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ESCOLA SUPERIOR DA AMAZÔNIA

CURSO DE PSICOLOGIA

FERNANDO SANTOS ROSA


MANUELLA DANDARA DE ARAUJO GOMES

O FENÔMENO DA ANSIEDADE À LUZ DA GESTALT-TERAPIA

Belém
2020
FERNANDO SANTOS ROSA
MANUELLA DANDARA DE ARAUJO GOMES

O FENÔMENO DA ANSIEDADE À LUZ DA GESTALT-TERAPIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Escola


Superior da Amazônia - ESAMAZ como requisito
parcial para obtenção do Grau de Bacharel em
Psicologia.

Orientador: Prof. Me. Francisco Aires Neto.

Belém
2020
R788o ROSA, Fernando Santos.
O Fenômeno da Ansiedade à Luz da Gestalt-Terapia / Fernando
Santos Rosa,
Manuella Dandara de Araújo Gomes - Belém, 2020.
19 f.
Orientador(a): Profº. Me. Francisco Aires Neto.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Escola


Superior
da Amazônia, Curso de Psicologia, 2020.
1. ANSIEDADE. 2. GESTALT-TERAPIA. 3.
INTERVENÇÃO. I.
ROSA, Fernando Santos; GOMES, Manuella Dandara de
Araújo. II. Profº.
Me. AIRES NETO, Francisco. (Orient.) III. Título.
CDD: 150 23.ed.

FERNANDO SANTOS ROSA


MANUELLA DANDARA DE ARAUJO GOMES

O FENÔMENO DA ANSIEDADE À LUZ DA GESTALT-TERAPIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título
de Licenciado e Bacharel em Psicologia pela Escola Superior da Amazônia (ESAMAZ).

Data de aprovação: ___/___/___


Banca Examinadora

____________________________________ - Orientador
Prof. Me. Francisco Aires Neto.
Mestre Em Educação
Escola Superior da Amazônia (ESAMAZ).

____________________________________ - Examinador(a)
Profa. Ma. Juliana Antônio Cardoso.
Mestra em...
Escola Superior da Amazônia (ESAMAZ).

____________________________________ - Examinador(a)
Profa. Amanda Pereira de Carvalho Cruz.
Mestra em Psicologia.
Escola Superior da Amazônia (ESAMAZ).

____________________________________ - Examinador(a)
Profa. Amanda Medeiros.
Maior Titulação
Escola Superior da Amazônia (ESAMAZ).
O FENÔMENO DA ANSIEDADE À LUZ DA GESTALT-
TERAPIA . 1

Fernando Santos Rosa2


Manuella Dandara de Araujo Gomes3

Resumo
O presente trabalho se propôs em seu desenvolver apresentar como se concernem os
princípios da gestalt-terapia, como funciona a ansiedade e como a gestalt-terapia compreende
e aborda as demandas de ansiedade emergidas no cotidiano. Em seguida aborda a ansiedade
como fenômeno de campo se atrelando ao processo de autorregulação organísmica através de
formas de se ajustar. Posteriormente abrange como funciona o manejo e intervenção do
gestalt-terapeuta para com o cliente frente ao processo ansiolítico, como esse funciona. A
metodologia utilizada para a realização do trabalho foi feita a partir de pesquisas
bibliográficas qualitativa e por fim buscou-se apresentar possíveis propostas de intervenção
nas demandas de ansiedade sob a ótica da Gestalt-terapia.

Palavras-chave: Ansiedade. Gestalt-terapia. Intervenção.

