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Resumo
Neste trabalho estamos interessados em apresentar algumas reflexões sobre o ensino e a
aprendizagem de Cálculo Diferencial e Integral. O trabalho visa encaminhar uma reflexão sobre a
idéia de que há alguns aspectos, cuja incorporação às aulas, pode trazer contribuições importantes para
a aprendizagem dos alunos. Argumentamos que, de modo geral, um fator importante é trabalhar com
problematizações e, desenvolver no âmbito da sala de aula, atividades que incitem os alunos a
mobilizarem o seu conhecimento. Neste encaminhamento abordamos a modelagem matemática como
alternativa de ensino e aprendizagem para as aulas de Cálculo. Analisamos algumas situações nas
quais atividades de modelagem foram desenvolvidas. O que se pode concluir é que, por um lado,
pensar nas atividades das aulas de Cálculo como algo que envolve “idéias” e “tem sentido” para os
alunos parece ser fator importante para a aprendizagem e deste modo, pode contribuir para amenizar
os problemas que se percebem em relação ao ensino e à aprendizagem nesta disciplina. Por outro lado,
a atribuição de sentido e o desenvolvimento de idéias podem se dar a partir de problematizações
introduzidas nas aulas.
Palavras-chave: Ensino de Cálculo, Modelagem Matemática, Educação Matemática
Abstract
In this work we presented some reflections on the teaching and the learning of Calculus. The
work directs a reflection on the idea that there are some aspects, whose incorporation to the
classes, can bring contributions for the students' learning. We argued that, in general, an
important factor is to work with problem-solving strategies, developing in the extent of the
classroom, activities that incite the students to mobilize his/her knowledge. In this direction
we approached the mathematical modelling as alternative and we analyzed some situations
involving modelling activities. We ended that, on one side, to think in the activities of the
classes of Calculation as something that involves "ideas" and "has sense" for the students
seems to be important factor for the learning and this way, it can contribute to soften the
problems that are noticed in relation to the teaching and to the learning in this discipline. On
the other hand, the sense attribution and the development of ideas can feel starting from
problem-solving strategies that are introduced in the classes.
1- Introdução
Vivemos num período em que as pesquisas com relação ao ensino e à aprendizagem da
Matemática nos diferentes níveis de ensino têm demonstrado avanços significativos. Por outro
lado, as transformações observadas na sociedade requerem adequações com relação às
práticas de professores e às mudanças curriculares. No que diz respeito ao ensino superior, as
diretrizes curriculares para os cursos de graduação sugerem modificações que nem sempre são
1
Professora Associada do Departamento de Matemática da Universidade Estadual de Londrina.
E-mail: lourdes@uel.br
2
Professora Associada do Departamento de Matemática da Universidade Estadual de Londrina.
E-mail: lucifatori@uel.br
3
Professora Adjunta do Departamento de Matemática da Universidade Estadual de Londrina.
E-mail: lucianagastaldi@sercomtel.com.br
fáceis de implementar e que representam desafios ou causam inquietações para professores e
alunos.
Neste trabalho estamos interessados em apresentar algumas reflexões sobre o ensino de
Cálculo em cursos superiores. Embora a problemática no âmbito do ensino de Cálculo seja
amplamente discutida, as soluções ou recomendações estão longe de serem consensuais.
Por um lado, as pesquisas se debruçam sobre questões relativas ao Ensino Fundamental e
Médio, levando em conta a idéia de que “os alunos estão ingressando na universidade cada
vez mais despreparados” (Malta, 2004). Por outro lado, outras investigações partem do
princípio de que as dificuldades em relação ao ensino e a aprendizagem devem ser
enfrentadas e corrigidas no ensino superior.
Neste contexto, são inúmeras as propostas de melhoria para o ensino de Cálculo.
Nosso trabalho se encaminha no sentido de considerar que há alguns aspectos, cuja
incorporação às aulas, pode trazer contribuições importantes para a aprendizagem dos alunos.
