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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

CURSO DE GRADUAÇÃO SUPERIOR


TECNOLOGIA EM SEGURANÇA PÚBLICA

JURANDIR JOSÉ DOS SANTOS

O POLICIAMENTO ESCOLAR E O SEU IMPACTO


NO AMBIENTE DE ENSINO, PERCEPÇÕES E PRÁTICAS: UM ESTUDO
DE CASO EM BELFORD ROXO - RJ

NOVA IGUAÇU – RJ
2018

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JURANDIR JOSÉ DOS SANTOS

O POLICIAMENTO ESCOLAR E O SEU IMPACTO


NO AMBIENTE DE ENSINO, PERCEPÇÕES E PRÁTICAS: UM ESTUDO
DE CASO EM BELFORD ROXO - RJ

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como


requisito para aprovação no Curso de Graduação
Superior em Tecnologia em Segurança Pública, sob
orientação do Prof.º <NOME DO PROFESSOR
ORIENTADOR>

NOVA IGUAÇU – RJ
2018

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela oportunidade dos sabores e dissabores, necessários ao meu


crescimento e evolução. A família e amigos, nem sempre próximos, mas sempre comigo. Aos
orientadores, em especial aos professores da modalidade de educação à distância que sempre
em vídeo-aulas estão a nos encorajar, nos apresentar possibilidades, nos dando ferramentas...
Eu gostaria de agradecer a cada um de vocês pela oportunidade, acolhida e aprendizado. Aos
anônimos que colaboraram gentilmente com este trabalho, na esperança de dias melhores que
virão. A todos minha eterna gratidão.

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RESUMO

Neste trabalho abordaremos as características do policiamento de ronda escolar


realizado pelo Grupamento de Ronda Escolar (GRE) da Guarda Municipal do Município de
Belford Roxo/RJ, identificando suas atividades básicas, processos, detalhes de sua atuação,
bem como seus modos operandis dentro e fora do ambiente de ensino. A pesquisa foi
estruturada para possibilitar o conhecimento e as interações que devem ser priorizadas pelo
profissional de segurança pública envolvido no mister da segurança da comunidade escolar.

Inicialmente foi feito um trabalho de pesquisa bibliográfica, no intento de


compreender a estrutura organizacional da escola e sua relação com as principais ocorrências
de violência escolar, bem como de conhecer o policiamento escolar e o seu papel na mediação
de conflitos no ambiente de ensino.

Posteriormente é feita uma análise da Guarda Municipal de Belford Roxo no tocante à


segurança pública local, a cronologia de seus comandantes, passando-se em seguida a falar da
atuação do Grupamento de Ronda Escolar, bem como da contribuição do policiamento escolar
na segurança das unidades escolares dentro do Município.

Palavras-Chave: Escola – Comunidade escolar – Guarda Municipal – Grupamento –


Ronda Escolar – Belford Roxo – Segurança Pública.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 006

2. METODOLOGIA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 007

3. ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA ESCOLA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 009

3.1. EQUIPE TÉCNICA DA ESCOLA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 009

3.2. OS CONSELHOS DA ESCOLA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 010

3.3. O DIRETOR DA ESCOLA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 010

3.4. O INSPETOR DE ALUNOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 011

3.5. A ESCOLA E A COMUNIDADE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 011

3.6. QUEM DECIDE NA ESCOLA? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .012

3.7 MAS POR QUE É PRECISO GERIR A ESCOLA


DE FORMA DEMOCRÁTICA? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .012

3.8. A ATUAÇÃO DA GUARDA MUNICIPAL NA ESCOLA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 013

4. GUARDA MUNICIPAL E SEGURANÇA PÚBLICA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 014

4.1. CONHECENDO A GUARDA MUNICIPAL DE BELFORD ROXO. . . . . . . . . . . . 015

4.2. GUARDA MUNICIPAL: PERCEPÇÕES SOBRE PRÁTICAS E SABERES


INTRODUZIDOS E A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES. . . . . . . . . . . . . . . . . . 016

4.3. A RONDA ESCOLAR POR REGIÃO DE ATUAÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 018

4.4. PRINCIPAIS OCORRÊNCIAS ATENDIDAS PELA RONDA ESCOLAR. . . . . . 019

5. POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA NAS ESCOLAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 022

6. DIFICULDADES QUE COMPROMETEM O SERVIÇO DE RONDA ESCOLAR. . 025

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 027

REFERÊNCIAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 028

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1. INTRODUÇÃO

Diante da crescente preocupação com o problema da violência escolar, a Secretaria


Municipal de Segurança Pública de Belford Roxo instituiu no ano de 2005, o
GRUPAMENTO DE RONDA ESCOLAR (GRE) no âmbito da Guarda Municipal. A missão,
durante estes treze anos de existência, definiu-se pela atuação efetiva e comprometida com o
fortalecimento da segurança pública no ambiente escolar, o respeito aos Direitos da Criança e
do Adolescente, a cultura da paz nas escolas e o desenvolvimento cidadão, direcionando
esforços para o desenvolvimento de políticas públicas de prevenção e combate à violência no
ambiente de ensino.

Desta forma, é possível constatarmos que sua atuação foi sendo direcionada para uma
cooperação multisetorial, envolvendo não apenas a Guarda Municipal, mas principalmente as
instituições de ensino e a comunidade local.

Este trabalho parte da premissa de que as soluções eficazes para reduzir a violência
escolar combinam o trabalho de institutos policiais – como a Guarda Municipal, por exemplo
– e de educação com ações e propostas focadas em regiões e unidades mais afetadas pelo
problema da violência escolar.

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2. METODOLOGIA

Nesta pesquisa foi utilizado o “estudo de caso” para o fenômeno “O Policiamento


Escolar e o seu impacto no ambiente de ensino” por ser considerada uma das principais
modalidades de pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais, sendo aplicado com
sucesso nos diversos campos do conhecimento. Por tratar-se de uma pesquisa de cunho
exploratório, esta modalidade nos permite certa flexibilidade, já que o estudo de caso é
frequentemente utilizado por proporcionar familiaridade com o problema e o aprofundamento
do conhecimento das características de um dado fenômeno (Gil, 2002).

