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SEMINÁRIO PRESBITERIANO

“REV. JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO”

“O qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a


todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo
homem perfeito em Cristo” Cl 1:28

EDUCAÇÃO
CRISTÃ

GILDÁSIO JESUS B. DOS REIS


2006

Copyright @ 2006 Gildásio Jesus Barbosa dos Reis. Proibida a Reprodução sem a autorização
por escrito do autor
2

FUNDAMENTOS TEOLÓGICOS PARA UMA


EDUCAÇÃO CRISTÃ REFORMADA
Rev. Gildásio Reis

Vivemos em uma época de diversidade de conceitos, ideologias e paradigmas, fruto de um


ambiente pluralista. Diversidade esta que se faz presente em todos os segmentos da
sociedade. Na educação não é diferente. Penso que é desejo de todo líder cristão oferecer a
sua igreja uma educação que seja eficaz, mas também bíblica. Sendo assim, para não cair
na armadilha das muitas filosofias pós-modernas, precisamos estabelecer alguns
pressupostos para a educação cristã.

1. O QUE É EDUCAÇÃO (CRISTÃ)?

Antes de vermos o que é educação cristã, precisamos primeiramente ver o que é educação.
A educadora Maria Lúcia Aranha nos dá uma definição, escreveu ela:

A educação é um conceito genérico, mais amplo, que supõe o desenvolvimento integral


do ser humano, quer seja da sua capacidade física, intelectual e moral, visando não só a
formação de habilidades, mas também do caráter e personalidade social.1

Este tem sido um conceito de educação quase que universalmente aceito; ou seja, a
educação, pelo menos em tese, visa também desenvolver o caráter do ser humano. Tendo
isso em mente, podemos dizer que a educação cristã também se propõe a desenvolver o ser
humano de maneira integral, em suas habilidades e caráter. No entanto, trata-se de um
processo distinto daquela “educação”, pois a educação cristã é assim adjetivada, em razão
de ter seus fundamentos e princípios baseados nos ensinamentos das Escrituras Sagradas.

Algumas definições de Educação Cristã:

Educação Cristã é um processo de educação e aprendizado sustentado pelo Espírito Santo


e baseado nas Escrituras. Procura guiar indivíduos a todos os níveis de crescimento
através de métodos do ensino em direção ao conhecimento e vivência do plano e
propósito divinos mediante Cristo em todos os aspectos da vida. Também equipa as
pessoas para o ministério efetivo com uma ênfase geral em Cristo como Mestre Educador
por excelência e seus mandamentos de fazer e treinar discípulos.2

A Educação Cristã é o processo Cristocêntrico, baseado na Bíblia e relacionado com o


estudante, para comunicar a Palavra de Deus através do poder do Espírito Santo com o
propósito de levar outros a Cristo e edificá-los em Cristo.3

A Educação Cristã é o esforço divino-humano deliberado, sistemático e contínuo de


comunicar ou apropriar-se do conhecimento, valores, atitudes, habilidades, sensibilidades

1
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação.São Paulo, SP: Ed. Moderna. 1989. p.49
2
Werner Graendorf, citado por Pazmino in: Cuestiones Fundamentais de la educación Cristiana, Dadeland,
Miami: Editorial Caribe. 1995. p. 96
3
PAZMINO, Roberto. Op Cit., p. 96
3

e o comportamento que constituem ou são consistentes com a fé cristã. Apóia a


transformação e a renovação de pessoas, grupos e estruturas pelo poder do Espírito Santo
para conformar-se à vontade de Deus, tal como expressa do Velho e Novo Testamentos e
preponderantemente na pessoa de Jesus Cristo.4

Educação Cristã é um processo que ocorre tanto informalmente como através de uma
série de eventos planejada, sistemática e contínua, objetivando levar o crente à
conformar-se à imagem de Cristo (maturidade), tendo como base autoritativa as Escrituras
Sagradas e sustentada pelo Espírito Santo, visando a glória de Deus.5

Desdobrando esta última definição temos sete distintivos teológicos importantes:

1.1. Educação Cristã é um processo

Devemos ver a educação cristã como um processo de desenvolvimento do ser humano. Por
“processo” entendemos uma ação progressiva que ocorre através de uma série de atos e
eventos que produzem mudanças, e não importa se são rápidas ou lentas,6 desde que
conduza a um progresso, a uma melhora. (Cl 3:9,10 – santificação progressiva)

José Abraham também vê a educação cristã como um processo. Diz ele que a educação é:

O processo através do qual a comunidade de fé se conscientiza e se transforma, á luz de


sua relação com Deus em Jesus como o Cristo, que o chama a viver em amor, paz e
justiça consigo mesmo, com seu próximo e com o mundo, em obediência ao Reino de
Deus.7

Ele continua explicando a razão em se ver Educação Cristã como um processo, usando a
natureza como ilustração:

Uma forma de entender isto é observar os processos da natureza, como por exemplo,
uma semente. A semente tem a potencialidade de se transformar em uma árvore de
onde se colha os frutos, porém, isto não ocorre instantaneamente. Ela requer que a
semente seja plantada em um lugar onde há terra e água. Através do tempo e das
diferentes mudanças que vão ocorrendo nela, germinará e começará seu processo de
crescimento e em um dia nos dará os seus frutos. E tudo isso tomará tempo, em alguns
casos mais do que outros.8

A educação cristã entendida como um processo vai nos ajudar a planejar uma série de
passos sistemáticos para que, aplicados e à luz das Escrituras Sagradas, possamos promover
mudanças e crescimento. E não devemos esquecer, que este processo é altamente pessoal e
individualizado. Isto porque, cada um de nós recebeu uma educação ou formação diferente

4
Idem Ibidem., p. 97
5
REIS, Gildasio. Apostila Fundamentos Teológicos e Filosóficos da Educação Cristã. JMC. 2004
6
A. Hoekema definindo a santificação progressiva, ensina que este processo de crescimento varia de pessoa
para pessoa e em graus diferentes ( Veja o capítulo 12 de Salvos pela Graça, pp. 199-239 )
7
JESÚS, José Abraham. En Busca de una Definición de educación Cristiana., in:
http://www.receduc.com/educacioncristiana/defincn.html ( capturado em 12/08/04)
8
Idem
4

da dos outros, e cada um também se encontra numa fase de desenvolvimento espiritual.


Educação cristã é um processo, e este não é igual para todos.

2. Educação Cristã ocorre informalmente (Piedade pessoal do educador)

Educação informal é aquela realizada não intencionalmente (ou, pelo menos, sem a
intenção de educar). Freqüentemente, o exemplo de um líder cristão é mais educacional do
que os conteúdos que ele ensina, pois seus alunos podem aprender mais conteúdos valiosos
em decorrência da observação de suas atitudes e de seu comportamento do que em
conseqüência de seu ensino (Mt 5:19).

Um exemplo desta educação informal pode ser visto quando pais freqüentemente, procuram
educar seus filhos, e em grande parte das vezes tentam fazê-lo através do ensino (via de
regra verbal). As atitudes, o comportamento dos pais, porém, podem ensejar a
aprendizagem e compreensão de conteúdos bíblicos, sem que os pais tenham a intenção de
que seus filhos aprendam alguma coisa em decorrência da maneira pela qual se comportam.
E assim por diante.

Para Timóteo não ser desprezado em seu trabalho na Igreja de Éfeso, Paulo orienta-o a ser
um modelo, no grego tipos (τυπo,ς)9 para seus ouvintes. Entre outras coisas, Timóteo
deveria ser padrão na conduta (Cf. I Tm 4:12). Ele já havia sido orientado a respeito da
necessidade de os presbíteros e diáconos serem irrepreensíveis (cf. I Tm 3:2,8). Mas uma
conduta irrepreensível também era exigida dele. Não obstante Timóteo ser muito jovem,
precisava conquistar o respeito de seus ouvintes através de um comportamento exemplar.
Isto porque “a influência do testemunho do pregador sobre a aceitação do sermão requer
que nossa vida esteja posta sob o domínio da Escritura”10.

Entende-se por conduta o modo de vida, maneira de tratar as pessoas, nos costumes,
hábitos, vida no trabalho, relacionamento familiar, modo de lidar com as finanças, etc.11
Timóteo deveria manifestar uma conduta educadora que manifestasse a vida de Cristo.
Uma conduta que estivesse acima da reprovação. “A conduta é um reflexo do caráter, o
qual é nutrido e alimentado num relacionamento crescente, submisso e comprometido com
Cristo”.12

O educador cristão vai ensinar muito com sua vida, desde que ela esteja em harmonia com
as Escrituras.

9
Das 14 ocorrências do substantivo tipos no N.T., metade faz referência á exemplificação. Cf. “O Exemplo”
por George J. Zemek in: Redescobrindo o Ministério Pastoral, Rio de Janeiro, RJ: CPAD. 1995. pp.294-313
(Cf. também em HOHLENBERGER III, John R. ., Edward W. Goodrick e James A. Swanson. The
Exhaustive Concordance To The Greeck New Testament. Grand Rapids, Michigan: Zondervan Publishing
House. 1995)
10
CHAPELL, Bryan. Pregação Cristocêntrica. São Paulo, SP: Ed. Cultura Cristã. 2002. p. 29
11
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito. São Paulo, SP:
Editora Cultura Cristà. 2001. p. 199
12
STOWELL, Joseph M. Pastoreando a Igreja. São Paulo, SP: Ed. Vida . 2000. p. 174
5

Paulo, em duas passagens em sua carta aos Filipenses, nos convida a olhar para a sua vida e
imitar o seu comportamento: “Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam
segundo o modelo que tendes em nós” (Fl 3:17) e “O que também aprendestes, e recebestes
e vistes em mim, isso praticai” (Fl 4:9). Perry Dows chama a isto de “aprendizado por
observação” e afirma que a “imitação dos modelos é um conceito bíblico para conduzir o
povo à maturidade”.13

1.3 Educação Cristã é um processo planejado, sistemático e contínuo

A educação formal é aquela realizada e organizada com o objetivo de educar. Exige-se um


planejamento de temas, com horários determinados e uma série de eventos e atividades de
ensino elaboradas sistematicamente com a intenção clara de educar. Os alunos sabem
exatamente quando a educação começa e quando termina.

Muitas igrejas possuem um departamento educacional interno denominado de Comissão de


Educação Cristã ou Religiosa. Seu objetivo é formular um programa unificado de
educação, onde objetivos são fixados e uma série de esforços são programados e
organizados para a eficácia do ensino. A Educação sistemática e contínua exige, portanto,
um bom programa de educação cristã, e este normalmente apresenta os seguintes aspectos:

a) Um estudo cuidadoso das necessidades da igreja local, quais os pontos fortes e


fracos, qual área necessita de um investimento mais emergente;
b) O conteúdo bíblico a ser estudado é adequado ás atuais necessidades. Pois não é
suficiente estudar a Bíblia, mas que o tema adotado seja relevante para a vida da
igreja;
c) Tem objetivos claramente fixados, ou seja, sabe-se onde pretende chegar;
d) Tem um programa de recrutamento, treinamento e capacitação de líderes e
professores;
e) Reuniões periódicas para avaliação do que foi realizado até então, com
possibilidade de remanejamento.

1.4. Educação Cristã tem como objetivo levar o crente á maturidade

Para alguns, maturidade espiritual significa conhecer a Bíblia. Quanto mais uma pessoa
conhece a Bíblia, mais espiritual ele ou ela é. Para outros, maturidade espiritual significa a
habilidade de louvar e adorar. Se as pessoas valorizam e amam o louvor à Deus, elas podem
ser consideradas maduras. E ainda para outros, maturidade é piedade. O “mais profundo”
que alguém ande com Deus, mais maduro aquela pessoa é. Para outros, maturidade
significa ação social. Maturidade espiritual é estar envolvido com o povre e oprimido,
aliviando seus problemas. E outros dizem que maturidade significa ganhar almas. A pessoa
verdadeiramente espiritual será um evangelista pessoal. E para outros, maturidade significa
experimentar a totalidade do Espírito Santo e exercitar os dons do Espírito de maneiras
espetaculares.

13
DOWS, Perry G. Introdução à Educação Cristã – Ensino e Crescimento. São Paulo, SP: Editora Cultura
Cristã. 2001. p. 194
6

A Bíblia usa uma variedade de termos e metáforas para descrever maturidade espiritual.
Tais termos como provado (2 Co 9.13), maduro (Ef 4.13), santo (1 Ts 4.3), e completo (Tg
1.4) referem-se ao conceito de maturidade espiritual. Metáforas tais como Cristo habitando
nos crentes (Ef 3.17), permanecendo em Cristo (Jo 15.5), e crentes andando como Jesus
andou (1 Jo 2.6) também descrevem o conceito de maturidade. Mas nenhuma definição
única e simples é oferecida. Portanto uma definição teológica dever ser estabelecida para
trazer a profundidade do dado bíblico para ser significativa

Paulo em Cl 1:28 diz: “o qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a
todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em
Cristo”.

Note bem que Paulo diz que ensinava com uma finalidade: “apresentar todo homem
perfeito em Cristo”. Obviamente que perfeito aqui não significa ausência de pecados, mas
maturidade espiritual. O que queremos dizer por maturidade cristã é o processo de
santificação, o caminho progressivo para a conformidade à imagem de Cristo no crente. A
imagem original, desfigurada com a Queda (Gn 1:26-27), porém agora é renovada em
Cristo quando da conversão (Cl 1:15; Rm 8:29; I Jo 3:2, II Co 9:18). Sabemos que a
conversão apenas dá início a uma nova vida, mas, ao nascer o novo crente inicia uma longa
caminhada na espiritualidade, a qual necessitará de uma educação e que seja cristã, a fim de
proporcionar-lhe crescimento na fé, e assim, torná-lo “perfeito” em Cristo, ou seja, um
crente maduro.
Esta maturidade cristã (santificação progressiva) pode ser vista em passagens como Cl
3:9,10, onde o apóstolo Paulo lembra a seus ouvintes de que eles se despiram do velho
homem e se revestiram do novo. Este novo homem é descrito como aquele “que se refaz
para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (v.10).
A palavra grega avnakainou,menon (anakainoumenon ) traduzida por “que se refaz” ou que
“está sendo refeito”, é um particípio e encontra-se no tempo presente. Com isto o
significado pretendido pelo autor é uma renovação que perdura por toda a vida do crente.14
Um crente maduro é aquele que está crescendo progressivamente e continuamente sendo
transformado á imagem de Cristo, e sob a obra graciosa do Espírito Santo, ele prossegue
mortificando as práticas pecaminosas a que era inclinado. (cf. 2 Co 3:18; Cl 3:3; Rm 6:6;
8:13; Ef 4:22-24)15

1.5. Educação Cristã deve se fundamentar nas Escrituras Sagradas

Calvino dizia que para alguém chegar a Deus, o Criador, é necessário que tenha a Escritura
por guia e mestra.16 O verdadeiro conhecimento de Deus está na Bíblia. Isto porque, a
Escritura é a única regra inerrante de fé e prática da vida da igreja.
14
Robertson, Archibald Thomas. Word Pictures In The New Testament. Grand Rapids, Michigan: Backer
Book House. 1931
15
HOEKEMA, Antony. Salvos Pela Graça – A Doutrina Bíblica da Salvação. São Paulo, SP: Cultura Cristã.
1997. p. 214
16
CALVINO, João. Institución de la Religión Cristiana. Apartado, Paises Bajos: Felire. 1986. I, 6
7

Devemos proclamar a palavra como medida única daquilo que é justo e verdadeiro, e o
evangelho como a única proclamação da verdade salvadora. A verdade bíblica é
indispensável para a educação cristã na Igreja. Aliás, sem a Escritura não existe educação
cristã. Todo o processo educativo da igreja deve estar fundamentado na palavra, e só
quando ela estiver sendo estudada e crida como nosso guia e mestra, é que cresceremos em
direção a estatura de Cristo. Creio que uma educação que nos leva em direção á maturidade
espiritual não pode prescindir do conhecimento das Escrituras

Argumentando sobre a importância da Palavra na educação cristã, Perry Dows faz a


seguinte observação:

Porque é a verdade que santifica e liberta, e porque a Palavra de Deus é a verdade, uma
educação eficaz deve ensinar a Palavra de Deus. A interação com a Escritura é
essencial para a saúde espiritual da congregação e sem ela o crescimento espiritual é
impossível17

É fato que vivemos dias confusos, e uma significativa parcela do evangelicalismo moderno
está vivenciando uma crise doutrinária e teológica. Num cenário em que tantas opiniões
pessoais querem ter a primazia, é preciso reportar-se às Escrituras que sempre tem a palavra
final em qualquer questão. A Confissão de Fé de Westminster assim se expressa:

O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas, e
por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos
antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares; o Juiz
Supremo, em cuja sentença nos devemos firmar, não pode ser outro senão o Espírito
Santo falando na Escritura.18

Um dos pressupostos da Hermenêutica Reformada é a crença na inspiração e autoridade das


Escrituras. Paulo afirma que toda a Escritura é inspirada por Deus (2Tm 3.16,17). Toda a
Escritura, portanto, é o sopro de Deus; é a própria vida e Palavra de Deus. Isto significa
dizer que as Escrituras por serem divinamente inspiradas, não contém erros; sendo
absolutamente inerrantes, verídicas em todas as suas afirmativas e, portanto, autoritativas
quanto a todos os assuntos sobre os quais faz seguras afirmações. Esta verdade permanece
inabalável em tudo o que ela diz sobre a salvação, valores éticos e da moral, bem como
tudo aquilo que acontece na história e no mundo (cf. 2Pe 1.20,21; note também a atitude do
salmista para com as Escrituras no Sl 119).

A Confissão de Fé de Westminster declara a autoridade da Escritura:

A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não
depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a
mesma verdade) que é o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra de
Deus. (Ref. II Tim. 3:16; I João 5:9, I Tess. 2:13.) 19

17
Downs, Op Cit., p. 164
18
Confissão de Fé de Westminster. Cap. I, parágrafo X
19
Confissão de Fé de Westminster, Cap. I, parágrafo IV
8

Uma educação cristã reformada prima pela relevância e indispensabilidade da Palavra de


Deus. Em dias confusos como os nossos, temos que nos voltar para o Sola Scriptura e
resgatar nossa confiança no seu ensino, a única que mediante o seu poder é capaz de
transformar vidas.

1.6. Educação Cristã é sustentada pelo Espírito Santo

Falando da inspiração das Escrituras, Pedro afirma que "Homens santos falaram ao serem
movidos pelo Espírito Santo" (2 Pe 1.21). Assim, cremos que as Escrituras são o produto
do Espírito Santo, que não apenas no-las dá, mas também nos capacita a entendê-las,
iluminando as nossas mentes e aplicando a verdade de Deus no coração da Igreja. (2 Tm
3.15-17; cf. 1 Tm 4.13)

Vemos a importância do Espírito Santo na educação no seguinte texto da nossa confissão


de Fé:

Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente


apreço pela Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, a eficácia da sua
doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu
todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de
salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa
perfeição são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a Palavra de
Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina
autoridade provém da operação interna do Espírito Santo que, pela Palavra e com
a Palavra, testifica em nossos corações.20

Cremos que Deus é o autor supremo das Escrituras, e estas nos foram dadas para nos guiar
e nos fazer ver a vontade de Deus para as nossas vidas. Cremos também que apenas o
Espírito Santo pode nos fazer compreender a mente de Deus nas Escrituras. Portanto,
devemos ter como pressuposto que ninguém pode prescindir do Espírito de Deus, caso
contrário, seremos incapazes de conhecer o que Deus quer para nós.21

Em círculos reformados, há uma ação tríplice do Espírito em relação à Escritura.


Primeiramente, ele inspirou os autores sagrados, colocando em seus corações aquilo que
deveria ser registrado; em segundo lugar, tem preservado22 de distorções a sua Palavra pura
através dos séculos; e em terceiro lugar, ele age sobre os ministros e ouvintes, iluminando
suas mentes para que compreendam corretamente o significado dos textos, e sua aplicação
para a edificação do povo de Deus.

20
Idem., cap. I, parágrafo V (grifo nosso )
21
SILVA, Moisés. A Função do Espírito Santo na Interpretação da Bíblia, Fides Reformata vol II- Número
2 (Julho-Dezembro 1997). p.91
22
Falando sobre a preservação das Escrituras, Paulo Anglada a define da seguinte forma: “O texto bíblico,
revelado e inspirado por Deus para garantir seu fiel registro nas Escrituras, foi cuidadosamente preservado por
Ele no decorrer dos séculos, de modo a garantir que aquilo que foi revelado e inspirado continue disponível a
todas as gerações subseqüentes” cf. Sola Scriptura – A Doutrina Reformada das Escrituras. Ed. Puritanos. P.
163,164
9

A Confissão de Fé fala sobre o Testemunho Interno do Espírito Santo, e sobre isso B.B.
Warfield afirma:

O Testemunho Interno do Espírito Santo é um ato sobrenatural do Espírito por meio


da Palavra de Deus atentamente lida e ouvida, pela qual o coração do homem é
movido, aberto, iluminado, voltado para a obediência da fé, de tal forma que o
homem iluminado, verdadeiramente percebe a Palavra que é proposta a ele, como
tendo procedido de Deus, e dá a ela, portanto, uma aprovação inabalável.23

Como educadores reformados devemos ensinar a necessidade deste testemunho interno do


Espírito, mesmo porque, sabemos que a razão não é suficiente para nos convencer de que a
Bíblia é a Palavra de Deus, em razão de nosso intelecto ter sido afetado pela queda, e é por
isso que Calvino diz que “o testemunho do Espírito é mais excelente do que toda a razão”.24

Nas Institutas, Calvino assevera que:

Aqueles a quem o Espírito Santo tem ensinado interiormente verdadeiramente


descansam sobre a Escritura, e que a Escritura é de fato auto-autenticada. Portanto, não
é correto sujeitá-la à prova do raciocínio. E a certeza de que ela merece confiança vem
do Espírito Santo. Mesmo que ela ganhe reverência por si mesma, pela sua própria
majestade, ela nos afeta seriamente somente através do Espírito Santo.25

O que Calvino está afirmando é que a Palavra só será crida e obedecida como Palavra de
Deus, quando confirmada pelo Testemunho interno operado pelo Espírito. (cf. I Co. 2:14 ;
Atos 16:14 ; II CO. 4:3,4,6). Paulo diz que o homem natural, não regenerado, não tem
condições de compreender a Bíblia. Ele não tem capacidade para isto, e necessita portanto,
que o Espírito Santo lhe abra os olhos para que ele venha deslumbrar as maravilhas da Lei
do Senhor. – Sl 119: 18:“Desvenda os meus olhos para que eu veja as maravilhas da Tua
Lei”

Desta forma, o educador cristão deve insistir que a iluminação do Espírito Santo é
necessária na interpretação, compreensão e aplicação das Escrituras.

1.7. Educação Cristã visa a Glória de Deus.

Quais sãos os objetivos finais do processo de educação cristã? Qual é o ponto principal do
ensino bíblico? Por que nos gastamos tempo, esforços e energia no processo educacional
dentro da igreja?

O Catecismo Maior de Westminster em resposta a pergunta 1 diz: “O fim supremo e


principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo plena e eternamente”26 Existem muitas
passagens bíblicas que sustentam esta proposição27. Se concordarmos que este é nosso

23
Citado por Benjamim Warfield. Calvin and Calvinism p. 77
24
CALVINO. Institución de la Religión Cristiana. Livro I, VII. 6
25
CALVINO. Op Cit., I, VII.5
26
Catecismo Maior de Westminster. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã.
27
Apenas para citar algumas: Rm 11:36; I Co 10:31; Sl 73:24-26; João 17:22-24
10

objetivo último na educação cristã, então isso irá mudar a forma como ensinamos as
Escrituras. Iremos ensinar não apenas para que os membros em nossas igrejas aprendam o
conteúdo bíblico, mas também para que eles venham a ter uma relação com o Autor da
Bíblia. Nós não iremos apenas ensinar para que aprendam mais sobre Deus, mas para
crescerem em sua relação com Deus.

Jesus Cristo disse a seu Pai na oração sacerdotal: “Eu te glorifiquei na terra, consumando a
obra que me confiaste para fazer”. Nós glorificamos a Deus com a educação cristã,
fazendo aquilo que ele nos confiaste para fazer: levar os crentes à maturidade em Jesus
Cristo. Isto glorifica a Deus. Entendemos que o fim último da Educação Cristã é atender ao
chamado de Deus para sermos educadores, e assim colaborando em Seu projeto que é o de
transformar os homens renovando-os à Imagem de Cristo. “A Educação da alma é a alma
da educação”.

Portanto, o processo de educar (edu cere = trazer para fora) o povo de Deus, fazendo-o
crescer no “conhecimento e na graça do Senhor Jesus”, é, com toda certeza, algo que
glorifica a Deus.28

Há 3 questões que talvez precise de uma esclarecimento melhor:

1ª) O que significa glorificar a Deus?

Calvino disse que a “glória de Deus é quando sabemos o que ele é”29. Isto significa dizer,
que reconhecemos quem é Deus e, assim, o valorizamos acima de todas as outras coisas (I
Co 10;31). Calvino novamente é enfático: “Não busquemos nossos próprios interesses, mas
antes aquilo que compraz ao Senhor e contribui para promover sua gloria”30

É óbvio que glorificar a Deus não significa torná-lo mais glorioso, pois Deus tem glória
intrínseca à sua própria natureza (cf. Is 6:3). Sua glória não é algo que lhe foi dada, mas
esta lhe pertence em virtude daquilo que ele é. Mesmo que ninguém viesse a dar glória a
ele, ainda assim ele continuaria sendo glorioso, pois tal glória é uma combinação de todos
os seus atributos.

2ª) Por que devemos glorificar a Deus?

2.1. Devemos glorificar a Deus porque ele é o criador de todas as coisas. (Salmo 100;
Sl 19:1; Is 43:20).

O apóstolo João escreveu: “Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra
e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, e é para o teu agrado que elas existem e

28
KISTEMARKER, Simon. Comentário do Novo Testamento – I Coríntios. São Paulo, SP: Editora Cultura
Cristã. 2004. p. 498
29
Calvino, João. Citado por Leonard T. Van. Estudos no Breve Catecismo de Westminster. São Paulo,SP:
Editora Os Puritanos. 2000 p.7
30
Calvino, João. A Verdadeira Vida Crista. São Paulo, SP: Editora Novo Século, p.30
11

fora criadas” (Ap. 4:11). Deus nos criou para a sua glória (Is 43:6,7); portanto, é nossa
obrigação viver com este objetivo (I Co 10:31). Nossa missão vem do desígnio de Deus.

2.2. Devemos glorificar a Deus porque ele fez todas as coisas com esta finalidade.

Deus não criou o mundo por causa de alguma necessidade existente nEle, visto não haver
insuficiência em Deus. Mas Deus, em todo sua grandeza, sendo o todo-poderoso, criou o
mundo para exibir as qualidades de sua majestade e assim manifestar a sua glória. (Sl 19:1-
3; Rm 11:36; Is 43:7)

3ª.) Como podemos glorificar a Deus?

1) Glorificamos a Deus, crendo nele. Fl 2:9-11


2) Glorificamos a Deus, colocando-o em primeiro lugar em nossa vida.(I Co10:31).
3) Glorificamos a Deus, fazendo a sua vontade (João12:27,28; Mt 26:39,42; Mc
14:36; Lc 22:42)
4) Glorificamos a Deus, quando confiamos e descansamos nele. (Fl 4:11,12 ; 2Co
1:30)
5) Glorificamos a Deus, quando testemunhamos dele. (2 Ts 3:1; At 13:48)

II. DISTINTIVOS TEOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ REFORMADA

Os educadores reformados pressupõem quatro distintivos teológicos que orientam sua visão
educativa. Afirmamos que a filosofia educacional da Igreja é transformar o Corpo de Cristo
através de uma formação que seja: bíblica, confessional, eclesial e contextual.

1) Bíblica porque entendemos que as Escrituras Sagradas constituem o alicerce que


deve nortear todas as nossas atividades. A Bíblia é o manual, o livro texto do
professor cristão e sem a Escritura não haverá crescimento espiritual. De acordo
com Paulo “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de
Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” II Tm 3:16.

2) Confessional: Valorizamos a historicidade da nossa fé. Entendemos que os


catecismos e a Confissão de Fé de Westminster são importantes para nós que
vivemos no terceiro milênio. Isto porque “não somos essencialmente diferentes dos
crentes que viveram nos primeiros séculos da era cristã”.31 A importância destes
símbolos é que eles nos ajudam dando o alicerce para uma teologia sadia. A nossa
fé também tem raízes históricas e esta é a razão porque julgamos serem tão
importantes estes documentos para os nossos dias tão cheios de confusão teológica.
(cf. Salmo 44:1-2).

3) Eclesial: Os membros de nossas igrejas, alunos em nossos Seminários e Institutos


Bíblicos foram dotados de dons para o serviço, os quais precisam ser descobertos e

31
CAMPOS, Héber Carlos de. A Relevância dos Credos e Confissões. Fides Reformata. Vol. II – Número 2
(Julho-Dezembro 1997). P.98
12

desenvolvidos para o fortalecimento e para o bem de toda a Igreja. Note que Paulo
em Ef 4:12 descreve o resultado da educação. Diz ele que os pastores e mestres
foram dados à igreja com “vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o
desempenho de seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo”.

Hendriksen ao comentar esta passagem diz:

A idéia resultante é que Cristo deu alguns homens na qualidade de (...) mestres, com o
propósito de “aperfeiçoar” (cf. I Ts 3:10; Hb 13:21; I Pe 5:10) ou prover o equipamento
necessário para todos os santos com vistas à obra de ministrar uns aos outros bem como
edificar o corpo de Cristo.32

Ainda mais sabemos que uma educação cristã não será adequada se não atentar para o fato
que é no desenvolvimento de relacionamentos e num contexto de amor, serviço, paciência,
apoio, correção, disciplina, perdão e aceitação que a fé cresce e amadurece.

Existem pelo menos cinco áreas no contexto eclesiástico, onde o cristão pode desenvolver seus
dons, fazendo assim, uma conexão entre sua fé e os propósitos da igreja:

3.1. Liturgia: “Ao Senhor Teu Deus adorarás, e só a ele servirás” (Mt 4:10)
3.2. Kerigma: “de por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” Mc 16:15
3.3. Mathetes: “Ide e fazei discípulos . . .” Mt 28: 19-20
3.4. Didaskalia: 2 Tm 4:1-5.
3.5. Diakonia: Mt 25:31-46
3.6. Koinonia: I Co 12:25 b

4) Contextual: porque estamos inseridos em uma sociedade, em uma cultura, e é


obrigação nossa como cristãos vivermos nesta sociedade ativamente de modo a
sermos sal e luz, promovendo uma transformação. É tarefa educacional da igreja
ajudar as pessoas a terem uma cultura cristã em que elas usem a teologia interagindo
com tudo o que há na vida. Mt 9:35-38. Expressar a glória de Deus em todas as
áreas da vida: na família, na sociedade, na igreja. A Educação reformada em sua
melhor expressão visa capacitar as pessoas a lidar com as implicações de uma visão
cristã para toda a vida.33

Sabemos da importância de Calvino também na educação.34 Ele foi um grande educador e,


nesta qualidade, tinha como objetivo formar pessoas não apenas para o ministério, mas
também para servirem na sociedade.35

32
HENDRIKSEN, Willian. Efésios – Comentário do Novo Testamento. São Paulo, SP: Ed. Cultura Cristã.
1992. p.246
33
CORNÉLIUS Van Til, Essays On Christian Education. Presbyterian & Reformed, Nutley, Nueva Jersey.
1977. pp.78-80.
34
Indico a leitura do artigo do Dr. Héber Carlos de Campos intitulado “A Filosofia Educacional de Calvino e
a Fundação da Academia de Genebra’ publicado na Revista Fides Reformata 5/1 de 2000.
35
T.M. Moore. Some Observations Concerning The educational Philosophy Of John Calvin, “Westminster
Theological Journal 46 – 1984, p. 140
13

Wilson Castro Ferreira ao descrever um pouco da influência que Calvino exerceu em


Genebra com a sua Academia afirma:

Calvino quis fazer da educação um instrumento hábil para produzir indivíduos


capazes de servir na vida pública ou qualquer outra função, com a consciência do
dever e sentido de vocação, tudo para a mais alta finalidade – a glória de Deus.36

III. QUE OBJETIVOS EDUCACIONAIS A EDUCAÇÃO CRISTÃ DEVE


PROCURAR DESENVOLVER?

Quando falamos de objetivos educacionais, temos em mente um certo desempenho


esperado daqueles que ensinamos. Dito em outras palavras, onde queremos chegar? O que
desejamos que nossos alunos sejam no futuro como fruto de nosso ensino?

Para responder a esta questão, formulamos nossos objetivos em termos comportamentais


considerando a já conhecida tríade expressa nos três aspectos humanos: CONHECER-SER-
FAZER.

1) Conhecer: Este aspecto intelectual (notitia) ou cognitivo, se refere a como as pessoas


reconhecem as coisas e pensam sobre elas. Jesus disse: “Amarás o Senhor, teu Deus, de
todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento...”. (Mt 22:37)

A Bíblia deixa bem explícito que há uma relação direta entre como pensamos e como
agimos. Paulo descreve os inimigos da cruz de Cristo como aqueles que “só se preocupam
com as coisas terrenas” (Fl 3:19), em oposição aos crentes, os quais devem pensar nas
coisas lá do alto”, e não nas que são daqui da terra”. (Cl 3:2)

Podemos ver também esta relação feita pelo apóstolo, em Rm 12:2: “E não vos conformeis
com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que
experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.

Observe bem a relação feita por Paulo. Escreveu ele: Renove a mente, pois ela moldará o
comportamento, fazendo-o experimentar a vontade de Deus. Portanto, se a maturidade
cristã é moldada pela maneira como pensamos, deve ser um de nossos objetivos
educacionais levar nossos ouvintes a conhecerem corretamente a Deus e a maneira como
ele quer que nos comportemos.

Precisamos trabalhar para o crescimento intelectual (cognitivo) de nossos alunos.


Precisamos ensiná-los a pensar teologicamente, conhecer as verdades bíblicas e refletir nos
conceitos (categorias) bíblicos e teológicos.

Conhecer a verdade é conhecer o alicerce sobre o qual se erguerá o edifício da fé cristã.


Sem um bom alicerce, o edifício será frágil. Sem um bom conhecimento bíblico, teremos
um crente frágil.

36
FERREIRA, Wilson Castro. Calvino: Vida, Influência e Teologia. São Paulo: Campinas. Ed. Luz Para o
Caminho. 1990. p.189
14

Se é verdade que a mente molda o coração e a vontade, então é imperativo que


os cristãos aprendam a pensar sobre a verdade. Uma educação cristã eficaz
molda os alunos a conhecerem a verdade e a pensarem com a verdade, para que
seus comportamentos sejam moldados pela verdade.37

Em Cristo, o homem antes rebelde, encontra sua plena satisfação em Deus.38 A educação
cristã deve ser cristocêntrica procurando capacitar as pessoas a conhecer através da Palavra,
a pessoa de Cristo e crescer nele. Por isto, o educador cristão tem a responsabilidade de
ajudar as pessoas a lidar pessoal e corporativamente, com as implicações do Senhorio de
Jesus.

2) Fazer: É tarefa da Educação Cristã ajudar as pessoas a pensarem corretamente sobre


Deus, contudo, não queremos que nossos ouvintes, alunos ou nossas ovelhas tenham uma
fé meramente intelectual. Fazendo menção de Lucas 6:46 onde Jesus disse: “Por que me
chamais Senhor, Senhor, se não fazeis o que vos mando?” Observe, que Jesus critica uma
fé que se limita ao aspecto cognitivo.

