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Edivaldo Góis Junior


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Educação Física no Brasil
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G6t6h Góis Júnior, Edivaldo.


História da Educação física no Brasil / Edivaldo Góis Júnior,
José Luís Simões. - Recife : Ed. Universitária da UFPE, 2011.
166 p.

Inclui referências bibliográficas.


ISBN 978-85-7315-948-6 (broch.)

1. Educação física - Brasil - História. 2. Ginástica. 3.


Futebol - Brasil - História. I. Simões, José Luís. II. Titulo.

796.09 CDD (22.ed.) UFPE (BC2011-141) Editora


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Educação Física na Ditadura Militar ( 1 9 6 4 - 1 9 8 5 )

O golpe militar de1964 representou um golpe nas esperanças de dias


melhores para os estudantes. Os mesmos estudantes que ainda comemo-
ravam a duplicação do número de vagas na antiga Universidade do Brasil
(atual UFRJ), promovida pelo governo Gouíart, enfrentaram um golpe
militar.
Quando da ocasião da destituição do governo legal, os militares in-
vadiram, saquearam e queimaram a sede da União Nacional dos Estudantes
e assim começava a ditadura militar; reprimindo estudantes pela força, di-
ziam estar combatendo a subversão.
Segundo Otto Maria Carpeaux (1965), o corpo discente das univer-
sidades passou por um crivo. Pertencer a certas associações era motivo de
suspensão e quem se pronunciava contra o regime era expulso. Esse perío-
do foi o interregno que marcou o fim da autonomia das universidades.
Segundo descrição de Arthur Poener, citando a Revista Civilização
Brasileira, a repressão policial contra os estudantes foi desumana.
Estudantes como Silvia Montarroyos enlouqueceram sobre tortura:
Foi queimada várias vezes nos braços e nas coxas, ao ponto de formar-
se ferida em sua epiderme. Todas as noites, os seus carcereiros não a
deixavam dormir, iluminando seu rosto com flash de lanterna de meia
em meia hora. Foi aí nesta cela que Silvia veio a enlouquecer (POENER,
1979, p.221).

