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30/07/2019 Unidade 2 - Intervenções Clínicas em Saúde Indígena

►Tema
1
►Tema
2
►Tema
3
► Tema 1: Conversando sobre o Ciclo de Vida e o trabalho em saúde
►Tema no contexto intercultural
4
►Menu
da
unidade Prezado Estudante!
Seja bem-vindo à unidade de intervenções clínicas em saúde
indígena. Para começar, convidamos você a assistir aos vídeos
(Parte I e Parte II) sobre o ciclo de vida em saúde indígena e o
trabalho em contextos interculturais.

Ciclo Vital em Saúde Indígena | Parte 1

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Ciclo Vital em Saúde Indígena | Parte 2

►Tema
1
►Tema Agora que você assistiu ao vídeo, clique no botão a seguir para
2 realizar a atividade.
►Tema
3
►Tema
4
►Menu
da (https://moodle.unasus.unifesp.br/mod/quiz/view.php?id=475)
unidade
 

► Tema 2 - Modelo assistencial de saúde no contexto intercultural:


uma convergência de olhares
Autores: Marcos Schaper, Douglas Rodrigues, Raquel Pacagnela e Lavínia Oliveira

 
Introdução
 
Somos madeira que apanhou chuva. Agora não
acendemos nem damos sombra. Temos que secar à
luz de um sol que ainda há. E esse sol só pode nascer
dentro de nós.
O último voo do amingo - Mia Couto
 
Prezado Estudante!
Como vimos anteriormente, a Atenção Básica à Saúde (ABS)
no Brasil é norteada pelos princípios do SUS de acesso
universal, equidade, integralidade e participação social.
Con gura-se assim como um dispositivo estratégico da
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g p
Unidade 2 - Intervenções Clínicas em Saúde Indígena
g
atenção integral à saúde, que deve necessariamente estar
articulado ao sistema nacional de saúde. Agora vamos
conhecer como a ABS é praticada em diferentes contextos,
sendo múltiplos os fazeres que constituem os diversos
modelos assistenciais em saúde.
Vamos Lá!
 
O que são Modelos Assistenciais em Saúde?
O modelo assistencial diz respeito ao modo como são
organizados e combinados os saberes e instrumentos
utilizados nas práticas ou processos de trabalho em saúde,
capazes de intervir nos problemas de saúde individuais e
►Tema coletivos. Não constitui uma forma de organizar serviços de
1
saúde e nem uma maneira de administrar o sistema ou os
►Tema serviços de saúde (PAIM, 2002, 2003). São relações entre as
2 pessoas, seus saberes e fazeres, e as tecnologias envolvidas no
►Tema
trabalho. Um modelo assistencial não pode ser confundido
3 com um padrão, trata-se de uma escolha, que é construída em
um determinado espaço de trabalho a partir de uma referência
►Tema teórica e prática.
4
A opção por determinado modelo de atenção deve partir da
►Menu identi cação e análise dos problemas de saúde da população
da
unidade bem como de seus determinantes, buscando garantir
efetividade e equidade.
Isto exige de nós, pro ssionais que atuamos no contexto da
saúde indígena, uma reformulação dos modelos assistenciais
construídos a partir da atenção focada na doença e no
indivíduo doente, pois enquanto a biomedicina limita os
conhecimentos sobre doença e cura aos processos biológicos,
a medicina tradicional indígena tem outra compreensão.

o signi cado da doença (nas sociedades indígenas)


é construído através da lógica etiológica, e esta
estende a procura das causas para além do corpo
físico, deslocando o signi cado da doença do
plano biológico para os contextos cosmológicos,
sociais e morais. (LANGDON, 2005).

Podemos citar os programas de saúde, tais como os


preconizados pelo Ministério e Secretarias de Saúde, como
ferramentas de intervenção embutidas nos modelos
assistenciais vigentes a serem aplicadas de forma vertical e
uniformizante nos DSEIs de todo o país, em diferentes
contextos interculturais?
 
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Re ita sobre o quanto os programas de saúde


existentes conseguem enfrentar os problemas de
saúde identi cados na sua realidade de trabalho.
Pense se a identi cação dos problemas de saúde e
seus determinantes, a partir do paradigma da
biomedicina, é su ciente para o enfrentamento
dos problemas especí cos da população onde
você trabalha.

Estas perguntas devem nos acompanhar quando pensamos um


modelo de atenção/intervenção em saúde indígena. Em nossa
experiência, trazer um programa de saúde elaborado
►Tema verticalmente, sem a necessária sensibilidade cultural, sem o
1 olhar da especi cidade, é o caminho mais curto para uma ação
de enfrentamento não ter sucesso.
►Tema
2  
►Tema
3  
►Tema  
4
Figura 1 - Encontro de
►Menu mulheres: um espaço
da
unidade de diálogo
intercultural na busca
de entendimento e de
estratégias de
enfrentamento dos
problemas de saúde
dos xinguanos.
 
