Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Apostila Educação Cristã
Apostila Educação Cristã
EDUCAÇÃO
CRISTÃ
Copyright @ 2006 Gildásio Jesus Barbosa dos Reis. Proibida a Reprodução sem a autorização
por escrito do autor
2
Antes de vermos o que é educação cristã, precisamos primeiramente ver o que é educação.
A educadora Maria Lúcia Aranha nos dá uma definição, escreveu ela:
Este tem sido um conceito de educação quase que universalmente aceito; ou seja, a
educação, pelo menos em tese, visa também desenvolver o caráter do ser humano. Tendo
isso em mente, podemos dizer que a educação cristã também se propõe a desenvolver o ser
humano de maneira integral, em suas habilidades e caráter. No entanto, trata-se de um
processo distinto daquela “educação”, pois a educação cristã é assim adjetivada, em razão
de ter seus fundamentos e princípios baseados nos ensinamentos das Escrituras Sagradas.
1
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação.São Paulo, SP: Ed. Moderna. 1989. p.49
2
Werner Graendorf, citado por Pazmino in: Cuestiones Fundamentais de la educación Cristiana, Dadeland,
Miami: Editorial Caribe. 1995. p. 96
3
PAZMINO, Roberto. Op Cit., p. 96
3
Educação Cristã é um processo que ocorre tanto informalmente como através de uma
série de eventos planejada, sistemática e contínua, objetivando levar o crente à
conformar-se à imagem de Cristo (maturidade), tendo como base autoritativa as Escrituras
Sagradas e sustentada pelo Espírito Santo, visando a glória de Deus.5
Devemos ver a educação cristã como um processo de desenvolvimento do ser humano. Por
“processo” entendemos uma ação progressiva que ocorre através de uma série de atos e
eventos que produzem mudanças, e não importa se são rápidas ou lentas,6 desde que
conduza a um progresso, a uma melhora. (Cl 3:9,10 – santificação progressiva)
José Abraham também vê a educação cristã como um processo. Diz ele que a educação é:
Ele continua explicando a razão em se ver Educação Cristã como um processo, usando a
natureza como ilustração:
Uma forma de entender isto é observar os processos da natureza, como por exemplo,
uma semente. A semente tem a potencialidade de se transformar em uma árvore de
onde se colha os frutos, porém, isto não ocorre instantaneamente. Ela requer que a
semente seja plantada em um lugar onde há terra e água. Através do tempo e das
diferentes mudanças que vão ocorrendo nela, germinará e começará seu processo de
crescimento e em um dia nos dará os seus frutos. E tudo isso tomará tempo, em alguns
casos mais do que outros.8
A educação cristã entendida como um processo vai nos ajudar a planejar uma série de
passos sistemáticos para que, aplicados e à luz das Escrituras Sagradas, possamos promover
mudanças e crescimento. E não devemos esquecer, que este processo é altamente pessoal e
individualizado. Isto porque, cada um de nós recebeu uma educação ou formação diferente
4
Idem Ibidem., p. 97
5
REIS, Gildasio. Apostila Fundamentos Teológicos e Filosóficos da Educação Cristã. JMC. 2004
6
A. Hoekema definindo a santificação progressiva, ensina que este processo de crescimento varia de pessoa
para pessoa e em graus diferentes ( Veja o capítulo 12 de Salvos pela Graça, pp. 199-239 )
7
JESÚS, José Abraham. En Busca de una Definición de educación Cristiana., in:
http://www.receduc.com/educacioncristiana/defincn.html ( capturado em 12/08/04)
8
Idem
4
Educação informal é aquela realizada não intencionalmente (ou, pelo menos, sem a
intenção de educar). Freqüentemente, o exemplo de um líder cristão é mais educacional do
que os conteúdos que ele ensina, pois seus alunos podem aprender mais conteúdos valiosos
em decorrência da observação de suas atitudes e de seu comportamento do que em
conseqüência de seu ensino (Mt 5:19).
Um exemplo desta educação informal pode ser visto quando pais freqüentemente, procuram
educar seus filhos, e em grande parte das vezes tentam fazê-lo através do ensino (via de
regra verbal). As atitudes, o comportamento dos pais, porém, podem ensejar a
aprendizagem e compreensão de conteúdos bíblicos, sem que os pais tenham a intenção de
que seus filhos aprendam alguma coisa em decorrência da maneira pela qual se comportam.
E assim por diante.
Para Timóteo não ser desprezado em seu trabalho na Igreja de Éfeso, Paulo orienta-o a ser
um modelo, no grego tipos (τυπo,ς)9 para seus ouvintes. Entre outras coisas, Timóteo
deveria ser padrão na conduta (Cf. I Tm 4:12). Ele já havia sido orientado a respeito da
necessidade de os presbíteros e diáconos serem irrepreensíveis (cf. I Tm 3:2,8). Mas uma
conduta irrepreensível também era exigida dele. Não obstante Timóteo ser muito jovem,
precisava conquistar o respeito de seus ouvintes através de um comportamento exemplar.
Isto porque “a influência do testemunho do pregador sobre a aceitação do sermão requer
que nossa vida esteja posta sob o domínio da Escritura”10.
Entende-se por conduta o modo de vida, maneira de tratar as pessoas, nos costumes,
hábitos, vida no trabalho, relacionamento familiar, modo de lidar com as finanças, etc.11
Timóteo deveria manifestar uma conduta educadora que manifestasse a vida de Cristo.
Uma conduta que estivesse acima da reprovação. “A conduta é um reflexo do caráter, o
qual é nutrido e alimentado num relacionamento crescente, submisso e comprometido com
Cristo”.12
O educador cristão vai ensinar muito com sua vida, desde que ela esteja em harmonia com
as Escrituras.
9
Das 14 ocorrências do substantivo tipos no N.T., metade faz referência á exemplificação. Cf. “O Exemplo”
por George J. Zemek in: Redescobrindo o Ministério Pastoral, Rio de Janeiro, RJ: CPAD. 1995. pp.294-313
(Cf. também em HOHLENBERGER III, John R. ., Edward W. Goodrick e James A. Swanson. The
Exhaustive Concordance To The Greeck New Testament. Grand Rapids, Michigan: Zondervan Publishing
House. 1995)
10
CHAPELL, Bryan. Pregação Cristocêntrica. São Paulo, SP: Ed. Cultura Cristã. 2002. p. 29
11
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito. São Paulo, SP:
Editora Cultura Cristà. 2001. p. 199
12
STOWELL, Joseph M. Pastoreando a Igreja. São Paulo, SP: Ed. Vida . 2000. p. 174
5
Paulo, em duas passagens em sua carta aos Filipenses, nos convida a olhar para a sua vida e
imitar o seu comportamento: “Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam
segundo o modelo que tendes em nós” (Fl 3:17) e “O que também aprendestes, e recebestes
e vistes em mim, isso praticai” (Fl 4:9). Perry Dows chama a isto de “aprendizado por
observação” e afirma que a “imitação dos modelos é um conceito bíblico para conduzir o
povo à maturidade”.13
Para alguns, maturidade espiritual significa conhecer a Bíblia. Quanto mais uma pessoa
conhece a Bíblia, mais espiritual ele ou ela é. Para outros, maturidade espiritual significa a
habilidade de louvar e adorar. Se as pessoas valorizam e amam o louvor à Deus, elas podem
ser consideradas maduras. E ainda para outros, maturidade é piedade. O “mais profundo”
que alguém ande com Deus, mais maduro aquela pessoa é. Para outros, maturidade
significa ação social. Maturidade espiritual é estar envolvido com o povre e oprimido,
aliviando seus problemas. E outros dizem que maturidade significa ganhar almas. A pessoa
verdadeiramente espiritual será um evangelista pessoal. E para outros, maturidade significa
experimentar a totalidade do Espírito Santo e exercitar os dons do Espírito de maneiras
espetaculares.
13
DOWS, Perry G. Introdução à Educação Cristã – Ensino e Crescimento. São Paulo, SP: Editora Cultura
Cristã. 2001. p. 194
6
A Bíblia usa uma variedade de termos e metáforas para descrever maturidade espiritual.
Tais termos como provado (2 Co 9.13), maduro (Ef 4.13), santo (1 Ts 4.3), e completo (Tg
1.4) referem-se ao conceito de maturidade espiritual. Metáforas tais como Cristo habitando
nos crentes (Ef 3.17), permanecendo em Cristo (Jo 15.5), e crentes andando como Jesus
andou (1 Jo 2.6) também descrevem o conceito de maturidade. Mas nenhuma definição
única e simples é oferecida. Portanto uma definição teológica dever ser estabelecida para
trazer a profundidade do dado bíblico para ser significativa
Paulo em Cl 1:28 diz: “o qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a
todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em
Cristo”.
Note bem que Paulo diz que ensinava com uma finalidade: “apresentar todo homem
perfeito em Cristo”. Obviamente que perfeito aqui não significa ausência de pecados, mas
maturidade espiritual. O que queremos dizer por maturidade cristã é o processo de
santificação, o caminho progressivo para a conformidade à imagem de Cristo no crente. A
imagem original, desfigurada com a Queda (Gn 1:26-27), porém agora é renovada em
Cristo quando da conversão (Cl 1:15; Rm 8:29; I Jo 3:2, II Co 9:18). Sabemos que a
conversão apenas dá início a uma nova vida, mas, ao nascer o novo crente inicia uma longa
caminhada na espiritualidade, a qual necessitará de uma educação e que seja cristã, a fim de
proporcionar-lhe crescimento na fé, e assim, torná-lo “perfeito” em Cristo, ou seja, um
crente maduro.
Esta maturidade cristã (santificação progressiva) pode ser vista em passagens como Cl
3:9,10, onde o apóstolo Paulo lembra a seus ouvintes de que eles se despiram do velho
homem e se revestiram do novo. Este novo homem é descrito como aquele “que se refaz
para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (v.10).
A palavra grega avnakainou,menon (anakainoumenon ) traduzida por “que se refaz” ou que
“está sendo refeito”, é um particípio e encontra-se no tempo presente. Com isto o
significado pretendido pelo autor é uma renovação que perdura por toda a vida do crente.14
Um crente maduro é aquele que está crescendo progressivamente e continuamente sendo
transformado á imagem de Cristo, e sob a obra graciosa do Espírito Santo, ele prossegue
mortificando as práticas pecaminosas a que era inclinado. (cf. 2 Co 3:18; Cl 3:3; Rm 6:6;
8:13; Ef 4:22-24)15
Calvino dizia que para alguém chegar a Deus, o Criador, é necessário que tenha a Escritura
por guia e mestra.16 O verdadeiro conhecimento de Deus está na Bíblia. Isto porque, a
Escritura é a única regra inerrante de fé e prática da vida da igreja.
14
Robertson, Archibald Thomas. Word Pictures In The New Testament. Grand Rapids, Michigan: Backer
Book House. 1931
15
HOEKEMA, Antony. Salvos Pela Graça – A Doutrina Bíblica da Salvação. São Paulo, SP: Cultura Cristã.
1997. p. 214
16
CALVINO, João. Institución de la Religión Cristiana. Apartado, Paises Bajos: Felire. 1986. I, 6
7
Devemos proclamar a palavra como medida única daquilo que é justo e verdadeiro, e o
evangelho como a única proclamação da verdade salvadora. A verdade bíblica é
indispensável para a educação cristã na Igreja. Aliás, sem a Escritura não existe educação
cristã. Todo o processo educativo da igreja deve estar fundamentado na palavra, e só
quando ela estiver sendo estudada e crida como nosso guia e mestra, é que cresceremos em
direção a estatura de Cristo. Creio que uma educação que nos leva em direção á maturidade
espiritual não pode prescindir do conhecimento das Escrituras
Porque é a verdade que santifica e liberta, e porque a Palavra de Deus é a verdade, uma
educação eficaz deve ensinar a Palavra de Deus. A interação com a Escritura é
essencial para a saúde espiritual da congregação e sem ela o crescimento espiritual é
impossível17
É fato que vivemos dias confusos, e uma significativa parcela do evangelicalismo moderno
está vivenciando uma crise doutrinária e teológica. Num cenário em que tantas opiniões
pessoais querem ter a primazia, é preciso reportar-se às Escrituras que sempre tem a palavra
final em qualquer questão. A Confissão de Fé de Westminster assim se expressa:
O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas, e
por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos
antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares; o Juiz
Supremo, em cuja sentença nos devemos firmar, não pode ser outro senão o Espírito
Santo falando na Escritura.18
A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não
depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a
mesma verdade) que é o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra de
Deus. (Ref. II Tim. 3:16; I João 5:9, I Tess. 2:13.) 19
17
Downs, Op Cit., p. 164
18
Confissão de Fé de Westminster. Cap. I, parágrafo X
19
Confissão de Fé de Westminster, Cap. I, parágrafo IV
8
Falando da inspiração das Escrituras, Pedro afirma que "Homens santos falaram ao serem
movidos pelo Espírito Santo" (2 Pe 1.21). Assim, cremos que as Escrituras são o produto
do Espírito Santo, que não apenas no-las dá, mas também nos capacita a entendê-las,
iluminando as nossas mentes e aplicando a verdade de Deus no coração da Igreja. (2 Tm
3.15-17; cf. 1 Tm 4.13)
Cremos que Deus é o autor supremo das Escrituras, e estas nos foram dadas para nos guiar
e nos fazer ver a vontade de Deus para as nossas vidas. Cremos também que apenas o
Espírito Santo pode nos fazer compreender a mente de Deus nas Escrituras. Portanto,
devemos ter como pressuposto que ninguém pode prescindir do Espírito de Deus, caso
contrário, seremos incapazes de conhecer o que Deus quer para nós.21
20
Idem., cap. I, parágrafo V (grifo nosso )
21
SILVA, Moisés. A Função do Espírito Santo na Interpretação da Bíblia, Fides Reformata vol II- Número
2 (Julho-Dezembro 1997). p.91
22
Falando sobre a preservação das Escrituras, Paulo Anglada a define da seguinte forma: “O texto bíblico,
revelado e inspirado por Deus para garantir seu fiel registro nas Escrituras, foi cuidadosamente preservado por
Ele no decorrer dos séculos, de modo a garantir que aquilo que foi revelado e inspirado continue disponível a
todas as gerações subseqüentes” cf. Sola Scriptura – A Doutrina Reformada das Escrituras. Ed. Puritanos. P.
163,164
9
A Confissão de Fé fala sobre o Testemunho Interno do Espírito Santo, e sobre isso B.B.
Warfield afirma:
O que Calvino está afirmando é que a Palavra só será crida e obedecida como Palavra de
Deus, quando confirmada pelo Testemunho interno operado pelo Espírito. (cf. I Co. 2:14 ;
Atos 16:14 ; II CO. 4:3,4,6). Paulo diz que o homem natural, não regenerado, não tem
condições de compreender a Bíblia. Ele não tem capacidade para isto, e necessita portanto,
que o Espírito Santo lhe abra os olhos para que ele venha deslumbrar as maravilhas da Lei
do Senhor. – Sl 119: 18:“Desvenda os meus olhos para que eu veja as maravilhas da Tua
Lei”
Desta forma, o educador cristão deve insistir que a iluminação do Espírito Santo é
necessária na interpretação, compreensão e aplicação das Escrituras.
Quais sãos os objetivos finais do processo de educação cristã? Qual é o ponto principal do
ensino bíblico? Por que nos gastamos tempo, esforços e energia no processo educacional
dentro da igreja?
23
Citado por Benjamim Warfield. Calvin and Calvinism p. 77
24
CALVINO. Institución de la Religión Cristiana. Livro I, VII. 6
25
CALVINO. Op Cit., I, VII.5
26
Catecismo Maior de Westminster. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã.
27
Apenas para citar algumas: Rm 11:36; I Co 10:31; Sl 73:24-26; João 17:22-24
10
objetivo último na educação cristã, então isso irá mudar a forma como ensinamos as
Escrituras. Iremos ensinar não apenas para que os membros em nossas igrejas aprendam o
conteúdo bíblico, mas também para que eles venham a ter uma relação com o Autor da
Bíblia. Nós não iremos apenas ensinar para que aprendam mais sobre Deus, mas para
crescerem em sua relação com Deus.
Jesus Cristo disse a seu Pai na oração sacerdotal: “Eu te glorifiquei na terra, consumando a
obra que me confiaste para fazer”. Nós glorificamos a Deus com a educação cristã,
fazendo aquilo que ele nos confiaste para fazer: levar os crentes à maturidade em Jesus
Cristo. Isto glorifica a Deus. Entendemos que o fim último da Educação Cristã é atender ao
chamado de Deus para sermos educadores, e assim colaborando em Seu projeto que é o de
transformar os homens renovando-os à Imagem de Cristo. “A Educação da alma é a alma
da educação”.
Portanto, o processo de educar (edu cere = trazer para fora) o povo de Deus, fazendo-o
crescer no “conhecimento e na graça do Senhor Jesus”, é, com toda certeza, algo que
glorifica a Deus.28
Calvino disse que a “glória de Deus é quando sabemos o que ele é”29. Isto significa dizer,
que reconhecemos quem é Deus e, assim, o valorizamos acima de todas as outras coisas (I
Co 10;31). Calvino novamente é enfático: “Não busquemos nossos próprios interesses, mas
antes aquilo que compraz ao Senhor e contribui para promover sua gloria”30
É óbvio que glorificar a Deus não significa torná-lo mais glorioso, pois Deus tem glória
intrínseca à sua própria natureza (cf. Is 6:3). Sua glória não é algo que lhe foi dada, mas
esta lhe pertence em virtude daquilo que ele é. Mesmo que ninguém viesse a dar glória a
ele, ainda assim ele continuaria sendo glorioso, pois tal glória é uma combinação de todos
os seus atributos.
2.1. Devemos glorificar a Deus porque ele é o criador de todas as coisas. (Salmo 100;
Sl 19:1; Is 43:20).
O apóstolo João escreveu: “Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra
e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, e é para o teu agrado que elas existem e
28
KISTEMARKER, Simon. Comentário do Novo Testamento – I Coríntios. São Paulo, SP: Editora Cultura
Cristã. 2004. p. 498
29
Calvino, João. Citado por Leonard T. Van. Estudos no Breve Catecismo de Westminster. São Paulo,SP:
Editora Os Puritanos. 2000 p.7
30
Calvino, João. A Verdadeira Vida Crista. São Paulo, SP: Editora Novo Século, p.30
11
fora criadas” (Ap. 4:11). Deus nos criou para a sua glória (Is 43:6,7); portanto, é nossa
obrigação viver com este objetivo (I Co 10:31). Nossa missão vem do desígnio de Deus.
2.2. Devemos glorificar a Deus porque ele fez todas as coisas com esta finalidade.
Deus não criou o mundo por causa de alguma necessidade existente nEle, visto não haver
insuficiência em Deus. Mas Deus, em todo sua grandeza, sendo o todo-poderoso, criou o
mundo para exibir as qualidades de sua majestade e assim manifestar a sua glória. (Sl 19:1-
3; Rm 11:36; Is 43:7)
Os educadores reformados pressupõem quatro distintivos teológicos que orientam sua visão
educativa. Afirmamos que a filosofia educacional da Igreja é transformar o Corpo de Cristo
através de uma formação que seja: bíblica, confessional, eclesial e contextual.
31
CAMPOS, Héber Carlos de. A Relevância dos Credos e Confissões. Fides Reformata. Vol. II – Número 2
(Julho-Dezembro 1997). P.98
12
desenvolvidos para o fortalecimento e para o bem de toda a Igreja. Note que Paulo
em Ef 4:12 descreve o resultado da educação. Diz ele que os pastores e mestres
foram dados à igreja com “vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o
desempenho de seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo”.
A idéia resultante é que Cristo deu alguns homens na qualidade de (...) mestres, com o
propósito de “aperfeiçoar” (cf. I Ts 3:10; Hb 13:21; I Pe 5:10) ou prover o equipamento
necessário para todos os santos com vistas à obra de ministrar uns aos outros bem como
edificar o corpo de Cristo.32
Ainda mais sabemos que uma educação cristã não será adequada se não atentar para o fato
que é no desenvolvimento de relacionamentos e num contexto de amor, serviço, paciência,
apoio, correção, disciplina, perdão e aceitação que a fé cresce e amadurece.
Existem pelo menos cinco áreas no contexto eclesiástico, onde o cristão pode desenvolver seus
dons, fazendo assim, uma conexão entre sua fé e os propósitos da igreja:
3.1. Liturgia: “Ao Senhor Teu Deus adorarás, e só a ele servirás” (Mt 4:10)
3.2. Kerigma: “de por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” Mc 16:15
3.3. Mathetes: “Ide e fazei discípulos . . .” Mt 28: 19-20
3.4. Didaskalia: 2 Tm 4:1-5.
3.5. Diakonia: Mt 25:31-46
3.6. Koinonia: I Co 12:25 b
32
HENDRIKSEN, Willian. Efésios – Comentário do Novo Testamento. São Paulo, SP: Ed. Cultura Cristã.
1992. p.246
33
CORNÉLIUS Van Til, Essays On Christian Education. Presbyterian & Reformed, Nutley, Nueva Jersey.
1977. pp.78-80.