1
Artigo apresentado como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Psicologia, da Escola
Superior da Amazônia (ESAMAZ).Orientador: Prof. Me. Francisco Aires Neto, Lattes:
<http://lattes.cnpq.br/8249594838074911>
2
Graduando do curso de Psicologia ESAMAZ - 2019
3
Graduanda do curso de Psicologia ESAMAZ - 2019
Abstract/Resumen/Resumé
The present work aims to develop to present how the principles of gestalt therapy are
concerned, how anxiety works and how gestalt therapy understands and addresses the
demands of anxiety that emerge in everyday life. Then, it addresses anxiety as a field
phenomenon linked to the process of organismic self-regulation through ways of adjusting.
Subsequently, it covers how the management and intervention of the gestalt-therapist towards
the client facing the anxiolytic process, how it works. The methodology used to carry out the
work was based on qualitative bibliographic research and, finally, we sought to present
possible proposals for intervention in the demands of anxiety from the perspective of Gestalt-
therapy

Keywords/Palablas Clave/ Mots-clés: Anxiety. Gestalt therapy. Intervention.


Sumário

1 Introdução................................................................................................................................8

2 O que buscamos e qual a importância deste olhar...................................................................9

3 Ansiedade e Gestalt-terapia...................................................................................................10
3.1 Ansiedade como fenômeno de campo............................................................................11
3.2 Ansiedade como autorregulação organísmica................................................................12
3.3 Neurose e Gestalt-terapia................................................................................................13

4 Manejo e intervenção.............................................................................................................15

5 Considerações Finais.............................................................................................................16

Referências................................................................................................................................18
8

1 Introdução
O presente trabalho nasce da percepção dos crescentes casos de ansiedade
cotidianamente nos consultórios de psicologia, e sobretudo na vivência de estágio e
atendimentos de psicoterapia na clínica escola da instituição Escola Superior da Amazônia
(Esamaz) posteriormente a partir dessas experiências o despertar para estudar, pesquisar e
produzir sobre essa temática.
Em seguida, iniciaremos apresentando brevemente o olhar da gestalt para com o ser
humano, sua percepção de si e de mundo, em seguida indicaremos como a gestalt descreve o
fenômeno da ansiedade, sob dois aspectos: fenômeno de campo e autorregulação organísmica,
e por fim o manejo e intervenção sob a ótica da Gestalt-terapia.
A Gestalt-terapia é uma abordagem de base fenomenológico-existencial fundada por
Frederick Perls na década de 1940. Nesta abordagem, o homem é visto em sua totalidade
como um ser bio-psico-social em constante e contínua interação com o meio na qual está
inserido. É uma abordagem integrativa, experiencial que visa a awareness (Yano, 2015).
Como afirma Cesarin (2005), o processo de awareness consiste em dar sentido às
expressões do “organismo”. Para Perls, Hefferline e Goodman (1997), awareness diz respeito
a capacidade de cada um perceber o que se passa consigo em nível motor, emocional e
cognitivo.
Ainda de acordo com os autores supracitados, awareness é uma consciência
integrada de si próprio que tem por características o contato, o sentir (sensação e percepção).
Surge da relação estabelecida entre organismo e meio. É uma forma de experenciar o contato
consigo e com o mundo.
Perls (1977) diz que a gestalt-terapia trabalha para promover o crescimento e
desenvolver o potencial inato a cada ser humano. Yontef (1998) ressalta que os objetivos da
Gestalt-terapia incluem tornar os clientes aware (conscientes) daquilo que estão fazendo, a
forma como estão fazendo, como podem mudar e, ao mesmo tempo, se aceitar e se valorizar.
Por ser de base fenomenológica, busca-se compreender o cliente em sua totalidade,
adotando uma postura de não-julgamento através da redução fenomenológica, que de acordo
com Rehfeld (apud FRAZÃO, 2013), significa suspender os juízos sobre o mundo e colocá-
los entre parênteses. Para Fukumitsu (apud FRAZÃO, 2013), a fenomenologia é uma reflexão
daquilo que se apresenta, como se apresenta e visa compreender o processo envolvido na
relação entre o ato de perceber e o objeto percebido.
9

