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hinaldo breguez

a chave
da consciência
1
hinaldo breguez

em algum momento teremos


que iniciar este caminho

a chave
da consciência
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Título:
A chave da consciência

Organizadores:
Lucas Domith e Hinaldo Breguez

Autor:
Hinaldo Breguez

Revisão:
Isabella Brandão

Diagramação:
Hinaldo Breguez

1ª edição - Setembro 2019

Informações: Segredos da Oratória


Whatsapp: (32) 99132-3333
E-mail: hinaldo@segredosdaoratoria.com.br
Instagram/Facebook: @hinaldobreguez

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feliz por ter encontrado
na vida uma chave mestra.
obrigado Gigi.

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sumário

1ª parte - como você é - pág. 6


2ª parte - por que não vivemos o agora - pág. 22
3ª parte - o início da jornada da consciência - pág. 42
4ª parte - a consciência no dia a dia - pág. 63
5ª parte - um dia sem consciência - pág. 78
6ª parte - a chave mestra da consciência - pág. 91

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1ª parte

como
você é

6
não se prenda em como você está,
mas no que você pode se tornar

7
E
xistem várias tradições que definem como é o ser humano.
Desde sua constituição mais física, densa, concreta, passando
por aspectos vitais, energéticos, sua estrutura psíquica, emo-
cional, seus pensamentos, sua parte cognitiva e aquilo que é mais
sutil, ultrapassa o plano da matéria e para muitos é conhecido como
uma parte espiritual, transcendente ou divina.

Facilmente podemos constatar que o ser humano combina na sua


personalidade uma série de estruturas de diferentes níveis de com-
plexidade. Todas essas estruturas são conjugadas de alguma forma,
e se fazem presente a todo instante da nossa vida. Desde quando
acordamos pela manhã, até o momento que nos deitamos, essa es-
trutura continua presente e ativa enquanto nós dormimos.

Pare para avaliar um simples dia de toda sua vida, e você irá perceber
que durante um único dia você foi capaz de produzir incontáveis pensa-
mentos, gerar diferentes emoções e inúmeras reações biológicas.

Por exemplo, as vezes você acorda bem-disposto, sem o desperta-


dor tocar, sorrindo espontaneamente, pois te aguarda um dia muito
especial, o reencontro com um velho amigo.

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Você se levanta feliz, caminha em direção ao banheiro, com passos
leves, suaves, mas de repente seu percurso é interrompido quando
você chuta a quina do guarda roupa com o dedinho do pé esquerdo, e
sua manhã e seu dia que começava feliz e tranquilo foi transformado
abruptamente.

Surge uma nuvem negra em cima da sua cabeça, se forma uma


grande tempestade, você se afasta daquela condição serena e tranqui-
la, assumindo assim – como num passe de mágica-, uma condição
negativa e carregada de mau humor e raiva.

As mudanças no campo dos pensamentos e das emoções giram em


uma velocidade muito maior do que as mudanças no plano físico.
Em um estalar de dedos, em um piscar de olhos, você pode sair do
alto e cair em um abismo sem fim.

Assim como aprendemos na escola, desde o início dos nossos estudos


no pré-primário (quando nos é ensinado a cuidar da nossa estrutura
física e biológica, a oferecer os devidos cuidados de higiene pessoal ao
nosso corpo, a realizar uma alimentação adequada, oferecendo os nu-
trientes necessários para manter nossa máquina funcionando) também
é de fundamental importância sabermos os cuidados que precisamos
oferecer para nossa estrutura emocional e mental.

Em algum momento você aprendeu, na escola, como lidar com o


medo? Como lidar com a ansiedade? O que fazer com as dúvidas?

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De alguma maneira a nossa educação vem se voltando, cada vez
mais, para essas necessidades físicas e biológicas e deixando de lado
necessidades não menos importantes, como a de educar os nossos
pensamentos e emoções. Afinal de contas, quando um jovem termina
o ensino médio, realiza o vestibular e entra na faculdade, esse mesmo
jovem que após se formar irá se deparar com o mercado de trabalho,
ele se encontrará em uma sociedade com situações que irão exigir dele
uma clareza dos seus pensamentos e qualidade das suas emoções.

Se esse jovem não desenvolveu essas habilidades durante algum perí-


odo de sua vida, seja na escola, faculdade, ou educação pelos seus pais,
pelo fato de não participar de uma família bem estruturada, como ele
vai lidar com essas novas situações? A grande tendência é, diante dessa
pressão, ceder a uma série de medos de diferentes naturezas e contrair
muitas dúvidas sobre a vida.

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somos tudo isso

N
ão basta para o ser humano investir tempo e dinheiro em
uma preparação técnica, operacional. Um dos problemas en-
frentados pela educação, no mundo contemporâneo, é o fato
das pessoas procurarem as escolas não para se educarem, mas sim com
a finalidade de aprenderem um ofício.

O problema de se estudar em uma escola somente com o objetivo de


aprender um ofício, é que no final de tudo você ainda sim pode sair
dessa escola sem educação. Imagine como que seria trágico, uma insti-
tuição de ensino superior conferir um diploma de médico, engenheiro,
arquiteto, contador, pedagogo... para uma pessoa sem educação.

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quando a dúvida e o medo nos dominam
perdemos o sentido da vida

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o que é educação

E
ducação vem de “eduzir”. Que significa extrair do ser humano
algo que está dentro, a sua melhor versão, o que ele possui de
melhor. Ou seja, extrair do ser humano o que é próprio da sua
natureza, o seu grande diferencial se comparado aos outros seres.

Não basta para o ser humano ter uma formação técnica, se faz necessá-
rio ter uma educação psíquica e mental, porque é justamente essa edu-
cação emocional que fará com que a pessoa faça bom uso da educação
técnica. Sem essa educação complementar, enchemos nossa cabeça de
dúvidas e nosso coração de medos e ansiedade.

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as necessidades do
ser humano

O
ser humano, ao longo da sua vida, apresenta diferentes ne-
cessidades pedagógicas. Da infância até a velhice, cada ida-
de da vida merece um cuidado específico.

Em algumas escolas tradicionais de conhecimento, se trabalhava


com a ideia de que a infância é o momento para a criança ter contato
com o mundo ideal. Até os 7 anos de idade, não possui filtros, e por
isso se assemelha a uma esponja. Ela absorve tudo que está em volta.
Se a criança escuta alguém falando uma palavra, ela repete.

Independente se, para a sociedade, essa palavra seja malvista ou


pejorativa. Se ela ver alguém fazendo algo, ela fará igual. Qual o
porquê disso? O porquê disso é o fato dessa criança não ter uma
consciência madura, e por isso não se responsabiliza pelos seus
atos. Ela não julga, não consegue ter o discernimento. A consciên-
cia dela é ainda muito física, rústica, e o seu nível de clareza ainda é
muito superficial. O seu discernimento é aplicado para diferenciar
o quente do frio, mole do duro... ou seja, ainda é muito físico. Sua
estrutura psíquica ainda não tem consistência.

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Por isso, é uma idade da vida onde a criança deve ser protegida
das maldades do mundo e afastada dos problemas dos adultos, pois
uma vez que ela não possui um critério de seleção, ela absorve tudo
que está em seu entorno, seja bom ou ruim.

Esse é o momento em que um mundo fantástico deve ser apre-


sentado para a criança, um mundo ideal. O mundo dos contos de
fadas, dos reis e rainhas, dos mitos, dos príncipes e princesas e da
eterna luta do bem contra o mal.

Não seria esconder a realidade da criança, mas sim apresentá-la


em uma linguagem mais adequada. Existe a maldade no mundo, e
isso é apresentado para ela através de uma história, com uma bruxa
má ou um feiticeiro, mas também existe uma bela princesa ou prín-
cipe. Ou seja, apresentando o mundo a essa criança respeitando a
quantidade de consciência que existe nessa personalidade.

Dos 7 aos 14 anos, é quando a criança começa a desenvolver um


outro aspecto da sua personalidade: a vitalidade. Um tipo de vitali-
dade que irá ajudar a desenvolver todo seu aspecto biológico do seu
corpo e gerar uma aproximação dos sinais de puberdade.

Nessa idade, com o desenvolvimento dessa vitalidade, o adoles-


cente sente necessidade de ação.

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É o momento para ser desafiado e tomar contato com uma outra
realidade da vida, fazendo exercícios de superação. Como a prática
de esportes, o contato com a natureza, a aventura e correr riscos
moderados Quando isso não é feito, a tendência é se explodir de
tanta energia, gerando brigas nas escolas, em casa ou na rua, ou até
mesmo se envolvendo com drogas lícitas, como o álcool e o cigarro,
e até ilícitas.

Nessa idade da vida a necessidade da experiência é muito grande,


e se o adolescente não é direcionado para ter essas experiências,
ele irá fazer por conta própria, e não o fará de uma maneira muito
saudável e segura.

Dos 14 aos 21 anos, tende a ser uma das etapas mais dramáticas,
justamente por coincidir com a consolidação das emoções. Nessa
idade, o jovem está formando sua estrutura psicológica de maneira
mais sólida, e por isso é a etapa, por excelência, das crises psíquicas
de natureza emocional.

É o momento em que se apaixona, se firmam os grandes laços de


amizade, que se odeia, que se briga, que se descobre, quando sur-
gem as certezas e as dúvidas. Nessa fase da vida, o jovem precisa
conseguir assumir pequenas responsabilidades. Porque são as res-
ponsabilidades que ajudam o ser humano a crescer e se desenvolver.

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Dos 21 aos 28 anos, terminamos de formar a estrutura básica de
nossa personalidade, desenvolvendo nessa etapa a consolidação de
algumas ideias e pensamentos, e formando, de maneira geral, nossa
estrutura mental.

Quando nós não cumprimos bem alguma dessas 4 etapas, principal-


mente as 3 primeiras, isso tende a gerar uma instabilidade emocional
que pode nos perseguir durante toda a vida.

Muitas vezes, o fato de, quando crianças, termos tido contato com
problemas dos adultos, e por não possuirmos, na ocasião, uma capa-
cidade de assimilar esse problema, isso gera um ‘’nó’’ na estrutura de
nossa personalidade, que nos acompanha em diferentes formas de
instabilidade.

Essas instabilidades podem se manifestar como ansiedade, diferentes


tipos de medo, angústias, carências e dúvidas em geral. O interessante
é que, com a maturidade que vamos conquistando, com o passar do
tempo, e também ao completar o ciclo de formação de nossa persona-
lidade aos 28 anos, podemos buscar compreender o que se passou em
nossa vida, avaliando de forma madura o nosso passado, a nossa histó-
ria, para projetar um futuro com mais consciência.