34
Indico a leitura do artigo do Dr. Héber Carlos de Campos intitulado “A Filosofia Educacional de Calvino e
a Fundação da Academia de Genebra’ publicado na Revista Fides Reformata 5/1 de 2000.
35
T.M. Moore. Some Observations Concerning The educational Philosophy Of John Calvin, “Westminster
Theological Journal 46 – 1984, p. 140
13
A Bíblia deixa bem explícito que há uma relação direta entre como pensamos e como
agimos. Paulo descreve os inimigos da cruz de Cristo como aqueles que “só se preocupam
com as coisas terrenas” (Fl 3:19), em oposição aos crentes, os quais devem pensar nas
coisas lá do alto”, e não nas que são daqui da terra”. (Cl 3:2)
Podemos ver também esta relação feita pelo apóstolo, em Rm 12:2: “E não vos conformeis
com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que
experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.
Observe bem a relação feita por Paulo. Escreveu ele: Renove a mente, pois ela moldará o
comportamento, fazendo-o experimentar a vontade de Deus. Portanto, se a maturidade
cristã é moldada pela maneira como pensamos, deve ser um de nossos objetivos
educacionais levar nossos ouvintes a conhecerem corretamente a Deus e a maneira como
ele quer que nos comportemos.
36
FERREIRA, Wilson Castro. Calvino: Vida, Influência e Teologia. São Paulo: Campinas. Ed. Luz Para o
Caminho. 1990. p.189
14
Em Cristo, o homem antes rebelde, encontra sua plena satisfação em Deus.38 A educação
cristã deve ser cristocêntrica procurando capacitar as pessoas a conhecer através da Palavra,
a pessoa de Cristo e crescer nele. Por isto, o educador cristão tem a responsabilidade de
ajudar as pessoas a lidar pessoal e corporativamente, com as implicações do Senhorio de
Jesus.
A teologia, ou seja, aquilo que conhecemos a respeito de Deus não pode estar divorciado
das nossas experiências de vida. Não é suficiente conhecer o conteúdo da verdade,
precisamos aplicar este conteúdo em nosso dia a dia. Jesus em João 13:17 afirmou: “Se
sabeis (conhecer) estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes (fazer)”. Saber e
fazer, um binômio inseparável.
Esta é uma excelência educacional que devemos almejar alcançar. Devemos ter como
objetivo promover uma educação que leve ao aprendizado prático da verdade conhecida.
Maturidade cristã significa viver a verdade nas diversas situações da vida. Tiago nos exorta
dizendo que a fé (conhecer) sem obras (fazer) é morta. Não resta dúvida, de que a Educação
cristã é um processo em aprender a viver. Sem prática não há aprendizagem. E se não há
aprendizagem, não há educação. “Detesto qualquer informação que é dada, que
aumenta minha instrução, mas não muda minha atividade”.39
Se fosse verdade que saber é fazer, tudo que precisaríamos fazer seria ensinar as pessoas a
verdade e elas então as fariam. Mas tanto a experiência quanto a Escritura ensinam que o
conhecimento não conduz automaticamente à ação. Nós todos temos momentos quando
sabemos o que deveríamos fazer, mas por uma variedade de razões escolhemos não faze-lo.
Nós pecamos ao falhar em viver de acordo com o conhecimento que nós temos. As pessoas
não devem somente conhecer o que fazer; mas também estar desejosos em faze-lo.
37
DOWS, Perry G. Op Cit., p. 222
38
PIPER, John. Teologia da Alegria- A Plenitude da Satisfação em Deus. São Paulo,SP: Edições Shed. 2001 p. 9
39
Goethe in: Dimenstein, Gilberto, Fomos Maus Alunos, Editora Papirus ( Campinas: SP – 2003 ) p. 33
15
Às vezes nós não temos uma idéia real do que é a coisa certa a fazer. Nós precisamos de
conhecimento moral naquele assunto, dizendo-nos o que é bom e certo para se fazer. Mas
em outros momentos nós sabemos o que nós devemos fazer, mas sem medo ou por pura
pecaminosidade nós simplesmente não queremos faze-lo. A Escritura nos avisa desta
possibilidade e conclui, “Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso
está pecando” (Tg 4.17).
Mas o problema é mais complicado ainda quando nós tanto sabemos o que deveríamos
fazer e queremos faze-lo, mas não temos a habilidade para faze-lo. Paulo falou desta
condição quando escreveu, “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita
bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo” (Rm 7.18). Seu
problema não era no nível do desejo, mas no nível da habilidade. Para que as pessoas
façam a coisa certa, elas devem ter (1) conhecimento moral do que é certo, (2) estar
desejosas em fazer o que é certo, e (3) ter força moral para de fato levar adiante seu desejo.
A linha do conhecimento moral para a ação moral não é direta; está também incluído o
desejo e a força para fazer a coisa certa.
3) SER: Afirmamos que o conhecer não pode estar divorciado do fazer, senão, o saber se
transforma numa ortodoxia morta. Mas é verdade também que o fazer sem o conhecer pode
se transformar numa mera religiosidade vazia, pois sabemos ser possível fazer a coisa certa
sem ter qualquer relacionamento com Deus. Daí a necessidade de uma terceira excelência a
ser buscada.
Para uma educação cristã eficaz é imprescindível educar o aluno a ser. Nosso desejo e
desafio é conduzir as pessoas à maturidade cristã, e esta é produto de uma experiência
prática que tem como conteúdo a Palavra de Deus. Contudo, o fazer não deve ser uma mera
repetição do conhecimento adquirido, mas sim, fruto de uma transformação do coração.
Faço (fazer), não apenas porque sei (conhecer), mas porque sou (ser) assim.
Mais uma vez o texto de Mt 22:37 nos é útil: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu
coração (ser), de toda a tua alma/força (fazer) e de todo a tua mente (conhecimento)”.
Quando falamos em educar o aluno para ele SER, estamos fazendo referência ao conceito
bíblico de coração. Conforme o ensino das Escrituras, o coração é o órgão central da
personalidade humana (Pv 27:19), de onde emanam todas as coisas (Mt 15:19). O profeta
Jeremias disse que o coração é desesperadamente corrupto (17:9). O coração do homem
entregue a si mesmo sempre estará produzindo afeições, emoções e ações desordenadas. As
nossas ações são resultado daquilo que somos – Pv 4:23. Em razão disso que em nossa
teologia e filosofia educacional, primamos pela educação do ser, ou melhor, do coração.
Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus...prega a Palavra, insta, quer seja oportuno
quer não, corrige, repreende, exorta com toda longanimidade e doutrina. Pois haverá
16
A Educação Cristã precisa ajudar os crentes a aprender a pensar bem sobre questões
morais.40 A moralidade vai além do julgamento moral; considera também a ação moral.
Mas incluso na moralidade está o aspecto cognitivo do julgamento moral. A respeito do
relacionamento do julgamento moral com a ação moral, Kohlberg escreveu:
Se a razão lógica é uma condição necessária, mas não suficiente para um julgamento moral
maduro, o julgamento moral maduro é uma condição necessária, mas não suficiente para
uma ação moral madura. Não se pode seguir princípios morais sem o entendimento (ou a
crença) nos princípios morais. No entanto, pode-se pensar em termos de princípios e não
viver ao nível destes princípios.13
Porque o conteúdo moral é apoiado pela estrutura moral, nós não podemos nos satisfazer
quando aqueles a quem ensinamos sabem simplesmente resposta certa . Nós também
conhecemos o sentimento de vazio ao descobrir que as pessoas que estão sendo ensinadas
por nós sabem as respostas corretas, mas não praticam essas respostas.
Ted Ward conta uma estória muito boa sobre um pastor que recebeu um pedido para falar
numa reunião de uma classe de primário na Escola Cristã de sua igreja. “Eu estou pensando
em uma das criaturas de Deus,” ele disse à classe. “Vive nas árvores e ajunta bolotas para o
inverno. Ele tem um rabo grande e peludo e é cinza. Quem pode me dizer que animal é
este?” ele perguntou. Após um longo e doloroso silêncio, ele perguntou ao filho de um
diácono, e ele disse “eu sei que a resposta é Jesus, mas que a descrição parece com a de um
esquilo, parece!”
O perigo de lidar somente com o conteúdo e não com a estrutura é que se não há estrutura
adequada, o conteúdo pode ser abandonado. Adolescentes podem sair doa faculdade bem
preparados com todas as respostas certas, mas não preparados para defende-las. Quando seu
pensamento é atacado e eles não desenvolveram um raciocínio adequado para dizer por que
eles crêem, o conteúdo moral deles será abandonado rapidamente.
40
As reflexões que se seguem, foram extraídas e adaptadas da obra a Perry Downs,
13
Lawrence Kohlberg, “A abordagem do Desenvolvimento cognitivo à educação moral,” Phi Delta Kappa
56, n.º 10 (Junho 1975): 670-677.
41
Os três princípios a seguir foram extraídos da obra de Perry Downs, Ensino e Crescimento –uma
introdução à educação cristã. Editora Cultura Cristã.
17
Nós nunca devemos ensinar a teologia sem considerar as implicações da vida e nunca fazer
exigências éticas sem base teológica.
2º.) Entenda que os “por ques” da vida Cristã são baseados na teologia,
principalmente no caráter de Deus.
As exigências éticas da Escritura emanam do princípio que nós devemos refletir a santidade
de Deus para o restante da criação. Nós devemos amar porque Deus nos amou primeiro.
Nós devemos ser moralmente puros porque Deus é moralmente puro. Nós devemos nos
interessar pela justiça porque Deus se preocupa com a justiça. Nós devemos ser
misericordiosos porque Deus é misericordioso.
Nossos imperativos são encontrados em Deus e sua Palavra. Educadores Cristãos devem
pensar teologicamente sobre as questões da vida, encontrando uma base estrutural na
natureza e no caráter de Deus. Nós nunca devemos ensinar a teologia sem considerar as
implicações da vida e nunca fazer exigências éticas sem base teológica.
3º.) Reconheça que a estrutura de julgamentos das pessoas não melhora ao dizer ou
ensinar, mas através da própria experiência deles ao resolver problemas de valor
moral.
O desenvolvimento moral não é uma questão de ouvir palestras, mas na verdade de fazer o
trabalho de um filósofo moral. Todas as pessoas são forçadas pelas experiências da vida a
pensar sobre aspectos morais e determinar como se comportarão. A vida e cheia com
dilemas morais reais que devem ser resolvidos se nós queremos funcionar moralmente na
sociedade.
As crianças encontram dilemas morais na escola quando elas sabem que seus amigos colam
na prova e são então tentadas a colar também. Os adolescentes vivem em um mundo cheio
de decisões morais durante este período tão difícil de suas vidas. Os adultos enfrentam
questões morais continuamente ao passo que tentam decidir como ser um Cristão em um
sociedade fundamentalmente pagã.
Os educadores Cristãos devem estar abertos a confrontos e discussões dos difíceis assuntos
morais do dia para ajudarem os alunos a aprenderem a pensar. Em lugar de negar os
conflitos morais, nós enfrentamos ou tentamos resolvê-los somente com o conteúdo (“A
Bíblia diz”), nós devemos estar abertos e permitir que nossos alunos enfrentem as questões
e ajudá-los a aprender a pensar usando níveis morais mais altos ao abordar os assuntos.
As pessoas ficam frustradas quando o seu modo de pensar não pode acomodar um
problema moral. É este processo de viver o conflito, que dá o crescimento moral. Mas se
nós tentamos negar ou ignorar o conflito, ou tentamos “concertá-lo” com uma ou duas
lições, nós falhamos em deixar que as pessoas tenham as experiências necessárias para o
crescimento.
18
FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS
DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
Rev. Gildásio Reis
Em Dt 4:1 vemos o termo “ensinar” dMel î ;m. e em 5:1 o termo “aprender” ~T,dä >ml; W. . Na
língua Hebraica tirando o sufixo e o prefixo das duas palavras vamos notar que trata-se da
mesma raiz. Isto mostra que trata-se de dois vocábulos que são dependentes. Não existe
ensino sem aprendizagem e também não existe aprendizagem sem ensino. O que o
professor faz e o que aluno faz estão ligados entre si42.
42
Bruce Wilkinson, As 7 Leis do Aprendizado ( Venda Nova: Ed. Betânia , 1998), 21
43
Juan Diaz Bordenave e Adair Martins Pereira, Estratégias de Ensino-Aprendizagem
( Petrópolis: Ed. Vozes – 1977 ), 185
44
Maria Lúcia de A. Aranha, Filosofia da Educação ( São Paulo: Ed. Moderna, 1989), 167-171
20
Assim como o papel do médico é levar o paciente a se curar, o papel do professor é levar o
aluno a prender. Aprender é adquirir domínio sobre o conteúdo ensinado, mas é mais
que isto; é traduzir na prática o que foi e está sendo ensinado. A aprendizagem
acontece dentro do indivíduo, mas seus efeitos são comprovados exteriormente em
comportamentos externos. Em outras palavras, a mudança de vida é evidência de que houve
aprendizagem.
É bom que se diga, que não se trata de uma mudança mecânica ou condicionada. Ser
treinada a fazer determinadas coisas não caracteriza aprendizado. Uma coisa é saber que
não se deve tirar a vida da outra pessoa. Outra coisa é saber porque não se deve fazer isso.
Temos que despertar o interesse daqueles a quem queremos ministrar ( Jo. 4:10 ). O aluno
precisa sentir que vale a pena ouvir o que você tem a dizer.
“Os corações também têm orelhas - e estai certos de que cada um ouve, não
conforme tem os ouvidos, senão conforme tem o coração e a inclinação” Sermão
do 5º Domingo de Quaresma - (Padre Vieira)7
John Stott, nos lembra que Jesus conhecia os corações de seus ouvintes e lhes falava ao
coração ( Jo. 2:25 ). Jesus é o grande kardiognw,sthj ( Atos 1:24 ), aquele que conhece
os corações.45
45
John Stott, O Perfil do Pregador, Ed. Sepal ( São Paulo, 1986 ) p, 117
21
Muitos professores ficam angustiados porque não conseguem prender a atenção de seus
alunos. O aprendizado ocorre quando os alunos estão motivados a aprender, e para que haja
motivação, precisamos levar em conta suas necessidades.
Para que o processo ensino-aprendizado seja eficaz o professor precisa conhecer seus
alunos. Precisa olhar e tratar seus alunos como ovelhas e adequar seus métodos didáticos às
diferenças individuais, visando a uma aprendizagem mais satisfatória
É nosso trabalho como professor conhecer nossos alunos, suas lutas e fraquezas, suas
tentações e alegrias. Você conhece seus alunos? Sabe quem são seus pais, onde eles
estudam, onde trabalham, quais são seus sonhos ? etc..
O modelo de Abrahan Maslow nos mostra quão importante e eficaz se torna o ensino e a
aprendizagem se nós como professores considerarmos as necessidades dos nossos alunos.46
Ele apresentou uma teoria da motivação, segundo a qual as necessidades humanas estão
organizadas e dispostas em níveis, numa hierarquia de importância e de influência, numa
pirâmide, em cuja base estão as necessidades mais baixas (necessidades fisiológicas) e no
topo, as necessidades mais elevadas (as necessidades de auto realização)
46
PISANDELLI, G. M. A Teoria de Maslow, e sua relação com a educação de adultos Psicopedagogia On
line, São Paulo. Disponível em: www.psicopedagogia.com.br/artigos , 0utubro 2003
22
NECESSIDADE SIGNIFICADO
são as mais elevadas, de cada pessoa realizar o seu próprio
Necessidades de auto potencial e de auto desenvolver-se continuamente.
realização
envolvem a auto apreciação, a autoconfiança, a necessidade
Necessidade de status e de aprovação social e de respeito, de status, prestígio e
estima consideração, além de desejo de força e de adequação, de
confiança perante o mundo, independência e autonomia
incluem a necessidade de associação, de participação, de
Necessidades sociais (afeto) aceitação por parte dos companheiros, de troca de amizade,
de afeto e amor
constituem a busca de proteção contra a ameaça ou privação,
Necessidades de segurança a fuga e o perigo
constituem a sobrevivência do indivíduo e a preservação da
Necessidades fisiológicas espécie: alimentação, sono, repouso, abrigo, etc.
Jesus não pregava sermões enlatados. Ele os pregava na casa, na sinagoga, nos montes ou a
beira-mar sempre muito naturalmente e partindo do interesse e das necessidades de seus
ouvintes e de suas necessidades. (Lc 10:25,26; Jo 4:10; Lc 4:16-30)
O conteúdo pode ser bíblico e correto, mas se não atender as necessidades do aluno não terá
muito valor. É como dar água e não pão para quem tem fome. Nós como professores
precisamos manter uma relação mais pessoal e íntima com nossos alunos.
Jesus era relacional: O coração de Jesus pulsava não só pelas idéias, mas também pelas
pessoas. Ele estava mais preocupado com as pessoas do que com o trabalho a ser realizado.
Jesus era um mestre que criava pontes e não muros entre as pessoas. (Jo 5:1-15)
Este princípio é aquilo que temos visto na frase: “Aprender a fazer, fazendo”47 Nossos
alunos aprendem quando ouvem, vêem e fazem. Existe o prazer puro do conhecimento, mas
o aprendizado deve produzir mudanças em nossas vidas.
Poucas coisas tocam tão de perto o coração de um aluno quando este verifica que o
professor pratica aquilo que ensina. A aula não é um mero discurso, mas o compartilhar de
experiências reais. Veja o exemplo de Jesus. O que ele pregava e fazia eram a mesma coisa.
Nele não havia contradições. ( Mt 7:29; Lc 4:32; At 7:22 )
47
Famosa frase do pedagogo Moraviano, João Amós Comênio ( 1592-1670 )
23
Há três perguntas que um professor deve fazer a si mesmo quando ele prepara a
sua lição.
Primeiro, “QUAIS são os princípios nesta lição?” Ele precisa decidir quais são os
fatos e princípios que contribuirão para o aluno possuir uma vida tal como Cristo.
Segundo, “POR QUE é importante ensinar estes princípios para os meus alunos?” O
professor precisa decidir quais os fatos e princípios que podem ajudar seus alunos a se
tornarem mais como Cristo neste momento de suas vidas. Um manual do professor é
bom para idéias, mas não pode fazer este tipo de decisão. O manual pode lhe dar uma
idéia geral sobre as necessidades a serem ensinadas, mas o professor precisa fazer as
decisões que especificamente ajudarão os seus alunos mais eficientemente.
Terceiro, ele pode perguntar a si mesmo “COMO posso ensinar estes princípios de
maneira que possam ter um grande impacto na vida dos meus alunos para que sejam
mais semelhantes a Cristo?” Isto dependerá da maturidade mental e espiritual dos seus
alunos.
O termo comunicação vem do latim “communis”, que quer dizer “comum”. Para que
possamos comunicar algo a alguém precisamos estabelecer pontos em comum com ele.
48
Juan Diaz Bordenave e Adair Martins Pereira, Estratégias de Ensino-Aprendizagem
( Petrópolis: Ed. Vozes – 1977 ), 183-184
24
Toda mensagem no processo da comunicação humana precisa ser significativa, deve dizer
qualquer coisa em comum para o transmissor e para o receptor. O professor precisa
conhecer o assunto que vai ministrar.
Comunicação escrita 7%
Comunicação com palavras: sendo ditas, tom de voz, volume, ritmo 38%
Comunicação visual: Expressões faciais, gestos, etc... 55 %
49
Extraído do livro Manual de ensino para o educador Cristão, p. 224 – Editora CPAD
25
brilho; alguns falando com idéias breves e claras, outros demorando muito em expressar
o que querem dizer; alguns com uma mensagem vital, outros sem nada para dizer,
usando palavras destituídas de sentido, valor e clareza.
Citando novamente Stott, ele nos conta a história de um paciente num hospital de loucos
que, após ouvir o capelão por algum tempo, comentou: “Se Deus não me ajudar, vou
acabar assim também!”52
50
Extraído e adaptado de Nancy G. Dursilek; Liderança Cristã , Ed. Juerp ( Rio de Janeiro – 1988 ), p. 119-120
51
John Stott, O Perfil do Pregador, Ed. Sepal ( São Paulo, 1986 ) p, 121
52
Op Cit, p, 117
26
C. Falar de Tal Forma Que Todos Possam Ouvir e Compreender: Uns dos principais
problemas de muitas pessoas que falam em público é o de serem ouvidas ou entendidas.
Às vezes o volume ou força de voz não é suficiente para que os que estão mais afastados
possam ouvir sem dificuldade.
E. Falar com Convicção: Convicção é uma característica dos grandes mestres de todos os
tempos. Para alcançarmos êxito no ensino, muito depende da convicção com que falamos.
Uma das fontes principais de popularidade e magnetismo pessoal na sala de aula é uma
convicção inabalável, uma alvo definido.
Quando Charles H. Spurgeon, o grande pregador do século XIX, pastor da Igreja All Souls,
em Londres deu início a seu ministério, um ateu bem conhecido informou a seus amigos
que iria ouvir Spurgeon pregar.
- Por que? Perguntaram seus amigos incrédulos. Você não acredita em nada que ele
prega.
- Eu não acredito, concordou o ateu, mas ele acredita.
entusiasmam ao proferir aulas e palestras, quanto mais nós, que temos a “boca-nova” de
salvação e perdão para os nossos ouvintes !
