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INSTITUTO PORTUGUÊS DE PSICOLOGIA e outras CIÊNCIAS

Pós-Graduação em
Psicoterapia Cognitivo-
Comportamental

Terapia cognitiva das adições


Andreia de Moura, Ph.D.
Enquadramento Conceptual
✓ Tornou-se usual definir o conceito de adição associado ao consumo de substâncias
ADIÇÃO químicas/psicoativas, sejam elas lícitas ou ilícitas.
✓ Abarca um largo espetro de comportamentos de alto risco e de dependência que podem
não estar associados apenas ao consumo de substâncias (Plano Estratégico 2013 - 2015,
p.21).

Adições com • Lícitas: tabaco, álcool, café


substâncias • Ilícitas: opiáceos, canabinóides, cocaína
✓ Fenómeno bastante complexo;
✓ Interfere no sujeito ao nível psicológico, comportamental • Comportamentos lícitos: jogo, sexo,
Adições sem internet, alimentação, compras
substâncias

Nota: Retirado de Rodrigues (2015).


Enquadramento teórico
Adição Química Adição
Comportamental
Conhecida pela utilização de
substâncias psicoativas, é aquela Comportamentos como
que quando utilizada, tem a potenciais para
capacidade de alterar processos desencadear uma
de consciência, humor e dependência,
pensamentos individuais (Corregiari, nomeadamente exercício,
2006).
sexo, trabalho, gambling
(Grifiths,2015).
Adição química e Adição comportamental
• Necessidade compulsiva de consumir persistentemente substâncias
psicoativas (ex: álcool, tabaco ou a cannabis)
• Necessidade compulsiva de realizar determinados comportamentos (como o
jogo)
• Independentemente das consequências negativas para o próprio ou para
terceiros.
• Dificuldade em exercer controlo sobre a substância ou o comportamento;
• Preocupação com a substância ou o comportamento;
• Consumo/comportamento persistente ou compulsivo;
• Reação emocional disfuncional;
Adições químicas e Adições comportamentais
• Comportamentos como a adição ao jogo, à internet, ao sexo e às
compras, entre outros comportamentos aditivos:

• Características e efeitos similares às adições relacionados com o uso de


substâncias

• Mecanismos cerebrais similares aos das adições relacionadas com o uso de


substâncias (e.g., ativam sistemas de recompensas semelhantes aos ativados pelas
drogas psicoativas além de produzirem sintomas comportamentais que parecem ser
comparáveis aos produzidos pelas perturbações de uso de substâncias)
• Manual de Diagnóstico e Estatística de Perturbações Mentais
(DSM-5) da Associação Americana de Psiquiatria (American
Psychiatric Association):

• Adições relacionadas com substâncias;

• Adição ao jogo

Nota: (estando esse reconhecimento baseado na dependência física e no


correspondente síndrome de abstinência para identificar um estado aditivo)
Modelo
biopsicossocial
para explicar o
consumo de
substâncias
psicoativas
(Torres,2003)

Modelos explicativos
do Comportamento
Aditivo

Modelo
biopsicossocial
onde explica a
adição
comportamental
(Beard,2005)
Sintomatologia Psicopatológica e os Comportamentos Aditivos

Ferreira, Relva & Alavi, Maracy, Jannatifard & Arnett (2004)


Ferros (2008) Fernandes (2018) Eslami (2011)

• somatização, depressão, obsessivo- •Adição à internet está positivamente •A depressão como sendo o sintoma •Concluiu que os estudantes universitários
associada à depressão, ansiedade, psicopatológico que se associa com mais apresentam um risco mais elevado de
compulsivo, sensibilidade
hostilidade e sensibilidade interpessoal, regularidade ao uso excessivo da internet desenvolver psicopatologia.
interpessoal, depressão, ansiedade,
sendo o sexo masculino significativamente •Dyson & Renk (2006) justificam como
hostilidade, ansiedade fóbica e
mais adito sendo uma fase desenvolvimental com
psicoticismo e consumidores de
alguns desafios (e.g).
substâncias psicoativas.
Alexitimia, Psicopatia e sintomatologia Psicopatológica
e os Comportamentos Aditivos

• Estudos nacionais mostram evidência empírica geral sobre as várias associações


(i.e.correlações e preditores) entre alexitimia, psicopatia e sintomatologia
psicopatológica e adição ao álcool e adição à internet.

