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Mocambique, Paisagens e Regioes Naturais PDF
Mocambique, Paisagens e Regioes Naturais PDF
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Ficha Técnica
Titulo: Moçambique Paisagens e Regiões Naturais
Edição: do Autor
© do Autor
Ano: 1999
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Introdução
Uma das principais tarefas da Geografia Física consiste na análise da
origem, da estrutura e da dinâmica dos complexos naturais, sua
repartição territorial bem como as possibilidades da sua utilização
social.
Os complexos naturais como parte da geoesfera, são categorias
das ciências naturais cujo desenvolvimento rege-se por processos
naturais de acordo com leis físicas, químicas e biológicas da
Natureza.
Os processos geológicos levam à uma formação de uma
determinada estrutura geológica. Processos geomorfológicos criaram
as actuais formas de relevo. A partir da interacção do clima, solos e a
morfologia resultam as condições para o desenvolvimento dos seres
vivos.
Neste cenário integra-se o homem, como componente da
natureza, que por um lado, é um ser vivo, realizando muitas das suas
funções e manifestações vitais, segundo leis naturais e por outro lado,
ele subtrai da Natureza para sua produção todas matérias-primas,
reagindo desse modo contra a natureza.
Efectivamente, o Homem sofre simultaneamente influência dos
factores biológicos e sociais. O seu alto nível de desenvolvimento está
ligado a factores sociais, sendo por isso primeiramente um ser social.
Mas a maior parte dos componentes naturais só se tornaram
recursos após a intervenção do homem, tal como na transformação
dos recursos minerais em matérias-primas e fontes de energia; dos
produtos animais e vegetais em alimentos e matérias-primas para o
fabrico de numerosos objectos úteis; dos solos como base para a
produção agrária e florestal ou como suporte para a construção de
vias de comunicação, casas e instalações para a produção.
Em todos territórios ocorrem elementos estruturais ou
componentes das regiões tais como o relevo, o clima, a água, o solo, a
vegetação e a fauna que em conjunto, sob influência de determinados
factores, imprimem uma marca própria aos territórios e condicionam
as formas de utilização dos recursos naturais tais como o relevo, o
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clima, a água, o solo, a vegetação e a fauna que em conjunto, sob
influência de determinados a factores, imprimem uma marca própria
aos territórios e condicionam as formas de utilização dos recursos
naturais.
Com o desenvolvimento da sociedade humana aumenta
consideravelmente a necessidade de utilizar a Natureza e seus
recursos e tal só se logra com maior eficácia, conhecendo a estrutura
dos componentes geográficos na sua expressão territorial.
A Natureza é a fonte de recursos naturais, fonte da saúde, da
recreação dos homens. Alguns recursos naturais tal como o ar para a
respiração e a energia solar como fonte do calor, satisfazem as
necessidades do homem, independentemente da sua influência.
Neste processo, as paisagens e regiões naturais
transformaram-se grandemente em paisagens culturais sob acção do
homem, que é ditada pelas condições de produção e pelas
necessidades sociais e do desenvolvimento da ciência e da técnica.
Assim, não é difícil compreender que a natureza e o trabalho
constituem as condições universais e necessárias para a existência do
Homem. O solo com as matérias-primas, a água e o ar, bem como os
seres vivos são as bases naturais da vida e da produção social.
A utilização da natureza, como fenómeno territorial é também
parte integrante do objecto da Geografia Física. Por isso o estudo dos
componentes físico-geográficos, deve contribuir para esclarecer as
condições actuais do território e fornecer dados para a utilização,
preservação, e melhoramento da Natureza e Meio Ambiente.
Por outro lado, o conhecimento dos componentes da natureza
e das leis do seu desenvolvimento são de grande importância para
explicar a origem, a evolução e a repartição dos vários fenómenos e
processos a nível global, regional e local.
Por isso, para a apresentação das paisagens e regiões naturais
de Moçambique, procedeu-se, em primeiro lugar, à análise sumária
dos componentes naturais do relevo, clima, água, solo, vegetação e
fauna, isoladamente, para em seguida se descreverem as principais
unidades regionais e paisagísticas, na sua complexidade.
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I. COMPONENTES NATURAIS
1.1. Localização
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Figura 1
Figura 2
2. Dimensões
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Fractura de Moçambique com cerca de 5.000 m ou seja menos da
metade da maior profundidade oceânica Mindanau (11.033 m).
FIGURA 3
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Fig. 5 Países da SADC
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As fases da intensa actividade erosiva que arrasaram os
enrugamentos precâmbricos, registaram segundo King (1951) durante
os ciclos de erosão «Africano» e «Quedas de Vitória» durante os quais
se constituíram os altiplanaltos e os planaltos médios respectivamente.
O Cinturão Moçambicano, que noutras regiões do continente Africano
se conhece por Damariano e Catanguiano representam regiões
cratónicas regeneradas térmicas e deformativamente durante a
tectogénese panafricana.
Este cinturacao tectono-metamórfico estende ao longo da faixa
oriental africana, e nas províncias geológicas de Niassa, Moçambique
e Medio Zambeze. De acordo com as suas marcas mais expressivas,
ele subdivide-se em dois episódios: Episódio do Lúrio (1.300 – 700
milhões de anos) e o Episódio Moçambicano com o seu auge por volta
de 550 milhões de anos.
Em território moçambicano, ainda não foram identificas rochas
do Paleozóico Inferior e Médio, períodos durante os quais se supõe
que Moçambique, tal como grande parte da
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localizam-se nas províncias de Niassa, Tete e Manica numa faixa que
borteja o limite oriental das rochas precâmbricas.
No Karroo Superior, estas séries sedimentares foram, em parte,
cobertas por lavas vulcânicas de basaltos, riolitos, tufos, dacitos e
ignimbritos. São estas coberturas lávicas que constituem o Oeste de
Maputo os montes Libombos e uma série de acidentes orográficos que
se estende para o Norte do rio Save até Lupata em Tete,
acompanhando um alinhamento de falhas profundas. Manifestações
endogénicas posteriores intrudindo estas formações terciárias
(cenozóicas) observam-se em vários maciços montanhosos de
estrutura anelar que ocorre no centro e no norte do país. Este
magmatismo predominantemente alcalino (carbonatitos e sienitos
nefelínicos), esteve também relacionado com os fenómenos
epirogenicos que contribuíram para revigorar o siteme a de falhas de
toda África Oriental.
As depressões criadas por estes movimentos foram mais tarde
ocupadas pelos lagos tectónicos de Niassa, Chirua, Chiúta e
Amaramba.
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Tab. 3. Divisão cronológica da História da terra
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Trata-se de uma planície ondulada, constituída sobre formações
sedimentares ceno-antropozóicas, especialmente arenosas onde, aos
interflúvios se associam dunas antigas, desmanteladas pela erosão.
Na orla litoral, restingas e cordões litorais sobrepostas por
dunas recentes, isolam rosários de lagunas ainda abertas ao oceano ou
já completamente isoladas dele.
Com uma extensão ainda maior (51%), ocorrem em superfícies
aplanadas de altitudes compreendidas entre 200 a 1.000 m, muito
desenvolvida na metade do Norte do país, constituindo o Planalto
Moçambicano. Na realidade, distingue-se em Moçambique, duas
superfícies planálticas, que correspondem às duas superfícies
pediplánicas talhadas em rochas metamórficas.
A primeira, cujas altitudes variam entre 200 e 600 m é designada por
planaltos médios, está melhor representada ao Norte do paralelo de 17º
Sul. A segunda, designada por altiplanaltica, as altitudes são superiores
a 600 m. A sua maior dispersão verifica-se no Norte e Centro do país
sobretudo nas províncias de Niassa, Nampula, Zambézia, Tete e
Manica.
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picos mais elevados são Domue (2.096 m) e Chirobue (2.021 m), nas
proximidades da fronteira com Malawi.
Em Manica as montanhas ocorrem sobretudo ao longo da
fronteira com o Zimbabwe, com destaque para a cordilheira de
Chimanimani, onde se localiza o pico mais elevado do país (Monte
Binga 2.436 m). Trata-se de um gigantesco maciço rectangular de 35
km de comprimento por 8 a 10 km de largura, situado a 80 km a Sul da
cidade de Manica, orientado no sentido Norte-Sul ao longo da
fronteira com o Zimbabwe. Ele separa-se do maciço de Espungabera,
com altitudes próximas dos 1.000m, através duma depressão. A norte
de Chimanimani localiza-se a serra da Gorongosa cuja altitude
máxima é de 1.863 m.
Figura. 6
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Fig. 6. Monte ilha “Inselberg” (Província de Nampula)
Fig. 7
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Fig. 7. Depressão do Urema (Província de Sofala)
Fig. 8
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Fig. 8 Bloco Diagrama da região de Gorongosa (Topografia e
drenagem) segundo K.L. Tinley (1971)
Fig. 9
33
Fig. 9 Tipos de Relevo
3. Clima
3.1. Tipos de Tempo
Fig 10
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Fig. 10 Tipos de Tempo em Janeiro
Fig. 11
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registam nesta época do ano, céu pouco nublado, ventos fracos a
moderados e fraca pluviosidade.
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as somas pluviométricas anuais atingem 1. 800 a 2. 000 mm e a
temperatura média anual é inferior a 18º C.
Dada a situação geográfica, nos dois lados do Trópico de
Capricórnio, o clima da região climática Moçambique Sul é
nitidamente tropical. A maior influência sobre o clima desta região e
particularmente no que respeita ao comportamento da pluviosidade e
da temperatura, é exercida pela localização na zona dos alíseos do
Sudeste, pela corrente marítima Moçambique-Agulhas e pelas
diferenças altitudinais e de exposição de cada uma das suas parcelas.
A diferenciação territorial do clima permite observar uma certa
variação segundo a continentalidade, ou seja da diminuição da
influência dos ventos e correntes marítimas com o afastamento da
costa. No litoral, desde a foz do rio Save até ao extremo Sul, as somas
pluviométricas médias anuais variam entre 800 e 1.000 mm enquanto
que as temperaturas médias oscilam entre 22º e 24º C. as regiões mais
húmidas situam-se à volta da baia de Inhambane e em Xai-Xai com
valores de
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acentuado acréscimo das somas pluviométricas, de 600 mm no litoral
para 800 mm, na Namaacha.
Tab. 4
Fig. 12
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Fig. 12 Temperatura média anual
Fig. 13
Fig. 14
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Fig. 14 Tipos de clima segundo köeppen (1931)
4 Hidrografia
4.1 Rios
Fig 15.
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Fig. 15 As principais bacias hidrográficas
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Tab. 5 os rios de Moçambique e suas utilizações.
Fig 16
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O rio Messalo cuja bacia hidrográfica é de 24.000 km2 nasce a
Noroeste de Maúa, em Niassa. Com comprimento de
aproximadamente 500 km, maior que o rio Tamisa na Grã-Bretanha
(340 km), ele atravessa áreas pouco povoadas, mas com óptimas
condições para um aproveitamento agrícola intenso das suas margens.
No seu curso inferior a cerca de 60 km da sua foz, ele separa o planalto
de Mueda, ao Norte, do Planalto de Macomia, ao Sul.
O rio Montepuez nasce a sudoeste de Balama a cerca de 700 m
de altitude, atravessa regiões planálticas na maior parte do seu
percurso e desagua por um amplo estuário a Sul de Quissanga.
A sua bacia hidrográfica, situada totalmente na Província de Cabo
Delgado é aproximadamente 15.000 km2, abraçando uma área
potencialmente rica sob o ponto vista agrícola e mineiro. Em Biliza,
cerca de 20 km da sua foz, durante as cheias, ele alimenta o lago do
mesmo nome, com condições para o desenvolvimento da piscicultura e
para o armazenamento de água para fins agrícolas.
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A bacia hidrográfica é cerca de 1.330.000 km2, dos quais só 3.000 km2
em território moçambicano.
Na sua totalidade, o Zambeze é, hidrologicamente, um rio de
regime periódico complexo, devido as variações que o seu caudal
apresenta ao longo do percurso.
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Este é também o local onde a Planície Moçambicana atinge a
sua máxima penetração interior numa distância de cerca de 600 km da
costa. O rio atravessa depois o estreito de Lupata, nas proximidades de
Tambara a 60 km a Sudeste da cidade de Tete e atinge a confluência
com o rio Chire, afluente importante na margem esquerda. Neste
percurso o rio revela uma forte tendência de deposição e de
constituição de meandros, lagoas e ilhas fluviais.
Fig 18
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Fig. 18 Bacia e rede hidrográfica do rio Zambeze
Fig. 19
O rio Búzi possui uma bacia hidrográfica total de 28.800 km2 dos
quais 25.600 km2 em Moçambique. O seu afluente mais importante é o
rio Revué, na província de Manica, onde estão construídos a barragem
de Chicamba e o açude de Mavuzi, para a produção de energia
eléctrica. Com 75 m de altura a barragem de Chicamba tem totalmente
uma capacidade de armazenamento de 2.000.000.000 m 3 e uma
potência instalada no pé da barragem de 40 MW. O açude de
derivação de Mavuzi, situado a jusante de Chicamba, tem 8 m de
altura e uma queda bruta de aproximadamente 190 m, permitindo a
produção de 46 MW.
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O rio Save representa, em muitos sentidos, o limite entre o
Centro e o Sul do país, separando as províncias de Inhambane e Gaza.
Nasce nas terras altas do Zimbabwe e corre na direccao Oeste-Este até
desaguar no Oceano Índico por um estuário próximo da Nova
Mambone.
Em território moçambicano ele é totalmente um rio de planície
com uma bacia hidrográfica de 14.646 km2. A partir da Vila Franca do
Save, com a moderação o declive, o vale é largo e o rio forma
meandros sobre os próprios aluviões.
Junto à foz o rio apresenta bancos de areia que dificultam a navegacao
mesmo de pequenas embarcacoes. Nesta seccao do rio a influencia das
aguas salinas é condideravel.
De uma maneira geral os solos das suas margens são pobres. A
area dos solos aráveis é estimada em cerca de 18.000 ha, alternados
por solos pobres, dos quais, devido a sua localizacao a cotas superiores
a 80 m do nível médio das águas do leito, cerca de 13.000 ha são
irrigáveis por bombagem em Massangena e Vila Franca de Save.
A Sul do rio Save, o regime hidrográfico é grandemente
condicionado pelo clima, relevo, natureza das rochas e pelos
aproveitamentos hídricos. Os principais cursos de água importantes
são de Norte para Sul: Govuro, Inhanombe, Limpopo,
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O clima tropical seco e os terrenos arenosos dominantes
favorecem a evaporação e a infiltração das águas diminuindo, por
consequência a escorrencia superficial. Nas secções inferiores dos rios
formam-se frequentimente pântanos cobertos de vegetação herbácea
conhecida por machongos. A navegabilidade dos rios desta região é
extremamente limitada devido ao regime estacional do caudal e à sua
elevada capacidade de assoriamento.
O rio Govuro nasce a Sul de mapinhane, corre no sentido Sul-
Norte seguindo a depressão natural resultante da morfologia litoral e
desagua por um estuário, a Norte de Inhassoro. Tem um comprimentgo
estimado em cerca de 200 km, em muitas partes do seu percurso a sua
escorrencia é subterrânea devido à permeabilidade dos terrenos do seu
leito.
Nas proximidades da baia de Inhambane existem numerosos
cursos de água com carácter internitente na maior parte do seu
percurso, destacando-se dentre eles os rios Nhanombe, Mutamba e
Inharrime.
O rio Nhanombe nasce no distrito de Homoine, com extensão
de 60 km de comprimento e que desagua no Norte da Baia de
Inhambane, o rio Mutamba. Mais a Sul o rio Inharrime por não possuir
caudal e capacidade suficientes para atravessar a barreira dunar do
litoral, dasagua no lago do mesmo nome.
Fig 20
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Fig. 20 Rio Incomati (Província de Maputo)
4.2 Lagos
Para além das albufeiras consideradas lagoas artificiais, existe no
território da Republica de Moçambique um elevado número de lagos e
lagoas de diferentes origens, dimensões, profundidade, volume de
águas e qualidade física, química e biológica das suas águas.
Os lagos são objectos aquáticos de grandes dimensões e a sua
origem e desenvolvimento estão relacionados com factores endógenos.
