1) O documento descreve vários exemplos de mau uso da Bíblia, incluindo pessoas que usavam versículos fora de contexto para justificar comportamentos inadequados e líderes religiosos que interpretavam erroneamente passagens.
2) Também relata um incidente em que o autor foi agredido por um homem que alegava estar profetizando em nome de Deus, usando a Bíblia de forma ameaçadora.
3) Conclui que o mau uso da Escritura está presente em muitas manifestações religiosas e foi
1) O documento descreve vários exemplos de mau uso da Bíblia, incluindo pessoas que usavam versículos fora de contexto para justificar comportamentos inadequados e líderes religiosos que interpretavam erroneamente passagens.
2) Também relata um incidente em que o autor foi agredido por um homem que alegava estar profetizando em nome de Deus, usando a Bíblia de forma ameaçadora.
3) Conclui que o mau uso da Escritura está presente em muitas manifestações religiosas e foi
1) O documento descreve vários exemplos de mau uso da Bíblia, incluindo pessoas que usavam versículos fora de contexto para justificar comportamentos inadequados e líderes religiosos que interpretavam erroneamente passagens.
2) Também relata um incidente em que o autor foi agredido por um homem que alegava estar profetizando em nome de Deus, usando a Bíblia de forma ameaçadora.
3) Conclui que o mau uso da Escritura está presente em muitas manifestações religiosas e foi
tas dúvidas sobre qual era o significado da Bíblia
na mão das pessoas.
Eu tive alguns amigos que começaram a ler o
Velho Testamento e diziam: “Essa aqui é uma religião boa, porque nós podemos ter um monte de mulheres como todos os patriarcas tiveram e eu quero isso para mim”.
Mas quando eu expliquei melhor, eles disseram:
“Não, então a gente não quer não”.
Alguns deles entraram para “Os Meninos de
Deus”, apenas para terem liberdade sexual à vontade com quem quisesse.
Quando eu fui ordenado presbítero, logo hou-
ve uma ordenação diaconal, e três de nós fomos enviados para passar as instruções à esses novos diáconos, e um presbítero abriu um texto e leu para aqueles futuros diáconos dizendo: “Reves- ti-vos pois irmãos de ternos afetos de misericór- dia”.
E então ele disse: “Bom, de domingo que vem em
diante, todos vocês tem que vir ao culto de ter- nos, e quando vocês vestirem os ternos vistam com muito amor e carinho, cheios de afeto, pois são “ternos” afetos de misericórdia.
E eu, tive que intervir com uma gentileza enor-
me para explicar que não era bem aquilo e fui vendo coisas absurdas, por exemplo, no ambien- te da renovação espiritual daquele tempo.
Aonde eu ia em Manaus de 1973 até o tempo em
que eu saí de lá, no fim dos anos 1980, endemo- niados se manifestavam, e eu vi muita barbari- dade nesse sentido.
O que eu vi de Pastor amigo agarrar a Bíblia e di-
zer que tinha que ser Bíblia grande para expul- sar demônios…
E eu novinho na fé dizia: “Escuta meu irmão, a
palavra não é o livro, a palavra é o que sai da nos- sa boca”.
E eles diziam: “Não, mas o livro serve também”
E os endemoniados nunca saiam!
E com toda a leveza, eu chegava e dizia: “Sai dele em nome de Jesus”, no ouvido do indivíduo, e o demônio ia embora.
Eu comecei a ver que a idolatria em torno da Es-
critura era muito grande, tinha aqueles que der- ramavam óleo em cima e davam com óleo, por- que Bíblia melada de óleo tinha mais poder…
E eu fui vendo coisas que vocês não podem nem
imaginar que acontecem por aí, todo dia o dia in- teiro, de várias naturezas, por exemplo, uma de- las, que fez meu filho Ciro, por volta de 2001, di- zer que era diante daquilo que tinha acontecido, que dava vontade à ele de que gente ignorante não tivesse acesso à Bíblia.
Eu me lembro de ouvir isso e foram palavras for-
tes.
Eu me lembro bem desse dia, quando estávamos
passeando, ele, a Adriana e eu, passando por al- gumas lojas de artesanato em Ipanema e estava um dia tão agradável, e de repente, eu levo um tapão no meio das costas de um indivíduo com uma Bíblia enorme que me ameaçou com a Es- critura, dizendo que Jesus o tinha mandado ali para ele me exortar. E com um dedo no meu ros- to ele começou a gritar as exortações dele.
Eu segurei o dedo dele e travei o cotovelo dele e
o virei para baixo e ele ficou com o olho arrega- lado e eu disse: “Profetiza irmão!”