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Porém, o símbolo do fim da autonomia das universidades veio de no 28° Congresso em Belo Horizonte. A UNE voltaria a participar das
Brasília. Vários professores foram presos e perderam seus cargos. Entre eles eleições estudantis. Em um congresso conturbado realizado nos porões de
Anísio Teixeira e Celso Furtado. Também foi determinada a intervenção da uma Igreja os estudantes esperavam a missa, se misturavam aosfiéise sor-
universidade, nomeando o Reitor- interventor Zeferino Vaz, que dá nome rateiramente iam para o porão. Só voltavam em outra missa com as reso-
hoje a Unicamp. luções do Congresso (POENER, 1979).
Nesse clima de repressão o professor Fiori foi demitido, fato que oca- Em 1966, o governo com orientação do USAID implementou uma
sionou uma greve estudantil, crise que culminou no abandono do cargo taxa mensal na Universidade do Brasil. Os estudantes foram às ruas, mas,
por parte de Zeferino Vaz. ao contrário dos anos noventa, foram reprimidos brutalmente pela polícia.
Em 10 de outubro de 1965, policiais invadiram a UnB e mais quinze Uma passeata em Belo Horizonte foi sufocada pela polícia. Com o apoio da
professores foram demitidos. Em solidariedade a eles quase todo o restante Igreja, os estudantes se refugiaram nos templos, que foram invadidos pelos
do corpo docente demitiu-se. Outros professores foram contratados e a policiais.
UnB seguiu na intervenção (POENER, 1979). O dia 22 de setembro foi eleito como Dia Nacional de Luta contra
O governo Castelo Branco não cedia a pressões e foi sufocando o a ditadura E nessa data se organizou passeatas por todo país. Mas foi no
Movimento Estudantil. Para dar conta desse objetivo, o Ato institucional de Rio de Janeiro que a repressão foi mais violenta. Depois da passeata, já de
27 de outubro de 1965 repreendeu estudantes em todo o país. Porém, já em madrugada, os estudantes foram cercados ná Faculdade de Medicina da
1964, a Lei Suplicy de Lacerda visava acabar com o Movimento Estudantil, Praia Vermelha. Os policiais invadiram o lugar, segundo descrição da mâe
extinguindo a UNE, UEEs e outras entidades pelo Diretório Nacional de de um estudante publicada na°Revista Civilização Brasileira:
Estudantes, Diretório Estaduais, Centrais e Acadêmicos, todos com eleições
organizadas pelo governo (POENER, 1979). agolpesdearíete;correndohistericamente, chegavam os PM, quebraram
Os golpes do Governo começaram a indignar os estudantes. os portões da FNM e, feito uma horda de bárbaros... vi sair um rapaz
Indignação, também, causada pelos acordos entre o MEC e o USAID todo ensangüentado, debaixo de cacetadas, uma moça semidespida e des-
(Agência Norte Americana para o Desenvolvimento Internacional). calça, carregada por policiais do Exército... (REVISTA CIVILIZAÇÃO.
BRASILEIRA, 1966, n.8, p.309).
Os acordos, além dê implantarem o tecnicismo pedagógico, preten-
diam reformar as universidades públicas, propondo até mesmo a cobrança
progressiva de mensalidades. Nesse período foram abertas várias facul- Depois dessas violências, a Lei Suplicy de Lacerda foi revogada. Era
dades particulares. nesse clima que terminaria o governo de Castelo Branco, fim que represen-
Então, o quadro estava completo para que os estudantes perdessem tou certo alívio para os estudantes.
definitivamente a paciência com a ditadura militar. Em 9 de março de 1965, No governo Costa e Silva o movimento estudantil voltou a sacudir o
o Presidente Castelo Branco participou da aula inaugural da Universidade país inteiro, em 1968, não só o Brasil, mas o mundo inteiro foi obrigado a
do Brasil. Foi a ocasião que os estudantes deixaram claro seu descontenta- ouvir as reivindicações dos estudantes.
mento com a ditadura. Castelo levou uma sonora vaia. O estopim das manifestações dos estudantes, em 1968, foi o assassi-
Neste mesmo ano o governo marcou as eleições para os D.As. Em nato do estudante Edson Luís, no restaurante Calabouço no Rio de Janeiro.
São Paulo realizou-se o 27° Congresso da UNE, onde se decidiu pela não Os estudantes carregaram o corpo até a Assembléia Legislativa, onde
participação nestas eleições. Estratégia que foi modificada um ano depois o estudante foi velado. Na manhã seguinte foi organizado um cortejo que
era recebido com papel picado. Um clima de comoção tomou o país inteiro.