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As lagoas por seu lado, são de menores dimensões, e o seu
desenvolvimento depende de factores exógenos, nomeadamente do
Oceano Índico e dos rios.
Os lagos endógenos ocupam as formas negativas criadas por
forcas e movimentos endogénicos, como é o caso dos lagos de
Moçambique Setentrional, em que as depressões são elementos do
relevo falhado típico da África Oriental.
Os lagos tectogénicos mais importantes pelas suas dimensões
são Niassa, Chiúta, Amaramba e Chirua situados na parte Noroeste do
país.
O lago Niassa é o maior lago de origem natural e ocupa a 10ª
posição entre os maiores lagos do Mundo (Tab. 7).
O lago Niassa localiza-se na parte Ocidental da província do mesmo
nome, numa depressão tectónica encaixada entre rochas cristalinas e
constitui um verdadeiro mar interior. Dos 28.678 km2 partilhados pelo
Malawi, pela Tanzania e por Moçambique, somente 7.000 km2 do
Lago Niassa pertecem a Moçambique. Na parte moçambicana é
drenado por numerosos cursos de água dos quais os mais importantes
são de Norte para Sul.
Tem uma forma alongada, com encostas predominantemente
íngremes e margens rectilíneas de Norte para Sul, sendo o seu
comprimento máximo de cerca de 600 km, dos quais a metade em
território moçambicano. A largura varia entre 15 e 90 km e o nível
médio das suas águas situa-se a cerca de 472 m
Tab. 7 Posição do Lago Niassa entre os maiores lagos do Mundo. Note-se que a
área e a profundidade dos lagos varia de ano e consoante as estacões do ano.
Fig. 21
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Fig. 21Bacia hidrográfica do lago Niassa
Fig. 22
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Fig. 22 Lago Niassa (Vista Parcial)
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e Satine. Trata-se de lagos e lagoas, umas de água doce outras de água
salgada, muitas vezes dispostas em forma de rosário, relevando a sua
origem em fenómenos da morfologia costeira registada em períodos
geológicos recentes.
Os lagos e lagoas, como elementos naturais resultantes da
acumulacao de águas em depressões e bacias fechadas são
reservatórios de água de escoamento muito lento cujos elementos
principais são a depressão, como forma de relevo, a água e substancias
nela dissolvida e o mundo vivo. Os factores de formação dos lagos
exercem uma influência considerável sobretudo sobre a forma e
dimensões da depressão e sobre o volume de água. A forma, a
dimensão, a profundidade e o volume das águas são muito variáveis.
Alguns constituem verdadeiros mares interiores; outros são de
dimensões reduzidas, mas mais numerosos territorialmente.
A profundidade também é variável, desde alguns metros nas
numerosas lagoas, até centenas de metros no Lago Niassa.
Dada a grande importância da água para a existência dos lagos,
a sua composição química permite distinguir a sua salinidade e o seu
regime de escoamento sólido. Todos estes factores exercem influência
sobre a vida animal e vegetal nas massas lacustres o que permite a
pratica da pesca, com maior ou menor intensidade.
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4.3 O Canal de Moçambique
O canal de Mocambique é uma depressão cuja origem está relacionada
com as acções tectónicas de dobramentos acompanhadas por facturas
sem deslocações, mas que provocaram o afundimento do espaço
compreendido entre Moçambique e Ilha de Madagáscar. Vários
autores admitem que o processo de fractura se iniciou no pré-Karroo e
que terminou em finais do Cretácico.
Ao Norte, a plataforma continental é muito estreita, alarga-se
para o Sul, a partir de Pebane até a Baia de Sofala, estreitando-se
novamente para Sul, até atingir Inhambane. No Sul de Moçambique, a
plataforma continental alarga-se ligeiramente ao largo da província de
Gaza, para se estreitar a partir da Baia de Maputo para Sul (Fig.23).
A cor das águas do Canal de Mocambique é dominantimente
azul; exceptuam-se as zonas periféricas da desembocadura dos rios
onde leas toma a cor castanha esverdeada a cinzenta. As variacoes da
cor dependem ainda das estacões do ano e da turbulência das águas do
mar.
A salinidade média em todo Canal de Moçambique varia entre
30 e 35%, considerando-se por isso, uma das mais baixas do Oceano
Mundial. Ela depende das estacões do ano e o regime das marés e é
menor na proximidade da foz dos rios.
Fig. 23
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Fig.23 O Canal de Moçambique
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Moçambique é também conhecida por Moçambique – Agulhas
(Fig.24).
Fig. 24
Fig. 25
5. Solos
5.1. Tipos de Solos
De acordo com a localização geográfica e astronómica a Republica de
Moçambique possui uma grande variedade de solos típicos das regiões
tropicais.
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Fig, 26
71
Tab. 8 Classificaoa dos solos de Moçambique, segundo D. Godinho
Gouveia A. Sá e Melo Marques, simplificada
74
5.2 Regiões pedológicas
A repartição territorial dos solos moçambicanos, corresponde em
grande medida à estrutura territorial geológica e climática do país. Ela
reflecte também a influência dos desníveis altitudinais e da
continentalidade sobre os processos da formação dos solos.
Estes factores contribuem para a ocorrência de solos zonais típicos das
regiões tropicais e subtropicais.
Factores específicos regionais tais como, a diferenciação
microclimática, o regime hídrico e a natureza química da rocha-mãe,
permite o desenvolvimento de solos intrazonais.
Ao nível regional e local a ocorrencia dos solos azonais,
relaciona-se com a localizacao e posicao geográficas, a cobertura
vegetal e com processos geomorfológicos e pedogenéticos recentes.
Apesar das variacoes das rochas e do relevo serem muito
importantes e expressivas na determinação dos tipos de solos, e
evidente uma certa zonalidade na repartição das principais unidades
pedológicas (Fig. 27).
Assim, no Norte do país os solos (zonais) mais abundantes são
os solos ferralíticos, fersialíticos e sialíticos. Estes solos ocorrem nos
complexos granito-gneissicos do Norte de mocambaique até ao vale do
rio Zambeze e uma grande parte das províncias de Tete, Sofala e
Manica.
Fig. 27
75
Fig. 27 Recursos Pedológicos
Nos aplanamentos e nas vertentes das principais cadeias
montanhosas de rochas cristalinas e vulcânicas eles constituem
espessos depósitos que, em condições propiciais, permitem a
ocorrência de materiais lateríticos e/ou laterites.
Em regiões com condições de humidade favoráveis e em
estreita ligacao com o relevo, eles apresentam uma cor avermelhada
nos topos, alaranjada nas encostas e parada a acinzentada nas
depressões.
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Esta sequência, conhecida normalmente por catena, ocorrem
também em outros tipos de rochas incluindo as rochas sedimentares,
com tonalidades muito diversas, desde que o relevo seja expressivo.
Nas regiões de grande latitude quando os solos contém laterites
ou material laterítico, formando carapaças espessas cobrindo a rocha-
mãe, notam-se evidências de degradação, frequentemente em forma de
coluviões. Este solos constituíram nos pluviais antigos e são de uma
maneira geral ricos, sob ponto de vista agrícola. É neste tipo de solos
que se desenvolvem as culturas de maior significado económico tais
como o milho, tabaco, chá, algodão e fruteiras.
Na maior parte do Sul de Moçambique e em todo litoral, os
solos zonais desenvolvem-se a partir de sedimentos não consolidados.
São em geral solos de idade recente (Quaternário), com horizontes
indiferenciados e com constantes alterações no seu perfil. Solos
ferralíticos e fersialíticos de origem calcária são muito comuns nas
terras áridas do litoral de Cabo Delgado e de Inhambane, bem como
em extensas áreas a Sudoeste de Maputo, particularmente sobre
formações cretácicas.
De resto, no litoral e sublitoral os solos arenosos de dunas
antigas e recentes revelam a irrelevância da influência dos processos
de formação sobre a natureza da rocha-mãe e em contrapartida a
importância da duração da acção dos factores climáticos e da cobertura
vegetal.
6. Seres vivos
A vida orgânica e sua distribuicao em Mocambique nme sempre foi a
mesma desde a constituicao da terra. As profundas modificacoes
tectónicas, climaricas, hidrológicas e pedológicas que a terra sofreu
desde a sua constituicao exercem influencia sobre todos seus
organismos vivos e na sua actual distribuicao.
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As áreas de distribuicao geográfica das especieis são variáveis
e dependem de factores de multiplicacao e do meio de disseminacao.
Dentre eles destacam-se as barreiras geográficas (ocenaos, lagos, rios e
montanhas); factores climáticos, (temperatura, humidade,
pluviosidade); factores bióticos (relacao entre os diferentes seres
vivos); o substrato edáfico (composicao e natureza dos solos); factores
históricos (evolucao das espécies).
A distribuicao dos seres vivos depende ainda das actividades
da sociedade humana que distribui para o seu enriquecimento ou seu
empobrecimento ou para a sua total distribuição.
Fig. 28 Floresta
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distribuicao da vegetacao, o que releva a adaptacao directa da
vegetacao às condicoes ecológicas dominantes.
A área de dispersão da floresta relaciona-se estreitamente com
o clima, a continentalidade, a altitude e as condicoes edáficas. Elas
apresentam características mesófilas sub equatoriais com grande
diversidade e tamanho de árvores que atingem até 35 m de altura. As
folhas são finas e amplamente ovais; tendência para o alongamento da
fase de foliação onde se desenvolvem lianas e epifitas durante a
estacão das chuvas. O clima e as condicoes edáficas destas regiões é
particularmente favorável ao desenvolvimento dos bambus, alguns dos
quais com cerca de 10 m de altura.
Para esta floresta, a vegetacao, o clima e o clima subequatorial
do Norte do país e de todo o litoral, asseguram as melhores condicoes
de vida, sobretudo devido as características de humidade e
pluvioidade.
Ela desenvolve-se preferencialmente em áreas onde os valores de
pluviosidade são superiores a 1.000 mm num período de mais de 5
meses, e tem o carácter de floresta sempre verde. Trata-se de uma
floresta com densidade do estrato árboreo, com árvores de tronco
grosso, com amplas copas que se elevam até a uma altura de 10 a 20
m. Em geral as suas folhas são pequenas e caducas, raramente largas e
perenes. O estrato herbáceo é pobre e constituído por gramíneas curtas.
Devido ao deflorestamento as árvores vão escasseando
cada vez mais, os arbustos são cada vez menores e o estrato herbáceo
de gramíneas vai-se expandindo.
Ela ocorre sobretudo nas principais montanhas do país e a
densidade de espécies é maior nas encostas voltadas a Este em
altitudes compreendidas entre 1.200 e 1.600 m e onde a pluviosidade é
superior a 1.500 mm.
Predominam espécies dos géneros Pittosporum, Ilex, Rapanea,
Widdrintonia, Podocarpus e várias espécies de ervas tais como
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Panicum montícola, Oplismenus hirtellus, podendo ou não possuir
coníferas, em áreas localizadas.
No Niassa ela está representada numa faixa de montanhas
desde Maniamba até às proximidades de Mandimba; enquanto que na
Zambézia, abrange grande parte das terras latas de Milange, Namúli,
Gúruè, Namarroi e Morrumbala.
Em Manica a floresta sempre verde ocorre em áreas
montanhosas de Espungabera, Chimanimani, Vengo, Vumba,
Tsetserra, Mavita, Garuzo, zuira, Penhalonga e Choa.
Em algumas áreas ela faz lembrar uma floresta densa
equatorial não só pela majestade da sua forma como também pela
variedade de espécies que apresentam por vezes estratos distintos e
com uma presencao significativa de trepadeiras. As espécies
dominantes são Maranthes, Polyandra, Alploia, Theiformis, Khaya
nyasaca (Lianas), Saba comorensis e Paulinia pinnata.
Nos planaltos de Chimoio e de Mussorize, sobretudo em
Espungabera, Mabongo, Marongo, Sitatonga e Amatongas, onde a
pluviosidade é da ordem dos 1.200 mm desenvolve-se a floresta semi-
decídua ou semi-caduca em que as árvores dominantes atingem cerca
de 20 m de altura.
As espécies mais comuns e mais utilizadas como madeira são
dos géneros Erythropleum, Suaveolens, Khaya e a Newtonia.
Alguns géneros de plantas herbáceas tais como Setaria, Panicum e
Aframomum, complementam o estrato arbóreo.
Fig 29
86
Fig. 29 Cobertura vegetal
87
junta árvores engolidas pelas marés, raízes aéreas, plantas flutuantes a
superfície da água, sementes germinadas na planta-mãe (Fig. 30).
Este tipo de vegetação distribui-se por cerca de 48% do litoral
moçambicano, em áreas, de certo modo, protegidas das correntes e da
ondulação directa do mar perfazendo mais de 800 km2.
Fig. 30
Fig. 30 Mangal
89
desenvolve-se sobretudo em manchas no litoral de Nampula,
Zambézia, Sofala e Inhambane.
Na região litoral onde a amplitude térmica é fraca e com
pluviosidade total anual superior a 900 mm e humidade de ordem dos
75% e onde os solos são aluvionares, exitem boas condições para o
desenvolvimento do milho, arroz, amendoim, cana-de-açucar,
mandioca e legumes. O arroz, a cana sacarina, distribuem-se pelas
áreas de solos aluvionares, sobretudo nas margens dos rios Zambeze,
Púnguè, Búzi, Limpopo e Incomati e exigem muita água para o
desenvolvimento pelo menos durante as primeiras fases do seu
crescimento.
Relativamente menos exigentes, em termos de disponibilidade de
água, são a mandioca e o amendoim.
O algodão, o tabaco e as fruteiras com boas condições para o
seu desenvolvimento nas áreas planálticas e montanhosas, com solos
residuais. As regiões de clima de altitude e com solos fersialíticos e
ferralíticos são favoráveis ao cultivo da batata, legumes, chá, café e
cereais. O chá cultiva-se nas terras altas da Zambézia, bem como nas
terras altas de Manica as condições ecológicas são favoráveis à cultura
do café; mas o café também se cultiva com bons rendimentos
90
Fig. 31
Fig. 31 Milheiral
91
6.2 Tipos faunísticos e sua distribuição
A República de Moçambiaue possui uma grande diversidade de
espécies de fauna, cuja repartição geográfica depende de vários
factores dentre eles os latitudinais, altitudinais, climáticos e biológicos.
Consoante o meio geográfico da sua repartição e o grau de intervenção
humana, a fauna pode subdividir-se em terrestre, aquática e cultural.
Faunísticamente o território moçambicano pertence a chamada
região Etiópica ou Africano-Malgache. Esta região faunística abrange
as zonas de África ao Sul do Sahara e ao Sul do Equador com o clima
subtropical e tropical e nela vivem numerosas espécies típicas
algumas, delas endémicas e relictos ou relíquias.
A influência da latitude e do clima é fundamental tanto no
revestimento cutâneo das espécies como ainda no seu aspecto e esta
influência faz-se sentir ainda sobre o desenvolvimento da flora que
constitui a base alimentar da maioria das espécies. A distribuição da
fauna moçambicana está ainda com a distribuição das associações
vegetais e com as condições de acesso a água. O factor biológico de
combinação dos tipos faunísticos é fundamental, sobretudo no
estabelecimento da cadeia alimentar em que os herbívoros necessitam
da flora para sua alimentação e ao mesmo tempo, eles mesmos servem
de alimento aos carnívoros.
Quanto à fauna aquática, Moçambique dispõe nos seus 120.000
km de área oceânica e cerca de 13.000 km2 de águas interiores de uma
2
92
A sociedade humana, quer através da introdução de novas
espécies, quer melhorando as existentes, quer ainda distribuindo
aquelas que lhe são prejudiciais, constitui um factor importante na
distribuição da fauna.
Os protozoários vivem tanto nas águas doces dos rios, lagos, e
lagoas como nas águas salgadas oceânicas, bem como nos pântanos e
charcos em todas regiões altimétricas do país. Alguns géneros como
Tripanosoma e a Haemoeba têm causando doenças nos homens e nos
animais domésticos. A espécie que produz a doença do sono chama-se
Tripanosoma gambiense que transmite ao homem através da mosca do
género Glossima, também conhecida por tsé-tsé. Outro protozoário,
responsável pelo paludismo, a Haemoeba vivax é transmitido ao
Homem pelas fêmeas dos mosquitos do género Anopheles.
