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Trends in Psychology / Temas em Psicologia DOI: 10.9788/TP2018.

3-10Pt
ISSN 2358-1883 (edição online)

Artigo

A Importância da Avaliação de Programas de Capacitação


para Identificação dos Sinais Precoces do Transtorno
do Espectro Autista – TEA

Simone Steyer*, 1
Orcid.org/0000-0002-1422-6567
Aliny Lamoglia2
Orcid.org/0000-0002- 9479-7385
Cleonice Alves Bosa1
Orcid.org/0000-0002-0385-4672
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil
2
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Resumo
Nos últimos anos, o conhecimento acerca das manifestações precoces do Transtorno do Espectro
Autista (TEA) tem aumentado significativamente. Isso tem oportunizado à criança um benefício
quanto à possibilidade de intervenções o mais cedo possível, as quais contribuem reduzindo o risco da
manifestação mais grave dos sintomas e melhorando o prognóstico. No entanto, o diagnóstico tardio
ainda é uma realidade mundial. Por esse motivo, desenvolver estratégas para o reconhecimento de sinais
precoces tem sido considerado uma das prioridades na pesquisa em TEA, principalmente no contexto de
saúde pública. Dessa forma, a presente pesquisa tem como objetivo construir uma linha de argumentação
sobre a importância de se elaborar programas de capacitação em identificação precoce do TEA em saúde
pública, ancorados nos seguintes fatores: (a) Identificação das diferenças de natureza qualitativa no
curso do desenvolvimento sociocomunicativo e comportamental de crianças com suspeita de TEA; (b)
consideração dos princípios da vigilância do desenvolvimento infantil articulados aos conceitos teóricos
desenvolvimentistas e neurodesenvolvimentais e (c) avaliação do programa, com base na aplicação dos
princípios de efetividade, no contexto das ciências humanas.
Palavras-chave: Transtorno autístico, efetividade, saúde pública, Transtorno do Espectro Autista,
programa de capacitação, sinais precoces.

The Importance of Evaluating Training Programs Aimed


at the Identification of Early Markers of Autism Spectrum
Disorder (ASD)

Abstract
In recent years, knowledge about the early manifestations of Autism Spectrum Disorder ASD has
increased significantly. This has given children the potential benefit of receiving the earliest possible

–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
*
Endereço para correspondência: Rua Ramiro Barcelos, 2.600, Porto Alegre, RS, Brasil 90035-003. E-mail:
mone.steyer@gmail.com

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interventions, which contribute to reducing the risk of more serious manifestations of symptoms and
to improving the prognosis. Nonetheless, late diagnosis is still a worldwide reality. For this reason,
developing strategies for identifying early markers has been considered one of the priorities of ASD
research, principally within the public health context. Accordingly, the present study’s objective is
to discuss the importance of developing training programs focused on early identification of ASD in
public health, programs that are founded upon the following processes: (a) identification of qualitative
differences in the social communication and behavioral development of children with suspected ASD;
(b) consideration of developmental surveillance principles in conjunction with developmental and
neurodevelopmental theoretical concepts; and (c) assessment of such programs’ effectiveness within
the context of the human sciences.
Keywords: Autism disorder, effectiveness, public health, Autism Spectrum Disorder, training program,
early markers.

La Importância de la Evaluación de Programas de Formación


para Identificación de los Signos Tempranos del Transtorno
del Espectro Autista - TEA

Resumen
En los últimos años, el conocimiento acerca de las manifestaciones precoces del Trastorno del Espectro
Autista (TEA) han aumentado significativamente. Esto ha posibilitado a los niños un beneficio cuanto
la posibilidad de intervenciones lo más temprano posible, las cuales ayudan a reducir el riesgo de
la manifestación más severa de los síntomas y mejoran el pronóstico. Por este motivo, desenvolver
estrategias para el reconocimiento de las señales precoces ha sido considerada una de las prioridades en
la pesquisa en TEA, principalmente en el contexto de la salud pública. Por lo tanto, esta investigación
tiene como objetivo construir una línea de argumentación sobre la importancia de establecerse programas
de capacitación en el reconocimiento precoz de los TEA en la salud pública, fondeados en los siguientes
factores: (a) las diferencias de naturaleza cualitativa en curso del desarrollo socio-comunicativo de niños
con sospechas de TEA; (b) consideración de los principios de vigilancia del desarrollo infantil y de
la psicología del desarrollo humano,articulados con otros campos del conocimiento en la propuesta
del programa,con una especial atención em los conceptos desarrollistas y neurodesarrollados (c) la
evaluación del programa, basado de la aplicación de los principios de efectividad, en el contexto de las
ciencias humanas.
Palabras clave: Trastorno autista, efectividad, salud pública, Trastorno del Espectro Autista, programa
de capacitación, signos precoces.

O Transtorno do Espectro Autista – TEA é namento adaptativo. Os sinais comportamentais


considerado um Transtorno do neurodesenvolvi- se manifestam nos três primeiros anos de vida e
mento caracterizado por (a) Déficits persistentes sua qualidade não é inteiramente explicada pela
na comunicação e interação social em diferentes ocorrência de deficiência intelectual (DSM-5;
contextos como, por exemplo, limitação na reci- American Psychiatric Association, 2014).
procidade socioemocional, déficits nos compor- Entre os sinais precoces mais associados
tamentos de comunicação não verbal utilizados com um diagnóstico posterior de autismo estão:
para a interação social e dificuldade em iniciar, dificuldades no contato ocular e iniciativa em
manter e compreender relacionamentos; (b) Pa- direcionar a atenção do parceiro para um foco
drões restritos e repetitivos de comportamento, comum de interesse durante a interação social,
interesses ou atividades com prejuízos no funcio- coordenação de gestos com expressão facial e

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Precoces do Transtorno do Espectro Autista – TEA.

