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APRESENTAÇÃO

Percursos Gramaticais pretende ser um guia de estudo e de sistematização dos conteúdos gramati-
cais lecionados no Ensino Secundário, concretamente no 11.o ano.

As atividades de funcionamento da língua propostas no manual Outros Percursos 11 permitem-te


refletir sobre os mecanismos que contribuem para o desenvolvimento da competência de comu-
nicação, através de uma diversidade de textos e exercícios.

Esta obra poderá, então, esclarecer as tuas dúvidas e auxiliar-te na resolução daquelas atividades
de funcionamento da língua, bem como das do Caderno de Atividades. Aconselhamos-te, então,
a consultá-lo de forma regular e sistemática, para poderes desenvolver o teu conhecimento sobre
noções e regras gramaticais.

“Usa e serás mestre”, diz o adágio popular, por isso, segue este conselho e viaja pelos Percursos
Gramaticais, sempre que for necessário.

As autoras

1
ÍNDICE

Atos de fala............................................................................................... 3

Realização direta e indireta dos atos de fala .......................................... 4

Aspeto verbal ........................................................................................... 4

Classes de palavras ................................................................................. 6

Coesão...................................................................................................... 14

Coerência ................................................................................................. 15

Deíticos .................................................................................................... 16

Formação de palavras ............................................................................ 17

Frase simples/Frase complexa .............................................................. 18

– Coordenação .............................................................................. 18

– Subordinação ............................................................................. 19

Funções sintáticas .................................................................................. 21

– Nucleares .................................................................................... 21

– Internas ....................................................................................... 23

– Vocativo ...................................................................................... 24

– Modificadores ............................................................................. 24

Grupos frásicos ....................................................................................... 25

Interação discursiva ................................................................................ 26

Marcadores discursivos .......................................................................... 27

Modalidade .............................................................................................. 28

Relato do discurso ................................................................................... 29

Relações lexicais ..................................................................................... 30

Tempos e modos verbais ........................................................................ 32

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

ATOS DE FALA
A linguagem assume formas diversas conforme a intenção do sujeito de enunciação e/ou o con-
texto em que o enunciado é proferido, chamando-se a isso ato de fala. Este apresenta três com-
ponentes:
i) ato locutório – consiste no próprio ato de falarmos, através da combinação de palavras.
ii) ato ilocutório – revela a intenção comunicativa do locutor (pedir, ordenar, informar, declarar…),
através da utilização de diferentes verbos e de diferentes tipos de frase. Assim, obtemos atos
assertivos, diretivos, compromissivos, expressivos, declarativos e declarativos assertivos.
iii) ato perlocutório – consiste no efeito que o ato ilocutório proferido produz no interlocutor
(influenciar, irritar, emocionar…).

A classificação dos atos de fala resulta de um conjunto de variáveis, tais como: o objetivo da comu-
nicação, a relação entre os interlocutores, o espaço e o tempo em que o enunciado é produzido,
podendo considerar-se os seguintes atos de fala:

ATOS DE FALA DEFINIÇÃO MARCAS LINGUÍSTICAS EXEMPLIFICAÇÃO

Demonstram a implicação do – Asserções afirmativas/negativas - Padre António Vieira foi


enunciador em relação à – Verbos – acreditar, admitir, afirmar, perseguido pela Inquisição.
verdade/falsidade do enunciado. considerar, discordar, negar… - Admito que alguns textos do
Assertivos – Expressões verbais: ser período barroco não são de fácil
possível/necessário, achar compreensão.
possível/necessário…

Revelam a intenção de o emissor – Frases de tipo imperativo – Abri, abri estas entranhas; vede,
influenciar o modo de agir do – Frases de tipo interrogativo vede este coração. (Sermão de
interlocutor, levando-o a (diretas/indiretas) Santo António, cap. III,
concretizar algo. – Verbos diretivos – avisar, P.e António Vieira)
convidar, exigir, proibir, ordenar – A minha senhora está a ler?
Diretivos – Expressões iniciadas por querer (Ato I, cena II, Frei Luís de Sousa,
que + verbo Almeida Garrett)
– Ora sirva-se desse fricassé,
ande, abade (Os Maias, cap. III,
Eça de Queirós)

Expressam a intenção de o – Verbos - prometer, jurar, - Por esta causa não falarei hoje
emissor realizar, no futuro, uma garantir em Céu nem Inferno (…)
ação, ou cumprir o que enuncia. – Frases em que se use o futuro do (Sermão de Santo António,
indicativo ou outro tempo cap. II, P.e António Vieira)
Compromissivos equivalente - Vou, já te disse, vou dar uma
– Frases complexas do tipo lição aos nossos tiranos (…)
condição-consequência (Ato I, cena VIII, Frei Luís de
Sousa, Almeida Garrett)

Revelam o estado psicológico do – Frases de tipo exclamativo - Que mundo! Coitadinha!


locutor através do conteúdo do – Verbos expressivos – agradecer, (“Contrariedades”, Cesário
enunciado. desculpar-se, felicitar, lamentar Verde)
Expressivos – Expressões verbais – achar - Caramba! Tu vens esplêndido
bem/mal, gostar muito/pouco desses Londres, dessas
– Expressões exclamativas civilizações superiores. (Os
Maias, cap. IV, Eça de Queirós)

Implicam a criação de uma nova – Verbos declarativos – declarar, - Declaro-vos marido e mulher.
realidade, a partir do enunciado nomear, batizar, abrir, encerrar, - Declaro aberta a sessão.
Declarativos/ de um locutor cuja posição social terminar
Declarações seja reconhecida pelo
destinatário.

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

REALIZAÇÃO DIRETA E INDIRETA DOS ATOS DE FALA

Ato de fala direto consiste na realização de um ato de fala através do uso explícito de verbos per-
formativos ou realizativos (pedir, ordenar, exigir, convidar, …), os quais orientam claramente a inter-
pretação da força ilocutória do ato, ou seja, o objetivo do locutor ao proferi-lo.

Exemplos: Peço-te que me ouças.


Exijo uma recompensa.
Convido-te para o meu aniversário.

Ato de fala indireto consiste na realização de um ato de fala cujo enunciado literal/gramatical não
revela, de forma explícita, a intenção comunicativa do locutor.

Exemplo: Já está a chover.

Literalmente, o enunciado “Já está a chover.” revela uma informação; no entanto, atendendo ao
contexto em que é proferido, pode pretender alertar o interlocutor para o facto de não poder sair
ou para a necessidade de levar um guarda-chuva (…), encerrando, deste modo, um ato de fala
diretivo. Assim, fatores contextuais e processos de dedução/inferência contribuem para a com-
preensão do que se diz e da forma como se diz.

ASPETO VERBAL

O aspeto é uma categoria que indica a forma como o locutor perspetiva o acontecimento expresso
pelo verbo ou complexo verbal. Nem sempre o valor aspetual do enunciado depende só do valor
temporal das formas verbais, embora se possam associar diferentes valores aspetuais a cada tempo
verbal.

O aspeto verbal resulta do aspeto lexical (combinado com o valor dos tempos verbais, dos verbos
auxiliares, dos quantificadores, dos tipos de nomes (contáveis ou não contáveis) e também dos
modificadores. Desta combinação surgirão diferentes valores aspetuais, como se pode verificar
nas duas tabelas que se seguem.

Aspeto lexical – relaciona-se com o significado lexical do verbo ou complexo verbal, podendo
classificar-se como:

ASPETO LEXICAL CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS

Refletem situações – O atleta subiu ao pódio.


Instantâneos
pontuais/instantâneas. – O menino rebentou o balão.

Eventos Referem situações prolongadas – Os alunos fizeram os resumos (num mês).


Prolongados
(situações dinâmicas) e delimitadas temporalmente. – A secretária elaborou os relatórios mensais.

Evidenciam situações não – Íamos à piscina todos os dias.


Atividades
delimitadas temporalmente. – Eles têm feito horas extraordinárias.

Reportam-se a situações – O Pedro gosta de música Pop.


Estados
também não delimitadas
(situações não dinâmicas) – A Luísa vive em Lisboa.
temporalmente.

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

Aspeto gramatical – resulta da flexão dos verbos e dos complexos verbais, considerando-se:

ASPETO GRAMATICAL CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS

O verbo, normalmente no
pretérito perfeito do indicativo, – Os alunos entregaram o teste no fim da
Perfetivo apresenta o acontecimento como aula.
concluído, considerado no seu – Os alunos acabaram de sair da sala.
Valores aspetuais resultado.
gramaticais básicos
O verbo, geralmente no pretérito
imperfeito do indicativo, expressa – O Luís estava a resolver o exercício.
Imperfetivo
o acontecimento no seu decurso, – A aluna escrevia a resposta.
isto é, não concluído.

Os enunciados podem ter outros valores aspetuais, associados à quantificação, à duração da situa-
ção e à fase de desenvolvimento:

VALORES ASPETUAIS CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS

Percecionado em enunciados relativos a - O homem é mortal.


Genérico situações atemporais e verdadeiras, cujos
verbos estão no presente do indicativo. - Uma semana tem sete dias.

Presente em enunciados que apresentam


situações que decorrem num período de - O meu pai vai à piscina todos os dias.
Quantificação Habitual tempo ilimitado, socorrendo-se de verbos - Costumava ir ao cinema com os meus
no presente e no pretérito imperfeito do colegas.
indicativo.

Refletido em enunciados que referem - No inverno passado fiz ski durante um mês.
Iterativo situações que se repetem num dado - A campainha da escola toca para controlar
período de tempo, delimitado ou não. as entradas e saídas de aula.

Duração da situação

Refere-se a eventos instantâneos e a - Ela partiu às catorze horas.


Pontual
situação não apresenta qualquer duração. - O João tropeçou.

- O João é simpático.
Refere-se a eventos prolongados, a
Durativo - Os alunos vão fazer hoje o teste de
estados ou a atividades.
avaliação.

Fase de desenvolvimento

Quando a situação é apresentada no seu - Os alunos estão a começar a aula de


Ingressivo
início. Educação Física.

