Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Direito Internacional
O Direito Internacional é um direito dinâmico e evolutivo, visto que à medida que o
conceito de Estado evolui, o Direito Internacional acompanha essa evolução. Desta
forma, o conceito de Direito Internacional pode ser dado através de três critérios:
Critério dos Sujeitos: o Direito Internacional regulava as relações entre Estados.
Este critério deixou de fazer sentido desde o final do século XIX, pois surgiram outros
sujeitos. Assim, este critério não é suficiente para definir Direito Internacional.
Critério do Objeto das Normas: segundo este critério, que seria simplista, a Ordem
seria Interna e o Direito Internacional regularia situações que transcendem as fronteiras
internacionais. Não é por si só um critério suficiente pois é cada vez mais difícil definir
o domínio reservado do Estado.
Critério da Forma de Produção das Normas: é um critério de natureza formal.
Enquanto na Ordem Interna encontra-se legisladores definidos, no Direito Internacional
não e nem as regras tem as mesmas características.
Costume Internacional
Fonte mais antiga e mais importante. Forma espontânea de criação de Direito. Divide-se
em razão do seu alcance e vincula toda a comunidade. Pode ser:
Local: surge entre dois Estados normalmente “vizinhos”.
Regional: surge numa determinada região do globo. Por exemplo: Regime Patriota da
América Latina.
Geral: fruto da intensidade da sua prática que se torna obrigatória para todos os sujeitos
de Direito Internacional, mesmo aqueles que não participaram na sua formação. Por
exemplo: a convenção de Viena.
Convenção de Viena
Conjunto de regras jurídicas que fase á sua frequente e generalizada utilização foi
compilada e reduzida a escrito em 1969. As regras costumeiras foram acrescentadas
outras inovadas, como é o exemplo o art.8º, 53º, 64º. Só vincula os Estados que
ratificaram o tratado. Os artigos que não são inovadores vinculam toda a comunidade
internacional na medida em que são costume. O Costume tem dois elementos:
Elemento material: se não for acompanhado pelo psicológico não da lugar à
formação de um costume/ regra jurídica mas a um uso/ hábito. Corresponde a uma
prática reiterada (repete-se), uniforme (repete-se no mesmo sentido, não é
contraditório) e constante (prolonga-se por um período de tempo considerável).
Cinco, dez ou cem anos porque o importante quanto à duração do tempo é que ao
longo dos tempos os Estados tenham adotado importantes uniformes em relação a
determinada matéria ou situação sempre que para isso tiverem oportunidade.
Vestígio dessa pratica esta nos atos do chefe de Estado/ Governo; atos do Ministério
dos Negócios Estrangeiros. Nas leis/ decretos do Governo e Assembleia da
República, Decisões dos Tribunais Nacionais e Internacionais, Decisões das
Organizações Internacionais de que os Estados fazem parte. Doutrinas que estudam e
se refere às práticas adotadas entre Estados.
Elemento psicológico: “Opinio Iuris” convicção da obrigatoriedade.
Conceito de Tratado
Acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito
Internacional (artigo 2º - CV).
A Convenção de Viena aplica-se a acórdãos entre Estados. Existe outra Convenção que
celebra entre Estados e Organizações Internacionais e entre Organizações Internacionais
com outras Organizações Internacionais. É irrelevante a designação atribuída a outras
convenções internacionais.
o Tratados: apenas celebrados entre dois Estados, com natureza económica que
preveem uma prestação para uma das partes e a respetiva contraprestação para a
outra. Extinguem-se no momento do comprimento das prestações.
o Contratos de Tratados Normativos ou Tratados Lei: estabelecem o regime
jurídico de determinado assunto, que terá de ser cumprida de igual forma por todas
as partes.
o Tratado Constituição: regra geral são tratados constitutivos de uma
Organização Internacional. Tem regime específico relativamente a determinadas
questões (artigo 20º, nº3).
2)Quanto à forma
A CRP refere Convenções Internacionais e distingue acordo em forma
simplificada de tratado solene (considera-se tratado solene quando existe
ratificação).
