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Economia Brasileira e Internacional


Vinicius dos Santos
2018

Economia Brasileira
e
Internacional

Material de Apoio

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Economia Brasileira e Internacional
Vinicius dos Santos
2018

Sumário
1. MACROECONOMIA COM ECONOMIA ABERTA.........................................................3
2. FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL.......................................................................32
3. CONCEITUAÇÃO E GENERALIDADES DO COMÉRCIO INTERNACIONAL..........67
4. TEORIA CLÁSSICA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL............................................70
5 EVOLUÇÃO DA ECONOMIA INTERNACIONAL........................................................77
6 O BRASIL E A GLOBALIZAÇÃO...................................................................................85
BIBLIOGRAFIA........................................................................................................................98

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1. MACROECONOMIA COM ECONOMIA ABERTA


1.1 Recessão/Inflação/desemprego
No semestre anterior, conhecemos os principais conceitos de macroeconomia.
Agora, trataremos dos desafios principais enfrentados pelos países. Embora na
teoria as próprias forças de mercado garantam um equilíbrio harmonioso,
decorrente da livre negociação entre os agentes econômicos, os países deparam-
se, de tempos em tempos, com importantes desequilíbrios macroeconômicos –
recessão, inflação e desemprego - , que tem efeitos negativos sobre o seu nível de
desenvolvimento socioeconômico.
1.1.1 Recessão
Em geral, espera-se que o avanço tecnológico provoque um aumento
contínuo do PIB total e do PIB per capta e mantenha o nível de
desemprego reduzido. Em verdade, existe, ao longo do tempo, uma
tendência de crescimento positivo do PIB na grande maioria das
economias mundiais, à exceção de um ou outro ano.
Paralelo a essa tendência, são comuns as oscilações no nível de
atividade econômica, ou seja, os ciclos reais. Estão lembrados dos Fluxos
Reais que vimos no semestre anterior?
Uma definição de recessão, comumente aceita diz respeito àquela que
se inicia após dois declínios trimestrais consecutivos no PIB.
Um dos principais desafios da macroeconomia é identificar os motivos
das recessões econômicas, de forma a poder evitá-las.
Dado que a recessão se caracteriza pela redução da produção, suas
causas podem surgir de três fontes:
a) Redução do Nível de Demanda;
b) Redução do Nível de Oferta;
c) Redução de ambos.

Aquelas geradas por redução do nível de demanda acontecem devido a


queda do nível de consumo e investimentos dos agentes econômicos. Por
exemplo: uma grande incerteza sobre o futuro causada pela perspectiva de
guerra ou de mudança política pode levar os agentes a reduzir seus
investimentos. De maneira parecida, as incertezas costumam diminuir o
nível de consumo, pois os consumidores consomem menos porque tem
medo de perderem o emprego.
As recessões ocasionadas por queda de oferta agregada acontecem
por choques na quantidade de fatores de produção ou no preço dos
produtos. Fatores climáticos podem reduzir as safras agrícolas, sem que
tenha ocorrido diminuição nos fatores de produção, levando também à
queda da oferta de emprego no setor. Elevações súbitas e acentuadas de
preços impactam negativamente a demanda agregada. Exemplos mais
marcantes disso foram os aumentos do petróleo em 1973 e 1979. Este
último em particular, foi um dos grandes motivos para a recessão brasileira
no inicio da década de 1980.

1.1.2 Desemprego
A perda do emprego gera uma série de consequências negativas para
os agentes econômicos, porque reduz seu poder de compra e cria
incerteza sobre sua renda futura, gerando impacto negativo sobre a
dinâmica macroeconômica.

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Como já vimos, existem vários tipos de desemprego, mas três são os de


maior destaque:
a) Cíclico: decorre dos movimentos oscilatórios da economia e
ocorrem, mais comumente, em períodos de recessão econômica.
b) Friccional: decorrente da transição de um emprego para o outro.
c) Estrutural: decorre de situações em que o preço (salário) não é
aquele que equilibra a demanda e a oferta de mercado de trabalho

Enquanto o desemprego cíclico ocorre o curto prazo, refletindo aspectos


da conjuntura econômica problemática pela qual o país passa, os dois
últimos ocorrem por problemas ao longo prazo.
O desemprego friccional ocorre quando as pessoas mudam de trabalho,
por vontade própria ou não, e em razão da assimetria de informação entre
as partes – os patrões querem o candidato ideal e o trabalhador que a
atividade que se encaixa às suas habilidades – há uma exaustiva procura
de emprego até que os pré-requisitos se satisfaçam. Como a economia é
dinâmica torna-se inevitável a ocorrência deste tipo de desemprego,
embora haja opiniões contrárias com relação à intervenção do Estado
nesse setor, por meio de agências governamentais de procura de emprego
a políticas de seguro desemprego. Alguns críticos afirmam que o seguro
desemprego reduz o esforço na busca de um novo trabalho, outros
consideram que há redução da incerteza do empregado com o relação ao
seu salário futuro e aumento na probabilidade de encontrar um emprego
que melhor encaixe seu perfil. (MANKIW,2006).
Desemprego estrutural, sob a ótica da teoria econômica, acontece no
mercado de trabalho em razão da falha na sinalização do preço para as
agentes nesse mercado, ou seja, do salário estabelecido. Há mais
trabalhadores buscando emprego do que empresas dispostas a contratar,
o que gera excesso de oferta de mão de obra. Como o salário é o preço
que se ajusta aos desejos das firmas em demandar mão de obra e aos
anseios dos trabalhadores em ofertá-la, se o mercado de trabalho fosse
perfeitamente competitivo, não haverá desemprego estrutural. Isso não
acontece porque o salário estabelecido (salário mínimo) está normalmente
acima do patamar que reflete o equilíbrio no mercado de trabalho.
A taxa de desemprego decorrente das causas friccional e estrutural é
chamada de Taxa Natural de Desemprego. Sendo um conceito referente
ao longo prazo, uma sociedade esta em sua Taxa Natural de Desemprego
se a economia estiver crescendo à taxa do PIB potencial. Assim, esta é
uma taxa de desemprego que não gera inflação. Entretanto, tanto o PIB
potencial, quanto a o Taxa Natural de Desemprego são conceitos teóricos
não observáveis na realidade.
Resumidamente, desemprego estrutural no mercado de trabalho pode
ser explicado de três formas:
a) Pela existência de salário mínimo;
b) Pela negociação sindical;
c) Pela teoria do salário eficiente.

A lei do salário mínimo estabelece uma remuneração acima daquela


que ajustaria a demanda e a oferta de trabalho, afetando trabalhadores
menos qualificados ou jovens que estão entrando no mercado de trabalho.
Como qualquer tipo de intervenção estatal há controvérsias sobre esta
lei. Alguns críticos destacam que a lei gera uma situação de desequilíbrio e
de injustiça para aqueles que ficam de fora do mercado. Segundo

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Heckman (2000), benefícios trabalhistas como restrições à demissão e


segurança no emprego podem proteger alguns trabalhadores à custa de
outros, enquanto os benefícios são claramente documentados, os custos
provenientes de efeitos colaterais são menos compreendidos. O impacto
adverso da regulação do trabalho atinge mais fortemente os jovens e
trabalhadores que estão à margem da força de trabalho, enquanto que os
mais experientes e/ou qualificados conseguem desenvolver formas para
defender seus direitos.
Outros críticos, favoráveis a lei do salário mínimo, assinalam que ele
assegura pode de compra a populações de renda muito baixa, garantindo
a sobrevivência humana. Destacam também que devido ao elevado poder
de barganha das empresas e da alta concentração de mercado em alguns
setores, a lei tem um efeito líquido positivo.
A rigidez das regras no mercado de trabalho de uma economia é um
conceito que contempla aspectos mais amplos do que a regra do salário
mínimo. Às regras oneram o empregador tanto durante o período em que o
empregado está trabalhando quanto no período de sua demissão. Quanto
maior for a rigidez, maior será o desemprego, sobretudo em períodos de
crise quando a demanda agregada sofre quedas mais acentuadas.
A negociação sindical é outra forma de gerar desemprego estrutural. Na
ausência de um acordo, os sindicatos podem entrar em greve, causando
prejuízo às firmas. Por conta disso, normalmente os acordos acontecem, e
os empregados sindicalizados têm salários superiores aos não
sindicalizados, situação essa que causa desemprego e acaba reduzindo o
salário em setores não sindicalizados da economia.
A teoria eficiente dos salários é uma forma de desemprego estrutural.
Inversamente aos dois tipos anteriores, em busca de empregados mais
produtivos, as empresas fixam salários acima do nível ótimo de equilíbrio.
Segundo esta teoria, os trabalhadores que ganham mais são aqueles que
têm maior nível de educação, são mais dedicados e mais produtivos.

1.1.3 Inflação
A inflação caracteriza-se pela situação em que há uma variação de
preços positiva, persistente e generalizada. Quando essa variação é
negativa, persistente e generalizada, há deflação. A hiperinflação ocorre
quando a inflação é excessivamente elevada e assume uma trajetória de
aceleração vertiginosa (não há número especifico a partir do qual se diz
haver hiperinflação, mas um nível geral de preços acima de 50% ao mês
pode ser considerado como tal). Nos três casos, não se trata de um
fenômeno causal ou ocasional, mas de uma situação de continuidade.
No semestre anterior conhecemos as classificações de inflação e os
principais indicadores utilizados para monitorá-la.
A inflação tem efeitos nocivos sobre a economia, sendo eles:
a) Redução do poder de compra dos indivíduos: quando os preços
aumentam, não se consegue compra mais a mesma quantidade de
bens e serviços. Com efeito adverso sobre a taxa de crescimento.
Conforme Milton Friedman (1970), a inflação é “a única taxação que
pode ser imposta se a necessidade e de uma legislação.” Para se
proteger dela, os agentes recorrem a aplicações financeiras
oferecidas pelo sistema bancário, que protegem o dinheiro da
corrosão inflacionária. Com isso, um dos custos decorrentes da

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inflação é o desperdício de recursos para defender-se dela e que


poderiam ser direcionados para fins mais produtivos.
b) Concentração de Renda: a inflação contribui para a concentração de
renda. As camadas mais pobres da população, por não terem
acesso ao sistema bancário, tampouco recursos financeiros para
aplicações, encontram mais dificuldades para defender-se dos
efeitos da inflação sobre seu poder de compra. A inflação corroí a
base de recolhimento de tributos, o que tende a reduzir a
capacidade do governo de financiar programas sociais direcionados
aos mais pobres.
c) Redução de Investimentos: A inflação aumenta as incertezas na
economia e reduz investimentos. Como os preços relativos dos bens
e serviços mudam o tempo todo, fica mais difícil para as empresas
estimarem seus custos e lucros, o que acaba por desestimular os
investimentos, especialmente os de mais longo prazo. Inflações
elevadas também influenciam para reduzir a poupança
(investimentos monetários) e aumentar a procura por ativos reais,
inviabilizando fontes de financiamento de médio e longo prazo.
Reduzindo drasticamente o valor dos investimentos privados e
comprometendo o crescimento de longo prazo da economia.Níveis
de preços elevados também criam constrangimentos para o
financiamento do setor público, pois reduz a receita tributária em
termos reais e cria dificuldade para o governo obter financiamento
para cobrir seu déficit, já que poupadores não compram títulos da
dívida pública porque os juros nominais desses papéis será inferiores
à taxa de inflação do período.Como resultado, observa-se uma
redução dos investimentos públicos e pressão adicional sobre o nível
de preços, pois o governo se vê obrigado a recorrer à emissão de
papel-moeda para financiar seu déficit, realimentando a inflação.

Elevados níveis de preços também contribuem para aumentar o déficit


no Balanço de Pagamentos. Em regimes de câmbio fixo, o efeito de uma
inflação interna será o de desestimular as exportações e estimular as
importações, o que poderá provocar a ocorrência de déficits sucessivos na
Balança de Pagamento. Como consequências são visualizadas três
possibilidades:
a) Utilizar as reservas internacionais, se o país as possuir;
b) Endividamento Externo, caso não tenha reservas, reduzindo
potencial de crescimento futuro;
c) Declara Moratória.

1.2 Consumo/poupança/investimento
Conhecemos anteriormente o conceito dessas variáveis sob análise de uma
economia fechada, a partir de agora estenderemos tais conceitos para
compreendê-las sob a óptica da contabilidade de renda nacional de uma
economia aberta, pois tais variáveis, ou contas da renda nacional, exercem papel
fundamental no comércio internacional e na teoria macroeconômica de uma
economia aberta.
Desde que os residentes de uma economia fechada não podem comprar
produtos estrangeiros ou vender seus produtos aos estrangeiros, toda a renda
nacional deve ser gerada pelo consumo doméstico, investimento e gastos do
governo.

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Em uma economia aberto ao comércio internacional, entretanto, a versão da


contabilidade da renda nacional para uma economia fechada deve ser modificada
porque alguns produtos domésticos são exportados para estrangeiros enquanto
que parte da renda doméstica é gasta na importação de produtos estrangeiros.
Perceberemos que, em economias abertas, poupança e investimento não são
necessariamente iguais, como ocorre em uma economia fechada. Isto acontece
porque os países podem poupar exportando mais do que importam ou reduzir sua
riqueza exportando menos do que importam.

1.2.1 Consumo
A parcela do PIB adquirida pelo setor privado para suprir as
necessidades correntes é denominada consumo. As compras de ingressos
de cinema, alimentos, serviços dentários e máquinas de lavar estão nesta
categoria.
O gasto em consumo é o maior componente da produção nacional.
Nos Estados unidos, por exemplo, a participação do consumo no PIB
esta entre 62% e 69%.

1.2.2 Investimento
A parcela do PIB utilizada pelas empresas privadas para a produção é
denominada investimento.
Os gastos em investimento podem ser vistos com uma fração do PIB
utilizada para aumentar o estoque de capital do país.
O aço e os tijolos utilizados para construir uma fábrica são parte do
gasto em investimento, assim como os serviços fornecidos por um técnico
que auxilia na construção de computadores. As compras de estoques das
empresas também são contabilizadas como gastos de investimentos
porque a formação dos estoques.
O investimento é mais variável do que o consumo.
Nos Estados Unidos, o investimento (bruto) tem flutuado entre 12% e
19%. Embora quase sempre utilizemos a palavra investimento para
descrever as compras individuais de ações, títulos ou imóveis, deve-se
tomar cuidado de não confundir esse significado comum com a definição
do investimento do ponto de vista econômico, como componente da
produção nacional.

1.2.3 Poupança (Poupança Nacional)


Definimos o conceito de poupança nacional, S, como a parte do produto
(renda), Y, que não é destinada ao consumo das famílias, C, ou os gastos
do governo, G. Em uma economia fechada, a poupança nacional é sempre
igual ao investimento. Isto nos diz que a economia como um todo pode
aumentar sua riqueza somente por meio de acúmulo de capital.
Em uma breve simplificação de nossa definição temos:

S=Y–C-G

Para uma economia fechada temos que Y = C + I + G, pode ser escrita


como I = Y – C – G, então teremos que S = I, ou seja, a poupança nacional
e o investimento sempre serão iguais.
Entretanto, em uma economia aberta poupança nacional e investimento
podem ser diferentes, pois uma economia aberta pode poupar amentando
seu estoque de capital ou adquirindo riqueza externa, ou seja, exportando
mais do que importando.

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Assim, para uma economia aberta temos que:

S = Y – C – G + (X-M)

Diferentemente de uma economia fechada, uma economia aberta com


oportunidades de investimentos lucrativas não necessita aumentar sua
poupança para explorá-la. A expressão anterior mostra que é possível
simultaneamente aumentar o investimento sem alterar a poupança.

1.3 - Contabilidade Nacional (PIB)


A finalidade da macroeconomia é estudar a determinação e o
comportamento dos grandes agregados nacionais com objetivo de
compreender e avaliar o desempenho da economia.
Para isso é preciso mensura-la e isso é realizado por meio do Sistema
de Contas Nacionais (SCN) e do Balanço de Pagamentos (BP).Com esses
instrumentos, é possível calcular e acompanhar sistematicamente a
totalidade das transações econômicas realizadas no país e deste com o
resto do mundo.

1.3.1 PIB
O objetivo do Sistema de Contas Nacionais (SCN) é mensurar o valor
de tudo o que o país produz em um determinado período do tempo: o
Produto Interno Bruto (PIB). Trata-se de um instrumento imprescindível
para o setor privado, que decide o quanto vai consumir e investir, e para o
setor público, que tem poder de alterar os incentivos aos agentes privados,
editando leis, reforçando instituições e adotando novas políticas públicas.
O PIB abrange todos os bens e serviços finais produzidos dentro do
país, por residentes ou não, em um determinado período de tempo.
Normalmente os órgãos de estatística calculam o PIB utilizando três
metodologias, ou ópticas: a do Produto, da Renda e da Despesa.
a) Óptica do Produto (ou da produção)
Representa o somatório, em unidades monetárias, de tudo o que as
empresas produzem de bens e serviços finais em um determinado
período de tempo. Também chamado de Oferta Agregada,
apresentada nos setores agropecuário, industrial e de serviços,
sendo estes considerados com os setores de produção de bens e
serviços finais.
Esta óptica considera que já estão incorporados os bens
intermediários, a métrica para calcular o produto agregado só
contém bens e serviços finais, para evitar duplicidade na contagem.
b) Óptica da Renda
A renda agregada representa o somatório da remuneração dos
fatores de produção que as empresas utilizam no processo
produtivo dos bens e serviços.
Trata-se das remunerações referentes a todos os fatores de
produção que as firmas necessitam para sua produção em um
determinado período de tempo, por exemplo: salário, juros, aluguéis,
lucros e dividendos distribuídos.
Esse método de mensuração identifica os fatores de produção
usados pelas empresas (demandantes) e quanto elas pagam pelo
seu uso. Entende-se como fatores de produção (ou insumos)

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grandes grupos como trabalho, terra e capital (máquinas,


equipamentos, etc..).
c) Óptica da Despesa
Aqui é realizado o somatório dos gastos de todas aqueles que
demandam os bens e sérvios finais produzidos pelas empresas em
um determinado período de tempo, sendo: o consumo das famílias e
do governo, os investimentos de todos os agentes econômicos na
formação de capital fixo e o saldo das exportações menos as
importações de bens e serviços.
Também chamamos este método de Despesa Agregada ou
Demanda Agregada.
Dos três métodos, este é o mais utilizado, seja para decidir sobre
políticas públicas seja para fazer projeções.
Neste método os bens finais são agrupados em bens de consumo e
bens de investimento. Os de consumo são duráveis (automóvel,
eletrodomésticos, etc..) e os não duráveis (alimentos, bebidas,
roupas, etc..). Os bens de investimento, que serão utilizados como
fatores de produção pelas empresas, referem-se aos bens de capital
físico (máquinas, equipamentos, softwares, etc..)

Apesar de ser um método de mensuração adotado mundialmente, o PIB


apresenta algumas deficiências em seu cálculo, pois há variáveis não
incluídas no caçulo, como a economia informal e o ganho de qualidade,
além de certos produtos e serviços, incluídos no cálculo e que contribuem
para o crescimento do PIB, favoreçam a destruição pessoal ou da
propriedade, entre alguns exemplos estão o álcool, tabaco e armas.
No que diz respeito aos compradores, há quatro grandes grupos de
agentes econômicos: as famílias, as empresas, o governo e o resto do
mundo. Normalmente, as famílias consomem os bens de consumo, ao
passo que os demais agentes podem demandar tanto bens de consumo
quanto bens de investimento. Um mesmo bem ou serviço pode ser
caracterizado de duas formas, dependendo do comprador, por exemplo: se
uma cafeteira for comprada para uso próprio, em casa, esse bem é
considerado de consumo final, contudo se a compra for para um
restaurante, o bem é classificado como de investimento.
As empresas podem ser públicas ou privadas, isso significa que há dois
tipos de investimento: o público e o privado. As empresas financiam sua
produção através da venda de bens e serviços a um preço que cobre os
custos de produção e remunera o investimento na forma de lucro. O
investimento total (IT) de um país é financiado pela poupança agregada,
ou seja, a poupança do governo e a privada (chamada de poupança
interna) e na externa. Então temos:

IT= (Sgoverno+Ssetor privado+ Sexterna) ou


IT= (T-G)+(PIB-T-C)+(M-X)

Onde:
IT = investimento total S = poupança
T = tributo G = gastos do governo
PIB = produto interno bruto C = consumo
M = importações X = exportações

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Por governo, entende-se os três poderes (Executivo, Legislativo e


Judiciário) no três níveis (federal, estadual e municipal). Essas entidades
produzem, basicamente, serviços não mercantis, ou seja, que não são
vendidos ao mercado, que são prestados às famílias e às empresas, sem
contrapartida financeira, sendo o valor calculado apenas pelo custo de
produção, não há expectativa de lucro. A produção do governo é
financiada principalmente pela receita decorrente da arrecadação tributária
e pela participação no lucro de suas empresas. Em contrapartida, o
governo gasta ao adquirir bens e serviços e pagando salários aos
servidores públicos, são as ‘despesas correntes’ para manter o
funcionamento da administração pública (gastos do governo). Aqueles
gastos destinados à viabilizar as funções governamentais, entre elas a
provisão para escolas, hospitais, construção de estrada...são os gastos
com bens de capital (Investimentos). Outros gastos como Previdência
Social, Fundo de Amparo ao Trabalhador, Bolsa Família, entre outros na
são considerados investimentos, tampouco despesas correntes.
O resto do mundo considera todas as famílias, empresas e governo de
outros países. Separamos em dois tipos as transações que podem ser
realizadas. O primeiro ocorre no mercado de bens e serviços, em que há
compra (importação) e venda (exportação) por parte do Brasil para o resto
do mundo. O segundo se dá no mercado de fatores de produção, em que
há o uso ou venda de um determinado fator de produção pelo e o
pagamento ou recebimento de valor da remuneração, vejamos dois
exemplos:
a) Quando a China compra petróleo do Brasil, essa transação gera
uma entrada de divisas no país;
b) Quando uma empresa alemã instala-se no Brasil e depois envia
lucros para sua matriz, na Alemanha, ocorre uma saída de
divisas.
A interação entre aos agentes econômicos pode ser expressa na
fórmula clássica do PIB (sob óptica da demanda):

PIB = C+G+I+(X-M)

A demanda global defini-se pela soma da demanda interna, que agrega


os bens de consumo e de investimento comprados pelas famílias (C),
governo (G), empresas localizadas no Brasil (C+G+I), e pela demanda
externa, formadas pelas exportações (X). Assim a Demanda Agregada
Global = (C+G+I)+X.
Já a oferta agregada global é a soma de bens e serviços ofertados
pelas empresas nacionais (no mercado interno ou PIB) com os ofertados
pelo resto do mundo, as importações (M). Assim a Oferta Agregada Global
= PIB + M

1.3.2 Injeções e Vazamentos


Injeções: (I+G+X) Representam a demanda dos agentes econômicos
empresas, governo e resto do mundo. É todo o recurso injetado no fluxo
básico e que não é originado da venda de bens de consumo às famílias,
são eles: Investimento, Gastos do Governo e Exportações.
Vazamento: (S+T+M) São recursos que deixam de fluir para famílias e
para as empresas. É toda a renda que não é dirigida às empresas
nacionais na compra de bens de consumo, são eles: Poupança, Impostos
e Importações.

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Diminuições do investimento, dos gastos do governo e das exportações


representam vazamentos e quedas na poupança, impostos e importações
significam injeções no fluxo.