postura na comunicação, brincadeira simbólica sociocomunicativo. Nesse sentido alguns auto-


reduzida ou ausente e comportamentos repeti- res argumentam que o TEA se configura mais
tivos ou ritualizados relacionados ao corpo (ex: como um desvio qualitativo do desenvolvimento
maneirismos e outros movimentos complexos) à do que pelo seu atraso (Bosa, 2009; Kupfer et al.,
linguagem (ecolalia, rituais verbais) e ações com 2009). São desvios que se referem tanto à mani-
objetos (girar, enfileirar, etc.), bem como alte- festação atípica de um determinado comporta-
rações sensoriais (hipo ou hipersensibilidade a mento (e.g. estereotipias) quanto à ausência de
sons, luzes e movimento) (Ministério da Saúde, habilidades que deveriam estar presentes (e.g.
2014). Ainda na linha da identificação precoce, atenção compartilhada) em cada faixa etária. De
destaca-se a pesquisa multicêntrica de indicado- fato, Daniels e Mandell (2014) realizaram uma
res clínicos de risco para o desenvolvimento in- revisão crítica da literatura a fim de identificar
fantil – denominada pesquisa IRDI. A partir des- aspectos que parecem influenciar na idade da
sa abordagem, foi desenvolvido um instrumento realização do diagnóstico e relataram que crian-
composto por 31 indicadores clínicos de risco ças com Síndrome de Asperger ou Transtornos
psíquico ou de problemas de desenvolvimento Globais do Desenvolvimento não especificado
infantil observáveis nos primeiros 18 meses de tendiam a ser mais tardiamente diagnosticadas
vida da criança: o IRDI. Esse instrumento articu- do que aquelas com TEA. Na mesma linha, o
la processos maturativos de ordem neurológica e estudo de Zanon (2016) demonstrou evidências
genética, e de outro lado, os processos de consti- de que a gravidade dos sintomas parece anteci-
tuição do sujeito psíquico. A partir desse estudo par o reconhecimento dos desvios do desenvol-
foram levantados sintomas clínicos ou indica- vimento.
dores de risco psíquico que indicam detenções O conhecimento acerca da presença de si-
ou ausência de processos que deveriam estar em nais comportamentais característicos do Trans-
curso. Dentre esses sintomas, a ausência de faz- torno do Espectro Autista (TEA) que ocorrem
-de-conta, por exemplo, demonstra uma inter- cedo no desenvolvimento, tem oportunizado o
rupção ou falta do dispositivo da fantasia como início de intervenções em tempo, constituindo
instrumento de elaboração das dificuldades que um benefício para a criança (Zwaigenbaum, Bry-
toda criança enfrenta ao crescer, e aponta para son, & Garon, 2013). Isso contribui não apenas
uma detenção significativa da constituição do para a redução do o risco da manifestação mais
sujeito (Kupfer et al., 2009). grave dos sintomas ao longo do desenvolvimen-
A identificação de sinais precoces do TEA, to, como também para a melhoria do prognóstico
ou sinais de alerta, nos primeiros anos de vida (Dawson, 2008; Helt et al., 2008).
(até 36 meses) é uma das prioridades na pesquisa No entanto, apesar do aumento da produção
sobre TEA, e envolve principalmente conheci- desse conhecimento, muitas crianças deixam de
mentos a respeito do desenvolvimento de aspec- ser identificadas antes do período escolar (Shat-
tos relacionados à cognição social, que podem se tuck et al., 2009; Zuckerman, Lindly, & Sinche,
manifestar de forma sutil ao longo do desenvol- 2015), ainda que muitos pais suspeitem de pro-
vimento (Ozonoff et al., 2010). Nesse sentido, há blemas no desenvolvimento sociocomunicativo
alguns anos, Bosa (2002, 2009) tem chamado a desde os dois primeiros anos de vida do filho (a)
atenção para a possibilidade de as primeiras difi- (Zanon, Backes, & Bosa, 2014).
culdades apresentadas por algumas crianças com Uma das hipóteses para o atraso na identi-
TEA se manifestarem de formas extremamente ficação dos sinais precoces é a falta de treina-
sutis, sobretudo quando são muito pequenas ou mento de médicos pediatras e de técnicos em
não são gravemente comprometidas. A autora saúde, tanto para identificar clinicamente o
aponta vários outros motivos que podem retardar Transtorno do Espectro Autista - TEA quanto
a identificação dos sinais “de alerta”, entre eles para utilizar instrumentos de rastreio (Wilkin-
o desconhecimento, tanto de pais quanto de pro- son, 2011; Ws, Zwaigenbaum, Nicholas, & Sha-
fissionais sobre os marcos de desenvolvimento ron, 2015). Sendo assim, alguns programas têm

