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Rosângela de Oliveira Pinto e

Graziella Rollemberg
Sociologia e
filosofia da educação
Sumário
CAPÍTULO 1 – A Sociologia e a Educação ........................................................................05

Introdução.....................................................................................................................05

1.1 Contextualização histórica da Sociologia.....................................................................05

1.1.1 O surgimento da Sociologia como ciência..........................................................06

1.1.2 Pensadores de destaque no conhecimento sociológico..........................................08

1.1.3 Jean Jacques Rousseau.....................................................................................11

1.2 Abordagem sociológica do fenômeno educacional.......................................................11

1.2.1 Olhar dos sociólogos para a educação..............................................................12

1.2.2 Reflexões sobre as contribuições da Sociologia para a Educação...........................13

1.2.3 A Sociologia da Educação.................................................................................14

1.3 O processo socioeducacional.....................................................................................15

1.3.1 Reflexões sobre o processo socioeducacional......................................................15

1.3.2 Um passeio pelo processo socioeducacional do século XX....................................17

1.3.3 Reflexões sobre o processo sócio educacional no século XXI..................................18

Síntese...........................................................................................................................21

Referências Bibliográficas.................................................................................................22

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Capítulo 1
A Sociologia e a Educação

Introdução
Olá! Estamos iniciando a disciplina “Sociologia e Filosofia da Educação”. Qual é o seu conheci-
mento sobre Sociologia? Você sabe quem foram os principais pensadores da história desta ciên-
cia? Sabe qual a importância do conhecimento sociológico para a compreensão da educação?

Entenda, desde já, que a Sociologia nasceu em meio à consolidação da sociedade capitalista,
possuindo raízes na Revolução Francesa e Revolução Industrial. Essa ciência encarregou-se de
investigar o cotidiano do ser humano como ser individual e coletivo, as políticas sociais, sua
cultura, economia, enfim, tudo que envolve questões sociais.

Já a Educação está em todos os momentos da vida humana, seja no sentido formal (escolar), não
formal (diversas relações sociais) ou extraescolar (instituições como a família, a religião, entre
outras). Historicamente falando, a Educação nunca esteve desvinculada dos aspectos políticos,
econômicos e sociais. A Sociologia e a Educação, portanto, se completam na disciplina Socio-
logia da Educação, a qual se preocupa com o contexto social e os seus impactos na educação,
seja em nível da prática diária, da gestão e da política educacional.

Este capítulo está dividido em três tópicos: contextualização histórica da Sociologia; abordagem
sociológica do fenômeno educacional; e, por fim, o processo socioeducacional. No primeiro
tópico, faremos uma contextualização histórica da Sociologia, com ênfase na contribuição de
pensadores como Durkheim, Weber, Max e Rousseau. Já na segunda parte, será abordado o en-
foque sociológico, através do qual veremos as ideias e os conceitos da relação entre Sociologia
e Educação. Por fim, no terceiro tópico, será discutido e apresentado o processo educacional
como parte de um contexto social, político e histórico.

Bom estudo!

1.1 Contextualização histórica da Sociologia


Abordaremos, neste tópico, a contextualização histórica da Sociologia. Veremos o período no
qual a Sociologia começou a ser compreendida como uma área de conhecimento, isto é, como
ciência, e como se deu seu desenrolar histórico. Veremos também quais são os pensadores con-
siderados os fundadores da Sociologia como disciplina.

A contextualização do nascimento da Sociologia é fundamental para a compreensão de como


esta área de pensamento tornou-se uma ciência. Saiba, desde já, que a Sociologia é considerada
a ciência que estuda as relações sociais, os fatos sociais e o ser social. Quais foram e são suas
contribuições para a sociedade e, consequentemente, para a área da Educação?

Este tópico está dividido em três itens: o surgimento da Sociologia como ciência; os pensadores
de destaque no conhecimento sociológico; e, por fim, Jean Jacques Rousseau.

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Sociologia e filosofia da educação

1.1.1 O surgimento da Sociologia como ciência


A Sociologia possui suas raízes na Revolução Francesa (França, 1789) e na Revolução Industrial
(Inglaterra, 1800). Nesse período histórico, os europeus passavam por transformações em seu
modo de organização da sociedade, deixando os costumes e as tradições de uma economia
baseada na manufatura e adequando-se às demandas de uma economia capitalista.

Figura 1 – A imagem representa a mudança das atividades de produção após a Revolução Industrial.
Fonte: Shutterstock, 2015.

Como já foi mencionado, a Sociologia teve origem em países europeus profundamente influen-
ciados pelo positivismo e pelas ideias do iluminismo, e não foi obra de um único pensador, mas
de vários indivíduos que sentiram a necessidade de compreender as novas situações e transfor-
mações da sociedade na qual estavam inseridos.

NÓS QUEREMOS SABER!


Você sabe o que foi o Iluminismo? O Iluminismo foi um movimento que ocorreu no
século XVIII na Europa. Esse movimento defendeu o uso da razão contra o antigo regi-
me (Idade Média) e pregava maior liberdade econômica e política. De forma geral, o
Iluminismo defendeu a liberdade econômica, sem intervenção do Estado; o avanço da
ciência e da razão; e o predomínio da burguesia e de seus ideais.