E ele disse: “Não reverendo, não é bem isso”.
Eu disse: “Não meu amado, profetize em nome
de Jesus”!
E é uma história longa, mas logo eu vi que ele
estava desesperadamente pálido, morrendo de medo de mim depois de ter dado um tapão em mim. Ele não esperava que a minha reação fosse de alguém que não tem medo de demônio ne- nhum, nem de homem nenhum, nem de amea- ça nenhuma.
O povo gritava: “Dá nele reverendo”.
Eu só ouvia o clamor do povo, e então eu parei e
fiquei olhando para aquela Bíblia dele e o ímpeto que me deu foi de tomar a Bíblia dele. E dizer: “Olha, essa Bíblia vai ficar comigo e eu só vou devolver a você daqui uma semana na minha casa. Você vai lá e eu vou conversar com você e te devolver a Bíblia”.
Mas depois eu pensei; “Não, coitado”, aquele ho-
menzarrão todo pálido, eu falei: “Não, vai embo- ra e nunca mais venha desrespeitar essas pesso- as que estão aqui, ninguém aqui”, porque o povo começou a gritar, “ele faz isso o tempo todo, ele agride as pessoas”, e eu falei, “Vá, saia agora”.
E ele saiu, foi andando, e eu vi um pintor à minha
direita dizer: “Pastor, o livro é bom, o mensagei- ro é que é terrível.”
E eu falei: “Eu não estou terminado ainda”, e eu
chamei-o de volta, e ele deu uma parada de lon- ge, botou a mão no peito e perguntou se era ele.
Era óbvio que era ele, e ele veio pálido de longe,
eu fiquei constrangido, dei uns 20 passos na dire- ção dele e falei: “Eu queria falar isso no particu- lar. Sabe o que aquele Senhor disse? Que o livro é bom, mas o mensageiro é ruim. Você vem aqui para oprimir as pessoas com as palavras deste li- vro, livro santo. Minha vida inteira minha cons- ciência adulta toda foi forjada na leitura deste livro, e você vem transformar isso em pedrada, em agressividade, em pânico… Eu iria tomar sua Bíblia até semana que vem, mas nem estou com paciência para isso. Mas eu te digo o seguinte, não faça mais isso porque agora de vez em quan- do eu vou dar umas incertas aqui. Se eu chegar aqui e você estiver ameaçando esse povo, eu não vou tratar você com a condescendência que eu estou tratando agora, porque o que você fez foi uma agressão pública, testemunhada por todos, à uma pessoa que nada estava fazendo, e você vem em nome de Deus me agredir? Eu nem pre- cisava de um argumento espiritual, sua atitude humana, cidadã, é digna de toda a ação passível de legalidade contra agressões dessa natureza que é o que você pratica o tempo todo. Com os outros é agressão simbólica usando a Bíblia.”
Agora, por que eu iniciei esse nosso momento
falando desses maus usos da Escritura?
Por que o que mais
caracteriza a Escritura na religião, é o mau uso dela. E o mau uso da Escritura está presente nas ten- tações de Jesus, por exemplo, quando o demônio incita Jesus a se suicidar pulando do pináculo do templo em nome da fé nas Escrituras, arranca- das do contexto da sua verdade real.
Em qualquer manifestação que você veja, a Es-
critura é a mais sutil das tentações, é aquilo que se pratica usando a Escritura ou que tem apoio na Escritura.
Nós vimos ontem, como desde a tradição antiga,
antes do judaísmo, o rabinato, a teologia, as tra- duções literárias, cresceram como nunca na au- sência do templo e como isso gerou confusões enormes sobre os livros da Bíblia.
Tudo dependia da pré concepção filosófica e te-
ológica dos grupos. Eles queriam para si evan- gelhos que afirmassem seus interesses e capri- chos.
Mas que não tinham nem proximidade com os
fatos históricos relativos a Jesus como tem nos evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas e João e nem tinham a coerência, nem a sinoptisidade, a repetição corroboradora, nem tinham os erros corroboradores, nem os equívocos que corrobo- ram a factualidade.
Quando um Evangelho diz que era um prota-
gonista, o outro diz que eram dois, mas conta a mesma história, isso ao invés de depor contra a história, ao contrário, do ponto de vista histórico, valida, corrobora.
