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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA


INSTITUTO-GERAL DE PERÍCIAS
DEPARTAMENTO MÉDICO-LEGAL

LESÃO CORPORAL - OUTROS


LAUDO PERICIAL Nº 155470/2018

Solicitação/Ofício Sol.: 11636/2018 de 09/10/2018


Órgão Solicitante: 100302 - 2ª DELEGACIA DE POLICIA DE PORTO ALEGRE / PORTO ALEGRE
Órgão Destino: 100301 - 1ª DELEGACIA DE POLÍCIA DE PORTO ALEGRE / PORTO ALEGRE
Ocorrência Polícia Civil: 11636/2018 - 100302
Protocolo: 98123/2018

Ao(s) 9 de outubro de 2018 à(s) 19 hora(s) e 04 minuto(s) nesta cidade de Porto Alegre, no(a) Av. Ipiranga,
1807, à requisição do Sr.(a) titular do(a) 2ª DELEGACIA DE POLICIA DE PORTO ALEGRE, difusão 1ª
DELEGACIA DE POLÍCIA DE PORTO ALEGRE, compareceu o(a) perito(a) oficial Eduardo Sörensen
Ghisolfi para proceder o exame em THASSIA VASCONCELLOS NEIS, filho(a) de Luis Alexandre Neis e
Cláudia Maria Pellegrino Vasconcellos, nascido(a) em 20/10/1998, RG nº 7104815126, descrevendo o que
encontrou e respondendo aos seguintes quesitos: - PRIMEIRO, se há ofensa à integridade corporal ou à saúde
do periciado; - SEGUNDO, qual o instrumento ou meio que produziu a ofensa; - TERCEIRO, se foi produzida
por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura, ou por outro meio insidioso ou cruel (resposta
especificada); - QUARTO, se resultou incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias; -
QUINTO, se resultou perigo de vida; - SEXTO, se resultou debilidade permanente ou perda ou inutilização de
membro, sentido ou função (resposta especificada); - SÉTIMO, se resultou incapacidade permanente para o
trabalho, ou enfermidade incurável ou deformidade permanente (resposta especificada); - Em consequência,
passou o perito a fazer o exame requisitado e as investigações que julgou necessárias, concluídas as quais,
declarou o seguinte: HISTÓRICO: A periciada comparece para realizar o exame de corpo de delito referindo
ter sido agredida, no dia anterior, por duas pessoas que a teriam imobilizado e por uma terceira que teria
realizado uma inscrição em sua “barriga”. Nega haverem restado outras marcas ou qualquer outra lesão. Reitera
haver apenas uma lesão, a qual, segundo ela, teria o aspecto de uma “suástica” e que teria vindo a este local, ao
Departamento de Medicina Legal, para realizar o exame, segundo ela nos informou, orientada pelos policiais
que a atenderam, para poder mostrar a inscrição, o que lhe permitiria ingressar com queixa.

1. Descrição:
Na ectoscopia das partes corporais desnudas – a saber, a cabeça, os antebraços e as mãos – não foram
observadas escoriações, equimoses, aumentos de volume ou qualquer outra lesão digna de nota (Fotografia 1).
A periciada, mais de uma vez, reiterou que não lhe restaram outras lesões, pois ela não teria, de forma
alguma, reagido ao ataque e que, ao ser imobilizada pelos supostos agressores, os quais lhe teriam segurado
apenas pelos braços, como ela estaria usando uma roupa com mangas muito macias, estas lhe teriam protegido.
Mais de uma vez, afirmou não ter havido luta corporal entre ela e os agressores, apenas a imobilização pelos
braços, ao que ela teria ficado, de pronto, paralisada.
Solicitamos à periciada que mostrasse a lesão que havia restado. A periciada ergueu, então, a blusa,
deixando à mostra apenas a região lateral esquerda do tronco, evidenciando, na região de transição
toracoabdominal, uma figura formada por escoriações lineares, inscrita sobre uma região que pode ser
aproximada por um losango equilátero (um quadrado, de fato) cujo lado mede aproximadamente 10 centímetros
(Fotografia 2).

Av. Ipiranga, 1807


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Fotografia 1 – Imagem da periciada no momento do exame de corpo de delito.

Fotografia 2 – Imagem da inscrição que motivou o encaminhamento ao exame de corpo de delito.

