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tilncia, por sua capacitbde de influir e condicionar, bem como por sua am-

plitude, é o Estado. Chegamos, portanto, à primeira noçào de Estado: é /lI/UI


M as, evidentemente, isso apenas é muito pouco para que
CAPÍTULO II
s o c ie d a d e p o lític a .
se tenha dele uma ideia precisa. Todavia, com os elementos colhidos até
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agora é que iremos proceder à análise dessa espécie de sociedade política,
para que saibamos, entào, o que é e como funciona o Estado.
Do Estado
Bibliografia

A C iê n c ia P o lític a , Ed. FGV, Rio de Janeiro, 1960; J. D.


JEANM EYNAUD,
M AIlIlOT, O E s ta d o e o C id a d ã o , Ed. Zahar, Rio de Janeiro, 1968; R. M . M Ac1vER,
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Fondo de Cultura Econ6mica, M éxico, 1947; G. C. FIELD,T e o r ia P o U tic a , Ed. 23. o estudo da origem do Estado implica duas espéCies de indagação:
Zahar, Rio de Janeiro, 1959; DAVIDEASTON,T h e P o litic a l S y s te m , Ed. Alfred uma a respeito da época do aparecimento do Estado; outra relativa aos mo-
A. Knopf, Nova York, 1968; G. E. C. CATLIN,T r a ta d o d e P o U tic a , Ed. Zahar, tivos que determinaram e determinam o surgimento dos Estados. Antes de
abordarmos esses dois aspectos, porém, é indispensável um esclarecimento
Rio de Janeiro, 1964; GIORGIODELVECCHIO,T e o r ia d o E s ta d o , Ed. Saraiva, São
preliminar sobre a noção de Estado que tem sido adotada pelas inúmeras
Paulo, 1957.
correntes teóricas, pois em consequência de diferentes concepções, como se
verá, resultam conclusões absolutamente diversas.
A denominação E s ta d o (do latim s ta tu s = estar firme), significando
situação permanente de convivência e ligada à sociedade política, aparece
pela primeira vez em "O Príncipe" de M AQUIAVEL, escrito em 1513, passando
a ser usada pelos italianos sempre ligada ao nome de uma cidade indepen-
dente, como, por exemplo, s ta to d i F ir e n z e . Durante os séculos XVI e XVII a
expressão foi sendo admitida em escritos franceses, ingleses e alemães. Na
Espanha, até o século XVIII, aplicava-se também a denominação de e s ta d o s
a grandes propriedades rurais de domínio particular, cujos proprietários
tinham poder jurisdicional. De qualquer forma, é certo que o nome E s ta d o ,
indicando uma sociedade política, s6 aparece no século XVI, e este é um dos
argumentos para alguns autores que não admitem a existência do Estado
antes do século XVII. Para eles, entretanto, sua tese não se reduz a uma
questão de nome, sendo mais importante o argumento de que o nome Es-
tado só pode ser aplicado com propriedade à s o c ie d a d e p o U tic a d o ta d a d e
c e r ta s c a r a d e r is tic a s bem definidas. A maioria dos autores, no entanto, ad-
mitindo que a sociedade ora denominada Estado é, na sua essência, igual à
que existiu anteriormente, embora com nomes diversos, dá essa designação
a to d a s a s s o c ie d a d e s p o lftic a s q u e , c o m a u to r id a d e s u p e r io r , fix a r a m a s r e g r a s
d e c o n v iv ê n c ia d e s e u s m e m b r o s .
Esclarecido esse aspecto preliminar, podemos agora, com mais segu-
rança, verificar as teorias relacionadas com a origem do Estado.