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Muitos pais pensavam que podia ser seus filhos no lugar daquele rapaz. Tal investimento ocasionou uma reforma universitária que incentivou
Edson tornou-se símbolo do ME, as fotos de seu corpo eram exibidas 13 a prática do esporte e o crescimento da disciplina Educação Física, inclusive
anos depois na revista "Movimento Une", do lado do corpo um cartaz: nas universidades. Através do decreto 69450/71, a Educação Física se torna
"Estudante morto por policiais" (REVISTA MOVIMENTO UNE, 1980, a única disciplina obrigatória em todos os cursos universitários.
n.13, p.10). A política governamental de Educação Física teve como principal
Nesse luto começou a luta. No Rio de Janeiro, as manifestações reg- objetivo esportivizar a Educação Física Escolar, adotando um modelo
istraram 02 mortos, 60 populares feridos e mais de 300 presos. Da mesma piramidal que via na escola a base de formação de atletas de alto nível.
forma, em Goiânia, um estudante foi morlo a bala. Essa política era condizente com a analogia de que uma potência esportiva
Passeatas tomaram conta no Brasil em 1968 e a mais famosa delas foi era uma potência econômica, a exemplo dos Estados Unidos e da União
a passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro. Soviética. Desse modo, o principal objetivo da Educação Física Escolar foi
Neste mesmo ano, a UNE organizou o Congresso de Ibiúna, no inte- o desenvolvimento de aptidões esportivas nos alunos mais aptos, transfor-
rior de São Paulo. Essa mudança de estratégia foi fatal para o movimento. mando a Educação Física Escolar de ginástica militar para um treinamento
Todos aqueles estudantes chegando a uma cidade pequena, com suas roupas esportivo.
diferentes. Logicamente, chamaram a atenção das autoridades, então, um Essa tendência de esportivização desenhava-se antes da ditadura mili-
contigente de policiais foi chamado da capital paulista e cidades vizinhas. tar. Começou com os diversos cursos ministrados no Brasil pelo professor
O saldo do congresso foi a prisão de todos os participantes, entre eles, os francês Auguste Listello, introdutor do Método Desportivo Generalizado.
principais líderes, como José Diícéü, Vladimir Palmeira, Luís Travassos e Porém, no Brasil, a esportivização da Educação Física ganhou contornos
Jean Mare Weid. Os três primeiros só foram soltos em 1969, no episódio de treinamento, tese que não era defendida por Listello, que destacava o
do seqüestro do embaixador norte-americano pelo MR-8 e da ALN, vis- prazer na prática esportiva em relação á ginástica com características milir:
lumbrados no filme "O que é isso, Companheiro?". A libertação dos três foi tares. Essa caracterização da Educação Física como treinamento, de fato, foi
exigida como parte do resgate. Weid foi libertado em 1971, também como influenciada por políticas ditatoriais, porém, os profissionais de Educação
pagamento de um seqüestro, dessa vez organizado pela Vangüarda Popular Física também souberam tomar proveito da estrutura do governo para in-
Revolucionária do Capitão Lamarca. cutir novos objetivos à Educação Física, como aconteceu no episódio do
Mas o golpe fatal sobre o ME foi a repressão do AI-5. A UNE só con- Esporte para Todos.
seguiu a reconstrução em 1979, no seu congresso em Salvador. Segundo Kátia Brandão Cavalcante (1984), a campanha Mexa-se foi
Concomitantemente a esse contexto de repressão e lutas sociais da lançada pela Rede Globo de televisão. A autora defende a tese de uso da
Juventude, o Esporte e a Educação Física eram vistos pelo governo dita- comunicação de massa para a alienação do povo através da massificação
torial como estratégias de ocupação da juventude. Por isso, não é difícil da atividade física. Contudo, temos que perceber que as teses em torno
entender o apoio incondicional do governo a políticas de democratização do movimento que ficou conhecido como Esporte para Todos, eram meros
do esporte. reflexos do movimento internacional de Educação Física. A participação
Em 1965, houve um acordo entre o Brasil e os Estados Unidos para do professor Lamartine Pereira DaCosta no movimento SPORT FOR ALL
investimentos na educação brasileira, esse acordo ficou conhecido como internacional foi a principal motivação para a introdução da massificação
acordo MEC-USAID (SKIDMORE, 1988). do esporte com objetivo de lazer.
Temos que compreender que os objetivos do movimento Esporte
para Todos ancoravam-se na idéia de inclusão de todos, contrariamente,

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os objetivos da Educação Física Escolar, objetivavam a formação de atle-
tas a partir do que se convencionou chamar Tecnicismo. Logicamente, os
interesses da área de Educação Física tornaram-se comuns aos interesses
da política governamental, mas, não foram determinadas pelos interesses
ideológicos da ditadura, e sim pelos interesses dos próprios profissionais
que incutiram a idéia do Esporte-Lazer, a exemplo do que já era feito na
Europa. Com isso, o PNED - Plano Nacional de Educação Física e Desporto
- elaborado sob júdice do professor Lamartine Pereira DaCosta, foi criada
a terceira área de atuação da Educação Física, o desporto de Massa, junta-
mente com o desporto estudantil e o desporto de alto nível. A campanha
EPT - Esporte para Todos - entre 1977 e 1978, teve participação de 2.772
municípios e cerca de 9,7 milhões de participantes nos eventos de massa.
Embora os documentos oficiais apontem para uma historia Ja
Educação Física manipulada pelo governo, os depoimentos colhidos através
da história oral por Marcus Aurélio Taborda de Oliveira evidenciam indíci-
os de uma resistência aos valores da Educação Física voltada para o esporte
de elite e a manipulação ideológica através do esporte. Segundo Oliveira,
'T^ás.ãoconcluiroésiu^ de que foi exagerada a inter-
pretação da historiografia quanto à dimensão estratégica da educação física
para a consolidação do regime militar"(200l,p. 16).

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