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Constelações Sistêmicas Familiares – Bert Hellinger - 1

A indignação - Bert Hellinger

Quando nos tornamos indignados sobre uma situação qualquer, parece que
estamos do lado do bem e contra o mal, do lado da justiça e contrário à injustiça.
Parecemos então ser aquele que intervém entre o agressor e sua vítima de modo a
impedir um mal maior. Contudo, pode-se também intervir entre eles com amor, e
isso seria, com certeza, melhor. Assim, o que o indignado quer? O que ele
realmente obtém?

O indignado se comporta como se ele próprio fosse uma vítima, embora não seja.
Ele assume o direito de exigir uma reparação do agressor embora nenhuma
injustiça tenha sido feita, pessoalmente a ele. Ele assume a tarefa de advogado das
vítimas, como se ele tivesse dado a ele o direito de representá-las; e fazendo
assim, deixa as verdadeiras vítimas sem direito.

E o que faz o indignado com esta pretensão? Ele toma a liberdade de fazer coisas
más aos agressores sem medo de qualquer conseqüência ruim para sua própria
pessoa; pois suas más ações parecem estar a serviço do bem, e assim elas não
temem qualquer punição. De modo a manter sua indignação justificada, tal pessoa
dramatiza tanto a injustiça sofrida pelas vítimas quanto as conseqüências das ações
da parte culpada. Ela intimida as vítimas a verem a injustiça pelo mesmo modo
com ela mesma vê. De outro modo, caso as vítimas não concordem, tornam-se
suspeitas e alvo de uma indignação justificada, como se elas mesmas fossem
agressores.

Da perspectiva da indignação é difícil para as vítimas deixar seu sofrimento ir


embora, e é difícil para os agressores deixarem sua culpa ir embora. Se às vítimas
e aos agressores for permitido encontrar uma resolução e uma reconciliação por
seus próprios meios, elas podem se permitir, uma a outra, um novo começo. Mas
se a indignação entra em cena, tal resolução é muito mais difícil, pois o indignado,
geralmente, não fica satisfeito até que o agressor tenha sido completamente
destruído e humilhado, mesmo que isto, ao ser feito, intensifique o sofrimento das
vítimas.

A indignação é em primeiro lugar uma questão de moralidade. Isto quer dizer que o
indignado não está realmente preocupado em ajudar outra pessoa, mas
comprometido com uma certa demanda para a qual ele se proclama o executor.
Deste modo, ao contrário de alguém que ama, tal pessoa não conhece nem
contenção, nem compaixão.

“Nós estamos liberados do mal quando podemos, serenamente, deixá-lo ir.”

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