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Abstract The vertiginous transformations of the Resumo As vertiginosas transformações das so-
contemporary societies have been raising ques- ciedades contemporâneas têm colocado em ques-
tions concerning aspects of professional educa- tão, de modo cada vez mais incisivo, os aspectos
tion. Such questions have been raised in a more relativos à formação profissional. Este debate ga-
and more incisive way. This debate gains a new nha contornos próprios no trabalho em saúde, na
shape when applied to health work, where theory medida em que a indissociabilidade entre teoria e
and practice cannot be dissociated, and where the prática, o desenvolvimento de uma visão integral
development of an integral vision of the human do homem e a ampliação da concepção de cuidado
being and the amplification of the concept care tornam-se prementes para o adequado desempe-
1
Faculdade de Ciências
Médicas de Minas Gerais,
are essential for a proper performance. Based on nho laboral. Com base nestas considerações, o ob-
Fundação Educacional Lucas these considerations, this article aims to discuss jetivo do presente artigo é discutir as principais
Machado. Alameda Ezequiel the main methodological transformations in the transformações metodológicas no processo de for-
Dias 275, Centro. 30130-110
Belo Horizonte MG. education process of health professionals, with em- mação dos profissionais de saúde, com ênfase na
sandra.minardi@fcmmg.br phasis to active teaching-learning methodologies. apreciação das metodologias ativas de ensino-
2
Centro Universitário Serra Key words Active teaching-learning methodol- aprendizagem.
dos Órgãos e Centro Federal
de Educação Tecnológica de ogies, Problem-based learning, Health work Palavras-chave Metodologias ativas de ensino-
Química de Nilópolis. aprendizagem, Problematização, Aprendizagem
3
Departamento de
baseada em problemas, Trabalho em saúde
Enfermagem, Universidade
Estadual de Montes Claros.
4
Departamento de
Enfermagem, Centro
Universitário do Leste de
Minas Gerais.
5
Hospital Maternidade
Carmela Dutra, Secretaria
Municipal de Saúde do Rio de
Janeiro.
6
Centro Municipal de Saúde
Lincoln de Freitas Filho,
Secretaria Municipal de
Saúde.
7
Departamento de Medicina,
Universidade Estadual de
Montes Claros.
8
VIGISUS/CVE/SES.
2134
Mitre, S. M. et al.
sólida formação em ciências básicas nos primei- originariamente, à idéia de autogoverno, tendo
?
ros anos de curso, a organização minuciosa da sido empregado no seio da democracia grega para
assistência médica em cada especialidade, a valo- indicar as formas de governo autárquicas — isto
rização do ensino centrado no ambiente hospi- é, a πoλιζ (pólis = cidade-estado)19. Sem embar-
talar enfocando a atenção curativa, individuali- go, a orientação do conceito de autonomia à con-
zada e unicausal da doença12-14 produziram um dição humana pode ser buscada em outro nicho
ensino dissociado do serviço e das reais necessi- antigo, o cristianismo primitivo20. Já nas primei-
dades do sistema de saúde vigente. ras comunidades cristãs, celebrava-se a igualda-
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio- de entre os homens, na medida em que estes, por
nal - LDBEN - surge no cenário da educação su- terem sido criados como almas individuais, à
perior definindo, entre suas finalidades, o estí- imagem e semelhança do Pai, pertencem, em igual
mulo ao conhecimento dos problemas do mun- medida, ao plano e à obra de Deus21. Ademais,
do atual (nacional e regional) e a prestação de os humanos têm o livre-arbítrio para receber e
serviço especializado à população, estabelecendo aderir, ou não, aos ensinamentos do Cristo.