17
sem consciência não
aprendemos nada

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um futuro com
mais consciência

U
m futuro com mais consciência é um futuro em que você
está livre para viver o instante presente. Não fica comple-
tamente absorvido pelos problemas do passado, se afe-
tando emocionalmente por erros que você cometeu, e nem sofren-
do por antecipação por coisas que ainda não aconteceram.

A consciência é um nível de concentração que faz com que você


veja a vida de uma maneira objetiva, dando um real valor as coi-
sas, sem aumentar nem diminuir. E esse livro mostrará a sua jor-
nada a ser percorrida em busca da consciência.

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você não
está sozinho

É
natural que todo ser humano tenha experiências com o
medo, ansiedade, ou que em diferentes etapas de sua vida,
não tenha conseguido assimilar todas as suas experiências.
Algumas coisas ficam para trás.

Porém isso não é ruim e nem é o problema em si. Isso é natural.


Desde que haja um equilíbrio entre as experiências que precisam
ser corrigidas, assimiladas e as novas escolhas que nos geram
novas experiências e novos aprendizados. Permanecer no mesmo
erro, permanecer instável, na mesma área, por muito tempo, isso
sim pode gerar prejuízos maiores.

A nossa consciência é formada através de um conjunto de experi-


ências de todas as etapas de nossa vida. Todas elas estão interligadas
e precisam, de alguma forma, serem equilibradas.

Com esse livro, você terá oportunidade de direcionar sua refle-


xão para as diferentes áreas da sua vida, gerando um entendimento
melhor do que se passa com você, e o que você pode fazer para mu-
dar essa situação, gerando uma mudança de mentalidade profunda
o suficiente para criar uma mudança de hábito, comportamento e,
consequentemente, de sua realidade.

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Uma vez que a etapa final da consolidação da personalidade do ser
humano é a estruturação dos nossos pensamentos, é justamente
através deles que podemos compreender como somos, e desenhar-
mos como podemos vir a ser.

Pense que você pode estar prestes a abrir portas da sua consciên-
cia que jamais imaginou. Novas experiências te aguardam após
esse livro. Você só precisa ser uma pessoa disposta a ponto de
aplicar os ensinamentos transmitidos aqui, e assim escrever uma
nova história em sua vida.

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2ª parte

por que não


vivemos o agora

22
“o deprimido está preso ao passado;
o ansioso está preso ao futuro;
o prudente vive o presente”

lao tze
23
O
momento histórico em que vivemos se caracteriza pelo avan-
ço da tecnologia, velocidade das informações, pela grande e
brutal concorrência no mercado de qualquer área, fazendo
com que as pessoas tenham que estar sempre correndo atrás de alguma
coisa em alta velocidade. As cidades estão cheias, o trânsito cada vez
mais complicado, alimentos modificados geneticamente, falta de espa-
ços naturais e excesso de construções de concreto.

24
como isso
te afeta

I
sso nos obriga a forçar nossa natureza, a assumir uma série
de compromissos e responsabilidades, sem necessariamente
termos sido preparado para isso. E, como consequência, não
damos conta de tudo que temos para fazer. Em um dia, com 24
horas, ocupamos, no mínimo 8 horas com trabalho, 8 com uma
noite de sono, muitas vezes mal dormida, e alguns afazeres do-
mésticos, e assim já se foi boa parte do nosso dia, ocupado com
questões básicas de sobrevivência do mundo atual.

Ainda temos que separar um tempo para nos alimentar, para


cuidar de imprevistos de casa, isso sem contar se você tem um
filho ou um animal de estimação para cuidar.

Ou seja, antes de iniciarmos nosso dia, a maior parte dele já está com-
prometida com uma série de obrigações que vão testando nossa resis-
tência psíquica e mental (entenda psíquica como emocional).

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A medida em que vamos deixando algumas coisas para trás,
pelo fato de ter se comprometido a fazer muitas coisas e não dar
conta de executar todas elas, vamos acumulando, pouco a pou-
co, um sentimento de dívida, uma sensação de que não estamos
dando conta e que talvez o problema seja com você mesmo. Uma
sensação de que não somos bons o suficiente e que nunca iremos
conseguir ser melhores.

O ritmo de vida, principalmente nas médias e grandes cidades,


agride, de forma muito violenta, a natureza humana. Isso tudo faz
com que a gente se afaste do momento presente e se encontre preso
em um labirinto de coisas que ainda teremos que realizar no futuro
e daquilo que não conseguimos realizar no passado.

Existe um índice internacional que explica justamente isso.


Fala que 70% dos estudantes de especialização do nível mestrado
ou doutorado, desenvolve algum transtorno psicológico ao longo
do seu curso. Isso porque ele programa sua semana de ativida-
des, faz um planejamento, mas não consegue cumprir. Inicia sua
semana na segunda-feira com tudo que tem que fazer listado e
definido, mas quando termina o seu dia, não conseguiu cumprir
com metade do que se propôs. Na terça-feira, ele inicia o dia de-
vendo aquilo que tinha programado para segunda, mas termina
o segundo dia da semana sem nem ter concluído o que estava
planejado para o dia anterior.

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Isso continua se arrastando ao longo de semanas, meses, até o mo-
mento em que é engolido pela sensação de dívida e o peso que isso
gera na sua estrutura psicológica, desenvolve algum transtorno de
ansiedade, síndrome do pânico ou depressão.

O curioso é que esse comportamento psicológico se repete não só


com aqueles que realizam alguma especialização a nível acadêmi-
co, mas com todos que assumem uma série de obrigações na vida,
sem necessariamente terem refletido sobre elas ou a respeito da
sua condição interna de realização. Salvo raras exceções, todos
estamos vivendo no limite, tendo que cumprir com muitas coisas
e cada vez mais em menos tempo.

27
“cuidado com o vazio de uma
vida ocupada demais”

sócrates
28
como saber o que é
importante para mim

S
ócrates foi um grande filósofo da Grécia Antiga, considerado
um dos homens mais sábios de sua época. Eu entendo que é de
fundamental importância que o ser humano esteja ocupado.
Mas que o seu tempo seja preenchido com aquilo que é essencial,
fundamental.

Na medida em que você compromete boa parte do seu tempo


com aquilo que é supérfluo, não essencial, como consequência,
isso tende a gerar alguns efeitos colaterais em você. Um vazio in-
terno, que não será preenchido com coisas externas. A falta de
sentimentos íntimos e profundos não consegue ser substituída por
meros afazeres domésticos, profissionais ou acadêmicos.

Sentimento se constrói através de experiências de valor, altruístas e


saciam as necessidades profundas e imateriais que toda natureza hu-
mana possui. Ou seja, um ser humano não se satisfaz com uma vida
comum, como: comer, beber, dormir e pegar o ônibus.

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Todos nós necessitamos de gerar experiências com emoções
profundas, aquilo que chamo de sentimentos.

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mas afinal, como
conseguir definir o que é
importante para mim

V
ocê precisa equilibrar os compromissos que assume, entre
coisas que irão saciar suas necessidades físicas, e aquelas
que irão saciar suas necessidades emocionais.

Uma pesquisa feita pela Universidade de Harvard, iniciada na


década de 30 e que existe ainda hoje, comprovou que o que torna
um ser humano realizado e feliz não é o reconhecimento que ele
possui na sociedade, resultado de seu trabalho ou o patrimônio
que ele conseguiu acumular. De 724 pessoas que foram entrevis-
tadas e acompanhadas durante toda sua vida o fator fundamental
na definição se essas pessoas eram realmente realizadas ou não
foram os bons relacionamentos que elas conseguiram construir
ao longo de sua vida.

As pessoas identificadas como mais felizes e realizadas da pes-


quisa eram, justamente, as pessoas que conseguiram construir bons
relacionamentos ao longo da vida. Isso porque o relacionamento é
uma chave para a consciência emocional.

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A troca de experiências, a convivência, é fundamental para o desen-
volvimento humano gerando sentimentos profundos e, tornando
assim, nossa estrutura psíquica cada vez mais robusta. Uma vez com
o seu veículo emocional mais forte, você terá mais resistência para
lidar com as adversidades do dia a dia ao longo de toda sua vida.

32
o essencial é invisível
aos olhos

Saint-Exupéry
33
o problema não é fazer
muitas coisas, o problema
é não fazer o essencial

A
maneira como a sociedade contemporânea está estrutu-
rada facilmente nos obriga a assumirmos uma série de
compromissos cada vez mais cedo. Alguns anos atrás, em
uma entrevista com o diretor de Marketing de uma grande in-
dústria de brinquedos, se comentava da dificuldade de produzir
brinquedos para crianças no mundo atual. Uma vez que a criança
do século XXI não tem mais tempo para brincar.

Essa afirmação veio da constatação de que, nos dias de hoje, as


crianças possuem uma agenda de um adulto, cheia de compro-
missos, da hora que acordam até o momento em que vão dormir.
Precisam ir à aula de natação, futebol, balé, luta... não basta mais
aprender inglês e espanhol, precisam fazer italiano, francês, e,
dessa forma, ocupam todo o seu dia. Mesmo assim não vejo que
o problema seja estar ocupado.

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Eu trabalho com a ideia de que é fundamental que todo ser
humano esteja de fato ocupado. No entanto, ocupado com aquilo
que é essencial. Algo que, definitivamente, nunca é e nunca foi
fazer coisas.

Eu presenciei um exemplo recentemente bem de perto. Júlia (nome


fictício), uma jovem que se tornou mãe muito cedo, e que depois do
nascimento de seu filho, começou a apresentar sinais de síndrome
do pânico. Ansiedade e estresse estiveram presentes em sua rotina.
Pela manhã, não deixava o seu esposo ir trabalhar, por não suportar
a ideia de ter que ficar sozinha com a criança durante o dia.

Após ser acompanhada por uma psicóloga durante uma semana, foi
detectado que um dos problemas que ela apresentava era a falta de ro-
tina. Não tinha um horário para acordar, não tinha afazeres a cumprir
ao longo do dia, não tinha nenhuma obrigação, além dos cuidados bá-
sicos ao bebê, mas que não eram suficientes para ocupar todo seu dia.
Ou seja, o excesso de tempo livre, o fato de não estar ocupada, somado
a experiência prematura de ser mãe muito jovem, precipitou na Júlia
quadros de enfermidades de natureza emocional.

Uma das coisas que começaram a ajudá-la a melhorar foi ocupar


o seu dia com afazeres simples, pois o ser humano não se prejudica
somente quando ele ocupa a totalidade do seu tempo com coisas
superficiais, mas também quando se mantem ocioso na maior parte
do tempo. Não ter o que fazer também agride as nossas emoções.

