Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ryngaert fala de sua intenção em promover, no contexto das oficinas teatrais, ficções que
tragam a reflexão acerca do sujeito, mais do que reproduzir simulacros e repetições que
seriam apenas a superfície do teatro.
A análise do fenômeno teatral é feita a partir do jogo, e no âmbito da formação o autor não
se fixa à representação teatral, atribuindo o mesmo estatuto à espectadores e atores.
"Joga-se para si, joga-e para os outros, joga-se diante dos outros. A ausência de um
desses elementos, ou sua hipertrofia, desequilibra o jogo.(Ryngaert, 2009, p. 33)"
"Por fim não tentarei excluir totalmente nossas práticas da campo da terapia, na medida
em que o jogo é uma atividade central dentro dela. (Ryngaert, 2009, p. 33)"
Jogo e Terapia
Ryngaert apreende de Winnicott que jogar é uma terapia em si e que é preciso admitir
que o jogo esta sempre a ponto de se transformar em alguma coisa assustadora.Fala
também da confusão que se faz, tenta-se tirar qualquer viés psicológico afetivo das
prática teatral sob pena de tornar-se psicodrama. O autor admite estar num espaço que
acessa a imaginação e os afetos, e que a vida emocional dos participantes tende a se
fazer mais presente no jogo do que problemas de ordem social.
Jogar é fazer
"O jogo facilita uma espécie de experimentação sem risco do real, na qual a criança se
envolve profundamente. (Ryngaert, 2009, p. 39)"
"O jogo coloca-se acima do teatro e acima da terapia, como uma experiência sensível
fundadora do desenvolvimento do individuo em sua relação com o mundo no âmago do
campo cultural (Ryngaert, 2009, p. 41)"
A CAPACIDADE DE JOGO
Os obstáculos ao jogo
As dificuldades descritas a seguir são tão perniciosas quanto mais alimentam a ilusão de
que há jogo quando há apenas um simulacro.
A inibição
Ryngaert aponta a paralisia como talvez a dificuldade mais comuns dos jogadores,
especialmente dos iniciantes. Seria a impossibilidade de suportar a angústia do olhar do
outro, ou de parecer ridículo ao próprio olhar. Ao mesmo tempo em que derrubar a
inibição é uma das funções do jogo, ela também impede que ele aconteça. São
apontadas como soluções possíveis jogos de interação que favoreçam as personalidades
mais reservadas. Às vezes a inibição pode aparecer em formas indiretas, adolescentes
podem afirmar que aquilo que se propõe é bobo, ou não serve para nada. Remetem à
loucura expressões gratuitas e sem objetivo.
A recusa da expressão pode traduzir falta de confiança em si, falta de confiança no grupo
ou falta de clareza sobre o que está em jogo.
Seja qual for a situação, Ryngaert aponta o fator tempo como essencial: “Deve ser
possível reservar a cada um o direito ao retraimento e ao silêncio, o direito a uma
expressão mínima, patamares que elavam à manifestação sem risco de julgamento ou de
condenação. (Ryngaert, 2009, p. 46)”
Diz ainda que para afastar a inibição inicial de maneira durável, os desafios deve ficar
claros, para que a abertura ao exterior tenha sentido para os participantes. “A capacidade
de jogo não é uma qualidade intrínseca que paira no ar. Ela se manifesta quando a
ocasião real permite representar para si diante dos outros, fora de qualquer noção de
prova ou exercício. (Ryngaert, 2009, p. 47)”
O mais difícil é tirar esse peso de prova ou exercício, porque o contexto da escola exige
que se coloque um objetivo a ser alcançado, uma noção precisa estar sendo desenvolvida
e vou ter que dizer dela quando está presente ou não, sem que isso tome conotação de
avaliação. E se há um jeito certo, os outros jeitos são errados. Muitas vezes o grupo tende
a reforçar essa conotação de avaliação, reproduzindo o modelo de educação que lhes foi
imposto a vida toda.
