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equipes invisíveis
52 Como derrubar os
bloqueios à inovação
64 O líder como coach
BRASIL
Dados criam
vantagem competitiva…
...mas nem sempre
44
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Janeiro 2020
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O MAIOR
DIFERENCIAL QUE
UMA EMPRESA
PODE TER SÃO OS
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fundamental para um futuro
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em educação
Índice
Janeiro 2020
14 O poder das
equipes invisíveis
Os funcionários mais
engajados trabalham
juntos de maneiras que as
empresas nem imaginam.
Marcus Buckingham e
Ashley Goodall
29 O envolvimento
em nível mundial
representado
em gráficos
Uma visão por países,
indústrias e empregados.
Matt Perry
36 Use o improviso
para unir sua
equipe
O que uma cientista
comportamental aprendeu
em dez semanas de
13
aulas de humor.
Francesca Gino
40 Quando medir
Foco o envolvimento
ilustração Paul Garland
não adianta
funcionários Uma história de tentativas
Dados criam
vantagem
competitiva…
...mas nem sempre.
Andrei Hagiu
e Julian Wright
52 INOVaÇÃO
Como derrubar
os bloqueios à
inovação
Crie hábitos e rotinas que
levam ao crescimento.
Scott D. Anthony, Rahul
Nair, Natalie Painchaud
e Paul Cobban
64 LIDEraNÇa
O líder como
coach
Como despertar a
inovação, a energia e
o comprometimento.
Herminia Ibarra e 44
Anne Scoular
9 76 seções
9 LIDEraNÇa 76 GEsTÃO pEssOaL
o verdadeiro
negócio de dados
DADOS DO CLIENTE E analytics formam uma dupla de enorme
potencial. Todos sabem o que deve ser feito: quanto mais clien-
tes você tiver, mais dados poderá coletar e analisar para criar
produtos cada vez melhores que não param de atrair clientes.
A sabedoria convencional sustenta a vantagem competitiva
conferida por este círculo virtuoso é quase imbatível.
Devagar com o andor, dizem Andrei Hagiu, da Questrom
School of Business, e Julian Wright, da National University of
Singapore. Eles argumentam que é um erro supor que os bene-
fícios do aprendizado baseado em dados são tão poderosos ou
duradouros quanto os efeitos de rede, em que o valor do servi-
ço — digamos, uma plataforma de mídia social — continua au-
mentando à medida que mais pessoas o usam. “Na maioria
dos casos”, dizem eles, “as pessoas superestimam grosseira-
mente a vantagem conferida pelos dados.” Para chegar
Adi Ignatius e Emily Neville-O’Neill, à posição competitiva mais favorável, você precisa de efeitos
diretora de gestão de produtos de dados e de rede — uma conquista dupla rara das empresas.
Isso não significa que os dados por si sós não o ajudarão.
De fato, você pode usar dados e analytics para criar defesas
competitivas, mesmo sem o reforço dos efeitos de rede. Hagiu
e Wright explicam como fazer isso em “Dados criam vantagem
competitiva... mas nem sempre” (página 44). De fato, a capa-
cidade de melhorar produtos e serviços com dados dos clien-
tes será essencial para competir. Mas, para superar os rivais no
longo prazo, você precisa de algo mais: saber como equilibrar
as capacidades de sua empresa e fazer com que se amplifiquem
mutuamente.
Sasha Patkin
Adi ignAtius
Editor chefe
dE artigos
Editora José Luiz Bichuetti
Amy Bernstein Murilo Portugal
publishEr Pedro Parente
Joshua Macht publishEr
da HBRBR
dirEtora Editorial Roberto Müller Filho
Sarah Cliff rmuller@rfmeditores.com.br
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Construindo David Champion, Eben Harrell,
uma Gardiner Morse, Jeff Kehoe,
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máquina Scott LaPierre, Steven Prokesch,
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de insights Toby Lester, Vasundhara Sawhney
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Como a Unilever HBR brasil Channel: Christine Salomão
conseguiu conhecer
seus clientes EditorEs assoCiados christine@hbrbr.com.br
Frank van den driest,
stan sthanUnathan
e keith Weed Courtney Cashman, Dave Lievens,
Gretchen Gavett, Nicole Torres, gErEntE dE markEting
Frank van den Driest é diretor de clientes e sócio
estratégia de marca e marketing. Stan Sthanunat
do consumidor e de mercado da Unilever. Keith W
Susan Francis Mariana Monné
mariana.monne@rfmeditores.com.br
Unilever e presidente do conselho Insights2020 da
EditorEs ContribuintEs
GESTÃO DE
PESSOAS
Amy Gallo, Anand P. Raman, sitE E mídias soCiais
Andrew O’Connell, Jane Heifetz, Bruno Ascenso
Durante anos os gestores foram John Landry, Karen Dillon bruno@rfmeditores.com.br
encorajados a elogiar e criticar CirCulação E assinatura
ConsElho Consultivo Editorial
construtivamente quase todas as Azeem Azhar, Bharat Anand, John Battelle, atendimento@rfmeditores.com.br
atividades de seus funcionários. Nicco Mele, Vivek Shah
Mas há melhores formas de
ajudá-los a progredir e se superar.
a falácia do feedback nota aos lEitorEs Rua Paulistânia, 551
Marcus Buckingham é chefe de pesquisa de pessoas e desempenho do Instituto de Pesquisa ADP
Ashley Goodall é vice pres dente sênior da Cisco Systems
As opiniões expressas nos artigos são as São Paulo, SP, CEP 05440-001
de seus autores e não necessariamente as www.hbrbr.com.br
da Harvard Business Review, da Harvard Harvard Business Review Brasil
Business Review Brasil, da Harvard é uma publicação da RFM Editores Ltda.
Business School ou da Harvard University.
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a empresas a que aludem ou com elas
clientes e alunos possuir vínculos profissionais.
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dados, sem autorização escrita.
t re i n a m e n t o s .
Volume 98, Número 01, Janeiro 2020
editada por
Ve j a n o f i n a l d e c a d a
a r t i go o c ó d i go d e
R e p r i n t p a ra f a ze r Editores
o s e u p e d i d o. Jornalista rEsponsávEl
Roberto Müller Filho
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Radar
novas ideias, pesquisas em progresso
NA TEORIA
Ao decidir em quais comportamentos valido de informações privilegiadas. O violações menores, essa atitude parece
deveriam se concentrar, os pesquisa- efeito mostrou-se maior entre executivos ser bastante ineficaz para executivos
dores valeram-se de descobertas nos que haviam cometido várias violações e que cometeram infrações criminais mais
campos da psicologia e da criminologia. entre os que tinham cometido violações sérias”, afirmam os pesquisadores.
E escolheram dois: uma propensão para graves (qualquer coisa mais séria do que Tudo isso levou Dey e seus coautores
infringir a lei ligada, de um modo geral, a multa de trânsito). a ponderar: por que os conselhos contra-
uma falta de autocontrole e a um despre- Será que medidas administrativas tam — ou não demitem — executivos que
zo pelas regras; e o materialismo — as- poderiam restringir tal atividade? Muitas infringiram a lei? Com esse objetivo, eles
sociado a uma insensibilidade ao modo empresas possuem políticas de blackout analisaram mais atentamente os CEOs
como as ações de alguém afetam não só para impedir negócios impróprios. Como que apareceram em sua amostragem.
os demais como o meio-ambiente. é difícil determinar a existência dessas Não parecia que empresas cujos CEOs
Em quatro estudos, Dey — agora pro- políticas (poucas empresas divulgam possuíam uma ficha criminal tinham um
fessora da Harvard Business School — e dados a esse respeito), os pesquisado- número menor de conselheiros indepen-
seus coautores examinaram a correlação res usaram um indicador comum: se dentes, ou que os próprios conselheiros
entre um ou ambos comportamentos e o grosso dos negócios dos executivos tinham uma ficha criminal. Tampouco
cinco assuntos ligados ao trabalho. das empresas ocorreu dentro de 21 dias aqueles CEOs geraram um ganho maior.
Informação privilegiada. Em seu depois do anúncio dos rendimentos Observando que a maior parte havia
mais recente artigo, os pesquisadores (normalmente, o período em que é cometido sua primeira infração depois de
observaram se os atestados de antece- considerado permitido). Eles compa- assumir o cargo, Dey afirma: “Pode ser
dentes dos executivos — tudo, desde raram os negócios dos executivos com que eles não sejam tão monitorados se
multas de trânsito até dirigir embriagado um registro das empresas com e sem a vieram da própria empresa e estão reali-
e agressão — tinham qualquer relação política de blackout, e obtiveram resul- zando um bom trabalho — nada melhor
com a tendência desses de realizar tados preocupantes: embora as políticas do que a média, mas não abaixo”. Em
negócios tendo como base informações mitigassem negócios com lucros atípicos conversas informais, alguns executivos
privilegiadas confidenciais. Valendo-se entre os infratores de trânsito, não sêniores afirmaram: “Não me importo
do banco de dados de crimes federais surtiram efeito nas transações daqueles com o que eles fizeram, principalmente
e estaduais dos Estados Unidos, da que haviam cometido violações mais se foi há muito tempo”.
checagem de antecedentes criminais e graves. Esses últimos mostraram-se Relatórios fraudulentos. Em um
de investigadores privados, os estudio- mais propensos do que os demais a fazer estudo anterior, Dey e seus coautores
sos identificaram empresas que haviam negócios durante o período de blackout, identificaram 109 empresas que haviam
empregado simultaneamente, durante bem como a perder o prazo dos relatórios submetido relatórios financeiros
o período de 1986 a 2017, ao menos da SEC (órgão equivalente à CVM no fraudulentos à SEC. Ao comparar os
um executivo que tivesse tido algum Brasil). Eram, ainda, mais propensos a CEOs dessas empresas com os chefes de
problema com a justiça e ao menos um realizar negócios de compra ou ven- empresas semelhantes que possuíam
com um histórico impecável. Isso rendeu da antes que importantes anúncios relatórios impecáveis, descobriram que
uma amostra de quase 1.500 executivos, fossem feitos, tais como a divulgação um número bem maior de líderes que
incluindo 503 CEOs. Examinando as de rendimentos ou fusões, e isso nos estavam no grupo dos fraudulentos
negociações das ações da empresa reali- três anos que precederam a falência de tinha uma ficha criminal: 20,2% ante
zadas pelos executivos, os pesquisadores suas empresas — evidência que sugere, somente 4,6% daqueles presentes no
descobriram que tais negociações eram da mesma forma, que haviam lucrado grupo de controle.
mais rentáveis para executivos com uma graças a informações privilegiadas. O risco em relação aos relatórios
ficha criminal do que para os demais, o “Embora uma administração firme possa feitos em todos os setores da empresa.
que indicava que os primeiros haviam se disciplinar aqueles com histórico de O mesmo estudo observou se outros
E em relação às questões
envolvendo o movimento
#MeToo?
Normalmente essas não
aparecem nos atestados de
antecedentes, por isso fazemos
perguntas específicas quando
estamos checando as referências
— e não nos limitamos às pessoas
indicadas pelo candidato. Ao
término de cada uma dessas
entrevistas, eu pergunto: “Existe
alguma outra coisa com a qual
deveríamos nos preocupar?”.
Houve um caso em que conversei
com dez pessoas usadas como Os pesquisadores também mais preocupados com gastos colocar o conselho em alerta.
referência, todas maravilhosas observaram se o fato de um flagrantes no trabalho — digamos, No entanto, devo dizer que na
— mas quando fiz essa pergunta CEO ser dono de casas, carros se alguém gasta muito para maior parte das vezes, se os
para a décima primeira ouvi ou barcos chiques afeta a reformar as salas dos executivos executivos possuem um histórico
uma resposta suficientemente decisão de correr ou não ou passa a adotar o hábito de extenso de criação de valor e
perturbadora que fez com que riscos. Você se preocupa tomar um grande avião corporativo se a checagem de antecedentes
eu dissesse ao cliente: “Não vejo com o consumo aparente? mesmo quando está viajando não mostra nenhuma questão
como seguir com esse candidato”. Nós certamente observamos sozinho. Esses comportamentos ética, o modo como gastam
E nós não demos sequência ao isso, mas não é necessariamente podem ser prejudiciais para a dinheiro provavelmente não
processo de seleção dele. um sinal de alerta. Estamos cultura da empresa e podem vai ser um problema.
funcionários
engajados
Menos de 20% dos eMpregados no Mundo têM a sensação
ilusTração Paul garland
o poder
das equipes
invisíveis
os funcionários Mais engajados trabalhaM juntos
de Maneiras que as eMpresas neM iMaginaM.
Marcus buckinghaM e ashley goodall
Dois enfermeiros. Mesma função, diferentes hospitais. Um se destaca
pela excelência no atendimento aos pacientes, o outro não. Por quê?
