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Psicanálise e
Ciência
Psychoanalysis and Science

Regina Coeli Aguiar


Castelo Prudente & Maria
Anita Carneiro Ribeiro

Centro de Ensino Superior


de Juiz de Fora-MG
Artigo

PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2005, 25 (1), 58-69


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Resumo:Embora Freud tenha sido um cientista, formado no espírito


científico de sua época, as relações da psicanálise com a ciência
nunca foram fáceis. Desde o “Projeto”, de 1895, até seus últimos
textos, Freud nunca abandonou seu propósito de fazer com que a
psicanálise fosse reconhecida como ciência. Jacques Lacan, a partir
de sua teoria dos discursos, afirma que a psicanálise é um novo
campo do saber que mantém conexões com o campo de saber da
ciência, mas com ele se confunde. O sujeito da psicanálise é o mesmo
sujeito da ciência - o sujeito do desejo - mas Freud subverte o cogito
cartesiano ao descobrir o inconsciente.
Palavras-chave: psicanálise, ciência, saber.
:

Abstract: Although Freud has been originally a scientist, formed on


the scientifical spirit of his age, relationship between psychoanalysis
and science has never been an easy matter. Since his “Project”, from “Nossa ciência
1985, to his last texts, Freud has never left down his purpose to have não é uma ilusão.
Ilusão seria
psychoanalysis accepted as a legitimate science. Jacques Lacan, imaginar que
starting from his own theory of the discourse, confirmed aquilo que a
ciência não nos
psychoanalysis as a new field of knowledge which has some
dá podemos
connections with the scientifical field of knowledge, but cannot be conseguir em
mixed up with it. The subject of psychoanalysis is the same as of outro lugar”

science - the subject of the desire - but Freud, with his discovery of
the unconscious mind, brings a subversion to the cogito of René
Descartes.
Key-words:psychoanalysis, science, knowledge.

Com Freud

“Nossa ciência não é uma ilusão. Ilusão seria pudesse dar conta e, muito menos, a ele
imaginar que aquilo que a ciência não nos conferir legitimidade científica.
dá podemos conseguir em outro lugar”
(Freud, [1927] 1974, v. XIX). Partiremos do conceito de “ciência normal”,
tal como Thomas S. Kuhn a descreve, o que
Nosso objetivo, na abordagem sobre a vem a significar “a pesquisa firmemente
questão da psicanálise e da ciência, é baseada em uma ou mais realizações
verificar como a psicanálise conquista para científicas passadas expostas e relatadas em
a ciência um novo continente - o do manuais científicos elementares ou
psiquismo inconsciente - e como esse avançados” (1970, p. 101). Esses manuais e
inconsciente, erigido como objeto, não era livros tornaram-se bastante populares no
nada de que a ciência do tempo de Freud começo do século XIX. Entre eles, podemos
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exemplificar: o “Princípio e a óptica”, de históricas, pois se define muito mais por ser
Newton, a “Eletricidade”, de Franklin, e a uma ciência exegética, hermenêutica ou
“Química”, de Lavoisier, entre outros, que interpretativa”, de acordo com Japiassu
serviram, por um longo tempo, para definir (1989, p. 28).
implicitamente os problemas e os métodos
legítimos de um campo de pesquisa para A formação intelectual de Freud dar-se-á
uma geração de praticantes da ciência. numa atmosfera positivista e cientificista
típicas do século XIX. O espírito positivo,
Ainda, para melhor esclarecer seu conceito testemunhado pelo impulso que toma a
de “ciência normal”, Thomas Kuhn irá lançar história natural do homem em detrimento
mão de exemplos aceitos na prática da condição que conferia uma visão
científica, que incluem, ao mesmo tempo, teológica do mundo, se afirmava. Além do
lei, teoria, aplicação e instrumentação, mais, no século XIX, a crença no
gerando modelos dos quais brotaram as conhecimento científico como o supremo
tradições coerentes e específicas ‘da’ poder resolutivo dos males do mundo -
pesquisa científica, tais como a “Astronomia “crença que Freud guardou por toda a vida -
Copernicana” e a “Dinâmica Aristotélica” ou estava principiando a deslocar as esperanças
“Newtoniana”, entre outros modelos ou que se haviam erguido a favor da religião,
paradigmas muitas vezes bem mais da ação política e da filosofia,
especializados. alternativamente. Freud estava altamente
imbuído de tudo isto” (Jones, 1961, p. 121).
Apresentaremos, neste estudo, a psicanálise
como promotora de uma revolução Ernst Jones nos aponta que o conflito entre
científica que terá início no momento em entregar-se irrestritamente ao exercício do
que “o paradigma existente deixou de
pensamento e ao jogo da fantasia à
funcionar adequadamente” (Kuhn, 1970, p.
necessidade de submeter-se a uma disciplina
126).
científica terminou em uma “inequívoca
vitória desta última” (ibid., p. 122).
Ao promover um corte paradigmático
através de seus conceitos, a psicanálise gera
Freud jamais abriu mão de seu projeto de
um complicador, na medida em que seus
tornar a psicanálise uma ciência. Em uma
pressupostos anunciam que essa ciência se
pequena nota sua, datada de 1920, “Uma
ocupa, sobretudo, da subjetividade num
nota sobre a pré-história da técnica de
tempo em que a exigência era a de se atingir
um conhecimento objetivo e generalista. análise” (Freud, 1976, v. XVIII), faz uma
incisiva réplica às críticas de Havelock Ellis,
A experiência do sujeito, sua história, não pesquisador da ciência sexual e crítico da
são dados que poderiam fornecer um psicanálise, que, em um ensaio de 1919
critério suficiente de credibilidade e (“The philosophy of conflict to sex”), inclui
legitimidade científicas, cabendo à um artigo cujo objetivo é demonstrar que os
psicanálise uma definição muito mais escritos do fundador da análise não devem
próxima às ciências “semiológicas ou ser julgados como uma peça de trabalho

