesa. Com a disso-
cias ou departamentos encarregados de assuntos lução dos Zaibatsu, perderam grande parte de
especiais, como a Agência Industrial de Ciência sua força, na medida em que se proibia a uma
e Tecnologia, a Agência de Recursos Naturais e empresa possuir ações de outra empresa, mas
Energia, o Escritório de Patentes e a Agência de não desapareceram completamente.
Pequenas e Médias Empresas. Veja também
Gyosei Shido. MODA. Termo matemático utilizado em esta-
tística para indicar, numa amostra, a observação
MITSUBISHI. Veja Grupo Mitsubishi. com freqüência mais alta. Quando uma amostra
apresenta duas ou três observações de freqüên-
MIX DE PRODUÇÃO. Sistema de produção de cia igual e mais elevada que a de qualquer das
uma empresa que diversifica seus produtos pro- outras observações, é denominada bimodal ou
curando se ajustar, da forma mais conveniente trimodal. Em termos mais precisos, denomina-se
possível, à demanda, no tempo e no espaço. Por moda de uma variável aleatória qualquer valor
exemplo, uma empresa que produz sorvetes e da mesma que tenha uma probabilidade de
doces tem de mudar seu mix de produção entre
ocorrer maior ou igual às probabilidades dos
ambos se o verão for muito curto ou a renda
demais valores. Por exemplo, uma variável alea-
dos consumidores estiver caindo bastante.
tória de valores a, b, c, d, e, com probabilidades
MKS. Designação das unidades absolutas do respectivas: 1/8, 1/4, 1/8, 1/8, 1/4 e 1/8, teria
sistema métrico decimal: metro, quilograma, se- duas modas, isto é, seria bimodal: no caso, os
gundo. Veja também Sistemas de Unidades de valores modais seriam b e e. Se houvesse três
Medidas. modas, ela seria trimodal. A moda pode ser tam-
bém definida como o termo matemático utiliza-
M/L. Abreviação da expressão “moeda local”. do em estatística para indicar, numa amostra, a
observação com freqüência mais alta. No caso
M/N. Abreviação da expressão “moeda nacio-
de uma variável aleatória contínua, suas modas
nal”.
seriam determinadas encontrando-se os máxi-
MO. Iniciais da expressão em inglês mail order, mos de sua função de densidade f(x), o que se
que significa “ordem postal referente a um pa- poderia fazer, no caso em que f(x) tivesse deri-
gamento, compra de uma mercadoria”; ou tam- vada, igualando tal derivada a zero e resolvendo
bém da expressão money order, que significa “or- em x.
dem de pagamento em dinheiro”.
MODELO BROOKINGS. Modelo econométri-
MOBILIDADE. Movimento dos indivíduos de co construído no início dos anos 60 nos Estados
uma camada para outra na hierarquia social, im- Unidos, contendo cerca de quinhentas variáveis,
plicando geralmente mudança de ocupação e de cuja finalidade era fornecer elementos para a
401 MODELO EXPORTADOR

análise dos ciclos econômicos, mas também para das equações estruturais se referem a um único
orientar a política fiscal e monetária, assim como instante. Contrapõe-se ao modelo dinâmico.
as forças do desenvolvimento econômico. Veja
também Modelos Econômicos. MODELO ESTOCÁSTICO. O termo “estocás-
tico” é de origem grega e foi utilizado pelos au-
MODELO DE PRECIFICAÇÃO DE ATIVOS tores ingleses do século XVI no sentido de de-
DE CAPITAL. Teoria do equilíbrio de precifi- signar “aquele que prevê o futuro objetivando
cação dos ativos, mostrando que as taxas de a verdade”. Daniel Bernoulli, no seu Ars Con-
equilíbrio dos retornos esperados em todos os jectandi (1719), faz referências a processos esto-
ativos de risco são uma função de sua covariân- cásticos, mas a palavra caiu em desuso desde
cia com o porta-fólio de mercado. então, sendo retomada no século XX. De uma
forma geral, é o modelo que contém pelo menos
MODELO DE PRECIFICAÇÃO DE ATIVOS um elemento aleatório, sendo portanto seu re-
FINANCEIROS (Capital Asset Pricing Model). sultado probabilístico. Opõe-se ao modelo de-
Modelo desenvolvido durante os anos 60, cujo terminístico. Atualmente, denomina-se modelo
objetivo era dar uma forma específica à existên- estocástico um conjunto de equações que des-
cia de um trade-off (troca conflituosa) entre ga- crevem a relação entre duas ou mais variáveis
nhos e riscos. O modelo estabelece uma relação aleatórias com probabilidades definidas e não
linear positiva entre o ganho esperado de um necessariamente iguais — e dependentes de
porta-fólio diversificado de ativos e o risco sis- uma variável não-aleatória, que é um elemento
têmico desse porta-fólio medido pelo parâmetro de variação contínua (como o tempo, por exem-
na seguinte equação: plo). Apesar da inexatidão, os modelos estocás-
ticos são representações reduzidas de situações
R = Rf + β (Rm – Rf) altamente complexas e por isso costumam ser
na qual R é o ganho esperado do porta-fólio, usados no estudo das interações humanas.
Rf é a taxa de juros sem risco (por exemplo,
MODELO EXPORTADOR. Modelo econômico
aqueles pagos nos títulos do governo), β é a me-
caracterizado por um conjunto de medidas vi-
dida de até que ponto os ganhos sobre o por-
sando a dar maior ênfase à política de exporta-
ta-fólio se deslocam com o mercado constituído
por uma combinação de todos os títulos, cada ções de um país. Essas medidas caracterizam-se
um ponderado por sua participação relativa. De- principalmente por incentivos fiscais dados aos
vido a essa base ampla de comparação, todos produtos de exportação e por uma política cam-
os riscos evitáveis foram eliminados, de tal for- bial que permita colocar o produto no mercado
ma que os remanescentes, denominados sistê- exterior a preços competitivos. No Brasil, o cha-
micos ou de mercado, estão associados com o mado modelo exportador começou a ser aplica-
movimento geral da economia, e Rm é o retorno do a partir de 1964 com a concessão de uma
esperado do porta-fólio de mercado. A diferença série de incentivos das mais variadas espécies.
(Rm – Rf) é o prêmio pelo risco de mercado. Nos primeiros anos essas medidas eram funda-
Assim, se Rf = 5%, Rm = 7% e β = 2,5 (um desta mentalmente “desagravadoras”, ou seja, procu-
magnitude representaria um porta-fólio de con- ravam eliminar ao máximo os gravames que au-
siderável risco, uma vez que qualquer alteração mentavam o preço real do produto a ser expor-
no retorno do porta-fólio de mercado é multi- tado e impediam sua penetração no mercado
plicada por 2,5), então, internacional. Entre 1964 e 1968, tais medidas
incluíram a desburocratização, a redução e a
R = 5 + 2,5 (7 – 5) = 10% simplificação dos trâmites administrativos (que
em muito aumentavam os custos da operação
MODELO DETERMINÍSTICO. É o modelo ma-
exportadora), a isenção do IPI e do ICM sobre
temático que não contém variável aleatória, e
as exportações de produtos manufaturados, a
que, portanto, permite uma previsão certa.
isenção ou redução de impostos e taxas desne-
Opõe-se ao modelo estocástico. Veja também
cessárias e a implantação do sistema de draw-
Modelo Estocástico.
back. A isenção do Imposto de Renda e do Im-
MODELO DINÂMICO. É o modelo econômico posto de Importação, bem como o financia-
ou financeiro no qual os valores das variáveis mento às exportações e financiamentos de ven-
das equações estruturais se referem a um perío- das de serviços no exterior, foram outras das
do de tempo e se alteram nesse intervalo. Veja medidas adotadas nesse período. Importante
também Modelos Econômicos. fator do aumento das exportações foi a adoção
de uma taxa de câmbio flexível e as seguidas
MODELO ESTÁTICO. É o modelo econômico minidesvalorizações que desde 1968 vêm alte-
ou financeiro no qual os valores das variáveis rando a taxa de câmbio do dólar. Até 1971, os
MODELO FEDERAL RESEARCH BOARD 402

incentivos governamentais às exportações bus- pital, de tal forma que S = I = dk, onde I =
cavam principalmente uma melhor utilização investimento. O capital é o único fator de pro-
dos dispositivos já existentes, mas a partir daí dução explicitamente considerado no Modelo
foram criados novos incentivos com a finalidade Harrod-Domar. O trabalho se combina com o
de aumentar a capacidade instalada até então. capital em proporções fixas, não havendo a
Assim, a partir de 1972 esses incentivos à ex- preocupação em articular aumentos populacio-
portação se estendiam a benefícios fiscais dados nais ou da força de trabalho com mudanças de-
a programas voltados especialmente à exporta- rivadas da demanda de trabalho na medida em
ção, por meio dos Benefícios Fiscais a Programas que a acumulação de capital se desenvolve. Su-
Especiais de Exportação (Befiex). Estabeleceram- pondo que a relação produto-capital seja igual
se também incentivos à transferência de indús- a 1/4, ou melhor, que para produzir uma uni-
trias para o Brasil e às empresas de comerciali- dade de produto sejam necessárias quatro uni-
zação (trading companies). Além disso, foram dades de capital, e que a propensão a poupar
baixadas medidas que favoreciam certos seto- seja 25% (sendo os restantes 75% da renda des-
res específicos, como minerais elaborados, veí- tinados ao consumo) e que o processo tem início
culos, navios e embarcações. Aproximadamen- com estoque de capital de 400, o produto no
te 70% dos produtos exportados pelo Brasil ou primeiro ano será igual a 400x1/4 = 100. Deste
são produtos primários, como açúcar, soja e total, 75% serão consumidos e 25% poupados,
café, ou estão diretamente ligados a produtos resultando um incremento do estoque de capital
primários, como, por exemplo, óleo e torta de de 25% de 100 = 25, determinando, portanto,
soja, café solúvel e tecidos de algodão. Os res- um estoque de capital no ano seguinte de 425,
tantes 30% correspondem a produtos manufa- o que resultará um produto de 106,25 unidades
turados, que variam de sapatos a automóveis e assim sucessivamente. Supondo que o cresci-
e armamentos. mento demográfico seja aproximadamente de
3% ao ano, o mesmo acontecendo com a força
MODELO FEDERAL RESEARCH BOARD de trabalho, os resultados numéricos num pe-
(MIT). Veja Macromodelo. ríodo de cinco anos são os seguintes:
MODELO HARROD-DOMAR. Modelo do pro-
k q s c p q/p
cesso de crescimento econômico que é uma sín-
tese do trabalho independente de dois econo- 1 400 100 25 75 100 1,000

mistas, o inglês Roy F. Harrod e o norte-ame- 2 425 106,25 26,56 79,69 103 1,031
ricano Evsey D. Domar. O primeiro sustentou 3 451,56 112,89 28,22 84,67 106,9 1,064
que a taxa de investimento precisa ser igual à 4 479,78 119,94 29,98 89,95 109,2 1,097
taxa de poupança, o que é uma condição sufi-
5 509,76 127,44 31,86 95,58 112,54 1,132
ciente para o crescimento equilibrado. Para Do-
mar, é necessário haver uma segunda igualdade: Onde (c) = consumo, (p) = população, (q/p) =
entre o crescimento da renda e o crescimento renda per capita.
da capacidade produtiva. O Modelo Harrod-Do-
mar pode ser visto como uma tentativa de con- O crescimento da força de trabalho não afeta o
cretizar a teoria keynesiana da determinação di- desempenho do modelo, embora seus reflexos
nâmica da renda, considerando o efeito de certas apareçam na determinação da renda per capita,
variáveis de tempo. Os elementos básicos do como se observa na última coluna (q/p). Isto
modelo de crescimento de longo prazo são os significa que a renda per capita durante o pro-
seguintes: 1) uma função de produção, onde o cesso de desenvolvimento econômico depende-
produto Q resulta do total de capital (k) empre- rá da taxa de crescimento demográfico (g), da
gado, multiplicado pela relação produto-capital propensão a poupar (s) e da relação produto-
(v), de tal forma que Q = k.v. A relação produ- capital (v). Se a taxa de crescimento for inferior
to-capital é definida como a quantidade de ca- a s.v, a renda per capita crescerá s.v-g. Se g for
pital necessária para produzir uma unidade de superior a s.v, a renda per capita diminuirá, e se
produto, e o modelo supõe que ela permaneça as duas proporções forem equivalentes, a renda
constante; 2) uma concepção de poupança ba- per capita permanecerá constante. Embora o mo-
seada na propensão a poupar de Keynes, esta- delo tenha limitações e pontos criticáveis, ele
belecendo que a poupança total (S) num período serviu como ponto de partida das teorias mo-
qualquer é uma determinada porcentagem (s) dernas de desenvolvimento econômico. As prin-
da renda ou do produto total (Q) daquele pe- cipais insuficiências do modelo foram ressalta-
ríodo, de tal forma que S = s.Q; 3) supõe que das por Solow (1956) e Swan (1956), no sentido
o pleno emprego do capital, ou seja, toda a pou- de que, dentro de certos limites, o capital e o
pança é investida e se agrega ao estoque de ca- trabalho são fatores substituíveis entre si. Joan
403 MODERNIZAÇÃO

Robinson (1956) e Kaldor (1961) destacaram que pequeno nas áreas rurais e elevado nas áreas
a propensão a poupar de quem recebe salários industriais; 2) os salários industriais, ao contrá-
e de quem se apropria dos lucros são diferentes, rio de se manter constantes, aumentam se com-
e na medida em que a participação desses agen- parados com os níveis de renda existentes na
tes na renda se altera no tempo, o mesmo deverá agricultura.
acontecer com a propensão a poupar, imposta
no Modelo Harrod-Domar como constante. MODELO ST. LOUIS. Modelo econométrico da
Além disso, Kaldor também inclui o desenvol- economia norte-americana desenvolvido pelo
vimento tecnológico como essencial para o cres- Banco da Reserva Federal de St. Louis para am-
cimento econômico, pois as estimativas de So- pliar os modelos não-lineares elaborados em ou-
low (1957) mostraram que apenas 15% do cres- tras localidades a partir da proposta precursora
cimento da renda per capita dos Estados Unidos de Jan Tinbergen e Klein Goldberger sobre a
podia ser explicado pelo aumento do estoque economia dos Estados Unidos. Veja também Mo-
de capital, sendo os demais 85% devidos ao pro- delos Econômicos.
gresso técnico. Veja também Kaldor, Nicholas; MODELO T. Veja Ford, Henry.
Robinson, Joan.
MODELO WHARTON. Veja Macromodelo.
MODELO IS-LM. Veja Curva IS-LM.
MODELOS ECONÔMICOS. Construções abs-
MODELO KLEIN-GOLDBERGER. Modelo eco-
tratas de natureza matemática utilizadas para
nométrico para a economia norte-americana en-
explicar ou controlar determinado aspecto da
tre 1929 e 1952 (exceto 1942-1945) que exerceu
realidade econômica. Os modelos econômicos
considerável influência na construção de mode-
buscam captar a essência de uma estrutura de-
los econométricos a partir de sua publicação em
terminada, suas relações internas, sua evolução,
1955. O modelo consiste de vinte equações
os fatores que determinam as mudanças e os
(quinze comportamentais e cinco de caráter es-
caminhos a ser adotados para manter-se o equi-
tocástico), sendo cinco, dentre elas, simples
líbrio do sistema produtivo. Podem englobar pe-
identidades. Elaborado pelos economistas ho-
quenas realidades econômicas (empresas isola-
mônimos, tem como fundamento teórico a eco-
das, economias familiares) ou então o conjunto
nomia keynesiana. Veja também Macromodelo;
das relações econômicas de uma sociedade. No
Modelo Estocástico. primeiro caso, os modelos são de natureza mi-
MODELO LEWIS-FEI-RANIS. Um modelo de croeconômica; no segundo, de natureza macroe-
desemprego em países em desenvolvimento ela- conômica. No entanto, algumas construções res-
borado por Arthur Lewis entre 1954 e 1958 e pondem simultaneamente aos dois níveis de
formalizado por Fei e Ranis em 1964. O modelo análise: é o que acontece com os modelos de
destaca a necessidade de distinguir o setor agrí- input-output (insumo-produto), formulados por
cola do industrial numa economia dualista, isto W. Leontief. Um tipo de modelo macroeconô-
é, caracterizada pela separação entre os dois se- mico é o Modelo Harrod-Domar, de origem key-
tores, por diferenças acentuadas na forma de nesiana, construído para mostrar que, numa de-
produção entre eles (capitalistas e pré-capitalis- terminada economia, o pleno emprego só pode
tas) e pelos fluxos migratórios entre ambos. O ser mantido sob a condição de a renda nacional
setor agrícola é considerado operando em nível aumentar constantemente a certo ritmo. Mas,
de subsistência. Possui excedentes de mão-de- para chegar a essa conclusão, uma série de va-
obra que se deslocam gradualmente para o setor riáveis teve de ser examinada: propensão a pou-
moderno (indústria). O grau de absorção dessa par, propensão a consumir, propensão a investir,
mão-de-obra depende da taxa de acumulação renda, nível de emprego, eficiência marginal do
de capital na indústria e, portanto, dos seus ní- capital e nível de intervenção do poder público
veis de lucro, os quais são por hipótese reinves- na economia. Além das contribuições de Leon-
tidos. Lewis considerava originalmente o nível tief, Domar e Harrod, a teoria dos modelos eco-
de salários na indústria constante em sua relação nômicos deve bastante a Kalecki, Kaldor, Joan
com os níveis de renda de subsistência existentes Robinson, Samuelson, Solow, Goodwin e Baumol.
na agricultura. O pleno emprego seria alcançado MODEMS. Contração das palavras inglesas mo-
quando todo o excedente da agricultura fosse dulator e demodulator. São dispositivos utilizados
assimilado pela indústria. Este modelo contri- para tornar compatíveis os sinais de um com-
buiu para o desenvolvimento dos estudos sobre putador com um canal de comunicação, como,
as relações entre campo e cidade ou agricultura por exemplo, o telefone.
e indústria nas economias em desenvolvimento.
No entanto, a evidência empírica dos países em MODERNIZAÇÃO. Processo de mudança eco-
desenvolvimento contestou dois dos pressupos- nômica, social e política pelo qual determinada
tos do modelo: 1) o desemprego é relativamente sociedade supera estruturas tradicionais (de
MODIGLIANI, Franco 404

base rural), criando novas formas de produção, (1950-1952) e no Carnegie Institute of Techno-
mecanismos racionais de dominação e novos pa- logy (1952-1960); posteriormente, tornou-se pro-
drões de comportamento. Industrialização, ur- fessor titular do Massachussets Institute of Tech-
banização, desenvolvimento dos sistemas de nology (MIT). Foi presidente da American Eco-
transporte e comunicação de massa são fenô- nomic Association em 1976. Prêmio Nobel em
menos característicos do processo de moder- Economia em 1985 por seus trabalhos relacio-
nização. As transformações iniciaram-se na Eu- nados com a função consumo e a hipótese do
ropa e nos Estados Unidos (séculos XVIII e XIX), ciclo de vida. Em conjunto com Duesenberry,
resultando nas modernas sociedades industriais desenvolveu a Hipótese Modigliani-Duesenber-
do século XX. Na América Latina, Ásia e África ry (do ciclo de vida). De acordo com ela, os gas-
as mudanças ocorreram tardiamente, induzidas tos de um consumidor não dependem unica-
por impulsos externos; os setores que se trans- mente da renda corrente, mas também do nível
formaram nessas regiões passaram a coexistir de sua última renda máxima. Suas obras mais
com setores tradicionais poderosos, gerando
importantes são as seguintes: The Predictability
problemas sociais graves: êxodo rural descon-
of Social Events (A Previsibilidade de Eventos
trolado, crescimento urbano desordenado e mar-
Sociais), em colaboração com Emile Grunberg;
ginalidade social crescente nas cidades. As mu-
The Permanent Income and Life Cycle Hipothesis of
danças que caracterizam o processo de moder-
nização ocorrem em vários níveis. No plano eco- Saving Behaviour: Comparison and Tools (A Hipó-
nômico, as atividades primárias (extração e tese da Renda Permanente e do Ciclo de Vida
agropecuária) deixam de ser predominantes, sobre o Comportamento de Poupança: Compa-
dando lugar às atividades industriais e de ser- rações e Ferramentas), em colaboração com Al-
viços; no plano político, verifica-se uma tendên- bert Ando; The Monetarist Controversy, or Should
cia à centralização do poder, autonomia dos ór- We Stabilization Policies? (A Controvérsia Mone-
gãos administrativos e representativos, legitima- tarista, ou Deveríamos Abandonar as Políticas
ção do governo a partir de sistemas ideológicos de Estabilização?). Embora tenha sido um dos
(e não mais pela tradição) e expansão da parti- precursores da concepção das Expectativas Ra-
cipação política (desenvolvimento de movimen- cionais (John Muth o citou no primeiro artigo
tos de massa, movimento sindical e partidos de no qual a hipótese foi formalizada), Modigliani
esquerda). No plano social, ocorre o desenvol- pode ser incluído entre os neokeynesianos. Veja
vimento urbano, intensa migração do campo também Hipótese Modigliani-Duesenberry; Neo-
para a cidade, maior diversificação das profis- keynesianos; Nova Economia Clássica.
sões e surgimento de novas camadas sociais com
valores e interesses particulares. No plano cul- MODO DE PRODUÇÃO. Conceito da econo-
tural, expandem-se os meios de comunicação de mia marxista que é definido pelo conjunto das
massa e a educação secular, retirando-se da fa- forças produtivas e das relações de produção.
mília parte de suas tarefas de socialização do O modo de produção se confunde, de certa ma-
indivíduo, o que, por sua vez, contribui para o neira, com a estrutura econômica da sociedade,
desenvolvimento de uma nova escala de valores, englobando a produção, distribuição, circulação
que rompe com a estrutura da família tradicio- e consumo. Em O Capital, Marx ocupa-se fun-
nal (de caráter patriarcal). De modo geral, o pro- damentalmente em analisar o modo de produ-
cesso de modernização desenvolve-se dentro de ção capitalista, mas não chega a definir com cla-
uma sistemática de equilíbrios e conflitos, va- reza o conceito de modo de produção. Louis
riando conforme o ritmo em que ela se realiza Althusser entende o modo de produção como
e os agentes sociais que mobiliza. Quanto mais uma totalidade que articula a estrutura econô-
veloz e extensa for essa mobilização, menores mica, a estrutura político-jurídica (leis, Estado)
as possibilidades de ser canalizadas as reivin- e uma estrutura ideológica (idéias, costumes).
dicações dos setores mobilizados — sobretudo A existência concreta de um modo de produção
quando há defasagem entre a crescente partici- estaria numa formação social localizada. Para
pação social e as limitações na capacidade de o outros teóricos marxistas, o conceito de forma-
sistema político-econômico responder às solici- ção social abrange o modo de produção e a su-
tações sociais. Veja também Desenvolvimento perestrutura da sociedade. Teoricamente, numa
Econômico; Sociedade de Massa; Urbanização. formação social concreta, podem estar presentes
vários modos de produção, tendo um como do-
MODIGLIANI, Franco (1918- ). Nascido na Itá- minante. Distinguem-se, ao longo da história,
lia, Modigliani foi para os Estados Unidos antes vários modos de produção: o comunista primitivo,
da Segunda Guerra Mundial e lá completou seus o escravista, o feudal, o capitalista e o socialista.
estudos na New School for Social Research, onde Embora a questão da sucessividade histórica o-
obteve, em 1944, o doutoramento em Ciências brigatória dos modos de produção tenha domi-
Sociais. Lecionou na Universidade de Illinois nado os estudos marxistas por muito tempo, ela
405 MOEDA

não encontra respaldo teórico nas obras de dução asiático está ausente das formulações de
Marx, e nem mesmo nas de Engels. Tendo apa- Engels em A Origem da Família, da Propriedade
recido num texto de Lênin, foi depois dogma- Privada e do Estado, em que é apresentado um
tizada por Stálin. Mais recentemente, têm-se esquema geral de evolução e sucessão dos mo-
aprofundado os estudos sobre o modo de pro- dos de produção. Isso deu margem para que
dução asiático, mencionado mas não estudado essa categoria histórica, formulada por Marx,
detidamente por Marx. Veja também Marxismo; fosse oficialmente extinta da discussão teórica
Modo de Produção Asiático. marxista no período stalinista, sobretudo a par-
tir de 1931. Com o processo de destalinização,
MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO. Organi- a questão do modo de produção asiático foi re-
zação econômico-social analisada por Marx como tomada, particularmente no decorrer da década
uma das formas de passagem da comunidade de 60. Uma das razões foi o impacto causado
primitiva para a sociedade de classes. As obser- pelo processo de descolonização na Ásia e na
vações de Marx a esse respeito tinham como África, que propôs novos desafios teóricos ao
referência a China, a Rússia e a Índia. A origi- pensamento marxista. Veja também Marx, Karl
nalidade histórica do modo de produção asiático Heinrich; Marxismo; Materialismo Histórico;
como forma de transição consiste no fato de Modo de Produção.
comportar determinado tipo de Estado e um sis-
tema de exploração do trabalho sem que exista MÓDULO RURAL. Unidade rural definida pelo
a propriedade privada da terra. Baseado nos es- Estatuto da Terra (lei nº 4 504 de 30/11/1964)
critos de Marx, Ernest Mandel salienta as se- como sendo aquela que em cada região do país
guintes características fundamentais desse modo assegura ao trabalhador rural um rendimento
de produção: 1) ausência de propriedade priva- suficiente para seu progresso e bem-estar eco-
da do solo; 2) conseqüentemente, conservação, nômico e social. Como o Brasil apresenta grande
nas comunidades, de uma força de coesão que diversidade em sua extensa área agriculturável,
resistiu através das épocas às conquistas mais o módulo rural pode ter dimensões muito dife-
sangrentas; 3) coesão interna baseada na íntima rentes se, por exemplo, tomarmos a região ama-
união entre agricultura e indústria (artesanato); zônica ou as áreas rurais do Espírito Santo, ou
4) por motivos climáticos, construção de grandes o Nordeste com o Sul do país. A partir da con-
obras hidráulicas, sobretudo canais de irrigação, ceituação de módulo rural, define-se o que é
para atender às necessidades da agricultura; 5) minifúndio, empresa rural, latifúndio por explo-
necessidade de um poder central regulador e ração e latifúndio por dimensão. O primeiro é
empreendedor, de um Estado que concentre em aquela unidade rural cuja área não alcança um
suas mãos a maior parte do sobreproduto, o que módulo rural; a empresa rural é o imóvel rural
possibilita o nascimento de uma camada social com área de até seiscentas vezes o módulo e na
privilegiada, mantida por esse excedente e que qual pelo menos a metade da área cultivável é
é a força dominante da sociedade (daí a expres- explorada de forma racional; o latifúndio por
são “despotismo oriental”). As funções econô- exploração é o imóvel com a mesma dimensão
micas do Estado, nesse modo de produção, têm da empresa rural, mas com área explorada in-
como conseqüência uma forma original de su- ferior ao que seria admitido racionalmente; e o
jeição generalizada a ele, caracterizando o des- latifúndio por dimensão é o imóvel que ultra-
potismo oriental — não se confundindo com a passa seiscentas vezes o módulo rural.
escravatura (que implica uma relação pessoal do MODUS OPERANDI. Expressão em latim que
escravo com o amo, de quem o primeiro é pro- significa a maneira pela qual um indivíduo ou
priedade privada), nem com a servidão (visto uma organização opera ou desenvolve suas ati-
que as corvéias, por exemplo, são devidas ao vidades.
Estado e não a um senhor feudal, proprietário
da terra, e a renda derivada dos bens de raiz MOEDA. A mais antiga representação do di-
identifica-se à cobrança de um imposto). No nheiro, muitas vezes empregada como seu si-
modo asiático de produção, o Estado é ao mes- nônimo. Os primeiros registros do uso de moe-
mo tempo o principal explorador e o déspota. das datam do século VII a.C., quando já eram
Na obra de Marx, a análise do modo asiático cunhadas na Lídia, reino da Ásia Menor, e tam-
de produção toma sua forma mais acabada nos bém no Peloponeso, no Sul da Grécia. Na ver-
manuscritos preparatórios da redação de O Ca- dade, sua história coincide com a descoberta do
pital, entre 1855 e 1859. Suas notas sobre o as- uso dos metais e o domínio das técnicas de mi-
sunto foram publicadas postumamente com o neração e fundição. Assim, as moedas de cobre,
título de Formas Que Precedem a Produção Capi- metal mole e pouco adequado ao manuseio, ce-
talista ou simplesmente Formen. O tema é tam- deram lugar às duráveis moedas de bronze, fei-
bém abordado em Contribuição à Crítica da Eco- tas a partir de uma liga de cobre com estanho
nomia Política e em várias passagens de O Capital. ou zinco. E a elevada valorização do ouro e da
Apesar disso, a caracterização do modo de pro- prata, por sua raridade e resistência ao desgaste
MOEDA ADMINISTRADA 406

ou à abrasão, atribuiu a esses metais nobres o MOEDA ARTIFICIAL. É a moeda que possui
caráter de base da organização monetária. A pri- existência meramente escritural, isto é, não exis-
meira função atribuída à moeda é a de troca, te na forma de papel ou metálica, e que atua
intimamente ligada a uma segunda função, a em substituição a moedas específicas.
de medida de valor. Ao substituir o escambo,
isto é, a troca em espécie, a moeda adquiriu o MOEDA BANCÁRIA. Veja Nota Bancária.
valor que lhe era arbitrariamente atribuído pelos
mercadores em determinadas permutas de mer- MOEDA-CHAVE. Moeda utilizada como pa-
cadorias. Estabeleceu-se dessa maneira uma ava- drão para o cálculo de paridade entre duas ou-
liação, que posteriormente passou a ser fixada tras moedas. Em lugar de calcular-se diretamen-
pelo governante ou pelo Estado. Isto é, surgiu te a cotação de uma moeda em relação a outra,
um padrão legal, uma medida teoricamente in- faz-se a conversão das duas em uma terceira, a
variável para expressar o valor dos bens e mer- moeda-chave. Nas relações comerciais interna-
cadorias. Outra função atribuída à moeda é a cionais costuma-se utilizar o dólar como moe-
de acumular valor, de permitir sua reserva ou da-chave nas trocas entre países com poucas re-
entesouramento. E uma última função, esta mais lações comerciais. Veja também Moeda Forte.
recente, com a generalização do uso do crédito,
é a que atribui à moeda a propriedade de pagar MOEDA CONVERSÍVEL. Moeda que, de acor-
dívidas futuras. O papel-moeda data do século do com os termos de sua emissão e durante a
IX, quando passou a circular na China. Foi in- vigência do padrão-ouro ou do padrão-cambio
troduzido na Europa a partir do século XVII. ouro, podia ser convertida, numa determinada
Pelas facilidades de transporte e manuseio que cotação fixa, em ouro monetário ou em moedas
oferece, difundiu-se rapidamente e substituiu fortes como o dólar e a libra. Veja também Con-
com vantagens as moedas metálicas, possibili- versibilidade; Padrão Câmbio-ouro; Padrão-ouro.
tando o aumento arbitrário do meio circulante.
Em outras palavras, o papel-moeda fiduciário, MOEDA CORRENTE. O dinheiro legalmente
correspondente a determinada quantidade de autorizado a circular no país como meio de pa-
ouro que poderia ser sacada do banco emissor gamento, em geral emitido (cédulas de papel-
a qualquer momento, foi emitido em quantida- moeda) ou cunhado (moedas metálicas) pelo
des desproporcionais ao lastro-ouro declarado próprio governo. Nas transações internacionais,
em depósito nos bancos nacionais. Era o início a moeda corrente é em geral a moeda forte de
maior circulação no momento, como é o caso
da prática da desvalorização da moeda e do sur-
atual do dólar.Veja também Moeda; Moeda Fi-
gimento da inflação, o que provocou a quebra
duciária; Moeda Forte; Moeda Internacional.
do uso do padrão-ouro. A credibilidade do pa-
pel-moeda passou então a depender da estabi- MOEDA DE BOA LEI (Bona Monetas). Esta
lidade das economias nacionais e da confiança expressão admite dois sentidos: 1) quando o to-
que seus emissores desfrutassem nos organis- que e o peso de uma moeda corresponde àquele
mos internacionais — e, acompanhando essa si- que a lei lhe determina; 2) quando tem credibi-
tuação, os metais nobres praticamente deixaram lidade no mercado. A expressão “pagamento em
de ser utilizados na cunhagem de moedas, fa- bona monetas” significa pagamento realizado
bricadas atualmente com ligas vulgares de ní- com moeda de boa lei. Veja também Toque.
quel e alumínio. Mais ainda, o padrão-ouro foi
sendo gradativamente substituído pelo dólar MOEDA ESCRITURAL. Ordem de pagamento
norte-americano, a libra esterlina, o marco ale- que se originou da generalização do uso do pa-
mão e outras moedas fortes, emitidas pelas gran- pel-moeda. A abertura de uma conta corrente
des metrópoles industriais e financeiras, o que por meio de determinado depósito em dinheiro
tornava mais fácil as operações de comércio ex- (papel-moeda) permite a qualquer pessoa mo-
terior e as transferências internacionais. Ainda vimentar esse fundo depositado no banco me-
assim, o padrão-ouro conserva uma relativa im- diante cheque, a moeda escritural mais utilizada
portância, pois as crises cíclicas que assolam a atualmente, ou uma ordem de pagamento. Ocor-
economia internacional obrigaram os países oci- re que nem sempre um cheque emitido para pa-
dentais mais desenvolvidos a manter certa pa- gar uma compra é transformado em dinheiro
ridade em relação ao ouro, para fazer frente às por meio de saque direto na caixa do banco. Ele
constantes oscilações do dólar, a moeda forte pode ser depositado em outra conta corrente ou
de maior circulação em todo o mundo. Veja tam- circular por muitas mãos como pagamento de
bém Teoria Quantitativa do Valor da Moeda; dívidas, bens ou serviços, podendo acontecer,
Velocidade de Circulação da Moeda. por exemplo, quando alguém paga um táxi com
cheque e o taxista, em vez de depositá-lo dire-
MOEDA ADMINISTRADA. Veja Meio Circu- tamente em sua conta num banco, paga o abas-
lante, Controle do. tecimento de combustível de seu carro num pos-
407 MOEDA FRACA

to de serviço, e só então o cheque é definitiva- nominação genérica de divisas.Veja também


mente depositado num banco. O depósito em Mercado de Moeda Estrangeira; Moeda.
cheque significa que o seu emissor autoriza o
banco que mantém seus fundos em conta cor- MOEDA FIDUCIÁRIA. Papel-moeda parcial-
rente a transferir o valor declarado para a conta mente lastreado por ouro. Sua origem remonta
de outra pessoa. Se esta tem sua conta em outro aos depósitos em ouro efetuados junto aos ou-
banco que não o do emissor, a transferência só rives, os precursores dos bancos. De início, os
se concretiza depois da passagem do cheque recibos dos depósitos correspondiam exatamen-
pela Câmara de Compensação, onde os bancos te à quantidade de ouro mantida nos cofres.
acertam suas contas, isto é, somam as impor- Mas, ao observarem que esses recibos circula-
tâncias pagas e recebidas por meio de cheques vam, passando por muitas mãos, e demoravam
em suas respectivas agências. Mas nem as dife- certo tempo para ser resgatados, os ourives, e
renças apuradas na Câmara de Compensação posteriormente os banqueiros, passaram a emitir
são pagas em papel-moeda de um banco para por sua conta recibos em maior quantidade que
outro, e sim mediante cheque sacado de contas os depósitos de ouro recebidos em seus cofres;
que cada banco mantém no Banco Central (ou o valor desses recibos, ou moedas de papel, de-
do Brasil) para zerar as posições no final de cada pendia da confiança (fiducia, em latim) que me-
dia. Dessa forma, apenas uma parte dos cheques recia o banco emissor. A circulação de moeda
emitidos são transformados em moeda legal (pa- fiduciária nos países que conservaram o lastro-
pel-moeda) e, portanto, os bancos podem am- ouro até os anos 60 deste século era, em média,
pliar o crédito a seus clientes sobre o papel-moe- 30 a 40% superior às reservas do metal deposi-
da depositado, abrindo contas para eles e co- tado, embora as autoridades monetárias desses
brando juros sobre esses empréstimos. A moeda países em determinados momentos ultrapassas-
escritural é, portanto, um múltiplo do total de sem tais limites. Veja também Moeda; Padrão-
papel-moeda depositado junto aos bancos. Em ouro.
cada época e em cada economia existe uma re- MOEDA FORRADA. Moeda cujo núcleo ou
lação entre moeda legal (papel-moeda) em caixa parte central é constituído por um metal de qua-
nos bancos e o total de moeda escritural criada
lidade inferior, como o cobre ou o ferro, reves-
por estes. Se essa relação for ultrapassada, o sis-
tido de uma camada fina de metal precioso como
tema corre perigo, ou o banco que praticar essa
o ouro ou a prata (geralmente a prata). O nome
elevação corre o risco de não poder resgatar em
popular desse tipo de moeda é “sanduíche”. Por
papel-moeda os cheque que forem apresentados
em suas agências para tal fim, o que poderá pro- exemplo, durante os anos 60 deste século, os
vocar uma corrida ao banco e, conseqüentemen- Estados Unidos passaram a emitir moedas for-
te, sua quebra. O Banco Central tem normas e radas, como divisionárias do dólar, que antes
dispositivos de controle que todos os bancos de- eram de prata e passaram a ter o núcleo de cobre,
vem seguir para evitar que isso aconteça. No conservando o mesmo valor de face, obtendo
entanto, como os bancos ganham em proporção assim grandes ganhos de senhoriagem, pois o
ao volume de recursos que emprestam, isto é, conteúdo metálico passou a valer menos do que
ao volume de moeda escritural criada, muitas antes. Veja também Braceagem; Senhoriagem.
vezes um banco encontra meios de burlar esses
MOEDA FORTE. A que apresenta facilidade de
limites, colocando em perigo a credibilidade do
circulação e conversibilidade nas transações in-
sistema como um todo. Por outro lado, essa re-
lação entre a moeda legal disponível num banco ternacionais, por oferecer ampla garantia como
e a moeda escritural criada (encaixe) permite meio de pagamento ou reserva de valor. Entre
avaliar o impacto de uma elevação das emissões as moedas fortes mais utilizadas até a década
de papel-moeda, ou a ampliação da base mo- de 70 destacam-se o dólar norte-americano, a
netária sobre o conjunto de meios de pagamento libra esterlina e o marco alemão, que ainda man-
numa economia. Veja também Banco Central; têm relativa paridade com o padrão câmbio-
Depósito Compulsório. ouro e servem de referência nas cotações cam-
biais em todo o mundo. Atualmente, com a livre
MOEDA ESTRANGEIRA. Moeda de outro país, flutuação das moedas e a inexistência de um
que pode ou não ser cotada em relação à moeda padrão metálico, o dólar, com todos os seus pro-
corrente na tabela de câmbio que regula as tran- blemas, continua a moeda mais forte da econo-
sações internacionais. O poder de compra das mia mundial e utilizada como referência nas
moedas estrangeiras é expresso pela taxa cam- transações internacionais. Veja também Moeda.
bial, fixa ou livre, que tende a refletir a efetiva
relação de troca existente entre as distintas moe- MOEDA FRACA. Aquela que circula com di-
das de diferentes países. A reserva ou receita ficuldade no mercado internacional ou nem
de moedas estrangeiras disponível recebe a de- mesmo é aceita como meio de pagamento em
MOEDA INTERNACIONAL 408

operações de comércio exterior. Nesse caso, in- outras moedas, em regime de mercado livre. A
cluem-se praticamente todas as moedas dos paí- subvalorização de uma moeda nacional pode
ses subdesenvolvidos. Veja também Moeda. ocorrer em períodos de grande expansão eco-
nômica, quando o governo aproveita para am-
MOEDA INTERNACIONAL. Qualquer moe- pliar o mercado externo, não tendo interesse em
da aceita internacionalmente como forma de pa- equilibrar a cotação cambial, pois a venda em
gamento. Até a Segunda Guerra Mundial, a li-
grande escala de seus produtos — estimulada
bra, como moeda forte, era a mais aceita inter-
pela subvalorização de sua moeda — lhe per-
nacionalmente, sendo substituída de forma gra-
mite um significativo ingresso de divisas. Veja
dual pelo dólar norte-americano. De modo geral,
também Moeda.
qualquer moeda forte (iene japonês, marco ale-
mão etc.) pode ser utilizada em pagamentos in- MOEDA SUPERVALORIZADA. Aquela que
ternacionais, devido a sua procura nas casas de se mantém com uma taxa de câmbio mais alta
câmbio e a sua relativa estabilidade. que seu poder aquisitivo real em relação a outras
MOEDA LEGAL. Moeda emitida pelas autori- moedas. Essa cotação pode ser sustentada deli-
dades monetárias de um país e que circula nesse beradamente por uma política monetária, visan-
país com curso forçado, isto é, por força de lei, do a obter o máximo de lucro nas relações co-
e não pode ser recusada para efetuar pagamentos. merciais à custa dos outros países. Veja também
Dirty Float; Paridade Monetária.
MOEDA MANUAL. É a moeda que integra o
meio circulante de uma economia, isto é, as moe- MOEDA UTENSÍLIO. Objeto que pode ser uti-
das metálicas e o papel-moeda emitidos pelas lizado tanto como um utensílio (por exemplo,
autoridades monetárias. uma faca) quanto como meio de troca.

MOEDA OBSIDIONAL. É a moeda emitida MOEDA VIVA. É aquela representada por ani-
pelo governo de uma cidade ou região sitiadas mais vivos como, por exemplo, o gado.
para poder efetuar pagamentos internos, em es-
pecial o soldo das tropas que defendem o lugar. MOIRÉ. Dispositivo de segurança afixado nos
papéis de valor, especialmente no papel-moeda,
MOEDA-PAPEL. É a forma de moeda que, em- que consiste no efeito ótico gerado pela super-
bora seja fiduciária, isto é, um título de crédito posição dos sistemas de linhas encontrados no
emitido pelo governo ou com sua autorização, desenho de uma cédula ou título de valor.
representa uma equivalência metálica, podendo
ser trocada por metais preciosos a qualquer mo- MOL. Veja Sistema Internacional de Unidades.
mento. Concretamente, são os bilhetes de banco,
ou cédulas do tesouro conversíveis em ouro ou MOLE. Veja Sistema Internacional de Unida-
prata, conforme o sistema monetário prevale- des.
cente. Veja também Nota Bancária. MOLOCH. Termo hebraico que denomina an-
MOEDA PODRE. Denominação dada aos títu- tiga divindade semítica, a quem se fazia o sa-
los da dívida pública de longo prazo não pagos crifício dos próprios filhos. Por analogia, desig-
na o Estado todo-poderoso e onipresente a quem
no vencimento — como os TDAs (Títulos da
se faz o sacrifício da liberdade, da autodetermi-
Dívida Agrária utilizados na privatização da
nação e da vontade, ou seja, o Estado centrali-
Usiminas), debêntures da Siderbrás, letras hipo-
zador e totalitário.
tecárias da Caixa Econômica Federal (utilizadas
para saldar dívidas do FCVS — Fundo de Com- MOMENTO. O momento K em relação à origem
pensação de Variações Salariais) — e aceitos pelo de um grupo de informações é a média das ob-
seu valor de face nos processos de privatização, servações elevadas à potência K; o momento K
sendo o seu valor de mercado bem inferior àque- em relação à média é a média dos desvios em
le. Veja também Debêntures; Privatização. relação à média elevados a K:
MOEDA RESTAURADA. Conceito de numis- Σ Xk
mática que significa uma reparação numa moe- Mk = se c é uma constante, então
n
da, como a reconstituição da serrilha, a data de
emissão restaurada ou o enchimento de um furo. Σ (x – c)k
Mk = temos o momento centrado em
Do ponto de vista numismático, uma moeda n
desse tipo tem um valor menor do que uma relação a c.
que não sofreu restauração.
Quando c = X, resulta no momento centrado
MOEDA SUBVALORIZADA. A que tem uma em relação à média (o momento centrado), as-
cotação abaixo do valor que teria, em relação a sim,
409 MONOPÓLIO

__
Σ (x – x) cola estruturalista — ligada à Cepal —, que de-
Mk = fende a necessidade de mudança na estrutura
n econômica dos países subdesenvolvidos, preco-
M1 = Xm1 = 0 nizando a reforma agrária, a distribuição de ren-
m2 = S2 da e o controle dos capitais estrangeiros, entre
m = momento centrado de 3ª ordem outras medidas. No Brasil, o monetarismo cons-
3
m4 = momento centrado de 4ª ordem tituiu um dos pilares da política econômica go-
vernamental após 1964, especialmente durante
Embora o momento de 3ª ordem possa ser usado o período em que Antônio Delfim Neto foi mi-
como medida de assimetria, é mais conveniente nistro da Fazenda (1967-1974) e a partir de 1980.
utilizar uma medida adimensional (coeficiente Veja também Cepal; Estruturalismo; Friedman,
de assimetria), obtida pelo quociente de m3 pelo Milton; Inflação.
cubo do desvio padrão:
MONETARISTA. Veja Monetarismo.
m3
Ca = 3 MONEY MARKET. Expressão em inglês utili-
S zada para designar os mercados financeiros nos
quais os recursos são emprestados a curto prazo,
MONETÁRIO. Veja Base Monetária; Ilusão
Monetária; Mercado Monetário; Política Mo- isto é, em períodos inferiores a um ano. Ao con-
trário do mercado de capitais, onde tais recursos
netária; Sistema Monetário Internacional; Teo-
ria Quantitativa da Moeda; Velocidade de Cir- são emprestados a médio e longo prazos, ou
seja, por períodos superiores a um ano e cinco
culação da Moeda.
anos, respectivamente.
MONETARISMO. Escola econômica que sus-
MONGO. Veja Tugrik.
tenta a possibilidade de manter a estabilidade
de uma economia capitalista recorrendo-se ape- MONJOLO. Pilão mecânico rudimentar aciona-
nas a medidas monetárias, baseadas nas forças do a água, trazido provavelmente da Ásia, e
espontâneas do mercado e destinadas a contro- muito usado no Brasil desde as primeiras fases
lar o volume de moedas e de outros meios de da colonização até os dias de hoje, em certas
pagamento no mercado financeiro. Para tanto, áreas do interior do Brasil.
sugerem-se inúmeras políticas. Por exemplo, o
governo pode comprar ou vender letras de câm- MONNET, Jean (1888-1979). Economista e es-
bio oficiais, diminuindo ou aumentando o vo- tadista francês, principal articulador da união
lume de crédito no mercado financeiro. Pode econômica da Europa Ocidental. O Plano Mon-
aumentar ou diminuir a taxa de juros cobrada net, para a recuperação e modernização econô-
pelos bancos oficiais para empréstimos aos ban- mica da França após a Segunda Guerra Mundial,
cos privados, que os repassam ao setor particu- foi por ele criado e executado. Planejou e foi o
lar; e aumentar ou diminuir a parcela dos de- primeiro presidente da Alta Autoridade da Co-
pósitos que os bancos privados são obrigados munidade Européia do Carvão e do Aço, órgão
a manter sob guarda do Banco Central. O nor- precursor do Mercado Comum Europeu.
te-americano Milton Friedman, expoente da es-
cola de Chicago, é visto como o principal teórico MONOLOG. Veja Papel Semilogarítmico.
da escola monetarista. De acordo com Friedman, MONOMETALISMO. Sistema no qual apenas
devem-se explicar as variações da atividade eco- o ouro ou a prata constituem o padrão de valor
nômica pelas variações da oferta de dinheiro, e do sistema monetário de um país, os outros me-
não pelas variações de investimento. Assim, os tais sendo utilizados apenas para a cunhagem
monetaristas consideram inútil e prejudicial a de moeda divisionária. Veja também Bimetalis-
intervenção do Estado na expansão do desen- mo; Mágico de Oz; Metalismo; Padrão-ouro.
volvimento econômico, por meio de despesas
de investimento. Ao contrário, deve-se apenas MONOPÓLIO. Forma de organização de mer-
dirigir cientificamente a evolução da massa de cado, nas economias capitalistas, em que uma
dinheiro em circulação para obter o desenvol- empresa domina a oferta de determinado pro-
vimento e a estabilidade econômica: a inflação duto ou serviço que não tem substituto. O mo-
e outros fenômenos teriam raízes puramente nopólio puro é raro, sendo mais comum o oli-
monetárias. O monetarismo é combatido pelos gopólio, no qual um pequeno grupo de empre-
economistas que defendem a necessidade da sas detém a oferta de produtos e serviços, ou a
aplicação de uma política fiscal austera, por concorrência imperfeita, na qual uma ou mais
meio da tributação e do controle das despesas características de monopólio estão sempre pre-
públicas e dos consumidores, para evitar a in- sentes. Uma comissão de investigações inglesa
flação e o desequilíbrio do balanço de pagamen- criada em 1948 enquadrou na categoria de mo-
tos. É igualmente criticado e combatido pela es- nopólio toda empresa ou grupo de empresas que
MONOPÓLIO ESPACIAL 410

controlassem mais de um terço do mercado. manda é pequena o bastante para ser totalmente
Quando o mercado é dominado de forma mo- coberta por apenas uma empresa, com produção
nopolista, a entrada de outras empresas no setor que atenda a um decréscimo de custos por eco-
é barrada pela impossibilidade de estas últimas nomia de escala. Na suposição de outra empresa
conseguirem custos de produção competitivos entrar em concorrência por um mercado restrito,
(ou a colocação dos produtos junto ao público os custos seriam elevados em demasia para am-
consumidor) com as empresas monopolizadoras. bas (e a primeira empresa talvez pudesse im-
Estas, ao mesmo tempo, por sua condição, po- pedir a entrada da segunda por meios mono-
dem adotar práticas restritivas à concorrência, polistas, como preços artificialmente baixos e
ficando livres para fixar preços que lhes propi- restrição à distribuição dos produtos da segun-
ciem maiores lucros (preços de monopólio). A da). Uma situação típica de monopólio natural
legislação da maioria dos países proíbe o mo- ocorre nas ferrovias, onde cada passageiro ou
nopólio, com exceção daqueles exercidos pelo carga transportados a mais contribui para redu-
Estado — produtos estratégicos (como petróleo zir os custos de instalação. Se outra ferrovia dis-
e energia elétrica) e serviços públicos (correios, putasse o mesmo mercado, passageiros e cargas
telecomunicações) — e dos monopólios tempo- seriam necessariamente divididos, mas a infra-
rários garantidos pela posse de patentes e di- estrutura de funcionamento seria duplicada,
reitos autorais. Contudo, a tendência comum com evidentes prejuízos para ambas. O mesmo
das empresas é exercer práticas monopolistas ocorre com serviços como fornecimento de gás,
por meio de expedientes, como os “acordos de eletricidade, água etc., que em geral são mono-
cavalheiros”, pools, cartéis, consórcios, trustes e pólios naturais regulamentados pelo Estado ou
outras formas de disfarçar o domínio do mer- de propriedade estatal.
cado. Veja também Concorrência Imperfeita;
MONOPSÔNIO. Estrutura de mercado em que
Concorrência Monopolista; Duopólio; Merca-
existe apenas um comprador de uma mercadoria
do; Monopsônio; Oligopólio; Oligopsônio.
(em geral, matéria-prima ou produto primário).
MONOPÓLIO ESPACIAL. Situação de merca- Nesse caso, mesmo quando vários produtores
do na qual um monopólio existe porque, em fortes oferecem o produto, os preços não são
certa região, os serviços de transporte e as vias determinados pelos vendedores, mas pelo único
de comunicação são tão precários que nenhum comprador. O monopsônio puro é muito raro e
concorrente pode vender seus produtos a preços costuma ocorrer principalmente com empresas
competitivos em relação à empresa que produz estatais que garantem a compra de determina-
os mesmos artigos e abastece essa região por dos produtos estratégicos, como o petróleo. Veja
ter sua planta instalada nela. também Monopólio; Oligopólio; Oligopsônio.
MONOPÓLIO ESTATAL. Monopólio criado pela MONOTONICIDADE. Veja Axiomas da Pre-
legislação, atribuindo ao Estado a exclusividade ferência.
no desenvolvimento de determinadas ativida-
des. No Brasil, a Constituição de 1988 estabele- MONTAGEM. Veja Linha de Montagem.
ceu que constituem monopólio da União as se- MONTCHRESTIEN, Antoine de (1575-1621).
guintes atividades: a pesquisa e a lavra das ja- Economista francês, um dos primeiros teóricos
zidas de petróleo e gás natural e demais hidro- do mercantilismo e ao qual se atribui a criação
carburetos fluidos; a refinação do petróleo na-
da expressão “economia política”. Na obra Traité
cional ou estrangeiro; a importação e exportação
de l’Économie Politique (Tratado da Economia Po-
dos produtos e derivados básicos resultantes das
lítica), 1616, sustenta, como Jean Bodin, que a
atividades mencionadas anteriormente; o trans-
ordem social exige a submissão dos mais fracos
porte marítimo do petróleo bruto de origem na-
aos mais fortes e que a guerra contra o estran-
cional ou de derivados básicos de petróleo pro-
geiro é útil à paz interna de uma nação. Bem
duzidos no país, assim como o transporte, por
de acordo com as novas idéias mercantilistas
meio de condutos, de petróleo bruto, seus de-
que se difundiam pela Europa da época,
rivados e gás natural de qualquer origem; a pes-
Montchrestien propõe uma crescente interven-
quisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessa-
ção do Estado em todas as atividades econômi-
mento, a industrialização e o comércio de mi-
nérios e minerais nucleares e seus derivados. cas, obrigando as pessoas a trabalhar, criando
manufaturas estatais e reservando o comércio
MONOPÓLIO NATURAL. Situação de merca- aos naturais do país. Considera o comércio a
do em que o tamanho ótimo de instalação e pro- mais importante atividade econômica e o lucro
dução de uma empresa seria suficientemente do comerciante, elogiável. Particularmente im-
grande para atender a todo o mercado, de forma portantes para a riqueza de uma nação são os
que existiria espaço para apenas uma empresa. meios de atrair metais preciosos para o país, o
O monopólio natural existe sempre que a de- incremento das exportações e o estabelecimento
411 MORATÓRIA

de colônias no exterior. Veja também Mercan- 1924, indo trabalhar na Fábrica de Tecidos Vo-
tilismo. torantim, pertencente ao Comendador Antônio
Pereira Inácio, seu futuro sogro. A fábrica Vo-
MONTE CARLO. Veja Método Monte Carlo. torantim, passada a depressão econômica pro-
vocada pela Primeira Guerra Mundial, expandiu
MONTEPIO. Instituição formada com a inten-
suas atividades para o beneficiamento de algo-
ção de dar às pessoas, que para ela contribuírem,
dão e o fabrico de óleo de caroço de algodão.
assistência em caso de doença, invalidez, ou
Em 1933 instalou sua fábrica de cimento e, me-
pensão à família em caso de morte. Atua como
diante contrato tecnológico com uma empresa
uma forma de previdência. Por extensão, é tam-
bém a denominação atribuída ao benefício, pe- dinamarquesa, instalou um forno siderúrgico
cúlio ou pensão que constitui objeto do montepio. em 1936. A razão social da empresa passou a
ser S.A. Indústrias Votorantim; seria um dos
MONTORO FILHO, André Franco (1944- ). mais fortes grupos de capital nacional, o que
Nasceu em São Paulo e graduou-se em economia levou José Ermírio de Moraes a questionar, re-
pela Faculdade de Economia e Administração petidas vezes, a hegemonia e os privilégios do
da Universidade de São Paulo em 1965. Obteve capital estrangeiro no Brasil. José Ermírio de Mo-
o título de doutor pela Universidade de Yale raes chegou a senador da República, vindo a
(Estados Unidos) em 1975 e tornou-se professor falecer no ano de 1973.
titular em 1984. Foi presidente do BNDES (em
exercício) entre agosto de 1985 e janeiro de 1987 MORAL HAZARD. Expressão em inglês que
e preside a Fundação Instituto de Pesquisas Eco- significa excesso de confiança no Banco Central
nômicas (Fipe) desde novembro de 1989. A par- de um país por parte do setor financeiro. Essa
tir de fevereiro de 1993 tornou-se presidente da credulidade excessiva pode resultar em perdas
Comissão Diretora do Programa Nacional de na medida em que as estimativas de evolução
Desestatização. Seus livros mais importantes do mercado podem ser superestimadas. Em ou-
são: Moeda e Sistema Financeiro no Brasil (1982) tras palavras, o aumento do grau de segurança
e Contabilidade Social — Uma Introdução à Micro- no qual um agente acredita operar pode levá-lo
economia (1992). Atualmente, é professor de eco- a agir de forma mais ousada e temerária, colo-
nomia do Departamento de Economia da Uni- cando em risco a estabilidade de uma atividade.
versidade de São Paulo. Do ponto de vista de uma empresa de seguros,
moral hazard significa a influência adversa que
MOODY’S BOND RATING. Veja Moody’s In- o seguro provoca no comportamento de um se-
vestors Service. gurado. Por exemplo, uma pessoa que tenha um
seguro contra incêndio pode atear fogo na casa
MOODY’S INVESTORS SERVICE. Empresa para receber o seguro. Em economia, essa ex-
norte-americana especializada em aconselha- pressão foi cunhada por Kenneth Arrow em seu
mento para investidores, subsidiária da Dun & livro Essay in the Theory of Risk-bearing (Ensaio
Bradstreet Inc., que publica informes financeiros sobre a Teoria de Assumir Riscos), 1971. Veja
— Moody’s Bond Rating — analisando a situa- também Arrow, Kenneth.
ção de títulos vendidos ao público. As qualifi-
cações das ações e títulos emitidos por corpo- MORATÓRIA. No direito comercial, termo que
rações variam de Aaa (mais alta qualidade) a designa a prorrogação do prazo concedido pelo
Caa (qualidade mais baixa); os títulos classifi- credor a seu devedor para o pagamento de uma
cados como Baa para cima são aqueles conside- dívida. Há um acordo entre ambas as partes,
rados adequados para investimento. Veja tam- distinguindo-se da concordata pelo seu caráter
bém Standard & Poor’s. não judicial. No caso das relações econômicas
internacionais, a moratória é uma declaração
MORA. Atraso no cumprimento de uma obri- unilateral do devedor declarando que não pa-
gação, sobretudo atraso de pagamento. Pode ser gará uma dívida nos prazos e demais condições
falta do devedor ou falta do credor, que pode estipulados no contrato. Trata-se de medida ex-
criar obstáculos ao cumprimento da obrigação trema que em geral bloqueia o declarante em
visando a vantagens futuras. relação às fontes de crédito internacional. Ou
MORADOR. Veja Agregado. melhor, os fluxos financeiros internacionais se
reduzem drasticamente em relação ao país que
MORAES, José Ermírio de (1900-1973). Empre- declara a moratória. Em 1987 o governo brasi-
sário brasileiro, nascido em Pernambuco. For- leiro (governo Sarney), na impossibilidade de
mou-se engenheiro pela Colorado School of Mi- honrar seus compromissos externos, declarou a
nes, nos Estados Unidos. Trabalhou no governo moratória e seu crédito externo foi considerado
de Minas Gerais e na St. d’El Rey Mining Co. value impaired (crédito duvidoso) ou non perfor-
Posteriormente, foi gerente da Usina Aliança, ming (dívida não paga no vencimento). Veja
em Pernambuco. Fixou-se em São Paulo em também Dívida Externa; Value Impaired.
MORDOMIA 412

MORDOMIA. Termo pelo qual ficaram conhe- para tornar-se seu conselheiro. Chanceler em
cidos os benefícios formalmente oferecidos pelo 1529, foi demitido do cargo em 1532 por não
governo e empresas estatais a seus funcionários concordar com o rei na proclamação da inde-
mais graduados. Originaram-se da “dobradi- pendência da Igreja inglesa em relação à auto-
nha”, o salário em dobro pago aos funcionários ridade papal. Julgado como traidor, foi decapi-
públicos que se mudassem para Brasília, capital tado. Em sua obra, More condena o regime eco-
do país a partir de 1961. Inicialmente extra-ofi- nômico, social e político da época e propõe a
ciais, as mordomias foram formalizadas pela cir- criação de um Estado ideal, no qual toda pro-
cular reservada de nº 21, baixada pelo Dasp em priedade seria coletiva, não existiriam classes so-
20/7/1976. De acordo com essa circular, todos ciais e todos estariam obrigados a uma parcela
os ministros de Estado têm direito a uma casa de trabalho manual. Combinando elementos do
à beira do Lago Sul, em Brasília, completamente cristianismo e da moral epicurista, a obra de
mobiliada e com os mais modernos eletrodo- More teve grande influência em autores poste-
mésticos. Também são pagos pelos cofres pú- riores, que também criaram suas “utopias”.
blicos suas contas de telefone, luz, gás e lavan-
deria. No item transporte, os ministros dispõem MÕRETSU. O significado literal deste termo em
de dois carros — um oficial e um com placa japonês é “furioso” ou “com fúria”. Depois da
normal —, sem limite de combustível (álcool). Segunda Guerra Mundial, a situação de destrui-
Os funcionários que ocupam os cargos de dire- ção e ruína em que se encontrava aquele país
tor-geral do Dasp, procurador-geral da Repú- obrigou os japoneses a trabalhar longas e inten-
sas jornadas, recebendo salários relativamente
blica e consultor-geral da República recebem be-
baixos, na fase inicial da recuperação. Com o
nefícios semelhantes, com a diferença de que
desenvolvimento do país, no entanto, a neces-
suas despesas de água, luz, gás e telefone só
sidade do mõretsu foi reduzida, mas ainda sub-
podem chegar até o limite de dez salários-refe-
siste quase como um traço da “cultura empre-
rência. Os mesmos privilégios se aplicam aos
sarial” na maioria das atividades empresariais
funcionários que ocupam cargos classificados
do Japão. O termo ocidental que mais se apro-
como DAS 6 e DAS 5, que têm seus gastos de
xima de mõretsu é workaholics. Veja também Ka-
luz, água, gás e telefone limitados a seis salá- roshi; Workaholics.
rios-referência. Para os carros a álcool do dire-
tor-geral do Dasp, do consultor-geral e do pro- MORGADIO. Tipo de restrição de herança, co-
curador-geral não há limite de utilização de mum em certas regiões da Europa, pelo qual o
combustível, e os funcionários do DAS 6 e DAS conjunto de bens, inalienáveis e indivisíveis,
5 são limitados a usar gratuitamente 300 l de passa integralmente ao primogênito com a mor-
combustível por mês. A situação dos militares te do proprietário. Originou-se no feudalismo,
a serviço do governo federal não é regulamen- servindo como garantia de que os Estados feu-
tada pelo Dasp. Entretanto, os ministros milita- dais permaneceriam intatos em vez de ser divi-
res gozam dos mesmos direitos dos ministros didos entre os herdeiros.
civis, enquanto os generais dispõem dos mes-
mos benefícios conferidos aos cargos DAS 6 e MORGAN. Família de empresários norte-ame-
DAS 5. Os ministros dos tribunais federais têm ricanos que alcançou grande poder econômico,
direito a um apartamento mobiliado e um carro formando um dos maiores conglomerados dos
com placa especial, e suas contas de luz, água, Estados Unidos. A casa bancária da família, fun-
gás e telefone são pagas pelo governo até o má- dada por Junius Spencer Morgan (1813-1890),
ximo de dez salários-referência. Os senadores, canalizou a maior parte dos investimentos in-
por sua vez, pagam uma taxa pelo apartamento gleses nos Estados Unidos. O filho de Junius,
mobiliado de quatro quartos que ocupam e po- John Pierpont Morgan (1837-1913), depois de
dem dispor de um carro de luxo com motorista tornar-se um magnata das ferrovias, ampliou
e mais 30 l de combustível por dia. Na área do suas atividades para a siderurgia, equipamentos
legislativo estadual, talvez as maiores mordo- elétricos e outras áreas, formando um dos gran-
mias sejam oferecidas em São Paulo, onde os des trustes norte-americanos. John Pierpont
secretários de Estado e do município, os depu- Morgan Jr. (1867-1943), filho do precedente, fi-
tados e os vereadores dispõem de carro oficial nanciou as atividades dos Aliados durante a Pri-
e combustível gratuito. meira Guerra Mundial.

MORDOMIAS SALARIAIS. Veja Benefícios MORGEN. Veja Arapene.


Salariais.
MORGENGABE. Termo em alemão que signi-
MORE, Thomas (1478-1535). Pensador e esta- fica, literalmente, “dádiva da manhã”, e que de-
dista inglês, autor da célebre Utopia (1516). Ad- signa uma prática antiga consistente no presente
vogado e membro do Parlamento, em 1518 em dinheiro e jóias dado pelo noivo à noiva na
More, ou Morus, foi chamado por Henrique VIII manhã seguinte às bodas. Tem o mesmo signi-
413 MORTGAGOR

ficado da expressão latina pretium virginitatis Company. As ações da Sony passaram a ser co-
(preço da virgindade). tadas na Bolsa de Valores de Nova York, o que
significou que pela primeira vez uma empresa
MORGENSTERN, Oskar (1902-1977). Econo- japonesa participava da Big Board. Morita foi
mista alemão da corrente neomarginalista. Jun- uma figura muito importante na internaciona-
tamente com o físico e matemático húngaro Jo- lização da Sony, abrindo o caminho também
hannes von Neumann, introduziu a teoria dos para outras empresas japonesas.
jogos no estudo dos problemas econômicos. Em
seu livro pioneiro, Theory of Games and Economic MORTALIDADE. Relação entre o número de
Behavior (Teoria dos Jogos e Comportamento óbitos de determinada região, em determinado
Econômico), 1944, Morgenstern e Von Neu- ano, e a população residente, ajustada para o
mann, procurando contribuir para a questão da meio do mesmo ano (1º de julho). A taxa bruta
previsão econômica, propuseram uma formula- de mortalidade, ou coeficiente geral de mortalidade,
ção matemática para a análise dos conflitos de é obtida dividindo-se o número total de óbitos
interesses, desenvolvendo uma teoria dos jogos de uma região por toda a população residente.
de estratégia. A teoria prevê a ação interdepen- Por ser a taxa bruta pouco significativa, costu-
dente de vários agentes, segundo determinados mam-se utilizar coeficientes específicos de mor-
comportamentos ou seleção de lances possíveis, talidade por sexo ou por idade. Esses coeficien-
que maximizem os ganhos e minimizem as per- tes são calculados tomando-se o número de óbi-
das de cada um. A teoria teve grande repercus- tos numa categoria de sexo ou idade, ao longo
são, foi desenvolvida por outros autores e apli- de um ano, dividindo-se esse número pela po-
cada também nas áreas de sociologia e política. pulação dessa categoria residente na área no
A dificuldade, entretanto, de aplicar a teoria dos meio do ano e multiplicando-se o resultado por
jogos na realidade econômico-social está no es- mil. Utiliza-se a mesma técnica para calcular o
tabelecimento de uma matriz satisfatoriamente coeficiente de mortalidade por determinada cau-
quantificada que identifique todas as variáveis sa (nesse caso, considera-se a população exposta
que intervenham no processo e reduza seus efei- na área). A mortalidade infantil tem dois coefi-
tos a uma escala homogênea de valores. Além cientes, também calculados para cada grupo de
disso, a teoria é estática, trabalha com valores mil, o de mortalidade neonatal (sobre nascimen-
dados, fixos e independentes dos resultados do tos ocorridos até 28 semanas de gestação) e o
jogo, enquanto as situações concretas são dinâ- de mortalidade infantil tardia (sobre crianças
micas, com valores não-fixos, situações desi- nascidas com mais de 28 semanas de gestação
guais e ações imprevisíveis. Morgenstern foi e óbitos ocorridos até um ano de idade). O pri-
professor das universidades de Viena e Prince- meiro índice relaciona-se com fatores genéticos,
ton. Analisou também problemas econômicos de congênitos e causas relativas ao parto e pós-par-
defesa nacional e de crescimento. Entre outras to, enquanto o segundo sofre maiores interfe-
obras, escreveu: On the Accuracy of Economic Ob- rências de aspectos do saneamento básico, con-
servations (Sobre a Acuidade das Observações trole e prevenção de doenças e alimentação. Veja
Econômicas), 1950; em conjunto com outros au- também Demografia.
tores, Predictability of Stock Market Prices (Previ-
sibilidade dos Preços no Mercado de Capitais), MORTALIDADE ESTACIONAL. Termo utili-
1970, e Mathematic Theory of Expanding and Con- zado em demografia, que designa as variações
tracting Economies (Teoria Matemática de Eco- mais ou menos regulares da ocorrência da mor-
nomias em Expansão e Retração), 1976. talidade em cada estação do ano. Por exemplo,
em condições normais (ausência de guerras, epi-
MORITA, AKIO (1921- ). Nasceu no Japão, no demias etc.), o número de óbitos aumenta du-
município de Aichi, e formou-se na Universi- rante o inverno, nos países onde a temperatura
dade de Osaka. Logo depois da Segunda Guerra nesta estação do ano é muito baixa.
Mundial, em 1946, fundou com Ibuka Masaru
a Tokyo Tsushin Kogyo, que mais tarde veio a MORTGAGE. Termo em inglês que significa
ser a Sony Corporation, tornando-se seu presi- “hipoteca”.
dente em 1971 e presidente do conselho em 1976.
Morita se encarregava das questões financeiras MORTGAGE BACKED SECURITY. Veja Pfand-
e de marketing da empresa, conseguindo colocar brief.
os produtos da Sony (muitas vezes novidades MORTGAGEE. Termo em inglês que significa
no campo da eletrônica) em todo o mundo. Na emprestador, ou credor de um título, ou obri-
medida em que seus produtos, durante os anos gação lastreada por uma hipoteca.
70, passaram a constituir uma ameaça para os
concorrentes norte-americanos, estabeleceu uma MORTGAGOR. Termo em inglês que significa
filial da Sony em San Diego, Califórnia, e ao o tomador do empréstimo, ou devedor de um
mesmo tempo montou uma poderosa Trading título, ou obrigação lastreada numa hipoteca.
MORTMAIN 414

MORTMAIN. Expressão de origem francesa 31/8/1935, um mineiro — Alexei Gregorievitch


que significa, literalmente, “mão morta” e que Stakhanov — num único turno de trabalho con-
significa a propriedade perpétua e não transfe- seguiu extrair 102 toneladas de carvão (catorze
rível de um imóvel por parte de instituições vezes mais do que a norma), mediante a sepa-
como, por exemplo, a Igreja. ração dos processos do corte do carvão e sua
redução em pedaços menores para a colocação
MORUS, Thomas. Veja More, Thomas. na caçamba que os transportaria e designando
MOSCA, Gaetano (1858-1941). Jurista, cientista cada uma das tarefas a diferentes trabalhadores.
social e político italiano, um dos principais es- Dentro de seis meses, entre 20 e 25% dos tra-
tudiosos da teoria da circulação das elites, ao balhadores em vários ramos industriais já ha-
lado de Robert Michels e Vilfredo Pareto. Em viam aderido ao movimento stakhanovista. Eles
sua principal obra, Elementi di Scienza Politica eram recompensados pela divulgação de seus
(Elementos de Ciência Política), 1896, afirmou feitos, honrarias e bônus em dinheiro e acesso
que todas as sociedades são dominadas por pe- a melhores moradias e facilidades de lazer. Uma
quena minoria, organizada e coesa, cujos inte- ampla rede de cursos técnicos para trabalhado-
grantes apresentam algum atributo, real ou apa- res foi organizada, e revisaram-se as normas de
rente, altamente considerado nessas sociedades, produção no sentido de sua elevação. A cam-
e cuja autoridade emana tanto de características panha teve êxito em aumentar a produtividade
próprias como da organização e coesão de que e a produção, mas isso provocou uma maior
dispõem. Mosca distingue ainda, nas socieda- diferenciação de salários, processo que já havia
des, duas tendências: a aristocrática, voltada começado no início dos anos 30. Os trabalhado-
para a preservação do poder por meio de linhas res que não participavam do movimento sen-
sucessórias; e a democrática, dirigida para a re- tiam-se prejudicados não apenas porque rece-
novação dos quadros dirigentes, mediante a cir- biam um salário muito menor, mas também por-
culação das elites. As idéias de Mosca foram que a elevação das normas significava que eles
aproveitadas pelos fascistas italianos, embora deveriam trabalhar cada vez mais para receber
ele propusesse uma organização em parte au- o mesmo salário anterior. Esses trabalhadores
tocrática e em parte liberal, que permitisse a con- também reclamavam que os níveis de produção
tínua renovação das elites. Outra obras: Ciò che alcançados pelos stakhanovistas não eram ver-
la Storia Potrebbe Insegnare: Scritti di Scienza Po- dadeiros, não apenas porque os dados eram ma-
litica (O Que a História Poderia Ensinar: Escritos nipulado mas também porque as equipes stak-
de Ciência Política), 1884; Lezioni di Storia delle hanovistas eram ajudadas por grupos anônimos
Istituzioni e delle Dottrine Politiche (Lições de His- que faziam com que a produção se apresentasse
tória das Instituições e das Doutrinas Políticas), como maior. Depois da Segunda Guerra Mun-
1932; Partiti e Sindicati nella Crisi del Regime Par- dial, alguns dos abusos foram corrigidos e os
lamentare (Partidos e Sindicatos na Crise do Re- níveis do salário mínimo, elevados. Veja tam-
gime Parlamentar), 1949. bém Fordismo; Taylorismo.

MOST FAVOURED NATION. Veja MFN. MST. 1) Iniciais das expressões em inglês mini-
mum stock (estoque mínimo) ou minimum stand-
MOTHER HUBBARD. Veja Cross-Collateral. ard time (tempo padrão mínimo). 2) Denomina-
ção dada a um movimento de trabalhadores ru-
MOTIVO PRECAUÇÃO. Conceito keynesiano rais no Brasil (Movimento dos Trabalhadores
que constitui um dos motivos que as pessoas Sem Terra), a partir da segunda metade dos anos
têm para guardar dinheiro. Isto é, uma reserva 90, que buscam o acesso e a obtenção de terra
imediatamente líquida para fazer face a algum para trabalhar. Veja também Reforma Agrária.
imprevisto, que exigiria, se acontecesse, a trans-
formação em dinheiro de algum ativo de baixa MT. Iniciais da expressão em inglês metric ton,
liquidez, elevados custos ou longo tempo de que corresponde à tonelada métrica.
transação.
MU. Medida de área utilizada na China e equi-
MOVIMENTO STAKHANOVISTA. Campanha valente a 0,067 hectare.
de larga escala desenvolvida na ex-União So-
viética para elevar a produtividade. O movi- MUDDLING-THROUGH. Expressão em in-
mento encorajava os trabalhadores da indústria, glês que significa “avanço desordenado”, e apli-
da mineração e da agricultura a apresentar su- ca-se a países cujo desenvolvimento não se ba-
gestões para o aumento da produtividade e para seia em ações coordenadas entre o setor público
a melhoria dos métodos de trabalho. O movi- e o setor privado ou no interior do próprio setor
mento também enfatizava a necessidade de uma público.
melhor divisão do trabalho e uma utilização
mais eficiente das máquinas e equipamentos. MUGAKUMEN KABUSHIKI. Expressão em
Este movimento teve origem quando, em japonês do mercado acionário que significa açõ-
415 MULTINACIONAL

es que não têm valor ao par. No entanto, no alguém que acredita não existirem fronteiras na-
que se refere aos direitos, estas ações são idên- cionais, com base em uma estratégia comum di-
ticas àquelas que têm valor ao par, e, portanto, rigida pelo centro corporativo”. Conhecidas
são intercambiáveis. também pela denominação de empresas inter-
nacionais ou transnacionais, as multinacionais
MULE. Máquina de fiar inventada por Campton
resultam da concentração do capital e da inter-
em 1779, que combinava as vantagens da Wa-
nacionalização da produção capitalista. O pro-
ter-Frame, de Arkwright, e de um invento de
cesso teve início no final do século XIX, quando
Lewis Paul, possibilitando a utilização da ener-
o capitalismo superou sua fase tipicamente con-
gia hidráulica, abrindo o caminho para que as
unidades domésticas de fabricação de tecidos correncial e evoluiu para a formação de mono-
fossem substituídas por unidades fabris próxi- pólios, trustes e cartéis — fenômeno que acom-
mas de quedas-d’água. Mais tarde a mule foi panhou a hegemonia do capital financeiro no
adaptada à máquina a vapor de James Watt, ten- modo de produção capitalista e se tornou co-
do a energia a vapor como fonte propulsora. nhecido como imperialismo. Nesse novo pro-
cesso de realização do capital, surge um mer-
MULTICOLINEARIDADE. Veja Colinearidade. cado mundial de produção de bens, de serviços
e de utilização de mão-de-obra, cujos resultados
MULTIFIBRAS. Acordo patrocinado pelos paí-
consistem no desenvolvimento do poderio eco-
ses desenvolvidos no âmbito do GATT para pre-
nômico, político e militar das potências indus-
servar o setor têxtil que havia perdido compe-
triais: Estados Unidos, Canadá, Japão, Grã-Bre-
titividade em relação aos países em desenvol-
tanha, França, Alemanha e outras nações euro-
vimento. Em vez de maior proibição frontal, op-
tou-se pela fixação de cotas de importação para péias. A ação das empresas multinacionais ace-
restringir o mercado. Com o aumento da auto- lerou-se após a Segunda Guerra Mundial, alte-
mação, no entanto, as vantagens dos países em rando substancialmente as relações entre os cen-
desenvolvimento já não eram tão grandes, o que tros hegemônicos do capitalismo e a periferia
permitiu a proposta de eliminação gradativa do do sistema. As empresas estrangeiras, a partir
acordo Multifibras, a partir de 1995 até 2005, de então instaladas nos países periféricos, não
criando-se, contudo, um código de salvaguar- se limitam às transações de exportação e impor-
das, para que essa transição ocorra sem traumas. tação ou exploração de produtos primários, par-
Dessa forma, se um país se sentir ameaçado pela ticularmente no setor extrativo. As “filiais”
importação de determinado produto, poderá es- atuam cada vez mais no âmbito da produção,
tabelecer por três anos um regime de cotas, li- não só para o mercado interno mas também para
mitando a quantidade importada do produto em o mercado externo, quando é do interesse da
questão. O cronograma para o término do Mul- “matriz”. Os objetivos e formas de atuação das
tifibras é o seguinte: 1998, fios e filamentos; 2002, empresas multinacionais foram claramente ex-
tecidos; 2005, Confecções. Veja também GATT; postos por um executivo norte-americano: “É
OMC; Rodada Uruguai. nosso objetivo estar presente em todo e qualquer
país do mundo. Nós, na Ford Motor Company,
MULTILATERALISMO. Comércio praticado li- olhamos o mapa do mundo como se não exis-
vremente entre mais de dois países, sem facili- tissem fronteiras. Não nos consideramos basi-
dades tarifárias diferentes para nenhum deles. camente uma empresa americana. Somos uma
Teoricamente, permite que cada um dos países
empresa multinacional. E quando abordamos
envolvidos extraia os ganhos máximos do co-
um governo que não gosta dos Estados Unidos,
mércio exterior, considerando-se a sua especia-
nós sempre lhe dizemos: ’De quem você gosta?
lização na divisão internacional do trabalho e a
Da Grã-Bretanha? Da Alemanha? Nós temos vá-
vantagem comparativa que seus produtos ofe-
rias bandeiras. Nós exportamos de todos os paí-
reçam. Opõe-se ao bilateralismo, que restringe
a liberdade de compra. Veja também: Bilatera- ses’”. No entanto, essa “diplomacia” peculiar
lismo; Cláusula de Nação Mais Favorecida; das multinacionais não significa que elas tenham
GATT; OMC. rompido laços com a nação de origem. Segundo
Manuel Castells, a maioria dessas corporações
MULTINACIONAL. Estrutura empresarial bá- é norte-americana e é o governo dos Estados
sica do capitalismo dominante nos países alta- Unidos que defende seus interesses, que se es-
mente industrializados. Caracteriza-se por de- tendem a todo o mundo. Suas atividades, ainda
senvolver uma estratégia internacional a partir segundo esse estudioso, tecem cadeias articula-
de uma base nacional, sob a coordenação de uma das entre um país e outro, dependendo de quão
direção centralizada. Segundo Raimon Vernon, favoráveis sejam as circunstâncias. Entretanto,
trata-se de “uma companhia que tenta conduzir não se encontram acima dos aparelhos de Estado
suas atividades em escala internacional, como de cada país. Pelo contrário, essas corporações
MULTIPLICADOR 416

são ligadas a estes de forma concreta, atuando como reserva de emergência), na medida em que
contrariamente entre si e organizando de dife- ela própria depende da balança comercial.
rentes modos seus laços com a “burguesia in-
terior” de cada sociedade. Freqüentemente, para MURPHY’S LAW. Veja Lei de Murphy.
fazer frente aos concorrentes, os grandes mono- MUSEU DA CASA DA MOEDA. Veja Casa da
pólios multinacionais operam fusões entre si ou Moeda.
limitam as áreas de atuação de cada um. Assim,
na Grã-Bretanha, entre 1967 e 1968 ocorreram MUTATIS MUTANDIS. Expressão em latim
cerca de 5 mil casos de fusões, uniões ou incor- que significa “mudado o que deve ser mudado”,
porações de grandes empresas, visando sobre- no sentido de mudanças pouco relevantes.
tudo a defesa do mercado contra as concorrentes
MUTH, John. Veja Expectativas Racionais.
norte-americanas. No Japão, multinacionais
unem-se em grandes conglomerados chamados MUTIRÃO. Auxílio mútuo gratuito, freqüente
zaibatsu; apenas seis deles controlam 40% do to- nas comunidades rurais brasileiras e nas peri-
tal das exportações do país e 50% das importa- ferias urbanas. Quando uma pessoa ou família
ções. Mundialmente conhecidas são as multina- têm um grande trabalho a realizar (plantio, co-
cionais do petróleo, as chamadas “sete irmãs” lheita, roçado, taipamento ou construção de uma
— Exxon, British Petroleum, Shell, Gulf, Texaco, casa), organizam um mutirão, isto é, convocam
Socal e Mobil —, principais beneficiárias da crise os vizinhos para o trabalho, oferecendo-lhes ali-
do petróleo desencadeada a partir de 1973. Veja mento e uma festa no final. O beneficiário fica
também Capitalismo; Imperialismo; Monopó- obrigado moralmente a corresponder a even-
lio; Oligopólio; Petróleo, Crise do. tuais solicitações semelhantes.

MULTIPLICADOR. Termo utilizado por Key- MUTUAL CONVENANT. Expressão em inglês


nes para definir o índice de aumento na renda que significa “pacto de obrigação mútua”.
nacional resultante de um dado aumento na
quantidade de investimentos. Pelo efeito multi- MUTUALISMO. Sistema de associações econô-
plicador, um aumento nos investimentos gera micas e previdenciárias autogeridas pelos tra-
balhadores. O mutualismo assistencialista já era
um aumento proporcionalmente maior na ren-
praticado pelos artesãos medievais por meio das
da. Assim, se um aumento de investimentos da
corporações de ofícios, que proviam de ajuda
ordem de R$ 50.000.000,00 causar um aumento
viúvas, órfãos e artesãos impossibilitados de tra-
na renda nacional de R$ 200.000.000,00, o mul-
balhar. Essa prática ampliou-se durante a Revo-
tiplicador será igual a quatro. Uma das identi-
lução Industrial entre os primeiros contingentes
dades fundamentais na macroeconomia keyne- de operários, totalmente desprovidos de uma
siana é a de que o multiplicador é igual ao in- legislação trabalhista de proteção à saúde, à ve-
verso da propensão marginal a poupar. lhice e ao desemprego e contra acidentes. As
MUN, Thomas (1571-1641). Economista inglês, associações operárias de socorro mútuo foram
um dos principais teóricos do mercantilismo. Fi- os primeiros organismos de aglutinação dos tra-
lho de um comerciante londrino, dedicou-se balhadores fabris na Europa, precedendo assim
com êxito à mesma carreira, viajando pela Itália os sindicatos de classe. Elas existiram também
e pelo Oriente Médio. De 1615 até o fim da vida no Brasil, no final do século XIX e começo do
foi conselheiro da Companhia das Índias Orien- século XX, criadas por artesãos (pedreiros, car-
tais, cuja atuação defendeu na obra A Discourse pinteiros, alfaiates, ferreiros) e pelos primeiros
of Trade from England unto the East Indies (Dis- núcleos operários dos principais centros urba-
nos, em boa parte formados por imigrantes eu-
sertação sobre o Comércio da Inglaterra com as
ropeus. A idéia do mutualismo como reforma
Índias Orientais), 1621; afirmou que por meio
da sociedade capitalista está presente nas dou-
das reexportações a companhia devolvia ao país
trinas dos primeiros pensadores socialistas, que
maior lastro em metais preciosos que o gasto
propunham implantar uma sociedade igualitá-
por ela nas importações. Sua obra principal foi
ria a partir da criação de cooperativas de con-
England’s Treasury by Forraign Trade (O Tesouro
sumo e de produção controladas por artesãos e
da Inglaterra Obtido pelo Comércio Exterior), operários.
obra escrita em 1630, mas só publicada em 1664.
Nela se encontra a primeira bem fundamentada MUTUAMENTE EXCLUSIVOS. Designação
defesa do capitalismo comercial. Mun mostra a dada aos acontecimentos ou às alternativas de
importância da burguesia comercial no processo um mesmo acontecimento, tal que a realização
econômico visto como um todo e considera o de um deles exclui a possibilidade da ocorrência
comércio exterior o principal instrumento do en- de qualquer um dos outros, dentro da mesma
riquecimento de um país. Dá pouca importância oportunidade ou tentativa. São também deno-
à mera acumulação de metais preciosos (exceto minados incompatíveis.
417 NACIONALISMO

MUTUANTE. Nos contratos de mútuo, é a parte ministro do Comércio da Suécia (1945-1947) e


que cede o objeto de empréstimo. assessor econômico da ONU para a Europa
(1947-1957). Entre outras obras, escreveu: Price
MUTUÁRIO. Nos contratos de mútuo, é a parte Formation under Changeability (Formação do Pre-
que recebe o objeto do empréstimo, responsa- ço sob Mudança), 1927; An American Dilema (Um
bilizando-se pela devolução de outro objeto da Dilema Americano), 1944; Economy Theory and
mesma espécie e qualidade ao final do prazo Underdeveloped Regions (Teoria Econômica e Re-
contratado. giões Subdesenvolvidas), 1957; Value in Social
Theory (Valor em Teoria Social), 1958; Beyond the
MÚTUO, Contrato de (ou Empréstimo de Con-
Welfare State (Além do Estado de Bem-Estar),
sumo). Contrato em que o mutuante cede de-
1960; Challenge to Affluence (Desafio à Riqueza),
terminado bem ao mutuário, em troca de um
1963; Asian Drama: An Inquiry into the Poverty of
pagamento mensal, anual ou de outra forma. O
Nations (O Drama Asiático: Uma Investigação
contrato de mútuo acontece com bens fungíveis,
sobre a Pobreza das Nações), 1968; The Challenge
isto é, substituíveis por outros bens da mesma
of Word Poverty (Desafio da Pobreza Mundial),
qualidade e na mesma quantidade.
1970, e Against the Stream — Critical Essays in
MYRDAL, Gunnar Karl (1898-1987). Economis- Economics (Contra a Corrente — Ensaios Críticos
ta, sociólogo e político sueco, especializado em em Economia), 1973.
estudos sobre populações marginalizadas e paí-
MYRIAGRAMME. Termo em francês corres-
ses subdesenvolvidos. Recebeu, juntamente com
pondente à antiga unidade de peso utilizada na
F.A. Hayek, o Prêmio Nobel de Economia em
1974. Myrdal está entre os principais repre- França e equivalente a 1 decalitro de água pura
sentantes da escola econômica do equilíbrio mo- ou 10 kg.
netário, que vê nas taxas de juros o fator cujas
variações podem assegurar a igualdade da pou-
pança e do investimento, criando em conseqüên-

N
cia uma situação de equilíbrio. Em Monetary
Equilibrium (Equilíbrio Monetário), 1931, desen-
volveu a análise das antecipações e introduziu
os conceitos ex-ante e ex-post, para distinguir, na
análise de um processo econômico delimitado
no tempo, as ações projetadas no início do pe-
ríodo (ex-ante) e aquelas adotadas no fim do pe-
ríodo (ex-post). Ao inserir a noção de tempo no
centro do equilíbrio monetário, Myrdal obtém NAÇÃO MAIS FAVORECIDA. Veja Cláusula
um conceito financeiro, o de rendimento do ca- de Nação Mais Favorecida.
pital real. Para ele, existirá equilíbrio monetário
quando o conjunto dos lucros das diversas em- NACIONALISMO. Doutrina que visa à afirma-
presas provocar, durante o período, um mon- ção nacional nos planos político, econômico e
tante de investimento que absorva o capital dis- cultural. A origem do nacionalismo moderno
ponível. Esse conceito compreende não apenas está na formação dos Estados Nacionais no final
a poupança, mas também o acréscimo de valor da Idade Média. Tinha base étnico-cultural e sua
do capital durante o período (ou sua redução, contrapartida econômica era o mercantilismo
em caso de perda) pelas previsões exatas ou er- praticado pelas monarquias absolutistas. Duran-
rôneas dos empresários. A partir desse raciocí- te a Revolução Industrial, a atitude nacionalista
nio, Myrdal chega a uma definição dinâmica da das grandes nações ou impérios burgueses cor-
igualdade keynesiana entre poupança e inves- respondeu aos interesses da expansão econômi-
timento. Para ele, essa igualdade é temporal- ca imperialista, e no século XIX se exacerbou
mente realizada, isto é, ocorre entre um momen- até o exagero chauvinista. Esse nacionalismo
to ex-ante e um momento ex-post. Se, no início, acentuou-se na disputa das potências por novos
a poupança é inferior ao investimento, ela au- mercados, atingindo seu apogeu com a eclosão
mentará no curso do período pelos lucros obti- da Primeira Guerra Mundial e o surgimento do
dos, se bem que, ex-post, “o montante do inves- nazi-fascismo.Outra variante do nacionalismo
timento absorverá o capital disponível”. E, in- desenvolveu-se após a Segunda Guerra Mundial
versamente, se a poupança for superior ao in- entre as economias periféricas, envolvendo as
vestimento ex-ante, ela deverá reduzir-se ao fi- nações colonizadas da Ásia e da África e encon-
nal. Ao estudar a economia dos países subde- trando também ressonância na política populista
senvolvidos, Myrdal criou a teoria da causação da América Latina. Esse novo nacionalismo afir-
circular, segundo a qual o círculo vicioso do atra- ma seu compromisso não com o passado, mas
so e da pobreza pode ser rompido pela aplicação com a construção do futuro político-econômico
planejada de reformas econômicas. Myrdal foi das jovens nações. Defende a nacionalização das
NACIONALIZAÇÃO 418

riquezas naturais e a construção da economia centivar a formação de movimentos semelhantes


sob a égide do Estado, visto como encarnação em outros países. Veja também: Consumidor,
das aspirações nacionais. Nesse sentido, comba- Defesa do.
te a política imperialista das grandes nações in-
dustrializadas, a ação dos monopólios multina- NAFTA. Iniciais de North American Free Trade
cionais, a dependência financeira e tecnológica Agrement (Tratado Norte-Americano de Livre-
do Terceiro Mundo. A partir dos anos 60, a ques- Comércio), o Nafta é a ampliação do acordo de
tão nacional tornou-se elemento de preocupa- livre-comércio já existente entre os Estados Uni-
ção, fundamentalmente dos movimentos popu- dos e o Canadá desde 1989, agora incluindo o
lares e revolucionários de cunho socialista. Veja México. O acordo entrou em vigor a partir de
também Estados Nacionais. janeiro de 1994 e prevê a eliminação de tarifas
alfandegárias entre os três países num período
NACIONALIZAÇÃO. Transferência de uma de quinze anos, embora cinqüenta das barreiras
empresa de propriedade particular para a pro- existentes tenham sido eliminadas logo no início
priedade ou controle do Estado. Em geral, as de 1994. O acordo significa a integração dos mer-
constituições dos países capitalistas delimitam cados dos três países que, em 1993, repre-
as condições em que a nacionalização pode ser sentavam um PIB de aproximadamente 7 trilhõ-
feita, procurando dessa forma resguardar a ini- es de dólares e uma população de quase 400
ciativa privada, como principal interessada no milhões de habitantes. Para atenuar eventuais
controle do processo produtivo. Esse procedi- prejuízos setoriais que o acordo possa trazer,
mento tem sido empregado em todos os países especialmente no âmbito do desemprego, foram
que empreenderam a revolução socialista, em criados organismos complementares como o
que o Estado se tornou o principal controlador Banco Norte-Americano de Desenvolvimento, a
e proprietário dos meios de produção. No Brasil, fim de emprestar recursos para regiões e/ou ati-
usa-se de preferência o termo estatização com vidades que venham a sofrer crises originadas
o significado de nacionalização, enquanto esta pelo acordo. O Nafta constitui o maior mercado
última expressão serve para designar a encam- integrado mundial, e, em certa medida, é uma
pação, pelo Estado, de uma empresa estrangeira. resposta ao Tratado de Maastricht sobre a inte-
São inúmeras as razões que justificam a nacio- gração européia. O Brasil pode ser afetado em
nalização de empresas particulares pelo Estado: suas exportações na medida em que a compe-
para garantir a eficiência produtiva de uma em- titividade do México em artigos como têxteis,
presa em dificuldades financeiras; para conter suco de laranja e outros produtos aumente em
crises setoriais, por questões de segurança na- virtude da eliminação das tarifas alfandegárias
cional, no sentido de evitar a expansão do capital para a entrada no mercado interno dos Estados
estrangeiro no país; para assegurar recursos ao Unidos.
Estado; para proporcionar melhor atendimento
ao público, quando se trata de empresas de ser- NAIRA. Unidade monetária da Nigéria. Sub-
viços, ou ainda no caso de empreendimentos múltiplo: kobo.
que não apresentam um rendimento imediato
aos empresários privados. Os setores mais atin- NAISHOKU. Nos tempos feudais, no Japão, de-
gidos pelas nacionalizações são os de serviços nominava-se naishoku o trabalho complementar
(saúde, educação, comunicações, transportes, (colateral) realizado por um samurai ou um rõ-
bancos), no caso de países altamente desenvol- nin, isto é, o samurai que por alguma razão não
vidos, enquanto nos países subdesenvolvidos as estava a serviço de um senhor feudal. Hoje o
nacionalizações têm ocorrido nos setores básicos termo designa o trabalho por peça feito em casa
da economia: siderurgia, mineração, extração — geralmente pela dona de casa (mulher) —
petrolífera. Veja também Socialismo. para complementar o orçamento doméstico.

NADER, Ralph (1934- ). Advogado norte-ame- NÃO-VIESADO. Isento de viés ou vício. Tam-
ricano e líder de movimentos de defesa do con- bém se denomina não-viciado e imparcial.
sumidor nos Estados Unidos. O sucesso de seu
livro Inseguro a Qualquer Velocidade (1965), uma NASH, JOHN. Prêmio Nobel em Economia de
crítica aos padrões de segurança da indústria 1994, em conjunto com John Harsanyi e Rei-
automobilística, deu-lhe amplo apoio para con- nhard Selten, por seus trabalhos sobre a Teoria
duzir investigações em outras áreas de interesse dos Jogos. Veja também Equilíbrio de Nash;
público, como: uso de aditivos químicos em ali- Teoria dos Jogos.
mentos, vazamento de aparelhos de raios X e
funcionamento de agências do governo. Seu tra- NATALIDADE. Relação entre o número de nas-
balho deu origem a investigações e impulsionou cidos vivos em determinado período e o total
o desenvolvimento da legislação de defesa dos da população residente. Esse valor (geralmente
consumidores nos Estados Unidos, além de in- calculado para cada mil pessoas) é denominado
419 NECKER, Jacques

coeficiente geral de natalidade ou taxa bruta de na- der, o nazismo teve como principal base de
talidade. Como, nas últimas décadas, diminuiu apoio a classe média pauperizada pela crise eco-
consideravelmente o fluxo da migração interna- nômica que assolava a Europa (especialmente a
cional, o tamanho das populações passou a ser Alemanha humilhada pelos vencedores da Pri-
diretamente influenciado pela diferença entre os meira Guerra Mundial) e os pequenos e médios
nascimentos e os óbitos. O estudo da natalidade proprietários rurais e urbanos, temerosos de
está associado ao índice de fertilidade ou fecun- uma revolução socialista. Os objetivos do nazis-
didade, isto é, o nível efetivo de reprodução da mo também se ajustavam aos interesses do gran-
população, que é calculado para cada grupo de de capital financeiro e industrial alemão, bene-
mil mulheres com idades entre 15 e 50 anos. O ficiado com o programa armamentista e com a
número de filhos que um casal tem ou espera militarização e férrea disciplina dos trabalhado-
ter costuma variar segundo fatores como grau res alemães, após o esmagamento de todo o mo-
de instrução, nível de renda, tipo de ocupação, vimento sindical oposicionista.
religião e acesso aos meios de comunicação de NECESSIDADE. Exigência individual ou social
massa. Observa-se que as pessoas com baixo ní- que deve ser satisfeita por meio do consumo de
vel de renda e pouca instrução costumam ter bens e serviços. Para viver e reproduzir-se, o
ou desejar um maior número de filhos, assim homem tem necessidades ligadas a alimentação,
como aquelas de origem rural e com ocupações vestuário, moradia, educação e lazer. Algumas
manuais pouco especializadas. Nos países que dessas necessidades (como a de alimentar-se)
acusaram um processo interno de urbanização, são de origem natural e biológica, enquanto ou-
como o Brasil, as taxas de natalidade sofreram tras são determinadas pela sociedade (como a
acentuado declínio.Veja também Demografia; educação). O meio social atua sobre as necessi-
Política Populacional. dades biológicas: a forma de atender à necessi-
dade de comer, por exemplo, é dada socialmente
NATURA NON FACIT SALTUM. Expressão la- pela tradição de hábitos alimentares. A necessi-
tina que significa que o desenvolvimento dos dade de lazer, embora não se coloque de forma
processos na natureza ocorre de maneira evo- crucial como a alimentação, foi adquirida his-
lutiva, isto é, sem rupturas ou mudanças brus- toricamente e corresponde à própria natureza
cas. Aplicada à economia e aos negócios, geral- lúdica dos indivíduos. Há ainda necessidades
mente designa processos que devem se desen- individuais impostas pela ocupação e pela ca-
volver pouco a pouco, sem queimar etapas. mada social a que pertence o indivíduo. De
NAVIGATION ACT. Veja Ato de Navegação. modo geral, para sobreviver biológica e social-
mente o homem precisa de coisas tão diversas
NAVIO NEGREIRO. Navios que transportavam como pão, carne, casa, roupas, escolas, hospitais,
para o Brasil escravos capturados na África. Este ônibus, navios e trens. Essas coisas em economia
tráfico constituiu um rendoso negócio para por- são chamadas bens, e são produzidas socialmen-
tugueses, franceses, ingleses e armadores de ou- te pelo conjunto dos homens, por meio de seu
tras nacionalidades, até que, com a aprovação trabalho, em relação com a natureza. A satisfa-
pelo Parlamento inglês do Bill Aberden, em ção das necessidades sociais não é algo natural
1845, ele passou a ser reprimido pela Marinha e imediato, como ocorre em relação ao ar que
inglesa (inclusive em águas territoriais brasilei- se respira. Essa satisfação depende em primeiro
ras e mesmo em seus portos), sendo finalmente lugar da existência de bens, que podem ser
proibido em 1850 pelo Brasil pela promulgação abundantes ou escassos para todos ou para al-
da Lei Eusébio de Queiróz. Veja também Lei guns. O que determina isso é o nível de desen-
Aberdeen; Tráfico de Escravos. volvimento de uma sociedade e a forma como
é distribuída a riqueza social produzida pelo
NAZISMO. Doutrina do Partido Nacional So- conjunto da população. Veja também Abundan-
cialista dos Trabalhadores Alemães, dirigido por cismo; Economia do Bem-Estar; Escassez.
Adolf Hitler entre 1921 e 1945. Versão alemã do
fascismo, proclamava a superioridade da raça NECKER, Jacques (1732-1804). Economista, po-
ariana, defendia a supremacia da Alemanha, lítico e banqueiro francês. Ministro das Finanças
pregava o anti-semitismo e o anticomunismo e de Luís XIV, fez um plano de reformas econô-
condenava o liberalismo político e econômico. micas e financeiras com concessões à burguesia,
Partidários incondicionais da intervenção do Es- já nos últimos tempos da monarquia. Sua po-
tado na economia, os nazistas defendiam a par- pularidade junto às massas parisienses levantou
ticipação estatal nos lucros dos grandes mono- contra ele a desconfiança da nobreza e do clero,
pólios. No governo, desenvolveram um intenso levando-o à renúncia em 1790. Publicou obras
programa de reativação da produção nacional, sobre política financeira, como Elogio de Colbert
com base no armamentismo, o que se adequava e Ensaio sobre a Legislação e o Comércio de Cereais,
às aspirações expansionistas. Para chegar ao po- ambas de 1775.
NEGATIVE COVENANT 420

NEGATIVE COVENANT. Expressão em inglês NEOCAPITALISMO. Designação dada por al-


que significa, num acordo de endividamento, guns autores ao capitalismo dos países altamen-
aquilo que a parte devedora não poderá fazer te industrializados na atualidade, caracterizado
ou deverá se abster de fazer. pela aplicação de medidas que visam ao bem-
estar social. Corresponderia, por exemplo, ao
NEGATIVE GOOD WILL. Expressão em in- perfil do Novo Estado Industrial traçado por J.K.
glês que significa, literalmente, “boa vontade ne- Galbraith, ou ao Estado do Bem-Estar Democrático
gativa”, isto é, quando uma empresa, mediante analisado por Gunnar Myrdal. No plano real, o
suas atitudes, comportamentos, produtos, em exemplo mais acabado de neocapitalismo está
vez de adquirir uma imagem junto ao público nas social-democracias européias e na sociedade
que promova a expansão de suas atividades, norte-americana. O conceito de neocapitalismo
provoca o efeito contrário, ou seja, adquire uma parte de uma comparação histórica. O capitalis-
imagem negativa junto ao público em geral e mo liberal do século XIX baseava-se na concor-
ao consumidor de seus produtos. Por exemplo, rência entre empresas dirigidas por seus pro-
uma empresa que produz artigos ornamentais prietários e na interação relativamente livre en-
com peles de animais em extinção. tre demanda, oferta e preços. O capitalismo mo-
NEGENTROPIA. Veja Entropia. derno ou neocapitalismo, por sua vez, tem sua
base na grande empresa oligopólica, que muitas
NEGOCIAÇÕES COLETIVAS DE TRABA- vezes atua em vários setores da produção e cuja
LHO. Negociações diretas entre patrões e em- direção é exercida por profissionais. Na expres-
pregados, representados por suas respectivas são de Galbraith, essa nova realidade capitalista
entidades de classe, em torno de aumentos sa- define-se a partir da formação de grandes blocos
lariais, condições de trabalho, benefícios sociais de poder — grandes empresas, sindicatos, con-
e jornada de trabalho. O resultado dessas nego- sumidores e Estado —, cada um deles atuando
ciações são as convenções coletivas ou acordos como um poder compensador (countervailing po-
coletivos de trabalho, contratos que têm vigência wer) para corrigir os desequilíbrios do sistema.
por um período determinado, geralmente um Os teóricos do neocapitalismo caracterizam-no
ano. As primeiras negociações coletivas ocorre- de formas diferentes, enfatizando um dos se-
ram na Inglaterra, antes mesmo da Revolução guintes aspectos: 1) Planejamento. É o aspecto
Industrial, sem nenhuma regulamentação oficial dominante, na teoria de Galbraith. Para ele, o
ou envolvimento do governo. Só no começo do planejamento ocorre no âmbito da empresa e
século XX as negociações coletivas passaram a do Estado. A empresa regula as ações espontâ-
ser regidas por lei na Holanda, na França e na neas do mercado por meio de preços adminis-
Alemanha. No Brasil, a partir de 1930, com a trados e do controle da quantidade de bens pro-
criação do Ministério do Trabalho, Indústria e duzidos. Além disso, induz à criação de novas
Comércio, o Estado passou a administrar e dis- necessidades por intermédio dos mecanismos de
ciplinar todos os conflitos ocorridos nas relações propaganda. Nesse contexto, processa-se uma
entre trabalho e capital, limitando o espaço de nova competição (a competição baseada em pre-
realização das negociações entre as duas partes. ços tornar-se-ia secundária), fundamentada na
Por isso, tem sido freqüente, no movimento sin- qualidade e na inovação. 2) Capitalismo popular.
dical brasileiro, a defesa do princípio das nego- Teoria de Massimo Salvadori, que considera o
ciações coletivas livres e diretas, sem a tutela aspecto mais marcante do capitalismo contem-
do Estado. Veja também Sindicalismo; Sindicato. porâneo a difusão da propriedade, graças à exis-
tência de um grande número de pequenos acio-
NEGÓCIO DIRETO. Transação de ações ou tí- nistas, particularmente nos Estados Unidos e no
tulos em que a mesma corretora é a interme- Japão. Para ele, os Estados Unidos, com seus 30
diária na compra e na venda do mesmo lote. milhões de acionistas (1970), tenderiam a tor-
Outras corretoras podem participar do negócio nar-se uma sociedade formada basicamente por
direto, comprando a preços mais elevados ou capitalistas. 3) Corporação generosa. A ampla di-
vendendo a preços mais baixos. fusão das sociedades anônimas resultaria na
perda do controle das empresas por seus pro-
NEGOTIORUM GESTIO. Expressão em latim
prietários (acionistas), na medida em que estes
que significa a gestão de negócios alheios, in-
entregam essa função a especialistas (gerentes,
tencionalmente dirigidos em benefício de seu
executivos), que exerceriam o verdadeiro poder
dono, sem autorização, no entanto, ou mandato
de direção e condução da empresa. Essa questão
deste.
foi abordada por A.A. Berle e G.C. Means em
NEGRO LADINO. Veja Meia Sisa. A Moderna Sociedade Anônima e a Propriedade Pri-
vada (1932). Em A Revolução Capitalista do Século
NENKO. Termo em japonês que significa um Vinte (1955), Berle também procurou mostrar
sistema de salários baseado na antiguidade (se- que haveria um espírito público dos gerentes
nioridade) dos empregados. das empresas. E Carl Kaysen afirma que a gran-
421 NEOMALTHUSIANISMO

de corporação não teria avidez de lucros, mas tentação o intervencionismo, os gastos públicos,
se caracterizava pela generosidade. 4) Interven- mesmo com a geração de déficits, para a expan-
cionismo Estatal. Contrariando a tese de uma es- são da renda e da produção. Veja também Cur-
tabilidade gerada pelo monopólio, John Stra- vas IS-LM; Keynes, John Maynard; Nova Eco-
chey afirma que os oligopólios tenderiam a de- nomia Clássica.
senvolver mais instabilidade e uma desigualda-
de mais extrema, o que seria revertido pela ação NEOLIBERAL. Veja Neoliberalismo.
do Estado no âmbito da economia, como agente
NEOLIBERALISMO. Doutrina político-econô-
promotor de um eficiente sistema previdenciá-
mica que representa uma tentativa de adaptar
rio. Além disso, salientou o papel do Estado os princípios do liberalismo econômico às con-
como consumidor, particularmente no setor de dições do capitalismo moderno. Estruturou-se
armamentos. No âmbito do pensamento mar- no final da década de 30 por meio das obras do
xista, o enfoque dado ao capitalismo contempo- norte-americano Walter Lippmann, dos france-
râneo limita-se à análise de seu caráter monop- ses Jacques Rueff, Maurice Allais e L. Baudin e
olista, seu aspecto internacional voltado para a dos alemães Walter Eucken, W. Röpke, A. Rüs-
acumulação de mais-valia e o domínio dos mer- tow e Müller-Armack. Como a escola liberal
cados consumidores internacionais. Salienta-se clássica, os neoliberais acreditam que a vida eco-
ainda a relação entre os oligopólios e o Estado. nômica é regida por uma ordem natural forma-
Destacam-se as obras de Paul Sweezy e Paul da a partir das livres decisões individuais e cuja
Baran sobre o capitalismo norte-americano, as mola-mestra é o mecanismo dos preços. Entre-
análises de Ernest Mandel (Capitalismo Tardio) e tanto, defendem o disciplinamento da economia
André Gorz. No livro Neocapitalismo e Estratégia de mercado, não para asfixiá-la, mas para ga-
Operária, Gorz discute os objetivos da luta pelo rantir-lhe sobrevivência, pois, ao contrário dos
socialismo na moderna sociedade industrial, na antigos liberais, não acreditam na autodisciplina
qual os trabalhadores já teriam superado a fase espontânea do sistema. Assim, por exemplo,
da luta pela sobrevivência e, de certa maneira, para que o mecanismo de preços exista ou se
participariam do consumo dos bens e serviços torne possível, é imprescindível assegurar a es-
supérfluos criados pelo capitalismo. Veja tam- tabilidade financeira e monetária: sem isso, o
bém Capitalismo. movimento dos preços tornar-se-ia viciado. O
disciplinamento da ordem econômica seria feito
NEOCOLONIALISMO. Conjunto de relações pelo Estado, para combater os excessos da li-
econômicas, políticas e culturais que mantém vre-concorrência, e pela criação dos chamados
grande número de ex-colônias da África e da Ásia mercados concorrenciais, do tipo do Mercado
dependentes de suas ex-metrópoles ou de outras Comum Europeu. Alguns adeptos do neolibe-
nações industrializadas. O termo passou a ser ralismo pregam a defesa da pequena empresa
usado depois da Segunda Guerra Mundial, e o combate aos grandes monopólios, na linha
quando se intensificou o processo de descolo- das leis antitrustes dos Estados Unidos. No pla-
nização da África, mas é empregado também no social, o neoliberalismo defende a limitação
para caracterizar os laços de subordinação eco- da herança e das grandes fortunas e o estabe-
nômica do conjunto de países da África, Ásia e lecimento de condições de igualdade que pos-
América Latina em relação aos países ricos. Nes- sibilitem a concorrência. Atualmente, o termo
se aspecto, a questão do neocolonialismo liga-se vem sendo aplicado àqueles que defendem a li-
à do subdesenvolvimento e ao processo inter- vre atuação das forças de mercado, o término
nacional de divisão social do trabalho, que co- do intervencionismo do Estado, a privatização
loca em nível de desigualdade os países dos he- das empresas estatais e até mesmo de alguns
misférios norte e sul. Veja também Colonialis- serviços públicos essenciais, a abertura da eco-
mo; Dependência. nomia e sua integração mais intensa no mercado
mundial. Veja também Capitalismo; Liberalismo.
NEOKEYNESIANO. Pensamento desenvolvido
tomando-se por base as obras de John Maynard NEOLUDITAS. Veja Luditas.
Keynes, especialmente a partir da formulação
dada por Alvin Hansen e John Hicks e deno- NEOMALTHUSIANISMO. Teoria demográfi-
minada genericamente Curvas IS-LM. Teve gran- ca que propõe o controle da natalidade como
de influência na política econômica dos anos 60, um dos requisitos fundamentais do desenvol-
especialmente durante o governo de John Ken- vimento econômico. Retomando a tese de Tho-
nedy, cujo conselho de assessores econômicos mas Malthus de que a população cresceria em
era composto por economistas desta linha de progressão geométrica e a quantidade de ali-
pensamento. Os acontecimentos da década se- mentos em progressão aritmética, seus defenso-
guinte, inflação acentuada acompanhada de re- res viram em uma política rigorosa de limitação
cessão, enfraqueceram esta abordagem que ti- de natalidade o recurso básico para evitar: 1) o
nha como um dos principais elementos de sus- empobrecimento per capita e global da popula-
NEOQUANTITATIVISTAS 422

ção, uma vez que o número de consumidores terno foi liberado, permitiu-se o funcionamento
aumentaria em proporções sempre superiores de pequenas e médias empresas privadas, esti-
ao produto nacional; 2) a relação desfavorável mularam-se os investimentos estrangeiros, ins-
entre a população global (crianças, adultos e ido- tituiu-se o pagamento de horas extras e de prê-
sos) e sua parcela economicamente ativa; 3) a mios aos trabalhadores e criou-se o imposto so-
expansão do fator força de trabalho em detri- bre propriedades urbanas. Isso possibilitou uma
mento da formação de capital, decisiva para o rápida recuperação da economia do país, mas
progresso tecnológico; 4) deterioração ecológica, também provocou o desenvolvimento de seg-
isto é, a destruição do meio ambiente e o esgo- mentos sociais enriquecidos, como é o caso dos
tamento dos recursos não renováveis do planeta. kulaks (camponeses ricos). Gerou também, no
Como observaram os críticos dessa teoria, algu- plano da liderança comunista, graves divergên-
mas teses neomalthusianas simplesmente não ti- cias político-ideológicas. A NEP foi abolida em
veram confirmação empírica. Por exemplo, no 1929, quando se iniciaram os Planos Qüinqüe-
decorrer dos anos 50, 60 e 70, a renda per capita nais. Veja também Comunismo de Guerra; Pla-
aumentou na maioria dos países, inclusive nos nificação; Planos Qüinqüenais.
subdesenvolvidos. Era reafirmada a relação po-
sitiva entre o dinamismo da economia e o cres- NEPERIANO. Veja Logaritmo Natural.
cimento populacional, pois dele dependem o ta-
manho do mercado interno e a viabilidade das NEPOTISMO. Prática administrativa que con-
modernas técnicas de produção em massa. A siste no favorecimento de parentes e amigos com
maioria das críticas salientou a opção, explícita empregos, títulos ou honrarias. Constitui ato de
ou implícita, do neomalthusianismo pelo mo- corrupção e abuso de poder, seja na esfera pú-
delo vigente de relação entre os países ricos e blica ou privada. O termo é de origem eclesiás-
tica: amplamente utilizado por papas no decor-
pobres. A ênfase no controle da natalidade, em
detrimento das reformas estruturais, viria refor- rer dos séculos XV e XVI, o nepotismo foi ex-
çar a hegemonia das áreas industrializadas sobre pressamente condenado pela Igreja Católica em
as regiões do Terceiro Mundo, produtoras de 1692. Constitui no Brasil quase uma norma ad-
matérias-primas e possuidoras de mão-de-obra ministrativa, sob o argumento de que ninguém
barata. Mesmo as teses neomalthusianas de mais do que seus parentes e sua família merece
a confiança de um dirigente político, especial-
maior sofisticação, ligadas à qualidade de vida
e à preservação do equilíbrio ecológico, teriam mente no preenchimento dos denominados
como pressuposto a imutabilidade das atuais ca- “cargos de confiança”.
racterísticas da atividade econômica, em escala NET PRESENT VALUE. Veja Valor Presente
mundial. Ao contrário, já haveria recursos cien- Líquido.
tíficos e tecnológicos à disposição da humani-
dade para implementar um modelo alternativo NET PRESENT VALUE RULE. Veja Regra do
de desenvolvimento, preservador do meio am- Valor Presente Líquido.
biente a partir do controle sobre os métodos de
produção, e não apenas a partir do controle do NET REGISTER TONNAGE. Expressão em
número de seres humanos.Veja também Auto- inglês que significa “tonelagem líquida de re-
mação; Gorz, André; Malthus, Thomas Robert. gistro”.

NEOQUANTITATIVISTAS. Denominação dada NET TON. Expressão em inglês que significa


à corrente de economistas liderada por Milton “tonelada líquida” ou o equivalente a 2 mil li-
Friedman que tentou reabilitar a teoria quanti- bras (peso).
tativa do valor da moeda. Veja também Fried-
man, Milton; Teoria Quantitativa do Valor da NEUMANN, Johannes von (1903-1957). Mate-
Moeda. mático húngaro radicado nos Estados Unidos,
foi quem fez a primeira axiomatização dos es-
NEOLÍTICA, Revolução. Veja Pré-História. paços de Hilbert, dando-lhes uma forma alta-
mente abstrata. Notabilizou-se por introduzir os
NEP — Nova Política Econômica. Programa de espaços de Hilbert na mecânica quântica e por
desenvolvimento da economia, com relativa li- criar a teoria dos jogos. Destacou-se também no
beralização, adotado pelo governo da União So- campo da teoria e projetos de computadores.
viética entre 1921 e 1928. Tinha como objetivo Escreveu Fundamentos Matemáticos da Mecânica
recuperar a economia nacional devastada pela Quântica (1932) e Teoria dos Jogos e do Comporta-
guerra e aliviar enormes tensões raciais decor- mento Econômico (1944), em colaboração com Os-
rentes da aplicação do “comunismo de guerra” kar Morgenstern. Veja também Método Monte
nos anos anteriores, quando o Estado assumiu Carlo; Teoria dos Jogos.
de forma absoluta o controle de toda a produção
do país para fazer frente à guerra civil e à in- NEW DEAL. Programa econômico adotado em
vasão estrangeira. Com a NEP, o comércio in- 1933 pelo presidente norte-americano Franklin
423 NEW LENARK

Roosevelt para combater os efeitos da Grande transferidos para áreas mais produtivas. A exe-
Depressão e refazer a prosperidade do país. O cução do New Deal contou com uma forte opo-
New Deal (Nova Política) seguiu, na prática, os sição dos industriais e dos setores conservadores
ensinamentos que a reflexão teórica de Keynes da sociedade norte-americana, que denuncia-
produziria: baseou-se na intervenção do Estado vam a intervenção do Estado na economia como
no processo produtivo, por meio de um auda- um processo de socialização da vida nacional.
cioso plano de obras públicas, com o objetivo No entanto, foi o programa de Roosevelt que
de atingir o pleno emprego, o que contradizia fortaleceu e consolidou o sistema capitalista no
toda a tradição liberal dos Estados Unidos. Den- país. Nos anos de sua aplicação, o grande capital
tro dessa orientação intervencionista, Roosevelt, passou por um intenso processo de desenvol-
segundo suas próprias palavras, decidiu enfren- vimento e concentração, enquanto as pequenas
tar o problema da crise como se enfrenta uma empresas eram eliminadas ou absorvidas. No
guerra. Começou pelo controle do sistema fi- final da década de 30, três companhias produ-
nanceiro do país, decretou o embargo do ouro ziram 80% dos automóveis do país, enquanto
e desvalorizou o dólar para favorecer as expor- outras três eram responsáveis pela produção de
tações. A nova política estendeu-se a todos os 60% do aço. Veja também Crise; Depressão Eco-
campos da atividade econômica. O incremento nômica; Dirigismo; Keynesianismo; Política
à produção industrial foi regulamentado pelo Econômica; Roosevelt, Franklin Delano.
National Industrial Recovering Act — Nira (Lei
de Recuperação da Indústria Nacional), que re- NEW ECONOMICS (Nova Economia). Termo
definiu também as relações entre patrões e em- empregado nos Estados Unidos para designar
pregados e estabeleceu o sistema de previdência a intervenção do Estado na economia com o ob-
social. Juntamente com o Nira, foi criada a Na- jetivo de acelerar o crescimento econômico me-
tional Recovery Administration (Administração diante o remanejamento dos recursos orçamen-
de Recuperação Nacional), encarregada da apli- tários. Consiste no esforço governamental para
cação e controle do programa industrial do go- eliminar a diferença entre o Produto Nacional
verno. Esse órgão estatal induzia os empresários Bruto efetivo e o Produto Nacional Bruto po-
a estabelecer entre si acordos sobre preços, sa- tencial. O êxito nas medidas adotadas no de-
lários e programas de produção, visando à ra- sempenho da economia tem em vista um nível
cionalização da economia. Os empresários que ideal de pleno emprego. Segundo os pressupos-
oferecessem resistência à orientação dada pode- tos da nova economia, ocorre uma situação de
riam ter suas licenças cassadas. O controle es- pleno emprego quando o desemprego se situa
tendeu-se à Bolsa de Valores e à subscrição das por volta de 4%; baixos níveis de desemprego
sociedades anônimas. Objetivando conseguir re- resultam num crescimento real menor e provo-
cursos para o Estado e redistribuir a renda, ins- cam elevadas taxas de inflação. Por isso, o re-
taurou-se uma sobretaxa progressiva de 31% sultado positivo das medidas adotadas decorre
para as rendas anuais acima de 50 mil dólares da capacidade de previsão e de controle por par-
e até de 75% para as que iam além de 5 milhões te dos economistas governamentais, pois, mui-
de dólares. O National Industrial Recovery Act tas vezes, as diretrizes econômicas executadas
determinou a redução das horas de trabalho sem geram tantos problemas quanto os que preten-
diminuição do salário, procurando assim levar diam resolver.
a uma maior absorção da mão-de-obra desem- NEW HARMONY. Pequena cidade do Estado
pregada. Foi criado um salário mínimo nacional de Indiana (EUA) onde foram criadas, no início
e decretada a liberdade de organização sindical do século XIX, duas comunas cooperativas or-
e a convenção coletiva de trabalho. Instituiu-se ganizadas segundo as idéias de Robert Owen.
o seguro social, em parte financiado pelos pa- Em 1814, George Rapp, líder da Harmony So-
trões. Para reanimar a construção civil e com- ciety, fundou a primeira Harmony. Dez anos
bater o desemprego, criou-se o programa da casa mais tarde, foi vendida a Robert Owen e reba-
própria e aplicaram-se 500 milhões de dólares tizada New Harmony. Centro cultural e cientí-
nos projetos do Civilian Conservation Corps, fico durante certo tempo, foi extinta em 1828.
voltado para o reflorestamento e o combate a Veja também Owen, Robert.
incêndios e inundações. Foi abolida a Lei Seca
e incentivada a produção de vinho e cerveja. A NEW LENARK. Nome de uma cidade têxtil lo-
política agrícola foi regulamentada pelo Agri- calizada perto de Glasgow, na Escócia, onde Ro-
culture Adjustement Act (AAA). O governo as- bert Owen estabeleceu suas fábricas de algodão.
sumiu as dívidas dos pequenos proprietários e Na época, foi considerada uma comunidade-
ofereceu facilidades de créditos e prêmios para modelo, onde os salários e condições de trabalho
os fazendeiros que se engajassem nas metas go- eram bem superiores às existentes no resto da
vernamentais, comprometendo-se a comprar os Inglaterra. Em New Lenark, o empresário rece-
produtos estocados. Processou-se também a ele- bia um retorno modesto pelo seu capital, isto
trificação rural e muitos agricultores foram é, sua taxa de lucro era relativamente baixa, mas
NEW MONEY BOND 424

em compensação os salários dos trabalhadores Durante os anos 70, países como o Brasil e o
eram mais elevados, o que se traduzia também México também poderiam ser considerados
por um melhor nível de vida na comunidade NICs. Atualmente, esta expressão foi modifica-
onde a fábrica estava localizada. Veja também da para NIE (new industrialized economies) e se
New Harmony. refere mais diretamente aos países asiáticos an-
tes mencionados. Esses países, pela sua agres-
NEW MONEY BOND. Veja Plano Brady; TJLP. sividade no comércio internacional e por suas
elevadas taxas de crescimento, forem também
NEW YORK CURB EXCHANGE. Veja Curb
denominados Tigres Asiáticos, ou DAEs, iniciais
Market.
de dynamic asian economies.
NEW YORK STOCK EXCHANGE. A maior Bol-
NIE. Veja NICs.
sa de Valores do mundo. Situa-se na Wall Street,
em Nova York, e negocia ações das principais NIFO. Expressão composta das iniciais de next
empresas dos Estados Unidos e do mundo, reu- in, first out, que, no processo de controle e ava-
nindo mais de mil títulos diferentes. Veja tam- liação de estoques, significa que o próximo a
bém American Stock Exchange; Dow-Jones entrar é o primeiro a sair. O critério é utilizado
(Índice). quando, na determinação dos custos dos pri-
meiros estoques a serem vendidos, leva-se em
NEW YORK TIMES BUSINESS INDEX. Sema-
consideração o preço de reposição dos mesmos.
nalmente, o jornal The New York Times publica
índices sobre a atividade dos negócios em seu NIFTY-FIFTY. Termo em inglês surgido duran-
caderno de negócios e finanças. É um índice te o final dos anos 60 e início dos 70 para de-
composto e ponderado pelos índices mais im- signar as ações de rápida valorização e que eram
portantes disponíveis semanalmente no país. compradas por “qualquer preço” para que o
Existem cinco componentes principais: fretes, comprador tivesse o privilégio de possuí-las,
produção siderúrgica, produção de energia elé- como da Xerox, da Polaroid, da IBM ou da Coca-
trica, produção de papelão (paperboard) e pro- Cola.
dução de madeira (lumber). Tratando-se de um
índice de atividade econômica de volume, apli- NIHON BÕEKI SHINKÕKAI. Veja Jetro.
cam-se a ele as variações estacionais, exceto para
o caso da produção siderúrgica. Os dados para NIHON KEIEISHA DANTAI RENMEI. Veja
cada um dos componentes aparecem diariamen- Nikkeiren.
te e são compostos para formar quadros esta- NIHON SANGYO KYOGIKAI. Veja Keidan-
tísticos mais amplos, semanalmente no domin- ren.
go. Este índice vem sendo publicado pelo New
York Times desde janeiro de 1929. NIHON SHOKO KAIGI-SHO. Veja Japan
Chamber of Commerce and Industry.
NFSP. Iniciais de “necessidade de financiamen-
to do setor público”. Veja também Déficit. NIKKEI STOCK AVERAGE. Veja Índice Nikkei.
NGUI. Veja Cuacha. NIKKEIREN. Termo em japonês formado pelas
iniciais de Nihon Keieisha Dantai Renmei, que sig-
NGULTRUN. Unidade monetária do Butão. nifica Associação das Federações de Emprega-
Submúltiplo: cheturn. dores do Japão, constituída em 1948, com apro-
NICHO. O termo pode designar uma faixa de ximadamente cem membros associados.
mercado ocupada por uma empresa em sua es- NMBS (New Money Bonds). Veja Bradies.
tratégia empresarial, como também decidir ofe-
recer um número restrito de bens e serviços na NIPPACHI. Termo em japonês que significa o
área geográfica na qual opera. segundo (fevereiro) e o oitavo (agosto) mês do
ano, nos quais ocorre a temperatura mínima e
NICOLAU. Denominação popular das moedas a máxima naquele país. Durante esses meses,
de 100 réis, originada no metal — níquel — da geralmente os negócios encontram-se em seu
qual elas eram fabricadas no Brasil. ponto mais baixo. O termo é utilizado quando
NICs. Iniciais da expressão inglesa new indus- uma empresa atravessa uma fase ruim, ou até
trialized countries, isto é, países que se industria- como desculpa para que o pagamento de uma
lizaram depois da Segunda Guerra Mundial e conta seja retardado, ou um contrato não seja
que adotaram uma agressiva política de expor- assinado.
tações de manufaturados e mantiveram, nos úl- NISSHO. Veja Japan Chamber of Commerce
timos tempos, elevadas taxas de crescimento and Industry.
econômico. Entre esses países destacam-se Tai-
wan, Coréia do Sul, Cingapura e Hong-Kong. NIVELADORES. Veja Levellers.
425 NORMAS TÉCNICAS

NÓ. Unidade de medida de velocidade dos na- letividade para a qual ela é feita e, enquanto
vios (e dos ventos), equivalente a uma milha instrumento de valor, não deveria sofrer altera-
náutica (1 852 m) por hora. A informação de ções. Isso só poderia ocorrer em função do mo-
que um navio está se deslocando à velocidade vimento geral no nível dos preços. O nomina-
de 30 nós significa que ele percorre 30 milhas lismo ressurgiu na Alemanha por intermédio da
náuticas por hora. A origem desta medida deve- obra de G. Knapp, em 1905, para quem o Estado
se a uma corda especial, denominada “corda do é o criador do valor social da moeda. Seu valor
toro”, que era amarrada a um pequeno tronco é então fruto de uma decisão política: o Estado
(pedaço de madeira) que flutuava quando era respaldava um sistema monetário despido de
lançado ao mar. Em intervalos regulares a corda base metalista. M.E. James e outros estudiosos
tinha nós e a distância entre dois deles estava viram as medidas preconizadas por J.M. Keynes
para uma milha assim como 28 segundos estão (a intervenção direta do Estado na economia
para uma hora. Tinham, portanto, 47 pés ou para manter o equilíbrio monetário) como uma
14,10 m de distância entre si. O número de nós versão moderna da teoria do nominalismo. Veja
que fossem saindo (quando o tronco era lançado também Dinheiro; Valor Nominal; Valor Real.
ao mar) era a velocidade do navio em milhas
por hora. Veja também Unidades de Pesos e NON-ACCRUAL. Veja Accrual.
Medidas.
NON-ACCRUAL ASSET. Expressão em inglês
NO ARRIVAL NO SALE. Expressão em inglês que significa um ativo, geralmente um emprés-
que significa que a venda só se concretiza com timo (crédito), que não está proporcionando
a chegada da mercadoria. uma taxa de juros contratual, devido a dificul-
dades financeiras do devedor. Quando se trata
NOBREZA. Segmento social com características de uma dívida cujo principal e os juros não fo-
simultâneas de classe e de estamento, cujos ram pagos por um prazo superior a noventa
membros gozam de privilégios hereditários fi- dias, a menos que a dívida esteja adequadamen-
xados nas leis ou nos costumes. Esses privilégios te colateralizada, também se aplica o termo. Veja
tradicionalmente consistem na isenção de im- também Accrual; Non-Performing Loan.
postos, direito de ocupar cargos políticos e mi-
litares, tratamento diferenciado nos tribunais e NON-CALABLE BONDS. Títulos que por seus
designação por um título honorífico. A origem termos de emissão não podem ser convertidos
antes de seu prazo determinado de vencimento.
da nobreza está ligada à posse da grande pro-
Estes títulos não possuem uma data de venci-
priedade rural, segundo normas patriarcais de
mento opcional.
vida social. Afastada do poder pelas revoluções
burguesas ocorridas na Europa a partir do sé- NON-TRADABLE. Veja Tradable.
culo XVIII, sobrevive em alguns países europeus
mantendo apenas certos privilégios honoríficos. NON-PERFORMING LOAN. Expressão em in-
glês que significa um empréstimo não honrado
NOI. Iniciais da expressão em inglês net opera- pelo devedor de acordo com as cláusulas con-
ting income (rendimento operacional líquido), tratuais. Geralmente, um empréstimo é consi-
que significa o rendimento antes dos juros e dos derado non-performing quando o pagamento do
impostos. principal e/ou dos juros ultrapassa os noventa
dias. Nesse caso, o devedor é declarado em de-
NOMENCLATURA TARIFÁRIA DE BRUXE- fault. Veja também Default; Non-Accrual Asset.
LAS. Denominação da classificação padroniza-
da de produtos adotada por grande parte dos NON-PROFIT SITUATION. Expressão em in-
países do mundo para efeitos tarifários. Veja glês que significa, literalmente, situação de ine-
também GATT; OMC. xistência de lucro ou situação não rentável. Apli-
ca-se aos casos nos quais empresários familiares
NOMINALISMO (Monetário). Teoria monetá- — especialmente na agricultura — não obtêm
ria de origem medieval, que acabou por reper- lucro em suas atividades, embora consigam uma
cutir na teoria econômica moderna. Baseava-se remuneração para o próprio trabalho que reali-
no pressuposto de que o valor da moeda não zam em suas empresas, bem como cobrir os cus-
derivava de sua natureza ou de uma situação tos administrativos dela.
de mercado, mas da chancela do príncipe ou
senhor que a cunhava. Ela seria parte integrante NORMAS TÉCNICAS. Conjunto de dados so-
dos domínios do senhor e poderia ter seu valor bre produtos, resultante de uma escolha coletiva
alterado segundo os interesses do príncipe. Con- e destinado a servir de referência e base de acor-
sagrado pelo direito canônico, o nominalismo do entre produtores e consumidores. Define di-
foi severamente criticado em 1366 por Nicolas mensões, qualidades, métodos de ensaio, regras
de Oresme, conselheiro do imperador Carlos V. de uso e outras características de produtos, eli-
Ele dizia que a moeda deveria pertencer à co- minando variedades supérfluas. No Brasil, a As-
NORTE-SUL 426

sociação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) Correspondentes não-oficiais do papel-moeda,


é a responsável pela especificação dos produtos as notas bancárias eram chamadas pelos econo-
da indústria nacional. mistas de moeda-papel, por causa de sua ime-
diata conversibilidade. Diferenciavam-se das
NORTE-SUL, Diálogos. Discussões internacio- emissões oficiais por não ter curso forçado (não
nais sobre os problemas do desenvolvimen- ser obrigatoriamente aceitas como meio de pa-
to/subdesenvolvimento iniciadas na Conferên- gamento) como o papel-moeda oficial, o que
cia para a Cooperação Econômica Internacional causava um maior número de conversões. Veja
(dezembro de 1975), realizada por iniciativa
também Papel-Moeda.
francesa. Dela participaram os ministros das Re-
lações Exteriores de 27 países. De um lado estava NOTA DE EMPENHO. Documento que cria,
o Grupo dos Oito (Alemanha Ocidental, Áustria, para o governo, a obrigação de pagamento pela
Canadá, Estados Unidos, França, Inglaterra, Ja- realização de uma despesa. Veja também Em-
pão e Suécia), todos do hemisfério norte, ricos penho.
e industrializados. Do outro, o chamado Grupo
dos Dezenove, reunindo representantes africa- NOTA PROMISSÓRIA. Instrumento de crédi-
nos, latino-americanos e asiáticos do Terceiro to representado por uma promessa incondicio-
Mundo. A este grupo pertencia o Brasil. Até ju- nal por escrito entre dois agentes, assinada por
nho de 1977, a conferência discutiu problemas aquele que se compromete a pagar em determi-
relativos à energia e às matérias-primas, a ques- nada data uma soma determinada de dinheiro
tão do desenvolvimento e do sistema monetário ao primeiro, ou ao portador da nota promissória.
e financeiro internacional. Foram criadas comis- Veja também Commercial Papers.
sões para aprofundar cada um desses itens, as
quais passaram a trabalhar em caráter perma- NOTÁRIO. Antiga denominação de tabelião
nente. No entanto, o documento final dos Diá- público. O nome tem origem no fato de a função
logos Norte-Sul revelou o total desacordo entre exigir a tomada de notas ditadas pelas partes
os dois grupos de países. Ainda em 1977 criou-se contratantes.
a Comissão Norte-Sul, coordenada por Willy
Brandt, ex-chanceler da Alemanha Ocidental. O NOTGELD. Termo em alemão que significa, li-
chamado relatório Brandt, elaborado por essa teralmente, moeda de necessidade, emitida por
comissão, propôs a abertura de um diálogo com empresas, bancos e municipalidades — em épo-
o Terceiro Mundo e a criação de uma nova or- cas hiperinflacionárias ou de grande desorgani-
dem econômica, a partir de reuniões de cúpula zação social provocada, por exemplo, por guer-
entre líderes mundiais. A continuidade do diá- ras — e que substitui a moeda oficial inexistente
logo norte-sul teve lugar no México, na Confe- ou desacreditada.
rência de Cancún (22 e 23/10/1981). Dela par-
NOVA ECONOMIA CLÁSSICA. Veja Expec-
ticiparam chefes de Estado de 22 países, desen-
tativas Racionais; Lucas, Robert.
volvidos e em desenvolvimento. Mas a confe-
rência não previa a elaboração de nenhum do- NOVA MACROECONOMIA CLÁSSICA. Veja
cumento final e, por pressão norte-americana, Expectativas Racionais; Lucas, Robert.
teve apenas caráter consultivo.
NOVA MICROECONOMIA. Denominação dada
NOSTRO ACCOUNTS. Expressão ítalo-iglesa a uma série de análises procurando diferenciar
que significa uma situação em que um banco a microeconomia da macroeconomia. A tentati-
de um país, tendo saldos depositados em bancos va mais importante é proporcionar uma expli-
correspondentes em outros países, refere-se a es- cação dos mecanismos subjacentes nas relações
sas contas como nostro accounts, ou seja, como entre nível de preços e desemprego. A nova mi-
“nossas contas”. O termo é utilizado mais fre-
croeconomia se apóia no conceito de taxa natural
qüentemente entre contadores e caixas que ope-
de desemprego e abandona a noção de um mer-
ram com a área cambial.
cado cujos participantes têm um conhecimento
NOTA BANCÁRIA (ou Bilhete de Banco). Tí- amplo de todos os aspectos relevantes sobre o
tulo emitido por um banco obrigando-se a pagar mesmo. Além de buscar uma explicação de uma
ao portador, no ato e mediante simples apre- taxa natural de desemprego, esta abordagem
sentação, o valor inscrito no documento. As no- procura também explicar a relação negativa en-
tas bancárias originaram-se dos recibos ou cer- tre alterações nos preços e salários e a taxa de
tificados de depósito de ouro, prata e moedas. desemprego da Curva de Phillips. O livro de
Foram muito utilizados a partir da Renascença, Phelps, Edmund S., The Microeconomic Founda-
como a forma mais prática e segura de realizar tions of Inflation and Unemployment Theory (Os
transações comerciais. Atualmente, estão quase Fundamentos Microeconômicos da Teoria da In-
extintas, já que os governos passaram a deter o flação e do Desemprego), 1970, é o ponto de
controle e o monopólio da emissão de dinheiro. partida dessa nova abordagem. Veja também
427

Curva de Phillips; Expectativas Racionais; Lu- de câmbio, taxas de juros, salários etc. Se as va-
cas, Robert; Solovia. riações medidas são as correspondentes às quan-
tidades, um número-índice específico deve ser
NOVAÇÃO. Denominação do ato de converter construído: por exemplo, o correspondente ao
uma dívida em outra, para liquidar a primeira. quantum da produção industrial, da agrícola, das
A novação pode ser de dois tipos: 1) objetiva, exportações, das importações etc. A utilização
quando a novação implica na mudança do ob-
dos números-índices remonta à primeira metade
jeto da prestação; 2) subjetiva, quando implica
do século XIX; na segunda metade deste século,
na mudança do credor ou do devedor.
Stanley Jevons escolheu a denominação, consa-
NOVO ACORDO DE EMPRÉSTIMO. Expres- grando-a no campo da economia. Entre todas
são correspondente ao GAB (governors agreement as médias, a geométrica apresenta-se como a
to borrow) e que constitui um instrumento no mais adequada para a medição das variações
âmbito do Fundo Monetário Internacional (FMI), relativas de preços. Os preços podem aumentar
ao qual esta instituição recorre para enfrentar mais do que 100%, mas não podem diminuir
emergências ou crises nos balanços de pagamen- mais do que 100%. Na realidade, um aumento
tos dos países-membros quando os recursos or- de 100% é muito menor do que uma queda de
dinários da instituição não são suficientes para 100%. Em termos relativos, um aumento de
tanto. Em 1998 o FMI teve de recorrer ao GAB 100% pode ser contrabalançado por uma dimi-
(pela primeira vez depois de 1978), em função nuição de 50%, pois o dobro de um preço pode
dos fortes desembolsos e empréstimos a partir ser neutralizado (no índice) com a divisão pela
do segundo semestre de 1997, em decorrência metade de outro, desde que ambos os preços
da crise asiática e da demora dos Estados Unidos correspondam a mercadorias da mesma impor-
em aportar 14,5 bilhões de dólares comprome- tância no período considerado. A média que in-
tidos na reunião de Hong-Kong (em outubro de dica essas variações é a média geométrica. Na
1997) para o aumento de capital do FMI. Veja prática, quando se diz que um índice como o
também Balanço de Pagamentos; Crise Asiáti- Índice Geral de Preços (IGP) teve uma variação
ca; FMI. de 5% no mês de dezembro, isto significa que
a média ponderada dos preços que compõem o
NPV. Iniciais da expressão em inglês net present citado índice sofreu um aumento de 5% em re-
value, que significa “valor presente líquido”. lação ao mês anterior, isto é, em relação a no-
NPVGO. Iniciais da expressão em inglês net pre- vembro. Na construção de um número-índice,
sent value of growth opportunities, que significa observam-se alguns parâmetros básicos. A am-
um modelo de avaliação de uma empresa no plitude do número-índice indica o tamanho da
qual se inclui o valor presente líquido das novas amostra utilizada e o campo da informação (pro-
oportunidades de investimentos ou das oportu- dução industrial, preços no atacado, nível de
nidades de crescimento da empresa. emprego etc.); o período-base é o espaço de tem-
po da variação; o sistema de ponderação de um
NULLKUPONANLEIHE. Termo em alemão que número-índice é fundamental, por exemplo,
corresponde a zero cupon bond. Veja Zero Cou- num índice de preços ao consumidor, em que
pon Bond. cada produto deve ter um peso relativo à quan-
tidade consumida (o chuchu não pode ter o mes-
NUMERÁRIO. Termo que anteriormente desig- mo peso do arroz). A capacidade de um núme-
nava o dinheiro em sua forma primária, isto é, ro-índice refletir a variação real de um fenômeno
como moeda metálica ou notas conversíveis nes- econômico depende não apenas dos cuidados
sa moeda. Atualmente, o termo refere-se ao di- técnicos anteriores como também da eficácia
nheiro em espécie sob qualquer das formas em com que as informações foram obtidas, isto é,
que ele se apresente. Sinônimo de “dinheiro da sua veracidade. Veja também Média Geo-
vivo”, isto é, dinheiro apresentado à vista. métrica; Média Ponderada.
NÚMERO COMPLEXO. Número que envolve NÚMEROS NATURAIS. São os números 1, 2,
elementos imaginários como, por exemplo, a 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9. Alguns autores incluem também
raiz quadrada de menos um. o 0. O conjunto dos números naturais é desig-
NÚMERO-ÍNDICE. Em seu significado genéri- nado pela letra N.
co, um número-índice consiste numa média de NYSE. Iniciais de New York Stock Exchange,
variações relativas. Se as variações medidas são ou Bolsa de Valores de Nova York. Veja Tam-
as correspondentes aos preços, um número-ín- bém New York Stock Exchange.
dice de preços deve ser construído, o mesmo
acontecendo com outras variáveis, como taxas
O HOMEM QUE CALCULAVA 428

da organização são incentivar o crescimento eco-


nômico, o alto nível de emprego e a estabilidade

O
financeira entre os países-membros, bem como
contribuir para o desenvolvimento econômico
em geral e a expansão do comércio multilateral.
A OCDE funciona por meio de várias comissões
assessoradas por um secretariado e publica re-
gularmente boletins estatísticos, relatórios e es-
tudos específicos. Tem sido importante como fó-
rum para a discussão de problemas monetários
O HOMEM QUE CALCULAVA. Veja Grão.
internacionais e na promoção de ajuda e assis-
OBRIGAÇÃO. Título financeiro emitido por tência técnica a países em desenvolvimento. Veja
empresas (debêntures) ou pelo poder público também Oece.
(Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional).
OCIDENTALISTAS. Grupo de intelectuais rus-
Rendem juros e representam um empréstimo
feito ao emitente. Em caso de liquidação, os por- sos do século XIX que, em oposição aos eslavó-
tadores de obrigações são reembolsados antes filos, advogavam a modernização do país se-
de qualquer outro credor. gundo os padrões do Ocidente europeu. Defen-
diam a implantação de um governo republicano,
OBSOLESCÊNCIA. Envelhecimento ou desuso a libertação dos servos e a adoção da tecnologia
de um bem de capital (máquinas, instalações, ocidental. Entre os ocidentalistas destacavam-se
equipamentos), ou de um bem de consumo du- Belinski, Turguéniev, Bakunin, Herzen.
rável (televisão, geladeira, automóvel), em con-
seqüência do desgaste físico ou do surgimento ODD-LOT MARKET. Veja Mercado Fracionário.
de modelos tecnologicamente superiores. Atual- OEA — Organização dos Estados Americanos.
mente, toda a produção industrial determina de Organismo de caráter regional ligado à Organi-
antemão o período de durabilidade de um pro- zação das Nações Unidas (ONU). Sediada em
duto: é a chamada obsolescência programada, que Washington, foi criada na IX Conferência Inter-
com freqüência chega a preparar um desgaste nacional Americana (Bogotá, 1948), visando, en-
artificialmente curto para obrigar os consumi- tre outros objetivos enunciados em sua Carta
dores a uma reposição mais rápida do produto. de Princípios, a favorecer o relacionamento pa-
Nesse processo, a publicidade desempenha um cífico entre os países americanos. Para tanto, es-
papel auxiliar estimulando a compra de “novos” tabeleceu-se o procedimento para mediação e
produtos, que diferem dos anteriores apenas no arbitragem de eventuais questões entre os paí-
aspecto externo ou em acessórios cuja utilidade ses-membros, e o seu encaminhamento à Corte
é supervalorizada nas campanhas. O conceito Internacional de Justiça. Atualmente, a OEA
de obsolescência tem sido estendido a todos os congrega todos os países americanos, à exceção
campos da atividade produtiva e até ao próprio de Cuba. Aliás, foi em resposta à revolução so-
homem; de acordo com a escola do “capital hu- cialista nesse país que o organismo passou a en-
mano”, o “capital” que os assalariados têm na fatizar os vários aspectos do desenvolvimento
forma de conhecimentos pode tornar-se obsoleto econômico e social e a buscar instrumentos para
se estes forem superados, convertendo-se em concretizá-los. Um desses instrumentos foi a
inúteis. Veja também Engenharia Industrial; Aliança para o Progresso, criada no início dos
Publicidade; Tecnologia. anos 60. Em seguida, na Declaração dos Presi-
dentes da América, aprovada em Punta del Este
OCDE — Organização de Cooperação e Desen- (1967), os chefes de Estado comprometeram-se
volvimento Econômico. Instituição criada em a promover a integração econômica latino-ame-
setembro de 1961 em substituição à Organização ricana, incrementar o comércio exterior dos paí-
Européia de Cooperação Econômica (Oece). A ses membros da OEA, melhorar as condições
inclusão dos Estados Unidos e do Canadá e a de vida da população rural, aumentar a produ-
adoção da ajuda ao desenvolvimento como um tividade agrícola e expandir os programas de
dos objetivos justificaram a mudança do nome. educação, ciência, tecnologia e saúde na Amé-
Essa entidade é integrada pelos antigos mem- rica Latina. São organismos da OEA: 1) a As-
bros da Oece — Alemanha, Áustria, Bélgica, Di- sembléia Geral (órgão supremo), que se reúne
namarca, Finlândia, França, Grã-Bretanha, Gré- anualmente; 2) o Secretariado Geral, eleito por
cia, Islândia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Ho- um período de cinco anos pela Assembléia Ge-
landa, Noruega, Portugal, Suécia, Suíça e Tur- ral; 3) o Conselho Permanente, integrado por
quia —, mais Estados Unidos, Canadá, Espanha, um representante de cada país-membro; 4) a
Japão, Austrália e Nova Zelândia. Os objetivos Reunião de Consulta dos Ministros das Relações
429 OGIVA

Exteriores; 5) o Conselho Interamericano Eco- dos insumos necessários para a produção da


nômico e Social (Cies); 6) o Conselho Interame- mercadoria. Mantendo-se constantes todas as
ricano para a Educação, Ciência e Cultura; 7) a variáveis que possam influenciar a oferta e fa-
Corte Interamericana de Justiça; 8) a Comissão zendo-a depender apenas do preço do produto,
Interamericana de Direitos Humanos; e várias ela apresentará graficamente uma inclinação po-
conferências e comissões especializadas, volta- sitiva. Em cada ponto dessa curva de oferta es-
das para a discussão dos problemas que afligem tará representada a quantidade do bem a ser
particularmente a América Latina. ofertado de acordo com determinado preço.
Veja também Concorrência; Demanda; Espe-
OECE — Organização Européia de Cooperação
culação; Mercado.
Econômica. Organização estabelecida em 1948
pelos países da Europa Ocidental para efetuar OFERTA AGREGADA. Conhecida também por
a distribuição entre si da ajuda recebida por oferta de mercado ou oferta global, é a quantidade
meio do Plano Marshall. Foi sucedida em 1961 de bens ou serviços que o conjunto dos ofertan-
pela Organização de Cooperação e Desenvolvi- tes produz e oferece no mercado, em determi-
mento Econômico (OCDE). Veja também OCDE. nado período de tempo e por determinado pre-
ço. Determina-se a oferta agregada somando-se
OFELIMIDADE. Termo criado por Vilfredo Pa-
as ofertas individuais a cada nível de preço. Em
reto para designar a capacidade de uma merca-
função disso, ela depende de todos os fatores
doria de satisfazer necessidades humanas. A pa- que influenciam a oferta individual, além do nú-
lavra tem origem grega e significa “o atributo mero de ofertantes no mercado.
de uma coisa capaz de satisfazer uma necessi-
dade ou desejo, seja este legítimo ou não”. Por OFERTA COMPLEMENTAR. Veja Oferta
exemplo, nesse sentido a maconha ou a cocaína Conjunta.
têm “ofelimidade” tanto quanto o pão ou o leite.
A razão principal para a incorporação deste ter- OFERTA CONJUNTA. Também denominada
mo em lugar de valor de uso ou simplesmente oferta complementar, refere-se a bens que mantêm
de utilidade decorreu das controvérsias na vi- entre si uma relação de complementaridade, de
rada do século, nas quais Pareto esteve envol- tal forma que uma alteração na oferta de um
vido, sobre o conceito de valor de uso. Veja tam- acarreta alteração na oferta do outro. É o caso,
bém Pareto, Vilfredo; Utilidade Cardinal; Uti- por exemplo, da oferta de tinta e de caneta-
lidade Marginal; Utilidade Ordinal; Valor de tinteiro.
Uso. OFERTA DE MERCADO. Veja Oferta Agregada.
OFENSIVA SHUNTO DA PRIMAVERA. Ex- OFERTA GLOBAL. Veja Oferta Agregada.
pressão utilizada no Japão para designar a sin-
cronização das negociações coletivas por empre- OFF. Expressão utilizada no mercado de ações
sa que os sindicatos desenvolvem anualmente para indicar que os preços estão abaixo do nível
durante o período da primavera. Do lado dos precedente. O termo designa também um título
sindicatos dos trabalhadores, suas confedera- “desprovido de”, ou seja, dividend off, significan-
ções assumem as funções de coordenação, e as do uma ação sem dividendos. Veja também Ex-
empresas são coordenadas pela federação Nik- Dividendo.
keiren. Veja também Keidanren; Nikkeiren.
OFF-BALANCE-SHEET. Veja Fora de Balanço.
OFERTA. Quantidade de bens ou serviços que
se produz e se oferece no mercado, por deter- OFFSHORE. Termo em inglês que designa qual-
minado preço e em determinado período de quer organização financeira sediada fora dos Es-
tempo. Diversos fatores influenciam o compor- tados Unidos. Assim, por exemplo, um banco
tamento de um ofertante no mercado, como: 1) sediado no Panamá é considerado um offshore
bank e suas operações são submetidas a uma
preço do bem em questão — para a economia
legislação especial nos Estados Unidos.
clássica, quanto mais alto o preço de mercado,
maior tenderia a ser a quantidade ofertada; é OGIVA (de Galton). Expressão gráfica de uma
comum, entretanto, que se ofereça uma quanti- distribuição acumulada (freqüência ou porcen-
dade menor a um preço maior, quer por retenção tagem) obtida pela anotação das freqüências ou
deliberada de estoques, na expectativa de novas percentagens acumuladas correspondentes ao li-
elevações de preço, quer por força de um poder mite de classe, e unindo os pontos sucessivos
de monopólio; 2) a tecnologia: quanto maior for com os segmentos de reta. Uma vez que a maior
o avanço tecnológico, maior tende a ser a quan- parte das ogivas tem geralmente a forma de
tidade ofertada; 3) as condições climáticas, no um s alongado, elas são também chamadas de
caso de produtos agrícolas; 4) o suprimento sigmóides.
OHLIN 430

Exemplo: sem abundância de capital e trabalho, mas sim


de terras, exportaria bens primários. Em conse-
X Fi freqüência
acumulada
qüência, haveria uma tendência ao nivelamento
2a4 20 20
dos preços dos fatores de produção. Em cada
4a6 50 70
país, o comércio exterior seria responsável pelo
6a8 80 150
aumento dos preços dos fatores dos produtos
de exportação e pela baixa dos fatores dos pro-
8 a 10 30 180
dutos que não são exportados. Assim, por exem-
10 a 12 10 190
plo, o preço da terra aumentaria na Austrália,
total 190
devido ao aumento de sua procura para expor-
tação, e diminuiria na Inglaterra. E os salários
Número Acumulado de Empregados

190
aumentariam na Inglaterra e diminuiriam na
180
Austrália. A teoria de Ohlin foi criticada por
150 diversos autores, entre eles Taussig e Viner, por
por Faixa Salarial

basear-se na teoria neoclássica da determinação


dos preços, que pretende explicar os preços dos
bens apenas pelos preços dos fatores de produ-
ção, negligenciando o conjunto de condições na-
070 turais e sociais que influenciam a eficácia das
forças produtivas nos diversos setores de pro-
dução e produtividade do trabalho nas várias
020 regiões. Ohlin foi professor de economia nas
2 4 6 8 10 12 universidades de Copenhague e de Estocolmo,
membro do Parlamento sueco (1938-1970) e mi-
Faixas Salariais
nistro do Comércio (1944-1945). Escreveu ainda
Handelns Teori (A Teoria do Comércio), 1924; The
onde x = faixa de salários em nº de salários Course and Phases of the World Economic Depres-
mínimos. sion (O Curso e as Fases da Depressão Econô-
Fi = número de empregados em cada faixa mica Mundial), 1931, e The Problem of Employ-
salarial. ment Stabilization (O Problema da Estabilização
do Emprego), 1949.
OHLIN, Bertil Gotthard (1899-1979). Economis-
ta e político sueco, representante da corrente OHM. Unidade que mede a resistência à pas-
marginalista especializada em comércio interna- sagem de corrente elétrica por um fio, isto é,
cional e ganhador do Prêmio Nobel de Econo- quando uma corrente elétrica passa por um fio,
mia de 1977. Discípulo de Heckscher, Ohlin for- uma série de outras partículas se interpõe em
neceu uma nova explicação dos fundamentos seu caminho, formando uma “resistência” a essa
das trocas internacionais — a partir dos fatores passagem. Tal resistência é medida em ohms.
de produção — e sustentou que a teoria clássica O nome deve-se ao cientista alemão G.S. Ohm.
sobre o assunto (a lei dos custos comparativos, Veja também Unidades de Pesos e Medidas.
de Ricardo) não teria validade na determinação
OIT — Organização Internacional do Traba-
dos preços. Sua explicação ficou conhecida como
lho. Entidade criada em 1919 pelo Tratado de
princípio Heckscher-Ohlin. A teoria de Ohlin é Versalhes, como um departamento autônomo
desenvolvida em sua principal obra, Interregio- da Liga das Nações e que, em 1946, foi incor-
nal and International Trade (Comércio Inter-regio- porada às Nações Unidas (ONU) como agência
nal e Internacional), 1933. Ohlin parte da teoria especial. Sediada em Genebra, tem como obje-
neoclássica, segundo a qual o preço dos produ- tivos o intercâmbio de informações e a elabora-
tos é determinado pela soma dos preços dos fa- ção de normas para a melhoria das condições
tores que entram em sua produção. Concluiu de trabalho e a promoção da justiça social em
que os preços relativos desses fatores determi- todo o mundo. Em 1980, contava com 144 países
nam as exportações e importações dos países. membros, signatários de sua convenção. A Con-
E que esses preços dependeriam, por sua vez, ferência Internacional do Trabalho, que se rea-
da relativa abundância ou raridade dos diversos liza anualmente em Genebra, é o principal órgão
fatores em cada país (abundância ou não de ca- deliberativo da OIT, e as delegações nacionais
pital, trabalho, terra, minérios etc.). O comércio que comparecem à reunião são integradas por
internacional seria então “uma troca de fatores representantes dos governos, dos empregadores
abundantes por fatores raros”. Assim, por exem- e dos trabalhadores. Uma junta governativa elei-
plo, a Inglaterra, com abundância de capital e ta pela conferência é o órgão executivo da OIT,
trabalho, mas não de terras, exportaria bens ma- do qual vários países são membros permanentes
nufaturados para a Austrália, que, por sua vez, por sua importância econômica, entre eles o Bra-
431 OMBUDSMAN

sil. Sua principal atividade é a aplicação do Pro- caso de novos processos tecnológicos, como
grama Mundial de Emprego, instituído em 1969 ocorreu na área dos computadores. Um dos me-
para concentrar esforços nacionais e internacio- lhores exemplos de oligopólio, tanto na econo-
nais no combate ao desemprego. mia brasileira quanto na norte-americana, é a
indústria automobilística: no Brasil, o mercado
OITAVA. Medida de peso utilizada pela Casa é praticamente dominado por quatro grandes
da Moeda do Brasil antes da adoção do sistema fábricas, enquanto nos Estados Unidos apenas
métrico decimal e equivalente a 3 escrópulos ou três indústrias detêm mais de 90% do mercado.
aproximadamente 3,571 gramas. Veja também Atacado; Cartel; Concorrência Im-
perfeita; Liderança de Preço; Monopólio.
OKUN, Arthur (1929-1979). Veja Lei de Okun.
OLIGOPSÔNIO. Tipo de estrutura de mercado
OLD LADY OF THREADNEEDLE STREET. em que poucas empresas, de grande porte, são
Apelido do Banco da Inglaterra, cuja entrada as compradoras de determinada matéria-prima
principal está situada na Threadneedle Street, ou produto primário. O oligopsônio pode ter
em Londres. duas formas: 1) um mercado comprador muito
OLHO-DE-BOI. Veja Selo Postal. concentrado, com poucas e grandes empresas
que negociam com muitos pequenos produtores
OLHO-DE-CABRA. Veja Selo Postal. (comum no relacionamento entre indústrias ali-
mentícias e seus fornecedores); 2) um mercado
OLIGARQUIA. Regime político ou forma de consumidor concentrado e um mercado vende-
dominação de qualquer tipo, no qual o poder dor também concentrado, com poucos e grandes
está nas mãos de um grupo pequeno de pessoas produtores. Este último caso, também chamado
que dele se apossaram, sendo exercido apenas de oligopsônio bilateral, ocorre quando indústrias
por elementos desse grupo. Do ponto de vista vendem a indústrias (siderúrgicas e automobi-
político puramente formal, distingue-se da de- lísticas, por exemplo) ou a grandes distribuido-
mocracia e da monarquia. res. Veja também Atacado; Monopólio; Monop-
sônio; Oligopólio.
OLIGOPÓLIO. Tipo de estrutura de mercado,
nas economias capitalistas, em que poucas em- OLIVEIRA, Francisco de (1934- ). Nasceu em
presas detêm o controle da maior parcela do Pernambuco e graduou-se em direito. Trabalhou
mercado. O oligopólio é uma tendência que re- na Sudene desde a sua fundação até o golpe
flete a concentração da propriedade em poucas militar de 1964. Transferiu-se para São Paulo,
empresas de grande porte, pela fusão entre elas, onde foi um dos fundadores do Cebrap (Centro
incorporação ou mesmo eliminação (por com- Brasileiro de Análise e Planejamento). Foi pro-
pra, dumping e outras práticas restritivas) das fessor do curso de pós-graduação de economia
pequenas empresas. Para os marxistas, o oligo- da Pontifícia Universidade Católica de São Pau-
pólio é uma característica inerente à etapa im- lo entre 1978 e 1984. Atualmente, é professor
perialista do capitalismo e traz como conseqüên- titular do Departamento de Ciência Política da
cia a limitação do livre jogo de mercado. Se al- Universidade de São Paulo (USP). Seus livros
gumas poucas empresas dominam um mercado, mais importantes são: Economia Brasileira: Crítica
elas podem dividir entre si a área de atuação, à Razão Dualista (1973), A Economia da Dependên-
limitando os custos de concorrência e fixando cia Imperfeita (1977), Elegia para uma Re(li)gião:
preços que ampliem muito a margem de lucro. Sudene, Nordeste, Planejamento e Conflitos de Classe
Os defensores do oligopólio argumentam que, (1987) e A Emergência do Modo de Produção de
devido ao grande porte das empresas, elas te- Mercadorias, uma Interpretação da Teoria Econômica
riam maior capacidade de investimento na pes- da República Velha. É editor da revista Novos Es-
quisa por produtos novos e melhores e, devido tudos Cebrap e seu freqüente colaborador.
à economia de escala, poderiam oferecer preços
mais baixos. Um membro de um oligopólio, con- OMBUDSMAN. Teve sua origem na Suécia em
tudo, dificilmente baixa seus preços, pois sabe 1713, instituído pelo rei Charles XII, como seu
que será imediatamente seguido pelos demais, representante com poderes absolutos para veri-
ficando então com a mesma fatia do mercado e ficar qualquer atividade do reino e informar o
lucros menores. A competição tende a estabele- soberano. A constituição de 1809 o instituciona-
cer-se mais no plano do marketing. Na prática, lizou como representante do Parlamento. Em
há uma tendência ao oligopólio nos setores que 1919 foi adotado na Finlândia; em 1952, na No-
exigem grande volume de investimentos. Esse ruega; em 1953, na Dinamarca; em 1956, na ex-
é o caso, por exemplo, de muitos setores oligo- República Federal da Alemanha; em 1962, na
polizados em todo o mundo, como os de cigar- Nova Zelândia; em 1967, na Inglaterra, sob a
ros, lâminas de barbear e lâmpadas elétricas. A denominação de Parliamentary Commissioner for
tendência ao oligopólio também se verifica no Administration.
OMC 432

OMC — Organização Mundial do Comércio. e cunhagem de moedas, o equivalente a 31,104


Organismo que deverá substituir o Gatt (Gene- g; 5) nos Estados Unidos e na Inglaterra, na ati-
ral Agreement on Trade and Tariffs, Acordo Ge- vidade de fabricação de calçados, a onça é tam-
ral sobre Comércio e Tarifas), que esgotou suas bém unidade de medida para espessura do cou-
atividades de acordo provisório na reunião de ro (exceto a sola) e mede 1/64 de polegada ou
Marrakesh (Marrocos), onde 97 países assinaram 0,4 mm. Veja também Conversão das Unidades
um acordo para a sua constituição a partir de de Pesos e Medidas; Sistemas de Pesos e Me-
1995. À diferença do Gatt, a OMC terá caráter didas; Unidades de Pesos e Medidas.
permanente e deverá entrar em funcionamento
a partir de 1999. Veja também GATT. ONÇA LÍQUIDA. Veja Sistema Apothecary.