Segundo Gil (2002, p. 54) o estudo de caso serve para diferentes propósitos da
investigação científica: a) explorar situações da vida real cujos limites não estão claramente
definidos; b) descrever a situação do contexto em que está sendo feita determinada
investigação e; c) explicar as variáveis causais de determinado fenômeno em situações muito
complexas que não possibilitam a utilização de levantamentos e experimentos.

Portanto, buscamos a metodologia mais adequada para atender à problemática


estudada, mostrando-se capaz de atender os propósitos desse estudo, uma vez que se refere às
questões sociais, fenômeno humano e social, favorecendo o entendimento dos aspectos
qualitativos e quantitativos formulados, o que justifica a adoção desse método.

Foi realizado o levantamento documental de legislações pertinentes e registros


internos produzidos pelo Grupamento de Ronda Escolar (GRE) da Guarda Municipal de
Belford Roxo, dada à especificidade do serviço desenvolvido. Utilizou-se como instrumentos
de coleta junto aos diferentes sujeitos, a “observação” que “...utiliza os sentidos na obtenção
de determinados aspectos da realidade. Consiste de ver, ouvir e examinar fatos ou fenômenos”
(Marconi & Lakatos, 1999:90), nos meses de julho/agosto de 2018.

A unidade de análise (GRE) foi escolhida pela facilidade de acesso, uma vez que
integramos o aludido instituto desde sua criação, bem como a predisposição dos responsáveis
para acolher esse estudo vinculado ao objetivo principal da pesquisa; e por representar, ainda,
outros institutos de segurança pública em âmbito municipal no gerenciamento da situação de
conflitos no ambiente escolar.

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Neste estudo foram consideradas como expressões chaves: motivos da violência no
ambiente escolar; opiniões sobre o serviço prestado pelo GRE; situações que motivaram o
chamado do GRE e reflexões a respeito de melhorias nos serviços prestados pelo GRE. Os
resultados são trazidos sob a forma de gráficos e quadros objetivando enriquecer as reflexões
a seguir apresentadas sobre o fenômeno estudado.

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3. ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA ESCOLA

A escola é, entre muitos, um espaço em que se realiza o processo educativo, mas é


preciso reconhecer que é um dos mais importantes. Na escola, a educação é realizada de
maneira intencional, ou seja, as pessoas vão para a escola justamente para serem educadas e
educarem, com base em currículos existentes e por meio da atuação de profissionais
especialmente formados para essa tarefa: os professores. Muito mais que um prédio cheio de
carteiras, de alunos e de professores, a escola é um ambiente de socialização, marcado pelas
características de nossa sociedade, de nosso país e de nosso bairro. Na escola, as pessoas estão
envolvidas constantemente em interações sociais: relações entre professor e aluno, entre
alunos, entre diretora e supervisor de ensino, entre professores e diretora, entre alunos e
agentes policiais, e assim por diante. Todos os dias circulam na escola milhares de alunos que
nela passam pelo menos quatro horas por dia, durante vários dias, ao longo de muitos anos.
Para se ter uma ideia, existem pesquisadores que revelam que, durante os ciclos escolares no
país, o jovem que chega ao terceiro ano do ensino médio, já passou ao menos onze anos na
escola. Isso se ele não tiver sido reprovado em nenhum ano e sem contar os anos de educação
infantil! Por aí já se percebe o quanto a escola é importante na vida das crianças e dos jovens
que a frequentam.

3.1.EQUIPE TÉCNICA DA ESCOLA

Tradicionalmente, uma escola é formada pela diretora e pelos coordenadores


pedagógicos e tem como atribuição orientar e acompanhar todo o trabalho pedagógico
realizado pelos professores. Também recebe orientações da Secretaria de Educação que
transmite e discute com os professores. Em boa parte das unidades escolares o diretor acaba
sendo a pessoa que decide tudo sozinho e, muitas das vezes, fica mais envolvido que deveria
nas tarefas administrativas, sobrando pouco tempo para uma atuação mais pedagógica. Em
outras escolas, mais empenhadas em democratizar a gestão escolar, a diretora propicia a
participação dos atores da escola: pais, funcionários, professores e alunos, na administração e

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na tomada de decisões. Nesse caso, deve haver um Conselho de Escola atuante, bem como
uma APM – Associação de Pais e Mestres – que participe da vida escolar. Por exemplo, para
decidir se a escola deve abrir seus portões aos finais de semana, ou como empregar melhor o
dinheiro arrecadado na festa junina, seria importante reunir o Conselho da Escola. Nessas
ocasiões, se a gestão da escola for democrática, as decisões serão tomadas no coletivo, e não
apenas pelo diretor. É desejável também que a escola estimule a formação de Grêmios
Estudantis, que são os espaços privilegiados para a participação dos alunos nas decisões da
escola. Também é possível fazer isso por meio dos representantes de sala, que são aqueles
alunos eleitos pela turma para representá-la. Vários especialistas afirmam que nas escolas em
que há espaços para o diálogo e para a negociação dos conflitos dos jovens com a Escola
(através da Ronda Escolar e dos Grêmios Estudantis, por exemplos) a violência é menor.

3.2.OS CONSELHOS DE ESCOLA

São os espaços existentes nas escolas públicas para a tomada de decisões. Eles são
democráticos porque são formados por professores, funcionários, alunos, pais de alunos e
podem contar com outras instituições da sociedade.

Os diretores de escola são responsáveis por estimular a formação e o bom


funcionamento dos Conselhos para que possam atuar de forma importante, decidindo os
problemas da escola e do ensino. A segurança das pessoas e os conflitos existentes na escola e
seu entorno são assunto para o Conselho de Escola.

