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EDUCAÇÃO BURGUESA

Marcos Evaldt de Barros


Prof. Andrea Witt
Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI
Licenciatura em História (HID 0236) – Prática do Módulo I
20/06/2012

RESUMO

Para entendermos o termo “educação burguesa”, é necessário sabermos em que contexto histórico a
mesma se desenvolve. Ela cresce paralelamente com mudanças ocorridas na Europa a partir do final do
século XVIII, mais precisamente com as revoluções burguesas. Essas revoluções mudaram
significativamente a estrutura educacional do mundo moderno, separando inclusive a Igreja e o Estado.
Outra questão importante é que essas revoluções burguesas se opuseram à ordem do Antigo Regime, que
possuía uma política mercantilista e Estado Absolutista. Em outras palavras, a educação burguesa
estava imbricada ao advento do capitalismo industrial, que com sua consequente transformação nos
modos de produção, fez surgir escolas tecnicistas, destinadas a dar importância aos conteúdos técnicos
e científicos, pois agora as fábricas exigiam operários qualificados.

Palavras-chave: Educação burguesa. Revoluções. Século XVIII.

1 INTRODUÇÃO

No presente trabalho analisaremos os rumos tomados pela educação burguesa, desde o seu
surgimento. Veremos como essa educação foi impulsionada por acontecimentos históricos ocorridos no
século XVIII e como ela foi adaptada à sociedade. Apontaremos os fatores positivos e negativos e os
relacionaremos aos dias atuais.
Procura-se com isso entender de que modo o contexto histórico influenciou a educação, e também
de que modo a educação da época influenciou nos fatos históricos. E é a partir dessa questão que
partiremos em busca das respostas para esse trabalho. Busca-se entender o que gerou as revoluções, o que
indignou os revoltados, etc. Apontaremos os traços marcantes da educação que possibilitaram a ascensão
da política e da economia burguesa.
Todo o embasamento da pesquisa está relacionado a fontes confiáveis, procuradas na Internet e
em livros de pensadores famosos, como por exemplo Voltaire e Rousseau. As etapas principais do
trabalho compreendem a contextualização histórica da educação burguesa, com os fatos que a
impulsionaram, o conteúdo da educação burguesa e as análises críticas dessa educação.
2 O CONTEXTO HISTÓRICO PRÉ-EDUCAÇÃO BURGUESA: ANTIGO REGIME

Caracterizaremos agora um estágio da História Mundial que servirá de trampolim para


adentrarmos de cabeça em nosso assunto principal, que é a Educação Burguesa. O quadro pré-educação
burguesa nada mais é do que o período denominado pelos historiadores como Antigo Regime, que vai do
século XVI ao XVIII, ou seja, compreende a Idade Moderna. Esse período caracteriza-se por uma política
mercantilista, de sociedade estamental, cujo regime é absolutista.

2.1 MERCANTILISMO E SOCIEDADE ESTAMENTAL

O mercantilismo caracteriza-se por uma forte intervenção do Estado na economia, que teve como
objetivo unificar o mercado interno, “era o conjunto de ideias econômicas que considerava a riqueza do
Estado baseada na quantidade de capital que teriam guardado em seus cofres”. (HUNT, 1989).
A sociedade estamental é melhor caracterizada pelas seguintes palavras:

A sociedade do Antigo regime era, portanto, uma sociedade organizada em ordens ou estados,
também chamados estamentos, juridicamente desiguais entre si, possuindo cada ordem uma
condição e estatuto particular. Desta perspectiva, pode-se afirmar com segurança que, muito
embora a Idade Média estivesse morta o feudalismo continuava vivo. (FLORENZANO,
1983, p.17).