Nos acordos entre Estados, o consentimento tem de ser expresso de forma livre e
voluntária caso contrário será nulo. Esse consentimento há-de ser expresso no decurso
do processo de conclusão de uma convenção que obedece a várias fases:
Negociação
Elaborar o texto da Convenção e nesta fase os Estados têm de se fazer representar. O
texto da convenção é composto por três partes:
o Preâmbulo: são identificadas as partes da Convenção; as razões que levaram à
celebração daquela Convenção e o que se pretende com a Convenção.
o Dispositivo ou Articulado: estabelece os diferentes artigos que compões a
convenção.
o Anexo: anexos que têm valor jurídico nas que vêm com valor à parte.
Os Estados têm de se fazer representar? Quem são os seus representantes? Aqueles
que vêm no artigo 7º da Convenção de Viena. Existe dois mandatos: no número 1
temos o mandato Específico, por regra, os representantes dos Estados têm para se
identificar, exibir uma carta de plenos poderes (significa que é uma credencial em
que se identifica o representante, a Convenção em que está a intervir e os poderes
específicos que lhe são atribuídos) – Carta de Plenos Poderes: PLENI
POTENCIÁRIOS (pessoas que tem a carta). No número 2 temos o mandato
Funcional, a capacidade para concluir a convenção é inerente às funções
desempenhadas por determinados indivíduos (chefes de Estados, de Governo, de
Ministros de Negócios Estrangeiros, chefes das Missões Diplomáticas, etc). É
genérica logo o nosso PR não tem competência para negociar uma Convenção
Internacional. Quem tem essa competência é o Governo e em particular o 1º Ministro
(197º, 1, b – CRP).
A adoção do texto tem de ser feita pelas partes participantes (artigo 9º), assim:
Nº 1: Convenções Bilaterais e Multilaterais Restritas: via diplomacia tradicional, isto
é, unanimidade (é preciso o consentimento de todos os Estados).
Nº 2: Convenções Multilaterais Gerais: via uma conferência internacional. Para o
texto ser adotado basta reunir 1/3 dos Estados presentes e votados, pois ainda não
existe uma vinculação. Só partir desta fase é que os Estados se podem vincular. Não
é importante que todos participem na adoção, pois o tratado pode não vir a existir.
Autenticação
O texto da convenção corresponde à vontade das partes. A partir daqui a negociação
terminou e não se pode alterar mais o texto.
Entrada em Vigor
Os Estados já se vincularam, já assinaram e já fizeram as trocas de vinculações.
Tendo os Estados noção das vinculações é necessário saber sobre a entrada em vigor das
convenções (artigo 24º). Entra, por regra, em vigor na data prevista ou nas condições
nela assinadas, senão entra em vigor de acordo com certas disposições (aplicação
provisória – artigo 25º). Sobre a entrada em vigor – artigo 84º.
Registo e Publicação
(artigo 80º CV/ artigo 102º, nº2 CNU). Qualquer convenção tem de ser registrada e
publicada perante o Secretário das Nações Unidas sob pena do tratado ser inoponível
perante terceiros, isto é, não pode ser invocado e sendo considerado um Tratado
Secreto. Caso exista algum problema, os Estados do Tratado não podem reivindicar os
seus Direitos ao Tribunal, pois é como se não existisse.
Reservas
Conceito de reserva
Uma reserva é uma declaração unilateral, feita por um Estado quando assina, ratifica,
aceita ou aprova um tratado ou a ele adere, pela qual visa modificar o efeito jurídico de
certas disposições do tratado (artigo 2º, d). A nível formal: a reserva deve ser feita no
momento em que o Estado se vincula qualquer que seja a forma de vinculação (artigo
19º) e deve ser feita por escrito inserida em instrumento diplomático e notificada às
mais partes (artigo 23º).
