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Organizador
2015
TEMAS AVANÇADOS
EM QUALIDADE DE VIDA
VOL. 3
Ana Maria Malik
Fabiana Maluf Rabacow
Casimiro Perez Hernandez Netto
Ruy Shiozawa
Rozana Mesquita Ciconelli
Stephen Bevan
T278 Temas avançados em qualidade de vida v.3 / Alberto José Niituma Ogata
organizador ...[et al.]. – Londrina : Midiograf, 2015.
172 p. : il.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-8396-031-7
CDU 658.3.018:614.8
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Sumário
INTRODUÇÃO...............................................................................................7
AUTORES ......................................................................................................11
7
A
pesquisa “Global Burden of Disease 2013” traçou um perfil das 301
principais condições que afetam a saúde das pessoas, em 188 paí-
ses, inclusive sua incidência, prevalência e fatores associados a ris-
co de morte ou aos anos vividos com incapacidade a eles associados (Theo
Vos et al, 2015). O estudo concluiu que as doenças e condições são muito
prevalentes e somente uma pequena fração dos indivíduos ficam sem ne-
nhuma sequela e, neste contexto, as doenças crônicas não transmissíveis
(DCNT) assumem importância cada vez maior, tendo sido estimado que
os anos vividos com incapacidade aumentaram de 537 milhões em 1990
para 764 milhões em 2013, principalmente pela sua maior prevalência e
pelo envelhecimento da população. As principais causas são as dores lom-
bares e os distúrbios depressivos. O estudo destaca que o declínio relativo
das taxas de incapacidade é muito mais lento do que as de mortalidade.
Assim, a dimensão não fatal destas condições vai exigir cada vez mais aten-
ção dos sistemas de saúde.
Nesta edição, Stephen Bevan e cols., abordam a questão dos distúr-
bios musculoesqueléticos e o seu impacto na qualidade de vida das pesso-
as e também para o sistema de saúde, os empregadores e a sociedade. A
partir de dados nacionais e a pesquisa especial feita pelo IBOPE realizou-
-se extensa análise da situação brasileira, comparando-a com dados globais
e propondo ações com base na proposta da iniciativa “Fit for Work” que
teve grande impacto, principalmente em países europeus e que vem sendo
disseminada no Brasil.
O estilo de vida tem grande importância na abordagem das DCNTs,
pois alguns fatores de risco como inatividade física, alimentação inadequa-
da, tabagismo e uso abusivo do álcool devem ser abordados de maneira
Introdução 9
adequada, em diferentes dimensões, inclusive no ambiente de trabalho.
Fabiana Rabacow e Ana Maria Malik apresentam o cenário destes fatores,
a sua avaliação, inclusive de maneira integrada com indicadores empresa-
riais e apresentam uma aplicação prática em uma organização brasileira.
O sistema de saúde precisa se reorganizar para esta nova realidade
onde a prioridade deixa de ser os atendimentos de urgência e precisa estar
focada no cuidado das condições crônicas. Rozana Mesquita Ciconelli e
Alberto Ogata apresentam alguns aspectos conceituais e os modelos de
gestão consagrados e apontam alguns pontos críticos de metodologia de
abordagem das condições crônicas.
Finalmente, Rui Shiozawa e Casimiro Perez Hernandez Nettorela-
tam, de maneira bastante prática e aplicada, a consolidação de anos de
experiência na organização “Great Places to Work” apoiando as empresas
para que construam ambientes mais saudáveis, criativos e produtivos. Cer-
tamente, estes objetivos não são atingidos meramente com ações pontuais,
políticas desconexas e sem canais de comunicação claros e transparentes
com os trabalhadores. A construção de culturas de trabalho saudáveis é
fundamental para que a qualidade de vida no trabalho seja uma realidade
na organização e não apenas um slogan ou mensagem na comunicação da
empresa.
Boa leitura!
11
Ana Maria Malik
Graduada em Medicina pela Universidade de São Paulo, mestre em Ad-
ministração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas - SP e doutora em
Medicina (Medicina Preventiva) pela Universidade de São Paulo. Professora
A nA Mda
Titular AriA MAlik (departamento de Administração Geral e Recur-
EAESP-FGV
sos Humanos).
Graduada Membro do conselho
em Medicina da ALASS - de
pela Universidade Associação Latina
São Paulo, mestrePara
em
AnáliseAdministração
dos Sistemas de Saúde, coordenadora do GVSaude da Fundação
de Empresas pela Fundação Getulio Vargas - SP e
Getuliodoutora
Vargas em
- SP,Medicina
diretora adjunta do PROAHSA
(Medicina Preventiva) da
pelaFundação Getulio
Universidade de
Vargas São
– SP.Paulo. Professora Titular da EAESP-FGV (departamento de Ad-
ministração Geral e Recursos Humanos). Membro do conselho da
Casimiro PALASS
erez H-ernandez
Associação N Latina
etto Para Análise dos Sistemas de Saúde,
coordenadora do GVSaude da Fundação Getulio Vargas - SP, diretora
Analista de Inteligência de Mercado no GPTW Brasil, onde é responsável
adjunta do PROAHSA da Fundação Getulio Vargas – SP.