 
 

 
Os Modelos Assistenciais no Brasil
 
A história das políticas de saúde e dos modelos de atenção
permite distinguir diversas formas de atuar da saúde pública.
Dentre elas, destacam-se: as campanhas sanitárias da
Primeira República; o modelo médico-assistencial privatista,
com o desenvolvimento da medicina previdenciária nas
décadas de 1950 e 1960; e os programas especiais, vigilância
epidemiológica e vigilância sanitária, que se instauram diante
da crise sanitária dos anos 70 do século passado (PAIM, 2003).
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Como vimos na disciplina de políticas e organização dos


serviços de saúde indígena, o modelo hegemônico no Brasil
sempre foi centrado na doença e nos estabelecimentos de
saúde (hospitais, unidades de saúde, consultórios médicos e
nos serviços de apoio diagnóstico) do modelo médico-
assistencial privatista, que tem suas origens na assistência
lantrópica e na medicina liberal. Valoriza a tecnologia e a
assistência médica individual, ordenada pela "demanda
espontânea" de cada cidadão, disputando espaços e recursos
com ações de saúde coletiva com inspirações sanitaristas,
como campanhas, programas de saúde e vigilância
epidemiológica.
A prática clínica desse modelo é baseada no paradigma da
►Tema Medicina Cientí ca ou Biomedicina, voltado para assistência
1 da doença em seus aspectos individuais e biológicos, centrado
no pro ssional médico.
►Tema
2 O conhecimento cientí co nasceu da prática e dela
►Tema se distanciou, numa visão reducionista da saúde.
3 Destacam-se os aspectos biológicos e as ações
►Tema concentram-se no indivíduo, que é cada vez mais
4 fragmentado frente a especialização extrema,
►Menu perdendo o olhar sobre o todo (Mendonça, 2009)."
da
unidade
Você assistiu ao vídeo inicial sobre História das
Políticas de Saúde no Brasil? Seria interessante
assisti-lo novamente (ou pela primeira vez),
pensando agora como as políticas de saúde,
interesses econômicos e movimentos sociais
determinam os modelos assistenciais.

A partir da crise do modelo médico-assistencial privatista


(de agrada por sua pouca efetividade, alto custo, iniquidade e
pelo reconhecimento da saúde como um direito de cidadania e
dever do Estado, que culminou com a criação do SUS em
1988), cou evidente a necessidade de proposição e utilização
de novos modelos assistenciais, alternativos ao modelo
hegemônico, que incorporassem métodos, técnicas e
instrumentos provindos da epidemiologia, do planejamento e
das ciências sociais.
No início da década de 90 iniciam-se propostas de
reorientação do modelo assistencial na direção do
atendimento universal, de forma integral e e caz. Tem início
um período em que a saúde passa a ser tratada, do ponto de
vista da política o cial, não mais como resultado de uma
intervenção especializada e isolada sobre fatores de risco
biomédicos, mas como produto social, resultante de fatores
econômicos, políticos, culturais e ideológicos. Propostas como
o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e o
Programa de Saúde da Família (PSF) são dessa fase. Alguns

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modelos alternativos avançaram nessa concepção. São


exemplos a Vigilância da Saúde, Cidades Saudáveis,
Programação em Saúde e a Defesa da Vida (COELHO, 2008).

Saiba Mais (Clique)

 
O caso do DSEI-Xingu
 
O modelo de atenção à saúde que vem se consolidando no
►Tema Parque Indígena do Xingu (PIX) é produto de uma longa
1
caminhada e da participação de diferentes atores, que busca
►Tema dar respostas aos principais agravos resultantes do processo
2 histórico e social do contato entre índios e colonizadores,
►Tema priorizando ações intersetoriais e o envolvimento crescente
3 da população xinguana. É norteado para a construção de um
novo diálogo intercultural que valoriza a cidadania, em
►Tema contraste às relações historicamente marcadas pelo
4
paternalismo e dependência. Utiliza tecnologias leves, como é
►Menu denominada a relação que se estabelece entre um trabalhador
da de saúde e uma pessoa usuária do serviço, levando a uma
unidade
abordagem assistencial. Quando falamos em tecnologias leves
estamos falando do encontro de duas pessoas, e leveduras
como protocolos assistenciais padronizados, programas de
saúde voltados para as doenças prevalentes ou para grupos de
risco, a vigilância da saúde e o apoio matricial à equipe local.
Frente a eventuais con itos entre os enfoques clínicos e
causais da biomedicina e a medicina tradicional, a postura dos
pro ssionais é sempre a da negociação e nunca uma postura
de imposição da visão biomédica sobre o entendimento
tradicional do processo de adoecimento e cura.

A Vigilância da Saúde, todavia, propõe a


incorporação de novos sujeitos, extrapolando o
conjunto de pro ssionais e trabalhadores de
saúde ao envolver a população organizada, o que
corresponde à ampliação do objeto, que abarca,
além das determinações clínico-epidemiológicas
no âmbito individual e coletivo, as determinações
sociais que afetam os distintos grupos
populacionais em função de suas condições de
vida. Nessa perspectiva, a intervenção também
extrapola o uso dos conhecimentos e tecnologias
médico-sanitárias e inclui tecnologias de
comunicação social que estimulam a mobilização,
organização e atuação dos diversos grupos na
promoção e na defesa das condições de vida e
saúde.
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A proposta de Vigilância da Saúde transcende os


espaços institucionalizados do sistema de serviços
de saúde e se expande a outros setores e órgãos
de ação governamental e não governamental,
envolvendo uma trama complexa de entidades
representativas dos interesses de diversos grupos
sociais.
Em síntese, a Vigilância da Saúde apresenta sete
características básicas:
a) Intervenção sobre problemas de saúde (danos,
riscos e/ou determinantes);
b) Ênfase em problemas que requerem atenção e
acompanhamento contínuos;
►Tema c) Operacionalização do conceito de risco;
1
d) Articulação entre ações promocionais,
►Tema preventivas e curativas;
2 e) Atuação intersetorial;
►Tema
f) Ações sobre o território;
3 g) Intervenção sob a forma de operações.
►Tema (TEIXEIRA; PAIM; VILASBÔAS, 1998)
4
►Menu  
da
unidade
Re ita se o que é considerado problema de saúde
para nós também é visto como problema de saúde
para os índios. Após sua re exão, pense em como
poderia ser feito o levantamento e a priorização
de problemas.