A palavra método vem do grego methodos. Daí a nossa palavra metodologia (método +
logia) estudo dos métodos. É a arte de guiar o aprendiz na investigação da verdade.
O professor que busca transmitir ao aluno determinado ensino e deseja alcançar o objetivo
do aprendizado efetivo, deve analisar e selecionar o método mais adequado e mais eficaz.
1 - Exposição - Preleção
5) Representação, Dramatização
O fantoche pode ser preso à mão por um elástico costurado na cintura. Fazer botas de
cartolina que serão ajustadas aos dedos.
8) Seminário: O nome desta técnica vem da palavra “semente”, o que indica que o
seminário é uma excelente ocasião para germinar a semente de novas idéias, favorecendo
assim o aprendizado.
9) Atividades Especiais:
• Leitura complementar
• Visitas entre alunos
• Visitas a lugares específicos
• Piquenique
A aceleração na história nada mais é do que o tempo entre a descoberta e a aplicação dos
processos tecnológicos. A fotografia levou 112 anos entre a descoberta e a aplicação. O
telefone, 56 anos; o rádio, 35; a televisão, 12; o computador, 2 anos. O computador 286, 1
ano e do 486 para o Pentium, 1 mês53.
53
Ivone Boechat, O Desafio da Educação Para um Novo Tempo, Reproarte Gráfica e Editora ( Rio de
Janeiro, 1998 ), p. 51
31
4) Flip Chart: Tem a mesma função do qudro “negro”, porém por ser
móvel, pode ser levado para qualquer outro ambiente e também sua
posição dentro da sala de aula.
John Milton Gregory publicou As Sete Leis do Ensino em 1886 para ajudar os professores
de Escola Dominical a serem mais eficientes em suas aulas. Este livro foi uma obra clássica
de princípios educacionais. Entretanto foi feita uma revisão em 1917, a qual mudou
sutilmente alguns dos conceitos originais de Gregory. As mudanças refletem a visão
pragmática liberal dos revisores. Por exemplo, eles tiraram as suas referências a Deus e à
Bíblia. Eles também mudaram a definição de ensinamento do autor de “comunicação do
conhecimento” para a “comunicação da experiência”. Embora à primeira vista seja uma
mudança sutil, faz uma profunda diferença. Nós precisamos ensinar o absoluto e imutável
conhecimento de Deus que Ele revelou a nós em sua Palavra, em vez de mudarmos para as
experiências do homem as quais são duvidosas. Ainda que a edição revisada foi escrita
para os crentes e distribuídos no meio cristão, lamentavelmente não é totalmente cristã.
1. A LEI DO PROFESSOR
O professor precisa conhecer aquilo que vai ensinar
A lei que limita e descreve o professor é: O professor precisa conhecer aquilo que
vai ensinar. A lei do professor é uma verdade fundamental, pois, como uma coisa não pode
provir do que não existe, ou como pode a treva trazer luz? Nenhuma outra qualificação é
tão essencial ou seja: o que o professor ensinar, deve saber.
Não se afirma que ninguém possa ensinar sem essa inteireza de conhecimento, e
nem e verdade também que qualquer que conheça inteiramente o seu assunto ou matéria
necessariamente ensine com êxito.
54
O livro do Dr. Gregory, "as sete leis do ensino," foi publicado primeiramente em 1884. As Sete
leis do ensino é uma obra voltada a todos aqueles que pretendem ser bem sucedidos na arte de
ensinar. Seu público alvo constitui-se, portanto, de mestres e educadores. Contudo, é de se destacar
que embora as leis aqui discutidas se apliquem ao ensino em qualquer nível, houve por parte do
autor uma preocupação em particular com o ensino ministrado na escola bíblica dominical, em
especial com o ensino de crianças
33
a) Preparar cada lição com estudo renovado. O conhecimento adquirido no ano que
se foi, necessariamente, já se diluiu um tanto. Somente novos conceitos nos inspiram para
melhores esforços.
b) Estudar a lição até que ela tome a forma da linguagem familiar. O que resulta do
pensamento claro é o discurso claro, o falar claramente.
c) Consagrar tempo certo ao estudo de cada lição, antes de lecionar. Todas as coisas
ajudam o dever feito a tempo. Persistir em aprender a lição antes da aula, e obter novo
interesse e ilustrações.
d) Fazer um plano de estudo, e não hesitar, quando necessário, em estudar além do
plano.
e) Não deixar de buscar a ajuda de bons livros que tratem do assunto de suas lições.
Além dessas regras também precisamos falar sobre a violação desta lei.
b) Algo mais sério ainda na violação desta lei é a dos professores que, não
encontrando estímulo na lição, ou no magistério, fazem disso mero cabide em que
dependuram seus caprichos e extravagâncias.
34
2. A LEI DO DISCÍPULO
O aluno deve dedicar-se com interesse à matéria a ser aprendida
a) A atenção adejante muitas vezes é chamada de atenção passiva, pelo fato de não
envolver esforço algum da vontade. Então obedece-se simplesmente ao mando dos
estímulos mais fortes. Diz-se passivo o individuo que deixa sua vida mental ser levada ou
controlada por forças maiores. Esta é a atenção de tipo primitivo, instintivo e básico. É a
atenção que surge em algumas horas do dia, especialmente quando estamos cansados. É
notadamente a atenção da criança.
c) Mas a atenção dessa qualidade esforçada e ativa nem sempre é a mais econômica
e eficaz para a do ensino. Falando-se de um modo geral, aprendemos mais facilmente e
mais economicamente quando ficamos absorvidos em nossa tarefa, a atenção desta espécie
freqüentemente provém dum esforço persistente - (atenção ativa). Essa atenção assemelha-
se a atenção passiva pelo fato de o seu objeto ser sempre atrativo em si, e exigir pouco ou
nenhum esforço para ser levado ao foco da consciência; mas também surge da atenção
ativa, provindo do esforço e da persistência. Esse terceiro tipo de atenção por isso é
chamado de atenção passiva secundária.
Embora muitos professores negligenciem isto na prática, estão prontos a admitir que
sem atenção o aluno não pode aprender. Tentar ensinar uma criança inteiramente desatenta
é o mesmo que conversar com um surdo ou com um defunto.
35
Empecilhos à Atenção
Os dois maiores inimigos da atenção são a apatia e a distração. O primeiro pode ser
devido à falta de gosto para com o assunto estudado, ou à fraqueza, ou a condição física A
distração é a atenção dividida e voltada para vários objetos. É terrível inimigo de todo
aprendizado: Se a apatia ou a distração provém de fadiga e de enfermidade, o professor
sábio não tentará forçar a lição.
Da lei do aluno emergem algumas das leis mais importantes do ensino como regras
para os professores eis algumas delas:
3. A LEI DA LINGUAGEM
Essa lei, como as outras já estudadas, é simples como são os fatos de cada dia.
Podemos expressá-la como segue:
A linguagem tem ainda outro uso: é ela o celeiro do nosso conhecimento. Tudo
quanto sabemos pode vir expresso nas palavras que lhe dizem respeito. As palavras não são
o único meio pelo qual falamos. Há muitas maneiras de expressar o pensamento. Os olhos,
a cabeça, as mãos, os pés, os ombros são, muitas vezes, usados para expressar bem
inteligivelmente o que pensamos.
Da Lei da Linguagem fluem algumas das mais importantes e úteis regras de ensino.
(pág. 37).
4. A LEI DA LIÇÃO
A verdade a ser ensinada deve ser aprendida através de alguma verdade já conhecida
Todo ensino deve avançar numa direção, o aprendizado deve processar-se por passos
gradativos.
Através desta regra os professores devem obedecer algumas regras:
1. Descobrir o que seus alunos sabem do assunto que vai lhes ensinar. Este será o
seu ponto de partida.
2. Começar com idéias ou fatos que estejam bem relacionados com os alunos, com
coisas que possam ser alcançadas por meio dum simples passo ou degrau além daquilo que
já conhecem.
37
Estimular e dirigir as atividades do aluno e, se possível, nada lhe dizer do que ele possa
aprender por si
Estimular e dirigir as atividades do aluno, e, se possível, nada lhe dizer do que ele
possa aprender por si.
Esta lei deve fazer do seu aluno um descobridor da verdade, deixando que ele a
encontre por si. O grande valor dessa lei tem sido tantas e tantas vezes afirmado de modo
que dispensa qualquer prova. Nenhum grande escritor de assuntos educacionais deixa de
considerá-la duma forma ou de outra. Esta lei deve despertar a mente do aluno, estimular os
discípulos a raciocinar, despertar o espírito da inquirição, fazer os seus alunos trabalharem.
Todas estas são diferentes modos de expressar a mesma lei.
Podemos aprender sem professor, sendo assim segue-se que a verdadeira função do
professor é criar as condições mais favoráveis ao autodidatismo. O aluno precisa conhecer
por si, pois do contrário o conhecimento dele será só conhecimento de nome.
Comenius disse, faz mais de duzentos anos: “Muitos professores semeiam plantas
em vez de partirem dos princípios mais simples, introduzem os alunos de cofre num caos de
livros de estudos miscelâneas.”1 A figura da semente é muito boa, e bem mais velha do que
Comenius. Jesus Cristo, o maior dos mestres, disse: “A semente é a palavra”.O verdadeiro
mestre revolve a terra e 1ança a semente. É obra do solo, por suas próprias forças,
desenvolver o crescimento e amadurecer o fruto.
A diferença entre um aluno que trabalha por si e aquele que opera só quando guiado
é tão clara que dispensa explanação. Um é agente livre e o outro é uma máquina. Esta lei é
uma lei de função enquanto que a lei do professor é essencialmente uma lei de qualificação.
Aprendemos a andar não por vermos outros andar, e, sim andando. O mesmo é
verdade quanto as habilidades mentais.
38
1. Algumas vezes se diz que o aluno aprendeu, já que decorou e é capaz de repetir a
lição palavra por palavra, isso é tudo que desejam muitos alunos, ou tudo quanto certos
mestres exigem, achando assim que já realizaram sua tarefa de ensinar. A educação seria
coisa fácil e barata, caso isso fosse ensino real e permanente.
2. É bem melhor quando os professores buscam cuidar só do pensamento e informar
assim os alunos. Não obstante, há isso um perigo, porque, em muitos casos, como se dá no
ensino de lições bíblicas, é coisa bem importante conhecer e lembrar as palavras.
3. Melhor ainda é quando o aluno pode traduzir acuradamente o pensamento usando
suas próprias palavras ou palavras de outrem, sem prejuízo do significado.
4. O aluno revelará ainda progresso maior quando começar a buscar as provas das
afirmações que está estudando. Aquele que pode dar a razão por que acredita nestas e
naquelas coisas é melhor estudante, bem como o crente mais forte do que aquele que crê
mas não sabe por quê. O verdadeiro estudante busca as provas.
5. Um estágio ainda mais frutífero e mais elevado do aprendizado está no estudo do
uso e aplicações do saber O estudante que encontra a ap1icação daquilo que aprendeu na
lição toma-se duplamente interessado e vitorioso nas suas tarefas escolares. Aquilo que
dantes era saber inútil toma-se agora sabedoria prática.
Essa lei possui duas limitações a primeira tem a ver com a idade dos alunos e a
segunda diz respeito aos diferentes campos do saber.
1
João Amós Comenius (1592 - 1671) foi um clérigo marávio, cujos esforços no sentido de reformar as
práticas escolares lhe conferiram lugar perene na história da educação.
39
• Educando adultos
• Educando Crianças
• Elaboração Curricular
• Função Superintendente ED
40
FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA
EDUCAÇÃO CRISTÃ REFORMADA
_____________________________
Para que possamos desenvolver uma abordagem adequada do ministério educacional, nós
devemos ter uma visão geral da perspectiva bíblica. Em vez de tentar um estudo exaustivo,
neste capítulo vamos dar uma amostra de textos bíblicos chave e um sumário de uma
teologia bíblica do ensino. A Escritura Sagrada é a fonte essencial para entendermos a
natureza da Educação Cristã. Portanto, é necessário que as idéias e a prática do educador
cristão sejam orientadas pelas verdades reveladas de Deus.55
No Velho Testamento o propósito do ensino era que Israel pudesse aprender a obedecer a
lei de Deus para que sua posição distinta como povo de Deus fosse evidente e Deus fosse
glorificado. O livro de Deuteronômio repetidamente enfatiza este ponto (Cf. Dt 4:5-8).
O Propósito do ensino:
O propósito da obediência de Israel era que Deus pudesse ser honrado e glorificado.
Em segundo lugar, a obediência era levar paz e conforto a Israel. Ambos deveriam ser
resultados do ensino, mas a questão primária era que Deus pudesse ser louvado.
Para este tema Deuteronômio 6 acrescenta o princípio que o contexto para instrução
é o lar. O Shema (vv. 4-9) sugere um padrão de instrução que enfoque a responsabilidade
dos pais em imprimir os mandamentos de Deus sobre seus filhos. Seria errado sugerir que
esta passagem prescreve um padrão rígido; antes, enfatiza a comunicação natural entre pais
e filhos. Mas os pais deveriam ensinar diligentemente (NASB) os mandamentos de Deus à
criança para que a criança viva em obediência à Deus.
55
Transcrevemos aqui os fundamentos bíblicos conforme os vemos na obra de Perry Downs, Ensino e
Crescimento.
56
Ver o conceito de ensino-aprendizagem.
41
Mas ouvir não é o mesmo que aprender. É bem possível ouvir uma instrução e
falhar em aprende-la. Estudantes do nosso tempo confirmam esta idéia muitas vezes.
Moisés afirma que queria que o povo aprendesse a temer ao Senhor. A palavra traduzida
“aprender” (lamath) é a palavra Hebraica mais comum para o aprendizado. Esta palavra
implica em uma assimilação subjetiva da verdade sendo aprendida, uma integração da
verdade dentro da vida.
O temor do Senhor era para ser expressado através da obediência aos mandamentos
de Deus. Uma mudança de coração era para ser expressada em uma mudança de
comportamento. Somente então poderia ser dito que uma pessoa tinha aprendido a lei de
Deus. Aprender a lei de Deus não era algo divorciado da vida, mas antes algo que
controlaria toda a vida.
Em um sentido alguém poderia dizer que o colapso da vida religiosa de Israel constituiu um
colapso no sistema educacional. As pessoas deveriam ser ensinadas a obedecerem a Lei e
assim serem o povo de Deus. Mas havia uma profunda falta de obediência na nação, e
como resultado Deus repetidamente administrava disciplina para levar o povo de volta a
obediência. Eventualmente a classe dos Fariseus emergiu, com sua ênfase no ensino e na
obediência em uma tentativa de retornar a nação à Deus.
A relação do mestre com o aluno no Novo Testamento era a relação do pai com a criança.
A terminologia em Provérbios sugeri este relacionamento. A educação não era impessoal e
separada, mas pessoal e relacional. Além do mais, Jesus continuou este padrão em seu
relacionamento com seus discípulos.
Mas o sistema educacional estabelecido em Israel desmoronou. O profeta Jeremias,
proclamando o julgamento vindouro à nação, perguntou:
5 Assim diz o SENHOR: Que injustiça acharam vossos pais em mim, para
de mim se afastarem, indo após a nulidade dos ídolos e se tornando nulos eles
mesmos, 6 e sem perguntarem: Onde está o SENHOR, que nos fez subir da terra do
Egito? Que nos guiou através do deserto, por uma terra de ermos e de covas, por
uma terra de sequidão e sombra de morte, por uma terra em que ninguém transitava
e na qual não morava homem algum? 7 Eu vos introduzi numa terra fértil, para que
comêsseis o seu fruto e o seu bem; mas, depois de terdes entrado nela, vós a
contaminastes e da minha herança fizestes abominação. 8 Os sacerdotes não
disseram: Onde está o SENHOR? E os que tratavam da lei não me conheceram, os
pastores prevaricaram contra mim, os profetas profetizaram por Baal e andaram
atrás de coisas de nenhum proveito. (Jr 2.5-8)
Aqueles que estavam numa posição de liderança profissional tinham vagueado tanto de
Deus que eles não mais o conheciam. Não havia relacionamento pessoal com ele, assim
eles eram verdadeiramente “guias cegos.” Nenhum sistema educacional está acima do povo
que trabalha nele. Se os mestres não temem ao Senhor e se alegram nele, o melhor de todos
os sistemas educacionais falhará.
1
Roland DeVaux, Israel Antigo (Nova York: McGraw-Hill, 1961), 355.
43
Mateus 5.17-20 descreve o relacionamento de Jesus com a Lei. Ele veio cumprir a
Lei e valorizou grandemente seu lugar no reino de Deus. Neste contexto ele afirmou que
quem quer que praticasse e ensinasse os mandamentos de Deus seria grande no reino (v.
19). A responsabilidade dupla do seguidos de Cristo é obedecer aos mandamentos de Deus
e ensinar outros a obedecer. De modo oposto, aqueles que falham em obedecer e ensinar
outros a obedecer serão os menores no reino.
Ele conduziu os doze a um lugar quieto, mas as multidões chegavam primeiro que
eles. A sua resposta às multidões não era ira, frustração, ou condenação. Ele não os via
como uma interrupção, mas antes como ovelhas sem um pastor (v. 34). Ele estava movido
com compaixão per eles porque ele viu-os tanto como vulneráveis quando sem direção. Ele
olhou para eles com olhos de amor.
Como Jesus expressou sua compaixão para com a multidão? Marcos nos diz que
“ele começou a ensinar-lhes muitas coisas” (v. 34). Desde que Jesus expressou seu amor ao
ensinar, o que se segue é que uma das mais amáveis coisas que nós podemos fazer pelos
outros é ensina-los. Ajudar pessoas a conhecer a Deus e serem obedientes a ele é talvez o
maior presente que possamos dar a alguém. Entendido deste modo, a Educação Cristã pode
ser um dos ministérios mais misericordiosos da igreja.
A Grande Comissão de Jesus em Mateus 28.18-20 fornece um maior entendimento
dentro de seu entendimento da importância do ensino. Ele começou ao afirmar que toda a
autoridade é sua de direito, proclamando seu senhorio sobre toda a criação. Baseado nesta
verdade, a tarefa primária de todo Cristão é fazer discípulos de todas as nações. O
Evangelho começa e é pelo o senhorio de Cristo. Qualquer evangelho que não proclame seu
senhorio é um falso evangelho.
Um discípulo é alguém que está comprometido com o Senhor com lealdade e
devoção. O imperativo do mandamento é que devemos estar envolvidos com o fazer
discípulos. Ao vivermos a vida, nossa tarefa é sempre a mesma.
44
Batizar e ensinar não são os meios para fazer discípulos, mas eles o
caracterizam. Visualizada é aquela proclamação do evangelho que resultará em
arrependimento e fé, pois matheteuo (“eu discípulo”) envolve tanto pregação quanto
resposta. A resposta do discipulado é o batismo e a instrução. Portanto batismo e
instrução não tem a mesma posição—nem gramaticalmente ou conceitualmente—
com a ação de fazer discípulos... O NT pode dificilmente conceber de um discípulo
que não é batizado ou não é instruído. De fato, a foça deste mandamento é fazer
discípulos de Jesus responsáveis por fazer outros discípulos, uma tarefa
caracterizada pelo batismo e instrução.2
Uma Educação Cristã eficaz não acontece no vácuo; é melhor realizada no contexto
de relacionamentos de amor e adoração eficaz. O poder do Espírito Santo estava sobre a
comunidade de crentes tanto que vidas estavam sendo tocadas. O reino não é uma questão
de encontrar as técnicas educacionais mais novas, mas de crentes sendo cheios com o amor
por Deus e de um para com o outro. É o poder do Espírito Santo nas vidas dos crentes.
2
D. A. Carson, “Mteus,” em Frank E. Gaebelein, gen. Ed., Comentário Bíblico do Expositor, 12 vols. (Grand
Rapids: Zondervan, 1984), 8:597.
45
A mensagem de Paulo era Cristo, e seu método era admoestação e ensino com toda
sabedoria, para que tudo pudesse ser apresentado completo em Cristo. Admoestação (uma
forma de aconselhamento) neste contexto provavelmente se refere a tentativa de Paulo de
convencer não crentes de sua necessidade por Cristo. As exigências da proclamação são
profundas, com profundas implicações sobre como nós devemos viver. Este tipo de
proclamação dever vir com admoestação.
O ensino era requerido porque os mistérios de Cristo não são facilmente entendidos
e requerem instrução e explicação. Assim foi a prática, do apóstolo Paulo, de proclamar o
evangelho em um novo território e então permanecer para ensinar os convertidos os
mistérios de Cristo para que suas vidas pudessem ser mudadas. O apóstolo precisava de
sabedoria tanto para entender a mensagem quanto faze-la relevante aos ouvinte. Assim,
para os Judeus Paulo tornou-se como um Judeu para ganhá-los, e para os Gentios ele se
tornou como um Gentio para ganhá-los. De fato, ele tornou-se “todas as coisas para todos
os homens para que por todos os meios possíveis pudesse salvar alguns” (1 Co 9.22).
O objetivo desta proclamação era que Paulo pudesse apresentar a todos perfeitos, ou
maduros e completos, em Cristo. Uma proclamação e instrução fiel na Palavra eram feitas
para que vidas pudessem se mudadas através da obediência à Palavra.
