Você está na página 1de 4

EFEITOS DA CAMINHADA SOBRE O ESTADO DE HUMOR

DE IDOSOS FISICAMENTE ATIVOS


EFFECTS OF WALKING ON THE MOOD OF PHYSICALLY ACTIVE OLDER PEOPLE Artigo Original
Original Article
EFECTOS DE LA CAMINATA SOBRE EL ESTADO DE HUMOR DE ADULTOS DE LA TERCERA EDAD ACTIVOS Artículo Original

Amandio Aristides Rihan Geraldes1 RESUMO


(Profissional de Educação Física)
Willames Brito da Silva2 Introdução: Devido às relações entre os exercícios físicos e o estado de humor (EH), tais atividades estão sendo
(Profissional de Educação Física) amplamente utilizadas como estratégias não medicamentosas no tratamento da depressão. Entretanto, a maioria
Pedro Balikian Júnior3 dos estudos tem utilizado amostras de indivíduos que, além de doentes, são mais velhos e sedentários, portanto,
(Profissional de Educação Física) apresentam “janelas de adaptações” mais amplas, quando comparados àqueles aparentemente saudáveis ou
Piettra Moura Galvão Pereira4 fisicamente ativos. Sendo assim, os efeitos dos exercícios sobre o EH em idosos fisicamente ativos ainda devem
(Profissional de Educação Física)
ser esclarecidos. Objetivo: Verificar os efeitos agudos de 30 minutos de caminhada, com intensidade entre leve e
1. Universidade Federal de Alagoas moderada, sobre o EH de idosos fisicamente ativos. Métodos: Foram selecionados, de maneira não probabilística,
(UFAL), Laboratório de Aptidão 43 voluntários (86% mulheres e 14% homens), participantes habituais de um programa de atividades oferecido
Física, Desempenho e Saúde, por uma instituição de saúde de Alagoas. Avaliou-se o EH com o Profile of Mood States (POMS) antes e após 30
Maceió, AL, Brasil. minutos da caminhada. A comparação entre as médias foi verificada com o teste t de Student. Resultados: Foram
2. Universidade Federal de Alagoas observadas diferenças relativas em todas as dimensões do EH, variando entre 16,4% (vigor) e 56,3% (raiva). Entre-
(UFAL), Curso de Educação Física, tanto, somente nas dimensões vigor (p = 0,00) e confusão (p = 0,026) verificaram-se diferenças estatisticamente
Maceió, AL, Brasil. significativas. Conclusão: Conclui-se que com 30 minutos de caminhada, realizada com intensidade leve a mo-
3. Universidade Federal de
derada, conforme recomendado pelas principais diretrizes médicas para a obtenção de benefícios para a saúde
Alagoas (UFAL), Maceió, AL, Brasil.
geral, pode-se ter uma forma efetiva de promover melhorias no EH de idosos fisicamente ativos. Confirma-se a
4. Centro Universitário CESMAC
(CESMAC), Maceió, AL, Brasil. possibilidade de a caminhada ser uma interessante estratégia não medicamentosa para o tratamento da depressão.
Nível de evidência I; Estudos terapêuticos - Investigação dos resultados do tratamento.
Correspondência:
Amandio Aristides Rihan Geraldes. Descritores: Saúde mental; Atividade física; Exercício; Envelhecimento.
Laboratório de Aptidão Física,
Desempenho e Saúde (LAFIDES). ABSTRACT
Campus AC Simões. Av. Lourival Introduction: Due to the relationship between exercise and mood (MO), physical activity is being widely used as a
Melo Mota s/n. Tabuleiro dos
nonpharmacological strategy in the treatment of depression. However, most studies have used sample groups of subjects
Martins, AL, Brasil. 57072-970.
who, besides suffering from ill health, are also older and sedentary, thus presenting wider “windows of adaptations”
amandioargeraldes@gmail.com
when compared to apparently healthy or physically active individuals. Thus, the effects of exercise on MO in physically
active elderly individuals are yet to be clarified. Objective: To verify the acute effects of 30 minutes of walking of mild
to moderate intensity on the MO of physically active elderly subjects. Methods: A total of 43 volunteers (86% women
and 14% men), who participated regularly in an activity program offered by a health care institution in Alagoas, were
selected in a non-probabilistic manner. MO was evaluated using the Profile of Mood States (POMS) questionnaire before
and after 30 minutes of walking. The comparison between means was verified with Student’s t-test. Results: Relative
differences were observed in all dimensions of MO, ranging from 16.4% (Vigor) to 56.3% (Rage). However, statistically
significant differences were only found in the Vigor (p = 0.00) and Confusion (p = 0.026) dimensions. Conclusion: It is
concluded that a 30-minute walk, performed at mild to moderate intensity, as recommended by the main medical
guidelines for obtaining general health benefits, may be an effective way of promoting MO improvements in physically
active elderly people. The study confirms the fact that walking may potentially be an interesting nonpharmacological
strategy for the treatment of depression. Level of Evidence II; Therapeutic studies - Investigating treatment results.