Convenções Internacionais
Bilaterais
Multilaterais
o Reserva
o Negociação (9º/2)
o Adesão (15º)
o Depósito (14º- 76º e 77º)
De acordo com o artigo 20º, as multilaterais podem ser restritas (20º/2) ou multilaterais
gerais (20º/4). Nas restritas, a reserva tem de ser aceite por unanimidade (basta uma
rejeição para a reserva não ser aceite). Nas gerais, basta que um aceite para ter a reserva.
Negociação (197º/b)
Negociar e ajustar (assinatura). O Governo tem uma competência genérica (Ministério
dos Negócios Jurídicos). Decreto-Lei 48/94 de 24/2 – artigo 2º/c e Resolução 17/88 de
11/5.
Mas, ainda existe outro órgão competente: o Presidente da República que tem uma
participação que varia de acordo com a forma de convenção. Assim:
Nos acordos simplificados, o PR assina os atos internos de aprovação (resolução e
decreto) – (134º/ b). Se o pretender, o PR pode requerer a Fiscalização Preventiva da
Constitucionalidade nesse momento (134º/ g) e (278º/1).
Nos tratados solenes, o processo é mais complexo. Implica ratificação pelo PR que é
feita através de um decreto presidencial (135º/b). A ratificação é um ato de natureza
politica in discricionária e in sindicável. O PR não é obrigado a ratificar uma convenção
a qual não concorda. Só a partir do momento da ratificação é que Portugal se considera
vinculado a um Tratado Solene/ Organização Internacional.
No processo de vinculação do Estado Português não se fala de promulgação nem veto.
Também no Direito Internacional, o que prevalece nas relações internacionais é a
vontade dos Estados.
A convenção de Viena sobre direitos de tratados estabelece o Regime Supletivo que
será aplicado na ausência de acordo da parte, na ausência de convenção entre as partes
ou aquando o acordado não é lícito, ou seja, quando atenta as regras fundamentais do
Direito Internacional (artigo 53º).
Artigo 26º e seguintes significam que os tratados devem ser respeitados de boa-fé
Artigo 27º o estado não pode invocar o direito interno para não cumprir o tratado
Artigo 28º os tratados não têm aplicação retroativa
Artigo 30º Tratados sucessivos, quando se sucedem no tempo dois tratados sobre a
mesma matéria ou coincidentes e em que pelo menos uma parte do 1º tratado é também
parte do 2º tratado, por exemplo A e B são partes do 1º tratado sobre amizade, B e C são
partes do 2º tratado sobre amizade, o Estado B é parte nos dois. Neste mesmo artigo no
nº5 a parte do 1º ou do 2º tratado que vê o seu artigo tratado pode recorrer ao artigo 60º
para por termo ao mesmo e pedir uma indemnização de responsabilidade internacional.
A convenção que deve ser respeitada é a 1ª, apesar de não estar previsto na lei (art.26º
mais o artigo 59º a ao contrário (este artigo prevê uma revogação tácita).
Artigo 31º faz-se tendo em conta vários elementos: elemento literal (texto do tratado),
elemento teleológico (tendo em conta o seu objeto e fim, art.31º\1), elemento histórico
(contexto com as circunstâncias em que a convenção foi celebrada e, em caso de dúvida
devem ser analisados os trabalhos preparatórios.
Regularidade do consentimento
O consentimento de um Estado a vincular-se a um tratado deve ser prestado de forma
livre e voluntária. Quando tal não acontece estamos perante uma irregularidade do
consentimento ou vício do consentimento. Quando o consentimento está viciado a
consequência é a nulidade. Distinguimos irregularidades formais de irregularidades
materiais, e quanto às consequências distinguimos nulidades relativas de nulidades
absolutas.
Artigo 46º: Ratificação Imperfeita (277º, nº2): a existência de vícios quanto à
competência no processo de vinculação nos Estados, não pode ser invocada a
menos que se trate de uma violação de regras fundamentais – estão em causa
vícios materiais.
Artigo 48º: situação de Erro quando o próprio Estado se engana. Abrange erro
de facto e de direito. Não se aplica ao chamado erro grosseiro, nem aos
chamados erros de escrito (resolvem-se através do 79º da CV).