Juntamente com as transformações sociais e econômicas, as formas de pensamento também


acabaram se transformando. Tal fenômeno ocorreu à medida que as relações econômicas e so-
ciais se modificavam e antigas estruturas de hierarquia social davam lugar a novos paradigmas.
Nesse período, portanto, interpretações e abordagens a respeito da cultura, da natureza e do
homem como ser social foram se solidificando.

Entenda que o positivismo foi uma corrente filosófica que surgiu na França no início do século
XIX. Os principais estudiosos e idealizadores dessa corrente filosófica foram Augusto Comte e
John Stuart Mill, os quais defendiam que a ciência deveria se basear em observação e compro-

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vação de fenômenos, processo que ficou conhecido como evidência empírica. A lógica positi-
vista influenciou não só a Sociologia, mas também ciências como a Psicologia, que também se
solidificava nesse contexto.

A proposta de Comte sobre o positivismo se refere à existência humana com valores humanos,
afastando o conhecimento da Teologia e da Metafísica. Em outras palavras, temos que o positi-
vismo proposto por Comte considera a ciência como a única forma de conhecimento verdadeiro,
separando-o de conhecimentos ligados a crenças, superstições ou quaisquer fenômenos que não
pudessem ser comprovados por meio dos rigorosos métodos científicos.

NÓS QUEREMOS SABER!


Você sabe o que significa metafísica? A metafísica é uma palavra de origem grega, sen-
do a junção de meta = depois de, além de, e physis = natureza ou físico. Tal corrente
se preocupa em estudar a essência do mundo. Podemos considerar que é uma forma
de pensar a existência de algo por inteiro, livre de dogmas ou de qualquer outro tipo
de influência.

NÃO DEIXE DE VER...


Germinal (1993). Filme baseado no romance de Émile Zola, mostra a França do sé-
culo XIX. Proporciona ao telespectador o conhecimento do movimento histórico,
social, político e econômico da época, deixando claro o processo de trabalho do
modelo capitalista que se consolidou. Saiba mais em: <http://www.imdb.com/title/
tt0107002/?ref_=nm_knf_t4>.

É importante ressaltar que o positivismo defendido por Comte procurava a estabilização da nova
ordem econômica, ou seja, buscava estimular nos homens a aceitação da ordem existente, atra-
vés de um modo de pensamento mais racional. Por outro lado, a jovem Sociologia preocupava-
-se em compreender as questões geradas pelas transformações sociais e pelo modo de produção
capitalista, porém sofria bastante influência do pensamento positivista. Nesse primeiro momento,
portanto, a Sociologia não tinha como objetivo questionar a disparidade social e a exploração
dos trabalhadores (que passaram a ser conhecidos como proletariado) nas indústrias.

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Sociologia e filosofia da educação

Figura 2 – A luz das ideias racionais, defendida pelo Iluminismo.


Fonte: Shutterstock, 2015.

O conhecimento sociológico nasce, portanto, da tentativa de compreender e explicar, através do


método científico, as transformações pelas quais a sociedade da época vinha passando na reli-
gião, cultura, política, economia, entre outros aspectos sociais. Neste esforço de compreensão,
estão embutidas as diversas e diferentes intenções presentes nas relações sociais.

1.1.2 Pensadores de destaque no conhecimento sociológico


Aos poucos, várias linhas de pensamento e compreensão surgem dentro da Sociologia, tanto
para manter como para alterar os fundamentos da sociedade. Os primeiros sociólogos que sur-
gem para pesquisar e esclarecer as mudanças ocorridas no meio social são Saint-Simon, Mon-
tesquieu e Auguste Comte – este, em 1838, criou o termo Sociologia.

Já os pensadores considerados positivistas são: Saint-Simon, Auguste Comte e Émile Durkheim.


Esses pensadores, levando em consideração as especificidades de seus argumentos, defendem os
interesses dominantes da sociedade capitalista e, através dos conhecimentos da Sociologia, dão
uma nova roupagem às ideias conservadoras positivistas. De acordo com Martins (1994), para
Durkheim, a questão da ordem social seria uma preocupação constante.

De forma sistemática, ocupou-se também com estabelecer o objeto de estudo da sociologia,


assim como indicar o seu método de investigação. É através dele que a sociologia penetrou a
Universidade, conferindo a esta disciplina o reconhecimento acadêmico. [...] Discordava das
teorias socialistas, principalmente quanto à ênfase que elas atribuíam aos fatos econômicos para
diagnosticar a crise das sociedades europeias. Durkheim acreditava que a raiz dos problemas
de seu tempo não era de natureza econômica, mas sim uma certa fragilidade da moral da
época em orientar adequadamente o comportamento dos indivíduos. (MARTINS, 1994, p. 25).

Para Durkheim, a divisão do trabalho deveria provocar uma relação de cooperação e de solida-
riedade entre os homens. Porém, com a velocidade das transformações políticas e econômicas,
faltavam as ideias morais para proporcionar o bom funcionamento da coletividade.

De acordo com Durkheim, o indivíduo ao nascer já encontra a sociedade pronta, ou seja, todos
os costumes, as crenças, os direitos são transmitidos pelas gerações anteriores através da educa-
ção. Os sujeitos, nas obras de Durkheim, aparecem sempre como seres passivos, incapazes de
transformar a realidade histórica.

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Segundo Martins (1994, p. 28), os estudos de Durkheim marcaram decisivamente a Sociologia
contemporânea, principalmente a questão da manutenção da ordem social. Sua influência no
meio acadêmico francês foi quase imediata, formando vários discípulos que continuaram a de-
senvolver as suas pesquisas.