• A alexitimia e a psicopatia (secundária) revelaram ser mediadoras da relação entre a


sintomatologia psicopatológica e a adição à internet, mas não da adição ao álcool.

• Especificamente, a psicopatia secundária mostrou-se mediadora da relação entre a


alexitimia e a adição à internet (Andrade, 2019).
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Terapia cognitiva das Adições

Definição DSM 5

Terapia cognitiva das adições


Andreia de Moura, Ph.D.
Perturbação de uso de substâncias (DSM-5)
1º Agrupamento de critérios:
Défice de controlo (1-4)
Critério 1 – O indivíduo pode tomar a substância em quantidades maiores ou por
um período superior ao originalmente pretendido
Critério 2 - O indivíduo pode manifestar um desejo persistente de reduzir ou
regular a utilização da substância e relatar múltiplos esforços , sem êxito, para
diminuir ou descontinuar a sua utilização
Critério 3 - O indivíduo pode dispensar uma grande quantidade de tempo na
obtenção e utilização da substância, ou a recuperar dos seus efeitos
Critério 4 - O craving manifesta-se por um desejo ou impulso intensos para o
consumo.
2º Agrupamento de critérios:
Disfunção social (5-7)
Critério 5 – A utilização recorrente de substâncias pode resultar numa
falência em cumprir obrigações funcionais importantes no trabalho,
na escola ou em casa
Critério 6 – O indivíduo pode manter a utilização de substâncias
apesar da existência de problemas sociais ou interpessoais
persistentes causados ou exacerbados pelos efeitos da substância
Critério 7 – Atividades sociais, ocupacionais ou recreativas
importantes podem ser abandonadas ou reduzidas por causa da
utilização da substância
3º Agrupamento de critérios:
Uso de risco da substância (8-9)
Critério 8 - Utilização recorrente da substância em situações em
que é fisicamente perigosa (ex: risco de overdose ou de coma
alcoólico)

Critério 9 – O indivíduo pode manter o uso de substâncias apesar


do conhecimento da existência de um problema físico ou
psicológico persistente ou recorrente que foi provavelmente
causado ou exacerbado pela substância (ex: perturbação
psicótica da personalidade; problemas hepáticos)
4º Agrupamento de critérios:
Farmacológicos
Critério 10 - A tolerância é assinalada pela necessidade de uma dose
vincadamente aumentada da substância para conseguir obter o
efeito desejado ou por um efeito marcadamente reduzido quando é
consumida a dose habitual
Critério 11 – A abstinência é uma síndrome que ocorre quando as
concentrações sanguíneas ou tecidulares de uma substância
diminuem num indivíduo que manteve um uso elevado e prolongado
da substância. Após o desenvolvimento de sintomas de abstinência,
o indivíduo irá provavelmente consumir a substância para aliviar os
sintomas
Severidade da Adição

• Ligeira: presença de 2-3 sintomas


• Moderada: presença de 5-4 sintomas
• Grave: presença de 6 ou mais sintomas
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Terapia cognitiva das Adições

Perspetiva do Paciente

Terapia cognitiva das adições


Andreia de Moura, Ph.D.
Dinâmica
1. Personagem Paciente: (redigir tudo)

A) Imagine que desenvolve uma dependência, seria qual? Química ou


comportamental?
B) Imagine que desenvolve uma adição? Como se define? Quais os seus objetivos
próximos? Consegue imaginar a sua vida há 12h atrás e nas 12h seguintes? E neste
momento, o que sente e pensa? Ressaca, necessidade, desespero?
C) O que será capaz de fazer e quais os seus limites? Qual é o limite para si?
D) Tendo por referência a sua personalidade, em terapia, vai ser honesto, admitir os
consumos, os crimes, as infrações, os problemas de saúde, os comportamentos de
risco?
Dinâmica

