Você está na página 1de 34

INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO TUNDAVALA

Departamento de Ciências da Saúde

1º Ano

MANUAL DE APOIO DE EPIDEMIOLOGIA II

Lubango/2019
PROGRAMA DA DISCIPLINA DE EPIDEMIOLOGIA II REFERENTE AO IIº SEMESTRE DO
1º ANO

Professora: Augusta D. Pena Maurício

IIº Semestre, Inicio: 06 de Agosto

SEMANAS CONTEÚDO PROGRAMÁTICO


1 Legislação ambiental - agenda 21.

3 Informação em saúde e vigilância epidemiológica

4 Saúde e Ambiente, promoção da saúde

5 Cuidados primários de saúde Declaração de Alma-Ata

7 Estatísticas vitais: morbidade e mortalidade


8 Estatísticas vitais: morbidade de mortalidade
Vigilância sanitária: conceitos, objectivos, funções e práticas
1 Avaliação

Revisão da avaliação,

8 Vigilância sanitária: conceito, objectivo

9 Saúde alimentação e nutrição


10 Grandes endemias carenciais
11 Vigilância nutricional
2 Avaliação
Revisão da avaliação

Processo Saúde-Doença
Os conceitos do processo saúde-doença são marcados por várias tentativas de buscar
modelos que expliquem o aparecimento de doenças no humano que pudessem
superar a visão religiosa dominante. Com a Medicina Moderna as explicações foram
aos poucos substituídas pela busca das causas biológicas que estariam na origem dos
processos de adoecimento.

Na linguagem corrente a doença é considerada como o oposto da saúde: logo, é tudo


aquilo que causa uma alteração ou desarmonizarão no sujeito, seja a nível molecular,
corporal ou mental, emocional ou espiritual. Perante a dificuldade em definir doença
(dado que o individuo o faz de acordo com as suas próprias vivencias) existem vários
conceitos que podem ser utilizados de acordo com o contexto, como sinónimos:
patologia, perturbação, desordem, desequilíbrio, alteração entre outros.

A mais ambiciosa definição de saúde foi a proposta pela Organização Mundial de


Saúde (OMS) em 1948: “Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e
social e não apenas a mera ausência de doença”. Essa definição, embora criticada
devido à dificuldade em definir e mensurar bem-estar, permanece sendo um ideal até
aos dias de hoje.

Doença é um processo ou estado causado por uma infecção num ser vivo que altera o
seu estado de saúde. Este estado pode ser causado por vários factores sendo
intrínsecos ou extrínsecos.

Relativamente a definição de doente, é o termo usado para fazer alusão ao ser vivo
que padece/sofre de uma doença, esteja ou não consciente do seu estado.

Ex. Doentes de esquizofrenia, portadores de diabetes e cancro.

Modelos Explicativos do Processo saúde-doença

Modelo Mágico-religioso: a visão da medicina mágico-religiosa era predominante na


antiguidade. O adoecer era resultado de transgressões de natureza individual ou
colectiva, e era preciso os rituais liderados pelos feiticeiros, sacerdotes ou xamãs para
reatar o enlace com as divindades.

A cura era realizada através dos sacerdotes incas, os xamãs e pajés entre os índios
brasileiros, as benzedeiras e os curandeiros na África. Os curandeiros utilizavam
músicas, danças, instrumentos musicais, infusões, emplastos, plantas psicoativas,
jejum, restrições alimentares, tabaco, calor, reclusão, massagem dentre outros
recursos. Essa visão ainda é utilizada por muitas pessoas nos dias de hoje.

Modelo holístico: a medicina holística é proveniente da ideia de equilíbrio. A saúde


era entendida como o equilíbrio entre os elementos e humores que compõem o
organismo humano. E a doença surgia a partir do desequilíbrio desses elementos. A
causa do desequilíbrio estava relacionada com o ambiente físico como os astros, o
clima etc.

Modelo empírico-racional (hipocrático): Hipócrates relacionava o ambiente com o


processo saúde-doença. Observava as funções do organismo como as relações com o
meio natural como a frequência das chuvas, ventos, calor ou frio, com o meio social
como o trabalho, moradia e classe social. E relacionava a doença como o desequilíbrio
dos quatro humores fundamentais do organismo: sangue, linfa, bile amarela e bile
negra. A teoria dos miasmas explicava o aparecimento das doenças a partir da
emanação do ar dos locais insalubres, daí a origem da palavra malária (maus ares).

Modelo sistémico: o processo sistémico ganhou maior repercussão no final da


década de 1970. A noção de sistema incorpora a ideia de todo, de contribuição de
distintos elementos do ecossistema no processo saúde-doença, dessa forma faz um
contraponto à visão unidimensional e fragmentária do modelo biomédico.

Modelo biomédico: a formação do profissional médico está baseada, principalmente,


no modelo biomédico. Baseia-se numa visão cartesiana de divisão corpo e mente,
desconsiderando os aspectos psicológicos, sociais e ambientais envolvidos no processo
de adoecer.

O modelo biomédico utiliza uma lógica uni causal, também denominada lógica linear,
buscando-se identificar uma causa a qual, por determinação mecânica, uni direccional
e progressiva, o fenómeno de adoecer seria explicado direccionando a explicação a se
tornar universal

Modelo da História Natural das Doenças: Leavell & Clark foram os responsáveis pela
base conceitual do movimento de medicina preventiva no livro “Medicina Preventiva”
(1976) e a primeira edição surgiu em 1958 ressaltando a tríade ecológica que define o
modelo de causalidade das doenças a partir das relações entre agente, hospedeiro e
meio ambiente.

E a história natural das doenças é conceituada como “todas as interrelações do agente,


do hospedeiro e do meio ambiente que afectam o processo global e seu
desenvolvimento, desde os primeiros estímulos que criam o estímulo patológico no
meio ambiente ou em qualquer outro lugar (pré-patogênese), passando pela resposta
do homem ao estímulo, até as alterações que levam a um defeito, invalidez,
recuperação ou morte (patogênese)”

Fases da História natural da doença

As fases da HND são:

 Fase Inicial (suscetibilidade ou pré-patogenica)

Nesta fase não há doença propriamente dita, no entanto já se constatam condições


que favoreçam o aparecimento da doença em decorrência dos factores de risco ou de
protecção, nesta fase há necessidade de eliminar os factores de risco ou alteração na
sua intensidade

 Fase patológica ou pré-clinica


Neste momento inicia-se como processo patológico e vai até ao aparecimento de
sinais e sintomas da doença, podendo evoluir para a cura ou progredir para a fase da
doença.

 Fase clínica ( período patogenise)

Aqui a doença encontra-se em estado avançado. No entanto graus de acometimento


do organismo, podendo variar desde leve até a fase aguda ou crónica. Evoluindo para
defeitos permanentes, cronicidade, cura ou morte.

 Fase da incapacidade residual

No caso de sequelas é necessária a reabilitação de cunho físico, psicológico o social,


visando á capacidade residual da pessoa afectada após a estabilização clínica.

Medidas de Prevenção

E em 1965, Leavell e Clark, delinearam o modelo da história natural das doenças, que
apresenta três níveis de prevenção: primária, secundária e terciária

São consideradas medidas preventivas, todas aquelas utilizadas pata evitar doenças
ou suas consequências bem como as que destinam a interromper o processo de uma
doença que já se instalou no organismo humano.

Medidas específicas: são medidas gerais, têm como objectivos de promover o bem-
estar das pessoas.

Mediadas não específicas: são medidas restritas, incluem técnicas próprias para lidar
com cada dano em particular.

Níveis de prevenção

Nesse princípio é utilizado com o objectivo de diminuir riscos à saúde pública quer seja
no processo ou no produto final.

Prevenção primária o propósito da prevenção primária é limitar a incidência de


doença através do controle das causas específicas e dos factores de risco. Os esforços
da prevenção primária podem ser dirigidos à: população total com o objectivo de
reduzir o risco médio (estratégias de massa) ou pessoas de alto risco como resultado
de uma exposição em particular (estratégia destinada a um grupo específico).

Prevenção secundária o objectivo da prevenção secundária é reduzir as


consequências mais graves da doença através do diagnóstico precoce e do tratamento.
Estão incluídas na prevenção secundária medidas individuais e colectivas que
permitem diagnóstico precoce e intervenção imediata e efectiva. Esse nível de
prevenção é dirigido ao período compreendido entre o início da doença e o momento
em que normalmente seria feito o diagnóstico, tendo por objectivo reduzir a
prevalência da doença.