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Como diz o ditado, “mente vazia, oficina do diabo”. E nesse caso o dia-
bo é símbolo da angústia, ansiedade, baixa autoestima, tristeza e outras
emoções negativas.

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se ocupando com
o essencial

O
fato da personalidade do ser humano ter uma constituição
complexa, formada por estruturas sutis, como são as emo-
ções, pensamentos, mas tudo conjugado com a sua parte fí-
sica, traz para si necessidades de diferentes naturezas. Necessidades
biológicas, emocionais e mentais.

Se ocupamos boa parte do nosso tempo com as necessidades


físicas, fazendo coisas em que muitas vezes não gostamos ou nem
acreditamos no que está sendo feito, no final do dia estamos com
o corpo cansado, desgastado e não sobrou tempo para saciar as
necessidades mais sutis que possuímos. Um grande médico e fi-
lósofo grego chamado Hipócrates, considerado o pai da medi-
cina, dizia algo parecido como ‘’quem não ama adoece’’. Porque
para ele, a doença era falta de amor.

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Quando você não acredita no que faz, ou quando não acredita
no que fala, tome cuidado, pois você está agindo de forma física,
mas deixando de se ocupar de forma emocional, não colocando
sentimento naquilo que você faz.

Você age vazio de conteúdo. Você faz algo, toma alguma ati-
tude, mas vazio de sentimento, sendo que é justamente o senti-
mento que vai oferecer força suficiente para sustentar suas ações.
É como se você tivesse comprado algo com boa embalagem, mas
estragado por dentro.

Essa atitude não tem consistência, já nasceu morta. Seria como


você querer levantar um prédio, uma construção, em um terreno
movediço. A consequência disso é a enfermidade. Sua estrutura
psíquica não vai conseguir suportar o peso de muitas palavras di-
tas, de muitos compromissos feitos, sem concordância com aquilo
que você realmente acredita, com aquilo que você realmente é. A
partir daí surge uma porta para os transtornos psicológicos, doen-
ças de natureza emocional.

O escritor francês Antoine De Saint-Exupéry, autor da obra ‘’O pe-


queno príncipe’’, já dizia que o “essencial é invisível aos olhos”. É fun-
damental para o ser humano colocar sentimento em tudo que ele faz.
Isso é essencial e é uma parte invisível que, na maioria das vezes, passa
desapercebida, e só damos conta depois que já comprometemos a maior
parte do nosso tempo com coisas superficiais e vazias de sentimento.

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Então pare para observar se as suas ações estão mecânicas, no pi-
loto automático, ou se você tem conseguido colorir com suas boas
emoções os afazeres do seu dia a dia. Quando você faz algo com
sentimento, isso que você faz tende a ter uma pitada de bom hu-
mor, cortesia, convivência e concórdia.

Cortesia seria uma postura social suficiente para gerar um magne-


tismo, capaz de atrair as pessoas para que elas se sintam bem em
estar com você, passem a desejar isso. Uma convivência capaz de
unir as diferenças e aproximar as pessoas. A habilidade de deixar me-
lhor o lugar que você passa, à medida que você o enche de vida.

Concórdia é o resultado das duas ideias anteriores. Quando você


prepara o ambiente, através da cortesia, condições para que se gere
um início da convivência são criadas, o que gera uma aproxima-
ção, a construção de algumas experiências, e concórdia é coração
com coração. ‘‘Cor’’ é uma palavra latina que significa coração.
Concórdia pode ser definido como o resultado de uma relação
profunda, autêntica e essencial. Um sentimento profundo de uma
pessoa para outra. Uma das chaves da consciência.

39
saindo da
bolha social

E
m alguma medida, todo ser humano tem dificuldade em
viver o presente. Por isso, aquele que consegue projetar
a sua consciência, em algum grau, no agora, se destaca.
Independente da sua área de atuação profissional ou pessoal, se
você tem interesse em se diferenciar e se destacar, ou até mesmo
em ser uma pessoa melhor, faça isso, pois essa é uma dificuldade
de todo o ser humano. Obviamente que algumas pessoas tendem
a apresentar mais consciência no agora, e outras tendem a apre-
sentar uma quantidade menor.

No entanto, ainda sim essa é uma área para todos desenvol-


verem, e que através desse livro, você poderá se aproximar das
chaves necessárias para essa transformação.

Esses dois primeiros capítulos foram escritos para te ajudar a


entender melhor como que você funciona, e aquilo que pode te
afastar do momento presente.

40
No capítulo seguinte você iniciará a jornada da consciência, com
reflexões profundas e exercícios práticos, que irão te ajudar a en-
frentar, de maneira direta, enfermidades de natureza emocional,
como ansiedade e baixa autoestima, decorrentes da sua ausência
no agora, do momento presente.

41
3ª parte

o início da jornada
da consciência

42
“nenhum caminho leva à felicidade,
a felicidade é o caminho”

43
S
e a sua personalidade pudesse ser representada simbolica-
mente como um prédio de três andares, a consciência tal-
vez seja o elevador. Uma parte do prédio, que sobe e desce,
passando por todos os andares, de acordo com a necessidade. Em
um exemplo já citado anteriormente, quando você acorda bem-
-disposto, com uma certa alegria no coração, mas ao se levantar,
bate com o pé em algum objeto, e imediatamente sente muita dor,
imagine para onde vai sua consciência.

O elevador desce, e a consciência se projeta unicamente no corpo


físico, para ser mais exato, na parte do corpo em que está sofren-
do. Quando você se sente traído por alguém, enganado, o elevador
sobe um pouco, e para no andar das emoções. Ou seja, a consciên-
cia transita por todos os andares do prédio da personalidade do ser
humano. Ora ela está mais baixa, concentrada nas suas necessidades
mais fisiológicas, instintivas, ora ela está em alguns patamares supe-
riores, passando pelas emoções, ou até mesmo pelos pensamentos.

O curioso é que até mesmo dentro de cada andar desse prédio


existem diferentes cômodos, diferentes salas.

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Dentro do terceiro andar desse nosso prédio, o andar dos pensa-
mentos, existem salas mais organizadas, mais nobres, onde guar-
dam as ideias altruístas, os pensamentos elevados, mas também
existe o depósito de lixo. Salas mal organizadas, carregadas de su-
jeira, e de todo o lixo que carregamos no andar dos pensamentos.

Pensamentos negativos, pessimistas, dúvidas, críticas, etc.

Não faz sentido guardarmos frutas frescas no mesmo recipiente


com frutas podres. A natureza é inteligente, e por isso estruturou
diferentes recipientes na personalidade do ser humano, para que
pudéssemos organizar e distribuir todos os pensamentos e senti-
mentos. Por isso encontramos diferentes salas, em cada um dos
andares, umas para guardarmos o que temos de melhor, de mais
divino e transcendente, e outras para guardarmos aquilo que te-
mos de não tão bom, que é transitório, passageiro.

Todos os seres humanos possuem todos esses compartimentos. Em-


bora a grande maioria das pessoas tende a visitar, com muita mais fre-
quência os depósitos de lixo que temos em cada um dos andares, ao
invés de contemplar as salas mais organizadas dentro de nós.

A jornada da consciência inicia-se com a necessidade de conhecer


a si mesmo. De tomar contato com sua realidade pessoal, mapeando
os ambientes que você possui no prédio de sua personalidade, sabendo
distinguir e hierarquizar todas essas distintas salas.

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Existem salas que nos conduzem até a sabedoria e outras que nos man-
tem na ignorância, como diz o grande clássico da literatura tibetana,
‘’A voz do silêncio”. As salas da ignorância, ou esses depósitos de lixo,
onde acumulamos os pensamentos e emoções desorganizadas, repre-
sentam tudo aquilo que distorce a realidade, que nos atrapalha a ver as
coisas como elas realmente são, entorpece nossa visão e nos faz sofrer.

Há que se fazer um esforço cotidiano para, pouco a pouco, nos despren-


dermos dessas salas repugnantes, malcheirosas e fazer nascer o interesse
em aumentar o nosso tempo de convivência nas salas da sabedoria.

46
de que adianta mudar fora
se você não mudou dentro

47
o que acontece com aquele
que está na sala da ignorância

I
magine que na sala da ignorância exista uma janela e essa janela tem
um vidro escuro. Portanto, tudo que você enxerga fora do prédio,
através dessa janela, tende a ser escuro e sombrio. Quando você diz
que não vai conseguir passar no vestibular, um novo emprego, se curar de
uma doença, aprender um novo idioma, isso tende a indicar que você está
no depósito de lixo de algum dos andares do prédio da sua personalidade.

Se você está no andar das emoções, saiba que o depósito de lixo


desse andar é onde se guardam todos os medos. O medo de falhar,
o medo de correr riscos, o medo do sucesso, do êxito, o medo do
desconhecido. Sob influência da atmosfera dessa sala, a tendência
será você paralisar todas as suas ações, você não vai querer agir. Vai
arrumar qualquer desculpa para interromper a sua jornada da cons-
ciência. Vai dizer que não tem tempo, que não tem dinheiro, que está
com problemas na família, no trabalho ou na faculdade. Irá acumu-
lar pouco poder de realização e inúmeras pendências.

48
Um comportamento comum de quem passa muito tempo dentro
dessa sala, é não terminar aquilo que começa. Muda sempre de ati-
vidade, porque se motiva por qualquer tipo de novidade, mas falta
força interior para manter a perseverança e a constância. Como re-
sultado, prefere ficar onde está.

O famoso medo do escuro, tão comum na nossa infância, não


passa de ser o medo do desconhecido. O esforço que temos que em-
preender para abandonarmos o seguro e confortável lugar em que
estamos, rumo ao incerto. O que para muitos, seria trocar o certo
pelo duvidoso. No entanto é justamente quando o ser humano faz
isso, impulsionado pelos motivos certos, é que ele consegue crescer.
Mesmo estando em situações difíceis, passando por circunstâncias
adversas, projetando a sua consciência em direção a salas mais es-
truturadas, dentro do andar das emoções.

Porém se faz necessário um interesse sincero de querer trocar de


sala. Isso ninguém pode fazer por você. Ninguém pode querer por
você. Há que querer sair do depósito no andar das emoções, tam-
bém conhecido como a sala da ignorância, e caminhar em direção a
sala da sabedoria, uma sala estruturada, organizada e limpa.

Se você está preso na sala da ignorância, ou seja, no depósito de lixo


do terceiro andar do prédio da sua personalidade, no andar dos seus
pensamentos, uma das consequências é a dúvida. Ao olhar para fora,
através da janela dessa sala, a tendência é o ceticismo.