2. Pensando no seu personagem paciente (fictício: com as


suas condicionantes morais, religiosas e culturais, sociais,
familiares, de personalidade, de história e narrativa de vida),
identifique os critérios de diagnóstico e classifique a
severidade da sua adição.
Dinâmica

3. Partilha e Reflexão em Grupo


Troca de casos e Avaliação por pares
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Terapia cognitiva das Adições

Perspetiva do Terapeuta

Terapia cognitiva das adições


Andreia de Moura, Ph.D.
Terapias cognitivas: Aspetos gerais
• Ativa (participação ativa do paciente)
• Colaborativa (pode ser multidisciplinar; integrada em equipa)
• Muito estruturada e focalizada (não é terapia narrativa nem intervenção multinível; a
intervenção é direcionada diretamente ao paciente e focada nas crenças e cognições)
• Em larga medida, baseada em questões abertas (e.g. O que pensa quando isso
acontece?)
• Baseia-se no pressuposto geral segundo o qual o comportamento e a forma como o
indivíduo sente são determinados pelo modo como constrói as suas experiências (ou
seja, como pensa sobre as suas experiências).
• As perturbações psicológicas são caracterizadas por um pensamento disfuncional
que deriva de crenças disfuncionais
• Crenças (funcionais vs disfuncionais) são processos cognitivos estáveis que não são
facilmente modificáveis pela experiência

INSPSIC
Terapias Cognitivas VS. Entrevista Motivacional (Miller e
Rollnick, 1991)

• Assume que o indivíduo está motivado Vs Recorre a


princípios e estratégias para desencadear a motivação do
sujeito
• Procura identificar e modificar cognições disfuncionais Vs
Explora e reflete as perceções do cliente sem as procurar
caracterizar ou corrigir
• Promove a aprendizagem de competências Vs O cliente é
responsável pela escolha dos métodos de mudança

INSPSIC
Princípios da Entrevista Motivacional
1. Expressar Empatia

• A aceitação facilita a mudança


• A escuta reflexiva é fundamental
• A ambivalência é normal (ex: 2 lados da
moeda)

INSPSIC
2. Desenvolver discrepâncias
•Um conhecimento das consequências é
importante
•A discrepância entre o comportamento atual o
determinados objetivos de vida poderá motivar a
mudança
•O cliente deve apresentar autonomamente os
argumentos para mudar (i.e. Insight)
3. Evitar a argumentação e etiquetagem

•A argumentação é contraproducente
•A resistência é um indicador de que se devem mudar
as estratégias
•A etiquetagem é desnecessária e contraproducente
4. Diminuir a resistência ao tratamento

•As perceções podem ser alteradas


•Sugerem-se novas perspetivas
•O cliente é um recurso fundamental na
procura de soluções para os problemas
5. Reforçar a autoeficácia
•A crença na possibilidade de mudança é um
importante motivador
•O cliente é responsável por escolher e executar
estratégias específicas de mudança
•Transmite-se um sentimento de esperança em
relação às diferentes estratégias de mudança
propostas
Terapia Cognitiva das Adições
(Beck et al., 199; Wenzel et al., 2012)
Modelo de compreensão do comportamento aditivo

Fatores distais Variáveis cognitivas, comportamentais, emocionais e fisiológicas que


explicam o comportamento aditivo. Vulnerabilidades crónicas

Crenças, pensamentos automáticos, impulsos/desejos para consumir:


Fatores situacionais proximais atuam imediatamente antes, durante ou depois de um episódio que
conduz ao comportamento aditivo; variáveis que facilitam a
expressão do comportamento aditivo em resposta a um estímulo

Comportamento aditivo
Fatores distais Fatores proximais
• Sensibilidade a emoções e sentimentos •Situação estímulo imediatamente
desagradáveis
anterior ao craving;
• Deficiente motivação para controlar o
comportamento • Situação de frustração pessoal,
• Estratégias inadequadas de coping e de profissional, social
controlo do comportamento
•Crenças disfuncionais e aditivas
• Impulsividade
•Pensamentos automáticos
• Procura de excitação
• Baixa tolerância à frustração •Impulso para consumir
• Perspetivas em relação ao futuro diminuídas
(atenção centrada em estados emocionais
“aqui” e “agora”)
Desejo e impulso para consumir
(Beck et al., 1993)

