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SEXO E MACHISMO

INTRODUÇÃO: UMA HISTÓRIA SOBRE GÊNERO


CAPÍTULO 1: UMA HISTÓRIA SOBRE SER MULHER
CAPÍTULO 2: UMA HISTÓRIA SOBRE SER HOMEM
CAPÍTULO 3: UMA HISTÓRIA SOBRE SEXO
CAPÍTULO 4: SEXO, UMA NOVA HISTÓRIA
O casal que não consegue gozar; Joana Pérez estuprada,

INTRODUÇÃO assassinada e empalada na Argentina; o garoto que passa a


noite em claro porque não sabe satisfazer a namorada; a
jovem de 16 anos estuprada por 30 homens no Rio de
Janeiro; as 10 dicas de como fazer sexo oral na revista
adolescente; a menina que não sabe dizer não; eu, você.

As histórias que criamos sobre o que é ser homem, o que é


O que acontece entre quatro paredes fica por lá. É o que ser mulher e o que é sexo são criadas em sociedade e
achamos por muito tempo, como se aquelas quatro paredes influenciam os mais diversos aspectos da nossa vida sexual e
nos separassem do mundo, da cultura, do universo. Mas, a amorosa. Por isso, precisamos urgente tirar o sexo das quatro
influência sócio cultural às esferas privadas das nossas vidas paredes. Precisamos colocar o sexo na esfera pública para
é cada vez mais inegável. Não dá mais para negar que aquilo melhorarmos a qualidade sexual na nossa esfera privada.
que se faz entre quatro paredes é também escolha política, Precisamos criar uma nova cultura e uma nova história sobre
social e até econômica. E aquilo que se faz em sociedade é o sexo.
também uma escolha sexual.
GÊNERO
Ao longo da história da humanidade, criou-se uma idéia de
que homens e mulheres são completamente diferentes, e
que devem assumir papéis bem definidos em sociedade. A
primeira verdade que precisamos entender para
desconstruirmos esses papéis é de que gênero é uma
construção social.

A neurocientista Lise Eliot afirma que se fizermos 50.000


testes psicológicos com garotas e garotos iremos perceber
que eles são 90% iguais, o que nos mostra o quanto a
expressão de gênero é muito mais construída que natural.

Fonte: The Mask you live in


“O machismo é a crença na
Muitos já entenderam que a diferença de gêneros é mais superioridade dos homens sob as
social que biológica, o que pode ser observado nas
mulheres. Ele se repete em nossa
diferentes manifestações de gênero e sexualidade que estão
surgindo. Pesquisa inglesa realizada pelo YouGov constatou sociedade de muitas maneiras: nos
que um a cada dois jovens de 18 a 24 anos não se considera
heterossexual ou homossexual, mas sim flutuando entre
filmes, nas relações pessoais, nas
esses conceitos. A polarização e o pensamento binário escolas, no trabalho. O machismo não é
(homem ou mulher e heterrosexual ou homossexual) está
dando lugar a uma nova lógica mais plural.
o contrário do feminismo. O feminismo
não defende a superioridade das
Partindo do princípio que homens e mulheres não são tão
diferentes assim, entendemos que o feminismo não só é mulheres. Seu objetivo primordial é
necessário, como também lógico. O feminismo é a luta para desconstruir o machismo que afeta
que homens e mulheres tenham direitos e sejam tratados
igualmente, ou como ironizava a jornalista Marie Shear na homens e mulheres e conquistar e
famosa frase publicada pela primeira vez nos anos 1980, “a direitos e oportunidades iguais para
ideia radical de que mulheres são seres humanos.”
todos os gêneros”.
Documentário Precisamos Falar com os homens
O FEMINISMO NÃO É UMA LUTA POR SUPERIORIDADE
FEMININA, MAS SIM POR TRANSFORMAÇÃO DAS NOSSAS
IDEIAS SOBRE GÊNERO CAPAZES DE LIBERTAR HOMENS E
MULHERES DAS CAMISAS DE FORÇA DO QUE
SUPOSTAMENTE É SER HOMEM E MULHER. E NÃO TEM
COMO FALAR DE RELACIONAMENTOS SAUDÁVEIS E SEXO
GOSTOSO SEM FALAR DE DIREITOS IGUAIS.
SER MULHER
CAPÍTULO 1
É menina! Pinta o quarto de rosa, compra o vestido de fita,
coloca um brinquinho de ouro. Brinca de boneca, casinha e
secretária, só não pode brincar de médico porque isso aí é
um perigo! Sonha em ser princesa da Disney, paquita da
Xuxa, ter a pinta da Angélica, vai ter que pintar o cabelo de “Auto objetificação é um processo no
loiro, tem como? Desce daí menina, cuidado para não
machucar, não quebrar, não dar cicatriz, não importa o que qual garotas e mulheres aprendem a
seja, toma cuidado! Menina precisa se preservar! Essa pensar e tratar seus corpos como
menina vai dar um trabalho, já está virando mocinha, eu te
peguei no colo hein? Tira esses pêlos da sobrancelha objetos para o desejo de outros”
menina, está precisando de uma dieta, essa barriga só sai
com lipo, coloca peito, tira peito, arreda um pouquinho para
esquerda, esse mamilo está grande demais! Amiga, homem EL Zurbriggen
não presta, segura esse homem que ele é bom partido, tem
coisa que é melhor não saber, pelo amor de Deus não transa
de primeira, não vai para a casa dele que é abrir precedente,
não seja muito fácil, não banca a difícil, se continuar
engordando ele vai te deixar, vocês não vão casar nunca?
A história sobre o que é ser mulher nos apresenta um roteiro
bem limitado do que é aceitável e esperado de nós. E uma
das principais histórias que a nossa sociedade conta sobre
ser mulher é a nossa objetificação e a mentira de que ser um
objeto sexual é empoderador. Somos impactadas pelas mais
diversas representações imagéticas de filmes, videogames
músicas, revistas e diálogos em uma cultura que
supervaloriza a imagem da mulher, tratando-nos, assim,
como um objeto que deve servir ao outro sexualmente.