49
É natural para o ser humano ter dúvidas. É natural ter a dúvida como
um ponto de partida. O grande problema é você ter a dúvida como um
ponto de permanência. E isso destrói o ser humano.

Muito lixo acumulado no depósito do andar das emoções é consequ-


ência de algumas dúvidas acumuladas no depósito de lixo dos pensa-
mentos. No final das contas, muito dos nossos hábitos, comportamentos,
são resultados de uma mentalidade que preservamos ao longo de anos
e anos em nossa vida. E, para gerar uma mudança de comportamen-
to, precisamos de uma mudança de mentalidade. Na jornada da cons-
ciência, vamos precisar pensar de forma diferente. Projetar os nossos
pensamentos nas salas mais limpas, também desse andar. Buscar ideias
realistas, sensatas, com níveis de plausibilidade, porém carregadas de
otimismo e alegria, resultados de uma reflexão profunda.

Para conseguirmos colocar vida em todo o prédio de nossa per-


sonalidade, podemos começar pelo último andar. Essa vida que
vai decorar, organizar e embelezar tudo que está dentro do prédio,
separar aquilo que presta do que não presta, são os resultados de
suas reflexões de onde você projeta os seus pensamentos, que irão
influenciar fortemente seus sentimentos e que depois irão se ma-
nifestar nas suas ações.

Dessa maneira, pensamento, sentimento e ações se conectam, abrin-


do um caminho de passagem. Um caminho natural para transitar sua
consciência nos melhores ambientes.

50
Para isso acontecer, temos que dissolver as dúvidas, substituí-las por
convicções e pequenas experiências na sala da sabedoria.

Um ser humano dominado pela dúvida é alguém que perdeu o sentido da


vida. E o que você acha que acontece com alguém que não tem esperança?

Sem esperança você não sai da sua cama no outro dia pela manhã. Sem
acreditar que, a cada dia você terá uma nova oportunidade da vida, o
que irá fazer você sair de casa para viver?

Acreditar, ter fé e esperança é fundamental para todo ser humano, mas


não é suficiente. É importante que o ser humano acredite, que tenha
esperança, mas é fundamental que ele complemente tudo isso com
reflexão profunda.

Reflexão profunda é a fórmula para a vida interior. Uma fórmula para


as convicções. Uma pessoa sem vida dentro, ou seja, sem essa chama-
da vida interior, é uma pessoa que se permitiu ser tomada pela dúvida.
Quando duvidamos sobre algo, ou alguém, o que será que podemos
fazer para dissolver essa dúvida?

51
“o verdadeiro conhecimento
vem de dentro”

sócrates
52
Se, diante de você, se apresenta uma dúvida, ela também pode ser
vista como um problema. Na matemática, o problema é uma equa-
ção, ou seja, um enigma a ser desvendado. Na vida, o problema é
visto como um desafio, uma prova a ser superada, uma oportuni-
dade para mostrarmos o nosso valor diante de uma adversidade.
Dessa forma, a dúvida não é algo ruim, é apenas um degrau que
se ultrapassado, irá te projetar para um local superior, mais eleva-
do. Um outro nível, com outros desafios, com outras provas e com
outros questionamentos. É natural, para todo ser humano, experi-
mentar inúmeras dúvidas ao longo de sua vida. O problema não é
ter dúvida, e sim permanecer na dúvida, como dito anteriormente.

Diante dela, a única saída é a reflexão profunda. A dúvida é um pro-


blema de natureza mental, que deve ser sanado com convicção, lucidez
e clareza. Essa clareza das ideias, dos pensamentos, vem como consequ-
ência de uma compreensão profunda do que se passa com você, com a
sua vida, na sociedade, no seu trabalho e com todas as coisas. A com-
preensão é resultado do exercício investigativo e reflexivo do ser huma-
no. Devemos nos debruçar diante de um desafio da vida (problema) e
quebrar a cabeça, nos esforçando para encontrar uma saída.

Um dos grandes diferenciais do ser humano, se comparado a todos


os outros seres que podemos ter contato na natureza, é a capacidade de
agir com inteligência. De usar o conhecimento como uma forma de tra-
zer luz, discernimento, lucidez clareza.

53
Na mitologia grega existe uma representação simbólica muito conhe-
cida que conta, alegoricamente, histórias sobre um rapaz muito forte,
conhecido pela tradução latina de Hércules. Esse jovem rapaz, que pos-
suía uma força descomunal, foi destinado a cumprir com doze traba-
lhos. Curiosamente, a grande maioria das pessoas desconhece o restan-
te do mito de Hércules e, equivocadamente, acabam achando que para
Hércules cumprir com seus doze trabalhos, ele terá que fazer uso de sua
grande força divina. O interessante é que no mito de Hércules, sempre
que ele utiliza sua força física, tudo dá errado. Para Hércules passar pe-
las doze etapas da iniciação humana, ele precisa usar de sua inteligência.

Ou seja, esforço resultante de uma reflexão profunda, suficiente para


trazer clareza e discernimento para suas ações.

Uma outra curiosidade sobre o mito de Hércules é que há um perso-


nagem especial que o acompanha durante toda sua jornada e que tam-
bém não será menos importante na nossa jornada da consciência. Esse
personagem recebe o nome Eros, o amor primordial, que na língua lati-
na foi traduzido como ‘‘cupido’’, tradicionalmente conhecido como uma
criança com asas, que vive voando, arremessando flechas, fazendo com
que as pessoas se apaixonarem umas pelas outras.

Óbvio que essa é uma representação folclórica e popular de Eros. No


entanto, o seu significado remete a ideias muito mais profundas e com-
plexas. Eros representa o amor primordial. E, curiosamente, na jornada
de todo herói, ele sempre está presente.

54
Todo herói só consegue vencer o medo e a dúvida motivado pelo amor.
Em antigas e arcaicas representações míticas, o amor sempre se fez
fundamental para transformar o ser humano em alguém especial.

Para nós, não é diferente. Para conseguirmos eliminar o medo, enfer-


midade das emoções, e a dúvida, uma enfermidade da mente, vamos
precisar de sentimentos profundos. Vamos precisar da presença divina
de Eros, o amor.

55
como fazer reflexões
profundas na prática

U
m dos professores que tive falava que na vida quando a gente
entra pelo cano, só tem um jeito de sair: para frente, adiante,
porque atrás de nós já tem uma fila enorme de pessoas, então
não temos como voltar. Em outras palavras, filosofia da banana. Quan-
do você aperta, ou ela é esmagada, ou ela sai por cima. Isso é o que de-
vemos fazer com nossas dúvidas. Apertá-las como se fosse uma banana.
Quando estiver, diante de você, uma prova, uma dúvida, um desafio,
imagine que diante de você se apresenta uma equação matemática, um
quebra cabeça e que você precisa encontrar a saída, a chave que vai de-
cifrar esse enigma.

Não se livre dessa equação enquanto você não encontrar uma respos-
ta. Uma resposta cuja a execução e realização dependa única e exclusi-
vamente de você.

Talvez você não consiga montar todo o quebra cabeça em uma única
jogada, no mesmo dia em que você começa a reunir as suas peças. Tal-
vez você tenha que separar vários dias, meses, ou até mesmo anos, em
um mesmo quebra cabeça.

56
Porém, o mais importante, é a disciplina de, cotidianamente, você
conseguir reunir peças. Se a cada dia você conseguir colocar uma peça,
isso já é suficiente para te trazer um sentimento de vitória, isso já é uma
conquista real e bem objetiva. Pode ser que ainda esteja muito distante
de terminar o quebra cabeça, mas está uma peça mais próximo do fim
do enigma. Esse é um comportamento que são raras as pessoas que exe-
cutam.

Então para você conseguir substituir suas dúvidas por convicções será
necessário confrontar os questionamentos com plausibilidade, buscan-
do entender sua natureza, diferenciando fantasia de realidade. Isso vai
exigir que você se concentre nesse desafio que se apresenta na sua frente,
e não largue até encontrar uma resposta. Se estiver muito difícil, talvez
possa ser saudável um breve intervalo, deixar ele de lado temporaria-
mente para você recuperar sua energia, respirar novos ares, se reciclar,
para depois confrontá-lo com esse problema novamente. Mas saiba que
a dúvida se combate com compreensão e isso vai exigir um esforço da
sua parte de entender o que está acontecendo com você e o que pode
aprender com cada coisa que se está apresentando na sua vida.

A postura mental de você querer aprender algo é muito mais saudá-


vel e diferente do que simplesmente reclamar das coisas que acontecem
com você. A reclamação tende a ser fruto de um desequilíbrio a nível
emocional, causado pelo excesso de dúvidas, pela falta de sentido. Que-
rer aprender é uma postura positiva, fruto de uma personalidade dis-
posta a ser melhor, a recomeçar sempre que necessário.

57
Essa postura mental traz um conforto de natureza emocional,
te tornando uma pessoa muito mais agradável e bem-sucedida
psicologicamente.

Aplique essas ideias com os desafios que se apresentam hoje na sua


vida e com os que irão surgir ao longo de sua jornada. Já para os
problemas do passado, velhos erros e questionamentos não resolvi-
dos, irei abordar novas reflexões nos capítulos seguintes, para que
você conquiste mais equilíbrio e controle da sua vida.

58
não há sucesso em uma
vida sem sentido

59
técnica de
concentração

C
oncentração é uma forma de consciência, uma forma de se
situar no instante presente. Sem consciência não registramos
nossos aprendizados e desta forma não conseguimos evoluir
e esse é um conceito fundamental de sucesso. Todo ser humano ne-
cessita de dar sentido para tudo o que faz e isso exige concentração /
consciência. Para te ajudar a gerar uma experiência imediata com al-
guma dessas ideias que eu estou apresentando, vou te ensinar um exer-
cício prático e simples, porém muito eficaz, que, conjugado com esses
conceitos abordados até aqui, fizeram parte dos grandes resultados
de muitos alunos que tive a oportunidade de trabalhar de forma mais
próxima comigo, nos meus treinamentos presenciais e online de Con-
centração e Controle Emocional.

60
o exercício

O
exercício consiste em uma técnica de respiração que será divi-
dida em quatro etapas e para você executá-la, terá que memo-
rizar a seguinte sequência numérica: 4 – 10 – 6 – 3

A ideia geral do exercício se baseia em algumas inspirações e expi-


rações que você terá que fazer, respeitando essa sequência numérica.
Primeiro certifique que você está sentado com a coluna ereta, sem
cruzar pernas e braços, preferencialmente em um ambiente limpo e
organizado, com algum aroma agradável e suave, uma música que o
tranquilize e pouca luz.