Keywords: Mental health; Physical activity; Exercise; Aging.

RESUMEN
Introducción: Debido a las relaciones entre los ejercicios físicos y el estado de humor (EH), tales actividades están
siendo ampliamente utilizadas como estrategias no medicamentosas en el tratamiento de la depresión. Entretanto,
la mayoría de los estudios ha utilizado muestras de individuos que, además de enfermos, poseen más edad y son
sedentarios, por lo tanto, presentando “ventanas de adaptaciones” más amplias, en comparación con aquellos apa-
rentemente saludables o físicamente activos. Siendo así, los efectos de los ejercicios sobre el EH en adultos mayores
físicamente activos todavía deben ser esclarecidos. Objetivo: Verificar los efectos agudos de 30 minutos de caminata con
intensidad entre leve y moderada, sobre el EH de adultos mayores físicamente activos. Métodos: Fueron seleccionados,
de manera no probabilística, 43 voluntarios (86% mujeres y 14% hombres), participantes habituales de un programa
de actividades, ofrecido por una institución de salud de Alagoas. Se evaluó el EH con el Profile of Mood States (POMS)
antes y después de 30 minutos caminata. La comparación entre los promedios se verificó con el test t de Student.

Rev Bras Med Esporte – Vol. 25, No 1 – Jan/Fev, 2019 63


Resultados: Se observaron diferencias relativas en todas las dimensiones del EH, variando entre 16,4% (Vigor) y 56,3% (Ira).
Entretanto, sólo en las dimensiones vigor (p = 0,00) y confusión (p = 0,026) se verificaron diferencias estadísticamente
significativas. Conclusión: Se concluye que con 30 minutos de caminata, realizada con intensidad leve a moderada,
de acuerdo a lo recomendado por las principales directrices médicas para la obtención de beneficios para la salud
general, puede tenerse una forma efectiva de promover mejoras en el EH de adultos mayores físicamente activos. Se
confirma la posibilidad de que la caminata sea una interesante estrategia no medicamentosa para el tratamiento
de la depresión. Nivel de evidencia II; Estudios terapéuticos – Investigación de los resultados del tratamiento.

Descriptores: Salud mental; Actividad física; Ejercicio; Envejecimiento.

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1517-869220192501193620 Artigo recebido em 30/03/2018 aprovado em 25/09/2018

INTRODUÇÃO pela farmacoterapia.20 Entretanto, não se pode olvidar o potencial dos