Uma Educação Cristã eficaz deve enfocar os mistérios de Deus. Por muito tempo
agora, muito da igreja tem perdido este enfoque em seus programas educacionais; em vez
disto, tem havido um conteúdo projetado para falar às necessidades imediatas, mas ao
mesmo tempo há um esquecimento sobre as profundas verdades de Deus. As pessoas não
entendem prontamente a verdade do Evangelho, e para muitos a teologia tornou-se
irrelevante. Como resultado sua fé está fraca e suas vidas são destruídas. Eles estão
maduros para a corrupção da heresia e decadência moral porque não há um centro da
46
verdade em sua fé. A igreja falhou em proclamar o conteúdo da fé, então pessoas não
sabem o que acreditar.
Educadores cristãos eficazes proclamam os mistérios de Deus com toda sabedoria,
esclarecendo a relevância da verdade bíblica para a vida. Os mistérios de Deus não são
irrelevantes para a vida, mas eles são de fato o único meio da vida fazer sentido. Eles
fornecem a estrutura pela qual nós podemos entender a vida e encontrar um significado
completo. O apóstolo se levantou com um pé firmemente plantado nos mistérios de Deus e
o outro nas experiências da vida. Enquanto ensinava os mistérios, Paulo relacionava a
teologia a experiência de vida, mostrando como uma pessoa deveria viver em resposta a
verdade. Esta tarefa é a mesma para o educador cristão moderno. Nós também devemos
proclamar a verdade de Deus e relaciona-la com as vidas do povo que nós ensinamos.
Paulo descreveu esta obra como um esforço (Cl 1.29). Não é fácil entender os
mistérios de Deus e relacioná-los às experiências da vida. Educadores cristãos devem ser
biblicamente profundos e teologicamente especialistas, e devem também entender as
pessoas. Eles não tem o luxo de somente estudar o texto; eles devem também estudar as
pessoas. Nem podem eles se preocupar somente com os métodos e esquemas
organizacionais sem estar preocupados com o conteúdo do ensino. Uma Educação Cristã
competente requer visão teológica e entendimento das pessoas tanto psicologicamente
como culturalmente.
Mas o melhor da percepção não produzirá pessoas retas em si mesmas. O poder de
Deus deve estar trabalhando para trazer a maturidade espiritual. Paulo lutou em seu esforço,
mas ele entendeu que ele estava em parceria com Cristo. Cristo estava trabalhando nele.
Uma Educação Cristã produtiva é sempre uma parceria entre Deus e o educador.
Assim como Paulo trabalhou para estabelecer igrejas, o desenvolvimento da
liderança era essencial. Trabalhando para nomear presbíteros em várias igrejas, Paulo listou
critérios que devem ser seguidos por aqueles que conduziriam as igrejas. Uma questão
crítica era que ele fossem “aptos para ensinar” (1 Tm 3.2). Paulo ensinou Timóteo, que em
troca deveria “transmitir a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros” (2 Tm
2.2) as verdades que ele aprendeu de Paulo.
A igreja deveria progredir através da evangelização e da educação. Estes temas
gêmeos são o coração do ministério da igreja. Ambos são importantes para o crescimento e
a saúde da igreja.
CONCLUSÃO
Esta breve visão geral demonstra que o ensino não é opcional na igreja; antes, é um
imperativo bíblico para ser obedecido. A forma do ensino pode variar. Escolas dominicais,
por exemplo, não são mandados bíblicos. Elas são uma forma cultural estabelecida nos dois
últimos séculos para cumprir o mandado bíblico. Como a igreja ensina está aberto para uma
variedade de expressões culturais, mas que a igreja ensine é algo não negociável. As
Escrituras ordenam que a igreja eduque seu povo para a maturidade espiritual.
47
O PROBLEMA DA NORMALIDADE
Muito do que Jesus fez e falou serve como um modelo para os educadores Cristãos na
idade moderna.
Este problema foi de alguma forma resolvido pela kenosis—o esvaziamento dele
mesmo descrita em Filipenses 2.7. Talvez assim como ele se “fez nada,” Jesus limitou suas
divinas regalias de algumas maneiras, deixando a si mesmo dependente do Pai do mesmo
jeito que nós somos dependentes do Pai. Jesus ensinou que se nós tivéssemos fé nós
poderíamos fazer maiores milagres que os dele (Matt.17:20). Teólogos discordam no
significado da kenosis, mas o fato do esvaziamento de Jesus sugere que enquanto ele
estava na terra sua limitações devem ter sido semelhantes às nossas.
57
Transcrito de Perry Downs.
48
Alguns autores acreditam que havia um plano especifico para os seus ensinamentos,
especialmente a respeito do treinamento dos apóstolos—um plano que e transferível para
o nosso contexto. Por exemplo, no seu livro Com Cristo na Escola do Discipulado, Carl
Wilson argumenta que há um modelo definido nos trabalhos de Jesus com os Doze. Para
achar os modelos, ele diz, nós devemos primeiro atingir a harmonia dos evangelhos. Cada
um dos quatros evangelhos devem estar integrados como um todo para que cheguemos a
uma clara historia da vida de Cristo. Uma vez que tenhamos feito isto, acredita Wilson, que
nós poderemos estudar o modelo das experiências para os doze e descobrir os métodos do
discipulado de Jesus.
Procurar por princípios em lugar de padrões é uma atitude mais fiel ao modo como
os evangelhos foram registrados. Pareceu bom ao Pai não nos fornecer a história de forma
cronológica da vida de Cristo, e portanto nós não precisamos procurar por isto. Mas nós
podemos pegar a informação que cada escritor fornece e usá-la para entender os princípios
principais que parecem guiar nosso Senhor como um professor.
A Escritura nos ensina que Jesus serve como um exemplo para nós. Nos é dito que
devemos andar “como Jesus andou” (1 Jo 2.6), vivendo nossas vidas de acordo com os
princípios que o guiaram. Além do mais, Lucas nos diz que ele registrou “tudo o que Jesus
começou a fazer e ensinar” (At 1.1). Lucas não estava preocupado somente com o que
Jesus disse, mas também com o que ele fez. Um estudo de Jesus como um professor deve
considerar tanto o que ele ensinou e como ele ensinou. Há pelo menos quatro áreas
principais nas quais Jesus serve como modelo para os professores modernos.
Por ser esta uma questão difícil de responder, é melhor primeiro responde-la
negativamente—isto é, determinar o que seus objetivos não foram. Parece claro que não era
objetivo de Jesus deixar somente um amontoado de verdades. Jesus estava preocupado com
a comunicação do conteúdo, mas isto não parece ser sua preocupação primária. Houve
muitas vezes quando, como professor, ele parecia estar atrás de algo além da comunicação
de novas informações.
o ensino de Jesus era uma extensão da teologia existente enquanto mostrava ao povo todo
um novo modo de pensar sobre as verdades do Velho Testamento revelar que ele era e o
seu papel no plano redentivo do pai. Ele se ateve ao cumprimento da Lei, e não a uma nova
interpretação teológica dela.
Qual então, era seu objetivo como professor? Jesus disse, “eu vim para que tenham
vida e vida em abundância” (Jo 10.10). Seu objetivo como um professor era mudar a
qualidade de vida de seus alunos, colocando-os num patamar mais alto de obediência à
Deus e num nível mais de santidade. Por Jesus dar sua vida por eles (v.11), ele pode
ensinar e capacitá-los a viver de uma nova maneira.
Alguns professores confundem meios com fins. Eles somente enfocam métodos e se
esquecem dos objetivos. Ensinar a Bíblia é um método; mudar vidas é um objetivo. A
razão pela qual nós ensinamos na igreja é para que vidas sejam transformadas. A razão
pela qual nós promovemos estudos Bíblicos é para que vidas sejam transformadas. A razão
pela qual nós estabelecemos escolas Dominicais, grupos de jovens, grupos de solteiros, e
outros programas educacionais é para que vidas sejam transformadas.
Professores atuais devem aprender com este exemplo. Nós devemos nos lembrar
que nossos objetivos vão além da comunicação de um conteúdo e a resposta do aluno
aquele conteúdo ensinado, somente. Nós não podemos nos satisfazer somente com o
58
Isto de forma alguma deve ser interpretado como implicando que a teologia sistemática é algo sem
importância. Devido ao fato que os humanos são seres lógicos e que as leis de comunicação requerem lógica,
é absolutamente necessário para a igreja sistematizar seu entendimento da revelação divina. O único ponto
que eu que enfatizar é que isto não era uma preocupação crítica para nosso Senhor como professor.
59
Novamente, eu não quero dizer com isto que o ensino sistemático das Escrituras seja sem importância ou
não bíblico. Isto serve somente para destacar que não era a preocupação principal de nosso Senhor.
50
“conhecimento que os nossos alunos tem da verdade.” Nossos estudantes devem viver a
verdade. Somente então podemos nós dizer que nosso ensino foi bem sucedido.
Mas é algo realista esperar que nosso ensinamento traga mudanças de vidas?
Podemos esperar tocar as vidas de outros, causando-os a serem mais retos e mais
obedientes a Deus? Podemos realmente causar este tipo de resposta em nossos alunos? A
resposta é simples nós não podemos mudar vidas. Mas o conteúdo da Escritura ensinada no
poder do Espírito Santo muda vidas. Deus pode usar nosso ensinamento para realizar
mudança.
Nós não podemos mudar vidas, mas nossa responsabilidade é ensinar para que Deus possa
usar nossos esforços para levar nossos alunos à maturidade. Maturidade, bem entendida ,
significa uma vida mudada.
A Educação Cristã é melhor entendida como uma parceria educacional com Deus.
Nós somos responsáveis por ensinar outros fazendo o melhor que pudermos, esforçando-
nos para ajudá-los a entender e obedecer a Palavra de Deus. O Espírito Santo é responsável
em usar nossos esforços para tocar os corações de nossos alunos e conduzi-los a um
relacionamento obediente com o Pai. Nós devemos ensinar como se dependesse de nós,
entendendo que se os alunos de fato responderem ao ensino é por causa da graça de Deus
em suas vidas. Nós não podemos mudar vidas, mas nossa responsabilidade é ensinar para
que Deus possa usar nossos esforços para levar nossos alunos à maturidade. Maturidade,
bem entendida , significa uma vida mudada.
3
Ver, por exemplo, R. V. G. Tasker, O evangelho segundo São João (Grand Rapids: Eerdmans, 1960), 110;
D. A. Carson, O Evangelho segundo João(Grand Rapids: Eerdmans, 1991), 333-334.
52
Nós, educadores Cristãos modernos, deveríamos aprender com este exemplo que
nós nunca devemos rejeitar as pessoas porque são pecadoras. Antes, para sermos
verdadeiramente educadores como Cristo, nós devemos aprender a amar as pessoas como
Jesus o fez. Os programas educacionais deveriam ser um refúgio para pessoas que tem sido
surradas pelos estabelecimentos religiosos e líderes religiosos. A educação que é cristã traz
perdão e redenção, não condenação e lei.
É triste que em algumas igrejas os pecadores são tratados como objetos—almas para
serem ganhas em vez de pessoas para serem amadas. Elas são humilhadas, criticadas, e
tratadas com desrespeito, tudo em nome de Cristo.
Quando eu era professor de faculdade, eu estava entrevistando pessoas para serem
membros do corpo docente no meu departamento. Eu entrevistei uma mulher que queria
sair da escola pública e entrar na educação Cristã. Eu perguntei-lhe sobre seu
relacionamento com outros professores. Ela disse que havia uma mulher que era uma boa
amiga, mas não conhecia o Senhor, e ela ainda não tinha conseguido que ela fosse à sua
igreja. Ela então continuou a dizer-me que o esposo desta mulher era proprietário de um
bar, e que por várias vezes ela fora convidada para almoçar no bar. “Mas,” disse ela, “claro
que nunca iria naquele ‘lugar de bebedeiras’ com ela.” Eu fiquei pensando como ela iria
então alcançar aquela amiga se ela nunca fosse almoçar com ele e seu marido no bar. Mas
para esta mulher, não ser vista onde bebidas alcoólicas são servidas era mais importante do
que estabelecer um relacionamento com sua amiga. Eu decidi então que não queria aquela
mulher ensinando no meu departamento.
Jesus era um mestre poderoso porque ele não rejeitava as pessoas só porque elas
eram pecadores. Ele se relacionava com o descriminado e o separado, levando-lhes o amor
de Deus não somente em palavras, mas também em ações. Ele escolher comer com eles, ser
visto com eles, e ensiná-los. E ele se recusou a ser controlado por uma organização
religiosa caracterizada por arrogância em vez de misericórdia.
As duras palavras registradas dos lábios de Jesus são encontradas em Mateus 23—
palavras dirigidas aos líderes religiosos. Ele não rejeitou sua autoridade como
representantes da Lei (vv. 2-3), mas ele de fato condenou seu estilo de vida. Eles falharam
em viver vidas de compaixão e cuidado com as pessoas ao redor deles. Eles estavam mais
preocupados com manter as tradições religiosas do que com ministrar às pessoas em
sofrimento.
De vez em quando o mesmo problema emerge em nossas igrejas. Nós encontramos
aqueles que estão mais preocupados com as tradições a as propriedades do que com as
pessoas. Nos anos 60 quando Deus agiu entre os jovens de nossa sociedade no que foi
chamado O Movimento de Jesus, muitas igrejas não podiam aceitar os novos convertidos
porque eles não vestiam roupas tradicionais. Pessoas não eram bem-vindas nas igrejas
porque eles não queriam calçar sapatos ou não usavam um gravata. Alguns membros de
igreja estavam mais preocupados com a moda do que com as pessoas.
Pode ser uma coisa perigosa amar pecadores e se relacionar com eles. Apesar de
serem expostas às tentações inerentes em seu estilo de vida, pode-se também ser um risco
causar a ira de outros Cristãos. A idéia de separação do mundo está tão impregnada em
alguns crentes que, como os Fariseus, eles somente condenam aqueles que tentam alcançar
o mundo com a redenção. Mas ser obediente a Cristo e viver a retidão verdadeiramente
requer amar nosso próximo como a nós mesmos.
54
O nível mais baixo é uma simples lembrança, pela qual o aluno é capaz de lembrar
o que foi ensinado. Este é um simples exercício cognitivo, não relacionado com a vida. A
lembrança é necessária mais tarde para níveis mais altos de aprendizado, mas é dificilmente
capaz de penetrar na vida do aprendiz. Muitos estudantes desenvolvem uma boa memória e
são bem sucedidos neste tipo de aprendizado.
Aprovação envolve não somente a mente do estudante, mas também seu
compromisso emocional ao que tem sido aprendido. O estudante gosta do que ele lembra.,
4
Norman W. Steinerker e m. Robert Bell. A Taxonomia Experiencial: Uma nova abordagem ao Ensino e ao
Aprendizado (New Yourk: Academic Press, 1979).
55
sentindo-se positivo sobre a informação. Um aprendizado eficaz que traz mudança de vida
requer um envolvimento afetivo assim como cognitivo do aluno.
Especulação é um envolvimento cognitivo com o conteúdo. Neste nível o aluno
pensa sobre como estas idéias podem ser aplicadas em seu contexto. Ainda não há uma
resposta de vida ao conteúdo, mas há um pensamento ativo sobre o que tem sido aprendido.
O envolvimento afetivo do nível dois conduziu à atividade cognitiva do nível três.
No nível de aplicação o aluno experimenta o conceito numa situação da vida real
como um resultado do pensamento do nível três. Este passo serve como um campo de teste
para a validade da verdade aprendida. A aplicação pode conduzir à rejeição do conteúdo, ou
pode conduzir ao nível final do aprendizado se o conceito “funcionou” na experiência
crucial da vida.
A Adoção ocorre quando o aluno incorpora o conceito em sua vida. O teste do nível
quatro provou ser positiva, e o aluno agora escolhe integrar este conceito na estrutura do
seu próprio raciocínio e ação. Este é o último passo para o aprendizado eficaz.
Conteúdos formais de aprendizado são poderosos para ajudar os alunos a atingir os
três primeiros níveis de aprendizado. Os conceitos podem ser comunicados de maneiras
agradáveis, e os alunos podem ser conduzidos a considerar as possíveis aplicações em suas
vidas diárias. Mas a educação formal tende a ser menos eficaz que a educação informal
para ajudar os alunos a alcançar níveis mais altos de aprendizado. Os passos da aplicação e
adoção são melhor criados por um modo mais informal de ensino. O contato pessoal da
instrução informal é completamente mais poderosa do que modos de ensino mais
restritamente formais.
Jesus também enfatizou o estabelecimento e a manutenção de relacionamentos com
alunos como um método principal de ensino. Ele escolher Doze que “estariam com ele”
(Mc 3.14), observando e interagindo com ele enquanto realizava seu ministério. Ao passo
que ensinava, ele entrava em relacionamentos com pessoas, tocando as suas vidas com a
proximidade e intimidade.
O evangelho de João fornece uma impressionante descrição da natureza relacional
do ministério de Jesus. O prólogo de João apresenta a idéia da encarnação dando a grande
observação que “o Verbo [logos] se fez carne e habitou enter nós” (Jo 1.14). Enviado ao
mundo pelo Pai, o Verbo tomou forma humana e entrou em relacionamento conosco ao
mudar-se para a nossa vizinhança e viver como um de nós.
Mas qual era o programa educacional do Filho de Deus? Como ele cumpriu sua
tarefa de ensinar a humanidade sobre o Pai e o Evangelho do Filho? João 2 diz que ele foi a
uma festa de casamento. Talvez o que é mais impressionante é que nós não sabemos quem
se casou. Era um casou sem nomes em Caná da Galiléia, uma cidade pequena e sem
importância. O casa não podia pagar por um suprimento adequado de vinho (um problema
sem dúvida agravado com a chegada de um rabino itinerante e seus sedentos discípulos).
Enquanto no casamento, Jesus escolheu decidiu fazer o primeiro de seus sinais
milagrosos. O transformar a água em vinho tinha maiores implicações do que a bebida para
os convidados em si na recepção do casamento. O mero fato dele ter vindo ao casamento é
instrutivo em si mesmo. Quando ele poderia ter promovido grandes encontros públicos ou
conferencias importantes com os religiosos e líderes políticos, ele escolheu ir ao casamento
de amigos da família.
O capítulo 3 do evangelho de João nos diz que ele teve conversas durante a noite
toda com um homem sobre sua necessidade de regeneração. Nicodemos era um membro da
concílio Judaico, mas o foco da conversa deles era muito pessoal. Em vez de falar sobre o
56
grupo político, Jesus falou somente com um homem a noite. Esta conversa frutifica numa
poderosa teologia para a igreja, mas é significante que o contexto no qual isto acontece é de
uma conversa particular com um homem. A descrição que emerge da narrativa do
evangelho é de uma abordagem de ministério relacional.
O capítulo 4 registra uma outra conversa intima, desta vez com uma mulher cuja
vida pessoal estava em desordem e cuja moralidade estava falida. A mulher samaritana
tinha tido cinco maridos e estava atualmente vivendo com um sexto homem. Sem dúvida
ela era separada da sociedade, uma pessoa evitada por cidadãos respeitáveis. Mas quando o
Verbo se fez carne, ele escolheu entrar em relacionamento com ele, dizendo-lhe que ele era
o Messias prometido (Jo 4.26). Nenhum Judeu tinha negócios com Samaritanos, ainda mais
alguém de sua classe. Apesar disto, ele foi até ela, e foi para ela que ele disse sobre a água
viva.
O resultado deste relacionamento foi que muitos Samaritanos acreditaram nele. Eles
primeiro ouviram a descrição que a mulher fez do encontro, e então experimentaram a
Jesus por si mesmos. Eles ouviram suas palavras no contexto de seu relacionamento com
eles e isto provou a verdade de seu ensino.
O capítulo 5 registra sua entrada em Jerusalém. Parece lógico que quando o Verbo
entrou na história humana ele deveria ir para o trono de poder na região onde ele vivia. Mas
João nos diz que quando ele entrou em Jerusalém ele foi à piscina de Betesda e conversou
com um paralítico, um homem que tinha estado naquela condição por trinta e oito anos!
Mesmo no centro urbano de seu mundo, ele escolheu entrar num relacionamento com uma
das mais simples pessoas que lá havia.
O educador Cristão moderno deve aprender com este exemplo que um ministério
eficaz envolve relacionamentos assim como conteúdo. Ministérios de ensino desprovidos
de contato pessoal são somente parcialmente bem sucedidos em sua habilidade de mudar
vidas. Comunicadores poderosos podem se eficazes em instruir outros sobre assuntos de
doutrina e vida Cristã, mas os resultados de mudança profunda de vida normalmente
ocorrem no contexto dos relacionamentos humanos. Porque somos chamados para amar,
nós somos chamados a um envolvimento relacional com outros. É impossível amar pessoas
sem envolvimento.
Há uma tentação sutil de estabelecer programas educacionais em nossas igrejas, e
exigir que as pessoas apoiem os mesmos, e insistir que a freqüência será uma marca de
espiritualidade. Esta atitude inverte a noção de educação como serviço ao povo; isto força
as pessoas a servirem à educação. A educação que é cristã procede da base do amor às
pessoas, procurando seus melhores interesses e preocupações, não exigindo que sirvam a
programas.