A prevenção secundária pode ser aplicada somente a doenças cuja história natural
inclua um período inicial, em que possa ser facilmente identificada e tratada, de modo
a interromper sua progressão para um estágio mais sério.

Prevenção terciária tem como objectivo reduzir a progressão e as complicações de


uma doença já sintomática; esse é um aspecto importante da terapêutica e da
reabilitação.

A prevenção terciária consiste em um conjunto de medidas que têm como finalidade


reduzir as lesões e incapacidades, diminuir o sofrimento provocado pela doença, como
também promover a adaptação do paciente a doenças incuráveis. Geralmente é difícil
separar a prevenção terciária do tratamento, uma vez que o tratamento de doenças
crónicas tem como um dos objectivos principais a prevenção de recorrências.

A reabilitação de pacientes com poliomielite, acidente vascular cerebral, acidentados,


com cegueira, entre outros, é importante para a inserção social destes. A prevenção
terciária pode significar uma grande melhora no bem-estar individual e na renda
familiar. Um importante aspecto da prevenção terciária, particularmente em pessoas
jovens acometidas por doenças ou acidentes, é restabelecer sua capacidade para o
trabalho e consequentemente seu próprio sustento. Se o sistema de previdência social
não estiver funcionando adequadamente, mesmo que por um período curto, isso pode
resultar em sofrimento para o paciente e sua família. Os estudos epidemiológicos
precisam incluir a situação económica das pessoas doentes como um dos principais
determinantes sociais dos desfechos de saúde.

Fases de prevenção

As três fazes de prevenção, desdobram-se em cinco níveis:

1. Promoção da saúde – acções destinadas a manter o bem-estar, sem visar


nenhuma doença.
 Educação sanitária
 Alimentação e nutrição adequadas
 Habitação adequados
 Emprego e salários adequados
 Condições para a satisfação das necessidades básicas para o indivíduo.

2. Protecção específica: inclui medidas para prevenir o aparecimento de uma


determinada doença.
 Imunização
 Exames pré-natais
 Quimioprofilaxia
 Tratamento da água
3. Diagnostico e tratamento precoce
 Rastreamento
 Exame periódico de saúde
 Procura de casos entre contactos
 Auto-exame

4. Limitação de danos
 Acesso facilitado a serviços de saúde
 Tratamento médico ou cirúrgico adequado
 Hospitalização em função das necessidades

5. Reabilitação
 Fisioterapia
 Terapia ocupacional
 Emprego para o reabilitado
 Melhores condições de trabalho para o deficiente
 Educação para o publico para aceitação dos deficientes
 Próteses de órteses.

Doenças transmissíveis: surto, epidemia, endemia e pandemia

Operacionalmente, as medidas típicas do risco são chamadas de incidência e


prevalência.
Incidência é a proporção de casos novos de uma dada patologia em uma população
delimitada, durante um período determinado.
Prevalência é a proporção de casos (novos e antigos) de certa doença em uma
população delimitada, em um tempo determinado.

Surto - quando há um aumento repentino do número de casos de uma doença em


uma região específica. Para ser considerado um surto, o aumento de número de casos
deve ser maior do que o esperado pelas autoridades.

Epidemia -é a ocorrência de casos de uma mesma doença numa determinada


localidade, que claramente está acima da incidência esperada, durante um tempo
definido.

Endemias -a ocorrência habitual de uma doença dentro de uma zona geográfica


determinada, também poder significar a prevalência comum de uma determinada
doença dentro de uma região, quando se observa durante um tempo indefinido no
território geográfico um aumento habitualmente de casos.

Endemia - representa uma condição da doença na qual se manifesta com ligeiras


flutuações, mais ou menos estacionárias através de longos períodos, devidos os
factores que o condicionam, dependente do agente, hospedeiro, meio ambiente se
mantêm sem variações significativas.
Pandemia - é o aumento de um número anormal de casos de uma doença, durante um
tempo limitado em uma área geográfica extensa que pode abranger vários países de
um continente ou de vários continentes e afecta grandes massas populacionais.
Para entender melhor: Quando uma epidemia se alastra de forma desequilibrada se
espalhando pelos continentes, ou pelo mundo, ela é considerada pandemia.
Alguns exemplos de Pandemias: SIDA, tuberculose, peste, gripe asiática, gripe
espanhola, tifo, etc.

Os critérios de definição de uma pandemia

 A doença ou condição além de se espalhar ou matar um grande número de


pessoas, deve ser infecciosa.
 O câncer (responsável por inúmeras mortes) não é considerado uma pandemia
porque não uma é doença infecciosa, ou seja, não é transmissível.

Doenças Transmissíveis

Uma doença transmissível (ou infecciosa) é aquela causada pela transmissão de um


agente patogénico específico para um hospedeiro susceptível.

A maioria das doenças infecciosas está associada à pobreza e ao subdesenvolvimento.


Nas economias fracas, dependentes, a com causalidade das doenças transmissíveis,
especialmente as chamadas doenças tropicais, está tão fortemente vinculada à miséria
que, como suporte para as medidas de controlo dessas doenças, poder-se-ia propor a
remoção da miséria e seu cortejo (falta de acesso a terra, à escola, à água etc.)

Para que a doença se manifeste no organismo, o agente infeccioso precisa vencer


algumas barreiras naturais do organismo, essas barreiras são a defesa invisível e
vigilante, capaz de combater e destruir o agente infeccioso, é o sistema imunológico
ou sistema imune.

A infestação de um agente infeccioso pode ser combatida pela prevenção com


imunização através do uso da vacina, constituída por antingenos modificados, mortos
ou atenuados, potentes para estimular a produção de memória, que constituem a
imunização artificial contra a doença.

As doenças infecciosas podem assumir várias formas. Uma doença manifesta é aquela
que apresenta todas as características clínicas que lhe são típicas. Em contraposição,
na infecção inaparente, o indivíduo não apresenta sinais ou sintomas clínicos
manifestos. Fala-se usualmente em uma forma subclínica ou assintomática da doença.
Essa forma de infecção tem uma importância grande em epidemiologia, dado o fato de
que as pessoas podem transmitir o agente aos susceptíveis com a mesma intensidade
encontrada na doença manifesta, porém de uma forma encoberta.

Para que apareça a doença deverão coincidir 3 elementos fundamentais que


constituem o pilar da cadeia epidemiológica de transmissão:
O susceptível/ susceptibilidade: é a falta de resistência dos seres vivos ante ao ataque
de um agente biológico com a possibilidade de contrair doença por essa causa.

Os agentes patogénicos, infeccioso ou agente causal: é qualquer elemento que ao


actuar como causa determinante, seja capaz de produzir um desvio na saúde.
Classificando-se em biótico, abióticos e psicossociais.

Os agentes infecciosos presentes no nosso ambiente são os vírus, bactérias, fungos,


protozoários.
Vias de transmissão: são distintas formas, modos ou mecanismos, que utiliza os
agentes infecciosos passar do seu reservatório ate ao novo hospedeiro susceptível.
Existem duas vias fundamentais de transmissão: directa e indirecta

Epidemiologia das Doenças Transmissíveis

Conceitos Básicos
Portador: pessoa ou animal que não apresenta sintomas clinicamente reconhecíveis de
determinada doença transmissível ao ser examinado, mas que está albergando o
agente etiológico respectivo. Os portadores classificam-se em: portador sã, portador
em período de incubação da doença e o portador em período de convalescença.

Contaminação é a presença de um agente infeccioso na superfície do corpo, na roupa


de cama, brinquedos, instrumentos, ligador cirúrgico, água, leite e nos alimentos. A
contaminação é distinta na poluição, que implica a presença de substâncias nocivas,
porém não necessariamente infeciosas no ambiente

Contágio: é a transmissão de uma doença por contacto imediato ou mediato.

Fonte de infecção: é o foco, local onde se origina o agente infeccioso, permitindo-lhe


passar directamente para o hospedeiro, podendo localizar-se em pessoas, animais,
objectos, alimentos, água, etc.

Imunidade: resistência, usualmente associada à presença de anticorpos que têm o


efeito de inibir microrganismos específicos ou suas toxinas, responsáveis por doenças
infecciosas particulares.
Imunodeficiência: ausência de capacidade para produzir anticorpos em resposta a um
antígeno.

