A grade de disciplinas do Seminário Presbiteriano do Sul reservou-me a
grata satisfação de cursar dois semestres de Capelania, que se deu em aula teórica e prática no Hospital de Clínicas da UNICAMP. Digo grata satisfação, porque permitiu-me humanizar os olhos, o coração e os ouvidos, antes áridos e ávidos por teoria religiosa, frente à dura realidade e questões da vida. E em falando de humanizar, essa palavra apareceu repetidas vezes nesse tempo.
O primeiro contato o termo “humanizado” ocorreu quando em uma de
minhas visitas a pacientes pré-cirurgicos, fui surpreendido por uma profissional da saúde e alunos de medicina que vieram visitar a paciente com quem falava. Nessa visita inesperada pude assistir aquela profissional demonstrar aos jovens alunos o que era um atendimento humanizado a paciente que em instantes passariam pelo assustador centro cirúrgico. No contato a profissional narrou à paciente todos os passos, ao quais seria submetida e apresentou fotografias de todos os locais e equipe, que a partir daquele momento seriam responsáveis pela intervenção cirúrgica e pelo seu bem-estar. Todo aquele procedimento, tendo com como plateia os alunos de medica e eu, foi intitulado pela profissional como: Atendimento Humanizado. Desde aquele momento tal termo não desgrudou dos meus ouvidos.
Enquanto eu conversava com a paciente e ouvia sobre seus medos pré-
cirurgicos, inconscientemente já fazia parte desse atendimento e tratamento humanizado que tem sido reconhecido, buscado e aplicado no atendimento hospitalar. Haja vista que as pessoas que procuram os serviços hospitalares estão debilitadas, fragilizadas e assustadas física e emocionalmente. Devendo ser atendidas por profissionais bem preparados no âmbito técnico e humano.
Por humanização hospitalar entende-se:
“[...] a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção
de saúde: usuários, trabalhadores e gestores. Os valores que norteiam esta política são a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, a corresponsabilidade entre elas, o estabelecimento de vínculos solidários e a participação coletiva no processo de gestão”. (Elias, 2004).
O atendimento hospitalar humanizado é uma tarefa que coloca todos os
setores mobilizados com objetivo em comum. Ou seja, gestores, profissionais e usuários. Nesse contexto o Serviço de Capelania auxilia a estrutura gestora no cuidado com os profissionais e usuários. Tais cuidados vão da escuta ao acompanhamento em momentos críticos como a morte.
No entanto, segundo Jakobi:
"A humanização do atendimento hospitalar requer mudança de valores,
comportamento, conceitos e práticas, exigindo do atendente um reposicionamento no que se refere ao atendimento aos usuários. Essa postura está obrigando o Sistema Único de Saúde a investir em treinamento de todos os seus colaboradores. É possível compreender que a humanização é uma nova visão de atendimento ao paciente/usuário/colaborador/gestor, possibilitando um trabalho de melhor qualidade, visto que: "Humaniza-os" porque os torna mais ricos em humanidade, em sensibilidade, em afetividade. "Humaniza-os" ´porque traz à tona sua grandeza, sua força, sua sabedoria. "Humaniza-os" porque lhes permite a experiência do mistério da vida, da dor e da vitória, do risco e da alegria. "Humaniza" o médico e os demais profissionais dando-lhe mais profundidade de compreensão do processo da doença e sua prevenção, mais segurança para lidar com ele, tornando-os pessoas mais plenas.” (JAKOBI,2004).
Dessa forma fica-nos claro que o processo de humanização envolve toda
a equipe e o preparo da mesma. Segundo Keyla Maria de Meirelles, assistente social no Hospital Paulo de Tarso, em Belo Horizonte (MG) para que o paciente seja promovido a reabilitação, tenha elevada sua auto-estima e seja preparado para o retorno ao convício familiar é necessário que o vejam além de uma patologia, um problema social, ou um internamento. Segundo ela, para que o paciente se sinta acolhido é preciso: a) atentar ao espaço físico promovendo o bem-estar; b) haver contato através do diálogo de forma espontaneamente empática; c) ouvir o que o paciente tem a dizer; d) esclarecer ao paciente quais profissionais estarão envolvidos em seu processo de reabilitação. É evidente que esses passos dependem das condições físicas, emocionais e psíquicas do paciente.
Nesse universo hospitalar nem todas as cartilhas ou protocolos do mundo
poderão prever infinitos casos. Pois, nem todos os pacientes estarão abertos ao cuidado humanizados, e mesmo os profissionais, devido o excesso de trabalho, terão condições de colocar em prática o tratamento humanizado. Mas assim como o papel da fé tem sido aceito e bem visto por profissionais graças aos efeitos comprovadamente benéficos, o atendimento humanizado demonstra resultados significativos na recuperação dos pacientes e produção dos profissionais.
BIBLIOGRAFIA:
REIS, Tania. A Humanização Hospitalar. Disponível em:
http://www.redehumanizasus.net/771-a-humanizacao-hospitalar. ELIAS, Carmem Silva. O Conceito de Humanização do Atendimento Hospitalar. Disponível em: http://www.revistaacademica.net/trabalho/14070505.html MEIRELLES, Keyla Maria. O Segrego da humanização em ambiente hospitalar está nos detalhes. Disponível em: http://www.revistahospitaisbrasil.com.br/artigos/o-segredo-da-humanizacao-em- ambiente-hospitalar-esta-nos-detalhes/ SUS e ORGANIZADORES ,Política Nacional de Humanização. 2004. JAKOBI. A humanização do atendimento nas unidades do SUS: evolução histórica. [ss.d.] Disponível em: com.br/humanizacaoatendimentoSUS.htm.