com ela uma relação de reciprocidade15. Tais prer- Se a autonomia pode ser buscada, sob um
rogativas foram reafirmadas pelas Diretrizes ponto de vista histórico-conceitual, entre as tra-
Curriculares, para a maioria dos cursos da área dições helênica e cristã22, será com o advento da
de saúde, acolhendo a importância do atendi- modernidade que o indivíduo, indiviso, se cons-
mento às demandas sociais com destaque para o tituirá como eu pessoal, capaz de conhecer o
Sistema Único de Saúde - SUS16,17. Neste momen- mundo (sujeito epistêmico) e de agir autonoma-
to, as instituições formadoras são convidadas a mente no âmbito da ética (sujeito moral), erigin-
mudarem suas práticas pedagógicas, numa ten- do os valores que nortearão o julgamento e a
tativa de se aproximarem da realidade social e de práxis em sua vida social23. Foram as coordena-
motivarem seus corpos docente e discente a tece- das espaço-temporais propícias — o humanis-
rem novas redes de conhecimentos. mo renascentista, a reforma protestante, a revo-
Considerando-se, ainda, que a graduação lução científica e a redescoberta do ceticismo an-
dura somente alguns anos, enquanto a atividade tigo — que permitiram a construção do indiví-
profissional pode permanecer por décadas e que duo moderno 24-26, um necessário produto da
os conhecimentos e competências vão se trans- modernidade burguesa e protestante27. A conso-
formando velozmente, torna-se essencial pensar lidação desse movimento se dá no bojo do pro-
em uma metodologia para uma prática de educa- jeto da Aufklärung (Iluminismo), ganhando sua
ção libertadora, na formação de um profissional expressão máxima na formulação moral siste-
ativo e apto a aprender a aprender. Segundo Fer- mática de Kant, na Fundamentação da metafísica
nandes e colaboradores18, o aprender a aprender dos costumes e na Crítica da razão prática28,29.
na formação dos profissionais de saúde deve O ensinar exige respeito à autonomia e à dig-
compreender o aprender a conhecer, o aprender a nidade de cada sujeito, especialmente no âmago
fazer, o aprender a conviver e o aprender a ser, de uma abordagem progressiva, alicerce para
garantindo a integralidade da atenção à saúde com uma educação que leva em consideração o indi-
qualidade, eficiência e resolutividade. Portanto, as víduo como um ser que constrói a sua própria
abordagens pedagógicas progressivas de ensino- história30. Esse respeito só emerge no âmago de
aprendizagem vêm sendo construídas e implicam uma relação dialética na qual os atores envolvi-
2136
Mitre, S. M. et al.
de saberes, que articula uma educação insensivel- lizada, bancária e estática, mas numa construção
mente tecnicista e coloca o educando em uma dialógica55.
posição de acomodação. Afirma, porém, que o Na formação na área de saúde, surge tam-
educador formador permite uma prática educaci- bém o conceito de aprender fazendo, o qual, se-
onal viva, alegre, afetiva, extremosa, com todo gundo Fernandes e colaboradores18, pressupõe
rigor científico e o domínio técnico necessários, que se repense a seqüência teoria J prática na
mas sempre em busca da transformação. produção do conhecimento, assumindo que esta
Nesse sentido, qualquer estratégia de inova- ocorre por meio da ação-reflexão-ação. Reafir-
ção deve levar em conta suas práticas de avalia- ma-se, assim, a idéia de que o processo ensino-
ção, integrá-las à reflexão, para transformá-las51. aprendizagem precisa estar vinculado aos cenári-
A avaliação precisa ser, antes de tudo, processual os da prática e deve estar presente ao longo de
e formativa para a inclusão, autonomia, diálogo toda a carreira. Assumir esse novo modelo na
e reflexões coletivas, na busca de respostas e ca- formação de profissionais de saúde implica o en-
minhos para os problemas detectados. Não pune, frentamento de novos desafios, como a constru-
nem estigmatiza, mas oferece diretrizes para se ção de um currículo integrado, em que o eixo da
tomar decisões e definir prioridades. formação articule a tríade prática-trabalho-cui-
Na maioria dos cursos da área de saúde, as dado, rompendo a polarização individual-coleti-
diretrizes curriculares sugerem a avaliação como vo e biológico-social, e direcionando-se para uma
uma atividade permanente e indissociada da di- consideração de interpenetração e transversalida-
nâmica ensino-aprendizagem, a qual deve acom- de13,44,56,57. Com efeito, o currículo integrado é re-
panhar os avanços dos discentes e reconhecer a sultado de uma filosofia político-social e de uma
tempo suas dificuldades, para intervir com sensi- estratégia didática, implicando educar cidadãos
bilidade16. Ademais, a avaliação deve ser um pro- com capacidade para o pensamento crítico13.