A extroversão
A negação do jogo
A autor afirma ainda que a capacidade de engajamento cresce conforme as razões para a
concentração no jogo são compreendidas. O jogo existe precisamente por esse estado
precário de tensão do jogador, como se ele estivesse completamente imerso, mas que
pode sair a qualquer momento daquela situação.
O savoir-faire limitado
Fala do quão limitador pode ser o fato de jogador reproduzir seus aprendizados técnicos ,
mostrando que sabe fazer teatro, de boa-fé, no entanto se retirando de qualquer
possibilidade de risco e reinvenção no jogo. Esse obstáculo tende a desaparecer com o
tempo e a expriência. Ryngaert afirma que do interior do jogo o indivíduo é capaz de
tomar consciência dessa dificuldade. “O jogo é um fenômeno precário, constantemente
ameaçado pela rotina e por múltiplos artifícios, e é indispensável tomar consciência
dessas ameaças. (Ryngaert, 2009, p. 52)”
A favor do jogo
Do mesmo modo, dizemos “que há jogo” quando numa improvisação e/ou numa
representação os jogadores, mesmo assumindo o que está previsto na encenação ou no
roteiro, dispõem de espaço suficiente entre as engrenagens para que a invenção e o
prazer possa penetrar, assim dando a impressão de de reinventar o movimento no próprio
em que o efetuam. (Ryngaert, 2009, p. 54)
O jogo pelo jogo não é ensinar teatro. É jogar as pessoas em um arena para que
desenvolvam capacidades testando-as. O jogo enquanto metodologia auto-suficiente é
vazio porque talvez os jogadores não tenham consciência do que está em jogo, de que
competências estão desenvolvendo...o jogo passa a ser medida de avaliação pelo
desempenho, mas sem a pessoa saber exatamente onde errou, o que devia ter feito...
esse vazio se confunde com a crença na inaptidão. Um professor entra na sala de aula,
propõe um jogo que exige as competências que ele quer desenvolver: é um parto à
fórceps. Deixa as coisas se resolverem por elas mesmas. Acontece que em uma turma de
uma escola, em um grupo, já há previamente muitas coisas em jogo, o papel que cada um
ocupa nesse grupo é o que virá à tona em primeiro lugar quando os alunos forem
colocados em uma situação de exposição, que em geral é tensa e gera muito mais
bloqueios do que a abertura que se espera.
O autor diz ainda que o jogo é um recurso contra rotinas, preconceitos e respostas
prontas para situações novas ou medos antigos.
Talvez a questão seja, que jogo em que situação? Há uma generalização do que seja
jogo, há infinitos...todos servem?
Acho que confusão maior se dá quando mistura-se a ideia de jogo de Ryngaert com a de
Viola Spolin, em que o jogo precisa além de acontecer, apesar de reconhecido pela autora
como algo bastante raro, precisa definir conceitos teatrais.
“O jogador é aquele que “se experimenta” multiplicando suas relações com o mundo.
Numa perspectiva de formação, a aptidão para o jogo é uma forma de abertura e de
capacidade para comunicar. Ela desenvolve a conscientização de novas situações e um
potencial de respostas múltiplas, ao invés de um recuo a terrenos familiares e da
aplicação sistemática de estruturas preexistentes.(Ryngaert, 2009, p. 61)
“O espírito de jogo, por sua vez, consiste em considerar toda nova experiência como
positiva, quaisquer que sejam os riscos a que ela nos expõe.” (Ryngaert, 2009, p. 61)
Logo o livro é a definição de um jogador ideal. Os alunos das escola não são jogadores
ideais. Nós professores não o somos. Isso é o espelho completo da filosofia da
representação, que estabelece modelos e desvalora as diferenças, logo exclui e
classifica.
E mira o poder empossado a esse professor, que só ele sabe que aptidões está buscando
desenvolver nos alunos, os alunos não o sabem...