Em nossa experiência, tal levantamento é realizado junto com


as comunidades e as ações de prevenção e intervenção sobre
esses problemas são organizadas de acordo com a
complexidade de cada caso e a realidade local. São formuladas
de maneira coletiva, buscando o envolvimento de vários
segmentos sociais – mulheres, agentes indígenas de saúde,
auxiliares de enfermagem indígenas, lideranças, professores,
pro ssionais da medicina tradicional e conselheiros.
Prevalecem sistemas distintos de etiologia, prevenção e cura
de doenças, existindo uma grande preocupação tanto dos
índios quanto da equipe de saúde em manter o diálogo
intercultural como forma de melhor compreender as
necessidades de saúde dos xinguanos.
Não há fórmula pronta. O que funciona bem no Xingu pode
não ser o mais adequado para outras con gurações de
território e de diferentes relações de contato com a nossa
sociedade. O importante é ousar, enfrentar as limitações das
propostas verticais e uniformizantes, reconhecer as limitações
do modelo biomédico e da centralização das práticas nos
médicos e nos estabelecimentos de saúde. Juntamente com os
usuários indígenas, é possível construir, processualmente, o
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modelo de atenção mais adequado a cada situação, num


esforço sistemático para reformular a prática atual, ainda
fortemente impregnada pelo modelo biomédico dominante.
Alguns caminhos aqui apontados, como o trabalho em equipe,
a interdisciplinaridade, a coordenação do cuidado, o
acolhimento, integralidade, a atenção centrada na pessoa, a
clínica ampliada e o apoio matricial são fundamentais nessa
tarefa.
Segundo Merhy (2004), quanto maior a composição das caixas
de ferramentas (entendida como o conjunto de saberes que se
dispõe para a ação de produção dos atos de saúde) utilizadas
para a conformação do cuidado pelos trabalhadores de saúde,
individualmente ou em equipes, maior será a possibilidade de
►Tema
se compreender o problema de saúde enfrentado e maior a
1 capacidade de enfrentá-lo de modo adequado, tanto para o
usuário do serviço quanto para a própria composição dos
►Tema processos de trabalho. O cuidado produzido terá como
2 resultado uma maior defesa da vida do usuário, maior controle
►Tema dos seus riscos de adoecer ou agravar seu problema e
3 desenvolvimento de ações que permitam a produção de um
maior grau de autonomia da relação do usuário no seu modo
►Tema
4 de estar no mundo.
►Menu
Na construção do modelo de atenção devemos nos preocupar
da fundamentalmente com a lógica da produção social da saúde,
unidade que deve ser centrada no enfoque ao sujeito social, nas
famílias e comunidades, visando enfrentar de forma mais
efetiva a complexidade do trabalho na saúde indígena,
caracterizada pela heterogeneidade cultural e pelas diferentes
relações de contato dos povos indígenas com a sociedade não
indígena. Somam-se a isso as di culdades logísticas, a
dispersão territorial da população e a alta rotatividade das
equipes de saúde. Não existe doença, mas sim adoecimento. A
atenção deve ser centrada nas pessoas e nas comunidades.
Con itos entre as visões do processo de adoecimento e cura
existentes entre equipes e comunidades e as di culdades para
o trabalho interdisciplinar, entre outras, demandam um
desenho no qual o trabalho dos diferentes pro ssionais da
equipe multidisciplinar de saúde se misturam e são
reconstruídos. En m, pode-se pensar em construir um modelo
pautado na incorporação de preceitos e ferramentas de vários
outros existentes, pois há mais convergências do que
divergências nesse campo.

Dentro de uma mesma lógica de organização dos


serviços de saúde podem ser desenvolvidas
diferentes formas, com diferentes lógicas de
prestação de serviços de saúde.

A construção do modelo de atenção diferenciada à saúde


indígena pode beber da lógica da vigilância à saúde, das ações
programáticas e de movimentos como a humanização e as
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redes de cuidado, tendo como argamassa a produção do


cuidado e um grande compromisso com a defesa da vida dos
indígenas.
 
Saiba Mais (Clique)

Agora que você já percorreu a trilha de aprendizagem pensada


para essa unidade, convidamos você a responder a um
questionário de múltipla escolha para sedimentar o
conhecimento construído nesse percurso.

►Tema
1
►Tema
2 (https://moodle.unasus.unifesp.br/mod/quiz/view.php?
►Tema id=476)
3
►Tema
4
►Menu
da  
unidade
Referências
 