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sido desenvolvidos com o objetivo de capacitar tos inadequados gerem preocupações parentais
profissionais de saúde para identificação dos desnecessárias e uma demanda superior à capa-
sinais de alerta do TEA (Barbaro, Ridgway, & cidade de atendimento dos sistemas de saúde em
Dissanayake, 2011; Bordini et al., 2015; Steyer, atendê-la adequadamente.
2016). Partindo desse ponto de vista, ressalta-se a
De forma geral, esses programas têm sido importância de se delinear programas de identi-
denominados de “capacitação”, ainda que haja ficação de sinais de alerta para TEA que inclu-
discussões sobre as diferentes terminologias a am, além desses sinais, informações detalhadas
serem adotadas (Tachizawa, Ferreira, & Fortu- sobre os marcos de desenvolvimento social nos
na, 2001). O conceito de capacitação utilizado primeiros anos de vida da criança, de forma que
no presente estudo, defende a ideia de que ca- constituam parâmetros típicos do desenvolvi-
pacitar significa preparar a pessoa para exercer mento sociocomunicativo e do comportamento
as funções inerentes ao seu trabalho, por meio infantil.
da aplicação do conhecimento, ao mesmo tempo Sendo assim, o objetivo deste trabalho é
em que objetiva desenvolver competência. Por apresentar uma linha de argumentação sobre a
sua vez, a competência é entendida como o pro- importância de se elaborar programas de capa-
duto resultante do conhecimento, habilidade e citação em identificação dos sinais precoces do
atitude (Fusari, 1988). Portanto, ao desenvolver TEA em saúde pública no Brasil, ancorados nos
competência, a capacitação busca fornecer auto- seguintes fatores: (a) identificação das diferenças
nomia, autoconfiança e criatividade ao aplicar o de natureza qualitativa no curso do desenvolvi-
conhecimento, resolver problemas e alcançar os mento sociocomunicativo e comportamental de
resultados propostos de forma efetiva (Mussak, crianças com suspeita de TEA; (b) consideração
2010). Na área do TEA, tanto no cenário nacio- dos princípios da vigilância do desenvolvimento
nal como internacional, a maioria dos programas infantil articulados com conceitos desenvolvi-
tem como alvo os profissionais com formação mentistas e neurodesenvolvimentais e (c) ava-
superior em saúde (médicos e enfermeiros), que liação do programa, com base na aplicação dos
atuam nos serviços de atenção primária em saú- princípios de efetividade, no contexto das ciên-
de (Barbaro et al., 2011; Bordini et al., 2015). cias humanas.
Os resultados dos estudos têm demonstrado que Tendo-se já abordado os principais sinais de
após o programa, os profissionais identificaram alerta para TEA, com ênfase nas diferenças qua-
um maior número de crianças com sinais de ris- litativas nas habilidades sociocognitivas, serão
co para o TEA quando comparado com os ín- apresentados na sequência os seguintes tópicos:
dices de identificação antes do mesmo (Barbaro os parâmetros de desenvolvimento típico e seus
et al., 2011; Bordini et al., 2015; Steyer, 2016; fundamentos teóricos; a abordagem neurodesen-
Swanson et al., 2013). volvimental e a abordagem da vigilância do de-
Apesar desses resultados, poucos estudos senvolvimento na Atenção Primária
têm sido realizados com o objetivo de avaliar os
resultados desses programas, incluindo a descri- Parâmetros de Desenvolvimento
ção de sua metodologia e apresentação da sua Típico: Fundamentos Teóricos
fundamentação teórica (Barbaro et al., 2011;
Steyer, 2016). Por outro lado, existe uma pre- Inicialmente apresenta-se as noções do de-
ocupação sobre as consequências de se propor senvolvimento sociocomunicativo, baseadas na
programas nesta área, especialmente o receio no teoria sociopragmática de Michael Tomasello
aumento de encaminhamentos de crianças com e articuladas com noções neurodesenvolvimen-
suspeita de dificuldades no desenvolvimento das tais. O conhecimento de como estes processos
áreas contempladas pelo TEA (Zwaigenbaum ocorrem no desenvolvimento típico é a chave
et al., 2015). O risco é de que encaminhamen- para se compreender as falhas neste processo.

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Precoces do Transtorno do Espectro Autista – TEA.

Desenvolvimento Sociocognitivo como ponto de referência social e o bebê passa


A partir da perspectiva do desenvolvimento a agir sobre os objetos da mesma maneira como
humano, Tomasello (1999/2003) desenvolveu a os adultos.
teoria sociopragmática, que define alguns com- De fato, há sustentação empírica para essa
portamentos relacionados ao desenvolvimento noção, principalmente em estudos com bebês
social e linguístico nos primeiros anos de vida. com alto risco para o TEA (irmãos de crianças
Segundo esse autor, ao longo da evolução, os com TEA), que testaram hipóteses relacionadas
seres humanos desenvolveram uma nova forma à presença de padrões de atenção social atípicos
de cognição social que permite a cada indivíduo nessas crianças antes dos 12 meses de vida (Ozo-
compreender os outros como seres com vidas noff et al., 2010). As hipóteses dessa linha de
mentais e intencionais iguais as suas. A com- estudo sugerem que essas crianças teriam menor
preensão de si e do outro como agentes inten- interesse por faces humanas do que crianças com
cionais, cujas estratégias comportamentais e de baixo risco para o TEA, nesse caso crianças com
atenção são organizadas em função de metas, desenvolvimento típico. Recentemente, Chawar-
possibilita que ocorram os processos de apren- ska, Macari e Shic (2013), em um estudo utili-
dizagem social e de adaptação da criança ao seu zando eye-tracking, reportaram atenção social
meio social. Ou seja, para que a criança com- reduzida em bebês de 6 meses, que mais tarde
preenda o uso convencional de uma ferramenta foram diagnosticados com TEA. Os resultados
ou símbolo, ela precisa entender o significado apontaram que esses bebês olharam significati-
intencional do uso da ferramenta ou prática vamente menos para as pessoas, em uma cena
simbólica – “para” que serve o que “nós”, os que também incluía brinquedos, do que bebês
usuários dessa ferramenta ou desse símbolo, fa- que não receberam o diagnóstico de TEA pos-
zemos com ela ou ele (Tomasello, 1999/2003, teriormente.
p. 7). Do ponto de vista do desenvolvimento típi-
O desenvolvimento dessa competência cog- co, gradualmente a compreensão de si e do outro
nitiva promove os processos de identificação como agentes intencionais manifesta-se de for-
com o outro, que, por sua vez, são fundamentais ma mais complexa à medida que a criança passa
para a adaptação sociocognitiva. Ainda segundo a utilizar ativamente as ferramentas culturais que
Tomasello (1999/2003), essa compreensão cog- essa compreensão lhe permite dominar, como,
nitiva não surge de uma vez só na ontogênese por exemplo, o uso de gestos (i.e., apontar, dar,
humana. Antes de adquirir essa habilidade, por mostrar; Tomasello, 1999/2003). Em outras pa-
volta dos 6 meses de vida, as interações do bebê lavras, a criança só aprende a usar um gesto se
com os objetos ou pessoas ainda são predomi- ela compreende a si própria ou os outros como
nantemente diádicas, ou seja, os bebês interes- seres dotados de intenção comunicativa.
sam-se por objetos ou brinquedos, mas os ma- Essa competência possibilitará que a crian-
nipulam ignorando a presença de pessoas a sua ça, no segundo semestre de vida, participe de ce-
volta. Somente em torno dos nove meses de ida- nas de interação social triádica, nas quais ela e o
de, a criança começa a expressar, de forma mais adulto regulam a atenção um do outro, compar-
clara, um conjunto de novos comportamentos tilhando seu interesse acerca de um terceiro re-
que parecem indicar que houve uma mudança ferente (i.e., objeto, evento, símbolo). Esse con-
na forma como ela compreende os objetos, os junto de comportamentos é denominado Atenção
outros e a si mesma. Um dos comportamentos Compartilhada - AC (Tomasello, 1999/2003). É
que sinalizam essa mudança ocorre quando os a partir da experiência das cenas de AC que a
bebês começam a demonstrar interesse em se- criança vai exercitando a compreensão da inten-
guir o olhar do adulto e, a partir de então, pas- ção comunicativa e vai construindo as bases so-
sam a se envolver em sessões relativamente ciocognitivas da aquisição da linguagem. A per-
longas de interação social mediada por eventos cepção das intenções comunicativas nas ações
ou objetos. Nesse contexto, o adulto é utilizado dos adultos, portanto, permite que a criança seja