cesso amplo, que provoque uma reflexão crítica Em muitas experiências de transformação do
sobre a prática, no sentido de captar seus pro- processo de formação profissional, a participa-
gressos, suas resistências, suas dificuldades e pos- ção dos profissionais dos serviços e da comuni-
sibilitar deliberações sobre as ações seguintes52-54. dade (usuários) na definição de conteúdos e na
A avaliação inovadora deve se fundamentar orientação dos trabalhos a serem desenvolvidos
na colaboração, no empenho com a nova for- com o discente tem sido essencial para que essas
mação. Para isso, é preciso um trabalho planeja- novas práticas sejam construídas. E novas práti-
do e executado com a participação de todos os cas incluem uma nova concepção no planejamen-
envolvidos. Nesse propósito, instrumentos de to e construção de conteúdos e objetivos educa-
acompanhamento do processo ensino-aprendi- cionais, que, segundo Zanolli58, também preci-
zagem têm sido construídos, ultrapassando o sam ser transformadas:
modelo tradicional de simples verificação de con- - de orientada por conteúdos e objetivos mal
teúdos acumulados e memorizados e puramente definidos, para orientada para competências bem-
voltados à esfera da cognição52, para um proces- definidas e baseadas nas necessidades de saúde das
so mais abrangente orientado a todos os seus pessoas;
aspectos, inclusive ao próprio programa e à ati- - da transmissão de informações e pura utili-
vidade docente. zação da memória (decorar), para a construção do
Os registros, a auto-avaliação e o diálogo têm conhecimento e desenvolvimento de habilidades e
sido utilizados como estratégias norteadoras desse atitudes para resolver problemas, considerando
processo. O docente pode registrar o desenvolvi- experiências anteriores de aprendizagem, cultu-
mento do discente no que se refere à autonomia, rais e de vida;
à criatividade, à capacidade de organização, à sua - de professores capacitados somente em con-
participação e a condições de elaboração, bem teúdos para professores capacitados também em
como ao seu relacionamento com o grupo e sua educação médica;
comunicação. Na auto-avaliação, pode-se rever - de ensinar-aprender com observação passiva
a metodologia utilizada na prática pedagógica, dos estudantes, para ao aprender a aprender, com
enquanto o discente irá refletir sobre si mesmo e participação ativa dos aprendizes, ou seja, do cen-
a construção do conhecimento realizado53. O trado no professor para centrado no estudante;
momento do diálogo servirá para reflexão sobre - de humilhação e intimidação dos estudantes
a relação e a interação entre docente e discente, pelos docentes, para o respeito mútuo;
no ato comum de conhecer e reconhecer o objeto - de clássica inquisição do professor “como você
de estudo, agora não mais numa relação vertica- ainda não sabe?”, para “o que você ainda não sabe?”,
2139
momento, o papel do professor será um impor- perturbações intelectuais, com forte motivação
tante estímulo para a participação ativa do estu- prática e estímulo cognitivo para evocar as refle-
dante. Se a teorização é adequada, o aluno atinge xões necessárias à busca de adequadas escolhas e
a compreensão do problema nos aspectos práti- soluções criativas, podendo-se estabelecer uma
cos ou situacionais e nos princípios teóricos que aproximação à proposta educativa formulada
o sustentam40, 47,48. por John Dewey60-62. Ademais, a ABP se inscreve
Na confrontação da realidade com sua teori- em uma perspectiva construtivista — relaciona-
zação, o estudante se vê naturalmente movido a da, especialmente, aos referenciais da teoria pia-
uma quarta etapa: a formulação de hipóteses de getiana da equilibração e desequilibração cogni-
solução para o problema em estudo. A originalida- tiva63 —, a qual considera que o conhecimento
de e a criatividade serão estimuladas e o estudante deve ser produzido a partir da interseção entre
precisará deixar sua imaginação livre e pensar de sujeito e mundo, como amplamente problema-
maneira inovadora. Deve, ainda, verificar se suas tizado por teóricos como Paulo Freire10,41.