Com o objetivo de minimizar as alterações morfofisiológicas relacio- mecanismos psicológicos relacionados com a prática regular de EF,
nadas ao envelhecimento, as limitações funcionais, severidade de doenças como por exemplo, o aprendizado, as alterações no esquema corporal, a
instaladas e prevenir o aparecimento de novas doenças, o American College adoção de atitudes e/ou comportamentos saudáveis, o reforço social e
of Sports Medicine (ACSM) e a American Heart Association (AHA) recomen- o lazer.21 Diante do exposto, é crescente o uso dos EF como recurso não
dam a prática regular de atividades físicas (AF).1 Sendo assim, AF como farmacológico para a melhora do EH, haja vista que além de dispendio-
as danças, Tai Chi Chuan, treinamento contra resistência e caminhada/ sos, os recursos farmacológicos utilizados no tratamento das doenças
corrida, entre outras, têm sido crescentemente utilizadas em intervenções mentais são acompanhados por efeitos colaterais.20
realizadas com o objetivo de manter ou melhorar os níveis de aptidão A despeito dos benefícios para a saúde mental relacionados com
física/funcional, saúde e qualidade de vida em adultos idosos.2-8 o EF, ainda existem lacunas importantes no que tange aos tipos, in-
Devido ao exposto, crescem as evidências sobre demonstrando tensidades e duração suficientes para promover alterações no EH.10
associações importantes entre a prática de AF e a saúde mental. Man- Além do mais, a grande maioria das pesquisas realizadas com idosos,
gialasche et al.,9 e Bridle et al.,10 por exemplo, demonstraram associações com o objetivo de verificar os efeitos do EF sobre o EH, utilizou como
entre a prática de AF, especialmente as estruturadas, como os esportes amostras, sujeitos mais velhos, com diagnóstico de depressão ou se-
e os exercícios,11 com a sensação de bem-estar, estado de humor (EH) e dentários, ou seja, com baixos níveis de aptidão física e funcional iniciais.
saúde geral. Tais estudos, além de confirmarem a importância da prática O exposto pode prejudicar a inferência dos resultados de tais estu-
regular de exercícios físicos (EF) para os domínios cognitivos, emocio- dos, diante do fato das pessoas com baixos níveis de saúde ou aptidão
nais e motor, demonstram a importância dos EF como recurso não física inicial apresentarem “janelas de adaptação” mais amplas. Em outras
medicamentoso para a prevenção e tratamento de doenças mentais,10 palavras, devido ao fenômeno da regressão estatística, sujeitos com
especialmente nos quadros de ansiedade e depressão.11 essas características, quando comparados com seus pares com níveis
As taxas de doenças mentais estão aumentando em todos os países, de saúde e aptidão física e motora maiores, têm maiores probabilidade
afetando sujeitos de ambos os sexos e de todas as idades.12 Entretanto, de ganhos, devido a intervenções com EF.22
tais taxas são mais importantes e notáveis em países em desenvolvimento Portanto, este estudo teve como objetivo verificar os efeitos de uma
e, nomeadamente, para as mulheres, adultos idosos e/ou instituciona- sessão de 30 minutos de caminhada, realizada com intensidade mode-
lizados,13,14 tornando essas populações mais suscetíveis à fragilidade, rada - como preconizado pelas principais diretrizes médicas - sobre o EH
vulnerabilidade e morbimortalidade.9 de idosos e aparentemente saudáveis e fisicamente ativos, participantes
Devido às associações entre os níveis de EF, EH, ansiedade, vigor, habituais em um programa de atividades físicas e outras atividades de
raiva e a diminuição da disposição para a vida, a depressão parece ser a lazer, ofertadas por uma instituição de saúde pública de um município
doença mental mais sensível às intervenções relacionadas com os EF.11,14 do interior do estado de Alagoas.
A depressão é uma doença caracterizada por episódios de humor
MÉTODOS
deprimido, perda de interesse e prazer por quase todas as atividades,
alterações no apetite, peso, sono, diminuição de energia e sentimento População e Amostra
de desvalia ou culpa.13 Para além dos prejuízos pessoais, a doença é uma Para este estudo experimental foram selecionados, de maneira con-
das principais responsáveis pelo aumento do absenteísmo ao trabalho, veniente, 43 participantes (37 mulheres e seis homens) maiores que 60
baixa produtividade, limitações funcionais, internações e ideação suicida.12 anos que compunham um grupo que participava de um programa de
No Brasil, é estimado que 17% da população sofra de depressão. Entre caminhadas e palestras, denominado: “Saúde na Praça”, ofertado pelo
