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Processos Fundamentais da Cognição Social

Relações Interpessoais

O modo como nos relacionamos com os outros ao longo da vida e as interações que
estabelecemos definem grande parte do que fomos e somos.

Importância da socialização:

O processo de socialização é dependente da aprendizagem, da qual resulta uma complexidade


e diversidade nas relações que estabelecemos com outros.

Interação Social- conjunto de influências recíprocas que se estabelecem entre as pessoas.

Cognição Social – estudo do modo como percecionamos o nosso mundo social enquanto
atores e espectadores, bem como da forma como interpretamos o nosso comportamento e o
dos outros, do modo como agimos na sociedade, formando e mudando atitudes e
comportamentos.

Em síntese, refere-se ao conhecimento do mundo social (pessoas, grupos, instituições ou


comunidades).

Processos Fundamentais da Cognição Social:


Impressões;

Expetativas;

Atitudes;

Representações Sociais.

Impressões

Impressões: são noções que se criam no contacto com as pessoas e que nos dão um quadro
interpretativo para as avaliarmos.

Construção de uma imagem, uma ideia.

A produção de impressão é mútua, quando se trata de pessoas, e afeta tanto o meu


comportamento como o do outro.

Provoca efeito na relação interpessoal futura.


Efeito de ordem ou primazia : tendência para dar mais importância às primeiras impressões
sobre uma pessoa do que a informações posteriores. Corresponde à durabilidade ou
persistência das primeiras impressões.

Impressões e categorização

A formação das impressões é o processo pelo qual se organiza a informação acerca de outra
pessoa de modo a integrá-la numa categoria significativa.

Categorização

Categorização: permite generalizar as características de uma categoria a todos os objetos


pessoais ou situações que a compõem, permite organizar o mundo social dando-lhe um
sentido.

Categorização social: orienta, serve de guia para a nossa ação, induzindo a complexidade do
mundo social.

Função da categorização: simplificação da informação.

Nota: Incluímos uma pessoa numa determinada categoria utilizando geralmente, três tipos de


avaliação: afetiva, moral, instrumental.
Etapas na Formação das Impressões:

Na base da formação das impressões está a interpretação, isto é, nós percecionamos o outro a
partir de uma grelha de avaliação que nos remete para os nossos conhecimentos, valores e
experiências pessoais:

Indícios físicos;

Características que podem remeter para determinado tipo de personalidade ou categoria


social (ex. alta, baixa, magra, gorda, morena).

Indícios verbais;

O modo como a pessoa fala surge como indicador da sua instrução.

Indícios não-verbais;

A forma como uma pessoa gesticula enquanto fala, etc…

Indícios comportamentais;

É o conjunto de comportamentos que se observam, e remete também para as experiências


passadas.

Nota: No entanto há fatores que influenciam a formação de impressões, tais como:  

·         A motivação;

·         A atenção;

·         As informações que possuímos.

Concluindo:

A partir dos indícios, formamos uma impressão global de uma pessoa, a quem atribuímos uma
categoria socioeconómica e cultural, um determinado estatuto social.

Ao fazermos uma avaliação geral da pessoa a partir de algumas características (indução) ou


traços que observamos na interação com ela ou que nos foi referida por outros (o que
comporta riscos), e construímos o que designa por teoria implícita da personalidade.

O efeito das primeiras impressões:

A primeira informação é a que tem maior influência sobre as nossas impressões.

As primeiras características ou conhecimentos que apreendemos têm mais influência na


categorização que fazemos sobre uma pessoa.

Há como que uma rejeição a integrar informações que contrariem as nossas primeiras
impressões ou opiniões e uma tendência a procurar ou a valorizar as informações que
confirmem as nossas convicções.

“O efeito de halo”
Em 1920, Thurstone descreveu o que designou por "efeito de halo", ou seja, depois de criada
uma primeira impressão global sobre um individuo, temos a tendência para captar as
características que vão confirmar essa mesma impressão.

A primeira impressão vai afetar as nossas avaliações em relação ao individuo observado. Como
exemplo, se inicialmente avaliarmos uma pessoa como honesto, temos a tendência de lhe
associar características positivas, tais como: leal, sociável, simpático...

A primeira impressão é que fica!

Deixo-vos aqui alguns vídeos em que a primeira impressão em nada tem a ver com a realidade.

Experiências:

O termo foi desenvolvido pelo psicólogo americano Edward Thomas Bastos durante a Primeira
Guerra Mundial.

