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1.

PSICODRAMA E JOGO DRAMÁTICO

O jogo dramático é uma técnica utilizada por Moreno no Psicodrama, a partir de sua
vivencia de infância observou o fenômeno da espontaneidade nas crianças, e que nos
adultos num ocorria por conta dos valores e regras sociais. Assim a utilização do jogo
dramático, visava utilizar do lúdico para favorecer a espontaneidade, resgatando assim a
criatividade.

Existem dois campos para os quais o psicodrama se volta, ao terapêutico e ao


aplicado, o jogo dramático consiste em o individuo por meio da representação de um
papel expressar livremente seu mundo interno favorecendo sua espontaneidade. O jogo
dramático, só é dramático quando existe então o compromisso de os indivíduos viverem
algo que os comova, buscando avaliar e desenvolver a espontaneidade e a criatividade
das pessoas, que permite uma resolução de conflitos que surgem a partir dos objetivos e
critérios estabelecidos pelo Diretor. Ou seja, o jogo dramático, tem tal denominação
pois, além de trabalhar o lúdico esse também permite a resolução dos conflitos.

A espontaneidade consiste nas respostas da pessoa em relação a situação, podendo


assim sempre dar respostas novas as situações, algo que é comprometido por conta das
conservas culturais, limitando a criatividade da pessoa, logo o jogo permite que o
individuo aja de maneira livre, saindo das suas conservas culturais.

É importante que no jogo produzamos um campo relaxado, ou seja, um campo onde


aumentemos as respostas que o individuo forneça, e assim visualizando aquele
individuo por completo, resgatando sua espontaneidade criativa, ao contrario do campo
tenso onde o individuo encontra-se limitado. Outro fator positivo do jogo dramático é a
oportunidade de utilizar a linguagem não verbal.

É importante no jogo definir suas características e seus objetivos, para assim situar o
papel do diretor. O jogo é uma atividade voluntaria, de modo que os indivíduos
precisam aceitar participar, e tem suas regras especificas e absolutas com as quais os
participantes tem de concordar, o jogo possui uma duração e um espaço determinada, e
é importante que nesse momento haja o resgate da ordem lúdica onde os indivíduos se
desprendem da sua vida real, com o objetivo de identificação e resolução dos conflitos.
O psicodrama tem três contextos, o social que engloba o tempo cronológico e o
espaço concreto, o grupal que é o constituído pelo grupo, e o dramático que é a
realidade dramática que é quando se separa a realidade da fantasia, e é nesse contexto
que ocorrem os insights.

Os instrumentos do jogo dramático são o diretor que tem função de produtor na


medida que é ele que escolhe e propõe o jogo e os objetivos, o diretor, que da inicio ao
jogo, estabelecendo as regras, e o encerra, e de analista social pois por meio dos dados
levantados ele encontra fatores comuns e faz a leitura do que foi realizado. O ego-
auxiliar é o intermediário entre o Diretor e o Protagonista e tem função de ator, pois
representa papeis delimitados pelo diretor, guia, pois mantem o Protagonista no
contexto dramático e facilita insight, e investigador social, pois observa e registra dados
no contexto grupal e dramático e passa para o diretor. O protagonista é a pessoa quem
vai atuar, sendo o ponto central do jogo dramático podendo ser uma pessoa ou grupo. O
cenário é o espaço aonde será construído o contexto dramático. Por fim o auditório, que
e quem fica no contexto grupal durante a dramatização.

As etapas do jogo dramático envolve o aquecimento, que é o inespecífico que é o


primeiro contato dos membros do grupo e o diretor e o especifico quando os
participantes vão se organizar para a construção dos papeis. A dramatização é o jogo
dramático. Os comentários, a partir da observação do jogo dramático, cada participante
comenta a respeito. No processamento há uma leitura da dramatização e dos
comentários pelo diretor e o ego auxiliar. O Processamento Teórico é quando
introduzem conceitos ou objetivos, utilizado mais em empresa ou escolas.

Os recursos materiais envolve o preparo de uma sala ideal para acontecer o jogo, a
separação com antecedência dos materiais que serão utilizados, e observar os
participantes, se esses estão com roupas adequadas para o jogo proposto e respeitar suas
diferenças, não exigindo que o participante faça algo que não queira. É importante
utilizar jogos de contato físico para auxiliar ao Diretor avaliar em que fase da Matriz de
Identidade os participantes estão.