os idosos as taxas variam entre 10 a 30%.13 Entretanto, é bem provável Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) de uma Secretaria de Saúde
que as taxas da prevalência da doença sejam maiores, visto que, mais de um município Alagoano.
que 50% dos casos não são diagnosticados.15,16 O citado programa, realizado sob a forma de encontros bissemanais,
Diversos estudos têm demonstrado que a prática regular de EF é é composto por caminhadas ao ar livre e participação em palestras sobre
capaz de influenciar positivamente a autoestima e a autoconfiança, os benefícios da prática regular de atividades física e adoção de hábitos
favorecendo o bem-estar e o EH, podendo contribuir para a diminuição nutricionais saudáveis, para a manutenção ou melhora da saúde e QV.
da gravidade e da frequência dos episódios depressivos.13,17-19 Para participar do estudo, o voluntário, além de 60 ou mais anos de
Embora, ainda não estejam completamente esclarecidos, os efeitos idade deveria ser fisicamente ativos, acumulando 150 minutos semanais
ansiolíticos do EF, pesquisas realizadas com animais demonstram que de atividades físicas aeróbias1, serem capazes de compreender as expli-
os possíveis mecanismos dos EF sobre a depressão, relacionam-se com cações e responder às questões levantadas pelo estudo, bem como, não
o aumento da produção de neuromoduladores, como a serotonina e a relatar transtornos de ansiedade, depressão e/ou outras doenças mentais.
norepinefrina, que interferem na reatividade ao estresse, promovendo Após o contato e a aprovação do estudo, pelos responsáveis pela
resultados semelhantes aos provocados pelo uso de drogas utilizadas Secretaria de Saúde, agendou-se o primeiro de três encontros com o
64 Rev Bras Med Esporte – Vol. 25, No 1 – Jan/Fev, 2019
grupo quando, foram explicados os objetivos, possíveis riscos e benefícios Tratamento Estatístico
relacionados com a pesquisa e, avisado que todos os interessados em Após a verificação da normalidade da distribuição dos dados, avaliada
participar da pesquisa deveriam responder a um questionário destinado com auxílio do teste Shapiro-Wilks,26 para a organização e apresentação
à coleta dos dados sociodemográficos (idade, etnia, estado civil, níveis dos resultados utilizou-se média aritmética, desvio padrão (M ± DP), e
de atividades físicas e estado de saúde, entre outros) e avaliação dos amplitude. A comparação entre as médias da pontuação nas situações
critérios de inclusão, além de serem familiarizados com a avaliação da pré e pós-teste, foi realizada com o t de Student para amostras depen-
escala de humor. Em um segundo encontro, acontecido 24 horas após dentes ou seu correlato não paramétrico, o teste Wilcoxon Signed Rank.
o primeiro, realizaram-se a familiarização e a ancoragem com o uso da Todos os cálculos estatísticos foram analisados adotando-se um nível
Escala de Borg a fim de garantir a manutenção da intensidade da cami- de significância de p < 0.05, com o programa estatístico versão 18.0 do
nhada. No último encontro realizou-se a intervenção propriamente dita. SPSS para Windows (SPSS Inc. Chicago, IL).
Todos os voluntários assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido e, todas as etapas do estudo foram aprovadas pelo Comitê RESULTADOS
de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Alagoas, de acordo Dentre os participantes da amostra, 37 mulheres e seis homens com
com a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (parecer de idades entre 60 e 78 anos (68,6 ± 4,5 anos), as seguintes características
número: 023229/201-24). foram relatadas: 49% eram casados, 39% eram viúvos e 12% eram solteiros;
59% declararam renda mensal superior a R$ 1.020,00 (mil e vinte reais);
Procedimentos
3% declararam ter saúde excelente, 14% muito boa, 38% boa, 33% ruim e
Coleta de dados Sócio Demográficos e Avaliação dos Níveis de Ativi- muito ruim; 20% declararam sentir dores graves e 18% muito graves nas
dades Físicas últimas quatro semanas; 70% residiam em moradias multigeracionais;
O questionário, utilizado para a coleta dos dados sociodemográficos 59% declararam ser hipertensos, 12% diabéticos e 15% depressivos
e avaliação dos níveis de atividades físicas, foi aplicado sob a forma de leves. Quando perguntados sobre o nível qualidade de vida da família,
entrevistas individuais, realizadas pelos pesquisadores. a maioria respondeu entre boa (38%) e muito boa (30%).
Avaliação do Estado de Humor (EH) A apresentação e a comparação entre os resultados (pré e pós-teste) do
EH para cada uma as dimensões do POMS podem ser observados na Tabela 01.