O conhecimento sociológico crítico da sociedade capitalista encontra-se nos estudos de Marx (1818-
1883) e Engels (1820-1903). Nos escritos desses autores, não há intenções de criar fronteiras com
os diferentes campos do saber; pelo contrário, encontra-se uma interligação com as áreas da Antro-
pologia, Ciência Política, Economia, entre outras, sempre com foco em explicar a sociedade como
um todo. Os trabalhos desses pensadores estão ligados a sua militância, ou seja, seu engajamento
na defesa dos diretos trabalhistas do proletariado e na análise da luta de classes.

Essas relações de exploração entre as classes sociais, que vão se consolidando juntamente com a
sociedade capitalista, levam alguns revolucionários a promoverem movimentos questionadores.
O encontro entre Marx e Engels se dá pela afinidade de pensamento e envolvimento com os mo-
vimentos do proletariado na França. Suas obras são construídas a partir desta parceria e surgem
a partir dos movimentos dos proletariados da Europa Ocidental. Entenda, portanto, que não se
tratava meramente de escritos intelectuais, mas também de acontecimentos sociopolíticos com
impacto global (MARX; ENGELS, 2007).

O caminho percorrido por Marx com relação à sua compreensão sobre a sociedade capitalista
possui dois momentos:

1. início dos estudos sobre a sociedade e suas críticas ao modelo do capitalismo vigente; e

2. p
arceria com Engels. Compreende a Política Econômica como a limitação impiedosa
entre os homens, consagrando a alienação das forças sociais no poder do capital (MARX;
ENGELS, 2007).

Para Marx e Engels, qualquer fenômeno social precisava ser investigado a partir da análise da
base econômica da sociedade em vigência, da luta de classes e do conceito de dominação.
A partir desta constatação, acontece o encontro de Marx e Engels com economistas da Escola
Clássica, como Adam Smith.

Figura 3 – Representa o capitalismo que Marx e Engels criticavam.


Fonte: Shutterstock, 2015.

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Sociologia e filosofia da educação

Outro detalhe importante que deve ser considerado na teoria marxista é a importância dada ao
conhecimento da realidade social como instrumento político, o que promove a orientação das
classes sociais para a transformação da sociedade e a emancipação dos indivíduos. De acordo
com Martins (1994, p. 31):

A função da sociologia, nessa perspectiva, não era a de solucionar os "problemas sociais",


com o propósito de restabelecer o "bom funcionamento da sociedade", como pensaram os
positivistas. Longe disso, ela deveria contribuir para a realização de mudanças radicais na
sociedade. Sem dúvida, foi o socialismo, principalmente o marxista, que despertou a vocação
crítica da sociologia, unindo explicação e alteração da sociedade, e ligando-a aos movimentos
de transformação da ordem existente.

No final do século XIX e início do século XX, a Sociologia contou com a contribuição do pensador
Max Weber. Weber se dedicou a manter a distinção entre o conhecimento científico e os julga-
mentos de valor sobre a sociedade, sendo influenciado pelo contexto intelectual alemão da sua
época. Um pensador cujas teorias tiveram impacto sobre sua obra foi Immanuel Kant, segundo
o qual todo indivíduo possui capacidade e vontade para assumir uma posição consciente diante
do mundo.

Weber recebeu também forte influência do pensamento marxista, porém, não concordava com o
princípio de que a economia dominasse as demais esferas da realidade social e nem considerava
o capitalismo um sistema injusto. Pelo contrário, considerava o capitalismo um sistema preciso e
eficiente (MARTINS, 1994).

Weber sempre deu ênfase à necessidade do conhecimento sociológico científico, atribuindo-lhe


um papel ativo na elaboração do conhecimento. Martins (1994) afirma que a obra de Weber,
assim como a de Marx, Durkheim, Comte, Tocqueville, Le Play, Toennies, Spencer etc., constituiu
um momento decisivo na formação da Sociologia como ciência, estruturando de certa forma as
bases do pensamento sociológico.

VOCÊ O CONHECE?
Max Weber (Karl Emil Maximilian Weber) viveu no período entre 1864 e 1920. Foi um
intelectual, jurista e economista alemão considerado um dos fundadores da Sociologia.
Entre as suas obras, as que possuem destaque são: A Ética Protestante e o Espírito do
Capitalismo (1904), Economia e Sociedade (1920), A ciência como vocação (1917) e
A política como vocação (1919).

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Figura 4 – Max Weber
Fonte: Wikicommons, 2008.

A Sociologia marca a mudança na maneira de se pensar a realidade social, desvinculando-se


das preocupações puramente intelectuais e afirmando-se, progressivamente, como uma ciência
que utiliza a forma racional e sistemática de análise e compreensão da sociedade.

1.1.3 Jean Jacques Rousseau


Porque estudar Jean Jacques Rousseau se nosso está foco na Sociologia?

Bem, entenda que Rousseau, apesar de ser um grande romancista do século XVI, escreveu tam-
bém sobre política, educação e religião. Rousseau viveu no período entre 1712 e 1778, e é
considerado um importante pensador que contribuiu para o início do pensamento sociológico.

Na obra Do Contrato Social, o autor defende a ideia de que o ser humano nasce bom, porém a
sociedade o conduz à degeneração. Afirma, também, que a propriedade privada seria a origem
da desigualdade entre os homens, destruindo a piedade natural e justiça, tornando os homens
maus. Daí a importância do contrato social, pois os homens, necessitando ganhar a liberdade,
aceitam algumas condições sociais impostas.