Quando diz que eram 4000 outro dia que eram
5000, quando um Evangelho diz seis dias depois, o outro diz oito dias depois, quando um coloca determinado evento histórico em um determi- nado posicionamento cronológico e os outros colocam em outro, mas a existência de ambas as coisas independente da cronologia, então são diferenças validatórias para a narrativa em si; de modo que até as não cronologias, até os erros cronológicos, os erros de tempo, os erros grama- ticais, tudo isso corrobora a narrativa original, a semelhança que valida um ao outro; assinaturas idênticas apenas dão testemunho de documen- to falso, porque toda assinatura é diferente, não se espera a mesma assinatura. Não é a clonagem que dá testemunho da verda- de, é a diversidade convergindo para um mesmo objetivo que dá testemunho e dá significado a esta verdade.
Assim como a interpretação prevalente teologi-
camente falando de Agostinho à São Tomás de Aquino, onde diferenciações foram estabeleci- das e o modelo de hermenêutica filosófica gre- co-aristoteliana foi adotada.
Mais tarde, encontramos outras influências, ou-
tras interpretações, como a de Erasmo de Roten- dan, mas quando a gente viaja de Tomás de Aqui- no e chega a 1517, com Lutero afixando as suas 95 teses na porta da Catedral de Wittemberg, o que se tinha era apenas a interpretação oficial cató- lico-romana, ou os livros do cânon ortodoxo, di- ferentes do cânon católico.
Lutero rompeu, não necessariamente com a Bí-
blia católico-romana, mas sim com a teologia ca- tólico-romana.
Pois bem, quando se chega a Lutero, ele olha para
o Velho Testamento e para ele uma quantidade enorme de livros do Velho Testamento poderia sair, mas já foi uma reflexão posterior, a priori e o conflito nada teve a ver com a Bíblia.
O conflito teve a ver com a interpretação da Bí-
blia, ou com a falta dela; o conflito que gerou a angústia de Lutero, e deflagrou o processo da reforma protestante, o que causou isso foram as interpretações baseadas na jurisprudência da tradição católica, ou seja, nos textos que a igre- ja tinha produzido de maneira paralela, criando doutrinas variadas.
O que provocou uma angústia indizível em Lu-
tero não foi o Cânon Sagrado, foi a interpretação e a aplicação da interpretação em muita coisa, mas sobretudo na cobrança de indulgências, de perdão, como até hoje acontece.
Quando Lutero não aguentava mais esse monte
de coisas, começou a ver perdão de pecados ser vendido, que só quem comprava eram os ricos; pra ele foi a gota d´água, e então ele escreveu 95 coisas inaceitáveis e afixou na porta da catedral.
Esse ato não caiu igual fogo no palheiro; houve
um processo, anos de conflitos e ameaças e in- quisições, tentativas de homicídio, fuga, ajuda do principado germânico, sem cuja proteção ele te- ria sido engolido logo nos primeiro dias.
A Reforma Protestante também nasce sobre os
auspícios de um forte interesse político de dis- tanciamento de Roma; foi a ocasião propícia para romper com o papado e com o sacro Império Ro- mano e vários principados que desejavam essa independência, foram aderindo a Lutero e à re- forma protestante também, para encontrarem ocasião de quebrar o jugo daquela escravidão, daquela dominação que já durava tanto tempo.
Quando isso aconteceu, um menino francês
chamado Calvino, tinha 8 anos de idade e não tinha nenhuma vocação religiosa do ponto de vista protestante e nem católico. Ele era muito mais um indivíduo dado às revoluções de natu- reza humana, ao humanismo nascente naqueles dias, interessado em filosofia grega, interessado em Sêneca e em seus conselhos a Nero, em um humanismo que exaltava o valor e o significado do ser humano na formação de virtudes. E o garoto Calvino foi se desenvolvendo, foi de escola em escola e estudou uma gama de coisas, de línguas, de literatura, de filosofia, astronomia newtoniana; era um homem com virtudes inte- lectuais, mais amplo de conhecimento que Lu- tero.
Mas se Calvino era um humanista renascentis-
ta, Lutero era um apaixonado que escrevia tudo que escrevia com sangue, e se entregava aos riscos e aos perigos; era um cara que não tinha medo de opinar acerca de nada.
Por exemplo, sobre a Bíblia ele foi vencido pe-
los leigos que impuseram alguns livros no Novo Testamento de Lutero; ele próprio queria deixar, por uma questão de teologia pessoal, o livro de Hebreus fora por ser tão traumatizado com o sacerdotalismo católico, por lembrar a ele uma coisa que ele queria esquecer para sempre, ele queria uma espiritualidade totalmente laica, que é o que Hebreus propõe, mas ilustra isso com a história de Israel e com o templo e com o sacer- dócio.
