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Sumário
1. Consideração Inicial
2. Importância do Momento Angular
3. Relações de comutação característica
a) Momento Angular Orbital, 𝕃
b) Generalização: momento angular arbitrário 𝕁
c) Enunciação do problema
4. Teoria Geral do Momento Angular
a) Definições e Notações
b) Autovalores de 𝕁2 e 𝕁𝑧
c) A base { |𝑘, 𝑙, 𝑚⟩ }
5. Aplicação: Momento Angular Orbital 𝕃
a) Autovalores e autofunções de 𝕃2 e 𝕃𝑧
b) Harmônicos Esféricos 𝑌𝑙𝑚 (𝜃, 𝜙)
6. Considerações Finais
1. Considerações Iniciais
A maior parte desse trabalho encontra-se no livro “Quantum Mechanics”, dos autores
Claude Cohen-Tannoudji, Bernard Diu e Franck Laloë, traduzido para o inglês do francês por
Susan Reid Hemley, Nicole Ostrowsky e Dan Ostrowsky. Meu trabalho aqui foi o de traduzir e
sumarizar as informações do capítulo 6, General properties of angular momentum in quantum
mechanics. Constantes referências a esse capítulo serão feitas no texto.
ℒ𝑥 = 𝑦𝑝𝑧 − 𝑧𝑝𝑦
𝕃𝑥 = 𝕪𝕡𝑧 − 𝕫𝕡𝑦
Podemos fazer essa promoção sem preocupações com os produtos de operadores em
decorrência da comutabilidade entre 𝕪 e 𝕡𝑧 , e 𝕫 e 𝕡𝑦 . Por essa razão, 𝕃𝑥 é hermitiano, assim
como 𝕃𝑦 e 𝕃𝑧 , que são obtidos exatamente da mesma forma. Assim, podemos escrever, com
um certo abuso de notação,
𝕃 = 𝕣⃗ × 𝕡
⃗
Onde os vetores 𝕃, 𝕣⃗ e 𝕡
⃗ representam o conjunto de operadores em cada uma das
direções.
Esse operador é hermitiano, já que vimos que suas componentes são uma a uma
hermitianas. Iremos assumir que ele é um observável. Uma relação importante de comutação
se dá com o quadrado do momento angular e suas componentes. Vejamos, por exemplo,
quanto vale [𝕁2 , 𝕁𝑥 ]:
[𝕁2 , 𝕁𝑥 ] = 0
De fato, pode-se provar de forma análoga que essa relação é válida para qualquer
direção, de forma que (abusando a notação):
[𝕁2 , 𝕁] = 0
c) Enunciação do problema
a) Definições e Notações
𝕁± = 𝕁𝑥 ± 𝑖𝕁𝑦
[𝕁𝑧 , 𝕁± ] = ±ℏ𝕁±
[𝕁+ , 𝕁− ] = 2ℏ𝕁𝑧
[𝕁2 , 𝕁± ] = [𝕁2 , 𝕁𝑧 ] = 0
Além disso, é de grande utilidade escrever o produto entre esses operadores:
𝕁± 𝕁∓ = 𝕁2 − 𝕁2𝑧 ± ℏ𝕁𝑧
Essas duas expressões (compactadas acima em uma única equação) podem ser
somadas, resultando em:
1
𝕁2 = (𝕁+ 𝕁− + 𝕁− 𝕁+ ) + 𝕁2𝑧
2
𝜆 = 𝑗(𝑗 + 1)
Notemos: até aqui, não obtivemos nenhuma propriedade sobre 𝑗 e 𝑚, de forma que
não sabemos ainda se são números discretos, contínuos ou mesmo se são relacionados entre
si. Estamos apenas dando nomes ao espectro dos operadores para futuramente obtermos,
algebricamente, as relações entre esses espectros.
Essas equações, provavelmente, são as mais importantes que iremos tratar de agora
em diante.