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capaz de mediar culturalmente sua compreen- está, ou de estender a função de um objeto para
são do mundo, uma vez que está capacitada a outro. Sendo assim, ao brincar simbolicamente,
engajar-se em processos de aprendizagem e a a criança utiliza ações de substituição (quando
internalizar a perspectiva de outras pessoas. Um usa um objeto como se fosse outro), imaginação
dos processos iniciais de aprendizagem cultural (quando atribui falsos atributos aos objetos,
ocorre com base na imitação, quando a criança ou quando imagina a presença ou ausência de
apropria-se do uso convencional de ferramentas determinado objeto) e substituição de papéis
e artefatos culturais, distinguindo, nas ações do (quando a boneca, ou outro brinquedo, passa a ser
outro, as metas subjacentes. Ao imitar, a criança o agente em determinada situação). Ao realizar
não reproduz somente uma ação realizada pelo essas ações, ela revela o nível de sofisticação
adulto, mas imita os comportamentos do adul- mental que está empregando para interagir com
to, entendendo seus objetivos e compartilhando o ambiente e em que extensão compreende e é
essas metas. Se essa compreensão mais comple- capaz de representar o mundo a sua volta, sendo
xa não ocorrer, a simples reprodução motora da capaz de colocar-se na perspectiva do outro.
ação do outro não se configura como uma verda- A complexidade do desenvolvimento social
deira imitação, mas como emulação – uma habi- depende também de um adequado funcionamento
lidade que também ocorre em animais, como os cerebral em contínua interação com o ambiente.
primatas (Tomasello, 1999/2003).
Esses são os fundamentos pré-linguísticos e Abordagem Neurodesenvolvimental
sociais de uma habilidade mais complexa, que A rede cerebral responsável pelo desenvol-
se desenvolve próximo ao quarto ano de vida vimento social é composta por estruturas envol-
da criança – a teoria da Mente (TM). Em linhas vidas no processamento da informação social,
gerais, a TM refere-se à capacidade da criança da emoção e do comportamento social propria-
em compreender os próprios estados mentais e mente dito, conforme demonstrado por estudos
os dos outros (pensamentos, crenças, desejos com humanos e com modelos animais (Dawson,
e sentimentos) (Baron-Cohen, Leslie, & Frith, 2008). As crianças são capazes de processar es-
1985; Domingues & Maluf, 2008; Wimmer tímulos visuais e auditivos vindos do exterior,
& Perner, 1983). Porém, desde os 24 meses a muito antes do desenvolvimento das habilidades
criança já mostra os rudimentos dessa habilidade, motoras, que permitirão a exploração sensorial
ao brincar simbolicamente (Lyra, Roazzi, & do ambiente físico. Gradualmente, os bebês in-
Garvey, 2008; Sperb & Carraro, 2008). O brincar tegram as informações oriundas de diferentes
está diretamente associado ao desenvolvimento sistemas sensoriais de forma que desenvolvem
da linguagem (expressiva e receptiva) e das uma sensibilidade para detectar discrepâncias
relações sociais, incluindo o engajamento com e novidades que fazem parte das explorações.
pares (Naber et al., 2008). Christensen et al. Essa sensibilidade, por sua vez, permite que o
(2010) descrevem três domínios referentes à bebê concentre sua atenção na novidade, ao in-
brincadeira: manipulação e exploração motora, vés de, ao contrário, evitá-la. Evidentemente,
brincadeira funcional e brincadeira simbólica. essa sensibilidade é dependente de níveis ade-
A manipulação e exploração motora dizem quados de estimulação, sem a qual o bebê torna-
respeito ao brincar com foco nos atributos físicos -se hiper ou hipo estimulado. Nos primórdios da
do objeto, enquanto que a brincadeira funcional interação social, a sensibilidade para sustentar
está relacionada ao uso apropriado de um objeto, o interesse nos olhos do cuidador abre caminho
ou a associação convencional entre dois ou mais para uma série de outras habilidades mais com-
objetos, como usar uma colher para alimentar a plexas (Chawarska et al., 2013). Ainda segun-
boneca. Já a brincadeira simbólica exige níveis do esses autores, há evidências de que, desde
mais sofisticados de interação com o ambiente cedo, as crianças processam a informação social
e é caracterizada pela habilidade da criança em com base na percepção das expressões faciais,
simular que um objeto está presente quando não sobretudo dos olhos. Dessa forma, quando a

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Precoces do Transtorno do Espectro Autista – TEA.