OMNIUM. Termo em latim que significa, lite- ONÇA TROY. Medida de peso para metais
ralmente, “todos”, utilizado durante muito tem- preciosos utilizada nos Estados unidos, equi-
po na Inglaterra para designar os vários tipos valente a 31,104 g no sistema troy. O nome des-
de fundos públicos que intermediavam emprés- se sistema deriva da cidade francesa de Troyes,
timos ao Estado. onde era utilizado nas feiras anuais realizadas
na Idade Média. Veja também Conversão das
OMPI — Organização Mundial da Propriedade Unidades de Pesos e Medidas; Sistemas de
Intelectual. Com sede em Genebra, foi instituída Pesos e Medidas.
em 1967 pela Convenção de Estocolmo, ratifi-
cada pelo Brasil mediante o decreto 75 541/75, ONCE AND FOR ALL. Expressão em inglês
e tem por finalidade estabelecer as normas de que significa, literalmente, “de uma vez por to-
proteção à propriedade intelectual (direitos au- das” e, aplicada ao mercado financeiro, indica
torais, franquias, propriedade industrial etc.). que a cobrança de uma taxa, imposto, tarifa só
Para dirimir essas questões no plano jurídico, a se fará uma vez.
Ompi criou em 1993 o seu Centro de Arbitra-
gem. Este Centro de Arbitragem tem a finalida- ONGs. Iniciais de Organização Não-Governa-
de de resolver contendas em nível internacional, mental. São organizações independentes dos go-
envolvendo problemas de propriedade intelec- vernos, que lutam por determinados objetivos
tual, por meio da mediação, arbitragem ou ar- sociais geralmente em escala global. A área onde
bitragem expedita previstas em seu regulamen- mais têm se desenvolvido é em relação às lutas
to. É uma ação extrajudicial e, portanto, menos ecológicas e de proteção ao meio ambiente.
dispendiosa do que um processo que envolva
OP. Sigla que identifica as ações ordinárias ao
as cortes oficiais.
portador: este tem direito a voto e a transferência
ON. Sigla que identifica as ações ordinárias no- dos direitos é feita por simples entrega do cer-
minativas. Seu proprietário tem direito a voto, tificado correspondente.
e a transferência dos direitos é feita mediante
assinatura em livro especial da empresa que OPÇÃO. Direito negociável de compra de mer-
emitiu as ações. cadorias ou títulos, ações etc., com pagamento
em data futura e preços predeterminados. A op-
ON LINE. Em informática, designa a operação ção é largamente utilizada no mercado de com-
de um equipamento periférico em comunicação modities (café, açúcar, cacau, soja etc.) e no mer-
direta com a unidade central de processamento cado futuro de ações. Nas operações de câmbio,
de um computador. Os dados de entrada che- a opção decorre do acordo entre as partes —
gam ao computador diretamente de seu ponto operadores e banco ou financeiras —, em termos
de origem, sem sofrer tratamento ou alteração contratuais, pelo qual uma delas fica com o di-
intermediária. O exemplo mais conhecido de reito de escolha do dia que mais lhe convier
operação on line é a alteração simultânea do sal- para fazer a entrega e a liquidação do câmbio
do de uma conta corrente em conseqüência de dentro dos dispositivos estabelecidos no contrato.
saque ou depósito em outra agência bancária.
OPÇÃO AMERICANA. Um contrato de opção
ONÇA. Termo que possui vários significados: que pode ser exercido nos Estados Unidos a
1) duodécima parte da libra romana (cerca de
qualquer momento antes da data da opção. Ao
28 g); 2) denominação dada a moedas de vários
contrário da opção européia, que só pode ser exer-
países, geralmente representando a sexta ou dé-
cida na data da opção.
cima parte da unidade, como as onças de ouro
e prata da Espanha, do México, de Cuba e Por- OPÇÃO EUROPÉIA. Veja Opção Americana.
tugal; 3) medida de peso utilizada pela Casa da
Moeda do Brasil antes do sistema métrico de- OPÇÕES ASIÁTICAS. Veja Exóticas.
cimal e equivalente a 28,569 g; 4) no sistema
troy para medida de pedras e metais preciosos OPÇÕES DE BARREIRA. Veja Exóticas.
433 OPERAÇÕES SINTÉTICAS

OPÇÕES DE COMPRA. Privilégio de comprar OPERAÇÕES DE CRÉDITO POR ANTECIPA-


determinados títulos ou commodities, em deter- ÇÃO DE RECEITA. Veja ARO.
minadas quantidades e preços para pagamento
em data futura também determinada. Esses di- OPERAÇÕES ESTRUTURADAS. Expressão do
reitos são negociados no mercado financeiro, es- mercado financeiro também denominada “ope-
pecialmente no mercado de commodities (café, al- rações sintéticas”, que designa um conjunto de
godão, cacau, petróleo etc.) e no mercado futuro operações, especialmente no mercado de deri-
de ações. vativos, com a finalidade de alcançar um obje-
tivo diferente daquele implícito em cada uma
OPÇÕES DE COMPRA CATS. Veja CATS. das operações envolvidas. Exemplo típico é o
OPÇÕES DE VENDA. Privilégio de vender de- denominado box, que, embora envolvendo duas
terminados títulos ou commodities em determi- opções de compra e duas opções de venda, na
nadas quantidades e preços, para entrega em verdade implica ou uma aplicação ou uma cap-
data futura também determinada. Esses direitos tação de recursos, não importando, portanto, em
são negociados no mercado financeiro, especial- hedge, arbitragem ou assunção de risco. Veja
mente no mercado de commodities (café, algodão, também Arbitragem; Box; Hedge.
petróleo, cacau etc.) e no mercado futuro de ações. OPERAÇÕES INTERLIGADAS. Dispositivo
OPÇÕES DE VENDA CATS. Veja CATS. criado por lei mediante o qual proprietários pri-
vados ou do setor público, em troca de altera-
OPÇÕES RETROSPECTIVAS. Veja Exóticas. ções nos índices e características de uso e ocu-
pação do solo em terrenos de sua propriedade,
OPEC. Veja Opep.
doam à Prefeitura Municipal de São Paulo um
OPEN MARKET. Veja Mercado Aberto. determinado número de Habitações de Interesse
Social (HIS) para contribuir com o desfavela-
OPEP— Organização dos Países Exportadores mento. As primeiras iniciativas para a formula-
de Petróleo. Entidade criada em 1960 no Iraque. ção desse dispositivo legislativo surgiram em
Foram responsáveis por sua fundação a Arábia 1986 durante a gestão Jânio Quadros na Prefei-
Saudita, o Irã, o Kuweit, a Venezuela e o próprio tura de São Paulo. Um projeto de lei contendo
Iraque. A Opep surgiu com o objetivo de esta- os principais elementos para a realização dessas
belecer uma política comum em relação ao pe- operações foi aprovado por decurso de prazo e
tróleo. Integraram-se posteriormente à organi- sancionado como lei nº 10 209. As primeiras
zação: Argélia, Equador, Gabão, Indonésia, Lí- Operações Interligadas, no entanto, só começa-
bia, Nigéria, Qatar e União dos Emirados Ára- ram a ser realizadas em 1988. No final daquele
bes. No início da década de 80 os países da Opep ano foi promulgada a lei nº 10 676, que aprovou
respondiam por cerca de 60% da produção mun- o Plano Diretor, o qual, em seu artigo 20, criou
dial de petróleo e 90% das exportações. Para a Comissão Normativa de Legislação Urbana
prestar ajuda financeira a países em desenvol- (CNLU), que substituía a Comissão de Zonea-
vimento não membros da organização, criou-se
mento, e que passou a ter a competência de apro-
um fundo especial em 1976. A Opep surgiu
var as Operações Interligadas. Em 1994, a lei
como uma poderosa organização logo após a
10 209 sofreu alterações importantes. Na apro-
guerra árabe-israelense de 1973, quando os paí-
ses árabes nela integrados boicotaram o forne- vação do projeto do Executivo que criava a Se-
cimento de petróleo para os Estados Unidos e cretaria do Verde e do Meio Ambiente, foram
outros países que auxiliavam Israel. Em conse- acrescentados dois artigos que mudavam a sis-
qüência, os preços do petróleo aumentaram temática de aprovação das Operações Interliga-
substancialmente. A partir desse episódio, todos das, restringindo as zonas onde estas poderiam
os integrantes da Opep decidiram reajustar os ser realizadas e transferindo para a Câmara de
preços do petróleo com regularidade. Em 1976 Vereadores o poder de aprová-las (especialmen-
foi introduzido um sistema dual de preços, pois te as maiores) em instância final. Em outubro
a Arábia Saudita e a União dos Emirados Árabes do mesmo ano o Executivo municipal enviou
decidiram mantê-los em nível mais baixo que outro projeto de lei anulando tais modificações
os demais membros da organização. Veja tam- e devolvendo à CNLU as atribuições de apro-
bém Fontes de Energia; Petróleo, Crise do. vação final dos projetos. Este projeto foi apro-
vado em maio de 1995. Veja também Adiron
OPERAÇÃO A TERMO. Expressão utilizada (Fórmula de); Habitações de Interesse Social;
no mercado acionário e de commodities para in- Lei de Zoneamento; Operações Urbanas; Plano
dicar que fica estabelecido um prazo para que Diretor; Solo Criado.
a transação seja efetivamente liquidada. Veja
também Backwardation; Commodities; Con- OPERAÇÕES SINTÉTICAS. Veja Operações
tango; Mercado a Termo. Estruturadas.
OPERAÇÕES URBANAS 434

OPERAÇÕES URBANAS. Consistem num ins- exercício e a duração da opção, o que permite
trumento legal (lei aprovada pela Câmara de calcular o valor (ou o preço) de uma opção.
Vereadores e sancionada pelo prefeito) aplicado
numa região da cidade, com perímetro definido, ORÇAMENTO. Em sua definição clássica, or-
para a qual se desenvolve um projeto de inter- çamento é a previsão das quantias monetárias
venções do poder público visando dotar e/ou que, num período determinado, devem entrar
aprimorar a infra-estrutura e equipamentos ur- e sair dos cofres públicos. Modernamente, o or-
banos adequados ao adensamento desejado. çamento é considerado uma técnica vinculada
Para tanto, utiliza o conceito de “solo criado”, ao planejamento econômico e social e poderia
isto é, obtém recursos financeiros a partir da ou- ser assim definido: são as contas nacionais e o
torga onerosa do direito de construir adicional- planejamento que oferecem os fins e os objetivos
mente em relação às restrições impostas pela Lei para cuja realização se requerem os fundos pú-
de Zoneamento, ou seja, a legislação que esta- blicos; os custos das atividades propostas para
belece as normas de uso e ocupação do solo. alcançar esses fins e os dados quantitativos que
Ao contrário das Operações Interligadas, onde medem as realizações; e as tarefas executadas
as contrapartidas financeiras se traduzem em dentro de cada uma dessas atividades. Amplia-
construção de Habitações de Interesse Social ção conceitual ligada à participação cada vez
fora do terreno, com direitos de edificação su- maior do Estado na economia, que se refletiu
periores aos estabelecidos pelo zoneamento, nas igualmente na ampliação do prazo previsto para
Operações Urbanas tais recursos são utilizados a realização das despesas públicas: os orçamentos
no interior do perímetro que delimita a área anuais, correspondentes a um exercício financei-
onde se realizará a operação, na forma de in- ro, deram lugar a uma programação de obras e
vestimentos infra-estruturais, viários, residen- serviços com antecedência de no mínimo três
ciais etc. Este mecanismo já foi utilizado em vá- anos. Orçamento plurianual de investimento é aquele
rias cidades, destacando-se o projeto de Battery documento orçamentário em que são incluídos
Park, em Nova York. Em São Paulo, já foram os investimentos públicos cuja execução ultra-
apresentados vários projetos de Operação Ur- passe um exercício financeiro, fixando-se o mon-
bana, como o do Anhangabaú, Água Branca, Fa- tante das dotações que anualmente constarão do
ria Lima (estes já aprovados) e Água Espraiada, orçamento, durante o prazo de sua execução.
Metrô Sudoeste e D. Pedro II — Pari (estes úl- Assim, o orçamento governamental para deter-
timos ainda em discussão). Veja também Adiron minado exercício financeiro incorpora o orça-
(Fórmula de); Lei de Zoneamento; Operações mento corrente, que inclui as despesas de ma-
Interligadas; Plano Diretor; Solo Criado. nutenção administrativa, e também o orçamento
plurianual de investimentos, a previsão, a longo
OPERATING ASSETS TURNOVER. Um indi- prazo, dos gastos em obras, projetos e progra-
cador das demonstrações financeiras que rela- mas governamentais. Esse sistema começou a
ciona o valor das vendas ou receitas num de- ser adotado no Brasil na década de 50, com a
terminado ano com a média total de investimen- introdução de planos mais duradouros no pla-
tos em ativos tangíveis em operação. Compreen- nejamento das atividades do governo, como fo-
dem-se os ativos tangíveis como aqueles envol- ram, por exemplo, o Plano Salte e o Plano de
vidos nas operações da empresa, com exceção Metas. A elaboração da proposta orçamentária
dos considerados não-tangíveis, como, por exem- de um país é de responsabilidade do poder exe-
plo, o goodwill, o nome da empresa, sua imagem cutivo. Depois, o documento é encaminhado ao
etc. Este coeficiente indicará quanto em vendas Congresso Nacional, onde é discutido, podendo
ou receitas será proporcionado por um certo va- sofrer emendas referentes à redistribuição de re-
lor em ativos operacionais num determinado cursos, corte de verbas etc. Uma vez aprovado,
ano. Será geralmente baixo nas empresas de ser- o orçamento volta ao executivo, que o sanciona
viços públicos (transporte ferroviário, por exem- como lei. Assim, no âmbito nacional, cabe ao
plo) e elevado em supermercados. Congresso o controle da execução orçamentária;
no âmbito estadual, às Assembléias Legislativas;
OPIC. Veja Overseas Private Investment Cor- na esfera municipal, o controle é tarefa das Câ-
poration. maras Municipais. Ao Tribunal de Contas, órgão
OPPORTUNISTIC IGNORANCE. Veja Igno- vinculado ao Congresso Nacional, cabe auxiliar
rância Oportunista. o legislativo no controle das contas públicas. O
orçamento inclui a previsão de receitas e des-
OPTION PRICE MODEL. Expressão em inglês pesas do país em dado exercício financeiro, dis-
que significa “modelo de precificação de opçõ- criminando as previsões de acordo com a ori-
es”. Este modelo vem expresso numa fórmula gem, natureza, finalidade ou periodicidade do
que reúne vários elementos: a taxa de juros sem movimento monetário. No Brasil, utilizam-se os
risco, o valor corrente dos ativos, o preço de seguintes critérios de classificação: institucional
435 ORGANIZAÇÃO

(por órgãos); econômica (orçamento corrente e or- do Estado de São Paulo publica mensalmente
çamento do capital); funcional (por objetivo a rea- um índice de custo de vida da classe média,
lizar); e por programas (seleção dos objetivos, for- calculado entre aqueles que recebem entre seis
ma de atingi-los e recursos necessários). Esse e trinta salários mínimos (pisos salariais).
último critério corresponde aos chamados orça-
mentos-programas, surgidos nos anos 60 e no ORDEM FIRME. Instrução dada a corretores,
início da década de 70 e atualmente utilizados com determinação de preços e condições de ven-
em diversos países, entre os quais o Brasil. Re- da, para negócios que estão sendo realizados
presentam uma nova técnica orçamentária, re- nas Bolsas de Valores ou de Mercadorias.
flexo da participação crescente do aparelho es- ORDEM NATURAL. Princípio da economia clás-
tatal no conjunto da atividade econômica desde sica cunhado pelos fisiocratas, segundo o qual
a crise de 1929. Intimamente associados ao pla- os fenômenos da vida econômica seriam regidos
nejamento global, esses orçamentos fixam metas por leis universais e imutáveis, harmônicas e
e objetivos governamentais, estruturados em benéficas por si mesmas. A ordem natural seria,
planos e programas que devem ser executados portanto, o elemento regulador dos mecanismos
em determinado período, em conjugação com o de mercado, de nada adiantando a intervenção
sistema de planejamento das finanças. Veja tam- humana para superar desajustes econômicos
bém Contas Nacionais. ocasionais. Nesse ordenamento, as ações indi-
viduais deveriam ser livres, assim como o mer-
ORÇAMENTO FISCAL. É a expressão da po-
cado. O conceito de ordem natural foi o ponto
lítica fiscal de um país, um dos vários instru-
de partida da doutrina do laissez-faire. E Adam
mentos de intervenção do poder público sobre
Smith, sob a influência fisiocrata, afirmava que
o conjunto da economia. Em seu planejamento,
a ordem natural corresponde ao estado da na-
parte-se do fato de que o nível e a distribuição
tureza e se choca com uma ordem artificialmente
da renda e o volume das despesas privadas so- criada pelo homem, sobretudo pelo Estado. Essa
frem a influência da tributação, das despesas e ordem conciliaria naturalmente o interesse in-
da administração da dívida pública, atividades dividual com os interesses coletivos, harmoni-
que dizem respeito ao orçamento fiscal. Tais ati- zando as distorções nos preços e na produção
vidades passam portanto a funcionar de manei- e proporcionando o desenvolvimento geral dos
ra coordenada e integrada aos controles mone- negócios.Veja também Fisiocratas; Laissez-fai-
tário e de crédito; tornou-se um recurso para o re.
controle geral ou parcial dos preços e para o
favorecimento, ou restrição, de determinada ati- ORDENADOR DE DESPESA. Funcionário in-
vidade econômica. vestido de autoridade e competência para emitir
empenho e autorizar pagamentos.
ORDEM DE OPERAÇÕES. Ordem escrita, dada
pelo investidor a seu corretor, para que este exe- ORDENANÇAS. Bilhetes emitidos pelos holan-
cute determinadas operações nas Bolsas de Va- deses entre 1640 e 1643, no Recife, de curso for-
lores, especialmente a compra e venda de lotes çado e que atuavam como dinheiro diante da
de ações ou títulos. escassez de metais preciosos para a cunhagem.
Foi o primeiro tipo de papel-moeda que circulou
ORDEM DE PAGAMENTO. Qualquer docu- no Brasil.
mento escritural em que uma pessoa autoriza
outra a receber pagamento de uma terceira (em ORDINALISMO. Veja Utilidade Ordinal.
geral, um banco). Nesse contexto, as ordens de
pagamento mais comuns são o próprio papel- ORDRE NATUREL. Veja Ordem Natural.
moeda e o cheque. Num contexto mais restrito, ORDRE POSITIF. Veja Ordem Natural.
é um documento bancário com a mesma finali-
dade. Veja também Cheque; Moeda Escritural; ORE. Veja Coroa.
Papel-moeda.
ORGANIZAÇÃO. Conjunto de relações de or-
ORDEM DOS ECONOMISTAS DO ESTADO dem estrutural (direção, planejamento, operação
DE SÃO PAULO. Entidade civil fundada em e controle) que mantém uma empresa em fun-
1953. A ordem zela pela ética profissional dos cionamento. Consiste num sistema por meio do
economistas, bem como pela integração entre qual os desempenhos pessoais são operaciona-
eles. São membros da ordem os economistas e lizados e coordenados. Os métodos e processos
estudantes de economia. Sua diretoria é eleita de organização industrial desenvolveram-se no
pelos membros para um mandato de três anos. início do século XX, juntamente com o progresso
Sua estrutura é composta pela Assembléia Geral, técnico e a intensificação da divisão social do
o Conselho Superior, a Diretoria e o Conselho trabalho, e a partir dos estudos de Taylor, Fayol
Fiscal. Desde 1981, a Ordem dos Economistas e Gulick. Eles elaboraram o modelo de organi-
ORGANIZAÇÃO CONSULTIVA MARÍTIMA INTERGOVERNAMENTAL 436

zação formal, baseado em: unidade de comando, ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO CO-


divisão do trabalho, paridade entre responsabi- MÉRCIO (International Trade Organization).
lidade e autoridade, especialização e coordena- Entidade idealizada em 1947, mas não efetivada,
ção. Na organização e execução dos processos seria uma agência da ONU dedicada à expansão
administrativos, enfatizam os critérios de depar- do comércio mundial em bases multilaterais e
tamentalização. Esses critérios podem ser adota- não discriminatórias. Seus princípios, estabele-
dos por funções (no sentido de agrupar ao má- cidos na Carta de Havana, buscavam uma po-
ximo atividades homogêneas); por produto (quan- lítica de igualdade de tratamento para todos os
do a produção é grande e variada); por território países signatários, reduções tarifárias e eventual
(para a divisão da atividade de vendas); por eliminação das restrições quantitativas ao co-
clientela; por processo (para dividir seções fabris); mércio. O documento, entretanto, foi rejeitado
por projeto (formando-se equipes especializadas em 1950 pelo Senado dos Estados Unidos, mas
na execução de projetos específicos); e por tempo alguns de seus itens constam do Acordo Geral
(divisão dos empregados por turnos, quando a de Tarifas e Comércio (GATT), acordo original-
produção é ininterrupta). Nas empresas moder- mente provisório e que acabou se tornando per-
nas e de organização complexa, é importante manente. Veja também GATT; OMC.
haver um organismo especial de assessoria, de-
nominado geralmente de organização e méto- ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS. Orga-
dos, que vise a estruturar, sistematizar e con- nismos de âmbito mundial, continental ou re-
trolar a organização em si mesma: desde o fun- gional que visam à cooperação econômica, so-
cionamento racional dos processos administra- cial, cultural, científica e à segurança coletiva
tivos, passando pelos serviços mais corriqueiros, entre as nações. Seu surgimento decorreu sobre-
até a orientação geral da produção. Esse setor tudo dos danos causados pelas duas guerras
é responsável pela confecção de organogramas, mundiais. Em plano mais abrangente, a Primeira
manuais de organização e funções, sistematiza- Guerra Mundial gerou a Liga das Nações, en-
ção das rotinas e racionalização do trabalho, im- quanto a Segunda fez surgir a Organização das
plantação do sistema planejado e acompanha- Nações Unidas (ONU). Esta última, criada em
mento geral da execução desse sistema. Uma 1945, basicamente pelas nações vencedoras da
abordagem diferente foi dada por Elton Mayo, Segunda Guerra Mundial, é a mais ampla enti-
a partir de 1925, com o lançamento das bases dade mundial, cuja função primordial de defesa
da organização informal, ao propor uma dimi- da paz é complementada pelo trabalho de várias
nuição da autoridade das chefias e privilegiando agências especializadas em problemas de desen-
o trabalho em equipe. Objetivava com isso o au- volvimento econômico, social e cultural: Unctad,
mento da produtividade, incutindo nos empre- Unesco, OIT, FAO, OMS e as comissões econô-
gados uma nova atitude para com a empresa, micas regionais para a América Latina, África,
na medida em que pudessem propor e discordar Ásia Ocidental, Ásia e Pacífico e Europa. Mun-
da organização e métodos de trabalho sugeridos dialmente, o mais importante organismo econô-
pela direção. Veja também Administração; Ra- mico-financeiro é o Fundo Monetário Interna-
cionalização. cional (FMI): com essa mesma amplitude, mas
dedicado às questões comerciais, os países ca-
ORGANIZAÇÃO CONSULTIVA MARÍTIMA
pitalistas contam com o General Agreement on
INTERGOVERNAMENTAL (Inter-Governmen-t
Tariffs and Trade — Acordo Geral de Tarifas e
al Maritime Consultative Organization). Agên-
Comércio (Gatt). Junto com o FMI e o Banco
cia especializada das Nações Unidas para esti-
Mundial, o Gatt constitui a mais significativa
mular a abolição de medidas discriminatórias e
realização organizacional do Acordo de Bretton
restritivas sobre a marinha mercante, desenvol-
ver a cooperação internacional sobre a segurança Woods, assinado em 1944. No plano regional,
da vida no mar e controlar a poluição provocada alguns países capitalistas contam com organis-
por embarcações. Criada em 1948, em Genebra mos de integração e cooperação econômicas,
(Suíça), contava em 1980 com 118 países-mem- destacando-se nesse sentido, na Europa, a Co-
bros. É dirigida por um conselho de 24 repre- munidade Econômica Européia, conhecida tam-
sentantes. Promove convenções e conferências bém como Mercado Comum Europeu, a Orga-
internacionais. nização de Cooperação e Desenvolvimento Eco-
nômicos e a Associação Européia de Livre Co-
ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRA- mércio. Na América Latina, destacam-se a Co-
SILEIRAS. Criada em 1971, é o órgão máximo missão Econômica para a América Latina (Ce-
do cooperativismo brasileiro. Tem sede em Bra- pal), o Sistema Econômico Latino-Americano
sília, reúne entidades estaduais com as mesmas (Sela), o Mercado Comum Centro-Americano e
características e funciona também como órgão o Pacto Andino. Os países do Sul e Sudeste da
técnico consultivo do governo federal. Veja tam- Ásia desenvolvem formas de cooperação econô-
bém Cooperativismo. mica e técnica por meio do Plano Colombo, que
437 OURO

engloba também Estados Unidos, Canadá, Ja- ções nas quais um Ótimo de Pareto possa ser
pão, Nova Zelândia e Reino Unido. Os países alcançado. Veja também Economia do Bem-Es-
socialistas têm no Conselho Econômico de As- tar; Melhoria Paretiana; Pareto, Vilfredo.
sistência Mútua (Comecon) seu organismo fun-
damental de coordenação e integração econômi- OTN — Obrigação do Tesouro Nacional. Títu-
co-financeira. lo negociável da dívida pública, de preço fixo,
emitido pelo governo federal, que rende juros
ORIGINAL ISSUE DISCOUNT BONDS. Veja e cujo valor é reajustado mensalmente de acordo
Zero Coupon Bond. com a inflação oficial. A OTN foi criada em fe-
vereiro de 1986 com a decretação do Plano Cru-
ORTN — Obrigação Reajustável do Tesouro zado, em substituição à ORTN. Foi extinta em
Nacional. Título negociável da dívida pública, janeiro de 1989 com o Plano Verão, tendo al-
de prazo fixo, emitido pelo governo federal, que cançado o nível de 6,17 cruzados novos. Veja
rende juros e correção monetária mensal de acor- também Obrigação; ORTN; Plano Cruzado;
do com os índices oficiais de inflação. A variação Plano Verão.
do valor da ORTN foi utilizada como fator de
correção e reajustamento em outras áreas, como OUA — Organização da Unidade Africana. Or-
o setor imobiliário. Assim, trimestralmente — ganismo intergovernamental de caráter regio-
em janeiro, abril, julho e outubro —, o valor de nal, sediado em Adis Abeba e fundado em 1963
uma ORTN correspondia ao valor de uma UPC por 32 países africanos. Tem como objetivo pro-
(Unidade Padrão de Capital). Em fevereiro de mover a unidade e a solidariedade entre os Es-
1986, com a adoção do Plano Cruzado, a ORTN tados membros, o intercâmbio na esfera econô-
foi substituída pela OTN (Obrigação do Tesouro mica, científica, técnica e cultural e lutar pela
Nacional). Veja também Correção Monetária; erradicação de todas as formas de colonialismo
Obrigação; OTN; Plano Collor. na África. Atualmente, a OUA é integrada por
49 Estados africanos. A entidade tem como ór-
OSCILAÇÃO AMORTECIDA. Atributo de uma
gãos principais: a Conferência de Chefes de Es-
série estatística em que a diferença absoluta en-
tado e de Governo; o Conselho de Ministros do
tre máximo e mínimo imediatamente sucessivos
Exterior; o Secretariado Geral e a Comissão de
vai diminuindo.
Mediação, Conciliação e Arbitragem. Possui ain-
OSCILAÇÃO RELAXADA. Atributo de uma da várias comissões especializadas. A principal
série estatística cronológica (ou processo esto- atuação do organismo tem sido no sentido de
cástico) que subitamente se reduz ou anula, po- resolver conflitos entre os países-membros. No
dendo voltar a crescer em seguida. âmbito das Nações Unidas, a OUA tem procu-
rado orientar a atuação dos países africanos com
OSTMARK. Denominação da unidade monetá- o objetivo de influir nas relações internacionais,
ria da ex-República Democrática da Alemanha. sobretudo no que diz respeito à luta contra o
colonialismo e o racismo. Veja também ONU.
OTC. Veja Mercado de Balcão; Over the Counter.
OURO. Metal precioso, amarelo, brilhante, pe-
OTIMIZAÇÃO. Determinação das condições
sado (densidade: 19,3 g por cm3) e dúctil, utili-
em que certas variáveis econômicas podem atin-
zado para a fabricação de moedas, ornamentos,
gir seus valores mais elevados. O conceito é uti-
jóias e de ampla utilização odontológica e in-
lizado, por exemplo, em relação à alocação de
dustrial. Metal nobre por excelência, seu ponto
recursos, custos de produção, lucro, população
de fusão é de 1 064 C, sendo um excelente con-
e dimensões de empresa. Em condições teóricas,
dutor de eletricidade. É utilizado como moeda
diz-se que se obteve a otimização da produção
desde épocas as mais remotas — as primeiras
(ou produto ótimo) quando os custos são o mais
baixos possível, levando, portanto, a lucros óti- cunhagens conhecidas datam da época dos reis
mos. Em termos reais de mercado, a otimização da Lídia (568 a.C.). A purificação do ouro con-
dos lucros é de difícil alcance, na medida em siste no processo de separar o metal das impu-
que numerosos fatores podem afetar os resul- rezas ou ligas com que é encontrado na natureza.
tados. Dentre os vários processos de purificação, os
mais utilizados são os seguintes: cianetação —
ÓTIMO DE PARETO. Situação em que os re- usado em minérios com pequenas porcentagens
cursos de uma economia são alocados de tal ma- de ouro, consiste em colocar o minério em forma
neira que nenhuma reordenação diferente possa de pó, sob imersão, em soluções de cianeto de
melhorar a situação de qualquer pessoa (ou sódio, agregando-se posteriormente zinco, para
agente econômico) sem piorar a situação de a precipitação do ouro. Posteriormente, filtra-se
qualquer outra. O conceito foi introduzido por a solução, obtendo-se o ouro com cerca de 99%
Vilfredo Pareto (1848-1923), e a Economia do de pureza. Este método foi descoberto no final
Bem-Estar em grande medida estuda as condi- do século XIX e teve grande importância em am-
OURO EM BARRA 438

pliar e baratear a produção de ouro, especial- dos preços crescentes, criando uma situação de
mente nos Estados Unidos; quarteação — funde- debilidade técnica do mercado, quando a maior
se o minério de ouro a ser purificado, juntamen- vulnerabilidade é representada pelo perigo de
te com outro metal solúvel em ácidos. Subme- vendas maciças para a realização de lucros.
te-se o produto da fusão à água-régia (mistura
dos ácidos clorídrico e nítrico), separando-se o OVERHEAD COST. Custos fixos, ou seja, aque-
ouro do outro metal, que é solúvel em ácidos, les que não necessariamente se alteram na me-
ao contrário do ouro; via úmida — consiste na dida em que o volume total de produção au-
dissolução do metal em água-régia, converten- menta ou diminui. Exemplo disso são o paga-
do-o em forma metálica novamente por meio mento de juros sobre empréstimos, seguros con-
de redutores. Após a transformação ou precipi- tra acidentes, aluguéis de imóveis etc. Veja tam-
tação seletiva do ouro, ele é filtrado e a seguir bém Custos Fixos.
fundido em fornos a indução ou a gás liquefeito OVERNIGHT. Expressão em inglês que signi-
de petróleo e, finalmente, vazado em lingoteiras; fica “durante a noite”, utilizada para indicar as
eletrólise — processo mais complexo, normal- aplicações financeiras feitas no mercado aberto
mente usado para atender a exigências de pa- (open market) em um dia para resgate no dia se-
drões internacionais, uma vez que dele pode ob- guinte ou no primeiro dia útil, quando coincide
ter-se grau de pureza equivalente a 99,99%. Con- com fins de semana ou feriados. Veja também
siste em depositar o ouro a ser purificado numa Mercado Aberto.
solução (eletrólito) que contém ouro dissolvido.
A deposição é feita no anodo (eletrodo positivo) OVERSEAS PRIVATE INVESTMENT COR-
para o catodo (eletrodo negativo); no anodo en- PORATION (OPIC). Agência Federal inde-
contra-se a porção de ouro que se deseja puri- pendente criada nos Estados Unidos em 1969
ficar e no catodo, lâminas de ouro de pureza para garantir, segurar e financiar investimentos
mais elevada. Após a eletrólise, o ouro purifi- privados nos países em desenvolvimento. A par-
cado é fundido e vazado em lingoteiras; miller tir de 1979, a Opic vem funcionando como uma
— consiste em purificar mediante a fundição e unidade da International Development Coope-
a utilização de gases na massa fundida, obten- ration Agency.
do-se um grau de pureza de aproximadamente
98%; copelação — processo muito utilizado na OVERSOLD. Termo em inglês que significa
Antiguidade e consistente na fundição do metal uma situação do mercado financeiro quando as
a ser purificado em formas fabricadas com fa- vendas (especialmente as posições “vendidas”)
rinha de osso denominadas copelas (cadinhos). são elevadas com os preços em queda, colocando
O ouro é colocado na copela juntamente com o o mercado numa posição técnica de provável
chumbo, que oxida as impurezas metálicas não- inversão de tendência de preços (rally) devido
nobres, e que são absorvidas pela fôrma, res- à iminência de compras maciças para que os
tando assim sobre a superfície da copela o metal “vendidos” possam cobrir suas posições.
nobre. O inconveniente desse processo é que não OVER THE COUNTER. Expressão em inglês
separa inteiramente o ouro, uma vez que outros que significa o mercado constituído por inves-
metais, como a prata, o paládio e a platina, exis- tidores (empresas) que compram e vendem açõ-
tentes eventualmente no minério, permanecem es não listadas (registradas) nas Bolsas de Va-
a ele incorporados. Veja também Ciclo do Ouro; lores. Veja também Mercado de Balcão.
Karat; Mercado de Ouro em Barra; Padrão-ouro;
Pool Internacional do Ouro; Toque (Fineza). OVER THE COUNTER MARKET. Expressão
em inglês que significa “mercado manual”.
OURO EM BARRA. Veja Mercado de Ouro em
Barra. OWEN, Robert (1771-1858). Industrial e refor-
mador inglês, um dos representantes do chama-
OURO NEGRO. Denominação metafórica dada
do socialismo utópico. Em sua grande fábrica
ao petróleo na medida em que este é um produto
de New Lanark, Escócia, adotou melhorias so-
de aceitação geral, e quem o produz pode obter
ciais, como a criação de jardins-de-infância para
moedas fortes em troca de sua exportação. É
os filhos dos operários e armazéns que vendiam
também nome de uma liga natural de ouro en-
gêneros alimentícios e outros artigos a preço de
contrada em moedas durante os reinados de D.
custo. Recusava-se a empregar nas fábricas me-
João VI até D. Pedro II, no Brasil. nores de 10 anos, o que era um grande avanço
OURO PAPEL. Veja Direitos Especiais de Saque. para a época. Em 1825, fundou, no México e
nos Estados Unidos (New Harmony), colônias
OVERBOUGHT. Termo em inglês que significa cooperativistas que não tiveram êxito. Voltando
uma situação do mercado financeiro em que as à Grã-Bretanha, criou, em 1832, as primeiras coo-
compras especulativas têm sido grandes, apesar perativas de produção e atuou sobre o movi-
439 PACTO AMAZÔNICO

mento trabalhista, tentando organizar uma cen- 4) pengo (unidade monetária da Hungria até 1946);
tral sindical. Suas idéias encontram-se em várias 5) peseta (unidade monetária da Espanha); 6) pe-
obras, destacando-se A New View of Society or sewa (unidade monetária de Gana); 7) peso (uni-
Essays on the Principle of Formation of the Human dade monetária da Argentina, Colômbia, Filipi-
Character (Uma Nova Visão da Sociedade ou En- nas, México); 8) piastra (unidade monetária do
saios sobre o Princípio de Formação do Caráter Vietnã); 9) price (preço).
Humano), 1813; Lectures on an Entire New State
of Society (Conferências sobre um Estado Intei- P* (P Estrela). Medida estatística do impacto da
ramente Novo na Sociedade), 1830; e Life of Ro- política monetária da Reserva Federal nos Esta-
bert Owen Written by Himself (Vida de Robert dos Unidos sobre o processo inflacionário. Este
Owen Escrita por Ele Mesmo), 1857. coeficiente é calculado a partir da taxa de cres-
cimento de M2 (medida da oferta de moeda)
OWENISMO. Conjunto de idéias do reformista multiplicada pela velocidade de circulação da
social e industrial inglês Robert Owen, que de- moeda. Se P* superar P (que representa a infla-
fendia a tese de que bons salários e boas con- ção esperada), a Reserva Federal poderá tornar
dições de trabalho não eram incompatíveis com o crédito mais difícil, elevando as taxas de juros,
os lucros e a prosperidade dos negócios em ge- fazendo com que haja uma queda no crescimen-
ral, o que na época significava uma visão revo- to da economia. Quando P* é menor do que P,
lucionária de administração. Procurou demons- a Reserva Federal poderá agir de maneira in-
trar suas convicções fundando uma unidade in- versa, facilitando o crédito e reduzindo as taxas
dustrial modelo em New Lanark, na Escócia. Em de juros, estimulando os investimentos e o cres-
1832 ele fundou em Hampshire, Inglaterra, uma cimento da produção. A fórmula utilizada é a
de suas famosas comunidades de cooperação, seguinte:
onde eram desenvolvidas atividades industriais
P* =M2 x V* / Q*
e agrícolas, os excedentes de cada área sendo
trocados em condições mutuamente vantajosas. onde M2 é a oferta de moeda representada pela
moeda em poder do público, mais depósitos à
OWNER’S RISK. Expressão em inglês que sig- vista e a prazo e depósitos em poupança; V* é
nifica, literalmente, “risco do proprietário”, isto a velocidade de circulação de M2; Q* é o Produto
é, risco do embarcador de mercadorias. Nacional Bruto a uma taxa de crescimento no-
OYAKATA (Sistema). Termo em japonês que minal de 2,5% ao ano.
designa o sistema de colocação de trabalhadores PA. Iniciais das seguintes expressões em inglês:
especializados por intermédio de um contrata- particular average (avaria parcial ou particular);
dor independente durante o início do século XX. power of attorney (poder de advogado); private
Alguns oyakata tinham sob sua coordenação account (conta privada) e purchasing agent (agente
mais de cem trabalhadores. As relações entre o comprador).
mestre e seus subordinados tinha certa seme-
lhança com as do sistema feudal, entre o mestre PAANGA. Unidade monetária de Tonga. Sub-
e o artesão. As habilidades individuais tinham múltiplo: senti.
importância e as relações eram fortemente pes-
soais. Esses trabalhadores não eram, portanto, PACCIOLI, Luca. Veja Partidas Dobradas; Risco.
contratados pelas empresas, mas por intermédio PACTO AMAZÔNICO. Denominação dada ao
de um contratador. A permanência era relativa- Tratado de Cooperação Amazônico de julho de
mente curta em cada empresa e a transferência 1978, iniciativa da diplomacia brasileira, assina-
de empresa para empresa, muito acentuada. do pela Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guia-
na, Peru, Suriname e Venezuela. Esses países
declararam-se prontos a empreender um esforço
conjunto, econômico e social, para o desenvol-

P
vimento da região amazônica, a partir da estreita
colaboração nos campos da pesquisa científica
e tecnológica. Além disso, é enfatizada a neces-
sidade da preservação do meio ambiente e da
conservação e utilização racional dos recursos
naturais. O tratado tem aplicação nos territórios
das partes contratantes pertencentes à bacia
Amazônica, ou em qualquer território de uma
P. Inicial de: 1) paisa (unidade monetária da Ín- parte contratante que, por suas características
dia); 2) para (unidade monetária da ex-Iugoslá- geográficas, ecológicas ou econômicas, se con-
via); 3) pence (unidade monetária da Inglaterra); sidere estreitamente vinculada à mesma. Os Es-
PACTO ANDINO 440

tados signatários concordam na conveniência de ouro, trocando a moeda nacional pelas reservas
criar uma infra-estrutura física adequada entre de acordo com a taxa de conversão. A designa-
seus respectivos territórios, especialmente nos ção do sistema e sua prática se desenvolveram
setores de transporte e comunicações. É enfati- durante os anos 20 deste século, e foram esti-
zada, além disso, a necessidade de atuação con- muladas para preservar o padrão-ouro, ou como
junta nas áreas de saúde, comércio e turismo. uma forma de preservação, na medida em que
Em outubro de 1980, realizou-se em Belém do a expansão do comércio internacional e a lenta
Pará a primeira reunião dos ministros das Re- progressão na produção de ouro tornavam a
lações Exteriores dos países do Povo Amazôni- oferta do metal cada vez menor em relação à
co. Dessa reunião resultou a Carta de Belém, demanda. Os antecedentes desse sistema, no en-
uma declaração de princípios do encontro, rea- tanto, remontam à época colonial, quando as
firmando-se, nessa declaração, o direito sobera- moedas das colônias eram fixadas formal ou in-
no e exclusivo de cada Estado signatário quanto formalmente à moeda das metrópoles. Entre
ao uso e aproveitamento dos recursos naturais 1958 e 1971, isto é, entre a formação do Mercado
em seu território amazônico. Além disso, em seu Comum Europeu, a desvalorização do dólar e
artigo III, a Carta de Belém afirma que a popu- o abandono de uma taxa fixa de conversão entre
lação indígena autóctone constitui elemento es- o dólar e o ouro, prevaleceu no mercado finan-
sencial da Amazônia e é fonte de conhecimentos ceiro internacional um padrão-câmbio-ouro, na
e hábitos que servem como base da cultura e medida em que muitas moedas fixavam seu va-
da economia locais, sendo, portanto, merecedora lor no dólar, por sua vez vinculado ao ouro
de particular atenção no planejamento atual e numa taxa fixa, não havendo, no entanto, a pos-
futuro da região amazônica de cada país. sibilidade ilimitada de conversão, nem liberdade
para transações com todas as outras moedas.
PACTO ANDINO. Veja Grupo Andino. Veja também Mercado Comum Europeu —
PACTO COLONIAL. Conjunto de relações eco- MCE; Padrão-ouro.
nômicas e políticas que subordinavam a colônia PADRÃO DE VIDA. Quantidade e qualidade
à metrópole. No plano político, a dominação era dos bens e serviços que uma pessoa com deter-
exercida por meio da presença de autoridades minada renda consome normalmente. O padrão
civis nomeadas pela metrópole e cujo desempe- de vida sofre, portanto, elevação ou decréscimo
nho era assegurado pela ocupação militar. No de acordo com as oscilações que ocorrem na ren-
campo econômico, o Pacto Colonial significava da. Nesse sentido, o padrão de vida tem relação
uma série de obrigações de compra e venda da direta também com a alta e a baixa dos preços
colônia para com a metrópole, sendo os meca- e com a estabilidade monetária, que, juntamente
nismos desse comércio controlados de forma com o nível de renda, determinam o poder aqui-
monopolista pelas companhias de comércio, for- sitivo do indivíduo. A aferição do padrão de
madas por capitais privados em associação com vida, no entanto, não se limita ao consumo de
o Estado ou totalmente controladas por este.Veja bens pessoais que uma pessoa pode usufruir:
também Colonialismo; Companhias de Comér- há fatores sociais que entram nessa avaliação,
cio; Mercantilismo. como a qualidade dos serviços de saúde e edu-
PACTUM RESERVATI DOMINIUM. Veja Re- cação, as condições de trabalho e oportunidades
serva de Domínio. de emprego, bem como as possibilidades de la-
zer. A primeira pesquisa sobre padrão de vida
PADRÃO. Nos sistemas de pesos e medidas, é realizada no Brasil foi feita pelo sociólogo nor-
a reprodução física de uma unidade. Por exem- te-americano Samuel Lowrie em 1937, com os
plo, a jarda é uma unidade de comprimento, empregados da limpeza pública da capital do
mas a jarda padrão é uma barra de bronze com país. Essa pesquisa tinha como objetivo encon-
duas linhas finíssimas gravadas em duas marcas trar referências para a fixação do salário-míni-
de ouro, à distância exata de 91,4 cm uma da mo.
outra.
PADRÃO-OURO (Gold Standard). Sistema mo-
PADRÃO-CÂMBIO-OURO (Gold Exchange netário no qual o valor de uma moeda nacional
Standard). Sistema que constituiu uma variante é legalmente definido como uma quantidade
do padrão-ouro, no qual um país fixa o valor de fixa de ouro, em termos internacionais, e em
sua moeda não diretamente no ouro, mas em nível interno o meio circulante tem a forma de
outra moeda (como o dólar, por exemplo), cuja moedas de ouro ou notas (papel-moeda) con-
cotação está determinada em ouro. As autori- versíveis a qualquer momento em ouro, de acor-
dades monetárias fixam a taxa de conversão, e do com a taxas de conversão fixadas legalmente.
mantêm parte ou a totalidade de suas reservas Para que um sistema de padrão-ouro funcione
não em ouro monetário, mas em moedas “for- plenamente, duas funções básicas devem ser
tes”, isto é, moedas que estejam vinculadas ao preenchidas: 1) a obrigação das autoridades mo-
441 PADRONIZAÇÃO

netárias de converter moeda nacional (o meio — cruzeiro novo: entrou em vigor em 13/2/1967,
de circulação interno) por qualquer quantidade valendo Cr$ 1000,00 ou NCr$ 1,00 = Cr$ 1000,00
de ouro de acordo com a taxa de conversão fi- (1 cruzeiro novo = 1000,00 cruzeiros), pelo de-
xada, o que inclui a cunhagem sem restrições creto-lei nº 1, de 13/11/65; decreto nº 60 190 de
de moeda de ouro do metal trazido com esse 8/2/67 e resolução nº 47, do BCRB, de 8/2/1967.
fim; e 2) a liberdade dos indivíduos de exportar
e importar ouro. As autoridades monetárias es- — cruzeiro: entrou em vigor (novamente com
tabeleciam uma pequena diferença entre os pre- a mesma denominação do anterior de 1º/11/1942)
ços de compra e venda de ouro, para cobrir os em 15/5/1970, valendo NCr$ 1,00 ou Cr$ 1,00
custos de cunhagem. Esse sistema “puro” do = NCr$ 1,00 (1 cruzeiro = 1 cruzeiro novo), pela
padrão-ouro admitiu muitas variantes no seu resolução nº 144, do CMN, de 31/3/1970.
funcionamento prático. A mais importante delas
foi o padrão-câmbio-ouro, de acordo com o qual — cruzado: entrou em vigor em 28/2/1986, va-
a moeda de um país era trocada pela de outro lendo Cr$ 1000,00 ou Cz$ 1,00 = Cr$ 1000,00 (1
(dólar ou libra) que estivesse vinculada ao ouro. cruzado = 1000,00 cruzeiros) pelo decreto-lei nº
A adoção do padrão-ouro traz várias conseqüên- 2 283, de 27/2/1986 e resolução nº 1 100, do CMN
cias internas e externas. Em primeiro lugar, esse (Conselho Monetário Nacional) de 28/2/1986.
padrão estabiliza a taxa de câmbio dentro de
limites de variações estreitos em termos de ou- — cruzado novo: entrou em vigor em
tras moedas, também associadas ao padrão- 16/1/1989, valendo 1000,00 cruzados ou NCz$
ouro. Outra conseqüência é que se existir um 1,00 = Cz$ 1000,00 (1 cruzado novo = 1000,00
déficit no balanço de pagamentos haverá uma cruzados) pela resolução nº 1 565, do CMN, de
tendência de saída de ouro, provocando (se não 16/1/1989, medida provisória nº 32, de 15/1/1989
ocorrer nenhuma medida compensatória pelas e lei nº 7 730, de 31/1/89.
autoridades monetárias) uma redução da oferta
de moeda. De acordo com a Teoria Quantitativa — cruzeiro: entrou em vigor (pela terceira vez
com a mesma denominação) em 16/3/1990, va-
da Moeda, uma redução da oferta da moeda
causaria uma queda de preços internos; com a lendo 1 cruzado novo ou Cr$ 1,00 = NCr$ 1,00
taxa de câmbio fixa, isto estimularia as expor- (1 cruzeiro = 1 cruzado novo) pela resolução nº
tações e inibiria as importações, e o déficit no 1 689, do CMN, de 18/3/1990, pela medida pro-
balanço de pagamentos seria compensado por visória nº 168, de 15/3/1990, e pela lei nº 8 024,
um superávit no momento seguinte. O processo de 12/4/1990.
de reequilíbrio seria também estimulado pelo
— cruzeiro real: entrou em vigor em 1º/8/1993,
fluxo de capitais, que aumentaria no sentido do
valendo Cr$ 1000,00 ou CR$ 1,00 = Cr$ 1000,00
país deficitário, pois a redução da oferta mone-
(1 cruzeiro real = 1000,00 cruzeiros), pela reso-
tária provocaria uma elevação interna das taxas
lução nº 2 010, do CMN, de 28/7/1993, pela
de juros. Embora tenha surgido no final do sé-
medida provisória nº 336, de 28/7/1993, e pela
culo XVII, o padrão-ouro floresceu plenamente
lei nº 8 697, de 27/8/1993.
no século passado, sendo no entanto abandona-
do depois da crise de 1929. Veja também Pa-
— real: entrou em vigor em 1º/7/1994, valendo
drão-câmbio-ouro; Teoria Quantitativa do Va-
uma URV (Unidade Real de Valor) ou CR$
lor da Moeda.
2750,00 ou R$ 1,00 = 1 URV = CR$ 2750,00, pela
PADRÃO SIMETÁLICO. Veja Symmetalic medida provisória nº 542, de 30/6/1994; medida
Standard. provisória nº 566, de 29/7/1994; medida provi-
sória nº 596, de 26/8/1994; medida provisória
PADRÕES MONETÁRIOS NO BRASIL. O Bra- nº 635, de 27/9/1994.
sil já teve como padrões monetários as seguintes
denominações: mil-réis (símbolo Rs); cruzeiro A URV (Unidade Real de Valor) foi criada pela
(símbolo Cr$); cruzeiro novo (símbolo NCr$); medida provisória nº 434, de 27/2/1994, trans-
cruzado (símbolo Cz$); cruzado novo (símbolo formada em lei nº 8 880, de 27/5/1994. A URV
NCz$); cruzeiro real (símbolo CR$); real (sím- foi dotada de curso legal para servir exclusiva-
bolo R$). À exceção do mil-réis, que tinha como mente como padrão monetário, integrando jun-
divisionário o réis-real, o divisionário dos de- tamente com o cruzeiro real — até o advento
mais padrões é o centavo. As equivalências com do Real (1º/7/1994) — o Sistema Monetário Na-
os padrões anteriores foram as seguintes: cional.
— cruzeiro: entrou em vigor em 1º/11/1942, va- PADRONIZAÇÃO. Aplicação de normas fixas
lendo 1 mil-réis ou Cr$ 1,00 = Rs 1$000,00, pelo a um ciclo de operações ou a um todo industrial.
decreto-lei nº 4 791, de 5/10/42. Com isso, consegue-se a redução de custos e a
PAEG 442

eficiência de produção. Apesar do processo de tectar medidas estabilizadoras, utilizando os ins-


padronização, podem-se criar produtos diferen- trumentos clássicos: 1) corte no gasto público;
tes. No entanto, o mais comum é a padronização 2) aumento na carga tributária; 3) contenção do
dos meios e dos resultados: produtos idênticos, crédito; e 4) contenção dos salários. Houve acen-
obtidos em série e sempre pelo mesmo processo. tuada diminuição no gasto público e ao mesmo
Nem sempre a padronização abrange o produto tempo elevação na taxa tributária, paralelamente
como um todo. Existem casos de fabricação de à criação de um mecanismo de financiamento
elementos padronizados que, numa segunda do déficit que passou a ser efetuado mediante
etapa, formarão o produto final. Este poderá ad- haveres não monetários, ou seja, o lançamento
quirir características diversas segundo as com- de Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional
binações feitas com os elementos padronizados. (ORTNs), uma inovação brasileira destinada a
O grau de funcionalidade dos componentes pa- servir de instrumento à política de transferência
dronizados decorre do critério com que são se- de renda do setor privado para o setor público.
lecionados (para reduzir a variedade ao mínimo Para o setor privado, deveria ser mantida a li-
possível), da correlação entre eles (possibilitan- quidez real do sistema produtivo, que só seria
do o maior número possível de combinações) e viabilizada se os meios de pagamentos acom-
de sua intercambialidade (segundo normas para panhassem na mesma proporção o crescimento
os ajustes e tolerância). Um dos exemplos mais da renda nacional. Entretanto, essa medida não
significativos de padronização, em que o pro- garantiria a distribuição equânime de crédito
duto final ainda guarda alguma individualida- para os diversos setores produtivos, podendo
de, é a produção industrial de componentes para gerar pontos de estrangulamento. Um ponto bá-
a construção civil: a arquitetura moderna utiliza sico do plano refere-se à mudança da política
quase somente materiais feitos em série. salarial. Anteriormente, o reajuste dos salários
era efetuado anualmente por meio da aplicação
PAEG — Programa de Ação Econômica do Go- do Índice do Custo de Vida. Com a execução
verno. Elaborado para o período 1964-1966 pelos do Paeg, o reajuste passou a ser calculado por
ministros brasileiros Roberto Campos (Planeja- meio da média de 24 meses desse mesmo índice,
mento) e Octávio Gouvêa de Bulhões (Fazenda), sendo doze anteriores e a inflação esperada nos
tinha o objetivo de interpretar o desenvolvimen- doze seguintes, acrescida de uma taxa referente
to recente do país e formular uma política capaz à produtividade. Essas medidas estabilizadoras,
de eliminar as fontes internas de estrangulamen- que não estabeleceram de forma nítida um plano
to que haviam bloqueado o crescimento econô- de crescimento econômico, engendrariam: 1) um
mico desde 1962. Para os articuladores do plano, rápido crescimento da dívida pública; 2) um au-
a causa fundamental da desaceleração econômi- mento de liberalização das importações, dando
ca estava no processo inflacionário por que pas- maior flexibilidade à lei de remessa de lucros
sava o país desde o início dos anos 60. A inflação ao exterior; 3) uma violenta política de arrocho
estaria provocando uma instabilidade no siste- salarial.
ma, na medida em que se manifestaria uma ex-
pectativa de insegurança no meio empresarial, PAGAMENTOS INTERNACIONAIS. Pagamen-
resultando num decréscimo no nível dos inves- tos de bens ou serviços adquiridos de pessoas
timentos. O diagnóstico oficial identificava duas de outros países. Em geral, esses pagamentos
origens do processo inflacionário: inflação de são feitos por meio de bancos, isto é, o compra-
custos e inflação de demanda. A origem da in- dor, ao adquirir a mercadoria ou serviço, paga,
flação de custos era localizada no processo de ao câmbio do dia e em moeda corrente, ao banco
substituição de importações, incentivado por em seu país. Este compra moedas do outro país
barreiras alfandegárias. Esse protecionismo teria e as remete para o vendedor. No Brasil, por
permitido um aumento em espiral nos custos exemplo, a compra e venda de divisas estran-
dos diversos setores substitutivos e, consecuti- geiras é regulada pelo Banco do Brasil, que tam-
vamente, uma elevação geral dos preços. A in- bém controla os pagamentos internacionais.
flação de demanda teria origem na inadequação
da distribuição de renda. Por um lado o governo PAI. Veja Plano de Ação Imediata.
injetava na economia um volume de recursos PAÍS DE ORIGEM. País do qual determinadas
maior que seu poder de compra, provocando mercadorias estão sendo exportadas. Elas po-
déficits crônicos no orçamento federal. Ao mes- dem não ter sido produzidas inteiramente nesse
mo tempo, o conjunto dos assalariados detinha país, mas se nele tiver sido realizada alguma
em mãos um poder de compra superior à quan- etapa do processo de trabalho, então ele poderá
tidade de bens produzidos. Assim, tanto o dé- ser considerado o país de origem das mercado-
ficit público quanto o excesso de demanda dos rias. Veja também Maquiladoras.
assalariados gerariam o processo inflacionário.
Elaborou-se então o Paeg, com o intuito de de- PAISA. Veja Rupia.
443 PAPEL-MOEDA

PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO. Nome pelo rência dos Tributos), 1882; Dall’Ammontare Prob-
qual têm sido designados mais recentemente os abile della Ricchezza Privata in Italia (Do Montante
países subdesenvolvidos. Mais especificamente, Provável da Riqueza Privada na Itália), 1884;
o termo é aplicado aos países pobres ou subde- Pure Economics (Economia Pura), 1889; Erotemi
senvolvidos que passam a apresentar algum di Economia (Compêndio de Economia), 1925, em
progresso em sua economia, em termos de in- dois volumes.
dustrialização.
PAPAGAIO. No jargão financeiro e comercial,
PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS. Países pobres, significa um título de crédito que não corres-
economicamente atrasados, como é o caso da ponde a uma venda de mercadorias e que não
maioria dos países da América Latina, África e será honrado em seu vencimento. Ou, mais ge-
Ásia. Sua situação econômica caracteriza-se em nericamente, um título vinculado a uma origem
geral por baixa renda per capita, grande depen- e que a ela não corresponde. Nesse sentido, a
dência da exportação de um número reduzido denominação “papagaio” aplica-se a cheque
de produtos primários, altos índices de desem- emitido sem o respectivo fundo; a duplicata que
prego e subemprego, subconsumo acentuado, não corresponde a uma venda efetiva de mer-
índice de poupança muito reduzido e concen- cadorias; a cédula rural pignoratícia que não cor-
trado e altas taxas de natalidade e mortalidade. responde a um penhor efetivo de culturas e/ou
Veja também Desenvolvimento Econômico; Sub- de animais; a conhecimento de depósito ou war-
desenvolvimento. rant que não corresponde a depósito efetivo de
mercadorias em armazéns gerais.
PALMO. Antiga medida de comprimento ori-
ginada da mão. Corresponde à distância da pon- PAPANDREOU, Andreas Georgios (1919- ). Po-
ta do polegar à ponta do dedo mínimo, com a lítico e economista grego, filho do estadista
mão completamente aberta e esticada e equivale Georgios Papandreou. Foi ministro da Coorde-
a aproximadamente 8 polegadas ou 22,5 cm. Foi nação Econômica (1965) e membro da Câmara
utilizada no Brasil antes da adoção do Sistema dos Deputados (1965-1967). Fundou a seguir o
Métrico Decimal. Veja também Mão; Unidades Movimento Pan-Helênico de Libertação Nacio-
de Pesos e Medidas. nal, para combater o regime militar instaurado
em 1967. Com a redemocratização (1975), tor-
PÂNICO. Perda súbita de confiança nos mer- nou-se o principal líder socialista da Grécia. Em
cados financeiros, caracterizada pela intensa outubro de 1981 tornou-se primeiro-ministro.
queda de preços e a falência de empresas. Pâ- Papandreou escreveu: A Economia como Ciência
nicos financeiros ocorreram com freqüência no (1958), Fundamentos da Construção de Modelos em
século XIX. No século XX, o mais dramático foi Macroeconomia (1962), A Liberdade do Homem
aquele que resultou da quebra da Bolsa de Va- (1970) e A Democracia Acuada (1971).
lores de Nova York em 1929. A crise da Bolsa
de Nova York em 1987 também causou profun- PAPEL. Qualquer documento que represente um
do impacto entre os investidores, e a crise das valor em dinheiro e seja negociável: ações, acei-
Bolsas asiáticas durante o segundo semestre de tes cambiais, certificados de depósito bancário,
1997 fez com que outra vez a palavra pânico letras de câmbio, entre outros títulos.
voltasse às manchetes dos jornais. No entanto,
PAPEL COMERCIAL. Título negociável resul-
o de 1907 nos Estados Unidos deu lugar à cons-
tante de uma transação com mercadorias. Du-
tituição, em 1913, do Sistema de Reserva Federal
plicatas, conhecimentos de frete e warrants são
para regular o sistema bancário. Veja também
papéis comerciais.
Sistema de Reserva Federal.
PANTALEONI, Maffeo (1857-1924). Economista PAPEL DE PROBABILIDADE DUPLA. Papel
e político italiano, representante da corrente neo- destinado à confecção de gráficos, semelhante
marginalista, tentou realizar a síntese entre a teo- ao milimetrado, no qual, em ambos os sentidos
ria da utilidade marginal e a teoria ricardiana das abcissas e das ordenadas, o espaçamento
do valor. A partir dos aspectos quantitativos de dos intervalos é proporcional à função normal
de distribuição, de modo que uma distribuição
seus estudos sobre flutuações de preços, política
correspondendo exatamente à normal aparecerá
de preços discriminatória e cartéis industriais e
como um segmento de reta.
bancários, questionou a praticidade da teoria
marginalista em problemas de macroeconomia. PAPEL FRIO. Título de baixa cotação no mer-
Rejeitou igualmente a contribuição marginalista cado ou título ilegítimo, resultante de fraude.
no terreno das finanças públicas. Pantaleoni foi
membro da Câmara dos Deputados (1901) e se- PAPEL-MOEDA. Documento emitido pelas au-
nador (1923). Escreveu, entre outras obras: Teoria toridades monetárias de um país, utilizado na
della Traslazione dei Tributi (Teoria da Transfe- compra e venda de mercadorias. Sua origem re-
PAPEL-MOEDA CONVERSÍVEL 444

monta à Idade Média, quando se tornou intenso em que o espaçamento das pautas paralelas a
o comércio e perigoso o transporte de moedas uma das coordenadas é proporcional às diferen-
de ouro e prata (cujo valor de transação estava ças dos logaritmos sucessivos dos números, en-
diretamente relacionado com seu valor em me- quanto as pautas paralelas às outras coordena-
tal). O dinheiro, nos locais de comércio, passou das são espaçadas aritmeticamente. Esse tipo de
a ser guardado nas casas de pessoas de posses papel é geralmente utilizado quando se deseja
(os primeiros banqueiros), que emitiam “certi- representar variáveis no tempo que têm uma
ficados de depósitos”, utilizados no lugar do evolução exponencial, como, por exemplo, os
metal. Como a aceitação das notas e recibos de- preços num período hiperinflacionário ou o cál-
pendia do crédito de quem os emitia, o Estado culo dos valores correspondentes a taxas de ju-
começou a tomar para si a responsabilidade de ros acumuladas.
emitir tais documentos, regulando os valores de
emissão, em função dos valores de encaixe me- PAPER. Termo em inglês que significa, literal-
tálico dos bancos. Por fim, a emissão de notas mente, “papel”. Utilizado em congressos, con-
passou a ser feita apenas por um banco, sob ferências, simpósios, seminários, significa uma
controle do governo, conferindo-se ao papel- comunicação ou ensaio escrito para ser lido ou
moeda um curso forçado, isto é, era obrigato- apresentado durante a realização do evento.
riamente aceito. Com isso, a troca desse papel- PAR. Termo que designa a situação de igual-
moeda pelo correspondente em metal passou a dade entre o preço pelo qual está sendo vendido
ser completamente inútil, uma vez que seu valor determinado título e seu preço nominal ou ofi-
era assegurado por lei. Ao mesmo tempo, ex- cial, isto é, estampado em sua face. Quando um
cluiu-se com isso a possibilidade de uma corrida título é vendido por um preço inferior ao seu
aos bancos, o que levou vários deles à quebra preço nominal, diz-se que está abaixo do par;
(o caso mais célebre foi o Banco de Law, na Fran- quando ocorre o contrário, isto é, quando seu
ça, no século XVIII). Em ocasiões especiais, o preço de mercado supera seu valor nominal, diz-
cidadão pode perder a confiança no papel-moe- se que o preço está acima do par. No câmbio
da e procurar trocá-lo por seu valor em ouro. de moedas, a expressão “ao par” significa igual-
Nesses casos, o governo decreta sua inconver- dade entre o preço pelo qual se está negociando
sibilidade, isto é, suspende sua conversão em a moeda e seu valor nominal.
ouro ou prata. O papel-moeda desliga-se total-
mente de seu lastro em metal precioso e passa PARA. Veja Dinar.
a ser uma moeda fiduciária. Atualmente, na
maioria dos países, a moeda é fiduciária. Até PAR BOND (Bônus ao Par). Veja Plano Brady;
1971, as transações entre países (comércio, trans- TJLP.
ferência de capital, pagamentos etc.) eram feitas
PARADOXO DA PARCIMÔNIA. A aparente
com moedas cotadas em função de seu valor
contradição existente entre poupanças excessi-
em ouro. Naquele ano, o dólar começou a ser vas que resultam em poupanças reais mais bai-
utilizado como padrão, mas seu valor também xas, quando a economia está operando num
perdeu a relação com o lastro metálico, passando ponto inferior ao do pleno emprego. Nessa cir-
a flutuar livremente em relação ao ouro.Veja tam- cunstância, o excesso de poupança permanece
bém Moeda; Moeda Fiduciária; Nota Bancária. fora da economia, causando uma queda na ren-
PAPEL-MOEDA CONVERSÍVEL. Moeda na da e na produção. Ao contrário, se as poupanças
forma de notas, conversível de acordo com uma forem gastas e canalizadas para a economia, o
cotação fixa em ouro monetário ou moedas for- investimento e a riqueza real aumentarão. Este
tes como o dólar e a libra. Esse era o significado princípio, desenvolvido por J.M. Keynes, foi
durante a vigência do padrão-ouro ou do pa- aplicado em primeiro lugar à economia norte-
drão-câmbio-ouro. Com o abandono dessas for- americana, deprimida durante os anos 30, com
mas de organização do sistema monetário in- seu elevado grau de desemprego. Se, no entanto,
ternacional a partir de 1971, a moeda conversível a economia se encontrasse em pleno emprego,
passou a ser aquela facilmente aceita em qual- o excesso de poupança poderia ser benéfico: a
quer parte do mundo ou trocável pelo dólar nor- utilização dessa poupança geraria uma deman-
te-americano em qualquer quantidade e em da extra que não encontraria resposta na pro-
qualquer momento. Veja também Conversibili- dução, uma vez que a economia se encontraria
dade; Padrão-câmbio-ouro; Padrão-ouro. em pleno emprego, provocando inflação. A ren-
da nominal aumentaria, mas o mesmo não acon-
PAPEL QUENTE. Título bem cotado e com boa teceria com a renda real.
reputação no mercado de valores mobiliários.
PARADOXO DE ALLAIS. A origem do para-
PAPEL SEMILOGARÍTMICO. Papel para a ela- doxo de Allais está na crítica que este autor de-
boração de gráficos, semelhante ao milimetrado, senvolveu ao livro Theory of Games (Teoria dos
445 PARAFISCAL

Jogos), 1947, de Von Neumann e Morgenstern. Gibson procurou explicar o fenômeno utilizan-
Em 1936, tentando definir uma estratégia razoá- do-se do conceito das expectativas do público
vel para um jogo repetitivo com uma expectativa sobre o comportamento futuro dos preços. A
matemática positiva, Allais verificou a existência experiência de preços em elevação numa deter-
da preferência por segurança na vizinhança da minada conjuntura pode levar o público a ex-
certeza demonstrada por todos aqueles que se pectativas inflacionárias crescentes e, portanto,
submetiam à prova, especialmente quando se de taxas nominais de juros mais elevadas. Mes-
colocavam em jogo grandes somas em dinheiro, mo que a maior oferta de moeda resultar numa
isto é, somas muito elevadas em relação à renda queda temporária nas taxas de juros, aqueles
das pessoas consultadas. Essa constatação levou que emprestaram dinheiro vão perceber que
Allais a formular um teste, em 1952, que se tor- perderão se emprestarem a taxas nominais de
nou conhecido como paradoxo de Allais. O teste juros mais baixas. Portanto, a oferta de crédito
consiste em duas perguntas: 1) Você prefere a somente se dará a taxas de juros mais elevadas,
situação A ou a situação B? Situação A: certeza que possam compensar essas expectativas do
de ganhar 100 milhões de francos; Situação B: público de preços em elevação. No início dos
10% de probabilidade de ganhar 500 milhões anos 80, Paul Volcker, secretário do Tesouro dos
de francos; 89% de probabilidade de ganhar 100 Estados Unidos, baseou-se nessas concepções de
milhões de francos; 1% de probabilidade de não Gibson, isto é, recomendando a contração da
ganhar nada. 2) Você prefere a situação C ou a oferta monetária, para reduzir as elevadas taxas
situação D? Situação C: 11% de probabilidade de juros que vigoraram durante a década pas-
de ganhar 100 milhões de francos; 89% de prob- sada naquele país em particular e no mundo
abilidade de não ganhar nada. Situação D: 10% em geral.
de probabilidade de ganhar 500 milhões de fran-
cos; 90% de probabilidade de não ganhar nada. PARADOXO DE GIFFEN. Veja Giffen, Robert.
Allais mostra que de acordo com as formulações
PARADOXO DE LEONTIEF. Em 1953, Leon-
neobernoullianas (de Von Neumann e Morgens-
tief descobriu que as exportações norte-ameri-
tern), a preferência da situação A sobre a B, isto
é, se AB, significaria a preferência da situação canas em 1947 eram mais trabalho intensivas
C sobre a D, isto é, que CD. No entanto, Allais do que as importações, no sentido de que o ca-
observou que mesmo pessoas muito cuidadosas, pital por trabalhador necessário para produzir
acostumadas ao cálculo de probabilidade e con- US$ 1 milhão em exportações era menor do que
sideradas racionais (embora com rendas relati- o capital necessário para produzir US$ 1 milhão
vamente pequenas se comparadas com os ga- de substitutos dessas importações. Isso contra-
nhos do exemplo anterior), preferiam A a B, mas riava frontalmente a noção empírica de que os
ao mesmo tempo preferiam D a C. Uma vez Estados Unidos tinham capital em abundância
que os neobernoullianos consideram evidentes em relação ao trabalho, bem como a formulação
os axiomas dos quais eles deduzem formulações teórica de Heckscher-Ohlin do comércio inter-
(neobernoullianas), reputam esse resultado, isto nacional, segundo a qual, a partir de dois fatores
é, o experimento de Allais, um paradoxo. de produção (capital e trabalho) e duas merca-
dorias, um país exportará aquela que for pro-
PARADOXO DE GIBSON. Comportamento con- duzida utilizando intensamente o fator relativa-
traditório entre preços, taxas de juros e emissão mente abundante. Nesse sentido, a descoberta
de moeda verificado por Gibson no início do de Leontief é chamada de “paradoxo”, na me-
século XX. Gibson procurou verificar se o cres-
dida em que é o único caso em que a teoria não
cimento da oferta de moeda provocaria um au-
é confirmada pela prática. Veja também Teore-
mento dos preços e uma queda das taxas de
ma de Heckscher-Ohlin.
juros. Examinando a evolução dos preços du-
rante o século XIX, ele esperava encontrar uma PARADOXO DE RUSSELL. Paradoxo formu-
relação inversa entre os índices de preços e as lado por Bertrand Russell (matemático e filóso-
taxas de juros, isto é, quando os preços estives- fo), relacionado com a teoria dos conjuntos: um
sem em elevação (pelo aumento da emissão de cretense que diga “todos os cretenses são men-
moeda), as taxas de juros deveriam apresentar tirosos” estará mentindo ou falando a verdade?
uma tendência descendente e vice-versa. No en-
tanto, ele encontrou um resultado diferente do PARADOXO DE SÃO PETERSBURGO. Veja
esperado: aparentemente, o aumento na oferta Hipótese de Bernoulli.
monetária provocava ao mesmo tempo uma ele-
vação dos preços e um aumento da taxa de juros. PARAFISCAL. Termo que significa uma con-
O comportamento dessas variáveis parecia pa- tribuição aos cofres do governo paralela ao sis-
radoxal, pois a oferta em expansão de moeda tema fiscal, isto é, exigida pelo Estado, mas que
deveria provocar uma queda nas taxas de juros. não se apresenta como imposto.
PARAÍSOS FISCAIS 446

PARAÍSOS FISCAIS. Pequenos Estados nos da renda, por meio de estudos estatísticos, con-
quais as empresas multinacionais estabelecem cluindo que a distribuição da renda é constante
sucursais, ou pessoas físicas depositam seus re- em diferentes épocas e países e que a distribui-
cursos aproveitando-se de impostos muito bai- ção real da renda é determinada exclusivamente
xos ou inexistentes praticados pelos respectivos pela distribuição entre as capacidades humanas,
governos. Exemplo: Bahamas, Hong-Kong, Li- só se podendo obter uma diminuição dessas de-
béria, Liechtenstein, Luxemburgo, Suíça e ou- sigualdades por um aumento da renda média,
tros. ou seja, mediante um incremento da produção
PARÂMETRO. Uma quantidade que permane- mais rápido que o da população. A principal
ce constante em determinado contexto. Por exem- contribuição de Pareto foi sua obra posterior,
plo, na equação Y = a + bx, onde x e Y são va- Manuale di Economia Politica (Manual de Econo-
riáveis e a e b são constantes, a e b são os pa- mia Política), 1906, na qual coloca de lado a teo-
râmetros da equação. ria subjetiva do valor dos marginalistas, subs-
tituindo-a por uma teoria do preço sem relação
PARCERIA. Tipo de associação, comum na agri- com fatores subjetivos. Ao mesmo tempo inten-
cultura, em que o proprietário fornece a terra e sifica o formalismo metodológico. Argumenta
algum adiantamento de capital (sementes, mu- que a utilidade não é mensurável. É necessário,
das, adubos, preparação do terreno etc.), en- portanto, substituir a noção “cardeal” de utili-
quanto o lavrador participa com o trabalho e a dade ("medida" em números cardeais) pelo con-
administração do negócio. O lavrador paga o ceito “ordinal” da utilidade, expresso em escalas
aluguel da terra ao proprietário com parte da (pela ordem) de preferências para cada indiví-
safra bruta ou com o equivalente em dinheiro, duo. Adota o conceito de “curvas de indiferen-
na proporção estipulada e de acordo com nor- ça”, criado por Edgeworth, para demonstrar a
mas contratuais. Veja também Meação; Terça. possibilidade de construir uma teoria baseada
PAREIA. Exame e medida de uma pipa. Em apenas em escalas de preferências individuais,
Portugal, era o padrão usado para se aquilatar expressas por meio de uma série de equações.
a capacidade das pipas de vinho, que em geral A última obra importante de Pareto foi Traité
levavam 15 almudes, cada almude contendo cer- de Sociologie Générale (Tratado de Sociologia Ge-
ca de 32 l. ral), 1917-1919, na qual tenta completar uma
análise neutra e formal da economia (que con-
PARETO, Lei de. Veja Ótimo de Pareto. siderava uma parte da sociologia ou ciência so-
cial), baseada no equilíbrio geral, com teoremas
PARETO, Vilfredo (1848-1923). Economista, so-
sociopsicológicos. Antiliberal confesso, formu-
ciólogo e engenheiro italiano, foi professor na
lou uma teoria da dominação e circulação das
Universidade de Lausanne (1892-1907), onde su-
elites, segundo a qual toda a história é uma su-
cedeu a Léon Walras, com quem formou a escola
cessão de aristocracias formadas por minorias
de Lausanne. Pareto enfatizou a aplicação da
de todas as classes sociais, suscetíveis de trans-
matemática à economia dentro de um quadro
formar-se em dirigentes. Essa teoria influenciou
teórico marginalista modificado e reviu o mé-
o fascismo de Benito Mussolini, de quem Pareto
todo do equilíbrio geral de Walras. Criou os con-
chegou a ser um partidário intelectual. Escreveu
ceitos de ótimo, ofelimidade e a chamada lei de
ainda La Liberté Économique et les Événements
Pareto. Como sociólogo, serviu de fonte de ins-
d’Italie (A Liberdade Econômica e os Aconteci-
piração para o fascismo. Em Cours d’Économie
mentos na Itália), 1898; Les Systèmes Socialistes
Politique (Curso de Economia Política), 1896-
1897, Pareto desenvolveu o conceito de equilí- (Os Sistemas Socialistas), 1902-1903; Fatti e Teorie
brio geral, tentando indicar, por meio de um (Fatos e Teorias), 1920; e Trasformazioni della De-
sistema de equações, quais as condições mate- mocrazia (Transformações da Democracia), 1921.
máticas de interdependência de todas as quan- Veja também Ótimo de Pareto.
tidades econômicas. Seu método parte de uma PARIDADE. Originalmente, a relação entre a
teoria subjetiva do valor, mas enfatiza o fato em- cotação oficial de câmbio de uma moeda e seu
pírico da escolha do indivíduo. Distingue, na lastro em ouro ou prata (ou mesmo a quantidade
sociedade, “forças coercitivas” e “forças auto- de metal contido fisicamente na moeda). Depois
máticas”, afirmando que o progresso humano de 1971, no entanto, as moedas internacionais
supõe um aumento dos elementos automáticos deixaram de ser cotadas em função das reservas
na regulação dos problemas sociais e uma di- nacionais de ouro, sendo seus valores fixados
minuição dos elementos coercitivos. Assim, cri- pelas próprias políticas monetárias de cada go-
tica o socialismo, visto como elemento coerciti- verno. Dessa forma, a paridade passou a ser feita
vo, e toda interferência estatal na economia. Ten- em relação às moedas normalmente utilizadas
ta ainda desenvolver uma “lei” de distribuição em trocas internacionais.
447 PARTICIPAÇÃO

PARIDADE DO PODER DE COMPRA. Teo- cional como nas transferências de valores entre
ria que propõe que a taxa de câmbio entre duas os países.
moedas se encontra em equilíbrio quando o po-
der de compra interno das moedas é equivalente PARI PASSU. Expressão em latim que significa
ao da taxa de câmbio. Assim, por exemplo, se “passo a passo” ou “simultaneamente”, no sen-
1 libra inglesa equivale no câmbio a 4 dólares, tido de mover-se ou progredir juntos a passos
as duas moedas estariam em equilíbrio se 1 libra iguais, sem preferência nem ordem de prece-
comprasse os mesmos bens na Inglaterra que dência. Por exemplo, os pagamentos a fornece-
os 4 dólares nos Estados Unidos. Essa teoria foi dores podem ser feitos pari passu, isto é, sem
proposta em 1916 pelo economista sueco Gustav precedência de nenhum sobre o outro.
Cassel, que pretendia explicar as variações de PARLIAMENTARY COMMISSIONER FOR
câmbios internacionais entre os países em fun- ADMINISTRATION. Veja Ombudsman.
ção do poder aquisitivo de suas moedas. O me-
canismo básico implícito na teoria é que, se hou- PARLAMENTO EUROPEU. Organismo consul-
ver completa liberdade de ação — se 4 dólares tivo da Comunidade Européia do Carvão e do
compram mais bens nos Estados Unidos do que Aço, Mercado Comum Europeu e Comunidade
1 libra na Inglaterra —, será mais rentável con- Européia de Energia Atômica. Deve ser consult-
verter libras em dólares e comprar nos Estados ado sobre os orçamentos anuais das três orga-
Unidos e não na Inglaterra. Com isso, haveria nizações, entre outras matérias. Sediado em Es-
uma mudança na demanda, o que aumentaria trasburgo (França), foi oficialmente criado em
os preços nos Estados Unidos, baixando-os na 1958, embora existisse como fórum de debates
Inglaterra. Ao mesmo tempo diminuiria a taxa desde 1951, na forma de Assembléia Comum,
de câmbio da libra, até ser restabelecida uma quando foi fundada a Comunidade Européia do
situação de equilíbrio e paridade entre as duas Carvão e do Aço. É integrado por representantes
moedas. Cassel interpreta sua teoria em termos eleitos nos países-membros por sufrágio univer-
de mudanças nos preços e nas taxas de câmbio sal direto e que se agrupam por partidos polí-
dos países, argumentando que a queda nos mer- ticos (socialistas, democrata-cristãos e liberais
cados externos de câmbio após a Primeira Guer- são os maiores) e não por países. O Parlamento
ra Mundial devia-se à inflação provocada pelos tem treze comissões permanentes: assuntos po-
orçamentos desequilibrados, que aumentaram a líticos, comércio externo, agricultura, assuntos
quantidade de dinheiro em circulação. Entretan- sociais, mercado interno, economia e finanças,
to, na prática, essa teoria tem pouca ou nenhuma relações com países subdesenvolvidos, transpor-
validade, uma vez que as taxas de câmbio das te, energia, pesquisa e cultura, saúde, adminis-
moedas, que são determinadas pela oferta e de- tração e orçamento e Justiça. Veja também Co-
manda das moedas nos mercados externos de munidade Européia; Mercado Comum Euro-
câmbio, estão relacionadas com outras variáveis, peu — MCE.
como o desequilíbrio no balanço de pagamentos,
transações de capital, especulação financeira e PARSEC. Unidade de medida de distância do
políticas governamentais. Além disso, muitos sistema estelar, equivalente a 3 259 anos-luz.
bens e serviços não entram no comércio inter- Veja também Ano-luz; Sistemas de Pesos e
nacional; desse modo, seus preços relativos não Medidas.
são levados em conta na determinação da taxa PARTES BENEFICIÁRIAS. Títulos negociáveis
de câmbio das moedas. Assim, é impossível me- emitidos por sociedades anônimas, sem valor
dir satisfatoriamente o poder de compra relativo nominal, não integrantes do capital social e que
da moeda de um país em relação ao outro, de- dão direito a seus proprietários de participação
vido à dificuldade em determinar o preço médio em até 10% do lucro da empresa.
de uma combinação apropriada de bens e ser-
viços. Isso significa que comparações interna- PARTES DE FUNDADOR (ou Ações de Fun-
cionais de qualidade de vida, por exemplo, ba- dador). Títulos emitidos por uma sociedade anô-
seadas nas taxas de câmbio dos diferentes paí- nima, sem valor nominal e sem representativida-
ses, devem ser interpretadas com muito cuida- de junto ao capital social, como benefício reser-
do. vado aos fundadores da empresa e cujos rendi-
mentos só são pagos após a distribuição aos
PARIDADE MONETÁRIA. Relação de valor acionistas.
entre moedas de países diferentes. Até a década
de 70 utilizava-se o padrão-ouro na conversão PARTICIPAÇÃO. Porcentagem com que cada
de valores de uma moeda para outra. Depois, acionista participa de uma empresa e recebe di-
começaram a ser utilizadas moedas fortes, como videndos. Depende, além da quantidade de açõ-
o dólar e a libra, como referência no cálculo da es ou cotas, do tipo de ação que se possui (or-
cotação de moedas, tanto no comércio interna- dinária ou preferencial). Recebe o nome de so-
PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS 448

ciedade em conta de participação aquela em que sivo não-exigível, que representa o capital da em-
não há firma ou razão social: os sócios possuem presa (cujos credores são os proprietários da em-
direitos e obrigações entre si, mas, quanto a ter- presa), reservas e saldo de lucros. Veja também
ceiros, agem individualmente, como se a socie- Ativo.
dade não existisse.
PASSIVO NÃO-EXIGÍVEL. Veja Passivo.
PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS. Sistema pelo
qual uma empresa distribui regularmente, entre PASSIVO REAL. Veja Passivo.
seus empregados, uma proporção de seus lu-
PASSO. Medida antiga de comprimento origi-
cros, que é acrescentada aos salários. Diferente
nada da palavra latina passum, que significa a
dos “prêmios de produção”, a participação nos
distância de uma “passada dupla”, contada de
lucros não depende diretamente do aumento de
onde um pé deixasse o chão até onde ele fosse
produtividade da empresa, mas pode atuar novamente colocado, e equivalia a aproximada-
como incentivo para isso. A participação nos lu- mente 1,5 m. Era a unidade básica de medida
cros foi introduzida na Inglaterra, como meio de distância dos romanos, cujos exércitos iam
de melhorar as relações de trabalho, e hoje são marchando através dos países conquistados e a
várias as grandes empresas que utilizam esse cada mil passos (milia passuum) — o equivalente
método. No tipo mais comum de participação, a dois mil passos simples — marcavam uma
os trabalhadores recebem ações da empresa, milha, que era um pouco menor do que a milha
proporcionalmente a seus salários.Veja também utilizada atualmente. Ainda hoje marcos de dis-
Co-gestão. tância afixados pelos romanos podem ser iden-
PARTIDAS DOBRADAS. Sistema de contabi- tificados na Europa, provando essas equivalên-
lidade, também denominado Método de Vene- cias. Atualmente, considera-se passo uma me-
za, em que os registros são colocados simulta- dida que varia entre 75 e 90 cm, isto é, os limites
neamente no ativo e no passivo, sendo que a de variância do comprimento de uma passada
soma dos elementos do primeiro deve ser igual simples de um adulto. Veja também Milha; Uni-
à soma dos elementos do segundo. Ou melhor, dades de Pesos e Medidas.
este método constitui a base do sistema contábil PASTORE, Affonso Celso (1939- ). Nasceu em
moderno, no qual todas as transações de uma São Paulo e graduou-se em Ciências Econômicas
empresa são decompostas em dois elementos pela Faculdade de Economia e Administração
básicos: 1) a origem dos recursos, e 2) o destino da Universidade de São Paulo em 1969. Fez o
dos recursos. O capital de uma empresa, por doutoramento na mesma instituição em 1968,
exemplo, figura no ativo como edificações, má- da qual se tornou professor e diretor em 1978,
quinas e recursos financeiros imobilizados. Ao e, em 1979, professor titular do Departamento
mesmo tempo, esse capital é registrado no pas- de Economia. Foi secretário dos Negócios da Fa-
sivo como um débito da empresa para com seus zenda durante o governo Paulo Maluf (1979-
acionistas, classificado como débito não-exigí- 1983). Entre setembro de 1983 e março de 1985
vel. Existem evidências históricas de que esse foi presidente do Banco Central, durante o go-
método já tenha sido usado durante os séculos verno João Figueiredo. Seus principais trabalhos
XIII e XIV em Florença, Veneza e Gênova, per- são os seguintes: “A Resposta da Produção Agrí-
mitindo grande avanço na racionalização das cola aos Preços” (Tese de Doutoramento), 1969;
operações monetárias e o aparecimento dos con- “A Oferta de produtos Agrícolas no Brasil” (Es-
ceitos de capital fixo e capital circulante, de ro- tudos Econômicos IPE-USP), 1971; “A Oferta de
tação de capital e de preço de custo. O primeiro Moeda no Brasil” (Pesquisa e Planejamento Eco-
livro a descrevê-lo foi publicado em 1494, de nômico), 1973; “Por que a Política Monetária
autoria de um frade franciscano, Luca Paccioli Perde Eficácia?” (Revista Brasileira de Economia),
(Summa de Arithmetica Geometria Proportioni et 1996.
Proportionalità), professor de matemática e teo-
logia nas universidades de Florença, Pisa, Bolo- PATACA. Moeda de ouro cunhada durante o
nha e Roma. Veja também Ativo; Contabilida- reinado de dom Pedro II (período da Regência)
de; Passivo. e equivalente a 320 réis. A meia-pataca equivalia
a 160 réis.
PASCAL, Blaise. Veja Risco; Triângulo de Pas-
cal. PATAMAR DE PREÇO. Nível de preço que os
consumidores consideram aceitável em relação
PASSIVO. Total das dívidas e obrigações de a um produto determinado, e que é parte de
uma empresa. Opõe-se a ativo, que representa um conjunto de produtos de diferentes quali-
o total de bens da empresa. O passivo divide-se dades e preços. A existência de um “patamar
em dois grupos: passivo real, que consiste no total de preço” pode levar uma empresa a manter
de créditos de terceiros contra a empresa, e pas- seus preços inalterados até que exista evidência
449 PAUPERIZAÇÃO

de que os consumidores de um produto aceita- PATRIMÔNIO. Conjunto de bens de uma pes-


riam um patamar de preço mais elevado em re- soa ou empresa sujeitos a uma administração
lação àquele produto, quando então se daria a com a finalidade de auferir lucro ou criar renda.
majoração de seu preço. No caso de uma empresa, o patrimônio é, em
geral, formado pela diferença entre ativo e pas-
PATENTE. Documento emitido pelo governo sivo. Quando essa diferença é positiva, fala-se
dando a determinada pessoa física ou jurídica em patrimônio líquido; em caso de ela ser nega-
o monopólio sobre uma invenção por tempo de- tiva, chama-se passivo a descoberto ou passivo lí-
terminado. O detentor da patente é o único que quido.
pode fabricar, usar, vender ou autorizar a uti-
lização do invento durante um período. No Bra- PATRIMÔNIO LÍQUIDO. Conceito fundamen-
sil, esse período é de quinze anos; nos Estados tal de contabilidade que significa a diferença en-
Unidos, é de dezessete anos. tre a soma dos bens e direitos de uma empresa
e suas obrigações.
PATRIARCALISMO. Tipo de dominação ca-
racterizado pelas relações pessoais no âmbito da PAU-BRASIL. Veja Ciclo do Pau-brasil.
família extensa e que confere poder autoritário PAUPERIZAÇÃO. Deterioração da qualidade
ao patriarca — chefe de família ou de clã. Ideo- de vida da classe operária, decorrente, segundo
logicamente, envolve o respeito irrestrito à tra- Marx, da lei fundamental da sociedade capita-
dição, à santificação do passado e à obediência lista: a produção de mais-valia. Marx observa
servil aos mais velhos, sobretudo ao pater fami- que o vendedor da força de trabalho, como o
lias. Ao tomar dimensões mais amplas, trans- de qualquer outra mercadoria, realiza seu valor
forma-se em patrimonialismo. No Brasil, o co- de troca e aliena seu valor de uso. No início da
ronelismo se apresentou como uma modalidade jornada de trabalho, o operário produz o valor
de patriarcalismo. Veja também Coronelismo; que vai pagar os meios de vida necessários para
Patrimonialismo. conservar a força de trabalho; as horas seguintes
são destinadas à produção de mais-valia, isto é,
PATRIMONIALISMO. Sistema de dominação
a aumentar o valor das matérias-primas trans-
política ou de autoridade tradicional em que a
formadas em mercadorias. Desse aspecto decor-
riqueza, os bens sociais, cargos e direitos são
reria o interesse dos capitalistas em reduzir os
distribuídos como patrimônios pessoais de um salários ao mínimo necessário à reprodução da
chefe ou de um governante. Ultrapassa o âmbito força de trabalho, isto é, a garantir, num limite
das relações pessoais e familiares típicas do pa- extremo, a sobrevivência do operário. Quanto
triarcalismo, englobando até mesmo a estrutura mais baixo o salário, mais rápida seria a obten-
de um Estado: um corpo de funcionários buro- ção dos meios de vida para manter a força de
cráticos, sem vínculos de parentesco com o so- trabalho e mais longo o período destinado à pro-
berano, administra, controla e usufrui do patri- dução de mais-valia. E o desenvolvimento tec-
mônio público, que se apresenta como proprie- nológico agravaria a situação, diminuindo o
dade pessoal do governante. Um Estado de tipo tempo socialmente necessário à reprodução da
patrimonialista não diferencia, portanto, a esfera força de trabalho. A tese de pauperização cres-
pública da privada. Foram patrimonialistas os cente (pauperização absoluta) foi desenvolvida
Estados burocráticos do antigo Oriente; no Oci- por Marx e Engels em Manuscritos Econômico-
dente, um exemplo típico foi o Estado portu- Filosóficos, Manifesto Comunista, Trabalho Assala-
guês, cuja monarquia controlava todas as ativi- riado e Capital e Miséria da Filosofia. Foram tra-
dades econômicas por meio de um corpo orga- balhos escritos no decorrer da década de 1840,
nizado de funcionários e distribuía as vastas ter- quando eram particularmente terríveis os efeitos
ras incorporadas à Coroa pelos descobrimentos da Revolução Industrial sobre as condições de
marítimos. Essa tradição patrimonialista foi her- vida dos trabalhadores. Paralelamente, entre ou-
dada pelo Brasil com sua administração colonial tros, desenvolveram o conceito da pauperização
baseada nas capitanias e na economia centrada relativa, isto é, a relação inversa entre a produ-
na grande propriedade familiar de monocultura. ção de riqueza e a parcela desta que é reservada
Segundo alguns autores, uma sociedade capita- à remuneração da força de trabalho. No entanto,
lista nascida de uma tradição patrimonial ten- na elaboração final de sua tese dos salários, Marx
deria a formas autoritárias de dominação polí- reviu, à luz da realidade criada pelo capitalismo,
tica, ao contrário das formações capitalistas ori- suas formulações da juventude sobre a lei da
ginárias do feudalismo descentralizador (Euro- pauperização. Foi uma questão analisada com
pa), que seriam mais adequadas ao desenvolvi- mais rigor nas conferências por ele proferidas
mento e manutenção da democracia repre- em 1865, reunidas no opúsculo Salário, Preço e
sentativa. Veja também Coronelismo; Patriarca- Lucro. Marx afirmou que a grandeza dos salários
lismo. dependia de dois elementos: um puramente fí-
PAYE 450

sico (bens necessários “para alimentar e manter dução, como vias de comunicação, energia elé-
de pé” o trabalhador); outro de ordem históri- trica etc.
co-social, diretamente relacionado com as con-
dições de cada país, com seu nível de cultura e PÉ. Medida de comprimento utilizada pela Casa
suas tradições. E concluiu que, nos períodos de da Moeda do Brasil antes da adoção do sistema
prosperidade do capitalismo, os trabalhadores métrico decimal e equivalente a 12 polegadas.
podem “participar da civilização”, obtendo, a O pé foi uma medida muito utilizada na Anti-
partir de sua unidade sindical e política, melho- guidade e uma das mais antigas de que se tem
res salários, redução da jornada de trabalho e notícia para estimar comprimentos e distâncias.
outras conquistas. A luta de classes seria, então, Essa medida, porém, admitiu vários tamanhos
o elemento que barraria a tendência à pauperi- no decorrer do tempo, oscilando entre 27,5 cm
e 35 cm. Nos países de língua inglesa, o mais
zação dos trabalhadores nas condições do capi-
comum é encontrar o pé de 28,75 ou de 30 cm.
talismo; essa tendência seria ainda mais evidente
Atualmente, a medida oficial do pé é de 30,480
nos momentos de crise econômica, quando au-
cm. Veja também Unidades de Pesos e Medidas.
menta o exército industrial de reserva, isto é, a
massa dos desempregados. Veja também Mais- PEÇA PORTUGUESA. A moeda de ouro co-
valia; Salário. nhecida como “peça portuguesa” possuía o peso
de 4 oitavas de ouro de 22 quilates ou ao título
PAYE. Iniciais da expressão em inglês pay as
de 11/12 de fineza. Tinha curso legal em todos
you earn, que significa “retenção na fonte”. os domínios portugueses pelo valor nominal nela
PAYOLA. Termo em inglês (gíria) que designa estampado de 6$400, resultando proporcional-
dinheiro, presentes, mercadorias ou qualquer mente para a oitava o de 1$600.
objeto de valor oferecido a apresentadores, ar-
PEÇA PROVINCIAL. Moeda de ouro de circu-
tistas de televisão, ou rádio, para que estes di- lação circunscrita ao Brasil durante a época co-
vulguem de forma dissimulada ("acidental") o lonial, pesando 2 1/4 oitavas de ouro de 22 qui-
produto de interesse do anunciante, sem que lates e com valor nominal nela estampado de
pareça estar fazendo um comercial. No Brasil, 4$000,00, cabendo à oitava o valor de 1$777 7/9.
esta prática é muito comum em novelas e é de-
nominada merchandising. PEÇAS FORRAS. Durante o primeiro período
colonial, denominação dada aos índios que vi-
PBDCT —Primeiro Plano Básico de Desenvol- viam no entorno das povoações de portugueses.
vimento Científico e Tecnológico. Vigorou en- Embora fossem “livres”, deviam permanecer
tre 1973 e 1974, e tinha como objetivos funda- sob a tutela e administração dos colonos. Tam-
mentais o fortalecimento da capacidade de ab- bém eram denominados servos de administra-
sorção de tecnologia pelas empresas nacionais, ção, na medida em que ficavam sob a respon-
públicas e privadas. A ele seguiram-se o II sabilidade de um administrador nomeado pelo
PBDCT (1975-1979) e o III PBDCT (1980-1985), governo real. Os proprietários de terra busca-
tendo basicamente os mesmos objetivos. vam esse cargo com grande cobiça, pois por
meio dele podiam destinar os indígenas para
PC. Iniciais das palavras em inglês personal
trabalhar em seus próprios cultivos, submeten-
computer. do-os a sistemas de trabalho muito próximos à
P&D. Iniciais de “Pesquisa e Desenvolvimento”. escravidão. Na realidade, a única diferença prá-
Geralmente, a sigla indica se uma empresa rea- tica entre os escravos e os “peças forras” era
liza pesquisas em seu interior e se desenvolve que estes últimos não podiam ser vendidos.
em produtos seus resultados, ou quanto realiza PECK. Veja Bushel.
em investimentos neste âmbito de atividades.
A sigla também é utilizada para designar as des- PECULATO. Apropriação indébita ou desvio de
pesas globais que um país ou um governo rea- verbas, ou bens públicos, praticada por pessoas
lizam em pesquisa e desenvolvimento. Em geral, que exercem função pública. O crime de peculato
a sigla aparece em inglês como R&D, corres- pode ser cometido em proveito próprio ou alheio
pondente a research and development. e consistir na concessão de facilidades para que
a apropriação seja feita por outras pessoas.
PDRI — Plano de Desenvolvimento Rural In-
tegrado. A característica principal dos PDRIs é PECÚLIO. Em termos estritos, é qualquer soma
que, em vez de englobar uma região, conside- de dinheiro acumulada a título de reserva. Por
ram uma área menor, como, por exemplo, a exis- extensão, a palavra passou a designar o patri-
tente no entorno de uma comunidade, e reali- mônio deixado pelo pai ao filho, especialmente
zam ali investimentos na agricultura propria- quando este é menor de idade. Daí algumas em-
mente dita e na infra-estrutura necessária à pro- presas financeiras utilizarem o termo para de-
451 PENSAMENTO ECONÔMICO

terminadas formas de poupança, que reverte- analisando em especial as suas relações com as
riam depois aos filhos, no caso de ausência dos taxas de câmbio. No início do século XVIII, des-
pais, ou aos próprios pais, depois de grande pe- taca-se o esforço sistematizador de Richard Can-
ríodo de aplicações (nesse caso, a palavra teria tillon, cujo Essai sur la Nature du Commerce en
um significado próximo ao de aposentadoria). Général (Ensaio sobre a Natureza do Comércio
em Geral), 1734, já apresenta uma visão coerente
PEDÁGIO. Taxa cobrada de pedestres ou de dos fenômenos econômicos, ressaltando o papel
veículos pelo uso de ponte, meio de ligação ou do empresário. Mas o avanço fundamental viria
estrada asfaltada pelo governo, ou concessioná- na segunda metade do século, com a escola fi-
rio particular. siocrática. Nos trabalhos de François Quesnay
e Turgot, a indagação econômica volta-se para
PEGGED PRICE. Diz-se que a cotação de um
a esfera da produção de riquezas e em especial
título ou de uma mercadoria está pegged (fixada)
para a produção agrícola, vista como a única
quando aqueles que possuem seu controle não
fonte geradora de valores. O Tableau Économique,
podem fazer com que variem para mais ou para
de Quesnay, publicado em 1758, é a primeira
menos além de certos limites fixados a priori. O
representação do circuito econômico, da interde-
termo se aplica a um mercado como um todo
pendência das atividades econômicas, das relações
quando seus preços se mantêm estacionários,
entre a produção e sua repartição. Em 1776, é pu-
sem movimentos perceptíveis numa ou noutra
blicado A Riqueza das Nações, de Adam Smith,
direção.
gigantesco marco inicial da escola clássica in-
PELP. Iniciais de “passivo exigível a longo prazo”. glesa: o trabalho, agrícola ou industrial, passa
a ser visto como a única fonte das riquezas de
PENHOR. Entrega de bem móvel ao credor um país. Até meados do século XIX, David Ri-
como garantia de pagamento da dívida. Se a cardo, Malthus, Stuart Mill e outros notáveis
dívida não é paga no prazo acertado, o credor pensadores analisariam a multiplicidade dos fe-
entra em posse definitiva do bem penhorado. nômenos, sem jamais romper esse fio condutor.
Assim, Ricardo desenvolve a teoria do valor-
PENHORA. Apreensão judicial de bens de um trabalho, afirmando que o valor de uma mer-
devedor que não saldou seus compromissos. Os cadoria é dado pela quantidade de trabalho em-
valores são apreendidos em quantidade sufi- pregada para produzi-la. A escola clássica ofe-
ciente para pagar o credor. rece uma visão da economia centrada na for-
mação do valor e dos preços dos bens. Em torno
PENNIÁ. Veja Marco. do valor natural, dado pelos custos de produção,
PENNYWEIGHT. Termo em inglês que signi- existe o valor corrente, ajustado por meio do
fica medida de peso equivalente a 24 grãos ou funcionamento dos mecanismos impessoais de
1,555 g, cuja abreviação é dwt. Vinte pennyweights mercado, fundamento da livre-concorrência. A
ou 480 grãos equivalem a uma onça troy. Veja teoria dos preços, por sua vez, desdobra-se
também Grão; Libra; Onça; Sistemas de Pesos numa teoria da repartição, que procura explicar
e Medidas. a renda da terra, o salário, o juro e o lucro. E
outros desenvolvimentos teóricos — os princí-
PENSAMENTO ECONÔMICO. Embora alguns pios do crescimento populacional, a lei dos ren-
aspectos dos problemas econômicos tenham dimentos decrescentes e o princípio de acumu-
sido tratados nas obras de Aristóteles e outros lação — contribuem para uma visão de conjunto
filósofos gregos e, na Idade Média, por teólogos da evolução das atividades produtivas, tornan-
como Tomás de Aquino, foi somente na Era Mo- do a economia política um dos marcos do pen-
derna que surgiu o estudo empírico e teórico samento europeu. Contra o pensamento da es-
dos fenômenos econômicos, inaugurando pro- cola clássica, começaram a desenvolver-se, a
priamente uma história de pensamento econô- partir de 1820, diferentes reações doutrinárias,
mico. Assim, nos séculos XVI e XVII, o período como a doutrina intervencionista de Sismondi,
de nacionalismo econômico, conhecido como o industrialismo de Saint-Simon, o sistema na-
mercantilismo, produziu os primeiros teóricos cional de economia política de Liste, o socialis-
preocupados com a economia, como Thomas mo utópico de Fourier e Proudhon. Mas foi Karl
Mun, Josiah Child e William Petty. Os mercan- Marx o primeiro a contestar de modo global a
tilistas limitaram-se a estudar os fenômenos eco- análise realizada pelos clássicos ingleses, tanto
nômicos no âmbito da circulação, principalmen- em suas premissas e objetivos quanto em suas
te o comércio exterior, defendendo o superávit conclusões. A partir da teoria “ricardiana” do
sistemático da exportação sobre a importação valor-trabalho, Marx desenvolveu o conceito de
para que o país pudesse reter o maior lastro de mais-valia, como o trabalho não pago, que seria
ouro possível. Mesmo assim, criaram alguns a fonte do lucro, do juro e da renda da terra.
conceitos gerais, como o de balança comercial, Com a publicação de O Capital, em 1867, Marx
PENSÃO 452

apresenta seu modelo teórico do processo da em função das alternativas do pleno emprego
produção capitalista, tão abrangente e dinâmico e da crise econômica. Assim, nos últimos trinta
quanto o da escola clássica inglesa. Nos fins do anos, o pensamento econômico acadêmico vem
século XIX, o combate à teoria do valor-trabalho sendo desenvolvido em duas grandes linhas: a
(em suas versões ricardiana ou marxista) foi fei- dos pós-keynesianos, com sua ênfase nos ins-
to a partir do conceito subjetivo de “utilidade”, trumentos de intervenção estatal, de planeja-
de acordo com o qual o valor de uma mercadoria mento e de controle dos ciclos econômicos; e a
dependeria da satisfação individual por ela pro- monetarista, que privilegia as forças espontâ-
porcionada. Em 1870, as análises paralelas de neas do mercado como forma de manter a es-
três economistas — Karl Menger, em Viena, tabilidade de uma economia capitalista. Outra
Léon Walras, em Lausanne, e William Jevons, vertente do desenvolvimento contemporâneo do
em Cambridge — fundamentaram a teoria sub- pensamento econômico surgiu no campo da di-
jetiva do valor da escola marginalista ou neo- nâmica econômica, com a aplicação de técnicas
clássica, segundo a qual o valor de uma merca- estatísticas e com a elaboração de modelos eco-
doria seria decorrência de sua utilidade final. A nométricos.
visão globalizante cedia ao estudo de todos os
atos de economia a partir de escalas individuais PENSÃO. Renda ou abono periódico, devido a
de preferência. Paralelamente, essa concepção uma pessoa, com a finalidade de satisfazer suas
mais restritiva amparava-se na análise dos as- necessidades de manutenção. No Brasil, o tipo
pectos quantitativos dos fatores econômicos e mais comum de pensão é aquela paga pelo INSS
de suas combinações. Com os trabalhos de Wie- aos trabalhadores afastados por aposentadoria
ser e de Böhm-Bawerk, da escola austríaca, a ou invalidez e o benefício pago aos dependentes
matemática tornava-se um instrumento cada vez dos segurados após a morte destes. Pela Cons-
mais essencial. Nesse período, destaca-se a obra tituição de 1988, os benefícios e as pensões da
do economista inglês Alfred Marshall, teórico Previdência Social foram revistos a partir de
do equilíbrio parcial, criador de valiosos recur- maio de 1989, com o objetivo de restabelecer
sos analíticos, como a elasticidade da produção seus valores, corroídos pela inflação a partir de
e o estudo das economias interna e externa de 1979. Essa recuperação do poder aquisitivo de-
produção. Também teve grande importância verá corresponder ao número de salários míni-
Wicksell, fundador da escola sueca, ao coorde- mos recebidos na data da concessão da aposen-
nar a teoria neoclássica do valor e dos preços tadoria. Além disso, a Constituição de 1988 es-
com a teoria da moeda. O pensamento margi- tabeleceu também que nenhuma pensão ou be-
nalista consolidou-se nos primeiros anos do sé- nefício pode ser inferior a um salário míni-
culo XX nos Estados Unidos, com John Bates mo.Veja também Aposentadoria; Seguro Social.
Clark e Frank Knight, seguindo a tradição da
escola austríaca, enquanto Vilfredo Pareto, na PENSÃO ALIMENTÍCIA. Pagamento periódi-
Itália, Francis Edgeworth e Arthur Bowley, na co feito a um parente, espontaneamente ou em
Inglaterra, e Irving Fischer, nos Estados Unidos, cumprimento de ordem judicial. O caso mais
desenvolviam as técnicas matemáticas. Dentro comum é o da pensão alimentícia paga pelo ex-
da tradição inglesa, John Richard Hicks realizou marido à ex-esposa, da qual se tenha separado
importantes contribuições, dando às teorias sub- judicialmente, e aos filhos tidos em função desse
jetivas de Marshall um fundamento mais obje- casamento. A obrigação cessa quando a esposa
tivo. E, numa linha independente, Joan Robin- se casa pela segunda vez e quando os filhos atin-
son elaborou uma teoria da competição imper- gem a maioridade. Caso o ex-marido não possa
conseguir sua própria subsistência, a ex-esposa
feita, analisando minuciosamente os monopó-
também poderá ficar obrigada a pagar-lhe a pen-
lios. Mas a inovação mais importante da cor-
são alimentícia.
rente neoclássica surgiu na década de 30, com
a obra de John Maynard Keynes, A Teoria Geral PEONAGEM. Sistema de trabalho forçado, ba-
do Emprego, do Juro e da Moeda, 1936, que refutou seado nas dívidas do trabalhador (do espanhol
a teoria do equilíbrio automático da economia peón = peão) com seu empregador-credor, e pra-
capitalista. Ao examinar os problemas econômi- ticado generalizadamente na América Latina a
cos em função das alternativas do pleno empre- partir do século XIX. Depois de se tornarem in-
go e da crise econômica, as análises keynesianas dependentes da Espanha, países como México,
passaram a inspirar a atuação de diversos go- Peru, Guatemala e outros dependiam do cultivo
vernos num período especialmente difícil, mar- em larga escala de produtos como a cana-de-
cado pela crise mundial de 1929-1932, pela Se- açúcar, que requerem oferta estável de força de
gunda Guerra Mundial e pela reconstrução da trabalho barata. Por meio de uma série de me-
Europa no pós-guerra, os problemas econômicos canismos — adiantamentos salariais e a obriga-
453 PERESTROIKA

ção de o peão comprar nos armazéns (barracões) servada foi X”, o que significa dizer que até os
do patrão —, os proprietários das plantations primeiros 30% de uma freqüência, a renda má-
mantinham seus trabalhadores — a maioria in- xima observada foi X.
dígenas — num estado inescapável de endivi-
damento. Tal situação impedia que um traba- PER DIEM. Expressão latina que significa, lite-
lhador mudasse de emprego, sendo os preços e ralmente, “por dia”, utilizada na prática finan-
salários cuidadosamente calculados para que o ceira e na elaboração de contratos, referindo-se
pagamento da dívida se tornasse inviável. Os a quanto se deve pagar ou receber “por dia” de
débitos eram hereditários, passando de pai para duração de um contrato, de ultrapassagem da
filho, o que na realidade transformava os peões data de um pagamento etc.
em servos, sem no entanto gozar de nenhum PEREQUAÇÃO. A raiz etimológica do termo é
dos direitos da servidão. Embora a peonagem latina e tem o significado de “nivelar”. No cál-
tenha sido abolida oficialmente no México e nos culo estatístico, significa o processo que tem por
demais países latino-americanos a partir de finalidade substituir os elementos de uma série
1915, ainda persiste mais ou menos nos mesmos irregular de dados empíricos pelos valores de
moldes em muitas regiões do continente. No uma função deles, de maneira a alcançar uma
Brasil, o sistema é conhecido como barracão. série regular ou menos irregular que a primitiva.
Por exemplo, no desenvolvimento de sua expo-
PEOPLEWARE. Termo que designa geralmente sição teórica, Marx argumenta que embora as
o sistema social de organização de uma empresa, taxas de lucro sejam individualmente diferentes
correlato aos termos hardware (a estrutura de or- em cada setor produtivo, em função das dife-
ganização) e software (os sistemas de controle) rentes composições orgânicas dos capitais (suposta
no interior de uma empresa. Na medida em que a mesma taxa de mais-valia ou de exploração),
a intensificação da concorrência em âmbito in- a concorrência se encarregaria de nivelar a taxa
ternacional implica a redução dos ciclos de vida de lucro entre os diversos setores (empresas),
dos produtos e dos sistemas produtivos, as mu- observando-se desta forma uma perequação da
danças no hardware, no software e no peopleware taxa de lucro na economia.
são também cada vez mais freqüentes.
PERESTROIKA. Palavra russa que designa a
PEPS. Veja Fifo. reestruturação político-econômica empreendida
na União Soviética a partir da ascensão de Mik-
PEQUENA E MÉDIA EMPRESA. Veja Sebrae. hail Gorbatchev à Secretaria Geral do Partido
PEQUENA PROPRIEDADE. Propriedade ru- Comunista Soviético. Em junho de 1987, o So-
viete Supremo (Parlamento) fez uma análise da
ral de pequenas dimensões (inferior a 10 hecta-
situação econômica do país e verificou que: 1)
res), geralmente explorada por seu proprietário
cerca de 13% das empresas apresentavam déficit
ou ocupante com o auxílio do trabalho familiar
somando mais de 60 bilhões de dólares; 2) a
e com métodos tradicionais de cultivo, isto é, produção nacional sofrera um pronunciado de-
sem a utilização de insumos modernos ou de clínio em sua taxa de crescimento, passando de
tecnologia avançada. A produção é destinada uma média anual de 7,1% no qüinqüênio 1966-
em grande parte ao consumo familiar, comer- 1970 para 3,8% entre 1976-1980 e caindo ainda
cializando-se apenas uma fração do que é pro- mais, para 3,2%, em 1981-1985; 3) a agricultura
duzido. não vinha conseguindo abastecer o país, levando
ao racionamento e à dependência crescente das
PERCENTIL (Centil). Forma de participação de
importações de alimentos; 4) a produtividade
valores estatísticos que divide a freqüência em
do trabalhador soviético chegara a ser 50% in-
cem partes iguais. Quando a participação ocorre ferior à do trabalhador norte-americano; 5) a ba-
em dez partes iguais, denomina-se decil. Por lança comercial era deficitária, sendo equilibra-
exemplo, o decil mais pobre de uma população da por créditos de países capitalistas ocidentais;
são os 10% de menor renda, enquanto o decil 6) o absenteísmo ao trabalho era freqüente e o
mais rico é composto por aqueles de maior ren- alcoolismo, um fenômeno alarmante (a Acade-
da. No caso brasileiro, em que a renda está muito mia de Ciências estimava que 15% dos soviéticos
concentrada, enquanto o decil mais pobre se eram alcoólatras, o que significava cerca de 40
apropria de 1,0 a 1,2% da renda, o decil mais milhões de pessoas). A partir dessas constata-
rico se apropria de 45,0 a 50% da renda. Cos- ções, foram tomadas várias medidas enfeixadas
tuma-se também efetuar a partição em quatro no que tem sido chamado de perestroika. As mais
partes iguais ou quartis, correspondendo cada importantes foram: 1) adoção de um critério de
um a 25% de uma distribuição. O termo aplica-se lucratividade para as empresas: as não rentáveis
também à delimitação entre campos, por exem- deveriam ser fechadas; 2) descentralização da
plo: “até o terceiro decil, a renda máxima ob- economia: a Gosplan (órgão central de planeja-
PERFORMANCE BOND 454

mento da economia soviética) ganhava um novo PERPETUAL WARRANT. Expressão em inglês


caráter, apenas orientando de forma geral a eco- que significa um warrant com vida perpétua, isto
nomia, concedendo-se à direção de cada empre- é, sem prazo de vencimento.
sa maior autonomia para fixar metas, preços,
salários etc.; 3) liberação para o funcionamento PER PRO. Contração da expressão “por procu-
de empreendimentos privados; 4) aumento da ração”, isto é, quando algum agente atua por
produtividade não apenas pela incorporação do procuração de outrem (em geral, o proprietário
progresso técnico, mas também pelo fortaleci- ou titular de alguma transação financeira) assi-
mento da disciplina no trabalho. Veja também nando todos os documentos necessários em
Glasnost. nome deste para concluir uma operação.

PERFORMANCE BOND. Veja Seguro-ga- PERROUX, François (1903- ). Economista fran-


cês, neomarginalista, teórico do desenvolvimen-
rantia.
to econômico e autor de uma teoria do equilíbrio
PERIFERIA. Conjunto das economias nacionais geral baseada no conceito de unidades ativas
subdesenvolvidas que estão integradas aos de produção e sua influência no espaço econô-
grandes centros do capitalismo moderno. O con- mico. Discípulo de Schumpeter (seu professor
ceito parte da constatação de que o capitalismo em Viena) e Chamberlin, Perroux criou os con-
ceitos de economia dominante e efeito de do-
atual, em sua fase monopolista, é constituído
minação, definidos como “a influência irre-
de sistemas multinacionais, cada um deles for-
versível, internacional ou não, que uma unidade
mado por um sistema central (países altamente
econômica qualquer exerce sobre outras unida-
industrializados da Europa Ocidental, Japão, Es- des menos poderosas”. Em sua análise, substi-
tados Unidos e Canadá) e por subsistemas pe- tuiu a noção de “meios econômicos” pelo exame
riféricos, compostos pelos países do Terceiro de “forças em ação”. Sua noção de economia
Mundo. Veja também Dependência; Imperia- dominante não se enquadra na noção de impe-
lismo; Subdesenvolvimento. rialismo, pois a dominação é enfatizada como
algo maior, com o efeito não intencional, quase
PERIFÉRICO. Em informática, termo que se mecânico, que uma unidade econômica exerce
aplica a todo dispositivo que permita a comu- sobre as outras apenas por seu tamanho ou por
nicação do computador com outra aparelhagem. sua atividade. Estende essa noção ao estudo de
Esses dispositivos são divididos em três catego- empresas dominantes, macrodecisões de gran-
rias: a) periféricos de entrada, que são os usados des grupos (nações, cartéis e sindicatos) e eco-
para introduzir no computador as informações nomias nacionais preponderantes. Nessa linha,
que vão ser utilizadas; b) periféricos de saída, usa- Perroux elabora a noção de espaço econômico,
dos pelo computador para entregar informações que se diferencia do espaço geográfico e político
e resultados geralmente em planilhas impressas, e é entendido como o conjunto de relações dos
gráficos etc.; c) periféricos de armazenamento, que agentes econômicos (indivíduos, empresas e Es-
permitem ao computador armazenar informa- tado) e sua zona de influência dentro de um
ções, geralmente sob forma magnética. O termo conjunto financeiro homogêneo (tendo o mesmo
é utilizado também para designar a situação eco- sistema de preços etc.). Perroux desenvolve em
nômica e política de um país: em contraste com seguida uma teoria geral do “progresso econô-
os países centrais, os países periféricos seriam mico”. No âmbito das economias nacionais, des-
taca o papel do empresário e a ação do Estado.
aqueles subdesenvolvidos e dependentes dos
Em termos internacionais, salienta a formação
primeiros.
de “pólos múltiplos de desenvolvimento” — fi-
PERPETUAL BOND. Título que não tem data nanceiros, comerciais e de produção. Em sua
determinada de vencimento ou que tem um pra- análise de “progresso”, destacam-se as noções
zo tão longo de maturação que, para efeitos prá- de criação coletiva, propagação de tecnologia e
ticos, pode ser considerado uma obrigação de significação do progresso. Perroux foi professor
no Collège de France e nas universidades de
caráter perpétuo. Na realidade, um título com
Lyon e de Paris, exercendo considerável influên-
tais características é uma contradição em termos, cia sobre o pensamento econômico na França e
na medida em que, por definição, um título América Latina. Entre suas obras destacam-se
(uma declaração de dívida) é uma promessa ou Le Problème du Profit (O Problema do Lucro),
um compromisso de pagar tanto o principal 1926; La Valeur (O Valor), 1943; Théorie Générale
como os juros correspondentes numa data de- du Progrès Économique (Teoria Geral do Progres-
terminada. Tais formas de instrumento finan- so Econômico), 1956; L’Économie du XXème Siècle
ceiro geralmente só aparecem em economias (A Economia do Século XX), 1961, e Unités Ac-
muito estáveis, nas quais os agentes econômicos tives e Mathématiques Nouvelles, Révision de la
confiam no longo prazo. Théorie de l’Équilibre Général (Unidades Ativas e
455 PESOS E MEDIDAS

Novas Matemáticas, Revisão da Teoria do Equi- sistema de pesos e medidas é fundamental para
líbrio Geral), 1975. a realização do comércio, e sua origem coincide
com o surgimento da prática de troca entre os
PERT. Iniciais da expressão em inglês program povos. Os povos mais antigos usavam medidas
evaluation and review technique, denominação de práticas, como o pé, o cúbito (comprimento de
uma das técnicas de Caminho Crítico (que con- um antebraço humano) e o palmo, além de múl-
sidera a duração das tarefas variável). Veja tam- tiplos dessas medidas. No comércio, mediam
bém Caminho Crítico; CPM; Grafo-Pert. volumes e massas com vasilhas e pesos padro-
nizados. Os mais antigos sistemas conhecidos
PERVERSE EFFECT PRINCIPLE. Veja Princí-
foram utilizados na Assíria, Babilônia, Caldéia
pio do Efeito Perverso.
e Egito. As medidas egípcias, com modificações,
PESETA. Unidade monetária da Espanha e de foram empregadas na Ásia e na Grécia, chega-
Andorra (peseta espanhola). Submúltiplo: cénti- ram à Itália e dali se espalharam pela Europa.
mo. No entanto, cada região acabava utilizando uni-
dades próprias, difíceis de ser convertidas umas
PESEWA. Veja Cedi Novo. nas outras. No século XIX os países começaram
a adotar padrões nacionais de pesos e medidas,
PESO. Unidade monetária da Argentina (peso acompanhando o exemplo da França, que ado-
argentino), do Chile (peso chileno), da Colômbia tara o padrão do sistema métrico decimal em
(peso colombiano), de Cuba (peso cubano), das 1791. No mundo ocidental, apenas os países do
Filipinas (peso filipino), da Guiné-Bissau (peso), Reino Unido e os Estados Unidos mantiveram
do México (peso mexicano), da República Do- sistemas próprios (sistema imperial e sistema
minicana (peso dominicano) e do Uruguai (peso consuetudinário americano). No entanto, a par-
uruguaio novo). Submúltiplo: centavo. tir da década de 60, o Reino Unido adotou gra-
dativamente o sistema métrico e os Estados Uni-
PESO BRUTO. Veja Tara.
dos passaram a adotar suas medidas tradicio-
PESO DE BASE. É utilizado para ponderar nú- nais acompanhadas da equivalência no sistema
meros-índices no período-base (ou ano-base), de métrico. No Brasil, o sistema métrico foi adotado
acordo com a participação estimada da intensi- em 1862 por decreto de dom Pedro II. Atual-
dade de cada elemento no índice. Por exemplo, mente, a administração de pesos e medidas está
na estimação do índice do custo de vida, cada a cargo do Instituto Nacional de Pesos e Medi-
elemento de consumo participa com uma inten- das (INPM). Veja também Sistema Internacio-
sidade determinada. A ponderação de cada um nal de Unidades; Sistema Métrico Decimal no
dependerá dessa intensidade de tal forma que Brasil.
as variações de preço em cada um repercutirão PESOS E MEDIDAS (Conversões de Cargas
no índice geral de acordo com esta ponderação. Secas). Dependendo do tipo de cereal ou grão,
Se os preços do vestuário aumentarem 30%, e cada medida de volume tem um peso diferente.
se o peso de base desse item (ou ponderação Isso acontece em função do formato e da den-
no índice) for igual a 10%, isto provocará uma sidade dos grãos de cada produto. Para os grãos
elevação de três pontos percentuais no índice do mais importantes transacionados no mercado in-
custo de vida. Como os hábitos de consumo se ternacional, a conversão de bushels* para tone-
alteram com o tempo, o mesmo acontecendo com ladas métricas é a seguinte:
os preços relativos desses produtos, é necessário
de tempos em tempos fazer ajustes nas pondera- Grão Libras Bushels por Bushels por Bushels por
ções por meio de pesquisas de padrão de vida. por tonelada tonelada tonelada
bushel métrica curta longa
PESO LEGAL. É o peso de uma mercadoria Trigo 60 36,743 33,333 37,333
com todos os seus envoltórios interiores, excluí-
Milho 56 39,368 35,714 40,000
das as caixas de madeira tosca, palha, palhões,
raspas, serragem de madeira, isopor, forro in- Aveia 32 68,894 62,500 70,000

terno de ferro, folha de flandres ou zinco de Soja 60 36,743 33,333 37,333


envoltório exterior. Centeio 56 39,368 35,714 40,000
Cevada 48 45,929 41,667 46,667
PESO LÍQUIDO. Veja Tara.
Linhaça 56 39,368 35,714 40,000
PESO REAL. É o peso de uma mercadoria ex- Sorgo 56 39,368 35,714 40,000
cluídos todos os seus envoltórios. Veja também Arroz
Tara. (casca) 45 48,991 44,444 48,778

PESOS E MEDIDAS. Unidades de massa, com-


primento, área e volume utilizadas no comércio, (*) O bushel é medida de capacidade para cereais
indústria, laboratórios etc. A existência de um e equivale a 36,36 l.
PESQUISA DE CONSUMO 456

A regra básica para a conversão de bushels para manos e materiais disponíveis, em direção a de-
toneladas métricas é a seguinte: Milho, sorgo e terminado objetivo. Desenvolveu-se durante a
centeio: multiplica-se o número de bushels por Segunda Guerra Mundial para enfrentar proble-
0,0254014. Soja e trigo: multiplica-se o número mas de relativa escassez de mão-de-obra e equi-
de bushels por 0,0272158. Aveia: multiplica-se o pamentos. Ao utilizar profissionais de várias
número de bushels por 0,0145151. Cevada: mul- áreas e operar com modelos matemáticos, na
tiplica-se o número de bushels por 0,0204118. Ar- tentativa de medir probabilidades e riscos de
roz (casca): multiplica-se o número de bushels decisões alternativas, a pesquisa operacional tor-
por 0,0204118. Linhaça: multiplica-se o número
nou-se importante para orientar as decisões de
de bushels por 0,0226798. Veja também Sistema
dirigentes de grandes empresas e órgãos públi-
Internacional de Unidades; Sistema Métrico
cos. É usada, por exemplo, na investigação mer-
Decimal no Brasil; Tonelada Curta; Tonelada
Longa; Tonelada Métrica. cadológica, para definir qual técnica publicitária
ou de marketing é mais eficaz.
PESQUISA DE CONSUMO. Processo contínuo
mediante o qual um produto é aperfeiçoado, me- PESQUISA SOCIAL. Procedimento utilizado nas
lhorado e modificado sem cessar para a atender áreas das ciências humanas para verificar, pela
às mudanças de hábito e exigências dos consu- observação empírica, hipóteses teóricas levanta-
midores. das sobre as relações entre um conjunto de fatos
sociais. A pesquisa social contribui ainda para
PESQUISA DE MERCADO. Procedimento uti- questionar ou aperfeiçoar conceitos teóricos. As
lizado em empresas para investigar as preferên- técnicas de pesquisa social dependem do campo
cias dos consumidores em relação a produtos, teórico em que o investigador se situa. E a prá-
marcas, publicidade e serviços. Geralmente, é tica concreta de cada pesquisa em particular
escolhida uma amostra representativa da opi- também condiciona a metodologia. Alguns pas-
nião da totalidade do público consumidor de sos são fundamentais. Em primeiro lugar, for-
determinado produto. Uma das formas de pes- mula-se o problema da pesquisa e faz-se o lan-
quisa é lançar um produto em algumas cidades çamento de hipóteses. Em seguida, essas hipó-
ou oferecer amostras. Costuma-se também rea- teses são traduzidas em termos passíveis de ser
lizar testes sobre a lembrança de marcas ou pu-
observados e comparados em âmbito empírico.
blicidade. Mais recentemente, nas pesquisas mo-
A terceira fase é a coleta de dados, seguindo-se
tivacionais, tenta-se descobrir as razões que le-
a quarta fase, que é a análise dos resultados ob-
vam as pessoas a consumir determinados pro-
tidos. Nessa fase, o pesquisador deve voltar-se
dutos ou serviços. Uma vez que a pesquisa de
para dois aspectos: teste das hipóteses levanta-
mercado indica as preferências dos consumido-
das inicialmente e atenção a resultados inespe-
res, ela é utilizada para tornar a publicidade
mais efetiva e evitar a fabricação de produtos rados, dos quais poderão surgir novas hipóteses.
que não seriam aceitos. As técnicas de pesquisas PESSOA FÍSICA (ou Pessoa Natural). Todo in-
de mercado também são usadas na política (na divíduo, desde o momento de seu nascimento
forma de pesquisa de opinião), não só para veri- até a morte. Adquire personalidade civil ao nas-
ficar as tendências do eleitorado, mas também cer, mas tem seus direitos garantidos antes mes-
qual a plataforma e/ou a imagem do candidato mo do nascimento. Esses direitos, baseados na
que seriam mais aceitas. própria natureza humana, são os direitos de
PESQUISA E DESENVOLVIMENTO (P&D). existência, de liberdade, de associação, de pro-
Setor da organização empresarial com a função priedade e de defesa.
de realizar pesquisas básicas (científicas) e apli-
PESSOA JURÍDICA. Qualquer instituição (em-
cadas, além de desenvolver protótipos e proces-
sos, visando particularmente a sua aplicação co- presa, sociedade, corporação etc.) que se perso-
mercial. naliza e individualiza, distinguindo-se das pes-
soas físicas que a formam. Sua existência de-
PESQUISA INTENSIVA, Indústria de. Indús- pende de aspectos legais: para ser formadas, pre-
tria em que a proporção de investimento em cisam cumprir determinados requisitos e só são
pesquisas é muito elevada em relação à produ- dissolvidas por força da lei ou por acordo de
ção líquida. Como exemplos de indústrias de seus componentes.
pesquisa intensiva situam-se a indústria farma-
cêutica, a aeronáutica e a eletrônica. PETER PRINCIPLE. Veja Princípio de Peter.

PESQUISA OPERACIONAL. Aplicação práti- PETIT AVERAGE. Expressão anglo-francesa


ca de amplas e variadas técnicas científicas para que significa uma “pequena avaria num lote
obter o melhor uso possível dos recursos hu- de mercadorias”.
457 PETRÓLEO, Crise do

PETROBRÁS — Petróleo Brasileiro S.A. Socie- tância para o Brasil: o xisto pode ser processado
dade de economia mista com participação ma- em refinarias, de maneira idêntica ao petróleo,
joritária do governo federal. Foi criada em 1953 e as reservas brasileiras ocupam o segundo lugar
pela lei 2 004, que lhe confiou o monopólio es- no mundo.
tatal no setor do petróleo, reivindicado por uma
mobilização popular de âmbito nacional. Iniciou PETRODÓLAR. Nome dado às divisas (geral-
suas atividades em 1954. A Petrobrás é respon- mente em dólar) provenientes da exportação de
sável pela exploração e produção das jazidas petróleo. O termo difundiu-se em 1973, quando
brasileiras de petróleo e outros hidrocarboidra- a Organização dos Países Exportadores de Pe-
tos fluidos e gases raros provenientes de poço tróleo (Opep) — entidade sob controle árabe —
ou xisto, bem como pela refinação do petróleo elevou de 3 para 12 dólares o preço do barril
nacional ou estrangeiro e pelo transporte, ma- de óleo cru, ocasionando um enorme afluxo de
rítimo ou por condutos, do petróleo bruto e de divisas para os Estados exportadores. Mas vá-
seus derivados. Dispõe de sua própria frota de rios milhões desses petrodólares não encontra-
petroleiros, a Fronape, e possui seis subsidiárias: ram aplicação dentro das limitadas estruturas
Petrobrás Química S.A. (Petroquisa), holding que econômicas de alguns países membros da Opep
atua no setor petroquímico; Petrobrás Distribui- e retornaram ao Ocidente, injetados nos bancos
dora S.A. (Petrodis), encarregada da comercia- e grandes financeiras com sede nos países mais
lização de derivados; Petrobrás Internacional industrializados. Foi a origem da grande liqui-
S.A. (Braspetro), para a exploração e produção dez do mercado financeiro internacional, que
de petróleo, prestação de serviços técnicos e ad- durou até o fim da década de 70. Veja também
ministrativos especializados no exterior; Petro- Opep; Petróleo, Crise do.
brás Comércio Internacional S.A. (Interbrás), tra- PETRÓLEO, Crise do. Situação decorrente dos
ding para comercialização de produtos e serviços sucessivos aumentos nos preços do petróleo de-
brasileiros; Petrobrás Fertilizantes S.A. (Petrofér- cretados a partir de outubro de 1973 pelos Es-
til), ligada à produção, exportação e importação tados integrantes da Organização dos Países Ex-
de fertilizantes, nitrogenados e fosfatados; Pe- portadores de Petróleo (Opep). Seu elemento de-
trobrás Mineração S.A. (Petromisa), dedicada à tonador foi, incontestavelmente, o conflito ára-
atividade de mineração. A Petrobrás está ainda be-israelense de 1973, mas seu alcance era muito
coligada a duas empresas, a Petrocoque S.A. In- mais amplo: a crise expressava o projeto dos
dústria e Comércio e a Empresa Brasileira de países produtores de petróleo no sentido de con-
Reparos Navais. Em 1990, a produção de petró- trolar a produção e distribuição da matéria-pri-
leo da Petrobrás atingiu seu recorde histórico, ma e de defender seu preço no mercado inter-
com uma média de 653 mil barris diários, o que nacional. Um momento importante desse pro-
representa aproximadamente 60% do consumo jeto foi a própria constituição da Opep em 1960,
nacional. Os poços de Urucu, no Amazonas, e em resposta aos sucessivos cortes nos preços do
os da bacia de Campos foram responsáveis por petróleo unilateralmente realizados pelas mul-
90% dessa produção. Com as atividades de ex- tinacionais do setor. O cartel reunia o Irã, o Ira-
ploração fizeram-se oito novas descobertas no que, o Kuweit, a Arábia Saudita e a Venezuela,
mar e onze em terra. As descobertas mais im- que se propunham a defender e estabilizar a
portantes foram obtidas na plataforma continen- estrutura de preços então existente. Aos países
tal, especialmente nas bacias de Campos, Poti- fundadores juntaram-se mais tarde Qatar, Indo-
guar e Santos. Com a crise mundial do petróleo nésia, Líbia, Abu Dabi (depois integrado à União
de 1972-1973, a Petrobrás começou a desenvol- dos Estados Árabes), Argélia, Nigéria e Equa-
ver estudos sobre fontes alternativas de energia. dor, num total de doze Estados-membros. No
Apoiou o Programa Nacional do Álcool, insti- início dos anos 70, esses países respondiam por
tuído em 1972, e desenvolveu, em convênio com mais de 60% das exportações. Além disso, os
o Instituto Nacional de Tecnologia, um processo países exportadores haviam gradativamente
industrial para a obtenção do álcool a partir da melhorado suas posições na economia petrolí-
mandioca. Além disso, o Centro de Pesquisa e fera, elevando sua margem de lucratividade,
Desenvolvimento Leopoldo A. Miguez de Mello realizando nacionalizações parciais ou integrais,
(Cepes), ligado à Petrobrás, está aperfeiçoando retendo a propriedade das reservas, impondo
um novo processo que permitirá a produção de condições às multinacionais do petróleo. O con-
eteno a partir de álcool para uso na indústria fronto aberto com as chamadas “sete irmãs” era
petroquímica. Desde 1975 empreende estudos uma questão de tempo. Logo após o início do
conjuntos com outros órgãos do governo visan- conflito entre árabes e israelenses, os países pe-
do a maior participação do carvão no balanço trolíferos do golfo Pérsico, reunidos na Organi-
energético nacional, sob a forma de gás. Desen- zação dos Países Árabes Exportadores de Petró-
volve ainda projetos para extração de óleo das leo (Opaep,) decidem aumentar unilateralmente
rochas de xisto, um objetivo de enorme impor- em 17% o preço daquela matéria-prima, sem
PETTY 458

consultar as “sete irmãs”. Ao mesmo tempo, de- a energia solar, a nuclear e a biomassa. Esta úl-
cidem reduzir mensalmente em 5% o forneci- tima alternativa foi a escolhida pelo Brasil: o
mento aos países que apoiavam Israel no con- Programa Nacional do Álcool (Proálcool), lan-
flito, até que Israel devolvesse os territórios ocu- çado em 1975, é o maior projeto de utilização
pados e fossem reconhecidos os direitos do povo da biomassa desenvolvido em todo o mundo. C
palestino. O preço do barril sobe então de 3,03 om o retorno dos preços do petróleo aos seus
para 3,65 dólares. Em fins de 1973, o preço do níveis normais, o Proálcool entrou em crise, uma
petróleo não refinado proveniente do golfo Pér- vez que os subsídios do governo brasileiro a
sico era 400% superior ao cobrado no início do este programa tornaram sua continuidade inviá-
mesmo ano; até meados de 1975, os preços quase
vel. Se em meados da década de 80 mais de
quintuplicaram. Os países da Opep viram suas
80% da produção de automóveis era de modelos
receitas aumentar em US$ 25 bilhões em 1973
e US$ 80 bilhões em 1974. Nesse ano, o bloco dos movidos a álcool, na segunda metade dos anos
países industrializados teve um déficit global de 90 esta proporção havia caído drasticamente,
US$ 11,5 bilhões e os países subdesenvolvidos, não alcançando 5% da produção total.
um déficit de US$ 39,8 bilhões. Esses aumentos
PETTY, William (1623-1687). Economista inglês,
provocaram o que ficou conhecido como “pri-
considerado o precursor da escola clássica e fun-
meiro choque do petróleo”. O segundo “cho-
dador da estatística econômica. Interessado no
que” viria alguns anos depois, em 1979. A guerra
estudo das finanças públicas, escreveu A Treatise
civil no Irã, que culminou com a derrubada do
of Taxes and Contributions (Tratado dos Impostos
xá Reza Pahlevi, provocou a queda da produção
e Contribuições), 1662. A mesma preocupação
iraniana de 6,5 milhões de barris/dia para 235
mil barris/dia, o que não atendia nem mesmo em indicar as melhores formas de arrecadar im-
ao consumo interno daquele país. O Irã, que era postos e encaminhar os gastos públicos condu-
o segundo maior exportador da Opep, retirava- ziu Petty à necessidade de dispor de dados o
se praticamente do mercado, para voltar mais mais amplos possível sobre a atividade econô-
tarde com uma produção de cerca de 2 milhões mica. Assim, escreveu, em 1672, Political Anato-
de barris/dia. Os acontecimentos verificados no my of Ireland (Anatomia Política da Irlanda) e
Irã pressionaram no sentido da formação de es- Political Arithmetick (Aritmética Política), só pu-
toques por parte das companhias multinacio- blicada em 1691, com as quais, sobretudo esta
nais. Os preços atingiram então níveis recordes: última, foi o iniciador na Grã-Bretanha do es-
o petróleo foi comercializado por até 23 dólares tudo científico dos fatos econômicos, tratados
o barril. Em março de 1979, a Opep decidiu rea- matematicamente, na tradição do empirismo in-
justar oficialmente os preços para 14,55 dólares glês. Petty considerou que a riqueza (os bens)
o barril, cobrando sobretaxas especiais sempre deriva da conjugação da terra com quantidade
que isso fosse considerado justificável diante de de trabalho necessária para produzir essa rique-
circunstâncias específicas. O Irã, a Líbia, a Ar- za; enfatizou o papel da divisão do trabalho,
gélia e a Nigéria, porém, elevaram os preços representando uma ponte para as concepções
para 17,50 ou 18 dólares o barril, no que foram de Adam Smith.
seguidos pouco depois pelos países produtores
do golfo Pérsico. Em junho de 1979, numa nova PFANDBRIEF. Termo em alemão que significa,
reunião da Opep, decidiu-se que a Arábia Sau- literalmente, “carta de garantia”, e que, no mer-
dita — maior produtor da Opep, com reservas cado financeiro, mais se aproxima a um “título
de 130 bilhões de barris — reajustaria seus pre- hipotecário”. Na Alemanha, no entanto, o termo
ços para 18 dólares e os demais países, para 23,50 é utilizado tanto para hipotecas imobiliárias
dólares. No início de 1980, com a crise entre como para títulos de dívidas de Estados e mu-
Estados Unidos e Irã e o agravamento geral das nicípios. Corresponderia ao termo em inglês
tensões políticas e militares no Oriente Médio, mortgage-backed security, também denominado
os preços do petróleo por barril oscilavam entre em língua inglesa German-Pfandbrief. Os títulos
os 37 dólares cobrados pela Argélia, os 34 dó- hipotecários desse tipo constituem o maior seg-
lares cobrados pela Nigéria e os 28 dólares co- mento de opções de investimentos da Alema-
brados pelo Iraque. Além da redução de consu- nha. No final de 1995, estavam em circulação
mo, a crise do petróleo provocou uma variedade 1,25 trilhão de marcos alemães em Pfandbriefe.
de outras respostas, incluindo a pesquisa de fon-
tes energéticas alternativas. Nesse sentido, além PFENNIGE. Veja Marco.
de uma retomada das pesquisas levadas a cabo PFENNINGS. Veja Guld(en).
na Alemanha durante a Segunda Guerra Mun-
dial em torno do petróleo sintético, obtido por PI (π). É a constante 3,1415927..., que designa a
meio do carvão natural, procura-se aproveitar relação entre a circunferência e o raio de um
459 PIL

círculo. Em estatística (π) é utilizado para de- PIGOU, Arthur Cecil (1877-1959). Economista
signar a proporção de uma população. inglês de linha neoclássica, discípulo e sucessor
de Alfred Marshall na cadeira de economia po-
PIB — Produto Interno Bruto. Refere-se ao va- lítica em Cambridge, cuja elaboração teórica pro-
lor agregado de todos os bens e serviços finais curou desenvolver e tornar mais clara. É consi-
produzidos dentro do território econômico de derado um dos pioneiros da “economia do bem-
um país, independentemente da nacionalidade estar”, título de sua obra mais famosa, Economics
dos proprietários das unidades produtoras des- of Welfare (1920). Uma de suas principais con-
ses bens e serviços. Exclui as transações inter- tribuições à teoria de Marshall foi o chamado
mediárias, é medido a preços de mercado e pode “efeito Pigou”, que consiste na estimulação do
ser calculado sob três aspectos. Pela ótica da pro- emprego por meio de um aumento do valor real
dução, o PIB corresponde à soma dos valores do balanço líquido em conseqüência de um de-
agregados líquidos dos setores primário, secun- clínio dos preços. Como o valor real da riqueza
dário e terciário da economia, mais os impostos aumenta, o consumo também deveria aumentar,
indiretos, mais a depreciação do capital, menos incrementando a renda e o emprego. Outras pro-
os subsídios governamentais. Pela ótica da renda, postas, tais como a elevação artificial da taxa
é calculado a partir das remunerações pagas média dos salários como meio de combater o
dentro do território econômico de um país, sob desemprego, provocaram acesa polêmica com
a forma de salários, juros, aluguéis e lucros dis- John M. Keynes e outros economistas. Na Eco-
tribuídos; somam-se a isso os lucros não distri- nomia do Bem-Estar, Pigou analisou as políticas
buídos, os impostos indiretos e a depreciação econômicas relacionadas com os efeitos sobre o
do capital e, finalmente, subtraem-se os subsí- volume e a distribuição do produto nacional.
dios. Pela ótica do dispêndio, resulta da soma dos Aplicou o conceito de utilidade marginal a gru-
dispêndios em consumo das unidades familiares pos sociais e distinguiu os efeitos da atividade
e do governo, mais as variações de estoques, econômica sobre aqueles que a dirigem — o que
menos as importações de mercadorias e serviços chamou de “produto marginal privado líquido”
e mais as exportações. Sob essa ótica, o PIB é — dos efeitos sobre a sociedade em seu conjunto,
também denominado Despesa Interna Bruta. o “produto marginal social líquido”. A realiza-
Veja também PNB; Território Econômico. ção do máximo do bem-estar na sociedade de-
penderia da igualdade dos produtos marginais
PIGGY BACK. Expressão inglesa que significa sociais líquidos, que só poderia ser obtida com
a comercialização, feita por uma empresa soli- a intervenção estatal. Sua ênfase no volume, dis-
damente implantada no mercado externo, de um tribuição e estabilidade da renda nacional está
produto de uma outra empresa que não dispo- presente em seus outros livros: Wealth and Wel-
nha de meios para colocar seus produtos nesse fare (Riqueza e Bem-Estar), 1912; Unemployment
mercado. A vantagem para a empresa que re- (Desemprego), 1914; Essays in Applied Economics
corre ao sistema é de poder dispor de uma in- (Ensaios em Economia Aplicada), 1922; The Theo-
fra-estrutura comercial sólida e reconhecida já ry of Employment (A Teoria do Emprego), 1933;
existente e, portanto, sem precisar investir para Economics of Stationary Statesm (Economia dos
formá-la. Por outro lado, existem riscos, sendo Estados Estacionários), 1935; Employment and
os mais destacados os seguintes: a) ser tratada Equilibrium (Emprego e Equilíbrio), 1941, e Lap-
de forma marginal; b) a empresa que comercia- ses from Full Employment (Lapsos do Pleno Em-
liza o produto poderá tentar ganhar o controle prego), 1945.
da empresa que produz; c) a empresa que co-
mercializa pode passar a fabricar independente- PIGOU, Efeito de. Veja Efeito Pigou.
mente o produto que exporta.
PIK. Iniciais da expressão em inglês payment-in-
PIGGYBACKING. Método de frete de trans- kind, que significa, literalmente, “pagamento em
porte no qual dois tipos de veículos são usados espécie”, e que consiste num instrumento (cer-
simultaneamente. Por exemplo, um caminhão tificado) de financiamento da produção e da co-
carregado de mercadorias é transportado por mercialização de produtos agrícolas nos Estados
um trem até o seu destino. Em determinadas Unidos; é um certificado em dólares utilizado
circunstâncias, este método pode ser mais barato para pagar ao produtor agrícola uma parcela
do que se o caminhão fizesse todo o percurso. dos recursos (subsídios) devidos pelo governo
norte-americano. Sobre esses certificados não in-
PIGOVIAN TAX. Veja Taxa Pigouviana. cide nenhuma taxa de juros.
PIGNORATÍCIO. Termo que designa uma si- PIL — Produto Interno Líquido. Refere-se ao
tuação em que o credor está garantido por um valor agregado de todos os bens e serviços finais,
penhor. A cédula pignoratícia é a que permite produzidos dentro do território econômico de
ao credor esta garantia. Veja também Penhor. um país, deduzida a depreciação do capital. São
PINCH 460

sempre as depreciações que explicam as dife- neris, sendo algumas faixas da população adulta
renças conceituais entre os valores agregados masculina sensivelmente inferiores à feminina,
brutos e os líquidos. Os valores brutos incluem devido ao número de mortes entre os homens
a depreciação do capital; os valores líquidos a adultos durante as guerras.
excluem. Veja também PIB; PNB; Território
Econômico. PIRÂMIDES DE KEYNES. Expressão que de-
signa a realização de investimentos economica-
PINCH. Termo do mercado financeiro norte- mente improdutivos — como, por exemplo, a
americano que significa uma súbita elevação de construção de uma pirâmide —, com a finali-
preços de títulos, ações ou mercadorias. dade de estimular a demanda efetiva e retirar
a economia da recessão. No Brasil, a queima do
PINK SHEET. Publicação norte-americana de
café depois da crise econômica de 1929 surtiu
preços e nomes de empresas cujas ações não são
os mesmos efeitos econômicos que a construção
negociadas diretamente nas Bolsas de Valores.
de uma pirâmide. Como a política de manuten-
Veja também Yellow Sheet.
ção da demanda efetiva por meio de investi-
PINT. Veja Bushel. mentos a fundo perdido era preconizada por
Keynes para a recuperação das economias, de-
PINTA (Pint). Veja Bushel. pois da crise de 1929, esta política passou a ser
denominada pirâmides de Keynes.
PIONEIROS EQUITATIVOS DE ROCHDA-
LE. Veja Cooperativismo; Howarth, Princípio PIRATARIA. Prática de assaltar navios mercan-
de; Owen, Robert. tes, seus passageiros e tripulantes em alto-mar,
fora de águas territoriais. Na Antiguidade e na
PIPA. Medida de capacidade anterior ao sistema
Idade Média, a pirataria foi amplamente prati-
métrico decimal, utilizada na Casa da Moeda
cada pelos fenícios, gregos, romanos, sarracenos
do Brasil e equivalente a 477 l. No sistema im-
e normandos, mas a partir do século XVI deixou
perial inglês, a pipa era equivalente a duas ca-
de ser apenas uma atividade particular ou de
beças de porco (hogshead) das pequenas, ou 126
populações litorâneas para tornar-se uma forma
galões (477 l). Veja também Conversão de Uni-
dades de Pesos e Medidas; Galão; Sistemas de de obter recursos respaldada por vários gover-
Pesos e Medidas; Unidades de Pesos e Medi- nos europeus. Na Inglaterra, a partir dos gran-
das. des descobrimentos marítimos, os piratas rece-
biam as cartas de corso, ficando assim protegi-
PIRAMIDAÇÃO. Tradução literal do termo em dos pela autoridade real; essa era também a prá-
inglês pyramiding, que possui vários significa- tica da Companhia Holandesa das Índias Oci-
dos: 1) pode consistir no controle por uma com- dentais; e os corsários franceses foram assíduos
panhia holding de outras holdings, formando um freqüentadores do litoral brasileiro nos tempos
organograma piramidal que permite a uma fra- coloniais.
ção pequena de capital o controle de uma imensa
massa de capital distribuído entre várias em- PISO NACIONAL DE SALÁRIOS. Veja Salá-
presas; 2) pode designar a operação de utilização rio Mínimo.
de lucros no papel como base para obter mar- PIS-PASEP. Fundo contábil de natureza finan-
gens adicionais a fim de continuar realizando ceira criado em 11/9/1975. Resultou da unifi-
compras; 3) pode designar a utilização de cola-
cação do Fundo de Participação do Programa
terais (garantias) cujo valor é temporariamente
de Integração Social (PIS) e do Fundo Único do
inflado devido a uma alta repentina, como base
Programa de Formação do Patrimônio do Ser-
para a compra de mais propriedades para fins
vidor Público (Pasep), ambos criados em 1970.
especulativos; 4) aplica-se também quando um
Propõe-se a integrar o trabalhador à vida da em-
trabalhador recebe horas extras sobre horas ex-
presa, garantindo-lhe participação nos lucros,
tras. Um grau excessivo de piramidação pode
criar um pecúlio para sua aposentadoria e ar-
trazer conseqüências negativas para a estabili-
recadar recursos para investimentos privados,
dade do mercado financeiro. Veja também Hol-
sobretudo nas médias e pequenas empresas. É
ding; Organograma.
gerido por um conselho formado por quatro
PIRÂMIDE POPULACIONAL. Gráfico utiliza- membros efetivos e quatro suplentes indicados
do para apresentar a composição de sexo e idade pelo Ministério da Fazenda, Caixa Econômica
de uma população. Na base da pirâmide apa- Federal, Banco do Brasil e Banco Nacional de
recem as primeiras faixas etárias (0 a 4; 5 a 9 Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
etc.), à esquerda aparecendo a população mas- No PIS são cadastrados os trabalhadores em-
culina e à direita, a feminina. É interessante no- pregados sob o regime da Consolidação das Leis
tar que, em alguns casos, a pirâmide populacio- do Trabalho (CLT), os trabalhadores avulsos
nal apresenta-se com uma conformação sui ge- sem vínculo empregatício e os temporários. Não
461 PLANEJAMENTO

participam do PIS, mesmo com registro em car- de cinco salários mínimos regionais serão bene-
teira, os empregados domésticos e os trabalha- ficiados com juros e dividendos derivados do
dores rurais. Os empregados em repartições da total das contas depositadas em sua conta; os
administração pública federal, estadual e muni- que tiveram mais de cinco anos de tempo de
cipal (autarquias, empresas públicas, sociedades serviço após o cadastro no PIS-Pasep e que re-
de economia mista) são cadastrados no Pasep. ceberam salário mensal igual ou inferior a cinco
Essa diferenciação dos beneficiados permaneceu vezes o valor médio dos salários mínimos re-
até mesmo com a unificação dos referidos fun- gionais (vigentes no ano-base) podem receber
dos. Os recursos do PIS são provenientes de con- um abono no valor de um salário mínimo re-
tribuições mensais pagas pelas empresas da se- gional. Os juros e abonos não retirados são in-
guinte forma: 5% do Imposto de Renda a ser corporados ao capital do empregado cadastrado.
pago pela empresa, mais 0,75% sobre o fatura- Esse capital só pode ser retirado no caso de ca-
mento (Receita Bruta Operacional), quando se samento, aposentadoria, invalidez permanente
trata de empresas que realizam operações de ou morte. A Constituição de 1988 estabeleceu
vendas de mercadorias ou serviços. No caso de que os trabalhadores inscritos no PIS-Pasep e
bancos, financeiras, seguradoras e empresas que que ganham até dois salários mínimos mensais
não realizam operação de venda de mercadorias, receberão um salário mínimo de abono anual.
o percentual de dedução do Imposto de Renda
PISTOLA. Antiga moeda francesa, italiana, es-
é de 5%. As entidades sem fins lucrativos con-
panhola e mexicana. A francesa valia 10 francos.
tribuem mensalmente com 1% sobre a folha de
pagamento. As contribuições do PIS são depo- PITI. Iniciais das palavras em inglês principal
sitadas na Caixa Econômica Federal e daí repas- (principal), interest (juros), taxes (impostos) e in-
sadas para o BNDES, que realiza operações fi- surance (seguro), que constituem os quatro com-
nanceiras com o dinheiro arrecadado: forneci- ponentes listados no pagamento de uma hipo-
mento de créditos diretos ou individuais a em- teca num contrato de empréstimo hipotecário.
presas privadas, aplicações no mercado finan-
ceiro etc. Os recursos do Pasep são originários PLACER. Depósitos minerais sedimentares en-
de contribuições efetuadas pelas entidades fe- contrados geralmente no leito dos rios, especial-
derativas, autarquias, empresas públicas e so- mente de metais preciosos como o ouro.
ciedades de economia mista, em proporções va-
riadas. A União contribui com 24% das receitas PLAIN VANILLA SWAP. Swap com taxas de
juros do dólar norte-americano na qual um dos
correntes derivadas de arrecadação, deduzidas
contratantes recebe pagamentos de taxas flu-
as transferências feitas a outras entidades da Fe-
tuantes baseadas na libor semestral e recebe fun-
deração. Os Estados, municípios, o Distrito Fe-
dos de taxas fixas manifestados como spread so-
deral e os territórios contribuem com 2% de suas
bre as taxas das securities do Tesouro dos Esta-
arrecadações, mais 2% das transferências pro-
dos Unidos. O prazo de vencimento varia entre
venientes do governo da União, dos Estados,
cinco a sete anos e o montante típico varia de
através do Fundo de Participações dos Estados,
US$ 50 a US$ 100 milhões.
Distrito Federal e municípios; as autarquias, em-
presas públicas, sociedades de economia mista PLANEJAMENTO. Esquema econômico em que
e fundações da União, Estados, municípios, Dis- a organização dos fatores de produção é con-
trito Federal e territórios contribuem com 0,8% trolada ou direcionada por uma autoridade cen-
de sua receita orçamentária, incluindo aí trans- tral. O esquema consiste na fixação de metas
ferências e receita operacional. Essas contribui- globais a ser atingidas pela economia em deter-
ções são depositadas no Banco do Brasil e em minado período, com o auxílio de controles go-
seguida repassadas ao BNDES. De acordo com vernamentais e em oposição a um sistema de
a lei, todos os trabalhadores cadastrados no PIS- preços. O princípio do planejamento econômico
Pasep participam dos recursos arrecadados pelo (que contraria a ideologia do liberalismo) é ins-
fundo. Essa divisão é proporcional ao tempo de pirado no esquema de planificação dos países
serviço (qüinqüênio) que o trabalhador ou ser- socialistas, do qual se distingue por não eliminar
vidor tiver em todas as empresas que trabalhou, a concorrência entre as empresas privadas no
bem como ao total de salários recebidos durante mercado e exercer um controle mais normativo
o ano. Feita a divisão, a parte de cada assalariado que imperativo. Até a década de 30, o planeja-
é depositada numa conta bancária individual mento era considerado incompatível com a eco-
aberta em seu nome na Caixa Econômica (PIS) nomia de mercado. Hoje, no entanto, muitas
ou no Banco do Brasil (Pasep); a distribuição é dessas economias utilizam o planejamento como
feita por meio de um sistema de cotas distribuí- guia de ação governamental, sendo relativamen-
das ao término de cada exercício financeiro (de te comum a intervenção dos Estados capitalistas
1º de julho de um ano a 30 de junho do ano na economia, pelo menos de forma esporádica.
seguinte). Os trabalhadores que ganham mais Keynes demonstrou que a ação governamental
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 462

