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CARTILHA BÁSICA SOBRE ANTICONCEPCIONAIS

Originalmente este grupo de fármacos foi desenvolvido para prevenir gravidez indesejada.
Nos últimos anos, contudo, passaram a agregar vantagens inerentes como regulação hormonal
(caso de ovários policísticos) e no controle de sintomas da menstruação (oleosidade da pele,
cólicas, alterações de humor). Outros benefícios que foram constatados ao longo das décadas de
uso incluem a redução de: dismenorréia, adenocarcinoma (ovariano e endometrial), Doença
Inflamatória Pélvica (DIP), câncer de endométrio e de ovário.
É importante salientar que alguns fármacos comercializados não são classificados como
anticoncepcionais e devem ser relevados na assistência farmacêutica:

Acetato de Clomifeno (Clomid®, Indux®, Serofene®): Utilizado como estimulante


ovariano na terapia para fertilização.

Acetato de Nomegestrol (Lutenil®): Utilizado como estimulante ovariano e regulador de


ciclo pós ovulatório.

Citrato de Tamoxifeno (Novaldex® e Novaldex D®): Utilizado na terapia do câncer de


mama.

Ciproterora (Androcur®): Utilizado tanto por mulheres na terapia antiandrogênica e por


homens como adjunto na terapia de Hiperplasia Prostática Benigna (HPB).

Cloridrato de Raloxifeno (Evista®): Utilizado na terapia de prevenção da osteoporose e


do câncer de mama pós-menopausa.

Dienogeste (Allurene®): Utilizado na terapia de endometriose.

Estradiol (Systen®): Utilizado na terapia de reposição hormonal e prevenção da


osteoporose oriunda disto.

Estradiol e Acetato de Noretisterona (Systen Conti®): Utilizado na terapia de reposição


hormonal e alívio de sintomas menopáusicos.

Estrogênios Conjugados (Premarin®): Utilizado na terapia de reposição hormonal para


manutenção do aparelho reprodutor feminino e prevenir a atrofia da genitália.

Gosserelina (Zoladex®): Utilizado na terapia de endometriose, controle de câncer


mamário e prostático, além de preparação para fertilização assistida.

Progesterona Micronizada (Ultrogestan®): Utilizado na terapia de reposição hormonal


para favorecer gravidez, na terapia de amenorréia e para normalização do ciclo ovariano.

Tibolona (Libian®, Livial®, Livolon®, Reduclim®): Utilizado na terapia de sintomas


decorrentes da menopausa (perda de libido, secura vaginal, fogachos) e na prevenção de
osteoporose.
Basicamente os anticoncepcionais são divididos pelas formas farmacêuticas em que se
apresentam, sendo as mais comuns: Pílulas (orais e vaginais), Injetáveis, Adesivos transdérmicos
e Anéis vaginais.

1)Pílulas

São as formas farmacêuticas mais comuns e práticas à disposição, podendo ser de uso
oral (ex: Microvlar®) ou vaginal (ex: Lovelle®). Pela formulação são classificadas em dois grandes
grupos.

1.1)Minipílulas

Basicamente são pílulas com apenas um componente, normalmente um hormônio


progestágeno. Sua baixa dosagem hormonal as permite o uso não apenas como anticoncepcional
em idade fértil como também em mulheres que estão amamentando (depois de 6 semanas pós
parto), podendo inclusive serem utilizadas em jovens à partir de 17 anos. As Minipílulas são
anticoncepcionais bem seguros, com uma taxa de falha de 1 a 5%, quando usadas corretamente.
O mecanismo anticoncepcional envolve o aumento da secreção do muco cervical, que por
sua vez interfere na motilidade dos espermatozóides. Estas formulações também atuam
interferindo na maturação do folículo em metade dos ciclos, por isso a ocorrência de
sangramentos irregulares.
Entre os exemplos mais conhecidos de anticoncepcionais deste grupo são:

Desogestrel: Araceli®, Cerazette®, Juliet®, Nactali®

Estradiol: Natifa®, Primogyna®

Linestrenol: Exluton®

Noretisterona: Micronor®, Norestin®, Primot-Nor®

Modo de uso: Estes anticoncepcionais são comercializados em cartelas de 21 ou 28


comprimidos, que devem ser administrados continuamente. No caso de 21 comprimidos é dado
um intervalo de 7 dias aonde ocorre um sangramento. Quando a cartela é de 28, os 7 últimos
comprimidos são inertes. Na prática uma mulher não precisa dar um intervalo de 7 dias entre uma
cartela e outra, podendo emendar sem nenhum risco (estudos comprovam que esta prática
aumenta a eficácia do anticoncepcional por manter os níveis plasmáticos de progestágenos). O
início de uso é sempre no primeiro dia de menstruação ou até o quinto dia desta e então seguir a
administração das pílulas dia a dia, de preferência no mesmo horário.
1.2)Pílulas Combinadas

Diferente das Minipílulas, estas são compostas por dois hormônios, normalmente um
progestágeno e um estrogênio. A composição binária não é constante em todas, fato que as
subdivide em três grupos:

1.2.1)Monofásicas – O teor de hormônios é constante em toda a cartela (ex: Nordette®)

1.2.2)Bifásicas – O teor de hormônios varia em dois momentos na cartela (ex: Gracial®)

1.2.3)Trifásicas – O teor de hormônios varia em três momentos na cartela (ex: Triquilar®)

Nota: No caso de pílulas bifásicas ou trifásicas, os comprimidos são identificados por cores
diferentes e devem ser seguidos na ordem descrita na cartela/bula!

Estas pílulas são mais seguras que as Minipílulas, com taxa de falha de apenas 1%. O
mecanismo anticoncepcional também é similar, mas engloba também uma supressão das
gonadotrofinas (FSH e LH) e alterações no endométrio.
Há uma grande variedade de formulações no mercado, sendo que as mais conhecidas são
as seguintes:

Acetato de Ciproterona + Etinilestradiol: Artemidis®, Ciprane®, Diclin®, Repopil®,


Selene®, Tess®

Acetato de Clormadinona + Etinilestradiol: Aixa®, Belara®

Acetato de Nomegestrol + Estradiol: Stezza®

Acetato de Norestisterona + Estradiol: Cliane®, Natifa Pro®, Suprelle®

Desogestrel + Etinilestradiol: Femina®, Gracial®, Malu®, Mercilon Conti®, Microdiol®,


Minian®, Primera®

Diidrogesterona + Estradiol: Femoston Conti®

Drospirenona + Etinilestradiol: Dalyne®, Diva®, Iumi®, Liara®, Lyllas®, Moliéri®, Nikki®,


Yang®, Yasmin®, Yaz®

Enantato de Noretisterona + Valerato de Estradiol: Noregyna®, Suprema®

Gestodeno + Etinilestradiol: Adoless®, Allestra 20®, Alexa®, Diminut®, Femiane®,


Gestinol 28®, Ginesse®, Gynera®, Harmonet®, Lizzy®, Micropil®, Minesse®, Mínima®,
Minulet®, Mirelle®, Previane®, Siblima®, Tâmisa 20®, Tâmisa 30®, Tantin®
Levonorgestrel + Etinilestradiol: Ciclo 21®, Concepnor®, Evanor®, Gestrelan®, Level®,
Levordiol®, Lovelle®, Microgynon 30®, Microvlar®, Miranova®, Neovlar®, Nociclin®,
Nordette®, Ovranette®, Seasonique®, Triquilar®

Norgestimato + Etinilestradiol: Cilest®

Valerato de Estradiol + Ciproterona: Climene®

Valerato de Estradiol + Dienogeste: Qlaira®

Valerato de Estradiol + Levonorgestrel: Cicloprimogyna®

Modo de uso: O uso segue o mesmo modus operandi das minipílulas, de forma que há cartelas
com 21 a 28 comprimidos (lembre-se que as últimas são placebo até completar os 28 dias do
ciclo). É preciso administrar um comprimido por dia à partir do primeiro ao quinto dia da
menstruação e seguir até se completar 28 dias, lembrando que os últimos comprimidos do ciclo
(quando presentes na cartela – de cor diferente) sempre são placebo. Deve-se obedecer
preferencialmente o mesmo horário de administração e pode-se fazer continuísmo de uma cartela
para outra, descartando os placebos quando existirem.