Para a avaliação do EH, utilizou-se o Profile Mood State (POMS),23 Como pode ser observado na tabela anterior (Tabela 01), as seis
inventário que, devido a sua simplicidade, sensibilidade em detectar as dimensões do POMS apresentaram alterações relativas e positivas após
alterações no EH e, principalmente, pelo fato de ter sido validado para o a intervenção. Entretanto, somente para Vigor e Confusão, as diferenças
português vem sendo extensivamente utilizado para a avaliação do EH.24 foram estatisticamente significativas, enquanto para a Fadiga, observou-se
As 24 questões contidas no questionário, destinam-se à avaliação valor limítrofe de probabilidade para diferença significativa.
de seis dimensões do EH, compostas pelas seguintes dimensões:
Tensão (sentimentos de ansiedade, tensão muscular, inquietação, Table 1. Comparisons between the results of the mood test in both situations: before
preocupação, tensão e pavor); Depressão (sentimentos de depressão, (pre) and after (post-test) the walking session (n = 43).
tristeza, infelicidade, auto-imagem negativa e desânimo); Confusão Dimensões Pré-teste Pós-teste
P
mental (sentimentos de atordoamento, depressão, incerteza e pouco do Estado Amplitude Amplitude Δ dif (%)
M ± DP M ± DP Value
controle de atenção e emoções); Raiva (sentimentos de zanga, raiva, De Humor mv - MV mv - MV
Tensão 1,1± 0,0 0–5 0,7± 0,0 0-6 27 0,308
hostilidade, antipatia, mau humor, e irritação); Fadiga (sensação de
Fadiga 1,0± 1,4 0–5 0,7± 0,7 0–6 33 0,049*
exaustão, esgotamento, apatia, baixo nível de energia, sonolência e Depressão 0,5± 0,0 0–5 0,3±0,7 0–5 35 0,359
cansaço) e Vigor (sensação de energia, disposição, animação e alerta). Vigor 9,9± 4,9 4 – 16 12,4± 3,5 6 – 16 16 0,000**
Destaca-se que Vigor é a única das dimensões que representa um Confusão 0,7 ±0,0 0–4 0,3± 0,0 0-3 53 0,026*
aspecto humoral positivo, relacionado com sensações de excitação Raiva 0,4 ±1,4 0-3 0,2±0,0 0-2 56 0,090
e energia física. Para cada um dos quatro itens, que compõem cada M = média aritmética; DP = desvio padrão; ΔDif (%) = diferença relativa; mv = menor valor; MAV = maior valor.
* p < 0,05. **p < 0, 01.
questão das dimensões do POMS, foram atribuídos valores que variam
entre “zero” e “quatro”, onde, com exceção do fator Vigor, para o qual o
DISCUSSÃO
“zero” representa o sentimento menos intenso ou negativo e “quatro”
o sentimento mais intenso ou positivo.25 Os resultados observados demonstraram que uma sessão de ca-
O cálculo da pontuação final do inventário foi realizado como reco- minhada com duração de 30 minutos (quantidade mínima de tempo
mendado por Cruz e Mota,26 de forma que a pontuação final foi obtida recomendada pela maioria das diretrizes internacionais para a obtenção
através da soma dos cinco itens das dimensões negativas (tensão, depres- de benefícios para a saúde física),1 realizada com intensidade moderada,
são, confusão mental, raiva e fadiga), subtraindo-se deste resultado, os foi capaz de promover alterações positivas e significativas no EH de
pontos obtidos na dimensão positiva (Vigor), adicionando-se ao resultado idosos fisicamente ativos.
final 100 pontos. Para efeitos de cálculos estatísticos, o inventário foi Embora, a dimensão Fadiga tenha apresentado resultados no limite
aplicado em dois momentos diferentes: 10 minutos antes da sessão de para diferença significativa (p = 0,049), e somente tenham sido observadas
caminhada (situação pré-teste) e logo após a mesma (situação pós-teste). diferenças estatisticamente significativas no Vigor (p = 0,000) e Confusão
(p = 0,026), é importante considerar que, embora não estatisticamente
Avaliação da Intensidade de Caminhada significativas nas demais dimensões foram observadas diferenças relati-
A percepção subjetiva de esforço (PSE) foi classificada com auxílio vas importantes, variando entre 50% e 64% (Raiva = 50%; Tensão = 64%
da Escala de Borg (6-20).26 e Depressão = 60%). Desse modo, é possível defender a hipótese de
A caminhada foi realizada ao ar livre, no mesmo percurso utilizado que, em situações cotidianas, os percentuais de mudança observados
habitualmente, e teve a duração total de 30 minutos. Durante o exercício, possam representar reais modificações positivas no EH.
os sujeitos deveriam relatar PSE entre 12 e 16 pontos, aproximadamen- Embora, os resultados observados nesta pesquisa sejam semelhantes
te 60% da frequência cardíaca de reserva,27 de modo a caracterizar a aos encontrados em outros estudos,17,29 é importante considerar que as
intensidade do esforço entre leve a moderada.28 comparações com tais estudos ficam prejudicadas, devido às diferenças