O primeiro movimento será de inspiração, onde o ar irá entrar


pelo nariz, mantendo a sua boca fechada e com a língua tocando le-
vemente o seu palato superior (céu da boca) atrás dos dentes. Você
irá respirar enquanto, mentalmente, você conta até 4.

Mas atenção, não serão 4 inspirações, será uma única inspiração que
terá a duração de aproximadamente 4 segundos.

61
Quando você alcançar o número 4, o próximo passo será prender a
respiração. Nessa nova etapa do exercício, você irá segurar o ar enquan-
to você conta até 10. Ou seja, você vai inspirar durante 4 segundos, e vai
segurar o ar durante mais 10 segundos.

Após prender o ar enquanto você conta até 10, a próxima etapa é você
soltar o ar, pelo nariz, enquanto faz a contagem até 6. Para isso você terá
de administrar a saída de ar pelo nariz, para conseguir alcançar o núme-
ro 6 sem perder o fôlego. Ao chegar no número 6, agora com o pulmão
vazio, você irá ficar sem respirar, (mantendo) com o pulmão vazio, até 3.

Feito isso você concluiu o primeiro ciclo da respiração. É preciso


praticar para que você consiga fazer 10 ciclos ininterruptos. Ou seja,
quando você termina de contar até 3 com o pulmão vazio, inicia-se
um novo ciclo, respirando pelo nariz, com a língua atrás dos dentes,
contando até 4.

Esse exercício irá te mostrar de uma forma muito clara e objetiva o


que é a ideia da concentração, porque ao longo dessa técnica de respi-
ração bem aplicada a tendência é você voltar toda a sua atenção para
sua respiração, não pensando em mais nada. Não deixe de fazer esse
exercício antes de ir para o próximo capítulo (e também recomendo
fortemente todos os dias ao acordar ou antes de dormir).

62
Se você tiver muita dificuldade na execução do exercício você pode
diminuir a contagem. Se tem dificuldade de segurar durante 10 segun-
dos diminua para 8, e assim nos outros movimentos também. Dessa
4ª parte
forma você vai, gradativamente, aprimorando a execução dessa técnica
e gerando uma experiência muito direta e objetiva com o princípio da
concentração. Agora, recomeçando nossas reflexões...

apor
consciência
que viver
no dia a dia
o agora

D
e forma bem objetiva, como que você pode conseguir iden-
tificar se você está vivendo um dia consciente ou passando
pelas horas de forma mecânica?

Como que você conseguiria distinguir uma pessoa consciente de uma


pessoa que não se posiciona no momento presente?

A consciência no dia a dia tende a se manifestar como um grau de


lucidez, realismo. Uma pessoa consciente ela assume as responsabili-
dades da sua própria vida, se tornando autor da sua própria história,
do seu próprio destino. O fato de não se posicionar mentalmente
dessa forma gera uma forte tendência a constantes reclamações, crí-
ticas, sintomas de uma estrutura emocional frágil e instável.

63
“todos os caminhos estão errados quando
você não sabe onde quer chegar”

shakespeare
64
A
ntes de você iniciar a leitura desse capítulo, faça uma
breve avaliação do seu desempenho na aplicação do exer-
cício apresentado no capítulo anterior. Qual foi a maior
dificuldade que você teve? Reflita sobre esse tema e registre em
algum diário a sua experiência. Isso será de fundamental impor-
tância para a sua jornada da consciência.

Percorrer esse caminho irá exigir de você constantemente uma


avaliação de tudo que já foi feito. Existem pessoas que possuem
mais dificuldade de executar o primeiro movimento na contagem
de número 4, de inspirar durante a contagem dos 4 segundos. Exis-
tem pessoas que possuem mais dificuldade de segurar o ar na con-
tagem dos 10 segundos, ou de soltar o ar através de uma única ex-
piração enquanto se conta até 6. Ou até mesmo alguma dificuldade
para prender a respiração na última contagem até o número 3.

Identifique qual foi sua maior dificuldade. Prender ou soltar o ar.


Por serem mais apegadas, algumas pessoas possuem mais dificuldade
em soltar, liberar o ar que foi respirado. Outras, por serem muito des-
prendidos, as vezes até dificuldade em firmar compromissos e assumir
responsabilidades, possuem mais dificuldade em prender a respiração.
Reflita sobre isso e avalie o que tem mais a ver com você.

65
A importância de projetar a consciência no momento presente é que,
dessa maneira, e não de outra, conseguimos registrar as nossas experiên-
cias, gerando com isso algum grau de aprendizado, de evolução. Como
já foi dito, consciência é um grau de concentração e um trabalho execu-
tado de forma concentrada tende a apresentar resultados objetivos.

Imagine o seguinte experimento: você pega uma lente de aumento,


canaliza através dela a luz do sol sobre um velho jornal. Uma folha de
papel bem seca com um grande poder de combustão. Se você não con-
centra o raio da luz do sol, canalizado pela lente de aumento, em um
único ponto, e por isso fica movimentando essa lente, você não conse-
gue concentrar o calor do sol na folha de jornal.

Para a folha de jornal pegar fogo, o que você teria que fazer é concen-
trar uma quantidade específica de calor em um único ponto. A questão
aqui não é a quantidade de consciência que você tem, mas sim se a cons-
ciência que você tem está sendo bem canalizada, bem direcionada para
um ponto específico.

Concentração exige direcionar seus esforços, suas reflexões, seus sen-


timos, para um lugar específico em um momento específico. Isso é um
grau de consciência e quando isso é feito, consequentemente, você ob-
tém resultados. Onde você concentra energia, ou seja, calor, isso tende a
se expandir, crescer, se desenvolver. Onde você concentra tempo, dedi-
cação, essa área da sua vida, consequentemente, tende a crescer.

66
No momento histórico em que vivemos, algo que me chama muito
a atenção é a confusão que se faz entre o que se deseja, o que se quer
alcançar e o que de fato se faz necessário para se conquistar isso que
se almeja. Vejo muitas pessoas desejando ter saúde, mas sem estarem
dispostas a manter uma alimentação saudável e realizando práticas
de exercícios físico. Vejo pessoas desejando ter muito dinheiro, mas
em contrapartida com muito pouca disposição ao trabalho. Vejo pes-
soas querendo ter um parceiro ou uma parceira, mas que não estão
dispostas a construírem um relacionamento. Dessa maneira ainda
não iniciaram a jornada da consciência, pois desejam o resultado
sem estarem dispostos a assumirem os compromissos necessários
para alcançarem os seus objetivos.

Consciência é um grau de controle, um grau de domínio. Obviamente


um domínio daquilo que depende de você. Como diz uma grande má-
xima estoica, atribuída a Epiteto, “há coisas que dependem de nós e há
coisas que não dependem de nós”. Consciência significa se concentrar
na realização daquilo que depende de você. Isso te coloca no momento
presente, o que faz com que tenha chance de aproveitar todas as oportu-
nidades que se apresentam diante de você ao longo da vida.

Nessa perspectiva, o interessante é que existem responsabilidades na


sua vida que você vai poder contar com apoio, com auxílio de profes-
sores, amigos ou familiares. No entanto, na sua vida, também existem
responsabilidades que você não poderá contar com o apoio de ninguém,
pois para algumas coisas acontecerem na sua vida, só dependerá de você.

67
Se você pretende aprender a tocar um instrumento musical, e entra
em uma aula de piano, por exemplo, você pode ter o melhor profes-
sor do país, um excelente instrumento, mas, ainda sim, você precisa-
rá separar um tempo para colocar a mão nas teclas e treinar todas as
escalas musicais. Se você pretende aprender natação, você pode até
assistir todos os vídeos na internet sobre nadadores profissionais, ler
vários livros, acompanhar grandes competições, mas, sem entrar na
água, você nunca vai aprender a nadar.

Algumas atitudes dependem exclusivamente de você. E assumi-las é


um grau de consciência e concentração. O que você ganha com isso?
Cada vez mais você deixa de ser uma marionete nas mãos de grandes
ideólogos e demagogos, você deixa de ser pensado, manipulado por
tudo aquilo que está na moda e começa a produzir suas próprias ideias.
Você começa a assumir controle da sua vida.

68
viver é tomar decisões e
assumir riscos

69
porém nem
tudo são flores

A
necessidade de que todos temos, em maior ou menor grau, de
sermos aceitos pela a sociedade em que vivemos, ou por algum
grupo específico, acaba nos afastando dessa jornada da consci-
ência. Perdemos o controle da nossa vida porque aceitamos fazer aquilo
que a maioria das pessoas estão fazendo, mesmo que muitas vezes isso
não faça sentido para você, mas para não ser uma pessoa diferente, para
não bancar o papel da pessoa desagradável, você acaba cedendo.

Eu entendo que uma coisa é você fazer isso por uma causa justa
e difícil. Você ceder em prol do coletivo, para um bem maior, que
responda por uma necessidade universal, inegoísta, atemporal, ao
invés de atender somente a um pequeno grupo, a uma pequena par-
te. Outra coisa, bem diferente, seria você se afastar da sua jornada
da consciência em troca de compromissos superficiais, vulgares e
sem sentido. Isso não me parece uma troca inteligente.

Como diz Marco Aurélio, um grande Imperador romano, “o que


é bom para a colmeia é bom para a abelha, mas o que é bom para a
abelha nem sempre é bom para a colmeia”.

70
Se é para você abandonar um desejo pessoal, faça isso em troca de
algo mais grandioso, porque dessa forma você continuará adiante
em sua jornada.

Consciência não se resume em fazer simplesmente o que gosta, como


se isso fosse o que fizesse sentido para você, pois o ser humano é ambí-
guo e se divide em vários desejos, e nem tudo que gostamos, necessa-
riamente, faz bem. Deveríamos ter que aprender a gostar daquilo que
realmente nos faz evoluir. Então, consciência não pode ser resumida
em somente fazer o que gosta, mas sim em buscar sempre o que seria
melhor, o mais adequado, o que faz mais sentido. Levando em consi-
deração que isso nunca agrida a natureza humana, quem somos, e por
isso não perdemos nossa identidade.

Quando sacrificamos um desejo, uma vontade pessoal, em benefício


de uma vontade superior de uma causa justa e difícil de um grupo,
sempre saímos mais fortes, pois estamos cumprindo com a jornada do
herói, assim como Hércules. E através desta jornada podemos encon-
trar a chave da consciência.

