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Ciência Animal, 27 (2): 113-116, 2017 - Edição Especial (SIMPAVET)

INTOXICAÇÃO POR ALDICARB (CHUMBINHO)


UM UM FELINO – RELATO DE CASO
(Aldicarb(chumbinho) poisoning in a feline - Case report)

Lara de Albuquerque Araújo¹*, Lívia Maria Nascimento Rodrigues¹, Isabelle Lima


Rodrigues¹, Daniel de Araújo Viana², Luana Ledz Costa Vasconcelos Rocha¹, Lúcia de
Fátima Lopes dos Santos¹.

¹Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, Ceará, Brasil. ²PATHOVET
– Anatomia Patológica e Patologia Clínica Veterinária S/S LTDA, Fortaleza, Ceará, Brasil

ABSTRACT

Aldicarb its a carbamate popularly known as “chumbinho” a pesticide very popular in


Brazil, although his use is illegal because of your high toxicity. The poisoning by aldicarb
in dogs and cats can be criminal or accidental, being an emergency in Veterinary Medicine.
This study is a report of a clinic case of an accidental poisoning by aldicarb in a cat, that
dies two days after ingestion. The necropsy was made and the main finding was a
hemorrhagic catarrhal gastroenteritis with tiny gray granules,compatibles with carbamate.
The diagnosis was made based on the history and necropsy findings that suggests that the
cause of death was a respiratory failure.

Palavras-chave: intoxicação; carbamato; necropsia; felino


Key-words:poisoning; carbamate; necropsy; feline

INTRODUÇÃO
raticida doméstico (Xavier et al., 2007).
O aldicarb, um carbamato de alta
Esta substância inibe a enzima
toxicidade, que é vendido de forma
acetilcolinesterase presente nas sinapses
clandestina e usado ilegalmente como
colinérgicas, acarretando estimulação
*Endereço para correspondência:
lara.albuquerque@aluno.uece.br
excessiva dos receptores nicotínicos e (2mg/kg por via IV). Neste mesmo dia,
muscarínicos,por conta disso, o o animal apresentou uma melhora,
atendimento e diagnóstico precoce do mostrando-se estável e retornou para
animal é fundamental para aumentar casa com o acesso venoso, três horas
suas chances de sobrevida (SPINOSA et após ter recebido alta, este teve uma
al., 2008). O objetivo deste trabalho é piora e retornou para emergência onde
relatar um caso de intoxicação acidental permaneceu em internamento sendo
por aldicarb (chumbinho) em um felino. submetido a fluidoterapia na dose de
manutenção até vir a óbito por uma
parada respiratória dois dias após o
MATERIAL E MÉTODOS
ocorrido. Posteriormente, o cadáver foi
Um felino, fêmea, sem raça definida encaminhado para um laboratório de
(SRD), três anos de idade, castrada e patologia para realização da necropsia.
semidomiciliada apresentou
subitamente um quadro de êmese, RESULTADOS E DISCUSSÃO
hiperexcitabilidade, agressividade, Segundo Xavier (2007), é comum a
sialorreia, dispneia e posteriormente ocorrência de sialorréia, observada em
defecou-se e urinou-se. Segundo o tutor maior intensidade nos gatos, e tremores
esses sinais clínicos ocorreram após o musculares; segue-se a miose, micção
animal ter tido acesso às áreas comuns freqüente, diarréia, bradicardia, dor
do condomínio. Imediatamente o felino abdominal e êmese na intoxicação por
foi levado à emergência veterinária. O aldicarb, sendo esses sinais clínicos
animal foi sedado com diazepam semelhantes aos observados neste relato
(2mg/kg por via IM) para conter e de caso. Na necropsia, o animal
estabilizar o animal, logo em seguida apresentava bom estado nutricional. As
recebeu sulfato de atropina (0,5mg/kg mucosas oral e nasal mostravam-se
por via IM) e ranitidina (1mg/kg) por discretamente congestas. A pelagem
via SC. O animal foi submetido a sem ectoparasitos evidentes e
oxigenoterapia por máscara, além da, linfonodos superficiais não palpáveis.
realização de um acesso venoso, No exame interno, foi observado
fluidoterapia colocada a soro com congestão e edema encefálico e áreas de
Lactato de Ringer a uma taxa de 30 ml / hemorragia. No coração, havia dilatação
hora e administração de furosemida átrio-ventricular direita com áreas de

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hemorragia do miocárdio. Enquanto, o muscarínicos, causando edema,
pulmão se apresentava com edema congestão e degeneração hidrópica,
agudo, congestão e hemorragia principalmente, em pulmões e fígado
pulmonar, além da presença de (Calazans; Porto, 2015) resultados que
atelectasia e enfisema em focos. estão de acordo com os encontrados no
relato. A morte ocorre por parada
No fígado, existia uma acentuada
respiratória em virtude de
dilatação e congestão dos sinusóides
hipertonicidade os músculos
hepáticos, ocorrendo áreas de necrose e
respiratórios (Jericó et al., 2015).
degeneração hidrópica moderada dos
Assim, a necropsia sugeriu que a causa
hepatócitos e colestase intra e extra-
mortis foi por insuficiência respiratória
hepática.Ademais, havia múltiplas áreas
por suspeita de intoxicação exógena por
de infarto renal com extensa produção
aldicarb.A confirmação da suspeita é
fibrótica. Nefrite subaguda intersticial e
através do exame toxicológico
adjacente às áreas de infarto. Intensa
qualitativo do conteúdo estomacal.
degeneração cortical e cortico-medular
Segundo Jericó (2015), a cromatografia
renal com áreas múltiplas de
em camada delgada ou gasosa é um
hemorragia.
método capaz de identificar a presença
Havia gastroenterite catarral
de aldicarb. Entretanto, não foi
hemorrágica com grande quantidade de
realizada neste exame no presente
material necro-hemorrágico na luz onde
trabalho.
se observam partículas pequenas,
arredondadas e de cor prata,
CONCLUSÃO
compatíveis com chumbinho. Moderada
Concluímos que o histórico, sinais
congestão e edema da mucosa
clínicos e achados de necropsia sugerem
gastrointestinal. Focos de necrose e
que a causa mortis do animal foi
hemorragia. Foi observado congestão
insuficiência respiratória devido à
plurivisceral e inexistência de sinais de
intoxicação por chumbinho. Porém, a
traumatismo no cadáver.
confirmação do diagnóstico somente é
O Aldicarb exerce sua toxicidade por
possível por meio do exame
meio da inibição da atividade da
toxicológico.
acetilcolinesterase (carbamilação) e,
consequentemente, da estimulação
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
excessiva dos receptores nicotínicos e
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CALAZANS, S.M. PORTO, M.R.
Intoxicação por aldicarb (chumbinho)
em um cão. ICESP, p. 1-5, 2015

JERICÓ, M.M.; KOGIKA, M.M.;


ANDRADENETO, J.P. Tratado de
Medicina Interna de Cães e gatos. Rio
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SPINOSA, H.S. Toxicologia aplicada


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Paulo: Manole. 2008.p. 291-305.

XAVIER, F. G.; RIGHI, D. A.;


SPINOSA, H. S. Toxicologia do
Praguicida Aldicarb (“chumbinho”):
aspectos gerais, clínicos e terapêuticos
em cães e gatos. Ciência Rural, v.37,
Santa Maria, July/Aug, 2007.

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