Sendo assim, Van Dusen (apud STEVENS, 1977) diz que o estudo fenomenológico
consiste em representar ou descrever a existência da pessoa de acordo com a experiência da
mesma. Pois, como afirma Fukumitsu (apud FRAZÃO, 2013), a fenomenologia é uma
reflexão daquilo que se apresenta e como se apresenta. Como afirma Gomes & Castro (2010,
p.3) o método fenomenológico consiste em uma proposta apresentada por Husserl cuja sua
pesquisa objetiva compreender, aplicar e explanar a experiência consciente, uma vez, que essa
visa a descrição de como os fatos se apresentam nas diversas maneiras em que ocorrem.
É sob esta ótica que iremos discutir a ansiedade que, adiantando brevemente, temos
que a ansiedade ou angústia é uma condição afetiva universal que está presente em todos os
seres humanos, ou seja, é inerente a existência humana (HETEM e GRAEFF, 2013, p.3) fato
este que provocam estados que podem se configurar quantitativamente positivos ou negativos.
O termo é derivado do grego anshein que significa estrangular, sufocar, oprimir (GRAEFF,
2014, p.132).

2 O que buscamos e qual a importância deste olhar

O presente artigo nasce da necessidade de se discutir o fenômeno da ansiedade sob a


luz da gestalt-terapia, cuja proposta é proporcionar outra perspectiva para trabalhar com
indivíduos que apresentem essa demanda. A ansiedade é um fenômeno sempre atual na
sociedade e recorrente no cotidiano e nos consultórios de Psicologia. A importância de
discutir este tema dentro da academia de maneira científica é fundamental, pois, é um espaço
onde as informações concernentes ao tema da pesquisa são de extrema confiabilidade e
fidedignidade para a sociedade. Por estar sempre está em discussão, o tema necessita de novas
visões. Dentro desse contexto, este projeto tem como objetivo realizar pesquisa bibliográfica
sobre a ansiedade sob a luz da Gestalt e buscar apresentar uma forma específica de olhar para
esse processo, a fim de auxiliar e oferecer novas possibilidades aos profissionais de
psicologia. Para a elaboração deste artigo a metodologia utilizada foi a pesquisa de revisão de
literatura de trabalhos, artigos e livros já publicados com relevância conquistada. Segundo Gil
(2017) uma pesquisa bibliográfica é: “A pesquisa bibliográfica é elaborada com base no
material já publicado”.
10

3 Ansiedade e Gestalt-terapia

Já nascemos preparados para ter respostas emocionais diante de certos estímulos


presentes no ambiente. São respostas inatas, comportamentos aprendidos que foram sendo
transmitidos ao longo da evolução por terem um caráter de sobrevivência (MOREIRA, 2007).
Corroborado nesse sentindo, Perls, Hefferline e Goodman (1997, p.214) contribuem
dizendo que a ansiedade é a interrupção de um excitamento que leva a um hábito de conter a
respiração. Assim, “a ansiedade, o excitamento que foi de modo repentino represado
muscularmente, continua a vibrar por muito tempo, até que possamos respirar livremente de
novo” (PERLS, HEFFERLINE, GOODMAN, 1997, p.214).
Perls (1977) diz que a ansiedade é o vazio entre o agora e o depois, é uma excitação
que flui no organismo e que se manifesta ao ser interrompido. Assim, ao abandonar o agora e
ir para o futuro, esse vazio se enche de excitamento que foi repentinamente interrompido, isso
é ansiedade.
Para Perls (et al 1997), uma emoção é uma reação desencadeada a partir da relação
da pessoa com seu meio e é por meio dela que se pode conhecer o ambiente e se apropriar
dele. Ainda complementam dizendo que as emoções “são a maneira pela qual nos tornamos
conscientes da adequação de nossas preocupações; a maneira como o mundo é para nós”
(PERLS et al, 1997, p. 213).
Ainda usando os ensinamentos de Perls, o mesmo salienta que, “se uma pessoa tem
emoções grosseiras, é porque sua experiência como um todo é grosseira” (Perls et al, 1997, p.
213). Entende-se por emoções grosseiras, sentimentos intensos e desagradáveis, que podem
ou não causar prejuízos à pessoa, sendo considerados “anormais”, por exemplo: ansiedade em
altos níveis
Segundo Carvalho (1981), o significado da ansiedade está ligado às influencias
sofridas pelas teorias como o racionalismo e o positivismo. Por essa razão, optamos por uma
abordagem que considera o homem em sua totalidade, sem isolá-lo.
Dessa forma, a ansiedade é vista como sendo uma resposta natural do organismo em
um ambiente novo, desconhecido. Sendo assim, pensamos na ansiedade e nos
comportamentos provenientes dela como formas de se relacionar com o mundo em dado
momento, formas de se ajustar criativamente.
Segundo D'acri, Lima e Orgler (2007), o termo ajustamento criativo foi utilizado por
Perls para descrever a natureza do contato que o organismo estabelece com o meio. Sendo
assim, o ajustamento criativo é indispensável para se estabelecer a autorregulação
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organísmica, uma vez que é através dele que o organismo assimila o material necessário do
ambiente para a sua conservação e crescimento.