Patogenicidade: capacidade de um agente biológico causar doença em um hospedeiro


susceptível.
Patógeno: agente biológico capaz de causar doenças.

Período de incubação: intervalo entre a exposição efectiva do hospedeiro susceptível a


um agente biológico e o início dos sinais e sintomas clínicos da doença no mesmo.

Período de transmissibilidade: intervalo de tempo durante o qual uma pessoa ou


animal infectado elimina um agente biológico para o meio ambiente ou para o
organismo de um vector hematófago, sendo possível, portanto, a sua transmissão a
outro hospedeiro.
Período de latência: intervalo entre a exposição a agentes patológicos e início dos
sinais e sintomas da doença.

Modos de Transmissão

Vias de Transmissão
As vias de transmissão são: Pele, ar, alimentos, objectos, relação sexual e sangue.

Transmissão directa: implica uma relação íntima entre o reservatório e o hospedeiro e


hospedeiro susceptível.

Transmissão indirecta: é feito através do contacto de veículos animados e inanimados


(copos, talheres, agulhas, vectores, etc).

Estas vias estão condicionadas pelos seguintes factores:


a) Resistência dos agentes biológicos, ou seja, sua capacidade para sobreviver no
meio ambiente exterior.
b) Na possibilidade de abandonar o reservatório, haja condições para encontrar o
seu veículo apropriado.

O reservatório: é o habitat natural do agente causal, representada geralmente pelo


homem ou animal, em que o agente infeccioso vive e se multiplica, da qual depende a
sua subsistência.

Agentes infecciosos podem ser transmitidos para humanos: directamente, de outros


humanos ou animais infectados, ou indirectamente, através de vectores, partículas
aéreas ou outros veículos.

Hospedeiro: pessoas ou animais, inclusive as aves e artrópodes que em circunstâncias


naturais permitem a assistência ou alojamento de um agente infeccioso. Os mesmos
podem ser: hospedeiro intermediário e definitivo.

Vectores: é todo componente do reino animal que serve como veículo na transmissão
da doença. Vectores biológicos: moscas, larvas, mosquito, ratos, etc.

Acções de controlo e Erradicação de doenças transmissíveis

Medidas de controlo

Podemos entender o termo controlo, quando aplicado a doenças transmissíveis/


infecciosas, como a redução da incidência ou prevalência e/ou prevalência de
determinada doença por meio de diferentes tipos de intervenções, a níveis muitos
baixos, de forma que ela deixe de ser considerada um problema importante em saúde
publica.
No controlo aceita-se a convivência com determinadas doenças, porém em níveis
toleráveis ao homem.
Alguns autores propõem um conceito mais amplo de “controlo de doenças”,
definindo-o como “uma série de esforços e intervenções integradas, dirigidas á
população ou a subgrupos de alto risco nela existentes, visando prevenir, diagnosticar
precocemente ou tratar um agravo á saúde, assim como limitar os danos por eles
gerados”

Segundo Evans (1985), existem três níveis biológicos de controlo:

 Controlo da doença clínica, de sequelas e mortalidade a ela associada.


 Controle da infecção, quer ela e manifeste clinicamente ou como infecção
assintomática.
 Controle da presença do agente causal no ambiente e na fonte de
infecção.

A erradicação é uma forma radical de controlo que, de modo sucinto, pode ser
definido como a extinção, por métodos artificias do agente etiológico de um agravo,
ou de seu vector, sendo por consequência impossível sua reintrodução e totalmente
desnecessária a manutenção de quaisquer medidas de prevenção.

A erradicação é atingida quando não mais existir o risco de infecção ou doença mesmo
na ausência de vacinação ou qualquer outra medida de controlo, sendo inclusive
indicada a suspensão da vigilância.

Uma alternativa próxima a erradicação, porem mais viável, é a eliminação de uma


doença que é atingida quando se obtém a cessação da sua transmissão em extensa
área geográfica, persistindo no entanto, o risco da sua reintrodução, seja por falha na
utilização dos instrumentos de vigilância ou controlo, seja pela modificação do
comportamento do agente ou vector.
Exemplo: poliovírus nas Américas

Doenças de origem alimentar

As doenças de origem alimentar, também conhecidas de patologia alimentares,


infecções alimentares e intoxicação alimentares, são um problema de saúde pública
comum, embora evitável, por todo o mundo.

As doenças transmitidas por alimentos (DTA) são uma importante causa de morbidade
e mortalidade em todo o mundo. Em muitos países, durante as últimas duas décadas,
têm emergido como um crescente problema econômico e de saúde pública.
Numerosos surtos de DTA atraem atenção da mídia e aumentam o interesse dos
consumidores. Há previsões de que o problema aumente no século 21, especialmente
com as várias mudanças globais, incluindo crescimento da população, pobreza,
exportação de alimentos e rações animais, que influenciam a segurança alimentar
internacional.

Origem:
A grande maioria destas doenças de origem alimentar são provocadas por: bactérias,
vírus, parasitas, priões (partícula proteica infecciosa) e químicos

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), doenças de origem alimentar


possuem natureza infecciosa ou tóxica, causadas pela ingestão de água ou alimentos
contaminados com algum tipo de agente patológico. Alimentos patogénicos: Frutos do
mar crus, ovos crus, carnes pouco cozidas, leite ou sumos não pasteurizados, queijos
moles não pasteurizados, conservas caseiras, embutidos.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que o conhecimento oficial das


doenças de origem alimentar seja de 10% em relação ao total de ocorrências. A
prevalência destas doenças (toxinfecções/intoxicações alimentares) é influenciada por
diversos factores, nomeadamente por alterações ambientais, industrialização, estilos
de vida, urbanização, mudanças de hábitos, comércio internacional, alongamento da
cadeia alimentar, conhecimentos, atitudes e comportamentos dos manipuladores de
alimentos -quer profissionais quer domésticos - e pela própria informação do
consumidor.

Em termos de Segurança Alimentar, as fontes de contaminação mais frequentes na


origem de surtos de doenças alimentares são:

 Ingredientes contaminados;

 Más condições higio-sanitárias;

 Falha nos processos de controlo;

 Processamento inadequado dos alimentos;

 Contaminação cruzada;

 Factores relacionados com a manipulação dos alimentos (refrigeração indevida,


manipuladores doentes, armazenamento incorrecto).

Surto de intoxicação alimentar - investigação epidemiológica

Surtos alimentares: são problemas decorrentes da ingestão de alimentos


contaminados de forma física, química e biológica, devido a falhas no processo de
fabricação, elaboração, conservação, exposição ou consumo de alimentos.
Em situações especiais, quando pelo menos duas pessoas estão envolvidas, já se pode
caracterizar um surto alimentar, que pode variar de leve, a grave, podendo levar a
óbito.

Prevenção

Aos serviços de Saúde cabe a responsabilidade de organizar e assegurar estes sistemas


de vigilância, de modo a planear medidas de prevenção adequadas e em estreita
colaboração com outras entidades com responsabilidades na área da segurança dos
géneros alimentícios. Estes sistemas de vigilância contemplam:

 A avaliação das causas de morte;

 A avaliação dos diagnósticos de alta hospitalar;

 A avaliação das Notificações das doenças de origem alimentar;

 A investigação de surtos;

 Implementação e monitorização de sistemas sentinela;

 A vigilância laboratorial.

Dez regras de ouro da OMS

A Organização Mundial de Saúde definiu de forma sintética 10 regras de ouro para a


preparação de alimentos. Pela sua abrangência e versatilidade podem ser adopta-das,
de acordo com as condições de aquisição, processamento e consumo, como regras de
prevenção que permitem melhorar a segurança dos géneros alimentícios e deste modo
contribuir para a prevenção da ocorrência de doenças de origem alimentar:

1. Seleccionar cuidadosamente os alimentos;

2. Os alimentos devem ser completamente cozinhados;

3. Consumir o mais breve possível os alimentos após a sua confecção;

4. O armazenamento dos alimentos deve ser efectuado de acordo com as suas


características e correctamente acondicionados;

5. O reaquecimento dos alimentos deve ser completo;

6. Evitar o contacto entre alimentos crus e cozinhados;


7. Lavar as mãos sempre que necessário e repetidamente;

8. Manter todas as superfícies e utensílios que contactem com os alimentos


devidamente higienizados;

9. Proteger os alimentos de insectos, roedores e outros animais;

10. Utilizar sempre água potável.

Legislação ambiental - agenda 21

A Organização das Nações Unidas (ONU), realizou no Rio de Janeiro, em 1992 a


conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o desenvolvimento
(CNUMAD), é a mais conhecida como Rio 92, referencia á cidade que a abrigou, onde
participaram 179 países.