A teologia, ou seja, aquilo que conhecemos a respeito de Deus não pode estar divorciado
das nossas experiências de vida. Não é suficiente conhecer o conteúdo da verdade,
precisamos aplicar este conteúdo em nosso dia a dia. Jesus em João 13:17 afirmou: “Se
sabeis (conhecer) estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes (fazer)”. Saber e
fazer, um binômio inseparável.

Esta é uma excelência educacional que devemos almejar alcançar. Devemos ter como
objetivo promover uma educação que leve ao aprendizado prático da verdade conhecida.

Maturidade cristã significa viver a verdade nas diversas situações da vida. Tiago nos exorta
dizendo que a fé (conhecer) sem obras (fazer) é morta. Não resta dúvida, de que a Educação
cristã é um processo em aprender a viver. Sem prática não há aprendizagem. E se não há
aprendizagem, não há educação. “Detesto qualquer informação que é dada, que
aumenta minha instrução, mas não muda minha atividade”.39

A relação entre Saber e Fazer:

Se fosse verdade que saber é fazer, tudo que precisaríamos fazer seria ensinar as pessoas a
verdade e elas então as fariam. Mas tanto a experiência quanto a Escritura ensinam que o
conhecimento não conduz automaticamente à ação. Nós todos temos momentos quando
sabemos o que deveríamos fazer, mas por uma variedade de razões escolhemos não faze-lo.
Nós pecamos ao falhar em viver de acordo com o conhecimento que nós temos. As pessoas
não devem somente conhecer o que fazer; mas também estar desejosos em faze-lo.

37
DOWS, Perry G. Op Cit., p. 222
38
PIPER, John. Teologia da Alegria- A Plenitude da Satisfação em Deus. São Paulo,SP: Edições Shed. 2001 p. 9
39
Goethe in: Dimenstein, Gilberto, Fomos Maus Alunos, Editora Papirus ( Campinas: SP – 2003 ) p. 33
15

Às vezes nós não temos uma idéia real do que é a coisa certa a fazer. Nós precisamos de
conhecimento moral naquele assunto, dizendo-nos o que é bom e certo para se fazer. Mas
em outros momentos nós sabemos o que nós devemos fazer, mas sem medo ou por pura
pecaminosidade nós simplesmente não queremos faze-lo. A Escritura nos avisa desta
possibilidade e conclui, “Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso
está pecando” (Tg 4.17).

Mas o problema é mais complicado ainda quando nós tanto sabemos o que deveríamos
fazer e queremos faze-lo, mas não temos a habilidade para faze-lo. Paulo falou desta
condição quando escreveu, “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita
bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo” (Rm 7.18). Seu
problema não era no nível do desejo, mas no nível da habilidade. Para que as pessoas
façam a coisa certa, elas devem ter (1) conhecimento moral do que é certo, (2) estar
desejosas em fazer o que é certo, e (3) ter força moral para de fato levar adiante seu desejo.
A linha do conhecimento moral para a ação moral não é direta; está também incluído o
desejo e a força para fazer a coisa certa.

Educacionalmente, não é suficiente ensinar valores morais. Certamente a igreja tem um


conteúdo para comunicar, mas ela deve também falar à vontade e o poder de fazer o que é
certo. Uma estratégia educacional que capacita as pessoas a crescerem em uma ação moral
é necessária.

3) SER: Afirmamos que o conhecer não pode estar divorciado do fazer, senão, o saber se
transforma numa ortodoxia morta. Mas é verdade também que o fazer sem o conhecer pode
se transformar numa mera religiosidade vazia, pois sabemos ser possível fazer a coisa certa
sem ter qualquer relacionamento com Deus. Daí a necessidade de uma terceira excelência a
ser buscada.

Para uma educação cristã eficaz é imprescindível educar o aluno a ser. Nosso desejo e
desafio é conduzir as pessoas à maturidade cristã, e esta é produto de uma experiência
prática que tem como conteúdo a Palavra de Deus. Contudo, o fazer não deve ser uma mera
repetição do conhecimento adquirido, mas sim, fruto de uma transformação do coração.
Faço (fazer), não apenas porque sei (conhecer), mas porque sou (ser) assim.

Mais uma vez o texto de Mt 22:37 nos é útil: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu
coração (ser), de toda a tua alma/força (fazer) e de todo a tua mente (conhecimento)”.

Quando falamos em educar o aluno para ele SER, estamos fazendo referência ao conceito
bíblico de coração. Conforme o ensino das Escrituras, o coração é o órgão central da
personalidade humana (Pv 27:19), de onde emanam todas as coisas (Mt 15:19). O profeta
Jeremias disse que o coração é desesperadamente corrupto (17:9). O coração do homem
entregue a si mesmo sempre estará produzindo afeições, emoções e ações desordenadas. As
nossas ações são resultado daquilo que somos – Pv 4:23. Em razão disso que em nossa
teologia e filosofia educacional, primamos pela educação do ser, ou melhor, do coração.

Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus...prega a Palavra, insta, quer seja oportuno
quer não, corrige, repreende, exorta com toda longanimidade e doutrina. Pois haverá
16

tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário cercar-se-ão de mestres


segundo suas próprias cobiças...e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se
às fabulas. (II Tm 4:1-4)

IV. A EDUCAÇÃO CRISTÃ – PENSAR E VIVER OS PRINCÍPIOS MORAIS

A Educação Cristã precisa ajudar os crentes a aprender a pensar bem sobre questões
morais.40 A moralidade vai além do julgamento moral; considera também a ação moral.
Mas incluso na moralidade está o aspecto cognitivo do julgamento moral. A respeito do
relacionamento do julgamento moral com a ação moral, Kohlberg escreveu:

Se a razão lógica é uma condição necessária, mas não suficiente para um julgamento moral
maduro, o julgamento moral maduro é uma condição necessária, mas não suficiente para
uma ação moral madura. Não se pode seguir princípios morais sem o entendimento (ou a
crença) nos princípios morais. No entanto, pode-se pensar em termos de princípios e não
viver ao nível destes princípios.13

Três princípios educacionais41, enraizados tanto na teologia quanto na experiência podem


ser mencionados aqui:

1º.) Pergunte “por que” sobre assuntos morais

Porque o conteúdo moral é apoiado pela estrutura moral, nós não podemos nos satisfazer
quando aqueles a quem ensinamos sabem simplesmente resposta certa . Nós também
conhecemos o sentimento de vazio ao descobrir que as pessoas que estão sendo ensinadas
por nós sabem as respostas corretas, mas não praticam essas respostas.

Ted Ward conta uma estória muito boa sobre um pastor que recebeu um pedido para falar
numa reunião de uma classe de primário na Escola Cristã de sua igreja. “Eu estou pensando
em uma das criaturas de Deus,” ele disse à classe. “Vive nas árvores e ajunta bolotas para o
inverno. Ele tem um rabo grande e peludo e é cinza. Quem pode me dizer que animal é
este?” ele perguntou. Após um longo e doloroso silêncio, ele perguntou ao filho de um
diácono, e ele disse “eu sei que a resposta é Jesus, mas que a descrição parece com a de um
esquilo, parece!”

O perigo de lidar somente com o conteúdo e não com a estrutura é que se não há estrutura
adequada, o conteúdo pode ser abandonado. Adolescentes podem sair doa faculdade bem
preparados com todas as respostas certas, mas não preparados para defende-las. Quando seu
pensamento é atacado e eles não desenvolveram um raciocínio adequado para dizer por que
eles crêem, o conteúdo moral deles será abandonado rapidamente.

40
As reflexões que se seguem, foram extraídas e adaptadas da obra a Perry Downs,
13
Lawrence Kohlberg, “A abordagem do Desenvolvimento cognitivo à educação moral,” Phi Delta Kappa
56, n.º 10 (Junho 1975): 670-677.
41
Os três princípios a seguir foram extraídos da obra de Perry Downs, Ensino e Crescimento –uma
introdução à educação cristã. Editora Cultura Cristã.
17

Nós nunca devemos ensinar a teologia sem considerar as implicações da vida e nunca fazer
exigências éticas sem base teológica.

2º.) Entenda que os “por ques” da vida Cristã são baseados na teologia,
principalmente no caráter de Deus.

As exigências éticas da Escritura emanam do princípio que nós devemos refletir a santidade
de Deus para o restante da criação. Nós devemos amar porque Deus nos amou primeiro.
Nós devemos ser moralmente puros porque Deus é moralmente puro. Nós devemos nos
interessar pela justiça porque Deus se preocupa com a justiça. Nós devemos ser
misericordiosos porque Deus é misericordioso.

Nossos imperativos são encontrados em Deus e sua Palavra. Educadores Cristãos devem
pensar teologicamente sobre as questões da vida, encontrando uma base estrutural na
natureza e no caráter de Deus. Nós nunca devemos ensinar a teologia sem considerar as
implicações da vida e nunca fazer exigências éticas sem base teológica.

3º.) Reconheça que a estrutura de julgamentos das pessoas não melhora ao dizer ou
ensinar, mas através da própria experiência deles ao resolver problemas de valor
moral.

O desenvolvimento moral não é uma questão de ouvir palestras, mas na verdade de fazer o
trabalho de um filósofo moral. Todas as pessoas são forçadas pelas experiências da vida a
pensar sobre aspectos morais e determinar como se comportarão. A vida e cheia com
dilemas morais reais que devem ser resolvidos se nós queremos funcionar moralmente na
sociedade.

As crianças encontram dilemas morais na escola quando elas sabem que seus amigos colam
na prova e são então tentadas a colar também. Os adolescentes vivem em um mundo cheio
de decisões morais durante este período tão difícil de suas vidas. Os adultos enfrentam
questões morais continuamente ao passo que tentam decidir como ser um Cristão em um
sociedade fundamentalmente pagã.

Os educadores Cristãos devem estar abertos a confrontos e discussões dos difíceis assuntos
morais do dia para ajudarem os alunos a aprenderem a pensar. Em lugar de negar os
conflitos morais, nós enfrentamos ou tentamos resolvê-los somente com o conteúdo (“A
Bíblia diz”), nós devemos estar abertos e permitir que nossos alunos enfrentem as questões
e ajudá-los a aprender a pensar usando níveis morais mais altos ao abordar os assuntos.

As pessoas ficam frustradas quando o seu modo de pensar não pode acomodar um
problema moral. É este processo de viver o conflito, que dá o crescimento moral. Mas se
nós tentamos negar ou ignorar o conflito, ou tentamos “concertá-lo” com uma ou duas
lições, nós falhamos em deixar que as pessoas tenham as experiências necessárias para o
crescimento.
18

Algumas abordagens à Educação Cristã impedem o desenvolvimento moral. Alguns grupos


fecham as pessoas dentro de uma moralidade convencional ao passar regras e regulamentos
sobre várias questões. É muito mais arriscado oferecer às pessoas um princípio do que uma
regra, mas é necessário ajudá-las para que se desenvolvam além das regras-e-regulamentos
do raciocínio moral.
19

FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS
DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
Rev. Gildásio Reis

1. Entendendo o Conceito Ensino-Aprendizagem


Nosso estudo agora tem como objetivo a reflexão sobre o que é aprender e o que é ensinar.
Como o próprio nome sugere “ensino-aprendizagem”, trata-se de um binômio inseparável.
Estes dois termos “aprender”e “ensinar” não podem se separar. Eles estão intimamente
relacionados e um depende do outro para existir.

Em Dt 4:1 vemos o termo “ensinar” dMel î ;m. e em 5:1 o termo “aprender” ~T,dä >ml; W. . Na
língua Hebraica tirando o sufixo e o prefixo das duas palavras vamos notar que trata-se da
mesma raiz. Isto mostra que trata-se de dois vocábulos que são dependentes. Não existe
ensino sem aprendizagem e também não existe aprendizagem sem ensino. O que o
professor faz e o que aluno faz estão ligados entre si42.

1.1. O QUE É ENSINAR?

Ensinar é a tarefa do professor. É o processo de facilitar que outras pessoas aprendam e


cresçam. Ensinar é todo o nosso esforço de levar alguém a aprender. Não se trata de passar
informações de uma mente para outra como objetos de uma gaveta para outra. O mero
derramar diante do aluno o conteúdo do seu conhecimento, não significa que o professor
está ensinando.

Na pedagogia tradicional, a proposta da educação é centrada no professor cuja função


define-se por vigiar os alunos, ensinar a matéria e corrigi-la. A metodologia decorrente
desta concepção tem como princípio a transmissão de conhecimento através da aula do
professor. O professor fala, o aluno ouve e aprende. O professor não dá espaço para o
aluno participar de seu aprendizado. O aluno é passivo neste processo, pois é o professor
que detém o saber.

“Ensinar, entretanto, não é somente transmitir, não é somente transferir


conhecimentos de uma cabeça a outra, não é somente comunicar. Ensinar é fazer
pensar, é estimular para a identificação e resolução de problemas; é ajudar a criar
novos hábitos de pensamento e ação”43

Na pedagogia moderna, chamada de Escolanovista44, o professor é visto como facilitador


no processo de busca do conhecimento que deve partir do aluno. Cabe ao professor

42
Bruce Wilkinson, As 7 Leis do Aprendizado ( Venda Nova: Ed. Betânia , 1998), 21
43
Juan Diaz Bordenave e Adair Martins Pereira, Estratégias de Ensino-Aprendizagem
( Petrópolis: Ed. Vozes – 1977 ), 185
44
Maria Lúcia de A. Aranha, Filosofia da Educação ( São Paulo: Ed. Moderna, 1989), 167-171
20

organizar e coordenar as situações de aprendizagem, adaptando suas ações às características


individuais dos alunos, para desenvolver suas capacidades e habilidades intelectuais.

1.2. O QUE É APRENDER?

Assim como o papel do médico é levar o paciente a se curar, o papel do professor é levar o
aluno a prender. Aprender é adquirir domínio sobre o conteúdo ensinado, mas é mais
que isto; é traduzir na prática o que foi e está sendo ensinado. A aprendizagem
acontece dentro do indivíduo, mas seus efeitos são comprovados exteriormente em
comportamentos externos. Em outras palavras, a mudança de vida é evidência de que houve
aprendizagem.

É bom que se diga, que não se trata de uma mudança mecânica ou condicionada. Ser
treinada a fazer determinadas coisas não caracteriza aprendizado. Uma coisa é saber que
não se deve tirar a vida da outra pessoa. Outra coisa é saber porque não se deve fazer isso.

2. Princípios do Processo Ensino-Aprendizagem


A aprendizagem contém cinco princípios básicos:

1.1.A Aprendizagem tem início quando parte de onde o aluno se encontra.

Se pretendemos ensinar algo a alguém, faz-se necessário partir do ponto de conhecimento


que o aluno já possui. Ensinar é explicar o novo baseando-se no antigo; o desconhecido,
partindo do conhecido e o difícil em relação ao fácil. Precisamos como professores
entender que o estudo a ser ministrado precisa ter relação com o conhecimento já adquirido
pelo aluno. Nosso grande desafio como professor não é sobrecarregar os nosso ouvintes
com informações; ao contrário, é conduzi-los domingo após domingo, a um crescimento
simétrico.

1.2. A Aprendizagem será eficaz se levar em consideração os interesses do aluno.

Temos que despertar o interesse daqueles a quem queremos ministrar ( Jo. 4:10 ). O aluno
precisa sentir que vale a pena ouvir o que você tem a dizer.

“Os corações também têm orelhas - e estai certos de que cada um ouve, não
conforme tem os ouvidos, senão conforme tem o coração e a inclinação” Sermão
do 5º Domingo de Quaresma - (Padre Vieira)7

John Stott, nos lembra que Jesus conhecia os corações de seus ouvintes e lhes falava ao
coração ( Jo. 2:25 ). Jesus é o grande kardiognw,sthj ( Atos 1:24 ), aquele que conhece
os corações.45

45
John Stott, O Perfil do Pregador, Ed. Sepal ( São Paulo, 1986 ) p, 117
21

1.3. A aprendizagem será mais eficaz se levar em conta a necessidade do


aluno.(Jo. 4:5-30)

Muitos professores ficam angustiados porque não conseguem prender a atenção de seus
alunos. O aprendizado ocorre quando os alunos estão motivados a aprender, e para que haja
motivação, precisamos levar em conta suas necessidades.

Para que o processo ensino-aprendizado seja eficaz o professor precisa conhecer seus
alunos. Precisa olhar e tratar seus alunos como ovelhas e adequar seus métodos didáticos às
diferenças individuais, visando a uma aprendizagem mais satisfatória

É nosso trabalho como professor conhecer nossos alunos, suas lutas e fraquezas, suas
tentações e alegrias. Você conhece seus alunos? Sabe quem são seus pais, onde eles
estudam, onde trabalham, quais são seus sonhos ? etc..

O modelo de Abrahan Maslow nos mostra quão importante e eficaz se torna o ensino e a
aprendizagem se nós como professores considerarmos as necessidades dos nossos alunos.46
Ele apresentou uma teoria da motivação, segundo a qual as necessidades humanas estão
organizadas e dispostas em níveis, numa hierarquia de importância e de influência, numa
pirâmide, em cuja base estão as necessidades mais baixas (necessidades fisiológicas) e no
topo, as necessidades mais elevadas (as necessidades de auto realização)

46
PISANDELLI, G. M. A Teoria de Maslow, e sua relação com a educação de adultos Psicopedagogia On
line, São Paulo. Disponível em: www.psicopedagogia.com.br/artigos , 0utubro 2003
22

NECESSIDADE SIGNIFICADO
são as mais elevadas, de cada pessoa realizar o seu próprio
Necessidades de auto potencial e de auto desenvolver-se continuamente.
realização
envolvem a auto apreciação, a autoconfiança, a necessidade
Necessidade de status e de aprovação social e de respeito, de status, prestígio e
estima consideração, além de desejo de força e de adequação, de
confiança perante o mundo, independência e autonomia
incluem a necessidade de associação, de participação, de
Necessidades sociais (afeto) aceitação por parte dos companheiros, de troca de amizade,
de afeto e amor
constituem a busca de proteção contra a ameaça ou privação,
Necessidades de segurança a fuga e o perigo
constituem a sobrevivência do indivíduo e a preservação da
Necessidades fisiológicas espécie: alimentação, sono, repouso, abrigo, etc.

Jesus não pregava sermões enlatados. Ele os pregava na casa, na sinagoga, nos montes ou a
beira-mar sempre muito naturalmente e partindo do interesse e das necessidades de seus
ouvintes e de suas necessidades. (Lc 10:25,26; Jo 4:10; Lc 4:16-30)

O conteúdo pode ser bíblico e correto, mas se não atender as necessidades do aluno não terá
muito valor. É como dar água e não pão para quem tem fome. Nós como professores
precisamos manter uma relação mais pessoal e íntima com nossos alunos.

Jesus era relacional: O coração de Jesus pulsava não só pelas idéias, mas também pelas
pessoas. Ele estava mais preocupado com as pessoas do que com o trabalho a ser realizado.
Jesus era um mestre que criava pontes e não muros entre as pessoas. (Jo 5:1-15)

1.4. A aprendizagem terá mais sucesso se for baseada em atividades.

Este princípio é aquilo que temos visto na frase: “Aprender a fazer, fazendo”47 Nossos
alunos aprendem quando ouvem, vêem e fazem. Existe o prazer puro do conhecimento, mas
o aprendizado deve produzir mudanças em nossas vidas.

1.5. A Aprendizagem ocorre quando se observa o professor como modelo.

Poucas coisas tocam tão de perto o coração de um aluno quando este verifica que o
professor pratica aquilo que ensina. A aula não é um mero discurso, mas o compartilhar de
experiências reais. Veja o exemplo de Jesus. O que ele pregava e fazia eram a mesma coisa.
Nele não havia contradições. ( Mt 7:29; Lc 4:32; At 7:22 )

47
Famosa frase do pedagogo Moraviano, João Amós Comênio ( 1592-1670 )
23

1.6. O professor precisa conhecer aquilo que vai ensinar.

Conhecimento imperfeito gera aprendizado imperfeito.

Há três perguntas que um professor deve fazer a si mesmo quando ele prepara a
sua lição.

Primeiro, “QUAIS são os princípios nesta lição?” Ele precisa decidir quais são os
fatos e princípios que contribuirão para o aluno possuir uma vida tal como Cristo.

Segundo, “POR QUE é importante ensinar estes princípios para os meus alunos?” O
professor precisa decidir quais os fatos e princípios que podem ajudar seus alunos a se
tornarem mais como Cristo neste momento de suas vidas. Um manual do professor é
bom para idéias, mas não pode fazer este tipo de decisão. O manual pode lhe dar uma
idéia geral sobre as necessidades a serem ensinadas, mas o professor precisa fazer as
decisões que especificamente ajudarão os seus alunos mais eficientemente.

Terceiro, ele pode perguntar a si mesmo “COMO posso ensinar estes princípios de
maneira que possam ter um grande impacto na vida dos meus alunos para que sejam
mais semelhantes a Cristo?” Isto dependerá da maturidade mental e espiritual dos seus
alunos.

3. A Comunicação e o Processo Ensino-Aprendizagem

O termo comunicação vem do latim “communis”, que quer dizer “comum”. Para que
possamos comunicar algo a alguém precisamos estabelecer pontos em comum com ele.

3.1. Pontos de estrangulamento da comunicação48:

1. Professor é um mau comunicador e não percebe isto.


2. Professor está mais interessado em dar a matéria do que despertar o interesse do aluno.
3. Professor se utiliza de termos e conceitos que não são da experiência dos alunos.
4. Professor parte da premissa de que todos os seus alunos têm o mesmo nível de inteligência.
5. Professor não parte do ponto em que o aluno está.

3.2. Elementos Básicos do Processo de Comunicação: No processo


comunicação (tornar comum) humana intervêm, necessariamente cinco elementos:

1) - O Transmissor : É aquele que transmite


2) - O Receptor : O que recebe
A comunicação exige a participação, no mínimo de 2 pessoas. Se um indivíduo fala e
ninguém ouve, o processo da comunicação humana não se completou.

48
Juan Diaz Bordenave e Adair Martins Pereira, Estratégias de Ensino-Aprendizagem
( Petrópolis: Ed. Vozes – 1977 ), 183-184
24

3) A Mensagem : É o elo de ligação dos dois pontos do circuito.

Toda mensagem no processo da comunicação humana precisa ser significativa, deve dizer
qualquer coisa em comum para o transmissor e para o receptor. O professor precisa
conhecer o assunto que vai ministrar.

4) O meio: O meio pode prejudicar ou facilitar a comunicação. Dominar o


meio da comunicação humana é condição essencial à sua efetividade.

O meio da comunicação precisa atender a dois requisitos fundamentais:

- Ser dominado tanto pelo transmissor quanto pelo receptor.


- Estar de acordo com a mensagem que transporta.

5) Finalidade – Objetivo : A finalidade da comunicação deve ser evidente,


para prevenir distorções e mal-entendidos.

A pergunta: “Onde quero chegar”? é fundamental para a efetivação da comunicação.

3.3. A Comunicação em Relação à memória

Nossos alunos aprendem quando ouvem, vêem e fazem.

Comunicação escrita 7%
Comunicação com palavras: sendo ditas, tom de voz, volume, ritmo 38%
Comunicação visual: Expressões faciais, gestos, etc... 55 %

3.3.1. Os recursos audio-visuais melhoram a memória49

Métodos de Comunicação Lembrança Lembrança


3 horas depois 3 dias depois

Quando o Professor fala 70 % 10 %

Quando o professor só mostra


72 % 20 %

Quando o Professor usa uma


combinação de falar e mostrar 85 % 65 %

3.3. Como Apresentar o Conteúdo ( a mensagem )

Um fator muito importante na comunicação da mensagem é a maneira como falamos


quando temos a incumbência de ensinar. Todos nós já ouvimos vários tipos de
professores, pregadores e oradores: alguns interessantes, outros fracos e sem nenhum

49
Extraído do livro Manual de ensino para o educador Cristão, p. 224 – Editora CPAD
25

brilho; alguns falando com idéias breves e claras, outros demorando muito em expressar
o que querem dizer; alguns com uma mensagem vital, outros sem nada para dizer,
usando palavras destituídas de sentido, valor e clareza.

Algumas recomendações para se evitar os ruídos na comunicação50 :

• Planeje cuidadosamente sua comunicação. Evite falar demais. Seja objetivo.


• Antes da comunicação decida qual o melhor meio
• Quando oralmente, fale de maneira clara e pausadamente
• Evite comunicar-se sob estado de tensão; você poderá dizer muita coisa e depois se
arrepende
• Use a mesma linguagem do receptor
• Fale um assunto de cada vez. Não misture os assuntos
• Verifique se foi compreendido através de perguntas dirigidas ao grupo
• Ouça o que os outros têm a dizer. Não menospreze qualquer opinião ou sugestão

Pense um momento. Como podemos ser mais atraentes ao proferir ou apresentar as


mensagens? O nosso desejo, por certo, é segurar a atenção dos ouvintes para que
ganhem o máximo daquilo que Deus tem colocado em nosso coração. Quais são alguns
dos bons hábitos que o professor deve mostrar na sua fala?

A. Use Linguagem Simples e Clara:

O nosso Senhor Jesus Cristo, embora Deus-


Homem, falou em termos claros e perfeitamente
compreensíveis para povo comum. Ele poderia
ter usado uma linguagem profunda e difícil.
Mas escolheu palavras simples para o povo.

Creio que todo professor deveria aplicar


o lema de Agostinho: “A chave de madeira não é tão bonita quanto a de ouro, mas
se ela abre uma porta que a chave de ouro não consegue abrir, é muito mais útil”51

Citando novamente Stott, ele nos conta a história de um paciente num hospital de loucos
que, após ouvir o capelão por algum tempo, comentou: “Se Deus não me ajudar, vou
acabar assim também!”52

50
Extraído e adaptado de Nancy G. Dursilek; Liderança Cristã , Ed. Juerp ( Rio de Janeiro – 1988 ), p. 119-120
51
John Stott, O Perfil do Pregador, Ed. Sepal ( São Paulo, 1986 ) p, 121
52
Op Cit, p, 117
26

B. Procurar Usar o Próprio Estilo: Não deve o professor


imitar ninguém, deve ser natural e usar a própria
personalidade que Deus lhe tem dado. Especialmente quanto
ao tom de voz que usa ao falar, o professor deve usar o seu
próprio tom habitual.

C. Falar de Tal Forma Que Todos Possam Ouvir e Compreender: Uns dos principais
problemas de muitas pessoas que falam em público é o de serem ouvidas ou entendidas.
Às vezes o volume ou força de voz não é suficiente para que os que estão mais afastados
possam ouvir sem dificuldade.

O professor precisa pronunciar distintamente cada palavra. Alguns falam depressa


demais, quase em ritmo de metralhadora ! Devemos tomar o máximo cuidado com a
articulação ou enunciação de nossas palavras.

D. Falar com o Corpo Todo: Se a exposição da aula é uma espécie de “conversa


animada”, devemos utilizar as nossas mãos para dar ênfase àquilo que dizemos. Se a
mensagem estiver cheia de vida, não teremos muito problema em reforçar as nossas
palavras com gestos.

Qual o mais interessante para se escutar. Alguém falando :

• Com variação no tipo de freqüência dos gestos ?


• Com muitos gestos semelhantes que se repetem continuamente ?
• Sem nenhum gesto ?

E. Falar com Convicção: Convicção é uma característica dos grandes mestres de todos os
tempos. Para alcançarmos êxito no ensino, muito depende da convicção com que falamos.
Uma das fontes principais de popularidade e magnetismo pessoal na sala de aula é uma
convicção inabalável, uma alvo definido.

Quando Charles H. Spurgeon, o grande pregador do século XIX, pastor da Igreja All Souls,
em Londres deu início a seu ministério, um ateu bem conhecido informou a seus amigos
que iria ouvir Spurgeon pregar.
- Por que? Perguntaram seus amigos incrédulos. Você não acredita em nada que ele
prega.
- Eu não acredito, concordou o ateu, mas ele acredita.

F. Falar com Entusiasmo ( En+ Teos ): O entusiasmo é uma outra qualidade


que está ligada à convicção. O entusiasmo ajuda muito a qualquer palestra ou sermão.
Esta qualidade é atraente e contagiante. Entusiasmo por parte do professor gerará
entusiasmo nos ouvintes.

Devemos mostrar o nosso entusiasmo em nossa voz, expressão facial e também em


nossa maneira de falar. Se vale a pena pregarmos a nossa mensagem, valerá também
sermos entusiasmados com ela. Se os professores e as pessoas que fazem palestras se
27

entusiasmam ao proferir aulas e palestras, quanto mais nós, que temos a “boca-nova” de
salvação e perdão para os nossos ouvintes !

G. Falar com Amor: Que prazer é ouvir algumas pessoas


falar ! O rosto delas parece radiar o gozo, a paz e o amor do
Senhor. É fácil prestar atenção àquilo que dizem. Sentimos o
amo de Deus quando falam. Como têm uma atitude simpática
e não de condenação ou superioridade ! Sigamos o exemplo
destes, e não o exemplo negativo de alguns que falam sem
manifestar o amor e compaixão do nosso Mestre.

H. Pregar no Poder do Espírito: O apóstolo Paulo assim escreveu em I Coríntios 2:4,5 :


“A minha linguagem e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de
sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder; para que a vossa fé não se
apoiasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.”

I. Variar a entonação e a velocidade da voz.

Responda você mesmo : Qual é o mais interessante para se escutar ?

• O tempo todo voz triste ?


• Com variação de tom de voz ?
• O tempo todo com voz alegre ?

Qual o mais interessante para se escutar ?

Aquele que fala :

• O tempo todo depressa ?


• O tempo todo devagar ?
• Com variação de velocidade ?

4. Os Métodos no Processo Ensino-Aprendizagem

Como incentivar a participação mais efetiva de nossos alunos ?

A palavra método vem do grego methodos. Daí a nossa palavra metodologia (método +
logia) estudo dos métodos. É a arte de guiar o aprendiz na investigação da verdade.

Método portanto, é o caminho para se atingir um objetivo, um resultado.

“A aprendizagem se realiza através da conduta ativa do aluno, que aprende


mediante o que ele faz e não o que faz o professor”. Ralph W. Tyler
28

Existem várias maneiras, caminhos, métodos para ensinar um assunto.

O professor que busca transmitir ao aluno determinado ensino e deseja alcançar o objetivo
do aprendizado efetivo, deve analisar e selecionar o método mais adequado e mais eficaz.

1 - Exposição - Preleção

Devemos utilizar este método :

a) Para dar uma informação.


b) Quando os alunos estiverem motivados.
c) Quando o orador tiver fluência e administração do grupo.
d) Quando o grupo for grande, impossibilitando o uso de outros métodos.
e) Para adicionar ou destacar algo novo ao conhecimento já adquirido.

Exposição Verbal : Utilizado quando o assunto é desconhecido ou quando as idéias dos


alunos são insuficientes ou imprecisas. Conforme o nível de aprendizado do aluno, a
exposição pode ser intercalada com a exposição dos alunos, ainda que informalmente.

Desvantagens do método expositivo:

- A aprendizagem pode ser mecânica (não crescem, mas engordam)


- Pode gerar um processo de memorização sem aprendizado
- O uso de linguagem e termos inadequados
- Pode haver uma preleção sem cativar: Não se conquista o aluno, ao contrário, a
tendência é de distanciamento.

2. Trabalho Independente : Consiste de tarefas dirigidas e orientadas pelo


professor. Efetuar uma pesquisa, elaborar um sermão, resolver uma questão... Deve ser
utilizado após análise do objetivo do curso, do nível de conhecimento do aluno, do tempo
disponível ... pois o principal objetivo será o desenvolvimento da atividade mental do
aluno, fixando o aprendizado. Exige acompanhamento do professor, corrigindo e
estimulando.

3. Elaboração conjunta : O exemplo mais típico de elaboração conjunta é a


“conversação didática”. Não é um simples responder perguntas, mas um interagir
professor-aluno. Exigirá maior preparo metodológico do professor, como também um
conhecimento mais abrangente, pois ele não apenas coordenará o processo, mas fará parte
do processo. O resultado será coletivo.
29

Professores inexperientes, autoritários, formais ou dogmáticos certamente enfrentarão


dificuldades com este método. Aparentemente pode não ter problemas, pois toda e
qualquer expressão ou discórdia será combatida.

4. Trabalho em grupo: Distribuição de temas, perguntas, questões... para que em


grupos de 3 a 5 alunos as questões sejam trabalhadas. Deve-se fixar um objetivo a ser
atendido.

Os “grupos” de alunos devem ser divididos, buscando a formação heterogênea. O ambiente


deve ser preparado antecipadamente para ganhar tempo e evitar bagunça. (a não ser que a
bagunça faça parte do objetivo).

Podemos utilizar este método:

a) Para obter a participação do aluno ( na maioria dos casos todos participam,


mesmo aqueles mais tímidos e inibidos)
b) Para avaliar o conhecimento do grupo
c) Para reafirmar conceitos
d) Para produzir ambiente descontraído, propício ao aprendizado. (em ambientes
tensos, autoritários, formais, o aprendizado torna-se mais difícil)

5) Representação, Dramatização

Apresentação de um problema humano por determinado número de alunos, para análise e


discussão pelo restante do grupo.

O Teatro de sombras : Representações de personagens, atrás de um lençol. Os


personagens devem atuar de perfil (de lado) obviamente.

Temos também o Teatro de Marionetes e o Teatro de Vareta

Teatro de fantoches: Consiste em fantoches de papel, fixados numa vara de


churrasco, bambu ou palitos de sorvete. ( Fantoches de Luvas, Fantoches de Mão, Fantoche
Andarilho )
30

O fantoche pode ser preso à mão por um elástico costurado na cintura. Fazer botas de
cartolina que serão ajustadas aos dedos.

6) Debates: Neste método oradores falam a favor ou contra uma proposição,


defendendo seus pontos de vista. Em um segundo momento, o grupo que assiste poderá
fazer perguntas aos debatedores.

7) Painel de Oposição ou debate: Discussão diante de um auditório sobre


determinado tópico. Requer três ou mais participantes e um líder.

Os participantes e o líder devem ter conhecimento geral e específico na área e domínio


próprio para que o painel não se transforme em “pancadaria intelectual”.

Podemos utilizar este método:


a) Para apresentar pontos de vista diferentes.
b) Quando houver pessoas qualificadas para compor o painel.
c) Quando o assunto for complexo demais, dificultando a participação do grupo todo.
d) Quando for melhor para o aprendizado somente observar e não discutir.
e) Quando quiser analisar as vantagens e desvantagens na solução de um problema.

8) Seminário: O nome desta técnica vem da palavra “semente”, o que indica que o
seminário é uma excelente ocasião para germinar a semente de novas idéias, favorecendo
assim o aprendizado.

9) Atividades Especiais:
• Leitura complementar
• Visitas entre alunos
• Visitas a lugares específicos
• Piquenique

5. Recursos pedagógicos no Processo Ensino-Aprendizagem

A aceleração na história nada mais é do que o tempo entre a descoberta e a aplicação dos
processos tecnológicos. A fotografia levou 112 anos entre a descoberta e a aplicação. O
telefone, 56 anos; o rádio, 35; a televisão, 12; o computador, 2 anos. O computador 286, 1
ano e do 486 para o Pentium, 1 mês53.