A Sociologia contemporânea teve grandes avanços como ciência, principalmente nas últimas
décadas no século XX. A função do sociólogo hoje é aplicar o conhecimento sociológico às
transformações sociais, em busca de uma sociedade mais justa e igualitária.

1.2 Abordagem sociológica do fenômeno


educacional
Neste tópico, estudaremos a Sociologia com o olhar para a Educação. Primeiramente é preciso
ficar claro que a Sociologia, assim como outras ciências e áreas do conhecimento, pode servir
a diferentes tipos de interesses. Pode estar voltada para uma apropriação do conhecimento
comprometida com a emancipação humana, como pode produzir um conhecimento para uma
melhor compreensão dos homens, em benefício próprio e de uma classe que almeja o poder.

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Sociologia e filosofia da educação

1.2.1 Olhar dos sociólogos para a educação


O conhecimento sociológico, como foi abordado no tópico anterior, é a ciência que investiga o
cotidiano das pessoas, como seres individuais e coletivos, as políticas sociais, a cultura, a eco-
nomia, enfim, tudo que envolve as questões sociais. Firmou-se como ciência em meados do sé-
culo XIX, contrapondo-se à ideia cartesiana de que o conhecimento científico só pode ser obtido
através de um esforço metódico e racional.

NÓS QUEREMOS SABER!


Você já ouviu falar no pensamento cartesiano? O pensamento cartesiano foi elabora-
do e defendido pelo filósofo, físico e matemático francês René Descartes. Tal corrente
possui como princípio que a busca pela verdade não pode ser colocada em dúvida.
Dessa forma, Descartes elabora e desenvolve um método que entende orientar a razão
em busca da verdade nas ciências.

O conhecimento sociológico no contexto da educação procura investigar as consequências da


prática educativa, considerando as políticas sociais voltadas à educação, as desigualdades so-
ciais, os interesses políticos, entre outras questões.

Figura 5 – Uma representação da sociedade.


Fonte: Shutterstock, 2015.

Utilizar o conhecimento sociológico para compreender a educação é fundamental. As políticas,


a economia e o próprio conhecimento sociológico podem ser utilizados tanto a serviço dos inte-
resses dominantes como também da expressão das classes sociais visando transformações. Nas
obras e contribuições deixadas pelos estudiosos abordados no tópico anterior, podemos perceber
as várias contribuições que o conhecimento sociológico deixa para a educação.

Nas obras de Marx e Engels, por exemplo, destaca-se a importância do pensamento crítico, da
ligação com todas as áreas sociais, principalmente a político-econômica, levando em conside-
ração o contexto de cada época, para compreensão do contexto social e de sua influência na

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vida dos cidadãos. Através dos legados desses pensadores, é fácil perceber que a importância da
compreensão do ambiente social para sua transformação, para a emancipação dos indivíduos.

NÃO DEIXE DE LER...


O Capital, de Karl Marx. Esse livro é considerado a obra mais importante do filósofo.
Nessa obra, o autor analisa a forma como o homem vive na sociedade capitalista. Você
terá oportunidade de compreender conceitos-chave da obra de Marx, tais como: mais-
-valia, capital constante e capital variável, salário e acumulação primitiva.

As obras de Weber, por outro lado, contribuíram de forma significativa para a pesquisa empírica
nas ciências sociais. Suas pesquisas sociais tiveram grande abrangência de temas, como o direi-
to, a economia, a história, a religião, a política, a arte e, de modo destacado, a música. Rous-
seau, por sua vez, na tentativa de compreender o ser humano, deixou muitas contribuições para
a reflexão das teorias educacionais contemporâneas, reforçando a capacidade do educador em
transformar o aluno, orientando-o.

Há como compreender a educação e sua história sem compreender o ser social? As ciências
sociais, ao investigar todos os aspectos que envolvem as relações entre os indivíduos, contribuem
para a compreensão das políticas educacionais no decorrer da história.

Através dos questionamentos promovidos pela Sociologia, é possível analisar de forma crítica
as práticas e intenções das classes sociais e de grupos dominantes; o tipo de cidadão que a
escola tem capacidade de formar; a necessidade de conscientização e emancipação do ser hu-
mano sempre, seja em qual momento social e histórico esteja; as diferenças sociais e culturais;
a educação não formal e extraescolar; a importância de algumas instituições na formação do
indivíduo, como a família e a religião.

1.2.2 Reflexões sobre as contribuições da Sociologia para a Educação


István Mészáros é um pensador húngaro atual que segue a filosofia marxista, portanto percebe-
mos reflexões da sua parte que lembram bastante as teorias defendidas por Karl Marx. É impor-
tante perceber a grande contribuição que o marxismo deixa para a sociedade no que tange à
crítica e reflexão que devemos realizar constantemente em relação aos fatos atuais e históricos.