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científico, mas, sim, como uma produção A primeira grande Revolução promovida pela
artística. Freud considera a apreciação de H. psicanálise ocorrerá a partir da descoberta
Ellis como resistência e repúdio à análise, da motivação inconsciente nas ações
“ainda que se ache disfarçada sob forma humanas e da sexualidade infantil. Por essas
amistosa e, na verdade, lisonjeante demais” duas vias, um corte é proposto e lançado
(Freud, 1976, v. XVII, p. 315). através de um conjunto de questões que,
além de sustentarem toda a pesquisa
Freud inicia esse trabalho afirmando sua psicanalítica, irão fornecer-lhe material e
disposição de enfrentar tais afirmações com recurso teórico extraídos da escuta clínica.
a mais decidida oposição e o finaliza
apontando a importância da leitura de Ludwig No ano de 1874, o médico Moritz Benedikt
Börne, autor que lhe fora apresentado apresentou sua idéia a propósito do que seria
quando, aos quatorze anos de idade, foi a discussão entre a experiência direta e a
presenteado com suas obras completas; Freud fundamentação científica no capítulo dirigido
afirma que Börne foi o primeiro autor cujos ao método sobre o tratamento da histeria.
escritos o afetaram profundamente e que
ficara espantado em se encontrarem As ciências clínicas têm peculiaridades vis-
expressas, em seu conselho a um escritor à-vis das ciências naturais; elas têm de
A essência do
original, algumas opiniões que ele próprio ocupar-se da prática enquanto base para o
clínico precisa ser
sempre prezara. entendimento teórico da mesma, a saber, outra que não o
sobretudo a anatomia e a fisiologia ainda pesquisador das
ciências da
Uma covardia vergonhosa com relação ao acusam lacunas enormes. A essência do natureza, mais
clínico precisa ser outra que não o exatas
pensar nos retém a todos: a censura do
governo é menos opressiva que a censura pesquisador das ciências da natureza, mais
exercida pela opinião pública sobre nossas exatas (apud Lorenzer, 1984, p. 71).
produções intelectuais. Não é a falta de
intelecto, mas de caráter que impede a A observação de Benedikt, anos antes de
maioria dos escritores de serem melhores que Freud surgir como autor, antecipa uma das
são (Börne apud Freud, [1920] 1976, v. XVII, grandes questões da psicanálise: a clínica da
p. 317). escuta, que, “rompendo com aquela do olhar,
incessantemente invocada por seu empirismo,
Às críticas de seu tempo em relação a seu a modéstia de sua atenção e o cuidado com
anseio de ser homem da ciência, Freud reagiu que permite que as coisas silenciosamente se
com vigor. Em seu manuscrito de 1895, apresentem ao olhar, sem perturbá-Ia com
«Projeto para uma Psicologia Científica», já discurso” (Foucault, 1998, p. 4).
no primeiro parágrafo, apresenta sua
intenção: «a finalidade deste projeto é A invenção da escuta do inconsciente
estruturar uma psicologia que seja uma proposta pela psicanálise rompe com a
ciência natural, isto é, representar os processos Medicina da época, que propunha uma
psíquicos como processos quantitativamente correspondência exata do “corpo” da doença
determinados de partículas materiais com o corpo do homem doente. Era esse o
específicas» (Freud, [1895] 1976, v. I, p. 403). modelo da Medicina que vigorava no século