Uma série de experiências junto ao Exército americano, para verificar de que forma os
comandantes analisavam seus subordinados.
Os resultados foram surpreendentes na medida em que havia uma forte correlação entre a
avaliação das aptidões dos soldados e sua aparência física. Algo como se o soldado mais bonito
- ou mais forte, ou com melhor postura - atirasse melhor do que os outros, fosse mais veloz,
mais habilidoso com uma faca, bom de cálculo e tocasse piano como ninguém. Sintetizando,
ele identificou a tendência em atribuir características positivas a quem tem resultados
positivos – e vice-versa.

Expetativas

É o modo de categorizar as pessoas através dos sinais e das informações, prevendo  o seu
comportamento e as suas e atitudes.

As expetativas são recíprocas, isto é, o indivíduo com quem interagimos também desenvolve
expetativas em relação a nós.  

Neste processo estão envolvidas duas operações básicas:

Indução (do particular para o geral)

Dedução (do geral para o particular)

Que são facilitadoras da nossa leitura do mundo.

Afetam o modo como os outros interagem connosco, que por sua vez influenciam a nossa auto
imagem e o nosso comportamento.

Estatuto e papel

A função social que se desempenha corresponde a um determinado estatuto profissional.

A cada estatuto corresponde um papel, isto é, um conjunto de comportamentos que são


esperados de um indivíduo com determinado estatuto. A noção de estatuto e papel
complementam-se.

Na sociedade os papeis sociais regulam todo um conjunto de comportamentos, possuem


padrões próprios, de tal forma institucionalizados que os seus membros sabem quais as
reações que o seu comportamento pode provocar.
O estatuto vem a ser o conjunto de comportamentos com que legitimamente o indivíduo pode
contar da parte dos outros.

O papel do indivíduo é o conjunto de comportamentos com que legitimamente os outros


contam da parte dele.  

Efeito das expetativas

As expetativas, quando são elevadas, podem levar a uma mais fácil concretização – autor
realização das profecias; é o chamado Efeito de Pigmalião.

Efeito de Pigmalião: é o fenómeno que se caracteriza pelo facto de as nossas expectativas


induzir nos outros comportamentos que as confirmam. As pessoas tendem a responder
positivamente quando as expectativas que temos sobre o seu comportamento são positivas, e
negativamente no caso contrário.

Expetativa é o modo  de categorizar as pessoas através de indícios e informações, prevendo o


seu comportamento e as suas atitudes. A uma expectativa corresponde um estatuto social

Estatuto é a posição que um indivíduo ocupa na hierarquia social. Esta posição permite
legitimamente esperar dos outros determinados comportamentos. Implica um conjunto de
privilégios e direitos.
Muitas vezes cometem-se erros para que o nosso estatuto social aumente como: fumar, trair
colegas, vandalismo etc...

Papel Social:  conduta que é legítima esperar de uma pessoa em dada situação social em


virtude da posição que ocupa. Implica um conjunto de responsabilidades ou deveres.

Tem de se ter imenso cuidado pois quando as expetativas não correspondem à realidade, o


individuo pode sofrer muito dependendo é claro da discrepância entre as duas
e importância que o assunto tiver.
Atitudes

Processo de consciência individual que determina atividades reais ou possíveis do indivíduo no


mundo social. Permitem interpretar, organizar e processar as informações. Vulgarmente o
conceito atitude equivale ao de comportamento.

Na Psicologia social

São uma tendência para responder a um objeto social (situação, pessoa, grupo, acontecimento
de modo favorável ou desfavorável.

Formam-se e aprendem-se durante o processo de socialização.

Existe uma tendência para uma estabilidade nas atitudes, mas estas podem ser modificadas
quando sujeitas a determinados fatores.

São uma tomada de posição determinada de um indivíduo em relação a um objeto social.

Desempenham um papel importante no modo como processamos a informação do mundo


social, permitindo: interpretar, organizar e processar as informações.

Componentes das Atitudes

·         Componente cognitiva: é o que consideramos verdadeiro acerca o objeto.

·         Componente afetiva: está ligada ao sistema de valores, sendo a sua direção emocional.

·         Componente comportamental: depende da crenças e dos valores que se têm


relativamente ao social.

Atitudes e comportamentos

As atitudes não são diretamente observáveis; são inferidas a partir de comportamentos.

Por outro lado também é possível inferir de um comportamento a atitude que esteve na
origem.

As atitudes são o suporte intencional de grande parte dos nossos comportamentos.

Formação e mudanças de atitudes

As atitudes não nascem connosco, formam-se e aprendem-se no processo de socialização

As atitudes são consequência de uma construção, e das quais os agentes sociais são
responsáveis pela sua formação (pais e família, a escola, o grupo de pares, os mass media).