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Essa inscrição é formada por escoriações, isto é, por lesões produzidas por um instrumento com ação
contundente, o qual provocou abrasão das camadas superficiais da pele, levando ao destacamento das células
epidérmicas e ao rompimento de pequenos vasos capilares sanguíneos presentes na derme superficial,
provocando extravasamento de gotículas de sangue, como sói acontecer em lesões superficiais. É digno de nota
que as escoriações já evidenciavam, no momento do exame, sinais incipientes de reepitelização, a qual começa,
tipicamente, entre 24 e 48 horas após a lesão, podendo esse intervalo de tempo variar um pouco, conforme a
região do corpo em que são observadas as lesões (FRANÇA, 2017; HÉRCULES, 2014). A figura que motivou
o presente exame localiza-se na região anterolateral esquerda do tronco e consiste em uma série de escoriações
lineares, formando uma cruz a qual apresenta morfologia peculiar, com elementos que lembra, em parte, tanto
uma cruz potenteia quanto uma cruz gamada (HERDER LEXIKON, 1998), cujas hastes estão dispostas de
forma ortogonal entre si e são formadas por múltiplos traços de escoriação cada uma delas, os maiores desses
traços, aqui tomados como referência, medindo 102 mm. Ademais, a cruz é formada por hastes que se
direcionam de forma inclinada em relação ao eixo craniocaudal, de modo que essas hastes estão inclinadas em
angulação próxima de 45 graus com esse eixo de referência. Nas extremidades das hastes que formam o
entrecruzamento, ao centro da figura, localizam-se múltiplos traços que se orientam, em relação às hastes, de
acordo com ângulos próximos do ângulo reto, à moda de serifas. Observação: estamos aqui utilizando, para fins
meramente descritivos, o vocábulo “serifa”, o qual denota os traços que acompanham certos tipos de letras que
apresentam pequenas barras transversas às suas hastes, como é o caso, por exemplo, da letra “I” maiúscula do
tipo “Times New Roman” (Fotografia 3).

Fotografia 3 – Imagem da inscrição que motivou o encaminhamento ao exame de corpo de delito, obtida
com maior detalhamento, por aproximação.

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Cada uma das hastes e das serifas das hastes é formada por múltiplos traçados de escoriação, variando
em número para cada região, geralmente entre 2 e 5 traçados, sempre lineares e de aspecto marcadamente
contínuo, os quais variam pouco de tonalidade, uns poucos mais fracamente marcados sobre a pele, a maioria,
por sua vez, um pouco mais escuros, denotando extravasamento capilar e a presença de uma pequena crosta
sero-hemática recobrindo a lesão. Podem ser identificados, pelo menos, vinte (20) traçados de escoriações, os
quais são compatíveis com momentos gráficos distintos. Cada um desses momentos gráficos distintos
corresponde a um movimento próprio do punho escritor, em que o agente produtor dos grafismos o faz sem
afastar o instrumento produtor do suporte que recebe o grafismo (DEL PICCHIA e cols., 2005). Nesse sentido,
cada momento gráfico pode ser distinguido do movimento que originou outro momento de traçado, na hipótese
de haver sido utilizado um instrumento de ponta única (Imagem 1).

Imagem 1 – Individualização dos momentos gráficos próprios nos traçados presentes no hipocôndrio
esquerdo.

Os traçados de escoriação são, de toda forma, majoritariamente superficiais, não transpassando


totalmente a pele. Embora seja possível visualizar alguns traçados marcados um pouco mais sutilmente, o que
chama a atenção é a grande uniformidade dos traçados de escoriação produzidos, os quais adentram a epiderme
de forma similarmente superficial. Também é particularmente digno de nota que os traçados estão relacionados
entre si por marcado grau de paralelismo ou de ortogonalidade. Além disso, os traços de escoriação que
apresentam desvio significativo, sem inflexão durante a sua produção, isto é, aqueles que se curvam
significativamente em algum momento, são o traçado mais fino que se observa na haste principal que está
alinhada de cima para baixo e da direita para a esquerda (indicado pelo índice “16” na Imagem 1) e o traço
mais externo da serifa da haste transversa (indicado pelo índice “6” na Imagem 1), serifa esta que, por
construção, tende a ser paralela à haste descrita imediatamente antes e está localizada na porção caudal direita
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da figura em tela. Nestes dois elementos, observa-se um encurvamento dos traçados, o qual se localiza junto a
uma região de inflexão natural da superfície curva da pele, onde começa a se pronunciar o panículo adiposo da
cintura abdominal. Mesmo nessas regiões onde a superfície cutânea muda de direção, se observa apenas uma
mudança muito pequena na profundidade dos traços, o que indica que eles teriam sido produzidos de forma
bastante cuidadosa. Observa-se um único ponto em que o traçado parece mudar de direção, o qual está indicado
pelos índices “2a" e “2b” na Imagem 1, não podendo se afirmar, nesse ponto em particular, se ocorre a soma de
dois momentos gráficos, isto é, se são um ou dois momentos, na forma de um retoque gráfico ou se teria havido
mudança da direção sobre a qual se produzia o traçado; ainda assim, mesmo nessa região, não há
aprofundamento das lesões, denotando zelo na sua produção.
Ao solicitarmos que a periciada mostrasse a região contralateral do tronco para fins de comparação com
a área inicialmente examinada, foi possível observar, parcialmente, que ali havia outro elemento de escoriação
linear, o qual acabou por revelar-se em outra figura (Fotografia 4).