é necessária para evitar, ou pelo menos reduzir, PLANIFICAÇÃO. Método de planejamento cen-
os efeitos das crises cíclicas características do ca- tral, usado nos países ex-socialistas, em que a
pitalismo e também para manter o pleno em- maior parte ou a totalidade das decisões de na-
prego e promover o crescimento econômico. Ou- tureza econômica são tomadas por um órgão
tra justificativa para o crescimento econômico estatal (como a Gosplan, na ex-URSS). Pressupõe
nos Estados capitalistas é o investimento em cer- a elaboração de planos de produção rigorosos
tos setores ou atividades que ofereçam lucro du- e com objetivos precisos para todos os setores
vidoso e a longo prazo, pelos quais a iniciativa econômicos. O órgão encarregado do planeja-
privada não se interesse ou para os quais não mento determina os objetivos globais de cada
disponha de capital necessário (como a constru- unidade de produção (fábrica, usina, fazenda
ção de estradas, hidrelétricas etc.). O planeja- etc.) e fixa as cotas de produção de cada uma,
mento varia de acordo com as características de levando em conta a disponibilidade de recursos,
cada país (estrutura institucional, estágio de de- a capacidade produtiva e as relações entre os
senvolvimento, situação histórica) e pode assu- diversos setores da economia. Com base nas va-
mir diversas formas: pode simplesmente intro- riações na produção e na produtividade, são cal-
duzir o controle de preços e de políticas setoriais culados os preços dos bens de consumo e as
ou, em caráter mais amplo, orientar investimen- variações salariais. A aplicação integral da pla-
tos de infra-estrutura (indústrias de base, trans- nificação implica a socialização dos meios de
portes, comunicações etc.). No planejamento ca- produção, mas mesmo em alguns países socia-
pitalista, o primeiro passo é realizar uma análise listas existem certos setores — especialmente a
ampla da economia e um diagnóstico de seus agricultura — em que ainda prevalecem formas
principais problemas. Definem-se então os ob- de organização típicas da economia privada. A
jetivos (alcance de determinados índices de cres- planificação permite o controle da economia de
cimento de produto e do emprego, redução da maneira que satisfaça necessidades específicas,
inflação, distribuição de renda, aumento das ex- como a expansão de certos setores e a redução
portações, remanejamento das propriedades agrí- de outros considerados supérfluos ou de impor-
colas etc.). Como alguns desses objetivos podem tância secundária. A excessiva centralização, en-
revelar-se incompatíveis ou de difícil coordena- tretanto, é freqüentemente um obstáculo aos ob-
ção simultânea, faz-se geralmente uma seleção jetivos pretendidos, na medida em que o órgão
de metas prioritárias e um balanceamento das planificador não dá conta de toda a complexi-
metas com os recursos disponíveis. Esse balan- dade de problemas que surgem no funciona-
ceamento é feito por meio de técnicas especiais mento de uma economia. Daí terem surgido ex-
que ajustam as necessidades intersetoriais e a periências de planificação descentralizada, como a
compatibilidade entre elas a uma demanda final da Iugoslávia.
de vários bens, formando a chamada estratégia
PLANO AUSTRAL. Plano de estabilização, de
de desenvolvimento. Finalmente, os objetivos
caráter heterodoxo, aplicado na Argentina em
são traduzidos em metas setoriais, que englo-
junho de 1985 com o objetivo de impedir um
bam programas de investimentos e financiamen-
processo de hiperinflação com taxas mensais de
to, definição de políticas de preços relativos, sa-
variação de preços superiores a 30%. As prin-
larial, cambial, creditícia, monetária, fiscal etc.,
cipais medidas foram: 1) congelamento por tem-
ajustando-se adequadamente o orçamento pú-
po indeterminado de preços e salários (incluindo
blico anual à estratégia pretendida. De modo ge-
serviços públicos); 2) reforma monetária com
ral, as técnicas de planejamento são semelhantes
substituição do peso pelo austral, valendo o se-
quanto ao objetivo, mas costumam diferir no
gundo mil unidades do primeiro; 3) estabeleci-
tocante às metas, que são profundamente in- mento de uma taxa de câmbio fixa de 80 cen-
fluenciadas por fatores político-sociais. Essas
tavos de austral por dólar; 4) compromisso de
técnicas refletem habitualmente a necessidade não financiar com emissão de moeda o déficit
de expansão de alguns setores da economia (in- fiscal e de associar o crescimento da base mo-
dústria pesada, indústria de armamentos, expor- netária exclusivamente ao aumento das reservas
tações) considerados vitais para o desenvolvi- internacionais; 5) estabelecimento de uma tabela
mento do país. O planejamento estratégico é de conversão de pesos em austrais para o pa-
aquele voltado para os objetivos-fins de uma gamento de obrigações contratadas em pesos an-
empresa ou de uma economia; o planejamento teriormente ao dia 15/6/1985; 6) financiamento
tático é aquele que se ocupa da escolha dos do déficit público por créditos incluídos em ne-
meios para atingir aqueles objetivos. gociações com o FMI e bancos credores; 7) re-
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO. Veja Pla- dução das taxas de juro. Depois de um período
nejamento. de relativa estabilidade de preços, a inflação re-
tornou com intensidade à economia argentina
PLANEJAMENTO TÁTICO. Veja Planejamento. e novos choques foram efetuados para debelar
463 PLANO BAKER

o processo inflacionário. Veja também Choque meados de 1985, no entanto, era reconhecido
Heterodoxo; Inflação Inercial; Plano Cruzado. abertamente que, embora a estratégia adotada
tivesse salvo os bancos, os países devedores ha-
PLANO BAKER. Em agosto de 1982 — numa viam aprofundado suas crises. Os bancos apro-
sexta-feira 13 — o México suspendeu tempora- veitaram o respiro para reestruturar seus em-
riamente o pagamento do serviço de sua dívida préstimos e formar reservas para dívidas ina-
externa junto aos bancos credores, iniciando o dimplentes, mas as restrições às importações, a
que veio a ser conhecido como a crise da dívida queda do crescimento e dos investimentos com-
do Terceiro Mundo. Depois da suspensão do prometeram a capacidade dos países devedores
pagamento da dívida pelo México, os bancos de prosseguir pagando o serviço de suas dívi-
temeram que a generalização de “moratórias” das. Com o pessimismo se generalizando e os
provocasse o colapso do sistema financeiro in- títulos da dívida externa dos países em desen-
ternacional. Os governos dos maiores países cre- volvimento sendo cotados bem abaixo do seu
dores fizeram o possível para evitar uma catás- valor de face, os bancos tornaram-se bastante
trofe financeira, especialmente com o incentivo à relutantes em conceder novos empréstimos, di-
concessão de bridge loans. O objetivo primordial ficultando a implementação da estratégia vigente.
era assegurar que os países devedores permane- Foi tentando resolver este problema que o então
cessem com seus pagamentos em dia. Esta for- secretário do Tesouro norte-americano, James A.
ma de resolver o problema foi fortalecida pela Baker III, apresentou em outubro de 1985, na
premissa de que os países devedores estavam reunião anual do FMI e do Banco Mundial em
passando por uma crise temporária de liquidez Seul, na Coréia, uma proposta de fortalecimento
devido à combinação de fatores como a recessão da estratégia anterior. Seu discurso, “Program
dos países industrializados e uma deterioração for Sustained Growth” ("Programa para o Cres-
nas relações de troca, resultante da elevação da cimento Sustentado"), foi imediatamente batiza-
taxa de juros e do colapso do preço das commo- do de Plano Baker. Embora o secretário Baker
dities. Este diagnóstico levou a uma escolha ób- tivesse declarado que sua proposta era dirigida
via: uma vez que o choque externo seria rever- para “os principais países devedores”, mais tar-
tido em breve, o importante era manter sem in- de o Tesouro emitiu uma lista especificando
terrupção os fluxos de fundos entre devedores quinze países, a maioria latino-americanos,
e credores. Na prática, isso significava que os como os beneficiários do plano. Estes eram Bo-
países devedores deveriam apertar os cintos e lívia, Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador,
os bancos dos países credores, abrir um pouco Costa do Marfim, México, Marrocos, Nigéria,
suas caixas. O Tesouro dos Estados Unidos e a Peru, Filipinas, Uruguai, Venezuela e Iugoslávia.
Reserva Federal seguiram essa política em co- A proposta continha três medidas articuladas:
mum acordo com o FMI. Na realidade, os países 1) esses países deveriam adotar políticas estru-
devedores deveriam seguir políticas de austeri- turais e macroeconômicas consistentes para pro-
dade de forma a reduzir suas necessidades de mover o crescimento, os ajustes no balanço de
recursos externos, e pagar em dia os juros aos pagamentos, e para reduzir a inflação. Sem re-
bancos comerciais; o FMI, o Banco Mundial e nunciar às políticas de austeridade de curto pra-
os Bancos Regionais de Desenvolvimento deve- zo (estabilização), a ênfase era colocada no setor
riam prover empréstimos para o equilíbrio dos privado, na mobilização de recursos internos
balanços de pagamento, e os governos de países por meio de uma reforma tributária, em medi-
credores ofereceriam recursos adicionais, inclu- das para encorajar os investimentos estrangei-
sive bridge loans enquanto o principal era rees- ros, e na liberalização do comércio, o que incluía
calonado. Os bancos comerciais deveriam pro- o corte nos subsídios às exportações. 2) o FMI
porcionar dinheiro novo para fechar as brechas continuaria tendo o papel central, e os Bancos
financeiras remanescentes. Essa estratégia foi Multilaterais de Desenvolvimento deveriam pro-
seguida pelo governo norte-americano e pela co- porcionar maiores empréstimos para os ajustes
munidade financeira internacional entre o final setoriais e estruturais. Particularmente o Banco
de 1982 até 1985. O reescalonamento do princi- Mundial e o Banco Interamericano de Desen-
pal e novos empréstimos foram negociados e a volvimento (BID) deveriam destinar aos quinze
reversão da transferência de recursos foi obtida países do Plano Baker uma média anual de US$
em 1983, com a intensa redução das importaçõ- 9 bilhões durante o período de três anos
es. Com a recuperação da economia norte-ame- (1986/1988). 3) Os bancos comerciais eram com-
ricana e da maior parte dos países industriali- pelidos a aumentar seu desembolso líquido para
zados, alguns países devedores foram capazes US$ 20 bilhões no período de três anos. O Pla-
de incrementar suas exportações e, dessa forma, no Baker não apresentou uma nova estratégia
financiar durante 1984 uma transferência de re- sobre a dívida. Reafirmou a ortodoxia prevale-
cursos até maior do que antes, levando à ilusão cente de que o problema da dívida era o reflexo
de que a crise da dívida havia terminado. Em de uma escassez temporária de liquidez, mas
PLANO BEVERIDGE 464

procurava introduzir um novo alento à estraté- desconto. O Tesouro norte-americano saudou a


gia existente, reconhecendo a grande importân- idéia, assim decretando a falência do Plano Ba-
cia do crescimento econômico como premissa ker. Veja também Plano Brady.
para que os países pudessem pagar o serviço
de suas dívidas externas. Ou melhor, o Plano PLANO BEVERIDGE. Plano concebido por sir
Baker deslocava a ênfase do lado da demanda William Beveridge, em 1942, para a revisão do
(estabilização) para o da oferta (crescimento). sistema de seguridade social da Inglaterra. Co-
Apesar de o plano ter sido amplamente elogiado bria oito causas primárias de necessidades: 1)
por realizar essa mudança de ênfase, muitas crí- desemprego; 2) invalidez; 3) perda de rendimen-
ticas foram levantadas. Aqueles que defendiam tos por falta de emprego regular; 4) aposenta-
a tese do “problema de liquidez” criticavam o doria; 5) necessidades oriundas do casamento
plano porque ele não oferecia uma solução fi- (mulheres); 6) despesas com crianças (infân-
cia); 7) despesas com funeral; 8) doença ou in-
nanceira adequada e porque silenciava sobre o
capacidade. Veja também Beveridge, William
papel que os maiores emprestadores, como o
Henry.
FMI e as agências bilaterais de crédito às expor-
tações, deveriam ter. Mas, na verdade, os pro- PLANO BRADY. Em março de 1989, a estraté-
blemas eram mais agudos, pois o plano não ofe- gia oficial (leia-se Plano Baker) sobre a dívida
recia uma estimativa das necessidades de finan- sofreu uma virada dramática. Numa conferência
ciamento externo do conjunto dos quinze países, patrocinada pelo Comitê Bretton Woods e o Ins-
nem esclarecia como faria com que a comuni- tituto Brookings, o novo secretário do Tesouro
dade financeira internacional liberasse os recur- dos Estados Unidos, Nicholas Brady, declarou
sos previstos. Além disso, o problema ia dei- que “o caminho para uma valorização dos cré-
xando de ser uma questão de liquidez para tor- ditos e o retorno ao mercado de muitos países
nar-se um problema de solvência. Aos países devedores passa por uma redução da dívida”.
que necessitavam de uma redução do montante Esse discurso, mais tarde batizado como Plano
de suas dívidas o plano oferecia, ao contrário, Brady, representou uma mudança qualitativa no
uma expansão da mesma, o que agravava a crise tratamento da questão, considerando a redução
também do lado dos credores, pois forçava os da dívida (do principal e/ou dos juros) não mais
bancos a aumentar seu grau de exposição colo- um aperitivo do “menu de opções” do Plano Ba-
cando dinheiro onde não havia mais perspecti- ker, mas a via principal. O Plano Brady conti-
vas de ganhos. Não é de estranhar que a situação nha as seguintes diretrizes: 1) para pleitear uma
econômica dos países devedores tenha se dete- redução da dívida, os países devedores, em co-
riorado durante três anos: a inflação aumentou, laboração com o FMI e o Banco Mundial, deve-
a renda per capita declinou ou estagnou e os in- riam adotar políticas orientadas para o cresci-
vestimentos minguaram. Se os bancos reluta- mento, encorajando o fluxo de investimentos es-
vam em emprestar dinheiro nessas condições e trangeiros, fortalecendo a poupança interna e
o FMI transformava-se num absorvedor líquido promovendo o retorno de capitais depositados
de recursos (na medida em que as dívidas con- no exterior. 2) Os países escolhidos só reduzi-
traídas nos anos anteriores tinham de ser pagas), riam suas dívidas bancárias por meio de meca-
outros acontecimentos ameaçavam os funda- nismos voluntários baseados no mercado. Para
mentos do Plano Baker. Em fevereiro de 1987, tanto, deveriam manter programas viáveis de
depois do desarranjo provocado pelo Plano Cru- conversão da dívida, permitindo que investi-
zado, o Brasil declarou a suspensão unilateral dores internos participassem dessas transações
dos pagamentos de sua dívida. Em maio do para estimular o repatriamento de capitais de-
mesmo ano, ocorreu outro “choque”, quando o positados no exterior. 3) O FMI e o Banco
Citybank decidiu formar reservas de US$ 3 bi- Mundial proporcionariam apoio financeiro para
lhões para compensar sua exposure em relação a conversão de empréstimos bancários em novos
aos países devedores. Enquanto isso, os títulos títulos, com redução do principal e das taxas de
das dívidas, no mercado secundário, dos países juros e para a recompra de débitos. 4) Os ban-
em desenvolvimento, continuavam a despencar. cos comerciais proporcionariam dinheiro novo
Em setembro de 1987, o secretário Baker revisou na forma de créditos comerciais e empréstimos
seu plano, apresentando um “menu de opções” para projetos. Eles negociariam a separação en-
e acomodando o desejo de alguns bancos de per- tre dinheiro novo e a redução da dívida. 5) Os
manecer fora dos pacotes que demandavam di- governos credores reestruturariam suas deman-
nheiro novo, com a introdução de bônus de saí- das mediante o Clube de Paris, proporcionariam
da. Mas, em dezembro daquele ano, o México suporte financeiro adicional para os devedores
e o Morgan Guaranty Trust Co. concordaram que estivessem desejando a redução da dívida
em leiloar parte da dívida mexicana com um e manteriam mercados abertos. Também redu-
465 PLANO BRESSER

ziriam os impedimentos contábeis, tributários e inflacionário. O plano incorporava as caracterís-


de regulamentação para a redução da dívida. ticas consideradas positivas do Plano Cruzado,
Posteriormente, o Tesouro declarou que o mon- mas com algumas modificações para evitar os
tante da redução da dívida variaria de país para pontos negativos daquele plano. O novo choque
país, mas que em média o Plano Brady permi- era fundamentalmente heterodoxo, mas incor-
tiria que os 39 países devedores reduzissem seu porava alguns elementos ortodoxos. As medidas
débito total bancário em 20% nos próximos três mais importantes foram as seguintes: 1) conge-
anos. Isto revelou imediatamente a maior debi- lamento geral de preços e salários por um prazo
lidade do plano: a porcentagem de redução da de noventa dias, com o propósito de baixar a
dívida era totalmente inadequada. Na medida inflação para patamares bem inferiores aos exis-
em que a dívida com os bancos comerciais dos tentes; 2) após essa primeira fase do congela-
39 países devedores era aproximadamente 50% mento, o plano previa uma fase de flexibilização
do total, o plano prometia na verdade uma re- de preços com reajustes mensais de preços e sa-
dução de apenas 10% no estoque da dívida ou lários, a fim de corrigir eventuais desequilíbrios
um ponto percentual na libor. Esta inadequação herdados da fase anterior; 3) após os ajustes da
revelou uma deficiência básica do Plano Brady: fase de flexibilização, o plano estabelecia a libe-
omitia o conceito econômico do que seria uma ração de preços, que passariam a ser definidos
adequada redução da dívida. A redução do serviço pelas forças do mercado; 4) estabelecimento de
da dívida de um país pode ser considerada ade- um novo indexador, a Unidade de Referência
quada se preencher três requisitos simultanea- de Preços (URP), que reajustaria os salários e
mente: 1) recuperação do crescimento econômi-
determinaria os tetos para os reajustes de preços.
co e do investimento para níveis aceitáveis; 2)
O valor inicial da URP foi fixado em NCz$ 100
capacidade de pagar plenamente os serviços da
a partir de 15/6/1987, permanecendo inalterado
dívida reestruturada; 3) completa eliminação da
até o final do período de congelamento. Nos
necessidade de dinheiro novo dos bancos para
três meses seguintes, a URP seria reajustada a
o único propósito de fazer pagamentos de juros
uma taxa fixa determinada pela variação média
da dívida. O Tesouro norte-americano, no en-
tanto, preferiu deixar a questão da necessidade mensal do Índice de Preços ao Consumidor
de redução da dívida fora das mãos dos econo- (IPC), ocorrida durante o período de congela-
mistas do FMI e do Banco Mundial, para que mento. Nos trimestres subseqüentes a taxa que
fosse determinada pelos banqueiros, advogados reajustaria mensalmente a URP seria igual à taxa
e devedores na mesa de negociações. Em maio média mensal da variação do IPC, verificada no
de 1989, o FMI e o Banco Mundial adotaram trimestre imediatamente anterior, e assim suces-
uma série de diretrizes para apoiar a redução sivamente; 5) adoção de uma política monetária
da dívida e do seu serviço, anunciando sua dis- e fiscal rigorosa com a intenção de reduzir o
posição de proporcionar US$ 20 bilhões por um déficit público e impedir um crescimento explo-
período de três anos. Metade desta quantia de- sivo da demanda, como acontecera durante os
veria ser destinada para colateralizar novos tí- primeiros meses do Plano Cruzado. O Plano
tulos de conversão das dívidas com os bancos Bresser, ao contrário do Plano Cruzado, encon-
ou para financiar a recompra destas dívidas. O trou a economia já em processo de desaceleração
Japão foi o único país credor a apoiar o Plano e procurou conservar esse estado de coisas (para
Brady financeiramente, com o compromisso de evitar a expansão da demanda e o malogro do
US$ 10 bilhões. Em outubro de 1990, o BID tam- congelamento) por meio de uma redução dos
bém aprovou planos para apoiar os dispositivos salários reais, assim como de uma manutenção
de redução da dívida do Plano Brady. Até 1996, em níveis elevados das taxas de juro e de uma
os seguintes países haviam se ajustado ao Plano elevação real da taxa cambial. A economia de
Brady: América Latina: Argentina, Brasil, Costa fato se manteve com um crescimento muito pe-
Rica, República Dominicana, Equador, México, queno, e a tentativa de reajustar os preços do
Panamá, Peru, Uruguai, Venezuela; Europa Orien- setor público trouxe novas pressões inflacioná-
tal: Bulgária, Croácia, Polônia, Rússia e Eslovê- rias, que foram aceleradas pelos reajustes men-
nia; África e Oriente Médio: Jordânia, Marrocos sais de preços e salários oficializados no Plano
e Nigéria; Sudeste Asiático: Filipinas. Veja tam- Bresser. A perspectiva de um novo congelamen-
bém Bradies; Plano Baker. to na economia fez com que esses preços ten-
dessem a se elevar mais ainda, e a escalada in-
PLANO BRASIL NOVO. Veja Plano Collor.
flacionária do final de 1987 levou não apenas à
PLANO BRESSER. Plano elaborado no primei- substituição de Bresser Pereira, mas também à
ro semestre de 1987 pelo ministro Luís Carlos volta dos princípios ortodoxos, isto é, moneta-
Bresser Pereira, para tentar debelar o processo ristas, para o combate do processo inflacionário.
PLANO CAVALLO 466

PLANO CAVALLO. Plano de combate à infla- se a devolver esses cruzados bloqueados em cru-
ção elaborado pelo ministro da Economia ar- zeiros em doze prestações iguais e sucessivas,
gentino Domingo Cavallo, a partir de abril de a partir de setembro de 1991. Os recursos blo-
1991, e que tem como elemento central a criação queados seriam corrigidos monetariamente e
de uma âncora cambial, a dolarização da econo- acrescidos de juros de 6% ao ano até a data da
mia e a livre conversibilidade do peso em dó- primeira devolução. Na área fiscal, foram toma-
lares, na relação de um para um. Em abril de das numerosas medidas para aumentar a arre-
1991, a unidade monetária argentina voltou a cadação. Tendo sido apontada a fragilidade fi-
denominar-se peso (substituindo o austral) e a nanceira do setor público como causa da insta-
taxa cambial foi fixada em paridade com o dólar bilidade econômica, tornaram-se indispensáveis
norte-americano. Esta âncora cambial fez com a redução de despesas e o aumento das receitas.
que a inflação caísse rapidamente e se estabili- Foram estabelecidos novos tributos, entre os
zasse num patamar inferior a dois dígitos em quais: incidência de Imposto de Renda sobre ga-
1993. No entanto, a redução da inflação deveu-se nhos em Bolsas, até então isentos; aumento das
também ao corte nas despesas públicas, a um alíquotas do Imposto sobre Produtos Industria-
programa agressivo nas privatizações e à rene- lizados (IPI) e redução dos prazos de recolhi-
gociação da dívida externa nos moldes do Plano mento; aumento da tributação sobre o lucro dos
Brady. A fixação da taxa de câmbio acompa- exportadores e sobre a atividade agropecuária.
nhada de uma inflação — ainda que baixa — As aplicações financeiras ficaram sujeitas, por
provocou a valorização do peso, o que consti- uma única vez, à incidência do imposto sobre
tuiu, em 1993, um desestímulo às exportações operações financeiras (IOF), de câmbio, crédito
e uma nascente dependência comercial em re- e seguros ou relativas a títulos e valores imobi-
lação a países como o Brasil, cuja moeda também liários, o que representou uma soma considerá-
está valorizada. vel de recursos. Operações com ouro e ações
negociadas em Bolsas também passaram a sofrer
PLANO COLLOR. Em 15/3/1990, no primeiro incidência do IOF. Foram suspensos diversos ti-
dia de seu governo, o presidente Fernando Col- pos de benefícios e incentivos fiscais não garan-
lor de Mello instituiu o quarto plano de estabi- tidos pela Constituição. Por outro lado, para re-
lização econômica desde o Plano Cruzado, que duzir a sonegação no recolhimento de tributos
viria a se chamar Plano Brasil Novo ou Plano devido ao anonimato, foi proibida a emissão de
Collor. Preparado por uma equipe econômica cheques e títulos ao portador de valor superior
chefiada pela nova ministra da Economia, Zélia a 100 BTNs. Outros recursos foram alocados
Cardoso de Mello, as medidas adotadas pelo para o Tesouro Nacional por meio da reforma
novo governo implicaram mudanças nas áreas patrimonial, com a conseqüente alienação de
monetário-financeira, fiscal, de comércio exte- bens imóveis, de veículos e a privatização de
rior, câmbio e de controle de preços e salários. empresas estatais. Previu-se também que a re-
Na área monetária, foi reintroduzido o cruzeiro forma administrativa viria a colaborar com a re-
(extinto por ocasião do Plano Cruzado) em subs- dução de despesas. Os ministérios foram redu-
tituição ao cruzado novo, mantendo-se a pari- zidos de 23 para doze; foram extintas autarquias,
dade da moeda. Com relação ao mercado finan- fundações, empresas públicas e sociedades de
ceiro, para evitar a utilização do enorme volume economia mista; reduziram-se as funções de
de recursos aplicados a curto prazo ou em de- confiança, foram suspensas vantagens ao fun-
pósitos, foram fixados limites estreitos para a cionalismo público e foi iniciada uma campanha
conversão daquelas aplicações em cruzeiros. de demissão desses funcionários que, em muitos
Depósitos à vista ou em caderneta de poupan- casos, foram colocados em disponibilidade. Na
ça tiveram o limite de conversão fixado em área do comércio exterior, as alterações inicia-
Cr$ 50000,00 (cerca de 1200 dólares ao câmbio ram-se com a adoção do “câmbio flutuante”, dei-
oficial da época). Aplicações com lastro em tí- xando o governo de fixar a taxa de câmbio ofi-
tulos públicos ou privados, com compromissos cial. Foram ainda liberados os controles admi-
de recompra (over e open), foram limitadas a nistrativos sobre as importações e exportações,
Cr$ 25000,00 ou 25% do saldo, prevalecendo o eliminando-se a necessidade de licenças e agi-
maior limite. Aplicações em fundos de curto pra- lizando e desburocratizando as operações. Foi
zo, fundos de renda fixa, depósitos a prazo decretado o congelamento geral de preços e dos
(CDB/RDB), letras de câmbio e debêntures ti- bens de serviços. Os salários, conforme a siste-
veram como limite 20% do saldo do valor do mática dos planos anteriores, tiveram reajuste
resgate. O valor remanescente em cruzados no- em março, de acordo com a inflação de fevereiro,
vos ficou bloqueado pelo prazo de dezoito me- mas não houve a concessão de reajuste corres-
ses, numa operação de seqüestro de liquidez, pondente à inflação de março. A política de rea-
ou seja, de impossibilidade de converter esses juste de preços e salários a ser seguida após a
valores em cruzeiros. O governo comprometeu- fase inicial do plano deveria ser a da prefixação,
467 PLANO COLLOR 2

com o anúncio mensal de limites máximos de cos e demais aplicações financeiras, semelhantes
reajustes para os preços e, após estimativa da ao libor inglês, os fundos de aplicação financeira,
inflação para o mês, determinação do reajuste com taxas de remuneração iguais às da TR, subs-
do salário. No caso do salário mínimo, a cada tituiriam, com vantagem, os fundo de curto pra-
três meses seria revista e corrigida eventual in- zo. Outras medidas importantes do plano che-
suficiência entre os reajustes fixados e a efetiva garam a atingir a política de preços e salários,
elevação de preços da cesta básica de consumo. o sistema de controle dos gastos públicos, as
A partir de maio, o mecanismo de prefixação estatais e o sistema de competitividade industrial.
mensal dos reajustes de preços e salários foi Preços e salários — Com o Plano Collor 2, houve
abandonado pelo governo. Desde então, o go- uma trégua no aumento de preços dos bens e
verno apresentou sucessivas medidas provisó- serviços, depois de o governo realinhar as tarifas
rias, estabelecendo a “livre negociação” entre pa- de todos os serviços públicos. Passaram a vigo-
trões e empregados, limitando o número de rea- rar os preços praticados em 30/1/1991, sendo
justes anuais e proibindo a indexação salarial que a ministra da Economia poderia autorizar
como mecanismo automático de reajuste de sa- reajustes extraordinários para corrigir casos em
lários. Os preços foram gradualmente liberados que ficasse comprovado o desequilíbrio de pre-
dos controles governamentais, com a expectati- ços relativos existentes na data referida. Depois
va de que o mercado em queda funcionasse de um período de “congelamento”, os preços
como barreira a sua elevação. Depois de quase dos produtos seriam gradualmente liberados
um ano da aplicação do plano, em janeiro de por meio de “câmaras setoriais”, que envolve-
1991, o governo conseguira equilibrar as finan-
riam a participação de representantes dos em-
ças públicas e as reservas externas haviam au-
presários e do governo. Os salários, por sua vez,
mentado para US$ 8,5 bilhões. Em compensação,
tiveram seus valores reajustados em 1º de feve-
o país entrava em “recessão profunda”. Espe-
reiro, segundo uma tabela publicada pelo go-
rava-se uma queda do PIB para 1990 da ordem
de 3%; havia um milhão de desempregados e verno, que teve como base a média dos salários
a inflação retornava lentamente ao patamar dos dos últimos doze meses. Os salários, fora do
20% mensais. Veja também Plano Bresser; Plano período correspondente ao dissídio, não pode-
Cruzado; Plano Real; Plano Verão. riam ser reajustados até 1º/8/1991, passando a
vigorar, daí por diante, a política de “livre ne-
PLANO COLLOR 2. Plano elaborado pela equi- gociação”.
pe econômica chefiada pela ministra da Econo- Racionalização dos gastos públicos — De acor-
mia, Zélia Cardoso de Mello, com o objetivo de do com o plano, o controle de todos os gastos
estancar o processo inflacionário, que chegava públicos no âmbito federal, envolvendo despe-
ao perigoso patamar de 20% ao mês: racionalizar sas ministeriais, projetos, despesas orçamentá-
os gastos em administração pública, cortar des- rias e gastos das estatais, ficariam centralizados
pesas, controlar as empresas estatais e criar no- no Ministério da Economia.
vos mecanismos financeiros e institucionais para
Redução de despesas — As empresas públicas
a aceleração do processo de modernização do
federais, as sociedades de economia mista e de-
parque industrial. Passou a vigorar a partir de
mais entidades controladas direta ou indireta-
1º/2/1991, com várias medidas provisórias e de-
mente pela União deveriam fazer uma redução
cretos, que, mais tarde, foram aprovados, parcial
ou totalmente, pelo Congresso Nacional. Entre real de 10% de seus gastos, comparativamente
as medidas promulgadas pelo novo plano, a aos realizados em 1990. Por essa medida, ficou
mais importante, sem dúvida, foi a decretação vedada aos dirigentes de entidades estatais a
do fim do mecanismo de indexação, considerada contratação de pessoal, sob qualquer pretexto.
pela equipe econômica do governo a principal Controle das estatais — Tendo em vista as dis-
causa da retomada da inflação, por gerar uma posições do artigo 57 da lei nº 8 028, de 13/4/1990,
enorme rigidez à baixa de preços e tornar ex- foi criado, no Ministério de Economia, o Comitê
tremamente vulnerável o sistema econômico na- de Controle das Empresas Estatais (CCE), com
cional a quaisquer abalos que ocorressem no sis- o objetivo de compatibilizar decisões setoriais
tema financeiro internacional. Com o fim da cor- relativas às empresas estatais com a política ma-
reção monetária, foi extinto o Bônus do Tesouro croeconômica.
Nacional (BTN), assim como todos os fundos Competitividade industrial — De acordo com
de curto prazo, inclusive o over e o open, prin- o artigo 84, inciso II da Constituição, o governo
cipais causadores da ciranda financeira. Em seu criou o Programa de Fomento e Competitivida-
lugar, foram instituídos a Taxa Referencial (TR) de Industrial, com o objetivo de desenvolver os
e o Fundo de Aplicação Financeira (FAF). En- setores de tecnologia de ponta, entre os quais
quanto a TR, no futuro, deveria ter uma taxa os de informática, química fina, biotecnologia,
prefixada pela média de juros dos títulos públi- mecânica de precisão e novos materiais; promo-
PLANO COLOMBO 468

ver a reestruturação dos setores industriais que tesia foi perdendo seus efeitos e os problemas
pudessem alcançar padrões de competitividade se avolumando. Em primeiro lugar, ficou claro
e qualidade internacionais; direcionar recursos que o congelamento (e o tabelamento) não po-
para o financiamento da capacitação tecnológica deria abarcar todos os preços da economia: era
em setores prioritários. Veja também Plano Bres- impossível fazê-lo, por exemplo, em relação aos
ser; Plano Collor; Plano Cruzado e Plano Verão. produtos não padronizáveis, como vestuário e
moradia. Em segundo lugar, os empresários
PLANO COLOMBO. Plano de desenvolvimen- aprenderam rapidamente a “maquiar” seus pro-
to econômico cooperativo para os países do Sul dutos, escapando do congelamento e do tabela-
e Sudeste asiático, com o objetivo de superar os mento. Em terceiro lugar, alguns preços foram
efeitos da Segunda Guerra Mundial na região. congelados antes de ser alinhados, como acon-
Organizado em duas conferências realizadas em teceu, por exemplo, com a maioria dos preços
1950 e 1951 na cidade de Colombo, capital de do setor público. Em quarto lugar, a eliminação
Sri Lanka (antigo Ceilão), tem a participação de da correção monetária e, conseqüentemente, a
seis países desenvolvidos não pertencentes à re- redução das taxas de juros nominais estimula-
gião (Austrália, Canadá, Estados Unidos, Grã- ram o consumo e inibiram a poupança: a ex-
Bretanha, Japão e Nova Zelândia) e vinte mem- pansão da demanda correspondente conspirou
bros regionais: Afeganistão, Bangladesh, Birmâ- contra o congelamento e criou o caldo de cultura
nia (hoje Myanma), Butão, Camboja, Cingapura, para a ampliação do mercado negro e cobrança
Coréia do Sul, Fiji, Filipinas, Índia, Indonésia,
de ágio. Em quinto lugar, a taxa cambial per-
Irã, Laos, Malásia, Maldivas, Nepal, Paquistão,
maneceu congelada durante nove meses, en-
Papua-Nova Guiné, Sri-Lanka e Tailândia. Os
quanto vários preços se elevaram no mercado
empréstimos e a assistência técnica aos países-
interno: isto, ao mesmo tempo que estimulou
membros são negociados bilateralmente.
as importações, desestimulou as exportações,
PLANO CRUZADO. Conjunto de medidas de provocando uma erosão nas reservas interna-
contenção da inflação caracterizadas por um cionais do país e inviabilizando os mecanismos
choque heterodoxo e implementadas durante o de pagamento do serviço da dívida externa. Es-
governo Sarney por meio do decreto-lei nº 2 283, tas tensões foram represadas até as eleições de
de 27/2/1986. Entre as principais medidas ado- novembro de 1986. Depois desta data, com a
tadas, destacam-se: 1) congelamento de preços expressiva vitória dos partidos da situação (es-
nos níveis praticados no dia da publicação do pecialmente o PMDB), o Plano Cruzado sofreu
decreto, inclusive o preço dos serviços; 2) alte- profundas modificações e a inflação voltou com
ração da unidade do sistema monetário, que intensidade, agora acompanhada por um claro
passou a denominar-se cruzado, com valor cor- processo recessivo. No primeiro semestre de
respondente a mil unidades de cruzeiro; 3) subs- 1987, depois da declaração de moratória (par-
cial) pelo governo brasileiro, a inflação atingiu
tituição da ORTN, instituída em 1964, pela O-
níveis superiores a 25% mensais e o ministro
brigação do Tesouro Nacional (OTN), cujo valor
Dílson Funaro foi substituído por Bresser Pe-
foi fixado em Cz$ 106,40, congelado por um ano;
reira. O Plano Cruzado teve como base teórica
4) congelamento dos salários pela média de seu
os trabalhos de Francisco Lopes, André Lara
valor dos últimos seis meses; 5) congelamento
Resende e Pérsio Arida. Veja também Choque
do salário mínimo em Cz$ 804,00; 6) como a
Heterodoxo; Funaro, Dílson Domingues; In-
economia foi desindexada, instituiu-se uma ta-
flação Inercial; Plano Bresser; Plano Real; Pla-
bela de conversão para transformar as dívidas no Verão.
contraídas numa economia com inflação muito
alta para uma economia em que a inflação fosse PLANO DAWES. Plano posto em prática em
praticamente nula; 7) criação de uma espécie de 1924 para viabilizar o pagamento das reparações
seguro-desemprego para aqueles que fossem de guerra (Primeira Guerra Mundial) da Ale-
dispensados sem justa causa ou em virtude do manha às nações aliadas, de acordo com os ter-
fechamento de empresas; 8) os reajustes salariais mos do Tratado de Versalhes. O Plano era cons-
passaram a ser realizados por um dispositivo tituído dos seguintes pontos: 1) pagamentos
chamado “gatilho salarial” ou “seguro-infla- progressivamente crescentes por um período de
ção”, que estabelecia o reajuste automático de cinco anos e posteriormente calculados, tendo
salários sempre que a inflação alcançasse 20%. por base um índice de prosperidade; 2) estabi-
Nas primeiras semanas após seu lançamento, o lização da moeda e equilíbrio orçamentário; 3)
Plano Cruzado despertou enorme entusiasmo um empréstimo estrangeiro à Alemanha; 4) con-
na população. Havia a sensação de que a infla- trole internacional sobre as finanças da Alema-
ção realmente fora eliminada e que se iniciava nha; 5) a eventual retirada das tropas de ocu-
uma nova era de prosperidade com estabilização pação da Alemanha. O empréstimo internacio-
de preços. Em alguns meses, no entanto, a anes- nal (moedas fortes e ouro monetário), indicado
469 PLANO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

no item 3, viabilizou a estabilidade da moeda PLANO KEYNES. Proposta apresentada pela


alemã a partir de 1924, pois constituiu o verda- delegação inglesa à Conferência de Bretton
deiro lastro dos Reichsmarks. O Plano Dawes Woods (1944), cujo eixo central seria a criação
foi assim batizado em função do presidente do de uma moeda internacional — o bankor — não
comitê de reparações que formulou o plano, Ge- emitida por nenhum país associado ao FMI, e
neral Charles G. Dawes. Em 1929, este plano foi que seria utilizada para cobrir déficits dos ba-
substituído pelo Plano Young. Veja também Pla- lanços de pagamentos dos países membros. Esta
no Young. proposta não foi aceita, especialmente pela re-
cusa da delegação dos Estados Unidos.
PLANO DE AÇÃO IMEDIATA (PAI). Plano
elaborado pelo ministro Fernando Henrique PLANO MARSHALL. Programa de recupera-
Cardoso e sua equipe, logo após assumir o mi- ção européia lançado em 1947 pelo secretário
nistério da Fazenda em maio de 1993. O objetivo de Estado norte-americano George C. Marshall,
principal do plano era combater a inflação e ajus- com o objetivo de reconstruir, com a ajuda fi-
tar as contas públicas. Seus pontos mais impor- nanceira dos Estados Unidos, a economia da Eu-
tantes eram os seguintes: redução das despesas ropa Ocidental arruinada pela Segunda Guerra
públicas, controle das transferências da União Mundial. Executado no período 1948-1951, o
para os Estados e municípios, controle sobre a programa abrangeu os dezesseis países que se
ampliação do crédito dos bancos federais e es- reuniram na Conferência de Paris (1947) para
taduais, combate à sonegação, aceleração das fundar, no ano seguinte, a Organização para a
privatizações e a assinatura do acordo da dívida Cooperação Econômica Européia, encarregada
externa com o FMI e os bancos credores. Nos de viabilizar a integração dos planos de seus
primeiros seis meses de sua execução, no en- membros num âmbito global. De acordo com o
tanto, o PAI não conseguiu controlar a inflação, plano, cabia aos Estados Unidos o controle da
e o único setor no qual obteve relativo êxito foi política monetária e fiscal dos países em questão
no combate à sonegação. Logo após, no entanto, durante o período. Os maiores beneficiários fo-
foi lançado o Plano Real, e a partir de julho de ram a Inglaterra (24%), a França (20%), a Ale-
1994, a inflação foi reduzida a menos de 10% manha Ocidental (11%) e a Itália (10%). No total,
ao ano. Veja também Plano Real; URV. os Estados Unidos liberaram cerca de US$ 11,5
bilhões, em forma de empréstimos, equipamen-
PLANO DE METAS. Denominação dada ao tos e abastecimento. Mesmo depois de 1952,
plano de desenvolvimento econômico e social quando terminou o plano, a ajuda norte-ameri-
adotado durante o governo de Juscelino Kubits- cana prosseguiu para atender a problemas de
chek (1956-1960) e que se caracterizou pelo es- balanço de pagamentos e de escassez de dólares
tabelecimento de metas que deveriam ser alcan- (dollar gap). Idealizado e executado no auge da
çadas nos planos econômico, social e de infra- Guerra Fria, quando os Estados Unidos punham
estrutura elaborados durante seu governo. em prática a Doutrina Truman, o Plano Mar-
shall, além de reconstituir e desenvolver o apa-
PLANO DE SALÁRIOS BEDEAUX. Plano de
relho produtivo europeu, abriu caminho para a
incentivos salariais desenvolvido durante os
penetração do capital norte-americano na Euro-
anos 20 e patrocinado pelo engenheiro e indus-
pa e serviu de obstáculo à expansão comunista
trial francês Charles Bedeaux. O plano procura-
na região, particularmente na Itália e na França.
va incentivar o aumento da produção por meio
Paralelamente, processou-se o rearmamento da
do estabelecimento de padrões e técnicas para
Europa Ocidental.
mensurá-la. A unidade de medida designada
pela letra “B ” era equivalente a um minuto, e PLANO NACIONAL DE DESENVOLVIMEN-
60 Bs constituíam a tarefa padrão que deveria TO ECONÔMICO (PNDs I e II). Programas de
ser desenvolvida numa hora. Aqueles trabalha- desenvolvimento econômico e social que vigo-
dores que numa hora superassem os 60 Bs re- raram nos governos Medici e Geisel, abrangen-
ceberiam prêmios. O sistema era considerado do respectivamente os períodos 1972-1974 e
por seus introdutores também como uma forma 1975-1979. Ambos foram elaborados pelo Minis-
de comparar custos entre as diversas e diferen- tério do Planejamento. Baseado no binômio po-
ciadas tarefas, na medida em que todo e qual- lítico-ideológico de segurança e desenvolvimen-
quer trabalho poderia ser reduzido a um deno- to, o I PND representou a mais ampla formu-
minador comum, o padrão B. lação oficial do “modelo brasileiro de organizar
o Estado e moldar as instituições” para, no es-
PLANO FHC. Veja Plano de Ação Imediata; Pla-
paço de uma geração, transformar o Brasil numa
no Real; Programa de Estabilização Econômica.
sociedade capitalista desenvolvida. Outras me-
PLANO HAYNES DE SALÁRIOS. Veja Manit. tas econômicas eram a ultrapassagem de bar-
reiras dos US$ 500,00 de renda per capita e o
PLANO KEOGH. Veja Keogh Plan. crescimento anual do Produto Interno Bruto
PLANO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 470

(PIB) a uma taxa de 8 a 10%. Além disso, o go- bilhões e uma renda per capita de US$ 1000,00.
verno pretendia encerrar a execução do plano A proposta de substituição de importações era
com uma taxa de 3,2% de expansão do emprego uma tentativa de enfrentar a crise latente na eco-
e a inflação reduzida a um patamar anual de nomia mundial. Deslocava-se então a ênfase na
10%. Tais objetivos eram respaldados por pro- produção de bens duráveis (eletrodomésticos e
jetos de grandes investimentos, cada um deles automóveis) para a indústria básica: siderurgia,
no valor de mais de US$ 1 bilhão nas áreas de máquinas, equipamentos, fertilizantes, metais
siderurgia, petroquímica, transporte, construção não-ferrosos e prospecção de petróleo. O nível
naval, energia elétrica e mineração. Setorialmen- de crescimento industrial deveria situar-se em
te, o I PND estabelecia várias prioridades: agri- torno de 12% ao ano. As relações com o exterior
cultura, programas de saúde, educação (redução seriam revolucionadas fundamentalmente com
drástica do número de analfabetos), saneamento a intensificação das exportações. Estas deveriam
básico e incremento à pesquisa técnico-científica. crescer a uma taxa de 20% ao ano, chegando ao
Ao mesmo tempo, previa a ampliação do mer- final do plano a um total de US$ 20 bilhões. As
cado consumidor e da poupança interna, graças exportações teriam como principais fontes de
aos recursos do PIS e do Pasep. E mais, visava impulso a agricultura (soja) e a pecuária. Para
a assegurar um aumento da taxa de investimen- isso, previa-se um crescimento agrícola de 7%
to bruto de 17% (1970) para 19% (1974). O pro- ao ano, graças à modernização do setor e, so-
jeto de desenvolvimento era completado pelo bretudo, à expansão da fronteira agrícola: as
Programa de Integração Nacional (PIN). Seus grandes propriedades fundiárias, pertencentes
principais objetivos: construir a Rodovia Tran- a pessoas físicas ou jurídicas, brasileiras ou não,
samazônica e colonizar as regiões por ela cor- deveriam se multiplicar na região da Amazônia.
tadas, em associação com o setor privado; am- No que diz respeito ao terceiro pilar do II PND,
pliar para 40 mil hectares a área irrigada do Nor- a criação do “mercado de massas”, as diretrizes
deste; distribuir 70 mil títulos de propriedades não eram claras. Em parte, a indefinição era de-
rurais a posseiros e agricultores sem terra. No corrência da própria política salarial, que redu-
final do triênio (1972-1974), o governo podia
zia o poder de compra dos trabalhadores bra-
proclamar o elevado nível de execução do I
sileiros. O crescimento do mercado interno, le-
PND, sobretudo na área econômica. No entanto,
vando em consideração essa ressalva, tinha
alguns projetos de interesse social tiveram um
como base sobretudo o aumento populacional,
nível de favorecimento muito abaixo do previs-
particularmente dos setores urbanos, e a expan-
to. É o caso do plano de irrigação do Nordeste:
são dos empregos a uma taxa de 3,5%. Outro
dos 40 mil hectares estipulados foram irrigados
item nebuloso era o papel que deveria desem-
apenas 5 674 hectares. No saneamento básico,
a rede de esgoto instalada assegurou o atendi- penhar o capital estrangeiro. Falava-se, por
mento a 500 mil pessoas, em lugar dos cinco exemplo, do “ajustamento das empresas multi-
milhões constantes do I PND. Mesmo no campo nacionais à estratégia nacional”. No entanto, o
industrial, o nível maior de crescimento foi na novo curso proposto não se traduzia numa mu-
indústria de bens de consumo duráveis (eletro- dança radical do Estatuto do Capital Estrangei-
domésticos e automóveis), enquanto a produção ro, mas tendia simplesmente a um controle se-
de aço só aumentou 24,8%, obrigando a uma torizado, para não asfixiar a empresa nacional.
importação de 40% do consumo interno. Con- Apesar disso, o investimento externo direto foi
vém lembrar que a inflação fixada a uma taxa significativamente estimulado, paralelamente ao
de 10% ao ano atingiu, em 1974, a cifra de 35%. aumento da dívida externa — o que terminou
O II PND foi anunciado quando já se percebiam por impossibilitar progressivamente os grandes
os contornos da crise que em seguida abalaria projetos governamentais. Tal situação exigiu fre-
a economia nacional e internacional, tendo como qüentes revisões nas metas do II PND. Uma va-
pano de fundo a elevação dos preços do petró- riável que não estava prevista no início do plano
leo. Apesar disso, propunha-se transformar o foi a necessidade de “desaquecimento da eco-
Brasil numa “potência emergente”, deslocando- nomia”, colocado na ordem do dia pelo governo.
o do Terceiro Mundo, subdesenvolvido, para o Isso se deu em relação à política exportadora,
espaço dos países altamente industrializados. devido à adoção de políticas protecionistas no
Para atingir essa meta, o PND do governo Geisel plano internacional, ao aumento constante de
centralizava seus esforços em três direções fun- preços do combustível e à queda do poder aqui-
damentais: substituir importações, elevar as ex- sitivo nacional. Tanto que um balanço do II
portações e ampliar o mercado interno consu- PND, em 1979, apesar de significativos avanços
midor. Nesse empreendimento seria investido na política de geração de bens de capital, de
um total de 1 trilhão e 750 bilhões de cruzeiros. energia, prospecção de petróleo e produção de
Com isso, o Brasil deveria chegar a 1979 com álcool, estaria muito aquém dos objetivos traça-
um Produto Interno Bruto da ordem de US$ 120 dos para o aumento do PIB, da renda per capita,
471 PLANO TRIENAL

das exportações e da criação do “mercado de melhor, o real sofreu seu primeiro ataque espe-
massas”. culativo entre março e abril de 1995, quando
foram criadas as bandas cambiais, permitindo
PLANO REAL. Em vigor a partir do dia que a taxa da câmbio fosse ajustada pelas au-
1º/7/1994, o Plano Real foi lançado por meio toridades monetárias dentro de limites estreitos.
de medida provisória de 30/6/1994. Em relação O Brasil superou esse ataque, isto é, não desva-
aos planos que o precederam, o Plano Real foi lorizou sua moeda de maneira intensa. No en-
um dos que provocaram menores alterações na tanto, como o déficit em conta corrente se agra-
economia, uma vez que seu lançamento foi pre- vou e as contas públicas não foram ajustadas,
cedido pela Unidade Real de Valor (URV) e pelo ou seja, o prometido equilíbrio fiscal não foi con-
cruzeiro real (moeda transitória entre o cruzeiro seguido, com a crise no Sudeste e Nordeste asiá-
e o real), com a finalidade de alinhar os preços ticos no segundo semestre de 1997, a moeda bra-
e contribuir para que a transição provocada pela sileira voltou a ser atacada. Apesar de as perdas
reforma monetária fosse menos traumática do de reservas terem sido substanciais, o real não
que em oportunidades anteriores (Plano Cruza- sofreu desvalorização, permanecendo pratica-
do e Plano Collor). Além disso, ao contrário de mente a mesma política cambial, embora o custo
todos os planos que o precederam, a partir do tenha sido uma brusca e intensa elevação da
Plano Cruzado, o Plano Real não foi acompa- taxa de juros no último bimestre de 1997 e uma
nhado de um congelamento de preços. As prin- elevação de tributos para o equilíbrio das contas
cipais medidas foram as seguintes: 1) mudança públicas. Veja também Ataque Especulativo;
na unidade monetária, que passou a ser deno- Conselho Monetário Nacional; Conversibilida-
minada “real”, sendo que a paridade entre esta de; Lastro; Plano Cruzado; Plano Collor.
e o cruzeiro real, que a precedeu, foi fixada em
R$ 1,00 = CR$ 2750,00, em 30/6/1994; 2) auto- PLANO SALTE. Primeiro ensaio de planejamen-
rização ao Banco Central de emitir, entre junho to econômico realizado no Brasil, desenvolvido
de 1994 e 31 de março de 1995, até R$ 9,5 bilhões, em 1948 durante o governo do general Gaspar
Dutra. Representava a soma de sugestões dos
podendo o Conselho Monetário Nacional alterar
vários ministérios, sendo coordenado em termos
este valor em até 20%; 3) limitação da correção
administrativos e contábeis pelo Departamento
monetária contraída a partir de 1º/7/1994 à va-
Administrativo do Serviço Público (Dasp). Prio-
riação acumulada do IPCr (Índice de Preços ao
rizava quatro áreas: saúde, alimentação, trans-
Consumidor em Reais); 4) embora não tenha
porte e energia (cujas iniciais formavam a pala-
sido instituída a livre conversibilidade do real
vra Salte). Os recursos para a sua execução se-
em dólar, o lastro de emissão de reais foi com-
riam provenientes das receitas federais e de re-
posto por parcela das reservas internacionais
cursos externos. Foi cumprido apenas parcial-
disponíveis em moedas estrangeiras e em ouro mente e, em 1952, estava quase abandonado.
monetário, expressas suas equivalências em dó- Veja também Comissão Mista Brasil-EUA.
lares dos Estados Unidos na paridade de R$ 1,00
= US$ 1,00. A implantação do Plano Real pro- PLANO TAYLOR (de Taxa Diferencial por
vocou mudanças substantivas nos agregados Peça). Plano de pagamento de incentivos sala-
macroeconômicos brasileiros. A valorização do riais desenvolvido por Taylor, pelo qual se fixa
câmbio, decorrente da sustentação da estabili- uma taxa por peça para nível de produção in-
dade de preços na âncora cambial, inverteu a ferior ao padrão, e uma taxa maior para o nível
situação da balança comercial, transformando de produção superior ao padrão. De acordo com
um megasuperávit até 1994 em um megadéficit o Plano Taylor, os níveis de salário dependem
a partir de então. Em conseqüência, o déficit em de duas taxas na medida em que a produção pos-
transações correntes cresceu e tornou muito sa ser inferior ou superior ao padrão estabelecido.
mais elevadas as necessidades de financiamento Veja também Taylor, Frederick Wislow.
do setor externo. Isso tornou a economia brasi-
PLANO TRIENAL (de Desenvolvimento Eco-
leira mais dependente dos fluxos externos de
nômico e Social). Elaborado, para o período de
capital e obrigou a manutenção de altas taxas 1963 a 1965, pelo ministro do Planejamento Cel-
de juros internas. O déficit público também se so Furtado, no governo João Goulart. O objetivo
expandiu não apenas porque os encargos finan- era planejar um plano que permitisse um de-
ceiros da dívida interna cresceram, como tam- senvolvimento econômico rápido e, simultanea-
bém pela necessidade de ajustar as contas dos mente, agilizasse uma rápida estabilização nos
Estados e municípios e dos bancos fragilizados preços. O desenvolvimento utilizaria como re-
pela baixa da inflação. Com a crise mexicana no ferencial o período de 1957 a 1961, quando o
final de 1994, o Plano Real sofreu seu primeiro PNB cresceu em 7% ao ano. Essa aceleração da
abalo no primeiro trimestre do ano seguinte. Ou economia deveria ser compatível com as condi-
PLANO VERÃO 472

ções de vida da população: os 7% deveriam ser inflação ter acusado um índice acumulado de
repassados aos salários reais, com base na pro- 933,62% em 1988. Elaborado sob a supervisão
dutividade, numa tentativa de distribuir melhor dos ministros Maílson da Nóbrega (Fazenda),
a renda, privilegiando as faixas inferiores de es- João Batista Abreu (Planejamento), Dorothéa
tratificação social. Quanto à pressão inflacioná- Werneck (Trabalho) e Ronaldo Costa Couto
ria vigente (50% em 1962), o plano visava me- (Casa Civil), o Plano Verão teve a mesma con-
didas de urgência para evitar uma hiperinflação cepção dos pacotes antiinflacionários aplicados
(100%), que, segundo o plano, paralisaria a ati- anteriormente no Brasil e em outros países. Por
vidade econômica. Nesse sentido, propunha meio do recurso constitucional da medida pro-
uma redução para 25% em 1963 e para 10% em visória, dependente de posterior aprovação pelo
1964. O plano tinha também propostas em ou- Congresso, o Plano Verão adotou as seguintes
tras áreas, como a educação, e pretendia viabi- providências: congelamento dos preços (com
lizar medidas que solucionassem as disparida- prazo indefinido), extinção da Obrigação do Te-
des regionais de níveis de vida; alterava deter- souro Nacional (OTN) e da Unidade de Refe-
minados aspectos jurídicos com o intuito de pro- rência de Preços (URP), criação do “cruzado
mover o desenvolvimento das chamadas “refor- novo” (valendo mil cruzados antigos), e desva-
mas de base” (principalmente a reforma agrá- lorização do câmbio em 16,3805%. A partir daí,
ria); defendia a necessidade de assegurar a ca- o câmbio ficou congelado até segunda ordem,
pacidade para importar, por meio de um refi- o dólar norte-americano passou a valer 1 cru-
nanciamento da dívida externa do país. A es- zado novo, e o dólar-turismo teve suas cotações
tratégia que utilizaria para a obtenção desses fixadas pelo mercado. O choque determinou a
meios de crescimento abrangeria a vinculação suspensão do processo de indexação da econo-
do montante de investimentos, direcionados e mia (correção monetária). Os gastos da admi-
ajustados a recursos preexistentes. O plano ar- nistração federal, geradores de déficit público,
riscou calcular que esse montante seria de 3,5 deveriam, segundo o governo, ser limitados ao
trilhões de cruzeiros nos primeiros três anos. montante da arrecadação de cada órgão.
Advertia, porém, que a realização de suas metas Preços — O Plano Verão congelou preços, ser-
só seria possível se se contraísse o processo in- viços e tarifas públicas por tempo indetermina-
flacionário, de modo que esse era seu objetivo do, a partir de 15/1/1989, não sem antes “rea-
prioritário. Quanto ao processo inflacionário, o linhar” os preços dos combustíveis e da energia
plano situa sua origem em distorções do pro- elétrica. Listas básicas regionais com até duzen-
cesso de crescimento anterior, advindas primor- tos itens tabelaram os preços de gêneros alimen-
dialmente do setor público e do setor externo tícios e produtos de higiene e limpeza, ficando
da economia. O plano estabeleceu como metas, “engessados” também aqueles — como os dos
para a redução das taxas inflacionárias, as se- automóveis — que o governo podia vigiar ou
guintes medidas: elevação da carga fiscal, redu- administrar. Previu-se um descongelamento len-
ção do dispêndio público programado, captação to e gradual a partir de março de 1989. Em abril,
de recursos do setor privado no mercado de ca- foi criado um sistema de reajuste trimestral para
pitais, mobilização de recursos monetários. Com preços. O objetivo era solucionar o problema da
relação à política fiscal, o plano enfocou sua defasagem e sair do congelamento sem uma ex-
atenção primordialmente no imposto direto, plosão de remarcações.
propondo um aumento em escalas progressivas, Salários — A URP foi extinta, mas se garantiu
compatível com a renda dos indivíduos. Esse sua aplicação correspondente ao mês de janeiro
objetivo foi viabilizado no final de 1962, porém de 1989. Para calcular o salário de janeiro de
já em 1963 o imposto arrecadado não cobriu me- 1989, multiplicou-se o salário de dezembro de
tade das despesas. No que se refere ao dispêndio 1988 por 1,2605 (URP de janeiro = 26,05%). Sa-
público, tomou-se como base subsidiar o con- lários que ficassem abaixo da média analisada
sumo de alguns produtos e, também, elevar as de 1988 seriam aumentados até atingi-la. Du-
tarifas de transporte e comunicação, com o ob- rante a tramitação da matéria pelo Congresso,
jetivo de reduzir o déficit das empresas conces- aprovou-se uma cláusula de reposição das per-
sionárias de serviços públicos; esses objetivos das salariais de janeiro. Essa reposição dar-se-ia
não foram alcançados. Com relação ao setor ex- de acordo com a diferença entre a URP de janeiro
terno, outro agente gerador de inflação captado e a taxa do Índice Nacional de Preços ao Con-
pelo plano, o diagnóstico baseou-se principal- sumidor (INPC) do mês, que alcançou 35,48%,
mente em causas estruturais vinculadas à subs- a ser paga em três parcelas, de março a maio
tituição de importações. de 1989. Em abril de 1989, decidiu-se que os
assalariados receberiam um reajuste que variava
PLANO VERÃO. Anunciado em 15/1/1989, foi entre 11,31% e 18,71%, de acordo com a data-
o terceiro choque econômico e a segunda refor- base de cada categoria profissional. A reposição
ma monetária do governo Sarney, depois de a que seria aplicada aos salários de maio foi an-
473 PLANOS QÜINQÜENAIS

tecipada para abril. O governo jogou para o Con- dívida continuaram, mas os leilões de janeiro
gresso a tarefa de fixar a política salarial, o que, de 1989 foram suspensos.
de certa forma, postergava sua efetiva aplicação.
Moeda — A reforma cortou três zeros no cru- PLANO YASUDA. Veja Zaibatsu.
zado, menos de três anos depois do nascimento PLANO YOUNG. Plano para o pagamento das
da nova moeda: um recorde de envelhecimento reparações de guerra da Alemanha de acordo
que deixou o país na peculiar situação de ter com os termos do Tratado de Versalhes e que,
três tipos diferentes de cédulas em circulação: em 1929, substituiu o Plano Dawes aplicado cin-
as de cruzeiro carimbadas, as de cruzado e as co anos antes com a mesma finalidade. O Plano
de cruzado novo. Criou-se uma moeda nova an- Young reduziu o total das reparações, estabele-
tes que a antecessora da atual tivesse saído de cendo somas determinadas a ser pagas em pra-
circulação. zos determinados, e eliminou a maioria dos
Correção Monetária — Ficou extinta e se con- controles de supervisão então existentes sobre
gelou a OTN mensal pelo valor então vigente a economia da Alemanha. O nome do plano
de CZ$ 6 170,19 ou NCz$ 6,17. Todavia, o Índice deveu-se ao presidente do comitê que o ela-
de Preços ao Consumidor (IPC) continuaria a borou: Owen D. Young. Veja também Plano
medir a inflação oficial (de 3,60% em fevereiro, Dawes; Rentenmark.
foi aumentando e atingiu 9,94% em maio), até
o estabelecimento de algum novo critério de in- PLANOS QÜINQÜENAIS. Planos de desenvol-
dexação. vimento econômico instituídos na União Sovié-
Poupança — O rendimento da caderneta de tica a partir de 1928, definindo metas de pro-
poupança passou a ser determinado em feve- dução para todos os ramos da economia, que a
reiro de 1989 pelo resultado do overnight ou pelo seguir eram detalhados no circuito de cada em-
IPC (dos dois, o índice que resultasse maior), e, presa industrial ou agrícola. Marcaram o início
a partir de maio, pelo IPC, em todos os casos do efetivo planejamento da economia estatal so-
viética, modelo seguido posteriormente por to-
acrescidos de 0,5% de juro real. Com o fim da
dos os países socialistas. O Primeiro Plano Qüin-
correção pela OTN, os aluguéis passaram a ser
qüenal cumpriu-se em apenas quatro anos
corrigidos por índices próprios. E uma tablita
(1928-1931). Foi responsável pela coletivização
de deflação foi aplicada às prestações vencidas
da agricultura e pelo início da industrialização
de contratos a prazo e compras a crédito, feitos
pesada na ex-URSS, provocando profundas mo-
de 1º/1/1988 a 15/1/1989.
dificações na estrutura socioeconômica do país.
Juros — O Banco Central elevou a taxa de juros Até a morte de Stálin, em 1953, seriam execu-
no overnight, mantendo-a entre 25 e 30% ao mês tados mais quatro planos de importância deci-
em janeiro e fevereiro de 1989, para incentivar siva para a criação de um parque industrial apto
as aplicações financeiras, desestimular a forma- a fazer frente à invasão nazista e transformar a
ção de estoques e conter o consumo. Em abril, ex-URSS, no pós-guerra, na segunda maior po-
com a perspectiva de reindexação de preços e tência do mundo. Apesar desses avanços, o ca-
salários, a taxa real de juros caiu para 11,51%. ráter excessivamente centralista e burocrático da
Estatais e cortes — O governo submeteu ao Con- planificação foi apontado por vários críticos —
gresso (que não aprovou) um projeto de lei pro- inclusive soviéticos — como o maior obstáculo
pondo regras para a privatização de empresas ao pleno êxito dos planos qüinqüenais. Muitas
estatais. Para reduzir o déficit público a zero, vezes as metas propostas foram demasiadamen-
anunciou-se o propósito de gastar só o que se te otimistas, sendo ignoradas pelas empresas.
arrecadasse (nenhum órgão poderia empenhar Assim, em 1959 o Sexto Plano Qüinqüenal foi
despesas sem autorização prévia do Tesouro); substituído pelo Plano Setenal, iniciando-se no
demitir até 60 mil funcionários contratados sem último ano de sua execução as reformas pro-
concurso nos últimos cinco anos; executar judi- postas pelo professor Y. Liberman e aprovadas
cialmente os devedores da União, fossem pes- pelo XXIII Congresso do Partido Comunista da
soas físicas, fossem jurídicas; vender bens de em- União Soviética, no sentido de dar maior flexi-
presas estatais deficitárias; extinguir cinco mi- bilidade à economia. Em 1966, as atividades pro-
nistérios, a saber: do Bem-Estar Social, da Irri- dutivas voltaram a ser orientadas por um novo
gação, da Reforma Agrária, da Administração plano qüinqüenal, encerrado em 1970. No plano
e da Ciência e Tecnologia. Esta última medida para 1971-1975, a maior preocupação foi com a
também não foi aprovada na íntegra pelo Con- mecanização da agricultura, na tentativa de li-
gresso, nem se registraram medidas práticas bertar o país das freqüentes importações de trigo
para o cumprimento dessas recomendações. dos Estados Unidos, Canadá e outros países.
Dívida externa — Suspenderam-se as operações Veja também Gosplan; Planejamento; Planifi-
de reempréstimos por um ano. Conversões da cação; Stálin, Josef; Stalinismo.
PLANTA 474

PLANTA. Denominação originada do inglês nal Iskra (Centelha). Criou também o Partido
(plant), que indica qualquer tipo de instalação Operário Social Democrata Russo (1898). Em
empresarial, abrangendo desde as unidades in- 1903, no segundo congresso do partido, rompeu
dustriais até os edifícios comerciais, estações fer- com Lênin, liderando a facção menchevique. A
roviárias etc. Nesse sentido, a planta é parte do partir desse momento, acentuaram-se suas di-
ativo imobilizado de uma empresa. vergências com o leninismo. Plekhanov retor-
nou à Rússia em 1917, pedindo a suspensão tem-
PLANTATION. Grande exploração agrícola mo- porária da luta de classes diante da necessidade
nocultora, que engloba atividades de cultivo e de defesa do país, ameaçado pela guerra, um
beneficiamento às explorações escravistas colo- argumento classificado pelos bolcheviques de
niais no continente americano (sobretudo Brasil, “social-chauvinismo”. Após a revolução e a to-
Antilhas e Estados Unidos), cuja produção se mada do poder pelos bolcheviques, que ele con-
destinava basicamente à exportação de gêneros denou, manteve-se afastado do novo governo e
tropicais (algodão, fumo, café, açúcar etc.). Esse buscou asilo no exterior. Entre suas obras, des-
tipo de cultura foi criado pelos portugueses tacam-se: Anarchismus und Sozialismus (Anar-
no final do século XV e aplicado nos engenhos quismo e Socialismo), 1894; A Concepção Mate-
de açúcar na ilha de São Tomé, para onde eram rialista da História, 1895; Beiträge zur Geschichte
mandados os judeus condenados pela Inquisi- des Materialismus (Contribuições para a História
ção. do Materialismo), 1896; Problemas Fundamentais
PLATÃO (428/7-348/7 a.C.). Filósofo grego que do Marxismo, 1910. Veja também Lênin.
se ocupou também do reformismo social. De vi-
PLENO EMPREGO. Situação em que a deman-
são aristocrática, propôs em sua obra A República
da de trabalho é igual ou inferior à oferta. Isso
uma utópica cidade-estado, que se contrapunha
significa que todos os que desejarem vender sua
à democracia ateniense e equivaleria a uma oli-
força de trabalho pelo salário corrente terão con-
garquia. Nesse Estado ideal haveria, acima dos
dições de obter um emprego. Em termos mais
escravos, três classes de cidadãos: os reis-filó-
globais, pleno emprego significa o grau máximo
sofos, que teriam a incumbência de governar;
de utilização dos recursos produtivos (materiais
os guardiães, que cuidariam da segurança in-
e humanos) de uma economia. Numa economia
terna e externa; e os artesãos e comerciantes,
dinâmica é muito difícil que ocorra a eliminação
que trabalhariam para prover as necessidades
total do desemprego, pois: 1) há atividades —
da população. Nas duas primeiras classes, que
como a agricultura — que não ocupam conti-
na prática correspondiam aos detentores do po-
nuamente a mesma força de trabalho (desem-
der (governantes e militares), não haveria pro-
prego sazonal); 2) é necessário certo tempo para
priedade privada, sendo todos os bens de gozo
que as pessoas troquem de emprego (é o cha-
comum; também não haveria família, encarre-
mado desemprego friccional); 3) além disso, cer-
gando-se o Estado da educação das crianças. A
tas pessoas podem optar por viver desempre-
realização de tal modelo de sociedade só seria
gadas. Por essa razão, considera-se haver uma
possível a partir de um sistema educacional que,
situação de pleno emprego quando não mais
desde a primeira infância, selecionaria cada in-
que 3 a 4% da força de trabalho está desempre-
divíduo de acordo com suas aptidões, a fim de
gada. (A propósito, a taxa de desemprego mais
integrá-lo em uma das classes.
baixa verificada nos Estados Unidos foi de 1,2%
PLEKHANOV, Gueórgui Valentinovitch (1857- em 1944, quando toda a economia estava forte-
1918). Político, filósofo e teórico socialista russo, mente mobilizada para o esforço de guerra.) A
fundador do Partido Operário Social Democrata, conquista e a manutenção de um nível de pleno
pioneiro na divulgação do marxismo na Rússia. emprego são um importante fator de crescimen-
Filho de latifundiário, Plekhanov foi atraído, to econômico, acompanhadas da elevação do pa-
ainda estudante, para uma organização revolu- drão de vida da população (para que uma de-
cionária clandestina, Zemliái Volia (Terra e Li- manda total aumente ao mesmo nível da expan-
berdade). A seguir, discordando da linha terro- são da capacidade produtiva). Os governos po-
rista adotada pela organização — era partidário dem aplicar uma política de pleno emprego por
da agitação de massas —, formou em 1879 um meio de recursos fiscais (por exemplo, incenti-
grupo dissidente, Cherny Peredel (Partilha Ne- vos e empreendimentos geradores e multiplica-
gra), que tinha como programa a distribuição dores de emprego) e monetários (direcionamen-
de terras aos camponeses. Foi obrigado a exi- to dos créditos, destinação de verbas). Desde a
lar-se em 1880 e, em 1883, criou em Genebra o grande crise de 1929 e, sobretudo, após a Se-
Círculo da Emancipação do Trabalho (Osvo- gunda Guerra Mundial, o pleno emprego tor-
bozhdenia Truda), destinado a divulgar na Rús- nou-se um objetivo nacional dos grandes países
sia as teorias de Marx. A partir de 1890, corres- industrializados, como a Inglaterra (a partir da
pondeu-se com Lênin, com quem fundou o jor- recomendação do Plano Beveridge, de 1942) e
475 PNB

os Estados Unidos (desde a implantação do New Por outro lado, o PNB resulta do valor bruto
Deal e, particularmente, com a aprovação da Lei da produção, deduzidas as transações interme-
do Emprego, o Employment Act, de 1946). Veja diárias. Deveria coincidir com o conceito de va-
também Desemprego; Emprego. lor agregado bruto, que engloba todos os paga-
mentos e fatores de produção, mais os impostos
PLOTTAGE. Termo em inglês do mercado imo-
indiretos e as reservas para depreciação. Isso
biliário que significa o aumento do valor unitá-
não acontece basicamente em virtude dos sub-
rio de um terreno devido a um melhor apro-
veitamento em função de sua maior área. O plot- sídios governamentais às empresas. Assim,
tage pode ser entendido também como o aumen- para o cálculo do PNB a preços de mercado,
to do valor unitário de um terreno (m2) na me- parte-se do valor agregado bruto e deduzem-se
dida em que se agregam vários lotes, o que é esses subsídios. Ao considerar uma economia
indispensável ao seu melhor aproveitamento em fechada e interligada ao aparelho do Estado, o
função das disposições legais que regulam o uso PNB a preços de mercado pode ser calculado
do solo no meio urbano. Calcula-se que o plottage sob três óticas. Pela ótica da produção, correspon-
signifique uma valorização de 10 a 20% da soma de à soma dos valores agregados líquidos dos
dos valores dos lotes agregados. Veja também três setores da economia (primário, secundário
Highest And Best Use. e terciário), acrescida dos impostos indiretos e
da depreciação do capital. Dessa soma sub-
PLUNGE. Termo utilizado no mercado finan- traem-se os subsídios governamentais. Sob a óti-
ceiro para designar um momento de especulação ca da renda, é calculado a partir das remunera-
desenfreada e generalizada. ções pagas às unidades familiares, sob a forma
de salários, juros, aluguéis e lucros (o que cor-
PLUNGER. Termo utilizado no mercado finan- responde à soma do valor agregado líquido pe-
ceiro para designar pessoa que assume elevados las empresas); ao montante dessas remunerações
riscos na expectativa de grandes lucros. adicionam-se os impostos indiretos e a depre-
ciação do capital, subtraindo-se os subsídios.
PLURALIDADE BANCÁRIA EMISSORA. Si- Pela ótica do dispêndio, o PNB a preços de mer-
tuação em que a moeda de um país (papel-moe- cado resulta da soma dos dispêndios em con-
da ou moeda metálica) é emitida ou cunhada sumo das unidades familiares e dos governos,
por várias fontes ou bancos. mais os investimentos em formação bruta de ca-
PLUTOCRACIA. Governo ou poder orientado pital fixo (realizados pelas empresas e governo),
segundo os interesses dos indivíduos mais ricos mais as variações de estoque. Esse dispêndio
da sociedade. Exemplos de plutocracia foram os também pode ser denominado Despesa Nacio-
governos aristocratas das cidades-estados gre- nal Bruta, que apresenta valor contábil igual ao
gas, o Estado romano para os interesses do pa- do PNB a preços de mercado. Em uma economia
triciato, bem como o regime dominante em Ve- aberta, o PNB exclui a parcela da produção de
neza, Florença e outras cidades italianas no final bens e serviços que, mesmo tendo sido gerada
da Idade Média. dentro do território econômico do país, resultou
do emprego de recursos não-residentes. Por ou-
PN. Sigla que identifica as ações preferenciais tro lado, inclui a parcela dos bens e serviços
nominativas. Seu proprietário não tem direito a que, mesmo produzida em território econômico
voto, mas tem preferência no recebimento de de outros países, resultou da utilização de re-
dividendos e reembolso do capital. Sua transfe- cursos de propriedade de residentes no país. A
rência é feita mediante assinatura em livro es- diferença entre o PNB e o PIB corresponde à
pecial da empresa que emitiu as ações. renda líquida enviada ou recebida do exterior.
Quando o PNB é inferior ao PIB, o país em ques-
PNB — Produto Nacional Bruto. É o valor agre- tão remete para o exterior mais renda do que
gado de todos os bens e serviços resultantes da recebe. Assim, quando o PNB é inferior ao PIB,
mobilização de recursos nacionais (pertencentes seu valor pode ser obtido excluindo-se do valor
a residentes no país), independente do território deste último o montante das rendas líquidas en-
econômico em que esses recursos foram produ- viadas ao exterior. No cálculo do PNB a preços
zidos. Incluem-se nele o valor da depreciação e de mercado, é incluída uma parcela — reservas
o resultado, positivo ou negativo, da conta de para depreciação — que não apresenta nenhuma
rendimentos do capital do balanço de pagamen- adição de riquezas à economia nacional. Sua in-
tos. Ou seja, os rendimentos recebidos em de- corporação aos custos de produção e, conse-
corrência de investimentos no exterior são agre- qüentemente, aos preços de mercado, tem como
gados ao PNB; paralelamente, deduzem-se os finalidade cobrir os desgastes e a obsolescência
rendimentos remetidos para o exterior em vir- dos meios físicos de produção de capital. Veja
tude de inversões do capital estrangeiro no país. também PIB.
PNBE 476

PNBE — Pensamento Nacional das Bases Em- sos econômicos. Esse poder é praticado tanto
presariais. Organismo criado em agosto de 1990 no plano dos mecanismos de mercado (elimi-
sem fins lucrativos. Opera por meio de grupos nação de concorrentes, controle de fontes de ma-
de trabalho e tem por finalidade desenvolver térias-primas, imposição de preços e produtos
projetos e soluções para questões relacionadas ao consumidor) como no plano político, por
com o bem-estar social em diversas áreas da eco- meio do direcionamento dos negócios do Esta-
nomia, planejamento etc. Congrega empresários do, tendo em vista os interesses de pessoas ou
(pessoa física), totalizando aproximadamente empresas. O termo aplica-se também a um país
330 em todo o país, os quais se concentram es- ou grupo de países que comumente exerçam um
pecialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. papel de supremacia na economia mundial. Nas
condições do neocapitalismo, o poder econômi-
PND. Veja Plano Nacional de Desenvolvimen- co está ligado à ação dos monopólios transna-
to Econômico. cionais ou ao papel do Estado como um dos
principais donos dos meios de produção e de
PNL — Produto Nacional Líquido. É a totali-
serviços por força de uma política de naciona-
dade da produção de bens e serviços gerados
lizações e intervencionismo.
num país no espaço de um ano — isto é, o Pro-
duto Nacional Bruto (PNB) — menos o valor PODER LIBERATÓRIO. Capacidade de uma
de depreciação (desgaste) sofrido pelos bens de moeda (metálica ou papel-moeda) de efetuar um
capital (máquinas, equipamentos, edifícios) uti- pagamento ou liquidar uma dívida em decor-
lizados no processo produtivo. rência de dispositivo legal que obriga o credor
a recebê-la para os fins anteriores.
POBREZA. Estado de carência em que vivem
indivíduos ou grupos populacionais, impossibi- POF. Iniciais da expressão Pesquisa de Orça-
litados, por insuficiência de rendas ou inexis- mentos Familiares, técnica utilizada por institu-
tência de bens de consumo, de satisfazer suas tos de pesquisa de evolução do custo de vida
necessidade básicas de alimentação, moradia, (como a Fipe, de São Paulo) a partir de análises
vestuário, saúde e educação. O problema está da composição do consumo familiar.
ligado à capacidade produtiva da sociedade,
embora atinja até mesmo camadas sociais mar- POINTS. Veja Pontos.
ginalizadas de países altamente desenvolvidos.
POISHA. Veja Taca.
A pobreza manifesta-se mais intensamente nos
países subdesenvolvidos. Em 1980, de acordo POLEGADA. Antiga medida de comprimento
com a ONU, 114 países do Terceiro Mundo pro- que a princípio correspondia aproximadamente
duziam apenas cerca de 10% do produto bruto ao comprimento da segunda falange do polegar
mundial, e cerca de 2 bilhões de pessoas viviam de um adulto. Posteriormente, a polegada pas-
em miséria extrema, com renda anual inferior sou a ser medida em grãos de cevada. Depois
a US$ 200,00. de centenas de anos de prática, o rei Eduardo
II, da Inglaterra, legalizou-a como sendo equi-
POD. Iniciais da expressão em inglês pay on de- valente a três grãos de cevada secos e redondos,
livery, que significa “pagamento contra entrega”. encostados um ao outro no sentido longitudinal
PODER COMPENSADOR. Conceito criado por (ao comprido). Atualmente, no sistema imperial
J.K. Galbraith, segundo o qual, na moderna so- inglês e no consuetudinário americano, polega-
ciedade capitalista, dominada pelas grandes cor- da equivale a 2,540 cm. Veja também Unidades
porações oligopólicas e pelo consumo conspícuo de Pesos e Medidas.
(toma como exemplo a sociedade norte-ameri- POLEGADA PORTUGUESA. Antiga medida
cana), surgem forças, como as organizações de de comprimento utilizada em Portugal e no Bra-
defesa do consumidor e os sindicatos, que for- sil antes da adoção do sistema métrico decimal
mariam poderosos núcleos de ação econômica e equivalente a 2,75 cm, maior, portanto, do que
capazes de fazer frente aos monopólios da in- a polegada (inglesa), que mede 2,54 cm. Veja
dústria e do comércio. No conjunto da sociedade também Sistemas de Pesos e Medidas.
afluente, cada bloco de poder — empresas, Es-
tado, sindicatos, organizações de consumidores POLIENTE PLATTE. Veja Proof.
— atuaria como uma dessas forças compensa-
doras, contribuindo para manter o equilíbrio do POLÍGONO DE FREQÜÊNCIA. Forma de re-
sistema capitalista. Veja também Neocapitalis- presentação gráfica de distribuições de freqüên-
mo; Sociedade Afluente. cia, por meio de uma poligonal cujos vértices
têm por abcissas os pontos médios sucessivos
PODER ECONÔMICO. Formas de dominação da distribuição considerada e, por ordenadas,
e influência socialmente exercidas por indiví- respectivamente, as densidades de frequência
duos ou grupos possuidores de grandes recur- das classes correspondentes.
477 POLÍTICA ECONÔMICA

tornaram extremamente vulneráveis às flutua-


ções da economia dos Estados Unidos. Outras
1.100.000 medidas de política cambial são comumente uti-
1.100.000 lizadas, às vezes acopladas a mecanismos de po-
1.700.000 lítica econômica que possibilitem compensar os
efeitos indesejáveis à economia do país. As au-
1.500.000
toridades governamentais podem também to-
mar decisões em outras áreas da economia com
o objetivo de obter determinados efeitos no setor
externo, sem que haja necessidade de alterar a
taxa cambial. No Brasil, por exemplo, são con-
POLÍTICA CAMBIAL. Instrumento da política cedidos créditos como prêmio para incentivar
de relações comerciais e financeiras entre um as exportações e também são realizadas anteci-
país e o conjunto dos demais países. Os termos pações dos valores correspondentes aos contra-
em que se expressa a política cambial refletem, tos de câmbio (de exportações), denominadas
em última instância, as relações políticas vigen- Antecipações de Contratos de Câmbio (ACCs),
tes entre os países, com base no desenvolvimen- que permitem ao exportador recursos para fi-
to econômico alcançado por eles. Por exemplo: nanciar seu capital de giro ou então realizar apli-
em dado momento, pode ser importante a um cações financeiras, obtendo ganhos não-opera-
país adquirir certos produtos no exterior, neces- cionais que em certos momentos podem com-
sários ao desenvolvimento de seu setor indus- pensar eventuais defasagens cambiais.
trial; para tanto, as autoridades monetárias po-
dem manter o câmbio artificialmente valorizado, POLÍTICA DEMOGRÁFICA. Veja Política Po-
barateando o custo, em moeda nacional, desses pulacional.
produtos; em contrapartida, ocorreria o encare-
POLÍTICA DE PORTAS ABERTAS. Concessão
cimento dos produtos nacionais para os impor-
de direitos iguais a quaisquer nações que quei-
tadores de outros países. A política cambial
ram comerciar em determinada região. Ocorreu,
pode utilizar ainda uma série de mecanismos
por exemplo, na China, que, após a Guerra do
para evitar a evasão de divisas e contribuir para
Ópio (1839-1842), foi obrigada a comerciar com
o equilíbrio do balanço de pagamentos, como a
as potências européias.
fixação de taxas múltiplas de câmbio (câmbio
turismo, câmbio comercial, câmbio financeiro POLÍTICA ECONÔMICA. Conjunto de medi-
etc.). E também lançar mão de medidas que fa- das tomadas pelo governo de um país com o
voreçam algum setor da economia, como manter objetivo de atuar e influir sobre os mecanismos
a moeda nacional artificialmente desvalorizada de produção, distribuição e consumo de bens e
para estimular as exportações. Após o término serviços. Embora dirigidas ao campo da econo-
da Segunda Guerra Mundial, a necessidade de mia, essas medidas obedecem também a crité-
uma reordenação das relações internacionais le- rios de ordem política e social — na medida em
vou as grandes potências industriais do Ociden- que determinam, por exemplo, quais segmentos
te a propor acordos e criar instituições visando da sociedade se beneficiarão com as diretrizes
a disciplinar as transações econômicas entre os econômicas emanadas do Estado. O alcance e o
diversos países. Buscava-se coibir, assim, a fi- conteúdo de uma política econômica variam de
xação de políticas cambiais arbitradas por inte- um país para outro, dependendo do grau de
resses unilaterais, que pudessem pôr em risco diversificação de sua economia, da natureza do
a confiabilidade do sistema internacional de in- regime social, do nível de atuação dos grupos
tercâmbio. Até então, as relações comerciais fa- de pressão (partidos, sindicatos, associações de
ziam-se com base na conversibilidade em ouro classe e movimentos de opinião pública). Final-
das moedas ou nas cotações estabelecidas para mente, a política econômica depende da própria
a libra esterlina. Com o Acordo de Bretton visão que os governantes têm do papel do Es-
Woods, em junho de 1944, inaugurou-se prati- tado no conjunto da sociedade. De maneira ge-
camente o sistema de conversibilidade interna- ral, podem-se classificar as políticas econômicas
cional em relação ao dólar norte-americano. To- em três tipos, segundo os objetivos governamen-
das as transações internacionais passaram a ser tais: estruturais, de estabilização conjuntural e de
feitas com base na transferência de saldos con- expansão. A política estrutural está voltada para
tabilizados em dólar, excetuando-se os países da a modificação da estrutura econômica do país
área socialista. A economia capitalista entrou en- (podendo chegar até mesmo a alterar a forma
tão num novo período, caracterizado pela inter- de propriedade vigente), regulando o funciona-
nacionalização das economias nacionais, que se mento do mercado (proibição de monopólios e
POLÍTICA MONETÁRIA 478

trustes) ou criando empresas públicas, regula- dito para as atividades mais rentáveis e produ-
mentando os conflitos trabalhistas, alterando a tivas da economia. No Brasil e em outros países,
distribuição de renda ou nacionalizando empre- a política monetária constitui atualmente um
sas estrangeiras. A política de estabilização con- instrumento de combate aos surtos inflacioná-
juntural visa à superação de desequilíbrios oca- rios. Sua maior eficácia em relação às outras po-
sionais. Pode envolver tanto uma luta contra a líticas econômicas se deve à flexibilidade com
depressão como o combate à inflação ou à es- que pode ser aplicada e ao conjunto de medidas
cassez de determinados produtos. A política de práticas que põe ao alcance das autoridades, de-
expansão tem por objetivo a manutenção ou a sobrigando-as de submeter suas decisões ao le-
aceleração do desenvolvimento econômico. Nes- gislativo. Convém ressalvar, no entanto, que
se caso, podem ocorrer reformulações estrutu- essa “autonomia monetarista”, se levada ao ex-
rais e medidas de combate à inflação, proteção tremo, pode ocasionar graves distorções e re-
alfandegária e maior rigor na política cambial sultados muitas vezes desastrosos. É o que afir-
contra a concorrência estrangeira. Cada uma mam, num pólo do pensamento econômico, os
dessas modalidades apóia-se numa corrente ou defensores das reformas estruturais, para agili-
mais de pensamento econômico e liga-se a cri- zar a economia; e, no outro pólo, os partidários
térios políticos e ideológicos. Essa subordinação da escola de Chicago, para quem a regulação
das decisões governamentais a posições teóricas da atividade econômica deve ser exercida pelo
acompanhou todo o desenvolvimento do capi- rígido controle do crescimento da massa mone-
talismo, desde o mercantilismo, passando pelo li- tária, que deveria aumentar em conformidade
beralismo econômico — laissez-faire — e intensi- com uma taxa previamente determinada ou li-
ficando-se após a crise econômica de 1929, quando mitada a uma estreita faixa de variação. Veja
o Estado passou a intervir diretamente na econo- também Base Monetária; Conjuntura Econô-
mia para controlar as crises cíclicas do sistema e mica; Economia Política; Inflação; Política
promover e orientar o desenvolvimento. Cambial.

POLÍTICA MONETÁRIA. Conjunto de medi- POLÍTICA POPULACIONAL. Conjunto de pro-


das adotadas pelo governo visando a adequar cedimentos que tem por objetivo alterar elemen-
os meios de pagamento disponíveis às necessi- tos da dinâmica populacional, ou seja, as taxas de
natalidade, mortalidade e migrações. Esses pro-
dades da economia do país. Essa adequação ge-
cedimentos visam basicamente ao tamanho da
ralmente ocorre por meio de uma ação regula-
população e a sua distribuição etária e geográ-
dora, exercida pelas autoridades sobre os recur- fica, procurando integrá-los às metas de desen-
sos monetários existentes, de tal maneira que volvimento do país. Na maioria dos casos, en-
estes sejam plenamente utilizados e tenham um tretanto, a política populacional está ligada qua-
emprego tão eficiente quanto possível. Na maior se exclusivamente ao controle da natalidade. O
parte dos países, o principal órgão executor da interesse pela questão é devido ao crescimento
política monetária é o Banco Central, entidade demográfico acelerado constatado em determi-
do Estado ou dele dependente, encarregada da nadas regiões, especialmente as subdesenvolvi-
emissão de moeda, da regulação do crédito, da das. Permanece controvertida, contudo, a ques-
manutenção do padrão monetário e do controle tão dos interesses internacionais envolvidos nas
de câmbio. De maneira geral, esse órgão põe ao políticas de redução das taxas de crescimento
alcance dos bancos os mesmos serviços que eles demográfico do Terceiro Mundo. Em certos paí-
prestam a seus clientes. A política monetária ses subdesenvolvidos, praticam-se intensos pro-
pode recorrer a diversas técnicas de intervenção, gramas de esterilização. Em geral, esses progra-
controlando a taxa de juros por meio da fixação mas são condenados e propõe-se como alterna-
das taxas de redesconto cobradas dos títulos tiva a adoção de incentivos ao planejamento fa-
apresentados pelos bancos, regulando as opera- miliar voluntário. No Brasil, não há uma política
ções de open market ou impondo aos bancos o populacional clara, embora se observe uma ten-
sistema de reservas obrigatórias (depósitos com- dência pró-natalidade em várias leis, como a do
pulsórios) para garantir a liquidez do sistema salário-família (5% do salário mínimo vigente
bancário. Em relação ao crédito, podem ser ado- para cada filho menor de 14 anos), as de pro-
tadas medidas restritivas ou práticas seletivas. teção da trabalhadora gestante, as do auxílio-
natalidade e auxílio-maternidade, assim como
As primeiras geralmente ocorrem em períodos
a proibição do aborto. Veja também Demogra-
de elevada inflação ou crise no balanço de pa-
fia; Neomalthusianismo.
gamentos e consistem na fixação dos limites de
crédito bancário e na redução dos prazos de pa- POLÍTICA SALARIAL. Conjunto de disposiçõ-
gamento dos empréstimos. As práticas seletivas, es governamentais destinadas a disciplinar os
por sua vez, visam sobretudo a direcionar o cré- aumentos salariais. A instituição de uma política
479 POLÍTICA SALARIAL

salarial e os princípios do liberalismo econômico resultado de complicados e complexos cálculos


são recursos utilizados por determinados gover- matemáticos nos quais entravam vários coefi-
nos com o objetivo de enfrentar uma conjuntura cientes de ordem econômica. Esses mecanismos
inflacionária ou uma crise econômica. Normal- foram aperfeiçoados com a decretação de novos
mente, o que ocorre nos países capitalistas de- dispositivos jurídicos, tornando os aumentos sa-
senvolvidos é a plena liberdade de negociação lariais uma questão cada vez mais pertinente ao
dos aumentos salariais entre trabalhadores e em- Estado. Em novembro de 1979, em decorrência
presários, por intermédio de suas respectivas en- do amplo movimento grevista que se estendeu
tidades representativas. Nessas condições, cabe por todo o país, entrou em vigor o que se con-
ao Estado apenas fixar normas que garantam a vencionou chamar de Nova Política Salarial, por
cada trabalhador uma remuneração mínima ca- meio da lei nº 6 708/79. Esta tornou semestrais
paz de assegurar sua sobrevivência pessoal e os reajustes e instituiu um índice da produtivi-
familiar, segundo os padrões de vida do país. dade para ser elemento de aumento salarial ne-
O controle dos aumentos salariais pelo Estado gociado entre patrões e empregados. Os aumen-
tem sido uma prática típica de regimes autori- tos se dariam segundo faixas salariais e teriam
tários, nos quais as entidades de classe dos tra- como referência básica o Índice Nacional de Pre-
balhadores estão impedidas de atuar de forma ços ao Consumidor (INPC), determinado nacio-
autônoma em relação ao Estado. Nesse sentido, nalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia
a contenção salarial institucionalizada pelo Es- e Estatística (IBGE). A isso se acrescentaria um
tado funciona como uma forma de acumulação índice da produtividade, que seria negociado
de capital ou como principal mecanismo de con- anualmente por cada categoria profissional na
trole das crises. Tem sido também esse um dos data-base de seu reajuste. A partir de 1982, com
principais aspectos das medidas econômicas o agravamento da crise da economia nacional,
adotadas pelo Fundo Monetário Internacional o desenvolvimento da espiral inflacionária e o
(FMI) em relação aos países que a ele recorrem aumento da dívida externa do país, o governo
à procura de empréstimos, particularmente as procedeu a várias reformulações na política sa-
nações do Terceiro Mundo. No Brasil, a inter- larial mediante novos reescalonamentos nos ín-
venção do Estado como elemento regulador dos dices de aumentos e nas faixas salariais corres-
aumentos salariais ocorreu sobretudo a partir pondentes. Por meio dos decretos nºs 2 012/83,
de 1964, com a promulgação de uma série de 2 024/83 e 2 045/83, aprofundou-se a contenção
leis que passaram a disciplinar o período dos salarial, apresentada não apenas como a única
aumentos e os percentuais correspondentes. An- forma de superar a crise, mas também como me-
tes disso, o Estado brasileiro determinava ape- dida indispensável às negociações de emprésti-
nas os índices de aumento do salário mínimo; mos efetuadas entre os ministérios da área eco-
os aumentos para os trabalhadores em faixas nômica e as autoridades do FMI. A partir de
salariais mais elevadas decorriam de livres ne- agosto de 1983, por um prazo de dois anos, todos
gociações entre empregados e empregadores. Os os reajustes salariais seriam corrigidos com um
primeiros decretos baixados a partir de 1964 de- índice de apenas 80% do valor do INPC. Em
terminavam os índices de aumento para os em- 1986, com o Plano Cruzado, os salários passaram
pregados em empresas estatais ou de economia a ser reajustados automaticamente sempre que
mista; a partir da lei nº 4 725 de julho de 1965, a inflação alcançasse 20%. Em 1987, com o Plano
o controle foi se estendendo aos trabalhadores Bresser, o mecanismo anterior foi substituído
do setor privado. Por parte do governo, essas pela Unidade de Referência de Preços (URP),
medidas eram justificadas como um mecanismo que reajustava os salários do mês em curso pela
indispensável para combater a inflação e recu- média geométrica do Índice de Preços ao Con-
perar a economia nacional em crise. Ao mesmo sumidor (IPC) dos três meses anteriores. Com
tempo, procedeu-se a uma radical transforma- o Plano Verão, em janeiro de 1989, a URP foi
ção nas disposições que garantiam ao trabalha- extinta, deixando de existir a indexação auto-
dor a estabilidade no emprego e nas formas de mática de salários. Com o Plano Collor, em
indenização a que ele teria direito quando fosse 15/3/1990, a política de salários passou a ser
demitido sem justa causa. Paralelamente, as sen- de prefixação, ou seja, com o anúncio mensal
tenças dos Tribunais Regionais do Trabalho fo- de limites máximos para os preços e, após es-
ram também se moldando às determinações do timativa de inflação para o mês, determinar-se-
poder executivo, no tocante aos aumentos sala- ia o reajuste para os salários. Em maio, a pre-
riais. Os reajustes passaram a ser anuais, por fixação foi abandonada. A partir de então, o go-
meio de índices decretados mensalmente pelo verno apresentou sucessivas medidas provisó-
Conselho Nacional de Política Salarial (CNPS). rias, estabelecendo a “livre negociação” entre pa-
Os aumentos salariais tornaram-se, desde então, trões e empregados, limitando o número de rea-
POLLUTER PAYS PRINCIPLE 480

justes anuais e proibindo a indexação salarial de carbono e de chumbo (expelidos por veículos
que concedesse reajustes automáticos com base automotivos) e óxidos de nitrogênio e dióxido
na inflação. Essa política foi seguida no Plano de enxofre (principalmente devidos à queima
Collor 2. No segundo semestre de 1992, durante de carvão). Outros poluentes, como os aerossóis
o governo Itamar Franco, com o crescimento da e as partículas de poeira, são conseqüência de
inflação, foi estabelecido um sistema de reajustes processos industriais. As pulverizações de plan-
quadrimestrais do salário mínimo e dos salários tações e as explosões nucleares também contri-
pagos pelo setor privado até seis mínimos, com buem para poluir a atmosfera. O controle da
antecipações bimestrais de 60% da inflação do poluição envolve a identificação das fontes po-
período. Em 1993, a política salarial foi outra luidoras, o desenvolvimento de técnicas alter-
vez alterada, em função da intensificação infla- nativas e meios preventivos de controle e a con-
cionária: os reajustes (com a reposição das per- cessão de incentivos governamentais às indús-
das do quadrimestre) continuaram sendo de trias para a instalação de equipamentos especiais
quatro em quatro meses, mas as antecipações antipoluentes. A poluição provocada por lixo e
passaram a ser mensais na proporção de dez esgoto pode ser controlada pela reciclagem de
pontos percentuais abaixo da inflação do mês tais produtos para sua reutilização. A Conferên-
anterior. Com a adoção do Plano Real, em julho cia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente,
de 1994, adotou-se a livre negociação para a fi- realizada em 1972 em Estocolmo, recomendou
xação dos salários, com exceção do salário mí- a adoção de um mecanismo econômico para li-
nimo. Veja também Gatilho Salarial; Plano mitar a poluição: o princípio segundo o qual o
Real; Plano Verão; URP. agente poluidor pagaria pelo uso dos recursos
ambientais na medida do dano causado a eles
POLLUTER PAYS PRINCIPLE. Expressão em
por sua atividade. A dificuldade prática de
inglês que significa, literalmente, “princípio de
aplicação desse princípio, no entanto, tornou
pagamento pelo poluidor”. Exprime que o po-
mais comum a adoção de legislação específica
luidor deve pagar pela poluição que causa no
de controle ambiental, com a imposição de
meio ambiente. Este princípio engloba tanto
multas e a concessão de incentivos fiscais. As
uma Taxa Pigouviana como qualquer taxa que
legislações restritivas, contudo, também têm
induza os poluidores a instalar medidas para
levado muitas indústrias poluidoras a simples-
reduzir as emissões de poluição e os danos cau-
mente procurar áreas ou países onde não exis-
sados ao meio ambiente. Veja também Ecologia;
tam tais restrições. Veja também Ecologia; Lei
Economias Externas; Taxa Pigouviana.
Nacional do Meio Ambiente; Reciclagem; Re-
POLUIÇÃO. Contaminação de uma substância cursos Naturais; Sema.
por outra, tornando a primeira inadequada para
POLY-POLY. Expressão em inglês que designa
determinadas utilizações. Num sentido mais
amplo, poluição é a adição de um poluente um mercado no qual os vendedores são tão pou-
(substância ou forma de energia em concentra- cos que a quantidade oferecida por qualquer um
ções superiores às normais) a qualquer recurso deles afeta diretamente o preço de mercado, mas
ambiental natural do qual dependa a vida ou a onde, não obstante, existe um número de ven-
qualidade de vida. O ar, a água e o solo são os dedores tal que nenhum deles pode medir efe-
recursos naturais mais afetados pela poluição. tivamente o efeito de seu preço ou de suas de-
Apesar de os esgotos e lixos serem uma forma cisões sobre os níveis de produção ou sobre as
de poluição mais evidente, outras formas que decisões de seus competidores.
envolvem substâncias potencialmente tóxicas, PONTE. Na linguagem do mercado de capitais,
como alguns resíduos industriais, inseticidas e ponte é o corretor de ações que serve de inter-
herbicidas utilizados na agricultura, constituem mediário entre comprador e vendedor.Veja tam-
um perigo mais insidioso: podem entrar na ca- bém Empréstimo-Ponte.
deia alimentar, afetando o metabolismo orgâni-
co de animais ou pessoas distantes das zonas PONTES DE KONIGSBERG. No início do sé-
poluídas. Os elementos poluidores podem ser culo XIX existiam sete pontes na cidade de Ko-
naturais ou criados pelo homem. Entre os na- nigsberg (atual Kaliningrado). Elas cruzavam as
turais, o pólen, a poeira levantada por ventos e diversas bifurcações do rio Pregel (Pregolya)
mesmo resíduos de erupções vulcânicas contri- como mostrado no diagrama abaixo. O proble-
buem para poluir a atmosfera. A maior parte ma colocado era o seguinte: seria possível, a par-
dos poluentes criados pelo homem compõe-se tir de qualquer ponto, atravessar cada ponte so-
de resíduos de combustão: fumaça (da queima mente uma vez e voltar ao ponto de partida?
de carvão, madeira, petróleo e seus derivados O problema foi tratado por Leonhard Euler, que
em fornos industriais ou domésticos), monóxido o colocou de forma mais geral e publicou o que
481 PONTO QUATRO

talvez possa ter sido o primeiro trabalho sobre 100 Curva de vendas
a questão da teoria dos grafos. No caso em ques- 90 (produção)
tão, a resposta é não, pois, como Euler demons- 80

Milhões de reais
trou, a resposta só é positiva quando o número 70
lucros
de vértices for par. 60
5,2
Break-even point Curva de custos totais
50
(fixos + variáveis)
40
perdas
30
Custos fixos
20

10

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000

Produção

PONTO DE ESTRANGULAMENTO. Qualquer


obstáculo que diminua, freie ou mesmo impeça
o crescimento, até os níveis desejados, do fluxo
de produção. Um ponto de estrangulamento ób-
vio ocorre na agricultura, em que uma demanda
mais elevada de produtos agrícolas só encontra
resposta ou maior oferta depois de preparada
a terra, plantada e colhida a safra (conforme o
cultivo, esse processo pode durar vários anos).
Na indústria, o processo é mais rápido, pois se
pode apelar para vários recursos, como alocação
de mão-de-obra extraordinária (se o ponto de
estrangulamento for esse), uso de matérias-pri-
mas alternativas ou mesmo elaboração de pro-
dutos substitutos. Os pontos de estrangulamen-
PONTO. Unidade utilizada nos pregões das to costumam ocorrer nos momentos de expan-
Bolsas de Valores para exprimir as variações dos são acelerada de demanda. Quando esse fenô-
preços alcançados por uma carteira de ações. meno ocorre em situações econômicas normais,
pode até ser previsto por meio de instrumentos
PONTO CRÍTICO. Expressão do comércio in- econométricos. Quando ocorre em tempos de
ternacional que designa o ponto em que ocorre guerra, por exemplo, é fundamental uma res-
a transferência de responsabilidade entre ven- posta rápida; as dificuldades são então contor-
dedor e comprador por uma mercadoria trans- nadas com direcionamento da produção, con-
portada. Veja também Incoterms. troles e outros mecanismos.

PONTO DE CORTE. Momento em que acaba PONTO DE SELA. Num jogo de estratégia, é
uma etapa do ciclo de trabalho e outra tem iní- o ganho mais baixo da sua linha e mais elevado
cio. de sua coluna. Tal ganho, conhecido como valor
do jogo, identifica este como estritamente de-
PONTO DE EQUILÍBRIO (Break-even Point). terminado. Consiste num jogo de estratégia
Ponto que define o volume exato de vendas pura, isto é, aquele em que um jogador tem uma
(produção) em que uma empresa nem ganha jogada ótima a realizar que não depende do co-
nem perde dinheiro: acima desse ponto, a em- nhecimento prévio do jogo do opositor. Veja
também Jogos de Estratégia.
presa começa a apresentar lucros; abaixo, sofre
perdas. A análise do break-even point é utilizada PONTO DESIGNADO. Expressão do comér-
para estimar os lucros ou perdas aproximados cio internacional que significa o momento em
que ocorrerão nos vários níveis de produção. que um produto é entregue em custódia a um
Para desenvolver essa análise, cada despesa é transportador. Veja também Incoterms; Ponto
classificada como fixa (constante, qualquer que Crítico.
seja o nível de produção) ou variável (aumenta
PONTO OURO. Veja Gold-Points.
ou diminui conforme a produção). Acima do
nível de produção de 500 ou de 52 milhões de PONTO QUATRO, Programa do. Plano norte-
reais de vendas, a empresa apresenta lucros; americano de ajuda técnica, educacional e sani-
abaixo desse ponto sofre perdas. tária aos países subdesenvolvidos. Proposto pelo
PONTOS 482

presidente Harry Truman, era o quarto ponto canismo de pagar os encargos do estoque da
de seu discurso de posse, em janeiro de 1949, e dívida externa aumentando este estoque com
visava ao incremento dos investimentos priva- endividamento adicional. No momento em que
dos dos Estados Unidos no exterior. Foi lançado os credores internacionais, temerosos dos even-
em 1950, fundindo-se depois com outros pro- tuais efeitos em cadeia da moratória mexicana
gramas norte-americanos. (1982), reduziram seus empréstimos para a con-
tinuação da rolagem da dívida externa brasilei-
PONTOS. Nomenclatura empregada pelos clas- ra, o sistema entrou em crise e somente em 1994
sificadores de café para indicar a diferença entre estabeleceu-se um novo acordo para o pagamen-
os tipos (ou grados) de café no Brasil. Cinqüenta to de nossa dívida externa. Veja também Calote;
pontos compõem um grado inteiro. Assim, por Efeito Ponzi; Moratória; Plano Brady.
exemplo, um café tipo 3 é 50 pontos mais ele-
vado do que o café tipo 4. O termo é utilizado POOL. Reunião temporária de duas ou mais em-
também pelos operadores na Bolsa de café para presas com fins especulativos. É justamente o
indicar flutuações nos preços. Cem pontos cons- caráter de manipulação de preços que diferencia
tituem 1 centavo de dólar norte-americano. o pool do consórcio, este regulamentado normal-
mente. O pool forma estoques de ações ou mer-
PONZI GAMES. O termo tem dois significados cadorias comercializadas em Bolsas (cereais,
correlacionados. A palavra “Ponzi” é o sobre- café, açúcar etc.), procura forçar a elevação de
nome de um estelionatário (escroque) norte- preços e, então, vende com lucros elevados.
americano (Charles Ponzi) que desenvolveu um
tipo de golpe que prometia aos investidores do- POOL INTERNACIONAL DO OURO. Orga-
brar o capital investido em noventa dias, tirando nização criada em 1961, em Londres, pelos ban-
proveito das oportunidades de arbitragem no cos centrais que operavam no mercado londrino
mercado internacional de títulos (cupons) pos- do metal. Os países participantes eram Estados
tais. Ponzi foi preso em 1920, passou três anos Unidos, Bélgica, Inglaterra, Alemanha Ociden-
e meio na prisão e sua empresa foi declarada tal, Itália, Holanda e Suíça. Esses países se pro-
insolvente em 1931. Charles Ponzi morreu em punham a criar mecanismos de estabilização da
1949. Do ponto de vista econômico, o esquema cotação do ouro. O Pool Internacional do Ouro
adotado por Ponzi, ou um Ponzi game, refere-se teve importante papel em 1971, quando o dólar
a uma situação na qual um devedor executa uma deixou de ser convertido em ouro. Veja também
rolagem perpétua de sua dívida, cobrindo os Ouro.
juros e o principal de sua dívida passada com
mais dívida no presente. Ou melhor, os encargos POPULAÇÃO. Conjunto de indivíduos da mes-
da dívida existente são pagos com a ampliação ma espécie, localizado em determinado espaço
da própria dívida. Num esquema do tipo Ponzi, e tempo. Tal denominação é empregada para
devemos destacar, em primeiro lugar, que o en- grupos humanos, animais e vegetais, mas, do
dividamento não tem como garantia ativos reais, ponto de vista demográfico, estuda-se apenas a
mas simplesmente dívida futura (ou capacidade população humana. O homo sapiens habita a Ter-
de endividamento futuro), e, em segundo, que ra há cerca de 50 mil anos. Calcula-se que na
o mecanismo torna-se possível desde que o fluxo época de Cristo a população mundial era de cer-
de transações financeiras no mercado tenha sem- ca de 300 milhões de pessoas; em 1650, chegava
pre um valor presente positivo para o devedor, a 545 milhões, passando para 1,068 bilhão em
isto é, que o valor do empréstimo inicial dos 1900 e atingindo 4 bilhões em 1976. O incremen-
credores ao devedor não seja suplantado em va- to populacional dos dois últimos séculos está
lor presente pelos pagamentos deste último aos ligado à invenção de medicamentos, como as
primeiros. No Brasil, durante os anos 50 esse vacinas e os antibióticos, e à aplicação de me-
golpe foi aplicado com a seguinte estruturação: didas sanitárias e de saúde pública em larga es-
um cidadão de nome Felipe (daí o nome de Fe- cala. Um possível superpovoamento da Terra,
lipeta para as promissórias assinadas por ele acompanhado da escassez de recursos e suas
como sinônimos de títulos micados, isto é, sem conseqüências, tem alarmado certos especialis-
valor) adquiria automóveis a prazo e vendia à tas, desde Malthus até os neomalthusianos de
vista com grande desconto; em determinado nossa época. Isso porque no século atual a po-
momento, tão mais próximo quanto maior fosse pulação mundial tem chegado ao dobro a cada
o desconto dado e menor o número de “clien- 35 anos. Atualmente, contudo, observa-se uma
tes”, ele não seria capaz de pagar as prestações tendência ao declínio na taxa de aumento po-
com o dinheiro arrecadado pelas vendas à vista, pulacional anual: ela passou de 1,9% em 1970
e teria de declarar-se insolvente. Durante os anos para 1,64% em 1975. O crescimento populacional
80, o endividamento externo brasileiro também é diferente para cada país ou região, tendendo
teve uma trajetória parecida com um Ponzi game, a ser elevado nas regiões mais atrasadas. No
na medida em que se tentou perpetuar o me- entanto, sempre que há uma melhoria nas con-
483 PORTA-FÓLIO

dições de vida, observa-se um declínio nas taxas (Getúlio). Mas sua base de apoio típica são as
de crescimento demográfico, e nos países mais camadas populares urbanas de origem rural
desenvolvidos as taxas tendem a zero. A distri- mais necessitadas e desorganizadas politica-
buição demográfica também é muito variável: mente. O populismo latino-americano tem apre-
metade da população habita apenas 5% da su- sentado características nacionalistas, particular-
perfície do planeta. O termo também aparece mente em relação aos Estados Unidos, e acen-
como conceito estatístico, significando “Uni- tuado o papel do Estado como elemento capaz
verso”. Veja também Amostra; Política Popu- de assegurar a independência nacional, princi-
lacional. palmente como instrumento promotor do de-
senvolvimento econômico. Essa ação do Estado
POPULAÇÃO PRESENTE. É aquela constituí-
se faz presente no plano econômico, no qual ele
da pelo total de pessoas que possuem domicílio
atua como principal investidor e entidade polí-
habitual ou legal dentro das divisas de deter-
tica capaz de assegurar o desenvolvimento de
minado território e que se encontram nele no
um capitalismo nacional e autônomo, livre da
momento em que se realiza um recenseamento.
ingerência externa.
POPULACIONAL, Declínio. Redução da po-
pulação em tamanho. Além da emigração em PORCENTAGEM. Termo que designa a quan-
massa, o declínio populacional ocorre somente tidade de centésimos do valor de uma grandeza.
se a taxa de natalidade cair e se mantiver abaixo Assim, por exemplo, se num mês de trinta dias,
da taxa de mortalidade. Em decorrência, a po- quinze são dias úteis, podemos dizer que a por-
pulação torna-se cada vez mais velha, sobrecar- centagem de dias úteis nesse mês é igual à me-
regando a porção economicamente ativa com tade do mês ou, o que significa o mesmo, igual
custos sociais sempre mais elevados. Ao mesmo a 50%, na medida em que 15 está para 30 assim
tempo, um mercado em diminuição e uma força como 50 está para 100. O símbolo % significa
de trabalho minguante impedem o desenvolvi- por cento, e em vez de anotarmos 15/30, colo-
mento da economia de larga escala, gerando camos 50% ou cinqüenta por cento. Esta é a me-
problemas industriais. Como conseqüência, isso dida de proporcionalidade mais utilizada para
pode provocar emigração de setores jovens da exprimir grandezas em vários campos da ativi-
população, à procura de mercado de trabalho dade humana, especialmente em economia, ad-
mais ativo, ampliando ainda mais as implicações ministração e finanças. No entanto, em certos
do declínio populacional. casos, esta medida de proporcionalidade não é
adequada: por exemplo, no caso dos índices de
POPULISMO. Movimento ou forma de atuação mortalidade, é mais apropriado utilizar a taxa
política característico da África, Ásia e América milesimal, em que os resultados aparecem como
Latina, em que se enfatiza a relação direta entre milésimos de uma grandeza. Assim, por exem-
a cúpula do Estado e as massas populares, me- plo, se em determinado ano morrem 25 mil pes-
diada pelo desempenho político de um líder ca- soas numa população de 25 milhões de habi-
rismático. Apresenta em geral uma ideologia di- tantes, teria morrido um habitante em cada mil.
fusa, sem espírito de classe manifesto. Sua va- Se expressássemos esta relação em porcentagem,
lorização popular pode ser espontânea, ou um teríamos 0,1%, sendo mais prático fazê-lo na
recurso manipulado por ideologias de direita ou taxa milesimal, ou 1 por mil, utilizando o sím-
de esquerda. Pelo destaque dado à questão da bolo 1‰. Veja também Regra de Três.
vontade popular e ao caráter plebiscitário esta-
belecido entre o governo carismático e o povo, PORPHYRY. Termo utilizado no mercado fi-
também se detectam características populistas nanceiro para designar empresas de exploração
no governo de Luís Bonaparte e mesmo em De de cobre que possuem minas de baixos teores
Gaulle. O termo foi aplicado primeiro aos na- do metal. São os produtores cujos custos são os
rodniki (populistas), movimento anticzarista de mais elevados, e esse fator deve ser levado em
intelectuais russos que buscava base no campo; conta na transação com as ações das empresas
e ao movimento político de base agrária que produtoras de cobre que assim se classificam.
ocorreu no sul e no oeste dos Estados Unidos
em fins do século XIX, contra o domínio dos PORTA-FÓLIO (Carteira de Títulos). Conjunto
capitalistas do leste do país. Na América Latina, de ativos financeiros (títulos, ações, debêntures
o populismo se desenvolveu sobretudo a partir etc.) pertencentes a uma empresa, classificados
de 1930, com a ascensão de Getúlio Vargas ao por prazo de maturação, devedor, taxas de juros,
poder no Brasil e posteriormente de Perón, na de remuneração esperada etc. Embora o termo
Argentina. Na liderança do populismo latino- esteja associado a haveres financeiros, os have-
americano há políticos provenientes de camadas res reais também podem ser incluídos nessa ca-
médias urbanas, das Forças Armadas (Perón) e tegoria. O mesmo que carteira, sendo a carteira
em alguns casos da própria aristocracia rural de títulos aquela formada por títulos, debêntures
PORTA-FÓLIO BALANCE 484

etc., e a carteira de ações aquela constituída por tuárias desenvolvidas por várias empresas lo-
ações adquiridas em Bolsas de Valores. cais. Em caráter transitório, tem ainda sob sua
responsabilidade o sistema de vias navegáveis
PORTA-FÓLIO BALANCE (Abordagem). Abor- interiores.
dagem sobre a composição e equilíbrio das car-
teiras (porta-fólios) dos investidores originada PORTUGUÊS. Moeda cunhada em Portugal,
na Teoria Geral de Keynes e liderada pelo prof. que circulava também no Brasil durante o pe-
James Tobin, de Yale. O argumento central dessa ríodo colonial até 1694. Cunhada em ouro de
abordagem é que, embora os portadores de car- 22 quilates, equivalia a 4000,00 réis. Veja tam-
teiras busquem diversificar seus ativos financei- bém Câmbio Português.
ros, existem diferenças nos tipos de diversifica-
ção realizados e pelo menos uma parte dos in- PÓS-FIXADA (Juros). Veja Pré-fixada.
vestidores pode mudar suas posições se os di-
ferenciais de rentabilidade entre os ativos pos- POSIÇÃO ESTATÍSTICA. Expressão utilizada
suídos (e, portanto, preferidos) e os ainda não no Brasil para designar a relação existente entre
possuídos (e, portanto, ainda não preferidos) au- produção e consumo de café. A posição estatís-
mentarem significativamente. Veja também tica é favorável para os países produtores quan-
Keynes, John Maynard; Tobin, James. do se consegue equilibrar consumo e produção
ou quando o primeiro é maior do que esta úl-
PORTA-FÓLIO LENDER. Emprestador, geral-
tima.
mente com base em hipotecas, que mantém tí-
tulos de dívida em porta-fólio (carteira) até o POSITIVE COVENANT. Expressão em inglês
vencimento, ou até que a dívida seja paga pelo que significa, num contrato de endividamento,
devedor, e que não vende tais títulos de dívida a ação ou ações que a empresa (devedora) de-
no mercado secundário. verá continuar desenvolvendo necessariamente,
PORTA-FÓLIO SELECTION. Expressão em sem interrupção.
inglês que significa a utilização de técnicas ma-
POSITIVISMO (Escola Econômica Positiva).
temáticas e da teoria da decisão e da análise de
Mais que uma escola, foi basicamente uma ten-
riscos para selecionar novas áreas de negócios
dência no pensamento econômico, em reação ao
ou aquisição de novas empresas.
socialismo abstrato da escola clássica. Baseou-se
PORTAGEM. Tributo arrecadado nas barreiras no ideário e no método positivista de Auguste
e pontos de fiscalização existentes nas saídas das Comte e na utilização de informações estatísticas
cidades ou entradas em pontes — interestaduais para enunciar as leis que regem as relações do
ou internacionais —, tendo semelhança com o processo econômico, e fazer da economia uma
pedágio. Veja também Pedágio. ciência experimental. Os representantes mais
significativos dessa tendência foram o sociólogo
PORTAS ABERTAS. Veja Política de Portas e economista francês François Simiand (1873-
Abertas. 1935), que procurou provar a validade dos mé-
todos positivos das ciências naturais e integrar
PORTO DE TRATADO. Denominação dos por-
a economia numa ciência mais vasta, que seria
tos abertos, mediante tratados, ao comércio ex-
a sociologia; e o norte-americano W.C. Mitchell
terior e cujos residentes estrangeiros gozam de
(1874-1948), teórico dos ciclos econômicos, que
extraterritorialidade. Eram comuns na China
adotou um método positivo aliado a dados es-
desde o fim da Guerra do Ópio, em 1842, até a
tatísticos para prever as crises econômicas. Veja
Segunda Guerra Mundial, e no Japão entre 1854
também Comte, Auguste.
e 1899.
PORTO LIVRE. Situação caracterizada pela abo- POSSE. O poder material que uma pessoa tem
lição de taxas alfandegárias e impostos para as sobre determinado bem, podendo utilizá-lo eco-
mercadorias que transitem em certos portos ou nomicamente. É, portanto, uma relação de fato
aeroportos. Também chamado porto franco ou entre a pessoa e a coisa, e nisso ela se distingue
zona franca. da propriedade, que é uma relação de direito.
A posse, no entanto, pode ser garantida judi-
PORTOBRÁS — Empresa de Portos do Brasil cialmente. A transformação da posse de fato
S.A. Holding do sistema portuário nacional, cria- num direito de propriedade ocorre, por exem-
da em 1976. Suas atividades, até então exercidas plo, por meio do instrumento jurídico do usuca-
pelo Departamento Nacional de Portos e Vias pião, quando uma pessoa, mesmo sem ter ne-
Navegáveis, abrangem a construção, ampliação, nhum título legítimo sobre uma propriedade ter-
modernização e administração dos portos. Exer- ritorial, dela faz uso e gozo contínuos por um
ce também o controle de todas as atividades por- prazo estipulado em lei. Veja também Usucapião.
485 POUSIO

POSSEIRO. Ocupante de uma propriedade que vação dos preços. Os recursos não empregados
não tem sobre ela nenhum direito nominal. No no consumo são carreados para o financiamento
Brasil, o tipo mais comum de posseiro se en- das obras governamentais. A poupança forçada
contra no campo, ocupando terras devolutas e era uma política econômica muito empregada
delas fazendo uso para seu sustento. A região pelos países em guerra. Atualmente, países com
Amazônica, sobretudo na área do Tocantins- grandes dívidas públicas internas passaram a
Araguaia, é a que mais concentra a ação de pos- empregar esse artifício, pois podem aumentar
seiros, pela abundância de terras pertencentes a receita governamental sem ser obrigados a re-
ao Estado. Tornou-se, por isso, uma região de correr a aumentos de impostos, de conseqüên-
aguda tensão social, em decorrência da luta pela cias políticas negativas. No entanto, as pres-
posse de terra entre os camponeses posseiros, sões inflacionárias da poupança forçada tam-
de um lado, e os agentes de interesses econô- bém acarretam problemas, desde custos sociais
micos mais poderosos, de outro. Veja também elevados — as camadas mais pobres da popu-
Grilagem. lação são violentamente atingidas — até a eva-
são de capitais estrangeiros. Fala-se igualmente
POSTUM. Um tipo de café artificial difundido em poupança forçada quando a carga fiscal é
nos Estados Unidos e composto pela mistura tão elevada que permite superávit nas contas
de cereais e leguminosas torradas e moídas públicas. Dessa forma, boa parte do dinheiro
como a chicória, o trigo, o centeio e a aveia. Este em circulação é retirada para financiar obras
tipo de produto fazia parte das refeições reali- públicas.
zadas pelas operárias durante os experimentos
de Hawthorne nos Estados Unidos, durante os POUPANÇA. Em economia, parte da renda na-
anos 30. cional ou individual que não é utilizada em des-
pesas, sendo guardada e aplicada depois de de-
POTÊNCIA. Em matemática, define-se a potên- duzidos os impostos. Há vários fatores que es-
cia (a elevado a n) de base a com expoente n timulam a poupança, destacando-se a ocorrência
como o produto de n fatores iguais a a, sendo de taxas de juros elevadas e de expectativas ne-
a um número real qualquer e n um número in- gativas quanto a rendimentos futuros. Um dos
teiro e positivo. Assim, 3 elevado a 4 = 3 x 3 x maiores desestímulos à poupança é a inflação:
3 x 3 = 81, sendo a o número real 3, e n igual por isso, nos países em que a inflação é elevada,
a 4 fatores: nesse caso, 3 corresponde à base, 4 a poupança costuma ser direcionada para for-
é o expoente e 81 é a potência. As propriedades mas de aplicação que garantam rendimentos su-
mais importantes das potências são as seguintes: ficientes para cobrir a desvalorização do dinhei-
1) o produto de potências da mesma base é igual ro. No Brasil, esse obstáculo foi contornado pela
à soma dos expoentes conservando-se a mesma criação de um reajuste mensal calculado pelas
base; por exemplo: 34 x 35 x 36 = 3(4+5+6) = 315; Taxas Referenciais (TR). Além da poupança vo-
2) na divisão de potências da mesma base, man- luntária comum, há formas de poupança com-
tém-se a mesma base e subtraem-se os expoen- pulsória, recolhidas pelo governo: é o caso, no
tes: 34 / 32 = 32 = 9; 3) a potência de uma potência Brasil, dos recolhimentos efetuados para o Fun-
é obtida conservando-se a mesma base e mul- do de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
tiplicando-se os expoentes: assim, 34 elevado a Em macroeconomia, considera-se que uma eco-
5 = (34)5 = 3(4x5) = 320; 4) a potência de expoente nomia está em “equilíbrio” se o total de inves-
negativo é igual a uma fração cujo numerador timentos realizados no país é igual ao total de
é a unidade e o denominador é a mesma po- poupanças. Quando, entretanto, a poupança su-
tência, mas com o expoente positivo; assim: 3-3 pera os investimentos, surge uma tendência re-
= 1 / 33 = 1 / 27. Veja também Expoente. cessiva, com declínio da produção, da receita e
do nível de emprego. Quando os investimentos
POUPANÇA FORÇADA. Política econômica que excedem a poupança, surge uma tendência in-
provoca redução forçada de consumo por meio flacionária, com aumento de preços. Veja tam-
de pressões inflacionárias para permitir uma li- bém Consumo; Investimento.
beração de recursos ao governo. Em geral, ao
desenvolver grandes projetos, o governo absor- POUSIO. Técnica de cultivo correspondente ao
ve grande quantidade de capital, mão-de-obra período medieval, quando o predominante era
e matérias-primas, reduzindo a disponibilidade a rotação de terras e não a rotação de cultivos.
destes para o setor privado. Em conseqüência, O pousio implicava que determinada quantida-
a oferta de bens e serviços diminui, mas a de- de de terras destinadas às lavouras numa co-
manda continua igual. Os preços sobem até que munidade (entre 25% e 35%) deviam permane-
oferta e procura se estabilizem em um patamar cer em descanso, para que sua fertilidade pu-
de preços mais elevados. Isso provoca uma re- desse ser recuperada naturalmente. Com o des-
tração forçada do consumo, pois as pessoas não cobrimento da técnica da rotação de cultivos, a
podem consumir as mesmas coisas devido à ele- partir do século XVII, essa restrição foi elimina-
PP 486

da e a produção e a produtividade do trabalho assessor de finanças e da agricultura do governo


agrícola puderam aumentar na Europa, acom- (1933-1935), organizador e primeiro diretor-ge-
panhando a maior demanda de alimentos e ma- ral do Banco Central da Argentina (1935-1943).
térias-primas que caracterizou a Revolução In- Paralelamente, aproximou-se de outros econo-
dustrial. mistas e cientistas sociais latino-americanos na
primeira tentativa de formular uma teoria de
PP. Sigla que identificava as ações preferenciais desenvolvimento socioeconômico que partisse
ao portador. O proprietário não tinha direito a da realidade continental e fornecesse os meios
voto, mas preferência no recebimento de divi- para superá-la, sem recorrer aos tradicionais mo-
dendos e no reembolso de capital. Sua transfe- delos teóricos importados. Esse esforço conjunto
rência era feita por simples entrega do certifi- conduziu à criação da Cepal, organismo ligado
cado correspondente. A partir do Plano Collor, à ONU, e a suas propostas para dinamizar uma
deixaram de existir, dando lugar apenas a ações economia até então voltada à exportação de pro-
preferenciais nominativas. dutos primários. Prebisch e seus companheiros
PRADO JÚNIOR, Caio da Silva (1907-1990). defenderam a necessidade de melhor distribui-
Historiador da economia brasileira, pioneiro na ção de renda, da reforma agrária, do planeja-
aplicação do marxismo à análise da realidade mento econômico, administrativo, educacional
nacional. Escreveu também obras teóricas sobre etc. Um dos principais pontos teóricos da Cepal
economia política e filosofia. Participou da fun- foi a elaboração do chamado modelo de desen-
dação do Partido Democrático de São Paulo volvimento dual. Segundo tal modelo, as eco-
(1926) e da criação da Aliança Liberal (1929), foi nomias latino-americanas seriam constituídas
presidente da seção paulista da Aliança Nacio- por dois setores: um atrasado, arcaico, pré-ca-
nal Liberal e deputado estadual em São Paulo pitalista; outro moderno, industrializado, avan-
na legenda do Partido Comunista (1947). Du- çado, integrado à economia internacional e ca-
rante vários anos editou a Revista Brasiliense, vol- pitalista. Se por um lado o setor atrasado poderia
tada para os estudos de economia, sociologia, ser fonte de mão-de-obra barata para o setor
filosofia e política. Publicou: Evolução Política do moderno em expansão, por outro a existência
Brasil (1933), Formação do Brasil Contemporâneo da dualidade retardaria o aumento da produti-
(1942), História Econômica do Brasil (1943), Dialé- vidade na economia como um todo e a oferta
tica do Conhecimento (1952), Notas Introdutórias à agrícola própria do setor tradicional seria ine-
Lógica Dialética (1959), A Revolução Brasileira lástica, não correspondendo ao aumento da de-
(1966), Estruturalismo e Marxismo (1971) e História manda nos centros urbanos, criando sérios pon-
e Desenvolvimento (1972). tos de estrangulamento e provocando inflação,
pela elevação de preços de alimentos e maté-
PRAZO DE MATURAÇÃO. Período existente rias-primas. A solução seria uma reforma agrá-
entre as primeiras despesas com os investimen- ria que transformasse latifúndios e minifúndios
tos necessários para a produção de determinado em empresas agrícolas, aumentando a oferta e
bem ou serviço (inclusive os custos dos estudos reduzindo os preços nas cidades. Desse modo,
ou pesquisas iniciais) e as primeiras receitas de- seria possível manter os níveis de emprego e
correntes de sua venda. Os prazos de maturação dinamizar o setor moderno da economia, im-
admitem grandes diferenças: por exemplo, uma pulsionando o processo de industrialização. En-
usina hidroelétrica tem um prazo longo de ma- tretanto, essa orientação teórica não teve o êxito
turação — mais de cinco anos —, enquanto a esperado e passou a ser criticada por tentar re-
produção de milho tem um prazo de maturação petir o modelo de desenvolvimento seguido no
inferior a um ano, isto é, é de curto prazo. século XIX pelos países já industrializados. Afas-
PRAZO DE SUBSCRIÇÃO. Veja Subscrição. tando-se da Cepal em 1962, Prebisch dirigiu o
Instituto Latino-Americano de Planejamento
PREBISCH, Raúl (1901-1986). Economista ar- Econômico e Social e foi secretário-geral da Con-
gentino, secretário executivo da Comissão Eco- ferência de Genebra, promovida em 1964 pela
nômica para a América Latina (Cepal) desde sua ONU, para assuntos de comércio e desenvolvi-
fundação, em 1948, até 1962. Deu decisiva con- mento. Em 1965, essa conferência foi transfor-
tribuição à teoria sobre o comércio entre países mada em órgão permanente, a Unctad, por ele
subdesenvolvidos e industrializados, destacan- dirigida até 1968. Prebisch destacou-se na aná-
do a tendência à deterioração nos termos de tro- lise das relações de dominação entre as econo-
ca, em prejuízo dos primeiros. Prebisch formou- mias centrais, desenvolvidas e industrializadas,
se pela Universidade de Buenos Aires, da qual e a dos países periféricos exportadores de ma-
é catedrático aposentado de economia política. térias-primas. Sua tese central (também deno-
Foi diretor do Departamento de Estatística do minada Tese de Prebisch) é que a incorporação
Centro de Pesquisas Econômicas e do Banco da do progresso técnico nos países centrais pode
Argentina, subsecretário da Fazenda (1930-1932), promover aumento da produtividade e melhoria
487 PREÇO

dos salários e dos níveis de vida de seus traba- tembro de 1999. As taxas de juros são fixas e
lhadores, mas não necessariamente se traduz em equivalentes a 6%. Veja também Bradies; Plano
preços mais baixos dos produtos exportados Brady.
(manufaturados) para países subdesenvolvidos.
A incorporação do progresso técnico nos países PRECATÓRIOS. Precatar significa, basicamen-
subdesenvolvidos, ao contrário, contribuiria te, determinar à autoridade pública que se po-
para a redução de preços dos produtos produ- nha de sobreaviso (se prepare) para execução
zidos, mas não se traduziria num aumento de de ordem judicial. Na verdade, é um instituto
salários e/ou do nível de vida de seus traba- do Direito Processual Civil, que tem suas origens
lhadores. Essa queda de preços dos produtos nas Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipi-
exportados por esses países em confronto com nas por volta de 1500 e constitui em sua essência
a elevação de preços dos produtos por eles im- pedido do poder judiciário dirigido ao poder
portados produziria uma deterioração nas rela- executivo para que este mande pagar importân-
ções de troca, e dessa maneira os benefícios da cia resultante de ação judicial perdida pelo pró-
prio Estado e transitada em julgado. Este insti-
incorporação do progresso técnico seriam trans-
tuto cobrou especial importância no Brasil a par-
feridos, via preços relativos, para os países in-
tir de 1988, quando a nova Constituição, em suas
dustrializados (ricos). Além disso, os países sub-
Disposições Transitórias, art. 33, autorizou que
desenvolvidos teriam problemas crônicos em
os débitos provenientes de precatórios, tanto do
suas balanças comerciais (pela relação de trocas
governo federal como do estadual e do muni-
desfavorável) e, conseqüentemente, em seus ba-
cipal, poderiam ser pagos em oito parcelas
lanços de pagamento. Os críticos dessa tese têm
iguais, anuais e sucessivas a partir de julho de
enfatizado que o comportamento da relação de
1989. Os títulos da dívida pública emitidos para
trocas, dependendo do período observado, não tal fim não seriam computados nos limites de
necessariamente corresponde ao afirmado por endividamento de cada uma das instâncias go-
Prebisch. Até o final de sua vida, Prebisch foi vernamentais. Embora essa autorização fosse li-
um crítico veemente da escola monetarista, que, mitada ao montante dos precatórios sentencia-
segundo ele, só poderia ter suas propostas apli- dos, tanto Estados como municípios infringiram
cadas em regime de força. Entre outras obras, este dispositivo e utilizaram os recursos da ven-
publicou: Introdução a Keynes (1947); Uma Nova da de títulos para outras finalidades, especial-
Política Comercial para o Desenvolvimento (1964); mente entre 1994 e 1996.
Transformação e Desenvolvimento (1965); Interpre-
tação do Processo de Desenvolvimento Latino-Ame- PRECAUÇÃO (Motivo). Conceito desenvolvi-
ricano em 1949 (1973); e Capitalismo Periférico, Cri- do por Keynes e que se refere a um dos motivos
se e Transformação (1981). Veja também Cepal; que as pessoas têm de guardar dinheiro, isto é,
Relações de Troca; Reforma Agrária. como precaução diante de despesas imprevistas
e inadiáveis. Na ausência dessa reserva na forma
PRE-BRADY BONDS. Títulos correspondentes
líquida, e diante da ocorrência de um imprevis-
à renegociação da dívida externa brasileira e an-
to, as pessoas teriam de vender ativos de pouca
teriores aos acordos estabelecidos dentro das
liquidez, que teriam elevados custos de transa-
normas do Plano Brady. No caso brasileiro, exis-
ção e poderiam não estar disponíveis no mo-
tem duas modalidades: 1) os IDUs (Interest Due
mento necessário. Veja também Preferência pela
and Unpaid Bonds), isto é, juros vencidos de tí-
Liquidez.
tulos não pagos no valor aproximado de US$
7,2 bilhões, emitidos em janeiro de 1991, a ser PRECIFICAÇÃO. Ato de estabelecer, mediante
resgatados em quinze pagamentos semestrais a critérios variados, o preço (valor) pelo qual um
partir de janeiro de 1994 e com vencimento final título, ação etc. poderão ser comprados ou ven-
em janeiro de 2001. As taxas de juros (sobre vinte didos de tal forma a corresponder tão próximo
pagamentos semestrais) variam de 7,8125% para quanto possível ao valor que representam.
as duas primeiras prestações, 8,375% para as
duas seguintes, 8,75% para a quinta e a sexta, PRECLUSIVE BUYING. Expressão em inglês
e da sétima à vigésima de seis meses da libor + que significa a compra de bens ou serviços com
0,8125%. A amortização (com três anos de ca- o propósito específico de evitar seu uso por um
rência) teve início em 1994 e as três primeiras competidor. Em tempos de guerra, a expressão
correspondem a 1% do total, as três seguintes é utilizada para designar a compra que um país
a 2%, a sétima a 4%, as três seguintes a 8,5% e beligerante realiza de um país neutro para evitar
as cinco restantes a 12,3%. 2) Os Exit Bonds (bô- que seu inimigo ali se abasteça.
nus de saída) no valor aproximado de US$ 1
bilhão, com emissão em setembro de 1989 e ven- PREÇO. Em sentido amplo, o conceito expressa
cimento em setembro de 2013, com trinta paga- a relação de troca de um bem por outro. Em
mentos iguais e semestrais, começando em se- sentido mais usual e restrito, representa a pro-
PREÇO 488

porção de dinheiro que se dá em troca de de- do. Existem produtos cuja procura aumenta sen-
terminada mercadoria, constituindo, portanto, a sivelmente com a queda dos preços, enquanto
expressão monetária do valor de um bem ou outros conservam uma demanda inalterada,
serviço. No sistema econômico da livre-empre- mesmo com preços baixos. A essa reação variada
sa, os preços têm a função de aglutinar as de- em relação ao aumento ou diminuição dos pre-
cisões de milhões de indivíduos de interesses ços dá-se o nome de elasticidade-preço da procura.
muitas vezes competitivos, assegurando coerên- Por sua vez, a oferta de determinado bem é cons-
cia à economia como um todo. Considerando tituída pela quantidade dessa mercadoria que
as variações dos preços, os agentes econômicos os produtores estão em condições de oferecer
podem decidir pelos bens ou serviços que suas no mercado, a diferentes preços, em determina-
empresas devem produzir, sobre a quantidade do período de tempo. Quando os preços estão
desses bens etc. O comportamento dos consu- altos, maiores serão as quantidades oferecidas,
midores é também considerado nessas decisões: já que a possibilidade de obter maior lucro atua
os empresários sabem que esses pagam mais por como estímulo ao aumento da produção. Essa
bens que lhes tragam grande satisfação e menos reação, no entanto, varia de produto para pro-
por artigos pouco satisfatórios. Outro tipo de duto, dependendo da elasticidade-preço da ofer-
decisão influenciada pelos preços diz respeito à ta, ou seja, da sensibilidade da oferta em relação
distribuição dos recursos ou fatores entre os pro- aos preços. Num esquema de formação de pre-
dutores. Se o preço de determinado produto é ços no mercado, por meio do jogo da oferta e
elevado, os empresários obtêm bom lucro, po- da procura, o preço de equilíbrio manifesta-se
dem remunerar melhor os fatores de produção como aquele que compatibiliza a oferta e a pro-
que utilizam e atraem para seu empreendimento cura. Ou seja, ao preço de equilíbrio, a quanti-
fatores e recursos de outros setores. Além disso, dade de bens demandados pelos consumidores
os preços podem funcionar como freio ou estí- é a mesma quantidade de bens oferecida pelos
mulo ao consumo. Preços baixos agem no sen- produtores. Todos esses mecanismos de forma-
tido de estimular o consumo e preços altos, no ção dos preços ocorrem em regime de concor-
sentido de limitá-lo. Nos países capitalistas, os rência perfeita, o qual pressupõe a existência de
preços formam-se no mercado pelo jogo da ofer- grande número de produtores e consumidores.
ta e da procura. Existem, no entanto, fatores que Na situação oposta, de monopólio, um único
exercem uma influência indireta nos preços, pois produtor consegue controlar o suprimento de
atuam sobre a oferta ou a demanda de bens: é uma mercadoria e os compradores, em grande
o caso dos custos de produção. Se o preço obtido número, não conseguem influir no preço. Nesse
no mercado não cobrir os custos de produção, caso, o agente monopolista pode fixar um preço
os empresários certamente deixarão de produzir mais elevado para seu produto, obtendo gran-
esse bem. Assim fazendo, estarão diminuindo des lucros. No entanto, se o preço for muito ele-
a oferta desse produto no mercado e, conseqüen- vado, poderá atrair concorrentes ou provocar
temente, provocando a elevação de seu preço. uma retração da procura. Nesse caso, o mono-
A atuação dos órgãos governamentais sobre a polista só poderá aumentar a demanda de seu
fixação dos preços também é indireta. Normal- produto mediante diminuição do preço. Apesar
mente, contribuem para o aumento da oferta de dessa limitação parcial, os preços de monopólio
determinado bem por meio de importação, pro- sempre se situam muito acima dos preços de
vocando a baixa do preço. Ou, então, restringem competição. Na realidade econômica dos países
essa oferta mediante estocagem ou exportação, capitalistas, predomina a forma da concorrência
favorecendo a alta dos preços. Mas durante as imperfeita. Nos países socialistas, de economia
guerras e outros períodos de crise, o Estado in- planificada, os preços dependem das decisões
tervém diretamente: a distribuição dos bens es- governamentais. Várias são as teorias sobre a
cassos entre os consumidores deixa de ser feita natureza e origem dos preços e do valor, assim
de acordo com as regras econômicas, obedecen- como sobre as leis que regulam os preços das
do a outras determinações. É o caso, por exem- mercadorias e explicam a variação do seu nível
plo, dos cartões de racionamento. Considerando geral. Adam Smith desenvolveu a teoria do pre-
o mercado sob o ângulo da procura, pode-se ço natural e do preço de mercado. Karl Marx,
afirmar que as quantidades variam na ordem baseado na teoria do valor-trabalho, procurou
inversa à do preço: quanto mais baixo o preço, explicar a diferença entre o preço de produção
maior a procura e vice-versa. Com os preços al- e o valor da mercadoria, considerando o traba-
tos, a retração da procura pode manifestar-se lho socialmente necessário. Os economistas de
no chamado efeito de substituição, quando o tradição neoclássica interessaram-se mais pelos
consumidor substitui o produto caro por um su- mecanismos de variação relativa dos preços e
cedâneo mais barato. O efeito de substituição seu comportamento no mercado, considerados
representa uma diminuição da demanda, pelo elementos fundamentais no processo de aloca-
menos em relação aos produtos de preço eleva- ção de recursos no sistema capitalista. Surgiu
489 PREÇOS ADMINISTRADOS

daí a chamada “teoria dos preços”, que estuda merciantes numa época em que o comércio co-
a determinação do preço no mercado a partir meçava a se desenvolver.
da relação entre a oferta e a procura. Veja tam-
bém Controle de Preços; Liderança de Preço. PREÇO MÍNIMO. Também conhecido por pre-
ço de garantia, fixado pelo governo para os di-
PREÇO DE CUSTO. Compreende as despesas versos produtos agrícolas. Essa política tem di-
com materiais, mão-de-obra e gastos tributários versos objetivos: 1) dinamizar a agricultura e
para a fabricação de um produto ou execução garantir a normalidade do abastecimento; 2)
de um serviço. Não determina o preço da mer- aperfeiçoar a comercialização; 3) atenuar a os-
cadoria, que só é afetado pelo custo da produção cilação dos preços de mercado, manipulando os
quando esse fator influir na oferta do produto. estoques já formados; 4) orientar a atividade do
Para que uma firma consiga realizar os negócios agricultor a partir de dados sobre o mercado
do dia, antes que se firmem os preços de mer- nacional e internacional; 5) garantir o agricultor
cado, é necessário que antecipe os preços aos contra pressões baixistas; 6) fornecer ao agricul-
clientes. Para tanto, muitas empresas realizam tor, por meio de operações de financiamento
cálculos nos quais procuram estimar, num nível com prazo de seis a dez meses, condições de
razoável de produtividade, o custo total de uma esperar melhores preços; 7) neutralizar uma ex-
unidade de produção. Ao resultado obtido por cessiva transferência de renda da agricultura
essa estimativa dá-se o nome de “custo médio”. para outros setores devido a uma eventual que-
Esses custos médios, em dependência das esti- da de preços agrícolas, contribuindo, desse
mativas de mercado, podem ser acrescidos de modo, para o desenvolvimento da economia
5%, 10%, 30% ou mesmo 110%. Em épocas de global.
concorrência acentuada, as empresas podem fi- PREÇO NATURAL. Conceito desenvolvido por
xar preços abaixo dos “custos totais”; no entan- Adam Smith e David Ricardo para designar o
to, o preço nunca será fixado abaixo do preço preço de uma mercadoria que cobre seus custos
de custo. O preço de custo marginal implica que, de produção mais uma taxa corrente de lucro.
a esse preço, o valor da última unidade fornecida Para Ricardo, o preço natural seria aquele cor-
para o consumidor marginal é equivalente ao respondente ao valor de uma mercadoria e, por-
valor dos recursos aplicados para produzir tanto, livre dos “desvios acidentais e temporá-
aquela unidade. Isso significa que a sociedade rios do preço corrente”. O preço de mercado ou
está obtendo tanto quanto deseja daquele bem, corrente conteria essas oscilações e, portanto, po-
em termos do que lhe custa para produzi-lo. deria ser maior ou menor do que o preço natural,
embora a tendência fosse a convergência de am-
PREÇO DE DESISTÊNCIA. Veja Renda. bos.
PREÇO DE EXERCÍCIO. Preço pelo qual uma PREÇO SOMBRA. Veja Shadow Price.
opção é efetivamente exercida.
PREÇO TETO. Veja Cost Plus.
PREÇO DE GARANTIA. Veja Preço Mínimo.
PREÇOS, Controle de. Forma de regulamenta-
PREÇO DE PRODUÇÃO. Conceito desenvol- ção dos preços, que constitui o modo de inter-
vido por Marx, composto pelo preço de custo, venção mais direto e mais radical do poder pú-
isto é, por todo o capital constante mais o va- blico no mercado. Regulado, seja no interesse
riável empregado na produção de uma merca- do produtor ou no do consumidor, o controle
doria, acrescido da taxa média de lucro. Haven- dos preços visa a fixar um preço mínimo ou
do concorrência entre capitalistas, o preço de um preço máximo. No mercado de trabalho, em
produção tenderá a ser inferior ao valor da mer- geral, o controle dos preços manifesta-se com o
cadoria nos setores em que a composição orgâ- estabelecimento de um preço mínimo. No mer-
nica do capital for inferior à média; e superior cado de produtos, o Estado intervém freqüen-
ao valor em que essa composição orgânica for temente para fixar preços máximos.
superior à média social. Veja também Capital
Constante; Capital Variável; Composição Or- PREÇOS ADMINISTRADOS. São aqueles con-
gânica do Capital. trolados por órgãos governamentais e não pelas
forças do mercado. Para fixá-los, as autoridades
PREÇO JUSTO. Também denominado “justo podem recorrer a regras empíricas práticas
preço”, consistia numa concepção medieval de como, por exemplo, aumentar os preços em fun-
que deveria haver uma componente principal ção dos custos; também podem estabelecer acor-
de caráter moral nos preços pagos pelos diversos dos ou convênios, como se verifica no caso do
produtos, e não sua fixação ser determinada pe- preço da mão-de-obra, ou ainda utilizar cálculos
las forças de mercado, o que poderia significar teóricos conjeturais, relativos, por exemplo, aos
enormes abusos e maiores lucros para os co- custos futuros e à demanda futura. O conceito
PREÇOS RELATIVOS 490

de preços administrados pertence à teoria da in- tes ou imprevistos). O grande problema da pre-
flação do custo, na qual são os custos de pro- ferência pela liquidez ocorre em economias onde
dução mais elevados que provocam a alta dos a inflação é intensa e corrói o valor do papel-
preços. Essa teoria apresenta duas facetas bási- moeda: a liquidez não estará garantida se for
cas: 1) a capacidade da mão-de-obra de elevar mantida nessa forma. Assim, nas economias in-
seus salários, mesmo na ausência de uma de- flacionárias, a preferência pela liquidez assume
manda excedente de mão-de-obra; 2) a capaci- outras formas, como a manutenção de moeda
dade do empresariado de elevar os preços de estrangeira estável, metais preciosos amoedados
seus produtos, ainda que na ausência de exce- ou não, jóias, títulos a aplicações com cláusula
dentes de bens e serviços. A teoria preconiza de correção monetária e com prazos curtos de
a necessidade de preços administrados, tanto vencimento etc. A defesa contra a desvaloriza-
em relação à mão-de-obra quanto em relação ção na forma de aquisição de imóveis (terrenos
ao empresariado. urbanos ou rurais, e/ou moradias) apresenta o
grande defeito de reduzir consideravelmente a
PREÇOS RELATIVOS. Relação estabelecida en- liquidez do investidor. Veja também Keynes,
tre diversos pares de preços importantes de uma John Maynard; Quase-moeda.
economia com a finalidade de observar sua va-
riação no tempo. Por exemplo, os preços dos PRÉ-FIXADA (Juros). É um atributo de uma
produtos agrícolas comparados com os indus- aplicação financeira quando a taxa de juros a
triais, os preços das exportações comparados ser recebida é conhecida de antemão. Por exem-
com os das importações (relações de troca), os plo, se uma aplicação de R$ 10000,00 em um
salários com os preços da cesta básica de con- CDB for feita pelo prazo de trinta dias e a taxa
sumo do trabalhador etc. O resultado dessa com- de juros for 1,58% ao mês, o valor bruto do res-
paração é geralmente apresentado em números- gate no vencimento será igual a R$ 10158,00. Se
índices, tomando-se como referência um ano- houver incidência de impostos, por exemplo, de
base igual a 100. Assim, por exemplo, se os pre- 10% sobre o ganho, o valor líquido do resgate
ços dos produtos agrícolas aumentam de 100 será igual a R$ 10158,00 – R$ 15,80 = R$ 10142,20.
(ano-base) para 110 no ano seguinte, isto é, au- Nesta modalidade, o aplicador já sabe quanto
mentam 10%, e os preços dos produtos indus- receberá na data do vencimento. No caso de re-
triais de 100 para 105 no mesmo período, os muneração pós-fixada, o montante exato será co-
preços relativos entre a agricultura e a indústria nhecido apenas na data do vencimento ou no
aumentarão de 100 para 110 / 105 x 100 = 104,8, resgate do título. Vejamos um exemplo. Supo-
isto é, em termos reais, os preços agrícolas au- nhamos uma aplicação de R$ 10000,00 em um
mentarão 4,8% no período, se comparados com CDB pelo prazo de 120 dias à taxa de 18% ao
os preços industriais.Veja também Ano-base; ano, indexados à Taxa Referencial (TR). A va-
Número-índice; Relações de Troca. riação da TR somente será conhecida no venci-
mento, e imaginemos que a mesma seja igual a
PREEMPTY OFFER. Expressão em inglês utili- 6%. O capital inicial aplicado será corrigido, por-
zada no mercado editorial para designar a oferta tanto, em 6% ou R$ 10000,00 (1 + 0,06) = R$
feita por uma casa editorial a um autor ou a 10600,00. Com juros de 18% ao ano pelo período
seu representante para evitar que se faça um de 120 dias, o rendimento sobre o montante ini-
leilão dos direitos de publicação de uma obra. cial, corrigido pela TR, será igual a R$ 10600,00
Isto acontece geralmente quando uma editora x (1 + 0,18)120 360 – 1 = R$ 601,25; Juros + Correção
decide publicar uma obra e oferece, pelos direi- = 601,25 + 600,00 = 1201,25. Se incidir um im-
tos de publicação, uma quantia elevada, even- posto de 15% sobre o “ganho” final, teremos R$
tualmente até maior do que o detentor desses 180,19. O valor final do resgate será, portanto,
direitos esperaria obter no leilão. Uma caracte- igual a: R$ 10000,00 + R$ 1202,25 – R$ 180,19 =
rística importante da preempty offer é que o ofer- R$ 11021,06. O rendimento líquido será R$
tante estabelece um prazo para que sua oferta 1202,25 – R$ 180,19 = R$ 1021,06.
seja aceita ou rejeitada, prazo este que pode va-
riar, mas que não ultrapassa alguns dias. PREGÃO. Anúncio em voz alta que os corre-
tores fazem nas Bolsas de Valores dos preços e
PREFERÊNCIA PELA LIQUIDEZ. Conceito condições de compra e venda de ações. O termo
Keynesiano relacionado com a demanda global se aplica por extensão ao local da Bolsa de Va-
de dinheiro. Em lugar de consumir ou investir lores onde se realizam essas atividades e se con-
o dinheiro em aplicações de menor liquidez, as cretizam os negócios.
pessoas prefeririam manter seus valores na for-
ma mais líquida possível (em dinheiro) por três PRÉ-HISTÓRIA. Período da história da huma-
motivos: 1) a liquidez permite a realização ime- nidade que se inicia com o aparecimento do
diata de compras; 2) o motivo especulação; 3) homo habilis (há cerca de 3 milhões de anos) e
o motivo precaução (o enfrentamento de aciden- vai até aproximadamente 3500 a.C., com o sur-
491 PRÊMIO BALDRIDGE

gimento das principais civilizações orientais. ferramentas eram possuídas individualmente. A


Abrange os períodos Paleolítico (pedra lascada), separação entre a agricultura e o pastoreio per-
Neolítico (pedra polida) e Idade dos Metais (cobre, mitiu o desenvolvimento das trocas entre as tri-
bronze e ferro). Esses períodos culturais ocor- bos; no início, trocas diretas, e posteriormente,
reram em épocas variadas, conforme a região e tendo alguns objetos como intermediários (moe-
o modo de vida do grupo. Na Grécia, a pré-his- da): conchas, sal, peles ou animais. Nos últimos
tória estendeu-se até por volta de 1500 a.C. A tempos do Neolítico, e ainda no Oriente Médio,
principal característica da pré-história humana o desenvolvimento da agricultura (graças à ir-
refere-se à inexistência da escrita. Em termos so- rigação, à canalização e ao emprego de tração
cioeconômicos, a pré-história caracteriza-se por: animal, arado e roda) possibilitou a acumulação
1) vida gregária do homem; 2) inexistência da de excedentes agrícolas. As trocas comerciais se
propriedade privada; 3) distribuição igualitária ampliaram e aperfeiçoaram-se os meios de trans-
do produto do trabalho coletivo. De início, para porte, com a invenção dos barcos a vela. Para-
garantir a sobrevivência, o homem dedicava-se lelamente, as ferramentas de pedra polida foram
apenas à coleta de frutos, raízes e pequenos ani- sendo substituídas por instrumentos de metal
mais ou se alimentava de animais que encon- (cobre, ferro e bronze), aumentando considera-
trava mortos. A vida era nômade, e os instru- velmente a produtividade do trabalho e o po-
mentos de trabalho consistiam em simples lascas derio das tribos que usavam esses metais em
de pedras. Para que o homem também se tor- suas armas. Iniciava-se a grande revolução da
nasse caçador, além de coletor, foi necessária metalurgia, acompanhada por profundas trans-
uma evolução técnica: ele passou a fabricar ma- formações na organização social do Oriente Mé-
chados com cabo, lanças, arpões e anzóis. No dio: diferenciação de riqueza e poder entre os
final do Paleolítico, o homem já domesticara o membros da comunidade, surgimento dos reis
cão (de grande importância para a caça) e, além (monarquias), criação da escrita e da numeração
da pedra lascada, iniciara a fabricação de ins- (fundamental nas relações de troca e medição
trumentos de pedra polida. O longo período da de terras), desenvolvimento dos primeiros agru-
última glaciação (há 100 mil anos) modificou pamentos urbanos com suas atividades caracte-
profundamente suas necessidades e formas de rísticas: artesanato especializado (tecelagem, cons-
sobrevivência: passou a viver em cavernas, a trução, metalurgia) e o comércio. No campo im-
usar peles de animais como vestuário e apren- peravam ainda as relações típicas de aldeia neo-
deu a produzir e a conservar o fogo. O degelo, lítica: agricultura ou pastoreio, com sua divisão
há cerca de 10 mil anos, assinalou o início do do trabalho baseada nas diferenças de sexo. Den-
Neolítico: os grupos que habitavam o Norte da tro desse quadro estavam as premissas materiais
África e o Oriente Médio procuraram as mar- para o surgimento do Estado e das classes so-
gens dos rios e lagos da região. Ali, em estado ciais, cuja formação tomou características pró-
natural, o homem encontrou o trigo, a aveia, a prias nos diversos agrupamentos de clãs: no
cevada e, observando o processo de germinação, Oriente, a desagregação da organização gentílica
começou a cultivá-los. Desenvolveu-se também, evoluiu para o despotismo oriental, e na Grécia
nesse período, o processo de domesticação de e em Roma, para uma sociedade escravista.
animais, tendo então início o pastoreio. Pelas
transformações radicais que a atividade agrope- PRÊMIO. O termo possui vários significados:
cuária traria à vida do homem, criando condi- 1) finanças — a diferença entre o valor de face
ções para o surgimento dos grandes agrupamen- de um título e seu preço acima do par ou a
tos sociais, essa fase chega a ser classificada diferença entre o valor de emissão de uma de-
como Revolução Neolítica. Paralelamente, de- bênture e o preço do seu reembolso; 2) câmbio
senvolveu-se também o artesanato em cerâmica — situação na qual moedas de ouro ou prata
(para guardar cereais), a fiação e a tecelagem. têm um valor de troca mais elevado do que o
Todas as atividades eram praticadas dentro do papel-moeda da mesma denominação ou do
mesmo grupo ou tribo: os homens preparavam mesmo valor de face; 3) seguros — pagamento
a terra, caçavam, pastoreavam e fabricavam fer- mensal, semestral ou anual pago por alguém
ramentas; as mulheres cultivavam a terra e fa- para ter uma cobertura de seguro, isto é, o preço
ziam o artesanato doméstico. Com o tempo, al- pago para que uma seguradora assuma deter-
guns grupos se tornaram fundamentalmente minado risco, sendo tão mais elevado quanto
agricultores sedentários, enquanto outros se de- maior for o risco; 4) opções — o preço pago pelo
dicaram apenas ao pastoreio nômade ou semi- comprador de um contrato de opção, e, na li-
nômade. Ampliou-se assim a divisão social do quidação de uma operação a termo, o que é pago
trabalho. Ainda nesse período, que é também pela parte que não honrar o compromisso.
chamado de comunismo primitivo, não havia
classes sociais: a terra e os animais eram pro- PRÊMIO BALDRIDGE. O Malcolm Baldridge
priedades da comunidade e apenas as armas e National Quality Award (Prêmio Nacional da
PRÊMIO DEMING 492

Qualidade Malcolm Baldridge) foi criado nos McGill Buchanan; 1987 — Robert Solow; 1988
Estados Unidos em agosto de 1987 pelo presi- — Maurice Allais; 1989 — Trygve Haavelmo;
dente Ronald Reagan, depois de aprovado pelo 1990 — Harry Markowitz, Merton Miller e Wil-
Senado. Sua finalidade é estimular a qualidade liam Sharpe; 1991 — Ronald Coase; 1992 — Gary
dos produtos fabricados pelas empresas norte- Baker; 1993 — Robert W. Fogel e Douglas North;
americanas promovendo as seguintes metas: 1) 1994 — John Harsanyi, John F. Nash e Reinhard
auxiliar as empresas norte-americanas no aper- Selten; 1995 — Robert E. Lucas; 1996 — James
feiçoamento da qualidade e produtividade; 2) Mirrlees e William Vickrey; 1997 — Robert C.
reconhecer os avanços de empresas que aper- Merton e Myron S. Scholes; 1998 — Amartya Sen.
feiçoam a qualidade de seus produtos e serviços,
servindo de exemplo para outras; 3) estabelecer PREMIUM BONDS. Denominação dos títulos
diretrizes e critérios que possam ser utilizados emitidos pelo governo inglês em 1956 e que não
por empresas, organizações industriais, gover- proporcionavam juros aos seus possuidores. To-
namentais e outras, na auto-avaliação de seus dos os juros correspondentes eram colocados
esforços em aperfeiçoamento da qualidade; 4) num fundo de prêmios submetidos a um sorteio
fornecer orientação específica a outras organi- mensal. O prêmio era equivalente a uma taxa
zações norte-americanas que desejam aprender de juros de 45/8% ao ano proporcionado pelos
como gerenciar com alta qualidade, tornando ac- títulos sorteados mensalmente.
cessível informação detalhada a respeito de PREOBRAJENSKI, Evgueni Alekseievitch
como as organizações vencedoras foram capazes (1886-1937). Economista e político socialista rus-
de modificar suas culturas e atingir a excelência. so. Após a Revolução de 1917, integrou o Comitê
As origens do Prêmio Baldridge devem ser en-
Central do Partido Comunista. Nos anos 20, foi
contradas no acirramento da concorrência inter-
um dos mais acirrados críticos da Nova Política
nacional (especialmente em relação aos japone-
Econômica (NEP), proposta por Lênin, e que
ses), que colocou na ordem do dia a questão da
consistia num retorno parcial e tático à economia
qualidade. A iniciativa de criá-lo nasceu no iní-
cio da década e seu nome foi dado em home- de mercado para fazer frente às dificuldades eco-
nagem a Malcolm Baldridge, ex-secretário das nômicas. Defendendo a prioridade da indústria
Finanças, um dos incentivadores da criação do sobre a agricultura, subscreveu as Teses da Opo-
prêmio, que faleceu meses antes de sua criação, sição de Esquerda, lideradas por Trótski, que se
num acidente de equitação. Veja também De- opunha à construção do socialismo “a passos
ming Prize. de tartaruga”, proposta por Bukhárin, a partir
de uma vigorosa economia camponesa. Mas as
PRÊMIO DEMING. Veja Deming Prize. posições de Preobrajenski iam além da ênfase à
industrialização e ao planejamento econômico.
PRÊMIO NACIONAL DE QUALIDADE. Ven-
cedores a partir de 1992: 1992 — IBM (Sumaré, Ele defendia uma industrialização imediata e
manufaturas); 1993 — Xerox do Brasil (manu- um progresso técnico rápido, realizado por meio
faturas); 1994 — Citibank (segmento de pessoas de uma “acumulação socialista primitiva”, fi-
físicas, prestadora de serviços); 1995 — Serasa nanciada pelo setor agrícola. Essa proposta im-
(prestadora de serviços); 1996 — Alcoa (Poços plicava a compra de produtos agrícolas abaixo
de Caldas, manufaturas); 1997 — Copesul e Weg de seu valor e a venda de bens industriais so-
Motores (manufaturas), e Citibank Corporate cialistas acima do preço, com a exportação dos
Banking (serviços). produtos agrícolas a preços mais elevados, pos-
sibilitando assim o financiamento e a demanda
PRÊMIO NOBEL (Economia). Prêmio em Ciên- de bens de capital. Apesar da origem “trotskis-
cias Econômicas do Banco da Suécia em memó- ta”, foi essa a base do projeto stalinista da cons-
ria de Alfred Nobel. Foi concedido pela primeira trução do “socialismo num só país”. Entre 1936
vez em 1969, e a lista dos ganhadores é a se- e 1938, porém, Preobrajenski seria expurgado
guinte: 1969 — Jan Tinbergen e Ragnar Frisch; das fileiras stalinistas e desapareceria nos cha-
1970 — Paulo Samuelson; 1971 — Simon Smith mados Processos de Moscou. Entre suas obras,
Kusnetz; 1972 — John Richard Hicks e Kenneth
destacam-se: ABC do Comunismo (1921), escrito
Arrow; 1973 — Wassily W. Leontief; 1974 —
junto com Bukhárin, e Nova Economia (1926).
Gunnar Karl Myrdal; 1975 — Tjalling Koopmans
Veja também Lênin; NEP; Stálin; Trótski.
e L. Kantorovich; 1976 — Milton Friedman; 1977
— James Edward Meade, Bertil Ohlin; 1978 — PRESCOTT, Edward. Veja Expectativas Ra-
Herbert A. Simon; 1979 — William Arthur Lewis cionais.
e Theodore W. Schultz; 1980 — Lawrence Robert
Klein; 1981 — James Tobin; 1982 — George Sti- PRESCRIÇÃO. Extinção de um direito pelo fato
gler; 1983 — Gerard Debreu; 1984 — Richard de seu detentor não exercê-lo dentro de um pra-
Stone; 1985 — Franco Modigliani; 1986 — James zo estabelecido por lei.
493 PRICE-DEMAND RATIO

PRESTAÇÃO. Ato pelo qual um devedor fica Social (INPS). Em 1974, a direção de todo o sis-
livre da obrigação assumida. Em termos corren- tema previdenciário passou ao então criado Mi-
tes, é o pagamento feito em parcelas, a intervalos nistério da Previdência e Assistência Social. E,
de tempo predeterminados. em 1977, com a criação do Sistema Nacional de
Previdência e Assistência Social, o setor de as-
PRETIUM VIRGINITATIS. Veja Morgengabe. sistência médica foi desmembrado em um novo
PREVENÇÃO DA FADIGA. Dispositivo legal órgão, o Instituto Nacional de Assistência Mé-
dica e Previdência Social (Inamps). A previdên-
(artigo 212 das leis do trabalho) determinando
cia foi estendida aos trabalhadores do campo
que os empregados não podem ser obrigados a
em 1971 (criação do Fundo de Assistência ao
remover individualmente material de peso su-
Trabalhador Rural — Funrural) e aos emprega-
perior a 60 kg.
dos domésticos em 1973. Em 1990, novas mu-
PREVIDÊNCIA PRIVADA. Sistema de pensão danças foram adicionadas ao sistema previden-
gerido por instituições financeiras, independen- ciário: o Ministério da Previdência Social foi no-
temente da previdência pública oficial, e com vamente integrado ao Ministério do Trabalho;
vistas a complementar a aposentadoria. Baseia- o Instituto Nacional da Previdência Social
se no pagamento de prestações ao longo de um (INPS) foi substituído pelo Instituto Nacional
período (sempre superior a dez anos) ao fim do do Seguro Social (INSS). No início de 1998, mu-
qual o indivíduo passa a receber uma pensão, danças importantes, especialmente no que se re-
proporcional às prestações pagas e reajustável fere às aposentadorias, foram aprovadas pelo
segundo a correção monetária. Na maioria dos Congresso. O objetivo é adaptar os mecanismos
casos, estipula-se uma idade mínima (55 anos), previdenciários às novas condições socioeconô-
próxima àquela em que as pessoas estariam se micas e demográficas do país, como, por exem-
aposentando pelo sistema oficial. É comum tam- plo, a elevação da vida média do brasileiro e o
bém associar-se um pecúlio, de modo que, ao fato de a população ser hoje majoritariamente
começar a receber a pensão, o indivíduo receba urbana. Do ponto de vista orçamentário, o ob-
também a quantia correspondente ao pecúlio jetivo é reduzir as despesas e equilibrar o orça-
que acumulou. Veja também Fundo de Pensão; mento previdenciário. Veja também Aposenta-
Pecúlio. doria; Iapas; Inamps; INPS.