Artigo 49º: Dolo: no erro é o próprio Estado que se engana. No dolo, o Estado é
enganado ou induzido em erro pela atitude fraudulenta de outro Estado.
Quanto à coação sobre o próprio Estado: o artigo 52º prevê a coação militar de um
Estado sobre outro. Tal como no artigo 51º é relevante para efeitos do 52º não só a
coação, como a ameaça de coação militar.
O artigo 52º vem no fundo concretizar o princípio que consta da Carta das Nações
Unidas (artigo 2º, nº4 – principio da proibição do uso da força nas relações entre
Estados). As nações Unidas já adotaram uma resolução em que equipararam a equação
militar, politica e económica.
Licitude do objeto
O objeto de uma convenção internacional é considerado lícito quando está em
conformidade com as regras de Ius Cogem. A CV prevê duas causas de nulidade a este
respeito:
1) Artigo 53º: proíbe a conclusão de uma convenção que viola regra de Ius Cogem já
existentes.
2) Artigo 64º: quando uma convenção é celebrada e posteriori. Surge uma regra de Ius
Cogens que a contraria, a convenção torna-se nula.
A diferença entre o artigo 53º e 64º é que a nulidade do 53º tem efeitos retroativos
(artigo 71º, nº1). No artigo 64º a nulidade tem efeitos prospetivos. Por ter efeitos
prospetivos, é que o artigo 64º é considerada uma causa da cessação de vigência da
convenção, enquanto o artigo 53º é considerado uma causa de nulidade pura.
Vida do Tratado
Vigência do Tratado
Rutura das relações diplomáticas: artigo 63º: a rutura das relações diplomáticas
não produz efeitos nas relações entre Estados no que diz respeito ao cumprimento de
convenções internacionais a menos que a existência dessas relações seja essencial para
o cumprimento da convenção internacional.
Protesto
Ato que se opõe ao reconhecimento, um Estado constata a existência de determinado
facto ou situação e declara que não o considera conforme ao direito.
Promessa
Ato pelo qual um Estado se compromete perante outro a adotar um determinado
comportamento a que é atribuído efeito jurídico. Só são relevantes enquanto fonte de
direito os atos jurídicos que sejam autónomos/ independentes de outras fontes. Tem de
respeitar o Princípio da boa-fé senão haverá responsabilidade internacional.
Notificação
Ato através do qual um Estado leva ao conhecimento de outro determinado facto a que
atribui efeitos jurídicos. Não são notificação: art. 23º e 67º/1. Por exemplo, declaração
de guerra e rutura de relações diplomáticas.
Renúncia
Ato extintivo do direito do seu autor. É utilizada para direitos e não deveres.
Sujeito de Direito Internacional
Estados semi-soberanos
Estados exíguos: devido à sua diminuta área territorial e pouca população transferem
para estados com fronteiras comuns algumas das suas competências internacionais, por
exemplo: ius legationis e belli.
Estados membros de confederação.
Estados neutralizados.
Parte Prática
Caso Prático 1
A _ B _ C _ D (+ 150 Estados)
A apõe uma reserva à cláusula 15ª, B não se pronuncia, C objeta, D objeta
declarando que considera que aquela reserva põe em causa a vigência da
Convenção.
Tem-se que analisar a relação entre:
A _ B (21º, a e b): o tratado vigora mas A não cumpre o 15º (por causa da reserva e
como B não falou nada, significa que houve uma aceitação tácita (20º/5).
A_ C (21º, 3): o tratado vigora mas nem A nem C cumprem 15º (reciprocidade).
A_ D (21, 3): ao contrário, o tratado não vigora entre A e D.
B _ C _ D _ (+150 Estados) (21º, 2): tratado vigora na íntegra.
No fundo, a Reserva funciona mais nas Multilaterais Gerais. E permite, que através do
Instituto das Reservas, os Estados possam escolher cláusulas que os forneçam. Não
podem colocar em causa o fim e o objeto do tratado (Condição de Validade). A reserva
não pode violar uma lei de Ius Cogem (53º e 54º - Convenção de Viana.