pela produção de conteúdo on-line e off-line, além de estar envolvido com
as estratégias de Marketing Digital da empresa. Experiência em empresas
ruy Mutato
como ShiozAwA (grupo JWT) e MBA60, realizando estudos de monitoramento
online, Engenheiro
estratégias dederelacionamento,
Produção e Mestre socialpela
media, branding,
Escola gerenciamento
Politécnica da USP
de conteúdos web e estratégias de Marketing Digital. Formado
com especializações nos EUA (Wharton), Japão (AOTS) e Espanha em Comuni-
cação Social,
(IESE),na RuyUNESP/Bauru,
é sócio e CEO do com especialização
Great em roteiro
Place to Work® Brasil,(Cinema
Diretor
e TV) depelarelações
NYFA, em Los Angeles, CA. Atualmente cursando
empresariais da ABRH-BRASIL e Empreendedor nas áre- MBA em
Marketing
as deDigital
saúde na ESPM
e bem estar.(São
FoiPaulo/SP).
diretor de empresas nacionais e multina-
cionais em diversos segmentos de mercado tais como Dow Química,
Diageo,RTelefônica,
Fabiana Maluf abacow Claro e GVT. Eleito Executivo de TI do Ano em
2002; recebeu 6 outros prêmios nacionais e internacionais. Palestran-
Graduada em Educação Física pela Universidade Federal de Mato Grosso
te pela SOAP SPEAKERS, apresentando-se em vários países e colu-
do Sul, mestre em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Ca-
nista em inúmeras publicações em negócios, gestão, recursos humanos
tarina e doutora em Medicina (Medicina Preventiva) pela Universidade de
e tecnologia. Autor do livro “Qualidade no Atendimento e Tecnologia
São Paulo. É professora das instituições Uniderp e Universidade Católica
da Informação” pela Editora Atlas e co-autor, pela Primavera Edito-
Dom Bosco. Trabalha na área de saúde coletiva, com ênfase nos temas:
rial, de “Transformando a Cultura do Ambiente de Trabalho”.
Promoção da atividade física, epidemiologia das doenças crônicas e saúde
do trabalhador.
Autores 13
Ruy Shiozawa
Engenheiro de Produção e Mestre pela Escola Politécnica da USP com es-
pecializações nos EUA (Wharton), Japão (AOTS) e Espanha (IESE), Ruy
é sócio e CEO do Great Place to Work® Brasil, Diretor de relações empre-
sariais da ABRH-BRASIL e Empreendedor nas áreas de saúde e bem estar.
Foi diretor de empresas nacionais e multinacionais em diversos segmentos de
mercado tais como Dow Química, Diageo, Telefônica, Claro e GVT. Eleito
Executivo de TI do Ano em 2002; recebeu 6 outros prêmios nacionais e in-
ternacionais. Palestrante pela SOAP SPEAKERS, apresentando-se em vários
países e colunista em inúmeras publicações em negócios, gestão, recursos hu-
manos e tecnologia. Autor do livro “Qualidade no Atendimento e Tecnologia
da Informação” pela Editora Atlas e co-autor, pela Primavera Editorial, de
“Transformando a Cultura do Ambiente de Trabalho”.
Stephen Bevan
Professor honorário da Lancaster University e Diretor do Centre for Workfor-
ce Effectiveness da organização The Work Foundation. Consultor de orgãos
governamentais, empresas e na formulação de políticas públicas na Europa,
Ásia e América do Norte. Publicou estudos e projetos focando na saúde da
força de trabalho e no impacto das doenças crônicas na produtividade e in-
clusão social.Lidera a coalização Fit for Work Europe.
14
Apto para o trabalho?
Distúrbios musculares
e o mercado de
trabalho brasileiro
StePhen bevAn
kSeniA zheltoukhovA
eMily Anderton
Anthony hind
15
APTO PAR A O TR ABALHO?
DISTÚRBIOS MUSCULARES E
O MERCADO DE TR ABALHO
BR ASILEIRO
Resumo executivo
O
rápido desenvolvimento da economia brasileira e as alterações
em seu mercado de trabalho requerem uma força de trabalho
que seja saudável para sustentar a ambição do país para o cres-
cimento. Ao mesmo tempo, pode parecer que a capacidade de produtivi-
dade estabelecida pelas estratégias de regulação do mercado de trabalho
tradicional exauriu seu potencial, ameaçando um longo período de desa-
celeração no Brasil.
Além disso, o Brasil está enfrentando o desafio global do envelheci-
mento - e menos saudável - da população economicamente ativa. O núme-
ro de pessoas que necessitam de auxílio médico mais invasivo, baseando-
-se no funcionário e nos benefícios do estado devido à incapacidade de
trabalhar está colocando tensão adicional na disponibilidade de recursos
humanos qualificados nos sistemas de mercado de trabalho, assistência de
saúde e bem-estar.
PESQUISA DO
EUROPA
IBOPE
Perda no trabalho/semana (horas médias) 8,46 4,14
5 United States Bone and Joint Decade. (2008). The Burden of Musculoskeletal Diseases in the United States.
Rosemont, IL: American Academy of Orthopaedic Surgeons.