Jonas na barriga do peixe (Mt 12.39-42). Ele regularmente ensinava com base nas
Escrituras. Não há qualquer indicação que ele duvidou da veracidade ou exatidão histórica
do texto.
Jesus acreditava que a testemunha da Escritura era a testemunha de Deus, que deus
era o verdadeiro autor da Escritura. Ele reconheceu os autores humanos mas cria que atrás
deles estava o autor divino. Portanto ele poderia tanto dizer, “Moisés disse” ou “Deus
disse,” porque para ele os dois eram a mesma coisa. Além do mais, ele argumentou que a
“Escritura não pode falhar” (Jo 10.35) e que “Porque em verdade vos digo: até que o céu e
a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra” (Mt
5.18).
Talvez ele tenha feito doloridos ataques nos líderes religiosos quando ele perguntou-
lhes, “Vocês não tem lido. . . ?” (Mt 12.3, 5). Sua mensagem era clara; Se eles deviam
conduzir as pessoas, eles deveriam conhecer a Escritura. Se eles eram povo de Deus, ele
deveriam conhecer a Palavra de Deus.
Um conflito também se levantou sobre a questão de autoridade. Os Fariseus
nivelaram suas tradições com a autoridade das Escrituras, acreditando que ambas deviam
ser obedecidas. Mas nosso Senhor fez distinções fortes entre as tradições dos homens e os
mandamentos de Deus (Mc 7.1-12), distinguindo entre o que Moisés disse (v. 10) e o que
os Fariseus disseram (v. 11). Os Fariseus criam que Moisés e “os anciãos” (os fundadores
históricos do Farisaísmo) eram não só comparáveis, mas exatamente iguais. Jesus viu isto
como um conflito entre a autoridade de Deus e a autoridade humana.
Jesus estava interessado no conteúdo do ensino, mas o conteúdo era a Palavra de
Deus revelada na Escritura. Numa era em que alguns Cristãos estão questionando a
veracidade da Escritura, é instrutivo lembrar que nosso Senhor tanto acreditava na Escritura
para ser ensinada como verdade como também sendo a própria verdade. Ele se incomodava
com questões da “baixa ou alta crítica,” mas acreditava no valor da Escritura.
Uma Educação Cristã eficaz conduz o povo para o estudo da Bíblia como um meio de
crescimento, não como um fim em si mesmo. Um estudo fiel da Bíblia deve ser um meio de
aprendizado para conhecer e obedecer à Deus.
Além disso ele fez uma distinção entre as tradições religiosas dos Fariseus e a
Palavra de Deus. A primeira era humana e a última divina.
Educadores que seguem o modo de ensino de Jesus ensinarão a Bíblia com
confiança e autoridade e distinguirão entre as tradições da igreja e a Palavra de Deus.
Educadores Cristãos eficazes devem ser convencidos da validade da Escritura e serem
capazes de distinguir a Palavra de Deus da tradição humana.
Jesus cria que a Escritura era verdadeira, mas ele entendia que ela era um meio para
um fim, e não um fim em si mesma. Ele avisou contra a possibilidade de super exaltá-la ao
fazer dela um fim em si mesma (Jo 5.39-40). O propósito da Escritura é que aponte as
pessoas para Cristo. É verdade que hoje muitas pessoas tem uma visão muito baixa da
Escritura, não aceitando-a como de fato Palavra escrita de Deus. Mas há outros com uma
visão tão alta da Escritura, vendo-a quase como um objeto de reverencia. John Stott observa
58
que estes “se tornam tão absorvidos na Escrituras que perdem de vista seu propósito, que é
manifestar a Cristo para eles.”5
É também possível usar o estudo bíblico como um modo de escapar de nossas
responsabilidade como crentes. Pode ser “seguro” correr para outro estudo bíblico, assim
eficazmente removendo-nos de qualquer ministério ativo ou envolvimento com pessoas. A
última coisa que alguns crentes precisam é de mais estudo bíblico.; antes, o que é
necessário é ter nossas vidas transformadas pela Bíblia. Uma Educação Cristã eficaz
conduz o povo para o estudo da Bíblia como um meio de crescimento, não como um fim
em si mesmo. Um estudo fiel da Bíblia deve ser um meio de aprendizado para conhecer e
obedecer à Deus.
Quando Jesus foi levado a Pilatos para seu julgamento, Pilatos examinou-o para
determinar se havia uma justificativa para sua execução. Ele concluiu, “Não vejo neste
homem crime algum” (Lc 23.4). Mas os Judeus gritavam para que fosse crucificado,
insistindo, “Ele alvoroça o povo, ensinando por toda a Judéia, desde a Galiléia, onde
começou, até aqui” (v. 5). A acusação trazida contra ele era que ele era um professor
dinâmico! Seu ensino alvoroçou as pessoas, fazendo-as pensar e se comportar diferente.
Infelizmente esta acusação é raramente trazida ao ministério de ensino de nossas
igrejas. Nós somos acusados de incompetência e irrelevância—duas acusações que podem
ser duramente precisas. Nós ensinamos lições não relacionadas com a vida, e nós o fazemos
de uma maneira bem pobre. Nós falhamos em engajar os corações e as mentes das pessoas
como nosso Senhor fez e somos inclinados a isola-los em vez de influenciá-los para Deus.
Eu olha para o ministério de ensino de Jesus e vejo princípios que fez dele um professor
dinâmico. Estes mesmos princípio podem ser incorporados no ministério educacional hoje.
Nós precisamos de uma constante aplicação destes assuntos em nosso ensinamento, para
que pela graça de Deus nós também possamos alvoroçar as pessoas pelo nosso ensino.
5
John R. W. Stott, Cristo o Controversista (Downers Grove: InterVarsity, 1972), 90.
59
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA
EDUCAÇÃO CRISTÃ
Uma Visão Panorâmica da História da Educação
Ao estudarmos a influência da educação cristã na formação do ser humano, faz-se
necessário reconhecer que o homem é um ser histórico. E ao longo de sua história, muitos
fatores foram influenciando sua formação. Ao estudar a história da educação, estaremos
considerando 1) O elemento religioso na prática educativa na Antiguidade: entre os judeus,
gregos e romanos; 2) Na Idade Média; 3) Na Era Moderna e 4) Na Era Contemporânea
1. A EDUCAÇÃO HEBRAICA
Seria um erro tentar estudar a educação cristã sem antes considerar a educação religiosa que a
precedeu, isto é, a educação dos hebreus do Antigo Testamento. Todas as grandes idéias
associadas com o AT, revelação, profecia, sacrifício, ritos, a presença e o poder de Deus, etc, de
uma forma ou de outra, estão relacionadas com o sistema educacional dos israelitas, o povo
escolhido por Deus. Portanto estas idéias se relacionam também com nossos propósitos na
educação cristã, para nós que somos o novo Israel.
60
Eavey, educador cristão norte americano, disse que (uma historia da educação verdadeiramente
cristã indica, através dos tempos, o desenvolvimento da educação que começou com Deus,
continuou a centralizar-se em Deus e agora se propaga sob a direção de Deus).60 Parece pois,
que um estado da educação cristã não deve começar com uma história mais recente do que a do
antigo Israel.
1. Em família: Desde a mais remota antiguidade, a família tem sido instituição educacional por
excelência na terra. O plano fundamental de Deus sempre foi o de que a educação do seu povo
deveria começar na família , portanto a educação dos filhos era de elevada prioridade. Uma das
funções mais importantes dos pais hebreus era a educação adequada e correta de seus filhos,
vários textos do AT indicam isto (Ex. 12.26,27; Dt 4.9,10; 6.4-7; 11.18,19 etc). O ensino deve
começar na família.
No Israel antigo a educação era um processo informal. Os pais executavam a maior parte do
treinamento, ou todo ele, não havia salas de aula ou currículo estruturado.61
Podemos imaginar que muita aprendizagem ocorria toda noite enquanto as famílias,
especialmente os homens, sentavam-se tendo seus filhos ao redor e ali antes de dormirem, iam
recordando, compartilhando, contando historias e as experiências do passado. Contar as
Histórias era um método didático: Ex. 12:26; 13:8,14; Dt 6:20,21; Js 4:6,21.
a) Responsabilidade paterna: A educação religiosa dos filhos era responsabilidade dos pais
(Dt 11.19;32.46) não se abriam exceções para os pais que julgavam estar ocupados demais para
ensinar.62
Mesmo quando os filhos chegavam a maioridade após o casamento, a responsabilidade dos pais
não terminava; ainda tinha parte importante na educação dos netos (Dt 4.9). Na verdade,
freqüentemente eles moravam na mesma casa. A principal preocupação dos pais judeus era que
os filhos viessem a conhecer o Deus vivo. Em hebraico, o verbo "conhecer" significa estar
intimamente envolvido com uma pessoa.
A principal preocupação dos pais judeus era que seus filhos viessem a conhecer o
Deus vivo. Em hebraico, o verbo conhecer significa esta intimamente envolvido com
uma pessoa; A Bíblia afirma que a reverência ou "O temor do Senhor é o principio
da sabedoria, e o conhecimento do Santo é a prudência" (Pv 9.10). os pais
piedosos ajudavam os filhos a desenvolver este tipo de conhecimento de Deus.63
60
Citado por Thomas Ranson Giles, História da Educação (São Paulo: EPU, 1987) 44.
61
Packer, J.I; Tenney & William White. Vida Cotidiana nos Tempos Bíblicos. São Paulo, SP:
Editora Vida. 1986 p. 79
62
Packer, J.I. Op Cit., p. 79-80
63
Idem., p. 81
64
Idem., p. 80
61
dos filhos e das filhas. A mãe arcava com a principal responsabilidade pelas filhas, ensinando-
as a fazer pão, fiar e tecer (Ex.35.25-26; II Sm 13:18), ensinando-lhes habilidades que lhes
seriam necessárias para tornar-se, com o tempo, boas esposas e mães. Caso não houvesse filhos
varões na família, podia-se exigir que as filhas aprendessem o trabalho do pai (Gn 29.6; Ex
2.16).
Encontramos também o exemplo de Joás, que quando o seu pai fora morto por Jeú, Atália, sua
avó, usurpou o poder, mandando assim matar todos descendentes da família real; Jeoseba,
porém tia do garoto, o escondeu no templo, onde seu marido Jeoiada era o sumo sacerdote.
Naquele local o menino foi bem criado, instruído, conheceu a Lei do Senhor.
Packer nos dá uma relação parcial das qualidades exigidas do professor:não devia ser
preguiçoso, devia ter temperamento uniforme; não irritável (paciente); não parcial;
demonstrar sempre que o pecado é algo odioso; devia punir os malfeitos e cumprir
suas promessas.67
Além das Escrituras, os alunos deveriam estudar música, guerra e outros conhecimentos
práticos. ( I Sm 16:18 ). Era realmente uma educação refinada.
65
Alguns crêem que durante a Diáspora (dispersão dos judeus), os descendentes de Abraão, Isaque
e Jacó precisavam de um lugar onde pudesse cultuar a Deus e aprender a sua história. O exílio
forçou os israelitas a deixar seu templo e sua terra santa, e desde aquela época embarcaram numa
longa e árida jornada como nação e raça. Ao encontrar-se na Babilônia sem templo, os israelitas
tiveram de encontrar uma alternativa para o seu sistema religioso e ensino, que se encontrava no
templo, tal alternativa tomou forma da sinagoga (At 15.21).
66
Packer, J.I. Op Cit p. 82
67
Idem ., p. 82
62
2. EDUCAÇÃO GREGA
A educação na Grécia teve formas diferentes. Veremos essas diferenças. Em Esparta ela assume um
papel de preparação para a guerra. Entretanto, em Atenas assume um papel mais intelectual.
63
Na Grécia como veremos a seguir, foi o local onde fluiu a sofistica. Os sofistas68 tiveram grande
importância na profissionalização da educação. Além disso, a Grécia é considerada como o berço da
pedagogia.
Foi devido ao poder econômico de seu império que a Pérsia conseguiu dominar todo o oriente. No
entanto, vencidos contra os gregos, os persas perderam o predomínio sobre os outros Estados da
antigüidade. Dessa forma, a hegemonia econômica se deslocou das civilizações do Oriente próximo
para a civilização grega.
Veremos a seguir como a civilização grega conquistou o poderio econômico sobre todo o mundo
antigo e acabou perdendo-o para o Império Romano.
2. Período Homérico (1100-800 a.C.), Esta fase foi retratada pelos poemas de Homero; A
Ilíada que trata da guerra de Tróia e Odisséia, que relata o retorno de Ulisses a Ítaca, após a guerra
de Tróia.
O ideal educativo era a formação cortês do nobre.
Não havia a educação formal. Er o pai o responsável por educar seus filhos, ou ele delegava
esta responsabilidade a alguém.
As obras de Homero dominam o processo educativo na Grécia. O heróis de Ilíada e
Odisséia são o modelo permanente para a juventude. Aquiles, o guerreiro idealizado, a
personificação de um povo bélico; Nestor, o modelo da experiência e da maturidade;
Agamenão, da liderança; Ulisses, da oratória.
O conteúdo do ensino era a eloqüência, a retórica, que lhe ensinava quando e como devia
falar.
O programa de estudos incluía além da ginástica, a Música, História e a Poesia.
Através da observação e da imitação, o jovem devia assimilar os valores da sociedade.70
68 As palavras gregas sophos e sophia habitualmente traduzidas por sábio e sabedoria foram utilizadas desde os tempos mais remotos tendo-lhes sido
sucessivamente atribuídos vários significados. No início, foram utilizadas para realçar uma capacidade ou arte especial num determinado assunto. Homero
refere que um construtor naval, um cocheiro, um navegador, um adivinho ou um escultor são sábios nas suas profissões. Também Apolo é sophos com a sua
lira. Nesta altura, sophos era atribuído a alguém que desempenhava uma determinada tarefa ou ocupação com um rigor e perfeição melhores que qualquer
outra pessoa. No início do séc. V a.C. o termo "sofista" passa a ser utilizado com o sentido de "homem sábio". É atribuído a poetas, como Homero e Hesíodo,
a músicos e rapsodos, a deuses e mestres, aos Sete Sábios, aos filósofos pré-socráticos e a figuras com poderes superiores, como Prometeu. Pelo final do
século, o termo "sofista" era aplicado a quem escrevia ou ensinava e que era visto como tendo uma especial capacidade ou conhecimento a transmitir. A
sophia era fundamentalmente prática e sobretudo direcionada para a política ou para a arte
69 Giles, op Cit., p. 12
70
Cf. Giles, Op Cit., p. 12
64
A Grécia achava-se dividida em Cidades-Estado, das quais as mais conhecidas são as antagônicas
Esparta e Atenas. Esparta ocupava o fértil vale do rio Eurotas, na região da Lacônia, ao sudeste da
península do Peloponeso.
A cultura intelectual foi quase nula em Esparta limitando-se ao ensino de poesias sagradas,
a cantos de guerra e a uma eloqüência particular que devia expressar muitas coisas em
poucas palavras. Chama-se lacônica72 a linguagem breve, concisa, sentenciosas, igual a que
e falava na Lacônia.
Atenas passou pelas mesmas fases de desenvolvimento de Esparta; mas enquanto Esparta se deteve
na fase guerreira e autoritária, Atenas priorizava a formação intelectual sem deixar de lado a
educação física que não se reduzia apenas a uma simples destreza corporal mas que vinha
acompanhada por uma preocupação moral e estética.
Na primeira parte de sua cultura aparecem formas simples de escolas e a educação deixa de ficar
restrita à família e a partir dos 7 anos começava a educação propriamente dita, que compreendia a
educação física, a música e a alfabetização. O pedotriba73 (παιδοτριβεσ) era o responsável em
orientar a educação física na palestra onde os exercícios físicos eram praticados.
Além da educação física, a educação musical era extremamente valorizada não se limitando apenas
à música mas também a poesia, canto e a dança. Os locais que eram praticados eram geralmente as
palestras ou, então, em lugares especiais. O ensino elementar como a leitura e a escrita durante
muito tempo não teve a sua devida atenção como teve as práticas esportivas e musicais tanto que os
mestres eram geralmente pessoas humildes e mal pagas e não tinham tanto prestigio quanto o
instrutor físico.
Com o passar do tempo foi se exigindo uma melhor formação intelectual delineando-se três níveis
de educação: elementar, secundária e superior. O didáscalo era o responsável em ensinar a leitura e
71
GILES, OP Cit., p13
72
Lacônia: Região onde viviam os espartanos
73
A grande maioria das palestras eram propriedade privada dos instrutores ou paidotribes. As
crianças eram levadas a casa do paidotribés que as recebiam em sua casa, em palestras próprias
arranjadas para o efeito. Assim que a criança se tornava adolescente continuava a receber treino
físico com o seu paidotribés, mas já num ginásio público.
65
a escrita em locais não definidos e com métodos que dificultam a aprendizagem e por volta dos 13
anos completava-se a educação elementar.
Aqueles que tinham maiores condições de continuar os seus estudos entravam para a educação
secundária ou ginásio onde, inicialmente, eram praticados os exercícios físicos e musicais, mas com
o tempo deu-se lugar as discussões literárias abrindo espaço para o estudo de assuntos gerais como
a matemática, geometria e astronomia principalmente a partir das influências dos professores. O
termo secundário chegou mais próximo do seu conceito atual quando foram criadas as bibliotecas e
salas de estudos.
Dos 16 aos 18 anos, a educação superior só se dá com os sofistas, que mediante retribuições
elevadas se encarregavam de preparar a juventude para a oratória. Sócrates, Platão e Aristóteles
também ministravam a educação superior.
Neste contexto não havia uma preocupação com o ensino profissional, pois estes eram aprendidos
no próprio mundo do trabalho com exceção da medicina que era uma profissão altamente valorizada
entre os gregos e que tomavam como parte integrante da cultura grega.
No final do século IV a. C., inicia-se a decadência das cidades-estados gregos assim como a sua
autonomia e a força da cultura helênica se funde à das civilizações que a dominam se universaliza e
converte-se em helenísticas; nesse período a antiga Paidéia, torna-se enciclopédia ou seja, educação
geral" consistindo na ampla gama de conhecimentos exigidos na formação do homem culto
diminuindo ainda mais o aspecto físico e estético.
Nesse período eleva-se o papel do pedagogo com a criação do ensino privado e o desenvolvimento
da escrita, leitura e o cálculo. O conteúdo abrangente das disciplinas humanistas (gramática, retórica
e dialética) e quatro científicas (aritimética, música, geometria e astronomia). Além do
aperfeiçoamento do estudo da filosofia e, posteriormente, o de teologia na era cristã.
Atenas havia se tornado o centro da vida social, política e cultural da Grécia, em virtude do
crescimento das cidades, do comércio, do artesanato e das artes militares. Atenas viva seu momento
de maior florescimento da democracia. "A democracia grega possuía duas características de grande
importância para o futuro da filosofia. Em primeiro lugar, a democracia afirmava a igualdade de
todos os homens adultos perante as leis e o direito de todos de participar diretamente do governo da
cidade, da polis. Em segundo lugar, e como conseqüência, a democracia, sendo direta e não por
eleição de representantes no governo, garantia a todos a participação no governo e os que dele
participavam tinham direito de exprimir, discutir e defender em público suas opiniões sobre as
decisões que a cidade deveria tomar. Surgia assim, a figura do cidadão". (CHAUÍ, Marilena.
Convite à Filosofia, p. 36).
Contudo, é bom lembrarmos que as opiniões, não eram simplesmente jogadas às assembléias e
aceitas por elas, era necessário que o cidadão além de opinar, falar, deveria também buscar
persuadir a assembléia, daí o surgimento de profundas mudanças na educação grega, pois antes da
66
democracia as famílias aristocratas eram donas não só da terra como também do poder. A educação
possuía um padrão criado por essas famílias que era baseado nos dois poetas gregos Homero e
Hesíodo que afirmava que o homem ideal era o guerreiro belo e bom.
Entretanto, com a chegada da democracia, o poder sai das mãos da aristocracia e, "esse ideal
educativo vai sendo substituído por outro. O ideal de educação do Século de Péricles é a formação
do cidadão."(IDEM. P. 36)
O cidadão somente se faz cidadão a partir do momento em que exerce seus direitos de opinar,
discutir, deliberar e votar nas assembléias. Dessa forma, o novo ideal de educação é a formação do
bom orador, ou seja, aquele que saiba falar em público e persuadir os outros na política.
Para suprir a necessidade de dar esse tipo de educação aos jovens em substituição a educação
antiga, surgem os sofistas que foram os primeiros filósofos do Período Clássico. Em síntese, os
sofistas surgem por razões políticas e filosóficas, entretanto, mais por funções políticas.
Os sofistas foram filósofos que surgiram de várias partes do mundo e não tinham portanto, uma
origem bem definida. "Sofista significa (...) "sábio" - "professor de sabedoria". (...)[Em] um sentido
pejorativo, passa a significar "homem que emprega sofismas", ou seja, homem que usa de raciocínio
capcioso, de má-fé com intenção de enganar.
