Você está na página 1de 4

A APOSTA

A Aposta de Pascal é uma proposta argumentativa de filosofia apologética criada


pelo filósofo, matemático e físico francê sdo século XVII Blaise Pascal. Ela postula que há mais a ser
ganho pela suposição da existência de Deus do que pelo ateísmo, e que uma pessoa racional deveria
pautar sua existência como se Deus existisse, mesmo que a veracidade da questão não possa ser
conhecida de fato.

Pascal formulou a questão em um contexto cristão, e foi publicado na seção 233 do seu livro
póstumo "Pensées" (Pensamentos). Historicamente, foi um trabalho pioneiro no campo da teoria das
probabilidades, marcou o primeiro uso formal da teoria da decisão, e antecipou filosofias futuras
como existencialismo, pragmatismo e voluntarismo.1

Este argumento tem o formato que se segue:2

 se você acredita em Deus e estiver certo, você terá um ganho infinito;

 se você acredita em Deus e estiver errado, você terá uma perda finita;

 se você não acredita em Deus e estiver certo, você terá um ganho finito;

 se você não acredita em Deus e estiver errado, você terá uma perda infinita.

Incapacidade de acreditar
Pascal referenciou a dificuldade da razão posta para a crença genuína propondo que "agir como se
acreditar" pudesse "curar da descrença":
Mas ao menos reconheça sua incapacidade de acreditar, já que a razão te trouxe a isto, e você não consegue acreditar.
Esforce-se para convencer a si mesmo, não através de mais provas de Deus, mas pela redução de suas paixões. Você
gostaria de ter fé, mas não sabe o caminho; você quer se curar da descrença, e pede um remédio para isto. Aprenda com
aqueles que estiveram presos como você, e que agora apostam todas as suas posses. Existem pessoas que sabem o caminho
que você vai seguir, e que se curaram de todas as doenças que você ainda será curado. Siga o caminho através do qual
começamos; agindo como se acreditasse, recebendo a água benta, assistindo missas, etc. Até mesmo isto vai te fazer
acreditar naturalmente, e acabar com sua resistência.

xistem tanto autores que defendam o argumento de Pascal e considerem-no um argumento válido 4 3 5 ,
como existem autores que consideram-no inválido1 . Alguns dos argumentos mais comuns usados contra
a aposta de Pascal são:

Argumento do Apelo ao Medo


Alguns documentos na internet argumentam que é uma falácia do tipo Argumentum ad metum (ou
Argumento pelo/do medo), uma vez que ela afirma que ao não se acreditar no Deus cristão, a perda
infinita implicaria ser severamente punido após a morte.6 Embora popular na internet, o argumento é sem
fundamento, pois Pascal prevê que a decisão pela crença em Deus seja uma escolha baseada em
chances e não motivada pelo medo. O argumento de Pascal não tem como objetivo provar que Deus
existe ou não, mas convencer o descrente que é uma escolha razoável apostar na sua existência. De
fato, o uso do argumento do Apelo ao Medo por críticos apenas reforça a aposta de Pascal, já que este
afirma em Pensées:
Os homens desprezam a religião; eles a odeiam, e temem que ela seja verdade. Para remediar isto, nós devemos começar por
mostrar que a religião não é contrária a razão; que é venerável, para inspirar respeito a ela; então devemos torná-la amável,
para fazer com que bons homens esperem que seja verdade. Finalmente, devemos provar que é verdade.
Pensées Secão III nota 187 página 312 , Tradução por Rafael S. T. Vieira

Segundo Jeff Jordan7 todo o argumento de Pascal se estrutura na forma de uma aposta, uma decisão
tomada em um momento de indecisão. Ainda segundo ele, Pascal assumia que uma pessoa, apenas pela
virtude de estar neste mundo, está em uma situação de aposta, e esta aposta envolve sua vida sobre a
existência ou não de Deus em um mundo em que Deus pode existir ou não.

1
Argumento do Custo
Outro argumento popular na internet contra o argumento de Pascal, é do Custo. A aposta tentaria nos
levar a acreditar em Deus, com o pressuposto que isto é muito vantajoso você estando certo e
insignificante se estiver errado. E o preço a pagar por crer não é insignificante, pois a pessoa pode
precisar seguir lideres religiosos, seguir dogmas e tradições, e contribuir financeiramente para manter
a religião. E mesmo que uma pessoa não tenha religião, mas mantenha fé na existência de algum deus,
esta fé poderá ter consequências. Pode ser citado como exemplo o caso de Steve Jobs, que era zen-
budista e acreditava na ideia do pensamento mágico, e por isso, segundo seu biógrafo,8 tomou uma
decisão errada em relação ao tratamento do seu câncer que levou a sua morte. 9 (contudo, exite quem
afirme que muitos boatos foram criados sobre sua morte, e que ele recebia tratamento para sua
doença10 ).