Jordan trabalha no Centro Médico da Universidade Stanford como
enfermeira do departamento de ortopedia há três anos. Em entrevista
recente ela nos contou como está empolgada nessa função cujo
objetivo é ajudar a melhorar a saúde das pessoas. Ela, particularmente,
adora o que chama de abordagem interdisciplinar, na qual a família, o
médico responsável pelo caso, demais médicos, outros enfermeiros, o
fisioterapeuta, a terapeuta ocupacional, a assistente social trabalham
juntos para decidir qual é o melhor tratamento para cada paciente.
nível de engajamento e entusiasmo que as pesso- para elevar esses níveis — desde tentativas de
as sentem com seu trabalho. Mas se definirmos o mudança da cultura corporativa até gestão rigo-
envolvimento de forma mais precisa, como um rosa do desempenho —, nada do que fazem pro-
conjunto de atitudes, podemos medi-lo — e en- duz bons resultados. Em virtude de seu trabalho
tender seu impacto no desempenho. Graças a na Gallup Organization sobre envolvimento, um
uma pesquisa iniciada pela Gallup Organization de nós (Marcus) ingressou recentemente no Ins-
nas décadas de 1980 e 1990 e que, desde então, tituto de Pesquisa sobre Negócios Alimentados
continua a ser desenvolvida por vários outros por Dados (ADPRI, na sigla em inglês) para lide-
pesquisadores (incluindo nós dois), descobrimos rar pesquisas sobre desempenho corporativo.
que certas atitudes ajudam a prever a produtivi- Ele e sua equipe completaram agora o estudo
dade dos funcionários e que empresas, gestores e mais abrangente e metodologicamente consis-
empregados podem agir para melhorar ou mudar tente já realizado sobre envolvimento. Foi soli-
essas atitudes. Tais atitudes refletem consisten- citado a um número representativo de profissio-
temente sentido de propósito, clareza do que é nais adultos em 19 países — mil participantes em
valioso ou importante, segurança psicológica cada um — que respondessem a oito afirmações
e confiança no futuro. Quando encontramos es- elaboradas para medir confiavelmente o envol-
ses quatro traços distintivos numa pessoa, equi- vimento (leia mais sobre o estudo no quadro
pe ou empresa, sabemos que estamos na presen- “Os ingredientes do envolvimento”, na pág. 22).
ça de algo ou alguém envolvido. O envolvimento O estudo revelou que somente 16% dos funcio-
promove a produtividade, inovação, retenção, nários estão completamente engajados no traba-
e muito mais. lho como Jordan, enquanto 84% simplesmente
Mas quando analisamos os níveis agregados seguem a corrente, como Fritz.
de envolvimento ao longo do tempo e entre dife- Estes resultados não são melhores que os
rentes países, notamos de forma clara e imediata apresentados em pesquisas anteriores realizadas
que, por mais que as organizações se empenhem ao longo de anos pela Gallup e outras empresas
Comple- Comple-
tamente tamente
engajados engajados
8% 17%
de pesquisa de opinião. E como sabemos que o precisaria assumir sua “marca de talento” e des-
envolvimento promove a produtividade dos fun- crever com clareza os tipos de enfermeiros que
cionários até no nível da unidade de negócios, é procura atrair e como deseja que eles se compor-
bastante surpreendente que nos últimos 40 anos tem, para que todos entendam como devem tra-
a produtividade per capita nos Estados Unidos balhar. O nome que se dá a tudo isso é cultura —
tenha sido raquítica, mal oscilando acima de 1% e, embora as empresas que priorizam a cultura e,
ao ano, e outros países desenvolvidos como Rei- consequentemente, a experiência de seu pesso-
no Unido e Alemanha mostrem desempenho al, estejam dando um primeiro passo importante,
ainda pior. É evidente que precisamos encontrar abordar a experiência do funcionário no nível da
outro caminho. empresa não é a solução completa.
O mais importante é entender o que, realmen- A segunda explicação está na outra extremida-
te, promove o engajamento. Há anos fazemos isso de do espectro. Em vez de focar na ideia genéri-
errado. A maioria de nós, quando avalia a diferen- ca de cultura, ela se concentra nas diferenças de
ça entre as experiências de Jordan e Fritz, tende desempenho e envolvimento entre Jordan e Fritz
a aceitar uma destas explicações. A primeira: no com base na maneira de ser de ambos. Algumas
hospital de Jordan alguma coisa funciona para coisas estão certas com Jordan e algumas coisas
ela, e no de Fritz algo não funciona para ele. En- menos certas com Fritz. A receita consiste então
tão, para melhorar sua vida e desempenho pro- em ajudar Fritz a se envolver mais, dando-lhe
fissional, o foco deveria ser o estabelecimento feedback sobre seu desempenho, melhorando-o
como um todo: ele deveria oferecer o máximo de com treinamento, animando-o com a perspectiva
apoio aos seus enfermeiros; seu comprometimen- de uma nova função que possa mudar os resulta-
to com o equilíbrio entre vida profissional e vida dos, ou finalmente substituindo-o por um enfer-
pessoal dos funcionários teria de ser explícito; ele meiro que, com sorte, seja parecido com Jordan.
trabalho, é necessário primeiro entender por que qual divisão dentro daquele departamento, é o
as organizações têm tanta dificuldade de enxer- RH. Se um gestor deseja incluir formalmente al-
gar as equipes e como isso agora está mudando. guém em sua equipe, ele precisa ligar para o
Cabe-nos direcionar investimentos e energia pa- RH e pedir permissão para deslocar o “novo
ra melhorar as experiências dessas equipes. membro” (o que significa basicamente transferir
um contracheque) de uma divisão para outra.
É preciso solicitar aprovações, os orçamentos
EnXERguE As EQuiPEs precisam ser consultados, permissões precisam
As organizações conseguem ver caixas e linhas ser concedidas abaixo e acima da cadeia de su-
no organograma, mas não as equipes reais. primentos, até finalmente a fumaça branca apa-
Quando o mesmo estudo do ADPRI perguntou recer na chaminé, e eis que o novo membro apa-
aos respondentes se eles trabalhavam em mais rece no organograma.
de uma equipe — e quantas delas constavam Obviamente isso esconde o modo como o tra-
do organograma —, 64% responderam sim, e balho é de fato executado. No mundo real, os lí-
destes 75% afirmaram que suas equipes adicio- deres forçam os membros de suas equipes a par-
nais não apareciam no esquema. A maior parte ticipar de novas equipes o tempo todo. Algumas
do trabalho é realizada em equipe, mas cerca de delas duram três semanas, outras três meses — e
metade das equipes que o executam é invisível é por isso que o estudo do ADPRI quis pesqui-
para as empresas. sar as diferenças entre a realidade do nível mais
fundamental e a teoria do organograma. O estu-
do revelou que a “fonte da verdade” sobre quais
cAdA membro dA equipe é o ritual de da equipe não é um nome numa caixa, mas sim
qualquer pessoa que tenha recrutado com êxito
obrigar as pessoas a aceitar. Ao contrário, são fer- Entender a dinâmica das equipes significa-
ramentas como Slack, Jira e Webex Teams da ria o fim de várias iniciativas que as organizações
Cisco, que atendem perfeitamente equipes e lí- atualmente tomam como base para abordar o en-
deres ajudando-os a executar seu trabalho. Em- volvimento e o desempenho. Não faríamos, por
bora tais ferramentas sejam de produtividade, exemplo, uma pesquisa sobre o envolvimento de
destinadas principalmente à execução de tare- toda a organização uma vez por ano, não separa-
fas, e não à formação de equipes, as organizações ríamos os resultados de acordo com os departa-
estão começando a utilizar seus dados “exau- mentos e divisões do organograma e não fingi-
ridos” para ver quem está estendendo a mão e ríamos ter encontrado um resultado válido. Em
quem acolhe a mão estendida, quem está convi- vez disso, simplesmente analisaríamos os dados
dando e sendo convidado para participar de pro- provenientes das equipes em tempo real. Não
jetos, quem está merecendo voto de confiança projetaríamos tanto trabalho em torno de incen-
porque sabidamente cumpre prazos. Em outras tivos extrínsecos (pagamento, promoção, títulos
palavras, estamos começando a enxergar real- etc.), como se incentivos intrínsecos (significado,
mente as equipes fluidas, dinâmicas, efêmeras, crescimento, relacionamento e assim por diante)
informais, no mundo real do trabalho. Por isso fossem impossíveis de medir. Em vez disso, me-
agora, finalmente, podemos saber como as equi- diríamos esses elementos isoladamente, equipe
pes reais — e em particular, as melhores equipes por equipe, onde eles fazem a grande diferen-
— se comportam na selva. ça. As metas da organização não desceriam em
os ingredientes do envolviMento
O adP procurou
capturar a essência
do envolvimento
perguntando a cada membro
de equipe até que ponto ele
compartilham meus
valores.
4. Tenho a oportunidade de
aplicar meus pontos fortes
diariamente no trabalho.
o estudo abrangeu
19 países, e em cada um
foi utilizada exatamente a
mesma metodologia —
mil participantes por país,
extremamente produtivas pelo
chefe e probabilidade muito
menor de deixar a organização
nos seis meses seguintes.
utilizamos o termo vir
concordava com oito 5. meus colegas de equipe estratificados para atender trabalhar para descrever os
afirmações simples, numa têm meu apoio. a demografia da força de que responderam de forma
escala de cinco pontos, 6. sei que serei reconhecido trabalho. a cada participante neutra ou negativa à maioria
desde “discordo totalmente” pelo excelente trabalho. foram apresentadas as das afirmações. as pessoas
até “concordo totalmente”. 7. confio muito no futuro mesmas oito afirmações, e enquadradas nessa categoria
Essas afirmações, elabo- de minha empresa. para garantir que maçãs não são necessariamente
radas primeiramente por 8. no trabalho, sempre fossem comparadas com destrutivas ou prejudiciais
pesquisadores da gallup e sou estimulado a crescer. maçãs, foi aplicada uma à empresa, mas também
desde então aprimoradas correção na análise dos dados não estão apaixonadamente
por pesquisadores da deloitte, É importante mencionar que que levava em consideração a comprometidas. Elas estão
cisco, adP e várias outras os respondentes não emitem percepção de que diferentes simplesmente vendendo
empresas, mostraram-se nenhum juízo direto sobre seu nacionalidades têm padrões seu tempo e talento para
a forma mais confiável e gestor ou sua empresa — de resposta significativamente sobreviver. sem dúvida,
poderosa que conhecemos eles classificam somente seus distintos para as escalas de Jordan está na primeira dessas
para explicar a diferença próprios sentimentos e avaliação (os brasileiros, por categorias, e Fritz na segunda.
entre as melhores experiências experiências. isso porque as exemplo, tendem para o lado
no trabalho e as demais. pessoas são pouco confiáveis positivo, e os japoneses para
as oito afirmações ao avaliar outras pessoas. o negativo, enquanto os
(extraídas textualmente do Quando pedimos a alguém britânicos inevitavelmente
estudo do adPri) capturam que avalie uma pessoa ou se posicionam em algum
as emoções e atitudes uma empresa com respeito ponto intermediário).
anteriores ao envolvimento a uma qualidade abstrata analisando os padrões
e as emoções e atitudes como empatia, visão, de resposta, conseguimos
de funcionários produtivos. pensamento estratégico ou separar as pessoas em duas
inclusão, a resposta nos diz categorias. utilizamos o termo
1. Estou realmente mais sobre quem avalia do completamente envolvido
entusiasmado com a missão que sobre a pessoa ou para descrever as pessoas
de minha empresa. empresa avaliada. Para que avaliaram praticamente
2. no trabalho, entendo obter dados confiáveis todas as afirmações muito
perfeitamente o que é é preciso perguntar aos positivamente. Verificou-se
esperado de mim. respondentes apenas que elas mostram também
3. na minha equipe, estou o que se refere a suas probabilidade muito maior
cercado por pessoas que próprias experiências. de ser consideradas
compreendido e focado. Conhecer-me pelo que fa- No departamento de Fritz, uma equipe de 76
ço melhor e focar meu trabalho em torno disso: eis enfermeiros reporta-se a um gestor de enferma-
as necessidades fundamentais de todos os mem- gem. Não importa a competência desse gestor,
bros de equipe e a essência de qualquer equipe de ele simplesmente não consegue atender às ne-
alto desempenho. cessidades e prioridades de cada enfermeiro to-
Como parte da análise qualitativa que acom- das as semanas — como resultado, Fritz e seus
panha toda pesquisa quantitativa, entrevistamos colegas sentem-se sozinhos, como se não fossem
uma senhora que chamaremos de Kyona, ges- vistos nem ouvidos, enquanto enfrentam suas
tora de mídias sociais de empresa de prestação dificuldades diárias.
de serviços, porque os dados revelaram que ela Por outro lado, o departamento de Jordan tem
e os membros de sua equipe estavam altamente mais enfermeiros e assistentes de enfermagem
envolvidos. Ela descreveu um jeito simples de o — 97 —, mas é exatamente isso que aparece no
líder ocupado parar o fluxo do trabalho para mos- organograma. O Centro Médico da Universidade
trar a um integrante da equipe que seus pontos Stanford é pioneiro em promover as checagens
fortes são percebidos e traduzidos em expectati- de atenção contínua entre o membro e o líder
vas contínuas. “Houve uma reunião dessa equi- da equipe, um princípio de trabalho fundamen-
pe. Todos andaram em círculos sem sair do lugar. tal da organização. De acordo com David Jones,
Eu intervim, simplifiquei a questão e a resolvi”, seu CHRO, a instituição não só coloca delibera-
afirmou Kyona. “A líder de minha equipe perce- damente os pacientes no centro das equipes di-
beu a situação. Ela me chamou de Calma no nâmicas que se formam todos os dias (essa é a
Caos — a pragmática que evita se envolver em “abordagem interdisciplinar” no caso de Jordan),
debates — diante da equipe. Agora nas reuniões, como também está promovendo a criação de
sempre que empacamos todos naturalmente se equipes ADP, medidas de envolvimento e uma
viram para mim.” Kyona e a líder da equipe leva- ferramenta de checagem chamada StandOut pa-
ram esse aprendizado além das reuniões, isto é, ra todos os funcionários. Ela permite que mem-
para suas avaliações semanais, durante as quais bros da equipe recebam dos líderes a atenção de
Kyona compartilha suas prioridades, e ela e a lí- que necessitam, quer sua equipe seja visível no
der conversam sobre correções de curso e peque- organograma, quer tenha surgido ontem somen-
nos ajustes de foco. Com o passar do tempo, cada te para atender determinado paciente.