Caso Prático 2
Os Presidentes da República dos Estados A, B e C celebraram entre si uma
convenção com vista a fixar um programa de desarmamento nuclear. A convenção
foi assinada por todos e ratificada, e mais tarde entra em vigor.
No momento da ratificação, o Estado A apôs uma Reserva ressalvando a
possibilidade de usar armas nucleares em casa de legítima defesa. O B objetou a
referida reserva. Quid Iuris?
Está aqui presente uma Reserva Multilateral Restrita. São negociadas em reuniões
diplomáticas pela chamada via diplomática tradicional (artigo 9º, nº2 – CV).
Objeto da Convenção: desarmamento nuclear. Nota: se Portugal fosse parte da
convenção seria um tratado solene (artigo 161º, i), parte 1ª).
O que é uma reserva: quando um dos Estados não quer cumprir um artigo (definição no
artigo 2º, d) – CV).
Condições de validade formal: (artigo 19º) no momento de ratificação.
A reserva tinha de ser aceite por unanimidade (artigo 20º, nº2) pois é uma Convenção
Multilateral Restrita.
Prazo para a objeção (12 meses a contar do momento da reserva) – artigo 20º, nº5.
Havendo objeção que pode A fazer? Ou se vincula ao tratado na integra ou não pode
participar na Convenção.
Caso Prático 3
O Presidente da República Português numa viagem oficial ao Brasil negociou
juntamente com outros Estados da América Latina uma convenção Internacional
com vista à circulação entre Estados de Turistas.
No momento da vinculação, a Colômbia apôs uma reserva a uma das cláusulas da
convenção salvaguardando a possibilidade de restringir a circulação de pessoas
por razões de segurança nacional. A generalidade dos Estados não levantou
qualquer objeção com exceção da Argentina que considerando que, na América do
Sul a segurança nacional era uma preocupação constante, objetou a referida
reserva por entender que esta prejudicava a vigência da Convenção.
No momento em que comunicou a sua objeção declarou ainda que considerava
desnecessário o registro e publicação da mesma. Quid Iuris?
Trata-se de uma convenção multilateral restrita, um acordo em forma simplificada, ou
seja, um tratado normativo. O Presidente da República (artigo 7º, nº2/ a) seria
plenipotenciário no exercício do mandato funcional. De acordo com a CRP seria um
vício, mas de acordo com a Convenção de Viena não.
Uma reserva é uma declaração unilateral, feita por um Estado quando assina, ratifica,
aceita ou aprova um tratado ou a ele adere, pela qual visa modificar o efeito jurídico de
certas disposições do tratado (artigo 2º, d). A nível formal: a reserva deve ser feita no
momento em que o Estado se vincula qualquer que seja a forma de vinculação (artigo
19º) e deve ser feita por escrito inserida em instrumento diplomático e notificada às
mais partes (artigo 23º). Quanto ao nível material (artigo 19º, a/b/c).
Para a aceitação da reserva seria necessário unanimidade entre os Estados, isto é, não
podia haver uma única objeção (artigo 20º, nº2) pelo que, a Colômbia ou aceitava o
Tratado na sua totalidade ou não fazia parte. Assim, fazia parte do Tratado sem a
Reserva. Resta saber se a Argentina objetou dentro do prazo (artigo 25º). Ela teria 12
meses para objetar.
O não registro e publicação não afeta o tratado mas este não produzirá efeitos perante
terceiros (artigo 80º CV, artigo 102º, nº2 CNU).
Caso Prático 4
Grande parte dos Estados da comunidade internacional celebraram uma
convenção com vista à regularidade das trocas comerciais. No momento da
vinculação o Estado A apôs uma reserva salvaguardando a possibilidade de
restringir as referidas trocas por razões de saúde pública. A generalidade dos
Estados não se pronunciou, o Estado B objetou 2 meses após, o Estado C objetou
declarando que considerava que uma reserva dessa natureza inviabilizava a
vigência da convenção internacional e o Estado D acabou por objetar dois anos
depois.