O custo, contudo, de viver-se acreditando em Deus já é considerado na aposta, pois o objeto de aposta é
a sua vida. Quando Pascal fala em custo zero em sua aposta, ele se refere ao custo referente a felicidade
(entre outros custos específicos que ele cita e lida) na nota 233: "E quanto a sua felicidade? Vamos pesar
o ganho e perca em apostar que Deus existe. Vamos estimar essas possibilidades. Se você ganhar, você
ganha tudo; se perder, você não perde nada" E ao final de seu discurso na nota 233 ainda afirma:
-Agora, que danos podem cair sobre você ao escolher seu lado?...eu argumentaria que você irá ganhar nesta vida, e que cada
passo nesta estrada, você terá cada vez mais certeza do ganho, e muito mais ainda do vazio do que você aposta, que você irá
ao menos reconhecer que você apostou por algo certo e infinito, pelo qual você não precisou entregar nada.
Pensées Secão III nota 233, página 40, Tradução por Rafael S. T. Vieira

Pode-ser perceber que em sua aposta, supõe-se que o ganho infinito de apostar em Deus supera
qualquer custo que possa existir em vida. Pascal ainda argumenta que quanto mais se dedica-se
a crer em Deus, menos você enxerga valor nos objetos do mundo que são passageiros e portanto o custo
se torna insignificante.

A APOSTA DE PASCAL

No fragmento 233 da coletânea Pensées, o matemático, físico e filósofo Blaise Pascal (1623-

1662) apresentou o que hoje se conhece como a aposta de Pascal. Trata-se de uma proposta de decisão,

colocada na forma de uma aposta incontornável, isto é, da qual ninguém pode fugir. Esta aposta pode

ser resumida da seguinte forma: "Como alguém que escolhe ser cristão pode perder? Se, ao morrer,

constatar que Deus não existe e sua fé foi em vão, não perdeu nada - pelo contrário, viveu uma vida

com mais perceção de sentido e esperança do que um descrente. Se, no entanto, há um Deus e um céu

e um inferno, então ganhou o céu, ao passo que um descrente perdeu tudo."

Com sua aposta, Pascal não pretende provar a existência do Deus da Bíblia, como conjeturam

alguns. Aliás, Pascal enfatiza num parágrafo introdutório que não se pode provar a existência de Deus

pela razão. Em outro fragmento de Pensées ele explica que uma prova da existência de Deus precisa ser

relacional: "Nós conhecemos Deus somente através de Jesus Cristo... Todos que afirmam conhecer Deus,

2
e o provam sem Jesus Cristo, têm somente provas débeis. No coração de cada ser humano há um vazio

dado por Deus, que somente Ele pode preencher através de seu filho Jesus Cristo."

Há os que criticam Pascal por desconsiderar a fé de outras religiões na aposta. Pascal o fez,

presumivelmente porque no restante de Pensées (e em outras obras) examinou alternativas, e concluiu

que se alguma fé está correta, seria a fé cristã.

Assim como Pascal, o físico e químico Michael Faraday (1791-1867) também escolheu ser

cristão. Referindo-se a Jesus, Faraday disse a jornalistas durante entrevista: "Eu confio em certezas. Sei

que meu Redentor vive, e porque Ele vive eu também viverei." O testemunho de Faraday ilustra como

a aposta de Pascal já em vida pode resultar em certeza, a certeza (inabalável) da fé.

O matemático francês Blaise Pascal é conhecido também como filósofo pelo seu
livro Pensamentos. Nesse livro, ele formula um argumento que combina matemática e teologia. O
filósofo parte do princípio que não se pode provar a existência ou a inexistência de Deus, o que
obriga o ser humano a fazer uma escolha: acreditar ou não acreditar em Deus. Esta escolha não
precisa ser uma aposta no escuro, ela pode ser lógica. O argumento de Pascal estabelece que é
melhor apostar na existência de Deus do que na tese oposta: se ganhar, ganha tudo; se perder, não
perde nada ou perde muito pouco.

O matemático comprova a sua tese pelo seguinte raciocínio: [1] se você acredita em Deus e Ele existe,
quando você morrer seu ganho é infinito, a saber, a vida eterna no paraíso; [2] já se você acredita em Deus e Ele
não existe, quando você morrer sua perda é finita, a saber, o tempo de vida que perdeu acreditando numa quimera;
[3] se você não acredita em Deus e Ele de fato não existe, quando você morrer seu ganho é finito, a saber, o tempo
de vida que não perdeu acreditando numa quimera; [4] mas, se você não acredita em Deus e Ele existe, então
quando você morrer sua perda é infinita, a saber, nada menos do que a danação eterna no inferno.