Sobre Tiago, ele diz explicitamente que ela fala
muito pouco de Jesus e não deveria estar no Novo Testamento.
É quase um simplismo de não enxergar Jesus
em Tiago, porque não fala o nome Jesus muitas vezes, mas o Evangelho de Tiago é o Espírito do Evangelho, do que Jesus ensinou nos Evange- lhos, com aquele tipo de sabedoria e de literatu- ra parecida com a dos Evangelhos, está carrega- do dos ensinos de Jesus, não do nome de Jesus, mas ele estava tão preso a isso que queria tirar Tiago, porque achava que se incompatibilizava também com a tese que lhe trouxe alegria ao co- ração que foi a justificação pela fé.
E veja o conflito dele, como não era tudo tão pací-
fico! Você pensa que Lutero olhava para a Bíblia como você olha para ela? Não, ele não olhava.
Calvino sim!
Calvino olhava para a Bíblia com um olhar mui-
to parecido com aquele olhar que os reformados dos nossos dias tem, especialmente os puritanos, que leem a Bíblia bastante como Calvino. O puritanismo recebeu estímulo de Calvino di- reto do princípio ao fim; há trocas de cartas en- tre o líder puritano e Calvino.
E Calvino não estava querendo equilibrar, estava
dando formas. Parecia que os puritanos tinham chegado onde os discípulos de Calvino em Ge- nebra nunca tinham ido.
Isso foi até o fim da vida de Calvino, e ele foi um
homem de algumas idéias desenvolvidas a par- tir das cinco “solas” da Reforma: só a fé, só Cris- to, só a Escritura, só a graça e só a Deus glória.
Calvino pegou esses sola de Lutero e os trans-
formou em algo infinitamente mais pedagógico, ampliado e explicado e facilitado na sua lógica de desenvolvimento, para aqueles que poste- riormente começaram a lê-lo.
Mas o que caracteriza significativamente tudo
aquilo que diz respeito a Calvino é o fato de que ele lançou os fundamentos de uma psicologia, não só de uma teologia, mas de uma psicologia humana de uma natureza incomparável, porque o que é extraordinário a respeito desse indiví- duo, é o que ele diz sobre o significado da exis- tência humana. O que é o homem para Calvino?
Calvino ensina a depravação total, o que para um
cara que foi criado no renascentismo, no ilumi- nismo, é uma contradição de termos absoluto.
E nós nunca soubemos exatamente como Calvi-
no se converteu.
Lutero nós sabemos como ele se converteu, e
boa parte dos reformadores também, pois eles tiveram “encontros”.
Calvino não, entre os anos 1534 e 1535, mas não
sabemos como, só sabemos o que ele comenta sobre o livro do salmos: “Então eu comecei a ler as verdadeiras Escrituras, e comecei a ler as verdadeiras doutrinas e me convenci de que ali estava a verdade, e dali eu prossegui estudando com avidez as Escrituras e era tamanha avidez embora eu seja um homem calado, discreto, ínti- mo e reservado, correu a notícia de que eu estava conhecendo bastante as Escrituras e as pessoas começaram a me procurar, de modo que depois de um tempo, a minha casa que era fechada e re- servada começou a ser cheia de gente”, até que chegando um período de perseguição ele fez essa viagem na direção da Suíça, onde a vida pú- blica dele se manifesta para nós.
Mas ninguém explica o que trouxe esse huma-
nista renascentista, que escreveu sua tese filo- sófica sobre Sêneca, o que fez esse cara, do dia para a noite, virar um dos individuos mais seve- ros, mais sérios, mais linear e cartesianamente argumantativo, embora ele tenha sido ante car- tesiano, e agora depois da conversão ele anda em um caminho que a gente pode dizer que é de influência completamente Aristotélica, linear cartesiana.
E ele vem com algumas das doutrinas mais pe-
sadas com as quais a gente tem que lidar daqui em diante.
A primeira foi a da depravação total, não tem
nada no ser humano que não seja depravado. Isso para um cara que tinha sido humanista até um ano ou dois antes. Para Calvino, não tem nada no ser humano que seja bom. Embora, claro, Jesus tenha dito: “vós que sois maus sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos”, e embora o Velho Testamento nos exorte o tem- po todo a parar de fazer o mal, e embora em Pau- lo você veja, em Romanos 7, que ele vive conflitos entre o bem e o mal dentro dele, mas ele diz que em Cristo Jesus há um novo pendor que pode ser desenvolvido, por isso se manda vencer o mal com o bem, por isso Jesus manda amar o ini- migo e orar pelos que nos perseguem, e só uma pessoa que não esteja em estado de depravação total consegue amar algum inimigo e orar pelos que o perseguem, de modo que não nenhum se- quer como ele; todos pecaram, todos carecem da Glória de Deus, mas a depravação absoluta de Calvino não combina também com Mateus 25 com Jesus elogiando os que sem saberem o nome de Jesus, nem o Evangelho, tinham trata- do o próximo como se fosse o próprio Jesus.