Trata-se de uma convenção multilateral geral – basta que um Estado aceite (artigo 20º,
nº4), portanto, como a generalidade dos Estados não se pronunciou, a reserva foi aceite.
Em relação ao Estado A e os que aceitaram a reserva aplica-se o artigo 20º, nº1. Entre o
Estado A e B tem-se o princípio da reciprocidade (artigo 21º, nº3). Entre A e C não
vigora a convenção (21º, nº3). Já a objeção do Estado D não é válida – aceitação tácita.
A relação entre B, C e D vigora o tratado na íntegra (21º, nº2).
Caso Prático 5
Vários Estados da América do Sul celebraram entre si uma convenção sobre asilo
político. Depois de adotada por 75% dos Estados que participaram na negociação
a Convenção foi devidamente aprovada e ratificada.
Dois dos Estados apresentaram reservas. A essas reservas, um Estado objetou nos
6 meses seguintes e outro 15 meses depois.
Trata-se de uma convenção Multilateral Restrita, sob forma de Tratado solene porque
foi ratificado, portanto, é um Tratado Normativo. A negociação é feita por conferência
internacional (artigo 9º, nº2). Tem de ter 2/3 de adoção, ou seja, 66,6% pelo que a
Convenção foi bem adotada.
A adoção de um texto está definitiva, não pode mais ser alterado. Assim, cria para os
Estados o direito de se vincularem.
Quanto à validade formal das reservas: artigo 19º e 23º e quanto à validade material:
artigo 19º, a/b/c. A objeção feita à reserva no prazo de 6 meses é valida pois, encontra-
se dentro do tempo, já a objeção feita 15 meses depois não é valida. Deveria ter sido
feita nos 12 meses seguintes ao consentimento da reserva (artigo 20º, nº5).
Assim, havendo uma objeção valida à reserva ou o Estado se vincula na totalidade do
Tratado ou então não se vincula. Seria necessário unanimidade quanto à aceitação da
reserva, como tal não aconteceu, o Estado terá de optar pela sua participação na íntegra
ou não participa (artigo 20º, nº2).
Caso Prático 6
O Presidente da República Português em viagem oficial a África do Sul concluiu
uma convenção com o chefe do Governo daquele Estado mediante a qual a Africa
do Sul se comprometeu a garantir a segurança dos portugueses aí residentes conter
condições tributárias especiais para os Sul-africanos que pretendessem investir em
Portugal.
A Convenção Internacional foi regularmente aprovada em Portugal tendo entrado
em vigor. Um ano mais tarde porque os investigadores sul-africanos se queixaram
da insuficiência das vantagens fiscais para eles criadas a Africa do Sul veio
impugnar a Convenção Internacional com base na falta de competência do PR
para a concluir.
Convenção Internacional: bilateral, T. contrato prestações, acordo em forma
simplificada (regular/ aprovadas) 161º, 164º, 165º - é matéria do Governo.
Aprovação pelo Governo (197º/1/c), submetida à AR (161/i – ultima parte).
O PR não podia negociar, só em mandato específico (carta de plenos poderes dada pelo
Governo que é quem tem o poder negociador).
Não existindo a Carta temos um vicio orgânico que se reconduz a um vicio formal.
Convenção Internacional vigora em Portugal depois da publicação (sem esta o ato é
ineficaz). Convenção Internacional vigora internacionalmente artigo 24º - CV, a
publicação serve para dar publicidade às organizações internacionais (80º CI, 102º
CNU). Sanção: não é oponível a terceiros.
Vício orgânico: nulidade relativa: protege interesses particulares (de Portugal). A Africa
não tem legitimidade para impugnar a convenção.
Artigo 46º: só considera que a ratificação imperfeita só leva à nulidade da Convenção
Internacional por parte de Portugal se violar Ius Cogem.
Artigo 8º CV: Portugal pode confirmar o ato feito pelo PR sem poderes.