Quando a situação é apresentada no seu - Os alunos estão na aula de Educação


Progressivo
decurso. Física.

Quando a situação é apresentada no - Os alunos acabaram a aula de Educação


Terminativo
momento de conclusão. Física.

Quando se apresenta o resultado da ação - As inundações provocaram centenas de


Resultativo
ou do processo. mortos.

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

CLASSES DE PALAVRAS

– Expressa uma ordem ou sucessão;


– Situa-se, geralmente, antes do nome; – A última comemoração do ano
Adjetivo – Pode ser antecedido por determinantes; vieirino ocorreu em 2008.
Palavra pertencente a Numeral
– Não varia em grau; – No quarto capítulo do sermão
uma classe aberta, que – Designava-se, tradicionalmente, como surgem as repreensões.
varia em género, número numeral ordinal.
e grau. Constitui o núcleo
do grupo adjetival,
– Atribui uma qualidade ao nome a que se
admitindo a precedência reporta; – O pobre orador sofreu com a
de advérbios. Pode – Funciona como modificador ou Inquisição. (O orador pobre
selecionar complemento de grupo nominal; perdeu a fé nos homens.)
complementos Qualificativo
– Ocorre, normalmente, depois do nome, – O bom colono distribuía esmolas.
Exemplos: embora alguns possam ser colocados à (O colono bom pavoneava-se por
- A atitude dos colonos é esquerda e à direita, adquirindo sentidos todo o lado).
muito grave. distintos.
- Estou ansioso por
encontrar mais justiça.
- O orador ficou – Deriva de um nome;
dececionado com os – Pode ser agente ou indicar posse; – O poder clerical foi questionado.
homens. Relacional – Não admite, frequentemente, variação – Em território brasileiro grassava a
em grau; injustiça.
- Coloca-se depois do nome.

1 Cesário Verde chegou a Lisboa


– É utilizado para estabelecer conexões
para trabalhar na loja de ferragens
entre frases1 ou seus constituintes2,
do pai. Seguidamente mudou-se
dando conta de uma determinada
para o campo e depois criticou os
ordem1, uma consequência3, um
citadinos.
contraste4; 2 Cesário tece várias críticas,
Conectivo – Não são afetados pela negação nem
concretamente aos exploradores
pela interrogação, à semelhança do que
citadinos.
Advérbio acontece com os advérbios de frase; 3 Os homens não ouviam; Vieira
Palavra invariável que – Distinguem-se das conjunções com
voltou-se, portanto, para os peixes.
apresenta características valor idêntico por poderem ocorrer entre 4 Vieira esforçou-se; a vaidade dos
diversas. Constitui o o sujeito e o predicado.
homens, contudo, falou mais alto.
núcleo do grupo
adverbial, pode
substituir-se por um – Certamente, Vieira não erradicou
– Apresenta diferentes valores
advérbio com terminação o mal. (valor de afirmação)
semânticos;
em -mente, exceto De frase – Provavelmente alguém
– Caracteriza-se pela impossibilidade de
prosseguiu a pregação de Vieira.
o advérbio de ser negado ou interrogado.
(valor modal – dúvida)
negação “não”.
Pode desempenhar a
função sintática de – Tem três valores semânticos: tempo, – Vieira pregava semanalmente em
modificador de frase ou modo e lugar; S. Luís do Maranhão. (valor
do grupo verbal, de – Ocorre dentro do grupo verbal; temporal)
complemento oblíquo ou – Pode desempenhar a função de
– Os índios reagiram
de predicativo do sujeito. De predicado complemento oblíquo, modificador do
estranhamente à pregação.
Alguns podem também grupo verbal (e, mais raramente, de
(valor modal)
modificar grupos predicativo do sujeito);
– Há a possibilidade de ser negado ou – O púlpito era ali, na praia. (valor
preposicionais, adjetivais locativo)
interrogado.
ou nominais.

– Fornece informação relativa ao grau ou


quantidade; 1 Cesário escreveu pouco.
– Ocorre dentro do predicado1 ou modifica 2
Quantidade e Sentiu-se muito desolado.
grupos adjetivais2 ou adverbiais3;
grau 3 Cesário foi reconhecido muito
– Pode (em certos casos) ser utilizado na
formação do grau de adjetivos e de tardiamente.
advérbios.

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

CLASSE SUBCLASSE EXPLICITAÇÃO/DEFINIÇÃO EXEMPLOS

– Pode ser modificador do grupo verbal ou


– Cesário não queria viver na
Negação de um dos seus constituintes;
cidade.
– "Não" é o único advérbio de negação.

– É utilizado em respostas a frases


1 Praticas o bem? Sim.
interrogativas totais1;
Afirmação – Pode ser usado como modificador de um 2 Cesário descreveu a cidade, sim,
constituinte2, certificando ou reforçando mas também retratou o campo.
o valor afirmativo da frase.
1 Vieira só fez um sermão aos peixes.
2 Todos os habitantes do Maranhão
– É usado para realçar o constituinte que o ouviam, inclusive os colonos,
modifica, dando informações sobre o que costumavam criticá-lo.
seu caráter exclusivo1 ou a participação 3 Os colonos criticaram-no mesmo.
Inclusão/ ou não num dado conjunto2; 4 Vieira ficou apenas desiludido.

exclusão – Pode ser interno ao predicado3 ou 5 Os alunos entregaram só hoje o

modificador de grupos adjetivais4, trabalho sobre P.e António Vieira.


adverbiais5, nominais6 ou 6 Fizeram só a primeira parte do

preposicionais7. trabalho.
7 Assistiu-se até a simulações do

sermão vieirano.

Interrogativo – Serve para identificar o constituinte


“onde”, interrogado numa frase interrogativa,
- Estuda-se o sermão porquê?
“quando” e podendo substituir-se por um grupo
“porquê” adverbial ou preposicional.

– É usado para identificar o constituinte


relativizado numa oração relativa; - A quinta onde Cesário nasceu
Relativo
– É substituível por um grupo adverbial ou sofreu um incêndio.
preposicional.
1 Vieira e Cesário produziram obras
marcantes.
– Liga grupos nominais1, preposicionais2, 2 Os autores ficaram em

adverbiais3, adjetivais4 e orações sobressalto ou em pânico perante


coordenadas5; as injustiças sociais.
Coordenativa – Apresenta como subclasses tradicionais 3 Vieira falava lenta e pausadamente

as conjunções coordenativas para ser entendido.


copulativas, disjuntivas, conclusivas, 4 Os sermões vieirianos eram duros

adversativas e explicativas. e incisivos.


5 Vieira foi para Itália; portanto

mudou de auditório.
Conjunção 1 Bem sabeis que Telmo Pais
Palavra invariável, protegia a jovem Maria.
pertencente a uma D. Madalena perguntou se era
classe fechada, que liga possível.
palavras (as Telmo disse-lhe para não duvidar.
2 Como D. Madalena duvidava,
coordenativas), orações
coordenadas e – Introduz orações subordinadas Telmo demonstrou a sua lealdade.
3 Ele não desvendou o mistério dos
subordinadas (completivas ou adverbial);
(completivas e – Apresenta tradicionalmente como retratos para não desobedecer a
adverbiais). subclasses as conjunções subordinativas D. Madalena.
completivas1, causais2, finais3, 4 O Romeiro chegou quando Manuel
Subordinativa
temporais4, concessivas5, condicionais6, de Sousa se ausentou.
comparativas7 e consecutivas8. 5 [Apesar de] estar doente, Maria
Note-se que algumas orações quis acompanhar o pai.
subordinadas adverbiais podem também 6 Manuel levá-la-ia se D. Madalena
ser introduzidas por locuções9. autorizasse.
7 Maria verbalizava tanto quanto

pensava.
8 Ela questionava tanto que

preocupava a mãe.
9 Ainda que, desde que, a fim de,

uma vez que...

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

CLASSE SUBCLASSE EXPLICITAÇÃO/DEFINIÇÃO EXEMPLOS

o, a, os, as - A minha personagem preferida é


| Definido um, uma, uns, umas o Romeiro.
Artigo | - Um aluno que se preze, lê
| Indefinido Nunca antecede determinantes
demonstrativos, mas pode anteceder os integralmente as obras de leitura
possessivos. obrigatória.

– Varia em género e número;


– Concorda com o nome que especifica; 1 Esta minha mania de ler fica-me
– Tem valor deítico ou anafórico; cara.
Possessivo – Estabelece uma relação de posse; 2 Minha Maria, chega aqui.
meu, minha, – Usa-se, geralmente, em posição pré-
meus, minhas -nominal; 3 O serviçal, seu criado, era Telmo

teu, tua…; seu, – É precedido pelo artigo definido ou pelo Pais.


sua…; nosso, demonstrativo1 (salvo quando é 4 [Todos os] meus alunos leram Frei
nossa…; vosso, vocativo2 ou modificador apositivo3); Luís de Sousa.
vossa… – Pode ser precedido por alguns 5 Alguns alunos meus não leram Os
quantificadores4;
– Ocorre em posição pós-nominal5 em Maias.
determinados contextos.
Determinante
Palavra pertencente a - Varia em género e número;
uma classe fechada que - Tem valor deítico ou anafórico;
ocorre antes do nome, - Concorda com o nome que precede; Esta jovem sabia o que fazia./
com o qual concorda em Demonstrativo - Estabelece uma relação de proximidade 1 A esta jovem…
género e número, este, esta…, ou distância, tendo em conta os
Esta minha turma lê pouco./
especificando-o. esse, essa…, interlocutores; 2 Minha esta turma…
aquele, - Não coocorre com o artigo1 e, em caso
3 Toda esta tragédia familiar
aquela… de coocorrência com o determinante
possessivo, precede-o obrigatoriamente2; comove.
- Pode ser precedido por alguns
quantificadores3.

Indefinido – Varia em género e número; 1 Certos jovens assumem


certo(s), – É utilizado em contextos em que não há comportamentos incorretos.
certa(s), informação específica ou identificada1; 2 Umas certas meninas fizeram
outro(s), – Distingue-se do artigo indefinido porque
outra(s) ambos podem comparecer2. disparates.