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XIX, aquele que concedia todo privilégio à hipnóides”. Além do mais, Breuer recusou-
anatomia patológica. se a atribuir à histeria uma etiologia
puramente sexual. Logo após a publicação
Michel Foucault nos descreve essa época dos Estudos sobre a Histeria, Freud inicia a
como aquela que marca a soberania do redação do “Projeto para uma psicologia
olhar, em uma experiência que lê, de uma científica”, artigo escrito em 1895, cuja
só vez, “as lesões visíveis do organismo e a publicação só se realizará em 1950, onze
coerência das formas patológicas; o mal se anos após sua morte.
articula exatamente com o corpo e sua
No texto desse artigo, Freud tentará
distribuição lógica se faz, desde o começo,
demonstrar empiricamente, através de um
por massas anatômicas” (ibid.). “O golpe de
modelo mecanicista da física, a sua ciência,
vista” precisa apenas exercer a verdade no
abordando em ótica distinta “muitas das
lugar onde ela se encontra, um poder que,
questões que a filosofia que o antecedeu
de pleno direito, ele detém (ibid., p. 2).
tratava em outro contexto”, comenta Luiz A.
Garcia Roza (1996, p. 42) em sua avaliação
Ninguém, além do próprio Freud, dará início
sobre o “Projeto”, em Freud e o Inconsciente.
à grande discussão em torno da inscrição da
psicanálise no campo das ciências, a partir,
Para alguns, a psicanálise tem início com o
essencialmente, do seu desejo cientificista,
“Projeto”; para outros, essa obra é uma
do qual jamais irá abrir mão, sem dar conta,
desesperada tentativa de argumentar através
pelo menos a princípio, da impossibilidade de uma linguagem fisicalista exigida pela
de sua pretensão ser derivada da época, segundo Garcia Roza. A proposta de
especificidade do conhecimento que Freud é, de acordo com sua própria
construiu. afirmação, a de elaborar uma “teoria do
funcionamento psíquico segundo uma
Já no ano de 1895, em Estudos sobre a abordagem qualitativa e quantitativa, uma
Histeria, pode-se verificar a busca de Freud espécie de economia da força nervosa”
por uma inscrição no campo das ciências (Freud, [1895] 1976, v. I, p. 403), proposição
(Freud, [1893-1895] 1974, v. 11). Na que manterá durante toda sua obra.
apresentação dessa obra, James Strachey,
tradutor da obra freudiana para o inglês, Sem pretendermos nos colocar ao lado
observa que as divergências entre os autores, daqueles que assinalam ser o “Projeto” a obra
Freud e Breuer, não são ainda observadas, que dará início à psicanálise, nem tampouco
apesar de já existirem. A decisão de em seu extremo, entre aqueles que assinalam
publicação conjunta foi resultado de um ser essa obra o último suspiro de um pensador,
acordo destinado a mostrar à comunidade colocamo-nos, sim, na posição de afirmarmos
científica o trabalho realizado pelos dois a importância vinculada à tentativa de
autores até 1894, época em que a relação inscrição de Sigmund Freud na cena da ciência
científica já havia acabado, visto que Freud de sua época. Essa obra far-se-á presente em
já sustentava a idéia de uma “defesa todo o seu trabalho posterior, bem claramente
psíquica” no sintoma histérico e Breuer observável no capítulo VII de A Interpretação
pensava em uma fisiologia dos “estados dos Sonhos e em “Além do Prazer”, de 1900