Nossa sociedade está em constantes mudanças. Se nós professores, também não


acompanhar estas mudanças e transformaçães, vamos ficar para trás. Veja alguns recursos
pedagógicos que podemos lançar mão para tornar nosso trabalho como professor, mas fácil:

53
Ivone Boechat, O Desafio da Educação Para um Novo Tempo, Reproarte Gráfica e Editora ( Rio de
Janeiro, 1998 ), p. 51
31

1) Apostilas: O professor pode preparar a sua aula e colocar isto em forma


de apostila. Assim os alunos poderão acompanhar a aula, lendo, vendo e
ouvindo.

2) Quadro “negro”: Às vezes se faz necessário ao professor escrever


alguma palavra para que o aluno visualize e entenda seu significado.
Auxilia ao professor que vez ou outra precisa fazer um gráfico, ou expor
de maneira visual seu argumento.

3) Retroprojetor: Exposição com ilustração visual : Apresentação gráfica


de fatos, fenômenos ... através de gráficos, mapas, esquemas, gravuras,
etc. ( Ex. Viagens missionárias de Paulo (mapas) )

4) Flip Chart: Tem a mesma função do qudro “negro”, porém por ser
móvel, pode ser levado para qualquer outro ambiente e também sua
posição dentro da sala de aula.

5) TV e Vídeo: Existem bons filmes que podem ser utilizados para


favorecerem o ensino.

6) Computador: Gráficos, desenhos, Multimídia, etc....


32

AS SETE LEIS DO ENSINO


GREGORY, J. M. As Sete Leis do Ensino. Trad: Waldemar W. Wey. 3ª. Edição. Rio de Janeiro:
54
JUERP, 1977. 72 pp. (Título original: The Seven Laws of Teaching).

John Milton Gregory publicou As Sete Leis do Ensino em 1886 para ajudar os professores
de Escola Dominical a serem mais eficientes em suas aulas. Este livro foi uma obra clássica
de princípios educacionais. Entretanto foi feita uma revisão em 1917, a qual mudou
sutilmente alguns dos conceitos originais de Gregory. As mudanças refletem a visão
pragmática liberal dos revisores. Por exemplo, eles tiraram as suas referências a Deus e à
Bíblia. Eles também mudaram a definição de ensinamento do autor de “comunicação do
conhecimento” para a “comunicação da experiência”. Embora à primeira vista seja uma
mudança sutil, faz uma profunda diferença. Nós precisamos ensinar o absoluto e imutável
conhecimento de Deus que Ele revelou a nós em sua Palavra, em vez de mudarmos para as
experiências do homem as quais são duvidosas. Ainda que a edição revisada foi escrita
para os crentes e distribuídos no meio cristão, lamentavelmente não é totalmente cristã.

1. A LEI DO PROFESSOR
O professor precisa conhecer aquilo que vai ensinar

A lei que limita e descreve o professor é: O professor precisa conhecer aquilo que
vai ensinar. A lei do professor é uma verdade fundamental, pois, como uma coisa não pode
provir do que não existe, ou como pode a treva trazer luz? Nenhuma outra qualificação é
tão essencial ou seja: o que o professor ensinar, deve saber.

Saber ou conhecer é o material com que trabalha o professor, o que os homens


chamam de conhecimento apresenta graus, desde o primeiro vislumbre da verdade até a
inteira compreensão. Em diferentes estágios, a experiência da raça, como adquirimos,
caracteriza-se em 4 fases, (1) por débil reconhecimento; (2) pela habilidade de relembrar,
ou descrever de modo geral, para os outros, aquilo que aprendemos; (3) pelo poder de
prontamente explicar, provar ilustrar e aplicar o que aprendemos; e (4) por esse
conhecimento e apreciação da verdade em sua mais profunda significação e mais largas
relações, por cuja força e importância atuamos, sendo por ela modificada a nossa conduta.
A História é história somente para quem assim a lê e a conhece.

Não se afirma que ninguém possa ensinar sem essa inteireza de conhecimento, e
nem e verdade também que qualquer que conheça inteiramente o seu assunto ou matéria
necessariamente ensine com êxito.

54
O livro do Dr. Gregory, "as sete leis do ensino," foi publicado primeiramente em 1884. As Sete
leis do ensino é uma obra voltada a todos aqueles que pretendem ser bem sucedidos na arte de
ensinar. Seu público alvo constitui-se, portanto, de mestres e educadores. Contudo, é de se destacar
que embora as leis aqui discutidas se apliquem ao ensino em qualquer nível, houve por parte do
autor uma preocupação em particular com o ensino ministrado na escola bíblica dominical, em
especial com o ensino de crianças
33

Um conhecimento claro e pronto da parte do professor ajuda o aluno a confiar no


seu mestre. Na verdade seguimos com prazer e expectação o guia que conhece bem o
campo que desejamos explorar, e sempre seguimos sem interesses e com relutância o líder
incompetente e ignorante. Os grandes mestre – Newton, Humboldt e Huxley – despertaram
o interesse público pelas ciências em que eles próprios trabalharam. De modo semelhante, o
professor bem preparado aviva em seus alunos o ativo desejo de estudar mais e mais.

Algumas regras surgem ou derivam da Lei do Professor, destaco aqui as que


considerei mais importantes.

a) Preparar cada lição com estudo renovado. O conhecimento adquirido no ano que
se foi, necessariamente, já se diluiu um tanto. Somente novos conceitos nos inspiram para
melhores esforços.
b) Estudar a lição até que ela tome a forma da linguagem familiar. O que resulta do
pensamento claro é o discurso claro, o falar claramente.
c) Consagrar tempo certo ao estudo de cada lição, antes de lecionar. Todas as coisas
ajudam o dever feito a tempo. Persistir em aprender a lição antes da aula, e obter novo
interesse e ilustrações.
d) Fazer um plano de estudo, e não hesitar, quando necessário, em estudar além do
plano.
e) Não deixar de buscar a ajuda de bons livros que tratem do assunto de suas lições.

Além dessas regras também precisamos falar sobre a violação desta lei.

O melhor professor corre o risco de prejudicar o seu trabalho mui sincero e


cuidadoso com erros impensados. O verdadeiro professor comete poucos erros, e aprende
muito com os que comete.

a) A própria ignorância dos alunos pode tentar o professor a negligenciar um


cuidadoso preparo e estudo. Ele pode pensar que a qualquer tempo conhece mais a lição do
que os alunos, e imaginar que sempre achará o que dizer, ou que sua ignorância passara
despercebida.

b) Algo mais sério ainda na violação desta lei é a dos professores que, não
encontrando estímulo na lição, ou no magistério, fazem disso mero cabide em que
dependuram seus caprichos e extravagâncias.
34

2. A LEI DO DISCÍPULO
O aluno deve dedicar-se com interesse à matéria a ser aprendida

Atenção e interesse caracterizam o estado mental do verdadeiro aprendiz, e


constituem a base essencial sobre que descansa o processo de aprendizagem. Então,
podemos definir da seguinte maneira a lei do discípulo:

O aluno deve dedicar-se com interesse à matéria a ser aprendida.

Atenção significa a direção ou a concentração da mente num objeto. O objeto pode


ser externo, assim como quando alguém observa cuidadosamente o funcionamento duma
máquina ou escuta elevadamente uma peça musical; e pode ser mental, assim como alguém
rememora uma experiência passada, ou "medita" no significado de uma idéia.

A psicologia diz que essa direção da mente consiste em localizar conscientemente


um objeto. Existem três diferentes qualidades de atenção. Cada uma delas mui importantes
do ponto de vista do ensino e do aprendizado.

a) A atenção adejante muitas vezes é chamada de atenção passiva, pelo fato de não
envolver esforço algum da vontade. Então obedece-se simplesmente ao mando dos
estímulos mais fortes. Diz-se passivo o individuo que deixa sua vida mental ser levada ou
controlada por forças maiores. Esta é a atenção de tipo primitivo, instintivo e básico. É a
atenção que surge em algumas horas do dia, especialmente quando estamos cansados. É
notadamente a atenção da criança.

b) A atenção ativa é a característica essencial da mente humana, através dela a


pessoa pode controlar as forças que a rodeiam, mais do que ser controlada por elas. Esse
tipo de atenção é chamado ativo porque a sua primeira condição é o esforço da vontade,
uma determinação de fazer aquilo que deve ser feito, a despeito dos convites ou atrações
para fazer algo talvez mais agradável e mais atrativo.

c) Mas a atenção dessa qualidade esforçada e ativa nem sempre é a mais econômica
e eficaz para a do ensino. Falando-se de um modo geral, aprendemos mais facilmente e
mais economicamente quando ficamos absorvidos em nossa tarefa, a atenção desta espécie
freqüentemente provém dum esforço persistente - (atenção ativa). Essa atenção assemelha-
se a atenção passiva pelo fato de o seu objeto ser sempre atrativo em si, e exigir pouco ou
nenhum esforço para ser levado ao foco da consciência; mas também surge da atenção
ativa, provindo do esforço e da persistência. Esse terceiro tipo de atenção por isso é
chamado de atenção passiva secundária.

Embora muitos professores negligenciem isto na prática, estão prontos a admitir que
sem atenção o aluno não pode aprender. Tentar ensinar uma criança inteiramente desatenta
é o mesmo que conversar com um surdo ou com um defunto.
35

O esforço do professor a todo tempo deve ser no sentido de tornar a apresentação


tão interessante que a atenção dos alunos a acompanhe. Ensinando os alunos a se
concentrarem, logo passarão pelo estágio da atenção ativa e alcançarão o estágio efetivo da
atenção passiva secundária.

O poder de atenção aumenta com o desenvolvimento mental, e é proporcional á


idade da criança. A atenção prolongada pertence já a mentes mais amadurecidas.

Empecilhos à Atenção

Os dois maiores inimigos da atenção são a apatia e a distração. O primeiro pode ser
devido à falta de gosto para com o assunto estudado, ou à fraqueza, ou a condição física A
distração é a atenção dividida e voltada para vários objetos. É terrível inimigo de todo
aprendizado: Se a apatia ou a distração provém de fadiga e de enfermidade, o professor
sábio não tentará forçar a lição.

Da lei do aluno emergem algumas das leis mais importantes do ensino como regras
para os professores eis algumas delas:

1. Nunca começar a lição sem Ter prendido a atenção da classe.


2. Parar, logo que a atenção deles for interrompida ou perdida, e esperar até tomar a
prendê-la inteiramente.
3. Nunca esgotar inteiramente a atenção dos alunos. Quando surgir os primeiros
sinais de fadiga pare.
4. Adaptar o cumprimento ou duração da lição à idade dos alunos; quanto mais
novos os alunos, mais breves as 1ições.
5. Tornar a apresentação da lição a mais atrativa possível, usando ilustrações e todos
os meios legítimos.

3. A LEI DA LINGUAGEM

A linguagem usada no ensino deve ser comum ao professor e ao aluno

Essa lei, como as outras já estudadas, é simples como são os fatos de cada dia.
Podemos expressá-la como segue:

A linguagem usada no ensino deve ser comum ao professor e ao aluno. Noutras


palavras deve ser entendida por ambos, tendo o mesmo significado para professor e aluno.

Tem-se dito que a linguagem é o veículo do pensamento. Mas a verdade é que a


linguagem não transporta pensamentos como os autos carregam mercadoria para encher
armazéns. É melhor pensar que a linguagem transmite pensamentos assim como os fios ou
as ondas hertzianas transmitem e carregam mensagens, como sinais aos operadores
receptores, que devem retransmiti-las dos ruídos que ouvem.
36

O que mede o poder comunicativo é aquilo que o ouvinte ou receptor entende e


reproduz em sua mente e não aquilo que o locutor expressa de sua mente.

A linguagem é também o instrumento de pensamento, como é o seu veículo. As


palavras são as ferramentas com que a mente fabrica da massa crua de suas impressões os
conceitos claros e válidos.

A linguagem tem ainda outro uso: é ela o celeiro do nosso conhecimento. Tudo
quanto sabemos pode vir expresso nas palavras que lhe dizem respeito. As palavras não são
o único meio pelo qual falamos. Há muitas maneiras de expressar o pensamento. Os olhos,
a cabeça, as mãos, os pés, os ombros são, muitas vezes, usados para expressar bem
inteligivelmente o que pensamos.

Da Lei da Linguagem fluem algumas das mais importantes e úteis regras de ensino.
(pág. 37).

4. A LEI DA LIÇÃO

A verdade a ser ensinada deve ser aprendida através de alguma verdade já conhecida

A lição é o processo pelo qual o professor passa ao aluno a conhecida experiência


da raça. É o método de transmissão dessa cristalizada experiência da raça deve ser tal que
inspire nesses alunos princípios que serão forças atuantes em suas vidas, e que, ao mesmo
tempo, lhes faculte um instrumento de pesquisa e de estudo posterior – que constituem o
verdadeiro cerne da obra do professor, a condição e o instrumento, bem como a culminação
e o fruto de todo o resto.

A verdade a ser ensinada deve ser aprendida através de alguma verdade já


conhecida.

Todo ensino deve começar nalgum ponto do assunto da 1ição. Se o assunto é


inteiramente novo com algo conhecido ou já familiar. Mesmo entre as pessoas
amadurecidas, o hábil narrador luta por achar um termo de comparação com experiências
conhecidas, buscando descobrir alguma semelhança do desconhecido com algo já
conhecido, isto antes de começar a contar sua história.

Todo ensino deve avançar numa direção, o aprendizado deve processar-se por passos
gradativos.
Através desta regra os professores devem obedecer algumas regras:

1. Descobrir o que seus alunos sabem do assunto que vai lhes ensinar. Este será o
seu ponto de partida.
2. Começar com idéias ou fatos que estejam bem relacionados com os alunos, com
coisas que possam ser alcançadas por meio dum simples passo ou degrau além daquilo que
já conhecem.
37

3. Os passos da lição devem estar em proporção com as idades e avanços dos


alunos.
4. Tomar familiar a seus alunos cada novo fato ou principio; procurar firmá-lo de tal
forma que possa utilizá-lo na explicação do novo material da lição seguinte.
5. Fazer com que os alunos usem o seu próprio conhecimento e aquisições em todos
os casos possíveis, para assim aclharem e explicarem outros conhecimentos. Ensinar a eles
que o conhecimento é poder, mostrando-lhes como o conhecimento realmente ajuda a
resolver os problemas.
6. Lembrar que os seus alunos estão aprendendo a pensar, e de que, para pensarem
apropriadamente, precisam aprender a enfrentar inteligente e refletidamente os problemas
que surgem em conexão com suas tarefas escolares e com sua vida extra-escolar.

5. A LEI DO PROCESSO DE ENSINO

Estimular e dirigir as atividades do aluno e, se possível, nada lhe dizer do que ele possa
aprender por si

Estimular e dirigir as atividades do aluno, e, se possível, nada lhe dizer do que ele
possa aprender por si.

Esta lei deve fazer do seu aluno um descobridor da verdade, deixando que ele a
encontre por si. O grande valor dessa lei tem sido tantas e tantas vezes afirmado de modo
que dispensa qualquer prova. Nenhum grande escritor de assuntos educacionais deixa de
considerá-la duma forma ou de outra. Esta lei deve despertar a mente do aluno, estimular os
discípulos a raciocinar, despertar o espírito da inquirição, fazer os seus alunos trabalharem.
Todas estas são diferentes modos de expressar a mesma lei.

Podemos aprender sem professor, sendo assim segue-se que a verdadeira função do
professor é criar as condições mais favoráveis ao autodidatismo. O aluno precisa conhecer
por si, pois do contrário o conhecimento dele será só conhecimento de nome.

Comenius disse, faz mais de duzentos anos: “Muitos professores semeiam plantas
em vez de partirem dos princípios mais simples, introduzem os alunos de cofre num caos de
livros de estudos miscelâneas.”1 A figura da semente é muito boa, e bem mais velha do que
Comenius. Jesus Cristo, o maior dos mestres, disse: “A semente é a palavra”.O verdadeiro
mestre revolve a terra e 1ança a semente. É obra do solo, por suas próprias forças,
desenvolver o crescimento e amadurecer o fruto.

A diferença entre um aluno que trabalha por si e aquele que opera só quando guiado
é tão clara que dispensa explanação. Um é agente livre e o outro é uma máquina. Esta lei é
uma lei de função enquanto que a lei do professor é essencialmente uma lei de qualificação.

Aprendemos a andar não por vermos outros andar, e, sim andando. O mesmo é
verdade quanto as habilidades mentais.
38

6. A LEI DO PROCESSO DA APRENDIZAGEM

O aluno deve reproduzir, em sua própria mente, a verdade a ser aprendida.

Há várias fases do processo de aprender que precisamos abordar para se ver e


entender todo o significado da lei.

1. Algumas vezes se diz que o aluno aprendeu, já que decorou e é capaz de repetir a
lição palavra por palavra, isso é tudo que desejam muitos alunos, ou tudo quanto certos
mestres exigem, achando assim que já realizaram sua tarefa de ensinar. A educação seria
coisa fácil e barata, caso isso fosse ensino real e permanente.
2. É bem melhor quando os professores buscam cuidar só do pensamento e informar
assim os alunos. Não obstante, há isso um perigo, porque, em muitos casos, como se dá no
ensino de lições bíblicas, é coisa bem importante conhecer e lembrar as palavras.
3. Melhor ainda é quando o aluno pode traduzir acuradamente o pensamento usando
suas próprias palavras ou palavras de outrem, sem prejuízo do significado.
4. O aluno revelará ainda progresso maior quando começar a buscar as provas das
afirmações que está estudando. Aquele que pode dar a razão por que acredita nestas e
naquelas coisas é melhor estudante, bem como o crente mais forte do que aquele que crê
mas não sabe por quê. O verdadeiro estudante busca as provas.
5. Um estágio ainda mais frutífero e mais elevado do aprendizado está no estudo do
uso e aplicações do saber O estudante que encontra a ap1icação daquilo que aprendeu na
lição toma-se duplamente interessado e vitorioso nas suas tarefas escolares. Aquilo que
dantes era saber inútil toma-se agora sabedoria prática.
Essa lei possui duas limitações a primeira tem a ver com a idade dos alunos e a
segunda diz respeito aos diferentes campos do saber.

7. A LEI DA RECAPITULAÇÃO E DA APLICAÇÃO

O acabamento, a prova e a confirmação da obra do ensino devem processar-se através da


recapitulação e da aplicação

Após o ensino ter sido administrado, ou seja, o professor e os alunos se reuniram e


juntos fizeram seu trabalho, a linguagem foi ouvida e entendida, o conhecimento adquirido
foi avaliado pela mente dos alunos, e ali reside em maior ou menor completação, a
alimentar o pensamento, a orientar e a modificar a conduta, e a formar o caráter. Agora
resta ainda um trabalho que é justamente a última lei a tratar. Essa lei da confirmação e
completamento dos resultados pode ser assim expressa: O acabamento, a prova e a
confirmação da obra do ensino devem processar-se através da recapitu1ação e da
aplicação. É de extrema necessidade fazer sempre a recapitulação, separando tempo para
isso, fazer recapitulação em blocos de lições voltando sempre do inicio (pág. 70 e 71).

1
João Amós Comenius (1592 - 1671) foi um clérigo marávio, cujos esforços no sentido de reformar as
práticas escolares lhe conferiram lugar perene na história da educação.
39

• Educando Jovens e Adolescentes

• Educando adultos

• Educando Crianças

• Elaboração Curricular

• Função Superintendente ED
40

FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA
EDUCAÇÃO CRISTÃ REFORMADA
_____________________________
Para que possamos desenvolver uma abordagem adequada do ministério educacional, nós
devemos ter uma visão geral da perspectiva bíblica. Em vez de tentar um estudo exaustivo,
neste capítulo vamos dar uma amostra de textos bíblicos chave e um sumário de uma
teologia bíblica do ensino. A Escritura Sagrada é a fonte essencial para entendermos a
natureza da Educação Cristã. Portanto, é necessário que as idéias e a prática do educador
cristão sejam orientadas pelas verdades reveladas de Deus.55

I. A EDUCAÇÃO CRISTÃ NO ANTIGO TESTAMENTO

No Velho Testamento o propósito do ensino era que Israel pudesse aprender a obedecer a
lei de Deus para que sua posição distinta como povo de Deus fosse evidente e Deus fosse
glorificado. O livro de Deuteronômio repetidamente enfatiza este ponto (Cf. Dt 4:5-8).

O Propósito do ensino:

Obediência à lei é um tema constante no Velho Testamento, ilustrando o conceito


Hebraico de aprendizado. Ensino e aprendizado no Velho Testamento não envolvia
somente a comunicação de informação, mas também instrução na vontade de Deus e o
entendimento de como viver. O professor ensinava o povo a obedecer os mandamentos de
Deus, não simplesmente conhecê-los. De fato, o conhecimento era tão conectado com a
ação na mente Hebraica que o povo não podia afirmar saber o que eles não faziam.56

O propósito da obediência de Israel era que Deus pudesse ser honrado e glorificado.
Em segundo lugar, a obediência era levar paz e conforto a Israel. Ambos deveriam ser
resultados do ensino, mas a questão primária era que Deus pudesse ser louvado.

O Contexto e a responsabilidade do ensino:

Para este tema Deuteronômio 6 acrescenta o princípio que o contexto para instrução
é o lar. O Shema (vv. 4-9) sugere um padrão de instrução que enfoque a responsabilidade
dos pais em imprimir os mandamentos de Deus sobre seus filhos. Seria errado sugerir que
esta passagem prescreve um padrão rígido; antes, enfatiza a comunicação natural entre pais
e filhos. Mas os pais deveriam ensinar diligentemente (NASB) os mandamentos de Deus à
criança para que a criança viva em obediência à Deus.

55
Transcrevemos aqui os fundamentos bíblicos conforme os vemos na obra de Perry Downs, Ensino e
Crescimento.
56
Ver o conceito de ensino-aprendizagem.
41

O Velho Testamento continuamente enfatiza a responsabilidade do pai em fornecer


treinamento religioso aos seus filhos (Ex 10.2; 12.26; 13.8; Dt 6.20ss.). Por causa dos
papéis definidos claramente pelo sexo e as responsabilidades restritas das mulheres naquela
cultura, a mãe deveria ensinar as garotas. Mas era a mãe quem dava a educação moral
primaria para as crianças e começava os rudimentos de sua educação formal (Pv 1.8; 6.20).
Neste sentido havia uma parceria verdadeira entre os pais, sendo que ambos tinham
responsabilidades por educar as crianças no lar.

Deuteronômio 31:10-13 fornece orientações para a instrução publica na Palavra de


Deus, oferecendo orientações dentro do conceito de aprendizado de uma perspectiva
hebraica. Esta passagem sugeri uma progressão no aprendizado. Primeiro, o povo deveria
ouvir aos mandamento de Deus. Em uma sociedade que era, a este ponto, iletrada, ensinar e
aprender era conduzido oralmente, assim a lei deveria ser lida e ouvida. Entendia-se que
Deus havia falado ao seu povo através da lei e esta lei deveria ser ouvida. Haveria de ter um
ritual público de leitura da lei como um lembrete que estes eram o povo do pacto de Deus.

Mas ouvir não é o mesmo que aprender. É bem possível ouvir uma instrução e
falhar em aprende-la. Estudantes do nosso tempo confirmam esta idéia muitas vezes.
Moisés afirma que queria que o povo aprendesse a temer ao Senhor. A palavra traduzida
“aprender” (lamath) é a palavra Hebraica mais comum para o aprendizado. Esta palavra
implica em uma assimilação subjetiva da verdade sendo aprendida, uma integração da
verdade dentro da vida.

O aprendizado deveria ser demonstrado de duas maneiras, por uma mudança de


atitude e por uma mudança de ação. A nova atitude era que o povo temesse a Deus. O
temor do Senhor era tanto um medo literal dele como Deus como um respeito apropriado à
sua autoridade sobre a vida. O temor de Deus é o começo do conhecimento (Pv 1.7) e
expressa a motivação primária para servir à Deus. Ele tinha que ser visto como um Deus
terrível, mas também como um Deus para ser amado. O Hebreu colocaría-se diante deste
Deus em temor e reverência, em terror e em amor.

O temor do Senhor era para ser expressado através da obediência aos mandamentos
de Deus. Uma mudança de coração era para ser expressada em uma mudança de
comportamento. Somente então poderia ser dito que uma pessoa tinha aprendido a lei de
Deus. Aprender a lei de Deus não era algo divorciado da vida, mas antes algo que
controlaria toda a vida.

A função do professor no Velho Testamento era produzir pessoas obedientes,


pessoas motivadas pelo respeito profundo por Deus. O professor deveria instruir outros nos
mandamentos de Deus para que o povo fosse reconhecido como tendo sido separado por
Deus.

Eventualmente um grupo de professores profissionais emergia no Velho


Testamento, mas a princípio toda a nação era responsável pelo ensino. Através das várias
festas e rituais, os pais e anciãos ensinavam as crianças o conteúdo da Lei e a necessidade
de obedecê-la. O estilo de vida inteiro era para ser didático em natureza e em função.
42

Mais tarde emergiu um amplo papel de ensino para os sacerdotes e Levitas. Em


adição, como Roland DeVaux explica, “o ensino era dado completamente separado da
adoração, nas sinagogas, e uma nova classe surgiu, os escribas e mestres da lei. Esta classe
era aberta a todos, sacerdotes e Levitas e leigos eram iguais, e eventualmente substituiu a
casta sacerdotal na obra do ensino.”1

Em um sentido alguém poderia dizer que o colapso da vida religiosa de Israel constituiu um
colapso no sistema educacional. As pessoas deveriam ser ensinadas a obedecerem a Lei e
assim serem o povo de Deus. Mas havia uma profunda falta de obediência na nação, e
como resultado Deus repetidamente administrava disciplina para levar o povo de volta a
obediência. Eventualmente a classe dos Fariseus emergiu, com sua ênfase no ensino e na
obediência em uma tentativa de retornar a nação à Deus.

A relação do mestre com o aluno no Novo Testamento era a relação do pai com a criança.
A terminologia em Provérbios sugeri este relacionamento. A educação não era impessoal e
separada, mas pessoal e relacional. Além do mais, Jesus continuou este padrão em seu
relacionamento com seus discípulos.
Mas o sistema educacional estabelecido em Israel desmoronou. O profeta Jeremias,
proclamando o julgamento vindouro à nação, perguntou:

5 Assim diz o SENHOR: Que injustiça acharam vossos pais em mim, para
de mim se afastarem, indo após a nulidade dos ídolos e se tornando nulos eles
mesmos, 6 e sem perguntarem: Onde está o SENHOR, que nos fez subir da terra do
Egito? Que nos guiou através do deserto, por uma terra de ermos e de covas, por
uma terra de sequidão e sombra de morte, por uma terra em que ninguém transitava
e na qual não morava homem algum? 7 Eu vos introduzi numa terra fértil, para que
comêsseis o seu fruto e o seu bem; mas, depois de terdes entrado nela, vós a
contaminastes e da minha herança fizestes abominação. 8 Os sacerdotes não
disseram: Onde está o SENHOR? E os que tratavam da lei não me conheceram, os
pastores prevaricaram contra mim, os profetas profetizaram por Baal e andaram
atrás de coisas de nenhum proveito. (Jr 2.5-8)

Aqueles que estavam numa posição de liderança profissional tinham vagueado tanto de
Deus que eles não mais o conheciam. Não havia relacionamento pessoal com ele, assim
eles eram verdadeiramente “guias cegos.” Nenhum sistema educacional está acima do povo
que trabalha nele. Se os mestres não temem ao Senhor e se alegram nele, o melhor de todos
os sistemas educacionais falhará.

II. A EDUCAÇÃO CRISTÃ NO NOVO TESTAMENTO

No período do Novo Testamento os fariseus estavam tentando restaurar Israel através de


sua meticulosa aderência à Lei. Ele eram fanáticos no estudo e na guarda da Lei, mas
estavam totalmente errados em seus julgamentos. Muito da instrução de nosso Senhor a
respeito do ensino era uma resposta aos Fariseus e seu modo de ensinar.

1
Roland DeVaux, Israel Antigo (Nova York: McGraw-Hill, 1961), 355.
43

Mateus 5.17-20 descreve o relacionamento de Jesus com a Lei. Ele veio cumprir a
Lei e valorizou grandemente seu lugar no reino de Deus. Neste contexto ele afirmou que
quem quer que praticasse e ensinasse os mandamentos de Deus seria grande no reino (v.
19). A responsabilidade dupla do seguidos de Cristo é obedecer aos mandamentos de Deus
e ensinar outros a obedecer. De modo oposto, aqueles que falham em obedecer e ensinar
outros a obedecer serão os menores no reino.

O educador Cristão é responsável por ensinar a Escritura de um modo que pede


resposta por parte dos que estão aprendendo. Aulas da Bíblia que servem somente para
comunicarem informações, mas não mudam vidas não tem parte no reino. O educador
Cristão deve ser obediente e deve ensinar outros a serem obedientes também. Ensinar para
obediência, de acordo com nosso Senhor, é uma dos mais significantes ministérios
possíveis, resultando em poder dentro do reino.

Os evangelhos dão descrições da vida de Jesus que ajudam a determinar seus


valores. Um incidente registrado em Marcos 6 demonstra sua visão de ensino. Quando os
apóstolos retornaram de seus ministérios, eles estavam cansados e precisando de
alimentação. Jesus sugeriu que eles se retirassem por um pouco e descansassem. Mas
quando o Filho de Deus estava andando incarnado na terra, era impossível para ele evitar as
multidões.

Propriamente entendida, a Educação Cristã é um meio crítico de manter a vida da igreja e


mover a igreja para frente. Foi crítico na vida do senhor e tornou-se crítico na vida da
igreja.

Ele conduziu os doze a um lugar quieto, mas as multidões chegavam primeiro que
eles. A sua resposta às multidões não era ira, frustração, ou condenação. Ele não os via
como uma interrupção, mas antes como ovelhas sem um pastor (v. 34). Ele estava movido
com compaixão per eles porque ele viu-os tanto como vulneráveis quando sem direção. Ele
olhou para eles com olhos de amor.
Como Jesus expressou sua compaixão para com a multidão? Marcos nos diz que
“ele começou a ensinar-lhes muitas coisas” (v. 34). Desde que Jesus expressou seu amor ao
ensinar, o que se segue é que uma das mais amáveis coisas que nós podemos fazer pelos
outros é ensina-los. Ajudar pessoas a conhecer a Deus e serem obedientes a ele é talvez o
maior presente que possamos dar a alguém. Entendido deste modo, a Educação Cristã pode
ser um dos ministérios mais misericordiosos da igreja.
A Grande Comissão de Jesus em Mateus 28.18-20 fornece um maior entendimento
dentro de seu entendimento da importância do ensino. Ele começou ao afirmar que toda a
autoridade é sua de direito, proclamando seu senhorio sobre toda a criação. Baseado nesta
verdade, a tarefa primária de todo Cristão é fazer discípulos de todas as nações. O
Evangelho começa e é pelo o senhorio de Cristo. Qualquer evangelho que não proclame seu
senhorio é um falso evangelho.
Um discípulo é alguém que está comprometido com o Senhor com lealdade e
devoção. O imperativo do mandamento é que devemos estar envolvidos com o fazer
discípulos. Ao vivermos a vida, nossa tarefa é sempre a mesma.
44

Sobre estes versículos, D. A. Carson observa:

Batizar e ensinar não são os meios para fazer discípulos, mas eles o
caracterizam. Visualizada é aquela proclamação do evangelho que resultará em
arrependimento e fé, pois matheteuo (“eu discípulo”) envolve tanto pregação quanto
resposta. A resposta do discipulado é o batismo e a instrução. Portanto batismo e
instrução não tem a mesma posição—nem gramaticalmente ou conceitualmente—
com a ação de fazer discípulos... O NT pode dificilmente conceber de um discípulo
que não é batizado ou não é instruído. De fato, a foça deste mandamento é fazer
discípulos de Jesus responsáveis por fazer outros discípulos, uma tarefa
caracterizada pelo batismo e instrução.2

Novos discípulos devem ser primeiro batizados no nome do Pai, do Filho e do


Espírito Santo e então ensinados a obedecer tudo o que o Senhor tem comandado. O
batismo é o sinal que aquelas pessoas foram convertidas, e o ensino é o meio pelo qual os
novos convertidos devem ser levados a maturidade. Novamente, como no Novo
Testamento, a obediência aos comandos do Senhor é resultado desejado do ensino. A
comissão termina com a promessa da presença de Cristo conosco até o fim dos tempos.

O ensino é central no plano do Senhor, indicando sua centralidade na vida da igreja.


Propriamente entendida, a Educação Cristã é um meio crítico de manter a vida da igreja e
mover a igreja para frente. Foi crítico na vida do senhor e tornou-se crítico na vida da
igreja.

A igreja primitiva continuou com ênfases no ensino. Depois do dia de Pentecostes,


quando três mil pessoas se converteram, Lucas regista que “perseveravam na doutrina
(ensino) dos apóstolos” (Lc 2.42). O meio de edificar novos convertidos era através da
instrução, comunhão, adoração e comunidade. Ao compartilharem os bens materiais e
refeições juntos, ao orarem e adorarem juntos, e ao aprenderem juntos, os crentes eram
edificados e o povo da comunidade local estava vendo a realidade do Evangelho sendo
vivido diante deles. Como resultado de seu ensino e relacionamento com Deus e um com o
outro, os crentes eram transformados em novas criaturas reconhecíveis em Cristo.

Uma Educação Cristã eficaz não acontece no vácuo; é melhor realizada no contexto
de relacionamentos de amor e adoração eficaz. O poder do Espírito Santo estava sobre a
comunidade de crentes tanto que vidas estavam sendo tocadas. O reino não é uma questão
de encontrar as técnicas educacionais mais novas, mas de crentes sendo cheios com o amor
por Deus e de um para com o outro. É o poder do Espírito Santo nas vidas dos crentes.

2
D. A. Carson, “Mteus,” em Frank E. Gaebelein, gen. Ed., Comentário Bíblico do Expositor, 12 vols. (Grand
Rapids: Zondervan, 1984), 8:597.
45

O ENSINO NA IGREJA PRIMITIVA

Paulo descreve a si mesmo como “um pregador, apóstolo e mestre” do evangelho (2


Tm 1.11). Seu ministério era proclamar e ensinar as Boas Novas. Claramente, o ensino era
um aspecto importante de sua inteira estratégia de ministério.

Colossenses 1.25-29 fornece um importante vislumbre dentro da estratégia de


ministério do apóstolo. No contexto de explicar como ele trabalhou a favor da igreja, Paulo
explica que seu ministério era sofrimento (v. 24), proclamação (vs. 25-29) e intercessão
(2.1-5).

Um aspecto central do ministério de Paulo era a proclamação da Palavra de Deus.


Ele era um servo da igreja porque ele foi primeiro de tudo um mordomo de Deus. O único
modo que alguém pode efetivamente servir a igreja é primeiro ser comprometido com o
Pai. Esta era a fonte da motivação de Paulo para dar-se a si mesmo no ministério da Igreja.

O conteúdo da proclamação de Paulo era o mistério da totalidade da Palavra, o


glorioso mistério que tinha uma vez estado escondido, mas agora fora revelado. O mistério,
Paulo disse aos colossenses, “é Cristo em vós, a esperança da glória” (1.27). O mistério é a
chave da vida espiritual, a experiência subjetiva interior do Cristo habitando em todo o seu
povo, Judeus e Gentios da mesma forma.