3.1 Ansiedade como fenô meno de campo

Segundo Perls, Hefferline e Goodman (1997, p. 42), todo e qualquer comportamento


é fruto e função da interação entre organismo e meio, o que é denominado pelos autores de
“campo organismo/ambiente”.
Com herança da fenomenologia de Husserl, a teoria de campo de Kurt Lewin
prioriza a descrição dos fatos em vez de hipóteses sobre os mesmos (RODRIGUES apud
FRAZÃO, 2013). Ainda de acordo com o autor supracitado, o comportamento de uma pessoa
é função, resulta da relação entre a pessoa e seu espaço de vida ou meio; o sentido das ações
só se faz compreensível se analisarmos a sua relação com seu meio.
De acordo com Ribeiro (2012) a gestalt-terapia vê o homem como um todo e seu
comportamento deve ser considerado, e só se torna compreensível, no campo no qual ele
ocorre. Ou seja, a pessoa só se faz compreensível a partir de sua relação com o meio que o
cerca.
O trabalho de Lewin, para Rodrigues (apud FRAZÃO, 2013, p. 58): “[...] estaria
mais próximo do conceito de método do que propriamente de uma teoria [...]” pois, para ele o
processo de analisar a formas que se estabelecem as relações possibilitam outras construções
cientificas e consolidam suas suposições teóricas.
Segundo Frazão et al (2013), Lewin detinha-se a descrição dos fatos, em detrimento de
concepções prévias em relação a esses, e assim acreditava que o campo psicológico de um
indivíduo se dava a partir de um conjunto de totalidades que juntas influenciam o
comportamento dessa pessoa em determinada situação.
De acordo com Rodrigues:

[…] Lewin alude ao fato de que sua teoria procura descrever o que acontece não
apenas no que se refere a uma objetividade fiscalista, mas levando em conta que o
importante é como o indivíduo experiência o que acontece no momento considerado
[…] (FRAZÃO et al, 2013, p. 59)

Sendo assim, a ansiedade refere-se à uma forma de agir no ambiente.


Como afirma Neves (2012), o todo de um fenômeno não pode ser compreendido e
explicado isolado de cada parte que o compõe. Mas, deve ser compreendido como um todo
composto por cada uma dessas partes que, de forma dinâmica, interagem entre si e dão
sentido às ações do indivíduo.
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3.2 Ansiedade como autorregulaçã o organísmica