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e 1920 respectivamente, obras vitais para a Birman em sua obra Psicanálise, Ciência e
compreensão do saber que a psicanálise irá Cultura, no qual o autor ainda esclarece que
inaugurar. tal discurso epistemológico se fez a partir de
uma crítica radical da filosofia positivista da
As críticas relativas à cientificidade da ciência, curiosamente também iniciada na
psicanálise são radicais e partem França através de um dos grandes filósofos
especialmente de epistemólogos oriundos do que tal nação irá produzir, Auguste Comte.
empirismo lógico, preocupados com “a L. Althusser não só contra-atacou as críticas
lógica da explicação”. Japiassu discute, em
que visavam a descaracterizar a cientificidade
Psicanálise: Ciência ou Contra-ciência?, de
da psicanálise como também denunciou a
1989, que os críticos que sustentam suas
tentativa de apropriação dos conceitos
abordagens a partir do empirismo lógico e
psicanalíticos pelos discursos filosóficos,
do racionalismo crítico de Karl Popper
subtraindo-lhes a originalidade teórica. A
indagam se a psicanálise constitui uma
legitimidade dessa ciência é conferida pela
“teoria” propriamente científica, isto é, se se
via de seu objeto teórico, o inconsciente, que
apresenta através de um conjunto de
realizou o corte epistemológico com a A cientificidade
proposições que sistematiza, explica e prevê,
tradição da Psicologia da consciência e com da psicanálise
em certos fenômenos observáveis, e se deve discutida ao longo
a psiquiatria do final do século XIX e início de sua existência
satisfazer às mesmas regras lógicas de uma
do século XX. terá, na década
teoria científica. Afirmam os empiristas: de sessenta, seu
“parece que não podemos deduzir nada de maior defensor
Foi no ano de 1900, com a publicação de A teórico no filósofo
preciso das noções ‘energéticas’ do francês L. Althusser
freudismo, posto que são vagas e Interpretação dos Sonhos, que Freud
metafóricas. São noções sugestivas, mas não apresentou o conceito de inconsciente e
susceptíveis de validação empírica” (Japiassu, demarcou o nascimento da psicanálise,
1989, p. 26). apresentando o seu sujeito, radical em sua
construção, pois subverte aquele oriundo do
A cientificidade da psicanálise discutida ao cogito cartesiano por ser pulsional por
longo de sua existência terá, na década de excelência. A razão, coincidindo com a
sessenta, seu maior defensor teórico no consciência, é colocada em questão, e
filósofo francês L. Althusser. Em sua ninguém, além do próprio Freud, apontou
formulação, “a psicanálise se constituiria melhor para esse rompimento quando
efetivamente como discurso científico, na
declara ser a psicanálise a terceira grande
medida em que produziu um objeto teórico
ferida narcísica sofrida pelo saber ocidental.
articulado de maneira coerente por um
O saber da ciência psicanalítica construiu um
método de investigações e por uma técnica”
objeto cujo vigor e cuja verdade estão
(ibid., p. 27).
sustentados na subversão dos propósitos de