Não combina com uma depravação onde ne-
nhuma luz penetre, a menos que alguém ilu- mine, ensine; a depravação é tão grande que o depravado não tem luz nenhuma; isso é de um fatalismo absurdo. A segunda grande doutrina que decorre dessa e a da eleição incondicional que é óbvia.
Se todo homem é absolutamente depravado e
você diz que alguém dali é salvo, é porque Deus disse: “Decidi que é você. Você não presta, mas eu decidi incondicionalmente que eu vou te sal- var e não há nada que você possa fazer para fugir da minha salvação porque eu decidi.”
E isso nos remete para uma nova e outra conclu-
são, de que a salvação em Cristo é limitada, é a expiação limitada.
Porque, se todos são depravados, e só é escolhido
quem ouve a palavra e crê na palavra, tem uma predestinação até para ouvir a palavra, porque se ninguém pregar para ele é porque ele estava predestinado a não ouvir.
A palavra do Evangelho é decorrência disso e é
expiação limitada. Cristo não morreu por todos, Deus tem uma boa vontade e não quer que nin- guém se perca, mas na realidade, são apenas al- guns salvos; Deus amou o mundo, mas resolveu salvar poucos. Então temos a depravação total, a eleição incon- dicional, a expiação limitada e a Graça irresistí- vel, para fazer a pessoa que escolhida em uma Graça que não é aberta para todo mundo, que é limitada, fazer essa pessoa vir, querendo ou não querendo; é só a Graça irresistível, que puxa a pessoa, que a traz; isso porque Deus é amor para com esses que Ele escolhe, e é absoluta severi- dade para com esses que ele decide não incluir nessa Graça.
E por ùltimo, vem a doutrina da perseverança
dos santos, ou seja, se você foi tirado da deprava- ção total, alcançado pela eleição incondicional, foi objeto da expiação limitada e foi trazido pela Graça irresistível, o resultado disso é que você perseverará até o fim, porque o mínimo que esse Deus que te escolheu tão arbitrariamente pode fazer, é continuar sendo arbitrário e implantar em você um software de perseverança até o fim da vida.
Quem não ouviu, quem não soube, quem não foi
alcançado, quem nao foi batizado, está perdido!
Isso criou um ambiente profundamente supre-
macista; nada que decorra disso pode ter uma generosidade universal, é impossível.
Se você crê nisso, não existe nenhuma bondade
universal, a não ser essa natural, “vem chuva so- bre os justos e sobre os injustos”, embora Jesus tenha dito: “Sejam assim para que vos torneis fi- lhos do vosso Pai celeste”; para eles, não basta ser assim como o Pai celeste, tem que admitir essas doutrinas, confessar essas doutrinas, e se tornar batizado nessas doutrinas, e se tornar um propa- gador dessa salvação e desses postulamentos, de modo que não é à toa que essa doutrina tenha aberto espaço também para o capitalismo oci- dental, porque, o indivíduo pobre, está eventual- mente vivendo as consequências da sua depra- vação total; ele é assim, e provavelmente nada o tire disso, nenhuma ação humana o ajude nem o melhore.
A eleição incondicional atinge o rei também, ele
é rei porque Deus o colocou lá incondicional- mente; ele é rei, obedeça, sirva.
A expiação limitada diz que não adianta você di-
zer: venha a Cristo que ele receberá; você tem que dizer: “Se você é um eleito de Deus, então hoje é o dia de você vir a Cristo, do contrário você pode vir quantas vezes você queira, se você não for um eleito nada está garantido”, mas alguém diria: “O fato de ele ter vindo já é um sinal de que ele é eleito”, e depende.
Você não sabe aonde essa expiação limitada
pode levar.
Eu já ouvi barbaridades de teólogos desse jaez
dizendo: “É uma pena que nas suas cruzadas de evangelização, veio tanta gente à frente, mas só uns poucos são eleitos pelo Senhor, a maioria vai sair pela malhada, não tem jeito”.