6 Veale, A., Woolf, A. and Carr, A. (2008). Chronic musculoskeletal pain and arthritis: Impact, attitudes and
perceptions. Irish Medical Journal, 101 (7), 208-210.
7 Vide The Brazilian Institute for Geography and Statistics http://www.ibge.gov.br
8 European Trade Union Institute (ETUI). (2007). Musculoskeletal disorders: An ill-understood pandemic.
Brussels: ETUI.
9 Cammarota, A. (2005). The Commission’s initiative on MSDs: Recent developments in social partner
consultation at the European level. Presentation to the Conference on MSDs – A challenge for the telecommuni-
cations industry. Lisbon, 20-21 October.
10 European Agency for Safety and Health at Work. (2007). Work-related Musculoskeletal Disorders: Back to
Work Report. Luxembourg: Office for Official Publications of the European Communities.
12 Vieira, E.R., Albuquerque-Oliveira, P.R. and Barbosa-Branco, A. (2011). Work disability benefits due to mus-
culoskeletal disorders among Brazilian private sector workers. BMJ Open, 1(1).
13 Filipovic, I., Walker, D., Foster, F. and Curry, A.S. (2011). Quantifying the economic burden of productivity loss
in rheumatoid arthritis. Rheumatology, 50(6), 1083-1090.
14 Viana, S.O., Sampaio, R.F., Mancini, M.C., Parreira, V.F. and Drummond, A.S. (2007). Life satisfaction of
workers with work-related musculoskeletal disorders in Brazil: Associations with symptoms, functional limitation
and coping. Journal of Occupational Rehabilitation, 17, 33-46.
2.3. ObjetivOs
Este relatório é o produto de um estudo maior – Fit For Work
– conduzido pela The Work Foundation em mais de 30 países europeus,
observando o impacto que os DMSs apresentam nas vidas profissionais
dos trabalhadores, a adequação do tratamento e apoio que eles recebem
15 De Azevedo, A. B. C., Ferraz, M. B., & Ciconelli, R. M. (2008). Indirect costs of rheumatoid arthritis in Brazil.
Value in Health, 11(5), 869-877.
16 Vieira et al. (2011).
21 Boonen, A., Chorus, A., Miedema, H., van der Heijde, Landewé, D. R. et al. (2001). Withdrawal from labour for-
ce due to work disability in patients with ankylosing spondylitis. Annals of Rheumatic Diseases, 60, 1033–1039.
22 National Audit Office. (2009). Services for people with rheumatoid arthritis. London: NAO.
2.4. MetodologiA
Para explorar as experiências individuais de viver e trabalhar com
DMSs, lançamos duas pesquisas de funcionários brasileiros entre um nú-
mero de organizações de vários setores e tamanhos. Este relatório apresen-
ta a análise de ambos.
A pesquisa primária apresentada foi conduzida pela agência de pesqui-
sa do mercado brasileiro IBOPE. O foco foi na descoberta do conhecimento
e prevalência de DMSs dentro de uma seção transversal mais ampla e mais
representativa da sociedade brasileira e para melhor escalar a gravidade e
impacto dos DMSs no comportamento dos indivíduos. A pesquisa consistiu
de várias seções abertas a todos os entrevistados, como conhecimento dos
DMSs e seções abertas a apenas aqueles identificados com um DMS, como
vias para diagnóstico, tratamento dos DMSs e impacto dos DMSs no traba-
23 Ferreira et al. (2011). Prevalence and associated factors of back pain in adults from southern Brazil: a popu-
lation-based study. Revista Brasileira de Fisioterapia, 15(1), 31-36.
24 Ministério da Previdência Social http://www.previdencia.gov.br/
As grandes
As grandes
cidadescidades
são centros
são centros
para todos
para todos
os tipos
os tipos
de indústrias,
de indústrias,
particularmente
particularmente
aquelas
aquelas
que envolvem
que envolvem
trabalho
trabalho
com maquinaria
com maquinariapesadapesada
(por exemplo,
(por exemplo,
produção)
produção)
e levantamento
e levantamento
e carregamento
e carregamentode peso
de peso
(por (por
exemplo,
exemplo,
construção)
construção)
e, portanto,
e, portanto,
podem podem
ter funcionários
ter funcionários
com uma
com ten-
uma ten-
são que
sãocausa
que causa
DMSsDMSs
ou exacerba
ou exacerba
as condições
as condições
existentes.
existentes.
É porÉisso
porque
issoa que a
prevenção
prevenção
e o gerenciamento
e o gerenciamento
de DMSsde DMSs
nos municípios
nos municípios
é particularmente
é particularmente
desafiador.
desafiador.
Em SãoEmPaulo,
São Paulo,
a taxaadetaxa
prevalência
de prevalência
de DMSsde DMSs
entre entre
os traba-
os traba-
25 Vieira,
25 E.R.
Vieira,
et al.
E.R.
(2011).
et al. Work
(2011).
disability
Work disability
benefits benefits
due to musculoskeletal
due to musculoskeletal
disordersdisorders
among Brazilian
among Brazilian
private private
sector workers. BMJ Open.
sector workers. BMJ Open.
Apto para
Apto
o trabalho?
para o trabalho?