71
aprenda a gostar daquilo
que faz bem

72
sacrifício: algo
bom ou ruim

A
palavra sacrifício, para muitos, tem uma conotação um tanto
quanto trágica. No entanto carrega consigo um sentido mui-
to especial. Sacrifício vem de ‘’sacro’’ ‘’ofício’’, que significa
ofício sagrado. Para todos os heróis míticos, o heroísmo é um ofício
sagrado. Para esses modelos simbólicos de vida moral, é sempre um
bom negócio trocar vontades comuns por vontades altruístas. Deixar
de beneficiar a si mesmo para beneficiar a todos os outros.

Para conseguir executar essa experiência se faz necessário mui-


ta consciência e concentração, pois sempre quando as circunstân-
cias se tornam mais difíceis, a tendência dos nossos pensamentos
e emoções é se distrair, fugir, buscando sempre o caminho mais
fácil. A distração é sempre mais fácil de ser executada do que a
concentração.

A exemplo disso, quando estamos no trabalho e nos deparamos


com alguma dificuldade muito rapidamente queremos fugir para
nossa casa.

73
Porém, quando estamos entediados em casa sem ter o que fazer,
temos vontade de fugir para uma experiência de prazer na rua, com
os amigos. Quando vamos para a rua com os amigos, conversamos
sobre os problemas do trabalho.

Esse exemplo engraçado pode ilustrar, em alguns casos, a falta


de concentração no momento presente. Se você separou uma par-
te do seu dia para trabalhar, então trabalhe. Se concentre nisso
e aproveite o seu tempo de forma produtiva, não deixando para
solucionar em outro local os desafios que você encontra enquanto
estiver no ambiente de trabalho. Esteja presente. Organize suas
atividades que precisam ser feitas ao longo do dia, ou de algum pe-
ríodo do dia, se necessário, para ficar mais organizado, faça uma
lista de tarefas semanais e diárias, e defina um prazo para resolver
cada um desses itens dessa lista.

Essas serão as tarefas que você terá que se concentrar ao longo desse
dia ou semana e que ninguém poderá resolver por você.

Se estiver muito cansado, faça pequenas pausas, mas certifique-se que


sejam de fato pequenas e que você possa voltar logo e se concentrar em
terminar aquilo que você tinha começado. Estipule pequenas metas de
coisas a serem feitas em um tempo específico. Isso vai ajudar a saber
para onde você tem que ir e quanto tempo tem para percorrer esse ca-
minho. Em outras palavras, você não estará no piloto automático.

74
Uma pessoa sem metas claras e objetivos bem definidos facilmente
se perde. Um exemplo interessante para ilustrar essa reflexão é de um
atleta de salto com vara. Para ele alcançar uma grande altura é funda-
mental que ele tenha um ponto de referência, uma meta, um obstáculo.
De longe ele consegue visualizar o limite que ele se propõe a ultrapas-
sar. Se você tira esse obstáculo que delimita uma marcação, dificilmen-
te o atleta irá conseguir saltar tão alto. Isso porque ele perdeu o seu
ponto de referência.

Se você não define objetivos claros em prazos determinados para al-


cança-los você fica sem referência, e facilmente pode se perder no
meio de todas as distrações que existem na vida. É muito comum ob-
servar nas pessoas que não alcançam os seus sonhos uma dificuldade
de serem objetivas. Se perdem no meio de muita subjetividade achan-
do que querem uma coisa quando, na verdade, não sabem o que que-
rem. Ou seja, se você não consegue realizar os seus sonhos, no fundo
talvez o seu sonho não exista, porque você ainda não decidiu o que
quer, ainda não encontrou a chave da consciência.

75
consciência nos
relacionamentos

A
falta de consciência também afeta de forma direta as nos-
sas relações e, talvez seja, uma das áreas que mais sofrem
com a nossa ausência do momento presente. Agir de forma
mecânica, presos no passado ou no futuro, sem consciência do ago-
ra nos tira qualquer possibilidade de construir laços verdadeiros e
profundos. Eu insisto na ideia de que relacionamento é algo que se
constrói através de experiências conscientes, em que conseguimos
aplicar, em alguma medida, sentimentos superiores aqueles que en-
contramos na sala da sabedoria do andar das emoções.

É genuíno no ser humano a espontaneidade. Quando nos compor-


tamos de forma dura e mecânica, restringimos a qualidade de nossas
relações por falta de flexibilidade.

Através do Estoicismo, grande corrente filosófica que surgiu na Grécia


e se desenvolveu posteriormente em Roma, podemos recordar a ideia de
que nada em excesso é benéfico. Quando em um galho de uma árvore
é depositado uma grande quantidade de neve e esse galho se mantém
firme, rígido, chegará a um momento que ele irá se partir.

76
Se ao invés do galho se manter rígido, ele se curvar à medida que pau-
latinamente a neve for depositada sobre ele, chegará a um momento
que, ao estar bastante inclinado, a neve cairá no chão e ele irá se reer-
guer novamente. Devemos ser firmes, mas não devemos ser duro.

Precisamos da flexibilidade em uma justa medida para aplicarmos


em todas as coisas, incluindo nossas relações. Acredito que os relacio-
namentos são oportunidades para gerarmos sentimentos profundos,
afinal, todo relacionamento se constrói através de experiências.

77
5ª parte

um dia sem
consciência

78
a felicidade não
exclui a dor

79
E
xiste um mito muito antigo que chega para nós, ainda hoje, de
origem da cultura grega, chamado mito de Narciso. Era um
jovem muito bonito, mas que nasceu impedido de ver a sua
própria imagem. Essa era a sua única restrição: ficar sem contemplar
seu próprio reflexo. Ele então caminha em direção à floresta, esbanja
seu encanto para todos os seres que ali estavam. Depois de caminhar
por algumas horas sente sede e vai em direção a um lago para beber
um pouco de água.

Quando se inclina na beira do lago contempla o seu reflexo e fica


encantado com sua beleza. O seu encanto foi tão grande que nunca
mais saiu dali, ficou completamente paralisado, apenas assistindo
sua imagem. Narciso se encantou tanto consigo mesmo que parou
de viver e, em piedade, os deuses o transformaram em uma flor.

Curiosamente, a palavra narciso se deriva da palavra narcótico,


ou seja, tudo aquilo que te paralisa, que te petrifica e afasta a sua
consciência. Quando apreciamos (DEMAIS) as coisas que fazemos
ficamos paralisados como Narciso e por isso deixamos de ver a rea-
lidade como ela é. A consequência disso tende a ser a vaidade, ego-
centrismo, mas existe um outro mal que tem destruído com muita
força a percepção das pessoas, que é a baixa autoestima.

80
Essa percepção também nos afastada da realidade e pode nos pa-
ralisar, afastando-nos de novas experiências, da luta pelos nossos
sonhos ou até mesmo da construção de um novo sonho. Quando
você considera que nada do que você faz está bom o suficiente ou
que você não tem nada a acrescentar em um grupo, que ninguém
irá sentir a sua falta, que você não faz nenhuma diferença, possi-
velmente sua percepção já está completamente deturpada pela sua
baixa autoestima.

Esses extremos, na nossa percepção, de gostar excessivamente


de si mesmo ou de nos menosprezar, te afastam da sua jornada da
consciência. No entanto, eu ainda considero que se diminuir tende
a provocar um dano ainda maior na sua caminhada, que o impede
de gerar novas experiências.

Existe um clássico da literatura indiana chamado Bhagavad Gita. Esse


livro conta a história de um grande guerreiro chamado Arjuna, que lu-
tava em defesa de sua cidade. Nessa luta se definiram dois exércitos: de
um lado os pandavas e do outro dos kuravas. Arjuna, líder do exército
dos pandavas, era guiado pelo seu mestre Krishna e em um momento
de dúvida sobre a luta que estava prestes a acontecer, ele ouve seu mestre
falar das três gunas. Ou seja, das três naturezas da ação.

Krishna ensina para Arjuna que é próprio de um guerreiro valoroso


lutar por aquilo que ele acredita e constata que é nobre e verdadeiro de
todo ser humano de boa vontade lutar por causas justas e difíceis.

81
Porém, em muitas situações da vida, por medo, optamos em desistir
da luta. Quando escolhemos não lutar, ou seja, quando não assumimos
responsabilidades em nossa vida, agimos então de uma forma tamásica.

Tamas significa o “não agir”. O não se comprometer, o não se


responsabilizar. A questão aqui é que não agir para o Universo
também é interpretado como uma forma de ação. E, por isso, tam-
bém terá consequências. As vezes deixamos de tomar uma decisão,
por simples que seja, em função do medo de se responsabilizar por
algo. O medo de empenhar a palavra e ter que sustentá-la. Medo
de honrar o que você disse com a prática.

No entanto, o Bhagavad Gita nos ensina que para qualquer ser hu-
mano crescer e se tornar uma pessoa melhor, ele precisa fazer isso
através da via da ação. Agir é próprio do ser humano que quer ser
melhor, pois quando agimos somos obrigados a nos tornar respon-
sáveis pelas escolhas que tomamos. Somos responsáveis pelo nosso
destino. Assim, crescemos à medida que assumimos responsabilida-
de de forma consciente ao longo da vida.

Portanto, optar em não agir, seja para não se comprometer, não


se responsabilizar, ou por qualquer outro motivo também é agir.
Por outro lado, existe também a ação por rajas, quando você vai
para um outro extremo, assume responsabilidades de forma com-
pletamente interessada.

82
Esse exemplo ilustra os momentos em que mostramos muita dis-
posição, força de vontade para fazer coisas para nós mesmos.
Quando sempre temos tempo livre e disponibilidade para ganhar
algo em troca. Nessa obra clássica indiana, agir com apego ao fru-
to, se enchendo de expectativas, também não é uma ação própria
do guerreiro, pois quando geramos muita expectativa proporcio-
nalmente ficamos com muita ansiedade.

E a terceira forma de ação e mais recomendada para o ser humano: sat-


tva. Quando você é capaz de empregar uma ação sem apego ao fruto,
de maneira desinteressada. A ação pela ação, em respeito à lei e àquilo
que você entende que é o correto e melhor. Quando você decide fazer
algo porque você compreende que é o melhor a ser feito.

Quando você escolhe fazer algo não influenciado pelo o que você vai
ganhar com isso no final. Isso é sattva. Quando você decide algo não
motivado pela recompensa, mas sim pelo ato de fazer o bem e pelo
princípio moral que existe nessa ação.