A mensagem de Paulo era Cristo, e seu método era admoestação e ensino com toda
sabedoria, para que tudo pudesse ser apresentado completo em Cristo. Admoestação (uma
forma de aconselhamento) neste contexto provavelmente se refere a tentativa de Paulo de
convencer não crentes de sua necessidade por Cristo. As exigências da proclamação são
profundas, com profundas implicações sobre como nós devemos viver. Este tipo de
proclamação dever vir com admoestação.
O ensino era requerido porque os mistérios de Cristo não são facilmente entendidos
e requerem instrução e explicação. Assim foi a prática, do apóstolo Paulo, de proclamar o
evangelho em um novo território e então permanecer para ensinar os convertidos os
mistérios de Cristo para que suas vidas pudessem ser mudadas. O apóstolo precisava de
sabedoria tanto para entender a mensagem quanto faze-la relevante aos ouvinte. Assim,
para os Judeus Paulo tornou-se como um Judeu para ganhá-los, e para os Gentios ele se
tornou como um Gentio para ganhá-los. De fato, ele tornou-se “todas as coisas para todos
os homens para que por todos os meios possíveis pudesse salvar alguns” (1 Co 9.22).
O objetivo desta proclamação era que Paulo pudesse apresentar a todos perfeitos, ou
maduros e completos, em Cristo. Uma proclamação e instrução fiel na Palavra eram feitas
para que vidas pudessem se mudadas através da obediência à Palavra.
Uma Educação Cristã eficaz deve enfocar os mistérios de Deus. Por muito tempo
agora, muito da igreja tem perdido este enfoque em seus programas educacionais; em vez
disto, tem havido um conteúdo projetado para falar às necessidades imediatas, mas ao
mesmo tempo há um esquecimento sobre as profundas verdades de Deus. As pessoas não
entendem prontamente a verdade do Evangelho, e para muitos a teologia tornou-se
irrelevante. Como resultado sua fé está fraca e suas vidas são destruídas. Eles estão
maduros para a corrupção da heresia e decadência moral porque não há um centro da
46

verdade em sua fé. A igreja falhou em proclamar o conteúdo da fé, então pessoas não
sabem o que acreditar.
Educadores cristãos eficazes proclamam os mistérios de Deus com toda sabedoria,
esclarecendo a relevância da verdade bíblica para a vida. Os mistérios de Deus não são
irrelevantes para a vida, mas eles são de fato o único meio da vida fazer sentido. Eles
fornecem a estrutura pela qual nós podemos entender a vida e encontrar um significado
completo. O apóstolo se levantou com um pé firmemente plantado nos mistérios de Deus e
o outro nas experiências da vida. Enquanto ensinava os mistérios, Paulo relacionava a
teologia a experiência de vida, mostrando como uma pessoa deveria viver em resposta a
verdade. Esta tarefa é a mesma para o educador cristão moderno. Nós também devemos
proclamar a verdade de Deus e relaciona-la com as vidas do povo que nós ensinamos.
Paulo descreveu esta obra como um esforço (Cl 1.29). Não é fácil entender os
mistérios de Deus e relacioná-los às experiências da vida. Educadores cristãos devem ser
biblicamente profundos e teologicamente especialistas, e devem também entender as
pessoas. Eles não tem o luxo de somente estudar o texto; eles devem também estudar as
pessoas. Nem podem eles se preocupar somente com os métodos e esquemas
organizacionais sem estar preocupados com o conteúdo do ensino. Uma Educação Cristã
competente requer visão teológica e entendimento das pessoas tanto psicologicamente
como culturalmente.
Mas o melhor da percepção não produzirá pessoas retas em si mesmas. O poder de
Deus deve estar trabalhando para trazer a maturidade espiritual. Paulo lutou em seu esforço,
mas ele entendeu que ele estava em parceria com Cristo. Cristo estava trabalhando nele.
Uma Educação Cristã produtiva é sempre uma parceria entre Deus e o educador.
Assim como Paulo trabalhou para estabelecer igrejas, o desenvolvimento da
liderança era essencial. Trabalhando para nomear presbíteros em várias igrejas, Paulo listou
critérios que devem ser seguidos por aqueles que conduziriam as igrejas. Uma questão
crítica era que ele fossem “aptos para ensinar” (1 Tm 3.2). Paulo ensinou Timóteo, que em
troca deveria “transmitir a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros” (2 Tm
2.2) as verdades que ele aprendeu de Paulo.
A igreja deveria progredir através da evangelização e da educação. Estes temas
gêmeos são o coração do ministério da igreja. Ambos são importantes para o crescimento e
a saúde da igreja.

CONCLUSÃO
Esta breve visão geral demonstra que o ensino não é opcional na igreja; antes, é um
imperativo bíblico para ser obedecido. A forma do ensino pode variar. Escolas dominicais,
por exemplo, não são mandados bíblicos. Elas são uma forma cultural estabelecida nos dois
últimos séculos para cumprir o mandado bíblico. Como a igreja ensina está aberto para uma
variedade de expressões culturais, mas que a igreja ensine é algo não negociável. As
Escrituras ordenam que a igreja eduque seu povo para a maturidade espiritual.
47

MODELANDO NOSSO ENSINO CONFORME O


DE JESUS
Jesus continua sendo o principal exemplo de um professor eficaz.57 Suas influências
são sentidas como uma força hoje assim como ela foi a dois mil anos atrás. Sua capacidade
de tocar as vidas com seus ensinamentos e ajudar pessoas a ver e entender as coisas
espirituais serve como um ideal para as lutas que nós devemos enfrentar. Os métodos e
ensinamentos de Jesus eram culturalmente apropriados para seu contexto, mas eles
continuam sendo instrutivos para nós em nosso contexto. Muitas das coisas que ele fez e
falou serve como um modelo para os educadores Cristãos na idade moderna.

O PROBLEMA DA NORMALIDADE

Antes de nós examinarmos os métodos de ensinamento de Jesus, nós devemos


considerar em que grau Jesus é verdadeiramente um padrão para os professores
contemporâneos. É apropriado e realístico usar Jesus como um exemplo para os professores
contemporâneos? Nós devemos considerar duas importantes questões antes de podermos
explorar mais de perto a abordagem de Jesus em relação ao ensino.

Muito do que Jesus fez e falou serve como um modelo para os educadores Cristãos na
idade moderna.

Jesus tinha interiormente duas naturezas: a humana e a divina. Esta união


hipostática das duas naturezas resultou na existência da natureza sui generis de Jesus (em
uma classe por si mesma). Nenhum outro humano possuiu as forças e a percepção que ele
possuía. Jesus podia fazer milagres e entender as vidas das pessoas antes mesmo de
conhece-las. Por causa destes atributos, Jesus podia ensinar de maneira que outros não
podiam imitar.

Este problema foi de alguma forma resolvido pela kenosis—o esvaziamento dele
mesmo descrita em Filipenses 2.7. Talvez assim como ele se “fez nada,” Jesus limitou suas
divinas regalias de algumas maneiras, deixando a si mesmo dependente do Pai do mesmo
jeito que nós somos dependentes do Pai. Jesus ensinou que se nós tivéssemos fé nós
poderíamos fazer maiores milagres que os dele (Matt.17:20). Teólogos discordam no
significado da kenosis, mas o fato do esvaziamento de Jesus sugere que enquanto ele
estava na terra sua limitações devem ter sido semelhantes às nossas.

A segunda referência é que a cultura de Jesus era completamente diferente da nossa.


Jesus ensinou em ambientes abertos, viajando de lugar para lugar, levando seus discípulos
consigo. Porque os rabinos itinerantes eram muito comuns naquele tempo, a abordagem de
Jesus não era incomum. Mas poderia essa abordagem de algum jeito ser transferida para a
nossa cultura hoje?

57
Transcrito de Perry Downs.
48

Alguns autores acreditam que havia um plano especifico para os seus ensinamentos,
especialmente a respeito do treinamento dos apóstolos—um plano que e transferível para
o nosso contexto. Por exemplo, no seu livro Com Cristo na Escola do Discipulado, Carl
Wilson argumenta que há um modelo definido nos trabalhos de Jesus com os Doze. Para
achar os modelos, ele diz, nós devemos primeiro atingir a harmonia dos evangelhos. Cada
um dos quatros evangelhos devem estar integrados como um todo para que cheguemos a
uma clara historia da vida de Cristo. Uma vez que tenhamos feito isto, acredita Wilson, que
nós poderemos estudar o modelo das experiências para os doze e descobrir os métodos do
discipulado de Jesus.

A abordagem de Wilson é embasada numa harmonização bem sucedida dos


evangelhos. Mas a harmonia dos evangelhos por melhor que seja é frágil porque os
evangelhos não foram escritos para dar uma historia da vida de Cristo. Antes, os
evangelhos foram escritos como uma declaração teológica sobre Cristo e são melhores
compreendidos quando são lidos independentemente, procurando uma mensagem interna
em cada um. Quando eles são lidos como afirmações teológicas sobre Cristo, nenhum
padrão clara da abordagem de Jesus sobre o treinamento dos Doze emerge, em vez disso,
cada escritor apresenta uma descrição singular de Cristo que revela os princípios usados por
Cristo como um professor. Assim ao procurarmos por um padrão cronológico do qual nós
podemos derivar um padrão específico para o discipulado é provavelmente algo
inapropriado.

Procurar por princípios em lugar de padrões é uma atitude mais fiel ao modo como
os evangelhos foram registrados. Pareceu bom ao Pai não nos fornecer a história de forma
cronológica da vida de Cristo, e portanto nós não precisamos procurar por isto. Mas nós
podemos pegar a informação que cada escritor fornece e usá-la para entender os princípios
principais que parecem guiar nosso Senhor como um professor.

A Escritura nos ensina que Jesus serve como um exemplo para nós. Nos é dito que
devemos andar “como Jesus andou” (1 Jo 2.6), vivendo nossas vidas de acordo com os
princípios que o guiaram. Além do mais, Lucas nos diz que ele registrou “tudo o que Jesus
começou a fazer e ensinar” (At 1.1). Lucas não estava preocupado somente com o que
Jesus disse, mas também com o que ele fez. Um estudo de Jesus como um professor deve
considerar tanto o que ele ensinou e como ele ensinou. Há pelo menos quatro áreas
principais nas quais Jesus serve como modelo para os professores modernos.

OBJETIVOS: QUAL ERA O ALVO PRIMÁRIO DE JESUS COMO PROFESSOR?

Por ser esta uma questão difícil de responder, é melhor primeiro responde-la
negativamente—isto é, determinar o que seus objetivos não foram. Parece claro que não era
objetivo de Jesus deixar somente um amontoado de verdades. Jesus estava preocupado com
a comunicação do conteúdo, mas isto não parece ser sua preocupação primária. Houve
muitas vezes quando, como professor, ele parecia estar atrás de algo além da comunicação
de novas informações.

Jesus re-interpretou o Velho Testamento, oferecendo uma visão mais profunda


dentro dos significados que continha lá. Mas ele não estabeleceu uma nova teologia. Antes,
49

o ensino de Jesus era uma extensão da teologia existente enquanto mostrava ao povo todo
um novo modo de pensar sobre as verdades do Velho Testamento revelar que ele era e o
seu papel no plano redentivo do pai. Ele se ateve ao cumprimento da Lei, e não a uma nova
interpretação teológica dela.

Nem era objetivo de Jesus como um professor a sistematização da teologia.


Claramente ele estava interessado na coerente e congruente verdade e com o pensamento
lógico, mas não a ponto disto ser sua preocupação principal. Não há exemplos dele
organizando uma verdade teológica de novas maneiras.58 Ele seguiu a leitura tradicional do
Velho Testamento de acordo com os costumes Judaicos, mas nós nunca lemos que ele
formou “classes Bíblicas” para ensinar todo o conselho de Deus.59Jesus seguiu a tradição
normal de sua época, que presumia o estudo da Torá, mas não ofereceu um comentário ou
interpretação no Velho Testamento em qualquer ordem lógica ou seqüencial.

Qual então, era seu objetivo como professor? Jesus disse, “eu vim para que tenham
vida e vida em abundância” (Jo 10.10). Seu objetivo como um professor era mudar a
qualidade de vida de seus alunos, colocando-os num patamar mais alto de obediência à
Deus e num nível mais de santidade. Por Jesus dar sua vida por eles (v.11), ele pode
ensinar e capacitá-los a viver de uma nova maneira.

O propósito de Jesus como professor era influenciar as experiências de seus alunos


para que suas vidas fossem diferente. Ele queria que ele experimentassem a Deus como Pai
e vivessem na realidade deste relacionamento. Jesus queria que ele vivessem retamente em
obediência aos mandamentos de Deus e experimentassem a vida completa em relação à
Deus. Seu objetivo como professor era tocar as vidas de seus alunos.

Alguns professores confundem meios com fins. Eles somente enfocam métodos e se
esquecem dos objetivos. Ensinar a Bíblia é um método; mudar vidas é um objetivo. A
razão pela qual nós ensinamos na igreja é para que vidas sejam transformadas. A razão
pela qual nós promovemos estudos Bíblicos é para que vidas sejam transformadas. A razão
pela qual nós estabelecemos escolas Dominicais, grupos de jovens, grupos de solteiros, e
outros programas educacionais é para que vidas sejam transformadas.

Quando o objetivo se tronar mudar as vidas dos alunos, o foco e as atividades do


professor será influenciado. Jesus não era obcecado com o “cumprimento do conteúdo,”
pois este não era seu objetivo. Ele podia gastar tempo ouvindo seus alunos e interagindo
com eles porque sua agenda era a vida deles, e não um conteúdo a ser cumprido.

Professores atuais devem aprender com este exemplo. Nós devemos nos lembrar
que nossos objetivos vão além da comunicação de um conteúdo e a resposta do aluno
aquele conteúdo ensinado, somente. Nós não podemos nos satisfazer somente com o
58
Isto de forma alguma deve ser interpretado como implicando que a teologia sistemática é algo sem
importância. Devido ao fato que os humanos são seres lógicos e que as leis de comunicação requerem lógica,
é absolutamente necessário para a igreja sistematizar seu entendimento da revelação divina. O único ponto
que eu que enfatizar é que isto não era uma preocupação crítica para nosso Senhor como professor.
59
Novamente, eu não quero dizer com isto que o ensino sistemático das Escrituras seja sem importância ou
não bíblico. Isto serve somente para destacar que não era a preocupação principal de nosso Senhor.
50

“conhecimento que os nossos alunos tem da verdade.” Nossos estudantes devem viver a
verdade. Somente então podemos nós dizer que nosso ensino foi bem sucedido.
Mas é algo realista esperar que nosso ensinamento traga mudanças de vidas?
Podemos esperar tocar as vidas de outros, causando-os a serem mais retos e mais
obedientes a Deus? Podemos realmente causar este tipo de resposta em nossos alunos? A
resposta é simples nós não podemos mudar vidas. Mas o conteúdo da Escritura ensinada no
poder do Espírito Santo muda vidas. Deus pode usar nosso ensinamento para realizar
mudança.

Nós não podemos mudar vidas, mas nossa responsabilidade é ensinar para que Deus possa
usar nossos esforços para levar nossos alunos à maturidade. Maturidade, bem entendida ,
significa uma vida mudada.

A Educação Cristã é melhor entendida como uma parceria educacional com Deus.
Nós somos responsáveis por ensinar outros fazendo o melhor que pudermos, esforçando-
nos para ajudá-los a entender e obedecer a Palavra de Deus. O Espírito Santo é responsável
em usar nossos esforços para tocar os corações de nossos alunos e conduzi-los a um
relacionamento obediente com o Pai. Nós devemos ensinar como se dependesse de nós,
entendendo que se os alunos de fato responderem ao ensino é por causa da graça de Deus
em suas vidas. Nós não podemos mudar vidas, mas nossa responsabilidade é ensinar para
que Deus possa usar nossos esforços para levar nossos alunos à maturidade. Maturidade,
bem entendida , significa uma vida mudada.

Relacionamentos com alunos: baseado em que Jesus aceitava e rejeitava os


estudantes?
Jesus respondia diferentemente a pessoas diferentes. A alguns, Jesus era gentil e
complacente, enquanto que para com outros ele era duro e juiz. Jesus era procurado pelas
multidões e rejeitado pelos líderes religiosos. O pobre e oprimido saudava a Jesus como seu
herói, enquanto que os líderes religiosos o condenavam como um herege. Pessoas respondia
a ele de maneiras diferentes, e ele respondia às pessoas em formas variadas. O que então
governava o aceitar ou rejeitar as pessoas por parte de Jesus?
O encontro de Jesus com Zaqueu, registrado em Lucas 19.1-10, fornece um
entendimento sobre esta questão. Zaqueu era um rico coletor de impostos e por própria
confissão ele era um trapaceiro. Quando Jesus viu Zaqueu na árvore, ele lhe disse para
descer para que então fosse a sua casa para jantar.
O povo reclamou pois Zaqueu era um “pecador” (v.17). Ele se ofenderam que Jesus
se associasse com um homem com aquele. Eles destacaram o que estava errado com aquele
homem, chamando-o de pecador. Mas Jesus ponderou sobre o que era bom sobre Zaqueu,
observando, “este homem também é um filho de Abraão” (v. 9). Enquanto a multidão via
Zaqueus como um pecador, Jesus via-o coimo um descendente de Abraão.
Zaqueu respondeu com um arrependimento verdadeiro. Sua vida foi tremendamente
mudada que imediatamente ele prometeu vender suas propriedades e dar aos pobres a fim
de restituir com juros pelos erros que ele tinha cometido. Sua conversão foi tão profunda
que mesmo sua carteira foi afetada! A aceitação de Zaqueu por parte de Jesus enquanto
todos os outros o rejeitaram foi uma afirmação poderosa que tocou profundamente a
Zaqueu.
51

A perícope sobre a mulher pega em adultério (Jo 8.3-11) é um texto um tanto


quanto discutido, não aparecendo nos manuscritos mais antigos, mas ainda assim sendo
considerado confiável por muitos acadêmicos do Novo Testamento.3 Quase todos
concordam que a história é autentica; é a localização e a colocação das palavras que estão
em questão. Mas a história nos ajuda com mais informação sobre como nosso Senhor se
relacionava com as pessoas.
Os líderes religiosos trouxeram a Jesus uma mulher que tinha sido pega em um ato
de adultério. Eles deixaram o homem ir embora, mas a mulher ímpia deveria ser punida.
(Mesmo naquela época vemos o modo de tratamento diferente para com as mulheres e os
homens.) Os líderes estavam somente usando a mulher como uma hipoteca no jogo deles.
Eles queriam colocar Jesus na difícil posição de ter que escolher entre a lei Judaica, que
mandava apedrejar, e o governo Romano, que tinha a pena capital como direito somente
dele. Se Jesus concordasse que ela fosse apedrejada como a lei Judaica exigia, ele estaria
em conflito com Roma. Se ele pedisse tolerância e complacência, ele estaria em conflito
com a lei Judaica.
Quando confrontado com este desafio, Jesus se abaixou e começou a escrever no
chão com seu dedo. Ele então se levantou e virou a acusação contra os líderes religiosos,
mostrando a hipocrisia da ação deles. Ele desafiou-os ao dizer que aquele que não tinha
pecado atirasse a primeira pedra. Novamente Jesus se abaixou e começou a escrever no
chão.
Não nos é dito o que ele estava escrevendo. Dr. Rufus Jones, ex-general diretor da
Conservative Baptist Home Mission Society, sugeri que talvez Jesus estava escrevendo os
nomes e as datas de quando estes homens acusadores tinham cometido adultério! O convite
de Jesus para que aquele que não tivesse pecado para que atirasse a primeira pedra serviu
para silenciar a multidão e fazer com que fossem embora.
Deixado só com a mulher, Jesus teve grande pena dela. Imagine tamanha
humilhação que ela tinha passado. Jesus perguntou se havia ainda algum acusador para
condená-la, e quando ela replicou na negativa, Jesus ofereceu seu perdão, dizendo a ela
para ir e deixar sua vida de pecado. Isto não implica que Jesus simplesmente acobertou a
situação de pecado, mas antes que embora a lei viesse por Moisés, a graça e a verdade
vinham por Jesus (Jo 1.17).
Que tipo de efeito isto teria tido nas pessoas comuns? Pessoas que eram
acostumadas a se condenadas e rejeitadas pelos líderes religiosos viram-nos sendo feitos de
tolos pelo novo rabino. Eles tinham que comemorar o que Jesus fizera, vendo ao menos
alguém que podia se levantar conta a tirania religiosa que eles tinham sofrido. O povo havia
sido pisado por muito tempo pelos auto-suficientes Fariseus que colocavam mais e mais
peso sobre eles sem leva-los mais perto de Deus. Afinal havia alguém que podia ser o
advogado deles contra a religião organizada e opressora.
Jesus não parece estar ofendido com as pessoas pecadores. Não há dúvida que tanto
Zaqueu quanto esta mulher eram pecadores e que estavam dolorosamente cientes de sua
pecaminosidade. Mas Jesus ofereceu-lhes o perdão no meio de sua dor. Enquanto os líderes
religiosos pediam a condenação, ele ofereceu-lhes redenção.

3
Ver, por exemplo, R. V. G. Tasker, O evangelho segundo São João (Grand Rapids: Eerdmans, 1960), 110;
D. A. Carson, O Evangelho segundo João(Grand Rapids: Eerdmans, 1991), 333-334.
52

O mesmo tipo de história é contada no incidente da mulher no poço, registrada em


João 4. Enquanto todos evitavam a mulher porque ela tinha tido cinco maridos e estava
agora vivendo com um outro homem, Jesus tinha uma conversa natural e aberta com ela,
. Ele a tratou com respeito e lhe disse que ele era o Messias (v. 26).
Jesus era um “amigo de pecadores” (Mt 11.19), aceitando-os mais do que aos
líderes religiosos. Os pecadores sabiam que Jesus era um homem de Deus, e mesmo assim
eles se sentiam à vontade com ele. O coletores de impostos e as prostituas vinham a ele
livremente, e ele era o amigo destas pessoas. Mas Jesus tinha conflitos fortes com os líderes
religiosos.
O evangelho de marcos registra a degeneração do relacionamento de Jesus com os
líderes religiosos. Marcos 2.1-12 nos fala da cura do paralítico. Todos se alegraram com a
crua do homem exceto os mestres da lei que estavam ofendidos que Jesus tinha afirmado
ser capaz de perdoar pecados. Para eles, assuntos da lei e da propriedade religiosa eram
mais importantes do que o sofrimento e a cura. A tradição religiosa eram superiores aos
assuntos humanitários e a resposta misericordiosa diante do sofrimento humano. De fato, a
tradição deles eram mais importantes do que mesmo os milagres. Ele não podiam ver ou
não queriam ver os milagres por causa da posição teológica deles.
Marcos 2.13-17 registra o chamado de Levi. Ele era um coletor de impostos, um
colaborados dos opressivos Romanos. Mas Jesus chamou-o e o escolheu para comer com
ele. Quando Jesus foi criticado por comer e beber com pecadores, ele explicou que ele tinha
vindo para os pecadores, usando a analogia que o doente é que precisa de médico e não o
são. Mas os fanáticos mestres da lei e os Fariseus não aceitaram esta explicação. Ele não
viam em si mesmos como em necessidade de redenção.
Os líderes Judeus também desafiaram a Jesus porque ele não seguiu os rituais de
jejum (vv. 18-22). Outros rabinos ensinavam e praticavam o jejum, mas Jesus ensinou que
enquanto ele estava presente era tempo para festejar. Isto também iam contra seus padrões
religiosos e teológicos.
A maioria dos conflitos de Jesus com os Fariseus estavam centrados nas leis
referentes ao Sábado. Ele permitia que seus discípulos colhessem no Sábado, e
eventualmente Jesus desafiou completamente os líderes religiosos sobre o assunto. Marcos
3.1-6 diz como ele trouxe o homem da mão ressequida diante da congregação. Os olhos de
todas as pessoas estavam fixos nele porque eles entenderam que um confronto direto estava
prestes a acontecer. Suas leis declaravam que nenhum trabalho poderia ser feito no Sábado,
e uma cura era categorizada como trabalho.
Jesus confrontou em um nível de valores básicos ao perguntar, “É lícito nos sábados
fazer o bem ou fazer o mal? Salvar a vida ou tirá-la? Mas eles ficaram em silêncio” (Mc
3.4). Isto não era um conflito sobre tradições religiosas, mas sobre valores básicos. As
pessoas e suas necessidades eram mais importantes do que as leis humanas e as tradições?
Marcos registra que Jesus “olhou para eles indignado e condoído com a dureza dos seus
corações” (Mc 3.5). A observação rígida do Sábado era mais importante do que a
deformação daquele homem. Eles defendiam aquela posição tão profundamente que após
Jesus cursar o homem eles saíram do lugar e começaram a tramar como eles matariam-no.
É evidente que enquanto Jesus era um amido de pecadores, ele não tolerava
hipocrisia religiosa. Quando as pessoas afirmavam amar à Deus, mas estavam controlando
as pessoas com seu legalismo em nome da religião, isto era mais do que ele podia tolerar. A
atitude auto-justificável destas pessoas causou em Jesus ira em vez de complacência.
53

Nós, educadores Cristãos modernos, deveríamos aprender com este exemplo que
nós nunca devemos rejeitar as pessoas porque são pecadoras. Antes, para sermos
verdadeiramente educadores como Cristo, nós devemos aprender a amar as pessoas como
Jesus o fez. Os programas educacionais deveriam ser um refúgio para pessoas que tem sido
surradas pelos estabelecimentos religiosos e líderes religiosos. A educação que é cristã traz
perdão e redenção, não condenação e lei.
É triste que em algumas igrejas os pecadores são tratados como objetos—almas para
serem ganhas em vez de pessoas para serem amadas. Elas são humilhadas, criticadas, e
tratadas com desrespeito, tudo em nome de Cristo.
Quando eu era professor de faculdade, eu estava entrevistando pessoas para serem
membros do corpo docente no meu departamento. Eu entrevistei uma mulher que queria
sair da escola pública e entrar na educação Cristã. Eu perguntei-lhe sobre seu
relacionamento com outros professores. Ela disse que havia uma mulher que era uma boa
amiga, mas não conhecia o Senhor, e ela ainda não tinha conseguido que ela fosse à sua
igreja. Ela então continuou a dizer-me que o esposo desta mulher era proprietário de um
bar, e que por várias vezes ela fora convidada para almoçar no bar. “Mas,” disse ela, “claro
que nunca iria naquele ‘lugar de bebedeiras’ com ela.” Eu fiquei pensando como ela iria
então alcançar aquela amiga se ela nunca fosse almoçar com ele e seu marido no bar. Mas
para esta mulher, não ser vista onde bebidas alcoólicas são servidas era mais importante do
que estabelecer um relacionamento com sua amiga. Eu decidi então que não queria aquela
mulher ensinando no meu departamento.
Jesus era um mestre poderoso porque ele não rejeitava as pessoas só porque elas
eram pecadores. Ele se relacionava com o descriminado e o separado, levando-lhes o amor
de Deus não somente em palavras, mas também em ações. Ele escolher comer com eles, ser
visto com eles, e ensiná-los. E ele se recusou a ser controlado por uma organização
religiosa caracterizada por arrogância em vez de misericórdia.
As duras palavras registradas dos lábios de Jesus são encontradas em Mateus 23—
palavras dirigidas aos líderes religiosos. Ele não rejeitou sua autoridade como
representantes da Lei (vv. 2-3), mas ele de fato condenou seu estilo de vida. Eles falharam
em viver vidas de compaixão e cuidado com as pessoas ao redor deles. Eles estavam mais
preocupados com manter as tradições religiosas do que com ministrar às pessoas em
sofrimento.
De vez em quando o mesmo problema emerge em nossas igrejas. Nós encontramos
aqueles que estão mais preocupados com as tradições a as propriedades do que com as
pessoas. Nos anos 60 quando Deus agiu entre os jovens de nossa sociedade no que foi
chamado O Movimento de Jesus, muitas igrejas não podiam aceitar os novos convertidos
porque eles não vestiam roupas tradicionais. Pessoas não eram bem-vindas nas igrejas
porque eles não queriam calçar sapatos ou não usavam um gravata. Alguns membros de
igreja estavam mais preocupados com a moda do que com as pessoas.
Pode ser uma coisa perigosa amar pecadores e se relacionar com eles. Apesar de
serem expostas às tentações inerentes em seu estilo de vida, pode-se também ser um risco
causar a ira de outros Cristãos. A idéia de separação do mundo está tão impregnada em
alguns crentes que, como os Fariseus, eles somente condenam aqueles que tentam alcançar
o mundo com a redenção. Mas ser obediente a Cristo e viver a retidão verdadeiramente
requer amar nosso próximo como a nós mesmos.
54

Métodos: Que métodos de ensino parece principal no ministério de Jesus?


Claramente Jesus usou uma grande variedade de métodos de ensino. Muitos são
vem óbvios, como as palestras, parábolas, lições de objeto e discussões. Outros são menos
óbvios, tal como usar a experiência de vida de seus discípulos e projetando “estágios” para
eles. Mas o fato que Jesus usou uma grande variedade de métodos de ensino é indiscutível.
A ampla variedade de métodos de ensino que ele usou é instrutivo para nós. Um
ensino eficaz requer uma variedade de métodos, dependendo do conteúdo, do aluno, e da
situação. Assim como Jesus variava o modo de ensinar, assim também nós devemos variar
nossa abordagem ao ensinar. Não há sequer um método dito melhor para ensinar; não há
sequer um método chamado “bíblico” de ensinar. Uma ampla gama de opções existem, e o
mestre sábio aprenderá a ensinar de várias maneiras.
Jesus parece enfatizar um ensino informal em vez de formal. Claramente era sua
prática entrar na sinagoga no Sábado e ensinar num ambiente formal; mas o que domina é o
evangelho descrito nele como um professor informal. Ele é visto ensinando no campo, nas
estradas, mas praias, em lares, e em vários outros ambientes não muito comuns para o
ensino.
A ênfase no ensino informal não implica que o ensino formal é sempre ineficaz.
Mas significa que há um grande poder no ensino informal. Enquanto que as salas de aulas
podem ser ambientes importantes para alguns tipos de aprendizado, uma educação para
mudança de vida ocorre mais freqüentemente em contextos menos formais. A proximidade
do professor com o aluno em um contexto informal ou não formal tende a tocar vidas mais
eficazmente do que um relacionamento mais distante da sala de aula formal.
Como professor de seminário, eu gasto um bom tempo no contexto formal da sala
de aula. Meu ensino é controlado por relógios, programas acadêmicos, padrões de
qualidade vários outras coisas normalmente associadas com a educação formal. Eu aceito
estes limitadores em meu ensino, mas eu também entendo que o contexto formal da sala de
aula limita minha habilidade de ensinar. A sala de aula não é um contexto muito eficaz para
tocar vidas de maneira profunda.
Educadores responsáveis estão sempre interessados com resultados—os tipos de
aprendizado que resulta de nosso ensino. Uma taxonomia muito útil dos resultados do
aprendizado foi sugerida por Norman Seineker e m. Robert Bell.4 A taxonomia deles sugeri
os seguintes níveis de aprendizado:
. Lembrança—eu lembro
. Lembrança e aprovação—eu gosto
. Lembrança e Especulação—eu tento
. Lembrança e Adoção—eu adoto

O nível mais baixo é uma simples lembrança, pela qual o aluno é capaz de lembrar
o que foi ensinado. Este é um simples exercício cognitivo, não relacionado com a vida. A
lembrança é necessária mais tarde para níveis mais altos de aprendizado, mas é dificilmente
capaz de penetrar na vida do aprendiz. Muitos estudantes desenvolvem uma boa memória e
são bem sucedidos neste tipo de aprendizado.
Aprovação envolve não somente a mente do estudante, mas também seu
compromisso emocional ao que tem sido aprendido. O estudante gosta do que ele lembra.,

4
Norman W. Steinerker e m. Robert Bell. A Taxonomia Experiencial: Uma nova abordagem ao Ensino e ao
Aprendizado (New Yourk: Academic Press, 1979).
55

sentindo-se positivo sobre a informação. Um aprendizado eficaz que traz mudança de vida
requer um envolvimento afetivo assim como cognitivo do aluno.
Especulação é um envolvimento cognitivo com o conteúdo. Neste nível o aluno
pensa sobre como estas idéias podem ser aplicadas em seu contexto. Ainda não há uma
resposta de vida ao conteúdo, mas há um pensamento ativo sobre o que tem sido aprendido.
O envolvimento afetivo do nível dois conduziu à atividade cognitiva do nível três.
No nível de aplicação o aluno experimenta o conceito numa situação da vida real
como um resultado do pensamento do nível três. Este passo serve como um campo de teste
para a validade da verdade aprendida. A aplicação pode conduzir à rejeição do conteúdo, ou
pode conduzir ao nível final do aprendizado se o conceito “funcionou” na experiência
crucial da vida.
A Adoção ocorre quando o aluno incorpora o conceito em sua vida. O teste do nível
quatro provou ser positiva, e o aluno agora escolhe integrar este conceito na estrutura do
seu próprio raciocínio e ação. Este é o último passo para o aprendizado eficaz.
Conteúdos formais de aprendizado são poderosos para ajudar os alunos a atingir os
três primeiros níveis de aprendizado. Os conceitos podem ser comunicados de maneiras
agradáveis, e os alunos podem ser conduzidos a considerar as possíveis aplicações em suas
vidas diárias. Mas a educação formal tende a ser menos eficaz que a educação informal
para ajudar os alunos a alcançar níveis mais altos de aprendizado. Os passos da aplicação e
adoção são melhor criados por um modo mais informal de ensino. O contato pessoal da
instrução informal é completamente mais poderosa do que modos de ensino mais
restritamente formais.
Jesus também enfatizou o estabelecimento e a manutenção de relacionamentos com
alunos como um método principal de ensino. Ele escolher Doze que “estariam com ele”
(Mc 3.14), observando e interagindo com ele enquanto realizava seu ministério. Ao passo
que ensinava, ele entrava em relacionamentos com pessoas, tocando as suas vidas com a
proximidade e intimidade.
O evangelho de João fornece uma impressionante descrição da natureza relacional
do ministério de Jesus. O prólogo de João apresenta a idéia da encarnação dando a grande
observação que “o Verbo [logos] se fez carne e habitou enter nós” (Jo 1.14). Enviado ao
mundo pelo Pai, o Verbo tomou forma humana e entrou em relacionamento conosco ao
mudar-se para a nossa vizinhança e viver como um de nós.
Mas qual era o programa educacional do Filho de Deus? Como ele cumpriu sua
tarefa de ensinar a humanidade sobre o Pai e o Evangelho do Filho? João 2 diz que ele foi a
uma festa de casamento. Talvez o que é mais impressionante é que nós não sabemos quem
se casou. Era um casou sem nomes em Caná da Galiléia, uma cidade pequena e sem
importância. O casa não podia pagar por um suprimento adequado de vinho (um problema
sem dúvida agravado com a chegada de um rabino itinerante e seus sedentos discípulos).
Enquanto no casamento, Jesus escolheu decidiu fazer o primeiro de seus sinais
milagrosos. O transformar a água em vinho tinha maiores implicações do que a bebida para
os convidados em si na recepção do casamento. O mero fato dele ter vindo ao casamento é
instrutivo em si mesmo. Quando ele poderia ter promovido grandes encontros públicos ou
conferencias importantes com os religiosos e líderes políticos, ele escolheu ir ao casamento
de amigos da família.
O capítulo 3 do evangelho de João nos diz que ele teve conversas durante a noite
toda com um homem sobre sua necessidade de regeneração. Nicodemos era um membro da
concílio Judaico, mas o foco da conversa deles era muito pessoal. Em vez de falar sobre o
56

grupo político, Jesus falou somente com um homem a noite. Esta conversa frutifica numa
poderosa teologia para a igreja, mas é significante que o contexto no qual isto acontece é de
uma conversa particular com um homem. A descrição que emerge da narrativa do
evangelho é de uma abordagem de ministério relacional.
O capítulo 4 registra uma outra conversa intima, desta vez com uma mulher cuja
vida pessoal estava em desordem e cuja moralidade estava falida. A mulher samaritana
tinha tido cinco maridos e estava atualmente vivendo com um sexto homem. Sem dúvida
ela era separada da sociedade, uma pessoa evitada por cidadãos respeitáveis. Mas quando o
Verbo se fez carne, ele escolheu entrar em relacionamento com ele, dizendo-lhe que ele era
o Messias prometido (Jo 4.26). Nenhum Judeu tinha negócios com Samaritanos, ainda mais
alguém de sua classe. Apesar disto, ele foi até ela, e foi para ela que ele disse sobre a água
viva.
O resultado deste relacionamento foi que muitos Samaritanos acreditaram nele. Eles
primeiro ouviram a descrição que a mulher fez do encontro, e então experimentaram a
Jesus por si mesmos. Eles ouviram suas palavras no contexto de seu relacionamento com
eles e isto provou a verdade de seu ensino.
O capítulo 5 registra sua entrada em Jerusalém. Parece lógico que quando o Verbo
entrou na história humana ele deveria ir para o trono de poder na região onde ele vivia. Mas
João nos diz que quando ele entrou em Jerusalém ele foi à piscina de Betesda e conversou
com um paralítico, um homem que tinha estado naquela condição por trinta e oito anos!
Mesmo no centro urbano de seu mundo, ele escolheu entrar num relacionamento com uma
das mais simples pessoas que lá havia.
O educador Cristão moderno deve aprender com este exemplo que um ministério
eficaz envolve relacionamentos assim como conteúdo. Ministérios de ensino desprovidos
de contato pessoal são somente parcialmente bem sucedidos em sua habilidade de mudar
vidas. Comunicadores poderosos podem se eficazes em instruir outros sobre assuntos de
doutrina e vida Cristã, mas os resultados de mudança profunda de vida normalmente
ocorrem no contexto dos relacionamentos humanos. Porque somos chamados para amar,
nós somos chamados a um envolvimento relacional com outros. É impossível amar pessoas
sem envolvimento.
Há uma tentação sutil de estabelecer programas educacionais em nossas igrejas, e
exigir que as pessoas apoiem os mesmos, e insistir que a freqüência será uma marca de
espiritualidade. Esta atitude inverte a noção de educação como serviço ao povo; isto força
as pessoas a servirem à educação. A educação que é cristã procede da base do amor às
pessoas, procurando seus melhores interesses e preocupações, não exigindo que sirvam a
programas.