• Desejo
de consumir (craving) – forte apetência para
consumir uma determinada substância (querer)
• Impulso para consumir (urge) – pressão interna ou
mobilização para agir/consumir (fazer)
• Os desejos e impulsos para consumir como respostas
automáticas e autónomas
• O fenómeno da compulsão nos comportamentos aditivos
A equação controlo/impulso para consumir
• Princípio do prazer (desejo de consumir)
•Princípio da realidade (controlo)
• Objetivo geral da intervenção:

• aumentar o poder de controlo e diminuir o poder do desejo (e.g.,


aumentar o poder subjetivo de controlo face ao poder subjetivo
dos impulsos para consumir)
Crenças Aditivas
• Definição – conjunto de ideias disfuncionais centradas na procura
de prazer, resolução de problemas, diminuição da ansiedade e
escape
• Importância das crenças: ajudam a formar expectativas as quais,
por sua vez moldam o impulso para consumir
• Crenças básicas (sou um fracasso, sou um incapaz, sou inferior...)
muito associadas a pensamentos automáticos
• Relação entre crenças básicas, (e.g., sou vulnerável), pensamentos
automáticos e crenças aditivas
Crenças Aditivas (Wright et al., 1993)
• Crenças antecipatórias: Antecipação de uma experiência positiva relacionada com o
comportamento aditivo. “Quando consumo drogas transformo-me num super-
homem”; “ Consumir drogas faz-me sentir melhor”

• Crenças centradas no alívio: Antecipação de uma redução de desconforto resultante


da prática do comportamento aditivo. “A vontade de consumir só irá desaparecer se eu
consumir”; “Beber faz-me sentir mais relaxado”; “Preciso de consumir para funcionar”

• Crenças facilitadoras ou permissivas: Cognições que funcionam como uma uma


permissão para o indivíduo se envolver no comportamento aditivo. “Mereço consumir;
“Sou um trabalhador esforçado”
Ativação das crenças em situações-estímulo
1. 2. 3.
Situação de alto- Crenças básicas Pensamento
risco interna ou relacionadas automático
externa com as drogas
ativadas
Ativação das crenças em situações-estímulo
4. 5. 6.
Impulsos/desej Crenças Centração em
os para facilitadoras estratégias
consumir instrumentais
Ideias disfuncionais associadas às crenças aditivas
• O consumo de drogas é importante no sentido de permitir atingir um certo
equilíbrio emocional
• A droga vai melhorar o funcionamento social e intelectual
• A droga vai proporcionar prazer e excitação
• A droga vai proporcionar mais energia e vitalidade
• A droga vai provocar um efeito de relaxamento
• A droga vai provocar um efeito de diminuição da depressão, tensão e
ansiedade
• O impulso para consumir continuará indefinidamente
Interação entre múltiplas crenças
Crença básica: “Não sou desejado”

Crença aditiva:“Não poderei integrar-me


se não consumir”

Desejo de consumir
Características do pensamento aditivo
Aspetos qualitativos
•Automático, não consciente
•Rígido
•Dicotómico, qualidade tudo ou nada
•Generalizado excessivamente e ilógico
•Não empírico e absolutista
Conteúdo comum dos temas
• Negação: o álcool ou as drogas não constituem um problema
• Baixa tolerância à frustração e ansiedade desconfortante (“Não posso suportar
as frustrações da minha vida”)
• Necessidades autodefinidas em termos de estimulação, gratificação ou
excitação (“Tenho necessidade de experimentar novas sensações; a vida é muito
monótona (padrão Procura de Excitação)
• Desânimo, desvalorização (e.g., “Sou muito fraco para controlar este problema;
não conheço ninguém que tenha conseguido”)
• Autocondenação (e.g., “sou um falhado”; “o que está mal comigo? por que
razão não consigo mudar?)
Importância da Baixa Tolerância à Frustração
•As crenças irracionais que conduzem a uma baixa tolerância à
frustração estão particularmente presentes nas perturbações
aditivas (e.g., “não sou suficientemente forte, tenho de consumir”)
•Stress sintomático ou perturbação emocional secundária – refere-se
ao facto do cliente se lamentar acerca do seu problema (o sintoma
original torna-se num acontecimento ativador)
•Ansiedade desconfortante (Ellis, 1978)- envolve uma intolerância do
indivíduo relativamente a sentimentos penosos e a exigência
implícita de que não se devem experienciar tais sentimentos (as
emoções negativas têm de ser evitadas a todo o custo)
Terapia Cognitica

