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Ciências Humanas, Sociais

e Aplicadas - Filosofia
Novo Ensino Médio / Integral – 2ª Série
O Nascimento da Lógica
Heráclito e Parmênides
SUMÁRIO DA DISCUSSÃO

 OS USOS COTIDIANO DA LÓGICA


 HERÁCLITO E PARMÊNIDES]
 O APARECIMENTO DA LÓGICA
 ATIVIDADES
1. EM SÍNTESE
 PRÓXIMO ASSUNTO
O COTIDIANO DA LÓGICA
“É lógico que eu vou!”, “É lógico que ela disse isso!”. Quando
dizemos frases como essas, a expressão “é lógico que ” indica,
para nós e para a pessoa com quem estamos falando, que se
trata de alguma coisa evidente. A expressão aparece como se
fosse a conclusão de um raciocínio implícito, compartilhado
pelos interlocutores do discurso. Ao dizer “É lógico que eu
vou!”, estou supondo que quem me ouve sabe, sem que isso
seja dito explicitamente, que também estou afirmando: “Você me
conhece, sabe o que penso, gosto ou quero, sabe o que vai
acontecer no lugar x e na hora y e, portanto, não há dúvida de
que irei até lá”. Marilena Chauí.
O Ser para Parmênides:
Parmênides defendeu quatro argumentos que são um ponto
de partida para as suas afirmações a respeito dos atributos
do Ser. Os argumentos são:
1) O ser é e não pode não ser;
2) O nada (não ser) não é e não pode ser;
3) Pensar e ser são o mesmo;
4) O não ser não pode ser pensado nem enunciado;
Vejamos como esses quatro argumentos levam aos atributos
do Ser:

1) O SER É IDÊNTICO A SI MESMO: se o Ser fosse diferente de si mesmo,


ele não seria o que “é”. Em outras palavras: se não fosse idêntico a si
mesmo, o Ser não seria ele mesmo, o que é impossível, pois, o ser “não
pode não ser”.
Em outras
palavras: se não
fosse idêntico a si
mesmo, o Ser não
seria ele mesmo, o
que é impossível,
pois, o ser “não
pode não ser”.

Ser autêntico não é fácil

Ser autêntico não é fácil, mas é atraente: como ser mais fiel a si mesm... - Veja mais em
https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/02/13/ser-autentico-nao-e-
facil-mas-e-mais-atraente-como-ser-fiel-a-si-mesmo.htm?cmpid=copiaecola
2) O SER É UM: Não podemos conceber que exista
outro Ser, pois, se houvesse um “segundo ser”, ele
seria diferente do “primeiro ser” — o que é
impossível, pois, assim, “o primeiro ser” teria que
não ser o “segundo ser” e teria que ser
compreendido como não sendo. Além disso, é
absurdo pensar que o Ser não é. Por isso, só pode
existir um Ser.
3) O SER NÃO PODE SER GERADO: Nada pode ser gerado do
nada (“o nada não é e não pode ser”), então ele não pode dar
origem ao Ser. Se fosse gerado de outro Ser, como vimos no
ponto 2, isso seria admitir que existem dois seres e um deles
seria o “não ser” de outro, e isso é impossível.