Outras ainda produzem doenças, sobretudo nos animais, sendo
a mais conhecida a Coccida dos coelhos que ataca o fígado e os
intestinos e acidentalmente os homens; outros ainda atacam o boi, o
cão, o carneiro, as aves e os peixes.
Os espongiários constituem um grupo zoológico notável não só
pela sua grande abundância no Oceano Índico, mas também pela sua
difusão. Igualmente notável são os celenterados que constituem um
dos grupos mais numerosos do reino animal e são notáveis pela beleza
das suas formas e da sua cor.
As espécies mais conhecidas são do género Hydra (hidra-de-água-
doce).
Os equinodermes habitam as águas do Oceano Índico, não
sendo conhecida qualquer espécie de água doce. Os mais conhecidos
são o ouriço, a estrela do mar, a holotúria e o lírio do mar.
Do grupo dos celenterados destacam-se as alforrecas, as
anémonas e os corais, muito abundantes em águas pouco profundas da
costa moçambicana. Os corais vivem em águas límpidas muito
movimentadas em bancos de grés costeiros
93
que afloram nas proximidades da costa em particular junto á
plataforma continental e nas proximidades das ilhas. Eles são notáveis
pela beleza de formas e encontram-se sobre protecção em algumas
regiões nomeadamente na Ilha de Inhaca.
Uma grande parte dos vermes são parasitas, os mais
importantes são a minhoca e a ténia. Dos nematelmintas destaca-se a
lombriga que é também um parasita do homem.
Os antropodes, constituem mais da metade das espécies
animais conhecidas, vivendo a sua maioria à superfície do solo, no ar,
na água e no subsolo. Trata-se de uma grande variedade de formas e de
espécies, sendo os mais comuns os insectos e os crustáceos.
Exemplos de insectos muito abundantes em todo território
moçambicano são a abelha, a mosca, a centopeia, a aranha, a cigarra, a
barata, o mosquito e a borboleta. Algumas espécies de mosca,
mosquito e barata são causadores de doenças do Homem; outros como
aranha e a centopeia são venenosos.
Dos crustáceos marinhos destacam-se a lagosta, o lagostim e o
caranguejo que vivem nas águas moçambicanas em todas
profundidades. Devido a grande extensão da plataforma continental da
baia de Sofala, o Banco de Sofala de 200 km de largura, constitui o
principal habitat para numerosas espécies de crustáceos de grande
valor comercial, salientando-se camarão, lagosta e o caranguejo. O
camarão é um dos principais produtos de exportação do país.
Os moluscos são um grupo muito vasto e que desempenharam
desde os tempos geológicos passados um papel destacado.
São animais essencialmente aquáticos, vivendo no Oceano Índico, nos
lagos, lagoas, pântanos e rios. Os mais conhecidos são: polvo, choco,
ostras, lulas, búzios e mexilhões; outros como a lema e o caracol, estão
completamente adaptados à vida terrestre.
94
Os peixes, como vertebrados adaptados à vida aquática
representam uma componente muito importante da fauna aquática. A
maior parte das espécies desenvolvem-se no Canal de Moçambique,
em diferentes profundidades, da plataforma continental e do talude
continental. Entre os principais destacam-se a baleia, o dugongo, o
golfinho, o tubarão, peixe-serra, peixe-pedra, atum, cavala, garoupa,
xareu, carapau, cachuco, corvina, magumba, sardinha, tainha e
pescada.
Nos rios e lagos, a Tilápia mossambica é a espécie de peixe
mais típica, sendo incentivada a sua produção para fornecimento de
proteínas às populações do interior. No Lago Niassa, para além da
Tilapia uma notável variedade de espécies e tamanhos muito
apreciados pelas populações locais.
Dentre elas destacam-se os batráquios tais como sapo, a rã e a
salamandra. Eles estão adaptados simultaneamente à vida aquática e
terrestre; outros têm a vida completamente aquática passando depois
animais terrestres. A maioria, no estado adulto, pode viver
indistintamente dentro e fora da água.
Dos répteis destacam-se os cágados, várias espécies de cobras,
osgas, lagartos, camaleões, vivem em geral nas áreas florestais, mas
também ocorrem nas montanhas e outros ainda são anfíbios como os
crocodilos, tartarugas e algumas espécies de lagartos. Entre os repetis
merecem especial menção o crocodilo, o maior réptil anfíbio da água
doce, que vive em praticamente todos principais rios de Moçambique e
nas proximidades da foz dos rios que desaguam no Lago Niassa.
Ele tem vindo a ser cultivado com sucesso em Manica, Inhambane e
Maputo para aproveitamento da sua pele e das suas carnes.
95
As tartarugas podem ser de água doce ou de água salgada.
As tartarugas de água doce vivem nos rios e lagos. As tartarugas
marinhas desenvolvem-se em todo litoral; a sua carapaça chega a
atingir mais de 0,5 m de diâmetro. A sua sobrevivência em algumas
regiões costeiras está ameaçada pela predação a que estão sujeitos os
seus ovos e ainda pela caça visando o aproveitamento da sua carne
para alimentação e da sua carapaça como troféu. Esta ameaça justifica
a adopção de medidas para a sua protecção.
As aves habitam as florestas e savanas do país, nas regiões
costeiras, nas planícies, nos planaltos, nos vales e nas montanhas. Os
mais comuns são a avestruz, o albatroz, a gaivota, o corvos, as garças,
a cegonha, o flamingo, a perdiz, a codomiz, a galinhola, a águia, o
abutre, a rola, o pombo verde, a andorinha, o beija-flor e o peito-
celeste. A avestruz, a maior ave corredora do mundo, ocorre com
raridade sobre tudo nas savanas do Sul do país e é considerada uma
espécie em extinção. O pelicano, a garça, o marabu e o pica-peixe e o
albatroz, vivem predominantemente nas proximidades das massas
liquidas no litoral oceânico, em charcos e pântanos.
Algumas espécies, como a andorinha, o pardal, a cegonha são
migradoras e permanecem em Moçambique na estacão quente para
regressarem no inicio do verão no Hemisfério Norte.
Das aves domésticas ou culturais, as mais importantes em
Moçambique são os seguintes: a galinha, o pato, o peru e o ganso. Elas
adaptam-se bem praticamente todas as regiões do país e são muitas
vezes cultivadas intensivamente pelo Homem, com bons resultados.
Os mamíferos distribuem-se por todo o território
moçambicano, especialmente em regiões ricas em vegetação herbácea,
onde encontram as suas melhores condições ecológicas. É nas savanas
do país com estrato herbáceo abundante que se registam as maiores
concentrações de mamíferos, dos quais se
96
salientam os boi-cavalo, leão, palapala, chita, cabrito do mato, búfalo,
elefante, gato selvagem, girafa, ngondonga, inhacoso, impala, javali,
leopardo, lebre, macaco, pangolim, manguço, porco do mato, porco
espinho, rato, rinoceronte e zebra. A Inhala é o antílope mais típico do
país, sendo caracterizada uma espécie rara ao nível do continente
africano. A zebra e a girafa, muito abundantes, são também típicas do
continente africano. Equnado que a zebra se distribui por quase todo
país, a girafa que é também animal mais alto do mundo, vive com
maior abundância nas regiões do Niassa, Cabo Delgado e Gaza.
O elefante, o maior mamífero terrestre do mundo, encontra-se
nas florestas e savanas de todo o país. Em muitas regiões o número de
exemplares tem vindo a decrescer devido a enorme pressão pelos
caçadores para o aproveitamento do seu marfim e de outros troféus. O
hipopótamo, maior mamífero anfíbio do mundo, é também um
exemplar frequente nos principais rios, lagos e lagoas.
No Vale tectónico do Urema-Zangue e nas regiões de savana
com estrato herbáceo abundante e com água próxima, concentram-se
numerosos mamíferos existentes em Moçambique, dentre os quais os
grandes herbívoros como a zebra o búfalo, a girafa, a impala e o
rinoceronte. Nas planícies e vales são comuns varias espécies de
antílopes, dos quais se destacam o lande, que é maior antílope
africano, o chengane (menor antilopde moçambicano), o chango e o
cabrito do mato. São também comuns na savana moçambicana, nas
planícies e vales, várias espécies de pequenos e grandes carnívoros,
dos quais se salientam o leão, o leopardo, chacal, gato cerval e a chita.
Nas áreas de fraca cobertura vegetal, vive o pangolim que se alimenta
de insectos, sobretudo formigas.
Os principais mamíferos marinhos que ocorrem em muitas
parcelas de costa moçambicana destacam-se o dugongo e a toninha. O
dugongo, pelas características do seu ecossistema e pela ameaça que
sobre ele paira, encontra-se sob protecção.
97
Fig. 32
Fig. 32 Leopardo
Fig. 33
Fig. 33 Leão
98
Dos mamíferos domésticos mais importantes em Moçambique, que
forma na sua maioria introduzidos da Eurásia contam-se o boi, o burro,
o cavalo, o cão, o gato, o cabrito, a ovelha, o porco e o coelho. O gado
bovino distribui-se por todo o país em locais onde existem pastagens
de boa qualidade, água abundante e
Fig. 34
99
O gado caprino e ovino, mais resistente à secura do clima ocorre em
todo o país com maior concentração nas províncias de Tete, Niassa,
Manica, Nampula, Cabo Delgado e Sofala. O gado arientino e suíno
desenvolvem-se bem em todo o território, desde que sejam
devidamente tratadas as suas principais doenças e bem alimentados.
100
solos. Do mesmo modo as espécies faunísticas como o rinoceronte,
cudo, cocone, dugongo, avestruz, toninha, coral, que pela sua raridade
e pelo seu valor estético, cientifico, educativo ou que se encontrem em
perigo de extinção, são aqui objectos de atenção especial.
O sistema de parques nacionais e reservas biológicas de
Moçambique iniciou em 1960 com a criação da Reserva do Gilé pelo
Diploma Legislativo no 1996 de 23/07/1960. Desde então foram
criados 4 parques nacionais e 6 reservas biológicas ocupando
actualmente uma área equivalente a 12, 6% da superfície total do
território Moçambicano (Tab.9).
Fig. 35
101
Tab. 9
102
A análise da situação de cada uma das áreas atrás referidas, mostra que
a protecção à natureza e seus recursos, sem o devido controlo e sem a
devida educação pública. Só muito dificilmente pode ter sucesso. A
principal ameaça que paira sobre estas áreas, resulta da intensificacao
das catividades do Homem, sobretudo da agricultura desregrada e da
caça furtiva. A legislacao em vigor estabelece regiões de safaris
turísticos e condicioes de licenciamento de caça. Foi nesta base que se
criaram 16 coutadas de caça com uma área de 70.000 km2 das quais 14
forma cedidas para fins turísticos a entidades privadas ou a associacoes
de caça.
A sua protecção ‘e uma tarefa moral de toda a sociedade e
enriquece consideravelmente o Meio Ambiente natural do país.
Fig. 36
103
Fig. 37
104
II Paisagens e regiões naturais
Aspectos gerais
Paisagens e regiões naturais são porções da geoesfera caracterizadas
por representarem imagens abstractas de uma realidade geográfica
concreta, onde os processos sociais são considerados, desde que
exerçam influencia sobre os processos naturais. Estas figuras
abstractas são necessárias para caracterizar as condições físico-
geograficas de uma área, independentemente da sua actual utilização
social.
Por paisagem natural deve entender-se a porção da superfície
terrestre que representa, de acordo com a sua fisionomia, uma unidade
espacial própria com os seus componentes interrelacionados.
A paisagem natural não é a soma de geofactores, tais como o
relevo, clima, água, solo e seres vivos, mas a expressão da sua
integração de fenómenos e processos inorgânicos, orgânicos e sociais.
Por consequência, o termo paisagem, situa-se muito próximo
dos conceitos de matéria e energia, cujo intercâmbio é permanente
entre a Natureza e a Sociedade. assim, para compreender os
fenómenos e processos paisagísticos é necessário conhecer as formas
de utilização da Natureza na actualidade e no passado.
Vulgarmente, o termo paisagem também tem sido utilizado
para caracterizar a expressão externa de uma dada área (montanhosa,
planáltica, industrial, agrária) ou da sua localização e posição
geográficas (Baixa do Púnguè, Alto Niassa, Vale do Zambeze). Esta
imprecisão explica também o desvio do sentido etimológico do termo,
introduzido pelas várias
105
Ciências, que vai ainda mais longe ao utilizar, a despropósito, termos
tais como paisagens de uma sala, paisagem linguística entre outros.
Na realidade, o núcleo central do termo científico não reside no
aspecto externo da paisagem, mas na conexão entre os vários
fenómenos e processos morfológicos, atmosféricos, hidrológicos,
pedológicos, biológicos e sociais nela decorrentes.
Para entender a paisagem, torna-se assim necessário observar a
integração entre os vários fenómenos e processos naturais e sociais e a
sua expressão territorial. As paisagens e as regiões naturais são, deste
modo, o resultado da interacção entre factores endógenos e exógenos.
A diferença entre as paisagens e regiões naturais reside
cientificamente, no acento que se atribui aos vários factores a
considerar.
No caso das regiões naturais, os factores mais relevantes são da
natureza interna conhecidos por telúricos, enquanto que nas paisagens
se dedica maior atenção aos factores externos também denominados de
solares. Em relação aos factores telúricos, a atenção dirige-se para a
estrutura interna e superficial da Terra, ou seja, as rochas, o relevo, os
solos, enquanto que para os factores solares refere nomeadamente ao
tempo, clima, água e seres vivos. Parte-se da posição que todos
factores da geosfera são o resultado da interacção entre estas duas
forcas, que simultaneamente criam as bases para fundamentar a
divisão ou ordenamento da geosfera.
Os factores solares, que se apoiam nos efeitos da insolação,
têm para a Terra uma validade global ou planetar e determina o que
especialmente se designa por zonalidade continental ou oceânica. Do
anteriormente exposto, resulta que as principais diferenças
paisagísticas registadas do globo terrestre são provocadas
essencialmente por factores astronómicos. E dado que estes factores e
a sua área de influência se relacionam com determinadas grandezas,
existe a possibilidade de delimitar
106
matematicamente as distintas áreas do globo terrestre em zonas.
Porque de acordo com a posição do globo terrestre, cada uma das
latitudes geográficas está sujeita à radiações solares próprias.
Quanto menor for o ângulo de inclinação dos raios solares
relativamente à superfície do globo terrestre, maior será a quantidade
de energia absorvida. Assim, entre o Equador e os pólos, distinguem-
se as seguintes zonas de iluminação, paisagísticas ou matemáticas:
tropicais ou intertropicais, temperadas e polares (Fig.38).
Estas zonas, separadas por círculos devidamente numerados,
também se distinguem pelas suas particularidades geográficas de tal
modo que ao referir-se por exemplo a zonas tropicais, imediatamente
se associam determinadas condições biogeográficas ou pedológicas
intimanente relacionadas com o clima
Fig. 38
107
Estes aspectos da diferenciação interna das zonas, constituem
as bases para a construção de modelos das regiões naturais ou regiões
físico-geográficas. Em contrapartida, o factor telúrico, que se apoia no
desenvolvimento da matéria no interior da Terra, apresentando os
componentes de uma forma regional e complexa.
Na história da Geografia Física, os dois factores de divisão da
geosfera, embora coexistindo, mantiveram sempre sua própria
identidade, o que pode ser comprovado pelo desenvolvimento
separado das noções das zonas climáticas e de conjuntos ou domínios
morfoestruturais. Os quatro grandes conjuntos morfoestruturais
(escudo árctico, escudos tropicais cadeias montanhosas jovens e
cadeias insulares) são grandes massas de relevo velhos e novos que
ganharam a sua identidade nas primeiras fases do desenvolvimento da
Terra, mas a sua fisionomia foi sofrendo alterações sobretudo durante
o Terciário e o Quaternário.
Foi nestes períodos geológicos que se produziram as principais
alterações das zonas climáticas e paisagísticas que acompanharam a
disposição actual do relevo. Mas as relações entre o relevo e o clima,
hoje são visíveis na dinâmica das regiões naturais e paisagens da Terra
e elas são particularmente evidentes nas diferenças climáticas entre as
costas orientais e ocidentais dos continentes entre o litoral e o interior
entre o periférico e o central, entre o barlavento e o sotavento ou ainda
nas diferenças climáticas entre as bases e os topos das montanhas.
