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Undime
A União dos Dirigentes Municipais de Educação é uma associação
civil sem fins lucrativos, fundada em 1986 e que reúne gestores
dos 5.570 municípios brasileiros. A Undime atua em diversas
frentes da educação pública:
2
apresentação
Pesquisas recentes comprovam que as ças, professores e familiares no processo de
interações entre as crianças e os professores aprendizagem? Como planejar contextos pro-
são os ingredientes-chaves de experiências motores de experiências e permeados por in-
que garantem as aprendizagens e o desenvol- terações positivas, que garantam os direitos
vimento. Apesar disso, muitas políticas educa- e as aprendizagens? O foco desta publica-
cionais não consideram a qualidade das inte- ção é apoiar você, professor, a compreender
rações como um destaque do ponto de vista os parâmetros e utilizá-los como referência
da avaliação e do investimento na formação para planejar suas práticas. Este documento
continuada dos professores. apresenta as concepções e conceitos fun-
O documento dos Parâmetros Nacio- damentais que dão base para os princípios
nais de Qualidade da Educação Infantil dedi- e parâmetros das áreas focais 4 (Currículos,
ca uma área focal específica para apresentar interações e práticas pedagógicas) e 7 (Espa-
princípios e práticas de referência que enfa- ços, materiais e mobiliários) dos Parâmetros
tizam o entrelaçamento entre o planejamento Nacionais de Qualidade da Educação Infantil.
curricular, as interações e as práticas pedagó- Escolhemos essas duas áreas uma vez que as
gicas como promotoras de qualidade. Ainda evidências indicam que a qualidade das inte-
assim, o desafio de traduzir essas referências rações é o fator de maior impacto nas apren-
em práticas efetivas é grande! dizagens das crianças a curto prazo e implica
Como transformar os princípios e orien- ter: um currículo intencional adequado à fai-
tações propostos em contextos que conside- xa etária, práticas pedagógicas centradas nas
rem a singularidade das crianças de forma crianças, relações de qualidade, além de ma-
contínua no planejamento curricular? Como teriais, brinquedos, livros, objetos e infraes-
construir documentações que apoiem crian- trutura como geradores de oportunidades.
3
como usar este material
O documento está organizado em três partes: a primeira apresenta os Pa-
râmetros de Qualidade da Educação Infantil; a segunda reúne evidências que
promovem contextos de qualidade para a aprendizagem e o desenvolvimento
das crianças na Educação Infantil e a terceira aborda os princípios e parâmetros
das áreas focais mencionadas. Para cada parâmetro ou conjunto de parâmetros,
traremos um exemplo de um contexto que apoia a identificação dos mesmos em
situações práticas do cotidiano da Educação Infantil.
4
nota da autora
As práticas selecionadas para apoiar na conceitos da abordagem de Reggio Emilia com
identificação dos parâmetros foram criadas ou adaptações e criações realizadas para seus
adaptadas para este documento a partir de di- contextos específicos. Nesta publicação, algu-
ferentes origens: mas práticas foram criadas a partir de estudos
» Documentações da Escola de Educação In- e experiências práticas que pude ter em con-
fantil Bacuri - são parte do acervo da Escola tato com materiais e observação de escolas
Bacuri, da qual fui sócia-proprietária e dire- nesses países.
tora pedagógica por seis anos. Alguns ajustes As práticas, bem como outras partes
foram realizados nos textos buscando aproxi- desta publicação, vêm acompanhadas de di-
mar o contexto descrito para as concepções e versas fotos. Essas imagens foram registradas
marcos conceituais propostos nas Diretrizes em duas cidades: São José dos Campos (SP) e
Curriculares Nacionais para Educação Infan- Blumenau (SC). Gostaria de agradecer a dispo-
til (DCNEIs), de 2009, e na Base Nacional Co- nibilidade e acolhida da equipe da Secretaria
mum Curricular (BNCC), de 2017. de Educação e das Instituições de São José dos
» Documentações inspiradas em experiên- Campos: secretária de Educação, técnicas, su-
cias nacionais - trabalho desde 1995 com pervisoras, diretoras, coordenadoras, profes-
formação de professores e nessa trajetória soras, profissionais da educação, as crianças
muitos foram os professores que me inspira- e as famílias. A experiência de acompanhar o
ram e com os quais pude aprender sobre boas trabalho de vocês e a oportunidade deste re-
práticas na Educação Infantil (EI). Algumas de- gistro documentando o trabalho de qualidade
las estão neste documento na medida em que que realizam foi maravilhosa!
foram fonte de inspiração para os contextos Gostaria de agradecer também a secre-
de aprendizagem que criei exclusivamente tária de Educação de Blumenau e presidente
para esta publicação. da Undime de Santa Catarina, Patricia Lueders,
» Documentações inspiradas em experiên- que contribuiu com um conjunto de fotos de
cias internacionais (aqui e aqui) - A BNCC da contextos de aprendizagem preciosos das
etapa da Educação Infantil tem forte referên- Instituições da Rede de Educação Infantil de
cia na abordagem filosófica e educacional de Blumenau e que, junto com Kalícia França, se-
Reggio Emilia (cidade Italiana que é referência cretária de Educação de São Gabriel do Oeste
mundial para uma Educação Infantil de qua- (MS) e presidente da Undime de Mato Grosso
lidade). Outros países como Austrália, Nova do Sul, ambas representando a Undime Nacio-
Zelândia e Canadá também têm suas propos- nal, realizaram uma leitura crítica de grande
tas curriculares referenciadas nos princípios e contribuição para esta publicação.
5
sumário
Contexto _09
Marco legal _10
O que são parâmetros _11
Compreendendo e identificando
os parâmetros no cotidiano e nas
documentações pedagógicas _18
6
Parâmetro (4.2.8) _44
Parâmetro (4.2.9) _47
Parâmetro (4.2.10) _50
Parâmetro (4.2.11) _53
Parâmetro (4.2.12) _56
Parâmetro (4.2.13) _58
Parâmetro (4.2.14) _60
Parâmetro (4.2.15) _62
Parâmetro (4.2.16) _64
Parâmetro (4.2.17) _67
Parâmetro (4.2.18) _69
Parâmetro (4.2.19) _71
Parâmetro (4.2.20) _73
Parâmetro (4.2.21) _75
Parâmetro (4.2.22) _77
Princípio 4.3: Intencionalidade pedagógica _79
Parâmetro (4.3.3) _82
Parâmetro (4.3.4) _86
Princípio 4.4: Observação, planejamento,
documentação e reflexão das práticas
pedagógicas e das aprendizagens das crianças _89
Parâmetro (4.4.6) _91
Parâmetro (4.4.7) _94
Parâmetro (4.4.8) _97
Princípio 7.1: Organização dos espaços
promotores de aprendizagem e desenvolvimento _101
Parâmetros _102
Princípio 7.2: Insumos pedagógicos e materiais _108
Parâmetros _109
7
Capítulo 1
Sobre os Parâmetros Nacionais
de Qualidade da Educação Infantil
8
contexto
O Brasil coleciona importantes avanços Ainda no contexto das normativas de
normativos nas Políticas Públicas para o es- monitoramento e avaliação da qualidade da
tabelecimento de estratégias integrais para a Educação Infantil, o Plano Nacional de Edu-
primeira infância. Fazem parte desses avanços cação, aprovado em 2014, propôs a implan-
a Constituição Federal (1988); a Lei de Diretri- tação, até 2016, da avaliação da Educação In-
zes e Bases LDB/96, que incorpora a Educação fantil. Esta seria realizada a cada 2 anos, com
Infantil (EI) como parte da Educação Básica; a base em parâmetros nacionais de qualidade,
incorporação do financiamento da EI no Fundo com a intenção de aferir a infraestrutura fí-
de Manutenção e Desenvolvimento da Educa- sica, o quadro de pessoal, as condições de
ção Básica e de Valorização dos Profissionais da gestão, os recursos pedagógicos, a situação
Educação (Fundeb); a Convenção dos Direitos de acessibilidade, entre outros indicadores
da Pessoa com Deficiência ONU/2006, a apro- relevantes. O mesmo Plano propôs a constru-
vação do Marco Legal da Primeira Infância e a ção de uma Base Nacional Comum Curricular,
homologação da BNCC, que inclui a etapa da EI. homologada em 2017. A proposta da BNCC
O ministério da Educação (MEC) lançou, para a etapa da Educação Infantil se consti-
em 2006, os Parâmetros Nacionais de Qua- tui a partir de seis direitos de aprendizagem
lidade para a Educação Infantil - Volume 1 e e desenvolvimento, dois eixos estruturantes
Volume 2. O documento sintetiza os principais para as práticas pedagógicas (interações e
fundamentos e referências para o monitora- brincadeiras) e uma organização curricular
mento da qualidade da Educação Infantil, vi- composta de cinco campos de experiências,
sando à promoção da igualdade de oportunida- que estabelecem objetivos de aprendizagem
des educacionais. Com o propósito de traduzir desenvolvimento a serem garantidos a todas
e detalhar esses parâmetros em indicadores as crianças.
operacionais, por meio de um instrumento de Considerando as novas legislações e
autoavaliação da qualidade das Instituições de documentos orientadores criados desde 2006,
Educação Infantil, em 2009 o MEC lançou os In- em 2018 o MEC lançou a atualização dos Pa-
dicadores da Qualidade na Educação Infantil. râmetros Nacionais de Qualidade da Educação
E mais tarde, em 2012, instituiu o Gru- Infantil, fruto de um trabalho que envolveu
po de Trabalho (GT) de Avaliação da Educação instituições governamentais, não governa-
Infantil (Portaria Ministerial nº 1.147/2011). mentais e da sociedade civil. Esse processo
O GT foi criado para propor diretrizes e me- considerou, além dos avanços nas legislações
todologias de avaliação na e da Educação vigentes, pesquisas e estudos científicos so-
Infantil, analisando experiências, estratégias bre o desenvolvimento infantil, resultados de
e instrumentos de avaliação, e definir cursos pesquisas nacionais e internacionais sobre a
de formação sobre avaliação para esta etapa. qualidade na e da Educação Infantil e sobre
A partir desse GT, foi construído o documento seu impacto na melhoria das aprendizagens
Educação Infantil: subsídios para construção e no alcance do pleno desenvolvimento das
de uma sistemática de avaliação. crianças de 0 a 5 anos.
9
marcos legais e históricos
10
o que são parâmetros?
O documento Parâmetros Nacionais de cionamento das Instituições de Educação infantil.
Qualidade da Educação Infantil (2017) define Mas esclarece, sobretudo, as premissas para as
parâmetros como referência, ponto de partida, práticas pedagógicas, promotoras dos direitos e
ponto de chegada, linha de fronteira e também objetivos de aprendizagem e desenvolvimento
como práticas a serem executadas por diversos das crianças.
atores do processo educativo. A formulação de- No documento, os parâmetros estão
les considera os princípios orientadores de uma segmentados em oito áreas focais, que apre-
educação de qualidade, tendo como fundamen- sentam um conjunto de princípios com parâ-
to os valores humanísticos, emancipatórios e metros atrelados a cada um deles. Para uma
pautados nos preceitos legais. Vale acrescentar melhor compreensão da definição de parâ-
que parâmetros são construídos de forma ampla metros utilizada no documento Parâmetros
e flexível, considerando diferenças regionais, de Nacionais de Qualidade da Educação Infantil,
modo que contemplem manifestações institu- é importante compreender a proposta de áre-
cionais locais e ações culturais por meio da cria- as e princípios que o mesmo apresenta, bem
ção de referências locais. como as definições de Diretrizes e Indicado-
A definição de parâmetros como práticas a res, presentes respectivamente nos documen-
serem executadas favorece a elucidação de quais tos Diretrizes Curriculares para a Educação
são os requisitos necessários, tanto no desenho Infantil (2009) e Indicadores de Qualidade da
de políticas públicas como na organização e fun- Educação Infantil (2009).