reunião serve como um empurrão para chegar Os dados do Centro Médico de Stanford —
aos resultados certos ou como lembrete de que juntamente com outra pesquisa da Cisco,
os pontos fortes de Kyona são uma das principais Deloitte, ADP, Mission Health e Levi’s — reve-
preocupações de sua líder de equipe. O alto nível lam que estar continuamente atento ao trabalho
de envolvimento sentido pelos membros da equi- de cada membro da equipe é o que poderíamos
pe de Kyona decorre em grande parte da confian- chamar de ritual de ancoragem da liderança da
ça que sua líder de equipe cria dessa forma. equipe. Todas essas organizações instituíram um
2. Projete equipes para cuidar de pessoas. encontro semanal simples entre os líderes e cada
A importância da confiança nos leva, por sua um dos membros da equipe e conseguiram de-
vez, ao que consideramos ser o insight mais im- tectar melhorias no envolvimento graças à fre-
portante do estudo do ADPRI sobre como criar quência dessas checagens.
equipes engajadas. Seus contornos aparecem As checagens abordam duas questões simples
quando analisamos de perto nossos dois enfer- — quais são suas prioridades esta semana e como
meiros no trabalho. posso ajudar? — e servem para garantir que cada
sua integração e otimiza o próprio trabalho noção dominante é que o trabalho remoto não é
conjunto. A Cisco aplicou essa abordagem es- tão produtivo nem tão envolvente quanto o tra-
pecífica, “tamanho único” e em tempo real balho executado no mesmo lugar físico. E se qui-
no aprimoramento de equipes mais de 600 vezes sermos que as pessoas inovem e colaborem umas
nos últimos três anos. A empresa aprendeu que com as outras em equipes de forma eficaz, elas
ajudar cada equipe a entender como ela está atu- precisam esbarrar umas nas outras nos corredo-
ando e encontrar novas abordagens firmemente res e bater papo no cafezinho.
enraizadas nos membros das equipes e no traba- O estudo do ADPRI mostrou um resultado
lho a ser executado é muito mais proveitoso que surpreendentemente diferente: em primeiro lu-
ensinar habilidades abstratas de formação de gar, 23% dos funcionários relatam que trabalham
equipes a uma pessoa de cada vez. O impacto em casa a maior parte do tempo e que se sentem
do programa na Cisco foi tanto que os líderes já mais engajados que os que dão expediente na
solicitaram mais de 400 sessões só para os pró- empresa — 20% versus 15,8%. Além disso, mais
ximos 12 meses. de metade dos funcionários remotos (55%), lon-
ge de se sentir isolados, relatam sentir-se parte
da equipe. E destes, 27% estão completamen-
gArAntimos que todo o tempo que você te engajados no trabalho. Por outro lado, apenas
17% dos integrantes de equipes não remotas que
gAstou AjudAndo os que trAbAlhAm relataram sentir-se parte de sua equipe estão
completamente engajados.
colegAs e sentir-se ApoiAdos pelAs pe, em vez de remoto versus não remoto, chega-
mos à conclusão de que é melhor não obrigar
equipes será recompensAdo. os funcionários a comparecer ao escritório todos
os dias, pois assim é mais fácil mantê-los envol-
vidos. Ademais, garantimos que todo o tem-
4. Coloque a experiência da equipe acima po que você gastou ajudando os que trabalham
do local de trabalho. Duas tendências laborais remotamente a se reunir, conhecer os colegas e
recentes provocaram muita discussão em gran- sentir-se apoiados pelas equipes será recompen-
des empresas no que diz respeito ao envolvimen- sado na forma de funcionários engajados. En-
to: trabalho remoto e trabalho GIG. A ideia é que volvimento não depende de onde se trabalha,
o trabalho remoto reduz o envolvimento e que o mas com quem.
trabalho GIG é solitário e pulverizado. Nos últi- 5. Faça com que todo o trabalho seja co-
mos anos tem havido um movimento sistemáti- mo um trabalho GIG. Com o crescimento da
co para trazer os empregados de volta para o es- economia de trabalhos eventuais (GIG economy)
critório. Desde 2013, quando Marissa Mayer, CEO surgiram preocupações de que os funcionários
da Yahoo, determinou que todos os funcionários GIG estariam socialmente isolados. Mas o estu-
deveriam dar expediente diário na empresa, até do do ADPRI revelou que o trabalho GIG é mais
as mais recentes políticas relativas a trabalho do- envolvente que o trabalho tradicional — 18% dos
miciliar na Aetna e IBM que reduziram salários, empregados somente GIG (tanto trabalho em pe-
e a atual obsessão por locais de trabalho com ar- ríodo integral ou parcial ou trabalho temporá-
quitetura aberta e localização próxima da sede, a rio) estão totalmente engajados, versus 15% dos
em liderar e por seus bons e comprovados ante- frequentes com cada membro e com o grupo to-
cedentes nessa atividade. do sobre onde as pessoas podem aplicar seus
Terceiro, precisamos romper os grilhões do pontos fortes e como usar os oito itens de nossa
organograma. A principal lição da pesquisa é que metodologia para medir o progresso, não com a
o trabalho é realizado nas equipes, sejam elas finalidade de contabilização, mas para iluminar
sobrepostas, dinâmicas, espontâneas ou proje- e corrigir o curso.
tadas, de longa ou de curta duração. O mundo E aqui, finalmente, enxergamos o propósito
real do trabalho é complexo. Precisamos valori- central das equipes: elas são o melhor método
zar hoje e sempre as equipes reais que executam que os seres humanos já conceberam para apro-
o verdadeiro trabalho e fazer novas perguntas: veitar o que cada um tem de único. Sabemos
grandes equipes bem-sucedidas têm os mesmos que o aproveitamento frequente dos pontos
hábitos e ritmos que equipes pequenas bem-su- fortes melhora o desempenho, e sabemos que
cedidas? De quantas formas as equipes come- os pontos fortes variam de pessoa para pessoa.
çam? A melhor forma de compartilhamento de Equipes altamente funcionais são fundamen-
informação entre os membros das equipes va- tais para as organizações altamente funcionais
ria de acordo com o tipo de equipe em que estão porque criam mais oportunidades para cada
inseridos? Alguns caminhos são demonstravel- pessoa aplicar seus pontos fortes, permitindo
mente melhores que outros em termos de impac- que as tarefas a ser executadas sejam divididas
to no envolvimento da equipe? As equipes vir- de acordo com as potencialidades disponíveis.
tuais adotam um ritmo diferente do das equipes As equipes tornam úteis as peculiaridades.
não remotas? Elas são mecanismos para integrar as neces-
Além disso, temos de repensar nossas organi- sidades do indivíduo às da organização. Se dis-
zações como locais onde todos têm uma equipe pusermos de equipes certas, resolveremos inú-
domiciliar, além de uma ou mais equipes GIG? meros problemas. Finalmente, então, para aju-
Ir além e considerar as carreiras não como uma dar nosso pessoal a se envolver completamen-
série de degraus na escada da organização, mas te, precisamos ajudar nossos líderes de equipe a
como acúmulo de experiências obtidas em vá- perceber que eles são nossos orquestradores de
rias equipes dinâmicas? Podemos utilizar nossas peculiaridades, nossos capturadores de origina-
equipes, com sua flexibilidade inerente, para re- lidade — que o trabalho deles é o mais importan-
pensar como estruturamos o “pessoal” — remu- te de nossas empresas, e somente eles podem
neração, promoção, desenvolvimento e suces- realizá-lo.
são? E precisamos mesmo de organogramas?
Para os líderes de equipe, a ênfase tem de hbr reprint R2001A–P para pedidos, página 8
mudar de genérica para específica. Precisamos
ter clareza de que o serviço do líder é ao mesmo
tempo simples e desafiador: criar dia sim, dia
não uma experiência sobre as equipes que per-
mita que cada integrante ofereça o melhor de si,
e então fundir as contribuições numa tarefa que
ninguém consiga executar sozinho. Precisamos
ancorar esse trabalho em ritos e medidas proje-
tados para ajudar a amplificar o que as melhores
equipes fazem: checagens semanais, discussões
M
Matt Perry
anter os funcio- descobertas com base em dados so- envolvidos (Isso não significa que os
nários envolvidos bre todos os aspectos do mundo la- demais sejam maus funcionários ou
é um problema boral, revelam diferenças gritantes estejam fortemente desengajados.
que afeta as em- no engajamento entre países, indús- Mas significa que há muito a melho-
presas do mundo trias e tipos de emprego. rar). No entanto, em alguns países as
todo. A tendência é pensarmos so- Depois de pesquisarem mais de políticas e atitudes mudaram os ru-
mente no envolvimento em nossas 19 mil empregados do mundo to- mos. E alguns fatores focados pelas
próprias organizações. Mas novas do, os pesquisadores descobriram empresas para entender o envolvi-
pesquisas do Instituto de Pesquisas que, em geral, somente 16% dos mento — idade, gênero, local onde
ADP, que produzem e compartilham funcionários estão completamente a pessoa realmente trabalha — não
são assim tão determinantes. Mas
os pesquisadores identificaram um
fator que transcende a todas as cate-
Os EUA têm os empregados mais engajados gorias: se o funcionário participa de
e a China, os menos uma equipe.
Poucos países, como os Emirados
30% Árabes Unidos e a Índia, demons-
Emirados tram alto envolvimento em rela-
Árabes
ção a outros países pesquisados. A
25 Unidos
maioria oscila em torno da marca
Índia dos 15%, enquanto a China e os Paí-
20
Singapura ses Baixos ficam bem para trás.
No entanto, há também boas no-
Arábia França Canadá e
Saudita Austrália Itália e Espanha EUA tícias, dependendo de onde você
15
Egito e Reino Unido Argentina mora e trabalha: dos 13 países pes-
África do Sul Alemanha Brasil
México quisados, tanto em 2018 como em
10
Países Baixos 2015, oito registraram aumento do
envolvimento.
Exceto na Índia e na Espanha, es-
5 China
sas melhorias foram pequenas — 1
ou 2 pontos porcentuais. E na China
0 a queda no envolvimento é significa-
África e Ásia e Europa América América tiva. (Os pesquisadores repetiram a
Oriente Médio Austrália do Norte do Sul pesquisa com uma amostra diferente
para ter certeza de que os resultados
Fonte: Instituto de Pesquisa ADP, 2019 permaneciam estáveis.) Em 2015, o
Primeiro Segundo
emprego emprego
Tradicional Tradicional 25%
Tradicional GIG 21%
GIG Tradicional 19%
Tradicional Tradicional 14%
Tradicional Tradicional 13%
Tradicional GIG 12%
Tradicional GIG 9%
Baixe aqui
o livro
UM BRASIL #8
Apesar de esforços recentes para flexibilizar as relações de tra- A plataforma UM BRASIL acaba de lançar o seu livro #8, fru-
balho e atrair investimentos, o País caiu 15 posições no ranking to da reflexão de especialistas dos setores público e privado
divulgado em outubro de 2019 em comparação ao levantamen- sobre as possíveis soluções para modernizar o País. Em pauta,
to anterior. A piora, segundo o Banco Mundial, se deve ao bai- discussões sobre produtividade, empreendedorismo, refor-
xo número de reformas implementadas em relação às outras mas estruturais, desburocratização, simplificação tributária e
economias analisadas. A pontuação brasileira subiu 0,5 pon- abertura comercial.
to – de 58,6 para 59,1. As cinco economias mais bem colocadas
são Nova Zelândia, Singapura, Hong Kong (China), Dinamarca soluções
e Coreia do Sul. Para reverter esse quadro negativo, o governo federal tra-
O pior desempenho nacional foi no quesito “pagamento de çou o objetivo de colocar o Brasil entre os 50 melhores lu-
impostos”: 184º lugar. “Só vamos melhorar após a aprovação gares no mundo para fazer negócios até 2022. Reconhecida
da Reforma Tributária”, sugere o economista e consultor da por defender a simplificação e a desburocratização para a
Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado atividade empresarial, a FecomercioSP firmou parceria com
de São Paulo (FecomercioSP), André Sacconatto. Segundo ele, a Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Compe-
a complexidade no sistema de arrecadação de impostos trava titividade (Sepec), do Ministério da Economia, a fim de de-
a capacidade do País de gerar um volume maior de negócios. senvolver um trabalho propositivo focado nessa melhoria.
desafios
Nos últimos anos, ações importantes foram empreendidas em
território nacional, por exemplo, a diminuição no tempo de
abertura de empresas (de 80 para 20 dias, em média) garantida
com o lançamento da RedeSim, que atende a metade dos mu-
nicípios brasileiros. Outro avanço foi a simplificação das exi- SOBRE UM BRASIL
gências documentais no comércio internacional, contribuindo Uma realização da FecomercioSP, a plataforma multimídia é
para reduzir pela metade o período gasto para importação. A composta por entrevistas, debates, documentários e publicações
facilitação alcançou ainda a obtenção de crédito e de energia. que abordam soluções para os problemas nacionais em seus mais
Faltam, no entanto, além de desembaraços na engrenagem diferentes aspectos, de forma plural e apartidária. Um ambiente
tributária, melhorias na infraestrutura e na segurança jurídica, de ideias feito por gente do mundo todo que pensa no Brasil.