Jean Kilbourne apresenta no documentário “Killing us softly”


uma análise sobre as imagens que a publicidade e o
entretenimento apresentam de mulheres, normalmente em
uma posição passiva, vulnerável e até mesmo infantilizadas.
Essas imagens nos dizem não só que devemos ser objetos
sexuais, como também que devemos ser frágeis e que
homens devem estar sempre no controle.
Hoje, 91% dos tratamentos estéticos são feitos por mulheres,
o que é reflexo da nossa cultura que nos ensina a nos
sentirmos mais valorizadas pela beleza do que pela
inteligência, personalidade ou habilidades. Não há nada de
errado em explorar a sensualidade e a sexualidade, muito
pelo contrário. O problema é a objetificação disso e a
definição limitada e superficial de sexualidade. A exigência
exagerada quanto a estética feminina faz com que muitas
mulheres se sintam mais inseguras e não mais sexys
afetando nitidamente a intimidade sexual e a exploração do
seu prazer.
Esse ambiente cultural tóxico torna não só difícil manter a
autoestima saudável e intimidade sexual com os parceiros, “Todo mundo que encontra
como também cria um contexto que facilita a violência
contra a mulher. Anúncios e entretenimento não levam regularmente a queixa de dispareunia
diretamente à violência, mas colocar a mulher em um lugar
de fragilidade e insegurança é impossibilitar que ela crie
sabe que as mulheres estão
limites claros, bem como tratar qualquer ser humano como inclinadas a continuar com a relação
objeto é o primeiro passo para justificar a violência contra ele.
sexal, se necessário, com seus dentes
A história sobre o que é ser mulher nos encoraja a nos
apresentarmos sexualmente como strippers e estrelas pornô,
firmemente apertados “.
que só usam lingerie sexy, estão sempre depiladas e
disponíveis para dar prazer aos homens. Nossa cultura nos
ensina muito cedo a nos sexualizarmos, mas não nos ensina Citado por Yatahaze, Medium
a extrapolarmos o conceito superficial de sexualidade e
sensualidade, a sair da posição de objeto e questionar o falso
empoderamento por trás de ser um objeto sexual.
91% 91% dos tratamentos estéticos são feitos em mulheres.De 1997 a
2007 houve um aumento de 457% de cirurgias estéticas e o Brasil é
o segundo no ranking mundial em tratamentos estéticos.