Em A educação para além do capital, Mészáros ensina que pensar a sociedade tendo como
parâmetro o ser humano exige a superação da lógica desumanizadora do capital, que tem no
individualismo, no lucro e na competição seus fundamentos. Que educar é – citando Gramsci –
colocar fim à separação entre Homo faber e Homo sapiens; é resgatar o sentido estruturante da
educação e de sua relação com o trabalho, as suas possibilidades criativas e emancipatórias.
E recorda que transformar essas ideias e princípios em práticas concretas é uma tarefa a
exigir ações que vão muito além dos espaços das salas de aula, dos gabinetes e dos fóruns
acadêmicos. Que a educação não pode ser encerrada no terreno da pedagogia, mas tem de
sair às ruas, para os espaços públicos, e se abrir para o mundo. (JINKINGS, 2005)

É fato, entretanto, que a educação sempre foi dual, ou seja, sempre ofereceu um ensino de
caráter seletivo e antidemocrático. Em muitos momentos, ela foi utilizada como um instrumento
dos grupos dominantes para manter o poder. A prática educacional precisa, portanto, ser olhada
por várias áreas do conhecimento, inclusive a Sociologia, e com muita cautela, levando-se em
consideração todas as problemáticas políticas e econômicas envolvidas em seu desenvolvimento.

A Sociologia como ciência vem, ao longo dos anos, contribuindo de forma significativa para a
Educação com este olhar mais crítico, racional sobre a sociedade e tudo que a envolve.

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Sociologia e filosofia da educação

[...] em uma nação livre na qual não se permite a escravidão, a riqueza mais segura consiste
numa multidão de pobres laboriosos. Assim, para fazer feliz a sociedade e manter contentes
as pessoas, ainda que nas circunstâncias mais humildes, é indispensável que o maior número
delas sejam ao mesmo tempo pobres e totalmente ignorantes. (MANDEVILLE, 1982, p. 190,
apud LINS, 2003, p. 3).

O conhecimento sociológico aliado à educação, portanto, deve contribuir para conscientizar


os indivíduos, impedindo sua exploração pelo Estado ou por um grupo dominante e economi-
camente favorecido. A Sociologia é uma área do conhecimento tão importante para a compre-
ensão da educação que virou disciplina na formação inicial e continuada dos profissionais que
atuam nessa área.

1.2.3 A Sociologia da Educação


A disciplina Sociologia da Educação inicia sua caminhada nas instituições educacionais no início
do século XX. Essa disciplina deve ser compreendida como uma ciência na qual o objeto de sua
análise é a Educação, cujo papel deve ser compreendido como prática social, que cria e recria,
produz e reproduz as relações sociais. Seu objetivo, portanto, é investigar a escola enquanto
instituição social.

Aplicada de forma adequada, a disciplina deve proporcionar o questionamento entre os indiví-


duos. Porém, não há fórmulas prontas! As decisões e os caminhos devem ser tomados pela so-
ciedade, considerando-se sempre o coletivo, mas sem que se esqueçam as questões individuais.
O conhecimento adquirido através da Sociologia da Educação deve possibilitar o pensamento
crítico, livre e consciente dos indivíduos.

Pensar a escola hoje nos impõe um desafio sociológico e, ao mesmo tempo, pedagógico.
Sociológico porque as mudanças estruturais da sociedade capitalista das últimas décadas
desencadearam uma crise global que afetou as instituições, levando-as a rupturas, conflitos e
reorganização no âmbito de suas relações sociais. Esse processo, muitas vezes, se apresenta
de modo "natural", aparentemente irreversível na sociedade, requerendo uma ação mais efetiva
para uma problematização. Nesse sentido, a Sociologia se apresenta como uma ferramenta
valiosa. Pedagógico porque também o processo de socialização do conhecimento escolar
se reveste dos elementos históricos globais das relações sociais, trazendo para esse espaço
a concretização de conflitos, crises e disputas concomitantes no cenário social maior, mas
guardando sua especificidade. (MENDONÇA, 2011, p. 5)

Temos duas vertentes da Sociologia na Educação, enquanto disciplina, que serão tratadas sepa-
radamente:

• a disciplina Sociologia na educação básica; e


• a disciplina de Sociologia da Educação que compõe o currículo do curso de pedagogia.
A disciplina Sociologia destinada à educação básica no Brasil foi ofertada entre 1925 e 1942
como obrigatória. Nos períodos ditatoriais (durante o Estado Novo, de 1937 a 1945; e a Dita-
dura Militar, de 1964 a 1984), entretanto, a disciplina foi excluída do ensino secundário, pois
promovia o questionamento da ordem e do regime, sendo considerada subversiva (LENNERT,
2011).

Somente em 2006 ela se tornou disciplina obrigatória, por meio da Resolução CNE n. 4/2006,
que altera o artigo 10 da Resolução CNE/CEB nº 3/98, o qual institui as Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Médio. Tal prática ainda precisa de um enfoque e valorização maiores
por parte dos governantes e das políticas educacionais brasileiras. E quanto à disciplina Sociolo-
gia da Educação no curso de Pedagogia?

Bem, saiba que a Sociologia da Educação vem contribuindo na formação do pedagogo e pro-
movendo a compreensão acerca da realidade educacional no contexto brasileiro. Porém, ela

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deve promover mais do que isso, ela deve promover o olhar crítico e transformador sobre os
fatos sociais.