CAMPOS, G. W. S; DOMITTI, A. C. Apoio matricial e equipe de
referência: uma metodologia para gestão do trabalho
interdisciplinar em saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro,
n. 23(2), p. 399-407, 2007.
COELHO, I. B. Formas de Pensar e Organizar o Sistema de
Saúde: Os modelos assistenciais em saúde. In: CAMPOS, G. W.
S.; GUERRERO, A. V. P. (Orgs.). Manual de práticas de atenção
básica: saúde ampliada e compartilhada. São Paulo: Hucitec,
2008. p. 96-131.
LANGDON, E. J. Uma avaliação crítica da atenção diferenciada
e a colaboração entre a antropologia e pro ssionais de saúde.
In: LANGDON, E. J.; GARNELO, L. (Orgs.). Saúde dos povos
indígenas: re exões sobre antropologia participativa. Rio de
Janeiro, Editora Contra Capa Livraria; Associação Brasileira de
Antropologia, 2004. p. 33-51.
____________. Construção sociocultural da doença e seu desa o
para a prática médica. In: BARUZZI, R. G.; JUNQUEIRA, C.
(Orgs.). Parque Indígena do Xingu: Saúde, Cultura e História.
São Paulo: Terra Virgem, 2005. p.115-33.
MENDES, E. V. A evolução histórica da prática médica: suas
implicações no ensino, na pesquisa e na tecnologia médicas.
Belo Horizonte: PUC-MG; Finep, 1984.
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MENDONÇA, S. B. M. Re exões sobre a relação intercultural


no campo da saúde indígena: uma introdução.Curso de
Especialização em Saúde Indígena na Modalidade de a
Distância. UNIFESP, MEC, 2009.
MERHY, E. E. O ato de cuidar: a alma dos serviços de saúde. In:
Ver-SUS: cadernos de textos. Brasília: Ministério da Saúde,
2004. p. 73-92.
OLIVEIRA, L. S. S. Formação e inserção institucional de
agentes indígenas de saúde no sistema único de saúde: um
estudo de possibilidades. Tese de Doutorado, Faculdade de
Saúde Pública. Universidade de São Paulo, 2002.
►Tema PAIM, J. S. Saúde: política e reforma sanitária. Salvador:
1
Instituto de Saúde Coletiva, 2002.
►Tema ____________Vigilância à Saúde: tendência de reorientação de
2
modelos assistenciais para a promoção da saúde. In:
►Tema CZERESNIA, D. (Org.) Promoção da Saúde: conceitos,
3
re exões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. p.161-74.
►Tema
4 SILVA JR., A. G. S. Modelos tecnoassistenciais em saúde: o
debate no campo da saúde coletiva. 2. Ed. São Paulo: Hucitec,
►Menu 2006.
da
unidade SILVA JR., A. G.; ALVES, C. A. Modelos Assistenciais em Saúde:
desa os e Perspectivas. In: MOROSINI, V. G. C.; CORBO, A. D.
A. (Orgs.). Modelos de atenção e Saúde da Família. Rio de
Janeiro: EPSJV; Fiocruz, 2007. (Educação Pro ssional e
Docência em Saúde: a formação e o trabalho do agente
comunitário de saúde).
TEIXEIRA, C. F.; PAIM, J. S.; VILASBÔAS, A. L. SUS, modelos
assistenciais e vigilância da saúde. IESUS. v. VII(2), abr-jun.
1998.

► Tema 3 - Atenção Básica na Saúde Indígena: Mudando para


Reconstruir
Autores: Marcos Schaper, Douglas Rodrigues, Raquel Pacagnela, Renata Fregonezi e Lavínia Oliveira

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Introdução
 
O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito do
mundo é isto: que as pessoas não estão sempre
iguais, ainda não foram terminadas – mas elas vão
sempre mudando. A nam ou desa nam. Verdade
maior. É o que a vida me ensinou. Isso me alegra,
montão.
Grande Sertão: Veredas
Guimarães Rosa
 
Prezado Estudante,
►Tema Ao longo desse texto você verá as características da Atenção
1 Primária em Saúde que devem ser valorizadas na prática da
►Tema Atenção Básica da Saúde Indígena.
2 A palavra-chave que traduz o foco desse material é
►Tema Reconstrução.
3
Por isso, vamos re etir sobre a reconstrução do processo de
►Tema trabalho da atenção básica, das práticas e, principalmente, das
4 relações entre as pessoas, pois é comum que os discursos dos
►Menu
pro ssionais de saúde apontem as di culdades e a
da impossibilidade de mudanças. Propomos aqui um
unidade protagonismo destes pro ssionais na construção de um
modelo de atenção aos povos indígenas que tenha, como
ponto de partida, um profundo compromisso com a defesa da
vida dos sujeitos que cuidamos.
Vamos começar?
 
A ideia inicial é ampliarmos a nossa visão sobre os
determinantes dos problemas de saúde e discutirmos uma
prática clínica ampliada (Campos et al., 2008) e possibilidades
de sua implementação no dia a dia dos serviços de saúde
indígena.
Segundo Merhy (2003), um dos principais empecilhos para o
desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS) tem sido o
nosso não posicionamento, enquanto trabalhadores de saúde,
como sujeitos políticos da construção deste Sistema como
política pública de saúde. O nosso espaço de mudança é o do
processo de trabalho. É fundamental que nos transformemos
em agentes e sujeitos deste processo tendo como principal
ferramenta o compromisso com a defesa da vida do usuário.
 

Figura 2 - Os serviços de saúde na Atenção Básica à Saúde


estão próximos aos locais onde as pessoas vivem;
acontecem os determinantes das condições de saúde e do
processo de saúde doença; e se expressam a singularidade
dos sujeitos.
Foto: Marcos Schaper

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Não há soluções
universais ou gerais,
mas sim desenhos
especí cos para cada
problema ou grupo de
problemas, pois as
realidades locais, a
importância que cada
sociedade dá aos agravos, não é necessariamente equivalente.
►Tema A percepção que nós, técnicos, temos de determinado
1
problema é a mesma da comunidade indígena com a qual
►Tema trabalhamos?
2
A busca da efetividade exige a diversi cação de estratégias e
►Tema ações, assim como diferentes combinações de saberes,
3 tecnologias e padrões de organização de serviço. Diante da
►Tema necessidade da construção de novas práticas em saúde, o
4 espaço da Atenção Primária à Saúde (APS) tem se constituído
em um local privilegiado para a construção de estratégias de
►Menu enfrentamento dos velhos e novos problemas de saúde da
da
unidade população e criação de novos modos de produção de saúde
(MASSUDA, 2008). É neste contexto que propomos a
discussão da especi cidade da saúde indígena dentro do SUS.
 