83
a verdade está no
caminho do meio

84
os males causados pela
falta de consciência

A
gora vamos analisar algumas consequências que sofremos em
função da falta de consciência, da falta de viver o momento pre-
sente. Quando somos envolvidos fortemente por essa energia
tamásica que, nos convida a inércia, corremos grandes riscos de sermos
aprisionados pela depressão. Ela pode ser consequência do medo de
agir ou também de uma autocrítica muito grande, proveniente de uma
baixa autoestima. O que pode ser observado em comum entre o medo
paralisante a baixa autoestima é a inclinação à tristeza.

Assumir para si mesmo um longo período de tristeza não pode


ser considerado um caminho consciente, pois dessa forma essa pes-
soa deixa de perceber todas oportunidades extraordinárias que a
vida nos apresenta a cada instante.

A tristeza pode ser justificada, uma vez que entendemos que nem
todas as experiências que passamos na vida são agradáveis. No en-
tanto, todas as experiências podem ser válidas para nos fazer cres-
cer e aprender algo com elas.

85
Se somos aprisionados pela baixa autoestima, também não podemos
dizer que estamos em um caminho consciente, pois não faz sentido que
nenhuma pessoa no mundo não tenha nada a oferecer de bom ou que
nenhuma pessoa não tenha nada a receber.

Todo ser humano carrega dentro de si um conjunto de experiên-


cias proveniente de sua história pessoal que podem servir e trazer
muitos ensinamentos para diferentes pessoas, mas, para isso, temos
que começar a prestar mais atenção na nossa própria história e tudo
naquilo que se passa ao nosso redor. Refletir um pouco mais sobre
nossas experiências e as coisas que acontecem conosco.

Porém lembre-se: refletir é diferente de se lamentar. Refletir sobre


a sua vida não é reclamar da sua vida, mas sim procurar aprender
algo com sua própria história. Quando a autoestima baixa atinge
você, ignora-se por completo essa rica oportunidade de aprendiza-
do. Ocupamos o papel de vítima e, consequentemente, nos inclina-
mos a buscar vingança contra algo ou alguém.

Se assumimos uma condição rajásica e desenvolvemos uma ou


várias frentes de trabalho, todas com objetivos muito bem defini-
dos como o marketing nos ensina, traçamos metas, propósito, visão,
missão e valores, e projetamos toda nossa energia na direção daqui-
lo que chamamos de sonho.

86
O problema é que com a mesma força e intensidade que geramos todas
as nossas expectativas, geramos a nossa ansiedade. Em uma máxima
oriental, conta-se que o primeiro desejo que teremos que superar para
alcançarmos a vitória é o desejo da vitória. Sempre que realizamos
algum tipo de planejamento, uma coisa que devemos levar em con-
sideração que todo projeto pode ser adaptado na medida em que ele
vai sendo executado. Se nos apegamos de forma muito rígida a nossas
metas, propósitos, as necessidades de adaptações vão surgindo e junto
o sofrimento vem, o que gera muita angústia. Isso tudo porque a alta
expectativa deu origem a uma grande ansiedade.

87
como nos livrar dos males
causados pelo medo
e pela dúvida

D
a mesma forma que temos que colocar o nosso corpo
físico em movimento para que ele consiga ganhar força
e assim gerar condições de responder aos nossos coman-
dos, nos auxiliando em nossas atividades cotidianas, também
precisamos aplicar esse princípio no campo emocional e mental.
Observando a natureza, podemos chegar a conclusão de que a
vida se expressa através do movimento e que nada que observa-
mos nesse universo concreto se encontra paralisado.

Até quando olhamos uma parede de nossa casa ou uma cadeira


de nossa cozinha, podemos aplicar essa ideia. Hoje, através da tec-
nologia que temos, podemos confirmar que as partículas, átomos,
moléculas e elétrons, presentes nesses objetos, estão em movimen-
to. Um movimento tão sutil e discreto, que não somos capazes de
perceber com os nossos próprios olhos.

88
A medicina já compreende que saúde é uma questão de movimento.
Por isso a morte tende a ser relacionada com a ausência dos movimen-
tos. Quando paramos de movimentar o nosso corpo físico, começamos
a enfraquecer a nossa musculatura, tornando-a sem força e flácida.

Esse mesmo princípio se aplica às nossas emoções e pensamentos.


Uma vez que deixamos de movimentar nossas emoções, impedimos
a circulação de vida, fazendo com que a nossa estrutura psíquica
fique flácida e sem força. Um músculo flácido, ou seja, um músculo
fraco, representa uma parte do seu corpo com grande dificuldade de
suportar pressão. Uma estrutura psicológica flácida, carregada de
emoções fracas, tende a ser uma estrutura psicológica que apresen-
tará muitas dificuldades de suportar pressão.

Isso também se aplica aos nossos pensamentos e ao nosso veículo


mental. A diferença é que a flacidez mental tende a gerar dúvidas e
a flacidez emocional tende a gerar medos. Mas não pense que isso
é ruim para o ser humano. É completamente natural para todo ser
humano experimentar dúvidas e medos. Justamente uma grande
chave da consciência é aprendermos a lidar com essas duas diferen-
tes formas de fragilidade.

Outra vez o desafio está nos excessos, pois uma coisa é ter a dúvida e
o medo como um ponto de partida e outra coisa é ter a dúvida e o medo
como ponto de permanência.

89
Quando permanecemos muito tempo nesses dois estágios, tanto um
quanto o outro, geram diferentes formas de dores. Mas a dor também é
algo natural para o ser humano, embora isso não signifique que você te-
nha que sofrer. O significado real por trás disso é que a dúvida, o medo
e a dor são sistemas pedagógicos da natureza que sempre surgem para
nos ensinar algo, algo que nem sempre estamos dispostos a aprender.

Até aí tudo bem, desde que haja um equilíbrio entre cada um des-
ses três sistemas de aprendizado. Caso contrário, quando a dor se tor-
na muito grande ou pelo excesso de medo ou pelo excesso de dúvida,
perdemos qualquer possibilidade de consciência. Quando a dor é ex-
cessiva não conseguimos pensar. Tente resgatar na sua memória algum
momento em que você tinha uma grande dor de cabeça, por exemplo. É
provável que seu raciocínio não consiga ficar estruturado em momentos
assim e por isso sua capacidade de entender o que está acontecendo fica
comprometida. Se perde a razão.

A partir daí todas as suas ações tendem a ser emocionais e irracionais


sem a presença da consciência. E quando digo uma razão emocional
não me refiro a uma ação com sentimento, e sim a uma ação instintiva,
carregada de desejos primitivos, presentes em toda a personalidade.

O excesso de dor, assim como também a ausência completa dela, afas-


ta a presença da consciência. A dor é veículo de consciência, busque
decifrar o ensinamento que ela está te trazendo.

90
6ª parte

conquistando a chave
mestra da consciência

91
“a virtude é uma
questão de prática”

aristóteles
92
V
ocê que chegou até aqui consegue ter uma visão mais clara
sobre a natureza de todo ser humano. Toda personalidade é
uma estrutura complexa carregada com sutis conexões dos
diferentes aspectos pessoais, físicos, biológicos, emocionais e men-
tais. Todo ser humano é um mistério, digno de ser desvendado. Cada
pessoa no mundo guarda dentro de si um conjunto de habilidades e
talentos fantásticos, mas que, em sua grande maioria dos casos, não
são desenvolvidos pelo fato de que muitas vezes não temos consciên-
cia da existência dessas habilidades.

Vimos que algumas partes do ser humano são materiais, concretas


e objetivamente fáceis de serem identificadas. Esses aspectos mais físi-
cos e biológicos formam as partes da nossa personalidade que podem
ser medidas, fracionadas, como uma forma de entender melhor o seu
funcionamento e conhecer os seus limites. No entanto, existem outras
regiões de nossa personalidade que se tornam mais difíceis de serem
acessadas com a nossa consciência de maneira voluntária. São regiões
que, em função de serem mais complexas, temos dificuldade de medir,
separar e entender o seu funcionamento.

93
Entender os prejuízos que podemos levar e os benefícios que
podemos ter através de um uso mais organizado e consciente. Os
aspectos mais sutis de nossa personalidade, que são mais difí-
ceis de serem compreendidos, são as estruturas que recebem os
nossos pensamentos e emoções. Quando não entendemos bem o
funcionamento dessas duas distintas estruturas, cada uma com
suas específicas características e necessidades, deixamos de nos
beneficiar de tudo que elas podem nos oferecer. Isso no melhor
dos casos, porque também podemos ser prejudicados com todos
os transtornos que podem ser gerados pela falta de organização
dos nossos pensamentos e emoções.

Como trabalha Aristóteles, “a virtude é uma questão de prática”.


Se você pretende se desenvolver tecnicamente em alguma área da
sua vida, você precisa de se organizar, cultivar a disciplina neces-
sária, junto com a perseverança e a constância, para treinar o que
você pretende desenvolver. Se você pretende aprender a tocar piano,
você precisa gerar uma aproximação a esse universo e ter um con-
tato direto. Essa ideia que você aplica a questões mais objetivas e
concretas, ou seja, em alguma qualidade técnica que você pretende
desenvolver, ela também deve ser aplicada a questões mais abstratas
e sutis. Se você quer se tornar uma pessoa mais justa, você precisa
gerar experiências, mesmo que pequenas, com a ideia da justiça. Se
você quer ser uma pessoa corajosa, precisa praticar a coragem, e as-
sim isso se aplica à todas as virtudes.

94
À todas as ideias nobres que inspiram os seres humanos e, quan-
do conseguimos experimentá-las de forma concreta em nossas vidas,
nos tornamos pessoas mais confiantes, seguras e estáveis.

Qualquer pessoa no mundo, em um único dia, gera incontáveis


pensamentos e emoções. Facilmente podemos constatar em uma
pequena parte do nosso dia, em que somos surpreendidos por uma
enxurrada de questões de natureza emocional e mental. E como é
de se esperar, pois isso é natural, apresentamos dificuldade de assi-
milar tudo que se passa na nossa cabeça e no nosso coração. A velo-
cidade dos pensamentos é absurdamente maior e mais acelerada do
que a velocidade que temos no plano físico para realizar as coisas
que fazemos diariamente.

O mundo dos pensamentos é muito veloz, mais ágil até que o


mundo das emoções. No entanto, as emoções também giram e se
movimentam em uma velocidade muito maior do que as nossas re-
alizações concretas no plano físico. Essa analogia é uma forma de
entender o porquê que não conseguimos processar nossas experi-
ências mentais e emocionais, porque não conseguimos entender e
conectar todas as ideias que se passam na nossa cabeça, entender os
sonhos que temos e assimilar as emoções que sentimos.

Se faz necessário uma organização pontual e precisa dentro das possi-


bilidades de cada um, e que comece o mais rápido possível.