Althusser inscreve-se como epistemólogo da objetividade e controle que toda ciência


tradição francesa da filosofia da ciência, que advoga, e, por isso, exige revisão de cânones,
se inicia na década de trinta, com Gaston atraindo para si, dentro do campo científico,
Bachelar, de acordo com o texto de Joel toda a espécie de resistência.
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Sigmund Freud apresenta uma ciência em que se encontrava, aconselhando-o a


singular que propõe um sujeito também abandonar rapidamente a carreira teórica
singular, único, e que exige algo para além desenvolvida no laboratório e ingressar na
da evidência sistemática, a qual explica Medicina.
coisas que o ser humano faz e sente por
meio de especulações que podem parecer No verão de 1922, Freud escreveu, para uma
estranhas à maioria. A psicanálise raciocina enciclopédia, dois verbetes: “Psicanálise” e
para além da ciência dita normal, o que não “Críticas e más interpretações da
significa um demérito a uma ou outra. psicanálise”. Ambos nos interessam,
Apontamos, sim, para a diferença, para o especialmente por apresentarem,
lugar que, segundo nossa avaliação, seria o didaticamente, os temas como requer uma
da psicanálise que, apoiada em outros escrita para tal fim.
fundamentos, estaria reivindicando uma
outra forma de prova científica diferente Em “Críticas e más interpretações da
daquela proposta pelas ciências do século psicanálise”, Freud discute que a maioria do
XIX. que é apresentado contra a psicanálise,
mesmo em obras científicas, baseia-se em
Freud, sabemos, foi pesquisador de informações insuficientes que parecem “ser
laboratório e deixou-nos escrito, em seu determinadas por resistências emocionais”
artigo “Um estudo autobiográfico”, de 1924, (Freud, [1922] 1974, v. XVIII, p. 305).
um texto valioso para nosso argumento, Formaliza, ainda, sua posição de apresentar
revelando-se o entusiasmado pesquisador a psicanálise enquanto ciência, alegando
das ciências naturais que, sem dúvida, foi: tratar-se de um equívoco acusarem sua teoria
de “pansexualismo” e afirmando que ela não
Por fim, no laboratório de fisiologia de Ernst deriva de todas as ocorrências mentais da
Brücke, encontrei tranqüilidade e satisfação sexualidade nem remonta todas àquela.
plena - e também os homens que pude Salienta que a psicanálise jamais “sonhou”
respeitar e tornar como meus modelos, o tentar explicar tudo, e mesmo as neuroses
próprio grande Brücke e seus assistentes, não têm sua origem somente na sexualidade,
Sigmund Exner e Ernst von Marxow. Com
mas também no “conflito entre os impulsos
Brücke, um homem brilhante, tive o 1
sexuais e o ego” (Freud, [1922] 1974, v.
privilégio de manter relações de amizade
XVIII, p. 306).
(Freud, [1925-1926] 1976, v. XX, p. 20).
1 Esse verbete de 1922 é
escrito antes de Freud Ao defender a ciência psicanalítica da
remoldar suas opiniões Nesse mesmo texto, Freud nos revela que acusação de unilateralidade, acusação
sobre a estrutura da mente
proposta em o “Ego e o Id”, os vários ramos da Medicina propriamente advinda a partir de sua apresentação de ser
de 1923, embora já possam
ser claramente observadas dita não exerciam qualquer fascínio sobre a “ciência da mente inconsciente” (ibid., p.
as articulações com esse
te xto. No Congresso
ele, o que acaba por fazê-Io negligenciar 305) e que, por isso, tem seu campo de
Psicanalítico Internacional,
em Berlim, em setembro de
seus estudos médicos e manter-se no trabalho definido e restrito, replica que tal
1922, é mencionado que, laboratório por mais tempo. Brücke, seu argumento lhe é “tão injusto quanto seria se
nesse verbete, Freud torna
públicas as concepções de estimado mestre, em 1882, chama-lhe a houvesse sido feita tal acusação à química”
ego, superego e id, que
acabara de formular. atenção sobre a precária condição financeira (ibid.).

