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O autismo representa um transtorno de comportamento e cognição com início antes dos 3 anos de
idade , o qual afeta os domínios fundamentais da linguagem e desenvolvimento social com
comportamentos repetitivos e restritivos. As causas do autismo podem ser divididas em idiopática,
que representa a maioria dos casos (90-95%), e secundária, que inclui fatores ambientais,
anormalidades cromossômicas e doenças monogênicas. Estudos genéticos humanos recentes indicam
que os genes da família SHANK (SHANK1, SHANK2 e SHANK3) estão envolvidos no autismo
idiopático. Mutações nesses genes causam uma disfunção sináptica, a qual leva ao comportamento
autístico. Fatores ambientais desempenham um papel na formação de novos acontecimentos genéticos
que levam ao TEA (Transtorno do Espectro do Autismo), por exemplo, mutações na linhagem
germinativa masculina podem ser a causa de novas mutações nos descendentes. A primeira triagem
ampla de todo o genoma para regiões cromossômicas envolvidas no autismo associou
aproximadamente 354 marcadores genéticos, localizados em oito regiões dos seguintes cromossomos:
2, 4, 7, 10, 13, 16, 19 e 22 sendo as regiões 7q, 16p, 2q, 17q mais significativas. Na investigação
etiológica de condições que podem causar ou estar associada ao autismo a Síndrome do X - Frágil é a
mais comum. A presente revisão propõe apresentar um forte componente genético na etiologia do
autismo; portanto, foram utilizados artigos e teses de autores nacionais e internacionais selecionados
em bases de dados confiáveis e que abordam a temática. Como um todo, a herdabilidade, que é a
proporção de variância fenotípica atribuível a causas genéticas, é calculada em aproximadamente 90%.
Palavras-Chave: Genes. Síndrome do X-frágil. Transtorno Autístico.
Autism is a disorder of behavior and cognition commencing before 3 years of age, which affects the
key areas of language and social development with restrictive and repetitive behaviors. The causes of
autism can be divided in idiopathic, representing the majority of cases (90-95%), and secondary,
including environmental factors, chromosomal abnormalities and monogenic diseases. Recent human
genetic studies indicate that SHANK family genes (SHANK1, SHANK2, and SHANK3) are causative
genes for idiopathic autism. Mutations in these genes cause synaptic dysfunction which leads to
autistic behavior. Environmental factors play a role in the formation of new genetic events that lead to
autism spectrum disorders (ASD), for example, mutations in the male germ lineage may be the cause
of new mutations in the offspring. The first screening wide the entire genome for chromosomal
regions involved in approximately 354 associated with autism genetic markers located in these eight
regions of chromosomes 2, 4, 7, 10, 13, 16, 19 and 22 being the 7q, 16p, 2q, q 17 locus most significant.
In the etiology of conditions that may cause or be associated with autism Fragile -X Syndrome is the
most common. This review aims to present a strong genetic component in the etiology of autism; so,
articles and theses of national and international authors selected from reliable databases that address
the theme were used. As a whole, the heritability, which is the proportion of phenotypic variance
attributable to genetic causes, is estimated at approximately 90%.
Keywords: Genes. Fragile -X Syndrome. Autistic Disorder.
1Acadêmico do Curso de Medicina da FAHESA/ITPAC - Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos; Av. Filadélfia,
568; Setor Oeste; CEP: 77.816-540; Araguaína - TO. E-mail: jvevcmedico@gmail.com.
2Doutora. Docente da FAHESA/ITPAC- Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos; Av. Filadélfia, 568; Setor Oeste;
CEP: 77.816-540; Araguaína- TO. E-mail: rosarmvb@yahoo.com.br.