Indicadores:
Diretrizes: Instrumento de quantificação para aferir o ní-
Aspectos norteadores e legais. São orien- vel de aplicabilidade do parâmetro. Parâme-
tações para estabelecer, por exemplo, tros são mais amplos e genérico; indicadores,
acesso, inclusão e equidade, qualidade, mais específicos e precisos. Indicadores, como
igualdade de gênero, oportunidades de medidas quantitativas, podem ser usados para
aprendizado e desenvolvimento ao longo verificar o andamento ou a qualidade dos pro-
da vida etc. cessos de implementação das políticas públi-
cas de Educação Infantil.
11
Área Princípios
Gestão dos sistemas 30
focal 1.1) Gestão de acesso, oferta e matrícula
e redes de ensino parâmetros
1 1.2) Sistema de Ensino/Rede de Ensino
Área
Princípio 10
focal Intersetorialidade
6.1) Rede de Proteção Social parâmetros
6
Princípios
Área
Espaço, materiais e 7.1) Organização dos espaços de aprendizagem e 27
focal
mobiliários desenvolvimento parâmetros
7 7.2) Insumos pedagógicos e materiais
Princípios
8.1) Localização e entorno, características do terreno,
Área
serviços básicos, condições de acesso à edificação e 31
focal Infraestrutura
condicionantes físicos ambientais parâmetros
8 8.2) Programa de necessidades, setorização, fluxos, áreas e
proporções entre ambientes
• Área focal: organiza um conjunto de princípios e • Parâmetros: podem ser definidos como referência,
parâmetros visando a uma melhor compreensão de ponto de partida, ponto de chegada ou linha de fron-
suas especificidades. teira. Por exemplo, a formação esperada do profissio-
nal de educação. Os parâmetros aqui apresentados
• Princípios: fundamentos a que se propõe. A razão
sugerem também práticas a serem realizadas por di-
ou o que explica a importância das práticas propos-
versos atores do processo educativo.
tas. Princípios devem ser internalizados, consultados
e devem guiar as práticas propostas.
12
Uma das inovações propostas na atua- A seguir, algumas sugestões de como
lização do documento Parâmetros Nacionais utilizá-lo:
de Qualidade da Educação Infantil está rela- • Reconhecer as práticas recomendadas
cionada com o público-alvo do documento e como norteadoras para a melhoria das prá-
as diferentes possibilidades de uso propostas ticas pedagógicas;
para cada um deles.
• Participar de momentos de estudo sobre
A ampliação do público-alvo para o qual
os conceitos e práticas apresentados neste
o documento se dirige reconhece e valoriza
documento;
a importância de políticas públicas voltadas
para a infância de forma articulada, adotan- • Criar estratégias e abordagens que respon-
do uma abordagem intersetorial. Os primeiros dam aos parâmetros apresentados, como for-
anos de vida são fundamentais para a base ma de enriquecer as relações, mediações e
da formação do sujeito. Nesse período, famí- propostas realizadas junto às crianças;
lia, instituições de Educação Infantil e demais • Documentar a aprendizagem e o desenvolvi-
instituições que cuidam da saúde, do bem-es- mento da criança e realizar uma autorrefle-
tar e que apoiam os pais no desenvolvimento xão sobre a prática pedagógica a partir dos
da parentalidade são essenciais para garantir parâmetros estabelecidos;
as aprendizagens e o pleno desenvolvimento
• Identificar e solicitar ao gestor da instituição
das crianças, o que implica uma ação coorde-
de Educação Infantil e à Secretaria de Edu-
nada entre esses diferentes atores.
cação as condições e insumos necessários
O público-alvo dos Parâmetros Nacio-
para executar as ações e práticas propostas
nais de Qualidade da Educação Infantil é com-
no documento;
posto de: gestores de Secretarias de Educação;
gestores das instituições de Educação Infantil, • Criar indicadores que possibilitem uma
tais como diretores e coordenadores pedagó- avaliação escalonada das práticas, iden-
gicos ou equivalentes; professores e profissio- tificando se elas atendem integralmente,
nais de apoio de instituições de educação. parcialmente ou insatisfatoriamente os Pa-
Para o professor de Educação Infantil, râmetros de Qualidade.
o documento Parâmetros de Qualidade da
Educação Infantil apresenta referências para
orientar o planejamento e a avaliação das prá-
ticas pedagógicas.
13
Capítulo 2
Evidências de qualidade para
contextos de aprendizagem
14
indicadores de qualidade
Pesquisas recentes (aqui, aqui e aqui) onde são explorados aspectos importantes
têm comprovado que práticas pedagógicas que como cooperação, autocontrole e negociação,
promovem aprendizagem e desenvolvimen- além de estimular a imaginação e a criativida-
to na etapa da Educação Infantil são aquelas de (Comitê Científico do Núcleo Ciência Pela
que respeitam e valorizam a forma peculiar de Infância, 2014, p. 6).
criança se expressar e aprender sobre o mun- Nos primeiros anos de vida, as crianças
do, a cultura, as pessoas, as relações e sobre si aprendem e aprendem muito! Mas, para que
mesmas por meio de dois eixos estruturante: as isso aconteça, é importante que elas tenham a
brincadeiras e as interações (aqui e aqui). oportunidade de viver experiências permeadas
Segundo Berlinski e Schady (2016, p. por interações de qualidade, em contextos de
103), as evidências que indicam maior im- ambientes ricos, plurais e estimulantes para
pacto no resultado das aprendizagens das suas descobertas e aprendizagens.
crianças a curto prazo são aquelas relaciona-
das a frequência, tipo e qualidade das inte-
... a frequência a uma creche ou pré-es-
rações que se estabelecem no cotidiano da
cola de qualidade faz a diferença na vida
Educação Infantil.
das crianças não só em se tratando do
De acordo com o documento O impacto
impacto positivo em sua trajetória esco-
do desenvolvimento na primeira infância sobre
lar posterior, mas também, e principal-
a aprendizagem (Comitê Científico do Núcleo
mente, no que diz respeito à natureza
Ciência Pela Infância, 2014, p. 6.) as interações
que estimulam a afetividade são capazes de das experiências vividas durante o tempo
gerar vínculos consistentes e a formação desse em que frequentam estas instituições,
tipo de vínculo encoraja a autonomia e é neces- possibilitando uma plena vivência de sua
sário para que a criança gradualmente entenda infância e ampliando suas possibilidades
a si própria, sua importância na vida dos ou- de compreensão e interação com o mun-
tros e futuramente na sociedade. A brincadeira do e pessoas ao seu redor.
como forma de a criança aprender e se desen- (Campos et al., 2011)
volver desde o início da vida também é desta-
cada. Segundo o estudo, brincar com pessoas
e objetos contribui para que a criança aprenda Uma melhor aprendizagem e um melhor
a explorar sensorialmente diferentes objetos, desenvolvimento também são evidenciados
a reagir aos estímulos lúdicos propostos pelas quando essas interações podem ser observa-
pessoas com quem se relaciona, e a exercitar das atreladas à presença de um planejamen-
com prazer funcional suas habilidades. to intencional, adequado à faixa etária, com
De acordo com os autores, à medida que práticas pedagógicas centradas nas crianças,
essas habilidades se tornam mais complexas, materiais, brinquedos, livros, objetos e infraes-
o brincar oferece oportunidades para apren- trutura. Conheça mais sobre esses estudos nas
der em contextos de relações socioafetivas, publicações indicadas aqui, aqui e aqui.
15
O professor é o grande responsável por Um espaço estruturado e organizado de forma
planejar e garantir um cotidiano promotor dos atraente, com materiais ricos e plurais, convida
direitos, aprendizagens e do desenvolvimento a interações promotoras de conexões e cons-
das crianças. Esse compromisso implica que truções, brincadeiras, explorações e descober-
ele seja um conhecedor do desenvolvimen- tas. E pode se caracterizar como contextos in-
to infantil e da pedagogia da infância. Saber vestigativos que favorecem a ação autônoma
como a criança aprende e se desenvolve e das crianças na construção de conhecimento.
planejar práticas coerentes com esse saber é Nesse contexto, espaços e materiais,
essencial para que o professor possa garantir considerados como parte do processo educa-
interações de qualidade que considerem os tivo, têm um forte potencial de agregar quali-
interesses, desejos e necessidades das crian- dade, uma vez que impactam nas interações e
ças. Assim, ele pode criar ambientes e contex- experiências das crianças.
tos promotores de descobertas e construção
de conhecimentos. Os processos de desenvolvimen-
Considerar intencionalmente as intera- to e aprendizagem infantil ocorrem
ções, as brincadeiras, as múltiplas linguagens continuamente nas relações que a
e as experiências nos contextos da Educação criança estabelece desde seu nasci-
Infantil implica que o professor compreenda a mento, iniciando com seus pais e, de-
criança como participante ativa no seu proces- pois, com cuidadores e professores,
so de aprendizagem. Ou seja: que considere profissionais de saúde, outras crian-
a ação da criança sobre os objetos e mate- ças e indivíduos da comunidade na
riais, a capacidade dela de construir pergun- qual está crescendo. Isto é, as crianças
tas capazes de mobilizar relações, confrontos experienciam e aprendem no mundo
e negociações que resultam na construção de por meio dos relacionamentos socioa-
conhecimentos. Quando as interações e as fetivos, e estes, por sua vez, influenciam
experiências são vividas dessa forma pelas
todos os aspectos do desenvolvimento
crianças, elas têm um grande potencial trans-
infantil. Além disso, ela também se bene-
formador, pois promovem aprendizagens com
ficia de suas próprias ações em relação às
sentido e significado.
pessoas com que convive e aos objetos que
Pesquisas recentes revelam que a orga-
utiliza em seu cotidiano e nas brincadeiras.
nização intencional dos ambientes, dos espa-
ços e dos materiais nos contextos da Educação (Fonte: O impacto do desenvolvimento na pri-
Infantil também tem um impacto nas apren- meira infância sobre a aprendizagem.)
dizagens e no desenvolvimento das crianças.
16
» O potencial de contribuição da BNCC para a qualidade da EI
A Base Nacional Comum Curricular, que fundamentam as práticas promotoras de
aprovada em 2017, é um documento norma- qualidade. Ao mesmo tempo, apresenta refe-
tivo nacional que deve ser considerado em rências dessas práticas por meio da elabora-
todas as instituições de educação do Brasil, ção dos parâmetros. Principais marcos presen-
públicas e privadas. A partir de sua homolo- tes na proposta da BNCC da etapa da EI que
gação, estados e municípios revisaram suas apoiam um planejamento curricular centrado
propostas curriculares, preparando-se para a na criança e em sua experiência:
implementação da BNCC nessas instituições.