Os principais objectivos da conferência do Rio foram:

 Examinar a situação ambiental mundial desde 1972 e suas relações com o estilo
de desenvolvimento vigente.
 Estabelecer mecanismos de transferência de tecnologias não poluentes aos
países subdesenvolvidos.
 Examinar estratégias nacionais e internacionais para a incorporação de critérios
ambientais ao processo de desenvolvimento.
 Estabelecer um sistema de corporação internacional para prever ameaças
ambientais e prestar socorro em casos emergências.
 Reavaliar o sistema de organismos da ONU, eventualmente criando novas
instituições para implementar as decisões da conferência.

Como produto dessa conferência foram assinados 5 (cinco) documentos, são eles:

 Declaração do Rio sobre o meio ambiente e desenvolvimento


 Agenda 21
 Princípios para a administração sustentável das florestas
 Convenção da biodiversidade
 Convenção sobre a mudança do clima

Agenda 21

É um instrumento de planeamento participativo para construção de sociedades


sustentáveis, que concilia métodos de protecção ambiental, justiça social e
crescimento económico.

Classificação da Agenda 21

A Agenda 21 foi elaborada de forma a ser desdobrada em diferentes níveis:

 Agenda 21 Global: é um abrangente documento resultante da Conferência das


Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
 Agenda 21 Nacional: é um plano de acção para o desenvolvimento sustentável
no país, resultado de um amplo processo de debate realizado pela sociedade.
 Agenda 21 Local: é um instrumento de panejamento de políticas públicas que
envolve a sociedade civil e o governo em um processo amplo e participativo de
consulta sobre os problemas ambientais, sociais e económicos locais e no
debate sobre soluções para esses problemas por meio da identificação e
implementação de acções concretas que visem o desenvolvimento sustentável
local.

A agenda 21 global, está organizada por 40 capítulos, divididos em 4 secção, onde são
apontadas as bases para acções, os objectivos, as actividades e os meios de
implementação de plano, programas e projectos direccionados á melhoria da
qualidade de vida e ás questões relativas á conservação e a gestão de recursos para o
desenvolvimento sustentável.

 Sessão I: Dimensões sociais e económicas

Sessão onde são discutidas as politica internacionais que podem ajudar a visualizar o
desenvolvimento sustentável nos países em desenvolvimento sustentável nos países
em desenvolvimento: as estratégias de combate á pobreza e a miséria, a necessidade
de introduzir mudanças nos padrões de produção e consumo, as inter-relações entre
sustentabilidade e dinâmica demográfica e as propostas de saúde publica e da
qualidade de vida dos assentamentos humanos.

 Sessão II: Conservação e gerenciamento para o desenvolvimento

Diz respeito ao manejo dos recursos naturais e de resíduos e substâncias tóxicas de


forma a assegurar o desenvolvimento sustentável.

 Sessão III: fortalecimento do papel dos grupos principais


Aborda as acções necessárias para promover a participação nos processos decisórios
de alguns dos segmentos sociais mais relevantes.

 Sessão IV: Meios de implementação

Discorre sobre mecanismos financeiros e instrumentos jurídicos nacionais e


internacionais existentes a serem criados com vistas a implementação de programas e
projectos orientados para a sustentabilidade.

Informação em saúde e Vigilância Saúde Epidemiológica

Um sistema de informação em saúde é um conjunto de componentes (estruturas


administrativas e unidade de produção) que actuam de forma integrada e articulada
para obter e seleccionar dados para transforma-los em informação, com mecanismos e
práticas próprios para recolha, registo, processamento, analise e transmissão da
informação.

Os sistemas de informação em saúde fazem parte do sistema de saúde para que estes
possam cumprir as suas finalidades institucionais e técnico-operacionais de todas as
suas unidades em determinado nível de gestão (municipal, provincial e central).

Dados: é um valor quantitativo ainda não trabalhado. Podem ser a simples


numeração de eventos ou de suas características quantitativas ou, ainda a propriedade
dos eventos que precisam ser consolidados e analisados, conferindo-lhes interpretação
coerente.

Os dados podem ser recolhidos de registos do passado (retrospectivamente) ou ser


colhidos conforme os eventos acontecem (prospectivamente). A tabela nº 1 apresenta
dados colhidos retrospectivamente, a tabela nº 2 apresenta dados prospectivos.

Tabela 1. Registo de nascidos vivos e óbitos em Fortaleza, 1953 a 1963.

Ano Nascidos Vivos Nº de óbitos <1 ano


1953 20.775 3.905
1954 20.272 4.706
1955 24.121 4.546
1957 30.516 538
1958 25.108 6.882
1959 25.930 5.712
1960 25.759 5.127
1961 25.579 5.258
1962 2.676 5.015
1963 26.029 5.077
Tabela 2. Registo de suicídios segundo alguns Estados brasileiros-1996

Estado Suicídio
Rondonia 37
Acre 10
Amazonas 70
Ceará 262
Pernambuco 281
Rio de Janeiro 134
São Paulo 1.732
Paraná 610
Destrito Federal 118

Informação: é a descrição de uma situação real associada a um referencial explicativo


sistemático. A informação pode ser conceituada como a representação da realidade de
acordo com as referências da clínica, da epidemiologia, das áreas básicas ou aplicadas,
operacionais ou profissionais em saúde para a descrição, explicação ou entendimento
de situação ou de problemas.

Para compor o módulo de informação utilizando dados recolhidos. É necessário que


exista uma finalidade clara. Por exemplo:

a) A proporção de óbitos por causas relacionadas á gestação e ao parto pode


indicar a qualidade da assistência prestada em unidades hospitalares, ser
comparada com a qualidade da atenção pré-natal ou servir de base para
organizar a oferta de serviços para a gestantes de alto risco de complicação de
parto.
b) A proporção de recém-nascidos com peso inferior a 2.500g pode revelar a
magnitude da ocorrência de gestantes em risco nutricional e contribuir para a
programação de serviços de atenção á saúde para redução da mortalidade
infantil e a avaliação de seu impacto.

A estruturação dos sistemas de informação em saúde requer: recolha e a


disponibilidade dos dados nos serviços, o tratamento intensivo de dados, a
multidisciplinaridade, a implantação de modelos de atenção á saúde centrados na
promoção e qualidade de vida e a tomada de decisões oportunas.

Fontes de recolha de dados

As fontes de recolha de dados podem incluir:


Prontuários de pacientes hospitalizados, prontuários de pacientes ambulatoriais,
laboratórios, notificações de doenças, registos de saúde de trabalhadores, escolas,
inquéritos ou levantamentos específicos, imprensa e a população.

Principais informações originadas dessas fontes:

 Padrões de morbidade : devidas as altas taxas de morbidade na infância e ao


elevado percentual de crianças na população dos países em desenvolvimento,
grande parte do total de doenças na comunidade (50%) ocorre nos grupos de
menor idade. Isso resulta em que grande parte da carga de trabalho dos
médicos em nível ambulatorial e hospitalar seja direccionado as crianças.
 Padrões de mortalidade: países desenvolvidos e em desenvolvimento, por
exemplo, diferem substancialmente quanto ás principais causas de mortalidade,
em geral as doenças infecciosas e a desnutrição, ocasional três quartos de todas
as mortes nos países em desenvolvimento, enquanto que o cancro, problemas
circulatórios e causas externas causam mais da metade das mortes em países
desenvolvidos.

Nascimento: os registos de nascimento fornecem informações fundamentais para


a estimativa da mortalidade infantil.

Óbitos: os registos de óbitos permitem diversas análises como as principais


causas de mortes e os grupos etários mais afectados.

Vigilância epidemiológica

É o conjunto de acções que proporcionam o conhecimento, a detecção ou a


prevenção de qualquer mudança nos factores determinantes e condicionantes da
saúde individual ou colectiva, com a finalidade de recomendar as medidas de
prevenção e controle das doenças ou agravos.