criança engaja-se em interações sociais, ela pode explicar, em parte, a presença de compor-
constantemente monitora o que o outro faz e tamentos e interesses restritos e repetitivos (Hill,
ajusta o próprio comportamento de acordo com 2004), como por exemplo, a criança demonstrar
as respostas do outro. Na perspectiva da Neu- interesse insistente por brincar com somente um
ropsicologia essa habilidade de alterar o próprio único brinquedo ou com partes desse, sempre da
comportamento em resposta a feedbacks é uma mesma forma, ou a dificuldade em modificar a
das principais funções do córtex pré-frontal, própria rotina.
chamada de funções executivas, e é a base da As habilidades sociocomunicativas, a flexi-
flexibilidade do comportamento direcionado a bilidade do comportamento e a capacidade para
metas (Uehara, Mata, Fichman, & Malloy-Diniz, lidar com estímulos variados podem ser avalia-
2016). O oposto da flexibilidade é, por exemplo, dos, primordialmente, através dos comportamen-
a rigidez comportamental e a perseveração em tos apresentados pela criança durante situações
atividades do próprio interesse sensorial (Bosa, de interação, envolvendo principalmente brinca-
Czemainsky, & Brandão, 2016; Dawson, 2008). deiras. Essa observação, portanto, exige tempo
O processamento executivo envolve a inibição e acompanhamento sistemático de profissionais
de processos e informações irrelevantes ou con- capacitados tanto em desenvolvimento típico
correntes, a focalização da atenção em informa- quanto atípico. Por esse motivo, defende-se que
ções relevantes, a programação de processos a abordagem de vigilância do desenvolvimento
voltados a tarefas complexas, o planejamento poderia ser uma estratégia eficaz na identificação
de sequências de sub- tarefas e o monitoramento de sinais de alerta para o TEA em serviços de
do desempenho (Hamdan & Pereira, 2009). As atenção primária, uma vez que, diferentemente
funções executivas são um construto amplo que do que ocorre em consultas de rastreamento, o
contempla processos cognitivos elaborados, res- examinador é treinado para a observação dos
ponsáveis pelo controle, integração, organização comportamentos da criança de forma sistemáti-
e manutenção de diferentes habilidades cogniti- ca em mais de um momento, além de ser pre-
vas (Chan, Shum, Toulopoulou, & Chen, 2008). parado para anexar as preocupações dos pais ou
O adequado funcionamento das habilidades ge- responsáveis às suas observações (Barbaro et al.,
renciadas pelas funções executivas possibilita o 2011).
engajamento em comportamentos adaptativos,
auto-organizados e direcionados a metas. Abordagem da Vigilância
De fato, a esse respeito, os desafios sociais e do Desenvolvimento na Atenção
comunicativos dos indivíduos com TEA são co- Primária
mumente somados às dificuldades em processos Um dos contextos para identificação dos si-
cognitivos e neuropsicológicos relacionados às nais precoces do Transtorno do Espectro Autista
funções executivas (Christ, Kester, Bodner, & (TEA) são os serviços de atenção primária, por
Miles, 2011). Estudos na área da neuropsicolo- constituírem o primeiro nível de acesso à assis-
gia têm encontrado evidências de um padrão de tência à saúde. No âmbito internacional a “Aten-
inflexibilidade e perseveração comportamental e ção primária à Saúde” (APS) tem sido apresen-
de dificuldades de controle inibitório nesses pa- tada como uma estratégia de organização da
cientes (Christ et al., 2011; Czermainski, Bosa, atenção à saúde voltada para responder de forma
& Salles, 2014; Godefroy, 2003; Pennington & regionalizada, contínua e sistematizada à maior
Ozonoff, 1996). Essas dificuldades sustentam a parte das necessidades de saúde de uma popu-
hipótese de comprometimento das funções exe- lação, integrando ações preventivas e curativas,
cutivas no TEA, que surgiu a partir da constata- bem como a atenção a indivíduos e comunidades
ção de semelhanças entre o comportamento de (Matta & Morsini, 2009). No Brasil, a estratégia
indivíduos com lesão cortical frontal e aqueles de organização da atenção primária insere-se no
com TEA. Portanto, o comprometimento das programa denominado Saúde da Família, cujas
funções executivas em indivíduos com TEA ações ocorrem a partir da atuação de equipes

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multiprofissionais compostas por médicos da fa- de TEA no estudo de coorte de Comunicação e


mília e enfermeiros, mas também por profissio- atenção social variaram de 1:119 a 1:233 crian-
nais de nível de formação técnica e\ou de Ensino ças. Sendo assim, o estudo concluiu que a vigi-
Médio (agentes comunitários de saúde – ACS lância do desenvolvimento de comportamentos
- e técnicos de enfermagem). Os cuidados dos sociais e de comunicação, que diferem de acordo
ACS englobam a atenção preventiva, curativa e com a idade em que a criança é monitorada, per-
a reabilitação, assim como a promoção de ações mite a identificação de crianças em risco de TEA
em saúde (Ministério da Saúde, 2012). Além entre 12 e 24 meses. As pesquisadoras sugerem
disso, considerando que essa política prevê que que a educação sobre os primeiros sinais é reco-
os ACS realizem visita mensal à casa de crian- mendada para todos os profissionais de cuidados
ças de até 24 meses de idade, esses profissionais de saúde primários por facilitar a identificação
têm a oportunidade de avaliar a criança em seu precoce de TEA. Para auxiliar nesta proposta, as
ambiente natural, utilizando a abordagem da vi- autoras validaram uma escala de vigilância de
gilância do desenvolvimento como um eixo in- comportamentos sociocomunicativos direciona-
tegrador da atenção à saúde (Figueiras, Puccini, da aos agentes de saúde para orientar a avaliação
Silva, & Pedromônico, 2003; Ribeiro, Silva, & das crianças durante as visitas de acompanha-
Puccini, 2010). mento denominada SACS - Social Attention and
A abordagem de vigilância do desenvolvi- Communication Surveillance (Barbaro & Dissa-
mento infantil pode ser uma ferramenta efetiva nayake, 2012).
na identificação de sinais precoces do TEA na O Canadá é outro país que tem utilizado a
rede pública de atenção primária à saúde, por ga- política de vigilância do desenvolvimento como
rantir o acompanhamento de crianças ao longo estratégia nas políticas voltadas ao TEA. Em
do desenvolvimento de forma sistemática. Con- 2012 foi parcialmente concluído o primeiro re-
siderando que na maioria dos países, crianças de latório do National Epidemiologic Database for
0 a 6 anos realizam consultas regulares de acom- the Study of Autism in Canada – NEDSAC do
panhamento do crescimento e desenvolvimento Canadá (Coo et al., 2012). Esse programa foi
em serviços de atenção primária em saúde, pes- lançado em 2001 por um consórcio que envolvia
quisadores têm buscado desenvolver estratégias 14 instituições canadenses, entre elas, departa-
para identificação de crianças que apresentam mentos universitários e centros regionais de saú-
risco para o desenvolvimento do TEA nos ser- de. As equipes regionais coletaram informações
viços de acompanhamento primário em saúde sobre crianças com TEA em seis regiões: British
(Williams & Brayne, 2006). Columbia, Calgary, Manitoba, Ontário, Prince
Na Austrália, Barbaro et al. (2011) realiza- Edward Island e Newfoundedland e Labrador. O
ram um estudo de capacitação de enfermeiras objetivo do estudo era estimar a prevalência de
que atuam em um programa de saúde que acom- TEA entre as crianças canadenses, além da ida-
panha o desenvolvimento de crianças de 0 a 36 de na ocasião do diagnóstico. Os pesquisadores
meses. Foram treinadas 241 enfermeiras de saú- acreditavam que essas informações ajudariam
de materna e infantil sobre os primeiros sinais setores de saúde, educação e assistência social a
de TEA aos 8, 12, 18 e 24 meses. Usando uma planejar ações e alocar recursos.
abordagem de vigilância do desenvolvimento, As experiências descritas acima demons-
uma amostra coorte de 20.770 crianças foi mo- tram que a pesquisa científica e a vigilância em
nitorada com relação à atenção social e com- saúde podem servir uma à outra colaborando
portamentos de comunicação entre Setembro para o planejamento de políticas públicas que
de 2006 e Junho de 2007. Destas, 89 crianças minimizem os danos trazidos por um distúrbio do
foram classificadas com TEA em 24 meses, e 20 desenvolvimento como é o caso do TEA. Além
crianças tiveram atrasos de desenvolvimento e/ disso, as evidências encontradas deixam claras
ou linguagem diagnosticados, resultando em um as possibilidades de identificar precocemente o
valor preditivo positivo de 81%. A taxa estimada transtorno na Atenção Primária, foco deste pro-