Caso prático 7
Vários Estados da Comunidade Internacional resolveram encetar negociações com
vista á celebração de uma convenção internacional que regulasse a produção e
comercialização do volfrâmio. No momento da celebração da convenção o Estado
A apôs uma reserva a uma das cláusulas, o Estado B pressionou o representante do
Estado C com ameaças veladas á sua família e aliciou o representante do Estado D
com um belo ferrari.
A convenção entrou em vigor normalmente até que estas situações se tornaram do
conhecimento público, o representante do Estado A indignado pretende impugnar
a convenção mas os representantes dos Estados C e D satisfeitos com as vantagens
que daí advieram para os seus Estados respetivamente declararam expressamente
ser sua intenção continuar a cumprir a mesma. Quid Iuris?
Para efeitos de reserva, temos que classificar a convenção, trata-se de uma convenção
multilateral restrita, acordo em forma simplificada, portanto é um tratado normativo.
Sendo multilateral restrita a reserva tem que ser aceite por unanimidade (art.20º\2).
No momento da conclusão da convenção propriamente dita temos o Estado B a
pressionar a família de C, trata-se de coação (art.51º da CV) e dá um ferrari a D, trata-se
de corrupção (art.50º CV). Os Estados C e D viram o seu consentimento viciado
(irregularidades materiais) que tem como consequência a nulidade (art.69º e seguintes
da CV). Estes vícios são da mesma natureza? Não, um é sanável e o outro não (art.44º e
45º da CV). Os estados C e D querem manter a convenção, é possível? No caso das
ameaças á família não é possível porque se trata de uma nulidade absoluta. No caso do
Estado D seria possível sanar a nulidade porque é uma nulidade relativa e nesse aspeto o
art.45º já se aplica.
O Estado A pode impugnar a vinculação do Estado D? Não, como se trata de uma
nulidade relativa só poderia impugnar o Estado que vê o seu consentimento viciado,
neste caso só o D poderia impugnar-se a si próprio. No caso de nulidade absoluta já
todos os Estados poderiam impugnar, isto é, aqui A já poderia impugnar a vinculação
do Estado C.
Caso Prático 8
Suponha que durante a recente viagem do nosso Presidente da República ao Japão
surgia a oportunidade de celebrar com as autoridades japonesas uma convenção
em matéria de transferência de tecnologia.
Neste enquadramento responda às seguintes questões:
a) Poderia a convenção ser negociada e assinada pelo Presidente da República?
Não, a negociação deve ser feita pelo Governo ou Ministro dos negócios estrangeiros
(197º/1/b – CRP), portanto, o Presidente da República não tem competência para tal. A
assinatura também deveria ser feita pelo Governo no momento dos ajustamentos
(197º/1/b).
Caso Prático 9
Suponha que os Estados A, B e C concluíram uma convenção que uniformizava
regras técnicas relativas à produção e comercialização de aço.
a) Classifique esta convenção.
Multilateral Restrita sob forma de Tratado Normativo.
b) Poderia o Estado B questionar a validade da convenção com base no facto de o
representante do Estado A ter sido pressionado a assinar?
Coação exercida sobre o representante A (artigo 50º). O Estado B pode impugnar a
convenção conforme esse vício? Sim, pode. Ter-se-ia a nulidade absoluta, logo qualquer
Estado parte podia invocar a validade da convenção (artigo 65º/b).
Caso Prático 10
Suponha que preocupados com a crescente desflorestação da região, os Estados A,
B, C, D e E assinaram, a capital da A, em 2006, sob reserva de ratificação, mas a
aplicar imediatamente uma convenção que impunha uma proibição genérica do
abate de arvores em zonas não urbanas, e criava uma comissão técnica
internacional que deveria avaliar qualquer exceção que fosse solicitada.
Neste enquadramento responda às seguintes questões:
1. Ocorrendo no Estado A uma mudança de Governo (e sendo que este tem uma
perspetiva diversa da do anterior na matéria) pode – o novo governo – conceder
autorizações de abate, invocando não estar ainda vinculado?
Principio da Continuidade dos Estados, ou seja, as principais alterações do Governo não
se refletem nos compromissos internacionais assumidos anteriormente pelos Estados.
