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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Educação

Fabiano Henrique Fonseca Moreira


Flavia Cardoso Carneiro
Saulo Furletti
Rutinelli da Penha Fávero

FILME “NENHUM A MENOS”: ALGUMAS INTERPRETAÇÕES A PARTIR DE


CONCEITOS DA TEORIA INTERACIONISTA DE VYGOTSKY

Trabalho apresentado como requisito para


avaliação parcial na disciplina de Software
Educativo do curso de Mestrado em Educação e
de Doutorado em Educação do Programa de
Pós-Graduação em Educação da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais.

Prof. Dr. José Wilson da Costa

Belo Horizonte
2016
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Programa de Pós-Graduação em Educação

Fabiano Henrique Fonseca Moreira


Flavia Cardoso Carneiro
Saulo Furletti
Rutinelli da Penha Fávero

FILME “NENHUM A MENOS”: ALGUMAS INTERPRETAÇÕES A PARTIR DE


CONCEITOS DA TEORIA INTERACIONISTA DE VYGOTSKY

Trabalho apresentado como requisito para


avaliação parcial na disciplina de Software
Educativo do curso de Mestrado do Programa
de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais.

Prof. Dr. José Wilson da Costa

Belo Horizonte
2016
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................3

2 DESCRIÇÃO DAS CENAS.........................................................................................4

3 PONTOS DE APROXIMAÇÃO COM A TEORIA INTERACIONISTA...........6

3.1 QUESTÕES GERAIS................................................................................................6


3.2 RELAÇÃO PROFESSOR ALUNO...........................................................................6
3.3 A SALA DE AULA...................................................................................................6
3.4 ENSINO APRENDIZAGEM.....................................................................................7

4 ASPECTOS CONCLUSIVOS.......................................................................................8

REFERÊNCIAS.................................................................................................................9
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1 INTRODUÇÃO

O filme “Nenhuma a Menos” é uma película chinesa, colorida, legendada com duração
de 106 minutos. Foi produzido em 1999 sobre a direção de Zhang Yimou, mesmo diretor
de "Lanternas vermelhas". O filme é um drama baseado em história real e foi o vencedor
do Leão de Ouro de Melhor Filme no Festival Internacional de Veneza (BRASIL, 2001).

Numa aldeia do interior da China, o Professor Gao tem de ir à cidade e pede ao Chefe da
aldeia uma pessoa para substituí-lo em sua turma - multiseriada e com 28 alunos - no mês
em que ele estará ausente. Sem ter com quem contar o Chefe da aldeia recebe a
Professora Wei – uma garota de 13 anos que não sabe muita coisa além de algumas
canções tradicionais e reproduzir lições no quadro (cópias fieis). Sem ter outra opção o
Professor Gao confia à garota uma caixa de giz branco, com um giz para cada dia de lição
e promete a ela o pagamento (50 yuan com um bônus de 10 yuan, caso nenhum aluno
abandone a turma) assim que ele retornar da cidade.

Segundo o diretor, a ideia do filme surgiu de suas andanças pelos povoados do país, nas
quais ele visualizou momentos de fome e precariedade pelas quais passam as crianças,
em especial quando vão para centros urbanos em busca de trabalho ou para esmolar.
Ainda que a temática perpasse momentos de dureza, o resultado do filme nos emociona
pela poesia narrativa:

[...] uma narrativa própria do trabalho de etnografia de um antropólogo. Yimou


o produziu com um grupo de crianças que estava longe de almejarem o
estrelato cinematográfico, filmadoras de 16 mm, microfones ocultos e uma
equipe técnica invisível aos olhos dos improvisados atores mirins e que,
portanto, podiam improvisar o tempo todo e muitas vezes nem mesmo sabiam
que estavam sendo filmados. (BAUER, 2009, p. 03).