Estima-se que ocorra no Brasil 1 estupro por minuto, totalizando 527


mil estupros por ano. Somente em 2015, a Central de Atendimento a
Mulher – Ligue 180, realizou 749.024 atendimentos, ou 1 atendimento a
cada 42 segundos. Desde 2005, são quase 5 milhões de atendimentos. 1 min
30% 30 % das mulheres relatam dor durante o sexo vaginal, 72 %
das mulheres relatam dor durante o sexo anal e “grandes
proporções” não contam aos parceiros quando o sexo
machuca.

Fonte: Ministério da Saúde, Ligue 180.


SER HOMEM
A história sobre o que é ser homem nos apresenta um roteiro
tão limitado quanto a história sobre o que é ser mulher. Ser

CAPÍTULO 2 homem na nossa cultura é principalmente usar uma máscara


que esconde as emoções, ter controle e usar a força e
violência como armas de poder. Homens também são
impactados por representações imagéticas em filmes,
videogames, músicas, revistas e diálogos em uma cultura
que valoriza a hiper masculinização e estimula garotos desde
cedo a suprimir e rejeitar tudo que é característica do
É menino! Pinta o quarto de azul, coloca na aula de luta, ele feminino se querem ser aceitos em sociedade.
precisa aprender a se defender. Não chora, não leva
desaforo para casa, você é um homem ou um pé de alface? Os documentários “The Mask you live in” e “Precisamos falar
Leva ele para o estádio, ele precisa sair da aba da mãe, isso é com homens” apresentam o modo como garotos são
falta de porrada! Joga igual homem, fala igual homem, bebe expostos desde cedo a programas e estímulos à violência.
igual homem, vira homem! Esse menino vai ser safado, só Estudos apontam que a exposição a essas imagens os deixa
quer saber de meninas! Faz poker face, chega nela, puxa menos sensíveis à dor e ao sofrimento e os torna mais aptos
pelo braço, homem tem que chegar junto! Fala que está a se engajar em comportamentos agressivos. No processo
puto, mas não fala que está triste! Não abaixa a cabeça, de masculinidade, homens são estimulados a entender
compra um carro logo, acumula um 1 milhão antes dos 30, intimidade, empatia, abertura emocional, autenticidade e
mulher gosta é de dinheiro! vulnerabilidade como fraquezas.
Nossa cultura está produzindo homens cada vez mais
deprimidos (suicídio é a terceira causa mais comum de morte
entre garotos, e o índice de suicídio masculino chega a ser
sete vezes maior que o feminino), alienados (a média de
idade que garotos começam a usar drogas é com 13 anos e
eles são mais suscetíveis a abandonar a escola) e violentos (a
maior população carcerária do mundo é de homens e 90%
dos homicídios são cometidos por homens). O machismo
está matando as mulheres, e também os homens.

A história sobre o que é ser homem os encoraja a serem


insensíveis e fortes, e o que isso tem a ver com sexo?

Fonte: The mask you live in


Entendo que onde não há vulnerabilidade não há intimidade “Uma pesquisa casual de fóruns onde as pessoas discutem “sexo
sexual, e sem intimidade, a chance do abuso é gigantesca. A ruim” sugere que os homens tendem a usar o termo para
história sobre o que é ser homem os encoraja a rejeitar tudo descrever um parceiro passivo ou uma experiência chata. Mas
que é feminino, mas ao rejeitar o feminino muitos homens quando a maioria das mulheres fala sobre “sexo ruim”, eles
aprendem, mesmo que inconscientemente, que são costumam significar coerção, desconforto emocional ou, ainda
superiores e mais fortes que mulheres. A história sobre o que mais comumente, dor física
é ser homem também os encoraja a performar na cama
como atores pornôs e os altos níveis de violência e sexismo Um 8 na escala de sexo ruim de um homem é como um 1 em
associados ao ato sexual em filmes pornôs contribuem para uma mulher. Essa tendência para que homens e mulheres usem
a normalização da violência e a falta de prazer na hora do o mesmo termo — sexo ruim — para descrever experiências que
sexo. um observador objetivo caracterizaria como muito diferente é o
outro lado de um fenômeno psicológico conhecido chamado
E o que sexo ruim tem a ver com abuso? Segundo pesquisas “privação relativa”, pelo qual grupos desprotegidos, tendo sido
em fóruns da internet, quando homens descrevem sexo ruim treinados para esperar pouco, tendem paradoxalmente a
estão descrevendo um parceiro passivo ou uma experiência reportar os mesmos níveis de satisfação que os seus colegas
chata. Já mulheres quando falam sobre sexo ruim estão se mais bem tratados e mais privilegiados.”
referindo a coerção, desconforto emocional ou dor física.
Citado por Yatahaze, Medium
SEXO
O sexo é ao mesmo tempo mais e menos importante que
nossa cultura faz parecer. É mais importante porque não é só
sobre contato físico, como também essência, significado e
poder emocional. E é menos importante, porque é vendido a
CAPÍTULO 3 nós como produto de consumo. Sexo parece estar o tempo
todo em torno de nós, mas, paradoxalmente, é algo
raramente explicado, ensinado e conversado.