Os autores da gestalt-terapia adotaram como unidade referencial a noção de


organismo. Este termo foi empregado devido à adoção da Teoria Organísmica de Kurt
Goldstein pelos fundadores da gestalt-terapia (LIMA, 2005).
Para Perls (1977, p.19) “chamamos de organismo qualquer ser vivo que possua
órgãos, que tenha uma organização e que se autorregule”. Não se pode estudar o organismo de
forma isolada, independente. O organismo necessita do ambiente físico para fazer as trocas
necessárias à sua preservação.
A definição de organismo carrega consigo a noção do pensamento sistêmico, o que
constitui as bases da teoria organísmica (LIMA, 2005). Nessa visão, o organismo é
compreendido como um todo, ou seja, não funciona por partes isoladas, mas como uma
unidade. A soma das partes é insuficiente para descrever e compreender o funcionamento
total do organismo (LIMA, 2005; PERLS, 1977).
Autorregulação organísmica é uma forma de interação entre organismo e ambiente,
onde o organismo consegue se atualizar do melhor modo possível. É uma lei que rege o
funcionamento dos organismos onde há uma tendência deste a se autoatualizar (LIMA, 2005;
LIMA apud FRAZÃO, 2013). Perls (et al, 1997) trazem isto para a abordagem gestáltica
dizendo que os indivíduos se autoatualizam satisfazendo necessidades prioritárias que
emergem como figuras. No cotidiano, diversas necessidades vão surgindo, porém o
organismo tem um sistema de valores que lhe permite selecionar a necessidade mais
importante – naquele momento – em detrimento de outras. Isso é um processo natural que
visa o funcionamento saudável do organismo em seu meio. A necessidade dominante se torna
figura e vem para o primeiro plano, enquanto as demais recuam para o fundo. Porém, para
isso acontecer, o organismo deve ser capaz de manipular seu meio, pois toda necessidade se
satisfaz a partir da interação do organismo com o seu meio (PERLS, 1988).
Este processo é o qual o organismo vai buscar, em frente às diversas situações, seu
equilíbrio e, consequentemente, sua saúde.
Assim, saúde para Perls (1977) é o equilíbrio alcançado a partir da coordenação de
todas as dimensões que fazem parte da nossa vida. A doença, segundo Perls (1988) se dá
quando o organismo se mantém em desequilíbrio por um longo período de tempo, o que
ocasiona na não-satisfação de suas necessidades. Corroborando, Canguilhem (2009) diz que a
natureza, dentro ou fora do homem, é equilíbrio e harmonia. Qualquer perturbação nesse
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equilíbrio é a doença. Porém, ressalta esse autor: “a doença não é somente desequilíbrio ou
desarmonia; ela é também, e talvez sobretudo, o esforço que a natureza exerce no homem para
obter um novo equilíbrio [...] o organismo desenvolve uma doença para se curar”
(GANGUILHEM, 2009, p.12-13).
Dessa forma, os sintomas, bem como a ansiedade, devem ser vistos como formas de
se adaptar, formas de se organizar diante das demandas do meio e as necessidades prioritárias
do organismo (LIMA, 2005). O sintoma aponta para a individualidade, a singularidade, aquilo
que há de único no homem (PERLS, HEFFERLINE E GOODMAN, 1997).
Segundo Lima (2009), por vezes o indivíduo se vê confrontado a executar tarefas às
quais não está habilitado e, como consequência, apresenta um comportamento desordenado
diante de tal situação. A autora ainda complementa dizendo que estas provocações geram
grandes ansiedades no organismo.
De acordo com Lima (2005), Goldstein descreveu casos onde o sujeito evitava
qualquer forma se expor a situações onde fosse preciso realizar uma tarefa para qual não
estivesse apto. Para a autora, Goldstein apontava como consequência, uma tendência dessas
pessoas a se comportar de forma padronizada, evitando qualquer tipo de situação que possa
deixá-los desordenados, o que é uma das características da neurose.

3.3 Neurose e Gestalt-terapia

Para Perls, Hefferline e Goodman (1997), a neurose é uma forma de autorregulação.