Entretanto, por cobrarem e se julgarem sábios e possuidores da sabedoria, foram bastante criticados
por Sócrates e seus seguidores, haja vista que para Sócrates o verdadeiro sábio é aquele que
reconhece sua própria ignorância. Para combater os sofistas, Sócrates desenvolve dois métodos que
são bastantes conhecidos até os dias de hoje: a ironia e a maiêutica. O primeiro consiste em
conduzir, através de questionamentos, o ouvinte que até o momento está convencido de que domina
completamente determinado conteúdo, de que este não sabe realmente tudo. A partir do momento
em que este se convence disto, Sócrates passa a utilizar o segundo método que é a maiêutica, que
significa dar luz às idéias. Nesse momento o ouvinte consciente de que não sabe tudo busca saber
mais buscando respostas por si próprio.
O termo pedagogia é de origem grega e deriva da palavra paidagogos, nome dado aos escravos que
conduziam as crianças à escola.74 Somente com o tempo, esse termo passa a ser utilizado para
designar as reflexões feitas em torno da educação. Assim, a Grécia clássica pode ser considerada o
berço da pedagogia, até porque é justamente na Grécia que tem início as primeiras reflexões acerca
da ação pedagógica, reflexões que vão influenciar por séculos a educação e a cultura ocidental.
Os povos orientais acreditavam que a origem da educação era divina. O conhecimento que circulava
na comunidade resumia-se aos seus próprios costumes e crenças. Essa realidade impedia uma
74
Inicialmente, a palavra paideia (de paidos-criança) significava simplesmente "criação dos
meninos".
67
reflexão sobre a educação, uma vez que esta era rígida e estática, fruto de uma organização social
teocrática. A divindade, portanto, era autoridade máxima, logo, sua vontade não poderia ser
contestada.
Essas questões enriquecem as reflexões de vários filósofos e dão origem à dimensões tendenciosas.
Para entendermos melhor é necessário fazermos a divisão clássica da filosofia grega, não
esquecendo que o eixo central é Sócrates:
1. Período pré-socrático (Século VII e VII a.C.); os filósofos das colônias gregas que iniciam
o processo de separação entre a filosofia e o pensamento mítico.
2. Período socrático (Séculos V e IV a.C.) Sócrates, Platão e Aristóteles. Os sofistas são
contemporâneos de Sócrates e alvos de suas críticas. Isócrates também é desse período.
3. Período pós-socrático (Séculos III e II a.C.) época helenística, após a morte de Alexandre.
Fazem parte ainda as correntes filosóficas mais famosas: o estoicismo e o epicurismo.
O período pré-socrático inicia-se por volta do século VI a.C., quando aparecem os primeiros
filósofos nas colônias gregas da Jônia e na Magna Grécia. Podemos dividi-los em várias escolas:
1. Escola Jônica: fazem parte os seguintes filósofos: Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Heráclito,
Empedócles;
2. Escola Itálica: Pitágoras;
3. Escola Eleática: Xenófones, Parmênides, Zenão;
4. Escola Atomista: Luecipo e Demócrito.
Esse período caracteriza-se como uma nova forma de analisar e ver a realidade. Antes esta era
analisada e entendida, apenas do ponto de vista mítico, agora é proposto o uso da razão, o que não
significa dizer que a filosofia vem para romper radicalmente com o mito, mas sim para suscitar o
uso da razão no esclarecimento, sobretudo da origem do mundo.
Nessa busca de desvendar racionalmente a origem, cada um surge com uma explicação diferente,
como por exemplo:
68
Outra diferença que podemos notar entre a filosofia nascente e as concepções míticas é que esta era
estática, ou seja, não admitia reflexões ou discordância. A filosofia nascente por sua vez, deixa o
espaço livre para reflexão, daí cada filósofo surgir com uma explicação diferente para o "arché", ou
seja, a origem. Apesar dessas diferenças, vale ressaltar que não há uma ruptura radical com o
pensamento mítico, permanecendo este, presente em algumas explicações desses filósofos frente às
divindades, uma vez que este não aceita a interferência dessas nas explicações. Assim, a "phisys"
(natureza)é dessacralizada e todas as afirmações passam a exigir fatos que justifiquem as idéias
expostas.
Se Sócrates foi o primeiro grande educador da história, Platão foi o fundador da teoria da educação,
da pedagogia, e seu pensamento foi baseado na reflexão pedagógica, associada à política. Platão
nasceu em Atenas (428 -347 a.C.) de família nobre. Foi discípulo de Sócrates, que induziu ao
estudo da filosofia. O vigor de seu pensamento nos faz questionar sempre o que de fato é socrático e
que já é sua criação original. Para que possamos compreender a proposta de Platão, não podemos
dissociá-la do projeto inicial que é, antes de tudo, político: vejamos algumas características do
pensamento filosófico de Platão.
Platão se preocupou a vida inteira com os problemas políticos. A situação de seu país, saído de uma
tirania, o impede de participar ativamente da vida política, em compensação, de dica a esta, grande
parte de seus escritos entre eles as obras mestras, A República e as leis. No livro VII de A
República, Platão relata o mito da caverna. A análise deste mito pode ser feita pelo menos sob dois
pontos de vista:
Platão propõe uma utopia, onde são eliminadas a propriedade e a família, e todas as crianças são
criadas pelo estado, pois para Platão, as pessoas não são iguais, e por isso devem ocupar posições
diferentes e serem educadas de acordo com essas diferenças.
Até os 20 anos, todos merecem a mesma educação. Ocorre o primeiro corte e definem-se quem tem
"alma de bronze", são os grosseiros, devem se dedicar a agricultura, comércio e ao artesanato.
69
Mais dez anos de estudo, se dá o segundo corte. Aqueles que tem "alma de prata". É a virtude da
coragem. Serão guerreiros que cuidarão da defesa da cidade, e a guarda do rei. Os que sobrarem
desses cortes por terem "alma de ouro" serão instruídos na arte de dialogar e preparados para
governar. Quando analisamos o postulado platônico voltado para sua época, é visível uma
dicotomia na relação corpo e espírito.
Na Grécia Antiga, o cuidado com o aspecto físico do corpo merecia uma atenção muito especial. No
entanto, Platão apesar de reconhecer a importância atribuída aos exercícios físicos, acreditava que
uma outra educação merecia relevante atenção ao ponto de ser superior às questões corporais.
Trata-se da educação espiritual. No desenvolvimento de seus argumentos, ao tratar da superioridade
da alma sobre o corpo, Platão explicita que a alma ao ter que possuir um corpo, torna-se degradante.
Para Platão o corpo possui uma alma de natureza inferior que dividida em duas partes: uma que age
irrefletidamente, de maneira impulsiva e outra voltada para os desejos e bens materiais. Argumenta
ainda que todo problema humano está centrado na tentativa de superar a alma inferior através da
alma superior. Se esta não controlar a alma inferior, o homem será incapaz de possuir um
comportamento moral.
Nesta concatenação está explícito o ideal pedagógico na concepção platônica. O conhecimento para
ele é resultado do lembrar do que a alma contemplou no mundo das idéias. Nesse sentido a
educação consiste no despertar no indivíduo do que ele já sabe e não no apropriar de um
conhecimento que está fora. Ele enfatiza ainda a necessidade da educação física no sentido de que
esta proporcione ao corpo uma saúde perfeita, evitando que a fraqueza torne-se um impecílio à vida
superior do espírito.
Outro aspecto na pedagogia platônica é a crítica que se faz aos poetas. Na época, a educação das
crianças eram baseadas em poemas heróicos da época, contudo, ele diz que a poesia deveria ser
restrito ao gozo artístico e não ser usada na educação. Argumenta que ao ser trabalhado uma
imitação, como as dos textos das epopéias, o conhecimento verdadeiro torna-se cada vez mais
distante: "o poeta cria um mundo de mera aparência".
Em seu raciocínio, ao explicar a imutabilidade dos conceitos, Aristóteles afirmava que todo ser
possui um "suporte aos atributos variáveis", ou melhor, esse ser ou substância possui variáveis e que
essas variáveis são, em síntese, características que geralmente damos a ele e ressalta que algumas
dessas características assumem valores essenciais no sentido de que se estas faltarem o ser não será
o que é. Por outro lado, existem outros que são acidentais, uma vez que sua variação
necessariamente não irá alterar a essência do ser. Ex.: velho, novo.
Outros conceitos também são usados por Aristóteles para a explicação do ser. Conceitos
intimamente ligados como forma e matéria são em seu postulado ricos e, tal explicação, uma vez
que ele considera a forma como princípio inteligível. Uma essência que determina a todos que são o
que são. "Numa estátua por exemplo, a matéria é o mármore; a forma é a idéia que o escultor
realiza". Assim como os pré-socráticos Heráclito e Parmênides, Aristóteles, também se preocupou
com o devir, com o movimento e consequentemente às suas causas. Ainda se utilizando dos
conceitos de forma e matéria, ele argumenta que tudo tende a atingir a sua forma perfeita, assim
70
uma semente de uma árvore, tende a se desenvolver e se transformar em uma árvore novamente.
Dessa maneira tudo para Aristóteles tem um devir, um movimento, uma passagem do que ele
chama de potência para o ato.
Aristóteles ao fazer tal abordagem, comenta ainda que o movimento assume algumas
características: movimento qualitativo onde uma dada qualidade é alternada; movimento
quantitativo em que se percebe a variação da matéria e por fim o movimento substancial onde o que
se tem um existência ou inexistência, o que nasce ou que se destroi.
3. A EDUCAÇÃO ROMANA
O florescimento da Civilização Romana75 não está isento do contágio pelo Helenísmo. De acordo
com as palavras de Horácio: “A Grécia conquistada conquistou por sua vez seu selvagem vencedor
e trouxe a civilização ao rude Lácio”. Porém, o fosso abissal que separava o "rude Lácio" do
elevado nível cultural atingido pelos Gregos foi rapidamente ultrapassado, como consequência da
enorme facilidade dos latinos para adaptarem e assimilarem os costumes das outras civilizações,
em particular da Civilização Helênica e Helenística.
Constata-se no entanto ter existido alguma resistência à invasão pelo Helenismo. Os pequenos
camponeses do Lácio, por exemplo, protegem-se contra as inovações estrangeiras pelo respeito de
uma tradição ancestral – o mos maiorum. De acordo com esta tradição, o fim da educação é prático
e social. Espera-se que a educação proporcione à criança o saber necessário para o exercício da sua
profissão de soldado ou de proprietário rural, que inculque a ética que subordina o indivíduo a um
ideal superior – Roma e a Res Publica. O objectivo é formar o cidadão – o civis romanus.
No século II a.c., o pater familias concede à mãe, a matrona romana, os direitos sobre a educação
de seus filhos durante a primeira infância, gozando aquela de uma autoridade desconhecida na
Civilização Grega. Mas, por volta dos 7 anos de idade, a educação da criança passa a estar a cargo
de seu pai ou, na ausência deste, de um tio. Caberá ao pai a responsabilidade de proporcionar ao
filho a educação moral e cívica. Esta passa pela aprendizagem mnemónica de prescrições jurídicas
concisas e de conceitos, constantes nas Leis das XII Tábuas, símbolo da tradição Romana.
Esta forma de educação tem por base a preocupação natural de associar os valores culturais e o
ideal colectivo. Exalta a piedade, no sentido romano do termo pietas que traduz respeito pelos
antepassados. Nas tradicionais famílias patrícias, os antepassados representam orgulhosamente os
modelos do comportamento, repetidos geração após geração.
Quando o adolescente, por volta dos dezasseis anos de idade, finalmente se liberta da toga praetexta
da infância para vestir a toga viril, tem início a aprendizagem da vida pública, o tirocinium fori. O
jovem acompanhará o pai ou, se necessário, um outro homem influente, amigo da família e melhor
posicionado para o iniciar na sociedade. Durante cerca de um ano, e anteriormente ao cumprimento
do serviço militar, o jovem adquire conhecimentos de Direito, de prática pública e da “arte do
dizer”, concepção romana da eloquência.
75
Texto extraído de http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/ensinoroma/index.htm.
capturado em 08/06/2004
71
Sabemos que Roma foi incapaz de permanecer imune ao contágio pelo Helenismo. Na constituição
do Império Romano, da baía ocidental do Mediterrâneo até ao mar oriental, ficarão integradas
diversas cidades Gregas. Mas, muito antes do Império, já os etruscos, haviam sido influenciados
pelos Gregos a quem foram buscar o alfabeto, bem como técnicas com vista à aprendizagem da
leitura e da escrita.
A influência Helênica não mais cessará de crescer, em particular com a invasão e posterior
anexação da Grécia e da Macedónia no século II a.c..
A partir de então, alguns preceptores gregos (se não de nascimento, pelo menos de formação)
apoiam a educação familiar dos jovens romanos. Na verdade, afugentados pelas agitações do
Oriente ou atraídos pela rica clientela romana, muitos gramáticos, retóricos e filósofos atenienses
dirigem-se a Roma. Serão estes os Mestres responsáveis pelo ensino de jovens e de adultos.
Cedo os Políticos de Roma haviam compreendido que o conhecimento da Retórica ateniense seria
um factor decisivo com vista a melhorar a eloquência dos seus discursos junto das multidões. Com
a Retórica e a formação literária que lhe servia de base, Roma descortinou a pouco e pouco todos os
aspectos encobertos da cultura Grega. Mas o helenismo não é apenas apanágio de alguns. Ele
impregna toda a Roma, surgindo também na vida religiosa e nas artes, como seja nos teatros que
adoptam os modelos, temas e padrões helenísticos.
Nesse entido, a aristocracia romana recorre, numa primeira fase, a escravos alforriados que a
conquista lhes havia proporcionado e, posteriormente, a Mestres de Grego especializados.
Paralelamente a esta preceptoria particular no seio das grandes famílias surge o ensino público do
grego, ministrado em verdadeiras escolas, umas vezes por escravos gregos que assumem o papel de
Mestres, outras, por Mestres Gregos qualificados. Não satisfeitos com este tipo de educação,
muitos jovens romanos deslocar-se-ão à Grécia para aí completarem os seus estudos.
Porém, é aos romanos que se deve o primeiro sistema de ensino de que há conhecimento: um
organismo centralizado que coordena uma série de instituições escolares espalhadas por todas as
províncias do Império. O carácter oficial das escolas e a sua estrita dependência relativamente ao
estado constituem, não apenas uma diferença acentuada relativamente ao modelo de ensino na
Grécia, como também uma novidade importante.
É claro que um tal sistema tende a privilegiar uma minoria que, graças aos estudos superiores,
ascende àquilo que os romanos consideram ser a vida adulta simultaneamente activa e digna ou
seja, uma elite, com uma elevada formação literária e retórica.
O que não impede que, entre a imensidão de escravos que os romanos abastados do Império
possuíam como resultando das suas conquistas, houvesse a preocupação de lhes fornecer, em
particular aos mais jovens, os ensinamentos necessários à prática dos seus serviços. Para tal eram
reunidos, nas casas de seus amos, em escolas – as paedagogium - ae entregues a um ou mais
pedagogos que lhes inculcavam as boas maneiras e, em alguns casos, os iniciavam nas “coisas do
espírito”, designadamente na leitura, na escrita e na aritmética. É sabido que as casas dos grandes
senhores de Roma dispunham de um ou mais escravos letrados que desempenhavam funções como
secretários ou como leitores.
De qualquer forma, na Roma imperial, os Mestres Gregos são protegidos por Augusto, à
semelhança do que César havia já feito. Também a criação de bibliotecas, como a do Templo de
Apolo, no Palatino, e a do Pórtico de Octávio, é ilustrativa de uma política imperial de cultura.
Esta política, inspirada nas tradições gregas, vai no entanto inflectir algumas práticas anteriores,
delineando no estado romano um conjunto de políticas escolares inovadoras. Uma primeira
iniciativa é da autoria de Vespasiano, que intervém directamente a favor dos professores, ao
reconhecer-lhes uma utilidade social. Com ele se iniciam uma extensa série de retribuições e de
imunidades fiscais, atribuídas a gramáticos e retóricos. Segue-se a criação de cátedras de Retórica
nas grandes cidades, bem como o favorecimento e promoção da instituição de escolas municipais de
gramática e de retórica nas províncias.
As primeiras escolas latinas são inteiramente, na sua origem, de inspiração grega. Limitam-se a
imitá-las, tanto no que concerne ao programa, como aos métodos de ensino.
Porém, os romanos vão pouco a pouco organizá-las em três graus distintos e sucessivos: a instrução
primária, o ensino secundário e o ensino superior, aos quais correspondem três tipos de escolas,
confiadas a três tipos de Mestres especializados. As escolas primárias datam provavelmente dos
séculos VII e VI a.c., as secundárias surgem no século III a.c. e das superiores somente há
conhecimento da sua existência a partir do século I a.c.. A data em que surgiram as primeiras
escolas primárias permanece controversa. Pensa-se que o ensino elementar das letras terá surgido
em Roma muito antes do século IV a.c., provavelmente remontando ao período etrusco da Roma
dos Reis. Data do ano 600 a.c. a tabuleta de marfim de Marsigliana d’Albegna que possui gravada
na faixa superior do seu quadro um alfabeto arcaico muito completo, destinado a servir de modelo
de escrita incipiente que se exercitava escrevendo na cera da tabuleta.
73
As escolas secundárias terão surgido por volta do século III a.c.. Este “atraso” relativamente às
escolas secundárias gregas não é merecedor de espanto, se refletirmos sobre a inexistência de uma
literatura romana propriamente dita, e sabendo-se à partida que o ensino secundário clássico na
Grécia se baseava na explicação das obras de grandes poetas, em particular de Homero. No entanto,
é somente no tempo de Augusto (século I a.c.), que o ensino secundário latino assume a sua forma
definitiva, rivalizando em valor educativo com o grego, quando Cecílio Epirota, um alforriado de
Ático, toma a ousada iniciativa de incluir o estudo de Virgílio e de outros poetas novos nos
programas do Ensino Secundário. Um romano culto será doravante aquele que conhecer a obra de
Virgílio, da mesma forma que um grego conhece na íntegra e recita os versos de Homero sempre
que tenha necessidade de exprimir, ressaltar ou afiançar um sentimento ou uma ideia.
O ensino superior, predominantemente retórico, surge em Roma por volta do século I a.c.. A
primeira escola de retórica latina foi aberta no ano de 93 a.c. por L. Plócio Galo, e pouco tempo
depois encerrada em virtude da censura levada a cabo por alguns sectores da aristocracia romana
que se inquietavam perante o “novo espírito” que a animava e que consideravam contrário ao
costume e à tradição dos antepassados.
Se é certo que a iniciação da criança nos estudos fica a cargo de um preceptor particular (em
especial nas famílias aristocráticas), por volta dos sete anos a criança é confiada a um Mestre
Primário – o litterator, “aquele que ensina as letras”, também designado por primus magister,
magister ludi, magister ludi literarii, ou, como viria a ser designado no século IV a.c., o institutor.
O primus magister é, em Roma, mal remunerado e pouco conceituado na hierarquia social.
Tal como na Grécia, também as crianças romanas se faziam acompanhar à escola por um escravo,
designado segundo a terminologia grega por Paedagogus. Este poderia, em determinadas
circunstâncias, ascender ao papel de explicador ou até mesmo de mentor, arcando assim com a
educação moral da criança. O Paedagogus conduzia o seu pequeno senhor à escola, designada por
ludus litterarius, e aí permanecia até ao final da lição. O ensino é colectivo, as meninas também
frequentavam a escola primária, embora para elas o preceptorado privado pareça ter sido a nota
dominante.
Cabe ao Mestre providenciar as instalações. Este resguarda os seus alunos debaixo de um pequeno
alpendre protegido por um toldo – pérgula - nas proximidades de um pórtico ou na varanda de
alguma mansão aberta e acessível a todos. Há conhecimento de ter existido em Roma uma escola
abrigada na esquina do Fórum de César. As aulas são portanto essencialmente ministradas ao ar
livre, em local isolado dos barulhos e das curiosidades da rua por meio de um tabique – o velum.
As crianças agrupam-se em torno do Mestre que pontifica da sua cadeira – a cathedra - colocada
sobre um estrado. O mestre é muitas vezes assistido por um ajudante, o hypodidascales. Sentadas
em escabelos sem encosto, as crianças escrevem sobre os joelhos.
A jornada escolar da criança romana tinha início muito cedo e durava até ao pôr-do-sol. As aulas
apenas eram suspensas durante as festas religiosas, nas férias de Verão (dos finais de Julho a
meados de Outubro) e também durante as nundinae que semanalmente se repetiam no mercado.
Além da leitura, o programa compreende a escrita em duas línguas (latim e grego) e um pouco de
cálculo no qual se inclui a aprendizagem do ábaco e do complexo sistema romano de pesos e
medidas. Para a aprendizagem do cálculo recorria-se vulgarmente à utilização de pequenas pedras -
calculi - bem como à mímica simbólica dos dedos.
74
O ensino da escrita é simultâneo ao da leitura. A criança escreve em sua tabuleta as letras, palavras
ou textos cuja leitura deverá posteriormente efectuar. Empregam-se a princípio dois métodos
alternados: um que remonta às origens da escola grega e que consiste em guiar a mão da criança
para lhe ensinar o ductus, e outro mais moderno, talvez originário da escola latina, em que se
utilizam letras gravadas em concavidades na tabuleta que a criança retraça usando o estilete de ferro
e seguindo o sulco através da cera. Esta é alisada com o polegar logo que tenha terminado a tarefa,
para que assim possa reproduzir as letras na tabuleta.