J. V. S. C. Coutinho & R. M. V. Bosso ISSN 1983-6708
função cerebral normal e pode explicar o fenótipo citoesqueleto, enzimas e moléculas de sinalização
comportamental autístico (OLIVEIRA et. al., 2004). (GARCÍA – PEÑAS, 2012; DOMÍNGUEZ-
CARRAL ,2012; PEREIRA-BENZANILLA, 2012;
GRABRUCKER et al., 2011; KREIENKAMP, 2008
2. METODOLODIA apud JIANG, 2013; EHLERS,2013). O grande
Trata-se de uma pesquisa definida como número de proteínas reguladas por shank3
revisão de literatura, realizada por meio de executam uma variedade de funções na
artigos, teses e resenhas; nacionais e membrana pós-sináptica, incluindo a remodelação
internacionais, que datam até o ano de 2014. do citoesqueleto à base de actina, a formação de
Como critério de busca utilizamos bases de dados sinapses, endocitose de receptores e regulação da
confiáveis como: BIREME, PUBMED, GOOGLE transmissão e plasticidade sináptica (JIANG, 2013;
ACADÊMICO, SCIELO E PORTAL DE EHLERS, 2013). García-Peñas, Domíngues-Carral
PERIÓDICOS CAPES com as palavras- chave: & Pereira- Benzila (2012) destacaram que Shank3
GENETIC AUTISM e FRAGILE- X. está intimamente relacionada com a
sinaptogênese, estabilidade das sinapses,
maturação das espinhas dendríticas, estabilidade
3. FAMÍLIA DE PROTEÍNAS SHANK dos receptores de glutamato e indução de
As proteínas da família Shank (shank 1,
espinhas dendríticas funcionais. Não se sabe ainda
shank 2 e shank 3) são “proteínas andaimes” que
se todas essas interações proteína- shank 3
se organizam em um complexo de sinalização
/proteína ocorrem in vivo e a função exata dessas
associado ao citoesqueleto na densidade pós-
interações continua sendo investigada (JIANG,
sináptica (DPS) de quase todas as sinapses
2013; EHLERS, 2013).
glutamatérgicas excitatórias no cérebro de
mamíferos (GRABRUCKER et al., 2011;
3.1 Tipos de Mutações que Podem Ocorrer
GUNDELFINGER et al., 2006; KREIENKAMP,
2008; SHENG ,2000; KIM, 2000 apud JIANG, 2013;
no Gene SHANK
Estudos têm mostrado vários tipos de
EHLERS, 2013 ). Estudos em camundongos, que
defeitos moleculares identificados em SHANK3
analisam os efeitos de diferentes mutações nesta
em mais de 1000 pacientes com TEA (JIANG,
família de proteínas, como o desenvolvido por
2013; EHLERS, 2013). Dentre eles, incluem deleção
Jiang & Ehlers (2013) vêm demostrando uma forte
da região 22q13.3 e cromossomo em anel,
associação com o fenótipo autístico. Arons et al.
microdeleção, detectada pelo método array,
(2012) ressaltaram que tais mutações estavam
microduplicação, translocações, pequenas
sendo cada dia mais implicadas na patogênese do
deleções intragênicas e mutações pontuais
autismo.
(JEFFRIES et al., 2005; WILSON et al., 2003 apud
Mutações em SHANK 3 foram descobertas
JIANG, 2013; EHLERS, 2013; BOCCUTO et al.,
primeiro e continuam sendo as mutações que
2013; DHAR et al., 2010 apud JIANG, 2013;
melhor caracterizam o TEA em relação a família
EHLERS, 2013; OKAMOTO et al., 2007 apud
SHANK (DURAND et al., 2007; BERKEL et al.,
JIANG, 2013; EHLERS, 2013; BONAGLIA et al.,
2010; BERKEL et al., 2012; SATO et al., 2012 apud
2011 apud JIANG, 2013; EHLERS, 2013; DURAND
JIANG, 2013; EHLERS,2013). Jiang & Ehlers (2013)
et al., 2007; MOESSNER et al., 2007 apud JIANG,
demonstraram que o SHANK3 é um dos
2013; EHLERS, 2013).
principais genes conhecidos implicados na
É bem conhecida a associação de TEA com
etiologia do TEA.