A experiência neurótica é a manifestação da criatividade e vitalidade de um organismo. Nas
palavras dos autores: “O impulso neurótico obviamente não é meramente negativo, pois
exerceu de fato um grande efeito modelador sobre o paciente, e não se pode explicar um
efeito positivo por uma causa negativa.” (PERLS, HEFFERLINE, GOODAMAN, 1997, p.
93).
Com isso, os autores evitam com que a experiência neurótica receba um sentido
moral, como algo ruim que acomete o organismo. Ao contrário, é um ajustamento criativo.
Para Perls (1988), a neurose nasce quando o indivíduo fica incapaz de diversificar
suas formas de interação e manipulação com o ambiente, quando se comporta de forma
padronizada, cristalizada num único modo de agir, impedindo a satisfação de suas
necessidades.
Segundo Lima (2005) a gestalt-terapia compartilha com a concepção de Goldstein de
que a repetição de padrões comportamentais já conhecidos, a fuga de novas situações, é uma
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tentativa dos indivíduos para não lidar com o excitamento que foi contido, ou seja, a
ansiedade gerada pelo inesperado. Ainda para a autora, a ansiedade é uma experiência única
para cada indivíduo e interfere em todas as dimensões da experiência dessa pessoa. Nesse
sentido, a o fenômeno da ansiedade está diretamente ligado com uma experiência onde o
indivíduo se vê na impossibilidade de reagir diante das demandas impostas pelo meio.
De acordo com Perls, Hefferline e Goodman (1997), toda forma de contato é um
ajustamento criativo entre organismo e meio. Para esses autores, “o contato é a realidade mais
simples e primeira” (PERLS, HEFFERLINE, GOODAMAN, 1997, p. 23), ou seja, contato é
relação, “é o fenômeno pelo qual o encontro ocorre” (RIBEIRO, 1997), é abertura para se
relacionar. A todas as formas de contato, chamamos de ajustamento criativo.
Segundo D'acri, Lima e Orgler (2007), o termo ajustamento criativo foi utilizado por
Perls para descrever a natureza do contato que o organismo estabelece com o meio. Sendo
assim, o ajustamento criativo é indispensável para se estabelecer a autorregulação
organísmica, uma vez que é através dele que o organismo assimila o material necessário do
ambiente para a sua conservação e crescimento.
Entretanto, os ajustamentos podem se cristalizar e interromper o processo de
autorregulação, o que torna o indivíduo incapaz de satisfazer suas necessidades, ficando em
estado de tensão. Para Cardela (1994) essa padronização comportamental bloqueia e/ou
impede o fluxo de contato, dificultando o crescimento do organismo. Por estarmos inseridos
em um campo mutável, o mero ajustamento é insuficiente, há a necessidade de uma atitude
criativa, novos comportamentos diante das situações que estão o tempo todo mudando
(D'ACRI, LIMA e ORGLER, 2007).
Perls, Hefferline e Goodman (1997), assinalam que a ansiedade é um fator
característico na neurose e é consequência da interrupção do ciclo de autorregulação. Ainda
complementam dizendo que a ansiedade é a interrupção de um excitamento que leva a um
hábito de conter a respiração. Assim, “a ansiedade, o excitamento que foi de modo repentino
represado muscularmente, continua a vibrar por muito tempo, até que possamos respirar
livremente de novo” (PERLS, HEFFERLINE, GOODMAN, 1997, p.214).
Ainda de acordo com os autores supracitados, o processo de assimilação de novos
materiais por meio do ajustamento criativo implica uma fase de agressão e destruição.
Agressão é uma iniciativa para ir de encontro ao objeto de interesse ou hostilidade
(Perls, Hefferline e Goodman, 1997), de nada tem a ver com violência, ao contrário, a energia
agressiva é necessária para que o organismo possa diferenciar e discriminar conteúdos e fazer
15

escolhas saudáveis. Logo, é uma função saudável no crescimento do organismo (D'ACRI,