3.3.O DIRETOR DE ESCOLA

Toda escola possui um corpo de funcionários com atribuições claras, com


responsabilidades distintas e complementares. Sem dúvida nenhuma quem coordena e
distribui as tarefas resultantes da tomada de decisão é o diretor da escola. O diretor de escola é
a autoridade responsável por criar as condições e tomar as providências para executar o plano
de trabalho da unidade escolar. Todos os problemas que surgem durante a execução do
trabalho são responsabilidade primeira do diretor de escola. Isso não quer dizer que ele tenha
que solucionar, por si só, os problemas, mas significa que ele tem a responsabilidade de atuar
junto aos demais funcionários, aos alunos e à comunidade para solucionar os problemas,
tendo em vista o funcionamento da escola conforme o que foi estabelecido no plano de

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trabalho. Quando surgem os problemas que afetam a segurança das pessoas na escola, o
diretor deve mobilizar o Conselho de Escola e as pessoas diretamente envolvidas no problema
para estudá-lo e tomar uma decisão do que fazer: primeiro para prevenir que novas
ocorrências surjam e segundo para saber que atitude tomar diante desses problemas. Enfim, o
diretor é o responsável imediato pelas medidas a serem tomadas, mas também é responsável
por desenvolver um plano de prevenção e de ação para os momentos em que o problema se
manifesta.

3.4.O INSPETOR DE ALUNOS

Outra função importante na escola para zelar pelo convívio entre os alunos é o inspetor
de alunos: ele é responsável pela circulação dos alunos e de outras pessoas na escola. Ele
observa os comportamentos dos grupos quando estão fora das salas de aula, nos horários de
entrada e saída. Nos momentos de circulação livre é que costumam surgir determinados tipos
de conflitos (brigas, depredações, confusões) no ambiente escolar. Nesses casos os inspetores
precisam saber como lidar com os problemas e atuar preventivamente para evitar que tais
conflitos aconteçam. A forma de atuação dos inspetores e de outros funcionários que estão em
contato permanente com os alunos precisa ser guiada por um plano de ação: Qual o
comportamento desejável para as pessoas dentro da escola – não apenas os alunos? Como
interferir numa situação conflituosa? Como atuar tendo a vista o caráter educativo e corretivo
nos casos de violência ocorridos no espaço da escola?

3.5.A ESCOLA E A COMUNIDADE

A escola também não é uma instituição isolada da sociedade. Ela faz parte de uma
comunidade e por ela passam os problemas dessa comunidade. Como a escola atua na
educação de pessoas, ela é muito importante para contribuir na formação de indivíduos
equilibrados, que consigam lidar com conflitos de maneira pacífica, que aprendam a conviver
com regras e que, além disso, aprendam a formular regras para si e para seus grupos de
convívio. Podemos pensar a relação da escola com a comunidade da seguinte maneira:

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3.6.QUEM DECIDE NA ESCOLA?

A Constituição Federal de 1988 instituiu a gestão democrática como um princípio no


qual deve estar baseado o ensino público. Isso quer dizer que não é mais o diretor da escola
que decide sobre tudo; a escola e seus problemas pertencem a toda a sociedade e todos temos
o direito e o dever de participar do projeto pedagógico que a escola irá desenvolver e de
contribuir com o estudo dos problemas dela, além de indicar as formas possíveis de
solucioná-los. Essa forma de gerir a escola é nova e não sabemos ainda exatamente como se
faz. As comunidades e as escolas estão aprendendo a conviver e a tratar de modo partilhado
dos problemas.

De qualquer maneira, é importante compreender dois víeis que podem influenciar nas
relações de conflitos no ambiente escolar: a primeira se refere à maneira como as decisões são
tomadas dentro da Escola – que por sua vez devem estar baseadas em princípios democráticos
que contemplem os pontos de vista de professores, funcionários, alunos, pais e comunidade; a
outra é como administrar as decisões que foram tomadas.

As decisões que devem direcionar as práticas de todos na Escola precisam ser tomadas
conjuntamente. Também é muito importante que sejam claras, no sentido de determinar quem
é responsável pelo que. Esse trabalho deve ser coordenado pelo diretor da Escola. Quando não
há clareza do que fazer nessas situações, a autoridade fica diluída e é assumida por qualquer
sujeito que naquele momento tente solucionar os problemas a partir de um ponto de vista seu,
isolado. Em alguns casos essa prática parece inevitável quando o problema é inédito. Mas
quando o problema reproduz uma situação já vivenciada, fica indicada a necessidade de um
tratamento especial com o estabelecimento de um plano de ação.

3.7.MAS POR QUE É PRECISO GERIR A ESCOLA DE FORMA


DEMOCRÁTICA?

Ao longo do tempo a sociedade foi percebendo que não adianta nada falar de
democracia na política se não acolhermos os princípios democráticos no nosso dia-a-dia, nos
relacionamentos cotidianos. A democracia é um valor que deve permear todos os níveis da
nossa vida. Nesse sentido, a escola também deve respeitar e praticar os valores democráticos,
ou seja, levar em conta a opinião de todos nas decisões, respeitando os diferentes pontos de

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vista e propiciando a participação. Ao democratizar a gestão da escola, ou seja, envolver cada
vez mais pessoas nas decisões, a escola certamente melhora sua qualidade de ensino, uma vez
que consegue oferecer um serviço mais adequado às necessidades de seu público alvo. A
legislação incorporou esse anseio cada vez mais presente na sociedade. Na lei máxima do
país, a Constituição, esse tema já aparece no artigo 206, mas é na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996) que ele se torna mais visível,
por meio da afirmação de que o ensino será ministrado com base no princípio da “gestão
democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino”
(Art. 3º,VIII) que deve envolver “participação da comunidades escolar e local em conselhos
escolares ou equivalentes” (Art. 14, II).