Intervenção terapêutica
Relação terapêutica positiva
•Desenvolver confiança
•Familiarizar o cliente com o modelo cognitivo
•Estabelecer limites
•Proteger a confidencialidade
•Manter uma postura de colaboração
•Apelar à autoestima positiva do cliente
Considerações gerais sobre a intervenção
•Estabelecer uma relação colaborante
•Evitar generalizações
•Identificar problemas-chave
•Uma orientação de autoajuda
•Criar expectativas positivas e impor limites
•História do abuso de drogas
•Avaliação cognitiva
•Estabelecer objetivos terapêuticos
Formulação do caso
1. Dados relevantes sobre a infância
2. Problemas de vida atuais
3. Crenças básicas disfuncionais
4. Assunção/crenças/regras condicionais
5. Estratégias compensatórias
6. Situações vulneráveis
7. Pensamentos automáticos e crenças
8. Emoções
9. Comportamentos
10. Integração da informação anterior
Formulação do caso
1. Dados relevantes sobre a infância: experiências ocorridas na
infância que terão contribuído para o desenvolvimento e
manutenção de crenças básicas disfuncionais
2. Problemas de vida atuais: compreende o vasto espetro de
dificuldades experienciadas pelo indivíduo como problemas
de saúde, legais, de habitação, etc. Uma terapia com
consumidores de drogas estará incompleta se não abordar os
diferentes tipos de problemas de vida do indivíduo
Formulação do caso
3. Crenças básicas disfuncionais: i.e., crenças centrais acerca do
modo como o indivíduo se vê a si próprio e que se agrupam
em duas categorias fundamentais: acreditar que ninguém
gosta de si ou que é incapaz/incompetente
4. Assunção/crenças/regras condicionais: ajuda o cliente a lidar
com as suas crenças básicas. Uma assunção condicional positiva
poderia ser a seguinte:” Se eu fizer tudo bem, serei desejado e
aceite pelos outros”
Formulação do caso
5. Estratégias compensatórias: são os comportamentos que ajudam
o indivíduo a lidar com as suas crenças básicas. Estas estratégias são
muitas vezes compulsivas, inflexíveis e inapropriadas (uma
estratégia compensatória típica em consumidores consiste em usar
drogas para ter mais confiança em si próprio)
6. Situações vulneráveis: circunstâncias problemáticas onde são
ativadas as crenças básicas e as crenças relacionadas com as drogas
(por exemplo a situação em que um consumidor que está
abstinente regressa ao local onde costumava adquirir a droga)
Formulação do caso
7. Pensamentos automáticos: formam-se a partir da ativação de
crenças básicas, crenças condicionais e crenças relacionadas
com drogas (exemplos de pensamentos automáticos: “Não
consigo resistir ao desejo de consumir”; “só uma vez não vai
fazer mal”)
8. Emoções: estão habitualmente associadas a determinados
pensamentos automáticos ou crenças. Através da terapia, o
indivíduo pode ser instruído no sentido de estar mais atento
em relação ao processo de pensamento que está associado à
sua vida emocional
Formulação do caso
9. Comportamentos: representam os produtos finais das situações
vulneráveis e da ativação de crenças, pensamentos automáticos e
emoções. Os comportamentos disfuncionais mais frequentes
incluem procurar ativamente obter drogas, usar drogas, envolver-
se em atividades de risco, etc.
10. Integração: O terapeuta procura juntar todas as peças de modo
a construir a “história da vida do paciente”. Esse exercício permite
elaborar explicações plausíveis para as dificuldades do indivíduo e
recomendações em termos do tratamento
Objetivos da intervenção terapêutica
• Reduzir a intensidade e frequência dos desejos de consumir através
da análise das crenças subjacentes
• Ensinar ao cliente técnicas específicas para lidar com os impulsos
para consumir
• Examinar, avaliar e testar as crenças (antecipatórias, centradas no
alívio, permissivas) no sentido de substituí-las por crenças de
controlo
• Ajudar a combater a depressão e ansiedade associadas ao uso de
drogas
Estrutura da sessão terapêutica
1. Proceder a uma avaliação emocional
• Avaliar a depressão, ansiedade e o desânimo pode
ser útil na medida em que estes e outros estados
emocionais podem contribuir para a manutenção
do consumo ou para recaídas
2. Fazer a ponte com a sessão anterior
•É importante para manter um fio condutor ao longo das
várias sessões.
•Importa perguntar ao cliente se ficou alguma questão por
concluir na sessão anterior e obter o feed-back do cliente
sobre a sessão anterior
• Promove um sentido de coerência, de organização (área
muitas vezes lacunar nestas problemáticas)
3. Examinar os assuntos para a sessão do dia