4) O SER É IMPERECÍVEL: Parmênides diz que, se não é gerado,


o Ser também é imperecível, pois, do contrário, tornar-se-ia o
não ser. Se o Ser não é gerado, existiu desde todo sempre,
então ele já teria experimentado todas as condições que
poderiam fazê-lo deixar de ser. Se isso não aconteceu, é
porque o Ser é “sem começo e sem fim”, ou seja, em relação
ao tempo, o ser é eterno.
5) O SER É INDIVISÍVEL: SE O SER PUDESSE SER DIVIDIDO, DA DIVISÃO
RESULTARIAM SERES MÚLTIPLOS – O QUE É IMPOSSÍVEL, COMO VIMOS
NO PONTO 2. DO MESMO MODO, CADA UM DESSES MÚLTIPLOS SERES
SERIA O NÃO SER DO OUTRO, O QUE TAMBÉM É IMPOSSÍVEL. TAMBÉM
PRESUMIRÍAMOS, A PARTIR DA DIVISÃO, A EXISTÊNCIA DE UM SER QUE
DIVIDIRIA O OUTRO SER. LOGO, COMO DISSE PARMÊNIDES NO
FRAGMENTO B8:
[O SER] NEM É DIVISÍVEL, VISTO SER TODO HOMOGÊNEO (...), MAS É
TODO CHEIO DO QUE É.*
6) O SER É IMUTÁVEL. A mudança faria com o que o Ser
deixasse de ser aquilo que é e se tornasse algo que ainda não
é. Desse modo, admitir a possibilidade de mudança seria
admitir o contrário daquilo que já estudamos: o que não é
ser nada é, ou seja, passaríamos a concordar com a
existência do não ser. Se até mesmo a passagem de tempo
não é admitida no pensamento parmenidiano, pois o Ser
seria eterno, não é difícil entender que as outras mudanças
devem ser excluídas, pois só é possível pensar em mudança
em relação à temporalidade. Só percebemos a mudança de
um objeto A porque no passado ele era A e, no momento
presente, ele é B. É por isso que Parmênides diz que o Ser
"jamais foi nem será, pois é, no instante presente”.
7) O SER É IMÓVEL: Da mesma forma que a temporalidade
está associada à mudança, está associada ao espaço: para
mover de um lugar ao outro é preciso, também, deslocar-se
no tempo. Para entender melhor, não conseguimos estar na
escola e no shopping ao mesmo tempo. No entanto, para sair
da escola e chegar ao shopping, é preciso que exista uma
passagem de tempo. Como, para Parmênides, o Ser está fora
da categoria de “tempo”, pois é eterno, também não
podemos colocá-lo na categoria de “espaço”. Por isso,
Parmênides diz que o ser “descansa em si próprio, sempre
(…) no mesmo lugar”.
HERÁCLITO era de Éfeso, na atual Turquia. Ele
pertenceu à nobreza pois sua família era
descendente do fundador da cidade. Pode ser que
por esse motivo ele desprezava o povo simples e
nunca interferiu na política. Desprezou também os
antigos poetas, os filósofos de sua época e a religião.
É classificado como PARTÍCIPE DA ESCOLA JÔNICA apenas por
sua localização geográfica e pela facilidade didática com que
essa classificação permite entender seu pensamento. A obra
do filósofo caracterizou-se por iniciar um movimento de
ruptura na filosofia pré-socrática que, juntamente com as
ideias dos eleatas, desembocaria nas
filosofias socrática, platônica e aristotélica.
Ele observa o constante devir das coisas, o mundo está em
um perpétuo fluxo. O mundo inicia com uma substância, essa
substância explica o devir constante através de si próprio.
PARA ELE ESSA SUBSTÂNCIA É O FOGO, que não é algo
corpóreo, mas ativo, com inteligência e foi criado. Qualquer
mudança que ocorre no mundo se dá através do fogo. O que
está mudando ou está indo ao fogo ou está voltando. Esse
fluxo eterno é um processo dialético.
Para ele a dialética é inicialmente o raciocinar de uma direção
à outra. Ela é própria do objeto a que se observa, mas está
também no sujeito que observa. Heráclito tenta com isso
fundar e buscar a dialética como começo.
ESSA RELAÇÃO É COMPOSTA PELO DUELO ENTRE OS CONTRÁRIOS, O
QUAL GERA NOVAS CARACTERÍSTICAS. POR PENSAR ASSIM, HERÁCLITO É
CONSIDERADO O “PAI” DA DIALÉTICA. ETERNO DEVIR