Então isso produziu um modo de pensar que ge-
rou o supremacismo teológico, intelectual, de natureza até racial em alguns aspectos, ético, moral. Gerou uma escatologia toda fechada, um modo de pensar todo fechado; e qual é o método hermenêutico?
É o método de Escritura se compara com Escri-
tura. Ou seja, no fim, você cria uma teologia sistemá- tica.
A Partir da cabeça do observador, no caso, nosso
irmão Calvino, que foi um querido irmão, viveu no tempo dele, na hora dele.
Ele compara um texto com outro; as semelhan-
ças, uma linha que viaja do Velho ao Novo Testa- mento e temos que juntar as partes para formar a essência desse conhecimento que foi produzi- do a partir de uma hermenêutica que se servia do método de comparar história com história, a partir de uma linearidade, de uma construção sistemática.
Foi o principal método usado, embora naquele
tempo, o que era usado em geral era a alegoria, antes da Reforma Protestante, se dizia que havia oito maneiras hermenêuticas de interpretar as Escrituras; com o passar do tempo diminuiu-se para quatro maneiras.
Comparado com a grande maioria, Calvino esta-
va dando um salto quântico nos dias dele, no que dizia respeito a organizar aquele pacote, embora estreitíssimo e sem compaixão de Cristo ou os traços do evangelho, era um pacote todo feito de doutrinas. Por isso são chamadas “As Institutas da Religião Cristã”; o nome não mente.
Mas você não
encontra a carne e o sangue, a saliva e o suor, a misericórdia e o esbanjamento de amor segundo Jesus e o Evangelho. Tudo está formatado, de maneira hermética, quase exaustiva, que agradavam às peculiarida- des culturais da época mas que a maioria dos calvinistas de hoje não leu as Institutas.
O livro do Calvino que mais me interessava foi o
que ele escreveu antes de se converter, chamado “Psichopaniquismo”, traduzido como “A Vigília da Alma”; eu tenho um enorme interesse em ler isso porque foi um texto que ele escreveu antes de tudo isso transformá-lo em um ser como ele é.
E as igrejas presbiterianas são herdeiras de Cal-
vino tanto quanto as reformadas, como também boa parte da teologia anglicana é uma heran- ça Calvinista, e hoje em dia até os batistas, que eram totalmente arminianos, estão se tornando calvinistas um pouco mais moderados, mas cal- vinistas.
E há alguns que estão se transformando em cal-
vinistas puritanos. Embora haja também nos Estados Unidos igrejas reformadas que não são tão calvinistas porque são igrejas chamadas da teologia liberal, o que nunca poderia ser de na- tureza calvinista.
Calvino teve com alguns outros conflitos com
contemporâneos dele, que foram muitos do ponto de vista acadêmico e de luta doutrinária.
Toda questão era doutrinária, eles chegavam ao
ponto de marcar duelos doutrinários, onde os presentes elegiam o vencedor; e quem ganhava, a doutrina apresentada por ele passava a ser ver- dadeira.
Eu acho isso extraordinário.
Até que já muito depois, encontramos os irmãos
Wesley na inglaterra, como você encontrou to- dos aqueles como Patrício antes, que foi o pre- gador do Evangelho na Irlanda e naquela região. Eram pessoas cheias de paixão.
Chamavam o povo a Cristo, qualquer um.
E os irmãos Wesley fizeram isso extraordinaria-
mente bem, pois eles foram aos pobres, aos mi- seráveis, aos famintos, para os desesperados, e criaram as sociedades metodistas.
Começaram no “clube santo”, que era um grupo
de oração e de estudo da Bíblia, onde todos eles davam dinheiro para alguma causa social, em cada reunião, até que foram criando as socieda- des metodistas, causando impacto na história da Inglaterra e, porque não dizer, da Europa.
A grande parte do historiadores nos dizem que
a Inglaterra só não teve um banho de sangue como o que a França teve na revolução francesa, por causa do movimento Wesleyano que pacifi- cou os mineiros desesperados, angustiados, en- raivecidos e aquelas populações empobrecidas no meio da iniquidade.
O movimento Wesleyano foi aquele de solida-
riedade, de pão, de comida, que foi chegando e depois criou o próprio espírito das nações ingle- sas de Pão, sabão e salvação, como no exército da salvação, e em todas as outras grandes agremia- ções de ação de compartilhamento do Evange- lho integral, sem ser o Evangelho das doutrinas, sem ver o homem como depravado, mas como um ser humano desesperado, precisando da Graça de Deus que o acolhesse, de modo que o que se acrescenta daí em diante no movimento reformado, são os avivamentos puritanos.