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Em 1915, Freud apresenta uma exposição existem pequenas economias’. Não há ciência
completa e sistemática de suas teorias do homem porque o homem da ciência não
psicológicas quinze anos após haver existe, mas apenas seu sujeito” (Lacan, 1998,
apresentado um relato ampliado desses p. 873).
conceitos no sétimo capítulo de A
Interpretação dos Sonhos, que, de certa Falar em psicanálise é, também, falar em
forma, incorpora o que ele já teria proposto processo, em interação e em
em seu “Projeto para uma Psicologia desprendimento ao se tentar alcançar a
Científica”. verdade em realidades fixas e imutáveis. É
abrir mão do tempo vigente, cronológico, é
Os cinco artigos meta-psicológicos, propor trabalhar em uma dimensão de
apresentados entre 1915 e 1917, formam tempo em que um sujeito se estrutura, se
uma série interligada, cuja intenção, segundo cria, se inventa, e que, por isso, é um tempo
o editor, é proporcionar um fundamento singular, inaplicável a outro, é um tempo que
teórico estável à psicanálise. No primeiro só tem lógica se considerado na dimensão
artigo, “Os instintos e suas vicissitudes”, Freud da lógica da estrutura do sujeito em questão
inicia sua argumentação assinalando que, com na psicanálise, o sujeito do inconsciente.
freqüência, ouvimos a afirmação de que as
ciências devem ser estruturadas em conceitos Lacan, em 1964, em seu Seminário 11, os
básicos claros e bem definidos. Todavia, quatro Conceitos Fundamentais da
nenhuma ciência, nem mesmo a mais exata, Psicanálise, nos adverte que o Inconsciente
começa com tais definições. Ressalta, ainda, é “algo de não nascido, de não realizado,
que o primeiro objetivo de uma atividade que fica em espera na área... não é nem ser
científica, que consiste na descrição do nem não ser” (Lacan, 1964, p. 29).
fenômeno, não poderá evitar que nele se
apliquem certas idéias abstratas, isto é, como
Verificamos a insistência de Lacan em
diz textualmente, “idéias vindas daqui e dali”
destacar o que para nós consiste na grande
(Freud, [1915] 1974, v. XVI, p. 137).
ruptura entre as ciências em geral e a
psicanálise, ou seja, a natureza de seu objeto,
Nesse artigo, Freud nos revela a forma como
compreendia o trabalho da ciência, o inconsciente. Ao afirmar que, para os

assinalando que o avanço do conhecimento pensamentos inconscientes, existe uma mera


não tolera qualquer rigidez, inclusive em se possibilidade de existência, Freud propõe um
tratando de definições. Sabia, desde sempre, “conceito” de inconsciente que aponta mais
que contaria com o repúdio e a resistência para a desconstrução de uma idéia do que
às suas idéias, pois, afinal, seria esse o destino propriamente para um indicativo conceitual,
inexorável da ciência que inventou. desde os primórdios da psicanálise,
exatamente entre os anos de 1893-1895, em
Com Lacan seu artigo “Sobre a psicoterapia da histeria”.
Indagamo-nos: como algo que se apresenta
“Não há ciência do homem, o que nos como “nem ser, nem não ser”, “não
convém entender no mesmo tom do ‘não realizado”, para o qual só existe a “mera
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Psicanálise e Ciência

possibilidade de existência”, que só pode ser Bois-Reymond se haviam comprometido,


verificado e conhecido diretamente pela via isto é, o de “introduzir a fisiologia e as
da interpretação e que só se manifesta pela funções do pensamento, consideradas como
via de um sintoma e no sonho, no ato que incluídas neles, em termos matematicamente
falha e no chiste pôde vir a se constituir determinados da termodinâmica” (ibid., p.
como “algo” que anseia pertencer a uma 870).
categoria científica?
Freud teria, de acordo com Lacan, se
Lacan, na sua lição “O objeto da conservado nesse ideário, permitindo-se
psicanálise”, publicada em seus Escritos sob conduzir por esse fio, estando sempre de
o título “A ciência e a verdade”, declara que acordo com ele, tendo -se mantido
o sujeito sobre o qual operamos em rigorosamente comprometido com os ideais
psicanálise só pode ser o sujeito da ciência, cientificistas de sua época, pois, como os
perguntando-se se o status de sujeito na grandes cientistas de seu tempo, foi um
psicanálise já fora fundamentado, uma vez partidário da crença de que a ciência tudo
que o que se pôde estabelecer foi “uma poderia explicar.
estrutura que dá conta do estado de fenda,
de ‘Spaltung’ em que o psicanalista o situa Refletimos, por meio dessas verificações
em sua práxis” (Lacan, [1965-1966] 1998, possíveis com a leitura de “A ciência e a
p. 869). Tal fenda é admitida na base em verdade”, que talvez a publicação de A
que o reconhecimento do inconsciente basta Interpretação dos Sonhos, em 1900, não
para motivá-Ia na medida em que ela é que tenha sido obra do acaso ou de um atraso:
o faz submergir em sua constante tentativa Freud já estava com o livro pronto em
de manifestar-se. meados de 1899 e só autorizou sua
publicação na virada do século, marcando
Lacan refere-se a essa origem indubitável, para nós a virada que a sua ciência apresenta
patente em todo trabalho de Freud com a ao mundo. Nessa obra, propõe o “seu”