cujos problemas prejudicam a competitividade. “A infraestrutu-
ra precária afeta a produtividade, porque resulta em desperdí-
cios. Basta lembrarmos, na supersafra agrícola, o que se perdeu UMA RE ALIZ AÇ ÃO WWW.UMBRASIL.COM
por problemas de transporte e armazenamento”, afirma o ex-di-
retor-executivo do Banco Mundial, Otaviano Canuto, em entre-
vista ao UM BRASIL. A segurança jurídica é um ponto sensível.
use O imprOvisO para unir sua equipe
o que uma cientista comportamental aprendeu em dez semanas de aulas de humor
Francesca Gino
A
o longo das duas últi- e põem abaixo as ideias dos outros. dos programas noturnos comuns de
mas décadas, o traba- Consequentemente, os membros jantar e cinema. Para minha surpre-
lho vem sendo rea- das equipes geralmente têm medo, sa, essa escapada semanal ofereceu
lizado majoritaria- ou simplesmente estão desgostosos ferramentas para melhorar a mono-
mente por equipes, ou desestimulados, por isso evitam tonia das equipes que eu estava ana-
e não por indivíduos isolados. As contribuir com ideias. lisando. No humor de improviso as
pesquisas sugerem que as equipes Em minha pesquisa acadêmi- pessoas criam uma cena ou contam
são decisivas para envolver os fun- ca, analisei equipes dos mais diver- uma história, e todos têm a chance
cionários (ver “O poder das equipes sos tipos de uma grande variedade de falar. As contribuições dos mem-
invisíveis”, pág. 14). No entanto, já de organizações em todo o mundo. bros são bem-vindas e valorizadas,
sabemos, graças a anos de pesquisas O grupo que melhor se comunica- e os participantes colaboram e se
em psicologia e gestão, incluindo va — seus integrantes eram proati- apoiam mutuamente enquanto tra-
os estudos pioneiros do psicólogo vos e colaboradores — não estava balham em prol de um objetivo co-
ilusTração Paul garland
J. Richard Hackman, que as equi- num conglomerado de escritórios mum. É importante manter o envol-
pes geralmente não melhoram o en- corporativos. Estava numa aula de vimento de todos: quando discuti-
gajamento ou a produtividade. As improvisação humorística. Eu e mos as ideias e perspectivas uns dos
principais razões: os líderes tendem meu marido nos inscrevemos num outros, aprendemos com eles e com
a dominar a conversa, não escutam curso de dez semanas para escapar nossas decisões de melhorar. Além
disso, quanto mais percebemos que Existem vários jogos de improvi- para começar. A pessoa à sua esquer-
os outros valorizam nossa contribui- so que podem ajudar os atores a se da deve articular a próxima palavra,
ção, maior a chance de partilharmos tornarem melhores ouvintes. Um de- e assim por diante, até completar o
nossas ideias. les, que nossa turma sempre jogava círculo. Dado o título: “Um cão pe-
Os humoristas não estão dispos- chama-se “Resposta da última pala- ludo está sentado num fogão”, co-
tos a compartilhar o centro do palco, vra”. Nesse jogo, você deve respon- meçamos: “um — cão — chamado
então como eles conseguem atingir der ao seu colega usando a última pa- — Quentão — gostava — de — sentar
essa atmosfera tão igualitária? Es lavra que ele disse. Se seu colega dis- — num — fogão — vermelho — e —
tabelecendo regras básicas e utili- se, “tive um sonho na noite passada amarelo...” O jogo nos mostrou que
zando técnicas que deliberadamen- onde um camundongo se tornou o todas as pessoas, independentemen-
te encorajam a colaboração. Os lí- melhor amigo de cinco gatos”, você te de seu status ou título acadêmico,
deres empresariais podem fazer o precisa continuar com uma frase que podem desempenhar um papel na
mesmo adaptando essa abordagem comece com “gatos”. O jogo ensina tomada de decisão em grupo. Nem
em situações corporativas. As três as pessoas a ouvir atentamente, em todos estarão em posição de acres-
técnicas do improviso, a seguir, po- vez de interferir ou silenciosamente centar uma palavra empolgante, mas
dem ser particularmente úteis para articular sua resposta antes que seu sua contribuição para uma história
os líderes interessados em envolver colega tenha acabado de falar. mais longa é importante.
suas equipes. Os líderes podem testar uma ver- O mesmo princípio pode ser
são desse jogo durante as reuniões útil para as equipes, à medida que
de equipes: depois que alguém ter- os membros consideram diferen-
1. FALE MEnOs E EsCutE MAis. minou de falar, o jogador seguinte tes planos ou ideias. Os presentes
Pense na sua última reunião. En- deve começar a responder com a devem dizer o que pensam mes-
quanto outras pessoas estavam fa- última palavra do jogador anterior, mo quando não acreditam que suas
lando, você estava realmente ou- ou pelo menos com a última ideia ideias serão completamente apoia-
vindo, ou estava se preparando para daquele jogador. E os líderes das. Elas podem inspirar outros a
falar? Minha pesquisa sugere que, devem seguir as mesmas regras completar seus pensamentos. Os
com muita frequência, a resposta como qualquer outro participante. líderes podem encorajar a partici-
é a última. Ouvir também implica dar aos pação de todos declarando expli-
Ouvir atentamente o que os ou- outros a oportunidade de falar e não citamente no início da discussão
tros dizem — prestar total atenção tomar conta da conversa. Isso signifi- que não há ideias ruins. Eles tam-
e não falar antes de terminarem — ca que as pessoas precisam transmi- bém podem contribuir compar-
é um princípio fundamental do im- tir seus pensamentos rápida e clara- tilhando, eles mesmos, algumas
proviso. É por isso que sua meta não mente, e não dominar a discussão. ideias pouco amadurecidas.
é planejar o que dirá a seguir, mas Meu marido e eu praticamos essa
responder no momento adequado habilidade num jogo de improviso
ao que diz o seu colega. E isso só é chamado “História de uma palavra”. 2. nÃO AssuMA QuE
possível se você ouve atentamente O objetivo é que cada membro do tEM tOdAs As REsPOstAs.
e está sintonizado com as emoções grupo contribua com uma palavra Como estamos todos presos às pró-
e ritmos que os demais imprimem à por vez para uma história que deve prias ideias, temos dificuldade de
cena. Ter de esperar até que alguém ser coerente, como se um só narra- manter a mente aberta quando ou-
termine de falar ajuda a nos manter dor a estivesse contando num ritmo tros desviam o rumo da conver-
plenamente presentes e absorver o normal. O professor sugere o título sa ou do trabalho da equipe. Eu e
que ele está dizendo. da história e depois escolhe alguém meus colegas descobrimos em nossa
pesquisa que, uma vez decidido um vai terminar. Isso faz parte da beleza neste sentido. Os líderes que se sen-
curso de ação, mudar o rumo é pe- do improviso: você está sempre rea- tiram poderosos dominaram as dis-
noso, mesmo quando as evidências gindo exclusivamente ao que acon- cussões, mas isso levou seu pessoal
apontam que a ideia inicial estava tece no momento. a contribuir menos. Como resulta-
errada. E quanto mais acreditarmos Esse mesmo tipo de abertura po- do, o desempenho dessas equipes
que somos especialistas em deter- de beneficiar o trabalho em equipe. foi pior que o dos grupos cujos líde-
minado assunto, mais difícil será Os líderes devem propô-lo, explicar res não se sentiram poderosos, e os
mudar de opinião. aos funcionários no início das reuni- integrantes dessas equipes também
Numa cena que improvisamos, ões a importância da aceita- se divertiram menos. Em outra pes-
meu colega Eric sentou numa pol- ção e sugerir perguntas iniciadas quisa, descobri que quando recebe-
trona de couro marrom. Suas mãos por “como”, “por quê” e “e se” para mos feedback frustrante, discorda-
estenderam-se como se estivessem demonstrar curiosidade. Como es- mos, evitamos quem o ofereceu — e
segurando um volante. Quando sen- crevi num artigo da HBR, a curio- nosso desempenho sai prejudicado.
tei perto dele, ele disse: sidade pode facilitar a comunica- As diferenças de poder não são
— Bem-vinda à Enterprise. Você ção, reduzir conflitos e estimular o tão óbvias no improviso, mas os ato-
já ouviu falar da nova máquina de envolvimento. res mais talentosos, ou confiáveis,
fazer uniformes? Antes de participarmos das au- podem dominar facilmente a cena.
Todos na sala entenderam que las de improviso, nem eu nem meu No final, não há hierarquia nem ro-
Eric estava representando o papel marido nos achávamos engraçados teiro a seguir. Todos acompanham o
do Capitão Kirk, em Jornada nas Es- no improviso. Muito menos a ponto fluxo. O improviso ameniza o risco
trelas. Eu não, então minha respos- de nos apresentar no Saturday Night de desequilíbrio de poder graças à
ta levou a cena para uma direção Live. Agora sabemos que podemos regra “sim, e...”: mesmo que a pes-
diferente: rir de nós mesmos quando as coisas soa não esteja satisfeita com a di-
— Sim, fiquei desapontada quan- não saem como o esperado. É pre- reção escolhida, ela deve acatar os
do ouvi falar. Depois de nossa últi- ciso prática, mas todo membro de termos propostos e depois acrescen-
ma reunião eu esperava que pudés- equipe pode aprender a se sentir da tar alguma coisa em vez de contradi-
semos focar em outro produto para mesma forma. zer o colega que deu as diretrizes.
lançar nosso negócio. Não nos ocor- Digamos que o primeiro ator nu-
reu que cuecas listradas seriam a ma cena lhe oferece alguma coisa:
próxima grande novidade? 3. PERMitA QuE tOdOs sE — Pegue esta maçã.
Eric recebeu minhas palavras sintAM sEguROs PARA Não diga:
com a mente aberta. Ele entendeu COLABORAR. — Isto não é uma maçã, é uma
rápido que eu não havia entendi- Conversas em grupo seriam mais melancia pequena.
do qual era o rumo que ele quis dar eficientes se fossem movidas pela Esta resposta pode lhe render al-
à cena. Apesar da virada surpreen- curiosidade. Todos nós somos rápi- gumas risadas, mas você arruína a
dente, Eric seguiu em frente, agora dos em julgar as ideias alheias, e is- cena. Uma resposta melhor seria:
dirigindo um carro, e não pilotando so se torna muito intenso em quem — Sim, e vamos envenená-la an-
uma nave espacial. tem certo grau de poder sobre os ou- tes de oferecê-la à rainha.
No improviso o valor está na im- tros. Num estudo, eu e meus colegas A regra do “sim, e ...” exige que
previsibilidade. Você nunca sabe o dividimos os participantes em equi- os atores aceitem todas as “ofertas”,
que seus colegas dirão a seguir, que pes para resolver problemas. Induzi- ou premissas, e façam o colega sen-
reações você pode inspirar, quanto mos alguns líderes a sentir-se pode- tir-se bem porque acrescentaram al-
tempo a cena vai durar ou quando rosos, e aos demais nada dissemos go à cena que ele começou.
P
Peter Cappelli e Liat Eldor
ção universal de “envolvimento” apoiam e quando eles podem tentar As pesquisas atuais formuladas pelos
quando se trata de empregados. fazer coisas novas. Mas mudar esses departamentos de recursos humanos
Outra razão é que, embora o envolvi- fatores — e com isso aumentar o se originam nas pesquisas sobre o
mento guarde alguns vínculos com envolvimento e a motivação — é moral conduzidas pelos militares
o desempenho do funcionário (por extremamente difícil. americanos durante a Primeira
Guerra Mundial. A “pesquisa do mo- na década de 1980 mostrarem que enfatiza a ideia de “vigor”. Os
ral” era um termo abrangente para grau de satisfação não revelava mui- consultores utilizam diferentes de-
avaliações que abrangiam enorme to sobre desempenho profissional. finições de seus concorrentes, o que
variedade de tópicos, mas os milita- Essas descobertas, combinadas contribui para a confusão. A Gallup
res estavam particularmente interes- com um novo campo de pesquisa, Consulting afirma que engajamento
sados na disposição das tropas para fizeram os empresários abraçar a é orgulho, paixão e entusiasmo pelo
lutar. Depois da guerra, muitos espe- ideia de que medir o envolvimento trabalho. Willis Towers Watson o
cialistas que haviam realizado pes- do empregado, e não a satisfação, define como “vontade e capacidade
quisas sobre o moral se transferiram lhes daria uma ideia do nível de de- do funcionário” de contribuir para o
para o setor privado e criaram a Fede- dicação de seu pessoal. O conceito sucesso da empresa. Uma das obras
ração de Pesquisa de Pessoal para de envolvimento surgiu da pesquisa mais citadas da literatura sobre
aplicar as lições da psicologia militar acadêmica de William Kahn, psicó- engajamento fornece a seguinte
aos funcionários. A popularidade logo da Boston University interes- definição: “engajamento, satisfação
dessas pesquisas entre os emprega- sado em examinar quanto dos “eus e entusiasmo do indivíduo pelo
dores aumentou na década de 1930, completos” e energia os funcioná- trabalho”. O problema fica ainda
quando empresas como a Sears rios traziam para o emprego. maior quando o empregador, para
Roebuck as utilizaram para descobrir A ideia avançou com a identifica- saber o grau de empenho de seus
como enfrentar os sindicatos. Isso ção da questão do esgotamento dos funcionários, recorre a pesquisas
explica o foco inicial na satisfação funcionários — as descobertas de que medem, por exemplo, orgulho
dos funcionários de fatores como que seu desempenho era prejudica- pelo emprego ou capacidade de con-
remuneração e supervisão: se as em- do quando eles ficavam psicológica e tribuir, mas não o envolvimento.