Neste contexto, pode-se compreender que as regiões naturais
constituam um complexo de uma série de factores, que contribuem
para a formação das paisagens.
108
O quadro seguinte mostra, a título de exemplo, a classificação
das regiões naturais de acordo com sua dimensão e hierarquia (Tab.
10).
Tab. 10
109
não se sobrepõem às da escala macroregional, no que se refere às
condições biológicas e climáticas e em especial ao regime térmico,
mesmo que se atraiam as características geosféricas relacionadas com
o desenvolvimento histórico da Terra. É por essa razão que, não se
deve falar de regiões naturais a escala planetária.
Por outro lado a dada hierarquia dos fenómenos e processos da
natureza, na transição da dimensão regional para geosférica reduz-se
consideravelmente a possibilidade de incluir unidades regionais como
parte das unidades planetárias. A passagem de uma dimensão para a
outra supõe sempre uma alteração do conteúdo da área considerada.
São estes os aspectos que fundamentam a caracterização físico-
geográfica dos territórios e a definição ou melhor, a delimitação, das
regiões naturais e a sua posição hierárquica.
Mas, efectivamente são as condições geográficas gerais que definem a
base da diferenciação e da divisão em regiões naturais.
Na individualização das regiões naturais de Moçambique
procuram-se conjugar os factores telúricos e solares, como critérios
para uma abordagem metodológica na caracterização de cada uma das
suas paisagens e regiões naturais. Assim, a partir do seu carácter
físico-geográfico do território moçambicano, fundamenta-se a
distinção adoptada entre as regiões naturais Moçambique Norte ou
Setentrional, Vale do rio Zambeze, Moçambique Central e
Moçambique Meridional ou Austral.
110
1. Moçambique Setentrional
1.1. Enquadramento geográfico geral
Moçambique Setentrional abrange toda área compreendida entre o rio
Rovuma, ao norte (10º 27’ Sul) e bacia do rio Zambeze ao Sul,
sensivelmente nas imediações do paralelo de 18º sul, incluindo a parte
oriental da província de Tete. De uma maneira geral esta região
apresenta características comuns às de toda África Oriental
nomeadamente as que se referem às variedades das formas superficiais
e à origem das paisagens.
Sob o ponto de vista geológico-tectónico, trata-se de uma
unidade convexa, ligeiramente abaulada que devido a fenómenos
tectónicos de fractura, descai abruptamente para as depressões situadas
na sua parte ocidental.
É uma região complexa, maioritariamente constituída por
rochas precâmbricas polimetamórficas da província geotectónica do
“Cinturão Moçambicano”. Os fenómenos que originaram os
abaulamentos contribuíram para a grande subdivisão desta região e
explicam também a ocorrência de fenómenos paleovulcanismo e de
manifestações sísmicas recentes. Rochas de Karroo sedimentar
encontram a sua área de dispersão no extremo Noroeste de Niassa, nas
margens dos rios Rovuma e Messinge.
No litoral, ocorrem rochas de idade mais recente, datadas do
Cretácico ao Cenozóico, cuja distribuição espacial é muito complexa.
Morfologicamente a partir do litoral, aumenta a altitude de Este para
Oeste em sucessão de unidades morfológicas correspondentes aos
principais ciclos de erosão que modelaram todo continente africano ao
Sul do Sahara e que constituem as linhas fundamentadas da
diferenciação das suas paisagens e regiões naturais.
111
Seguindo a configuração do relevo, são vários os rios que a
atravessam a região setentrional no Oeste para este em direcção ao
Oceano Indico. Os principais são: Rovuma, Messalo, Lúrio, Ligonha e
Licungo.
Somente a parte Noroeste de Niassa os rios drenam as suas
águas, para a depressão tectónica do lago Niassa. São rios tipicamente
subequatoriais com cheias em estacão quente e franco caudal na
estacão seca. Durante a estacão das chuvas eles possuem uma grande
capacidade destrutiva, e de transportes o que contribui para o continuo
desgaste e subdivisão das terras.
Ao atingirem a planície litoral os rios perdem grande parte da
sua capacidade de transporte e então depositam seus sedimentos,
trazidos de terras altas, alargando progressivamente as planícies
aluviais e formando por vezes terraços. O estuário é a forma terminal
dominante, quer seja directamente, quer através de baias ou lagunas.
Em qualquer dos casos a influencia do Oceano Índico e tal, que se
alagam extensas áreas e se provoca um ligeiro salgamento das
margens, a distancias por vezes superiores a 50 km da foz.
Alguns dos rios correm paralelamente a costa; na sua parte
terminal, devido à configuração do relevo, criam formas típicas de
confluência, normalmente revestidas de mangal exuberante.
Climaticamente, Moçambique Setentrional situa-se na zona
subequatorial. A sua diferenciação interna está intimamente
relacionada com a posição latitudinal, com altitude e a
continentalidade e com os factores locais de posição e exposição
geográficas. O clima subequatorial dominante nesta região, resulta das
oscilações provocadas pelos ventos alíseos equatoriais, que no seu
movimento anual provocam flutuações da Zona inertropical
Convergência. Esta circunstância alia-se à influência da Corrente
Quente de Moçambique sobre a temperatura, a humidade e a
pluviosidade.
112
As temperaturas médias anuais variam entre 24º e 26º C no litoral e
atingem os 16º C nas áreas montanhosas do interior.
Estas condições climáticas gerais diferem ligeiramente na parte
nmeridional da região, nas proximidades do paralelo de 16º onde se
sobrepõem influencias das monções e dos alíseos do indico e dos
anticilones e depressões da parte Sul do continente africano. Aí, as
temperaturas médias são da ordem dos 24º C e a humidade é de 70%.
Esta sobreposição de influência faz com que esta parcela de
Moçambique Setentrional apresente os valores da pluviosidade mais
elevados de todo o país, atingindo mais de 1500 mm.
Dado que a largura máxima desta região ultrapassa 1. 000 km, a
influencia da continentalidade e do relevo são aspectos importantes
para caracterizar as variações da pluviosidade.
No litoral registam-se valores elevados de pluviosidade, mas a
medida em que o ar húmido penetra até as terras altas do interior, vai
arrefecendo, o que provoca chuvas orográficas, que atingem os
máximos nas regiões montanhosas.
Excepções são as regiões do interior, onde o ar húmido, penetrando
através dos vales dos rios Messalo, Lúrio, Ligonha e Licungo e através
do corredores deixados pelas montanhas se vai tornando cada vez mais
seco, devido à manutenção de temperaturas elevadas sem a devida
compensação com o aumento da altitude. O mesmo acontece com os
flancos ocidentais das montanhas protegidas dos ventos oceânicos
onde se regista uma aridez notável.
A maior parte da região setentrional moçambicana encontra-se
coberta por solos zonais tropicais ferralíticos. Condições locais de
humidade e sobretudo as condições dependentes do relevo provocam
as diferenças pedológicas. Em conjugação com os factores
morfográficos, hidrológicos e fito-geográficos, os solos desta região
têm tendência para a formação de catenas que são mais evidentes
sobre rochas eruptivas
113
e metamórficas. Estas catenas os solos vermelhos dos topos húmidos
são substituídos nas encostas por solos coluviais, que por sua vez dão
lugar aos solos cinzentos húmidos das depressões e fundo do vales.
Estas condições pedológicas associadas à natureza do clima
permitem o desenvolvimento da floresta subequatorial e da savana. No
litoral ocorrem florestas abertas semidecíduas com matas e plantas
leguminosas dos géneros Brachystegia, Julbermadia, Acacia e
Adansonia. Florestas de montanha ocorrem nas terras altas do Niassa,
na Zambézia e no planalto de Mueda com maior exuberância nas
encostas voltadas a Este.
Na foz dos rios e nas baias protegidas desenvolvem-se sobre os
solos salobros halomórficos, as florestas de mangal, típicas de todo o
litoral moçambicano.
Um dos principais elementos estruturais e paisagísticos desta
região, e afinal de toda África Oriental, é o sistema “Rift Valley”. A
sua parte meridional é assinalada pelas depressões onde se instalaram
os lagos Niassa, Chiúta Amaramba e Chiúta e pelo vale do rio Chire.
Em razão destas condições físico-geográficas gerais,
distinguiram-se na região setentrional de Moçambique, os seguintes
tipos de regiões e paisagens naturais: a planície litoral, as terras altas,
abrangendo os planaltos e montanhas e a depressão do Niassa.
114
1.2. A Planície litoral
115
canais profundos e barreiras coraligenas onde se implantaram
numerosas ilhas, dispostas paralelamente à costa.
A forma abrupta de contacto entre a estreita plataforma
continental e a terra firme e sobretudo devido à influência da Corrente
Quente de Moçambique explicam a intensa actividade da morfologia
litoral. Este carácter acidentado da plataforma continental, relaciona-se
visivelmente com as fracturas dominantes NE-SW e NW- SE, e releva
ainda em conjunto a ocorrência de corais emersos, a continuidade dos
processos e fenómenos epirogéncios.
Processos actuais de formação da costa são evidentes junto às
ilhas coralígenas do Arquipélago das Quirimbas e nas áreas arenosas.
É nas proximidades de Pemba que o ramo da Corrente Equatorial se
divide, constituindo o ramo Sul, a Corrente de Moçambique. O
surgimento desta Corrente e a influência dos ventos oceânicos são
insuficientes para provocar aumento da humidade e da pluviosidade
dada a ausência de acidentes orográficos.
O sistema natural mais eco localiza-se no extremo Nordeste do
litoral de Cabo Delgado onde também se registam temperaturas
elevadas. Até a baia de Mossuril, a faixa dunar desenvolve-se a
floresta litoral com plantas do género Guibortis, Baphia,
Pseudoprosopis, Platysepalum, Dialium, Sterculia Brachistegia,
Julbernardia, Uapaca, Parinari, Ochotocosmus, Syzigium. Para Sul de
Quissanga, estas plantas são enriquecidas por especieis herbáceas de
Pteleopsis, Balanites, Erythopuleum e Milletia.
Entre Quissanga e Memba, por detrás de mangal, a savana
arbórea-arbustiva apresenta mosaicos e brenhas e possui exemplares
de Adansonia, Acacia, Albizia, Boscia, Combretum e Salvadora. Em
áreas de elevado nível freático do extremo Norte, desenvolve-se uma
savana de palmeiras com géneros de Borassus, Hyphanea e
Termiteiras gigantes.
116
Entre a baia de Mocambo e Delta do rio Zambeze, a costa de
orientação NE-SW tem menos reentrâncias, mais maior superfície de
pântanos argilosos. A estrutura morfográfica desta secção do litoral
permite dois níveis altimétricos cujo limite se situa a cerca de 10 m de
altitude. No nível interior verifica-se maior desenvolvimento das dunas
de lagunas de formação recente. No nível superior estende-se o plateau
de areias vermelhas e acastanhadas das dunas mais antigas que
atingem o degrau, que confina com o planalto médio de rochas ígneas,
a altitudes próximas dos 120 m.
A paisagem anfíbia é mais notável nas proximidades do Delta
do rio Zambeze onde a costa, baixa e pantanosa, se prolonga por uma
extensa plataforma continental, com uma profundidade média de
oceano e inferior a 30 m. nas proximidades da foz do rio Ligonha
existe um banco de corais situados entre 10 a 50 km da costa, onde se
situam as ilhas Segundas ou de Angoche e as ilhas primeiras. O clima
desta secção é mais húmido que na parte mais setentrional. A estacão
quente e húmida vai de Outubro a Abril e a seca de Maio a Setembro.
Durante a estacão húmida ocorrem, por vezes, chuvas monçonicas
torrenciais provocada pela influência combinada da localização da
frente de convergência intertropical e dos anticiclones do Oceano
Índico. Raras vezes esta região é atingida pelas frentes frias
provenientes do Sul do continente africano e, quando tal acontece é já
um estado de dissipação.
Na foz dos rios e nas lagunas desenvolve-se o mangal; na sua
retaguarda são comuns matas de cajueiros ou plantações de palmeiras.
Até Quelimane, a floresta torna-se mais densa em virtude de aumento
de pluviosidade e humidade, com predominância de árvores de
espécies lenhosas. Nas áreas de baixa latitude há uma maior
predominância de herbáceas que são enriquecidas com o aumento da
altitude por várias espécies arbóreas.
117
1.3 As terras altas do planalto
As terras altas de Moçambique setentrional constituem uma extensa
superfície de aplanação, que faz a transição da planície litoral para as
zonas montanhosas. De acordo com a sua latitude elas subdividem-se
em planaltos médios e altiplanaltos cujas altitudes estão
compreendidas respectivamente entre 200 a 600 m e acima dos 600 m.
a delimitação entre duas unidades é feita de uma maneira geral por
linhas de falhas e escarpas de erosão e recuo.
Os planaltos médios abrangem uma faixa de cerca de 40 km de
largura média entre o rio Rovuma e o Rio Lúrio e estreita-se um pouco
para o Sul até atingir o delta do rio Zambeze, penetrando digitalmente
através dos vales dos rios da região.
Os altiplanaltos fazem parte do prolongamento oriental e meridional
das terras latas de «Nyassaland» do Malawi, que incluem também as
regiões montanhosas de Moçambique Setentrional. Com efeito, as
características fundamentais destes planaltos residem na ocorrência de
«montes ilhas» com encostas íngremes, muito próximas da vertical,
que se destacam da pediplanície e das depressões.
Dada extensão desta superfície de aplanação e a sua
representatividade no contexto das grandes regiões natuaris africanas,
ela é designada nas cartas topográficas por Planalto Moçambicano. Ele
apresenta, de uma maneira geral, uma fraca ondulação que
corresponde às formas de aplanação erosivas e denutativas do
complexo granítico-gneissico do Precâmbrico e que dominam
praticamente toda a metade ocidental de Moçambique Setentrional. A
sua estrutura climática fundamental é determinada pela
continentalidade e pela altitude, mas também pelas condições locais de
exposição e posição geográficas.
Em relação a planície litoral, assinala-se um notável acréscimo
da pluviosidade, enquanto que a temperatura decresce
118
ligeiramente. As áreas mais áridas localizam-se no interior protegidos
pelos ventos oceânicos, sobretudo no curso superior do rio Lúrio. A
sensação da secura é aqui transmitida pela fisionamia da vegetação
onde são comuns a Acácia, o embondeiro e a árvore-candelabro.
Em contrapartida, as áreas com mais humidade e chuvosas
situam-se nas encostas expostas aos ventos marítimos, em Mueda,
Niassa e alta Zambézia. Nestas áreas ocorrem uma associação vegetal
conhecida por floresta de Miombo. Em geral o estrato arbóreo desta
floresta é caracterizado pela predominância de plantas de 10 a 20 m de
altura, folhas plumosas, sem espinhos, com caules normalmente
estreitos e ossudos e raízes profundas.
O estrato herbáceo é mais desenvolvido nas áreas meridionais
do Planalto de Moçambicano, onde também aparecem, com maior
frequência, tamariscos e uma variedade de leguminosas. Este tipo de
vegetação só é interrompido nos vales dos rios Rovuma, Lugenda,
Messalo, Montepuez e Lúrio, onde os solos aluvionares húmidos,
asseguram o desenvolvimento da floresta de galeria (Miombo), semi-
decidua, seca e com um estrato herbáceo rico.
No nordeste de Moçambique Setentrional, em Cabo Delgado,
destaca-se palas suas particularidades o Planalto de Mueda. Trata-se
de um conjunto planáltico de forma aproximadamente circular, situado
a cerca de 70 km do Oceano cujas altitudes oscilam entre os 400 e 800
m. Neste planalto ocorrem formações sedimentares cretácicas de
calcários, grés, conglomerados continentais, assentes sobre o soco
cristalino.
O rio Messalo que corre de Este para Oeste divide o planalto
em duas partes, constituindo a parte Sul o Planalto de Macomia.
Apesar da baixa altitude deste planalto e da sua fraca continentalidade
o clima é localmente mais húmido que nas regiões periféricas da
planície litoral. Os solos formados sobre
119
rochas sedimentares são espessos, excepto nas encostas de fortes
declives onde eles forma por vezes completamente destruídos e
depositados nas depressões e nos vales, sobretudo do rio Messalo.