ciência moderna organizada no século XVIII, inconsciente, propositalmente aqui escrito


entre aspas, na medida em que é um “seu”,
que ilumina e é iluminada pelo pensamento
proposto amplamente, visto que se distingue
de René Descartes.
do inconsciente da Filosofia, e também é
“seu” por ter-se permitido invadir, expondo-
Freud, ao contrário do que se diz, não teria
se, revelando ao mundo os seus sonhos, o
rompido com o cientificismo de seu tempo,
seu próprio inconsciente.
pois lhe foi fiel, e, se quisermos, como nos
indica Lacan, vincularemos tal fidelidade aos
As conferências e entrevistas que foram
ideais de um Brücke, aquele grande cientista
proferidas por Lacan, entre os meses de
que tanto o teria impressionado. novembro e dezembro de 1975, em
universidades norte-americanas, são aqui
Lacan assinala, ainda, a fidelidade de Freud convocadas por terem oferecido uma
aos princípios de sua época, transmitidos medida de como ele próprio considerava o
através do pacto com que Helmholtz e Du termo ciência aplicado à psicanálise.
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Entrevistado por Mme lurkell sobre a forma ciência, que é sempre o objeto da realidade
como ele articularia a idéia de que a empírica e não da realidade psíquica
psicanálise aspira ao status de ciência com o (fantasia) e que é, além disto, passivo diante
que ele já se teria referido como epidemia, do desejo do experimentador. O saber do
um fenômeno social, Lacan responde que inconsciente, cada analista obtém às suas
uma epidemia não é um fenômeno social, próprias custas no divã durante a análise à
pelo menos no caso da ciência, e que uma qual se submete como sujeito. É, portanto,
epidemia científica acontece quando alguma um saber que envolve uma “práxis” e que
coisa é tomada como uma simples não se transmite apenas pela via do
emergência, enquanto é, de fato, uma conhecimento, mas, sobretudo, pela
ruptura radical. É um acontecimento experiência.
histórico que se propagou e que influenciou
muito a concepção daquilo que se chama Lacan não é tão preciso ao falar do discurso
universo, que, em si mesma, tem uma base da ciência. Como a maioria dos pensadores,
muito estreita, salvo no imaginário. atribui o advento da ciência moderna a
Descartes, que promoveu a separação entre
A psicanálise é, então, apresentada por Lacan o campo da ciência e o da religião. No
como uma epidemia científica, visto que se Seminário XI, Lacan nos diz:
propaga e abre novas concepções sobre
aquilo que se chama universo. É uma ciência “O que procura Descartes? é a certeza.
moderna na medida em que, com a Tenho, diz ele, extremo desejo de distinguir
modernidade, esteve sempre comprometida. o verdadeiro do falso - sublinhem desejo para
ver claro - no que? - em minhas ações e
Segundo Lacan, a descoberta de Freud caminhar com segurança nesta vida” (Lacan,
inaugura um discurso inédito, uma nova [1964] 1979, p. 210).
modalidade de laço social, a partir da qual
podemos pensar retroativamente as outras Ele chama a atenção para o fato de que
modalidades já existentes desde sempre na Descartes propõe o seu método – a dúvida
civilização (Lacan, 1970/1992). metódica – como um método próprio, que
serve para ele e que ele não impinge aos
No discurso do analista, o sujeito é o sujeito outros. Seria nesse ponto que Descartes
do desejo dividido pelo recalque e pelo encontraria um novo caminho: ele não visa
sintoma. É o mesmo sujeito da ciência, à refutação dos «saberes incertos» (ibid., p.
movido pelo desejo de saber, porém sua 211). Ele abre seu caminho pela via do
posição discursiva não é a de agente (como desejo, desejo de certeza. É a partir do desejo
pode ser no discurso da ciência). que ele chega à dúvida. Segundo Lacan, para
Descartes, «a certeza não é [...] um momento
De acordo com o discurso do analista, o que se possa ter como assentado, uma vez
objeto é ativo, é o próprio analista, movido que foi atravessado. É uma ascese» (ibid., p.
em seu ato pelo saber do inconsciente. 212). Com seu método, ele põe em
Difere pois, radicalmente, do objeto da suspensão radical todos os saberes, mas para
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colocá-Ios no nível do 1234
sujeito suposto saber,
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complementa Descartes na medida em que
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Deus. 1234
1234 introduz a idéia de que o pensamento está
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1234 encarnado” (ibid., p. 73).
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No entanto, ao evocar1234Deus nesse lugar de
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saber, Descartes inaugura,
1234 ao mesmo tempo, Em “A ciência e a verdade”, verifica-se, de
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uma ciência “com a qual1234 Deus nada tem a
1234 acordo com a análise feita por Askafaré, que
1234
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ver” (ibid., p. 214). A1234
Deus pertencem as
1234 o objetivo de Lacan é apontar que a
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verdades eternas, mas 1234cabe ao homem
1234 psicanálise e determinadas disciplinas têm
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percorrer os caminhos1234que o levem a sua
1234 em comum o fato de que sua submissão às
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verdade. 1234
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1234 exigências das ciências físicas é simplesmente
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1234 suicida. Freud, por ter partido da necessidade
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Lacan ora nos diz que1234
o discurso da ciência
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1234 imperiosa de justificar racionalmente uma
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apaga o sujeito na medida
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1234 em que não leva prática clínica original, distancia-se de Lacan,
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em conta o inconsciente1234
1234 e o desejo, o que
1234 uma vez que se teria engajado na construção
1234
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se aproximaria do discurso
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1234 do mestre, no de um sistema orgânico de conceitos que lhe
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1234 ora nos diz que o
qual o sujeito está oculto,
1234
1234 permitiram fundar a ciência psicanalítica e
1234
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discurso da ciência se 1234
aproxima do discurso
1234 constituir o seu campo de saber naquilo que
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da histérica, no qual 1234
o agente é o próprio
1234 tornou possível avaliar o sentido e o alcance
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sujeito do desejo. 1234
1234 de sua descoberta.
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A questão não é simples, pois, como observa “A ciência permanece sendo um ideal e a
Marco Antonio Coutinho Jorge (2002), cientificidade da psicanálise um projeto, o
Lacan deixou em aberto a possibilidade de programa freudiano” (Askafaré, 2002).
formularmos outros discursos para além dos Askafaré concebe o ponto de distanciamento
quatro que apresentou. O importante para entre Freud e Lacan na medida em que,
nossa pesquisa é que, ao separar o campo neste último, pode ser identificada uma
do saber da psicanálise do campo da ciência, destituição do ideal da ciência, ou, melhor
Lacan abriu novas perspectivas para a dizendo, destituição da ciência como ideal
investigação psicanalítica. da psicanálise.