95
Uma grande ferramenta que possuímos para conseguir executar
essa organização é a nossa linguagem. A capacidade de comunicação
do ser humano é absurdamente mais sofisticada e complexa do que a
de qualquer animal que habita nosso planeta. E isso não é aleatório.
Como dizia o matemático Henri Poincaré, “o acaso não é mais que a
medida da nossa ignorância”.

96
não somos o que comemos e
sim o que assimilamos

97
a linguagem ajuda a
estruturar nosso
pensamento

À
medida em que nos comunicamos, seja com outras pessoas
ou com nós mesmos, ainda que esteja falando sozinho em
voz alta, isso ajuda a organizar muitas das ideias que pas-
sam em alta velocidade na nossa mente. Na prática isso funciona
mais ou menos assim: imagine que você possui na sua casa um am-
biente que está muito desorganizado, porque você foi acumulando
uma série de objetos, sem nenhum método de armazenamento. Esse
lugar pode ser um depósito ou o seu guarda roupa. Uma vez que o
seu guarda roupa está bagunçado, quando você tiver que se arrumar
para algum evento, você pode perder muito tempo e energia para
conseguir encontrar as peças de roupas necessárias para você se ves-
tir da maneira que deseja. Sendo que pode até acontecer o fato de
você não conseguir encontrar as roupas que deseja.

Se a sua dispensa de comida está desorganizada, essa falta de or-


dem pode ocupar boa parte do seu tempo quando você tiver que
cozinhar algo para comer.

98
Agora, a partir do momento que você decide organizar sua dis-
pensa de comida, o seu guarda roupa, separando peça por peça, se-
lecionando as cores, modelos, os lugares adequados, com certeza
você irá se surpreender. E uma das surpresas será encontrar peças
no seu guarda roupa que você nem lembrava que tinha. Esse é um
fenômeno proporcionado pela ordem.

Isso é o que acontece com você à medida que vai organizando os seus
pensamentos. Você toma consciência dos conhecimentos que tem, de
algumas informações que foram registradas, relaciona algumas ideias
com outras, gerando uma conexão que lhe traz sentido.

Estruturar os pensamentos é reunir as peças do quebra cabeça


com objetivo de formar uma imagem clara e nítida. O nome disso é
compreensão e a ferramenta para se conseguir isso é a reflexão pro-
funda. É nesse sentido que a linguagem desempenha um papel fun-
damental. Expressar nossas ideias e apresentar o que pensamos nos
ajuda a compreender com mais profundidade os nossos próprios
pensamentos. Todo professor tende a conhecer isso, pois quando
você estuda sobre algo você até gera um grau de aprendizagem, mas
quando você se propõe a ensinar para alguém esse compromisso
pedagógico irá exigir de você uma vida moral, ou seja, uma experi-
ência objetiva com aquilo que você se propõe a ensinar, que somado
ao esforço de transmitir as suas experiências lhe fará assimilar as
suas próprias ideias em um nível muito mais profundo.

99
Resumindo, a comunicação, nesse caso, ajuda a estruturar os
seus pensamentos. Uma vez que os pensamentos estejam melhor
distribuídos se torna muito mais fácil uma conexão entre eles,
assim como se o seu guarda roupa está organizado, você pode
conseguir encontrar o que procura com muito mais facilidade, e
até mesmo tomar conhecimento de coisas que você nem sabia que
tinha.

Muitas qualidades que temos ainda nem tomamos consciência e


só vamos descobrir à medida que, gradativamente, obtivemos êxito
na estruturação das nossas ideias.

100
o que eu
ganho
com isso

O
s pensamentos organizados geram clareza das ideias, isso te
faz poupar tempo e energia. O exemplo disso é uma pessoa
que sabe exatamente o que ela quer. No entanto saber o que
quer não é se iludir com qualquer coisa superficial e que não res-
ponde as necessidades mais profundas do ser humano. Antes de de-
finir o que queremos, temos que saber querer. Precisamos de apren-
der a gostar daquilo que nos faz bem e que por isso é fundamental e
deveria ser prioridade em nossa vida.

Quando os pensamentos não estão organizados, isso tende a gerar


uma grande confusão mental e, a partir daí, nos iludimos com uma
série de coisas dispensáveis, sofremos por antecipação (ansiedade),
nos apegamos a velhas emoções do passado que, pouco a pouco, vão
comprometendo nossa perspectiva de futuro. Os pensamentos desor-
ganizados tendem a gerar dúvidas, o excesso de dúvidas tende a gerar
instabilidade emocional, instabilidade emocional gera uma série de
medos e o medo paralisa o ser humano.

101
Organizar os pensamentos é substituir a dúvida por convicções,
que se começa com pequenas certezas, advindas de constatações coti-
dianas do seu laboratório de aplicação prática das ideias trabalhadas
nesse livro.

Os pensamentos organizados trazem clareza, lucidez, proporcio-


nando um grau de confiança em si mesmo, suficiente para te ajudar a
enfrentar os seus diferentes medos. Pensamentos organizados ajudam
a organizar as emoções, emoções organizadas ajudam a organizar o
seu comportamento, o que te torna uma pessoa mais resistente, am-
pliando sua capacidade de suportar diferentes tipos de pressão.

Tudo isso pode ser feito através das suas diferentes formas de lingua-
gem. Uma pessoa que, por diferentes motivos, apresenta muita dificul-
dade de se comunicar, seja porque é tímida ou possui dificuldades de se
relacionar com outras pessoas por causa do medo de expor suas ideias,
ela deixa de gerar essa importante experiência, e, dessa forma, terá mui-
ta dificuldade de organizar os seus pensamentos e suas emoções. Será
muito difícil de conviver consigo mesmo. Se você não expressa suas
ideias através de diálogos com outras pessoas, você precisa pelo menos
fazer isso consigo mesmo- ter conversas interiores, colocando para fora
seus pensamentos, ou seja, tirando tudo que está no seu guarda roupa
para fora, para conseguir entender e depois estruturar.

102
A dificuldade aqui é que algumas respostas nós nunca iremos
acessá-las de forma solitária. Para conseguirmos realizar esse exercí-
cio de maneira completa não basta faze-lo sozinho e vamos precisar
de uma segunda pessoa. O diálogo é o contato de duas ou mais inte-
ligências - Dia (dois) logos (inteligência).

103
tenha o medo e a dúvida como um
ponto de partida e não como um
ponto de permanência

104
considerações finais
para enfrentar
o medo

E
xiste um mito grego que ilustra muito bem essa ideia apre-
sentada sobre a chave da consciência. O mito de Perseu e
Medusa. Muitos não sabem, mas a Medusa nem sempre foi
um monstro com cabelos de serpente e olhar petrificante. Conta-se
que existiam três belas irmãs conhecidas como as Górgonas e uma
delas era a Medusa. Tinha seus cabelos loiros, encaracolados, com
uma pele branca e macia, com os olhos cor azul do céu.

No entanto, essa bela mulher comete o grande erro de utili-


zar de toda sua beleza física para seduzir e aprisionar diferentes
pessoas. Não satisfeita, decide pronunciar em voz alta para que
todos escutassem que ela era a mais bela de todas as mulheres no
mundo. Ainda insatisfeita, comete o deslize de dizer que era mais
bela que todas as deusas. Na mitologia grega, os deuses repre-
sentam as ideias fundamentais para se educar um ser humano,
transformando-o em um herói.

105
Como existem muitas dessas ideias, sendo imateriais, imortais, sutis
e transcendentes, os poetas gregos a representavam como divindades.

A deusa Atena, que traz a ideia da justiça e do equilíbrio, da guer-


ra feita com sabedoria, da luta por tudo que é válido, decide corrigir
o erro da Medusa. Segue em direção ao encontro dessa perversa
mulher e diz: ‘’Medusa, você que utiliza os seus longos cabelos para
atrair e seduzir todos que lhe convém, a partir de agora, os seus
cabelos serão transformados em terríveis serpentes e todos que o
tocarem serão envenenados. Medusa, você que utiliza desse seu lân-
guido olhar para hipnotizar e conseguir tudo que você deseja, todos
que olharem diretamente nos seus olhos serão transformados em
pedra. Medusa, eu não te transformei em um monstro... eu te trans-
formei naquilo que você mesma escolheu ser, porque a beleza nunca
deve ser utilizada para seduzir e aprisionar as pessoas. A beleza só
deve ser utilizada para libertá-las.’’

A partir daí Medusa foge, com suas outras duas irmãs, para um local
desconhecido. A Medusa pode ser entendida como o medo, o mistério.
Tudo aquilo que nos causa pânico e terror. Porém, para colocar um fim
nessa terrível história, a deusa Atena envia um mítico herói para caçar e
matar, de uma vez por todas, esse terrível monstro.

Perseu, com muita dificuldade, consegue encontrar o covil das Gór-


gonas, mas carregava consigo um dilema: como conseguir arrancar a ca-
beça da Medusa sem olhar nos seus olhos e se aproximar das serpentes?

106
Então Perseu entende que polindo o seu escudo ele poderia enxergar
o reflexo da Medusa, se aproximando discretamente, sem ter que olhar
diretamente nos seus olhos.

A Medusa, como representação simbólica do desconhecido e do


medo, indica o respeito que temos que ter por tudo aquilo que te-
memos. Não devemos cometer o erro infantil de julgar ou maldi-
zer de todas as coisas que ignoramos. Devemos ter respeito pelo o
desconhecido e por isso não olhar diretamente nos seus olhos, nos
aproximar com cuidado, de forma inteligente e estratégica, sem nos
aventurar de forma inconsequente.

Com essas considerações, Perseu consegue se aproximar da Medusa,


eliminando o risco de ser transformado paralisado pelo medo olhando
de forma direta para os olhos do monstro. Se aproxima através do refle-
xo do seu escudo e, com um golpe mortal, corta sua cabeça.

O interessante em destacar nesse mito é que somente através do refle-


xo do escudo Perseu pôde enfrentar a Medusa. E é justamente através da
reflexão profunda é que iremos conseguir eliminar e enfrentar todos os
nossos medos e inquietações internas.

A chave da consciência está na compreensão do sentido da nossa


vida e que deve se manifestar em tudo que nos propomos a fazer. Assim
como Perseu, devemos entender as ferramentas que temos, para conse-
guir utilizá-las para enfrentar os nossos maiores obstáculos.

107
Agir com inteligência é uma das maiores armas que o ser hu-
mano possui. Sendo bem trabalhada, nos ajuda a nos libertar de
todos os nossos medos.

108
109
hinaldo breguez

a chave
da consciência
110

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