Distúrbios
Distúrbios
musculares
musculares
e o mercado
e o mercado
de trabalho
de trabalho brasileiro39
brasileiro 39
Fonte: Vieira, E.R. et al. (2011).
Quadro 3 Prevalência de dor muscular e/ou articular primária por local corporal,
indicador em porcentagem
PORCENTAGEM
Problema com duração de 3 meses
Nas últimas 4 semanas
LOCAL DA DOR ou mais
Brasil (com Europa (com Brasil (com Europa (com
Brasil Brasil
diagnóstico) diagnóstico) diagnóstico) diagnóstico)
pescoço 32,5% 22,7% 39,7% 29,6% 40,9% 49,5%
Ombro(s) 30,2% 29,5% 39,0% 32,0% 46,6% 47,3%
Cotovelo(s) 8,3% 13,6% 19,6% 14,2% 22,7% 23,7%
Punho(s) 13,6% 19,3% 31,5% 23,7% 37,5% 38,9%
Mão(s) 12,4% 18,2% 35,3% 21,3% 34,1% 41,7%
Costas 27,8% 22,7% 40,7% 32,5% 45,5% 53,0%
Quadril/Coxa(s) 15,4% 14,8% 33,5% 19,5% 27,3% 43,9%
Joelho(s) 14,8% 18,2% 39,7% 27,8% 39,8% 45,5%
Tornozelo(s) 11,8% 13,6% 27,4% 18,9% 27,3% 33,5%
Pé(s) 13,6% 17,0% 33,3% 23,1% 34,1% 43,5%
Fonte: análise TWF
dição. Isto mostra que 37,1 por cento das pessoas desempregadas apresen-
taram dor nas últimas quatro semanas. Destes, 22,1 por cento receberam
um diagnóstico para seu DMS. Não é possível verificar se estes indivíduos
estavam desempregados em consequência de sua condição. Agricultura
possui a maior prevalência de DMSs (32,3 por cento), com pouco mais
da metade destes indivíduos tendo um diagnóstico formal. Não surpre-
endentemente, isto reflete a natureza do trabalho e empregos que exigem
levantamento, esforço físico elevado e quando a postura incorreta é en-
dêmica. No entanto, na UE, 68 por cento dos agricultores, 48 por cento
dos trabalhadores da construção civil e 41 por cento dos assistentes sociais
relatam ter apresentado dor nas costas.
Tais diferenças poderiam ser o resultado da divulgação ou práticas
de relato diferentes e destacam a necessidade de melhor conhecimento
que a maior preocupação de todos os entrevistados foi não ser capaz de re-
alizar suas responsabilidades do trabalho adequadamente (42,9 por cento
dos entrevistados com condições leves, 38,2 por cento dos entrevistados
com condições moderadas, 37,5 por cento dos entrevistados com condi-
ções severas e 35,7 por cento dos entrevistados com as condições mais
severas). Tratar os sintomas foi a segunda principal preocupação entre
aqueles com condições leves (35,7 por cento), condições moderadas (29,1
por cento) e condições severas (31,3 por cento). Para entrevistados com as
condições mais severas, gerenciar os sintomas (14,3 por cento), perder seu
emprego (14,3 por cento) e não ser capaz de encontrar um emprego que
se ajuste à condição (14,3 por cento) foram igualmente a segunda maior
preocupação após gerenciamento dos sintomas.
3.5. reSuMo
Nesta seção, revisamos a prevalência e impacto dos DMSs e dor
muscular na força de trabalho brasileira. A proporção de funcionários
brasileiros apresentando dor musculoesquelética foi 28,3 por cento e com
apenas metade daqueles tendo um diagnóstico de DMS (47,9 por cento).
Descobrimos que aqueles com um diagnóstico de DMS apresentaram um
impacto mais grave da sua saúde nas atividades do trabalho, e sua capaci-
dade de permanecer empregado, no entanto, o impacto de dor muscular
não diagnosticada não foi negligenciável. No geral, dois terços daqueles
que apresentam dor muscular estavam preocupados sobre tratar o impac-
to da sua condição no trabalho, mais ainda quando sua saúde piorou.
É importante ressaltar que condições co-mórbidas parecem exacerbar a
capacidade individual para lidar com esta situação.
Ter considerado o impacto de DMSs em termos de perda de tempo
de trabalho e produtividade, descobrimos que os funcionários brasileiros
diagnosticados com DMSs estavam perdendo mais de 8 horas por semana
devido a sua condição, incluindo perdas no trabalho e atividades diárias,
em comparação com 4,11 horas entre trabalhadores na Europa. Embora
menos funcionários tenham comparecido ao trabalho quando estavam
doentes (84,9 por cento versus 92,4 por cento na Europa), a perda de pro-
dutividade daqueles que não estavam bem no trabalho foi ligeiramente
inferior em cerca de 35,6 por cento, em comparação com 39,5 por cento
na Europa.