Segundo Colette Soler (1996, p. 73), o Freud, mesmo nos revelando sua consciência
correlato do sujeito cartesiano é a elisão do sobre a impossibilidade de seu projeto ser
corpo na teoria de Descartes. Por isso, autorizado como um saber ideal, ou seja,
quando Descartes tenta pensar todo o científico, luta contra o que seria o destino
registro do afeto e das paixões, defronta-se inexorável do conhecimento que propôs ao
com uma dificuldade teórica. O corpo mundo: provocar resistências, subverter
elidido é o corpo da sensibilidade, do saberes, viver sob o anátema da maioria
sofrimento, do gozo. “Freud, portanto, compacta.

PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2005, 25 (1), 57-68


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Regina Coeli Aguiar Castelo Prudente & Maria Anita Carneiro Ribeiro PSICOLOGIA CIÊNCIA E
PROFISSÃO, 2005, 25 (1), 58-69

Regina Coeli Aguiar Castelo Prudente


Mestre em Psicologia, é Professora
Titular de História da Psicologia no
Centro de Ensino Superior de Juiz de
Fora e Maria

Maria Anita
Carneiro Ribeiro
Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-
RJ e Pós-Doutora pela PUC-RJ, é
Coordenadora da Especialização em
Psicologia Clínica da PUC-RJ

Av. Barão do Rio Branco, 1.727


Centro - 36013 - Juiz de Fora-MG
Telefone: (32) 3215-3319
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Recebido 27/08/03 Aprovado 24/02/05

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