presas soubessem que seus funcio- emocionalmente esgotados com sua O segundo grande problema com
nários estavam insatisfeitos, e sou- experiência profissional. Se a falta de as pesquisas sobre envolvimento é
bessem por quê, elas poderiam re- energia era ruim, então o oposto — o que muitos funcionários não as res-
solver os problemas antes que os sin- envolvimento — deveria ser bom, pondem, pois acreditam que suas res-
dicatos tivessem a chance de entrar. propuseram Wilmar Schaufeli, da postas não têm valor algum para os
Na década de 1950, a preocupa- Universidade de Utrecht, e seus cole- gestores. Segundo estudo de 2014,
ção das grandes corporações sobre gas. Várias definições contemporâne- 70% não respondem pesquisas e
a sindicalização diminuía à medida as de envolvimento aproveitaram as aproximadamente 30% as consideram
que as empresas ou sucumbiam aos ideias de comprometimento (Estou inúteis. Evidências circunstanciais
sindicatos ou conseguiam mantê- preocupado com os interesses do indicam que essas percepções não
los longe. Os departamentos de RH empregador?) e de motivação (Estou mudaram desde então. Quando
mantiveram as pesquisas ativas empenhado em promover esses fazemos pesquisas com funcionários,
para inquirir os empregados sobre interesses?) dos funcionários. sinalizamos que nos preocupamos
questões da alçada do RH, como com o que pensam e que usaremos
benefícios, horários de trabalho e suas respostas para alguma finalidade.
satisfação com a remuneração que Os PROBLEMAs dO EnVOLViMEntO Se de fato não nos preocupamos — e
pudessem indicar se eles sairiam à O primeiro problema que as empre- nossos funcionários acham mesmo
procura de novo emprego. A ideia sas muitas vezes enfrentam quando que não nos importamos, até porque
de que funcionários satisfeitos são utilizam medidas de envolvimento não perceberam nenhuma mudança
funcionários produtivos tornou as é que existe uma infinidade de desde a última pesquisa realizada —,
pesquisas ainda mais populares, até definições. A versão europeia, por uma pesquisa a mais servirá apenas
análises mais sofisticadas iniciadas exemplo, associada a Schaufeli, para aumentar-lhes a alienação.
Finalmente, vários funcionários Se você quer descobrir se seus mesmo vale para os não engajados.
se interessam pela ideia de envolvi- funcionários acham que suas Não espere que um novo sistema de
mento porque acreditam que isso políticas de remuneração e benefí- remuneração ou uma iniciativa de
se traduz em algum resultado no cios são justas, pergunte isso direto mudança cultural resultem em altos
desempenho e revela particularmen- a eles. Se está preocupado porque níveis de envolvimento.
te se as pessoas estão empenhadas. determinada pessoa pode querer Segundo, lembre-se de que os re-
Mas o desempenho é influenciado sair da empresa, converse também sultados relativos ao envolvimento
por vários fatores que não são com ela. Se quer saber como os medem as percepções de um grupo
levados em conta pela maioria das funcionários estão desempenhando de funcionários apenas. E embora al-
pesquisas de desempenho — incluin- suas funções, pesquise-os do ponto gumas pesquisas procurem pergun-
do tarefas recebidas que, não raro, de vista deles (ou melhor, pergunte tar diretamente a eles por que se sen-
mudam diariamente, atividades dos aos supervisores: acreditamos que tem desengajados, para eles é difícil
supervisores, o progresso de projetos as avaliações dos supervisores são autodiagnosticar-se. A melhor abor-
ou da própria empresa e assim por melhores indicadores de desempe- dagem é mostrar-lhes que os fatores
diante. Além disso, problemas de nho profissional que os relatos de apontados pela pesquisa são impor-
saúde e questões familiares afetam autoria própria nos quais as pessoas tantes para o envolvimento. Eles que-
o desempenho. E os resultados revelam seus níveis de motivação). rem ter sentido de propósito em seu
podem variar conforme a posição Você pode aprender muito simples- trabalho e saber que seu papel é deci-
da empresa perante a coletividade: mente fazendo perguntas genéricas sivo para o sucesso da organização.
o envolvimento é muito maior em aos funcionários, como “o que você Querem líderes que liderem pelo
organizações com clara missão so- mudaria em seu trabalho e como exemplo, que sejam apoiadores, que
cial, como salvar a vida de crianças, você é gerenciado?”, e mantendo definam objetivos claros e forneçam
do que naquelas sem essa missão, conversas significativas com os feedback regular e relevante. Querem
como bancos de investimentos. supervisores sobre o que impede um ambiente seguro onde possam as-
Considerando todos esses fatores, desempenho melhor. Questões sumir riscos e tentar coisas novas. Eles
não é realista a expectativa de prever desse tipo são mais proveitosas que estão sentindo tudo isso no trabalho?
com precisão o futuro desempenho pesquisas sobre envolvimento. Finalmente, utilize os resultados
profissional dos empregados com ba- Se você estiver verdadeiramente objetivamente. Melhore os aspec-
se em relatos de sua própria autoria interessado na motivação e com- tos que os funcionários relatam
sobre seu estado mental atual. Con- prometimento de seus funcionários que estão faltando. Por toda a sua
sequentemente, os empregadores e decidir realizar pesquisas sobre relevância no RH e nos círculos de
precisam repensar suas estratégias envolvimento, leve em conta as limi- mídia, os resultados de envolvimen-
de pesquisa e certificar-se de que tações deles. Com os resultados em to tratam, em última instância, de
estão utilizando a pesquisa que pode mãos, seja realista. Não espere que o algo extremamente simples, mas
lhes fornecer a melhor informação envolvimento de seus empregados também difícil de ser executado
para atingir suas metas. se situe em algum ponto próximo de com sucesso: gerir bem seus funcio-
100%. Poucas pessoas são completa- nários todos os dias.
mente focadas no trabalho, mesmo
QuE VOCÊ FARiA? quando estão no escritório. Os resul-
Sobre os autores: Peter Cappelli é professor
de gestão na wharton school da university of
Antes de realizar pesquisas sobre tados do envolvimento são razoavel- Pennsylvania e diretor do centro de recursos
seus funcionários, tenha em mente mente estáveis ao longo do tempo: Humanos da mesma faculdade. Ele é autor
de vários livros, como will college pay off?:
o que de fato você quer saber (Este os funcionários altamente engajados a guide to the most important financial
artigo pode ser útil neste processo). tendem a se manter assim, e o decision you’ll ever make.
Dados
criam
vantagem
competitiva…
...mas nem
sempre
44 Harvard Business Review
Janeiro 2020
nificativas graças à economia de escala proporcionada pela
aquisição e estruturação de grandes quantidades de dados,
mas seus modelos de negócio não envolvem coleta e minera-
ção de dados de clientes para aprimorar os serviços.
Reunir informações de clientes e usá-las para criar melho-
EST R AT É G I A res produtos e serviços é uma estratégia milenar, mas o pro-
cesso costumava ser lento, de escopo limitado e difícil de ser
escalado. Para montadoras, empresas de bens de consumo
embalados e muitos outros fabricantes tradicionais, isso im-
plicava processar grandes quantidades de dados de vendas,
fazer pesquisas com clientes e conduzir grupos focais. Mas os
dados de venda geralmente não estavam vinculados a clien-
tes individuais e, como as pesquisas e os grupos focais eram
caros e demorados, apenas os dados de um número relativa-
Muitos
mente pequeno de clientes eram coletados.
Isso mudou drasticamente com o advento da nuvem e
das novas tecnologias que permitem que empresas compre-
endam e processem rapidamente grandes quantidades de
dados. Agora, produtos e serviços conectados à internet co-
letam diretamente informações sobre os clientes, inclusive
dados pessoais, comportamento de pesquisa, opções de con-
executivos e investidores assumem que é possível usar os da- teúdo, comunicações, publicações nas mídias sociais, locali-
dos do cliente para obter vantagem competitiva imbatível. zação do GPS e padrões de uso. Depois que os algoritmos de
Quanto mais clientes você tiver, mais dados poderá coletar, e aprendizado de máquina analisam esse “escapamento digi-
esses dados, quando analisados com ferramentas de apren- tal”, os produtos e serviços da empresa podem ser ajustados
dizado de máquina, permitem oferecer um produto melhor automaticamente para refletir essas descobertas ou mesmo
que atrai mais clientes. Você coletará ainda mais dados e, personalizados para cada indivíduo.
eventualmente, poderá marginalizar concorrentes da mesma Esses avanços tornam o aprendizado baseado em dados
forma que fazem as empresas com grande efeito de rede. Es- muito mais poderoso do que os insights sobre os clientes ob-
sa é a teoria. Mas, na maior parte dos casos, ela está errada, e tidos pelas empresas no passado. No entanto, não garantem
as pessoas superestimam a vantagem conferida pelos dados. barreiras defensáveis.
O aprendizado baseado em dados e o efeito de rede — no
qual um serviço, como uma plataforma de mídia social, se tor-
na mais valioso conforme as pessoas aderem, e exclui os con- A COnstRuÇÃO dE “FOssOs” COM
correntes ao reunir uma massa crítica de usuários — geram ci- APREndiZAgEM HABiLitAdA POR dAdOs
clos virtuosos parecidos. Mas, na prática, o efeito de rede dura Com o objetivo de determinar o grau de sustentabilidade
mais e tende a ser mais eficaz. Para buscar a melhor posição de determinada vantagem competitiva proporcionada pelo
competitiva, você precisa dele e do aprendizado baseado em aprendizado baseado em dados, as empresas devem respon-
dados. No entanto, poucas empresas conseguem desenvolver ete perguntas:
os dois. Mesmo assim, nas condições certas, os dados gerados Quanto valor é adicionado pelos dados do clien-
pelos clientes podem ajudá-lo a criar defesas competitivas, te em relação ao valor do produto ou serviço por
mesmo que os efeitos de rede não estejam presentes. Neste ar- si só? Quanto maior o valor agregado, maior é a pro-
tigo, mostraremos quais são essas condições e explicaremos babilidade de criar vantagem duradoura. Conside-
como avaliar se elas se aplicam à sua empresa. re uma empresa cujos dados do cliente têm valor elevado: a
Mobileye, fornecedora líder de sistemas avançados de assis-
tência ao motorista (ADAS) que alertam quando há risco de
O QuE MudOu? colisão ou quando o veículo sai da faixa. A Mobileye vende
As empresas baseadas em dados existem há muito tempo. Ve- seus sistemas para fabricantes de automóveis que os testam
ja, por exemplo, as agências de crédito e agregadores de infor- exaustivamente antes de incorporá-los a seus produtos. É
mações como Lexis-Nexis, Thomson Reuters e Bloomberg. crucial que os sistemas sejam à prova de falhas, e os dados
Essas empresas são protegidas por barreiras de entrada sig- dos testes são essenciais para aumentar o grau de precisão.
Com os dados de dezenas de clientes, a Mobileye conseguiu de quilômetros percorridos pelos fabricantes de automóveis
aumentar a precisão de seu ADAS para 99,99%. que o testam) e constatou que alguns fabricantes e um nú-
Por outro lado, para os fabricantes de televisores inteligen- mero moderado de testes seriam suficientes para atingir, di-
tes, aprender com os clientes tem valor relativamente baixo. gamos, 90% de precisão — mas fosse necessário um número
Agora, alguns aparelhos incluem software que fornece reco- muito maior de testes com um conjunto maior de fabricantes
mendações personalizadas para programas ou filmes com ba- de automóveis para chegar a 99%, que dirá 99,99%. Interpre-
se nos hábitos de visualização do indivíduo e no que é popular tar isso como uma rápida diminuição no valor marginal dos
entre outros usuários. Por enquanto, os consumidores não li- dados do cliente seria, é claro, incorreto: o valor da melhoria
gam muito para esse recurso (oferecido também por provedo- adicional de 9 pontos percentuais (ou mesmo 0,99 ponto)
res de serviços de streaming como Amazon e Netflix). Em suas na precisão permanece extremamente alto, uma vez que im-
decisões de compra, eles consideram sobretudo o tamanho do plica salvar vidas. Seria difícil para qualquer fabricante de
aparelho, a qualidade da imagem, a facilidade de uso e a dura- automóveis — até mesmo o maior — gerar a quantidade ne-
bilidade. Se o fator aprendizado dos clientes fosse relevante, o cessária de dados por conta própria ou para qualquer poten-
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negócio de TVs inteligentes seria talvez menos competitivo. cial concorrente da Mobileye replicar os dados. É por isso que
a Mobileye conseguiu dominar o mercado de ADAS, tornan-
Com que velocidade diminui o valor marginal do-o uma aquisição altamente atraente para a Intel, que o
do aprendizado baseado em dados? Em outras comprou por US$ 15 bilhões em 2017.
palavras, em quanto tempo a empresa chega a um Quando o valor marginal do aprendizado com os dados
ponto em que dados adicionais de clientes já não do cliente permanece alto, mesmo após a aquisição de uma
aumentam o valor de um produto ou serviço? Quanto mais enorme base de clientes, os produtos e serviços tendem a ter
devagar diminui o valor marginal, mais forte é a barreira. Ob- expressivas vantagens competitivas. É o caso dos sistemas
serve que, ao responder a esta pergunta, você deve avaliar o projetados para prever doenças raras (como os oferecidos pe-
valor do aprendizado pela disposição dos clientes em pagar e lo RDMD) e mecanismos de pesquisa online, como Baidu e
não por alguma outra medida específica do aplicativo, como Google. Embora a Microsoft tivesse investido muitos anos e
a porcentagem de consultas de bots de bate-papo respondi- bilhões de dólares no Bing, não conseguiu abalar o domínio
das corretamente ou a proporção de vezes em que uma reco- da Google em número de buscas. Os mecanismos de pesqui-
mendação de filme foi clicada. sa e os sistemas de previsão de doenças precisam de grandes
Digamos que você tenha representado graficamente a pre- quantidades de dados do usuário para fornecer resultados
cisão do ADAS da Mobileye com base no uso do cliente (total consistentemente confiáveis.