• Concepção de criança
Na etapa da Educação Infantil, os prin-
cípios, conceitos e concepções que fundamen- • Concepção de aprendizagem, desenvolvi-
tam a proposta de organização curricular da mento e ensino
BNCC referendam o que está proposto nas Di- • Direitos de aprendizagem e desenvolvimen-
retrizes Curriculares Nacionais da EI, homologa- to: conviver, brincar, participar, explorar, ex-
das em 2009. Isso promove a continuidade da pressar e conhecer-se
identidade específica desta etapa, ao mesmo
• Eixos estruturantes das práticas pedagógi-
tempo em que apoia o professor a realizar um
cas: brincar e interações
planejamento curricular que efetivamente co-
loque a criança e suas experiências • Organização curricular por campos
como elemento central no planeja- de experiências: o eu, o outro e o
mento das práticas que promove. nós; corpo, gestos e movimentos,
A BNCC inova na proposta de traços, sons, cores e formas; escu-
organização curricular por campos ta, fala, pensamento e imaginação
de experiências, garantindo que as e espaços, tempos, quantidades,
práticas sejam estruturadas em con- relações e transformações
textos de brincadeiras e interações • O bjetivos de aprendizagem e
e promotoras das múltiplas lingua- desenvolvimento
gens como forma de a criança se ex-
pressar e aprender. Nesse sentido, a • Para conhecer melhor esses mar-
BNCC, atrelada a outras iniciativas, como a for- cos, você pode consultar as Dire-
mação dos professores, pode contribuir com a trizes Curriculares Nacionais da
qualidade das práticas nas instituições de edu- Educação Infantil (2009) e alguns
cação Infantil. outros documentos que foram
A atualização dos Parâmetros Nacionais produzidos para apoiar o processo
de Qualidade da Educação Infantil incorpora de implementação da BNCC etapa
os marcos trazidos pela BNCC da etapa da EI, da EI (clique aqui e aqui).
reforçando e dando coerência aos princípios
17
Capítulo 3
Compreendendo e identificando
os parâmetros no cotidiano e nas
documentações pedagógicas
18
área focal
Currículo, interações e práticas desenvolvam e se revertam no engajamento
pedagógicas por novas descobertas.
É papel do professor planejar o cotidiano
Pesquisas recentes evidenciam que um e as práticas pedagógicas considerando os mar-
currículo adequado à faixa etária e bem es- cos conceituais e os direitos de aprendizagem
truturado é promotor de aprendizagem e de- das crianças. Para tanto, é importante ter sempre
senvolvimento na Educação Infantil. A BNCC como referência as estratégias que podem me-
apresenta os princípios e marcos conceituais lhor apoiar suas aprendizagens e a promoção de
que devem nortear a construção dos currícu- experiências ricas em interações, baseadas em
los regionais e locais, bem como das propos- brincadeiras, contextualizadas em práticas so-
tas pedagógicas das instituições. ciais e articuladas aos conhecimentos de nosso
A BNCC define os direitos e os objetivos patrimônio. A seguir, vamos compreender como
de aprendizagem que devem ser garantidos o currículo, as interações e as práticas pedagógi-
a todas as crianças. Propõe também uma or- cas se apresentam em princípios e parâmetros e
ganização curricular que apoia o professor no podem apoiar o professor na garantia dos direi-
planejamento da prática pedagógica contem- tos e objetivos de aprendizagem e desenvolvi-
plando os interesses, as curiosidades, as neces- mento das crianças.
sidades e o ritmo de desenvolvimento de cada
criança, bem como suas formas de se expressar
Princípio 4.1:
e aprender por meio das múltiplas linguagens.
Campos de experiências:
As interações são a base para favorecer
multiplicidade de experiências
as aprendizagens e o desenvolvimento das
crianças. Por meio de interações positivas, as e linguagens
crianças constroem vínculos seguros e está-
veis com seus professores, o que se reverte • Parâmetro (4.1.5): conduzir e mediar o tra-
em alimento emocional para engajar-se em balho pedagógico por meio da organização de
suas descobertas sobre o mundo, as pessoas, práticas abertas às iniciativas, aos desejos e
as relações e sobre si mesmas. As interações às formas próprias de agir das crianças, cons-
entre as crianças, delas com os adultos e com truindo um rico contexto de aprendizagens
os espaços e materiais, quando intencional- significativas.
mente promovidas pelo professor a partir de
• Parâmetro (4.1.6): promover a imersão das
uma escuta atenta dos interesses, curiosida-
crianças em práticas sociais e culturais criativas
des e necessidades das crianças, também são
e interativas, realizadas de maneira a garantir
base para ajudá-las a construir suas próprias
aprendizagens significativas, criando momen-
ideias e perguntas. Na relação criança-profes-
tos plenos de afetividade e descoberta.
sor, ele a escuta e devolve a elas suas próprias
formulações de maneira mais compreensível, • Parâmetro (4.1.7): utilizar corretamente e con-
favorecendo que novas ideias e conexões se servar obras didáticas, pedagógicas e literárias,
19
entre outros materiais de apoio à prática educa- nifestações, predisposição a entender como
tiva, de maneira sistemática, regular e gratuita pensam, o que expressam e de que necessi-
oferecidas pelo Programa Nacional do Livro e do tam, adequando suas estratégias com base
Material Didático (PNLD), bem como outros pro- nessas observações.
gramas aplicáveis à Educação Infantil.
• Parâmetro (4.2.9): possibilitar que crianças
exerçam a autonomia de acordo com seu nível
Princípio 4.2: de desenvolvimento e auxiliá-las nas ativida-
Qualidade das interações des que não podem realizar sozinhas.
20
• Parâmetro (4.2.15): criar condições favorá- gonhar, rejeitar, aterrorizar ou isolar uma criança.
veis à criança na construção da autonomia, da
• Parâmetro (4.2.21): identificar conflitos en-
subjetividade e da identidade pela convivên-
tre crianças e adotar uma abordagem de reso-
cia em um ambiente que expresse e valorize a lução de problemas promovendo o desenvol-
diversidade estética e cultural própria da po- vimento de competências interpessoais pelas
pulação brasileira. crianças e a confiança em si mesmas para re-
• Parâmetro (4.2.16): objetivar as aprendiza- solver problemas.
gens de cada campo de experiências, acompa- • Parâmetro (4.2.22): assegurar a tranquilida-
nhando e intervindo para o progresso dessas de, a segurança e o conforto das crianças em
aprendizagens e o consequente desenvolvi- todos os momentos e, em hipótese alguma,
mento de cada criança. deixá-las sozinhas.
• Parâmetro (4.2.17): assegurar que crianças,
especialmente os bebês, possam movimentar- Princípio 4.3:
se diariamente em espaços amplos, seguros e Intencionalidade pedagógica
desafiadores.
• Parâmetro (4.2.18): intervir e assegurar que • Parâmetro (4.3.3): organizar intencional-
as crianças tenham opções de atividades, inte- mente as atividades das crianças ora estrutu-
rações e brincadeiras que correspondam aos radas, ora espontâneas e livres, como campos
interesses e às necessidades apropriadas às de experiências que aproveitam e sistemati-
diferentes faixas etárias, com possibilidade de zam as situações, e as experiências concretas
fazer alguma atividade enquanto esperam que da vida cotidiana das crianças e seus saberes,
o restante do grupo termine outra atividade. entrelaçando-os aos conhecimentos que fa-
zem parte do patrimônio cultural.
• Parâmetro (4.2.19): garantir oportunidades
iguais a todas as crianças, sem discriminação • Parâmetro (4.3.4): fazer intervenções peda-
e valorizando atitudes de cooperação, tolerân- gógicas visando atender às características e às
cia e respeito à diversidade, orientando contra necessidades das crianças.
discriminação de gênero, etnia, cor, raça, opção
religiosa e crianças com deficiência, permitin- Princípio 4.4:
do a todos aprenderem a viver em coletividade, Observação, planejamento,
compartilhando e cooperando saudavelmente. documentação e reflexão das
• Parâmetro (4.2.20): reconhecer e proibir ex- práticas pedagógicas e das
pressamente determinadas atitudes, como puni- aprendizagens das crianças
ção corporal; retirada real ou ameaça de retirada
de alimentos, de descanso ou uso do banheiro; • Parâmetro (4.4.6): responsabilizar-se por
linguagem abusiva ou profana; humilhação públi- manter atualizada a documentação pedagó-
ca ou privada; abuso emocional, incluindo enver- gica das crianças por meio de instrumentos e
21
registros que evidenciem os seus progressos, • Parâmetro (4.4.8): monitorar, em conjunto
que permita à família acompanhar seu desen- com os profissionais de apoio da Educação
volvimento e aprendizagem. Infantil, o desenvolvimento das crianças e
os resultados desse monitoramento, que re-
• Parâmetro (4.4.7): realizar acompanhamen-
sultam na criação de estratégias específicas
to e registro da aprendizagem e desenvolvi- para cada criança.
mento da criança por meio de fotos, desenhos
e documentos, e criar o portfólio da Educação
Infantil que será socializado com os responsá-
veis e a equipe pedagógica.
22
Princípio 4.1
Campos de experiências:
multiplicidade de
experiências e linguagens
23
por que esse princípio?
As Diretrizes Curriculares Nacionais da • As múltiplas linguagens por meio das quais
Educação Infantil definem o currículo como um as crianças se expressam e aprendem;
conjunto de práticas que buscam articular as
• As interações, brincadeiras e investigações
experiências e os saberes das crianças com os
como forma de construir conhecimento so-
conhecimentos que fazem parte do patrimônio
bre o mundo, as pessoas, as relações e so-
cultural, artístico, ambiental, científico e tecno-
bre si mesmas.
lógico, de modo a promover o desenvolvimen-
to integral de crianças de 0 a 5 anos de idade.
O professor tem um papel fundamental
Com essa definição, podemos enten-
na criação desses contextos: ele é o grande cura-
der que falar de currículo na Educação Infantil
dor dos conhecimentos a serem construídos pe-
implica compreender esse documento como
las crianças. É ele quem planeja propostas plu-
uma referência que o professor deve conside-
rais nas quais as crianças podem se expressar e
rar no planejamento do cotidiano, abarcando
aprender por meio de diferentes linguagens em
todos os contextos de aprendizagem intencio-
contextos de interações, brincadeiras e investi-
nalmente promovidos.
gações. O professor, intencionalmente, coloca
Para que esses contextos sejam efetiva-
em ação estratégias que apoiam essas aprendi-
mente promotores do desenvolvimento inte-
zagens. Em parceria com as famílias e por meio
gral, precisam partir de um profundo conheci-
de uma escuta atenta e genuína, ele conhece
mento sobre as crianças e suas singularidades
cada uma das crianças: o que já sabem; o que já
(Quais os seus saberes e experiências? Quais
viveram; quais as suas preferências, desejos e
os seus interesses e curiosidades? Quais as
curiosidades; quais as suas necessidades e rit-
suas necessidades? Qual o seu ritmo de de-
mos de desenvolvimento. E, na elaboração dos
senvolvimento?), articulado com três elemen-
contextos de aprendizagens, considera todo
tos fundamentais:
esse conhecimento.
• Os conhecimentos de nosso patrimônio
cultural, artístico, ambiental, científico e
tecnológico;
24
parâmetro (4.1.5)
Conduzir e mediar o trabalho pedagógico por meio da organização de
práticas abertas às iniciativas, aos desejos e às formas próprias de agir das
crianças, construindo um rico contexto de aprendizagens significativas.
25
> prática <
O momento de livre escolha aconte- Finalizado esse ritual, que varia se-
ce cotidianamente na parte da tarde, entre gundo a dinâmica de cada grupo, natural-
14h e 15h, no espaço da sala de referên- mente as crianças se encaminham para os
cia. Sua organização privilegia a autono- espaços da sala que elegeram, buscam ma-
mia de iniciativa das crianças, por meio teriais - quando necessário - e se organi-
uma sequência de ações preestabelecidas zam em pequenos grupos, por interesses
e repetidas todas as semanas. Primeiro, compartilhados, ou brincam individualmen-
cada criança identifica onde está o crachá te. Já sabem que podem mudar suas ideias
com seu nome e se senta perto dos demais iniciais, se organizar em novos arranjos de
membros de seu pequeno grupo. grupos, buscar outros materiais ou mesmo
Em seguida, as crianças compartilham construir novos cenários.
entre si o que pensaram em fazer naque- A autonomia das crianças de escolher
le momento. Para essa partilha, sabem que os espaços e materiais é oportunizada pela
podem usar diferentes recursos: desenho, regularidade e o modo de organização que
relato aos colegas, apontar o espaço ou os esses elementos têm: são compreendidos e
materiais que pretendem usar ou até mesmo vividos por elas como ambientes de sua au-
buscar algum objeto que indique a ação que toria, dos quais compartilham, e juntas habi-
pretendem fazer. tam e transformam.