1.3.3 Outros conceitos importantes da Contabilidade Nacional


Existem outros conceitos de Contabilidade Nacional, além do PIB,
igualmente importantes para se avaliar a situação macroeconômica de um
país.
O Produto Interno Líquido (PIL) apresenta a produção do país
descontando a depreciação, que é o valor do desgaste ou da
obsolescência do estoque de capital durante certo período. Assim temos:

PIL = PIB – Depreciação

O PIB é somatória de todos os bens e serviços finais produzidos dentro


das fronteiras do país, em um determinado período.
O Produto Nacional Bruto (PNB) é a soma, em valor de mercado, de
todos os bens e serviços finais produzidos dentro ou fora das fronteiras do
país por agentes residentes no país em um determinado período de tempo.
Para calculá-lo, é preciso conhecer a diferença entre as rendas enviadas e
recebidas do exterior.
A Renda Líquida Recebida do Exterior (RLRE) é a diferença entre a
Renda Recebida do Exterior (RR) e a Renda Enviada ao Exterior (RE).
Assim, temo:

PNB = PIB + RLRE ou


PNB = PIB + (RR-RE)

Caso o saldo da RLRE seja positivo, ou seja, a renda recebida seja


maior do que renda enviada, então o Produto Nacional será maior que o
PIB e vice e versa.
No Brasil e nos países emergentes, o PIB tende a ser maior do que o
PNB em razão das altas remessas de juros, lucros e royalties aos
estrangeiros. Nos países desenvolvidos, o PNB tende a ser maior do que o
PIB.
O PNB será maior que o PIB sempre que fatores domésticos de
produção que trabalham no exterior ganharem mais do que os fatores
estrangeiros de produção dentro da economia doméstica:

RLE>0 RE>RR PIB>PNB Brasil


RLE<0 RE<RR PIB<PNB EUA

Um exemplo:
Os lucros enviados ao exterior pela Google do Brasil pertencem ao PIB
brasileiro, pois foram produzidos dentro do território do país, enquanto que
o lucro que o Brasil recebeu da filial da Embraer em Portugal não
aparecem no PIB brasileiro, uma vez que a produção não foi no território.
O PIB considera o lucro enviado ao exterior, mas não contabiliza o lucro
recebido do exterior.
Os lucros enviados ao exterior pela Google do Brasil não pertencem ao
PNB brasileiro, contudo o lucro recebido pelo Brasil da filial da Embraer em
Portugal é contabilizado no PNB.

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O Produto ao Preço de Mercado (pm) inclui os impostos indiretos, mas


não os subsídios. O Produto a Custo de Fatores (cf) não inclui os impostos
indiretos, mas inclui os subsídios. Assim temos:

Produto a preço de mercado = impostos indiretos – subsídios


Produtos ao custo de fatores = subsídios – impostos indiretos

Só são contabilizados os impostos indiretos porque eles incidem sobre


as transações de bens e serviços comercializados (ICMS, IPI, ISS, IVA).
Os impostos diretos incidem sobre a renda e patrimônio dos indivíduos.

1.3.4 PIB Nominal x PIB real


O PIB é medido em termos monetários, pois seria impossível somar
quantidades de bens e serviços com diferentes métricas. Todo valor
monetário, quando comparado em duas datas, deve ser corrigido pela taxa
de inflação do período para se evitar o erro de acreditar que o país esta
aumentando as quantidades produzidas e gerando mais empregos,
quando na verdade pode não estar.
Para evitar o erro da Ilusão Monetária, deve-se diferenciar, na variação
do PIB, o que diz respeito a variação de preços e o que esta relacionado
ao aumento efetivo da produção. Para fazer esta correção, ou seja,
deflacionar uma séria de dados pode-se usar um índice de preço como o
IPCA (Índice de Preço ao Consumidor Amplo). No caso do PIB, existe uma
forma mais apropriada de corrigir a série de PIBs nominais, preços
correntes, que é através da utilização do deflator implícito do PIB
(calculado e divulgado pelo IBGE).
O deflator do PIB é a razão do PIB nominal em um dado ano em relação
ao PIB real e é uma medida da inflação, pois mede a mudança no preço de
todos os bens e serviços incluídos no PIB.

Deflator do PIB = PIB nominal / PIB Real

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O PIB real é aquele medido a preços constantes. Trata-se da melhor


medida agregada para descrever o crescimento da economia ao longo do
tempo porque mede efetivamente a variação na quantidade do produto. Já
o PIB nominal não é um bom indicador de crescimento de uma economia
porque o aumento do PIB nominal de um ano para o outro não significa
necessariamente um aumento da produção real, já que é calculado em
função dos preços correntes e esse aumento pode decorrer unicamente da
inflação (FEIJÓ, 2004).
Por exemplo, suponha que um indivíduo tivesse um salário de R$
2.000,00/mês, ao longo de três anos. Nesse período houve uma inflação
acumulada de 10% e o indivíduo recebeu um aumento que elevou seu
salário para R$ 2.100,00/mês. Se o indivíduo comprar comente os valores
nominais ele ficará feliz porque concluirá que esta com R$ 100 a mais do
que antes. Essa é a “ilusão monetária”, já que para saber o valor real do
seu salário ele deveria descontar a inflação do período.
Quando se comparam os valores reais, a felicidade do indivíduo
desaparece, pois ele percebe que teve uma perda real do seu salário de
R$ 100,00. Em verdade, neste exemplo, o poder aquisitivo do indivíduo
caiu, uma vez que ele teve um aumento de 5%, ou seja, abaixo da
inflação.

1.3.5 Contas Nacionais no Brasil


Ao analisar as Contas Nacional do Brasil, é importantes termos em
mente dias definições do que se entende por governo no país, são elas:
a) Governo Central (GC) é o Tesouro Nacional (TN), Banco Central e
Previdência;
b) Setor Público (SP) é o GC, governos estaduais e municipais,
empresa públicas e autarquias.

O PIB calculado pelo IBGE considera como governo parte do setor


público, pois exclui as empresas públicas e autarquias. Desde de 2009 não
existe distinção entre os investimentos privados (I P) e os investimento
públicos (IG). Ambos aparecem como investimento total.
O Resultado Fiscal, divulgado pelo Tesouro Nacional (TN), considera
como governo apenas o Governo Central (GC), mas está explícito quanto
se gasta no total de I G. O Resultado Fiscal apresentando pelo Banco
Central, considera como governo todo o Setor Público (SP), mas não
separa G de IG.
Segundo Giambiagi(2001), em relação ao déficit público, existem dois
conceitos: déficit primário e o déficit nominal:
O primário é o gasto do governo com bens e serviços e com a
remuneração do funcionalismo – pessoal e encargos sociais – acrescidos
das transferências – despesas com Previdência Social, fundo de Amparo
ao Trabalhador (FAT), etc.. – mais os investimentos(I G) – tais como
despesas de capital, PAC – menos a receita governamental total.
O nominal é o déficit primário acrescido de juros sobre o estoque da
dívida pública. O déficit nominal do Setor Público também é chamado de
Necessidade de Financiamento do Setor Público.

Se o resultado for positivo, em vez de déficit público teremos superávit


primário do setor público, ou seja, o resultado positivo da subtração de
receitas menos despesas não financeiras do governo. Incluindo os juros
teremos o superávit nominal do setor público, ou seja, o resultado positivo

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da subtração de receitas menos as despesas do governo, incluindo as


despesas financeiras.
Em situações de déficit fiscais, os governos recorrem, usualmente, a
medidas tradicionais de política fiscal, como o aumento de impostos e
corte de gastos. Caso tais medidas não sejam suficientes para equilibrar a
conta, surge a questão de como financiar o déficit.
O financiamento do déficit fiscal pode ser feito através de recursos
extrafiscais, são elas:
a) Emissão de moeda: o Tesouro Nacional pede emprestado ao
Banco Central;
b) Venda de Títulos da dívida pública ao setor privado.

A primeira possibilidade gera inflação (chamado imposto inflacionário),


mas não aumenta o endividamento público com o setor privado. Isso
também é conhecido como monetização da dívida, significando que o
Banco Central cria moeda para financiar a dívida do Tesouro.
Na segunda, como o governo troca títulos (ativo financeiro não
monetário) por moeda que já esta em circulação, essa atividade não gera
inflação, mas provoca uma elevação da dívida pública.
É importante destacar os conceitos básicos de dívida interna, externa,
pública, privada e total. A dívida interna é o passivo em moeda nacional, já
externa é o passivo em divisa externa. A dívida pública é total o passivo do
governo seja em moeda nacional ou estrangeira. A dívida privada é toda a
dívida do setor privado seja em moeda nacional ou estrangeira. A Dívida
total é o passivo do setor público e privado.
Essas categorias podem ainda ser divididas em Dívida Bruta (passivo
geral) e Dívida Líquida, que é a dívida bruta menos os ativos do governo,
constituídos predominantemente de crédito com bancos públicos e
reservas internacionais.
No caso da dívida externa bruta, na metodologia utilizada pelo Banco
Central do Brasil não são contabilizados os “empréstimos
intercompanhias”, que entram como investimento direto no país (IDP) na
contabilidade de nosso Balanço de Pagamentos.
Outro aspecto diz respeito à diferença entre a metodologia brasileira e
do FMI. Segundo os critérios adotados pelo Brasil, os títulos do Tesouro na
carteira do Banco Central não são contabilizados como dívida, já no FMI
sim. Por isso, segundo dados oficiais, o valor atual de nossa dívida pública
bruta é, normalmente, inferior a calculada pelo FMI.
Dentre os diversos conceitos utilizados pelo governo, vale destacar:
a) Dívida Líquida do Governo Geral (DLGG) = Dívida Bruta do Governo
Geral + títulos na carteira do Banco Central + equalização cambial +
Dívida Líquida do Branco Central (DLBC) + Dívida Líquida das
Empresas Estatais (DLEE) – Crédito do Governo Geral.
b) Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) = DLGG + DLBC + DLEE.
c) Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) = Dívida Interna (DI) +
Dívida Externa (DE)

1.4 Taxas de Câmbio


Sabemos que existe uma interação entre comércio/investimento externo e o
agregado do sistema econômico de cada país envolvido.
A teoria macroeconômica varia caso esteja considerando um sistema isolado
do resto do mundo ou uma economia com relações de comércio, investimento e

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que recebe recursos externos. É chamada de “macroeconomia da economia


aberta”.
As variações nas exportações e importações têm implicações para decisões de
investimento e afetam diretamente o mercado de fatores. Os resultados das
transações com o resto do mundo afetam a oferta e a demanda por divisas,
portanto influenciam o nível da taxa de câmbio, que por sua vez tem efeito
multiplicador sobre diversos outros preços na economia.
Decisões com relação à taxa básica de juros da economia, tomadas com base
no cenário interno, podem representar atrativo para o influxo de recursos ou
induzir a saída de capitais, e tanto um movimento quanto outro têm implicações
sobre os investimentos e sobre o nível do câmbio e, portanto, o nível de inflação.
Uma ferramenta básica de análise da relação que ocorre entre as políticas
monetária e fiscal e o equilíbrio externo da economia é o chamado “modelo
Mundell-Felming” (Fleming, 1962; Mundell, 1963), muito utilizado até o início da
década de 1970, mas ainda útil como referencial de análise de certos aspectos de
uma economia aberta.
Em um contexto no qual existe mobilidade internacional de capitais, o
mecanismo de “arbitragem de juros” fará que uma taxa de juros no mercado
interno mais alta do que no mercado internacional provoque entrada de recursos
na economia. O movimento de capitais, por sua vez, influencia o mercado de
divisas e consequentemente a taxa de câmbio.
Como consequência disso podemos concluir que uma política monetária
independente, que determine a taxa interna de juros, é incompatível com a
adoção de uma taxa de câmbio fixa de forma simultânea com a existência de
mobilidade de capital.
A isso damos o nome de “trindade impossível”:
a) Se o objetivo de política for manter o câmbio estável, será necessário impor
restrições ao movimento de capitais;
b) Se o objetivo for a participação plena no mercado internacional de capitais
sem experimentar flutuações acentuadas no câmbio, será preciso fixar a
taxa de câmbio;
c) Se o objetivo for preservar a mobilidade de capitais e a independência da
política monetária, será preciso conviver com um regime de taxa de câmbio
flutuante.

Essas impossibilidades representam um dilema para as autoridades, já que o


grau elevado de volatilidade da taxa de câmbio gera incerteza nos agentes
econômicos e tem eventualmente impactos relevantes de curto prazo sobre o
nível de preços internos. Por sua vez, fecha a economia aos fluxos externos de
recursos pode ser uma estratégia míope, na medida em que isso pode ser
entendido pelos agentes econômicos como uma postura defensiva, excludente, e
acabar desestimulando potenciais investidores no país. Por fim, abrir mão da
política monetária é arriscado, tanto porque ela é um instrumento importante no
combate a pressões inflacionárias como porque pode ser um estímulo ao ritmo de
atividade econômica, se o custo do capital for mantido a níveis baixos.
Dado que na grande parte dos países a maioria das transações no mercado
interno deve ser feita em moeda nacional, existe um elemento que vincula a oferta
monetária à disponibilidade de divisas.
Do ponto de vista da autoridade monetária, seu balanço traz, de um lado
(ativo), os títulos do Tesouro Nacional e as reservas de divisas e, de outro
(passivo), a chamada base monetária (papel moeda em pode do público mais as
reservas bancárias).

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Os bancos comerciais têm em seu ativo as reservas bancárias e o crédito


interno (títulos do tesouro e empréstimos para o setor privado) e no passivo os
depósitos à vista. Com isso, o balanço consolidado do sistema bancário (banco
central mais o bancos privados) tem no ativo as divisas e o crédito interno e no
passivo a base monetária.
Isso significa que a variação do nível de reservas de divisas é igual à diferença
entre a variação da base monetária e a variação do crédito doméstico. Um
aumento excessivo e não previsto do crédito interno provoca desequilíbrio nas
contas externas, porque estimula a aquisição de bens e serviços no exterior, e
provoca queda no nível de reservas.
Da mesma forma, uma entrada de divisas implica a necessidade de os agentes
converterem essas divisas em moeda nacional. Dependendo dos volumes
envolvidos, um influxo elevado de divisas (provocado por um superávit comercial,
por exemplo) gerará uma expansão significativa da oferta monetária. Caso a
autoridade monetária queira evitar o impacto inflacionário dessa expansão, terá de
colocar no mercado títulos da dívida pública (operação de mercado aberto), com o
que elevará o nível da dívida.
Outro canal de transmissão é por meio da movimentação internacional de
fatores de produção. Uma economia com volume expressivo de emigrantes
naturalmente tenderá a tornar-se dependente dos recursos advindos da remessa
desses indivíduos para o país de origem. Em alguns países da américa central e
do Caribe, essa fonte de recursos corresponde a um percentual elevado da
receita de divisas.
Em direção oposta, uma situação em que a expectativa dos agentes
econômicos os leve a aumentar sua remessa de lucros e dividendos para o
exterior tende a agravar o desequilíbrio das contas externas, impondo pressão
adicional sobre o mercado de divisas e elevando o nível da taxa de câmbio,
barateando as exportações e tornando as importações mais caras em moeda
nacional. Outros efeitos são encarecer a dívida externa, caso o país não seja o
emissor da moeda em que os compromissos forma firmados e pressionar o nível
de preços no mercado interno.

1.4.1 Os fluxos internacionais de bens e capital


A maior parte das explicações para composição dos fluxos de comércio
pressupôs que não existe mobilidade internacional dos fatores de produção, que
não há migração nem fluxos de capitais entre países. Entretanto, quando
analisamos as taxas de câmbio percebemos a sensibilidade do movimento de
capitais em razão do diferencial das taxas de juros interna e externa.
Supor um mundo com baixa mobilidade de capital fazia sentido na primeira
década do século XX, quando por razões de conflitos bélicos, ou pelas
características do sistema monetário internacional nas décadas que se seguiram à
Segunda Guerra, a maior parte dos movimentos de capitais entre países estava
associada a recursos de governos e/ou organismos multilaterais, o que significa
decisões com forte componente político.
Já desde meados da década de 1970, se observa uma mudança significativa
nesse cenário, com a crescente liberalização das movimentações de recursos
financeiros e o aumento expressivo dos investimentos diretos. O progresso havido
na capacidade de transmissão de dados e na capacidade de processamento
desses dados permitiu o que se convencionou chamar de “globalização
financeira”, com surgimento de novas instituições, além dos bancos comerciais e
de um número grande d modalidades para aplicação de recursos.

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Os movimentos de capital podem não envolver mudança de propriedade. Por


exemplo, remessas que os migrantes fazem para seu país de origem, podem ter o
mesmo individuo como remetente e recebedor.
Já os investimentos, seja financeiro (também chamados de investimentos em
carteira) seja investimento direto (relacionado ao processo produtivo real), são
definidos como a aquisição de direitos por parte de residente em um país, de
origem do capital, sobre residentes de outro país, destino do capital.
Há uma transferência de propriedade. Essa transferência pode ocorrer entre
unidades de uma mesma empresa, como no caso da instalação de uma
subsidiária em outro país.
E o investimento nem sempre implica que os recursos envolvidos cruzam a
fronteira do país. Uma subsidiária de empresa transnacional, que tenha tido bom
resultado em um exercício e que tenha interesse em expandir suas operações
naquele país, pode optar por reinvestir aí seus lucros, ao invés de enviá-los à
matriz.
O que distingue investimentos diretos daqueles em carteira não é apenas seu
destino, mas também o prazo envolvido. Investimentos diretos são de mais longo
prazo, cujos resultados só começam a aparecer depois de alguns anos,
dependendo da produção e das vendas no setor. Os investimentos financeiros
podem permanecer no país apenas poucos dias e são altamente sensíveis a
expectativas e à conjuntura da economia. Diversos países procuram controlar a
volatilidade associada a esses fluxos impondo prazos mínimos de permanência
para o capital.
A facilidade com que as movimentações de tipo financeiro podem ocorrer é um
desafio aos gestores das economias mais liberais no trato dos fluxos financeiros:
movimentos bruscos de entrada e saída de recursos em proporções significativas
pode ter impactos sobre a macroeconomia das economias receptoras ou dos
países de origem desses fluxos.
Esses fluxos podem responder a elementos como:
a) Expectativas em relação á economia receptora;
b) Movimentos conjuntos de parte dos investidores – comportamentos de
manada – fortemente relacionados as expectativas, mas também
associados a comportamento de grupo;
c) Eventos externos que estimulem a entrada maciça ou a saída abrupta de
recursos como por exemplo: a queda no mercado financeiro de um país faz
com que as empresa com compromissos nesse país tenha de retirar
recursos de outro mercado para saldar seus compromissos;
d) Diferenciais pronunciados nos custos de captação e probabilidade de
retorno na aplicação de recursos, os quais podem levar investidores a
tomar empréstimos em um mercado para investir em outro (carry trade).

Assim, o desafio com que se deparam as autoridades é procurar regular os


movimentos excessivos, sem que com isso venha a desestimular potenciais
investidores.
As entradas e saídas de recursos em uma economia podem ter implicações
para o conjunto dessa economia e esse é um processo que ocorrem em vários
momentos. As decisões de investir em uma fábrica ou de reduzir o volume
produzido não são tomadas abruptamente. O ritmo é mais lento. Já os efeitos da
entrada e saída de divisas afeta diretamente e de imediato o mercado de divisas e
eventual também o mercado financeiro interno da economia.

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1.4.2 Regimes de Câmbio


Chama-se de “regime cambial” a política adotada para determinação do preço
de uma ou mais moedas de outros países à moeda nacional. Isto é a Taxa de
Câmbio.
Uma possibilidade é se adotar uma taxa fixa. Nesse caso, a autoridade
monetária determina que os contratos em moeda estrangeira tenham de ser feitos
a um nível específico de preços da divisa. Esse sistema caracterizou as relações
entre a maior parte dos países no período entre 1946 e 1971. As moedas tinham
paridade fixa em relação ao dólar dos Estados Unidos, e este por sua vez
mantinha valor fixo em relação ao ouro.
Um regime desse tipo impõe à autoridade monetária a necessidade de manter
condições para fazer cumprir a determinação de observância daquele nível
estabelecido de taxa de câmbio. Isso significa que, quando ocorre uma pressão
de alta no mercado de divisas, é preciso que a autoridade disponha de uma
quantidade razoável de reservas para poder vendê-las e neutralizar a tendência
de alta do câmbio.
Um problema desse regime é que os agentes que monitoram a conjuntura
econômica conhecem as pressões existentes sobre o nível de preços, portanto a
pressão para que a autoridade ajuste o nível da taxa de câmbio. Quanto mais alta
a taxa de inflação interna e mais prolongado o período entre duas
desvalorizações, maior será a perda de competitividade dos produtos nacionais,
que ficarão mais caros no mercado internacional. Isso facilita movimentos
especulativos, que podem vir a ser de grande significado e acabar forçando a
autoridade a uma desvalorização antecipada ou de magnitude maior do que a
originalmente planejada.
Uma variante para evitar esse acúmulo de pressão é o modelo que adotado na
década de 1960 em alguns países, como a Colômbia e o Brasil. Nessa variante,
período entre desvalorizações é o mínimo possível, com o propósito de evitar
essa margem para movimentos especulativos. No Brasil, entre o final de 1968 e
1990, as variações eram diárias, no chamado regime de minidesvalorizações. Isso
permitiu reduzir a margem para especulação e assegurar aos agentes envolvidos
em atividades com o resto do mundo uma razoável estabilidade do câmbio. O
problema que se impõe nessa variante é o critério para definir a cada dia o ritmo
de variação cambial. Entretanto, esse mecanismo representa um processo de
indexação em que os agentes exportadores e importadores sempre terão
assegurado o valor real da moeda externa.
Em outro extremo de possibilidade, pode-se adota um sistema em que o
mercado define totalmente a taxa de câmbio a cada momento. Nesse caso, a
autoridade não participa e a taxa de câmbio tem total flexibilidade para variar ao
sabor das pressões de compra e venda. Uma vantagem frequentemente apontada
para um regime de câmbio flexível é que essas flutuações da taxa de câmbio
ajudam a preservar o sistema econômico dos impactos de choques externos: o
câmbio funciona como um “colchão amortecedor” de choque e com isso as
variáveis que realmente interessam preservar, nível de emprego e produção,
ficam protegidas das flutuações excessivas no curto prazo.
Uma situação intermediária é a chamada “flutuação suja”. Neste caso, a
autoridade monetária tem instrumentos para influenciar o mercado de divisas de
forma discreta. Isso pode ocorrer por meio de compra e venda direta de moeda
estrangeira, ou por estímulos à aquisição de títulos no mercado futuro
denominados em moeda estrangeira, ou mediante operações de câmbio usando
empresas de capital público. Trata-se de um sistema em que o câmbio não é fixo
nem flexível, mas “administrado” de alguma forma.

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Outro regime, também adotado no Brasil entre 1995 e 1999, é o de bandas


cambiais. A autoridade monetária determina um intervalo com uma taxa de
câmbio mínima e outra máxima. Se o mercado opera entre esses dois valores,
não há intervenção. Caso a taxa caia próxima ao mínimo definido, a autoridade
monetária compra divisas, o que reduz a disponibilidade e eleva seu preço. O
oposto acontece quando câmbio chega próximo ao ponto máximo definido, o que
leva a autoridade a vender divisas. No Brasil, o sistema adotou ainda um modelo
“intrabanda”, reduzindo a margem de oscilação. Esse modelo tem ao menos três
desafios que devem ser superados para sua boa execução, mas que são de difícil
manejo são eles: a definição da “largura” da banda (margem para as oscilações
naturais do mercado), a inclinação da banda ao longo do tempo e a definição do
índice de preços ao quais os ajustes da banda serão determinados.
Em qualquer desses regimes há uma questão básica adicional, que é a
definição de qual moeda estrangeira será usada como parâmetro de referência
para sinalizar a necessidade ou não de ajuste da taxa de câmbio. Há países que
tomam como referência o dólar dos Estados Unidos, como o Brasil, por exemplo,
outros preferem o Euro ou o Iene (japonês), muitos já consideram o Renmimbi
(chinês). Mas há países que orientam sua política cambial tomando como
referência o diferencial a um conjunto de moedas e não apenas a uma.
Variações no câmbio podem ter efeitos significativos sobre o desempenho
comercial de um país. Mas nem sempre são o único elemento e nem sempre são
o fator predominante. A política comercial externa tem importância fundamental.

1.4.3 Taxa de Câmbio Nominal e Real


A taxa de câmbio é um preço. Ela indica quantas unidades de uma moeda são
necessárias para adquirir outra moeda, por isso, é sempre indicada como uma
razão entre duas moedas. No entanto é um preço diferenciado.
Ao contrário dos demais preços na economia, a taxa de câmbio tem uma dupla
característica que a diferencia:
a) Ela pode ser flexível e oscilar para cima ou para baixo, diferente dos
demais preços que tem mais rigidez;
b) É um preço cujos níveis e variações afetam de forma decisiva os demais
preços da economia.