As condições edáficas locais são reflexos das variações
climáticas e exercem igualmente influência sobre a composição
florística do planalto. Aqui ocorrem espécies exóticas típicas da flora
da África Oriental. Contudo, esta floresta outrora mais desenvolvida
apresenta um elevado grau de degradação pela intervenção humana.
A sotavento do planalto de Mueda e entre as bacias dos rios
Rovuma e Lugenda localiza-se o planalto de Mecule-Messinge.
Trata-se de um planalto de origem denudativa erosivo cujas altitudes
são superiores a 1.000 m. Apesar da sua localização, protegidos dos
ventos oceânicos, desenvolve-se aqui uma floresta frondosa incluída
parcialmente na Reserva do Niassa, rica em espécies de fauna tropical.
A ocidente deste planalto, encontram-se extensos altiplanaltos e
montanhas que caracterizam o Noroeste de Moçambique.
Destacam-se aqui o planalto de Lichnga, a Cordilheira de
Lichinga e o Planalto Rovuma-Messinge, constituindo em conjunto, o
chamado Alto Niassa. A ocorrência deste tipo de relevo montanhoso,
depende fundamentalmente da estrutura morfológica e tectónica típica
da África Oriental. Estas terras altas formam frequentemente extensos
alinhamentos orográficos acompanhando linhas de fracturas e
encontram-se profundamente ravinadas por uma densa rede
hidrográfica de padrão dendrítico.
O subestrato geológico destas terras é constituído
essencialmente por rochas gneissicas com intrusões graníticas,
frequentes vezes associados a veios de pegmatitos e de rochas básicas.
A resistência destes materiais rochosos face aos fenómenos de erosão
explica a ocorrência de «montes-ilhas», que apresentam
120
vigorosas, relativamente à superfície levemente ondulada do planalto
moçambicano.
O planalto de Lichinga, onde se localiza a cidade do mesmo
nome, e um altiplanalto com mais de 1.000 m de altitude média,
cercado por montanhas com a forma de ípsilon voltado para Norte,
cujo o pé se prolonga através do território de Malawi nas proximidades
de Mandimba.
As montanhas situadas a ocidente do planalto formam a
Cordilheira de Niassa e separam-se da margem oriental do Lago
Niassa por uma espectacular escarpa da falha, que assume uma
orientação mais ou menos paralela ao eixo maior do lago.
Das montanhas que constituem a cordilheira com picos de cotas
superiores a 1.700 m, destacam-se os montes Txingeia (1.787 m) e
Txitongo (1.848 m).
A parte compreendida entre o rio Rovuma e os contrafortes da
Cordilheira de Sanga, a Norte de Macaloge, caracteriza-se pela
ocorrência de evidências de peneplanação cujos «montes-ilhas» se
dispõem em apertados agrupamentos, irrompendo abruptamente dos
planaltos de erosão, quer isoladamente, quer com as serras tais como
Licheze (898 m), Cobuli (1. 106 m) e Chicomola (982 m).
A norte de Macalonge, a ondulação de terreno é maior e
estende-se até às proximidades da cordilheira de Sanga, que por sua
vez, se prolonga para o Sul, em direcção aos planaltos de Maniamba e
de Lichinga. Os montes Sanga (1.798 m), Chissindo (1.579 m) e
Chitagalo (1.803) correspomdem ás cotas mais elevadas desta
cordilheira. O efeito da altitude provoca alterações substanciais no
comportamento do clima e da vegetação tornando o planalto o destino
de todas regiões circunvizinhas de altitudes mais baixas. A
pluviosidade média anual do planalto é da ordem dos 1.000 mm,
concentrando-se cerca de 90% nos meses de Novembro a Abril. A
temperatura média anual em Lichinga, situada a 1.200 m de altitude é
de
121
18º C. Neste planalto, tem origem maior parte dos cursos de água do
Noroeste e Nordeste de Moçambique, drenados quer directamente pelo
rio Rovuma quer ainda pelo Lugenda e seus afluentes.
Nas extensas planícies dos cursos superiores dos vales dos rios
Rovuma e Messinge o subestrato geológico é constituído por
formações do Karroo. Estas rochas formam grosseiramente um
triângulo cuja base é a seccao do rio Rovuma, apontando o vértice
oposto para a área de Messuma, a Norte de Metangula.
A planície correspondente à área de dispersão das formações do
Karroo e da área cristalina que alinha a Este, encontra-se cobertura por
savana ou floresta aberta com predomínio do género Brachystergia.
Os valores médios da latitude desta planície oscilam entre 650
e 750 m, com cotas mais baixas no chão-do-vale e nas vizinhanças do
rio Rovuma e seus tributários. Nas margens destes cursos de água, os
terrenos aluvionares fluviais do Quaternário, com maior extensão nas
margens do rio Rovuma encontram-se praticamente despidas de
vegetação ou apresentam capim curto muito apreciado pela fauna
selvagem, parte dela submetida a regime de protecção na Reserva do
Niassa.
Sensivelmente na parte central de Moçambique Setentrional o
planalto encontra-se bastante recortado pelos rios Messalo,
Montepuez, Lúrio, Ligonha e Licungo e os seus respectivos afluentes.
O rio Lúrio, cuja bacia é maior totalmente moçambicana, parece
subdividir o planalto moçambicano em duas unidades distintas sem, no
entanto, destruir o seu carácter unitário e sua estrutura fundamental,
sobretudo no que respeita aos componentes, relevo, clima e vegetação.
A partir do seu leito principal, em direcção ao Sul, os rios tomam a
direcção Noroeste-Sudeste acompanhando a inclinação geral do
planalto.
122
Imediatamente a Sul do rio Lúrio, os altiplanaltos de Malema,
Ribáuè e Mecuburi constituem um agrupamento que se pode designar
por Alto Nampula.
Mais para o Sul e Sudeste assinalam-se os altiplanaltos desde
Alto Molócuè e Alto Ligonha com numerosos “montes-ilhas” de
altitudes variáveis, e os Montes Namúli (2.419 m), constituem em
conjunto, a Alta Zambézia.
As paisagens são caracterizadas pelas extensas superfícies de
aplanação ravinada e onde são comuns os montes residuais e pela
estrutura homogénea de vegetação tropical. No distrito de Gilé a
sudeste do rio Ligonha, foi estabelecida uma área protegida – a
Reserva de Gilé – com estatuto de Parque Nacional e reserva
biológica, devido à importância regional e local da sua população
faunística.
Fig. 39
123
A partir destas terras altas é sensível a inclinação geral do
terreno para o Sul e sudeste, em direcção ao Vale do rio Zambeze e à
costa respectivamente. Nesta superfície ocorrem «montes-ilhas» tais
como Chiperone (2.054 m), Tumbine (1. 542 m), Mabu (1. 646 m),
Derre (1.417 m) e Mongue (1.042 m).
A serra de Morrumbala, representa o «monte-ilha» mais
importante da parte meridional de Moçambique Setentrional e o
planalto onde se insere estabelece o contacto entre o Vale do Zambeze
e a Depressão de Chire, como parte da Depressão do Niassa.
1. 4 Depressão do Niassa
Exceptuando as depressões das bacias hidrográficas que provocam
diferenças morfológicas e altitudinais mais ou menos acentuadas, a
forma negativa mais notável da região Setentrional Moçambicana e,
por sinal, de todo o país é a Depressão do Niassa onde se instalaram
os Lagos Niassa, Chiúta-Amaramba e Chirua.
Ela constitui um dos principais elementos estruturais e
paisagísticos da região Setentrional Moçambicana e é parte do Sistema
Rift Valley característico de toda África Oriental.
Trata-se de uma depressão de origem tectónica constituída por linhas
complexas de facturação que formam grabens de 50 a 200 km de
largura, cujas escarpas dominam completamente toda região oriental
africana. Este sistema de fracturas corresponde ao desabamento axial
do fecho da abóbada de um arqueamento do soco cristalino, de tal
modo que a depressão tectónica corresponde fica branqueda em cada
uma das suas margens por plateaux elevados.
Nas duas margens desta depressão o soco Precâmbrico sofreu
um levantamento, atingindo altitudes mais ou menos notáveis, donde a
ocorrência de terras altas ultrapassando
124
1.000 m de altitude. Estima-se que a depressão do Niassa tenha
adquirido a sua configuração actual no inicio do Terciário, apesar de
algumas falhas identificadas no Malawi e associadas à dinâmica da
depressão, pertencem ao Quaternário inferior.
Com efeito, as intrusões de Chilwa, no Malawi, testemunham a
ocorrência de vulcanismo no fim de Karroo ou na primeira metade do
Jurássico, contemporâneos do Stomberg da África Austral, mas, apesar
do prosseguimento dos movimentos tectónicos até época actual, nem
Malawi nem Moçambique conheceram fenómenos de vulcanismos
ulteriores.
Fig. 40
125
2. O vale do Rio Zambeze
2.1. Enquadramento Geográfico Geral
O vale do rio Zambeze representa em muitos sentidos, uma região
natural de transição entre as regiões subequatoriais da África Oriental
e Central para as regiões tropicais da África Austral.
Apesar da relativa pequenez da área do vale em território
moçambicano, ele constitui uma unidade independente sob o ponto de
vista das suas condições naturais e representa ao mesmo tempo o
limite natural entre Moçambique Setentrional e Moçambique Austral.
Somente uma pequena parte situada a ocidente da província de Tete
pertence macroregionalmente a África Central e que pode, por isso, ser
considerada no contexto do vale do Zambeze.
O rio Zambeze, que é o principal elemento paisagístico desta
região, nasce na Zâmbia a cerca de 1.700 m de latitude.
Ele tem cerca de 2.600 km de comprimento e uma bacia hidrográfica
de 1.330.000 km2, dos quais só 3.000 km2 em território moçambicano.
Mesmo assim o rio Zambeze deve ser considerado o maior rio que
atravessa a República de Moçambique. Na sua totalidade o Zambeze é
hidrologicamente um rio de regime periódico complexo, devido às
variações que apresenta o seu caudal ao longo do seu percurso.
Zambeze parte de uma região bastante pluviosa; depois de
atravessar a região árida da parte oriental da Angola, entra novamente
na Zâmbia, onde corre, formando rápidos. Em Livingstone, é um rio
bastante largo e constitui o seu leito uma paisagem anfíbia. Em
Lupata, depois de atravessar o desnível do Songo ele tem os seus
últimos rápidos. Dai, até sensivelmente a sua foz o rio corre em
planície, desaguando por um imenso delta.
126
O clima tropical seco típico da maior parte do vale em
território moçambicano só se altera na zona deltaica sujeita à
influência dos ventos e das correntes do Oceano Índico. A
complexidade das paisagens e das condições naturais do Vale do rio
Zambeze referem também o seu desenvolvimento paleogeográfico e a
natureza litológica, tectónica e morfológica dos terrenos que o rio
atravessa e ainda a diversidade da cobertura vegetal e pedológica.
Apesar desta grande diversidade das condições naturais do vale
do rio Zambeze podem distinguir-se em território moçambicano as
seguintes mesoregiões naturais: Alto Zambeze, Médio Zambeze e
Baixo Zambeze.
127
uma grandiosa albufeira de cerca de 2. 600 km2 de superfície e
63.000.000 de m3 de volume das águas. Nestas albufeiras, com
aproximadamente 250 km de comprimento e até 25 km de largura,
ocorrem numerosas ilhas habitadas por pescadores.
Entre Changara e Mucumbura, na margem Sul da albufeira, as
rochas são sedimentares do Cretácico continental, recortados
suavemente pelos cursos de água. A vegetação dominante é aqui a
florestas, todavia, bastante transformada pela agricultura tradicional.
Nas áreas sedimentares do Karroo, desta margem a paisagem
monótona dominante só é interrompida pela imponência da serra de
Carumacafue. Esta serra de origem sedimentar situada a Sul de
Mucumbura, tem 25 km de comprimento e de 10 km de largura.
A sua imponência resulta das encostas abruptas que se levam a mais de
200 m de latura do planalto em que se insere.
Em Cahora Bassa, onde o rio Zambeze foi representado para a
produção de energia eléctrica (3.600 MW), as massas aquáticas caem
de uma altura de cerca de 200 m ao atravessarem rochas graníticas.
Este é também o local onde a planície litoral moçambicana atinge a
sua máxima penetração interior de cerca de 600 km da costa. Aqui
torna-se ainda mais evidente o grande desnível entre as montanhas e
escarpas periféricas e o chão do vale situado já na planície litoral.
Climaticamente o Alto Zambeze pertence à África Central
onde as condições são marcadamente tropicais, com um índice de
aridez bastante elevado. É nítida a separação entre a estacão seca, que
tem inicio em Abril e se prolonga até Outubro e a estacão húmida onde
se regista temperaturas médias máximas diárias de 38º a 40º C. na
estacão seca as temperaturas oscilam entre 20º e 27º C. a pluviosidade
é, em geral, relativamente baixa. Os valores de pluviosidade média
anual são inferiores a 800 mm, nas proximidades da cidade de Tete.
Estas condições climáticas, em particular o regime
pluviométrico, exercem grande influencia sobre os processos
pedológicos e
128
biológicas ao longo do vale. Os solos azonais dominantes sustentam
associações vegetais de savana e floresta conhecidas nesta região por
«mopane». As espécies mais comuns destas associações vegetais são
dos géneros Acacia, Adansonia, Combretum, Sclerocarya e Kirkia.
Estas associações vegetais, em diferentes estágios de degradacao,
cobrem a maior parte do vale, sobre tudo onde a pluviosidade varia
entre 500 a 700 mm anuais.
Nestas zonas de floresta, o substracto pedológico é constituído
por solos arídicos cinzentos ou avermelhados e os solos halomórficos,
resultantes de rochas sedimentares do Karroo.
Trata-se em geral de solos esqueléticos, arenosos com fraca
capacidade de retenção de água o que, em conjunto com o aspecto da
vegetação, emprestam a paisagem um carácter predominantemente
árido. Os solos esqueléticos são substituídos nos vales dos afluentes do
Zambeze por solos aluvionares de textura limosa.
Somente uma pequena parte do vale situada entre o Songo até
cerca de 100 km a jusante, possui, solos fersialíticos ou mesmo
afloramentos rochosos de rochas cristalinas quartziíferas.
129
Zambeze conhece aqui um alargamento considerável, beneficiando da
confluência de numerosos afluentes e tem tendência para a
constituição das ilhas. A margem direita do vale eleva-se suave e
gradualmente para sudoeste através das plataformas cretácicas de
Bárue, donde provém a maior parte dos afluentes. Estes afluentes
contribuem para uma maior amplidão do vale sobretudo junto à
confluência com o rio Chire. O desnível, no perfil longitudinal, atinge
50 m, correndo o rio sobre os seus sedimentos e sobre os sedimentos
do cenozóico de acumulação marinha.
O rio atravessa rochas magmáticas do Karroo e rochas
sedimentares Jurássicas e cretácicas somente junto ao estreito de
Lupata. Junto a Tambara desaparecem imperceptivelmente as
montanhas marginais e o vale alarga-se e aumenta a acção cumulativa
do rio tornando o vale uma verdadeira planície de acumulação. Com a
crescente tendência de deposição, aumenta também a capacidade de
formação de meandros e ilhas fluviais são alteradas anualmente, sob
acção geomorfológica das cheias. É por isso frequente a ocorrência de
braços mortos de meandros formando lagoas ou ilhas que se tornam
cada vez mais numerosos à medida que se aproxima da confluência
com o rio Chire.
A depressão tectónica onde se instalou o Chire corta
perpendicularmente o rio Zambeze e prolonga-se através dos rios
Zangue e Urema na margem direita, para onde transbordam as uas do
rio Zambeze durante as cheias.
A extrema secura do clima tropical que aqui se faz sentir,
resulta visivelmente da fraca influência oceânica alida as elevadas
temperaturas médias anuais não é suficiente para tornar o clima
húmido. Os valores da pluviosidade total anual variam entre 400 e 600
mm, diminuindo gradualmente para montante do rio. Em
contrapartida, os valores da temperatura são mais elevados, ou pelo
menos mais constantes para montante,
130
Embora se verifique um ligeiro acréscimo. Estas condições climáticas
associadas às condições pedológicas e hidrológicas criam paisagens
aparentemente inóspitas. Só as zonas próximas do leito do rio mantêm
humidade suficiente para permitir o desenvolvimento da vegetação ao
longo do todo ano.