Fotografia 4 – Uma segunda inscrição, evidenciada durante o exame de corpo de delito.

A periciada mencionou não haver percebido a presença dessa lesão, antes deste exame de corpo de
delito. Deparamos, então, com uma figura formada por dois traços relativamente retilíneos, embora menos
retilíneos do que os da região contralateral, formando uma cruz. Considerando-se a periciada em pé, e vista de
frente, a haste maior está dirigido verticalmente e mede 90 mm e a haste menor, situando-se ortogonalmente à
outra, dirige-se horizontalmente e mede 60 mm. Os traçados de escoriação presentes nessa região do tronco são
mais simples e são, também, superficiais e contínuos, não atravessando – reiteramos – inteiramente a pele. A
haste vertical apresenta-se composta na sua região inferior (caudal) por dois traçados, que se afastam de forma
quase paralela. Podem ser identificados, portanto, neste grafismo, pelo menos, três traçados de escoriações, os

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quais são compatíveis com momentos gráficos distintos, considerando-se o uso de um instrumento de ponta
única (Fotografia 5).

Fotografia 5 – Imagem da segunda inscrição, evidenciada durante o exame de corpo de delito, obtida
com maior detalhamento, por aproximação.

Na região situada no quadrante superior lateral da figura observa-se uma pequena mancha equimótica
violácea, aproximadamente circular com cerca de 10 mm de diâmetro, de aspecto similar as que poderiam ser
produzidas por digitopressão (ver região circulada na Imagem 2).
Após a evidenciação da segunda lesão, a que tem formato de cruz, na região anterolateral direita do
tronco, a periciada consentiu em realizar as fotografias das lesões identificadas, mas não consentiu em
prosseguir com o exame visual de outras regiões corporais.

2. Discussão:
A ausência de outras lesões observáveis nas partes corporais em que a periciada deixou-se examinar, a
saber, a face, os antebraços, a superfície das mãos e dedos e a superfície da parede anterior do abdômen, exceto
as múltiplas escoriações lineares e superficiais e uma pequena mancha equimótica, fracamente marcada,
descritas anteriormente, é indicativa de que, se houve algum embate corporal entre a periciada e os supostos
agressores, estes não teriam empregado meios adicionais que fossem efetivos em produzir outras lesões.
As escoriações lineares, como as que são aqui observadas, são usualmente produzidas por um
instrumento que tenha uma ponta, isto é, um vértice, que possa funcionar como uma estrutura que possa
promover o destacamento de células da pele, provocando uma lesão que é apenas superficial. O instrumento,
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neste contexto, funciona de forma contundente, causando abrasão e não um ferimento inciso, o qual, por sua
vez, teria os bordos afastados entre si, o que não é o caso em nenhum dos traçados observados. As lesões
abrasivas aqui evidenciadas poderiam ser produzidas pela aplicação de uma força (e, portanto, de uma pressão),
através, potencialmente, do emprego de diversos objetos.

Imagem 2 – Individualização dos traçados dos grafismos presentes na região anterolateral direita do
tronco (na transição entre o hipocôndrio e o flanco).