2)Adesivos

Uma forma farmacêutica muito prática que foi desenvolvida para aquelas que não se
adaptam a rotina diária de comprimidos ou que preferem evitar as injeções. Há apenas um
representante no mercado, mas goza da mesma eficácia das demais formas farmacêuticas
quando usadas corretamente (risco de 1%). Sua duração é intermediária entre os comprimidos e
injetáveis, de forma que um adesivo tem efeito 1 semana, de forma que em um ciclo de 3
semanas, na quarta não é utilizado e há o sangramento habitual. E da mesma forma que os
comprimidos, pode-se fazer continuidade sem a pausa, o que aumenta a segurança.

Norelgestromina + Etinilestradiol: Evra®

Modo de uso: Os adesivos devem ser aplicados em áreas específicas do corpo como nádegas,
abdômen, na região do músculo deltóide ou no músculo trapézio (na parte superior das costas).
Cada vez que for feita a troca é preciso mudar a região de aplicação. Importante que a área seja
isenta de pêlos, bem limpa e seca antes da aplicação. É importante verificar diariamente se o
adesivo não está descolando!
3)Injetáveis

As formulações injetáveis são as mais duradouras dos anticoncepcionais, embora não tão
práticas como os comprimidos e adesivos. São indicadas para aquelas que preferem um método
anticoncepcional de longa duração, sem a necessidade de se lembrarem do uso diário.
Há dois tipos de formulação injetável que apresentam durabilidade de ação diferente: os
preparados isolados e os preparados combinados. No primeiro há apenas um hormônio
progestágeno com duração de até 3 meses, enquanto que no segundo há o progestágeno com
um estrogênico e a ação é de 1 mês. O mecanismo de ação é o mesmo das pílulas: inibição da
ovulação e aumento da viscosidade do muco cervical.
No mercado brasileiro os anticoncepcionais mais conhecidos desta classe são:

Acetato de Medroxiprogesterona: Demedrox®, Depo-Provera®, Contracept®

Acetato de Medroxiprogesterona + Cipionato de Estradiol: Cyclofemina®, Depomês®

Algestona acetofenida + Enantato de Estradiol: Dáiva®, Perlutan®, Preg Less®, Uno


Ciclo®

Enantato de Norestisterona + Valerato de Estradiol: Mesigyna®

Modo de uso: Seja uma formulação simples ou combinada, uma injeção deve ser aplicada em um
dos últimos dias da menstruação no músculo glúteo médio. O objetivo é que fique o “depósito” na
região, que não pode ser mexida ou massageada após a aplicação. No caso de uma formulação
simples o efeito anticoncepcional é garantido por 3 meses, enquanto que nas combinadas o efeito
é de 1 mês. Pode-se fazer uma nova administração até 3 dias antes ou depois do prazo previsto
(30 dias ou 90 dias), havendo ou não menstruação.

4)Anéis Vaginais

O anel vaginal é uma forma farmacêutica mais recente que também se mostra muito
prática para uso mensal. No mercado brasileiro só existe uma formulação comercializada e ainda
é pouco conhecida, mas com eficácia bem reconhecida pelas usuárias deste tipo de
anticoncepcional.
A formulação do anel é do tipo combinada e utiliza a absorção sistêmica que ocorre na
mucosa vaginal (como é utilizado para outras medicações como o Estriol, Promestireno).