26
A organização da situação está centrada ver problemas. O convite para que projetem
nas crianças e promove sua participação ativa. o que pretendem fazer e compartilhem com
As possibilidades ofertadas pelo ambiente con- seus colegas contribui para que aprendam o
sideram práticas sociais pelas quais as crianças que é preciso fazer para que as coisas que
se interessam, por meio de arranjos espaciais desejam aconteçam.
e materiais estáveis e conhecidos, e ainda a Assim, descobrem que podem esco-
possibilidade de desenvolverem suas ações se- lher o que é fundamental para seu desenvol-
gundo seus interesses, em diferentes tempos e vimento pleno e saudável. Próximo ao final
com liberdade na forma como interagem. dessa situação, o professor anuncia às crian-
A ritualização dessa situação contribui ças quanto tempo elas ainda têm para desen-
para a consciência que as crianças têm de si volver suas atividades e, ao final, como mais
mesmas como agentes de suas ações, toma- uma conduta ritualística, as crianças come-
doras de decisões e competentes para resol- çam a organizar os materiais.
27
parâmetro (4.1.6)
Promover a imersão das crianças em práticas sociais e culturais cria-
tivas e interativas, realizadas de maneira a garantir aprendizagens
significativas, criando momentos plenos de afetividade e descoberta.
28
> prática <
29
parâmetro (4.1.7)
Utilizar corretamente e conservar obras didáticas, pedagógicas e literárias,
entre outros materiais de apoio à prática educativa, de maneira sistemática,
regular e gratuita oferecidas pelo Programa Nacional do Livro e do Material
Didático (PNLD), bem como outros programas aplicáveis à Educação Infantil.
30
• A presença de livros com narrativas que incentivam o conhecimento e o res-
peito às diferenças raciais, às pessoas com deficiência e às características
ambientais e socioculturais da comunidade.
Livros e histórias com boa qualidade textual contribuem para o aprendizado
da leitura e da escrita, pois fazem uso da linguagem em todos os seus variados rit-
mos e padrões. O professor, por meio dos livros que vai ler e disponibilizar na sala,
realiza uma curadoria que permite criar contextos de aprendizagens nos quais as
crianças possam:
• Enriquecer seu vocabulário;
• Compreender a relação entre as ilustrações e o texto;
• Construir estratégias de leitura;
• Fazer escolhas do que ler a partir de seus gostos e preferências;
• Identificar aspectos fônicos como sons iniciais iguais e rimas;
• Conhecer exemplos do que a escrita é capaz de fazer e para que ela serve,
engajando-se no seu processo de aprendizagem sobre a leitura e a escrita;
• Envolver-se e responsabilizar-se pelo cuidado e manutenção dos livros;
• Ter acesso a livros que atendam suas necessidades e singularidades, tais
como livros com escrita em braille, com alto-relevo,com libras, audiolivro.
» Evidências em diferentes
contextos geográficos e em di-
ferentes faixas etárias sugerem
que o acesso a livros e a parti-
cipação em situações de leitura
são importantes tanto para o
desenvolvimento cognitivo
e não cognitivo das crianças.
(Teixeira, 2017)
31
> prática <
32
Princípio 4.2
Qualidade das interações
33
por que esse princípio?
Como destacado no Capítulo 1, pesqui- continuidade às manifestações e investiga-
sas recentes têm comprovado que práticas pe- ções delas. Esse tipo de interação implica uma
dagógicas que promovem a aprendizagem e o escuta atenta e genuína do professor.
desenvolvimento na etapa da Educação Infantil Compreender as interações como ex-
são aquelas que respeitam e valorizam a forma periências que oportunizam aprendizagens
peculiar de a criança se expressar e aprender também implica reconhecer que as crianças
sobre o mundo, a cultura, as pessoas, as rela- não dependem da ação direta do adulto para
ções e sobre si mesmas, por meio de brincadei- aprender. Elas aprendem com seus pares,
ras, de experiências provocadoras de investiga- descobrindo coisas que eles já sabem, ensi-
ção, permeadas por interações de qualidade e nando a eles coisas que elas já sabem, rea-
por relações de vínculo seguras e estáveis. lizando descobertas compartilhadas e tam-
As Diretrizes Curriculares Nacionais da bém aprendem na interação com diferentes
Educação Infantil consideram as interações culturas e grupos sociais e com os objetos e a
e a brincadeira como eixos estruturantes da natureza. Para que o professor oportunize di-
prática pedagógica. E a BNCC da etapa da EI ferentes contextos, nos quais se aprenda por
referenda essa diretriz ao descrever os eixos meio de experiências provocadoras de inte-
como experiências nas quais as crianças po- rações de qualidade, é importante que ele
dem construir e apropriar-se de conhecimen- reconheça a criança como um sujeito compe-
tos por meio de suas ações e interações com tente para aprender, curioso sobre o mundo,
seus pares e com os adultos, com os objetos e as pessoas, as relações e sobre si mesma e
a natureza, possibilitando aprendizagens, de- compreenda seu papel de parceiro, mediador
senvolvimento e socialização. e guia das aprendizagens. O professor tam-
No entanto, quando falamos de inte- bém deve ficar atento às barreiras presen-
rações como promotoras de aprendizagem e tes que podem impossibilitar a interação e
desenvolvimento, nos referimos a interações aprendizagem de crianças com deficiência,
responsivas. Ou seja: a partir das expressões e devendo criar contextos que eliminem ou mi-
ações das crianças, o adulto responde, dando nimizem tais barreiras.
34
parâmetro (4.2.4)
Acompanhar sempre as crianças em cada grupo ou turma, devendo
a instituição garantir a substituição por outros professores de Edu-
cação Infantil com a formação necessária, em caso de ausência.
35
> prática <
“Trabalho em uma instituição de Educa- desenho, livros, jogos etc. Esse momento costu-
ção Infantil de tempo integral e atuo com uma ma durar por volta de uma hora. Então garanti-
turma de crianças bem pequenas. São 24 no mos que 30 minutos desse período possam ser
total. Há algum tempo, implementamos uma usados para trocas entre nós. Um dia se reúne
forma de trabalho que tem nos ajudado a ga- o professor mais experiente com o auxiliar; no
rantir a presença de um professor na turma em outro, o professor mais experiente com o se-
todos os momentos. Nos permite também or- gundo professor e, por último, o professor au-
ganizar o dia dando continuidade às experiên- xiliar se reúne com o segundo professor.
cias das crianças de forma fluida e intencional. Nesses momentos, compartilhamos as
Toda turma tem um professor que é o documentações que fizemos sobre as crian-
mais experiente do trio, com experiência de ças - suas investigações, descobertas, neces-
trabalho e formação em pedagogia. Esse pro- sidades de apoio - e também nossas docu-
fessor chega no momento da entrada, às 7 ho- mentações sobre o planejamento e a reflexão
ras. Às 9h30, chega o professor auxiliar (que sobre os contextos de aprendizagens. Vamos
tem formação em magistério ou em pedago- organizando esses encontros conforme a nos-
gia) e, às 10h, o terceiro professor (com forma- sa necessidade, mas há um tempo garantido
ção em pedagogia). No momento do almoço todos os dias nesse horário. Costumamos nos
das crianças, garantimos que os três professo- dividir para planejar os diferentes momentos
res estejam juntos, de modo que cada criança da rotina ao longo da semana, buscando com
receba atenção individualizada. que cada um de nós possa ficar responsável
Após o almoço, muitas têm sono e dor- pelo mesmo momento, pois isso nos ajuda a
mem. Para aquelas que ficam acordadas, orga- planejar com foco na ampliação e no aprofun-
nizamos a sala com algumas propostas, como damento das experiências das crianças.
36
parâmetro (4.2.5)
Respeitar a diversidade das características etárias das crianças,
reconhecendo a unidade da infância entre elas nas vivências
dos campos de experiências, conforme previsto na BNCC.
37
• Escuta atenta do professor e observação sistemática e reflexiva do coti-
diano das suas práticas pedagógicas;
38
> prática <
“Todo início de ano, na instituição na nuidade, para que possam ser consolidados pelas
qual trabalho, nos reunimos para planejar os crianças; quais já foram consolidados e podem ser
grandes marcos de nosso ano com as crianças. ampliados ou aprofundados e, finalmente, aque-
Nesse momento, fazemos uma troca entre os les objetivos de aprendizagem e desenvolvimento
professores que garanta a passagem das tur- que ainda não foram trabalhados. Posteriormente
mas: conhecemos o que a turma com a qual a essa reflexão, que acontece entre professores
vamos trabalhar investigou no ano anterior, de diferentes grupos etários, fazemos um plane-
quais foram as conquistas de aprendizageme jamento entre os pares que vão trabalhar com o
desenvolvimento, quais os maiores desafios e mesmo grupo. Nesse momento, consideramos
quais os interesses e curiosidades do grupo. todas as informações e documentações pedagó-
Com esse panorama, e ainda junto com gicas trabalhadas no momento anterior e fazemos
o professor que acompanhou a turma no ano o exercício de levantar possíveis práticas provoca-
anterior, fazemos o exercício de levantar alguns doras de investigação pelas crianças naquele ano.
temas de investigação que possam mobilizar e Consideramos quais têm potencial de ar-
engajar as crianças. Nesse exercício, sempre ticular as experiências e os saberes das crianças,
consideramos quais são os novos conhecimen- seus interesses, curiosidades, necessidades e
tos a serem construídos e que conhecimentos ritmos de desenvolvimento, bem como seu po-
devem ser aprofundados pelo grupo e por cada tencial de mobilizar aprendizagens por meio das
uma das crianças. múltiplas linguagens, mobilizando os diferentes
Para realizar essa dinâmica entre pares, nos campos de experiências e também garantindo
apoiamos nos objetivos de aprendizagem e de- que ampliem ou aprofundem os objetivos de
senvolvimento propostos pela BNCC e pelo nosso aprendizagem e desenvolvimento que precisam
currículo. Identificamos quais precisam ter conti- ser garantidos.
39
parâmetro (4.2.6)
Assegurar que crianças sejam atendidas em suas necessidades de prote-
ção, dedicando atenção especial durante o período de acolhimento ini-
cial, durante as transições e em momentos peculiares de sua vida.
40
> prática <
41
parâmetro (4.2.7)
Adotar posturas condizentes com os princípios expressos
no projeto pedagógico da instituição de Educação Infantil.
42
> prática <
» Trecho de um relatório entregue aos pais Puderam aprender também que os conheci-
produzido por uma professora de um grupo de mentos não eram restritos a uma determinada
crianças de 4 anos. situação. Pelo contrário: um mesmo conheci-
mento pode ajudá-las nos diversos desafios
“Fê, depois do 89 vem o 80 e 10?” - que a descoberta do mundo lhes coloca.
perguntou Catherine. Hoje, podemos observar as crianças
Frente ao interesse das crianças com os lendo números de dois e até três algarismos.
jogos de trilhas (jogos com percurso envolven- Também puderam reconhecer alguns aspec-
do números, dados e desafios em algumas ca- tos da regularidade que existe em nosso sis-
sas) com o uso de mais de um dado, convidei tema numérico e perceber como esse conhe-
o grupo a construir um novo jogo de trilha. O cimento facilita na hora de contar e escrever
tema do jogo escolhido pelas crianças foi: “A os números. Na coleção de figurinhas, foi mui-
trilha do terror”. Quando vocês receberem este to bacana observar como as crianças iam aos
relatório, já teremos terminado a numeração poucos encontrando formas mais econômicas
das casas e, provavelmente, estaremos na fina- de procurar o lugar da figurinha no álbum e
lização da confecção do jogo, fazendo as ilus- em nosso quadro de marcação. Essas estraté-
trações e as armadilhas. Além da construção do gias só eram possíveis porque a regularidade
jogo de trilha, também estamos colecionando do sistema numérico começava a ser desco-
um álbum de figurinhas que foi sugerido por berta e usada. Dani: “Se você está com a figu-
um grupo de crianças que adoram coleções. rinha 62 na mão, tem que ir na página que os
Construir o jogo de trilhas e, ao mesmo números começam com 6”.
tempo, colecionar o álbum, oportunizou que Luisa: “Essa figurinha tem três números,
as crianças construíssem, de forma comparti- tenho que ir para o final do álbum, nos números
lhada, diferentes conhecimentos relacionados de três”. Victor (como quadro de marcação): “Esta
à noção de número, contagem, sequência nu- daqui é a linha do 2 e essa do zero”. Fê: Que nú-
mérica, resolução de problemas, entre outros. mero vem depois do 83? Xande: 1, 2, 3, 4. O 84?