A guisa de esclarecimento, exemplificamos a seguir alguns destes possíveis objetos, na forma de uma
lista, a qual – ressaltamos – não tem a intenção de ser exaustivamente abrangente. Isto é, não é possível limitar
os objetos passíveis de serem utilizados na produção das lesões aqui descritas apenas aos que são aqui
elencados. Nesse sentido, entre os possíveis instrumentos empregados poderíamos considerar, sempre a título
de ilustração: arames, lâminas metálicas (como a de um canivete, ou mesmo a de uma faca, desde que usadas
através da sua ponta ou aresta e, menos provavelmente, através do gume propriamente dito), grampos de cabelo
ou outras bijuterias ou joias, pregos, superfícies vítreas não polidas, pedaços de latas, agulhas ou outras hastes
(que poderiam ser, por sua vez, de uma gama variada de materiais, desde que suficientemente rígidas e
delgadas, ao menos em uma das suas extremidades, para que se pudesse produzir escoriações lineares como as
que foram observadas na periciada). No entanto, para que a força empregada ao se produzirem as lesões não
provocasse dano desmedido e acabasse por atravessar integralmente a pele, o que acabaria por provocar um
corte, isto é, um ferimento inciso, é condição necessária que o agente produtor dessas lesões tenha tido bastante
habilidade e cuidado ao executar os movimentos que originaram as inscrições relatadas, bem como que ele
tenha tido tempo adequado para produzir as lesões e, idealmente, um ambiente propício.
Como se trata de lesões (do tipo escoriação), em sua maioria, formando traçados retilíneos, regulares e
marcadamente contínuos, compondo-se, entre si, através de paralelismo ou de ortogonalidade muito
significativos, os quais foram necessários para produzir as lesões evidenciadas, principalmente, na forma da
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figura relativamente complexa que é a da cruz situada na região anterolateral esquerda do tronco e, ademais,
por não haver aprofundamento da lesão, de forma a não transpassar a pele em sua totalidade, conclui-se que a
figura produzida poderia ser mais facilmente produzida com o consentimento ou com a colaboração da própria
periciada, ou, alternativamente, ao menos, com marcada incapacidade dela em reagir, ainda que
involuntariamente, aos estímulos que seriam esperados diante de uma agressão. Dificilmente poderiam as
lesões evidenciadas serem, em sua ampla maioria, tão retilíneas, contínuas, aproximadas e pouparem as
camadas mais profundas da pele, se a vítima tivesse preservada a sua capacidade de reação ante uma agressão,
seja por medo, por susto, por reflexo, ou mesmo por cócegas ou por qualquer outra situação que tivesse
provocado o seu movimento corporal em relação ao instrumento produtor das lesões. Mesmo a movimentação
do tronco, e, portanto, da superfície da pele na região, acompanhando os movimentos ventilatórios poderia vir a
prejudicar o resultado observado nas figuras produzidas, se não houver cuidado especial nesse sentido.
Verificam-se, pelo menos, 23 (vinte e três) momentos gráficos distintos, isto é, o punho escritor que
produziu as lesões em tela executou pelo menos 23 (vinte e três) gestos gráficos distintos para produzir os
grafismos que foram possíveis de evidenciar no exame de corpo de delito. Vinte (20) momentos para a figura
localizada à esquerda no tronco, e três (3) momentos para a figura localizada à direita. Esses grafismos ocorrem
na forma de escoriações lineares, as quais, em linguagem mais coloquial e menos técnica, correspondem a
“arranhões”. Esse número pode variar, se considerarmos alguns dermatografismos já em resolução, os quais
aparecem como linhas finas de tonalidade rósea, desprovidas da crosta hemática. Como alguns traçados já
estavam em fase de reepitelização, isto é, desvanecendo, como é o caso dos traçados indicados por “4” e “5” na
Imagem 1, é possível que o número de gestos gráficos tenha sido ainda maior e não tenha restado, no momento
do exame, lesão observável para algum gesto adicional, dado o hiato de tempo entre a ocorrência da sua
produção e o momento do exame. Além disso, é digno de nota que eventuais lesões que fossem, por natureza,
mais superficiais, tenderiam a desaparecer primeiro. Quanto ao tempo que seria necessário para produzir o
conjunto desses grafismos, não há como determiná-lo com exatidão, haja vista que esse tempo dependeria a
priori de diversos fatores. Nesse sentido, poderíamos elencar, para citar alguns: a habilidade do punho executor
dos grafismos (isto é, a destreza do indivíduo que os produziu); a natureza do objeto utilizado como
instrumento para a execução dos grafismos (características como o seu fio ou gume, o peso, o tamanho e a sua
flexibilidade, entre outras); e a natureza do ambiente em que as lesões foram produzidas (se a vítima estava em
decúbito, sentada, ou em pé, se o ambiente era bem iluminado ou não, se era um ambiente sossegado ou
tumultuado, se a vítima estava em condições de reagir ou não). Todos esses fatores são capazes de influenciar
de modo importante o processo de produção de lesões como as que aqui são analisadas. Fatores esses que não
são plenamente possíveis de serem conhecidos através do exame de corpo de delito realizado na periciada, por