Claramente, DMSs diagnosticados, e dor muscular em geral, im-
pactaram em uma proporção significativa da força de trabalho brasilei-
ra, afetando a capacidade dos funcionários em permanecer produtivos e
competitivos no contexto global. A próxima seção considerará se o apoio
4. Experiências de apoio na
manutenção do emprego
34 Ibid.
PORCENTAGEM
MEDIDA DE ENGAJAMENTO DMS DOR NÃO SEM
DIAGNOSTICADO DIAGNOSTICADA DMS
Acredito que faço uma contribuição valiosa ao su-
77,2 87,1 87,9
cesso da organização
Sentiria falta deste lugar se eu saísse 76,2 83,2 88,6
Me sinto motivado a trabalhar para minha organi-
zação & Me sinto comprometido com os objetivos 71,9 74,4 88,6
do meu trabalho
Colocarei horas extras de trabalho se necessário 65,4 79,7 83,4
Vale a pena trabalhar duro para minha organização 60,2 70,5 87,7
Fonte: análise TWF
PORCENTAGEM
RAZÃO DMS DOR NÃO SEM
DIAGNOSTICADO DIAGNOSTICADA DMS
Tenho prazos ou reuniões que não quero perder 61,6 74,7 82,5
Sei que sempre posso sair se não me sinto bem
57,6 60,2 74,7
quando chego ao trabalho
Não quero decepcionar minha equipe 45,3 48,7 53,2
Posso ajustar o trabalho que faço acerca dos
58,1 53,9 51,0
meus problemas de saúde
Carga de trabalho, se eu não for trabalhar, mi-
47,0 39,0 51,7
nha carga de trabalho acumulará
Me sinto culpado sobre tirar a licença 54,2 35,1 42,2
Posso gerenciar a comutação ao trabalho 35,7 44,3 44,1
Estou preocupado que tirar uma licença por do-
ença será visualizada negativamente pelo meu 47,1 36,3 28,8
gerente direto
Estou preocupado que tirar uma licença por
doença será visualizada negativamente pela 43,6 35,5 26,5
minha equipe
Estou preocupado que tirar uma licença por
doença será visualizada negativamente pelos 41,2 31,8 24,3
gerentes seniores
Estou preocupado que meu gerente direto não
38,4 31,7 22,2
acreditará que estou doente
Estou preocupado que minha equipe não acre-
33,3 18,2 22,4
ditará que estou doente
Já há muita ausência na minha equipe, então
27,7 28,8 18,3
preciso ir para compensá-los
Perderei comissão se não for para o trabalho 27,1 15,6 16,8
Minha organização possui políticas restritas
23,0 18,0 16,8
sobre ausência por doença
Não posso descansar em casa por causa da
17,5 10,2 12,9
minha família/regime de vida
Fonte: análise TWF
4.5. reSuMo
Nesta seção, exploramos a probabilidade de diagnóstico precoce e
tratamento de DMSs, e descobrimos que ainda há algumas lacunas na
distribuição das intervenções em tempo hábil para aqueles indivíduos que
precisam de algum tipo de tratamento médico para apoiar seu funciona-
mento físico, psicológico e no trabalho. Enquanto a maioria dos entrevis-
tados com DMSs na pesquisa foi diagnosticada em um ano desde o apare-
cimento dos sintomas de dor, uma proporção considerável deles teve que
esperar por mais de cinco anos para receber um diagnóstico, mais de um
quarto teve que visitar mais de quatro médicos para serem diagnosticados.
Mas ações poderiam ter sido tomadas para eliminar barreiras desnecessá-
rias nos caminhos clínicos para o diagnóstico e tratamento de DMSs.
o PAPel do governo
Uma força de trabalho saudável significa uma economia sadia. Em
um momento, quando o Brasil está competindo por uma fatia na escala
do mercado global, o potencial dos funcionários brasileiros no aumento
da produtividade e o PIB do país devem ser poupados – particularmente
quando sabemos que a proporção dos indivíduos que devem estar muito
doentes para trabalhar provavelmente crescerá com as alterações demográ-
ficas esperadas.
45 National Audit Office. (2009). Services for people with rheumatoid arthritis. London: NAO.
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22. Geuskens, G.A., Hazes, J.M.W., Barendregt, P.J. and Burdorf, A. (2008). Work and sick
leave among patients with early inflammatory joint conditions. Arthritis Care and Re-
search, 59(10), 1458-1466.
87
TR ABALHO COM SIGNIFICADO
Introdução
Por que as pessoas ficam na sua
empresa ?
SigniFicAdo no trAbAlho
Por mais que pareça algo intangível, os efeitos do significado no
ambiente de trabalho são bem nítidos, e podem ser medidos. Estudos
recentes observam que funcionários que encontram sentido no trabalho
que fazem estão em média 70% mais satisfeitos, e 40% mais engajados
que seus colegas10. Quando falamos em significado, estamos falando na
capacidade de líderes e empresas em ajudar seus colaboradores a encon-
trarem um sentido maior no que realizam diariamente. Esse significado
se origina de três formas possíveis: impacto pessoal no trabalho (o que
eu faço), cultura e/ou ambiente (como fazemos), e missão ou propósito
(por que fazemos). Pode parecer estranho, mas felicidade e significado
podem ser conceitos bem distintos do que pode transparecer à primeira
vista. Um estudo de 2013 na área de Psicologia chegou a uma conclusão
um tanto surpreendente: 75% dos participantes registraram altos níveis
de felicidade, mas baixos níveis de significado11.