2.2 ESTADO ABSOLUTISTA

Sobre o Estado absolutista temos:

Historicamente, o absolutismo remete a um determinado tipo de regime político que, em geral,


predominou na Europa entre os séculos 16 e 18. Sua consolidação coincidiu com o fim do
período medieval e o início da modernidade, sendo, assim, expressão política de um novo
modelo de Estado que surgia naquele momento de transição: o Estado Absolutista. A esse novo
tipo de estado correspondeu também uma forma inovadora de monarquia: a Monarquia
Absolutista [...] Afirmar que um dado regime era absolutista é o mesmo que dizer que se tratava
de uma monarquia em que o rei detinha poderes ilimitados, absolutos. Contudo, não se deve
confundir absolutismo com despotismo. Embora o conteúdo político de ambos seja o mesmo
(isso é, o governante tem poderes ilimitados), apenas o absolutismo possui justificativas
teóricas, formuladas à época de sua emergência, que o legitimam política e historicamente.
(ANGELO, 2012).

Portanto, política e economicamente, podemos ter a ideia de que esse período possuía uma
política centralizada no poder do Rei, mas ao mesmo tempo e contraditoriamente, a sociedade não
possuia a ideia de nacionalismo, com uma desorganização na circulação da riqueza. Notemos também a
ênfase no poder do Rei, esse ilimitado, onde o modo de governo monárquico dava-o poderes total nas
questões políticas e econômicas.
Relacionado à educação, esse período caracterizou-se pelos ensinamentos protestantes e católicos,
com esses últimos sendo inicialmente pregados pelos jesuítas. Ou seja, é marcado também pela Reforma
e a Contra-reforma. Em ambos os casos não houve uma profunda mudança educacional relativa a uma
busca de estudos que não visasse somente áreas humanas.

3 AS REVOLUÇÕES E O SURGIMENTO DAS ESCOLAS BURGUESAS

Até o final do século XVIII, o modelo absolutista e semi-feudal instaurado após o Renascimento,
com o advento da Idade Moderna, reinava sobre as sociedades européias desenvolvidas da época.
Contudo, a 3° classe estava em ascensão e acumulava riquezas com uma velocidade enorme. Essa classe
chamava-se burguesia. E com ela surgiria futuramente o tão famoso e atual capitalismo. Mas essas
mudanças, que também afetaram a educação, não vieram de uma hora para outra, vieram através de lutas
de classes, as chamadas revoluções. As que mais influenciaram os aspectos culturais, políticos e
econômicos foram a Revolução Francesa, a Americana e a Industrial.
Mas quais os objetivos comuns a essas revoluções? O que pretendiam instaurar? O que
pretendiam derrubar? Bem, a Revolução Francesa instaurou na França, em 1789, os 3 poderes
(Legislativo, Executivo e Judiciário), mas não sem antes uma luta intensa do 3° Estado com os outros
dois. Essa revolução resume-se na inquietação burguesa devido ao sentimento de que estavam sendo
prejudicados economicamente. O final dessa história traz consigo um final feliz, digamos assim, para os
burgueses, que tomam o poder da França, com a Queda da Bastilha, em 1789.
A revolução americana, que deságua na Independência dos Estados Unidos, traz em seu conteúdo
outra luta de classes: as classes da elite contra os que se acharam desfavorecidos, nesse caso os colonos.
Esses últimos, comandados por George Washington, venceram a luta de classes em 4 de julho de 1776.
Já a revolução industrial – aqui falamos na primeira- que ocorreu no final do século XVII na
Inglaterra, talvez não tenha em seu núcleo uma luta armada, uma luta corporal, mas sim o seguinte:

O sentido que usamos neste caso é o de revolução como uma transformação profunda, uma
mudança muito grande, uma ruptura com o que havia anteriormente. Ao falarmos, então, de
uma "revolução industrial", estamos falando numa modificação drástica no modo de fabricação
dos produtos consumidos pelo homem. (MACHADO, 2012)
Portanto, ao analisarmos essas três revoluções, concluiremos que todas elas remetem ao
capitalismo, ou ao seu surgimento. Remetem também, no caso das duas primeiras, a mudanças de
governo, onde o poder do mesmo passa a ser exercido por uma outra classe, que obteve a ascensão: a
burguesia, primeiro caso, e os colonos no segundo caso. E de modo geral todas afetarão os modos de
produção, mais enfatizado na revolução industrial, que gera uma mudança violenta nas fábricas. Isso tudo
acarreta na necessidade de uma mão-de-obra especializada, que saiba lidar com as máquinas, que saiba os
atalhos do alto rendimento da produção. Isso só é possível com a criação de escolas que visem formar
alunos prontos para esse novo mundo. Essas seriam as Escolas Burguesas.