si só, apenas. É digno de nota, deve-se admitir, no entanto, como um ponto de partida, que deva existir uma
relação de compromisso entre o tempo em que as lesões em questão levariam para serem produzidas e a
qualidade do grafismo produzido. Em outras palavras, pode-se concluir que as lesões tenham sido produzidas
cautelosamente, de modo a não causarem dano às camadas profundas da pele, provocando alterações que são
apenas superficiais. Não seria esperado produzirem-se lesões como estas, com as características das que foram
evidenciadas neste exame de corpo de delito, por um agressor que agisse de forma tempestuosa e
demasiadamente rápida, como se esperaria que fosse o caso em situações de agressões furtivas e em ambientes
adversos.
Adicionalmente, é digno de nota, as lesões evidenciadas situam-se em regiões da superfície corporal que
seriam facilmente acessíveis às mãos da própria periciada. Chama a atenção o fato de que, se pensarmos na
hipótese de serem as lesões autoinfligidas e o agente, no caso, fosse destro, seria mais confortável para ele
produzir lesões em áreas mais caudais no tronco à direita e um pouco mais cefálicas na esquerda, o que
reproduz o caso em tela. Em outras palavras, sendo destro e mantendo o braço menos fletido, de forma a
produzir as lesões com o menor esforço possível, se produziriam lesões em território mais próximo ao flanco na
região anterolateral direita e mais próximo ao hipocôndrio em região anterolateral esquerda.
Nesse sentido, gostaríamos de mencionar que há um trabalho, publicado por autores ligados ao Instituto
de Medicina Legal de Freiburg na Alemanha, no qual são relatados dois casos de lesões autoinfligidas em que
adolescentes marcaram na própria pele símbolos associados à Alemanha nazista (FALLER-MARQUARDT e
POLLAK, 2005). Esses autores preconizam que as características morfológicas típicas das lesões
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autoinflingidas são: localização em partes facilmente acessíveis do corpo, multiplicidade de lesões singulares,
com curso linear ou levemente recurvado, lesões não penetrantes e de profundidade similar, arranjadas em
grupo e sobre uma área definida, ausência de lesões de defesa e de dano às vestimentas. A única dessas
características que não pôde ser avaliada no trabalho que ora relatamos foi a integridade das vestes, uma vez
que a vítima compareceu em dia diferente do que ocorreu a produção das lesões, usando, supostamente, outras
vestes. Todas as outras características citadas por Faller-Marquardt e Pollak, da Universidade de Friburgo, são
também verificadas no presente caso, a exemplo dos casos que eles relataram. É digno de nota, o trabalho
desses autores, em sua parte final, aborda uma discussão sobre as razões pelas quais os autoperpetradores de
lesões de pele costumam provocar dano em si próprios, usando grafismos com temática nazista (FALLER-
MARQUARDT e POLLAK, 2005). Lesões espelhadas, isto é, em imagem especular, também têm sido
registradas em situações de autoprovocação (WINSKOG, 2011). No caso em tela, a imagem espelhada
lembraria a de uma suástica, como a que a Alemanha utilizou durante a Segunda Guerra Mundial.
No entanto, isoladamente, essas considerações não permitem, por si só, concluir em definitivo na
direção de que as lesões em análise tenham essa natureza. Também é preciso considerar que, como se trata de
traçados simples, majoritariamente linhas retas, não há neles elementos personalísticos que pudessem
individualizar o traçado, permitindo, como elemento de convicção, a identificação inequívoca da autoria do
grafismo, isto é, do punho escritor que as produziu (DEL PICCHIA e cols., 2005). Nesse sentido, embora não
seja possível afirmar categoricamente que a lesão seja autoinfligida, pode-se concluir, com convicção, que a
possibilidade de uma agressão que tenha acontecido sem que tenha havido alguma forma de colaboração da
parte da vítima ou sem que tenha havido marcada incapacidade de reação da parte dela é muitíssimo diminuta.
A ausência de lesões de defesa (FALLER-MARQUARDT e POLLAK, 2005; POLLAK e SAUKKO, 2000),
como cortes ou contusões, particularmente nas mãos e nos antebraços também corroboram a tese de que não
teria havido reação da parte da periciada.
O fato de as escoriações estarem já em processo de reepitelização permite esperar que o processo de
cicatrização, uma vez em curso, seja efetivo e que não restem cicatrizes relacionadas a este evento. Por outro
lado, como se trata de uma lesão já em processo de recuperação (cicatrização), alguns aspectos do exame
pericial restam prejudicados, dado o hiato de tempo entre a produção da lesão e o comparecimento ao exame de
corpo de delito. A mesma consideração, no entanto, ressaltamos, não se aplica às possíveis equimoses, as quais
uma vez que tivessem sido produzidas, permaneceriam mais tempo evidentes ao exame, por, pelo menos, mais
alguns dias. Ademais, o não consentimento da periciada em prosseguir com o exame de corpo de delito, na
busca de outras possíveis evidências, as quais pudessem eventualmente estar presentes em outras regiões
corporais, se constitui em um potencial limitador para o presente estudo pericial.