E M R ES U M O
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US$ 4 bilhões em grande parte dos seis anos seguintes.
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da com a Ecobee e com a Honeywell. vertidos em insights que os produtores podem usar para evi-
tar surtos de doenças e melhorar o rendimento. Quanto mais
Qual é a velocidade de depreciação dos dados produtores a Adaviv atende, maior é a variedade de plantas,
do usuário? Se os dados logo se tornam obsoletos, melhores são as condições agrícolas e outros fatores propí-
é mais fácil para um concorrente entrar no merca- cios ao aprendizado e maior é a precisão de suas previsões
do, porque ele não precisará equiparar os anos de para clientes futuros e atuais. Compare essa situação com a
aprendizado aos dados da empresa existente — desde que to- dos fornecedores de filtro de spam, que podem adquirir da-
do o resto seja mantido inalterado. dos do usuário de forma relativamente barata. Isso ajuda a
Todos os dados de fabricantes de automóveis que a Mobileye explicar a existência de dezenas desses provedores.
acumulou ao longo dos anos continuam valiosos nas versões É importante lembrar que o progresso tecnológico pode pre-
atuais de seus produtos. O mesmo acontece com os dados dos judicar uma posição baseada em dados exclusivos ou proprie-
usuários dos mecanismos de pesquisa que a Google coletou ao tários. Um exemplo é o software de reconhecimento de voz.
longo de décadas. Embora, com o tempo, as pesquisas por al- Historicamente, os usuários precisavam treinar o software para
gumas palavras-chave possam se tornar raras à medida que co- identificar vozes e padrões de fala, e quanto mais uma pes-
meçam a aparecer com mais frequência pesquisas por termos soa o usava, mais preciso ele se tornava. Por muitos anos, es-
novos, ter um longo histórico de pesquisas é de valor inestimá- se mercado foi dominado pelas soluções Dragon da Nuance.
vel para atender aos usuários de hoje. A baixa taxa de depre- No entanto, na última década, os sistemas de reconhecimento
ciação de seus dados ajuda a explicar por que o Mobileye e a de voz melhoraram rapidamente e de forma independente do
Pesquisa Google provaram-se altamente resilientes. orador. Esses sistemas podem ser aprimorados com conjuntos
Nos jogos sociais casuais para computadores e dispositi- de dados de voz disponíveis ao público e levar pouco tempo
vos móveis, no entanto, o valor do aprendizado com os da- ou tempo nenhum para aprender a reconhecer a voz de novos
dos do usuário tende a diminuir rapidamente. Em 2009, esse oradores. Esses avanços permitiram que muitas empresas for-
mercado decolou quando a Zynga lançou seu bem-sucedido necessem novos aplicativos de reconhecimento de voz (aten-
jogo FarmVille. Embora a empresa fosse famosa por se apoiar dimento telefônico automatizado, serviços de transcrição au-
fortemente em analytics de dados do usuário para tomar de- tomática de reuniões, assistentes virtuais) e acirrassem a com-
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cisões de design, as informações aprendidas em jogos não petição co a Nuance em seus principais mercados.
eram totalmente transferíveis para o seguinte: jogos sociais
informais estão sujeitos a modismos, e as preferências do usuá- Quão difícil é replicar as melhorias de produtos
rio mudam rapidamente com o tempo, e tudo isso dificulta a baseadas nos dados do cliente? Mesmo quando os
criação de vantagens competitivas sustentáveis baseadas em dados são únicos ou proprietários e produzem infor-
dados. Após mais alguns sucessos, incluindo FarmVille 2 e mações valiosas, é difícil criar uma vantagem com-
CityVille, a Zynga parou de produzir novos hits e, em 2013, petitiva durável se as melhorias resultantes podem ser copia-
perdeu quase metade de sua base de usuários. Foi substituída das por concorrentes desprovidos de dados semelhantes.
por criadores de jogos como Supercell (Clash of Clans) e Epic Alguns fatores afetam a capacidade das empresas de
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e o Doodle, que facilita o processo de agendamento de reuni- crescimento exponencial que os efeitos de rede produzem.
ões — podem ser facilmente copiados. É por isso que dezenas
de empresas oferecem softwares semelhantes. Com que velocidade os insights dos dados de
O segundo fator é a rapidez com que os insights dos dados usuário podem ser incorporados aos produtos?
do cliente são alterados. Quanto mais rápido isso acontece, Ciclos rápidos de aprendizado afastam os concor-
mais difícil é para os outros imitarem. Por exemplo, muitos rentes, especialmente se vários ciclos de melhoria
recursos de design da interface do Google Maps podem ser fa- de produto ocorrerem durante o contrato do cliente médio.
cilmente copiados (e foram, pelo Apple Maps, entre outros). Mas quando leva anos ou gerações sucessivas de produtos
Mas uma parte essencial do valor do Google Maps é sua capa- para implementar melhorias com base nos dados, os concor-
cidade de prever o tráfego e recomendar rotas alternativas, o rentes têm mais chance de, nesse ínterim, inovar e começar
que é muito mais difícil de copiar, porque o aplicativo utiliza a coletar seus próprios dados de usuário. Portanto, a vanta-
dados em tempo real do usuário que se tornam obsoletos em gem competitiva dos dados do cliente é mais forte quando o
questão de minutos. Apenas empresas com bases igualmente aprendizado dos clientes atuais se traduz em aprimoramentos
grandes de usuários (como a Apple nos Estados Unidos) po- mais frequentes do produto para os mesmos clientes do que
deriam replicar esse recurso. O Apple Maps está alcançando o apenas para futuros clientes do produto ou serviço. Vários dos
Google Maps nos Estados Unidos, mas não em países onde a exemplos de produtos que já discutimos — mapas, mecanis-
Apple possui uma base de usuários relativamente pequena. mos de pesquisa e sistemas de gestão de safra baseados em IA
6
— podem ser atualizados com rapidez para ser integrados ao
Dados de um usuário ajudam a melhorar o pro- aprendizado dos clientes atuais.
duto apenas para ele ou também para os de- Um contraexemplo são os credores diretos online, como
mais? Idealmente farão as duas coisas, mas a dife- LendUp e LendingPoint, que aprendem a tomar melhores
rença entre ambas é importante. Quando os dados decisões de empréstimo examinando o histórico de paga-
de um usuário melhoram o produto para ele especificamente, mentos do usuário e relacionando esse histórico com o perfil
a empresa pode personalizá-lo, criando custos de troca. Quan- e com os hábitos dessa pessoa. Neste caso, o único apren-
do os dados de um usuário aprimoram o produto para outros dizado relevante para atuais tomadores de empréstimo é o
usuários, isso pode criar efeitos de rede — o que não será feito dos anteriores, que já se reflete nos contratos e taxas ofe-
necessariamente. Ambos os tipos de aprimoramento ajudam recidos aos tomadores atuais. Para estes, não há motivo de
INOvACãO
FOTÓ G R A FO JOHN CHErVINsKY
Como
derrubar os
bloqueios à
inovação
crie hábitos e rotinas que
levam ao crescimento.
52 Harvard Business Review
Janeiro 2019
Harvard Business Review
Janeiro 2019 53
SOBRE A ARTE
Por 18 anos, John Chervinsky geriu um acelerador de
partículas em Harvard. Sua paixão pela ciência permeava sua
I N OvAçã fotografia, que justapõe desenhos de giz com objetos reais.
E M R ES U M O
de fazer as coisas; concentram-se em entender profunda- você pode combater a inércia e outras bloqueadores com os
mente as necessidades e desejos declarados e não declarados BEANs. Vejamos uma iniciativa que fez exatamente isso.
dos clientes; colaboram em toda a organização, e além dela
fazendo uma ativa polinização cruzada; reconhecem que o
sucesso requer experimentação, iterações rápidas e falhas
Como o DBS derrubou
frequentes; por fim, capacitam as pessoas para que assu- os bloqueios à inovação
mam riscos deliberados, expressem opiniões divergentes e Quando, em 2009, Piyush Gupta assumiu o cargo de CEO do
busquem os recursos necessários. DBS, iniciou múltiplas iniciativas para transformar o que era
Nenhum desses comportamentos surpreende. É intrigan- um banco enfadonho e regulamentado em uma empresa de
te, porém, que eles não sejam mais comuns. Afinal, quando tecnologia ágil — ou, como ele disse, “uma startup de 27 mil
crianças éramos na maioria criativos, curiosos, colaborati- pessoas”. Antes zombado por suas notórias filas como “damn
vos e predispostos a arriscar. Mas, na escola e, mais tarde, bloody slow” (expressão formada pelas iniciais da empresa e
no trabalho, essas qualidades foram suprimidas. Alunos e equivalente a “devagar quase parando”), o DBS agora é con-
funcionários aprendem que há uma maneira correta de fazer siderado um líder digital global em serviços financeiros e, em
as coisas. Que levantar questões e expressar dissidência, 2019, tornou-se o primeiro banco a deter simultaneamente os
mesmo de forma inofensiva, é arriscado. À medida que as títulos de “Banco do Ano” (The Banker) e “Melhor Banco do
pessoas aprendem essas regras, os músculos da inovação Mundo ”(Global Finance e Euromoney).
que foram tonificados na juventude se atrofiam. Isso talvez Mas, em 2016, o DBS ainda estava no meio do processo de
explique por que, geralmente, alunos egressos do jardim de transformação. Quando seus principais líderes se reuniram
infância superam MBAs recém-formados no “desafio do em Singapura para conversar sobre o progresso do banco,
marshmallow”, uma competição que usa espaguete, fita todos concordaram que, apesar de ter avançado, ainda havia
crepe e barbante para construir a estrutura mais alta sobre muito trabalho a ser feito. Nas discussões, identificaram
a qual um marshmallow possa ser colocado. as reuniões disfuncionais como uma grande barreira, que
Pergunte a um gestor o que atrapalha a inovação e ele intensificava a inércia organizacional e impedia a inovação.
mencionará barreiras reais, como falta de tempo (poucos Na mais caridosa das hipótes, a maioria das reuniões no
executivos ou baixa capacidade de investir em novas ideias); DBS poderia ser descrita como ineficiente. Geralmente,
a percepção de que fazer as coisas de forma diferente não elas começavam e terminavam com atraso, consumindo
produz benefícios, apenas custos (e talvez prejuízo); falta de tempo que os líderes poderiam ter gasto em inovação. Às
capacidade de inovação; e falta de infraestrutura para levar vezes decisões eram tomadas, às vezes não. As pessoas iam
as ideias a termo. Mas um dos maiores impedimentos é a às reuniões por obrigação, sem uma noção clara do motivo.
inércia empresarial. Como nos disse um executivo em certa Alguns participantes eram ativos, mas muitos ficavam em
ocasião, as empresas são “organizadas para oferecer resulta- silêncio defensivo. Este último ponto é o mais saliente. As
dos previsíveis e confiáveis — e esse é o problema”. Um dos reuniões, concluíram os líderes, suprimiam diversas vozes e
principais paradoxos que os gestores enfrentam é que, no reforçavam o statu quo.
modelo atual, os sistemas que permitem o sucesso corrobo- Para mudar isso, o DBS introduziu um BEAN que chamou
ram comportamentos incompatíveis com a descoberta de de MOJO. Baseou-se em uma pesquisa da Google que mostra-
modelos para o futuro. va que o equilíbrio entre participação e segurança psicológica
Se você não atacar a inércia, os esforços para eliminar era crítico em equipes de projeto altamente inovadoras e
outras barreiras não funcionarão. Em ambientes sufoca- de alto desempenho. O MOJO promove reuniões eficientes,
dos pela inércia, dê mais tempo às pessoas e elas simples- eficazes, abertas e colaborativas. O MO (meeting owner, ou
mente terão mais tempo para fazer as coisas da forma antiga; o dono da reunião em tradução livre) deve garantir que a
forneça novas habilidades e, caso não se encaixem nas pauta seja clara, que a reunião comece e termine no horário
rotinas existentes, elas serão desperdiçadas. Felizmente, estipulado e que todos participem igualmente. O JO (joyful
a solução BEANs, partimos das ideias desses acadêmicos e Divertidos. Toda atividade social envolvente é intrin-
profissionais, que, consistentemente, descobriram que é secamente gratificante, o que torna as pessoas propensas
fundamental envolver tanto o lado racional e lógico quanto a aderir — o que a ciência da motivação há muito tempo
o lado emocional e intuitivo das pessoas. Usamos também reconhece.
ideias de programas tradicionais, como Alcoólicos Anôni- Rastreáveis. A capacidade de monitorar o desempenho
mos e Vigilantes do Peso, que recorrem a uma combinação e compará-lo com o dos outros é um motivador poderoso.
de mantras, cutucadas e interações sociais para mudar os (É por isso que rastreadores de atividades como o Fitbit
padrões das pessoas, e da ciência da motivação, que descre- ajudaram muitas pessoas a desenvolver melhores hábitos de
ve como o estabelecimento de metas, realizações e com- exercício.) Portanto, é essencial que os BEANs incluam um
paração social e encorajamento incentivam os comporta- mecanismo para medir seus resultados.
mentos desejados. Práticos. Os melhores BEANs são perfeitamente integra-
Em nossa própria pesquisa, coletamos cerca de 130 exem- dos às reuniões e processos existentes e não exigem grandes
plos de intervenções que promoveram melhores hábitos de alterações nem rotinas totalmente novas.
inovação, obtidas com clientes com os quais trabalhamos, ou Recorrentes. As pessoas geralmente precisam de lem-
graças à leitura de estudos de caso do serviço de informações bretes físicos e digitais para continuar adotando os novos
Innovation Leader e de documentos culturais corporativos hábitos.
compilados pela Tettra, startup da região de Boston. Em Consistentes do ponto de vista organizacional. Um
seguida, nós e uma equipe da Innosight analisamos essas dos trabalhos mais citados na literatura sobre mudança é o
intervenções e as testamos em várias empresas. Estabele- clássico de Steven Kerr, de 1995, “On the folly of rewarding
cemos que os BEANs de sucesso normalmente são: A, while hoping for B”. Os BEANs eficazes não incentivam
Simples. Intervenções fáceis de adotar e lembrar produ- as pessoas a fazer uma coisa se a empresa as pune por isso
zem efeitos muito mais rápidos. ou as recompensa por outra coisa.