“É preciso descentralizar as decisões, o que aponta para uma


condição necessária à democratização da gestão: a autonomia
da unidade escolar. A autonomia é fundamental para que se
responda mais adequadamente às peculiaridades locais da
população e se consiga maior eficiência administrativa e
racionalização do uso de recursos.” (GHANEN, 1998, p. 70)

3.8.A ATUAÇÃO DA GUARDA MUNICIPAL NA ESCOLA

Quanto à atuação de agentes das guardas municipais na escola, eles devem ser
orientados a procurar saber com a diretora o que existe no plano da escola quanto à educação
e o convívio entre as pessoas, quanto à forma de atuar em situações de conflito; quanto à
maneira como a escola pretende solucionar esses problemas e garantir a segurança e
tranquilidade de todos. Na prática, isso não existe nos planos, muitas vezes por não parecer
um tema “nobre” para constar de um plano de escola (plano de gestão no caso do Estado).
Mas, na realidade, a violência escolar é um problema que toda escola enfrenta e,
eventualmente, conta-se com a participação das Guardas Municipais para chegar a uma
solução. Essa busca para conhecer o plano da escola pode ser uma excelente oportunidade
para o trabalho conjunto de institutos policiais e da escola, desde que os atores envolvidos
saibam que a escola é a responsável por educar pessoas para que saibam conviver
pacificamente e que ela, além de ensinar os conteúdos escolares, é uma responsabilidade dos
profissionais que nela trabalham.

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4. GUARDA MUNICIPAL E SEGURANÇA PÚBLICA

A violência interna caracterizada pela fragilização das famílias, da igreja, do Estado, e


do desemprego trouxeram uma nova realidade para as comunidades, onde o país enfrenta um
grande aumento em relação a marginalidade, que se tornou assunto de grande importância nas
cidades. Por isso os municípios através, seja das Guardas Municipais, sejam das Policias
Militares pelas operações delegadas, buscam contribuir cada vez mais com a sensação de
bem-estar social e com a manutenção da ordem pública em seus territórios.

Por isso, em virtude das dificuldades dos estados e da União em cuidar sozinhos da
Segurança Pública, se faz necessária à participação dos Municípios através das Guardas
Municipais dispostas no artigo 144 §8 da Constituição Federal.

A discussão a respeito das atribuições da Guarda Municipal vem acontecendo diante


das esferas judiciais devido a sua criação ser facultativa na Carta Magna, além da já
mencionada proteção aos Bens, Serviços e Instalações Públicas. Todavia a Constituição
Federal confere aos municípios a faculdade de legislar sobre assuntos de interesse local e na
prática a atuação dessas instituições já ocorre na segurança pública pela proximidade entre
seus agentes da Guarda Municipal e os munícipes.

A justificativa está no fato de se criar a polícia municipal no âmbito interno municipal,


de onde já atuam as Guardas Municipais. A área de segurança pública já é compartilhada por
órgãos federais (como a Polícia Federal) e estaduais (as Polícias Militares, por exemplo) e,
cada vez mais, pelas Guardas Municipais — que demonstram que os municípios também se
ocupam dessa atividade.

Com a crescente onda de violência que toma conta do país o modelo de segurança
facultado apenas aos Estados membros e a União se mostra ultrapassado.

Os municípios através de suas Guardas Civis já participam da Segurança Pública de


fato, o que não caracteriza usurpação de função, devido ao inúmero aparato legislativo
mostrado nesse esboço.

A versatilidade das Guardas em serem utilizadas nos mais diversos tipos de


policiamento justifica o título de um ente de segurança pública comunitária e versátil, pois

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sempre está mais próximo dos acontecimentos da comunidade, por residir e conviver nas
cidades.

Conclui-se que a função das Guardas Municipais não se restringe somente ao


patrimônio como a maioria da população imagina, em virtude da amplitude das suas
atribuições no texto normativo e da sua proximidade das comunidades quando necessário a
prestação dos serviços.

Por outro lado, é possível notar que as Guardas Municipais enfrentam dificuldades por
falta de padronização no âmbito nacional, ou pela ausência de uma regulamentação que
garanta uniformidade de procedimentos, recursos e procedimentos a serem adotados pelos
profissionais dessas corporações.

Outrossim, como em alguns países do primeiro mundo a segurança pública caminha


para uma tendência de municipalização, devido à proximidade dos munícipes, das autoridades
de cada cidade e das Guardas Municipais por serem órgãos próprios desses municípios
protegendo os Bens, Serviços, Instalações, colaborando com a manutenção da ordem pública
por esta se encontrar intrinsecamente ligada ao seu mister constitucional e principalmente
proteger os cidadãos de cada município.

4.1. CONHECENDO A GUARDA MUNICIPAL DE BELFORD ROXO

Criada através da Lei Complementar Nº 852, de 16 de maio de 2001, a Guarda


Municipal de Belford Roxo atuou, inicialmente, em logradouros públicos como hospitais,
praças e unidades de saúde. Seu primeiro comandante foi um sargento reformado do Exército
Brasileiro. Todavia, não há registros ou informações relevantes a respeito da atuação da
Guarda Municipal durante a gestão do seu primeiro comandante. O que se sabe, de acordo
com relatos dos primeiros agentes convocados no ano de 2003 e 2004, é que a atuação se
resumia em patrulhamentos diurnos na Praça Central da Cidade, os chamados “P.O.s” –
Policiamento Ostensivo – e, também, em postos fixos de serviços, a exemplo de serviços de
“vigias” diurnos e noturnos. Até o final do ano de 2014, todos os agentes trabalhavam sem
qualquer protocolo de atuação. Não houve a preocupação à época de que esses novos

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servidores recebessem ao menos instruções básicas para aturem na proteção dos bens e
instalações públicas, ou até mesmo nas escolas ou nas vias públicas da cidade.

No ano de 2005, já com todos os aprovados convocados no primeiro concurso, a


Guarda Municipal passou a ser comandada pelo Major Aposentado da Polícia Militar,
UILSON MOREIRA, que permaneceu por 08 (oito) anos a frente da instituição. Foi a partir
deste ano que se iniciou a capacitação para os integrantes da Guarda Municipal.

No ano de 2013, a Guarda Municipal de Belford Roxo teve como Secretário o


Sargento da Polícia Militar CLAUDINEI MARTINS. A partir deste ano a Guarda Municipal
passou a ter a sua frente um representante da carreira, contudo sem a autoridade de um
coordenador, comandante ou chefe, mas sob um emblemático cargo de Inspetor-Geral.

4.2.GUARDA MUNICIPAL: PERÇEPÇÕES SOBRE PRÁTICAS E SABERES


INTRODUZIDOS E A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES

De acordo com o artigo 144 CF/88, existem diferentes arranjos institucionais que
demonstram a diversidade de institutos relacionados ao campo da segurança pública, tais
como Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Policias Civil e Militar, Bombeiro Militar
etc. Esses diferentes institutos demonstram diferentes estratégias e especificidades de atuação.