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fália";'. Entre os autores brasileiros adeptos dessa teoria salienta-se ATAI1-
24. Soh o ponto de vista da época do aparecimento do Estado, as inú-
lIA N(l(;UEIRA, que, mencionando a pluralidade de autonomias existentes no
meras teorias l'xistentes podem ser reduzidas a três posiçôes fundamentais:
mundo medieval, sobretudo o feudalismo, as autonomias comunais e as
a) Para muitos autores, o Estado, assim como a própria sociedade, corporações, ressalta que a luta entre elas foi um dos principais fatores
existiu sempre, pois dl'sde qUl' o homem vive sobre a Terra acha-$e integra- determinantes da constituição do Estado, o qual, "com todas as suas carac-
do numa organii'A1çãosocial, dotada de poder e com autoridade para deter- terísticas, já se apresenta por ocasião da paz de Westfália"".
minar o comportamento de todo o grupo. Entre os que adotam essa posição 25. Ao se estudarem as causas do aparecimento dos Estados é preciso,
destacam-se EIJUAImME\'IóR,historiador das sociedades antigas, e WILHEl.M antes de tudo, lembrar que há duas questões diferentes a serem tratadas: de
KOI'I'ERS,etnólogo, ambos afirmando que o Estado é um elemento universal um lado, existe o problema da formação originária dos Estados, partindo de
na organização social humana. MEYERdefine mesmo o Estado como o prin- agrupamentos humanos ainda não integrados em qualquer Estado; diferen-
cípio organizador e unificador em toda organização social da Humanidade, te dessa é a questão da formação de novos Estados a partir de outros pre-
so
considerando-o, por isso, onipresente na sociedade humana • existentes, podendo-se designar esta forma como derivada. Como é eviden-
b) Uma segunda ordem de autores admite que a sociedade humana te, nos dias atuais é muito pouco provável que se possa assistir à formação
existiu sem o Estado durante um certo período. Depois, por motivos diver- originária de um Estado. Entretanto, com base nos estudos que vêm sendo
sos, que serão indicados quando tratarmos das causas que levaram à forma- feitos pela antropologia cultural há vários séculos, somados aos elementos
colhidos nos textos literários mais antigos, é possível a formulação de hipó-
ção do Estado, este foi constituído para atender às necessidades ou às con-
teses, sendo importante a abordagem desse aspecto, sobretudo como apoio
veniências dos grupos sociais. Segundo esses autores, que, no seu conjunto,
para as tomadas de posição relativas à organização atual da sociedade, bem
representam ampla maioria, não houve concomitância na formação do Es-
como para a orientação de conjeturas quanto ao futuro do Estado. Como
tado em diferentes lugares, uma vez que este foi aparecendo de acordo com bem adverte DELVECCHIO, a observação atual de um grupo social em estágio
as condições concretas de cada lugar. primitivo, sem dúvida muito útil, deve ser efetuada com uma prudente re-
c) A terceira posição é a que já foi referida: a dos autores que só serva, pois é bem possível que o grupo observado seja decadente, não reve-
admitem como Estado a sociedade política dotada de certas características lando o verdadeiro estágio primitivo. Mas, de qualquer forma, sempre será
muito bem definidas. Justificando !leu ponto de vista, um dos adeptos um elemento a mais para a obtenção de conclusões, sendo, por isso, muito
dessa tese, KARLSCHMIDT,diz que o conceito de Estado não é um conceito importante a contribuição dos etnólogos e antropólogos.