Da mesma forma que os outros produtos, a taxa de câmbio é um preço cujo


nível a cada momento depende das condições de oferta e demanda.
O mercado de divisas, é um mercado diferenciado porque cada país tem o seu,
e as características desse mercado variam dependendo de algumas condições.
Umas delas e talvez a mais importante é determinada pelas condições de acesso
a esse mercado. Há graus distintos de acesso e isso faz que os elementos
determinantes do preço da divisa não sejam uniformes em todos os países.
Em um regime em que apenas a autoridade monetária e algumas empresas
públicas tenham acesso a divisas, a taxa de câmbio é praticamente determinada
de maneira centralizada pelo governo. Era o que acontecia, por exemplo, nas
economias do antigo bloco soviético.
Em um nível superior, em que seja possível que alguns bancos comerciais e
casa de câmbio sejam autorizados a operar com divisas, além das empresas
privadas exportadoras e importadoras e dos turistas, como é hoje no Brasil, os
fatores determinantes da taxa de câmbio são mais diversificados.
Se, além desses, é permitido que cidadãos residentes possam tem contas
bancárias em outras moedas além da nacional, e mesmo que algumas transações
no mercado interno possam ser feitas em outra moedas, isso pulveriza ainda mais

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o mercado de divisas, aumenta a transparência e aproxima o processo de


interação de oferta e demanda de um nível mais adequado.
O que define a taxa de câmbio a cada momento é um misto de interação entre
oferta e demanda no mercado de divisas e um componente de expectativa, que
faz que os agentes que podem ter acesso a divisas comprem ou vendam moedas
estrangeiras em razão do que imaginam que será a evolução futura da economia.
Também existe um componente associado ao ambiente político e institucional do
país na determinação das compras e vendas de moeda estrangeira.
Quanto mais fluída a movimentação de capitais, mais intenso o volume de
transações entre moedas. A informação de que a moeda de um país B é vendida
em outras país C a um preço mais elevado do que em A, pode levar os agentes
econômicos de A a comprarem a moeda de B e a venderem em C. Esse é o
movimento chamado de “arbitragem de moeda”. As facilidades de processamento
de dados, aliadas ao fuso horário, que faz com que os mercados da Ásia operem
antes dos mercados no Ocidente, levaram ao surgimento de um conjunto de
operações desse tipo em tempo real, envolvendo o conjunto de modas de maior
aceitação no mercado internacional.
O raciocínio até aqui diz respeito a taxa de cambio nominal, ou seja, uma razão
simples entre as cotações de duas moedas. Por exemplo, a taxa de câmbio
US$/real.
Mas o câmbio pode ser visto como uma ferramenta de reserva de valor: em
situações de desequilíbrio macroeconômico ou de instabilidade política, é
frequentemente que os agentes procuram assegurar o valor de seus ativos
entesourando moedas estrangeiras fortes.
Essa função depende de quanto a moeda estrangeira efetivamente vale no
mercado nacional. Isso leva à noção de “taxa de câmbio real”, que é a taxa de
câmbio nominal dividida pelo índice de preços internos.
A taxa de câmbio é um elemento importante na determinação dos valores
exportados e importados. Por definição, uma elevação da taxa de câmbio, isto é
uma perda de valor da moeda nacional, encarece as importações e desestimula
sua compra ao mesmo que barateiam, em moeda estrangeira, os produtos
exportados. Identificar se a taxa de câmbio está em nível aceitável para
proporcionar um desempenho desejável da balança comercial é uma atividade
essencial por parte das autoridades que têm poder de influenciar as paridades.
A avaliação do eventual desvio da taxa efetiva de câmbio com relação a sua
suposta posição de equilíbrio pressupõe que exista tal posição de equilíbrio. Em
teoria, ela deveria corresponder a um nível da taca de câmbio tal que neutralize
eventuais diferenças entre a inflação interna e a inflação externa. Caso a inflação
interna seja mais elevada, cabe ao ajuste de câmbio assegurar que os bens e
serviços produzidos na economia não percam competitividade no mercado
internacional, mantendo-os baratos quando computados em outras moedas.

1.4.4 A relação Câmbio-juros


Citamos rapidamente que diferenças entre paridades de moedas em mercados
distintos podem dar origem a movimentos de “arbitragem de moedas”, ou seja,
compra e venda de moeda estrangeira em um mercado para sua venda/compra
em outro país.
Pensamento semelhante pode ser aplicado às tacas de juros. Um agente
econômico racional considerará o custo do dinheiro me mais de um mercado.
Caso haja diferencial entre as taxas de jutos em um e outro país, se o custos de
transação forem baixos e se esse diferencial for suficientemente elevado para
cobrir possíveis riscos advindos de desvalorizações cambiais, os agentes
preferirão investir recursos no país onde a taxa de juros é mais elevada: isso

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maximizará o retorno para seus investimentos. É chamada de “arbitragem de


juros”.
Elevar ou reduzir a taxa de juros é uma forma indireta de influenciar a entrada
ou sápida de capitais. De fato, essa foi uma ferramenta usada com frequência por
diversos países para fazer face aos movimentos especulativos que caracterizaram
a década de 1990. Em momentos de elevação brusca e pronunciada da taxa de
juros, atraindo capital, portanto aumentando a oferta de divisas e baixando o
câmbio aos níveis desejado. O caso mais extremo foi o da Suécia, que chegou a
fixar sua taxa básica de juros em 500%, por alguns dias.
O Brasil tem sido nos últimos anos exemplo de mercado para onde convergem
recursos significativos. Com a taxa básica de juros a dois dígitos, antes das
reduções de 2017, é vantajoso pra os agentes toma empréstimo, por exemplo, no
Japão ou nos EUA (países ou a taxa de juros é bem baixa) e investir em títulos da
dívida pública brasileira, que paga taxas de juros das mais elevadas do planeta.
Essas operações são chamadas de carry trade. Isso ajuda a cobrir eventuais
déficits nas operações com bens e serviços, ao mesmo tempo em que aumenta a
oferta de divisas no mercado interno, pressionando a taxa de câmbio para baixo.
A taxa de câmbio pode ser, em alguns caso, afetada mais intensamente pela
movimentação internacional de capitais que pela movimentação de mercadorias e
serviços. O que determina essa movimentação de recursos é a expectativa de
ganhos em um ou em outro mercado, ou seja, o diferencial de taxa de juros.

1.5 Balanço de Pagamentos


A contabilidade sistemática das transações econômicas entre residentes e não
residentes durante determinado período de tempo é feito no Balanço de
Pagamentos (BP). Trata-se do registro contábil ex post de todas as transações de
um país com o resto do mundo. Como se utiliza o método das partidas dobradas,
cada transação financeira é registrada em, pelo menos, duas contas:

Crédito (+) Débito (-)


Ativo Externo Diminui Aumenta
Passivo Externo Aumenta Diminui

O Balanço de Pagamentos segue critérios formulados pelo FMI. No Brasil, esse


Balanço é feito desde 1947e a partir de abril de 2015 o Banco Central passou a
divulgar as estatísticas do setor externo da economia brasileira em conformidade
com o Manual de Balanço de Pagamento do Fundo, que esta na sexta versão.
O Balanço de Pagamentos esta segmentado em duas grandes contas:
a) a de transações correntes (TCC), que registra os pagamentos e
recebimentos relativos às transações realizadas com bem e serviços de
um país com o exterior;
b) a conta de capital financeira (CFF), que registra os fluxos de natureza
financeira entre residentes e não residentes.

A TCC subdivide-se em:


a) Balança comercial de bens e serviços(B&S), que registra as exportações
e importações de bens e serviços ( serviços de transportes, viagens
internacionais, seguros, serviços financeiros, construção, serviços
governamentais, etc..)

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b) Renda primária (ou balança de rendas), que registra a remuneração do


trabalho e as rendas de investimentos (salários, juros, dividendos e
lucros)
c) Renda secundária (ou transferências unilaterais), que corresponde às
transferências em que não há contrapartidas, na forma de bens e
moeda, para consumo corrente. Alguns exemplos sãos: as doações e
ajuda humanitária.

Um saldo positivo do balanço de transações correntes revela que o Brasil


exportou mais bens e serviços e mais fatores de produção para o exterior, o que
significa que parte do que foi produzido pelas empresas brasileiras foi consumido
pela demanda externa, sobrando menos para consumo interno. Neste caso, o
país seria um credor líquido em relação ao resto do mundo.
Já um saldo negativo indica que o Brasil importou poupança externa, o que
significa que ocorreu um financiamento do país em divisas externas através da
conta de capitais e financeira ou mediante reservas internacionais.

A CCF subdivide-se em:


a) Conta de capital: é uma conta pouco expressiva porque se resume a
registrar a aquisição e alienação de bens não financeiros não produzidos
(compra e venda de patentes e marcas, por exemplo) e transferência de
capital (passes de atletas, perdão da dívida externa por exemplo);
b) Conta financeira: trata-se de uma conta mais relevante porque nela são
registrados os fluxos de natureza financeira (empréstimos, pagamento
de amortizações, investimento estrangeiro direto, compra de títulos
públicos, por exemplo);
c) Erros e omissões: esta é um conta residual apenas para registros de
discrepâncias estatísticas do BP.

No que se refere à relação do BP e as reservas internacionais (RI), é


importante lembras que saldos positivos no BP aumentam o nível de RI do país.
Para exemplificar: suponha que o Brasil começou a transacionar com o resto do
mundo. No primeiro ano, o saldo do BP foi de US$500, logo a RI sai do zero para
US$ 500. No segundo ano o saldo de BP foi de US$ 150, este valor vai para conta
de RI e totalizará US$ 650. No terceiro ano o saldo da BP –US$ 200. De onde
vem o dinheiro para cobrir o déficit? Da RI, que sai US$ 200 e fica com saldo de
US$ 450.
A seguir um quadro com o resumo das principais conta do BP:

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O resultado do BP decorre da soma da conta de transações correntes, conta


de capital e financeira e erros e omissões. Em quaisquer dessas contas, se o
saldo de recursos for positivo, chamaremos de Superávit, se negativo, Déficit. Os
países podem ter superávits comerciais robustos ou ainda registrarem déficit em
transações correntes que poderão ser supridos com capitais que entram pela
conta financeira.
É possível que os países tenham superávit em TCC e déficit na CCF, ou
déficit/superávit nas das contas. O importante é compreender o BP como um todo
e se o resultado final foi deficitário o país terá duas opções:
a) Utilizar reserva internacional (RI) para pagar o déficit, se tiver RI para
isso;
b) Se não dispor de RI, deverá recorrer a empréstimos internacionais, seja
através de empréstimos multilaterais (FMI) seja através de
empréstimos bilaterais.

Assim como no caso das contas domésticas é importante conhecer os


indicadores que possibilitam analisar a situação das contas externas dos países.
Por meio de diferentes combinações entre variáveis do BP e das Contas
Nacionais é possível avaliar o grau de vulnerabilidade externa dos países no
curto, médio e longo prazo. São eles:
Indicadores de Liquidez Externa (curto prazo)
a) Dívida Externa de Curto Prazo / Reservas próprias (exclui recurso do
FMI);
b) Necessidade de Financiamento Externo =Saldo da TCC – Investimento
Externo Direto (em % do PIB);

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c) Hiato Financeiro = Conta Financeira + Saldo da TCC


d) Reservas Internacionais / Dívida Externa Total;
e) Reservas Internacionais / Serviço da Dívida Externa.

Indicadores de Solvência Externa (médio e longo prazo)


a) Serviço da Dívida Externa / Exportações de Mercadorias;
b) Serviço da Dívida Externa / PIB;
c) Pagamento de Juros / Exportações de Mercadorias;
d) Dívida Externa Total /PIB;
e) (Dívida Externa Total – RI) / Exportações

Percebam que, assim como na Contabilidade Nacional ou na contabilidade


empresarial, o Balanço de Pagamentos é mais que um simples registro das
transações realizadas, o BP fornece os indicadores do grau de equilíbrio de uma
economia.

1.5.1 Determinantes da Conta de Transações Correntes


Existem ao menos três variáveis exógenas na determinação do saldo de
transações correntes:
a) Taxa de Câmbio Real;
b) Produto do resto do mundo;
c) Produto interno do país

Em relação da taxa de câmbio real (ER), em caso de desvalorização, as


exportações tendem a aumentar e as importações a recuar. Portanto,
ceteris paribus, o saldo das transações correntes deve aumentar. Há uma
relação de causalidade positiva entre as duas variáveis.
Em relação do Produto do resto do mundo. Se o PIB de um país
importador do Brasil contrair-se, ceteris paribus, a demanda de bens e
serviços irá diminuir e isso afetará as exportações brasileiras. Com o recuo
das exportações brasileiras, gera-se uma redução no saldo das transações
correntes. Em contrapartida, a elevação do PIB de um país importador do
Brasil elevam as exportações brasileiras com um consequente aumento no
saldo das transações correntes do Brasil. Assim, há uma relação de
causalidade positiva entre o PIB do resto do mundo é o saldo das
transações correntes.
Já causalidade do PIB (renda agregada) do Brasil e o saldo das
transações correntes é negativa, pois quando o PIB aumenta, a demanda
de bens e serviços importados pelo país também aumenta. Nessa
situação, ceteris paribus, as importações brasileiras tendem a crescer e
isso reduzirá o saldo das transações correntes.

O que deve ocorrer com o saldo das transações correntes do país se,
ceteris paribus, houver uma recessão em um grande importados dos
produtos brasileiros, como a China por exemplo? Ou o que deve acontecer
se, ceteris paribus, o PIB do Brasil aumentar?

1.5.2 Determinantes da Conta Capital e Financeira


No caso dos determinantes da CCF, é importante fazermos a distinção
entre os investimentos de curto e de longo prazo.
Investimento de curto prazo, o diferencial da taxa de juros interna e
externa desempenha papel relevante para a atração de recursos dos
investidores. Isso ocorre porque quando a economia é aberta ao mercado

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de capitais global (como o Brasil), os investidores estrangeiros comprara a


taxa de juros paga no Brasil com aquela que retratam seu custo de
oportunidade, que normalmente é a taxa de seu país de origem ou de
algum outro.
Há pelo menos três variáveis exógenas que determinam a taxa de juors
doméstica, são elas:
a) Taxa de Juros Externa;
b) Risco Cambial;
c) Risco-país

O risco cambial decorre da possibilidade de haver uma desvalorização


acentuada na taxa de câmbio que possa gerar perdas ao investidos
estrangeiro. O risco-país esta associado à possibilidade de determinado
Estado “quebrar” e o investidor não conseguir resgatar seu dinheiro, por
exemplo uma política fiscal fraca contribui para aumentar o risco-país.
Assim, além da incerteza em relação ao retorno de um determinado
investimento, o investidor também analisa a possibilidade de uma
desvalorização cambial do país e os riscos de natureza econômica,
político-institucional que possam gerar perdas para seu patrimônio.
Essas três variáveis exógenas mencionadas ajudam a determinar o
saldo da CCF que será superavitário ou deficitário.

Para os investimentos de médio e longo prazo, conhecidos como


investimento estrangeiro direto(IED), além dos fatores citados, existem
outros elementos que desempenham papel importante. São eles:
a) Expectativa de crescimento do país;
b) Tamanho do mercado doméstico;
c) Ambiente regulatório e tributário favorável aos negócios;
d) Oferecimento de segurança jurídica aos investidores internacionais
através da assinatura de acordos de proteção de investimentos.

1.5.3 A importância da poupança externa


A utilização da poupança externa, como forma de financiar o
investimento, permite que os agentes aumentem a demanda por bens de
investimento sem diminuir a demanda por bens de consumo.
Sabemos que a oferta agregada é constituída pela oferta de bens e
serviços das empresas brasileiras mais as importações (M). Em
contrapartida, a demanda agregada é formada pelos bens de consumo
(C+G), bens de investimentos (I) e demanda externa (X).
Para facilitar o entendimento suponha que:
A oferta das empresas nacionais seja de R$ 1.000 e que sejam
demandadas, em bens de consumo R$ 800 (C+G) e de investimentos R$
200 (I). Suponha que o Brasil queira investir R$ 300 (I). Isso implicaria que
o consumo (C+G) seria reduzido para R$700.
Se a economia se abrir ao setor externo e registrar um déficit e
transações de bens e serviços de R$ 100 (X-M = - R$ 100), a demanda
por bens de consumo não precisará diminuir para que a demanda por bens
de investimento aumente para R$ 300.
O déficit em transações de bens e serviços, neste exemplo, é essencial
para que o país aumente a demanda por bens de investimento sem ter que
reduzir a demanda por bens de consumo.

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Por isso, o déficit das transações correntes é chamado de Poupança


Externa. (são sinônimos: importação de capitais, poupança externa
positiva, aumento do passível externo líquido)
É importante destacar que ter déficit em transações correntes não é
como ter prejuízo empresarial. Dependendo da situação, pode ser bom
para o país.
Entre outros elementos, o país tem de considerar os seguintes aspectos
ao recorrer à poupança externa: o custo da dívida líquida, a liquidez
externa e a sustentabilidade da dívida.
Se o custo do empréstimo externo for inferior à taxa de retorno do
investimento, o déficit em transações correntes é plenamente justificável.
Na ausência de liquidez externa, ter saldos negativos em transações
correntes pode tornar-se um problema, especialmente se o país dispuser
de baixo volume de reservas internacionais, pois pode levar à
inadimplência – foi o caso do Brasil na década de 1980. Mesmo que não
haja problema de liquidez externa e o custo da dívida seja baixo, um país
não pode tomar emprestado indefinidamente, sem considerar sua
capacidade de gerar divisas para pagar os credores ao longo do tempo, a
trajetória da dívida externa precise ser sustentável.
A dependência excessiva de poupança externa para manter certo nível
de investimento pode ser perigosa. O risco é ainda maior quando a
poupança externa for utilizada para financiar bens de consumo ao invés de
investimentos. Embora não exista uma teoria que indique um nível ótimo
de déficit que os países pode incorrer, um déficit em transações correntes
de 3% do PIB é normalmente considerado um limite que o país não deve
ultrapassar.
Em termos de Contabilidade Nacional, é importante saber a diferença
entre as notações do saldo da balança de bens e serviços não fatores e do
saldo da balança de transações correntes: a primeira é expressa por (X-M)
e esta presente na fórmula do PIB sob a óptica da demanda. A segunda
pode ser definida por [(X-M) – RLEE], que representa a soma das
subcontas da balança de transações correntes.

1.6 Moeda
A divisão social do trabalho gerou a necessidade de trocas. Inicialmente essas
trocas eram diretas, escambo, porém com a contínua especialização, elas se
tornaram cada vez mais difíceis e complexas em razão da diversidade de
interesses. Surge, então, a mercadoria moeda, que era uma mercadoria de
aceitação utilizada como intermediário das trocas, entre elas estava o gado, o sal
e o trigo. Essas mercadorias moedas possuíam alto custo de transação e de
estocagem e não eram apropriadas como meio de conta e em decorrência de
questões de magnitude, instabilidade e divisibilidade.
Elas foram posteriormente substituídas pelas moedas metálicas, especialmente
as de ouro e prata, que possuíam o atributo de durabilidade. Para evitar
falsificações, as moedas passaram a ser cunhadas e, durante séculos, as moedas
metálicas fora a base do sistema monetário nas diversas civilizações.
Posteriormente, surge a moeda-papel. Por medidas de segurança, os negociantes
desenvolveram o hábito de depositar suas moedas metálicas nos ourives e em
casas de custódia, que, por sua vez, emitiam a moeda-papel, que eram
certificados de depósito intransferível (nominal) e conversíveis (que possuía
lastro).

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Com o tempo, os ourives perceberam que havia mais pessoas fazendo


depósitos do que sacando o ouro sob sua guarda e que poderiam realizar
empréstimos mediante a emissão de certificados sem o correspondente lastro em
ouro. Assim, os ourives transformaram-se em banqueiros e passaram a emitir
certificados (notas) inconversíveis em moeda metálica. Inicialmente cada banco
emitia seu próprio papel-moeda.
A partir do século XVII, para evitar emissões imprudentes e também financiar
períodos de guerra, os Estados nacionais passaram a ter o monopólio da emissão
de papel-moeda, surgindo a figura dos bancos centrais.

1.6.1 Finalidades da Moeda


A moeda surgiu da necessidade da humanidade em promover
intercâmbios de bens e serviços de forma mais eficiente.
A moeda detêm três funções básicas:
a) Servir como meio de troca para adquirir e vender bens;
b) Funcionar como unidade de conta, servindo como referencial para a
cotação dos diferentes bens e serviços da sociedade;
c) Reserva de Valor, funcionando como uma forma de preservar a
riqueza ao longo do tempo.

Em geral, os preços são fixados em moedas nos países por


determinação legal. O real é a moeda do Brasil e o peso, da Argentina,
porque ambos os governos estipularam essa obrigação por meio de leis.
Contudo, ainda que a lei informe qual a moeda circulará em um país, a
população só a aceitará como forma de pagamento por seu trabalho ou
pela venda de algum ativo se ela for aceita por todos naquela sociedade,
ou seja, somente uma lei determinando o uso da moeda não é suficiente.
A moeda é uma convenção social, logo é necessário que a população
acredite nela, pois o papel-moeda é fiduciário, não tem lastro e seu poder
de compra depende exclusivamente da confiança (fidúcia) que os agentes
tem nele. Confiança é uma condição essencial para sua ampla aceitação
como meio de troca, unidade de conta e reserva de valor.
Sem credibilidade a moeda perde valor.

1.6.2 Banco Central e os Agregados Monetários


Os bancos centrais são a maior autoridade monetária de um país,
podendo ser independentes ou ligados aos governos. Entre suas funções,
está a de controlar a oferta da moeda, conduzindo políticas monetárias de
modo a promover e manter a estabilidade financeira e monetária do país.
O Banco Centro do Brasil (Bacen), criado em dezembro de 1964 pela
Lei nº 4.595, é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Fazenda e
não é formalmente independente. Ele integra o Sistema Financeiro
Nacional (SFN) e é membro do Conselho Monetário Nacional (CMN).
Cabe ao Bacen:
a) Emitir moeda;
b) Autorizar, normatizar, fiscalizar, regular e intervir nas instituições
financeiras;
c) Conceder empréstimos de assistência à liquidez aos bancos,
também chamada de operações de redesconto;
d) Administrar as reservas internacionais (em janeiro de 2016, as
reservas internacionais do Brasil totalizavam aproximadamente US$
360 bilhões, 15% do PIB);
e) Receber depósitos compulsórios dos bancos;

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f) Controlar o influxo de capitais estrangeiros e


g) Conduzir a política monetária.

Para compreender mais detalhadamente como o Bacen conduz a


política monetária, é preciso entender alguns conceitos básicos de
agregados monetários.
O primeiro agregado relevante é o de base monetária (BM). Esse
agregado é a soma de dois “grupos de dinheiro”, o papel moeda em poder
do público (PMPP) e a reserva bancária total (RB).
O papel-moeda em poder do público (PMPP) é igual ao papel-moeda
em circulação (PMC), deduzidos o caixa dos bancos comerciais e do
Bacen. Este tem total controle sobre ela, uma vez que se refere ao seu
passivo.

PMPP = PMC – caixa bancos comerciais – caixa do Bacen

A reserva bancária (RB), que refere-se ao total dos recolhimentos


compulsórios e voluntários, esta classificada em três tipos:
a) Reserva bancária compulsória, quantia monetária que os banco são
obrigados a depositar no Bacen;
b) Reserva bancária voluntária, quantia monetária que os bancos
podem optar em deixar no Bacen;
c) Reserva de caixa, quantia monetária mantida no caixa dos bancos.