•É importante estabelecer prioridades em relação à


lista de assuntos a tratar
•Permite ainda alertar o cliente para o risco de se
discutirem temas irrelevantes
4. Questionamento Socrático
•Incentiva o cliente a contemplar, avaliar e sintetizar diferentes fontes de informação
•O objetivo do método ou questionamento Socrático é o de ajudar o cliente a pensar de
forma racional e independente, devendo ser utilizado desde o início do tratamento
•As questões devem ser formuladas por forma a ajudar o indivíduo a examinar o seu
pensamento, a refletir sobre conclusões erradas e, por vezes, a conceber melhores
soluções para os problemas
•O questionamento socrático favorece o estabelecimento de uma atmosfera não avaliativa,
facilitando assim a colaboração entre cliente e terapeuta
•Embora seja importante formular questões abertas para explorar os problemas do cliente,
convirá também utilizar técnicas como a reflexão, clarificação e o fornecimento de
informação
5. Elaborar sumários
•Representa uma parte importante do processo de aprendizagem nas
sessões terapêuticas
•Como regra geral, deve-se sumariar o que foi discutido numa sessão
pelo menos três vezes
•A primeira sumarização ocorre após ter sido definida a agenda da
sessão, a segunda a meio da sessão e a terceira próxima da
conclusão da sessão
6. Trabalhos para casa
•Devem ser definidos no quadro de um colaboração entre cliente e
o terapeuta no sentido de assegurar que o cliente continua a
trabalhar nos seus problemas.
•Os clientes devem ser encorajados a percecionar os trabalhos para
casa como uma componente essencial do tratamento.
• O trabalho para casa é mais eficaz quando representa uma
extensão lógica da sessão
Técnicas da Terapia Cognitiva
Centração nas crenças
Avaliar as crenças
• O que pensa acerca do consumo de _____?

• O que estava a pensar quando consumiu ____?

• Como explica o consumo de _____?

• Como interpreta o consumo de _____?

• O que significa para si o consumo de ____?


