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O DIÁLOGO ENTRE O MÉTODO NATURAL AUSTRÍACO E A GINÁSTICA

FEMININA NO BRASIL (1950 A 1970)


Cássia Danielle Monteiro Dias Lima1
Fernanda de Melo Grifo Taveira2

PALAVRAS-CHAVE: Método Natural Austríaco; Ginástica Feminina; Formação Docente

INTRODUÇÃO
Neste texto nos propomos a apresentar o diálogo estabelecido entre o Método Natural
Austríaco e a Ginástica Feminina no âmbito da formação de professores de Educação Física,
entre 1950 e 1970. O estudo foi desenvolvido segundo os procedimentos metodológicos da
pesquisa histórica, utilizando fontes documentais de natureza diversa.
Vários questionamentos motivaram a realização deste estudo, entre eles: O que foi
definido como Ginástica Feminina? Quais saberes eram considerados importantes para a
formação docente? O que se esperava da formação feminina era correspondente ao que fora
proposto no Método Natural Austríaco?
A citação do protagonismo de Streicher e Gaulhofer no processo de sistematização e
aplicação do Método Natural na Áustria foi uma constante nas fontes analisadas. Segundo
Amsler (1957, p. 49) Streicher e Gaulhofer apresentaram quatro tipos de exercício: I –
exercícios de compensação; II – exercícios formativos; III – exercícios de performance; IV –
exercícios de movimento artístico. Na lista de exemplos encontram-se movimentos:
cotidianos, esportivos, de base, acrobáticos, rítmicos e de dança (AMSLER, 1957). Mais
tarde, o sistema é retomado por Burger e Groll que mantiveram a divisão de movimentos,
entretanto estabeleceram entre eles uma hierarquia, na qual a compensação e a estética do
movimento se subordinam à Eumorfia e à performance.
O plano de aula sugerido no Método era estruturado em quatro partes: 1ª) Introdução; 2ª)
Formação corporal e educação de movimentos; 3ª) Performance ou habilidades artísticas; 4ª)
Volta à calma (SCHMIDT, 1965).
Analisamos os planos de ensino das disciplinas ofertadas nos cinco cursos da Escola de
Educação Física de Minas Gerais: Superior de Educação Física, Técnica Desportiva,
Educação Física Infantil, Medicina Aplicada e Massagem Aplicada à Educação Física.
No ano de 1968 o Método Austríaco foi uma unidade didática da cadeira de Ginástica
Feminina, dos Cursos Superior de Educação Física e Educação Física Infantil, ministrada
pelas professoras Marluce G. Gomes e Maria da Conceição M. Bomfim3. Para a primeira
série do Curso Superior era solicitado que as alunas compusessem aulas sobre o método
Natural Austríaco, bem como Calistenia, Ginástica Sueca. Já para a segunda série do Curso de
Educação Física Infantil, a proposta era formular aulas e aplicar o Método na prática. As
alunas da terceira série do mesmo curso elaboravam planos de aula e faziam a prática
profissional através de estágios para aplicar os métodos supracitados. Parece que o Método
não foi abordado com o intuito de substituir outro anteriormente adotado, mas sim que
ocorreu a coexistência dos mesmos, sendo o Método Natural tratado como uma das possíveis
opções de sistematização do ensino da ginástica feminina.
Encontramos menção ao Método nos pontos sorteados para as provas teóricas e práticas
prestadas por professores candidatos às cadeiras de educação física em escolas estaduais e
encontramos seis provas práticas sobre o Método Natural Austríaco dentro do tema Ginástica
(OLIVEIRA, 2014). O que aponta uma correlação entre o método e a ginástica. Ainda não
conseguimos precisar a origem e destino de tal influência. Mas identificamos algumas
correspondências: na didática de ensino, nas sugestões de atividades, na construção dos
roteiros de ensino, nas bases teóricas, entre outros.
Localizamos o livro “Ginástica Rítmica Escolar”, escrito por Erica Saur (n.d), que utiliza
como uma de suas referências a obra de Burger e Groll, publicada em 1959. Inezil Penna
Marinho (n.d) afirma que a “influência austríaca” na ginástica foi muito mais evidente na
ginástica feminina e que as professoras Érica Saur, Margareth Froelich e Illona Peuker
intermediariam esse diálogo.
Acreditamos na importância de investigar mais sobre o tema para sua melhor
compreensão.

REFERÊNCIAS
AMSLER, J. (1958, dez). A doutrina austríaca de Educação Física. Boletim de Educação
Física. Ano VII, n. 16.

MARINHO, I. P. (s/d). Sistemas e Métodos de Educação Física. São Paulo: Cia Brasil, 4ª
edição.

LIMA, C.D.M.D ; TAVEIRA, F. M. G (2015). A participação do professor Gerhard Schmidt


nas Jornadas Internacionais de Educação Física e a circulação do Método Natural Austríaco
em Belo Horizonte (1957-1962). In: Anais do 8º Congresso de Pesquisa e Ensino em História
da Educação de Minas Gerais - COPEHE-MG.

OLIVERIA, G. (2014). Concursos Públicos para provimento de Cadeira de Educação Física


em Escolas Estaduais Mineiras (1960-1974): o lugar da Escola de Educação Física de Minas

2
Gerais. Dissertação (Mestrado em História da Educação). Faculdade de Educação da UFMG,
Belo Horizonte.

SAUR, E. (n.d). Ginástica Rítmica Escolar. São José do Rio Preto: Editora Tecnoprint S.A.

SCHMIDT, G. (1965). Gimnasia natural y recreación. 2ª edición, Buenos Aires: Vertical XX


Editora, SEA.

FONTE DE FINANCIAMENTO
Pesquisa financiada pela FAPEMIG (Edital 07/2014/PIBIC/UEMG/FAPEMIG) e realizada no
período de março de 2015 a fevereiro de 2016.

1
Mestra em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação: conhecimento e inclusão social da
Faculdade de Educação da UFMG-Brasil. Docente da Universidade do Estado de Minas Gerais. Membro e
pesquisadora do Centro de Memória da Educação Física, do Esporte e do Lazer (CEMEF-UFMG) e do Grupo de
Pesquisa em História do Corpo, da Educação Física e do Esporte da UEMG – Unidade Ibirité. Endereço
eletrônico: cássia.danielle@yahoo.com.br
2
Graduanda do Curso de licenciatura em Educação Física da Universidade do Estado de Minas Gerais.
Bolsista de Iniciação Científica da Fundação de Amparo à pesquisa de Minas Gerais – FAPEMIG. Membro do
Grupo de Pesquisa em História do Corpo, da Educação Física e do Esporte da UEMG – Unidade Ibirité.
Endereço eletrônico: fernandagriffo@yahoo.com.br
3
Plano de ensino da disciplina Ginástica Feminina - Marluce Guimarães Gomes e Maria da Conceição
Moura Bomfi. Acervo do CEMEF. Acervo Institucional.

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