Em geral, estas áreas quando sujeitas à influência das águas
subterrâneas possuem solos aluvionares férteis, mesmo que sobre eles
se depositem anualmente sedimentos arenosos.
131
de Quelimane a 20 km da sua foz. Este braço constitui o limite
Setentrional do Delta do Zambeze e foi em tempos remotos a via de
penetração utilizada para as plantações de Morrumbala.
Hidrologicamente o delta do rio Zambeze constitui uma região
complexa. O amplo delta de cerca de 7.000 km2 de superfície tem
forma de um triângulo isósceles com a base de 150 km voltada para o
oceano e cerca de 100 km de cateto. A sua importância, resulta ainda
da estrutura e dinâmica complexas dos inúmeros braços que o Sulcam.
O caudal médio é estimado em cerca de 16.000 m3/s que
transporta e deposita anualmente um volume de aluviões de mais de
500.000.000 de ton.
Uma outra característica desta região, importante para sua
diferenciação, diz respeito ao clima. Ela faz parte das regiões mais
húmidas e chuvosas do país nas quais o número médio de dia do ano
tem valores de precipitações compreendidos entre 80 e 100 mm.
Ao longo do todo delta o rio desloca-se em planície construída
sobre seus próprios aluviões a cotas inferiores a 50 m.
Após a separação do rio Cuacua a jusante de Marromeu o rio
retoma o seu carácter unitário dominante até atingir o braço Mucelo
que desagua na barra de Inhamissengo. Este braço com os seus
tributários foi uma via de penetração importante mas que foi perdendo
a sua navegabilidade devido ao forte assoreamento que obstruiu a
barra.
Cerca de 14 km a jusante de Mucelo na ilha dos amores inicia
o braço Chinde numa zona de bancos arenosos. Este braço de
profundidades variando entre 7 a 10 m na maré baixa é um dos mais
importantes do rio Zambeze.
Feita sua confluência com o braço Maria, que também se funde
ao Zambeze na época das cheias, forma-se a barra e
132
a foz do Chinde. Chinde é também o nome da vila portuária mais
importante do delta do rio Zambeze. A jusante da ilha dos amores,
uma outra bifurcação constitui o braço Catarina, bastante assoreado e
que desagua Indico através da barra Catarina. Deste braço parte ainda
uma outra derivação de monro importância que atravessa a lagoa
Pebane que desagua na barra do mesmo nome.
O principal braço do delta do Zambeze, conhecido por rio
Cuama, tem sua foz na barra do mesmo nome entre as Cause e Leste.
Embora este braço não seja tão profundo como Chinde ela é mais
rectilíneo e presta-se a navegação fluvial.
Na zona litoral e paralelamente a costa, observa-se áreas de
cordoes dunares de areias recentes. É particularmente no reverso
ocidental destes cordões, nas baixas onde os meandros têm o seu maior
desenvolvimento.
Nas partes mais elevadas sobretudo nas ilhas fluviais o
substrato é mais diversificado, ocorrendo em muitos casos laterítes e
calcários silicificados.
Climaticamente o delta do rio Zambeze pertence à zona litoral
de transição entre a zona subequatorial e a zona tropical e subtropical.
De uma maneira geral o clima pode ser considerado chuvoso de
savana. Com temperaturas médias anuais entre 24º e 25º C e a
pluviosidade entre 1.000 e 1. 600 mm. A temperatura média anual
diminui de 23º C no litoral (Chinde) para 24º C no sublitoral
(Marromeu). A amplitude de variacao térmica anual é, de uma maneira
geral, de 6º a 7º C.
A época das chuvas têm inicio em Novembro ou Dezembro
atingindo cerca de 50 mm de precipitação mensal, no Chinde e uma
ligeira ascensão em Marromeu (58 mm). O fim da estacão chuvosa
regista-se entre Abril e Maio com valores de pluviosidade mensais
oscilando entre 700 mm, em Marromeu e 1.000 mm no Chinde. Estes
valores elevados de pluviosidade, quando associados as chuvas que se
registam a
133
montante, provocam frequentemente inundações com graves prejuízos
económicos e perdas de vidas humanas.
Antes da construção registaram-se cheias com consequências
catastróficas. Mesmo após a construção daquela barragem e mais tarde
de Cahora Bassa registarem-se cheias de grande amplitude com
características de calamidades. Mais houve, em contrapartida, anos de
extrema secura como o foram 1922, 1930, 1941, 1947, 1949, 1959 e o
período compreendido entre 1980 e 1985. O elevado caudal e a grande
capacidade de transporte e sedimentação do rio podem ser observados
através d fotografias aerocósmicas.
Verdadeiras torrentes de sedimentos penetram no Oceano
Índico em mais de 50 km, a despeito da forte influencia das marés que
na zona da foz atingem amplitudes superiores a 6 m. o fraco declive
que se regista faz aumentar a tendência para a meamdrização do rio.
Contudo, estes meandros divagantes de planícies sofrem alterações
constantes devido ao intenso trabalho fluvial que é ainda mais intenso
quando se registam simultaneamente marés vivas. De facto, para
compreensão dos processos de formação de delta é necessário tomar
em conta os factores oceânicos que participam no desenvolvimento
das formas litorais.
A influência das marés faz-se sentir até às proximidades de
Marromeu apesar do grande caudal do rio. Sob ponto de vista
fitogeográfico regista-se uma grande variedade de formações vegetais
terrestres e aquáticas formando Mosaicos complexos com predomínios
para formações herbáceas de graminias misturadas com plantas de
grande porte, arbustos em diferentes graus de associação. As
condições climáticas permitem o desenvolvimento de uma vegetação
rica em espécies onde uma grande variedade de fauna tropical africana
encontra o seu habitat. É na margem Sul do delta, que se proclamou,
em 1961, a Reserva de Marromeu com o objectivo de protecção à
Natureza
134
(búfalos) e para a constituição de reservas e coutadas de caça.
Nas zonas de planicieis aluviais situadas próximo das margens
do rio e seus braços ocorrem prados edáficos de Tiandra, Setária e
Viteveria, associados a savan de palmeiras com árvores de Borassus,
Hyphanea e Phoenix.
Junto do leito das linhas de água e nas margens dos algos ou
braços mortos, formam-se florestas-galeria que são mais expressivas
na margem esquerda do delta e a jusante de Luabo.
Estas florestas são constituídas essencilamente por plantas dos géneros
Ficus, Morus, Acacia, Miletia e Cordyla. Nas clareias que se formam
em zonas de elevado grau de humidade do solo, desenvolvem-se
principlamente gramíneas hidrófilas tais como as Pharagmites,
Imperata, Sesbania, que se associam no leito do rio a plantas flutuantes
tais como a Pistia e a Azolla.
Nos locais mais secos subplanálticos ocorrem florestas,
parques e matas sendo de destacar a ocorrência de espécies dos
géneros Adansonia, Sterculia, Terminalia, Tamarindus, Combretum e
Grewia. Na foz dos numerosos braços e nas zonas de solos aluvionares
de grande influência oceânica desenvolvem-se as florestas de Mangal
com algumas plantas típicas de Rizophora, Bruguiera, Ceriops,
Avicennia. Imediatamente antes desta zona de mangal e intercalando-
se muitas vezes com elas, desenvolve-se a floresta dunar litoral com
plantas predominantemente rasterias halófitas. Vastas áreas de
inundação da zona deltaica correspondem às zonas de utilização
agrícola intensiva do território moçambicano.
Os solos aluvionares ricos em matéria orgânica, aliados ao
clima tropical chuvoso muito húmido, criam condições para o
desenvolvimento de actividades agro-pecuárias com carácter intensivo,
destacando-se aqui maiores e mais antigas plantações moçambicanas
de cana-de-açúcar em Luabo e Marromeu.
135
Fig. 41
136
3. Moçambique Central
3.1. Enquadramento geográfico geral
A região natural Moçambique Centro, ocupa grosso modo a superfície
situada entre os rios Zambeze, ao Norte e o Save ao Sul. Ela engloba
uma parte da província de Manica e de Sofala com as seguintes
coordenadas: 18º de latitude Sul, nas imediacoes da Baia do Zambeze
ao Norte e 21º de latitude Sul, na foz do rio Save, ao Sul.
Sob o ponto de vista da estrutura e dinâmica das suas
condicoes naturais, trata-se da região natural moçambicana que
apresenta maior complexidade. Praticamente todas as principais
formas de relevo têm a sua representacao e muitas das vezes nas
vizinhanças umas das outras, o que lhes confere uma característica
paisagística própria. De uma maneira geral, distinguem-se nesta
região, as unidades correspondentes aos principais períodos do
desenvolvimento paleogeográfico de Moçambique nomeadamente o
Precambrico, o Karroo e o Pós-Karroo.
Na metade ocidental, que essencilamente montanhosa e
planáltica com mais de 1.000 m de altitude, predominam rochas do
complexo granítico-gneissico do Precambrico onde também ocorrem
numerosas intrusões de carácter básico e intermédio sob a forma de
maciços, bem como filiões das mais variadas direcções e possancas.
Relativamente a Moçambique Setentrional, nesta região
aumentam as linhas de deslocamentos e fracturas relacionadas com a
tectónica dos Grandes Riftes que predominam toda África Oriental.
Aparentemente algumas destas falhas são anteriores ao Karroo e
teriam sido avivadas posteriormente pelos movimentos
137
tectónicos que aproveitaram as linhas de fraqueza pré-existentes.
Devido à sua antiguidade, estas fracturas tornam-se sensíveis e
permeáveis aos fluxos magmáticos do Karroo que deram origem a
numerosas intrusões e extrusões básicas que ocorrem com a
abundância no limite oriental do complexo de rochas precâmbricas.
Esta metade ocidental é a mais elevada do país, com grandes planaltos
e as mais altas cordilheiras do país tal como o Chimanimani onde se
localiza o monte Binga, o mais elevado do país, com 2.436 m de
altitude.
A metade oriental desta região é dominada, por um lado pela
Depressão Urema-Zangue e por outro pela Planicie Litoral
confinante à costa.
A depressão Urema-Zangue, que é de origem tectónica, representa o
limite meridional dos Grandes Riftes da África Oriental. A planície
litoral por sua vez, representa estruturalmente uma plataforma
suavemente ondulada, em direcção ao oceano e que foi talhada sobre
rochas terciárias e quaternárias, de altitudes inferiores a 200 m. de
acordo com a sua localização geográfica a região natural Moçambique
Central encontra-se entre a zona de influência da convergência
intertropical e a zona de altas pressões subtropicais. Para o clima desta
região, quatro factores são determinantes: a localização na zona dos
alíseos; a Corrente de Moçambique cuja influência se faz sentir em
toda costa moçambicana posição altimétrica e a continentalidade.
Assim, toda região sofre influência dos ventos húmidos
marítimos de sudeste com forte tendência para a formação de chuvas
copiosas. De facto, ocorrem chuvas também na estacão seca. Todas
regiões expostas a barlavento são húmidas, exceptuando as áreas do
interior protegidas dos ventos onde se regista um índice de secura
relativamente elevado.
Esta região possui um clima com características tropicais
138
de transição entre a região de influencia de massas de ar subequatoriais
de Moçambique Setentrional e dos centros de massas de ar polar
marítimo proveniente do Sul do continente. A influência conjunta
destas duas massas de ar na estacão quente, provoca o aumento da
pluviosidade e determina o regime da estacão das chuvas.
O carácter tropical do clima desta região é evidenciado pela
coincidência entre o período das chuvas e o período quente, muito
embora também ocorram chuvas durante a estacão seca. Contudo, as
diferenças altimétricas, a continentalidade, a exposição e posição
geográfica também introduzem diferenças regionais do clima. Assim
as áreas mais húmidas e chuvosas localizam-se no litoral de baixa
altitude e as mais secas no interior sobretudo nos vales dos rios
Zambeze e Save. Verifica-se também uma disposição meridional das
isotérmicas e isoietas o que explica a influencia da continentalidade
que determina o enfraquecimento da accao dos ventos de Leste e de
uma maneira geral da influencia marítima.
A média das somas pluviométricas anuais diminui de cerca de
2.000 mm nas proximidades da cidade da beira para 600 mm nas
regiões do interior da baixa de Chemba, Caia, Sena, na parte Norte e
de Mossurize na parte Sul da região, enquanto que as temperaturas
oscilam entre 24º e 25º C.
Claramente distintas do resto da região são as terras altas e
montanhosas situadas acima dos 600 m. Aqui a altitude assegura, de
novo um aumento de pluviosidade são da ordem dos 1.800 a 2.000 mm
e a temperatura média anual inferior a 18º C.
Esta diversidade climática expressa-se bem através do regime
hídrico e da estrutura da paisagística. Com efeito esta região é sulcada
por numerosos cursos de água dentre eles os mais importantes são o
Púnguè e o Búzi. Trata-se de rios de
139
Regime periódico que nas terras altas correm em gargantas apertadas e
que na planície se espraiam formando amplos meandros e planícies de
inundação. Estes rios e a maioria dos seus afluentes nascem nas terras
altas e pluviosas do Zimbabwe, atravessam sucessivamente as
montanhas, os planaltos e as planícies antes de atingirem a baia de
Sofala. No seu curso inferior as cheias da estação das chuvas tem
provocado catástrofes sobretudo onde a ocupação humana é mais
intensa.
Os processos de acumulação de sedimentos transportados por
estes rios têm passado por uma intensificação dada a grande amplitude
das marés e a fraca profundidade da plataforma continental. Uma
grande parte dos sedimentos de Watt depositam-se nas praias
sobretudo no limite superior das marés vivas. Por outro lado é visível a
influência das águas do mar sobre o leito inferior dos rios, cujos
efeitos são visíveis em mais de 40 km da sua foz.
No que respeita à repartição territorial da vegetação a região
central de Moçambique apresenta também uma enorme diferenciação.
A diversidade morfológica é um dos principais factores que contribui
para a diferenciação dos tipos vegetais, de planície de planalto e de
montanha. Este factor em conjunto com a pluviosidade e a natureza
dos solos condiciona a maior ou menor densidade e riqueza das
espécies vegetais.
As condições edáficas locais, a aproximidade e influência das
águas salinas das marés também explicam o desenvolvimento das
florestas do mangal no litoral e no interior da Baia de Sofala. Nas
margens húmidas de solos aluvionares dos cursos de água
desenvolvem-se florestas cuja densidade e riqueza de espécies têm
vindo a ser empobrecidos pela intervenção humana.
140
3.2 A planície litoral
A planície litoral da parte central do território moçambicano tem uma
largura de 40 a 70 km. Ela é constituída predominantemente por
sedimentos pleistocénicos e holocénicos de acumulação marinha
eólica, interrompida de onde em onde, por depósitos aluvionares
fluviais. Trata-se de uma superfície aplanada, levemente ondulada cujo
o carácter plano só se altera nos vales dos principais rios e nas colinas
dunares onde os decliveis podem ser superiores a 10º . Estes declives
podem ainda ser mais acentuados na transição da planície para as
terras altas de Amatongas.
Para além destes acidentes, a maior parte da planície litoral apresenta
declives muito suaves, inclinando-se suavemente em direcção ao
Oceano Índico. Este fraco declive é também característico da
plataforma continental que nesta parcela do país se prolonga por mais
de 200 km. A suavidade das suas formas e a grande extensão da
plataforma continental explicam em grande medida a natureza e a
dinâmica dos processos litorais em particular a dinâmica estuarina e da
formação da costa. A grande diversidade dos processos litorais nesta
região do país relaciona-se com a influência da corrente de
Moçambique, que ocorre paralelamente à costa ao Norte da cidade da
Beira e que provoca na margem Sul da baía de Sofala e a formação de
baias e reentrâncias notáveis. Com feito, em toda baia de Sofala a
grande influência marinha sobre os processos continentais faz-se sentir
através das elevadas amplitudes das marés que atingem 6,4 m,
tornando-se as mais elevadas de todo território moçambicano.