PREVIDÊNCIA SOCIAL. Conjunto de institui- PREVISÃO ECONÔMICA. Técnica de estudo


ções estatais destinadas a prestar assistência aos das condições econômicas futuras. As previsões
assalariados e suas famílias. Proporciona bene- de curto prazo — para apenas alguns meses —
são influenciadas pelos níveis atuais dos negó-
fícios em dinheiro (pensões, auxílio-doença, au-
cios e servem de subsídio para decisões imedia-
xílio-funeral, auxílio-maternidade), além de aten-
tas e definições de nível de produção, vendas
dimento médico-hospitalar. O surgimento da pre-
etc. As previsões de longo prazo — geralmente,
vidência social está vinculado à luta dos traba-
de cinco a quinze anos — baseiam-se no cres-
lhadores e sindicatos por melhores condições de
cimento potencial da economia e determinam
vida. Na Alemanha, Bismarck instituiu, por vol-
as condições para a elaboração de planos finan-
ta de 1880, ampla legislação assistencial, incluin-
ceiros, investimentos vultosos, aberturas de no-
do pensão para os velhos. Mas as medidas pre-
vas áreas de atuação etc. As previsões de médio
videnciárias só se intensificaram com a ascensão prazo — geralmente, de um a cinco anos — são
de governos social-democratas na época da Pri- muito pouco empregadas pelas empresas.
meira Guerra Mundial. Em 1925, a Inglaterra
instituiu o seguro social para os velhos. Na Fran- PRICE CAP. Veja Cost Plus.
ça, o governo da Frente Popular, formado em
1936, promoveu reformas sociais que incluíram PRICE PLATEAU. Veja Patamar de Preço.
a previdência social. No Brasil, o sistema pre-
PRICE TAKER. Uma empresa cujo tamanho é
videnciário é regido pela Lei Orgânica da Pre-
insuficiente em relação ao mercado em que ope-
vidência Social (26/8/1960) e se mantém por ra para que sua ação possa influenciar num ou
meio de contribuições obrigatórias de emprega- noutro sentido os preços de mercado de seus
dos e empregadores, calculadas sobre os salários produtos ou insumos.
pagos. A primeira lei previdenciária no país foi
a Lei Elói Chaves, de 1923, que criou caixas de PRICE-DEMAND RATIO. Expressão em inglês
aposentadoria e pensões para os ferroviários. Na que significa a “relação entre o preço de um
década de 30, foram criados os vários institutos produto e a demanda por este produto”. Em
de aposentadorias e pensões — IAPs dos indus- geral, supõe-se que quanto maior for o preço,
triários, comerciários, bancários etc., ligados ao menor será a demanda, mas isso nem sempre
Ministério do Trabalho e que foram unificados ocorre de forma linear e proporcional. Este ín-
em 1967 no Instituto Nacional de Previdência dice expressa de forma concreta a evolução des-
PRICED OUT 494

sa relação. Veja também Bem de Giffen; Efeito os gastos dos consumidores aumentarem de 1
Veblen; Paradoxo de Giffen. milhão, e isso provocar um aumento de 500 mil
nos investimentos, o coeficiente de aceleração
PRICED OUT. Expressão em inglês que signi- será de 1/2. A equação será a seguinte:
fica que o mercado já incorporou uma informa-
ção ao preço de um título ou de uma ação, como, dI 500.000
= = 1/2
por exemplo, que os dividendos serão baixos. dC 1.000.000
PRIMA FACIE. Expressão em latim que signi- Veja também: Investimento Induzido.
fica “à primeira vista” ou “de acordo com a apa-
rência” de uma mercadoria, por exemplo. A evi- PRINCÍPIO DE BABBAGE. Veja Babbage,
dencia prima facie é suficiente para estabelecer Charles.
um fato ou a ocorrência de um fato.
PRINCÍPIO DE COMPENSAÇÃO. Teoria ex-
PRIMAGEM. Gratificação que o carregador de posta por Nicholas Kaldor sobre o ótimo social
um navio dava ao seu capitão para que este ze- no campo do bem-estar econômico, isto é, a si-
lasse pela carga embarcada. Atualmente, é ac- tuação em que a redistribuição de riquezas só
cessório do frete e pertence ao armador. beneficia algumas pessoas (colocando-as em si-
tuações por elas preferidas) se outras pessoas
PRIMÁRIO, Setor. Veja Setores de Produção. forem prejudicadas. Apesar de envolver valores
subjetivos, Kaldor sustenta que essa conseqüên-
PRIME MERIDIEN. Designação do meridiano
cia poderia ser contornada se as pessoas bene-
que passa por Greenwich (Inglaterra) e que ser-
ficiadas compensassem aquelas que foram pre-
ve como ponto referencial 0 grau para contar
judicadas. Veja também Economia do Bem-es-
os graus de longitude e os fusos horários. Veja
tar; Ótimo de Pareto.
também Greenwich; Linha Internacional da Data.
PRINCÍPIO DE LE CHATELIER. Princípio for-
PRIME RATE. Taxa de juros que mais se apro-
mulado pelo matemático francês Le Chatelier
xima da paga pelo investimento sem risco, isto
com aplicações em economia relacionadas com
é, aquela proporcionada pelo títulos de primeira
obstáculos para a maximização de comporta-
linha ou de alta qualidade, sendo, portanto, a
mentos. Por exemplo, o princípio pode ser uti-
correspondente aos títulos cujo prêmio por risco
lizado para explicar por que a demanda de longo
é praticamente zero. No mercado financeiro in-
prazo tem uma elasticidade maior do que a de-
ternacional, os títulos do governo norte-ameri-
manda de curto prazo. A razão está em que na
cano são aqueles considerados os mais próximos
medida da extensão do tempo as variações po-
do risco zero. Dessa forma, a diferença de juros
dem ocorrer com mais freqüência, afetando de
entre esses títulos e os melhores emitidos pelas
uma ou de outra maneira o fator cujo preço foi
grandes corporações — os do tipo AAA — pro-
modificado. Ou melhor, no longo prazo as in-
porcionam uma estimativa do risco envolvido
certezas sobre as variações nos preços dos fato-
por estas últimas. Na prática dos bancos, a prime
res econômicos são muito mais voláteis do que
rate é a taxa mais baixa que pode ser encontrada
no curto prazo.
no mercado, e os bancos a proporcionam apenas
aos seus clientes preferenciais para empréstimos PRINCÍPIO DE PETER. Princípio enunciado por
de curto prazo. Calcula-se que apenas cerca de Lawrence Peter, da Universidade do Sul da Ca-
cinqüenta grandes organizações norte-america- lifórnia, segundo o qual, “Numa estrutura hie-
nas obtêm crédito pela prime rate. Ela atua, no rárquica, todos os empregados tendem a subir
entanto, como base de todo o sistema financeiro até seu nível de incompetência”.
norte-americano, com reflexos em todo o mer-
cado financeiro mundial. Veja também Libor. PRINCÍPIO DO EFEITO PERVERSO. Princí-
pio segundo o qual a tentativa de melhorar a
PRINCÍPIO BANCÁRIO. Veja Banking Prin- distribuição de renda e atingir maior igualdade
ciple. social é perversa na medida em que os efeitos
são opostos aos objetivos colimados.
PRINCÍPIO DE ACELERAÇÃO. Uma explica-
ção usada por economistas keynesianos para PRINCÍPIO DO RISCO SISTEMÁTICO (SIS-
mostrar como um aumento ou diminuição nos TÊMICO). Veja Risco Sistêmico.
gastos dos consumidores pode provocar modi-
ficações na formação de novo capital. O fator PRINCÍPIO ERGA OMNES. A expressão em
de aceleração ou coeficiente de aceleração, como latim erga omnes significa “em relação a todos”,
é conhecido, é uma relação entre variações no e, nas relações econômicas e financeiras inter-
investimento provocadas por variações nos gas- nacionais, significa que não deve haver discri-
tos dos consumidores. Assim, por exemplo, se minação em relação a terceiros países no que se
495 PROBABILIDADE

refere à liberalização de movimentos de capitais. de veículos iniciavam a venda de modelos de-


Tal princípio pode ser considerado uma espécie senvolvidos para sua utilização. Para fortalecer
de cláusula de nação mais favorecida no âmbito o programa, o governo federal apresentou al-
dos mercados financeiros internacionais. gumas vantagens aos proprietários de veículos
a álcool: abastecimento aos sábados (o abaste-
PRINCÍPIO HEDONÍSTICO. Veja Lei do Me- cimento de gasolina só podia ser feito de se-
nor Esforço.
gunda a sexta-feira), preço máximo de 65% do
PRINCÍPIOS DE FORD. Veja Fordismo. preço da gasolina e redução da Taxa Rodoviária
Única. E, para garantir o abastecimento, o go-
PRISONER’S DILEMA. Veja Dilema do Pri- verno financiaria os projetos de instalação de
sioneiro. destilarias a juros subsidiados. Em 1982, o go-
verno federal voltou à carga, com nova campa-
PRIVATIZAÇÃO. Aquisição ou incorporação nha tentando fortalecer o Proálcool, seriamente
de uma companhia ou empresa pública por uma ameaçado por uma série de medidas e contra-
empresa privada. A privatização de uma em- medidas e por uma imagem extremamente ne-
presa ocorre, na maioria das vezes: 1) quando
gativa. Fixou então o teto de preço do álcool
ela passa a apresentar lucros a curto ou médio
em 59% do preço da gasolina (durante dois
prazo, após a maturação do investimento pio-
anos); reduziu o preço dos carros a álcool (em
neiro feito pelo Estado, tornando-se então um
empreendimento atraente para a empresa pri- relação aos modelos a gasolina); e a Caixa Eco-
vada; 2) depois de um trabalho saneador do Es- nômica Federal passou a financiar a longo prazo
tado, quando se trata de empresa falida, absor- e juros menores carros para motoristas de táxi
vida pelo poder público. O termo entrou em (isentos do Imposto sobre Produtos Industriali-
voga no Brasil no início da década de 80, após zados, o que reduz o preço do veículo em mais
a grande expansão da atividade empresarial do de 40%). As fábricas, paralelamente, tinham de-
Estado ocorrida na década precedente. Com as senvolvido projetos mais confiáveis, tanto do
dificuldades de financiamento de suas necessi- ponto de vista mecânico como da eficiência. O
dades e o aumento da dívida interna e os su- Proálcool apresenta também outra face: apenas
cessivos déficits públicos, foi criado, durante o grandes projetos foram aprovados e financiados,
governo Collor, o Programa Nacional de Deses- formando grandes latifúndios que expulsaram
tatização, destinado a promover a privatização os pequenos proprietários, ocuparam terras an-
das empresas estatais. Esse programa já priva- tes destinadas à produção de alimentos e, pela
tizou todo o sistema siderúrgico (começando intensa mecanização da lavoura da cana-de-açú-
pela Usiminas), a Companhia Vale do Rio Doce car, não ampliaram a oferta de empregos no
e muitas empresas do setor energético e de te- campo. Em conseqüência, houve concentração
lecomunicações. de renda na mão de poucos; a cana-de-açúcar
foi favorecida em relação a outras culturas po-
PROÁLCOOL — Programa Nacional do Ál-
tencialmente produtoras de álcool (mandioca,
cool. Programa criado pelo governo federal em
por exemplo), trazendo consigo a poluição, o
14/11/1975, com a finalidade de desenvolver a
vinhoto, resíduos da destilação; e a expansão
produção do álcool e sua comercialização como
dessa lavoura encareceu os produtos alimentí-
substituto da gasolina. À meta prioritária —
cios, empurrados para locais mais distantes dos
substituição de um derivado de petróleo impor-
centros consumidores e para terras menos fér-
tado e, portanto, diminuição da evasão de di-
teis. Finalmente, o Proálcool foi desenvolvido
visas — somavam-se alguns objetivos sociais e
supondo-se um encarecimento constante do pe-
econômicos: geração de novos empregos no
tróleo. A queda nos preços na década de 80 aca-
campo; diminuição do êxodo rural; diminuição
bou tornando o Proálcool mais caro que o de-
das disparidades regionais de renda; fortaleci-
rivado que iria substituir: a preços de 1981, a
mento da indústria automobilística e da indús-
gasolina custava US$ 35,00 o barril, enquanto o
tria de máquinas e equipamentos (construção e
álcool custaria cerca de US$ 80,00/90,00 por bar-
montagem de destilarias). Partindo de um in-
ril equivalente.
vestimento total de US$ 5 milhões, o Proálcool
previa a produção de 10,7 bilhões de litros de PROBABILIDADE. A razão estatística entre um
álcool em 1985 e 14 bilhões em 1987, obtidos número n de resultados particulares e o número
principalmente a partir da cana-de-açúcar. Ini- N de resultados possíveis: n/N, em que todos
cialmente, o álcool foi utilizado em mistura com os N são igualmente prováveis. Por exemplo,
a gasolina (até 20% de álcool anidro). A partir ao lançar um dado, há uma possibilidade de
de 1979, começou a ser vendido em postos de obter o resultado seis contra cinco possibilidades
abastecimento como um novo combustível (ál- de obter “não-seis”. Assim, n = 1 e N = 5 + 1
cool hidratado), ao mesmo tempo que as fábricas = 6, e a razão n/N = 1/6. Se dois dados são
PROBABILIDADE A POSTERIORI 496

lançados, há 6 x 6 (= 36) pares de números em PROCESSO CONTÍNUO (de Produção). Ati-


que é possível aparecer a chance de obter outros vidades industriais nas quais o processo de pro-
seis. Os dois eventos são independentes; a pro- dução se dá de maneira contínua, sem interrup-
babilidade de ocorrer juntos (na mesma jogada) ções, podendo operar 24 horas por dia em fun-
é de 1/36 ou 1/6 x 1/6. Pode-se também lançar ção da natureza daquilo que se produz. Geral-
um dado seis vezes seguidas, visando obter cada mente, esse processo está associado à produção
um dos seis números exatamente uma vez. Se de matérias-primas e opera com três ou mais
o objetivo é obter os números em certa ordem turnos de trabalho. Nos processos não-contínuos
(uma permutação), digamos de 1 a 6, há 1/6 de — produção por encomenda, por exemplo —,
chance de obter um 2, e assim por diante; desse o número de turnos é menor, operando geral-
modo, a probabilidade de conseguir um resul- mente com um único turno.
tado global favorável é (1/6)6 = 1/46 656. Se a
PROCESSO ELETROLÍTICO. Veja Ouro.
ordem não for levada em conta (combinação), a
probabilidade de um resultado favorável no pri- PROCESSO MNEMÔNICO. Processo median-
meiro lançamento é 1 (qualquer número é fa- te o qual se busca fixar na mente de compradores
vorável), no segundo, 5/6, e assim por diante, potenciais as qualidades mais destacadas de um
de modo que a probabilidade global é 6/6 x produto, associando-as a fatos ou coisas de fácil
5/6 x 4/6 x 3/6 x 2/6 x 1/6 ou 720/66 = apro- memorização. Por exemplo, a realização do lan-
ximadamente 1/65. Portanto, é mais provável çamento de um produto com preços reduzidos
obter sucesso com uma combinação desejada do num dia três, terça-feira, às três da tarde, no ter-
que com uma permutação. ceiro andar de um Shopping Center.
PROBABILIDADE A POSTERIORI. Veja Aná- PROCURA. Veja Demanda.
lise de Bayes.
PROCURA AGREGADA. Veja Demanda Agre-
PROBABILIDADE SUBJETIVA. Veja Análise gada.
de Bayes. PROCURAÇÃO. No direito brasileiro, docu-
PROBABILIDADES REVISADAS. Veja Aná- mento pelo qual seu signatário incumbe legal-
lise de Bayes. mente outra pessoa de agir em seu nome em
certos negócios. Para certos atos, a lei exige que
PROBABLE LIFE CURVE. Expressão em in- a procuração seja pública, isto é, lavrada em car-
glês que significa “curva de vida provável”. tório por um tabelião. Uma procuração geral au-
toriza o agente a representar o signatário em
PROBLEMA DA RUÍNA DO JOGADOR. É o quaisquer circunstâncias, sem restrição; uma
problema na teoria das probabilidades mostran- procuração especial consigna incumbência certa
do que, para os jogadores com capital limitado, e determinada.
a probabilidade de ganhar ou perder uma série
PROCURA CONJUNTA. Veja Demanda Con-
repetida de apostas iguais é diferente da pro-
junta.
babilidade de ganhar ou perder qualquer uma
das apostas tomadas separadamente. PRODUÇÃO APENAS-A-TEMPO. Veja Just
in Time.
PROBLEMA DOS NÚMEROS-ÍNDICES. Pro-
blema que surge quando se comparam dois con- PRODUIT NET. Expressão francesa correspon-
juntos de variáveis em dois momentos diferen- dente a “produto líquido”, que, na concepção
tes, utilizando um mesmo índice, uma vez que dos fisiocratas, somente poderia ocorrer na agri-
existem várias formas de agregação de variáveis cultura, pois a produção agrícola era a única em
numa medida única. Isso pode acontecer quan- que o produto final superava o consumo (ou o
do se compara, por exemplo, o crescimento do custo) necessário para sua realização. Esse con-
Produto Nacional (Bruto ou Líquido) entre dois ceito foi desenvolvido especialmente por Fran-
momentos. É possível que o valor do ano-base çois Quesnay em seu Tableu Economique. Veja
do produto medido a preços correntes exceda também Fisiocratas.
o valor corrente do produto a preços correntes,
PRODUKTIVITÄTSWERT. Veja Ertragswert.
e ao mesmo tempo o valor corrente do produto
aos preços do ano-base supere o valor do pro- PRODUTIVIDADE. Resultado da divisão da
duto no ano-base aos preços do ano-base. Isso produção física obtida numa unidade de tempo
pode acontecer devido a diferentes formas de (hora, dia, ano) por um dos fatores empregados
agregação dos índices no que se refere a quan- na produção (trabalho, terra, capital). Em termos
tidades e preços, como acontece nos Índices Paas- globais, a produtividade expressa a utilização
che e de Laspeyres. Veja também Índice de Fisher; eficiente dos recursos produtivos, tendo em vis-
Índice de Laspeyres; Índice Paasche. ta alcançar a máxima produção na menor uni-
497 PRODUTO NACIONAL LÍQUIDO AO PREÇO DE MERCADO

dade de tempo e com os menores custos. Co- às indústrias, como máquinas e equipamentos
mumente, o termo “produtividade” se refere à (nesses casos, itens como a garantia e a facilidade
produtividade resultante do trabalho humano de manutenção são mais importantes). Para que
com a ajuda de determinados meios de produ- um produto obtenha sucesso de venda é preciso
ção (máquinas, ferramentas e equipamentos). que responda a uma necessidade do mercado
Essa produtividade do trabalho é o quociente da (o que pode ser detectado por meio da pesquisa
produção pelo tempo do trabalho em que foi de mercado), além de ter uma adequada pro-
obtida. A produtividade do capital, por sua vez, é moção de lançamento e formas de comerciali-
a quantidade produzida por unidade de capital zação eficientes e preço compatível com as con-
investido. Vários são os fatores que influem na dições de mercado.
elevação da produtividade do trabalho: desen-
volvimento tecnológico dos equipamentos em- PRODUTO FÍSICO (Cash Commodity). Expres-
pregados (meios de produção), nível da divisão são utilizada para designar produto de pronta-
social do trabalho, grau de especialização e es- entrega ou de entrega imediata, tendo o mesmo
significado que Produto Spot.
colaridade da mão-de-obra, qualidade das ma-
térias-primas utilizadas e organização e controle PRODUTO LÍQUIDO. Veja Produit Net; Pro-
na produção. É difícil quantificar globalmente duto Nacional Líquido ao Preço de Mercado.
a taxa de produtividade do trabalho, pois ela
varia conforme a empresa, a região e os fatores PRODUTO MARGINAL PRIVADO LÍQUI-
acima relacionados; contudo, podem-se estabe- DO. Veja Pigou, Arthur Cecil.
lecer comparações entre empresas, regiões ou
países. É importante notar que a produtividade PRODUTO MARGINAL SOCIAL LÍQUIDO.
tende a ser maior nas empresas de capital in- Veja Pigou, Arthur Cecil.
tensivo e menor nas de trabalho intensivo. Mui-
PRODUTO NACIONAL A CUSTO DOS FA-
tas vezes a intensificação da produtividade pela TORES. Conceito equivalente ao de renda na-
adoção de melhorias tecnológicas tem repercus- cional. Representa a remuneração líquida dos
sões sociais negativas, uma vez que pode causar fatores de produção empregados na criação de
desemprego. O aumento da produtividade do bens e serviços ou, ainda, o montante dos bens
trabalho com o emprego de novos equipamentos e serviços vendidos em um país, num tempo
e especialização do trabalhador corresponde a determinado. Para seu cálculo é necessário de-
um aumento da exploração da mão-de-obra. Na duzir os impostos indiretos do valor do produto
economia marxista, isso equivale a uma maior nacional ao preço de mercado e adicionar as sub-
produção de mais-valia: o trabalhador produz venções. Isso porque, quando alguém compra
em menor tempo o suficiente para reproduzir uma mercadoria, está ao mesmo tempo pagando
o valor de sua força de trabalho, deixando ao bem de consumo e imposto. No caso do artigo
empresário um maior excedente de produção. tributado, o preço pago pelo consumidor é mais
PRODUTO. Em sentido amplo, produto é o alto que o preço recebido pelo produtor. Em caso
conjunto de todos os bens e serviços resultantes de artigo subsidiado, o preço pago pelo consu-
midor é menor que o preço recebido pelo pro-
da atividade produtiva de um indivíduo, em-
dutor. A expressão “a custo dos fatores” corres-
presa ou nação. No caso da nação, fala-se em
ponde aos pagamentos efetuados às unidades
Produto Nacional Bruto (PNB). Mais especifica-
familiares fornecedoras dos fatores no decurso
mente, e conforme o setor da atividade econô-
das atividades produtivas. São excluídas as re-
mica, distinguem-se o produto industrial, o pro-
servas para depreciação e também os impostos
duto agrícola e outros. Alguns economistas fa-
indiretos, que integram a parcela captada pelo
zem distinção entre os conceitos de bem e de
governo do poder total de compra gerado no
produto: enquanto os bens são objetos materiais decorrer do processo produtivo. Essa parcela é
destinados à satisfação das necessidades huma- incluída nos preços de mercado, mas não de-
nas, o produto é o resultado geral da ação trans- corre de custos que fluem das empresas para
formadora do homem sobre a natureza. Em ter- as unidades familiares. Veja também Produto
mos mercadológicos, produto é um conjunto Nacional Líquido ao Preço de Mercado; Renda
que envolve o bem material e certas caracterís- Nacional.
ticas de construção, aparência, desempenho, em-
balagem, prazo de entrega, garantia e preço. A PRODUTO NACIONAL LÍQUIDO AO PRE-
importância relativa de cada uma dessas carac- ÇO DE MERCADO. Agregado econômico que
terísticas do produto varia conforme sua natu- define o valor dos bens e serviços finais efeti-
reza e a do mercado consumidor. Em produtos vamente acrescentados à riqueza nacional. Con-
destinados ao consumo individual, por exem- siste no produto líquido total gerado pela eco-
plo, a embalagem e o acabamento assumem nomia de um país no período de um ano. Inclui
maior importância que em produtos destinados o gasto privado de consumo em bens e serviços,
PRODUTO SPOT 498

o gasto público em bens e serviços e os gastos PROGRAMAÇÃO. Conjunto de instruções —


em inversão líquida, excluindo os fundos des- conhecido também como software — fornecidas
tinados à depreciação. Seu cálculo exige o co- a um computador para que ele desempenhe de-
nhecimento do índice de depreciação dos esto- terminadas funções. Há dois tipos básicos de
ques de edifícios, maquinarias e bens acabados. programação: um deles, inerente ao aparelho,
A partir do PNB, chega-se ao PNL, pela simples permite que a máquina “entenda” o segundo
exclusão das depreciações de capital. Veja tam- tipo de programação, constituído pelas instru-
bém PNB; PNL; Renda Nacional. ções das operações que deverão ser feitas e em
qual ordem.
PRODUTO SPOT. Veja Produto Físico.
PROGRAMAÇÃO ESTOCÁSTICA. Ramo da
PRODUTOS PRIMÁRIOS. Bens produzidos em programação matemática que trata de resolução
atividades agropecuárias ou resultantes de ex- de problemas de programação nos quais alguns
tração mineral e vegetal. São produtos originá- dos elementos são variáveis aleatórias.
rios, portanto, do setor primário da produção.
A produção de produtos primários é em geral PROGRAMAÇÃO LINEAR. Processo que con-
predominante na economia e especialmente nas siste em maximizar ou minimizar uma função
exportações dos países subdesenvolvidos. Na linear, denominada função objetivo (ou de ren-
maioria das vezes, destinam-se ao mercado ex- dimento), levando-se em consideração restrições
terno e seus preços costumam sofrer grandes ou equações condicionantes, também lineares.
oscilações, ao contrário dos produtos manufa- Trata-se pois de um problema de máximo ou
turados, característicos dos países desenvolvi- mínimo condicionado. Uma vez que as funções
dos. Veja também Setores de Produção. são lineares, não se pode aplicar o artifício dos
multiplicadores de Lagrange. Por essa razão,
PROER. Programa de incentivo à fusão de ban- surgiram diferentes métodos ou algoritmos para
cos, criado depois da implantação do Plano Real resolver tais problemas. Entre esses métodos
no Brasil, para ajudar a solucionar o problema destaca-se o método Simplex. Foi desenvolvido
do mercado financeiro com bancos com crise de por Dantzig, nos Estados Unidos, logo depois
liquidez e cuja adaptação às novas condições da Segunda Guerra Mundial, iniciando-se a par-
impostas pelo plano citado não se deu a tempo tir de então seu desenvolvimento de forma mais
de evitar uma crise. sistemática. É verdade que as primeiras pesqui-
sas sobre programação linear foram desenvol-
PROFECIAS AUTO-REALIZÁVEIS. Expressão vidas na ex-União Soviética, por Kantorovich,
que significa a concretização de uma expectativa no final da década de 30, mas não foram divul-
na qual todos os agentes econômicos ou grande gadas para o Ocidente a não ser depois da Se-
parte deles acreditam que se transformará em gunda Guerra Mundial. Aplicada a uma empre-
realidade. Por exemplo, se há a convicção de sa, a programação linear pode ajudar a resolver
que uma desvalorização cambial ocorrerá no fu- vários tipos de problemas, como aqueles rela-
turo imediato, seja porque algum economista ou cionados com a programação da produção, oti-
empresário importante (“profeta” ou cenarista) mização da distribuição, programação de esto-
fez alguma projeção, seja porque algum repre- ques e ocupação de armazéns, alocação de re-
sentante das autoridades monetárias pronun- cursos, distribuição de investimentos etc.
ciou alguma frase ambígua a respeito, os expor-
tadores tenderão a adiar a venda dos dólares PROGRAMA DE ESTABILIZAÇÃO ECONÔ-
obtidos por suas exportações, os importadores MICA. Anunciado pelo então ministro da Fa-
tenderão a antecipar a compra de seus dólares zenda, Fernando Henrique Cardoso, em 7/12/1993,
(antes que passem a valer mais), e a desvalori- era composto de duas diretrizes principais: 1) o
equilíbrio orçamentário com a eliminação do dé-
zação, que não era necessariamente um passo
ficit público em 1994, a ser obtido pelo aumento
inevitável, acaba acontecendo pela ação dos
das receitas tributárias e pela redução das des-
agentes que acreditaram na “profecia”. Veja
pesas com consumo e investimento; 2) a criação
também Cenarista.
da Unidade Real de Valor (URV), que inicial-
PROFIT-TAKING. Veja Realização de Lucros. mente seria um indexador vinculado à taxa de
câmbio e de adoção voluntária pelo setor pri-
PRO FORMA. Expressão em latim que, aplica- vado. À medida que esse indexador se genera-
da ao mercado financeiro, significa uma proje- lizasse, isto é, não fosse utilizado apenas para
ção, isto é, de que maneira determinadas situa- corrigir as receitas tributárias, seria transforma-
ções financeiras serão afetadas na suposição da do em moeda de valor constante, estabilizando
existência de determinadas condições específi- os preços e reduzindo a inflação. O Programa
cas no futuro. Esse tipo de declaração pode en- de Estabilização Econômica, especialmente a
fatizar relações históricas ou projeções futuras. criação da URV, criou as condições para o lan-
499 PROGRESSO

çamento do Plano Real, em julho de 1994. Veja de junho de 1975, Brasil e Alemanha assinaram
também Plano Real. em Bonn o Acordo sobre a Cooperação no Cam-
po dos Usos Pacíficos da Energia Nuclear (o cha-
PROGRAMA DE INTEGRAÇÃO SOCIAL. mado Acordo Atômico), pelo qual o Brasil com-
Veja PIS-Pasep. praria da Alemanha quatro usinas nucleares e
PROGRAMA DE RENDA MÍNIMA. Veja Im- obteria toda a tecnologia necessária a seu de-
posto de Renda Negativo. senvolvimento e à construção de mais quatro
usinas no próprio país, com a progressiva na-
PROGRAMA NACIONAL DE DESESTATI- cionalização dos equipamentos. O Brasil já man-
ZAÇÃO. Programa criado durante o governo tinha com a Alemanha um programa de coope-
Collor, destinado à privatização de empresas es- ração nuclear baseado no Acordo Geral sobre
tatais. A primeira a ser privatizada foi a Usimi- Cooperação nos Setores de Pesquisa Científica
nas, em outubro de 1991. Inicialmente, este pro- e do Desenvolvimento Tecnológico, de 1969. Em
grama encontrava-se sob controle e comando do 1976, era efetivada em Frankfurt a compra das
BNDES. No governo Itamar, criou-se uma co- usinas Angra II e III. As usinas deveriam ser
missão de privatização que, embora tenha re- do tipo Pressurized Water Reactor (PWR), que
presentantes do BNDES, atua independente- utiliza como combustível o urânio enriquecido
mente nos processos de preparação e encami- a 3%, tendo como refrigerador e moderador a
nhamento dos leilões de privatização. Durante água leve pressurizada. Em 5/3/1982, com um
o governo Fernando Henrique Cardoso, o pro- atraso de cinco anos e em meio a grande con-
cesso de desestatização foi acelerado, tendo sido trovérsia, provocada por deficiências apontadas
privatizado todo o setor siderúrgico, a Compa- no sistema de segurança da usina, Angra I en-
nhia Vale do Rio Doce, grande parte do setor trou em funcionamento. Defeitos no gerador de
elétrico e quase a totalidade do setor de teleco- vapor provocaram o desligamento do reator da
municações. central nuclear no início de junho, e a usina só
foi religada em 1983. Angra II e III, que deveriam
PROGRAMA NUCLEAR. Programa de uso pa- entrar em funcionamento em 1988 e 1990, tive-
cífico da energia nuclear iniciado pelo governo ram o ritmo de suas obras desacelerado devido
brasileiro no início da década de 70. O projeto à escassez de recursos. As usinas de Iguape I e
foi acelerado a partir da crise do petróleo de II, no litoral de São Paulo, também tiveram o
1972-1973 e sua urgência justificada pela neces- início de sua construção adiado por tempo in-
sidade de garantir, no futuro, um suprimento determinado. Os custos da implantação do pro-
de energia seguro e constante, livre de depen- grama nuclear brasileiro superaram em muito
dências externas. Desde o início, o programa foi as previsões iniciais, que eram de US$ 1,5 bilhão
criticado por parte expressiva da comunidade em 1975. Só o custo de Angra I, calculado ini-
científica, que pôs em dúvida a oportunidade cialmente em US$ 300 milhões, atingiu US$ 1,3
de nuclearizar um país que dispõe de um po- bilhão.
tencial avaliado em 200 milhões de quilowatts
PROGRESSÃO. Em matemática, é um conjunto
de energia hidrelétrica.O programa começou em
ordenado de números. A progressão aritmética é
1969, quando o encargo de construir a primeira
aquela em que cada termo é igual ao anterior,
usina nuclear foi confiado à Centrais Elétricas
acrescido de um valor constante denominado
de Furnas S.A., empresa de economia mista, sub-
razão (por exemplo, 1, 5, 9, 13..., cuja razão é
sidiária da Eletrobrás, e responsável pela pro-
4). A progressão geométrica é aquela em que cada
dução e transmissão de energia elétrica na região
termo é igual ao anterior multiplicado por um
Sudeste e no sul da região Centro-oeste (onde
valor constante denominado razão (por exem-
vive metade da população brasileira e são con- plo, 1, 4, 16, 64..., cuja razão é 4).
sumidos mais de 70% de toda a produção de
energia do país). A concorrência internacional PROGRESSO. Visão normativa marcada pela
para a construção, fornecimento de equipamen- ideologia das mudanças sociais, com a passa-
tos e montagem da usina (Angra I, em Angra gem, obrigatória e irreversível, de formas ele-
dos Reis, Rio de Janeiro), foi vencida pela firma mentares a formas de organização social cada
norte-americana Westinghouse, associada à Em- vez mais complexas. Processo de mudança que
presa Brasileira de Engenharia (EBE). Em junho seria impulsionado pelo desenvolvimento tec-
de 1974, quando as obras de Angra I já estavam nológico e conduziria, entre outros aspectos, ao
em andamento, o governo federal decidiu am- crescimento da riqueza socialmente produzida
pliar o projeto, autorizando Furnas a construir e a sua distribuição mais eqüitativa entre os in-
uma segunda usina. Um ano depois, decidiu-se divíduos. A idéia de progresso ampliou-se e as-
acrescentar uma terceira unidade ao sistema. sumiu perspectiva histórico-social no século
Para a construção de Angra II e III optou-se pela XVIII, com o iluminismo. Os filósofos europeus,
aquisição de equipamento na Alemanha. Em 27 em especial os franceses, proclamaram sua fé
PROJETO CARAJÁS 500

na perfectibilidade do gênero humano e de suas ticas favoráveis ao reflorestamento para fins da


instituições, que passariam a basear-se no im- extração de celulose e carvão vegetal. Entretanto,
pério da razão. E esse “progresso” estava cal- possui solos de baixa fertilidade, com exceção
cado na apreensão do conhecimento possibili- de escassas manchas de terra roxa e das terras
tado pela ciência e pela técnica. Essa concepção de várzea. Em contrapartida, dispõe de fantás-
foi desenvolvida por Condorcet na obra Esboço ticas reservas minerais, descobertas em 1967 e
de um Panorama Histórico dos Progressos do Espírito avaliadas a partir de 1970. As jazidas de ferro
Humano (1794). A idéia sobreviveu, sob novos são estimadas entre 18 e 20 bilhões de toneladas
aspectos, no pensamento econômico, histórico e (sendo 66% de minério de alto teor), capazes de
sociológico do século XIX, dessa vez tomando suportar quatrocentos anos de exploração inten-
como referencial as estruturas geradas pela Re- sa. E também existem jazidas de cobre, estanho,
volução Industrial. No positivismo de Comte, o ouro, alumínio, manganês e níquel, passíveis de
progresso resultaria de um processo contínuo exploração com uma tecnologia relativamente
de mudanças, em que não devem ocorrer rup- simples (portanto, de baixo custo) e por uma
turas nem conflitos. Seria uma mudança social força de trabalho de preço bastante reduzido.
orientada, planejada e obtida por meio da edu- Tudo isso levou o Conselho Interministerial,
cação generalizada. Na tradição marxista, o pro- reunido pela primeira vez em agosto de 1981,
gresso corresponde ao grau de domínio do ho- a sistematizar as políticas e os critérios a se ado-
mem sobre a natureza, o que é determinado pelo tar no Projeto Grande Carajás: 1) agilizar o apro-
nível de desenvolvimento das forças produtivas, veitamento dos recursos existentes nos setores
cujas transformações constantes determinam mineral, florestal, energético, hidrelétrico e agrí-
por sua vez a sucessão dos modos de produção. cola; 2) canalizar a produção realizada direta-
Nesse sentido, o modo de produção capitalista mente para o setor externo, sob forma de paga-
representou um progresso considerável em re- mento da dívida externa; 3) captar no exterior
lação ao modo de produção feudal, pois revo- os investimentos necessários; 4) adotar medidas
lucionou as forças produtivas, ampliou a divisão de cautela quanto à contaminação poluente.
social do trabalho, a produtividade, esfacelou Para dar apoio aos diversos objetivos do projeto,
os particularismos feudais e libertou o servo da construiu-se a Ferrovia Carajás (concluída em
gleba. Mas, para Marx, o progresso humano 1984) e prossegue-se com as obras da hidrelé-
mais amplo, harmonioso e solidário identifica-se trica de Tucuruí. Esta última localiza-se no rio
com o fim do capitalismo e o advento da socie- Tocantins e deverá fornecer de 550 a 780 quilo-
dade sem classes. A idéia do progresso assume, watts de energia. O custo do empreendimento
portanto, aspectos e posições contraditórios, e foi estimado em 270 bilhões de cruzeiros (moeda
os modos e proposições que lhe dizem respeito da época), enquanto o segundo projeto de apoio,
se colocam no campo do embate ideológico. a ferrovia Carajás, exigiu mais de US$ 1,3 bilhão.
Mais ainda, diversos cientistas sociais se insur- Essa ferrovia liga a mina da serra Norte, no sul
gem contra a própria noção de progresso, con- do Pará, ao porto marítimo de Ponta da Madeira
siderada etnocentrista e preconceituosa. É o caso (São Luís do Maranhão), numa distância de 890
do antropólogo Claude Lévi-Strauss, que sus- km. Previa-se o início de suas atividades em
tenta a tese de que todas as sociedades são 1985, transportando o minério de ferro em três
potencialmente iguais, negando-se a estabele- locomotivas. Foi o que ocorreu: naquele ano,
cer comparações valorativas entre uma tribo e houve um escoamento de cerca de 15 milhões
uma sociedade industrializada. Veja também de toneladas, montante que aumentou para 25
Forças Produtivas; Revolução Tecnológica; milhões de toneladas em 1986. O objetivo é al-
Tecnologia. cançar 50 milhões de toneladas até o final da
década de 90. Além do transporte de minério,
PROJETO CARAJÁS. É o projeto de exploração a ferrovia deverá servir de apoio a outros pro-
da província mineral mais rica do mundo, com gramas do projeto, entre os quais a redefinição
a participação do capital estrangeiro, estatal e agrícola de uma superfície de 15,5 milhões de
das empresas privadas brasileiras. Sua regula- hectares. A proposta é implantar aproximada-
mentação obedece aos decretos-leis nº 1 813 e mente trezentas fazendas de 10 mil hectares;
85 387, e a coordenação geral dos trabalhos — além disso, haverá uma área de 2,3 milhões de
afetos a oito ministérios — cabe ao Ministério hectares só para reflorestamento, com uma pro-
do Planejamento. O projeto localiza-se numa re- dução estimada em 10 milhões de toneladas em
gião cortada pelos rios Araguaia, Tocantins e grãos, 900 mil toneladas de borracha, 1 milhão
Xingu, abrangendo terras do sul do Pará (pola- de toneladas de pellets, 5,4 bilhões de litros de
rizadas pelo centro comercial de Marabá), de álcool e 20 milhões de metros cúbicos de ma-
Goiás e do Maranhão. É uma área possuidora deira. Para o escoamento da produção, serão
de grande potencial hidrelétrico, ampla cober- construídos silos e pontos de armazenagem e
tura florestal e que apresenta condições climá- embarque, dispostos em intervalos de 100 km
501 PROJETO JARI

ao longo da ferrovia. Nesse programa, o total dos trabalhos do projeto deu-se em julho de
de investimentos exigidos será da ordem de US$ 1986.
8 bilhões. No final de 1983, o custo do Projeto
Ferro-Carajás fora estimado em US$ 4 bilhões, PROJETO JARI. O maior projeto particular de
em que mais de US$ 2 bilhões já tinham sido exploração da totalidade de um território até
investidos. Conta com investimentos externos, hoje realizado por um empresário individual,
de empresas nacionais e financiamentos advin- em todo o mundo. Para boa parte da opinião
dos dos Estados Unidos, Japão, Banco Mundial pública brasileira, foi o símbolo mais acabado
dos privilégios concedidos ao capital estrangeiro
e do Mercado Comum Europeu, que deverão
no período pós-64. Em 1966, o ex-ministro do
ser pagos em minério. Quais as perspectivas
Planejamento Roberto Campos manteve conta-
do Projeto Grande Carajás? A maioria dos ob-
tos com o norte-americano Daniel Keith Ludwig,
servadores mostra-se relativamente cética quan- no sentido de que investisse no Brasil. Em 1967,
to a seus ambiciosos objetivos, numa conjuntura Ludwig comprou, no município paraense de
de crise econômica nacional e internacional. As Palmeirim, uma área inicial de 12 mil km2 —
poucas empresas brasileiras participantes en- equivalente a mais da metade da superfície de
frentam sérios problemas; mais ainda, as cons- Sergipe —, ao preço de 40 cents o hectare. Era
tantes idas ao exterior para obter recursos favo- um verdadeiro enclave sob controle estrangeiro,
receram a entrada de joint-ventures, que esten- delimitado a leste pelos rios Jari e Cajari, afluen-
dem seu controle sobre terras, reservas naturais, tes do Amazonas; a oeste por outro afluente, o
mão-de-obra barata e que introduzem tecnolo- Paru, e ao sul pelo próprio Amazonas. Ao norte,
gia desnecessária. Além disso, exigindo efetiva- a região do projeto encontrava terras devolutas
mente um alto grau de inversões de capital es- da União, que se estendem até o Suriname. A
trangeiro, o projeto propicia um alto endivida- exploração e comercialização dos recursos desse
mento, que poderá contrariar o objetivo decla- vasto território foram entregues a duas compa-
rado, de pagamento da dívida externa com a nhias, a Jari Florestal e Agropecuária e a em-
exportação de minérios. Para se ter uma idéia, presa de Comércio e Navegação Jari Ltda. O
quando forem iniciadas as amortizações dos in- principal investimento por elas empreendido foi
vestimentos externos na hidrelétrica de Tucuruí a instalação de uma fábrica de celulose no porto
fluvial de Mangaba. Sua capacidade é de 750
— um componente relativamente secundário no
toneladas diárias de pasta de papel, destinada
projeto —, o Brasil pagará, só de juros, cerca de
à exportação para a Europa e Estados Unidos.
US$ 300 milhões anuais. Até o final de 1982, os A instalação da fábrica exigiu diversos investi-
projetos ainda movimentados eram o de Tucu- mentos complementares. Para o suprimento de
ruí, no terreno da infra-estrutura, e, no setor pro- matérias-primas necessárias à produção da pas-
dutivo, os do alumínio e do ferro. Estes são, ta de papel, plantaram-se 100 mil hectares, sendo
inclusive, os empreendimentos prioritários no 40 mil de Pinus caribes, árvore originária da
setor de minérios do Projeto Carajás. O alumínio América Central, e de Gmelina arborea, uma es-
deverá ser produzido, no Pará e no Maranhão, sência nativa da África. Surgiu também uma fá-
pela Albrás/Alunorte (ligada a uma joint-venture brica de compensado de madeira e laminados,
da Companhia Vale do Rio Doce e capitais ja- apta a aproveitar as árvores que ultrapassavam
poneses) e pela Alcoa, de forte participação nor- as especificações da indústria de celulose. Além
te-americana. Mas o desenvolvimento desses disso, foram construídas uma usina de energia
projetos é lento, refletindo os problemas econô- e uma ferrovia de 270 km. A Jari contava ainda
micos nacionais e internacionais. O Projeto Fer- com 300 km de rodovias compactas, transitáveis
ro-Carajás, por sua vez, embora também asso- o ano todo, outros 200 km de estradas secun-
ciado a capital internacional, tem uma conotação dárias e ainda 4 mil km de estradas de terceira
mais acelerada, na medida em que também re- linha, a interligar os 200 mil hectares de florestas
que deveriam ser preservadas. Paralelamente à
cebe financiamento do BNDES, Finame e BNH
exploração de madeira, previa-se a conservação
(no segmento da infra-estrutura). Nesse progra-
em pastagens de 45 mil hectares das áreas bai-
ma, o Estado participa com dupla atribuição: xas, com a perspectiva de formar, em dez anos,
como fornecedor de infra-estrutura básica e so- um rebanho de búfalos e gado nobre. Outras
cial e, por outro lado, de incentivos financeiros áreas compreendidas entre os rios Arraiolos e
e tributários. Isso se reflete no ritmo das obras: Amazonas foram destinadas ao cultivo do arroz,
no início de 1983 o Projeto Ferro-Carajás atingiu para fins de abastecimento local e exportação.
44% de sua realização física na mina de ferro Além disso, é fato sabido que a Jari desenvolveu
da serra Norte, 29% na construção do porto de intensas pesquisas de recursos minerais na re-
Ponta da Madeira, em São Luís, e 44% na Fer- gião que lhe pertencia e mesmo fora dela. Há
rovia Carajás. Apesar dos atrasos, a conclusão informações de que existiam vários núcleos de
PRÓ-LABORE 502

pesquisa de minérios, cujo acesso era vedado de das vilas de Planalto, São Miguel e Bananal,
aos raros visitantes do projeto. Na verdade, até contribuindo para o custeio do programa com
meados da década de 70, as terras do Projeto 8% de um salário mínimo por empregado pró-
Jari constituíram quase um país estrangeiro, “o prio e exigindo dos empreiteiros a contribuição
país de Ludwig”. Sua segurança foi entregue a de 5% de um salário mínimo por empregado
militares aposentados, sobretudo da Aeronáuti- registrado. O restante das verbas para custeio
ca e da Polícia Militar do Pará. Ninguém de- do projeto estaria vinculado ao Ministério da
sembarcava no aeroporto de Monte Dourado, Saúde.
“capital” do Projeto Jari, sem prévia triagem em
Belém ou no Rio de Janeiro. A excessiva auto- PRÓ-LABORE. A remuneração dada a alguém
nomia talvez tenha contribuído para a crise do (trabalhador) por ter realizado um trabalho es-
Projeto Jari, desencadeada em 1979. Faltava a pecífico ou por ter cumprido uma tarefa deter-
regularização dos títulos de propriedade de 1,6 minada.
milhão de hectares de terras, e o governo bra- PROLETARIADO. Classe social que não possui
sileiro negava-se a assumir encargos mínimos os meios de produção, sendo por isso obrigada
de infra-estrutura, rede escolar e assistência mé- a vender sua força de trabalho para assegurar
dica no “país estrangeiro”. Aos 85 anos de idade, a sobrevivência. O surgimento do proletariado
recuperando-se de uma cirurgia e de relações está ligado às origens do modo de produção
praticamente cortadas com o governo brasileiro, capitalista e, mais particularmente, à Revolução
Ludwig dispôs-se a vender o Jari (embora con- Industrial. Sobretudo na Inglaterra, as primeiras
serve outros investimentos no Brasil). Em 1980, gerações de proletariado foram constituídas por
o grupo Ludwig foi vendido a um inédito con- camponeses expulsos das terras cultivadas, para
domínio envolvendo 22 das maiores empresas dar lugar à criação de ovelhas produtoras de lã,
privadas do Brasil, entre as quais estavam oito e por artesãos arruinados pela concorrência da
bancos e sete construtoras. A operação foi coor- indústria manufatureira. Juridicamente reconhe-
denada pelo ministro Antônio Delfim Neto cidos como homens livres, esses operários vi-
(1980) e por Augusto Trajano de Azevedo An- viam em condições subumanas, desprovidos de
tunes, um dos maiores empresários do setor da direitos políticos e até mesmo de se organizar
mineração. Basicamente, a transação envolveu livremente para lutar por melhores condições
US$ 280 milhões, mais dividendos, que serão de vida. Recebiam baixos salários e trabalhavam
pagos no prazo de 35 anos. Desde logo, o Banco em média dezesseis horas por dia, sendo tam-
do Brasil se comprometeu a “bancar” a dívida bém vítimas de castigos corporais por parte dos
de US$ 200 milhões assumida por Ludwig no patrões. A revolta dos trabalhadores muitas ve-
exterior com o aval do então Banco Nacional zes se dirigiu contra as máquinas, as quais des-
do Desenvolvimento Econômico (BNDE); em truíam, como no caso dos luditas. Aos poucos
1982, ela deveria ter diminuído para US$ 180 a rebeldia foi adquirindo caráter político em mo-
milhões, montante que seria transformado em vimentos pelo direito de votar, ter representação
ações preferenciais (sem direito a voto) da Nova parlamentar, criar e manter sindicatos. Não fal-
Companhia do Jari. Além disso, o governo pro- taram também as tentativas de tomada direta
punha-se a destinar os recursos necessários à do poder nas numerosas rebeliões que se de-
transformação da área do Jari em um pólo de senvolveram na Europa no século XIX. Ao longo
desenvolvimento, livrando os empresários de desse período o proletariado foi objeto de refle-
arcar com os pesados encargos financeiros para xão de muitos estudiosos da sociedade capita-
a manutenção de infra-estrutura do projeto. Os lista: Owen, Fourier, Saint-Simon, Proudhon,
encargos iniciais do setor privado eram de US$ Bakunin, Marx e Engels. Organizados em sin-
100 milhões — dos quais US$ 60 milhões em dicatos e partidos políticos, e recebendo influên-
dinheiro —, pagos em três anos. A partir de cias diversas de pensadores socialistas e anar-
março de 1980, a nova Florestal Monte Dourado quistas, os operários obtiveram grandes melho-
iniciou a mistura de espécies nativas com ma- rias em sua condição de vida e mudanças sig-
deira de floresta homogênea na produção de ce- nificativas na sociedade moderna em geral. Veja
lulose, por ter sido verificado que as plantações também Burguesia; Proletariado, Ditadura do.
de gmelina não estariam em condições, por si
sós, de suprir a fábrica de modo a se obter plena PROLETARIADO, Ditadura do. Poder políti-
utilização de sua capacidade instalada. Outro as- co do proletariado, segundo a teoria marxista.
pecto da “nacionalização” diz respeito a área da Sob a direção de um ou mais partidos políticos,
saúde, em que ocorreu a ruptura entre Ludwig os trabalhadores fariam a revolução elevando-se
e as autoridades brasileiras. A Florestal Monte à condição de classe dominante na nova socie-
Dourado comprometeu-se a ceder, sem nenhum dade. Nesse período, considerado transitório
ônus, os imóveis, instalações e equipamentos de por Marx, a classe operária expropriaria os bens
hospital de Monte Dourado e os centros de saú- da burguesia e dos latifundiários, implantando
503 PROPRIEDADES

a propriedade coletiva dos meios de produção PROPENSÃO A CONSUMIR (ou Função Con-
e a planificação de toda a economia. Passada a sumo). Termo criado por Keynes em A Teoria
fase de ditadura do proletariado, isto é, com a Geral do Emprego, do Juro e da Moeda para desig-
supressão das classes e do próprio Estado, a so- nar a parte da renda que é despendida em con-
ciedade socialista entraria na etapa do comunis- sumo. O total que uma comunidade gasta em
mo, cuja plenitude coincidiria com a extinção consumo dependeria: 1) do montante de sua ren-
do próprio Estado. Veja também Proletariado. da; 2) de várias circunstâncias objetivas, como
as variações nas unidades de salários, o nível e
PROMISSÓRIA. Título emitido pelo devedor, a distribuição da tributação e os controles go-
diretamente a seu credor, com promessa de pa- vernamentais; 3) das necessidades subjetivas, in-
gamento em data de vencimento pré-fixada. A clinações psicológicas e hábitos dos indivíduos.
falta de pagamento dá ao credor o direito de
levar a nota promissória ao cartório de protesto PROPENSÃO A INVESTIR. Conceito keyne-
e promover sua cobrança judicial. siano que indica a preferência do indivíduo pos-
suidor de um ativo (capital) em sua destinação
PROOF. Termo em inglês cuja tradução literal a um investimento produtivo, a partir da ex-
é “prova” e que designa emissões de moedas pectativa desse indivíduo quanto à eficiência
metálicas de elevado valor numismático, desti- marginal do ativo. Isto é, se o capital puder pro-
nadas geralmente a colecionadores. Os relevos porcionar uma taxa de lucros superior à taxa
dessas moedas são evidenciados por meio de de juros bancários, o investimento será compen-
um tratamento especial para que se destaquem sador. Caso contrário, o capital será destinado
sobre o brilho espelhado das duas faces da moe- à compra de títulos no mercado financeiro. Veja
da. Em português, elas são denominadas “pro- também Propensão a Consumir; Propensão a
vas”, flan bruni (FB) na França, poliente platte (PP) Poupar.
na Alemanha e fondo specchio (FS) na Itália. Em
PROPENSÃO A POUPAR. É a proporção de
inglês, a abreviatura é PRF.
renda individual, familiar ou empresarial des-
PROOF OF LOSS. Expressão em inglês utiliza- tinada à poupança. Tendência evidente em re-
da na atividade de seguros, que significa “prova lação direta ao crescimento da renda. Isso ocorre
de perdas” (danos), que o segurado deve apre- porque os indivíduos ou famílias de baixa renda
sentar para ser ressarcido pela empresa segura- tendem a gastar toda a sua receita em bens de
dora e que consiste na indicação da data do si- primeira necessidade, não dispondo pratica-
nistro, local de sua ocorrência, circunstâncias em mente de nenhuma sobra para poupar. Veja
também Propensão a Consumir.
que ele ocorreu, extensão do dano e nome de
outras empresas eventualmente seguradoras do PROPENSÃO MARGINAL A IMPORTAR. In-
mesmo bem. dicador que relaciona as alterações na renda com
seus efeitos sobre as importações. Supõe-se que
PROPAGANDA. Divulgação paga e planejada
uma elevação na renda (pessoal, funcional, se-
de mensagens veiculadas em revistas, jornais,
torial, nacional etc.) provoca uma elevação nas
televisão e outros meios de comunicação, com importações, ocorrendo o contrário quando a
o objetivo de persuadir as pessoas a comprar renda diminui. A Propensão Marginal a Impor-
determinado produto ou utilizar determinado tar mede este impacto. Assim, se, por exemplo,
serviço. É atividade do setor terciário da econo- a renda aumentar 5% e as importações (em va-
mia (serviços) e representa um pólo dinâmico lor) também aumentarem 5%, a propensão mar-
do capitalismo mais avançado. São cada vez ginal a importar será igual a 1.
mais raras as campanhas promocionais realiza-
das pelos próprios fabricantes de um produto. PROPORÇÃO ÁUREA. Veja Segmento Áureo.
Atualmente, as verbas que as grandes empresas
reservam à propaganda são encaminhadas a PROPORÇÕES VARIÁVEIS, Lei das. Veja Lei
agências especializadas, nas quais profissionais dos Rendimentos Decrescentes.
de comunicação e marketing planejam e execu- PROPRIEDADE RESOLÚVEL. Situação que se
tam as campanhas, depois de aprovadas pelo configura quando os direitos que constituem
cliente. Outro aspecto dessa atividade é a cha- uma propriedade estão subordinados a uma re-
mada propaganda institucional, promovida por vogação ou se instituem por um prazo de du-
um órgão governamental ou por uma entidade ração temporária. Veja também Fideicomisso.
civil. Suas campanhas não pretendem informar
sobre as qualidades de um produto comercial, PROPRIEDADES. Direito exclusivo que uma
mas visam à divulgação de hábitos de consumo, pessoa física ou jurídica tem sobre determinado
de alimentação ou de utilização de determinado bem, podendo transformá-lo, consumi-lo ou
tipo de transporte. aliená-lo. Distingue-se da posse, o desfrute de
PRO RATA 504

um objeto por uma pessoa, que só se transforma e/ou da correção monetária de uma dívida paga
em propriedade plena pelo conhecimento jurí- depois do vencimento.
dico. A análise da problemática da propriedade
ocupa inúmeros pensadores. Rousseau, por PRO SOLUTO (Pagamento Pro Soluto). Expres-
exemplo, no Discurso sobre a Origem e os Funda- são em latim que significa “a título de” (pro)
“pagamento” (soluto) ou pagamento feito para
mentos da Desigualdade entre os Homens, mostra
saldar, quitar ou extinguir efetivamente uma dí-
o surgimento da propriedade como resultado
vida, ou uma obrigação.
da evolução humana, do desenvolvimento do
trabalho como momento essencial da desagre- PRO SOLVENDO. Expressão em latim que sig-
gação do Estado de natureza. “O primeiro que, nifica o pagamento feito para amortizar uma dí-
cercando um terreno, se lembrou de dizer: isto vida ou uma obrigação.
me pertence, e encontrou criaturas suficientemen-
te simples para acreditar, foi o verdadeiro fun- PROSPERIDADE. Um dos períodos do ciclo
dador da sociedade civil.” Assim, a propriedade econômico, marcado pelo incremento das ativi-
aparece como fundamento da organização social dades econômicas em geral e pelo ambiente de
e das normas que lhe são inerentes e também otimismo. Os ciclos econômicos são flutuações
como fundamento de misérias e horrores entre periódicas em que fases de recessão ou depres-
são alternam-se com fases de expansão ou pros-
os homens. Proudhon, em sua obra O que é a
peridade. Nas fases de prosperidade, ocorrem
Propriedade? (1840), vê a grande propriedade ca-
grandes investimentos, a produção aumenta,
pitalista como um roubo, uma usurpação, mas
novas empresas são criadas, o preço dos pro-
defende a perpetuação da pequena propriedade
dutos cresce, há expansão de crédito e diminui-
baseada no trabalho individual, artesanal. Qua-
ção na taxa de desemprego. A fase de prospe-
tro anos depois, o jovem Marx alia o estudo da ridade encerra-se quando, devido à elevação dos
propriedade com a problemática geral da alie- preços e da taxa de juros, diminui a demanda
nação, mostrando que a vida humana alienada de produtos e os investimentos diminuem. Os
só será superada com a extinção da propriedade empresários reduzem seus investimentos e ini-
privada dos meios de produção. Posteriormente, cia-se nova fase de recessão. Veja também Ciclo
a análise marxista da propriedade foi se mes- Econômico.
clando com as formulações gerais do materia-
lismo histórico, no qual as formas históricas de PROTECIONISMO. Adoção de um sistema de
propriedade se ligam às particularidades de tarifas ou cotas para restringir o fluxo das im-
cada modo de produção. Nesse contexto, Marx portações. Com a formação do mercado capita-
e Engels analisam a propriedade comunal pri- lista em âmbito internacional, os partidários de
mitiva, a propriedade escravista, o modo de pro- medidas protecionistas envolveram-se num am-
dução asiático, a propriedade feudal e a pro- plo debate com os defensores do livre-cambis-
priedade capitalista. Posteriormente, Lênin e ou- mo, isto é, da divisão do trabalho em escala in-
tros detiveram-se na análise da propriedade so- ternacional, com a especialização de cada área
cialista em sua relação com o conjunto da so- na produção de um determinado bem agrícola
ciedade civil e com o Estado. Nas condições do ou industrial. A argumentação dos protecionis-
capitalismo monopolista, vê-se uma ampliação tas partia de considerações não-econômicas. Por
cada vez maior da chamada propriedade pública exemplo, diziam que a agricultura e as princi-
(bens e serviços pertencentes ao Estado), com- pais indústrias de um país deviam ser mantidas
portamento que contraria substancialmente a es- em nível suficiente para atender à demanda ante
sência do liberalismo clássico. Pode-se também um eventual corte do fornecimento externo, em
decorrência de uma guerra. Da mesma forma,
constatar a presença da propriedade cooperati-
as indústrias-chave na defesa nacional deveriam
va, sobretudo no âmbito do consumo, do crédito
ser protegidas para evitar dependências de for-
e da comercialização de produtos agrícolas.
necedores estrangeiros. Além desses argumen-
PRO RATA. Expressão em latim que significa tos, o protecionismo pode apoiar-se em justifi-
“em proporção ” ou “proporcionalmente” ao cativas econômicas. Práticas de defesa de mer-
que cada um dos participantes de um empreen- cado contribuem indiscutivelmente para o de-
dimento possui. Por exemplo, na divisão dos senvolvimento de novas indústrias no país pro-
lucros de uma empresa, a divisão pro rata sig- tegido, as quais dificilmente teriam de competir
nifica sua divisão proporcional aos possuidores em escala internacional; mais ainda, em condi-
das ações da empresa. ções de capacidade ociosa, as medidas protecio-
nistas contribuem para o aumento do nível de
PRO RATA TEMPORE. Expressão em latim emprego, atraindo a demanda para a produção
que significa “proporcionalmente ao tempo” e doméstica. No Brasil, foram diversos os instru-
é utilizada quando se faz o cálculo dos juros mentos de proteção industrial utilizados, além
505 PUBLIC CHOICE

das tarifas. A taxa de câmbio atendeu em vários várias vezes perseguido e preso por suas obras,
períodos a essa finalidade, particularmente na escreveu ainda: Idéia Geral da Revolução no Século
década de 30, quando foi desvalorizada em XIX (1851), Da Justiça na Revolução e na Igreja
100%. Recorreu-se também ao racionamento de (1855) e Da Capacidade Política das Classes Operá-
importações, seja por falta de reservas cambiais, rias (1865). Veja também Anarquismo; Comu-
seja por fatores de ordem externa, tais como a nismo; Socialismo.
Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial.
Outro importante mecanismo de protecionismo PROXY. Autorização dada a um representante
industrial foi o controle do acesso a divisas para para votar numa reunião no lugar de um acio-
importações, que atingiu seu ponto culminante nista ausente. O termo também é aplicado à pes-
logo após a Segunda Guerra Mundial, estenden- soa que recebe essa autorização. Nos Estados
do-se até 1953. Destaque-se, por último, o papel Unidos, a votação por proxy varia muito. No
desempenhado pela legislação dos similares. Re- entanto, as regras básicas são as seguintes: 1)
monta a 1890 a proibição de importação de pro- que a proxy seja dada por escrito; 2) que a pessoa
dutos que tenham similares produzidos no Bra- que deu a proxy possa revogá-la a qualquer mo-
sil. Veja também Substituição de Importações. mento; 3) que ela expira depois de determinado
tempo (meses, anos), a não ser que o acionista
PROTECTIVE COVENANT. Expressão em in- indique especificamente este período. Na medi-
glês que significa, num contrato de endivida- da em que as reuniões de acionistas necessitam
mento, os limites de certas ações que a empresa de um quorum (um certo número de acionistas
devedora deverá ter no sentido de proteger os representados), é necessário o uso de proxys
interesses do credor. quando as ações de uma empresa se encontram
excessivamente pulverizadas. Proxy (variable)
PROTESTO. Um certificado formal atestando
significa também a variável utilizada na análise
que um determinado título não foi honrado na
de regressão para substituir outra teoricamente
data de seu vencimento.
mais satisfatória, nos casos em que não se dispõe
PROUDHON, Pierre Joseph (1809-1865). Pen- de dados para esta última ou não é possível obtê-
sador francês, precursor do anarquismo, um dos los, como, por exemplo, acontece com os “ideais”
mais influentes teóricos dos movimentos refor- de consumo. Veja também Análise de Regres-
mistas do século XIX. Combatia a religião e o são; Dummy.
Estado, rejeitando toda a autoridade. Só admitia
PSICOLOGIA INDUSTRIAL. Estudo das ati-
a autoridade da justiça igualitária, que signifi-
tudes e respostas mentais do indivíduo em sua
caria “reconhecer no outro uma força igual à
situação de trabalho, particularmente em suas
nossa”. Condenava a propriedade capitalista,
relações com os colegas de serviço, com as má-
por admitir a renda sem trabalho. Em sua obra
quinas e equipamentos que ele opera e com sua
O que É a Propriedade? (1840), está a célebre frase:
própria empresa. O objetivo é aumentar a pro-
“A propriedade é um roubo”. Condenou igual-
dutividade do trabalho e levar o empregado a
mente a renda, os juros e o lucro. Contudo, de-
fendia a substituição da propriedade que pos- sentir-se satisfeito com as tarefas que desempe-
sibilita a exploração do trabalho de outrem pela nha. Os profissionais dessa área aplicam testes
posse pessoal, familiar e hereditária resultante de personalidade para determinar as aptidões
do trabalho. Propôs o mutualismo como orga- e possíveis reações dos trabalhadores diante de
nização econômica ideal: seria uma sociedade determinadas situações, além de ser consultados
formada por pequenos proprietários e trabalha- sobre projetos de novas máquinas e sobre mo-
dores, com todas as forças coercitivas de gover- dificações no ambiente de trabalho. O desenvol-
no abolidas e substituídas por associações vo- vimento da psicologia industrial se deve sobre-
luntárias auto-administradas e federadas. Essas tudo às teorias de Mary Parker Follet, Lilian Gil-
idéias tiveram influência marcante no sindica- breth e à reação às concepções de Frederick
lismo francês. Para a formação de capitais, exis- Winslow Taylor, desenvolvidas por George El-
tiria um banco diferente dos capitalistas, o Banc ton Mayo à raiz dos estudos Hawthorne. Veja
d’Échange, que não cobraria juros e faria circular também Mayo, George Elton; Taylor, Frederick
cheques-trabalho (correspondentes ao trabalho Winslow; Taylorismo.
despendido na produção de um artigo). Prou- PTA. Iniciais da expressão em inglês preferential
dhon e seus adeptos participaram ativamente trade area, que significa “zona de comércio pre-
dos movimentos sociais da Europa da época, ferencial”.
opondo-se a outros reformadores e revolucio-
nários, entre os quais os adeptos de Marx. Este PUBLIC CHOICE (Escolha Pública). Vertente
último criticou a obra Filosofia da Miséria (1846), de análise de fenômenos sociais que utiliza mé-
de Proudhon, em um livro que intitulou, ironi- todos da ciência econômica para a solução e
camente, Miséria da Filosofia. Proudhon, que foi compreensão de problemas da ciência política.
PUFFER 506

Durante a década de 50 deste século, Duncan isto é, aquela que não decorre de um uso melhor
Black recuperou os estudos de matemáticos do ou mais intenso da capacidade instalada, ou do
século XVIII e XIX como Condorcet, Laplace e aumento dessa capacidade nas mesmas bases
Lewis Carroll (Charles L. Dodgson), que haviam tecnológicas, mas sim da incorporação do pro-
tentado compreender os processos que envol- gresso técnico.
vessem escolhas, como, por exemplo, no caso
das votações. Na abordagem de Duncan Black, PURE PROFIT. Veja Lucro Puro.
da mesma forma que em economia, estudam-se
PUSH BUTTON FACTORY. Veja Manless
as relações entre consumidores e empresas (em-
presários). Na escolha pública, o eleitorado (os Factory.
votantes em uma eleição) é comparado aos pri- PUT. Opção de vender um título específico a
meiros e os políticos, aos empresários ou ho- um determinado preço dentro de determinado
mens de negócio. As concepções da escolha pú- período.
blica podem ser consideradas tanto ciência po-
sitiva quanto normativa. Isto é, os conhecimen- PUT OPTION. Expressão em inglês que signi-
tos obtidos podem ser usados para um melhor fica “opção de venda”.
desempenho dos políticos e dos eleitores (e das
relações entre ambos), no sentido da melhora PUTS AND CALLS. Expressão em inglês do
do bem-estar social. As contribuições mais im-
jargão das Bolsas de Valores: puts são opções
portantes dessa abordagem ocorreram no âm-
para vender e calls são opções para comprar uma
bito do comportamento de eleitorado (votantes),
quantidade específica de artigos a determinados
dos políticos (enquanto representantes dos pri-
preços e dentro de um determinado período.
meiros), das relações entre ambos (dos processos
eleitorais) e da teoria da burocracia.
PUTTING-OUT SYSTEM. Sistema de produ-
PUFFER. Termo em inglês que significa, literal- ção anterior à Revolução Industrial e muito di-
mente, “soprador”, mas, no âmbito dos leilões, fundido na Inglaterra, no qual os tecelões, fian-
designa a pessoa empregada para apresentar deiros, carpinteiros e outros artesãos trabalha-
ofertas falsas com o propósito de aumentar o vam para comerciantes em domicílio, com seus
preço final dos bens leiloados. Recebe também próprios instrumentos de trabalho, mas com ma-
o nome de by-bidder. térias-primas e adiantamento para sua subsistên-
cia fornecidos pelos comerciantes. Na Alemanha,
PUL. Veja Afegani.
este sistema era denominado Verlagsystem.
PURCHASING POWER PARITY THEORY. Li-
teralmente, “teoria da paridade do poder de PUTTY-CLAY. Veja Clay-Clay.
compra”. Esta teoria, associada ao economista
sueco Gustav Cassel, procura explicar e medir PUTTY-PUTTY. Veja Clay-Clay.
estatisticamente a taxa de câmbio de equilíbrio
e suas variações por intermédio do nível de pre-
ço e suas variações nos diferentes países. Ba-

Q
seia-se na simples idéia de que uma certa quan-
tidade de dinheiro (moeda) deveria adquirir a
mesma quantidade de bens nos diferentes paí-
ses. Isto é, uma certa quantidade de moeda de-
veria ter o mesmo poder de compra nos dife-
rentes países. Daí o nome da teoria.
PURE-DISCOUNT. Veja Deep-Discount Bond.
PURE-DISCOUNT BONDS. Veja Zero Cou- Q. Inicial de: 1) quarter (medida de capacidade
pon Bond. para cereais); 2) quantidade; 3) quetzal (unidade
monetária da Guatemala); 3) quintar (unidade
PURE FLOAT. Expressão em inglês utilizada monetária da Albânia).
para designar os movimentos de uma taxa de
câmbio que não sofrem interferências das auto- QQ. Abreviatura de quadratim.
ridades monetárias de um país (Banco Central,
por exemplo), mas dependem apenas das forças QT. Sigla de “quantidade total”, indica a soma
de mercado. O contrário de dirty float. Veja tam- de todos os negócios realizados durante o dia
bém Dirty Float. na Bolsa de Valores.

PURE PRODUCTIVITY. Expressão em inglês QUADRA GAÚCHA. Medida de área corres-


que significa, literalmente, “produtividade pura”, pondente a 60 x 60 braças ou 132 x 132 m, ou
507 QUEBRA DE CONTRATO

o equivalente a 17 424 m2. É uma medida muito do sistema métrico decimal, e equivalente a
utilizada no Rio Grande do Sul. 0,6655 l.
QUADRADOS LATINOS ORTOGONAIS. Dois QUARTO MERCADO. Veja Fourth Market.
quadrados latinos do mesmo tamanho são ditos
ortogonais quando, superpondo-se um ao outro, QUARTOLA. Antiga medida de capacidade uti-
cada par de símbolos assim formado aparece lizada em Portugal e no Brasil, equivalente a
uma única vez, formando um quadrado greco- aproximadamente 200 l.
romano. Por exemplo, os quadrados
QUARTOS. Forma em que se dividem as me-
A B C a b c didas de capacidade como toneladas e quintais.
Assim, um quarto pode ser igual a: 500 libras
B C A c a b
ou 226,5 kg = 1 quarto de tonelada curta; 560
C A B b c a libras ou 253,68 kg = 1 quarto de tonelada longa;
28 libras ou 12,684 kg = 1 quarto de quintal lon-
superpostos resultam no seguinte: go; 25 libras ou 11,285 kg = 1 quarto de quintal
curto.
Aa Bb Cc
Bc Ca Ab QUASE-MOEDA. Conjunto dos ativos do sis-
tema financeiro não monetário, constituído prin-
Cb Ac Ba cipalmente pelos débitos ou compromissos das
instituições financeiras, especialmente as gover-
QUADRAGESIMO ANNO. Título da encíclica namentais. Caracteriza-se por sua grande liqui-
do papa Pio XI, que tratava da reconstrução da dez. Exemplos de quase-moeda são os depósitos
ordem social. A encíclica tanto criticava o so- de poupança, os títulos emitidos pelo governo
cialismo como condenava o capitalismo do lais- e os depósitos a prazo, entre outros. A quase-
sez-faire (liberal). moeda, uma vez que pode se transformar em
QUADRATIM. Unidade utilizada nas ativida- meio de pagamento (moeda legal ou escritural),
des gráficas para medir áreas. O quadratim de exerce influência sobre a demanda de bens e
um tipo de 5 pontos tem 5 pontos quadrados, serviços, e, portanto, contribui para um nível
sendo esta a medida utilizada para medir colu- geral de preços maior ou menor (inflação). Veja
nas nos jornais. O cícero quadrado é um qua- também Moeda Escritural; Moeda Legal; Teoria
dratim de 12 pontos. Veja também Cícero. Quantitativa do Valor da Moeda.

QUADRO DE DUPLA ENTRADA. Veja Mé- QUASE-RENDA. O montante obtido pelo ven-
todo Matricial. dedor de um bem ou serviço que supera seu
custo de oportunidade, quando o bem ou serviço
QUADRO ECONÔMICO. Veja Quesnay, Fran- se encontra com a oferta fixa, isto é, não há pos-
çois; Tableau Économique. sibilidade de aumentá-la no curto prazo. O con-
QUANTIDADE DE INSPEÇÃO. Em análise es- ceito foi desenvolvido por Alfred Marshall para
tatística, é o tamanho da amostra extraída de a determinação do preço do capital no curto pra-
cada conjunto para chegar a uma decisão sobre zo quando a oferta de capital é fixa. Os proprie-
sua aceitação ou recusa. tários do capital recebem um pagamento que
difere do custo de oportunidade (de usar aquele
QUANTUM. Termo em latim que significa quan- recurso) pelo montante da quase-renda. A longo
tidade ou volume, utilizado para indicar a quan- prazo, quando o fator puder ser incrementado,
tidade vendida, comprada, importada, exporta- o preço de equilíbrio refletirá o custo dos usos
da etc. de uma mercadoria ou de um conjunto alternativos. Em síntese, a quase-renda existe
de mercadorias. porque os preços no curto prazo não estão em
equilíbrio ou, visto de outro ângulo, trata-se de
QUARTEL. Veja Alqueire. uma receita devida a fatores não disponíveis aos
QUARTER. Medida inglesa de capacidade para concorrentes.
cereais equivalente a oito bushels ou 290,93 l.
QUASI RENT. Veja Quase-renda.
QUARTIL. Termo utilizado em estatística para
designar a divisão de uma distribuição de fre- QUEBRA DE CONTRATO. Incapacidade ou re-
qüência em quatro partes iguais. Veja também cusa de uma das partes signatárias de cumprir
Percentil. um contrato ou algumas de suas cláusulas. A
quebra de um contrato pode ocorrer, no entanto,
QUARTILHO. Antiga medida de capacidade quando por alguma razão imprevista seu cum-
utilizada em Portugal, equivalente a 0,353 l e primento (ou alguma de suas cláusulas) torna-se
pela Casa da Moeda do Brasil, antes da adoção impraticável. No Brasil, durante os últimos anos,
QUEBRA DO HERSTATT 508

quando sucessivos planos econômicos foram de- nada produz. Para Quesnay, a vida econômica,
cretados na tentativa de combater a inflação, vá- tal como esquematizou no Tableau, obedece a
rios dispositivos desses planos significaram na leis naturais que devem ser respeitadas pelos
prática a quebra de contratos, especialmente en- governantes (direito à propriedade e a seus fru-
tre empregados e empregadores, dando lugar a tos, à liberdade de ação segundo o próprio in-
inúmeras demandas judiciais e criando um cli- teresse). O Estado, portanto, não deve intervir
ma de insegurança entre os agentes econômicos. no processo econômico. Além de provar de for-
O Plano Real, no entanto, tentou evitar esses ma lógica e sistemática a interdependência dos
problemas, tornando a reforma monetária um fatos econômicos e revelar o mecanismo da cir-
processo relativamente longo e em grande me- culação e reprodução dos bens, o esquema de
dida voluntário. Quesnay mostra como a atividade econômica
depende da iniciativa dos detentores de capitais
QUEBRA DO HERSTATT. Em 1974, quando e enfatiza a importância da manutenção do po-
quebrou, o I.D. Herstatt era um dos maiores ban- der de compra dos assalariados (mas sem ul-
cos privados da Alemanha. Essa crise teve forte trapassar um nível em que eles se tornem “pre-
repercussão não apenas na Alemanha mas em guiçosos e arrogantes”). Líder dos fisiocratas,
todo o mundo, por seu caráter repentino e por Quesnay exerceu grande influência sobre seus
ter ocorrido num momento de crise internacio- contemporâneos e constituiu de certa forma o
nal. A causa principal da quebra parece ter sido ponto de partida para Adam Smith. Veja tam-
o fato de o banco haver feito aplicações consi-
bém Tableau Économique.
deráveis no mercado de câmbio, um pouco antes
do dólar perder força no mercado internacional, QUESTÃO AGRÁRIA. Conjunto de problemas
dentro de um sistema de taxas flutuantes de suscitados pelo nível de desempenho da agri-
câmbio, que substituiu o sistema de taxas fixas cultura num país que atravessa um processo de
estabelecido trinta anos antes pelo Acordo de industrialização, e no qual o setor agrário se
Bretton Woods. Veja também Conferência de mostra incapaz de atender às necessidades so-
Bretton Woods. ciais inerentes às transformações em curso. His-
toricamente, nessas condições requerem-se da
QUEDA DOS RENDIMENTOS, Lei da. Veja
agricultura atribuições que só ela pode desem-
Lei dos Rendimentos Decrescentes.
penhar: 1) fornecimento de alimentos à crescente
QUESNAY, François (1694-1774). Economista população urbana; 2) matérias-primas necessá-
francês, líder dos fisiocratas, uma das mais im- rias às indústrias em expansão; 3) liberação de
portantes figuras na constituição da economia mão-de-obra para as atividades urbanas; 4) au-
como ciência. Médico renomado da corte de Luís mento da produção com um número cada vez
XV desde 1748, procurou criar uma ciência eco- menor de trabalhadores; 5) geração de divisas
nômica à semelhança das ciências naturais. Para para a importação de equipamentos; 6) acumu-
ele, a economia se reduzia a números, nada teria lação de capitais que devem ser drenados para
a ver com questões morais e seria independente os setores secundário e terciário. O não cumpri-
do processo histórico humano. Considera direi- mento da totalidade desses requisitos configura
tos naturais o direito à vida com liberdade e o a “questão agrária” como problema social, e não
direito à propriedade sem restrições. Proprietá- apenas econômico. Colocam-se então as alter-
rio de terras, volta sua atenção para os proble- nativas para ativar o setor, que sempre contem-
mas agrícolas: seus primeiros trabalhos sobre as- plam as alterações no sistema de propriedade
suntos econômicos são Ensaio sobre a Economia da terra. Veja também Reforma Agrária; Siste-
Animal, 1747, e dois verbetes para a Enciclopédia: mas Agrários.
“fazendeiros” (1756 ), e “cereais” (1757). Em
1758, lançou seu célebre Tableau Économique QUETELISMO. Termo criado por Francis Isidro
(Quadro Econômico), uma simples folha impres- Edgeworth, originado no nome de Lambert
sa na gráfica real: mas era a primeira sistema- Adolphe Jacques Quetelet, para descrever a cres-
tização do encadeamento dos fatos econômicos, cente influência da descoberta de distribuições
mostrando como ocorre a circulação da renda normais em lugares onde não existiam ou que
entre as atividades, a partir da agricultura. Para não satisfaziam às condições que identificam
Quesnay, toda riqueza se extrai da natureza, e distribuições normais genuínas.
a agricultura é a única atividade geradora de QUETZAL. Unidade monetária da Guatemala.
um excedente, um produto líquido (produit net) Submúltiplo: centavo.
que se distribui entre as diferentes classes so-
ciais, sendo a classe dos agricultores considerada QUILATE (k). Unidade de medida que expres-
a única produtiva. A indústria apenas transfor- sa: 1) o toque do ouro, isto é, a relação do peso
ma os produtos, reúne valores já existentes, e o do metal nobre com o peso total da moeda cu-
comércio é também uma atividade estéril, que nhada (ou da peça de ouro fabricada). O máximo
509 QUODET ERAT DEMONSTRANDUM.

de toque de uma peça de ouro corresponde a para designar a parte de um terreno (gleba, lote)
24 quilates, quando a moeda seria fabricada com pertencente a uma pessoa antes de seu desmem-
ouro puro. As moedas de ouro, no entanto, con- bramento.
têm uma pequena parcela de outros metais, de
tal forma que as moedas de ouro cunhadas em QÜINQÜENAIS, Planos. Veja Planos Qüin-
Portugal e no Brasil tinham geralmente 22 qui- qüenais.
lates (vigésima quarta parte da onça); 2) medida QUINTA-FEIRA NEGRA (Black Thursday). O
de peso utilizada pela Casa da Moeda do Brasil dia 24 de outubro de 1929, quando teve início
antes da adoção do sistema métrico decimal e a queda da Bolsa de Valores de Nova York, de-
equivalente a 4 grãos ou aproximadamente 198,4 sencadeando a crise econômica que se estenderia
mg; 3) unidade de medida utilizada para pesar até meados dos anos 30. Veja também Depres-
pedras preciosas, especialmente diamantes e pé- são; Sexta-feira Negra.
rolas. Seu peso foi padronizado em 3,086 grãos
ou 0,196806 g. Para facilitar as pesagens, o qui- QUINTAL. Medida de peso equivalente a 100
late é dividido em quatro partes denominadas libras ou 45,359 kg. Esta medida foi modificada
grãos de quilate. Dessa forma, um diamante, por durante o reinado de Elisabeth I da Inglaterra,
exemplo, pode pesar entre 2 e 3 quilates e seu passando a valer 112 libras e a ser chamada de
peso será designado pela notação 2 quilates e quintal longo. O quintal também é chamado de
1/8. O quilate é utilizado também para deter- hundredweight.
minar o grau de pureza do ouro. O grau máximo QUINTAL LONGO. Veja Quintal.
de pureza é designado por 24 quilates. Na me-
dida em que o ouro aparecer combinado em liga QUINTAL MÉTRICO. Unidade de peso equi-
com outro metal, ele terá menos de 24 quilates: valente a 100 kg ou 220,46 libras avoirdupois. É
assim, por exemplo, se uma jóia contiver ouro também medida de peso utilizada pela Casa da
de 18 quilates, o comprador saberá que a liga Moeda do Brasil antes da adoção do sistema
contém 18 partes de ouro para 6 partes do outro métrico decimal e equivalente a 4 arrobas ou 60
metal que compõe a liga. Geralmente, o ouro kg.Veja também Avoirdupois; Sistemas de Pe-
mais puro utilizado entre os ourives e para a sos e Medidas.
cunhagem de moedas é o de 22 quilates, uma
QUINTO. Imposto que a coroa portuguesa co-
vez que são necessárias duas partes de outro
brava das minas de ouro do Brasil e que cor-
metal a fim de conferir a dureza necessária para
respondia a um quinto (ou 20%) do que era pro-
sua manipulação. O símbolo que designa o qui-
duzido. A expressão “quinto dos infernos” pa-
late é comumente a letra K: sua origem remonta
rece ter sua origem nesse processo de cobrança
à prática dos árabes, que pesavam o ouro com
de impostos.
um tipo de feijão denominado karob.
QUINZENA. Série de quinze dias consecutivos.
QUINCUNCE DE GALTON. Aparelho utiliza- Muitas categorias de trabalhadores recebem
do em estatística e elaborado para ilustrar fisi- seus salários por quinzenas, isto é, são pagos
camente a formação de uma distribuição de fre- duas vezes a cada mês.
qüência, pelo efeito conjugado de um grande
número de fatores independentes. É constituído QUIROGRAFÁRIO. Termo que geralmente de-
por uma tábua inclinada e dotada de pinos dis- signa um credor que não tem, para prova de
postos em quincunce, isto é, de tal forma que sua dívida, instrumento público ou causa pri-
cada pino forma um triângulo eqüilátero com vilegiada em virtude da qual possa obter exe-
seus vizinhos. No alto da tábua, isto é, no topo cução aparelhada ou hipoteca. A dívida quiro-
da pirâmide global formada, há um funil por grafária é aquela que se sustenta em promessa
onde se deixam cair pequenas esferas de chum- assinada apenas pelo devedor, e não reconhe-
bo, e na base da pirâmide preparam-se cerca de cida juridicamente.
trinta compartimentos, onde as esferas, ao cair,
QUITAÇÃO. Declaração por escrito do credor
vão esbarrando nos pinos, sofrem desvios e for-
de que recebeu do devedor determinada quantia
mam montes sucessivos, descrevendo uma curva
em dinheiro relativa a seu crédito, liberando-o
de freqüência. Veja também Distribuição Nor-
da obrigação. Quando a quitação compreende
mal; Triângulo de Pascal.
apenas uma parte da dívida, diz-se que a qui-
QUINCUNX DE GALTON. Veja Quincunce de tação é parcial; quando é final e completa, abran-
Galton. gendo a totalidade da dívida, que dessa forma
é liquidada ou saldada, diz-se que a quitação
QUINDARKA. Veja Ler Novo. foi plena ou geral.
QUINHÃO. Termo que, em geral, designa uma QUODET ERAT DEMONSTRANDUM. Expres-
parte ou uma fração de um todo. É utilizado são em latim que significa “como se queria de-
QUÓRUM 510

monstrar”, geralmente registrada abreviada- tração industrial, visando a diminuição dos cus-
mente Q.E.D. (ou q. e. d.), depois de uma longa tos e aumento da eficiência da produtividade
argumentação ou desenvolvimento de fórmulas do trabalho. O processo de racionalização valo-
matemáticas ou geométricas. riza também o princípio da especialização, me-
diante reformas internas em uma mesma em-
QUÓRUM. Número mínimo de indivíduos, re-
presa, bem como a fusão de unidades produto-
presentantes de uma instituição ou porcentagem
ras e mutuamente concorrentes, com o objetivo
de um grupo que devem estar presentes a uma
de alcançar economias em escala. Veja também
reunião, assembléia etc. para que estas possam
Automação; Concentração; Organização.
ter validade legal.
RACIONAMENTO. Limitação, controlada pe-
QUOTA. Veja Cota.
las autoridades, da oferta de bens e serviços es-
senciais. Aplicado em épocas de escassez, crise
econômica ou guerra, o racionamento tem como
objetivo garantir uma parcela mínima necessária

R
ao consumo individual, restringindo ao mesmo
tempo o consumo global. A medida foi empre-
gada pela primeira vez em escala nacional pela
Inglaterra, durante a Primeira Guerra Mundial,
voltando a ser usada pela maioria dos países
envolvidos na Segunda Guerra Mundial. Em sua
forma mais comum, o racionamento é controla-
R. Iniciais de: 1) rand (unidade monetária da do por meio de cupons, que passam a ter a fun-
África do Sul, Botswana, Lesoto e Suazilândia); ção de moeda, de circulação limitada e especí-
2) real (unidade monetária do Brasil e antiga da fica. Veja também Crise Econômica; Escassez.
Espanha e Portugal); 3) receita; 4) rial (unidade RALLY. Termo utilizado nas Bolsas de Valores
monetária da Arábia Saudita e do Irã); 5) rublo dos países de língua inglesa para designar uma
(unidade monetária da Rússia); 6) rupia (unidade alta nas cotações seguida de um súbito declínio.
monetária do Ceilão, Índia, Indonésia e Paquis-
tão). RAM (Random Acess Memory). Em informá-
tica, significa uma memória na qual é possível
RAÇÃO ESSENCIAL MÍNIMA. Dispositivo colocar ou retirar quaisquer informações de ma-
criado pelo decreto-lei nº 399, de 30/4/1938, re- neira aleatória. Seu desenvolvimento se ampliou
gulamentando o salário mínimo e instituindo com a miniaturização dos chips, o que permitiu
uma cesta de alimentos necessários para a sub- mais espaço para armazenar informações.RA
sistência de um trabalhador adulto durante um MOS, Guerreiro. Veja ISEB.
mês. Esta ração essencial mínima admitia algu-
mas variações, dependendo de cada região bra- RAND. Unidade monetária da África do Sul e
sileira. Para o Sudeste, a composição era a se- da Namíbia (administrada pela África do Sul).
guinte: Submúltiplo: cent.

Carne 6 kg RANDÔMICO. Conceito da Teoria das Pro-


Leite 7,5 l babilidades derivado da palavra inglesa random,
que significa “aleatório” ou “ao acaso”. Um pro-
Feijão 4,5 kg cesso ou um padrão randômico é aquele que se
Arroz 3 kg caracteriza por ser aleatório. O contrário de pro-
Farinhas e massas 1,5 kg cesso determinístico.
Batata 6 kg RANDOM WALK. Expressão em inglês que,
Pão de milho ou misto aplicada ao mercado financeiro, significa que os
(50% de trigo) 6 kg movimentos das cotações das ações de um dia
Café (pó) 600 g para outro são aleatórios. Isto é, as alterações
Frutas 90 unidades nas cotações são independentes entre si e têm
a mesma probabilidade de distribuição. Ou me-
Açúcar 3 kg
lhor, o nível de uma cotação em determinado
Banha 1,5 kg momento é equivalente ao seu valor mais re-
Manteiga 900 g cente acrescido de um elemento aleatório.
RACIONALIZAÇÃO. Emprego de métodos RANGEL, Ignácio de Moura (1914-1994). Ma-
científicos de controle, organização e concen- ranhense, formado em direito, mas reconhecido
511 REAL EXTRAÇÃO

e respeitado como economista, Ignácio Rangel RAZÃO SOCIAL (ou Firma). É o nome devi-
ingressou no serviço público federal em 1952, damente registrado sob o qual uma pessoa ju-
na assessoria do presidente Getúlio Vargas, e rídica (comercial, industrial ou de serviços) se
integrou o Conselho Nacional do Petróleo, apo- individualiza e exerce suas atividades. A razão
sentando-se em 1975 pelo Banco Nacional de social diferencia-se do nome dado a um estabe-
Desenvolvimento Econômico. Formulou proje- lecimento ou do nome comercial com que a em-
tos e prestou serviços em várias instâncias do presa pode ser reconhecida junto ao público.
governo federal. A partir dos anos 80, passou R&D. Veja P&D.
a colaborar regularmente com vários órgãos de
imprensa, escrevendo sobre questões econômi- REAGANISMO. Veja Reaganomics.
cas. Seu livro mais importante é A Inflação Bra-
REAGANOMICS. Política monetária e fiscal
sileira, editado em 1963, em que o autor desen-
desenvolvida pelo Federal Reserve nos Estados
volve concepções originais sobre as causas da Unidos a partir de 1979 e, coincidindo com os
inflação no Brasil, criticando tanto os moneta- dois mandatos do presidente Ronald Reagan,
ristas quanto os estruturalistas. que consistiu na elevação das taxas de juros e
redução das taxas de impostos para estimular
RAPPING, Leonard. Veja Expectativas Racio-
o investimento e a produção. Veja também Sup-
nais.
ply Side Economics.
RASPAGEM. Ato de raspar moedas de metais REAL. Moeda cunhada em prata em Portugal
preciosos, especialmente de ouro. no final do século XIV durante o reinado de
RASTREABILIDADE. Processo mediante o qual dom João I. No Brasil colônia — durante a do-
a gerência de uma empresa pode saber quem minação espanhola —, os reais circularam aqui
com o nome de patacas, pois tinham origem nas
são os funcionários responsáveis por cada etapa
moedas de prata espanholas denominadas reales
de produção de um bem ou serviço. Na medida
espanhóis. A maioria dessas moedas vinha da
em que o objetivo da qualidade torna-se cada Casa da Moeda de Potosi, no Peru, entre 1590
vez mais importante para as empresas, o con- e 1640. Os reales tiveram a seguinte equivalência
ceito de rastreabilidade tende a se generalizar em moedas portuguesas:
como processo administrativo indispensável.
8 reais = 16 vinténs ou 320 réis (pataca)
RATING AGENCY. Expressão em inglês que
designa as empresas que se dedicam à avaliação 4 reais = 8 vinténs ou 160 réis (meia pataca)
e classificação de títulos e outros ativos finan- 2 reais = 4 vinténs ou 80 réis
ceiros, em função do risco. Tais empresas têm
grande importância na orientação de investido- 1 real = 2 vinténs ou 40 réis
res tanto nos Estados Unidos como na Europa
e no Japão. Nos Estados Unidos, destacam-se a 1/2 real = 1 vintém ou 20 réis
Standard & Poor’s e a Moody’s Investors. Veja A partir de 2/8/1993, o real passou a constar
também Moody’s Investors; Standard & Poor’s. na denominação da unidade monetária brasilei-
ra depois do nome cruzeiro, de tal forma que
RAUMTONNE. Veja Tonelada de Arqueação. 1 cruzeiro real passou a valer mil cruzeiros. Em
RAZÃO. Livro contábil — considerado o mais 1º/7/1994, tornou-se a unidade monetária bra-
importante na escrituração de uma empresa — sileira, equivalendo a uma Unidade Real de Va-
lor (URV) ou 2750 cruzeiros reais. Veja também
no qual são lançadas as contas relativas ao livro
URV.
diário. Cada conta (tipo de despesa ou receita)
deve ser colocada em uma página, com colunas REAL ERÁRIO. Instituição criada por D. João
para datas, créditos, débitos e página do livro VI, com a vinda da família real para o Brasil
diário do qual foi extraído. O livro-razão fun- em 28/6/1808, com a finalidade de concentrar
ciona como uma espécie de resumo do livro diá- a arrecadação e processar a realização das des-
rio, permitindo ainda uma visão global de cada pesas do governo real brasileiro. Com o advento
conta e o entendimento da situação da empresa. do Império, passou a chamar-se Tesouro Impe-
rial. A partir de 1889, com a proclamação da
RAZÃO DE MASCULINIDADE. Na análise República no Brasil, passou a chamar-se Tesouro
demográfica, é a relação entre o número de nas- Nacional, conservando este nome até hoje. Veja
cimentos masculinos para cada cem nascimentos também Tesouro Nacional.
femininos. Pode ser calculada tomando-se ape-
nas os nascidos vivos ou também o conjunto de REAL EXTRAÇÃO. Órgão da administração co-
todos os nascimentos. lonial portuguesa estabelecido em julho de 1771
REAL TIME 512

no Distrito Diamantino do Brasil (Minas Gerais). das a crédito e pelos eventuais rendimentos de
Era responsável, junto à Fazenda Real, pela ex- aplicações financeiras. No orçamento público,
ploração das jazidas de diamantes. Substituía o receita é a soma das arrecadações de impostos,
sistema anterior, que consistia na concessão pri- taxas, contribuições, multas etc. Os rendimentos
vilegiada das minas a particulares para que as de fonte certa compõem a receita ordinária, en-
explorassem em benefício próprio. A Real Ex- quanto os incertos ou eventuais formam a receita
tração chegou a utilizar na mineração cerca de extraordinária.
3 mil escravos alugados. Foi extinta em 1832,
devido ao empobrecimento das jazidas, cuja ex- RECENSEAMENTO. Veja Censo.
ploração passou a implicar custos muito eleva-
dos. RECESSÃO. Conjuntura de declínio da ativida-
de econômica, caracterizada por queda da pro-
REAL TIME. Veja Tempo Real. dução, aumento do desemprego, diminuição da
taxa de lucros e crescimento dos índices de fa-
REALIZAÇÃO DE LUCROS. Expressão utili- lências e concordatas. Essa situação pode ser su-
zada na Bolsa de Valores para designar um mo- perada num período breve ou pode estender-se
mento em que os operadores, certos de que as de forma prolongada, configurando então uma
cotações das ações sofrerão uma queda, se apres- depressão ou crise econômica. O fenômeno da
sam em vender seus papéis para realizar lucros. recessão está ligado ao processo de desenvolvi-
Geralmente, isso acontece depois de um período mento dos ciclos econômicos próprios da eco-
em que as cotações estiveram em alta em pre- nomia de mercado ou capitalista. Veja também
gões sucessivos. Veja também Hammering the Ciclo Econômico; Conjuntura; Crise; Depres-
Market. são; Reflação; Subconsumo; Superprodução.
REAPLICAÇÃO. Utilização, para novos inves- RECHSSTAAT. Termo em alemão que significa
timentos, dos rendimentos e juros conseguidos “Estado de Direito” ou “Estado de Justiça”. É
em uma aplicação de capital. É comum que o uma expressão do laissez-faire que se inicia com
investidor autorize o corretor a fazer reaplica- os fiosiocratas e que vai mais além da economia
ções com os dividendos obtidos em suas ações política e se aplica ao campo do direito e da
ou com o capital levantado em vendas de ações política, no sentido de que o Estado ideal deve
e títulos. ser o Rechsstaat e a arte de governar é a arte de
REBATE. Termo em inglês que, na prática ban- abster-se tanto quanto possível de governar.Veja
cária, significa um desconto ou um abatimento também Fisiocratas; Laissez-faire.
se um devedor paga juros por antecipação e, RECIBO DE TÍTULO. Documento provisório
com o consentimento do credor, paga sua dívida que prova a posse de determinado título e, em
antes do vencimento. Nesse caso, com o con- alguns casos, pode ser negociado na Bolsa de
sentimento do credor, recebe de volta os juros
Valores.
pagos ou parte dos juros pagos.
RECICLAGEM (Reswitching). Na Controvérsia
REBUS IN STANDIBUS. Expressão em latim de Cambridge, significa o processo em que uma
que significa “deixar as coisas como estão” (ou tecnologia é abandonada quando a taxa de lucro
estavam). Norma do direito internacional, se-
é baixa e pode ser reintroduzida quando esta
gundo a qual os tratados ou pactos internacio-
se eleva para níveis bem maiores, com uma al-
nais podem ser denunciados se as condições nos
ternativa técnica mais lucrativa utilizada entre
quais eles foram assinados sofrerem mudanças
os dois momentos. Essa possibilidade se deve
significativas. Nesses casos, a aplicação dessas
normas significa que as coisas permanecem ao fato de os elementos que materializam o ca-
como estavam, isto é, antes da assinatura do tra- pital (enquanto meio de produção) serem hete-
tado ou do pacto em questão. rogêneos. A possibilidade de reciclagem traz sé-
rios problemas teóricos para a concepção neo-
RECEDE. Termo em inglês que significa um de- clássica da função de produção agregada e da teoria
clínio nas cotações das ações, títulos e commo- da distribuição fundamentada na produtividade
dities. Quando aplicado à atividade econômica marginal. No âmbito da economia do meio am-
em geral, significa uma recessão suave e não biente, significa a possibilidade de reprocessar
um período cíclico mais forte de contração. produtos acabados depois de sua utilização,
como acontece com objetos de vidros, metal, papel
RECEITA. Em termos contábeis, é a soma de etc. Veja também Controvérsia de Cambridge.
todos os valores recebidos em dado espaço de
tempo (um dia, um mês, um ano). Numa em- RECÍPROCA. Em matemática, significa uma
presa comercial, a receita é formada pelas ven- quantidade elevada à potência de –1. Assim, a
das à vista, pela parte recebida referente às ven- recíproca de 4 é 1/4, e a de X é 1/X.
513 REDE FERROVIÁRIA FEDERAL

RECIPROCIDADE. Política econômica na qual propostas se identificam com os mecanismos ad-


um país adota, em relação a outro, as mesmas ministrativos presentes num regime de co-gestão.
concessões ou restrições comerciais. Desde 1934,
quando entrou em vigor o Reciprocal Trade Agree- RECURSOS NATURAIS. Conjunto de rique-
ments Acts, os Estados Unidos concedem redu- zas naturais em estado bruto e que podem ser
exploradas economicamente por um país. Cons-
ções alfandegárias aos países incluídos na lista
tituem riquezas naturais as jazidas minerais, as
dos favorecidos comercialmente, desde que te-
bacias petrolíferas, os cursos dos rios e suas que-
nham idêntico tratamento em suas exportações.
das, a fauna e a flora. Exploram-se inicialmente
É o tratamento do chamado fair-trade ou comér-
as riquezas mais abundantes e de aplicação mais
cio leal. Em termos bancários, a reciprocidade
fácil (madeiras, metais etc.). O desenvolvimento
é a condição da facilidade em liberar emprésti-
econômico e tecnológico criou a necessidade de
mos e compõe-se de fatores como saldo médio novos produtos: assim, a exploração em larga
elevado e freqüência de transações por meio de escala do petróleo e dos minerais radioativos,
banco, entre outros. Veja também Cláusula de por exemplo, só começou no século XX. Os re-
Nação mais Favorecida. cursos naturais distribuem-se pelo globo de ma-
RECOVAGEM. Denominação do contrato de neira desigual e sua simples presença em forma
transporte por terra ou água, indistintamente de bruta numa região constitui fator de desenvol-
pessoas ou mercadorias. vimento: é necessária a criação de uma infra-es-
trutura industrial adequada, o que implica in-
RECUNHO. Operação em que uma moeda pas- vestimentos maciços, nem sempre realizáveis. A
sa por outra cunhagem, alterando-se seu tipo, exploração não controlada dos recursos naturais
nacionalidade, valor e data ou algumas dessas pode provocar violentos desequilíbrios ecológi-
características. Muito usada pela Casa da Moeda cos, como a destruição de reservas florestais, a
do Brasil até o final do século XIX para enfrentar inutilização de extensas áreas de plantio e o de-
a falta de meio circulante ou as dificuldades fi- sequilíbrio no regime das chuvas. O aproveita-
nanceiras do Tesouro e do Erário Real. Veja tam- mento predatório das riquezas sempre existiu,
bém Braceagem; Carimbo; Cunhagem; Legisla- mas o avanço tecnológico do século XX o fez
ção Monetária Brasileira (Brasil Império); Se- tomar proporções inquietantes. Além disso, co-
nhoriagem. loca-se atualmente a questão dos recursos na-
turais não renováveis, como é o caso da maioria
RECURSO NÃO RENOVÁVEL. Qualquer re- dos recursos minerais: para alguns, como certos
curso que exista em forma finita e não possa metais, a reciclagem é uma solução apontada;
ser renovável, como é o caso do petróleo, do para outros, como o petróleo e o carvão mineral,
gás, dos metais como o ferro, o cobre, o alumí- não há reciclagem possível. Alguns recursos mi-
nio, o mercúrio etc. nerais brasileiros são bem explorados, como as
quedas-d’água, cujo aproveitamento hidrelétri-
RECURSOS HUMANOS. Conjunto de princí- co no país desenvolveu avançada tecnologia. Em
pios, estratégias, processos, métodos e práticas outros casos, deficiências de planejamento e a
de persuasão e treinamento empregados pelas necessidade de investimentos extremamente al-
empresas para o desenvolvimento de conheci- tos prejudicam a rentabilidade da exploração.
mentos, motivações, interesses, habilidades e Veja também Reciclagem.
aptidões de seus funcionários, capacitando-os
técnica e funcionalmente. Tem por objetivo o REDEEMABLE PREFERENCE SHARES. Veja
aumento da eficiência do trabalho e, em boa me- APR.
dida, o apaziguamento dos conflitos surgidos REDE FERROVIÁRIA FEDERAL. Unificação
nas relações de trabalho. Para tanto, os antigos das estradas de ferro da União sob uma direção
departamentos de pessoal nas empresas moder- central, proposta em 1952 e efetivada em 1957,
nas deram lugar aos departamentos de recursos com a lei nº 3 115, nos moldes de uma compa-
humanos, que atuam com base em conhecimen- nhia de economia mista. A RFFSA tem partici-
tos fornecidos pela psicologia e pela sociologia. pação acionária de pessoas físicas e jurídicas. É
Visam integrar o conjunto dos funcionários na formada por catorze divisões operacionais, dis-
dinâmica e sistemática da empresa por meio de tribuídas por quatro sistemas regionais — Nor-
cursos, seminários, treinamentos e pela conces- deste, Centro, Centro-sul e Sul —, com sedes
são de benefícios extra-salariais. Para alguns teó- em Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Ale-
ricos de recursos humanos, uma integração efe- gre. É dirigida por um colegiado composto por
tiva só é possível com a democratização dos mé- um presidente e seis diretores, eleitos em as-
todos de direção e controle, no sentido de dar sembléia geral, e que exercem suas funções por
condições à participação ampla dos funcionários meio de seis superintendências: engenharia,
nas diretrizes da empresa. Nesse aspecto, essas operações, administração, coordenação e plane-
REDEMPTION CHARGE 514

jamento, pessoal e finanças. Aos superintenden- REFLORESTAMENTO. Medida de preserva-


tes dos sistemas regionais cabe a supervisão, ção e recuperação dos recursos naturais madei-
coordenação e fiscalização das divisões opera- reiros explorados como fonte de energia. No
cionais. A Rede Ferroviária Federal conta com Brasil, país importador de petróleo, uma política
duas companhias subsidiárias: a Armazéns Ge- de reflorestamento poderia suprir o uso indus-
rais Ferroviários S.A. (Agef), que opera um sis- trial de madeira e carvão vegetal, bem como a
tema nacional de armazéns, e a Companhia Bra- produção de etanol (álcool da madeira), que
sileira de Trens Urbanos (CBTU). pode ser produzido na base de 2 milhões de
litros por ano para cada milhão de hectare re-
REDEMPTION CHARGE. Veja Back-end Load. florestado. A concessão de subsídios fiscais a
REDESCONTO. Operação bancária em que uma projetos de reflorestamento data de 1966. Atual-
instituição financeira desconta títulos (duplica- mente, existem cerca de 1 800 empresas solici-
tas, promissórias etc.) que já foram anteriormen- tando recursos de incentivos fiscais do Fiset Re-
te descontados por outra instituição. É uma ope- florestamento — número cujo aumento é tam-
ração que permite, à primeira casa bancária, fa- bém devido a um decreto de 1979, que diminuiu
zer caixa para novos negócios, sem ficar imobi- de 1 000 para 200 hectares a área mínima para
lizada à espera do vencimento dos títulos. implantação de projetos de reflorestamento fi-
nanciados por incentivos fiscais. Se todas as em-
REDES NEURAIS. Nova tecnologia de infor- presas fossem atendidas, seriam reflorestados
mação baseada no funcionamento do cérebro mais de 7 milhões de hectares, mas a verba dis-
humano, mas sem vinculação com os estudos tribuída pelo IBDF atende apenas a aproxima-
da inteligência artificial. A Redes Neurais pro- damente 400 mil hectares de reflorestamento por
põe um uso do enorme volume de dados esto- ano, bem abaixo do milhão de hectares neces-
cados nos computadores — especialmente de sários anualmente.
empresas —, que permanecem geralmente ocio-
sos, transformando-os em informações úteis à REFORMA. Prorrogação do prazo de vencimen-
tomada de decisões. As áreas nas quais esses to de um título ou sua substituição por outro
usos são mais freqüentes nas empresas são a de valor igual ou diferente.
financeira, de recursos humanos e de marketing.
REFORMA AGRÁRIA. Processo de redistribui-
RED HERRING PROSPECT. Expressão em in- ção da propriedade fundiária promovido pelo
glês que significa prospecto preliminar descre- Estado, sobretudo em áreas de agricultura tra-
vendo títulos a ser colocados no mercado sem, dicional e pouco produtiva. Além dos objetivos
entretanto, mencionar dados referentes a preços. político-sociais — permitir o acesso à proprie-
dade da terra aos que nela trabalham, eliminar
REDIBIÇÃO. Termo que designa a devolução grandes desigualdades e impedir o êxodo rural,
de mercadoria vendida, na qual foi constatada fixando o homem no campo —, a reforma agrá-
avaria, defeito ou estrago. Veja também Caveat ria tem objetivos econômicos: desconcentrar a
Emptor; Caveat Venditor. renda e elevar a produção e a produtividade do
trabalho na agricultura. Para efetivar uma re-
REEMBOLSO. Qualquer tipo de pagamento a forma agrária, adotam-se medidas destinadas a
título de indenização ou de restituição de im- redistribuir os direitos de propriedade por meio
portância anteriormente emprestada. da expropriação e/ou desapropriação e divisão
dos latifúndios e grandes fazendas improduti-
REFLAÇÃO. Processo no qual a intervenção go- vas em geral, da entrega de títulos de proprie-
vernamental na política monetária tem por ob- dade aos arrendatários, parceiros e posseiros, do
jetivo combater uma situação de deflação, pro- reagrupamento de terras fragmentadas, da ado-
vocando a inversão das tendências e criando um ção de técnicas avançadas de cultivo e da im-
processo inflacionário, isto é, a mudança de uma plantação de novos sistemas de produção, como
situação deflacionária para uma inflacionária. as cooperativas e as fazendas de tipo coletivo.
Aparentemente, o termo foi batizado durante o De modo geral, existem dois tipos de reforma
período recessivo e deflacionário existente nos agrária: estrutural e convencional. A reforma es-
Estados Unidos entre 1932/1933, quando a po- trutural pressupõe um processo de transforma-
lítica anticíclica do governo consistiu na tenta- ção revolucionária, fundamentado na modifica-
tiva de recuperar preços que haviam caído sen- ção das normas tradicionais vigentes, como
sivelmente durante a crise econômica. Dentro ocorreu na época das revoluções russa, chinesa,
de certos limites, a reflação é benéfica, pois au- cubana etc. A reforma convencional procura mo-
menta o nível de emprego e de consumo com dificar o monopólio sobre a terra sem mudar as
conseqüências positivas sobre a expansão do instituições da sociedade, isto é, sem uma trans-
PIB. Veja também Inflação; PIB; Recessão. formação estrutural do Estado.
515 REFORMA TRIBUTÁRIA

As reformas agrárias têm sido realizadas de ma- funções passaram para o Ministério de Reforma
neiras muito diversas. A solução peculiar dada e Desenvolvimento Agrário (Mirad), que subs-
em cada país se baseia nas características obje- tituiu o Ministério de Assuntos Fundiários.
tivas de sua agricultura: condições físicas, es-
trutura social da população rural, relação entre REFORMA FISCAL. Veja Reforma Tributária.
a agricultura e a economia como um todo etc.
REFORMA TRIBUTÁRIA. Alterações na estru-
No século XX, a reforma agrária foi realizada
tura tributária nacional estabelecidas pela Emen-
de maneira mais ou menos radical em muitos
da Constitucional nº 18/65. Tinham por objeti-
países. Limitou-se à difusão da propriedade da
vo: 1) diminuir o déficit de caixa da União, na
terra no México, Japão, Bolívia, Myanma (ex-Bir-
época um dos principais focos inflacionários; 2)
mânia), Irã e Taiwan. Nos países socialistas, após
incentivar a acumulação de capital e sua realo-
a extinção do latifúndio e a disseminação da pe-
cação entre as regiões brasileiras; 3) reduzir as
quena propriedade, a reforma agrária foi con- disparidades regionais da capacidade tributária.
duzida a uma segunda etapa, em que se pro-
Até 1966, data da implantação da reforma, vi-
cessou a coletivização dos meios de produção gorava o sistema tributário estabelecido pela
na agricultura. No Brasil, a estrutura agrária Constituição de 1946, com algumas alterações
manteve intatos certos traços herdados do regi- introduzidas pela Emenda Constitucional nº
me colonial, como, por exemplo, o latifúndio. 5/61. Nesse sistema, os Estados participavam
Ao lado dessas propriedades e da existência de dos recursos federais mediante uma parcela da
um grande número de trabalhadores sem terra, arrecadação dos impostos únicos, referentes a
coexistem as mais diversas formas de arrenda- energia elétrica, minerais e combustíveis. Os
mento e parceria, além da agricultura de sub- municípios também recebiam parcelas desses
sistência praticada nos minifúndios. Contudo, impostos, menores que as dos Estados, e con-
no sudeste e no sul do país formas empresariais tavam ainda com 10% do Imposto de Renda (IR)
de gestão das fazendas fazem-se cada vez mais e do Imposto de Consumo (IC); a distribuição
presentes, e grandes empreendimentos agroin- era eqüitativa, o que contribuiu para um grande
dustriais vêm surgindo de forma crescente nes- aumento do número de municípios na primeira
sas regiões. A partir de 1950 vários projetos de metade da década de 60. Além dos recursos fe-
lei envolvendo transformações no meio rural fo- derais, os municípios tinham direito a 20% da
ram apresentados ao Congresso, sem sucesso. arrecadação de novos impostos que viessem a
Durante o governo Goulart, foi criada em âmbito ser criados pelos Estados, sempre com a condi-
federal a Superintendência da Reforma Agrária ção de ser extintos no momento em que o go-
(Supra), que teve sua ação interrompida pela verno federal decidisse criar um imposto seme-
queda do governo em 1964. Nesse mesmo ano, lhante. Mas como os Estados ficavam com ape-
o governo Castelo Branco fez aprovar o Estatuto nas 40% da arrecadação desses tributos (os 40%
da Terra, que previa a desapropriação de lati- restantes iam para o governo federal) e tinham
fúndios e a redistribuição de terras em proprie- de arcar com todas as despesas de arrecadação,
dades familiares para antigos trabalhadores, as- apenas São Paulo, Minas Gerais e Bahia recor-
salariados desempregados e proprietários de reram à criação de novos impostos. Numerosas
minifúndios. Foram também criados o Instituto modificações trazidas pela reforma de 1966 ocor-
Brasileiro de Reforma Agrária (Ibra) e o Instituto reram na área da tributação indireta, na qual os
Nacional de Desenvolvimento Agrícola (Inda). impostos passaram a ser do tipo valor adicio-
Em 1970, os dois órgãos foram fundidos, dando nado. Desse modo, tornou-se mais fácil sua fis-
origem ao Instituto Nacional de Colonização e calização: cada empresa passou a ser um fiscal
Reforma Agrária (Incra), cujo programa enfatiza de seus fornecedores, uma vez que suas compras
a expansão da fronteira agrícola por meio da seriam deduzidas dos débitos fiscais. O antigo
colonização de novas áreas, como foi feito ao Imposto do Selo foi substituído pelo Imposto
longo da Transamazônica. Esse processo de co- sobre Operações Financeiras (IOF), surgiram o
lonização intensificou-se a partir dos anos 70, Imposto sobre Transportes Rodoviários (ISTR)
acompanhado do agravamento dos conflitos e o Imposto sobre Serviço (ISS), enquanto o Im-
pela posse da terra, sobretudo na região do To- posto de Exportação (IE) e o Imposto Territorial
cantins-Araguaia. Em 1982, o governo federal Rural (ITR), respectivamente ligados às esferas
criou o Ministério de Assuntos Fundiários, ao estadual e municipal, passaram para a área fe-
qual ficou subordinado o Incra. Em 1985, o go- deral. Por outro lado, o Imposto de Licença, o
verno Sarney lançou um Plano Nacional de Re- de Diversões Públicas e outros, que às vezes nem
forma Agrária, que provocou forte reação dos sequer cobriam as despesas de arrecadação, fo-
setores mais conservadores da sociedade, espe- ram eliminados. Na área de tributação direta,
cialmente os grandes proprietários de terras, e as alterações de 1966 tinham como objetivo bá-
foi abandonado antes mesmo da extinção do In- sico facilitar o processo de acumulação de capi-
cra, em 1987. Após a extinção do Incra, suas tal. Para as pessoas jurídicas (IRPJ), estabeleceu-
REFORMAS DE BASE 516

se a correção monetária do ativo imobilizado, o fica dependendo de haver excedentes exportá-


que permitia a depreciação em bases reais; a ta- veis. A acumulação de capital foi estimulada pe-
xação sobre o lucro extraordinário foi eliminada las isenções do ICM para bens de capital como
e a definição de lucro tributável, aperfeiçoada equipamentos industriais e agrícolas; em âmbito
pelo conceito da incorporação da reserva para estadual e municipal, foram criados incentivos
a manutenção do capital de giro. Para as pessoas fiscais de isenção do ICM e do IPTU a empresas
físicas (IRPF), foi eliminada a isenção de várias que quisessem se instalar nas regiões Norte e
categorias profissionais; aperfeiçoou-se a co- Nordeste. Entretanto, a partir de 1971, o governo
brança do Imposto de Renda na fonte e foi su-
central passou a destinar apenas metade dos be-
primido o IR cedular, que discriminava os ren-
nefícios do IRPJ para projetos regionais ou se-
dimentos de capital. Os municípios passaram a
receber 80% da arrecadação do Imposto Terri- toriais, deixando o restante vinculado ao Plano
torial Rural, e os Impostos de Transmissão de de Integração Nacional (PIN), ao Programa de
Propriedade inter vivos e causa mortis fundiram- Redistribuição da Terra e de Estímulo Agroin-
se numa taxa única estadual, o Imposto sobre dustrial do Norte e do Nordeste (Proterra) e ao
Transmissão de Bens Imóveis (ITBI). Para a dis- Programa de Desenvolvimento do Centro-Oeste
tribuição dos recursos arrecadados pela União, (Prodoeste), concentrados principalmente no
criaram-se o Fundo de Participação dos Muni- sistema rodoviário, saneamento básico, redistri-
cípios (FPM) e o Fundo de Participação dos Es- buição da propriedade rural e estímulo à agroin-
tados (FPE). O FPM incidia sobre o IR e sobre dústria. A Constituição de 1988 introduziu vá-
o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). rias modificações na estrutura tributária brasi-
As capitais dos Estados recebiam 10% do total leira. Entre as mais importantes, podemos citar
do fundo, segundo pesos diretamente propor- o ICM e o ISS, que foram transformados num
cionais ao tamanho da população e inversamen- imposto único, o ICMS; o ICM e os impostos
te proporcionais ao nível de renda per capita; os únicos sobre energia elétrica passaram para os
restantes 90% eram destinados aos outros mu- Estados. Os fundos de participação dos Estados
nicípios, divididos de acordo com a população. e municípios foram ampliados para 47% das re-
Em princípio, esses impostos eram simplesmen- ceitas do IR e do IPI, sendo que a transferência
te entregues aos municípios, mas a partir de 1969 desse incremento dar-se-ia progressivamente ao
passaram a ser vinculados a despesas de capital longo de cinco anos até atingir os 47%.
(50% do total) e serviços específicos: saúde, edu-
cação etc. Além desse fundo, os municípios pas- REFORMAS DE BASE. Conjunto de mudanças
saram a contar com 20% da arrecadação do Im- na ordem socioeconômica do Brasil que eram
posto sobre Circulação de Mercadorias (ICM), reivindicadas durante o governo de João Goulart
que veio substituir o ICM municipal criado pela (1961-1964). Entre essas modificações destacam-
Emenda Constitucional nº 18/65. O FPE também se as reformas agrária, urbana, universitária e
incidia sobre o IPI e sobre o IR e utilizava pesos tributária, além da nacionalização de vários se-
diretamente proporcionais à área geográfica e tores industriais (como energia elétrica, refina-
ao tamanho da população, e inversamente pro- rias de petróleo, indústria químico-farmacêuti-
porcionais à renda per capita; a partir de 1969, ca) e da limitação da remessa de lucros para o
a aplicação desses recursos passou a sofrer res- exterior. O movimento pelas reformas de base
trições semelhantes às aplicadas aos municípios. foi interrompido com a deposição de Goulart
Pode-se dizer que a reforma de 1966 centralizou em abril de 1964.
as grandes decisões de política tributária em tor-
no do governo federal, deixando os Estados — REFUNDING. Termo do mercado financeiro que
que tiveram de abrir mão de boa parte de suas significa a colocação (venda) de novos títulos
arrecadações em prol das prioridades seleciona- de dívida que substituem uma emissão de títu-
das pelo governo central — praticamente sem los de dívida anterior (mais velha). Veja também
participação decisória. E as modificações poste- Funding.
riores corresponderam à fixação de novas prio-
ridades: a promoção de exportações, a acumu- REGATEIO. Negociação direta entre compra-
lação de capital, a dinamização do mercado de dor e vendedor para determinação do preço de
capitais e o desenvolvimento regional e setorial. venda de uma mercadoria. O comprador oferece
Assim, o IPI e o ICM foram suspensos nas ope- um preço inferior ao que está disposto a pagar,
rações destinadas a colocar produtos no exterior, enquanto o vendedor sustenta um preço supe-
bem como nas vendas no mercado interno pro- rior ao que está disposto a vender. O preço final
venientes de concorrência internacional com pa- será definido pela habilidade de ambos. Essa
gamento efetuado em divisas. Quanto à expor- forma de negociação surge em mercados pouco
tação dos produtos primários, a isenção do ICM desenvolvidos, em que a estrutura de preços
517 REGRESSÃO, Análise de

não é determinada pelo equilíbrio entre oferta valor for negativo, a proposta de investimento
e procura. deve ser rejeitada.

REGRA DA UNANIMIDADE. Procedimento re- REGRESSÃO, Análise de. Consiste na verifica-


lacionado com a escolha coletiva, significando ção de dados amostrais para saber se e de que
que, para uma política ser adotada, ela deve ser forma duas ou mais variáveis estão relacionadas
aprovada pela totalidade das pessoas que pos- numa população determinada. A análise de re-
sam ser afetadas por esta política. Se tal regra gressão permite encontrar a equação que des-
for aceita, qualquer política implementada de creve em termos matemáticos essas relações. Em
acordo com suas condições significará uma me- outras palavras, a regressão linear consiste na
lhoria paretiana. Na prática da administração determinação de uma equação linear (descrita
pública, contudo, não é fácil implementar este por uma linha reta) que descreva o relaciona-
sistema, não apenas pelo consumo de tempo e mento entre duas variáveis. A finalidade da
recursos (para consulta), mas especialmente por- equação de regressão linear é tanto estimar va-
que existem poucos casos em que se possa obter lores de uma variável com base em valores co-
a unanimidade de uma população em relação nhecidos de outra, como explicar a existência
a qualquer política. de valores de uma variável em termos de outra
variável, assim como estimar valores futuros de
REGRA DE TRÊS. Método para o cálculo de uma variável em função do conhecimento de
valores relacionado com problemas de propor- seus valores no passado. A equação linear tem
cionalidade. Problemas do tipo x está para y assim a forma: Y = a + bX, na qual a e b são determi-
como w está para z podem ser resolvidos se forem nados a partir dos dados amostrais disponíveis;
conhecidos três destes valores, isto é, o quarto a determina o ponto em que a reta intercepta o
valor pode ser obtido pelo método da regra de eixo Y quando X = 0, e b é o coeficiente angular
três. Por exemplo, se x = 6, y = 18 e z = 45, da reta, ou melhor, o valor determinado pela
o valor de w será obtido mediante a equação razão Y / X, como pode ser visto no gráfico:
w = x.z/y = 6.45/18 = 15. Assim, 6 está para
18 assim como 15 está para 45. Este método é
utilizado no cálculo de porcentagens, sendo 100
um dos referenciais. Se quisermos saber, por
Y = a + bX
exemplo, quanto 20 representa de 80 em termos
de porcentagem, basta aplicar o método da pro- ∆Y
porcionalidade: x (20) está para y (80) assim ∆X
como w (incógnita) está para z (100). Aplicando
Y = a
a fórmula, teremos: w = x (20). z (100) y (80)
X = 0
= 25, ou 25%. Veja também Porcentagem.

REGRA DO OITENTA-VINTE. Lei empírica


que descreve uma tendência segundo a qual O método mais conhecido para ajustar uma li-
uma pequena porcentagem de itens (estoques, nha reta a um conjunto de pontos é o dos mí-
vendas, pontos de comercialização etc.) são ver- nimos quadrados.
dadeiramente importantes e responsáveis pela
maior parte do movimento de uma empresa. Y
Grosso modo, 20% dos itens responderiam por
80% do valor dos negócios de uma empresa ou
de seus custos.

REGRA DO QUATRO POR CENTO. Regra


específica dos países desenvolvidos onde a in-
flação é reduzida, indicando que a oferta mo-
netária deveria crescer numa taxa regular cor-
respondente à média anual dos aumentos ob- X
servados na capacidade produtiva.

REGRA DO 72. Veja Rule of 72.

REGRA DO VALOR PRESENTE LÍQUIDO. A reta obtida mediante esse método apresenta
Regra que estabelece que, do ponto de vista fi- duas características importantes: 1) a soma dos
nanceiro, um investimento deve ser realizado desvios verticais dos pontos em relação à reta
se tiver um valor presente líquido positivo; se tal é zero, pois os valores que se encontram acima
REGRESSÃO LINEAR 518

dela (positivos) anulam os que se encontram e de sua vontade, no processo de produção e


abaixo (negativos); 2) a soma dos quadrados reprodução de sua vida social. No capitalismo,
destes desvios é mínima, isto é, nenhuma outra a relação de produção fundamental é a que ocor-
resultaria numa soma melhor que a soma dos re entre capitalistas (compradores de força de
quadrados destes desvios. Os valores de a e b trabalho) e proletários (vendedores de força de
para a reta Y = a + bX que torna mínima a soma trabalho). A base das relações de produção está
dos quadrados dos desvios são calculados pelas nas relações de propriedade sobre os meios de
equações:
produção. O caráter das relações de produção
n (Σ x y) – (Σ x) (Σ y) depende de quem sejam os proprietários dos
b= meios de produção e de como se realiza a união
n (Σ x2) – (Σ x)2
desses meios com os produtores diretos. As re-
lações de produção se desenvolvem diretamen-
Σ y – b Σx
a= te, vinculadas e em dependência recíproca das
n
forças produtivas da sociedade. A conjugação
das primeiras e das últimas forma um modo de
onde n corresponde ao número de pares de ob-
servações XY. produção historicamente determinado. De acor-
do com a concepção marxista, em determinada
REGRESSÃO LINEAR. É a espécie de regres- etapa de desenvolvimento da sociedade, as re-
são caracterizada pelo fato de ser linear a forma lações de produção se convertem num freio para
escolhida para a equação de regressão, ou de o avanço das forças produtivas. Entre as relações
regressão múltipla. de produção e as forças produtivas surge então
uma contradição, cujo desenlace se dá no âmbito
REGRESSÃO NÃO-LINEAR. É a regressão ca-
racterizada pelo fato de não ser linear a forma da revolução social e da passagem para um
escolhida para a equação de regressão. Também modo de produção mais desenvolvido. A su-
é chamada de regressão curvilínea. pressão da propriedade privada capitalista e o
estabelecimento da propriedade social socialista
REICHSBANK. Denominação do Banco Central podem constituir um exemplo da superação da
da Alemanha até o final da Segunda Guerra contradição entre relações de produção e o avan-
Mundial. O ReichsBank foi a principal institui- ço das forças produtivas. Veja também Forças
ção financeira da Alemanha atuando como ban- Produtivas; Modo de Produção.
co dos bancos e como banco comercial de aten-
dimento ao público por meio de um amplo sis- RELAÇÕES DE TROCA. Relação entre os pre-
tema de agências por todo o país. Depois de ços de exportação e os preços de importação de
1945, foi substituído por um sistema de bancos um país. O índice que mede esta relação, geral-
e, mais tarde, pelo BundesBank. mente calculado por meio dos índices dos preços
das exportações e das importações, reflete a po-
REICHSMARK. Moeda emitida na Alemanha
durante o período hiperinflacionário em subs- sição de cada país em termos de seu poder de
tituição aos Rentenmarks. A conversão destas compra em âmbito internacional. Se os preços
moedas era feita na base de 1 Reichsmark por das exportações sobem mais rapidamente (ou
1 trilhão de marcos-papel. Na medida em que caem mais devagar) que os preços das impor-
os marcos-papel eram cotados na base de 4,2 tações, diz-se que há um aumento ou melhora
trilhões por dólar, a nova moeda passou a ter nas relações de troca. Quando ocorre o inverso,
uma cotação de 4,2 Reichsmarks por dólar. Veja isto é, quando os preços das importações sobem
também Hiperinflação; Plano Dawes; Plano mais (ou diminuem menos), há uma queda na
Young; Rentenmark. relação de trocas, também denominada “dete-
rioração das relações de troca”. Em geral, cal-
RELAÇÃO DE CAUSALIDADE. É toda rela- cula-se a evolução das relações de troca de acor-
ção específica de derivação em que um fenôme- do com a fórmula: P x exp. / P x imp., isto é,
no constitui causa do outro. Por exemplo, a re- tomando-se os respectivos índices (a partir de
lação entre o número de nascimentos legítimos um ano-base = 100), dividindo um pelo outro
e o número de matrimônios. e multiplicando por 100. Por exemplo, depois
RELAÇÃO PRODUTO-CAPITAL. Veja Mode- da crise econômica de 1929, os preços de nossas
lo Harrod-Domar. exportações (lideradas pelo café) caíram acen-
tuadamente, enquanto o de nossas importa-
RELAÇÕES DE PRODUÇÃO. Conceito da eco- ções aumentaram (de maneira suave nos pri-
nomia marxista que designa o conjunto de re- meiros anos e acentuada nos anos finais da
lações econômicas que se estabelecem entre os década de 30), como pode ser avaliado pelos
homens, independentemente de sua consciência seguintes dados:
519 REMUNERAÇÃO VARIÁVEL

Ano Export. Import. Índice de relação de trocas REMESSA DE LUCROS. Veja Lei da Remessa
Índices de Índices de de Lucros.
preços preços
1929 100 100 100/100 x 100 = 100,0 REMISIERS. Termo de origem francesa que de-
1930 171 107 1171/107 x 100 = 66,3 signa os corretores que, nas Bolsas de Valores
1931 174 118 1174/118 x 100 = 62,7 na Itália, compram e vendem securities (títulos)
1932 171 105 1171/105 x 100 = 67,6 da trading floor bidding. Aqueles que ali operam
1933 163 109 1163/109 x 100 = 57,7 denominam-se agenti di cambio (Stockbrokers).
1934 171 116 1171/116 x 100 = 61,2
1935 185 179 1185/179 x 100 = 47,4 REMONETIZAÇÃO. Processo pelo qual um
1936 185 191 1185/191 x 100 = 44,5 metal que deixou de ser cunhado (monetizado)
1937 188 200 1188/200 x 100 = 44,0 em determinado momento volta a ser cunhado
1938 175 216 1175/216 x 100 = 34,7 de acordo com normas estabelecidas pelas au-
1939 177 208 1177/208 x 100 = 37,0 toridades monetárias. Veja também Desmone-
tização.

De acordo com os dados acima, podemos ob- REMUNERAÇÃO VARIÁVEL (Programa de).
servar que o índice de relações de troca diminuiu Programa empresarial que consiste em vincular
63% (100-37) entre 1929 e 1939. A queda na re- a remuneração do empregado — ou uma parte
lação de trocas se acentua na segunda metade dela — ao cumprimento de certas metas rela-
da década, pois, embora em certa medida os cionadas com a redução de custos, melhora na
preços das exportações deixassem de diminuir apresentação dos produtos, melhoria na quali-
e se estabilizassem a partir de 1935, o preço das dade etc. As principais modalidades de remu-
importações aumentou expressivamente a partir neração variável são as seguintes: 1) gainsharing
daquela data até o final da década. Veja também (participação nos ganhos) — os empregados re-
Capacidade para Importar; Estruturalistas; Fur- cebem uma porcentagem relativa ao valor do
tado, Celso; Prebisch, Raul. aumento de produtividade, calculada de acordo
com uma fórmula preestabelecida. Esta moda-
RELAÇÕES INDUSTRIAIS. Ramo da adminis- lidade já existe há mais de meio século nos Es-
tração de empresas que cuida das formas e mé- tados Unidos, mas tem o inconveniente de ser
todos de relacionamento com os trabalhadores. um processo muito difícil de aplicar em setores
Abrange recrutamento, treinamento, adaptação mais complexos, onde o cálculo da produtivi-
à função ocupada, desempenho profissional, re- dade não tem condições de ser realizado de for-
lacionamento com colegas e chefia, administra- ma inteiramente objetiva; 2) profit-sharing (par-
ção salarial, métodos de encaminhamento para ticipação nos lucros) — como o próprio nome
resolver conflitos trabalhistas e negociação co- diz, trata-se de uma participação dos emprega-
letiva de acordos salariais. Veja também Sindi- dos no lucro da empresa. Como o lucro de uma
cato. empresa pode ser apurado de forma objetiva,
RELAÇÕES PÚBLICAS. Conjunto de proces- este sistema é de fácil aplicação, estimulando a
sos que visam a otimizar as relações entre in- participação dos trabalhadores pelo desempe-
divíduos e grupos interagentes. Atualmente, os nho de sua empresa em sua dimensão global.
recursos e técnicas de relações públicas são am- Pode, no entanto, apresentar alguns problemas,
plamente utilizados pelas instituições públicas quando por qualquer razão (tributária, por
e privadas. Para alcançar seus objetivos, os ser- exemplo) interessar à gerência da empresa mas-
viços de relações públicas recorrem a veículos carar o lucro realmente obtido por ela em de-
de comunicação internos e externos, promoções terminado exercício; 3) group incentives (incenti-
diversas (festas, concursos etc.), comunicados à vo de grupos) — são incentivos dados a grupos
imprensa em geral e conversas pessoais e tele- existentes no interior de uma empresa, baseados
fônicas, entre outros meios. Trata-se de cons- na melhoria do desempenho, avaliado de acordo
truir, junto à opinião pública, uma imagem fa- com parâmetros estabelecidos com anteriorida-
vorável da empresa, que é apresentada como de e aceitos pelo grupo. Na medida em que exis-
uma entidade dotada de espírito público, de im- tam diferenciações entre os incentivos propostos
portância na vida dos cidadãos. O recurso de e os grupos existentes, o programa pode causar
relações públicas é reforçado principalmente conflitos entre os grupos, em vez de uma salutar
quando ocorre algo que de algum modo desa- concorrência entre eles; 4) individual incentives
bone a imagem da empresa. (incentivos individuais) — ocorrem quando o
programa de remuneração variável toma como
REMBRANDT BONDS. Expressão em inglês unidade o indivíduo, e não o grupo. Requer pro-
que designa títulos estrangeiros denominados gramas de treinamento prévios e um grande em-
em guilders holandeses, em Amsterdã. penho da supervisão no acompanhamento do
RENDA 520

trabalho de cada empregado. É de aplicação a ser encarado como um excedente, uma sobre-
mais fácil nas atividades em que as funções de- remuneração devida à inelasticidade. O econo-
sempenhadas individualmente pelos emprega- mista neoclássico Alfred Marshall introduziu o
dos são tecnicamente individualizadas e super- conceito de “excedente do consumidor” ou “ren-
visionadas; 5) long-term (longo prazo) — incen- da econômica do consumidor” para designar a
tivos que implicam duração superior a um ano. diferença entre o preço que alguém se dispõe a
Pode se materializar não apenas numa determi- pagar por certo bem e o preço realmente pago.
nada quantia em dinheiro, mas também em açõ- Para Marshall, esse último é sempre inferior ao
es da própria empresa (quando esta tem suas preço que faria a pessoa desistir da compra. As-
ações em Bolsa), o que associa mais fortemente sim, essa diferença entre o “preço de desistên-
ainda o empregado aos resultados da empresa cia” e o preço pago constitui a renda do consu-
onde trabalha. A vantagem deste programa re- midor, ou seja, a medida econômica de sua sa-
side em comprometer o empregado com o tra- tisfação complementar. Além disso, viu a terra
balho em equipe e de longa duração; 6) spot- como o caso extremo ou limitador de uma série
awards (prêmios localizados) — sistema de re- de agentes produtivos cuja oferta também pode
compensa a um grupo de empregados por ter ser inelástica e, portanto, geradora de renda. As
máquinas, por exemplo, têm oferta inelástica a
realizado uma tarefa de forma excepcional ou
curto prazo, embora seja elástica a longo prazo.
ter conseguido um resultado em suas atividades
Como sua oferta não é fixa, os ganhos prove-
específicas bem superior ao esperado. Como se
nientes de seu uso não poderiam ser chamados
trata de um prêmio localizado, se não for levado
de renda, no sentido econômico. Mas, a curto
a cabo observando-se o reconhecimento dos de-
prazo, não pode aumentar nem diminuir sua
mais, e não for revestido de justiça e equilíbrio,
oferta, pois tem uso durável e produção demo-
pode desestimular o trabalho em outras áreas, rada. Aos rendimentos provenientes da demora
e o saldo final pode ser negativo; 7) lump-sum de ajustamento da oferta dessa modalidade de
payments (boladas periódicas) — programa de equipamento à procura, Marshall deu o nome
pagamentos de somas maiores, semestrais ou de “quase-renda”. Dessa maneira, a renda na
anuais, em lugar dos aumentos salariais por mé- produção industrial nasce da concorrência in-
rito. Não deve ser estabelecido por tempo inde- suficiente ou de monopólios mais ou menos pro-
terminado, mas sim durante alguns semestres, longados. A maioria das rendas tem causas tem-
pois, caso contrário, pode entrar para a rotina porárias, ao contrário da renda da terra, ligada
da remuneração e perder seu principal objetivo, em última análise à fertilidade do solo. Existem,
que é estimular a melhoria do desempenho; 8) portanto, dois tipos de renda derivados da ra-
team proposal (proposta de grupo) — programa ridade ou escassez: a renda dos agentes naturais
estabelecido para recompensar sugestões de em- disponíveis em quantidade limitada e inferior
pregados no sentido de melhorar a qualidade às necessidades; e a dos bens colocados à dis-
dos produtos, a produtividade etc. Este progra- posição dos consumidores, numa quantidade in-
ma pode se destinar a recompensar apenas as ferior à demanda que existiria se apresentassem
sugestões que tiveram algum resultado prático, preço igual a seu custo. Depois de Marshall, al-
como também todas as sugestões apresentadas guns autores modernos optaram por utilizar o
pelos funcionários; ou pode atingir apenas o em- termo “benefício” para designar renda de escas-
pregado que apresentou a idéia, ou a equipe à sez. Já outros distinguem o benefício da renda
qual ele pertence. de escassez. Schumpeter, em sua Teoria do De-
senvolvimento Econômico, apresentou os funda-
RENDA. A sobre-remuneração devida à inelas- mentos da distinção entre benefício e renda de
ticidade decorrente do caráter limitado de certos escassez. Segundo ele, a renda empresarial seria
fatores de produção (especialmente a terra) ou benefício quando resultante da iniciativa da em-
da inadaptação temporária da oferta à procura. presa, ou seja, da introdução de inovações no
Num sentido amplo, o termo é utilizado para processo produtivo. A renda da empresa seria
designar a renda nacional. Denomina também de escassez quando resultasse de uma situação
um fluxo de unidade monetária por unidade de de monopólio. Veja também Distribuição da
Renda; Quase-Renda; Renda da Terra.
tempo. As teorias clássicas sobre a renda bus-
cavam explicar os rendimentos da terra. Foi Da- RENDA ABSOLUTA. Renda paga na última
vid Ricardo quem, nesse contexto, tornou mais faixa de terra ocupada em função da existência
claro o conceito de renda formulado a partir das da propriedade privada da terra que não per-
variáveis fertilidade do solo e distância dos mer- mite seu uso livre. Para Marx, a magnitude da
cados. Após Ricardo, o conceito estendeu-se renda absoluta é determinada pela diferença en-
para outros setores que não o agrícola, passando tre o valor e o preço de produção dos produtos
521 RENDA, Repartição da

agrícolas. Como a composição orgânica do ca- 1960, aos 10% mais ricos; em 1970, sua parcela
pital na agricultura tende a ser inferior à média havia aumentado para 48,3%. Veja também Coe-
social, o valor dos produtos agrícolas é superior ficiente de Gini; Lorenz, Curva de; Renda, Re-
ao seu preço de produção (preço de custo + taxa partição da.
média de lucro), a renda absoluta poderá ser
paga ao proprietário como a diferença entre o RENDA, Repartição da. Maneira como se dis-
valor e o preço de produção. Se a composição tribui, entre os participantes da produção, o re-
orgânica do capital na agricultura se igualar à sultado de sua atividade no processo produtivo.
média social, a renda absoluta não poderá ser É tradicionalmente estudada do ponto de vista
paga (sem afetar o lucro do capitalista arrenda- de uma distribuição funcional, isto é, da repar-
tário) e deixará de existir. Veja também Com- tição da renda segundo os fatores de produção:
posição Orgânica do Capital; Renda da Terra; trabalho, capital e recursos naturais. Essa repar-
Renda Diferencial. tição se realiza por meio do pagamento de sa-
lários, juros, lucros e da renda da terra. David
RENDA, Concentração da. Conceito que se re- Ricardo foi o primeiro a apontar a repartição
fere à distribuição diferenciada da renda de um da renda como a principal questão da economia
país ou região pelas diversas camadas sociais. política. Segundo ele, a renda total da sociedade
É um dos campos em que a teoria econômica era distribuída entre as classes de acordo com
se liga mais intimamente à análise sociológica sua participação no processo produtivo. Haveria
e política e às ideologias da sociedade de classes, três classes sociais: os proprietários da terra, os
que tentam justificar ou criticar a distribuição donos de estoque ou capital necessário ao seu
desigual. Entre as teorias “justificativas” está a cultivo e os trabalhadores. A renda do trabalha-
do “capital humano”: os diferenciais de renda dor (salário) dependeria do valor dos produtos
refletiriam os diversos níveis de treinamento e necessários para sua subsistência. A renda do
escolaridade dos indivíduos. Outra corrente teó- proprietário territorial seria determinada pela
rica, algumas vezes denominada matemática ou diferença entre os custos de produção de cada
probabilística, criou um modelo explicativo se- propriedade e os preços dos produtos no mer-
gundo o qual a distribuição da renda se altera cado. A remuneração paga ao capitalista seria
por influência de “choques aleatórios”, que fa- determinada pela taxa de lucro, resultante dos
riam aumentar ou diminuir a renda de cada pes- preços dos produtos e das taxas das diversas
soa. Já a corrente institucionalista aponta como remunerações (salários, renda da terra etc.) que
determinantes da distribuição da renda as leis compõem o preço de custo. Nesse quadro, a ren-
sobre herança, a força relativa dos sindicatos e da dos donos da terra tenderia a aumentar cada
o papel do governo na fixação dos salários. No vez mais, em virtude do aumento constante do
Brasil, a partir da década de 60, desencadeou-se preço dos produtos agrícolas, uma vez que, sob
uma política econômica que provocou uma pressão demográfica, haveria uma crescente ne-
acentuada concentração da renda, atingindo cessidade de cultivar terras menos férteis, que
principalmente os setores secundário e terciário. exigiriam a incorporação crescente de trabalho
Partia-se do pressuposto de que o aumento da e capital. O lucro, ao contrário, tenderia a dimi-
renda nas classes mais abastadas incentiva a nuir, pois os salários não poderiam cair abaixo
poupança e o investimento e, conseqüentemen- do nível de subsistência. A tendência à baixa
te, o crescimento da produção. Para atingir esses da taxa de lucros provocaria uma queda na acu-
objetivos, o governo reduziu os salários reais e, mulação de capital e um conseqüente declínio
além disso, visando a reduzir o poder de bar- da atividade econômica, que alcançaria, então,
ganha dos trabalhadores, proibiu as greves e to- o chamado “estado estacionário”. Karl Marx mo-
mou outras medidas coibentes da organização dificou as formulações ricardianas e desenvol-
operária. O arrocho salarial dos trabalhadores veu uma teoria baseada nos conceitos de explo-
pouco qualificados possibilitou que os aumentos ração e mais-valia. A repartição seria decorrên-
de produtividade do sistema fossem, em sua cia de um duplo mecanismo: numa primeira
maior parte, retidos em mãos dos empresários fase, capitalista e trabalhadores disputam a di-
e dos trabalhadores de nível elevado: foi o mo- visão da renda (com a estipulação dos salários);
delo do “milagre econômico brasileiro”. A con- numa segunda fase, já de posse da mais-valia
seqüência foi a brutal concentração da renda em subtraída aos trabalhadores, os capitalistas re-
benefício de uma minoria. Em 1960, por exem- partem-na entre si, sob a forma de lucro líquido,
plo, 50% dos assalariados de rendimentos mais juros e renda da terra. Marx analisou a reparti-
baixos recebiam 17,6% da renda total; em 1970 ção da mais-valia total entre os vários ramos da
estavam recebendo apenas 13,7% da renda do produção e também estudou a distribuição no
país. Paralelamente, 38,8% da renda cabiam, em âmbito de cada setor produtivo, entre capitalis-
RENDA, Teoria da Determinação da 522

tas financeiros e os proprietários dos recursos + P

naturais. Para a teoria marginalista, a produti-


vidade marginal pressupõe que a remuneração E
I I
oferecida a cada agente da produção tende a ser
O PNL
igual ao valor da porção do produto que não
existiria sem a atuação desse agente. Numa pro- M
P
dução global, portanto, devem ser determinadas
as partes devidas, respectivamente, à produti-

vidade da terra, à produtividade do capital (má-
quinas, capital financeiro etc.) e à produtividade
do trabalho. Segundo essa teoria, cada fator de As curvas de poupança (PP) e investimento (II)
produção é empregado numa quantidade tal cortam-se ao nível do equilíbrio da renda na-
que a produtividade da última unidade equivale cional, que é igual à distância (0M). É em redor
ao rendimento desse fator. Em regime de liber- dessa interseção das duas curvas que se situa o
dade econômica (concorrência perfeita), o justo ponto de equilíbrio (E), em torno do qual a renda
emprego de cada fator determina sua justa re- tende a gravitar. E esse ponto de equilíbrio se
muneração. A repartição da renda é também verifica aí porque em nenhum outro nível de
muito estudada do ponto de vista de uma dis- PNI as poupanças desejadas pela família seriam
tribuição pessoal, recorrendo a métodos que vi- capazes de se igualar ao investimento desejado
sam a dar um panorama da dispersão dessa ren- pelas firmas comerciais. Em qualquer outro pon-
da entre os indivíduos e as famílias. A curva to haveria uma não-correspondência entre essas
de Lorenz, que busca tal objetivo, consiste na poupanças e investimentos desejados. Isso pro-
tabulação e ordenação dos rendimentos pes- vocaria uma reação dos negociantes no sentido
soais, das categorias mais baixas para as mais de alterar seus níveis de produção e de emprego,
de maneira a fazer com que o sistema retornasse
altas. Compara-se a porcentagem acumulada da
ao ponto de equilíbrio, na interseção das duas
renda agregada com a porcentagem de pessoas
curvas.
que recebem até determinado nível de renda.
Desse modo, torna-se possível verificar a por- Cz$
centagem da renda total recebida pelos 10% C + I
mais pobres ou pelos 20% mais pobres, até atin- E
gir 100% da população. Os dados são ordenados
num sistema de eixos cartesianos e o grau de
convexidade da curva obtida, em relação à ori- C + I C
gem, determina o grau de desigualdade na dis-
tribuição das rendas. No caso limite de reparti-
ção perfeitamente igual, a curva aproxima-se de C
uma reta, pois os 10% mais pobres recebem 10%
da renda etc. A partir da curva de Lorenz, cal-
culam-se coeficientes de concentração que me- 45º
O PNL
dem o grau de desigualdade na repartição pes-
soal da renda. No entanto, com esses coeficientes M
chega-se apenas a uma visão geral da situação;
são necessários dados mais específicos para con- É também possível determinar a renda por in-
cluir sobre a situação do país ou região em es- termédio do consumo e investimento, pelo de-
tudo. Veja também Renda, Concentração da. nominado método consumo-mais-investimento.
Esse sistema se vale das propriedades semelhan-
RENDA, Teoria da Determinação da. Segundo tes das curvas de poupança e de consumo. A
o modelo keynesiano — e de acordo com a eco- soma das duas curvas de investimento (II) e con-
nomia moderna —, a determinação da renda sumo (CC) dá como resultado a curva C + I,
num estado de equilíbrio, que exclua as situa- correspondente à despesa total. Inclui todos os
ções de inflação e desemprego, depende do nível gastos em bens de consumo, mais todas as des-
de investimento. Esse é, portanto, o mais im- pesas com bens de capital e investimento. A reta
portante fator das flutuações da renda e do em- inclinada de 45 graus determina, na direção ver-
prego. Pode-se determinar o ponto de equilíbrio tical, um segmento sempre exatamente igual à
da renda por meio do gráfico de interseção das renda assinalada no eixo horizontal. O nível de
curvas de poupança e investimento, sem esque- equilíbrio da renda nacional encontra-se no pon-
cer que a poupança tende a depender “passiva- to de interseção da curva da despesa total CI
mente” da renda, enquanto o investimento de- com a linha inclinada de 45 graus. Esse equilí-
pende dos fatores “autônomos” de crescimento brio (E) corresponde exatamente ao equilíbrio
econômico. que se obtém por meio das curvas de poupança
523 RENDA ECONÔMICA

e investimento, em virtude das relações de de- diferencial: a distância do local de cultivo ao


pendência entre as curvas de consumo e as de centro consumidor. Quanto mais longe, maiores
investimento. Esse método de determinação da os custos de transporte e maiores os custos de
renda apresenta nítidas vantagens: facilita a aná- produção. Os proprietários das terras próximas
lise das despesas do governo e da política fiscal, ao mercado receberiam, então, uma vantagem
uma vez que se pode estabelecer com facilidade adicional, ou uma renda diferencial, correspon-
um método análogo baseado na soma do con- dente à diferença de custo de transporte entre
sumo mais investimento mais governo. essas terras e as mais ofertadas. Ao aceitar o
conceito de renda diferencial, Karl Marx desen-
RENDA DA TERRA. Teoria desenvolvida prin- volveu-o e estabeleceu o conceito de renda ab-
cipalmente pelo economista clássico David Ri- soluta. Tanto ele quanto Ricardo frisaram que
cardo, que relacionou a escassez de terras férteis não era a renda que determinava o preço dos
com as necessidades de terra para o cultivo. produtos, mas ela é que era determinada por
Existem várias formulações teóricas sobre a ren- ele. Posteriormente, recorrendo a subsídios da
da da terra. Os fisiocratas consideram-na con- teoria de Ricardo, os teóricos da escola margi-
seqüência da generosidade da natureza. Para nalista explicaram a remuneração do fator terra
eles, todo excedente econômico se originava da pela sua produtividade marginal, ou seja, pela
terra, cujo produto se distribuía entre os grupos quantidade de produto excedente obtido com o
sociais, circulando pela comunidade como o san- cultivo de mais uma unidade de solo. Baseados
gue circula pelo corpo humano. Os economistas na teoria do valor-utilidade, afirmaram que a
clássicos rejeitaram essa formulação, desenvol- produtividade da terra diminuía à medida que
vendo teoria própria. Adam Smith, por exem- sua quantidade no processo produtivo aumen-
plo, analisou a renda da terra a partir da apro- tava em relação aos outros fatores. A terra seria
priação particular e do trabalho do solo dos não- tanto mais valiosa quanto menor sua disponi-
proprietários no campo. A renda era o preço bilidade. Sendo arrendada em mercado perfei-
pago ao dono da terra pelo produtor que a uti- tamente competitivo, a renda da terra corres-
lizava, e era, na verdade, uma parcela do tra- ponderia a sua produtividade marginal. Veja
balho do produtor, um excedente, já que não também Renda; Renda Absoluta; Renda Dife-
decorria de esforço ou atividade do proprietário rencial.
da terra. David Ricardo separou os conceitos de
aluguel da terra e renda do solo, dando à teoria RENDA DIFERENCIAL. Conceito desenvolvi-
sua formulação clássica. Para isso, baseou-se na do pela escola clássica e que tem em Ricardo e
Lei dos Rendimentos Decrescentes na agricul- Marx seus principais formuladores. Para o pri-
tura, que considera serem as terras mais férteis meiro, a renda diferencial existe em decorrência
cultivadas antes que as menos férteis; e na con- dos diferentes graus de fertilidade dos diversos
corrência de mercado, que, em um momento terrenos e de sua diferente localização em rela-
dado, determina um preço único para certo pro- ção aos mercados consumidores. Assim, um ter-
reno mais fértil e mais bem localizado deman-
duto. A partir desses pressupostos, Ricardo ima-
daria menor tempo de trabalho para produzir
ginou que o crescimento populacional tenderia
a mesma quantidade de produtos agrícolas do
a elevar o preço de certos produtos agrícolas.
que outro mais distante e menos fértil. A renda
Esse aumento de preços possibilitaria a inclusão
(diferencial) seria proporcional às diferenças de
de terras de segunda categoria na produção des-
produtividade entre os dois terrenos.Veja tam-
ses alimentos, cujo custo tem de ser coberto pelo
bém Renda Absoluta; Renda da Terra.
preço do produto no mercado. Sendo único o
preço de mercado para os produtos agrícolas, RENDA ECONÔMICA. Corresponde ao con-
os proprietários das terras mais férteis obteriam ceito de excedente econômico. São os ganhos de
um rendimento suplementar, uma vez que o um fator de produção que excedem a quantia
custo de produção em suas terras é mais baixo. mínima necessária para mantê-lo em seu em-
Esse rendimento suplementar seria a renda, que prego e impedir o seu deslocamento para outros
Ricardo chamou de “renda diferencial”. E o pro- usos. Essa quantia mínima, dependente das
cesso continuaria: à medida que a população au- oportunidades de emprego alternativo disponí-
mentasse e se elevasse a procura por alimentos, veis para o fator, é denominada “custo de opor-
os preços desses alimentos aumentariam e as tunidade” ou “ganhos de transferência” e será
terras de terceira categoria também seriam cul- tanto maior quanto mais adaptável for o fator,
tivadas. As terras de segunda categoria passa- quanto mais longo o período de tempo consi-
riam então a gerar renda diferencial, embora em derado e quanto mais definidas estiverem as
proporção menor que a produzida pelas melho- ocupações alternativas. Em relação aos recursos
res terras. Além da fertilidade da terra, Ricardo humanos, os ganhos de transferência crescem
apontou outro fator que influiria nos custos da em função direta da semelhança das reações in-
produção e, portanto, na geração de uma renda dividuais diante da incerteza. Em todos esses
RENDA FIXA 524

casos de elevação do “custo de oportunidade”, agregados econômicos apresentam quantias


haverá uma diminuição da renda econômica. O idênticas. Para calcular a renda nacional, sub-
uso de um fator totalmente específico, ou seja, traem-se do PNB o consumo de capital e os im-
adaptável a um único uso, tem custo de opor- postos diretos. Esses últimos, assim como os im-
tunidade nulo e o total de seus ganhos é cons- postos sobre a venda, são excluídos por não ser
tituído de renda econômica. A doutrina do ex- considerados remuneração de qualquer um dos
cedente econômico ou renda econômica tem fatores de produção. Nos países socialistas, uti-
sido utilizada para fundamentar políticas fiscais lizam-se critérios diferentes para a apuração da
destinadas a tributar rendas consideradas “não renda nacional. Essa compreende o valor líquido
ganhas”, particularmente as rendas da terra. (deduzido o valor dos bens consumidos no pro-
Atualmente, porém, a renda econômica é reco- cesso de produção) do trabalho investido nos
nhecida como um componente provável de to- setores produtivos: agricultura, indústria, cons-
dos os fatores de produção. O termo “renda eco- trução, transporte a serviço da produção e tra-
nômica” é também utilizado no mercado de balho ocupado em operações que constituam
imóveis para indicar a renda de propriedades prolongamento do processo de produção na es-
residenciais ou comerciais, ou de qualquer outro fera da circulação (armazenamento, acabamento
bem de raiz, suficiente para proporcionar um do produto, embalagem, transporte de merca-
retorno sobre o capital que seja pelo menos igual dorias etc.). A remuneração do pessoal ocupado
ao rendimento gerado por outros investimentos em serviços (administração estatal, cultura, as-
de risco comparável. sistência médica etc.) não é adicionada à renda
nacional porque, embora socialmente útil, tal
RENDA FIXA. Rendimento discriminado ante- trabalho não cria bens materiais. Segundo sua
riormente e, geralmente, expresso no corpo do destinação, a renda nacional desses países divi-
título. Certificados de depósito bancário, letras
de-se em duas partes: fundo de consumo, des-
do Tesouro, cadernetas de poupança e títulos
tinado a satisfazer as necessidades materiais e
de crédito possuem renda fixa, que pode ser in-
culturais da população; fundo de acumulação,
teiramente prefixada ou vinculada à correção
destinado a ampliar e melhorar as condições de
monetária (correção pós-fixada).
produção e a reforçar os fundos não produtivos
RENDA FUNDIÁRIA. Veja Renda da Terra. consagrados a fins culturais, assistenciais e ha-
bitacionais. Veja também PNB; PNL.
RENDA IDEAL. Renda atribuída que não é re-
cebida em dinheiro nem em espécie. Por exem- RENDA PER CAPITA. Literalmente, “renda por
plo: a renda que seria recebida pelo dono de cabeça”. Em economia, indicador utilizado para
um imóvel se ele não fosse também seu ocu- medir o grau de desenvolvimento de um país,
pante. obtido a partir da divisão da renda total pela
população. Este índice, embora útil, oferece al-
RENDA MÍNIMA. Veja Imposto de Renda Ne- gumas desvantagens, pois, tratando-se de uma
gativo. média, esconde as disparidades na distribuição
RENDA NACIONAL. A soma de todos os ren- da renda. Assim, um país pode ter uma renda
dimentos percebidos, durante determinado pe- per capita elevada, mas uma distribuição muito
ríodo de tempo, pelos habitantes de um país, a desigual dessa renda. Ou, ao contrário, pode ter
título de remuneração dos fatores de produção. uma renda per capita baixa, mas uma renda bem
Inclui salários, lucros, juros, aluguéis, arrenda- distribuída, não registrando grandes disparida-
mento, as receitas percebidas por aqueles que des entre ricos e pobres. Veja também Coefi-
trabalham por conta própria e ainda os lucros ciente de Gini; Lorenz, Curva de.
e rendas líquidas dos organismos governamen-
RENDA PESSOAL. É aquela recebida pelo in-
tais que não são distribuídos por não haver ca-
divíduo em forma de salário, lucro, juro, alu-
pital privado a remunerar. Esse fluxo de renda
gerado pela remuneração dos fatores de produ- guel, arrendamento ou remuneração por servi-
ção proporciona, por sua vez, os recursos com ços prestados. É a renda total de todos os indi-
que as pessoas adquirem bens e serviços neces- víduos antes que tenham pago o Imposto de
sários tanto à satisfação de suas necessidades Renda e os demais impostos pessoais. Inclui um
(consumo) quanto à ampliação da capacidade volume substancial de pagamentos de transfe-
produtiva do sistema econômico (investimento). rências do governo, que não são incluídos na
Desse modo, se completa o ciclo econômico, pro- renda nacional. Inclui também pagamentos de
duto nacional — fluxo de bens e serviços gera- transferência feitos pelo setor privado. Para seu
dos pelo aparelho produtivo —; renda nacional, cálculo, deve-se partir da renda nacional e sub-
pagamento desses fatores de produção; despesa trair as contribuições para a Previdência Social,
nacional, que inclui o consumo e o investimento os impostos sobre os lucros das sociedades anô-
líquido. Expressos matematicamente, esses três nimas e os lucros não distribuídos por eles. Os
525 RENTENMARK

impostos não podem ser incluídos porque vão duções de grande escala, como nas fábricas de
para o governo. E os lucros não distribuídos, automóveis, onde há equipes especializadas de
por serem retidos para financiar a expansão des- funcionários para cada fase de produção. Em
sas sociedades. A renda pessoal disponível é o produções em pequena escala, isso não pode ser
que resta para os indivíduos depois de pagos aplicado da mesma forma, tanto pela indivisi-
os impostos. Representa a renda efetivamente à bilidade dos fatores de produção como também
disposição dos indivíduos para consumo ou pou- porque as equipes especializadas apresentam
pança. Veja também Renda; Renda Nacional. custos unitários mais altos. Ao mesmo tempo,
a especialização aumenta os problemas e custos
RENDA PRESUMIDA. Conceito utilizado pe- na área de direção e comercialização.
las autoridades tributárias e que consiste em pre-
sumir a renda de um contribuinte que torna viá- RENDU PRICE. Expressão anglo-francesa que,
vel a manutenção de bens que se apresentam em relação aos produtos importados, significa
como sinais exteriores de riqueza, como a pro- um preço que inclui o custo da mercadoria, o
priedade de mansões, carros importados, cava- frete, o seguro, despesas de desembarque, im-
los de raça, iates etc., e tributar esta renda se postos e despesas de entrega no domicílio do
ela não tiver sido declarada normalmente pelo comprador.
contribuinte.
RENEGOCIAÇÃO. Significa negociar outra vez
RENDA REAL. É o conjunto de bens e serviços o mesmo contrato. Em se tratando da dívida
que a renda monetária pode comprar. Para um externa, refere-se à situação em que o devedor,
indivíduo, corresponde tanto ao dinheiro quan- encontrando-se incapacitado para pagar o ser-
to aos bens que ele recebe em determinado pe- viço de sua dívida, busca renegociá-la em outros
ríodo de tempo. É determinada não apenas pelo termos, solicitando, via de regra, prazos mais
montante de dinheiro à disposição de um indi- longos e taxas de juro mais baixas para que ela
víduo, mas pelos preços dos bens que ele deseja possa ser paga.
adquirir.
RENEWAL. Substituição de um título de dívida
RENDA VARIÁVEL. No mercado de capitais, vencida ou que está prestes a vencer por um
rendimento que não é prefixado, não faz parte novo. Se o título anterior já estiver vencido, tra-
das condições do título e varia em função das ta-se de novação. Uma renewal pode significar a
condições de mercado. Os exemplos mais co- extensão do vencimento de uma dívida existente.
muns são as ações, os fundos mútuos e os fun- RENPAC. Sigla de Rede Nacional de Comuni-
dos fiscais. cação de Dados por Comutação de Pacotes, que
RENDIMENTOS. Veja Renda. promove o transporte de pacotes de informação
a preços reduzidos para empresas, microempre-
RENDIMENTOS DECRESCENTES. Veja Lei sas e o público em geral.
dos Rendimentos Decrescentes.
RENTABILIDADE. Grau de rendimento pro-
RENDIMENTOS DE ESCALA. Relação entre a porcionado por determinado investimento. Pode
produção de mercadorias e a utilização de fa- ser expressa pela porcentagem de lucro em re-
tores de produção, como mão-de-obra, capital, lação ao investimento total. Na maior parte dos
matéria-prima etc. O rendimento de escala é uti- casos, a rentabilidade é inversamente propor-
lizado para estudos a longo prazo e em função cional à segurança do investimento e à liquidez.
da alteração de todos os fatores de produção,
RENTENMARK. Unidade monetária instituída
que se mantêm proporcionalmente iguais entre em 15/10/1923 na Alemanha, no auge do pe-
si. É medido pela quantidade de produto obtido ríodo hiperinflacionário daquele país, com a
por unidade de fator de produção empregado. equivalência de 1 rentenmark por 1 trilhão de
Em produções de pequena escala, pode-se au- marcos-papel. O valor do Rentenmark em notas
mentar o rendimento até com o simples aumen- emitidas pelo Rentenbank a partir daquela data
to da produção. No entanto, esse aumento de foi estabelecido em 1 marco-ouro (ou do período
produção só pode ir até certo nível, pois pode anterior à Primeira Guerra Mundial), tanto para
diminuir o rendimento, decrescendo a eficiência efeitos internos quanto externos e em termos de
produtiva. De maneira geral, os aumentos de dólares norte-americanos — a única moeda pa-
rendimento de escala são conseguidos pela es- drão-ouro naquele momento. As notas do Ren-
pecialização da mão-de-obra e do trabalho rea- tenmark não eram conversíveis, a não ser em
lizado. Os trabalhadores concentram-se em me- títulos de marcos-ouro a 5%, que representavam
nor número de processos e tarefas, criando-se um primeiro vínculo imposto a todas as terras
equipes especializadas. É o que acontece em pro- agrícolas do país e sobre todas as empresas; além
RENTES 526

disso, não eram de curso forçado, embora as busca de vantagens pessoais, submetem as po-
instituições governamentais fossem obrigadas a líticas públicas a seus interesses.
aceitá-los. A nova moeda foi recebida ansiosa-
mente pela população, que não possuía nenhum REPARAÇÕES. Termo utilizado desde a Pri-
meio de pagamento estável para realizar suas meira Guerra Mundial para designar a compen-
operações cotidianas. A estabilidade do Renten- sação monetária exigida pelas nações vitoriosas
mark permaneceu incerta durante alguns meses, por perdas materiais sofridas durante o conflito.
mas foi assegurada em abril de 1924. Com a Em 1919, a Alemanha foi condenada a pagar
reorganização do Reichsbank e a aprovação do enormes reparações aos Aliados (embora mais
tarde os Estados Unidos abrissem mão de suas
Plano Dawes em agosto de 1924, uma moeda
exigências). Também depois da Segunda Guerra
vinculada ao padrão-ouro foi introduzida — o
Mundial, as nações aliadas impuseram repara-
Reichsmark — e o Rentenmark começou a ser
ções à Alemanha e ao Japão.
retirado de circulação. Vários fatores contribuí-
ram para o êxito do Rentenmark, isto é, para a REPARTIMIENTO. Veja Encomienda.
quebra do círculo vicioso da inflação acelerada
pela introdução de uma moeda não lastreada REPASSE. Transferência total ou parcial de um
no ouro. A moeda estava aparentemente lastrea- crédito de uma empresa para outra a ela vin-
da em ativos reais (terras agricultáveis, indús- culada (por exemplo, uma subsidiária ou uma
trias etc.) e ganhou a confiança da população contratada). A empresa (em geral um banco) que
especialmente no meio rural. Dessa maneira, a primeiro levantou o crédito continua sendo res-
reforma monetária foi aprovada tanto pelos par- ponsável pelo empréstimo.
tidos conservadores quanto pelos liberais. Sur-
REPÚBLICA COOPERATIVA. Veja Gide,
gia como uma emissão que correspondia ao cla-
Charles.
mor popular de ter uma moeda vinculada a al-
guma mercadoria agrícola básica e fora do con- RERUM NOVARUM. Encíclica elaborada pelo
trole do governo e do Reichsbank. Mas o fator papa Leão XIII, e tornada pública em maio de
decisivo foi a absoluta restrição imposta ao 1891. O título da encíclica é tirado da primeira
Reichsbank de emitir adicionalmente. Uma vez frase de seu texto onde se descrevem as condi-
que os títulos do Tesouro não poderiam mais ções do trabalho e a atitude e princípios da Igreja
ser descontados pelo Reichsbank, foi imposto Católica no âmbito das relações entre emprega-
um rígido limite aos gastos governamentais, o dos e empregadores.
mesmo acontecendo com o crédito às empresas
cuja dependência do Reichsbank de capital de RESERVA DE CONTINGÊNCIA. Dotação glo-
giro era um dos fatores que impulsionavam a bal não especificamente destinada a determina-
inflação. As forças depressivas que esse tipo de do programa ou unidade orçamentária, que se
política econômica de combate à inflação gerou inclui no orçamento anual com a finalidade de
foram amenizadas por créditos externos, que co- fornecer recursos para a abertura de créditos su-
meçaram a fluir no final de 1924, e pela adoção plementares, quando se evidenciam insuficien-
do já mencionado Plano Dawes para o paga- tes durante o exercício as dotações orçamentá-
mento das reparações de guerra. Veja também rias.
Hiperinflação; Plano Dawes; Plano Young; RESERVA DE DOMÍNIO. Dispositivo contra-
Reichsmark. tual pelo qual o vendedor mantém a proprie-
dade de um bem vendido a prazo, enquanto o
RENTES. Palavra em francês que designa os ju-
comprador não quitar totalmente a dívida. Du-
ros anuais pagos sobre os títulos da dívida pú-
rante esse período, o comprador detém a posse
blica francesa e de outros países da Europa. Por
e a utilização do bem, mas não pode vendê-lo
extensão, o termo designa também os próprios
a terceiros. É também chamada de Pactum Re-
títulos da dívida pública desses países.
servati Dominii.
RENTIER. Termo em francês muito utilizado
RESERVA DE MERCADO. Setor da produção
na linguagem financeira internacional para de-
no qual as autoridades econômicas limitam a
signar a pessoa que vive de rendimentos pro-
possibilidade de instalação das empresas. Em
venientes dos juros de títulos governamentais.
geral, utiliza-se essa prática em setores impor-
Por extensão, rentier é também qualquer pessoa
tantes para a construção da economia nacional,
cuja renda (juros, dividendos etc.) advenha ex- com forte absorção de tecnologia e desenvolvi-
clusivamente da posse de capital. mento de um alto potencial produtivo (por
RENTISTA. Veja Rentier. exemplo, comunicações, informática, indústria
bélica etc.). Pode-se limitar o número de empre-
RENT-SEEKERS. Expressão em inglês que de- sas que atuam num desses setores (evitando as-
signa agentes econômicos e políticos que, em sim uma concorrência em que todas teriam pre-
527 REVOLUÇÃO AGRÍCOLA

juízo) ou impedir que empresas de capital es- ção contábil das movimentações do governo. No
trangeiro atuem no país. Essas medidas podem entanto, em alguns casos, especialmente no mo-
ser reforçadas pela criação de taxas e impostos mento da passagem de um governo para outro,
de importação. Veja também Indústria Nascen- as somas registradas nessa conta chegam a ser
te; Protecionismo. expressivas.
RESERVA FEDERAL. Veja Sistema de Reserva RESTRIÇÃO BANCÁRIA. Suspensão tempo-
Federal. rária da conversão de papel-moeda em ouro.
Esse termo foi muito utilizado no fim do século
RESERVAS. Na contabilidade de um país, as XVIII e começo do XIX, na Inglaterra, quando
reservas podem ser consideradas: 1) no conceito o Banco da Inglaterra suspendeu os pagamentos
de liquidez internacional (que inclui créditos a em ouro aos portadores de cédulas bancárias.
ser recebidos em um futuro imediato); 2) no con- Atualmente, com a queda do padrão-ouro, as
ceito de disponibilidade imediata ou conceito moedas são fiduciárias e não mais conversíveis
de caixa (que considera os recursos imediata- em metal.
mente disponíveis). Originam-se de superávits
no balanço de pagamento e destinam-se a cobrir RESWITCHING. Veja Reciclagem.
eventuais déficits das contas internacionais e/ou
lastrear a estabilidade cambial, evitando ataques RETÂNGULO ÁUREO. Veja Segmento Áureo.
especulativos contra a moeda nacional. O Brasil
REVOLUÇÃO. Transformação radical de uma
fechou o ano de 1997 com US$ 52,2 bilhões no
estrutura socioeconômica. No plano político, im-
primeiro conceito, e de US$ 51 bilhões no se-
plica a substituição dos grupos detentores do
gundo. Em administração empresarial, é a parte
poder e de suas bases sociais de apoio. Em ter-
do lucro guardada para garantir a liquidez da
mos econômicos, há transformações profundas
empresa, aumentar o capital de giro e fornecer
no sistema de propriedade e na estrutura da pro-
numerário para eventuais melhorias, ampliaçõ-
dução e repartição dos bens. No marxismo, por
es, investimentos etc. Veja também Ataque Es-
exemplo, o conceito de revolução é entendido
peculativo; Balanço de Pagamentos.
como a substituição de um modo de produção
RESERVAS, Incorporação de. Veja Incorpora- por outro, no qual emergem novas classes so-
ção de Reservas. ciais; essas classes ascendem ao poder político,
num processo em que também se definem e con-
RESERVAS-OURO. Parte das reservas mone- solidam novas formas de propriedade. Um
tárias de um país (ao lado de reservas cambiais) exemplo clássico é o da Revolução Francesa, pela
guardada na forma de ouro (lingotes), para fazer qual a burguesia consolidou sua ascensão ao po-
frente a eventuais necessidades de pagamentos der. No uso comum, o termo é muitas vezes
de contas internacionais. aplicado a qualquer movimento rebelde de gru-
pos para a tomada do poder, mas a maioria dos
RESGATE. Ato de pagamento de um título (du- autores só o aplica quando ocorre uma efetiva
plicata, nota promissória e outros). Em vendas “virada” (revolução) na ordem social.
a crédito, o resgate só é feito quando o devedor
efetua o último pagamento. REVOLUÇÃO AGRÍCOLA. Conjunto de mo-
dificações nos métodos de cultivo do solo que
RES NULLIS EST PRIMI OCCUPANTIS. Ex- se verificaram na Europa, entre os séculos XVI
pressão em latim que significa “a coisa sem dono e XIX, acompanhando as transformações que
é do primeiro ocupante”, referindo-se especial- ocorriam no setor industrial. Consistiu, primei-
mente à terra. ro, na substituição do sistema de pousio — típico
RESSEGURO. Contrato mediante o qual um se- da agricultura feudal — pelo de rotação de cul-
gurador toma a seu cargo, total ou parcialmente, turas. O pousio consistia no repouso anual de
o risco de uma operação já coberta por outro uma das faixas de terra cultivadas, enquanto na
segurador. Trata-se, na realidade, de um seguro rotação havia apenas a alternância anual de cul-
realizado por uma empresa seguradora. turas de efeitos contrários: por exemplo, num
ano plantava-se trigo, que esgota o solo, e no
RESTOS A PAGAR. Despesas legalmente em- outro, no mesmo terreno, plantavam-se girassóis
penhadas mas não pagas até 31 de dezembro. ou favas, que recuperam o solo. No decorrer do
Podem ser processadas ou não. Ou melhor, na século XIX, substituiu-se o sistema de rotação
contabilidade pública brasileira escrituram-se na de culturas pelo de cultivo único, especializado
conta “Restos a Pagar ” as despesas não pagas num só tipo de gênero alimentício. Isso foi pos-
até o dia do encerramento do exercício finan- sível graças ao emprego de adubos, como o gua-
ceiro, quer tenham sido simplesmente empenha- no — excremento de aves — exportado pelo
das, quer já tenham sido registradas. Essa conta Peru e pelo Chile para a Europa e os Estados
tem a finalidade de promover uma regulariza- Unidos. Empregou-se também o salitre, prove-
REVOLUÇÃO COMERCIAL 528

niente do Chile. Outro aspecto importante nesse Oriente. O desenvolvimento do comércio e as


processo foi a transformação das terras comu- grandes viagens transoceânicas, bem como a
nais européias em pastagens particulares, vol- construção de navios e armamento de tropas
tadas para a obtenção de lucros — caso típico para garantir a cada potência européia regiões
da Inglaterra, embora tenha ocorrido também conquistadas ou descobertas, levaram a um in-
no resto da Europa. Por último, observou-se um cremento sem precedentes das atividades ban-
intenso aperfeiçoamento das máquinas agrícolas cárias; muitos historiadores chegam mesmo a
— debulhadoras, ceifadeiras, arados —, bem chamar o período da Revolução Comercial de
como o emprego da máquina a vapor para Idade dos Fugger, a casa bancária mais impor-
movê-las. Além de grandes incrementos na pro- tante da Europa. A riqueza acumulada na Eu-
dutividade, essas transformações deram origem ropa com o comércio colonial, junto com o trá-
ao proletariado rural, formado principalmente fico de escravos, o saque das terras descobertas
pelo grande número de pequenos proprietários e os metais preciosos provenientes do Novo
expulsos de suas terras, ante a expansão das Mundo foram alguns dos elementos econômicos
grandes plantações de tipo capitalista. que possibilitaram ao continente os recursos mo-
netários posteriormente aplicados nas ativida-
REVOLUÇÃO COMERCIAL. Conjunto de trans- des produtivas que viabilizaram a Revolução In-
formações ocorridas nas relações de troca entre dustrial. Veja também Descobrimentos Maríti-
a Europa e o resto do mundo no período que mos; Mercantilismo.
vai do século XV ao XVII. Decorreu da formação
dos mercados nacionais e do desenvolvimento REVOLUÇÃO DOS GERENTES. Denomina-
do comércio no continente europeu, a partir do ção dada, nos Estados Unidos, à tendência que
século XI. Incrementando a economia monetária se desenvolve a partir dos anos 50 de dotar as
e o comércio com o Oriente, dominado até fins empresas de direção de profissionais formados
do século XV por genoveses e venezianos, a Re- nas Escolas de Administração, e não mais de
volução Comercial foi o fator determinante da maneira espontânea ou por membros da família
destruição do feudalismo. O ponto culminante dos proprietários.
da Revolução Comercial foi a descoberta do ca-
REVOLUÇÃO DOS PREÇOS. Elevação gene-
minho das Índias através do Atlântico por Vasco
ralizada de preços em toda a Europa, ocorrida
da Gama (1498), o que acabou com a hegemonia
entre o segundo quartel do século XVI e o início
das cidades italianas que dominavam as rotas co-
do século XVII, em virtude da entrada maciça
merciais entre o Ocidente e o Oriente pelo Me-
de metais preciosos procedentes do Novo Mun-
diterrâneo. Com esse feito e a descoberta do Novo
do, tendo por epicentro a Espanha e Portugal.
Mundo por Colombo, Portugal e Espanha e, mais
tarde, Inglaterra, Holanda e França ascenderam REVOLUÇÃO INDUSTRIAL. Conjunto das
a potências comerciais. Abriram-se para a Eu- transformações tecnológicas, econômicas e so-
ropa as fontes fornecedoras de especiarias da ciais ocorridas na Europa e particularmente na
Ásia e da África, além das riquezas minerais do Inglaterra nos séculos XVIII e XIX, e que resul-
Novo Mundo. A ampliação do comércio mun- taram na instalação do sistema fabril e na difu-
dial, englobando quatro continentes, tornava-se são do modo de produção capitalista. O proces-
uma monumental fonte de recursos para os mer- so foi impulsionado, numa primeira fase, pelo
cadores europeus. Só na primeira viagem de aperfeiçoamento de máquinas de fiação e tece-
Vasco da Gama os portugueses auferiram lucros lagem e pela invenção da máquina a vapor, da
de 6 000%. A Europa abarrotava-se de seda, chá, locomotiva e de numerosas máquinas-ferramen-
noz-moscada, pimenta, cravo — as famosas es- tas. Em outro aspecto, a Revolução Industrial
peciarias —, até então trazidas do Oriente com pode ser vista como o ponto alto de um longo
dificuldade e a preços elevados. Formaram-se processo de transformação no âmbito das forças
então as grandes companhias de comércio (Ín- produtivas, tendo suas raízes na crise do sistema
dias Ocidentais e Índias Orientais), que, aliadas feudal europeu. Suas fases preparatórias, entre
às Coroas européias, empreenderam a luta pelo os séculos XIV e XVIII, foram o renascimento
domínio das fontes de metais preciosos e espe- comercial, desenvolvimento do artesanato de
ciarias. Com isso, desenvolveu-se o mercantilis- base corporativista, a Revolução Comercial e o
mo, fruto da acirrada concorrência entre Ingla- surgimento do sistema manufatureiro baseado
terra, Holanda, França, Portugal e Espanha. O no trabalho assalariado doméstico. Da conjun-
ouro e a prata proveniente do México e Peru ção desses fatores resultou a indústria capitalista
vieram atender à crescente necessidade de cu- mecanizada tal como a conhecemos. A acelera-
nhagem de moedas, pois a falta desses metais ção do processo produtivo teve início na Ingla-
na Europa constituía, havia muito tempo, um terra, entre 1750 e 1830, a partir de inovações
obstáculo ao desenvolvimento das relações co- tecnológicas na atividade têxtil. Entre as princi-
merciais no continente e no comércio com o pais realizações dessa primeira fase da Revolu-
529 REVOLUÇÃO SOCIALISTA