a deleção da região 22q13.3 do gene SHANK3
SHANK3 é um gene localizado no
designada como síndrome de Phelan-MC Dermid
cromossomo 22q13.3, que codifica a proteína
(GARCÍA–PEÑAS, 2012; DOMÍNGUEZ-CARRAL
Shank3, a qual funciona como proteína da área de
,2012; PEREIRA-BENZANILLA, 2012). O estudo
densidade pós-sináptica e atua regulando e
de Wilson et al. apud Jiang & Ehlers (2013)
interagindo com outras proteínas incluindo
corrobora mostrando que SHANK3 mapeia uma
proteínas receptoras, de canais iônicos, do
região crítica da Síndrome de Phelen-McDemid, e
de acordo com Phelan apud Jiang & Ehlers (2013) o Peñas, Domínguez-Carral & Pereira- Benzanilla
comportamento autístico é uma das características (2012) destacam que a família de proteínas Shank
clínicas principais dessa Síndrome. conecta receptores, principalmente os de
Curiosamente, microdeleção em SHANK1 glutamato com o citoesqueleto de actina e da via
só é penetrante em homens com TEA leve, em de transcrição ligada à proteína G.
famílias já estudadas (SATO et al., 2012 apud De acordo com Guyton & Hall (2011), o
JIANG, 2013; EHLERS ,2013). A base molecular glutamato é secretado por terminais pré-
para penetrância específica de gênero relacionada sinápticos, em muitas vias sensoriais aferentes,
à microdeleção em SHANK1 não é imediatamente assim como em muitas áreas do córtex cerebral, e
clara, mas pode ser uma oportunidade para seu efeito, provavelmente, quase sempre é
investigar os mecanismos subjacentes de risco excitatório, sabendo isso e conhecendo o papel das
específico do sexo masculino maior para TEA proteínas Shank em perpetuar o glutamato e seus
(JIANG, 2013; EHLERS, 2013). efeitos por meio do terminal pós-sináptico fica
Microduplicações de SHANK3 foram fácil compreender que se houver alguma
relatadas em crianças com atraso de anormalidade em SHANK haverá uma perda, por
desenvolvimento, sugerindo que a dosagem do consequência, nas sinapses glutamatérgicas, isso
gene SHANK3 afeta a função cerebral. Mais deixa claro que o sistema SHANK- glutamato
recentemente, mutações pontuais de SHANK2 e desempenha um papel importante na
deleções de SHANK1 e SHANK2 têm sido patofisiologia do autismo como sugeriu Cordeiro
encontradas em pacientes com TEA e deficiência & Vallada (2005).
intelectual (OKAMOTO et al., 2007 apud JIANG, Sabe-se que em camundongos, uma
2013; EHLERS, 2013; BERKEL et al., 2010; hipoglutamatergia simula o comportamento
LEBLOND et al., 2012; O'ROAK et al., 2012., autístico (CORDEIRO, 2005; VALLADA, 2005).
PINTO et al., 2010; SATO et al., 2012 apud JIANG,
2013; EHLERS 2013). De acordo com Jiang &
Ehlers (2013), o número de casos com mutações
em SHANK2 ainda é pequeno quando
comparados com mutações em SHANK 3, mas
estudos continuam buscando por distúrbios nesse
gene com relação ao TEA.
(SEBAT et al., 2007; MARSHAL et al., 2008; paterna, maior a ocorrência das mutações. No
CHRISTIAN et al., 2008; QIAO et al., 2009; PINTO processo de sequenciamento, a idade materna foi
et al., 2010; ITSARA et al., 2010; GIRIRAJAN et al., correlacionada com a do pai e, também estava
2010, BREMER et al., 2011 apud RIBEIRO,2013). associada ao número de mutações. No entanto,
Lee et al. apud Ribeiro (2013) propôs que quando a idade paterna e materna foi analisada
alterações de novo ou herdadas de um genitor em conjunto, a idade do pai manteve-se altamente
afetado são mais prováveis de serem patogênicas, significante, o que não ocorreu com a idade
entretanto, não se pode afirmar que alterações materna (RIBAS, 2013; CUNHA, 2013). Kong et al.
herdadas de genitores saudáveis não estejam (2012) demonstram que recombinações gênicas
contribuindo para a manifestação de um fenótipo, são maiores em mulheres do que em homens, e os
uma vez que essas podem ter penetrância filhos de mães com idade mais avançada têm mais
incompleta (DELIN, 2012; SCHERER, 2012 apud recombinações em cromossomos de origem
RIBEIRO, 2013). materna do que os de mães jovens. No entanto, os
VNC’s podem englobar todo ou parte de homens transmitem um número muito maior de
um gene, ou vários genes e, ainda, elementos mutações para seus filhos do que as mulheres.