Orientar o cliente para o modelo da terapia cognitiva

• Deve ser feito na fase inicial da terapia


• Implica modificar as crenças acerca do seu comportamento aditivo de
uma orientação externalizada (e.g., não tenho controle) para uma
orientação internalizada (e.g., sou responsável pelos meus consumos de
droga)
• São definidos conceitos chave como o de crenças aditivas, pensamentos
automáticos, crenças de controlo, situações-estímulo, desejo de
consumir, lapso e recaída
• Posteriormente, explica-se a interrelação entre estes fenómenos, dando
especial ênfase ao papel das crenças no processo aditivo
Examinar e testar crenças aditivas
• As crenças aditivas desenvolvem-se durante um período longo de tempo o que
faz com que sejam extremamente resistentes à mudança
• O consumidor recolhe dados que dão suporte a essas crenças (e.g., a cocaína
intensifica a minha capacidade de trabalhar e a minha criatividade)
• Examinar as crenças aditivas implica colocar questões suscetíveis de testar a
validade das crenças aditivas
• Exemplos:
• Em que é que se baseia para pensar assim?
• Onde aprendeu isso?
• Em que medida está seguro disso?
• Factualmente, isso acontece sempre assim? As consequências e efeitos do consumo são
sempre e apenas positivos?
Desenvolver crenças de controlo
• O método Socrático fornece uma estratégia para o sujeito examinar
as suas crenças disfuncionais e substitui-las por crenças alternativas
mais construtivas
• Trata-se de ajudar o paciente a examinar as suas crenças no sentido
de substituir as suas crenças aditivas por crenças de controlo
• Exemplos de questões:
• O que aconteceria se não estivessem disponíveis as drogas?
• Que desvantagens encontra em consumir drogas?
• Como poderia atingir o mesmo objetivo sem consumir drogas?
• Como poderia evitar essas consequências e efeitos negativos?
Análise das vantagens/desvantagens
• Através desta técnica, o paciente é incentivado a efetuar uma
listagem e uma reavaliação das vantagens e desvantagens de usar
drogas
• Utiliza-se uma matriz com quatro células, solicitando-se ao sujeito
que preencha cada célula com as consequências de consumir
versus não consumir
• Se a análise for bem sucedida, o paciente deverá adquirir uma
perspetiva mais rigorosa e objetiva do consumo de drogas
Análise das vantagens/desvantagens
Deixar de fumar Não deixar de fumar
- Respirar melhor -Redução do stress
- Poupar dinheiro
Vantagens - Ter uma vida mais saudável - Evitar os sintomas de abstinência

- Sintomas de abstinência Risco de morrer devido ao consumo de


Desvantagens
- Não ser capaz de lidar com o stress tabaco
Dinâmica

4. Realize o quadro de vantagens e desvantagens tendo por


referência o personagem paciente.
Técnica da “flecha descendente”
• Técnica particularmente adequada para examinar os pensamentos tudo ou
nada (catastrofistas) relacionados com o consumo de drogas mas também os
pensamentos acerca do próprio, da sua vida e do seu futuro (tríade cognitiva;
Beck, 1976)
• Ajuda a reavaliar e modificar pensamentos catastrofistas e a identificar
distorções cognitivas
• Exemplos:
• “A minha vida está a desintegrar-se”
• “Não faço nada direito”
• “Ninguém quer saber de mim”
• “Estou totalmente descontrolado”
Ilustração da técnica “flecha descendente”
Pensamento automático: Tenho de consumir drogas
nesta festa com colegas de trabalho

Não seria divertido

As pessoas não gostariam de mim

A minha atividade profissional seria prejudicada

Crença subjacente: Poderia perder tudo


Reatribuição da responsabilidade
• Os consumidores de drogas atribuem frequentemente o uso de
drogas a fatores extrínsecos
• O terapeuta pode ajudar o indivíduo a reatribuir a responsabilidade
pelo consumo de drogas a si próprio por forma a que o cliente possa
tomar a iniciativa de modificar os seus comportamentos
• A reatribuição da responsabilidade envolve uma hábil utilização do
método Socrático por forma a que o indivíduo não considere que o
terapeuta está a avaliá-lo ou a acusá-lo
Registo diário de pensamentos

• Estratégia que se tem revelado útil no tratamento da depressão e


ansiedade
• Inclui uma descrição centrada em cinco áreas fundamentais:
1. Situação (acontecimento ou pensamentos que deram origem a
uma emoção negativa, sensações físicas dolorosas)
2. Pensamentos automáticos (escrever o(s) pensamento(s)
automáticos que precederam a(s) emoções)
3. Emoções (especificar a emoção: tristeza, ansiedade, raiva...)
4. Resposta emocional (especificar a resposta racional aos
pensamentos automáticos)
5. Resultado
5. Tendo por referência o personagem paciente, realize a
técnica: Registo de Pensamentos

Antes:
Situação negativa
Pensamentos automáticos
Resposta emocional
Comportamento
Resultado obtido/Conclusão
5. Técnica: Registo de pensamentos
Depois:
Situação negativa
Pensamentos alternativo/racional/positivo/factual
Resposta emocional
Comportamento
Resultado obtido/Conclusão
Como? Examinar e questionar crenças:
Em que é que se baseia para pensar assim?
Onde aprendeu isso?
Em que medida está seguro disso?