43
parâmetro (4.2.8)
Adotar a postura de efetiva escuta das crianças, atenção às diversas mani-
festações, predisposição a entender como pensam, o que expressam e de
que necessitam, adequando suas estratégias com base nessas observações.
44
> prática <
45
> prática <
46
parâmetro (4.2.9)
Possibilitar que crianças exerçam a autonomia de acordo
com seu nível de desenvolvimento e auxiliá-las nas ativi-
dades que não podem realizar sozinhas.
• Sejam conhecidos por elas, nos quais elas saibam quais são as ações
que estruturam as atividades possíveis e quais as regras comportamen-
tais que estão em jogo;
47
> prática <
48
> prática <
para elas. Essa é uma aprendizagem importante, volver uma imagem positiva sobre si mesmas,
que ajuda no desenvolvimento da identidade pois não só se sentem capazes para essa tare-
das crianças aqui na instituição, uma vez que fa, como podem cumpri-la de fato! É claro que
elas tomam o espaço da sala como seu. a maior parte da organização fica por minha
Participando, no que lhes é possível, da conta, mas sempre seleciono pequenas tare-
organização, sentem-se responsáveis e vão fas para garantir a participação das crianças,
adquirindo autonomia para estar na sala e que ficam cada vez mais competentes.
participar da arrumação. Isso as ajuda a desen-
49
parâmetro (4.2.10)
Alternar brincadeiras de livre escolha das crianças com aquelas dirigi-
das, bem como intercalar momentos mais agitados com outros mais cal-
mos, por exemplo, atividades ao ar livre com as desenvolvidas em sala,
e atividades individuais com outras realizadas em grupos/coletivos.
- Os cuidados pessoais;
- O brincar livre;
50
> prática <
51
> prática <
feitas! Organizo esse espaço considerando a ob- o momento da história, as crianças já sabem
servação que faço das crianças no uso do espa- que faremos a nossa troca final do dia.
ço externo e dos desafios que o próprio ambien- Nesse momento, contam umas às ou-
te e seus elementos naturais propõem. Também tras o que fizeram em suas brincadeiras ou in-
é um momento no qual gostam de ensinar umas vestigações, e também pedem ajuda ou dão
às outras novas brincadeiras. sugestões. Surgem muitas ideias para suas ex-
Quando iniciamos a arrumação do par- periências no dia seguinte. Eu faço a mediação
que, as crianças já sabem que acontecerá a lei- do grupo e escuto atentamente, para ajudá-los
tura de história logo em seguida e começam a a darem continuidade a suas investigações na
perguntar qual livro leremos. Organizo a esco- próxima oportunidade. Para o momento da
lha da história a partir de várias estratégias, mas saída, as crianças sabem que podem brincar
a que elas mais gostam é a votação. Também ou explorar os materiais da sala e que, quan-
variamos o leitor, que podem ser as próprias do seus pais ou responsáveis chegarem, an-
crianças ou algum convidado, e o suporte - li- tes de irem embora, precisam guardar tudo
vros, tablet, gravador etc. Quando terminamos no lugar e se despedir dos colegas.
52
parâmetro (4.2.11)
Garantir o cumprimento da BNCC da etapa da Educação Infantil, con-
siderando as competências gerais, os eixos estruturantes das práticas
pedagógicas (interações e brincadeiras), os campos de experiências e
os direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento.
53
> prática <
54
> prática <
outras. Apoiar as iniciativas das crianças sem- do que convidem outras crianças para brincar
pre a partir de suas ações, evitando ao máximo também. Anunciar quando estiver próximo do
orientar ou dirigir iniciativas, para que tenham momento de finalizar suas atividades ao seu
oportunidades de explorar espontaneamente, término, valorizar e encorajar as iniciativas das
interagir, para que se atentem aos gestos umas crianças na arrumação.
das outras, se imitem e se divirtam. Oferecer Perguntas para apoiar a minha escuta e
modelos de exploração com o material que observação:
priorizem os sentidos e compartilhar as ações - Quais são as explorações realizadas pe-
das crianças, comentando sobre os aromas las crianças? Quais as estratégias que usam para
dos saquinhos, as sensações das luvas, a tex- ampliar suas explorações? Quais os materiais e
tura e a temperatura da massinha etc. Socia- investigações que mais chamam sua atenção?
lizar as ações e explorações das crianças nos
diferentes espaços, imitando-as e incentivan-
55
parâmetro (4.2.12)
Possibilitar que crianças expressem seus sentimentos e pensamen-
tos e possam fazer uso de diferentes linguagens para se expressar.
• Contextos de participação ativa das crianças, nos quais elas têm prota-
gonismo e são valorizadas em suas atividades e ações.
56
> prática <
57
parâmetro (4.2.13)
Planejar e propor contextos de aprendizagens ou promover ex-
periências nas quais as crianças sejam desafiadas a ampliar seus
conhecimentos a respeito do mundo, da natureza e da cultura.
• As perguntas das crianças como perguntas de vida, que envolvem ques-
tões de naturezas complexas. Para serem respondidas, implicam um pro-
cesso de investigação no qual será preciso levantar hipóteses, confrontar
ideias, relacionar informações, negociar pontos de vista, acessar conheci-
mentos de diversas naturezas e fazer uso de diferentes linguagens;
• As perguntas de vida das crianças como disparadoras para suas investiga-
ções e construção de conhecimento sobre o mundo, a natureza e a cultura;
58
> prática <
59
parâmetro (4.2.14)
Organizar situações nas quais seja possível que crianças diversifi-
quem atividades, escolhas e companheiros de interação.
60
> prática <
61
parâmetro (4.2.15)
Criar condições favoráveis à criança na construção da autonomia, da subje-
tividade e da identidade pela convivência em um ambiente que expresse e
valorize a diversidade estética e cultural própria da população brasileira.
62
> prática <
» Relato de uma professora sobre pro- Depois que já estavam bem familiariza-
postas de apreciação de obras da Tarsila do das com essas duas figuras, decidi apresentar
Amaral com crianças de 3 anos de idade. novas obras de Tarsila do Amaral, com a inten-
ção de que pudessem continuar cultivando
Apreciando obras da Tarsila do Amaral esse prazer em ver imagens por meio da am-
Considerando o interesse das crianças, pliação e do aprofundamento de suas vivên-
continuamos trabalhando duas imagens de cias exploratórias. Apresentei a elas mais dois
Tarsila do Amaral: “A Negra” e “A Cuca”, qua- quadros: “A Feira” e “São Paulo”. (Veja trechos
dros esses que já apreciam com muito gosto, das falas das crianças abaixo.)
mostrando que estão familiarizadas com essas Em nossas conversas, eu as instigava
pinturas e que as admiram. a apontarem o que viam e a darem suas in-
Uma das propostas que engajou bas- terpretações para as figuras. Com essas inter-
tante as crianças na continuidade da explora- venções, ficou claro o quanto elas são capazes
ção dessas obras foi a apreciação das mesmas de apreciar a partir das relações que estabe-
no retroprojetor. Elas ficaram muito intrigadas lecem entre o que veem e o que já conhecem
com a Cuca e a Negra tão grandes na parede, e vivenciam no dia a dia. Por exemplo, quando
podendo tocá-las e reconhecê-las em tama- apontavam para a figura de um cacho de ba-
nho maior do que aquele a que estavam acos- nana do quadro e falavam “horta”, ou quando
tumadas. Assim, enquanto cada uma apreciava diziam que havia um avião passando no “céu”
da sua forma o que lhe chamava mais a aten- do quadro “São Paulo”.
ção, interpretando as figuras com os seus pró- Lucila: “O que vocês estão vendo nesse
prios olhares e se relacionando com elas do quadro?” (“A Feira”).
seu jeito, eu observava o quanto esse trabalho Melissa: “Uma manga!” (apontando para
de identificação estava colaborando também uma figura no quadro).
para a construção da identidade de cada uma. Laura: “É uma uva”.
Também foi interessante o dia em que eu Lucila: “Vocês veem mais alguma coi-
propus que imitássemos a Negra. Sentei como ela sa aqui?”
e, em seguida, cada uma foi tentando se colocar Dedé: “Du!” (apontando para a figura
da forma como enxergavam essa figura, cruzando de um coelho no quadro).
as pernas e os braços e fazendo uma “boca gran- Lucila: Olha que legal! O Dedé achou
de” como a dela. Foi muito divertido! Brincando que é o Dunga, nosso coelho, aqui no quadro!
dessa forma, foi possível observar como estão Mateus passa a mão em cima do “coelhinho”
aprendendo a gostar de observar imagens artís- apontando.
ticas, por meio de contextos lúdicos.
63
parâmetro (4.2.16)
Objetivar as aprendizagens de cada campo de experiências,
acompanhando e intervindo para o progresso dessas aprendi-
zagens e o consequente desenvolvimento de cada criança.
64
> prática <
65
> prática <
66
parâmetro (4.2.17)
Assegurar que crianças, especialmente os bebês, possam movimentar-se
diariamente em espaços amplos, seguros e desafiadores.
67
> prática <
68
parâmetro (4.2.18)
Intervir e assegurar que as crianças tenham opções de atividades, interações
e brincadeiras que correspondam aos interesses e às necessidades apropria-
das às diferentes faixas etárias, com possibilidade de fazer alguma atividade
enquanto esperam que o restante do grupo termine outra atividade.
69
> prática <
A grande novidade deste semestre foi sos assuntos, porém o tema predominante foi
70
parâmetro (4.2.19)
Garantir oportunidades iguais a todas as crianças, sem discriminação e
valorizando atitudes de cooperação, tolerância e respeito à diversidade,
orientando contra discriminação de gênero, etnia, cor, raça, crença reli-
giosa e crianças com deficiência, permitindo a todos aprenderem a viver
em coletividade, compartilhando e cooperando saudavelmente.