Embora o campo de conhecimento da Sociologia não garanta por si o compromisso de


promover uma educação crítica transformadora, pela sua especificidade de analisar a
sociedade sob o prisma de vários olhares que as diversas perspectivas analíticas ensejam
já possibilita uma ampliação da compreensão da realidade social e da educação como um
fenômeno fundamental na transmissão da herança cultural, dos modos de vida, das ideologias,
na formação para o trabalho que guarda uma estreita relação com a realidade em cada
contexto histórico. Daí a importância dessa disciplina no currículo dos cursos de formação de
educadores. (CORREIA & BATISTA, 2009, p. 2)

Desta forma, pensando nos diversos focos dos profissionais da educação, como professores,
especialistas da educação e da gestão educacional, a disciplina Sociologia da Educação preci-
sa contribuir para a reflexão relativa à profissão em si, à política educacional, ao exercício da
prática educativa e à legislação educacional. As ciências sociais podem dar essa contribuição
à medida que vão além das explicações imediatas, aprofundando-se nos princípios estruturais.

[...] apresentar o professor como «intelectual transformador»: intelectual porque, parafraseando


Gramsci, todos os homens e todas as mulheres são intelectuais, isto é, o homo faber não
pode ser separado do homo sapiens, intelectual também porque o professor, além de ter um
papel responsável na colectividade, só pode cumprir o seu papel de educador em condições
de democraticidade (que, por sua vez, implica participação); transformador porque, face ao
discurso da teoria educativa que legitima e reproduz formas particulares da vida social, o
trabalho do professor será eminentemente político [...] (STOER, 2008, p. 76)

Antes mesmo de analisar se o papel e as práticas promovem a perpetuação ou a transformação


da realidade social, a disciplina Sociologia da Educação deve promover a possibilidade do ques-
tionar, interrogar, duvidar e criar.

1.3 O processo socioeducacional


No último tópico desta unidade de ensino, o foco será no processo socioeducacional no decorrer
da história. Propomos agora uma reflexão sobre esse processo como um todo, amarrando as
questões que norteiam a educação no século XX com as considerações sobre o processo educa-
cional no século XXI.

O conhecimento sociológico, historicamente recente, vem contribuindo para a educação en-


quanto prática social e se torna, nos contextos atuais, indispensável para a compreensão das
transformações que a sociedade vivencia de forma acelerada. Vamos lá?

1.3.1 Reflexões sobre o processo socioeducacional


A Educação está presente em todos os momentos da vida humana. Isso porque é necessário
considerar na formação do indivíduo a educação formal (escolar), não formal (diversas relações
sociais) e extraescolar (instituições como a família, a religião, entre outras). De acordo com Car-
los Rodrigues Brandão, em sua obra O que é educação (1995), para saber, para fazer, para ser
ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação.

Olhando para a história da educação formal, vemos que ela sempre esteve atrelada aos interes-
ses políticos, econômicos e sociais de cada contexto. Sempre houve uma dualidade no sistema
educacional, no sentido de que havia uma educação direcionada à elite da sociedade e à classe
dominante, com maiores privilégios e oportunidades, e uma educação oferecida para a maioria
da população, de menor qualidade, restritiva, e, na maior parte dos casos, destinada à profissio-
nalização dos indivíduos para atender uma demanda imediata, ditada pelo mercado.

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Sociologia e filosofia da educação

Figura 6 – Representa a desigualdade social.


Fonte: Shutterstock, 2015.

Durante toda a história social, política e educacional é possível perceber a falta de interesse, por
parte das classes dominantes, em promover uma educação igualitária, democrática e emancipa-
dora. Até os dias atuais, é possível identificar, principalmente na educação pública, um interesse
de não mutação, de conformidade e acomodação por parte dos grupos dominantes.

As políticas educacionais derivam de políticas públicas, as quais definem os fins educativos de


cada momento histórico, que podem estar a serviço da manutenção do poder instituído ou da
transformação. Quando definimos os fins educativos, estamos definindo a sociedade, a cultura
e o homem de cada época.

Desde que a sociedade capitalista se consolidou no Brasil, a educação tem servido como um
instrumento para formar cidadãos para o trabalho de forma eficaz, ou seja, os indivíduos são
formados com as competências exigidas para atender o mercado. A parte negativa dessa prática
é que a educação destinada à grande maioria da população não vai além desse panorama, não
prepara um cidadão completo, crítico, consciente e capaz de tomar suas próprias decisões.

Há uma falta de interesse por parte dos educadores e da sociedade com relação à educação?
Ou podemos compreender isso como uma armadilha do sistema político e econômico, promo-
vendo alienação e conformidade com a situação? O estudo da Sociologia realmente contribui
para a educação? O estudo da Sociologia na educação promove garantias de uma evolução
para a educação? Sabemos que o conhecimento e a reflexão podem proporcionar à sociedade
possibilidades de melhorias e transformações. É esse direito que é preciso ser garantido aos
indivíduos.

Por fim, entenda que pensar e atuar na educação sem o conhecimento das ciências sociais se
torna impossível. Isso porque a educação e a escola encontram-se dentro de uma sociedade,
com sua cultura, intenções, valores e regras.

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NÃO DEIXE DE LER...
MÉSZÁROS, I. A educação para além do capital. 2ª ed. São Paulo: Boitempo, 2008.
O autor oferece uma reflexão densa e crítica sobre os limites e os equívocos das visões
liberais e utópico-liberais da educação. Portanto, esta leitura torna-se de bastante in-
teresse para o hábito da crítica e da compreensão do que pode existir nas entrelinhas
dos fatos e das realidades sociais.

1.3.2 Um passeio pelo processo socioeducacional do século XX


Um rápido passeio ao período anterior ao século XX é necessário para introdução deste tema.
Vale lembrar que as primeiras iniciativas de educação formal e não formal no Brasil estiveram
ligadas à Igreja. O ensino esteve ligado ao ato de explicar as questões religiosas, mantendo de
forma geral o conformismo e a manutenção das relações de poder.

