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Economia A – 10º Ano

Unidade 6 – Rendimentos e Repartição dos Rendimentos


6.1 – A atividade produtiva e a formação dos rendimentos

A satisfação das necessidades constitui o objetivo último da atividade económica. Para que a produção se
concretize, é necessária a participação de dois fatores fundamentais: o trabalho e o capital. Uma vez realizada a
produção, os resultados obtidos irão ser vendidos no mercado a um determinado preço, gerando-se assim, um
rendimento que irá ser repartido pelos fatores intervenientes na produção. Assim, pode concluir-se que é na
realização do processo produtivo que se geram os rendimentos.

Os rendimentos gerados na produção podem ser distribuídos de diversas maneiras pelos vários elementos que
compõem uma população. Assim, é necessário analisar a repartição dos rendimentos, ou seja, a forma com os
rendimentos são distribuídos pelos diferentes agentes que contribuiram para a produção. Podemos analisar os
dois tipos de repartição que existem: repartição funcional dos rendimentos e repartição pessoal dos
rendimentos.

6.2 – A repartição funcional dos rendimentos

Rendimentos primários: rendimentos que ocorrem na repartição primária – salários, rendas, juros e lucros.
Podemos ainda distinguir dois tipos de rendimentos primários: os rendimentos provenientes do fator trabalho
(salários) e os rendimentos provenientes do fator capital (rendas, juros e lucros).

Rendimentos secundários: rendimentos provenientes de transferências sociais que o Estado efetua para os
agentes económicos – subsídio de desemprego, de doença, de invalidez, etc.

A repartição funcional dos rendimentos é a análise da forma como o rendimento se reparte pelos fatores
intervenientes no processo produtivos, de acordo com a função por eles desempenhada.

Salário

O salário corresponde à parte do rendimento que é auferido pelo trabalhador em troca do trabalho realizado no
processo produtivo.

 Salário Direto: quantidade de moeda que o empresário paga aos trabalhadores pela sua participação no
processo produtivo. Este salário inclui todos os encargos que o trabalhador e o empresário têm de pagar
ao Estado, como os impostos diretos e as contribuições para a Segurança Social.
 Salário Indireto: quando se verifica o recebimento de moeda que não derivou de uma participação direta
no processo produtivo, como as transferências do Estado, sob a forma de subsídios, para algumas
famílias.

Os salários devem ser observados de duas perspetivas diferentes: a do trabalhador, que encara o salário como
uma fonte de receita, e a da entidade patronal, que vê os salários e as demais despesas com o pessoal como um
custo, uma fonte de despesa.

 Salário Bruto ou Ilíquido: salário ao qual ainda não foram deduzidos os impostos e as contribuições
sociais.
 Salário Líquido: aquele que é efetivamente o salário recebido, ou seja, salário deduzido de impostos e
contribuições sociais.
 Salário Nominal: representa a quantidade de moeda que um individuo recebe em troca do seu trabalho.
 Salário Real: diz respeito à quantidade de bens e serviços que é possível adquirir com o salário nominal,
levando-se em conta o efeito da inflação, expressando assim o poder de compra das famílias.

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 Exemplo:
Aumento do salário nominal = 20%
Índice de preços no consumidor = 110 Taxa de inflação = 10%
Aumento do salário real = (120/110) x 100 = 109

Apesar do aumento do salário nominal ter sido de 20%, o salário real apenas aumentou 9%,
pois a taxa de inflação foi de 10%.
Renda
A renda é a remuneração paga pela utilização temporária de bens imoveis, como, por exemplo, edifícios ou
terrenos. O arrendamento ocorre quando uma pessoa, que é proprietária de um bem imóvel cede a sua utilização
durante um determinado período de tempo, mediante o pagamento de uma renda estabelecida por meio de um
contrato de arrendamento.

Juro
O juro constitui uma remuneração pela cedência temporária de uma determinada quantia em dinheiro, ou seja, é
o valor pago a alguém pela disponibilização temporária de uma determinada quantia.

As taxas de juro podem ser ativas, quando dizem respeito ao juro que o banco recebe por conceder empréstimos,
e passivas, que correspondem à que é paga aos depositantes pelo banco.

Lucro
O lucro é a parte do rendimento que cabe aos empresários por terem investido o seu capital na atividade
produtiva. Ao investir, o empresário aceita correr riscos perante a incerteza quanto ao futuro do seu
investimento. O lucro é assim, a remuneração pela iniciativa, pela inovação e pelo risco que o empresário assumiu
no processo produtivo.

Medição das desigualdades da Repartição dos Rendimentos – A curva de Lorenz

A curva de Lorenz relaciona a percentagem de população de um país, ordenada por ordem crescente dos seus
rendimentos, e a percentagem do Rendimento Nacional que essa população recebe.

Quanto maior for o afastamento da curva obtida, relativamente À reta de equidistribuição, maior é a
desigualdade verificada na repartição dos rendimentos. Podemos assim verificar que o país Z apresenta uma
maior desigualdade na repartição dos rendimentos que os países X e Y, sendo que o X é o que apresenta uma
menor desigualdade.

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Este indicador da repartição do rendimento apresenta algumas limitações, já que no cálculo do Rendimento
Nacional não são contabilizados todos os rendimentos provenientes da produção destinada ao autoconsumo ou
ainda aqueles que fogem ao fisco, como o contrabando, o comércio ilegal ou o comércio esporádico.

O Rendimento Nacional per capita

O Rendimento Nacional per capita indica-nos uma média, partindo de uma hipótese de igualdade. Se o
rendimento fosse distribuído equitativamente por todos os elementos de uma população, dar-nos-ia o valor
recebido por cada pessoa.