hipóteses de solução são aplicáveis à realidade, e o Com efeito, podem ser pontuados como prin-
grupo pode ajudar nessa confrontação40, 47,48. cipais aspectos da ABP: (1) a aprendizagem sig-
Na última fase, a aplicação à realidade, o es- nificativa; (2) a indissociabilidade entre teoria e
tudante executa as soluções que o grupo encon- prática; (3) o respeito à autonomia do estudan-
trou como sendo mais viáveis e aprende a gene- te; (4) o trabalho em pequeno grupo; (5) a edu-
ralizar o aprendido para utilizá-lo em diferentes cação permanente; (6) a avaliação formativa.
situações. Assim, poderá, também, discriminar Como pôde ser observado nesses breves co-
em que circunstâncias não são possíveis ou con- mentários, um dos aspectos que mais chamam a
venientes sua aplicação, exercitando tomadas de atenção diz respeito à capacidade de a ABP per-
decisões e aperfeiçoando sua destreza40,47,48. mitir a formação de um estudante apto a cons-
Ao completar o Arco de Maguerez, o estudante truir o seu próprio conhecimento e de trabalhar
pode exercitar a dialética de ação-reflexão-ação, em grupo de modo articulado e fecundo. Ade-
tendo sempre como ponto de partida a realidade mais, a perspectiva de não-completude da for-
social40. Após o estudo de um problema, podem mação (expressa no conceito/práxis de educação
surgir novos desdobramentos, exigindo a inter- permanente) e a estruturação do processo de
disciplinaridade para sua solução, o desenvolvi- avaliação formativa e contínua — os quais es-
mento do pensamento crítico e a responsabilida- maecem, de fato, as diferenças entre as vidas uni-
de do estudante pela própria aprendizagem38. versitária e profissional (Figura 2) — parecem
A ABP foi primeiramente instituída na Facul- fazer parte de um sistema aberto de organização
dade de Medicina da Universidade de McMaster do processo ensino-aprendizagem, no qual se
(Canadá), na década de 1960. No Brasil, as insti- abre mão, definitivamente, da noção de termi-
tuições pioneiras na implantação dessa modali- nalidade da formação.
dade de estrutura curricular foram a Faculdade Novos elementos tecnológicos no ensino não
de Medicina de Marília, em 1997, e o Curso de garantem por si a ruptura de velhos paradigmas.
Medicina da Universidade Estadual de Londrina, É necessário que se transformem as concepções
em 1998. No Estado do Rio de Janeiro, o primei- inerentes ao processo ensino-aprendizagem para
ro curso a utilizar a ABP foi o da Fundação Edu- ressignificá-las em uma perspectiva emancipado-
cacional Serra dos Órgãos –FESO –, em 2005. ra da educação10,11. Na adoção de qualquer um
A necessidade de romper com a postura de desses instrumentos metodológicos, o currículo
mera transmissão de informações, na qual os deve se configurar de maneira integrada e, ao se
estudantes assumem o papel de receptáculos pas- tratar de maneira integral temas e conteúdos, in-
sivos, preocupados apenas em memorizar con- terrompe-se o ciclo da fragmentação e do reduci-
teúdos e recuperá-los quando solicitado — ha- onismo do ensino tradicional, ao mesmo tempo
bitualmente, por ocasião de uma prova — é um em que se facilita a integração ensino-serviço e a
dos principais pontos de partida que explicam a perspectiva interdisciplinar13,56, 57.