As funções da Vigilância Epidemiológica são:

Recolha de dados, processamento de dados recolhidos, analise e interpretação de


dados recolhidos, recomendação das medidas de controlo apropriadas, avaliação
da eficácia e efectividade das medidas adoptadas, e divulgação de informação
pertinentes.

Os usos da vigilância epidemiológica são vários, sendo os principais:

 Identificar surtos e epidemias, assegurando o emprego de medidas


efectivas para o controle da doença.
 Monitorar a implementação e efectividade de um programa especifico de
controlo, através da comparação entre o tamanho do problema antes e
após a implementação do programa.
 Auxiliar no planeamento de programas de saúde ao identificar os principais
problemas de saúde e doenças que merecem intervenções especificas. Isto
também auxilia na definição de prioridades.
 Identificar grupos de alto risco.
 Aumentar o conhecimento sobre valores, reservatórios animais e sobre o
modo e a dinâmica da transmissão de doenças.

Exemplos de situações que podem requerer vigilância:

Doenças epidémicas como a febre-amarela, dengue, meningite meningocócica;

 Estado nutricional e desnutrição


 Reservatórios de animais e vectores de doenças transmissíveis
 Poluição ambiental, principalmente da água.
 Eventos demográficos, como nascimentos e mortes.

Notificações de Surtos e Epidemias

 Doenças de notificação mundial


 Doenças de notificação obrigatória em Angola

A detenção precoce de surtos e epidemias ocorre quando o sistema de vigilância


epidemiológica local está bem estruturado, com o acompanhamento constante da
situação geral de saúde e da ocorrência de casos de cada doença e agravo sujeito a
notificação.

As medidas quantitativas de um sistema de vigilância epidemiológica incluem:

Sensibilidade: capacidade do sistema em detectar casos

Especificidade: expressa a capacidade de excluir “ não-casos”

Representatividade: possibilidade do sistema identificar todos os subgrupos da


população onde ocorrem os casos,

Oportunidade: refere-se á agilidade do fluxo do sistema de informação.

Simplicidade: deve ser utilizada como princípio orientador dos sistemas de vigilância,
tendo em vista facilitar a operacionalização e redução de custos.

Flexibilidade: capacidade de adopção do sistema a novas situações epidemiológicas ou


operacionais, com pequeno custo adicional.

Aceitabilidade: a disposição dos indivíduos, profissionais, ou organizações de


participarem e utilizarem o sistema.

Saúde e Ambiente

Desde os tempos imemoráveis existe consciência humana sobre as relações entre os


movimentos da natureza (clima, fazes da lua, chuvas e ventos) e as enfermidades.

Essa preocupação se acentuou na modernidade e a partir do desenvolvimento


industrial, no qual as intervenções sanitárias eram realizadas com base na Teoria dos
Miasmas. De acordo com esta teoria, as sujeiras externas e odores provenientes do
apodrecimento de resíduos eram causadores de doenças e, portanto, deveriam ser
eliminados para evitar a propagação de enfermidades. A higiene era a estratégia de
vigilância e controle dos miasmas, sujeiras e odores mas moradias, ruas, depósitos de
lixo e também em grupos de população como pobres e os trabalhadores,

O movimento da Medicina Social ganhou força na primeira metade do século XIX e


juntava trabalhadores, sindicalistas, políticos e médicos. Esse movimento, entendia
que a saúde era resultado das condições de vida e do ambiente. Ao invés da higiene, a
estratégia da Medicina Social era a participação política dos trabalhadores para alterar
as condições de vida familiar e nos bairros. Estudos realmente mostraram que a queda
da mortalidade infantil e o aumento da expectativa da vida durante o século XIX até a
metade do século XX (quando foi descoberto a penicilina) se deveram mais as
melhorias nas condições sanitárias que às condições propriamente ditas. O movimento
da Medicina Social perdeu força coma chamada revolução Bacteriana, cujas
descobertas, importantíssimas em termos de benefícios para a humanidade, tiveram
como efeito colateral a ideia que todas as doenças seriam erradicadas, através das
tecnologias médicas como as vacinas, sem a necessidade, portanto, de discussões
políticas. Em termos de ambiente, as estratégias se restringiram ao saneamento e
controle de vectores.

Depois da Segunda Guerra Mundial, no entanto, novos problemas de saúde


derivados da poluição química e radioactiva e seus efeitos desastrosos, fizeram com
que a questão da relação entre a saúde e o ambiente ganhassem força novamente e
neste contexto surge o movimento Ambientalista. Os pontos principais desse
movimento nos remetem aos termos de sustentabilidade ecológica, democracia,
direitos humano, justiça social e qualidade de vida.

Para entender o impacto da actividade humana sobre o ambiente e, por sua vez, a
força desse impacto na saúde humana, é necessário uma abordagem transdisciplinar.

Relação entre Ambiente e saúde

Conferências internacionais sobre o ambiente, em especial a eco-92, realizado no Rio


de Janeiro, assinalam a estreita relação entre a saúde e ambiente. Os documentos
dessas conferências ressaltam que é difícil atribuir a causa de uma doença a apenas
um elemento, pois a saúde é influenciada por uma interacção de factores. Essa
interacção cria situação de riscos tradicionais e modernos.

Nos países em desenvolvimento, a precarização da saúde é fruto de factores como:

Falta de saneamento básico e água adequada ao consumo humano; alimento de baixa


qualidade, poluição do ar; uso indiscriminado de produtos químicos;

Do ponto de vista da saúde colectiva:

Como os factores ambientais afectam a saúde colectiva?

A OMS, estima que:

- Cerca de 3 milhões de crianças morrem anualmente por causas relacionadas a água e


contaminação.
- Mais de 1 milhão de adultos ocorrem por causas relacionadas ao trabalho

-Cerca de 80 a 90% dos casos de diarreia são causados por factores ambientais.

- Entre 2 a 3 milhões de pessoas no mundo usam combustíveis e que emitem gases e


outras substâncias tóxicas.

- Nas áreas rurais as técnicas rudimentares de criação de animais são responsáveis por
enfermidades transmissíveis, muitas vezes, disseminadas amplamente pelas ondas de
migração, turismo e comunicação.

A partir de diversas discussões e conferências mundiais de saúde, os governos de


diversos países, investiram em estudos e pesquisas direccionadas a analisar os
impactos da deterioração do ambiente na saúde humana, nessa linha, foi sendo
construído o Enfoque ecossistémico da Saúde.

O objectivo deste enfoque é de desenvolver novos conhecimentos sobre a saúde e


ambiente, em realidades concretas de forma que permita acções adequadas,
apropriadas e saudáveis das pessoas e para as pessoas que aí vivem.

Para garantir que esse enfoque seja aplicado e necessário o envolvimento dos
governos, pesquisadores, gestores e funcionários públicos e membros da sociedade
civil.

Exemplo do uso do enfoque Ecossistemico da Saúde (adaptação do texto de Lebel,


2005)

Banimento do uso do DDT no México

Durante as décadas de 1940 e 1950, 2,4 milhões de mexicanos, por ano, contraíram
malária e 24.000 morreram em consequência dessa enfermidade. Para erradicar a
doença, esforço do governo se concentrou no uso maciço do potente insecticida DDT,
no entanto, o uso contínuo do DDT ameaça a saúde do ecossistema. De acordo com o
tratado livre comercio entre os países americanos de norte (Alca), o México estava
obrigado a eliminar por completo o uso desse pesticida até 2002.

Visando encontrar uma saída mais ecológica para o problema da malária,


pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde Pública iniciaram um projecto de
investigação dentro dos modelos da abordagem ecossistémica da saúde, reunindo o
conhecimento de especialistas em epidemiologia, entomologia e ciências sociais,
pessoas do governo e das comunidades locais.

Essa equipe acumulou uma grande quantidade de informações acerca da frequência


da malária em duas mil comunidades. Dados obtidos, colocados num sistema
georreferenciado, permitiram concluir que os mosquitos (vectores da malária) não
viajavam muito longe, uma vez que haja ambiente adequado para eles se alimentarem
e colocarem os seus ovos. Portanto os humanos são os vectores da malária. Os
pesquisadores encontraram mais casos de enfermos às margens das estradas.
Com a ajuda da comunidade, os cientistas sociais estudaram as condições de vida das
populações envolvidas no projecto, incluindo as diferenças do comportamento de
homens e mulheres. Foi constatado, que, por exemplo, as mulheres têm mais chances
de serem picadas pela manhã quando vão a buscar água para as actividades
domésticas. Já os homens são vítimas dos mosquitos á noitinha, nas plantações de
café.