b) Autovalores de 𝕁𝟐 e 𝕁𝒛
−𝑗 ≤ 𝑚 ≤ 𝑗
Demonstração:
𝑗(𝑗 + 1) − 𝑚(𝑚 + 1) ≥ 0
𝑗(𝑗 + 1) − 𝑚(𝑚 − 1) ≥ 0
(𝑗 − 𝑚)(𝑗 + 𝑚 + 1) ≥ 0
(𝑗 + 𝑚)(𝑗 − 𝑚 + 1) ≥ 0
𝑗≥𝑚→𝑚≤𝑗
𝑗 + 1 ≥ −𝑚 → −(𝑗 + 1) ≤ 𝑚
Isto é,
−(𝑗 + 1) ≤ 𝑚 ≤ 𝑗
−𝑗 ≤ 𝑚 ≤ 𝑗 + 1
−𝑗 ≤ 𝑚 ≤ 𝑗
Demonstração:
𝕁+ 𝕁− |𝑘, 𝑗, 𝑚⟩ = 0
nulo, já que sua norma vale ℏ2 [𝑗(𝑗 + 1) − 𝑚(𝑚 − 1)]. Como os operadores 𝕁− e 𝕁2 comutam,
podemos aplicar 𝕁2 em 𝕁− |𝑘, 𝑗, 𝑚⟩ e fazer o seguinte:
[𝕁𝑧 , 𝕁− ] = −ℏ𝕁− = 𝕁𝑧 𝕁− − 𝕁− 𝕁𝑧
∴ 𝕁𝑧 𝕁− = −ℏ𝕁− + 𝕁− 𝕁𝑧
Baseado no que foi feito acima, fica a cargo do leitor a demonstração da propriedade
abaixo:
Como ainda não conhecemos a natureza dos números 𝑚 e 𝑗, podemos supor que
certamente existe um inteiro 𝑝 de tal forma que
−𝑗 ≤ 𝑚 − 𝑝 < −𝑗 + 1
Ou seja, em nossa suposição, 𝑚 − 𝑝 > −𝑗. Mas isso está contradição com o que foi
visto anteriormente, onde 𝑚 − 𝑝 − 1 < −𝑗. Dessa forma, a suposição de que podemos abaixar
o estado é falsa, de forma que (𝕁− )𝑝 |𝑘, 𝑗, 𝑚⟩ é tal que 𝑚 é mínimo, de forma que
𝕁− (𝕁− )𝑝 |𝑘, 𝑗, 𝑚⟩ = 0, necessariamente. Portanto,
𝑚 − 𝑝 = −𝑗
𝑚+𝑝 = 𝑗
2𝑗 = 𝑝 + 𝑞
Como 𝑝 e 𝑞 são inteiros, por hipótese, 𝑗 deve ser um valor inteiro ou semi-inteiro. Isto
é, um número inteiro ou um número ímpar dividido por 2. Ou seja,
1 3
𝑗 = 0, , 1, , 2, …
2 2
E, graças às consecutivas operações de 𝕁+ sobre |𝑘, 𝑗, −𝑗⟩ até que se atinja o estado
|𝑘, 𝑗, 𝑗⟩, temos saltos discretos de uma unidade sobre 𝑚, de forma que 𝑚 é inteiro se 𝑗 é
inteiro ou semi-inteiro se 𝑗 é semi-inteiro.
Essas informações, por mais que não seja de tão fundamental importância que sejam
deduzidas, é muito importante que sejam entendidas e memorizadas:
1 3
𝑗 = 0, , 1, , 2, …
2 2
E, para um valor fixo de 𝑗, existem 2𝑗 + 1 valores possíveis para 𝑚:
−𝑗, −𝑗 + 1, … , 𝑗 − 1, 𝑗
(O valor dessas constantes multiplicativas dos estados ao aplicar 𝕁± são obtidas como
na demonstração da primeira propriedade).
1 1 1 1 1 1 3 1 1
𝕁2 |𝑘, , − ⟩ = ( + 1) ℏ2 |𝑘, , − ⟩ = ℏ2 |𝑘, , − ⟩
2 2 2 2 2 2 4 2 2
1 1 3 1 1
𝕁2 |𝑘, , ⟩ = ℏ2 |𝑘, , ⟩
2 2 4 2 2
3 1 0
𝕁2 = ℏ2 ( )
4 0 1
Que é muito parecida com matrizes de rotação vistas em sala em exemplos de outras
partes da matéria.