Como podemos perceber, a exemplo de outras GCMs – Guardas Civis Municipais –


no Brasil, a Guarda Municipal de Belford Roxo sempre teve a sua frente um policial militar
no comando. É importante considerar que a instituição em estudo não possui autonomia
administrativa, uma vez que está vinculada ao órgão de segurança pública municipal. Trata-
se, esta situação, de uma notória tendência em várias guardas municipais no Brasil, ou seja, o
comando ou chefia sendo exercido por alguém que não faz parte do seu quadro efetivo.

Neste contexto, aproveitar as experiências de diferentes operadores da segurança


pública é muito bom, mas é incompatível com a estratégia organizacional e confunde-se com
as expectativas e anseios dos próprios integrantes dessas instituições, uma vez que os
comandantes possuem uma linha de atuação diferente, isto é, tais gestores buscam reproduzir
a atividade policial dentro da instituição Guarda Municipal.

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Um exemplo disto aconteceu na própria instituição em estudo, onde no ano de 2016
foi criada pelo então Secretário de Segurança Pública, o GTAM – Grupamento Tático
Municipal que eram comboios de duas “patamos” com fardamento diferenciado dos demais
guardas municipais e que circulavam o tempo todo nas principais vias do Município sendo
considerado uma espécie de “tropa de elite” da Guarda Municipal. Tratando-se de uma mera
reprodução do antigo GTAM da PMERJ (Grupamento Especial Tático Móvel). Não raras
foram às situações de perigo relatadas pelos integrantes desse grupamento que atuavam
apenas com armas não letais nas vias públicas. Como, por exemplo, as ameaças e
intimidações que sofreram de bandidos fortemente armados em veículos em determinados
locais da cidade.

Ora, esse tipo de estratégia dentro de uma instituição com estrutura organizacional
ainda indefinida mostra o quanto é prematuro a concepção de que os institutos das polícias
sejam órgãos legitimados para conduzirem as políticas públicas de segurança no âmbito
municipal.

Conclui-se, desse modo, que o escopo de atuação dos institutos policiais, quando
inseridos numa realidade totalmente diferente, pode gerar algo muito prejudicial à gestão da
segurança pública municipal, além de comprometer consideravelmente a construção de uma
identidade institucional da própria Guarda Municipal perante a sociedade.

É a partir desse contexto que iremos descrever, a seguir, a atuação do Grupamento de


Ronda Escolar (GRE), as principais ocorrências do cotidiano e as dificuldades que se
apresentam como obstáculos ao serviço de patrulhamento escolar na cidade de Belford Roxo,
buscando o referencial teórico do estudo.

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4.3.A RONDA ESCOLAR POR REGIÃO DE ATUAÇÃO

Atualmente, as atividades da Ronda Escolar (GRE) são compostas de patrulhamento


ostensivo e apoio a eventos, dentro da estrutura orgânica da Guarda Municipal. As equipes de
agentes assumem o serviço junto a “Base Operacional” da Guarda Municipal e são
distribuídas para o atendimento às unidades escolares das áreas de atuação que compõem os
respectivos roteiros, conforme a seguir:

Composição dos Roteiros de Ronda Escolar - 2018


Roteiro Unidades Escolares

SETOR 1 53

SETOR 2 63

Fonte: Guarda Municipal de Belford Roxo

Esses agentes são selecionados pelo Chefe da Guarda Municipal, constando apenas
como requisito para acesso e permanência possuir Noções do Estatuto da Criança e do
Adolescente. Trata-se de uma atividade desenvolvida pela GM enquanto operação
extraordinária, contando com um efetivo “voluntário” para atender uma demanda.

Por outro lado, a institucionalização do “voluntariado” para integrar o Grupamento de


Ronda Escolar não favorece a intensificação, a qualificação dos agentes e a melhoria da
qualidade do serviço de proteção escolar, ora desenvolvido, uma vez que além da falta de
qualificação dos agentes, não há uma política que envolva as equipes que compõem o GRE,
como por exemplo, reuniões de ajustes e orientações acerca do serviço.

Contudo, independentemente da estrutura orgânica em que funcione, é inegável a


importância do GRE realizado no Município de Belford Roxo e a valia do serviço prestado
ante as demandas, quer em apoio à mediação dos conflitos, quer diante de situações nas quais
o corpo docente se sinta vulnerável ou que fuja de sua competência funcional para agir ante os
atos de violências no ambiente escolar.

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4.4.PRINCIPAIS OCORRÊNCIAS ATENDIDAS PELA RONDA ESCOLAR

A questão da violência no ambiente de ensino está presente e fazem-se necessárias

medidas de prevenção, superando-se as desconfianças acerca da atuação da Guarda Municipal

e sua qualificação para o serviço, sem prescindir de que a questão da segurança naquele

ambiente é de responsabilidade de todos, ensejando assim ações interagências (esforços

envolvendo órgãos governamentais e não governamentais), o planejamento e a integração das

atividades conjuntamente definidas para solução do problema (Muniz e outros (1997),

Balestreri (1998), Oliveira (2008), Rua (2012) e Secchi (2013).