Na nossa cultura sexo é normalmente considerado uma


forma de diversão, e por vezes até distração. Se olharmos
para culturas orientais que deram a origem ao sexo tântrico,
o sexo é entendido como um veículo para expandir a
Ela diz pára, ele entende continua. Ela diz que quer ter consciência e promover a união entre as energias feminina e
intimidade, ele entende que ela quer sexo. Ela diz que não masculina. “Sexo tântrico pode permitir-lhe atingir novas
quer, ele entende me conquista. Ela diz que não quer fazer formas de prazer e ao mesmo tempo abrir a energia sexual
isso, ele diz que é bom nisso e ela vai gostar. Ela quer olhar para uso criativo em diversas áreas da vida”, explica Ashley
no olho, ele acha que ela gosta de ficar de quatro. Ela geme Thirleby, autora do livro “Tantra: a chave para poderes
de dor, ele entende que é de prazer. Ele não quer fazer sexo, sexuais”. Além do elemento espiritual, o sexo tântrico se
mas não pode negar fogo. Ela não quer fazer sexo, mas não diferencia do sexo no mundo ocidental porque é livre de
pode dizer não. Eles querem ter prazer e não só sexo, hipocrisia,o que torna possível criar intimidade e abertura
intimidade e não só prazer, conexão e não só intimidade. livre de medos e tabus.
A sexualidade humana não é inata, é aprendida e construída Uma análise de cinquenta“bestselling” de vídeos pornô
em sociedade. Se envolvemos o sexo com hipocrisia e identificou que 88% das cenas incluía agressão física, sendo a
falamos muito pouco sobre sexo, mulheres e principalmente mulher vítima em 94% das cenas. A pornografia ensina que
homens tendem a usar pornografia como modelo, o que é homens e mulheres têm papéis bem orquestrados na
evidentemente o pior modelo possível. Segundo a deputada atividade sexual e, raramente, mostra cenas de intimidade e
inglesa Claire Perry, um terço das crianças da Inglaterra com brincadeira. Um roteiro de papéis que segundo as
dez anos já viu pornografia na internet, ou seja, antes mesmo pesquisadoras Sanchez, Pelan, Moss Racusin e J. Good
da primeira vez, as crianças já estão consumindo essa versão identificaram em seus estudos, não traz necessariamente
do que é fazer sexo. prazer sexual aos parceiros.

O problema é que o roteiro de um filme pornô comum, sem Cindy Gallop, criou o movimento “Make Love Not Porn”, uma
fetiche, geralmente gira em torno do prazer masculino, vez que identificou que homens estão cada vez mais
envolve homens no controle e dando ordens, mulheres repetindo na cama posturas desrespeitosas, simplistas e
levando tapas e conduzidas a longos sexos orais em seus autoritárias, vendidas por visões fetichizadas e violentas
parceiros. E assim, a visão sobre sexo e dar prazer a uma apresentadas em filmes pornô. E as mulheres também
mulher fica não só deturpada, como também em muitos reproduzem na cama as performances sexuais exageradas e
casos altamente violenta. submissas, dignas de uma estrela pornô. E raramente ambos
se dão conta o quanto são influenciados e pouco autênticos
em suas relações sexuais.
APRENDEMOS MUITO SOBRE COMO PERFORMAR E MUITO
POUCO SOBRE COMO NOS CONECTAMOS. O SEXO AINDA
.

