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EXCELENTÍSSIMO MINISTRO MARCO AURÉLIO, DIGNÍSSIMO

RELATOR DA AÇÃO CAUTELAR 4.327, relacionada ao Inquérito 4.506.

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AÉCIO NEVES DA CUNHA, por seus
advogados, nos autos do procedimento acima identificado, respeitosamente,
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vem à presença de Vossa Excelência requerer seja autorizado que mantenha
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contato com sua irmã, ANDREA NEVES, pelas seguintes razões.
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Como se sabe, o em. Min. EDSON FACHIN


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aplicou ao Peticionário diversas medidas cautelares previstas no art. 319 do


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CPP, inclusive a “proibição de contatar qualquer outro investigado ou réu no conjunto


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de feitos em tela”.
Em po

Desde então, o Peticionário vem


sso

cumprindo à risca as determinações judiciais. Não obstante, o caso concreto


pre

apresenta peculiaridade que justifica a revisão de referida determinação,


especificamente no que tange ao contato com a investigada ANDREA NEVES,
Im

irmã do Peticionário.

A proibição de irmãos se comunicarem,


especialmente no atual estágio do feito — já foi oferecida denúncia, inexistindo
qualquer risco às investigações —, além de não se mostrar mais necessária,
termina por violar direito natural do contato familiar, implicando em ofensa à
própria dignidade da pessoa humana, princípio matriz da Constituição Federal.

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Av. Angélica, 688 11º andar Cj. 1111 São Paulo SP Cep 01228-000 Tel/Fax: 11 3822-6064
Isso porque, como esse eg. STF já afirmou
inúmeras vezes, a aplicação das cautelares tem de se pautar no princípio da
proporcionalidade e adequação, consideradas as circunstâncias particulares do
caso concreto.

No presente feito, a particularidade reside

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no fato de o Senador AÉCIO e ANDREA serem irmãos e de, atualmente, inexistir

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qualquer risco às investigações, posto já ter sido oferecida denúncia — fato esse,

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aliás, reconhecido pela maioria dessa col. Turma quando do julgamento dos
agravos dos coinvestigados, com a revogação da prisão imposta a eles
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(inclusive da Sra. ANDREA NEVES) e aplicação de outras medidas cautelares.
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Essas específicas circunstâncias justificam


seja revista a proibição de contato do Peticionário com sua irmã ANDREA.
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Analisando caso muito parecido com o


presente, o eg. TRF3, com extrema sensibilidade, pontuou que a “particularidade
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do caso é o fato de a paciente estar proibida de comunicar-se com suas irmãs, também
investigadas, algo que afeta evidentemente a esfera da vida privada e familiar de maneira
sso

grave”. Assim, lembrando que a “regra é que mesmo os encarcerados possam receber
pre

visitas de familiares, a col. Corte Regional reconheceu a desproporcionalidade da


medida aplicada.
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Ressaltou a Corte Regional que “à


severidade da medida, levada em conta a circunstância familiar, deveria corresponder
em igual extensão a sua imprescindibilidade ou ao menos efetiva utilidade para o
processo, o que não me parece ocorrer in casu”. Aqui também, com o devido
respeito, não se vislumbra a imprescindibilidade de cercear-se o contato entre
irmãos, especialmente porque, como já dito, já foi oferecida denúncia.

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Por fim, não se pode perder de vista,
conforme explica GUSTAVO BADARÓ que “o critério de adequação (art. 282, caput, II)
não se manifesta apenas na escolha da medida [cautelar] mais adequada aos fins
perseguidos, mas também na escolha da modalidade de execução, não devendo
prejudicar o exercício de outros direitos fundamentais que não forem
incompatíveis com as exigências cautelares que o caso requer” (Processo penal – 2ª ed.

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– Rio de Janeiro: Elsevier, 214, p. 769).

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Não é por outra razão que, nas palavras
de AURY LOPES JR., “não se tem como fugir dos princípios da excepcionalidade e
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proporcionalidade que pautam a aplicação de toda e qualquer medida cautelar. (...)
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eventuais medidas alternativas não podem ser banalizadas e servir para aumentar a
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intervenção penal de forma injustificada (Direito processual penal – 10ª. Ed. – São
Paulo: Saraiva, 2013. p. 862/863).
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E completa o festejado autor: “o maior


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temor é que tais medidas sejam deturpadas, não servindo, efetivamente, como
redutoras de danos, mas sim de expansão de controle” (idem).
Em po
sso

Data maxima venia, é exatamente o que está


pre

acontecendo ao se proibir qualquer contato entre o Peticionário e sua irmã.


Im

Ainda, importante ressaltar que, muito


embora o artigo 319, III, do CPP, não especifique a pessoa ou a razão da
proibição de manter contato, a doutrina indica que o “o escopo da medida é,
realmente, de uma cautela instrumental, imposta para preservar e proteger a prova,
no caso de fontes orais, como testemunha ou vítimas, evitando ameaças,
agressões, tentativas de suborno e outras atitudes do mesmo gênero” (BADARÓ,
GUSTAVO HENRIQUE. Processo penal – 2ª ed. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2014, p.
767/768).
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Conforme leciona NUCCI, “como regra, o
foco é a vítima do delito, quando o cenário envolve crimes típicos de violência ou
grave ameaça à pessoa, como tentativa de homicídio, lesão corporal, ameaça,
constrangimento ilegal etc.” (Código de processo penal comentado – 13ª ed. rev. e
ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 724).

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Ora, o Peticionário é irmão de ANDREA

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NEVES, de forma que, ainda que sejam coinvestigados, trata-se de hipótese

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completamente distinta daquelas para as quais a medida foi criada, isto é, não
são testemunhas ou vítimas.
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Veja-se que o Peticionário e sua irmã
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objetivam, apenas, compartilhar laços familiares, de forma que proibir qualquer


contato entre eles é desumano, data maxima venia.
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Isso posto, requer digne-se Vossa


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Excelência autorizar que o Peticionário mantenha contato com sua irmã, por
Em po

telefone ou na residência dela, respeitando todas as condições impostas, por ser


medida de JUSTIÇA!
sso
pre

São Paulo, 27 de junho de 2017.


Assinado de forma digital por ALBERTO
ZACHARIAS TORON:05402152870
Im

ALBERTO ZACHARIAS DN: c=BR, o=ICP-Brasil, ou=Secretaria da Receita


Federal do Brasil - RFB, ou=RFB e-CPF A3, ou=(EM
TORON:05402152870 BRANCO), ou=Autenticado por AR ARPEN,
cn=ALBERTO ZACHARIAS TORON:05402152870
Dados: 2017.06.27 19:27:17 -03'00'

ALBERTO ZACHARIAS TORON JOSÉ EDUARDO RANGEL DE ALCKMIN


OAB/SP 65.371 OAB/DF 2.977

LUIZA A. VASCONCELOS OLIVER


OAB/SP 235.045

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