Neste sentido, apresentamos as principais ocorrências atendidas pela Ronda Escolar

quanto às atividades desenvolvidas durante o serviço, conforme a seguir:

OCORRÊNCIAS REGISTRADAS NO DECORRER DO


ANO LETIVO DE 2016

TOTAL DE
AÇÕES
ATENDIMENTOS
APOIO A DEPARTAMENTOS MUNICIPAIS 20
AGRESSÃO MUTUA ENTRE ALUNOS 11
PALESTRAS 29
MEDIAÇÃO DE CONFLITOS 09
AVERIGUAÇÃO DE ATITUDE SUSPEITA 08
PERTUBAÇÃO DO SOSSEGO PÚBLICO 08
REUNIÃO COM PAIS 08
EVENTO EM ESCOLA ESTADUAL 09
AMEAÇA E DESACATO A FUNCIONÁRIOS 09
BRIGA MARCADA PELA INTERNET 11
CONDUÇÃO AO HOSPITAL 06
APOIO A ESCOLA PARTICULAR 06
AÇÕES COIBITIVAS A ATOS DE VANDALISMO 06
APOIO AO TRÂNSITO 04
PERSEGUIÇÃO A AGRESSOR 04
ACOMPANHANENTO DE ALUNO 05
CONDUÇÃO AO ÓRGÃO POLICIAL 06
CONDUÇÃO AO CONSELHO TUTELAR 04

19
APREENÇÃO DE REPLICA/ARMA BRANCA 03
ESCOLAS FURTADAS 03
FURTO DE CELULAR 02
APOIO AO TRE 02
P.O. 02
DISPARO DE ARMA DE FOGO 02
ALUNOS SOLTANDO BOMBAS 01
ASSÉDIO 02
OCORRÊNCIA COM ENTORPECENTE 02
VEÍCULO RECUPERADO 01
ALUNO ESQUECIDO 01
ALUNOS CONSUMINDO BEBIDA ALCOÓLICA 01
INDIVIDUO ARMADO 01
CONDUÇÃO A CASA DE PASSAGEM 01
SUSPEITA DE VIOLÊNCIA AO MENOR 02
PROBLEMAS COM DIREÇÃO E PAIS 03
ALUNOS AGRESSIVOS 01
AGRESSÃO A FUNCIONÁRIOS 03
ALUNOS COM FACA 02
ALUNOS ENVOLVIDOS EM FURTOS 01
ARRASTÃO 01
ALUNOS AGREDIDOS 01
CYBERBULYING 01
PRINCIPIO DE INCÊNDIO 01
ALUNOS PEGOS COM SERINGAS 01
TOTAL DE ATENDIMENTOS COM VISTA A MANTER A PAZ SOCIAL 234
Fonte: Guarda Municipal de Belford Roxo

OCORRÊNCIAS REGISTRADAS NO PERÍODO DE


FEV/2017 ATÉ AGO/2017

TOTAL DE
AÇÕES
ATENDIMENTOS
APOIO A DEPARTAMENTOS MUNICIPAIS 25
AGRESSÃO MUTUA ENTRE ALUNOS 07
PALESTRAS 09
MEDIAÇÃO DE CONFLITOS 10
AVERIGUAÇÃO DE ATITUDE SUSPEITA 03
PERTUBAÇÃO DO SOSSEGO PÚBLICO 15
EVENTO EM ESCOLA ESTADUAL 02
AMEAÇA E DESACATO A FUNCIONÁRIOS 02
CONDUÇÃO AO HOSPITAL 03
AÇÕES COIBITIVAS A ATOS DE VANDALISMO 05

20
APOIO AO TRÂNSITO 02
CONDUÇÃO AO ÓRGÃO POLICIAL 03
CONDUÇÃO AO CONSELHO TUTELAR 04
APREENÇÃO DE REPLICA/ARMA BRANCA 03
ESCOLAS FURTADAS 05
FURTO DE CELULAR 03
P.O. 02
ALUNOS SOLTANDO BOMBAS 02
ASSÉDIO 02
OCORRÊNCIA COM ENTORPECENTE 09
ALUNO ESQUECIDO 01
ALUNOS CONSUMINDO BEBIDA ALCOÓLICA 02
INDIVIDUO ARMADO 01
TOTAL DE ATENDIMENTOS COM VISTA A MANTER A PAZ SOCIAL 120
Fonte: Guarda Municipal de Belford Roxo

Observa-se que o “APOIO A DEPARTAMENTOS MUNICIPAIS” caracteriza a


principal atividade desenvolvida pela Ronda Escolar nos períodos pesquisados. Contudo, é
importante ressaltar que as ocorrências assim tipificadas não possuem relação com o
policiamento escolar. Trata-se de um deslocamento temporário do roteiro das equipes do GRE
para atender outros órgãos da Administração como, por exemplo, postos de saúde, eventos,
serviços sociais, etc. Portanto, é um indicador de não efetividade do atendimento a
comunidade escolar, uma vez que as equipes do GRE são utilizadas para o gerenciamento de
conflitos em outra modalidade de atuação.

As rondas no interior das escolas e o contato verbal também são referenciados e


aliados no gerenciamento dos conflitos, sendo as ocorrências tipificadas como
“PALESTRAS” que é o reflexo de uma atuação preventiva do GRE no ambiente escolar.

Contudo, ao conjugar na mediação de conflitos as “AGRESSÕES MÚTUAS ENTRE


ALUNOS” e “AÇÕES COIBITIVAS A ATOS DE VANDALISMO” aliadas a
“OCORRÊNCIA COM ENTORPECENTE” e a “APREENÇÃO DE REPLICA/ARMA
BRANCA” suscita-se ainda, considerável necessidade da atuação repressiva.

21
5. POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA NAS ESCOLAS

Diante do aumento da violência no ambiente escolar, a complexidade em estabelecer


políticas públicas é grande em relação à questão da segurança. Nesse contexto, o policiamento
escolar realizado pela Guarda Municipal de Belford Roxo, tem por objetivo, através da
parceria com as unidades escolares envolvidas, prevenir a violência e a prática de ato
infracional que possa ser cometido por ou contra alunos, além de contribuir na melhoria da
qualidade de vida da comunidade escolar pela integração dos propósitos da educação e da
segurança pública. Ou seja, é um policiamento orientado à mediação de conflitos, na medida
em que conduz a questão da violência escolar de forma diferenciada, buscando uma resposta
eficaz para a resolução de determinados conflitos, analisando as suas causas, a sua motivação,
as vítimas, os autores e o objeto jurídico tutelado, a fim de que sejam garantidos os direitos
individuais e coletivos e a integridade física dos envolvidos (BRASIL, 2012).