Relativo
– Antecede um nome no início das – Os textos cujos autores foram
cujo, cuja,
orações relativas. sugeridos são muito bons.
cujos, cujas

Interrogativo
– Precede o nome em frases – Que livro escolheste para
que, qual,
interrogativas. apresentar?
quais

1 alegria;
2 animação/ 1 ah!, oh!, ...
incitamento; 2 força! coragem! eia!, vamos!, ...
3 aplauso; 3 bis! bravo!, viva!, ...
Interjeição 4 desejo; – Classifica-se de acordo com o seu valor 4 oh!, oxalá!, …
Palavra invariável que 5 dor semântico; 5 ai!, ui!, ai Jesus, ...
pertence a uma classe 6 espanto ou – Interpreta-se de acordo com o contexto, 6 credo!, chiça!, ah!, hi!, e locuções
aberta e que não o tom de voz e a atitude do locutor;
surpresa; interjetivas como “Meu Deus”,
desempenha nenhuma 7 impaciência/ – Enuncia-se com uma entoação
“Essa agora”, …
função sintática, servindo exclamativa na oralidade; 7 irra!, hem!, mau!, hum!, ...
irritação
apenas para expressar 8 invocação/ – Assinala-se com um ponto de 8 ó!, ei! olá!, pst!, eh!, ...
emoções de… exclamação na escrita. 9 caluda!, pouco pio! psiu!, silêncio!, ...
chamamento
9 silêncio 10 alto!, basta!, ...
10 suspensão 11 ui!, uh!, ...
11 terror

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

CLASSE SUBCLASSE EXPLICITAÇÃO/DEFINIÇÃO EXEMPLOS

– Tem o advérbio como classe com rapidez, longe de, com


Locução Adverbial
dominante. certeza…
Sequência de duas ou
mais palavras que,
sintática e ao lado de, por cima de, atrás de,
Prepositiva – Tem a preposição como dominante.
semanticamente, se sobre a…
constituem como uma
só. Conjuncional – Tem a conjunção como dominante. assim que, logo que, ainda que.

Coletivo
Nome que
designa no
– Há nomes coletivos contáveis e não
singular um 1 frota, alcateia, multidão, enxame
contáveis, como os exemplificados
conjunto de
em1 e 2, respetivamente, sendo que 2 fauna, flora
objetos ou
em 2 não admitem plural; 3 A alcateia do Parque Natural do
entidades do
– Indica, em algumas situações, Alvão está em fase de reprodução.
mesmo tipo e
quantidades concretas3.
que admite
variação em
número.

Contável
– designa entidades ou seres passíveis 1 De entre os poemas de Cesário,
de divisão ou enumeração1; o poema “Nós”mereceu melhor
Comum – pode ocorrer em construções de
Nome aceitação dos alunos.
Nome que se enumeração2 e a forma de plural 2 Um [aluno] gostou muito de
Palavra que permite
refere a marca uma oposição quantitativa3.
variação em género, em “Noite Fechada”, dois [alunos]
entidades ou
número e em grau preferiram o “De Tarde” e a
seres, e que
(aumentativo e maioria não apreciou a poesia
pode ou não ser
diminutivo). Constitui o cesariana.
completamente 3 Um poema/dois poemas…
núcleo do grupo nominal,
determinado. Não-contável
podendo ser antecedido
por determinantes ou
Admite – designa algo indivisível (ver exemplos 1 1 O arroz faz parte da alimentação
quantificadores, que o
complementos e 2);
dos portugueses.
ou – não ocorre com quantificadores 2 A memória [do elefante] é uma
antecedem. Alguns
modificadores numerais mas com indefinidos e
nomes podem selecionar qualidade.
complementos.
restritos e universais3. 3 Há [bastante] arroz no mercado.
plurais.
* Os nomes não contáveis que denotam (= existem várias qualidades de
entidades que podem ser medidas também são arroz no mercado).
designados como "nomes massivos".

– Designa uma única entidade num


determinado contexto discursivo; 1
– É completamente determinado 1-2; “Telmo dá sinais de grande
– Não admite complementos ou agitação” (Frei Luís de Sousa).
2 O Pedro não leu a obra.
modificadores restritivos3-4 nem varia
Próprio em número5. 3 *Portugal que visitámos é bonito.

Em determinadas situações, os nomes próprios 4 *O Pedro fantástico leu tudo.


podem ser utilizados em construções típicas dos 5 *As Espanhas são enormes.
nomes comuns:
– A Espanha que visitámos há 10 anos não existe.

a, ante, após,
Preposição
até, com, – É núcleo do grupo preposicional;
Palavra invariável que
contra, de, – Pode introduzir grupos nominais, – Parou perante o obstáculo.
estabelece uma relação
desde, em, adverbiais e frases;
sintática e semântica – O Romeiro regressou após 21
entre, para, – Possui uma função relacional e o seu
entre grupo nominal, anos de ausência.
perante, por, significado atualiza-se em função do
orações ou elementos
segundo, sem, contexto em que ocorre.
frásicos.
sob, sobre, trás.

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

CLASSE SUBCLASSE EXPLICITAÇÃO/DEFINIÇÃO EXEMPLOS

Demonstrativo
– Admite variação em género e número; – Isso preocupa-o.
a) Formas tónicas
– Tem um valor deítico ou anafórico; – Telmo referiu-o (= Telmo
este(s), esta(s), isto
– Estabelece referências de proximidade referiu isso/Telmo referiu
esse(s), essa(s), isso
ou distância tendo como referência os que...)
aquele(s), aquela(s),
interlocutores; – Esta obra de Garrett é mais
aquilo
– Não pode ser antecedido de interessante do que a que
b) Formas átonas determinantes. escreveu em prosa.
o(s)/a(s)

- Alguém visitou D. Madalena na


ausência de Manuel de Sousa./
O Romeiro fez tudo para
chegar no dia previsto./
– Varia em género e número; Ninguém se lembrava já de
– Corresponde ao uso pronominal de um D. João de Portugal.
Indefinido
quantificador ou de um determinante
- Todas chegaram a tempo da
indefinido.
apresentação.
– Elas leram todas as obras,
mas os rapazes leram apenas
algumas.

Pronome
1 Quem és tu?
Palavra pertencente a Interrogativo
uma classe fechada que, – Ocorre em frases parciais 1-3; 2
o que, o quê, quem, Onde estiveste, Romeiro?
em alguns casos, varia – Identifica o constituinte interrogado.
que, quanto… 3 O que pretendeis?
em género e número, em
pessoa e caso.
Normalmente, não pode
anteceder um nome mas
pode substituir um grupo
nominal. Pessoal
tónicos: eu, tu, – Varia em caso, pessoa, género e
você, ele/ela, nós, número;
vós, vocês, eles/ – Indica, geralmente, os participantes do
elas; mim, ti, si. discurso, possuindo uma função
átonos: me, te, o, a, deítica;
– Tem formas tónicas e átonas: as
lhe, nos, vos, os, as,
átonas ocorrem junto ao verbo,
lhes, se.
separando-se por hífen quando
1. Formas de colocadas depois do verbo. As formas
contração do pronome tónicas são antecedidas de preposição
pessoal tónico com a ou contração desta com o pronome;
preposição "com”: – Verifica-se com a variante átona do
comigo, contigo, pronome pessoal cuja terceira pessoa
connosco, convosco,
é "se" os seguintes valores:
consigo.
• reflexividade1; 1 Telmo atrapalhou-se.
2. Formas de
contração de dois
• reciprocidade2; 2
• indefinição do sujeito (valor impessoal Telmo e o Romeiro
pronomes pessoais: abraçaram-se.
"mo(s)"/“ma(s)" = – ocorrendo só na terceira pessoa)3;
• passivização (valor passivo – 3 Fala-se muito de Eça de
“me + o(s)” ou “a(s)”;
"to(s)"/"ta(s)" = ocorrendo apenas na terceira Queirós.
"te" + "o(s)"/"a(s)"; pessoa)4; 4 Fazem-se leituras diversas
"lho(s)"/"lha(s)" = • fazendo parte do verbo com que se das obras integrais.
"lhe" + "o(s)"/"a(s)") combina (valor inerente)5. 5 Maria riu-se muito.

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

CLASSE SUBCLASSE EXPLICITAÇÃO/DEFINIÇÃO EXEMPLOS

Possessivo
Um possuidor:
meu, minha, meus,
minhas – Varia em pessoa, género e número;
teu, tua, teus, tuas – Tem um valor deítico ou anafórico;
seu, sua, seus, suas – É geralmente precedido de artigo – O Romeiro teve consciência da
definido; sua situação. E D. Madalena
Vários possuidores: – Indica o(s) possuidor(es) do que é teve da sua?
nosso, nossa, designado pelo grupo nominal que
nossos, nossas substitui.
vosso, vossa, vossos,
vossas
seu, sua, seus, suas

Relativo
– Escuta o homem de que te
Variáveis: falei.
o qual, os quais, a – Introduz as orações relativas;
qual, as quais… – Mostro-te quem te poderá
– Tem função de conector/articulador.
ajudar a perceber melhor a
Invariáveis: obra.
que, quem

Existencial
algum(ns)/
– Expressa uma parte de um todo cujo – Vários alunos não leem
bastante(s)
número não é possível precisar. Os Maias.
pouco(s)/tanto(s)/
vários(as)

Interrogativo – Quantas personagens intervêm


quanto(s) – Antecede um nome; em Frei Luís de Sousa?
Quantificador quanta(s) – Introduz uma frase interrogativa.
que R: Seis na totalidade.
Palavra ou locução que
ocorre em situações
semelhantes às dos
determinantes, dando – Intervieram dois personagens.
Numeral
informações sobre – Apresentaram o triplo dos
cardinal – Expressa uma quantidade numérica
quantidade ou trabalhos previstos.
multiplicativo precisa, multiplicativa ou fracionária.
número1. fracionário – Um terço dos alunos não gosta
Concorda em género e de visitas de estudo.
número com os nomes
que especifica.
1 – Maria é uma personagem cuja
Todos os alunos leram
– Identifica o constituinte relativizado; visão supersticiosa espoleta o
Os Maias. Relativo
– Tem como antecedente um grupo dramatismo.
- Todos leram um dos quanto(s)/quanta(s)
livros recomendados. nominal; – Foram feitas tantas visitas de
cujo(s)/cuja(s)
– Inicia uma oração relativa. estudo quantas foram
possíveis.