A Matriz de Identidade esta relacionada “aos processos fisiológicos, psicológicos e


sociais, refletindo a herança cultural na qual está inserida, que a prepara para a
sociedade” (YOZO, 1996). A Matriz de Identidade tem três fases: a fase de Identidade
do Eu, onde o individuo não se diferencia dos demais, nessa fase é proposto jogos de
apresentação, aquecimento, relaxamento, interiorização e sensibilização, pois os jogos
buscam o desenvolvimento da sensação e da percepção nessa fase, a inter-relação é
individual e segue o principio do EU-COMIGO, onde a pessoa se localiza e se identifica
no grupo. A fase de Reconhecimento do Eu é quando se inicia uma diferenciação do eu
com o outro, o que permite que o protagonista possa se reconhecer quando o ego
auxiliar representa seu papel, é a fase do EU E O OUTRO, pois a partir do momento
que a pessoa se identifica, pode identificar o outro, os jogos aqui são de Percepção de si
Mesmo, Percepção do outro/Espelho, o individuo percebe-se através do outro. A fase de
Reconhecimento do Tu, é quando além do individuo ter uma diferenciação dele com o
outro ele consegue se colocar no lugar do outro, assim temos as inversões dos papeis,
essa fase envolve os momentos de EU COM O OUTRO onde a pessoa percebe o outro e
o EU COM TODOS onde após perceber o outro, ele amplia essa percepção para todo o
grupo, nessa fase predomina-se os jogos de interação direta com o outro.

Assim no jogo dramático, o Diretor deve identificar em que fase da Matriz o


grupo/indivíduo se encontra, para não aplicar jogos incompatíveis. Moreno aponta em
sua Teoria dos Papeis, que a adoção de um papel apresenta três fases distintas: o role-
taking na qual o indivíduo toma posse do papel, o role-playing quando o indivíduo
passa a interpretar esse papel, desenvolvendo a sua aquisição, e o role-creating é a
capacidade de o indivíduo criar em cima daquele papel, é o resgate da criatividade e
espontaneidade. A fase de role-playing é a mais utilizada em um jogo.

É importante que o Diretor tenha preparo para desempenhar seu papel, não
aplicando jogos de maneira estereotipada, essa necessidade de algo rápido e pronto é
relacionado ao papel do Diretor aliada as necessidades de uma Empresa, que quer
atingir determinado objetivo, agindo como se aplicasse um teste psicológico. É
importante que o Diretor, para trabalhar o resgate da espontaneidade e criatividade
tenha esses atributos, pois ele irá se deparar com situações inusitadas e precisará estar
preparado para tal, assim faz-se necessário que o próprio tenha uma capacidade lúdica.
A relação no Jogo Dramático no Psicodrama deve ser horizontal, que não gera uma
dependência, mas uma integração. Assim não devemos nos ater a regras, e sim adaptar-
nos a situação, para que invés de proporcionar um campo tenso possamos criar um
campo relaxado, e uma visão gestaltica do jogo.
Assim, enquanto em técnicas de Dinâmica de Grupo observa-se apenas o objetivo
final, no Psicodrama tende-se a integração. Na Dinâmica de Grupo pode se ter uma
postura de onipotência, pois visam apenas avaliar os candidatos, classificando-os. No
Recrutamento e Seleção assim, se usa as Dinamicas de Grupo para constatar possíveis
manipulações que ocorrem na entrevista. Enquanto isso no Psicodrama, não se valoriza
o verbal, mas sim a espontaneidade do indivíduo e a resolução de conflitos. Logo, assim
como os participantes tem que passar pelas três fases da Teoria dos Papéis, o diretor
também tem. O Jogo Dramático pode assim ser modificado ou adaptado de acordo com
os objetivos do Diretor, mas para isso exige-se que o Diretor tenha domínio sobre o
jogo, e se o grupo conhece o jogo, para evitar possíveis contaminações.

Ao final de cada jogo, é necessário que os participantes e auditório (se houver)


façam comentários a respeito, pois neles podemos ter aquisição de insight, e é a partir
dele que fazemos o processamento. Em um contexto terapêutico, trabalhar-se-ia o
momento e o conteúdo trazido pelo grupo aprofundando os conteúdos de tipo afetivo-
emocional, enquanto o contexto aplicado visa apenas trabalhar com o papel profissional,
com os objetivos previamente estabelecidos.

É importante que as funções do Ego-Auxiliar e do Diretor sejam bem definidas e


tenham uma relação de complementariedade, sem competições, valorizando assim a
relação horizontal. E é importante que esses conheçam e dominem a teoria
psicodramática.