geral válido para todos os tempos, mas é um conceito histórico concreto, Examinando-se as principais teorias que procuram explicar a form ação
que surge quando nascem a ideia e a prática da soberania, o que só ocorreu originária do Estado, chega-se a uma primeira classificação, com dois gran-
no século XVII. Outro defensor desse ponto de vista, BALLADORE PALLJERI, des grupos, a saber:
indica mesmo, com absoluta precisão, o ano do nascimento do Estado,
escrevendo que "a data oficial em que o mundo ocidental se apresenta
organizado em Estados é a de 1648, ano em que foi assinada a paz de West- 51. GIORGIO BALLADORE PAlllERl,A D outrinll do E stado, vol. 1, pág. 16. A paz de
Westfália, que esses autores indicam como o momento culminante na críação do
Estado, e que muitos outros consideram o ~onto de separação entre ~ Estado M~-
dieval e o Estado Moderno, foi consubstanclada em dOIStratados, assmados nas CI-
50. EDuARD MEYER expõe seu pensamento a respeito deste assunto em sua H is- dades westfalianas de Munster e Onsbruck. Pelostratados de Westfália,assinados no
tória da A ntiguidade, publicada entre 1921 e 1925. A sustentação dessa tese por WI- ano de 1648, foram fixados os limites territoriais resultantes das guerras religiosas,
lHElMKOPPERS é mais recente, constando de seu trabalho L 'O rigine de ['E tat, apresen- principalmente da Guerra dos Trinta Anos, movi?a p~laFrança e se~s aliados contra
tado ao VI Congresso Internacional de Ciências Antropológicas e Etnológicas, reali- a Alemanha. A França, governada então pelo Rei LUIZXIV,consolidou por ~qu~les
zado em Paris, no ano de 1960. Veja-se,a respeito do pensamento desses autores, A tratados inúmeras aquisições territoriais, inclusivea AlsáCia.A Alemanha, terntorIal-
F O ""laçiio d" E stado, de L"WRIS<T KR.\Il1J:,p.igs.26e 167. HER~1.~NN
HI'lLERcondena mente prejudicada, beneficiou-se, entretanto, (01110 todos os demais Estados, pelo
a amplitude dada por MEYER ao cOIKeitode Estado, dizendo que, com tão ilimitada reconhecimento de limites dentro dos quais teria poder soberano.
extensão, o conceito histórico de Estado se desnatura por completo e se torna de
52. Jos£CARLOS ATALlBA NOGUEIRA, L ições de T eorill G em i do E stado, págs. 46 e 47.
impossível utilização (T coríll dei E st,ldo, pág. 145).

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económico. Nessa mesma ordem de: ide:ias coloca-se: HEI.I.Ell, (li"zendo ljUl' a
Teorias que atirmam a formaçào /Ii/t 11 ral ou espontânea do Estado,
i/)
posse da terra gerou o poder e a propriedade ge:rou o Estado, e PIlHISS, sus-
nào havendo entre das uma coincidência quanto à causa, mas tendo todas tentando que a característica fundamental do Estado é a sobe:rania territorial.
em comum a afirmaçào de que o Estado se formou naturalmente, não por
Mas, entre as teorias que sustentam a origem do Estado por motivos
um ato puramente voluntário.
econômicos, a de maior repercussão prática foi e continua sendo a de MARX
b ) Teorias que sustentam a formação co n tra tu a l dos Estados, apresen-
e ENGEl_~. Essa opinião de ambos vem muito claramente exposta por EN(;f.l.S
tando em comum, apesar de também divergirem entre si quanto às causas,
numa de suas principais obras, "A Origem da Famíli,l, da Propriedade Pri-
a crença em que foi a vontade de alguns homens, ou então de todos os ho-
vada e do Estado". Além de negar que o Estado tenha nascido com a socie-
mens, que levou à criação do Estado. De maneira geral, os adeptos da for-
dade, ENGELS a firma que ele "é antes um produto da sociedade, quando ela
mação contratual da sociedade é que defendem a tese da criação contratu-
chega a determinado grau de desenvolvimento". Num capítulo em que trata
alista do Estado.