Heráclito depositou a sua especulação em um elemento (O
FOGO), por sua capacidade de movimentar, agitar e
transformar as coisas. Segundo esse pensador, o mundo e a
natureza são constantes movimentos. Tudo muda o tempo
todo, e o fluxo perpétuo (movimento constante) é a principal
característica da natureza.
Nada fica estático, tudo se move,
tudo muda. O rio muda a cada
segundo, do mesmo modo que a
pessoa muda a cada segundo,
sendo assim uma mesma pessoa
não pode entrar duas vezes no
mesmo rio, pois tanto ela quanto
o rio já não são mais os mesmos
no instante após o primeiro
banho.
PARA HERÁCLITO O SER É O ÚNICO. É nele que tudo começa e
após ele temos o devir. Desta forma ele é o primeiro filósofo a
utilizar a especulação para fazer filosofia. Para fazer
especulações filosóficas ele utiliza a pesquisa e através da
pesquisa busca alcançar clareza para os pressupostos da
filosofia. A própria natureza da filosofia impõe que ela seja
feita através da pesquisa e a especulação é necessária porque
essa natureza gosta de se esconder. A natureza não entrega
seus fundamentos de forma fácil. Alcançar seus
conhecimentos é uma busca difícil para os filósofos e
impossível para a maioria dos homens.
SENTENÇAS:
- Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio.
- A doença faz da saúde algo agradável e bom.
- O Deus é dia-noite, inverno-verão, guerra-paz,
saciedade-fome; mas se alterna como o fogo,
quando se mistura a incensos, e se denomina
segundo o gosto de cada um.
- Os que procuram ouro escavam muita terra, mas
encontram pouco metal.
- Procurei-me a mim mesmo.
- Tu não encontrarás os confins da alma, caminhes o
quanto caminhares, tão profunda é ela.
Temos, na filosofia pré-socrática, uma oposição de
pensamentos que consiste na maior disputa do
mundo antigo: de um lado, HERÁCLITO DEFENDE A
MUDANÇA CONTÍNUA das coisas e a recusa a uma
essência fixa e rígida que defina a tudo. De
outro, PARMÊNIDES DEFENDE QUE NÃO HÁ
MUDANÇA, pois as essências permanecem as
mesmas e a mudança que acontece é superficial,
fruto do engano dos sentidos.
Assim, Heráclito afirmava que a verdade e o logos são a
mudança das coisas nos seus contrários, enquanto
Parmênides afirmava que são a identidade do Ser imutável,
oposto à aparência sensível da luta dos contrários.
Parmênides introduz a ideia de que o que é contrário a si
mesmo, ou se torna o contrário do que era, não pode ser
(existir), não pode ser pensado nem dito porque é
contraditório, e a contradição é o impensável e o indizível,
uma vez que uma coisa que se torne oposta de si mesma
destrói-se a si mesma, torna-se nada.
PARA HERÁCLITO, A CONTRADIÇÃO É A LEI RACIONAL DA
REALIDADE; PARA PARMÊNIDES, A IDENTIDADE É ESSA LEI
RACIONAL. PARA AMBOS A VERDADE SÓ PODE SER
ENCONTRADA PELA PURA ATIVIDADE DO PENSAMENTO.
Será preciso, portanto, uma solução que prove que a
mudança e os contrários existem e podem ser pensados,
mas, ao mesmo tempo, que prove que a identidade ou
permanência dos seres também existe, é verdadeira e pode
ser pensada.
COMO ENCONTRAR ESSA SOLUÇÃO?
O APARECIMENTO DA LÓGICA
Com PLATÃO E DE ARISTÓTELES, a Filosofia oferecerá as duas
soluções mais importantes para o problema da contradição
mudança e identidade-permanência dos seres.
A DIALÉTICA PLATÔNICA
Platão considerou que Heráclito tinha razão no que se refere ao MUNDO
MATERIAL OU FÍSICO, isto é, ao mundo dos seres corporais, pois a matéria
é o que está sujeito a mudanças contínuas e a oposições internas. Heráclito
está certo no que diz respeito ao mundo de nossas sensações, percepções e
opiniões: o mundo natural ou material (que Platão chama de MUNDO
SENSÍVEL) é o devir permanente.