ção Industrial se destacam a lançadeira volante tamente na vida financeira, sobretudo na Ingla-
de John Kay; a máquina de fiar (a jenny) de Ja- terra, onde, a partir de 1850, surgiram grandes
mes Hargreaves, que substituiu a roca; a má- bancos e estabelecimentos de crédito. A circu-
quina de fiar movida a água, de Richard Ark- lação monetária ampliou-se, mobilizando os me-
wright; e o tear mecânico de Edmund Cartw- tais preciosos procedentes das minas da Aus-
right. Outra descoberta decisiva foi a máquina trália e da Califórnia, e nos centros distribuido-
a vapor de movimentos circulatórios, patentea- res foram instalados os primeiros grandes esta-
da por James Watt, em 1781, que passou a ser belecimentos comerciais. No plano político, a se-
empregada como força motriz em vários pro- gunda metade do século XIX viu a aristocracia
cessos industriais. O pano de fundo dessas ino- de base agrária ser substituída, na direção dos
vações era a expansão colonial e mercantil bri- negócios do Estado, pela burguesia industrial e
tânica, que forneceu capitais e matérias-primas financeira. Ausente do processo produtivo, o Es-
para a nascente atividade manufatureira. Entre tado orientava-se segundo os princípios do li-
1700 e 1750, a produção industrial inglesa des- beralismo político e econômico, cabendo-lhe
tinada ao mercado doméstico cresceu 7%, en- fundamentalmente a defesa da ordem capitalista
quanto os produtos de exportação aumentaram e do sistema de livre-concorrência. Enquanto
em 76%. As colônias eram um espaço reservado isso, o desenvolvimento da produção mecani-
à produção metropolitana, e constituíam um zada estendeu-se a outros países da Europa. Na
mercado consumidor em crescente expansão, as- França, a industrialização iniciou-se durante o
pecto decisivo para viabilizar a produção em império napoleônico (1804-1815); na Alemanha,
larga escala, a custos menores que os da pro- isso ocorreu depois de 1840 e intensificou-se
dução artesanal. O acréscimo da produção de após a unificação nacional (1870). Nos Estados
artigos de consumo refletiu-se, numa segunda Unidos, a Revolução Industrial acelerou-se de-
fase, no aumento da produção de novas máqui- pois da Guerra de Secessão (1861-1865) e da con-
nas, o que acarretou a considerável expansão quista do Oeste, o que ampliou o mercado con-
da siderurgia e o aperfeiçoamento dos processos sumidor e a oferta de grande quantidade de ma-
de fundição. Esses, por sua vez, aceleram o cres- térias-primas. Apesar dessas profundas trans-
cimento da atividade extrativa do carvão. Mas formações econômico-sociais, a Revolução In-
foi a aplicação industrial das máquinas a vapor dustrial foi um processo contraditório. Ao lado
que inaugurou a fase decisiva da Revolução In- da elevação da produtividade e do desenvolvi-
dustrial. A produção mecanizada, até então li- mento da divisão social do trabalho, manifesta-
gada ao uso de energia hidráulica, libertou a va-se a miséria de milhares de trabalhadores de-
indústria da necessidade de ficar sempre próxi- sempregados e de homens, mulheres e crianças
ma dos rios. As fábricas migraram, então, para obrigados a trabalhar até dezesseis horas por
perto das áreas produtoras de matérias-primas, dia, privados de direitos políticos e sociais. Essa
e o emprego das máquinas a vapor nos meios situação da classe operária levou à formação dos
de transporte (locomotiva e navios), a partir de primeiros sindicatos, à elaboração do pensamen-
1830, interligou os centros industriais aos mer- to socialista e à irrupção de inúmeros movimen-
cados consumidores e facilitou o acesso rápido tos, levantes e revoltas de trabalhadores que
e eficiente às fontes de recursos naturais. Para- marcaram toda a vida européia ao longo do sé-
lelamente, a indústria mobilizava as mais recen- culo XIX. Veja também Capitalismo; Comunis-
tes conquistas em todos os ramos do conheci- mo; Revolução Comercial; Sindicato; Sindica-
mento científico. Assim, os progressos no campo lismo; Socialismo.
da eletricidade conduziram à melhoria dos
meios de comunicação, com a invenção do te- REVOLUÇÃO MARGINALISTA. Mudança ra-
légrafo e do cabo submarino. O desenvolvimen- dical promovida por Menger, Walras e Jevons
to técnico na indústria foi acompanhado de pro- no conceito de valor de uso no início dos anos
fundas transformações na agricultura. Embora 70 do século passado. Veja também Jevons; Mar-
a população rural britânica tenha se reduzido ginalismo; Menger, Karl; Walras, Léon.
drasticamente desde a implantação das enclosu- REVOLUÇÃO NEOLÍTICA. Veja Pré-história.
res (cercamento das terras), a introdução de no-
vas técnicas permitiu o abastecimento dos cres- REVOLUÇÃO SOCIALISTA. Conjunto das
centes contingentes urbanos. A regularidade da transformações políticas, sociais e econômicas
alimentação aliou-se à melhoria das condições que determinam a substituição da sociedade ca-
sanitárias e de saúde, contribuindo para o cres- pitalista pela sociedade socialista. Implica, em
cimento demográfico. A população da Grã-Bre- tese, a instauração de uma nova ordem social
tanha, por exemplo, passou de 7 para 20 milhões baseada na propriedade coletiva dos meios de
entre 1750 e 1850, o que ampliou a oferta de produção e, conseqüentemente, uma nova or-
mão-de-obra e o mercado consumidor. O de- ganização da economia, um novo ordenamento
senvolvimento da indústria refletiu-se imedia- das classes sociais e uma completa reformulação
REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA 530

na estrutura jurídica, política e ideológica da so- nacional, porque se daria nos marcos de deter-
ciedade. Além disso, o conteúdo dessas trans- minado país, mas ao mesmo tempo teria um
formações relaciona-se com os interesses dos tra- conteúdo internacional, fenômeno derivado da
balhadores da cidade e do campo, que formam própria natureza do capitalismo, o qual rompera
o contingente mais numeroso da população. com todos os particularismos locais e nacionais.
Embora a tradição revolucionária socialista re- Foi somente com o declínio das divergências re-
monte às propostas de Babeuf, nos últimos mo- volucionárias na Europa Ocidental, por volta de
mentos da Revolução Francesa, modernamente 1880, que Marx e Engels voltaram suas atenções
o pensamento teórico e a prática objetivando a para a Rússia, agitada pela ação dos narodniks.
Revolução Socialista ligam-se fundamentalmen- Mas, para eles, a vitória plena da revolução so-
te à obra de Karl Marx e Friedrich Engels e aos cialista nesse país dependia do fim do capita-
seus seguidores — Lênin, Trótski e Mao Tsé- lismo nos países mais adiantados. Após a mor-
Tung. Na tradição marxista, a revolução decorre te de Marx e de Engels, o capitalismo passou
da própria natureza do modo de produção ca- por profundas transformações, entrando em sua
pitalista e das contradições por ele engendradas, fase monopolista ou imperialista. Expandiu-se
mas não se trata de um processo fatalista, re- em escala mundial e subjugou aos seus interes-
sultando também da ação política da classe ope- ses numerosas formações sociais pré-capitalis-
rária contra a burguesia, classe dominante na tas. Nessas condições, a teoria da revolução so-
sociedade capitalista. Nesse sentido, o ato revo- cialista foi desenvolvida particularmente por Lê-
lucionário se define e se legitima como uma ação nin. Para ele, a ação revolucionária se desenvol-
histórica ligada aos interesses da maioria, opri- veria naqueles países onde as contradições im-
mida pelas relações burguesas de produção e perialistas fossem mais agudas. E nesse sentido
pelo estado que lhe é inerente. Em seu primeiro teorizou fundamentalmente a partir da situação
momento, a Revolução Socialista manifesta-se concreta da Rússia, submetida a um regime au-
como um ato político, a conquista do poder do tocrático. Mas mesmo Lênin admitiu, e com ele
Estado, o qual detém o monopólio da força. Com Trótski, que a revolução na Rússia seria apenas
esse feito, o proletariado organizado como su- um estopim para o desenvolvimento da revo-
jeito ativo e consciente destrói a máquina estatal lução na Europa Ocidental. Em decorrência de
da burguesia e instaura a ditadura do proleta- seu atraso econômico, a Rússia não tinha con-
riado, que lhe assegura a expropriação da pro- dições de empreender as transformações ineren-
priedade burguesa e reprime seu inimigo de tes à construção do socialismo. Com Stálin e a
classe. Apesar de seu conteúdo classista, a di- situação de isolamento da Rússia pós-revolução,
tadura do proletariado historicamente não é ca- a perspectiva de uma revolução continental eu-
paz de superar a totalidade das contradições ropéia deu lugar à teoria do socialismo num só
econômicas herdadas da sociedade capitalista. país. Ironicamente, desde o Manifesto Comunista,
Terá também seus estigmas. Nela continuará de 1848, a revolução nos países adiantados não
existindo o mercado, a produção para o merca- ocorreu. Seu palco de ação foram fundamental-
do, a lei do valor e as trocas, elementos que não mente países de limitado desenvolvimento ca-
desaparecerão simplesmente por vontade da di- pitalista ou nações de tradição colonial (Rússia,
reção revolucionária. Como afirma Henry Lefè- China, Mongólia, Vietnã, Cuba, Angola, Mo-
vre, a respeito do desenvolvimento da nova so- çambique e Nicarágua). A revolução nesses paí-
ciedade, o direito dos produtores (trabalhado- ses (alcançada pela violência armada das mas-
res) será ainda proporcional ao trabalho forne- sas) colocou-se não como uma conseqüência do
cido em quantidade e qualidade. A igualdade desenvolvimento das forças produtivas criadas
propugnada pela revolução consistirá apenas pelo capitalismo, mas, fundamentalmente, como
em que o trabalho será, consciente e racional- uma forma de superação do subdesenvolvimen-
mente, função da medida comum das trocas, e to, da opressão nacional e da miséria impostos
não o dinheiro. E essa situação de desigualdade pelo capitalismo monopolista internacional.Veja
só será superada nas condições da sociedade co- também Capitalismo; Comunismo; Marxismo;
munista (etapa superior), quando o lema será Socialismo.
de cada um de acordo com sua capacidade e a
cada um de acordo com suas necessidades. Par- REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA. Em termos
tindo de uma análise do desenvolvimento capi- históricos amplos, a expressão designa uma
talista de sua época e do nível de luta e orga- transformação radical no âmbito das forças pro-
nização dos operários na Inglaterra, França e dutivas, modificando profundamente a relação
Alemanha, Marx e Engels chegaram à conclusão do homem com a natureza e, conseqüentemente,
de que o assalto ao poder da burguesia pelo o modo de existência de toda a sociedade. Nesse
proletariado, organizado num partido revolu- sentido é que se pode falar na Revolução Neo-
cionário, dar-se-ia primeiramente nessas nações. lítica (emprego da pedra polida) e na Revolução
A revolução européia, sonhada por eles, seria Metalúrgica (quando o homem começou a uti-
531 RICARDO, David

lizar metais na fabricação de armas e instrumen- de irrigação etc., o que demandava recursos de
tos de trabalho). Em sentido mais restrito, refe- que os países subdesenvolvidos não dispunham.
rente à história econômica mais recente, engloba Em conseqüência, a Revolução Verde contribuiu
as inovações técnicas que se processaram du- para elevar a produtividade e os rendimentos
rante e após a Revolução Industrial e que alte- da agricultura em geral nas áreas onde os pro-
raram as formas e processos de produção, além cessos agrícolas já eram avançados, mas não
de concorrer para o incremento da produtivi- prosperou em regiões mais pobres, onde a agri-
dade e da divisão social do trabalho. Esse revo- cultura até hoje utiliza métodos tradicionais de
lucionário progresso técnico ocorreu como con- cultivo.
dição necessária para o processo de desenvol-
REVOLUÇÕES BURGUESAS. Movimentos po-
vimento e realização do modo de produção ca- lítico-sociais ocorridos na Europa Ocidental entre
pitalista. Essas modificações técnicas foram acom- 1640 e 1850, transformando a antiga sociedade
panhadas também de profundas mudanças na aristocrática (dominada pela monarquia absolu-
estratificação social, nas relações entre as classes ta e pela propriedade fundiária pertencente à
e no âmbito das estruturas políticas e jurídicas nobreza) em uma sociedade capitalista domina-
da sociedade moderna. Tomando-se como ponto da pela produção mercantil e pela ideologia do
de referência a Revolução Industrial, costuma-se liberalismo. São considerados exemplos clássi-
determinar a existência de três revoluções tec- cos de revoluções burguesas a Revolução Inglesa
nológicas ao longo dos séculos XIX e XX. A pri- (1640-1688) e a Revolução Francesa (1789). Com
meira delas correspondeu ao auge da Revolução ambas firmaram-se os mecanismos políticos, ju-
Industrial e configurou-se com o emprego de rídicos e ideológicos que garantiram à burguesia
máquinas a vapor nos mais diversos ramos da o desenvolvimento das relações capitalistas de
atividade produtiva, na primeira metade do sé- produção e o exercício da dominação social e
culo XIX. A segunda ocorreu no final do século da hegemonia política sobre os demais segmen-
XIX, com o emprego do motor elétrico — ba- tos da sociedade contemporânea.
seado na energia hidráulica — e do motor de
explosão — movido a combustível derivado do RHODES, Cecil John (1853-1902). Empresário
e administrador colonial britânico, um dos prin-
petróleo. A terceira corresponde à utilização
cipais responsáveis pelo expansionismo inglês
produtiva dos conhecimentos da eletrônica, da
na África. Entre 1889 e 1891 tornou-se dirigente
computação, da automação e da energia atômi-
das mais poderosas companhias de mineração
ca. Apesar dos avanços verificados nesses seto- de diamantes na África do Sul, controlando 90%
res, particularmente nos Estados Unidos, a partir da produção mundial. Patrocinou a criação da
da década de 40, discute-se se esses avanços são Companhia Britânica da África do Sul e foi o
suficientes para caracterizar uma revolução pro- primeiro-ministro da Colônia do Cabo (1890-
priamente dita, pois são ainda limitados seus 1896). Na tentativa de estabelecer a dominação
efeitos no conjunto da atividade produtiva. Um inglesa sobre as populações de origem holan-
dos defensores da existência de uma terceira re- desa da África do Sul, recorreu a pressões eco-
volução tecnológica em curso é o teórico Ernest nômicas e ações armadas, o que desencadeou a
Mandel, que a toma como objeto de estudo em Guerra dos Bôeres. Como empresário e explo-
sua obra O Capitalismo Tardio. Veja também Re- rador, Cecil Rhodes compreendeu com profun-
volução Industrial; Tecnologia. didade a imperiosa urgência de conquistar no-
vos mercados e fontes de matérias-primas para
REVOLUÇÃO VERDE. Processo de aumento as indústrias britânicas.
da produtividade de cereais básicos como trigo,
arroz e milho, desenvolvido a partir dos anos RIAL. Unidade Monetária da Arábia Saudita
50, com financiamento de institutos de pesquisa (rial saudita, submúltiplo: kurush), do Catar (rial
norte-americanos em áreas experimentais na de Catar, submúltiplo: dirrã), do Iêmen (rial ie-
América Latina e Ásia. Foi idealizado para per- menita, submúltiplo: fil), do Irã (rial iraniano,
mitir que a agricultura dos países em desenvol- submúltiplo: dinar), e de Omã (rial omani, sub-
vimento aumentasse sua produção sem que fos- múltiplo: baiza).
se necessário mudar a estrutura da propriedade
rural por meio de reforma agrária. Durante os RICARDO, David (1772-1823). Economista in-
anos 60 foram desenvolvidas, no México e nas glês, considerado o mais legítimo sucessor de
Filipinas, novas variedades para o trigo e o ar- Adam Smith; suas idéias dominaram a econo-
roz, que permitiram multiplicar por dois ou três mia clássica por mais de meio século. Após uma
os rendimentos das culturas tradicionais. No en- brilhante carreira na Bolsa, dedicou-se ao estudo
tanto, para obter esse aumento de produtivida- da economia e escreveu artigos para jornais. Seu
de, as culturas de grãos exigiam intensas apli- primeiro livro, O Preço Elevado dos Lingotes de
cações de fertilizantes e defensivos, utilização Ouro, uma Prova da Depreciação das Notas de Banco
RIEL NOVO 532

(1810), explica a depreciação das notas bancá- tos, mesmo que pudesse produzi-los por preço
rias, o movimento dos preços e dos fluxos de inferior, desde que sua vantagem, em compa-
comércio e o volume de moeda. Em Ensaio sobre ração com outros produtos, fosse ainda maior.
a Influência do Baixo Preço do Trigo sobre os Lucros Essa lei constitui ainda hoje uma parte impor-
(1815), analisa problemas específicos da cultura tante da teoria do comércio internacional.
de cereais na Grã-Bretanha. Propostas para uma
Circulação Monetária Econômica Segura (1816) é a RIEL NOVO. Unidade monetária do Camboja.
base de seu trabalho mais importante, Princípios Submúltiplo: sen.
de Economia Política e Tributação (1817). Em 1824, RIGGING THE MARKET. Expressão em in-
um ano após sua morte, foi publicado Plano para glês utilizada especialmente nos mercados fi-
um Banco Nacional. Nos Princípios de Economia nanceiros europeus quando um grupo de ope-
Política e Tributação, Ricardo deu uma enorme radores profissionais manipula os preços de tí-
contribuição à teoria do valor e da distribuição. tulos e ações, criando uma falsa impressão de
Em sua análise dos problemas econômicos, cons- vitalidade dos mesmos, induzindo o público a
truiu um modelo teórico fundamentado numa comprá-los, e em seguida vendendo-os em gran-
economia predominantemente agrícola, procu- de escala para realizar lucros especulativos.
rando determinar as leis que regulam a distri-
buição do produto entre as diferentes classes da RIGHTSIZING. Termo em inglês que significa
sociedade e localizando no trabalho o valor de a instalação de uma estrutura computacional de
troca das mercadorias. Apesar disso, acreditava tamanho adequado às atividades de uma em-
que os custos do capital podem influenciar os presa para que esta não opere com capacidade
preços e que o aumento dos salários sobre os ociosa nessa área, evitando, portanto, custos des-
preços relativos depende da proporção desses necessários.
dois fatores de produção. Para Ricardo, a renda
RIN. Veja Iene.
relaciona-se com o aumento da população. Acre-
ditava que a maior demanda acarretada por esse RINGGIT. Unidade monetária da Malásia.
aumento da população exige o cultivo de terras
menos férteis, nas quais o custo de produção é RINGING OUT. No comércio de mercadorias,
mais elevado do que em terras mais férteis. Mas é a prática desenvolvida entre corretores e co-
custos e lucros deveriam ser mantidos no mes- merciantes de reunir-se periodicamente para sal-
mo nível nos dois casos, pois, de outro modo, dar ou compensar contratos de futuros penden-
as terras de pior qualidade deixariam de ser cul- tes por intermédio da troca de contratos de
tivadas. Mesmo com essas medidas, no entanto, compra e venda entre eles mesmos, antes do
os arrendatários das melhores terras acabariam seu vencimento ou de efetuar-se a respectiva
tendo uma maior receita, independente do tra- entrega.
balho e do capital aplicados na produção. Essa RIQUEZA. Conjunto dos bens e serviços à dis-
diferença em seu favor (ou o excedente sobre o posição de uma coletividade, um grupo social
custo da produção) constituiria a renda da terra ou um indivíduo. Em termos amplos, é o pro-
apropriada pelo proprietário. Assim, a renda de duto social, apropriado de forma diversa pelos
determinada terra seria a diferença entre o valor indivíduos em determinada estrutura social. A
da colheita dessa área fértil e da colheita de ou- participação de cada grupo ou de cada indiví-
tras menos férteis. Com o inevitável crescimento duo na riqueza social depende do nível de renda
da renda diferencial da terra, os proprietários individual (que deriva da utilização econômica
rurais iriam se apossando de maior percentual da riqueza). O conceito de riqueza nacional, muito
do excedente econômico, em detrimento dos ca- utilizado pelos economistas clássicos, representa
pitalistas. Ricardo previa a ocorrência de um “es- o conjunto dos bens materiais existentes no país.
tado estacionário”, resultante do crescimento Os primeiros estudos sobre a riqueza nacional
populacional e responsável pelo cultivo de ter- foram realizados por William Petty no século
ras cada vez menos férteis. Ao chegar a deter- XVII. Adam Smith tratou o tema de forma mais
minado limite, o lucro seria tão baixo que a acu- sistematizada no período de afirmação do capi-
mulação de capital simplesmente cessaria, pre- talismo com sua obra A Riqueza das Nações.
judicando o desenvolvimento econômico. Para RISCO. Situação em que, partindo-se de deter-
adiar esse “estado estacionário”, seria necessária minado conjunto de ações, vários resultados são
a aplicação de um programa econômico liberal. possíveis e as probabilidades de cada um acon-
Ricardo formulou também a Lei dos Custos tecer são conhecidas. Quando tais probabilida-
Comparativos (ou Lei das Vantagens Compara- des são desconhecidas, a situação denomina-se
tivas), com que procurou demonstrar a vanta- incerteza. Em sentido mais concreto, é a condição
gem de um país importar determinados produ- de um investidor, ante as possibilidades de per-
533 RISCO, Contrato de

der ou ganhar dinheiro. Os juros ou o lucro são tragens tão vitais para as questões econômicas,
explicados como recompensas recebidas pelo in- administrativas e financeiras que envolvem a
vestidor por assumir determinado risco de in- avaliação do risco. No início do século XIX, La-
certeza econômica, relativa a eventualidades place formulava o teorema do Limite Central:
como modificações nas taxas de câmbio, recusa a tendência de que as médias de médias redu-
do produto pelo consumidor ou investimento zem extraordinariamente a dispersão no entorno
numa atividade cujos resultados sejam negati- da grande média ou da média principal permite
vos, isto é, revelem prejuízo. Em termos histó- estabelecer que, se uma população tem uma dis-
ricos, a análise científica do risco tem início no tribuição normal, a distribuição das médias
século XVII, em pleno Renascimento, quando amostrais retiradas da população também tem
por volta de 1650 o Cavaleiro de Meré desafiou uma distribuição normal, para qualquer tama-
o matemático francês Blaise Pascal a solucionar nho da amostra, simplificando de maneira cru-
o problema de como apostar num jogo de azar cial o número de informações necessário para
(o jogo de balla) interrompido quando um dos que se tomem decisões sobre o conjunto de uma
jogadores levava considerável vantagem sobre população a partir de uma amostra dela. Quase
o outro. O desafio havia sido formulado uns um século depois, o matemático e estatístico in-
duzentos anos antes pelo criador das partidas glês Thomas Bayes deu uma enorme contribui-
dobradas, o contabilista e matemático italiano ção ao combinar, no processo de tomada de de-
Luca Paccioli. Pascal pediu ajuda a Pierre de cisões, informações velhas com informações no-
Fermat, outro matemático francês que tinha por vas. De que maneira articular as informações
principal atividade a advocacia. A solução deste para que as decisões sejam mais acertadas se a
último do jogo de balla interrompido permitiu seqüência na qual as informações estão dispo-
que pela primeira vez os homens pudessem pre- níveis não é a mesma da tomada de decisões?
ver o que iria acontecer no futuro com a ajuda Francis Galton, no último quartel do século XIX,
de números como o cálculo de probabilidades. com sua descoberta da regressão à média (tão
No início do século XVIII, esses conhecimentos importante para a previsão a respeito do com-
já eram utilizados para o cálculo ou tabelas de portamento futuro dos fenômenos), e Harry
expectativas de vida que o governo inglês uti- Markowitz, com sua explicação matemática de
lizava para se financiar mediante a venda de 1954 (que lhe valeu um Prêmio Nobel de Eco-
títulos (de dívida) de anuidades vitalícias. Outro nomia em 1994) de por que é inaceitavelmente
negócio florescente, baseado também no cálculo arriscado colocar todos os ovos numa cesta só,
numérico das probabilidades, eram os seguros isto é, por que a melhor saída é a diversificação,
marítimos, numa época em que o comércio flo- completaram as bases essenciais utilizadas até
rescia e os marujos eram considerados os tra- hoje nas decisões que envolvam risco. Veja tam-
balhadores mais produtivos pelo ideário mer- bém Marginalismo; Incerteza.
cantilista. Em 1730, outro matemático francês,
Abraham de Moivre, apresentou a Distribuição RISCO, Contrato de. Contrato que pode ser fir-
Normal (Curva em Sino, mais tarde formalizada mado entre países produtores e empresas ex-
por Gauss) e desenvolveu o conceito de Desvio ploradoras de petróleo. Suas características prin-
Padrão. Ambos os conceitos são essenciais para cipais são as seguintes: a empresa contratada
a atividade de quantificação do risco em nossos executa todas as operações de exploração e de-
dias. Poucos anos depois, Daniel Bernouilli de- senvolvimento dos campos na área estipulada;
senvolveu os conceitos essenciais de como as os custos e investimentos de exploração e pro-
pessoas tomam decisões e realizam escolhas en- dução são de responsabilidade total da contra-
tre alternativas. No desenvolvimento de suas tada; o reembolso dessas despesas só ocorrerá
concepções, formula pela primeira vez o que se houver produção comercial de óleo — daí a
mais de um século depois serve de alicerce para denominação “de risco” —, a remuneração pelos
os fundadores da Escola Marginalista ou da Uti- serviços executados, considerado o risco corrido
lidade Marginal (o princípio da utilidade mar- pela contratante, é estipulada no contrato, po-
ginal decrescente): “A satisfação gerada numa dendo ser em moeda ou em participação na
pessoa por qualquer pequeno aumento de sua aquisição da produção de óleo; todos os pro-
riqueza é inversamente proporcional à riqueza gramas e investimentos estão sujeitos à aprova-
já possuída por tal pessoa”. Ao mesmo tempo ção prévia do país ou da empresa estatal con-
que Bernouilli chegava a tais conclusões, outro tratante, que permanece como única proprietária
matemático, Gottfried von Leibniz, advertia que das reservas descobertas pela contratada, dos
a natureza estabeleceu padrões que se repetiam, produtos obtidos, das áreas e de todas as ins-
mas só “na maior parte dos casos”. Isto é, os talações feitas. Os contratos de risco surgiram
eventos se repetem, porém também se modifi- como alternativa ao regime de concessões, e pos-
cam, o que contribuiu para Bernouilli criar a Lei sibilitavam aos trustes petrolíferos explorar o
dos Grandes Números, e os métodos de amos- produto mediante o pagamento de royalties e,
RISCO SISTÊMICO 534

às vezes, de uma taxação sobre o lucro das ven- queles que defendiam a circulação de formas
das. Talvez o primeiro contrato de risco tenha não-metálicas de dinheiro, de Law a Smith, pas-
sido firmado na década de 50 entre a ENI (Ente sando por Ricardo e Keynes, era cético em re-
Nazionale Idrocarburi — empresa petrolífera es- lação aos acordos do tipo obtido em Bretton
tatal da Itália) e o governo do Irã, para pros- Woods.
pecção e exploração de petróleo naquele país.
No Brasil, os contratos de risco foram permitidos RITKSUI SAI. Expressão em japonês que sig-
a partir de 1975. Renunciando temporariamente nifica títulos emitidos com cupons destacáveis
a algumas de suas prerrogativas, estabelecidas para o pagamento de juros junto ao agente emis-
pela lei nº 2 004, de outubro de 1953, a Petrobrás sor. São emitidos na forma de títulos ao porta-
dor.
destinou dez áreas do território nacional para
exploração de petróleo sob regime de contrato ROBINSON CRUSOÉ. Na segunda metade do
de risco. O primeiro desses contratos foi assi- século XIX, muitos economistas utilizaram a for-
nado pela Petrobrás com a BP Petroleum Deve- ma de vida de Robinson Crusoé (do livro ho-
lopment Brazil Limited, em novembro de 1976. mônimo, escrito por Daniel Defoe e publicado
Veja também Risco; Petrobrás. em 1719), isolado em “sua” ilha, como repre-
sentativa do indivíduo racional que utiliza e
RISCO SISTÊMICO. Risco de investimento em
combina os recursos disponíveis para obter a
títulos que não pode ser eliminado pela diver- máxima satisfação presente e futura. Enquanto
sificação dos investimentos. O risco sistêmico personificação da teoria econômica baseada na
pode ser entendido também como uma situação oferta e na demanda, pode ser encontrada em
do mercado financeiro segundo a qual a possi- Teoria da Economia Política (1871), de Stanley Je-
bilidade de fracasso de um banco em acertar vons; em Princípios de Economia Política (1871),
suas contas com os demais possa provocar uma de Karl Menger; em Princípios de Economia (1890),
reação em cadeia, impedindo que outros bancos, de Alfred Marshall; em O Alfabeto da Ciência Eco-
na seqüência, acertem suas contas e assim por nômica (1888), de Philip Wicksteed; em Teoria do
diante, o que pode provocar uma crise no sis- Capital (1890), de Böhn Bowerk; e no Valor, Ca-
tema financeiro como um todo. Para as empresas pital e Renda (1893), de Knut Wicksell. Os autores
que possuem porta-fólios (carteiras) grandes e citados utilizam o exemplo de Robinson Crusoé
diversificados, o risco que interessa avaliar é o em suas obras para mostrar como um indivíduo
risco sistêmico, isto é, os retornos esperados des- isolado organizava seu consumo de tal forma a
se porta-fólio devem ser cotejados com o risco maximizar a utilidade (no sentido marginalista),
sistêmico. Esse processo denomina-se o princípio distribuindo os esforços representados pelo tra-
do risco sistêmico. balho entre a produção de bens de consumo e
de “investimento”. Por exemplo, em determina-
RISCO, Taxa de. Veja Spread. do momento, Robinson Crusoé parava de pescar
com anzóis e utilizava seu tempo para confec-
RISK AVOIDERS. Expressão em inglês que de- cionar uma rede que lhe daria maior capacidade
signa os agentes financeiros pouco dispostos a produtiva, formando dessa maneira um “capi-
assumir riscos em suas aplicações e investimentos. tal”. O comportamento de Robinson Crusoé era
RISK FREE. Expressão em inglês que significa, também transposto para a sociedade como um
literalmente, “livre de risco”, ou seja, aplicação todo, no sentido de que os princípios do com-
em títulos absolutamente seguros, como são os portamento racional poderiam ser aplicados a
títulos do Tesouro dos Estados Unidos. qualquer tipo e economia, desde um indivíduo
isolado até as economias (então) modernas. Esse
RIST, Charles (1874-1955). Nasceu na Suíça e enfoque pode ser encontrado com muita clareza
lecionou na França, em Montpellier e Paris, até no livro A Distribuição da Riqueza (1899), de J.B.
1933. Embora seja mais conhecido pelo livro His- Clark, principal representante da escola margi-
tória das Doutrinas Econômicas (1915), escrito em nalista nos Estados Unidos, assim como, de ma-
conjunto com Charles Gide, sua obra mais im- neira simplificada, em numerosos textos e ma-
portante é História da Teoria Monetária e do Crédito nuais de economia. Partindo de uma perspecti-
de John Law à Atualidade (1940). Nesse trabalho, va totalmente oposta e antes desses autores, Karl
o autor coloca parte da experiência obtida du- Marx também utilizou o exemplo em O Capital
rante o período em que foi membro do Comité (1867). A preocupação de Marx, no entanto, ao
des Experts (1926) e vice-governador do Banco referir-se a Robinson Crusoé, era criticar as “ro-
da França (1926-1928), e também da sua parti- binsonadas”, já que apareciam em autores pré-
cipação como especialista nas reformas mone- marginalistas e mesmo em Ricardo e Smith,
tárias da Romênia, da Áustria, da Turquia e da quando ilustravam o conceito de valor, com o
Espanha. Ele representou a França na Conferên- exemplo de homens primitivos — caçadores ou
cia Econômica de Londres de 1933. Crítico da- pescadores — trocando produtos entre si (na
535 ROBÔ

medida em que contivessem a mesma quanti- são keynesiana) e do marxismo, está mais bem
dade de trabalho) e transpondo diretamente essas representada, constituindo um exemplo da mo-
formas para explicar o movimento de uma so- derna macroeconomia no esforço de entender o
ciedade capitalista. Marx também utiliza o funcionamento do capitalismo. O que marca as
exemplo de Robinson Crusoé no desenvolvi- análises de Joan Robinson é a crítica aguda e
mento de sua concepção de fetichismo da merca- mordaz da grande construção lógica elaborada
doria. Isto é, mostrava como no caso de Robinson pelos marginalistas. Em vez de fazer a crítica
não existia nenhum caráter misterioso entre ele “de fora”, como faziam os marxistas, Robinson
e o produto de seu trabalho, ao contrário do examinou as proposições marginalistas “de den-
que aconteceria com as mercadorias numa so- tro”, a partir de seus próprios pressupostos ló-
ciedade capitalista. Veja também Escola Neo- gicos, denunciando suas inconsistências e sua
clássica; Fetichismo da Mercadoria. pretensão científica. Recusando-se a qualquer
ortodoxia, Robinson abriu caminho para um
ROBINSON, Joan Violet (1903-1983). Economis- tipo de pensamento econômico mais aberto ("a
ta inglesa do grupo de Cambridge, estudou pro- escola dos homens sensatos", como diz ela), ade-
fundamente a influência da distribuição da ren- quado à política de instituições internacionais,
da sobre a inflação, a estabilidade econômica e como a ONU, que têm de conciliar posições di-
o desenvolvimento. Educada na ortodoxia mar- vergentes de seus integrantes. Sua obra Freedom
ginalista, ajudou a divulgar e interpretar a nova and Necessity (Liberdade e Necessidade), de
teoria econômica que mais tarde iria criticar e 1970, uma interpretação da história da humani-
superar suas concepções. Fez parte do seleto dade, mostra a necessidade de reintegrar a ciên-
grupo de economistas — entre eles Piero Sraffa cia econômica no conjunto das ciências huma-
e Michal Kalecki — reunidos no final da década
nas. A própria trajetória intelectual de Robinson
de 20 na Universidade de Cambridge em torno
serviu de modelo a uma nova geração de eco-
da figura de John Maynard Keynes, com quem
nomistas, que puderam utilizar-se de um acervo
trabalhou de 1929 a 1939. Sua importante obra
de conhecimentos muito mais rico e menos es-
de estréia, The Economics of Imperfect Competition
tratificado que o existente na década de 20,
(A Economia da Concorrência Imperfeita), de
quando a maioria estava obrigatoriamente filia-
1933, desafia o pressuposto da livre-concorrên-
da a correntes doutrinárias paralisadas em seu
cia, numa análise semelhante à feita por Cham-
dogmatismo. Ela escreveu ainda Collected Eco-
berlin. A partir daí, Robinson destaca-se no gru-
nomic Papers (uma coletânea em três volumes,
po dos novos teóricos do monopólio. Ao mesmo
editada em 1951, 1960 e 1965); Economic Philo-
tempo, passa a fazer uma crítica mais radical
sophy, 1963 (Filosofia Econômica); Economic He-
da economia capitalista, utilizando abundante-
resies, 1971 (Heresias Econômicas), e, em 1973,
mente as teses marxistas (aproveitando as pre-
com John Eatwell, Introduction to Modern Econo-
senças de Sraffa e Kalecki em Cambridge, ela
mics (publicado no Brasil como Introdução à Eco-
teve um grande papel no intercâmbio de idéias
nomia). Tem desempenhado importante papel
entre marginalistas e marxistas). Em 1942, ao
no pensamento econômico da Universidade de
publicar An Essay on Marxian Economics (Um En-
Cambridge e no desenvolvimento de uma ma-
saio sobre Economia Marxista), procura tornar
croeconomia pós-keynesiana. Veja também Eco-
compreensíveis para os economistas acadêmicos
nomia Pós-keynesiana.
as principais teses de O Capital, rompendo po-
liticamente com o marginalismo, mas sem se ROBINSONADAS. Veja Robinson Crusoé.
desligar metodologicamente dessa corrente e
sem aderir ao marxismo. Seu desligamento total ROBÔ. Máquina automática que funciona sem
do marginalismo ocorreria nos anos seguintes, a intervenção direta de um operador, progra-
e seria marcado pela publicação de The Accu- mada para realizar determinadas tarefas — es-
mulation of Capital (A Acumulação do Capital), pecialmente as mais perigosas ou extenuantes
de 1956, obra em que faz uma análise do de- —, realizando-as com perfeição e regularidade,
senvolvimento geral da economia capitalista. garantindo entre outras coisas a qualidade uni-
Era um tema presente nos clássicos, de Adam forme dos produtos. Os países que mais utilizam
Smith e Marx, mas que fora abandonado pelos esse tipo de máquina são aqueles que se encon-
marginalistas. Robinson o retoma sem, entretan- tram na dianteira econômica e tecnológica no
to, optar por nenhuma teoria do valor, o que a mundo, como o Japão, os Estados Unidos e a
impede de formular leis sobre a acumulação de Alemanha. A palavra robô, no entanto, é bem
capital, limitando-se a certas regras de modelos. antiga e designava, até o início do século XIX,
Na obra seguinte, Essays on the Theory of Economic na Europa Central, os serviços e obrigações as
Growth (Ensaios sobre a Teoria do Crescimento mais vexatórias e penosas que o servo-camponês
Econômico), de 1963, o tipo de análise realizada devia prestar a seu senhor. Atualmente, quando
por Robinson, usando indistintamente conceitos o termo se aplica ao comportamento de uma
e teses retirados do marginalismo (em sua ver- pessoa, designa geralmente um movimento
ROBOT 536

mecânico, sistemático, regular e preciso, mas Estado de Ohio, com a idade de 24 anos e, es-
contendo um sentido pejorativo. Veja também magando impiedosamente os concorrentes, uni-
Robotização; Strafpatent; Unterthanspatent; ficou-a, formando a Standard Oil, origem do po-
Urbarium. derio da família e de um império de empresas
calculado em bilhões de dólares. John Davison
ROBOT. Veja Robô. Rockefeller Jr. (1874-1960), filho único do pre-
cedente, assumiu a direção dos negócios em
ROBOTIZAÇÃO. Uso de máquinas automáti- 1911 e, entre outros empreendimentos, fundou
cas programadas para exercer determinadas o Rockefeller Center, em Nova York. Nelson Al-
funções em diversos ramos da atividade huma- drich Rockefeller (1908-1979), segundo filho de
na. É um fenômeno típico do processo de au-
John Jr., foi governador do Estado de Nova York
tomação que vem transformando radicalmente
por quatro vezes, de 1959 a 1973, e vice-presi-
a moderna tecnologia industrial, sendo cada vez
dente dos Estados Unidos, de 1974 a 1978. David
mais empregado no sistema produtivo dos paí-
Rockefeller (1915- ) é presidente do The Chase
ses altamente industrializados. Nessas econo-
Manhattan Bank, o segundo maior banco dos
mias, a robotização se dá em nome da eficiência
Estados Unidos. Baseado no truste da Standard
e do aumento da produtividade do trabalho, e
Oil Company, avaliado em 60 bilhões de dólares,
sua utilização vem alcançando grande êxito nas
o império econômico da família se desdobra em
linhas de montagem da indústria automobilís-
tica, onde os robôs executam trabalhos de sol- 23 empresas. Na área petrolífera, os Rockefeller
dagem, pintura, polimento. Nenhum país tem controlam a Exxon (antiga Standard Oil of New
poder de competição no mercado mundial se Jersey) — primeira empresa dos Estados Unidos
sua estrutura produtiva não contar com uma sig- em volume de vendas, a Mobil Oil, a Standard
nificativa base robotizada. O segredo do poder Oil of California, a Standard Oil of Indiana, a
competitivo dos carros japoneses no mercado Chevron, a Arco e a Marathon Oil. Na área ban-
internacional durante os anos 70 e 80 foi exata- cária, além do Chase Manhattan Bank, a família
mente esse, pois o Japão foi o país que iniciou, controla o The First National City Bank of New
em sua indústria, a robotização em larga escala. York (Citicorp), The Chemical Bank of New York
No Brasil, a primeira empresa a empregar, ex- e o First National Bank of Chicago, respectiva-
perimentalmente, robôs no processo produtivo mente o segundo, terceiro, sexto e décimo ban-
foi a Volkswagen, em sua unidade de Taubaté, cos dos Estados Unidos. Participando do con-
em 1982. Apesar da eficiência produtiva desse glomerado financeiro, existem ainda três com-
novo instrumento tecnológico, sua utilização panhias de seguros, a Metropolitana, a Equitable
tem acarretado polêmicas e alguns setores ainda e a New York Life, que são a segunda, a terceira
se opõem a ela. Essa atitude é característica de e a quarta maiores empresas do ramo nos Es-
algumas facções do movimento sindical, devido tados Unidos. Os Rockefeller ainda dominam a
à ameaça que os robôs representam como fonte Consolidated Edison — segunda companhia de
geradora de desemprego. Por isso, em muitos utilidade pública dos Estados Unidos (gás e ele-
países onde esse processo está avançado, foram tricidade), a Anaconda Copper Company, a
criadas comissões paritárias de empresários e Transcontinental Gas Pipeline, a Texas Gas
trabalhadores para discutir as conseqüências so- Transmission, a Quaker Oats, a Federated De-
ciais da utilização de robôs na produção. Veja partment Stores e uma infinidade de outras em-
também Automação; Revolução Industrial; Re- presas. Junto com outros conglomerados, partici-
volução Tecnológica. pam da American Telephone and Telegraph
(ATT) — considerada a maior empresa de serviço
ROBOT MADE. Expressão em inglês que sig- público do mundo, da U.S. Steel, da Chrysler, da
nifica, literalmente, “fabricado por robô”, isto é, Monsanto Chemical, da General Foods, da Olin
produtos que são fabricados praticamente sem Corporation, da RCA, da Colgate Palmolive, da
intervenção direta do trabalhador. Na medida Borg-Warner e da International Paper, entre ou-
em que tais produtos apresentam um nível de tras grandes empresas.
qualidade maior por portar menos defeitos, os
consumidores dos países mais desenvolvidos RODADA KENNEDY. Veja Kennedy Round.
passaram a preferir esse tipo de produto àqueles
das indústrias que ainda contam com um grau RODADA TÓQUIO. Sétima rodada de nego-
elevado de intervenção direta do trabalho hu- ciações multilaterais de comércio desenvolvidas
mano. Veja também Robotização. sob os auspícios do Gatt — General Agreement
on Trade and Tariffs (Acordo Geral de Comércio
ROCHDALE. Veja Cooperativismo. e Tarifas) —, que se realizou em Tóquio entre
1973 e 1979. Nessa ocasião, diferentemente do
ROCKEFELLER. Família de empresários norte- ocorrido na rodada anterior (Kennedy Round),
americanos. John Davison Rockefeller (1839-1937) tratou-se tanto das barreiras tarifárias quanto
associou-se à incipiente indústria petrolífera, no das não-tarifárias ao comércio internacional. A
537 ROOSEVELT, Franklin Delano

maior parte dos países participantes concordou ROLL-OVER. Expressão inglesa utilizada no
em reduzir de 25 a 30% as tarifas sobre produtos jargão financeiro para os expedientes de fazer
industrializados a ser implementadas entre 1980 “rolar”, empurrar para diante uma dívida. Pode
e 1987. Veja também GATT; OMC. consistir, por exemplo, em trocar títulos cuja dí-
vida está vencida por outros que vencerão de-
RODADA URUGUAI. Veja Gatt. pois de algum tempo (com um deságio sobre
os valores negociados).
RODBERTUS, Johann Karl (1805-1875). Nasceu
na Alemanha e formou-se em direito pelas uni- ROLY-POLY CD. Um contrato de depósito ban-
versidades de Göttingen e Berlim. A partir de cário de longo prazo com taxa fixa de juros, por
1836, concentrou-se nos estudos de economia e meio do qual o banco concorda em emitir e o
história, tendo sido fortemente influenciado por aplicador (comprador) concorda em depositar
Sismondi e Ricardo. Deste último aceitava a con- uma soma específica de dinheiro em intervalos
cepção de que os salários seriam sempre deter- periódicos, sendo a soma dos intervalos equi-
minados em nível de subsistência, ou seja, acre- valente ao período total do depósito.
ditava na existência de uma Lei de Ferro dos
Salários. Assim, qualquer aumento de renda na- ROM. Iniciais das palavras inglesas read only
cional beneficiaria os lucros e a renda de terra memory. Significa que a memória só pode ser
e a participação dos salários diminuiria. Isso utilizada para leitura. Ou melhor, são memórias
provocaria uma queda relativa do consumo na permanentes que não podem ter alterado o con-
medida em que a demanda representada pelos teúdo gravado na fábrica, mas apenas lido.
trabalhadores diminuiria (em relação ao produ- Atualmente, existem, no entanto, modelos mais
to total) e ocorreriam crises. Nesse sentido, Rod- avançados de ROM que, a partir de processos
bertus pode ser considerado um precursor dos adequados, podem ter seu conteúdo alterado.
teóricos do subconsumo. Rodbertus julgava que São eles: Prom — programmable read only memory:
o estado crônico de miséria da classe trabalha- memórias adquiridas sem gravação e que po-
dora deveria ser atenuado pela ação do Estado. dem ser programadas uma única vez pelo usuá-
Isto é, o Estado deveria assegurar que a porção rio, mas depois disso não podem ser mais alte-
da renda nacional apropriada pelos trabalhado- radas; Eprom — erasable programmable read only
res deveria crescer na mesma medida que a dos memory: estas podem ter o conteúdo apagado
capitalistas. Os meios de fazer isso seriam a fi- por meio de luz ultravioleta e reprogramado por
xação de salários mínimos e máximos, a deli- impulsos elétricos, podendo o processo ser re-
mitação das jornadas de trabalho e a quantidade petido várias vezes, embora se trate de uma al-
de trabalho a ser realizado em cada jornada. Por ternativa cara e lenta; Earom — electrical alterable
esta razão, ele é considerado um socialista de read only memory: o conteúdo desta pode ser al-
Estado, embora no campo político fosse con- terado por meio de impulsos elétricos, várias
servador. Suas teorias foram duramente criti- vezes, sendo um processo mais barato e rápido.
cadas por Marx e sua obra na realidade não
obteve maior destaque entre os economistas ROOSEVELT, Franklin Delano (1882-1945).
durante o século XIX. Veja também Salários, Presidente dos Estados Unidos por quatro ve-
Lei de Ferro dos. zes consecutivas, no crítico período 1933-1945,
da Grande Depressão iniciada em 1929 à Segun-
ROGERS, James Edwin Thorold (1823-1890). da Guerra Mundial. Em seu primeiro período
Clérigo, historiador e economista inglês. Estu- de governo implantou o New Deal, primeira ten-
dioso dos economistas clássicos, foi por eles in- tativa de intervenção estatal na economia de paí-
fluenciado, tornando-se partidário do liberalis- ses capitalistas. Eleito senador em 1910 pelo Es-
mo econômico. Catedrático de economia e esta- tado de Nova York, Roosevelt tornou-se líder
tística em Londres e Oxford, sua principal obra do Partido Democrata. No período 1913-1920,
são os sete volumes da História da Agricultura e foi secretário-adjunto da Marinha; em 1921 so-
dos Preços na Inglaterra, 1259-1793 (1866), uma freu um ataque de poliomielite, ficando paralí-
compilação pormenorizada de dados baseados tico da cintura para baixo. Mesmo assim, foi elei-
em fontes originais. Rogers procurou interpretar to governador do Estado de Nova York por dois
os dados desse trabalho nos livros Six Centuries mandatos (1929-1933). Tornou-se presidente dos
of Work and Wages, 1884 (Seis Séculos de Traba- Estados Unidos num momento em que o país
lho e Salários) e The Economic Interpretation of sofria ainda os efeitos da Grande Depressão de
History, 1888 (A Interpretação Econômica da 1929: havia mais de 13 milhões de desemprega-
História). Publicou ainda: The Relations of Eco- dos, a maior parte dos bancos encontrava-se fe-
nomic Science to Social and Political Action, 1888 chada e a produção industrial estava reduzida
(As Relações da Ciência Econômica com a Ação de 56% em relação à de 1929. A resposta de
Social e Política) e The Industrial and Commercial Roosevelt foi o New Deal. Era uma ousada po-
History of England, 1892 (A História Comercial lítica de intervenção do Estado na economia
e Industrial da Inglaterra). para estimular o consumo e impulsionar a pro-
RÖPKE, Wilhelm 538

dução, por meio da execução de um grande pro- cado. Teórico do neoliberalismo alemão, Röpke
grama de obras públicas, da redução das horas distingue entre as intervenções econômicas fa-
de trabalho (para atenuar o desemprego) e da voráveis e as contrárias à reabilitação de uma
regulamentação da produção em geral. Algumas economia de mercado. Combate os monopólios
de suas propostas se aproximavam dos pontos e a concentração excessiva de riqueza, preconi-
que seriam apresentados em 1936 por John May- zando uma política social que limite as rendas
nard Keynes, em A Teoria Geral do Emprego, do de heranças e grandes fortunas, para estabelecer
Juro e da Moeda, marco teórico da ruptura com uma igualdade de situações que possibilite uma
o liberalismo clássico do laissez-faire. Como efei- verdadeira concorrência. Tais posições, em prin-
to dessas medidas, em 1934 a economia norte- cípio fundamentadas no pensamento de Santo
americana já mostrava sinais de recuperação. Tomás de Aquino e na encíclica Quadragesimo
Mas o governo enfrentava pressões para realizar Anno, voltada para a instalação de uma ordem
reformas mais radicais, enquanto os setores con- social mais humana, exerceram influência direta
servadores protestavam contra o que conside- na política econômica de Ludwig Erhard, o au-
ravam uma tendência à estatização e ao socia- tor do “milagre econômico” alemão no pós-
lismo. Apesar dessas críticas, Roosevelt formu- guerra. Röpke foi professor nas universidades
lou em 1935 um extenso programa de leis tra- de Marburg, Istambul e Genebra. Entre outras
balhistas, sociais e tributárias, enfatizando as re- obras, escreveu: Die Lehre von der Wirtschaft, 1937
formas do New Deal. Foram criados novos ór- (Teoria da Economia); Die Gesellschaftskrisis der Ge-
gãos governamentais, como o Work Progress Ad- genwart, 1942 (A Crise do Nosso Tempo); Civitas
ministration, que de 1935 a 1941 empregou uma Humana, 1944 (Cidade Humana); Internationale
média de 2,1 milhões de trabalhadores por ano. Ordmung, 1945 (A Ordem Internacional); e Jenseits
No plano da política externa, Roosevelt reco- von Angebot und Nachfrage, 1958 (Para Além da
nheceu o regime soviético e inaugurou, em 1933, Oferta e da Procura).
a política da boa vizinhança para a América La-
tina, pela qual os Estados Unidos abster-se-iam ROSCHER, Wilhelm Georg Friedrich (1817-
de intervir diretamente nos países latino-ameri- 1894). Economista alemão, professor nas univer-
canos. Mas a perspectiva de guerra na Europa sidades de Göttingen e Leipzig. Foi um dos fun-
logo deu prioridade à doutrina da segurança co- dadores da escola histórica alemã, influenciado
letiva, que enfatizava a necessidade de compro- pela escola de direito de Savigny e pelo empi-
missos militares para a defesa do continente rismo histórico, propondo-se a destacar o espí-
americano e que mais tarde seria estendida à rito histórico nas investigações econômicas. Re-
Europa. A partir de 1937, a política reformista jeitou o método da economia clássica, argumen-
do New Deal foi perdendo força, substituída por tando que suas teses clássicas não deviam ser
uma preparação para a guerra. Com o início do demonstradas abstratamente, mas provadas ou
conflito, Roosevelt conseguiu a revisão do Neu- ilustradas por exemplos concretos. Seu primeiro
trality Act (declaração de neutralidade) pelo Con- livro, Introdução de um Curso de Economia Política
gresso, e passou a fornecer equipamentos mili- por Meio do Método Histórico (1843), considerado
tares à França e à Inglaterra pelo sistema de pa- o marco de fundação da escola histórica alemã,
gamento à vista. Desse modo, era estimulado destaca o empirismo histórico como base de toda
um importante setor da produção interamerica- política econômica. Mas nesse e em outros tra-
na, que tinha mercado garantido. Reeleito após balhos, não define com clareza suas posições
a eclosão da Segunda Guerra Mundial, Roose- metodológicas, considerando, às vezes, o mate-
velt tentou manter os Estados Unidos direta- rial histórico como ilustração e fonte de inspi-
mente fora do conflito. Entretanto, dias depois ração para o estudo teórico ou sugerindo que a
do ataque japonês à base naval de Pearl Harbour descrição da investigação econômica e suas con-
(1941), declarou guerra ao Japão, à Alemanha e dições históricas definem o campo da atividade
à Itália. Necessitando ainda mais do apoio de econômica. Entre outros escritos, publicou os
setores conservadores, Roosevelt desfez diver- cinco volumes do Sistema da Economia Política
sas criações do New Deal. Nos anos seguintes, (1854-1894), de grande influência na época.
despontava como principal líder aliado, defen-
dendo, nas Conferências de Teerã (1943) e na ROSTOW, Walt W. (1916- ). Economista norte-
Conferência Yalta (1945), a exigência da rendição americano, estudioso dos problemas do desen-
incondicional dos países do Eixo. Foi reeleito volvimento. Defende a tese de que as sociedades
para seu mandato em 1944, mas morreu no ano atravessam cinco etapas de evolução econômica:
seguinte. Veja também New Deal. 1) a etapa da economia tradicional; 2) as pre-
condições para a arrancada desenvolvimentista
RÖPKE, Wilhelm (1899-1966). Economista ale- (take-off); 3) a participação no processo de de-
mão, participante da chamada escola de Fri- senvolvimento, quando o crescimento se torna
bourg, que propunha um “intervencionismo li- um dado normal do quadro econômico; 4) a ida-
beral” para fundamentar uma economia de mer- de madura, quando uma economia está em con-
539 ROYAL EXCHANGE

dições de utilizar todas as potencialidades da cias em Viena, Londres, Nápoles e Paris. O gênio
tecnologia disponível; 5) a etapa de desenvolvi- financeiro da família coube a um deles, Nathan
mento pleno, que coincide com um elevado con- Mayer Rothschild (1777-1836), diretor do banco
sumo de massa. Escreveu: Process of Economic em Londres, que, para maior eficiência de suas
Growth (Processo do Crescimento Econômico), operações, utilizava-se de navios, cavalos e até
1952; Stages of Economic Growth (Estágios do pombos-correios. Foi desse modo que, no dia
Crescimento Econômico), 1960; Politics and the seguinte ao da batalha de Waterloo, comprou
Stages of Growth (Política e Estágios de Cresci- os títulos em baixa na Bolsa de Londres, antes
mento), 1971; How it All Began — Origins of the que a notícia da vitória inglesa se espalhasse.
Modern Economy (Origens da Economia Moder- Nathan Rothschild foi negociador dos emprés-
na), 1975. timos aos ingleses e seus aliados para a campa-
nha contra Napoleão, fazendo com que os ne-
ROTAÇÃO DE CULTIVOS. Técnica de cultivo gócios da família alcançassem grande destaque
agrícola segunda a qual a utilização das terras, na Europa, além de realizar transações em quase
alternando determinados cultivos, permite que todos os pontos do mundo.
um deles reponha naturalmente na terra os nu-
trientes retirados por outro, evitando dessa for- ROTINA. Em informática, um conjunto de ins-
ma o esgotamento de sua fertilidade e aumen- truções codificadas e arranjadas em seqüência
tando a área agricultável de uma comunidade, própria para dirigir o computador na execução
e também a produção e a produtividade do tra- de uma operação ou seqüência de operações di-
balho nela aplicado. Veja também Pousio. gitadas. A subdivisão de um programa consiste
em duas ou mais instruções funcionalmente re-
ROTAÇÃO DE CULTURAS. Veja Rotação de lacionadas, constituindo um programa. Esses
Cultivos. programas são formados por rotinas e sub-ro-
ROTAÇÃO DE TERRAS. Veja Pousio. tinas. As sub-rotinas têm a mesma estrutura de
uma rotina, apenas sendo acionada para uma
ROTAÇÃO DO CAPITAL. O tempo necessá- função repetitiva do programa principal; trata-se
rio para que o capital utilizado na produção de de uma maneira de evitar a inclusão das mesmas
mercadorias retorne a sua forma original, isto instruções várias vezes na rotina-mestre ou pro-
é, à forma dinheiro-capital, o que supõe a venda grama principal.
dos produtos. Nem todos os elementos materiais
que compõem os diferentes tipos de capital são ROUND LOT. Veja Lote-Padrão.
recompostos ou retornam a sua forma original
no mesmo período de tempo. Alguns, como má- ROUSSEAU, Jean-Jacques (1712-1778). Pensa-
quinas, equipamentos, edifícios etc., têm uma dor suíço, precursor das doutrinas socialistas do
vida útil mais longa, e sua amortização é lenta, século XIX. Conquistando a celebridade com sua
assim como seu tempo de rotação. As matérias- obra Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da
primas e a força de trabalho são recompostas Desigualdade entre os Homens (1755), escreveu na
num período muito mais curto. Assim, se a parte mesma época o verbete “Économie politique” para
do capital constante correspondente ao capital a Enciclopédia. Rousseau recusa a ordem social
fixo (máquinas, equipamentos, edifícios etc.) for existente com toda sua carga de opressão social
elevada em relação ao capital circulante (maté- e extremas desigualdades e rejeita a idéia de que
rias-primas, salários), o ciclo de rotação do ca- a sociedade seja regida por “leis naturais”. Afir-
pital será mais lento. E, se essa parcela for me- ma que o homem é um ser naturalmente livre,
nor, o movimento de rotação será mais rápido, e procura conciliar essa liberdade. Propõe assim
e o ciclo de reposição, mais curto. uma nova forma de organização social (em O
Contrato Social, 1762): cada indivíduo aceita um
ROTATIVIDADE DOS ATIVOS OPERACIO- contrato pelo qual ele abdica de sua liberdade
NAIS. Veja Operating Assets Turnover. natural (primitiva) em favor de uma liberdade
civil pela qual nenhum homem deva obedecer
ROTHSCHILD. Família de banqueiros europeus a outro, mas sim a uma vontade geral, expressa
de origem judaica que exerceu grande influência em leis igualitárias. Entre as medidas concretas
econômica e política em diversos países durante que propõe para isso estão a abolição do direito
quase dois séculos. Seu poder financeiro come- de herança, restrições ao direito de alienação de
çou com Mayer Amschel Rothschild (1743-1812), bens, criação de impostos de acordo com a renda
que, tendo fundado uma casa de câmbio em das pessoas e sua total eliminação para aqueles
Frankfurt, Alemanha, tornou-se o principal que só possuam o necessário à vida. Suas idéias
agente de negócios do príncipe Guilherme I, acabaram influenciando os teóricos clássicos do
além de credor do governo dinamarquês e ad- liberalismo econômico.
ministrador dos bens do príncipe de Hesse. Os
filhos de Mayer ampliaram a área de operações ROYAL EXCHANGE. Edifício em Londres em
do estabelecimento de Frankfurt, abrindo agên- que se negocia moeda estrangeira em grande
ROYALTY 540

escala e onde os subscritores do Lloyd estão lo- cou-se como economista no pós-guerra e influiu
calizados. Não se trata do mesmo lugar em que no governo do general De Gaulle ao propor uma
está situada a Bolsa de Valores de Londres. Veja política monetária ortodoxa. Entre outras obras,
também Lloyd. publicou: Théorie des Phénomènes Monetaires
(Teoria dos Fenômenos Monetários), 1927; Épitre
ROYALTY. Valor pago ao detentor de uma mar-
aux Dirigistes (Epístola aos Dirigistas), 1949;
ca, patente, processo de produção, produto ou
L’Âge de L’Inflation (A Era da Inflação), 1963; e
obra original pelos direitos de sua exploração
La Réforme du Système Monétaire International (A
comercial. Os detentores recebem porcenta-
Reforma do Sistema Monetário Internacional),
gens das vendas dos produtos produzidos com
1973.
o concurso de suas marcas, processos etc. ou
dos lucros obtidos com essas operações. Em- RUFIÁ. Unidade monetária das Maldivas. Sub-
presas jornalísticas e editoras recebem uma múltiplo: laari.
percentagem sobre as vendas, pela cessão dos
direitos de reprodução de textos, fotografias RUÍDO BRANCO (White Noise). Por analogia
etc., o mesmo acontecendo com autores de com a contínua distribuição de energia em luz
obras artísticas, literárias ou científicas. branca de um corpo incandescente, é a denomi-
nação dada a um processo estocástico de cova-
RUBLO. Unidade monetária da Rússia. Submúl- riância que tem ponderação igual em todos os
tiplo: copeque. intervalos de freqüência, num amplo alcance de
RUEFF, Jacques Léon (1896-1978). Economista freqüência. Ou seja, é a descrição de uma va-
francês da escola neoliberal, defensor de uma riação que é meramente aleatória, e não contém
política econômica ortodoxa e do retorno ao pa- elementos sistemáticos. Propriedade ideal de
drão-ouro como moeda de referência interna- um distúrbio estocástico numa equação de re-
cional. Fez parte do grupo de neoliberais reu- gressão. Veja também Covariância; Análise de
nidos em torno do norte-americano Walter Lipp- Regressão; Estocástico, Modelo.
man, que buscou a manutenção de uma ordem
econômica derivada das livres decisões dos in- RULE OF 72. Expressão em inglês que designa
divíduos e na qual o mecanismo dos preços as- o método comumente usado para calcular, sem
seguraria o equilíbrio. Para Rueff, a estabilidade o auxílio de uma calculadora e com aproxima-
financeira e monetária da economia deve ser ga- ção, o número de períodos (meses, anos etc.)
rantida a qualquer custo, principalmente me- necessário para que determinada soma em di-
diante o equilíbrio monetário, considerado a nheiro alcance o seu dobro, aplicada a uma de-
chave da ordem econômica contra os excessos terminada taxa de juros, ou a taxa de juros ne-
da liberdade social, e a organização da concor- cessária para que uma soma em dinheiro dobre
rência, a fim de assegurá-la. Sustentou que a dentro de um número de períodos determinado.
causa do desemprego permanente é, paradoxal- Este método se aplica dividindo-se 72 pela taxa
mente, o seguro-desemprego. Comparando as de juros recebida por uma aplicação. Por exem-
curvas de desemprego, dos salários e dos preços, plo, se uma aplicação em dinheiro foi realizada
destacou que, quando os preços baixam, os sa- a uma taxa de 10% ao ano, em menos de 7 1/2
lários nominais se mantêm fixos, os salários reais anos ela será dobrada, pois 72 dividido por 10
aumentam e o desemprego se agrava. Isso ocor- é igual a 7,2 anos. Para triplicar o capital, o mes-
reria porque os trabalhadores prefeririam rece- mo procedimento deverá ser feito com o número
ber um seguro-desemprego, que se mantém es- 112. É preciso salientar que em ambos os cálcu-
tável, a aceitar trabalhar por um salário reduzido los existe uma margem de erro que aumenta
em função da baixa dos preços. Colocou-se tam- com o aumento da taxa de juros ou do número
bém contra Keynes na questão da transferência de períodos considerados.
de crédito causada pelas reparações que a Ale-
manha teve de pagar no primeiro pós-guerra. RUPIA. Unidade monetária da Índia, submúl-
Argumentou que essas transferências se acomo- tiplo: paisa; da Indonésia, submúltiplo: sen; de
dariam automaticamente, enquanto Keynes Maurício, submúltiplo: cent; do Nepal (rupia ne-
achava que elas desorganizariam o comércio in- palesa), submúltiplo: paisa; de Seychelles (rupia
ternacional por se traduzir em grandes expor- de Seychelles), submúltiplo: cent; do Paquistão
tações. Defensor intransigente do padrão-ouro (rupia paquistanesa), submúltiplo: paisa; e do Sri
como moeda de referência internacional, Rueff Lanka (rupia cingalesa), submúltiplo: cent.
considerava que o dólar, nessa função, era a cau-
sa de um desequilíbrio permanente do balanço RYBCZYNSKI THEOREM. Veja Teorema de
de pagamentos dos Estados Unidos e, em con- Rybczynski.
seqüência, uma grave ameaça para o sistema
monetário e a economia mundiais. Rueff desta- RYUTSU. Veja Keiretsu.
541 SALÁRIO

nacional de commodities. Veja também Commo-


dities.

S
SAC. Veja Sistema de Amortização Constante.
SALARIAIS, Sistemas. Há três sistemas básicos
de remuneração salarial: o salário por unidade
de tempo, o salário por resultado e o salário-ta-
refa. No primeiro caso, o empregado é pago de
acordo com o tempo em que fica à disposição
da empresa, e a unidade de tempo pode ser di-
mensionada em uma semana, uma quinzena ou
um mês. Nesse sistema, coloca-se em geral como
prioritária a qualidade do trabalho. Já o salário
SACA. Unidade de medida de peso variável por resultado (unidade de obra ou peça) está
que, no caso do café, corresponde a 60 kg. Sendo relacionado apenas com a quantidade produzi-
o peso do saco vazio correspondente a 1,20 kg da. Abrange os sistemas de incentivos (comis-
(ou 1,50 kg), o peso total de uma saca de café sões e porcentagens) e prêmios (gratificações
será igual a 61,2 kg (60 da carga e 1,2 da em- pela produtividade alcançada ou pelos negócios
balagem). realizados). O sistema de salário-tarefa é uma
SACADO. Designação da pessoa física ou jurí- fusão dos dois primeiros: o empregado está su-
dica (na maior parte dos casos, instituições fi- jeito a uma jornada de trabalho, ao mesmo tem-
nanceiras, como bancos etc.) responsável pelo po que o salário é determinado pela quantidade
desconto de cheque, duplicata ou letra de câm- de peças produzidas. Vale lembrar, no entanto,
bio contra ela emitidos. No caso mais comum que, seja qual for o sistema empregado, desde
— o cheque —, o sacado é o banco no qual o que o trabalhador esteja contratado pela empre-
emitente (sacador) tem a conta e fundos dispo- sa, não pode receber abaixo do salário mínimo.
níveis nesta conta. Veja também Salário.

SACADOR. Pessoa física ou jurídica que emite SALARIAL. Veja Equiparação Salarial; Política
um cheque, duplicata ou letra de câmbio contra Salarial.
um sacado (em geral, uma instituição financeira) SALÁRIO. Remuneração em dinheiro recebida
e a favor de um beneficiário. pelo trabalhador pela venda de sua força de tra-
SACOLEIROS. Pessoas que realizam o contra- balho. Costumam-se incluir também, como par-
bando em pequena escala nas fronteiras do Bra- te integrante do salário, vestimentas e calçados
sil com os países limítrofes, especialmente o Pa- especiais, alimentação e transporte que a em-
raguai e a Bolívia. presa coloca à disposição do empregado. Há ain-
da o que se convencionou chamar de salários
SAG. Termo em inglês utilizado para designar indiretos, que são os benefícios sociais originá-
um leve declínio nos preços das ações ou com- rios de contribuições feitas pelos patrões, pelo
modities. Veja também Commodities. Estado e, em parte, pelo conjunto dos trabalha-
dores. São os auxílios de doença, o abono fami-
SAINT-SIMON, Claude-Henri de Rouvroy,
liar e os seguros de vida. Embora tenha havido
Conde de (1760-1825). Pensador francês, repre-
trabalhadores assalariados em outros períodos
sentante do socialismo utópico, numa linha tec-
da história, foi com o advento do capitalismo
nocrática. Baseado no estudo da história, que
que o salário se tornou a forma dominante de
via como uma ciência positiva, propôs uma or-
pagamento da mão-de-obra. A forma de salário
dem social organizada racionalmente por cien-
tem variado no decorrer do desenvolvimento do
tistas e industriais, que substituiriam, respecti-
capitalismo e do aperfeiçoamento da mão-de-
vamente, o clero e a nobreza do Antigo Regime,
obra, ocorrendo segundo o número de peças
derrubado pela Revolução Francesa. Reivindi-
cou a emancipação feminina, a nacionalização produzidas, ou o tempo de trabalho (hora, dia,
das indústrias e a extinção do direito de herança semana, mês). Os salários constituem um dos
(mas não o de propriedade). Em seu sistema, principais objetos de análise do pensamento eco-
que chamou de “industrialismo”, o trabalho se- nômico e têm sido estudados desde os primór-
ria obrigatório para todos, independentemente dios da economia política. Para David Ricardo,
de posição social. Escreveu L’Industrie (A Indús- um dos principais defensores da teoria da sub-
tria), 1816; Catéchisme des Industriels (Catecismo sistência, o salário de um trabalhador deve ser
dos Industriais), 1823; e Le Nouveuau Christianis- determinado pelo número de artigos indispen-
me (O Novo Cristianismo), 1824. sáveis a sua subsistência. Isto é, limita-se a um
nível mínimo necessário à perpetuação da classe
SAKELLERIDES. Um tipo de algodão produ- trabalhadora. Ricardo dizia também que o au-
zido no Egito e com cotação no mercado inter- mento ou a diminuição da mão-de-obra é regu-
SALÁRIO DE ESCASSEZ 542

lado pela pressão demográfica (maior ou menor coletivos dos trabalhadores ingleses, italianos,
índice de nascimentos), o que, conseqüentemen- franceses, finlandeses, belgas e norte-america-
te, termina influindo no preço dessa mercadoria. nos.
Para Marx, o valor da força de trabalho (salário)
corresponde ao mínimo necessário à formação SALÁRIO MÍNIMO. Menor remuneração per-
e preservação do trabalhador, equivalendo aos mitida por lei para trabalhadores de um país
custos de reposição da capacidade de trabalho ou de um ramo de atividade econômica. Sua
do operário. Mas Marx negava a teoria da pres- fixação representa uma intervenção do Estado
são demográfica de Ricardo e afirmava que o no mercado de trabalho ou — como ocorre em
elemento regulador da oferta de mão-de-obra e muitos países — resulta de negociações coletivas
do valor geral dos salários é a existência do cha- entre empregados e empregadores. A reivindi-
mado “exército industrial de reserva” ou “su- cação de um salário mínimo, antiga nos movi-
perpopulação relativa”. Mas a influência depres- mentos trabalhistas, foi atendida no final do sé-
siva do exército industrial de reserva sobre os culo XIX nos Estados Unidos, Austrália e Nova
salários poderia ser revertida pela ação sindical Zelândia. No começo do século XX, o Parlamen-
e política dos trabalhadores. Na teoria margina- to inglês passou a fixar um salário mínimo para
lista, o problema salarial é enfocado segundo a os trabalhos braçais mais pesados. No Brasil, en-
utilidade da contratação da mão-de-obra para trou em discussão em 1931, com a criação do
o empresário. A contratação de novos empre- Ministério do Trabalho, foi incluído nas Cons-
gados é útil na medida em que o emprego de tituições de 1934 e 1937, regulamentado em 1938,
braços adicionais é capaz de criar uma produ- mas só começou a ser efetivamente pago a partir
tividade marginal, sendo, portanto, rentável. de 2/7/1940. O salário mínimo é fixado pelo
Quando isso não ocorre, a contratação perde sua governo federal e é obrigatório para todos os
utilidade e a produção passa a sofrer um “ren- assalariados, urbanos e rurais. A partir de 1987,
dimento decrescente”, que exige um corte sala- o salário mínimo passou a ser denominado Piso
rial. Nos Estados Unidos de entre guerras (1918- Nacional de Salários, e foi criado também o Sa-
1939), quando ocorreu a expansão da indústria lário Mínimo de Referência, utilizado como pa-
automobilística, teve grande aceitação a teoria drão para os reajustes de salários de categorias
dos altos salários. Segundo seus defensores, a de trabalhadores que em seus contratos coletivos
elevação dos salários daria maior eficiência ao estabelecem seus próprios pisos salariais. Pela
trabalho e ampliaria o mercado consumidor, ser- Constituição de 1988, artigo 7, item 10, o salário
vindo para incrementar a atividade produtiva mínimo passou a ser nacionalmente unificado,
em geral. Em relação a essa questão, J.M. Keynes sendo que seus proventos deveriam atender às
dizia que não se deve aumentar demasiadamen- necessidades vitais básicas do assalariado e sua
te os salários em época de prosperidade, nem família, com relação a moradia, alimentação,
diminuí-los nos momentos de crise. educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, trans-
porte e previdência social. Para isso, deveriam
SALÁRIO DE ESCASSEZ. Níveis salariais re- ser feitos reajustes periódicos, de acordo com o
lativamente elevados em função de uma escas- aumento do custo de vida, para que lhe fosse
sez relativa da oferta de força de trabalho. Esses preservado o poder aquisitivo. Veja também Ra-
níveis salariais podem estar relacionados a uma ção Essencial Mínima.
fase de expansão do ciclo econômico ou a fatores
demográficos como baixa taxa de natalidade, ou SALÁRIO MÍNIMO DE REFERÊNCIA. Veja
elevados índices de mortalidade, guerras etc. Salário Mínimo.

SALÁRIO, Escala Móvel de. Sistema de revisão SALÁRIO NOMINAL. Soma em dinheiro que
automática dos salários sempre que se verifica o trabalhador recebe em troca de sua força de
determinado aumento no custo de vida em dado trabalho. Não proporciona uma idéia precisa do
período. De acordo com o país, esse período é salário real, pois sua verdadeira magnitude de-
de dois, três ou mais meses. Decorrido esse tem- penderá do nível de preços correspondentes dos
po, se o aumento do custo de vida ultrapassar bens e serviços (e também dos impostos) que o
certo teto (5%, por exemplo), haverá um reajuste trabalhador deve adquirir para a manutenção e
salarial equivalente. A determinação do período a reprodução de sua vida e de sua família. Hoje
de tempo e dos percentuais para os reajustes é em dia, especialmente nos países onde o pro-
feita por meio de convenções coletivas entre sin- cesso inflacionário é intenso, embora os salários
dicatos trabalhistas e patronais. A escala móvel nominais sejam periodicamente reajustados, o
de salário foi empregada pela primeira vez na crescimento mais rápido e intenso dos demais
Inglaterra em 1874, nos setores metalúrgico e preços, especialmente daqueles produtos que
de minas de carvão. Sua aplicação estendeu-se constituem o consumo básico do assalariado,
a outros países desenvolvidos após a Segunda tem resultado numa queda do poder aquisitivo,
Guerra Mundial e, atualmente, rege os contratos ou seja, do salário real. Por isso, uma das preo-
543 SALVAGEM

cupações mais constantes do movimento sindi- salários, ou sua volta ao nível anterior. Admitida
cal tem sido a de manter a correspondência entre tal concepção, portanto, não teria sentido que
o salário nominal e seu poder aquisitivo, pre- os trabalhadores lutassem por melhores salários,
servando o nível do salário real em relação ao uma vez que essa “lei natural” da população
aumento dos preços. faria com que os salários voltassem sempre aos
níveis anteriores. Por algum tempo, a concepção
SALÁRIO REAL. Nível do salário em relação defendida por Lassalle exerceu grande influên-
a seu próprio poder de compra em determinado cia sobre os socialistas alemães da segunda me-
momento. Se os salários monetários ou nominais tade do século XIX. Foi duramente criticada por
aumentam na mesma proporção do custo de Marx em sua Crítica ao Programa de Gotha. Veja
vida, o salário real mantém seu poder de compra também Lassalle, Ferdinand.
em 100%. Mas, quando o índice geral dos preços
é mais elevado que os aumentos salariais, ocorre SALDO MÉDIO. Média aritmética dos saldos
uma queda do salário real na mesma proporção. bancários de um cliente em determinado perío-
Assim, o salário real é o salário nominal defla- do (em geral, um mês ou um trimestre). É um
cionado, isto é, do qual foi retirada a elevação dado importante para a liberação de emprésti-
média geral de preços. Por exemplo, entre 1995 mos, financiamentos e descontos de títulos, fun-
e 1998 o salário mínimo e o custo de vida evo- cionando como elemento de reciprocidade e de
luíram da seguinte maneira: manutenção, para a casa bancária, de capital
passível de ser empregado em aplicações finan-
Salário nominal Custo de vida Salário real ceiras.
1995 100 100 100,0
SALE AND LEASEBACK. Operação que con-
1996 108 120 190,0
siste na venda à vista (sale) e imediato arrenda-
1997 126 137 191,9 mento (leasing) de um equipamento ou imóvel
1998 142 159 189,3 do qual o vendedor não pode prescindir, com
1999 160 175 191,4 o objetivo de obter recursos financeiros sem in-
terromper operações produtivas essenciais. Na
prática, funciona como um empréstimo, sendo
O salário real é obtido dividindo-se o índice do
também utilizado para equilibrar, a curto prazo,
salário nominal pelo índice do custo de vida o balanço de pagamentos, pois a venda à vista
(inflação) e multiplicando-se por 100. Assim, ob- é registrada como uma exportação na balança
tém-se o índice do salário real. No exemplo an- comercial, e o leasing onera a balança de serviços
terior, o salário real teria caído 8,6% entre 1995 mais suavemente nos anos seguintes. Veja tam-
e 1999, pois o salário nominal cresceu menos bém Balanço de Pagamentos; Leasing.
do que a inflação medida pelo custo de vida.
SALE AND SALEBACK. Expediente financei-
SALÁRIOS, Lei de Ferro dos. Também chama- ro que consiste em vender à vista e recomprar
da de Lei de Bronze dos Salários, foi populari- imediatamente a prazo um equipamento ou
zada por Ferdinand Lassalle, mas seus antece- imóvel em geral indispensáveis, como forma de
dentes remontam a Turgot, Malthus e Ricardo. levantar recursos. É também uma forma de obter
Consiste na concepção de que os salários ten- um equilíbrio contábil no balanço de pagamen-
deriam sempre a oscilar em torno do chamado tos: a venda à vista entra na contabilidade na-
“mínimo indispensável”, isto é, do mínimo fi- cional como uma exportação, e a recompra a
sicamente indispensável para o trabalhador e prazo onera mais suavemente as contas dos anos
sua família poderem subsistir. As oscilações sa- seguintes, mas contribui para o aumento da dí-
lariais resultariam de modificações na oferta e vida externa. Veja também Dívida Externa.
procura de trabalho. Mas o salário não poderia
situar-se por muito tempo num nível superior SALES TESTING. Expressão em inglês que sig-
ao do mínimo indispensável: nesse caso, o nível nifica, literalmente, “teste de vendas” e que con-
de vida dos trabalhadores melhoraria, a taxa de siste em controlar uma experiência (ou uma série
delas) de vendas em escala reduzida e em área
natalidade cresceria e a de mortalidade dimi-
limitada de um produto novo, antes de desen-
nuiria; disso resultaria um aumento da popula-
cadear uma grande campanha de promoção de
ção e, conseqüentemente, da oferta de força de
vendas desse produto.
trabalho, o que pressionaria os salários para bai-
xo. Se os salários caíssem abaixo daquele nível SALVAGEM. Resgate ou recuperação de um
mínimo, ocorreria o fenômeno oposto: a miséria navio, ou de sua carga, após desastre marítimo.
se generalizaria, a taxa de mortalidade aumen- Segundo legislação específica de cada país e de
taria e a população tenderia a estagnar ou mes- convênios internacionais, o autor da salvagem
mo a diminuir; então, a oferta de força de tra- tem direito a receber certo pagamento do pro-
balho se reduziria, provocando um aumento de prietário do navio.
SALVAGE VALUE 544

SALVAGE VALUE. Expressão em inglês que de diversos fatores e a taxa de produção de bens,
significa “valor de sucata” ou o valor de um para determinar o nível máximo de cada ativi-
ativo de capital no final do período de vida de dade, sua combinação em diversos níveis e a
um projeto. Para efeitos orçamentários, esse va- quantidade de fatores e de produtos decorrentes
lor deve ser levado em conta, uma vez que em dessa escolha. Ao lado de colaborações em re-
alguns casos pode representar um valor não des- vistas e jornais, Samuelson escreveu numerosos
prezível. Em inglês, utiliza-se também o termo artigos especializados, reunidos na coletânea The
scrap value para significar a mesma coisa. Collected Scientific Papers of Paul A. Samuelson
(1966, em quatro volumes). Também colaborou
SALVAGUARDA. Veja Hedge.
durante sete anos com o Tesouro norte-ameri-
SAM. Veja Sistema de Amortização Misto. cano e foi assessor dos presidentes Kennedy e
Johnson. Veja também Ohlin, Bertil.
SAMUELSON, Paul Anthony (1915- ). Econo-
mista norte-americano, um dos expoentes da SAMURAI BOND. Títulos emitidos em ienes,
macroeconomia e da economia matemática. Pro- no Japão, por um tomador estrangeiro. São o-
fessor do Instituto de Tecnologia de Massachu- brigações com prazos mínimos de maturação de
setts, recebeu o Prêmio Nobel de Economia de cinco anos ou mais. São utilizados por tomado-
1970. Sua primeira obra importante baseou-se res corporativos (empresas), para obter capital
num ensaio premiado pela Universidade de no mercado de ienes a um custo razoavelmente
Harvard, Foundations of Economic Analysis (Fun- baixo. Foram emitidos primeiramente em 1970,
damentos da Análise Econômica), 1947, que ino- pelo Banco Asiático de Desenvolvimento. Vinte
vou pelo método empregado, de concepção ma- por cento das emissões primárias podem ser ad-
temática. Nele, Samuelson interliga, em forma quiridas por investidores estrangeiros, não exis-
de proposições, numerosos elementos e uma tindo restrições para participação no mercado
ampla série de problemas econômicos. Segundo secundário.
o autor, tratava-se de “oferecer uma série de teo-
remas significativos em diversas áreas da eco- SANÇÕES ECONÔMICAS. Medidas econômi-
nomia, mesmo que somente em condições cas de caráter coercitivo adotadas por um país,
ideais”. No ano seguinte surgiria a obra que efe- grupo de países ou uma organização interna-
tivamente o consagrou: Introdução à Análise Eco- cional, contra uma nação, geralmente em decor-
nômica. Foi o manual de economia mais lido e rência de violação de leis internacionais, proble-
traduzido em todo o mundo. Esse livro rompeu, mas políticos e ideológicos ou por motivos co-
na forma e no conteúdo, com o modo tradicional merciais (aumento do preço de um produto ou
de expor o assunto, fazendo uma clara distinção dumping). Há vários tipos de sanções, desde em-
entre a parte dedicada à microeconomia e a aná- bargo de venda de armas, corte de empréstimos,
lise macroeconômica, definida como “o estudo suspensão no fornecimento ou compra de de-
do desempenho geral de todo o Produto Interno
terminado produto, até o rompimento completo
Bruto e do nível geral dos preços”. Samuelson
de relações comerciais ou bloqueio comercial.
também desenvolveu o princípio de Heckscher-
O artigo 41 da Carta das Nações Unidas regu-
Ohlin (sobre as vantagens do custo da exporta-
ção de bens), mostrando como um aumento no lamenta esse tipo de sanção por parte dos paí-
preço de um bem pode aumentar os preços do ses-membros. Um dos maiores e mais prolon-
fator de produção usado mais intensivamente gados bloqueios econômicos dos últimos tem-
na produção desse bem, e formulando o “teo- pos foi feito pelos Estados Unidos em relação
rema da equalização do fator preço”, que deter- a Cuba. Muitos países também aplicaram san-
mina em que condições o livre-comércio de bens ções econômicas contra a África do Sul, por sua
diminui a diferença dos preços desses bens entre política racista. Em 1973, os países árabes cor-
países exportadores e, em conseqüência, dos fa- taram por algum tempo o fornecimento de pe-
tores de produção. Prosseguindo em seus estu- tróleo aos países que apoiavam Israel na Guerra
dos na área da economia matemática, Samuel- de Yom Kippur.
son colaborou, junto com Robert Dorfman e Ro-
bert Solow, numa importante obra, Linear Pro- SANDUÍCHE. Veja Moeda Forrada.
gramming and Economic Analysis (Programação SANGYOO. Veja Keiretsu.
Linear e Análise Econômica), 1958. Nela é de-
senvolvida a idéia de que as decisões relativas SANTOS. Nome do principal porto marítimo
à produção se devem menos à quantidade dos brasileiro e designação de um tipo de café. O
fatores empregados para obter certo produto do café tipo Santos corresponde aos melhores cul-
que aos “processos” (ou atividades) a ser utili- tivados no Brasil. Veja também Bourbon; Rio.
zados. Tais processos são definidos como um
conjunto de escolhas entre a taxa de utilização SARGENT, Thomas. Veja Expectativas Racionais.
545 SCALPER

SAY, Jean-Baptiste (1767-1832). Industrial e eco- SBPC — Sociedade Brasileira para o Progresso
nomista clássico francês, divulgador da obra de da Ciência. Entidade civil que tem como obje-
Adam Smith. Elaborou em 1803 a Lei dos Mer- tivo apoiar e estimular o trabalho científico, zelar
cados ou Lei de Say, segundo a qual a produção pela manutenção dos padrões de ética do tra-
criaria sua própria demanda, impossibilitando balho científico, defender os interesses dos cien-
uma crise geral de superprodução. Esse conceito tistas — bem como a liberdade de pesquisa e
de equilíbrio econômico foi a base da teoria eco- direito aos meios necessários à realização de seu
nômica neoclássica. Partindo da idéia de que a trabalho —, articular melhor a ciência com os
utilidade é a determinante do valor, Say elabo- problemas de interesse geral, congregar as so-
rou ainda a teoria dos três fatores de produção ciedades científicas e filiar-se a associações na-
(terra, mão-de-obra e capital). Criou também cionais ou estrangeiras que visem a objetivos
uma teoria das funções do empresário, introdu- paralelos. Foi fundada no dia 8/6/1948, a partir
de uma idéia desenvolvida na Sociedade Bioló-
zindo esse tema na economia política. Professor
gica. Em março de 1949, a SBPC lançou o pri-
do Collège de France, suas obras principais fo-
meiro número da revista Ciência e Cultura —
ram Traité d’Economie Politique, 1803 (Tratado de editada trimestralmente até 1973, quando pas-
Economia Política) e Cours Complet d’Economie sou a ser uma revista mensal —, e em outubro
Politique, 1828-1830 (Curso Completo de Econo- do mesmo ano foi realizado o primeiro encontro
mia Política). Veja também Lei de Say. anual da entidade, que na época contava com
SAYAD, João (1945- ). Nasceu em São Paulo e 260 sócios. Os temas discutidos nos encontros
graduou-se em economia na Faculdade de Eco- anuais da SBPC foram principalmente de caráter
científico até 1964, quando pela primeira vez as-
nomia e Administração em 1967. Obteve o título
suntos como a liberdade de pesquisa e o direito
de doutor pela Universidade de Yale em 1976,
à verdade foram debatidos nas reuniões. A par-
e é professor titular da Universidade de São Pau-
tir daí cresceu muito o prestígio da entidade,
lo desde 1983. Tem publicado livros e artigos bem como a gama de assuntos tratados e o nú-
sobre o tema da agricultura e seus trabalhos mero dos participantes em suas assembléias, que
mais importantes são “Crédito Rural no Brasil” em 1970 já chegava a 6 milhões. Em 1976, con-
(Estudos Econômicos Fipe) e “Agricultura e Infla- tando já com mais de 11 mil associados, o en-
ção” (revista Pesquisa e Planejamento Econômico). contro da entidade em Brasília teve como prin-
Foi secretário da Fazenda do Governo do Estado cipais temas a saúde e a educação, o índio e a
de São Paulo (governo Franco Montoro) entre mulher, a política econômica do governo e o
1983-1985. Em 1985, tornou-se ministro-chefe da meio ambiente, a censura e a anistia. Esses de-
Secretaria de Planejamento da Presidência da bates desagradaram ao governo federal que,
República durante o governo de José Sarney, como represália, negou verbas e apoio oficial
onde permaneceu até o início de 1987. Durante para o encontro do ano seguinte. Nesse encontro
sua permanência no ministério, participou da foi aprovada uma moção de apoio à anistia geral
elaboração da execução do Plano Cruzado. Atual- e irrestrita e a favor da volta dos professores
mente, é professor de economia da Faculdade afastados de seus cargos por atos de exceção,
de Economia e Administração de São Paulo. além de trabalhos científicos e de interesse so-
cial. A partir de 1979 os temas discutidos nas
SAZONALIDADE (Variação Estacional). Varia- reuniões perderam um pouco suas característi-
ção que ocorre numa série temporal nos mesmos cas políticas. Além de Ciência e Cultura — escrita
meses do ano, mais ou menos com a mesma principalmente por especialistas e para especia-
intensidade. Embora o termo seja associado às listas —, a SBPC começou a publicar, em julho
estações do ano, é utilizado de maneira mais de 1982, Ciência Hoje, revista de divulgação que
livre para indicar variações que podem ocorrer tem como objetivo informar o público sobre os
em períodos mais curtos como meses, quinze- trabalhos de pesquisa brasileiros numa lingua-
nas, semanas e até fins de semana. Tem muita gem simples e compreensível.
aplicação na explicação de movimentos de pre-
ços de produtos agrícolas cuja safra e entressafra SCALING. Método de operação no mercado de
títulos ou commodities, no qual as ordens de com-
correspondem a períodos determinados do ano.
pra são colocadas em intervalos regulares, mas
No entanto, pode também ser aplicado no cam-
com cotações descendentes em relação aos pre-
po das receitas tributárias, quando a receita de
ços de mercado vigentes, e ordens de venda são
um imposto aumenta ou diminui em determi- colocadas também em intervalos regulares, po-
nado período do ano. Os efeitos da sazonalidade rém com cotações crescentes em relação às co-
podem ser estimados e/ou neutralizados apli- tações vigentes no mercado.
cando-se a técnica das Médias Móveis, ou variável
Dummy. Veja também Dummy (Variable); Mé- SCALPER. Literalmente, a palavra significa aque-
dia Móvel. le que escalpela, mas no mercado financeiro de-
SCALPING 546

signa aquele operador que vende diante de qual- deve uma classificação de sistemas econômicos
quer oportunidade de realizar ganhos, mesmo — fechado, urbano, nacional e internacional —
que estes sejam muito pequenos. muito adotada posteriormente, mas que o autor
limitava no tempo e no espaço, ao período que
SCALPING. Veja Scalper. vai da Alta Idade Média até sua época, na Eu-
SCANDINAVIAN UNION. Veja União Escan- ropa Ocidental.
dinava. SCHOLES, Myron S. Veja Black Scholes Model.
SCHACHT, Hjalmar Horace Greley (1877- SCHULTZ, Theodore William (1902- ). Econo-
1970). Financista e banqueiro alemão. Ajudou a mista norte-americano. Recebeu o Prêmio Nobel
deter a inflação alemã que se seguiu à Primeira de Economia de 1979, juntamente com Arthur
Guerra Mundial (1914-1918) e se tornou o prin- Lewis, por seus trabalhos sobre a importância
cipal administrador das Finanças do governo de dos recursos humanos no desenvolvimento eco-
Hitler. Foi ministro da Fazenda (1934-1937) do nômico e social e pela defesa do papel da agri-
regime nazista e presidente do Reichsbank (1933- cultura no processo de desenvolvimento da eco-
1939), mas conflitos posteriores com Goering e nomia como um todo. Em uma de suas princi-
Hitler o levaram à prisão. Foi declarado inocente pais obras, Transformando a Agricultura Tradicio-
nos julgamentos de Nurembergue. nal (1964), Schultz propõe o fornecimento de in-
SCHMOLLER, Gustav (1838-1917). Economista centivos, insumos modernos e o estabelecimento
alemão, fundador e principal representante da de uma estrutura realista de preços aos produ-
nova escola histórica alemã, que teve seu apogeu tores agrícolas, como meio de desenvolver o po-
a partir de 1870. Rejeitando a síntese realizada tencial econômico da agricultura e tornar signi-
ficativa sua contribuição à economia. Assim, ele
por seus predecessores, a nova escola histórica
tem sido um severo crítico da ênfase dada, nos
tornou-se basicamente descritiva, desenvolven-
países em desenvolvimento, a programas de in-
do uma forte tendência para a investigação his-
dustrialização em detrimento da agricultura, por
tórico-econômica pormenorizada e realista.
meio da depressão forçada dos preços agrícolas.
Schmoller não procurou formular leis gerais do
Criticou, além disso, os programas de ajuda, em
desenvolvimento, como a escola anterior, e co-
forma de doação de alimentos, dos países de-
locou em dúvida a aptidão do método clássico
senvolvidos, por desestimular o setor agrícola
para descobri-las. Assim, sua obra simplesmente dos países beneficiados. Outro aspecto da obra
analisa os fatos econômicos e as instituições, ela- de Schultz destaca a importância do investimen-
borando uma história econômica sob o argu- to em recursos humanos, principalmente em
mento de que os mecanismos econômicos são educação e pesquisa, por parte dos setores pú-
relativos às instituições do momento. O Estado blico e privado. Segundo ele, tais investimentos
poderia intervir para modificar essas estruturas devem ser avaliados e comparados em seu re-
e instituições, realizando reformas sociais. Sobre torno econômico com os tipos de investimentos
isso, o autor publicou, em 1872, o Manifesto de tradicionais, como base para uma política de alo-
Eisenach. O historicismo de Schmoller traduziu- cação de recursos, abandonando-se a noção sim-
se numa tendência intervencionista e vagamente plificada de que a força de trabalho representa
socialista, conhecida como “socialismo de cáte- um fator homogêneo no processo produtivo.
dra”, devido à adesão de muitos professores. Schultz foi diretor do Departamento de Econo-
Sob sua direção, a nova escola histórica alemã mia da Universidade de Iowa, em seguida de-
tornou-se conhecida principalmente por entrar sempenhou funções de economista agrícola na
em conflito com os marginalistas, por meio da Alemanha, durante a ocupação norte-americana
famosa “controvérsia sobre o método” (Metho- subseqüente à Segunda Guerra Mundial. Em
denstreit), que durou duas décadas. A contro- 1946, tornou-se diretor do Departamento de Eco-
vérsia foi iniciada em 1883 pelo marginalista nomia da Universidade de Chicago, onde ainda
austríaco Carl Menger, contra as concepções cé- permanece como professor emérito. Entre outras
ticas e historicistas de Schmoller. Schmoller foi obras, escreveu: Redirecting Farm Policy (Redire-
professor nas universidades de Halle, Estrasbur- cionando a Política Agrícola), 1943; Agriculture
go e Berlim. Escreveu Zur Geschichte der Deuts- in an Unstable Economy (Agricultura numa Eco-
chen Kleingewerken im 19.Jahrhundert (História nomia Instável), 1945; Production and Welfare in
das Pequenas Indústrias Alemãs no Século XIX), Agriculture (Produção e Bem-estar na Agricul-
1870; Uber einige Grundfragen der Sozialpolitik und tura), 1950; The Economic Organization of Agricul-
der Volkswirtschaftslehre (Questões Básicas da Po- ture (A Organização Econômica da Agricultura),
lítica Social e da Teoria Econômica), 1874-1897; 1953; The Economic Value of Education (O Valor
e Grundrisse der Allgemeinen Volkswirtschaftslehre Econômico da Educação), 1963; Investment in
(Fundamentos da Teoria Econômica Geral), 1900- Human Capital: The Role of Education and of Re-
1904, considerada sua obra principal. A ele se search (Investimento em Capital Humano: O Pa-
547 SDR

pel da Educação e da Pesquisa), 1971; Human enfatizarão menos a competição de preços, au-
Resources, Human Capital: Policy Issues and Re- mentando a competição em termos de inovações
search Opportunities (Recursos Humanos, Capital tecnológicas e de organização. Entre as princi-
Humano: Questões Políticas e Pesquisa de Opor- pais obras de Schumpeter, destacam-se seu pri-
tunidades), 1972; Distortions of Agricultural In- meiro e importante livro, Theorie der wirtschaf-
centives (Distorções dos Incentivos Agrícolas), tlichen Entwicklung (Teoria do Desenvolvimento
1978; e Investing in People: The Economics of Po- Econômico), 1912; Business Cycles (Ciclos Eco-
pulation Quality (Investindo em Pessoas: A Eco- nômicos), 1939; Capitalism, Socialism and Demo-
nomia da Qualidade da População), 1981. cracy (Capitalismo, Socialismo e Democracia),
1942 — obra esta considerada pessimista, pois
SCHUMAN, Robert (1886-1963). Estadista e di- Schumpeter, adversário do socialismo, conclui
plomata francês, primeiro-ministro no período pelo desaparecimento do capitalismo e pelo ine-
1947-1948 e ministro do Exterior de 1948 a 1952. vitável triunfo do socialismo — e History of Eco-
Lançou o Plano Schuman, que resultou na for- nomic Analysis (História da Análise Econômica),
mação da Comunidade Européia do Carvão e obra inacabada e publicada postumamente em
do Aço, precursora do Mercado Comum Euro- 1954. Veja também Ciclo Econômico.
peu. Foi também presidente do Parlamento eu-
ropeu. SCHWARZER PETER THEORIE. Expressão em
alemão que significa, literalmente, “teoria do Pe-
SCHUMPETER, Joseph Alois (1883-1950). Eco- dro Negro”, calcada num jogo homônimo no
nomista austríaco, ministro das Finanças de seu qual os jogadores procuram livrar-se de um ob-
país após a Primeira Guerra Mundial. Fixou-se jeto com a maior velocidade possível. A teoria
nos Estados Unidos em 1932, lecionando nas baseada nesse jogo refere-se ao processo de au-
universidades de Bonn e de Harvard. Precursor mento da velocidade de circulação da moeda
da teoria do desenvolvimento capitalista, ofere- decorrente de um processo de hiperinflação,
ceu uma importante contribuição à economia quando todos procuram livrar-se o mais rapi-
contemporânea, particularmente no estudo dos damente possível do papel-moeda que recebem
ciclos econômicos. Schumpeter admitia a exis- antes que seu valor diminua em função do au-
tência de ciclos longos (de vários decênios), mé- mento de preços, como ocorreu durante a hipe-
dios (de dez anos) e curtos (de quarenta meses), rinflação alemã entre 1922/1923. Veja também
atribuindo diferentes causas a cada período. As Hiperinflação; Rentenmark; Velocidade de
depressões econômicas resultariam da superpo- Circulação da Moeda.
sição desses três tipos de ciclo num ponto baixo,
como ocorreu na Grande Depressão de 1929- SCILICET. Termo em latim que significa “a sa-
1933. O estímulo para o início de um novo ciclo ber” ou “isto é”, utilizado no encabeçamento de
econômico viria principalmente das inovações cláusula em documentos legais. Abrevia-se SC
tecnológicas introduzidas por empresários em- ou SS.
preendedores. Para Schumpeter, esse ponto é es-
sencial. Sem empresários audaciosos e suas pro- SCRIP. Forma de dinheiro (vale) utilizada em
postas de inovação tecnológica, a economia regiões afastadas das grandes cidades onde se
produziam carvão e madeira e nos terminais fer-
manter-se-ia numa posição de equilíbrio estáti-
roviários nos Estados Unidos durante o século
co, num “círculo econômico fechado” de bens,
XIX e início do XX. Como sua utilização era cir-
nulos o crescimento real e a taxa de investimen-
cunscrita à região onde era emitido, os traba-
to. Alguns autores já estabeleceram ligações en-
lhadores só podiam comprar nas lojas que, ge-
tre os conceitos schumpeterianos de “circuito fe-
ralmente, pertenciam a seus empregadores, pa-
chado” e “evolução” e os conceitos de “repro-
gando preços extorsivos pelos gêneros de pri-
dução simples” e “reprodução ampliada” desen-
meira necessidade. Muitas vezes se endivida-
volvidos por Marx. Por “inovações tecnológi-
vam para poder se manter. Veja também Peo-
cas”, Schumpeter entende cinco categorias de fa- nagem; Truck-System.
tores: a fabricação de um novo bem, a introdu-
ção de um novo método de produção, a abertura SD. Iniciais da expressão em latim sine datum,
de um novo mercado, a conquista de uma nova que significa “sem data”.
fonte de matérias-primas, a realização de uma
nova organização econômica, tal como o esta- SDR. Iniciais de special drawing rights, que sig-
belecimento de uma situação de monopólio. nifica “direitos especiais de saque”. Os SDRs po-
Nessa definição, Schumpeter na realidade for- dem servir como unidade de conta, como nu-
nece uma lista de “ocasiões de investimento”, merário, como reserva e como base para o cál-
instante privilegiado de todo crescimento eco- culo de taxas de juros. Criado em 1967, na Con-
nômico. Enfatizou ainda a natureza evolucioná- ferência do Rio de Janeiro, o direito especial de
ria do sistema capitalista, afirmando também saque tornou-se uma espécie de moeda escritu-
que, numa situação de monopólio, as empresas ral de aceitação internacional, cotada a partir das
SEAM 548

dezesseis principais moedas do mundo. Veja SECURITIZAÇÃO. Termo oriundo da palavra


também Direitos Especiais de Saque. inglesa security e que significa o processo de
transformação de uma dívida com determinado
SEAM. Veja Bushel. credor em dívida com compradores de títulos
originados no montante dessa dívida. Na reali-
SEBRAE — Serviço Brasileiro de Assistência
dade, trata-se da conversão de empréstimos ban-
Gerencial às Pequenas e Médias Empresas.
cários e outros ativos em títulos (securities) para
Suas atividades são: 1) assistência para o crédito a venda a investidores que passam a ser os no-
(preparação de projetos, entrosamento entre vos credores dessa dívida. Tem sido a forma
bancos de desenvolvimento e empresas, acom- que países com elevadas dívidas externas têm
panhamento da aplicação de recursos financei- encontrado para renegociá-las. Por exemplo, a
ros); 2) treinamento e aperfeiçoamento de pes- dívida externa brasileira com determinados ban-
soal (convênios com universidades e instituições cos privados estrangeiros foi securitizada, isto
formadoras de pessoal especializado em todos é, esses bancos venderam títulos baseados nessa
os níveis); 3) assistência técnica (diagnóstico da dívida para tomadores que compram esses tí-
empresa, estudos de localização, layout, conta- tulos — evidentemente com deságio — e pas-
bilidade, assessoria fiscal, processamento de da- saram a ser os novos credores dessa parte da
dos, recrutamento, seleção, treinamento e admi- dívida externa brasileira. Veja também Plano
nistração de pessoal). Denominação atual do an- Baker; Plano Brady.
tigo Cebrae. Veja Cebrae.
SEGMENTAÇÃO DE MERCADO. Conceito re-
SEC. Iniciais de Securities & Exchange Comis- lacionado com a divisão de um mercado em sub-
sion, correspondente, nos Estados Unidos, à nos- conjuntos homogêneos de consumidores, de tal
sa Comissão de Valores Mobiliários. forma que qualquer das divisões pode ser sele-
cionada (por faixas etárias, de sexo, raça, renda
SECOND-BEST THEORY. Teoria que examina etc.) como público-alvo a ser alcançado por uma
as alternativas subótimas para determinar a “se- campanha de mídia.
gunda melhor” quando alguns processos impe-
dem que a economia alcance um ótimo de Pa- SEGMENTO ÁUREO. Um segmento de reta é
reto. Esta abordagem deriva da concepção pa- dividido na proporção áurea quando a relação
retiana segundo a qual, num sistema de equilí- entre o segmento e sua parte maior é propor-
brio geral, se uma das condições para que seja cional à relação entre a parte maior e a parte
alcançado um ótimo de Pareto não puder ser menor. No caso da parte menor equivaler a 1,
obtida, embora as demais o sejam, isso não sig- a parte maior equivalerá a 1,618 (três casas de-
nifica que automaticamente a “segunda melhor” cimais); este número, 1,618, equivale à proporção
posição será alcançada. Veja também Equilíbrio; áurea, e se os lados de um retângulo forem cons-
Ótimo de Pareto; Pareto, Vilfredo. tituídos por segmentos de reta nessa proporção,
tal retângulo será denominado retângulo áureo.
SECOVI — Sindicato das Empresas de Com- Este retângulo foi considerado, ao longo da his-
pra, Venda, Locação e Administração de Imó- tória, aquele que oferecia uma proporcionalida-
veis Residenciais e Comerciais de São Paulo. de muito agradável ao observador, e possui a
Considerado o “Sindicato da Habitação”, foi característica de que, retirado um quadrado de
fundado em 11/6/1946. Representa as seguintes sua área, o restante será um retângulo com as
categorias: incorporação imobiliária, locação, mesmas proporções, e assim sucessivamente.
empresas imobiliárias, administradoras de imó- Veja também Série de Fibonacci.
veis, loteadoras, administradoras de flats, de
shopping centers e os condomínios em edifícios. SEGURANÇA NO TRABALHO. Conjunto de
Tem escritórios regionais em Santos, São José normas e medidas destinadas a prevenir a ocor-
dos Campos, Campinas, São José do Rio Preto, rência de acidentes de trabalho. O movimento
Araçatuba, Bauru, São Bernardo do Campo e pela criação de um esquema de segurança no
Jundiaí. trabalho começou nos Estados Unidos no final
do século XIX, e em 1913 foi fundado o National
SECRETARIA DO PLANEJAMENTO E AVA- Safety Council, entidade privada dedicada à
LIAÇÃO. Veja Ministério do Planejamento e pesquisa e estudos desse problema. No Brasil,
da Coordenadoria Geral. a primeira lei sobre acidentes de trabalho data
de 1919 e tratava da indenização do trabalhador
SECURITIES. Termo em inglês, geralmente uti- acidentado pela empresa. A atual Consolidação
lizado no plural, que significa, genericamente, das Leis do Trabalho considera as delegacias do
um valor mobiliário. Pode ser aplicado para de- trabalho órgãos fiscalizadores das condições de
signar ações ordinárias ou preferenciais, títulos trabalho nas empresas; dispõe sobre o seguro
da dívida pública, títulos de médio ou longo obrigatório contra acidentes e a responsabilida-
prazo etc. de das empresas na prevenção de acidentes; re-
549 SEGURO-GARANTIA

gulamenta a existência da Comissão Interna de presente da futura renda obtida pelo prêmio por
Prevenção de Acidentes (Cipa) nas empresas parte do segurador seja equivalente ou igual ao
com mais de cinqüenta empregados; caracteriza valor presente de futuros benefícios para cada
as doenças profissionais e determina os direitos apólice contratada. Os fatores básicos do cálculo
previdenciários do trabalhador acidentado. atuarial são os seguintes: 1) probabilidades das
contingências; 2) taxas de juros esperadas no fu-
SEGURO. Contrato entre uma empresa ou pes- turo, também chamadas de taxas de juros presu-
soa física (segurado) e uma empresa seguradora midas; e 3) custo de administração do sistema.
mediante o qual esta se obriga a pagar aos pri-
meiros uma determinada quantia para compen- SEGURO DE FIDELIDADE. Veja Surety Com-
sar perdas e danos decorrentes de acidentes pany.
como incêndios, inundações, desastres, furtos
etc. Em contrapartida, o segurado fica obrigado SEGURO-DESEMPREGO. Forma de pagamen-
a pagar mensalmente ou de uma só vez certa to em dinheiro e benefícios aos trabalhadores
quantia à firma seguradora. Dessa forma, a se- desempregados. Segundo a Organização Inter-
guradora poderá cobrir os gastos feitos com os nacional do Trabalho (OIT), existem hoje cerca
segurados vítimas de acidentes, e ainda obter de sessenta países que oferecem alguma forma
um lucro com sua atividade. Os seguros mais de assistência a seus desempregados. O segu-
comuns são aqueles contra catástrofes (geral- ro-desemprego foi inicialmente adotado na In-
mente contratados por empresas) e os seguros glaterra em 1911. Nos Estados Unidos, foi criado
de vida (pessoais — individuais ou em grupo). a partir de 1935. Naquele país, os empregadores
Há ainda os seguros de saúde (tratamento mé- respondem pelo custo total do seguro em 47 dos
50 Estados americanos, nos quais um desem-
dico e, em alguns casos, odontológico) e, em
pregado pode receber entre US$ 100,00 e US$
muitos países — também no Brasil —, as pessoas
200,00 por semana, por um prazo que pode su-
desempregadas têm direito ao seguro-desem-
perar os 26 meses. Na Alemanha, garante-se o
prego, um benefício patrocinado pelo Estado. O
pagamento do seguro-desemprego até doze me-
serviço de seguros está associado ao setor ter-
ses após a perda do emprego, desde que o tra-
ciário da economia (trata-se de uma atividade
balhador tenha contribuído por um mínimo de
financeira), particularmente atuante nos países
três anos para os fundos do seguro-desemprego.
desenvolvidos e que têm grande participação no
No Brasil, o seguro-desemprego foi estabelecido
comércio internacional, em cujo âmbito qual-
pelo decreto-lei nº 2 283, de 27/2/1986 (Plano
quer catástrofe pode provocar grandes prejuízos
Cruzado). No artigo 26 do decreto, fica instituí-
às empresas e levá-las à falência se não tiverem
do o seguro-desemprego com a finalidade de
cobertura de seguros. O cálculo do seguro ba-
“prover assistência financeira temporária ao tra-
seia-se no fato de que um grande número de
balhador desempregado, em virtude de dispen-
pessoas faz contribuições relativamente peque-
sa sem justa causa ou por paralisação, total ou
nas em dinheiro, denominadas “prêmios”, que
parcial, das atividades do empregador”. Entre
proporcionam os meios financeiros necessários
as condições que regulamentam o seguro-de-
para cobrir os prejuízos de uma pessoa vítima
semprego, as mais importantes são: 1) o traba-
de um acidente. Essas contribuições são calcu-
lhador deverá ter contribuído para a Previdência
ladas de acordo com os princípios da matemá-
Social durante 36 meses nos últimos quatro
tica atuarial, e a magnitude dos meios econô-
anos; 2) o trabalhador deverá ter sido dispen-
micos necessários para equilibrar o sistema é de-
sado há mais de trinta dias e comprovar em-
nominada montante do seguro. Uma empresa
prego assalariado, com registro em carteira de
seguradora estabelece a mediação. A matemáti- trabalho, nos seis meses anteriores à data da dis-
ca atuarial é um dos primeiro casos de aplicação pensa; 3) o benefício será concedido, por um
da matemática para resolver uma questão eco- período máximo de quatro meses, a cada perío-
nômico-social. Dependendo de sua aplicação, a do de dezoito meses; 4) o valor do seguro mensal
matemática atuarial pode ser dividida em dois será 50% do salário mínimo àqueles que rece-
agrupamentos: 1) o primeiro está relacionado biam até três mínimos, e de um salário mínimo
com o cálculo do prêmio de cada apólice indi- aos que recebiam mais de três salários mínimos
vidual de seguros; 2) o segundo se relaciona com mensais. A Constituição de 1988 estabeleceu, em
a administração de uma empresa de seguros, seu artigo 7, a garantia de um seguro-desem-
incluindo estudos de resseguros, do montante prego em caso de desemprego involuntário.
máximo a ser assegurado, do fundo de contin-
gência e a análise da lucratividade dessas em- SEGURO-GARANTIA (Performance Bond).
presas. Existe apenas um princípio básico na ma- Dispositivo criado pela legislação relativa às li-
temática atuarial: o chamado princípio da equiva- citações como forma de garantia de que a em-
lência. Esse princípio determina o prêmio e a presa vencedora de uma concorrência levará a
reserva a cada ano, de tal forma que o valor obra até o fim, sem interrompê-la antes de ter-
SEGURO SOCIAL 550

miná-la, prejudicando a administração pública ções financeiras utilizado pelos Bancos de liqui-
e, em última instância, o contribuinte. Na Lei dação de títulos depósitos de cheques etc.
de Licitações de 1993 (nº 8 666), o legislativo
aprovou o seguro-garantia obrigatório para as SELLING POINT. Expressão em inglês que sig-
obras consideradas de grande porte (pela quan- nifica o argumento ou característica de um pro-
tidade de recursos comprometida), facultativo duto que promove sua venda, isto é, a razão
para as médias e a critério do licitante nas pe- que leva alguém a adquirir aquele produto no
quenas. Esse dispositivo foi vetado pelo então mercado.
presidente Itamar Franco (1992-1994). No entan- SELO DO PATO (Duck Stamp). Nome de um
to, a lei nº 8 883, com mudanças nas regras das sistema de financiamento do programa de pre-
licitações, reintroduziu o dispositivo do seguro- servação ambiental nos Estados Unidos. Criado
garantia, mas como elemento opcional e no li- em 1934, o Selo Federal de Caça de Aves Mi-
mite de 10% do valor total da obra, o que foi gratórias exige que cada caçador dessas espécies
sancionado por Itamar Franco. Este dispositivo (acima de 16 anos) compre anualmente o Selo
foi inspirado na experiência de outros países do Pato. No momento de sua criação, o Selo do
como, por exemplo, os Estados Unidos, onde o Pato custava US$ 1,00; em 1995 já valia USS
seguro-garantia (performance bond), nas concor- 15,00. Gera mais de US$ 2 bilhões anualmente
rências superiores a US$ 25000,00, exige uma e 98% desses recursos são destinados para o
apólice de seguro no valor total da obra, isto é, Fundo de Preservação de Aves Migratórias e
a cobertura é de 100%. para a aquisição de áreas de alagados onde estas
SEGURO SOCIAL. Conjunto de garantias pre- se reproduzem. Os 2% correspondem ao custo
videnciárias devidas à população pelo Estado de emissão do selo.
e, em alguns casos, por entidades particulares SELO POSTAL. Quando, em 1798, foi criada a
de interesse público. Objetiva fornecer ao segu- Administração dos Correios do Rio de Janeiro,
rado e a seus dependentes os meios necessários a franquia das cartas era feita por meio de ca-
a sua sobrevivência em casos especiais ou en- rimbos postais. Os selos postais só foram ado-
quanto ele estiver, temporária ou mesmo defi- tados mais tarde, em 1841, quando foi aprovada
nitivamente, privado da capacidade de exercer lei instituindo-os, a qual foi assinada por D. Pe-
suas atividades profissionais. O seguro social dro II no ano seguinte, estabelecendo-se os va-
destina-se, assim, a cobrir os danos decorrentes lores de 30, 60 e 90 réis para as cartas remetidas
de doença, desemprego, velhice, aposentadoria, dentro do território nacional e de 90 réis para
auxílio de natalidade, proteção a órfãos, viuvez, as destinadas ao exterior. No entanto, é a partir
invalidez e acidentes. Os recursos que garantem de 1843 que as primeiras emissões desses selos
o auxílio previdenciário constituem, em certa foram realizadas na oficina de apólices da Casa
medida, uma poupança coletiva com vistas a da Moeda da Corte, quando esta ainda ocupava
cobrir os riscos próprios da condição humana e uma dependência do Tesouro Nacional na cha-
da vida em sociedade. Nessas condições, o Es- mada Casa dos Pássaros. Os primeiros selos pro-
tado apresenta-se como principal promotor da duzidos no Brasil receberam a denominação po-
aplicação e viabilidade dos seguros sociais como pular de Olhos-de-boi. Em 1844, a Casa da Moe-
órgão agenciador dos recursos arrecadados de da emitiu nova série, que ficou conhecida como
trabalhadores, empregadores e fundos do pró- Olhos-de-cabra, em duas modalidades: os incli-
prio erário público. A instituição dos seguros nados e os verticais, sendo estes últimos subdi-
sociais decorre da consolidação e desenvolvi- vididos em picotados e sem picote. Esses pri-
mento da sociedade surgida da Revolução In- meiros selos emitidos no Brasil são considerados
dustrial e, particularmente, da difícil situação de selos clássicos, tendo um grande valor numis-
vida em que viviam as camadas assalariadas da mático e sendo transacionados por elevadas so-
população. Num primeiro momento, desenvol- mas de dinheiro.
veram-se, entre os próprios trabalhadores, or-
ganizações e associações de socorro mútuo — SELTEN, HEINHARD. Prêmio Nobel de Econo-
o chamado “mutualismo” — visando a enfrentar mia de 1994, em conjunto com Harsanyi e Nash,
seu estado de pauperismo. Depois, o atendimen- por seu trabalho sobre a Teoria dos Jogos. Veja
to a essas necessidades transformou-se em ma- também Teoria dos Jogos.
téria de luta política para os grandes movimen-
tos operários do século XIX na Europa. Veja tam- SEMA — Secretaria Especial do Meio Ambien-
bém Aposentadoria; Economia do Bem-estar; te. Órgão subordinado ao Ministério do Interior,
Mutualismo; Previdência Social. criado em 30/10/1973, pelo decreto nº 73 030.
Tem por objetivo a conservação do meio am-
SELIC. Iniciais de Sistema Especial de Liquida- biente e o uso racional dos recursos naturais.
ção e Custódia, que significa uma forma de re- Principais atribuições: acompanhar as transfor-
gistro escritural de débitos e créditos de opera- mações do ambiente mediante técnicas de afe-
551 SENHORIAGEM

rição direta e sensoriamento remoto, identifican- de senhoriagem era a taxa ou renda paga ao rei
do as ocorrências adversas e procurando corri- pelo nobre feudal para receber a concessão de
gi-las; assessorar órgãos e entidades incumbidas cunhar moedas em seu domínio. Em termos
da conservação do meio ambiente e promover, mais específicos, isto é, quando relacionada com
em todos os níveis, a formação e o treinamento a emissão de moeda, a senhoriagem é a receita
de técnicos e especialistas; promover a elabora- obtida por aqueles que têm o poder de emitir,
ção e o estabelecimento de normas e padrões decorrente da diferença entre o valor de face da
relativos à preservação do meio ambiente, em moeda e seu custo de produção, que inclui o
especial dos recursos hídricos, e controlar, dire- valor do metal correspondente (ouro, prata,
tamente ou em colaboração com outros órgãos, bronze etc.) e o trabalho de cunhagem propria-
a aplicação dessas normas e padrões; atuar junto mente dito. Nos períodos históricos em que o
aos agentes financeiros para a concessão de fi- valor de face da moeda correspondia ao seu con-
nanciamentos a entidades públicas e privadas teúdo material em metal, a senhoriagem abar-
com vistas à recuperação de recursos naturais. cava apenas os custos de cunhagem (nesse caso,
denominava-se braceagem), que até o século XVII
SEMOR — Secretaria de Modernização Admi- eram relativamente elevados. À medida que o
nistrativa. Organismo criado em 1980 com o ob- valor de face da moeda foi se distanciando do
jetivo de modernizar a administração pública fe- valor de seu conteúdo material, a renda da se-
deral. Mantinha uma unidade em cada minis- nhoriagem foi crescendo, pois ela era apropriada
tério para articular e coordenar as transforma- por quem detinha o poder ou o privilégio de
ções administrativas necessárias a partir de um emitir. Reis e príncipes abusaram desse meio
programa centralizado na Presidência da Repú- para reforçar as finanças públicas, isto é, suas
blica. O Semor existiu muito mais no papel do próprias finanças. Com o aparecimento do pa-
que na realidade. pel-moeda em substituição às moedas metálicas,
SEN. Veja Iene; Rupia; Riel Novo. tal diferença aumentou ainda mais. Ou seja, as
autoridades emissoras podiam obter como re-
SENAC — Serviço Nacional de Aprendizagem ceita de senhoriagem o total do valor de face
Comercial. Entidade civil de direito privado, do papel-moeda emitido menos os custos da
voltada para a formação e aperfeiçoamento de emissão (impressão) desse papel-moeda. A subs-
profissionais dos mais variados setores da área tituição da moeda metálica por papel-moeda
comercial. Criado em 1946 pela Confederação permitiu também um enorme ganho social, na
Nacional do Comércio e reconhecido por lei fe- medida em que se operou a substituição de uma
deral, é mantido por fundos financeiros prove- moeda (ouro, prata, etc) por outra (papel-moe-
nientes das empresas, segundo um percentual da), com um custo de produção sensivelmente
baseado no salário de cada empregado. Mantém mais baixo. No sistema monetário internacional,
programas de ensino dos mais diferentes níveis o ouro ainda representa uma parcela conside-
e das mais variadas profissões, em centros edu- rável das reservas, alcançando atualmente cerca
cacionais próprios. Desenvolve programas de de 30% do total. No passado, essa proporção
treinamento e preparação da mão-de-obra no foi ainda maior, especialmente quando ainda vi-
âmbito de empresas e funciona como núcleo de gorava o padrão-ouro nas transações internacio-
colocação de profissionais no mercado de tra- nais e internas dos países mais desenvolvidos.
balho. O lento crescimento da produção de ouro e a
existência de enormes ganhos sociais de senho-
SENAI — Serviço Nacional de Aprendizagem riagem, se o metal fosse substituído por moedas
Industrial. Instituição criada em 1942 pelo go- fortes como o dólar ou a libra naquele momento,
verno federal e destinada à formação, aperfei- ou mais tarde, com os Direitos Especiais de Sa-
çoamento e especialização de mão-de-obra in- que, levaram à substituição do padrão-ouro pelo
dustrial, voltada para o primeiro e segundo padrão-câmbio-ouro depois da Primeira Guerra
graus. Financiado por empresas do setor indus- Mundial. Dessa forma, as reservas mundiais
trial, o Senai mantém convênios com os poderes passaram a conter parcelas crescentes de moedas
públicos e entidades internacionais de aprendi- fortes como o dólar, e as taxas de câmbio pas-
zagem. saram a ter também no dólar seu referencial bá-
sico de fixação. Posteriormente (em 1969), com
SENE. Veja Tala.
a criação dos Direitos Especiais de Saque, essa
SENGIO. Veja Zaire. substituição se ampliou, e a Segunda Emenda
à Carta do Fundo Monetário Internacional, apro-
SENHORIAGEM. Em termos históricos, a se- vada em 1978, recomendou o prosseguimento
nhoriagem consistia no conjunto de obrigações dessa medida. No entanto, pouco se avançou
e deveres que o vassalo medieval devia a seu nesse sentido, uma vez que a instabilidade da
suserano ou senhor. Uma modalidade especial libra e, especialmente, do dólar, tornou incon-
SENIOR 552

veniente para os demais países a manutenção pital como uma poupança improdutiva. A cria-
de suas reservas por um período longo numa ção de um novo capital envolve sacrifício, e um
moeda cujo valor dependia da confiança cada retorno positivo deve ser esperado para fazer
vez menor depositada nos governos responsá- jus a esse sacrifício. A vocação para a teoria pura
veis por sua emissão. Do ponto de vista interno e sua visão da economia como uma ciência ba-
de cada país, onde a moeda é fiduciária, o re- sicamente dedutiva não impediram Senior de
curso à emissão de papel-moeda é uma forma desempenhar importante papel como conselhei-
de obter receita para o Tesouro por meio da se- ro governamental. Foi professor de economia
nhoriagem, embora provocando impactos infla- política em Oxford (1825-1830 e 1847-1852) e do
cionários imediatos. Essa forma de obtenção de King’s College de Londres. Como integrante de
recursos constitui um imposto (inflacionário) de comissões governamentais, participou do estu-
fácil e barata cobrança, o que tem levado muitos do de vários problemas sociais e econômicos,
governos a apelar para a sua utilização, espe- entre eles, a reforma da Lei de Beneficência de
cialmente nos países latino-americanos nas úl- 1834, a discussão do Factory Act em 1837 (ana-
timas décadas. No entanto, quando ocorre uma lisado minuciosamente por Marx em O Capital)
estabilização de preços depois de um período e a investigação das condições dos trabalhadores
de inflação acelerada ou mesmo de hiperinfla- de teares manuais em 1841. Entre outras obras,
ção, a emissão de papel-moeda e os ganhos da publicou: Lecture on the Production of Wealth
senhoriagem correspondentes podem ser efetua- (Conferência sobre a Produção da Riqueza),
dos sem causar elevação de preços, desde que 1847, e Four Introductory Lectures on Political Eco-
a emissão ocorra na mesma proporção em que nomy (Quatro Conferências Introdutórias sobre
diminui a velocidade de circulação da moeda. Economia Política), 1825.
Esse processo ocorreu na Alemanha depois da
estabilização de preços que interrompeu a hi- SENN. Veja Índice Senn.
perinflação no final de 1923 e no Brasil durante SENO. Veja Funções Trigonométricas.
o curto período de estabilidade de preços e re-
dução da velocidade de circulação da moeda du- SENTI. Veja Paanga.
rante o Plano Cruzado, em 1986. Veja também
Braceagem; Cunhagem; Direitos Especiais de SEPLAN — Secretaria do Planejamento. Órgão
Saque; Feudalismo; Moeda Fiduciária; Padrão- do poder executivo de assessoramento da
câmbio-ouro; Padrão-ouro; Token Money. Presidência da República. Foi criado pela lei
nº 6 036, de 1º/5/1974, em substituição ao Mi-
SENIOR, Nassau William (1790-1864). Econo- nistério do Planejamento e Coordenadoria Geral
mista inglês, precursor da análise utilitarista, (estabelecido em 1967). Tem como função assis-
formulador da teoria da “abstinência” para ex- tir a Presidência na coordenação do sistema de
plicar a origem do capital. Suas concepções são planejamento econômico nacional, sugerindo
geralmente consideradas uma ampliação da teo- medidas relativas à política de desenvolvimento
ria dos custos de produção em que se transfor- científico e tecnológico, à supervisão do orça-
mou a teoria do valor-trabalho após David Ri- mento nacional e à modernização administrati-
cardo. Em sua principal obra, Um Esboço da Ciên- va. No governo Figueiredo, a Secretaria do Pla-
cia da Economia Política (1836), Senior desenvolve nejamento foi ocupada pelo economista Antônio
uma teoria do valor e da distribuição, procu- Delfim Neto, tornando-se o órgão responsável
rando conciliar as posições de Say e Ricardo, pela elaboração e coordenação de toda a política
criticando a noção ricardiana de que o trabalho econômica e financeira do país, subordinando
incorporado numa mercadoria era a fonte de seu todos os ministérios de sua área. Em 15/3/1990,
valor. A riqueza é definida como tudo que é em decorrência da política do governo federal
suscetível de troca ou que possui valor. Este, visando a diminuir o número de ministérios e
por sua vez, é determinado pelas qualidades de secretarias, a Seplan foi extinta por meio de me-
transferibilidade, utilidade e escassez relativa, dida provisória nº 150. Suas atribuições passa-
sendo esta última qualidade o fator de maior ram ao novo Ministério da Economia. No se-
importância. Ao adotar o conceito de custo de gundo semestre de 1992, com a extinção do Mi-
produção, que admite a produtividade do capi- nistério da Economia, a Secretaria do Planeja-
tal sob o nome de “abstinência”, Senior procu- mento que dele participava ganhou outra vez
rou resolver o dilema pós-ricardiano de explicar o nível de ministério.Veja também Ministério
a utilidade conservando a teoria do valor-traba- da Economia; Ministério do Planejamento.
lho. Desse modo, define o custo de produção
como “a soma de trabalho e abstinência neces- SEQÜESTRO. Apreensão ou depósito, por or-
sários à produção”. Nesse contexto, o termo abs- dem judicial, de determinados bens sobre os
tinência é utilizado para igualar o capital ao tra- quais pese um litígio. Solucionado o litígio, cessa
balho. O lucro e os juros são vistos como uma o seqüestro e os bens são entregues a quem de
recompensa pela abstinência de não usar o ca- direito. Distingue-se do arresto, que se refere
553 SERVIÇOS

especificamente aos bens de um devedor. Veja “qualidade” da população, que deveria ser ava-
também Embargo. liada por sua inteligência e espírito de iniciativa;
3) a existência de amplas operações comerciais,
SÉRIE DE FIBONACCI. Veja Fibonacci, Leo- o que dependeria em parte da situação geográ-
nardo. fica; 4) os atos do governante, cuja política po-
deria facilitar a aquisição da riqueza. Veja tam-
SÉRIE DE LUCAS. Veja Fibonacci, Leonardo. bém Balança Comercial.
SÉRIE TEMPORAL. Série de observações sobre SERRA, José (1942- ). Nasceu em São Paulo e
determinada variável, feitas em seqüências pe- graduou-se em engenharia pela Escola Politéc-
riódicas — por dia, por semana, por mês, por nica da Universidade de São Paulo. Obteve o
ano —, que fornecem uma visão geral sobre o grau de doutor em economia na Universidade
comportamento do aspecto em questão ao longo de Cornell, nos Estados Unidos. Foi secretário
do período escolhido. As séries temporais têm de Economia e Planejamento do Estado de São
grande utilidade no estudo das relações entre Paulo (governo Franco Montoro), entre 1983 e
as variáveis observadas: o cruzamento entre sé- 1986, e eleito deputado federal em 1986, reeleito
ries temporais de venda e preços, por exemplo, em 1990 pelo Partido da Social Democracia Bra-
pode determinar a elasticidade da demanda sileira (PSDB), sendo relator dos capítulos de
para determinados produtos ou segmentos de Tributação, Orçamento e Finanças durante a
consumidores. Para ampliar a análise, confron- Constituinte (1987-1988). Em 1994 foi eleito se-
tam-se as séries temporais com análises de corte nador pelo PSDB do Estado de São Paulo, tendo
transversal. ocupado o Ministério do Planejamento entre
SERPENTE. Veja Serpente Monetária Européia. 1995 e 1996, e, em 1998, o Ministério da Saúde,
durante o primeiro mandato do presidente Fer-
SERPENTE MONETÁRIA EUROPÉIA. Sistema nando Henrique Cardoso. Ao iniciar-se o segun-
de câmbio adotado entre os países da Comuni- do mandato, em 1º/1/1999, foi confirmado
dade Econômica Européia (CEE) em 1972, tam- como ministro da Saúde. Seus principais livros
bém denominado European Narrow Margin Ar- são: O Milagre Econômico Brasileiro (1972), Brasil
rangement, como uma forma de dotar suas taxas Sem Milagres (1986) e Reforma Política no Brasil.
de câmbio de maior flexibilidade. De acordo
com esse sistema, a taxa de câmbio de cada país SERRILHA. Denominação da operação de mar-
da CEE poderia flutuar para cima ou para baixo car o bordo das moedas metálicas com cortes
dentro dos limites da faixa ou banda monetária sucessivos (serrilhagem), de modo a dificultar
(currency band) estabelecida. Por exemplo, quan- a raspagem das moedas ou sua falsificação, uma
do a moeda de um país da CEE se valoriza em vez que uma operação desse tipo reduziria o
relação a uma moeda externa do sistema, as ta- peso da moeda serrilhada.
xas de câmbio de todas as moedas da serpente SERRILHAGEM. Veja Serrilha.
(snake) se movem correspondentemente. A moe-
da referencial do sistema é o marco alemão. Veja SERVICE YIELD BASIS. Expressão em inglês
também Sistema Monetário Europeu. que significa um método de depreciação basea-
do na quantidade de unidades produzidas, e não
SERRA, Antonio. Pensador mercantilista napo- no tempo de duração de um equipamento ou
litano (século XVI), o primeiro a utilizar o con- uma máquina.
ceito de balança comercial. Em seu livro Breve
Trattato, explicou que a falta de metais preciosos SERVIÇOS. Denominação dada ao conjunto
no Reino de Nápoles era conseqüência de um das atividades que se desenvolvem especial-
déficit do balanço de pagamentos, rejeitando as- mente nos centros urbanos e que são diferentes
sim a idéia, dominante na época, de que a es- das atividades industriais e agropecuárias. Tais
cassez de dinheiro se devia a uma taxa cambial atividades normalmente se enquadram no assim
desfavorável. Serra analisou os meios pelos quais chamado setor terciário da economia, como o
o reino poderia obter grandes quantidades de comércio, os transportes, a publicidade, a com-
metais preciosos aumentando a exportação e putação, as telecomunicações, a educação, a saú-
procurando tirar partido de sua situação geo- de, a recreação, o setor financeiro e de seguros
gráfica (que o colocava em posição vantajosa no e a administração pública. Tanto nos países em
transporte de mercadorias). Qualquer que fosse desenvolvimento como entre os países desen-
o país, quatro fatores seriam essenciais para a volvidos, é o setor que apresenta as maiores ta-
acumulação de metais preciosos: 1) o nível de xas de desenvolvimento. Nos países mais indus-
produção da indústria, atividade comercial su- trializados, responde por cerca de metade do
perior à agricultura por independer de variações PNB e ocupa mais de 40% da força de trabalho.
climáticas, por seus produtos não serem pere- No Brasil, é o setor que individualmente tem a
cíveis e por proporcionar maiores lucros; 2) a maior participação no PNB, sendo também o de
SERVIÇOS PÚBLICOS 554

maior percentual de pessoas empregadas. Mui- predominou nos primeiros séculos do feudalis-
tas das atividades classificadas como serviços mo europeu. Os camponeses tinham a obrigação
são, na verdade, extensões das atividades pro- de não abandonar as terras e o direito de não
dutivas, como a agricultura e a indústria e a ser delas despejados. Podiam cultivar uma pe-
própria mineração. Assim, a grande participação quena porção em seu proveito, e em troca viam-
do setor de serviços no conjunto da economia se obrigados a trabalhar gratuitamente a terra
deve ser relativizada. Da mesma forma, a dis- do senhor feudal durante certo número de dias
cussão sobre o caráter produtivo do trabalho por semana. Veja também Corvéia; Peonagem;
realizado nesse setor deve ser desenvolvida com Servidão.
a mesma cautela. Outra variante significativa da
importância do setor serviços no conjunto da SERVIDÃO PREDIAL. Direito real, constituí-
economia refere-se à sua capacidade de absorver do a favor de um imóvel ou prédio (dominante)
maior ou menor quantidade de força de traba- sobre outro (serviente), ambos pertencentes a
lho. Se nos países desenvolvidos o setor de ser- donos diferentes. O dono do prédio serviente
viços foi capaz de absorver os excedentes libe- perde o exercício de alguns de seus direitos ou
rados pela incorporação do progresso técnico na fica obrigado a tolerar que o dono do prédio
dominante se utilize do serviente para algum
agricultura e na indústria, atualmente, com o
fim. As servidões prediais podem ser: 1) urbanas
advento da automação e da informática, essa
— apoiar construções em edifícios vizinhos, fa-
capacidade vem sendo reduzida drasticamente
zer águas pluviais passarem por prédio vizinho
e, mesmo nos momentos de auge econômico,
situado em nível inferior; 2) rústicas — caçar em
esses países convivem com uma taxa de desem-
propriedade alheia, usar áreas alheias para o
prego muito elevada.
trânsito de pessoas, animais ou cargas; 3) contí-
SERVIÇOS PÚBLICOS. Serviços fornecidos à nuas — passagem de energia elétrica ou ilumi-
comunidade pelo Estado, aos quais, por princí- nação; 4) descontínuas — aproveitamento de pas-
pio, todo cidadão tem direito. Abrangem todos tagens, retirada de água; 5) aparentes — cons-
os serviços prestados pelo aparelho burocráti- trução de aquedutos; 6) não-aparentes — não
co-administrativo dos governos e o conjunto de construir acima de determinada altura. Para ser
benefícios que o Estado é obrigado por lei a pres- válida, a servidão requer contrato, ato unilateral
tar à população em áreas como educação, saúde, do proprietário do imóvel serviente, usucapião
previdência social, saneamento básico e lazer. ou sentença judicial. O documento gerador do
De modo geral, os serviços públicos se enqua- direito de servidão deve ser devidamente regis-
dram no setor terciário da economia e são fi- trado em circunscrição imobiliária.
nanciados com os impostos pagos pelos contri- SERVIDORES. Em informática, denominação
buintes. Apesar disso, muitos deles são pagos dada a máquinas projetadas para desenvolver
pela população de forma direta, extratributária, tarefas especiais, como armazenamento de pro-
conforme o nível de consumo — caso de luz, gramas e arquivo de dados, impressão ou co-
água e telefone. Ocorre ainda que alguns servi- municação.
ços, embora de responsabilidade do Estado,
também sejam fornecidos parcialmente à popu- SERVIENTE (Prédio). Veja Servidão Predial.
lação por empresas particulares, que recebem
concessões ou licenças especiais. É o caso da edu- SESC — Serviço Social do Comércio. Entidade
cação, saúde, transporte urbano e até mesmo po- de âmbito nacional criada em 1946 pelo decre-
liciamento particular. to-lei nº 9 853, mantida e administrada pela Con-
federação Nacional do Comércio com fundos pro-
SERVIDÃO. Relação social de produção típica venientes das empresas do setor comercial.
do feudalismo, caracterizada pela obrigatorieda- Atende aos empregados desse setor com centros
de de os camponeses pagar rendas aos senhores de lazer, cursos profissionalizantes, ambulató-
feudais sob a forma de dias de trabalho sem rios médicos e odontológicos, colônias de férias,
remuneração, entrega de parte da produção sem cinemas e teatros.
contrapartida ou ainda de quantias em dinheiro.
Na Europa, esse tipo de relação de produção SESI — Serviço Social da Indústria. Entidade
foi extinto durante o século XVIII pelas revolu- criada pelo governo federal em 1946, mantida
ções burguesas. No Japão, essas relações de pro- e administrada pela Confederação Nacional da
dução começaram a ser extintas mais tarde, du- Indústria por meio de contribuições mensais das
rante o século XIX. Veja também Corvéia; Ser- empresas. Atende aos trabalhadores do setor in-
vidão da Gleba; Servidão Predial. dustrial, de transportes e de comunicações, con-
tando com centros educacionais e esportivos,
SERVIDÃO DA GLEBA. Vinculação perpétua postos de abastecimento, bibliotecas circulantes,
e hereditária dos camponeses à terra senhorial, centros de saúde e reabilitação e ambulatórios
numa modalidade de relação de produção que médico-odontológicos.
555 SFH

SESMA. Veja Sesmarias. SETORES DE PRODUÇÃO. Uma das classifi-


cações mais correntes das atividades produtivas
SESMARIAS. Grandes extensões de terras de- foi originariamente proposta por Colin Clark.
volutas pertencentes à Coroa portuguesa e que De acordo com essa formulação, existem três
eram doadas pelo monarca, ficando os benefi- setores básicos na economia de um país. O setor
ciados na obrigação de cultivá-las num prazo primário reúne as atividades agropecuárias e ex-
de três anos, sob pena de revogação da doação, trativas (vegetais e minerais). O setor secundário
e de pagar a sesma (daí o nome sesmarias) ou engloba a produção de bens físicos por meio da
um sexto do que nela viessem a produzir para transformação de matérias-primas, realizada pelo
a Coroa. A instituição das sesmarias deveu-se trabalho humano com o auxílio de máquinas e
a uma lei promulgada em 1375 por D. Fernando ferramentas: inclui toda a produção fabril, a
I de Portugal e serviu para beneficiar a burguesia construção civil e a geração de energia. O setor
comercial nascente que não possuía terras. Ini- terciário abrange os serviços em geral: comércio,
cialmente, o beneficiário se obrigava a um pa- armazenagem, transportes, sistema bancário,
gamento de uma sexta parte dos lucros obtidos saúde, educação, telecomunicações, fornecimen-
nas terras de sesmaria. A instituição foi trans- to de energia elétrica, serviços de água e esgoto
ferida para o Brasil, onde assumiu forma mais e administração pública. A importância relativa
abrangente com o estabelecimento das Capita- de cada um desses setores no produto total da
nias Hereditárias: as doações de sesmarias eram economia de um país é bastante variável e de-
feitas aos colonos pelos donatários e pelos go- termina o grau de desenvolvimento econômico
vernadores-gerais. O sistema, só extinto em ju- de uma nação. Nas economias subdesenvolvi-
lho de 1822, deu origem à grande propriedade das, predominam as atividades primárias e é
rural (latifúndio) no Brasil, beneficiando apenas precário o desenvolvimento dos setores secun-
uma pequena parte dos habitantes da colônia, dário e de serviços, mais presentes nos países
e contribuiu para a concentração da propriedade desenvolvidos.
fundiária no Brasil. Veja também Capitanias He-
reditárias; Latifúndio; Patrimonialismo. SEXAGENÁRIOS. Veja Lei dos Sexagenários.