Várias medidas preventivas foram sendo implementadas e continuam em vigor até


hoje. Os cientistas propuseram outro insecticida que não permanecesse no ambiente.
Construiu-se um tipo de aspersor mais potente usando menos insecticida, capaz de
atingir até 40 casas por dia. Foi também desenvolvido um novo equipamento que
consegue detectar a presença ou ausência de malária no sangue de pacientes em
poucos minutos.

Esse dispositivo é bem diferente dos exames laboratoriais que demoravam de três a
quatro semanas para confirmar o diagnóstico. Actualmente, uma equipe de
voluntários das próprias áreas realiza o exame em pessoas de sessenta comunidades.

Assim a eliminação da malária no México está em curso e não se configura hoje como
uma responsabilidade do governo apenas. As mulheres das comunidades incluídas no
programa, a cada duas semanas retiram algas que proporcionam o ambiente
propiciam para as larvas dos mosquitos na água. Como resultado, o números de casos
em Oaxaca , região em que o projecto vem sendo desenvolvido, caiu de 15 mil casos
em 1998 a só 400 em 2002, sem o uso do DDT . Conta o coordenador do projecto Dr.
Mário H, Rodriguez, director de investigação de enfermidades infecciosas do Instituto
de Saúde Pública (INSP): “ nossa experiencia nos indica que devemos reforças a
investigação do componente das ciências sociais se queremos entender este programa
para outras partes do país. O desafio é de obter experiências que nos levam a uma
escala maior”.

Promoção da saúde

Dois pescadores, de córocas, canas de pesca na mão, fumam e conversam na beira do


rio, de repente vêem um menino debatendo-se nas águas. Um entreolhar rápido,
mergulham e retiram o garoto. Retomam a sua conversa agora entrecortada por
momentos de cisma. Passa meia hora e novo menino aparece no meio do rio. Repetem
o gesto, automaticamente, lançando-se na água e salvando o menino. Um interrompe
e observa: Éh compadre, hoje o rio não está para peixe, e o outro completo: “
Esquisito, está mais para menino”. Um barulho estranho faz com que levantem a vista
e vejam, no meio do rio, um terceiro garoto, já quase desfalecido. Imediatamente, um
deles se joga na água. O outro fica em pé mas não se atira no rio. O que se jogou
convoca: “Compadre vamos salvar mais esse”. A resposta fulminante: “Esse salva
sozinho, que eu vou pró lado da cabeceira do rio, pregar que está jogando esses
meninos na água”. Texto adaptado por E.V. Mendes, Núcleo de Cidades Saudáveis,
1999.

Moral da história: a promoção da saúde sempre vai até as causas, é a vocação, seu
sentido.
Assim como as abordagens sobre as causas das doenças se modificam com o decorrer
do tempo, os conceitos de promoção da saúde foram se alterando com o passar dos
anos.

Uma ideia bastante forte que permanece até os dias actuais, é que foi concebida por
Leavell e Clark 1965, que criaram um modelo explicativo para as doenças chamado de
história natural da doença.

Para outros autores, a promoção da saúde é uma acção da prevenção primária, ou


seja se confunde com a prevenção. Como exemplo: a vacinação seria uma acção de
promoção da saúde.

Esse modo de pensar começou a ser contestado porque não considerava a influência
das condições de vida, do trabalho e da inserção social dos indivíduos. A partir da
conferência da Saúde de Alma-Ata, em 1978,a saúde passou a ser considerado um
direito, esse direito para ser atendido, não depende somente de melhorias no sector
da saúde e sim de um trabalho de cooperação com os outros sectores da sociedade.

A estratégia básica concebida pelos participantes da conferência de Saúde da Alma-


Ata era a Atenção primária á Saúde que incluía a participação social no processo. Para
conseguir a participação social é preciso que haja mudanças nas relações de poder
entre os que oferecem serviços de saúde e aqueles que utilizam.

Actualmente, a expressão Promoção da Saúde esta relacionada com a autonomia e a


emancipação. Reforçada a importância da acção ambiental e da acção política assim
como mudança no estilo de vida.

Nesse sentido, o moderno conceito de promoção da saúde pode ser assim definida
como: processo de capacitação dos indivíduos e colectividades para identificar
factores e condições determinantes da saúde e exercer controlo sobre eles, de modo
a garantir a melhoria das condições de vida e da saúde da população.

Cuidados primários de saúde Declaração de Alma-Ata

A CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBE CUIDADOS PRIMÁRIOS DE SAÚDE REUNIRAM-


SE EM 6-12 de Setembro de 1978, 134 países e 67organismos internacionais, em Alma-
Ata, no Cazaquistão (hoje Almaty), onde definiram, para todos os países participantes
entre os quais se encontrava Portugal, o conceito sobre os cuidados primários de
saúde, expressando a necessidade de acção urgente de todos os governos de todos os
que trabalham nos campos da saúde e do desenvolvimento e da comunidade mundial
para promover a saúde de todos os povos do mundo. Até hoje a grande maioria dos
sectores públicos em África (países em vias de desenvolvimento) mantém estes
princípios de uma formaresumida eles afirmam que:

1. A saúde não é apenas ausência de doença, mas sim um estado positivo de bem-
estar físico e mental.
2. A saúde é um direito humano fundamental, daí que os governos tenham a
obrigacao de prestar cuidados as suas populações.
3. A saúde é parte substancial resultante do desenvolvimento socioeconómico de
uma comunidade.
4. Os CPS são cuidados essenciais baseados em métodos e técnicas práticas
cientificamente correctas, socialmente aceites, universalmente acessíveis aos
indivíduos e famílias na comunidade através da sua plena participação e por
um custo que a comunidade através da sua plena participação e por um custo
que a comunidade, país tenham recurso para manter.
5. Os CPS reflectem a sociedade nos seus aspectos económicos, sociais e culturais
e baseiam-se nos conhecimentos científicos, particularmente na área da saúde.
6. Os CPS asseguram serviços preventivos, promotivos, curativos e reabilitativos.
7. A comunidade deve ser envolvida na prestação de cuidados da saúde,
discutindo os seus problemas, super visando, dando a sua opinião sobre as
decisões, apoiando e executando as acções de saúde.
8. As estratégias dos CPS adopta explicitamente a medicina moderna como base
da sua actuação.
9. Os CPS podem funcionar correctamente se estão inseridos num sistema de
referência e de apoio.
10. Os CPS visam assegurar as comunidades o seguinte pacote:
a. Um nível adequado de nutrição
b. Água e saneamento básico do meio
c. Cuidados dirigidos á mulher em idade fértil e as crianças
d. Imunização contra doenças mais comuns e para as quais existam
vacinas eficazes e comprovadas
e. O controlo de doenças endémicas
f. O tratamento de doenças mais comuns com medicamentos eficazes em
reduzir a mortalidade e relativamente baratos (medicamentos
essenciais).
g. Cuidados básicos orais e a saúde mental

Princípios da promoção da saúde

1. As suas acções devem se pautar por uma concepção holística da saúde voltada
para a multicasualidade do processo saúde-doença.
2. Equidade: com vistas a eliminar as diferenças desnecessárias, evitáveis e
injustas que restringem as oportunidades para se atingir o bem-estar.
3. Intersetoridades
4. Participação social
5. Sustentabilidade.

Campos da Acção da Promoção da Saúde

1. Elaboração de políticas públicas saudáveis


2. Reforço da acção comunitária
3. Desenvolvimento das habilidades pessoais
4. Criação de espaços saudáveis
5. Reorientação dos serviços de saúde.
ESTATISTICAS VITAIS: MORBIDADE E MORTALIDADE

Morbidade

As estatísticas de morbidade tem como característica fundamental, o facto de serem


utilizadas, preferencialmente, para a avaliação do nível de saúde e o acolhimento de
medidas de carácter abrangente, como o saneamento básico, que visam melhorar as
condições de saúde das comunidades.

A análise da morbidade também serve para garantir a correcção das decisões, como
no caso de avaliar se a vacinação está sendo eficaz ou serve ainda para apoiar acções
específicas necessárias para o controle de determinadas doenças. Por isso, utilizam-se
os indicadores de morbidade, sendo os mais conhecidos na prática diária os
coeficientes de incidência e prevalência.