A sequência de cenas que escolhemos, e que será melhor descrita em detalhes no


próximo capítulo, se inicia com o drama da professora perante a ausência de um aluno,
que teria ido à cidade para trabalhar e ajudar sua família a se livrar das dívidas, e sua
intenção de ir buscá-lo.
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2 DESCRIÇÃO DAS CENAS

Cena 1: a professora pede dinheiro e autorização ao Chefe da Aldeia para ir resgatar o


aluno que fora à cidade trabalhar e que por isso estava faltando às aulas;

Cena 2: não conseguindo, ela retorna à sala e pergunta a seus alunos o preço da passagem
para que possa ir buscar o estudante com seus próprios recursos. Vários estudantes se
manifestam citando diversos valores até que um deles afirma que o custo da passagem é
de 3 yuan. Então, a professora formula o problema matemático do preço da passagem e
questiona aos estudantes como eles deverão arrumar o dinheiro. Uma das alunas propõe
carregar tijolos para queima, numa fábrica próxima à escola, e serem remunerados pelo
trabalho. Em sequência, fazem os cálculos para preverem o número de tijolos necessários
para conseguirem o dinheiro e comprar as passagens.

Cena 3: na fábrica de tijolos os alunos carregam 1000 tijolos até a chegada do


encarregado que dá uma bronca nas crianças por terem quebrado vários de seus tijolos.
Os alunos se recusam a ir embora sem receber o pagamento pelo serviço e ficam no
encalço do encarregado, que tenta entender a situação e o motivo da insistência dos
alunos para receberem pelo serviço. A professora explica que precisa do dinheiro para
buscar um aluno que fora à cidade em busca de trabalho e que, portanto, não estava
freqüentando a escola. Tocado pelo ato e por conhecer o Prof Gao (professor titular) o
encarregado paga às crianças mais do que o que elas esperavam como remuneração pelo
trabalho e também como uma doação pela “boa causa”.

Cena 4: o grupo retorna à escola, mas no caminho sentem sede. Uma das crianças sugere
que passem num mercado para tomarem um refrigerante, uma vez que, teoricamente,
tinham mais dinheiro do que o necessário para comprar as passagens e trazer de volta o
colega que estava na cidade. Assim, entram no mercado e após uma decisão coletiva,
alguns afirmando nunca terem bebido, compram duas latas de coca cola, pois era o que o
excedente do dinheiro possibilitava comprar. Todos dão um gole para experimentar.
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Cena 5: em seguida, na estação, ao confirmarem o preço, as crianças e a professora


verificam que a passagem custava um valor muito mais alto do que aquele sugerido
inicialmente em sala de aula.

Cena 6: de volta à sala, e de ciência do valor real da passagem, a professora recoloca o


problema à turma. Pede que façam os cálculos de quanto ainda resta para que sejam
comprados os bilhetes. Durante a formulação do problema no quadro, um dos estudantes
é corrigido pelos colegas acerca de um ideograma mal escrito. Em seguida, fazem os
cálculos de quanto custam as passagens, subtraem a quantia que já possuem e fazem o
cálculo de quantos tijolos deveriam carregar para poder completar o montante necessário
para trazer de volta seu colega.

Cena 7: a finalização da sequência se dá com o Chefe da Aldeia impressionado com um


trecho da “aula de matemática” da professora Wei.
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3 PONTOS DE APROXIMAÇÃO COM A TEORIA INTERACIONISTA

3.1 QUESTÕES GERAIS

O trecho analisado mostra uma participação ativa das crianças no próprio aprendizado,
com a experimentação de hipótese, o trabalho de pesquisa em grupo, a cooperação ao
longo do processo, as dúvidas e os erros como parte da aprendizagem e o raciocínio por
trás de cada etapa. Destaca-se que o conhecimento não é apresentado de forma pronta
pela professora, uma vez que ela própria não possui este conhecimento. Neste contexto
apontam-se aspectos interacionistas a seguir.

3.2 RELAÇÃO PROFESSOR ALUNO

A professora apresenta postura mediadora, organizadora e coordenadora do processo de


aprendizagem por meio de um trabalho colaborativo (comprar a passagem), mesmo sem
saber totalmente o conteúdo proposto. No contexto do filme percebe-se que a professora
aprende junto com os alunos. O problema (conseguir dinheiro para a viagem) estimula a
curiosidade dos alunos para a realização de procedimentos numéricos, a pesquisa e
buscas de informações necessárias. Destaca-se que a professora está em uma posição de
investigação junto com os alunos.

O problema proposto e a ação mediadora da professora desperta nos alunos o espírito


inquisitivo, participativo e cooperativo para a elaboração do conhecimento. São
interativos e vão elaborando suas hipóteses a partir das relações com os outros.