 
A Atenção Básica à Saúde e o contexto intercultural da
saúde indígena
 
O subsistema de saúde indígena, que integra o SUS, é
constituído por uma rede de serviços de saúde que tem como
missão a prestação de cuidados de atenção básica (atenção
primária) em saúde. A seguir, faremos algumas re exões
acerca da APS, denominada, no arcabouço constitutivo do
SUS, como Atenção Básica à Saúde (ABS).
 
Saiba Mais (Clique)

A concepção de APS surgiu no Reino Unido, em 1920, no


Relatório Dawson (Lord Dawson of Penn, 1920), que
preconizou a organização do sistema de serviços de saúde em
três níveis: os centros primários de atenção à saúde, os
centros secundários de atenção à saúde e os hospitais de
ensino (MENDES, 2002).
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A catalogação da APS como doutrina universal ganhou força


na Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de
Saúde, realizada em Alma-Ata, Cazaquistão, em 1978. Essa
conferência de niu como elementos essenciais da atenção
primária à saúde a educação sanitária, o saneamento básico, a
atenção materno-infantil (incluindo imunização e
planejamento familiar), a prevenção de endemias, o
tratamento apropriado das doenças e danos mais comuns, a
provisão de medicamentos essenciais, a promoção de
alimentação saudável e a valorização da medicina tradicional
(STARFIELD, 2002).

►Tema A de nição de APS formulada pela Organização


1 Mundial da Saúde é uma das mais abrangentes: "A
atenção essencial à saúde, baseada em métodos
►Tema práticos, cienti camente evidentes e socialmente
2
aceitos e em tecnologias tornadas acessíveis a
►Tema indivíduos e famílias na comunidade por meios
3 aceitáveis e a um custo que as comunidades e os
►Tema
países possam suportar, independentemente de
4 seu estágio de desenvolvimento, num espírito de
autocon ança e autodeterminação. Ela forma
►Menu parte integral do sistema de serviços de saúde do
da qual representa sua função central e o principal
unidade
foco de desenvolvimento econômico e social da
comunidade. Constitui o primeiro contato de
indivíduos, famílias e comunidades com o sistema
nacional de saúde, trazendo os serviços de saúde o
mais próximo possível aos lugares de vida e
trabalho das pessoas e constitui o primeiro
elemento de um processo contínuo de atenção
[grifo nosso]" (WHO, 1978).

Para atingir seus objetivos, a ABS deve enfocar a saúde das


pessoas na constelação dos outros determinantes de saúde,
ou seja, no meio físico e social no qual as pessoas vivem e
trabalham, em vez de enfocar apenas sua enfermidade
individual. Igualmente, deve resolver 80% dos problemas de
saúde da população (WHO, 1978). Espera-se que, desta
porcentagem, apenas 3% a 5% dos problemas de saúde
necessitem de encaminhamento para serviços de maior
complexidade, o que pressupõe uma alta resolutividade dos
serviços de atenção básica.
Como podemos ver, a prática responsável da ABS é de grande
complexidade, ao contrário de denotações quanto ao sentido
do termo básico (primário), entendido muitas vezes como
mínimo ou primitivo. Na situação extrema em que a
interculturalidade presente no trabalho da saúde indígena nos
coloca, a ABS é um imenso desa o a ser vencido por nós,
pro ssionais de saúde, pelos gestores do SUS e pelos povos
indígenas.

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Dentre as características da ABS sistematizadas por Star eld


(2002), gostaríamos de destacar e valorizar, para a prática da
atenção à saúde no contexto intercultural:
. Acessibilidade: garantir acesso fácil aos serviços de saúde,
que elimine qualquer barreira geográ ca, administrativa,
cultural ou de linguagem. É fundamental desconstruirmos a
nossa formação baseada na visão da medicina cientí ca e
alargarmos o nosso olhar, ampliando o nosso referencial
sociocultural do processo saúde doença trazendo-o para a
nossa prática diária com as sociedades indígenas. Desenvolver
a escuta é fundamental. Como dizem os xinguanos: "ter
orelhas grandes".
►Tema . Coordenação do cuidado: capacidade de responsabilizar-se
1 pelo sujeito, mesmo quando este se encontra sob o cuidado de
►Tema
um serviço especializado, na rede de referência. Devemos
2 fazer isto coordenando os projetos terapêuticos e
compartilhando a responsabilidade com o serviço de
►Tema referência. Um exemplo é o que temos feito no Ambulatório
3 do Índio, do Hospital São Paulo/UNIFESP, dando uma
►Tema identidade, um nome para o pro ssional que atende o paciente
4 referenciado para o nosso serviço, através da identi cação,
telefone e e-mail do mesmo na contrarreferência, objetivando
►Menu
da facilitar o contato do pro ssional da ponta com o principal
unidade cuidador do ambulatório. Para minimizar os efeitos danosos
da di culdade de comunicação causados pela distância, além
da contrarreferência formal, entramos em contato com a
equipe de saúde local, por telefone ou e-mail, de modo a
compartilhar o cuidado e a responsabilidade pelo nosso
paciente.
. Integralidade: capacidade da equipe de atenção básica em
lidar com os problemas emergentes e as necessidades da
população adscrita, responsabilizando-se por todos,
independentemente de sua complexidade. Quando acaba a
nossa responsabilidade com o problema de saúde do sujeito
que estamos cuidando? Quando "encaminhamos" alguém para
outro serviço? Esta pergunta deve nortear o cuidar do nosso
paciente, e acreditamos que esta nossa responsabilidade só
acaba quando o problema está resolvido e a pessoa está de
volta e bem, dentro da concepção que ele, indivíduo, e a sua
comunidade consideram ¨estar bem¨.
A prática da integralidade no espaço intercultural faz ainda
com que seja necessária a relativização dos saberes da
biomedicina, sem desprezá-los. Em geral, o que ocorre é a
busca dos serviços de saúde para aliviar e tratar os sintomas e
ao mesmo tempo a procura de um especialista tradicional,
para explicação das causas e cura de nitiva. As abordagens
não são excludentes: elas devem ser complementares.
A continuidade implica na existência do aporte regular de
cuidados pela equipe de saúde e seu uso consistente ao longo
do tempo. Isto é conseguido pela adscrição da clientela às
equipes de saúde. A essência da continuidade do cuidado é o
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vínculo que deve ser estabelecido ao longo do tempo entre a