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A Importância da Avaliação de Programas de Capacitação para Identificação dos Sinais 1403
Precoces do Transtorno do Espectro Autista – TEA.

jeto de pesquisa. A seguir será apresentado o pa- ações ocorrem a partir da atuação de equipes
norama da Atenção Primária no Brasil e as ações multiprofissionais, os ACS especificamente,
empreendidas a partir de 2012 até então pelo Mi- podem desempenhar um papel central na iden-
nistério da Saúde a respeito do tema. tificação precoce do TEA porque a sua atuação
constitui o primeiro nível de acesso das famílias
Programas de Capacitação à assistência à saúde. Os cuidados dos ACS en-
em Identificação Precoce e Políticas globam a atenção preventiva, curativa e a rea-
Públicas Direcionadas ao TEA: bilitação, assim como a promoção de ações em
Panorama no Brasil saúde (Ministério da Saúde, 2012). Além dis-
so, considerando que essa política prevê que os
No que diz respeito ao TEA, acredita-se que ACS realizem visita mensal à casa de crianças de
o conhecimento dos profissionais de saúde no até 24 meses de idade, esses profissionais têm a
Brasil ainda é insuficiente, uma vez que a Po- oportunidade de avaliar a criança em seu ambien-
lítica Nacional de Proteção dos direitos da pes- te natural, utilizando a abordagem da vigilância
soa com Transtorno do Espectro Autista (Lei nº do desenvolvimento como um eixo integrador da
12.764 de 27/12/2012) é recente, assim como os atenção à saúde. Esse eixo, por sua vez, compre-
programas governamentais voltados à saúde das ende as atividades relacionadas à promoção do
pessoas com TEA (Ministério da Saúde, 2014, desenvolvimento típico e à detecção de desvios
2015). nesse processo (Figueiras et al., 2003; Ribeiro,
Apenas um estudo piloto foi publicado no Siqueira, & Pinto, 2010).
país, apresentando os resultados de um treina- A proposta vai ao encontro das orientações
mento em TEA para médicos da atenção primá- das Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pes-
ria (Bordini et al., 2015). De forma similar aos soa com Transtornos do Espectro do Autismo
achados internacionais, esse estudo demonstrou (Ministério da Saúde, 2014), que apresenta um
que o programa modificou a prática clínica dos inventário de indicadores de desenvolvimento
médicos, promovendo o aumento de encami- típico como material de apoio para identificação
nhamentos de crianças em risco para os servi- de sinais de alerta na prática de acompanhamen-
ços especializados, além do maior conhecimento to do desenvolvimento das crianças na atenção
dos profissionais sobre os sinais de alerta para o primária.
TEA. Durante os quatro meses que antecederam Portanto, propor um programa de capacita-
o programa de capacitação, apenas uma criança ção em identificação precoce do TEA para ACS
havia sido encaminhada com suspeita de TEA, exige a combinação do cuidado com o embasa-
sendo que, após a capacitação, o mesmo serviço mento conceitual e a sistematização desse co-
recebeu o encaminhamento de seis crianças por nhecimento de forma que atenda à demanda das
apresentarem comprometimentos nos compor- ações previstas nas políticas públicas em saúde.
tamentos que são critérios de diagnóstico para Também é fundamental considerar que, devido à
TEA. Outro estudo (Steyer, 2016) que objetivou escassez de conteúdos dedicados ao tema do de-
avaliar os resultados do programa, direcionou a senvolvimento infantil e de investimento nesta
capacitação aos Agentes Comunitários de Saúde área por parte do Ministério da Saúde no Bra-
– ACS, e encontrou indicadores de efetividade a sil (Zeppone, Volpon, & Del Ciampo, 2012), é
partir das medidas de satisfação e transferência essencial avaliar se essas iniciativas atenderam
de aprendizagem. Nesse estudo os ACS identi- às necessidades de saúde da população. Isso
ficaram 2 crianças com sinais precoces de TEA significa que não basta a oferta e a garantia de
em um período de 4 meses após o término da acesso dos profissionais a programas de quali-
capacitação. ficação, mas a combinação dessas medidas com
Considerando que a estratégia de organiza- metodologias específicas que busquem avaliar
ção da atenção primária no Brasil, insere-se no a efetividade dessas ações. Contudo, a própria
programa denominado Saúde da Família, cujas metodologia deve, igualmente, sustentar-se con-