regulatórios. Assim, muitas dessas variações Além disso, é a idade do pai o fator dominante na
podem estar envolvidas na etiologia de doenças determinação do número de novas mutações na
por mecanismo de dosagem gênica ou da criança.
formação de produtos gênicos errôneos devido à O material genético do grupo analisado foi
ruptura de sequências codificantes composto por 78 filhos probandos: 44
(MERIKANGAS et al., 2009; STANKIEWICZ, 2010; apresentaram transtorno autístico, 21
LUPSKI, 2010 apud RIBEIRO, 2013). Entretanto, esquizofrênicos e 13 incluídos por apresentarem
estima-se que 12% a 15% do genoma humano indivíduos portadores dessas patologias em várias
variem significantemente em número de cópias e gerações anteriores (RIBAS, 2013; CUNHA, 2013).
muitas dessas variações, presentes em indivíduos Os pesquisadores concluíram que quando a idade
aparentemente saudáveis, abrangem um ou mais do pai ultrapassa os 30 anos, a taxa de mutações
genes (CARTER et al., 2007 apud RIBEIRO, 2013). de novo aumenta proporcionalmente. Salientaram
Portanto, ainda não se conhece a razão para que essa mutação é determinada pela idade
algumas alterações apresentarem efeitos paterna no momento da concepção da criança, e
fenotípicos e outras não, sendo a interpretação do sofre um aumento de aproximadamente duas
significado clínico de uma VNC um grande chances de ocorrência a cada ano completado pelo
desafio (RIBEIRO, 2013). Delven & Scherer apud pai. Tal modelo exponencial estima que as
Ribeiro (2013) evidenciaram a penetrância mutações paternas dobrem a cada 16,5 anos
incompleta de VNC’s e ressaltaram que cerca de (RIBAS, 2013; CUNHA, 2013).
40% das VNC’s detectadas em indivíduos autistas
são herdadas de pais saudáveis. 4.2 Fatores Ambientais e a Ocorrência de
Mutações de novo
4.1 Pais com idade mais avançada e a Segundo Geschwind (2008), a idade
ocorrência de Mutações de Novo paterna está associada com o aumento de
Mutações de novo podem ser particular- mutações pontuais nas células da linhagem
mente acentuadas nos filhos de pais mais velhos germinativa masculina, e as condições genéticas
(GESCHWIND, 2008). No estudo realizado por complexas (como aquelas causadas por fatores
Kong et al. (2012) se concluiu que a idade ambientais) associadas com o aumento da idade
avançada do pai é um fator causal de novas paterna podem contribuir para uma porcentagem
mutações associadas a quadros de autismo. maior de novas mutações. De acordo com
Foram sequenciados 78 tríades (mãe, pai e filho) e Geschwind (2008), dados de estudos que associam
os pesquisadores observaram que a incidência de a idade paterna com a ocorrência de novas
mutação genética aumentava de acordo com a mutações sugerem um dos muitos mecanismos
idade do pai, ou seja, quanto maior a idade potenciais pelos quais fatores ambientais podem
com base em certas características de linguagem Moraes (2014), propõe que a região 7q31.7,
(GUPTA, 2006; STATE, 2006). pode estar implicada no TEA. Nesta região
O cromossomo 7q é a região mais encontra-se o gene MET, o qual é importante para
frequentemente implicada nos estudos genômicos o desenvolvimento do cérebro, em especial o
e TEA (GUPTA, 2006; STATE, 2006). Gardia, neocórtex e cerebelo. Ao que parece, uma variante
Tuchman & Rotta (2004) citam que em 1998 o genética interrompe a transcrição de MET, o que
Consórcio Internacional para o Estudo da por sua vez aumenta a probabilidade de
Genética Molecular do Autismo encontrou incidência de TEA (CAMPBELL, 2006;
evidências de suscetibilidade no braço longo do SUTCLIFFE, 2006; EBERT, 2006; MILITERNI,
cromossomo 7 em uma região previamente 2006; BRAVACCIO, 2006; TRILLO, 2006; LEVITT,
associada a um distúrbio familiar severo de 2006 apud MORAES, 2014).