CONTEÚDO: QUAL ERA O PAPEL DO CONTEÚDO NO ENSINO DE JESUS?


Embora não fosse uma questão primária de Jesus deixar um corpo doutrinário
organizado, ele de fato teve uma verdade a comunicar. O conteúdo teve um importante
papel em seu ministério enquanto procurava alcançar sua geração e as gerações que viriam.
Várias observações podem ser feitas sobre o uso do conteúdo em seu ministério de ensino.
Jesus se referia ao Velho Testamento regularmente e é evidente que ele cria que ele
fosse verdadeiro. Ele aceitava a autoridade da Escritura sobre a conduta humana,
regularmente exortando, “Está escrito. . . ,”assim indicando a natureza autoritativa da
Palavra de Deus. Em adição, ele cria na fidelidade das histórias do Velho Testamento. Por
exemplo, ele ensinou sobre a sua própria ressurreição dos mortos ao usar a analogia de
57

Jonas na barriga do peixe (Mt 12.39-42). Ele regularmente ensinava com base nas
Escrituras. Não há qualquer indicação que ele duvidou da veracidade ou exatidão histórica
do texto.
Jesus acreditava que a testemunha da Escritura era a testemunha de Deus, que deus
era o verdadeiro autor da Escritura. Ele reconheceu os autores humanos mas cria que atrás
deles estava o autor divino. Portanto ele poderia tanto dizer, “Moisés disse” ou “Deus
disse,” porque para ele os dois eram a mesma coisa. Além do mais, ele argumentou que a
“Escritura não pode falhar” (Jo 10.35) e que “Porque em verdade vos digo: até que o céu e
a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra” (Mt
5.18).
Talvez ele tenha feito doloridos ataques nos líderes religiosos quando ele perguntou-
lhes, “Vocês não tem lido. . . ?” (Mt 12.3, 5). Sua mensagem era clara; Se eles deviam
conduzir as pessoas, eles deveriam conhecer a Escritura. Se eles eram povo de Deus, ele
deveriam conhecer a Palavra de Deus.
Um conflito também se levantou sobre a questão de autoridade. Os Fariseus
nivelaram suas tradições com a autoridade das Escrituras, acreditando que ambas deviam
ser obedecidas. Mas nosso Senhor fez distinções fortes entre as tradições dos homens e os
mandamentos de Deus (Mc 7.1-12), distinguindo entre o que Moisés disse (v. 10) e o que
os Fariseus disseram (v. 11). Os Fariseus criam que Moisés e “os anciãos” (os fundadores
históricos do Farisaísmo) eram não só comparáveis, mas exatamente iguais. Jesus viu isto
como um conflito entre a autoridade de Deus e a autoridade humana.
Jesus estava interessado no conteúdo do ensino, mas o conteúdo era a Palavra de
Deus revelada na Escritura. Numa era em que alguns Cristãos estão questionando a
veracidade da Escritura, é instrutivo lembrar que nosso Senhor tanto acreditava na Escritura
para ser ensinada como verdade como também sendo a própria verdade. Ele se incomodava
com questões da “baixa ou alta crítica,” mas acreditava no valor da Escritura.

Uma Educação Cristã eficaz conduz o povo para o estudo da Bíblia como um meio de
crescimento, não como um fim em si mesmo. Um estudo fiel da Bíblia deve ser um meio de
aprendizado para conhecer e obedecer à Deus.

Além disso ele fez uma distinção entre as tradições religiosas dos Fariseus e a
Palavra de Deus. A primeira era humana e a última divina.
Educadores que seguem o modo de ensino de Jesus ensinarão a Bíblia com
confiança e autoridade e distinguirão entre as tradições da igreja e a Palavra de Deus.
Educadores Cristãos eficazes devem ser convencidos da validade da Escritura e serem
capazes de distinguir a Palavra de Deus da tradição humana.
Jesus cria que a Escritura era verdadeira, mas ele entendia que ela era um meio para
um fim, e não um fim em si mesma. Ele avisou contra a possibilidade de super exaltá-la ao
fazer dela um fim em si mesma (Jo 5.39-40). O propósito da Escritura é que aponte as
pessoas para Cristo. É verdade que hoje muitas pessoas tem uma visão muito baixa da
Escritura, não aceitando-a como de fato Palavra escrita de Deus. Mas há outros com uma
visão tão alta da Escritura, vendo-a quase como um objeto de reverencia. John Stott observa
58

que estes “se tornam tão absorvidos na Escrituras que perdem de vista seu propósito, que é
manifestar a Cristo para eles.”5
É também possível usar o estudo bíblico como um modo de escapar de nossas
responsabilidade como crentes. Pode ser “seguro” correr para outro estudo bíblico, assim
eficazmente removendo-nos de qualquer ministério ativo ou envolvimento com pessoas. A
última coisa que alguns crentes precisam é de mais estudo bíblico.; antes, o que é
necessário é ter nossas vidas transformadas pela Bíblia. Uma Educação Cristã eficaz
conduz o povo para o estudo da Bíblia como um meio de crescimento, não como um fim
em si mesmo. Um estudo fiel da Bíblia deve ser um meio de aprendizado para conhecer e
obedecer à Deus.
Quando Jesus foi levado a Pilatos para seu julgamento, Pilatos examinou-o para
determinar se havia uma justificativa para sua execução. Ele concluiu, “Não vejo neste
homem crime algum” (Lc 23.4). Mas os Judeus gritavam para que fosse crucificado,
insistindo, “Ele alvoroça o povo, ensinando por toda a Judéia, desde a Galiléia, onde
começou, até aqui” (v. 5). A acusação trazida contra ele era que ele era um professor
dinâmico! Seu ensino alvoroçou as pessoas, fazendo-as pensar e se comportar diferente.
Infelizmente esta acusação é raramente trazida ao ministério de ensino de nossas
igrejas. Nós somos acusados de incompetência e irrelevância—duas acusações que podem
ser duramente precisas. Nós ensinamos lições não relacionadas com a vida, e nós o fazemos
de uma maneira bem pobre. Nós falhamos em engajar os corações e as mentes das pessoas
como nosso Senhor fez e somos inclinados a isola-los em vez de influenciá-los para Deus.
Eu olha para o ministério de ensino de Jesus e vejo princípios que fez dele um professor
dinâmico. Estes mesmos princípio podem ser incorporados no ministério educacional hoje.
Nós precisamos de uma constante aplicação destes assuntos em nosso ensinamento, para
que pela graça de Deus nós também possamos alvoroçar as pessoas pelo nosso ensino.

5
John R. W. Stott, Cristo o Controversista (Downers Grove: InterVarsity, 1972), 90.
59

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA
EDUCAÇÃO CRISTÃ
Uma Visão Panorâmica da História da Educação
Ao estudarmos a influência da educação cristã na formação do ser humano, faz-se
necessário reconhecer que o homem é um ser histórico. E ao longo de sua história, muitos
fatores foram influenciando sua formação. Ao estudar a história da educação, estaremos
considerando 1) O elemento religioso na prática educativa na Antiguidade: entre os judeus,
gregos e romanos; 2) Na Idade Média; 3) Na Era Moderna e 4) Na Era Contemporânea

A educação como um processo vital de desenvolvimento e formação da personalidade, não


se confunde com a mera adaptação do indivíduo ao meio. É atividade criadora e abrange o
homem em todos os seus aspectos. Começa na família, continua na escola e se prolonga por
toda a existência humana.

Educação é o processo pelo qual uma pessoa ou grupos de pessoas adquirem


conhecimentos gerais, científicos, artísticos, técnicos ou especializados, com o objetivo de
desenvolver sua capacidade ou aptidões. Além de conhecimentos, a pessoa adquire
também, pela educação, certos hábitos e atitudes. Pode ser recebida em estabelecimentos de
ensino especialmente organizados para esse fim, como as escolas elementares, colégios,
conservatórios musicais, universidades, ou através da experiência cotidiana, por intermédio
dos contatos pessoais, leitura de jornais, revistas, livros, apreciação de pinturas, esculturas,
filmes, peças musicais e de teatro, viagens e conferências.

O objetivo primordial da educação é dotar o homem de instrumentos culturais capazes de


impulsionar as transformações materiais e espirituais exigidas pela dinâmica da sociedade.
A educação aumenta o poder do homem sobre a natureza e, ao mesmo tempo, busca
conformá-lo aos objetivos de progresso e equilíbrio social da coletividade a que pertence.

Ao estudarmos a influência da educação cristã na formação do ser humano, faz-se


necessário reconhecer que o homem é um ser histórico. E ao longo de sua história, muitos
fatores foram influenciando sua formação. De maneira bastante resumida iremos ver os
principais aspectos da educação ao longo da história.

1. A EDUCAÇÃO HEBRAICA
Seria um erro tentar estudar a educação cristã sem antes considerar a educação religiosa que a
precedeu, isto é, a educação dos hebreus do Antigo Testamento. Todas as grandes idéias
associadas com o AT, revelação, profecia, sacrifício, ritos, a presença e o poder de Deus, etc, de
uma forma ou de outra, estão relacionadas com o sistema educacional dos israelitas, o povo
escolhido por Deus. Portanto estas idéias se relacionam também com nossos propósitos na
educação cristã, para nós que somos o novo Israel.
60

Eavey, educador cristão norte americano, disse que (uma historia da educação verdadeiramente
cristã indica, através dos tempos, o desenvolvimento da educação que começou com Deus,
continuou a centralizar-se em Deus e agora se propaga sob a direção de Deus).60 Parece pois,
que um estado da educação cristã não deve começar com uma história mais recente do que a do
antigo Israel.

1.1 O INÍCIO DA EDUCAÇÃO EM ISRAEL

1. Em família: Desde a mais remota antiguidade, a família tem sido instituição educacional por
excelência na terra. O plano fundamental de Deus sempre foi o de que a educação do seu povo
deveria começar na família , portanto a educação dos filhos era de elevada prioridade. Uma das
funções mais importantes dos pais hebreus era a educação adequada e correta de seus filhos,
vários textos do AT indicam isto (Ex. 12.26,27; Dt 4.9,10; 6.4-7; 11.18,19 etc). O ensino deve
começar na família.

No Israel antigo a educação era um processo informal. Os pais executavam a maior parte do
treinamento, ou todo ele, não havia salas de aula ou currículo estruturado.61
Podemos imaginar que muita aprendizagem ocorria toda noite enquanto as famílias,
especialmente os homens, sentavam-se tendo seus filhos ao redor e ali antes de dormirem, iam
recordando, compartilhando, contando historias e as experiências do passado. Contar as
Histórias era um método didático: Ex. 12:26; 13:8,14; Dt 6:20,21; Js 4:6,21.

a) Responsabilidade paterna: A educação religiosa dos filhos era responsabilidade dos pais
(Dt 11.19;32.46) não se abriam exceções para os pais que julgavam estar ocupados demais para
ensinar.62

Mesmo quando os filhos chegavam a maioridade após o casamento, a responsabilidade dos pais
não terminava; ainda tinha parte importante na educação dos netos (Dt 4.9). Na verdade,
freqüentemente eles moravam na mesma casa. A principal preocupação dos pais judeus era que
os filhos viessem a conhecer o Deus vivo. Em hebraico, o verbo "conhecer" significa estar
intimamente envolvido com uma pessoa.

A principal preocupação dos pais judeus era que seus filhos viessem a conhecer o
Deus vivo. Em hebraico, o verbo conhecer significa esta intimamente envolvido com
uma pessoa; A Bíblia afirma que a reverência ou "O temor do Senhor é o principio
da sabedoria, e o conhecimento do Santo é a prudência" (Pv 9.10). os pais
piedosos ajudavam os filhos a desenvolver este tipo de conhecimento de Deus.63

b) Na responsabilidade materna: As mães desempenhavam papel decisivo na criação dos


filhos, especialmente até a criança atingir cinco anos de idade64, após esta idade o pai tornava
seu principal professor, muito embora, a mãe continuasse a partilhar na responsabilidade de
ensino (Pv 1.8-9;6.20). Durante esses anos formativos, esperava-se que ela moldasse o futuro

60
Citado por Thomas Ranson Giles, História da Educação (São Paulo: EPU, 1987) 44.
61
Packer, J.I; Tenney & William White. Vida Cotidiana nos Tempos Bíblicos. São Paulo, SP:
Editora Vida. 1986 p. 79
62
Packer, J.I. Op Cit., p. 79-80
63
Idem., p. 81
64
Idem., p. 80
61

dos filhos e das filhas. A mãe arcava com a principal responsabilidade pelas filhas, ensinando-
as a fazer pão, fiar e tecer (Ex.35.25-26; II Sm 13:18), ensinando-lhes habilidades que lhes
seriam necessárias para tornar-se, com o tempo, boas esposas e mães. Caso não houvesse filhos
varões na família, podia-se exigir que as filhas aprendessem o trabalho do pai (Gn 29.6; Ex
2.16).

1.2. CENTROS DE EDUCAÇÃO EM ISRAEL

1. O Templo: Como já dissemos, geralmente a instrução se dava no lar. Em geral o menino


seguia a profissão do pai, aprendendo com ele um ofício com o qual pudesse ajudá-lo no
sustento da família. Sem dúvida, havia ocasiões em que existiam outras formas de educação, o
exemplo mais conhecido é a história de Samuel, cujos pais entregaram ao sacerdote Eli para
criá-lo e instruí-lo (1 Sm 1.20-28).
A história de Samuel não deve ser considerada como caso isolado, o fato de Samuel ser da tribo
de Efraim e não de Levi (a tribo sacerdotal) indica que existia a preocupação de dedicar alguns
filhos a Deus de forma especial e lhes permitir crescer sob a tutela de um sacerdote.

Encontramos também o exemplo de Joás, que quando o seu pai fora morto por Jeú, Atália, sua
avó, usurpou o poder, mandando assim matar todos descendentes da família real; Jeoseba,
porém tia do garoto, o escondeu no templo, onde seu marido Jeoiada era o sumo sacerdote.
Naquele local o menino foi bem criado, instruído, conheceu a Lei do Senhor.

2. As escolas da Sinagoga: Embora não tenhamos certeza de quando exatamente foram


estabelecidas estas escolas65, o fato é que na época do Novo Testamento a escola da sinagoga
era parte vital da vida judaica.66 Cabia a sinagoga a responsabilidade de disciplinar e instruir as
pessoas que violavam a lei mosaica. A instrução geral era constituída basicamente da leitura e
exposição da Escrituras. É digno de nota, que esta instrução era apenas uma complementação
do ensino ministrado em casa pelos pais. O pai judeu preocupava-se muito mais com o caráter
do professor do que com sua capacidade de ensinar.

Packer nos dá uma relação parcial das qualidades exigidas do professor:não devia ser
preguiçoso, devia ter temperamento uniforme; não irritável (paciente); não parcial;
demonstrar sempre que o pecado é algo odioso; devia punir os malfeitos e cumprir
suas promessas.67

Além das Escrituras, os alunos deveriam estudar música, guerra e outros conhecimentos
práticos. ( I Sm 16:18 ). Era realmente uma educação refinada.

65
Alguns crêem que durante a Diáspora (dispersão dos judeus), os descendentes de Abraão, Isaque
e Jacó precisavam de um lugar onde pudesse cultuar a Deus e aprender a sua história. O exílio
forçou os israelitas a deixar seu templo e sua terra santa, e desde aquela época embarcaram numa
longa e árida jornada como nação e raça. Ao encontrar-se na Babilônia sem templo, os israelitas
tiveram de encontrar uma alternativa para o seu sistema religioso e ensino, que se encontrava no
templo, tal alternativa tomou forma da sinagoga (At 15.21).
66
Packer, J.I. Op Cit p. 82
67
Idem ., p. 82
62

3. As escolas de profetas: As escolas de profetas constituem um fenômeno extraordinário


quanto ao ensino. Há referências a essas escolas em narrativas dos ministérios de Elias, Eliseu e
Samuel. Não há dúvida que os profetas desempenharam importante papel na educação do povo.
Na prática diária, o profeta desempenhava o papel educacional mais importante, era figura
central na educação nacional, por causa de suas constantes exortações e recordações
concernentes aos propósitos e vontade de Deus para com a nação israelita e a necessidade de
viver uma vida correta.

1.3. PROPÓSITOS DA EDUCAÇÃO EM ISRAEL

1. Transmitir a herança histórica: Durante todos os anos da vida de Israel, e especialmente


durante os anos formativos, advoga-se com veemência que as gerações futuras deviam nutrir-se
das extraordinárias memórias históricas de tudo o que havia acontecido no passado. Era
fundamental que as gerações aprendessem a história dos patriarcas, da escravidão no Egito, dos
pactos e fatos notáveis da história do povo de Deus. A transmissão dessa herança histórica foi
portanto, um dos mais importantes propósitos da educação em Israel.
O calendário hebraico foi uma ferramenta educacional muito importante na transmissão dessa
herança histórica, porque em determinados dias do ano era ministrada instrução especial sobre
os eventos que se comemoravam.
O significado destes eventos era discutido informalmente e, enquanto os meninos se sentavam
para escutar ou enquanto se realizava uma festividade especial de comemoração, faziam-se
perguntas. Com as perguntas curiosas e suas respectivas respostas as crianças aprendiam sua
herança cultural.

2. Instruir na conduta ética: Um segundo propósito importante na educação em Israel é o que


se refere ao ensino sobre o modo de se alcançar a alegria de viver. Na história de Israel, vemos
esta ênfase sobre o comportamento ético, que determina o grau de alegria que alcança na vida,
esta verdade e indicada através dos textos da lei (Ex. 20.12), bem como da literatura que surgiu
logo depois (os Provérbios, por exemplo).

3. Assegurar a presença de Deus e sua adoração: No centro da educação hebraica sempre


esteve a idéia do conhecimento de Deus, a adoração e obediência ao Criador. Através da
história, Deus sempre foi o centro do processo educativo. O homem sempre procurou saber
algo de sua existência, propósito e lugar no universo. Como povo, os Hebreus centralizavam
seu ensino em Deus, mais do que qualquer outra nação na história dos homens. Os hebreus
procuravam viver e ensinar a santidade perante Deus.

CONCLUSÃO: O ponto alto da educação judaica é a ênfase na santidade prática, segundo o


modelo de Javé; pois, desde que lhes é ordenado anunciar entre as nações a Sua glória, e entre
todos os povos, as Suas maravilhas (Sl 96.3); é requerido, também, que essa proclamação seja
feita através do estilo de vida, compatível com a santidade do Deus Santo a Quem deveriam
anunciar: “Ser-me-eis santos, porque Eu, o Senhor, Sou Santo, e separei-vos dos povos para
serdes meus” (Lv 20.26).

2. EDUCAÇÃO GREGA
A educação na Grécia teve formas diferentes. Veremos essas diferenças. Em Esparta ela assume um
papel de preparação para a guerra. Entretanto, em Atenas assume um papel mais intelectual.
63

Na Grécia como veremos a seguir, foi o local onde fluiu a sofistica. Os sofistas68 tiveram grande
importância na profissionalização da educação. Além disso, a Grécia é considerada como o berço da
pedagogia.

2.1. A ANTIGUIDADE GREGA: A PAIDÉIA

Foi devido ao poder econômico de seu império que a Pérsia conseguiu dominar todo o oriente. No
entanto, vencidos contra os gregos, os persas perderam o predomínio sobre os outros Estados da
antigüidade. Dessa forma, a hegemonia econômica se deslocou das civilizações do Oriente próximo
para a civilização grega.

Veremos a seguir como a civilização grega conquistou o poderio econômico sobre todo o mundo
antigo e acabou perdendo-o para o Império Romano.

1. Período Pré-Homérico (2500-1100 a.C.), período que aconteceu a formação do povo


grego. Religião politeísta: Zeus, Apolo, Athemas, Hades, etc... Glorificavam o homem
como o ser mais importante do universo. “Os deuses eram seres humanos cujas virtudes e
faltas assumem força divina”69

2. Período Homérico (1100-800 a.C.), Esta fase foi retratada pelos poemas de Homero; A
Ilíada que trata da guerra de Tróia e Odisséia, que relata o retorno de Ulisses a Ítaca, após a guerra
de Tróia.
O ideal educativo era a formação cortês do nobre.
Não havia a educação formal. Er o pai o responsável por educar seus filhos, ou ele delegava
esta responsabilidade a alguém.
As obras de Homero dominam o processo educativo na Grécia. O heróis de Ilíada e
Odisséia são o modelo permanente para a juventude. Aquiles, o guerreiro idealizado, a
personificação de um povo bélico; Nestor, o modelo da experiência e da maturidade;
Agamenão, da liderança; Ulisses, da oratória.

O conteúdo do ensino era a eloqüência, a retórica, que lhe ensinava quando e como devia
falar.
O programa de estudos incluía além da ginástica, a Música, História e a Poesia.
Através da observação e da imitação, o jovem devia assimilar os valores da sociedade.70

2.2 O PROCESSO EDUCATIVO NA CIDADE-ESTADO

2.2.1. A EDUCAÇÃO ESPARTANA: A Formação do patriota guerreiro

68 As palavras gregas sophos e sophia habitualmente traduzidas por sábio e sabedoria foram utilizadas desde os tempos mais remotos tendo-lhes sido
sucessivamente atribuídos vários significados. No início, foram utilizadas para realçar uma capacidade ou arte especial num determinado assunto. Homero
refere que um construtor naval, um cocheiro, um navegador, um adivinho ou um escultor são sábios nas suas profissões. Também Apolo é sophos com a sua
lira. Nesta altura, sophos era atribuído a alguém que desempenhava uma determinada tarefa ou ocupação com um rigor e perfeição melhores que qualquer
outra pessoa. No início do séc. V a.C. o termo "sofista" passa a ser utilizado com o sentido de "homem sábio". É atribuído a poetas, como Homero e Hesíodo,
a músicos e rapsodos, a deuses e mestres, aos Sete Sábios, aos filósofos pré-socráticos e a figuras com poderes superiores, como Prometeu. Pelo final do
século, o termo "sofista" era aplicado a quem escrevia ou ensinava e que era visto como tendo uma especial capacidade ou conhecimento a transmitir. A
sophia era fundamentalmente prática e sobretudo direcionada para a política ou para a arte

69 Giles, op Cit., p. 12
70
Cf. Giles, Op Cit., p. 12
64

A Grécia achava-se dividida em Cidades-Estado, das quais as mais conhecidas são as antagônicas
Esparta e Atenas. Esparta ocupava o fértil vale do rio Eurotas, na região da Lacônia, ao sudeste da
península do Peloponeso.

A educação dos espartanos visava a fazer de cada indivíduo um soldado. O recém-nascido


que apresentasse defeito para a vida militar era morto por ordem do Estado. “Poucos dias
após o nascimento, o filho é inspecionado por um conselho de anciãos. Estes decidem se o
menino deve viver ou morrer.”71 Quando os meninos alcançavam os setes anos de idade,
tornavam-se recrutas e passavam a fazer parte de uma pequena tropa que, sob as ordens de
um monitor, praticavam diariamente exercícios atléticos e ginástica. Aos vinte anos, o
jovem ingressava no exército, aos trinta, podia casar-se e participar da Ápela. A vida militar
só findava quando o homem espartano chegava aos 60 anos de idade. Todos, mesmo os
monarcas, antes dessa idade, eram obrigados a tomar parte nos exércitos militares, que,
periodicamente, se levavam a efeito em tempos de paz.

A cultura intelectual foi quase nula em Esparta limitando-se ao ensino de poesias sagradas,
a cantos de guerra e a uma eloqüência particular que devia expressar muitas coisas em
poucas palavras. Chama-se lacônica72 a linguagem breve, concisa, sentenciosas, igual a que
e falava na Lacônia.

2.2.2. EDUCAÇÃO ATENIENSE: A formação do homem livre

Atenas passou pelas mesmas fases de desenvolvimento de Esparta; mas enquanto Esparta se deteve
na fase guerreira e autoritária, Atenas priorizava a formação intelectual sem deixar de lado a
educação física que não se reduzia apenas a uma simples destreza corporal mas que vinha
acompanhada por uma preocupação moral e estética.

Na primeira parte de sua cultura aparecem formas simples de escolas e a educação deixa de ficar
restrita à família e a partir dos 7 anos começava a educação propriamente dita, que compreendia a
educação física, a música e a alfabetização. O pedotriba73 (παιδοτριβεσ) era o responsável em
orientar a educação física na palestra onde os exercícios físicos eram praticados.

Além da educação física, a educação musical era extremamente valorizada não se limitando apenas
à música mas também a poesia, canto e a dança. Os locais que eram praticados eram geralmente as
palestras ou, então, em lugares especiais. O ensino elementar como a leitura e a escrita durante
muito tempo não teve a sua devida atenção como teve as práticas esportivas e musicais tanto que os
mestres eram geralmente pessoas humildes e mal pagas e não tinham tanto prestigio quanto o
instrutor físico.

Com o passar do tempo foi se exigindo uma melhor formação intelectual delineando-se três níveis
de educação: elementar, secundária e superior. O didáscalo era o responsável em ensinar a leitura e

71
GILES, OP Cit., p13
72
Lacônia: Região onde viviam os espartanos
73
A grande maioria das palestras eram propriedade privada dos instrutores ou paidotribes. As
crianças eram levadas a casa do paidotribés que as recebiam em sua casa, em palestras próprias
arranjadas para o efeito. Assim que a criança se tornava adolescente continuava a receber treino
físico com o seu paidotribés, mas já num ginásio público.
65

a escrita em locais não definidos e com métodos que dificultam a aprendizagem e por volta dos 13
anos completava-se a educação elementar.

Aqueles que tinham maiores condições de continuar os seus estudos entravam para a educação
secundária ou ginásio onde, inicialmente, eram praticados os exercícios físicos e musicais, mas com
o tempo deu-se lugar as discussões literárias abrindo espaço para o estudo de assuntos gerais como
a matemática, geometria e astronomia principalmente a partir das influências dos professores. O
termo secundário chegou mais próximo do seu conceito atual quando foram criadas as bibliotecas e
salas de estudos.

Dos 16 aos 18 anos, a educação superior só se dá com os sofistas, que mediante retribuições
elevadas se encarregavam de preparar a juventude para a oratória. Sócrates, Platão e Aristóteles
também ministravam a educação superior.

Neste contexto não havia uma preocupação com o ensino profissional, pois estes eram aprendidos
no próprio mundo do trabalho com exceção da medicina que era uma profissão altamente valorizada
entre os gregos e que tomavam como parte integrante da cultura grega.

2.3. A EDUCAÇÃO NO PERÍODO HELENÍSTICO

No final do século IV a. C., inicia-se a decadência das cidades-estados gregos assim como a sua
autonomia e a força da cultura helênica se funde à das civilizações que a dominam se universaliza e
converte-se em helenísticas; nesse período a antiga Paidéia, torna-se enciclopédia ou seja, educação
geral" consistindo na ampla gama de conhecimentos exigidos na formação do homem culto
diminuindo ainda mais o aspecto físico e estético.

Nesse período eleva-se o papel do pedagogo com a criação do ensino privado e o desenvolvimento
da escrita, leitura e o cálculo. O conteúdo abrangente das disciplinas humanistas (gramática, retórica
e dialética) e quatro científicas (aritimética, música, geometria e astronomia). Além do
aperfeiçoamento do estudo da filosofia e, posteriormente, o de teologia na era cristã.

Inúmeras escolas se espalham e da junção de algumas delas (Academia e Liceu) é formada a


Universidade de Atenas, foco importante de fermentação intelectual, que perdura inclusive no
período de dominação romana.

2.4. PERÍODO CLÁSSICO

Atenas havia se tornado o centro da vida social, política e cultural da Grécia, em virtude do
crescimento das cidades, do comércio, do artesanato e das artes militares. Atenas viva seu momento
de maior florescimento da democracia. "A democracia grega possuía duas características de grande
importância para o futuro da filosofia. Em primeiro lugar, a democracia afirmava a igualdade de
todos os homens adultos perante as leis e o direito de todos de participar diretamente do governo da
cidade, da polis. Em segundo lugar, e como conseqüência, a democracia, sendo direta e não por
eleição de representantes no governo, garantia a todos a participação no governo e os que dele
participavam tinham direito de exprimir, discutir e defender em público suas opiniões sobre as
decisões que a cidade deveria tomar. Surgia assim, a figura do cidadão". (CHAUÍ, Marilena.
Convite à Filosofia, p. 36).

Contudo, é bom lembrarmos que as opiniões, não eram simplesmente jogadas às assembléias e
aceitas por elas, era necessário que o cidadão além de opinar, falar, deveria também buscar
persuadir a assembléia, daí o surgimento de profundas mudanças na educação grega, pois antes da
66

democracia as famílias aristocratas eram donas não só da terra como também do poder. A educação
possuía um padrão criado por essas famílias que era baseado nos dois poetas gregos Homero e
Hesíodo que afirmava que o homem ideal era o guerreiro belo e bom.

Entretanto, com a chegada da democracia, o poder sai das mãos da aristocracia e, "esse ideal
educativo vai sendo substituído por outro. O ideal de educação do Século de Péricles é a formação
do cidadão."(IDEM. P. 36)

O cidadão somente se faz cidadão a partir do momento em que exerce seus direitos de opinar,
discutir, deliberar e votar nas assembléias. Dessa forma, o novo ideal de educação é a formação do
bom orador, ou seja, aquele que saiba falar em público e persuadir os outros na política.

Para suprir a necessidade de dar esse tipo de educação aos jovens em substituição a educação
antiga, surgem os sofistas que foram os primeiros filósofos do Período Clássico. Em síntese, os
sofistas surgem por razões políticas e filosóficas, entretanto, mais por funções políticas.

Os sofistas foram filósofos que surgiram de várias partes do mundo e não tinham portanto, uma
origem bem definida. "Sofista significa (...) "sábio" - "professor de sabedoria". (...)[Em] um sentido
pejorativo, passa a significar "homem que emprega sofismas", ou seja, homem que usa de raciocínio
capcioso, de má-fé com intenção de enganar.

Os sofistas contribuíram bastante para a sistematização da educação. Eles se julgavam sábios,


possuidores da sabedoria e como Atenas passava por uma fase de crescimento cultural e econômico
e paralelo a isto, o surgimento da democracia, os sofistas ensinavam principalmente a retórica, que é
a arte da persuasão, instrumento principal para o cidadão que vivia a democracia. Contudo, é bom
ressaltar que não ensinavam de graça, mas cobravam, e bem, por seus ensinamentos. Isso teve
grande contribuição na profissionalização da educação.

Entretanto, por cobrarem e se julgarem sábios e possuidores da sabedoria, foram bastante criticados
por Sócrates e seus seguidores, haja vista que para Sócrates o verdadeiro sábio é aquele que
reconhece sua própria ignorância. Para combater os sofistas, Sócrates desenvolve dois métodos que
são bastantes conhecidos até os dias de hoje: a ironia e a maiêutica. O primeiro consiste em
conduzir, através de questionamentos, o ouvinte que até o momento está convencido de que domina
completamente determinado conteúdo, de que este não sabe realmente tudo. A partir do momento
em que este se convence disto, Sócrates passa a utilizar o segundo método que é a maiêutica, que
significa dar luz às idéias. Nesse momento o ouvinte consciente de que não sabe tudo busca saber
mais buscando respostas por si próprio.

2.5. A PEDAGOGIA GREGA

O termo pedagogia é de origem grega e deriva da palavra paidagogos, nome dado aos escravos que
conduziam as crianças à escola.74 Somente com o tempo, esse termo passa a ser utilizado para
designar as reflexões feitas em torno da educação. Assim, a Grécia clássica pode ser considerada o
berço da pedagogia, até porque é justamente na Grécia que tem início as primeiras reflexões acerca
da ação pedagógica, reflexões que vão influenciar por séculos a educação e a cultura ocidental.

Os povos orientais acreditavam que a origem da educação era divina. O conhecimento que circulava
na comunidade resumia-se aos seus próprios costumes e crenças. Essa realidade impedia uma

74
Inicialmente, a palavra paideia (de paidos-criança) significava simplesmente "criação dos
meninos".
67

reflexão sobre a educação, uma vez que esta era rígida e estática, fruto de uma organização social
teocrática. A divindade, portanto, era autoridade máxima, logo, sua vontade não poderia ser
contestada.

Na Grécia Clássica, pelo contrário, a razão autônoma se sobrepõe às explicações puramente


religiosas e místicas. A inteligência crítica, o homem livre para pensar e formar os juízos a cerca da
sua realidade, preparado não para submeter-se ao destino, mas para influenciar e ser agente de
transformação como cidadão, eis no que resume-se a revolucionária concepção grega da educação e
seus fins.
Dentro dessa nova mentalidade, surgem várias questões cuja reflexão visa enriquecer os fins da
educação. Como por exemplo:

1. O que é melhor ensinar ?


2. Como é melhor ensinar ?
3. Para que ensinar ?

Essas questões enriquecem as reflexões de vários filósofos e dão origem à dimensões tendenciosas.