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1404 Steyer, S., Lamoglia, A., Bosa, C. A.

ceitualmente, ou seja, em uma dada definição de grama de capacitação em saúde a partir das alte-
efetividade. rações que o programa provoca na realidade em
que incide, denominadas de “impacto e reação”.
Princípios de Efetividade O impacto refere-se a mudanças efetivas na rea-
e Avaliação de Programas no lidade, por exemplo, alterações na variação das
Contexto das Ciências Humanas taxas de incidência da doença; enquanto que a
reação está relacionada a mudanças nas pessoas
O conceito de efetividade frequentemente é que executam as ações e às instituições as quais
confundido com o conceito de eficácia, eficiên- estes estão vinculados (Draibe, 2001). Em um
cia e, até de qualidade, como colocam Silva e programa de capacitação pontual e específico,
Formigli (1994), em uma clássica revisão sobre como o programa que foi desenvolvido para
esses conceitos. Segundo as autoras, em linhas este estudo, a avaliação da reação trará maiores
gerais, esses três conceitos são definidos em di- resultados quanto às evidências de efetividade,
cionários da Língua Portuguesa da seguinte for- uma vez que o impacto na instituição ainda será
ma: Eficaz é o “que produz o efeito desejado”; localizado e inicial.
eficiência é a “ação, força, virtude de produzir Na área da saúde, há décadas tem sido ar-
um efeito”; e efetivo é o “que se manifesta por gumentado que o modelo mais adequado para
um efeito real”. Sendo assim, pode-se supor que avaliar efetividade é aquele que não se centra
o conceito de efetividade seria o somatório dos apenas no resultado final, mas também no pro-
conceitos de eficácia (a capacidade de realizar cesso (Donabedian, 1992; Hamblin 1978). Na
objetivos) e de eficiência (a utilização dos recur- avaliação do processo, há uma análise contínua
sos de forma a atingir tais objetivos). A efetivi- do plano estabelecido, de modo que esse pode
dade indicaria que uma dada capacitação trans- ser modificado conforme a dinâmica da popula-
formou a situação existente, ou seja, promoveu ção-alvo e com base em suas necessidades, além
um efeito real no conhecimento e na rotina de disso, implica em examinar o nível de satisfação
trabalho das pessoas que foram capacitadas atra- dos participantes quanto a dois aspectos: quali-
vés da realização dos objetivos e metas propos- dade do programa e desempenho dos instrutores.
tos (eficácia), utilizando os recursos de forma A satisfação quanto ao programa pode ser me-
a atingir o efeito desejado (eficiência) em um dida por meio de uma série de aspectos como:
contexto não controlado. O conceito de efetivi- definição de objetivos e compatibilidade com a
dade tem sido desenvolvido na área de gestão capacitação, carga horária e adequação do con-
de pessoas a partir da literatura da avaliação de teúdo programático, qualidade e organização do
programas de treinamento, desenvolvimento e material didático, possibilidade de aplicação do
educação (TD&E; Pilati, 2004). No entanto, no conhecimento adquirido no ambiente de traba-
Brasil, ainda não há muitos estudos no campo lho, percepção sobre a possível melhoria no de-
de investigação científica pela Psicologia, nessa sempenho individual, entre outros. Com relação
área de conhecimento, relacionada à gestão de à satisfação quanto ao desempenho dos instru-
pessoas e educação (Scorsolini-Comin, Inocen- tores, consideram-se aspectos como o nível de
te, & Miura, 2011), apesar de ser consenso de profundidade de apresentação dos conteúdos,
que a avaliação é parte constitutiva na cadeia de transmissão de objetivos, qualidade de apresen-
ações que envolvem um programa de TD&E por tação dos conteúdos, uso de exemplos concretos
oferecer informações para a sua qualificação. que possibilitem o entendimento dos conteúdos,
Dessa forma, devido a vários fatores que além do uso de instrumentos e recursos didáticos
podem influenciar um programa de capacitação, diversos para uma boa qualidade da capacitação
avaliar a sua efetividade é tão importante quanto (Abbad, Gama, & Borges-Andrade, 2000).
à própria capacitação (Hamblin, 1978; Kirkpa- Segundo o modelo de Hamblin (1978) exis-
trick, 1976; Pilati & Borges-Andrade, 2004). Há tem cinco níveis para a mensuração dos resulta-
duas formas de avaliar a efetividade de um pro- dos de uma capacitação: reação; aprendizagem;

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A Importância da Avaliação de Programas de Capacitação para Identificação dos Sinais 1405
Precoces do Transtorno do Espectro Autista – TEA.

comportamento no cargo; organização e valor manutenção desses por um determinado período


