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PALAVRAS 12

Teste de avaliação – 12.º ano março 2020

Educação Literária

Grupo I (105 pontos)

Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.

A (60 pontos)
Lê atentamente o seguinte texto.

Sempre é uma companhia


António Barrasquinho, o Batola, é um tipo bem achado. Não faz nada, levanta-se
quando calha, e ainda vem dormindo lá dos fundos da casa. 
É a mulher quem abre a venda e avia aquela meia dúzia de fregueses de todas as
manhãzinhas. Feito isto, volta à lida da casa. Muito alta, grave, um rosto ossudo e um
5 sossego de maneiras que se vê logo que é ela quem ali põe e dispõe. 
Pois quando entra para os fundos da casa, vem saindo o Batola com a cara redonda
amarfanhada num bocejo. Que pessoas tão diferentes! Ele quase lhe não chega ao ombro,
atarracado, as pernas arqueadas. De chapeirão caído para a nuca, lenço vermelho amarrado
ao pescoço, vem tropeçando nos caixotes até que lá consegue encostar-se ao umbral da
10 porta. Fica assim um pedaço, a oscilar o corpo, enquanto vai passando as mãos pela cara,
como que para afastar os restos do sono. Os olhos, semicerrados, abrem-se-lhe um pouco
mais para os campos. Mas fecha-os logo, diante daquela monotonia desolada. (…)
E os dias passam agora rápidos para António Barrasquinho, o Batola. Até começou a
levantar-se cedo e a aviar os fregueses de todas as manhãzinhas. Assim, pode continuar as
15 conversas da véspera. Que o Batola é, de todos, o que mais vaticínios faz sobre as coisas
da guerra. Muito antes do meio-dia já ele começa a consultar o velho relógio, preso por um
fio de ouro ao colete. (…)
E os dias custaram tão pouco a passar que o fim do mês caiu de surpresa em cima da
aldeia da Alcaria. Era já no dia seguinte que a telefonia deixaria de ouvir-se. Iam todos, de
20 novo, recuar para muito longe, lá para o fim do mundo, onde sempre tinham vivido.
Foi a primeira noite em que os homens saíram da venda mudos e taciturnos. Fora
esperava-os o negrume fechado. E eles voltavam para a escuridão, iam ser, outra vez, o
rebanho que se levanta com o dia, lavra, cava a terra, ceifa e recolhe vergado pelo cansaço
e pela noite. Mais nada que o abandono e a solidão. A esperança de melhor vida para
25 todos, que a voz poderosa do homem desconhecido levava até à aldeia, apagava-se nessa
noite para não mais se ouvir. (…)
– António – murmura ela, adiantando-se até ao meio da venda. – Eu queria pedir-te uma
coisa…
Suspenso, o homem aguarda. Então, ela desabafa, inclinando o rosto ossudo, onde os
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olhos negros brilham com uma quase expressão de ternura: 
– Olha… Se tu quisesses, a gente ficava com o aparelho. Sempre é uma companhia
neste deserto.

Manuel da Fonseca, O Fogo e as Cinzas, Lisboa: Caminho, 1998, pp. 145-158.

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1. Demonstra, exemplificando, a evolução psicológica da personagem Batola ao longo


do excerto.
2. Explicita o valor da telefonia para os habitantes da aldeia da Alcaria. Fundamenta a
resposta com transcrições pertinentes.
3. Infere, a partir do texto, o retrato sociocultural do Alentejo, na primeira metade do
século XX.
4. Identifica o recurso expressivo presente em “iam ser, outra vez, o rebanho” (l. 22) e
comenta o seu valor.

B (15 pontos)

5. A reflexão sobre a vida pessoal é um dos temas que atravessa a literatura


portuguesa.

Escreve uma exposição (130-170 palavras) na qual demonstres a forma como


este tema é abordado por Luís de Camões nas Rimas.
A tua exposição deve incluir:
 uma introdução ao tema;
 um desenvolvimento no qual explicites a forma como é desenvolvido o
tema, fundamentando as características apresentadas em, pelo menos um
exemplo significativo;
 uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

Grupo II (55 pontos)


Leitura | Gramática

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.


Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a
opção escolhida.