4 CARACTERÍSTICAS E OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO BURGUESA

Sabemos então que ao final do século XVII o mundo conheceria um novo modo de se
administrar, governar e produzir, isso tudo agora nas mãos dos burgueses. Havia os que não gostavam,
como o das classes opositoras, é claro, e havia também os que apoiavam, como o das classes vencedoras
e inclusive alguns pensadores da época, como por exemplo Voltaire, que segundo alguns historiadores
ensaiou a revolução francesa. Note nas entrelinhas a indireta de Voltaire (2007, p. 40) voltada à
importância da classe burguesa:

[...] Não sei, entretanto, quem é mais útil a um Estado, um senhor bem empoado, que sabe
precisamente a que horas o rei se levanta, a que horas se deita e que se dá ares de grandeza
exercendo o papel de escravo na antecâmara de um ministro, ou um negociante, que enriquece
seu país, dá ordens a Surat ou ao Cairo de seu gabinete e contribui para a felicidade do mundo.

Com relação à educação burguesa, essa concentrou-se agora nas mãos do Estado, com obrigação
de estudo e gratuidade do ensino elementar, cujo objetivo do aprendizado voltava-se para as áreas
científicas, técnicas e de ofícios, não mais privilegiando o estudo apenas humanístico. (TAFNER, 2011).
Podemos entender melhor a educação burguesa com a seguinte passagem:

[...] uma vez consolidado o poder burguês em diversas esferas da vida mundana, ele conduz,
seja em parceria ou como protagonista, o poder político e econômico de seus países, a vida dos
indivíduos. Desta forma, a educação, em seus diversos níveis, do elementar ao superior, foi
reordenada dentro dos ditames e parâmetros dos novos donos do poder. ( TAFNER, 2011, p.
114).
Portanto, uma vez instaurado o sistema burguês de sociedade, essa precisaria adequar-se ao
sistema vigente, inclusive na educação, que “criaria” seres humanos aptos a fazer crescer ainda mais essa
nova máquina política, econômica e social, que tem reflexos até nos dias atuais.
Percebemos então que a educação burguesa resume-se em educar os filhos para que esses
fizessem parte da política e também se apropriassem dos negócios. Com esse objetivo alcançado, através
da escola tecnicista, que visava também o ofício, a produção e a distribuição de mercadorias sofreram
mudanças enormes e as relações comerciais se espalharam por todo o Globo Terrestre, ou seja, chegava a
globalização. Chegava firme também o capitalismo, a produção em larga escala, os grandes estoques, etc.
(OLIVEIRA, 2007).
Nota-se então a grande bola de neve que foi se criando conforme a necessidade da burguesia, que
estava no poder dos principais Estados europeus em meados do século XIX, e tudo isso também é devido
às mudanças educacionais ocorridas na mesma época.

5 CONTRARIEDADES À EDUCAÇÃO BURGUESA

Cabe a nós analisarmos todos os rumos traçados desse estilo de educação, recebida pelos nossos
antepassados e repassada até hoje, percebida nos resquícios capitalistas. Esse modo capitalista de se
enxergar o mundo, essa visão fabril instaurada no fim do século XVIII é passível de elogios como
também é passível de críticas. Muitas são as palavras de contrariedade a esse estilo de sociedade, que
formou seres humanos nas escolas conforme a sua necessidade fora delas.
Ai vai uma ideia negativa da educação burguesa:

Bem, para simplificar um pouco as coisas….educação burguesa é uma teoria baseada


principalmente em livros de um sociólogo francês chamado Pierre Bordieu que diz que tudo…
absolutamente tudo o que se aprende nas escolas e nas universidades serve para mantar a
situação social e não deixar que os explorados percebam que estão sendo explorados pelos
ricos….Então a escola só ensinaria coisas burguesas que incluiria por exemplo a religião, a
cultura, a arte… (CARVALHO, 2009).