2. Suponha que no Estado B surge na imprensa um aceso debate uma vez que
certos sectores consideravam a convenção aplicável a um território ultramarino
(cuja principal riqueza era a exportação de madeiras exóticas) ao passo que o
Governo garante não ser essa a sua intenção nem entendimento. Como pode o
Governo garantir que a sua posição fique salvaguardada no quadro convencional?
No momento da ratificação fazia-se uma reserva dizendo que não se aplica ao território
ultramarino.
Caso Prático 11
Portugal e Espanha celebraram entre si uma convenção internacional através da
qual Espanha se competia a desviar o curso do Guadiana para permitir a irrigação
de terras Portuguesas do Alto Alentejo, em troca Portugal aceitara retificar a
fronteira com aquele Estado por forma a eliminar uma pequena curva que existia
na definição da fronteira no interior Espanhol.
Espanha cumpriu mas o resultado pretendido não foi alcançado em virtude de
uma seca grave ocorrida que diminui o caudal do Guadiana.
Face a isso, Portugal recusou-se a manter a sua parte do acordado alargando de
novo o domínio Português aos marcos anteriormente estabelecidos.
Tratado Contrato
161º: retificação de fronteiras – tratado solene. Não há nenhum vício do consentimento
– causas de cessação (62º/nº2/a). Não se pode aplicar aqui. As coisas mantem-se de pé,
este artigo não derroga a convenção internacional exceto quando a) e b) se verificam
comutativamente.
Exceção à exceção: não se aplica o anterior se verificar o número 2.
Artigo 65º: efeitos do artigo 69º (nulidade) ou efeitos do artigo 70º (cessação de
vigência).
Caso Prático 12
A Colômbia, Argentina e Chile celebraram uma convenção internacional com vista
a estabelecer um regime comum de proteção da população civis vítimas de crimes
praticados por rebeldes que aturam em vários Estados Sul-americanos. O Chile
apôs uma reserva à cláusula que proibia a execução sumária de rebeldes autores
de crimes de sangue. Entretanto, as FARC pediram a adesão à convenção
internacional, facto que para indignação da Colômbia foi de imediato aceite pela
Argentina o que levou ao corte das relações diplomáticas entre os dois Estados.
Querendo manter-se à margem da questão, o Chile notificou a Colômbia e a
Argentina da sua desvinculação à Convenção Internacional com efeitos imediatos
até porque o novo Governo saído de eleições recentes não concordava com a
mesma.
Convenção Internacional Multilateral Restrita Normativa. A reserva aposta tem que
obedecer os critérios de validade formal e material (art. 19º/a/b/c), mas a reserva não
pode contrariar o Ius Cogens, pois será nula.
FARC pede adesão, como é multilateral, à partida permitem a adesão mas tem de ser
aceite por todos (art. 15º) a menos que a convenção internacional preveja algo diferente.
FARC tem competência para celebrar convenção internacional que protege populações
civis logo pertence à capacidade limitada dos beligerantes (consegue aceitação da
Argentina). A violação da proibição da ingerência nos assuntos internos dos Estados
(Colômbia) gera responsabilidade internacional. Fez-se o reconhecimento tácito das
FARC (reconhecimento constitutivo – FARC ganha capacidade jurídica internacional).
Desresponsabilização da Colômbia pelos prejuízos causados pela FARC aos nacionais
do Estado da Argentina.
O corte das relações diplomáticas é realizado por notificação que é um ato jurídico
unilateral e fonte de direito com consequências jurídicas, mas neste caso, nenhuma por
regra do artigo 63º.
A notificação (67º/1 e 65º/1) não é fonte de direito e por isso, não pode ter efeitos
imediatos. Desvinculação (56º) = denúncia: requisitos: essa possibilidade tem de
resultar da convenção internacional e obriga um pré-aviso de 12 meses.
Princípio da Continuidade dos Estados – Ius Cogens – As alterações políticas internas
não produzem alteração nos compromissos internacionais assumidos pelos Governos
anteriores.