Quando surgem o pergaminho e o papiro a criança passa a escrever com uma cana talhada e
molhada em tinta. Os livros são feitos com folhas coladas lateralmente e enroladas à volta de uma
varinha. Para ler, a varinha é mantida na mão direita e com a outra mão desenrola-se a folha única.
Os alunos são agrupados em classes, de acordo com o seu rendimento escolar. O autor
(desconhecido) dos Hermeneumata Pseudodositheana salienta a necessidade de “...levar em conta,
para um e para todos, as forças, o adiantamento, as circunstâncias, a idade, os temperamentos vários
e o desigual zelo dos diversos alunos.” Esboça-se uma modalidade de “ensino mútuo”, em que os
melhores alunos colaboram com o primus magister ensinando aos colegas as letras e as sílabas. O
titulos (designação latina para quadro preto) é também uma invenção romana. Consiste num
rectângulo de cartão preto em torno do qual os alunos se agrupam de pé, ordeiramente..
Estes métodos começam a ser questionados por volta do século I da nossa era, tendo-se registado
desde então uma evolução no sentido de um abrandamento da disciplina em favor de uma
indulgência crescente para com as crianças.A rotina pedagógica foi a aligeirada com a introdução
de novas práticas de ensino que ficam a dever-se a Marco Fábio Quintiliano, reconhecido Professor
de Eloquência que viveu no século I da nossa era.
Quintiliano foi o primeiro professor pago pelo estado, no Império de Vespasiano, e teve como
alunos Plínio o Môço e o próprio Imperador Adriano. Quintiliano alerta para a necessidade de se
identificarem os talentos das crianças e chama a atenção para a necessidade de reconhecer as
diferenças individuais e de adoptar diferentes formas de procedimento perante elas. Recomendava
75
que se ensinassem simultaneamente os nomes das letras e as suas formas, devendo a eventual
imperícia do aluno ser corrigida obrigando-o a reproduzir as letras com o seu estilete na placa dos
modelos, previamente gravada pelo professor. É contrário aos castigos físicos, e portanto ao uso da
férula. Recomenda a emulação como incentivo para o estudo e sugere que o tempo escolar seja
periodicamente interrompido por recreios, já que o descanso é, na sua opinião, favorável à
aprendizagem.
O ensino secundário é bastante menos difundido que a instrução primária. A maioria das crianças
de fraca condição social abandonam a escola no final da Instrução Primária, passando então a
frequentar a casa de um Mestre de ensino técnico, por exemplo de Geometria, que os preparará para
o exercício de profissões como a carpintaria.
As restantes crianças iniciam por volta dos doze anos de idade um segundo ciclo de estudos,
continuando rapazes e raparigas a estudar lado a lado. No caso geral de estudos com a duração de
três anos, verifica-se a intervenção do grammaticus, correspondente latino do grammatikus grego,
que ensina Gramática e Retórica.
Cecílio Epirota empreende, em finais do século I a.c., o estudo de poetas latinos seus
contemporâneos, assim se estabelecendo uma formação nas duas línguas que implicará portanto a
participação de dois grammaticus: o grammaticus graecus e o grammaticus latinus. Existiam
portanto duas Instituições paralelas: uma para o estudo da língua e da literatura grega, a outra para o
estudo da língua e literatura romana. A primeira é uma réplica exacta das escolas gregas, a segunda
representava o esforço para salvaguardar as tradições romanas.
Os alunos aprendem também algumas noções básicas de Geografia, necessárias para a compreensão
da Ilíada e da Eneida. Estudam também Astronomia, “...desde que se levanta ou põe uma estrela
até à cadência de um verso.”
O ensino superior, também designado por ensino retórico, tinha início por volta dos quinze anos de
idade, altura em que o jovem recebe a toga viril, sinónimo da sua entrada na vida adulta. Estes
estudos superiores duravam até cerca dos vinte anos, podendo no entanto prolongar-se por mais
tempo. Tinham como finalidade formar Oradores, já que a carreira política representava o ideal
supremo. Roma transformou-se num centro excepcional de estudos para os Mestres de Retórica
Gregos. É o caso de Dionísio de Halicarnaso, que viveu em Roma mais de vinte anos (de 30 a 8
a.c.), ali compondo uma monumental História Romana.
76
Séneca foi juntamente com Quintiliano, um dos grandes representantes da nova etapa educativa.
Esta deixa de ser assunto particular e adquire um carácter mais técnico que filosófico, passando a
aplicar-se de preferência a problemas práticos. Nas suasoriae, o aluno é obrigado a pronunciar-se
sobre casos morais; nas controversiae, o futuro orador terá de pleitear um caso em função de textos
legais.
No âmbito do Direito, Roma desempenha um papel inovador oferecendo aos jovens estudantes uma
aprendizagem prática pasra além de um ensino sistemático. A complexidade crescente da produção
jurídica romana está na origem da fundação de duas escolas superiores de direito em Roma no
século II – a de Labeu e a de Cássio.
Paralelamente às escolas pagãs, a partir dos séculos II e III da nossa era, surgem escolas cristãs,
criadas inicialmente com o intuito de formar os futuros homens da Igreja dos conhecimentos
necessários à compreensão das Escrituras.
É o caso da escola cristã fundada em Alexandria, escola de ensino superior para a inteligência da fé
e das escrituras, onde, entre outras, se estudavam a filosofia, a geometria, a aritmética com a
finalidade de melhorar o conhecimento das Escrituras Sagradas.
Principais teóricos: Lúcio Annaaeus Séneca (4-65), Marco Fábio Quintiliano (40-118), Marco
Túlio Cícero (106-43)
77
3) A atitude dos cristãos primitivos em relação ao saber pagão: A relação dos cristãos
primitivos em relação ao saber pagão dividiu a Igreja primitiva em dois grupos bem
definidos:
a) Um dos grupos sustentava a idéia que o saber antigo era muito valioso e que muito
confirmava os ensinamentos da Bíblia; que a filosofia também era uma forma de
buscas da verdade embora nem sempre completa e que o cristianismo então deveria
se incorporar a ela e completar este saber. Este grupo situava-se no Oriente.
b) Outro grupo defendia a idéia que a filosofia grega continha muitas imoralidades em
sua literatura e que eram apoiadas por sua religião. Concluíram então que devido a
essas imoralidades não era possível nenhum compromisso entre a verdade e o
78
Nos três primeiros séculos muitos cristãos sofreram perseguição e exílio e foram
privados de oportunidade de adquirir o saber pagão.
4) A atitude dos padres gregos em relação ao saber: Muitos deles tinham sido filósofos
antes de se converterem e por isso incentivavam o estudo da literatura e da filosofia.
Muitos padres não condenavam o saber pagão porém diziam que não podiam passar
a vida com “brinquedos de criança” (Crisóstomo – 347/411) e que se tivessem que escolher
entre educação ou salvação da alma, que escolhessem a mais preciosa (Basílio – 331/379).
5) A atitude dos padres da Igreja Latina: Os padres da Igreja Latina eram totalmente hostis
ao helenismo e apesar de alguns deles terem sido mestres da educação grega, como por
exemplo Sto Agostinho, negavam a possibilidade de um cristão ser mestre de cultura pagã.
Sto Agostinho até a idade madura foi professor e já nessa época havia escrito e completado
grande parte de um tratado enciclopédico sobre as artes liberais. Por se o mais brilhante
intelectualmente da sua época dedicou sua cultura ao combate das heresias, porém no
último período de sua vida sua simpatia pelo saber clássico diminuiu muito. Foi o
responsável pela proibição dos estudos filosóficos e literários feito pelo Concílio de
Cartago.
Na reação contras uma sociedade corrupta nos últimos séculos pagãos a vida da igreja
Cristã Primitiva era em si mesma uma escola de enorme importância. Não era de caráter
intelectual, porém estava empenhada na reforma moral do mundo e também voltada para a
educação moral dos seus próprios membros e desse modo para a regeneração da sociedade.
O aspecto mais primitivo da vida na Igreja Cristã era o da preparação de jovens e idosos,
pois a recepção destes novatos era adiada. Eram obrigados a passar por um período de
79
provação destinado a interação na doutrina e prática da vida cristã. Esses novatos eram
chamados catecúmenos e estas escolas catecumenatos.
A origem dos mosteiros foi devido as invasões germânicas no império romano que
provocou profundas mudanças sócios culturais. A presença dos bárbaros impôs uma
repentina mudança de hábitos e o povo submetido, começou a viver uma vida de
insatisfação. Desgostosos com o rumo dos acontecimentos, grupos cristãos procuraram
afastar-se da participação social e retiraram-se para locais tranqüilos, a fim de praticarem
suas preces longe das agitações do mundo. Nessa procura de abrigo espiritual, eles
fundaram pequenas comunidades que, com o tempo se transformaram em mosteiros.
80
São Bento - (480-547) fundador da ordem dos Beneditinos determinou que a casa religiosa
deveria ter sete horas por dia de trabalho, que poderia ser manual ou literário, determinou
que cada religioso deveria dedicar de duas a cinco horas de leitura por dia.
São Basílio estipulou regras semelhantes desse regime de trabalho imposto aos monges,
surgiram diversos benefícios para a educação. Os principais foram:
A) Surgimento das escolas para preparação dos jovens aceitos para a vida monástica.
B) Cópia e conservação dos manuscritos.
C) O estudo da literatura
D) Formação de um ambiente favorável ao estudo e a reflexão
5) As escolas nos mosteiros: Os mosteiros pouco fizeram para a instrução e preparação dos
próprios monges e jovens destinados a vida monástica se dedicando somente ao caráter
religioso. Ensinavam obrigatoriamente as artes de leitura, de escrita, de canto, de calcular, o
calendário da igreja. No fim do oitavo século as escolas em toda a Europa Ocidental eram
rudimentares e o ensino dos mosteiros era muito pobre, não havia oportunidade para a
educação dos meninos a não ser que fossem destinadas as vidas monásticas. Foi quando o
imperador Carlos Magno es seu ministro Alcuíno encabeçaram um movimento para que os
jovens não destinados a vida monástica tivessem oportunidade s de estudar. Estes eram
externos para distinguirem dos internos, que eram destinados a professar. As escolas
monásticas tornaram-se mais numerosas e de menor qualidade.
Marciano Capela escreve um livro sobre esse assunto, e daí em diante a divisão das
sete artes serviu para esboçar um programa de ensino, embora sua definitiva adoção tenha
se dado apenas das reformas de Alcuíno, no século IX.
82
1) A obra de Carlos Magno: Imperador Carlos Magno, teve sua influência na história
educacional no século VII ao XII, foi o da restauração do ensino, emitiu inúmeros decretos,
considerados as primeiras leis escritas da Idade Média Ocidental. Sua intenção era
uniformizar a administração do grande Império Carolíngio, respeitando suas tradições. Com
esses decretos foram divididos em capítulos receberam o nome de Capitulares. Em uma das
capitulares, sua preocupação com a questão do ensino, escreveu “Cremos útil que nos
bispados e nos mosteiros se cuide não somente de viver de acordo com as regras de nossa
santa religião, mas também de ensinar o conhecimento das letras ao que sejam capacitados
de aprendê-las com a ajuda do senhor. Embora valha mais praticar a lei do que conhecê-las
83
é preciso conhecê-la antes de praticá-la. Pelos escritos que, vários mosteiros nos
remeteram, notamos que, na sua maior parte, os sentimentos são bons, mas a linguagem é
má: assim, nós vos exortamos para que não vos descuideis do estudo das letras, mas que
nos entregueis a ele com a maior energia”.
1. Santo Agostinho - (1033 – 1109) – o primeiro a fazer distinção entre saber e crença.
2. Santos Alberto Magno – (1200 – 1280) – denominado, o doutor Universal, foi o
primeiro a reproduzir a filosofia de Aristóteles em forma sistemática.
3. Santo Tomás de Aquino - (1225 –1274) - o doutor angélico, foi o mais influente de
todos. Sua monumental abra Suma teológica, representa a culminância da
escolástica. Com relação ao ensino admite como Santo Agostinho, que Deus é o
84
verdadeiro mestre que ensina dentro de nossa alma, porém necessita de uma ajuda
exterior.
4. John Duns Scotus - (1266 – 1308) 0 o doutor sutil, foi fundador de uma escola de
teologia rival da de Santo Tomás de Aquino.
5. Guilherme de Occam - (1300 – 1350) – o doutor invencível negava que as doutrinas
teológicas pudessem ser demonstradas pela razão e sustentava que era totalmente
matéria de fé.
VII. As Universidades
Durante a Idade Média foi muito grande a influência das Universidades. Elas
forneceram o primeiro exemplo de organização primeiramente democrática. Foi uma das
grande forças da Idade Média, a única que para época representava a cultura superior do
espírito, quando não havia outros corpos científicos, nem imprensa, nem jornais, nem
revistas.
Representava também a opinião pública, não somente nos assuntos científicos, mas
também nos grandes problemas políticos e eclesiásticos, ou por não existirem corporações
políticas regulares, ou por estas se reunirem de quando em quando.
85
Por volta do século XI, vários acontecimentos transformam o modo de vida medieval:
O renascimento comercial;
O florescimento das cidades;
O surgimento da classe burguesa;
As Cruzadas;
A consolidação da instituição da cavalaria.
A aprendizagem das armas obedece ao um ritual muito severo que culmina com a
cerimônia de sagração. Na primeira etapa dos 7 aos 15 anos, o menino é enviado a outro
castelo para servir como pajem, aí convive com as damas, aprende música, poesia, jogos de
salão, a falar bem, exercitar-se nos esportes e adquire as maneiras corteses. A cortesia, isto
é, o viver cortês significa a maneira adequada de se comportar na corte.
CONCLUSÃO
O Tempo na Idade Média pertencia a Deus. A vida na terra era apenas um momento
transitório, era preciso antes de tudo preocupar-se com a eternidade. Essa concepção
religiosa justificou a organização das sociedades medievais, todos estavam submetidos ao
poder espiritual, reis. Duques, senhores feudais. Aos servos, cabia produzir alimentos para
sustentar esse reino de Deus.
Na Idade Média, o saber foi em boa parte controlado pela Igreja. Além de dominar
as bibliotecas, ela impunha também os temas a serem estudados. Tentava, da sua maneira
disciplinar a dedicação dos Monges e da população.
A Educação na Idade Média não trouxe muitos avanços no sentido pedagógico, pois
era voltada a religião, mas é justo lembrarmos do surgimento das universidades, da
preservação e difusão da cultura e do ensino por parte da Igreja, apesar do excesso e abusos
de alguns de seus membros
A idade Média não foi um período negro de uma historiografia já superada. Foi um
período de lenta, e talvez dolorida, fecundação de idéias e técnicas que prepararam os
tempos modernos
76
Este texto foi extraído e adaptado da apostila: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO CRISTÃ, de autoria do Dr.
Antônio José, utilizada no curso de Educação Cristã no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper.
Com a permissão do autor.
87
Há, certamente, uma diferença de natureza entre Igreja e Estado, exatamente como
há entre cristão e cidadão, mas não precisa ser uma diferença de pessoa; o mesmo indivíduo
pode ser tanto cristão quanto cidadão. Na mente de Lutero, a autoridade espiritual da igreja
está somente sobre a alma. Ela é persuasiva, não coercitiva. Como é demonstrado nos
rituais luteranos, o reino de Cristo é espiritual – o conhecimento de Deus no coração e na
vida de fé. O poder das chaves é puramente o poder de pregar o evangelho e administrar os
sacramentos.78
A autoridade temporal do magistrado, por outro lado, é mantida como autoridade sobre
os corpos e bens dos homens, não sobre suas almas. É coercitiva em vez de persuasiva.
Entretanto, embora o magistrado não possa decidir sobre doutrina, sendo leigo, deve
considerar que ela é mantida. Seu primeiro dever é a prosperidade da glória de Deus.
Melancton apela ao Imperador Carlos V:
77
Citado por Giles, 119.
78
T. G. Tappert,The Book of Concord (Philadelphia, Pennsylvania: Westminster Press, 1959), 81.
88
Portanto, gracioso Imperador Carlos, por amor do evangelho de Cristo, que sabemos que
desejais exaltar e prosperar... é vossa responsabilidade especial perante Deus manter e
propagar a sã doutrina e defender aqueles que a ensinam. ... Os reis devem cuidar do
evangelho de Cristo e, como representantes de Deus, devem defender a vida e a
segurança do inocente.79
Para Calvino, eles eram domínios distintos que não deviam misturar-se. Entretanto,
há ecos do ensino de Lutero em Calvino quando ele ressalta a importância do governo civil
(pessoas leigas) em sua obra Institutas da Religião Cristã:
Aquele que sabe como distinguir entre corpo e alma, entre a presente vida transitória e a
futura e eterna, não terá dificuldade em compreender que o reino espiritual de Cristo e o
governo civil são coisas largamente separadas. ... À vista de Deus, o governo civil é não
somente sagrado e legal, e sim o mais sagrado e de longe o mais honroso em todas as
etapas da vida mortal. ... Eles têm uma comissão de Deus, são investidos de autoridade
divina para agir).81
Quando estudamos a história Cristã nos séculos XVI e XVII sobre a influência de
magistrados e líderes leigos, torna-se imperioso mencionar que, por mais importantes que
tenham sido as contribuições dos ministros reformados ordenados, não se pode esquecer a
contribuição do laicato para a cristandade. O mundo de fala inglesa nunca viu uma
constelacão de líderes políticos totalmente dedicados a Deus e Sua causa como o Lord
Oliver Cromwell e o governador de Massachussets John Winthrop. Esses líderes dedicaram
suas vidas ao serviço público de modo deliberado e de todo o coração, com a mais profunda
gratidão ao Deus da sua salvação.
83
Franco Gambi. História da Educação (São Paulo, SP: Fundação Editora da Unesp, 1999), 249.
84
Ibid., 250.
90
Calvino está acima dos demais líderes da Reforma francesa e suíça. De Genebra, ele causou
maior impacto sobre a Europa e o restante do mundo. Poderosa como era sua influência ali,
ele foi sempre uma espécie de hóspede em terra estranha. Em um sentido, ele era apenas
um dos muitos refugiados que viviam em Genebra com seus olhos em sua terra natal,
esperando que algum dia toda a França fosse evangelizada e que a religião reformada
pudesse prosperar livremente .
Esperando esse dia, ele e seus amigos acolhiam a contínua corrente de protestantes
refugiados das áreas dominadas pelo Catolicismo Romano, oferecendo-lhes comida e
abrigo em Geneva. Foi característico da reforma calvinista que esta hospitalidade deveria
ser institucionalizada como fundo de assistência social conhecida como Bolsa Francesa ou
Fundo Francês Para Estrangeiros Pobres, destinado àqueles que chegavam a Genebra para
viver conforme as reformas da Palavra.
A influência de Calvino foi consolidada por meio da academia que ele fundou, a
qual se tornou a Universidade de Genebra. As instituições educacionais foram nitidamente
85
Ibid., 251.
86
Giles, 125.
91
importantes para ele. Calvino promoveu a educação na escola secundária e insistiu sobre a
educação primária compulsória para meninos e meninas .
Wallace afirma:
Do púlpito ele muitas vezes saía de seu estilo para incitar a consciência de seus ouvintes
sobre seu dever para com os desprovidos financeiramente ao seu redor. Quando ele
pregava sobre a proibição do Velho Testamento de despojar o devedor pobre de um
penhor insuportável por seu débito, ele falava em voz alta que pode ser ouvida hoje
como um reclamo de que nenhuma sociedade deve privar qualquer homem da
oportunidade de trabalhar para seu sustento.88
87
Jeanini E Olson. 1989. Calvin and Social Welfare (Selinsgrove: Susquehanna University Press,
1989), 12.
88
Ronald Wallace. Calvin, Geneva and the Reformation (Grand Rapids, Michigan: Baker Book
House Company, 1990), p. 123.
89
Wilson Castro Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia Campinas: Luz para o Caminho,
1995), 184.
92
Calvino enfatiza sua percepção de que não é possível, ao ser humano, abrir os olhos sem
ver a sabedoria de Deus nas Suas obras, mas que algumas das provas da maravilhosa
sabedoria do Criador estão ocultas à observação comum e só podem ser trazidas à luz
através da ação do Espírito Santo. Assim, Calvino é explícito ao valorizar a busca do
conhecimento, pois para ele “os homens que possuem o conhecimento podem penetrar mais
detalhadamente nalguns dos segredos da sabedoria divina”90
O período da reforma protestante é bastante frutífero em produções teóricas e
práticas na esfera educacional. A luta contra a ignorância é parte da pregação de uma
religião cristã que valoriza o intelecto e o uso da razão. Isto faz com que os reformadores
mostrem-se incansáveis na busca da sistematização do ensino, na tentativa de criar modelos
educacionais organizados com base em preceitos confiáveis e na implantação de escolas em
todos os lugares possíveis.