da g en s grega, depois de se referir à deterioração da convivência harmônica,
No tocante às causas determinantes do aparecimento do Estado, as tendo como causas a acumulação e a diferenciação das riquezas, e outros
teorias não contratualistas mais expressivas podem ser agrupadas da seguin- males consequentes, chega à seguinte conclusão: "Faltava apenas uma coisa:
te maneira: uma in:;tituição que não só assegurasse as novas riquezas indi'viduaL contra
O rig em fa m ília l ou p a tria rca l. Estas teorias situam o núcleo social as tradições comunistas da constituição gentílica; que não só consagrasse a
fundamental na família. Segundo essa explicação, defendida principalmen- propriedade privada, antes tão pouco estimada, e fizesse dessa consagração
te por ROBERT F ILMER, cada família primitiva se ampliou e deu origem a um santificadora o objetivo mais elevado da comunidade humana, mas também
Estado. imprimisse o selo geral do reconhecimento da sociedade às novas formas de
O rig em em a to s d e fo rça , d e vio lên cia ou d e co n q u ista . Com pequenas aquisição da propriedade, que se desenvolviam umas sobre as outras - a
variantes, essas teorias sustentam, em síntese, que a superioridade de força acumulação, portanto, cada vez mais acelerada das riquezas: uma instituição
de um grupo social permitiu-lhe submeter um grupo mais fraco, nascendo que, em uma palavra, não s6 perpetuasse a nascente divisão da sociedade em
o Estado dessa conjunção de dominantes e dominados. Entre os adeptos classes, mas também o direito de a classe possuidora explorar a não possui-
dessa teoria situa-se OPPENHEIMER, que, afirmando ter sido criado o Estado dora e o domínio da primeira sobre a segunda. E essa instituição nasceu.
para regular as relações entre vencedores e vencidos, acrescenta que essa Inventou-se o E sta d o "5 4 .
dominação teve por finalidade a exploração econômica do grupo vencido A crença nessa origem tem reflexo imediato em dois pontos fundamentais
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pelo vencedor • da teoria marxista do Estado: a qualificação deste como um instrumento da bur-
O rig em em ca u sa s eco n ô m ica s ou p a trim o n ia is. Há quem pretenda que guesia para exploração do proletariado e a afirmação de que, não tendo existido
essa tenha sido a origem indicada por PLATÃO, quando nos "Diálogos", no nos primeiros tempos da sociedade humana, o Estado poderá ser extinto no fu-
Livro II de "A República", assim se expressa: "Um Estado nasce das necessi- turo, uma vez que foi uma criação puramente artificial para satisfação dos inte-
dades dos homens; ninguém basta a si mesmo, mas todos nós precisamos resses de uma minoria.
de muitas coisas". E logo depois: " ... como temos muitas necessidades e O rig em n o d esen vo lvim en to in tern o d a so cied a d e. De acordo com estas
fazem-se mister numerosas pessoas para supri-las, cada um vai recorrendo teorias, cujo principal representante é ROBERT
L oWIE,o Estado é um germe,
à ajuda deste para tal fim e daquele para tal outro; e, quando esses associados uma potencialidade, em todas as sociedades humanas, as quais, todavia,
e auxiliares se reúnem todos numa só habitação, o conjunto dos habitantes prescindem dele enquanto se mantêm simples e pouco desenvolvidas. Mas
recebe o nome de cidade ou Estado". Dessa forma, o Estado teria sido formado aquelas sociedades que atingem maior grau de desenvolvimento e alcançam
para se aproveitarem os benefícios da divisão do trabalho, integrando-se uma forma complexa têm absoluta necessidade do Estado, e então ele se
as diferentes atividades profissionais, caracterizando-se, assim, o motivo

54. FRIEDRICH ENGELS, A O rig em d a F a m ília , d a P ro p ried a d e P riva d a e d o E sta d o ,


53. FRA!':z OPPENHEIMER, T h e S ta te, pág. 6. Posição muito semelhante é susten-
págs. 102 e 160.
tada por LUJ)wIG GUMPLOWIU, nos P récis d e S o cio lo g ie.