Cada um desses três tipos de encaixes é medido como percentual dos


depósitos à vista. A BM pode ser expressa da seguinte forma:

BM = PMPP + RB
RB = reservas compulsórias + reservas voluntárias

As RBs são diferentes dos encaixes totais (ET). Estes são formados
pela soma dos caixas dos bancos comerciais (dinheiro em espécie que há
no cofre e nos guichês das agências bancárias) mais seus depósitos
voluntários e obrigatórios na autoridade monetária. Também pode se dizer
que os ETs são formados pela soma do caixa dos bancos comerciais e as
RBs.
Podemos dizer que ocorre a criação da base monetária quando há:
a) Aumento das operações ativas do Bacen;
b) Redução do passivo não monetário do Bacen.

Podemos dizer que há destruição da base monetária quando há:


a) Redução das operações ativas do Bacen;
b) Aumento do passivo não monetário do Bacen.

A BM não constitui um meio de pagamento entre pessoas, pois ninguém


poderia retirar dinheiro das reservas bancárias para pagar suas despesas.
Com isso, criou-se outro conceito de agregado monetário, chamado M1.
Este, ao contrário da BM, mede o quanto as pessoas têm de dinheiro
disponível para fazer transações. O M1 é a soma do papel-moeda em
poder do público (PMPP) mais os depósitos à vista dos bancos comerciais
(DV), duas formas de dinheiro que os correntistas têm à disposição para
sacar do banco. Trata-se do agregado monetário de maior liquidez.

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M1 = PMPP + DV

Para efeito de política monetária, mais importante do que sabe o quanto


há de BM é identificar a quantidade de M1, que constitui a primeira
definição de oferta de moeda na economia. É uma variável que o Bacen
tenta influenciar por meio de seus instrumentos de política monetária.
Como uma das finalidades da autoridade central é manter a estabilidade
financeira e monetária, ela precisa saber quanto de dinheiro a sociedade
toda poderia sacar dos bancos. Assim, o Bacen precisa estimar o M1, algo
que ele faz diariamente de forma bastante precisa.
Existem, outras formas de as pessoas alocarem suas poupanças.
Normalmente os correntistas têm pequena parcela do seu dinheiro em
depósito à vista, pois na rende nada. Outra parte esta em aplicações de
prazos e rendimentos mais elevados. Por isso, foram elaboradas outras
definições de moeda: M2, M3 e M4... Cada pais possui, detalhadamente
sua próprias definições sobre esses agregados. Em linhas gerais, pode-se
dize que o M2 é o M1 acrescido de formas de poupança menos
liquidas....e a liquidez vai diminuindo. Assim temos:

M1 = PMPP + DV

M2 = M1 + depósitos especiais remunerados + depósitos de poupança


+ títulos emitidos por instituições depositárias

M3 = M2 + quotas de fundo de renda fixa + operações compromissadas


registradas no Selic

M4 = M3 + títulos públicos de alta liquidez

Qual M representa melhor a oferta de moeda em uma economia? Não


existe resposta correta e depende de cada jurisdição. O mais importante é
saber qual M representa a possibilidade de tornar-se liquido mais
rapidamente e é isso que a autoridade monetária precisa monitorar e
acompanha para evitar desequilíbrios entre oferta e demanda por moeda
na economia.

1.7 O Estado na Economia

1.7.1 O papel do Estado na Economia


O Estado tem a finalidade maior de representar a ordem de uma
sociedade. Dele estabelecem-se as leis que indicam como a sociedade
deve ser organizada, o que nos leva à ideia do progresso da sociedade.
Por sua vez, em se tratando de progresso devemos considerar o que e
como a sociedade, da sua organização, gera como produto da economia,
criando-se renda e riqueza.
Diante disso temos que o Estado tem muita interferência na economia,
uma vez que ele tem o papel de apontar como a sociedade deve estar
organizada para interagir no mercado que produz e comercializa os bens e
serviços.
Consideremos como ponto de partida as pessoas físicas, as quais para
fazerem operações financeiras apresentam-se através do número que têm

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no Cadastro de Pessoa Física, o CPF. E as pessoas jurídicas apresentam-


se através do número que têm no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, o
CNPJ. Estando as pessoas físicas e jurídicas regularmente cadastradas,
elas podem operar no sistema financeiro sendo identificadas pelos
números de CPF e CNPJ mediante o que a lei e as autoridades monetárias
preveem.
Por sua vez, as transações financeiras entre pessoas físicas e jurídicas
nos bancos são registradas e informadas ao Banco Central. Da mesma
forma, o governo tem como ser informado, através das notas fiscais,
recibos e holerites sobre todas as compras e vendas efetuadas na
economia, as quais correspondem ao pagamento de impostos. Sendo os
impostos a maior fonte de receita do governo na atualidade, daí se justifica
a importância do papel do Estado na economia, o qual deve suprir a
sociedade com os bens públicos (empresas estatais também são fonte de
receita do governo, mas nas últimas décadas têm sido menos incidentes
no Brasil por conta da política de privatizações a partir dos anos 1990).
O conceito de bem público é atribuído ao produto cujo uso ou consumo
é não rival e não excludente, ou seja, o consumo por qualquer indivíduo ou
firma não reduz a quantidade disponível para os outros indivíduos, e não é
possível excluir agentes que desejam consumir o bem. A provisão de um
bem público para uma pessoa faz com que seja possível provê-lo para
todas as demais pessoas da sociedade sem custo adicional. O exemplo
mais comum de bem público é a defesa nacional. A defesa nacional é
usada concomitantemente por muitos indivíduos, ao passo que um bem
privado é geralmente utilizado ou consumido com exclusividade.
Exemplos de bens públicos são os bens de uso comum da sociedade
como segurança, pavimentação de ruas e estradas, iluminação das ruas,
praças e parques nas cidades, serviços de educação e atendimento
médico prestado pelo sistema público.

1.7.2 O papel do Estado na Economia


Como já pudemos identificar dentre as políticas monetária e fiscal, são
várias as influências do governo no curso das atividades econômicas.
Além da política monetária e da atividade estritamente orçamentária de
arrecadação de tributos e dos gastos públicos, o governo também
influencia através da administração de empresas estatais, da
regulamentação de empresas privadas, política de controle de preços,
preços mínimos, subsídios, etc.
As atividades do governo que influenciam a atividade econômica, a fim
de atingir as finalidades de concorrência leal entre as empresas e o bem-
estar da sociedade, são divididas em três funções. São elas:
a) Função alocativa: provisão de bens públicos, ou processo pelo
qual o uso de recursos totais da economia é dividido entre bens
públicos e privados, e pelo qual a composição dos bens públicos é
escolhida. No Brasil pudemos observar a partir dos anos 1990 a
promoção do sistema misto de oferta dos serviços como
educação e saúde, quando o papel do setor privado configurado
na forma de mercado passou a ser maior para o acesso da
população a estes serviços.
b) Função redistributiva: refere-se ao ajustamento da distribuição
da renda pessoal, para assegurar conformidade com o que a
sociedade considera uma situação “justa” de distribuição. Ao
considerarmos os impostos diante desta função do Estado temos

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2018

no Brasil a sua progressividade. Ao efetuar o imposto de renda


pessoa física o indivíduo depara-se com as alíquotas
correspondentes ao tamanho da sua receita, ou seja, quanto mais
o indivíduo ganha, mais paga impostos. Esta é a maneira pela
qual o Estado assegura a possibilidade de gastos em consumo à
população menos favorecida.
c) Função estabilizadora: relaciona-se ao uso da política
orçamentária com o objetivo de manter o pleno emprego, um grau
razoável de estabilidade no nível de preços e da balança de
pagamentos, e uma taxa adequada de crescimento econômico.
Isto é, adotam-se políticas com o objetivo de estabilizar oscilações
de preços, emprego, câmbio, etc.

Diante desta descrição das funções do Estado temos como observar a


grande importância que ele tem para uma economia e uma sociedade,
principalmente se tratando de um país em desenvolvimento como o nosso,
onde há um grande caminho a se percorrer para atingirmos um mercado
concorrencial cujo funcionamento traga grandes resultados para a
economia, e também para atingirmos condições mais justas e igualdade
para a sociedade. Neste sentido é importante sabermos se a atuação dos
governantes de fato segue a direção do crescimento e do desenvolvimento
econômico.

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2. FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL


2.1 Processo de substituição de importações
A partir da Crise de 1929 e do caso da Primeira República, cresce a
percepção, dentro do novo grupo que controla o Estado Brasileiro, de que a
economia brasileira deveria passar a produzir domesticamente bens que
anteriormente eram importados. Esse entendimento deriva dos recorrentes
desequilíbrios no Balanço de Pagamentos do país desde a independência,
tornando o país extremamente suscetível a crises. Esse estrangulamento externo
só poderia ser superado mediante adoção de um processo de industrialização por
substituição de importações (ISI). Embora tenha começado a ser implementado
no Brasil a partir da década de 1930, com intervenção direta do Estado na
economia a partir de 1937 (Estado Novo), o modelo ISI só será respaldado por um
arcabouço teórico mais elaborado após a criação da Comissão Econômica para o
Desenvolvimento da América Latina (Cepal), em 1948.
Com o estabelecimento da Cepal, surge o amparo teórico ao processo de ISI.
Em contraponto às teorias “etapistas” e a “histórica” de desenvolvimento
econômico, os teórico da Cepal utilizavam o método histórico-estruturalista.
Segundo este, existia especificidade no processo de desenvolvimento da América
Latina, já que os países da região surgiram em um contexto internacional já
marcado por laços econômicos e políticos assimétricos. Visto que essa relação
assimétrica entre países do centro e da periferia do sistema econômico
internacional era diferente daquela existente quando do surgimento dos países
desenvolvidos, era necessário avaliar a situação econômica dos países latino-
americanos sob uma perspectiva distinta, própria para a região.

2.1.1 O modelo ISI na perspectiva da Cepal


Segundo os teóricos da Cepal, a relação comercial entre países
desenvolvidos e em desenvolvimento é assimétrica e tem efeitos negativos
sobre os últimos. Esse vínculo comercial tende a gerar um
“estrangulamento externo” dos países que integram a periferia, pois eles
exportam bens primários de baixa elasticidade-preço e baixa-elasticidade
renda de demanda. Em contrapartida, importam mercadorias dos países
centrais que apresentam alta elasticidade-preço. Em razão dessas
características, normalmente ocorre uma deterioração nos termos de troca
e, com isso, um desequilíbrio no Balanço de Pagamentos dos países
primário-exportadores.
Conforme a Tese Prebish-Singer (2010), existe uma tendência de longo
prazo em que os preços dos produtos primários não apenas oscilam mais
como tendem a decrescer, à diferença dos preços – mais estáveis e com
tendência à alta – dos produtos manufaturados. Por isso, a pauta da
exportação desses países os torna muito vulneráveis aos ciclos
econômicos das commodities exportadas. Adicionalmente, no inicio do
século XX, a maioria dos países latino-americanos era bastante
dependente dos impostos relacionados ao comercio exterior,
especialmente do imposto de importação. Rapidamente, problemas no
Balanço de Pagamentos resultavam em depreciações cambiais que
redundavam, por sua vez em desequilíbrio das finanças públicas desses
países.
Esses teóricos, da Cepal, tampem defendiam que, nos países latino-
americanos, existia uma tendência a taxas de desemprego e inflação mais
elevadas do que nos países centrais.
A taxa de desemprego mais elevada seria resultado do alto crescimento
demográfico, da importação de técnicas capital-intensivas, do baixo

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2018

crescimento da demanda internacional por produtos primários e da


insuficiência no desenvolvimento de setores que poderiam absorver a mão
de obra expulsa pelas máquinas.
Já a inflação mais alta se devia basicamente a três motivos:
a) Desequilíbrio no Balanço de Pagamentos, que aumentavam os
preços dos produtos importados;
b) Rigidez agrícola, causada pela estrutura agrária latifundiária que
limitava a oferta agregada dos bens agrícolas de consumo;
c) Deficiência na infraestrutura, sobretudo de energia e transporte, o
que elevava os custos de produção, formando os gargalos ao
crescimento econômico.

2.1.2 O modelo ISI e o caminho para o desenvolvimento


Em razão dos constrangimentos gerados para as economias primário-
exportadoras, o processo de industrialização por substituição de
importações (ISI), tem por finalidade superar restrições externas por meio
da produção doméstica de bens anteriormente importados. Conforme
Furtado (2003), o objetivo consistia em migrar o centro dinâmico da
economia do setor primário-exportador para setores voltados para o
mercado interno. Adicionalmente, o conceito de substituições de
importações também denota uma mudança qualitativa na pauta de
importações do país, pois conforme aumenta a produção interna de bens,
anteriormente importados, aumenta também a importação de bens de
capital e de bens intermediários necessários para essa produção.
Para implementar a ISI, o Estado deve lançar mão de um protecionismo
“saudável” e seletivo da indústria nacional por meio do controle das
importações, por meio de:
a) Elevação das tarifas aduaneiras;
b) Desvalorização real do câmbio;
c) Controle do câmbio/licenças de importação;
d) Taxas múltiplas de câmbio.

Ademais, o processo de ISI deveria ocorrer por etapas, começando


pelos bens de consumo não duráveis (roupas e calçados), passando para
os bens de consumo duráveis (eletrodomésticos e automóveis), seguindo
para bens intermediários (ferro, aço, cimento, petróleo, químicos) até
chegar aos bens de capital (máquinas e equipamentos).
Resumindo, as três principais características do modelo de
industrialização por substituição de importações no Brasil foram:
a) A participação direta do Estado no suprimento da infraestrutura
econômica, energia e transportes, em alguns setores considerados
prioritários, como siderurgia, mineração e petroquímica;
b) A elevada proteção à indústria nacional, por meio de tarifas e
diversos tipos de barreiras não tarifárias;
c) O fornecimento de crédito em condições favorecidas para a
implantação de novos projetos.

2.1.3 Problemas e críticas ao modelo ISI


a) À medida que cresce a produção doméstica de produtos
anteriormente importados, aumenta a necessidade de importar mais
bens, sobretudo produtos intermediários;

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b) À medida que a ISI avança, torna-se cada vez mais difícil e custoso
prosseguir o processo, pois os bens a serem internalizado são mais
sofisticados e capital-intensivos;
c) O protecionismo do modelo ISI cria setor industrial pouco
competitivo, pois na ausência de concorrência não há incentivo à
inovação;
d) A ausência de competição externa dá origem a grupos nacionais
com grande poder de mercado – os oligopólios;
e) O uso de câmbio valorizado, com o objetivo de baratear as
importações, gera novos desequilíbrios no Balanço de Pagamentos;
f) No modelo ISI os investimentos realizados são capital-intensivos, o
que não permite a geração de grande quantidade de emprego;
g) Como o modelo ISI não estimula as exportações contribui para cria
desequilíbrios macroeconômico, já que é difícil manter o Balanço de
Pagamentos equilibrado, o que resulta em endividamento externo e
inflação.

2.1.4 A Era Vargas e a Industrialização brasileira (1930-1945)


É importante destacar que a crescente importância do segmento
industrial no novo modelo de desenvolvimento econômico brasileiro
originou-se não apenas da reação governamental aos efeitos negativos
derivados da crise de 1929, que trouxe à tona a debilidade estrutural do
modelo primário-exportador, mas também da influência das
transformações em curso no contexto internacional na década de 1930. A
crise econômica mundial, a ruptura do padrão dólar-ouro, em 1931, e a
crescente descrença nas ideias econômicas liberais, contrárias a
intervenção estatal, foram catalisadores para o surgimento de novas
teorias e práticas econômicas favoráveis a uma maior intervenção do
Estado na economia.
Essas transformações políticas e econômicas no plano internacional
levaram a uma nova percepção do interesse nacional. O segmento
industrial passa a ser contemplado no modelo de desenvolvimento
econômico brasileiro.
Ao longo dos quinze anos do governo Getúlio Vargas, a produção
industrial do Brasil registrou níveis elevados de crescimento.
Essa expansão significa que o processo de industrialização por
substituição de importações ganhou dinamismo a partir de 1930.
A relativa diversificação da estrutura produtiva no período permitiu uma
alteração considerável na estrutura de arrecadação fiscal do país.
O crescimento industrial também contribuiu positivamente para o
crescimento da economia. Entre 1933 e 1939 a economia brasileira
cresceu a um ritmo de 5% ao ano. De 1940 a 1945 o crescimento foi
menor devido aos efeitos da Segunda Guerra, ficando em 3,6% ao ano.
Um ponto importante a ser destacado sobre a Era Vargas refere-se à
politica econômica adotada após o estabelecimento do Estado Novo
(1937). A partir de então, o Estado passa a intervir, por meio da criação de
uma série de órgão e instrumentos, diretamente na economia para
promover a industrialização. O Estado deixa de ser mero regulador da
atividade econômica para iniciar um papel deliberado de provedor de bens
e serviços direcionados ao processo de industrialização por substituição de
importações, em particular ao estabelecimento de uma indústria de base,
ferrovias, rodovias, siderurgia, energia, aço, etc...

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Fica claro que a partir de 1937 a forma de ação do Estado transitou da


esfera normativa da atividade econômica para a provisão de bens e
serviços.
No campo macroeconômico, as politicas fiscal, monetária e creditícia
tornaram-se expansionistas, ou ainda mais expansionistas.
Na área fiscal, o governo que vinha financiando o déficit público por
meio da emissão de títulos, começa a financiá-lo com emissão primaria de
1942.
A politica monetária, moderadamente apertada entre o fim de 1938 e
1939, tornou-se fortemente expansionista a partir de 1940. Como
resultado, crescem as pressões inflacionárias a partir de 1941, chegando
as médias anuais de 15% a 20%.
A política creditícia, os empréstimos do Banco do Brasil ao setor privado
dispararam a partir de 1942, com crescimento de 20% ao ano,
principalmente como resultado das atividades da carteira de crédito
agrícola e industrial do Banco do Brasil, criada em 1937.
Na política cambial, o governo tornou a adotar o monopólio cambial. A
escassez de divisas, provocada pelo crescimento das importações entre
1936-37, foi utilizada como justificativa para o retorno da centralização
cambial e para a declaração de moratória da dívida externa, no final de
1937.
A partir de 1939, em decorrência da evolução das hostilidades, que
resultaram na Segunda Guerra Mundial, ocorre uma crescente
aproximação entre os governos brasileiro e norte-americano, o que gera
claros benefícios econômicos para o Brasil.
O interesse norte-americano em garantir que o Brasil estivesse
alinhado, ou aliado, a eles no conflito mundial resultou no financiamento da
Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e em troca o governo brasileiro
reformulou a política cambial em 1939 oferecendo maior liberdade no
montante da negociação de divisas.
O ano de 1942 é marcado como o ponto de inflexão para a economia
brasileira, pois foi a partir deste ano que ocorreu:
a) A aceleração do crescimento industrial;
b) A acumulação de reservas internacionais, que não ocorria desde a
década de 1920;
c) A entrada de capitais privados norte-americanos, depois de longo
período de desinteresse.

No final da década de 1930 e nos anos iniciais da guerra o governo


brasileiro era visto, por Washington, como uma “ditadura mais aceitável
que as outras” na América Latina. Após 1943, influências para que o
regime político autoritário fosse encerrado no Brasil e que em seu lugar
houvesse um regime mais democrático, tornou-se evidente. Era do
interesse do EUA que o Brasil adotasse políticas econômicas mais
alinhadas com os propósitos internacionais norte-americanos.

2.1.5 A década de 1950


Governo Dutra 1945 - 1950
A substituição de Vargas por Eurico Gaspar Dutra representou a
solução “liberal” e o alinhamento das políticas econômicas ao contexto
internacional do pós-guerra.
O Governo de Dutra, 1946 a 1950, é marcado por duas inflexões em
termos de política econômica:

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2018

a) A alteração na política de comércio exterior, com o fim do mercado


cambial livre e a adoção do sistema de contingenciamento às
importações;
b) Às políticas fiscal e monetária, reorientando a política econômica e
oferecendo maior flexibilidade a partir de 1949.

Devido a percepção que a economia mundial seria reorganizada nos


princípios liberais de Bretton Woods (1944) e de que o Brasil se tornaria
atrativo aos investimentos estrangeiros diretos, o câmbio foi mantido à
paridade de 1939 e o mercado livre foi instituído, restrições e o controle
dos fluxos de divisas foram eliminados. Esta politica visava atender a
demanda contida de matérias-primas e bens de capital para
reequipamento da indústria, promover uma política anti-inflacionária por
meio do aumento da oferta de produtos importados e estimular o ingresso
de capitais.
Mas tais objetivos não forma alcançados e em 1947, Dutra opta por
adotar controles cambiais e impor controles seletivos sobre as
importações, pois as expectativas surgidas com o alinhamento
internacional do pós-guerra não se confirmaram. Somente em 1949, com a
recuperação do preço do café a balança comercial voltou a apresentar
superávits.
O governo Dutra praticou uma política econômica ortodoxa até 1949. A
inflação, diagnosticada como excesso de demanda, era vista como o
principal desafio e sua redução ocorreria por meio de políticas fiscal e
monetária contracionistas de contenção da demanda agregada. O governo
passa então a:
a) Produzir déficits públicos (política fiscal expansionista);
b) Expandir crédito;
c) Ampliar a oferta de moeda.

Fica claro que ao invés de conter, a demanda agregada foi incentivada.

Segundo governo Vargas (1951-1954)


Getúlio Vargas volta ao governo sob grandes expectativas para ajuste
econômico. Mas a conjuntura econômica ruim herdada do governo Dutra e
a dificuldade em atender os interesses dos setores produtivos fizeram com
o governo perdesse todo o apoio necessário para a gestão.
Em linhas gerais, o projeto governamental consistia em duas fases:
a) A primeira seria baseada na busca da estabilização da economia
por meio de políticas econômicas ortodoxas;
b) A segunda seria a os empreendimentos e realizações.

A implementação do projeto econômico do governo Vargas, baseado


nas duas fases foi prejudicada por problemas cambiais e por dificuldades
no relacionamento bilatreral com os EUA.
Tentou-se controlar a inflação por meio de corte de gastos públicos e
aumento da carga tributária e como resultado houve progresso substancial
em direção ao equilíbrio fiscal.
Apesar da política econômica ortodoxa, o nível de inflação manteve a
tendência de alta iniciada no governo Dutra.

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2018

Em relação ao cenário externo, a perspectiva era favorável devido ao


aumento do preço do café, a melhorias das contas comerciais e da
possibilidade de fontes externas de financiamento.
A política de comércio exterior dos dois primeiros anos do governo
Vargas manteve a taxa de câmbio fixa e sobrevalorizada e preservou o
controle sobre as importações. A decisão de flexibilizar tais controles, a
partir do segundo ano, levou em conta alguns fatores como a melhoria das
condições externas devido a evolução favorável das exportações dos
principais produtos nacionais, a prevenção contra eventuais dificuldades
de abastecimento e a utilização das importações para combater a inflação.
Mas como tudo na economia precisa ser acompanhado de muito perto,
essa flexibilização dos controles de importações gerou desequilíbrios na
Balança Comercial, causando déficit em 1952, esgotamento das reservas
internacionais e o acúmulo de atrasados comerciais.
Os desafios presentes no contexto doméstico e internacional
comprometeram o programa de estabilização econômica.
Em 1954, Getúlio Vargas anuncia um aumento de 100% no salário
mínimo. Os efeitos inflacionários da política salarial, somaram-se as
dificuldades relativas às exportações do café, que apresentaram forte
redução no mesmo ano (a redução da exportação do café deveu-se a
queda do consumo nos EUA, redução da produção devido a geada,
demais países produtores tiveram produções superiores o que aumento a
oferta).
O retorno do desequilíbrio cambial, somado ao crescente déficit discal,
minou completamente o programa de estabilização e contribuiu para
acelerar a deterioração da situação econômica. Diante disso, Vargas foi
perdendo o apoio das camadas médias urbanas em decorrência da
aceleração inflacionária. O presidente também perdeu apoio dos
empresários em razão do aumento dos custos de produção gerados pela
desvalorização cambial e pela política do salario mínimo. Ao mesmo
tempo, a oposição política, tanto interna quanto externa, ao seu governo
aumentou. Somam-se à piora do quadro econômico os aspectos de
natureza política, que resultaram no suicídio de Vargas.
O governo Vargas deixou uma situação econômica delicada com
descontrole fiscal e monetário, aceleração inflacionária e desequilíbrio no
Balanço de Pagamentos.
Seu sucessor Presidente Café Filho e o Ministro da Fazenda Eugênio
Gudin assumem o governo, de 1954-1955, com foco no controle da crise
cambial e na inflação. (mas sempre com planos ortodoxos)
A queda das exportações e a irrelevância da América Latina no cenário
internacional permanecem como no do governo Vargas, a ortodoxia
econômica do novo governo não consegue alterar esta cenário.
No plano interno as políticas ortodoxas têm efeitos imediatos e
satisfatórios no controle da inflação, apesar do corte de gastos públicos e o
aumento dos depósitos compulsórios terem causada uma ampla crise de
liquidez, substancial elevação do número de falências e uma significativa
queda de investimentos.