Mas como isso pode ser possível? Como muitas coisas na vida, a
diferença está nos detalhes, especificamente nas interações sociais. Uma
pesquisa realizada pela Universidade de Stanford descobriu que as pessoas
associam a felicidade a um comportamento egoísta (procurar obter van-
tagens nas interações com os outros). Já para o significado, observamos
o inverso: ele está associado com pessoas com comportamento altruísta
(deixar seus próprios desejos de lado para praticar uma ação visando o
bem comum).
Além de o perfil altruísta ser bom para a empresa, ele também be-
neficia o próprio colaborador – inclusive em sua carreira! Adam Grant,
no livro Give and Take, ao observar os cargos mais altos entre executivos,
descobriu que a maior parte deles possui um perfil altruísta. Contudo,
ainda temos um grande número de líderes – mesmo sem perceber – que
SinaiS de mediocridade
A grande maioria das empresas cita propósitos nobilíssimos, cheios
de grandes expectativas em suas visões, missões e valores. Mas quantas
delas estão ativamente trabalhando para tentar tornar a missão em rea-
lidade? Por exemplo, a palavra “inovação” se tornou quase um mantra em
missões de empresa pelo mundo afora. Mas a liderança da empresa está
disposta a correr riscos calculados em prol dessa inovação? Se a resposta
for negativa, está na hora de rever a missão ou o comportamento. Essa
incoerência entre teoria e prática pode rapidamente tirar todo o propósito
no trabalho.
falta de coordenação
Quando cada departamento age como acredita ser melhor, isso ge-
ralmente resulta na piora sensível na qualidade dos produtos/serviços
oferecidos, além de continuamente desmotivar a equipe. Os funcionários
perdem o orgulho no que fazem e o trabalho se torna apenas “aquele lugar
que você tem que ir pra poder pagar suas contas no fim do mês”.
Mas como é possível saber o que é importante em um excelente
ambiente de trabalho? A resposta é bem simples: Se quer saber, pergunte!
AS MelhoreS eMPreSAS
(nA viSão dAS PróPriAS eMPreSAS)
Já falamos que, na visão dos funcionários, um excelente lugar para
trabalhar é aquele em que eles confiam nas pessoas, se orgulham do que
fazem e gostam das pessoas com quem trabalham. Será que as empresas
concordariam com isso? Sim, contudo, o ponto de vista é um pouco de
vista diferente. Para as empresas, um excelente lugar para trabalham é
aquele em que:
giftwork
Para o GPTW, essa maneira de fazer as práticas para fazer a dife-
rença na vida dos seus colaboradores é chamada de Giftwork. Não há
nada de secreto ou obscuro no conceito – muitas pessoas estão praticando
naturalmente o conceito agora mesmo, e se não estivessem, poderiam co-
meçar quando quisessem. Esse é um dos grandes trunfos do Giftwork: é
um conceito simples, com aplicação prática imediata.
1. conhecimento
Imagine você está ferido e necessita de ajuda urgentemente. Você
pode escolher apenas uma entre 3 pessoas: um economista, um veteriná-
rio ou um botânico. Não há tempo para chamar mais ninguém. A quem
você recorreria? Provavelmente, o veterinário, certo? Embora ele não
tenha exatamente o conhecimento especializado que você precisa, será
2. haBilidade
Voltemos à situação acima. Agora, suas escolhas são: um médico
renomado com 20 anos de experiência ou um aluno do último ano de me-
dicina. Só uma coisinha: o médico renomado por algum motivo perdeu
o movimento dos braços. Mais uma vez, a escolha não é difícil. Apenas o
conhecimento pode não bastar. É preciso ser capaz de aplicar o conheci-
mento no mundo real. Vemos isso no trabalho quando temos um gestor
com mestrado, doutorado, MBA, PhD, mas que nunca colocou a mão na
massa. Muitas vezes, apenas com a experiência prática é possível entender
como a teoria se aplica.
3. atitude
O médico renomado recuperou os movimentos. Mas agora ele tem
um trauma fortíssimo, e não consegue nem ver gente machucada que ele
desmaia. Novamente, melhor ficar com o aluno, não? De nada adianta
ter o conhecimento e a habilidade para uma função se você não quer
fazê-la. Chamamos isso de atitude. Muitas empresas passaram a levar esse
elemento em consideração na hora de procurar novos talentos. Por isso
é importante ter um excelente ambiente de trabalho. Funcionários felizes
produzem mais não por serem mais preparados ou terem mais experiên-
cia, mas sim porque são gratos e querem ajudar o lugar que trabalham
dando o melhor de si. Trabalhando esses três elementos é possível desper-
Trabalho com Significado 115
tar e desenvolver a competência de liderar nas pessoas, sejam elas “chefes”
de alguma coisa ou não. Ou até mesmo transformar um chefe ruim em
um líder motivador.
Excelentes Empresas para Trabalhar são aquelas que desenvolvem
toda a sua equipe para exercer liderança, independente de área, função
ou tempo de casa. Exercer liderança significa influenciar pessoas, inspi-
rar pessoas para que encontrem significado em suas vidas e no trabalho.