Por outro lado fenómenos de subsistência recentes
aparentemente relacionados com o desenvolvimento dos Riftes,
também contribuem para expansão das áreas de inundação da planície
litoral, mais evidentes, na parte Sul da baia de Sofala.
141
E grande amplitufe das marés e dinâmica estuarina são também
factores importantes para o desnvolvimento de prpocessos genéticos
de carácter geomorfologico decorrentes nos cursos inferiores do rio
Púnguè e Búzi.
Junto à costa sobre os solos aluvionares fluviais sobrepõe-se
solos salobros onde se desenvolvem os mangais, que, de facto,
encontram-se aqui as suas melhores condicoes de existência.
De resto a vegetacao dominante na planície litoral é constituída por
florestas e savanas com um maior ou menor grau de alteracao.
Nas margens dos rios e nas baixas interiores com fraca
salinidade a vegetacao dominante e herbácea, localmente aconpanhada
de espécies lenhosas.
A grande influencia martinha sobre o litoral é particularmente
legível no comportamento dos elementos climáticos.
Sob as temperaturas medias superiores a 24º C, as somas
pluviométricas oscilam entre 1.000 e 1.800 mm. Estas condicoes em
conjunto com as características edaficas da região contribuem para o
desenvolvimento e distribuuicao da vegetacao.
De acordo com estas condicoes climáticas, a vegetaacao
natural corresponde seria a floresta tropical húmida. Mas ela já
apresenta algumas variacoes dependentes das condicoes locais sobre
tudo aquelas derivadas da intervencao humana.
Em muitos locais a vegetacao natural já foi profundamente
alterada e em grande parte substituída pelos campos cultivados ou
ainda por vegetacao secundaria e expontanea.
Nas margens dos rios Zambeze, Púnguè e Búzi, foram
instalados grandes complexos agro-industriais para o cultivo da cana
sacarina e arroz. Necessitando de maiores cuidados e eonde a
actividade agrícola intensiva esta limitada, são as áreas litorais do sslos
halomórficos argilosos e cinzentos. Na época das chuvas, devido à
capacidade de retencao de água, estes solos representam maiior
impedimento para a circulacao rodoviária.
142
Nos solos das depressões com horizontes, onde habunda a
vegetacao herbácea, existem condicoes para o desenvolvimento
pecuário. De resto nas áreas secas, a actvidade agrícola é muito
diferenciada e praticada em regime de sequeiro.
143
Desníveis são, como se referiu anteriormente, somente assinaláveis
junto dos vales dos escassos rios que atravessam a região que ora
desaguam no rio Zambeze ora no rio Urema.
Esta região devido a continentalidade e à sua localização a
Sotavento possui um clima árido, o que em conjunto com as condições
naturais dos solos arenosos e gresosos do Cretácico, provoca uma
notável deficit de água, sobretudo na estacão seca. Em consequência
disso a vegetação espinhosa, pobre mais que vai tornando mais
diversificada em espécies e mais densa a medida que se caminha para
o Sul.
A oriente do Urema, o planalto de Chiringoma e constituído
por sedimentos calcários cretácicos e terciários.
Todo planalto encontra-se coberto por florestas frondosas, que são
mais ricas em espécies nas vertentes situadas a barlavento, onde
ocorrem, predominantemente grandes quantidades de Afzelia e
Milletia, espécies arbóreas de grande valor comercial.
A Sul da região central, confinando com a planície costeira,
destaca-se o plateau de Machaze-Nhango. Este plateau, cuja crista
relativamente plana atinge a altitude máxima de 300m, inclina-se
levemente para Este e Sudeste. Ele é constituído por sedimentos
arenos do Pleistocénicos, muito permeáveis às águas pluviais. Trata-se
de uma região árida, onde a vegetação árborea-arbustiva dominante se
adapta as condições de secura.
Mais para o Sul, orientada no sentido E-O até atingir a fronteira
com Zimbabwe. O subestrato desta região é constituído por extensas
áreas de areias vermelhas quaternárias, pouco consolidadas.
Sedimentos arenosos terciáricos miocénicos, mais profundos, só
ocorrem nas margens do rio Save. É frequente o desenvolvimento dos
solos do grés, muitos escuros e profundos, mas extremamente
permeáveis. Nas áreas
144
mal drenadas das baixas, a vegetação é dominada por espécies do
género Setária e Andropogon, constituído uma paisagem conhecida
por tando.
Na área dos solos vulcânicos, as estruturas de natureza
assemelha-se aos parques naturais onde o estrato herbáceo é muito
denso e alto.
De resto, a vegetação da depressão de Mossurize é do tipo
floresta e Savana seca com predomínio de espécies lenhosas adaptadas
à seca prolongada de mais de 6 meses. São também frequentes plantas
suculentas e espinhosas, mais que não são especificas desta região.
Fazendo transição, em forma de degrau, para as regiões
montanhosas do ocidente, os altiplanaltos de Manica, representam
superfícies de erosão de ciclo «africano». Nesta região as latitudes
variam entre 500 e 1.000 m. De uma forma geral toda região é
constituída por rochas metamórficas e intrusivas do Precâmbrico. Os
limites orientais coincidem na parte meridional com limites
geológicos, embora não sejam muito evidentes. Devido à grande
influência e a relativa proximidade da base da erosão, a parte Sul do
altiplanalto foi profundamente desgastada, contribuindo grandemente
para a ocorrência superficial de sedimentos coluviais e solos de catena
com perfil muitas vezes incompleto ou fracamente desenvolvido.
Nas vertentes com condições normais de drenagem formam-se
solos lateríticos vermelhos muito espessos.nas baixas e nos vales com
drenagem insuficiente os solos mais comuns são escuros e argilosos e
apresentam frequentemente horizontes gle. A vegetação e constituída
por formações florestais de folha caduca, com notável pobreza em
espécies e comportando sobretudo Pterocarpus, Brachystegia e
Isoberlinia.
A sudeste da cidade de Manica, o altiplanalto do Zonue é uma
pequena subdivisão do altiplanalto onde os solos gneissicos são
arenosos e profundos. Estes solos, que apresentam
145
Uma forte reacção ácida, sustentam uma esparsa vegetação arbórea
constituída predominantemente por leguminosas e espécies de
Combretum.
Mais para Norte o altiplanalto de Bárue evidenciando uma
maior expressividade no carácter unitário do altiplanalto, separa-se do
planalto médio por um declive relativamente insensível de 400 m para
700 m, aparentemente devido à acção modeladora dos cursos de água
são pouco profundos e apresentam muitas vezes diferenças de alguns
metros de altura entre o chão do vale a os tipos das vertentes dos
respectivos vales.
Os processos de denudação das encostas provocam uma visível
zonalidade vertical de solos. Os solos vermelhos dos topos são
gradualmente substituídos por solos acastanhados e acinzentados
dominantes no fundo dos vales. A estes solos corresponde a floresta
aberta de Miombo cujo estrato herbáceo apresenta ser cada vez mais
baixo e pobre em direcção ao Norte.
Nas áreas semiáridas do Norte de Mungari são comuns plantas
espinhosas e suculentas tais como a Adansonia digitata e a Bombax
rhodognaphalon.
A depressão de Mendie constitui, segundo as condições físico-
geográficas , o prolongamento imediato do altiplannalto de Bárue do
qual difere com a concavidade das suas formas e pelo aumento da
influencia das águas subterrâneas.
Uma singularidade importante da região altiplanáltica é
representada pelas montanhas da Gorongosa, conjunto montanhoso
que se destaca pelas encostas vigorosas e cumes que atingem mais de
1.900 m de altitude. A sua estrutura morfológica está directamente
relacionada com a ocorrência de gabros do complexo intrusivo
mesozóico, que devido as falhas ocorridas nesta região separam-nos
dos gneisses cristalinos. As vertentes apresentam solos coluviais muito
espessos
146
no seu limite inferior e permite o desenvolvimento de uma floresta
densa.
No alto das montanhas desenvolve-se uma vegetação
possuindo espécies hidrófilas da floresta húmida sempre-verde com
epifitas.
Mais a Oeste, nas proximidades da fronteira com o Zimbabwe, as
montanhas periféricas constituem a chamada escarpa de Manica. Ela
representa uma pequena parte do degrau da ascensão para a margem
oriental do Grande planalto da África Austral e um a parte
insignificante da própria escarpa, que se estende mais para Norte até
atingir o Vale do rio Zambeze através do território zimbabweano. A
transição do altiplanalto e do planalto para as montanhas periféricas
tem lugar a partir vigorosas vertentes de erosão num degrau variável
de 100 a 1.500 m.
Dado que a parte moçambicana das montanhas peroifericas da
África Austral é limitada, faltam aqui elementos das montanhas não só
ocorrem mais a Oeste nos gneisses do território zimbabweano.
Na parte norte da escarpa, mais concretamente na serra Choa,
as montanhas constituem uma cadia orientada no sentido N-S,
enquanto que na parte Sul a subdivisão é irregular devido aos
numerosos cursos de água. O elemento mais notável deste complexo é
o maciço de Chimanimae, situado a cerca de 80 km a Sul da cidade de
Manica, com altitudes na ordem dos 1.900 m atingindo a máxima
elevação do país no Monte Binga (2.436 m). Trata-se de um
gigantesco maciço de 35 km de comprimento por 8 a 10 km de largura
orientado no sentido Norte-Sul. Este maciço predomina rochas
metamórficas do sistema Unkondo com quartzitos, xistos e calcários
cristalinos. Mais ou menos ao centro, a formação Unkondo estreita-se
dando lugar a um complexo granítico que é dominante.
147
A Sul deste complexo, localiza-se o maciço de Espungabera,
com altitudes vizinhas dos 1.000 m.
Próximo da cidade Manica ocorre no sentido Oeste-Este êxitos
metamórficos em bandas com uma estrutura própria que torna evidente
a escarpa. Devido a altitude o clima e a vegetação apresenta
características próprias de altimontana. O clima de altitude favorece o
zoneamento altitudinal das espécies vegetais de onde se destacam de
acordo com as condições edáficas a floresta húmida e a pradaria de
características temperadas. Acima dos 1.100 m e a zona subalpina com
formações arbustivas que, devido a influência antropogénica, tende
constituir unicamente estratos herbáceos.
Sobretudo na Serra Choa e na parte Sul, devido às queimadas e
ao pastoreio e as pequenas florestas de montanha ficaram circunscritas
as vizinhanças de curso de água.
148
Possui até 40 km de largura. Esta depressão encontra-se
coberta por solos argilosos e hidromóficos escuros que permitem o
desenvolvimento de uma vegetação herbácea que constitui uma das
maiores atracções para uma variedade de fauna selvagem. Uma parte
desta depressão é ocupada pelo Parque Nacional de Gorongosa e por
coutadas de caça.
Dois sistemas fluviais diferentes ocorrem nesta depressão, o
primeiro estrutura-se na Bacia do rio Zangue afluente do rio Zambeze
e o segundo segue o rio Púnguè e seus principais tributários. O limite
entre dois sistemas, só temporária e dificilmente pode ser fixado. As
cheias mais poderosas fazem transbordar as águas do rio Zambeze
através do rio Zangue ao Púnguè, provocando também, nestes enormes
vagas de massas aquáticas.
Entre-os-rios Zambeze e Púnguè a depressão é ampla e
alongada. Esta extensa planura está sujeita a alongamentgos
frequentes, mesmo na estacão seca. Na base das vertentes da depressão
os solos argilosos encharcados misturam-se por vezes com os
sedimentos coluviais provenientes do planalto calcário de Cheringoma
a Este ou das montanhas da Gorongosa a Ocidente.
Para Sul da foz do rio Púnguè a depressão prolonga-se até
atingir a localidade de Sofala, actualmente ameaçada pela submersão
devido aos factores da morfologia desta secção do país. Ela encontra-
se envolvida por planaltos médios, mas que deixam formar uma
depressão muito estreita, ampliada mais a Sul nas proximidades do
vale do rio Búzi onde os montes Búzi levemente ondulados,
constituem os principais acidentes.
149
4. Moçambique Meridional
4.1 Enquadramento geográfico geral
Moçambique Meridional situa-se ao Sul do rio Save entre os paralelos
21º 05’ (foz do rio Save) e 26º 52’ (Ponta do Ouro) de latitude Sul e os
meridianos 32º 20’ (Pafuri) e 35º 20’ (Cabo das Correntes) de
longitude Este.
Ela estende-se por mais de 5º de latitude e é atravessada
sensivelmente a meio por Trópico de Capricórnio. Nas proximidades
do paralelo 23º Sul, a região tem uma largura de cerca de 300 km, mas
na parte Sul a sua largura mínima é de 50 km. Os limites são ao Norte
o curso do rio Save; a Oeste a fronteira internacional separa-a dos
territórios Zimbabwe, a África do Sul e a Suazilândia numa extensão
de cerca de 800 km; a sul a região separa-se novamente da África do
Sul através de uma fronteira Oeste-Este numa extensão de 80 km até a
Ponta de Ouro no Oceano Indico. Toda fachada Oriental da região
abre-se para o Oceano Indico através de uma linha de Costa de mais de
800 km.
Esta região, abrange as províncias de Inhambane, Gaza e Maputo, tem
uma superfície aproximada de 171.000 km2.
Macroregionalmente, Moçambique Meridional é uma
subdivisão do território moçambicano da África Austral, que abrange,
também, todas áreas do país situada ao Sul do rio Zambeze. A
localização geográfica na costa oriental da macroregião «África
Austral» confere a esta região características naturais próprias, em
particular ao relevo, do clima e dos factores naturais deles
dependentes.
De igual modo interessante são os factores naturais e sócio-
históricos que explicam a localização e o desenvolvimento da cidade
capital de Moçambique, Maputo e dos vários povoamentos desta
região.
150
Entre o rio Save e rio Limpopo a planície atinge mais de 500
km de largura e estreita-se nas proximidades da Baia de Maputo, onde
a 40 km a Sudoeste da qual se estende o robordo montanhoso da
cadeia de Libombos.
Tectonicamente a região apresenta uma estrutura simples. É
dominada pelas planícies aluviais de dunas anteriores e recentemente
de onde em onde salpicadas por formações calcárias dos Urrongas.
Somente a parte ocidental da região é constituída por rochas
ígneas vulcânicas que constituem os montes Libombos.
A região é atravessada por números cursos de água e possui
milhares de lagos e lagoas, a maior parte dos principais rios, tem a
origem nos países vizinhos. Depois de atravessar as terras altas da
fronteira divagam através da planície até atingirem a foz de indico. Os
rios mais importantes desta região são: do norte para o Sul o
Inhanombe, Limpopo, Incomáti, Matola, Umbelúzi, Tembe e Maputo.
Os cursos de água que sulcam as montanhas fronteiriças
formam uma rede dentrítica nas encostas que é substituída por uma
estrutura complexa na planície. Estes rios ocorrem por ravinas e
depressões naturais do território. Junto a costa também nascem rios de
pequenas extensão cujo carácter hidrológico esta muito dependente da
morfologia litoral e da composição dos terrenos. Alguns deste rios
isoladamente, não tem a capacidade para atravessar a barreira natural
do relevo dunar e formam um foz conjunta, tal como sucede nas baias
de Maputo e de Inhambane. De acordo com seu carácter hidrológico, a
maioria desses rios transforma-se em estacão das chuvas, algumas
vezes com o carácter de catástrofe natural.
O clima constitui um dos componentes naturais mais
importantes para caracterização da região meridional, dada
151
a sua situação geográfica, nos dois lados do trópico de Capricórnio.
Ela possui um clima nitidamente tropical. A maior influencia sobre o
clima desta região é particularmente no que respeita ao
comportamento da pluviosidade e da temperatura, exercida pela
localização na zona dos alíseos do Sudoeste pela Corrente Marítima
Moçambique-Agulhas e pelas diferenças altitudinais e de exposição de
cada uma das suas parcelas.
A diferença territorial permite a observação de uma certa
variação segundo a continentalidade ou seja a diminuição da influência
dos ventos e correntes marítimas com o afastamento da Costa.
No litoral, as somas pluviométricas anuais variam de 800 e
1.000 mm enquanto que as temperaturas medias oscilam entre 22º a
24º C. as regiões mais chuvosas situam-se no litoral de Inhambane
com valores de pluviosidade acima dos 1.400 mm e temperaturas
médias de ordem dos 26º C.