Você pode perceber como todas essas características se organicamente, criamos um processo de três etapas que
reúnem no MOJO. Outro exemplo de um BEAN bem elabora- as empresas podem usar para desenvolvê-lo. Testamos e
do do DBS é a bolsa de estudos Gandalf, nome do mago aprimoramos o processo por meio de repetidas aplicações
da série Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien. O nome da no DBS e em outras empresas de vários setores.
bolsa faz referência à aspiração do DBS de ser comparado Muitos dos testes foram realizados em um centro de
com os gigantes da tecnologia digital Google, Apple, Netflix, desenvolvimento de tecnologia em Hyderabad, na Índia,
Amazon, LinkedIn. Qualquer funcionário pode ser agraciado criado pelo DBS como parte de sua transformação digital. O
com mil dólares de Singapura (cerca de 740 dólares america- novo centro passou a assumir operações antes terceirizadas,
nos) para gastar em um projeto de sua escolha — um curso, como design e assistência técnica ao cliente em aplicativos
livros, uma conferência — condizente com o objetivo do celulares, e deu à empresa a oportunidade de construir do
DBS de tornar-se uma empresa em constante aprendizado zero uma cultura empreendedora.
e questionamento do statu quo. A única condição é que os O design do escritório do centro imita o que você veria em
vencedores ensinem o que aprenderam aos colegas. qualquer empreendimento tecnológico jovem e fervilhante,
No segundo semestre de 2019, o banco concedeu mais com espaços abertos, mesas de pebolim, lanchonetes e simi-
de cem bolsas de estudo nas áreas de inteligência artificial lares. O processo de recrutamento, emprestado de empresas
e narrativa para gestores. O beneficiário médio ensinava o inovadoras como a Netflix, foi projetado para atrair talentos
que aprendeu para cerca de 300 pessoas. O DBS registrou de destaque. Mas quando a fita foi cortada, logo ficou claro
muitos desses “ensinamentos” e os publicou em um canal que a experiência cotidiana dos funcionários passava longe
online com artigos relacionados e outras informações, desse sentimento de startup. Os engenheiros caíram em
criando artefatos virtuais que foram visualizados mais de rotinas desgastadas, trabalhando metodicamente e evitando
dez mil vezes. O banco estima que cada dólar gasto nas bol- experimentações em ritmo acelerado. Embora a pontuação
sas de estudo tenha impacto positivo em 30 vezes mais fun- de engajamento dos funcionários não fosse terrível, ficava
cionários do que o dólar gasto em treinamento tradicional. muito aquém da aspiração do DBS.
Outro bom exemplo de BEAN vem do Tata Group, o maior Para reverter isso, um grupo de consultores da Innosight
conglomerado da Índia. Todos os anos a empresa realiza um e agentes de mudança do DBS Technology & Operations
evento para homenagear as conquistas de inovação de sua (que chamaremos de equipe de cultura) decidiu desenvolver
ampla gama de unidades de negócios, como chá, consultoria BEANs que eliminariam hábitos indesejados e promoveriam
de TI e automóveis. Um dos prêmios mais cobiçados do novos e melhores.
encontro é o chamado Dare to Try. Nas palavras da empresa, PASSO 1 Especifique as características desejadas.
“Ao colocar em evidência uma cultura de risco e perseverança Primeiro, a equipe fez um resumo das características orga-
nas empresas da Tata, o Dare to Try reconhece e recompensa nizacionais que desejava, e o resultado foi uma cultura ágil,
ideias inovadoras, ousadas e testadas de forma séria, mesmo orientada para o aprendizado, obcecada pelo cliente, experi-
que não tenham alcançado os resultados desejados”. Dare to mental e fundada sobre dados. Em seguida, listou comporta-
Try é um programa consistente que, todo ano, atrai centenas mentos em cada uma delas. Por exemplo, em “experimental”
de interessados. Sua divulgação ajuda a estimular compor- havia afirmações ambiciosas como “testamos novas ideias
tamentos inovadores, como abraçar riscos e tolerar falhas. rapidamente”, “acreditamos na experimentação enxuta”
O prêmio em si — um troféu — e o relato público do evento, e “falhamos muito, falhamos rápido e aprendemos ainda
um documento de alta visibilidade, são artefatos que enfati- mais rápido”.
zam efetivamente a cultura de inovação da Tata. PASSO 2 Identifique os bloqueios. Em seguida, a equipe
funcionários achavam que não conheciam o contexto tura projetou maneiras de eliminar os bloqueadores. Para
suficientemente para fazer seu trabalho — entendimento de fazer as coisas andar, realizou dois workshops de dois dias
como o projeto deles se encaixa na estratégia mais ampla e com líderes seniores, um em Hyderabad e outro em Singapu-
o que era esperado de cada pessoa que trabalhava no projeto ra. Depois de discutir os comportamentos desejados e seus
e do projeto como um todo. Alguns funcionários achavam bloqueadores, os participantes dividiram-se em pequenos
que trazer problemas à tona era tabu, por isso permaneciam grupos para fazer brainstorming estruturado.
em silenciosa frustração. E alguns se sentiam tão sobrecar- Cada grupo recebeu exemplos de BEANs de outras empre-
regados no trabalho cotidiano que não tinham tempo para sas como inspiração (veja o quadro “Os BEANs nos negócios”)
fazer experiências. e, para criar novos, usou um modelo simples que fez o grupo
Observe que a equipe foi muito precisa ao descrever os especificar os comportamentos visados, os hábitos que os
comportamentos que buscava e seus bloqueadores. Isso impediam e os facilitadores e cutucadas que ajudariam os
é crítico; se você não fizer isso ao desenvolver os BEANs, funcionários a eliminá-los. Todos os participantes se reuni-
poderá acabar com bloqueadores falsos ou listas insípidas e ram para revisar os 15 BEANs propostos e votar em alguns
difíceis de resolver. Uma maneira simples de identificar mu- a ser implementados.
danças específicas que você gostaria de ver é reunir grupos Aqui estão três intervenções criadas para lidar com a falta
de funcionários e pedir-lhes que concluam duas frases: “Não de contexto, de voz e de tempo no centro.
seria ótimo se nós ...?” (que mostra os comportamentos), e Falta de contexto. Este bloqueador confirmou a sensação
“Mas não o fazemos porque ...” (o que ajuda a identificar os dos funcionários de que sua prática costumeira era boa o
BEANs ineficazes foram descartados, e os efetivos foram — ou talvez nunca. Essa “innoganda” (do inglês innovation
implementados de maneira ampla e monitorada. Como propaganda) serve apenas como um lembrete doloroso das
resultado do BEAN 70:20:10, por exemplo, as equipes auto- coisas que a liderança não faz. Embora possa gerar uma
matizaram vários processos manuais, diminuindo o tempo explosão de energia a princípio, certamente levará à falta de
das principais tarefas e desenvolvendo outras inovações. confiança no longo prazo.
(A versão inicial de um aplicativo para rastrear e melhorar Sem o apoio certo, mesmo o melhor BEAN pode se trans-
os resultados do MOJO surgiu no tempo de experimentação formar em innoganda. Quando o DBS iniciou sua trajetória,
de um desenvolvedor.) Ao mesmo tempo, os líderes aumen- muitos funcionários, especialmente os líderes, acreditavam
taram o tempo que passavam andando pelos corredores e que a inovação era reservada aos tipos mais criativos e cientí-
modelando as novas formas de trabalhar. ficos. Para combater isso, uma equipe do DBS encarregada
Um ano após o início das intervenções, as pesquisas de incentivar a mudança cultural lançou programas para
mostraram que a pontuação de engajamento dos funcioná- ensinar os funcionários a inovar. Por exemplo, a equipe
rios em Hyderabad aumentou 20% e que o foco no cliente fez parceria com o RH para criar eventos de uma semana
aumentou significativamente. Em 2018, a LinkedIn nomeou nos quais os executivos recebiam três dias de treinamento
o centro de desenvolvimento como um dos 25 principais em conceitos digitais e, em seguida, participavam de uma
locais para trabalhar na Índia e, em 2019, ganhou o prestigio- “Hackathon” de 48 horas, reunindo pessoas de startups reais
so Prêmio Zinnov como “ótimo lugar para inovar”. para criar protótipos de aplicativos que resolvem problemas
reais de negócio. Na tarde final, os protótipos foram apresen-
tados ao CEO.
Da “innoganda” ao impacto Fazer com que os executivos experimentassem a nova
Embora a história do DBS tivesse começado com a incitação mentalidade e os comportamentos que a empresa queria
do CEO à mudança, o trabalho em Hyderabad operou vários promover ajudou a fazer com que os programas implemen-
degraus abaixo. De fato, uma das coisas poderosas dos tados se tornassem práticos, autênticos e consistentes em
BEANs é que eles podem ser eficazes no nível da equipe, termos empresariais. Agora, quando o DBS lança novos
departamento ou unidade de negócio, ou em toda a empresa. BEANs, já não se depara com o desinteresse (ou pior, com
Algumas palavras de cautela antes do nosso conselho resistência ativa), mas com curiosidade pela proposta. Os
de despedida: as empresas que buscam estimular a inova- BEANs foram adotados porque criaram raízes e provaram seu
ção geralmente copiam os artefatos que veem em outras valor de maneiras que beneficiam diretamente os funcioná-
empresas inovadoras. Talvez coloquem uma lanchonete rios e a empresa.
bem abastecida e com cores vivas ou forneçam patinetes. Se mais e mais empresas desmontarem metodicamente
Mas os artefatos rápidos e fáceis adotados às pressas e os bloqueadores da inovação e incentivarem os funcioná-
que não se conectam com os comportamentos do dia a dia rios a experimentar, talvez vejamos, finalmente, diminuir
não funcionam. a diferença entre as metas de inovação dos líderes e a reali-
Um de nós, Scott, observou um exemplo disso quando dade. Lembre-se de que quando as pessoas da sua empresa
visitou um empreendimento socialmente orientado no eram crianças, estavam cheias de curiosidade e criatividade.
Camboja. Ele emprega milhares de artesãos pobres que criam Seu trabalho é trazer de volta à vida esse espírito jovem.
peças de vestuário, esculturas, estátuas e muito mais. Uma hbr reprint R2001C–P para pedidos, página 8
fazenda de bicho-da-seda associada ao empreendimento
convidou os funcionários a colocar em uma caixa azul
seus comentários e ideias “para você, seus colegas e seu sCOTT D. aNTHONY é sócio sênior da Innosight. pauL COBBaN
bem-estar”. Parece inspirador, certo? é diretor de dados e transformação do DBS. raHuL NaIr é
Havia apenas um problema. A fechadura enferrujada da gestor da Innosight. NaTaLIE paINCHauD é diretora de aprendizado
caixa revelava que ela não havia sido aberta recentemente da Innosight.
o
AU TO r ES
Herminia Ibarra
Professora, London
Business School
Anne Scoular
Cofundadora,
líder
Meyler Campbell
como
I LU ST r AçãO
NazarIO GrazIaNO
Houve
Como gestor, você sabia o que precisava ser feito, você ensina-
va os outros a fazê-lo e avaliava o desempenho deles. Coman-
do e controle era a norma, e o objetivo era dirigir e desenvolver
os funcionários que entendiam como a empresa funcionava e
conseguiam reproduzir seus sucessos anteriores.
Hoje já não é assim. Agora a regra é a mudança rápida, cons-
uma
tante e disruptiva, e o que fez sucesso no passado já não serve
de modelo para o que será bem-sucedido no futuro. Os gestores
do século 21 simplesmente não têm (nem podem ter) todas as
respostas. Para lidar com a nova realidade, as empresas estão
se afastando das práticas tradicionais de comando e controle e
adotando um modelo muito diferente, no qual os gestores ofe-
recem apoio e orientação em vez de ordens, e os funcionários
aprendem a se adaptar a um ambiente em constante mudança
época
liberando nova energia, inovação e comprometimento.
Resumidamente, o gestor está assumindo o papel de coach.
É uma mudança radical e fundamental, e a observamos em
primeira mão. Na última década, nós a observamos em nossa
pesquisa em curso sobre como as organizações estão se trans-
formando para enfrentar a era digital. Nós a percebemos do
que nossos alunos executivos e clientes de coaching nos con-
taram sobre as habilidades de liderança que desejam cultivar
em si mesmos e nas suas empresas. E observamos que cada
em que a maioria das pessoas começava vez mais empresas com quem trabalhamos estão investindo
no treinamento de seus líderes como coaches. Cada vez mais,
uma carreira de sucesso desenvolvendo o coaching está se tornando parte integrante do tecido de uma
cultura de aprendizado — uma habilidade que bons gestores
expertise nas áreas técnica, funcional de todos os níveis precisam desenvolver e implantar.