Rev Bras Med Esporte – Vol. 25, No 1 – Jan/Fev, 2019 65


entre as amostras e, especialmente, em decorrência das durações das fisicamente ativos. Portanto, o fato da caminhada ser uma atividade habi-
intervenções. Nos estudos citados foram utilizados tempos de caminhada tual e conhecida, pode representar menores percepções de esforço físico,
entre 45 e 60 minutos. desconfortos e cansaço, além de favorecer a socialização e a motivação.
Por outro lado, a maioria dos estudos realizados com idosos, com o É importante destacar que, apesar de poder parecer negativo, o fato
objetivo de verificar alterações no EH, utilizou em suas amostras, idosos dos participantes da amostra serem fisicamente ativa e, entretanto, ter
mais velhos, sedentários, com baixos níveis de aptidão física, com limitações apresentado resultados semelhantes aos de sujeitos mais velhos, se-
funcionais e/ou com diagnóstico clinico de doença mental. No estudo dentários e/ou diagnosticados com doenças, por outro lado, devido às
de Ellis, Randall & Punett,17 por exemplo, com metodologia semelhante a características da depressão (exemplo: baixos níveis de EH e auto-estima,
da presente pesquisa, os autores também observaram os efeitos de uma irritabilidade, dificuldades de concentração, dificuldades psicomotoras
sessão de caminhada com intensidade moderada. Entretanto, além da e de concentração, fadiga constante e anedonia, entre outros) e, princi-
duração da intervenção ter sido maior (45 min), os participantes apresen- palmente, devido a provável presença da pequena “janela de adaptação”,
taram grande amplitude etária (19 a 70 anos) e eram diagnosticados com os resultados observados no presente estudo podem ser considerados
doenças: ansiedade (52,5%), depressão (32,3%), esquizofrenia (6,1%), além positivos e relativamente importantes.4 Afinal, embora os participantes
de bipolaridade (4,6%) e alcoolismo (3,1%). No estudo citado, os autores fossem fisicamente ativos e acostumados com o exercício, ainda assim,
não observaram diferença significativa na dimensão Fadiga, entretanto, apresentaram melhoras significativas no EH.
defenderam a hipótese da não modificação dessa variável dever-se à má
interpretação dos participantes do estudo. Em outras palavras, existiu a CONCLUSÃO
possibilidade dos sujeitos terem confundido fadiga mental com fadiga física. Os resultados permitem concluir que 30 minutos de caminhada,
Devido ao exposto, no presente estudo, os questionários foram aplicados tempo mínimo recomendado pelas diretrizes médicas para a obtenção de
sob a forma de entrevista, o que possivelmente facilitou a compreensão benefícios para a saúde geral, pode ser uma forma efetiva de promover
dos questionamentos sobre a avaliação do EH. alterações positivas no estado de humor de idosos aparentemente sau-
Com o mesmo objetivo, Cisneiros29 investigou o EH em uma amostra dáveis e fisicamente ativos. Desse modo, a caminhada pode ser utilizada
de 11 pessoas (nove mulheres e três homens), com idades entre 64 e 95 como estratégia coadjuvante não medicamentosa para o tratamento da
anos e verificou alterações estatisticamente significativas em todas as depressão. Adicionalmente, o fato de caminhar ser uma atividade natural
dimensões do POMS. Entretanto, é importante considerar que, além de e habitual, torna a atividade uma interessante opção para as pessoas
serem fisicamente inativos, os sujeitos que compunham a amostra eram com problemas de adesão à prática habitual de exercícios.
mais velhos (média = 78 anos) o que pode ter favorecido ganhos pro-
porcionalmente maiores, devido ao fenômeno da “janela de adaptação”.
Todos os autores declararam não haver qualquer potencial conflito
A elevada diferença relativa, observada na dimensão vigor (125%)
de interesses referente a este artigo.
neste estudo, pode se relacionar com o fato dos participantes serem