Este indicador também apresenta grandes limitações, pois, como o rendimento não é repartido equitativamente,
as desigualdades desaparecem ou ficam encobertas, podendo levar a conclusões erradas, já que grande parte do
rendimento pode estar concentrada numa pequena percentagem da população, vivendo todo o resto na miséria.

6.3 – A repartição pessoal dos rendimentos

A repartição pessoal dos rendimentos é análise da forma como os rendimentos se repartem pelos agregados
familiares, independentemente da função que desempenham no processo produtivo.

Nem todas as famílias têm a mesma estrutura de rendimentos: umas apenas recebem salários, outras, lucros,
rendas ou juros. Verificamos então que existem famílias que apenas têm uma fonte de rendimento e outras com
várias fontes de rendimento. Estas desigualdades verificadas na repartição pessoal do rendimento devem-se à
diferente distribuição da propriedade e às desigualdades salariais.

 Diferente distribuição da propriedade: a diferente apropriação do fator capital (rendas, juros e lucros) resulta em
que algumas famílias acumulem vários tipos de rendimentos e outras não, sendo que algumas recebem lucros de
empresas que possuem, ou juros de depósitos, ou rendas de imóveis ou apenas salários.

 Desigualdades salariais: os salários dos trabalhadores não são todos iguais, verificando-se disparidades devido a
diversos fatores como as habilitações e qualificações, o ramo e setor de atividade a que pertencem e a dimensão da
empresa em que trabalham. Também o sexo, idade e região do país são fatores que podem gerar desigualdades.

Leque salarial

O leque salarial de um país representa a relação existente entre o salário máximo e o salário mínimo de um país,
permitindo tirar conclusões sobre a desigualdade salarial. Quanto maior for o leque salarial, maiores serão as
disparidades de salários. O leque salarial indica quantas vezes o salário máximo é superior ao salário mínimo.

 Exemplo:
Salário máximo = 1500
Salário mínimo = 300
Leque salarial = 1500/300 = 5

A relação obtida diz-nos que o salário máximo é 5 vezes superior ao salário mínimo, ou seja, a relação é de 1 para 5.

6.4 – A redistribuição dos rendimentos

A repartição primária dos rendimentos provoca desigualdades que estão na base das desigualdades sociais e no
diferente acesso à satisfação das necessidades básicas, como a alimentação, a saúde, a habitação ou a educação.
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Para evitar este tipo de situações, o Estado intervém, cobrando a quem tem mais rendimento, impostos e
contribuições sociais que depois transfere, sob a forma de prestações sociais, para os mais carenciados.

A redistribuição dos rendimentos é o conjunto de operações, realizadas numa lógica social, com o objetivo de
corrigir as desigualdades que ocorrem na repartição primária dos rendimentos, ou seja, é uma repartição
secundária.

São várias as políticas de redistribuição utilizadas pelo Estado: política de preços, social e fiscal, por exemplo.

 Política de preços: aplicação de impostos indiretos sobre o consumo de bens e serviços consumidos
sobretudo pelas classes de rendimentos mais elevados e atribuição de subsídios aos bens e serviços de
primeira necessidade;
 Política social: criação de sistemas de Segurança Social, garantindo a proteção de cidadãos em situações
de invalidez, doença, velhice ou desemprego;
 Política fiscal: aplicação de impostos diretamente sobre o rendimento das pessoas ou de impostos
indiretos que incidem sobre os bens e serviços.

Impostos: prestações pecuniárias (em dinheiro) cobradas aos cidadãos, em determinadas situações previstas pela
lei. Estes podem ser diretos ou indiretos.

 Impostos diretos: impostos que incidem diretamente sobre o rendimento, sendo, por isso, progressivos, ou seja,
aumentam à medida que o rendimento aumenta. Ex.: IRS (Imposto sobre os Rendimentos das Pessoas Singulares) e
IRC (Imposto sobre os Rendimentos das Pessoas Coletivas);
 Impostos indiretos: impostos sobre o consumo de bens e serviços, ou seja, que recaem sobre a utilização dos seus
rendimentos, independentemente de quais eles sejam. Ex.: IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado), IA (Imposto
Automóvel) e ISP (Imposto sobre Produtos Petrolíferos).

Taxas: prestações pecuniárias cobradas aos cidadãos que requerem determinados serviços. Estas diferem dos
impostos pois pressupõem a prestação de um serviço com contrapartida do valor pago, como é o caso das taxas
moderadoras dos serviços públicos de saúde.

Transferências sociais: através das contribuições sociais, ou seja, das entregas obrigatórias que os trabalhadores
e as entidades patronais fazem à Segurança Social, o Estado procede às transferências sociais, que são
prestações, de âmbito social, entregues aos cidadãos. Podemos incluir os abonos, as pensões, os subsídios de
desemprego, invalidez, etc.
 Transferências internas: transferências sociais provenientes do Estado português;
 Transferências externas: transferências sociais provenientes de Estados de outros países. Por exemplo, no caso de
um português que tenha trabalhado nos EUA e tenha regressado a Portugal após a sua reforma, a sua pensão de
reforma proveniente dos EUA constitui uma transferência externa.

Rendimento Disponível dos Particulares

O rendimento disponível dos particulares é constituído pelo conjunto dos rendimentos primários e secundários
recebidos por cada individuo, depois de deduzidos os descontos obrigatórios, impostos e contribuições sociais,
por si efetuados.

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