É necessário que estabeleça um contrato com os participantes, nos quais se explicite


os objetivos e regras, determinando o contexto, espaço e duração do jogo, e que esses
aceitem tais condições, valorizando o sigilo daquele contexto.

É importante no Psicodrama, não somente conhecer os jogos, mas valorizar o


processamento e o processamento teórico, ou seja, a leitura e interpretação do que
ocorreu durante a aplicação daquele jogo. Assim, o jogo dramático só será bem aplicado
se for devidamente interpretado. É importante que desmistifiquemos os conceitos que as
pessoas tem de jogos, livrando-se assim de certos preconceitos em relação a técnica, e
identificar a fase da Matriz que o grupo se encontra, o jogo pode ter assim uma
característica psicodiagnostica, a medida que possibilita avaliar as características de um
indivíduo ou grupo.
No jogo, ou nos comentários, levantamos os conflitos existentes, e o diretor deve assim
identificar e classificar tais conflitos para poder assim processá-los, logo nesses
comentários é necessário que tenha uma liberdade de expressão. Devemos levar assim
em consideração a fase da Matriz e o grau de espontaneidade e criatividade dos
indivíduos, além da leitura não só do que é verbalizado, mas da linguagem não verbal.
O Jogo possibilita assim que os indivíduos possam perceber suas dificuldades, fazendo
com que todos possam vê-las, e para tal é necessário que o Diretor tenha além de um
preparo teórico-técnico, tenha abertura e disposição frente aquele grupo, possibilitando
a integração do grupo.

Quando falamos dos atributos desejáveis a um coordenador de grupo abordamos a


questão mais ampla, não só a questão formais como os grupos operativos. Trata-se aqui
das características do individuo como pessoa real, porém cada grupo exige de seu
coordenador atributos específicos, como já citavam Robbins ao aportar as questões de
liderança, porem a essência das questões internas são padrões. Apesar de didaticamente
costumar separar os atributos apontando-os como necessários, eles são complementares
e estão interligados.

Os atributos desejáveis e para certa situações imprescindíveis seria primeiramente


gostar e acreditar em grupos, isso porque o grupo consegue perceber facilmente, tanto
em questão das relações transferenciais, o que é passado pelo coordenador, logo o fato
de o coordenador gostar de estar com o grupo e trabalhar com ele previne de ansiedades,
descrenças etc.

O amor de verdades é imprescindível para qualquer tipo de grupo, pois é através da


verdade que será possível estabelecer uma relação de confiança com o grupo, não se
refere a procura de verdades absolutas e definidas, mas o coordenador ser sincero com o
grupo, isso está relacionado com a questão de gostar do grupo, pois a condição de ser
verdadeiro só acontecera se este gostar de trabalhar com o grupo. Caso o coordenador
não seja verdadeiro ele terá dificuldades de discernir verdades e mentiras dentro do
grupo, e terá prejuízo na função de modelo de identificação.

A questão da coerência é seguir de acordo com sua posição assumida, ou seja caso
esse assuma uma posição de ser verdadeiro com o grupo, agir de tal maneira. Quando
temos ações incoerentes essa pode levar um estado confusional do grupo, como por
exemplo, caso diante de uma mesma situação em um momento o individuo seja
elogiado e no outro repreendido.

O senso de ética é elementar para qualquer profissional, nesse caso aborda que o
coordenador não tem o direito de invadir o espaço mental dos outros, ou seja, impor aos
outros sua visão de mundo e expectativas. O que é função do coordenador deve
expandir o espaço interno e externo dos indivíduos, dando a eles liberdade para se
expressarem, respeitando o espaço dos outros, além de guardar em sigilo questões
expostas pelo grupo.

A paciência no caso do coordenador do grupo é sua atitude ativa, de esperar que


alguém do grupo reduza suas ansiedades, ou consiga estabelecer uma relação de
confiança, não forçar algo a pessoa, mas ter paciência para que esta sinta-se confortável
com o grupo. A paciência está ligada a questão de continente, que se assemelha a
capacidade de uma mãe de acolher e conter as necessidades de angustia do seu filho,
uma atitude simultânea de compreensão de desintoxicação do sentimento que o
atormenta. Atribui-se uma representação, um sentido a angustia, e devolve-a ao paciente
conforme ele esta adequado a receber. Essa capacidade permite que o coordenador
possa conter as fortes emoções que ocorrem no contexto do grupo, ou suas próprias
angustias, quando se tem duvidas sobre o que é passado na dinâmica do grupo.