Para entendermos melhor é necessário fazermos a divisão clássica da filosofia grega, não
esquecendo que o eixo central é Sócrates:

1. Período pré-socrático (Século VII e VII a.C.); os filósofos das colônias gregas que iniciam
o processo de separação entre a filosofia e o pensamento mítico.
2. Período socrático (Séculos V e IV a.C.) Sócrates, Platão e Aristóteles. Os sofistas são
contemporâneos de Sócrates e alvos de suas críticas. Isócrates também é desse período.
3. Período pós-socrático (Séculos III e II a.C.) época helenística, após a morte de Alexandre.
Fazem parte ainda as correntes filosóficas mais famosas: o estoicismo e o epicurismo.

2.6. PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO

O período pré-socrático inicia-se por volta do século VI a.C., quando aparecem os primeiros
filósofos nas colônias gregas da Jônia e na Magna Grécia. Podemos dividi-los em várias escolas:
1. Escola Jônica: fazem parte os seguintes filósofos: Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Heráclito,
Empedócles;
2. Escola Itálica: Pitágoras;
3. Escola Eleática: Xenófones, Parmênides, Zenão;
4. Escola Atomista: Luecipo e Demócrito.

Esse período caracteriza-se como uma nova forma de analisar e ver a realidade. Antes esta era
analisada e entendida, apenas do ponto de vista mítico, agora é proposto o uso da razão, o que não
significa dizer que a filosofia vem para romper radicalmente com o mito, mas sim para suscitar o
uso da razão no esclarecimento, sobretudo da origem do mundo.

Os antigos relatos míticos da origem, inicialmente transmitidos oralmente e depois transformados


em poemas por Homero e Hesíodo, são questionados pelos pré-socráticos, cujo objetivo principal é
explicar a origem do mundo a partir do "arché" ou seja, o elemento originário e constitutivo de
todas as coisas.

Nessa busca de desvendar racionalmente a origem, cada um surge com uma explicação diferente,
como por exemplo:
68

1. - Tales: a origem é a água;


2. - Anaxímenes: a origem é o ar;
3. - Anaximandro: a origem está no movimento eterno que resulta na separação dos contrários
(quente e frio, seco e úmido, etc.)
4. - Heráclito: tudo muda, tudo flui. A origem reside num constante ‘devir".
5. - Parmênides: A origem está na essência: o que é, é e não pode ser ao mesmo tempo.

Outra diferença que podemos notar entre a filosofia nascente e as concepções míticas é que esta era
estática, ou seja, não admitia reflexões ou discordância. A filosofia nascente por sua vez, deixa o
espaço livre para reflexão, daí cada filósofo surgir com uma explicação diferente para o "arché", ou
seja, a origem. Apesar dessas diferenças, vale ressaltar que não há uma ruptura radical com o
pensamento mítico, permanecendo este, presente em algumas explicações desses filósofos frente às
divindades, uma vez que este não aceita a interferência dessas nas explicações. Assim, a "phisys"
(natureza)é dessacralizada e todas as afirmações passam a exigir fatos que justifiquem as idéias
expostas.

Toda essa mudança de pensamento é de fundamental importância para o enriquecimento das


reflexões pedagógicas em busca de uma educação ideal que faça do homem grego senhor de si
mesmo, combatendo assim, as velhas idéias de submissão às explicações puramente mitológicas.

2.7. O PENSAMENTO DE PLATÃO

Se Sócrates foi o primeiro grande educador da história, Platão foi o fundador da teoria da educação,
da pedagogia, e seu pensamento foi baseado na reflexão pedagógica, associada à política. Platão
nasceu em Atenas (428 -347 a.C.) de família nobre. Foi discípulo de Sócrates, que induziu ao
estudo da filosofia. O vigor de seu pensamento nos faz questionar sempre o que de fato é socrático e
que já é sua criação original. Para que possamos compreender a proposta de Platão, não podemos
dissociá-la do projeto inicial que é, antes de tudo, político: vejamos algumas características do
pensamento filosófico de Platão.

Platão se preocupou a vida inteira com os problemas políticos. A situação de seu país, saído de uma
tirania, o impede de participar ativamente da vida política, em compensação, de dica a esta, grande
parte de seus escritos entre eles as obras mestras, A República e as leis. No livro VII de A
República, Platão relata o mito da caverna. A análise deste mito pode ser feita pelo menos sob dois
pontos de vista:

1. Epistemológico (relativo ao conhecimento): compara o acorrentado ao homem comum que


permanece dominado pelos sentidos e só atinge um conhecimento imperfeito da realidade.
2. Político: quando o homemse liberta dos grilhões é o filósofo, ultrapassa o mundo sensível e
atinge o mudo das idéias, passando da opinião à essência, deve se dirigir aos homens para orientá-
los. Cabe ao sábio dirigir, sendo-lhe reservada a elevada função da ação política.

2.8. A UTOPIA PLATÔNICA

Platão propõe uma utopia, onde são eliminadas a propriedade e a família, e todas as crianças são
criadas pelo estado, pois para Platão, as pessoas não são iguais, e por isso devem ocupar posições
diferentes e serem educadas de acordo com essas diferenças.

Até os 20 anos, todos merecem a mesma educação. Ocorre o primeiro corte e definem-se quem tem
"alma de bronze", são os grosseiros, devem se dedicar a agricultura, comércio e ao artesanato.
69

Mais dez anos de estudo, se dá o segundo corte. Aqueles que tem "alma de prata". É a virtude da
coragem. Serão guerreiros que cuidarão da defesa da cidade, e a guarda do rei. Os que sobrarem
desses cortes por terem "alma de ouro" serão instruídos na arte de dialogar e preparados para
governar. Quando analisamos o postulado platônico voltado para sua época, é visível uma
dicotomia na relação corpo e espírito.

Na Grécia Antiga, o cuidado com o aspecto físico do corpo merecia uma atenção muito especial. No
entanto, Platão apesar de reconhecer a importância atribuída aos exercícios físicos, acreditava que
uma outra educação merecia relevante atenção ao ponto de ser superior às questões corporais.
Trata-se da educação espiritual. No desenvolvimento de seus argumentos, ao tratar da superioridade
da alma sobre o corpo, Platão explicita que a alma ao ter que possuir um corpo, torna-se degradante.
Para Platão o corpo possui uma alma de natureza inferior que dividida em duas partes: uma que age
irrefletidamente, de maneira impulsiva e outra voltada para os desejos e bens materiais. Argumenta
ainda que todo problema humano está centrado na tentativa de superar a alma inferior através da
alma superior. Se esta não controlar a alma inferior, o homem será incapaz de possuir um
comportamento moral.

Nesta concatenação está explícito o ideal pedagógico na concepção platônica. O conhecimento para
ele é resultado do lembrar do que a alma contemplou no mundo das idéias. Nesse sentido a
educação consiste no despertar no indivíduo do que ele já sabe e não no apropriar de um
conhecimento que está fora. Ele enfatiza ainda a necessidade da educação física no sentido de que
esta proporcione ao corpo uma saúde perfeita, evitando que a fraqueza torne-se um impecílio à vida
superior do espírito.

Outro aspecto na pedagogia platônica é a crítica que se faz aos poetas. Na época, a educação das
crianças eram baseadas em poemas heróicos da época, contudo, ele diz que a poesia deveria ser
restrito ao gozo artístico e não ser usada na educação. Argumenta que ao ser trabalhado uma
imitação, como as dos textos das epopéias, o conhecimento verdadeiro torna-se cada vez mais
distante: "o poeta cria um mundo de mera aparência".

Em Aristóteles (384-332 a.C.)podemos perceber um outro aspecto da pedagogia grega. Apesar


deste ser discípulo de Platão, conseguiu ao longo do tempo, através de influências, inclusive a do
seu pai, superar o que herdou de seu mestre. Aristóteles desenvolveu, ao contrário de Platão, uma
teoria voltada para o real, onde procurava explicar o movimento das coisas e a imutabilidade dos
conceitos. Trabalho totalmente divergente à superioridade do mundo das Idéias desenvolvida por
Platão.

Em seu raciocínio, ao explicar a imutabilidade dos conceitos, Aristóteles afirmava que todo ser
possui um "suporte aos atributos variáveis", ou melhor, esse ser ou substância possui variáveis e que
essas variáveis são, em síntese, características que geralmente damos a ele e ressalta que algumas
dessas características assumem valores essenciais no sentido de que se estas faltarem o ser não será
o que é. Por outro lado, existem outros que são acidentais, uma vez que sua variação
necessariamente não irá alterar a essência do ser. Ex.: velho, novo.

Outros conceitos também são usados por Aristóteles para a explicação do ser. Conceitos
intimamente ligados como forma e matéria são em seu postulado ricos e, tal explicação, uma vez
que ele considera a forma como princípio inteligível. Uma essência que determina a todos que são o
que são. "Numa estátua por exemplo, a matéria é o mármore; a forma é a idéia que o escultor
realiza". Assim como os pré-socráticos Heráclito e Parmênides, Aristóteles, também se preocupou
com o devir, com o movimento e consequentemente às suas causas. Ainda se utilizando dos
conceitos de forma e matéria, ele argumenta que tudo tende a atingir a sua forma perfeita, assim
70

uma semente de uma árvore, tende a se desenvolver e se transformar em uma árvore novamente.
Dessa maneira tudo para Aristóteles tem um devir, um movimento, uma passagem do que ele
chama de potência para o ato.

Aristóteles ao fazer tal abordagem, comenta ainda que o movimento assume algumas
características: movimento qualitativo onde uma dada qualidade é alternada; movimento
quantitativo em que se percebe a variação da matéria e por fim o movimento substancial onde o que
se tem um existência ou inexistência, o que nasce ou que se destroi.

3. A EDUCAÇÃO ROMANA

3.1. A Tradição Latina

O florescimento da Civilização Romana75 não está isento do contágio pelo Helenísmo. De acordo
com as palavras de Horácio: “A Grécia conquistada conquistou por sua vez seu selvagem vencedor
e trouxe a civilização ao rude Lácio”. Porém, o fosso abissal que separava o "rude Lácio" do
elevado nível cultural atingido pelos Gregos foi rapidamente ultrapassado, como consequência da
enorme facilidade dos latinos para adaptarem e assimilarem os costumes das outras civilizações,
em particular da Civilização Helênica e Helenística.

Constata-se no entanto ter existido alguma resistência à invasão pelo Helenismo. Os pequenos
camponeses do Lácio, por exemplo, protegem-se contra as inovações estrangeiras pelo respeito de
uma tradição ancestral – o mos maiorum. De acordo com esta tradição, o fim da educação é prático
e social. Espera-se que a educação proporcione à criança o saber necessário para o exercício da sua
profissão de soldado ou de proprietário rural, que inculque a ética que subordina o indivíduo a um
ideal superior – Roma e a Res Publica. O objectivo é formar o cidadão – o civis romanus.

No século II a.c., o pater familias concede à mãe, a matrona romana, os direitos sobre a educação
de seus filhos durante a primeira infância, gozando aquela de uma autoridade desconhecida na
Civilização Grega. Mas, por volta dos 7 anos de idade, a educação da criança passa a estar a cargo
de seu pai ou, na ausência deste, de um tio. Caberá ao pai a responsabilidade de proporcionar ao
filho a educação moral e cívica. Esta passa pela aprendizagem mnemónica de prescrições jurídicas
concisas e de conceitos, constantes nas Leis das XII Tábuas, símbolo da tradição Romana.

Esta forma de educação tem por base a preocupação natural de associar os valores culturais e o
ideal colectivo. Exalta a piedade, no sentido romano do termo pietas que traduz respeito pelos
antepassados. Nas tradicionais famílias patrícias, os antepassados representam orgulhosamente os
modelos do comportamento, repetidos geração após geração.

Quando o adolescente, por volta dos dezasseis anos de idade, finalmente se liberta da toga praetexta
da infância para vestir a toga viril, tem início a aprendizagem da vida pública, o tirocinium fori. O
jovem acompanhará o pai ou, se necessário, um outro homem influente, amigo da família e melhor
posicionado para o iniciar na sociedade. Durante cerca de um ano, e anteriormente ao cumprimento
do serviço militar, o jovem adquire conhecimentos de Direito, de prática pública e da “arte do
dizer”, concepção romana da eloquência.

3.2. Roma adota a Educação Grega

75
Texto extraído de http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/ensinoroma/index.htm.
capturado em 08/06/2004
71

Sabemos que Roma foi incapaz de permanecer imune ao contágio pelo Helenismo. Na constituição
do Império Romano, da baía ocidental do Mediterrâneo até ao mar oriental, ficarão integradas
diversas cidades Gregas. Mas, muito antes do Império, já os etruscos, haviam sido influenciados
pelos Gregos a quem foram buscar o alfabeto, bem como técnicas com vista à aprendizagem da
leitura e da escrita.

A influência Helênica não mais cessará de crescer, em particular com a invasão e posterior
anexação da Grécia e da Macedónia no século II a.c..

A partir de então, alguns preceptores gregos (se não de nascimento, pelo menos de formação)
apoiam a educação familiar dos jovens romanos. Na verdade, afugentados pelas agitações do
Oriente ou atraídos pela rica clientela romana, muitos gramáticos, retóricos e filósofos atenienses
dirigem-se a Roma. Serão estes os Mestres responsáveis pelo ensino de jovens e de adultos.

Cedo os Políticos de Roma haviam compreendido que o conhecimento da Retórica ateniense seria
um factor decisivo com vista a melhorar a eloquência dos seus discursos junto das multidões. Com
a Retórica e a formação literária que lhe servia de base, Roma descortinou a pouco e pouco todos os
aspectos encobertos da cultura Grega. Mas o helenismo não é apenas apanágio de alguns. Ele
impregna toda a Roma, surgindo também na vida religiosa e nas artes, como seja nos teatros que
adoptam os modelos, temas e padrões helenísticos.

Não obstante se reconhecer que os tentáculos da Civilização Helenística se estenderam a todos os


domínios, em nenhum é esta influência tão notória como na cultura do espírito, e, por conseguinte,
na Educação. A original contribuição da sensibilidade, do carácter, e das tradições de Roma,
aparecerá somente sob a forma de retoques de detalhe e pequenas inflexões, favorecendo ou
reprimindo alguns aspectos do modelo educativo da Paideia grega.

Nesse entido, a aristocracia romana recorre, numa primeira fase, a escravos alforriados que a
conquista lhes havia proporcionado e, posteriormente, a Mestres de Grego especializados.
Paralelamente a esta preceptoria particular no seio das grandes famílias surge o ensino público do
grego, ministrado em verdadeiras escolas, umas vezes por escravos gregos que assumem o papel de
Mestres, outras, por Mestres Gregos qualificados. Não satisfeitos com este tipo de educação,
muitos jovens romanos deslocar-se-ão à Grécia para aí completarem os seus estudos.

Um indício marcante sublinha o êxito da influência grega na Educação e em particular no


desenvolvimento da escola. Roma vai buscar ao Helenismo o termo Paedagougos para designar o
escravo incumbido de acompanhar a criança à escola.

3.3. O Ensino em Roma

No entanto, o ensino em Roma apresenta algumas diferenças significativas face ao modelo


educativo dos gregos e algumas novidades importantes na institucionalização de um sistema de
ensino. O ensino da música, do canto e da dança, peças chave da educação grega, tornaram-se
objecto de contestação por parte de alguns sectores mais tradicionais, que apelidaram estas formas
de arte como impúdicas e malsãs, toleráveis apenas para fins recreativos.
A mesma reacção de oposição surge contra o atletismo, tão essencial à Paideia. Jamais fazendo
parte dos costumes latinos, as competições atléticas só penetram em Roma por volta do século II
a.c., sob a forma de espectáculos, e sendo a sua prática reservada a profissionais. Os romanos
chocam-se com a nudez do atleta e condenam a pederastia, de que o ginásio é o meio natural.
Optam assim pelas termas em detrimento do ginásio, que consideram exclusivamente um “jardim
de recreio” ou um “parque de cultura”.
72

O Programa educativo romano privilegia assim uma aprendizagem sobretudo literária, em


detrimento da Ciência, da Educação Musical e do Atletismo.

Porém, é aos romanos que se deve o primeiro sistema de ensino de que há conhecimento: um
organismo centralizado que coordena uma série de instituições escolares espalhadas por todas as
províncias do Império. O carácter oficial das escolas e a sua estrita dependência relativamente ao
estado constituem, não apenas uma diferença acentuada relativamente ao modelo de ensino na
Grécia, como também uma novidade importante.

É claro que um tal sistema tende a privilegiar uma minoria que, graças aos estudos superiores,
ascende àquilo que os romanos consideram ser a vida adulta simultaneamente activa e digna ou
seja, uma elite, com uma elevada formação literária e retórica.

O que não impede que, entre a imensidão de escravos que os romanos abastados do Império
possuíam como resultando das suas conquistas, houvesse a preocupação de lhes fornecer, em
particular aos mais jovens, os ensinamentos necessários à prática dos seus serviços. Para tal eram
reunidos, nas casas de seus amos, em escolas – as paedagogium - ae entregues a um ou mais
pedagogos que lhes inculcavam as boas maneiras e, em alguns casos, os iniciavam nas “coisas do
espírito”, designadamente na leitura, na escrita e na aritmética. É sabido que as casas dos grandes
senhores de Roma dispunham de um ou mais escravos letrados que desempenhavam funções como
secretários ou como leitores.

De qualquer forma, na Roma imperial, os Mestres Gregos são protegidos por Augusto, à
semelhança do que César havia já feito. Também a criação de bibliotecas, como a do Templo de
Apolo, no Palatino, e a do Pórtico de Octávio, é ilustrativa de uma política imperial de cultura.
Esta política, inspirada nas tradições gregas, vai no entanto inflectir algumas práticas anteriores,
delineando no estado romano um conjunto de políticas escolares inovadoras. Uma primeira
iniciativa é da autoria de Vespasiano, que intervém directamente a favor dos professores, ao
reconhecer-lhes uma utilidade social. Com ele se iniciam uma extensa série de retribuições e de
imunidades fiscais, atribuídas a gramáticos e retóricos. Segue-se a criação de cátedras de Retórica
nas grandes cidades, bem como o favorecimento e promoção da instituição de escolas municipais de
gramática e de retórica nas províncias.

3.4. O nascimento das Escolas Latinas

As primeiras escolas latinas são inteiramente, na sua origem, de inspiração grega. Limitam-se a
imitá-las, tanto no que concerne ao programa, como aos métodos de ensino.

Porém, os romanos vão pouco a pouco organizá-las em três graus distintos e sucessivos: a instrução
primária, o ensino secundário e o ensino superior, aos quais correspondem três tipos de escolas,
confiadas a três tipos de Mestres especializados. As escolas primárias datam provavelmente dos
séculos VII e VI a.c., as secundárias surgem no século III a.c. e das superiores somente há
conhecimento da sua existência a partir do século I a.c.. A data em que surgiram as primeiras
escolas primárias permanece controversa. Pensa-se que o ensino elementar das letras terá surgido
em Roma muito antes do século IV a.c., provavelmente remontando ao período etrusco da Roma
dos Reis. Data do ano 600 a.c. a tabuleta de marfim de Marsigliana d’Albegna que possui gravada
na faixa superior do seu quadro um alfabeto arcaico muito completo, destinado a servir de modelo
de escrita incipiente que se exercitava escrevendo na cera da tabuleta.
73

As escolas secundárias terão surgido por volta do século III a.c.. Este “atraso” relativamente às
escolas secundárias gregas não é merecedor de espanto, se refletirmos sobre a inexistência de uma
literatura romana propriamente dita, e sabendo-se à partida que o ensino secundário clássico na
Grécia se baseava na explicação das obras de grandes poetas, em particular de Homero. No entanto,
é somente no tempo de Augusto (século I a.c.), que o ensino secundário latino assume a sua forma
definitiva, rivalizando em valor educativo com o grego, quando Cecílio Epirota, um alforriado de
Ático, toma a ousada iniciativa de incluir o estudo de Virgílio e de outros poetas novos nos
programas do Ensino Secundário. Um romano culto será doravante aquele que conhecer a obra de
Virgílio, da mesma forma que um grego conhece na íntegra e recita os versos de Homero sempre
que tenha necessidade de exprimir, ressaltar ou afiançar um sentimento ou uma ideia.

O ensino superior, predominantemente retórico, surge em Roma por volta do século I a.c.. A
primeira escola de retórica latina foi aberta no ano de 93 a.c. por L. Plócio Galo, e pouco tempo
depois encerrada em virtude da censura levada a cabo por alguns sectores da aristocracia romana
que se inquietavam perante o “novo espírito” que a animava e que consideravam contrário ao
costume e à tradição dos antepassados.

3.5. Instrução Primária

Se é certo que a iniciação da criança nos estudos fica a cargo de um preceptor particular (em
especial nas famílias aristocráticas), por volta dos sete anos a criança é confiada a um Mestre
Primário – o litterator, “aquele que ensina as letras”, também designado por primus magister,
magister ludi, magister ludi literarii, ou, como viria a ser designado no século IV a.c., o institutor.
O primus magister é, em Roma, mal remunerado e pouco conceituado na hierarquia social.

Tal como na Grécia, também as crianças romanas se faziam acompanhar à escola por um escravo,
designado segundo a terminologia grega por Paedagogus. Este poderia, em determinadas
circunstâncias, ascender ao papel de explicador ou até mesmo de mentor, arcando assim com a
educação moral da criança. O Paedagogus conduzia o seu pequeno senhor à escola, designada por
ludus litterarius, e aí permanecia até ao final da lição. O ensino é colectivo, as meninas também
frequentavam a escola primária, embora para elas o preceptorado privado pareça ter sido a nota
dominante.

Cabe ao Mestre providenciar as instalações. Este resguarda os seus alunos debaixo de um pequeno
alpendre protegido por um toldo – pérgula - nas proximidades de um pórtico ou na varanda de
alguma mansão aberta e acessível a todos. Há conhecimento de ter existido em Roma uma escola
abrigada na esquina do Fórum de César. As aulas são portanto essencialmente ministradas ao ar
livre, em local isolado dos barulhos e das curiosidades da rua por meio de um tabique – o velum.
As crianças agrupam-se em torno do Mestre que pontifica da sua cadeira – a cathedra - colocada
sobre um estrado. O mestre é muitas vezes assistido por um ajudante, o hypodidascales. Sentadas
em escabelos sem encosto, as crianças escrevem sobre os joelhos.

A jornada escolar da criança romana tinha início muito cedo e durava até ao pôr-do-sol. As aulas
apenas eram suspensas durante as festas religiosas, nas férias de Verão (dos finais de Julho a
meados de Outubro) e também durante as nundinae que semanalmente se repetiam no mercado.
Além da leitura, o programa compreende a escrita em duas línguas (latim e grego) e um pouco de
cálculo no qual se inclui a aprendizagem do ábaco e do complexo sistema romano de pesos e
medidas. Para a aprendizagem do cálculo recorria-se vulgarmente à utilização de pequenas pedras -
calculi - bem como à mímica simbólica dos dedos.
74

A técnica aprofundada do cálculo escapa no entanto à competência do primus magister, sendo


ensinada mais tarde por um especialista, o calculator. Este distingue-se do primus magister na
medida em que o seu papel está mais próximo do de um especialista, como os calígrafos ou os
estenógrafos.

Na aprendizagem da escrita começava-se por se aprender o alfabeto e o nome das letras, de A a X,


antes mesmo de lhes conhecer a forma. O nome das letras era seguidamente ensinado ao contrário,
de X a A e posteriormente aos pares, primeiro agrupados segundo uma dada ordem e logo após
agrupados de forma aleatória. Seguia-se a aprendizagem das sílabas, em todas as combinações
possíveis e, por fim, dos nomes isolados. Estes três tipos de aprendizagem constituem as categorias
sucessivas do abecedarii, syllabarii e nomirarri. Antes de passar à redacção de textos era ensaiada a
escrita de pequenas frases bem como máximas morais de um ou dois versos.

O ensino da escrita é simultâneo ao da leitura. A criança escreve em sua tabuleta as letras, palavras
ou textos cuja leitura deverá posteriormente efectuar. Empregam-se a princípio dois métodos
alternados: um que remonta às origens da escola grega e que consiste em guiar a mão da criança
para lhe ensinar o ductus, e outro mais moderno, talvez originário da escola latina, em que se
utilizam letras gravadas em concavidades na tabuleta que a criança retraça usando o estilete de ferro
e seguindo o sulco através da cera. Esta é alisada com o polegar logo que tenha terminado a tarefa,
para que assim possa reproduzir as letras na tabuleta.

Quando surgem o pergaminho e o papiro a criança passa a escrever com uma cana talhada e
molhada em tinta. Os livros são feitos com folhas coladas lateralmente e enroladas à volta de uma
varinha. Para ler, a varinha é mantida na mão direita e com a outra mão desenrola-se a folha única.

Associada à leitura e à escrita encontra-se a declamação. A criança é incentivada a memorizar


pequenos textos à semelhança do que ocorria na Grécia.

Recorre-se frequentemente à emulação e mais ainda à coerção, às reprimendas e aos castigos. O


primus magister apoia a sua autoridade na férula, instrumento a que recorre para infringir os
castigos nas crianças. “Estender a mão à palmatória”, manum ferulae subducere, é na verdade para
os Romanos sinónimo de estudar.

Os alunos são agrupados em classes, de acordo com o seu rendimento escolar. O autor
(desconhecido) dos Hermeneumata Pseudodositheana salienta a necessidade de “...levar em conta,
para um e para todos, as forças, o adiantamento, as circunstâncias, a idade, os temperamentos vários
e o desigual zelo dos diversos alunos.” Esboça-se uma modalidade de “ensino mútuo”, em que os
melhores alunos colaboram com o primus magister ensinando aos colegas as letras e as sílabas. O
titulos (designação latina para quadro preto) é também uma invenção romana. Consiste num
rectângulo de cartão preto em torno do qual os alunos se agrupam de pé, ordeiramente..

Estes métodos começam a ser questionados por volta do século I da nossa era, tendo-se registado
desde então uma evolução no sentido de um abrandamento da disciplina em favor de uma
indulgência crescente para com as crianças.A rotina pedagógica foi a aligeirada com a introdução
de novas práticas de ensino que ficam a dever-se a Marco Fábio Quintiliano, reconhecido Professor
de Eloquência que viveu no século I da nossa era.

Quintiliano foi o primeiro professor pago pelo estado, no Império de Vespasiano, e teve como
alunos Plínio o Môço e o próprio Imperador Adriano. Quintiliano alerta para a necessidade de se
identificarem os talentos das crianças e chama a atenção para a necessidade de reconhecer as
diferenças individuais e de adoptar diferentes formas de procedimento perante elas. Recomendava
75

que se ensinassem simultaneamente os nomes das letras e as suas formas, devendo a eventual
imperícia do aluno ser corrigida obrigando-o a reproduzir as letras com o seu estilete na placa dos
modelos, previamente gravada pelo professor. É contrário aos castigos físicos, e portanto ao uso da
férula. Recomenda a emulação como incentivo para o estudo e sugere que o tempo escolar seja
periodicamente interrompido por recreios, já que o descanso é, na sua opinião, favorável à
aprendizagem.

3.6. Ensino Secundário

O ensino secundário é bastante menos difundido que a instrução primária. A maioria das crianças
de fraca condição social abandonam a escola no final da Instrução Primária, passando então a
frequentar a casa de um Mestre de ensino técnico, por exemplo de Geometria, que os preparará para
o exercício de profissões como a carpintaria.

As restantes crianças iniciam por volta dos doze anos de idade um segundo ciclo de estudos,
continuando rapazes e raparigas a estudar lado a lado. No caso geral de estudos com a duração de
três anos, verifica-se a intervenção do grammaticus, correspondente latino do grammatikus grego,
que ensina Gramática e Retórica.

Cecílio Epirota empreende, em finais do século I a.c., o estudo de poetas latinos seus
contemporâneos, assim se estabelecendo uma formação nas duas línguas que implicará portanto a
participação de dois grammaticus: o grammaticus graecus e o grammaticus latinus. Existiam
portanto duas Instituições paralelas: uma para o estudo da língua e da literatura grega, a outra para o
estudo da língua e literatura romana. A primeira é uma réplica exacta das escolas gregas, a segunda
representava o esforço para salvaguardar as tradições romanas.

À semelhança do que se observava na Grécia, o grammaticus é bastante mais conceituado


socialmente que o primus magister. Também ele instala geralmente os alunos numa pérgula ou
numa residência existindo em Roma, no século IV da nossa era, cerca de vinte estabelecimentos
deste tipo. Requer cerca de seis horas diárias para o ensino da correcção da linguagem, assim como
para a explicação dos poetas. Adopta os princípios da metodologia grega, insistindo na ortografia e
na pronúncia, multiplicando os exercícios de morfologia e preparando com a escrita de redacções a
iniciação à Retórica. O essencial consiste porém no estudo dos clássicos, e sobretudo dos poetas
Virgílio, Terêncio e Horácio.

Os alunos aprendem também algumas noções básicas de Geografia, necessárias para a compreensão
da Ilíada e da Eneida. Estudam também Astronomia, “...desde que se levanta ou põe uma estrela
até à cadência de um verso.”

3.7. Ensino Superior

O ensino superior, também designado por ensino retórico, tinha início por volta dos quinze anos de
idade, altura em que o jovem recebe a toga viril, sinónimo da sua entrada na vida adulta. Estes
estudos superiores duravam até cerca dos vinte anos, podendo no entanto prolongar-se por mais
tempo. Tinham como finalidade formar Oradores, já que a carreira política representava o ideal
supremo. Roma transformou-se num centro excepcional de estudos para os Mestres de Retórica
Gregos. É o caso de Dionísio de Halicarnaso, que viveu em Roma mais de vinte anos (de 30 a 8
a.c.), ali compondo uma monumental História Romana.
76

No século II surgem os representantes da segunda sofística, os quais cultivam um discurso


preciosamente elaborado, bem como a improvisação, perante uma vasta audiência de romanos.
As retóricas latina e grega assemelham-se ainda mais quando o triunfo dos Césares desvia a
eloquência latina da vida política e a confina à arte do conferencista ou do advogado. Os retóricos
do Ocidente “latinizam” os assuntos que propõem a seus discípulos, ao mesmo tempo que os
obrigam a estudar os clássicos romanos, sobretudo Cícero.

Séneca foi juntamente com Quintiliano, um dos grandes representantes da nova etapa educativa.
Esta deixa de ser assunto particular e adquire um carácter mais técnico que filosófico, passando a
aplicar-se de preferência a problemas práticos. Nas suasoriae, o aluno é obrigado a pronunciar-se
sobre casos morais; nas controversiae, o futuro orador terá de pleitear um caso em função de textos
legais.

Para lá do aperfeiçoamento da eloquência e da retórica, o ensino da Filosofia e da Medicina é


essencialmente feito por Mestres Gregos itenerantes, que espalham o seu saber de cidade em cidade.
Com muita frequência, os estudantes latinos vão completar os seus estudos superiores noutras
cidades, nomeadamente em Alexandria e sobretudo em Atenas. Sob o império de Vespasiano é
estabelecido em Roma um Ateneum semelhante ao Mouseîon de Alexandria, para estudos
aprofundados de Retórica. Criam-se cátedras de Retórica que concederam privilégios aos Mestres,
dando assim aos romanos a possibilidade de prosseguirem os estudos na própria pátria.

No âmbito do Direito, Roma desempenha um papel inovador oferecendo aos jovens estudantes uma
aprendizagem prática pasra além de um ensino sistemático. A complexidade crescente da produção
jurídica romana está na origem da fundação de duas escolas superiores de direito em Roma no
século II – a de Labeu e a de Cássio.

3.8. As Escolas Cristãs

Paralelamente às escolas pagãs, a partir dos séculos II e III da nossa era, surgem escolas cristãs,
criadas inicialmente com o intuito de formar os futuros homens da Igreja dos conhecimentos
necessários à compreensão das Escrituras.

É o caso da escola cristã fundada em Alexandria, escola de ensino superior para a inteligência da fé
e das escrituras, onde, entre outras, se estudavam a filosofia, a geometria, a aritmética com a
finalidade de melhorar o conhecimento das Escrituras Sagradas.

Com legitimação político-religiosa do cristianiosmo sob o Império de Constantino, os cristãos


começam a deprecir a retórica e a cultura pagã e a acusar as escolas que dizem transmitir uma
literatura contrária ao espírito cristão, orientadas para valores diferentes dos do evangelho.
Quando cai o Império Romano, só a estrutura religiosa se mantém de pé e, apenas no seu seio, o
frágil brilho da ideia de escola vai apesar de tudo encontra alguma continuidade. Desaparecidas as
escolas públicas pagãs, caberá agora aos monges, hábeis defensores de todo um património cultural,
a tarefa de ensinar e conservar acesa na noite barbárica a chama da cultura clássica.

Principais teóricos: Lúcio Annaaeus Séneca (4-65), Marco Fábio Quintiliano (40-118), Marco
Túlio Cícero (106-43)
77

4. A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA


A educação neste período era voltada para temas religiosos, com poucas pessoas,
ficando a cargo das Escolas Romanas uma tarefa mais abrangente. Com o passar dos
tempos o Império Romano entrou em decadência, os povos Germânicos (bárbaros)
invadiram o império, que se enfraqueceu e se dividiu, essa invasão no início da Idade
Média (que vai do século V ao século XV). Em meio dessa desorganização e decadência do
Império Romano, somente a Igreja Católica, se manteve forte e disciplinada, consolidou-se
como instituição e prosperou para se impor definitivamente por toda a Idade Média. Como
resultado desta prosperidade ela passou a exercer influência em diversos campos da
atividade humana, entre as quais, o educacional.

I. A Educação como Disciplina

1) Significado da Educação Medieval: Por ocasião da invasão dos bárbaros, a cultura


grego-romana esteve a ponto de ser destruída, o que só não aconteceu graças, em grande
parte, à atuação da Igreja Cristã, pois somente através da disciplina rígida da religião foi
possível educar os nossos povos.
A educação dos europeus teve como base a doutrina da Igreja que substituiu o
elemento intelectual pelo culto que era uma preparação para um estado futuro ou seja “a
outra vida”. A doutrina cristã se opunha ao conceito liberal, e individualista dos gregos e ao
conceito de educação prática e social dos romanos, pois não foram suficientes na educação
dos novos povos. Porém a conversão dos povos bárbaros ao cristianismo foi mais política
do que sentimental, visto que na época a Igreja era muito poderosa.

Educação Cristã Primitiva

2) O novo ideal Educacional: A educação grega dava mais importância ao aspecto


intelectual do homem; o cristianismo, pelo contrário passou a da maior importância ao
aspecto moral e bastou-se primordialmente na caridade cristã ao amor, que é a expressão
mais individual e complexa da personalidade humana. O ideal educativo do cristianismo é
um renascer para um mundo novo do espírito e com ele surge um novo tipo de educação
com normas inéditas de vida e comportamento. Assim as preocupações morais e religiosas
substituíram as preocupações intelectuais, estéticas e físicas da cultura grega.

3) A atitude dos cristãos primitivos em relação ao saber pagão: A relação dos cristãos
primitivos em relação ao saber pagão dividiu a Igreja primitiva em dois grupos bem
definidos:

a) Um dos grupos sustentava a idéia que o saber antigo era muito valioso e que muito
confirmava os ensinamentos da Bíblia; que a filosofia também era uma forma de
buscas da verdade embora nem sempre completa e que o cristianismo então deveria
se incorporar a ela e completar este saber. Este grupo situava-se no Oriente.
b) Outro grupo defendia a idéia que a filosofia grega continha muitas imoralidades em
sua literatura e que eram apoiadas por sua religião. Concluíram então que devido a
essas imoralidades não era possível nenhum compromisso entre a verdade e o
78

mundo, que as filosofias ligadas ao cristianismo produziam apenas ironias e que a


literatura e a cultura em geral representavam meramente os prazeres e as seduções
do mundo. Este grupo situava-se no Ocidente e associavam a filosofia ao
paganismo, pois o prestigio que a velha religião conservava sobre o povo provinha
das classes mais entendidas neste tipo de literatura e que se concentrava nas escolas.
Por esse motivo diz à história que o saber quase deixou de existir e iniciou-se no
mundo um período de alguns séculos denominado de “Idade das Trevas”.