linguagem, mas somente em um subgrupo de 56 Recentemente, os resultados mais
famílias do Reino Unido. O gene responsável por animadores foram relatados em relação ao gene
esse transtorno severo de linguagem foi EN2 codificado pela região 7q36.3. Este gene é
identificado como um fator de transcrição fundamental para o desenvolvimento do
putativo (FOXP2) (GARDIA, 2004; TUCHMAN, mesencéfalo e do cerebelo (BENAYED, 2005;
2004; ROTTA, 2004). Esse gene está localizado na GHARANI, 2005; ROSSMAN, 2005; MANCUSO,
região 7q31.7 ; é expresso no cérebro fetal e 2005 LAZAR, 2005 KAMDAR, 2005; MILLONIG,
adulto, ocupando importante papel no cérebro e 2005 apud MORAES, 2014). Ele atraiu a atenção
também em outros órgãos como pulmão e pelo fato de que as anormalidades do cerebelo
intestinos (WASSINK, 2002 Apud MORAES, 2014). encontram-se entre os achados mais consistentes
Wassink apud Moraes (2014) acrescenta que o dos estudos patológicos e de neuroimagem em
FOXP2 é necessário para o desenvolvimento pleno TEA. Camundongos que expressam o EN2
da linguagem e da fala de tal forma que durante a mutante ou falta da proteína exibem uma
embriogênese uma cascata de acontecimentos patologia cerebelar similar aos achados pós-morte
biológicos pode ocorrer relacionada a este gene e em algumas amostras de TEA e de acordo com
afetar o desenvolvimento da linguagem e a Moraes (2014), apresentam menor número de
incidência de TEA células de Purkinje. Seu locus cromossômico
Outro gene localizado no cromossomo 7 também tem sido um foco de atenção com base
com uma possível associação com o autismo é o nos estudos de ligação genética. Portanto, o EN2 é
gene que codifica a reelina (RELN), localizado na tanto um gene candidato funcional quanto
região 7q22.7. A reelina é uma proteína posicional (GUPTA, 2006; STATE, 2006).
encontrada principalmente no cérebro e que Carvalheira, Vergani & Brunoni (2004)
desempenha importante papel em seu acrescentaram que a maioria dos trabalhos
desenvolvimento (GARDIA, 2004; TUCHMAN, convergia para a região 7q22-q33. Na região 7q22,
2004; ROTTA, 2004; MORAES, 2014; o gene RELN, que codifica uma glicoproteína
ABDOLMALEKY, 2005; CHENG, 2005; RUSSO, amplamente secretada na migração neuronal,
2005; SMITH, 2005; FARAONE, 2005; WILCOX, pode apresentar alterações que afetam o
2005; TSUANG, 2005 apud MORAES, 2014). Tal desenvolvimento cortical e cerebelar
proteína atua como guia para a migração neuronal (CARVALHEIRA, 2004; VERGANI, 2004;
durante o desenvolvimento cerebral, BRUNONI, 2004).
principalmente do córtex cerebral, do cerebelo, do As anormalidades no cromossomo 7q
hipocampo e do tronco cerebral (GARDIA, 2004; foram encontradas em numerosos casos de TEA.
TUCHMAN, 2004; ROTTA, 2004). Abdolmaleky, A combinação de dados de ligação genética, a
Cheng, Smith, Faraone, Wilcox & Tsung apud presença de loci relacionados à linguagem e o fato
Moraes (2014), destacam que este gene é de que múltiplos genes candidatos intrigantes são
candidato à associação com o autismo e também mapeados nesse intervalo têm atraído
com uma série de distúrbios psicobiológicos. considerável interesse de pesquisadores do
autismo. Estudos demonstraram que uma
pesquisadores sua ausência em autistas pode estar CARVALHEIRA, Gianna; VERGANI, Naja;
envolvida com a repetição de movimentos. BRUNONI; Décio. Genética do Autismo. Revista
Os cromossomos 7 e 2 são os cromossomos Brasileira de Psiquiatria, v. 26, n.4, pub. 270-2,
com uma maior relação com o autismo, segundo 2004.
alguns estudos, provavelmente envolvidos nas
CORDEIRO, Quirino; VALLADA, Homero.
dificuldades de linguagem.