LIMA E ORGLER, 2007).
Destruir é desestruturar um todo em partes para torná-lo assimilável como parte de
um novo todo (PERLS, HEFFERLINE e GOODMAN, 1997), isto é, simplificar uma
estrutura tornando-a assimilável. Nas palavras dos autores: “é abordando, apoderando-se de
velhas estruturas e alterando-as que o dessemelhante torna-se semelhante” (PERLS,
HEFFERLINE, GOODMAN, p. 47, 1997). Para os autores, quando há uma nova necessidade,
uma nova configuração passa a existir substituindo a anterior. Essa substituição, a destruição
do status quo provoca ansiedade proporcionalmente maior à medida que o organismo é
inflexivo (neurótico).
Um conceito importante é o de equalização ou centragem do organismo. Segundo
Ribeiro (2012), para Goldstein, no organismo há uma energia que é constante e tende a se
distribuir por igual. Essa energia e um estado ao qual o indivíduo sempre retorna ao ser
estimulado por forças internas ou externas. A esse retorno, Goldstein chamou de equalização.
Distribuir essa energia fazendo com que ela volte aos níveis iniciais onde a tensão se
equilibra, e centragem.
Logo, podemos pensar na ansiedade como uma energia proveniente de um processo
que foi interrompido, onde o organismo se encontra num estado de tensão que o impede de
satisfazer suas necessidades deixando-as como situações inacabadas. Tal estado de tensão não
permite que o organismo se equalize e, consequentemente, adoece.

4 Manejo e intervenção

No contexto do encontro terapêutico, torna-se necessário a percepção do cliente


acerca de suas experiências ansiolíticas, a frequência com que ocorrem e como está a
qualidade do contato com suas vivências. Essa mesma percepção se torna crucial como
ferramenta de intervenção dentro do processo psicoterapêutico, uma vez que a ansiedade é
algo que compõe o ser humano. (FRAZÃO, 2013, p. 56)
Nessa perspectiva, o psicoterapeuta investiga e valida a forma como o cliente encara
essa experiência, objetivando torná-lo consciente de sua interrupção do fluxo de contato.
(FRAZÃO, 2013, p. 57)
A partir desse contexto, de acordo com Perls et al (1997) a experiência do cliente
ocorre na fronteira de contato visibilizando a interação entre organismo e meio, discernindo
16

suas respostas senso motoras das excitações causadas pela ansiedade. A ampliação da
consciência acerca dessa interação permite a apreensão de perspectivas diferentes e viabiliza o
desenvolvimento autônomo do organismo, pautado em formas de ajustamentos criativos.
Para que esses ajustamentos possam acontecer é necessário trabalhar a
autoconsciência através do processo gestáltico de awareness que: […] “é o processo de estar
em contato com o evento mais importante do campo indivíduo/ambiente com apoio
energético, cognitivo, emocional e sensório—motor totais” (YONTEF, 2006, p. 236). Assim,
potencializando suas formas de crescimento.
A partir desses pressupostos, existem formas especificas de atuação do gestalt-
terapeuta, visto que o propósito do método interventivo nos casos de ansiedade, se volta para
onde a excitação não flui, havendo a interrupção do contato e a ansiedade emerge. De modo
que, a experiência se constitui como prática base no processo relacional gestalt-terapeuta e
cliente, potencializando um compartilhamento da visão de homem e de mundo desse cliente e
como sua interação exprime um ajustamento ocasionado pela ansiedade. É dever do terapeuta
tornar consciente o sentido das ações do cliente e posteriormente, a interrupção do seu fluxo
de contato no seu campo vivencial que gera seu processo ansiolítico. (SANTOS & FARIA,
2006)
Dessa forma, foca no “como” estão as vivências desse indivíduo em seu aqui-agora,
para que consiga entrar em contato com o que lhe gera ansiedade, através de um processo de
tomada de consciência. Nesse sentido, em substituição do termo “porquê” pelo “como”, há
uma proposta inclusiva de leitura não definitiva dos fenômenos, buscando apreender o sentido
dos acontecimentos. (LAPORTE & VOLPE, 2009)
Em suma, as intervenções do gestalt-terapeuta em casos de ansiedade se concernem
em tornar “awareness” os aprendizados construídos no passado desse cliente, trazidos para o
seu aqui-agora apresentado ao terapeuta, e na relação terapêutica construída entre ambos se
desenvolvem ferramentas, possibilidades e percepções para a construção do futuro desse
indivíduo e a maneira que decidi caminhar, uma vez que entrou em contato e está consciente
de quais caminhos pode percorrer compreendendo a ansiedade sentida e vivenciada.