Nos três primeiros séculos muitos cristãos sofreram perseguição e exílio e foram
privados de oportunidade de adquirir o saber pagão.

4) A atitude dos padres gregos em relação ao saber: Muitos deles tinham sido filósofos
antes de se converterem e por isso incentivavam o estudo da literatura e da filosofia.

Clemente de Alexandrina (160-215), Justino, Mártir(100-175) e Orígenes(185-252)


pregavam que Deus havia feito três pactos com o homem, o da Lei, o do Evangelho e o da
Filosofia e seus ensinamentos e obras visavam a reconciliação da fé com a razão da
revelação cristã e com a filosofia pagã.

Na época de São Basílio (331-379) e Gregório Nazianzo (325 –390) agravou-se a


oposição dos cristãos saber pagão e especialmente a filosofia grega porém eles se juntaram
a outros padres contra esse preconceito e mostrar que a literatura grega contém princípios,
verdades,preconceitos, exemplos instintivos e inspiradores de uma vida superior. Em suas
opiniões recomendam certos limites ao saber

Muitos padres não condenavam o saber pagão porém diziam que não podiam passar
a vida com “brinquedos de criança” (Crisóstomo – 347/411) e que se tivessem que escolher
entre educação ou salvação da alma, que escolhessem a mais preciosa (Basílio – 331/379).

5) A atitude dos padres da Igreja Latina: Os padres da Igreja Latina eram totalmente hostis
ao helenismo e apesar de alguns deles terem sido mestres da educação grega, como por
exemplo Sto Agostinho, negavam a possibilidade de um cristão ser mestre de cultura pagã.
Sto Agostinho até a idade madura foi professor e já nessa época havia escrito e completado
grande parte de um tratado enciclopédico sobre as artes liberais. Por se o mais brilhante
intelectualmente da sua época dedicou sua cultura ao combate das heresias, porém no
último período de sua vida sua simpatia pelo saber clássico diminuiu muito. Foi o
responsável pela proibição dos estudos filosóficos e literários feito pelo Concílio de
Cartago.

II. As escolas cristãs primitivas. A vida cristã como escola:

Na reação contras uma sociedade corrupta nos últimos séculos pagãos a vida da igreja
Cristã Primitiva era em si mesma uma escola de enorme importância. Não era de caráter
intelectual, porém estava empenhada na reforma moral do mundo e também voltada para a
educação moral dos seus próprios membros e desse modo para a regeneração da sociedade.
O aspecto mais primitivo da vida na Igreja Cristã era o da preparação de jovens e idosos,
pois a recepção destes novatos era adiada. Eram obrigados a passar por um período de
79

provação destinado a interação na doutrina e prática da vida cristã. Esses novatos eram
chamados catecúmenos e estas escolas catecumenatos.

1) As escolas catequética: Os lideres cristãos em Alexandria viviam em constante conflito


com as escolas de pensamento grego e foi necessário então instruir os ministros da Igreja
com educação semelhante a dos gregos. Alexandria foi por alguns séculos o centro de
atividade intelectual e teológica e em 179 d.C. Panteno (filósofo estóico convertido) tornou-
se o chefe da escola para catecúmenos e por intermédio dele todo o saber grego foi posto ao
serviço da Igreja. Foi sucedido por Clemente e Orígenes e teve aí primeira formulação da
teologia cristã. As escolas para catecúmenos usavam o mesmo método, daí o termo escolas
catequéticas, que é freqüentemente usado por ter um sentido geral e que inclui ambas
escolas.

2) As escolas episcopais e as escolas das catedrais: As escolas episcopais e catedrais


destinadas à preparação do clero secular sob a direção do bispo, com o propósito de garantir
a continuidade da formação de Clérigos, e os mosteiros, onde os monges dedicavam-se
quase exclusivamente, a copiar manuscritos antigos. Assim, a Igreja adquiriu, na Alta Idade
Média o controle da educação, sendo o clero a elite intelectual e suas escolas as únicas
instituições culturais atuantes na Europa Ocidental. Eram organizadas pelos bispos e
tinham a finalidade de preparar o clero para as Igrejas que estavam sob a sua direção. A
vida dos sacerdotes foi submetida a regras e a partir de 354, foi possível determinar o
trabalho dessas escolas.

Durante o século V e VI os conceitos da Igreja determinavam que antes de serem


destinadas ao sacerdócio, as crianças deveriam ser preparadas por bispos. No ocidente essas
escolas eram denominadas escolas das catedrais (do edifício em que eram localizadas) e
quando a educação ficou inteiramente nas mãos da Igreja, juntamente com as dos
mosteiros, eram as únicas existentes no Ocidente.

III. Monaquismo: a educação como disciplina moral

1) Finalidade e importância da educação monástica: O monaquismo é um movimento


religioso desenvolvido nos mosteiros e que exerceu considerável influência na cultura
medieval. Etimologicamente, as palavras mosteiro (monasterion) e monge (monachós) são
formados pelo mesmo radical grego monos, que significa só, solitário. Portanto monge é o
religioso que procura a perfeição na solidão e no afastamento da vida mundana. Esses
religiosos pertenciam ao clero secular, sendo o primeiro que viviam de acordo com as
regras de Deus, o outro em contato com a vida íntima do povo.

A origem dos mosteiros foi devido as invasões germânicas no império romano que
provocou profundas mudanças sócios culturais. A presença dos bárbaros impôs uma
repentina mudança de hábitos e o povo submetido, começou a viver uma vida de
insatisfação. Desgostosos com o rumo dos acontecimentos, grupos cristãos procuraram
afastar-se da participação social e retiraram-se para locais tranqüilos, a fim de praticarem
suas preces longe das agitações do mundo. Nessa procura de abrigo espiritual, eles
fundaram pequenas comunidades que, com o tempo se transformaram em mosteiros.
80

2) A origem do monaquismo: Surgiu com a idéia do ascetismo, que era o treinamento do


atleta para as disputas físicas. Sendo uma doutrina moral onde os desejos corporais e
afeições humanas são desvalorizados a fim de que a mente, a alma possam ser consagradas
aos interesses de uma vida interior. Em todos os tempos, religiosos como o judaísmo,
hinduísmo e budismo têm exemplos dessa forma de busca..

2) As regras monásticas:Nos mosteiros o estudo ocupava um papel importante.

São Bento - (480-547) fundador da ordem dos Beneditinos determinou que a casa religiosa
deveria ter sete horas por dia de trabalho, que poderia ser manual ou literário, determinou
que cada religioso deveria dedicar de duas a cinco horas de leitura por dia.

São Basílio estipulou regras semelhantes desse regime de trabalho imposto aos monges,
surgiram diversos benefícios para a educação. Os principais foram:
A) Surgimento das escolas para preparação dos jovens aceitos para a vida monástica.
B) Cópia e conservação dos manuscritos.
C) O estudo da literatura
D) Formação de um ambiente favorável ao estudo e a reflexão

Os mosteiros eram praticamente as únicas instituições de ensino da época, únicos


centros de pesquisas, únicas casas editoriais para a multiplicação dos livros, únicas
bibliotecas pra conservação do saber, enfim os mosteiros preparavam os únicos sábios e
estudiosos da época. Um dos trabalhos mais significativos dos monges no campo
educacional foi, sem duvida, a cópia dos manuscritos, sem esse trabalho, a maior parte das
obras do passado não teriam chegado até nós.

“Monaquismo” significa “A organização de homens que fizeram votos especiais de


vida religiosa e vivem de acordo com regras que determinam a conduta nos seus menores
detalhes”.
Monaquismo ficionário, modo de vida geralmente comunal e celibatário, governado
por uma regra religiosa.

3) Os ideais da vida e da educação monástica. Ascetismo, um ideal de disciplina: As regras


da vida monástica podiam variar, porém seus ideais eram sempre os mesmos, o Ascetismo.
A virtude do monge era freqüentemente medida pela sua capacidade em criar métodos de
mortificar a carne através do jejum, alimentação insuficiente e inadequada, vigílias
prolongadas ou seja tudo que destruísse ou reduzissem suas necessidades naturais ou
produzissem insatisfação dessas mesmas necessidades. Todas estas formas de disciplina
visavam ao desenvolvimento, espiritual e ao aperfeiçoamento moral do penitente.

Os ideais do Monaquismo resumiam-se em três: castidade, pobreza e obediência.


Esses ideais trouxeram sentidos negativos e positivos, porque nesses três ideais negava os
três grandes aspectos institucionais da vida social, a família, a sociedade industrial e o
Estado. Positivo por tornar-se uma grande força educacional de muita importância para a
sociedade, entre elas a virtude de obediência e a humildade contrabalançaram com o forte
individualismo dos bárbaros e arrogância dos romanos, contribuíram para reorganização da
81

sociedade, pela instituição do Feudalismo e também se revelaram no movimento das


Cruzadas.

4) O monaquismo e a educação literária: O monaquismo não foi um sistema literário ou


escolar. Até o terceiro século não houve nenhuma forma de educação a não ser a ministrada
pelos monges, que na sua concepção de educação era apenas de caráter moral e religioso. A
Igreja e as instituições monásticas foram os responsáveis pelo fato de não existir nenhuma
outra concepção, ou instituição educativa.

5) As escolas nos mosteiros: Os mosteiros pouco fizeram para a instrução e preparação dos
próprios monges e jovens destinados a vida monástica se dedicando somente ao caráter
religioso. Ensinavam obrigatoriamente as artes de leitura, de escrita, de canto, de calcular, o
calendário da igreja. No fim do oitavo século as escolas em toda a Europa Ocidental eram
rudimentares e o ensino dos mosteiros era muito pobre, não havia oportunidade para a
educação dos meninos a não ser que fossem destinadas as vidas monásticas. Foi quando o
imperador Carlos Magno es seu ministro Alcuíno encabeçaram um movimento para que os
jovens não destinados a vida monástica tivessem oportunidade s de estudar. Estes eram
externos para distinguirem dos internos, que eram destinados a professar. As escolas
monásticas tornaram-se mais numerosas e de menor qualidade.

A partir do século XV surgiram instituições ativas independentes das escolas


monásticas somente no século XII podem-se perceber as modificações acentuadas no
caráter da educação em todas as instituições. Durante esse período todo mosteiro era uma
escola e toda educação estava nos conventos ou sob a direção dos monges e a conservação
do saber foi um fato muito importante conseguido pela Igreja.

Os oblatos (pueri oblati) eram meninos que os pais consagravam a Deus.


Permaneciam em mosteiros por toda a vida. Os noviços eram jovens já a ponto de
professar; uns e outros vestiam o hábito do mosteiro e se iam incorporando, aos poucos ao
regime monástico. Um monge dirigia a escola e se chamava magister principalis; o
bibliotecário tinha o nome de armarius; os monges destinados a vigiar estritamente os
alunos eram os custodes.

Em muitas escolas monásticas o seu chefe recebia o nome de abade (nome de


origem semítica que significa pai). Por isso, em tais casos, as escolas monásticas eram
chamadas escolas abaciais. A disciplina era rígida, sobretudo na schola interior; o látego, o
jejum, o cabouço eram os meios punitivos. A primeira etapa da instrução se reduzia ao
aprendizado do latim, o idioma da Igreja e da literatura.

6) A herança literária do monaquismo: as sete artes liberais: O conteúdo do ensino é o


estudo clássico das sete artes liberais, as artes dos homens livre, distintas das artes
mecânicas do homem servil, cujas disciplinas começam a ser delimitada desde o tempo dos
sofistas gregos.Na idade Média elas constituíam o trivium e o quadrivium.

Marciano Capela escreve um livro sobre esse assunto, e daí em diante a divisão das
sete artes serviu para esboçar um programa de ensino, embora sua definitiva adoção tenha
se dado apenas das reformas de Alcuíno, no século IX.
82

No trivium, constam as disciplinas de gramática, retórica e dialética, correspondente


ao ensino médio. O quadrivim, formado por geometria, aritmética, astronomia e música, é
de nível superior, e portanto as disciplinas são estudadas por um número menor de pessoas.
Depois de completar o curso básico de (trivium e quadrivium) os alunos podiam
preparar-se profissionalmente em escolas de artes liberais ou dirigir-se para as áreas de
medicina, direito ou teologia.

III. Escritores Educacionais do princípio da Idade Média

1) Marciano Capela – um representante da cultura pagã da África do Norte,


escreveu (entre 410 – 427) em tratado intitulado “O casamento da Filosofia e Mercúrio. Foi
o livro mais adotado durante a primeira metade da Idade Média que ensinava o saber
clássico. Fala sobre a escolha da noiva, a mais culta de todas e a escolha de sete madrinhas
– Gramática, Dialética. Retórica, Geometria, Aritmética, Astronomia e Harmonia e durante
a festa cada uma delas expõe o seu próprio conteúdo. Estes discursos resumem todo o saber
daquele tempo.

2) Boécio - (480-524) Foi o mais influente de todos os homens cultos da Idade


Média. Sua principal obra consistiu em conservar, para os próximos séculos, o
conhecimento existente dos escritores gregos, especialmente de Platão e Aristóteles.
Embora seus escritos tenham dado impulso ao início do movimento escolástico, somente no
século XII suas obras mais importantes se tornam conhecidas. Seus livros deram à Idade
Média a, lógica e a ética, isto é, a base dialética da educação medieval. Escreveu também
sobre aritmética, geometria e música. Estes seus trabalhos foram largamente adotados como
livros didáticos; alguns continuaram a ser adotado em universidades até o século XVIII.

3) Cassiodoro - (490-585):Foi o primeiro ministro de pelo menos quatro dos


primeiros imperadores bárbaros ou reis godos e serviu com intérprete da cultura latina e das
vontades desses reis junto aos romanos conquistados. Passou grande parte de sua vida em
um mosteiro que ele mesmo fundou. Lá escreveu livros didáticos e um tratado de educação
sobre as Sete Artes Liberais.Estimulou os monges a estudarem os clássicos e os que não
tivessem interesse pelo estudo, se dedicassem à agricultura. Investiu parte de sua riqueza na
coleção de manuscritos e influenciou na difusão do costume de datar tomando por base a
era cristã, costume esse iniciado por um dos seus monges,em 562 d.C.

IV. A Restauração Carolíngia do saber

1) A obra de Carlos Magno: Imperador Carlos Magno, teve sua influência na história
educacional no século VII ao XII, foi o da restauração do ensino, emitiu inúmeros decretos,
considerados as primeiras leis escritas da Idade Média Ocidental. Sua intenção era
uniformizar a administração do grande Império Carolíngio, respeitando suas tradições. Com
esses decretos foram divididos em capítulos receberam o nome de Capitulares. Em uma das
capitulares, sua preocupação com a questão do ensino, escreveu “Cremos útil que nos
bispados e nos mosteiros se cuide não somente de viver de acordo com as regras de nossa
santa religião, mas também de ensinar o conhecimento das letras ao que sejam capacitados
de aprendê-las com a ajuda do senhor. Embora valha mais praticar a lei do que conhecê-las
83

é preciso conhecê-la antes de praticá-la. Pelos escritos que, vários mosteiros nos
remeteram, notamos que, na sua maior parte, os sentimentos são bons, mas a linguagem é
má: assim, nós vos exortamos para que não vos descuideis do estudo das letras, mas que
nos entregueis a ele com a maior energia”.

2) O Renascimento Carolíngio. Teve um grande desenvolvimento cultural, êxito político e


administrativo no reinado de Carlos Magno. Desde o final do Império Romano, a cultura
vinha acabando devido às guerras e invasões dos bárbaros. Pepino , o Breve, não sabia
escrever o próprio nome e Carlos Magno só o aprendeu em idade adulta. A reversão desse
quadro passou a ser uma das metas de Carlos Magno que reuniu sábios a fim de favorecer a
instrução, fundando a Escola Palatina, situada no Palácio, sendo dirigida pelo teólogo e
pedagogo inglês.

VI. A Escolástica: a educação como disciplina intelectual

1) Natureza da Escolástica: - é a denominação dada ao tipo de vida intelectual ou


educativa, que predominou do século XI ao XV. Contribui para a criação das universidades
e dominou o trabalho destas instituições durante três ou quatro séculos. Tinha seu objetivo
definido, embora, limitado, seu conteúdo era restrito.

O termo “escolástica” significou inicialmente o conjunto do saber, tal como era


transmitido nas escolas do tipo clerical. O escolástico era o mestre das Sete Artes Liberais
ou o chefe das escolas monásticas ou catedrais. Mais tarde se deu o mesmo nome aos que
escolarmente se dedicavam à Filosofia e à Teologia. Num sentido amplo, podemos dizer
que a escolástica é um movimento intelectual oriundo da Idade Média, preocupado em
demonstrar e ensinar as concordâncias da razão com a fé pelo método da análise lógica.

A escolástica, portanto, não se caracteriza por nenhum conjunto de princípios ou


crenças, mas por um método ou tipo peculiar de atividade intelectual. Seu objetivo era
apoiar a fé na razão, procurando acabar com todas as dúvidas e controvérsias através da
argumentação.

2) A escolástica compreende três períodos:

1. O de formação (desde o século IX até fins do século XII)


2. O de apogeu (1220 a 1347) época de fundação dos grandes sistemas escolásticos.
3. O de decadência (até últimos anos do século XV), caracterizado pela representação
das doutrinas da fase precedente.

3) Os principais representantes da escolástica são:

1. Santo Agostinho - (1033 – 1109) – o primeiro a fazer distinção entre saber e crença.
2. Santos Alberto Magno – (1200 – 1280) – denominado, o doutor Universal, foi o
primeiro a reproduzir a filosofia de Aristóteles em forma sistemática.
3. Santo Tomás de Aquino - (1225 –1274) - o doutor angélico, foi o mais influente de
todos. Sua monumental abra Suma teológica, representa a culminância da
escolástica. Com relação ao ensino admite como Santo Agostinho, que Deus é o
84

verdadeiro mestre que ensina dentro de nossa alma, porém necessita de uma ajuda
exterior.
4. John Duns Scotus - (1266 – 1308) 0 o doutor sutil, foi fundador de uma escola de
teologia rival da de Santo Tomás de Aquino.
5. Guilherme de Occam - (1300 – 1350) – o doutor invencível negava que as doutrinas
teológicas pudessem ser demonstradas pela razão e sustentava que era totalmente
matéria de fé.

VII. As Universidades

As principais circunstâncias que determinaram o surgimento e desenvolvimento das


universidades européias no século XIII foram:

1) O desenvolvimento interno das escolas monásticas e escolas das catedrais.


2) O vigoroso influxo da Ciência e da Teologia;
3) O desenvolvimento do comércio e o crescimento das cidades que estimularam o
interesse pelo ensino;
4) O movimento das cruzadas, que tiram a sociedade européia do seu isolamento.
5) O primeiro nome dado às novas instituições de ensino significa que tais instituições,
em seu início, incluíssem todos os ramos do saber, significa apenas que era um instituto
geral para todos os estudantes preparados, sem distinção de raça e nacionalidade.

Em sua origem, em Studium Generale podia cultivar e ensinar apenas um ramo do


saber, por exemplo, poderia ensinar só Direito. Somente pelos fins do século XIV, o nome
Studium Generale foi substituido pelo de Universitas Literarium. Isto ocorre quando um
studium generale organiza-se em forma de corporação de mestres e alunos, pouco
importando que, a princípio, seus membros se consagrassem a uma só disciplina.

Talvez a primeira universidade que congregou professores e alunos organizados por


seções nas quatro grandes divisões do conhecimento daquela época (Teologia, Direito
Medicina e Filosofia) tendo sido a de Nápolis, fundada em 1224. Podemos citar, entre as
universidades mais importantes, as de Paris, Bolonha, Salerno, Oxford, Viena, e
Salamanca.

Durante a Idade Média foi muito grande a influência das Universidades. Elas
forneceram o primeiro exemplo de organização primeiramente democrática. Foi uma das
grande forças da Idade Média, a única que para época representava a cultura superior do
espírito, quando não havia outros corpos científicos, nem imprensa, nem jornais, nem
revistas.
Representava também a opinião pública, não somente nos assuntos científicos, mas
também nos grandes problemas políticos e eclesiásticos, ou por não existirem corporações
políticas regulares, ou por estas se reunirem de quando em quando.
85

VIII. A Cavalaria: A Educação como Disciplina Social

Formação Militar: A educação do cavaleiro

Por volta do século XI, vários acontecimentos transformam o modo de vida medieval:

 O renascimento comercial;
 O florescimento das cidades;
 O surgimento da classe burguesa;
 As Cruzadas;
 A consolidação da instituição da cavalaria.

Até o século X os senhores costumam recrutar os soldados entre os homens livres


que compõem principalmente a infantaria. Com o desmoronamento da autoridade
monárquica centralizada e a fragmentação dos reinos em inúmeros ducados e condados,
torna-se costume recorrer ao cavaleiro, (soldado que adquire a habilidade no manejo das
armas e possui cavalo e roupa adequada, a caríssima armadura).

A cavalaria é fundamentalmente uma instituição da nobreza, embora entre os


cavaleiros houvesse aventureiros de todo tipo e camponeses enriquecidos. Sendo o filho
primogênito o herdeiro das terras com muita freqüência seus irmãos são encaminhados para
o clero ou para a cavalaria.

A aprendizagem das armas obedece ao um ritual muito severo que culmina com a
cerimônia de sagração. Na primeira etapa dos 7 aos 15 anos, o menino é enviado a outro
castelo para servir como pajem, aí convive com as damas, aprende música, poesia, jogos de
salão, a falar bem, exercitar-se nos esportes e adquire as maneiras corteses. A cortesia, isto
é, o viver cortês significa a maneira adequada de se comportar na corte.

A segunda etapa começa quando o jovem se torna escudeiro pondo-se a serviço de


um cavaleiro. Aprender a montar a cavalo, adestrar-se no manejo das armas, exercitar-se
nas caçadas e nos torneios ou liças, a fim de estar preparado para as guerras, tão comuns
naquela época, ao mesmo tempo em que a preparação física merece cuidados, é dada
continuidade à educação social, com a introdução a assuntos políticos e até rudimentos da
conquista amorosa.

Aos vinte e um anos, após rigorosas provas de valentia e destemor, o escudeiro é


sagrado cavaleiro, não destaca a atividade intelectual, pois se quer sabe ler ou escrever, mas
valoriza as habilidades da caça e da guerra, bem como a formação espiritual, tendo em vista
as principais virtudes do cavaleiro: honra, fidelidade, coragem, fé e cortesia.

Um código de honra envolve os cavaleiros, submetidos à severa disciplina moral. A


aura de defensores dos desamparados, mulheres, velhos e crianças durante muito tempo
alimenta criação anônima dos famosos romances de cavalaria. Dentre eles se destaca o
poema épico (a canção de Rolando), que descreve acontecimentos do século VIII, por
ocasião das lutas contra os mouros. O Poema do Cid, de autor incerto relata a história de
Dom Rodrigo El Cid, que viveu no Século XI.
86

CONCLUSÃO

O Tempo na Idade Média pertencia a Deus. A vida na terra era apenas um momento
transitório, era preciso antes de tudo preocupar-se com a eternidade. Essa concepção
religiosa justificou a organização das sociedades medievais, todos estavam submetidos ao
poder espiritual, reis. Duques, senhores feudais. Aos servos, cabia produzir alimentos para
sustentar esse reino de Deus.
Na Idade Média, o saber foi em boa parte controlado pela Igreja. Além de dominar
as bibliotecas, ela impunha também os temas a serem estudados. Tentava, da sua maneira
disciplinar a dedicação dos Monges e da população.
A Educação na Idade Média não trouxe muitos avanços no sentido pedagógico, pois
era voltada a religião, mas é justo lembrarmos do surgimento das universidades, da
preservação e difusão da cultura e do ensino por parte da Igreja, apesar do excesso e abusos
de alguns de seus membros
A idade Média não foi um período negro de uma historiografia já superada. Foi um
período de lenta, e talvez dolorida, fecundação de idéias e técnicas que prepararam os
tempos modernos

5. A EDUCAÇÃO NA REFORMA76 DO SÉCULO XVI


Apesar das significativas contribuições de educadores e pensadores cristãos ao
longo da história, é na época da Reforma Protestante do século XVI que, efetivamente,
chega-se à mais elevada conscientização sobre a importância do processo educacional para
a formação da personalidade humana, conforme a concebeu o Criador. Considerando a
educação um fator imprescindível para que os traços da Imago Dei se desenvolvam no ser
humano, os reformadores protestantes tornaram-se os principais agentes de transformação
do processo educacional em todos os tempos. A Reforma Protestante renovou o interesse
pela educação dos povos, alterando a História da Educação e da própria civilização. As
figuras marcantes deste período são: Martinho Lutero, Felipe Melanchtonn e João Calvino.

Martinho Lutero, ao publicar suas teses, provoca drásticas alterações na maneira de


entender a fé cristã. A igreja havia mantido os cristãos afastados da principal fonte de
informação sobre o próprio Cristianismo, isto é, a Bíblia. Apesar de considerada como o
livro cristão por excelência, a leitura da Bíblia foi proibida para os leigos por muitos
séculos, e sua interpretação considerada privilégio do clero. Num tempo em que mesmo a
nobreza ou a maioria do clero era inculta, os ensinos do Evangelho não eram comunicados
e as heresias, as crendices e misticismos de toda ordem, foram invadindo a mentalidade do
povo dito cristão. Ao atribuir ao indivíduo a responsabilidade pela sua relação com o
Criador, Lutero minimiza ou anula a função mediadora da igreja e volta a enfatizar a
autonomia do ser humano nas questões espirituais. Esta autonomia, entretanto, exige um
processo educativo através do qual os seres humanos possam conhecer a Deus, a si

76
Este texto foi extraído e adaptado da apostila: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO CRISTÃ, de autoria do Dr.
Antônio José, utilizada no curso de Educação Cristã no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper.
Com a permissão do autor.
87

mesmos, e às obras criadas, às quais revelam a sabedoria do Criador. A doutrina já ensinada


por Cristo e pelos apóstolos e esquecida pela cristandade durante tantos séculos, exige que
cada indivíduo aprenda a ler e entender, por si mesmo, as Sagradas Escrituras. O
imperativo de combater a ignorância leva Lutero a fazer uma tradução do Novo Testamento
para o vernáculo alemão, o qual é publicado em setembro de 1522, transformando-se numa
base para todo um processo de alfabetização pública. Na sua primeira formulação explícita
sobre o processo educacional, a Carta aos Prefeitos e Conselheiros de Todas as Cidades da
Alemanha, Lutero afirma que a estabilidade da nova ordem espiritual depende da
compreensão das crianças em relação às Sagradas Escrituras, o que só é possível através da
instrução. Para Lutero “não há outra ofensa que pese tanto diante de Deus e que mereça
maior castigo do que negligenciar a educação das crianças”.77 Lutero revoluciona o sistema
educativo ao admitir mulheres no magistério, atividade reservada aos homens até este
momento da história. A vocação para o ensino é tremendamente valorizada por Lutero, que
a considera inferior apenas à vocação de pregador da Palavra.

O interesse de Lutero pelos problemas da educação e da escola está contido numa


série de discursos e de apelos dirigidos aos homens políticos alemães (Apelo à Nobreza
Cristã Alemã – 1520; Carta aos Conselheiros Comunais de todas as Cidades da Alemanha –
1524; Sermão sobre a Necessidade de enviar os Filhos à Escola – 1530; além de outros
escritos de caráter religioso os quais retratam preocupação pedagógica (Grande e Pequeno
Catecismo – 1529). A sua concepção pedagógica baseia-se num fundamental apelo à
validade da instrução, a fim de que todo homem possa cumprir os próprios deveres sociais.
Para Lutero, a instrução é, portanto, uma obrigação dos cidadãos e um dever dos
administradores das cidades. Os primeiros, dia Lutero, têm tal obrigação, porque a lei de
Deus não se mantém com os punhos e com as armas, mas apenas com a cabeça e com os
livros. Lutero também cria que era dever da autoridade temporal propiciar estudos aos seus
súditos e motiva-los a manter os filhos na escola.

Há, certamente, uma diferença de natureza entre Igreja e Estado, exatamente como
há entre cristão e cidadão, mas não precisa ser uma diferença de pessoa; o mesmo indivíduo
pode ser tanto cristão quanto cidadão. Na mente de Lutero, a autoridade espiritual da igreja
está somente sobre a alma. Ela é persuasiva, não coercitiva. Como é demonstrado nos
rituais luteranos, o reino de Cristo é espiritual – o conhecimento de Deus no coração e na
vida de fé. O poder das chaves é puramente o poder de pregar o evangelho e administrar os
sacramentos.78

A autoridade temporal do magistrado, por outro lado, é mantida como autoridade sobre
os corpos e bens dos homens, não sobre suas almas. É coercitiva em vez de persuasiva.
Entretanto, embora o magistrado não possa decidir sobre doutrina, sendo leigo, deve
considerar que ela é mantida. Seu primeiro dever é a prosperidade da glória de Deus.
Melancton apela ao Imperador Carlos V:

77
Citado por Giles, 119.
78
T. G. Tappert,The Book of Concord (Philadelphia, Pennsylvania: Westminster Press, 1959), 81.
88

Portanto, gracioso Imperador Carlos, por amor do evangelho de Cristo, que sabemos que
desejais exaltar e prosperar... é vossa responsabilidade especial perante Deus manter e
propagar a sã doutrina e defender aqueles que a ensinam. ... Os reis devem cuidar do
evangelho de Cristo e, como representantes de Deus, devem defender a vida e a
segurança do inocente.79

Aqui as fórmulas luteranas parecem aproximar-se da visão calvinista do magistrado


como executivo da igreja. Ao passo que em um sentido os dois domínios devem manter-se
separados, em outro o magistrado é, ele próprio, um membro da igreja e participante do
sacerdócio universal.80

Para Calvino, eles eram domínios distintos que não deviam misturar-se. Entretanto,
há ecos do ensino de Lutero em Calvino quando ele ressalta a importância do governo civil
(pessoas leigas) em sua obra Institutas da Religião Cristã:

Aquele que sabe como distinguir entre corpo e alma, entre a presente vida transitória e a
futura e eterna, não terá dificuldade em compreender que o reino espiritual de Cristo e o
governo civil são coisas largamente separadas. ... À vista de Deus, o governo civil é não
somente sagrado e legal, e sim o mais sagrado e de longe o mais honroso em todas as
etapas da vida mortal. ... Eles têm uma comissão de Deus, são investidos de autoridade
divina para agir).81

5.1. O LUGAR DA EDUCAÇÃO EM JOÃO CALVINO

O conceito da figura do príncipe piedoso é proeminentemente uma idéia de Calvino,


como é na dos Reformadores ingleses. A diferença, entretanto, é que Calvino nunca daria
ao magistrado autoridade para decidir questões de doutrina ou iniciar atos de jurisdição
eclesiástica. Não cabe ao magistrado usurpar a autoridade de ministros ou impor-se à igreja
acerca de seus próprios assuntos internos.82

Quando estudamos a história Cristã nos séculos XVI e XVII sobre a influência de
magistrados e líderes leigos, torna-se imperioso mencionar que, por mais importantes que
tenham sido as contribuições dos ministros reformados ordenados, não se pode esquecer a
contribuição do laicato para a cristandade. O mundo de fala inglesa nunca viu uma
constelacão de líderes políticos totalmente dedicados a Deus e Sua causa como o Lord
Oliver Cromwell e o governador de Massachussets John Winthrop. Esses líderes dedicaram
suas vidas ao serviço público de modo deliberado e de todo o coração, com a mais profunda
gratidão ao Deus da sua salvação.

O dever que as autoridades municipais de instruir e manter às suas custas e expensas


79
Ibid., 236.
80
William Temple, Christianity and Social Order (London, England: Shepeard-Walwyn, 1945).
81
John Calvin, Institutes of the Christian Religion, 2 vols. (Philadelphia, Pennsylvania:
Westminster Press, 1961), 20, 1-10.
82
James Mackinon, Calvin and the Reformation, New York: Russel & Russel, 1962).
89

as instituições escolares, deriva-se da convicção de que estas se configuram como


verdadeiros e legítimos instrumentos de Deus para o cuidado da sociedade. A formação dos
cidadãos respeitadores através da educação, favorece a glória de Deus a paz social. Assim
sendo, a ignorância deve ser combatida com veemência em todas as comunidades da
reforma, pois é um instrumento mediante o qual o diabo se empenha em ofender cidades e
estados, segundo Lutero.
A educação, para Lutero, deve apoiar-se sobretudo no estudo das línguas, as antigas
e a nacional porque as línguas são vistas como a bainha na qual está guardada a espada do
Espírito, o meio para se chegar a compreender a verdade do evangelho. Conforme o
registro de Franco Gambi, “as escolas originadas com Lutero, foram organizadas em quatro
setores: o das línguas (latim, grego, hebraico, alemão), para remontar às fontes das
Sagradas Escrituras; o das obras literárias (pagãs e cristãs), para o ensino da gramática e a
leitura dos Textos Sagrados; o das ciências e das artes, e o da jurisprudência e medicina.83
A freqüência escolar dessas escolas eram limitadas a uma ou duas horas por dia,
enquanto o tempo restante era utilizado a trabalhar em casa, a aprender algum ofício, a
fazer tudo o que se esperava deles como alunos. Assim, “estudo e trabalho” deveriam
caminhar juntos, segundo a perspectiva pedagógica de Lutero. No centro da vida escolar
está o mestre, que substitui a família. O mestre deve possuir um justo equilíbrio entre
severidade e amor, já que com amor obtêm-se muito mais do que com o medo servil e com
a coação, pensava Lutero. Para Lutero, “na escola não deve haver espaço para as punições
excessivas e para o estudo que não tenha uma finalidade e uma motivação precisa.”84
Graças a estreita relação entre a Igreja Luterana e as autoridades civis, sobretudo na
Alemanha, efetua-se primeiro uma reorganização das Escolas municipais e,
sucessivamente, chega-se a fundar muitas escolas secundárias financiadas e controladas
pelo Estado. Nascem assim os ginásios, que são o primeiro e mais duradouro núcleo da
escola nacional alemã naquele período.
A elaboração das estruturas organizativas e dos conteúdos culturais próprios das
escolas secundárias da Reforma é devido sobretudo a Felipe Melanchton (1497-1560). Ele
foi muito ativo em promover e organizar escolas em diversas partes da Alemanha.
Melanchton defendia a importância da isntrução e a validade da cultura antiga pra penetrar
a verdade das escrituras. Segundo ele, a ignorância era a maior adversária da fé e por isso
mesma precisava ser tenazmente combatida, mediante uma reforma das escolas e uma
recuperação da autoridade cultural e moral dos educadores. Franco Gambi afirma que para
Melanchton,
“a finalidade da escola era promover a piedade evangélica, torná-la culta e
consciente através de uma instrução clássica rigorosamente organizada.” Em 1527,
encarregado pelo duque da Saxônia e dentro de um plano de reordenação da
situação religiosa do ducado, Melanchton redige os seus famosos “Artigos de
Visitação”, uma publicação contendo, entre outras coisas uma série de instruções
para os diretores das escolas, na qual aprofunda suas idéias sobre a escola e sua
organização. Em sua proposta educacional, ele atribuía as autoridades civis a tarefa
de instituir e financiar as escolas e de nomear professores dotados de boa cultura
clássica e de piedade cristã. O seu programa educacional consistia de três ciclos: o
primeiro ciclo era para os principiantes, para os quais era ensinado o latim, o grego

83
Franco Gambi. História da Educação (São Paulo, SP: Fundação Editora da Unesp, 1999), 249.
84
Ibid., 250.
90

e o hebráico.; aos alunos do segundo ciclo ensinava-se gramática avançada; aos


alunos do terceiro ciclo, ensinava-se a dialética, a retórica. 85

Felipe Melanchton entendendo que constitui uma impossibilidade a desvinculação


entre os problemas educacionais da época e as questões teóricas, decide aprofundar o
estudo sobre a relação dos postulados da reforma com a tradição clássica e filosófica. Como
ponto de partida, transforma a Universidade de Witemberg em Centro de estudos baseados
na Reforma. Ao mesmo tempo, elabora códigos escolares e atua como conselheiro para
assuntos da área de educação, junto aos príncipes e autoridades civis. É atribuído a
Melanchton o desenvolvimento do conceito de piedade erudita que, mais tarde, veio a
tornar-se o ponto fundamental do processo educacional alemão. O reformador Melanchton
chegou a ser considerado um dos maiores educadores de sua época, tendo recebido o título
de Mestre da Germânia.86

Se o luteranismo na Alemanha relança a função social da instrução através da


instituição de escolas e a valorização da língua nacional como meio de aproximação
pessoal dos textos da Sagrada Escritura, também junto às outras Igrejas Reformadas,
especialmente na Suiça, o problema educativo era visto mais em estreita relação com a
dimensão espiritual e cristã. Esta reforma educacional foi promovida por João Calvino
(1509-1564). Chamado de volta à Genebra em 1541, ele assume o governo da cidade
dando vida a um programa de reformas cristãs e sociais, profundamente alicerçado nos
princípios desta sua fé, atribuindo um amplo espaço à educação. Calvino defendia a
necessidade da frequência escolar para todos, especialmente para as comunidades da
Reforma, apontando as línguas e as ciências seculares como conteúdos relevantes para a
formação, junto às Escrituras.