Universal – Ambas as protagonistas de


todo(s), toda(s), Os Maias se chamam Maria.
– Vem antes do nome e especifica-o;
ambos, cada,
– Refere-se à totalidade do conjunto – Qualquer vontade de Maria
qualquer/quaisquer,
que designa. Monforte era satisfeita por
nenhum(a)/
nenhuns(mas) Pedro.

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

CLASSE SUBCLASSE EXPLICITAÇÃO/DEFINIÇÃO EXEMPLOS

Auxiliar – Carlos tinha visitado várias vezes


ser (da passiva)/ – Antecede um verbo principal; Maria Eduarda na Toca.
ter/haver/ – É usado na formação de tempos
– A Toca foi cedida por um amigo
estar/ir/vir compostos (ter, haver), na passiva, e
de Carlos.
e verbos de valor dá informações relativas ao tempo,
aspetual modal aspeto e modo. – Carlos iria saber a verdade pelo
(dever/poder) Sr. Guimarães.

– É núcleo do grupo verbal;


– Determina ou não a presença do
sujeito e de um ou mais – Pedro da Maia amava Maria
complementos; Monforte. (CD – transitivo direto)
– Apresenta várias subclasses em
Principal – Pedro da Maia gostava de Maria
função da natureza dos
complementos que seleciona; Monforte. (COblq. - transitivo
– Pode integrar-se em diferentes indireto)
subclasses, de acordo com o contexto
em que surge.

– Os alunos estão satisfeitos.


Copulativo – A professora é espetacular.
Consideram-se – O rapaz fica silencioso.
verbos
– A minha irmã continua em
copulativos os – Ocorre numa frase em que existe um França.
Verbo seguintes: estar, grupo com a função sintática de
É núcleo do grupo verbal ser, ficar, – A Sofia parece contente.
sujeito e outro com a função sintática
e flexiona em tempo, parecer, de predicativo do sujeito. – Os meninos permaneceram em
modo, pessoa e número. permanecer, silêncio.
continuar, – Os alunos continuam confusos.
tornar-se e
revelar-se – Aquele jovem tornou-se violento.
– O chefe revela-se incongruente.

– Quando viu pela primeira vez


Intransitivo – Não seleciona complementos.
Maria Monforte, Pedro sorriu.

– Seleciona um segmento que


– Após a morte de Pedro, Afonso
Transitivo direto desempenha a função sintática de
abandonou o Ramalhete.
complemento direto.

- Seleciona dois segmentos que vão – O Sr. Guimarães entregou o cofre


Transitivo direto desempenhar as funções sintáticas de a Ega.
e indireto complemento direto, de complemento – Carlos colocou o piano na
indireto ou de complemento oblíquo. antecâmara do seu consultório.

– Seleciona um segmento que – Carlos escreveu a Maria Eduarda.


Transitivo desempenha a função sintática de
indireto complemento indireto ou de – Para encontrar Maria Eduarda,
complemento oblíquo. Carlos vai a Sintra.

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

CLASSE SUBCLASSE EXPLICITAÇÃO/DEFINIÇÃO EXEMPLOS

– Seleciona um segmento que – Dâmaso considera Carlos da Maia


desempenha a função sintática de um modelo a seguir.
Transitivo-
complemento direto e outro com a
-predicativo – Carlos e Ega acharam as corridas
função de predicativo do
complemento direto. “uma sensaboria”.

FLEXÃO VERBAL
Os verbos flexionam em tempo, modo, pessoa e número

indicativo, – Em 1875, Carlos regressou da sua


conjuntivo, – Permite distinguir a flexão verbal nas viagem de fim de curso.
Modo imperativo, formas apresentadas na coluna da (modo – indicativo; tempo –
condicional, esquerda. pretérito perfeito; pessoa –
infinitivo terceira; número – singular)

pretérito mais-
-que-perfeito, – Indica o momento temporal em que – Algumas personagens de
pretérito perfeito, decorre a ação expressa pelo verbo; Os Maias reuniam-se ao serão
Tempos pretérito – Pode ser um tempo composto, em casa de Afonso da Maia.
imperfeito, quando é formado com os auxiliares – Maria Eduarda tinha sofrido muito
presente, ter e haver. antes de encontrar Carlos.
futuro

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

COESÃO

Entende-se por coesão um conjunto de mecanismos gramaticais que permitem as ligações den-
tro das frases, entre as frases e entre os parágrafos.

TIPO DE COESÃO DESCRIÇÃO

Unidade entre os elementos de uma frase


• Ordem sintática das palavras (normalmente a estabelecida é SVO, ou seja, Sujeito, Verbo,
Complementos; no entanto, pode sofrer alterações).
Ex.: Vós sois o sal da terra. (SVO)
(Sermão de Santo António, cap. I, P.e António Vieira)
Frásica • Concordância em género e número
Ex.: Os grandes comem os pequenos.
(Sermão de Santo António, cap. IV, P.e António Vieira)

• Princípio da regência
Ex.: Os sermões vieirianos partem de um tema bíblico.

Articulação de grupos de palavras e de frases complexas dentro de um parágrafo


• Coordenação
Ex.: No primeiro período, estudei o Sermão de Santo António, de Padre António Vieira e, no segundo,
analisei a obra Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett.

Interfrásica • Subordinação
Ex.: Sempre que analisava as alegorias do sermão que estudei, associava-as à atualidade.
• Conectores/articuladores discursivos
Ex.: Passou uma semana sem ir às aulas; portanto, quando regressou, teve alguma dificuldade em
retomar os assuntos.

Sequencialização dos enunciados de acordo com uma lógica temporal


• Palavras/expressões sequencializadoras
Ex..: Em primeiro lugar, faço o plano do texto; depois, redijo-o; finalmente, procedo à sua correção.
Temporal • Advérbios/expressões que apontam para a localização temporal
Ex: Antigamente, a escolaridade era limitada. Atualmente, a realidade é bem diferente.
• Correlação dos tempos verbais (ver o exemplo anterior, cujos verbos estabelecem uma relação
temporal com os advérbios sublinhados).

Recurso a elementos que se relacionam com a situação de produção do discurso


• Deíticos (pessoais, temporais, espaciais)
Ex.: Madalena, Maria, não vos quero ver aqui mais. Já, ide; serei convosco em pouco tempo.
(Ato I, cena X, Frei Luís de Sousa, Almeida Garrett)

(deíticos pessoais: “vos”, “quero”; “ide”; “convosco”; temporal: “quero”; “já”; “serei”; “em pouco temo”;
espacial: “aqui”)

Recurso a elementos que retomam o discurso anterior


• Anáforas (retomas) lexicais e pronominais
Referencial
Ex.: Vosso pai, D. Maria, é um português às direitas. Eu sempre o tive em boa conta.
(Ato II, cena I, Frei Luís de Sousa, Almeida Garrett)

Recurso a elementos que preparam o discurso posterior


• Catáforas lexicais/pronominais (antecipação de elementos textuais)

Ex.: E rota, pequenina, azafamada,/Notei de costas uma rapariga


(“Num Bairro Moderno”, Cesário Verde)

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

TIPO DE COESÃO DESCRIÇÃO

Correferencialidade
(relação entre palavras/expressões que remetem para um mesmo referente)
• Repetição
Ex.: Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga (…).
(Sermão de Santo António, cap. I, P.e António Vieira)

• Substituição por:
– sinonímia
Ex.: É uma alegria ver o interesse destes jovens! É uma felicidade saber que estão a interpretar a
mensagem do autor.
– hiperonímia/hiponímia
Ex.: Dos animais terrestres o cão é tão doméstico, o cavalo tão sujeito, o boi tão serviçal, (…).
Lexical (Sermão de Santo António, cap. II, P.e António Vieira)

– Holonímia/meronímia
Ex.: Se acaso vos não conheceis, olhai para as vossas espinhas e para as vossas escamas, e
conhecereis que não sois aves, senão peixe, e ainda entre os peixes não dos melhores.
(Sermão de Santo António, cap. V, P.e António Vieira)

• Pronominalização
Ex.: O que escrevi em prosa pudera escrevê-lo em verso (…).
(“Memória ao Conservatório Real”, Almeida Garrett)

• Definitivização (recuperação da informação através do uso do artigo definido)


Ex.: Garrett deixou uma vasta obra literária, passando pela poesia, narrativa e drama. Mas a obra que
mais me surpreendeu foi Frei Luís de Sousa, pela tensão dramática que as personagens vivenciaram.

COERÊNCIA

A coerência textual resulta da ligação entre as diferentes partes e ideias de um texto, implicando
uma determinada ordem e estrutura, assim como da relação do conteúdo informacional dos tex-
tos com o conhecimento que o falante possui da realidade.
Ora, para um texto ser coerente, é necessário:
• haver progressão (isto é, a informação deve ser renovada, partindo da conhecida para a não
conhecida).
• não haver contradição (isto é, a informação deve ser renovada de forma a não contradizer a outra
já apresentada. Exemplo de um enunciado que não respeita este princípio: Como ela está muito
triste, ri-se. – A segunda frase contradiz a primeira em termos informacionais).
• não haver repetição (isto é, a informação deve ser renovada, portanto não repetindo a já apre-
sentada. Exemplo de um enunciado que não respeita este princípio: Esta manhã ficou marcada por
uma grande quantidade de chuva. Durante a manhã choveu muito. – A segunda frase repete a infor-
mação da primeira).

Conclusão: Para que um texto seja entendido como um todo com sentido, é imprescindível as fra-
ses manterem uma relação entre si, o discurso ser lógico e as ideias bem organizadas. À medida que
o texto progride, deve introduzir-se nova informação que não repita nem contradiga a anterior.
Para que tal aconteça, a coerência e a coesão são fundamentais.