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E m to d o s e s s e s c a s o s , o E s ta d o q u e te v e s e u te rritó rio d im in u íd o p e lo
fra c io n a m e n to c o n tin u a a e x is tir, s ó s e a lte ra n d o a e x te n s ã o te rrito ria l e o
c o n s titu i. N ã o h ;í, p o rta n to , a in t1 u ê n c ia d e fa to re s e x te rn o s il s o c ie d a d e ,
n ú m e ro d e c o m p o n e n te s d o p o v o , u m a v e z q u e u m a p a rc e la d e s te s e m p re
in c 1 u s iV l' d e in te re s s e s d e in d iv íd u o s o u d e g ru p O S , m a s é o p ró p rio desen-
s e in te g ra n o E s ta d o re c é m -c o n s titu íd o . E a p a rte d e s m e m b ra d a , que passou
v o lv im e n to l's p o n tú n e o d a s o c ie d a d e q u e d á o rig e m a o E s ta d o .
a c o n s titu ir u m n O V OE s ta d o , a d q u ire u m a o rd e n a ç ã o ju ríd ic a p ró p ria , p a s -
A í e s t;io , e m re s u m o , a s p rin c ip a is te o ria s q u e p ro c u ra m e x p lic a r a
sando a a g ir c o m in d e p e n d ê n c ia , in c lu s iv e n o s e u re la c io n a m e n to com o
fo rm a ç ã o o rig in á ria d o s E s ta d o s .
2 6 . A c ria ç ã o d e E s ta d o s p o r formação derivada, is to é , a p a rtir d e E s - E s ta d o d o q u a l s e d e s lig o u .
O o u tro p ro c e s s o típ ic o d e c o n s titu iç ã o d e n o v o s E s ta d o s p o r fo rm a ç ã o
ta d o s p re e x is te n te s , é o p ro c e s s o m a is c o m u m a tu a lm e n te , havendo p o r ta l
m o tiv o u m in te re s s e p rá tic o b e m m a io r n e s s e e s tu d o , b e m c o m o a p o s s ib i-
d e riv a d a é a união de Estados, quando e s ta im p lic a a a d o ç ã o d e u m a C o n s -
titu iç ã o com um , d e s a p a re c e n d o o s E s ta d o s p re e x is te n te s q u e a d e rira m à
lid a d e d e p re s e n c ia rm o s a o c o rrê n c ia d e m u ito s fe n ô m e n o s ilu s tra tiv o s da
U n iã o . N e s te c a s o , d o is o u m a is E s ta d o s re s o lv e m u n ir-s e , p a ra c o m p o r um
te o ria . n o v O E s ta d o , p e rd e n d o s u a c o n d iç ã o d e E s ta d o s a p a rtir d o m o m e n to em
H á d o is p ro c e s s o s típ ic o s o p o s to s , a m b o s ig u a lm e n te u s a d o s n a a tu a -
q u e s e c o m p le ta r a u n iã o e in te g ra n d o -:;e , a p a rtir d a í, n o E s ta d o re s u lta n te .
fracionamento e a união d e E s ta d o s .