ENVOLVE MEDO, CULPA, VERGONHA, E ASSIM, REPETIMOS


CLICHÊS E CENAS PORNOGRÁFICAS SEM CONVERSAR COM
O PARCEIRO A RESPEITO.
68% 68% dos homens acessam pornografia diariamente e 21%
diariamente, garotos passam 2h por semana assistindo filmes pornô
e 34% das crianças são expostas a pornografia mesmo quando não
procuram

Uma análise dos 50 bestselling de vídeos pornô em 2010 descobriu


que 88% das cenas incluía agressão física, sendo a mulher vítima em
94% das cenas.
88%
1400% De acordo com uma pesquisa do PornHub, em 2017 a
busca por “Pornô para Mulheres” cresceu mais de 1.400%,
sendo o termo lésbica o mais buscado. A pornografia
lésbica é uma das poucas opções para quem deseja ver
filmes voltados para o prazer feminino.

Fonte: Pornhub
Para entender melhor sobre o assunto realizei uma pesquisa Essa confusão sobre o que é abuso faz com que nós
com 60 pessoas na qual identifiquei que menos da metade mesmas não reconheçamos quando sofremos violência, e às
delas conversa com seus parceiros sobre preferências e vezes, os homens não entendam suas atitudes como
valores sexuais. E isso nada mais é do que o reflexo de uma abusivas ou desrespeitosas. Por isso a importância de
sociedade na qual o sexo ainda é tratado como tabu, e falarmos cada vez mais sobre isso.
mesmo com nossos amigos mais íntimos ainda conversamos
dentro de um roteiro muito limitado para não fugirmos do Abuso é falta de consentimento, e em uma cultura onde
que é bem visto em relação a sexo. aprendemos em níveis bem sutis que o homem é aquele que
controla e a mulher é um objeto, fica bem fácil ultrapassar os
A história que se conta sobre homens, mulheres e sexo é limites. O termo abuso não se aplica apenas quando ocorre
também um terreno fértil para violência e abuso. Temos uma penetração, mas também quando ocorre qualquer situação
tendência a entender abuso sexual e estupro como em que mulheres são acariciadas, tocadas ou beijadas sem
situações cometidas por agressores, talvez patologicamente consentimento. Abuso sexual é altamente comum, talvez
doentes, em becos escuros ou situações de perigo. Mas, na você que está lendo esse texto, seja homem ou mulher,
maioria das vezes, são conhecidos que estupram ou abusam tenha se reconhecido em alguma dessas situações. Estudos
de mulheres, e o conceito de “privação relativa” apresentado realizados nos EUA apontam que uma em cada três
nesse material indica como até mesmo algo descrito como mulheres sofrerão algum tipo de abuso ao longo de suas
sexo ruim pode ter sido na realidade uma experiência vidas.
abusiva.
“Já fui fortemente induzida (praticamente forçada) a fazer sexo
contra a minha vontade. Estava ficando com a pessoa, mas “Eu queria só umas carícias e uns amassos e o cara ficou
deixei claro que não queria transar - de diversas maneiras forçando sexo”
diferentes e repetidas vezes - e ele forçou a barra até
conseguir que eu cedesse. Ao longo da minha vida sexual, esta “Acho irritante quando fico com alguém que fica beijando e
situação aconteceu duas vezes (com pessoas e épocas lambendo e forçando uma intimidade fora de hora, e às vezes
diferentes) e em ambas eu estava sob influência de álcool e torna difícil sair daquela situação.”
acabei cedendo, mas até hoje me sinto extremamente mal pois
percebi o quão abusiva foram aquelas situações e também me “Um cara que eu mal conhecia tirou o pênis pra fora enquanto
arrependo de não ter sido mais firme.” estávamos dando uns amassos e tentou fazer com que eu
tocasse nele.”
”Sempre que um parceiro insiste em ter relação e eu não estou
Relatos de entrevistadas pelo Love Hacking.
afim, me causa bastante desconforto. Antes me sentia errada,
hoje entendo que é uma falta de respeito comigo.”
É importante ensinar a mulheres a conhecer e impor seus
limites, a dizer não e sim sem medo, e aprender a comunicar
de maneira clara de modo que homens não julguem que
devem adivinhar os desejos em meios a mensagens dúbias
ou confusas. Mas o mais importante é ensinar a homens que
no sexo, apenas sim significa sim, e nada do que vocês
estejam fazendo dá permissão para ir além. Ou seja, se vocês
estão se beijando calorosamente isso não significa que o
homem pode colocar suas mãos debaixo do vestido dela a
menos que ela diga sim, com palavras ou gestos. Se o
homem está com as mãos debaixo do vestido dela, isso não
significa que ele pode inserir seu pênis em sua vagina, a
menos que ela diga sim. E por aí vai. E de maneira alguma, o
homem deve envolver força ou pressão psicológica para
convencer a mulher a fazer algo que ela não quer.
REGRAS DO SEXO CONSENSUAL PARA HOMENS
➔ Em relação a sexo, apenas sim significa sim. “Talvez” e “não” nunca significam sim.
➔ É sua responsabilidade saber se houve consenso. Não é responsabilidade dela te parar, é sua
responsabilidade saber se deve avançar.
➔ Nada que você fez te dá permissão para fazer a próxima coisa. Se vocês estão se beijando loucamente, e
ela está totalmente empolgada, isso não significa que você pode colocar sua mão debaixo da blusa dela.
A verdade é que a menos que vocês estejam em um relacionamento fixo e tenham estabelecido as suas
regras, toda vez que você avança para um próximo nível é necessário pedir permissão.
➔ Se você está bêbado não pode pedir ou dar permissão. Se qualquer um de vocês está bêbado e não
sabem perfeitamente o que estão fazendo é impossível fazer sexo consensual.