71
> prática <
» Reflexão de uma professora sobre as apren- diações com bastante conversa e explicação e
dizagens construídas por um grupo de crianças temos visto resultados bastante animadores.
bem pequenas, de 3 anos. Fazemos um esquema de rodízio dos brinque-
dos e mostramos preocupação em marcar o
O vínculo afetivo que as crianças foram tempo que cada um desfrutará da brincadei-
formando ao longo do semestre foi se fortale- ra; assim, sugerimos sempre que brinquem de
cendo à medida que foram se conhecendo me- outra coisa enquanto esperam a própria vez.
lhor, interagindo em brincadeiras e conversas. Foi gratificante ver um exemplo disso
O Pedro Paulo, o Caetano e a Mel têm ocorrer em determinado dia no parque, quando
dividido de maneira harmoniosa o espaço da Stephan tinha trazido sua motoca, andado com
casinha. Isso porque foram aprendendo a res- ela e emprestado para o Otávio, que estava bas-
peitar e a dividir suas preferências: o Pepê já tante satisfeito. Enquanto isso, o Gabriel aguar-
costuma usar mais o fogão e brincar de cozi- dava a sua vez, perguntando e pedindo a moto-
nhar e depois servir a comida nos pratos; o Ca- ca insistentemente. Ao ver que seu amigo estava
etano adora fazer sucos e colocá-los nos co- ansioso, o próprio Theo se encarregou de pegar
pos, servindo a mim e à Bianca; a Mel, por sua a motoca da Aninha (verdinho) e oferecê-la para
vez, prefere cuidar das bonecas, trocando-as, o Gabriel andar enquanto aguardava sua vez.
dando comida para elas e passando as rou- É importante lembrar que nossas intervenções
pas; a Júlia costuma brincar de comer as frutas acontecem sempre de forma que possamos me-
usando os talheres… diar as resoluções dos conflitos e ensinar que,
O sentimento de solidariedade tam- fazendo acordos e conversando, podemos resol-
bém vem crescendo. Quando alguma criança ver os problemas conjuntamente.
traz de casa a sua motoca, vemos que a novi-
dade gera curiosidade em todos que querem
experimentar o diferente. Os conflitos muitas
vezes se acirram quando a questão é um brin-
quedo trazido de casa. Aprender a emprestar
e dividir com os amigos torna-se uma necessi-
dade e um aprendizado neste momento, enri-
quecendo a experiência.
Combinamos que cada um terá a sua
vez de andar de motoca e que trocarão de
brinquedo, permitindo o contentamento de
todos. Temos conseguido realizar essas me-
72
parâmetro (4.2.20)
Reconhecer e proibir expressamente determinadas atitudes, como puni-
ção corporal; retirada real ou ameaça de retirada de alimentos, de descan-
so ou uso do banheiro; linguagem abusiva ou profana; humilhação pública
ou privada; abuso emocional, incluindo envergonhar, rejeitar, aterrorizar
ou isolar uma criança.
73
> prática <
Sou professora de uma turma de 4 anos. Em casa também era comum ele brincar com
No início do ano, uma das crianças de minha a comida, o que era muitas vezes motivo de
sala, nos momentos de alimentação, apresen- discussões entre eles.
tava atitudes impróprias, como, por exemplo, A partir dessa conversa, decidimos, eu e
jogar a comida no chão, brincar com a comida seus familiares, mudar a rotina de alimentação
do prato do colega, usar a comida como brin- tanto em casa quanto na instituição. Seus pais
quedo, pegando-a com a mão. Essas atitudes se responsabilizaram por tornar os momentos
faziam com que alguns de seus colegas se di- da janta mais aconchegantes, com todos senta-
vertissem, passando a imitá-lo. Outros se sen- dos juntos à mesa. E, na instituição, comecei a
tiam incomodados, preferindo ficar distante sentar junto com ele e, durante a refeição, con-
dele nesses momentos de alimentação. versar com ele e com as demais crianças que
Foram muitas as minhas tentativas de estavam junto. Falávamos sobre a comida de
conversas com ele durante esses momentos, que gostavam mais, o que não gostavam, o que
e minha intenção era que pudesse partici- gostariam que tivesse na escola para comer etc.
par junto com todos, de maneira respeitosa e Em uma dessas conversas, ele disse
harmoniosa, mas parecia que apenas nossas que seu prato preferido era lasanha e que na
conversas não estavam surtindo efeito. Deci- instituição nunca tinha lasanha. Propus, então,
di então falar com seus familiares para com- que eu e ele fizéssemos uma lasanha para ser-
preender melhor como eram os momentos de vir aos colegas da classe na semana seguinte.
alimentação em casa e compartilhar com eles Convidamos alguns deles para nos ajudar. No
esse desafio. Seus familiares relataram que, dia da lasanha, foi muito emocionante ver seu
quando chegava em casa, depois da escola, orgulho em compartilhar com seus colegas o
seu irmão mais novo já havia jantado e, por seu prato preferido. Ele fez questão de servir
esse motivo, ele comia na mesa sozinho, en- todos e contar detalhadamente como havia
quanto sua mãe ficava com seu irmão menor. preparado aquele delicioso prato.
74
parâmetro (4.2.21)
Identificar conflitos entre crianças e adotar uma abordagem de resolução
de problemas promovendo o desenvolvimento de competências interpes-
soais pelas crianças e a confiança em si mesmas para resolver problemas.
• No acolhimento das emoções das crianças envolvidas, respeite seus di-
ferentes tempos: por exemplo, se elas não quiserem ser amigas naquele
momento, não as obrigue a fazer as pazes e dar um abraço.
75
> prática <
» Trecho de uma reflexão realizada por uma inveja, desejo de serem os únicos... Convidar
professora de crianças pequenas de 5 anos. as crianças a sugerirem resoluções para os
problemas e dar um modelo para resolução
Aprendendo a resolver conflitos in- quando necessário. Sempre convidando todos
terpessoais a se colocarem uns no lugar dos outros, possi-
Passada a adaptação, entramos nas bilidades que se intensificam aos 5 anos.
questões que aparecem em nosso convívio Mediar relações não é tarefa fácil; as
diário. Em meio às propostas de atividades, crianças sabem a lista das regras muito antes
as relações não estão suspensas, mas, ao con- de poderem respeitá-las e colocá-las em jogo
trário, se dão neste contexto: as disputas por em suas relações. Sabemos por experiência
brinquedos, por companhias preferidas, pela acumulada que essas atitudes demoram um
professora, às vezes alguma criança não quer longo tempo para serem construídas e que de-
participar por não gostar da proposta, às vezes pendem, em parte, das mediações relacionais
ocorrem brigas entre elas, ficam chateadas ao com as quais as crianças convivem ao longo de
disputar algum material de uso comum... suas vidas. Acredito ser de grande valor para
Tudo isso que ocorre no cotidiano, re- qualquer indivíduo poder suportar frustrações
petidas vezes, são contextos potenciais para ao longo da vida e seguir em frente de forma
o professor intervir com o intuito de construir criativa e superadora. As relações que esta-
junto às crianças a possibilidade de viver bem belecemos com nossos pais, irmãos, amigos e
a vida no coletivo. Minhas intervenções nesse companheiros são vitais; quanto menores as
sentido são: pedir que relatem o que aconte- perturbações, no sentido de um bom convívio
ceu, dar voz às diversas versões acolhendo as e fruição do amor, mais bem equipados esta-
emoções decorrentes, que muitas vezes po- remos para “as voltas que a vida dá...”.
dem ser de raiva, insatisfação, tristeza, culpa,
76
parâmetro (4.2.22)
Assegurar a tranquilidade, a segurança e o conforto das crianças em todos
os momentos e, em hipótese alguma, deixá-las sozinhas.
77
> prática <
» Relato de uma professora sobre a impor- Possibilita, também, por parte das
tância da rotina para criar um ambiente con- crianças, a antecipação daquilo que aconte-
fiável e vínculos seguros (crianças bem pe- cerá, o que é um índice de segurança para os
quenas, de 2 anos). pequenos, auxiliando-os no desenvolvimento
de sua autonomia no espaço da instituição e
Neste primeiro semestre, minha grande na relação com crianças e adultos que passam
preocupação foi garantir às crianças situações a fazer parte de seu dia a dia.
prazerosas na instituição de Educação Infan- “Quase todos os dias, Pedro, após arru-
til. Sei que as aprendizagens estavam voltadas marmos a sala, depois de brincarmos nos can-
para o que é fazer parte de um grupo, compar- tos, me pergunta:
tilhando espaços e materiais e relacionando-se – E agora? A gente vai pro parque?
com crianças e adultos diversos. Para garantir – Isso! Depois que a gente guardar
esse início de escolaridade de forma gostosa, tudo, vamos lavar as mãos e ir para o parque.
estruturei uma rotina da qual o grupo participa - respondo.
todas as tardes. O estabelecimento de uma roti- Depois de trocar as fraldas de algumas
na garante uma série de sentimentos e atitudes crianças, outro comentário do Pedro:
desses “pitocos”, tão fundamentais para que – Vamos pro parque de areia?
possam dar continuidade à vida escolar e parti- – Sim, vamos, isso mesmo, Pedro!”
cipar dela de forma também prazerosa. Manter Assim, as crianças demonstram o quanto
a mesma sequência de atividades todos os dias já conhecem o dia a dia do grupo. Isso é impor-
para o grupo é muito importante nesse início, tante, pois essa rotina foi pensada e estruturada
pois sei que, assim, podem conhecer a estru- a partir de suas necessidades e seu progressivo
tura que organiza nossas tardes, começando a conhecimento possibilita a criação de vínculos
aprender o que significa estar na instituição de duradouros, não só com os espaços e as propos-
Educação Infantil. tas, mas das crianças entre si e comigo.
78
Princípio 4.3
Intencionalidade pedagógica
Trabalhar com intencionalidade significa tomar
decisões deliberadas, com objetivo e propósi-
to, seja durante os momentos da rotina, seja
nas propostas de experiências nas atividades.
79
Por que esse princípio?
O professor garante às crianças os di- das interações e brincadeiras e, a partir dessa
reitos de aprendizagem e desenvolvimento e ideia, compreenda seu papel em:
as apoia no envolvimento com vivências pro-
motoras de experiências de aprendizagens - Apoiar, por meio de experiências provocado-
ricas de sentido e significado. Por meio da ras de investigação, processos de constru-
organização do cotidiano e de práticas inten- ção de significados, garantindo a aprendiza-
cionalmente planejadas, ele cria ambientes gem por meio das diferentes linguagens;
de aprendizagem inclusivos, constrói víncu-
lo e parceria com as crianças, é responsivo O professor garante às crianças os di-
aos seus interesses, desejos e necessidades reitos de aprendizagem e desenvolvimento e
e desenvolve contextos de aprendizagem as apoia no envolvimento com vivências pro-
pautados em brincadeiras, explorações e in- motoras de experiências de aprendizagens
vestigações, em práticas sociais e culturais, ricas de sentido e significado. Por meio da
favorecendo que elas possam se expressar e organização do cotidiano e de práticas inten-
aprender por meio das múltiplas linguagens. cionalmente planejadas, ele cria ambientes
Apoiar as aprendizagens das crianças de aprendizagem inclusivos, constrói víncu-
por meio de uma abordagem curricular que lo e parceria com as crianças, é responsivo
propõe um planejamento centrado nelas im- aos seus interesses, desejos e necessidades
plica que o professor considere o equilíbrio e desenvolve contextos de aprendizagem
entre as vivências promotoras de experiên- pautados em brincadeiras, explorações e in-
cias, que são intencionalmente planejadas vestigações, em práticas sociais e culturais,
por ele, com aquelas que emergem das pró- favorecendo que elas possam se expressar e
prias crianças. Sua escuta e observação aten- aprender por meio das múltiplas linguagens.