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

DEÍTICOS

Os deíticos são mecanismos linguísticos de caráter pessoal, espacial e temporal, que remetem para
a situação de enunciação, que pressupõe sempre um eu-tu, um aqui e um agora.

Por exemplo, numa situação de interação, há sempre um “eu” que comunica com um “tu”, num
determinado espaço e num determinado tempo. As marcas linguísticas que confirmam estas três
referências designam-se de deíticos.

Exemplificando:

DEÍTICOS EXEMPLOS DE ENUNCIADOS MARCAS LINGUÍSTICAS

Formas verbais conjugadas na


1.ª pessoa (do singular ou do plural):
procedamos, dividirei, louvar-vos-
-ei, repreender-vos-ei
Suposto isto, para que procedamos com
clareza, dividirei, peixes, o vosso sermão em
dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as A denunciarem a presença do
vossas virtudes, no segundo repreender-vos-ei locutor
Pessoal
os vossos vícios. Determinantes possessivos e
pronomes pessoais de 2.ª pessoa:
(Sermão de Santo António, vossos, vos
cap. II, P.e António Vieira)

A denunciarem a presença do
interlocutor, marcada pelo uso do
vocativo: peixes

Para cá, para cá; para a Cidade é que haveis de


olhar.
Espacial Advérbios de lugar: cá
(Sermão de Santo António,
cap. IV, P.e António Vieira)

Isto suposto, quero hoje, à imitação de S. António,Advérbios de tempo: hoje


voltar-me da terra ao mar, e já que os homens Formas verbais (designadamente
se não aproveitam, pregar aos peixes. no que diz respeito às informações
Temporal
temporais): quero (…) voltar-me (…)
(Sermão de Santo António, pregar; se não aproveitam
cap. I, P.e António Vieira)

Em síntese:

Elementos com referenciação deítica


- pronomes pessoais;
- determinantes e pronomes possessivos;
- determinantes e pronomes demonstrativos;
- artigos;
- tempos verbais;
- algumas preposições e locuções prepositivas;
- alguns adjetivos (atual; contemporâneo, futuro, …);
- alguns nomes (véspera, …).

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PERCURSOS GRAMATICAIS

FORMAÇÃO DE PALAVRAS

Palavra simples – palavra formada por um único radical, sem afixos derivacionais, mas podendo
exibir afixos flexionais.

Palavra complexa - palavra formada por derivação ou por composição.

PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE NOVAS PALAVRAS EXEMPLOS

pesc -> pesca


Consiste num processo de formação de
Não afixal danç -> dança
palavras que origina nomes deverbais.

Velho - nome
Consiste num processo de formação de – Estás a olhar para o velho.
palavras, também designado por derivação
Conversão Velho – adjetivo
imprópria, que integra uma dada unidade lexical
numa outra classe de palavras. – Aquele livro está velho.

PREFIXAÇÃO
Consiste na junção de um prefixo a uma forma Desinteresse
Derivação de base.
Processo de formação
de novas palavras que
consiste na junção de SUFIXAÇÃO falaram > afixo de flexão “am”
um afixo a uma forma trabalhador > afixo
Consiste na junção de um sufixo a uma forma derivacional “dor”
de base. de base.
Afixal
Processo
morfológico que
consiste na PREFIXAÇÃO E SUFIXAÇÃO In>condicional>mente
associação de Consiste na junção de um prefixo e de um sufixo
um afixo a uma a uma forma de base. Incondicionalmente
forma de base.

PARASSÍNTESE
Refere-se a um processo morfológico de
es[garavat]ar
formação de palavras que consiste na junção de
e[magrec]er
um prefixo e de um sufixo a uma forma de base,
resultando uma palavra que não existe só
prefixada ou sufixada.

- fot + o + grama > fotograma


Consiste na associação de duas ou mais formas
- luso + americano >
Morfológica de base, podendo ocorrer entre essas formas de
luso-americano
Composição base uma vogal de ligação.
Processo morfológico
de formação de
palavras que recorre à
associação de duas ou guarda-fatos
mais formas de base. Consiste na associação de duas ou mais
Morfossintática homem-aranha
palavras.
estudante-trabalhador

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

PROCESSOS IRREGULARES DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

DESIGNAÇÃO DEFINIÇÃO EXEMPLO

Processo de formação de palavras que consiste na Telemóvel -> telefone + móvel


Amálgama
sobreposição de partes de duas ou mais palavras. informática -> informação + automática

Processo de formação de palavras que consiste na Confederação das Associações de Pais ->
Acrónimo junção de letras ou sílabas iniciais de palavras diferentes, CONFAP
que se pronuncia como um todo. Federação Nacional de Professores -> FENPROF

Empréstimo Processo de apropriação de uma palavra de outra língua. Sandwich

Extensão Processo através do qual uma palavra existente adquire disco


semântica outro sentido. rato

Onomatopeia Palavra que resulta da imitação de um som natural. miaauuu!! -> gato

Processo através do qual se cria uma palavra a partir das


Rádio Televisão Portuguesa -> RTP
Sigla iniciais das palavras que constituem um sintagma,
Compact Disc -> CD
pronunciando-se cada uma das letras.

Processo que resulta na criação de uma palavra a partir negativa -> nega
Truncação
da eliminação de uma parte da palavra de que deriva. fotografia -> foto

FRASE SIMPLES/FRASE COMPLEXA


Frase simples – frase constituída por uma oração que integra um só núcleo verbal (verbo principal
ou copulativo, que pode ser acompanhado ou não de verbos auxiliares).
Frase complexa – frase constituída por duas ou mais orações, articuladas por coordenação e/ou
subordinação.

COORDENAÇÃO
A oração coordenada está contida numa frase complexa, não mantendo uma relação de subordi-
nação sintática com a(s) frase(s) ou oração(ões) com que se combina. Assim, distingue-se, tipica-
mente, das orações subordinadas por não poder ser anteposta.

DESIGNAÇÃO
CONJUNÇÕES/LOCUÇÕES
DA ORAÇÃO SENTIDO EXEMPLIFICAÇÃO
COORDENATIVAS
COORDENADA

e, nem, nem… nem, não só… mas também, Adição (positiva Acabei de ler o livro e agora vou fazer
Copulativa/Aditiva
não só… como (também), tanto… como ou negativa) uma ficha de leitura.

Oposição, Gostei do Sermão de Santo António,


Adversativa mas, contudo, todavia, porém, no entanto
contraste mas prefiro Os Maias.

pois, portanto, logo, assim, por Estou atento nas aulas, logo não
Conclusiva Conclusão
conseguinte, por consequência, por isso receio os momentos de avaliação.

Alternativa, outra Fazemos o trabalho logo à tarde ou


Disjuntiva ou, ou… ou, quer… quer, seja… seja, ora… ora
possibilidade encontramo-nos no fim de semana.

Carlos da Maia sentia pudor pela


Justificação,
Explicativa pois consciência do incesto, pois evitava o
explicação
avô nos corredores do Ramalhete.

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PERCURSOS GRAMATICAIS

SUBORDINAÇÃO

Subordinante – corresponde à palavra, constituinte ou frase de que depende a subordinada.


Subordinada – oração que desempenha uma função sintática na frase em que se encontra. De
acordo com a função sintática que desempenha, ela pode ser: adverbial, substantiva e adjetiva.

ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS

Funcionam como modificador da frase ou do grupo verbal.

DESIGNAÇÃO DA ORAÇÃO CONJUNÇÕES/LOCUÇÕES


SENTIDO EXEMPLIFICAÇÃO
SUBORDINADA ADVERBIAL SUBORDINATIVAS

Como não definimos as horas,


Causal porque, que, como, dado, desencontrámo-nos.
dado que, uma vez que, visto que, Causa, motivo, razão
(pode ser finita ou não finita) pois, já que Desencontrámo-nos, porque
não definimos as horas.

quando, enquanto, apenas, mal,


Temporal logo que, depois de/que, Assim que terminar o trabalho
antes de/que, até que, sempre que, Tempo de Física e Química, vou
(pode ser finita ou não finita) todas as vezes que, agora que, dedicar-me ao de Português.
cada vez que, assim que

para, para que, que,


Final A professora assinalou-me os
com a finalidade/o objetivo de, Finalidade, objetivo,
erros, para, futuramente, não
(pode ser finita ou não finita) de modo a/que, de forma a que, propósito
os cometer.
a fim de (que), de maneira a (que)

Condicional se, caso, desde que, contanto que, Desde que cumpras o que
salvo se, a menos que, a não ser Condição, hipótese prometeste, eu aceito a
(pode ser finita ou não finita) que proposta.

embora, conquanto, que, ainda


Concessiva Embora não concorde com o
que, mesmo que/se, posto que,
Contraste teu ponto de vista, aceito a tua
(pode ser finita ou não finita) se bem que, por mais que,
opinião.
por menos que

Consecutiva Foste de tal modo convincente


tão/tanto… que, a ponto de,
Consequência que ele acabou por aceitar a
(pode ser finita ou não finita) de tal modo… que
tua proposta.

Comparativa
(as subordinadas
comparativas podem mais/menos… do que, qual
Aqueles alunos têm tanta
corresponder a construções (depois de “tal”), quanto (depois de
Comparação facilidade a escrever como
elípticas, ou seja, algo é “tanto”), tanto/tão… como,
a fazer uma exposição oral.
elidido, como, por exemplo, o bem como, como se, que nem
grupo verbal da oração
subordinada.)

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS

Podem desempenhar a função sintática de sujeito, complemento de um verbo, nome ou adjetivo.

DESIGNAÇÃO DA ORAÇÃO
ELEMENTOS DE LIGAÇÃO SENTIDO EXEMPLIFICAÇÃO
SUBORDINADA SUBSTANTIVA

Completiva Creio que já conheço esse filme.


(finita ou não finita) Perguntei-lhe se já tinha lido o
Completa o sentido
Funciona como sujeito, que, se, para texto que vamos analisar.
de outra oração.
complemento de um verbo, Espero para ver o sucesso nas
nome ou adjetivo. provas de avaliação.