final. No entanto, tradicionalmente, a pesquisa de tempo (Cheng & Ho, 2001). É utilizada como
em Psicologia aplicada à avaliação de treina- indicador importante de efetividade a partir da
mento ou capacitação, estuda os níveis de rea- análise das dimensões do processo. Esse indica-
ção, aprendizagem e comportamento no cargo dor, quando associado à análise de outros indica-
(Abbad, Pilati, & Pantoja, 2003). O nível reação dores correspondentes a outros níveis de avalia-
é investigado a partir da mensuração da satis- ção da capacitação, como reação, poderá resultar
fação dos participantes, enquanto que os níveis na validação de modelos de avaliação baseados
de aprendizagem e comportamento no cargo em evidências empíricas, que contribuirão para
são mensurados em termos de transferência de a sistematização desse conhecimento, na pers-
aprendizagem e da influência que os conheci- pectiva de sua apropriação pelos gestores e pro-
mentos trabalhados exercem sobre o desempe- fissionais de saúde (Hartz & Silva, 2005; Silva,
nho global do participante após a capacitação 2014).
(Scorsolini-Comin et al., 2011). Argumenta-se Em síntese, esses conceitos, quando cuida-
que esses dois últimos aspectos são de funda- dosamente incorporados à metodologia, podem
mental importância, sobretudo para a avaliação facilitar o delineamento, a implementação e a
de programas em saúde pública porque permi- avaliação de programas de formação profissional
tem examinar detalhadamente a razão custo- continuada, baseados em evidências, na área do
-benefício das ações. TEA. É um cuidado que auxilia na validação do
Sendo assim, vale destacar que a avaliação programa proposto, facilitando a sua replicação
de sinais precoces exige que o conhecimento tra- em outros contextos de saúde primária.
balhado esteja alicerçado em bases conceituais
bem definidas uma vez que o nível de formação Conclusão
dos agentes comunitários de saúde é bastante he-
terogêneo, incluindo a escolaridade. Nesse sen- A revisão da literatura revelou que apesar
tido, é necessária a combinação de dois fatores de ainda incipientes, os estudos na área de ava-
fundamentais em relação à oferta de programas liação de programas em identificação precoce do
de capacitação: (a) desenvolvimento de recursos TEA têm demonstrado que a capacitação quan-
pedagógicos e audiovisuais específicos para essa do direcionada aos profissionais de saúde têm
população, que levem em conta tanto a variação promovido a identificação de crianças em risco
na formação desses profissionais quanto o con- para o desenvolvimento do TEA (Barbaro et al.,
texto específico de trabalho, isto é, a visita do- 2011; Bordini et al., 2015; Steyer, 2016; Swan-
miciliar; (b) desenvolvimento de metodologias son et al., 2013). Esses estudos também forne-
que busquem avaliar a efetividade dessas ações, cem informações importantes para a definição de
com ênfase no exame da transferência de apren- prioridades e a reorientação de práticas na aten-
dizagem para o contexto de trabalho. Para tanto, ção primária em saúde, de forma a promover a
o cuidado com todas as etapas, desde o contato prevenção e a identificação precoce dos proble-
com o serviço público para discussão da propos- mas de desenvolvimento infantil.
ta de capacitação, até a elaboração de material A revisão demonstrou ainda o contraste na
didático e material de avaliação, deve ser pauta- amplitude da política de vigilância do desenvol-
do pela preocupação com o modelo de avaliação vimento como estratégia nos programas voltados
de resultados. Dessa forma, uma vez constatada para o TEA em países como Austrália e Canadá,
a sua efetividade, a replicação do programa fica- e o Brasil. Embora existam algumas iniciativas
rá facilitada. nacionais como a política Nacional de Proteção
A aprendizagem, no contexto de capacita- dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Es-
ção, é definida como a aplicação efetiva do co- pectro do Autismo (Lei nº 12.764 de 27/12/12)
nhecimento, habilidades e técnicas adquiridas e as Diretrizes de Atenção à reabilitação (Minis-
durante a capacitação no contexto do trabalho e a tério da Saúde, 2014) falta a articulação entre a

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1406 Steyer, S., Lamoglia, A., Bosa, C. A.

saúde, educação e o serviço social e o investi- cialmente o de transferência de aprendizagem)


mento demonstrado por estes outros países. constituem formas recomendadas de validação
Em relação à importância da identificação dos programas com foco na identificação preco-
das diferenças qualitativas no desenvolvimen- ce de TEA na atenção básica.
to sociocomunicativo e no comportamento de No que diz respeito à implementação de pro-
crianças com suspeita de TEA argumentou-se gramas desta natureza no Brasil são muitos os
sobre a utilidade teórica e prática dos conceitos desafios a serem suplantados. As estratégias para
desenvolvimentais e neurodesenvolvimentais reunir as equipes, as horas de trabalho transpor-
em programas de capacitação nesta área. A te- tadas para o programa, as vantagens práticas da
oria sociocognitiva de Tomasello descreve o re- obrigatoriedade de participação x questões éti-
pertório comportamental presente na comunica- cas e motivacionais implicadas nesta resolução,
ção e na interação social na primeira infância e as diferenças entre os participantes de um mes-
explica sua origem e curso no desenvolvimento. mo grupo (tempo de experiência, escolaridade,
Desta forma, estes comportamentos e habilida- ocupação, formação, etc.) e o impacto na apren-
des constituem parâmetros desenvolvimentais dizagem, além do aumento no custo do programa
que auxiliam os profissionais da saúde a reco- quando se adota os níveis superiores de avaliação
nhecer eventuais desvios qualitativos e/ou atra- da efetividade (transferência para o contexto de
so, que podem variar de sutis a graves, em sua trabalho) são alguns dos desafios. A realização
expressão. Uma das limitações nesta abordagem e a divulgação de estudos desta natureza podem
é que os estudos de Tomasello focam mais den- auxiliar na adoção de estratégias que contribuam
samente nas habilidades sociocomunicativas de na resolução das dificuldades que emergem.
crianças após o primeiro ano de vida do que nos O delineamento, a implementação e a ava-
bebês mais novos. Contudo, as habilidades so- liação de programas de formação profissional
ciocomunicativas (ex: atenção compartilhada) continuada em TEA, baseados em evidências,
tratadas pelo autor são as que mais reúnem evi- envolvem tarefas desafiadoras em cada uma
dências empíricas como “sinal de alerta” para de suas etapas. Por outro lado, as ações desen-
TEA (Ozonoff et al., 2010). Quanto às noções volvidas no âmbito da Atenção Primária aqui
neurodesenvolvimentais, o conceito de fun- elencadas são potencialmente promotoras de
ção executiva, entre outros aspectos, auxilia na saúde porque possuem como eixo transversal o
compreensão da rigidez comportamental, como desenvolvimento infantil.
antítese da flexibilidade, da criatividade e da
habilidade para lidar com estímulos variados Referências
(Sanders, Johnson, Garavan, Gill, & Gallagher,
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