Gosto quando Ryngaert diz que o jogador tem que ter espaço de escapar das propostas,
mas isso é difícil de aplicar no contexto escolar porque entendo que há uma necessidade
de engajamento de todos os participante, sob pena de a aula não acontecer. Um que sai,
ou que se nega já influencia outros dois ou três e desestabiliza a proposta. E em geral
quando alguém sai o faz sob protestos, acusando o professor, a proposta de chata, e
muitas vezes vai fazer algo que perturba o jogo que está em andamento. Posso tentar
fazer o aluo ficar me empoderando e dizendo que ele tem obrigação, posso procurar um
argumento que o encoraje...não sei o que fazer.
Para Viola Spolin a aprendizagem se dá pelo nível intuitivo, que se manifesta pela
espontaneidade. A espontaneidade se compõe de sete aspectos.
O intuitivo seria o mais vital para a aprendizagem. Tem-la como presente em momentos em que a
resposta certa vem “do nada”, e em situações limite, quando alguém transcende tudo o que lhe é
familiar em resposta a uma situação. Trata-se de um abertura para aprender, obtida em um
espaço além do plano intelectual.
O ensino se dá pelo processo de tornar as técnicas teatrais tão intuitivas que sejam apropriadas
pelos alunos.
O primeiro são os jogos, trazidos como uma “forma natural de grupo que propicia o envolvimento
e a liberdade pessoal necessários para a experiência”. “O objetivo no qual o jogador deve
constantemente concentrar e para o qual toda a ação deve ser dirigida provoca espontaneidade.
O segundo aspecto da espontaneidade é intitulado Aprovação/Desaprovação e enfatiza a
necessidade do sentimento de liberdade pessoal para ser possível jogar.
Afirma ser necessário ser parte do mundo e se busca com isso o contato direto com o
ambiente, que deve ser investigado aceito ou rejeitado. A liberdade pessoal para lidar com
o ambiente leva a adquirir autoconsciência e auto-expressão, que seria básica a todos
nós é necessária para a expressão teatral. (Mais quesitos e exigências)
Muito poucos de nós são capazes de estabelecer esse contato direto com a
realidade. Nosso mais simples movimento em relação ao ambiente é interrompido
pela necessidade de comentário ou interpretação favorável por uma autoridade
estabelecida. Tememos não ser aprovados, ou então aceitamos comentário e
interpretação de fora inquestionavelmente. Numa cultura onde
aprovação/desprovação tornou-se o regulador predominante dos esforços e da
posição, e frequentemente o substituto do amor, nossas liberdades pessoais são
dissipadas. (SPOLIN, 2006, p. 6)
Tenho que falar do POC...que é a esperança de que um foco concentrado colque o ego
em segundo plano, eliminado assim as dificuldades.
Viola afirma que ao desviar a competição para o esforço de grupo, libertamos o aluno ator
para confiar no esquema e o ajudamos a solucionar os problemas da atividade.
O ponto de concentração seria o problema dado ao aluno para resolver. A busca pela
solução ocupa a mente eliminando medos e resistências. Os problemas são solucionáveis
e estão fora do ator, com isso a solução de problema após problema vai gerando
confiança no esquema de trabalho.
Alguns resistem de de todas as maneira possíveis. Qualquer que seja a razão psicológica
para isso, ela aparecerá na recusa em aceitar responsabilidades grupais, nas brincadeira,
nas tentativas de criar estórias, piadas, avaliação imatura, falta de espontaneidade,
interpretação do trabalho de outros de maneira a tender o quadro de referência pessoal
etc. (Spolin, 2010, p. 23)
Para a autora esses sintomas, que nunca vi não aparecerem, denunciam quem não é
capaz de improvisar. Noção pobre de ser humano acabado que não pode se modificar e
prepotência por achar que as pessoas deviam ser adequadas ao método milagroso.
“É axiomático que o aluno que resiste em trabalhar com o POC nunca será capaz de
improvisar e será um eterno problema disciplinar.”
Essa frase pra mim desautoriza todo o método dela. Quem não se enquadrar no método
nunca vai aprender. O POC está acima das pessoas, elas devem dobrar-se a ele.