Pessoas inspiradas, que encontram significado para o que fazem, dão o
melhor de si, trabalham em equipe e geram resultados muito superiores!
buScA do equilíbrio
Apesar das pessoas passarem a maior parte do seu dia trabalhando
ou envolvidas com assuntos profissionais a vida não se resume ao trabalho,
nA PráticA
O acompanhamento da aplicação real desta abordagem com a equi-
pe de uma empresa de consultoria no Brasil mostrou um significativo
aumento do comprometimento da maioria da equipe, uma vez que o
alinhamento de valores, pessoais e organizacionais, ficou evidenciado. Al-
gumas pessoas, identificando mais claramente seus propósitos pessoais,
naturalmente preferiram deixar a organização buscando atingir suas me-
tas pessoais: uma pessoa foi para intercâmbio no exterior, outra mudou de
área e outra decidiu montar seu próprio negócio.
A Acesso Digital (www.acessodigital.com.br), empresa de gestão de
processos e documentos, adota o conceito da “Roda da Vida”, chamada
internamente de “DNA Acesso Digital”, como uma de suas estratégias
fundamentais em Gestão de Pessoas. Os colaboradores não são vistos ape-
nas como mais um profissional, mas sim como pessoas únicas, com suas
características individuais, sonhos e desafios. Esta visão permite que cada
Referências
outrAS reFerênciAS:
14. “Um excelente lugar para se trabalhar” – Robert Levering, Qualitymark Editora, 1997
15. “Transformando a cultura do ambiente de trabalho” – José Tolovi, Ruy Shiozawa e
outros, Primavera Editorial, 2010
16. “A Melhor empresa para trabalhar” – Michael Burchell e Jennifer Robin, Bookman,
2012
17. “Coaching Holístico Shiou Hsing” – Dr. Jou Eel Jia, Ícone Editora, 2013
125
ESTILO DE VIDA: SAÚDE,
ECONOMIA E PRODUTIVIDADE
E
ste capítulo busca contextualizar o problema atual das doenças crô-
nicas não transmissíveis (DCNT), seus principais fatores de risco
relacionados ao estilo de vida, a relação de tais fatores de risco com
absenteísmo e gastos com serviços de saúde, e o que tem sido publicado
na literatura científica sobre este assunto. Em uma segunda parte, serão
apresentados brevemente os resultados de uma pesquisa de doutorado
sobre este tema, conduzida com uma população de trabalhadores de uma
companhia aérea brasileira.
oBeSidade
Conforme a Organização Mundial de Saúde (Ebrahim et al., 2007)
obesidade é definida como Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou su-
perior a 30 Kg/ m2, enquanto o sobrepeso é definido como IMC entre
25 e 29,9 Kg/m2. O IMC é calculado pela divisão da massa corporal,
132 Gestão de Programas de Qualidade de Vida
medida em quilogramas, pela estatura ao quadrado, em metros (Garrow
& Webster, 1985). Esta medida desconsidera outros índices da composi-
ção corporal, como por exemplo, a quantidade de gordura. Existem vá-
rios outros métodos para avaliar composição corporal, como análise de
bioimpedância, dobras cutâneas, tomografia computadorizada, pesagem
hidrostática, entre outros. Apesar de suas limitações, o IMC permanece
como o método escolhido para avaliar grandes populações, devido princi-
palmente ao baixo custo, facilidade de uso e alta correlação com a gordura
corporal (Conde et al., 2013).
A prevalência mundial de obesidade dobrou nas últimas décadas
(WHO, 2011). Em 2008, 10% dos homens e 14% das mulheres do mun-
do eram obesos. Projeções feitas por inquéritos nacionais estimam que a
obesidade atinja, em 2025, 40% da população nos EUA, 30% na Ingla-
terra, e 20% no Brasil (Hu, 2008). Um levantamento anual realizado por
inquérito telefônico em todas as capitais brasileiras (VIGITEL) mostra a
evolução da frequência de excesso de peso, de 43% em 2006 para 52%
em 2014. O mesmo acontece com obesidade: de 11% em 2006 até 18%
em 2014 (Brasil, 2015). Estes aumentos estão associados a alterações do
padrão dietético-nutricional e de atividade física da população, que fazem
do ambiente contemporâneo um potente estímulo para a obesidade.
Sobrepeso e obesidade levam a diversos efeitos metabólicos na pres-
são arterial, colesterol, triglicerídeos e resistência à insulina. Riscos para
doenças cardiovasculares e diabetes aumentam progressivamente com o
aumento do IMC, assim como o risco de câncer de mama, endométrio,
rim, esôfago e pâncreas (WHO, 2011). Um estudo mostrou, que para o
Brasil como um todo, 61,8 e 45,4% do diabetes tipo II no sexo feminino
foram atribuíveis a sobrepeso peso e obesidade, respectivamente. No sexo
masculino, esses percentuais foram de 52,8 e 32,7% (Oliveira et al., 2010).