As propriedades vistas até aqui são válidas para todos os momentos angulares,
decorrentes unicamente das relações de comutação que foram necessárias para definir o que
é um momento angular. Vamos agora aplicar esse conhecimento para tratar do momento
angular orbital 𝕃 de uma partícula sem spin (ainda iremos definir essa quantidade mais
adiante). Vamos ver que os autovalores do operador 𝕃2 são da forma ℏ2 𝑙(𝑙 + 1), para 𝑙 inteiro
positivo ou zero (os valores semi-inteiros de 𝑗 como vimos anteriormente não são válidos
nesse caso, e veremos o motivo).
a) Autovalores e autofunções de 𝕃𝟐 e 𝕃𝒛
𝕣⃗|𝒓⟩ = 𝒓|𝒓⟩
ℏ
⃗ |𝒓⟩ = 𝛁|𝒓⟩
𝕡
𝑖
De tal forma que podemos escrever a atuação das componentes do momento angular
orbital 𝕃 como:
ℏ 𝜕 𝜕
𝕃𝑥 = (𝑦 − 𝑧 )
𝑖 𝜕𝑧 𝜕𝑦
ℏ 𝜕 𝜕
𝕃𝑦 = (𝑧 −𝑥 )
𝑖 𝜕𝑥 𝜕𝑧
ℏ 𝜕 𝜕
𝕃𝑧 = (𝑥 −𝑦 )
𝑖 𝜕𝑦 𝜕𝑥
𝜕 cos 𝜙 𝜕
𝕃𝑥 = 𝑖ℏ (sin 𝜙 + )
𝜕𝜃 tan 𝜃 𝜕𝜙
𝜕 sin 𝜙 𝜕
𝕃𝑦 = 𝑖ℏ (− cos 𝜙 + )
𝜕𝜃 tan 𝜃 𝜕𝜙
ℏ 𝜕
𝕃𝑧 =
𝑖 𝜕𝜙
𝜕2 1 𝜕 1 𝜕2
𝕃2 = −ℏ2 ( + + )
𝜕𝜃 2 tan 𝜃 𝜕𝜃 sin2 𝜃 𝜕𝜙 2
𝜕 𝜕
𝕃± = ℏ𝑒 ±𝑖𝜙 (± + 𝑖 cot 𝜃 )
𝜕𝜃 𝜕𝜙
Note que agora mudamos o jeito de representar a base das posições: em coordenadas
retangulares, podemos relacionar |𝒓⟩ = |𝑥, 𝑦, 𝑧⟩; agora, em coordenadas esféricas,
|𝒓⟩ = |𝑟, 𝜃, 𝜙⟩. Projetando |𝜑⟩ nessa base, obtemos a função de onda em coordenadas
esféricas,
𝕃𝑧 |𝜑⟩ = 𝑚ℏ|𝜑⟩
𝜕
−𝑖 𝜑(𝑟, 𝜃, 𝜙) = 𝑚𝜑(𝑟, 𝜃, 𝜙)
𝜕𝜙
Como nas equações acima não existe dependência na coordenada radial 𝑟, podemos
denotar que as derivações atuam apenas em uma porção angular de 𝜑(𝑟, 𝜃, 𝜙). Denotaremos,
então, as autofunções comuns a 𝕃2 e 𝕃𝑧 como 𝑌𝑙𝑚 (𝜃, 𝜙) com autovalores, respetivamente,
𝑙(𝑙 + 1)ℏ2 e 𝑚ℏ. Isto é,
Ou seja, se compararmos com a teoria vista anteriormente, o ket |𝑌⟩ seria análogo ao
ket |𝑘, 𝑗, 𝑚⟩, no caso do momento angular generalizado. Isso implicaria que a função 𝑌𝑙𝑚 (𝜃, 𝜙)
precisaria de mais um índice 𝑘, que indicaria a distinção entre autofunções distintas com os
mesmos autovalores. No entanto, 𝑌𝑙𝑚 são unicamente determinadas por esses dois índices
(não existem duas ou mais autofunções que possuam o mesmo autovalor, a menos de
constantes), de tal forma que não adotaremos o índice 𝑘 de agora em diante.