Juscelino Kubitschek e o Plano de Metas (1956-1960)


Os resultados do Plano de Metas e a construção de Brasília, que
permitiu maior integração do país, foram o principal legado econômico do
governo Juscelino Kubitschek (JK). O objetivo de aprofundar o processo
ISI, por meio do Plano de Metas, estava em linha com a expectativa

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vigente à época. Havia, naquele momento, um consenso entre a elite


brasileira em torno da necessidade de intensificar o processo de
industrialização, uma vez que o diagnóstico era de que os preços de
exportação de produtos primários pecavam por uma excessiva oscilação,
além de uma tendência eterna à baixa nos preços.
O setor industrial representava a modernidade, com melhores salários,
proporcionando melhores condições de vida para seus trabalhadores, visto
que é uma atividade tipicamente urbana ou próxima de grandes centros
urbanos, além de que o setor industrial tem características de efeito
multiplicador sobre outros setores e de ser um transmissor de progresso
técnico.
Com essa perspectiva, a opção por intensificar o processo de ISI
parecia óbvia e certa. Assim sob a máxima de “50 anos de
desenvolvimento em 5”, o governo JK elaborou o Plano de Metas.
O Plano de Metas consistia em um conjunto de trinta objetivos
específicos que contemplava investimentos em cinco áreas principais:
energia, transporte, indústrias de base, alimentação e educação.
A maior parcela dos recursos foi direcionada para os setores de energia
e transporte, aproximadamente 5% do PIB real no período de 1957-1961.
Havia também uma meta-síntese, que era a construção da nova capital
do país (Brasília), mas os gastos não estavam incluídos no Plano e utilizou
recursos dos fundos de aposentadoria e pensão dos trabalhadores de
diversos setores.
Para viabilizar a execução do Plano de Metas foram utilizados alguns
instrumentos, entre eles:
a) Reserva de mercado, implementada através da política cambial, das
tarifas alfandegárias elevadas e leis similares que asseguravam total
exclusão de produtos da pauta de importações, caso a produção
interna fosse suficiente para atender a demanda doméstica;
b) Facilitação os investimentos estrangeiro diretos das multinacionais
instaladas no país sem pressionar o Balanço de Pagamentos;
c) Financiamento de longo prazo com juros baixos oferecidos às
empresas privadas;
d) Concessão de aval pelo BNDE às empresas privadas para captação
de empréstimos internacionais;
e) Simplificação da política cambial para favorecer a importação de
insumos, bens intermediários e bens de capital direcionados ao
processo de industrialização.

Não há dúvidas de que JK entregou uma economia maior e mais


desenvolvida a seus sucessores. A economia brasileira cresceu a uma
taxa média de 8,1% ao ano, com aumento de 5,1% ao ano na renda per
capita. Houve uma expansão do PIB em quase 50% e mais de 60% na
produção industrial no período.
O Plano de Metas foi um divisor de águas em termos de
aprofundamento do processo de industrialização por substituição de
importações. Em 1995 o setor primário representava 23,5% do PIB e a
indústria 25,6%, em 1960 o setor agropecuário passou para 17,8% do PIB
e a indústria 32,2%.
Entretanto, o Plano de Metas, também trouxe alguns efeitos negativos
para a economia brasileira, pois agravou a concentração regional da
produção, foi omisso em relação à agricultura e educação básica o que
gerou reflexos tristes sobre a distribuição de renda do país. A taxa de

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inflação que era de 11,8% em 1955, subiu para 25,4% em 1960 e bateu
47,8% em 1961. O Balanço de Pagamentos passou a sofrer desequilíbrios
de forma recorrente, os saldos comerciais tornarem-se negativo a partir de
1958. Por fim, o Plano de Metas também consolidou uma estrutura de
transportes baseada no modal rodoviário, em detrimento da malha
ferroviária e da opção fluvial, o que mais tarde mostrou ser bastante
dispendioso para o setor produtivo.
Entre crescer e estabilizar a economia, JK optou pelo primeiro. Assim,
preservou o Plano de Metas e a construção da nova capital, deixando para
seu sucessor um quadro de deterioração dos indicadores
macroeconômicos.

2.2 Os anos 60
Resumidamente, o início dos anos 1960 caracterizou-se por uma conjunção
de fatores que teria levado à ruptura democrática do país: desaceleração
econômica, aceleração inflacionária, tentativas fracassadas de estabilização e
intensa instabilidade política.

2.2.1 Jânio Quadros e João Goulart (1961-1964)


Diante das dificuldades macroeconômicas herdadas de JK, Jânio
Quadros lança um pacote de medidas ortodoxas, com:
a) Intensa desvalorização cambial;
b) Cortes nos gastos públicos;
c) Política monetária contracionista;
d) Redução de subsídios às importações de petróleo e trigo.

A principal estratégia econômica do governo Quadros foi a


desvalorização cambial que, embora tenha ficado aquém das expectativas,
apresentou avanços na direção de reduzir a complexidade do sistema e de
eliminar os subsídios oferecidos às exportações.
Com isso, foi possível renegociar o vencimento de pagamentos da
dívida externa, que venceriam entre 1961 e 1965, para serem pagos a
partir de 1966. Além de reduzir o serviço da dívida de 43,6% em 1960 para
32,2% das exportações em 1961.
Sem sustentação em um congresso dominado pela oposição, Jânio
Quadros renuncia em 25 de Agosto de 1961. O Vice-Presidente da
República, João Goulart, assume sem plenos poderes presidenciais e até
06 de janeiro de 1963 o sistema de governo muda de presidencialismo
para o parlamentarismo.
Entre 1961 e 1963, a situação da economia brasileira foi se
deteriorando e o ritmo de crescimento recuava, a taxa de inflação
aumentava de 25,4% em 1960, para 34,7% em 1961 e 50,1% em 1962. Os
investimentos estrangeiros diretos caíram 40% em relação aos volumes de
1956-1962. O Balanço de Pagamentos em 1962 registrou déficit de US$
118 milhões.
Com o reestabelecimento do regime presidencialista, o Presidente João
Goulart anunciou sua política econômica para o restante do mandato,
condensada no Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social
(Plano Trienal).
O Plano Trienal tentou conciliar crescimento econômico, reformas
sociais e combate à inflação. Os objetivos específicos do Plano consistiam
em:

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a) Assegurar taxa de crescimento do PIB de 7% ao ano;


b) Reduzir a taxa de inflação para 15% em 1963 e 10% em 1965;
c) Garantir crescimento real dos salários à mesma taxa do aumento da
produtividade;
d) Realizar a reforma agrária;
e) Renegociar a dívida externa.

Era um plano ortodoxo, o que significa dizer o combate à inflação seria


realizado através de cortes nos gastos públicos. Entre as principais
medidas planejadas destacam-se:
a) Redução dos subsídios ao consumo de petróleo e trigo;
b) Correção das tarifas defasadas de serviços públicos nos setores de
transporte e comunicação;
c) Corte de despesas;
d) Metas quantitativas para a expansão dos agregados monetários e
de crédito e
e) Assegurar câmbio competitivo.

Em relação às questões desenvolvimentistas do plano, acreditava-se


que a crise só poderia ser superada com o aprofundamento do próprio
modelo de industrialização via substituição de importações, com a
ampliação do mercado interno, por meio da reforma agrária e de outras
políticas voltadas para a redistribuição de renda.
Montar um plano econômico, ou de governo, é fácil. É só juntar alguns
colaboradores que compartilham dos mesmos objetivos e o projeto é
elaborado. Entretanto, aprovar e implementar o plano econômico, ou de
governo, já uma história bem diferente.
À medida que as críticas internas às medidas adotadas aumentaram, o
Plano Trienal começou a ser abandonado ainda no primeiro semestre de
1963.
Diante do fracasso, João Goulart abandonou a ortodoxia econômica, as
medidas do Plano foram canceladas, o Congresso Nacional, em maio de
1963, concedeu um aumento de 70% no salário dos funcionários públicos,
reajustou o salário mínimo em 56%.
A farra resultou na queda do crescimento econômico de 6,6% em 1962
para 0,6% em 1963, ao passo que a inflação que estava em 50,1% passou
para 80% em 1963.
Devido a esse contexto, houve crescente polarização da sociedade, o
que levou ao golpe d março de 1964.

2.2.2 Castelo Branco (1964 – 1967)


Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG)

As políticas centrais do governo Castelo Branco, o primeiro do regime


militar, foram o combate à inflação e a realização de reformas estruturais.
Estas foram implementadas através do Programa de Ação Econômica do
Governo (Paeg), para reforma e estabilização da economia.

O Plano de Estabilização
O diagnóstico do processo inflacionário brasileiro foi embasado na
ortodoxia monetária: o excesso de demanda seria causado pela
monetarização dos déficits públicos, pela expansão do crédito às

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empresas e pelos aumentos salariais superiores ao aumento da


produtividade. Com este diagnóstico em mãos, foram implementadas
ações que buscavam:
a) Ajuste das contas públicas por meio de aumento de receitas e
redução de despesas;
b) Execução de uma política monetária restritiva, por meio do controle
da emissão de moeda e concessão de crédito;
c) Implementação de uma política de contenção salarial;
d) Adoção do mecanismo de correção monetária.

Em relação à contenção do déficit governamental, o Paeg obteve


sucesso, a razão déficit/PIB baixo de 4,2% em 1963 para 1,1% em 1966.
A política monetária não teve êxito e já em 1965 as restrições foram
abandonadas e a linha expansionista foi adotada.
Sobre a política salarial, a negociação dos salários foi substituída por
uma fórmula oficial de reajuste, com isso, evitavam-se os reajustes acima
da produtividade que empurrava a inflação para cima.
Com a adoção da correção monetária, os títulos públicos tornaram-se
atrativos, uma vez que passaram a rende taxas de juros reais positivas,
acima da inflação. Este mecanismo permitiu ao governo brasileiro se
financiar sem a necessidade de recorrer à emissão monetária, o que
contribuiu para reduzir a inflação.
Diferentemente dos governos anteriores, as metas do Paeg para a
inflação indicaram um caminho gradual. O Paeg não se propôs a eliminar o
processo inflacionário em curto espaço de tempo, mas atenuá-lo ao longo
de três anos, estabelecendo metas decrescentes de inflação: 70% em
1964, 25% em 1965 e 10% em 1966. Embora não tenha atingido as metas,
as medidas adotadas reduziram a inflação de 92% em 1964 para 39% em
1966.

Plano de Reformas
Além da redução gradual da inflação, o plano de estabilização do Paeg,
gerou importantes contribuições para o desenvolvimento institucional do
país. Quatro pontos foram identificados com os principais responsáveis
pelo estrangulamento da economia brasileira e fazem parte do Plano de
Reformas do Paeg, são eles:
a) Ausência de um sistema tributário eficiente;
b) Deficiências de um mercado financeiro subdesenvolvido e a
inexistência de um mercado de capitais;
c) Ineficiências e as restrições ligadas ao comércio exterior;
d) Rigidez do mercado de trabalho brasileiro.

A reforma tributária tinha por finalidade promover a racionalização do


sistema tributário e aumentar a arrecada por meio da elevação da carga
tributária. Em linhas gerais a reforma do sistema tributário contemplou a
eliminação dos impostos em cascata, o fim dos impostos sem finalidade
econômica e a coordenação dos sistemas tributários da União, dos
estados e dos municípios. Os principais elementos da reforma foram:
a) Instituição da arrecadação de impostos através da rede bancária,
extinção do selo federal e ampliação da base de incidência do
imposto sobre a renda de pessoas físicas;
b) Transformação dos impostos em cascata em impostos sobre o valor
adicionado, como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI),

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Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICM) e o Imposto sobre


Serviços (ISS);
c) Introdução da correção monetária;
d) Aumento das tarifas públicas, com o objetivo de aumentar a
arrecadação para reduzir o déficit público e para aumentar a fonte
de financiamento das empresas estatais;
e) Redefinição da partilha tributária entre os entes da federação,
referentes as receitas do IPI, imposto de renda (IR), Imposto de
importação e do Imposto Territorial rural (ITR) ficou para União; o
ICM ficou para os estados e o ISS e Imposto Territorial Urbano
(IPTU) ficou para os municípios;
f) Criação de uma série de mecanismos de isenção e incentivos fiscais
para atividades consideradas prioritárias pelo governo, por exemplo
aplicações financeiras para estimular a poupança e os investimentos
em regiões e setores específicos.

Como resultado, as reforma do sistema tributário trouxe aumento de


carga tributária de 16% em 1964 para 21 do PIB em 1967, a centralização
da arrecadação em favor da União, a regressividade distributiva já que a
maior parte do aumento da arrecadação foi obtida com impostos indiretos
que penalizam as classes de baixa renda.

A reforma bancária e financeira tinha por objetivo, criar mecanismos


para criar condições para a condução independente da política monetária,
canalizar a poupança disponível para as atividades produtivas e
desenvolver mecanismos de financiamento de longo prazo, capazes de
sustentar o processo de industrialização em curso de forma não
inflacionária. Entre as medidas adotadas, as principais foram:
a) Estabelecimento do Conselho Monetário Nacional (CMN) e do
Banco Central do Brasil (Bacen);
b) Criação do Sistema Financeiro de Habitação (SNH) e do Banco
Nacional de Habitação (BNH);
c) Substituição do cruzeiro, a moeda corrente, por cruzeiro novo,
juntamente com a eliminação de três zeros da moeda.

Em relação ao setor externo, comércio exterior, as reformas visaram à


simplificação e unificação do sistema cambial, à modernização e
dinamização das agências do setor público ligadas ao comércio exterior e
a uma maior integração com o sistema financeiro internacional para que se
tornasse fonte de acesso a créditos de médio e longo prazo.
Referente à política cambial foram implantadas algumas medidas, entre
elas estavam a unificação do sistema cambial e introdução do sistema de
minidesvalorizações cambiais para assegurar competitividade das
exportações. Sobre exportações, foram concedidas isenções fiscais aos
exportadores e eliminaram limites às importações.

Na reforma trabalhista, a principal novidade trazida foi a introdução de


mais flexibilidade no mercado de trabalho brasileiro. Nos anos 1960 havia
a garantia de estabilidade do trabalhador após dez anos de serviço no
mesmo estabelecimento, essa regra foi eliminada e em seu lugar foi criado
do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). A reforma trabalhista

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ofereceu maior estímulo às contratações, uma vez que diminuía o risco e s


custos para os empregadores, e ajudou a gerar poupança interna, em
grande parte pelo fomento da construção habitacional e do saneamento
básico.

Avaliação do Paeg
O crescimento do PIB entre 1964 e 1967 foi de 4,2% e a inflação média
de 45,5% ao ano. De modo geral, o Paeg obteve sucesso no combate à
inflação, pois o patamar médio da inflação ficou na faixa dos 20% nos anos
após 1968. As reformas institucionais e estruturais também forma
consideradas bem sucedidas, na media em que fixaram as vase para o
período de elevado crescimento econômico nos anos seguintes. Em
contrapartida muitas medidas do Paeg contribuíram para elevar a
concentração de renda do país, ampliando ainda mais a desigualdade
socioeconômica brasileira.

2.3 O milagre econômico da década de 70


Por que se convencionou chamar o período de 1968 a 1973 de “milagre
econômico brasileiro”? Porque durante esses anos a economia brasileira
conjugou crescimento econômico elevado, média de 11,2% ao ano, com
equilíbrio interno com recuo moderado da inflação e externo com a melhora
relativa no Balanço de Pagamentos.
Ao mesmo tempo em que ocorre um intenso crescimento econômico,
agravaram-se as questões sociais, com aumento da concentração de renda e
deterioração de importantes indicadores de bem-estar social.
O milagre aprofundou as contradições estruturais da economia e os
problemas decorrentes de sua enorme dependência em relação ao capital
internacional.
Apesar de ter havido dois presidentes durante esse tempo, Costa e Silva e
Médici, normalmente esses sete anos são analisados como um único período de
política econômica brasileira.

2.3.1 A origem do Milagre


Uma conjunção de fatores estabeleceu as bases para o “milagre
econômico” brasileiro. Os principais são:
a) O contexto internacional favorável, amparado em crescimento
econômico elevado, forte demanda externa, evolução favorável dos
termos de troca e ampla liquidez internacional;
b) Base industrial robusta, estabelecida durante o Plano de Metas;
c) A existência de capacidade ociosa derivada do período de baixo
crescimento entre 1963 e 1967;
d) Aumento do potencial de crescimento da economia brasileira
proveniente das reformas estruturais do Paeg;
e) Maior atração de poupança externa decorrente das reformas feitas
nos mercados de capitais e financeiro no Paeg;
f) Mudança no diagnóstico da inflação, esta resultaria de fatores
associados aos custos, o que permitiu conciliar crescimento
econômico com combate à inflação, inclusive com a adoção de uma
política monetária menos restritiva.

2.3.2 Políticas macroeconômicas do Milagre

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Em linhas gerais, o período se caracteriza por uma maior intervenção


do Estado na economia.
Relacionado à política fiscal, manteve-se um equilíbrio das contas
públicas, consolidando-se os esforços empreendidos entre 1964-1967.
Com o orçamento mais equilibrado e recorrendo à emissão de títulos para
financiar o déficit público, o governo manteve seus gastos em nível
elevado, sobretudo por maior de amplo esquema de subsídios e incentivos
fiscais para promover setores e regiões específicas. Para aumentar os
investimentos públicos sem comprometer o ajuste fiscal, o governo
aumentou a participação das empresas estatais nos investimentos,
reduzindo a participação da administração direta. Assim foi possível
conciliar a redução do déficit primário, que na época não abrangia o
resultado das empresas estatais, com a geração de superávit a partir de
1970. Isso demonstra que independente da manutenção do equilíbrio das
contas públicas, a política fiscal desse período foi mais flexível do que a do
período anterior.
Esse saneamento das contas públicas pode ser enganoso, uma vez que
houve uma crescente importância de gatos públicos não incluídos nas
despesas do Tesouro e que passaram a integrar o “orçamento monetário”.
Alinhada com a política fiscal mais ativa, a política monetária tornou-se
expansionista, após a forte restrição de liquidez de 1966. A expansão do
crédito ao consumidor e a concessão de juros subsidiados ao setor
agrícola foram significativas, assim como para a construção de residências
e aquisição de moradias através do SNH.
Paralelamente, o BNDE, que já tinha um relevante papel no
financiamento dos investimentos do setor público, passou a abastecer o
setor privado com empréstimos.
Para compensar os efeitos da expansão monetária sobre os níveis de
preços, a nova política anti-inflacionária passou a ser realizada mediante a
instituição de controles de preços de insumos e de fatores de produção. A
contenção de custos pelo governo realizou-se por meio de:
a) Controle sobre as taxas de juros cobrados pelos bancos;
b) Tabelamento de preços de insumos e de produtos utilizados no
processo de industrialização;
c) Controle de salários;
d) Fornecimento de subsídios ao setor produtivo.

Referente à política salarial, alinhado com o objetivo de combate à


inflação, manteve-se a contenção dos níveis de salário rela, iniciada no
Paeg. Optou-se por favorecer a acumulação de capital via manutenção da
elevada taxa de lucro, com isso entre 1967 e 1973, apesar do forte
crescimento da economia e da produtividade do trabalho, houve uma
queda no pode aquisitivo de aproximadamente 15,1%. A perda foi de 42%
no período de 1964 a 1974, segundo o IBGE.
A política de controle de preços do governo foi realizada, por meio do
tabelamento de preços públicos (tarifas, câmbio e juros de crédito público e
privados..). Os juros cobrados pelos bancos comerciais foram tabelados
pelo Banco Central.
Em relação à política cambial e comercial, foi adotada uma política de
minidesvalorizações cambiais a partir do final de 1968, evitando que a
inflação causasse uma defasagem cambial e prejudicasse a balança
comercial. Essa política foi mantida até 1979.

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2.3.3 Financiamento do milagre


O financiamento da formação de capital entre 1968 e 1973 não
dependeu fundamentalmente da poupança externa. Nesse período, os
investimentos no Brasil foram financiados, majoritariamente, pela
poupança nacional bruta. Sendo assim, por que o endividamento brasileiro
teria aumentado tanto nesses anos?
Durante o período do milagre econômico, a dívida externa brasileira
aumentou de US$ 3,6 bilhões em 1966 para cerca de US$ 12,6 bilhões
em 1973, um crescimento de 251%.
Os dados da balança comercial do Brasil entre 1968 e 1973 mostram
que ela permaneceu equilibrada. Já a conta de serviços e rendas registrou
déficits crescentes em razão do aumento das despesas com jutos e
remessas de lucros. A entrada de capital, através da conta financeira, mais
do que compensou a necessidade de financiamento do déficit em conta
corrente, acarretando crescimento do endividamento brasileiro. Essa
entrada de recursos permitiu a acúmulo de reservas internacionais pelo
Banco Central, que parra de US$ 0,2 bilhão em 1967 para US% 6,4
bilhões em 1973.
A explicação para o crescimento vertiginoso da dívida externa brasileira
ao longo do milagre seria de origem financeira: o excesso de liquidez
internacional diminuiu bastante as taxas reais de juros, tornando os
empréstimos muito atraentes. Assim, mesmo sem uma necessidade estrita
de empréstimos externos que financiassem grandes déficits em transações
correntes, o aumento do endividamento ocorreu por causa da captação de
recursos do exterior e seu repasse para empresas dentro do país.
Vale destacar o importante papel exercido pelas empresas estatais na
captação de poupança externa. Os investimentos das empresas estatais,
que cresceram cerca de 10% ao ano no período, tornaram-se elemento-
chave para o modelo de crescimento brasileiro. Com a expansão da
liquidez internacional no final dos anos 1960 e inicio de 1970, as estatais
recorreram a empréstimos privados internacionais.

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2.3.4 Consequências do Milagre


Entre 1967 e 1973 o PIB real brasileira cresceu à taxa média de 11,2%
ao ano, chegando a 14% em 1973.
A taxa de desemprego permaneceu baixa, entre 3%e 4,9%.
A inflação esteve controlada, na faixa entre 20% e 30% ao ano
Queda no poder aquisitivo da população foi de 15,1%, chegando a 42%
entre 1964 e 1974
O índice Gini, que mede a desigualdade da renda, piorou sensivelmente
no período. A camada dos 5% mais ricos da população aumentou sua
participação na renda de 28,3% em 1960, para 39,8% em 1972. Em
contraste, os 50% mais pobres, que contavam com 17,4% do rendimento
total da população economicamente ativa em 1960, passaram a auferir
14,9% em 1970 e 11,3% em 1972.
Simplificando e utilizando uma frase que os dirigentes do Estado
costumavam dizer sobre o período: “a economia ia bem, mas o povo ia
mal”.
O forte crescimento das importações e da dívida externa implicou um
aumento da dependência externa do país nos anos seguintes. O
crescimento liderado pelo setor industrial ampliou a dependência externa
da economia em relação a vens de capital e ao petróleo. Com o choque de
oferta negativo do petróleo em 1973, o nível de endividamento externo do
país aumento. Embora a dívida externa ainda não representasse um
problema, em termos absolutos, no início da década de 1970, a
vulnerabilidade externa do país havia aumentado ao final do milagre.