3. Conclusões

Do que acaba de se expor, conclui-se:


i) A periciada apresenta lesão.
ii) O instrumento que produziu as lesões é contundente.
iii) As lesões não resultaram incapacidade para as ocupações habituais.
iv) As lesões não resultaram em debilidade permanente ou perda ou inutilização de membro, sentido
ou função.
v) Não há evidência de lesões de defesa que indiquem ter havido reação da vítima.
vi) As lesões são escoriações superficiais, de profundidade uniforme, contínuas, situadas em regiões
do corpo facilmente acessíveis às mãos da própria vítima e que apresentam padrão de
paralelismo e ortogonalidade que demandaram cuidado na sua produção. As lesões verificadas
apresentam, portanto, características compatíveis com as de lesões autoinfligidas, embora não
haja, a partir exclusivamente dos resultados do exame de corpo de delito, elemento de convicção
para se afirmar que efetivamente foram autoprovocadas. Nesse sentido, pode afirmar-se que as
lesões foram produzidas: ou pela própria vítima ou por outro indivíduo com o consentimento da
vítima ou, pelo menos, ante alguma forma de incapacidade ou impedimento da vítima em
esboçar reação.
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4. Respostas aos quesitos oficiais


Primeiro: se há ofensa à integridade corporal ou à saúde do periciado.
Resposta: Sim.
Segundo: qual o instrumento ou meio que produziu a ofensa.
Resposta: Instrumento contundente.
Terceiro: Se foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura, ou por outro meio
insidioso ou cruel.
Resposta: Não temos elementos para responder.
Quarto: Se resultou incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias.
Resposta: Não.
Quinto: Se resultou perigo de vida.
Resposta: Não.
Sexto: Se resultou debilidade permanente ou perda ou inutilização de membro, sentido ou função.
Resposta: Não.
Sétimo: Se resultou incapacidade permanente para o trabalho, ou enfermidade incurável, ou
deformidade permanente;
Resposta: Não.