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES: Cada autor contribuiu individualmente, e de maneira significativa, para o desenvolvimento deste manuscrito da seguinte maneira: AARG (0000-
0002-4222-2264)*: Contribuição substancial na concepção, desenho, análise e interpretação dos dados para o trabalho; revisão crítica do conteúdo intelectual do trabalho; revisão
e aprovação final da versão do manuscrito. WBS (0000-0002-1236-590X)*: contribuição substancial na concepção, desenho, aquisição e interpretação dos dados para o trabalho,
além de ter participado ativamente da discussão dos resultados. PBJr. (0000-0002-9148-6717)*: contribuição substancial na análise e interpretação dos dados para o trabalho, revisão
e aprovação final da versão do manuscrito. PMGP (0000-0002-7278-2385)*: revisão crítica do seu conteúdo intelectual; revisão e aprovação final da versão do manuscrito. *ORCID
(Open Researcher and Contributor ID).

REFERÊNCIAS
1. Nelson ME, Rejeski WJ, Blair SN, Duncan PW, Judge JO, King AC, et al. Physical activity and public findings from the São Paulo Megacity Mental Health Survey, Brazil. PLoS ONE. 2012;7(2):e31879
health in older adults: recommendation from the American College of Sports Medicine and the American
Heart Association. Med Sci Sports Exerc. 2007;39(8):1435-45. 16. Fleck MPA, Lima AFBS, Louzada S, Schestasky G, Henriques A, Borges VR, et al. Associação entre sintomas
depressivos e funcionamento social em cuidados primários à saúde. Rev Saude Publica. 2002;36(4):431-8.
2. Janyacharoen T, Laophosri M, Kanpittaya J, Auvichayapat P, Sawanyawisuth K. Physical performance
in recently aged adults after 6 weeks traditional Thai dance: a randomized controlled trial. 17. Ellis NJ, Randall JA, Punett G. The Effects of a Single Bout of Exercise on Mood and Self-Esteem in
Clin Interv Aging. 2013;8:855-9. Clinically Diagnosed Mental Health Patients. Open Journal of Medical Psychology. 2013;2:81-5.
3. Murrock CJ, Graor CH. The Effects of Dance on Depression, Physical Function, and Disability in 18. Lampinen P, Heikkinen RL, Ruoppila I. Changes in intensity of physical exercise as predictors of depressive
Underserved Adults. J Aging Phys Act. 2014;22(3):380-5. symptoms among older adults: an eight-year follow-up. Prev Med. 2000;30(5):371-80.
4. Adler PA, Roberts BL. The use of Tai Chi to improve health in older adults. Orthop Nurs. 2006;25(2):122-6. 19. Werneck FZ, Navarro CA. Nível de Atividade Física e Estado de Humor em Adolescentes. Psic: Teor
Pesq. 2011;27(2):189-93
5. Farinatti PT, Geraldes AA, Bottaro MF, Lima MV, Albuquerque RB, Fleck SJ. Effects of Different
Resistance Training Frequencies on the Muscle Strength and Functional Performance of Active 20. Powers MB, Asmundson GJG, Smits JAJ. Exercise for mood and anxiety disorders: The state-of-the
Women Older Than 60 Years. J Strength Cond Res. 2013;27(8):2225-34 science. Cogn Behav Ther. 2015;44(4):237-9.
6. Hatta A, Nishihira Y, HigashiuraT. Effects of a single bout of walking on psychophysiologic 21. Zschucke E, Gaudlitz K, Ströhle A. Exercise and Physical Activity in Mental Disorders: Clinical and
responses and executive function in elderly adults: a pilot study. Clin Interv Aging. 2013;8:945-52. Experimental Evidence. J Prev Med Public Health. 2013;46(Suppl1):S12-21.