2.4 Plano Nacional de Desenvolvimento – Geisel (1974 – 1979)


Em dezembro de 1973, os membros da Organização de Países e
Exportadores de Petróleo (OPEP), promoveram o primeiro choque do petróleo.
Um aumento brusco e significativo dos preços no mercado internacional da ordem
366%, o que gerou efeitos adversos sobre a maioria dos países.
No Brasil, este choque complicou nossa balança comercial, porque não se
conseguia mais importação o mesmo volume de petróleo, devido ao preço, o que
comprometeu o nível de crescimento que o Brasil apresentava até 1973 e gerou
recessão nos países ricos. Esta recessão nos países ricos dificultava o aumento
das receitas de exportação. O resultado foi o déficit comercial.
Diante deste cenário, o comum seria o governo Geisel implantar uma política
econômica restritiva, como fizeram os países desenvolvidos. Em relação à política
monetária, ações contracionistas foram implementadas para conter as pressões
inflacionárias, que estava em 46%. Na política fiscal, adotaram-se maiores
contenções de gastos da administração pública. Entretanto, o governo não seguiu
este caminho por muito tempo e tinha basicamente duas opções de ajuste:
a) Atrelar o crescimento do PIB às condições gerais do mercado
internacional, isto é, alternativa recessiva;
b) Buscas a superação da dependência externa investindo na ampliação da
capacidade de produção doméstica de bens de capital e petróleo.

A primeira alternativa caracterizava-se como ajuste conjuntural, ao passo que


a segunda como ajuste estrutural.
A primeira alternativa apontava para uma estabilização econômica mais
drástica, com um crescimento reduzido, e até mesmo uma breve recessão, por
dois anos, se comparados aos anos anteriores, para realizar a retomada do

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crescimento em bases sólidas nos anos seguintes, mas esta opção foi logo
descartada. A segunda opção era a mais aceita por todos.
Naquele momento, apesar o impacto do choque, havia excesso de liquidez no
mercado internacional, ou seja, muito dinheiro disponível para empréstimo. Isso
favorecia a possibilidade de o Brasil promover o crescimento econômico através
de endividamento externo. Assim, em dezembro de 1974, o, segundo, Plano
Nacional de Desenvolvimento (PND) foi aprovado pelo congresso.
Tendo como base a avaliação de que a crise econômica mundial era
temporária e que as condições de financiamento internacional eram boas, o II
PND propunha modificar o perfil produtivo do país, de modo que fosse possível,
no médio/longo prazo, diminuir a necessidade de importações e ampliar a
capacidade de exportações brasileiras e ao mesmo tempo preservar as elevadas
taxas de crescimento econômico.
Os objetivos específicos do II PND eram:
a) Preservar o crescimento econômico à taxa de 10% ao ano entre 1974 e
1979;
b) Substituir as importações nos setores de bens de capital e de insumos
básicos (química pesada, siderurgia, papel e celulose, etc..);
c) Ampliar a produção doméstica de petróleo e a capacidade de geração de
energia. Aumento da prospecção de petróleo, da produção de energia
hidroelétrica e nuclear, desenvolvimento de fontes alternativas ao
petróleo, com ênfase no álcool;
d) Desenvolver sistema de telecomunicações e ampliar o transporte
ferroviário.

Para analisar o II PND, é preciso compreender qual era a ideia por trás do
plano: combate os desequilíbrios do Balanço de Pagamentos, causados pelo
primeiro choque do petróleo, através do aprofundamento do processo de ISI.
Com uma perspectiva positiva, o II PND contribuiu para manter a taxa de
crescimento elevada, 6,8% ao ano entre 1974 e 1979, e para avançar no processo
de ISI.
Em contraponto, pode-se afirmar que a estratégia do II PND resultou em uma
aceleração do endividamento externo do país, o que resultou na crise da dívida
externa da década de 1980. A inflação voltou a crescer, oscilando em 30% e 40%
durante o período.
Também, os estímulos fiscais, creditícios e cambiais concedidos durante o II
PND contribuíram para a piora da condição fiscal do governo brasileiro. Essa
deterioração fiscal seria a base do agravamento dos conflitos distributivo e de
aceleração inflacionária dos anos 1980.
Apesar de o modelo de ajuste estrutural, utilizado por Geisel, ter como mérito
a mudança do estágio de desenvolvimento industrial, ampliando a produção
doméstica de bens de capital e insumos industriais, a economia brasileira
continuava muito vulnerável ao cenário internacional.

2.5 A crise da década de 80


A crise da dívida externa brasileira nos anos 1980 foi decorrência direta do
processo de inserção internacional do país. O aumento do endividamento cresceu
a partir do milagre econômico, supostamente financiado pela entrada de recursos
externos.
Durante o primeiro choque do petróleo e ao longo II PND, o endividamento
externo aumentou em razão do financiamento dos déficits em transações
correntes do país. Após o segundo choque do petróleo em 1979, a progressão do

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endividamento passou a se alimentar da elevação dos custos da própria dívida e


da deterioração dos termos de troca.
Nos anos 1980, a economia brasileira foi marcada por graves desequilíbrios
externos e internos. A chamada “década perdida” caracterizou-se pela queda nos
investimentos e no crescimento do PIB, pelo aumento do déficit público, pelo
crescimento das dívidas externas e interna e pela ascensão inflacionária. O PIB
apresentou um crescimento de apenas 2% entre 1981 e 1990.

2.5.1 Governo Figueiredo e a crise da dívida


Em um breve resumo, podemos observar três fases no governo do
General João Batista Figueiredo. A primeira, entre 1979-1980 que
caracterizada por elevadas taxas de crescimento, 8%, mas o forte aumento
da inflação e a deterioração das contas públicas e externas já sinalizavam
o esgotamento do modelo de crescimento do II PND. A segunda, entre
1981-1983 que foi marcada pela recessão, com grave desequilíbrio no
Balanço de Pagamentos, aceleração inflacionária e forte desequilíbrio
fiscal. Essas dificuldades iniciaram um longo período de estagnação da
economia brasileira que durou até meados da década de 1990,
caracterizando os anos 1980 como a “década perdida”. A terceira fase,
iniciada em 1984 simbolizou o início de uma curta fase de recuperação
econômica, com o crescimento do PIB em 5,4% puxada pelas
exportações.
Diante do cenário de crescentes níveis de inflação e endividamento
externo, o governo iniciou sua gestão, em 1979, com um conjunto de
medidas restritivas, com controle sobre os meios de pagamento, crédito
bancário, investimentos das estatais e despesas com subsídios.
Paralelamente, passou a promover desvalorizações reais da taxa de
câmbio para melhorar a posição da balança comercial. A depreciação
cambial aumentava o montante da dívida externa e de todos aqueles com
obrigações em moeda estrangeira.
Ainda naquele ano, 1979, um novo choque do petróleo e a resposta
restritiva dos países industrializados, elevando suas taxas de juros,
mudaram o cenário internacional. O segundo choque ampliou o
desequilíbrio na conta de transações correntes e interrompeu o fluxo de
capital de países industrializados para aqueles em desenvolvimento. Por
decisão da OPEP o preço do barril e petróleo saltou de US$ 13,60 em
1978, para US$ 30,00 em 1979, e US$ 35,00 em 1980.

Nos EUA a taxa de juros atingiu 16,4%a.a em 1981, mais que o dobro
dos 7,9%a.a vigentes antes do choque. A taxa de referência para
empréstimos, prime rate, bateu em 18,9% em 1981. Em outros países
industrializados as taxa subiram em ritmo parecido e isso inaugurou uma
fase de recessão que durou até 1982.
O aumento dos juros nos EUA contribuiu diretamente para aumento o
déficit em conta corrente no Brasil através de duas formas:
a) Pela retração das importações dos países industrializados;

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b) Pelo aumento das despesas com a dívida externa, indexadas a


prime rate.

Os juros mais altos dificultaram a captação de novos empréstimos pelos


países já endividados, além de atrair recursos para países industrializados,
que aumentavam os riscos atribuídos aos países devedores porque
implicavam maiores despesas com a dívida já contratada e maiores custos
de rolagem da dívida a vencer. Com isso, a compensação dos déficits em
conta corrente por superávit na conta de capital, com se faz no Brasil
durante o milagre, deixou de ser possível.
Além desses fatores, observou-se também neste período uma
deterioração nas relações de troca, um aumento do protecionismo e uma
retração dos fluxos comerciais, o que implicou a redução nas exportações
brasileiras em 1982 e 1983.
Diante do cenário, em vez de readequar a economia brasileira com a
adoção de politicas ortodoxas, o governo seguiu a orientação heterodoxa
no combate à inflação e buscou implementar políticas direcionadas ao
crescimento econômico, com o seguinte conjunto de medidas:
a) Controle de juros;
b) Correção das tarifas públicas;
c) Controle dos gastos públicos;
d) Criação da Secretaria Especial para as Empresas Estatais (Sest)
visando o controle de gastos;
e) Prefixação das correções monetárias e cambial a tacas bastante
inferiores à inflação;
f) Indexação dos salários que passaram a ser reajustados
semestralmente e por faixas;
g) Maxidesvalorização cambial de 30% em dezembro de 1979;
h) Controle seletivo de importações.

O conjunto permitiu dar prosseguimento ao crescimento econômico da


primeira fase do governo, 199-1980, com PIB em 8%a.a. Entretanto, foram
ineficazes para reverte os desequilíbrios domésticos e externos. As
correções de cambio e das tarifas públicas aceleraram a inflação, que
saltou de uma média anual de 38% no governo Geisel para 93% em 1979-
1980. Assim, apesar do crescimento das exportações, o déficit comercial
aumento, puxado pelo aumento dos preços do petróleo e da quantidade
das importações. Ao mesmo tempo, as despesas com rendas cresceram
em razão do aumento dos juros internacionais. Logo os superávits da
conta de capital não foram suficientes para cobrir os déficits correntes,
tornando o Balanço de Pagamentos deficitário, causando perdas de
reservas internacionais e passou a ter dificuldades para rolar a dívida
externa.
Com as dificuldades de rolar a dívida, credores internacionais passaram
a duvidar da capacidade de o governo brasileiro honrar seus
compromissos internacionais. Assim, as politicas heterodoxas são
substituídas e em 1981 o governo passa a seguir os “manuais ortodoxos”
que implementam medidas para:
a) Contenção salarial;
b) Controle das despesas públicas e redução dos gastos das
empresas estatais;

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c) Aumento de tributos, com aumento da arrecadação do Imposto de


Renda e do Imposto sobre Operações Financeiras nas operações
de cambio para importação;
d) Adoção de uma politica monetária restritiva para reduzir a absorção
interna da economia.

Como resultado a essas medidas, registrou-se uma queda do PIB de


-3,1% em 1981 e com média de -2,2% no período de 1981-1983. Queda
na renda per capta de -11%, queda expressiva na atividade econômica e
crescimento da inflação. Essa combinação deu início à chamada
estagflação, quando a baixo crescimento na economia e inflação elevada.
O objetivo da nova estratégia era reduzir o consumo interno, de modo a
gerar excedentes para exportação, utilizar o saldo da balança comercial
para pagar o serviço da dívida externa (juros + principal). As medidas
surtiram efeito, o déficit comercial de US$ -2,8 bilhões em 1980,
transformou-se em superávit de US$ 1,2 bilhão em 1981, US$ 780 milhões
em 1982, US$ 6,5 bilhões em 1983 e US$ 13 bilhões em 1984.
É importante ressaltar que a estratégia econômica baseada em um
ajuste recessivo negligenciava o fato de que grande parte do aumento do
déficit em conta corrente a partir de 1979 e 1981 refletia o crescimento dos
encargos da dívida, proporcionado pelos elevados juros internacionais.
Dessa forma, a implementação de uma política econômica que reduzia a
capacidade da economia interna não tinha eficácia. Assim, a solução teria
que passar, obrigatoriamente, pela renegociação da dívida externa.
Para evitar a moratória, o governo brasileiro recorreu ao FMI, em
novembro de 1982, que injetou US$ 4,2 bilhões na conta de capital do
país. Após essa ajuda, no início de 1983, o Brasil assinou com o FMI a
primeira carta de intenções e nos dois anos seguintes, as negociações
entre o Brasil e o Fundo foram bastante complexas. As políticas
macroeconômicas do país tiveram de seguir as condicionalidades impostas
pelo Fundo, prosseguindo com a política de contração da demanda. No
campo fiscal, buscava-se reduzir a necessidade de financiamento do setor
público mediante a redução dos gastos, inclusive das estatais, e o
aumento da carga tributária. Na política monetária, medidas de restrição do
crédito e de aumento das taxas de juros foram implementadas. Também
se buscou segurar a demanda por meio da contenção salarial mediante a
adoção de reajuste salarias inferiores aos níveis de inflação, o que
acarretava queda do salário real.
Também tentou-se incentivar as exportações e inibir as importações
com uma maxidesvalorização cambial de 30%, realizada em fevereiro de
1983. Ao mesmo tempo, ampliaram-se os subsídios e incentivos às
exportações. Ao final de 1983, nota-se o crescimento do superávit
comercial e a redução do crescimento do déficit em transações correntes,
o que desacelerou o crescimento da dívida externa.
Em 1984, a economia brasileira se recuperou, o PIB cresceu 5,7%, e
aumentavam os indícios de superação dos desequilíbrios externos e da
própria crise da dívida. Neste ano, o país registrou superávit nas principais
contas do Balanço de Pagamentos: balança comercial US$ 13 bilhões,
transações correntes US$ 0,05 milhões e conta financeira US$ 8 bilhões.
Marcando a superação da crise da dívida externa brasileira e o retorno do
crescimento econômico. No entanto, à media que o país superava seus
desequilíbrios externos, cresciam os desajustes internos da economia. A

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taxa de desemprego e a inflação continuaram acelerando, resultado dos


seguintes fatores:
a) O repasse de custos das importações que ficaram mais caras em
razão da maxidesvalorização;
b) Os efeitos dos desequilíbrios fiscais;
c) A existência de uma economia razoavelmente indexada.

Segundo alguns teóricos, economistas Keynesianos, o êxito do ajuste


externo da economia brasileira teve como contrapartida seu desequilíbrio
interno. No inicio da década de 1980, a política econômica voltara-se para
a produção de superávits comerciais, que seriam direcionados ao
pagamento de juros da dívida externa. Contudo, existia um desafio a ser
resolvido: a dívida externa era majoritariamente pública ao passo que os
superávits comerciais eram privados.
O governo precisava comprar as divisas originárias das exportações
para pagar os compromissos da dívida externa. Para fazê-lo, o governo
era obrigado a emitir títulos da dívida interna, já que não dispunha de
superávit fiscal suficiente para adquiri-las e esterilizar o excesso de moeda
proveniente do ingresso de capitais externos no país. Ao fazê-lo, a dívida
externa transformou-se em dívida interna. Assim podemos dizer que,
segundo essa perspectiva, o crescente aumento das despesas com
serviço da dívida externa esteve na origem da deterioração das contas
internas, a chamada crise fiscal do Estado, na queda do nível de
investimentos, na disparada da inflação e na estagnação econômica do
país.
Além disso, outros fatores contribuíram para a piora das finanças
públicas:
a) A correção monetária;
b) Os efeitos das maxidesvalorizações cambiais;
c) O aumento da inflação, que corroía a receita real do governo.

Para os ortodoxos, o problema decorria dos pesados encargos com


pessoal e previdência e do excesso de despesas correntes. Essa situação
gerava uma descontrole fiscal, cujo resultado era um grande déficit público
financiado pelo aumento do endividamento interno. Para essa corrente de
pensamento, a questão fiscal era a fonte do descontrole inflacionário
brasileiro.

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2.6 Planos econômicos


A partir de 1985, houve um conjunto de experiências malsucedidas de
estabilização da inflação. Ao longo dos cinco anos de governo do Presidente José
Sarney, foram lançados três planos de estabilização: Plano Cruzado em 1986,
Plano Bresser em 1987 e o Plano Verão em 1989.
Em seguida, foram lançados os Planos Collor I em 1990, Collor II em 1992 e
o Plano Real cuja preparação foi iniciada em 1993.
O retorno do crescimento econômico em 1984 veio acompanhado de uma
melhora substancial das contas externas e de uma redução do desequilíbrio das
contas públicas. Naquele momento, o principal problema da economia passou a
ser a inflação que continuava alta.

2.6.1 Plano Cruzado


O retorno do crescimento econômico em 1984 veio acompanhado de
uma melhora substancial das contas externas e de uma redução do
desequilíbrio das contas públicas. Naquele momento, o principal problema
da economia passou a ser a inflação que continuava alta.
Comentário: O ano de 1984 representou o início de transformações
políticas importantes no país. O regime militar, que estava há 21 anos no
poder, começara a ser questionado e surgiu o movimento “Diretas Já”, que
simbolizava o clamor popular para que ocorressem eleições diretas para

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Presidente da República. Em 15 de janeiro de 1985, Tancredo Neves foi


eleito Presidente, mas não chegou a assumir o cargo em razão de sua
morte, em abril de 1985. José Sarney, seu vice, tornou-se o primeiro
Presidente do Brasil na Nova República.
O Plano Cruzado foi adotado no segundo ano do Governo Sarney e
visava combater a inflação por meio de um conjunto de medidas
heterodoxas entre as quais se destacam:
a) Mudança da moeda de cruzeiro para cruzado com corte de três
zeros. Cr$ 1.000,00 = Cz$ 1,00;
b) Congelamento de preços vigentes. Para controle, foi criada a Tabela
da Superintendência Nacional de Abastecimento e Preços (Sunab),
que apresentava uma lista de preços a ser respeitada;
c) Fixação da taxa de câmbio. Criando a chamada “ancora cambial”,
na tentativa de controlar a inflação, uma vez que essa estratégia
reduziria as expectativas dos agentes econômicos sobre a inflação
futura;
d) Reajustes automáticos dos salários sempre que a taxa de inflação
acumulada ultrapassasse 20%, chamado de “gatilho salarial”, que
garantiria correção imediata dos salários;

Um detalhe importante a ser ressaltado é que durante a implementação


do Plano Cruzado não foram adotadas regras ou metas para as políticas
fiscal ou monetária. Assim, tais políticas não forma utilizadas para ajudar
no combate à inflação.
Em junho de 1986, o Presidente Sarney anunciou que seria realizado
um ajuste fiscal no Plano Cruzado, sem alterar o congelamento de preços.
O objetivo disso era desacelerar a demanda agregada através do aumento
da carga tributária e aumentar a oferta da economia mediante um plano de
investimento nas áreas social e de infraestrutura.
Tais medidas não resolveram e as consequências do Plano Cruzado
foram o excesso de demanda agregada e o estrangulamento da oferta,
ocasionando redução de investimentos, crescentes pressões inflacionárias
e deterioração da balança comercial.
Ainda houve uma tentativa de reedição do plano, que foi chamado de
Cruzado II com objetivo de realinhar os preços, liberando o congelamento,
e promover um ajuste fiscal, que aumentaria a arrecadação em 4%do PIB,
visando conter as pressões inflacionárias.
Contudo, os preços começaram a ser corrigidos a cada mudança de
inflação, era comum para os consumidores encontrarem um produto com
um preço pela manhã e outro, mais alto, à tarde. A inflação continuou
aumentando e em fevereiro de 1987 o Plano Cruzado foi extinto.

2.6.2 Plano Bresser


Ainda no primeiro semestre de 1987, o governo apresenta o Plano
Bresser com a finalidade básica de promover um choque deflacionário na
economia e corrigis os erros do plano anterior.
Dessa vez, a inflação foi diagnosticada como inercial e de demanda.
Com isso, pela primeira vez, o plano de governo apresentou elementos
ortodoxos e heterodoxos, sendo chamado de híbrido.
Nas questões ortodoxas, as políticas fiscal e monetária, ao contrário do
que aconteceu no Plano Cruzado, seriam ativamente utilizadas contra a
inflação. Os juros reais positivos serviriam para contrair o consumo e para

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evitar a especulação. Almejava-se reduzir o déficit público com aumento de


tarifas, eliminação do subsídio ao trigo, corte de gastos e investimentos
públicos. Mas para evitar o problema da defasagem dos preços públicos
(eletricidade, combustíveis, telefone...), como ocorrido no plano anterior,
fora decretados diversos aumentos pouco antes do anúncio do novo
congelamento.
Nas questões heterodoxas, foi decretado o congelamento de preços e
salários que seria realizado em três fases. A primeira com congelamento
total por três meses, a segunda com uma flexibilização parcial do
congelamento e a terceira o descongelamento. Os salários não seriam
mais corrigidos com o “gatilho salarial”, em seu lugar foi criada uma nova
base de referência chamada de Unidade de Referência de Preço, que era
atualizada a cada três meses com base na taxa de inflação média dos três
meses antecedentes. Para evitar deterioração das contas externas, a taxa
de câmbio foi congelada. Uma nova tabela de preços congelados foi
criada, chamada de Tablita.
O Plano Bresser vigorou apenas pelo ano de 1987 não produzindo
nenhum, ou quase nenhum, efeito positivo na economia.

2.6.3 Plano Verão


Entre janeiro de 1988 e Janeiro de 1989, o governo implementou uma
política econômica ortodoxa gradualista, apelidada de “arroz com feijão”,
porém tal política não obteve sucesso algum. Em 14 de janeiro de 1989, a
última tentativa do Governo Sarney de controlar a crescente inflação foi
apresentada, chamado de Plano Verão.
Assim com o plano anterior, Plano Verão, foi um programa híbrido e as
principais medidas foram:
Heterodoxas
a) Criação de uma nova moeda. Sai o cruzado e entra o cruzado novo
e mais três zeros são cortados. Cz$ 1.000,00 = NCz$ 1,00;
b) As minidesvalorizações cambiais foram extintas. Cambio fixo em
relação ao dólar na paridade de US$ 1,00 = NCz$ 1,00;
c) Congelamento dos preços e salários por tempo indeterminado.
Entretanto, foram autorizados aumentos paras as tarifas públicas e
preços administrados no dia anterior à doção do congelamento;
Ortodoxas:
d) Política fiscal contracionista, com redução dos gastos públicos por
meio da demissão de funcionários públicos e extinção de cinco
ministérios. Além do amplo programa de privatização;
e) Política monetária contracionista, que seria realizada pelo aumento
da taxa de juros real de curto prazo, pela restrição da oferta de
crédito e pelo aumento dos depósitos compulsórios dos bancos.

O ajuste fiscal, na prática, não ocorreu porque 1989 foi ano de eleições
presidenciais. Além disso, os elevados juros praticados foram incapazes
de conter o movimento de antecipação do consumo, movido pelo temor de
explosão de preços após o fim do congelamento, empurrando a inflação
mais para cima. Esses juros também geravam maior descontrole das
contas públicas, uma vez que aumentavam o déficit nominal do governo
brasileiro.
Além dos problemas fiscais e monetários, o descrédito do governo,
após inúmeras tentativas frustradas de estabilização, também dificultava a

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implementação do plano. Como resultado, no início do mandato do


presidente eleito, Fernando Collor de Mello, havia fortes indicações de
hiperinflação no país. Segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA),
medido pelo IBGE, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 1990, a
inflação mensal no Brasil chegou a 68%, 76% e 82% respectivamente.