A educação que passa pelo período colonizador, e em seguida pelo Império, chega ao século XX,
no Brasil, sem muitos avanços com relação ao período anterior. No período de 1930 a 1937, o
Brasil passou por um processo de radicalização política, com bastante efervescência ideológica.
Esse momento propiciou muitos projetos para a sociedade brasileira e uma política educacional
a ela atrelada.

Neste momento histórico surgiram quatro diferentes pensamentos sobre a educação brasileira,
quais sejam: os liberais, os católicos, o governo e a Aliança Nacional Libertadora (ANL). Os
liberais eram os intelectuais que defendiam a “pedagogia nova”, propondo uma educação re-
novada e a reformulação da política educacional, ao passo que os católicos defendiam uma
pedagogia tradicional. Diante disso, o governo adota uma posição de “neutralidade” com um
discurso de que era necessário ouvir as duas partes, enquanto a ANL envolveu grande parcela
das classes populares a fim de lutar contra a frente anti-imperialista e antifascista (ROLLEMBERG
et al., 2012).

Em 1931 foi criado, pelo governo de Getúlio Vargas, o Ministério da Educação e Saúde Pública
(MESP). A Constituição de 1934 traz alguns pequenos avanços no que tange a educação, como
o ensino primário obrigatório e totalmente gratuito; a obrigatoriedade do concurso público para
o provimento de cargos no magistério; a fixação que a União deveria reservar no mínimo 10% do
orçamento anual para a educação, e os Estados, 20%; o ensino religioso foi inserido na escola
pública (ROLLEMBERG et al., 2012).

Em 1937, sob o pretexto de combate ao comunismo e de manter a unidade e a segurança


da nação, Vargas desfechou o golpe que institucionalizou o Estado Novo. Os debates
educacionais foram abafados, novo reordenamento jurídico foi instituído. Um novo caminho,
agora traçado pelo estado ditatorial, passou a redirecionar o debate sobre a pedagogia e
política educacional. O debate saiu da sociedade civil e foi encampado e controlado pela
sociedade política. (ROLLEMBERG et al., 2012, p. 187).

Já no final do Estado Novo houve a adoção de uma nova Constituição, em 1946, que se definia
com um caráter liberal e democrático. Essa Constituição regulamentou o Ensino Primário e o
Ensino Normal e criou o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). Em 1961 foi pro-
mulgada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 4.024, porém em 1964,
com o golpe militar, todas as iniciativas, mesmo que isoladas e levantadas por alguns intelectuais
e defensores da educação pública, democrática e gratuita, são impedidas, sob o discurso de que
eram comunistas e subversivas.

17
Sociologia e filosofia da educação

O período ditatorial, ao longo de duas décadas que serviram de palco para o revezamento
de cinco generais na presidência da república, se pautou em termos educacionais pela
repressão, privatização de ensino, exclusão de boa parcela das classes populares do ensino
profissionalizante, tecnicismo pedagógico e desmobilização do magistério através de abundante
e confusa legislação educacional. Só uma visão otimista/ingênua poderia encontrar indícios de
saldo positivo na herança deixada pela ditadura militar. (ROLLEMBERG et al., 2012, p. 189).

A partir de 1985, o País passou por um período de redemocratização e, nesse momento histórico,
intelectuais voltaram a expressar suas ideias sobre uma educação democrática, justa e igualitá-
ria; movimentos sociais em todos os setores ganharam espaço, a liberdade de expressão volta
ao País com grande força.

Em 1988, foi promulgada a atual Constituição, a qual apresentou muitos avanços para a edu-
cação brasileira. Já em 1996, a Nova LDB no 9394 foi promulgada, seguindo as orientações da
Constituição de 1988, com muitos avanços para a Educação em todos os níveis e as modalida-
des educacionais.

A partir de 1990, o Brasil começa a passar por algumas mudanças sociais, políticas e econômi-
cas, em decorrência de um movimento global. O capitalismo, que estava em crise, ganha forças
com uma nova roupagem e, consequentemente, transformações sociais são iniciadas. No Brasil,
essas transformações chegam com mais ênfase a partir do século XXI.

NÃO DEIXE DE LER...


A Revista Educação e Sociedade possui como missão publicar a pesquisa acadêmica
sobre o amplo debate sobre o ensino, nos seus diversos prismas. Através dela você terá
oportunidade de avançar em seus estudos sobre a Educação como prática social. Exis-
tem várias publicações disponíveis para leitura no portal Scielo, disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issues&pid=0101-7330&lng=pt&nrm=iso>.

1.3.3 Reflexões sobre o processo sócio educacional no século XXI


A década de 1980 é marcada por discussões acerca da democracia e da globalização, do livre
mercado, da competitividade, da produtividade, da reestruturação produtiva e reengenharia, da
sustentabilidade e da “revolução tecnológica”.

Somos conformistas de algum conformismo, somos sempre homens-massa ou homens coletivos.


[...] O problema é o seguinte: qual é o tipo histórico de conformismo e de homem-massa do
qual fazemos parte? (GRAMSCI, 1986, p.12).

Uma nova concepção econômica e de governo começa a se instaurar no Brasil em torno do


princípio do Estado Mínimo.