O avivamento de Jonathas Edward, passou a fa-
mosa pregação “Pecadores nas mãos de um Deus irado”.
Marcou uma época inteira de puritanismo se-
vero, como você vê em uma quantidade enorme de histórias americanas do puritanismo no sul e no norte dos Estados Unidos e no litoral leste; a quantidade de barbaridades feitas em nome do puritanismo, e as comunidades também se- paradas do mundo, fechadas, das quais depois decorrem outras; acabaram vindo outras comu- nidades super fechadas na lei interpretativa pu- ritana. Porque o que o puritanismo ensinou é que você é salvo pela Graça de Deus, mediante a fé, mas uma vez que você esteja salvo pela Graça de Deus mediante a fé você é devolvido pela Graça de Deus à lei de Moisés para que a lei te santifi- que; você é salvo pela Graça, mas aperfeiçoado pela lei de Moisés; essa é a receita do puritanis- mo, com todos os seus literalismos.
Estamos vivendo hoje nesse movimento que se
renova no Brasil; a recorrência das coisas que começam a acontecer nos séculos 17 e 18 e se intensificaram, já quase desapareceram, estão ressurgindo entre nós.
Como e por quê?
Como resultado desse bordel eclesiástico no
qual a igreja, chamada protestante ou evangéli- ca se tornou.
É um puteiro religioso e eclesiástico tão genera-
lizado, que muita gente jovem querendo servir a Deus e não sabendo como, embarcou de cabeça no puritanismo, contra a liberdade do Evangelho de Cristo, segundo Jesus e segundo os apóstolos, coerente com o calvinismo puritano, incoerente com Jesus e com o Espírito da Graça de Deus nas Escrituras.
E por que isso fica assim?
É por causa da Bíblia.
Porque, a Reforma Protestante adotou a Bíblia
como regra de fé e prática; então quando se diz só a fé, não é só a fé em Jesus, mas na doutrina da fé, só Cristo não é só Cristo, é Cristo conforme a doutrina, e quando se diz, só a Escritura, não é a Escritura segundo Cristo, é a Escritura segundo o livro mesmo, a coisa em si.
Logo vem Gutemberg e imprime o livro, então, o
“só Escritura”, vira um fetiche palpável, que tem até o dia de hoje. Essa é a psicologia do livro virado Escritura transformado em palavra de Deus na mão dos crentes.
E quando se fala, “só a Graça”, é também só a
Graça irresistível, segundo a expiação limitada para esses indivíduos que são pré-determinados e pré-fixados para salvação.
É uma Graça irresistível só para esses que já es-
tão ordenados virem.
Quanto aos demais, é uma Graça que não seduz
ninguém, e se seduziu, coitado, se não for eleito ele é só um ser emocionado, sem nenhuma con- sequência eterna para a vida dele, especialmen- te se é alguém de natureza tão puritanamente definida e com essa presunção de saber o que a Escritura diz e que o que está em valor não é Jesus e sim a Escritura, e a doutrina formada a partir da Escritura.
Para Lutero só interessava Jesus, se Pedro dis-
sesse alguma coisa que não tinha a ver com Je- sus, que se jogasse fora Pedro, e assim também Paulo. Essa era a radicalidade de Lutero, mas Calvino quis salvar o livro inteiro.
Então, o eixo mudou de Jesus para a doutrina cal-
vinista, para a ética calvinista, para a moral calvi- nista, e é isso que a gente tem, e a hermenêutica para entender isso ela tem que caber na Bíblia inteira, e o que acontece?
Na Reforma Protestante você não tem de fato
ainda a centralidade absoluta de Jesus; em Lute- ro sim, mas em Calvino não.
Você é salvo por um conjunto e crenças bem or-
ganizadas, você é salvo pela religião cristã.
E se você não entender que você é um desses
eleitos extraordinários e não colocar toda sua fé na certeza dessa eleição, é porque você não é um deles.
Mesmo que você diga: “Eu não consigo crer as-
sim porque é muita presunção”
Eles vão dizer: “A sua certeza de presunção é
porque você não é um eleito”
E você me pergunta: “Como você foi pastor re-
formado por tantos anos?”
Porque nunca me encheram o saco, só por isso!
Graças a Deus, eu fui ordenado antes do protes-
tantismo em repressão, inquisição sem foguei- ras, antes disso.
E eu defendi uma tese que ninguém defendeu
até hoje nesse meio com a coragem de explici- tá-la, que era sobre a salvação fora da religião, e que não levava em consideração nenhuma dou- trina calvinista, só o Evangelho e o que o Evange- lho dizia sobre a Graça de Deus aplicada a todo ser humano.