lid a d e , q u e d ã o o rig e m a n o v o S E s ta d o s : o
T o d o s o s c o m p o n e n te s d e s a p a re c e m c o m o E s ta d o s , s u rg in d o e m s e u lu g a r
T e m -s e o fra c io n a m e n to uma parte do território de um Estado se
quando
u m a n o v a e n tid a d e , q u e a b s o rv e to d a s a s c a ra c te rís tic a s d e E s ta d o q u e p e r-
desmembra e passa a constituir um novo Estado. F o i e s te o p ro c e s s o s e g u id o
te n c ia m à q u e le s q u e s e u n ira m p a ra fo rm á -lo . A fo rm a ç ã o d e E s ta d o s , te n d o
p a ra q u e o s te rritó rio s c o lo n ia is , a in d a e x is te n te s n o s é c u lo X X , n a m a io ria
c o m o o rig e m a u n iã o d e o u tro s p re e x is te n te s , te m s id o m a is c o m u m a tra v é s
lo c a liz a d o s n a Á fric a , p a s s a s s e m à c o n d iç ã o d e u n id a d e s in d e p e n d e n te s e
d a c o n s titu iç ã o d e fe d e ra ç õ e s , p re fe rin d o -s e e s ta fo rm a p o rq u e , n ã o o b s ta n -
a d q u iris s e m o e s ta tu to d e E s ta d o s . A té o fin a l d a II G u e rra M u n d ia l a in d a
te s u b m e te r to d o s o s c o m p o n e n te s a u m p o d e r c e n tra l ú n ic o , b e m c o m o a
h a v ia o re c o n h e c im e n to o fic ia l d a e x is tê n c ia d e c o lô n ia s e o s E s ta d o s q u e a s
u m a C o n s titu iç ã o c o m u m , p e rm ite a p re s e rv a ç ã o d e a u to n o m ia s lo c a is e d a s
p .')s s u ía m d is c rim in a v a m e n tre te rritó rio m e tro p o lita n o e (')lo n ia l. E s te s
c a ra c te rís tic a s s o c io c u ltu ra is d e c a d a c o m p o n e n te d a fe d e ra ç ã o . N a d a im -
e ra m c o n s id e ra d o s u m a e s p é c ie d e re s e rv a p a trim o n ia l, m a s , d e q u a lq u e r
p e d e , p o ré m , q u e a lg u n s E s ta d o s re s o lv a m u n ir-s e p a ra c o m p o r um novo
fo rm a , e s ta v a m in c o rp o ra d o s a o E s ta d o , a c u ja s o b e ra n ia s e s u je ita v a m .
E s ta d o , p re fe rin d o d a r a e s te u m a o rg a n iz a ç ã o u n itá ria , n ã o fe d e ra l. O q u e
A s s im , p o is , p o d e -s e d iz e r q u e , c o m a c o n q u is ta d a in d e p e n d ê n c ia , p o r v ia
é c a ra c te rís tic o n o p ro c e s s o d e c o n s titu iç ã o de um E s ta d o p e la u n iã o de
p a c ífic a o u v io le n ta , o c o rre u o d e s m e m b ra m e n to e a c o n s e q u e n te c ria ç ã o
E s ta d o s p re e x is te n te s é q u e e s te s ú ltim o s p e rd e m a c o n d iç ã o d e E s ta d o s n o
d e n o v o s E s ta d o s p o r fo rm a ç ã o d e riv a d a .
m o m e n to e m q u e s e c o n c re tiz a a u n iã o .
O u tro fe n ô m e n o , e s te m e n o s c o m u m , é a s e p a ra ç ã o d e u m a p a rte d o
P o r ú ltim o , a lé m d o s p ro c e s s o s típ ic o s a q u i re fe rid o s , é p re c is o le m b ra r
te rritó rio de um E s ta d o , e m b o ra in te g ra d o sem nenhum a d is c rim in a ç ã o
q u e , v e z o u o u tra , p o r m o tiv o s e x c e p c io n a is , p o d e -s e d a r a c ria ç ã o d e n o v o s
le g a l, p a ra c o n s titu ir u m n o v o E s ta d o , o q u e o c o rre q u a s e s e m p re p o r m e io s
E s ta d o s p o r formas atípicas, n ã o u s u a is e a b s o lu ta m e n te im p re v is ív e is . A s s im ,
v io le n to s , q u a n d o u m m o v im e n to a rm a d o s e p a ra tis ta é b e m s u c e d id5o5 , p o -
p o r e x e m p lo , d e p o is d e g ra n d e s g u e rra s a s p o tê n c ia s v e n c e d o ra s , v is a n d o a
d e n d o o c o rre r ta m b é m , e m b o ra s e ja ra ra a h ip ó te s e , p o r v ia p a c ífic a •