7. McDermott MM, Liu K, Guralnik JM, Criqui MH, Spring B, Tian L, et al. Home-based walking 22. Ahtiainen JP, Pakarinen A, Alen M, Kraemer WJ, Hakkinen K. Muscle hypertrophy, hormonal adaptations
exercise intervention in peripheral artery disease: a randomized clinical trial. JAMA. 2013;310(1):57-65. and strength development during strength training in strength-trained and untrained men. Eur J Appl
8. Parmenter BJ, Raymond J, Dinnen P, Singh MA. A systematic review of randomized controlled Physiol. 2003;89(6):555-63.
trials: Walking versus alternative exercise prescription as treatment for intermittent claudication. 23. McNair DM, Lorr M, Droppleman LF. Manual for the profile of mood states. San Diego, CA: Educational
Atherosclerosis. 2011;218(1):1-12. and Industrial Testing Services; 1971.
9. Mangialasche F, Kkivipelto M, Solomon A, Fratiglioni L. Dementia prevention: current epidemiological 24. Rohlfs ICPM. A Escala de Humor de Brunel (Brums): instrumento para detecção precoce da síndrome
evidence and future perspective. Alzheimers Res Ther. 2012;4(1):6. do excesso de treinamento. Rev Bra Med Esporte. 2008;14(3):176-81.
10. Bridle C, Spanjers K, Patel S, Atherton NM, Lamb SE. Effect of exercise on depression severity in 25. Werneck FZ, Navarro CA. Nível de Atividade Física e Estado de Humor em Adolescentes. Psic: Teor
older people: systematic review and meta-analysis of randomised controlled trials. Br J Psychiatry. Pesq. 2011;27(2):189-93
2012;201(3):180-5.
26. Cruz J, Mota MP. Adaptação e características psicométricas do “POMS-Profile of Mood States” e do
11. Archer T, Josefsson T, Linwall M. Effects of physical exercise on depressive symptoms and biomarkers “STAI-State-Trait Anxiety Inventory” In: Gonçalves M, Ribeiro I, Araújo S, Machado C, Almeida L, Simões
in depression. CNS Neurol Disord Drug Targets. 2014;13(10):1630-53. M (eds.). Avaliação Psicológica: Formas e Contextos. Braga: Universidade do Minho; 1997.
12. Molina MRAL, Wiener CD, Branco JC, Jansen K, de Souza LDM, Tomasi E, et al. Prevalência de depressão 27. Mazzeo R, Cavanag P, Evans W, Fiatarone M, Hagberg J, Mc Auley E, et al. Exercise and physical activity
em usuários de unidades de atenção primária. Rev Psiquiatr Clín. 2012;(39)6:194-7. for older adults. Med Sci Sports Exerc. 1998;30(6):992-1008.
13. Garcia LAA, Milani J, Celeste LFN, Chagas MO, Caixeta TP, Santos AS. Inactividad física y depresión 28. Mattos M, Farinatti P. Influência do treinamento aeróbio com intensidade e volume reduzidos na autonomia
en los ancianos en Brasil: una revisión sistemática. REFACS. 2017;5(1):66-74. e aptidão físico-funcional de mulheres idosas. Rev Port Ciên Desp. 2007;7(1):100-8.
14. Sandra-Gutierrez JM, Asensio-Moreno I, Vargas-Aragón ML. Characteristics and factors associ- 29. Cisneiros PMSP. Influência de um programa de exercício físico sobre a capacidade física funcional e
ated with depression in the elderly in Spain from a gender perspective. Actas Esp Psiquiatr. os estados de humor numa população idosa. Monografia de Licenciatura em Ciências do Desporto e
2017;45(5):185-200. Educação Física da Universidade de Coimbra, 2005 [accessed on 2017 Out. 15]; Available at: https://
15. Andrade LH, Andreoni L, Silveira CM, Silva AC, Nishimura R, James AC, et al. Mental disorders in megacities: estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/15525.

66 Rev Bras Med Esporte – Vol. 25, No 1 – Jan/Fev, 2019

Você também pode gostar