Deste modo, a partir de alguns pressupostos teóricos, argumentamos que, de modo geral, um
fator importante é trabalhar com problematizações e, desenvolver no âmbito da sala de aula,
atividades que incitem os alunos a mobilizarem o seu conhecimento. Aliados a estas
problematizações, que devem constituir espaços para a descoberta, experimentação e
argumentação, ponderamos que as aulas de Cálculo devem favorecer também a compreensão
dos conceitos, a relação com a realidade, o uso de computadores e os trabalhos em equipe.
Levando em consideração estes aspectos, entendemos que uma alternativa de ensino e
aprendizagem para o Cálculo que pode vir a contemplá-los durante as aulas é a Modelagem
Matemática. Descrevemos então atividades de modelagem matemática desenvolvidas com
alunos de dois cursos diferentes e analisamos como estes aspectos se evidenciaram durante o
desenvolvimento das atividades.
4
Denominação considerada para disciplinas de conteúdo matemático ministradas por professores do
departamento de matemática em cursos para não matemáticos.
alunos. De modo geral, cada capítulo é iniciado com definições seguidas de teoremas ou
propriedades, depois são apresentados alguns exemplos de exercícios que utilizam estas
definições e só ao final do capítulo são apresentadas algumas aplicações relacionadas ao
assunto. Deste modo, o aluno, além de já receber os problemas prontos, ao resolvê-los já sabe,
de antemão, a que conceitos deve recorrer.
De forma geral, nas aulas de Cálculo os conteúdos são apresentados aos alunos como
um saber já construído, sem lugar para a intuição, experimentação ou descoberta e perante o
qual não é possível a argumentação. Os conceitos são apresentados aos alunos, na maioria das
vezes, já formalizados, não decorrentes das suas ações e da reflexão sobre eles, dando-se
quase nenhum tempo aos alunos para sentirem a formalização como algo natural e necessário
à comunicação de processos e resultados.
O encaminhamento do nosso trabalho se dá no sentido de, à luz de um quadro teórico,
levantar alguns aspectos que consideramos relevantes para amenizar os problemas relativos ao
insucesso dos alunos nas aulas de Cálculo, levando a uma reflexão sobre esta problemática.
d
onde, representa a função maior inteiro definida por: x {maior inteiro n tal que n x}
0.125
Para os dados da Bandeira 2, usando os mesmos procedimentos encontraram:
d
P2 ( d ) 3.6 0.20 (2)
0.10526
Uma vez realizados os estudos para os dois tipos de cobrança, as alunas fizeram uma
análise comparativa das situações, usando representação gráfica conforme aparece na figura 1.
Observando o gráfico, conjecturaram dois fatos: a) Como o gráfico de P2 está sempre
acima ou é igual ao gráfico de P1, o preço a ser pago na bandeira 2 é sempre maior ou igual ao
preço a ser pago na bandeira 1, para mesmas distâncias, o que confere com a situação
observada na prática; b) Quanto maior a corrida, maior a diferença de preços entre as duas
Bandeiras.
y c xk (4)
onde c>0 é uma constante de integração e k>0 e representa a função-potência que descreve a
relação entre o peso x e a área útil de couro y, cujos parâmetros c e k precisam ser
determinados.
Tabela 3- Medidas das tilápias Figura 2: Aproximação por triângulos
Levando em consideração que o pesqueiro vende 2.5 toneladas de peixe por mês, que
o peso médio de cada peixe é de 500 gramas, que o preço é R$6,00 por m2 de couro, que cada
peixe fornece, aproximadamente, 0.023m2 de couro, os alunos concluíram que o pesqueiro
poderia ganhar R$8280,00 ao ano não desperdiçando o couro da tilápia.
Ao manusearem o livro Bassanezi (2002), os alunos se depararam com as relações
entre superfície (área) e peso já estabelecidas na literatura: Resolveram então o problema
usando relações e conceitos já estabelecidos na literatura e obtiveram resultados muito
próximos daqueles que o desenvolvimento original lhes havia oportunizado.
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