3.3 A SALA DE AULA

No trecho estudado para interpretação a sala de aula apresenta uma dinâmica confusa que
não caracteriza desordem por indisciplina e sim uma agitação de modo cooperativo na
busca de soluções para problemas apresentados (procedimentos numéricos, interpretação
do erro, problemas financeiros).
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Pela teoria de Vygotsky as relações entre pensamento e palavra acontecem em processos


contínuos e passam de um processo de repetição da fala do outro para a interiorização dos
conceitos, no filme parece-nos que, meio sem querer ou pelo querer de outros motivos, a
mediação da professora vai possibilitando que essas relações aconteçam, por meio da
fala, de signos e instrumentos mediadores.

3.4 ENSINO APRENDIZAGEM

Quando as crianças e a professora estão frente ao problema da compra da passagem,


percebe-se que tentam utilizar do conhecimento que possuem para tentar solucionar as
questões relacionadas ao problema.Esse conhecimento que possuem pode ser entendido
como a “zona de desenvolvimento real”, pois diz respeito àquilo que poderiam resolver
sozinhos. Porém, não é suficiente para o problema enfrentado, por isso tentam resolver
em grupo. Essa procura pela solução a partir da busca da melhor resposta, da conta
correta, das possibilidades onde podem conseguir dinheiro, etc., refere-se à “zona de
desenvolvimento potencial”. Assim busca-se a solução dos problemas pela mediação e
interação com o outro. (VYGOTSKY, 1984).

No cenário existente entre alunos, professora e contexto social, o erro é um tópico


relevante que é colocado para reinterpretação do grupo e assim assume uma característica
construtiva, pois é utilizado como motor para a busca de uma solução correta.

Com isso, a partir das formas de mediação, das ajudas mútuas e externas, ou segundo a
teoria de Vygotsky (OLIVEIRA; COSTA; MOREIRA, 2001), na “zona de
desenvolvimento proximal” - onde o sujeito faz uso consciente do desenvolvimento real
para fazer conexão consciente com o desenvolvimento potencial - ele consegue realizar
operações com grau de complexidade cada vez maior.
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4 ASPECTOS CONCLUSIVOS

Percebeu-se que na sequência de cenas do filme selecionado, foi possível detectar


características da concepção interacionista, mais especificamente tomando-se como base
de análise, as ideias de Vygotsky, conforme descrito neste estudo.

Ainda que motivada pelo pagamento prometido quando de sua contratação, a jovem
professora conseguiu, ainda que de forma não intencional, conduzir o processo de
aprendizagem de seus estudantes, motivando-os e fornecendo meios para que pudessem,
através da interação com o conhecimento, desenvolver funções psicológicas superiores
(OLIVEIRA; COSTA; MOREIRA, 2001). Interessante observar que nesse processo a
professora também desenvolveu novos conhecimentos, através das novas experiências
vivenciadas e mediadas por outros sujeitos envolvidos.

Através da interação dos estudantes, que além das idades diversas, possuíam vivências
diversas, foi possível criar ambientes - que não somente a sala de aula – para que as
novas experiências fossem concretizadas. Contudo, era na sala de aula que a professora
sistematizava as experiências e vivências e atuava na “zona de desenvolvimento
proximal”, onde juntos consolidavam os novos conhecimentos.

Logo, no exemplo do filme selecionado, mesmo que de forma inesperada e inusitada, a


escola assume um papel “[...] no sentido de favorecer o desenvolvimento de certas
capacidades em lugar de limitar as possibilidades de aprendizagem ao nível de
desenvolvimento real”. (OLIVEIRA; COSTA; MOREIRA, 2001, p.32).
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REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério da Educação: Secretaria de Educação Fundamental. Programa de


Formação de Professores Alfabetizadores. Catálogo de Resenhas. 2001. Disponível em
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Profa/cat_res.pdf Acesso em 23 maio 2016.

BAUER, Carlos. Nenhum a menos – Dos princípios educativos na filmografia chinesa!


Revista Espaço Acadêmico – Mensal – Nº 101 – Outubro de 2009 – ISSN 1519-6186
DOSSIÊ: 60 ANOS DA REVOLUÇÃO CHINESA. Disponível em
http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/index. Acesso em 23
maio 2016.

OLIVEIRA, Celina Couto de; COSTA, José Wilson da; MOREIRA, Mércia.
Informática na educação: produção e avaliação de software educativo. São Paulo:
Papirus, 2001.

VYGOTSKY, Lev Semenovitch. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins


Fontes, 1984.

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