5. Respostas aos quesitos complementares, os quais foram formulados através do ofício 363/2018, de
15 de outubro de 2018:
“1. Foi possível constatar alguma lesão no nariz ou nas costelas da vítima que indicasse agressão com
socos, assim como lesões nos braços que indicasse que a mesma foi segurada/contida/imobilizada contra sua
vontade por duas pessoas?”
Resposta: Não havia no momento do exame, lesões na face ou nas mãos e nos antebraços que sejam
características de lesões de defesa ou de que tenha havido embate corporal. Não foi possível examinar
completamente os braços da periciada, na ausência do consentimento e ante a alegação da periciada de que não
havia ali lesões. Na parede abdominal, junto ao gradil costal direito, havia uma lesão muito pequena na forma
de uma equimose violácea, com características das que são produzidas por digitopressão, a qual poderia
inclusive haver sido produzida pelo simples apoio do punho escritor que produziu os grafismos presentes no
flanco direito.
“2. Os arranhões apresentados como lesão foram produzidos por que tipo de instrumento? Os
ferimentos foram profundos ou superficiais? Houve perfuração da pele? É possível dizer se houve
sangramento profuso de tais lesões ou algum tipo de sangramento?”
Resposta: Os arranhões são, em linguagem técnica, escoriações lineares, de caráter superficial, havendo
rompimento da integridade das camadas superficiais da pele, no entanto, sem atingir o tecido subcutâneo,
motivo pelo qual não se observam, no caso em tela, cortes, ou ferimentos incisos, em que os bordos estariam
afastados entre si. Ao atingir as camadas mais profundas da pele, ocorre porejamento de sangue através dos
vasos capilares lesionados, o qual costuma ser autolimitado, isto é, em pequena quantidade, formando uma
crosta sero-hemática que recobre a área de escoriação.
“3. Em razão das agressões alegadas, seria possível que a vítima não apresentasse nenhuma marca
48h após o fato quando esteve na delegacia prestando depoimento, levando em consideração sua cor de
pele?”
Resposta: Na ocorrência de socos desferidos contra o rosto e as costelas seria plausível esperar lesões
remanescentes, principalmente na forma de escoriações e equimoses violáceas. Eventualmente, poderiam ser
observadas fraturas de ossos nessas regiões. A gravidade das lesões remanescentes dependeria
fundamentalmente da força empregada. Nesse sentido, e na ausência de lesões expressivas, podemos concluir
que, se houve agressões como as que foram elencadas no questionamento, os agressores teriam empregado
pouca força. Não se pode excluir a hipótese de que não tenha havido agressão nos moldes do declarado pela
periciada.
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“4. Quantos arranhões/cortes foram verificados no corpo da vítima? Quanto tempo levaria para fazer
todos esses arranhões/cortes?”
Resposta: Verificam-se, pelo menos, 23 (vinte e três) momentos gráficos distintos, isto é, o punho
escritor que produziu as lesões em tela executou pelo menos 23 (vinte e três) gestos gráficos distintos para
produzir os grafismos que foram possíveis de evidenciar no exame de corpo de delito. Vinte (20) momentos
para a figura localizada à esquerda no tronco, e três (3) momentos para a figura localizada à direita. Esses
grafismos ocorrem na forma de escoriações lineares, as quais, em linguagem mais coloquial e menos técnica,
correspondem a “arranhões”. Esse número pode variar, se considerarmos alguns dermatografismos já em
resolução, os quais aparecem como linhas finas de tonalidade rósea, desprovidas da crosta hemática. Como
alguns traçados já estavam em fase de reepitelização, isto é, desvanecendo, como é o caso dos traçados
indicados por “4” e “5” na Imagem 1, é possível que o número de gestos gráficos tenha sido ainda maior e não
tenha restado, no momento do exame, lesão observável para algum gesto adicional, dado o hiato de tempo entre
a ocorrência da sua produção e o momento do exame. Além disso, é digno de nota que eventuais lesões que
fossem, por natureza, mais superficiais, tenderiam a desaparecer primeiro. Quanto ao tempo que seria
necessário para produzir o conjunto desses grafismos, não há como determiná-lo com exatidão, haja vista que
esse tempo dependeria a priori de diversos fatores. Nesse sentido, poderíamos elencar, para citar alguns: a
habilidade do punho executor dos grafismos (isto é, a destreza do indivíduo que os produziu); a natureza do
objeto utilizado como instrumento para a execução dos grafismos (características como o seu fio ou gume, o
peso, o tamanho e a sua flexibilidade, entre outras); e a natureza do ambiente em que as lesões foram
produzidas (se a vítima estava em decúbito, sentada, ou em pé, se o ambiente era bem iluminado ou não, se era
um ambiente sossegado ou tumultuado, se a vítima estava em condições de reagir ou não). Todos esses fatores
são capazes de influenciar de modo importante o processo de produção de lesões como as que aqui são
analisadas. Fatores esses que não são plenamente possíveis de serem conhecidos através do exame de corpo de
delito realizado na periciada, por si só, apenas. É digno de nota, deve-se admitir, no entanto, como um ponto de
partida, que deva existir uma relação de compromisso entre o tempo em que as lesões em questão levariam para
serem produzidas e a qualidade do grafismo produzido. Em outras palavras, pode-se concluir que as lesões
tenham sido produzidas cautelosamente, de modo a não causarem dano às camadas profundas da derme,
provocando alterações que são apenas superficiais. Não seria esperado produzirem-se lesões como estas, com
as características das que foram evidenciadas neste exame de corpo de delito, por um agressor que agisse de
forma tempestuosa e demasiadamente rápida, como se esperaria que fosse o caso em situações de agressões
furtivas e em ambientes adversos. Vide, adicionalmente, na íntegra, o item “2. Discussão”.
“5. Os arranhões/cortes são retilíneos ou irregulares, feitos de forma firme ou hesitante? Há evidências
de alguma resistência por parte da vítima no traçado dos arranhões/cortes?”
Resposta: Os traçados são superficiais, não cortando, portanto, a totalidade da derme. São
majoritariamente traços retilíneos, o que é indicativo de que tenham sido produzidos de maneira cuidadosa, em
movimento uniforme e razoavelmente constante, denotando um bom controle do instrumento por parte do
agente que produziu as lesões e demandando a imobilidade relativa do suporte (isto é, da superfície corporal da
vítima) para que o instrumento que produziu os grafismos mantivesse pressão suficiente para produzi-los, sem,
por outro lado, causar aprofundamento da lesão. Não há evidência de movimentos de defesa característicos de
situações de agressão em que a vítima mantém a capacidade de reagir preservada. Vide, adicionalmente, na
íntegra, o item “2. Discussão”.
“6. Quais as características de cortes/arranhões quando há resistência da vítima? As lesões na vítima
são compatíveis com tais características?”
Resposta: Quando há resistência da vítima, são esperadas lesões menos superficiais, lesões que se
aprofundam transpondo a integridade da pele, causando danos de maior monta, provocando cortes
propriamente ditos, isto é, ferimentos incisos, pois haveria menor grau de controle sobre o instrumento produtor
das lesões. São esperados traçados menos retilíneos. Não seria esperado encontrar um resultando em que tantos
traçados mantenham as relações de paralelismo ou de ortogonalidade entre si, de modo particularmente
estético, como as que são evidenciadas nas lesões descritas neste trabalho. As lesões de defesa são um critério
crucial de evidência do envolvimento de outra pessoa, sendo altamente específicos em provar que uma pessoa
foi atacada com um instrumento delgado (pontiagudo) e, além disso, capaz de demonstrar que a vítima estava,
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INSTITUTO-GERAL DE PERÍCIAS
DEPARTAMENTO MÉDICO-LEGAL
LESÃO CORPORAL - OUTROS
LAUDO PERICIAL Nº 155470/2018