Devemos notar que quando falamos de coaching, nós
ou profissional. ser um bom profissional nos referimos a um processo mais amplo, e não somente aos
esforços de consultores contratados para ajudar os executi-
significava ter as respostas certas. vos a formar suas habilidades pessoais e profissionais. Esse
trabalho é importante e, às vezes, vital, mas é temporário e
se pudesse provar seu valor dessa executado por pessoas externas. O coaching de que estamos
forma, subiria na carreira e acabaria falando — o que cria empresas que valorizam o aprendizado
— está em andamento e é executado por pessoas internas da
entrando na gestão de pessoas — organização. É um trabalho em que todos os gestores devem
se envolver com todos os seus subordinados continuamente,
neste ponto você precisaria garantir para ajudar a definir a cultura da organização e levar sua
missão adiante. O gestor que atua como coach eficiente faz
que seus subordinados tivessem as perguntas em vez de dar respostas, apoia os funcionários em
vez de julgá-los e facilita seu desenvolvimento em vez de
mesmas respostas. dizer o que precisa ser feito.
Este conceito de coaching representa uma evolução. ao coaching — e, se depender deles, provavelmente nunca
Coaching não é mais apenas uma forma benevolente de tentarão. Eles dirão “estou muito ocupado”, ou “essa não é
compartilhar o que você sabe com alguém menos experiente a melhor forma de gastar meu tempo”, ou “as pessoas sob
ou menos sênior, embora este continue a ser um aspecto minha supervisão não estão receptivas ao coaching”. No
valioso. É também uma forma de fazer perguntas que estimu- estudo clássico de Daniel Goleman sobre estilos de liderança,
lem as pessoas a oferecer insights. Como Sir John Whitmore, publicado na Harvard Business Review em 2000, os líderes
líder nessa área, o definiu, coaching qualificado requer classificaram o coaching como seu estilo menos favorito: dis-
“liberar o potencial das pessoas para maximizar o seu próprio seram que simplesmente não tinham tempo para o trabalho
desempenho”. Os melhores profissionais dominam as duas lento e tedioso de ensinar as pessoas e ajudá-las a crescer.
partes do processo — transmitindo conhecimento e ajudando Mesmo que muitos gestores tenham perdido o entusiasmo
os outros a descobri-lo por si mesmos — e, engenhosamente, pelo coaching, a maioria acredita que eles são muito bons nisso.
são capazes de fazer as duas coisas em diferentes situações. Mas muitos não são. Num estudo, 3.761 executivos avaliaram
Uma coisa é aspirar a esse tipo de coaching, outra é suas próprias habilidades de coaching e, em seguida, suas
praticá-lo diariamente em todos os níveis da organização. Na avaliações foram comparadas com as avaliações de pessoas que
maioria das empresas, ainda existe um grande gap entre aspi- trabalhavam com eles. Os resultados não se alinharam bem. Um
ração e prática — e nós escrevemos este artigo para ajudar os quarto dos executivos superestimou significativamente suas
leitores a superá-lo. Focamos inicialmente em como desen- capacidades, classificando-se acima da média, enquanto seus
volver coaching como uma capacidade de gestão individual, e colegas os classificaram no terço inferior do grupo. Isso mostra
depois em como torná-lo uma competência organizacional. discrepância. “Se você acredita que é um bom coach, mas na
verdade não é”, escreveram os autores do estudo, “os resulta-
dos indicam que você pode ser bem pior do que imaginava.”
Você não é tão bom quanto pensa Ser bom coach pode ser difícil até para os gestores mais
Para os líderes acostumados a enfrentar problemas de competentes e mais bem-intencionados. Uma de nós (Hermi-
desempenho dizendo às pessoas o que fazer, uma abordagem nia) dá aulas para executivos que deixam isso mais claro ano
como coaching muitas vezes pode parecer muito “branda”. após ano. Eles recebem um estudo de caso e são solicitados
Além disso, pode torná-los psicologicamente desconfor- a desempenhar o papel do gestor que precisa decidir se deve
táveis, porque os priva de sua ferramenta de gestão mais despedir ou oferecer coaching a um subordinado cujo desem-
familiar: afirmação de sua autoridade. Por isso eles resistem penho deixa a desejar. O funcionário cometeu erros claros
E M R ES U M O
de ajuda fazendo uma única pergunta, como “o que você já explicitar claramente o valor dessa para que ela tenha sucesso.
pensou?” ou “o que é realmente importante aqui?”. Quanto Um bom “por quê?” inevitavelmente conecta o coaching às
mais dessas interações houver — quando você percebe que tarefas críticas da missão da organização. Considere o exem-
seus gestores se tornam cada vez mais inquisidores, fazendo plo do escritório de advocacia internacional Allen & Overy.
boas perguntas, e partindo da premissa que eles não têm todas Quando David Morley, sócio sênior na época, decidiu fazer
as respostas — você saberá que está no caminho certo. do coaching uma parte importante da cultura de liderança da
empresa, ele começou a falar com os colegas da importância
dessas conversas. Morley é aluno de uma de nossas treinado-
Coaching como uma ras de coaching de liderança (Anne). Como ele nos revelou,
“minha proposta era: como líder sênior, você tem aproxima-
competência organizacional damente cem conversas particularmente relevantes por ano,
Até agora, abordamos o coaching como habilidade geren- pois elas mudam sua vida ou a vida da pessoa com quem você
cial. É o primeiro passo, mas para que sua empresa seja um conversa. Queremos ajudá-los a adquirir as habilidades para
organismo que notoriamente dá valor ao aprendizado, não maximizar valor nessas cem conversas, e assim desbloquear
basta ensinar líderes e gestores a oferecer bom coaching. Você problemas anteriormente guardados e descobrir novas opções
precisa tornar o coaching uma competência organizacional e revelar novos insights. Isso ressoou. Quase todos em posição
que se ajuste perfeitamente à cultura de sua empresa. E de liderança na empresa reconheceram que tinham proble-
para ter sucesso na empreitada, é necessário promover uma mas para articular a maioria dessas conversas, e perceberam
transformação cultural com os seguintes passos: imediatamente que lhes faltavam habilidades”.
Articule o “por quê?”. Gestores são pessoas ocupadas. Se Perguntar “por quê?” ajuda as pessoas a enxergar be-
para eles coaching é simplesmente a novidade imposta pelo nefícios colaterais do coaching. Isso deu certo na Berkeley
RH, eles vão revirar os olhos e cumprir somente as exigências Partnership, empresa internacional de consultoria cujos
mínimas necessárias. Se a empresa quiser que eles adotem sócios que receberam nosso treinamento de coaching nos
o coaching não apenas como uma habilidade pessoal, mas disseram que ele aumentou significativamente sua capa-
também como uma fonte de fortalecimento cultural, é preciso cidade de atender os clientes. De acordo com Mark Fearn,
GESTÃO PESSOAL
coMo coNstrUir
UMa carrEira Ética
Uma abordagem em m U I T O S D E N ó S N O S V E m O S como boas pessoas. Planejamos
ser éticos e temos esperança de que em momentos cruciais isso
três etapas para lidar será reconhecido. Mas quando se trata de construir uma carreira
ética, boas intenções não bastam. Décadas de pesquisas identifi-
caram processos sociais e psicológicos, bem como preconceitos
com situações que que obscurecem o julgamento moral das pessoas, levando-as a
quebrar seus próprios valores e, com frequência, criar justificati-
desafiam seus preceitos vas distorcidas e post hoc para seu comportamento. Então, de que
maneira você pode garantir que dia após dia e década após década
morais no trabalho
você fará a coisa certa em sua vida profissional?
O primeiro passo é passar a adotar a mentalidade que deno-
minamos humildade moral — o reconhecimento de que todos
nós temos a capacidade de cometer uma transgressão caso não
Maryam Kouchaki e Isaac H. Smith estejamos atentos. A humildade moral força as pessoas a admitir
FOCO
Funcionários engajados
Menos de 20% dos empregados no mundo têm a
sensação de propósito no trabalho. o número não
mudou em mais de 30 anos. por quê? | página 13
dados criam vantagem como derrubar os o líder como coach como construir
competitiva bloqueios à inovação Herminia
página 64
Ibarra e Anne Scoular
uma carreira ética
Andrei Hagiu e Julian Wright Scott D. Anthony, Rahul Nair, Maryam Kouchaki e
página 44 Natalie Painchaud e Paul Diante da rápida mudança disrupti- Isaac H. Smith | página 76
Cobban | página 52 va, as empresas estão percebendo
Muitos executivos e investidores que os gestores não podem esperar Muitos de nós nos vemos como
assumem que é possível usar os Para estimular a inovação, as em- ter todas as respostas e que a lide- boas pessoas. Planejamos ser
dados do cliente para obter vanta- presas gastaram bilhões em capital rança de comando e controle não é éticos e temos esperança de que
gem competitiva imbatível. Quanto de risco interno, incubadoras e mais viável. Como resultado, várias em momentos cruciais isso será re-
mais clientes você tiver, mais da- aceleradores. No entanto, várias empresas estão mudando para conhecido. Mas quando se trata de
dos poderá coletar, e esses dados, pesquisas indicam que esses um modelo de coaching, no qual construir uma carreira ética, boas
quando analisados com ferramen- esforços nãos estão produzindo o os gestores facilitam a solução do intenções não bastam. Décadas de
tas de aprendizado de máquina, efeito desejado. Por quê? Porque as problema e encorajam o desenvol- pesquisas identificaram processos
permitem oferecer um produto me- empresas não conseguem remover vimento dos funcionários fazendo sociais e psicológicos, bem como
lhor que atrai mais clientes. você um grande obstáculo: os hábitos perguntas e oferecendo apoio e preconceitos que obscurecem o
coletará ainda mais dados e, even- e rotinas diários que normalmente orientação em vez de dar ordens e julgamento moral das pessoas,
tualmente, poderá marginalizar sufocam a inovação. Isso inclui fazer julgamentos. levando-as a quebrar seus próprios
concorrentes da mesma forma que reuniões mal conduzidas, abrir mão Os autores explicam os méritos valores e, com frequência, criar
fazem as empresas com grande da competência, oferecer poucas dos diferentes tipos de coaching justificativas distorcidas e post
efeito de rede. Essa é a teoria. Mas, oportunidades de se manifestar e — diretivo, não diretivo e situacio- hoc para seu comportamento.
na maior parte dos casos, ela está a noção de que fazer isso de forma nal — e observam que, às vezes, Então, de que maneira você pode
errada, e as pessoas superestimam diferente é ineficiente e oneroso. nenhum coaching é necessário. garantir que dia após dia e década
a vantagem conferida pelos dados. Felizmente, é possível des- Eles descrevem como os gestores após década você fará a coisa
O aprendizado baseado em da- trinchar esse problema, usando podem utilizar quatro passos do certa em sua vida profissional?
dos e o efeito de rede — no qual um uma combinação de facilitadores modelo GROW para se tornar O primeiro passo é passar a
serviço, como uma plataforma de comportamentais, artefatos e mais hábeis em ouvir, questionar adotar a mentalidade que deno-
mídia social, se torna mais valioso empurrões que inibem os bloquea- e obter insights das pessoas que minamos humildade moral — o
conforme as pessoas aderem, e ex- dores da inovação. Os facilitadores supervisionam. O artigo conclui reconhecimento de que todos
clui os concorrentes ao reunir uma do comportamento são ferramentas com recomendações para tornar nós temos a capacidade de co-
massa crítica de usuários — geram ou processos que permitem que o coaching uma competência meter uma transgressão caso não
ciclos virtuosos parecidos. Mas, na as pessoas façam alguma coisa de organizacional — efetuando uma estejamos atentos. A humildade
prática, o efeito de rede dura mais forma diferente com mais facilidade transformação cultural, explicando moral força as pessoas a admitir
e tende a ser mais eficaz. Para bus- No artigo, os autores descrevem por que o coaching é valioso para que tentações, racionalizações e
car a melhor posição competitiva, uma variedade de combinações as empresas e para as pessoas, situações podem fazer com que
você precisa dele e do aprendiza- que o banco DBS, Tata Group e garantindo que os líderes o adotem até os melhores seres humanos se
do baseado em dados. No entanto, outras empresas conceberam e o adaptem, criando habilidades comportem de modo nefasto; além
poucas empresas conseguem de- para liberar a inovação. Eles de coaching em todos os níveis hie- disso, encoraja-as a pensar a ética
senvolver os dois. Mesmo assim, também explicam como qualquer rárquicos e removendo as barreiras não apenas como uma forma de
nas condições certas, os dados ge- organização pode criar sua própria que dificultam a mudança. evitar o ruim, mas como encontrar
rados pelos clientes podem ajudá- combinação identificando os com- HBR Reprint R2001D–P o bom. A humildade moral faz com
lo a criar defesas competitivas, portamentos criativos que deseja, que as pessoas vejam esse tipo
mesmo que os efeitos de rede não examinando o que está obstruindo de desenvolvimento de caráter
estejam presentes. Neste artigo, o caminho e então concentrar o como algo a buscar ao longo de
mostramos quais são essas condi- pensamento em formas de eliminar toda a vida.
ções e explicamos como avaliar se esses maus hábitos. HBR Reprint R2001E–P
elas se aplicam à sua empresa. HBR Reprint R2001C–P
HBR Reprint R2001B–P
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