Cartas aos Editores: Genetics of Autism. Revista
Mutações de novo vêm sendo muito
Brasileira de Psiquiatria, v. 27, n.7, pub. 254-8,
estudadas nos últimos anos e estão fortemente
2005. Carta.
associadas ao TEA. Essas mutações acontecem
nos filhos de pais que não apresentam nenhum FLEISCHER, Soraya. Mana: Estudos de
traço autistíco, o que leva os pesquisadores a Antropologia Social. Rio de Janeiro: 2012. Resenha
chamar os filhos de reservatórios para estas de: GRINKER, Roy Richard. 2010. Autismo: um
mutações. Uma explicação para a ocorrência mundo obscuro e conturbado. Tradução de
dessas mutações é que à medida com que os pais Catharina Pinheiro. São Paulo: Larrousse do
envelhecem, acumulam mutações nas células da Brasil. 320pp.
linhagem germinativa que são passadas para o FRANÇA, Diurianne Caroline Campos et al.
embrião no ato da concepção, no entanto, SÍNDROME DO X FRÁGIL: Relato de Caso.
mutações na linhagem germinativa masculina têm Revista Faipe, v.1, n.1, 2011.
uma maior penetrância.
A Síndrome do Cromossomo X-frágil está GARCÍA-PEÑAS, Juan José; DOMÍNGUEZ-
associada ao comportamento autístico, de acordo CARRAL, Jana; PEREIRA- BEZANILLA, Elena.
com alguns autores, e trata-se de uma repetição Alteraciones de la sinaptogénesis em el autismo.
exagerada de um grupo de bases nitrogenadas Implicaciones etiopatogénicas y terapêuticas.
presentes no cromossomo X, essa repetição leva a Revista Neurol, v.54, 2012.
uma hipermetilação que impede a formação de GARDIA, Carlos A.; TUCHMAN, Roberto;
uma proteína essencial para a manutenção do ROTTA, Newra T. Autismo e Doenças Invasivas
sistema nervoso. É importante que em casos de do Desenvolvimento. Jornal de Pediatria, v.80, n.
TEA se investigue a ocorrência da Síndrome do 2, 2004.
Cromossomo X-frágil, pois essa tem uma
incidência considerável nestes casos. GESCHWIND, Daniel H. Autism: Many Genes,
Common Pathways?. Cell, v.35, n. 3, pub. 391-395,
2008.
8. REFERÊNCIAS GUPTA, Abha R., STATE, Matthew W. Autismo:
ARONS, Magali H. et al. Autism-Associated Genética. Revista Brasileira de Psiquiatria, v.28,
Mutations in Pro SAP2/Shank 3 Impair Synaptic 2006.
Transmission and Neurexin- Neuroligin-
GUYTON, Arthur C.; HALL, John E. Tratado de
Mediated Transsynaptic Signaling. The Journal of
Fisiologia Médica. Rio de Janeiro: Elsiever, 2011.
Neuroscience, v. 32, n.43, pub. 14966-14978, 2012.
1151 p.
BARRA, Flora de la et al. Gemelas com autismo y
HELSMOORTEL, Céline et al. A SWI/ SNF-
retardo mental associado a translocacion
related autismo syndrome caused by de novo
cromossômica balanceada ( 7;20). Revista Chilena
mutations in ADNP. Nature Genetics, v.46, 2014.
de Pediatria, v. 57, n.6, pub. 549-554, 1986.
JIANG, Yong-hui; EHLERS, Michael D. Modeling
BOY, Raquel et al. SÍNDROME DO X FRÁGIL:
Autism by SHANK Gene Mutations in Mice.
Estudo caso-controle envolvendo pacientes pré e
Neuron, v. 78, 2013.
pós-puberais com diagnóstico confirmado por
análise molecular. Arquivo de Neuropsiquiatria, KONG, Augustine et al. Rate of de novo mutations,
v.50, n.1, 2001. father’s age, and disease risk. Nature, v. 488, n.
7412, pub. 11396, 2012.