ao menos inicialmente, consciente e capaz de reagir ao ataque (POLLAK e SAUKKO, 2000). Em síntese, pode
se afirmar com convicção que as lesões produzidas na vítima não são compatíveis com as que seriam esperadas,
na hipótese de ter havido efetiva resistência da parte dela à ação de um agente agressor. Vide, adicionalmente,
na íntegra, o item “2. Discussão”.
“7. É possível determinar se o corte/arranhões foram feitos por pessoa destra ou canhota? Qual a
posição do instrumento no momento em que foram praticadas as lesões?”
Resposta: Com base exclusivamente nos exames realizados não é possível determinar se as lesões
foram produzidas por pessoa destra ou canhota, pois, tanto o sentido do traçado, do gesto gráfico, quanto a
posição relativa entre o agente que produziu e o que sofreu as lesões não são, de todo, conhecidos, nesse
momento.
“8. Outros dados julgados úteis.”
Resposta: Sugere-se, a critério das autoridades responsáveis, visando ampliar os estudos acerca do
ocorrido, uma solicitação de perícia visando ao confronto entre as imagens da lesão que foram disponibilizadas
através dos veículos de comunicação, na internet, bem como eventuais imagens outras das lesões da vítima, que
estejam disponíveis aos investigadores, e as imagens que foram obtidas neste exame de corpo de delito.

Acompanham o presente laudo pericial 5 fotografias obtidas pela Fotógrafa Criminalística Roseli da
Silva Richter e registradas neste Departamento, sob o número 0188/18.

Referências
DEL PICCHIA FILHO, José et al. Tratado de documentoscopia: “da falsidade documental”. 2ª. Edição. São
Paulo: Editora Pillares, 2005.
Dicionário de símbolos - HerderLexikon. 3ª edição. São Paulo: Editora Cultrix, 1998.
FALLER-MARQUARDT, M. e POLLAK S. Self-inflicted injuries with negative political overtones.
Forensic Science International 159 (2006) pp. 226–229.
FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina legal. 11ª. Edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
HÉRCULES, Hygino de Carvalho. Medicina legal: texto e atlas. 2ª. Edição. São Paulo: Editora Atheneu,
2014.
POLLAK, S. e SAUKKO, P.J.. Defense wounds, in: J.A. Siegel, P.J. Saukko, G.C. Knupfer(Eds.),
Encyclopedia of Forensic Sciences, Academic Press, London, 2000 , pp.374–378.
WINSKOG, C. True ‘mirror image’ lesions due to self-inflicted injury. Forensic Sci Med Pathol (2011),
7:304–305.

E, como nada mais houvesse para constar, encerro o presente. Eu, Helena Varlessa Boza, que o digitei e o
subscrevo.

Luciano Haas Eduardo Sörensen Ghisolfi


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