2.6.4 Plano Brasil Novo


2.6.4.1 Plano Collor I
Nos dois primeiros meses de 1990, a economia brasileira vivia sob uma
hiperinflação, a taxa de inflação mensal havia ultrapassado 80% ao mês.
O Plano Brasil Novo, conhecido também como Plano Collor I,
contemplava um conjunto de políticas abrangente para as finanças
públicas, reformas do Estado e de comércio exterior, políticas de renda e
reformas no campo monetário, entre as quais podemos destacar:
a) Aumento da arrecadação através da redução do prazo de
recolhimento, aumento do IPI e a criação de novos tributos;
b) Suspensão de incentivos fiscais não garantidos pela Constituição
(nos setores de importação, exportação, agricultura, benefícios
concedidos às regiões Norte e Nordeste e indústria da informática),
além de medidas para combate à sonegação;
c) Redução do número de ministérios, de 23 para 12, incluindo a
unificação de pastas da Fazenda e do Planejamento, substituídos
pelo Ministério da Economia;
d) Extinção de autarquias e campanha para demissão de funcionários;
e) Adoção de metas trimestrais de expansão monetária;
f) Congelamento de preços e salários;
g) Implementação de regime de câmbio flutuante;
h) Substituição do cruzado pelo cruzeiro, com paridade de NCz$ 1,00 =
Cr$ 1,00

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Contudo, a principal medida do Plano, e a que gerou maior trauma na


população brasileira, aconteceu na área financeira, quando todos os
depósitos à vista e da caderneta de poupança foram convertidos em
cruzeiros e ficaram com saldo máximo disponível de Cr$ 50 mil, ou seja,
todas as aplicações com saldo superior a este limite, tiveram a diferença
bloqueada por dezoito meses.
O governo se comprometia a devolver o saldo bloqueado, em doze
prestações iguais, sucessivas e com correção monetária mais juros de 6%
ao ano, mas somente a partir de 16 de setembro de 1991.
Com essa medida, foram bloqueados aproximadamente metade dos
depósitos à vista, 80% das aplicações overnight e fundos de curto prazo, e
cerca de um terço da poupança (tudo isso junto correspondia a
aproximadamente 70% do M4), ocasionando redução acentuada na
liquidez, com graves consequências. A forte retração da economia
brasileira desestruturou o sistema produtivo, gerando redução da
produção, demissões em massa, redução da jornada de trabalho e de
salários, atraso no pagamento de dívidas, desenvolvimento de meios
alternativos de pagamentos, entre outras consequências.
A inflação recuou temporariamente, dos 80% ao mês para níveis
próximos de 10% durante alguns meses. Entretanto, devido ao
descongelamento de preços, desbloqueio desordenado de ativos
financeiros e depreciação cambial, além o ceticismo da população no êxito
do plano, o nível geral de preço voltou a subir ao longo do ano, atingindo
20,8% em janeiro de 1991.
Diante da retomada do crescimento da inflação, em fevereiro de 1991
foi lançado o Plano Collor II.

2.6.4.2 Plano Collor II


O Plano Collor II era uma espécie de “remendo” que visava
reestabelecer o controle da inflação em meio a descrédito generalizado da
população. A principal medida desse plano tinha como objetivo acabar com
qualquer tipo de indexação na economia, considerada a principal causa de
retomada da inflação.
Dessa forma, foram extintos o Bônus do Tesouro Nacional (BTN), que
serviam de base para indexação dos impostos, e todos os fundos de
investimento de curto prazo (overnight). Foram criados o Fundo de
Aplicações Financeiras (FAF), que seria remunerado conforme a Taxa
Referencial (TR), que seria baseada na média das taxas do mercado
interbancário.
Ao contrário dos antigos indexados, que refletiam a inflação passada, a
TR projetava as expectativas de inflação futura.
Pretendia-se assim, desindexar a economia, eliminando a memória
inflacionária. Também foram anunciadas medidas adicionais para
contenção de gastos públicos, além de um novo congelamento de preços e
salários.
Como nos planos anteriores, os índices de inflação recuaram nos
primeiros meses passando de 21% em janeiro e fevereiro de 1991, para
11,92% em março, 4,99% em abril e 7,43% em maio. Contudo, em junho a
inflação voltou a acelerar e novas políticas restritivas foram apresentadas.

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2018

Embora o quadro econômico do país tenha se tornado menos crítico a


partir de 1992, com a melhora das contas públicas e externas por exemplo,
a situação política tornou-se fonte de grande incerteza.
No final de 1992, surgiram evidências de envolvimento direto do
Presidente num amplo esquema de corrupção que vinha sendo objeto de
investigação parlamentar. A situação de Collor tornou-se insustentável, ele
foi afastado do cargo no inicio de outubro e renunciou no final de
dezembro, quando seu processo de impeachment estava prestes a ser
concluído.

2.6.4.3 Abertura Comercial e Financeira no governo Collor


Em 1988 iniciou-se, no Brasil, uma reforma comercial com a eliminação
dos controles quantitativos e administrativos sobre as importações e uma
proposta de redução tarifária Tal reforma tinha por objetivo, alterar o
modelo de desenvolvimento do país e reformar o Estado brasileiro.
Um conjunto de fatores foi responsável pela mudança do modelo
econômico e consequentemente da abertura da economia, entre eles
podemos destacar:
a) A influência das ideias neoliberais preconizadas pelos governos de
Ronald Reagan nos EUA e de Margareth Thatcher no Reino Unido;

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2018

b) Os efeitos do segundo choque do petróleo, em 1979, a elevação da


taxa de juros internacionais e a recessão nos países
industrializados;
c) A crescente desregulamentação dos mercados comerciais e
financeiros internacionais;
d) O retorno à democracia no Brasil, que se tornou mais aberta ao
intercâmbio de ideias e de produtos;
e) A percepção de que a economia estava excessivamente fechada e
f) O esgotamento do modelo ISI, que embora tenha criado um parque
industrial, independente da baixa eficiência, também criou alguns
problemas como endividamento excessivo do Estado e taxas de
inflação elevadas, por exemplo.

No governo Collor, a reforma comercial pretendia liberalizar o comércio


exterior no Brasil. As políticas de abertura econômica e de privatização
estavam alinhadas com a nova Política Industrial e de Comércio Exterior
(PICE), que reduzia tarifas de importação, eliminaria barreiras não
tarifárias e regimes especiais de importações.
A conta financeira do Balanço de Pagamentos também passou por
desregulamentação, o que contribuiu para o aumento dos investimentos
estrangeiros diretos. Entre as medidas podemos destacar:
a) Flexibilização da lei sobre remessa de lucros e dividendos;
b) Autorização para as instituições financeiras, com sede no Brasil,
mantivessem quantias ilimitadas de moeda estrangeira e
c) Autorização para investidores estrangeiros investissem no mercado
de ações brasileiro.

Ao mesmo tempo, o governo Collor, acelerou o processo de


privatizações que modificou o parque industrial brasileiro e reduziu o nível
de endividamento público. Entre 1990 e 1992, foram privadas dezessete
empresas estatais e após a saída de Collor, mais 16 empresas foram
privatizadas até o final de 1993.
O processo de privatização, bem como o de liberalização comercial e
financeira, tiveram continuidade nos governos seguintes e persistiram até
2002. Resultando em 68 empresas privatizadas, ou em fase de
privatização, e redução da tarifa sobe importações, que em média estava
em 40% em 1990, baixando para um níveis entre 14,2% e 11,2%, no final
do governo de Fernando Henrique Cardoso.

2.6.5 Plano Real


Com a renúncia de Fernando Collor de Mello, seu vice Itamar Franco,
assume a presidência e nomeia Fernando Henrique Cardoso como
Ministro da Fazenda. A equipe econômica, liderada por Fernando Henrique
Cardoso, elabora um novo plano para estabilização da economia, o Plano
Real, que diferente dos planos anteriores, não envolvia congelamento de
preços e salários. O objetivo era implementar o novo plano, a partir de
1993, de forma transparente, sem congelamento de preços, anunciando
aos agentes econômicos, com antecedência, todas as medidas que seriam
tomadas pelo governo.
O Plano Real também era um plano híbrido, mas diferente dos planos
anteriores, a principal causa da inflação, mas não a única, era o desajuste

58
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2018

das contas públicas. Assim, o ajuste fiscal era uma pré-condição para
diminuir os elevados níveis de inflação no país.
O Plano Real foi desenvolvido e implementado em três etapas:
1. Na primeira fase tinha o objetivo era conseguir um equilíbrio das
contas do governo, eliminando o que era visto com a principal
causa da inflação: o imposto inflacionário;
2. Na segunda, através do estabelecimento de uma referência de
valor estável, a URV, o propósito era combater a inércia
inflacionária e a indexação da economia para gerar estabilidade
de preços;
3. A terceira, mediante a definição de regras de emissão e lastro,
buscava-se criar uma nova moeda nacional com o poder
aquisitivo estável, o real.

A primeira fase do plano, o ajuste fiscal, foi implementada através do


Programa de Ação Imediata (PAI), lançado em maior de 1993, e o Fundo
Social de Emergência (FSE), em fevereiro de 1994.
O PAI tinha por objetivo redefinir a relação da União com os estado e
municípios e do Banco Central com os bancos estaduais e federais, além
de combater a sonegação, através da redução dos gastos da União,
recuperação da receita tributária, equacionamento das dívidas dos estados
e municípios com a União, controle mais rígido dos bancos estaduais,
saneamento dos bancos federais e o aperfeiçoamento do programa de
privatização.
O FSE foi definido para amenizar a grande rigidez dos gastos da União
imposta pela Constituição de 1988. Assim, o governo visava ampliar sua
capacidade fiscal através da desvinculação de receitas tributárias da
União, entre 15% e 20%. Atualmente o FSE é denominado de
Desvinculação das Receitas da União (DRU).
As medidas implementadas no PAI e no FSE, somadas ao efeito da
inflação sobre o valor real das despesas, permitiram a geração de
superávit primários de 2,6% do PIB em 1993 e de 5,1% em 1994.
Na segunda fase, criou-se a URV (unidade de real de valor) para
restaurar a função de unidade de conta da moeda e recuperar a função de
reserva de valor, que haviam sido destruídas pela inflação. Entre 1º de
março e 30 junho de 1994, a URV serviu de ponte entre o cruzeiro real e o
real. Ambas coexistiram com a função de unidade de conta, a paridade, o
câmbio, era definido diariamente pelo Banco Central, uma vez que
somente o cruzeiro real tinha função de meio de pagamento. Tudo que
outrora esteve expresso em cruzeiro real foi convertida para URV, os
preços dos bens, os contratos, os salários, etc... Essa ampla e
descentralizada conversão prévia dos preços, baseada na livre
negociação, preparou o sistema de preços para uma passagem suave pela
reforma monetária que eliminaria o cruzeiro real e converteria a URV em
real, na paridade de 1 URV = R 1,00.
Ao contrário do congelamento de preços, esse processo possibilitou o
realinhamento gradual de preços e a subsequente eliminação da memória
inflacionária, uma vez que ajustes de preços na moeda antiga eram diários
e sincronizados.
Na terceira fase, em 1º de julho de 1994, introduziu-se a nova moeda, o
real. Ao retirar a moeda antiga, a âncora nominal teve a capacidade de
eliminar a inflação, uma vez que não haveria preços atrasados ou

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adiantados. Ao contrário dos planos anteriores, foi possível realizar um


ajuste neutro em termos distributivos.
É importante lembrar que, na data da conversão, um real era
equivalente a 2.750 cruzeiros reais e tinha paridade com o dólar 1 para 1.
Os resultados foram imediatos. Após a estagnação de 1990-1992,
quando o PIB recuou em média 1,3% ao ano, o desempenho nos anos
seguintes foi muito melhor, com crescimentos de 4,7% em 1993, 5,3% em
1994 e 4,4% em 1995. A taxa de inflação registrou queda acentuada e
sistemática, passando de mais de 2.780,60% ao ano em 1993, para
1.093,80% em 1994, 14,7% em 1995 e chegando em 1,7% em 1999%.

2.7 Governo Fernando Henrique Cardoso (1994 – 2001)


O período de governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) se mescla com
a implantação e estabilização do Plano Real. Por isso, brevemente, pontuaremos
as características de seu governo e logo passaremos ao seu legado.
Do ponto de vista macroeconômico, os dois mandatos de FHC forma
completamente distintos: o primeiro, caracterizado por uma política cambial rígida,
crescente dependência do financiamento externo e um desequilíbrio fiscal agudo,
e, o segundo, marcado pelo câmbio flutuante, redução do déficit em conta
corrente e forte ajuste fiscal. Como denominador comum em ambos os mandatos,
a preocupação com o combate à inflação, o que foi positivo, e, o negativo, a
contínua expansão do gasto público, que passou de 17% do PIB em 1994, para
22% em 2002.
A década de 1990 pode ser considerada como a década de transformações
estruturais do Brasil, com três estágios distintos:
a) O primeiro de 1990 a 1994, quando as privatizações e a abertura
econômica introduziram um choque de competição na economia o que
obrigou uma mudança significativa no modelo de industrialização por
substituição de importações e forçou o setor privado a se modernizar para
sobreviver em um ambiente econômico globalizado e competitivo;
b) O segundo de 1995 a 1998, no primeiro governo de FHC, a estabilização
promovida pelo Plano Real marcou uma revolução comportamental no
setor privado, porque com a possibilidade de comparar preços, o que não
era possível em épocas de inflação elevada, a possibilidade de escolha do
consumidor gerou maior concorrência entre as empresas, que
potencializou os benefícios da competição iniciada pela concorrência dos
importados;
c) O terceiro de 1999 a 2002, quando ocorreram as mudanças nos regimes:
cambial, monetário e fiscal. A nova estrutura macroeconômica, adotada
em 1999, aumentou a proteção da economia brasileira contra crises
internacionais, pelo menos tais crises deixaram de atingir nossa economia
de forma automática.

2.7.1 O Legado FHC


Apesar do crescimento médio anual não ter sido muito elevado,
segundo FMI o crescimento médio foi de 2,3% entre 1995 e 2002, e das
crises econômicas enfrentadas no período, podemos indicar que as
reformas promovidas por FHC foram importantes para aumentar o
potencial de crescimento do país nos anos seguintes.

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2018

Com isso, além da consolidação da estabilidade monetária, as


mudanças implantadas na gestão FHC que produziram maior impacto para
o futuro foram:
a) Fim dos monopólios estatais nos setores de petróleo e
telecomunicações. Essas mudanças atraíram grandes montantes de
IEDs, proporcionando a modernização e o aumento da
produtividade;
b) Privatização. Entre 1995 e 2002, as receitas de privatização em
todos os níveis de governo somaram cerca de US$ 78,6 bilhões,
além de uma redução de US$ 14,8 bilhões da dívida pública. Entre
os aspectos positivos da privatização podemos destacar sua
contribuição para a redução da dívida pública e a melhora na
eficiência das empresas privatizadas, vide as telecomunicações. Do
lado negativo, os problemas regulatórios do setor elétrico, pois as
privatizações atingiram somente a distribuição de energia, a geração
ficou nas mãos do Estado, a falta de regulação, ao setor privado,
somada com os poucos investimentos das estatais, gerou uma
redução geral de investimentos no setor, resultando na crise
energética de 2001;
c) Saneamento do sistema financeiro. Os anos de 1995 e 1997 foram
marcados pelas crises dos bancos Econômico, Nacional e
Bamerindus, além do Banespa e Banerj. O governo atuou
fortemente e encontrou soluções de mercado para os três bancos
privados, que foram absorvidos por outras instituições financeiras,
também privadas e para os dois bancos estaduais, este foram
vendidos para instituições privadas, assim como a maioria dos
outros bancos estaduais;
d) Reforma da Previdência Social. A reforma aconteceu em duas
etapas: na primeira estabeleceu-se uma idade mínima para os
novos funcionários públicos e ampliou o tempo de contribuição para
quem já estava na ativa e alterou a fórmula de cálculo das
aposentadorias do INSS, ou seja, dos trabalhadores do setor
privado. Na segunda, aprovou-se o fator previdenciário para o INSS,
que desestimularia as aposentadorias precoces.
e) Aprovação da Lei de Reponsabilidade Fiscal (LRF). A LRF
estabeleceu limites para as despesas com pessoal em cada um dos
poderes nas três esferas da Federação, proibiu novas
renegociações de dívidas entre os entres federativos e implantou
vários outros dispositivos de controle das finanças públicas. A lei
evitou o problema de risco moral que se criava anteriormente, em
que cada renegociação era feita “pela última vez” e era sucedida por
uma renegociação das condições de pagamento quando do
vencimento das dívidas. Isso provocou uma verdadeira restrição
orçamentária, entretanto, proporcionou uma melhora contínua da
situação fiscal de estados e municípios, que passaram de um déficit
primário de 0,7% do PIB em 1997, para um superávit de 0,9% do
PIB em 2001.
f) Definição do sistema de metas de inflação como modelo de política
monetária. O sistema de metas de inflação caracterizou um
compromisso formal com a estabilidade de preços, por parte das
autoridades, feito inédito no país.
g) Lançamento de programas sociais. No governo FHC, foram
lançados e/ou aprimorados vários programas sociais que

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2018

aumentaram o gasto público e criaram uma rede de proteção social


relativamente desenvolvida para o padrão de um país latino-
americano de renda média, podemos destacar:
a. A expansão na Lei Orgânica da Assistência social (LOAS),
que garante um salário mínimo a idosos e deficientes,
independentemente de contribuição prévia. Em 2002 atendia
diretamente aproximadamente 1,4 milhão de pessoas;
b. O Bolsa-Escola, do Ministério da Educação, que garantia
benefícios às famílias com crianças na escola, que
beneficiava 5 milhões de famílias;
c. O Bolsa-Renda, do Ministério de Integração, destinado a 2
milhões de famílias pobres das regiões que enfrentavam o
problema da seca;
d. O Bolsa Alimentação, Ministério da Saúde, que atendia 1
milhão de gestantes em fase de amamentação;
e. O Auxilio Gás, Ministério de Minas e Energia, que
beneficiava 9 milhões de famílias para subsidiar o custo do
botijão de gás e
f. O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, da
Secretaria de Assistência Social, para retirar 1 milhão de
crianças do trabalho, dando a elas bolsas para estudar.

Segundo Giambiagi (2005), esses programas não se tornaram mais


populares no governo FHC em razão do peso da redução da renda
real, a falta de competência política do Governo Federal para
assumir a liderança e se comunicar melhor com a população e o
predomínio da percepção de insegurança, nas grandes metrópoles,
devido ao aumento da criminalidade urbana, já que muitos desses
programas estavam orientados para outras regiões do país, não
para as periferias dos grandes centros, onde estavam as principais
fontes de violência.

2.8 Governo Luiz Inácio Lula da silva (2003 – 2010)


A era Lula ficou marcada por dois mandatos bem distintos em relação à
gestão macroeconômica. O primeiro, 2003 a 2006, quando o governo Lula
conduziu uma política econômica relativamente bem sucedida e no segundo, 2007
a 2010, nota-se uma alteração na gestão econômica em direção a políticas de
expansão da demanda agregada por meio de impulso fiscal.
Logo após as eleições de 2002 , a nova equipe econômica apresentou a
proposta com medidas econômicas ortodoxas, por exemplo:
a) Aumento do superávit primário de 3,75% para 4,25% do PIB em 2003;
b) Anúncio de metas de inflação para 2003 de 8,5% e de 5,5% para 2004,
reforçando a política anti-inflacionária;
c) Elevação da taxa básica de juros, Selic, até 26,5% ao ano;
d) Inclusão do objetivo de manter a meta fiscal, item a, para o período de
2004-2006, na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO);
e) Renovação do acordo com o FMI;
f) Empenho do governo para aprovação das reformas tributárias e da
Previdência do setor Público.

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2018

Como efeito da alta dos juros, o PIB sofreu uma contratação de 0,2% em
2003, mas logo o desempenho melhorou. As medidas provocaram uma
apreciação cambial e um aumento na confiança, pelo mercado internacional, de
que o governo não faria loucuras. Assim, tanto o consumo quanto o investimento
foram estimulado, o que possibilitou um crescimento da economia de 3,8% em
2004 e em uma demonstração de que as condições externas da economia
brasileira estavam mais sólidas, o governo Lula quitou a dívida de US$ 23 bilhões
com o FMI em 2005.
Com o crescimento das exportações, iniciou-se uma política de acumulo de
reservas internacionais. Em 2002, as reservas somavam US$ 38 bilhões e saltou
para US$ 260 bilhões em 2010. Ao mesmo tempo, implementou medidas para
alterar o perfil da dívida pública interna, mudando o tipo dos títulos emitidos, para
minimizar o impacto dos juros.
Devido à melhora geral da economia, o Banco Central reduziu
gradativamente a taxa básica de juros, que em maior de 2003 estava em 26,5%,
até o chegar a 16% em maior de 2004. Com isso, a economia brasileira, que
cresceu 1,2% em 2003, iniciou uma trajetória de crescimento nos anos seguintes,
alcançado 5,7% em 2004, 3,1% em 2005 e 4% em 2016, segundo o FMI.
O sucesso da política econômica do primeiro mandato de Lula parecia
mostrar que o país estava mais maduro e direcionado à um governo consolidado
onde oposição e situação, estariam lado a lado discutindo e aprovando às
políticas em consenso. Entretanto, o segundo mandato revelou que o país ainda
não havia chegado a este ponto.
Em meados de 2005, o escândalo do “Mensalão”, instala uma crise política e
provoca mudanças internas na base do governo e inicia o processo de mudança
na política econômica.
A partir do segundo semestre de 2005, uma nova proposta de ajuste fiscal,
que visava definir que a expansão do gasto público fosse inferior à taxa de
crescimento do PIB, através da redução o gasto com o funcionalismo público e
medidas de desvinculação do processo orçamentário, foi engavetado.
Após a reeleição de Lula, em 2006, a preocupação com o ajuste fiscal deixou
de fazer parte do discurso do governo, que passou a defender fortemente a
expansão do gasto público Assim, restaurou-se no governo a visão nacional-

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2018

desenvolvimentista de que caberia ao Estado o papel central no processo de


crescimento do país.
O cenário internacional também favoreceu a nova postura, favorecendo a
política fiscal expansionista do segundo mandato. As exportações de commodities
saltaram de US$ 95 bilhões em 2004, para US$ 160,6 bilhões em 2007. O
superávit comercial manteve-se acima de US$ 40 bilhões entre 2005 e 2007. O
grande fluxo de IEDs, da ordem de US$ 32 bilhões por ano, permitiu a crescente
acumulação de reservas internacionais.
Em 2007, o lançamento do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC),
marcou a nova fase do expansionismo fiscal e ativismo governamental do governo
Lula. Era uma tentativa de elevar os investimentos do setor público em
infraestrutura através de investimentos do próprio governo e das empresas
federais estatais, como Petrobras e Eletrobrás. Não houve a preocupação de
definir marcos regulatórios específicos que pudessem atrair investimentos
privados para o setor de infraestrutura. Segundo Werneck (2014), devido a uma
série de entraves burocráticos e da falta de capacidade do governo para conduzir
tais investimentos, a grande maioria das obras do PAC não foi executada.
Uma nova crise econômica internacional surge em 2008, puxada pela crise
financeira nos EUA, intensificou as medidas nacional-desenvolvimentistas do
governo Lula. A redução de quase 30% da produção industrial de 14% do PIB, no
último trimestre de 2008, levou a uma forte expansão fiscal, seguida de uma
redução bastante significativa da taxa Selic. Entre 2008 e 2009, os gastos
primários do Governo Federal subiram 14,91%. O resultado primário foi que o PIB
recuou de 3,8% em 2008 para 1,9% em 2009, segundo o Tesouro Nacional.
Em meio a isso, à redução das metas fiscais, o governo começa a utilizar
manobras contábeis para ocultar a realidade do quadro fiscal, manipulando
receitas e despesas. Grande parte da expansão fiscal foi realizada fora do
orçamento, através de emissões de títulos do Tesouro direcionados ao BNDES
por meio de empréstimos, aumentando assim a dívida bruta do governo, mas não
a dívida líquida.
Funcionava assim: o Governo Federal emitia títulos da dívida e o BNDES
comprava, o dinheiro entrava no caixa do governo e na sequencia, o Governo
devolvia parte do dinheiro ao BNDES na forma de empréstimo. Os recursos que
retornavam do BNDES ao Tesouro Nacional, ao invés de abater as dívidas do
Governo Federal, eram contabilizadas de forma a inflar o superávit primário da
União. Por meio dessa manobra contábil, o governo Lula transformou a emissão
da dívida em melhora de superávit primário.
Entre 2008 e 2010, o Governo Federal mobilizou, aproximadamente, R$ 305
bilhões em recursos extraorçamentários para investimentos, equivalente a 9,3%
do PIB.
Os efeitos da expansão fiscal, monetária e creditícia possibilitaram que a
economia brasileira se recuperasse rapidamente da crise de 2008. Em 2009
registou-se uma queda no PIB de 0,3%, contudo, em 2010 houve uma taxa de
crescimento de 7,5%.
Analistas de diferentes correntes teóricas tem avaliado a política econômica
iniciada no segundo mandato de Lula. Todos concordam que, da perspectiva
macroeconômica, as medidas contracíclicas foram corretamente aplicadas em
2009. Entretanto, tais analistas divergem sobre o tempo de duração de tais
medidas. Para um grupo de economistas, parte da corrente heterodoxa, foi, e
ainda é, correto um maior intervencionismo estatal na economia e apresentam os
resultados da recuperação econômica de 2010 para justificar tal intervenção.
Para outro grupo de economistas, mais amplo e que abrange ortodoxo e
heterodoxo, as medidas deveriam ter sido encerradas em 2010, mas ao contrário,

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2018

o governo Lula manteve o expansionismo fiscal inalterado nos anos posteriores.