SETOR PRIMÁRIO. Veja Setores de Produção. SEXAGESIMAL. Veja Sistemas de Pesos e Me-
didas.
SETOR PRIVADO. Conjunto das empresas par-
ticulares e propriedades urbanas e rurais per- SEXTA-FEIRA NEGRA. Termo consagrado à
tencentes a pessoas físicas ou jurídicas cujo con- Grande Depressão, ocorrida em 24/7/1869, nos
trole não é de responsabilidade do Estado. Nos Estados Unidos, quando os especuladores Jay
países de economia capitalista, é o principal se- Gould e James Fisk tentaram monopolizar o
tor da vida econômica nacional; mas na medida mercado de ouro com a conivência de funcio-
em que a intervenção do Estado na economia nários do governo: as vendas de ouro do go-
se tem intensificado consideravelmente desde verno norte-americano foram suspensas, provo-
1930, o setor privado tende a tornar-se tributário cando uma rápida elevação no preço do produto
ou mesmo dependente do setor público, sobre- em benefício dos especuladores. O golpe foi
tudo nos países em desenvolvimento. O pensa- prontamente descoberto e as vendas governa-
mento econômico liberal, no entanto, se insurge mentais retomadas, mas então o mercado para-
constantemente contra essa tendência, advogan- lelo entrou em colapso e muitas pessoas foram
do o pleno e ilimitado desenvolvimento do setor à ruína. Em decorrência desses episódios, o termo
privado. “sexta-feira negra” está relacionado a catástrofes
financeiras. Veja também Grande Depressão.
SETOR PÚBLICO. Conjunto dos órgãos e em-
presas industriais ou de serviços pertencentes SFH — Sistema Financeiro da Habitação. Con-
ao Estado. Amplamente dominante nos países junto de organismos financeiros governamentais
socialistas e em alguns países capitalistas euro- e privados criado pela lei nº 4 380, de 21/8/1964,
peus, esse setor tem se desenvolvido também com o objetivo de estimular, planejar e realizar
no mundo capitalista, sobretudo o subdesenvol- a construção de habitações populares e a aqui-
vido. No processo produtivo, a ação do setor sição da casa própria. É integrado, no setor go-
público ocorre principalmente na construção de vernamental, pelo extinto Banco Nacional da
obras de infra-estrutura (nos setores de trans- Habitação (BNH), Serviço Federal de Habitação
portes, energia, educação, saúde) ou quando o e Urbanismo (Serfhau), Caixa Econômica Fede-
investimento necessário, muito elevado, faz com ral, Cohabs (Cooperativas habitacionais locais),
que o retorno de capital seja demorado e não Instituto de Previdência e Assistência dos Ser-
compensatório para a iniciativa privada. vidores do Estado (Ipase), caixas militares e ór-
gãos federais, estaduais e municipais de desen-
SETOR TERCIÁRIO. Veja Setores de Produção. volvimento regional. No setor privado, o Siste-
SHADOW PRICE 556

ma Financeiro da Habitação atua por meio de de Paul Sweezy. No entanto, a visão de Shibata
fundações, cooperativas habitacionais, associa- não supunha a transformação revolucionária,
ções de poupança e empréstimo e companhias mas sim que uma nova sociedade surgiria da
de crédito imobiliário. cooperação entre trabalhadores e empresários.
SHADOW PRICE. Preço imputado a um pro- SHIHON. Veja Keiretsu.
duto ou serviço que não tem cotação no mer-
cado. Os shadow prices são utilizados na análise SHIMIZU CORPORATION. Maior empresa
custo/benefício e nas aplicações de programa- construtora do Japão, seguida pelas empresas
ção matemática nas economias centralmente pla- Kajima, Taisei, Takenaka e Obayashi, todas elas
nejadas. Esses “preços” representam o custo de com vendas anuais acima de 1 trilhão de ienes,
oportunidade de produzir ou consumir um pro- ou o equivalente a 10 bilhões de dólares.
duto que não é transacionado no mercado.
SHINGIKAI. Veja Gyosei Shido.
SHARECROPPERS. Termo em inglês que de-
signa aquele que trabalha na terra e tem uma SHINKO. Termo em japonês que significa “emer-
participação na colheita, isto é, fica com uma gência recente” e se refere aos Zaibatsu criados
parte dela. Corresponde ao parceiro ou meeiro durante os anos 30 para satisfazer as demandas
no Brasil. Veja também Parceria. dos militares como, por exemplo, a Nissan, a
Nisso e a Nakajima.
SHEKEL NOVO. Unidade monetária de Israel.
Submúltiplo: agorot. SHIP MONEY. Imposto inglês, originalmente
um tributo de emergência, destinado a financiar
SHIBATA, Kei (1902-1986). Economista japo- a defesa naval em tempos de guerra. A tentativa
nês, obteve a graduação e a pós-graduação na do rei Carlos I (1634-1639) de torná-lo um im-
Universidade de Kyoto. Seus primeiros traba- posto geral e permanente foi uma das causas
lhos publicados em inglês na Kyoto University da revolução puritana na Inglaterra.
Economic Review, durante a segunda metade dos
anos 30, chamaram a atenção não apenas no Ja- SHOGUN BONDS. Expressão nipo-americana
pão, mas também no exterior. Seu livro Jiron do mercado financeiro que designa os títulos
Keizagaku (Teoria Econômica), 1935, recebeu um estrangeiros emitidos em Tóquio e denominados
prêmio, e ele prosseguiu seus estudos em Har- em moedas outras que o iene japonês. Geral-
mente, a denominação desses títulos é feita em
vard. Shibata tentou reconciliar a economia po-
dólares dos Estados Unidos. Veja também Sushi
lítica marxista e a economia da escola de Lau-
Bonds.
sanne. Ao estudar O Capital de Marx com o prin-
cipal economista marxista japonês, o professor SHORTS. Veja Short Sale.
Kawakami Hagime, Kei Shibata interessou-se
pela visão marxista, mas também pelo sistema SHORT SALE. Expressão em inglês utilizada
walrasiano de equilíbrio geral, especialmente no mercado financeiro para designar o operador
pela elegância de suas equações, que ele estudou que vendeu títulos, ações etc. que não possui
sob a supervisão de Tokata Yosumo, o pioneiro (venda a descoberto ou “vendido”) e que, para
da economia moderna no Japão (substituto do consumar a operação, tem de tomá-los por em-
professor Kawakami). O primeiro trabalho de préstimo ou, em último caso, adquiri-los pelo
preço vigente no mercado, que pode ser desfa-
Shibata nesse sentido foi escrito em 1933, e esse
vorável ao operador. O operador que se encon-
texto influenciou fortemente Oskar Lange na
tra nessas condições é denominado shorts.
elaboração de seu famoso artigo “Marxian Eco-
nomics and Modern Economic Theory” (“Eco- SHUKKO. Termo em japonês que designa áreas
nomia Marxista e a Teoria Econômica Moder- ou atividades de remuneração mais baixa, para
na”), 1935, publicado na Review of Economic Stu- onde os trabalhadores que recebem salários mais
dies. O método de Shibata foi vincular o sistema elevados podem ser transferidos em épocas de
walrasiano de equações (numa forma simplifi- crise econômica. Tal procedimento acontece em
cada) com os esquemas (subdivididos) de re- geral em empresas grandes, onde um emprega-
produção de Marx. Ele tratou o problema não do pode ser deslocado da matriz para filiais ou
do ponto de vista das dimensões do valor e da outra empresa de um mesmo conglomerado por
mais-valia, mas sim tomando como referências um período limitado de tempo. Veja também
os preços e os lucros, e por meio dessa aborda- Tenzuko.
gem examinou o problema da transformação de SHUNTO. Veja Ofensiva Shunto da Primavera.
valores em preços de produção e a lei da ten-
dência decrescente da taxa de lucro. Esses tra- SHUSHIN-KOYÕ. Expressão em japonês que
balhos chamaram a atenção de Maurice Dobb e significa o “emprego por toda a vida”. Embora
557 SIMONSEN

esse sistema ofereça segurança ao trabalhador, ções Y; 7) N, N (m, σ2) — Distribuição Normal
torna extremamente difícil mudar de emprego. unidimensional com média m e variância σ2; 8)
Pode tornar o mercado de trabalho bastante rí- P, P (λ) — Distribuição de Poisson com o parâ-
gido, uma vez que o trabalhador deverá escolher metro λ.
uma empresa onde trabalhará pelos próximos Lógica: 1) — quantificador universal. Por exem-
35 anos, e a empresa deverá escolher bem seus plo, x F(x) para todos x F(x) holds; 2) ∃ —
funcionários, pois eles estarão convivendo ali quantificador existencial; por exemplo, ∃ x F(x)
por um período semelhante. Isso torna a com- significa que existe um x de tal forma que F(x)
petição entre as empresas, para escolher os me- se mantém; 3)⊥, & — Conjunção, produto lógico;
lhores funcionários, e entre estes últimos para por exemplo, A ⊥ B, A & B (produto lógico de
escolher as melhores empresas, muito acirrada. A e B); v — Disjunção, soma lógica; por exemplo,
A v B (soma lógica de A ou B); 4) ¬ — Negação;
SI. Iniciais da expressão em inglês simple inte- por exemplo, ¬ A, Negação de A; 5) ➦, ⊃, ⇒
rest, que significa “juros simples”. Veja tam- — Implicação, por exemplo, A → B, A ⇒ B (A
bém Juro. implica B); 6) ↔, ⇔ Equivalência, por exemplo,
SIBOR. Iniciais de Singapore Interbank Offer A ⇔ B (A e B são logicamente equivalentes).
Rate, isto é, taxa de juros interbancária praticada SIMETALISMO. Veja Symmetalic Standard.
na praça de Cingapura. A sibor é a taxa de juros
com a qual as Acus (asian currency unit) em Cin- SIMON, Herbert A. (1916- ). Economista norte-
gapura são preparadas para ser emprestadas americano. Recebeu o Prêmio Nobel de Econo-
para os bancos de primeira linha (classe). Quan- mia de 1978 por suas pesquisas pioneiras sobre
to ao resto, têm as mesmas características de o processo de tomada de decisões dentro das
libor. Veja também Libor. organizações econômicas, criando um instru-
mental analítico possível de ser estendido à ad-
SIDE LETTER. Expressão em inglês que signi- ministração pública e a várias modalidades de
fica um documento não oficial assinado entre planejamento. Nesse trabalho, mostrou o artifi-
as partes interessadas num contrato, demons- cialismo da teoria clássica da empresa, que pres-
trando intenções sobre seu desenrolar. Embora
supõe a noção plenamente racional de empre-
não tenha caráter oficial, pode ser usado como
sários com acesso à totalidade das informações,
elemento na análise das intenções dos contra-
voltados para a máxima elevação dos lucros.
tantes em caso de processos judiciais. Veja tam-
Essa construção artificial deu lugar, em suas pes-
bém Colateral.
quisas, a um modelo psicossocial no qual aque-
SILICON VALLEY. Veja Vale do Silício. les que tomam as decisões não podem escolher
a melhor alternativa: “Sua capacidade de ação
SÍMBOLOS. Teoria dos Conjuntos: 1) ∈, x ∈ X racional é limitada pela falta de conhecimento
— o elemento x pertence ao conjunto X; 2) ∉, sobre as conseqüências de suas decisões e por
x ∉ X — o elemento x não pertence ao conjunto suas ligações pessoais e sociais”. Deveriam então
X; 3) ⊂, A ⊂ B — Inclusão, A é um subconjunto contentar-se com “soluções aceitáveis para pro-
de B; 4) ⊄, A ⊄ B — Não-inclusão, A não é um blemas graves”. Simon doutorou-se em ciências
subconjunto de B; 5) ∅ Conjunto Vazio; 6) ∪, políticas em 1943, na Universidade de Chicago,
∪ — A ∪ B, ∪ A λ — União dos conjuntos A e foi diretor de estudos em matérias de medidas
e B; 7) ∩, ∩ – A ∩ B ∩, A λ, Intersecção dos administrativas da Universidade da Califórnia.
conjuntos A e B; 8) Π — Produto cartesiano, por Foi também professor do Instituto de Tecnologia
exemplo, Πλ Aλ é o produto cartesiano de Aλ. de Illinois e de Administração na Universidade
Sistema Algébrico: 1) N — Conjunto de todos os de Carnegie — Mellon (Pittsburgh), em 1949.
números naturais; Z — Conjunto de todas as Posteriormente, em 1965, lecionou ciências in-
integrais racionais; Q — Conjunto de todos os formáticas na mesma universidade. Publicou di-
números racionais; R — Conjunto de todos os versas obras sobre matemática aplicada, estatís-
números reais; C — Conjunto de todos os nú- tica, análise operacional e administração e ne-
meros complexos; H — Conjunto de todos os gócios. Em seu livro Administrative Behaviour
Quaternions. (Comportamento Administrativo), oferece uma
Probabilidade: 1) P, Pr – P (E), Pr (ε), Probabilidade nova definição de empresa: “um sistema adap-
de um evento; 2) E, E (X), Média ou Esperança tável de comportamentos físicos, pessoais e so-
de uma variável aleatória X; 3) V, σ2 – V (X), ciais, mantidos unidos por uma rede de interco-
σ2 (X) — Variância de uma variável aleatória municações e pelo desejo de seus membros de
X; 4) ρ, ρ (X, Y), Coeficiente de Correlação entre cooperar e lutar com um objetivo comum”.Veja
duas variáveis aleatórias X e Y; 5) P (), P (E  também Escola de Chicago.
F) — Probabilidade Condicional de um evento
E sob as condições F; 6) E (), E (X  Y) — SIMONSEN, Mário Henrique (1935-1997). Eco-
Média Condicional da variável X sob as condi- nomista, engenheiro, professor e empresário bra-
SIMONSEN 558

sileiro. Um dos mais destacados seguidores do do faturamento, fica a empresa obrigada ao pa-
monetarismo no Brasil, foi ministro da Fazenda gamento do imposto único. No entanto, a adesão
e do Planejamento. Iniciou sua carreira de pro- ao sistema é voluntária.
fessor no Instituto de Matemática Pura e Apli-
cada e na Escola Nacional de Engenharia. Mais SIMPLEX. Veja Programação Linear.
tarde, passou a ministrar aulas no curso de aper- SINAL. Veja Arras.
feiçoamento de economistas da Fundação Getú-
lio Vargas. Em 1960 fundou, com Roberto Cam- SINDICALISMO. Conjunto de doutrinas sobre
pos e Octávio Gouvêa de Bulhões, a Sociedade a atuação e organização do movimento sindical.
Civil de Planejamento e Consultorias Técnicas Desde o início da Revolução Industrial, quando
(Consultec). Mais tarde fundou uma companhia surgiram as primeiras organizações operárias na
de financiamento e investimento que se tornaria Europa (principalmente na Inglaterra), as pro-
o Banco Bozzano-Simonsen. Paralelamente, pas- postas de orientação para o movimento sindical
sou a dirigir os cursos de pós-graduação da Fun- estiveram estreitamente ligadas a teorias políti-
dação Getúlio Vargas. Ingressou no serviço pú- cas, sobretudo de correntes socialistas. Num pri-
blico como o primeiro presidente do Movimento meiro momento, os sindicatos dedicavam-se
Brasileiro de Alfabetização (Mobral), de 1969 a apenas à luta por melhores salários e à organi-
1974, assumindo em seguida a pasta da Fazenda zação de fundos de ajuda mútua. Na Inglaterra
do governo Geisel (1974-1979). Em março de do começo do século XIX, os sindicatos recebiam
1979, tornou-se ministro do Planejamento do go- grande influência das idéias reformistas de Ro-
verno Figueiredo, permanecendo no cargo ape- bert Owen. Na França, orientavam-se inicialmente
nas cinco meses. Passou então a integrar o con- pelo pensamento de Proudhon, que rejeitava a
selho consultivo de várias empresas, entre elas ação política das organizações operárias e de-
a Mercedes-Benz e a Citicorp, holding do Citi- fendia a luta econômica e a organização de coo-
bank — um dos maiores bancos norte-america- perativas de produção como forma principal de
nos. Escreveu: Introdução à Programação Linear, luta contra o capitalismo. A partir das grandes
Brasil 2001, Brasil 2002. Nesses livros e em seus manifestações sociais de 1848, o movimento sin-
artigos em jornais, defende, como condição para dical europeu passou a receber a influência de
o desenvolvimento brasileiro, o fortalecimento Karl Marx, fundador da Associação Internacio-
da poupança, a reformulação do ensino para nal de Trabalhadores (I Internacional). Os par-
adequar-se ao mercado de trabalho, o controle tidários de Marx defendiam a ação política dos
populacional e a expansão das exportações. sindicatos como uma das formas de combate ao
capitalismo. Opuseram-se, contudo, ao anar-
SIMONSEN, Roberto Cochrane (1889-1948).
quismo, que negava a organização da classe ope-
Engenheiro, empresário, historiador e político
rária em partidos políticos e via o sindicato como
brasileiro, líder do industrialismo no Brasil nas
único instrumento legítimo de organização dos
décadas de 20-40. Chefiando uma cisão na As-
trabalhadores. A grande ligação ocorreu por meio
sociação Comercial de São Paulo (que até então
do anarco-sindicalismo, que se desenvolveu prin-
representava também os interesses dos indus-
triais), fundou o Centro das Indústrias do Estado cipalmente na Europa latina e teve grande in-
de São Paulo (Ciesp), em 1928. Foi o idealizador fluência no sindicalismo brasileiro até o final da
do Senai e do Serviço Social da Indústria (Sesi), Primeira Guerra Mundial. O pensamento con-
e fundador da Faculdade de Engenharia Indus- servador admite a existência do movimento sin-
trial, da Escola Livre de Sociologia e Política dical, desde que sua ação se restrinja às reivin-
(ambas em São Paulo) e do Instituto de Orga- dicações salariais, e prega, no plano político, a
nização Racional do Trabalho (Idort), em 1933. harmonia entre empregados e empregadores. É
Foi deputado federal pelo Partido Constitucio- a doutrina que orienta o sindicalismo nos Esta-
nalista de São Paulo (1933-1937), senador pelo dos Unidos e a Confederação Internacional de
PSD paulista (1946) e membro da Academia Bra- Sindicatos Livres. Na Europa atual, o sindica-
sileira de Letras. Além do clássico História Eco- lismo tem ação livre e pluralista, e é constituído
nômica do Brasil (1937), escreveu Evolução Indus- por três tendências principais: a comunista, a
trial do Brasil (1939) e Ensaios Sociais, Políticos e social-democrata ou socialista e a democrata-
Econômicos (1943). cristã. Na Inglaterra, os sindicatos formam a
base orgânica do Partido Trabalhista. No Brasil,
SIMPLES. Denominação dada ao tratamento tri- por imposição da Consolidação das Leis do Tra-
butário diferenciado para as micro e pequenas balho (CLT), o sindicalismo está vinculado ao
empresas (aquelas com faturamento entre R$ Estado, que determina as formas de organização
120000,00 e R$ 720000,00 ao ano), criado pelo dos sindicatos e limita o espaço de sua atuação,
governo federal na forma de medida provisória mesmo no plano das reivindicações de caráter
em 6/11/1996, que unifica os tributos federais econômico. Isso tem dado origem, desde 1930,
de tal forma que, numa alíquota de 5% a 10% a uma camada de dirigentes sindicais (os cha-
559 SISMONDI

mados pelegos) organicamente vinculados aos SINE DIE. Expressão em latim que significa
governos, variando sua feição política de acordo “sem dia determinado” ou “sem data marcada”,
com a ideologia oficial. A partir do final da dé- muito utilizada quando uma autoridade adia
cada de 70, contudo, vem crescendo a atuação uma reunião sine die.
de uma parcela que reivindica o fim da tutela
do Estado sobre os sindicatos e a criação de um SINGER, PAUL (1932- ). Professor de economia
sindicalismo com plena autonomia em relação da Universidade de São Paulo, nascido na Áus-
aos partidos políticos, ao Ministério do Traba- tria e naturalizado brasileiro. Um dos fundado-
res do Centro Brasileiro de Análise e Planeja-
lho, e reorganizado de acordo com os interesses
mento (Cebrap) e estudioso da obra de Karl
dos trabalhadores.
Marx, realizou várias pesquisas sobre a realida-
SINDICALISMO PROPOSITIVO. Tipo de sin- de brasileira. Entre seus vários livros, destacam-
dicalismo desenvolvido no Brasil entre os sin- se: Economia Política da Urbanização (1973); A Cri-
dicatos das montadoras (indústria automobilís- se do “Milagre” (1975); Curso de Introdução à Eco-
tica) e que consiste não apenas em reivindicar nomia Política (1976); Economia Política do Trabalho
melhorias salariais e melhoras nas condições de (1978); Dominação e Desigualdade (1981); O Dia
trabalho para seus associados, mas também se da Lagarta, Democratização e Conflito Distributivo
compromete com as metas de produção, quali- no Brasil do Cruzado (1987) e Uma Utopia Mili-
dade e produtividade das empresas, mediante tante: Repensando o Socialismo (1998). Participa do
assinatura de acordos que ampliam os horizon- Instituto de Estudos Avançados da USP. Tor-
nou-se secretário municipal do Planejamento
tes de desenvolvimento dessas empresas e de
entre janeiro de 1989 e dezembro de 1992 no
seus trabalhadores.
governo de Luíza Erundina (1989-1992).
SINDICATO. Associação de trabalhadores as-
SINGLE PEG. Expressão em inglês do mercado
salariados visando à defesa de seus interesses
financeiro que significa a vinculação da moeda
perante os patrões e o Estado. Os sindicatos reú- de um país a apenas uma moeda do mercado
nem trabalhadores de uma mesma profissão, de internacional. Veja também Crawling Peg.
um mesmo ramo industrial ou empresa. A or-
ganização de sindicatos operários acompanhou SINISTROSE. Situação em que a maioria dos
o desenvolvimento e a consolidação do capita- agentes econômicos e analistas de conjuntura
lismo industrial. Nos primórdios da Revolução considera que uma crise econômica é inevitável
Industrial, a organização de sindicatos foi con- ou que a situação econômica de um país se de-
siderada ação criminosa. Na França, os sindica- teriora inexoravelmente. O mesmo que catastro-
tos só foram reconhecidos como entidades legais fismo.
em 1864, sendo sua proibição decretada durante
a Revolução Francesa pela Lei Chapellier. No SISA. Imposto de transmissão de bens imóveis
e um dos mais antigos tributos conhecidos em
Brasil, uma lei promulgada em 1907 reconheceu
Portugal e no Brasil. No direito antigo, era uma
o direito de os trabalhadores se organizarem li-
décima parte do valor das compras, vendas e
vremente, mas, com o Estado Novo (1937-1945),
trocas. No Brasil, esse tributo, que antes era es-
os sindicatos foram enquadrados numa estru- tadual, hoje é municipal, cabendo a cada muni-
tura corporativista controlada pelo Ministério do cípio fixar o seu montante. Portanto, pode as-
Trabalho. Baseado na Consolidação das Leis do sumir porcentagens diferentes, dependendo da
Trabalho (CLT), o Estado fiscaliza toda atividade cidade. Por exemplo, na cidade de São Paulo,
sindical no país, desde a carta de autorização em 1995, era equivalente a 2% calculado sobre
para a criação de determinado sindicato até as o valor venal do imóvel ou sobre o valor regis-
finanças da entidade, podendo decretar a inter- trado na escritura. A cobrança se faz no ato de
venção quando julgar que a atuação da entidade compra e venda, e os 2% são calculados pelo
não corresponde às determinações legais. Veja de maior valor — ou o venal, calculado a partir
também Sindicalismo. do IPTU incidente sobre o imóvel, ou o regis-
trado na escritura.
SINDICATO DOS ECONOMISTAS DO ES-
TADO DE SÃO PAULO. Fundado em janeiro SISBACEN. Abreviação de Sistema de Informa-
de 1935, sob a denominação de Ordem dos Eco- ções do Banco Central. Veja também TR — Taxa
nomistas e com carta obtida em janeiro de 1936, Referencial.
tem por finalidade defender os interesses de
seus filiados como categoria profissional. Sua di- SISMONDI, Jean Charles Léonard Simonde de
retoria é formada por 24 membros com mandato (1773-1842). Historiador e economista suíço, pro-
de três anos. fundo crítico do capitalismo industrial e precur-
sor do socialismo. De origem aristocrática, sua
SÍNDROME DA MORTE SÚBITA. Veja Ka- primeira obra econômica, Sobre a Riqueza Comer-
roshi. cial (1803), tem um enfoque liberal, seguindo os
SISTEMA 560

princípios de Adam Smith. Com o passar dos bém pequenas medidas líquidas de capacidade,
anos, a observação do capitalismo inglês e suas sendo a menor delas o mínimo, correspondente
misérias o faz mudar radicalmente. E em 1819, quase a uma gota ou o equivalente a 0,06161 ml.
dois anos depois de Ricardo publicar seus Prin- Sendo que 60 mínimos fazem 1 dram (ou drac-
cípios de Economia Política e Tributação, Sismondi ma) líquida, correspondente a 3,696 ml; 8 drams
replica com os Nouveaux Principes d’Économie Po- (ou dracmas) fazem 1 onça líquida ou 25,573
litique, uma veemente condenação do capitalis- ml, e 4 onças fazem 1 gill, medida antiqüíssima
mo inglês e de toda a economia liberal. O libe- correspondente a 0,118 l, já quase fora de uso;
ralismo econômico, para ele, consistia em meras e o gill correspondia ao volume de um gole de
“abstrações”. Na realidade, o que ocorria era a vinho.
dominação da classe capitalista sobre a classe
dos trabalhadores. Identificou o fator responsá- SISTEMA CONSUETUDINÁRIO. Veja Custo-
vel pela grande desigualdade entre as duas clas- mary System.
ses como “melhor-valia” (mieux-value): a dife-
rença entre o valor do que o trabalhador produz SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO CONSTAN-
e o que efetivamente recebe, diferença apropria- TE (SAC). É um sistema de amortização de em-
da pelo capitalista. Foi o primeiro a caracterizar préstimos no qual — como o próprio nome diz
o capitalismo como um sistema que sofre de — as amortizações do principal são constantes,
crises inerentes. Essas crises teriam duas expli- isto é, têm o mesmo valor. Esse sistema não deve
cações básicas: 1) os capitalistas privilegiam a ser confundido com a Tabela Price, em que as
produção de bens de troca, em detrimento dos prestações são constantes e as amortizações cres-
bens de uso; 2) eles diminuem o poder de com- cem na medida em que o prazo do endivida-
pra da massa dos consumidores, que são os pró- mento aumenta. O SAC é muito usado no Brasil
prios trabalhadores (com isso, Sismondi foi pre- em função de os contratos estabelecidos pelo Sis-
cursor da moderna teoria do subconsumo). Para tema Financeiro da Habitação conterem essa fór-
resolver o problema, sugeriu algumas reformas, mula para o cálculo da amortização dos emprés-
como a participação dos trabalhadores nos lu- timos e, conseqüentemente, das prestações de-
cros das empresas (que assumiriam os encargos vidas pelo mutuário. Nesse sistema, e na medida
sociais relativos a saúde, desemprego e outros) em que as amortizações são constantes, redu-
e a formação de uma classe média de campo- zindo o principal, a taxa de juros incidirá sobre
neses-proprietários. um montante de capital menor, o que resultará
numa prestação final com valor decrescente. O
SISTEMA. Conjunto de elementos unidos por cálculo das amortizações e das prestações devi-
alguma forma de interação ou interdependência. das por um mutuário ou devedor não apresenta
Em cibernética, é o conjunto formado por um ou dificuldades e pode ser feito da seguinte ma-
mais computadores (unidade central de proces- neira: supondo um empréstimo de R$ 20000,00
samento) e seus periféricos (impressoras, vídeos, pagos em 5 prestações mensais a uma taxa de
leitoras de cartão, unidades de fita e disco etc.). juros de 2% ao mês, a primeira prestação seria
SISTEMA AMETÁLICO. Sistema monetário equivalente ao principal (R$ 20000,00) dividido
que não tem como base um metal de valor in- por cinco, acrescida de uma taxa de juros de 2%
trínseco, como o ouro ou a prata. Os meios de sobre o capital inicial. Assim teríamos 20000 / 5
pagamento de um sistema ametálico são cons- + 2% de 20000 = 4000 + 400 = 4400 ou R$ 4400,00;
tituídos por papel-moeda não conversível e de a segunda prestação seria equivalente a 4000 +
curso forçado, e de moeda escritural (depósitos 2% de 16000 = 4320 ou R$ 4320,00; a terceira
bancários). Atualmente, quase todos os países seria equivalente a 4000 + 2% de 12000 = 4.240
aderiram ao sistema ametálico, em virtude de ou R$ 4240,00 e assim sucessivamente. Podemos
sua praticidade. Veja também Metalismo. observar que a parcela dos juros diminui, uma
vez que a taxa incide sobre o principal, que di-
SISTEMA APOTHECARY. Sistema de pesos uti- minui na medida em que vão sendo realizadas
lizado na atividade farmacêutica. A unidade bá- as amortizações. Veja também SAM; Sistema
sica — o grão — é a mesma dos sistemas troy Financeiro da Habitação; Tabela Price.
e avoirdupois, sendo que:
20 grãos equivalem a 1 escrópulo = 1,296 g, e a SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO MISTO (SAM).
abreviação é s. ap. Sistema de amortização de empréstimos resul-
3 escrópulos equivalem a 1 dram (dracma) = tante da combinação da Tabela Price e do Sis-
3,888 g, e a abreviação é dr. ap. tema de Amortização Constante (SAM). Trata-se
8 drams equivalem a 1 onça = 31,1035 g e a abre- de um processo de pagamento de prestações que
viação é oz.ap. provém da média aritmética dos valores das
12 onças equivalem a 1 libra = 373,24 g e a abre- prestações do Sistema de Amortização Constan-
viação é lb.ap. Os farmacêuticos utilizam tam- te e das prestações resultantes da Tabela Price
561 SISTEMA ECONÔMICO

dentro dos mesmos prazos e periodicidade de mento tecnológico e de divisão do trabalho. A


pagamentos. classificação e definição dos diversos sistemas
econômicos conhecidos constituem um proble-
SISTEMA DE GÊNES. Mudança no sistema mo- ma de teoria econômica, variando de acordo
netário internacional adotado em 1922 na Con- com a posição de cada corrente. Na obra de
ferência de Gênes, instituindo o padrão-câmbio- Marx, algumas vezes o conceito de sistema eco-
ouro. Por este sistema, cada país continuaria es-
nômico é usado como sinônimo de modo de
tabelecendo o valor de sua moeda por uma de-
produção. Schmoller foi um dos primeiros a pro-
terminada quantidade (peso) fixa de ouro. Mas
duzir uma classificação, distinguindo quatro ti-
os bancos centrais não estariam mais obrigados
pos de economias na Europa Ocidental a partir
a converter o papel-moeda emitido em ouro,
da Alta Idade Média: fechada, urbana, nacional
pois a maior parte dos países, em 1922, não ti-
e internacional. Sombart classificou ainda cinco
nham quantidade de ouro suficiente para las-
sistemas econômicos: economia fechada, econo-
trear suas emissões. Os países que possuíam
mia artesanal, economia capitalista, economia
grandes reservas em ouro poderiam estabelecer
a conversibilidade de suas moedas em ouro. Os coletivista e economia corporativista. Tanto
Estados Unidos, a Inglaterra e a França adota- Marx como Schmoller, Sombart e também Max
ram a conversibilidade em 1919, em 1925 e em Weber compreendiam os sistemas econômicos
1928, respectivamente. Dessa forma, as moedas como historicamente situados, enquanto os eco-
desses três países, a saber, o dólar, a libra e o nomistas da escola marginalista deixam de lado
franco, tornaram-se moedas que poderiam ser os condicionamentos históricos e até mesmo a
utilizadas pelos demais países para os pagamen- natureza específica de cada sistema, preferindo
tos internacionais, pois eram imediatamente muitas vezes estudá-los indistintamente por
conversíveis em ouro. Da mesma forma, essas meio de fórmulas matemáticas. Atualmente, se
moedas eram mantidas como reservas pelos de- reconhece a existência de dois sistemas econô-
mais países. A crise econômica de 1929, e em se- micos distintos: o capitalista e o socialista. A
guida, a Segunda Guerra Mundial desarticula- classificação da ONU distingue três sistemas:
ram o sistema do padrão-câmbio-ouro, que foi países industrializados de economia de merca-
abandonado durante a Conferência de Bretton do, países industrializados de economia central-
Woods, em 1944. Veja também Conferência de mente planejada e países menos desenvolvidos
Bretton Woods, Padrão-câmbio-ouro. (ou subdesenvolvidos). As classificações obede-
cem em geral a construções teóricas, que desta-
SISTEMA DE RESERVA FEDERAL (Federal cam os traços fundamentais e o tipo de relações
Reserve System). Conjunto das organizações fi- econômicas, sociais e jurídicas que caracterizam
nanceiras que formam o sistema bancário central cada sistema. Na realidade, o sistema econômico
dos Estados Unidos. Criado em 1913, o SRF é não se apresenta de forma “pura”, homogênea,
constituído por doze bancos regionais de reserva de modo que se observa a presença de formas
(dos quais o mais importante é o de Nova York) contrastantes na mesma totalidade social. As-
e 24 filiais. Seu capital pertence a 6 mil bancos sim, no capitalismo mais avançado, persistem
comerciais membros do sistema, responsáveis formas artesanais de produção (pré-capitalistas,
por 86% dos depósitos bancários do país — o portanto) e até mesmo a economia natural. Tam-
que permite ao SRF um amplo controle sobre a bém em países socialistas coexistem a proprie-
oferta monetária. Atua como emprestador de úl- dade estatal, a propriedade cooperativa e a pe-
tima instância, agindo sobre o open market e exer- quena ou média propriedade rural particular.
cendo controles seletivos de crédito. O sistema Certos economistas e pensadores, analisando o
é dirigido pelo Conselho Federal de Reserva, destino de cada um dos dois sistemas atuais (ca-
composto de sete governadores nomeados pelo
pitalismo e socialismo), defendem a tese de que,
presidente dos Estados Unidos, com aprovação
historicamente, ambos marchariam para uma
do Senado. O conselho funciona como um banco
aproximação rumo a sociedades industrializa-
central, controlando o sistema bancário, super-
das geridas burocraticamente e de forma cen-
visionando as finanças externas e formulando a
tralizada. No capitalismo, o planejamento e a
política monetária em geral. Subordinado ao
centralização decorrem da ação do Estado e dos
Conselho Federal de Reserva, há o Conselho
monopólios, enquanto do lado socialista se acen-
Consultivo Federal e o Comitê Federal de Open
tua a tendência a recorrer a determinados me-
Market.
canismos próprios da economia de mercado,
SISTEMA ECONÔMICO. Forma organizada que possibilitando a concorrência entre as empresas
a estrutura econômica de uma sociedade assu- de propriedade estatal. Veja também Economia
me. Engloba o tipo de propriedade, a gestão da Fechada; Economia Natural; Estrutura Econô-
economia, os processos de circulação das mer- mica; Feudalismo; Modo de Produção; Socia-
cadorias, o consumo e os níveis de desenvolvi- lismo.
SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO 562

SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. na sua direção. POTÊNCIA — a unidade prin-


Veja SFH — Sistema Financeiro da Habitação. cipal é o watt (W), potência desenvolvida quan-
do se realiza, contínua e uniformemente, um tra-
SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. Conjun- balho igual a 1 J em cada segundo. PRESSÃO
to de instituições financeiras voltadas para a ges- — a unidade principal é o newton por metro qua-
tão da política monetária do governo, sob a drado (N/m2): é a pressão exercida por uma força
orientação do Conselho Monetário Nacional constante e igual a um newton, uniformemente
(CMN). Abrange, além do CMN, Banco Central distribuída sobre uma superfície plana, de área
do Brasil, Banco do Brasil, Banco Nacional de igual a 1 m2 e perpendicular à direção da força.
Desenvolvimento Econômico e Social e bancos Grandezas e unidades térmicas ou caloríficas: TEM-
regionais de desenvolvimento, Banco Nacional PERATURA TERMODINÂMICA — a unidade
da Habitação, sociedades de crédito imobiliário,
principal é o kelvin (K), igual a 1/273,16 da tem-
associações de poupança e empréstimo, coope-
peratura termodinâmica do ponto tríplice da
rativas habitacionais, Caixa Econômica Federal
água. GRADIENTE DE TEMPERATURA — a
e as estaduais, Bolsas de Valores, fundos de in-
unidade principal é o gradiente de temperatura
vestimentos, sociedades financeiras de crédito e
uniforme, que se verifica em um meio homogê-
financiamento, distribuidoras de valores e cor-
neo e isótropo, quando a diferença de tempera-
retoras.
tura entre dois pontos situados à distância de
SISTEMA FLEXÍVEL DE FABRICAÇÃO. Con- 1 m um do outro é igual a 1 kelvin.
siste numa ilha de fabricação composta por má-
SISTEMA MÉTRICO (Decimal). Os sistemas
quinas automáticas flexíveis — de comando nu-
mérico —, alimentada por robôs. Veja também mais antigos de pesos e medidas de que se tem
Ilhas de Fabricação. notícia foram os da Assíria, Babilônia e Egito,
sendo que os deste último tiveram maior in-
SISTEMA FRANCÊS DE AMORTIZAÇÃO. fluência sobre os outros povos, destacando-se a
Veja Tabela Price. existência de duas unidades de comprimento: o
côvado ordinário (45 cm) e o côvado real (52,5 cm).
SISTEMA IMPERIAL. Veja Sistemas de Pesos A medida de peso era o quodet, com múltiplos
e Medidas. e submúltiplos que datam da primeira dinastia
egípcia. Os mais antigos padrões de peso foram
SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDA-
encontrados nos túmulos primitivos da segunda
DES. Sistema adotado internacionalmente e com-
plementar ao sistema métrico decimal, cujas metade do IV milênio a.C. Tem-se notícia de
principais unidades são as seguintes: Compri- que os sistemas de pesos e medidas dos egípcios
mento — a unidade principal é o metro (m), equi- passaram para a Ásia, Judéia e Grécia, e com
valente a 1 650 793,73 comprimento de onda, algumas modificações alcançaram a Itália, onde
no vácuo, da radiação correspondente à transi- foram adotados pelos romanos e, posteriormen-
ção entre os níveis 2p10 e 5d5 do átomo de crip- te, por todas as nações da Europa. O sistema
tônio-86. Outras unidades são o ängstrom, equi- métrico decimal, como hoje o conhecemos, re-
valente a 1 centésimo de milionésimo de um sultou da necessidade da unificação das medi-
centímetro, utilizado para medir comprimento das usadas pelos diversos países, para facilitar
de onda e dimensões atômicas, e a milha marí- o comércio. Com a expansão deste, por inter-
tima, equivalente a 1 852 m. Superfície — a uni- médio da produção de meios de transporte mais
dade principal é o metro quadrado: área de um eficazes, tornava-se fundamental a adoção de
quadrado cujo lado tem 1 m de comprimento. um sistema simples e coerente de unidades, ba-
Unidade de massa — a unidade principal é o qui- seado em padrões fixos e invariáveis. Em 1790,
lograma (kg): massa do protótipo internacional a Academia de Ciência de Paris foi encarregada
do quilograma. Unidade de tempo — a unidade de estabelecer o novo sistema de medidas. A
principal é o segundo (s): duração de 9 192 comissão designada, composta de matemáticos
631,770 períodos de radiação, correspondente à e físicos, entendeu que se devia estabelecer um
transição entre dois níveis hiperfinos do estado padrão natural e invariável, que não fosse arbi-
fundamental do átomo de césio 133. Quantidade trário e que não contivesse característica de povo
de Substância — a unidade é o mole (mol). Gran- algum. Decidiu-se que o sistema deveria ser de-
dezas e Unidades mecânicas: FORÇA — a unidade cimal, escolhendo-se como grandeza fundamen-
principal é o newton (N), força que imprime, a tal o comprimento, cuja unidade passou a ser
um corpo de massa igual a 1 kg, uma aceleração o metro, definido como a décima milionésima
igual a 1 m por segundo, na direção da força. parte da quarta parte do meridiano terrestre.
ENERGIA ou TRABALHO — a unidade prin- Com o objetivo de estabelecer o padrão, a Aca-
cipal é o joule (J), energia necessária para des- demia enviou os astrônomos Delambre e Me-
locar o ponto de aplicação de uma força cons- chain para medir o meridiano entre Dunquerque
tante e igual a 1 N, numa distância igual a 1 m, e Barcelona. O primeiro mediu o arco entre Dun-
563 SISTEMA MONETÁRIO INTERNACIONAL

querque e Rodes e o segundo, entre Rodes e sasse inteiramente o uso legal dos antigos pesos
Barcelona. Como os trabalhos de triangulação, e medidas; 3) determinava a confecção de tabe-
iniciados em 1792, deveriam durar sete anos, a las comparativas, para facilitar a conversão de
Academia Nacional de Paris, em 1793, autorizou medidas de um sistema para as de outro. Esse
a criação de um metro provisório. Foram cons- sistema encontra-se em vigor no Brasil e baseia-
truídos (em platina pura) três exemplares do se em seis unidades fundamentais, das seguintes
metro-padrão provisório. Com base nesse pa- grandezas: Comprimento — metro (m); Massa —
drão, o sistema métrico decimal foi instituído quilograma (kg); Tempo — segundo (s); Intensi-
na França em 1795 pela Convenção Nacional. A dade de corrente elétrica — Ampére (A); Tempera-
inovação encontrou grande resistência popular, tura termodinâmica — Kelvin (K); Intensidade lu-
o que levou Napoleão a permitir, em 1812, a minosa — Candela (cd). Os múltiplos e submúl-
reintrodução de medidas antigas como a toesa tiplos dessas unidades são formados com os se-
(1,99 m) e a vara (1,10 m). Entre 1837 e 1840 guintes prefixos adotados no Sistema Interna-
voltou-se ao sistema métrico. Por outro lado, o cional (SI):
quilograma provisório, que tinha o nome de gra-
Prefixos Fator pelo qual a unidade é multiplicada
ve, era constituído por um cilindro reto de cobre,
de altura aproximadamente igual ao diâmetro Tera T 1012 1 000 000 000 000
(243,5 mm) representando o peso do decímetro Giga G 109 1 000 000 000
cúbico da água destilada, a 4 C. Foi elaborada
Mega m 106 1 000 000
uma nomenclatura com os múltiplos expressos
por palavras gregas (deca = 10; hecto = 100; kilo Quilo k 103 1 000
= 1 000; milia = 10 000) e os submúltiplos por Hecto h 102 100
palavras latinas (deci = 0,1; centi = 0,01; mili =
Deca da 10 10
0,001), colocadas antes do nome da unidade
principal. Foram fabricados trinta exemplares de Deci d 10-1 0,1
padrões de massa e trinta de comprimento, sen- Centi c 10-2
0,01
do que a Casa da Moeda do Brasil possui um Mili m 10-3 0,001
desses em seu arquivo. Posteriormente, com o
aprimoramento dos instrumentos de medição, Micro u 10-6 0,000 001

chegou-se à conclusão de que o metro não rep- Namo n 10-9 0,000 000 001
resenta exatamente a décima milionésima parte Pico p 10-12 0,000 000 000 001
da quarta parte do meridiano terrestre. Diferia
Fento f 10-15 0,000 000 000 000 001
para menos em 0,187 mm. Assim modificou-se
-18
a definição do metro, que passou a ser “o com- Atto a 10 0,000 000 000 000 000 001
primento entre dois traços médios extremos”,
gravados na barra de platina existente nos ar- Veja também: Sistema Internacional de Unidades.
quivos da França. Com a grande precisão obtida SISTEMA MONETÁRIO EUROPEU. Acordo
pelos espectroscópios e a conveniência de obter entre os países do Mercado Comum Europeu,
um padrão facilmente reproduzível, a definição com a finalidade de formar uma zona monetária
vinculou-se à de um comprimento de onda es- estável na Europa. Criado em 1979, como evo-
pectral. Foi escolhida como fonte espectral emis-
lução da chamada Serpente Monetária (vinculação
sora o criptônio-86. A adoção desta nova defi-
das moedas dos países-membros), utiliza a ECU
nição de metro ocorreu em 1960, durante a XI
(European Currency Unit) — Unidade Monetária
Conferência Geral de Pesos e Medidas, onde
Européia — como unidade comparativa nas ati-
o Brasil esteve representado. Veja também Sis-
vidades cambiais e como medida nos créditos
tema Métrico Decimal no Brasil.
e débitos no âmbito do Mercado Comum Euro-
SISTEMA MÉTRICO DECIMAL NO BRASIL. peu. Essa unidade serve ainda para controlar a
Até 1862 usavam-se no Brasil antigas unidades flutuação das moedas européias, permitindo
de pesos e medidas importadas de Portugal e uma oscilação máxima de 2,25% (com exceção
que não constituíam um todo homogêneo. Seus da lira italiana, que pode variar até 6%). As moe-
nomes e valores sofriam alterações de região das da Grã-Bretanha e da Grécia não participam
para região. A Lei Imperial nº 1 157, de 26/6/1862, do sistema. Veja também Serpente Monetária
adotou oficialmente no Brasil o sistema métrico Européia.
decimal, fixando os seguintes pontos básicos: 1)
autorizava o imperador a mandar vir da França SISTEMA MONETÁRIO INTERNACIONAL.
os padrões do sistema então criado; 2) o sistema Regras comerciais e cambiais estabelecidas de
métrico adotado substituiria gradualmente o até comum acordo pelos países integrantes do Fun-
então vigente sistema de pesos e medidas, em do Monetário Internacional (FMI), criado em
todo o Império, de modo que em dez anos ces- 1944 na Conferência de Bretton Woods. O sis-
SISTEMAS 564

tema monetário internacional foi instituído a tos, fertilizantes, defensivos e sementes selecio-
partir das experiências negativas acumuladas nadas, e substitui o sistema de rotação de terras
desde o final da Primeira Guerra Mundial. Em- pelo de rotação de cultivos. O trabalho nas fa-
bora o ouro fosse o padrão internacionalmente zendas é exercido por trabalhadores assalaria-
adotado, cada país decidia por si qual a relação dos, em grande medida temporários, especial-
de valor entre sua moeda e o padrão. Com a mente na época da colheita. A produção espe-
crise de 1930, o comércio internacional começou cializa-se em função do mercado nacional e do
a desintegrar-se em função das medidas prote- internacional. Na exploração familiar, a família
cionistas empregadas pelos países em más con- é a principal fonte de mão-de-obra. A exploração
dições financeiras. Ao mesmo tempo, para tentar do solo tende a ser intensiva, e os produtos são,
melhorar a exportação, os países iam desvalo- em sua maioria, consumidos internamente. Por
rizando suas moedas, em medidas que se anu- vezes, recorre-se ao arrendamento, à parceria e
lavam mutuamente. Uma das principais funções a outras formas de produção.Veja também Coo-
do sistema criado e gerido pelo FMI era a ma- perativismo; Kibutz; Latifúndio; Minifúndio.
nutenção da paridade entre as moedas (inicial-
mente em função do padrão-ouro e, depois de SISTEMAS, Análise de. Estudo das proprieda-
1971, em função dos produtos internos dos paí- des e características de um ou mais sistemas,
ses e da capacidade de compra da moeda), evi- interagentes ou não. Aplicado à administração,
tando-se as desvalorizações concorrenciais. Si- trata das opções que se apresentam para deter-
multaneamente, o FMI criava um sistema de au- minado objetivo. Consiste, portanto, na análise
xílio aos países com problemas financeiros, de de custo/benefício/eficiência de cada uma das
forma a evitar problemas de liquidez no comér- opções num período determinado.
cio internacional.
SISTEMAS DE PESOS E MEDIDAS. Existem
SISTEMAS. Denominação dada ao conjunto de basicamente quatro sistemas: 1) decimal — é o
organizações Senai, Sesi e Sebrae, que obtêm sistema em que as unidades são divididas em
suas receitas por meio de um percentual com- décimos, como utiliza o sistema métrico. Teve
pulsório que incide diretamente sobre o total da origem entre os chineses e os egípcios; 2) duo-
folha de pagamento de todas as indústrias. Esses decimal — é o sistema no qual as unidades são
encargos somados alcançam cerca de 2,7% da divididas em doze partes. É o sistema utilizado pe-
folha de pagamentos, assim distribuídos: Sesi los romanos, no qual, por exemplo, o pé estava
1,5%; Senai 1%; Sebrae 0,2%. Dependendo de dividido em doze polegadas, a libra em doze
cada indústria, esse valor pode encarecer o pro- onças, e o ano em doze meses; 3) binário — sis-
duto final em cerca de 1,4%, porcentagem que, tema em que a divisão se processa por metades,
numa época de estabilização de preços, pode quartos, oitavas e assim por diante, num pro-
representar algo significativo. O peso dessas por- cesso herdado dos hindus; 4) sexagesimal — sis-
centagens tem ensejado a criação de projetos no tema no qual a unidade é dividida por sessenta,
Congresso para aliviar a folha de pagamentos criado pelos babilônios, sendo até hoje utilizado
das empresas e encontrar outras formas de fi- entre nós para a medição do tempo e dos cír-
nanciamento daquelas instituições. Veja também culos. Veja também Unidades de Pesos e Me-
Sebrae; Senai; Sesi. didas.
SISTEMAS AGRÁRIOS. Modos pelos quais se SIXTEEN TO ONE. Palavras de ordem da cam-
organiza a produção agrícola: latifúndio, plan- panha presidencial de 1896 nos Estados Unidos,
tação neocolonial, exploração capitalista moder- entre Bryan e McKinley, na qual o primeiro de-
na, exploração familiar, minifúndio ou coope- fendia a volta ao bimetalismo naquele país e a
rativismo.O sistema agrário latifundiário carac- cunhagem livre e ilimitada de moedas de prata
teriza-se pelo controle privado de vastas áreas na razão de dezesseis por um em relação ao
territoriais cultivadas com tecnologia primitiva ouro. A relação de valor entre os dois metais
e baixo investimento de capital. Associa-se a havia sido fixada pelo Congresso daquele país
uma estrutura social fechada e a um reduzido em 1837, na razão de 15,988 por 1, sendo esta
índice de produtividade. Por sua vez, a planta- a relação que Bryan levantava em sua campanha
ção neocolonial, do tipo plantation, ocupa imen- presidencial. Veja também Mágico de Oz.
sos domínios, muitas vezes de propriedade es-
SKEWNESS. Veja Medidas de Achatamento.
trangeira: é uma exploração capitalista avança-
da, que utiliza os recursos do solo e do clima SKIMMING. Termo em inglês que significa uma
para obter produtos tropicais procurados no política de preços para maximizar margens de
mercado internacional. No sistema agrícola ca- lucro por meio da fixação de preço bem elevado
pitalista, o solo é utilizado de maneira intensiva, de um novo produto posto à venda, e em se-
com emprego maciço de capitais em equipamen- guida reduzi-lo por etapas até saturar o mercado.
565 SMITH

SKIP PAYMENT PRIVILEGE. Expressão em O Somatório de Causas Aleatórias como Fonte de


inglês que significa a possibilidade, em contratos Processos Cíclicos (1927), ele provou que as osci-
de crédito ao consumidor, de este ter a opção lações “periódicas” em séries temporais econô-
de saltar um ou mais pagamentos, desde que o micas, meteorológicas etc. não necessariamente
credor seja notificado com antecedência. evidenciam a presença de qualquer causa pe-
riódica subjacente; essas oscilações seriam típi-
SLEEPING PARTNER. Expressão em inglês que cas de todas as seqüências aleatórias correlacio-
significa “sócio comanditário”. Veja também So- nadas serialmente. Slutsky escreveu vários ar-
ciedade em Comandita. tigos sobre a estimativa de parâmetros esto-
cásticos. Sua obra completa acerca da teoria
SLUMP. Expressão em inglês que, referindo-se
da probabilidade e estatística matemática foi
ao ciclo econômico, designa a situação na qual
publicada postumamente. Veja também Efeito
a atividade econômica se encontra no ponto
Substituição.
mais profundo da recessão, no qual se destacam
a deflação e o desemprego generalizado. O ter- SMALL GLOBAL TRADER. Expressão em in-
mo pode ser aplicado também para designar glês que significa um “país de pequena partici-
uma situação em que há uma contínua queda pação no comércio internacional”.
nos preços de um mercado específico, especial-
mente quando isso é devido a informes desfa- SMART CARD. Cartão “inteligente”, que per-
voráveis sobre os negócios, como para refletir mite, por meio de um chip, o armazenamento
uma queda no volume de transações num setor de informações como quantias fixas em dinhei-
determinado, em toda a indústria ou em toda ro, e que servem para realizar operações de pe-
a economia. queno valor sem o problema da falta de troco.
Veja também Dinheiro de Plástico.
SLUMPFLATION. Expressão em inglês que
designa uma situação na qual uma recessão SMART MONEY. Investimentos especulativos
profunda combina grande desemprego com no mercado financeiro de curtíssimo prazo que
um processo inflacionário intenso. Veja tam- tiram proveito da elevação das taxas de juros
bém Slump. em determinadas economias. O mesmo que hot
money.
SLUTSKI, Eugen (1880-1948). Economista, es-
tatístico e matemático russo. Nascido na pro- SMASH. Queda abrupta e violenta nas cotações
víncia de Yaroslav e filho de um professor de das ações, títulos ou commodities, criando uma
teatro, entrou na Universidade de Kiev como situação próxima do pânico. Designa uma si-
estudante de matemática em 1899, sendo expul- tuação mais grave do que o break. Veja também
so três anos depois, acusado de atividades re- Commodities; Pânico.
volucionárias. Mais tarde, em 1911, formou-se
em advocacia pela Universidade de Kiev. Em SMITH, Adam (1723-1790). Economista escocês,
1926, transferiu-se para Moscou e trabalhou no um dos mais eminentes teóricos da economia
Instituto de Conjuntura (onde se estudavam os clássica. Foi professor de lógica e filosofia moral
ciclos econômicos). Um de seus primeiros tra- e ocupou-se em princípio com questões de ética.
balhos publicados foi o famoso artigo sobre a Entre 1764 e 1766 morou na França, convivendo
teoria do comportamento do consumidor, de- com Quesnay, Turgot e outros. Ao retornar a
senvolvendo algumas idéias de Edgeworth e Pa- seu país, a preocupação com os fatores que pro-
reto sobre a relação das funções de utilidade, duziriam o aumento da riqueza da comunidade
preços, renda e consumo. Sua conclusão mais o levaria a escrever, em 1776, sua obra mais cé-
importante foi mostrar que, sendo a renda mo- lebre, A Riqueza das Nações: Investigação sobre sua
netária fixa, qualquer mudança no preço da mer- Natureza e suas Causas. A publicação do livro
cadoria pode ser dividida em duas partes: a pri- coincidiu com a Revolução Industrial e satisfazia
meira é a mudança no preço com a renda real aos interesses econômicos da burguesia inglesa.
(não monetária) fixa. É o chamado efeito subs- Nele, Smith exalta o individualismo, conside-
tituição, permanecendo o consumidor na mesma rando que os interesses individuais livremente
curva de indiferença. A segunda parte é o equi- desenvolvidos seriam harmonizados por uma
líbrio (nivelação) da mudança de preço, que “mão invisível” e resultariam no bem-estar co-
pode ser traduzido numa mudança equivalente letivo; essa “mão invisível” entraria também em
na renda monetária, com preços constantes, cau- jogo no mercado dos fatores de produção, en-
sando uma variação na renda real. Isto é o que quanto imperasse a livre-concorrência. A apo-
se denomina efeito renda: o consumidor se des- logia do interesse individual e a rejeição da in-
loca de um nível de indiferença (uma curva) tervenção estatal na economia se transforma-
para outro. Slutsky foi um dos criadores da teo- riam em teses básicas do liberalismo. As idéias
ria dos processos estocásticos. Em seu trabalho de Smith contrariavam o pensamento econômi-
SNAKE 566

co predominante na Europa, que se baseava no cunhada na Inglaterra em 1817 com o valor de


mercantilismo e partia do pressuposto de que 1 libra, mas que já saiu de circulação.
a riqueza de uma nação era constituída essen-
SOBREESTADIA. Pagamento que o embarca-
cialmente pela moeda e que o volume de moeda
dor faz ao dono de um navio pelo excesso de
de um país não produtor de metal precioso de-
prazo sobre a estadia no porto de embarque ou
pendia de sua balança comercial: na medida em
desembarque. A sobreestadia, que deve ser paga
que as importações de um país fossem menores no momento da partida do navio, é às vezes
do que suas exportações, ocorreria uma entrada considerada um acessório do frete, gozando dos
líquida de moeda, aumentando a riqueza. As mesmos privilégios deste. Refere-se também às
idéias mercantilistas já haviam sido criticadas despesas ferroviárias similares.
por William Petty, que localizara no trabalho e
não no comércio a verdadeira origem da riqueza. SOBREFATURAMENTO. Veja Subfaturamento.
Mas a primeira alternativa sistemática ao mer-
SOCIAL-DEMOCRACIA. Corrente política de
cantilismo fora apresentada pelos fisiocratas,
tendência socialista, que orienta a ação dos par-
para os quais a riqueza era constituída pelos tidos trabalhistas (Inglaterra e Israel), socialistas
bens materiais e não pela moeda. Para eles, o (França, Itália, Bélgica, Espanha e Portugal) e
cultivo do solo era a única atividade em que a social-democratas (Alemanha, Áustria e países
quantidade de bens materiais produzidos supe- escandinavos). Propõe a mudança da sociedade
rava a dos bens consumidos em sua produção. capitalista por meio de reformas graduais, ob-
A agricultura seria assim a única atividade pro- tidas dentro das normas constitucionais da de-
dutiva e apenas dela proviria o excedente re- mocracia representativa. Nesse sentido, os so-
partido entre as demais classes da sociedade. cial-democratas defendem uma política gover-
Smith refutou o ponto de vista dos fisiocratas, namental voltada para a estatização de setores
demonstrando que todas as atividades que pro- básicos da economia, elevada tributação sobre
duzem mercadorias dão valor, reconhecendo o os lucros das grandes empresas, co-gestão ope-
importante papel da indústria e estudando es- rária nas indústrias, assistência médica e edu-
pecificamente os fatores que conduzem ao au- cação gratuitas para toda a população, seguro-
mento da riqueza da comunidade. E retomou o desemprego, amplas liberdades sindicais e livres
problema nos termos em que Petty o colocara, negociações coletivas entre patrões e emprega-
reconhecendo no trabalho a verdadeira origem dos, sem intervenção do Estado. Na Europa, a
da riqueza e distinguindo o valor de uso (as social-democracia floresceu sobretudo na Ingla-
mercadorias consideradas do ponto de vista da terra, Alemanha, Suécia, Noruega e Dinamarca,
capacidade que elas têm de satisfazer as neces- cujos governos social-democratas implantaram
sidades humanas) e o valor de troca (a propor- uma sólida política de bem-estar social, com me-
ção em que elas são trocadas umas pelas outras). didas que na maioria dos casos foram respeita-
das até mesmo pelos governos liberais ou con-
Para ele, o valor de troca não se fundamenta na
servadores. A social-democracia, como corrente
utilidade de uma mercadoria, e sim no trabalho
política, surgiu em 1875 com a criação do Partido
(ou seja, o tempo necessário para sua produção). Social Democrata Alemão, o primeiro de ten-
Smith apontou ainda a origem do excedente no dência marxista no mundo e que serviria de mo-
trabalho e também o modo como ele é apro- delo para os que se lhe seguiram. Na mesma
priado pelos detentores dos meios de produção, época, foram fundados partidos social-democra-
lançando as bases de uma teoria sobre a explo- tas na Bélgica, na Áustria, na Rússia e, poste-
ração do trabalho. Smith analisou ainda os efei- riormente, na França. Esses partidos integraram
tos da divisão do trabalho sobre a produtivida- a II Internacional até a Revolução Russa de 1917,
de, demonstrando (contrariamente ao ponto de quando passaram a opor-se à política leninista.
vista mercantilista) que na medida em que o Desvinculada do marxismo-leninismo, a social-
comércio aumenta a divisão do trabalho, todos democracia declinou no período entre guerras,
se beneficiam do conseqüente aumento da pro- com a ascensão do fascismo, voltando a firmar-
dutividade. Ele derrubou algumas idéias básicas se como uma das principais forças políticas da
do mercantilismo, defendendo a idéia de que a Europa após a Segunda Guerra Mundial. Atual-
livre-concorrência é o ingrediente essencial de mente, os princípios social-democratas vêm ga-
uma economia eficiente. Veja também Libera- nhando força também em áreas do Terceiro Mun-
lismo; Mercantilismo. do, sobretudo em países latino-americanos como
a Costa Rica, a República Dominicana, o Brasil,
SNAKE. Veja Serpente Monetária Européia. a Venezuela e a Nicarágua.
SOBERANO. Antiga moeda de ouro utilizada SOCIAL, Formação. Categoria da economia po-
no sistema monetário inglês, que começou a ser lítica marxista que serve para designar uma to-
567 SOCIALISMO

talidade social orgânica formada pela articula- da democracia no plano político e no econômico.
ção dialética entre o modo de produção e a su- Em certa medida, a noção de socialismo con-
perestrutura da sociedade. É uma questão teó- funde-se com a de comunismo, embora, moder-
rica polêmica entre os pensadores marxistas, e namente, haja profundas diferenças de teoria e
o conceito foi empregado por Marx na síntese prática entre os dois movimentos. A idéia de
do materialismo histórico que ele apresenta no comunismo remonta à Antiguidade grega e res-
“Prefácio” de A Contribuição à Crítica da Economia surge em movimentos sociais de inspiração re-
Política. A formação social pode abranger um ligiosa que marcaram a crise da sociedade feudal
ou mais modos de produção, um dos quais é o e o surgimento da Idade Moderna. O socialismo,
modo de produção dominante e constitui a base por sua vez, é típico da sociedade pós-Revolução
econômica de determinada sociedade. Para Louis Industrial, ligando-se às primeiras manifestaçõ-
Althusser a formação social é uma realidade es da classe operária e de artesãos contra as in-
concreta, complexa e historicamente determina- justiças sociais advindas da consolidação do
da, composta por uma combinação de modos modo de produção capitalista. O termo “socia-
de produção e formada por uma estrutura eco- lismo” foi empregado pela primeira vez em
nômica (na qual coexistem vários tipos de rela- 1827, no jornal de Robert Owen Cooperative Ma-
ção de produção), por uma estrutura ideológica gazine. Na época, foi utilizado como sinônimo
(na qual se chocam várias tendências ideológi- de cooperação, democracia radical e também de
cas) e uma estrutura jurídico-política (Estado, comunismo. O pensamento socialista, nas suas
partidos políticos). Contrariamente, segundo a origens, ligava-se fundamentalmente às idéias
perspectiva althusseriana, o modo de produção e propostas de reforma social de Owen, Saint-
não se apresenta como uma realidade concreta. Simon e Fourier, que Karl Marx e Friedrich En-
É um objeto abstrato, “ideal”, aparecendo, por gels chamaram de socialistas utópicos. Para se
anos, como uma totalidade social pura, na qual diferenciarem desse socialismo, Marx e Engels
a produção de bens materiais ocorre de forma se posicionavam como comunistas; ao mesmo
homogênea. Para esse autor, o modo de produ- tempo, consideravam-se fundadores do socia-
ção não se restringe à base econômica da socie- lismo científico: partiam de um aprofundado es-
dade (forças produtivas e relações de produção), tudo das relações capitalistas de produção, para
mas engloba também a superestrutura da socie- propor sua eliminação por meio da ação revo-
dade. Outros teóricos marxistas afirmam, diver- lucionária dos trabalhadores, aglutinados em
gindo de Althusser, que o conceito de modo de torno da Internacional Socialista, criada por am-
produção é mais restrito (diz respeito somente bos em Londres, em 1864. Participavam dessa
à estrutura econômica); para esses teóricos, ca- I Internacional as mais diversas correntes do mo-
tegoria mais abrangente é a de formação social, vimento socialista e operário. O debate ideoló-
a única capaz de captar a articulação entre a gico que se travou nessa organização posicionou
base e a superestrutura e de unir, nas análises como rivais os adeptos de Karl Marx e os par-
concretas, a economia à sociologia e à história. tidários de Joseph Proudhon. Estes negavam a
ação política da classe operária e propunham
SOCIALISMO. Conjunto de doutrinas e movi- uma alteração da sociedade a partir da criação
mentos políticos voltados para os interesses dos de uma rede de cooperativas de produção ge-
trabalhadores, tendo como objetivo uma socie- ridas pelos trabalhadores, sistema que termina-
dade onde não exista a propriedade privada dos ria suplantando o próprio capitalismo e o Esta-
meios de produção. Pretende eliminar as dife- do. Presente em todos os movimentos reivindi-
renças entre as classes sociais e planificar a eco- catórios da classe operária, o socialismo teve,
nomia, para obter uma distribuição racional e no século XIX, como feito histórico mais signi-
justa da riqueza social. Em geral, apresentam-se ficativo a instauração revolucionária da Comuna
como partidários do socialismo partidos e or- de Paris (1871), onde tiveram destaque os se-
ganizações comunistas, social-democratas, so- guidores de August Blanqui. Após a liquidação
cialistas e trabalhistas, além de agrupamentos da Comuna, o movimento socialista esteve vin-
libertários e igualitários de tendência anarquista culado à ação da Internacional, onde se dividiam
e, mais recentemente, algumas correntes de di- os marxistas e os anarquistas liderados por Ba-
versos movimentos sociais e de minorias. O so- kunin. A criação de partidos socialistas na Eu-
cialismo estendeu-se também após a Segunda ropa (o primeiro foi o alemão, em 1875) relacio-
Guerra Mundial aos movimentos de libertação nou a luta pelo socialismo, fundamentalmente,
nacional (mesclando-se nesse caso com o nacio- aos adeptos de Marx, organizados a partir de
nalismo) e à luta de vários povos contra a di- 1889 na II Internacional. Questões de estratégia
tadura e o autoritarismo. Dessa diversidade de e tática socialista e a polêmica em torno da par-
inspirações e matizes ideológicos resultam pro- ticipação na Primeira Guerra Mundial conduzi-
fundas divergências quanto aos métodos de ram o movimento socialista marxista a uma ci-
construção da nova sociedade, o papel dos par- são: de um lado os seguidores do revisionismo,
tidos políticos, a função do Estado e a questão que defendiam a construção do socialismo por
SOCIALISMO CRISTÃO 568

meio de reformas sociais e cujos principais re- alocação de recursos segue as regras do merca-
presentantes foram Eduard Bernstein e Karl do, existindo um mercado de força de trabalho,
Kautski; de outro, os adeptos de Lênin e Rosa de produtos e de elementos que materializam
Luxemburgo, defensores da revolução e da di- o capital. Em relação às economias socialistas
tadura do proletariado como momentos neces- “reais”, o termo se aplica tanto àquelas que ha-
sários para a construção do socialismo. Essa di- viam transformado sua estrutura no sentido de
visão marcou as duas tendências fundamentais restabelecer o mercado — como a Iugoslávia,
do socialismo na atualidade, alargando-se a dis- no início dos anos 50 — quanto àquelas que
tância entre ambas, sobretudo após a Revolução substituíram o planejamento central e a distri-
de Outubro de 1917, que implantou o socialismo buição de meios de produção por controles fi-
na Rússia. A tendência revisionista ou reformis- nanceiros e incentivos, como no caso da Hungria
ta desligou-se do pensamento de Marx, sendo depois de 1968. É claro que com as transforma-
hoje representada pelos partidos socialistas, so- ções no leste europeu depois de 1989, essa dis-
cial-democratas e trabalhistas da Europa e ou- cussão ganhou um novo perfil até certo ponto
tras partes do mundo, ao passo que o pensa- contraditório: por um lado, as primeiras discus-
mento socialista de tradição marxista está ofi- sões a respeito do tema foram recuperadas, mas,
cialmente representado pelos partidos comunis- por outro, a negação, em muitos países, da exis-
tas e, secundariamente, por organizações de ins- tência do próprio sistema econômico socialista
piração trotskista. Ao mesmo tempo, o chamado torna a discussão até certo ponto redundante.
socialismo real (a sociedade nos moldes das exis- Os debates teóricos sobre essa questão tiveram
tentes na União Soviética, em países da Europa início relativamente cedo, com a publicação de
Oriental, na China, no Vietnã e em Cuba) está um artigo de Ludwig von Mises em 1920, mos-
sendo submetido a rigorosa crítica pelas novas trando a impossibilidade do cálculo econômico
correntes do pensamento socialista (muitas de- no socialismo, uma vez que um sistema de pre-
las baseadas em Marx), que procuram recuperar ços (reflexos das relações de troca) somente po-
a tradição democrática do socialismo, no que deria ocorrer se existisse a propriedade privada.
diz respeito à função do Estado, dos partidos Esse texto foi reeditado em 1935 por Hayek e,
políticos, suas relações com os trabalhadores e logo em seguida, refutado por Oskar Lange. A
a gestão da economia. Veja também Anarquis- argumentação de Lange é que por intermédio
mo; Comunismo; Internacional Socialista; Mar- de um sistema de “tentativa e erro”, uma Junta
xismo; Social-democracia. Central de Planejamento poderia substituir o
mercado, fixando preços, salários, taxas de juros,
SOCIALISMO CRISTÃO. Termo que designa
de tal forma a nivelar a oferta e a demanda, e
um movimento surgido na Inglaterra em mea-
orientando os administradores das empresas so-
dos do século XIX, que protestava contra as du-
cialistas a seguir duas regras: 1) minimizar o
ras condições de trabalho e vida impostas à clas-
custo médio de produção, usando uma combi-
se trabalhadora da época. Os representantes
nação de fatores que igualasse a produtividade
mais destacados desse movimento, como Char-
marginal do valor das unidades monetárias dis-
les Kingsley e Frederick Maurice, dedicavam-se
poníveis; e 2) determinar a escala de produção
ao bem-estar dos trabalhadores. No entanto, du-
no ponto em que o custo marginal fosse equi-
rante algum tempo o movimento incentivou pe-
valente ao preço fixado pelo Planejamento Cen-
quenas oficinas de auto-gestão, que não deram
tral. (Essa organização da economia permitiria
certo. Mais tarde, o movimento se integrou ao
combinar a eficiência na alocação de fatores, via-
movimento cooperativista. O socialismo cristão
bilizada pela competição, e o bem-estar, conse-
tinha profundas raízes religiosas e, como refe-
guido pela maximização da renda.) Uma eco-
renciais básicos, as doutrinas e ensinamentos nomia desse tipo estaria aberta às inovações tec-
das encíclicas pontifícias, em particular da Re- nológicas sem provocar flutuações cíclicas (do
rum Novarum, Quadragesimo Anno, Mater et Ma- tipo schumpeteriano). O maior perigo — a bu-
gistra, de Leão XIII, Pio XI e João XXIII, respec- rocratização da vida econômica — não seria
tivamente. Veja também Cooperativismo. maior, afirmavam seus defensores, do que a
SOCIALISMO DE GUILDA. Forma de sindi- existente no capitalismo monopolista. As críticas
calismo desenvolvida na Inglaterra no início do às formulações de Lange vieram tanto daqueles
século XX, que combinava a recuperação das que questionavam a componente socialista
idéias das guildas medievais com a substituição numa economia de mercado quanto daqueles
do capitalismo por indústrias nacionalizadas, di- que questionavam a componente de mercado
rigidas pelos sindicatos e pelos trabalhadores. numa economia socialista. Hayek, por exemplo,
em 1940, considerava inverossímil a criação de
SOCIALISMO DE MERCADO. Trata-se de um fundamentos motivacionais e informativos para
sistema econômico no qual os meios de produ- um comportamento gerencial de mercado, sem
ção são propriedade pública ou coletiva, mas a a existência de propriedade privada que pro-
569 SOCIEDADE AFLUENTE

porciona os estímulos necessários (expectativa verdade, utilizado pelos que criticavam o grupo
de ganhos) e restrições (responsabilidade finan- de economistas) caiu em desuso. Veja também
ceira) para decisões inovadoras que envolvam Escola de Manchester; Lei de Bronze dos Sa-
riscos. Schumpeter contestava a relevância desse lários; Mais-valia; Marx; Schmoller, Gustav.
argumento, dizendo que na economia capitalista
a propriedade e a gerência das empresas tam- SOCIALIZAÇÃO DAS PERDAS. Processo pelo
bém se encontravam separadas entre acionistas qual uma empresa ou um governo procuram
e gerentes. O outro tipo de crítica acentuava a dividir por toda a sociedade perdas que, caso
característica de equilíbrio estático apresentada contrário, recairiam sobre uma empresa, um
pelo modelo, o que poderia comprometer a di- conjunto de empresas ou por todo um setor de
nâmica do desenvolvimento a médio e longo atividade. Existem vários mecanismos mediante
prazos, trazendo grande instabilidade e crises os quais esse objetivo pode ser alcançado. Um
para a economia, o que somente poderia ser sa- deles é o processo inflacionário, outro é o manejo
das taxas de câmbio. Por exemplo, depois da
nado pela existência de um planejamento cen-
crise de 1929, as desvalorizações cambiais no
tralizado direto. Lange admitiu a necessidade
Brasil tiveram por resultado a socialização de
de rever seu modelo em função da dinâmica
perdas, que recairiam sobre a cafeicultura, como
econômica a longo prazo. Quanto aos argumen-
pode ser observado pelos seguintes dados:
tos de Hayek, não chamaram muito a atenção
até recentemente, quando as dificuldades reve- 1914/18 19/21 22/29 30/31 32/39 40/45
ladas de desenvolvimento da produção e da
Preço do café 100 163,6 172,7 104,5 163,6 163,6
produtividade nos países do bloco socialista e em libras
as transformações na ex-União Soviética (es-
Taxa de 100 177,3 106,6 153,5 225,1 269,3
pecialmente a Perestroika) colocaram outra vez Câmbio Real
tal questão na ordem do dia. Veja também
Hayek, Friedrich August von; Lange, Oskar; Os dados acima permitem observar que, no pe-
Mises, Ludwig von; Perestroika; Planificação; ríodo em que os preços internacionais do café
Socialismo. estavam em elevação (até 1292), a cafeicultura
SOCIALISTA DE CÁTEDRA (Kathedersocia- usufruía desses preços, não necessitando de des-
listen). Denominação dada a um grupo de jo- valorizações cambiais compensatórias. Depois
vens professores alemães de economia política de 1930, no entanto, a taxa real de câmbio cres-
por um jornalista liberal em 1972, e citada por ceu expressivamente, mais do que compensando
Gustav Schmöller em seu discurso de abertura a enorme queda dos preços do café entre 1930
e 1945. Veja também Capacidade para Importar;
do Congresso de Eisenach no mesmo ano. Esses
Relações de Troca.
professores concordavam que existiam graves
problemas sociais, mas que não poderiam ser SOCIEDADE. População que habita determi-
resolvidos de acordo com as receitas da Escola nado território e se articula de acordo com for-
de Manchester (dominante então na imprensa mas particulares de produção e reprodução, e
alemã), que recomendavam a mera aplicação do com um conjunto de valores que definem seus
laissez-faire. Ao mesmo tempo, esses jovens eco- padrões de comportamento, convivência e iden-
nomistas rejeitavam as concepções dos social- tidade cultural. Na caracterização e análise das
democratas sobre a possibilidade (ou conveniên- sociedades e das conformações que ela tem to-
cia) de mudanças revolucionárias violentas. Não mado ao longo da história, destacam-se as for-
aceitavam tampouco a doutrina de Lasalle sobre mulações originais elaboradas por Auguste Com-
a “lei de bronze dos salários” ou o conceito de te, Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber.
“mais-valia ”de Marx. Suas concepções varia-
SOCIEDADE AFLUENTE. Estágio de desenvol-
vam desde uma postura favorável aos sindicatos vimento econômico e social alcançado nos países
(de trabalhadores) até a recomendação de inter- altamente industrializados, segundo conceito
venção estatal no setor industrial. Mas a maioria popularizado por J.K. Galbraith. Caracteriza-se
dos representantes dessa corrente era moderada pela ampla sofisticação e elasticidade do consu-
em suas expectativas e cautelosa em suas pro- mo de massa, graças aos processos de economia
postas práticas. Os resultados da ação dos so- de escala e ao aumento do poder aquisitivo da
cialistas de cátedra se resumiram numa legisla- população. Para Galbraith, autor de A Sociedade
ção fabril menos desfavorável aos trabalhadores, Afluente (1958), a forma como ocorre a ampliação
e na preparação do caminho para a adoção de do consumo nessa sociedade é, contudo, um dos
um sistema de seguridade social compulsório. principais problemas para a eficiência produti-
Após a década de 70 do século passado, quando va: o consumo teria perdido seu processo autô-
essas controvérsias teóricas e políticas se desen- nomo, tornando-se um prolongamento da pro-
volveram, o termo “socialista de cátedra” (na dução, transformada num fim em si mesma, e
SOCIEDADE ANÔNIMA 570

não num meio de satisfazer as necessidades hu- constituem “o conteúdo ético do Estado”. Ainda
manas. A aparente abundância revelada pelos para Gramsci, embora a sociedade civil e a so-
altos níveis de consumo esconderia uma “misé- ciedade política (Estado) estejam estreitamente
ria social”, um desinteresse pelo bem público e ligadas, existe entre ambas uma tensão dialética,
uma qualidade de vida deficiente. Esse tipo de pois por meio da sociedade política (Estado),
sociedade perderia o controle do próprio desen- uma classe mantém sua dominação sobre o con-
volvimento e sua reprodução dependeria cada junto da sociedade civil. No interior da socie-
vez mais da ampliação da esfera pública. Veja dade civil, a dominação se faz por intermédio
também Abundancismo; Consumidor, Sobera- da ideologia, e não pela coerção, como no Es-
nia do; Consumo Conspícuo; Economia do tado. A resolução dessa contradição encontra-se
Bem-estar; Galbraith, J.K.; Padrão de Vida. na superação da sociedade política pela socie-
dade civil, quando esta abolir as classes e es-
SOCIEDADE ANÔNIMA. Sociedade comercial truturar-se a partir da propriedade coletiva dos
formada por, no mínimo, sete sócios, sendo o meios de produção.
capital de cada um representado pelo número
proporcional de ações e sua responsabilidade li- SOCIEDADE CORRETORA. Instituição finan-
mitada ao capital investido. Podem exercer qual- ceira que opera no mercado de valores e títulos,
quer tipo de atividade comercial, industrial, comprando, vendendo e administrando esses va-
agrícola ou de prestação de serviços. Apenas lores como representante dos investidores (pes-
as sociedades anônimas constituídas para ati- soas físicas ou jurídicas).
vidades bancárias, seguradoras, montepios e
afins devem receber autorização especial para SOCIEDADE DE CAPITAL AUTORIZADO.
funcionamento. Sociedade comercial cujo capital é inferior ao
estabelecido pelo estatuto social. Por isso, suas
SOCIEDADE CIVIL. No âmbito do direito ci- ações só podem ser nominativas ou endossáveis.
vil, trata-se de uma congregação de pessoas que
se unem mediante uma contribuição monetária SOCIEDADE DE CONSUMO. Situação própria
(capital) para efetivação de um negócio lucrati- dos países altamente industrializados, caracte-
vo. Nesse sentido, apresenta-se como o contrário rizada pela produção e pelo consumo ilimitado
de associação civil, que se caracteriza por não de bens duráveis, sobretudo artigos supérfluos.
ter fins lucrativos. Nas ciências políticas, socie- O próprio conceito de sociedade de consumo
dade civil é um conceito que provém da filosofia traz em si uma posição crítica, que se projetou
iluminista e abrange o conjunto das relações so- nas análises econômicas, políticas e sociais da
ciais, particularmente as relações de proprieda- atualidade feitas a partir da década de 60. No
de. Nessa perspectiva, argumentava Rousseau: final desse período, a onda de protesto juvenil
“O primeiro que, cercando um terreno, se lem- que abalou a Europa Ocidental e os Estados Uni-
brou de dizer ’Isto me pertence’, e encontrou dos tinha como um dos alvos principais a im-
criaturas suficientemente simples para nele acre- posição consumista dos agentes industriais e co-
ditar, foi o verdadeiro fundador da sociedade merciais. Nesse mesmo sentido, orientou-se o
civil”. Na obra de Hegel, o conceito de sociedade movimento e o modo de vida hippie, pautando-
civil liga-se a um “sistema de necessidades”, que se pelo retorno a uma vida simples, despojada,
tem sua base na propriedade privada e nas re- grupal, em que os próprios consumidores fos-
lações jurídicas, relacionando a esfera econômica sem artífices dos objetos e produtos que satis-
ao Estado. Seguindo um caminho aberto por He- fizessem suas necessidades básicas. Atualmente,
gel, Marx via a sociedade civil como o conjunto a crítica à sociedade de consumo e ao consu-
das condições de existência material cuja ana- mismo que ela engendra, e do qual depende
tomia tinha de ser encontrada na economia po- produtivamente, parte de uma análise das pró-
lítica. Com essa mesma visão, sentenciou Engels: prias características do capitalismo em sua fase
“O Estado, a ordem política, é o elemento su- monopolista: a mercantilização de toda a ativi-
bordinado, enquanto a sociedade civil, o reino dade humana e de suas necessidades materiais
das relações econômicas, é o elemento decisivo”. e espirituais. Nesse contexto, toda a ação pro-
Essa mesma tese é aprofundada pelos dois pen- dutiva e consumista tem como alvo o indivíduo,
sadores em A Ideologia Alemã: “A sociedade civil e não o grupo social. André Gorz, um dos mais
é o verdadeiro palco da história”. Isto é, a di- veementes críticos da sociedade de consumo,
nâmica social deveria ser buscada na vida eco- afirma: “A sociedade capitalista madura perma-
nômica e na estrutura de classes, domínio da nece assim profundamente bárbara na medida
sociedade civil. Mais recentemente, a problemá- em que não visa a nenhuma civilização da exis-
tica da sociedade civil foi analisada por Antonio tência social e das relações sociais, a nenhuma
Gramsci até a exaustão. Para esse pensador mar- cultura do indivíduo social, mas apenas a uma
xista italiano, a sociedade civil engloba organi- civilização do consumo individual. Mas, simul-
zações políticas, sindicatos, corporações, que taneamente, a homogeneidade e os estereótipos
571 SOCIEDADES DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO

do consumo individual solicitado pelos oligo- pital (capital comanditário), limitando-se a isso
pólios produzem esse indivíduo social particu- sua responsabilidade. Os outros (sócios solidá-
lar para o qual sua sociabilidade aparece como rios), entrando ou não com capital (capital co-
acidental e estranha: o indivíduo de massa”. manditado), são responsáveis por todas as obri-
Veja também Consumo Conspícuo; Efeito De- gações que a empresa assumir.
monstração; Sociedade de Massas.
SOCIEDADE FABIANA. Associação inglesa
SOCIEDADE DE INVESTIMENTO. Empresa de tendência socialista fundada em 1883-1884 e
financeira que atua no mercado a longo prazo, que propunha a reforma social por meio de mu-
por meio do recebimento e aplicação de recur- danças graduais do sistema capitalista. Sua de-
sos. As sociedades de investimento trabalham nominação deriva de Fábio Cunctator, nome
com recursos do exterior (que repassam ao mer- pelo qual ficou conhecido Quinto Fábio Máximo
cado interno), financiamentos de capital de giro, Verrucoso (?-203 a.C.), general romano, famoso
letras de câmbio, certificados de depósitos e ou- nas Guerras Púnicas pela tática empregada con-
tros títulos de longo prazo. A Sociedade de In- tra o exército cartaginês e que consistia basica-
vestimento DL. 1 401 é aquela que permite a mente em minar a resistência do adversário com
investidores estrangeiros investir nos mercados
ataques isolados e relâmpagos, do tipo utilizado
financeiros e acionários no Brasil.
pelos guerrilheiros modernos. Era composta
SOCIEDADE DE INVESTIMENTO DL 1 401. fundamentalmente de brilhantes intelectuais,
Veja Sociedade de Investimento. como Bernard Shaw e o casal Beatrice e Sidney
Webb. Os fabianos rejeitavam por princípio a
SOCIEDADE DE MASSAS. Denominação apli- luta revolucionária e forneceram as bases ideo-
cada às atuais sociedades capitalistas altamente lógicas para a fundação do Partido Trabalhista
desenvolvidas, na medida em que estariam inglês em 1900. Ao contrário de Marx, negavam
apresentando tendência à homogeneização do o caráter de classe do Estado (consideravam-no
comportamento, dos valores e das expectativas um organismo neutro), bem como não aceita-
de todas as camadas sociais. A sociedade de vam a análise marxista do capitalismo, particu-
massas seria a negação da sociedade de classes, larmente quanto às crises econômicas. Em eco-
na qual as desigualdades sociais geram formas nomia, seguiam basicamente o pensamento de
diferenciadas de consumo e de aspirações. Na John Stuart Mill. Achavam que as propriedades
sociedade de massas, o nivelamento do consu-
particulares deveriam ser socializadas por meio
mo e dos modos de pensar resultaria da ação
de leis, que ocorreria uma progressiva identi-
dos meios de comunicação de massa (rádio, te-
dade de interesses entre trabalhadores e patrões
levisão, cinema, jornais e revistas), que reorien-
e que o socialismo viria com o tempo, como
tam as condições de decisão e atuação dos ho-
mens, mesmo havendo desigualdade de rique- resultado de consenso entre todos os segmentos
zas. Em conseqüência, desapareceram o caráter da sociedade. O dever dos trabalhadores se re-
classista das reivindicações, a ênfase contes- sumiria em eleger o máximo possível de repre-
tatória e a possibilidade de construir partidos sentantes no Parlamento para auxiliar nesse len-
revolucionários. Algumas correntes sociológi- to e longo processo de mudanças.
cas, no entanto, consideram que essa caracteri-
SOCIEDADE LIMITADA. Sociedade comer-
zação é ideológica, sem correspondência na rea-
cial por cotas de responsabilidade limitada: cada
lidade social, servindo apenas para mascarar a
sócio responde apenas na medida de sua cota.
existência das classes sociais. Reconhecem haver
uma padronização de comportamento, gerando Deve adotar uma razão social que explique,
o que Marcuse chamou de “homens de uma só quanto possível, o objetivo da sociedade e seja
dimensão”, mas isso derivaria de formas sofis- sempre seguida pela palavra “limitada”.
ticadas de dominação, reproduzidas constante- SOCIEDADE NACIONAL DE AGRICULTU-
mente pelo apelo consumista e pela cultura de RA. Entidade civil criada em 1897 no Rio de
massas. Veja também Sociedade de Consumo. Janeiro, com a finalidade de defender os inte-
SOCIEDADE DISTRIBUIDORA. Instituição fi- resses dos proprietários rurais e incrementar as
nanceira cuja finalidade é revender e distribuir atividades agropecuárias no Brasil. Edita a re-
títulos e valores mobiliários, colocar junto ao pú- vista A Lavoura. Durante o governo do presi-
blico papéis sem cotação nas Bolsas de Valores dente João Goulart, teve papel destacado na luta
e atuar no chamado setor primário de ações (lan- contra a possível decretação de uma reforma
çamento de papéis novos nas Bolsas). agrária.

SOCIEDADE EM COMANDITA. Sociedade SOCIEDADES DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO.


comercial, na qual um sócio ou alguns deles (só- Instituições ligadas ao Sistema Financeiro da Ha-
cios comanditários) participam apenas com o ca- bitação (SFH). Financiam a compra e a construção
SÓCIO COMANDITÁRIO 572

de imóveis, com capital obtido por meio da co- de longo prazo de maturação e/ou de conteúdo
locação de letras imobiliárias junto ao público. social.

SÓCIO COMANDITÁRIO. Sócio de uma so- SOFT MONEY. Expressão que no mercado fi-
ciedade em comandita, na qual participa apenas nanceiro designa o papel-moeda em contrapo-
com o capital, não tendo nenhuma outra res- sição à moeda metálica (especialmente de ouro
ponsabilidade junto à empresa. e prata) chamada de hard money ou hard cash.
Veja também Hard Money.
SÓCIO SOLIDÁRIO. Sócio responsável pela to-
talidade das dívidas da empresa. A solidarieda- SOFT STATE. Expressão em inglês cuja tradu-
de é sempre presumida e só não existe quando ção literal seria “estado suave” ou “estado
é expressamente excluída, como ocorre no caso mole”. Foi desenvolvida por Gunnar Myrdal
do sócio comanditário. Nas sociedades anôni- (1898-1987) para designar Estados ou governos
mas e sociedades por cotas de responsabilidade que não estariam dispostos a utilizar a coerção
limitada, os sócios responsabilizam-se apenas para alcançar objetivos políticos (virtuosos) de-
até o limite do capital investido. clarados. Isto é, existiria nesses Estados um fosso
entre intenção e gesto.
SOCIOLOGIA. Ciência que estuda de forma
sistemática a organização e o funcionamento das SOFTWARE. Expressão inglesa utilizada em in-
sociedades humanas. Divide seu objeto de es- formática para designar o programa ou os sis-
tudo com a antropologia, que se dedica ao es- temas de programas que permitem a utilização
tudo das sociedades primitivas e agrupamentos do computador. Veja também Hardware.
relativamente isolados, e ainda com a psicologia
social, dedicada ao estudo dos subgrupos. Como SOFTWARE LIFE CYCLE. Expressão em inglês
ciência humana, constitui uma área próxima da cuja tradução literal é “ciclo de vida do software”
economia, da historiografia e das ciências polí- e que significa o tempo estimado em que um
ticas. Quando dirige sua preocupação para a tipo de software será superado por algum outro
quantificação dos fenômenos sociais e a opera- mais aperfeiçoado. Veja também Ciclo de Vida
cionalização dos conceitos, recorre amplamente (Life Cycle); Software.
à metodologia própria da estatística. A denomi-
nação “sociologia” foi criada por Auguste Com- SOGO SHOSHA. Denominação dada no Japão
te na sua classificação das ciências, mas a ciência às trading companies. Veja Trading Company.
adquiriu fisionomia própria com as elaborações SOKAIYA. Termo em japonês que significa um
teóricas de Karl Marx, Émile Durkheim e Max acionista-extorsionário, ou seja, que extorque di-
Weber. Veja também Ciências Sociais. nheiro das empresas ameaçando tumultuar as
SOCIOMETRIA. Conjunto de técnicas de men- reuniões anuais de acionistas por meio da re-
suração, empregadas principalmente por psicó- velação de escândalos internos ou irregularida-
logos e sociólogos, com o objetivo de determinar des da empresa, constituindo uma verdadeira
as preferências pessoais em relação a valores so- máfia. Esses extorsionários geralmente compram
ciais e, por meio disso, o status relativo de cada um mínimo de ações de uma empresa que lhes
indivíduo dentro dos grupos sociais. As respos- dêem direito a participar da assembléia de acio-
tas, colocadas na forma de sociogramas, forne- nistas, onde promovem a extorsão, chantagens
cem informações importantes sobre a configu- e seqüestros, e geralmente estão ligados a gângs-
ração dos grupos sociais. teres. Os pagamentos feitos aos sokaiya pelas em-
presas ameaçadas tornaram-se ilegais a partir
SOCORRO MÚTUO. Veja Mutualismo. de 1982, e esses grupos passaram a agir clan-
destinamente. Para reduzir o efeito dessas prá-
SOFT CURRENCY. Expressão em inglês que ticas, muitas empresas japonesas marcam suas
designa uma moeda fraca ou aquela que não é reuniões de acionistas no mesmo dia e hora, e
utilizada pelos países na formação de suas re- sua duração às vezes se reduz a apenas meia
servas, uma vez que sofre contínuas desvalori- hora. Uma nova legislação aprovada em 1992
zações em função de desequilíbrios no balanço torna mais eficaz o combate a tais tipos de prá-
de pagamentos. O contrário de hard currency. tica, tornando passíveis de processo os métodos
utilizados pelos sokaiya.
SOFT LOAN. Empréstimo concedido em con-
dições muito favoráveis para o devedor, com SOLDO. Termo de origem francesa (sou), era a
taxas de juros inferiores às vigentes no mercado, vigésima parte do franco francês. Nome de vá-
prazos de carência para começar a devolver o rias moedas antigas portuguesas de ouro, prata
principal, e prazos longos de amortização. Em e cobre. Aplicou-se a denominação primeiro na
geral são proporcionados por agências multi- Gália, a moedas de ouro e prata. O soldo de
laterais como o Bird, para financiar projetos ouro pesava 84 grãos (4,452 g). O soldo de prata
573 SOUSA FRANCO

parece ter sido apenas utilizado como unidade econômicos. Sombart foi professor na Universi-
de conta, não tendo uma existência material. A dade de Breslau (1890-1906), na Escola Superior
forma como os mercenários eram pagos — com de Comércio de Berlim (1906-1917) e na Univer-
soldos — deu origem à palavra soldado (pago sidade de Berlim desde 1918. Entre suas obras,
com soldos), e até hoje a remuneração dos mi- destacam-se ainda Die Juden und das Wirtschafts-
litares de baixa graduação ainda é denominada leben (Os Judeus e a Vida Econômica), 1911, em
“soldo”. que faz uso destacado de conceitos racistas; Der
Bourgeois (O Burguês), 1913; e Deutscher Sozia-
SOLDO CAROLÍNGIO. Veja Libra. lismus (Socialismo Alemão), 1934.
SOLO CRIADO. Conceito urbanístico de admi- SONEGAÇÃO FISCAL. Uso de meios ilegais
nistração pública que consiste em conceder a in- para diminuir ou evitar o pagamento de impos-
teressados o direito de construção de áreas adi- tos, taxas etc. A sonegação é feita geralmente
cionais ao estabelecido pela Lei de Zoneamento mediante a não-declaração de quantias recebi-
(ou de Uso e Ocupação do Solo), em troca de das, pela subvaloração destas ou pela sobreva-
recursos financeiros para a construção de habi-
lorização de quantias pagas. A sonegação fiscal
tações de interesse social ou melhorias de infra-
muitas vezes tem uma aparência de legalidade,
estrutura viária, de saneamento básico etc. nas
na medida em que pessoas e/ou empresas re-
áreas onde tais concessões se realizam. Este dis-
correm a brechas ou imprecisões das leis tribu-
positivo é o que sustenta as operações interligadas
tárias para pagar menos ou não pagar simples-
e as operações urbanas. Veja também Adiron (Fór-
mula de); Lei de Zoneamento; Operações In- mente o imposto devido. Veja também Imposto
terligadas; Operações Urbanas. Sonegado; Subfaturamento.

SOLOVIA. Veja Golden Rule. SOREL, Georges (1847-1922). Pensador francês,


teórico do sindicalismo revolucionário ou anar-
SOLUÇÃO DE BAYES. Para um problema de co-sindicalismo. Seu pensamento político desen-
decisão estatística, é a que torna mínimo o risco volveu-se a partir de 1890, quando as diversas
médio em relação a uma distribuição de pro- correntes anarquistas procuravam redefinir sua
babilidade a priori. ação política. Discípulo de Proudhon e Bakunin,
concordava no entanto com Karl Marx no que
SOLUÇÃO DE NASH. Veja Equilíbrio de se refere ao papel da classe operária como sujeito
Nash. da transformação social. Acreditava que a atua-
ção dos militantes deveria ocorrer nos sindica-
SOLVE ET REPETE. Expressão em latim que
tos, e não mais em seitas secretas e conspirativas.
significa “paga e depois contesta (reclama)” e
No sindicato, mediante a ação direta, dizia ele,
que consiste num princípio de direito tributário,
dar-se-ia a organização da greve geral revolu-
segundo o qual as importâncias exigidas como
tributos devem ser pagas antes de qualquer con- cionária. Na organização da nova sociedade, o
testação baseada em sua pretensa ilegalidade papel principal caberia também aos sindicatos,
por parte do contribuinte. que passariam a assumir as funções do Estado.
Afirmava que, para desenvolver a ação política,
SOLVÊNCIA. Em finanças, o termo significa a liderança deveria estar respaldada em mitos
uma situação na qual o valor do total dos ativos políticos, um conjunto de valores e objetivos ca-
de uma empresa supera o valor do total de seus pazes de criar uma fé inabalável na revolução.
passivos. A relação entre as duas grandezas, isto No campo filosófico, foi profundamente influen-
é, o valor dos ativos/valor dos passivos, é o ciado por Nietzsche e Bergson. Entre outras
coeficiente que expressa o grau de solvência des- obras, escreveu Les Illusions du Progrès (As Ilu-
sa empresa. sões do Progresso), 1908, e Matériaux d’Une Theó-
rie du Prolétariat (Materiais para uma Teoria do
SOM. Unidade monetária do Quirguistão. Proletariado), 1919. Sua obra mais importante é
Reflexões sobre a Violência (1908), que influenciou
SOMBART, Werner (1863-1941). Economista e
a esquerda revolucionária e, sobretudo, Benito
historiador alemão do capitalismo, pertenceu à
Mussolini. Nos últimos anos de vida esteve mui-
geração jovem da escola histórica alemã. Inicial-
to próximo da Action Française, movimento de
mente ligado ao marxismo, repudiou depois
ultradireita.
essa corrente de pensamento e também o libe-
ralismo, alinhando-se entre os ultraconservado- SOUSA, IRINEU Evangelista de. Veja Mauá,
res e simpatizantes do nazismo. Seu livro mais Barão e Visconde de.
importante é o eclético O Capitalismo Moderno
(1902), em que procura incorporar ao estudo his- SOUSA FRANCO, Bernardo de (1805-1875).
tórico um enfoque sistemático, com ênfase na Político e financista brasileiro, foi deportado
análise das motivações subjetivas dos agentes para Lisboa, em 1821, por sua participação em
SOVIETE 574

motins políticos que antecederam a inde- Tradicionalmente submetidos ao rígido controle


pendência. De regresso ao país, em 1824, ele- estatal, passaram por uma reorganização a partir
geu-se deputado-geral e ocupou, mais tarde, a de 1967, quando se instituíram alguns elementos
presidência da Província do Pará (1835), de Ala- de autogestão.Veja também Colcós.
goas (1844) e do Rio de Janeiro (1864). Figura
destacada do Partido Liberal, Sousa Franco de- S&P 500. Veja Standard & Poor’s.
fendeu a aprovação da Lei do Ventre Livre e
assumiu posição anticlerical na Questão Religio- SPC. Iniciais da expressão em inglês statistical
sa. Duas vezes ministro da Fazenda (1848 e 1857) process control, em que o controle de qualidade
e conselheiro de Estado (1859), escreveu Os Ban- se exerce por meio de métodos estatísticos.
cos do Brasil (1848), obra que o tornou conhecido SPECIFIC DUTY. Tipo de imposto específico
como financista. que recai sobre um bem ou um serviço.
SOVIETE. Literalmente, “conselho”. Organiza- SPENCER, Herbert (1820-1903). Pensador posi-
ção política dos operários russos surgida duran- tivista inglês. Antecipando-se a Darwin, desen-
te as ondas revolucionárias de 1905, quando tra- volveu a tese de que toda realidade (desde a
balhadores foram eleitos para um comitê central material até a social e a espiritual) evoluiria à
dirigente da greve geral da cidade de Petrogra- semelhança dos organismos vivos. Essa evolu-
do, o qual passou a chamar-se Conselho dos ção seria a manifestação de um ser absoluto, que
Deputados Operários. A partir do malogro da Spencer chama de Incognoscível ou Força, e não
revolução de 1905, a ação dos sovietes retroce- teria ponto final: cada momento seria sempre o
deu e eles só voltaram a surgir efetivamente em início de uma nova desintegração. No plano po-
1917, com a derrubada do czarismo. Reaparecem lítico-social, o sistema spenceriano desdobra-se
então como organismos de luta dos operários e na tese de que são naturalmente superiores os
soldados, ganhando a dimensão de poder pa- indivíduos que se adaptam ao ambiente e dele
ralelo e, finalmente, assumindo o poder político. sabem tirar proveito. A sobrevivência da espécie
Os primeiros congressos pan-russos dos sovietes humana só estaria assegurada se os benefícios
foram constituídos na base de um delegado para sociais fossem distribuídos segundo a capacida-
cada 25 mil pessoas. Em março de 1918, foi ela- de de cada indivíduo em se auto-sustentar. Os
borada uma constituição dos sovietes que, entre que não se adaptassem seriam eliminados. Daí
outras coisas, versava sobre o direito de voto e ser Spencer considerado o pai do chamado “dar-
o restringia aos cidadãos da República Soviética winismo social”. Segundo essa visão, Spencer
maiores de dezoito anos que ganhassem a vida condenava qualquer intervenção do Estado nos
com o trabalho produtivo e fossem membros mecanismos do mercado, considerava absoluta-
de organizações sindicais. Estavam excluídos os mente desnecessários os gastos com previdência
que obtivessem lucro com o trabalho de outra social e obras de utilidade pública. Entre suas
pessoa, os comerciantes, os que vivessem de ren- obras, destacam-se System of Symtetic Philosophy
da não proveniente de seu trabalho etc. A dire- (Sistema de Filosofia Sintética), 1862-1893, e Ho-
ção do soviete estava a cargo de um comitê exe- mem versus Estado, 1884.
cutivo de 110 membros, que posteriormente se
transformou no Parlamento soviético. Nesses or- SPIN-OFF. Expressão em inglês que significa
ganismos prevalecia a revogabilidade dos car- um método de dividir ou incorporar uma em-
gos, que poderia ocorrer a qualquer momento. presa. Seu mecanismo implica a transferência
Contudo, durante a época stalinista, os sovietes de parte ou da totalidade dos ativos da empresa
pouco a pouco foram sendo marginalizados X para a empresa Y, em troca de todo o capital
como fonte de poder. acionário da empresa Y, e a distribuição ime-
diata do capital acionário de Y, pro rata, como
SOVKHOZ. Fazenda estatal que, juntamente um dividendo aos acionistas da empresa X, sem
com o colcós (fazenda coletiva de base coope- que estes entreguem qualquer participação acio-
rativista), era uma das unidades básicas da pro- nária da empresa X. Veja também Pro Rata.
dução agrícola na União Soviética. Caracteriza-
va-se pelo amplo emprego de máquinas e im- SPINNING JENNY. Máquina de fiar inventada
plementos agrícolas, e como campo de teste de por Hargreaves em 1768, que permitia a um só
novos métodos para o desenvolvimento da qua- trabalhador manejar vários fusos, o que propor-
lidade e da produtividade. Freqüentemente, a cionou um aumento considerável da produtivi-
produção do sovkhoz se estendia ao beneficia- dade e da produção de fios, de tal forma a sa-
mento e à transformação agroindustrial. Criados tisfazer a demanda, que havia crescido intensa-
nos primeiros anos do socialismo na URSS, os mente depois da invenção da lançadeira volante
sovkhozes se ampliaram a partir de 1928, com a de Kay, em 1733.
coletivização forçada da agricultura. Mesmo as-
sim, eram em menor número que os colcoses. SPLIT. Veja Desdobramento.
575 SRAFFA

SPLIT OFF. Expressão em inglês que significa ascensionais, em vez de saltos de um ponto ou
a entrega de ações aos acionistas de uma em- mais em cada transação.
presa subsidiária contra devolução de parte das
ações da empresa matriz. SQUARE MILE. Veja City, The.

SPLIT OFF POINT. Expressão em inglês que SQUATTERS. Palavra inglesa que designa os
significa o ponto em que o custo de um item ocupantes de terras livres que ali produziam sua
de fabricação começa a poder ser apurado in- subsistência e que foram expulsos durante a fase
dividualmente. de cercamento das propriedades rurais ocorrida
a partir do século XVII na Inglaterra, sendo o-
SPLIT-UP. Expressão em inglês que significa o brigados a migrar para as cidades.
aumento do número de ações de uma empresa
mediante a divisão de cada ação por um deter- SQUEEZE. Termo em inglês que significa, lite-
minado número de novas ações, reduzindo o ralmente, “aperto”, mas, com referência ao mer-
valor nominal de cada uma na mesma propor- cado financeiro, significa que os que estão ven-
ção. Em alguns casos, depois de um split, as co- didos (shorts) na Bolsa são forçados a recomprar
tações de mercado de algumas ações situam-se seus futuros devido à impossibilidade de obter
proporcionalmente acima do valor das ações os produtos para entrega no vencimento. Ou
desdobradas. Às vezes a operação pode ser feita melhor, são forçados a uma perda para cobrir
com a intenção de obter benefícios fiscais. seus contratos (comprando títulos que não pos-
suíam), temendo que os preços ascendentes au-
SPOT. Termo utilizado nas transações com com-
mentarão ainda mais. Isso faz com que os preços
modities (algodão, açúcar, café, petróleo etc.)
quando a entrega é imediata. Distingue-se por- desses papéis subam rapidamente.
tanto dos mercados futuros, e quando o paga- SRAFFA, Piero (1898-1983). Economista italiano
mento é realizado em dinheiro, a operação de- radicado na Universidade de Cambridge, um
nomina-se spot price. dos primeiros grandes críticos da economia neo-
SPOT BROKER. Expressão em inglês que de- clássica. Publicou, em 1926, um ensaio de apenas
signa o corretor de venda ou compra de pro- quinze páginas, “As Leis de Rendimentos em
dutos para entrega imediata. Condições Competitivas”, que provocou grande
polêmica e iniciou uma nova exposição da teoria
SPOT MARKET. Veja Mercado Spot. do equilíbrio do mercado. Demonstrou no artigo
que: 1) os preceitos da concorrência perfeita qua-
SPOT PRICE. Veja Spot. se não se aplicam a nenhum mercado real; 2)
SPREAD. Taxa adicional de risco cobrada so- era preciso reconstruir a teoria dos preços a par-
bretudo (mas não exclusivamente) no mercado tir da constatação de que a maioria das empresas
financeiro internacional. É variável conforme a industriais usufrui de ganhos de escala, poden-
liquidez e as garantias do tomador do emprés- do crescer até o ponto em que esses ganhos se-
timo e o prazo de resgate. A crise de liquidez jam compensadores; 3) a maioria dos mercados
que se instalou no mercado financeiro interna- é regida pela concorrência imperfeita ou mono-
cional no final dos anos 70 e início dos 80, es- polista. O artigo desencadeou uma série de
pecialmente depois da segunda grande elevação obras sobre economia monopolista, entre elas,
dos preços do petróleo em 1979, generalizou o a de E. Chamberlin, A Teoria da Concorrência Mo-
nopolista (1933), e a de Joan Robinson, A Economia
uso do spread, o que sobrecarregou a dívida ex-
da Concorrência Imperfeita (1933). Sraffa também
terna de muitos países. O Brasil pagou spreads
editou as obras completas de Ricardo (The Col-
muito elevados no processo de rolagem de sua
lected Works and Correspondence of David Ricardo,
dívida externa durante os anos 80. A expressão
1951-1953, nove volumes), para os quais escre-
aligator spread (spread de crocodilo) é utilizada
veu um importante prefácio. E publicou, em
no mercado de opções quando as comissões pe-
1960, um livro fundamental e também polêmico:
las operações de compra e venda de um opera-
Production of Commodities by Means of Commodi-
dor são tão elevadas que, mesmo que o mercado
ties (A Produção de Mercadorias por Meio de
corresponda às mudanças previstas (que indu-
Mercadorias), que começara a escrever em 1925
ziram as aplicações), os ganhos serão anulados e teria grande influência na atual teoria econô-
por esses custos, não havendo lucro algum. mica. A obra introduz assim um novo conceito,
SPREAD EFFECTS. Veja Efeito Spread. o de mercadoria-padrão, que se compõe de to-
das as mercadorias básicas (as que entram na
SPURT. Termo utilizado nos mercados de ações produção de outras mercadorias). Com esse con-
ou commodities quando ocorre uma súbita e con- ceito, o autor chega a uma medida invariável
siderável elevação nas respectivas cotações, cau- de valor — um dos objetivos de Marx, Ricardo
sada por uma série de pequenos movimentos e muitos outros —, mostrando que uma teoria
SRF 576

objetiva do valor é possível e que se pode, a gadas pelo Estado e pelo Partido Comunista,
partir dela, ter uma visão coerente da dinâmica tornando-se um símbolo de operário-padrão
dos grandes agregados econômicos e das leis para a construção do socialismo na ex-União So-
que os regem. Sraffa reabilitou a teoria do va- viética. Veja também Produtividade.
lor-trabalho; como cada mercadoria incorpora
uma longa série de outras mercadorias que aju- STÁLIN, Joseph (1879-1953). Nome pelo qual
daram a produzi-la, no processo de redução das ficou conhecido Iossif Vissarionovitch Dihugas-
mercadorias a um valor atual, elas se dissolvem hvili, estadista soviético e líder comunista inter-
até restar somente o “trabalho-datado”. De- nacional. Iniciou sua militância no Partido Ope-
monstrou que num sistema em que as merca- rário Social Democrata Russo em 1901, integran-
dorias são produzidas por outras mercadorias, do poucos anos depois a ala bolchevique lide-
os preços, salários e lucros são determinados, rada por Lênin. Em 1912, ascendeu ao Comitê
em última instância, pelo trabalho que é gasto Central do Partido e ao Politburo, em 1917. Com
na produção dessas mercadorias. Apesar de sua a tomada do poder pelos bolcheviques, tornou-
aparente simplicidade, o livro de Sraffa levou se comissário das nacionalidades, cargo que
mais de dez anos para ter seu significado cor- exerceu até 1922, quando foi eleito secretário-
retamente entendido, provocando grande nú- geral do Partido Comunista da URSS. Após a
mero de estudos e análises, além de polêmicas morte de Lênin (1924), compôs ao lado de Ka-
tanto nos meios marxistas como entre os mar- menev e Zinoviev o triunvirato que assumiu o
ginalistas, na chamada “controvérsia sobre o ca- governo soviético. A afirmação de Stálin como
pital”, que contrapôs os autores da Universidade líder absoluto do partido, posição que perdurou
de Cambridge aos teóricos do Instituto de Tec- até sua morte em 1953, se processou numa in-
nologia de Massachusetts. tensa e aguda luta contra as teses políticas e
econômicas defendidas por Trótski, Zinoviev,
SRF. Iniciais de Secretaria da Receita Federal. Kamenev (a oposição de esquerda) e contra Buk-
STAG. Termo em inglês utilizado nas Bolsas de hárin, Rykov e Tomski, considerados a “direita”
Valores dos Estados Unidos e da Inglaterra para da liderança bolchevique. Isso ocorreu num mo-
designar um especulador (operador) que subs- mento de intensa discussão sobre os rumos da
creve a emissão de novas ações não com a in- construção do socialismo na URSS, dificultado
tenção de mantê-las em seu porta-fólio, mas de pelo isolamento do país, por sua deficiente es-
vendê-las imediatamente, realizando lucros por trutura produtiva, de base essencialmente agrá-
meio da diferença de seu preço de (re)venda e ria, e pelos problemas decorrentes da aplicação
o preço pago na emissão dessas ações. da Nova Política Econômica (NEP). Trótski e
seus seguidores pregavam a necessidade de uma
STAKE HOLDER. Expressão em inglês que sig- industrialização imediata, cuja acumulação de-
nifica aquele que aposta numa empresa ou em- veria recair sobre os camponeses, e uma radical
preendimento e assume seus riscos, podendo ser coletivização da agricultura. Ao mesmo tempo,
uma pessoa ou grupo como, por exemplo, seus Trótski defendia o incentivo à revolução mun-
proprietários, seus empregados ou mesmo seus dial, pois, segundo ele, era inviável a construção
clientes. do socialismo nos limites de um único país. Por
sua vez, Bukhárin defendia a industrialização
STAKHANOV. Veja Stakhanovismo. gradual e exigia prudência em relação ao cam-
pesinato e aos kulaks (camponeses ricos) de
STAKHANOVISMO. Método de aumento da modo particular. Tomando muitas vezes posi-
produtividade do trabalho desenvolvido na ex- ções centristas, Stálin concentrou, primeiramen-
União Soviética a partir de 1935. Consistia em te, o foco de suas atenções e do aparelho do
uma série de incentivos não materiais oferecidos partido no combate às teses de Trótski, formu-
aos trabalhadores de melhor desempenho pro- lando a partir de 1924 a teoria do socialismo
dutivo: outorga de medalhas, bandeiras, distin- num só país, ajustando a ela a política exterior
tivos, publicidade nos meios de comunicação, da URSS e toda a dinâmica do movimento co-
afixação de fotos nas fábricas etc. O stakhano- munista mundial, controlado pela III Interna-
vismo estendeu-se aos demais países então so- cional. As diretrizes políticas e econômicas pre-
cialistas da Europa Oriental. A inspiração do conizadas por Stálin foram, por fim, majoritárias
movimento foi a excepcional produtividade no XIV e no XV congressos do partido, realiza-
apresentada pelo mineiro soviético Alexei Gre- dos respectivamente em 1927 e 1928, culminan-
gorievitch Stakhanov, que num único turno de do essa supremacia com a expulsão de Trótski,
trabalho extraiu cerca de cem toneladas de car- em 1929. A morte política de Zinoviev, Kamenev
vão, ultrapassando várias vezes a cota de pro- e Bukhárin precedeu à liquidação física destes,
dução que lhe fora destinada. Suas “façanhas” que acabaram por ser condenados em vários
no trabalho passaram a ser amplamente divul- processos, em Moscou (1936). Sob sua direção
577 STATES OF NATURE

foram executadas as diversas medidas aprova- nômicos da URSS (1952). Veja também Comu-
das no XV Congresso do Partido Comunista nismo; Marxismo; Socialismo.
(1928), fundamentadas na industrialização for-
çada e na coletivização da agricultura. Todas es- STALINISMO. Modelo socialista instaurado na
sas transformações integravam o Primeiro Plano União Soviética sob a liderança de Stálin. No
Qüinqüenal (1928-1932), que iniciava a era do plano teórico, distinguiu-se pelo dogmatismo e
planejamento econômico, uma norma nas eco- pelas formulações simplistas e mecanicistas, que
nomias socialistas. Durante seu longo governo, transformaram o materialismo histórico conce-
Stálin dirigiu a execução de cinco planos qüin- bido por Marx num esquema linear e uniformi-
qüenais. Caracterizando as transformações cau- zador da história universal. A prática política e
sadas pela industrialização e a coletivização, as- administrativa era marcada pelo extremo auto-
sim se expressa Isaac Deutscher: “Em 1929, cinco ritarismo, excluindo toda participação popular
anos após a morte de Lênin, a Rússia Soviética criativa. No âmbito da economia, o stalinismo
aventurou-se a sua segunda revolução, dirigida implantou formas rígidas e antidemocráticas de
única e exclusivamente por Stálin”. Quanto ao planificação, impedindo a gestão da empresa
alcance e impacto imediato sobre a vida de 160 pelo conjunto dos trabalhadores (que, na teoria
milhões de pessoas, a segunda revolução foi marxista clássica, seriam a base de organização
mais ampla e radical que a primeira. Resultou das relações de produção socialista). O modelo
na rápida industrialização da Rússia; forçou de construção e organização stalinista da pro-
mais de cem milhões de camponeses a abando- dução econômica foi, em suas linhas gerais,
nar suas pequenas e primitivas propriedades e transplantado para quase todos os países socia-
fundar fazendas coletivas; arrancou implacavel- listas, excetuando-se a experiência de autogestão
mente das mãos do mujique o secular arado de surgida na Iugoslávia e a instituição das comu-
madeira e obrigou-o a manejar um trator mo- nas populares na China.
derno (...)". Em outro trabalho, o mesmo autor
caracteriza de forma sintética o papel de Stálin STAN-BY. Veja Crédito Contingente.
como modernizador da Rússia: “A essência da
tarefa histórica de Stálin consistiu em que en- STANDARD & POOR’S. Empresa de consul-
controu a Rússia trabalhando com arado de ma- toria de investimentos (classificação de créditos)
deira e deixou-a equipada com centrais atômi- subsidiária da McGraw Hill, controladora da re-
cas”. “Guia Genial dos Povos”, como era então vista Business Week, que fornece indicadores,
chamado, fortaleceu seu poder pessoal sobretu- coeficientes etc. sobre ações, títulos, securities
do após a derrota do nazismo na Segunda Guer- para os investidores por intermédio do Standard
ra Mundial, feito do qual foi um dos principais & Poor’s Bond Rating. A empresa também rea-
artífices. No pós-guerra, empreendeu a recons- liza a compilação de índices do mercado, dos
trução econômica do país, recusando-se a par- quais o mais importante é o Standard & Poor’s
ticipar do plano Marshall, por considerá-lo ins- Index das 500 maiores empresas industriais dos
trumento da hegemonia norte-americana. Em Estados Unidos. Em conjunto com a Moody’s
1952, publicou a obra Problemas Econômicos do Investors Service, é a mais importante empresa
Socialismo na URSS, com a qual pretendia esta- de consultoria para investidores dos Estados
belecer, no plano teórico, as leis econômicas do Unidos. Veja também Bond Rating; Moody’s
modo de produção socialista, os caminhos de Investors Service.
sua evolução para o comunismo e, além disso,
caracterizar a “etapa atual da crise geral do ca- STANDARD & POOR’S BOND RATING. Veja
pitalismo”. Embora tenha sido consagrado em Standard & Poor’s.
vida como um clássico do marxismo, Stálin
atualmente é considerado um deformador do STATES OF NATURE. Expressão em inglês que
pensamento de Marx e mesmo de Lênin. Em significa, literalmente, “estados da natureza”, e,
seu período de governo, o marxismo, para mui- na teoria das decisões, tem a conotação de “acon-
tos comunistas, foi transformado numa ideolo- tecimentos aleatórios”, isto é, que refletem uma
gia mistificadora, legitimadora de seu poder au- escolha (decisão) exógena (a um modelo) por
toritário ou do que se convencionou chamar de natureza, e não uma escolha (decisão) endógena
“stalinismo”. Como líder, seu prestígio foi du- por agentes. No caso concreto de um seguro con-
ramente diminuído após a denúncia de seus cri- tra incêndio, se o contrato cobrisse apenas o si-
mes feita por Kruschev. Escreveu: O Marxismo nistro causado por “estados da natureza”, a in-
e a Questão Nacional (1912-1913), Problemas do Le- denização ocorreria se o incêndio tivesse sido
ninismo (1926), O Materialismo Dialético e o Ma- provocado por um raio, e não pelo descuido de
terialismo Histórico (1938), O Marxismo e os Pro- um morador que acendesse um fósforo perto
blemas de Lingüística (1951) e Os Problemas Eco- de uma garrafa de álcool.
STEIN 578

STEIN, Lorenz von (1815-1890). Jurista e soció- aumento geral no trabalho, na indústria e na
logo alemão, teórico da administração pública. habilidade, aumentando o bem-estar público. O
Foi um dos primeiros autores a estudar de modo livro de Steuart tornou-se superado com a pu-
objetivo os movimentos socialistas e comunistas blicação de A Riqueza das Nações, de Adam
europeus do século XIX, em sua obra Der So- Smith, uma década mais tarde (1776). Sua im-
zialismus und Kommunismus des heutigen portância consistiu apenas nas discussões sobre
Frankreich (O Socialismo e o Comunismo da finanças e na teoria sobre a população, que se
França Atual), 1842, vistos até então como cri- antecipou à de Malthus, ao estudar a origem da
minosos ou utópicos. Stein destacou-se também sociedade. Steuart analisou a estrutura da so-
como cientista político e estudioso das finanças ciedade por meio de mudanças nos métodos de
públicas e da administração, matérias sobre as produção e na relação entre as classes sociais.
quais escreveu obras consideradas ainda atuais: Destacou o fato de que o trabalho era a única
System der Staatswissenchaften (Sistema das Ciên- fonte capaz de aumentar a oferta dos meios de
cias Políticas), 1852-1856; Lehrbuch der finanz-wis- subsistência, indicando a diferença entre as for-
senschaft (Manual da Teoria das Finanças Públi- mas concretas e particulares de trabalho, que
cas), 1860, e Verwaltungslehre (Teoria da Admi- geram valores de uso específico, e o trabalho
nistração Pública), 1865-1884. visto como categoria social, que cria valor de
troca. Steuart viveu exilado durante dezoito
STEINDL, Josef (1912- ). Economista austríaco.
anos por razões políticas. Era um jacobino e des-
Por muitos anos lecionou na Inglaterra, em Ox-
tacou-se também como partidário da interven-
ford, onde conheceu Michal Kalecki, do qual re-
ção do Estado na economia. Suas idéias tiveram
cebeu grande influência teórica. Foi partindo do
pouca influência na Inglaterra em sua época, ob-
pensamento econômico de Kalecki que elaborou
sua principal obra, Maturidade e Estagnação no tendo mais atenção da escola histórica alemã.
Capitalismo Americano (1952). Segundo Paul Sweezy, Escreveu ainda Obras, Política, Metafísica e Cro-
“a teoria de Steindl é perfeitamente válida (...) nologia, publicada postumamente em 1805, em
ao relacionar, com sucesso, a teoria do investi- seis volumes.
mento com a teoria da concorrência imperfeita STEUERPFLICHT. Termo em alemão que sig-
(...)”. Maturidade e Estagnação, como ficou conhe- nifica, literalmente, “obrigação fiscal” ou “dever
cido esse trabalho de Steindl, trata do processo fiscal”, e que corresponde às concepções sobre
de concentração, formas de concorrência, acu- finanças públicas desenvolvidas na Alemanha
mulação de capital, determinação de preços, ca- durante o século XIX, relacionadas com a con-
pacidade ociosa, progresso técnico e estagnação cepção de que o Estado tem um “direito” de
nas condições do oligopólio norte-americano. arrecadar impostos para atender às suas neces-
Escreveu também: Small and Big Business (Ne- sidades ou cumprir suas obrigações, e a esse
gócios Pequenos e Negócios Grandes), 1946, e “direito” corresponderia um dever do cidadão
Random Process and the Growth of Firms (Proces- de pagar impostos, isto é, o Steuerpflicht.
sos Fortuitos e Crescimento das Empresas),
1965. STIGLER, George (1911-1991). Economista nor-
te-americano, Prêmio Nobel de Economia em
STEUART, James Denham (1712-1780). Econo- 1982, professor das universidades de Chicago,
mista escocês, pré-clássico, um dos precursores Brown e Columbia. Criador da chamada “eco-
de Adam Smith. Sua principal obra, Uma Inves- nomia da informação”, Stigler concentrou seus
tigação sobre os Princípios da Economia Política estudos no funcionamento dos mercados e das
(1767), traz um título que passou a ser o modelo estruturas industriais, na economia jurídica e
de todos os tratados completos sobre a matéria. nas causas e efeitos das regulamentações gover-
Foi também uma primeira tentativa de sistema- namentais. Desenvolveu teorias sobre a forma
tização dos conhecimentos da economia política. de comportamento dos mercados em concorrên-
Na obra de Steuart ainda se encontram diversos cia imperfeita, resultante do domínio da econo-
resíduos mercantilistas, principalmente quanto mia pelos grandes monopólios. Opõe-se à teoria
à origem do lucro ou excedente. Steuart destaca tradicional e mostra que há vários elementos in-
o lucro que se obtém da troca, quando uma mer- cidentes sobre o preço final da mercadoria, entre
cadoria é vendida acima de seu valor, mas ad- os quais os relativos à propaganda, à informa-
mite que esse lucro não cria uma nova riqueza, ção, à pesquisa etc. Em sua análise do interven-
diferenciando o lucro positivo do negativo. Este cionismo estatal, Stigler procura demonstrar que
representaria apenas “uma variação do equilí- o excesso de regulamentações governamentais
brio da riqueza” entre as partes, nada acrescen- não protege o público, como se pretende, e sim
tando à riqueza existente. E o lucro positivo não as empresas. Stigler critica também a teoria tra-
provocaria perda a ninguém, surgindo de um dicional de que as diferenças das taxas de lucro
579 STREET

desaparecem rapidamente com a transferência crescimento da economia sem que ela atravesse
de capitais e mão-de-obra de empresas e setores grandes turbulências de crises pronunciadas ou
frágeis para outros mais fortes. Em sua opinião, taxas de crescimento exageradas. Isto é, busca-se
o que há é um nivelamento natural. As obras o crescimento num ritmo mais lento, porém com
de Stigler incluem: Theory of Price (Teoria do Pre- menores oscilações. O primeiro termo, stop, sig-
ço), 1964; Theory of Competitive Price (Teoria do nifica o momento em que o Banco Central (ou
Preço Competitivo), 1946; Five Lectures on Eco- a Reserva Federal nos Estados Unidos) provoca
nomic Problems (Cinco Conferências sobre Pro- uma elevação das taxas de juros, inibindo o in-
blemas Econômicos), 1949; Production & Distri- vestimento e o consumo e cortando o ritmo de
bution Theories (Teorias da Produção e da Dis- crescimento da economia. O segundo termo, go,
tribuição), 1951; Capital end Rates of Return in significa o momento em que o Banco Central
Manufacturing Industries (Capital e Taxas de Lu- (ou a Reserva Federal) fazem exatamente o opos-
cro nas Indústrias de Transformação), 1963; Or- to, isto é, promovem uma redução das taxas de
ganization of Industries (Organização de Indús- juros, estimulando os investimentos e o consu-
trias), 1969; The Citizen and the State: Essays on mo e fazendo com que a economia retome seu
Regulation (O Cidadão e o Estado: Ensaios sobre ritmo de crescimento. Veja também Estagflação.
Regulamentação), 1977. Veja também Escola de
Chicago. STOP LOSS ORDER. Expressão em inglês que
significa uma ordem para que as perdas cessem.
STOCK BROKER. Veja Stock Jobber. Pode se constituir numa ordem de compra de
futuros, só no caso em que o mercado avance
STOCKHOLDER’S EQUITY. Expressão em in- (suba) até um nível específico, ou ordem de ven-
glês que significa “patrimônio acionário” ou der futuros, só no caso em que o mercado di-
“patrimônio dos acionistas”. minua até um nível específico. O sistema é uti-
lizado para limitar perdas, mas também pode
STOCK JOBBER. Antigamente, era o nome dado
servir para iniciar novas posições.
na Inglaterra àqueles que negociavam com so-
bras. Mais tarde, o termo passou a designar um STOTINRI. Veja Lev.
tipo de operador da Bolsa de Valores de Londres
que operava no atacado. Isto é, os operadores STRADDLE THE MARKET. Expressão em in-
(membros) da Bolsa de Valores de Londres são glês que, no mercado de ações, significa estar
de duas classes: os brokers e os jobbers. Cada um “curto” (short) em uma ou mais ações e “longo”
deles desempenha uma função distinta, e, pelos (long) em outra(s). A expressão straddling the
regulamentos da Bolsa, um não pode realizar market é na realidade uma forma dos aplicadores
funções do outro. O broker atende às demandas manter uma espécie de seguro em relação a fu-
de compra e venda do público em geral; o jobber turas flutuações do mercado, especialmente
atua entre os brokers desejosos de comprar ou quando há grande incerteza. O que o aplicador
vender ações para outros brokers. Os brokers re- pode perder numa situação (curta ou longa)
cebem uma comissão de seus clientes (público), pode ganhar na outra (curta ou longa) e per-
mas o rendimento dos jobbers consiste na dife- manecer em equilíbrio. Veja também Hedge;
rença de preço de compra e venda de suas ope- Hedging.
rações. No Brasil, o termo jobber é utilizado pelas
empresas distribuidoras de derivados de petró- STRAFPATENT. Uma das três leis promulga-
leo, quando se referem aos intermediários que das por José II, filho da imperatriz Maria Teresa,
em 1780, para resolver a questão do campesinato
vendem seus produtos.
(evitar as rebeliões camponesas) e atenuar as
STOLPER-SAMUELSON THEOREM. Veja Teo- condições de superexploração impostas pelo Ro-
rema de Stolper-Samuelson. bot aos servos e camponeses. A Strafpatent limi-
tava os direitos dos senhores em questões rela-
STONE, Richard (1913- ). Professor inglês apo- cionadas aos castigos e punições que eram apli-
sentado da Universidade de Cambridge. Prêmio cados aos camponeses e permitidos pelo Robot.
Nobel de Economia de 1984. Discípulo de Key- Veja também Corvéia; Robô; Unterthanspatent.
nes, Stone foi laureado por seus estudos sobre
sistemas de contabilidade pública, usados atual- STREET, Jorge (1863-1939). Líder empresarial
mente por dezenas de países, inclusive o Brasil, brasileiro de origem britânica. Notabilizou-se
para calcular suas receitas e despesas, além de pela defesa do protecionismo para o fortaleci-
outros indicadores, como a renda per capita e o mento da nascente indústria nacional e como
Produto Interno Bruto (PIB). um dos fundadores do Centro Industrial do Bra-
sil, do qual foi presidente. Empresário do setor
STOP-GO. Expressão em inglês que significa, têxtil no Rio e em São Paulo, revelou-se um caso
literalmente, “parar e prosseguir”, mas que con- particular em seu meio no tratamento da ques-
siste numa política econômica de fomento ao tão trabalhista. Mostrou-se disposto à negocia-
STRESS PROFISSIONAL 580

ção durante as greves operárias de 1917-1918, avalista, que é obrigado a pagar certa dívida em
defendia o reconhecimento das organizações substituição à pessoa para a qual deu a fiança
sindicais moderadas e desenvolveu, em sua fá- ou aval.
brica de juta Maria Zélia, em São Paulo, intensa
política paternalista: casas para os operários, SUBDESENVOLVIDOS, Países. Veja Países
centro de lazer, creches e escola para os filhos Subdesenvolvidos.
dos empregados. Ao mesmo tempo, contudo, SUBDESENVOLVIMENTO. Situação inferior
era contra a concessão de férias para os operá- do sistema econômico-social de um país em re-
rios, e, em certa medida, contra aumentos sala- lação aos padrões econômicos das nações indus-
riais, argumentando que os trabalhadores iriam trializadas. Evidencia-se por indicadores como
gastar com coisas inúteis (daí preferir uma po- exportação baseada em produtos primários, for-
lítica assistencialista). Após a Revolução de 1930, te participação de produtos industrializados na
dirigiu o Departamento Nacional de Indústria pauta de importação, importação acentuada de
e Comércio. tecnologia e capitais estrangeiros, persistência
STRESS PROFISSIONAL. Tipo de doença pro- de elevadas taxas de desemprego, baixa produ-
fissional relacionada com a reação fisiológica de tividade, baixa renda per capita, mercado interno
um organismo a uma agressão ou a um am- bastante limitado, baixo nível de poupança e
biente de trabalho hostil, ou de desadaptação subconsumo acentuado. O termo “subdesenvol-
psíquica do trabalhador a seu trabalho, ou a um vimento” surgiu na literatura econômica e po-
estado psicofísico de sofrimento nos locais onde lítica a partir da Segunda Guerra Mundial, com
o trabalho se realiza. Assim, o stress profissional a emergência política dos países colonizados
seria um processo de perturbação criado no tra- da Ásia, África e América Latina, abalados por
balhador pela mobilização excessiva de sua vigorosos movimentos sociais, muitos deles de
energia (capacidade) de adaptação para o en- caráter revolucionário. Atualmente, a problemá-
frentamento das solicitações de seu meio am- tica do desenvolvimento tende a ser situada
biente profissional, solicitações que ultrapassam além de seus aspectos econômicos, numa abor-
as capacidades físicas e/ou psíquicas desse tra- dagem mais geral do sistema de relações inter-
balhador. Veja também Karoshi. nacionais e segundo critérios econômicos, so-
ciais e políticos. Nesse sentido, o subdesenvol-
STRIKE-PRICE. O mesmo que “Preço de vimento está ligado ao problema da dependên-
Exercício”. cia, que atinge desde países extremamente po-
bres, como Bangladesh, até países de conside-
STUART MILL, JOHN . Veja Mill, John Stuart. rável nível de industrialização e diversificação
SUBCONSUMO. Situação de mercado, conjun- do aparelho produtivo, como o Brasil, México
tural ou estrutural, caracterizada por baixos ín- e mesmo os ricos Estados árabes produtores de
dices de procura em comparação com a oferta petróleo. Há economistas, como o francês Char-
de bens produzidos. Esse fenômeno pode ocor- les Bettelheim, que rejeitam a conceituação de
rer em relação a um produto ou ser uma situação subdesenvolvimento. Segundo Bettelheim, o ter-
generalizada que afete toda a economia, caso mo está revestido de mascaramento ideológico
em que se configura uma crise. É uma tendência na medida em que parece indicar um estágio
histórica, decorrente do consumo limitado das necessário a ser percorrido por esses países para
massas em relação à acumulação da riqueza e que atinjam o desenvolvimento. Para ele, não é
da produção nas mãos de um número cada vez uma questão de tempo, mas de rompimento de
menor de capitalistas. Haveria assim uma ten- relações internas e externas, que vinculariam os
dência à pauperização relativa dos assalariados, países subdesenvolvidos aos centros hegemôni-
em decorrência do desemprego (causado pelo cos internacionais. Veja também Dependência;
aumento do capital constante) e da concentração Desenvolvimento Econômico; Imperialismo;
da riqueza geral produzida. Veja também Ciclo Países Subdesenvolvidos.
Econômico; Keynesianismo; Propensão a Con- SUBEMPREGO. Situação socioeconômica dos
sumir; Superprodução. trabalhadores que se dedicam à prestação de ser-
SUB JUDICE. Expressão em latim que significa viços avulsos de baixa remuneração ou que só
estar alguma causa em juízo ou sob apreciação encontram trabalho em certos períodos do ano.
judicial, não tendo havido, portanto, sentença a O subemprego crônico de parte da mão-de-obra
respeito. é uma característica do subdesenvolvimento.
Nos centros urbanos brasileiros, o subemprego
SUB-ROGAÇÃO. Substituição de pessoa ou coi- se manifesta por meio da existência de grande
sa por outra pessoa ou coisa sobre a qual recaem número de pessoas que vivem de biscates (ven-
todas as condições jurídicas válidas para a subs- da de mercadoria nas ruas e calçadas, lavagem
tituída. Ocorre, por exemplo, com o fiador ou de carros etc.), e, na zona rural, o caso mais típico
581 SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES

é representado pelo trabalho temporário dos do governo em favor de outra; 3) despesas do


bóias-frias por ocasião das colheitas de frutas, governo visando à cobertura de prejuízos das
café, cana-de-açúcar, algodão etc. Veja também empresas (públicas ou privadas) ou ainda para
Pleno Emprego. financiamento de investimentos; 4) benefícios a
consumidores na forma de preços inferiores que,
SUBFATURAMENTO. Prática ilegal que se ca- na ausência de tal mecanismo, seriam fixados
racteriza pela documentação de vendas a preços pelo mercado; 5) benefícios a produtores e ven-
inferiores àqueles realmente realizados. A dife- dedores mediante preços mais elevados, como
rença é paga por fora. É uma forma de sonegação acontece com a tarifa aduaneira protecionista; e
fiscal, uma vez que o vendedor não indica os
6) concessão de benefícios pela via do orçamento
valores verdadeiros que recebeu, diminuindo
público ou outros canais. De maneira geral, os
dessa forma os impostos devidos. O comprador,
subsídios se dividem em diretos e indiretos. Sub-
por seu lado, pode gozar de um desconto sobre
sídio direto é o representado pela diferença entre
o preço real da mercadoria. O subfaturamento
(e seu contrário, o superfaturamento) é também o preço pago pelo governo na compra do pro-
utilizado na transferência ilegal de fundos de duto — tanto no exterior como no próprio país
um país para outro, especialmente nas transa- — e seu preço real no mercado. No Brasil, esse
ções feitas entre matriz e filial e matriz e sub- tipo de subsídio costuma ser aplicado ao trigo,
sidiária das empresas multinacionais. Veja tam- ao álcool, ao açúcar e, às vezes, ao petróleo e
bém Sonegação Fiscal. seus derivados, para cobrir as sucessivas des-
valorizações cambiais que não são de imediato
SUBLATA CAUSA, TOLLITUR EFFECTUS. repassadas ao consumidor. Subsídios indiretos
Expressão em latim que significa que, suprimida são empréstimos governamentais cedidos a uma
ou desaparecida a causa, cessam seus efeitos. taxa de juros menor do que a do mercado, que
no Brasil se aplica ao crédito agropecuário e a
SUBPOENA DUCES TECUM. Expressão em la- setores de exportação de manufaturados. De ma-
tim que significa a ordenação de um juiz para neira geral, os déficits provocados pelos subsí-
que uma testemunha traga consigo todos os pa- dios são cobertos com novas emissões de pa-
péis e documentos relevantes para o desenvol- pel-moeda, aumentos de impostos e ampliação
vimento de um processo.
da dívida interna mediante o lançamento no
SUBROTINA. Conceito de informática consis- mercado de um volume maior de títulos da dí-
tente num conjunto de instruções integradas em vida pública. No Brasil, especialmente durante
outra rotina superior com a qual constitui uma os anos 80, os subsídios têm alcançado cifras
unidade. As subrotinas são formadas por um expressivas, contribuindo de forma especial
conjunto de ordens que se repetem mais de uma para crescimento do déficit público.
vez em outro ou outros programas.
SUBSÍDIO LITERÁRIO. Tributo para o custeio
SUBSCRIÇÃO. Preferência de compra de ações dos mestres-escolas, incidente sobre cada rês aba-
que representem aumento de capital e com pre- tida, aguardente destilada e, em algumas Pro-
ço inferior ao vigente no mercado por parte dos víncias, como no Maranhão, sobre carne seca
acionistas de uma empresa. Embora o direito do interior à razão de $ 320,00 por seis arrobas.
de subscrição seja reservado aos acionistas de
sociedades anônimas, ele pode ser negociado e SUBSISTÊNCIA. Veja Economia de Subsistência.
deve ser exercido dentro de determinado prazo. SUBSTABELECER. Transferir os poderes rece-
A quantidade de ações que poderá ser subscrita bidos de outrem, por procuração, a terceiro.
é geralmente proporcional às ações já possuídas
pelos acionistas. SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES. Concei-
to elaborado por economistas da Cepal para de-
SUBSIDIÁRIA. Empresa comercial cujo contro-
signar um processo interno de desenvolvimento,
le pertence a outra empresa (a holding). Apesar
estimulado por desequilíbrio externo e que re-
de o controle efetivo de uma empresa poder ser
sulta na dinamização, crescimento e diversifica-
exercido mesmo detendo-se menos de 50% de
suas ações, fala-se em subsidiária somente quan- ção do setor industrial. Portanto, é mais que a
do a holding é proprietária da maioria absoluta produção local de bens tradicionalmente impor-
das ações. Veja também Holding. tados. Sob essa óptica, considera-se que o de-
senvolvimento industrial brasileiro neste século
SUBSÍDIO. Tecnicamente, pode ser definido de ocorreu sob o estímulo das restrições externas:
várias formas: 1) benefícios a pessoas ou a em- a depressão de 1929-1932 e a Segunda Guerra
presas, pagos pelo governo, sem contrapartida Mundial. Depois, entre 1956 e 1961, a substitui-
em produtos ou serviços; 2) despesas correspon- ção de importações é aprofundada, dando lugar
dentes à transferência de recursos de uma esfera a um crescimento econômico maior que nos pe-
SUBUTILIZAÇÃO 582

ríodos anteriores. Veja também Cepal; Desen- duções percentuais no Imposto de Renda a ser
volvimentismo; Prebisch, Raul. pago.
SUBUTILIZAÇÃO. Veja Capacidade Ociosa. SUDECO — Superintendência do Desenvolvi-
mento do Centro-Oeste. Autarquia criada em
SUCESSÃO. Transmissão dos direitos e bens 1967, com o fim de elaborar planos de desen-
de uma pessoa ou firma para outra. Quando, volvimento nos Estados de Goiás e Mato Grosso,
por exemplo, um comerciante compra todo o exceto na área abrangida pela Superintendência
acervo de um estabelecimento, diz-se que ele é de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Vin-
sucessor do proprietário anterior, usufruindo culada ao Ministério do Interior, substituiu a an-
dos mesmos bens e direitos. tiga Fundação Brasil-Central. Seus objetivos são:
SUCCESS FEE. Expressão em inglês que signi- 1) programas, pesquisas e levantamentos do po-
fica, literalmente, “comissão de sucesso”. Cons- tencial econômico da região; 2) fixação de pólos
titui um valor que se paga a um agenciador na de crescimento capazes de induzir o desenvol-
medida em que o negócio que ele está agen- vimento de áreas vizinhas; 3) concentração de
ciando ou negociando em nome de terceiros al- recursos em áreas selecionadas; 4) formação de
cança êxito. grupos populacionais estáveis; 5) fixação de po-
pulações regionais; 6) incentivo e amparo à agri-
SUCRE. Unidade monetária do Equador. Sub- cultura, à pecuária e à piscicultura; 7) ampliação
múltiplo: centavo. das oportunidades de formação de mão-de-obra
especializada; 8) coordenação dos recursos fe-
SUDAM — Superintendência do Desenvolvi- derais, dos contribuintes do setor privado e de
mento da Amazônia. Autarquia que era vincu- fontes externas; 9) coordenação e concentração
lada ao Ministério do Interior, criada em 1966, da ação governamental nas tarefas de pesquisa,
nos moldes da Sudene, com o objetivo de pla- planejamento e implantação da infra-estrutura
nejar, promover a execução, coordenar e con- econômica e social, reservando para a iniciativa
trolar a ação federal na região sob sua jurisdição. privada as atividades agropecuárias, industriais,
Em 1990, com a decretação do Plano Collor, ela mercantis e de serviços básicos rentáveis.
passou a ser vinculada ao Ministério da Infra-
estrutura. A área coberta pela ação da Sudam SUDENE — Superintendência do Desenvolvi-
(5 029 232 km2) corresponde a 60% do território mento do Nordeste. Autarquia federal que era
brasileiro e possui um dos menores índices de- vinculada ao Ministério do Interior e que passou
mográficos do país. A criação da Sudam foi uma a ser vinculada ao Ministério da Infra-estrutura
tentativa de revigorar o Plano de Valorização desde a decretação do Plano Collor, em 1990.
da Amazônia, que datava de 1953. A Sudam Projetada pelo economista Celso Furtado, foi
tem atuado na área com planos específicos de criada em 1959, durante o governo do presidente
desenvolvimento, visando, entre outras coisas: Juscelino Kubitscheck. Seu objetivo era impul-
1) um levantamento de recursos naturais; 2) a sionar o desenvolvimento mediante o planeja-
ampliação da rede de transportes e comunica- mento e a coordenação das atividades dos ór-
ções; 3) a melhoria das condições sanitárias, de gãos federais na região. Em 1960, foi formulado
habitação e educação; 4) a diversificação do pro- o I Plano Diretor para o Desenvolvimento do
cesso de povoamento e colonização; 5) a expan- Nordeste, composto por projetos nas mais di-
são da pecuária e agricultura; 6) o reaparelha- versas áreas, destacando-se os de rodovias, ener-
mento das indústrias existentes e a implantação gia elétrica, abastecimento de água, esgotos, ha-
de novas; 7) o aumento e diversificação das ex- bitação popular, treinamento de pessoal, recur-
portações da região. Em associação com o go- sos naturais, agricultura e industrialização. Ou-
verno federal, a Sudam desenvolve programas tros planos se seguiram desde então, todos com
especiais, como o Programa de Pólos Agrope- o objeto de fortalecer a infra-estrutura econômi-
cuários e Minerais da Amazônia (Polamazônia); ca e social do Nordeste e as estruturas opera-
o projeto Albrás/Alunorte, destinado à produ- cionais do setor público. Além da execução des-
ção de alumínio metálico com capacidade para ses planos, foi concebido um sistema pioneiro
320 mil toneladas/ano, e a instalação de uma de incentivos fiscais e financeiros, visando a in-
fábrica de alumina com capacidade de produção crementar as atividades produtivas desenvolvi-
estimada em 800 mil toneladas/ano; e o Pro- das pelo setor privado. Em seus primeiros anos
grama de Recuperação Socioeconômica do Nor- de existência, a Sudene pareceu apontar o ca-
deste Paraense (Pronorpar). Dentre as atribui- minho para os graves problemas econômicos e
ções da Sudam, destaca-se a de administração sociais da região, através de estudos, pesquisas
da política do governo federal de incentivos fis- e elaboração de programas sociais e econômicos
cais às pessoas jurídicas que fazem investimen- a ser eventualmente implantados na região, e
tos na região em projetos aprovados pela autar- do levantamento de suas potencialidades mine-
quia. Esses incentivos fiscais têm a forma de de- rais, hídricas e florestais. As mudanças políticas
583 SUPERINVESTIMENTO

registradas no país a partir de 1964, pressões de e assessorar o governo nas questões econômicas.
grupos conservadores e a insuficiência de recur- Suas determinações eram executadas pelas car-
sos técnicos e financeiros provocariam, no en- teiras especializadas do Banco do Brasil. Foi ex-
tanto, o abandono pela Sudene de suas metas tinta em 1964, quando da fundação do Banco Cen-
originais mais ambiciosas, passando a autarquia tral do Brasil S.A., que absorveu suas funções.
a concentrar seu esforço desenvolvimentista no
setor industrial. Embora o setor tenha realmente SUNYA. Veja Zero.
se desenvolvido (os grandes complexos indus-
SUPERÁVIT. Em orçamentos públicos, o supe-
triais — petroquímico, cloroquímico e álcool
rávit significa uma receita superior à despesa
químico — resultantes são uma prova disso), a
decorrente de um aumento da arrecadação ou
política de industrialização da área é conside-
um decréscimo dos gastos. Na balança comer-
rada por muitos uma política ineficaz no com-
cial, significa um valor das exportações superior
bate ao subdesenvolvimento. Em meados da dé-
ao das importações. No balanço de pagamentos,
cada de 70, o governo federal lançou vários pro-
significa que a soma de todas as entradas de
gramas de desenvolvimento cuja coordenação,
divisas decorrentes das várias operações com o
total ou parcial, foi entregue à Sudene. Entre
resto do mundo é superior às saídas de divisas
esses programas estão: 1) o Polonordeste — de-
originadas nessas mesmas operações. É o oposto
senvolvimento da agricultura e melhoria dos ní-
do déficit. Veja também Déficit.
veis de renda da população das regiões mais
úmidas; 2) o Projeto Sertanejo — desenvolvi- SUPERÁVIT CAMBIAL. Situação na qual a en-
mento da agricultura na região semi-árida; 3) o trada de moedas estrangeiras no conjunto das
Programa de Agroindústria do Nordeste — de- transações do país com o resto do mundo supera
senvolvimento do setor agrícola da região como a saída dessas moedas num período determina-
um todo e incremento às exportações; 4) o Pro- do. Quando acontece o contrário, isto é, as saídas
grama de Desenvolvimento Industrial — forta- superam as entradas, ocorre um déficit cambial.
lecimento de pólos industriais já existentes (Ba-
hia, Pernambuco, Ceará e Maranhão) e elevação SUPERESTRUTURA. Conjunto das instituições
de sua eficiência e competitividade; 5) o Pro- político-jurídicas e das formas de consciência so-
grama de Irrigação. A Sudene atua ainda nos cial (arte, religião, filosofia) que, segundo Marx,
setores da educação, da saúde e da agricultura corresponde historicamente a determinada base
e abastecimento. Em 1960, instituiu programas econômica ou infra-estrutura. Essa relação entre
de apoio e fomento ao artesanato e, em 1971, base e superestrutura não ocorreria de forma
criou um setor específico para promover e coor- mecânica, mas dialética. Embora Marx tenha
denar o desenvolvimento do turismo na região. afirmado que a infra-estrutura (o econômico) só
Em 1974, foi criado o Fundo de Investimento determina a superestrutura (o político-social) em
do Nordeste (Finor), administrado pela Sudene última instância, as análises dessa questão cons-
e executado pelo BNH. tituem ponto polêmico. Alguns pensadores,
como Louis Althusser, salientam que o conceito
SUDEPE — Superintendência do Desenvolvi- de superestrutura não abarca todos os fenôme-
mento da Pesca. Autarquia federal, com sede nos extra-econômicos, havendo necessidade de
no Rio de Janeiro e subordinada ao Ministério formulação de um conceito mais abrangente,
da Agricultura. Criada em outubro de 1962, tem que inclua até mesmo a noção de ciência. E mui-
entre suas atribuições: 1) elaborar o Plano Na- tos ressaltam que os fenômenos políticos, jurí-
cional de Desenvolvimento da Pesca e promover dicos, filosóficos, religiosos e artísticos, apesar
sua execução; 2) prestar assistência técnica e fi- de repousarem sobre o desenvolvimento econô-
nanceira aos empreendimentos de pesca; 3) rea- mico, repercutem uns sobre os outros. Marx afir-
lizar estudos para o aperfeiçoamento da legis- ma, por exemplo, que na Idade Média o aspecto
lação referente à pesca ou aos recursos pesquei- dominante era o religioso, embora determinado
ros; 4) aplicar o Código de Pesca e a legislação por uma forma particular de estrutura econô-
das atividades ligadas à pesca ou aos recursos mica. Só no capitalismo é que o econômico se
pesqueiros; 5) pronunciar-se sobre pedidos de apresentaria como o fator determinante e domi-
financiamentos destinados à pesca; 6) coordenar nante dos fenômenos sociais mais amplos, in-
programas de assistência técnica; 7) assistir os clusive nas esferas da política e da ideologia.
pescadores na solução de seus problemas eco- Veja também Infra-estrutura.
nômico-sociais.
SUPERFATURAMENTO. Veja Subfaturamento.
SUMOC — Superintendência da Moeda e do
Crédito. Instituição financeira criada em 1945, SUPERINVESTIMENTO. Situação em que o ní-
na dependência do Ministério da Fazenda, in- vel de investimentos em um país supera o nível
cumbida de fiscalizar o sistema bancário nacio- de poupança interna. Esse fenômeno ocorre
nal, traçar a política monetária e cambial do país quando as taxas de juros caem para patamares
SUPERIORIDADE DE PARETO 584

inferiores ao ponto de equilíbrio, em conseqüên- minuem as possibilidades de investimentos, o


cia, por exemplo, de uma expansão no crédito que origina uma tendência à superpoupança.
bancário. Com juros baixos, não há mais inte-
resse em poupar; com isso, o consumo aumenta. SUPERPRODUÇÃO. Excesso de produção em
Ao mesmo tempo cresce a demanda por um ca- relação à demanda — isto é, o número de mer-
pital relativamente barato. Essa canalização de cadorias passa a ser maior que a capacidade dos
recursos, antes estocados em poupança e agora consumidores de comprá-las. Freqüentemente,
empregados em investimentos, provoca uma ex- ocorrem situações setoriais de superprodução
pansão na economia, criando pressões inflacio- (na agricultura ou em algum ramo industrial),
nárias. É esse mesmo mecanismo que pode re- que são corrigidas mediante o ajuste da produ-
ção à demanda efetiva. Quando se verifica uma
verter o processo de superinvestimento: o au-
superprodução generalizada (no plano nacional
mento de preços diminui o consumo, uma vez
ou no internacional), a economia encontra-se en-
que a renda real cai se chega a uma situação de
tão diante de uma situação de crise. Os clássicos
poupança forçada. Smith, Ricardo e Say negavam veementemente
SUPERIORIDADE DE PARETO. Situação na a possibilidade de que a crise ocorresse. O fato
qual um nível de bem-estar é superior a outro é que a primeira crise de superprodução só ocor-
se é possível aumentar o bem-estar de pelo me- reu em 1825, restrita à Inglaterra, e foi um dos
nos um indivíduo sem prejudicar o dos demais. principais objetos de análise de Karl Marx em
Veja também Ótimo de Pareto. sua crítica ao capitalismo. A questão foi abor-
dada já em seu Manifesto Comunista (1848). Ana-
SUPERPOPULAÇÃO. Condição em que a den- lisando o ciclo econômico, Marx dedicou aten-
sidade populacional é elevada, isto é, há um nú- ção especial à Lei de Say, sobre a impossibili-
mero exagerado de pessoas por unidade de área. dade das crises, e demonstrou que elas são ine-
Nas regiões urbanas, a conseqüência imediata rentes à economia de mercado, que se caracte-
é o decréscimo na qualidade de vida. O poder rizaria pela “anarquia da produção”. Assim,
público não consegue estender a toda a popu- cada empresário, agindo isoladamente e em con-
lação os serviços públicos (saneamento, água, corrência com os demais, utiliza desenfreada-
transportes, educação etc.). Mesmo aqueles já mente os meios de produção e tende a produzir
instalados, devido à sobrecarga, podem entrar mais do que a capacidade de absorção do mer-
em colapso. De acordo com a teoria populacio- cado, deflagrando a crise de superprodução.
nal de Thomas Malthus, o futuro da humani- Atualmente, a existência da crise de superpro-
dade seria de miséria e fome. Para ele, enquanto dução e seu caráter cíclico são reconhecidos por
a população cresce em progressão geométrica, todos os economistas, os quais divergem apenas
quanto às causas. Embora o primeiro fenômeno
a produção de alimentos cresce em progressão
da superprodução, em termos mundiais, tenha
aritmética. Os fatos concretos vieram desmentir
ocorrido em 1857, foi somente após a crise de
Malthus: numerosos países com nível elevado
1929 que os governos se instrumentalizaram para
de vida (Suécia e Dinamarca, por exemplo) já
tentar reverter a tendência. Veja também Ciclo
apresentam taxas de crescimento irrisórias. Ao Econômico; Crise; New Deal; Subconsumo.
mesmo tempo, novas técnicas aplicadas à agri-
cultura têm demonstrado a possibilidade de au- SUPLICY, Eduardo Matarazzo (1941- ). For-
mentar rapidamente a produção de alimentos. mou-se em administração de empresas pela Es-
Novas fontes alimentícias, como o cultivo de cola de Administração de Empresas da Funda-
bactérias para a produção de massas orgânicas, ção Getúlio Vargas em São Paulo, cidade onde
representam na atualidade uma alternativa pro- nasceu. Obteve o doutoramento em economia
missora para o incremento da produção de ali- pela Michigan State University, nos Estados
mentos no mundo. Unidos, em 1973, com a tese “Os Efeitos das
Minidesvalorizações na Economia Brasileira”.
SUPERPOUPANÇA. Condição em que a pou- Tornou-se professor de economia na Escola de
pança de uma nação é superior à demanda de Administração de Empresas da Fundação Ge-
investimentos. Em conseqüência, o volume de túlio Vargas e analista de assuntos econômicos
dinheiro retirado dos meios de produção é su- do jornal Folha de S. Paulo. Elegeu-se deputado
perior ao volume que retorna como investimen- estadual, federal, vereador, senador, havendo
to e a produção cai, provocando recessão e de- disputado também eleições à prefeitura muni-
semprego. Keynes demonstrou que o nível de cipal e governo de Estado pelo Partido dos Tra-
poupança não tem relação com o nível de in- balhadores (PT). Tem defendido no Brasil a ado-
vestimentos, indo contra algumas correntes de ção do Programa de Renda Mínima Garantida
economistas que ligavam a superpoupança ao (Imposto de Renda Negativo). Entre suas obras
superinvestimento. Para Keynes, em economias destacam-se Os Efeitos das Minidesvalorizações na
maduras e em condições de pleno emprego di- Economia Brasileira (1975), Política Econômica Bra-
585 SWAP

sileira e Internacional (1977) e Da Distribuição da valor, cobrindo as perdas que possam decorrer
Renda e dos Direitos da Cidadania (1988). Foi eleito da desonestidade desses agentes. Esse tipo de
senador em 1990. Veja também Imposto de Ren- seguro é também chamado de “seguro de fide-
da Negativo. lidade”.
SUPPLIER’S CREDIT. Literalmente, “crédito do SURVIVOR THECNIQUE. Expressão em in-
fornecedor”. No comércio internacional, este glês que significa o método estatístico de iden-
mecanismo é utilizado com freqüência quando tificação de uma escala mínima de produção,
o credor está interessado em vender seus pro- para que uma empresa possa sobreviver num
dutos e, para facilitar a operação, concede cré- mercado competitivo onde as melhores são
dito ao comprador. O Brasil tem utilizado com aquelas que apresentam os menores custos. Esse
muita freqüência esse mecanismo de crédito em tipo de identificação é importante nos casos em
suas importações. que uma empresa deseja aumentar sua produ-
ção e pode estar ou não já operando numa escala
SUPPLY SIDE ECONOMICS. Expressão em in-
próxima, ou mesmo superior à escala mínima
glês que significa, literalmente, “economia do
de produção, sendo que em tal caso a decisão
lado da oferta”, ou seja, que estimula a produção
pode ser conveniente ou não para o desempenho
criando condições mais favoráveis ao investi-
da empresa.
mento. Essa concepção foi desenvolvida durante
os anos 70 nos Estados Unidos, sustentando que SUSHI BONDS. Expressão em inglês que de-
o crescimento econômico poderia ser obtido com signa os eurobonds emitidos em dólares norte-
incentivos tributários, induzindo as empresas a americanos por empresas japonesas, e que são
realizar investimentos produtivos. Os economis- administrados por bancos japoneses e compra-
tas dessa corrente enfatizavam a importância da dos primariamente por investidores japoneses.
redução de impostos para o estímulo da oferta Tais títulos (bonds) não estão submetidos à proi-
agregada, encorajando as empresas a produzir bição do Ministério das Finanças do Japão de
mais e os indivíduos a ganhar mais, em vez de que as carteiras (porta-fólios) das empresas de
estimular a demanda agregada por bens e ser- seguro não tenham mais de 10% de títulos (se-
viços como meio de obter o crescimento da eco- curities) estrangeiros.
nomia. Os economistas “do lado da oferta” (sup-
ply side) argumentam que os estímulos econô- SUZIGAN, Wilson (1942- ). Nasceu em Ame-
micos de redução de impostos superam o que ricana (SP) e formou-se em economia pela Pon-
é perdido em termos de receita pela redução da tifícia Universidade Católica de Campinas, em
taxa tributária. No início dos anos 80, essa po- 1965, obtendo o doutoramento na Universidade
lítica foi adotada nos Estados Unidos durante de Londres, em 1984, e o pós-doutoramento pela
o governo Reagan (por tal razão também cha- mesma universidade, em 1990. Trabalhou como
mada de Reagnomics), como forma de combater economista em várias instituições, como o Ins-
a estagflação (inflação de dois dígitos acompa- tituto Brasileiro de Economia da Fundação Ge-
nhada de estagnação econômica) que caracteri- túlio Vargas, do Rio de Janeiro, o Instituto de
zou o final dos anos 70 e o início dos anos 80 Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), e o Cen-
naquele país. Veja também Curva de Lafer; Es- tro de Estudos de Conjuntura do Instituto de
tagflação. Economia da Unicamp, e também e como con-
sultor de vários organismos como a Fapesp e o
SUPPORT POINTS. Expressão em inglês que
CNPQ. Sua obra tem se concentrado em ques-
significa “pontos de sustentação” e que se refere
tões relacionadas com a política industrial e a
ao período de existência das taxas de câmbio
industrialização brasileira, e a história econômi-
fixas (1944-1973), no qual essas taxas poderiam
ca do Brasil. Seus livros mais importantes são:
variar no intervalo admitido pelos support points,
também chamados de intervention points. Esses Política do Governo e Crescimento da Economia Bra-
support points eram fixados em 1% para cima sileira, 1889-1945 (em colaboração com Annibal
e para baixo da taxa de paridade e, de certa V. Villela), Indústria Brasileira: Origem e Desen-
forma, substituíam os gold points. Veja também volvimento (1984) e Reestruturação Industrial e
Gold-Points. Competitividade Internacional (Coordenador)
(1989). Atualmente, é professor adjunto do Ins-
SUPRANACIONAL. Veja Multinacional. tituto de Economia da Unicamp.
SURETY COMPANY. Empresa que garante o SWAP. Termo em inglês que significa, literal-
comportamento de outras ou de pessoas empre- mente, “permuta” e que designa o processo de
gadas em outras empresas. Uma das principais crédito recíproco ou empréstimos recíprocos en-
operações dessas empresas é garantir ou asse- tre bancos, em moedas diferentes e com taxas
gurar o comportamento fiel de funcionários de de câmbio idênticas. O swap costuma ser utili-
empresas que lidam com dinheiro ou títulos de zado para antecipar recebimentos em divisas es-
SWEATING 586

trangeiras e foi criado no início dos anos 60 para SWITCH. O termo possui vários significados,
aumentar a liquidez dos diversos países. O me- entre os quais os mais importantes no âmbito
canismo funciona por meio dos Bancos Centrais das finanças são os seguintes: 1) câmbio — é o
de dois países que estabelecem montantes de efeito intencional da intervenção no mercado
crédito equivalentes na moeda do outro país, cambial pelas autoridades monetárias. Uma po-
de tal forma que um governo possa sacar contra lítica desse tipo geralmente está associada à re-
essa reserva monetária extra quando for neces- versão seja de um fluxo de saída da moeda na-
sário. Essa operação ocorre num determinado cional, seja de sua absorção pelo mercado inter-
período de tempo, findo o qual o processo é no, influenciando a balança comercial de um
revertido de acordo com a mesma taxa de câm- país; 2) comércio exterior — prática de exportar
bio na qual foi feita a operação original. Veja ou importar mercadorias por intermédio de um
também Balanço de Pagamentos; Fundo Mo- terceiro país. Geralmente, isso acontece, por
netário Internacional. exemplo, quando o país destinatário de expor-
tações não possui moeda forte, e o país inter-
SWEATING (Sweatshop). Termo em inglês que, mediário a possui em abundância e deseja por
utilizado nas relações de trabalho, significa lugar alguma razão obter a moeda do país de destino.
de trabalho onde as condições são substancial- Veja também Switching.
mente inferiores aos padrões aceitáveis. Literal-
mente, a palavra quer dizer “suadouro”, e três SWITCHABILITY. Termo em inglês que signi-
são as características perniciosas de um sistema fica a rapidez ou agilidade de mudança num
assim denominado: 1) salários baixos; 2) jorna- processo produtivo para que a produção possa
das extensas; 3) condições sanitárias precárias ser adaptada a alterações na demanda ou à pro-
da fábrica. Numa empresa onde prevalecem si- dução de novos produtos.
tuações semelhantes, não apenas a saúde física
e mental dos trabalhadores está em perigo, como SWITCHING. No mercado financeiro e de com-
também a dos consumidores que adquirem os modities, o termo pode designar tanto a situação
produtos produzidos nessas condições. O swea- de um aplicador no mercado de futuros em grã-
ting é também um método para obter pó de ouro os, algodão, ou outra commodity, que transfere
ou prata esfregando moedas desses metais umas o vencimento do seu contrato para um mês fu-
nas outras. turo, como o processo de transferência dos juros
(interest) a serem recebidos de um título para
SWEETHEART CONTRACT. Denominação outro com o propósito de aumentar os rendi-
dada nos Estados Unidos aos acordos coletivos mentos ou reforçar sua posição no mercado por
entre a administração de uma empresa e os di- serem os títulos mais seguros.
rigentes sindicais dos trabalhadores que repre-
sentem vantagens mútuas para os signatários SYMMETALIC STANDARD. Sistema monetá-
dos acordos, mas que não refletem os melhores rio no qual o padrão de valor é definido como
e verdadeiros interesses dos representados por uma quantidade determinada da combinação de
tais dirigentes. dois ou mais metais como, por exemplo, o ouro
e a prata. Esse sistema foi idealizado por Alfred
SWEEZY, Paul (1910- ). Economista e professor Marshall em 1887 como uma alternativa ao bi-
universitário norte-americano, um dos mais des- metalismo. A diferença com este último sistema
tacados divulgadores do marxismo nos Estados era a seguinte: enquanto no bimetalismo o pa-
Unidos. Em 1942, publicou sua mais conhecida drão de valor era uma unidade de ouro ou tantas
obra, Teoria do Desenvolvimento Capitalista, uma unidades de prata, no simetalismo o padrão era
introdução à teoria econômica marxista na qual uma unidade de ouro e tantas unidades de prata.
apresenta um amplo panorama das principais Ou seja, o preço relativo entre os metais é de-
tendências da economia marxista e seus mais terminado pelo mercado, e não pela autoridade
destacados representantes. Além disso, explicita monetária. Essa proposta não foi levada à prá-
sua própria leitura de Marx, com destaque es- tica, existindo apenas como uma possibilidade.
pecial para o problema das crises de estagnação Veja também Bimetalismo; Mágico de Oz; Mo-
no capitalismo. É também um dos mais respei- nometalismo; Padrão-ouro.
tados analistas críticos da realidade dos países
socialistas. Editou desde 1949 a revista Monthly SYNDICATE. Termo em inglês que, aplicado
Review, especializada em temas políticos segun- ao mercado financeiro, geralmente está associa-
do uma visão marxista da sociedade. Ao longo do à formação de joint-ventures ou uma associa-
de sua produção teórica e editorial, Sweezy con- ção temporária para a realização de algum tipo
tou com a colaboração de respeitados analistas de negócio que, em geral, excede a capacidade
como Paul Baran (co-autor de O Capitalismo Mo- de cada uma das empresas que o formam to-
nopolista, 1966), Leo Huberman, Harry Braver- madas individualmente. No caso da dívida ex-
man e Harry Magdoff. terna brasileira, em muitos casos a soma reque-
587 TABLITA

rida era de tal magnitude que foram formados e juros. Sendo a taxa de juros 2%, os juros con-
syndicates de bancos privados para a reunião tidos na prestação serão equivalentes a 2% de
desses recursos. Um empréstimo que supere 10000,00 = 200,00; portanto, o valor da amorti-
US$ 1 bilhão é denominado Empréstimo Jumbo. zação será igual a 2121,58 – 200,00 = 1921,58.
O termo não deve ser confundido com “sindi- Para a segunda prestação de 2121,58, teremos a
cato” em português, cujo correspondente em in- seguinte composição entre a amortização e os
glês é union. Veja também Empréstimo Jumbo. juros: os juros de 2% agora incidem sobre um
saldo devedor de 10000,00 – 1921,58 (correspon-
dente à amortização feita no pagamento da pri-
meira prestação) = 8078,41 x 0,02 = 161,56; por-

T
tanto, a parcela da amortização na segunda pres-
tação será igual a 2121,58 – 161,56 = 1960,02. A
terceira prestação de 2121,58 será composta da
seguinte maneira: juros de 2% sobre 6118,39 =
122,36; portanto, a amortização será 2121,58 –
122,36 = 1999,21. A quarta prestação de 2121,58
será composta da seguinte maneira: juros de 2%
sobre 4119,17 = 82,38; portanto, a amortização
T. Inicial de: 1) talari (unidade monetária da Etió- será igual a 2121,58 – 82,38 = 2039,19. A quinta
pia); 2) thaler (antiga unidade monetária alemã); prestação de 2121,58 será composta da seguinte
3) ton (tonelada); 4) tonne (tonelada métrica). maneira: juros de 2% sobre 2.079,98 = 41,59; por-
tanto, a amortização será 2121,58 – 41,59 =
TABELA DE DUPLA ENTRADA. Tabela pró- 2079,98. Ao final do quinto ano, o saldo devedor
pria à apresentação das distribuições de dois era 2079,98 e a amortização alcançou o mesmo
atributos, quantitativos ou qualitativos, em que valor, tendo sido quitada a dívida ou pago o
existem duas ordens de classificação, uma em empréstimo. Podemos observar que na mesma
cabeçalho, outra em coluna indicadora; nas casas medida em que a parcela da amortização au-
formadas pela intersecção das linhas e colunas, menta na prestação, os juros diminuem, pois es-
encontram-se os valores das freqüências dos in- tes incidem sobre um saldo devedor cada vez
divíduos que apresentam conjuntamente as al- menor. Veja também Sistema de Amortização
ternativas correspondentes à linha e à coluna Constante (SAC); Sistema de Amortização Mis-
que sobre ela se cruzam. to (SAM).