Assim sendo, sempre o objectivo final for o controlo de doenças e agravos, as


informações de morbidade serão as informações basilares.

Por morbidade, entendemos, o comportamento das doenças e agravos á saúde em


uma determinada população exposta.

Prevalência: mede a forca com que as doenças acontecem nas comunidades. O


coeficiente de prevalência pode ser definido como a relação entre o numero de casos
conhecidos de uma dada doença e a população que esta exposta ao risco de adquirir
esta doença.

Nº de casos conhecidos de uma dada doença


Coeficiente de Prevalência= x 100.000
População

É importante ressaltar que por “casos conhecidos” entende-se que já existem mais os
casos novos diagnosticados em determinado período.

Um exemplo:

No dia 31 de Dezembro de 2010, a equipa de enfermagem do posto médico de saúde


do bairro do Tchioco, fez a estatística dos casos de tuberculose ocorridos no referido
mês. Foram diagnosticados 5 casos novos de tuberculose naquele mês. Interessada em
analisar os casos dessa doença, ocorridos durante o ano, a equipe levantou o número
de casos de Janeiro á Novembro de 2010 o qual foi de 32 casos. A população estimada
do bairro do Tchioco é de 200.000 pessoas. Com essas informações, calcule a
prevalência de tuberculose no bairro Tchioco, no ano de 2010.

Casos novos = 5, Casos existentes 32

Então,

Casos conhecidos = 37
Coeficientes de prevalência = 37/200.000 x 100.000

= 0,000185x100.000

Coeficientes de prevalência 18,5 casos de tuberculose por 100 mil habitantes.

Incidência: mede a intensidade com que ocorrem as doenças numa determinada


população. A incidência é medida pela frequência absoluta de casos novos, num
determinado período, dividido pela população exposta ao risco de adquirir a referida
doença.

Nº de casos novos , no ano X ,na áreaY


Coeficiente de Incidência= x 100.000
População exposta no ano X na área Y

Um exemplo:

Com as informações do exercício anterior, calcule a incidência

Casos novos = 5

Então,

Coeficientes de prevalência = 5/200.000 x 100.000

= 0,000025x100.000

Coeficientes de prevalência 2,5 casos de tuberculose por 100 mil habitantes.

Mortalidade

Os coeficientes de mortalidade são definidos como 0 resultado da divisão entre o


número de óbitos e o número dos expostos ao risco de morrer.

Esses coeficientes podem ser categorizados, de acordo com vários critérios, como
sexo, idade, ou estado civil. Os óbitos podem ser ainda classificados de acordo com a
causa e o local de ocorrência. As classificações devem sempre levar em conta o
objectivo que se quer atingir.

Coeficiente de mortalidade geral: corresponde á divisão de todos os números de


todos os óbitos, em determinado ano, numa determinada área, pela população
estimada de daquele ano, residente na mesma área e multiplicando-se por 1.000.
Nº de óbitos
CMG= x 1.000
População

O CMG é um indicador que não serve para comparação com outras áreas ou países
porque existe uma influência da estrutura etária, que distorce a realidade dos dados.
Só que será possível utilizar o CMG para comparar outras áreas ou países se for feita
rigorosa padronização das populações envolvidas.

Outro factor para a validade deste indicador é a qualidade dos registos de óbitos e as
estimativas populacionais. Se as bases de dados forem de má qualidade, o registo
também o será.

Coeficiente de mortalidade Infantil: mede o risco de morte em menores de 1 ano. É


calculado dividindo-se o número de óbitos de crianças menores de um ano pelos
nascidos vivos naquele ano, em uma determinada área, multiplicando-se o resultado
por 1.000.
Nº de óbitos emmenores de 1 ano
CMI = x 1.000
Nº de nascidos vivos

Mortalidade por causas

A saúde é o item mais importante para se medir no nível de vida. Por nível de vida de
entende as condições actuais de vida de uma determinada população. Esse tipo de
mensuração é feito de uma forma indirecta, através da quantificação dos óbitos. Os
dados de óbitos são utilizados porque costumam a ser mais fiáveis que os registos de
pessoas com doenças especificas.

A OMS, preconiza que tanto as informações sobre as doenças quanto as causas dos
óbitos sejam padronizadas no mundo inteiro. Para isso existe a Classificação
Internacionais de Doenças (CID) que actualmente esta na sua 10ª Revisão.

Dessa forma, o registo de óbitos deve ser deito respeitando essa padronização
internacional e no atestado ou registo de óbito deve constar a causa básica da morte.
A causa básica de morte é definida como a doença ou lesão que iniciou uma sucessão
de eventos que levam a morte, ou, no caso de acidentes ou violências, as suas
circunstâncias. É importante saber a causa básica de morte para realiza comparações e
evitar quadros epidemiológicos falsos.

Problemas nos registos de óbito

-óbitos sem assistência médica: a causa básica da morte se torna Mal definida, o que
indica má qualidade no preenchimento dos atestados de óbito e má qualidade no
próprio sistema de saúde. A definição de causa mal definida é: óbitos em que os
sintomas e sinais não foram objectivamente esclarecidos, bem como os achados
anormais de exames clínicos e de laboratórios não são classificados em parte da CID-
10.

- Óbitos com assistência médica na fase final da doença: nessas circunstâncias os


problemas nos atestados de óbito podem ser os seguintes:
 Erro no diagnóstico por insuficiência de recursos tecnológicos
 Deficiência ou desinteresse pessoal de quem está responsável por
preencher o registo de óbito;
 Desconhecimento na forma de preencher o atestado de óbito;
 Falta de atenção ao preencher o atestado de óbito;
 Atenção dada ao preconceito familiar quanto a doenças e agravos
estigmatizantes (suicídio, Sida, etc.)

Assim sendo, as estatísticas de mortalidade podem conter distorções, que só se


corrigem com melhorias técnicas e investimentos financeiros nos sistemas de
informação em saúde para que estes se tornem fiáveis.

Coeficiente de mortalidade por causa: mede o risco de se morrer pela referida causa
em uma determinada população.

Nº de óbitos por determinada causa em dado local e periodo


CMC= x 100.000
População exposta ao risco

Também é possível calcular a mortalidade proporcional (%) por diversas variáveis


como: causa de morte, sexo, idade, estado civil.

Nº de óbitos por determinada variável


Morte proporcional= x 100
Total de óbitos

Vigilância Sanitária

Por vigilância sanitária (VS) entendemos o conjunto de acções dirigidas a defesa e á


protecção da saúde colectiva.

Como vivemos em uma sociedade de consumo, com necessidades incessantes, reais


ou fictícias, existe uma produção também incessante de mercadorias que precisam ser
legalizadas para o consumo.

A função da VS é de identificar permanentemente os factores de risco á saúde


individual e colectiva, através de acções desenvolvidas sob condições, produtos,
serviços, elementos, transportes, meios e origens que, directa ou indirectamente,
possam produzir agravos á saúde.

Áreas de abrangência da VS

 Meio ambiente: água, resíduos sólidos, edificação.


 Produtos: alimentos, medicamentos, cosméticos, saneantes, sangue e
derivados, equipamentos de saúde.
 Saúde do trabalhador: ambiente de trabalho
 Serviços de saúde: unidades de saúde, clínicas, hospitais, consultórios
odontológicos, etc.
 Portos, aeroportos e fronteiras: controle de cargas, veículos e pessoas.

As funções mais detalhadas da VS são as seguintes:

Normatização e controle de:

- Bens de produção, armazenamento, guarda, circulação, transporte, comercialização e


consumo de substâncias e produtos de interesse para a saúde, suas matérias-primas,
coadjuvantes de tecnologia, processos e equipamentos.

- Tecnologias médicas, procedimentos e equipamentos além de aspectos da pesquisa


em saúde.

- Portos, aeroportos e fronteiras.

- Aspectos do ambiente e processos de trabalho e saúde do trabalhador.

Instrumentos para a acção da VS

- Legislação

- Fiscalização

- Planeamento e participação social

-Monitoramento da qualidade dos produtos e serviços

- Pesquisas epidemiológicas e laboratoriais

- Educação

- Informação sanitária e comunicação social.

Alimentação, Nutrição e Saúde

O estado de saúde inclui a nutrição. É inadmissível saúde sem nutrição.