ta é uma importante estratégia para garantir Apoiar as aprendizagens das crianças
a construção de contextos que efetivamente por meio de uma abordagem curricular que
promovam a participação e o engajamento ati- propõe um planejamento centrado nelas im-
vo das crianças no processo de aprendizagem. plica que o professor considere o equilíbrio
Nesse contexto, podemos entender que
o professor também exerce um papel protago-
nista na construção dos contextos de apren-
dizagem, pois a partir deles pode atuar como
parceiro e mediador das aprendizagens das
crianças, por meio de estratégias intencionais
que coloca em ação. A tomada de decisão do
professor, para planejar e atuar nas vivências
que promove, implica que ele valorize uma
imagem de criança que é rica de potencial,
que é competente e que aprende por meio
80
entre as vivências promotoras de experiên- com suas próprias curiosidades, disponibi-
cias, que são intencionalmente planejadas lizando diferentes ferramentas e contextos
por ele, como aquelas que emergem das pró- que contribuam para a elaboração de hipó-
prias crianças. Sua escuta e observação atenta teses, a construção de relações e a realiza-
são uma importante estratégia para garantir ção de descobertas;
a construção de contextos que efetivamente - Não ser o responsável por dar respostas,
promovam a participação e o engajamento ati- mas, sim, ajudar as crianças a confiarem na
vo das crianças no processo de aprendizagem. sua capacidade de conhecer, criando contex-
Nesse contexto, podemos entender que tos em que suas perguntas encontrem res-
o professor também exerce um papel protago- postas provisórias. Também valorizando-as e
nista na construção dos contextos de apren- apoiando-as para que continuem ampliando
dizagem, pois a partir deles pode atuar como e aprofundando seus conhecimentos;
parceiro e mediador das aprendizagens das
- Compreender que, a partir dos estudos, con-
crianças, por meio de estratégias intencionais
textos, hipóteses que ele promove na rela-
que coloca em ação. A tomada de decisão do
ção com as crianças, novas perguntas são
professor, para planejar e atuar nas vivências
feitas e novas investigações são colocadas
que promove, implica que ele valorize uma
em ação. Para tanto, é importante que as
imagem de criança que é rica de potencial,
convide a refletir sobre como fizeram suas
que é competente e que aprende por meio
atividades, que materiais utilizaram e como
das interações e brincadeiras e, a partir dessa
os mesmos favoreceram o alcance de seus
ideia, compreenda seu papel em:
objetivos, com quais parceiros trabalharam,
- Apoiar, por meio de experiências provocado- como essas parcerias apoiaram a constru-
ras de investigação, processos de constru- ção de novos conhecimentos e quais as no-
ção de significados, garantindo a aprendiza- vas perguntas que se formarama partir das
gem por meio das diferentes linguagens; atividades e ações realizadas;
- Deixar que as crianças se interroguem sobre - Organizar e proporcionar experiências que
as complexidades, apoiando suas aprendi- garantam a pluralidade de situações.
zagens a partir de perguntas relacionadas
81
parâmetro (4.3.3)
Organizar intencionalmente as atividades das crianças ora estruturadas,
ora espontâneas e livres, como campos de experiências que aproveitam
e sistematizam as situações e as experiências concretas da vida cotidiana
das crianças e seus saberes, entrelaçando-os aos conhecimentos que fa-
zem parte do patrimônio cultural.
82
• Ampliem a confiança e a participação das crianças nas atividades indivi-
duais e coletivas;
83
> prática <
» Relato de uma professora sobre um contex- cimentos sobre a linguagem musical, ao mes-
to de aprendizagem proposto a um grupo de mo tempo em que poderiam ampliar seus co-
crianças de 4 anos. nhecimentos por meio da investigação sobre
como compor uma música.
Marisa Monte e seus colegas: a profis-
A apreciação musical nesta faixa etária
são de canto
proporciona para as crianças o enriquecimen-
“Minha mãe falou que quando eu cres-
to e a ampliação de conhecimento dos dife-
cer eu vou no show da Sandy e Junior...” (Frase
rentes aspectos da produção musical. Além
da Dani, em uma conversa na qual discutíamos
disso, a reflexão sobre a música como produ-
o motivo pelo qual os cantores fazem shows.)
to cultural do ser humano é de fundamental
Desde o ano passado, quando as crian-
importância para conhecermos e representar-
ças ampliaram e aprofundaram seus conheci-
mos o mundo em que vivemos. fazer e a apre-
mentos sobre as músicas do Nordeste, eviden-
ciação musical são maneiras de as crianças
ciamos um forte interesse delas pela escuta da
música “O xote das meninas”, interpretada por entrarem em contato com esse tipo de pro-
Marisa Monte. Se, no ano passado, as crianças dução cultural como uma forma de expressão
aprenderam sobre a regionalidade das can- de nossos sentimentos, ideias e questões a
ções, o ritmo específico de algumas músicas, respeito de nosso entorno.
as danças que as acompanham etc., para este Por meio dos contextos oportunizados,
semestre, identifiquei que, partindo desse in- as crianças poderiam se engajar em vivên-
teresse, poderia provocar contextos nos quais cias envolvendo os diversos processos pelos
elas continuariam aprofundando seus conhe- quais passa a produção de uma música, antes
84
> prática <
85
parâmetro (4.3.4)
Fazer intervenções pedagógicas visando atender
às características e às necessidades das crianças.
86
> prática <
» Relato de uma professora de crianças de 5 o restante do grupo seu desejo, ampliando as-
anos sobre um contexto de investigação. sim o número de crianças interessadas. A pri-
meira ação do grupo, uma vez identificado o
Durante várias semanas, apresen- interesse em comum, foi compartilhar o que
tei às crianças muitos livros sobre animais, gostariam de saber sobre os carneiros das
aviões, naves espaciais, descobertas científi- Montanhas Rochosas. Eis o que apareceu:
cas... Cada conjunto de livros era apresentado
1. Como os carneiros das Montanhas Rochosas
por mim no intuito de dizer às crianças sobre
nascem?
qual assunto falavam. Para tanto, recorria ao
índice e folheava algumas partes, justamente 2. O que os carneiros das Montanhas Rochosas
para incitar a curiosidade delas. Depois, dis- comem?
punha os livros no tapete, de forma que as 3. Qual é a cor do sangue dos carneiros das
crianças pudessem escolher livremente o que Montanhas Rochosas?
gostariam de apreciar. Essa prática semanal
4. Como eles mamam?
durou aproximadamente um mês.
Um dos livros chamou muito a atenção 5. Quando e como eles aprendem a andar?
das crianças por falar sobre um animal pouco 6. Como eles podem viver sozinhos?
conhecido no grupo: o carneiro das Monta-
nhas Rochosas. Um pequeno grupo de crian- 7. Os filhotes podem se separar das mães ou
ças me procurou e pediu que eu as ajudasse dos pais?
a conhecer mais sobre esse animal. Em nosso
momento de assembleia, compartilharam com
87
> prática <
Ofereci meu apoio para pesquisarmos elas, por meio da leitura das legendas das fo-
as respostas para aquelas perguntas. Antes tos e de algumas informações do texto que
de encontrá-las de novo, selecionei um livro, eram pertinentes ao que havia sido conversa-
li todo o texto sobre os carneiros e sabia, de do. Nossos diálogos foram muito interessan-
antemão, onde se encontravam as respostas tes! Um assunto que chamou muito a atenção
para as perguntas que eles haviam formula- foi a respeito do nascimento dos carneiros: as
do. Selecionei trechos do livro para ler para crianças lançavam muitas hipóteses de como
todos, porém, antes de realizar a leitura, con- ocorria a fecundação, o nascimento e, só de-
videi as crianças a apreciarem as imagens co- pois de muito “debate”, é que li para elas a
migo. Descreveram o que viam e o que esta- “versão científica”.
va acontecendo em cada imagem, como, por É impressionante como gostam de tomar
exemplo, as diferenças entre os filhotes e o decisões e agir com independência! As pergun-
carneiro adulto. Foi interessante observar o tas elaboradas pelas crianças nos deixam per-
quanto puderam inferir informações apenas ceber seus interesses e evidenciam o quanto já
apreciando as imagens! aprenderam sobre como formular boas pergun-
O que eu fiz, então, foi completar e tas para descobrir o que querem saber.
até retificar algumas inferências lançadas por
88
Princípio 4.4
Observação, planejamento,
documentação e reflexão das
práticas pedagógicas e das
aprendizagens das crianças
As experiências vividas em contextos individuais e
coletivos constituem-se como importantes informa-
ções sobre as crianças, seu desenvolvimento, apren-
dizagem, interesses, forças e necessidades. Essas ex-
periências precisam ser documentadas, pensadas e
compartilhadas com os pais ou responsáveis
89
Por que esse princípio?
As Diretrizes Curriculares Nacionais da • Reúne um conjunto de documentações que
Educação Infantil apontam que as instituições tornam visíveis os processos de aprendiza-
de Educação Infantil devem criar procedimen- gem e as formas pelas quais as crianças cons-
tos para acompanhar o trabalho pedagógico troem e expressam seus conhecimentos, ao
e avaliar o desenvolvimento das crianças sem mesmo tempo em que favorece a reflexão
objetivos de seleção, promoção ou classifica- sobre as práticas pedagógicas, promovendo
ção. Devem promover, entre outros aspectos, também o desenvolvimento profissional;
a observação crítica e criativa das atividades, • Possibilita a utilização de uma diversidade
das brincadeiras e das interações das crianças de registros, feitos em diferentes momentos
no cotidiano; a utilização de múltiplos registros tanto pelos professores quanto pelas crian-
realizados por adultos e crianças (relatórios, fo- ças, como relatórios, portfólios, fotografias,
tografias, desenhos, álbuns etc.), a continuida- desenhos e textos, trazendo a voz e o pen-
de dos processos de aprendizagem, por meio samento das crianças, promovendo uma nar-
da criação de estratégias adequadas aos di- rativa sobre os processos de pesquisa e ação
ferentes momentos de transição vividos pela delas e dos professores;
criança, e documentação específica que permi- • Promove o crescimento profissional, na medi-
ta às famílias conhecer o trabalho da instituição da em que favorece a compreensão e a coe-
junto às crianças, bem como os processos de rência entre o Projeto Pedagógico e a prática
desenvolvimento e aprendizagem delas. pedagógica, por meio de uma narrativa que
Por meio desse princípio e dos parâ- conta os diferentes passos de um processo
metros a partir dele formulados, a proposta de aprendizagem envolvendo observação,
é que a documentação pedagógica possa ser coleta e interpretação de diversos documen-
trabalhada nas instituições de Educação In- tos;
fantil como uma ferramenta que extrapola um • Ao mesmo tempo em que informa sobre uma
registro escrito pelo professor para informar abordagem curricular, também a fundamenta
aos familiares as aprendizagens das crianças. e torna visíveis as aprendizagens das crian-
Sobretudo, a documentação deve ser usada ças por meio da narrativa de contextos e pro-
como uma ferramenta que: cessos de aprendizagem;
90
parâmetro (4.4.6)
Responsabilizar-se por manter atualizada a documentação
pedagógica das crianças por meio de instrumentos e regis-
tros que evidenciem os seus progressos, que permita à fa-
mília acompanhar seu desenvolvimento e a aprendizagem.
91
> prática <
» Relato de uma professora sobre a construção Criança 1 - Teca, nós podemos escre-
de um mural, junto com as crianças, para ver do nosso jeito as coisas que a gente sabe
sistematizar e partilhar os conhecimentos sobre os cavalos-marinhos.
produzidos em um contexto de investigação
Criança 4 - A gente pode escrever gru-
com crianças de 5 anos.
po 5, o nosso nome e cavalo-marinho bem
grande e as coisas que a gente sabe!
Conversamos sobre o que faríamos
Criança 2 - É isso mesmo!
para que outras crianças e os pais da institui-
T - Eu tenho uma sugestão (me levan-
ção aprendessem sobre os cavalos-marinhos.
tei e peguei um dos desenhos feito por eles).
Depois de muitas ideias, juntos, decidiram
Nós podemos pegar os desenhos que vocês
que gostariam de fazer um mural. O passo se-
fizeram e aí vocês escrevem coisas sobre os
guinte foi decidirem como este se organizaria.
Perguntei às crianças: desenhos, assim as pessoas poderão ver e ler.
