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¹Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, Ceará, Brasil. ²PATHOVET
– Anatomia Patológica e Patologia Clínica Veterinária S/S LTDA, Fortaleza, Ceará, Brasil
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
raticida doméstico (Xavier et al., 2007).
O aldicarb, um carbamato de alta
Esta substância inibe a enzima
toxicidade, que é vendido de forma
acetilcolinesterase presente nas sinapses
clandestina e usado ilegalmente como
colinérgicas, acarretando estimulação
*Endereço para correspondência:
lara.albuquerque@aluno.uece.br
excessiva dos receptores nicotínicos e (2mg/kg por via IV). Neste mesmo dia,
muscarínicos,por conta disso, o o animal apresentou uma melhora,
atendimento e diagnóstico precoce do mostrando-se estável e retornou para
animal é fundamental para aumentar casa com o acesso venoso, três horas
suas chances de sobrevida (SPINOSA et após ter recebido alta, este teve uma
al., 2008). O objetivo deste trabalho é piora e retornou para emergência onde
relatar um caso de intoxicação acidental permaneceu em internamento sendo
por aldicarb (chumbinho) em um felino. submetido a fluidoterapia na dose de
manutenção até vir a óbito por uma
parada respiratória dois dias após o
MATERIAL E MÉTODOS
ocorrido. Posteriormente, o cadáver foi
Um felino, fêmea, sem raça definida encaminhado para um laboratório de
(SRD), três anos de idade, castrada e patologia para realização da necropsia.
semidomiciliada apresentou
subitamente um quadro de êmese, RESULTADOS E DISCUSSÃO
hiperexcitabilidade, agressividade, Segundo Xavier (2007), é comum a
sialorreia, dispneia e posteriormente ocorrência de sialorréia, observada em
defecou-se e urinou-se. Segundo o tutor maior intensidade nos gatos, e tremores
esses sinais clínicos ocorreram após o musculares; segue-se a miose, micção
animal ter tido acesso às áreas comuns freqüente, diarréia, bradicardia, dor
do condomínio. Imediatamente o felino abdominal e êmese na intoxicação por
foi levado à emergência veterinária. O aldicarb, sendo esses sinais clínicos
animal foi sedado com diazepam semelhantes aos observados neste relato
(2mg/kg por via IM) para conter e de caso. Na necropsia, o animal
estabilizar o animal, logo em seguida apresentava bom estado nutricional. As
recebeu sulfato de atropina (0,5mg/kg mucosas oral e nasal mostravam-se
por via IM) e ranitidina (1mg/kg) por discretamente congestas. A pelagem
via SC. O animal foi submetido a sem ectoparasitos evidentes e
oxigenoterapia por máscara, além da, linfonodos superficiais não palpáveis.
realização de um acesso venoso, No exame interno, foi observado
fluidoterapia colocada a soro com congestão e edema encefálico e áreas de
Lactato de Ringer a uma taxa de 30 ml / hemorragia. No coração, havia dilatação
hora e administração de furosemida átrio-ventricular direita com áreas de
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hemorragia do miocárdio. Enquanto, o muscarínicos, causando edema,
pulmão se apresentava com edema congestão e degeneração hidrópica,
agudo, congestão e hemorragia principalmente, em pulmões e fígado
pulmonar, além da presença de (Calazans; Porto, 2015) resultados que
atelectasia e enfisema em focos. estão de acordo com os encontrados no
relato. A morte ocorre por parada
No fígado, existia uma acentuada
respiratória em virtude de
dilatação e congestão dos sinusóides
hipertonicidade os músculos
hepáticos, ocorrendo áreas de necrose e
respiratórios (Jericó et al., 2015).
degeneração hidrópica moderada dos
Assim, a necropsia sugeriu que a causa
hepatócitos e colestase intra e extra-
mortis foi por insuficiência respiratória
hepática.Ademais, havia múltiplas áreas
por suspeita de intoxicação exógena por
de infarto renal com extensa produção
aldicarb.A confirmação da suspeita é
fibrótica. Nefrite subaguda intersticial e
através do exame toxicológico
adjacente às áreas de infarto. Intensa
qualitativo do conteúdo estomacal.
degeneração cortical e cortico-medular
Segundo Jericó (2015), a cromatografia
renal com áreas múltiplas de
em camada delgada ou gasosa é um
hemorragia.
método capaz de identificar a presença
Havia gastroenterite catarral
de aldicarb. Entretanto, não foi
hemorrágica com grande quantidade de
realizada neste exame no presente
material necro-hemorrágico na luz onde
trabalho.
se observam partículas pequenas,
arredondadas e de cor prata,
CONCLUSÃO
compatíveis com chumbinho. Moderada
Concluímos que o histórico, sinais
congestão e edema da mucosa
clínicos e achados de necropsia sugerem
gastrointestinal. Focos de necrose e
que a causa mortis do animal foi
hemorragia. Foi observado congestão
insuficiência respiratória devido à
plurivisceral e inexistência de sinais de
intoxicação por chumbinho. Porém, a
traumatismo no cadáver.
confirmação do diagnóstico somente é
O Aldicarb exerce sua toxicidade por
possível por meio do exame
meio da inibição da atividade da
toxicológico.
acetilcolinesterase (carbamilação) e,
consequentemente, da estimulação
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
excessiva dos receptores nicotínicos e
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CALAZANS, S.M. PORTO, M.R.
Intoxicação por aldicarb (chumbinho)
em um cão. ICESP, p. 1-5, 2015
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