É através da observação, da identificação e da imitação de modelos (pais, professores, figuras


públicas…) que se aprendem e se forma as atitudes.

A aprendizagem ocorre ao longo da vida, mas tem maior importância na infância e na


adolescência.

Apesar da aparente estabilidade das atitudes, estas podem mudar ao longo da vida.
As experiências vividas podem levar à alteração das atitudes.

Dissonância cognitiva

Teoria desenvolvida pelo psicólogo americano, Leon Festinger (1919-1989) na década de 50.

É um sentimento desagradável que pode ocorrer quando uma pessoa sustenta duas atitudes
que se opõem, ou seja, quando estão presentes duas cognições que não se adequam ou duas
componentes de atitudes que se contradizem.

Como se pode atenuar esta situação:

·         Mudando as convicções;

·         Alterando a perceção da importância de uma delas;

·         Acrescentando uma outra informação;

·         Negando a relação entre as duas convicções/informações

Nota: Quanto mais fracas forem as razões para o comportamento divergente maior é o
sentimento de incoerência e maior a motivação para se modificar atitude que provoca a
inconsistência.

Por exemplo: A Raposa e as Uvas, de Esopo. Quando a raposa percebe que não consegue
alcançar as uvas, ela decide que não as quer de qualquer modo, um exemplo da formação
adaptativa de preferências, com o objetivo de reduzir a dissonância cognitiva.

Trata-se da perceção da incompatibilidade entre duas cognições diferentes, onde "cognição" é


definido como um qualquer elemento do conhecimento, incluindo as atitudes, emoção,
crenças ou comportamentos. A dissonância ocorre a partir de uma inconsistência lógica entre
as suas crenças ou cognições (por exemplo, se uma ideia implicar a sua contradição). A
consciência ou a perceção de contradição pode tomar a forma de ansiedade, culpa, vergonha,
fúria, embaraço, stress e outros estados emocionais negativos.

A teoria da dissonância cognitiva:

Afirma que cognições contraditórias entre si servem como estímulos para que a mente
obtenha ou produza novos pensamentos ou crenças, ou modifique crenças pré-existentes, de
forma a reduzir a quantidade de dissonância (conflito) entre as cognições.

A dissonância pode resultar na tendência de confirmação, a negação de evidências e outros


mecanismos de defesa do ego. Quanto mais enraizada nos comportamentos do indivíduo uma
crença estiver geralmente mais forte será a reação de negar crenças opostas.
Representações

Representação é um processo mental através do qual somos capazes de evocar uma pessoa,
uma ideia, um objeto ou mesmo uma determinada situação na sua ausência.

O conceito de representação social foi teorizado pelo psicólogo romeno, S. Moscovici (1928-)

Um conhecimento que se distingue do conhecimento cientifico, elaborado a partir de modelos


culturais e sociais e permitem um quadro de compreensão e de interpretação do real.

Representações Sociais

São um conjunto de conceitos, proposições e explicações criados na vida quotidiana, no


decurso da comunicação inter-individual.

Constituem uma espécie de conhecimento do senso comum.

Equivalem a determinadas épocas, sucedendo de um conjunto de circunstâncias


socioeconómicas, políticas e sociais.

Baseia-se numa conceção prática de organização de controlo do ambiente e de orientação dos


comportamentos e das comunicações.

Determina uma conceção de realidade comum a um dado conjunto social.

Na elaboração das representações sociais existem dois processos: a objetivação e a


ancoragem. 

Objetivação

A objetivação: é o processo através do qual as reproduções complexas e abstratas se tornam


simples e concretas. A objetivação realiza-se segundo três fases:

·         Construção seletiva: apenas mantém a parte mais relevante da informação.

·         Esquematização figurativa: a informação é transformada num esquema figurativo


simples.

·         Naturalização: corresponde à concretização da representação.

Ancoragem

A ancoragem corresponde ao enraizamento, à apropriação das imagens criadas pela


objetivação na mentalidade coletiva. Uma vez ancorada, uma representação desempenha um
papel de filtro cognitivo, que permite interpretar as informações novas de acordo com as já
existentes.

As representações estão assim marcadas pela cultura e pela sociedade de cada época.

Funções das Representações Sociais


Função de saber: dão uma explicação e um sentido à realidade: servem para os indivíduos
explicarem, compreenderem e desenvolverem acções concretas sobre o real.

Função de orientação: são um guia para os comportamentos.

Função identitária: permitem ao indivíduo construir uma identidade social, distinguindo o


grupo que as produz dos outros grupos.

Função de justificação: permitem aos indivíduos explicarem e justificarem as suas opiniões e


os seus comportamentos.

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