a s s e g u ra r o e n fra q u e c im e n to p e rm a n e n te d o s p a ís e s v e n c id o s , o u p ro c u ra n -
d o a m p lia r o s e u p ró p rio te rritó rio , p ro c e d e m a u m a a lte ra ç ã o d o s q u a d ro s
p o lític o s , n ã o ra ro p ro m o v e n d o a c ria ç ã o d e n o v o s E s ta d o s , e m p a rte s d e
5 5 . E x e m p lo típ ic o d e fra c io n a m e n to p a c ífic o fo i o q u e o c o rre u c o m C in g a p u - te rritó rio d e u m o u m a is d o s v e n c id o s . U m fe n ô m e n o a típ ic o o c o rrid o no
ra , n o a n o d e 1 9 6 5 . E s ta n d o in te g ra d a à F e d e ra ç ã o d a M a lá s ia , e s ta c o n s e n tiu n a s é c u lo X X fo i a c ria ç ã o d e d o is E s ta d o s a le m ã e s - a R e p ú b lic a D e m o c rá ti-
in d e p e n d ê n c ia d e C in g a p u ra , q u e p a s s o U a c o n s titu ir u m n o v o E s ta d o . c a A le m ã e a R e p ú b lic a F e d e ra l A le m ã -, e m lu g a r d o ú n ic o E s ta d o a le m ã o
O s c a s o S d a a n tig a U n iã o S o v ié tic a e d a e x -Iu g o s lá v ia s ã o d ife re n te s . E m a m b o s e x is te n te a n te s d a II G u e rra M u n d ia l. T e rm in a d a a g u e rra , e m 1 9 4 5 , a A le -
n ã o o c o rre u o fra c io n a m e n to , c o m a p e rm a n ê n c ia d o E s ta d o fe d e ra l p re e x is te n te .
m a n h a v e n c id a tin h a s e u te rritó rio ocupado p e lo s v e n c e d o re s , a U n iã o S o -
N e s s e s d o is c a s o s h o u v e a d is s o lu ç ã o d a u n iã o fe d e ra tiv a , d e ix a n d o d e e x is tir o
v ié tic a , n o la d o o rie n ta l, e o s E s ta d o s c a p ita lis ta s , n o la d o o c id e n ta l. N o a n o
a n tig o E s ta d o fe d e ra l, o u s e ja , n ã o e x is te m m a is a U n iã o S o v ié tic a n e m a Iu g o s -

lá v ia . 65

64
~.ZA~~"l1~A. T e o r ill G ( ,r tll d o CSIIII/O, Ed. (;Iobo, PMto Akgre. 1')62; (;H nu; lu 11:-;1"
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exemplos de ocorrências atípicas poderiam ser lembrados também o Estado
da Cidade do Vaticano e o Estado de Israel.
27. Aí estão os processos que dão origem à criação de novos Estados.
Quanto ao momento em que se considera criado um novo Estado, não há
uma regra uniforme. Evidentemente, a maneira mais definida de afirmar a
criação é o reconhecimento pelos demais Estados. Todavia, o reconhecimen-
to não é indispensável, sendo mais importante que o novo Estado, apresen-
tando todas as característica~ que são comuns aos Estados, tenha viabilidade,
conseguindo agir com independência e manter, internamente, uma ordem
jurídica eficaz.

Bibliografia
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56. Fenômeno diferente foi o que ocorreu com a China. Tanto a República
Popular da China (China Continental) quanto a China Nacionalista (Formosa)
pretendiam o reconhecimento de que representavam legitimamente o Estado chinês,
membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. E esta, por decisão da
Assembleia Geral, em 26 de outubro de 1971, decidiu reconhecer o governo da
China Continental como o legitimo representante do Estado. E a expulsão dos re-
presentantes de Formosa significou apenas que eles foram considerados ilegítimos
para falar em nome da China, jamais se tendo mencionado, entretanto, a existência
de dois Estados chineses. Isto poderá vir a ocorrer se os chineses de Formosa quise-
rem adotar o estatuto de Estado independente, podendo mesmo pedir seu ingresso
na ONU. Neste caso teremos uma hipótese de criação de um novo Estado por fra-
cionamento.
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