O puritanismo inglês, movimento fundamentado nas idéias calvinistas, manifesta
também seu interesse pela educação, assumindo papel preponderante na regulamentação
das escolas da nação, no período de 1640 a 1660. Apenas em 1641 surgem mais de sessenta
escolas livres no país de Gales. Na América, os colonizadores puritanos demonstraram seu
zelo pela questão educacional, através do estabelecimento e manutenção de escolas
espalhadas por toda a Nova Inglaterra, desde o início da colonização. A faculdade de
Harward, segundo Riken, é organizada apenas seis anos após a chegada dos puritanos à
Baía de Massachussetts e mantida, durante muito tempo, por fazendeiros cristãos que
contribuem em trigo, para a manutenção de professores e alunos.91
Os ideais da Reforma Protestante influenciam as diversas áreas da vida humana nos
séculos seguintes. Cumprindo sua finalidade transformadora, o Cristianismo prossegue,
fazendo da educação seu principal instrumento de humanização e cristianização do ser
humano.
90
Joseph Pitts Wiles, M.A., As Institutas da Religião Cristã – Um Resumo (São Paulo: PES, 1984),
30.
91 Leland Riken, Santos no Mundo (São José dos Campos: FIEL,1992), 165.
92
Institutes of the Christian Religion, ed. Jonh T. McNeil, trans. Ford Lewis Battles (Philadelphia:
Westminster, 1960), I.15.3.
93
imagem divina esteja na mente, no coração ou na alma e seus poderes, todavia não houve
nenhuma parte do homem nem mesmo seu próprio corpo, no qual algumas centelhas não
tenham brilhado.”93 Olhando em direção ao futuro, Calvino admite que quando a imagem
de Deus é restaurada em sua plenitude na vida por vir ela será restaurada no corpo assim
como na alma.94
A próxima pergunta a ser levantada é esta: Em que a imagem de Deus
originariamente consistia? No livro I das suas Institutas, Calvino responde esta pergunta
deste modo:
A integridade com a qual Adão foi capacitado é expressa por esta palavra (imagem ou
semelhança de Deus) quando ele teve plena posse do correto entendimento, quando
teve suas afeições guardadas dentro do limite da razão, todos seus sentidos
temperados na ordem correta, e ele verdadeiramente referiu sua excelência aos dons
excepcionais concedidos a ele pelo seu Criador.95
Calvino continua dizendo que no começo a imagem de Deus era visível “à luz da
mente, da retidão do coração, e nas partes todas sadias do homem.”96 Em outro lugar
acrescenta o pensamento de que naquele tempo o homem verdadeiramente excedeu em
tudo o que era bom.97
Com base em Cl 3.10 e Ef 4.24, Calvino conclui que a imagem de Deus no homem
originalmente incluía o verdadeiro conhecimento, justiça e santidade.98 Entre os dons
sobrenaturais que os seres humanos tinham no começo – dons que foram perdidos pela
queda – estão fé, amor a Deus, caridade para com os seus vizinhos e zelo por santidade
retidão.99 Em seu estado original o homem era capaz de comunicar-se com Deus e os
outros seres humanos e responder a ambos.100
Calvino opõe-se àqueles que encontram a semelhança de Deus no domínio sobre a
terra que foi dado ao homem.101 Todavia ele é desejoso se admitir que o domínio que o
homem tem sobre a terra compreende em alguma medida embora em medida menor a
imagem de Deus.102
Antes da queda, portanto, segundo Calvino, o homem possuía a imagem de Deus em
sua perfeição. A queda, contudo, teve um efeito devastador sobre essa imagem. Levanta-
se ainda uma pergunta adicional a Calvino: Há um sentido em que o homem caído ainda
reflita a imagem de Deus? Algumas vezes parece como se a resposta a esta pergunta fosse
um retumbante não. Porque as vezes ele fala da imagem de Deus como tendo sido
destruída pelo pecado,103 obliterada pela queda,104 apagada, varrida ou perdida pelo
93
Ibid.
94
Comm. On I Cor. 15:49. Deve-se notar que, de acordo com Calvino, até os anjos foram criados à
semelhança de Deus. (Inst., I.15.3).
95
Inst., I.15.3
96
Ibid., I.15.4.
97
Comm. On Genesis 1.26.
98
Inst., I.15.4. conf. Comm. On Colossians 3.10 e Comm. On Ephesians 4.24.
99
Inst., II.2.12.
100
T.F.Torrance, Calvin’s Doctrine of Man (London: Lutterworth, 1949), p.45.
101
Inst., I.15.4.
102
Comm. On Genesis 1.26.
103
Ibid.
104
Comm. On Genesis 3.1.
94
pecado,105 cancelada pelo pecado,106 “como se ela fosse, apagada... pelo pecado de Adão,
“107 ou totalmente esfacelada pelo pecado.108
Uma olhada mais de perto revela, contudo, que há um sentido real no qual segundo
Calvino o homem caído ainda reflete a imagem de Deus. A imagem de Deus, diz Calvino,
não é totalmente aniquilada pela queda mas é assustadoramente deformada.109 Em outro
lugar ele diz que na diversidade da natureza humana caída nós podemos ver “alguns traços
que permanecem (notas) da imagem de Deus que distinguem a totalidade da raça humana
das outras criaturas.”110 Em outros lugares Calvino chama esses traços característicos111
ou remanescentes da imagem de Deus. A razão e a vontade ainda permanecem no homem
caído; estes Calvino chama de “dons naturais” que embora não perdidos foram
enfraquecidos parcialmente e parcialmente corrompidos pelo pecado. 112
As capacitações distintas que claramente manifestam que os homens foram formados
à imagem de Deus a razão com a qual são capacitados e pelas quais eles podem distinguir
entre o bem e o mal; o princípio da religião que é plantado neles; as relações que tinham
uns com os outros que foram preservadas de serem quebradas por certos laços sagrados; a
consideração para com aquilo que está se tornando, e o senso de vergonha que a culpa
desperta neles, assim como a sua continuação em serem governados pela lei; todas essas
coisas são indicações claras de uma sabedoria preeminente e celestial.113
Nós não vamos considerar que os homens merecem por si mesmos mas olhar na
imagem de Deus em todos os homens a qual nós devemos toda honra e amor portanto
qualquer que seja o homem que você encontre que necessite de sua ajuda, você não
tem razão alguma para recusar-se a ajudá-lo... Diga “ele é insignificante e indigno”;
mas o Senhor lhe mostra se aquele a quem Ele tem designado a dar a beleza da sua
imagem.... Diga que ele não merece nem mesmo o seu menor esforço por amor a ele;
mas a imagem de Deus que o recomenda a você é digna de você dar se si mesmo e
todas as suas posses.114
Calvino recomenda seus leitores a amarem mesmo aqueles que os odeiam o que nós
deveríamos “relembrar de não considerar as intenções más dos homens, mas olhar para a
105
Comm. On Ephesians 4.24.
106
Comm on II Corinthians 3.18.
107
Sermon on Job 14.16-17, citado por Torrance, Calvin’s Doctrine, p.77.
108
Sermon on Job 32.4-5, parafraseado por Torrance, ibid, p.78.
109
Inst.,I.15.4.
110
Inst., II.2.17.
111
Comm. On Genesis 1.26; Comm. On James 3.9.
112
Inst., III.7.6.
113
Ibid. No ponto em que Calvino vê o homem caído como ainda sendo um portador da imagem de
Deus, veja Ronald S. Wallace, Calvin’s Doctrine of the Christian Life (Grand Rapids: Eerdmans,
1961), pp. 148-52.
114
Inst., III.7.6.
95
imagem de Deus nele que cancela e apaga as suas transgressões, e com sua beleza e
dignidade atrai-nos ao amor e a abraçá-los”.115 De fato, ele insiste que nosso
reconhecimento da imagem de Deus em todas as pessoas hoje devia mover-nos a amá-las e
a honrá-las mesmo de um modo sacrificial.
Como é bem conhecido portanto, Calvino teve convicções fortes a respeito do efeito
separador do pecado sobre a imagem de Deus. Surge uma outra pergunta: O que então a
queda do homem ou o pecado fez, causou à imagem de Deus?
Mas agora, embora alguns aspectos obscuros daquela imagem (a imagem de Deus)
sejam encontradas permanecendo em nós, todavia são elas tão viciadas e mutiladas
que delas pode ser dito estarem destruídas. E além disso, há deformação que aparece
em todo lugar de modo que não é visto que este mal também é acrescentado e
nenhuma parte é livre da infecção do pecado.117
Calvino também sustentava que o que aconteceu na queda não foi apenas um assunto
de perda da semelhança de Deus e da retenção da imagem de Deus, visto que Calvino não
via nenhuma diferença básica entre essas duas.120 O que então aconteceu foi que quaisquer
que tenham sido os dons ou habilidades que o homem reteve tais como a razão e a vontade,
foram pervertidos e distorcidos pela queda. “Ora por causa da depravação da natureza,
todas as faculdades do homem são tão viciadas e corrompidas que em todas as suas ações
115
Ibid.
116
Inst., I.15.4.
117
Commentary .on Genesis 1.26 (King trans.(Grand Rapids: Eerdmans, 1948)).
118
Sermon on Job 14.13-14, citado em Torrance, Calvin’s Doctrine, p.76.
119
Torrance, Calvin’s Doctrine, p.46. É feita referência ao Comm. On Genesis 3. 1-2 e 9.6-7.
120
Inst., I.15.3.
96
Porque visto que nenhuma parte ou faculdade da alma não está corrompida pelo
pecado e transtornada daquilo que é correto, o fato de que os homens vivem e
respiram e são capacitados com o sentido, de entendimento e vontade, tende a
destruição destas coisas. Assim é que a morte reina em toda a parte. Porque a morte
da alma é a alienação de Deus.122
A maneira da obra do Espírito no eleito é que ele cria fé em nossos corações de modo
“que a imagem de Deus que tinha sido apagada pelo pecado, pode ser estampada
novamente sobre nós, e que o avanço desta restauração pode ser continuamente
crescente em nós durante a nossa vida inteira, porque Deus faz sua glória brilhar em
nós parte em parte.”(Comm. On II Cor. 3.18).124
121
Inst., III.3.12.
122
Comm. On John 11.25 (Parker trans. (Grand Rapids: Eerdmans, 1979)).
123
Veja a página ....
124
Davi Cairns, Image, p.150.
125
Inst., I.15.4.
126
Ibid.
127
Torrance, Calvin’s Doctrine, p.79; conf. Inst., II.3.4.
97
Deveria ser notado que para Calvino a renovação da imagem de Deus significa
ambas, a obra da graça de Deus e a responsabilidade do homem. O ES deve renovar-nos
através da Palavra, mas nós, capacitados pelo Espírito, devemos responder à Palavra pela
fé. “A imago Dei é a ação de Deus sobre o homem no imprimir de sua verdade pela sua
Palavra, e a ação do homem somente em resposta à esta comunicação desta Palavra.”128
Assim no pensamento de Calvino “há dois fatores constitutivos e importantes da imago
Dei. Um é o ato da pura graça de Deus, e o outro é a resposta do homem aquele ato – e
ambos são trazidos juntos como um só na doutrina da imago Dei.”129
João Calvino é um nome extremamente significativo tanto para a Reforma
Protestante, quanto para as reformas no processo educacional. Num breve resumo como o
apresentado nesta apostila, é impossível fazer justiça em relação ao papel por ele
desempenhado na evolução da História da Educação. Considerando impossível separar a
questão educacional da questão teológica, Calvino entende que a Igreja, além de uma
comunidade de fé e adoração a Deus, é também uma comunidade de ensino, uma escola
onde o Espírito de Deus é o Mestre dos Mestres, no sentido real e prático. Não há distinção
ou hierarquia de valores entre o estudo de línguas, história, ciências ou religião, porque
todo o ensino visa o aperfeiçoamento do ser humano para o cumprimento da sua vocação.
Esta vocação leva-o a ocupar um lugar distinto na sociedade, através do qual, além de obter
para si as bênçãos necessárias a uma vida cotidiana digna, o cristão atinge o mais alto
propósito da sua existência: a glória de Deus.130 Mais uma vez, percebe-se a visão cristã da
educação, segundo a qual não pode haver fragmentação do saber, não existindo
compartimentos “sagrados” e “mundanos” do conhecimento humano. Pelo contrário, todo o
verdadeiro conhecimento tende a dirigir o ser humano para a contemplação do Criador.
Calvino enfatiza sua percepção de que não é possível, ao ser humano, abrir os olhos sem
ver a sabedoria de Deus nas Suas obras, mas que algumas das provas da maravilhosa
sabedoria do Criador estão ocultas à observação comum e só podem ser trazidas à luz
através da ação do Espírito Santo. Assim, Calvino é explícito ao valorizar a busca do
conhecimento, pois para ele “os homens que possuem o conhecimento podem penetrar mais
detalhadamente nalguns dos segredos da sabedoria divina”131
128
Comentário de Calvino em João 17.17 em Comm. On John, citado em ibid. p.57.
129
Ibid., p.68.
130
Wilson Castro Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia Campinas: Luz para o Caminho,
1995), 184.
131
Joseph Pitts Wiles, M.A., As Institutas da Religião Cristã – Um Resumo (São Paulo: PES, 1984),
30.
98
das escolas da nação, no período de 1640 a 1660. Apenas em 1641 surgem mais de sessenta
escolas livres no país de Gales. Na América, os colonizadores puritanos demonstraram seu
zelo pela questão educacional, através do estabelecimento e manutenção de escolas
espalhadas por toda a Nova Inglaterra, desde o início da colonização. A faculdade de
Harward, segundo Riken, é organizada apenas seis anos após a chegada dos puritanos à
Baía de Massachussetts e mantida, durante muito tempo, por fazendeiros cristãos que
contribuem em trigo, para a manutenção de professores e alunos.132
...há lições para nós na integração de suas vidas diárias. Como seu cristianismo era
totalmente abrangente, assim o seu viver era uma unidade. Hoje, chamaríamos o seu
estilo de vida de “holístico”: toda a conscientização, atividade, e prazer, todo
“emprego das criaturas” e desenvolvimento dos poderes pessoais e criatividade,
132 Leland Riken, Santos no Mundo (São José dos Campos: FIEL,1992), 165.
133 Idem, 177.
134 Richard Vaxter, citado em Riken, 168
99
135 J.L.Packer, na apresentação de Santos no Mundo – os puritanos como realmente eram (São José dos Campos: FIEL, 1992), 7.
136
Riken, 173.
100
poderia ser considerado uma criança resiliente que teria encontrado a possibilidade de
expressão máxima de sua humanidade na educação cristã que recebeu, a qual procurou
também transmitir através de sua própria vida.
Trata-se de Joham Heinrich Pestalozzi. Órfão de pai desde os cinco anos de
idade, viveu a infância e adolescência apenas com a mãe e uma criada. Luzuriaga afirma
que esta influência “puramente maternal e feminina (...) lhe explica certos traços de
caráter”. 137 Embora não seja muito clara esta observação do historiador, a mesma parece
sugerir que a ausência do pai deixou marcas perceptíveis no caráter de Pestalozzi. A
informação de Giles acrescenta alguns detalhes. Segundo ele, Pestalozzi “cresceu
misantropo, tímido e desajustado” e “apesar das tentativas de ajustar-se socialmente”, suas
experiências escolares foram desastrosas.138 Entretanto, as particularidades de sua infância
parecem irrelevantes, quando é considerada a grandiosidade da obra à qual dedicou toda a
sua vida. Luzuriaga considera-o como “o maior gênio, a figura mais nobre da educação e da
Pedagogia, o educador por excelência e o fundador da escola primária popular”139 e
transcreve a inscrição colocada em seu túmulo, na qual é chamado de: “Salvador dos
Pobres”, “Pregador do Povo”, “Pai dos Órfãos”, “Educador da Humanidade”, “Homem,
Cristão, Cidadão”.140
Este grande educador, considerado por Luzuriaga como o maior educador da
História, que exerceu profunda influência na formação de homens como Kant, Herbart,
Fichte, Froebel, Karl Ritter e Wilheim vom Humbouldt, parece ter sido influenciado, de
forma decisiva, por um tio-avô que era pastor protestante em uma pequena comunidade
rural. Segundo Giles, seu ideal de vida foi despertado ainda na infância, quando
acompanhava este tio-avô, em visitas aos pobres da paróquia. Decidido a acabar com as
fontes da miséria em que via o povo se afundar, dedica-se à educação de órfãos, investindo
nesse projeto seus recursos e sua própria vida. Nas palavras de Giles, “ele próprio viveu
como mendigo para ensinar os mendigos a viver como homens”.141 Em sua luta contra as
fontes da miséria, a questão pedagógica era essencial. Apesar de abrigar e alimentar os
órgãos, seu trabalho não possuía um caráter apenas assistencialista. Pelo contrário,
preocupava-se com a educação a tal ponto que afirmava ser imperativo para o mestre
investigar qual o melhor, e não apenas qual o eficiente meio para garantir o crescimento e o
desenvolvimento harmonioso do aluno. A valorização da educação cristã é bastante clara
em Pestalozzi. Ele defende que a educação deveria ter como meta a elevação do ser
humano à verdadeira dignidade de um ser espiritual, alvo este que pode ser atingido apenas
através da educação motivada pelo amor. Ora, o amor é o elemento de ligação entre o
processo educativo e o Cristianismo, sendo este “um alto acervo de experiências morais que
ajudam na educação da humanidade”, portanto, “a finalidade última do Cristianismo, tal
como se revela no Sagrado Volume e se manifesta nas páginas da História, consiste em
educar a Humanidade”.142
Antes de Pestalozzi, outro educador cristão já havia proposto a assertiva de que
a educação da Humanidade é a finalidade primordial do Cristianismo. João Amós Comênio,
137
Lorenzo Luzuriaga, 173.
138
Giles, 189.
139
Luzuriaga, 173.
140
Ibd, 175.
141
Giles, 189.
142
Ibd, 194.
101
o pai da Didática, nascido 150 anos antes de Pestalozzi, figura entre os cristãos mais
seriamente comprometidos com o aspecto pedagógico da missão da Igreja. Comênio
desenvolve uma verdadeira Teologia da Educação, na qual apresenta o ser humano como
ser “ensinável” e o Cristianismo como a estratégia de Deus para a humanização do Ser
Humano.
As idéias de Comênio também não eram inéditas. Muitos dos seus postulados
fundamentavam-se em idéias dos reformadores, ou ainda nas palavras de Jesus e dos
apóstolos. A Didática, portanto, nasceu também como filha dileta do amor cristão pela obra
educacional.
BIBLIOGRAFIA
Downs, Perry G. Introdução à Educação Cristã – Ensino e Crescimento, Editora Cultura Cristã (
São Paulo: 2001)
George, Sherron K., Igreja Ensinadora, Ed. LPC Publicacões ( Campinas: 1993 )
Grigs, Donald L., Manual do Professor Eficaz, Cultura Cristã ( São Paulo: 1997 )
Hendricks, H. Ensinando para Transformar Vidas, Ed. Betânia ( Belo Horizonte: 1991)
Júnior, A. Gagliard, Você Acredita em Escola Dominical ? Editora Vinde ( Rio de Janeiro: 1991 )
Júnior, A. Gagliard, Educação Religiosa Relevante, Editora Vinde (Rio de Janeiro: 1993
Maria Lúcia de A. Aranha, História da Educação ( São Paulo: Ed. Moderna, 1989 )
Olivetti, Odair, Aprimorando a Escola Dominical, Casa Ed. Presbiteriana ( São Paulo: 1992)
Richards, O Lawrence, Teologia da Educação Cristã, Edições Vida Nova ( São Paulo: 1986 )
Streck, Danilo Romeu, Correntes Pedagógicas – Aproximações com a Teologia, Ed. Vozes (
Petrópolis: 1994 )
Comenius, João Amós, Didática Magna, Ed. Martins Fontes ( São Paulo: 1997 )
Gregory, John Milton, As Sete Leis do Ensino, Ed. Juerp ( Rio de Janeiro: 1997 )
102
Greggersen, Gabriele, Perspectivas Para a Educação Cristã em João Calvino, Fides Reformata –
Vol. VII – Número 2: 2002 . Revista do CPAJ
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. 1a. Edição. São Paulo, Moderna. 1989.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda & MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à
Filosofia. 2a. Ed. São Paulo. Moderna, 1995, p. 68-69.
GILES, Thomas Ranson. História da Educação. São Paulo, SP: Ed. EPU . 1987
MANACORDA, Mário Alighiero. História da Educação: Da Antiguidade aos nossos dias. São
Paulo, SP: Ed. Cortez. 1988
MONROE, Paul. História da Educação.14ª edição. - Companhia Editora Nacional - São Paulo,
1979.
VICENTINO, Cláudio. História Geral. 8ª edição. - Editora Scipione – São Paulo, 2000.
ARRUDA, José Jobson de A e PILETTI, Nelson. Toda a História – História Geral e História do
Brasil. 8ª edição. - São Paulo, Ática, 2000
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. 2ª edição – São Paulo, Moderna, 1996.
Giles, T.R. (1987) - A tradição de Roma: a formação do cidadão, in História da Educação, São
Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, pp. 31-43.
Marrou (1966) - Roma adopta a Educação Grega, in História da Educação na Antiguidade, São
Paulo: Herder, pp. 375-394.
Marrou (1966) - As escolas Romanas, in História da Educação na Antiguidade, São Paulo: Herder,
pp. 411-422,
Monroe, P. (1977) - Os Romanos. A educação como treino para a vida prática, in História da
Educação – Actualidades Pedagógicas, São Paulo: Companhia Editora Nacional, pp. 77-93.