Assim explicado, podemos então agora definir de forma mais simples e intuitiva a
atuação de 𝕃2 e 𝕃𝑧 sobre os autoestados angulares |𝑙, 𝑚⟩:
∞
∫ |𝑅(𝑟)|𝑟 2 𝑑𝑟 = 1
0
Até o momento, determinamos as autofunções comuns aos operadores 𝕃2 e 𝕃𝑧 : as
funções 𝑌𝑙𝑚 (𝜃, 𝜙). No entanto, ainda não especificamos nada sobre 𝑙 e 𝑚 que definem os
autovalores desses operadores, além do que já sabíamos de 𝑗 e 𝑚, decorrente das relações de
comutação que definem um momento angular. Vamos estudar com mais cuidado agora esses
autovalores. Note o seguinte,
ℏ 𝜕 𝑚
𝑌 (𝜃, 𝜙) = 𝑚ℏ𝑌𝑙𝑚 (𝜃, 𝜙)
𝑖 𝜕𝜙 𝑙
𝑌𝑙𝑚 (𝜃, 𝜙) = Θ𝑚
𝑙 (𝜃)𝑒
𝑖𝑚𝜙
Que leva a:
𝑒 𝑖𝑚2𝜋 = 1
𝕃− |𝑙, −𝑙⟩ = 0
E projetar esse resultado sobre a base das posições, dada a expressão de 𝕃− nas
posições,
𝜕 𝜕
ℏ𝑒 −𝑖𝜙 (− + 𝑖 cot 𝜃 ) 𝑌𝑙−𝑙 (𝜃, 𝜙) = 0
𝜕𝜃 𝜕𝜙
𝜕 𝜕
ℏ𝑒 𝑖𝜙 ( + 𝑖 cot 𝜃 ) 𝑌𝑙𝑙 (𝜃, 𝜙) = 0
𝜕𝜃 𝜕𝜙
Cuja resolução resultaria em 𝑌𝑙𝑙 . Iterar 𝕃− nesse resultado 2𝑙 vezes também originaria
todas as 𝑌𝑙𝑚 possíveis. No próximo item, mostramos algumas expressões possíveis para os
harmônicos esféricos.
Aqui, não exibiremos a expressão de 𝑅(𝑟) (tal assunto será visto ao abordar o átomo
de hidrogênio). No entanto, vejamos que 𝑅 não pode depender do número quântico 𝑚.
Se 𝜑𝑙,𝑚 (𝑟, 𝜃, 𝜙) = 𝑅𝑙,𝑚 (𝑟)𝑌𝑙𝑚 (𝜃, 𝜙), então, na base das posições (denotarei por 𝐿2 , 𝐿𝑧
e 𝐿± os operadores 𝕃2 , 𝕃𝑧 e 𝕃± projetados nessa base):
Assim,
b) Os Harmônicos Esféricos 𝒀𝒎
𝒍 (𝜽, 𝝓)
𝐿+ 𝑌𝑙𝑙 (𝜃, 𝜙) = 0
A solução dessa equação, lembrando que 𝑌𝑙𝑙 (𝜃, 𝜙) = Θ𝑙𝑙 (𝜃)𝑒 𝑖𝑙𝜙 , é:
𝑌𝑙𝑙 (𝜃, 𝜙) = 𝑐𝑙 (sin 𝜃)𝑙 𝑒 𝑖𝑙𝜙
De fato, essa expressão pode ser simplificada com o uso dos polinômios de Legendre e
as funções associadas de Legendre. Para 𝑚 = 0, a porção Θ(𝜃) pode ser escrita como uma
combinação linear de polinômios de Legendre:
Θ(𝜃) = ∑ 𝑐𝑙 𝑃𝑙 (cos 𝜃)
𝑙
Com
2𝑙 + 1 𝜋
𝑐𝑙 = ∫ sin 𝜃 𝑃𝑙 (cos 𝜃)Θ(𝜃)𝑑𝜃
2 0
2𝑙 + 1 (𝑙 − 𝑚)! 𝑚
𝑌𝑙𝑚 (𝜃, 𝜙) = (−1)𝑚 √ 𝑃 (cos 𝜃)𝑒 𝑖𝑚𝜙
4𝜋 (𝑙 + 𝑚)! 𝑙
𝑑𝑚
𝑃𝑙𝑚 (𝑢) = √(1 − 𝑢2 )𝑚 𝑃 (𝑢)
𝑑𝑢𝑚 𝑙
2𝑙 + 1 (𝑙 + 𝑚)! −𝑚
𝑌𝑙𝑚 (𝜃, 𝜙) = √ 𝑃 (cos 𝜃)𝑒 𝑖𝑚𝜙
4𝜋 (𝑙 − 𝑚)! 𝑙
Em resumo, basta ao leitor que seja familiar com a expressão de três dos harmônicos:
1
𝑌00 =
√4𝜋
3 3
𝑌1±1 (𝜃, 𝜙) = ∓√ sin 𝜃 𝑒 ±𝑖𝜙 𝑌10 (𝜃, 𝜙) = √ cos 𝜃
8𝜋 4𝜋
6. Considerações Finais
Espero que o trabalho aqui exibido tenha ajudado o leitor a compreender melhor o
conceito de momento angular em mecânica quântica. Uma abordagem mais completa do que
foi tratado aqui pode ser visto no livro de MQ do Cohen, base para esse estudo.