equipe de saúde, paciente, família e comunidade,
independentemente da presença de um problema de saúde.

Re ita sobre o processo de trabalho em seu DSEI,


tentando identi car a aplicação dos conceitos
acima na sua prática cotidiana.

A produção de saúde, entre outros conceitos, é


►Tema
aquilo que modi ca necessariamente a forma
1 como trabalhamos na saúde. É uma das linhas que
nos permite ampliar e modi car o trabalho na
►Tema saúde na medida em que não se trata apenas de
2 tratamento, reabilitação e prevenção, mas de
►Tema produção de possibilidades de vida. (...) Essa
3 produção de possibilidades de vida é o nó na rede
de saúde. Nó porque é justamente no âmbito da
►Tema
4 produção em saúde que o trabalho em saúde se
encontra com aquilo que difere. Ou seja, é na
►Menu produção de saúde que, como trabalhadores, nos
da deparamos com a diferença. Diferença de
unidade
histórias de vida, diferença de possibilidades de
vida. E a condição para pensar a diferença está na
dimensão imaterial do trabalho em saúde. É essa
dimensão que justi ca a existência do SUS e que
nos possibilita pensar no conceito que envolve o
trabalho na saúde: potência de vida. A potência de
vida é um termo forjado pela loso a, mas
fundamental para pensar o trabalho na saúde a
partir dos conceitos de trabalho afetivo,
integralidade e produção de saúde. Potência de
vida refere-se à ideia de que a vida é um
permanente reinventar-se. Ou seja, existe algo em
nós capaz de sempre criar novas formas de se
agregar, de criar sentidos, de inventar dispositivos
de valorização e autovalorização. Nas discussões
de Arendt (1989), "a tarefa e a grandeza potencial
dos mortais têm a ver com sua capacidade de
produzir coisas – obras e feitos e palavras"; nisso
reside a ideia de que os humanos não nascem para
morrer, mas para recomeçar" (BERNARDES;
PELLICCIOLI; GUARESCHI, 2010).

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A proposta da clínica ampliada na atenção básica para


populações indígenas: atendimento integral ao
indivíduo e à comunidade
 
A Clínica Ampliada propõe uma mudança nas práticas de
saúde. Sabemos que a excessiva ênfase no componente
orgânico do processo saúde doença faz com que,
frequentemente, o pro ssional imagine que o seu objeto de
trabalho seja a doença, e não as pessoas doentes. Os serviços
públicos de saúde têm grande di culdade em lidar com a
complexidade dos sujeitos individuais e coletivos, com a falta
de aderência aos tratamentos, com pacientes poliqueixosos
►Tema
1 que não se encaixam nos diagnósticos (e que muitas vezes
tornam-se dependentes dos serviços de saúde), pacientes com
►Tema problemas sociais (normalmente encaminhados para que o
2 serviço social resolva), e pacientes culturalmente
►Tema diferenciados, como os indígenas (CARVALHO; CUNHA,
3 2007).
►Tema  
4 Saiba Mais (Clique)
►Menu
da  
unidade Para se efetivar a mudança das práticas de saúde é necessário
um movimento no sentido de entender as relações naturais e
socioculturais ligados ao bem-estar das pessoas.
Especi camente no campo da saúde indígena, um dos desa os
é a convivência de sistemas médicos distintos: um que vê o
adoecimento totalmente descolado do contexto cultural e
outro que vê o oposto, o adoecer completamente inserido no
contexto sociocultural. Como lidar com isto? O que nós,
pro ssionais de saúde formados dentro de uma visão
biomédica centrada na doença, devemos fazer?
 