18 Laureate- International Universities


Figura 7 – Representando a globalização.
Shutterstock, 2015

NÓS QUEREMOS SABER!


Você já ouviu falar sobre o Estado Mínimo? O Estado Mínimo é entendido como aquele
que atua de forma mínima nas questões sociais, políticas e econômicas, promovendo
as privatizações.

Essas mudanças possuem grandes repercussões sobre as questões sociais e educacionais, pois
afetam os modelos de organização do trabalho e de formação do trabalhador. De acordo com
Frigotto e Ciavatta (2006 apud Pinto, 2011, p. 28), praticamente desaparecem nas reformas
educativas efetivadas pelo governo em vigor expressões como educação integral, omnilateral,
laica, unitária, politécnica ou tecnológica e emancipatória, ganhando espaço ideias como poli-
valência, qualidade total, competências, cidadão produtivo e empregabilidade.

NÓS QUEREMOS SABER!


Você sabe o que significa omnilateral? É um termo que possui suas raízes no marxismo.
O homem omnilateral é aquele que está aberto e possui condições para buscar o que é
imprescindível para o seu ser: a realidade exterior, natural e social criada pelo trabalho
humano como manifestação humana livre.

A sociedade passa atualmente por muitas transformações tecnológicas que vêm alterando toda a
sua comunicação e busca pelo conhecimento de forma mundial. A escola que está inserida nesse
contexto, com foco na pública, não está conseguindo acompanhar todo o avanço tecnológico e

19
Sociologia e filosofia da educação

de mudanças sociais. As políticas educacionais são alteradas cada vez menos com a participa-
ção democrática da sociedade.

Figura 8 – Representa as inovações tecnológicas.


Fonte: Shutterstock, 2015.

Estamos em um momento no qual as formas de governo e poder se modificam rapidamente. Os


sindicatos e partidos perdem sua força de representação junto à sociedade, e os movimentos
sociais vêm mudando suas estratégias de atuação, inclusive utilizando a tecnologia como estra-
tégia, por exemplo, através das redes sociais.

CASO
Mariana trabalha para o Inep (<http://www.inep.gov.br/>) e ficou responsável por pesquisar
sobre a eficácia da Educação Básica no País. Através de visitas a escolas e muita análise de
documentação relativa aos testes de admissão ao ensino superior, Mariana chegou à conclusão
de que a prática educacional atual não está sendo eficaz para formar cidadãos que tenham as
competências mínimas para viver e conviver em sociedade de forma plena, ou seja, que deem
conta de ler e interpretar a sua realidade.

Quando chegam ao Ensino Superior, os indivíduos chegam com muitas deficiências de apren-
dizagem, o que compromete as condições para acompanhar os conhecimentos que devem ser
adquiridos nesse nível de ensino. Em outras palavras, temos que as políticas educacionais estão
ineficazes na sua elaboração e/ou implementação, o que nos remete a teoria de Marx sobre
como o capitalismo promove a desigualdade social, a marginalização dos trabalhadores e a
alienação dos indivíduos.

Como no pensamento de Paulo Freire (1996), o objetivo da ação educativa deve ser a produção
de conhecimentos, os quais, por sua vez, aumentarão a consciência e a capacidade de iniciativa
transformadora dos indivíduos. Há muitas considerações, porém, uma coisa é certa: mais do que
nunca, o papel da Sociologia e Educação é necessário como instrumento que permite ao indi-
víduo compreender a sociedade de forma crítica e consciente, buscando um modelo mais justo
democrático, sendo palco da emancipação dos indivíduos.

20 Laureate- International Universities


Síntese Síntese
Neste capítulo, os principais pontos abordados foram o nascimento da Sociologia como ciência
e, depois, como disciplina, bem como sua inserção na pratica educacional nos séculos XX e XXI.

• A Sociologia surgiu em países da Europa que passavam por profundas transformações


sociais.

• A Sociologia, como ciência, nasceu da tentativa de vários pensadores e filósofos de


compreender e explicar as transformações pelas quais a sociedade da época vinha
passando, na religião, cultura, política, economia, entre outros setores sociais.

• O conhecimento sociológico crítico à sociedade capitalista encontra-se nos estudos de


Marx e Engels.

• No final do século XIX e início do século XX, a Sociologia contou com a contribuição do
pensador Max Weber, que se dedicou a manter a distinção entre o conhecimento científico
e os julgamentos de valor sobre a sociedade.

• Jean Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo iluminista, também é considerado um


importante pensador que contribui para o início do pensamento sociológico.

• A Sociologia, como ciência, vem ao longo dos anos contribuindo de forma significativa
para uma educação com um olhar mais crítico e racional sobre o contexto no qual está
inserida.

• A Sociologia da Educação, como um olhar sobre o fato educativo, vem contribuindo na


formação do pedagogo quando promove a compreensão da realidade educacional no
contexto da educação brasileira.

• Durante ambos os regimes ditatoriais (com Vargas, em 1937 a 1945; com os militares em
1964 a 1984), disciplinas como a Sociologia, consideradas subversivas, foram reprimidas
e excluídas do currículo escolar.

• Apenas no período de redemocratização (pós 1985) é que a Sociologia passou a ser


incorporada na pratica educacional, primeiro como disciplina optativa e, a partir de 2006
(com a LDB no 9394/96), como obrigatória.

• O papel questionador da Sociologia é indispensável para compreendermos as


transformações sociais e o processo de globalização do século XXI.

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