(retirado do livro “The guys guide to feminism”)


SEXO
CAPÍTULO 4
Imagine um mundo em que mulheres se sintam confortáveis Abandonar papéis preestabelecidos , questionar filmes
com seus corpos, seguras e autoconfiantes. Em que homens pornôs, compartilhar seus desejos mais profundos, explorar
se abram emocionalmente e não sintam necessidade de sua sexualidade e pedir consenso a cada vez que se avança
provar sua masculinidade a custo de sua autenticidade. Em o sinal pode soar complicado, difícil e até chato para alguns.
que mulheres não se sintam sensuais apenas quando estão Mas, por outro lado, a conversa pode criar uma energia
com sua melhor lingerie, e homens não se sintam sensuais sexual muito mais favorável a partir do momento que ambos
apenas quando estão em posição de controle e não mais precisam adivinhar o que o outro quer, e
superioridade. Em que homens e mulheres conversem sobre principalmente, se o outro quer. Conversar pode ser um ato
sexo, realizem e descubram novas fantasias, e extrapolem os de sensualidade e sedução, e o que fazemos entre quatro
limites de sua sexualidade acessando sua energia sexual e paredes pode sim ser uma escolha política, social e
criativa. Imagine um mundo de muito mais intimidade e econômica.
prazer. E principalmente, imagine um mundo onde uma
mulher não seja estuprada a cada um minuto. Imagine um
mundo onde homens e mulheres atinjam um novo grau de
maturidade sexual.
MATURIDADE SEXUAL
Maturidade sexual é quando você conhece seu corpo, seus valores e seus limites e não tem medo ou vergonha
de compartilhar com seu parceiro.
Maturidade sexual é respeitar os seus limites e os limites do outro.
Maturidade sexual é conversar sobre sexo com seus amigos a partir de uma perspectiva de escuta e
aprendizado e não de provar algo ou se sentir superior
Maturidade sexual é falar sim quando quer falar sim
Maturidade sexual é falar não quando quer falar não
Maturidade sexual é conversar antes, durante e depois do sexo para garantir que prazer e principalmente
consenso estejam presentes
Maturidade sexual é assistir filmes pornôs com seu parceiro com um olhar crítico, e comparar com filmografias
sexuais que apresentam novas propostas menos machistas
Maturidade sexual é abandonar os papéis preestabelecidos , e estimular que mulheres e homens sejam ativos e
passivos antes, durante e depois do sexo
Mundo pornô - Tudo que um cara tem que fazer é enfiar os Mundo pornô - As mulheres gozam o tempo todo em
dedos na vagina da mulher e, instantaneamente, ela estará posições em que o clitóris não está sendo tocado.
molhada e ansiosa para começar.
Mundo real - Tem que haver algum tipo de pressão rítmica
Mundo real - É bem mais fácil para um cara ficar excitado sobre o clitóris para fazer uma mulher gozar. Pode ser com o
quando uma garota vai direto para o pênis, do que é para osso
uma garota quando o cara vai direto para a vagina. Beijar,
tocar os seios e lambidas em geral ajudam a deixá-la Mundo pornô - A transa é pautada pelos ângulos da câmera.
estimulada. Use como regra: não toque a vagina de uma Isso quer dizer que, na maioria das vezes, as únicas partes
mulher até que ela peça por isso (mesmo que seja sem dos corpos que se tocam são as genitálias.
palavras).
Mundo real - Uma das coisas boas no sexo é o prazer da
pele na pele. É ótimo transar com os corpos colados. O que
não acontece muito nos filmes pornô porque atrapalha a
câmera, que quer focar a penetração em close.