Relativa sem antecedente


(finita ou não finita) Quem luta pelos direitos
É introduzida por um
Funciona como sujeito, Pronomes relativos: quem, onde, pronome relativo que humanos merece todo o
complemento direto, o que, quanto, … não retoma um respeito.
complemento indireto, antecedente. Vou onde me apetece.
complemento oblíquo e
modificador do grupo verbal.

ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS

Desempenham a função sintática de modificador do nome restritivo e apositivo.

DESIGNAÇÃO DA ORAÇÃO
ELEMENTOS DE LIGAÇÃO SENTIDO EXEMPLIFICAÇÃO
SUBORDINADA ADJETIVA

Pronomes relativos: que, quem,


o qual (+ variação em género e É introduzida por um
número), cujo (+ variação em pronome relativo que
género e número), retoma um referente Ricardo Araújo, que também é
Relativa explicativa com
quanto (+ variação em género e antecedente. um humorista, escreve
antecedente
número), onde crónicas para a Visão.
Fornecem informação
(Nota: estas frases vêm sempre entre adicional.
vírgulas ou travessões)

É introduzida por um
que, quem, o qual (+ variação em pronome relativo que
género e número), cujo (+ variação retoma um referente Guardo todos os artigos de
Relativa restritiva com
em género e número), antecedente opinião que fazem referência à
antecedente
quanto (+ variação em género e minha banda musical preferida.
número), onde Limita, restringe a
informação.

NOTA: As conjunções e locuções coordenativas e subordinativas transcritas são utilizadas não só


para unir frases simples mas também elementos frásicos (grupos nominais, preposicionais,
adjetivais, etc. e sequências textuais, designando-se de articuladores/conectores).

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

FUNÇÕES SINTÁTICAS

As funções sintáticas nucleares (ou essenciais) são, maioritariamente, determinadas pelo grupo
verbal, isto é, pelo núcleo do predicado da frase e são as seguintes:

• Sujeito/Predicado/Complemento direto/indireto/oblíquo/agente da passiva;


• Predicativo do sujeito e predicativo do complemento direto.

Além destas funções, devemos considerar, também, uma função não central, a do Vocativo.

Simples – é constituído por


• um único grupo nominal
Ex.: Os livros estão esgotados.
E • uma frase
X
P Ex.: Quem presta atenção não terá dificuldade no preenchimento da ficha.
SUJEITO
R
É o elemento da frase sobre o qual o E Composto – é constituído por
predicado diz alguma coisa; S • uma coordenação de grupos nominais
– encontra-se, normalmente, em S Ex.: Pais e alunos concentraram-se na escola para a apresentação dos
posição pré-verbal; O trabalhos.
- é constituído por um grupo nominal • uma coordenação de orações
ou frásico;
Ex.: Quem planificou o trabalho e quem pesquisou só poderá obter bons
- é, habitualmente, responsável pela resultados.
concordância verbal;
- pode ser substituído por um Subentendido
pronome pessoal na forma de sujeito Ex.: Saímos de casa às oito horas da manhã.
(Eu, Tu, Ele/Ela, Nós, Vós, Eles/Elas).
N
U Indeterminado
L Ex.: Promete-se muito, mas cumpre-se pouco.
O
Expletivo (inexistente)
Ex.: Chove torrencialmente.

a) Verbo (só)
Exs.: No momento da vacina, a criança chorou.
Este ano, nevou.
PREDICADO
É o elemento nuclear da frase, b) Verbo + complementos:
configurando o que é referido acerca
do sujeito; • direto - Ex.: A Diana comeu uma maçã.
• indireto- Ex.: Já respondi à tua mensagem.
- é constituído pelo grupo verbal,
contendo um grupo verbal simples • oblíquo – Ex.: Gosto de seguir esta série.
(um só verbo) ou um complexo • agente da passiva - Ex.: Os alunos foram aplaudidos pelo professor.
verbal (uma sequência de verbo
auxiliar + verbo principal);
- é constituído pelos c) Verbo +
complementos/predicativos • predicativo do sujeito
requeridos pelo núcleo do grupo Ex.: Todos ficaram admirados.
verbal;
• complemento direto + predicativo do complemento direto
- é constituído pelos modificadores do
grupo verbal. Ex.: Acho o livro extremamente entusiasmante.

d) Verbo + complementos + modificadores do grupo verbal


Ex.: A Luísa colocou devagar o saco no armário.

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

COMPLEMENTOS DO VERBO

São obrigatórios e integram o predicado. Sem eles a(s) frase(s) ficaria(m) sem sentido.

a) Complemento direto
Ex.: O orador repreendeu os peixes.
- é selecionado pelo verbo transitivo direto;
Ex.: O orador repreendeu-os.
- é pronominalizável por um pronome pessoal.

b) Complemento indireto
- é selecionado pelo verbo transitivo indireto; Ex.: Os peixes obedeceram ao pregador.
- inicia-se, regularmente, pela preposição a; Ex.: Os peixes obedeceram-lhe.
- é pronominalizável por lhe(s), na 3.ª pessoa.

c) Complemento oblíquo
- é necessário ao significado de verbos Ex.: 1 Carlos regressou da viagem de final de curso.
transitivos indiretos regidos por preposição fixa1.
Ex.: 2 A semana correu bem.
- é requerido por verbo transitivo indireto,
assumindo a forma de advérbios2.

d) Complemento agente da passiva


Ex.: Os vícios dos homens foram repreendidos pelo
- ocorre numa frase passiva; pregador.
- é uma expressão iniciada pela preposição por
simples ou contraída.

PREDICATIVOS

Predicativo do sujeito
- função desempenhada pelo constituinte exigido
por verbos copulativos (ser, estar, permanecer, Ex.: O livro está rasgado.
ficar, parecer, continuar…) e predica algo sobre o
sujeito.

Predicativo do complemento direto


- função desempenhada pelo constituinte
a) Ex.: O professor nomeou o João delegado.
selecionado por um verbo transitivo do tipo
achar, considerar, julgar, nomear, chamar.
Este pode ser:
a) um grupo nominal; b) Ex.: O aluno considerou o teste acessível.
b) um grupo adjetival.

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

FUNÇÕES SINTÁTICAS INTERNAS A:

A - GRUPOS NOMINAIS 1. grupo preposicional

Complemento do nome 1.1. frásico ou oracional

É selecionado por um nome e surge à sua direita. Exemplos:


É de preenchimento opcional. Entre outros, selecionam a) A dança de que me falaste é muito interessante.
complementos do nome:
b) A ideia de que todos os jovens são felizes é absurda.
- nomes que indicam graus de parentesco (mãe, avô,
c) A apresentação de que não foram feitos registos foi
primo…);
a mais agradável.
- nomes (profissões) que derivam de outros nomes
(maquinista; rececionista…); d) A rececionista de que te queixaste é minha prima.
- nomes que provêm de verbos (pesquisa; leitura; falta; 1.2. não frásico ou não oracional
dança; canto; apresentação…);
- nomes icónicos (fotografia, gravura…); Exemplos:
- nomes epistémicos (ideia, hipótese…); a) A mãe de Maria de Noronha é Madalena de Vilhena.
- numerais fracionários ou multiplicativos (o dobro, b) A falta do dicionário impede o tradutor de trabalhar.
um terço, …) c) As pesquisas na internet permitem recolher
informação muito diversificada.
O complemento do nome pode ter a forma de um grupo
preposicional (frásico ou oracional, não fásico ou não d) A leitura deste livro é fundamental para o trabalho
oracional) ou de um grupo adjetival. de Português.
e) Um terço dos alunos não leu Frei Luís de Sousa.
f) O maquinista do comboio era muito simpático.
2. grupo adjetival

Exemplos:
a) O canto alentejano agrada-me muito.
b) A caça barrosã é das mais saborosas do Nordeste
Transmontano.

B – GRUPO ADJETIVAL Pode ser:

Complemento do adjetivo 1. frásico


Exemplos:
É um complemento selecionado por um adjetivo.
É selecionado por um adjetivo predicativo (seguido de a) O Pedro ficou responsável por encenar a dramatização
preposição). da entrevista.
b) A professora parece entusiasmada por ter captado a
atenção dos alunos.

2. não frásico
Exemplos:
a) A Joana está nervosa com a chegada do noivo.
b) Os alunos continuam interessados nas aulas de
substituição.

C – GRUPO ADVERBIAL Exemplos:

Complemento do advérbio a) A biblioteca fica defronte da casa do João Pedro.


b) Os alunos partiram depois da festa.
É um complemento selecionado por alguns advérbios de
lugar/tempo.

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

VOCATIVO

Função sintática que identifica o interlocutor e que é Ex.: João, vens jogar às cartas?
frequente em frases imperativas, interrogativas ou
Ex.: Não se distraiam, meninos!
explicativas. Pode surgir em diferentes posições, no início,
no meio ou fim da frase e é isolado por vírgulas.

MODIFICADORES

Função sintática desempenhada por elemento(s) que não são Exemplos:


selecionados por nenhum grupo sintático de que fazem parte a) Infelizmente, o resultado não foi o que esperava.
e, por isso, a sua omissão geralmente não afeta a
gramaticalidade da frase. b) Todos trabalharam bem.
c) Revelaste uma grande coragem.
Os modificadores podem relacionar-se com: d)
a) frases ou orações; GPrep – A Ana saiu com o João.
b) grupos verbais; GAdv – As crianças almoçaram muito bem.
c) grupos nominais. GFrásico – A aula começou logo que o professor entrou na
d) podem ter diferentes formas (GPrep./GAdv./GFrásico…) sala.
com ou sem o mesmo valor semântico.

Modificador restritivo e apositivo Exemplos:


1. O modificador restritivo limita ou restringe a referência do 1.
nome que modifica. a) Fiz uma nova composição.
Os modificadores restritivos do nome podem ser: b) A menina de cabelo loiro é minha irmã.
a) grupos adjetivais; c) As histórias que cativam são mais interessantes.
b) grupos preposicionais;
c) orações subordinadas adjetivas. Limita/restringe o
referente “histórias”.