Com características marcadamente mais secas são as regiões de
interior, com particular a faixa compreendida entre Chicualacuala e
Massingir onde as médias de temperatura se matem em vota de 24º C a
26º e a pluviosidade baixa até 300 mm anuais. Esta faixa por sinal é a
mais árida do país.
Durante a época das chuvas depende visivelmente da
localização em relação a costa e de consequente diminuição da
influência das massas de ar e dos ventos alíseos.
Contudo, a influência da altitude é notório, nos montes Libombos,
onde, devido à altitude, se verifica uma ligeira diminuição das
temperaturas médias anuais (20º - 21º C) e um acentuado acréscimo
das somas pluviométricas de 600 mm no litoral para 800 mm na
Namaacha.
A influência combinada das massas de ar húmido e das frentes
frias originárias do Sul da África faz com que a maior parte das chuvas
ocorra na estação quente, mantendo-se assim
152
O carácter tropical do clima. As massas de ar húmido dos alíseos do
Sudoeste e a influência conjugada da Corrente quente de Canal de
Moçambique trazem chuvas zenitais mais ou menos regulares da
ordem dos 900 a 1.500 mm sob temperatura média dos 22º C.
A época das chuvas, tal como para toda região Austral da
África coincide com a época quente, mas também ocorre chuvas na
época fria sobretudo na parte Sul do país sobre influência maior das
frentes frias. Com efeito, a pluviosidade e o factor ecológico é
importante para esta região, fazendo depender dele a intensidade dos
processos de formação dos solos, a altura, a densidade e tipo de
vegetação, e o tipo de vegetação bem como a possibilidade de
aproveitamento de condições naturais.
Pelo contrário, as temperaturas médias são suficientemente
elevadas ao longo de todo o ano para não constituírem critério de
caracterização do clima, mesmo que dependa também da latitude
geográfica, da altitude e da influência térmica oceânica.
Dadas condições ecológicas existentes nas áreas costeiras,
desenvolve-se uma floresta húmida como vegetação natural. Junto a
foz dos maiores rios desta planície se desenvolve-se a floresta de
Mangal. Com o decréscimo da pluviosidade média anual, a vegetação
típica nas zonas interiores tem as características de savana arbustiva
com muitas espinhosas ou matagais. Nas margens dos rios dos solos
aluvionares ocorre também a floresta de galeria; mas nos solos
avermelhados fersialíticos a vegetação é a savana arbustiva.
O clima e a natureza aluvionar dos solos dos vales favorecem a
agricultura intensiva que está amplamente divulgada nas margens dos
rios Limpopo, Incomáti e Umbeluzi.
Os solos comuns têm a designação local de machongos muito
ricos em nutrientes.
153
Em suma, as paisagens desta região apresentam formas
alternadas de planícies aluvionares, dunas recentes e fósseis, lagoas
costeiras fechadas, vales dos rios mais ou menos extensos e montanhas
da sua parte ocidental.
A alternância destas formas domina as condições naturais da
região e constitui a linha mestra para a subdivisão da região em
planície litoral incluindo a costa propriamente dita, os Montes
Libombos e os vales dos rios.
De uma maneira geral a planície litoral ocupa a maior parte das regiões
meridional do país, distinguindo-se nela litoestratigraficamente
formações sedimentares calcárias do Terciário e as formações
sedimentares do Quaternário. A sua característica geológica principal
reside na origem poligenética dos seus sedimentos datados desde o
terciário Holocénio.
Da costa para o interior distingue-se os grés costeiros, cobertos
em muitos locais por faixas de praias arenosas, as dunas litorais, dunas
interiores, depressões aluvionares fluviais e hidromórficas. Rochas
calcárias de territórios desaparecem por uma área contínua nas
margens do rio Save e numa faixa com mais de 50 km de largura entre
o rio Save e Massinga. São também abundantes manchas calcárias nas
margens do rio Limpopo e seu afluente Elefantes é do rio Maputo.
Em algumas depressões localizadas no interior da região
particularmente nas províncias de Inhambane e Gaza, as rochas de
composição predominantemente calcárias são substituídas por
formações gresosas e siliciosas, menos consistentes e mais argilosas
resultantes de sedimentação continental.
A rocha Quaternário encontra-se sob a forma de sedimentos
inconsistentes desenvolvidos em vastos fundos
154
emersos de origem marinha ou lacustre, de aluviões fluviais de
território de origem eólica e de formações orgânicas pantanosas.
Como reflexo da estrutura platafórmica tectónico-estrutural,
predominam morfologicamente superfícies aplanadas que provocam a
aparência monobotanica da paisagem imprimida não só pelo relevo,
mas também pelo clima, quer por sua vez exercem influência sobre as
condições pedológicas, hidrológicas e biológicas. A paisagem da
planície apresenta fenómenos típicos tais como as dunas costeiras
recentes e fosseis dispostas em faixas paralelas, lagoas costeiras e
interiores fechadas, planícies aluviais mais ou menos largos.
Para uma melhor compreensão dos fenómenos e processos
decorrentes na planície e tendo em conta o estado actual das
investigações científicas, é necessário caracterizar um pouco melhor
algumas das suas principais subdivisões. Estas subdivisões referem
sobretudo à diferenciação do subestrato e suas condições hídricas
acrescidas pelas condições do mesorelevo, mesoclima e da vegetação
local.
A costa propriamente dita é arenosa apresentando nalgumas
das suas parcelas baias como Inhassoro, Inhambane e Maputo que
representam ao mesmo tempo o estuário dos principais rios e locais de
evidente afundimento da costa.
De Nova Mambone até ao cabo das Correntes a linha da costa
tem uma orientação predominante Noroeste – Sudeste e os seus
acidentes mais notáveis são as baias de Govuro, de Vilanculos e de
Inhambane.
Ao Norte da Baía de Vilanculos a uma distância de cerca de 10
– 15 km, alinham-se paralelamente à costa as ilhas que constituem o
Arquipélago Bazaruto.
A partir do Cabo das Correntes até à Baia de Maputo, a linha
de costa toma a direcção Nordeste-Sudoeste e não apresenta
155
Acidentes notáveis para além da baia de Maputo. A Este desta baia,
formando uma baia natural no contacto com o Oceano aberto, localiza-
se o arquipélago de Maputo onde se destaca a Ilha de Inhaca e as ilhas
Xefina e dos Portugueses.
A partir do Cabo da Santa Maria até ao Sul da Ilha e Inhaca
inicia-se a última secção da linha da Costa até a Ponta de Ouro. Esta
secção é igualmente rectilínea e apresenta uma orientação
predominante Norte-Sul.
Toda zona costeira é dominada por um sistema de dunas
litorais de fraca altitude com direcção SE-NW e terminando por vezes
por penínsulas ou prolongando-se por ilhas tais como arquipélago de
Bazaruto, e o Arquipélago de Maputo.
São dunas recentes ainda activas localizadas muito próximo da costa.
Elas constituem uma estreita faixa de pequenas elevações,
normalmente cobertas por vegetação abundante no seu reverso
protegido pelos ventos. Nestas depressões situa-se no reverso,
formam-se frequentemente lagos e pântanos.
Ocupando uma área ainda maior encontram-se as dunas
interiores das areias vermelhas, cinzentas amarelas. Estas dunas
interiores encontram-se fixadas e aplanadas. Elas possuem
normalmente um relevo suave, ligeiramente ondulado, mais em muitos
locais no contacto com as dunas litorais, elas apresentam um declive
muito acentuado, tal como sucede nas colinas arenosas de Quissico e
nas planícies levantadas de Inhambane.
As planícies fluviais que têm a forma de várzeas e lezírias são
constituídas por aluviões finos depositados pelos rios durante as
cheias. Nesta região meridional do país destacam-se extensas planícies
aluvionares de acumulação dos rios Save, Limpopo, Incomáti, Tembe
e Maputo.
Aluviões de mesma natureza ocorrem também nas margens dos
grandes numerosos lagos e lagoas do interior e formam extensas áreas
de pântanos nas proximidades de Vilanculos ou
156
Nas planícies de Pande e nas depressões pantanosas do rio Changane.
A Norte do rio Incomáti até aos terraços antigos do rio
Limpopo nas proximidades de Pafuri e Mapai, os solos arenosos
apresentam muitas vezes material grosseiro, formando mosaicos com
os solos arenosos argilosos. Em locais inatingíveis pelas cheias das
margens dos rios os sedimentos de aluviões pleistocénicos, os solos
são maduros que podem ser avermelhados com ou sem depósitos
grossiros e material argiloso.
Nas áreas de dunas antigas de Maxixe, Xai-Xai, Chibuto,
Magulane e nas proximidades da Baia de Maputo os solos arenosos
são, em geral, avermelhados a amarelados conforme a cobertura
vegetal e apresentam horizontes pouco expressivos. Mais para o
interior em Magude e Guijá os solos avermelhados e mais profundos
formam manchas descontinuas são de perfil mais homogéneo.
Entre as dunas existem lombas que por vezes se estendem por
imensas planuras de carácter aluvial. Estas lombas, outrora ocupadas
pelas águas do mar de que são testemunhas as numerosas lagoas e
pântanos que ocorrem com maior ou menor concentração no litoral de
lagos e lagoas de água doce, salgada e salobra constitui uma
característica hidrográfica importante para a caracterização de toda
planície desta região Meridional.
A planície costeira beneficia da influência da corrente Quente
de Moçambique que se traduz pelos elevados valores de temperatura,
humidade e pluviosidade. Contudo, devido ao fraco declive não se
registam chuvas orográficas. Mais ainda, no interior onde os solos
arenosos são predominantemente secos há uma maior absorção de
grande parte das radiações solares o que, devido à fraca
condutibilidade térmica dos terrenos arenosos, provoca um aumento
das variações térmicas diurnas do ar e ao nível do solo.
157
No plateau sublitoral e também no interior, a continentalidade e
também a inexistência do relevo acidentado tornam o clima mais
árido. É assim que se explica que as vizinhanças de Chicualacuala se
registem os valores de pluviosidade mais baixos (350 mm) de todo o
país. Estas condições naturais tornam difícil a utilização do território
para a produção biológica. A actividade agrícola só é possível nas
margens aluvionares dos escassos cursos de água, mesmo assim sob
elevado risco de seca.
Em condições tropicais e sob solos arenosos dominantes
desenvolve-se em grande parte da planície meridional moçambicana a
planície aberta e Savana, esta última, como vegetação secundária.
Restos de floresta tropical ocorrem sobre solos aluvionares dos
terraços e nos solos aluvionares dos principais rios que atravessam a
planície onde formam mosaicos.
Sob ponto de vista fitogeográfico é ainda interessante observar
a variação da composição e associação vegetal à medida que aumenta
a latitude. Caminhando de Norte para Sul, o número de espécies
herbáceas vai sendo cada vez maior em detrimento das arbóreas.
Fig 42
158
4.3 Os montes Libombos
Os montes Libombos localizam-se na parte sudoeste da região, desde o
rio Limpopo até ao rio Maputo confinado com a planície litoral. Eles
dispõem em cadeia de orientação predominante Norte-Sul de 400 a
500 m de altitude média. Esta cadeia representa uma parte de rebordo
montanhoso que domina a parte Oriental da África Autral. Trata-se de
dois alinhamentos montanhosos de cerca de 900 km de extensão e 30
km de largura máxima, que constituem respectivamente, os Grandes
Libombos e os Pequenos Libombos. São ambos parte do
prolongamento do Queme Range, o qual se liga a cadeia dos
Drakensberg da África do Sul.
Os Pequenos Libombos, confinado directamente com a planície
litoral, estendem-se desde as proximidades do rio Incomáti até
Changalane, sendo a altitude máxima de 291 m.
Os Grandes Libombos, por sua vez alongam-se em mais de 500
km na fronteira ocidental da região e tem altitude média de 580 m,
sendo a maior altitude localizada no Monte Imponduine a Norte da
Vila de Namaacha (809 m).
Morfologicamente, os Montes Libombos constituem plateaux
de rochas e formas do complexo vulcânico do Karroo. Eles ressaltaram
de um vulcanismo do tipo fissural com emissão de lvas dispostas em
camadas tabulares, alternadamente ácidas (riolitos) e básicas
(basaltos), localmente intercaladas por piroclásticos tufosos e
brechóides.
A orientação estrutural dominante (Norte-Sul), alternância das
rochas ácidas e básicas e a disposição morfológica monoclinal,
constituem os aspectos mais característicos desta cadeia montanhosa.
Os seus topos, com encostas de relevo pronunciando têm um aspecto
tabular e apresentam uma inclinação média de 3º para Este,
dissipando-se gradualmente para Norte e para Sul respectivamente.
159
Nas proximidades de Massingir este relevo tectogénico apresenta um
fundo e vertentes dos vales com terraços rochosos e aluviões pouco
espessos. As elevações com 250 m de altitude apresentam depósitos
superficiais de material quaternário indefereciado. No local onde se
encontra edificada a Barragem de Massingir, sob os solos arenosos,
foram observados depósitos de terraço com material grosseiro.
As formações geológicas do Libombos são datadas na carta
geológica provisória disponível, como sendo Karroo-Stormberg. Elas
assentam sobre sedimentos continentais. Para além das evidências de
actividades vulcânicas fissural existem vestígios de vulcanismo central
em montes Ganguane, Secuani, Moguene e Quizendamine. Esta
característica morfológica conjugada com a diferença de existência de
materiais dos materiais rochosos contribuem para a formação de
escarpas mais vigorosas na parte ocidental das montanhas,
particularmente notáveis no contacto com as amplas planícies do
Umbeluzi e do seu afluente, o Impamputo.
De facto as duas cadeias têm um comum a configuração
«cuesta» com a frente voltada abruptamente para o ocidente e o
reverso inclinado suavemente para o oriente.
Sob efeito de uma intensa actividade erosiva dos rios estas
montanhas criaram declives entre 15º e 20º C observável em muitos
locais ao longo da fronteira com Suazilandia e África do Sul.
Um dos aspectos mais marcantes das condições naturais das
montanhas dos Libombos relaciona-se com o clima. O relevo e a
relativa continentalidade asseguram aos Libombos um clima de
altitude com características especiais de temperatura e pluviosidade.
Estas condições climáticas dominantes permitem o desenvolvimento
biológico do tipo Montana, incluindo, embora não muito visível, a sua
diferenciação segundo a altitude.
160
As condições topográficas locais introduzem características
adicionais, sobretudo a exposição e posição, factores importantes para
a criação de microclima e de condições locais para formação de solos e
sua respectiva cobertura vegetal. Nas áreas de declives acentuados, os
solos originais dos riolitos são pouco espessos, por vezes, pedregosos
ou lateríticos. No sopé das montanhas os solos são mais profundos e
argilosos e menos pedregosos, misturados por vezes com aluviões.
Igualmente espessos são os solos do plateau da Namaacha e outras
superfícies peneplanas.
As áreas de solos esqueléticos suportam somente uma
vegetacao herbácea com algumas espécies arbóreas. Pelo contraio, nos
vales fundos do rio Umbeluzi e Maputo, com solos ricos em
nutrientes, desenvolve-se uma vegetação frondosa nitidamente
delimitável pela fotografia aérea. Trata-se de solos basálticos férteis de
superfícies aplanadas, tal como sucede nas proximidades da Barragem
dos Pequenos Libombos. Na Moamba os solos escuros são fortemente
argilosos e profundos. Produzem abundante lama durante a estacão das
chuvas e fendíveis na estação seca. Por vezes apresentam menor
profundidade e cascalheiras abundantes.
Nas proximidades de Magude os tipos de solos predominantes
são arenosos e de cores mais claras de amarelo ao cinzento. A sua
profundidade é variável e depende da sua posição geográfica.
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BIBLIOGRAFIA SELECCIONADA
CAILLEUX, A., Biogeografia Mundial, Presse Universitaire de France que sais je?
FLORES, G., Suggested origin of the Mozambique channel. Trans. Geol.Soc. South
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GOUVEIA, D.G., A fisiografia. Esboço do reconhecimento ecológico – agrícola de
Moçambique Vol.1 Pg. 31-132 Lourenço Marques. 1955.
UNIDO/UNEP, industrial sources of marine and coastal pollution in the East African
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163