O coordenador de grupo necessita conter as próprias angustias, o que está


relacionada à função de capacidade negativa, ou seja o coordenador não deve ficar
envergonhado ou sentir-se culpado no surgimento de sentimentos menos nobres, como
ódio, impotência por pessoas do grupo, desde que ele reconheça tais sentimentos e
possa administrar, o que se assemelha de como a questão de contratransferência no
ambiente psicotepeuta, desde que esses sejam reconhecidos pelo terapeuta e
trabalhados, não causará um impacto negativo na terapita.

A função de ego auxiliar ou função alfa consiste em quando uma pessoa exerce as
capacidades de ego que não estão bem desenvolvidas no individuo, ou seja o
coordenador emprestara suas funções de ego para os indivíduos que num tiveram as
suas ainda bem definidas, auxiliando-os nas funções de pensar, discriminar e comunicar.

A função de pensar consiste em a pessoa conseguir pensar as ideias, sentimentos e


as posições verbalizadas, ou seja, o individuo deve ser capaz de pensar suas
experiências emocionais. Pensa os pensamentos consiste em escutar os outros e assumir
a responsabilidade pelos sentimentos que acompanha a ideia, ter confrontos e
correlações, ter liberdade no pensamento. Existem pessoas que são influenciadas pelos
pensamentos de figuras de autoridade para elas, e pensam com o pensamento de outros,
ou pessoas que pensam para os outros, ou contra os outros. Dentro da função de pensar
tem-se a discriminação, que estabelece diferenciação do que é do outro e o que é do
próprio sujeito, diferencia a realidade da fantasia, passado e presente. Tal condição de
diferenciação é importante ao coordenador de grupo para que possa identificar as
diversas relações de identificações projetivas as quais fica exposto.

A comunicação é um atributo importante por questão de é por meio desta que o


coordenador irá passar o conteúdo de suas interpretações, leva-se então em consideração
o estilo que esse coordenador utiliza para transmiti-la, de forma que esteja sintonizado
no mesmo canal de comunicação dos integrantes do grupo, tanto a linguagem verbal e
não verbal.

A questão do autoconhecimento, saber seus traços caracterológicos, o individuo


conhecer bem suas crenças e valores, para que assim se autoconhecendo suas
características narcísicas não interfiram no andamento do grupo, tentando manejar as
situações, pois caso ele deixe seus traços caracterológicos interferirem no grupo, esse
comprometerá o desenvolvimento do mesmo.

Qualquer grupo, mesmo que não tenham função terapêutica propriamente dita
acabam exercendo função psicoterápica por conta da ação do coordenador de grupo,
isso porque o coordenador exerce uma forma de modelo, com suas atitudes diante das
situações, seu modo de pensar e exemplificar os problemas, o que leva aos indivíduos
membros do grupo introjetarem a figura do coordenador, e identificarem com muitas
características dele.

Énecessario que para que ocorra uma discriminação dos atributos que o coordenador
tenha empatia, capacidade de o individuo coloca-se no lugar do outro e compreender
aquele sofrimento, pois só diante da empatia que esse poderá ter todos os atributos aqui
já citados anteriormente. Por meio da empatia será interpretado de maneira útil os
sentimentos contratransferenciais.
O coordenador ainda deveria ser capaz de realizar uma síntese, ou seja, o
coordenador deve ser capaz de encontrar um ponto em comum dentro dos discursos,
unificando e centralizando aquilo para a função que esse grupo tenha. É a capacidade
sintética do ego que permite simbolizar significações opestas e aparentemente
contraditórias. Quanto a função de integração é o coordenador ser capaz unir os
aspectos particulares de cada um ou todos que foram projetados em outras pessoas ou
que são confusos para o grupo ou membros do grupo, principalmente a integração dos
opostos.

Para que o coordenador possa exercer tais funções esse deve ter sua atividade
mental dirigida para o crescimento psíquico dos indivíduos e do grupo, de modo que
esses possam aprender com as experienciais emocionais que acontecem nas inter-
relações do grupo. O coordenador deve valorizar a liberdade e a importância de estar
junto com os outros.

Logo o grupo e o crescimento mental não ocorre quando podemos viver sozinhos e ser
totalmente auto-suficientes, o grupo visa mostrar que nada há de errado mostrar suas
angustias e sentimentos e pode solicitar a ajuda de outras pessoas.

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