2. O modificador apositivo não limita ou não restringe a 2.


referência do nome que modifica. a) Santo António, pregador exemplar, serviu de modelo ao
padre António Vieira.
Pode funcionar como:
b) O peixe de Tobias, que possuía virtudes nas suas entranhas,
a) modificador apositivo de grupos nominais;
foi elogiado.
b) oração relativa explicativa.
Fornece uma informação
adicional sobre o
antecedente.

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

GRUPOS FRÁSICOS

IDENTIFICAÇÃO CARACTERIZAÇÃO EXEMPLOS

Tem como constituinte principal um nome ou um


pronome, formando uma unidade sintática. Pode ser a) A Turma C vai ao teatro./Ela vai ao
constituído: teatro.
GRUPO NOMINAL
a) exclusivamente só por um nome ou por um pronome; b) O pai do João tem uma reunião na
(GN)
escola.
b) por um nome com diferentes configurações
(coocorrência de complemento(s), modificadores,
determinantes e/ou quantificadores).

Tem como constituinte principal um adjetivo, formando


uma unidade sintática. Pode ser constituído: a) O amor incestuoso foi interrompido.

a) só por um adjetivo; b) Carlos foi capaz de abandonar Maria


GRUPO ADJETIVAL
Eduarda.
(GAdj.) b) por um adjetivo com diferentes configurações
(coocorrência de complemento); c) Todos consideraram a atividade sobre
Os Maias muito interessante.
c) advérbios de quantidade e grau.

Tem como constituinte principal um verbo, formando


uma unidade sintática. Pode ser constituído: a) Afonso da Maia morreu./Maria Monforte
já tinha morrido.
GRUPO VERBAL a) apenas pelo verbo ou complexo verbal;
(GV) b) Os alunos leram o livro.
b) por um verbo e seus complementos;
c) A Ana corre devagar.
c) modificadores.

Tem como constituinte principal uma preposição ou


locução prepositiva, formando uma unidade sintática.
Pode expandir-se através de grupos: a) Gosto destas aulas sobre Os Maias.
GRUPO
a) nominais; b) Deixa isso para amanhã.
PREPOSICIONAL
b) adverbiais; c) Gosto de estudar antes dos testes.

c) oracionais.

Tem como constituinte principal um advérbio, a) Carlos e Maria Eduarda amaram-se


funcionando como uma unidade sintática. Pode imenso.
apresentar diferentes configurações: b) Independentemente do erro cometido,
GRUPO ADVERBIAL a) ser constituído apenas por um advérbio; os dois irmãos tomaram a decisão
certa.
b) ser expandido por um complemento;
c) A separação dos dois irmãos deu-se
c) por outro(s) advérbio(s) que o preceda(m). muito rapidamente.

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

INTERAÇÃO DISCURSIVA

Todo o ato comunicativo é regulado por princípios que contribuem para uma comunicação eficaz
e de qualidade.

Os princípios reguladores da interação discursiva implicam algumas máximas conversacionais que


se podem sistematizar assim:

INTERAÇÃO DISCURSIVA

quantidade – baseia-se no pressuposto de que a informação do discurso deve ser


a essencial, evitando-se as repetições/redundâncias.

qualidade – baseia-se no princípio de que o discurso deve corresponder à verdade,


Cooperação: eliminando-se afirmações falsas ou impossíveis de comprovar.
fundamentando-se
nas máximas de…
relação - baseia-se no princípio da relevância ou pertinência do discurso.

modo ou de modalidade – pressupõe que o discurso seja claro, ordenado e breve.

Princípio que regula a interação discursiva entre os interlocutores e que tem como
objetivo atenuar ou reduzir conflitos que possam ser originados por determinados
atos de fala ou situações.
Princípios
reguladores Para tal, devem adotar-se procedimentos como:
- não interromper o interlocutor;
Cortesia - mostrar atenção;
- evitar o silêncio;
- não proferir insultos, injúrias ou acusações gratuitas;
- recorrer a atos de fala indiretos, a eufemismos, perífrases, a determinadas
formas verbais no pretérito imperfeito e/ou no condicional, entre outras
estratégias.

Também conhecido como princípio de relevância, está na base da interpretação


dos enunciados que ocorrem num determinado ato de comunicação. Depende do
Pertinência contexto em que o enunciado é proferido e do saber do emissor/recetor que,
perante as diversas interpretações suscitadas pelo enunciado, seleciona a que lhe
parece mais adequada, considerando os fatores pragmático-contextuais.

Constituem um recurso da língua que permite regular a interação entre o locutor e o interlocutor de modo
a evitar constrangimentos na comunicação-interação.
As formas de tratamento variam consoante o grau de aproximação/distanciação que existe entre os
interlocutores e são mecanismos que servem determinados objetivos e princípios conversacionais.
As fórmulas utilizadas obedecem também a um código de procedimentos aceites socialmente.
Exemplos de formas de tratamento:
Formas de
tratamento • Académica: senhor Doutor, Professor Doutor…
• Eclesiástica: Monsenhor, Sua Eminência…
• Familiar: tu, amigo, querido(a)…
• Honorífica: Exm.o Senhor juiz, senhor Presidente, senhor Ministro…
• Neutra: Caro(a) senhor(a)…
• Nobiliárquica: Sua Majestade, Sua Alteza…

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

MARCADORES DISCURSIVOS

São expressões ou frases utilizadas nos discursos oral ou escrito que, embora não desempenhem
uma função sintática específica, servem para dar indicações sobre os atos discursivos, articular
enunciados, evidenciar as relações que se estabelecem entre sequências textuais, organizar os atos
de fala, introduzir novos assuntos, manter e orientar o contacto entre locutor e interlocutor, auxi-
liando-os na interpretação e na manutenção da coerência textual.
Marcadores discursivos como em primeiro lugar, por outro lado, por último estruturam a informação
em termos de ordenação. Já expressões do género ou seja, por outras palavras, dizendo melhor, ou
antes são consideradas reformuladores, com a função de explicitação/retificação. Outros, desig-
nados de operadores discursivos, reforçam a argumentação e a concretização, como é o caso de de
facto, na realidade, por exemplo, mais concretamente, efetivamente, nomeadamente. Destacam-se ainda
os marcadores conversacionais ou fáticos - ouve, olha, presta atenção -, e ainda um grupo que se
integra em diferentes classes de palavras – os conectores – que se apresentam na tabela seguinte:

LISTAGEM DE CONECTORES/
FUNÇÃO LÓGICA/SINTÁTICA EXEMPLOS FRÁSICOS
ARTICULADORES
Adição (aditivo, copulativo) e/nem <neg.> Passei a ir ao Porto e a Lisboa.
Agrupa, adiciona segmentos, sequências. bem como Não fez o teste nem avisou a professora.
não só... mas também... Não só leu mas também escreveu.

Alternativa/Exclusão (disjuntivo) (ou... ) ou.../ora... ora... Ou por vontade ou por necessidade, há


Apresenta opções, alternativas. seja... seja... quem cumpra com o solicitado.

Causa (causal) porque/como, Como se previa frio, agasalhei-me. Dada a


Introduz a causa, a razão. visto que/dado (que), previsão de frio, agasalhei-me.
uma vez que/já que…

Concessão (concessivo) embora/ainda que, Embora faça dieta, mantém o mesmo peso.
Nega o efeito, a conclusão da frase mesmo que/conquanto, Apesar de fazer dieta, mantém o peso.
subordinada, sem impedir o que nela é dito. apesar de/malgrado Malgrado a dieta, continua com peso a mais.
não obstante…

Conclusão (conclusivo) portanto/assim/logo, O bebé nasceu; logo, a irmã foi vê-lo.


Traduz a conclusão lógica, a inferência por conseguinte…
resultante.

Condição (condicional) se/caso/desde que/a não ser que, Se respeitares, serás respeitado.
Introduz hipóteses ou condições. contanto que…

Comparação (comparativo) como/tal como... (assim...), Tal como os trabalhadores ficaram


Traduz a comparação. bem como... também... satisfeitos com o resultado, (assim) os
mais (menos) do que… patrões revelaram entusiasmo.

Completamento (completivo) que/se/para Disseram que melhoraste bastante.


Introduz o elemento sintático que completa o Perguntei se já não tinhas dúvidas.
sentido do núcleo do grupo verbal. Eu avisei para te ires embora.

Consequência (consecutivo) daí (que)/por isso, Ele gostava tanto de alguns professores que
Introduz a ideia de resultado, efeito, de tal forma... que... ficou amigo deles.
consequência. tanto/tão/tal... que...

Finalidade (final) para (que)/a fim de, Estudou para ter bons resultados.
Traduz a intenção visada, o objetivo. de modo (forma) a,
com o objetivo de…

Oposição (adversativo) mas/todavia/porém/contudo, O tempo muda constantemente, mas as


Articula conclusões adversárias, diferentes, no entanto… expectativas mantêm-se.
opostas.

Tempo (temporal) quando/enquanto/mal, entretanto, Quando o teste foi realizado, houve vários
Exprime relações de tempo. logo que, depois de, alunos indignados.
antes de, desde que…

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PERCURSOS GRAMATICAIS

MODALIDADE

Categoria gramatical que serve para exprimir a atitude do falante relativamente àquilo que diz e a
quem o diz. Através da modalidade expressam-se apreciações sobre o conteúdo de um enunciado,
representam-se valores de probabilidade ou de certeza - modalidade epistémica, de permissão ou
obrigação - valor deôntico.

DESIGNAÇÃO VALOR EXPRESSO EXEMPLOS

Expressa apreciações, isto é, exprime um juízo – É lamentável que o Padre António Vieira não
de valor sobre uma situação, utilizando-se tenha sido compreendido.
Apreciativa
construções exclamativas e verbos como
lamentar, gostar, apreciar, admirar… – Gosto imenso do sermão vieiriano.