TABELA PRICE. Sistema de amortização de dí- TABLEAU ÉCONOMIQUE (“quadro econômi-


vidas em prestações iguais, compostas de duas co”). Modelo de sistema econômico criado pelo
parcelas, uma de juros e a outra do principal, economista francês François Quesnay. Publica-
isto é, do capital inicialmente emprestado. A Ta- do pela primeira vez em 1758, consistia em mos-
bela Price deve seu nome provavelmente ao in- trar o processo de circulação do produto líquido
glês R. Price, que durante o século XVIII rela- entre as diferentes classes da sociedade sob a
cionou a teoria dos juros compostos às amorti- forma simplificada de um quadro. Tinha dois
zações de empréstimos, e é também denomina- objetivos: mostrar como circula o produto líqui-
da Sistema Francês de Amortização. Para o cál- do total da sociedade e o modo pelo qual ele
culo dessa tabela, utiliza-se a seguinte fórmula: se reproduz a cada ano. O tableau desconhece a
circulação do produto líquido dentro de cada
R = Po . FRC(i.n) = Po . [(1 + i)n.1 / (1 + i)n-1] classe social e supõe preços constantes e a re-
produção anual do mesmo produto líquido.
sendo R = valor da prestação; Po = saldo deve- Quesnay pretendia demonstrar que só a agri-
dor inicial; FRC = fator de reposição do capital; cultura pode produzir um excedente econômico.
i = taxa de juros e n = tempo de pagamento do Discutido e popularizado por muitos economis-
empréstimo. Na medida em que a prestação é tas, o tableau tornou-se importante por tratar-se
composta de dois elementos — uma parte de do primeiro modelo de um sistema de troca que
juros e outra do principal —, a fórmula permite revelou a distribuição e a reprodução dos valo-
calcular os juros devidos na primeira parcela e, res de uso do produto líquido; além disso, es-
por subtração da prestação que se deseja pagar, timulou o desenvolvimento do estudo dos pro-
a parcela do principal que se deseja amortizar. blemas do valor de troca e dos preços e, poste-
Dessa forma, considerando um empréstimo de riormente, da teoria do valor-trabalho. Veja tam-
R$ 10000,00 à taxa de 2% ao mês, a ser pago bém Quesnay, François.
em prestações iguais em cinco meses, teremos
o seguinte para a primeira prestação: R = TABLITA. Termo em espanhol que significa “ta-
10000,00 x [(1 + 0,02)n.0,02 / (1 + i)n-1] = 2121,58. belinha”, oriundo do Plano Austral, na Argen-
Esta prestação está constituída de amortização tina (1984), que fazia a conversão de valores en-
TACA 588

tre a moeda antiga e a nova (e estimava a in- e o padrão de vida da população. Veja também
flação residual da moeda antiga), os quais se Desenvolvimento Econômico; Rostow, W.W.
projetavam nos contratos cuja duração contem-
plava a vigência de uma nova moeda. No Brasil, TAKE OVER BID. Expressão em inglês que
adotou-se um sistema semelhante no Plano Cru- significa “oferta pública de compra” de uma em-
zado e nos Planos posteriores até o Plano Collor. presa ou de suas ações. Muitas vezes, alguém
Veja também Plano Austral; Plano Collor; Pla- interessado na aquisição de uma empresa faz
no Cruzado. uma oferta desse tipo, dispondo-se a pagar, pe-
las respectivas ações, cotações bem mais altas
TACA. Unidade monetária de Bangladesh. Sub- do que as determinadas pelo mercado, o que
múltiplo: poisha. torna a justificativa de uma eventual recusa por
parte dos dirigentes da empresa a ser adquirida
TAFT-HARTLEY (Lei). Instrumento jurídico que
um processo bastante complicado.
regulamenta os conflitos trabalhistas nos Esta-
dos Unidos. Constitui uma profunda reformu- TALA. Unidade monetária de Sanda Ocidental.
lação na lei nacional das relações do trabalho Submúltiplo: sene.
(Lei Wagner, de 1935), que assegurava amplas
liberdades de livre organização e ação sindical TALE QUALE. Expressão em italiano que, uti-
aos trabalhadores norte-americanos. Aprovada lizada em contratos de compra e venda de pro-
em 1947 sob o patrocínio de dois congressistas, dutos, significa que o comprador aceita as mer-
Robert A. Taft (filho do presidente W.R. Taft) e cadorias no estado em que se encontram ou se-
Fred Hartley, redefiniu o âmbito das negocia- gundo a qualidade indicada pela amostra e as-
ções coletivas entre empregados e empregado- sume qualquer risco de dano que ocorrer depois
res, restringiu o direito de greve, criou um ser- dessa aceitação. Às vezes, a expressão aparece
viço federal de arbitragem (Serviço Federal de em francês, tel quel.
Mediação e Conciliação), reorganizou a Junta
Nacional de Relações de Trabalho e proibiu gre- TÁLER. Denominação de antiga moeda de pra-
ves de solidariedade e acordos intersindicais. Se- ta alemã cunhada no século XVI e que circulou
gundo a Lei Taft-Hartley, o Estado passou a in- na Alemanha até 1871, quando foi substituída
tervir diretamente nos conflitos trabalhistas, po- por uma moeda de cinco marcos. Um táler era
dendo decretar por oitenta dias a suspensão das trocado por três marcos-ouro. Em prata, um
greves consideradas uma ameaça ao bem-estar táler duplo pesava 37 g. É possível que esta
e à segurança nacional. Nesse prazo, as partes moeda e a respectiva denominação tenham
conflitantes devem chegar a um acordo. Além dado origem ao dólar norte-americano. Veja
disso, os sindicatos devem avisar com sessenta também Dólar.
dias de antecedência a decretação de uma greve. TALHA. Imposto de origem feudal praticado
Desde 1956 a Corte Suprema dos Estados Uni-
especialmente na França, cuja existência já é re-
dos vem limitando ao máximo o emprego da
gistrada desde o século XI. A talha podia ser
Lei Taft-Hartley.
cobrada como “talha real” (taille reélle) e como
TAILLE. Veja Talha. “talha pessoal” (taille personelle). Esta última era
cobrada sobre as pessoas, e a primeira incidia
TAKE-OFF. Ponto crítico no desenvolvimento sobre as propriedades como “talha de explora-
de uma economia nacional, caracterizado pelo ção” — que incidia sobre as terras não cultivadas
final da resistência da sociedade tradicional à e passíveis de produzir —, e a “talha de ocu-
modernização, conforme a conceituação de W.W. pação”, que incidia sobre as propriedades cul-
Rostow. Nesse momento, surgiriam as condi- tivadas, destinadas à moradia.
ções para o crescimento econômico e liberar-se-
iam as forças capazes de impulsioná-lo. Período TALON. Termo em francês que na França, na
crucial na história econômica de uma sociedade, Inglaterra e na Alemanha significa o último pe-
o take-off ocorreria dadas as seguintes condições: daço de um título depois que dele foram des-
1) existência de uma razoável infra-estrutura so- tacados todos os cupons referentes aos juros.
cial; 2) certo avanço tecnológico na indústria e Quando um talon é apresentado aos agentes fi-
na agricultura; 3) um poder político dirigido por nanceiros ou representantes das autoridades
pessoas que impulsionem a modernização; 4) emissoras do título, o portador ou proprietário
aumento do produto per capita. A fase do take-off do mesmo faz jus ao recebimento de um novo
é marcada por acelerado aumento dos investi- título contendo novos cupons para o recebimen-
mentos, desenvolvimento do setor secundário e to dos juros no próximo período. Os títulos fran-
emergência de forças políticas e sociais compro- ceses da dívida publica (rentes) contêm cupons
metidas com a continuidade do desenvolvimen- para um período de cinco a dez anos. Veja tam-
to como único meio de aumentar a riqueza social bém Rentes.
589 TAVARES

TALONAS. Unidade monetária da Lituânia. pecíficas, isto é, como uma quantidade por uni-
dade, peso ou volume. Podem também ser pre-
TAMBALA. Veja Cuacha. ferenciais ou não-discriminatórias: por exemplo,
TAN. Veja Chõ. as importações da Grã-Bretanha originárias de
países pertencentes à Comunidade Britânica pa-
TANGENTE. Reta que toca uma curva num gam impostos mais baixos que as provenientes
ponto, tendo a mesma inclinação que a curva de outros países. Desde a Segunda Guerra Mun-
nesse ponto determinado. Veja também Funções dial, existe uma tendência a evitar o uso das
Trigonométricas. tarifas como instrumento de política nacional.
Os modernos acordos comerciais procuram em
TANKAJE. Termo em inglês que significa adu- geral reduzir as tarifas e recorrer a outros meios
bo de origem orgânica animal composto funda- — sobretudo créditos internacionais — para re-
mentalmente de nitrogênio e fósforo. É obtido solver problemas relacionados com a balança co-
pela trituração de restos do abate nos matadou- mercial, com o desenvolvimento econômico e
ros, como chifres, cascos, tripas e sangue. outros que tradicionalmente motivavam a ado-
TARA. Também denominado peso improdutivo ção de tarifas mais elevadas. As questões tari-
ou peso morto, é a diferença entre o peso total fárias deixaram assim de ser problema exclusivo
de uma carga e o peso das mercadorias sendo de soberania nacional, passando para o âmbito
transportadas. A diferença corresponde ao peso de acordos internacionais, como o ex-Gatt (agora
OMC), ou de blocos regionais, como o Mercado
do veículo ou da embalagem em que se trans-
porta uma mercadoria. A tara aparece definida Comum Europeu. Veja também GATT; MCE;
OMC.
também como a diferença do peso bruto e do
peso líquido de uma carga. Por exemplo, se o TAUSSIG, Frank William (1859-1940). Econo-
peso bruto de um barril de petróleo é de 240 mista norte-americano, de formação neoclássica.
kg e o peso do óleo, isto é, o peso líquido é de Estudou nas universidades de Washington, Har-
200 kg, a tara (peso do barril vazio) equivale a vard e Berlim. De volta a Harvard em 1882, ini-
40 kg. ciando uma longa carreira acadêmica, editou a
TARAR. Ato de determinar o peso da tara, ou revista Quarterly Journal of Economics e publicou
seja, de pesar o continente (embalagem, invólu- o manual Princípios de Economia (1911). Especia-
cro etc.) de uma mercadoria para obter seu peso lizado nas áreas de comércio e finanças inter-
real. Veja também Tara. nacionais, foi assessor do presidente Wilson e
fez parte da comissão que elaborou, em Paris,
TAREFA. Medida de área utilizada na agricul- os tratados comerciais após a Primeira Guerra
tura do Nordeste brasileiro, admitindo variações Mundial. Em seus trabalhos de teoria econômica
conforme a unidade da federação onde é prati- geral, insistiu numa continuidade entre as teo-
cada. Por exemplo, no Estado da Bahia equivale rias clássicas e neoclássicas, argumentando que
a 4 356 m2; em Alagoas e Sergipe, a 3 052 m2, a economia consistia num único corpo de idéias,
e no Ceará, a 3 630 m2. constantemente reelaboradas e refinadas. Em
seus primeiros livros, The Tariff History of the
TARGET COMPANY. Expressão em inglês que United States (História das Tarifas nos Estados
significa “empresa alvo”, isto é, aquela escolhida Unidos), 1888, e Wages and Capital (Salários e
por um grupo de investidores para ser adquirida Capital), 1896, tentou combinar a análise teórica
ou comprada mediante a aquisição da maioria com os dados empíricos. Sobre economia inter-
de suas ações. Veja também White Knight. nacional, publicou Aspects of the Tariff Question
TARGET-PRICE. Veja Deficiency Payment. (Aspectos da Questão Tarifária), 1915, e Inter-
national Trade (Comércio Internacional), 1927.
TARIFA ALVES BRANCO. Veja Alves Bran-
co, Manuel. TAVARES, MARIA DA CONCEIÇÃO de Al-
meida (1931- ). Economista brasileira de nacio-
TARIFAS. Taxas pagas sobre os direitos de im- nalidade portuguesa, especializada na interpre-
portação e exportação, transporte de carga e tação do processo de desenvolvimento do capi-
prestação de serviços em geral. Em sua acepção talismo no Brasil. Seu livro Da Substituição de
estritamente alfandegária, os sistemas tarifários Importações ao Capitalismo Financeiro (1972) atin-
podem ser livre-cambistas, visando a obter re- giu a 11ª edição em 1982. Em 1963, publicou
ceita orçamentária, ou protecionistas, quando seu primeiro ensaio, “Auge e Declínio do Pro-
têm por finalidade a defesa da produção nacio- cesso de Substituição de Importações no Brasil”,
nal contra a concorrência estrangeira no merca- sistematizando trabalhos desenvolvidos sobre a
do interno. As tarifas podem ser tomadas em industrialização substitutiva de importações en-
bases ad valorem, ou seja, como certa porcenta- quanto modelo histórico de desenvolvimento.
gem do valor da mercadoria, ou em bases es- Entendeu o processo de substituição de impor-
TAXA 590

tações do desenvolvimento brasileiro como in- real será negativa, isto é, não será suficiente para
suficiência de demanda, na medida em que se compensar a desvalorização da moeda, ou seja,
importou uma tecnologia avançada incompatí- para cobrir a correção monetária.
vel com economias atrasadas que manifesta uma
maior dotação de capital por homem emprega- TAXA DE LUCRO. Veja Mais-valia.
do, implementa uma menor absorção de mão-
TAXA DE MORTALIDADE. Veja Mortalidade.
de-obra, permite uma produção em alta escala
e uma concentração na renda. Nesse sentido, TAXA DE NATALIDADE. Veja Natalidade.
considera pertinente viabilizar uma demanda
autônoma para dar prosseguimento à acumula- TAXA DE OCUPAÇÃO. Dispositivo da Lei de
ção brasileira. Em “Notas sobre o Problema de Zoneamento que determina em cada caso qual
Financiamento numa Economia em Desenvolvi- é a porcentagem de um lote ou terreno urbano
mento — O Caso Brasil” (1967), a autora analisa que pode ser ocupada pelo primeiro pavimento
as condições e as modalidades do financiamento de uma edificação. Veja também Adiron (Fór-
interno na etapa substitutiva, explicando a “ne- mula de); Coeficiente de Aproveitamento; Lei
cessidade de transferir excedentes dos setores de Zoneamento; Operações Interligadas; Ope-
atrasados ou pouco dinâmicos para os de maior rações Urbanas.
potencial de expansão”. Analisou ainda, nesse
ensaio, a questão da distribuição da renda. E, TAXA DE RISCO. Veja Spread.
em Natureza e Contradições do Desenvolvimento Fi-
TAXA LEGAL DE JUROS. A taxa máxima de
nanceiro Recente, analisa a implementação do ca-
juros que um emprestador pode cobrar de um
pitalismo financeiro e suas contradições, expli-
tomador por um empréstimo de dinheiro fixada
citando suas diversas etapas evolutivas. Concei-
por lei. Tudo aquilo que for cobrado a maior é
ção Tavares licenciou-se em ciências matemáti-
considerado usura, e penalizado nos países onde
cas na Universidade de Lisboa (1953) e em ciên-
a lei é aplicada. No caso brasileiro, a Constitui-
cias econômicas na Universidade Federal do Rio
ção de 1988 fixou em 12% ao ano o máximo a
de Janeiro. Fez pós-graduação em desenvolvi-
ser cobrado como juros em relação a qualquer
mento econômico na Cepal e na Universidade
empréstimo. No entanto, na medida em que este
de Paris e trabalhou para a ONU na América
dispositivo constitucional não foi ainda regula-
Latina de 1962 a 1975. Obteve a livre-docência
mentado, por meio de disfarces ou não prati-
na UFRJ em 1975, com a tese “Acumulação do
cam-se no Brasil taxas de juros bem superiores
Capital e Industrialização no Brasil”. Tornou-se
ao estabelecido na Constituição de 1988.
professora titular em macroeconomia (na vaga
de Octávio Gouvêa de Bulhões) em 1978 com a TAXA MILESIMAL. Veja Porcentagem.
tese “Ciclo e Crise — O Movimento Recente da
Industrialização Brasileira”. É também titular da TAXA MÚLTIPLA DE CÂMBIO. Veja Câm-
Universidade de Campinas (Unicamp) desde bio Múltiplo.
1973. Em 1994, foi eleita deputada federal pelo
Partido dos Trabalhadores do Rio de Janeiro. TAXA NATURAL DE DESEMPREGO. Veja Ex-
pectativas Racionais; Lucas Robert.
TAXA. Relação entre duas grandezas, apresen-
tada geralmente na forma percentual, mas tam- TAXA PIGOUVIANA. Conceito desenvolvido
bém na forma milesimal. Veja também Porcen- por Arthur Cecil Pigou relacionando custos pri-
tagem. vados e custos sociais no âmbito da teoria das
externalidades. A taxa proposta seria equivalen-
TAXA DE CÂMBIO. Veja Câmbio. te à diferença entre as duas magnitudes. Assim,
uma taxa lançada sobre o produtor de uma ex-
TAXA DE EXPLORAÇÃO. Veja Mais-valia. ternalidade, na percepção do produtor desta úl-
TAXA DE JUROS NEGATIVA. Veja Taxa de tima, deveria tornar equivalentes os custos pri-
Juros Real. vados daquela atividade e os custos sociais pro-
vocados. Por exemplo, uma indústria que de-
TAXA DE JUROS REAL. Taxa de juros obtida posita lixo em determinado local deveria pagar
pela subtração da taxa de inflação da taxa de uma taxa equivalente ao custo da eliminação dos
juros nominal. Assim, por exemplo, se a taxa efeitos ecológicos negativos que tal ação provo-
de inflação for equivalente a 7% ao ano e a taxa ca. Esse conceito torna-se cada vez mais impor-
de juros nominal igual a 13%, a taxa de juros tante em função dos problemas ecológicos (ex-
real será equivalente a 6% ao ano. Se por alguma ternalidades negativas) que vêm surgindo com
razão a taxa de inflação for maior que a taxa a expansão da produção mundial e as questões
de juros nominal, então a taxa de juros será ne- de administração e finanças públicas que os
gativa: por exemplo, se a taxa de juros nominal mesmos vêm apresentando. Veja também Bho-
for 8% ao ano e a inflação 9%, a taxa de juros pal; Ecologia; Economias Externas; Minamata,
591 TAYLOR

Mal de; Pigou, Arthur C.; Polluter Pays Prin- com a inflação, o mesmo acontece com o Im-
ciple. posto de Renda pago por pessoas e empresas,
devido ao fato de a receita tributável passar a
TAXA PURA DE JUROS. Taxa de juros que incidir sobre faixas nas quais as alíquotas do
corresponde a uma aplicação que apresenta risco imposto são mais elevadas. No entanto, as ren-
zero, isto é, sem risco algum para o emprestador. das disponíveis depois dos impostos significam
É a taxa paga pelos melhores títulos de dívida um menor poder de compra, uma vez que essa
do mundo, entre os quais destacam-se aqueles renda monetária foi corroída pela inflação. O
emitidos pelo Tesouro norte-americano. Veja desdobramento seguinte desse processo é uma
também Prime Rate. retração da demanda efetiva, provocando uma
TAXA REFERENCIAL (TR). Com o fim da cor- queda na produção e uma elevação do desem-
reção monetária e a extinção do Bônus do Te- prego. Esta foi a situação que, mutatis mutandis,
souro Nacional (BTN), o governo criou, por meio caracterizou a economia americana durante o
de medida provisória nº 294, em 1º/2/1991, a período de inflação elevada do final dos anos
Taxa Referencial (TR), com o objetivo de per- 70 e início dos 80. A solução encontrada foi a
mitir o funcionamento do sistema financeiro no indexação dos tributos de tal maneira a eliminar
contexto criado com a desindexação da econo- as distorções provocadas pelo processo mencio-
mia. Segundo a medida, a Taxa Referencial será nado anteriormente.
mensalmente divulgada pelo Banco Central, no
TAYLOR, Frederick Winslow (1856-1915). En-
máximo até o oitavo dia útil do mês de refe-
genheiro norte-americano, Taylor é considerado
rência. Ela será calculada da remuneração média
mensal, líquida de impostos, dos depósitos a o pai da Administração Científica. Em seu tú-
prazo fixo captados nas agências dos bancos co- mulo em Germantown, nas cercanias de Fila-
merciais, bancos de investimento ou de títulos délfia, há o seguinte epitáfio: “O Pai da Admi-
públicos, de acordo com metodologia fixada nistração Científica”. Este título tem sido aceito
pelo Conselho Monetário Nacional. Divulgada não apenas por seus compatriotas, mas em todo
a TR, a fixação da Taxa Referencial Diária (TRD) o mundo, tanto por simpatizantes como por crí-
nos dias úteis restantes do mês deverá ser rea- ticos. Seus livros e artigos foram traduzidos para
lizada de forma tal que a TRD acumulada até um grande número de línguas e, desde 1938, a
o primeiro dia útil do mês subseqüente seja igual medalha de ouro da Comissão Internacional
à TR do mês corrente. A TR poderá ser utilizada para a Administração Científica traz sua efígie.
como base para reajustes de contratos antigos Não resta dúvida, no entanto, de que Taylor be-
em BTN ou OTN, remuneração das cadernetas neficiou-se dos trabalhos de alguns pioneiros,
de poupança, do dinheiro bloqueado pelo Plano tanto nos Estados Unidos como na Europa, no
Collor e na correção de débitos de impostos, ta- campo da engenharia, da contabilidade, da téc-
xas e demais obrigações fiscais. nica de organização de escritórios, da medicina
(por exemplo, a descoberta do processo fisioló-
TAXA SUNTUÁRIA. Taxa criada durante o rei- gico que provoca o cansaço). Até mesmo vários
nado de D. João VI no Brasil e incidente sobre mecanismos já haviam sido — ou estavam sendo
carruagens de quatro e de duas rodas, 12$000 — desenvolvidos para incentivar o trabalho e
e 10$000, respectivamente; lojas de mercadorias, melhor controlar os processos de produção:
armazéns, lojas de ofícios e obras feitas, 12$800; veja-se, por exemplo, as contribuições de Towne
navios de três mastros, 12$800; de dois mastros, e de Gantt. Apoiado nessas conquistas iniciais,
9$600; embarcações de um mastro de barra a Taylor desenvolveu seu método, que ele próprio
fora, 6$400; qualquer outra embarcação, exceto descreveu como uma “revolução mental”. Na
de pescaria, 4$000, e 5% das compras de navios. época em que Taylor começou a desenvolver
suas idéias, a administração de empresas como
TAXA VIL. Denominação dada pela opinião pú-
uma atividade autônoma tinha chamado muito
blica à taxa cambial de 6 pence = 1000,00 réis,
pouca atenção. Ela era considerada um desdo-
fixada pela Caixa de Estabilização, criada pelo
decreto 5 108 de 18/12/1926. Esta taxa era con- bramento de algum ramo especial da manufa-
siderada uma desvalorização exagerada da moe- tura. Ou melhor, estava relacionada com os co-
da nacional por aqueles que desejavam uma po- nhecimentos técnicos necessários para produzir
lítica monetária deflacionista. Veja também Cai- determinados produtos na indústria. A idéia de
xa de Conversão; Caixa de Estabilização. que uma pessoa deveria ser treinada e receber
instrução formal para tornar-se um administra-
TAXFLATION. Termo que procura expressar os dor competente não havia ganho ainda sua le-
impactos recíprocos de uma elevação do Impos- gitimidade. Foi, no entanto, mediante uma ela-
to de Renda e da intensificação do processo in- boração gradual de técnicas (que permitiram a
flacionário. À medida que a renda monetária análise e a mensuração de processos elementa-
dos agentes econômicos (famílias) se expande res) que Taylor evoluiu para uma nova concep-
TAYLOR MADE 592

ção de administração. Suas primeiras ações, ain- cialmente quando relata a forma de recrutamen-
da como capataz na Midvale Steel Works, em to dos trabalhadores para a realização das ex-
Filadélfia, visavam eliminar a prática de “res- periências na Midvale Steel C. da Pensilvânia,
trição da produção” adotada defensivamente deve ter contribuído para consolidar essa im-
pelos trabalhadores. Devido a sua própria ex- pressão. Mais tarde, suas concepções foram cri-
periência como torneiro, ele sabia que um nível ticadas pelos fundadores da Escola de Relações
de produção muito maior poderia ser alcançado Humanas, especialmente por George Elton
sem grandes esforços adicionais. Ele acreditava Mayo. Depois de desenvolver durante muitos
que o não aproveitamento dessa potencialidade anos atividades de consultor, entre 1901 e 1915
se devia à ignorância de ambas as partes. A ad- Taylor dedicou-se exclusivamente a divulgar,
ministração pedia e os trabalhadores estavam como conferencista nos Estados Unidos e na Eu-
dispostos a dar “um dia honesto de trabalho” ropa, suas concepções sobre a Administração
em troca de “um pagamento honesto por dia”. Científica. Em 1906, foi presidente da American
Mas ninguém tinha uma idéia clara do que seria Society of Mechanical Engineering (Asme). En-
“um dia honesto de trabalho”. Ambas as con- tre 1898 e 1901 desenvolveu e patenteou um pro-
cepções eram muito vagas, o que dava lugar a cesso novo de corte de alta velocidade para o
constantes desentendimentos e disputas. A so- aço, pelo qual recebeu, em 1902, a medalha Elliot
lução proposta por Taylor foi medir com a má- Cresson do Franklin Institute of Pennsylvania.
xima precisão possível (cientificamente) os tem- Seus seguidores mais diretos foram Gantt e Gil-
pos necessários para a realização dos movimen- breth. Seus livros e artigos mais importantes são
tos utilizados pelos trabalhadores em cada pro- os seguintes: “O Sistema de Salário por Peça”
cesso produtivo. O estabelecimento desses pa- (1895), publicado na Engineering Magazine, da
drões determinou alterações numa série de ou- Asme; A Administração da Fábrica (1903), publi-
tras esferas. Não apenas o planejamento das ta- cado inicialmente pela Asme, e em 1910 editado
refas sofreu mudanças, como o fluxo de mate- pela Harper 7 Bros., Nova York; Princípios e Mé-
riais, e mesmo as ferramentas utilizadas, de for- todos da Administração Científica (1911), Harper
ma a permitir que cada trabalhador alcançasse & Bros., Nova York.
o padrão e fosse inclusive além. Por meio dessas
práticas, Taylor estabeleceu dois princípios que TAYLOR MADE. Veja Mercado de Balcão.
constituiriam a essência da administração — ou
da administração científica —, como essa ativi- TAYLORISMO. Conjunto das teorias para au-
dade veio a ser chamada em seguida: 1) ambos mento da produtividade do trabalho fabril, ela-
os lados — a gerência e os trabalhadores — de- boradas pelo engenheiro norte-americano Fre-
vem abandonar a idéia de que a questão mais derick Winslow Taylor. Abrange um sistema de
importante é a divisão dos ganhos, e em con- normas voltadas para o controle dos movimen-
junto concentrar sua atenção em como fazer para tos do homem e da máquina no processo de
aumentar a magnitude desses ganhos; 2) ambas produção, incluindo propostas de pagamento
as partes devem reconhecer como questão es- pelo desempenho do operário (prêmios e remu-
sencial a substituição dos velhos julgamentos e neração extras conforme o número de peças pro-
opiniões individuais, tanto dos subordinados duzidas). O sistema foi muito aplicado nas me-
como dos chefes, pela pesquisa e conhecimento didas de racionalização e controle do trabalho
científico rigoroso. Em síntese, para Taylor, se fabril, mas também criticado pelo movimento
os homens deviam cooperar efetivamente, todas sindical, que o acusou de intensificar a explo-
as organizações deveriam ter: 1) um objetivo co- ração do trabalhador e de desumanizá-lo, pois
mum, e 2) um método comum para alcançá-lo. procura automatizar seus movimentos. Veja
As idéias de Taylor exerceram uma influência também Taylor, Frederick Winslow.
muito grande não apenas em seu tempo como
até nos dias de hoje. Os fundamentos de suas TBAN. Taxa de assistência financeira do Banco
concepções e os métodos que propôs e colocou Central ao setor financeiro privado. Os movi-
em execução foram batizados de “taylorismo”. mentos dessa taxa são importante fator de po-
Embora nenhuma greve tenha ocorrido nas in- lítica monetária, pois por meio dela são fixadas
dústrias onde Taylor trabalhou e desenvolveu as taxas de juros no mercado. Quando o governo
seus métodos, ele recebeu forte oposição do mo- deseja atrair recursos externos e/ou restringir o
vimento sindical, que o acusava de exercer uma crédito interno, ele eleva essa taxa, como acon-
exploração desumana do trabalhador, aumen- teceu em setembro de 1998, ocasião em que ela
tando a intensidade do seu trabalho, automa- saltou de 29,75% para 49,75%, a fim de evitar a
tizando-lhe os movimentos e retirando-lhe qual- forte fuga de divisas e combater o ataque espe-
quer controle sobre seu próprio processo de tra- culativo ao real. Outra taxa com a qual o Banco
balho. A linguagem truculenta utilizada em seu Central opera é a TBC ou taxa do Banco Central,
livro Princípios de Administração Científica, espe- oferecida ao setor financeiro, com base em títu-
593 TECNOCRACIA

los públicos e para o redesconto de títulos pri- TECHNOSTRESS. Termo relacionado com os
vados. estudos dos impactos da incorporação do pro-
gresso técnico sobre os trabalhadores e que con-
TBC. Veja TBAN. siste na incapacidade física e/ou psíquica de
acompanhar as mudanças nos processos de tra-
TBF (Taxa Básica Financeira). A Taxa Básica Fi- balho trazidas pela introdução do computador.
nanceira, criada pelo Conselho Monetário Na-
cional em junho de 1995, inseriu-se no plano de TÉCNICA. Conjunto de processos mecânicos e
alongamento do prazo das aplicações financei- intelectuais pelos quais os homens atuam na
ras, ocorrido após o Plano Real. O Banco Central produção. Seu desenvolvimento constitui um ín-
é a instituição responsável pela divulgação do dice de domínio do homem sobre a natureza e
valor da TBF. A taxa pode ser utilizada como se manifesta por meio do aperfeiçoamento dos
base de remuneração de operações realizadas instrumentos, dos objetos de trabalho e do pró-
no mercado financeiro com prazo igual ou su- prio trabalhador: ferramentas, máquinas, maté-
perior a sessenta dias. Na mesma data de criação rias-primas, métodos de observação, controle e
da TBF, o Conselho Monetário Nacional auto- processos de interação entre o homem e o objeto
rizou os bancos múltiplos com carteira comer- de seu trabalho, manual ou intelectual. O nível
cial, os bancos comerciais e as caixas econômi- de desenvolvimento técnico de uma sociedade
cas, a acolher os Depósitos a Prazo de Reapli- determina seu grau de aproveitamento dos re-
cação Automática (DRAs). Esses depósitos de- cursos naturais, a complexidade da divisão téc-
vem observar o prazo mínimo de três meses, nica do trabalho e a produtividade da mão-de-
podem receber prêmio em função de seu prazo obra. Veja também Automação; Produtividade;
de permanência na conta e farão jus à remune- Revolução Industrial; Tecnologia.
ração baseada na TBF a cada intervalo de três
meses. A remuneração será calculada sobre o TÉCNICAS BAYESIANAS. Método de análise
menor saldo apresentado no período. estatística no qual a informação a priori é for-
malmente combinada com dados amostrais para
T-BONDS. Denominação dada aos bônus do produzir estimativas ou testes de hipóteses. Essas
Tesouro norte-americano de trinta anos, com ta- técnicas permitem incluir impressões subjetivas
xas de juros muito baixas mas muito seguros e elementos teóricos na análise quantitativa.
(jamais deixaram de ser honrados); e costumeiro
lugar de refúgio de investidores que rechaçam TECNOCRACIA. Poder ou governo dos tecno-
situações de risco quando a situação internacio- cratas — os especialistas que nos setores privado
nal está envolta em névoas de incerteza. e público controlam os mecanismos de direção,
coordenação, previsão e reavaliação de decisões.
TEAM WORKER. Expressão em inglês que sig- Haveria um governo tecnocrático quando todas
nifica “equipe de trabalhadores” (time de em- as decisões estivessem a cargo de especialistas
pregados) e que, na administração moderna, e, a partir disso, a sociedade não estivesse mais
equivale a um grupo de trabalhadores sem su- sendo governada segundo os interesses ou as
pervisor encarregados de realizar um conjunto visões de grupos políticos, mas segundo crité-
diversificado de tarefas, tendo para isso certa rios presumidamente objetivos e racionais. Já no
autonomia para tomar decisões (microdecisões) século XIX, com a intensificação do desenvolvi-
quanto ao ritmo de trabalho, à programação da mento tecnológico e a complexidade dos pro-
jornada etc. cessos produtivo e administrativo, manifestava-
se a tendência de ascensão do papel da função
TEAMSTERS. Veja International Brotherhood técnica na sociedade. A postura técnica já se
of Teamsters. apresentava como algo cético, prático e impes-
TEC. Iniciais da expressão tarifa externa comum, soal. Para estudiosos da economia como J.K.
que significa o estabelecimento de uma tarifa Galbraith e André Gorz, a extrema valorização
comum para as importações de países assinantes e o poder da tecnocracia na atualidade decorrem
de um acordo de integração econômica ou co- da intensificação da divisão social do trabalho
mercial como, por exemplo, o Mercosul. Veja e do processo de concentração do capital, dando
também Mercosul. origem às gigantescas empresas multinacionais
e monopolistas. Nessas condições, impõe-se a
TECHNOLOGICAL GAP. Literalmente, “bre- necessidade de planejamento, controle e funcio-
cha tecnológica”. No caso de uma diferença em nários altamente especializados nos cargos de
termos de desenvolvimento tecnológico entre direção (enquanto nas condições do capitalismo
dois países, costuma-se dizer que há uma tech- liberal ou concorrencial, ou na pequena empre-
nological gap entre eles, a qual pode estar au- sa, essas funções são tradicionalmente exercidas
mentando, diminuindo ou mantendo-se estacio- pelos empresários ou por membros de sua fa-
nária. mília). A mesma exigência colocou-se no âmbito
TECNOESTRUTURA 594

do Estado, quando ele passou a aumentar sua sempre representa vantagens para o processo
participação e seu dirigismo no campo das ati- produtivo. Chega a ser antieconômica ou des-
vidades produtivas. A eficiência e o bom fun- vantajosa socialmente a ocorrência de grande
cionamento são básicos na existência desses or- oferta de mão-de-obra barata e de baixo nível
ganismos econômicos. Daí a valorização das de instrução. Com isso, o ritmo e o emprego do
funções técnicas de sua competência. Segundo progresso tecnológico variam conforme a socie-
alguns estudiosos do assunto, a visão que o tec- dade, o nível de oferta e a demanda de bens e
nocrata tem da sociedade é a mesma que ele também a natureza da concorrência. Muitas ve-
tem da empresa. Com isso, desconhece os gru- zes, a forma de organização de um sistema eco-
pos de pressão e os antagonismos sociais. Seu nômico é um obstáculo à utilização produtiva
objetivo são a produtividade e a eficiência. Para de novos inventos, à medida que isso contrarie
André Gorz, a despolitização é a ideologia do os interesses dos controladores do sistema. É o
tecnocrata: ele se comporta como se estivesse caso do aproveitamento de fontes alternativas
acima das classes sociais, tem um desempenho de energia, que poderiam substituir o petróleo,
essencialmente antidemocrático e existe tanto mas cujo uso contraria importantes interesses
nas atuais sociedades capitalistas como nas so- das grandes companhias internacionais que con-
cialistas. Para Gorz, só a autogestão pode anular trolam o produto. O processo de inovação tec-
o poder da tecnocracia, na medida em que as nológica não é um dado da sociedade moderna.
decisões e a administração da produção se tor- Ele ocorreu desde a utilização da pedra como
nem funções do conjunto dos agentes sociais e instrumento de trabalho na pré-história do ho-
econômicos. Há ainda os críticos que negam o mem e o emprego dos diversos metais nos agru-
poder e a interdependência da tecnocracia, sua pamentos humanos na Antiguidade. O progres-
autonomia em se pautar por interesses próprios, so tecnológico intensificou-se a partir da Revo-
sem levar em conta a relação das classes sociais. lução Industrial, atingindo alto nível com o de-
Assim, no contexto dos negócios administrati- senvolvimento da computação e a automação
vos da empresa privada e do Estado, seu de- dos processos produtivos, chegando-se a falar
sempenho seria uma função que refletiria no que na atualidade ocorre uma “revolução tec-
global os interesses do conjunto ou de setores nológica”. Isso tem transformado profundamen-
das classes dominantes, que procuram atingir te a estrutura produtiva, o que se reflete na pró-
seus objetivos mais gerais por meio de meca- pria estrutura da sociedade, nos mecanismos de
nismos políticos. Veja também Autogestão; Bu- controle de dominação econômica, nos planos
nacional e internacional. Neste último caso, des-
rocracia; Gerencialismo; Tecnoestrutura.
taca-se o domínio da tecnologia moderna (nu-
TECNOESTRUTURA. Conceito socioeconômi- clear, de comunicações, astronáutica e de com-
co formulado por Galbraith, segundo o qual téc- putação) pelos países industrializados em detri-
nicos administrativos e especialistas de alto ní- mento dos demais. Veja também Automação;
vel formariam um corpo dirigente estrutural no Inovação; Mecanização; Progresso; Revolução
interior das grandes empresas modernas, capaz Industrial.
de deslocar o poder dos próprios acionistas do-
TECNOLOGIA DE BASE. Conjunto de méto-
nos do capital. Isso decorre do fato de a tec-
noestrutura dominar as funções de informação dos industriais e inovações tecnológicas que per-
mitem maior rendimento e produtividade à in-
e controle, atuando de forma coordenada e im-
dústria de base (que extrai minérios e os trans-
pessoal e visando menos à maximização dos lu-
forma em matéria-prima). Veja também Indús-
cros do que à eficiência produtiva. Veja também
tria de Base.
Gerencialismo.
TECNOLOGIA. Ciência ou teoria da técnica. TECNOLOGIA DE PONTA. Conjunto de mé-
Abrange o conjunto de conhecimentos aplica- todos industriais e inovações tecnológicas que
dos pelo homem para atingir determinados fins. permitem maior rendimento e produtividade à
indústria de ponta (que monta conjuntos de pe-
As inovações tecnológicas determinam, quase
ças fornecidos por outras indústrias). Veja tam-
sempre, uma elevação nos índices de produção
bém Indústria de Ponta.
e um aumento da produtividade do trabalho.
Embora o uso de conhecimentos tecnológicos na TELEFONVERKEHR. Veja Amtlicher Markt.
produção pressuponha uma adequação da mão-
de-obra nela empregada (escolaridade, treina- TELEMÁTICA. Termo constituído pela junção
mento, experiência), não há uma relação direta das palavras “telecomunicação” e “informática”.
entre as técnicas utilizadas pela sociedade e o Consiste na integração das atividades próprias
conhecimento global dela por parte da força de de cada um desses processos. Por exemplo, um
trabalho. Além disso, o emprego de novas má- computador instalado na cidade A pode ser
quinas, de novas ferramentas, de novos métodos acionado por um terminal instalado na cidade
de organização e racionalização do trabalho nem B por meio de linhas de telefone ou de telex.
595 TEOREMA DA MERCADORIA COMPOSTA

TEMPLÁRIOS. Ordem militar cristã fundada de trabalho, como é o caso, por exemplo, do
em Jerusalém, em 1119, com o nome de Pobres acondicionamento de peças produzidas para seu
Cavaleiros de Cristo. Forneceram tropas de elite transporte etc.
para o Reino Latino de Jerusalém, instituído no
decorrer das Cruzadas, e tornaram-se banquei- TEMPO REAL. Em informática, significa a ope-
ros dos peregrinos que demandavam o Santo ração de um computador que realiza determi-
Sepulcro. Acumularam imensos tesouros e pos- nada operação vinculada ao tempo cronológico
suíam numerosos castelos e conventos por toda de sua execução (em inglês, real time). Veja tam-
a Europa; no reinado de Afonso I, eram donos bém On Line.
de quase toda a região Centro-Sul de Portugal. TENDÊNCIA SECULAR. Em estatística, desig-
Temeroso do poderio dos templários, Filipe IV, na um movimento regular de longo prazo de
o Belo, rei da França, confiscou suas proprieda- uma série de dados econômicos. A tendência
des e mandou executar seu grão-mestre, em secular da maioria das séries econômicas é po-
1314, depois de forçar o papa a extinguir a or- sitiva ou ascendente, indicando crescimento. O
dem. Em Portugal, dom Diniz insurgiu-se contra ângulo da linha de tendência indicará qual é a
a decisão do Vaticano e criou em seu lugar a intensidade — maior ou menor — desse cresci-
Ordem de Cristo (1318). Parte do espólio dos mento. A tendência secular de séries econômicas
templários passou para a nova ordem, cujo título importantes pode ser utilizada para a previsão
de grão-mestre passou a ser dos soberanos por- de situações futuras. Por exemplo, depois de cal-
tugueses. As riquezas acumuladas pelos Cava- cular a tendência secular da produção de deter-
leiros de Cristo tiveram importante papel no fi- minado setor de produção industrial, é possível
nanciamento das grandes viagens marítimas calcular sua provável evolução nos próximos
empreendidas pela Coroa de Portugal. A colo- cinco ou dez anos, com um grau tolerável de
nização das terras descobertas era feita em nome erro, o que pode ser uma ferramenta útil para
da Ordem de Cristo, e a ela era devido o dízimo. o planejamento econômico.
Veja também Cruzadas.
TENDÊNCIA ZERO. Conceito desenvolvido pe-
TEMPO, Controle de. Setor da área de organi- los japoneses de racionalização máxima dos pro-
zação empresarial responsável pela definição do cesso produtivos, nos quais os estoques, os de-
tempo necessário para a realização de determi- feitos, as reclamações, o tempo de ajuste das má-
nada função. O controle de tempo é fundamen- quinas, o tempo de entrega, os atrasos, os aci-
tal, por exemplo, para determinar a produção dentes, seriam zero. Se anteriormente se admitia
de uma empresa industrial. Ao mesmo tempo, um ponto intermediário de tolerância para tais
permite o cálculo de prêmios de incentivo, pla- características, esta técnica moderna japonesa
nejamento de trabalho e custos de produção. busca o absoluto.
Para determinar o tempo de trabalho necessário
a certa função, observa-se o desempenho de um TENKAN KABUSHIKI. Expressão em japonês
funcionário experiente durante sua jornada de utilizada no mercado acionário para designar
trabalho. Sua atividade deve ser dividida em ações que podem se converter em outros tipos
várias operações menores, e cada uma delas é de ação. Podem ser ações preferenciais, diferi-
cronometrada de forma precisa. São necessárias das, mistas ou reembolsáveis, emitidas com di-
várias medições, e os números são ainda corri- reitos de conversão incluídos pela empresa
gidos em função do esforço necessário para cada emissora. O caso mais geral é o da conversão
operação. O tempo total é dado pela soma dos de ações preferenciais em ações ordinárias.
tempos conseguidos acrescida dos períodos de TENSÃO. É a medida da força que um material
descanso, limpeza de equipamentos, aqueci- pode suportar sem se romper ou quebrar. Ge-
mento das máquinas etc. Veja também Taylor, ralmente, a tensão é medida pelo número de
Frederick Winslow; Tempos e Movimentos, Es- quilogramas de pressão por centímetro quadra-
tudo de. do necessário para romper ou partir um mate-
TEMPO MORTO. A expressão tem dois signi- rial. Esta medida é particularmente importante
ficados: o primeiro deles, e o mais geral, significa na indústria da construção civil. Veja também
a parte da jornada de trabalho durante a qual Unidades de Pesos e Medidas.
o trabalhador fica parado por insuficiência de TEOREMA DA IRRELEVÂNCIA. Teorema de
materiais, defeitos nas máquinas e equipamen- Miller e Modigliani (MM), segundo o qual a es-
tos, falta de energia ou outros fatores fora de trutura do capital de uma empresa é irrelevante
seu controle; o segundo, mais restrito, está re- em relação ao valor dessa empresa.
lacionado com a parte do tempo de trabalho na
qual o trabalhador, embora execute movimentos TEOREMA DA MERCADORIA COMPOSTA.
importantes para o desempenho de suas funçõ- Teorema desenvolvido por John Richard Hicks
es, não está operando diretamente sobre o objeto (Valor e Capital) em 1939, segundo o qual, se
TEOREMA DA PARIDADE DAS TAXAS DE JUROS 596

existir um conjunto de bens cujos preços relati- ção dos resíduos, os estimadores obtidos pelo
vos (relativos entre eles) não se alteram, então método dos mínimos quadrados são ótimos, in-
esse conjunto de bens pode ser considerado cluindo a condição de variância mínima. A ex-
como se fosse uma única mercadoria, daí o nome pressão inglesa para a qualidade dos estimado-
de “mercadoria composta”. res garantida pelo teorema de Gauss-Markov é:
“Best linear unbiased estimate” (Blue). Isto é: “A
TEOREMA DA PARIDADE DAS TAXAS DE melhor estimativa linear não viesada”, que são
JUROS. Teorema que estabelece que a relação propriedades desejáveis dos estimadores econo-
entre taxas de câmbio a termo e as taxas de câm- métricos.
bio spot (entrega imediata), expressas em uni-
dades de moedas estrangeiras por unidade de TEOREMA DE HECKSCHER-OHLIN. Dentro
moeda nacional, será equivalente à relação entre do conceito das vantagens comparativas, este
1 mais a taxa de juros externa e 1 mais a taxa teorema demonstra que um país tem uma van-
de juros interna. tagem comparativa ao produzir um bem que
faz um uso relativamente intensivo do fator de
TEOREMA DE COASE. Esse teorema sustenta que esse país dispõe em relativa abundância.
que as externalidades não provocam a alocação Veja também Paradoxo de Leontieff.
imperfeita de recursos, desde que os custos de
transação (para a elaboração de contratos e ne- TEOREMA DE RYBCZYNSKI. Este teorema do
gociações de acordos) sejam nulos, e os direitos economista homônimo estabelece que, dentro
de propriedade, bem definidos e respeitados. das premissas do teorema de Heckscher-Ohlin,
Nesse caso, as partes — o produtor e o consu- se um dos dois fatores de produção for aumen-
midor da externalidade — teriam um incentivo tado, para que os preços das mercadorias e dos
de mercado para negociar um acordo em bene- fatores sejam mantidos constantes é necessário
fício mútuo, de tal forma que a externalidade que o produto que utiliza com intensidade o
(economias externas) fosse “internalizada”. O fator que aumentou se expanda, enquanto a pro-
teorema estabelece que o resultado desse pro- dução do outro produto, que usa intensivamente
cesso de troca seria o mesmo, qualquer que fosse o fator que não se expandiu, acuse uma redução.
— o produtor ou o consumidor de externalidade Veja também Teorema de Heckscher-Ohlin.
— aquele que possuísse poder de veto ou direito
de propriedade de usar ou não o recurso. Veja TEOREMA DE STOLPER-SAMUELSON. Teo-
também Economias Externas. rema segundo o qual aumentos de salário em
relação à renda são acompanhados de aumentos
TEOREMA DE EULER. Se a função Y = f(X1, nos preços relativos do bem trabalho intensivo.
... Xn) é homogênea do primeiro grau, então ela Dessa forma, se considerarmos dois países cujas
poderá ser expressa da seguinte forma: economias são autárquicas e disponham do mes-
mo nível tecnológico, o país que tiver o menor
Y = δY/δX1.X1+Y/X2.X2+ ... δY/δXn.Xn
coeficiente salário/renda deve ter o menor preço
na qual X1, ... Xn são variáveis independentes relativo (autárquico) do bem trabalho intensivo.
e δY/X1, ... δY/Xn são as primeiras derivadas Veja também Paradoxo de Leontief; Trabalho
parciais em relação às variáveis independentes. Intensivo.
Este teorema é geralmente utilizado para des-
TEOREMA DO LIMITE CENTRAL. Apresen-
tacar que, sob retornos de escala constantes, o
tado pela primeira vez por Laplace em 1809, de-
valor do produto se esgota no pagamento de
monstra a tendência de que as médias de médias
fatores se a cada fator for pago o valor de seu
reduzem extraordinariamente a dispersão no en-
produto marginal, uma vez que se P = f (K, L),
torno da grande média ou da média principal.
é uma função de produção que expressa a pro-
Dessa forma, se uma população tem uma dis-
dução como função do capital (K) e do trabalho
tribuição normal, a distribuição das médias
(L), e se ela proporciona retornos de escala cons-
amostrais retiradas da população também tem
tantes (ou melhor, é homogênea do primeiro uma distribuição normal, para qualquer tama-
grau), então pode ser escrita da seguinte maneira: nho da amostra. Isso significa que não necessa-
P = δP/δK.K+δP/δL.L riamente deva-se conhecer a distribuição de uma
população para realizar inferências sobre ela a
onde δP/δK, δP/δL podem ser tomados como partir de dados amostrais. A restrição, nesse
o produto marginal do capital e do trabalho, caso, é que o tamanho da amostra deva ser gran-
respectivamente. de, isto é, contar com um número razoavelmente
amplo de observações amostrais.
TEOREMA DE GAUSS-MARKOV. Teorema
da teoria da estimação que demonstra que, sob TEORIA ASTRONÔMICA DO CICLO ECO-
certas condições, incluindo a homocedasticidade NÔMICO. Teoria que busca correlacionar as cri-
(variância constante) e ausência de autocorrela- ses econômicas com o aparecimento de manchas
597 TEORIA DA FIRMA

solares. O aparecimento dessas manchas e a va- a explicação do atraso ou do subdesenvolvimen-


riação da intensidade dos raios solares teria in- to. A tese central afirma que os países depend-
fluência sobre as colheitas, e o resultado destas entes são espoliados pelos países dominantes,
influenciaria a vida econômica. Esta teoria foi que se apropriam do excedente gerado nos pri-
sugerida por Stanley Jevons, que encontrou in- meiros mediante métodos violentos (período co-
tervalos de dez anos entre as crises do século lonial) e, atualmente, por meio do comércio, das
XIX e o aparecimento das manchas solares, de- relações de troca, do capital financeiro etc., ge-
duzindo daí uma correspondência.Veja também rando o subdesenvolvimento. Dentre os autores
Ciclo Econômico. mais representativos dessa escola, destacam-se
André Gunder Frank e Paul Baran, e, entre os
TEORIA DA BUROCRACIA. Teoria desenvol- brasileiros, Rui Mauro Marini, Theotônio dos
vida por Max Weber, que definiu as caracterís- Santos e Vânia Bambirra.
ticas de uma organização que maximiza a esta-
bilidade e a controlabilidade de seus componen- TEORIA DA FIRMA. Parte da teoria microeco-
tes. A burocracia ideal é a que reúne, numa or- nômica que se dedica a explicar e prever as de-
ganização, todos os seus elementos característi- cisões da empresa ou firma, principalmente no
cos em alto grau. O tamanho crescente das or- que se refere ao produto final, seu preço, grau
ganizações empresariais passou a exigir formas de utilização de insumos e mudanças nessas va-
de administração não contempladas nas concep- riáveis. A tradicional teoria da firma costuma
ções das escolas clássica e de relações humanas. tratar a empresa em grau muito alto de abstra-
Ou melhor, com o desenvolvimento do capita- ção, mesmo levando em conta características
lismo, as empresas passaram a exigir de seus modernas — como a separação da propriedade
empregados um comportamento burocrático no de sua administração, representada pelas com-
sentido em que cada um é pago para realizar panhias por ações ou sociedades anônimas, as
funções definidas, mais além de suas preferên- grandes e complexas estruturas organizacionais
cias ou inclinações pessoais. O exercício de uma que elas possuem, além de imperfeições de in-
função não depende mais da personalidade de formação sobre o ambiente externo em que
quem a executa, mas das normas e regras pré- atuam —, considerando seu objetivo maximizar
definidas para sua execução. O modelo de or- lucros, dadas certas condições de demanda, e,
ganização empresarial daí decorrente foi aplica- em conseqüência, o produto final, sua estrutura
do nas empresas e constitui o cerne da Teoria de preço e os insumos escolhidos pela firma po-
da Burocracia na ciência da administração. Os dem diferir se a empresa vende num mercado
principais representantes desta concepção, além competitivo perfeito ou imperfeito. Entretanto,
de Max Weber, seu inspirador, são: Robert K. a tradicional teoria da firma utiliza o mesmo
Merton, Philip Selznick, Alvin Gouldner, Ri- argumento em todos os casos: a empresa deve
chard Scott, Reinhard Bendix e Robert Michels. maximizar seus lucros com toda informação e
certeza disponíveis, sem que isso acarrete ne-
TEORIA DA CAPTURA. Veja Capture Theory. nhum problema em sua estrutura orgânica. Essa
simplicidade teórica, da qual a teoria da firma
TEORIA DA COMPLEXIDADE. Conjunto de
tirava sua força e que era um primeiro passo
estudos sobre como e por que os grandes siste-
para a elaboração de uma teoria de mercado e
mas se comportam de maneira diferente ou não
de uma teoria do processo de alocação de re-
explicáveis pela soma de suas partes componen-
cursos na economia como um todo, passou a
tes. Para os pesquisadores do Santa Fé Institute,
ser refutada pela importância cada vez maior
do Novo México (EUA), os mercados livres são
dos mercados controlados por oligopólios, uma
o melhor exemplo de sistemas adaptáveis com-
vez que essas empresas estão livres das tradi-
plexos, na medida em que seus componentes
(agentes) buscam apenas seu próprio benefício e cionais pressões competitivas, e algumas das
interesses e, no entanto, os resultados globais — previsões tradicionais passaram a ser questio-
pelo menos teoricamente — são a maneira mais nadas, como, por exemplo, a de que a empresa
eficaz de produção e distribuição de bens e re- não muda seus preços como resposta a uma mu-
cursos. Os estudos da Teoria da Complexidade dança em seus custos fixos. A partir da década
dirigem-se, contudo, para o exame das imperfei- de 50, houve um esforço de revisão da tradicio-
ções que tiram dos mercados tais características nal teoria da firma e os mais significativos de-
e justificam ações extra-mercado (por exemplo, senvolvimentos se concentraram nos objetivos
dos governos) para alcançar maior eficiência. da empresa, ou seja, no pressuposto da maxi-
mização dos lucros. Assim, observou-se que os
TEORIA DA DEMANDA EFETIVA. Veja De- acionistas das empresas, os proprietários da fir-
manda Efetiva. ma e de seus lucros não participavam ativamen-
te da direção das empresas, deixada a cargo de
TEORIA DA DEPENDÊNCIA. Conceito desen- executivos, esperando apenas a manutenção de
volvido, especialmente na América Latina, para um retorno razoável de dividendos. Essa situa-
TEORIA DA FIRMA 598

ção levou a uma série de teorias baseadas na nômico e a execução dos contratos, autorizam
hipótese de que as decisões das empresas eram sua revisão para ajustá-los às novas condições
tomadas, na realidade, para satisfazer os obje- existentes. Consiste na aplicação da cláusula re-
tivos dos altos executivos, e não propriamente bus sic standibus aos contratos administrativos.
para maximizar os lucros. Como a teoria desen- Veja também Rebus in Standibus.
volvida por W.J. Baumol no livro Business Be-
havior, Value and Growth (Comportamento Em- TEORIA DA PARIDADE DO PODER DE COM-
presarial, Valor e Crescimento), de 1966, que su- PRA. Veja Purchasing Power Parity Theory.
gere ser o objetivo da empresa aumentar seu TEORIA DA PERSPECTIVA. Conceitos desen-
tamanho, medido pelas receitas de vendas, pois volvidos por dois psicólogos israelenses, Amos
a satisfação administrativa depende mais do ta- Tversky e Daniel Kahneman, que trabalham nos
manho da empresa do que de seus lucros. Isso Estados Unidos em Princeton e Stanford a partir
levou a certas previsões de comportamento que de meados dos anos 60. Esses conceitos estão
diferem da tradicional maximização dos lucros, relacionados a como as pessoas fazem escolhas
como a de que a empresa tende a produzir mais (tomam decisões) diante de resultados incertos,
produtos e investir mais em propaganda ou a isto é, como se comportam diante da incerteza.
responder a um aumento nos custos fixos, ele- De acordo com as pesquisas realizadas por esses
vando seus preços. Um modelo semelhante de autores, foram descobertos padrões de compor-
comportamento empresarial foi desenvolvido tamento não reconhecidos até então pelos de-
por Oliver Williamson em The Economics of Dis- fensores da tomada racional de decisões por par-
cretionary Behaviour: Managerial Objectives in a te dos agentes econômicos. Kahneman e Tversky
Theory of the Firm (A Economia do Comporta- evidenciaram que existem interferências sobre
mento Discricionário: Objetivos Administrati- a tomada racional de decisões relacionadas com
vos na Teoria da Firma), 1964, ao argumentar 1) as emoções e 2) a falta de conhecimento pleno
que a satisfação dos altos executivos depende sobre as decisões a serem tomadas, ou melhor,
do tamanho de seus departamentos (medidos o não entendimento pleno da situação com a
por critérios administrativos), do total de lucros qual se está lidando. Embora as concepções des-
declarados que possam reter, em vez de distri- ses autores tenham origem na seleção de pessoal
buir aos acionistas (o que permite realizar in- para o Exército de Israel, sua influência no cam-
vestimentos sem depender de aprovação), e do po da economia, especialmente nos mercados
tamanho das verbas administrativas e vantagens financeiros de risco, tem sido crescente.
(carros da empresa etc.) que eles manipulam.
Entretanto, essas modernas teorias da firma con- TEORIA DAS DECISÕES. Teoria relacionada
centram-se ainda nos supostos objetivos da em- com a tomada de decisões que permitam a es-
presa, ignorando os problemas de organização colha do caminho mais apropriado para atingir
e as imperfeições no fluxo da informação. Elas um objetivo num ambiente de incertezas e sob
também partem do pressuposto de que o obje- determinadas circunstâncias.
tivo das empresas é maximizar alguma coisa,
além de obter certo grau satisfatório de vendas, TEORIA DA SEGMENTAÇÃO DOS MERCA-
lucros etc., ficando desse modo muito próximas DOS. Teoria sobre o comportamento das taxas
da teoria tradicional. Assim, o ponto de partida de juros, que estabelece que os mercados finan-
mais significativo para uma atualização sobre o ceiros de curto e longo prazos operam de ma-
assunto é a teoria comportamental da firma, que neira independente e que os investidores têm
deixa de lado o pressuposto de que a empresa preferências fixas por prazos de vencimento de
maximize algo, concentrando-se nos processos suas aplicações. Os defensores dessa teoria sus-
de decisão e no modo como ele afeta a organi- tentam que os mercados de curto e longo prazos
zação da empresa. são mercados distintos, cada qual com seus pró-
prios compradores e vendedores, de tal forma
TEORIA DA FLUTUAÇÃO DAS AMOSTRAS. que não é fácil que uns substituam outros diante
É a teoria estatística que estuda as flutuações de alterações nas respectivas taxas de juros. Veja
acidentais dos elementos típicos de amostra, es- também Preferência pela Liquidez.
tabelecendo processos de cálculo de erros que
permitem generalizar as conclusões tiradas do TEORIA DAS FILAS. Técnicas matemáticas que
estudo de uma amostra para a população da incluem o cálculo de probabilidades utilizadas
qual ela é originária. Veja também Teorema do na pesquisa operacional para identificar as prin-
Limite Central. cipais características das filas, visando evitar sua
formação ou, quando isso não é possível (a gran-
TEORIA DA IMPREVISÃO. Conceito de di- de maioria dos casos), antecipar e induzir seu
reito administrativo segundo o qual diante de tamanho, velocidade e variação para eliminar
eventos novos, imprevistos e imprevisíveis pe- pontos de estrangulamento e redução de custos,
las partes contratantes e a elas não imputáveis, dotando cada processo produtivo com a melhor
que tenham incidência sobre o equilíbrio eco- e mais racional seqüência de eventos possível.
599 TEORIA DOS SISTEMAS

A teoria se aplica tanto a pessoas (trânsito, cha- para alterar preços podem levar a grandes pro-
madas telefônicas, atendimento em bancos) blemas em nível agregado.
como a materiais.
TEORIA DOS DETERMINANTES. Teoria ma-
TEORIA DAS VAGAS. Também denominada temática originada das pesquisas desenvolvidas
teoria de Elliot, foi desenvolvida por Ralph Nel- por Leibniz, em fins do século XVII. Destina-se
son Elliot em seu livro The Wave Principle, uti- a facilitar a resolução de sistemas algébricos
lizando as séries de Fibonacci para prever e ex- compostos por m equações de primeiro grau
plicar o movimento das cotações de ativos fi- com n incógnitas. Quando m = n, a disposição
nanceiros, especialmente ações nas Bolsas de Va- em quadros das m linhas e das n colunas forma
lores. De acordo com essa teoria, os preços dos uma matriz quadrada. À matriz se associa, em
ativos financeiros se deslocariam em “ondas” determinadas condições, um número que recebe
causadas pelos movimentos das ações dos apli- a denominação de determinante. A partir da teo-
cadores que, por sua vez, seriam influenciadas ria dos determinantes, desenvolveram-se os
pelo comportamento psicológico dos mesmos. quadros de insumo de Leontief e as técnicas de
Embora tenha mostrado sua utilidade empírica programação linear, ambos utilizados em larga
para prever e explicar movimentos de cotações escala no planejamento setorial de empresas.
das ações, a teoria das vagas não possui uma
explicação lógica ou uma organização interna TEORIA DOS GRAFOS. Constitui uma deri-
de relações consistentes. A combinação das sé- vação da teoria dos conjuntos, e faz parte do
ries de Fibonacci com elementos psicológicos dá que se vem denominando matemática moderna.
à teoria um elemento místico que limita sua uti- Nessa teoria, são estudadas as diferentes famí-
lização de maneira considerável. Veja também lias de grafos, suas características e proprieda-
Dow Theory; Fibonacci, Leonardo; Grafista. des, assim como os diferentes algoritmos de oti-
mização. Veja também Algoritmo; Grafo.
TEORIA DE ELLIOT. Veja Teoria das Vagas.
TEORIA DOS JOGOS. Aplicação da lógica ma-
TEORIA DO ARMAZENAMENTO. Consiste temática no processo de tomada de decisões nos
na aplicação do cálculo de probabilidades, em jogos e, por extensão, na economia, na política
especial o que se refere à teoria dos processos e na guerra — situações caracterizadas, como
estocásticos, a uma classe de problemas que as dos jogos, por conflitos de interesses, infor-
pode compreender as seguintes variantes: 1) mações incompletas e acaso. A analogia entre
problemas estatísticos nos quais a entrada (su- as competições nos jogos e na economia foi de-
primento) é aleatória e a saída (fornecimento), senvolvida por Johannes von Neumann e Oskar
determinística, como acontece com as barragens Morgenstern em seu livro Teoria dos Jogos e do
das hidrelétricas; 2) problemas estatísticos nos Comportamento Econômico (1944). De modo geral,
quais ocorre uma entrada determinística e uma a teoria dos jogos demonstra que, em jogos de
saída aleatória, como ocorre com os estoques de apenas uma pessoa, a estratégia é determinada
mercadorias numa loja comercial; 3) problemas exclusivamente pelas regras do próprio jogo. Em
estatísticos nos quais tanto as entradas como as jogos com duas pessoas, cada jogador leva em
saídas são aleatórias, como acontece nas filas. consideração as possíveis estratégias do outro.
Diz-se que esses jogos são zero-soma: uma das
TEORIA DO CONGESTIONAMENTO. Parte
partes perde exatamente o que a outra ganha.
da análise estatística que estuda a dinâmica dos
Finalmente, nos jogos com mais de duas pes-
processos estocásticos, como o das filas. Esta di-
soas, o que uma perde não é necessariamente
nâmica é caracterizada da seguinte forma: 1) a
ganho por outra, exigindo considerações mais
lei probabilística a que obedece a chegada dos
complexas. No entanto, o resultado pode ser in-
fregueses ao local onde deverão ser atendidos;
fluenciado pela formação de coalizões, até o
2) as regras que disciplinam a movimentação
ponto de reduzir o jogo com n participantes a
de uma fila; 3) a lei probabilística que governa
um jogo com apenas dois participantes. No
a seqüência do tempo gasto para atender os su-
mundo dos negócios, podem acontecer situações
cessivos clientes. A teoria é aplicável também a
desse tipo, quando algumas empresas de grande
problemas de ligações telefônicas, consumo de
porte fazem “acordos” com a finalidade de re-
água, utilização de fax, etc.
tirar do mercado pequenos concorrentes e exer-
TEORIA DO FATO DO PRÍNCIPE. Veja Fato cer de fato um poder de cartel. Veja também
do Príncipe. Concorrência.

TEORIA DO VALOR. Veja Valor. TEORIA DOS SISTEMAS. Concepção desen-


volvida pelo biólogo alemão Ludwig von Ber-
TEORIA DOS CUSTOS DE MENU. Concep- talanffy, da Universidade de Alberta (Canadá),
ção que tenta demonstrar que pequenos custos cujos primeiros escritos sobre o tema datam dos
TEORIA DOW 600

anos 20. O principal elemento dessa teoria é a com os conceitos neoclássicos sobre o desenvol-
elaboração de princípios gerais e modelos de de- vimento econômico. A ênfase é colocada na fa-
senvolvimento gerais (totalizadores), seja no cilidade de substituição entre trabalho e capital
campo da física, da biologia ou das ciências so- na função de produção, de tal forma a assegurar
ciais. De acordo com essa concepção, existiria um crescimento contínuo e estável, de tal ma-
uma tendência para a integração das ciências neira que o problema da instabilidade gerada
naturais ou sociais, e tal integração dar-se-ia me- pela rigidez de substituição entre os dois fatores,
diante a teoria dos sistemas (ou Teoria Geral encontrada no modelo de crescimento Harrod-
dos Sistemas). Essa nova formulação contribui- Domar, possa ser superado. Do ponto de vista
ria para a obtenção de uma teoria exata no cam- do progresso técnico, a abordagem neoclássica
po das ciências sociais, o que significaria uma admite que esse processo é exógeno e pode ser
tendência à unidade da ciência. No campo da
incorporado tanto em máquinas e equipamentos
administração, a teoria dos sistemas trouxe ele-
existentes quanto também em novos. As fontes
mentos importantes para a explicação da dinâ-
mica do funcionamento das empresas. Conceitos de desenvolvimento seriam o crescimento da
como totalidade, entropia, teleologia e finalida- população e a incorporação do progresso técni-
de, entre outros, contribuíram para uma melhor co. A principal crítica a esse enfoque é que, na
compreensão do funcionamento das empresas. medida em que os salários aumentam (e as taxas
de lucro caem), o trabalho não necessariamente
TEORIA DOW. Veja Dow Theory. é substituído por capital na função de produção,
uma vez que existe a possibilidade de recicla-
TEORIA ECONÔMICA. Sistematização concei- gem (reswitching), ou seja, a possibilidade de que
tual dos processos e fenômenos econômicos ou o mesmo coeficiente de capital/trabalho possa
reconstrução abstrata da realidade econômica, estar associado com dois preços relativos entre
fazendo uso das categorias de um método de capital e trabalho. Essa dualidade aconteceria
investigação. A teoria econômica procura encon- porque, embora os capitalistas tenham incenti-
trar as determinações essenciais dos fenômenos
vos para substituir trabalho (mais caro) por ca-
econômicos, separando o acessório do funda-
pital, este último é formado pelo trabalho e, em
mental, com isso estabelecendo formulações uni-
versais, num trabalho de síntese. É por meio da conseqüência, seu preço também aumentará na
teoria que a economia se entrelaça com a histó- medida em que a taxa de salários aumenta e a
ria, a sociologia, a antropologia e outras ciências de lucros cai. Assim sendo, em certas circuns-
afins. Seu papel não se limita à interpretação tâncias os capitalistas podem se deslocar para
do que ocorre no plano da produção, da circu- uma função de produção mais trabalho inten-
lação e do consumo: é também o ponto de par- siva quando os salários sobem. Veja também
tida para a formulação de respostas aos proble- Controvérsia de Cambridge; Reciclagem.
mas econômicos surgidos em cada etapa do de-
senvolvimento social. Veja também Metodolo- TEORIA QUANTITATIVA DO VALOR DA
gia; Pensamento Econômico. MOEDA. Teoria clássica segundo a qual o au-
mento do meio circulante provoca o aumento
TEORIA ECONÔMICA DA BUROCRACIA. geral de preços. Assim, o poder aquisitivo da
Concepção do campo das finanças e da admi- moeda seria inversamente proporcional ao seu
nistração pública, a teoria econômica da buro- montante em circulação. O economista norte-
cracia sustenta que a burocracia estatal tende a americano Irving Fisher, que desenvolveu a
atuar como força maximizadora dos orçamen- teoria, elaborou para ela uma fórmula conhe-
tos. Isso aconteceria porque quanto maior for o cida como equação das trocas ou equação do
orçamento, maior será o poder econômico e po- câmbio. O enunciado diz que o produto da
lítico da burocracia, que poderá usá-lo em causa quantidade de moeda, legal e/ou escritural,
própria (salários, benefícios etc.) ou para favo- pela sua velocidade de circulação, é igual à
recer terceiros (empreiteiras). Essa tendência soma de todos os preços multiplicados pelo
aconteceria na medida em que, para a buro- volume das mercadorias trocadas. A expressão
cracia estatal, o orçamento, considerado uma algébrica é MV = PT, onde M é a quantidade
determinada magnitude de recursos, encontra-
total de moeda, V é a velocidade de circulação,
se descolado das questões de custos (no que
P é o nível geral de preços e T é o volume de
se refere à produção dos serviços brindados)
como dos preços, no que se refere à aquisição transações de bens e serviços ocorridas na uni-
de bens para a produção desses serviços. Veja dade de tempo (em geral um ano). Como o
também Burocracia. autor inclui a moeda escritural (os depósitos
bancários), a fórmula detalhada passa a ser:
TEORIA NEOCLÁSSICA DO CRESCIMEN- MV + M’V’ = PT, em que M’ representa a moeda
TO ECONÔMICO. Denominação genérica de escritural e V’, sua velocidade de circulação. O
uma série de modelos construídos de acordo nível geral de preços poderia ser expresso da
601 TERRA

seguinte maneira: P = MV + M’V’/T. Veja tam- posições e reivindicações comuns: é o caso do


bém Fisher, Irving. Movimento dos Países Não-Alinhados, nascido
em 1955 na Conferência de Bandung (Indoné-
TEORIA Z. Concepção desenvolvida no livro sia), cujos participantes se posicionaram como
homônimo, no início dos anos 80, por William nações independentes entre os dois grandes blo-
G. Ouchi, um especialista em administração cos hegemônicos internacionalmente e alicerça-
americano de origem japonesa, e professor na
dos em organismos e pactos militares. Com a
Graduate School of Management, na Universi-
implosão dos países socialistas da Europa, a dis-
dade da Califórnia, em Los Angeles. Consiste
solução da União Soviética e a intensificação do
na idéia simples de que a chave para o aumento
da produtividade é o envolvimento dos traba- processo de globalização, o termo vem caindo
lhadores naquilo que estão produzindo. Ou me- em desuso. Veja também Grupo dos 77; Países
lhor, que o segredo da produção japonesa não Subdesenvolvidos.
é a produção em sentido estrito, mas a admi- TERCIÁRIO, Setor. Veja Setores de Produção.
nistração da produção. Ouchi sustenta que se
as empresas americanas adotarem, com as adap- TERMO. Extinção do prazo ou data marcada
tações necessárias, esses princípios que já exis- para o vencimento de um compromisso. Uma
tem nas empresas japonesas, poderão enfrentar operação a termo significa operação cuja data de
o desafio representado pelas empresas japonesas vencimento fica estabelecida de antemão. Veja
em matéria de produtividade (preços) e quali- também Mercado a Termo; Operação a Termo.
dade (conquista de mercados) na concorrência
internacional. TERMOS DE INTERCÂMBIO. Veja Relações
de Troca.
TERÇA. Forma de parceria agrícola em que o
camponês fica com dois terços da produção e o TERMS OF TRADE. Expressão em inglês que
proprietário da terra por ele trabalhada recebe significa “relações de troca” ou poder relativo
o restante. O proprietário contribui apenas com de compra das exportações de um país. Veja
a terra. A terça é particularmente empregada no também Relações de Troca.
Nordeste brasileiro.
TERRA. Em economia, um dos fatores de pro-
TERÇA-FEIRA NEGRA. Veja Black Tuesday. dução, ao lado do capital e do trabalho. Engloba
TERCEIRIZAÇÃO. Prática empresarial de con- os recursos naturais encontrados no subsolo
tratar externamente, isto é, com outras empresas, (carvão, petróleo e minérios em geral), a água
armazenada em sua superfície e a parte arável
produtos e serviços necessários ao seu processo
do solo. Como força produtiva e objeto de tra-
produtivo. Geralmente, as atividades terceiriza-
balho, sua utilização ao longo da história da so-
das estão relacionadas com atividades periféri-
ciedade humana está ligada fundamentalmente
cas ou complementares a uma empresa, embora à produção de alimentos pela atividade agrícola.
em certos casos, como ocorra com o “Consórcio Além de sua capacidade de produção, outra ca-
Modular”, a terceirização ocorra na atividade racterística da terra é proporcionar a seu pro-
primordial de uma empresa. O objetivo é redu- prietário ou arrendatário, particularmente nas
zir custos de produção, não apenas pelo bara- condições de uma agricultura capitalista, uma
teamento das despesas com mão-de-obra — pois renda. Por outro lado, a forma e propriedade
muitas vezes o acordo coletivo estabelecido da terra determinam também os modos de sua
numa empresa estipula um piso salarial bem utilização e os limites do emprego dos demais
superior ao existente no mercado para certas ca- fatores: o capital e o trabalho. Assim, uma gran-
tegorias de trabalhadores — como também pela de propriedade agrícola comporta uma elevada
racionalização de custos com a redução, por soma de capital (máquinas, adubos, obras de
exemplo, de estoques. Veja também Consórcio irrigação) e um considerável emprego de mão-
Modular; Just in Time. de-obra, o que, por sua vez, exige grandes re-
cursos financeiros. Ao contrário disso, a peque-
TERCEIRO MUNDO. Conjunto das nações po- na propriedade camponesa não exige investi-
bres da Ásia, da África e da América Latina que mento de mão-de-obra (é trabalhada pela pró-
se situavam entre os dois blocos formados pelos pria família) e pode ser preparada e explorada
grandes países capitalistas e pelos países do ex- com um reduzido emprego de implementos
bloco socialista (União Soviética e Europa Orien- agrícolas. As formas de propriedade e de uso
tal). Abrangia países de orientação e sistemas da terra têm fundamentos históricos e sociais,
políticos os mais diversos e até mesmo antagô- variando, no entanto, de país para país e, mesmo
nicos, unidos apenas pelo subdesenvolvimento. no interior de dado país, de região para região.
Em certos momentos, esses países têm procura- Nos países europeus, predominam pequenas e
do apresentar-se no cenário internacional com médias propriedades rurais, que derivam, na
TERRAS DEVOLUTAS 602

maioria das vezes, da eliminação da proprieda- quanto mais próximos estão os índices de renda
de feudal, no decorrer das revoluções burguesas. per capita de dois países, maior será o volume
É o caso típico da França, onde as terras da Igreja de comércio que os dois países mantêm entre
e da nobreza foram divididas e vendidas aos si. A hipótese subjacente é que primeiro um país
camponeses sem terras e mesmo aos capitalistas. expande seu mercado interno, para posterior-
A grande propriedade rural, por sua vez, é uma mente expandir suas exportações.
forma de propriedade agrícola característica dos
países de tradição colonial, nos quais as lavouras TESE DE MANOILESCU. Desdobramento do
de exportação (café, cana-de-açúcar, fumo, ca- Argumento da Indústria Nascente (Infant Indus-
cau, borracha) necessitavam ao mesmo tempo try Argument), desenvolvido pelo economista
de extensas glebas de terra e abundante mão- homônimo, que se sustenta na evidência empí-
de-obra. Na atualidade, as grandes proprieda- rica de diferenciais de salários entre a agricultura
des tendem a se dividir ou intensificar o uso de e a indústria (mais elevados nesta última) em
capital, transformando-se em empresas rurais e países em desenvolvimento, embora a produti-
respondendo cada vez mais aos estímulos dados vidade do trabalho possa ser idêntica em ambos
pelo mercado. Veja também Agricultura; Fato- os setores. Nessas circunstâncias, a indústria ma-
res de Produção; Questão Agrária; Renda da nufatureira estaria em desvantagem de custos
frente às importações e deveria, por essa razão,
Terra; Revolução Agrícola.
contar com tarifas de importação compensatórias.
TERRAS DEVOLUTAS. Terras que se encon-
tram sob domínio público, como bens integran- TESE DE PREBISCH. Veja Prebisch, Raul.
tes da União, dos Estados ou dos municípios, TESOURO IMPERIAL. Veja Real Erário.
sem que tenham uso específico ou sejam objeto
de concessão. Na condição de terras vagas, não TESOURO NACIONAL. Secretaria do Minis-
aproveitadas ou desocupadas, podem ser ven- tério da Fazenda que centraliza a administração
didas a particulares ou colocadas em regime de dos negócios financeiros da União, especialmen-
concessão, de acordo com as regras e exigências te no que se refere às receitas e despesas públi-
dispostas em leis próprias. Na linguagem do di- cas. Tem jurisdição em todo o território nacional
reito administrativo, denomina-se devoluto tudo e é representado, em cada Estado, por uma de-
aquilo que se encontra vago ou desocupado. legacia fiscal que executa os serviços fazendá-
rios.
TERRITÓRIO ECONÔMICO. Conceito econô-
mico que não corresponde, necessariamente, às TESTAMENTARY TRUST. Veja Trust.
bases físicas delimitadas pelas fronteiras geopo-
líticas de um país. É mais abrangente e engloba TESTAMENTO. Documento pelo qual uma pes-
em seu território: 1) o território terrestre adua- soa (o testador, ou testante) determina como de-
neiro, incorporando as “zonas francas”; 2) o es- vem ser dispostos seus bens após sua morte.
paço aéreo e as águas territoriais do país; 3) as Na maioria dos países, um testamento só é vá-
jazidas e as explorações sobre as quais o país lido quando feito por escrito e legitimado por
possui direitos exclusivos, situadas em águas in- autoridade judicial competente.
ternacionais; as jazidas e as explorações que es- TESTE DE KALDOR-HICKS. Teste proposto
tão nas plataformas ligadas ao território de outro pelos economistas Nicholas Kaldor e John Hicks
país, desde que sejam exclusivamente explora- em artigos publicados no Economic Journal em
das, sob concessão, por residentes; 4) os “encla- 1939, estabelecendo que a situação A é melhor
ves territoriais”, ou seja, as partes de território do que a situação B se aqueles que ganham ao
que se encontram além das fronteiras do país, transferir-se para a situação A podem compen-
utilizadas por ele em decorrência de acordos in- sar aqueles que perdem e ainda assim sair ga-
ternacionais ou de acordo entre Estados. Ao con- nhando. Trata-se de uma situação hipotética e,
trário, não pertencem ao território econômico os segundo Kaldor-Hicks, a situação A é preferível
“enclaves territoriais”, ou seja, as porções do ter- à situação B, mesmo se não existir a compensação.
ritório aduaneiro utilizadas por organizações es-
trangeiras; 5) os equipamentos móveis (barcos TESTE DE TEOR. Teste realizado para verifi-
de pesca, navios, plataformas flutuantes), parte car o grau de pureza de um metal precioso e
do território econômico do qual seus proprietá- enquadrá-lo ou classificá-lo nos limites e padrõ-
rios são residentes. O conceito de território eco- es fixados pelas Bolsas de Valores e instituições
nômico é basicamente utilizado para a concei- financeiras em geral, para aceitá-los ou não
tuação e cálculo do PIB e PIL. Veja também PIB; como pagamento, reservas, depósitos etc. Veja
PIL; PNB. também Lingote; Ouro.
TESE DE LINDER. Tese desenvolvida pelo eco- TESTE DO PYX. Teste de conteúdo metálico das
nomista sueco homônimo, assegurando que moedas instituído em 1279 durante o reinado
603 TINBERGEN

de Eduardo I na Inglaterra, que instituiu os pro- TICK. Termo em inglês do mercado financeiro
cedimentos a serem seguidos para a realização que designa a flutuação mínima dos preços de
de tal teste. O propósito do teste era assegurar um título, de ações, de metais preciosos, de com-
que a cunhagem de moedas realizada pala Royal modities ou das taxas de juros dos contratos fu-
Mint (Casa da Moeda Real) observasse as quan- turos, representando 1/32 de um ponto percen-
tidades de ouro e prata definidas pelos padrões tual.
fixados pela Coroa. A palavra pyx deriva da pa-
lavra grega que significa caixa onde eram guar- TIED LOAN. Tipo de empréstimo internacional
dadas as moedas que deveriam ser testadas. no qual o país tomador de capital é obrigado a
consumir parte do financiamento na compra de
THÜNEN, Johann Heinrich von (1783-1850). produtos, materiais ou serviços do país finan-
Economista agrícola alemão, um dos primeiros ciador, para a execução do projeto no qual será
teóricos utilitaristas, partidário do uso dos mé- aplicado o dinheiro.
todos matemáticos na análise econômica. Mem-
bro da camada de proprietários de terra prus- TIGHT MONEY. Expressão em inglês que sig-
sianos (os junkers), dedicou-se aos problemas da nifica uma situação na qual é muito difícil obter
economia agrícola, numa visão estritamente teó- crédito, mesmo oferecendo garantias de primei-
rica, em sua obra O Estado Isolado, cuja primeira ra linha e pagando elevadas taxas de juros.
parte foi publicada em 1826 e a segunda, em
TIGRES ASIÁTICOS. Denominação dos países
1850 e 1863. Na primeira parte da obra, Thünen
da Ásia cujo desenvolvimento, depois da Segun-
procura encontrar os princípios que determinem
da Guerra Mundial, foi muito intenso e contí-
o melhor sistema de cultivo, especialmente em
nuo, como nos casos de Taiwan, Coréia, Cinga-
função da distância do mercado. Thünen cons-
pura e Hong-Kong, e assumiram uma posição
truiu um modelo teórico com respostas tão pre-
agressiva no comércio internacional, ampliando
cisas a essa questão que é considerado um dos
suas exportações, especialmente de produtos
primeiros expositores das modernas teorias so-
manufaturados, e ganhando novos mercados.
bre localização industrial. Também se antecipou
Mais recentemente, a China vem ocupando um
ao moderno princípio do custo de oportunidade,
papel de destaque nas exportações asiáticas e,
ao destacar que o preço de um produto deveria
em muitos casos, deslocando e/ou substituindo
ser calculado de modo a que a terra na qual é
os países mencionados anteriormente. A crise
produzido não possa render uma quantidade
do segundo semestre de 1997 no Sudeste e no
maior se for dedicada ao cultivo de outro pro-
Sudoeste da Ásia provocou sérios problemas
duto. Assim, o preço de um produto terá de ser
para a continuidade desse desenvolvimento ace-
suficientemente elevado para reembolsar o custo
lerado. Os países mais atingidos foram a Tai-
de produção e de transporte até o mercado. Em-
lândia, a Indonésia, a Malásia, as Filipinas e a
bora sua teoria da renda seja muito semelhante
Coréia do Sul.
à de Ricardo, o autor diferencia a renda da terra
e os pagamentos que lhe são acrescidos, elabo- TINBERGEN, Jan (1903-1994). Economista ho-
rando um conceito de renda que se baseia so- landês que ganhou o primeiro Prêmio Nobel de
mente no excedente do produtor e facilitando Economia (em 1969, juntamente com o norue-
aos economistas posteriores o relacionamento da guês Ragmar Frisch) e criou o termo “econome-
renda com outros fatores de produção além da tria”. Tinbergen realizou uma síntese da econo-
terra. Na segunda parte do livro, Thünen ante- mia pura, da matemática e da estatística, e de-
cipa a teoria da produtividade marginal ao afir- senvolveu modelos de decisão de política eco-
mar que a utilização de mais capital e trabalho nômica — que se contrapõem aos modelos de
aumenta o rendimento agrícola, mesmo encare- explicação da econometria —, com o objetivo
cendo seu custo. Também enuncia a hoje cha- de mostrar os efeitos de uma política econômica
mada “lei da igualdade dos preços dos fatores localizada e estudar as diversas combinações
de produção e de seus produtos marginais”, ao possíveis de iniciativas e seus resultados. Tin-
escrever: “A aplicação de doses sucessivas de bergen construiu um modelo decisional para a
trabalho sobre uma terra deve continuar até que Holanda, procurando determinar as influências
o rendimento suplementar obtido graças ao úl- dos salários, impostos, preços e aumento da pro-
timo trabalhador empregado seja igual, em va- dutividade sobre o balanço de pagamentos e o
lor, ao salário que ele recebe”; e conclui que o nível de emprego. Nesses modelos, Tinbergen
rendimento do capital “é determinado pela pro- trabalha com limites determinados por fatores
dutividade da última dose de capital emprega- políticos, sociais e psicológicos. É o autor do pri-
do”. Elaborou também uma doutrina do salário meiro manual de sua especialidade, Econometria
natural, que seria determinado por um cálculo (1951), matéria que ele define como “observação
complicado. estatística de conceitos determinados ou econo-
TIP 604

mia matemática baseada em dados mensurá- ria. São títulos de crédito as letras de câmbio,
veis”. Destacou-se ao aplicar seus modelos aos notas promissórias, conhecimentos de transpor-
problemas dos ciclos econômicos e da passagem te, conhecimentos de depósito, cheques, dupli-
da microeconomia a quantidades globais da ma- catas, apólices, títulos de dívida pública, ações
croeconomia. Contestou, no plano estatístico, o e debêntures.
princípio da aceleração (que exprime uma rela-
TÍTULO DE DÍVIDA PÚBLICA. Título emiti-
ção precisa e rígida entre o nível do investimento
do e garantido pelo governo (União, Estado, mu-
e a taxa de mudanças na produção), ao explorar
nicípio). É um instrumento de política econô-
as relações entre o investimento e as modifica- mica e monetária que pode servir para financiar
ções de produção de diversas indústrias em vá- um déficit do orçamento público, antecipar re-
rios países. Concluiu que não há uma relação ceita ou garantir o equilíbrio do mercado do di-
sólida entre esses fatores, ao contrário do que nheiro. De acordo com suas características, pode
ocorre com a relação entre lucros e investimen- ter a forma de apólice, bônus ou Obrigação do
tos. Foi professor nas universidades de Roterdã Tesouro Nacional.
e de Leiden. Entre suas obras, publicou: Business
Cycles in the USA (Ciclos Econômicos nos Es- TÍTULO DE PRIMEIRA LINHA. Veja First-
tados Unidos, 1921-1933), 1939; Mathematical Mo- Class Paper.
dels of Economic Growth (Modelos Matemáticos
TÍTULO DE RENDA FIXA. Título de investi-
de Crescimento Econômico), 1962; Economic Po-
mento de rentabilidade pré-fixada conforme o
licy: Principles and Design (Política Econômica:
prazo determinado para o saque. Abrange, no
Princípios e Projetos), 1967 e Income Distribution: Brasil, as letras de câmbio, as letras do Tesouro
Analysis and Policies (Distribuição de Renda: Nacional e os certificados de depósitos bancários.
Análise e Políticas), 1975.
TÍTULO DE RENDA VARIÁVEL. Título de in-
TIP (s). Termo em inglês que significa “gorjeta”, vestimento financeiro cuja rentabilidade só é co-
constituído das iniciais da expressão em inglês nhecida após seu vencimento.
to insure prompt service, que quer dizer “para as-
segurar serviço (atendimento) imediato”. TÍTULO IRRESGATÁVEL. Título que dá ao
portador apenas o direito de receber uma renda,
TÍTULO. Documento que certifica a proprieda- não sendo possível seu reembolso pelo valor no-
de de um bem ou de um valor. O termo se aplica minal. Pode, no entanto, ser negociado no mer-
genericamente a todos os valores mobiliários. cado de títulos.
Distinguem-se dois tipos de títulos: os títulos co-
merciais (letra de câmbio, nota promissória, du- TÍTULO MÚLTIPLO. Veja Cautela.
plicata), que se caracterizam pelo prazo de ven-
cimento relativamente curto e pelo direito que TITULOMETRIA. Veja Toque.
têm seus portadores de receber em moeda cor- TÍTULOS DE CURTO PRAZO. No mercado fi-
rente as importâncias por eles representadas; e nanceiro internacional, são aqueles cujo prazo
os títulos de renda (ações, debêntures, títulos de de vencimento é inferior a um ano.
dívida pública), de vencimento a prazo longo e
cujos portadores têm direito a receber rendimen- TÍTULOS DE INVESTIMENTO. São os títulos
tos por eles produzidos. Quando contêm o nome classificados pelas empresas especializadas nes-
e o domicílio do proprietário, chamam-se títulos sas classificações, como a Standard & Poor’s e
nominativos; quando o proprietário não é desig- a Moody’s Investors nos Estados Unidos, como
nado, chamam-se títulos ao portador e podem ser títulos de primeira linha, os quais são compra-
livremente negociados, independentemente de dos por bancos e instituições de investimento.
qualquer ato escrito ou endosso.
TITUSVILLE. Cidade dos Estados Unidos onde,
TÍTULO AO PORTADOR. Documento que com- em 1859, foi aberto o primeiro poço de petróleo,
prova o direito de seu portador receber deter- dando início à indústria petrolífera naquele país.
minado valor em data preestabelecida. Os títu- Veja também Gusher; Petrobrás; Petróleo, Cri-
los ao portador (letras de câmbio, cheques, du- se do.
plicatas, notas promissórias) são negociáveis e
mudam de proprietário pela simples entrega ao TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo). A criação
comprador. Alguns, como as duplicatas, neces- da TJLP deveu-se, fundamentalmente, à desin-
sitam também do endosso do vendedor. dexação da economia no âmbito do sistema fi-
nanceiro nacional e à necessidade de alonga-
TÍTULO DE CRÉDITO. Documento em que mento do endividamento público depois da in-
uma pessoa, firma comercial ou instituição se trodução do Plano Real, em julho de 1994. O
compromete a pagar a outra (nomeada ou sim- Banco Central é encarregado do cálculo e da di-
plesmente o portador) certo valor ou mercado- vulgação da TJLP, o que foi feito pela primeira
605 TOLERÂNCIA

vez em dezembro de 1994. A TJLP é calculada pança, demanda de ativo de capital e elaborou
a partir da rentabilidade média nominal, em um método próprio (o tobit) para calcular e es-
moeda nacional, verificada no período imedia- timar relações econômicas que envolvem variá-
tamente anterior a sua vigência, dos títulos da veis dependentes limitadas ou truncadas. Tobin
dívida pública interna e externa, livremente ne- desenvolveu também trabalhos sobre a teoria do
gociados. Apesar de ser uma taxa anual, seu pe- investimento de capital, enfatizando a impor-
ríodo de vigência é de três meses. Pela sua forma tância da relação do valor de mercado para subs-
de cálculo, pode-se observar que a TJLP depende tituir custos. Conselheiro econômico do presi-
diretamente das taxas de juros de ativos nego- dente Kennedy (1961-1962), professor da Uni-
ciados no mercado interno e externo. Os recur- versidade de Nairóbi e diretor do Departamento
sos do Fundo de Participações PIS-Pasep, do de Economia da Universidade de Yale, Tobin é
Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do autor, entre outras, das seguintes obras: The
Fundo da Marinha Mercante, repassados ao American Business Creed (O Credo Americano
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico dos Negócios), 1956; National Economic Policy
e Social (BNDES) ou por este administrados, (Política Econômica Nacional), 1966; Essays in
passaram, a partir de dezembro de 1994, a re- Economics: Macroeconomics (Ensaios em Econo-
ceber a TJLP como remuneração nominal. Por mia: Macroeconomia), 1974; The New Economics,
One Decade Older (A Nova Economia, uma Dé-
ser o único órgão a possuir passivos sobre os
cada Depois), 1974; Essays in Economics: Con-
quais paga TJLP, o BNDES é igualmente a única
sumption and Econometrics (Ensaios em Econo-
instituição que oferece recursos vinculados a
mia: Consumo e Econometria), 1975.
essa taxa. O cálculo da TJLP é constituído pela
rentabilidade média atualizada dos títulos da dí- TOBIN’S Q RATIO. Veja Coeficiente Q (de
vida externa emitidos pelos Brasil (durante a ne- Tobin).
gociação das condições de Plano Brady) e dos
títulos da dívida pública interna federal emiti- TOEA. Veja Kina.
dos no mercado primário. Os títulos abaixo são
aqueles que podem integrar o cálculo da TJLP: TOKEN MONEY. Moeda cujo valor de face é
Brazil Investment Bond (BIB) — Bônus de Saída; maior do que o valor do material do qual é feita.
Interest Due and Unpaid (IDU) — Bônus de Ju- Todas as moedas modernas são desse tipo, ao
ros Devidos e Não Pagos; Par Bonds — Bônus contrário das moedas de ouro e prata que du-
ao Par; Discount Bond — Bônus de Desconto; rante curtos períodos no passado tinham peso
Debt Convertion Bond DCB — Bônus de Con- e teor equivalente ao valor de face. Em econo-
versão da Dívida; Front Loaded Interest Reduc- mias onde existe hiperinflação ou uma inflação
tion Bond FLIRB — Bônus de Redução Inicial muita intensa, pode ocorrer o contrário: o valor
de Juros; Front-Loaded Interest Reduction with facial pode cair tanto que se torna inferior ao
Capitalization Bond, “C” Bond — Bônus de Re- valor material do qual as moedas são feitas.
dução Inicial de Juros com Capitalização; New Quando isso acontece, as empresas utilizam as
moedas não para realizar transações (ou como
Money Bond 1994 — Bônus de Dinheiro Novo
reserva de valor), mas como matéria-prima (me-
1994; Eligible Interest Bond, EI Bond — Bônus
tais) para a produção de mercadorias.
de Juros Atrasados; Notas do Tesouro Nacional
— NTN, séries “D” e “H”, Títulos da Dívida TOKEN PAYMENT. Expressão inglesa equiva-
Pública Mobiliária Interna Federal; outros títulos lente a “pagamento simbólico”. É utilizada nos
a critério do Banco Central. Os títulos externos casos em que um devedor paga pelo menos uma
foram emitidos principalmente durante a rene- parte do que deve, sinalizando ao credor com
gociação da dívida feita sob as condições do Pla- um gesto de intenção do pagamento total devi-
no Brady. São transacionados livremente no do. Nos casos relacionados com a dívida externa
mercado internacional. Seus preços e rentabili- de um país, o termo se aplica quando o devedor
dades se comportam de maneira inversa, ou seja, em falta resolve tranqüilizar os bancos credores
quando o preço aumenta a rentabilidade dimi- realizando um pagamento simbólico, a fim de
nui e vice-versa. favorecer o prosseguimento das negociações.
TOBIN, James (1918- ). Economista norte-ame- TOKKIN. Abreviação de Tokyo Kaisha Inves-
ricano, neokeynesiano, teórico do equilíbrio mo- tements.
netário, ganhador do Prêmio Nobel de Econo-
mia de 1981. Tobin desenvolveu os modelos key- TOLERÂNCIA. Conceito utilizado pelas auto-
nesianos referentes a salários, inflação, demanda ridades emissoras de moeda de um país (no Bra-
monetária, consumo e poupança e política mo- sil, a Casa da Moeda) sobre o grau de diferença
netária e fiscal. Acrescentou à teoria do cresci- de peso e toque que uma moeda metálica pode
mento os problemas do dinheiro e da inflação, ter em relação ao seu padrão. No tempo em que
realizou estudos empíricos sobre consumo, pou- circulavam moedas de ouro e prata, essas dife-
TOMADA DE DECISÕES 606

renças poderiam ser significativas, não apenas TONELADA DE ARQUEAÇÃO. Medida de vo-
porque as moedas perdiam peso pelo atrito cau- lume (capacidade) equivalente a 2,83 m3 (em ale-
sado na circulação, como também porque eram mão, Raumtonne).
objeto de práticas de raspagem. Quando essas
moedas voltavam à Casa da Moeda para a re- TONELADA DE CARGA. É uma unidade de
cunhagem, se estivessem dentro dos limites de volume e não de peso. Corresponde ao espaço
tolerância, voltavam à circulação sem ônus para ocupado por uma carga. É igual a quarenta pés
seu proprietário. Se, no entanto, estivessem abai- cúbicos ou aproximadamente a 1,132 m3. Veja
também Tonelada de Registro.
xo desse limite, a reposição da diferença em me-
tal, para que as moedas voltassem a circular den- TONELADA DE DESLOCAMENTO. É unida-
tro do padrão, era cobrada do proprietário. Veja de utilizada para indicar a quantidade de água
também Raspagem; Sweating. que um navio desloca. Ela é igual à quantidade
de água salgada que pesa uma tonelada longa
TOMADA DE DECISÕES. Veja Decisões, To-
(1 016,047 kg), o que significa aproximadamente
mada de.
35 pés cúbicos ou 0,991 m3 de água salgada. Veja
TOMADOR. Beneficiário de uma letra de câm- também Unidades de Pesos e Medidas.
bio, ou seja, a pessoa em favor de quem o do- TONELADA DE REGISTRO. Unidade de ca-
cumento foi emitido e que receberá a importân- pacidade para navios, que nos indica quanta coi-
cia em questão. sa cabe num deles. Não é propriamente uma
TOMÁS DE AQUINO, Santo (1225-1274). Fi- unidade de peso, mas de volume ou capacidade
lósofo medieval. Sua obra Suma Teológica, escrita e corresponde a um espaço igual a cem pés cú-
entre 1265 e 1273, contém idéias sobre problemas bicos ou o equivalente a 28,317 m3. Se, num car-
econômicos, sociais e políticos que serviriam de gueiro, um espaço equivalente ao produto da
base para a atual doutrina da Igreja. Santo To- largura pelo comprimento e pela altura corres-
más é favorável à propriedade privada, mas ponder a 28,317 m3, significará a existência de
acha que cada proprietário deve levar em conta uma tonelada de registro. O peso dessa tonelada
dependerá do tipo de carga que for colocada no
o bem comum na administração de seus bens,
espaço correspondente. Outra tonelada que não
e não considera roubo a apropriação de um
é de peso é a “tonelada de carga”: corresponde
bem de outrem, em caso de extrema necessi-
a um espaço equivalente a quarenta pés cúbicos
dade. No que se refere ao comércio, Tomás de
ou 1,132 m3. Veja também Tonelada de Deslo-
Aquino defende sua legitimidade desde que
camento; Tonelada Métrica.
se limite ao “justo preço” como recompensa
pelo trabalho, e não como meio de enriqueci- TONELADA MÉTRICA. Medida de peso uti-
mento. A cobrança de juros é condenada como lizada pela Casa da Moeda do Brasil antes da
injusta e antinatural, exceto em forma de uma adoção do sistema métrico decimal e equivalente
multa convencional no caso de ultrapassar o a 54 arrobas ou aproximadamente 789,90 kg.
prazo estabelecido. Veja também Doutrina So-
cial da Igreja. TOOKE, Thomas (1774-1858). Economista inglês
nascido na Rússia, representante da escola ban-
TOMBSTONE. Termo em inglês que significa, cária, um dos principais porta-vozes do libera-
literalmente, “sepultura”, mas no mercado fi- lismo econômico. Sua maior contribuição para
nanceiro designa o anúncio em jornal onde são a economia é a extensa A História dos Preços e o
registradas ofertas públicas de títulos (securities). Estado da Circulação de 1792 a 1856, publicada
Nele se identificam o órgão emissor, o tipo de entre 1838 e 1857, na qual contesta a teoria quan-
emissão, os subscritores (underwriters) e onde titativa do dinheiro formulada por Ricardo. Too-
adquirir mais informações. O termo tombstone ke demonstra que são geralmente os movimen-
deve-se ao fato de que o anúncio consiste apenas tos dos preços que comandam as variações da
numa série de nomes e de datas, sendo os pri- massa monetária em circulação, e não o inverso.
meiros dos emissores dos títulos e daqueles que Sua crítica à teoria quantitativa do dinheiro foi
participaram no negócio, respeitando-se estrita- adotada posteriormente pelo economista sueco
mente a ordem cronológica. Veja também Un- Knut Wicksell, que desenvolveu a idéia de que
derwriting. os movimentos dos preços podem ser explicados
pelas variações das taxas de juros fixadas pelos
TOM NEXT (Tomorrow Next). Expressão em bancos. Tooke escreveu ainda: Thoughts and De-
inglês do mercado monetário e cambial que de- tails on the High and Law Prices of the Third Years
signa operações contratadas para o dia seguinte, from 1793 to 1822 (Pensamentos e Informações
para entrega no dia subseqüente (sendo dia útil). sobre a Alta e Baixa dos Preços nos Trinta Anos
Por exemplo, um contrato de câmbio negociado de 1793 a 1822), 1823, Considerations on the State
na segunda-feira e entregue na quarta-feira. of the Currency (Considerações sobre a Situação
607 TORRENS

da Moeda Circulante), 1826; On the Currency in toque. A copelação consiste na oxidação das im-
Connexion with the Corn Trade (Sobre a Moeda purezas contidas no ouro. Os metais não-nobres
Circulante e suas Relações com o Comércio de são absorvidos pela copela (formas construídas
Cereais), 1829; An Inquiry into the Currency Prin- de farinha de osso) ou pelo chumbo nela colo-
ciple (Investigação sobre o Princípio da Circula- cado conjuntamente com a amostra de ouro a
ção), 1844 e On the Bank Charter Act of 1844 (Sobre ser testada. Na via úmida, a amostra é dissolvida
a Lei Bancária de 1844), 1856. em água-régia (solução de ácido clorídrico e áci-
do nítrico) e os metais são separados por pre-
TOP DOWN. Expressão em inglês que signifi- cipitação. No processo eletrolítico, as células ele-
ca, literalmente, “de alto a baixo” e que, no pro- trolíticas e os metais são depositados seletiva-
cesso de análise de uma organização ou de uma mente em catodos. A titulometria é a dissolução
situação, quer dizer “ir do geral ao particular”. do metal e do ouro intitulado com permanga-
TOPIX. Iniciais da expressão Tokyo Stock Price nato de potássio. A espectrofotometria de absorção
Index, que significa Índice de Preço das Ações atômica é o método de mais elevada sensibilida-
da Bolsa de Valores de Tóquio. Criado em 1969, de, que permite a detecção quantitativa do ouro
este índice é composto de todas as ações regis- e possibilita a identificação das impurezas exis-
tradas na primeira seção da Bolsa de Valores tentes numa liga. O ouro do mais elevado teor
de Tóquio. Ele reflete a média ponderada de — aquele que varia entre 99,99% e 99,999% —
todas as ações, a ponderação sendo determinada somente pode ser analisado por este método.
pelo número de unidades registradas de cada Veja também Ouro.
ação. O índice é calculado dividindo o valor total TOQUE DA PRATA. Veja Dinheiro.
transacionado no mercado em um dia pelo va-
lor-base (4/1/1968) e multiplicando o resultado TOQUE DO OURO. Veja Quilate.
por cem. Para que este índice possa refletir os
movimentos dos preços, o valor-base é recalcu- TORRENS, Robert (1780-1864). Economista in-
lado quando novas ações se incorporam às lis- glês. Oficial da Marinha com participação nas
tagens ou ações são retiradas delas. Este índice guerras napoleônicas, Torrens foi membro do
é computado e divulgado a cada dois minutos. Parlamento inglês, onde passou a se interessar
Veja também Índice Nikkei. pela economia política, escrevendo extensiva-
mente sobre problemas econômicos durante
TOQUE (Fineza). O grau ou a proporção de pu- toda sua vida. Após seu primeiro livro, The Eco-
reza de um metal precioso depois de sua refi- nomist Refuted (O Economista Refutado), 1808 e
nação. Um toque (fineza) de 99,9 é o mais pró- o folheto Essay on Money and Paper Currency (En-
ximo da pureza absoluta que pode ser alcança- saio sobre o Dinheiro e Papel-moeda), 1812, seu
do. Na cunhagem de moedas ou na fabricação Essay on the External Corn Trade (Ensaio sobre o
de jóias, para que o metal precioso sirva mais Comércio Externo de Cereais), de 1815, estabe-
eficientemente a seus propósitos, outro metal é leceu sua reputação como importante economis-
adicionado, formando uma liga que é medida ta político. Sua visão do comércio internacional
em carats (quilates). Assim, um anel de 18 qui- foi pioneira em seu tempo ao rejeitar o livre-co-
lates de ouro contém 18 partes de ouro e 6 partes mércio unilateral, argumentando que as tarifas
do metal que forma a liga. No caso da cunhagem recíprocas poderiam ser melhores sob certas cir-
de moedas, toque é a relação do metal nobre cunstâncias. E, como defensor da colonização
(ouro ou prata) com o peso total da moeda cu- como uma solução para o problema da super-
nhada. Como geralmente as moedas desses me- população, promoveu programas de coloniza-
tais são obtidas por meio de ligas, o toque de ção na Austrália. Embora apenas em seus últi-
uma moeda de ouro ou prata é sempre inferior mos trabalhos tenha se dedicado mais ao pro-
ao máximo de toque que uma moeda pode ter. blema do papel-moeda circulante, logo Torrens
A verificação do teor de ouro de uma liga ou se tornou um dos principais representantes da
do metal extraído das minas se faz também me- escola das contrapartidas metálicas, que intro-
diante o toque, que é uma forma rudimentar, duziu o Banck Act de 1844, limitando a criação
mas largamente utilizada, especialmente nas de papel-moeda pelo Banco da Inglaterra e re-
joalherias, e que consiste em riscar-se uma pedra gulando sua emissão, que deveria flutuar de
de jaspe negro ou ônix com uma estrela, em acordo com o balanço de pagamentos do país
cujas pontas estão diversas ligas de ouro de 10, para prevenir sérios problemas comerciais. Essa
14, 18, 22 e 24 quilates. A mesma pedra é riscada posição entrava em conflito com a da escola ban-
com o objeto de ouro cujo toque está sendo ana- cária, que pedia a liberação de emissão do pa-
lisado. A comparação entre a coloração deste pel-moeda, por ser ele conversível em ouro, o
último traço com os cinco anteriores apontará que impediria uma emissão inflacionária. Tor-
o toque aproximado do objeto analisado. Exis- rens foi ainda fundador do Political Economy
tem também outros métodos de verificação do Club, que reunia Malthus e Ricardo. E, embora
TORSCHLUSSPANIK 608

seus trabalhos tivessem influência em sua época, informações diretamente ao Banco Central por
eles tiveram pouca repercussão póstuma, sendo meio do Sistema de Informações do Banco Central
redescobertos apenas recentemente. Entre ou- (Sisbacen). Essas informações deverão se referir
tras obras, escreveu: An Essay on the Production aos dados do dia útil imediatamente anterior.
of Wealth (Um Ensaio sobre a Produção da Ri-
queza), 1821; Letters on Commercial Policy (Cartas TRABALHISTA, Legislação. Conjunto de leis
sobre Política Comercial), 1833; The Budget (O que regulamentam as relações entre patrões e
Orçamento), 1841 e The Principles and Practical empregados. As primeiras leis em defesa dos
Operation of Sir Robert Peel’s Bill of 1844 (Os Prin- trabalhadores foram promulgadas na Inglaterra,
cípios e a Operação Prática da Lei de sir Robert na segunda metade do século XIX, incluindo o
Peel’s de 1844), 1848. direito de voto aos operários, instituído em 1867.
Isso possibilitou a eleição, para o Parlamento,
TORSCHLUSSPANIK. Termo em alemão que de líderes operários que, aliados aos liberais,
significa, literalmente, “pânico do fechamento conseguiram fazer aprovar várias leis benéficas
das portas”, isto é, pânico causado nos deposi- aos trabalhadores, destacando-se a redução da
tantes de um banco, por exemplo, diante da pos- jornada de trabalho para nove horas. Desde o
sibilidade de este vir a fechar suas portas por início do século XX, a luta pela ampliação da
não dispor de fundos para honrar seus compro- legislação trabalhista na Inglaterra esteve ligada
missos. Veja também Corrida Bancária. ao Partido Trabalhista Britânico. Paralelamente,
TOSTÃO. Moeda cunhada em Portugal em pra- desenvolviam-se em toda a Europa industriali-
ta de 11 dinheiros e que circulou no Brasil Co- zada movimentos políticos em favor da melho-
lônia até 1694, equivalente a 100 réis. ria nas condições de vida dos trabalhadores, seja
por meio de uma legislação trabalhista compa-
TOUROKUSAI. Título do mercado financeiro tível com a sociedade capitalista, seja por uma
japonês registrado em nome de seu possuidor mudança radical nas relações de propriedade.
nos livros da empresa emissora. Os certificados O próprio Tratado de Versalhes, assinado em
correspondentes são desnecessários nesses casos 1919, reconhecia a necessidade de uma redefi-
e na realidade não são emitidos. O possuidor nição jurídica das relações entre empregados e
do título recebe um formulário correspondente empregadores, criando a Organização Interna-
aos juros e ao principal antes da data dos res- cional do Trabalho (OIT), que passou a discutir
pectivos vencimentos. O formulário deve ser de- as questões trabalhistas em âmbito internacio-
volvido pelo possuidor dos títulos ao agente
nal. No Brasil, por algum tempo a questão tra-
emissor para o respectivo pagamento. A trans-
balhista foi deixada inteiramente ao confronto
ferência de propriedade pode ser feita mediante
das partes diretamente envolvidas (patrões e
registros apropriados junto ao agente emissor.
empregados) e à repressão policial. Em 1918,
TOWSEND, Robert. Veja Expectativas Racio- diante das lutas operárias dirigidas pelos anar-
nais. quistas, a Câmara dos Deputados criou a Co-
missão de Legislação Social e, como resultado
TR — Taxa Referencial. A TR foi criada em 1991 de seu trabalho, foi decretada a Lei de Acidentes
pelo Plano Collor II, com a finalidade de esta- do Trabalho, que encontrou grande resistência
belecer uma taxa de juros básica (que servisse do patronato. Mais tarde, em 1923, foi promul-
de referência para o resto do sistema) e que pu- gada a Lei Elói Chaves, que instituía a Caixa
desse ser utilizada por agentes econômicos nos de Aposentadorias e Pensões para os ferroviá-
vários mercados existentes. Para o cálculo da
rios, garantindo-lhes também a estabilidade aos
TR, o Banco Central constituiu uma amostra das
dez anos de serviço. Nesse mesmo ano foi criado
trinta maiores instituições financeiras do país,
o Departamento Nacional do Trabalho, com o
entre bancos múltiplos com carteira comercial
ou de investimento e caixas econômicas. O cri- objetivo de fiscalizar as Caixas de Aposentado-
tério utilizado para a escolha das instituições é rias e Pensões e concretizar os compromissos
o volume de captação de depósitos a prazo de assumidos pelo Brasil junto ao Tratado de Ver-
cada uma delas, obtido mediante seus balanços salhes. Em 1925, foi criada a Lei de Férias (quin-
semestrais. O valor da TR é então calculado a ze dias anuais), primeiramente só para comer-
partir da remuneração mensal média dos Cer- ciários, e depois para bancários, industriários e
tificados de Depósito Bancário (CDBs), e o Re- jornalistas, mas que não era respeitada pelos em-
cibo de Depósito Bancário (RDB) emitidos pelas presários. Após a Revolução de 1930, com a cria-
instituições constituintes da amostra, a taxas de ção do Ministério do Trabalho, Indústria e Co-
mercado prefixadas com prazo entre trinta e 35 mércio, o Estado passou a intervir diretamente
dias inclusive. Cada instituição selecionada para nas questões trabalhistas por meio de uma série
fazer parte da amostra que fornecerá os dados de regulamentos organizados em 1943 na Con-
a ser utilizados no cálculo da TR deve prestar solidação das Leis do Trabalho (CLT). A Cons-
609 TRABALHO ALIENADO

tituição de 1988 estabeleceu uma série de avan- segundo Marx, é dado não apenas pelo trabalho
ços em relação à legislação trabalhista. Em pri- individual, mas sobretudo pelo trabalho social,
meiro lugar, ela amplia o número de itens que em determinado nível de desenvolvimento das
devem constar do salário mínimo, incluindo o forças produtivas. Elemento essencial na medida
lazer e a previdência social; reduz a duração do do valor das mercadorias, o trabalho necessa-
trabalho semanal de 48 para 44 horas; estabelece riamente social é o eixo em que se estrutura a
a jornada de seis horas para o trabalho realizado teoria da mais-valia de Marx. Além disso, o au-
em turnos ininterruptos de revezamento; deter- tor de O Capital revela outros aspectos do tra-
mina, para as horas extras, um pagamento no balho como elemento gerador de valor. É o caso
mínimo 50% superior à hora normal, e um terço do trabalho simples e do trabalho complexo. O pri-
meiro conceito abrange o trabalho não-especia-
a mais (pelo menos) do salário normal para as
lizado, que inclui apenas a energia corporal co-
férias anuais remuneradas; amplia a licença ma-
mum a todos os indivíduos; o trabalho complexo
ternidade para 120 dias e estabelece a licença
apresenta-se como inerente ao trabalhador es-
paternidade de cinco dias; o aviso prévio passa pecializado, ao técnico, portador de trabalho
a ser proporcional ao tempo de serviço; o tra- multiplicador e concentrado. Apesar dessas di-
balhador passa a ser protegido em face da in- ferenças qualitativas, esses dois tipos de traba-
corporação do progresso técnico na forma de lho se equivalem nas relações de troca. Assim,
automação; estende aos trabalhadores domésti- três dias de trabalho de um operário não-espe-
cos os direitos do salário mínimo, da licença ma- cializado podem corresponder a um dia de tra-
ternidade, do décimo terceiro salário, do re- balho de um operário qualificado. Marx analisou
pouso semanal remunerado, do aviso prévio ainda o trabalho produtivo e o trabalho improdutivo.
proporcional ao tempo de serviço, a aposen- Aqui, mais uma vez, ele parte do trabalho que
tadoria e a incorporação desses trabalhadores produz um objeto para o mercado, sendo fonte
à Previdência Social. Veja também Cartismo; de mais-valia. O trabalho produtivo, então, tem
CLT; FGTS. essa característica essencial, seja ele manual ou
intelectual. O decisivo na caracterização do tra-
TRABALHO. Um dos fatores de produção, é balho produtivo é que ele contribua para a rea-
toda atividade humana voltada para a transfor- lização do capital, que seja, portanto, fonte de
mação da natureza, com o objetivo de satisfazer mais-valia. Ao contrário, o trabalho improduti-
uma necessidade. O trabalho é uma condição vo não produz valor de troca, mesmo que dê
específica do homem e, desde suas formas mais origem a um objeto material. Uma cozinheira
elementares, está associado a certo nível de de- numa residência, por exemplo, não faz a comida
senvolvimento dos instrumentos de trabalho para ser vendida, mas para satisfazer simples-
(grau de aperfeiçoamento das forças produtivas) mente as necessidades da família para a qual
e da divisão da atividade produtiva entre os di- ela trabalha; no caso de uma cozinheira que tra-
versos membros de um agrupamento social. As- balhe num restaurante, o produto de seu traba-
sim, o trabalho assumiu formas particulares nos lho vai para o mercado e caracteriza-se como
diversos modos de produção que surgiram ao uma mercadoria; trata-se, portanto, de trabalho
longo da história da humanidade. Na comuni- produtivo.Veja também Capitalismo; Mais-va-
dade primitiva, teve caráter solidário, coletivo, lia; Salário; Trabalho Alienado; Valor.
ao passo que, nas sociedades de classes (escra-
vista, feudal e capitalista), se tornou “alienado”, TRABALHO ALIENADO. Trabalho cujo pro-
como afirmam os teóricos marxistas. O trabalho dutor não é seu proprietário, nem dos produtos
assalariado é típico do modo de produção capi- por ele criados, pois estes são apropriados pelo
talista, no qual o trabalhador, para sobreviver, capitalista, senhor dos meios de produção e, mo-
vende ao empresário sua força de trabalho em mentaneamente, proprietário da própria força
troca de um salário. Essa forma de trabalho foi de trabalho do operário. Nessas condições, o
analisada por Marx e Engels, partindo do con- produto do trabalho aparece ao sujeito da cria-
ceito de “valor-trabalho” elaborado por David ção — o trabalhador — como algo que lhe é
Ricardo e Adam Smith. Segundo esse conceito, estranho, uma força independente dele, na qual
o trabalho incorporado ao produto é o elemento não se reconhece. Por isso, o trabalho assume
comum a toda espécie de mercadoria, fenômeno o caráter de algo forçado, que constitui apenas
que determina as relações de troca. Na análise um meio de o assalariado ganhar sua sobrevi-
marxista, a capacidade de trabalho recebe a de- vência. O tema, um dos pontos centrais e mais
nominação de trabalho abstrato, e sua realização polêmicos do marxismo, já fora abordado antes
prática na produção é o trabalho concreto. A me- de Marx. Hegel e Feuerbach dão ao assunto um
dida para avaliar o trabalho concreto, incorpo- tratamento antropológico: o trabalho alienado é
rado, é dada pelo tempo social necessariamente visto como uma condição da natureza humana
gasto na produção da mercadoria. E isso, ainda pois, ao produzir, ao relacionar-se com a natu-
TRABALHO 610

reza, o homem se exterioriza, aliena sua essência TRABALHO, Convenção Coletiva do. Contrato
(o trabalho) por meio das coisas por ele criadas. coletivo resultante da livre negociação entre sin-
Essa visão também é compartilhada em muitas dicatos de empregados e sindicatos de empre-
passagens dos escritos do jovem Marx, dos Ma- gadores, visando a estabelecer normas de au-
nuscritos Econômico-Filosóficos, de 1844, à Ideologia mentos salariais e de condições de trabalho para
Alemã, para voltar recriada em O Capital, na teo- determinada categoria profissional. É em decor-
ria do fetichismo da mercadoria. Para Marx, o rência desse caráter abrangente que a convenção
trabalho alienado está presente em todas as for- coletiva difere do acordo coletivo. Este é um con-
mas assumidas historicamente pela sociedade trato coletivo restrito, que pode abranger apenas
de classes: escravismo, feudalismo, atingindo os empregados de uma empresa ou de um grupo
de empresas; jamais o conjunto da categoria pro-
seu auge no capitalismo. Ao mesmo tempo que
fissional. O contrário da convenção e do acordo
define o trabalho alienado como algo socialmen-
é o dissídio coletivo, no qual as normas de au-
te determinado, e não como algo inerente à na-
mento de salários e de condições de trabalho
tureza humana (Ideologia Alemã), Marx aponta são estabelecidas pelo Estado, por intermédio
os caminhos de sua superação. Para ele, a base da Justiça do Trabalho, quando as partes inte-
do trabalho alienado localiza-se na propriedade ressadas não chegam a um resultado nas nego-
privada — resultado, meio e produto da alie- ciações. No Brasil, os caminhos que devem ser
nação. Esta se amplia ilimitadamente no capi- seguidos para empregados e empregadores fir-
talismo, atingindo todos os indivíduos, todas as marem uma convenção coletiva do trabalho são
relações sociais, mediadas pela mercadoria. O fixados pela Consolidação das Leis do Trabalho
trabalho alienado nessas condições se dá em de- (CLT). Assim, a convenção deve fixar seu prazo
corrência da venda da força de trabalho pelo de vigência, determinar as categorias de traba-
assalariado, pela apropriação do produto do tra- lhadores abrangidas pelos respectivos disposi-
balho pelo empresário que, ao definir e organi- tivos, fixar penalidades para os sindicatos e em-
zar o trabalho a ser feito pelo operário, retira presas que violarem suas normas. As controvér-
do trabalhador a própria capacidade de projetar sias resultantes da aplicação de convenção ou
seu ato criador, uma das características essen- de acordo celebrado nos termos da CLT serão
ciais que diferenciam o homem do animal. A dirimidas pela Justiça do Trabalho.
superação do trabalho alienado, para Marx, não
TRABALHO, Dia do. Data máxima dos traba-
está apenas na tomada de consciência dessa si-
lhadores, comemorada em 1º de maio, para lem-
tuação, mas no ato transformador das condições brar as manifestações operárias realizadas em
históricas que o engendraram, no caso, a socie- Chicago de 1º a 4/5/1888. Várias pessoas mor-
dade baseada na propriedade privada. Numa reram na ocasião, vítimas da repressão policial.
sociedade igualitária, em que impere a proprie- Oito anarquistas foram presos e condenados à
dade coletiva dos meios de produção e a gestão morte: quatro deles foram enforcados, um sui-
da economia pelo conjunto dos produtores, o cidou-se e três foram perdoados. Os manifes-
trabalho alienado perderia sua base objetiva de tantes reivindicavam a jornada de oito horas de
existência. Nessas condições, o homem reencon- trabalho. Embora o 1º de maio tenha se tornado
trar-se-ia com sua essência e orientaria seu tra- mundialmente o Dia do Trabalho, nos Estados
balho criador. Apesar disso, tendo em vista as Unidos e no Canadá esse dia é comemorado des-
condições do socialismo real, há entre os pró- de 1894 na primeira segunda-feira de setembro.
prios marxistas a discussão sobre a existência
da alienação nesse tipo de sociedade. Ernest TRABALHO, Divisão do. Distribuição de tare-
Mendel, em seu livro A Formação do Pensamento fas entre os indivíduos ou agrupamentos sociais,
Econômico de Karl Marx, aponta a existência de de acordo com a posição que cada um deles
ocupa na estrutura social e nas relações de pro-
condições históricas para a subsistência da alie-
priedade. A divisão do trabalho ocorre em re-
nação no período de transição do capitalismo
lação a tarefas econômicas, políticas e culturais.
para o socialismo, na medida em que persistem
Algumas pessoas trabalham nas linhas de mon-
“a produção mercantil, a troca da força de tra- tagem das fábricas, outras na construção civil,
balho por um salário estritamente limitado e cal- outras ainda são médicos, escritores, professores
culado, a obrigação econômica dessa troca, a di- ou empresários. Nesse processo, as pessoas de-
visão do trabalho (e, principalmente, a divisão sempenham funções especializadas e comple-
do trabalho em trabalho manual e trabalho in- mentares. Numa firma de construção, por exem-
telectual etc.). E numa sociedade de transição plo, há engenheiros, arquitetos, funcionários ad-
burocraticamente deformada ou degenerada, es- ministrativos, economistas e os pedreiros que
ses fenômenos arriscam-se mesmo a tomar cada trabalham diretamente na construção dos pré-
vez mais amplitude”. Veja também Alienação; dios. Cada um deles realiza determinado traba-
Fetichismo da Mercadoria. lho que resulta no acabamento final do edifício.
611 TRADABLE

Essa distribuição de tarefas ocorre mesmo numa zado e, portanto, cristalizado em determinada
pequena empresa, ampliando-se consideravel- mercadoria. É sinônimo de trabalho passado. O
mente numa grande indústria. No âmbito das trabalho morto só pode aparecer na forma de
nações, a divisão de trabalho ocorre na especia- uma determinada mercadoria ou produto.
lização da produção, que caracteriza a economia
nacional. Assim, existem nações que produzem TRABALHO NECESSÁRIO. Veja Mais-valia.
tecnologia sofisticada, bens de capital ou forne-
cem capital para outras — é o caso das nações TRABALHO PENOSO. Do ponto de vista psi-
ricas. Outras nações são fornecedoras de maté- cossocial, trabalho penoso não é simplesmente
rias-primas para o mercado internacional; nesse aquele que exige esforços que provoquem incô-
grupo incluem-se principalmente as nações de modo e sofrimento. O infortúnio existe quando
passado colonial, que foram até recentemente os esforços exigidos pelo trabalho provocam in-
dominadas pelas grandes metrópoles capitalis- cômodo e sofrimento que ultrapassam o limite
tas. À medida que se desenvolvem novos pro- do suportável. A violação do limite suportável
cessos tecnológicos, aumenta a divisão de tarefas dá-se quando sobre esses esforços, sentidos
e funções na elaboração de determinado produ- como demasiados, o trabalhador não tem con-
to. Esse fato resulta em maior produtividade do trole. Quando isso ocorre, o trabalho recebe a
trabalho, menor custo com mão-de-obra e menos qualificação de desumano, forçado, ruim de-
tempo na execução das tarefas. Nos primeiros mais, pesado e se transforma em castigo e pu-
agrupamentos sociais humanos, a primeira di- nição (pena).
visão do trabalho foi entre a coleta e a caça, e
correspondia à divisão de papéis entre os sexos: TRABALHO REDUNDANTE. Trabalho que po-
o homem caçava e a mulher coletava. Posterior- deria deixar de ser feito sem que a produção
mente, vieram outras atividades como o pasto- fosse alterada. Geralmente, é o trabalho realiza-
reio e a agricultura e, com o surgimento das do em situações de desemprego disfarçado ou
cidades no Oriente, desenvolveram-se funções em situações em que pessoas são contratadas
como o artesanato e o comércio. Mas foi a partir em troca de salário mais com finalidades sociais
da Revolução Industrial e do extraordinário de- do que econômicas.
senvolvimento do modo de produção capitalista
que se intensificou esse processo diferenciador TRABALHO VIVO. De acordo com a concep-
de funções. Fragmentaram-se cada vez mais as ção marxista do valor, é a força de trabalho posta
tarefas produtivas e as administrativas. Espe- em ação (criando valor) na elaboração de deter-
cializou-se também o trabalho intelectual. Ao minada mercadoria.
mesmo tempo que essa repartição aumentou a
produtividade do trabalho, trouxe também gra- TRACKING. Termo em inglês que significa em
ves conseqüências sociais para a vida do indi- que medida uma aplicação específica se com-
víduo e das classes. porta de acordo com a tendência geral do mer-
cado financeiro, medida por meio de um índice.
TRABALHO EXCEDENTE. Veja Mais-valia.
TRADABLE. Termo em inglês que significa “co-
TRABALHO FORÇADO. Veja Encomienda.
merciável” e designa aqueles produtos ou ser-
TRABALHO IMPRODUTIVO. Na teoria mar- viços que, além de ser comercializados no mer-
xista do valor, é aquele que não produz mais- cado interno, podem ser oferecidos no mercado
valia, isto é, aquele empregado em setores im- internacional e exportados. O número desses
produtivos, como o comércio, as finanças, os se- produtos é crescente na medida em que os mer-
guros etc. cados nacionais tendem à globalização, as tarifas
de importação a diminuir e os fretes a repre-
TRABALHO INTENSIVO. Denominação dada sentar uma parcela cada vez menor no preço de
às atividades que, no processo de trabalho, em- uma mercadoria. Os tradables têm seus preços
pregam uma grande quantidade de trabalho formados fundamentalmente pelas forças que
vivo em relação aos demais elementos daquele
operam no mercado internacional e pelos custos
processo (máquinas, equipamentos e matérias-
médios nos países que os produzem. Os eletro-
primas), como, por exemplo, nas atividades edu-
domésticos, por exemplo, são tradables, enquan-
cacionais, da saúde etc. Com a crescente incor-
to os tijolos são non-tradables, isto é, produtos
poração do progresso técnico, a tendência é que
mesmo nessas atividades a intensidade de apli- “não-comerciáveis” cuja colocação no mercado
cação do trabalho vivo tenda a diminuir relati- internacional é inviável, uma vez que seu preço,
vamente. acrescido dos fretes (mesmo supondo a inexis-
tência de tarifas alfandegárias), tornaria a con-
TRABALHO MORTO. De acordo com a con- corrência com o produto local quase impossível.
cepção marxista do valor, é o trabalho já reali- Veja também Global Sourcing.
TRADE CREATING 612

TRADE CREATING. Expressão em inglês que vindo às grandes plantações de algodão. Em


significa a ampliação do comércio e a ampliação 1807, a Inglaterra proibiu o tráfico para suas co-
dos mercados mediante a adoção de políticas lônias, e a França fez o mesmo em 1848. Em
comerciais específicas ou formação de blocos de 1845, a Lei Aberdeen autorizava a Marinha in-
países em áreas de livre comércio. glesa a perseguir e capturar em alto-mar as em-
barcações negreiras a caminho do Brasil. O trá-
TRADE DIVERTING. Expressão em inglês que fico foi extinto pelo Brasil em 1850, mas o co-
significa uma política de segmentação ou desvio mércio interno de escravos prolongou-se até
do comércio de certas áreas para outras, como 1885.
acontece quando grandes blocos comerciais de
países são criados. TRANCHE. Termo de origem francesa que sig-
nifica “pedaço” ou “parcela”. No mercado fi-
TRADE-OFF. Em economia, expressão que de- nanceiro, o termo se aplica quando há o desdo-
fine situação de escolha conflitante, isto é, quan- bramento em lotes, parcelas ou partes de uma
do uma ação econômica que visa à resolução operação, como na emissão de securities ou na
de determinado problema acarreta, inevitavel- obtenção de um empréstimo. Por exemplo, em-
mente, outros. Por exemplo, de acordo com as préstimos junto ao FMI são retirados em tranches
concepções keynesianas modernas, em determi- desde que certas condições previamente estabe-
nadas circunstâncias a redução da taxa de de- lecidas para o empréstimo forem satisfeitas. Veja
semprego apenas poderá ser obtida com o au- também FMI; Securities.
mento da taxa de inflação, existindo portanto
um trade-off entre inflação e desemprego. TRANSAÇÃO EM BLOCO. Veja Block Trade.

TRADING COMPANY. Expressão em inglês TRANSAÇÕES CORRENTES. Parte do Balan-


cujo significado literal é “companhia comercial”. ço de Pagamentos constituída da Balança Co-
No Brasil, ela designa a companhia de grande mercial, de Serviços e Transferências Unilaterais.
porte que se dedica ao comércio internacional. Veja também Balanço de Pagamentos.
O decreto-lei nº 1 248, de 19/11/72, é aquele
que disciplina esse tipo de organização no Brasil. TRANSFER STATE. Expressão em inglês que
significa, literalmente, “Estado transferidor”, isto
TRÁFICO DE ESCRAVOS. Comércio de escra- é, tipo de Estado que utiliza a tributação lançada
vos africanos na Idade Moderna, iniciado em especialmente sobre os mais ricos para repassá-
meados do século XV e só encerrado na segunda la — mediante formas variadas como programas
metade do século XIX. O tráfico de escravos ne- em educação, saúde, aposentadorias etc. — aos
gros antes desse período já era praticado por mais pobres. Veja também Estado do Bem-estar.
mercadores árabes. Com os grandes descobri-
mentos e o desenvolvimento do mercantilismo, TRANSNACIONAIS. Veja Multinacional.
esse comércio passou a ser feito por europeus, TRANSPORTE. Meio ou serviço pelo qual se
sendo os africanos inicialmente empregados em deslocam pessoas e mercadorias. Elemento fun-
trabalhos na Espanha, em Portugal e nas plan- damental na constituição e expansão dos mer-
tações de cana-de-açúcar das ilhas atlânticas cados, os meios de transporte são objeto de um
portuguesas. Com a colonização da América e ramo especializado da economia. Houve pro-
a implantação das culturas tropicais, intensifi- fundas transformações no setor a partir da Re-
cou-se o tráfico, calculando-se que cerca de 15 volução Industrial, com a invenção da máquina
milhões de africanos foram transportados para a vapor, que permitiu a implantação das ferro-
o Novo Continente, dos quais 3,6 milhões para vias e deu grande impulso à navegação; as in-
o Brasil. Os portugueses detiveram o monopólio venções dos motores elétricos (para trens) e de
do tráfico negreiro até o começo do século XVII, combustão interna (para carros, aviões e embar-
enfrentando depois a concorrência de ingleses, cações) completaram o processo. Considerado
franceses e holandeses. No século XVIII, a lide- um dos principais instrumentos de desenvolvi-
rança passou aos ingleses, que tiveram nesse mento econômico, o transporte tornou-se objeto
rentável comércio uma importante fonte para a de planejamento governamental no século XX,
acumulação de capitais. Até 1800, um número sobretudo a partir da Segunda Guerra Mundial.
maior de africanos que de europeus havia cru- É um item dos mais importantes no cálculo dos
zado o Atlântico rumo ao Novo Mundo. Com custos de produção. Daí a necessidade da inte-
a Revolução Industrial, baseada num sistema de gração dos vários sistemas de transporte, de
trabalho assalariado, a Inglaterra passou a de- modo que as mercadorias possam ter, em cada
fender a extinção do comércio de escravos ne- espaço, o meio de transporte mais conveniente
gros. Entre 1777 e 1804, todos os Estados do em termos de economia e rapidez. O peso do
Norte dos Estados Unidos aboliram o tráfico, item transporte nos custos de produção foi ex-
que continuou a alimentar o Sul do país, ser- tremamente acentuado pelas altas do preço do
613 TRATADOS DE 1810

petróleo ocorridas em 1974 e 1979. A partir de lhas (1494). Veja também Tratado de Tordesi-
1985, as cotações do petróleo caíram no mercado lhas; Uti Possidetis.
internacional e os custos dos fretes, especialmen-
te os marítimos, diminuíram consideravelmente. TRATADO DE METHUEN. Acordo comercial
Veja também Distribuição; Frete. assinado entre Portugal e Inglaterra, em 1703, e
revogado em 1842. Articulado pelo diplomata
TRANSUMÂNCIA. Deslocamento de rebanhos inglês John Methuen, estabelecia que Portugal
de uma região para outra, de modo a acompa- passava a importar “para sempre” os produtos
nhar as condições climáticas mais favoráveis à têxteis ingleses, com taxas privilegiadas, en-
alimentação do gado ao longo das estações do quanto a Inglaterra se comprometia a importar
ano. No Brasil, a transumância é praticada so- vinhos portugueses taxando-os apenas em dois
bretudo no Nordeste (do sertão para as serras terços dos tributos de importação pagos pelos
durante o verão) e na Amazônia (dos campos vinhos franceses. Além da ampliação descon-
para as colinas, no período das enchentes). trolada da cultura de vinhas em Portugal, em
detrimento dos demais cultivos, o Tratado de
TRATADO DE ASSUNÇÃO. Veja Mercosul.
Methuen provocou a ruína da incipiente indús-
TRATADO DE COMÉRCIO E NAVEGAÇÃO. tria têxtil naquele país, que passou a não ter
Veja Tratados de 1810. condições de concorrer com a produção inglesa.
Ao mesmo tempo, acentuou-se um vultoso de-
TRATADO DE MAASTRICHT. Tratado assi- sequilíbrio na balança comercial portuguesa,
nado em 7/12/1992, em Maastricht (Holanda), compensado pelo ouro proveniente do Brasil
sobre a União Européia. O Tratado prevê a plena (Minas Gerais) que, transferido para a Ingla-
unificação dos países europeus signatários, com terra, contribuiria para formar os meios de fi-
uma única moeda, a European Currency Unit nanciamento da Revolução Industrial. Veja
(ECU) e a constituição de um Banco Central Eu- também Tratados de 1810.
ropeu, ambos convivendo com as moedas na-
cionais e com os bancos centrais de cada país, TRATADO DE SARAGOÇA. Tratado estabe-
mas subordinados ao primeiro. O Tratado prevê lecido entre Portugal e Espanha, em 1521, divi-
também a unificação das políticas externa, social dindo o mundo pelo oriente da mesma forma
e de segurança. O prazo para que os países de- que o de Tordesilhas dividia pelo ocidente. Veja
cidissem, por meio de plebiscitos ou votação Tratado de Tordesilhas.
parlamentar, se a incorporação ao sistema havia
se adaptado às novas regras, expirou em 1997. TRATADO DE TORDESILHAS. Acordo esta-
As condições eram as seguintes: 1) a moeda de belecido entre Espanha e Portugal, com a arbi-
cada país deveria flutuar dentro das margens tragem do papa Alexandre II (espanhol da fa-
estabelecidas pelo Sistema Monetário Europeu; mília Borgia), que repartia as áreas de domínio
2) a inflação de cada país não deveria superar sobre as terras descobertas por Cristóvão Co-
1,5% a média observada nos três países da Co- lombo em 1492. Inicialmente, a linha divisória
munidade Comum Européia de mais baixa in- passava a 100 léguas a oeste dos Açores e Cabo
flação; 3) as taxas de juros não poderiam exceder Verde, o que, na prática, faria com que Portugal
em 2% as mesmas condições do item 2; 4) o ficasse de posse dos territórios africanos e a Es-
déficit público máximo seria de 3% do PIB, e 5) panha com os territórios americanos recém-des-
a dívida pública não deveria superar 60% do cobertos. O rei de Portugal, D. João II, não acei-
PIB. O Tratado de Maastricht foi aprovado por tou esta divisão, e em 1494 foi assinado um
praticamente todos os países da CEE, após ne- novo acordo de tal forma que a linha divisória
gativas da Dinamarca e da Inglaterra, que du- passasse a 370 léguas a oeste dos mesmos pon-
rante 1993 mudaram suas posições. No entanto, tos de referência, o que permitiu a Portugal se
as estreitas margens de vitória do “sim” ao Tra- apossar de uma faixa extensa do território que
tado indicaram que os países signatários esta- hoje constitui o Brasil. Veja também Bandeiras;
vam reticentes quanto à perda de parte da so- Entradas.
berania que a adesão à União Européia repre-
senta, e temerosos quanto aos efeitos econômi- TRATADOS DE 1810. Dois acordos assinados
cos negativos (especialmente o desemprego) que entre Portugal e Inglaterra, sendo o primeiro de
adviriam de seguir regras tão rígidas. Amizade e Aliança — que não teve maiores con-
seqüências históricas — e o segundo conhecido
TRATADO DE MADRI. Tratado assinado en- por Tratado de Comércio e Navegação, que re-
tre Espanha e Portugal, em 1750, mediante o duziu a 15% as tarifas alfandegárias dos produ-
qual se aplicava a doutrina do uti possidetis e a tos ingleses importados pelo Brasil, taxa inferior
Espanha reconhecia como legítima a posse por à que incidia sobre as próprias mercadorias pro-
Portugal dos territórios ocupados mais além dos venientes de Portugal. O acordo proibia também
limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesi- a ação da Inquisição no Brasil e estabelecia a
TRAVELLER’S CHECK 614

abolição gradual do tráfico de escravos. Seus deral (Federal Reserve) quando realiza operações
efeitos foram prejudiciais ao desenvolvimento de open market nos Estados Unidos. Veja também
da economia brasileira, na medida em que as Open Market.
importações de manufaturados ingleses, além
de inibir a produção manufatureira local, cria- TREASURY BOND. Título de longo prazo emi-
vam grandes déficits comerciais com aquele tido pelo Tesouro dos Estados Unidos com valor
país. Veja também Tratado de Methuen. de US$ 1000,00 ou mais e, normalmente, tendo
dez anos ou mais de vencimento. Os juros são
TRAVELLER’S CHECK. Veja Cheque. pagos semestralmente e o principal, no venci-
mento. Quando têm prazo de trinta anos, esses
TREADMILL. Denominação de aparelho usado
títulos são também conhecidos como treasury
até o século XVIII para transformar o andar hu-
long bond e são considerados um referencial para
mano em força motriz. O treadmill era formado
os demais títulos de renda fixa e de taxas de
por uma roda com um eixo horizontal e pedais
periféricos movimentados por pessoas que fa- juros de longo prazo.
ziam a roda girar com seus pés. O aparelho era TREUHANDANSTALT (THA). Órgão criado
usado nas prisões como forma de castigo, mas em março de 1990 pelo governo da ex-Alemanha
sua força motriz também tinha origem em ani- Oriental, para a execução do processo de priva-
mais como cavalos e mulas. O treadmill geral-
tização das empresas daquela parte da atual Ale-
mente é utilizado como sinônimo de atividade
manha. Em 1º/7/1990, data da unificação eco-
penosa que não permite ao trabalhador ou à pes-
nômica, monetária e social das duas Alemanhas,
soa que o utiliza melhorar sua situação econô-
o THA foi instruído a desmonopolizar a estru-
mica, isto é, com o treadmill, o trabalhador, por
tura industrial da Alemanha Oriental, privatizar
mais esforços que faça, permanece sempre no
o máximo possível de empresas, manter o má-
mesmo lugar. Na literatura mais recente sobre
ximo de empregos e procurar novas colocações
o desenvolvimento da agricultura dos Estados
Unidos, a imagem do treadmill vem sendo uti- para os que tivessem sido demitidos em virtude
lizada para descrever a situação dos agricultores das reestruturações ou privatizações.
(farmers) que, diante da concorrência, são obri- TRIÂNGULO DE PASCAL. Dispositivo criado
gados a adotar tecnologias mais avançadas não por Blaise Pascal, originado no “Espelho Pre-
para melhorar claramente sua situação econô-
cioso dos Quatro Elementos” do matemático chi-
mica, mas simplesmente para não ser levados
nês Chu-Shih-Chich, desenvolvido em 1303, uti-
à falência. Esses agricultores estariam pedalando
lizado na análise de probabilidades e que con-
um treadmill numa non-profit situation. Veja tam-
siste num triângulo formado por números de
bém Early-Bird Farmer.
tal forma que cada um deles é a soma dos nú-
TREASURYS. Denominação dos títulos de lon- meros colocados à esquerda e à direita da linha
go prazo emitidos pelo Tesouro norte-america- superior. A linha superior, ou a primeira linha,
no, considerados os mais seguros do mundo e, mostra a probabilidade de um evento que não
por esta razão, os mais procurados por aqueles pode deixar de ocorrer. Nesse caso, só há um
investidores que desejam segurança, abrindo resultado possível, com incerteza zero. Na pró-
mão de rentabilidade mais elevada. Os juros pa- xima linha, no entanto, a situação muda e as
gos por esses títulos são geralmente muito bai- probabilidades de o evento acontecer são 50%
xos, comparados com os demais. Durante o ano e assim sucessivamente, como mostra o quadro
de 1998, para estimular os investimentos pro- abaixo:
dutivos e evitar o aprofundamento da crise fi-
1
nanceira nas Bolsas de Valores, a política do Fed
foi reduzir as taxas de juros dos Treasurys abai- 1 1
xo dos 5% ao ano. 1 2 1
1 3 3 1
TREASURY BILL. Título de curto prazo emiti- 1 4 6 4 1
do pelo Tesouro dos Estados Unidos em valores 1 5 10 10 5 1
mínimos de US$ 10000,00 e com prazos de ven- 1 6 15 20 15 6 1
cimento de treze, 26 ou 52 semanas. Os inves-
tidores adquirem os títulos a preços inferiores Veja também Quincunx de Galton.
ao valor de face, isto é, adquirem-nos com des-
conto. O retorno (ou ganho) do investidor que TRIBUNAL DE CONTAS. Órgão de controle
conserva tal título até o vencimento é a diferença da administração financeira e orçamentária da
entre seu valor de face e o que foi pago por sua União, criado por decreto em 1890 e incorporado
aquisição. Esses são os títulos mais freqüente- à Constituição de 1891. Compõe-se de nove mi-
mente comprados ou vendidos pela Reserva Fe- nistros, tem sede na capital da república e ju-
615 TRT

risdição sobre todo o território nacional. Em sua que tal transação não é contabilizada como ven-
forma atual, compete ao Tribunal de Contas au- da, não paga impostos, podendo ainda ter al-
xiliar o Congresso Nacional no exercício do con- gum desconto, o que representa vantagens para
trole externo das finanças e do orçamento da os dois lados. Entre países existe a troca, sob a
União. Nesse sentido, ele emite parecer prévio forma de acordos bilaterais: importações de pro-
sobre as contas anuais do governo, enviadas dutos são pagas com exportações e não há ne-
pelo presidente da República ao Congresso Na- cessidade de divisas.
cional, e exerce auditoria financeira e orçamen-
tária sobre as contas das unidades administra- TROCA, Relações de. Veja Relações de Troca.
tivas dos três poderes da União. Cabe também TROCA DESIGUAL. Conceito desenvolvido por
ao Tribunal de Contas da União velar pela en- Arghiri Emmanuel, a partir de 1969, para expli-
trega, na forma e prazo constitucionais e legais, car o desenvolvimento desigual das diversas re-
das importâncias que são devidas aos Estados, giões do mundo. Supõe que, tanto nas regiões
Distrito Federal, territórios e municípios e de- atrasadas como nas desenvolvidas, as combina-
dutíveis da arrecadação federal. Aos Tribunais ções entre capital e trabalho tendem para uma
de Contas Estaduais compete controlar as contas nivelação, dispondo cada país das mesmas al-
dos governadores, prefeitos e das mesas das Câ- ternativas técnicas dos demais. Assim, os custos
maras municipais. No plano municipal, há ape- seriam menores onde os salários fossem mais
nas o Tribunal de Contas do Município de São baixos, uma vez que a base técnica similar de-
Paulo e o do Distrito Federal. O Tribunal de terminaria um nível de produtividade relativa-
Contas do Município de São Paulo foi criado mente equivalente. As taxas de lucro seriam,
em 1968. Até essa data havia apenas dois Tri- portanto, mais elevadas onde os salários fossem
bunais de Contas municipais em todo o país, o mais baixos, isto é, nos países de menor desen-
de São Paulo e o de Porto Alegre. Pelo ato com- volvimento. Os preços também seriam mais bai-
plementar nº 44, de janeiro de 1969, estabele- xos nesses países, embora o valor criado fosse
ceu-se que somente os municípios com popula- equivalente ao dos países onde os salários fos-
ção superior a 500 mil habitantes e renda tribu- sem mais elevados. Por meio da troca (desigual),
tária acima de 100 milhões de cruzeiros pode- os países avançados iriam se apropriar de parte
riam organizar seus Tribunais de Contas. Com do tempo de trabalho executado nos países atra-
a Emenda Constitucional nº 1, do mesmo ano, sados, isto é, essa apropriação ocorreria median-
o mínimo de população passou a ser de 2 mi- te o comércio internacional entre países desen-
lhões de habitantes e a renda tributária mínima volvidos e subdesenvolvidos.
elevou-se para 500 milhões de cruzeiros.
TROY (Onça). Veja Onça Troy.
TRIBUTAÇÃO. Veja Imposto.
TROY (Sistema). Sistema de pesos para pesar
TRIBUTO ESPECÍFICO. Veja Ad Valorem. metais e pedras preciosas e cunhagem de moe-
TRIGGER PRICE. Expressão em inglês que sig- das de ouro e prata. É um sistema muito antigo
nifica, literalmente, “preço-gatilho”, isto é, preço e suas unidades básicas são as seguintes: o grão
que, ao alcançar determinado nível, desencadeia (gr); o pennyweight (dwt); a onça (oz.t.) e a libra
um processo de compensação ou reajuste. Veja (lb.t.). Este sistema difere um pouco do avoirdu-
também Gatilho Salarial. pois: neste último, 1 libra = 5 700 grãos ou o
equivalente a 373 g; e 1 onça = 480 grãos ou o
TRIPLICATA. É a cópia ou segunda via da du- equivalente a 31,103 gramas, e 1 pennyweight =
plicata extraviada, ou não devolvida. Por essa a 24 grãos ou o equivalente a 1,555 g. Veja tam-
razão, deve conter os mesmos elementos da du- bém Avoirdupois; Sistemas de Pesos e Medidas.
plicata que reproduz, trazendo, contudo, a es-
pecificação: triplicata da duplicata.Veja também TRT — Tribunal Regional do Trabalho. Órgão
Duplicata. de segunda instância da Justiça do Trabalho.
Deve processar, conciliar e julgar em primeira
TROCA. Intercâmbio de mercadorias ou servi- instância os dissídios coletivos ocorridos na área
ços, sem intervenção de dinheiro. Comum entre de sua jurisdição e apreciar, em segunda ins-
as sociedades primitivas, a troca aparece de vá- tância, os recursos das sentenças proferidas pe-
rias formas nas sociedades modernas. Quando los juízes das Juntas de Conciliação e Julgamento
a inflação é elevada, por exemplo, as pessoas e dos juízes que tratem de dissídios individuais.
podem preferir a troca, evitando receber dinhei- Para efeito da jurisdição dos Tribunais do Tra-
ro, que em pouco tempo perderá o valor. Assim, balho, o território nacional é dividido em nove
na Alemanha do pós-guerra, com o marco ex- regiões. Cada tribunal é formado por juízes to-
tremamente desvalorizado, utilizavam-se cigar- gados, vitalícios e juízes classistas, temporários
ros ou café como moeda. Entre empresas é co- (representantes de empregados e empregado-
mum a troca, sob o nome de permuta. Sendo res), cujo número varia de acordo com a região.
TRUCK-SYSTEM 616

Os juízes classistas são escolhidos, pelo presi- Sediado em Brasília, tem jurisdição sobre todo
dente da República, de listas tríplices feitas pelas o território nacional. É formado por dezessete
organizações sindicais superiores.Veja também juízes (ministros), sendo onze juízes togados, vi-
Justiça do Trabalho; TST — Tribunal Superior talícios, nomeados pelo presidente da República,
do Trabalho. com a aprovação do Senado, e seis juízes clas-
sistas, com mandato de três anos e nomeados
TRUCK-SYSTEM. Forma específica de paga- pelo presidente da República. Os juízes classis-
mento de salário, que consiste na entrega ao tas têm representação paritária dos empregados
trabalhador de vales trocáveis por mercadorias e dos empregadores e são escolhidos entre os
fornecidas pelo empregador e cujos preços são nomes indicados pelas diversas confederações
fixados por ele. A denominação tem origem no de trabalhadores e de empregados. O tribunal
sistema praticado nos Estados Unidos, o qual é pode funcionar na plenitude de sua composição
combatido pelas legislações modernas não ape- ou ainda dividido em turmas, mantendo-se a
nas naquele país, mas também no Brasil, onde paridade de representação de empregados e em-
a prática recebe o nome de barracão. Veja também pregadores. Ao Tribunal Pleno compete, em úni-
Barracão; Scrip. ca instância, decidir sobre matéria constitucio-
nal, quando argüido, para invalidar lei ou ato
TRUST. (Não confundir com truste.) Termo em do poder público; conciliar e julgar os dissídios
inglês que significa uma forma de organização coletivos que excedam a jurisdição dos Tribu-
empresarial na qual uma propriedade é doada nais Regionais do Trabalho, bem como estender
por um grantor (doador), sob os cuidados de ou rever suas próprias decisões normativas, nos
um trustee, para proveito de um beneficiário. O casos previstos em lei; homologar acordos cele-
trustee é obrigado a administrar a propriedade brados em dissídios; estabelecer prejulgados.
colocada em trust (fideicomisso), de acordo com Em última instância, compete ao Tribunal Su-
as diretrizes e instruções da pessoa que criou o perior do Trabalho julgar os recursos ordinários
trust. O grantor, também denominado trustor, das decisões proferidas pelos Tribunais Regio-
settlor ou donor, é aquele que cria o trust, colo- nais do Trabalho, em processos de sua compe-
cando uma propriedade sob os cuidados de um tência ordinária; julgar embargos das decisões
trustee. A propriedade (também denominada das turmas, quando estas divergem entre si ou
principal, corpus ou res) é aquilo que constitui o de decisão proferida pelo próprio Tribunal Ple-
trust. A propriedade é entendida aqui num sen- no, ou que forem contrárias à letra da lei federal;
tido amplo, isto é, podem ser títulos, ações, di- julgar os embargos de declaração opostos aos
nheiro ou bens imóveis. O beneficiário é a pessoa seus acórdãos. É da competência de cada uma das
em cujo benefício o trust é criado. O beneficiário turmas do TST: julgar, em única instância, os
pode ser constituído por um grupo de pessoas recursos referentes a decisões dos Tribunais Re-
ou uma organização. Os trusts podem ser living gionais do Trabalho e os que forem suscitados
trust, que é aquele no qual sua criação acontece entre juízes de direito ou Juntas de Conciliação
enquanto o grantor ainda é vivo, ou testamentary e Julgamento de regiões diferentes; julgar, em
trust, no qual o trust é criado por testamento última instância, os recursos referentes a deci-
do grantor. Veja também Truste. sões dos Tribunais Regionais e das Juntas de
TRUSTE. (Não confundir com trust.) Tipo de Conciliação e Julgamento ou juízes de direito,
estrutura empresarial na qual várias empresas, nos casos previstos em lei; julgar os embargos
já detendo a maior parte de um mercado, com- de declaração opostos aos seus acórdãos. Veja
binam-se ou fundem-se para assegurar esse con- também Justiça do Trabalho.
trole, estabelecendo preços elevados que lhes ga- TSUBO. Veja Chõ.
rantam elevadas margens de lucro. Os trustes
têm sido proibidos em vários países, mas a efi- TSUSANCHO. Veja MITI.
cácia dessa proibição não é muito grande. Veja
também Concorrência; Legislação Antitruste; TSUSAN SANGYO SHO. Veja MITI.
Monopólio.
TUDO OU NADA. Veja All Or None.
TRUSTE, Repressão ao. Veja Legislação Anti- TUGAN-BARANOVSKI, Mikhail (1865-1919).
truste. Economista russo, teórico da crise econômica.
TRUSTEE. Termo em inglês que significa “sín- Embora se baseasse em Marx, explicou as crises
dico” ou “curador”. Veja também Trust. unicamente pela ocorrência de desproporção en-
tre os vários setores da produção econômica,
TRUSTOR. Veja Trust. chegando a negar a interdependência entre os
meios de produção e bens de consumo. Seu pri-
TST — Tribunal Superior do Trabalho. Instân- meiro e mais famoso livro, As Crises Industriais
cia suprema da Justiça do Trabalho no Brasil. na Inglaterra Contemporânea (1894), uma das pri-
617 TWO-TIER GOLD SYSTEM

meiras investigações empíricas das crises, exer- TURGOT, Anne Robert Jacques (1727-1781).
ceu considerável influência no desenvolvimento Administrador e economista francês, que ocu-
das pesquisas do ciclo econômico. O autor ne- pou uma posição de transição entre os fisiocratas
gou as duas explicações da crise econômica que e os clássicos. Alto funcionário do governo des-
atribuiu a Marx: 1) que é provocada pela ten- de 1761, tentou pôr em prática uma série de re-
dência decrescente da taxa de lucro; 2) que re- formas liberais que preservassem a monarquia,
sulta do subconsumo. Refutou a primeira ale- mas foi destituído por isso em 1776. Suas Réfle-
gando que uma crescente composição orgânica xions sur la Formation et la Distribution des Ri-
do capital deve conduzir a uma taxa ascendente chesses (Reflexões sobre a Formação e a Distri-
de lucro, e não a uma taxa decrescente. Tugan buição das Riquezas), de 1766, colocam-no como
procurou refutar a segunda hipótese por meio um dos fisiocratas seguidores de Quesnay, em-
de uma complicada demonstração, na qual uti- bora em muitos pontos doutrinários ele manti-
liza abundantemente os esquemas de reprodu- vesse uma posição independente. Sua análise so-
ção do capital de Marx, para mostrar que não bre a divisão do trabalho, produtividade e con-
corrência influenciou Adam Smith. Veja também
pode haver superprodução ou escassez da de-
Fisiocratas; Liberalismo.
manda, não importando o que aconteça ao con-
sumo, enquanto a produção mantiver uma pro- TURNOVER. Termo em inglês que significa “ro-
porção adequada entre seus vários ramos. Em tatividade”. Aplica-se em relação ao movimento
sua tese, Tugan-Baranovski separa radicalmente global de negócios realizados num determinado
a relação entre os meios de produção e os bens período, em geral um ano; em relação a uma
de consumo. Enfatiza que o capitalismo é feito empresa, como expressão da rotatividade de
pelos capitalistas e para eles, e, segundo esse seus trabalhadores; ou ainda ao número de vezes
ponto de vista, não haveria nunca escassez de que o dinheiro foi utilizado em investimentos
demanda para o que produzem, não existindo, e reinvestimentos.
portanto, perigo de crise. Para ele, a produção
poderia expandir-se indefinidamente, sem ne- TWILIGHT SHIFT. Expressão utilizada para de-
signar equipes fixas de trabalho em tempo par-
nhuma ligação com o nível ou as tendências do
cial. O conceito foi desenvolvido nos países,
consumo, desde que se mantivessem as propor- como a Inglaterra, que nos últimos tempos vêm
ções adequadas entre os vários setores produ- sofrendo elevados níveis de desemprego, razão
tivos, chegando a afirmar que, se todos os tra- pela qual muitas vezes empregados e emprega-
balhadores, exceto um, desaparecessem e fos- dores, por meio de seus respectivos sindicatos,
sem substituídos por máquinas, esse único tra- aceitam uma redução da jornada (ou do número
balhador colocaria as máquinas em movimento, de dias trabalhados por semana), com redução
produzindo novas máquinas e artigos de con- de salários para evitar o desemprego.
sumo para os capitalistas. A teoria de Tugan foi
rejeitada pelos autores marxistas da época. En- TWIN DEFICIT. Expressão em inglês que sig-
tretanto, sua explicação de produção proporcio- nifica, literalmente, “déficit gêmeo”, e que, em
nal por meio dos esquemas de reprodução ex- economia, designa um processo no qual um dé-
postos por Marx foi generalizada rapidamente, ficit público provoca ou contribui para ampliar
um déficit em transações correntes no Balanço
a ponto de ser atribuída ao próprio Marx. Foi
de Pagamentos. Veja também Déficit Operacio-
utilizada em parte, por exemplo, por Hilferding nal; Transações Correntes.
em O Capital Financeiro (1923). Professor nas uni-
versidades de São Petersburgo (1894-1915) e Kiev TWO-CAREER FAMILY. Expressão usada, es-
(1917-1919) e ministro das Finanças da Ucrânia pecialmente nos Estados Unidos, para designar
(1918), Tugan-Baranovski escreveu ainda Fun- as famílias nas quais tanto o homem como a
damentos da Economia Política (1909) e Reforma mulher trabalham em empresas e nelas estão
Agrária e Cooperação (1918). inseridos numa carreira, fato que provoca pro-
blemas para o desenvolvimento familiar, criação
TUGRIK. Unidade monetária da Mongólia. Sub- dos filhos etc., em virtude de a mulher também
múltiplo: mongo. ter de utilizar a maior parte de seu tempo para
o trabalho, e não, como acontecia tradicional-
TULIPAS. Veja Febre das Tulipas. mente, para cuidar da casa e dos filhos.
TUMBEIROS. Outra denominação dada aos na- TWO-TIER GOLD SYSTEM. Sistema estabele-
vios negreiros em função do grande número de cido em março de 1968 pelos bancos centrais
mortes registradas durante o transporte dos es- dos países desenvolvidos e que consistia em evi-
cravos da África para o Brasil, devido às péssi- tar a transferência de ouro monetário para o se-
mas condições em que essas viagens eram rea- tor privado, uma vez que os especuladores já
lizadas. haviam percebido que a cotação entre o dólar
TYPP 618

dos Estados Unidos e o ouro de suas reservas compreenderá o período entre o dia 16 do mês
(35 dólares a onça troy) já não poderia ser mais anterior e o dia 15 do mês de referência. Depois
mantida. Os bancos centrais, embora transacio- do Plano Real (julho de 1994), a Ufir continua
nando o ouro entre si à cotação fixa mencionada, sendo utilizada como medida de atualização
já não permitiam que o mesmo acontecesse com monetária de tributos, multas e penalidades re-
o setor privado da economia ou do mercado li- lacionadas com obrigações em face do poder pú-
vre, onde o preço do ouro já se encontrava num blico.
patamar muito mais elevado. Esse sistema foi
eliminado em novembro de 1973. Veja também UGUIA. Unidade monetária da Mauritânia. Sub-
Onça Troy. múltiplo: khoum.