Alguns Caminhos:
Desconstrução do saber e respeito à cultura e saberes
tradicionais.
Em busca de uma clínica ampliada e focada no sujeito faz-se
necessário romper com a prática de uma medicina
reducionista e tecnicista que, além de fragmentar a pessoa e
os saberes, é centralizada na remissão dos sintomas e
concentra sua prática em hospitais e centros de diagnósticos.
Devemos nos reconstruir na direção de uma clínica centrada
na pessoa e não na doença, que agregue ações continuadas de
promoção, prevenção, cura e reabilitação e que utilize o
trabalho em equipe, orientado para a família e a comunidade.
A realidade das populações indígenas demanda que o
pro ssional de saúde reconstrua a sua competência clínica [1] e
agregue novos conhecimentos nas áreas da antropologia, da
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epidemiologia, da política e do trabalho em equipe. É


fundamental a construção de serviços de saúde orientados
para as especi cidades culturais e que respeitem os saberes e
práticas tradicionais dos grupos étnicos (LANGDON, 2004).
 
Responsabilidade Sanitária sobre a população, seu território
e o exercício da corresponsabilidade.
A equipe deve conhecer os condicionantes e determinantes da
condição de saúde das pessoas, famílias e comunidades da sua
área de abrangência, determinando riscos e vulnerabilidades.
Além da responsabilidade clínica, outros aspectos relevantes
para a saúde, como o saneamento ambiental, segurança
►Tema alimentar e acesso a medicamentos, devem fazer parte do
1 escopo de responsabilidades das equipes de ABS. Para isso é
►Tema
fundamental a intersetorialidade e o exercício da
2 corresponsabilidade, pois as comunidades devem, juntamente
com a equipe, buscar condições para melhorar a qualidade de
►Tema vida para todos. E fundamental a construção de vínculos entre
3 pro ssionais de saúde e a comunidade, numa ligação
►Tema longitudinal, continuada, entre equipe e usuários.
4
Acolhimento à demanda, mas, antes de tudo, às pessoas.
►Menu
da O acolhimento necessita de organização do serviço e grande
unidade disposição da equipe para ouvir as demandas, avaliar os riscos
com o objetivo de resolver a maioria dos problemas trazidos
pelo indivíduo ou coletividade. A adscrição da clientela, a visita
domiciliar e a ¨cumplicidade¨ construída com a comunidade,
fruto de uma relação de respeito, principalmente à
especi cidade cultural, conquista a con ança da comunidade,
que, por sua vez, identi ca a equipe como aliada e permite a
construção de vínculo com as pessoas, famílias e comunidade,
facilitando a identi cação de riscos e vulnerabilidades.
A prática de atenção integral e continuada com sensibilidade
intercultural.
A comunicação é o elemento central do encontro entre equipe
e usuário. O método centrado na pessoa é uma forma de
trabalho que permite o desenvolvimento de uma consulta com
enfoque na compreensão do indivíduo como um todo, além de
incorporar a promoção e prevenção da saúde. Mais
importante que diagnosticar é entender o paciente e
promover sua autonomia.
Podemos não chegar a um diagnóstico no primeiro encontro,
mas ele pode ser construído em vários encontros, o que
aproxima e estabelece vínculos e con ança entre pro ssional
e usuário. A clínica deve ser ampliada partindo do saber
biomédico para aspectos socioculturais e subjetivos de cada
pessoa e do grupo social do qual ela faz parte, respeitando a
singularidade de cada um, sem perder de vista o todo e os
programas, protocolos e o jeito de fazer previamente de nido
por cada serviço. Langdon (2004) nos fala de serviços e
programas com sensibilidade intercultural.
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Uma abordagem ampliada focalizada na família e na


comunidade exige um conhecimento amplo dos problemas de
saúde e a interação da equipe com os núcleos familiares,
observando as particularidades da organização das
sociedades indígenas. Em uma busca ativa de doentes com
tuberculose, por exemplo, além dos contatos domiciliares, por
vezes é necessário examinar a avó, que mora do outro lado da
aldeia, e que cuida da criança durante uma grande parte do
dia, dinâmica de uma vida cotidiana que necessita de um
aprofundamento do olhar de quem cuida.
Prática de um trabalho interdisciplinar.
A maioria dos pro ssionais de saúde, frutos de uma formação
que valoriza exclusivamente o conhecimento cientí co, não
►Tema
1 considera os saberes e práticas da medicina tradicional e
valoriza o trabalho individual em detrimento do coletivo. Mais
►Tema uma vez é necessário rompermos com a formação baseada no
2 modelo biomédico e médico-centrado para nos
►Tema reconstruirmos enquanto pro ssionais comprometidos com
3 uma nova prática ao cuidar do outro, desenvolvendo um
trabalho interdisciplinar que facilite a abordagem integral dos
►Tema problemas que causam impacto sobre a qualidade de vida das
4
pessoas.
►Menu
da É necessário superar as di culdades para o exercício do
unidade trabalho interdisciplinar de fato. O que vemos, na maioria das
vezes, é um trabalho em que vários pro ssionais de áreas
diferentes não interagem, não compartilham conhecimentos,
experiências e o trabalho.

Re ita sobre como está organizado o trabalho da


ABS no seu DSEI, em como é a relação da equipe
em que você está inserido com as comunidades, e
também com as equipes das referências do SUS.

 
Participação da população
 
Além do espaço formal do controle social, é importante a
prática de reuniões na comunidade com os seus diferentes
segmentos (professores, lideranças, trabalhadores indígenas
de saúde, mulheres e pro ssionais da medicina tradicional),
proporcionando a avaliação do processo de trabalho e busca
de formas para torná-lo mais efetivo, rediscutindo rumos.
Estas conversas propiciam o exercício da corresponsabilidade
sobre o resultado do trabalho, o compartilhamento de saberes
e acesso à informação.
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Buscar a autonomia dos usuários.