A alimentação é um processo voluntario e consciente, influenciado por factores


culturais, económicos e psicológicos, no qual cada individuo consome um elenco de
determinados produtos naturais e artificiais (alimentos) para entender as suas
necessidades biológicas, de material e energia, a partir do meio externo. A alimentação
precede a nutrição.

A nutrição envolve as transformações que sofrem os alimentos no organismo vivo.


Compreende a digestão, absorção, utilização de energia e nutrientes (metabolismo) e
o reaproveitamento ou a eliminação de escórias ou subprodutos do catabolismo.
Abrange portanto o ciclo de processos mecânicos e bioquímicos de simplificação dos
alimentos s de seu reaproveitamento no interior do organismo.
Alimentação e Nutrientes

A alimentação e a nutrição expressam o ajustamento dos indivíduos e comunidades


ao ecossistema do qual participam. Uma alimentação suficiente, adequada, completa e
harmónica nos seus constituintes é condição básica para definir um bom estado
nutricional.

Grupos de alimentos

a) Produtos de origem animal: carnes diversas, vísceras, leite, ovos. São fontes de
proteínas de boa qualidade.
b) Grãos e raízes: ricos em carboidratos e, junto com as gorduras e os açúcares
têm alto valor energético. Além disso contém vitaminas e sais minerais. São
exemplo desse grupo os cereais (arroz, feijão, etc.) e as leguminosas ( batatas,
cenoura, etc.)
c) Vegetais verdes e amarelos e frutas: fontes naturais de vitaminas e nutrientes
minerais.

Recomendações Nutricionais

As necessidades de energia e nutrientes variam de acordo com a idade, sexo,


factores fisiológicos, gravidez, lactação, actividades físicas, condições climáticas e
intercorrências patológicas.

As recomendações nutricionais são estabelecidas com uma margem de segurança


de segurança em torno das estimativas basais, ou seja essas recomendações
cobrem as necessidades de 97% dos indivíduos normais.

Situações nutricionais possíveis:

a) Eutrofia: quando a ingestão de alimentos é compatível com as necessidades


nutricionais.
b) Excesso: quando a ingestão de alimentos está acima das necessidades
nutricionais.
c) Carência nutricional: quando a ingestão de alimentos está abaixo das
necessidades nutricionais.

Grandes endemias carenciais

1. Desnutrição Energetico-Proteica (DEP)

Agravo condicionado pela deficiência de energia e proteínas. Trata-se de uma


síndrome que reúne variadas manifestações clínicas, antropométricas e metabólicas
de acordo com a intensidade e duração da deficiência alimentar, dos factores
patológicos que associados e fase de desenvolvimento humano.

Nas crianças a principal as principais alterações causadas pela DEP são:

 Atraso no crescimento e desenvolvimento


 Diminuição da massa muscular e adiposa
 Infiltração gordurosa no fígado, com ou sem hepatomegalia
 Lesões de pele
 Diminuição das proteínas séricas
 Alterações enzimáticas

As formas clínicas mais avançadas de DEP são o Marasmo caracterizado por


emagrecimento intenso e o Kwashiokor como sinais característicos de edema de
membros inferiores.

Os principais indicadores de DEP em crianças são:

1. Classificações antropométricas – porque existe o comprometimento precoce


dos processos básicos de crescimento e desenvolvimento.
2. Baixo peso ao nascer (< 2500g)

Quando estes dados não estão disponíveis, é possível estimar a presença de DEP na
população infantil mediante a consulta dos indicadores da mortalidade infantil. CMI
acima de 70 por 1.000 nascidos vivos é indicador de presença de desnutrição na
comunidade, uma vez que existe uma concordância entre a mortalidade de crianças
menores de 1 ano e a presença de desnutrição.

Factores determinantes de DEP:

a) Consumo deficiente em calorias e proteínas


b) Desmame precoce
c) Intercorrências patológicas
d) Pobreza

2. Anemias: deficiência de hemoglobina, o pigmento da hemácia encarregado de


efectuar as trocas gasosas em nível dos alvéolos pulmonares e de toda a massa de
células vivas no organismo.

Anemias carenciais: são anemias derivadas, principalmente, da deficiência de ferro. Os


grupos populacionais mais afectados pelas anemias carenciais são as crianças menores
de 5 anos e mulheres gestantes.

Principais indicadores:

- Nível de hemoglobina no sangue

- Valor do hematrócito

- Dosagem do ferro sérico

Factores determinantes

Deficiência de ferro nos alimentos principalmente nos de origem animal.


Administração de leite de vaca para as crianças menores de 4 meses de idade

Enteroparasitas

Infecções (inibem a síntese de hemoglobina)

Falta de vitamina C e A

Nas gestantes a anemia é gerada pela deficiência de ácido fólico .

3. Hipovitaminose A: quadro de carência especifica, caracterizado pela


diminuicao ou esgotamneto de reservas hepáticas com a reducao ou
desaparecimentoda vitamina A

Os sinais mais típicos da são : cegueira noturna, xerose corneal e outras lesões
oculares.

4. Deficiencia do Iodo: defini-se como bócio, qualquer aumento significativo na


tiróide. Assume-se que uma área é endémica quando 10% ou mais dos
escolares são portadores do bócio.

O tamanho da tiróide, avaliado por verificação clínica (visualização ou palpação),


pode ser classificado em:

Grau 0- tamanho normal

Grau 1. Visível com o pescoço em extensão

Grau 2- visível com o pescoço em posição normal.

Grau 3- tiróide volumosa, notada de qualquer ângulo de observação e até a


distância.

Como factor determinante principal temos a falta de iodo. Áreas montanhosas e


de altiplanas são mais pobres em iodo.

Sistemas de Vigilância alimentar e Nutricional

Dado o reconhecimento dos problemas dos produtos alimentares e nutricionais como


aspectos importantes da situação e das condições de vida das populações humanas,
foram criadas internacionalmente sistemas para monitorar a situação alimentar e
nutricional em diversos países.

Em geral esses sistemas são formados por módulos que monitoram os seguintes
aspectos:

- Vigilância do crescimento e do desenvolvimento

-Vigilância de carências nutricionais específicas (carência de iodo, hipovitaminose A,


anemias)
-Vigilância de segurança alimentar - monitoramento da disponibilidade, acesso físico e
económico aos alimentos básicos.

-Sistemas de alarme precoce - detectar situações de crises alimentares agudas ( perdas


de colheitas, secas, geadas, conflitos armados, greves)

-Monitoramento de programas de ajustes económicos

Os seguintes indicadores são recomendados por esses sistemas de vigilância alimentar:

a) Distribuição do peso ao nascer, assumindo que a elevada proporção de baixo


peso (menos de 2500g) constitui uma forte evidencia de desnutrição materno-
fetal.
b) Crescimento de crianças com menos de cinco anos de idade.
c) Presença de nanismo em escolares de 7 anos de idade
d) Frequência de desmame aos 4 e meses de vida.

REFÊNCIA BIBLEOGRÁFICA

ALMEIDA-FILHO, N.; ROUQUAYROL, M.Z. Epidemiologia e saúde. 6.ed. São Paulo:


Médsi, 2003.

ALMEIDA-FILHO, N.; ROUQUAYROL, M.Z. Introdução a epidemiologia. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2002.
BIBLIOGRAFIA DE CONSULTA – Medicina Preventiva e Saúde Pública – Sartwell e Maxcy Rosevou – ed. C. Gulbenkian

CARLOS HENRIQUE MUDADO MALETTA – Bioestatística e Saúde Pública, 2ª ed. Belo


Horizonte, COOPMED editora, 1992

CARLOS HENRIQUE MUDADO MALETTA – Epidemiologia e Saúde Pública, Livraria


Atheneu, Rio de Janeiro, 1988

EMILIO SOUNIS – Epidemiologia Geral, Editora da Fundação da Universidade do


Paraná, Livraria Atheneu, Rio de Janeiro, 1985

FORATINI, OSWALDO P. - Epidemiologia Geral – São Paulo: Edgar Blucher, 1976

Kloetzel, K. As Bases da Medicina Preventiva, São Paulo, Edart

PEREIRA, M.G. Epidemiologia teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,


2005.

ROUQUAYTROL – Epidemiologia & Saúde, 5ª edição


Alves, A. R. F. Doenças alimentares de origem bacteriana. 87f. Dissertação (Mestrado
em Ciências Farmacêuticas). Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade Fernando
Pessoa, Porto, 2012.

Você também pode gostar