A violência escolar personificada em atos de depredação, agressões verbais e físicas,


ameaças, arrombamentos, furtos e roubos, além da venda e consumo de droga, são algumas
das situações vivenciadas pelo GRE em muitas escolas públicas no Município de Belford
Roxo. Dentre as motivações dos atos de violência praticados no ambiente de ensino, Alves
(2000) aponta a existência de professores muito rígidos ou muito permissivos, regras de
convivência não explicitadas de forma clara, falta de habilidade para a resolução intra-escolar
dos conflitos, preconceito e discriminação (etnia, gênero, religião, etc.), relação alunos/drogas
e a falta de proximidade entre a escola, a comunidade e as famílias dos alunos. Neste sentido,
os envolvidos no processo de proteção e educação das crianças e adolescentes não podem
fechar os olhos para essas questões de estímulo à violência nas escolas, pois a percepção
dessas motivações é fator imprescindível para se buscar alternativas que sejam capazes de
mitigar os atos de violência no ambiente escolar.

As primeiras ações voltadas para a questão da violência no ambiente de ensino na


cidade de Belford Roxo remontam ao ano de 2005, quando a Secretaria Municipal de
Segurança Pública, através do GRE, passou a desenvolver ações inovadoras voltadas para a
atuação da Guarda Municipal sob a perspectiva de aproximação da comunidade, empregando
equipes de agentes em caráter experimental, com atuação essencialmente preventiva em
determinado espaço territorial (setores), para o cumprimento de um “roteiro” que elencava as

22
unidades escolares para visitação, a exemplo dos postos de serviços (hospitais, prédios e
logradouros públicos), objetivando a integração com a comunidade e o atendimento das
demandas locais por segurança.

Essa atuação de policiamento ostensivo junto às escolas em atendimento às demandas


por segurança dentro e fora das unidades escolares ficou conhecida por Ronda Escolar. É
realizado pelo GRE da Guarda Municipal nas instituições de ensino (estaduais e municipais),
contando com efetivo e viaturas próprias e realizada durante o serviço ordinário (rotineiro).
Atualmente, a atividade consiste em uma visitação dos agentes, tendo como características
além do caráter temporário, a participação de guardas municipais de outros setores
(supervisão, por exemplo), além dos eventuais atendimentos às solicitações das unidades
escolares estaduais, municipais e particulares.

Atualmente, apesar das dificuldades vivenciadas (efetivo reduzido, clima


organizacional, sucateamento de viaturas, etc.), o GRE tem se desdobrado no atendimento às
escolas, buscando assim assegurar a dignidade e o respeito às crianças e adolescentes, em prol
da redução da violência escolar e da promoção da cultura da paz junto às unidades escolares,
através de um serviço direcionado de proteção escolar que leve em consideração o Estado
Democrático de Direito e a especificidade do público-alvo.

23
6. DIFICULDADES QUE COMPROMETEM O SERVIÇO DE RONDA ESCOLAR

As impressões que podemos ter enquanto observador e agente do GRE sinalizam que a
comunidade escolar é receptiva à atuação da Ronda Escolar e, portanto, um canal de diálogo
que pode favorecer a maior aproximação e conhecimento acerca do policiamento no ambiente
de ensino e principalmente do trabalho preventivo e protetivo do GRE. Acerca da aceitação,
conforme exposto no Curso de Policiamento Comunitário Escolar (REDE EAD-SENASP,
2017), ela tende a aumentar a partir da percepção do caráter preventivo e protetivo da Ronda
Escolar pela comunidade.

A presença da Ronda Escolar quer pela necessidade da ação repressiva ante os atos de
violência e a sensação de insegurança nas escolas, quer na ação preventiva através das visitas
às unidades de ensino, tem acontecido no Município de Belford Roxo ao longo de treze anos,
desde a criação do Grupamento de Ronda Escolar (GRE) no ano de 2005, de modo
ininterrupto e com certa regularidade. Todavia, não há muitos registros que possam justificar
ou permitir uma análise da efetividade do policiamento escolar realizado pela Guarda
Municipal. Entretanto, verifica-se o reconhecimento e a percepção da atuação preventiva da
Ronda Escolar através do relato de diretoras de algumas escolas atendidas pelo GRE como a
seguir:
“Gostaria de parabenizar o relevante trabalho desenvolvido
pelos membros da Ronda Escolar. Reconhecendo a
fundamental mediação em todos os aspectos relativos aos
conflitos, que envolvem o cotidiano escolar e as orientações
transmitidas à direção da escola em momentos decisórios.
Nós do CIEP 316 – General Ladário Pereira Telles,
aplaudimos de pé o trabalho desta equipe. Desta forma,
solicitamos que este trabalho jamais seja interrompido.” –
Idalina Clemente, Diretora do CIEP 316 – Gal. Ladário P.
Telles, São Bernardo (Belford Roxo, 2014).

O pouco efetivo - atualmente 06 (seis) agentes -, pode ser considerada a principal


dificuldade para o policiamento escolar. Contudo, essa é uma questão macro que atinge não
só a Guarda Municipal de Belford Roxo, mas também outras Guardas da Baixada

24
Fluminense, dado o agravamento da violência nas escolas e ineficiência das políticas de
segurança pública. No caso da Ronda Escolar, por se tratar de um serviço com relevante grau
de especificidade, o reduzido número de agentes reforça a necessidade de uma maior
participação das escolas quanto à questão da violência e da insegurança, de modo a otimizar o
efetivo existente a ser direcionado às unidades de ensino mais críticas e ao mesmo tempo
favorecendo o engajamento e a mudança de atitudes da comunidade escolar quanto a
responsabilidade pela sua segurança.

Por outro lado, a questão da ocupação de determinados territórios na cidade pelo crime
organizado reduziu em 26% (vinte e seis por cento) o atendimento da Ronda Escolar a
determinadas unidades escolares (aproximadamente trinta escolas), uma vez que a integridade
física dos agentes fica comprometida em razão do crime.