Etonogestrel + Etinilestradiol: Nuvaring®

Modo de uso: O anel deve ser inserido na vagina no primeiro dia da menstruação, independente
da preocupação com o fluxo. Ele deve ser colocado o mais profundo possível e ficar por 3
semanas, sempre sendo checado se não saiu do local após as relações sexuais. Após as 3
semanas ele deve ser retirado e então ocorre o sangramento habitual, contudo, pode-se fazer a
troca do antigo anel por um novo e com isso suprimir a fase de sangramento. Este procedimento
garante uma segurança maior pela manutenção dos níveis basais de hormônios.

ATENÇÃO: EFEITOS COLATERAIS PREVISÍVEIS

O uso de fármacos hormonais (no caso, os anticoncepcionais) provoca eventos adversos


que são típicos da alteração de feedback dos hormônios no organismo. Uma série de sintomas já
foi catalogada e são previsíveis para as usuárias de anticoncepcionais, de forma que a orientação
deve ser feita de forma ponderada.

Entre os sintomas mais conhecidos, merece destaque:

Spotting: É uma espécie de “sangramento” e não é a menstruação porque é de fluxo fraco


e sem as habituais cólicas (espasmos). Pode ocorrer com qualquer anticoncepcional
durante seu uso e mesmo de forma irregular.

Problemas com lentes de contato: É um sintoma comum e deve ser esclarecido que é
normal de ocorrer quando se inicia o uso do anticoncepcional. Ainda não existe explicação
para a ocorrência deste fato, mas é importante salientar que pode ocorrer alteração da
visão e mesmo incompatibilidade com as lentes de contato.

Retenção de líquido e alteração da pressão arterial: A alteração hormonal pode


provocar retenção de líquidos (edema), especialmente nos dedos e nos membros
inferiores. O aumento do volume de líquidos pode alterar a pressão arterial e este aspecto
deve ser relevado na orientação às pacientes. Deve-se orientar as pacientes em nunca
utilizar diuréticos (hidroclorotiazida, furosemida, indapamida) sem a consulta de seu
ginocologista.

Náusea, vômitos, perda de apetite, nervosismo, vaginite e cefaléias (enxaquecas


também): São sintomas comuns de ocorrerem, especialmente no início do uso do
anticoncepcional. Durante o processo de adaptação do organismo da mulher, os sintomas
tendem desaparecer no terceiro mês de uso, caso contrário ela deve ser reavaliada pelo
ginecologista. É importante orientar as pacientes de não fazerem uso de fármacos contra
os sintomas de enxaqueca (ergotamínicos – Cefaliv®, Cefalium®, triptanas – Naramig®,
Sumax®, Zomig®) sem a consulta do ginecologista.

5)Anticoncepcionais de Emergência (Pílula do dia seguinte)

São formulações contendo um componente em alta dose, administrados uma ou duas


vezes até 72 após a suspeita de falha de algum contraceptivo ou de relação indesejada. Embora
ainda haja apresentação em dose dupla, na prática o teor final de hormônio é 1,5mg e por isso há
preferência pela dose única (o que minimiza situações de esquecimento).

A pílula do dia seguinte, embora prática, não deve ser encorajada como contraceptivo
recorrente porque sua taxa de falha é estatísticamente alta (cerca de 8%) em relação aos
anticoncepcionais, especialmente quando já passaram 48 horas do ocorrido. Além disso, o uso
máximo recomendado para uma mulher é de duas vezes ao ano, sob risco da eficácia ser ainda
menor porque os mecanismos de regulação hormonal femininos superam a carga da pílula do dia
seguinte.

No mercado brasileiro há vários fabricantes deste tipo de anticoncepcional:

Levonorgestrel 0,75mg: Dopo®

Levonorgestrel 1,5mg: PozatoUni®, Postnor®, Poslov®, Dia D®

Fonte: Bulas dos medicamentos acessados no site da ANVISA, Assistência em


Anticoncepcionais (Ministério da Saúde), Manual de Orientação em Anticoncepção
(Febrasgo)

Organizador: MSc Augusto Aragão de Barros (CRF-RJ 13511)

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