Arouca sustentável
No final do mês de maio, com um grupo de amigos da adolescência, fui visitar os
cada vez mais famosos Passadiços do Paiva, situados no concelho de Arouca. É uma
experiência libertadora que recomendo aos leitores. Os Passadiços foram inaugurados
no início do verão de 2015, tendo conhecido um imediato sucesso, apenas
5 interrompido por um grande incêndio florestal, em setembro passado, que devorou um
troço de 600 m, num percurso total de 8,7 km. Já em fevereiro deste ano, os Passadiços
reabriram, com novas medidas de gestão que melhoraram um projeto já de si notável.
Com efeito, enquanto nos primeiros meses era impossível limitar o acesso, o que
colocava questões de capacidade de carga e de segurança, agora os visitantes têm de
1 adquirir previamente, através do sítio www.passadicodopaiva.pt, uma entrada ao custo
0 simbólico de um euro. Para além de uma fonte de receita, este bilhete permite controlar
o número de visitantes que não deve ultrapassar os 3500 por dia. (…)
O mais relevante, contudo, será exaltar o significado político e ambiental dos

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Passadiços do Paiva; trata-se de uma peça visível, integrada numa mais ampla e bem
estruturada estratégia de desenvolvimento sustentável, liderada pela autarquia, em
1 articulação com a sociedade civil, e em particular com o envolvimento do tecido
5 empresarial da zona. O nosso grupo ficou alojado numa agradável estrutura de turismo
de habitação, a quinta de Anterronde, mesmo nos arredores de Arouca. O jovem casal
de proprietários, ao pequeno-almoço, explicou-nos como a economia, incluindo a
criação de postos de trabalho, e a defesa do ambiente se articulavam de modo racional
e planeado.
2 Os Passadiços devem ser integrados, como já referi, numa visão mais ampla, que
0 envolve o Geoparque, destinado a preservar e a valorizar a riqueza geológica da região.
Viriato Soromenho-Marques, Jornal de Letras Artes e Ideias, 22 de junho a 5 de julho de
2016, p. 29.
1. O autor do texto
A. relata uma viagem e avalia criticamente uma iniciativa autárquica.
B. descreve uma viagem realizada com a família a Arouca.
C. denuncia a falta de proteção da floresta face aos incêndios.
D. persuade os leitores a serem mais ecológicos.
2. As expressões “Com efeito” (l.8) e “Para além de” (l.11) contribuem para a coesão
A. gramatical referencial.
B. gramatical interfrásica.
C. gramatical frásica.
D. lexical.
3. A palavra “contudo” (l.13) estabelece no texto uma relação de
A. causalidade.
B. finalidade.
C. oposição.
D. consequência.
4. Na opinião do autor, os Passadiços do Paiva
A. são uma das sete maravilhas de Portugal destruída pelos incêndios.
B. são uma forma insustentável de desenvolvimento do país.
C. devem integrar um projeto mais alargado de desenvolvimento sustentável da região.
D. constituem uma forma de turismo de habitação sustentável.
5. Na oração “enquanto nos primeiros meses era impossível limitar o acesso” (l.8), as
expressões sublinhadas desempenham, respetivamente, funções sintáticas de
A. modificador, predicativo do sujeito e sujeito.
B. complemento oblíquo, sujeito e complemento direto.
C. modificador, predicativo do complemento direto e complemento direto.
D. modificador, sujeito e predicativo do sujeito.
6. Identifica o referente do pronome presente em “que envolve o Geoparque” (ll.22-
23).
7. Indica a função sintática do pronome relativo presente em “que não deve ultrapassar
os 3500 por dia” (l.12).
8. Divide e classifica as orações presentes em “Já em fevereiro deste ano, os
Passadiços reabriram, com novas medidas de gestão que melhoraram um projeto
já de si notável” (ll.6-7).

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Grupo III (40 pontos)


Escrita
Rodrigo Cortés, cineasta e escritor espanhol, referiu no jornal ABC: “Por algum
motivo preocupamo-nos mais em mudar o mundo do que em mudar-nos a nós mesmos”.
Redige um texto de opinião bem estruturado (200 a 350 palavras), em que defendas o
teu ponto de vista sobre a necessidade de diálogo na construção de um mundo mais justo
para todos.
Para fundamentares o teu ponto de vista, recorre a dois argumentos, ilustrando cada
um deles com um exemplo significativo.

Bom trabalho!

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