TYPP. Iniciais da expressão em inglês thousand ÚLTIMO TEOREMA DE FERMAT. Veja Fer-
yards per pound, que significa 1 000 jardas por mat, Pierre de.
libra (peso); e é unidade de medida utilizada
para pesar qualquer tipo de fio, e indica o nú- ULTRA VIRES. Expressão em latim que signi-
mero de jardas de uma libra de fio. Existem ou- fica, literalmente, “além dos poderes”. Quando
tras medidas para fios que dependem da forma aplicada às empresas, significa que seus dirigen-
em que eles vêm enrolados. Por exemplo, em- tes adotaram medidas ou realizaram ações que
bora uma meada de fios diferentes tenha tama- foram além de seus poderes estatutários e legais.
nhos diferentes, uma meada de linha de algodão Tais atos, se caracterizados como ultra vires, são
tem sempre 360 pés ou 108 m. O fuso (na in- juridicamente nulos, sem, portanto, efeito algum.
dústria têxtil) também é utilizado como medida UME. Iniciais de Unidade Monetária Européia,
porque tem sempre a mesma quantidade de equivalente a ECU (European Currency Unit).
cada tipo de fio: um fuso de algodão terá 15 Veja também ECU; EURO.
120 jardas ou 13,819 km; se for de linho, terá 14
400 jardas ou 13,161 km. UMSATZSTEUER. Veja Mehrwertsteuer.
UNCTAD — Conferência das Nações Unidas
para o Comércio e Desenvolvimento (United

U
Nations Conference on Trade and Develop-
ment). Órgão permanente da ONU criado em
1964 e com sede em Genebra. Seu objetivo é
acelerar a taxa de crescimento econômico dos
países menos desenvolvidos, mantendo-a supe-
rior a 5% ao ano. Para isso, a Unctad angaria
ajuda e financiamentos especiais, estimula o co-
mércio internacional de modo a favorecer as ex-
UEP. Veja União Européia de Pagamentos. portações desses países, promove acordos inter-
nacionais sobre produtos primários, para evitar
UEPS. Veja Lifo. a queda de seus preços. Em caso de quedas nas
receitas de exportação, procura obter financia-
UFIR (Unidade Fiscal de Referência). Criada
mentos compensatórios junto ao Fundo Mone-
pela lei nº 8 383, de 31/1/1991, em substituição
tário Internacional (FMI). A Unctad teve reuniõ-
à extinta BTN, como medida de valor e parâ-
es plenárias em Genebra (1964), Nova Délhi
metro de atualização monetária de tributos e de
(1968), Santiago do Chile (1972), Nairóbi (1976)
valores expressos em cruzeiros na legislação tri- e Manilha (1979). Com mais de 170 membros,
butária federal e os relativos a multas e penali- a organização permanece com sua sede em Ge-
dades de qualquer natureza. A Ufir mensal
nebra.
(cheia) é fixada em cada mês calendário, e a diá-
ria fica sujeita à variação de cada dia, sendo a UNDER BOND. Expressão em inglês que de-
do primeiro dia do mês igual à da Ufir do mes- signa algum objeto ou mercadoria que se en-
mo mês. Seu cálculo é feito da seguinte forma: contra sob custódia. Isto é, uma mercadoria ar-
1) até o dia 1º/1/1992 — para esse mês — me- mazenada em um depósito ou local oficial, pen-
diante a aplicação sobre Cr$ 126,8621, do Índice dente do pagamento de uma taxa alfandegária
Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), acu- ou qualquer outro tributo.
mulado desde fevereiro até novembro de 1991,
e do Índice de Preços ao Consumidor Ampliado UNDERSELLING. Termo em inglês que desig-
(IPCA) de dezembro de 1991, apurados pelo Ins- na uma prática de marketing de vender abaixo
tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); do custo (ou com margem muito pequena de
2) até o primeiro dia de cada mês, a partir de lucro) para atrair clientela. Geralmente, o under-
1º/2/1992 com base no IPCA. Sendo o IPCA selling é praticado por grandes empresas comer-
constituído por série especial cuja apuração ciais de venda no varejo (supermercados, shop-
619 UNIÃO LATINA

ping centers etc.) quando inauguram algum novo por exemplo — ou constituir uma integração
estabelecimento, para formar clientela. Veja tam- econômica completa, tal como a que existe no
bém Dumping. Mercado Comum Europeu. A união alfandegá-
ria difere da área de livre-comércio, que não in-
UNDERTONE. Termo em inglês que significa clui uma tarifa externa uniforme, com cada país
as tendências fundamentais dos preços de um mantendo autonomia em suas transações com
mercado sem considerar suas flutuações a cada terceiros.
hora ou intervalo menor de tempo. Essa ten-
dência do mercado — especialmente o de ações UNIÃO DA EUROPA OCIDENTAL — UEO.
— pode ser classificada como forte, fraca e estável. Aliança defensiva, econômica, social e cultural
firmada em 1954 pela Bélgica, França, Grã-Bre-
UNDERWRITING. Lançamento de ações ou tanha, Itália, Luxemburgo, Holanda e Alemanha
debêntures para subscrição pública. A colocação Ocidental, com base no Tratado de Bruxelas
desses títulos é feita, em geral, por um banco (1948). Com sede em Londres, coube à UEO
de investimento, muitas vezes associado a ou- supervisionar o rearmamento da Alemanha
tras entidades financeiras. Três tipos de contrato Ocidental.
podem ser realizados entre a empresa que lança
os títulos e a financeira que os coloca junto ao UNIÃO E INDÚSTRIA. Veja Ferreira Lage,
público: 1) straight — a financeira subscreve a Mariano Procópio.
totalidade do lançamento, pagando-o direta-
mente à empresa; 2) stand-by — a financeira com- UNIÃO ESCANDINAVA. União monetária for-
promete-se a subscrever os títulos não adquiri- mada pela Noruega, Suécia e Dinamarca, em
dos pelo público; 3) best-efforts — a financeira 1873, na qual se adotava o padrão-ouro e a mes-
compromete-se a esforçar-se para vender os tí- ma unidade monetária — a coroa. Em 1905, a
tulos, sem assumir a responsabilidade de subs- Noruega dissolveu sua união política com a Sué-
crevê-los, e devolve à empresa aqueles não ad- cia e elegeu seu próprio rei, colocando um fim
quiridos pelo público. à União.

UNENCUMBERED ALLOTMENT. Expressão UNIÃO EUROPÉIA DE PAGAMENTOS —


em inglês que significa “dotação orçamentária UEP. Instituição de pagamentos existente em
não-empenhada”. Veja também Dotação Orça- 1950-1958, subordinada à Organização Européia
mentária; Empenho. de Cooperação Econômica (Oece). Seu objetivo
era incrementar o comércio multilateral entre os
UNESCO — United Nations Educational, países-membros cujas economias estavam em
Scientific and Cultural Organizations. Agência fase de recuperação pós-guerra. Substituiu o
das Nações Unidas criada em 1946 para promo- Acordo Intereuropeu de Pagamentos (ligado ao
ver a colaboração internacional em educação, Plano Marshall) e permitia, por meio de um sis-
ciência e cultura. A Unesco apóia e complementa tema de compensação, que os pagamentos entre
esforços nacionais dos Estados-membros visan- os países-membros se fizessem por um serviço
do eliminar o analfabetismo, estender a educa- de créditos limitados, mas automáticos. A liqui-
ção gratuita e encorajar o livre intercâmbio cul- dação dos saldos de cada país era feita parte
tural entre povos e nações. A organização inter- em ouro e parte em créditos fornecidos pela
na da entidade inclui uma Conferência Geral, União, e o controle das contas correntes ficava
que se reúne uma vez a cada dois anos; um a cargo do Banco de Basiléia para Liquidações
Conselho Executivo, constituído por 45 repre- Internacionais. Em 1958, a UEP foi substituída
sentantes dos Estados-membros, eleitos pela pelo Acordo Monetário Europeu, ao ser restau-
Conferência, e um Secretariado. A Unesco conta rada a conversibilidade das moedas dos países
com 186 Estados-membros, embora durante os da Oece.
anos 80, acusada de ter enfoques excessivamente
politizados sobre aspectos culturais, tenha so- UNIÃO LATINA. Grupo formado em 1865,
frido muitas críticas, o que culminou com o afas- constituído pela França, Bélgica, Suíça e Itália,
tamento dos Estados Unidos em dezembro de que adotaram um sistema decimal de cunhagem
1984. A sede da entidade se localiza em Paris. comum baseado no franco francês como unida-
de de valor. A Grécia se incorporou em 1868, e
UNIÃO ALFANDEGÁRIA. Acordo de elimi- os cinco países estabeleceram cunhagens unifor-
nação das barreiras alfandegárias entre dois ou mes de moedas de ouro e prata com o mesmo
mais países e estabelecimento de tarifa comum peso e toque, de tal maneira que as mesmas
externa em relação aos não-membros. O acordo, eram intercambiáveis. Na prática, o sistema san-
em geral, abrange taxas de importação e expor- cionava o bimetalismo, mas a depreciação da
tação e quaisquer encargos ou cotas que tendem prata nos quinze anos posteriores causou inú-
a restringir o comércio. A união pode limitar-se meras dificuldades para a operação do sistema,
a um grupo de produtos — como ferro e aço, e a partir de 1879 as cunhagens de moedas de
UNIÃO MONETÁRIA EUROPÉIA 620

prata foram suspensas, tornando o bimetalismo co ou entidade financeira controlada pelo go-
apenas formal, isto é, garantiam-se apenas as verno. No caso brasileiro, atualmente esta fun-
emissões de moedas de prata feitas anteriormen- ção é de competência do Banco Central.
te. Por essa razão, o sistema monetário da União
Latina chegou a ser denominado de Bimetalismo UNIDADE MONETÁRIA EUROPÉIA. Veja Sis-
Manco. O sistema terminou no início da Primei- tema Monetário Europeu.
ra Guerra Mundial (mas só foi oficialmente dis-
UNIDADE REAL DE VALOR. Veja URV.
solvido a partir de 1921), com o desaparecimento
das moedas de ouro e prata de circulação, com UNIDADE X. Unidade de medida do comprimen-
exceção da Suíça, onde as de prata continuaram to de onda dos raios X, equivalente a 10-11 cm.
a circular. Outros países, como a Espanha, a Fin- Veja também Sistemas de Pesos e Medidas.
lândia e a Venezuela, adotaram o mesmo siste-
ma, sem contudo aderir à União. Veja também UNIDADES DE PESOS E MEDIDAS. Veja Sis-
Mágico de Oz; Padrão-Ouro; União Escandina- tema Internacional de Unidades.
va.
UNIDADES DE PRODUÇÃO. Espaço ou local
UNIÃO MONETÁRIA EUROPÉIA. Criada em do sistema produtivo onde se realiza a combi-
1º/1/1979, a União Monetária Européia foi con- nação dos fatores de produção — terra, capital
cebida como uma resposta à política monetária e trabalho —, com o objetivo de gerar bens e
dissipadora dos Estados Unidos. De acordo com serviços destinados ao mercado. No estágio
a UME, as moedas dos países-membros se ele- atual do desenvolvimento econômico, a princi-
variam conjuntamente, em vez de flutuar sepa- pal unidade de produção é a empresa industrial
radamente. Os membros fundadores foram a (fábrica). É esse tipo de unidade de produção
Alemanha e a França, na expectativa de que os que caracteriza o setor secundário da economia.
demais países pertencentes à Comunidade Eu- No setor primário, de natureza agrícola, a uni-
ropéia também participariam da União e de dade de produção é representada pela fazenda;
uma política monetária comum, o que de fato no ramo extrativo desse mesmo setor, a unidade
se consolidou com o Tratado de Maastrich. de produção corresponde às minas ou aos nú-
Veja também Serpente; Sistema Monetário Eu- cleos madeireiros. No setor terciário, as unida-
ropeu; Tratado de Maastricht. des de produção são características das empre-
sas de transporte e armazenagem. Cada unidade
UNICEF. Iniciais de United Nations Children’s Fund de produção ou empresa administra e controla
(Fundo das Nações Unidas para as Crianças). os fatores de produção de acordo com seus ob-
Programa especial das Nações Unidas, cujo ob- jetivos, e isso determina os métodos e processos
jetivo é colaborar para a melhoria da saúde, da organizacionais que lhe são particulares. No ca-
educação, da nutrição e do bem-estar das crian- pitalismo, por exemplo, a unidade de produção
ças de todo o mundo, a partir de esforços de caracteriza-se por ser uma propriedade privada,
cada país. Criado especialmente logo depois da voltada para alcançar o lucro máximo. Manifes-
Segunda Guerra Mundial, em dezembro de ta-se, conseqüentemente, como uma organiza-
1946, para ajudar as crianças dos países devas- ção hierarquizada, cuja orientação da produção
tados pela guerra, como United Nations Chil- está a cargo do proprietário ou de indivíduos
dren’s Emergency Fund (daí a sigla Unicef). De- por ele designados. Nas condições de uma eco-
pois de 1950, as ações do fundo foram redire- nomia socialista (na qual não existe a proprie-
cionadas para as crianças em geral, particular- dade privada e a direção da produção geral en-
mente as dos países em desenvolvimento, reti- contra-se nas mãos do Estado), as unidades de
rando-se do nome o termo Emergency. A sede produção perdem seu caráter concorrencial
da Unicef se localiza na cidade de Nova York (próprio da iniciativa privada) e desempenham
e suas atividades são financiadas tanto por go- suas atividades de acordo com a orientação de-
vernos quanto por contribuições voluntárias de terminada pela planificação centralizada de todo
entidades privadas. o processo produtivo: produção, distribuição e
consumo. Esse princípio orienta também a cria-
UNIDADE ASTRONÔMICA. Unidade de me- ção ou implantação de novas unidades de pro-
dida de distância utilizada em astronomia dentro dução. Nesse sentido, pelo menos no plano teó-
do sistema solar e equivalente a 1 495 x 1011 m. rico, as unidades de produção numa economia
Esta distância equivale à distância média entre socialista apresentam-se como partes solidárias
o Sol e a Terra. Veja também Sistemas de Pesos de uma complexa totalidade produtiva, voltada
e Medidas. para a satisfação de necessidades coletivas, e não
para a obtenção do lucro máximo. Ainda de
UNIDADE BANCÁRIA EMISSORA. Situação acordo com o esquema teórico, o caráter social
em que a emissão de moeda é realizada apenas dos fins de produção no socialismo também
por uma unidade emissora, geralmente um ban- orienta os métodos de administração e controle
621 UNTERTHANSPATENT

da produção no âmbito da empresa. Isso deveria de valores com os do cruzeiro novo, então ex-
ser também uma função do conjunto dos agentes tinto. A lei nº 7 214, de 15/8/1984, extinguiu o
produtivos: do diretor da fábrica ao corpo de centavo.
trabalhadores. No entanto, na maioria dos casos, Cruzado. Em 28/2/1986, o cruzeiro foi substituí-
a prática se insurge contra a teoria. O predomí- do pelo cruzado mediante o decreto-lei nº 2 283,
nio de métodos burocráticos de administração, passando 1000,00 cruzeiros a valer 1,00 cruzado,
a ausência do controle coletivo da gestão eco- sendo restabelecido o centavo.
nômica, no plano da unidade de produção, são Cruzado Novo. A medida provisória nº 32, de
comportamentos criticados e denunciados fre- 15/1/1989, institui o cruzado novo como uni-
qüentemente por muitos teóricos marxistas. E dade monetária brasileira em substituição ao
segundo esses críticos, tal procedimento contri- cruzado, a partir de 16/1/1989, conservando o
bui para o insucesso de muitos empreendimen- centavo como a centésima parte do cruzado
tos industriais nos países socialistas. Veja tam- novo. A resolução nº 1 565, de 16/1/1989, do
bém Capitalismo; Indústria; Setores de Produ- Conselho Monetário Nacional, dá conhecimento
ção; Socialismo. público da linha de cédulas e moedas brasileiras
resultante do advento do cruzado novo. A lei
UNIDADES MONETÁRIAS BRASILEIRAS. nº 7 730, de 31/1/1989, acolhe a medida provi-
Desde seu descobrimento, o Brasil já possuiu sória nº 32, de 15/1/1989, e dá ciência de que
nove unidades monetárias oficiais, que estão re- o Congresso Nacional aprovou a instituição do
lacionadas a seguir: cruzado novo.
O Real. Moeda portuguesa. A nação portuguesa Cruzeiro. Reintroduzido em 15/3/1990 como
inicia-se por volta do ano 1120 da era cristã, nova unidade monetária do Brasil, como ele-
quando passou a ter moeda própria, aplicada mento do Plano Collor.
posteriormente a sua colônia, o Brasil. Embora Cruzeiro Real. Criado em 2/8/1993 como uma
a moeda portuguesa tivesse várias denomina- moeda de transição para o Plano Real.
ções populares, como “pataca”, “vintém”, “tos- Real. Criado por medida provisória em 1º/7/1994,
tão” etc., a unidade monetária era o real. Ante- e aprovado pelas leis nºs 8 880, de 27/5/1994,
riormente à nacionalidade portuguesa, a região e 9 069, de 29/06/1995, como unidade monetária
era habitada pelos povos chamados “bárbaros”, brasileira.
como os suevos, godos, visigodos, ostrogodos
UNIDADES SI. Veja Sistema Internacional de
e neogodos.
Unidades.
Réis. Com a continuidade progressiva da infla-
ção, o real passou a não possuir poder de com- UNIVERSO. Veja População.
pra, sendo substituído, na prática, pelos seus
múltiplos, ou seja, pelos reais, que o povo, por UNLOAD. Termo em inglês que, literalmente,
facilidade de pronúncia, passou a denominar significa “descarregar” e, aplicado ao mercado
réis. Assim, cinco reais, dez reais, cem reais etc. financeiro ou de commodities, significa vender tí-
passaram a ser chamados cinco réis, dez réis, tulos para evitar perdas, devido a uma baixa
cem réis etc. Mil reais, vulgarmente chamados das cotações, por estar o mercado em queda ou
de “mil-réis”, passaram a ter o referencial de se expectativas desse mercado forem desfavo-
unidade monetária, embora, na realidade, fos- ráveis em matéria de preços. Nos mercados onde
sem múltiplos do real. não existem sanções severas aos insiders, esta
Cruzeiro (antigo). O mil-réis permaneceu como prática pode ser mais difundida, uma vez que
unidade monetária até 1942, quando foi substi- os diretores ou dirigentes de empresas em difi-
tuído pelo cruzeiro, pelo decreto-lei nº 4 791, de culdades e que têm ações em Bolsa podem agir
5/10/1942. A centésima parte do cruzeiro foi de acordo com informações privilegiadas de que
denominada “centavo”. A lei nº 4 511, de dispõem.
1º/12/1964, extinguiu o centavo.
Cruzeiro Novo. Criado pelo decreto-lei nº 1, de UNTERNEHMER. Termo em alemão que sig-
13/11/1965. Passou a vigorar a partir de 13/2/1967, nifica “empresário”. Por derivação, Unternehmertum
pela resolução nº 47, do Conselho Monetário Na- significa “empresarização” ou capacidade de al-
cional, equivalendo 1000,00 cruzeiros (antigos) guém de empresariar uma atividade.
de 1942 a 1,00 cruzeiro novo, sendo restabelecido UNTERNEHMERTUM. Veja Unternehmer.
o centavo.
Cruzeiro. A unidade monetária brasileira voltou UNTERTHANSPATENT. Uma das três leis pro-
a denominar-se cruzeiro a partir de 15/5/1970, mulgadas por José II, filho da imperatriz Maria
conforme resolução nº 144 de 31/3/1970, do Teresa, em 1780, para resolver a questão do cam-
Conselho Monetário Nacional, em cumprimento pesinato (evitar as rebeliões camponesas) e ate-
ao artigo 6 do decreto nº 601/90, de 8/2/1967. nuar as condições de superexploração impostas
Ao ser restabelecido o cruzeiro como unidade pelo Robot aos servos e camponeses. A Untert-
monetária brasileira, foi mantida a equivalência hanspatent abolia a servidão pessoal ao conceder
UON 622

aos camponeses o direito de abandonar o do- existente e que se instalou numa área distinta
mínio senhorial e casar com quem quisessem e, daquela que lhe dava os meios de subsistência,
embora não abolisse a prestação em trabalho, surgiu a cidade; no local onde se alojou a camada
restringia sua extensão. Veja também Corvéia; dirigente instalaram-se também os artesãos, mi-
Robot; Strafpatent. litares e funcionários a ela ligados, constituin-
UON. Unidade monetária da Coréia do Norte do-se assim um núcleo populacional depen-
(submúltiplo: chon) e da Coréia do Sul (submúl- dente dos alimentos produzidos na zona rural.
tiplo: chun ou huan. Durante cerca de dois milênios foi baixo o índice
de urbanização — relação entre a parcela da po-
UP. Sigla utilizada nos boletins emitidos pelas pulação que depende dos alimentos produzidos
Bolsas de Valores, indicando o “último preço” pela outra parcela e a população total. Com o
de negociação de determinada ação no pregão. surgimento de novas formas de organização so-
UPC — Unidade Padrão de Capital. Unidade cial, novos instrumentos, sistemas de comercia-
monetária utilizada pelo extinto BNH e pelos lização e especialização da agricultura, a urba-
bancos ligados ao Sistema Financeiro da Habi- nização foi se acentuando. No século XVIII, en-
tação, para servir de base ao financiamento de tretanto, amadureceram as condições que per-
moradias. Reajustada trimestralmente, a UPC mitiriam a emergência da Revolução Industrial.
correspondia ao valor de uma ORTN no pri- As atividades fabris se tornaram essencialmente
meiro mês de cada trimestre. urbanas, em função da necessidade de uma
mão-de-obra concentrada e de uma infra-estru-
UPSCALE BUYING. Expressão em inglês que tura que somente a cidade poderia oferecer. Os
significa “comprar a preços escalonados ascen- índices de urbanização aumentaram rapidamen-
dentes”.
te, observando-se intensa migração rural-urba-
UPSET PRICE. Expressão em inglês utilizada na, que ocasionou a concentração de grandes
em leilões para designar um nível mínimo de contingentes populacionais em áreas relativa-
preço abaixo do qual não se permite efetuar o mente restritas, constituindo as metrópoles e co-
arremate do bem leiloado. nurbações (regiões metropolitanas formadas pela
junção de cidades). Na segunda metade do sé-
UP TICK. Expressão em inglês utilizada nas culo XX, época em que ainda se mantém acen-
Bolsas de Valores e que significa a situação em tuada a migração campo—cidade nos países
que um título é vendido por um preço e sua
subdesenvolvidos, a urbanização tem aumenta-
próxima venda ocorre numa cotação mais ele-
vada. Esta última denomina-se up tick ou plus do pouco nos países desenvolvidos. E a indus-
tick. Quando uma ou mais transações são reali- trialização de zonas rurais vem provocando a
zadas numa mesma cotação e em seguida se ele- crescente aproximação entre estas e as regiões
vam a um patamar mais alto de preço, deno- metropolitanas, diminuindo em conseqüência as
mina-se zero plus tick. Se ocorrer o contrário, isto correntes migratórias. Veja também Migração.
é, o preço se mover para baixo, o movimento
será denominado zero minus tick. Uma venda do URBARIUM. Regulamentação estabelecida pela
tipo minus tick é aquela que ocorre numa cotação imperatriz Maria Teresa (Império Austro-hún-
inferior à cotação anterior. Nas Bolsas de Valo- garo) sobre os direitos e deveres dos servos em
res, geralmente é afixado um sinal de mais (+) suas relações com os senhores dentro das fron-
ou de menos (–) no início do pregão, correspon- teiras do império. O urbarium surgiu como uma
dentes à última transação do dia anterior, para maneira de atenuar as condições sumamente du-
orientar os investidores. ras e desvantajosas para os servos-camponeses
estabelecidas pelo Robot, isto é, obrigações em
UQ. Sigla utilizada nos boletins emitidos pelas trabalho nas atividades mais penosas e vexató-
Bolsas de Valores para indicar a “última quan- rias. Essas mudanças não significaram grandes
tidade” negociada no pregão. alterações nas condições do Robot. Veja também
Corvéia; Robô; Strafpatent; Unterthanspatent.
URBANIZAÇÃO. Processo social que consiste
na liberação de indivíduos das atividades de URP — Unidade de Referência de Preços. Ín-
plantio e coleta de alimentos. Anterior à forma- dice que substituiu o gatilho salarial no reajuste
ção das cidades, a urbanização surgiu quando de salários e que determinou tetos para o rea-
a produção regular de um excedente agrícola juste de alguns preços. Seu valor inicial, em vi-
permitiu que parcelas da população se dedicas- gor a partir de 15/6/1987, era igual a cem e
sem exclusivamente a práticas artesanais, co- permaneceu inalterado até o término da fase de
merciais, administrativas, militares, políticas ou congelamento fixado pelo Plano Bresser, em no
intelectuais. Com a diferenciação de um grupo máximo noventa dias. Nos três meses seguintes,
encarregado da gerência do excedente agrícola os salários passariam a ser reajustados mensal-
623 USUCAPIÃO

mente, a uma taxa fixa determinada pela varia- lizada em Ipatinga (MG), fundada como empre-
ção média mensal do Índice de Preços ao Con- sa de economia mista em 1956 e consolidada
sumidor (IPC), ocorrida durante o período de em 1957 com a assinatura de um acordo brasi-
congelamento. Nos trimestres subseqüentes, a leiro-japonês. Seu capital era então dividido en-
taxa que reajustou mensalmente o valor da URP tre o BNDE, o Tesouro Nacional, o governo de
foi igual à taxa média mensal de variação do Minas Gerais, a Companhia Vale do Rio Doce
IPC verificada no trimestre imediatamente an- e empresas japonesas. Em 1983, seus três maio-
terior. Quando a inflação era crescente, os rea- res acionistas eram a Siderbrás (57,6%), o BNDES
justes salariais pela URP eram inferiores à in- (29,9%) e a Nippon Usiminas (11,2%). Em 1962,
flação do mês em curso; quando a inflação era foi inaugurada a Usina Intendente Câmara, com
decrescente, ocorria o inverso, isto é, os reajustes capacidade de produção inicial de 500 mil to-
mensais pela URP eram superiores à inflação neladas de aço por ano, ocupando uma área de
do mês em curso, e, quando a taxa de inflação 7 por 1,5 km, próxima a uma das maiores re-
era constante, os dois índices tendiam a coinci- servas de ferro do mundo, o Quadrilátero Fer-
dir. Com o Plano Verão, a URP foi extinta, mas rífero de Minas Gerais. Em 1965, com a inau-
se garantiu sua aplicação correspondente ao mês guração da Laminação de Tiras a Quente, a Usi-
de janeiro de 1989. Veja também Gatilho Sala- minas iniciou a distribuição de seus produtos
rial; IPC; Plano Bresser; Plano Verão. laminados no mercado nacional. Em 1971, sua
capacidade de produção duplicou em relação ao
URV (Unidade Real de Valor). Indexador cria- ano de sua inauguração. Em 1974, essa capaci-
do em 1993, quando era ministro da Fazenda dade passou para 3,5 milhões de toneladas por
Fernando Henrique Cardoso. Foi um dos prin- ano, tornando-se a empresa, posteriormente, a
cipais elementos do Plano de Estabilização Eco- maior produtora de laminados planos não-re-
nômica (Plano Real). Estreitamente vinculado à vestidos no Brasil. No setor de exportação de
taxa de câmbio, este indexador foi utilizado ini- aço, aparece entre os primeiros lugares. Sua pro-
cialmente pelo governo federal para indexar dução de aço bruto em 1990 foi de 3,5 milhões
suas receitas, sendo voluntária inicialmente sua de toneladas. Durante o mesmo ano, exportou
adoção pelo setor privado. Na verdade, a URV 1 317 191 toneladas de laminados planos não-
transformou-se na prática numa moeda (unida- revestidos para mais de vinte países, o que re-
de de conta) de transição e, quando o Plano Real presentou uma renda de US$ 417 milhões. Além
foi decretado, em 1º/7/1994, quase todos os pre- dos derivados do aço, fabrica produtos quími-
ços já eram cotados em URVs e cruzeiros reais cos, como o óleo creosotado, naftaleno, antrace-
na relação de 1 URV para 2750,00 cruzeiros reais, no, piche, fenolato, alcatrão para pavimentação,
e ambos os valores equivalendo, a partir de en- óleos carbólicos e gás. Fabrica ainda aços espe-
tão, a 1,00 real. A adoção dessa moeda de tran- ciais para a construção de tubos para exploração
sição foi muito importante para que os preços e transporte de petróleo e é uma das poucas
se estabilizassem logo no segundo semestre de empresas do mundo qualificadas para forneci-
1994 e a inflação, antes muito elevada, se redu- mento de chapas para construção de usinas nu-
zisse drasticamente, sem a necessidade do re- cleares. Como uma empresa-modelo, a Usiminas
curso ao congelamento de preços, como havia foi a primeira estatal a ser privatizada, em ou-
tubro de 1991, de acordo com o programa de
ocorrido nos planos anteriores. Veja também
desestatização do governo Collor.
Plano Real; Unidades Monetárias Brasileiras.
USM. Iniciais da expressão em inglês unlisted
USAID — Agência dos Estados Unidos para o
securities market, que se refere a um mercado de
Desenvolvimento Internacional. Órgão do De- títulos, criado em 1980 pela Bolsa de Valores de
partamento de Estado norte-americano respon- Londres, que não exige das empresas matricu-
sável pela aplicação dos projetos oficiais de aju- ladas tantas formalidades e apresenta custos me-
da econômica externa. Criada em 1982, atua no nores de inscrição.
campo político, econômico, demográfico e edu-
cacional. Sua atividade se desenvolve principal- USUCAPIÃO. Modo de adquirir propriedade
mente junto aos países do Terceiro Mundo, lo- sobre algo, fundado na posse continuada e no-
calizados nas áreas de influência norte-america- tória, de boa-fé, sem violência e sem oposição
na. A maior parte da ajuda é fornecida em forma por quem de direito. Pela legislação brasileira,
de financiamentos especiais para a aquisição, o prazo de posse contínua que confere a pro-
por parte desses países, de mercadorias prove- priedade por usucapião era de vinte anos no
nientes dos Estados Unidos e para investimentos que diz respeito a bens imóveis e de três anos
norte-americanos no exterior. para bens móveis. Em dezembro de 1981, a lei
nº 6 969 criou o usucapião especial, reduzindo o
USIMINAS — Usinas Siderúrgicas de Minas período de posse para cinco anos ininterruptos
Gerais S.A. Empresa do grupo Siderbrás, loca- em área rural contínua, não excedente a 25 hec-
USUFRUTO 624

tares se a terra tiver se tornado produtiva e o significados é que, ao não atribuir valores ab-
trabalhador tiver construído sua moradia nela. solutos às diferenças de utilidade entre os di-
O usucapião especial não ocorrerá em áreas de versos níveis, é possível superar a dificuldade
segurança nacional, de interesse ecológico etc. intransponível do primeiro significado, que
A Constituição de 1988 estabeleceu que a pessoa exige essa atribuição aos diferentes níveis de
que possuir área urbana de até 250 m2 por cinco utilidade. As dificuldades apresentadas pelo
anos, ininterruptamente e sem oposição, utili- conceito em seus dois significados deram ori-
zando-a para sua moradia ou de sua família, gem ao conceito de utilidade ordinal. Veja tam-
obterá o domínio sobre ela, desde que não seja bém Ofelimidade; Utilidade Ordinal.
proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
Os imóveis públicos, no entanto, não serão ad- UTILIDADE MARGINAL. Também chamada
quiridos por usucapião. de utilidade limite, é aquela que decorre do con-
sumo da última unidade de determinado bem.
USUFRUTO. Direito de alguém usar e explorar, O conceito se baseia no princípio da saturabilidade,
por determinado tempo, um bem cuja proprie- segundo o qual, à medida que se consome um
dade é de outra pessoa. É o caso, por exemplo, bem, diminui a satisfação ou a utilidade de cada
de alguém que compra uma casa em nome de unidade adicional consumida desse bem. O pri-
um filho (para evitar futuros problemas de in- meiro a chamar a atenção para este princípio
ventário), reservando para si seu usufruto: com na determinação do valor foi Herman Heindrich
isso pode morar nela sem pagar ou alugá-la e Gossen. A expressão matemática é a seguinte:
ficar com os rendimentos.
dU
UM =
USURA. Cobrança de taxas de juros considera- dX
das exorbitantes, superiores às taxas máximas
permitidas por lei ou admitidas como viáveis, onde UM é a utilidade marginal, U é a utilidade
segundo a prática dominante. Sua aplicação con- proporcionada pelo consumo de um bem, X é
figura crime contra a economia popular, punível a quantidade desse bem, e d são pequenos acrés-
por lei. Na Idade Média, qualquer cobrança de cimos em seu consumo e na utilidade propor-
juros era considerada usura e condenada pela cionada.Veja também Escola Neoclássica; Gos-
Igreja Católica, segundo os valores que garan- sen, Herman Heindrich.
tiam o ordenamento medieval. Por isso, os ne-
gócios do comércio e da usura ficavam relegados UTILIDADE ORDINAL. Aquela existente quan-
aos não-cristãos, particularmente aos judeus. Es- do se ordenam vários bens, sendo aquele que
tes não tinham direito à propriedade territorial, representa a maior utilidade — para o consu-
base da estrutura social feudal. Com o desen- midor — colocado no ponto mais elevado da
volvimento comercial ocorrido a partir do século escala, acima daquele que representa a segunda
XI, a condenação da usura tornou-se incompa- maior utilidade, e assim sucessivamente. A de-
tível com as formas de vida e da ação dos mer- nominação ordinal significa que não se pode di-
cadores e habitantes das cidades. A crítica à usu- zer em quanto o primeiro bem proporciona mais
ra foi significativamente condenada pelos líde- utilidade do que o segundo etc. Veja também
res da Reforma — sobretudo Calvino —, que Ofelimidade; Utilidade Cardinal.
proclamaram a legitimidade e respeitabilidade
UTILITARISMO. Doutrina ética segundo a qual
da cobrança de juros.
o bem se identifica com o útil. Algumas expres-
UTILIDADE CARDINAL. Expressão utilizada sões do utilitarismo já se encontram entre os
em economia que admite dois significados: o sofistas da Grécia Antiga, mas é com Jeremy
primeiro decorre do argumento dos marginalis- Bentham que ele se firma como um sistema fi-
tas de que a utilidade dos bens poderia ser men- losófico. Para Bentham, toda felicidade está na
surada em forma absoluta a partir de certa uni- obtenção do útil, ou seja, no afastar-se da dor
dade de medida, da mesma maneira que se faz e aproximar-se o máximo possível do prazer.
com a distância, o peso etc. O segundo signifi- Esse objetivo é defendido por Bentham não em
cado, mais utilizado nas exposições dos econo- termos de satisfação individual, mas em função
mistas marginalistas, se aplicaria apenas para da felicidade de todos. Outros importantes rep-
diferenciar dois níveis distintos de utilidade. resentantes do utilitarismo foram James Mill,
Dessa forma, se um consumidor estiver diante historiador, filósofo e economista inglês; seu fi-
de quatro situações, a, b, c, e d, e for capaz de lho John Stuart Mill, também filósofo e econo-
dizer que a diferença de utilidade entre as si- mista, e George Edward Moore, que defendeu
tuações a e b é algum múltiplo ou fração da um utilitarismo idealista.
diferença entre as situações c e d, este consumi-
dor terá organizado sua escala de preferências UTI POSSIDETIS. Expressão em latim que sig-
em termos cardinais. A diferença entre os dois nifica “como possuis agora”. Direito que alguém
625 VALOR

tem sobre alguma coisa por possuí-la de fato. nascente sociedade capitalista. A luta dos ope-
Este princípio foi decisivo para a conformação rários deu novo conteúdo à negação da ordem
do território brasileiro, pois na época colonial a capitalista e às aspirações de construção de uma
Coroa portuguesa não tinha direito de proprie- sociedade igualitária. Marx e Engels, avaliando
dade sobre a maior parte do território brasileiro as contradições, engendradas pelo desenvolvi-
atual, que pertencia à Espanha, segundo o Tra- mento do modo de produção capitalista, viram
tado de Tordesilhas (1494). Reconhecendo, no a necessidade de sua superação não como uma
entanto, a presença efetiva dos portugueses nes- realização do imaginário, mas como algo obje-
sa parte do continente, o Tratado de Madri tivo, resultante do choque entre as forças pro-
(1750) legitimou a posse de Portugal pela apli- dutivas e as relações de produção. Na atualida-
cação do uti possidetis. Veja também Tratado de de, a questão da utopia foi recolocada por Karl
Madri; Tratado de Tordesilhas. Mannheim e Herbert Marcuse. Para Mannheim,
o conceito de utopia se constrói em contraposi-
UTI SINGULI. Expressão em latim utilizada na ção ao de ideologia: esta liga-se à visão conser-
administração pública para designar serviços vadora da sociedade, ao passo que a utopia rep-
prestados pelo poder público a usuários deter- resenta a ação transformadora do presente, vol-
minados e a utilização particular por seus con- tada para a perfeição social. Marcuse vê a via-
sumidores, como, por exemplo, o abastecimento bilidade da utopia na realidade econômica e so-
de água, energia elétrica etc. São geralmente cial dos países altamente desenvolvidos, porta-
bens e serviços de consumo individual (familiar) dores de todos os recursos materiais para a cons-
facultativo e passível de mensuração, em razão trução de uma sociedade alternativa; e considera
do que devem ser pagos pelo usuário direta- isso possível desde que se parta de uma “teoria
mente mediante tarifa, e não indiretamente, por crítica” das relações sociais.
meio de imposto. Veja também Uti Universi.
UTI UNIVERSI. Expressão em latim utilizada
na administração pública para designar serviços

V
que o poder público fornece à população sem
ter usuários determinados, como acontece, por
exemplo, com os serviços de segurança (polícia),
conservação das vias públicas etc. Por sua na-
tureza, esses serviços devem ser mantidos por
impostos, isto é, por tributos gerais. Veja tam-
bém Uti Singuli.
UTOPIA. Organização social idealmente cons- VALE DO RIO DOCE. Veja CVRD.
truída, livre de contradições, para substituir
VALE DO SILÍCIO (Silicone Valley). Região da
uma realidade presente que é condenada. Em- Califórnia, compreendida entre as cidades de
bora a formulação de utopias já viesse da An- San Francisco e San Jose, onde se concentram
tiguidade (a exemplo de A República, de Platão), muitas pequenas e médias empresas industriais
o primeiro pensador a usar o termo foi Thomas high-tech (de alta tecnologia) do setor de eletrô-
Morus, em 1516, quando descreveu sua ilha da nica e informática nos Estados Unidos; nesta re-
Utopia. Depois de retratar a Inglaterra de seu gião, cerca de 2 mil empresas reúnem uma força
tempo (quando se processava o cercamento de de trabalho de cerca de 500 mil empregados.
terras para a criação de ovelhas, gerando con-
flitos), Morus propõe uma sociedade alternativa, VALEURS. Termo em francês que significa “tí-
na qual existiria propriedade comum dos bens tulos em geral”. Na França, as ações são deno-
sociais, direito e obrigatoriedade ao trabalho, minadas actions e os títulos da dívida pública,
gratuidade dos bens necessários à sobrevivência obligations, fonds d’etat ou fonds garantis.
individual e plena tolerância religiosa. Outro
VALOR. Conceito fundamental da economia po-
exemplo de utopia é a proposta social do filósofo lítica que designa o atributo que dá aos bens
italiano Tommaso Campanella, na obra A Cidade materiais sua qualidade de bens econômicos.
do Sol, escrita em 1601. A Revolução Industrial, Desde Aristóteles começou a ser estabelecida a
ao provocar a ruína de artesãos e camponeses, distinção entre o valor de uso e valor de troca:
tornando-os míseros operários, fez surgir novas o primeiro diz respeito às características físicas
formulações sociais utópicas, presentes nas obras dos bens que os capacitam a ser usados pelo
de Robert Owen, Charles Fourier e Saint-Simon, homem, ou seja, a satisfazer necessidades de
precursores do socialismo (são chamados “so- qualquer ordem, materiais ou ideais; o segundo
cialistas utópicos”), e os primeiros críticos da indica a proporção em que os bens são inter-
VALOR ABSOLUTO 626

cambiados uns pelos outros, direta ou indireta- usados no crédito rural, para definição de pe-
mente, por intermédio do dinheiro. Apenas na quenos, médios e grandes agricultores, para con-
era moderna, William Petty seria o primeiro a cessão de empréstimos, para pagamento de be-
definir o trabalho como conteúdo do valor e, nefícios previdenciários e débitos junto à Justiça
por conseguinte, como determinante do valor do Trabalho. O valor de referência sempre foi
de troca. Adam Smith desenvolveu a teoria do corrigido de acordo com a correção monetária
valor-trabalho, afirmando que o trabalho é a úni- oficial. Isso significa, em termos reais, que os
ca medida real e definitiva do valor das merca- valores de referência não acompanharam a in-
dorias, distinguindo-se de seu preço nominal em flação ao longo do tempo, particularmente no
dinheiro. Por sua vez, David Ricardo demons- ano de 1979, quando houve uma queda brusca
trou que o próprio valor do trabalho variava da correção em relação à inflação (49,3% de cor-
com o preço dos artigos necessários à subsis- reção e 77,2% de inflação) e no de 1980, quando
tência dos operários, o que se refletia no salário a correção monetária foi prefixada em 51,4%,
e no valor das mercadorias por eles produzidas. tendo a inflação atingido 110,2%.
Karl Marx definiu o valor pelo tempo de traba-
lho socialmente necessário à produção de uma VALOR DE RESGATE. Veja Valor de Face.
mercadoria; da análise da força de trabalho,
VALOR DE SUCATA. É o valor remanescente
como mercadoria do tipo especial, extraiu a teo-
de uma máquina ou equipamento depois de
ria da mais-valia. Em contraposição à teoria ob-
completado seu período de vida útil e em geral
jetiva do valor-trabalho, surgiu, no final do sé-
constituído pelo valor do seu material (geral-
culo XIX, a teoria do marginalismo, que subje-
mente em peso).
tivou o conteúdo do valor, fundamentando-o na
utilidade marginal. VALOR DE TROCA. Para Adam Smith, valor
de troca é a faculdade que a posse de determi-
VALOR ABSOLUTO. É o valor de um número
nado objeto oferece de comprar com ele outras
do qual não se leva em consideração o sinal de
mercadorias. Valor de troca é a capacidade de
subtração (–), negativo ou de menos, ou o de
obter riquezas. Para explicá-lo, Smith parte da
mais (+), positivo, de soma, que o mesmo possa
concepção de que a troca das mercadorias é, na
trazer. Geralmente, quando se quer designar um
realidade, a troca do trabalho necessário para a
número de valor absoluto, coloca-se o valor entre
barras: |9|. Assim, por exemplo, os valores ab- produção dessas mercadorias. Embora o valor
de troca de determinado bem seja dado pelo
solutos de –9 e +9 são ambos equivalentes a |9|.
trabalho que nele foi empregado, o que acontece
VALOR AGREGADO. Em finanças públicas, é é que esse valor nas mercadorias é estimado pela
o total obtido na soma das contas que repre- quantidade de moeda que o possuidor recebe
sentam determinado setor. Assim, por exemplo, em troca dele. No entanto, o valor da moeda
o produto, a receita e a despesa pública são os varia como o de qualquer outro bem; quanto
agregados mais comumente utilizados e permi- menos trabalho custe para produzi-la, menos
tem a formação de quadros para uma melhor trabalho pode comprar. Não constituem, por-
análise das contas públicas. tanto, medidas fidedignas do valor de outras
mercadorias. Portanto, o valor de troca é o preço
VALOR AO PAR. Veja Valor de Face. real dessa mercadoria, em contraposição a sua
expressão monetária. Considerando-se uma so-
VALOR DE FACE. O valor nominal estampado
ciedade de produtores livres e independentes,
numa nota, ação, moeda, título etc., sendo o mes-
todos se reunirão no mercado para realizar a
mo que valor ao par, valor de resgate, ou valor
futuro. troca de suas mercadorias. Para cada um deles,
a riqueza é a soma dos valores de uso que estão
VALOR DE REFERÊNCIA. Índice criado em a sua disposição. Se o indivíduo fosse isolado,
1975 por decreto presidencial, substituindo o sa- essa riqueza dependeria do trabalho por ele exe-
lário mínimo como fator de correção monetária cutado. Numa situação mercantil, a riqueza de-
de contratos, para diminuir o impacto inflacio- pende do trabalho contido nas mercadorias pro-
nário dessa correção. O decreto de criação do duzidas pelos outros e que o sujeito em causa
valor de referência estipulava cinco valores de pode obter, trocando por elas suas próprias mer-
referência diferentes, um para cada região do cadorias. Para Ricardo, valor de troca são as re-
país: o Maior Valor de Referência, para aplicação lações entre as quantidades de trabalho contidas
em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e nas mercadorias. Para Marx, o valor de troca é
Distrito Federal, e o Menor Valor de Referência, determinado pela quantidade de trabalho con-
aplicado nos Estados nordestinos. Os valores de tida na força de trabalho, ou seja, pelo trabalho
referência são utilizados como índice para o cál- socialmente necessário para produzir os meios
culo das multas (cheques sem fundo, trânsito, de subsistência, em determinado momento his-
atraso no pagamento de tributos). São também tórico. Na teoria subjetiva de valor, Menger de-
627 VALOR PRESENTE

fine valor de troca como a importância que de- VALOR FUTURO. Veja Valor de Face.
terminados bens têm para os indivíduos. Isso
porque a propriedade desses bens lhes permite VALOR INTRÍNSECO. Aplicada no âmbito mo-
satisfazer suas necessidades por meio da troca netário e aos sistemas de cunhagem, a expressão
deles. Veja também Valor; Valor de Uso. significa o valor do metal (peso) utilizado para
a cunhagem de uma moeda. Geralmente, esse
VALOR DE USO. Para Adam Smith, é a utili- valor é inferior ao valor extrínseco ou valor de
dade de um objeto. As coisas que têm maior face das moedas, pois, caso contrário, os pro-
valor de uso possuem, em geral, pouco ou ne- dutores dos metais não se interessariam em en-
nhum valor de troca. A água, por exemplo, é tregá-los para a cunhagem, e as autoridades mo-
de grande utilidade, mas dificilmente se pode netárias que assim o fizessem teriam um grande
comprar algo com ela. Um diamante, por sua prejuízo nas emissões e não poderiam impedir
vez, dificilmente apresenta algum valor de uso que os que recebessem as moedas as fundissem
e, no entanto, pode-se obter grande quantidade e vendessem o metal “desmonetizado”, realizan-
de objetos com ele. Para Marx, o valor de uso do lucros.
não é concebido como uma categoria natural, VALORIZAÇÃO. Elevação do preço de uma
mas como uma categoria específica da economia mercadoria acima daquele que seria determina-
política. No âmbito da produção capitalista o do pela livre interação da oferta e da procura
valor de uso assume determinações sociais es- (o inverso de depreciação). Em geral, a valori-
pecíficas, que configuram sua função no interior zação é conseqüência de intervenções no mer-
da produção e da circulação do próprio valor cado, principalmente por meio da retenção de
de troca. A relação entre o valor de uso e o valor estoques. No Brasil, tornou-se clássica a mano-
de troca é uma relação de subordinação. O valor bra realizada pelos produtores de café, em 1906,
de uso constitui o “suporte material” do valor quando realizaram a Convenção de Taubaté:
de troca. O valor criado no processo produtivo diante do problema de superprodução, a con-
deve transformar-se em valor de troca mediante venção instituiu, com o apoio de banqueiros in-
sua realização no mercado. Isso, no entanto, só ternacionais, um fundo de sustentação, forman-
é possível se o valor produzido estiver incorpo- do um estoque (não lançado ao mercado), para
rado num conjunto de valores de uso que cor- provocar a subida da cotação do produto; em
respondam à necessidade social. No caso da pro- cerca de quatro anos, os preços duplicaram. Na
dução capitalista, necessidade social quer dizer bolsa de valores, valorização é a diferença po-
necessidade do capital, que é o conjunto dos va- sitiva entre o valor de emissão do título e seu
lores de uso que servem para reconstituir os ele- valor de negociação no mercado. Veja também
mentos materiais do capital constante (meios de Depreciação.
produção) e do capital variável (meios de sub-
sistência) que foram consumidos na produção. VALOR NOMINAL. Valor de emissão de um
título, em geral inscrito no próprio título. Em
Além disso, deve permitir o alargamento da pró-
ações e cotas de empresas, o valor nominal é a
pria produção, mediante a transformação de
parte do capital social que representa. Em o-
uma parte da mais-valia em capital constante
brigações, é o capital sobre o qual se calculam
acrescentado e capital variável acrescentado.
os rendimentos e que será reembolsado ao fim
Isso demonstra que, no modo de produção ca-
do período combinado. Valor de face ou “ex-
pitalista, o produto social não se destina às ne- trínseco” de uma moeda, ou o valor de uma
cessidades do homem, mas corresponde às ne- mercadoria expressa no valor de face de uma moe-
cessidades do capital. Para Menger, teórico da da cujo valor se altera pela inflação.
subjetividade do valor, valor de uso é a impor-
tância que adquirem os bens, enquanto assegu- VALOR NUMISMÁTICO. Valor de uma moe-
ram a satisfação das necessidades, em circuns- da decorrente não de seu valor de face, mas de
tâncias tais que, se não dispuséssemos deles, sua raridade, estado de conservação, erros ou
não poderíamos satisfazê-las. Veja também Va- falhas de cunhagem e/ou impressão e outras
lor; Valor de Troca. características específicas que a tornam peculiar.

VALOR DE USO EXISTENTE. Preço que uma VALOR PRESENTE. Em sentido estrito, é o va-
propriedade — especialmente a terra — obterá lor de uma determinada soma de dinheiro de-
se permanecer destinada ao mesmo tipo de uso, vida em determinada data futura, levando-se em
em oposição ao preço que obteria se fosse des- conta os juros proporcionados por tal soma. Em
tinada a um uso diferente. O caso mais ilustra- sentido mais amplo, o conceito inclui também,
tivo é a terra destinada a uso agrícola adquirida além dos juros, a correção monetária nos países
para ser utilizada com finalidades imobiliárias. onde esses elementos se apresentam de forma
separada. O valor presente pode ser entendido
VALOR EXTRÍNSECO. Veja Valor Intrínseco. também como o valor de um fluxo futuro de
VALOR PRESENTE LÍQUIDO 628

recurso ou custos em termos de seu valor atual. VANTAGENS COMPARATIVAS. Concepção


Para a obtenção desse valor, é utilizada uma teórica sobre o comércio internacional desenvol-
taxa de desconto para o cálculo desses recebi- vida por David Ricardo, em 1817. A principal
mentos ou custos futuros. conseqüência prática dessa concepção teórica é
que cada país deveria dedicar-se ou especiali-
VALOR PRESENTE LÍQUIDO. O valor presen- zar-se onde os custos comparativos fossem me-
te de futuros rendimentos em dinheiro, descon- nores. O exemplo simplificado dessa concepção
tados a uma taxa de juros adequada, menos o consiste em relacionar os custos de produção
valor presente do custo do investimento. dos produtos A e B produzidos por dois países
VALOR REAL. É o valor de um produto, des- distintos, X e Y. Os custos de produção do pro-
contada a inflação existente durante determina- duto A são expressos em relação aos custos de
do período. Ou seja, é o valor deflacionado de produção do produto B. Possui a vantagem com-
um produto. parativa o país em que for menor a relação dos
custos de produção dos produtos A e B. Veja
VALOR VENAL. É o valor de mercado de um também Custos Comparativos.
produto. Não é o valor real do produto nem
necessariamente incorpora seu custo de produ- VARA. Medida de comprimento utilizada pela
ção: é o valor com que pode ser comercializado Casa da Moeda do Brasil antes da adoção do
— mais alto ou mais baixo, dependendo das sistema métrico decimal e equivalente a 5 pal-
circunstâncias do mercado. mos ou a aproximadamente 1,10 m.

VALUE IMPAIRED. Empréstimo a um toma- VAREJO. Atividade comercial situada no elo fi-
dor estrangeiro, que é classificado como non per- nal da cadeia que liga o produtor e o consumi-
forming (crédito duvidoso), não estando enqua- dor. Geralmente, é no varejo que os consumi-
drado nos programas de reestruturação das dí- dores obtêm as mercadorias de que necessitam
vidas do FMI, existindo pouca possibilidade de para reproduzir sua vida individual e social.
que venha a sê-lo imediatamente e sem pers- VARGAS, Getúlio Dornelles (1883-1954). O mais
pectivas de que o serviço da dívida seja reto- influente estadista brasileiro do século XX, chefe
mado no futuro imediato. Quando as dívidas máximo do movimento trabalhista no país e fi-
de um país são classificadas dessa forma, seu gura dominante na política do Brasil por 24
acesso a novos créditos no mercado internacio- anos. Em sua carreira revelou forte propensão
nal torna-se muito difícil. No caso brasileiro, isso pelo autoritarismo, com simpatia pelo fascismo,
aconteceu depois da declaração de moratória desenvolvendo um estilo de governo populista
de 1987. Veja também Icerc; Moody’s Investors
e uma política econômica orientada pelo nacio-
Service; Standard & Poor’s.
nalismo, que chegou a resultar em posições an-
VANTAGEM ABSOLUTA. Condição em que tiimperialistas. Entre outras medidas econômi-
determinado produto ou serviço podem ser ofe- cas, criou o Conselho Nacional de Petróleo, a
recidos com preços de custo inferiores aos dos Companhia Siderúrgica Nacional, com a usina
concorrentes. Em geral, essa situação é criada de Volta Redonda, a fábrica Nacional de Moto-
pela especialização, mas, no caso de produtos res e a Companhia Vale do Rio Doce; implantou
agrícolas, a condição climática favorável é fun- o monopólio estatal de petróleo, com a criação
damental. A condição de vantagem absoluta da Petrobrás, e a nacionalização da produção
pode, entretanto, sofrer restrições em termos de de energia elétrica pela Eletrobrás. Também re-
comércio internacional. É comum que novos velou excepcional capacidade para liderar o
produtores ou fabricantes peçam medidas pro- novo proletariado urbano, fazendo-lhe algumas
tecionistas ao Estado. O argumento fundamental concessões (o salário mínimo e a ampliação da
— tese da indústria nascente — é que só com assistência social) em troca de subordinação a
essa proteção a indústria nacional poderia de- uma legislação sindical inspirada no corporati-
senvolver-se e criar novos mercados, gerando vismo. Iniciou a carreira política em 1909, ele-
também ela uma vantagem absoluta. Um exem- gendo-se para a Assembléia Estadual do Rio
plo é o da indústria automobilística brasileira: Grande do Sul, e reelegendo-se em 1913 e 1917,
a economia de escala (vantagem absoluta), con- como adepto do Partido Republicano e do go-
seguida tanto nos Estados Unidos como na Eu- vernador Borges de Medeiros. Entre 1922 e 1926,
ropa, tornava inviável o desenvolvimento de um foi deputado federal. Procurou conciliar o pre-
parque automobilístico brasileiro; apenas o pro- sidente recém-eleito, Artur Bernardes, e o situa-
tecionismo do Estado, com sobretaxas à impor- cionismo gaúcho, que apoiara Nilo Peçanha. No
tação, permitiu que a produção local (embora rea- governo de Washington Luís, ocupou a pasta
lizada por empresas multinacionais) se desenvol- da Fazenda (1926-1928), deixando-a para con-
vesse e chegasse a concorrer no mercado inter- correr vitoriosamente ao governo do Rio Grande
nacional. Veja também Custos Comparativos. do Sul. Candidato derrotado da Aliança Liberal
629 VARGAS

(ampla coalização de forças oposicionistas con- 1943, conseguiu a transferência das minas de fer-
tra a oligarquia rural) à presidência da república, ro de propriedade inglesa para o governo bra-
encabeçou a Revolução de 1930, que o levaria sileiro, criando a Companhia Vale do Rio Doce.
ao poder na chefia de um governo provisório. Com o crescimento da oposição interna a seu
Inicialmente influenciado pelo tenentismo, anis- governo, Vargas procurou justificar a manuten-
tiou todos os civis e militares envolvidos em ção de seus poderes ditatoriais em função da
movimentos revolucionários desde 1922 até guerra, prometendo o restabelecimento da de-
1930. Criou o Ministério do Trabalho, Indústria mocracia quando o conflito terminasse. Em 1945,
e Comércio, em cuja área foram tomadas medi- promoveu a formação de dois partidos, o Par-
das significativas: a formação dos institutos de tido Trabalhista Brasileiro (PTB) e o Partido So-
aposentadoria, a instituição de assistência mé- cial Democrático (PSD), o primeiro destinado a
dica e hospitalar aos trabalhadores, a regula- neutralizar as esquerdas e defender a política
mentação dos contratos de trabalho, a fixação trabalhista legada pelo Estado Novo. Com a re-
dos horários de serviço, a garantia de estabili- democratização e o confronto aberto entre as for-
dade após dez anos de emprego e as férias re- ças políticas, em outubro de 1945, foi forçado a
muneradas. Essas inovações lhe garantiram am- renunciar por um movimento militar que o acu-
plo apoio popular, embora em várias ocasiões, sava de preparar novo golpe para permanecer
até 1945, seu governo tenha reprimido brutal- no poder, com a ajuda do PTB e dos comunistas.
mente as oposições. Enfrentou em seguida a Re- Nas eleições de dezembro de 1945, elegeu-se
volução Constitucionalista de 1932 e governou para o Senado por São Paulo e Rio Grande do
por decreto até 1934, quando o congresso re- Sul, escolhendo o mandato por seu Estado; e
cém-eleito aprovou a segunda Constituição re- seu candidato à presidência da república, Eurico
publicana (que ampliava a área de atuação do Gaspar Dutra, saiu vitorioso. Concorreu à pre-
Estado, mas mantinha um equilíbrio entre os sidência pelo PTB, em 1950, e obteve ampla vi-
três poderes) e o confirmou na presidência para tória sobre o mandato da União Democrática
um mandato de mais quatro anos. Em 1935, es- Nacional (UDN), Brigadeiro Eduardo Gomes.
magou a chamada Intentona Comunista, uma Condenou a política econômica do governo Du-
rebelião de esquerda promovida pela Aliança tra e prometeu acelerar a industrialização, reto-
Libertadora Nacional. O fato serviu de pretexto mando a orientação nacionalista do Estado
para a decretação de estado de sítio. Em 1937, Novo. Na política desenvolvimentista que ca-
fechou o Congresso, desencadeando o golpe de racterizaria seu último mandato, o planejamento
Estado que o fez ditador, instituindo o Estado dos investimentos foi incentivado pela Comis-
Novo, que seria derrubado somente em 1945. são Mista Brasil-Estados Unidos para o Desen-
Durante o Estado Novo, investido de poderes volvimento Econômico, que funcionou de 1951
especiais, extinguiu todos os partidos políticos a 1953 e levou à criação do Banco Nacional do
e dedicou-se a neutralizar e submeter sob seu Desenvolvimento Econômico (BNDE). Vargas
comando as oligarquias estaduais. Suspendeu o anunciou um plano qüinqüenal que previa a
pagamento da dívida externa até 1940, para re- aplicação de US$ 1 bilhão em investimentos de
cuperar a economia; aboliu o imposto interes- infra-estrutura. Adotou uma política cambial fle-
tadual, que impedia a formação do mercado in- xível, procurando incentivar as importações ne-
terno; e estabeleceu o salário mínimo obrigatório cessárias à industrialização, facilitar certos in-
no país, com diferentes níveis regionais. Em vestimentos estrangeiros e aumentar a compe-
1943, anunciou a Consolidação das Leis do Tra- titividade das exportações. Chamado de “pro-
balho (CLT). Nesse período, Vargas obteve fi- tetor dos trustes estrangeiros” pelas medidas
nanciamento norte-americano para seus grandes econômicas enquadradas no sistema financeiro
projetos econômicos. Elaborou um plano econô- internacional, Vargas procurou ao mesmo tem-
mico qüinqüenal, em 1940, que previa a cons- po promover a industrialização, enfatizando o
trução da usina siderúrgica de Volta Redonda apelo nacionalista. Assim, em 1953, depois de
(financiada pelo Import-Export Bank, dos Esta- grande agitação nacionalista, criou a Petrobrás,
dos Unidos), da Hidrelétrica de Paulo Afonso, estabelecendo o monopólio estatal na extração
além da compra de navios para o Lloyd Brasi- e refinação de petróleo, permitindo apenas que
leiro e de equipamentos militares e a instalação as refinarias já existentes continuassem a operar
da Fábrica Nacional de Motores. Com esses pla- em limites estabelecidos pelo governo. Em 1954,
nos econômicos e com a descoberta de petróleo apresentou o projeto de criação da Eletrobrás,
na Bahia, em 1939, por técnicos contratados pelo empresa estatal de energia elétrica destinada a
governo, seu prestígio cresceu. Em troca de complementar a iniciativa privada. Forçado pelo
apoio financeiro e técnico, Vargas negociou acor- desequilíbrio do balanço de pagamentos, tam-
dos com os Estados Unidos para fornecimento bém denunciou como excessivas remessas de lu-
de matérias-primas estratégicas, permitindo a cros para o exterior pelas empresas estrangeiras,
instalação de bases militares no Nordeste. Em decretando, em 1952, que os 8% de remessa de
VARIABILIDADE 630

lucros permitidos por lei seriam calculados so- VARIABILIDADE. Veja Dispersão.
bre o capital originalmente investido no país, e
não sobre os lucros reinvestidos. O último man- VARIÂNCIA. Veja Desvio Padrão.
dato de Vargas caracterizou-se também por ele- VARIÁVEIS BERNOULLI. Veja Variável Alea-
vados índices de inflação, escândalos adminis- tória de Bernoulli.
trativos e cerrada oposição conservadora de se-
tores civis e militares. A oposição, centrada na VARIÁVEL. Quantidade algébrica cujo valor
UDN, já tinha tentado impedir sua posse, sob pode mudar. Se tomarmos a variável x, que pode
o argumento de que ele pretendia instalar uma assumir os valores x1, x2, x3 ... xn, e se a cada
nova ditadura. A intensificação da Guerra Fria um desses valores estiver associada exclusiva-
no plano internacional reforçava os argumentos mente uma probabilidade p1, p2, p3, ... pn, então x
oposicionistas, que procuravam interpretar o na- será uma variável aleatória. Se uma variável é fun-
cionalismo de Vargas como uma oposição aberta ção de outra, como na equação y = ax2 + bx + c,
aos Estados Unidos. O debate entre nacionalistas onde a, b e c são constantes, então y é a variável
e conservadores intensificou-se a ponto de pro- dependente, uma vez que seu valor depende de
vocar a renúncia, em 1952, do ministro da Guer- x, que é a variável independente. A metodologia
ra, Estillac Leal. A oposição concentrou em se- científica ressalta que, fora das condições de con-
guida seus ataques ao novo ministro do Traba- trole ideais de laboratório, a correlação entre
lho, João Goulart, acusando-o de pretender a uma variável independente e uma dependente
criação de um regime sindicalista do tipo pero- é em geral afetada por outras, que se denomi-
nista. Em 1953, o novo governo dos Estados Uni- nam variáveis intervenientes.
dos decidiu dissolver a Comissão Mista com o VARIÁVEL ALEATÓRIA (Random Variable).
Brasil. A alta dos preços do café chegou a mo- Uma variável que assume valores de acordo com
tivar a implantação de uma comissão investiga- sua probabilidade de distribuição. Assim, por
dora do Senado norte-americano e uma rejeição exemplo, uma variável aleatória de distribuição
sistemática à compra do produto brasileiro. Em normal assumirá valores dentro de determinados
dezembro de 1953, Vargas afirma que seus pla- limites com a probabilidade correspondente à
nos de criação da Petrobrás estavam sendo sa- integral (área) da curva normal da distribuição
botados por empresas estrangeiras. E, num pro- compreendida entre esses limites. Veja também
nunciamento em janeiro de 1954, acusou as em- Curva Normal; Distribuição Normal.
presas estrangeiras de cometer fraudes no fatu-
ramento das exportações, para acobertar remes- VARIÁVEL ALEATÓRIA DE BERNOULLI.
sas ilegais de lucros. A situação política logo se Uma variável aleatória cujos resultados possí-
deteriorou, com a inflação pressionando o nível veis sejam “sucesso” ou “fracasso”, “cara” ou
de vida da classe média. Um memorial assinado “coroa”, ou 0 ou 1, constitui uma variável alea-
por coronéis e enviado ao Ministério da Guerra, tória do tipo Bernoulli. Veja também Distribui-
protestando contra os baixos salários dos ofi- ção Binomial; Escolha Bernoulli.
ciais, foi intensamente explorado pela imprensa,
provocando uma crise política. Num isolamento VARIÁVEL DEPENDENTE. Numa equação, é
político crescente, um inquérito promovido pela o termo que se encontra em sua parte esquerda,
aeronáutica provou o envolvimento do chefe da e cujos valores são determinados pela variável
guarda de Vargas num atentado contra o jorna- independente situada à direita do sinal de igual-
lista Carlos Lacerda, que liderava violentos ata- dade. Por exemplo, y = 2x + 2; quando x = 1,
ques ao governo, precipitando a crise final. y será igual a 4; quando x = 2, y será igual a 6,
Diante de uma exigência de renúncia formulada e assim sucessivamente.
pela Forças Armadas, Vargas suicidou-se no dia
24/8/1954, deixando uma carta-testamento em VARIÁVEL DUMMY. Veja Dummy (Variable).
que denuncia vagamente as “forças e os inte- VARIÁVEL ENDÓGENA. Variável determina-
resses contra o povo”. Seu estilo de governo, de da por forças que operam dentro do sistema em
caráter populista, procurando o apoio dos tra- estudo e no qual está inserida. No mercado de
balhadores, deixou profundas marcas na política café, por exemplo, o controle estatal de estoque,
brasileira. A força do getulismo iria se manifes- determinando oferta compatível com a procura,
tar um ano depois de sua morte, com a eleição é um elemento incorporado ao modelo e que
do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, pode determinar os preços do produto no mer-
que venceu os partidos de oposição a Vargas. cado internacional.
O herdeiro político de Getúlio, João Goulart, foi
eleito vice-presidente por duas vezes, e assumiu VARIÁVEL EXÓGENA. Variável determinada
a presidência em 1961, após a renúncia de Jânio por forças externas ao modelo em consideração.
Quadros, sendo derrubado em 1964. O mercado de café, por exemplo, sofre influência
631 VEBLEN

das condições climáticas. É uma variável inde- por Getúlio Vargas, a falta de aviões teria sido
pendente do modelo, mas que, ao provocar uma uma das causas da derrota. Seus primeiros aviõ-
eventual redução da oferta do produto, aumenta es foram dois bimotores Monospar, que só po-
sua cotação internacional. diam transportar o piloto e mais três passagei-
ros, numa linha que ligava as cidades de São
VARIÁVEL INDEPENDENTE. Numa equação, Paulo e Uberaba, com escalas em São Carlos,
é o termo que se situa à direita, depois do sinal Ribeirão Preto e Rio Preto. Durante o governo
de igualdade, e seus valores se determinam de Armando de Sales Oliveira, foram assinados
“fora” da equação ou independentemente de sua
dois decretos: um isentando a Vasp de quaisquer
dinâmica.
impostos ou taxas estaduais e municipais, e ou-
VARIÁVEL NORMAL REDUZIDA. Se X é tro autorizando a construção do aeroporto de
uma variável aleatória com uma distribuição Congonhas, para possibilitar o tráfego de pas-
normal, então possui sageiros, impraticável no antigo Campo de Mar-
te. Em 1936, ainda no governo de Armando de
X–µ Sales Oliveira, tanto o Estado de São Paulo quan-
X = N (µ, σ2) então Z =
σ to a prefeitura municipal se tornaram acionistas
daquela empresa de aviação. No mesmo ano,
Também será uma distribuição normal com mé-
foi inaugurada a linha Rio—São Paulo.
dia zero e variância um, ou z: n (0;1), graficamente,
VASSALAGEM. Sistema de relações típico do
feudalismo, que envolve todos os indivíduos
numa complexa rede de deveres e obrigações.
Cada membro da sociedade, nobre ou servo, era
vassalo de um senhor ou suserano, a quem devia
lealdade e pagava um imposto, recebendo em
troca terra e proteção. Barões, duques, condes
µ - 3σ µ - 2σ µ - σ µ µ + σ µ + 2σ µ + 3σ eram vassalos de outros nobres, até chegar ao
-3 -2 -1 0 1 2 3 rei, o qual, muitas vezes, era vassalo de outro
rei. O elo entre todos os pontos do sistema de
observe-se que: 1) a nova origem é zero; 2) a vassalagem era a propriedade (feudo), doada ou
variância é o desvio padrão; 3) a transformação arrendada ao vassalo pelo suserano. Na base
não altera a forma da distribuição, apenas refe- dessa hierarquia encontravam-se os servos da
re-se a uma nova escala. A grande vantagem de gleba, camponeses que trabalhavam a terra de
uma variável Z é que podemos elaborar tabelas um senhor (do qual recebiam proteção). As obri-
de área, ou de probabilidade, pois para cada X gações de cada um para com seu suserano con-
dado, a área depende de λ e σ. Como λ = 0 e sistiam, além do pagamento de um tributo, na
σ = 1, uma tabela Z é suficiente. As tabelas, em prestação do serviço militar quando o senhor
geral, trazem os seguintes resultados: estivesse em guerra, contribuição monetária ou
em produtos para despesas extraordinárias (res-
1) P(µ – σ ≤ x ≤ µ+ σ) = P (–1 ≤ z ≤ 1) = 0,6829 gate, dotes) e juramento de obediência e fideli-
2) P(µ – 2σ ≤ x ≤ µ+ 2σ) = P (–2 ≤ z ≤ 2) = 0,9544 dade. Veja também Feudalismo; Servidão.
VATU. Unidade monetária de Uanato. Submúl-
3) P(µ – 3σ ≤ x ≤ µ+ 2σ) = P (–3 ≤ z ≤ 2) = 0,9974
tiplo: centime.
VARIÁVEL PROXY. Veja Proxy (Variable). VEBLEN, Thorstein Bunde (1857-1929). Econo-
VARRIÇÃO. Processo de colheita do café pra- mista e sociólogo norte-americano, fundador da
ticado no Brasil e que consiste na reunião de chamada escola institucional de economia, que
pequenos montes de café desprendido prema- se propõe a estudar o sistema econômico como
turamente, isto é, antes do início da colheita, ou um todo, privilegiando o papel das instituições.
aquele caído pela derriça. É considerado café de Veblen presenciou e analisou em profundidade
baixa qualidade. o crescimento da produção em massa e da gran-
de empresa moderna e o surgimento do capi-
VASP — Viação Aérea de São Paulo. Empresa talismo financeiro, do qual foi um crítico siste-
de navegação aérea fundada em 1933 por um mático. Sua obra extensa e eclética se divide em
grupo de paulistas. Entre seus principais acio- textos críticos sobre economia política e textos
nistas estavam Francisco Morato, Roberto Si- de teoria da organização industrial. Veblen cri-
monsen, Gofredo da Silva Telles. A fundação ticou fortemente o conteúdo e o método do mar-
da Vasp está ligada à derrota sofrida pelos pau- ginalismo norte-americano, representado por
listas em 1932. Segundo alguns dos líderes do John Bates Clark, por fazer uma abstração he-
movimento contra o governo central dirigido donista irreal do homo oeconomicus e por expres-
VEDORES DA FAZENDA 632

sar toda a atividade humana em termos do que guesa encarregados de prover a boa arrecadação
chamou de “lucro pecuniário”. De modo geral, das rendas, direitos e mais coisas que perten-
Veblen argumenta que é preciso reconhecer o cessem ao rei. Despachavam na Casa da Fazen-
caráter humano dos fatos econômicos, que de- da, e todos juntos formavam a Mesa da Fazenda,
veriam ser explicados a partir dos “hábitos de assistida de seus escrivães. Veja também Banco
pensamento” vigentes e da força das instituições do Brasil; Oitava.
que condicionam os indivíduos. Como as insti-
tuições estão sempre se modificando — graças VELA. Unidade de medida de intensidade lu-
ao desenvolvimento da tecnologia, que estimula minosa. Segundo o Sistema Internacional de Uni-
a criação de novos hábitos e formas de pensar dades, é a intensidade luminosa igual a 1/60 da
—, a economia deve ser uma ciência evolutiva, intensidade luminosa de um centímetro de su-
ou seja, uma teoria da evolução econômica. Ve- perfície de um radiador integral na temperatura
blen enfatizou a contradição entre o progresso de solidificação da platina. O brilho de um foco
tecnológico-industrial e a estrutura marcada- luminoso de 1 vela sobre uma superfície deter-
mente financeira da organização dos “negócios”: minada, a uma distância determinada, é a vela
ao introduzir novos meios de produção, a tec- por m2. E a medida do fluxo luminoso nessa
nologia tenderia a reduzir o valor dos bens de superfície é dada em lumens. Veja também Uni-
capital, aumentando sua taxa de depreciação. dades de Pesos e Medidas.
Assim, para o proprietário acionista, a tecnolo- VELLOSO, João Paulo dos Reis (1931- ). Nasceu
gia seria uma força hostil, que desgastaria o va- em Parnaíba (PI), graduou-se em economia
lor do capital, criando depressões econômicas. pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
A principal contribuição foi a análise cultural, e obteve o título de Master em economia pela
o estudo do que chamou de “cultura pecuniá- Universidade de Yale (EUA). Foi ministro do
ria”. Sua mais famosa obra, The Theory of the Planejamento durante os governos Medici
Leisure Class (Teoria da Classe Ociosa), faz uma (1969-1973) e Geisel (1974-1978). Entre seus li-
abordagem psicológica e antropológica da bur- vros mais importantes destacam-se Brasil: A
guesia norte-americana, formada ao redor da in- Solução Positiva e O Último Trem para Paris.
dústria capitalista. Desmistifica como fictícias Atualmente, é consultor de empresas e de ins-
suas funções sociais, denuncia a exploração e a tituições governamentais.
manipulação das massas pelo “consumo cons-
pícuo” e pela “emulação pecuniária”, conceitos VELOCIDADE DE CIRCULAÇÃO DA MOE-
que se tornaram correntes nas ciências humanas. DA. Medida do número de vezes que uma uni-
Em seu livro seguinte, The Theory of Business En- dade monetária muda de mãos em determinado
terprise (A Teoria da Empresa), de 1904, Veblen período. O cálculo deve levar em conta os di-
expõe a contradição entre os interesses exclusi- versos circuitos monetários (de produção, con-
vamente pecuniários dos homens de negócio e sumo, finanças etc.), bem como os diversos tipos
a produção de bens úteis à sociedade, descre- de moeda existentes (papel-moeda, cheques, de-
vendo a monopolização da indústria e as com- pósitos etc.), estabelecendo-se a velocidade mé-
plexidades do moderno capital financeiro. Em dia de cada unidade monetária, para se extrair
Engineers and the Price System (Os Engenheiros a média ponderada que indicará a velocidade
e o Sistema de Preços), de 1921, detecta as ten- média de circulação da moeda em seu conjunto.
dências para a formação de uma tecnocracia, Os índices utilizados para medir a velocidade
com o poder entregue aos economistas e enge- de cada unidade monetária demonstram que as
nheiros. The Place of Science in Modern Civilization moedas divisionárias e as notas de papel-moeda
(O Lugar da Ciência na Civilização Moderna), circulam mais rapidamente que os saldos ban-
de 1919, é uma expressiva coletânea de seus ar- cários, e os saldos bancários à vista, mais rapi-
tigos econômicos. Em Interesses em Jogo (1919), damente que os saldos a prazo. O economista
Veblen conclui pela necessidade de uma nova sueco Knut Wicksell demonstrou que a veloci-
ordem social. Mas não acreditava no sucesso do dade de circulação depende de quanto tempo
socialismo: achava que ou os proprietários refor- cada sujeito econômico retém a moeda que re-
çariam seu poder amparando-se no Estado, o que cebeu em troca de bens, de serviços ou em pa-
poderia conduzir a um regime militar, ou as pres- gamento de dívidas. Quanto mais lenta for a
sões sociais levariam ao poder uma tecnocracia. circulação dos saldos monetários, tanto maior
Sua última obra, Absentee Ownership (Propriedade será o valor das transações a que pode fazer
Absenteísta), de 1923, acentua uma visão pessimis- frente dada quantidade de moeda. Os partidá-
ta da evolução econômica. Veja também Consu- rios da teoria quantitativa da moeda costumam
mo Conspícuo; Emulação Pecuniária. expressar isso por meio da fórmula de Irving
Fischer, conhecida como a equação das trocas
VEDORES DA FAZENDA. Denominação dos ou do câmbio: MV = PT, onde M é a quantidade
funcionários da administração colonial portu- de moeda existente, V a velocidade de circula-
633 VENDA NA FOLHA

ção, P o nível geral de preços e T o volume de tárias e todo um aparato comercial para con-
transações no período considerado. Outra equa- vencer o público da necessidade de adquiri-los.
ção mais simples permite calcular diretamente Veja também Comercialização; Consumo; Con-
a velocidade da moeda: v = Y/M, em que M sumo Conspícuo; Marketing; Propaganda.
designa a massa monetária em dado período, Y
o montante da renda nacional e v a velocidade VENDA A DESCOBERTO. Veja Short Sale.
de circulação. Quase sempre se considera v VENDA CASADA. Prática comercial desenvol-
maior que um, para indicar que a quantidade
vida especialmente por monopólios e oligopó-
de moeda considerada circula mais que uma vez lios e que consiste em vender um produto se o
para financiar o volume total de transações eco-
comprador aceitar a compra de um outro pro-
nômicas. Alguns autores sugerem que a veloci-
duto ou serviço também. É claro que, para que
dade de circulação da moeda estaria relacionada
o cliente se veja forçado a comprar do mesmo
com as variações da taxa de juros. Quando os
vendedor outros produtos, é necessário que o
juros sobem, as pessoas e empresas tenderiam
produto vendido tenha um elevado grau de es-
a reter o dinheiro que têm em caixa e, assim,
sencialidade e não existam alternativas viáveis
determinado volume de transações poderia ser
de abastecimento. As vendas casadas podem
financiado com uma menor reserva de dinheiro,
ocorrer, por exemplo, no ramo da produção de
aumentando a velocidade de circulação. Ocor-
remédios, quando a aquisição de um medica-
reria o contrário quando a taxa de juros baixa.
mento essencial é condicionada à compra de ou-
Outra relação que se pode estabelecer é entre a
tros de menor essencialidade e onde a concor-
velocidade de circulação e a inflação. O índice
rência é mais intensa, ou mesmo no caso do ci-
de velocidade média de circulação da moeda
mento, em que a venda do produto vem muitas
tende a crescer nos períodos inflacionários, in-
dicando uma rotação mais rápida, o inverso do vezes condicionada à contratação do frete. A le-
gislação brasileira proíbe esse tipo de prática co-
que se observa nos períodos de estabilidade mo-
netária, quando esse índice tende a diminuir. mercial.

VENDA. Ato de induzir alguém a trocar algo VENDA FICTÍCIA. Transação fictícia feita ge-
— basicamente, a trocar mercadorias ou serviços ralmente com o objetivo de criar volume de ven-
por dinheiro. Em marketing, a venda é definida das aparentes ou aceleração de preços em de-
como o encontro do agente de oferta com o agen- terminado mercado, com finalidades especula-
te de procura. Três fatores básicos influem sobre tivas. As leis e regulamentos das Bolsas de Va-
o sucesso das vendas: apresentação, distribuição lores proíbem esse tipo de atividade.
e comunicação. A apresentação engloba o pro- VENDA FORÇADA. Prática comercial que con-
duto (funcionalidade, necessidade, design, em- siste em vender determinado produto ou serviço
balagem, marca etc.), o preço (desde sua deter-
somente se o comprador estiver disposto a ad-
minação até sua administração, isto é, como,
quirir outro produto ou serviço da mesma em-
quando e quanto aumentar) e os elementos pós-
presa. Em geral, o primeiro produto é algo sem
compra (assistência técnica, garantia, valoriza-
similar no mercado, enquanto o segundo é um
ção etc.). A distribuição é a forma de levar o
produto ou serviço até as mãos do consumidor produto com numerosos concorrentes, de igual
(transporte, armazenagem, presença ou não de ou melhor qualidade. Dessa forma, a empresa
revendedores). Finalmente, a comunicação é o consegue estender o monopólio (existente em
fator que determina a imagem do produto ou relação ao primeiro produto) a um produto com
serviço e da própria empresa, incluindo a pu- vários similares. Esta prática está presente em
blicidade (forma, veículo e volume de publici- várias atividades industriais, especialmente no
dade) e as relações públicas (imagem, contatos setor farmacêutico. A mesma modalidade de
com revendedores e público, promoções etc.). venda pode ser encontrada na comercialização
A composição ou forma de cada um dos três de produtos de grande procura, que se efetua
fatores indicados na política de vendas de uma apenas se estiver vinculada à venda de outros
empresa depende basicamente do tipo de pro- produtos da mesma empresa e de demanda in-
duto ou serviço oferecido, do público a que se ferior. A expressão “venda forçada” designa tam-
destina e do tipo de mercado. Assim, produtos bém a situação na qual um proprietário é obri-
de primeira necessidade recebem menos inves- gado a vender um bem (imóvel, obra de arte,
timentos na apresentação e na publicidade. O ações etc.) para saldar dívidas. Geralmente, esse
contrário acontece com produtos produzidos tipo de venda se dá em processo de leilão, se-
por empresas oligopólicas, que não concorrem guindo alguma ordem ou sentença judicial. Veja
em termos de preços, mas de marcas. Assim, também Sobrefaturamento; Subfaturamento.
tais produtos são muito bem cuidados, com em-
balagens luxuosas, maciças campanhas publici- VENDA NA FOLHA. Veja Venda na Palha.
VENDA NA PALHA 634

VENDA NA PALHA. Forma de financiamento minação de intermediários. Veja também Inte-


da produção utilizada especialmente no Nordes- gração Horizontal.
te brasileiro, quando o comerciante adianta ao
agricultor — numa autêntica compra antecipada VETOR. Conjunto ordenado de números ou ele-
de sua produção —, para que este tenha meios mentos que podem ser apresentados horizon-
de subsistir e desenvolvê-la até o momento da talmente — vetor de fileira — ou verticalmente
colheita. O sistema é característico entre os agri- — vetor de coluna. Um vetor de ordem n contém
cultores mais pobres, especialmente entre os n elementos. O vetor zero é um vetor cujos ele-
camponeses do Nordeste brasileiro. O sistema mentos são todos zero. O vetor é designado pelo
também é conhecido por Venda na Folha. seu símbolo sublinhado. Por exemplo:

VENDIDO. Posição do operador do mercado C = [C1, C2 ... Cn]


financeiro que vendeu títulos que não possui e,
Um vetor pode ser utilizado também como mé-
na hora de entregá-los, terá de tomá-los empres-
tado ou comprá-los por um preço nem sempre todo sintético de representação das coordenadas
de um ponto num espaço bidimensional. Por
favorável. Veja também Bear; Bull; Short Sale.
exemplo, num gráfico bidimensional, os valores
VENDITIO DONATIONIS CAUSA. Expressão de X do eixo horizontal e de Y do eixo vertical
em latim que significa “doação disfarçada em podem ser assim denotados:
venda”.
W = [X Y]
VENDOR. Termo em inglês que significa, lite-
ralmente, “vendedor”, mas que se refere tanto VIA FARMER. Via de desenvolvimento da agri-
a um fornecedor atacadista (fabricante) de mer- cultura própria dos Estados Unidos (por isso tam-
cadorias ou serviços como a um varejista sem bém chamada via americana), baseada em peque-
local fixo de venda de seus produtos, como é o nas unidades familiares de produção apoiadas
caso dos vendedores ambulantes, camelôs ou pelo Estado. Veja também Homestead, Lei do.
marreteiros. VIA INGLESA. Via de desenvolvimento da agri-
VENTRE LIVRE. Veja Lei do Ventre Livre. cultura própria da Inglaterra, durante o século
XIX, baseada em arrendamentos capitalistas, em
VENTURE CAPITAL. Expressão em inglês que que a presença do capitalista agrário (arrenda-
significa, genericamente, “capital de risco”, mas tário), do proprietário de terras (arrendador) e
que designa de forma mais específica o capital do trabalhador assalariado formava a trilogia
investido para financiar as primeiras etapas de de sustentação do desenvolvimento agrário in-
desenvolvimento de empresas novas que têm glês, necessário para o desenvolvimento capi-
perspectivas de um crescimento rápido. talista em geral desse país. Veja também High
Farming.
VERLAGSYSTEM. Veja Putting-out System.
VIA JUNKER. Via de desenvolvimento da agri-
VERSTA. Antiga medida de distância (com- cultura própria da Prússia Ocidental, durante o
primento) utilizada na Rússia e equivalente a século XIX. Era caracterizada por uma aliança
1 066,78 m. Na Alemanha, tem o nome de Werst. dos grandes proprietários de terras (nobreza) e
Veja também Unidades de Pesos e Medidas. os grandes capitalistas urbanos, em especial os
capitalistas financeiros, em detrimento do cam-
VERTICALIZAÇÃO. Atuação de uma empresa
pesinato, sendo o Estado um co-financiador do
em mais de um estágio do processo produtivo,
processo. O termo Junker tem origem nas palavras
o que freqüentemente ocorre por meio da fusão
alemãs Jung (jovem) e Herr (senhor, nobre).
de várias empresas que atuam em estágios di-
ferentes. O mais abrangente tipo de verticaliza- VIA ÚMIDA. Veja Ouro.
ção ou integração vertical é o da empresa que
controla desde a produção de matérias-primas VIDA, Qualidade de. Conceito formulado por
até a confecção final do produto. Assim, existem volta de 1960, com o objetivo de questionar os
empresas que atuam, por exemplo, na extração excessos e desperdícios industriais de um mun-
do minério de ferro e do carvão, transportam do altamente tecnológico e industrializado. Em
esses produtos em seus próprios meios para princípio, o conceito opõe a qualidade à quan-
suas fundições, produzem ali o ferro gusa, con- tidade, questionando uma aparente abundância
vertem-no em aço e o modelam em produtos que toma a forma de um uso predatório dos
semi-acabados ou mesmo em produtos finais recursos naturais do planeta, com graves con-
que às vezes elas mesmas comercializam. Esse seqüências no meio ambiente e na qualidade de
procedimento pode se tornar rentável, na me- vida das populações. Se fosse aplicado ao pe-
dida em que resulte em economia de combus- ríodo pré-industrial, a expressão “qualidade de
tível, fretes, coordenação da produção e na eli- vida” deveria fatalmente questionar problemas
635 VOLT

como higiene, falta de cuidados médicos ade- do índice de preços, a fórmula de Fisher busca
quados, redes insuficientes de esgoto, deficiên- eliminar o viés contido nas fórmulas de Paasche
cias nos transportes e nas comunicações. Embora de Laspeyres. Veja também Índice de Fisher.
essa mesma abordagem ainda possa ser aplicada
aos países subdesenvolvidos, atualmente a ex- VIÉS AMOSTRAL. Consiste num erro sistemá-
pressão levanta questões a respeito da poluição tico introduzido mediante a seleção de itens de
ambiental, do excesso de medicamentos, da pre- uma população dada ou favorecendo a escolha
dominância de certos meios de comunicação e de alguns elementos dessa população. Ou seja,
todo um arsenal de necessidades discutíveis é o que não decorre de flutuações casuais, po-
criadas pela sociedade moderna. O questiona- dendo ser devido a vários vícios, tais como de-
mento da qualidade de vida dos países indus- finições imperfeitas, um sistema de referência
trializados ganhou força com o desenvolvimento falho, respostas incompletas etc. Veja também
do movimento ecológico, que já conta com algu- Amostra.
mas cadeiras nos Parlamentos de diversos países VINTÉM. Moeda de cobre cunhada durante o
europeus, bem como com diversas associações reinado de dom Pedro II (também no período
bem estabelecidas nos Estados Unidos. Os ecolo- da Regência) e equivalente a 20 réis. Seus múl-
gistas defendem uma melhoria da qualidade de tiplos eram 2 e 4 vinténs, equivalentes a 40 e a
vida a partir de uma exploração mais racional e 80 réis, respectivamente.
equilibrada dos recursos naturais do planeta.
VIREMENT. Termo em francês que significa
VIDA MÉDIA, Expectativa de. Estimativa mé- transferência de crédito de uma conta para ou-
dia da duração da vida de uma pessoa, com tra mediante simples lançamento nos livros de
base nos cálculos da mortalidade das diversas um banqueiro.
idades de dada população. As tabelas de mor-
talidade elaboradas levam em consideração fa- VISIBLE SUPPLY. Expressão em inglês que sig-
tores como desenvolvimento econômico, cuida- nifica “oferta visível” e designa a quantidade
dos higiênicos, atendimento médico, condições de determinada mercadoria disponível e que
ambientais etc. Os estudos mostram que a ex- pode ser contabilizada com precisão devido ao
pectativa de vida média vem aumentando em fato de se encontrar estocada em grandes arma-
todo o mundo, ainda que muito mais nos países zéns de conhecimento geral.
industrializados do que no chamado Terceiro
VOBC. Iniciais de Valores à Ordem do Banco
Mundo. A expectativa de vida média de uma po-
Central.
pulação varia tanto de país para país como de
cidade para cidade ou da cidade para o campo. VOLANTE. Veja Bóia-fria.
VIEIRA PINTO, Álvaro. Veja Iseb. VOLATILIDADE. Medida da intensidade e fre-
qüência das flutuações dos preços de um ativo
VIÉS. Denomina-se viés de um estimador a di-
financeiro ou dos índices numa Bolsa de Valo-
ferença entre o valor esperado desse estimador
res. É o desvio padrão das mudanças do loga-
e o valor teórico a ser estimado. Por exemplo,
ritmo dos preços de um ativo (financeiro), ex-
suponhamos que a distribuição das alturas da
pressos numa taxa anual. A volatilidade é uma
população brasileira siga aproximadamente uma
variável que aparece nas fórmulas de opções.
distribuição normal e que desejamos estimar sua
As unidades desta variável são tais que o qua-
dispersão por meio da variância. Para estimar
drado da volatilidade multiplicado pela term-to-
a variância, selecionamos uma amostra de cem
maturity é um número puro (unity-free). Aplica-
indivíduos. Suponhamos que os valores aleató-
do aos derivativos, evidencia o grau de disper-
rios obtidos fossem denotados por: ξ1, ξ2, ... ξ100,
são das variações ocorridas no preço (aumento
e que, para estimar a variância da população, ou redução) de um ativo. O Coeficiente Beta é
tomamos como estimador a variância da amos- uma medida específica da volatilidade das ações
tra, a qual é calculada da seguinte maneira: σ2 nas Bolsas de Valores dos Estados Unidos, tendo
= (1/100) [(ξ1–x)2 + (ξ2–x)2 + ... + (ξ100–x2)], como ponto de referência o Índice das 500 ações
onde x é a média da amostra, isto é, x = (1/100) da Standard & Poor’s. Este ponto de referência
(ξ1 + ... + ξ100). Se calcularmos o valor esperado tem o valor 1; assim, qualquer ação específica
de σ2, que é a variável aleatória, obteremos, por com um coeficiente superior a 1 tem maior vo-
exemplo, (99/100) σ2, sendo σ2 o valor da va- latilidade do que o mercado em seu conjunto.
riância da população. Dessa forma, ?2 é um es- Veja também Coeficiente Beta; Standard &
timador viesado, e o viés no caso será igual a: Poor’s.
(99/100) σ2 – σ2. Na construção de números-ín-
dices, o viés de um índice é a tendência siste- VOLT. É a unidade de medida da tensão elétrica
mática em superestimar ou subestimar as alte- necessária para que a corrente de um ampère
rações nas variáveis. Por exemplo, no cálculo vença a resistência de um ohm. O nome deve-
VOLVISMO 636

se ao cientista italiano Alessandro Volta. Veja e diretor do Instituto de Economia da Univer-


também Ampère; Ohm; Unidades de Pesos sidade do Chile. Vuskovic foi nomeado em 1970
e Medidas. ministro da Economia, Fomento e Reconstrução
do governo da Unidade Popular, no qual ficou
VOLVISMO. Conceito de administração da pro- até junho de 1972, quando foi substituído numa
dução desenvolvido nas fábricas da Volvo, na reforma de gabinete. Considerado um marxista
Suécia, a partir do início dos anos 70, e que rep- independente, procurou implantar uma política
resentava uma combinação de incorporação do de transição para o socialismo, por meio da es-
progresso técnico e formas tradicionais de pro- tatização de empresas e da reforma agrária. De-
dução, isto é, a introdução da automação com pois do golpe militar que derrubou o governo
métodos manuais de fabricação, o que resultou Allende, em 1973, Vuskovic foi obrigado a per-
em grande flexibilidade de produto e de pro- manecer sete meses asilado na embaixada do
cesso, além de representar uma redução da in- México em Santiago, conseguindo salvo-condu-
tensidade de capital. Em grande medida, esta to para deixar o país graças à intervenção pes-
forma combinada deveu-se à participação ativa soal do presidente mexicano Echeverría. Desde
dos sindicatos de trabalhadores na incorporação
então, vive exilado no México.
de novas tecnologias nos processos produtivos.
VON NEUMANN. Veja Neumann, Johannes
von.

W
VON THÜNEN. Veja Thünen, Johann Hein-
rich von.
VORSTAND. Veja Lei da Co-gestão.
VORZUGSAKTIE. Veja Aktie (Stamm).
VOSTRO ACCOUNTS. Expressão ítalo-ingle-
sa que, no mercado cambial, significa contas de
W. Inicial de: 1) wages (salários); 2) Wahrung (moe-
bancos estrangeiros em um banco de determi-
da em alemão); 3) warrant; 4) week (semana); 5)
nado país na moeda deste país, utilizada para
won (unidade monetária da Coréia); 6) world
movimentar operações de câmbio. Literalmente,
(mundo).
a expressão significa “vossas contas” e tem sen-
tido inverso ao de nostro accounts. Veja também WACC. Iniciais de weighted average cost of capital,
Nostro Accounts. que significa “custo médio ponderado do capi-
VOTE BY PROXY. Expressão em inglês que sig- tal”. Este indicador é calculado ponderando-se
nifica “voto por procuração”. cada fonte de recursos por sua proporção do
valor total de mercado da empresa, isto é, o valor
VOTO, Direito de. Direito que os portadores dos projetos e atividades desenvolvidos pela
de ações ordinárias têm de votar nas assembléias empresa.
de acionistas, deliberando sobre assuntos perti-
nentes à empresa (em alguns casos, os portado- WAGE-FRONTIER. Veja Factor-price Frontier.
res de ações preferenciais também têm direito
WAGE-RATE OF PROFIT FRONTIER. Veja
de voto). A cada ação corresponde um voto, e
Factor-price Frontier.
o direito pode ser exercido por um procurador
devidamente autorizado. WAGNER, Adolph Heinrich Gotthelf (1835-
VOUCHER. Documento autorizando o desem- 1917). Economista alemão, representante da nova
bolso de dinheiro para cobrir um passivo. Evi- escola histórica alemã, fundada por Gustav
dência legalmente aceitável de pagamento de Schmoller, e que se opôs à escola marginalista
um débito, como, por exemplo, um cheque can- austríaca, sob o argumento de que o raciocínio
celado etc. Na atividade editorial, é um com- lógico não era um instrumento válido para es-
provante de publicação mediante o envio de tudar as ações humanas e, portanto, as ativida-
exemplar gratuito ao anunciante, como prova des econômicas. Wagner foi um crítico conser-
de que determinado anúncio foi publicado, ge- vador do liberalismo econômico, defendendo a
ralmente utilizado na mídia impressa. intervenção do Estado a fim de assegurar justiça
social para a classe trabalhadora. Sua grande
VUSKOVIC, Pedro Bravo (1924- ). Economista contribuição à economia situa-se na área das fi-
chileno, ex-ministro da economia no governo da nanças públicas, que procurou integrar numa
Unidade Popular de Salvador Allende. Funcio- teoria geral da economia. Defendia o potencial
nário da Comissão Econômica para a América redistributivo dos impostos e aceitava o cresci-
Latina (Cepal) durante vinte anos, foi professor mento da despesa pública pelo Estado. Foi pro-
637 WALRAS

fessor das universidades de Viena, Hamburgo, mática precisa do equilíbrio do mercado. Essa
Dorpat, Freiburg e Berlim. Escreveu, entre ou- teoria do equilíbrio, apoiada numa ampla aná-
tras, as seguintes obras: Beitrage zur Lehre von lise estática, enfatiza a interdependência dos fa-
den Banken (Contribuições para a Teoria Bancá- tos econômicos, ao substituir a noção de causa
ria), 1857; Die Geld und creditheorie der Peel’schen (unilateral) pela função (recíproca), abrindo ca-
bankacte (Teoria Monetária e Creditícia da Lei minho para a análise macroeconômica contem-
Bancária de Peel), 1862; Finanzwissenschaft (Teoria porânea. Independentemente de Jevons e Men-
Financeira), 1871-1872, e Theoretische Sozialoköno- ger, Walras enunciou a doutrina da utilidade
mik (Economia Social Teórica), 1907-1909. Veja marginal em sua primeira e principal obra, Ele-
também Lei de Wagner. mentos de Economia Política Pura, publicado em
duas partes, a primeira em 1874, em que analisa
WAHLHANDLUNGTHEORIE. Termo em ale-
a teoria da troca, e a segunda em 1877, na qual
mão que significa “teoria behaviorista de esco-
lha” ou, literalmente, “teoria da ação de escolha”, trata da teoria da produção. Como Jevons e
que corresponderia à teoria da utilidade margi- Menger, Walras fundamenta o valor da troca
nal desprovida de seu componente hedonista na utilidade e nas limitações de quantidade. O
ou psicológico. Ou seja, na concepção margina- desejo de que as utilidades marginais sejam
lista original, os conceitos de dor e prazer estão iguais, de acordo com a Segunda Lei de Gossen,
psicologicamente definidos, e no primeiro caso conduziria à troca. E esse desejo, junto com as
são definidos em termos de ação de escolha quantidades de mercadorias que cada indivíduo
resultantes e podem não ser usados para ex- possui, determinaria uma oferta e uma procura
plicar o comportamento. Veja também Utili- representadas por uma equação funcional. Mas
dade Marginal. Walras se ocuparia sobretudo não da questão
do valor, e sim do equilíbrio via mecanismo de
WAIVER. Pedido de perdão que um país tem preços. Num mercado competitivo, o equilíbrio
de apresentar ao Fundo Monetário Internacional seria obtido a partir de um preço no qual a oferta
(FMI) por não ter podido cumprir as metas para e a procura se igualassem. Para demonstrar
o ajuste da economia de acordo com o estabe- como esse preço é determinado pela concorrên-
lecido na carta de intenções apresentada àquele cia, Walras utiliza o conceito de prix crié (o preço
organismo. A direção do FMI decide se aceita apregoado em leilão). Quando a oferta e a pro-
o waiver, estabelecendo novos prazos e novas cura não são iguais a esse preço, apregoa-se ou-
datas para o país, sem no entanto suspender os tro preço, e assim sucessivamente, até se obter
financiamentos previstos nos acordos. a igualdade e se atingir o preço do equilíbrio.
WALLACE, Neil. Veja Expectativas Racionais. Depois de representar cada mercadoria por
equações de oferta e de procura em termos de
WALL STREET. O termo designa a comunida- preços de equilíbrio, Walras analisa o problema
de financeira de Nova York, concentrada na rua do equilíbrio geral da troca, usando também um
do mesmo nome, em Manhattan, onde se en- conceito especial, o de numéraire, uma mercado-
contram a Bolsa de Valores (New York Stock ria-artifício que ele utiliza como unidade de con-
Exchange), várias Bolsas de Mercadorias e as ta para demonstrar a existência de uma solução
sedes dos principais bancos, companhias de se- matemática para o equilíbrio geral. Constrói, as-
guros e outras instituições financeiras dos Esta- sim, um modelo matemático do equilíbrio geral
dos Unidos. Pelo extraordinário volume de ne- como um sistema de equações simultâneas em
gócios ali realizados, os acontecimentos de Wall que há uma interdependência dos preços, da
Street têm implicações em todo o mundo. procura e da oferta, sendo essa sua grande con-
tribuição à economia moderna. Tomando como
WALL STREET JOURNAL. Diário norte-ame- variáveis independentes mais os preços que as
ricano, fundado em 1889, em Nova York, e de quantidades trocadas, Walras demonstra que,
grande prestígio internacional. Especializado em
dados certos preços, cada indivíduo continuará
assuntos econômico-financeiros, na década de
trocando mercadorias até que a proporção das
60 abriu espaço para as outras áreas do noticiário.
utilidades marginais das mercadorias seja igual
WALRAS, Marie-Ésprit Léon (1834-1910). Eco- à proporção de troca, atingindo, por meio de
nomista neoclássico e engenheiro francês, pro- equações, determinado equilíbrio. Walras tenta
fessor de economia política em Lausanne (1870- aplicar sua análise do equilíbrio ao problema
1892), um dos fundadores da teoria da utilidade dos preços dos fatores de produção, chegando
marginal e da economia matemática. Foi um dos a uma posição semelhante à da escola austríaca
primeiros economistas a elaborar uma teoria ge- moderna, ao expor o princípio do custo de opor-
ral abstrata do equilíbrio econômico, que expres- tunidade e da teoria da produtividade marginal.
sou em equações funcionais, combinando uma Walras escreveu ainda Études d’Économie Sociale
teoria do valor-utilidade com uma teoria mate- (Estudos de Economia Social), 1896, e Études
WANDELANLEIHE 638

d’Economie Politique Appliqué (Estudos de Eco- WATT. É a unidade de medida da potência ne-
nomia Política Aplicada), 1898. cessária para manter a corrente elétrica em mo-
vimento. As contas de consumo de energia elé-
WANDELANLEIHE. Termo em alemão que trica das residências, por exemplo, são apresen-
significa “título conversível”, isto é, que pode tadas em quilowatts, isto é, em mil watts. O
ser trocado por ações em determinadas condi-
nome tem origem em James Watt, o inventor
ções, por opção de seu possuidor.
da máquina a vapor. Veja também Ampère;
WARIBIKI SAI. Expressão em japonês que de- Ohm; Unidades de Pesos e Medidas; Volt.
signa, no mercado financeiro, títulos que não
possuem cupons, isto é, que são emitidos ao por- WAVE PRINCIPLE. Veja Teoria das Vagas.
tador ou nominativos e negociados abaixo do WEALTH DRIVEN. Expressão em inglês que
valor de seu vencimento. significa vantagens competitivas de um país ba-
WARRANT. Palavra inglesa utilizada interna- seadas na riqueza que ele possui em termos de
cionalmente para designar os títulos de garantia sua infra-estrutura (estradas, portos, saneamen-
emitidos pelas companhias de armazéns gerais to etc.) constituída no passado.
e que representam as mercadorias ali deposita-
WEBB, Beatrice e Sidney James. Casal de eco-
das. É um documento que prova a propriedade
nomistas, políticos e reformadores sociais ingle-
da mercadoria e, quando acompanhado do cer-
tificado de depósito, assume valor próprio (uma ses, dirigentes da Sociedade Fabiana e membros
vez que a mercadoria é penhor do título) e pode da liderança intelectual do Partido Trabalhista
ser negociado. No mercado de capitais, warrant britânico. Beatrice Webb (1858-1943) iniciou sua
é o documento que garante aos acionistas que, carreira como investigadora social, baseando
num prazo fixado, poderão adquirir certo nú- num estudo empírico sua obra Life and Labour
mero de ações adicionais, a preço determinado. of People in London (Vida e Trabalho do Povo
em Londres), 1891-1903. Escreveu ainda The Co-
WAR RATE. Veja Guerra de Preços. operative Movements in Great Britain (Os Movi-
mentos Cooperativos na Grã-Bretanha), 1891;
WASHINGTON AGREEMENT. Veja Lend
The Wages of Men and Women Should They Be
Lease.
Equal? (Os Salários dos Homens e das Mulheres
WASH SALE. Expressão em inglês do mercado Devem Ser Iguais?), 1919 e a autobiografia My
financeiro que significa o ato de vender e re- Apprenticeship (Minha Aprendizagem), 1926. Seu
comprar uma mesma quantidade de um mesmo marido, Sidney James Webb (1859-1947), foi de-
título no mercado financeiro. putado (1922-1929), ministro das Colônias (1929-
1931) e dos Domínios (1929-1930). Os dois pro-
WASH TRANSACTION. Expressão em inglês puseram e defenderam a instituição da legisla-
que significa, literalmente, “operação de lava- ção que favorecia os pobres e a estatização das
gem”, isto é, uma operação fictícia na Bolsa de minas de carvão. Figuraram entre os fundadores
Valores, em que o próprio vendedor adquire
do jornal trabalhista New Statesman e da London
aquilo que colocou à venda.
School of Economics and Political Science. Como
WATERED STOCK. Expressão em inglês que dirigentes e teóricos da Sociedade Fabiana e do
significa “aguar ações”, ou o ato de emitir ações Partido Trabalhista inglês, propunham a subs-
cujo valor nominal excede o valor do capital in- tituição da propriedade privada por formas coo-
vestido numa empresa. As ações em excesso são perativas e de co-gestão da propriedade, e de-
designadas pela palavra water (água) e são emi- fendiam a meta do socialismo por meio de re-
tidas para provocar uma recomposição na par- formas graduais realizadas pelos sindicatos, mo-
ticipação acionária de cada acionista ou para lu- vimentos de cooperativas e pelo Partido Traba-
dibriar credores numa ação que, embora possa lhista, exercendo grande influência sobre inú-
ser legal, não é recomendável nem legítima no meros políticos, sociólogos e escritores ingleses.
âmbito dos negócios. O resultado é que o valor Sidney Webb escreveu Facts for Socialists (Fatos
de mercado de cada ação tende a diminuir, em para os Socialistas), 1887 e, junto com Beatrice:
geral mais do que proporcionalmente ao excesso The History of Trade Unionism (História do Sin-
de ações emitidas. dicalismo), 1894; Industrial Democracy (Democra-
cia Industrial), 1897; The Consumers, Cooperative
WATER-FRAME. Máquina semimecânica de
Movement (O Movimento Cooperativo dos Con-
fiar inventada por Arkwright em 1769, que per-
mitiu um grande aumento da produtividade sumidores), 1921; The Recay of Capitalist Civili-
e da produção de fios para a indústria têxtil zation (A Decadência da Civilização Capitalista),
inglesa. 1923; Methods of Social Study (Métodos de Estudo
Social), 1932 e Soviet Communism (Comunismo
WATER MARK. Veja Marca d’Água. Soviético), 1925.
639 WERBESTÄNDIGES NOTGELD

WEBER, Max (1864-1920). Sociólogo alemão, um pos de dominação. Para ele, a racionalização
dos autores mais influentes no estudo do sur- mais completa já seria visível na esfera econô-
gimento e funcionamento do capitalismo e da mica e tenderia a ampliar-se no domínio do po-
burocracia. Sua obra marca uma das principais lítico. À racionalização da conduta individual e
tendências das ciências sociais, orientada para à cristalização burocrática, o autor contrapõe a
a compreensão do sentido da ação humana. O liberdade política. Weber foi professor de eco-
objeto da sociologia, para Weber, é o sentido da nomia nas universidades de Freiburg (1894-
ação individual, que deve ser buscado pelo mé- 1896) e Heidelberg (1896-1904), conselheiro da
todo da compreensão ou apreensão da totalida- delegação alemã às conferências do Tratado de
de de significados e valores. Para isso, propõe Versalhes (1919) e integrou a comissão que re-
a reconstrução do sentido subjetivo original da digiu a Constituição da República de Weimar.
ação e o reconhecimento da parcialidade da vi- Nacionalista convicto, era, no entanto, contrário
são do observador. Nega a existência de uma ao racismo e ao imperialismo. Junto com Werner
só causa dos fenômenos sociais, pois destaca a Sombart, dirigiu a importante revista Arquivo de
“adequação de sentido”, isto é, a convergência Ciências Sociais e Política Social. Além de em Ética
da ação em duas ou mais das esferas que com- Protestante, seu pensamento está sobretudo nas
põem o todo social (a econômica, a política, a obras Ciência como Vocação (1919), Economia e So-
religiosa etc.). Em 1905, Weber publicou seu ciedade (1922), Wirstschaftgeschichte (História Ge-
mais famoso livro, A Ética Protestante e o Espírito ral da Economia, uma coletânea de conferên-
do Capitalismo. Nele, procurando especificar as cias), de 1923, e Zur Soziologie und Sozialpolitik
características do capitalismo, detecta uma rela- (Sobre Sociologia e Política Social), 1924. As teo-
ção significativa entra a ética protestante e o ca- rias de Weber exerceram grande influência sobre
pitalismo moderno, que floresceu justamente as ciências sociais a partir da década de 20, prin-
nos países onde predominava o protestantismo cipalmente nos Estados Unidos, onde o soció-
calvinista. Faz um estudo comparado de várias logo funcionalista Talcott Parsons se destacou
civilizações, para demonstrar que nenhum dos como seu discípulo, em estudo nos quais retoma
outros antecedentes do capitalismo, ou o con- a análise da ação e da tipologia weberiana.
junto deles, constitui a causa do sistema. Conclui
que, embora o protestantismo não seja a causa WELCHER. Termo em inglês utilizado para de-
exclusiva, é uma causa necessária do capitalis- signar aquele que, embora não obrigado por lei,
mo. Ampliando o objeto de sua pesquisa, fez não chega a um acordo ao qual está moralmente
uma sociologia comparada do capitalismo e das comprometido. Por exemplo, aquele fornecedor
religiões, procurando relacionar as idéias e ati- que se recusa a entregar determinada mercado-
tudes religiosas com as atividades e a organi- ria (tendo-a em estoque) por saber que em pouco
zação econômica correspondentes, na obra Es- tempo seus preços serão majorados.
tudos Reunidos sobre a Sociologia das Religiões, pu-
WELFARE STATE. Veja Estado do Bem-estar.
blicada postumamente em 1920. Weber opõe-se
às interpretações baseadas nas leis econômicas WELTANSCHAUUNG. Termo em alemão que
clássicas. Elabora, então, uma tipologia para significa, literalmente, “visão de mundo”. Apli-
compreender as características particulares de ca-se no sentido de consciência que uma classe
cada momento estudado e define quatro tipos social ou fração de uma classe tem da sociedade
de ação: tradicional (orientada pelos hábitos vi- em que vive e dela própria enquanto tal.
gentes), afetiva (orientada pelas emoções), racio-
nal com relação a valores (feita por convicção, fé WERBESTÄNDIGES NOTGELD. Expressão
ou dever) e racional com relação aos fins (em que em alemão que significa “dinheiro de emergên-
a racionalidade reúne estrategicamente meios e cia com valor constante”. Sua emissão ocorreu
fins). Ao escrever numa época em que os líderes diante do caos monetário causado pela hiperin-
operários alemães sofriam violenta repressão flação na Alemanha, em 1923, antes da emissão
por parte dos aparelhos militar e burocrático do do Rentenmark, quando a existência de uma moe-
Estado prussiano, Weber analisou as relações da estável era extraordinariamente demandada
entre o poder e os que estão a ele submetidos, pela população da Alemanha. Esse tipo de emis-
vendo as técnicas administrativas como elemen- são ocorreu entre 15/10 e 15/11/1923, quando
tos institucionais, destinados a perpetuar as re- surgiu o Rentenmark. Apesar das declarações em
lações de dominação-sujeição. Ao definir uma contrário por parte das autoridades monetárias,
tipologia das formas que comandam a obediên- o lastro (empréstimos e obrigações do Tesouro
cia e conferem legitimidade ao poder, destaca em ouro) era puramente fictício, e esse tipo de
três tipos de dominação política: tradicional, ca- emissão não desempenhou um papel impor-
rismática e legal. Cita como exemplo de domi- tante para pôr fim à hiperinflação alemã dos
nação legal a burocracia, expressão de raciona- anos 20. Veja também Goldanheile; Rentenmark;
lidade administrativa e superior aos demais ti- Reichsmark.
WERNECK SODRÉ 640

WERNECK SODRÉ, Nélson. Veja Iseb. concessões dos empregadores, atuando da se-
guinte forma: ameaçar com a realização de uma
WERST. Veja Versta. greve numa empresa, enquanto nas demais em-
presas concorrentes a produção se desenvolve
WERTFREI. Termo em alemão utilizado por Max
normalmente, forçando aquela “atacada” a fazer
Weber no sentido de que a economia, se se pos-
concessões, para logo em seguida realizar uma
tular científica, deve conservar-se wertfrei, isto
greve numa outra, até que todos os trabalhado-
é, “livre de juízos de valor” ou “livre de valores”,
res do conjunto de empresas obtenham as rei-
que é a tradução literal do termo. Veja também
vindicações pretendidas.
Weber, Max.
WHITE COLLAR. Expressão em inglês que sig-
WEST, Edvard (1782-1828). Economista e jurista
nifica, literalmente, “colarinho branco” e designa
inglês. Fez uma clara exposição da Lei dos Ren-
aqueles empregados de escritório ou do âmbito
dimentos Decrescentes — antecipando-se a Ri-
administrativo que não mantêm um vínculo di-
cardo, que reconheceu o fato em Princípios de
reto com a produção. Veja também Blue Collars.
Economia Política e Tributação. A teoria está no
livro An Essay on the Application of Capital to Land WHITE KNIGHT. Expressão em inglês que sig-
(Um Ensaio sobre a Aplicação do Capital na Ter- nifica, literalmente, “cavaleiro branco”, mas que
ra), de 1815, no qual West se opõe às restrições designa aquele que faz a oferta menos desvan-
sobre as importações de trigo. Antecipou outras tajosa (ou mais vantajosa) num processo de as-
idéias da teoria de Ricardo, como a de que o similação (takeover) de uma empresa-alvo. Esta
comércio internacional tende a equalizar os pre- é que faz a escolha de maneira a bloquear o
ços dos fatores de produção entre os países. Es- oferente inicial.
creveu também O Preço do Trigo e os Salários do
Trabalho (1826). WHITE NOISE. Veja Ruído Branco.

WHARTON. Veja Macromodelo. WICKSELL, Knut (1851-1926). Economista sue-


co, foi um dos precursores da teoria econômica
WHEN AND IF. Expressão em inglês que, lite- contemporânea ao tentar romper os limites es-
ralmente, significa “quando e se”; aplicada à di- treitos do marginalismo com um retorno à abor-
nâmica do estabelecimento de acordos (especial- dagem macroeconômica em sua teoria do equi-
mente internacionais), denota a existência de líbrio monetário. Sua obra é considerada a me-
condicionalidades para que esses acordos sejam lhor síntese e exposição da economia margina-
assinados. Para que as negociações não perma- lista. Reuniu elementos de autores divergentes,
neçam paralisadas, muitas etapas das negocia- como a análise do equilíbrio geral de Walras
ções são superadas, passando-se para as seguin- com os trabalhos de Böhm-Bawerk, e combinou
tes, condicionando esse avanço a determinados com facilidade o método expositivo e o mate-
acontecimentos que tanto podem ser de nature- mático de análise. Em seu primeiro livro, Sobre
za econômico-financeira (se e quando a taxa de Valor, Capital e Renda (1893), Wicksell elaborou
juros superar determinado nível) como política uma teoria do valor e da distribuição, baseado
(se e quando o Congresso votar determinada na análise marginal desenvolvida por Jevons,
resolução). Walras e Menger. Em Pesquisas Teóricas sobre Fi-
nanças (1895), desenvolveu teorias e introduziu
WHIPSAWED. Termo em inglês utilizado quan-
noções sobre finanças públicas. Sua principal
do um operador do mercado financeiro sofre
contribuição à teoria econômica surgiu em Juros
uma perda dupla, resultante da compra de tí-
tulos no máximo de seu movimento de alta e, do Dinheiro e Preços das Mercadorias (1898), que
em seguida, quando os preços atingiram seu ní- influenciou o desenvolvimento posterior da teo-
vel mais baixo por ter vendido short (curtos) de- ria monetária e da teoria dos ciclos econômicos.
vido à elevação das cotações, sofre novas perdas Nessa obra, preocupou-se em explicar as flutua-
para cobrir suas posições short. Em síntese, essa ções dos preços. Ao rejeitar a teoria clássica, que
situação se caracteriza por alguém que compra relacionava os preços apenas à quantidade de
na esperança de que os preços venham a subir, moeda em circulação, adotou a tese segundo a
mas tendo de vender, pois os preços começam qual as variações de preços são determinadas
a cair, e logo em seguida tendo de vender mais pelas variações na demanda global, que, por sua
porque se espera que os preços caiam mais ain- vez, depende do montante dos rendimentos dos
da, mas tendo de comprar porque o mercado indivíduos. Sustentou que essa demanda varia
reage e os preços voltam a subir. segundo os investimentos. E que o investimento
se desenvolve sempre que as taxas de lucros
WHIPSAWING. Termo em inglês que designa, superam as taxas de juros. Uma baixa na taxa
nos Estados Unidos e na Inglaterra, a prática de de juros geraria investimentos, que fariam cres-
alguns sindicatos de trabalhadores para obter cer o montante dos rendimentos, provocando
641 WIESER

um aumento na demanda global e, em conse- ao longo de um tempo), e pretende determinar


qüência, uma alta de preços. Essa alta estimu- certas estruturas matemáticas dos fenômenos
laria novamente os investimentos, e foi isso que por meio do estudo das séries a eles associadas.
Wicksell chamou de processo acumulativo. Uma Ou seja, trata-se de prever o futuro do fenôme-
síntese de sua obra foi publicada em 1901 e 1906 no, dentro de certas limitações estatísticas. A
com o título em inglês Lectures on Political Eco- vantagem desse modelo é que o controle de er-
nomy (Conferências sobre Economia Política). ros ou desvios é possível e realizado pela noção
de feedback (realimentação), que controla o pro-
WICKSTEED, Philip Henry (1844-1927). Eco-
nomista inglês da escola marginalista. Pastor pro- cesso e faz com que ele se reajuste no momento
testante, foi primeiro influenciado pelo socialis- desejado. Em tese, o modelo pode ser aplicável
mo fabiano e tornou-se depois um dos primeiros tanto ao controle de máquinas quanto à verifi-
discípulos de Jevons. Elaborou um “princípio cação de mudanças em variáveis macroeconô-
de maximização” para servir de guia de opções micas de um país. A obra de Wiener a respeito
e comportamentos não apenas econômicos, mas da cibernética envolve desde trabalhos de di-
em todos os aspectos da vida. Seus primeiros vulgação didática até implicações metafísicas e
livros foram Alphabet of Economic Science, 1888 éticas. Em 1948, publicou Cybernetics: Control and
(Alfabeto da Ciência Econômica) e An Essay on Communications in the Animal and the Machine (Ci-
the Coordination of the Laws of Distribution, 1894 bernética: Controle e Comunicação no Animal
(Um Ensaio sobre a Coordenação das Leis da e na Máquina). E, em seguida, The Human Use
Distribuição). Sua mais importante contribuição of Human Beings (Cibernética e Sociedade — O
foi a obra The Common Sense of Political Economy, Uso Humano dos Seres Humanos), 1950; God,
1910 (O Senso Comum da Economia Política), Golem, Inc. (Deus, Golem e Cia.), 1964. Em co-
uma das primeiras exposições abrangentes e laboração com J. P. Schadé, publicou ainda: Ner-
não-matemáticas da teoria econômica margina- ve, Brain and Memory Models (Nervo, Cérebro e
lista. Publicou ainda The Scope and Method of Po- Modelos de Memória), 1963, e Cybernetics of the
litical Economy in the Light of the Marginal Prin-
Nervous System (Cibernética do Sistema Nervo-
ciple, 1914 (O Objetivo e o Método da Economia
so), 1965.
Política à Luz do Princípio Marginalista).
WIESER, Friedrich von (1851-1926). Economista
WIENER, Norbert (1894-1964). Matemático nor-
e sociólogo austríaco da escola marginalista, foi
te-americano, criador da cibernética. Recebeu
discípulo de Menger, a quem sucedeu na cadeira
uma educação precoce: aos 14 anos licenciou-se
de economia da Universidade de Viena. Wieser
em ciência e aos 18 recebeu o grau de doutor
refinou o ponto de vista subjetivo da teoria do
em Harvard. Estudou com Bertrand Russell, na
valor de Menger, na qual o indivíduo e suas
Inglaterra, e com Hilbert, na Alemanha. Em 1918
necessidades são o princípio e o fim de toda
voltou aos Estados Unidos, passando a lecionar
análise. Acentuou o caráter formal da avaliação
matemática no Instituto de Tecnologia de Mas-
sachusetts, cargo que manteve durante 42 anos. subjetiva, além de contribuir para a teoria da
Inicialmente, Wiener ofereceu suas importantes escola austríaca nas áreas do custo, da distri-
contribuições no campo da matemática aplicada buição e do valor natural. Wieser introduziu o
— teoria da probabilidade, da relatividade, teo- termo “utilidade marginal” (Grensnutzen) já em
ria quântica etc. Alguns de seus trabalhos na seu primeiro livro, Sobre a Origem e as Principais
área matemática, como As Integrais de Fourier Leis do Valor Econômico (1884), no qual trata do
(1933) e Problemas Não-Lineares na Teoria do Acaso custo, uma lacuna deixada pela primeira teoria
(1958), favoreceram o desenvolvimento do mo- austríaca do valor, que é definida pela utilidade.
derno entendimento dos processos estocásticos Wieser desenvolve uma “lei do custo” que fi-
e da análise harmônica. Entretanto, foram seus caria conhecida como o princípio do custo de
trabalhos no campo da cibernética que lhe as- oportunidade e se tornaria um importante ele-
seguraram renome internacional. Esse novo mento na teoria da alocação de recursos. Segun-
ramo da teoria da informação compara os sis- do essa lei, dada uma quantidade de fatores de
temas de comunicação e controle de aparelhos produção, a concorrência por seu uso os distri-
produzidos pelo homem com os dos organismos buirá de tal modo que o custo dos produtos
biológicos. A construção de máquinas que imi- decorrentes será o mesmo, qualquer que seja o
tam o comportamento dos seres vivos teve im- uso desses fatores. Outro elemento importante
plicações imediatas no desenvolvimento da teo- na obra de Wieser, sua doutrina do valor natu-
ria da automação industrial e da informática, a ral, foi desenvolvida nos livros Der natürliche
ciência dos computadores. O modelo cibernético Wert (O Valor Natural), 1889, e Theorie der Ge-
trabalha com uma técnica matemática, a teoria sellschaftlichen Wirtschaft (Teoria da Economia
das séries temporais (uma sucessão de números Social), 1914, nos quais tenta realizar a transição
WILDCAT STRIKE 642

do ponto de vista histórico-social da teoria clás- WORKAHOLICS. Termo em inglês que signi-
sica do valor ao individualismo da escola mar- fica pessoa viciada em trabalho, isto é, que tra-
ginalista. Para Wieser, o valor natural seria o balha jornadas muito longas e intensas, não res-
obtido num estado igualitário, em que não ha- peitando fins de semana ou feriados. Veja tam-
veria desigualdade de riquezas nem o egoísmo bém Karoshi.
individual. O valor seria então o resultado da
quantidade disponível de utilidades numa eco- WORLD-WIDE WEB. Expressão em inglês que
nomia comunitária. significa, literalmente, “teia (rede) ao redor do
mundo”, mas que é um serviço da Internet que
WILDCAT STRIKE. Expressão em inglês cuja possibilita o uso de elos e nós de hipertexto para
tradução literal é “greve selvagem”, utilizada interligar documentos distribuídos por toda a
nos Estados Unidos para designar uma parali- rede. Veja também Internet.
sação geralmente espontânea de um grupo de
trabalhadores sem a autorização de seu respec- WORRY TIME. Expressão em inglês que signi-
tivo sindicato e, freqüentemente, por questões fica, literalmente, “tempo de preocupação” e que
secundárias em relação às reivindicações cen- deve ser computado na carga de trabalho de
trais dos trabalhadores em seu conjunto e de certos empregados, na medida em que existem
seus sindicatos. No âmbito financeiro, o termo pessoas que conseguem trabalhar oito, dez, doze
wildcat tem no entanto outra conotação. ou catorze horas por dia e, findo o expediente,
“desligam-se” completamente de seu trabalho e
WILSON, James (1805-1860). Político e empre- descansam, enquanto outras não conseguem tal
sário inglês, proprietário e redator-chefe da re- desempenho. Por exemplo, se depois de uma
vista The Economist, representante da escola ban- longa jornada, um executivo ainda permanece
cária. Seus comentários sobre os problemas eco- três ou quatro horas tentando dormir, isso
nômicos foram feitos primeiro sob a forma de pode resultar numa tomada de decisão ruim
panfletos, e em seguida na revista The Economist. no dia seguinte ou mesmo na acumulação de
Como deputado (1847-1859), foi porta-voz do tensões que poderão provocar estresse. Veja
liberalismo econômico, defendendo a liberdade também Karoshi.
de comércio e medidas que favorecessem uma
WRIT OF ATTACHMENT. Expressão em inglês
clara conversibilidade da moeda. Wilson foi mi-
que significa “mandado” ou “ação de embargo”.
nistro das Finanças do governo inglês (1853-
Veja também Embargo.
1858) e membro do Conselho de Finanças da
Índia, onde iniciou a reforma do sistema de im- WRIT OF COVENANT. Expressão em inglês que
postos e introduziu o papel-moeda. Sua princi- significa ação ou mandado por descumprimento
pal contribuição à economia foi a obra Flutuações de um pacto ou contrato.
da Moeda, Comércio e Manufaturas (1840), conside-
rada uma das primeiras apresentações sistemáti- WRIT OF DEBT. Expressão em inglês que sig-
cas dos fenômenos dos ciclos comerciais. Escreveu nifica ação ou mandado de cobrança de uma
ainda: Influences of the Corn Laws (Influências das dívida.
Leis do Trigo), 1839; The Revenue, or What Shall
WRIT OF DELIVERY. Expressão em inglês que
the Chancellor Do? (A Receita, Ou o Que o Chan-
significa ação ou mandado de entrega de bens
celer Dever Fazer?), 1841 e Capital, Currency and
móveis.
Banking (Capital, Moeda e Banco), 1847.
WRITE DOWN. Expressão em inglês que signi-
WINDOW DRESSING. Expressão em inglês fica a reavaliação de títulos de dívidas, ou outros
que designa a prática de certas empresas que, papéis, quando seu valor de mercado é mais
com a intenção de apresentar resultados mais baixo do que o valor escritural.
favoráveis em seus balanços, mascaram os re-
sultados reais obtidos durante certo tempo. No WRITE OFF. Escrituração de uma perda decor-
caso de corporações financeiras, o termo signi- rente de dívida não paga. Na prática financeira
fica a prática de aumentar a liquidez (obtendo internacional o write off, quando não representa
empréstimos ou vendendo títulos) um pouco a eliminação da dívida externa de um país, im-
antes da data de apresentação de seus balanços, plica quase sempre sua desvalorização.
para dar a impressão de que a liquidez apre-
sentada é fato comum na empresa em questão. WRITE UP. Expressão em inglês que significa
a prática de atualizar o valor contábil de um
WINK. Unidade de tempo equivalente a 1/2000 ativo de acordo com o valor de mercado, ou
de minuto, desenvolvida por Frank e Lilian Gil- valor estimado quando este se encontra acima
breth, utilizada nos estudos de tempos e movi- do valor contábil. Esta prática, a não ser em casos
mentos. especiais, não é muito aconselhável, na medida
643 YELLOW SHEET

em que pode dar lugar a abusos ou tentativas X-RTS. Abreviação de ex-rights. Veja também
de maquilagem de balanços, e também trazer Ex-rights.
conseqüências desvantajosas no plano tributário
para a empresa. É o oposto de write down. Veja XU. Veja Dong.
também Window Dressing; Write Down.

WWW. Veja World-Wide Web.

X Y
Y. Inicial de: 1) iene (unidade monetária do Ja-
pão); 2) yield (rendimento ou renda-agregado
macroeconômico).
X (Eixo de). Veja Coordenadas Cartesianas.
Y (Eixo de). Veja Coordenadas Cartesianas.Y
X-EFFICIENCY. Situação na qual os custos to- 2K. Veja Bug do Milênio.
tais de uma empresa não são minimizados por-
que a produção decorrente de uma determinada YANKEE BONDS. Veja Foreign Bonds.
quantidade de insumos é inferior à produção
YAOUNDÉ. Veja Convenção de Yaoundé.
máxima possível. A x-efficiency é uma decorrên-
cia direta dos mercados controlados por mono- YARD. Veja Jarda.
pólios ou oligopólios, quando as pressões da
concorrência são pouco presentes. Este fenôme- Y-EFFICIENCY. Situação na qual os empresá-
no também é denominado technical inefficiency. rios aproveitam com eficácia todas as oportuni-
dades de lucro existentes no mercado. É possível
XELIM. Unidade monetária da Áustria (submúl- imaginar que a ausência de pressões da concor-
tiplo: groschen); do Quênia (submúltiplo: cent); rência provoque um fracasso das empresas em
da Somália — xelim somaliano — (submúltiplo: abastecer clientes potenciais, dispostos a pagar
centesimo); da Tanzânia — xelim tanzaniano — um preço por determinados serviços ou produ-
(submúltiplo: cent); de Uganda — xelim ugan- tos que signifiquem lucro. Assim, embora uma
dense — (submúltiplo: cent). empresa possa estar minimizando os custos de
produção de um determinado produto, pode es-
XENOCURRENCIES. Termo no mercado finan-
tar deixando de maximizar seus lucros por não
ceiro internacional que significa divisas estran-
aproveitar todas as suas oportunidades de mer-
geiras ou moedas estrangeiras. O mesmo que
cado, maximizando suas vendas.
xenomoedas e xenodivisas.
YELLOW DOG (Contrato). Expressão em inglês
XENODIVISAS. Veja Xenocurrencies.
utilizada no movimento sindical norte-america-
XENOFONTE (431-355 a.C.). Historiador e pen- no para designar um entendimento ou um acor-
sador grego. Em Ho Oikonomikos (O Econômico do (escrito ou não), entre o empregador e o em-
ou A Arte de Administração de uma Casa), ana- pregado, estabelecendo, como condição para
lisa a noção de “bem” e faz um retrato objetivo que este obtenha o emprego, que não se filie a
da vida familiar entre os gregos. Em passagens um sindicato ou a uma organização sindical, ou,
de outras obras, como Kyropaideia (Ciropédia ou se já estiver filiado, que se desvincule da orga-
A Educação de Ciro), observa que a divisão do nização. O objetivo desse tipo de condição é im-
trabalho era bastante desenvolvida nas grandes pedir a formação de novas organizações sindi-
cidades e praticamente ausente nas pequenas. cais e enfraquecer as já existentes. Esses acordos
Para resolver as crises econômicas, defende al- não são reconhecidos legalmente nos Estados
gumas medidas estatizantes, como a exploração Unidos, conforme a lei Norris-La Guardia.
das minas pelo Estado e a criação de entrepostos
YELLOW SHEET. Denominação de publicação
públicos.
norte-americana ("páginas amarelas") sobre pre-
XENOMOEDAS. Veja Xenocurrencies. ços de títulos e de empresas não negociados di-
retamente em Bolsas de Valores. Veja também
XENXÉM. Veja Crise do Xenxém. Over the counter; Pink Sheet.
YES-MEN 644

YES-MEN. Expressão inglesa que significa o com- das duas palavras que o constituem: zai, que
portamento de empregados ou funcionários de significa “riqueza”, e batsu, que significa tanto
uma organização que obedecem sem pestanejar “grupo” quanto “estado”. Originalmente, o ter-
às ordens recebidas de superiores e tendem a mo estava relacionado com a política, designan-
concordar com qualquer idéia, desde que sejam do a elite mais rica do país, mas depois da Pri-
emitidas por seus superiores hierárquicos. meira Guerra Mundial, seu significado passou
a relacionar-se com a organização de conglome-
YIELD TO MATURITY. Expressão em inglês rados que enfeixavam em suas mãos grande
que significa a taxa de desconto que equaciona quantidade de riqueza. Do ponto de vista eco-
o valor presente do pagamento de juros e o valor nômico e empresarial, o termo também traz al-
do vencimento (redemption) com o preço presen- gumas ambigüidades. Todas as grandes orga-
te do título. nizações econômicas eram Zaibatsu, ou apenas
YÕGIN. Denominação dada no Japão aos dó- aquelas controladas pelas famílias que as tinham
lares de prata mexicanos que circularam naquele fundado? Entre os comentaristas japoneses exis-
país durante o século XIX. te um certo consenso em admitir que, até o final
da Segunda Guerra Mundial, apenas os conglo-
YOUNG PLAN. Veja Plano Young; Rentenmark. merados Mitsui, Mitsubishi, Sumimoto e Yasu-
da eram Zaibatsu. Esses quatro conglomerados
YUPPIE. Designação dada nos Estados Unidos detinham grande poder e, durante a Era Meiji,
à nova geração de executivos empresariais du- tinham grande influência sobre o governo e ob-
rante os anos 80, quando, para superar a crise tinham deste vantagens e favores. Depois da Se-
econômica e a concorrência japonesa, as empre- gunda Guerra Mundial, as forças de ocupação
sas tiveram de mudar seus métodos adminis- incluíram mais seis conglomerados na classifi-
trativos, convocando pessoas mais jovens, dis- cação de Zaibatsu: Nissan, Asano, Furukawa,
postas a enfrentar riscos e propor inovações. Ca- Okura, Nakajima e Nomura. Em 1945, esses con-
racterísticas como “iniciativa própria” e “senso glomerados haviam alcançado dimensões ex-
de antecipação”, que antes — quando as em- traordinariamente grandes. Por exemplo, embo-
presas norte-americanas reinavam soberana- ra não houvesse estatísticas muito confiáveis, a
mente nos planos da eficiência e da produti- Mitsui reunia cerca de trezentas corporações e
vidade e se acomodavam — não eram consi- a Mitsubishi, cerca de 250. E o capital dos quatro
deradas essenciais, passaram a sê-lo durante conglomerados que constituíam Zaibatsu repre-
os anos 80. sentava, no final da guerra, cerca de 25% do
YUPPISMO. Veja Yuppie. total do capital do Japão. Na medida em que
essas empresas e seus proprietários e diretores
YUUSEN KABUSHIKI. Expressão em japonês foram identificados com o expansionismo japo-
equivalente a “ação preferencial”. Veja Ação nês e o caráter belicista de seu governo, uma
Preferencial. das primeiras preocupações das forças aliadas,
especialmente dos Estados Unidos, mesmo antes
do final da guerra, foi dissolver os Zaibatsu e
substituir o grupo dirigente das corporações e

Z
dos conglomerados. Na medida em que se tor-
nou conhecido no Japão que as forças de ocu-
pação comandadas pelo general MacArthur
iriam exigir a dissolução dos Zaibatsu, Yasuda
se antecipou e propôs um plano de dissolução
de seu próprio conglomerado, que ficou conhe-
cido como Plano Yasuda; os outros três conglo-
merados seguiram-lhe o exemplo. De acordo
ZAIBATSU. Grupos industriais e financeiros que com o Plano Yasuda, as ações das quatro em-
se organizaram como conglomerados, atingindo presas holding dos quatro grupos seriam vendi-
grande tamanho e poder na economia japonesa das ao público, e os diretores desses grupos pe-
entre a Era Meiji (1868-1912) e o final da Segunda diriam demissão de seus cargos, deixando de
Guerra Mundial. Embora o Zaibatsu tenha sido ter qualquer influência na administração dessas
dissolvido pelas forças de ocupação norte-ame- empresas. Além disso, os membros das famílias
ricanas, a nova organização de conglomerados que controlavam os Zaibatsu também se com-
que surgiu em seu lugar — o Keiretsu — é con- prometiam a deixar todos os postos de comando
siderada a verdadeira sucessora do Zaibatsu, das corporações e dos conglomerados, fossem
apesar de seu poder ser consideravelmente me- eles do âmbito comercial, financeiro, ou indus-
nor. O termo Zaibatsu não é muito preciso, mas trial. O Plano Yasuda foi aceito pelo general Ma-
sua raiz etimológica parece vir do significado cArthur, embora as compensações financeiras às
645 ZERO COUPON SECURITY (BOND)

famílias proprietárias das ações fossem feitas e, assim como este, de grande aceitação em toda
pelo valor destas, deduzidas as despesas finan- a Europa durante muito tempo. Veja também
ceiras, mas em dez anos, por meio de títulos Florim.
inegociáveis. Não obstante tal compensação for-
malmente pudesse ser considerada generosa ZEE. Iniciais de Zonas Econômicas Especiais,
com aqueles que haviam colaborado com uma criadas na República Popular da China depois
guerra feroz contra os Estados Unidos, o pro- das reformas econômicas de 1978, que começa-
cesso inflacionário do pós-guerra no Japão se ram a introduzir práticas capitalistas naquele
encarregou de transformar uma substancial in- país e a liberalização dos mecanismos de mer-
denização em quase um confisco. Além disso, cado. A primeira ZEE foi criada no sul do país,
o general MacArthur pressionou o governo ja- em Xenzhen, próxima à fronteira com Hong-
ponês a aprovar uma lei antitruste que manti- Kong. Essas Zonas Econômicas Especiais têm
vesse a economia japonesa desconcentrada. Isso dado grande dinamismo ao desenvolvimento
de fato aconteceu em abril de 1947 (Lei de Proi- chinês, cuja economia tem crescido a uma taxa
bição dos Monopólios e Métodos de Preservação superior a 10% ao ano nos últimos doze anos.
do Livre Comércio). Um dos dispositivos mais ZEG. Iniciais da expressão em inglês zero eco-
importantes dessa lei foi a proibição das holdings, nomic growth, que significa “crescimento econô-
o que era o fundamental da estrutura dos Zai- mico zero”.
batsu. Embora essas medidas de dissolução dos
Zaibatsu e da depuração dos quadros dirigentes ZENGIN. Termo em japonês que significa um
de suas corporações e conglomerados tenham sistema de transferência de fundos no Japão ope-
sido muito criticadas pelos japoneses, hoje mui- rado pela Federação das Associações de Ban-
tos reconhecem que a iniciativa, estimulando a queiros do Japão. Este sistema eletrônico de pa-
concorrência entre as empresas, isto é, eliminan- gamentos vincula automated teller machines e fi-
do em grande medida a concentração do capital, liais de mais de setecentas instituições financei-
foi um dos elementos decisivos para o intenso ras japonesas. O sistema facilita tanto pequenas
crescimento da economia japonesa no pós-guer- como grandes transferências automáticas de
ra. Veja também Monopólio; Oligopólio. fundos realizadas por bancos, corporações (em-
presas) e consumidores.
ZAIKAI. Expressão japonesa que designa ge-
ralmente “círculos financeiros”, mas que é uti- ZERAR. Termo do mercado financeiro geral-
lizada pelos meios de comunicação para desig- mente acompanhado da palavra “posições”, que
nar os líderes empresariais que se manifestam significa saldar um débito, equilibrar uma si-
em favor da comunidade empresarial como um tuação de déficit na compra ou na venda de tí-
todo. Para aqueles que se opõem ao poder das tulos, opções etc. ou livrar-se de um título, ou
grandes empresas, o termo é utilizado para de- de uma ação “zerando as posições ” em relação
signar o grande capital em geral ou empresas in- a eles.
tegradas verticalmente. Veja também Keidanren.
ZERO. Concepção central do sistema matemá-
ZAIRE. Unidade monetária do Zaire. Submúl- tico indo-arábico, significa “vazio” ou “lugar da
tiplo: maruta ou sengio. não-existência”, ou, mais concretamente, a co-
luna vazia do ábaco. Em hindi, era denominado
ZAITEKU. Termo em japonês que significa know- sunya, e em árabe, cifr, tendo chegado até nós
how na administração de recursos financeiros: como “cifra”.
zai (ativos financeiros) e teku (tecnologia). Está
relacionado com investimentos financeiros das ZERO COUPON BOND. Expressão em inglês
corporações com recursos suplementares em se- que designa um título que não proporciona ju-
curities e títulos com o intuito de obtenção de ros, mas que é convertido (pago) pelo seu valor
lucros. de face na data do vencimento. Esses títulos são
vendidos com um desconto em relação a seu
ZANGÃO. Denominação dada às pessoas que valor de face, e sua rentabilidade (retorno) de-
operam nas Bolsas de Valores como corretores, pende apenas da diferença entre seu preço de
mas que não estão habilitadas e credenciadas compra e seu valor de face.
para isso.
ZERO COUPON EUROBONDS. Emissões de
ZBB. Iniciais da expressão em inglês zero base títulos de empresas norte-americanas que não
budgeting, que significa “orçamento base zero”. proporcionam juros, mas que são vendidos com
um grande desconto inicial.
ZECCHINO. Nome da moeda cunhada em Ve-
neza a partir de 1284, em ouro, também chama- ZERO COUPON SECURITY (BOND). Título
da ducado (ducato) e que constituía réplica do que não proporciona juros durante seu período
florim (fiorino) cunhado em Florença desde 1252 de existência. Seu possuidor recebe todos os ju-
ZERO PLUS TICK 646

ros correspondentes de uma só vez, no momento tre a Prússia e a maior parte dos Estados inde-
do vencimento. Esta forma de juros diferidos pendentes da Alemanha em 1833. O acordo con-
pode ser um atrativo para investidores que não sistia na abolição mútua de todas as tarifas e
são ou não desejam ser tributados em seus ren- na criação de um sistema comum de tarifas para
dimentos correntes, ou para aqueles que pro- os demais países. Essa medida acelerou o de-
gramam suas despesas de tal maneira que estas senvolvimento capitalista na região e foi um dos
possam compensar os juros recebidos de uma fatores decisivos para a unificação política em
só vez para atenuar a incidência do Imposto de 1871. O termo Zollverein chegou a ser ampla-
Renda. Esses títulos têm sido utilizados também mente usado para designar esse tipo de união
para colateralizar (garantir) os acordos da dívida aduaneira entre Estados independentes como,
externa com os bancos credores, como fizeram por exemplo, a Convenção de Benelux de 1944
o México e o Brasil nos últimos anos. e posta em prática em 1948, entre Bélgica, Ho-
ZERO PLUS TICK. Veja Up Tick. landa e Luxemburgo. Veja também Benelux.

ZEROS. Veja Zero Coupon Bond. ZONA DE LIVRE COMÉRCIO. Sistema no


qual as tarifas alfandegárias são zero para os
ZIMBO. Tipo de concha utilizada como moeda países que integram uma zona de livre comércio,
durante parte dos séculos XVI e XVII em algu- embora cada país tenha um nível diferente de
mas regiões do Nordeste do Brasil Colônia, tarifas para os países externos ao acordo de livre
como a Bahia e o Maranhão. Prática já existente comércio. Veja também Mercosul; Mercado Co-
no passado em regiões africanas (Angola, Mo- mum; União Alfandegária; Zona Franca.
çambique, Gabão, Madagascar, Zanzibar) e tra-
zida para o Brasil pelos escravos. Os índios no ZONA FRANCA. Área delimitada no interior
Brasil utilizavam o zimbo como ornamento e de um país e beneficiada com incentivos fiscais
davam grande valor a sua posse. A concha é e tarifas alfandegárias reduzidas ou ausentes.
semelhante a um búzio e seu nome científico, Seu objetivo é estimular o comércio e, às vezes,
Olivancillarianna, originou-se de sua semelhança acelerar o desenvolvimento industrial de uma
com uma oliva (azeitona). Outra concha utiliza- região. Há zonas francas em Marselha (França),
da com o mesmo propósito durante o mesmo Hamburgo (Alemanha), Hong-Kong e Copenha-
período no Brasil era o cauri (Cipraea moneta). gue (Dinamarca). A Zona Franca de Manaus,
criada em 1967 e fiscalizada pela Superinten-
ZLOTY. Unidade monetária da Polônia. Submúl-
tiplo: grosz. dência da Zona Franca de Manaus (Suframa),
atraiu para aquela área amazônica muitas in-
ZODÍACO. Em numismática, significa a faixa dústrias, sobretudo do ramo eletrônico avança-
que corta a esfera armilar, tal como se encontra do, que se beneficiam das facilidades de impor-
no brasão de armas dos reis de Portugal e nas tação de peças e componentes de aparelhos ele-
moedas do Brasil Colônia. tro-eletrônicos.
ZOLLVEREIN. Termo composto das palavras ZPG. Iniciais da expressão em inglês zero popu-
em alemão Zoll (alfandêga) e Verein (união), de- lation growth, que significa “crescimento demo-
signou uma união alfandegária estabelecida en- gráfico zero”.
647

Medidas inglesas
a) Comprimento
1 Inch 1 Polegada in. 25400 mm
1 Foot 1 Pé ft. 0,30480 m
1 Yard 1 Jarda yd. 0,914399 m
1 Fathom 1 Braça1 fath. 1,8288 m
1 Pote 1 Vara - 5,0292 m
1 Chain - ch. 20,1168 m
1 Furlong - fur. 201,168 m

b) Área
1 Square inch 1 Pol. quadrada sq. in. 6,4516 cm2
1 Square foot 1 Pé quadrado sq. ft. 0,092903 m2
1 Square yard 1 Jarda quadrada sq. yd. 0,836126 m2
1 Perch - - 25,293 m2
1 Food - - 10,117 a
1 Acre 1 Acre a 0,40468 ha
1 Square mile 1 Milha quadrada sq. mi 259,00 ha

c) Volume
1 Cubic inch 1 Pol. cúbica cu. in. 16,387 cm3
1 Cubic foot 1 Pé cúbico cu. ft. 0,028317 cm3
1 Cubic yard 1 Jarda cúbica cu. yd. 0,764553 cm3

d) Capacidade
1 Gill - gi. 1,42 dl
1 Pint 1 Pinta pi./pt. 0,568 l
1 Quart 1 Quarta qt. 1,136 l
1 Gallon 1 Galão gal. 4,545963 l
1 Peck - pk 9,092 l
1 Bushel - bu. 3,637 dal
1 Quarter - - 2,909 hl

e) Capacidade (Apothecary)
1 Minim 1 Mínimo min. 0,059 ml
1 Fluid scruple 1 Escrópulo fl. s. 1,184 ml
1 Fluid drachm 1 Dracma fl. dr. 3,552 ml
1 Fluid ounce 1 Onça líquida fl. oz. 2,84123 cl
1 Pint 1 Pinta pt./pi. 0,568 l
1 Gallon 1 Galão gal. 4,545963 l

f) Massa (Avoirdupois)
1 Grain 1 Grão gr. 0,0648 g
1 Dram 1 Dracma dr. 1,772 g
1 Ounce 1 Onça oz. 28,350 g
1 Pound 1 Libra lb. 0,453592 kg

1. Antes da adoção do sistema métrico decimal, a Casa da Moeda do Brasil utilizava a braça, equivalente a 2,20 m, e a vara,
equivalente a 1,10 m. Veja também Sistema Internacional de Unidades; Sistema Métrico Decimal no Brasil.
648

1 Stone 1 Pedra st. 6,350 kg


1 Quarter - - 12,70 kg
1 Hundredweight 1 Quintal cwt. 50,80 kg
1 Ton 1 Tonelada tn. 1016,00 kg

g) Massa (Troy)
1 Grain 1 Grão gr. 0,0648 g
1 Pennyweight - dwt. 1,5552 g
1 Troy ounce 1 Onça oz. tr. 31,103 g

h) Massa (Apothecary)
1 Grain 1 Grão gr. 0,0648 g
1 Scruple 1 Escrópulo s. ap. 1,296 g
1 Drachm 1 Dracma dr. ap. 3,000 g
1 Ounce 1 Onça oz. apoth. 31,1035 g

Medidas americanas (Sistema Consuetudinário)

a) Comprimento
1 Inch 1 Polegada in. 2,540005 cm
1 Link - li. 20,11684 cm
1 Foot 1 Pé ft. 30,48006 cm
1 Yard 1 Jarda yd. 91,44018 cm
1 Rod - rd. 502,9210 m
1 Chain 1 Corrente ch. 20,11684 m
1 Mile 1 Milha mi. 1609,3472 m

b) Área
1 Square inch 1 Pol. quadrada sq. in. 6,451626 cm2
1 Square link - sq. li. 404,6873 cm2
1 Square foot 1 Pé quadrado sq. ft. 929,0341 cm2
1 Square yard 1 Jarda quadrada sq. yd. 0,836130 m2
1 Square rod - sq. rd. 25,29295 m2
1 Square chain - sq. ch. 404,6873 m2
1 Acre 1 Acre acre 4046,873 m2
1 Square mile 1 Milha quadrada sq. mi. 2,589998 km2

c) Volume
1 Cubic inch 1 Pol. cúbica cu. on. 16,387162 cm3
1 Cubic foot 1 Pé cúbico cu. ft. 28,317016 dm3
1 Cubic yard 1 Jarda cúbica cu. yd. 0,764559 m3

d) Capacidade (Líquidos)
1 Minim - min./M. 0,061610 ml
1 Fluid dram 1 Dracma fl. dr. 3,69661 ml
1 Fluid ounce 1 Onça fl. oz. 29,5729 ml
1 Gill - gi. 0,118292 l
1 Fluid pint 1 Pinta liq. pt. 0,4731167 l
1 Fluid quart 1 Quarta liq. qt. 0,946333 l
1 Gallon 1 Gallon gal. 3,785332 l
649

e) Capacidade (Secos)
1 Dry pine - pi. 550,559 ml
1 Dry quart 1 Quarta qt. 1,101198 l
1 Peck - pk. 8,80958 l
1 Bushel - bu. 35,2383 l
1 Cubic inch 1 Pol. cúbica cu. in. 16,3867 ml

f) Massa
1 Grain 1 Grão gr. 0,064798 g
1 Apothecary
1 scruple 1 Escrópulo s. ap. 1,295978 g
1 Pennyweight - dwt. 1,555174 g
1 Avoir dram 1 Dracma dr. avpd. 1,771845 g
1 Apoth. dram. 1 Dracma dr. ap. 3,887935 g
1 Avoir ounce 1 Onça oz. avdo. 28,349527 g
1 Apoth. ou
1 Troy ounce 1 Onça oz. t./oz. ap. 31,103481 g
1 Apoth. ou
1 Troy pound 1 Libra ib. ap./ib. t. 373,24177 g
1 Avoir pound 1 Libra ib.avdp. 453,592427 kg
1 Short hun-
1 dredweight 1 Quintal curto cwt. 45,359243 kg
1 Short ton 1 Tonelada curta tr. sh. 907,18486 kg
1 Long ton 1 Tonelada longa tn. l. 1016,04704 kg
Sobre o autor

Paulo Sandroni nasceu em 1939, em São Paulo, capital. Formou-se em Economia


pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo em
1964. Entre 1965 e 1969 lecionou na Faculdade de Economia da Pontifícia Uni-
versidade Católica de São Paulo e na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
de Rio Claro (SP). A partir de 1970 trabalhou na Universidade do Chile e na
Universidade de Los Andes, na Colômbia. É autor de Questão Agrária e Campesinato:
a Funcionalidade da Pequena Produção Mercantil; Introdução à Economia: Mercantilistas,
Smith, Ricardo e Marx em Sala de Aula; Balanço de Pagamentos e Dívida Externa; Novo
Dicionário de Economia (Prêmio Jabuti 1995) e, em colaboração com Luís Alberto
Marão Sandroni, de Karoshi: o Jogo da Qualidade. Participou da equipe de consultores
da coleção de livros Os Economistas, tendo traduzido para o português a obra
Princípios de Economia Política e Tributação, de David Ricardo. Foi presidente da
CMTC — Companhia Municipal de Transportes Coletivos, entre 1990 e 1992, e
secretário adjunto da SAF — Secretaria de Administração Federal, em 1993. É
professor da Faculdade de Economia e Administração da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo e da Escola de Administração de Empresas da Fundação
Getúlio Vargas de São Paulo.

Você também pode gostar