5 Considerações Finais
Diante do exposto, afirma-se que, a ansiedade é uma emoção, sentimento inerente ao
indivíduo, uma vez que ela norteará os sinais de alerta, cuidado e preparação para exercer
ações futuras. Mas ao embasar-se fenomenologicamente na gestalt-terapia busca-se
17

compreendê-la a partir do pressuposto de ajustamento criativo, ou seja, foi a maneira que o


cliente encontrou para se ajustar mediante as situações vivenciadas e as influências de seu
campo vivencial, de maneira integrativa e experiencial.
Nesse sentido, a perspectiva gestáltica concebe o processo ansiolítico como um
excitamento entre o agora e o depois, e nesse percurso em níveis elevados há uma interrupção
na sua fronteira de contato, o que compromete sua totalidade em relação a consciência
mediante aos fatos, e posteriormente suas integrações e relações com o mundo e o meio que o
cerca, surgindo assim a necessidade que o indivíduo entre em contato com os fatores que lhe
geram ansiedade e onde está ocorrendo o bloqueio de seu contato para que assim consiga se
autorregular organísmicamente para que se possa ocorre o fluir novamente suas atividades
cotidianas e se conectar consigo mesmo.
Sendo assim, se tornando de fundamental relevância o dever do psicoterapeuta a
partir de seus métodos e ferramentas, torna aware as percepções do indivíduo, as suas
reflexões acerca de suas ações e o sentido que essas pretendem alcançar, e posteriormente a se
ambas caminham em uma mesma direção, a fim de alcançar um mesmo propósito. Por essa
razão, o presente trabalho se propôs em seu desenvolver apresentar como se concernem os
princípios da gestalt-terapia, como funciona a ansiedade, como a gestalt-terapia compreende e
aborda as demandas de ansiedade emergidas no cotidiano, que por sua vez chegam até o
consultórios de psicologia, em seguida aborda a ansiedade como fenômeno de campo se
atrelando ao processo de autorregulação organísmica através de formas de se ajustar, e
posteriormente abrange como funciona o manejo e intervenção do gestalt-terapeuta para com
o cliente frente ao processo ansiolítico, como esse funciona, como o psicoterapeuta maneja os
conflitos relatados, onde podem ocorrer as possíveis interrupções de contato, levando sempre
em consideração a individualidade de cada indivíduo, priorizando pela coerência entre o
sentido e o exercer de suas ações conforme o que tem intuito, focando não na explicação mas
na compreensão desse processo, para que o indivíduo apreenda que o sentido de suas
vivências passadas e construções de perspectivas futuras, dependem do seu contato com o seu
aqui-agora, vivenciando cada momento .
Desse modo, o papel da psicologia problematizado no decorrer do referido trabalho é
de propiciar compreensões e reflexões acerca do manejo gestáltico na clínica psicológica com
demanda de ansiedade, do modo dinâmico e integrativo em que consiste suas intervenções,
com o objetivo de apresentar novas possibilidades frente a essa queixa tão atual e recorrente
nos dias de hoje nos vários enfrentamentos estudados e propostos pela psicologia, não
18

pretendo sanar seus questionamentos dentro desse contexto, podendo subsidiar futuras
pesquisas nesse âmbito.
19

Referências

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Profissão. Brasília, v. 17, n. 2, p. 13-20, 1997. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1414-
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CANGUILHEM, Georges. O Normal e o Patológico. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense


Universitária, 2009. 153 p.

EVANGELISTA, Paulo. O Psicodiagnóstico Interventivo Fenomenológico-existencial Grupal


como Possibilidade de Ação Clínica do Psicólogo. Revista da Abordagem Gestáltica:
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