A busca pela autonomia do paciente em relação às propostas
terapêuticas é um dos fundamentos da prática clínica na
atenção básica. No espaço da saúde indígena em diversos
momentos nos deparamos com o outro em situações
con itantes, con itos com normas da nossa prática clínica e
nossos valores culturais. Estas situações necessitam de
diálogo e negociação compreensiva para garantirmos a
autonomia do nosso paciente. Para isto, relativizar os nossos
conhecimentos cientí cos e trabalhar próximo dos
pro ssionais da medicina tradicional são práticas
fundamentais.
Buscarmos a autonomia dos povos indígenas, em uma
►Tema
1 concepção mais ampla, passa por acreditarmos no saber, na
capacidade indígena na condução dos cuidados e na busca de
►Tema soluções para os seus problemas. Estratégia fundamental é ter
2 um olhar atento e desenvolver a formação dos pro ssionais da
►Tema saúde indígena com sensibilidade para as diferenças culturais
3 e sua implicação na execução do trabalho, acreditar no
empoderamento dos pro ssionais indígenas e das
►Tema comunidades, através da informação e educação em saúde,
4
valorizando e respeitando as suas visões do processo saúde
►Menu doença e práticas de cuidados.
da
unidade  

Figura 3 - AIS da etnia Wajãpí em


um momento de compartilhamento
do conhecimento adquirido.
Fonte: Patrícia Rech

 
 
 
 
 
 
 
 

 
É fundamental, portanto, não trazer soluções prontas, mas sim
construir um caminho coletivo para a elaboração das
estratégias de enfrentamento dos problemas, levando as
nossas crenças e conhecimento, porém com o coração aberto,
temperado com muito respeito aos acreditares do outro.
Agora que você já percorreu a trilha de aprendizagem pensada
para essa unidade, convidamos você a responder a um
questionário de múltipla escolha para sedimentar o
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conhecimento construído nesse percurso.

(https://moodle.unasus.unifesp.br/mod/quiz/view.php?
id=477)

 
►Tema
1 Referências
►Tema  
2
ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense,
►Tema 1989.
3
BERNARDES, A.G.; PELLICCIOLI, E.C.; GUARESCHI, N. M. F.
►Tema Trabalho e produção de saúde: práticas de liberdade e formas
4
de governabilidade. Psicologia & Sociedade, [S.l.], n. 22(1), p.
►Menu 5-13, 2010.
da
unidade BRASIL. Ministério da Saúde. Humaniza SUS: documento base
para gestores e trabalhadores do SUS.3. ed. Brasília:
Ministério da Saúde, 2006. (Secretaria de Atenção à Saúde,
Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização.)
CAMPOS, G. W. S. et al. Re exões sobre a atenção básica e a
estratégia de saúde da família. In: CAMPOS, G. W. S.;
GUERRERO, A. V. P. (Orgs.). Manual de práticas de Atenção
Básica: saúde ampliada e compartilhada. São Paulo: Hucitec,
2008. p.132-153.
CARVALHO, S. R.; CUNHA, G. T. A gestão da atenção na saúde:
elementos para se pensar a mudança da organização na saúde.
In: Campos, G. W. S.; et al. (Orgs.). Tratado de Saúde Coletiva.
São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006. p. 837-868.
CUNHA, G.T. A construção de uma clínica ampliada na
atenção básica. São Paulo: Hucitec, 2005.
HOEPFNER, A. M. S. A clínica do sofrimento ético-político
como uma proposta de intervenção na clínica ampliada e
compartilhada. In: Atenção Básica. Brasília: Ministério da
Saúde, 2010. p.75-91. (Ministério da Saúde, Secretaria de
Atenção à Saúde, Política Nacional de Humanização).
LANGDON, E. J. Políticas Públicas de Saúde Indígena:
implicações para minorias e saúde reprodutiva. In:
MONTEIRO, S.; SANSONE, L. (Orgs.). Etnicidade na América
Latina: um debate sobre raça, saúde e direitos reprodutivos.
Rio de Janeiro: Fiocruz, 2004. p. 211-226.
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MASSUDA, A. Prática de Saúde Coletiva na Atenção Primária


em Saúde. In: Campos, G. W. S.; GUERRERO, A. V. P. (Orgs.).
Manual de práticas de Atenção Básica: saúde ampliada e
compartilhada. São Paulo: Hucitec, 2008. p. 179-205.
MEHRY, E. E. Perspectivas atuais do SUS e o agir tecnológico
do trabalhador como um ato ético-político. Palestra proferida
no auditório da FCM em 13/11/2003.
MENDES, E. V. A atenção primária à saúde no SUS. Fortaleza:
Escola de Saúde Pública do Ceará, 2002.
STARFIELD, D. B. Atenção Primária: equilíbrio entre
necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília:
►Tema UNESCO; Ministério da Saúde, 2002. Disponível em:
1 http://www.brasilia.unesco.org/publicacoes/livros/atencaoprima
(http://www.brasilia.unesco.org/publicacoes/livros/atencaoprima
►Tema
2 TAVARES, M. A. Prática clínica da Atenção Primária à Saúde In:
►Tema DUCAN, B. B. (Org.) Medicina ambulatorial: condutas de
3 atenção primária baseadas em evidências. 3. ed. Porto Alegre:
Artemed, 2004.
►Tema
4 WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Primary Health
►Menu Care. Geneva: World Health Organization, 1978.
da
unidade

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►Tema
1
►Tema
2
►Tema
3
►Tema
4
►Menu
da
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