Em adultos trabalhadores, excesso de peso tem sido estudado como
fator de risco tanto para gastos diretos com saúde, quanto para gastos in-
diretos (associados à perda de produtividade). Ambos aumentam paralela-
mente ao IMC, sendo que custos indiretos devidos à perda de produtivida-
inatividade fíSica
Por atividade física, entende-se qualquer movimento corporal pro-
duzido pela musculatura esquelética que resulte num gasto energético
acima dos níveis de repouso. Este comportamento inclui as atividades
ocupacionais, atividades da vida diária, de deslocamento e atividades de
lazer (Caspersen et al., 1985; Nahas, 2013). O exercício físico é uma sub-
categoria de atividade física, praticada de forma planejada, estruturada
e com um objetivo específico. A falta de atividade física está associada
principalmente com a prevalência de doenças não transmissíveis e com
seus fatores de risco, como pressão arterial elevada, excesso de açúcar no
sangue e excesso de peso (Garber et al., 2011). Em contrapartida, um ex-
aBSenteíSmo
Durante os 12 meses de seguimento do estudo, 53% dos sujeitos
tiveram pelo menos um episódio de afastamento por doença. Entre esses,
a média de absenteísmo foi de 8 dias de trabalho. A chance de ter mais
dias de absenteísmo foi maior em mulheres, naqueles com menor nível
educacional, nos trabalhadores com maiores níveis de estresse e naque-
les que trabalhavam como tripulantes (pilotos e comissários de voo). Este
grupo tem algumas características especiais que merecem ser levadas em
consideração. Por exemplo, eles são requisitados a estar sempre em boas
***
REFERÊNCIAS
1. Alavinia, S. M., van den Berg, T. I., van Duivenbooden, C., Elders, L. A., & Burdorf, A.
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8. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. (2012). Vigitel Brasil
2011: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito
telefônico. Brasília: Ministério da Saúde.
9. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. (2015). Vigitel Brasil
2014: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito
telefônico. Brasília: Ministério da Saúde.
10. Burton, W. N., Conti, D. J., Chen, C. Y., Schultz, A. B., & Edington, D. W. (1999). The
role of health risk factors and disease on worker productivity. J Occup Environ Med,
41(10), 863-877.
149
GESTÃO DE DOENÇAS CRÔNICAS
NÃO-TR ANSMISSÍVEIS
S
egundo a OMS, 80% das doenças coronarianas, diabetes tipo 2 e
derrames, seriam eliminados, se os principais fatores de risco como
tabagismo, alimentação não saudável, inatividade física, estresse,
obesidade e consumo excessivo de álcool não existissem. Ao propor que o
enfrentamento das DCNT enfocasse prioritariamente as quatro doenças,
a Organização Mundial da Saúde elegeu também como alvo seus quatro
principais fatores de risco – fumo, inatividade física, alimentação inade-
quada e uso prejudicial do álcool que são comuns no Brasil.(WHO, 2008,
Duncan et al., 2012). Fatores como o envelhecimento da população e a
crescente urbanização contribuem para o aumento dos fatores de risco
para DCNT. Intervenções para minimizar os fatores de risco da população
em geral, precisam ser direcionadas para a melhoria do estilo de vida. De
acordo com McGinnis e cols. (2012), cerca de 40% da saúde de uma pes-
soa, depende de suas escolhas comportamentais, carga genética contribui
com 30%, 15% são as circunstâncias sociais, 10% a assistência médica
e 5% condições ambientais. Fatores como hereditariedade e envelheci-
mento não podem ser controlados, mas o estilo de vida saudável pode ser
controlado e é determinante para a melhoria da saúde.
A Pesquisa Nacional de Saúde que foi realizada em 2013, com base
nacional e coordenada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
conceitoS eM geStão
de doençAS crônicAS
As doenças crônicas compõem o conjunto de condições crônicas.
Em geral, estão relacionadas a causas múltiplas, são caracterizadas por iní-
cio gradual, de prognóstico usualmente incerto, com longa ou indefinida
duração. Apresentam curso clínico que muda ao longo do tempo, com
possíveis períodos de agudização, podendo gerar incapacidades. Reque-
rem intervenções com o uso de tecnologias associadas a mudanças de esti-
lo de vida, em um processo de cuidado contínuo (Brasil, 2013). Em geral
apresentam desenvolvimento lento, que duram períodos extensos – mais
de seis meses – e apresentam efeitos de longo prazo, difíceis de prever.
A maioria dessas doenças não tem cura, como diabetes, asma, doença
de Alzheimer, hipertensão e AIDS. Entretanto, várias delas podem ser
prevenidas ou controladas por meio da detecção precoce, adoção de dieta
e hábitos saudáveis, prática de exercícios físicos e acesso ao tratamento
adequado, recomendado pelo profissional de saúde (WHO, 2003).
HOJE AMANHÃ
Curar Curar e Cuidar
O paciente aparece O paciente aparece
O paciente é tratado O paciente é tratado por equipe multidisciplinar
O paciente recebe alta O paciente recebe alta com um plano preventivo
O paciente desaparece da tela do radar e de tratamento
do sistema de saúde O paciente é ativo e recebe apoio contínuo do
sistema
O paciente continua na tela do radar do pro-
grama com monitoramento remoto e prontuário
eletrônico
• mapeamento e planejamento,
• execução
• mensuração.