ESSE MUNDO SENSÍVEL É UMA APARÊNCIA


O MUNDO VERDADEIRO É O DAS ESSÊNCIAS IMUTÁVEIS (QUE PLATÃO
CHAMA DE MUNDO INTELIGÍVEL),
Mas como conhecer as essências e abandonar as
aparências? Como sair da caverna? Através de um método
DO PENSAMENTO E DA LINGUAGEM CHAMADO DIALÉTICA.

é um DIÁLOGO ou uma conversa em que os interlocutores


possuem opiniões opostas sobre alguma coisa e devem
discutir ou argumentar de modo a PASSAR das opiniões
contrárias à MESMA IDEIA ou ao mesmo pensamento sobre
aquilo que conversam. Devem passar de IMAGENS
CONTRADITÓRIAS A CONCEITOS IDÊNTICOS PARA TODOS OS
PENSANTES.
A DIALÉTICA PLATÔNICA é um procedimento INTELECTUAL E
LINGUÍSTICO que parte de alguma coisa que deve ser
separada ou dividida em dois ou duas partes contrárias ou
opostas, de modo que se conheça sua contradição E SE
POSSA DETERMINAR QUAL DOS CONTRÁRIOS É VERDADEIRO
E QUAL É FALSO.
A ANALÍTICA ARISTOTÉLICA
Aristóteles, por sua vez, segue uma vi a diferente da
escolhida por Platão.
Considera desnecessário separar REALIDADE E APARÊNCIA
EM DOIS MUNDOS DIFERENTES – há um ÚNICO MUNDO no
qual existem ESSÊNCIAS E APARÊNCIAS – e não aceita que a
mudança ou o devir seja mera aparência ilusória
 HÁ SERES CUJA ESSÊNCIA É MUDAR E HÁ SERES CUJA
ESSÊNCIA É IMUTÁVEL.
Isto é, que as coisas se transformam nos seus opostos, pois a
MUDANÇA OU TRANSFORMAÇÃO é a maneira pela qual as
coisas realizam todas as potencialidades contidas em suas
essências e esta não é contraditória, mas UMA IDENTIDADE
QUE O PENSAMENTO PODE CONHECER.

Por exemplo, quando a criança se torna adulta ou quando a


semente se torna árvore, NENHUMA delas tornou-se contrária
a si mesma, mas desenvolveu uma potencialidade definida
pela identidade própria de sua ESSÊNCIA.
LÓGICA ANALÍTICA
Qual a diferença entre a dialética platônica e a lógica (ou
analítica) aristotélica?
Em primeiro lugar, a:

 DIALÉTICA PLATÔNICA é o exercício direto do pensamento


e da linguagem, um modo de pensar que opera com os
conteúdos do pensamento e do discurso.
 A LÓGICA ARISTOTÉLICA é um instrumento que antecede
o exercício do pensamento e da linguagem, oferecendo-
lhes meios para realizar o conhecimento e o discurso.
 Para Platão, a dialética é um MODO de CONHECER.
 Para Aristóteles, a lógica (ou analítica) é um
INSTRUMENTO para O CONHECER.
Em segundo lugar, a DIALÉTICA PLATÔNICA é uma atividade
intelectual destinada a trabalhar contrários e contradições
para superá-los, chegando à identidade da essência ou da
ideia imutável. Depurando e purificando as opiniões
contrárias, a dialética platônica chega à verdade do que é
idêntico e o mesmo para todas as inteligências.
A LÓGICA ARISTOTÉLICA oferece procedimentos que devem
ser empregados naqueles raciocínios que se referem a todas
as coisas das quais possamos ter um conhecimento universal
e necessário, e seu ponto de partida não são opiniões
contrárias, mas princípios, regras e leis necessárias e
universais do pensamento.
EM SÍNTESE – Pag. 129. RESPONDER AS QUESTÕES.
DE 1 – 6.
PRÓXIMO ASSUNTO
Ciências Humanas, Sociais
e Aplicadas - Filosofia
Novo Ensino Médio / Integral – 2ª Série
Professor Marcilio Reginaldo

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