ascensão da ABP no ensino médico atual59. De Nessa perspectiva, empreender mudanças
fato, um dos aspectos cruciais da ABP é o pro- amplas e profundas no processo ensino-apren-
cesso educativo centrado no estudante, permi- dizagem e na formação profissional de saúde sig-
tindo que este seja capaz de se tornar maduro, nifica transformar a relação entre docente e dis-
adquirindo graus crescentes de autonomia. cente, as diversas áreas e as disciplinas, enfim,
Na ABP, parte-se de problemas ou situações entre a universidade e a comunidade. Além disso,
que objetivam gerar dúvidas, desequilíbrios ou pressupõe mudanças na própria estrutura e or-
2141
Figura 2. Tempo, educação e trabalho: o caso do ensino médico. Conforme Venturelli J59 e Siqueira-Batista R6.
ganização da universidade, que precisa tornar-se ciência – supostamente – neutra, mas que tem
um fórum de debate e negociação permanente de servido apenas a um poder que oprime41,64,65. A
concepções e representações da realidade, no qual educação deve ser um ato coletivo, solidário, com-
o conhecimento é compartilhado44,56. prometido — um ato de amor e uma atitude de
O discente deve ser reconhecido como um compaixão — que não pode ser imposto e nem
indivíduo capaz de construir, modificar e inte- deixado à própria sorte. É uma tarefa de troca
grar idéias se tiver a oportunidade de interagir entre pessoas e, portanto, não o resultado de um
com outros atores, com objetos e situações que depósito de conhecimentos, de um iluminado em
exijam o seu envolvimento. É inegável, também, um obscuro e, tampouco, o descaso licencioso e
a importância da intervenção e da mediação do injustificado do faz-de-conta no ensino10, 11, 41.
docente, assim como a troca com os pares na A proposta de uma prática pedagógica ino-
confrontação de modelos e expectativas. Todos vadora é um ponto de partida para o desconhe-
precisam buscar a transformação nas relações cido, representando, muitas vezes, uma ameaça
de poder que se estabeleceram e que se mantêm, ao posto conquistado. O desconhecido abre, po-
aparentemente, alheias e independentes dos nú- rém, novos horizontes e possibilidades de trans-
cleos de sentido da universidade44,56. formação. A participação coletiva e democrática
Novamente em Freire55, uma alternativa se- é fundamental na implantação de qualquer mu-
gura para eliminar as fronteiras entre esses dife- dança, já que todos os sujeitos estão interligados
rentes atores é o diálogo, que funciona como um em uma rede. A discussão em torno da transfor-
potencializador da elaboração de conflitos e per- mação é a pedra filosofal do processo. A reflexão
mite o trabalho coletivo. O resgate da palavra e coletiva, o diálogo, o reconhecimento do contex-
da escuta potencializa a mudança. Entretanto, to e de novas perspectivas são a base para a re-
somente por meio da disponibilidade e do res- construção de novos caminhos, na busca pela
peito pelo potencial de cada ator será possível integralidade entre corpo e mente, teoria e práti-
uma verdadeira transformação. Com efeito, ao ca, ensino e aprendizagem, razão e emoção, ciên-
aprender a conviver com os limites, poder-se-á cia e fé, competência e amorosidade. Somente por
transformá-los em desafios, mas será preciso meio de uma prática reflexiva, crítica e compro-
enfrentá-los para superá-los. Aquele que enfren- metida pode-se promover a autonomia, a liber-
ta o desafio de desejar transformar o ensino en- dade, o diálogo e o enfrentamento de resistências
frenta, também, o desafio de promover a sua e de conflitos.
própria transformação35. Uma educação voltada para as relações so-
ciais emergentes deve ser capaz de desencadear
uma visão do todo, de rede, de transdisciplinari-
Considerações finais dade e de interdependência — as quais devem ser
levadas a sério, especialmente em um contexto
A educação imposta funciona como um instru- de emergência dos novos referenciais da comple-
mento de perpetuação da desigualdade, que ocul- xidade, do pensamento sistêmico e da ecologia
ta a realidade e aparece simplesmente como uma profunda, genuína aproximação entre o Ociden-
questão técnica sustentada pelos princípios da te e o Oriente66-70 — e possibilitar a formação de
2142
Mitre, S. M. et al.
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