Certeza – Os homens não ouviam as palavras do orador


Quando o locutor assume uma posição de seiscentista.
certeza relativamente à verdade ou falsidade do
Epistémica enunciado. – Cesário Verde criticou a burguesia.
A atitude do locutor
baseia-se no grau de
conhecimento que – Talvez Eça de Queirós desconhecesse o
detém sobre o juízo Probabilidade ambiente rural.
emitido. Quando o locutor não assume a verdade ou
– Provavelmente a imprensa não estava
falsidade do enunciado, baseando-se, por isso,
habituada à inovação poética cesariana.
em hipótese ou inferências.
– Duvido que os escritores sejam reconhecidos.

– Podes apresentar o trabalho sobre um dos


Permissão autores estudados.1
Quando o locutor coloca a possibilidade de
escolha, sem quaisquer restrições. – Estão autorizados a entrar depois do
Deôntica
professor.
O locutor procura agir
sobre o interlocutor,
impondo, proibindo ou – Devem prestar atenção aos conteúdos
autorizando a situação Obrigação temáticos.2
expressa. Quando o locutor procura impor ou proibir a – Tens de acabar o exercício até amanhã.
realização daquilo que o enunciado expressa. – Não podem deixar de ouvir os conselhos do
pregador Vieira.

1 O verbo auxiliar modal poder transmite frequentemente o valor epistémico de probabilidade. Todavia, também
pode ter valor de certeza, quando significa capacidade (Este pode acumular funções).
2 O verbo auxiliar modal dever pode também transmitir o valor epistémico de probabilidade (Devem ter percebido o
conteúdo do sermão vieiriano) e ainda o deôntico de obrigação (Devem estudar antes do teste).

Para além das formas anteriormente descritas, a modalidade pode ainda ser expressa de outros modos: através
da entoação, da variação no modo verbal, através de advérbios, de verbos modais (auxiliares como “dever”,
poder”… ou principais com valor modal como “crer”, “pensar”, “obrigar”,…), etc.

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PERCURSOS GRAMATICAIS

RELATO DO DISCURSO: DISCURSOS DIRETO, INDIRETO, INDIRETO LIVRE

Os modos de relato do discurso são formas de representar o discurso, estratégias de citação dos
discursos no texto.
O narrador ou um locutor podem reproduzir, de modo direto e no seu discurso, o de outros
locutores, ocorrido em situações enunciativas anteriores e mantendo o que foi dito ou pensado.
Num texto ficcional, o narrador coloca diretamente as personagens a apresentarem as suas pró-
prias palavras.
A este modo direto contrapõe-se, tradicionalmente, o modo indireto, quando um locutor ou
narrador se apropria de um discurso anteriormente proferido.
Pode ainda acontecer que o narrador integre no seu próprio discurso (discurso indireto) as
manifestações verbais ou os pensamentos de outras personagens sem recorrer aos verbos decla-
rativos introdutores nem à oração subordinada completiva, originando um discurso com carac-
terísticas formais e expressivas que o distinguem dos anteriores. Este modo de relato designa-se
por discurso indireto livre.

Assim, o discurso direto aparece, normalmente, marcado graficamente de variadas formas,


nomeadamente, por:
• verbos de tipo declarativo - afirmar, perguntar, responder, sugerir, concordar, declarar, explicar…,
podendo estes ser eliminados para conferir mais vivacidade, naturalidade e fluidez ao discurso;
• aspas;
• dois pontos – parágrafo - travessão;
• itálicos.

Neste tipo de discurso, chega-se a reproduzir, por escrito, características próprias da oralidade
(realizações fonéticas, hesitações, repetições, pausas, interjeições, etc.), numa espécie de simu-
lação ou reprodução do discurso testemunhado, mostrando as características contextuais vividas
por quem é citado.

Exemplo:
“Se algum amigo vinha à porta do café perguntar por Pedro da Maia, os criados já respondiam muito natu-
ralmente:
- O Sr. D. Pedro? Está a escrever à menina.”
in Os Maias, Eça de Queirós

O discurso indireto apresenta, normalmente:


• verbos declarativos – dizer, afirmar, responder, pedir, perguntar;
• orações subordinadas substantivas completivas ou infinitivas;
• utilização da terceira pessoa gramatical, que implica também alterações de natureza deítica (pes-
soal, espacial e temporal) bem como de tempos e modos verbais.

Exemplo:
• “Dias depois o Vilaça apareceu em Benfica, muito preocupado: na véspera Pedro visitara-o no cartório,
pedira-lhe informações sobre as suas propriedades, sobre o meio de levantar dinheiro. Ele lá lhe dissera
que em setembro, chegando à sua maioridade, tinha a legítima da mamã…”
in Os Maias, Eça de Queirós

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

No discurso indireto livre há uma identificação entre relator/narrador e locutor primeiro/perso-


nagem. Este modo de relato do discurso é frequente no texto ficcional e permite ao narrador inte-
grar no seu discurso as manifestações verbais das personagens, sem recorrer aos verbos
introdutórios declarativos. Mantêm-se as marcas do discurso indireto ao nível de pessoa, tempo
e modos verbais, mas recorre-se a marcas do discurso oral, também presentes no discurso direto,
como: interjeições, exclamações, expressões modalizadoras, marcadores discursivos (ora, pois bem,
sendo assim…)

Exemplo:
“Deus lhe perdoe, ele, Teixeira, chegara a pensá-lo… Mas não, parece que era sistema inglês! Deixava-o
correr, cair, trepar às árvores, molhar-se, apanhar soalheiras, como um filho de caseiro. E depois o rigor
com as comidas! Só a certas horas e de certas coisas… E às vezes a criancinha, com os olhos abertos, a
aguar! Muita, muita dureza.”
in Os Maias, Eça de Queirós

RELAÇÕES LEXICAIS

CLASSIFICAÇÃO DAS PROPRIEDADES SEMÂNTICAS DAS PALAVRAS AO NÍVEL FONÉTICO E/OU GRÁFICO

DESIGNAÇÃO DEFINIÇÃO EXEMPLIFICAÇÃO

Relação entre palavras que partilham a mesma Canto (v. cantar)/Canto (nome)
HOMONÍMIA grafia e são pronunciadas da mesma forma, mas
com significados distintos. São (v. ser)/São (adjetivo)

Relação entre palavras que são pronunciadas de Asso (v. assar)/Aço (material)
HOMOFONIA forma idêntica, apesar de terem, normalmente,
grafias distintas. Passo (marcha)/Paço (palácio)

Relação entre palavras que têm a mesma grafia, Colher (v. colher)/Colher (utensílio)
HOMOGRAFIA apesar de serem, normalmente, pronunciadas de
forma distinta. Sede (vontade de beber)/Sede (local)

Relação entre palavras que têm grafia e fonia Perfeito/Prefeito


PARONÍMIA semelhantes, mas possuem significados
diferentes. Comprimento/Cumprimento

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

RELAÇÕES DE HIERARQUIA E DE INCLUSÃO

DESIGNAÇÃO DEFINIÇÃO EXEMPLIFICAÇÃO

HIPERONÍMIA Animal
Relação hierárquica de inclusão de significado
entre duas unidades lexicais, que parte do geral
(hiperónimo) para o específico (hipónimo)
e vice-versa. O hiperónimo partilha dos traços
semânticos dos hipónimos e estes, para além de
incluírem os traços do hiperónimo, também têm SER
propriedades semânticas específicas.
HIPONÍMIA Gato, cão, leão, tigre

HOLONÍMIA Barco
Relação de inclusão semântica entre duas
unidades lexicais, onde existe uma relação de
dependência entre a parte (merónimo) e o todo
(holónimo), confirmada por marcadores como
“é uma parte de/faz parte”. São parte de…

MERONÍMIA Proa, convés, leme…

RELAÇÕES SEMÂNTICAS ENTRE PALAVRAS

DESIGNAÇÃO DEFINIÇÃO EXEMPLIFICAÇÃO

Conjunto de palavras associadas, pelo seu


Escola: salas, quadros, livros, professores,
CAMPO LEXICAL significado, a um determinado domínio
alunos, (…)
conceptual.

Conjunto dos significados que uma palavra pode


CAMPO SEMÂNTICO mar: mar de gente, mar de rosas, (…)
ter nos diferentes contextos em que se encontra.

Cabeça (parte do corpo/líder)


Propriedade semântica característica das palavras
Pescada (tipo de peixe/particípio passado
POLISSEMIA ou dos constituintes morfológicos que possuem
do v. pescar)
mais do que um significado.
Partir (ir-se embora/quebrar)

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OUTROS PERCURSOS 11

PERCURSOS GRAMATICAIS

TEMPOS E MODOS VERBAIS

MODOS VERBAIS TEMPOS VERBAIS SIMPLES EXEMPLOS

Presente Lá em casa, jantamos sempre tarde.

Perfeito Ontem, jantei às oito horas.

INDICATIVO Pretérito Imperfeito Antigamente jantávamos mais tarde.

Mais-que-perfeito Ele jantara rapidamente antes de sair.

Futuro Amanhã jantaremos às nove horas.

Presente Quero que venhas visitar-me.

CONJUNTIVO Pretérito imperfeito Se jantássemos às dez seria pior.

Futuro Se tiveres dúvidas, pergunta.

CONDICIONAL Gostaria que viesses a minha casa.

IMPERATIVO Vem já a minha casa; Vinde ver o novo filme.

Pessoal Jantar/jantares/jantar/jantarmos/jantardes/jantarem
INFINITIVO
Impessoal Jantar
Formas não finitas
GERÚNDIO Jantando

PARTICÍPIO Jantado

TEMPOS COMPOSTOS

MODOS VERBAIS TEMPOS VERBAIS COMPOSTOS EXEMPLOS

Perfeito Tenho jantado mais cedo.


Pretérito
INDICATIVO Mais-que-perfeito Tinha jantado mais cedo, se pudesse.

Futuro Terá jantado mais cedo?

Perfeito Talvez tenha jantado mais cedo.


Pretérito
CONJUNTIVO Mais-que-perfeito Talvez tivesse jantado mais cedo.

Futuro Se tiveres jantado mais cedo.

CONDICIONAL Teria jantado mais cedo?

INFINITIVO Ter jantado mais cedo foi ótimo.

GERÚNDIO Tendo jantado mais cedo, saiu.

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