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Mécia Lopes de Haro 

(ou Mencia Lopez de Haro) (Biscaia, c. 1215 — Palência, 1270


ou 1271) foi uma dama leoneso-biscainha, que pelo casamento com D. Sancho II terá
sido rainha de Portugal. A consideração no número de rainhas portuguesas é contestada,
uma vez que o matrimónio com o monarca português foi anulado pelo papa Inocêncio
IV no Concílio de Lião. D. Mécia teve um papel central na crise política de 1245
em Portugal.

D. Mécia nasceu no seio de uma família nobre de Leão e Castela, sendo a sua mãe
D. Urraca Afonso de Leão (bastarda de Afonso IX de Leão com Inês Iniguez de Mendonza)
e de Lope Díaz II de Haro, senhor da Biscaia, filho de Maria Manrique de Lara e de Diogo
Lopes de Haro, 10º senhor de Biscaia.
Descendia, por via da mãe, Urraca Afonso, do primeiro rei português, D. Afonso
Henriques, pois o avô materno, o rei Afonso IX de Leão era filho de Urraca de Portugal e,
portanto, era neto materno de Afonso I de Portugal e de Mafalda de Saboia.
Por volta do ano 1227 D. Álvaro Peres de Castro, um cavaleiro que adquirira
reconhecimento na corte durante as guerras de Fernando III contra os mouros, foi
incumbido da missão de medianeiro de uma trégua pactuada entre o monarca de Castela
e os mouros, que libertaria cerca de 300 cristãos. Entre esses cristãos estava Dias de
Haro. No acampamento achava-se também a sua filha, D. Mécia.[1]
D. Álvaro depressa se interessou pela jovem e a presença do filho de D. Sancho I de
Portugal enciumara-o, o que fez com que desposasse D. Mécia, talvez ainda no mesmo
ano. Foi a segunda mulher deste, já que a primeira, a condessa de Urgel, foi por ele
repudiada entre 1225 e 1228 por não obter descendência.[1] A primeira referência a
D. Mécia consta do nobiliário do infante D. Pedro, filho de Sancho I de Portugal, o qual
atesta o papel de D. Mécia nas campanhas do marido contra os mouros.[1] Não obteve
descendência deste casamento.
Terá participado nas campanhas contra os mouros em nome da Coroa, junto com o
marido. Em Córdova, depois da conquista da cidade, o monarca regressa a Toledo e deixa
D. Álvaro no comando militar dos arrabaldes do distrito.[2] O abandono a que se votou
a agricultura devido à guerra, a fome e as consecutivas doenças que surgiram naquele
território levaram-no a procurar o rei, deixando a esposa no forte de Martos, hoje
na Andaluzia. O rei cedeu-lhe votos equivalentes aos de vice-rei, além de dinheiro e
mantimentos para o regresso.[1]
Entretanto o sobrinho, que ficara a cargo da vigia do castelo, decidiu juntar os guardas e
fazer uma correia dentro do território inimigo, deixando D. Mécia quase desprotegiada
dentro do forte. O rei de Arjona aproveitou a situação e invadiu as terras.[2]
De acordo com Lafuente, historiador espanhol, D. Mécia revestiu as suas criadas de armas
e reuniram-se nas redondezas do castelo, mandando avisar o sobrinho. O ardil da senhora
surtiu efeito ao persuadir o inimigo, que pensou que não teria que combater só contra
mulheres, mas também contra homens, levando-o a abrandar o ritmo com que seguia em
direcção ao forte, de forma a proteger-se. O esquema daria tempo para que Tello, o
sobrinho, chegasse com o esquadrão.
Numa bula do Papa Inocêncio IV ao Conde de Bolonha, D. Afonso, pretendente do trono
português e irmão do rei, é pedido auxílio ao bolonhês para amparar a Igreja na Terra
Santa, que na altura estava em guerra. No entanto, este chamado é hoje entendido como
um pretexto para que D. Afonso pudesse aparecer com tropas armadas em Lisboa, a
julgar pelos planos engendrados pelo clero português e pelo papa.[1]
Como D. Mécia não havia dado herdeiros a D. Sancho, situação que poderia mudar a
qualquer momento e suscitar graves problemas na pretensão de D. Afonso ao trono, a
solução encontrada foi a separação dos dois cônjuges.
Comandados por Diogo Peres de Vargas, o esquadrão rematou a tomada, irrompendo
pelo meio das fileiras inimigas.[3] Avisado do ocorrido que quase levou à queda de D. Mécia
nas mãos do rei mouro, de acordo com Frederico Francisco de la Figanière no
livro Memórias das rainhas de Portugal,[1] D. Álvaro morreu de doença[4] a caminho
da Andaluzia.
D. Mécia é rápida e francamente rejeitada tanto pela nobreza como pelo povo portugueses
da época. Por um lado, devido à inferioridade hierárquica da viúva de Álvaro Peres de
Castro que não traria um interesse directo à Coroa, nem para Portugal nem para Castela,
cujo rei havia abonado D. Mécia após o falecimento do marido. Por outro lado, a nova
rainha insistia em rodear-se de aias e criados castelhanos, com excepção de alguns
validos, um transtorno para os cortesãos, a quem não era assim permitida a aproximação
(estratégica) ao rei através de D. Mécia. Prova do descontentamento popular foi uma
corrente entre o povo que o rei andava «enfeitiçado pelas artes de D. Mécia de Haro».[1]
Porém a situação decrépita em que se encontrava Portugal derivava do período anterior à
vinda de D. Mécia para a corte. Depois das várias guerras empreendidas contra os
sarracenos e das várias conquistas cristãs, a monarquia toma algumas vantagens, o
território goza de paz durante algum tempo e o monarca desfruta de uma auréola de glória
e de brio militar.[1] Porém, D. Sancho decide trocar os conselheiros do reino por
companheiros durante as lides militares.

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