A oposição entre o melhor e o pior resultado da aposta – ganho infinito versus  perda infinita – não deixa
alternativa senão apostar que Deus existe. Deste modo, mesmo quem não consegue acreditar deve agir como se
acreditasse, por via das dúvidas. Com o tempo, é provável que a prática da fé leve à fé verdadeira. Na verdade, para
o filósofo cristão o primeiro ganho da aposta se dá ainda em vida, com a conquista da fé verdadeira, única capaz de
levar o indivíduo à felicidade plena.

A aposta de Pascal é um argumento do século XVII. Podemos dizer que se trata de um argumento forte
por ser discutido até hoje, por ter sido pioneiro no campo da teoria das probabilidades, por marcar o primeiro uso
formal da teoria da decisão e por fundar na prática o pragmatismo moderno.

Posso contestá-lo, no entanto, a partir das suas premissas implícitas e explícitas. O argumento contempla
apenas duas possibilidades: ou Deus existe ou Deus não existe. Se Deus existe, ele é necessariamente o criador, o
governador e o juiz de tudo o que existe, bem como infinito, onipotente, onipresente, onisciente e benevolente.

Entretanto, outras religiões que não a cristã admitem, por exemplo, vários deuses. Ou acreditam que haja
um só Deus e que ele é benevolente, mas para preservar sua bondade não o aceitam como criador do universo, já
que assim ele também teria criado o mal que há no universo. Encontramos quem postule a existência do Deus único
e onipotente, sim, mas essencialmente mau; é o caso de Descartes, que disfarça sua hipótese herege com o nome
de Gênio Maligno. Ainda há quem acredite em Deus mas não o considera infinito, o que significa que Ele pode não
estar mais lá quando você “passar desta para a melhor”, que então não seria tão melhor assim.

Todas estas outras premissas são tão válidas ou tão descartáveis quanto aquelas em que a aposta de
Pascal se baseia.

3
Posso contestar o argumento, também, por sua estrutura se basear pragmaticamente nas consequências
do gesto de acreditar. Acreditar em Deus apenas porque o benefício possível dessa atitude é potencialmente maior
do que a outra opção implica tanto um ponto de partida desonesto quanto supõe um Deus bem pouco onisciente,
se O podemos enganar.

Talvez a crítica mais forte ao argumento de Pascal seja moral. Como disse Einstein, “se as pessoas são
boas só por temerem o castigo e almejarem uma recompensa, então realmente somos uma espécie desprezível”.
Para o filósofo Immanuel Kant, que escreveu no século XVIII, o ser humano deve, ao contrário, agir como se não
existisse Deus, seguindo apenas suas convicções sobre o que considera certo.

Ele formulou o imperativo de que cada pessoa deve agir de tal modo que a sua ação possa ser eleita como
lei universal, ou seja: eu só posso fazer aquilo que por sua vez possa ser aceito como lei universal para os outros.
Mesmo que eu deseje muito, não posso matar alguém ou avançar o sinal de trânsito (que pode me levar a matar
alguém) simplesmente porque nem se fosse um assassino aceitaria que todos pudessem matar à vontade, o que
significaria que alguém poderia me matar (ou me atropelar) daqui a pouco.

Para Kant, Deus não entra na equação moral, até porque historicamente encontramos muitas pessoas que
acreditam em Deus mas mesmo assim fazem todo o mal possível a seu semelhante. Da mesma forma,
historicamente encontramos muitas pessoas que não acreditam em Deus, mas mesmo assim fazem todo o bem
possível a seu semelhante. Logo, não deveria bastar apostar que Deus existe para ganhar a vida eterna no céu – a
menos que Deus de fato exista, mas seja tão vaidoso que sobreponha a crença Nele a qualquer outra consideração
moral.

Como lembra José Geraldo Gouveia, a aposta de Pascal é considerada há séculos um argumento mortal
contra o ateísmo, mas, como toda bala de prata, ela só funciona se o monstro for um lobisomem. A aposta funciona
apenas se o apostador acredita num deus específico, o Deus judaico-cristão. O apelo às consequências “eternas” de
se acreditar ou não em Deus é eloquente tão somente para pessoas que pensam com medo de pensar, ou seja: que
preferem acreditar, o que implica recalcar a dúvida, a pensar, que sempre implica duvidar.

De todo modo, considero que a aposta de Pascal é sim um argumento forte, inclusive porque suscita
contestações igualmente fortes. Se o relacionamos com o que Blaise Pascal desenvolve em todos os seus
Pensamentos, o argumento se torna mais forte ainda, porque o filósofo francês fala da necessidade da religião em
termos bem mais amplos, propriamente simbólicos. Não posso considerá-lo, porém, o argumento definitivo contra
o ateísmo e a favor de Deus, até porque não me parece haver argumento definitivo contra ou a favor de nada: tais
como as hipóteses em que se baseiam, argumentos são sempre provisórios e, consequentemente, geram contra-
argumentos igualmente provisórios, que por sua vez geram...

Você também pode gostar