Desenvolver crenças de controlo:


O que aconteceria se perdesse o emprego?
Que vantagens e desvantagens encontro nesta situação?
Como poderia atingir o meu objetivo sem recorrer a respostas reativas?
5. Exemplo: Registo de pensamentos
Situação negativa: “fui criticada pela minha chefe de forma severa”
Pensamentos: “Eu não sou boa o suficiente, sou inferior aos outros no meu
trabalho”
Resposta emocional: “medo, angústia e raiva”
Comportamento: “desligar o telemóvel; responder reativa e agressivamente”
Resultado obtido/Conclusão: “piora situação laboral que por sua vez, reforça
a crença de não ser suficientemente bom e de ser inferior aos colegas”
5. Exemplo: Registo de pensamentos
Situação negativa: “fui criticada pela minha chefe de forma severa”
Pensamentos: “A minha chefe não ouviu a minha perspetiva ainda, está
irritada, está zangada porque o trabalho não decorre como ela gostaria”
Resposta emocional: “tristeza, mas maior calma, tranquilidade”
Comportamento: “ligar quando a chefe estiver mais calma e mostrar a minha
perspetiva; responder calma e assertivamente”
Resultado obtido/Conclusão: “mesmo que esta situação tenha acontecido,
com base na nossa conversa, vou puder melhorar o meu trabalho; posso fazer
de forma diferente e comunicar à minha chefe a minha perspetiva antes de
realizar uma tarefa importante”
“Flecha descendente”
Pensamento automático: “sou incapaz e sou inferior”

Não estou a fazer um bom trabalho

A minha chefe não gosta de mim

A minha carreira vai ser prejudicada

Crença catastrófica: Vou perder a minha carreira


Vou perder tudo
“Flecha descendente”

Pensamento alternativo: “A minha chefe ainda não me


ouviu””
A minha chefe vai compreender melhor quando
ouvir a minha perspetiva
A minha chefe não vai colocar em causa o meu
trabalho se compreender os meus motivos

A minha carreira não será prejudicada por isto

Crença subjacente: Crença de controle (Não vou perder


o meu emprego por isto)
6. Tendo por referência o personagem paciente,
realize a técnica: “Flecha Descendente”
Intervenção ao nível dos
desejos/impulsos para consumir
Compreensão da experiência do cliente através da
identificação de pensamentos automáticos
• Trata-se de induzir o desejo de consumir identificando
pensamentos automáticos associados a essa experiência
• Essa indução pode ser desencadeada através de técnicas como a
imagerie ou pedindo simplesmente ao indivíduo que descreva a
última vez que consumir drogas
• Solicita-se ao indivíduo que forneça o maior número de detalhes
por forma a que a descrição seja o mais vivida possível,
permitindo, assim, aceder às cognições que acompanham o
desejo de consumir
Exemplo
“J. quero que pense na última vez que consumiu cocaína.
Agora quero que pense nos acontecimentos que o
levaram a consumir. Gostava que procurasse imaginar
esses acontecimentos, descrevendo o local, a sequência
de acontecimentos e o que sentiu. Quando sentir que
está a ter desejo de consumir, indique isso, levantando
um braço. Descreva o que está sentir e que pensamentos
está a ter”.
Técnicas visando a redução do desejo de
consumir

• Distração
• Respostas racionais aos pensamento
automáticos relacionados com o desejo de
consumir
Exercício 4: Estudo de caso
Tendo por base a definição do personagem “paciente” e
personagem “terapeuta”, realize:

A) A formulação de Caso
B) A proposta de intervenção com base em técnicas da Terapia
Cognitiva
C) Sessão de role play
INSTITUTO PORTUGUÊS DE PSICOLOGIA e outras CIÊNCIAS

Obrigada pela vossa atenção!

Terapia cognitiva das adições


Andreia de Moura, Ph.D.

E-mail: andreia.moura@ulp.pt

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