5.2. A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO PARA JOÃO CALVINO

Calvino está acima dos demais líderes da Reforma francesa e suíça. De Genebra, ele causou
maior impacto sobre a Europa e o restante do mundo. Poderosa como era sua influência ali,
ele foi sempre uma espécie de hóspede em terra estranha. Em um sentido, ele era apenas
um dos muitos refugiados que viviam em Genebra com seus olhos em sua terra natal,
esperando que algum dia toda a França fosse evangelizada e que a religião reformada
pudesse prosperar livremente .

Esperando esse dia, ele e seus amigos acolhiam a contínua corrente de protestantes
refugiados das áreas dominadas pelo Catolicismo Romano, oferecendo-lhes comida e
abrigo em Geneva. Foi característico da reforma calvinista que esta hospitalidade deveria
ser institucionalizada como fundo de assistência social conhecida como Bolsa Francesa ou
Fundo Francês Para Estrangeiros Pobres, destinado àqueles que chegavam a Genebra para
viver conforme as reformas da Palavra.
A influência de Calvino foi consolidada por meio da academia que ele fundou, a
qual se tornou a Universidade de Genebra. As instituições educacionais foram nitidamente

85
Ibid., 251.
86
Giles, 125.
91

importantes para ele. Calvino promoveu a educação na escola secundária e insistiu sobre a
educação primária compulsória para meninos e meninas .

Calvino também compreendeu a relevância das instituições de caridade para o bem-


estar não somente dos totalmente indigentes e desfavorecidos, mas também de muitas
vítimas dos eventos históricos de seu tempo. Olson comenta:

A estrutura organizacional para a caridade em Genebra, a Bolsa Francesa, foi uma


instituição fundamental que cuidou não apenas de muitos refugiados humildes e de
pobres de Genebra, mas também de refugiados franceses de importância e
conseqüência. A Bolsa Francesa foi uma parte importante daquele sistema de bem-estar
porque foi dedicada a estrangeiros em uma cidade popular para os refugiados.87

Calvino revela freqüentemente uma sensibilidade para a posição e necessidades do


indivíduo dentro da sociedade, especialmente dos desprivilegiados e dos pobres.

Wallace afirma:

Do púlpito ele muitas vezes saía de seu estilo para incitar a consciência de seus ouvintes
sobre seu dever para com os desprovidos financeiramente ao seu redor. Quando ele
pregava sobre a proibição do Velho Testamento de despojar o devedor pobre de um
penhor insuportável por seu débito, ele falava em voz alta que pode ser ouvida hoje
como um reclamo de que nenhuma sociedade deve privar qualquer homem da
oportunidade de trabalhar para seu sustento.88

João Calvino é um nome extremamente significativo tanto para a Reforma


Protestante, quanto para as reformas no processo educacional. Num breve resumo como o
apresentado nesta apostila, é impossível fazer justiça em relação ao papel por ele
desempenhado na evolução da História da Educação. Considerando impossível separar a
questão educacional da questão teológica, Calvino entende que a Igreja, além de uma
comunidade de fé e adoração a Deus, é também uma comunidade de ensino, uma escola
onde o Espírito de Deus é o Mestre dos Mestres, no sentido real e prático. Não há distinção
ou hierarquia de valores entre o estudo de línguas, história, ciências ou religião, porque
todo o ensino visa o aperfeiçoamento do ser humano para o cumprimento da sua vocação.
Esta vocação leva-o a ocupar um lugar distinto na sociedade, através do qual, além de obter
para si as bênçãos necessárias a uma vida cotidiana digna, o cristão atinge o mais alto
propósito da sua existência: a glória de Deus.89 Mais uma vez, percebe-se a visão cristã da
educação, segundo a qual não pode haver fragmentação do saber, não existindo
compartimentos “sagrados” e “mundanos” do conhecimento humano. Pelo contrário, todo o
verdadeiro conhecimento tende a dirigir o ser humano para a contemplação do Criador.

87
Jeanini E Olson. 1989. Calvin and Social Welfare (Selinsgrove: Susquehanna University Press,
1989), 12.
88
Ronald Wallace. Calvin, Geneva and the Reformation (Grand Rapids, Michigan: Baker Book
House Company, 1990), p. 123.
89
Wilson Castro Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia Campinas: Luz para o Caminho,
1995), 184.
92

Calvino enfatiza sua percepção de que não é possível, ao ser humano, abrir os olhos sem
ver a sabedoria de Deus nas Suas obras, mas que algumas das provas da maravilhosa
sabedoria do Criador estão ocultas à observação comum e só podem ser trazidas à luz
através da ação do Espírito Santo. Assim, Calvino é explícito ao valorizar a busca do
conhecimento, pois para ele “os homens que possuem o conhecimento podem penetrar mais
detalhadamente nalguns dos segredos da sabedoria divina”90
O período da reforma protestante é bastante frutífero em produções teóricas e
práticas na esfera educacional. A luta contra a ignorância é parte da pregação de uma
religião cristã que valoriza o intelecto e o uso da razão. Isto faz com que os reformadores
mostrem-se incansáveis na busca da sistematização do ensino, na tentativa de criar modelos
educacionais organizados com base em preceitos confiáveis e na implantação de escolas em
todos os lugares possíveis.
O puritanismo inglês, movimento fundamentado nas idéias calvinistas, manifesta
também seu interesse pela educação, assumindo papel preponderante na regulamentação
das escolas da nação, no período de 1640 a 1660. Apenas em 1641 surgem mais de sessenta
escolas livres no país de Gales. Na América, os colonizadores puritanos demonstraram seu
zelo pela questão educacional, através do estabelecimento e manutenção de escolas
espalhadas por toda a Nova Inglaterra, desde o início da colonização. A faculdade de
Harward, segundo Riken, é organizada apenas seis anos após a chegada dos puritanos à
Baía de Massachussetts e mantida, durante muito tempo, por fazendeiros cristãos que
contribuem em trigo, para a manutenção de professores e alunos.91
Os ideais da Reforma Protestante influenciam as diversas áreas da vida humana nos
séculos seguintes. Cumprindo sua finalidade transformadora, o Cristianismo prossegue,
fazendo da educação seu principal instrumento de humanização e cristianização do ser
humano.

5.3. A EDUCAÇÃO CALVINISTA ALICERÇAVA-SE NA DOUTRINA DA IMAGO


DEI

Todo o empreendimento e motivação social de João Calvino na área da educação,


estava também atrelado ao princípio na doutrina da Imago Dei. A Igreja precisava dedicar-
se à educação do ser humano, por ser este a imagem do seu Criador, assim pensava
Calvino. A reforma protestante trouxe um retorno a uma visão mais bíblica do homem
como uma reação à antropologia escolástica da idade média. Portanto será extremamente
importante para nós olhar para o entendimento da imagem de Deus encontrado em João
Calvino, grande reformador, que viveu de 1509 a 1564.
A primeira pergunta que fazemos a respeito da idéia de João Calvino é esta: onde
deve ser encontrada a imagem de Deus no homem? Segundo Calvino, a imagem de Deus é
encontrada primariamente na alma humana: “Porque embora a glória de Deus brilhe no
homem exterior, todavia não a dúvida de que a sede própria da imagem de Deus esteja na
alma.92 Contudo Calvino está desejoso de admitir que “embora o assento primário da

90
Joseph Pitts Wiles, M.A., As Institutas da Religião Cristã – Um Resumo (São Paulo: PES, 1984),
30.
91 Leland Riken, Santos no Mundo (São José dos Campos: FIEL,1992), 165.
92
Institutes of the Christian Religion, ed. Jonh T. McNeil, trans. Ford Lewis Battles (Philadelphia:
Westminster, 1960), I.15.3.
93

imagem divina esteja na mente, no coração ou na alma e seus poderes, todavia não houve
nenhuma parte do homem nem mesmo seu próprio corpo, no qual algumas centelhas não
tenham brilhado.”93 Olhando em direção ao futuro, Calvino admite que quando a imagem
de Deus é restaurada em sua plenitude na vida por vir ela será restaurada no corpo assim
como na alma.94
A próxima pergunta a ser levantada é esta: Em que a imagem de Deus
originariamente consistia? No livro I das suas Institutas, Calvino responde esta pergunta
deste modo:
A integridade com a qual Adão foi capacitado é expressa por esta palavra (imagem ou
semelhança de Deus) quando ele teve plena posse do correto entendimento, quando
teve suas afeições guardadas dentro do limite da razão, todos seus sentidos
temperados na ordem correta, e ele verdadeiramente referiu sua excelência aos dons
excepcionais concedidos a ele pelo seu Criador.95

Calvino continua dizendo que no começo a imagem de Deus era visível “à luz da
mente, da retidão do coração, e nas partes todas sadias do homem.”96 Em outro lugar
acrescenta o pensamento de que naquele tempo o homem verdadeiramente excedeu em
tudo o que era bom.97
Com base em Cl 3.10 e Ef 4.24, Calvino conclui que a imagem de Deus no homem
originalmente incluía o verdadeiro conhecimento, justiça e santidade.98 Entre os dons
sobrenaturais que os seres humanos tinham no começo – dons que foram perdidos pela
queda – estão fé, amor a Deus, caridade para com os seus vizinhos e zelo por santidade
retidão.99 Em seu estado original o homem era capaz de comunicar-se com Deus e os
outros seres humanos e responder a ambos.100
Calvino opõe-se àqueles que encontram a semelhança de Deus no domínio sobre a
terra que foi dado ao homem.101 Todavia ele é desejoso se admitir que o domínio que o
homem tem sobre a terra compreende em alguma medida embora em medida menor a
imagem de Deus.102
Antes da queda, portanto, segundo Calvino, o homem possuía a imagem de Deus em
sua perfeição. A queda, contudo, teve um efeito devastador sobre essa imagem. Levanta-
se ainda uma pergunta adicional a Calvino: Há um sentido em que o homem caído ainda
reflita a imagem de Deus? Algumas vezes parece como se a resposta a esta pergunta fosse
um retumbante não. Porque as vezes ele fala da imagem de Deus como tendo sido
destruída pelo pecado,103 obliterada pela queda,104 apagada, varrida ou perdida pelo

93
Ibid.
94
Comm. On I Cor. 15:49. Deve-se notar que, de acordo com Calvino, até os anjos foram criados à
semelhança de Deus. (Inst., I.15.3).
95
Inst., I.15.3
96
Ibid., I.15.4.
97
Comm. On Genesis 1.26.
98
Inst., I.15.4. conf. Comm. On Colossians 3.10 e Comm. On Ephesians 4.24.
99
Inst., II.2.12.
100
T.F.Torrance, Calvin’s Doctrine of Man (London: Lutterworth, 1949), p.45.
101
Inst., I.15.4.
102
Comm. On Genesis 1.26.
103
Ibid.
104
Comm. On Genesis 3.1.
94

pecado,105 cancelada pelo pecado,106 “como se ela fosse, apagada... pelo pecado de Adão,
“107 ou totalmente esfacelada pelo pecado.108
Uma olhada mais de perto revela, contudo, que há um sentido real no qual segundo
Calvino o homem caído ainda reflete a imagem de Deus. A imagem de Deus, diz Calvino,
não é totalmente aniquilada pela queda mas é assustadoramente deformada.109 Em outro
lugar ele diz que na diversidade da natureza humana caída nós podemos ver “alguns traços
que permanecem (notas) da imagem de Deus que distinguem a totalidade da raça humana
das outras criaturas.”110 Em outros lugares Calvino chama esses traços característicos111
ou remanescentes da imagem de Deus. A razão e a vontade ainda permanecem no homem
caído; estes Calvino chama de “dons naturais” que embora não perdidos foram
enfraquecidos parcialmente e parcialmente corrompidos pelo pecado. 112
As capacitações distintas que claramente manifestam que os homens foram formados
à imagem de Deus a razão com a qual são capacitados e pelas quais eles podem distinguir
entre o bem e o mal; o princípio da religião que é plantado neles; as relações que tinham
uns com os outros que foram preservadas de serem quebradas por certos laços sagrados; a
consideração para com aquilo que está se tornando, e o senso de vergonha que a culpa
desperta neles, assim como a sua continuação em serem governados pela lei; todas essas
coisas são indicações claras de uma sabedoria preeminente e celestial.113

Calvino, contudo, nos faria ver os remanescentes e traços da imagem de Deus no


homem caído. Ele se expressa mais fortemente numa passagem notável onde ele nos diz
que nosso reconhecimento da imagem de Deus em todos os homens, deve nos motivar a
tratá-los com amabilidade e amor:

Nós não vamos considerar que os homens merecem por si mesmos mas olhar na
imagem de Deus em todos os homens a qual nós devemos toda honra e amor portanto
qualquer que seja o homem que você encontre que necessite de sua ajuda, você não
tem razão alguma para recusar-se a ajudá-lo... Diga “ele é insignificante e indigno”;
mas o Senhor lhe mostra se aquele a quem Ele tem designado a dar a beleza da sua
imagem.... Diga que ele não merece nem mesmo o seu menor esforço por amor a ele;
mas a imagem de Deus que o recomenda a você é digna de você dar se si mesmo e
todas as suas posses.114

Calvino recomenda seus leitores a amarem mesmo aqueles que os odeiam o que nós
deveríamos “relembrar de não considerar as intenções más dos homens, mas olhar para a
105
Comm. On Ephesians 4.24.
106
Comm on II Corinthians 3.18.
107
Sermon on Job 14.16-17, citado por Torrance, Calvin’s Doctrine, p.77.
108
Sermon on Job 32.4-5, parafraseado por Torrance, ibid, p.78.
109
Inst.,I.15.4.
110
Inst., II.2.17.
111
Comm. On Genesis 1.26; Comm. On James 3.9.
112
Inst., III.7.6.
113
Ibid. No ponto em que Calvino vê o homem caído como ainda sendo um portador da imagem de
Deus, veja Ronald S. Wallace, Calvin’s Doctrine of the Christian Life (Grand Rapids: Eerdmans,
1961), pp. 148-52.
114
Inst., III.7.6.
95

imagem de Deus nele que cancela e apaga as suas transgressões, e com sua beleza e
dignidade atrai-nos ao amor e a abraçá-los”.115 De fato, ele insiste que nosso
reconhecimento da imagem de Deus em todas as pessoas hoje devia mover-nos a amá-las e
a honrá-las mesmo de um modo sacrificial.

Como é bem conhecido portanto, Calvino teve convicções fortes a respeito do efeito
separador do pecado sobre a imagem de Deus. Surge uma outra pergunta: O que então a
queda do homem ou o pecado fez, causou à imagem de Deus?

Calvino responde da seguinte maneira: “Portanto, mesmo embora concebamos que a


imagem de Deus não tenha sido totalmente aniquilada destruída no homem, todavia ela
ficou tão corrompida pelo pecado que qualquer coisa que permaneça é uma deformidade
terrível.”116 Novamente, na mesma seção de suas Institutas, Calvino diz: Agora a imagem
de Deus e a excelência perfeita da natureza humana que brilhou em Adão antes da sua
queda mas foi consequentemente tão viciada e quase apagada que mal permanece após a
ruína exceto que ela é confusa, mutilada e muito enferma.”

De maneira semelhante em seu comentário sobre Gênesis ele diz:

Mas agora, embora alguns aspectos obscuros daquela imagem (a imagem de Deus)
sejam encontradas permanecendo em nós, todavia são elas tão viciadas e mutiladas
que delas pode ser dito estarem destruídas. E além disso, há deformação que aparece
em todo lugar de modo que não é visto que este mal também é acrescentado e
nenhuma parte é livre da infecção do pecado.117

E em um de seus sermões sobre Jó ele faz a seguinte afirmação: “É verdade que


quando nós vimos a este mundo, nós trazemos alguns remanescentes da imagem de Deus
desde quando Adão foi criado: Não obstante essa mesma imagem seja tão desfigurada que
nós estejamos cheios de injustiças e não haja nada mais que cegueira e ignorância em
nossas mentes.”118 Essa distorção da imagem significa que o homem tornou-se alienado de
Deus, de si mesmo e de seus companheiros.119

Calvino também sustentava que o que aconteceu na queda não foi apenas um assunto
de perda da semelhança de Deus e da retenção da imagem de Deus, visto que Calvino não
via nenhuma diferença básica entre essas duas.120 O que então aconteceu foi que quaisquer
que tenham sido os dons ou habilidades que o homem reteve tais como a razão e a vontade,
foram pervertidos e distorcidos pela queda. “Ora por causa da depravação da natureza,
todas as faculdades do homem são tão viciadas e corrompidas que em todas as suas ações

115
Ibid.
116
Inst., I.15.4.
117
Commentary .on Genesis 1.26 (King trans.(Grand Rapids: Eerdmans, 1948)).
118
Sermon on Job 14.13-14, citado em Torrance, Calvin’s Doctrine, p.76.
119
Torrance, Calvin’s Doctrine, p.46. É feita referência ao Comm. On Genesis 3. 1-2 e 9.6-7.
120
Inst., I.15.3.
96

contínuas, a desordem e a intemperança ameaçam.”121 De modo semelhante, nós lemos as


seguintes palavras em seu comentário no Evangelho de João:

Porque visto que nenhuma parte ou faculdade da alma não está corrompida pelo
pecado e transtornada daquilo que é correto, o fato de que os homens vivem e
respiram e são capacitados com o sentido, de entendimento e vontade, tende a
destruição destas coisas. Assim é que a morte reina em toda a parte. Porque a morte
da alma é a alienação de Deus.122

Segundo Tomás de Aquino e a maioria dos teólogos escolásticos, a queda


simplesmente significou a perda de algo adicional à natureza humana, o dom da graça
acrescentado (donum superadditum), deixando o homem quase na mesma situação em que
estava antes da queda.123 Calvino rejeita essa idéia insistindo que o pecado distorceu e
perverteu a totalidade da natureza humana e todos os seus dons – de forma que o homem
tem agora se tornado espiritualmente morto. Segundo Calvino o homem caído não é
apenas despojado do bem, mas depravado.

A Imago dei (a imagem de Deus) é essencialmente um reflexo em e pela alma da


Palavra de Deus que é em si mesma um despertamento da imagem de Deus. Há um aspecto
dinâmico desta restauração da imagem de Deus. A imagem não é restaurada em nós de
uma vez, mas progressivamente. Segundo Calvino,

A maneira da obra do Espírito no eleito é que ele cria fé em nossos corações de modo
“que a imagem de Deus que tinha sido apagada pelo pecado, pode ser estampada
novamente sobre nós, e que o avanço desta restauração pode ser continuamente
crescente em nós durante a nossa vida inteira, porque Deus faz sua glória brilhar em
nós parte em parte.”(Comm. On II Cor. 3.18).124

Esta renovação da imagem é o alvo da regeneração; ela portanto envolve nosso


conhecimento, a justiça e santidade.125 Esta imagem renovada de Deus significa ser
conforme Cristo: “Agora nós vemos como Cristo é a imagem mais perfeita de Deus; se nós
somos conformados a ela, somos também restaurados e com verdadeira piedade, justiça,
pureza e inteligência nós portamos a imagem de Deus.”126
A meta desta renovação da imagem de Deus é que o homem será capacitado uma vez
mais a refletir a glória de Deus:
A imago Dei na exposição de Calvino tem sempre a ver com a glória de Deus, isto é,
com a sua graça. Somente quando o homem procura a glória de Deus por reconhecer
a sua Palavra e por responder a sua graça agradecidamente e com amor de adoração é
que se reflete esta glória de fato.127

121
Inst., III.3.12.
122
Comm. On John 11.25 (Parker trans. (Grand Rapids: Eerdmans, 1979)).
123
Veja a página ....
124
Davi Cairns, Image, p.150.
125
Inst., I.15.4.
126
Ibid.
127
Torrance, Calvin’s Doctrine, p.79; conf. Inst., II.3.4.
97

Deveria ser notado que para Calvino a renovação da imagem de Deus significa
ambas, a obra da graça de Deus e a responsabilidade do homem. O ES deve renovar-nos
através da Palavra, mas nós, capacitados pelo Espírito, devemos responder à Palavra pela
fé. “A imago Dei é a ação de Deus sobre o homem no imprimir de sua verdade pela sua
Palavra, e a ação do homem somente em resposta à esta comunicação desta Palavra.”128
Assim no pensamento de Calvino “há dois fatores constitutivos e importantes da imago
Dei. Um é o ato da pura graça de Deus, e o outro é a resposta do homem aquele ato – e
ambos são trazidos juntos como um só na doutrina da imago Dei.”129
João Calvino é um nome extremamente significativo tanto para a Reforma
Protestante, quanto para as reformas no processo educacional. Num breve resumo como o
apresentado nesta apostila, é impossível fazer justiça em relação ao papel por ele
desempenhado na evolução da História da Educação. Considerando impossível separar a
questão educacional da questão teológica, Calvino entende que a Igreja, além de uma
comunidade de fé e adoração a Deus, é também uma comunidade de ensino, uma escola
onde o Espírito de Deus é o Mestre dos Mestres, no sentido real e prático. Não há distinção
ou hierarquia de valores entre o estudo de línguas, história, ciências ou religião, porque
todo o ensino visa o aperfeiçoamento do ser humano para o cumprimento da sua vocação.
Esta vocação leva-o a ocupar um lugar distinto na sociedade, através do qual, além de obter
para si as bênçãos necessárias a uma vida cotidiana digna, o cristão atinge o mais alto
propósito da sua existência: a glória de Deus.130 Mais uma vez, percebe-se a visão cristã da
educação, segundo a qual não pode haver fragmentação do saber, não existindo
compartimentos “sagrados” e “mundanos” do conhecimento humano. Pelo contrário, todo o
verdadeiro conhecimento tende a dirigir o ser humano para a contemplação do Criador.
Calvino enfatiza sua percepção de que não é possível, ao ser humano, abrir os olhos sem
ver a sabedoria de Deus nas Suas obras, mas que algumas das provas da maravilhosa
sabedoria do Criador estão ocultas à observação comum e só podem ser trazidas à luz
através da ação do Espírito Santo. Assim, Calvino é explícito ao valorizar a busca do
conhecimento, pois para ele “os homens que possuem o conhecimento podem penetrar mais
detalhadamente nalguns dos segredos da sabedoria divina”131

O período da reforma protestante é bastante frutífero em produções teóricas e


práticas na esfera educacional. A luta contra a ignorância é parte da pregação de uma
religião cristã que valoriza o intelecto e o uso da razão. Isto faz com que os reformadores
mostrem-se incansáveis na busca da sistematização do ensino, na tentativa de criar modelos
educacionais organizados com base em preceitos confiáveis e na implantação de escolas em
todos os lugares possíveis.

O puritanismo inglês, movimento fundamentado nas idéias calvinistas, manifesta


também seu interesse pela educação, assumindo papel preponderante na regulamentação

128
Comentário de Calvino em João 17.17 em Comm. On John, citado em ibid. p.57.
129
Ibid., p.68.
130
Wilson Castro Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia Campinas: Luz para o Caminho,
1995), 184.
131
Joseph Pitts Wiles, M.A., As Institutas da Religião Cristã – Um Resumo (São Paulo: PES, 1984),
30.
98

das escolas da nação, no período de 1640 a 1660. Apenas em 1641 surgem mais de sessenta
escolas livres no país de Gales. Na América, os colonizadores puritanos demonstraram seu
zelo pela questão educacional, através do estabelecimento e manutenção de escolas
espalhadas por toda a Nova Inglaterra, desde o início da colonização. A faculdade de
Harward, segundo Riken, é organizada apenas seis anos após a chegada dos puritanos à
Baía de Massachussetts e mantida, durante muito tempo, por fazendeiros cristãos que
contribuem em trigo, para a manutenção de professores e alunos.132

Os ideais da Reforma Protestante influenciam as diversas áreas da vida humana


nos séculos seguintes. Cumprindo sua finalidade transformadora, o Cristianismo prossegue,
fazendo da educação seu principal instrumento de humanização e cristianização do ser
humano.

6. A EDUCAÇÃO CRISTÃ APÓS A REFORMA

Após a reforma protestante, a educação nunca mais foi a mesma. Com a


transformação na maneira de pensar e fazer educação, também o mundo é transformado.
Famílias, igrejas, cidades e reinos passam a dar maior atenção à necessidade de se
educarem os povos e as pessoas. O intercâmbio cultural é intensificado. A visão de
educação universal é bem característica do pensamento cristão reformado, sendo um bom
exemplo disso o grande contingente de estudantes estrangeiros que buscam o conhecimento
oferecido na academia de Genebra, fundada por João Calvino e, após sua morte, dirigida
por Teodoro Beza. A educação reformada é também um sistema no qual se valoriza a
elevada erudição, sem desconsiderar a educação popular.

A educação cristã reformada influencia, definitivamente, os rumos da história da


educação, embora este fato pareça ser considerado irrelevante para o pesquisador
despreocupado com as questões religiosas. Após a reforma, é acentuada a quantidade de
educadores cristãos que dedicam suas vidas à obra educacional como meio de conduzir os
jovens a Cristo e de auxiliar os seres humanos na realização do projeto de Deus para suas
vidas. Este é o cerne da filosofia de educação defendida pelos Puritanos e por tantos
educadores formados segundo seus padrões elevados. Estes cristãos ardorosos
compartilham da visão dos apologetas, quando afirmam que “a verdade vem de Deus, onde
quer que a encontremos”133, e acreditavam, como Lutero, Calvino e outros reformadores,
que a educação deve ser prioridade para a Igreja Cristã, pois “é o meio ordinário de Deus
para a comunicação da sua graça.”134 O sistema educacional dos puritanos também evoca o
ideal de santidade de vida e de integração total dos valores eternos com os afazeres diários,
conforme se deduz da afirmação de J. I. Packer:

...há lições para nós na integração de suas vidas diárias. Como seu cristianismo era
totalmente abrangente, assim o seu viver era uma unidade. Hoje, chamaríamos o seu
estilo de vida de “holístico”: toda a conscientização, atividade, e prazer, todo
“emprego das criaturas” e desenvolvimento dos poderes pessoais e criatividade,

132 Leland Riken, Santos no Mundo (São José dos Campos: FIEL,1992), 165.
133 Idem, 177.
134 Richard Vaxter, citado em Riken, 168
99

integravam-se na única finalidade de honrar a Deus, apreciando todos os seus dons e


tornando tudo em “santidade ao Senhor” 135 Exemplo da educação preconizada pelos
puritanos, é que a educação pode ser descrita como um processo de santificação.
Visando refletir o caráter de Deus poderia consistir em compartilhar do amor que
Deus tem pela verdade e pela beleza, tanto quanto em manifestar a Sua retidão e
santidade136.

Destacam-se ainda muitos outros nomes ligados à educação e ao Cristianismo,


tais como: François Rabelais, Valentino Andreae, João Amós Comênius, Augusto
Hermann Franke, John Locke, Joham Heinrich Pestalozzi, Friedrich Wilheln August
Froebel, Andrew Bell e Joseph Lancaster. Estes são alguns dos educadores cristãos, que
reconhecem a importância da educação para a formação de uma personalidade madura,
intelectualmente desenvolvida e apta para realizar o propósito maior de todo ser humano.
Comum a todos estes, em maior ou menor dimensão, é a consciência de que o ser humano é
transcendente e que este aspecto não pode ser negligenciado no processo educativo. Cada
um deles, no seu tempo, contribuiu para o desenvolvimento da ciência da Educação. Cada
um influenciou os educadores, cristãos ou não, que vieram a seguir. Cada um cumpriu a
tarefa de auxiliar meninos e meninas, homens e mulheres, no desenvolvimento de suas
potencialidades rumo ao alvo de suas vocações. Cada um exerceu influência
transformadora na vida de seus contemporâneos e nas gerações seguintes. Todos eles,
através de suas obras, falam ainda hoje.

A História da Educação, portanto, confunde-se com a História da Educação


Cristã. Em nossos dias, os avanços na área da ciência da educação parecem ser de caráter
puramente científicos, desconsiderando pressupostos de qualquer natureza religiosa.
Entretanto, os alicerces sobre os quais se tem sustentado o edifício da Pedagogia moderna,
ergueram-se graças ao zelo de estudiosos e educadores cristãos, preocupados em encontrar
a melhor maneira de educar os seres humanos para manifestarem o caráter de Deus em suas
vidas.
A educação, como a conceberam inúmeros cristãos, foi e ainda é um precioso
instrumento de transformação social e individual. Crianças de diferentes classes sociais, em
todas as partes do mundo e em todas as épocas da história encontraram, através da
educação cristã, os meios necessários para desenvolverem-se e chegaram a ser pessoas úteis
a si mesmas, à sociedade na qual estavam inseridas e à humanidade toda, através do
trabalho que vieram a realizar.
Atualmente, alguns estudiosos têm pesquisado crianças que conseguiram
superar as trágicas limitações de sua condição social, familiar e cultural, atingindo níveis de
desenvolvimento surpreendentes. Estas crianças são chamadas de resilientes e já foram
identificados alguns dos chamados fatores de resiliência, ou seja, fatores que propiciaram
condições favoráveis para elas superarem os fatores de risco. Muitos destes fatores estão
diretamente relacionados ao processo educativo.
Neste trabalho, defendemos o argumento de que a Educação Cristã pode
também ser considerada um fator de resiliência, pois influencia positivamente a formação
da personalidade humana. Parece oportuno concluir esta seção citando um educador que

135 J.L.Packer, na apresentação de Santos no Mundo – os puritanos como realmente eram (São José dos Campos: FIEL, 1992), 7.
136
Riken, 173.
100

poderia ser considerado uma criança resiliente que teria encontrado a possibilidade de
expressão máxima de sua humanidade na educação cristã que recebeu, a qual procurou
também transmitir através de sua própria vida.
Trata-se de Joham Heinrich Pestalozzi. Órfão de pai desde os cinco anos de
idade, viveu a infância e adolescência apenas com a mãe e uma criada. Luzuriaga afirma
que esta influência “puramente maternal e feminina (...) lhe explica certos traços de
caráter”. 137 Embora não seja muito clara esta observação do historiador, a mesma parece
sugerir que a ausência do pai deixou marcas perceptíveis no caráter de Pestalozzi. A
informação de Giles acrescenta alguns detalhes. Segundo ele, Pestalozzi “cresceu
misantropo, tímido e desajustado” e “apesar das tentativas de ajustar-se socialmente”, suas
experiências escolares foram desastrosas.138 Entretanto, as particularidades de sua infância
parecem irrelevantes, quando é considerada a grandiosidade da obra à qual dedicou toda a
sua vida. Luzuriaga considera-o como “o maior gênio, a figura mais nobre da educação e da
Pedagogia, o educador por excelência e o fundador da escola primária popular”139 e
transcreve a inscrição colocada em seu túmulo, na qual é chamado de: “Salvador dos
Pobres”, “Pregador do Povo”, “Pai dos Órfãos”, “Educador da Humanidade”, “Homem,
Cristão, Cidadão”.140
Este grande educador, considerado por Luzuriaga como o maior educador da
História, que exerceu profunda influência na formação de homens como Kant, Herbart,
Fichte, Froebel, Karl Ritter e Wilheim vom Humbouldt, parece ter sido influenciado, de
forma decisiva, por um tio-avô que era pastor protestante em uma pequena comunidade
rural. Segundo Giles, seu ideal de vida foi despertado ainda na infância, quando
acompanhava este tio-avô, em visitas aos pobres da paróquia. Decidido a acabar com as
fontes da miséria em que via o povo se afundar, dedica-se à educação de órfãos, investindo
nesse projeto seus recursos e sua própria vida. Nas palavras de Giles, “ele próprio viveu
como mendigo para ensinar os mendigos a viver como homens”.141 Em sua luta contra as
fontes da miséria, a questão pedagógica era essencial. Apesar de abrigar e alimentar os
órgãos, seu trabalho não possuía um caráter apenas assistencialista. Pelo contrário,
preocupava-se com a educação a tal ponto que afirmava ser imperativo para o mestre
investigar qual o melhor, e não apenas qual o eficiente meio para garantir o crescimento e o
desenvolvimento harmonioso do aluno. A valorização da educação cristã é bastante clara
em Pestalozzi. Ele defende que a educação deveria ter como meta a elevação do ser
humano à verdadeira dignidade de um ser espiritual, alvo este que pode ser atingido apenas
através da educação motivada pelo amor. Ora, o amor é o elemento de ligação entre o
processo educativo e o Cristianismo, sendo este “um alto acervo de experiências morais que
ajudam na educação da humanidade”, portanto, “a finalidade última do Cristianismo, tal
como se revela no Sagrado Volume e se manifesta nas páginas da História, consiste em
educar a Humanidade”.142
Antes de Pestalozzi, outro educador cristão já havia proposto a assertiva de que
a educação da Humanidade é a finalidade primordial do Cristianismo. João Amós Comênio,

137
Lorenzo Luzuriaga, 173.
138
Giles, 189.
139
Luzuriaga, 173.
140
Ibd, 175.
141
Giles, 189.
142
Ibd, 194.
101

o pai da Didática, nascido 150 anos antes de Pestalozzi, figura entre os cristãos mais
seriamente comprometidos com o aspecto pedagógico da missão da Igreja. Comênio
desenvolve uma verdadeira Teologia da Educação, na qual apresenta o ser humano como
ser “ensinável” e o Cristianismo como a estratégia de Deus para a humanização do Ser
Humano.
As idéias de Comênio também não eram inéditas. Muitos dos seus postulados
fundamentavam-se em idéias dos reformadores, ou ainda nas palavras de Jesus e dos
apóstolos. A Didática, portanto, nasceu também como filha dileta do amor cristão pela obra
educacional.

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