Retirado do Make Love not Porn - Cindy Galoop.


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SE LIGA!
A vagina é o lugar mais limpo do corpo feminino, por isso faz O ponto G também fica na entrada da vagina, e estudos
mais sentido lavar a mão e a boca antes de tocá-la do que o apontam que o prazer vem das terminações nervosas do
contrário. Para se higienizar não é necessário, nenhum clitóris. Para ser estimulado é necessário fazer um
sabonete, uma vez que o órgão é inteligente e autolimpante.. movimento de “chamado” que só é possível com o dedo.

Sua falta de libido pode estar relacionada ao O clitóris possui mais de 8 mil terminações nervosas e é o
anticoncepcional. Procure se livrar da química e veja o que único órgão que tem como única função dar prazer. Mas,
acontece. Apesar de não ser comprovado, a Maca Peruana é justamente pela quantidade de terminações, ele deve ser
conhecida por aumentar a libido e a fertilidade de homens e tocado com cuidado e sem tanta pressão.
mulheres.
A pele é o maior orgão do corpo humano e é altamente
A região mais vascularizada e sensível do canal vaginal é o sensorial. Explorar o corpo como um todo é um grande
começo da vagina, por isso a penetração profunda para a movimento de descobrir outras formas de sentir prazer.
maioria das mulheres não só não dá prazer, como é
desagradável.
94% 94% das mulheres sentem prazer com a estimulação do clitóris

63% das mulheres sentem prazer na estimulação vaginal (no início)

63%
35% 35% das mulheres sentem prazer no colo do útero.

Fonte: Prazerela - Science of orgasm


SEXO TÂNTRICO, MENAGE A TROIS, SURUBA, ESTÍMULO ANAL,
SEXO ANAL, SHIBARI (AMARRAR), GOUINAGE (SEXO SEM
PENETRAÇÃO), SEXTING, BDSM, VOYEURISMO… ALÉM DO
SEXO TRADICIONAL, O QUE VOCÊ PODE ESTAR DEIXANDO DE
EXPLORAR POR MEDO OU PRECONCEITO?
AUTORA: MARCELLE XAVIER
Publicitária, escritora e facilitadora criativa Marcelle Xavier se
dedica a impulsionar a transição para uma nova economia
através do design de rituais e espaços de conexão e
cocriação. Idealizadora dos projetos Chegaiuai, Love Hacking,
Movimento Ímpar, You are not fucked e Rema Lab, possui
mais de 6 anos de experiência em processos criativos autorais
ou dentro de empresas, pesquisas, criação de conteúdo e
design de experiências criativas para transformação. Hoje se
dedica a promover espaços e experiências simbólicas
contemporâneas onde haja conversas de qualidade,
transformação sistêmica, vulnerabilidade e desenvolvimento
de ações capazes de lidar com a complexidade dos tempos
emergentes. Desenha rituais criativos a partir de
conhecimentos e ferramentas advindas da Teoria U, Design
Thinking, Comunicação Não Violenta, Thinking Environment,
Transition Design, Art of Hosting, Transition Towns, Economia
Colaborativa, Criatividade Quântica e Constelações de
sistemas.

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