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Indígenas de Santa Catarina: História de povos invisíveis

Article · September 2019

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Isabella Brandão de Queiroz


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Universidade Federal da Fronteira Sul – Licenciatura em História
Componente Curricular: História de Santa Catarina
Professor: Antonio Luiz Mirada
Discentes: Isabella Brandão de Queiroz e Jhonathan Boldori

Indígenas de Santa Catarina: história de povos invisíveis

Segundo Rodrigo Lavina, “a História das populações indígenas em Santa Catarina é


quase a História de povos invisíveis” (LAVINA, 2004, p.73), já que a documentação em que
consta informações sobre o assunto é de difícil acesso e até mesmo entre os historiadores é
pouco abordada. Entretanto o autor afirma que a contribuição dos nativos para a história passou
longe da insignificância, tendo sido eles sujeitos históricos que lidaram da forma que puderam
em uma conjuntura que visou o seu extermínio.
A abertura do território brasileiro para exploração e colonização europeia fez com que
houvesse o contato entre culturas completamente distintas. O estranhamento sentido pelos
europeus fez com que ocorressem tentativas de aprender sobre o desconhecido, mas na maioria
das vezes com o intuito de domesticá-lo para incluí-lo em seus projetos expansionistas. O
interesse pela cultura desconhecida fica evidente com a grande produção de crônicas escritas
sobre as populações nativas no período pós-contato, que embora sejam narradas do ponto de
vista eurocêntrico podem trazer relevantes informações sobre os povos autóctones, se
analisadas através da etnohistória.
As crônicas foram fundamentais para se estudar a cultura dos grupos indígenas costeiros
de Santa Catarina, como é o caso dos Cario. Já a documentação referente aos Kaingang e
Xokleng está dispersa em arquivos e incluem relatórios, cartas, jornais e fotos. Outra área
importante para o estudo da história indígena é a arqueologia, que analisa a vida nativa
principalmente para o período anterior ao contato com os europeus.
Os grupos indígenas históricos de Santa Catarina são os Cario, Kaingang e Xokleng, e
contato de cada um desses grupos com os europeus se deu em períodos e conjunturas políticas
bastante distintas, como veremos a seguir.

Os Cario do litoral
Também conhecidos como Carijó, os Cario pertencem à matriz linguística Tupi-
Guarani, que na época da chegada dos europeus ocupava grandes territórios do litoral e interior
do Brasil, além de áreas na Argentina, Paraguai e Uruguai. Os vestígios arqueológicos
confirmam a presença da etnia por toda costa do estado de Santa Catarina.
Os Cario ocuparam o litoral migrando da região do rio da Prata há cerca de 1000 anos
atrás, assimilando ou expulsando as populações mais antigas da região. O contato do grupo com
europeus se deu no século XVI através da relação de escambo: como a região era um
importantíssimo local para o abastecimento dos navios, os nativos ofereciam alimentos em troca
de adornos e objetos de metal.
A partir da segunda metade do século XVI as relações pacíficas mudaram com a ação
das bandeiras de apresamento criadas pelos moradores da Vila de São Vicente e pelas tentativas
dos padres jesuítas de reduzirem-nos às missões. Os ataques vicentistas aos Cario visavam a
obtenção de mão-de-obra escrava, e como grande parte desses nativos já estavam cristianizados
e aldeados, se tornaram presas irresistíveis para os colonos. Na tentativa de evitar que os
indígenas fossem escravizados, as missões foram criadas, entretanto com interesses próprios,
que era tornar os nativos bom católicos para reforçar a ordem colonial que estava sendo
implantada.
Lavina nos lembra que houveram reações dos Cario contra a escravização e a proibição
da sua cultura tradicional, entretanto eles acabaram exterminados ou escravizados, deixando até
o final do século XVII a costa catarinense praticamente desocupada.

Os Kaingang do Planalto
Os Kaingang são os nativos do estado de Santa Catarina menos estudados. Pertencentes
a matriz-linguística Jê, eles são tradicionalmente seminômades, tendo vivido no passado de
caça, pesca, coleta de pinhão e horticultura. Para os séculos XVI e XVII há sobre o grupo apenas
os relatos de jesuítas, que nos levam a crer que também tenham sido aldeados em reduções.
O contato dos Kaingang com os não-indígenas foi intensificado a partir da expansão da
criação de gado no Planalto, tendo sido eles incorporados pelas fazendas de criação de gado,
seja como peões ou para atuar contra outros grupos Kaingang. Segundo Lavina, aqueles que
não se aculturaram acabaram sendo marginalizados, perdendo suas terras tradicionais e vivendo
até hoje em terras não demarcadas. Ainda é necessário que se faça o resgate de documentos
para sistematizar melhor a história desse grupo.

Os Xokleng da Mata Atlântica


De matriz linguística Jê, os Xokleng são tradicionalmente nômades, tendo vivido no
passado da caça e da coleta. Seu território tradicional é a Mata Atlântica e o constante
deslocamento fazia parte do seu sistema cultural. No verão habitavam o litoral e no outono a
borda dos pinheiras do Planalto. Sabe-se que os Xokleng faziam ataques aos imigrantes: antes
de 1850 pela busca de ferramentas, depois de 1850 pela crescente penetração dessas pessoas ao
seu território tradicional.
A “solução” apresentada pelo governo a esses ataques foi ou repressão ou a simples
eliminação dos Xokleng. Embora a ideologia da época definia o grupo como selvagem, alguns
documentos encontrados relatam trocas amistosas entre os Xokleng e os imigrantes, mas
confirmam que os ataques mútuos realmente aconteceram e se intensificaram com o aumento
da imigração e consequente perda das terras Xokleng.
No contexto dos ataques, que não se pode esquecer que se tornaram mútuos, surgiram
os bugreiros, que eram caçadores de índios que atuavam para exterminar os Xokleng.
Geralmente encarregados do governo e de particulares, os bugreiros eram luso-brasileiros em
busca de vingança ou de uma boa renda mensal. E, apesar do trabalho sujo, eram respeitados e
vistos pela sociedade não-indígena como protetores.
Na região do Vale do Itajaí e do Rio Negro entre 1914 e 1918 dois grupos Xokleng
remanescentes dos ataques dos bugreiros foram aldeados, sob supervisão do Serviço de
Proteção ao Índio. No sul do estado os Xokleng foram perseguidos e exterminados, mesmo
tento cessado ataque aos colonizadores.
Apesar das epidemias que reduziu drasticamente os aldeados que restaram, os Xokleng
conseguiram sobreviver e manter sua identidade étnica. Hoje em dia lutam para conseguir justa
compensação pelas suas terras que foram alagadas por barragens para a contenção de cheias.

Referência Bibliográfica

LAVINA, Rodrigo. Indígenas de Santa Catarina: história de povos invisíveis. In: BRANCHER,
Ana. História de Santa Catarina. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2004. p. 73-82.

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