Portanto, sem discussão de depravação total, ou
acerca da predestinação ou da expiação limita- da, ou da Graça irresistível, ao contrário, Deus é livre e está falando a todos os homens aonde ele quer.
É o que ele ensina, e foi o que eu escrevi, a mes-
míssima coisa, sobre a ordem de Melquisede- que, e eles me ordenaram.
E eu me neguei a ir ao seminário, porque eu não
tinha esse tempo, e eu lia muitos mais do que os meus amigos que estavam no seminário.
E me ordenaram assim mesmo; o reverendo Bo-
anerges Ribeiro foi à Manaus checar a minha ordenação, e fez questão de conversar comigo e eu tive longas conversas com ele, e ele me aus- cutava teologicamente o tempo todo, e eu via o tempo todo o homem encher os olhos de lágri- mas.
Mais de uma vez, ele me disse que eu lembrava
a ele um jovem indiano que tinha se convertido jovenzinho e não tinha conseguido caber na re- ligião, Sadhu Sundar Singh.
E eu segui a minha vida, pregando o Evangelho
e convidando todo homem a vir a Cristo e nin- guém nunca me molestou.
Ao contrário, a igreja concordando ou não con-
cordando comigo e havia dezenas de acadêmicos que não concordavam, mas o povo me amava, os pastores me amavam, e os alunos de seminário me amavam, eu ensinando o que estou ensinan- do agora, nada diferente.
Então, nessa história inteira, eu estou repetindo
o que eu sempre soube e sempre cri, não estou agregando um ponto novo a nada disso.
Se tem alguém escandalizado, não é pelo que eu
estou dizendo agora, mas pelo que vocês passa- ram a pensar agora, porque eu disse isso duran- te anos, e só vi os reformados se alegrarem.
E quando eu pregava nas igrejas reformadas
presbiterianas americanas, em inglês, duas ou três delas me convidaram a ser pastor titular da igreja, pastoreando em inglês; diziam: “que teo- logia, de onde ela vem? Que presbiterianismo é esse?”
E eu dizia: “É só dos Evangelhos, de Jesus”.
Minha vida inteira.
Quem me disse o que melhor é esses anos todos
a respeito de tudo que eu pratico foi meu pai, in- dubitavelmente.
Mas também o meu filho Ciro, há uns 18 anos
atrás.
Quando eu ainda estava naquele castigo, daque-
le corredor polonês religioso todo dia; já fazia quase quatro anos que eu vinha debaixo daque- las chibatadas, e a única igreja presbiteriana que ficou de portas abertas o tempo todo foi a Cate- dral Presbiteriana do Rio de Janeiro, com meu amigo Guilhermino que continua a dizer: “Não, você vem pregar aqui todo primeiro domingo do mês, no culto de ceia como você fez nos últimos 25 anos, e você vem toda terça feira a noite para o povo que quer vir te ouvir”
E eu ia toda terça e todo primeiro domingo do
mês e em um daqueles dias eu voltei de uma dessas reuniões e perguntei ao meu filho Ciro, que estava fazendo teologia: “Meu filho, o que você acha do que eu prego?”
E eu acho que ele foi a única pessoa na vida pra
quem eu fiz essa pergunta. E ele me disse:” Pai, eu discordo muito pouco de qualquer coisa que você diga hoje. Quando eu era criança eu não discordava de nada, nem na minha adolescência. Hoje, é só porque eu sou um homem com as minhas peculiaridades que eu posso ter um pensamento que difere disso e daquilo, mas no geral, eu concordo com tudo que você diz, porque eu concordo com o modo humano como você enxerga a vida, de modo que quando você está pregando, eu nunca estou pre- ocupado com o que você está pregando, eu sem- pre estou desejando que o resultado da sua pre- gação seja consolação para o coração humano.”
E eu dei um beijo nele e falei: “Olha meu filho,
até o dia de hoje foi só isso que eu tentei fazer.”
Eu tenho resistido à tentação dos acadêmicos,
eu vou falar para os acadêmicos, é onde eu me- nos me preparo, deixo apenas vazar tudo que eu tenho na mente e no coração.
Resisti à tentação de todas as outras formas
de aceitar a formatação, buscando sempre ter uma boa consciência para com Deus, segundo o Evangelho e segundo minha própria consciên- cia e a reverência ao próprio entendimento que Deus me deu e ao temor dEle no meu coração e a convergência absoluta para Jesus; ler tudo a partir de Jesus e o que não seja a partir de Jesus não pode continuar.