Acerca da capacitação e treinamento dos agentes que integram o GRE é importante


ressaltar que até o ano de 2013 não havia a exigência de cursos específicos para o ingresso e
atuação dos agentes (guardas municipais) na Ronda Escolar. Contudo, a partir desse ano
(2013), com a criação da Subinspetoria de Ronda Escolar, houve a preocupação de que apenas
os guardas municipais que tivessem concluído o Curso de Policiamento Comunitário Escolar
(REDE EAD- SENASP) integrariam o GRE. Além deste, também era requisito a participação
dos agentes no curso de capacitação da própria instituição, denominado: “Orientações Gerais
Sobre o Patrulhamento Escolar”. Porém, hoje existe uma mudança de postura em relação a
essa política de educação deixando reflexos negativos quanto à atuação da Ronda Escolar no
ambiente de ensino.

Observa-se acerca das dificuldades levantadas quanto ao serviço da Ronda Escolar que
os agentes reconhecem a relevância para a promoção da paz mediante a aproximação e
interação com a comunidade escolar, sendo as limitações, principalmente quanto ao efetivo
empregado, reflexos da inobservância das demandas e da ausência da participação dos atores
envolvidos na formulação das políticas públicas de segurança, bem como, a desatenção à fase
da capacitação dos agentes, considerando a complexidade que leva ao comprometimento do
Policiamento Comunitário Escolar, segundo as argumentações de Muniz e outros (1997) e
Oliveira (2008).

Por fim, na tentativa de superação de parte das dificuldades acima elencadas, de modo
a garantir a segurança no ambiente escolar, a Supervisão da Guarda Municipal e a Inspetoria
de Planejamento e Projetos, têm realizado rondas e visitas e desenvolvido ações

25
socioeducativas nas unidades de ensino existentes no Município, contando com efetivo
próprio, durante o serviço ordinário (rotineiro), sob as orientações e supervisão do Chefe da
Guarda Municipal. O que tem contribuído para, além da otimização do efetivo às escolas mais
críticas, com a aproximação da Guarda Municipal com a comunidade escolar, ao que aduz
Balestreri (1997) e Silva (2014).

26
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na perspectiva de uma reflexão crítica sobre as contribuições do Grupamento de


Ronda Escolar da Guarda Municipal na questão da violência nas escolas do Município de
Belford Roxo, este estudo buscou refletir também sobre as práticas e saberes no tocante ao
serviço prestado pela Ronda Escolar às unidades de ensino da cidade. Para tanto foram
levantadas as principais ocorrências atendidas pelo grupamento, identificadas às percepções
de alguns gestores escolares e também dos agentes do GRE acerca do policiamento
preventivo na segurança escolar, explicitando ainda as principais dificuldades observadas,
principalmente nas percepções dos agentes, culminando em reflexões voltadas à maior
efetividade do serviço de Ronda Escolar.

Por outro lado, em face do contexto político e cultural, e apesar da importância do


serviço realizado pelo GRE, percebe-se que as políticas de segurança pública nas escolas
ainda não são tratadas com prioridade, conforme dados dos registros de ocorrências (2016 e
2017), cuja tipificação principal de atendimento não mantém relação direta com a prevenção e
combate a violência nas escolas. Assim, nesse estudo ficam evidenciados dificuldades
pontuais reforçadas pelos reincidentes questionamentos dos próprios agentes quanto à função
da Ronda Escolar e a pertinência de sua atuação junto às escolas dificultando uma maior
aproximação e realização de um trabalho mais articulado, integrado e eminentemente
preventivo junto à comunidade escolar.

Ademais, as dificuldades apresentadas, a falta de estudos, diagnósticos e índices


confiáveis capazes de justificar as ações e resultados da atividade de Ronda Escolar no
Município de Belford Roxo, além da ausência de políticas públicas efetivamente preocupadas
com a questão da segurança no ambiente de ensino deixam muitas limitações a esse estudo.

Assim, sugerem-se estudos futuros voltados à percepção dos diferentes atores quanto à
escuta qualificada e oportuna da comunidade escolar no estabelecimento das políticas
públicas a ela direcionada, considerando as significativas contribuições da Ronda Escolar na
prevenção e combate da violência nas escolas, bem como a possibilidade de uma mudança nas
políticas públicas de segurança voltadas para a comunidade escolar.

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REFERÊNCIAS

[1] PEC 33/2014. Fonte: www.planalto.gov.br.

[2] Constituição Federal do Brasil. Fonte: www.planalto.gov.br.

[3] De Plácido e Silva, Vocabulário Jurídico, 4.0, Rio de Janeiro: Forense, 2008,
verbete competência.

[4] De Plácido e Silva, Vocabulário Jurídico, 4.0, Rio de Janeiro: Forense, 2008,
verbete competência.

[5] Lei 13.022/14. Fonte: www.planalto.gov.br

[6] Livro – Guarda Municipal: A Responsabilidade dos Municípios pela Segurança


Pública. Autor: Aulus Eduardo Teixeira de Souza Portal Brasil:

[7] Livro - A Revolução na Segurança Pública. Autor: Naval, Mauricio Domingues da


Silva 116 páginas a obra faz uma trajetória das Guardas Municipais.

[8] Livro – O que você precisa saber sobre Guarda Municipal e nunca teve a quem
perguntar. Autor: Claudio Frederico Carvalho.

[9] Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei nº 9394/96. 2ª edição. Rio de
Janeiro: DP&A, 1999.

[10] GHANEM, Elie – Democracia: uma grande escola: alternativas de apoio a


democratização da gestão e a melhoria da educação pública. São Paulo: Ação
Educativa,1998.
[11] ORNELLAS, Maria de Lourdes Soares; RADEL, Daniela Chaves (Coord.).
Violência na escola: grito e silêncio. Prefácio Ivany Pinto Nascimento. Salvador:
EDUFBA, 2010.
[12] GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo:
Atlas, 2002.
[13] Métodos de coleta de dados de campo. São Paulo: Atlas, 2009.
[14] Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP). Curso de Policiamento
Comunitário Escolar. Brasília: Ministério da Justiça, 2012.
[15] MIRANDA, Ana Paula Mendes de. AZEVEDO, Joelma de Souza. ROCHA,
Talitha Mirian do Amaral. Políticas Públicas de Segurança Municipal. Guardas
Municipais: saberes e práticas. Coleção Políticas Públicas, Administração de Conflitos
e Cidadania. CONSEQUÊNCIA 2014.

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