É, nem tudo são flores. Como vemos, há pessoas que criticam duramente esse sistema, como é o
caso Bordieu citado acima. Para esses críticos a educação burguesa vendava os olhos das pessoas
exploradas e privilegiava somente os ricos, que não deixavam vir à tona os sinais da exploração. Diria
que até nos dias atuais a coisa funciona mais ou menos desse jeito.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, podemos concluir que não conseguiremos entender integralmente a educação burguesa
se não entendermos primeiramente o contexto histórico em que essa está situada. Entendemos então que
todos os processos relacionados a essa educação se iniciam com as revoluções burguesas ocorridas no
século XVIII, sendo as mais importantes a Revolução Industrial, a Americana e a Francesa.
Em suas características principais podemos observar que a educação burguesa concentrou-se nas
mãos do Estado, com obrigação de estudo e gratuidade do ensino elementar, cujo objetivo do
aprendizado voltava-se para as áreas científicas, técnicas e de ofícios, não mais privilegiando o estudo
apenas humanístico. Ou seja, ai surgia a escola tecnicista, que deveria atender a demanda de mão-de-obra
nas fábricas do capitalismo, que começava a nascer de fato, abandonando de vez a ordem do Antigo
Regime, que possuía uma política mercantilista e Estado Absolutista.
Portanto, a educação burguesa foi um modo de os filhos dos burgueses aprenderem, na própria
escola, a lidar com os negócios e a aprender os caminhos da política vigente.

REFERÊNCIAS

VOLTAIRE. Cartas Filosóficas. Tradução Márcia Valéria Martinez de Aguiar; revisão da tradução
Andréa Stahel M. da Silva. – São Paulo: Martins Fontes, 2007. – (Voltaire vive)
TAFNER, Elisabeth Penzlien. Metodologia do Trabalho Acadêmico/Elisabeth Penzlien Tafner e
Everaldo da Silva. Indaial: UNIASSELVI, 2011.

HUNT, E. K. História do Pensamento Econômico. Rio de Janeiro: Campus, 1989. Disponível em:
<http://www.infoescola.com/economia/mercantilismo/>. Acesso em: 04 de Junho de 2012.

FLORENZANO, Modesto. O Antigo Regime. 1983, p.17. Disponível em:


<http://pt.shvoong.com/humanities/history/1695897-antigo-regime/>. Acesso em: 05 de Maio de 2012.

ANGELO, Vitor Amorim de. Absolutismo: Características e Princípios Teóricos. 2012. Disponível em:
<http://educacao.uol.com.br/historia/absolutismo-caracteristicas-e-principais-teoricos.jhtm>.
Acesso em: 04 de Junho de 2012.

OLIVEIRA, Paula Esteves. A Influência Burguesa Na Educação Moderna. 2007. Disponível em:
<http://www.sosestudante.com/diversos/a-influencia-burguesa-na-educacao-moderna.html> . Acesso em:
05 de Maio de 2012.

CARVALHO, Olavo de. Revista Combates Culturais. Publicação: 5 de agosto de 2009. Disponível
em: <http://revistacultura.blog.terra.com.br/2009/08/05/educacao-burguesa/>. Acesso em: 05 de Maio de
2012.

MACHADO, Fernanda. Revolução Industrial: Evolução Tecnológica Transforma as Relações Sociais.


2012. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/historia/revolucao-industrial-evolucao-tecnologica-
transforma-as-relacoes-sociais.jhtm>. Acesso em: 04 de Junho de 2012.

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