T (professora Teca) - Vocês escolhe- O que acham?
ram fazer um mural sobre os cavalos-mari- Algumas crianças gostaram da ideia e
nhos, como vamos fazer para que as pessoas outras sugeriram usarmos as imagens que co-
que olharem o mural possam aprender algu- letamos para construir seus textos.
mas coisas sobre eles? Neste mural da nossa Criança 3 - As pessoas não vão enten-
sala, temos os desenhos que vocês fizeram e der o que a gente escrever, porque vai estar
as imagens que apreciamos. Poderíamos fazer escrito do nosso jeito.
mais alguma coisa? Criança 7 - A gente não sabe escrever!
92
> prática <
93
parâmetro (4.4.7)
Realizar acompanhamento e registro da aprendizagem e desenvolvimento da
criança por meio de fotos, desenhos e documentos, e criar o portfólio da Edu-
cação Infantil que será socializado com os responsáveis e equipe pedagógica.
• Interpretações dos professores e dos familiares a partir das ações das crianças;
94
> prática <
95
> prática <
Ações observadas.
Descrição das ações que evi- Ações observadas.
denciam os objetivos previstos. Descrição das ações que eviden-
ciam os objetivos previstos.
96
parâmetro (4.4.8)
Monitorar, em conjunto com os profissionais de apoio da Educação Infantil,
o desenvolvimento das crianças e os resultados desse monitoramento, que
resultam na criação de estratégias específicas para cada criança.
97
> prática <
98
> prática <
Oportunidades e possibilidades
Objetivos de aprendizagem e desenvol-
vimento. Lista dos objetivos previstos Descreva aqui as possibilidades que você iden-
(exemplo). tifica para ampliar as aprendizagens do bebê.
Ações observadas.
Descrição das ações que evidenciam
os objetivos previstos.
99
área focal
Espaços, materiais e mobiliários ções e processos de negociação nos quais as
crianças modificam, negam, afirmam e conec-
A organização intencional dos espaços tam seus ideias e estratégias. O professor, por
também pode ser um recurso educativo do qual meio de escuta e observação atenta, identifica
o professor faz uso na relação com as crianças. os interesses das crianças e os alimenta com
Isso acontece na medida em que ele é respon- materiais e ferramentas, promovendo fontes de
sivo às necessidades e interesses delas, modifi- aprendizagem compartilhadas.
cando os espaços conforme as investigações e Os espaços também têm um enorme po-
explorações que as crianças realizam e garan- tencial de documentar uma cultura específica e
tindo que possam ser protagonistas do próprio de narrar processos de aprendizagem e desen-
conhecimento. Nesse sentido, é importante que volvimento. Por meio do compartilhamento de
o espaço possa garantir às crianças possibilida- documentações diversas, como desenhos, fo-
de de escolhas, pluralidade de vivências e tam- tos, depoimentos e objetos, os espaços tornam
bém continuidade de suas experiências. Sendo visível o pensamento das crianças e contam so-
assim, podemos considerar que a organização bre os processos investigativos e as ações das
dos espaços e a seleção dos materiais podem crianças e dos professores.
funcionar como um laboratório de construção A seguir, vamos compreender como os
de conhecimento (*), pois são promotores de espaços, os materiais e os mobiliários se apre-
conhecimento pessoal, que se constrói de for- sentam em princípios e parâmetros e podem
ma dinâmica, ativa e social, envolvendo um apoiar o professor na garantia da aprendizagem
processo de coconstrução por meio de intera- e desenvolvimento pleno das crianças e bebês.
100
Princípio 7.1
Organização dos espaços
promotores de aprendizagem
e desenvolvimento
Os espaços, materiais, brinquedos e mobiliários
são itens potencializadores de aprendizagem
e desenvolvimento quando atraem as crianças
para brincar e interagir e quando proporcionam
simultaneamente multiplicidade de experiên-
cias e vivências de múltiplas linguagens.
101
parâmetros
• 7.1.1. os espaços são utilizados de maneira a propiciar à criança contatos, experiências e
agrupamentos com outras crianças, dando-lhe a oportunidade de conectar-se, interagir e
socializar com seus pares e pessoas da comunidade escolar;
• 7.1.2. os espaços físicos garantem a segurança das crianças e, ao mesmo tempo, propor-
cionam sua autonomia, logo, os ambientes e o mobiliário precisam ser adaptados à sua
estatura, sendo acessíveis e permitindo à criança interagir com o ambiente;
• 7.1.3. a área externa é um espaço importante e precisa ser planejada incluindo brinque-
dos para diferentes faixas etárias, brinquedos que estimulem múltiplos usos e atividades;
• 7.1.4. a área externa, sempre que possível, precisa ser abastecida com objetos ou equi-
pamentos soltos, permitindo às crianças desenvolver sua tendência natural de fantasiar,
a partir de brinquedos que possam ser manipulados, transportados e transformados. Os
aparelhos fixos de recreação, quando existirem, devem atender às normas de segurança do
fabricante e ser objeto de conservação e manutenção periódicas;
• 7.1.5. os espaços diferenciados são previstos para as atividades das crianças e dos profis-
sionais de Educação Infantil, para os serviços de apoio (como cozinha, limpeza etc) e, ainda,
para o acolhimento das famílias ou responsáveis;
• 7.1.6. os espaços são planejados considerando a existência de ambientes específicos
para cada agrupamento, adaptados e acessíveis às suas necessidades e contemplando am-
bientes comuns a diferentes idades, propósitos e usos;
• 7.1.7. o ambiente onde as crianças dormem é ventilado, limpo e seguro, sendo disponi-
bilizado berço para bebês até oito meses e colchonetes ou camas empilháveis para bebês
e crianças acima dessa idade, considerando cada um desses um mobiliário individual;
• 7.1.8. as paredes da instituição de Educação Infantil, sempre que possível, podem ser
utilizadas como expositoras das produções das próprias crianças, quadros, fotos ou dese-
nhos relacionados às práticas realizadas; visando ampliar o universo de suas experiências,
expressões e conhecimentos, as produções devem estar expostas em posição acessível ao
campo visual das crianças;
• 7.1.9. as regulações de metragem mínima de salas em relação ao número de crianças pre-
cisam ser definidas em conjunto com setores de engenharia e regulamentadas pelo Conse-
lho Municipal, caso exista, ou Estadual, considerando não só as crianças e os professores,
mas as múltiplas possibilidades de ambientação com mobiliários, brinquedos e materiais;
• 7.1.10. a aquisição do mobiliário e a escolha dos materiais consideram resistência, dura-
bilidade, segurança e conforto;
• 7.1.11. o mobiliário adequado a cada faixa etária é fornecido para a alimentação: cadeirões
para bebês e cadeirinhas e mesinhas para crianças bem pequenas e crianças pequenas;
• 7.1.12. a comunidade escolar é respaldada pelo gestor da instituição de Educação Infan-
til quanto à sua apropriação e responsabilização pelo espaço escolar.
102
> prática <
103
> prática <
Área externa que convida para as expe-
riências corporais desafiadoras e seguras ao
mesmo tempo em que possibilita a interação
entre crianças de diferentes faixas etárias e
adultos. Promove o bem-estar, a segurança, as
interações, explorações e descobertas.
104
> prática <
Área externa organizada com materiais
e brinquedos que possibilitam diferentes ex-
periências e brincadeiras entre crianças. Pro-
move o faz de conta e as experiências senso-
riais com elementos da natureza, como a terra,
a areia, folhas, água etc.
105
> prática <
Desenhos, objetos, textos, fotografias
etc. que compõem as documentações expos-
tas nas paredes das instituições e que refle-
tem os processos de investigação e ação das
crianças e dos professores.
Espaços que documentam e promo-
vem uma cultura de partilha dos processos de
aprendizagem das crianças.
106
> prática <
Ambientes que cuidam do bem-estar das
crianças e bebês ao mesmo tempo em que pro-
movem o desenvolvimento de sua autonomia.
Colchonetes individuais e dispostos
em um lugar ventilado com fácil acesso e vi-
sibilidade dos adultos; sistema de self-service
para os momentos de alimentação; espaço re-
servado para bebês lactentes.
107
Princípio 7.2
Insumos pedagógicos e materiais
108
parâmetros
• 7.2.1. a aquisição de materiais e insumos pedagógicos, feita pela rede de ensino, leva em
consideração prioritariamente as crianças;
• 7.2.2. os brinquedos são vistos como material pedagógico de grande relevância para a faixa
etária de 0 a 5 anos e são escolhidos por critérios de faixa etária, atentando-se a normas de
segurança e preservação da saúde;
• 7.2.3. os recursos pedagógicos existentes na instituição de Educação Infantil propiciam inte-
rações, explorações e brincadeiras entre as crianças e entre elas e os adultos.
• 7.2.4. os recursos pedagógicos existentes na instituição de Educação Infantil estimulam a
curiosidade, a imaginação, a criação e a aprendizagem das crianças;
• 7.2.5. os recursos pedagógicos existentes na instituição de Educação Infantil são disponibili-
zados de maneira acessível para o uso ativo e cotidiano das crianças;
• 7.2.6. o uso adequado e a conservação dos equipamentos e dos materiais manipulados
pelas crianças é de responsabilidade dos professores e profissionais da instituição de
Educação Infantil;
• 7.2.7. o desenvolvimento de projetos de inclusão digital, pelo gestor e os pelos professores
da instituição de Educação Infantil, deve considerar a formação desses profissionais para o de-
vido uso dos equipamentos e recursos digitais disponíveis;
• 7.2.8. o utilização da televisão e de outros equipamentos eletrônicos é pontual e restrita a
assuntos relacionados com práticas pedagógicas, campos de experiências e curiosidades e in-
teresses das crianças, sem ultrapassar o tempo e as condições de atenção delas;
• 7.2.9. os objetos perigosos, bem como produtos tóxicos, produtos de limpeza, entre outros,
são mantidos fora do alcance das crianças e armazenados em locais destinados para esse fim;
• 7.2.10. os quadros de avisos ou similares são previstos em local de fácil visualização
na recepção, secretaria, salas de atividades, salas dos professores, direção, entre outros
ambientes administrativos;
• 7.2.11. os materiais e os brinquedos duráveis são dispostos de maneira segura, organizados
em ambientes, cestos ou caixas acessíveis às crianças de modo a promover sua autonomia;
• 7.2.12. o mobiliário, os materiais e os equipamentos são organizados para atender às neces-
sidades de brincadeiras, saúde, alimentação, proteção, descanso, interação, conforto, higiene e
aconchego das crianças;
• 7.2.13. o mobiliário, os equipamentos e os recursos de acessibilidade propostos precisam
ser acessíveis às crianças com deficiência, transtorno do espectro autista e altas habilidades/
superdotação, de modo a promover inclusão plena, conforme Lei nº 13.146/2015;
• 7.2.14. a disposição do mobiliário, dos equipamentos e demais objetos nas salas de ativi-
dades deve permitir a visibilidade entre as crianças e o olhar permanente do professor e dos
profissionais de Educação Infantil sobre todas as crianças do grupo;
• 7.2.15. o transporte escolar, quando necessário e condicionante do acesso e permanência, é
disponibilizado respeitando o Código de Trânsito Brasileiro para transporte com segurança das
crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses), atendendo às suas especificidades e faixa etária.
109
> prática <
Seleção de materiais que potencializam
as investigações, experiências, brincadeiras e
interações das crianças, bem como possibilitam
que elas façam uso das múltiplas linguagens
para se expressar e aprender.
Espaços que valorizam um ambiente su-
til por meio da composição de diferentes cores
e diversas fontes de luz concentrada e difusa e
com cores de diferentes temperaturas.
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> prática <
Espaços que são promotores de
experiências sensoriais diversas favorecen-
do que bebês e crianças aprendam por meio
da exploração sensorial e construam seus co-
nhecimentos e sua memória a partir dessas
experiências.
Materiais com diversas superfícies (ás-
pera, opaca, transparente) e características di-
ferentes que mudam com o tempo (madeira,
flor) ou que permanecem estáticas (vidro, aço).
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> prática <
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