Ao assumir o governo, em 2011, a Presidente Dilma Rousseff manteve as
políticas de expansão da demanda e na flexibilização da política fiscal com base
na contabilidade criativa. Escolha essa que, na perspectiva desses economistas,
contribuiu fortemente para a deterioração dos fundamentos macroeconômicos.

2.8.1 Redistribuição de Renda e Crescimento Econômico


Os oito anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva marcaram a
história econômica brasileira. Pela primeira vez o país registrou taxas de
crescimento com distribuição de renda. Durante o período, a economia
cresceu 4,0% ao ano, representando o período de crescimento econômico
contínuo mais prolongado desde 1980, segundo o FMI.
O êxito econômico do governo não se restringiu somente às taxas de
crescimento, desde o inicio da gestão, as políticas distributivas estiveram
no centro da agenda do governo. Em outubro de 2003, todos os programas
sociais criados no governo FHC, foram unificados sob o nome de Bolsa
Família. O número de famílias beneficiadas naquele ano foi de 3,6 milhões
e chegou a 12,8 milhões de famílias em 2010. Sendo reconhecido pelo
Banco Mundial com um dos programas de combate à pobreza mais
eficazes do mundo.
O esforço de redistribuição de renda do governo Lula também
contemplou uma política sistemática de reajuste do salário mínimo com
níveis superiores a inflação, buscando um aumento real ao salário dos
trabalhadores. Definiu-se a regra de que o percentual de reajuste do
salário mínimo seria igual à taxa de inflação acumulada no ano anterior,
acrescida da taxa de crescimento do PIB dos dois anos prévios. Dessa
forma, ao longo de oito anos, o valor nomimal do salário mínimo aumento
155%, enquanto que a inflação acumulada foi de 56,7%, representando um
aumente real acumulado de aproximadamente 63%.
Em contrapartida, o aumento sistemático do salário mínimo teve dois
efeitos negativos na economia. O primeiro foi o impacto nas contas
públicas, uma vez que 15 milhões de pessoas recebiam benefícios
previdenciários atrelados ao salário mínimo. O segundo, o aumento
contínuo acima da produtividade, somada com a apreciação cambial
provocada pelo aumento nos preços das commodities, teve impacto sobre
o custo unitário do trabalho, torando a economia brasileira ainda menos
competitiva.
Devido as elevadas taxas de crescimento econômico e das políticas de
distribuição de renda, houve forte queda na taxa de desemprego e uma
redução expressiva no grau de desigualdade social no Brasil. Fora gerados
quase de 20 milhões de empregos entre 2003 e 2010, a taxa de
desemprego baixou de 10,5% em 2002 para 5,3% em 2010 e a renda per
capta dos mais pobres aumentou.
A redução da pobreza, que havia sido possibilitada pela estabilização
da economia no governo FHC, foi intensificada na gestão Lula. No governo
FHC, o número de indivíduos vivendo sob condições de extrema pobreza
havia sido reduzido em 31,9%, no governo Lula houve uma redução
adicional de 50,6%, segundo o Banco Mundial.
Embora o padrão de crescimento brasileiro, adotado nos oito anos de
governo Lula, ancorado no aumento da demanda doméstica e inclusão
social, tenha proporcionado benefícios ao país, ao final do mandato, já
mostrava claros sinais de esgotamento. No plano externo, a elevada

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2018

cotação das commodities, principais responsáveis pelo crescimento da


economia, já iniciara um ciclo de baixa em 2011. No plano interno, os
desafios já não eram amis do lado da demanda, passaram para o lado da
oferta agregada: escassez de mão de obra, crescimento lento da
produtividade, deficiências de infraestrutura, redução de investimentos,
carga tributária excessiva.

2.8.2 Continuidade – governo de Dilma Rousseff


Fazer uma avaliação sobre um período histórico tão próximo não é algo
simples, muitas vezes nem recomendado o é. Contudo, como precisamos
de algumas informações desse período para nossas aulas, vamos limitar
esse período apenas apresentando informações de indicadores
econômicos e a registros de fatos.
Após 2011, as políticas macroeconômicas do governo Lula foram
intensificadas pela Presidente Dilma Rousseff, com expansão fiscal, juros
baixos e desvalorização cambial.
Resultados obtidos, segundo o BACEN foram:
a) Redução do superávit de 3,11% do PIB em 20011, para 2,39% em
2012, 1,99% em 2013 até chegar ao déficit de 0,63% do PIB em
2014;
b) Taxa Selic: em 2011 estava em 12,5% ao ano, 7,25% em 2012,
7,25% em 2014, batendo 14,25% em 2016 (para tentar conter a
aceleração inflacionária);
c) Inflação: Taxa média de inflação do governo Lula foi de 5,8% ao
ano, enquanto no governo Dilma 7,1% ao ano;
d) Taxa de Crescimento da Economia, média de 2,1% ao ano.

A Taxa de Crescimento da Economia é um dos principais, se não o


principal, indicador do êxito do governo. Para fins de comparação segue
abaixo um quadro com as taxas de crescimento dos governos FHC, Lula e
Dilma:

Taxa de Crescimento ao ano


América
Governo Brasil Latina Mundo
FHC 2,30% 2% 3,50%
Lula 4% 4,10% 4,20%
Dilma 2,10% 3,10% 3%
fonte: FMI, 2016

3. CONCEITUAÇÃO E GENERALIDADES DO COMÉRCIO


INTERNACIONAL

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O Comércio Internacional tem se apresentado, ao longo do tempo, em


diferentes modalidades, modalidades que, devido às mudanças nos fluxos
comerciais, de tecnologias e de negócios etc. destacaram a necessidade de
inovar e procurar fontes alternativas que proporcionem melhor desenvolvimento
do comércio internacional.
A internacionalização é um fenômeno que se encontra presente nas relações
humanas em muitos níveis.
O comércio sempre fez parte da história, desde o início do mercantilismo a
partir do século XVI, quando começou a adquirir maior relevância com a criação
de impérios coloniais europeus até se tornar um importante instrumento de política
imperialista, quando o objetivo era conseguir acumular mais riqueza ao menor
custo possível. Esta concepção do papel do comércio exterior, conhecido como
mercantilismo, predominou durante os séculos XVI e XVII. Desde então, surgiram
um grande número de Teorias do Comércio, que tentam explicar essa troca de
mercadorias e serviços, passando por teorias clássicas, e neoclássicas que
promoviam livre circulação de mercadorias com base em vantagens absolutas,
vantagens comparativas e muitas outras.
Embora o comércio internacional, tenha demonstrado sua relevância desde o
inicio, somente a partir do final do século XVII começou a mostrar as
características mais claras, com o aumento da participação do estado. Os líderes
descobriram que ao promover o comércio internacional poderiam aumentar a
riqueza e, portanto, o poder do seu país. Durante esse período novas teorias
econômicas relacionadas ao comércio internacional foram apresentadas definindo
que comércio internacional não é um produto da situação econômica atual, mas
tem por base a especialização e o intercâmbio de bens de serviços.

3.1 Definição de Comércio Internacional


Comércio Internacional é o intercâmbio de bens, serviços e tecnologia entre
países, podem ser produzidos bilateralmente, unilateral e multilateralmente. Os
bens podem ser definidos como produtos finais, produtos intermediários
necessários para a produção de produtos acabados e matérias-primas.
No Comércio Internacional, destaca-se um ponto muito importante, a
especialização, criando uma preocupação para que a produção dos bens ocorra
de forma eficiente e com custos mais baixos. O comércio também aumenta o
mercado potencial para os bens que uma economia produz, proporcionando as
relações entre os países e permitindo medir “a força” de suas respectivas
economias através das negociações comerciais.

3.2 A importância do Comércio Internacional


A existência de comércio entre países é justificada pelo princípio fundamental
que se existe uma relação econômica é porque existem benefícios ou vantagens
que permitam melhorar a economia de um país. Se houver uma especialização no
trabalho, tanto dos consumidores como os produtores, poderão ganhar mais e
tornar o país autossuficiente, contudo se a autossuficiência não for conveniente,
certamente alguns bens poderiam ser adquiridos mais baratos no exterior.
Existem vários fatores que influenciam a especialização e os produtos que entram
no comércio entre países, exemplo trabalho, transporte ou frete, comunicação,
etc.
Sabe-se que existem muitos produtos que não são negociados porque cada
país produz para seu próprio consumo. Estes são os bens não comerciais ou não
negociáveis. A razão pela qual eles existem é derivada principalmente do fato de
que o transporte é muito caro, por exemplo. Encontramos então um elemento que
explica a especialização internacional: quanto mais barato os custos, maiores

67
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2018

serão os incentivos para buscar bens e serviços em outros países e integrar o


mercado mundial através do comércio. A medida que os canais de comunicação
melhoraram, o comércio e especialização se desenvolvem e aumentam o bem-
estar de todos.
Uma questão que certamente nos perguntamos: em quais produtos se
especializarão os países? Naqueles produtos em que eles têm uma vantagem
comparativa. Por vantagem comparativa, entendemos que são aqueles produtos
no qual o custo de produzi-los é menor do que o custo de produção em outros
países.
Nas últimas cinco décadas, o comércio entre as nações cresceu em grandes
proporções, e é mais livre agora do que nunca. Essa troca ocorre devido às
diferenças nos custos de produção entre países e por que aumenta o bem-estar
econômico de cada país, ampliando a gama de bens e serviços disponíveis para
consumo.

3.3 Similaridades e Diferenças entre o Comércio Internacional e Comércio Interno


O comércio é atividade econômica que consiste em adquirir os bens dos
produtores e revendê-los aos compradores, visando o lucro. O comércio faz, por
assim dizer, uma espécie de distribuição física dos bens pelo território e pelas
pessoas e empresas, a partir das unidades de produção, que estão localizadas
em poucos lugares, até alcançar os consumidores, revendedores, investidores,
que se localizam por todo o país e pelo mundo.
A análise da atividade comercial revela que há várias formas de comércio,
mas vamos destacar apenas duas:
• Comércio Interno: efetuado dentro do território do país. Pode ser nacional,
regional e local;
• Comércio Externo: realizado com outros países. É o comércio de
exportação, quando vende para outros países; e de importação, quando adquire
dos outros países.

A princípio, poderia se pensar que o comércio internacional nada mais seria


do que o prolongamento do comércio interno. De fato, tanto o comércio externo
quanto o interno apresentam várias semelhanças no que se refere a
determinados aspectos:
• Estão alicerçados nos desejos e nas necessidades humanas;
• Têm como objetivo principal o atendimento dessas necessidades e
desejos;
• Ambos nascem da impossibilidade de uma região ou país produzir
vantajosamente todos os bens e serviços de que tenham necessidade
os seus habitantes, devido a fatores tais como: desigualdade na
distribuição geográfica dos recursos naturais, diferenças de clima e de
solo e as diferentes técnicas de produção;
• Ambos consistem na troca de determinados bens e serviços;
• Ambos envolvem compradores e vendedores;
• Benefícios mútuos para as partes;
• Políticas de produção e de vendas;
• Problemas de assistência creditícia, preferência de consumidores,
faturamento, transporte, etc...

Todavia, não obstante a existência dessas semelhanças, possui o comércio


internacional pontos divergentes em relação ao comércio interno:

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• Variações no grau de mobilidade dos fatores de produção: a mobilidade


de fatores ocorre em maior grau no campo interno do que no
internacional:
i. trabalho: menor mobilidade no comércio exterior devido a:
especialização profissional, associações, laços de família,
costumes, idiomas, legislação imigratória restritiva (dificuldade
na entrada de trabalhadores de outras nacionalidades).
ii. matéria-prima e outros produtos: sujeita a restrições de diversas
naturezas.
iii. capitais financeiros: movimentação poderá ser dificultada ou
proibida. Maiores riscos quando se transferem para outros
países (expropriações, confiscos, etc).
• Natureza do mercado: no mercado interno predominam os fatores de
COESÃO, enquanto no mercado internacional a predominância é de
fatores de DISPERSÃO.
• O mercado interno apresenta unidade de idioma, costumes, gostos,
hábitos de comércio, sistemas de pesos e medidas, etc. Essa unidade
tende a padronizar hábitos de consumo e os bens produzidos. No
mercado internacional as diferenças existentes com relação aos
aspectos apontados tornam problemática essa padronização.
• Existência de barreiras aduaneiras e outras restrições: dificultam a
movimentação de produtos e a cobrança de direitos aduaneiros
acarreta maiores dificuldades para as empresas que se dedicam ao
comércio exterior refletido nos preços dos seus produtos e nas
possibilidades de sua colocação junto aos consumidores de outros
países.
• Longas distâncias: de modo geral, as distâncias percorridas pelos
produtos no campo internacional são muito maiores. Representa
despesas mais elevadas com fretes, além do tempo gasto no transporte
e sua influência sobre as condições físicas do produto
(embalagens,transportes especiais, etc).
• Variações de ordem monetária: no mercado internacional fica difícil
impor a um exportador que aceite como pagamento outra moeda que
não seja a do seu país. Surge, assim, o câmbio (troca de diferentes
moedas).
• Variações de ordem legal: no mercado internacional poderá haver
grandes diferenças entre sistemas legais, implicando diversidade de
critérios no arbitramento das pendências que porventura ocorram.
Ainda que o direito tenda a se universalizar, essas distinções persistem.

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4. TEORIA CLÁSSICA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL


4.1 Mercantilismo:

O mercantilismo é uma filosofia econômica e cultural dos séculos XVI e XVII


que reflete o surgimento de economias baseadas no comércio. Os mercantilistas
atribuíram grande importância à obtenção de uma entrada líquida de metais
preciosos e as importações foram desencorajadas por impostos. A política
também foi marcada pelo nacionalismo agressivo em relação às colônias no
exterior.
Essa teoria do comércio afirmou que o governo deveria estabelecer políticas
econômicas que promovessem as exportações e desencorajassem as
importações, de modo que o superávit comercial criado fosse pago em ouro e
prata. Esse foi um período de construção dos Estados, quando os monarcas
nacionais procuraram consolidar e ampliar seu próprio poder e aumentar o poder
e o prestígio de seus Estados, por todos os meios disponíveis.
O mercantilismo, ou “construção do Estado econômico”, geralmente envolveu
uma intervenção governamental extensa na vida econômica com o objetivo de
fomentar o crescimento do comércio e da indústria nacional. As isenções fiscais,
os empréstimos, os subsídios e outras formas de auxílio estatal incentivaram as
indústrias recém-estabelecidas, e foram elaborados esquemas reguladores para
controlar seu desenvolvimento e assegurar a qualidade de seus produtos.
Em meados do século XVIII, desenvolveram-se críticas generalizadas sobre
os pressupostos mercantilistas e houve ataques às políticas restritivas que deram
origem a eles. Os reformadores colocaram sua fé na máxima do economista e
administrador liberal francês Vincent de Gournay (1712-1759): “laissez faire,
laissez passer”, que pode ser traduzido livremente como “deixar as coisas
sozinhas, permitir que as mercadorias passem”.
Houve um protesto contra os mercantilistas que se preocupavam com o
comércio e a indústria, e o consequente abandono da agricultura. Acreditava-se
que a nova riqueza surgiu apenas na agricultura e nas indústrias extrativistas, e o
incentivo, tão oposto, dava-se às atividades urbanas “estéreis”. Após ataques
devastadores no sistema mercantil, guerras entre as colônias por vários anos, os
escritos de Smith tiveram um tremendo impacto no pensamento e na ação das
gerações subsequentes. Somente nos séculos XX e XXI, em resposta a
problemas de economia de guerra e pressão para o pleno emprego, houve um
renascimento de “neomercantilistas” – políticas protecionistas, intervencionistas,
nacionalistas e populistas.
Embora a Era do mercantilismo tenha terminado na última parte do século
XVII,os argumentos desta teoria ainda têm aplicações hoje. As nações incentivam
mais exportações do que importações de bens e serviços para que possam ter
uma balança comercial mais favorável. Em outras palavras, as exportações
trazem receitas para um país, e as importações fazem com que uma nação
pague.
A lógica básica da escola clássica, iniciada por Adam Smith (1776) é que para
que duas economias mantenham espontaneamente vínculos comerciais entre si é
preciso que ambas tenham a possibilidade de ganhar com essas transações. A
principal motivação dos agentes econômicos em relação ao comércio
internacional não é a acumulação pura e simples de metais preciosos, mas a
satisfação de suas necessidades básicas: não há justificativa para a acumulação
por si só; é importante haver uma razão para o uso dos recursos obtidos via

70
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2018

ganhos com o comércio. Exportar é importante porque ajuda a viabilizar a


importação de vens e serviços desejáveis.

4.2 Teoria das Vantagens Absolutas e Comparativas

4.2.1 Teoria das Vantagens Absolutas – Adam Smith


Por que os países não podem confiar nos bens e serviços que produzem e
serem autossuficientes? Nos escritos de Adam Smith (1723-1790), encontramos
muitas respostas a esta pergunta. O principal trabalho de Smith, Um inquérito
sobre a natureza e causas da riqueza das nações, de 1776, tornou-se o
fundamento sobre o qual foi construída toda a tradição subsequente da economia
clássica inglesa.
Smith estava principalmente preocupado com os fatores que levaram ao
aumento da riqueza em uma comunidade e rejeitou o ponto de vista do fisiocrata
sobre a posição preeminente da agricultura, reconhecendo a contribuição paralela
da indústria transformadora. Ele começou sua análise por meio de um esboço
de uma primitiva sociedade de caçadores.
O trabalho era a medida fundamental do valor, embora os preços reais das
commodities fossem determinados pela oferta e demanda no mercado. Havia dois
elementos no problema do aumento da riqueza: (a) a habilidade da força de
trabalho e (b) a proporção de mão de obra produtiva e improdutiva. (De acordo
com Smith, as indústrias de serviços não contribuíram para a riqueza real.) A
chave para (a) foi a divisão do trabalho.
Para ilustrar seu ponto, ele citou o exemplo da fabricação de alfinetes. Se um
homem recebesse a tarefa de realizar todas as operações de fabricação de
alfinetes – desenho do fio, corte, encosto da cabeça e afiação –, sua produção
seria aumentada em cêntuplos1. O tamanho da produção só precisa ser limitada
pelo tamanho do mercado.
A chave para (b) foi a acumulação de capital. Isso não só permitiu a criação
de instalações e maquinarias para ajudar o trabalho, mas também que a mão de
obra trabalhasse. O capital para este último foi o fundo de salários. Os
trabalhadores devem ser alimentados e vestidos durante o período de produção,
antes do rendimento obtido com seus próprios esforços. Smith acreditava que o
sistema econômico era harmonioso e requeria mínima interferência
governamental (laissez-faire). Embora cada indivíduo tenha sido motivado por
interesse próprio, eles agiram para o bem do todo, guiados por uma “mão
escondida” tornada possível pelo livre jogo da competição.
No entanto, de sua Riqueza das nações está claro que não só seus estudos
ampliaram os campos da história e dos negócios contemporâneos, mas que, ao
mesmo tempo, ele era um homem muito prático. Ele estava bem ciente, por
exemplo, das forças que estavam trabalhando para limitar a competição: “As
pessoas do mesmo comércio raramente se reúnem, mesmo por alegria e
diversão, mas a conversa termina em uma conspiração contra o público, ou em
algum intento de aumentar os preços”. Em suas discussões sobre finanças
públicas, ele estabeleceu quatro princípios de tributação:

a) Igualdade (impostos proporcionais à capacidade de pagar).


b) Certeza.
c) Conveniência.
d) Economia.

71
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Com base na discussão acima mencionada e suas contribuições para o


comércio internacional, ele desenvolveu a teoria da vantagem absoluta. De
acordo com essa teoria, um país pode produzir alguns bens de forma mais
eficiente do que outros países. Tal teoria se baseia no fato de que a vantagem de
um país seria natural (clima e recursos naturais) ou adquirida (tecnologia e
habilidades) na produção de bens.
Smith ampliou sua divisão do trabalho no processo de produção para uma
divisão do trabalho e produtos especializados em todos os países. Cada país se
especializaria em um produto para o qual era adequado. Mais seria produzido por
menos. Assim, um país com absoluta vantagem poderia produzir mais no total e
trocar produtos – comércio – por bens que eram mais baratos do que os
produzidos em casa.
Para Adam Smith, uma economia só manterá relações espontâneas com
outra se perceber os ganhos derivados desse intercâmbio. Como a noção de
ganho esta associada ao potencial de aquisição de determinados itens via
comércio, a explicação relacionada às características do processo produtivo de
cada economia.
O comércio internacional se justificará apenas quando for mais barato adquirir
itens produzidos em outra economia A diferença entre os processos produtivos
em países distintos e o principal determinante do comércio.
Vejamos um exemplo:

Custo de Produção

  Produto A Produto B

País 1 20 40

País 2 40 20

Se o país 1 consegue produzir o produto A a um custo mais baixo que o mais


país 2 (20<40) e se o país 2 consegue produzir o produto B a um custo menor que
o país 1, então haverá vantagem tanto para 1 quanto para 2 em haver comércio.
O país 1 se especializará na produção e exportação de A, enquanto que o
país 2 produzirá e exportará B. Os indivíduos nos dois países poderão ter acesso
a quantidades maiores dos dois produtos e isso configura um ganho em termos de
bem-estar social. Além disso, cada país precisará de menos recursos para
produção, já que pode obter um dos produtos via comércio, ou seja, o país 1
poderá alocar 20 unidades adicionais na produção, por exemplo, de mais B,
enquanto que o país 2 fará o mesmo na produção de mais A, contribuindo ainda
mais para a elevação do nível de bem-estar social.
Essa é resumidamente a lógica das vantagens absolutas: é simples
identificar, sabendo as diferenças de custo de produção, qual país se
especializará em qual produto.

4.2.2 Teoria das Vantagens Comparativas – David Ricardo


David Ricardo levou a lógica da vantagem absoluta na produção um passo
além para explicar como os países poderiam explorar suas próprias vantagens e
ganhar com o comércio internacional.

72
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David Ricardo evidenciou em suas publicações séria preocupação com


dinheiro e o sistema bancário. Em 1815, publicou seu Ensaio sobre a influência
do baixo preço do milho sobre os lucros do estoque, que era o protótipo para o
seu trabalho mais importante, dois anos depois. Sob o título Princípios da
economia política e da tributação, em 1817, lançou uma obra que deveria dominar
a economia clássica inglesa durante o meio século seguinte.
Na obra “Princípios”, Ricardo estava basicamente preocupado em determinar
as leis que regulam a distribuição (entre as diferentes classes de proprietários de
terras, capitalistas e mão de obra) dos produtos da indústria. Sua abordagem era
construir um modelo teórico que fosse abstraído das complexidades de uma
economia real, de modo a tentar revelar as influências mais importantes no
trabalho. Sua economia era predominantemente agrícola.
Com a demanda crescente como resultado do aumento da população, e um
nível de subsistência que, por costume, aumentou também ao longo do tempo, as
terras menos férteis tiveram de ser cultivadas. O retorno (em termos de produção
de milho) de cada adicional de capital e mão de obra para lidar em mais terras
sofreu uma queda. Esse processo continuou até que não fosse mais considerado
suficientemente lucrativo ter outras terras cultivadas. No entanto, os custos de
oportunidade e os lucros devem ser iguais em todas as terras, sejam elas
marginais ou não.
A consequência disso foi que à medida que a população se expandia e as
terras menos férteis eram cultivadas, os lucros ficaram espremidos entre a
proporção crescente da produção total, que entrou em renda, e o nível mínimo
básico de subsistência alocado aos salários do trabalho. Ricardo assumiu que os
preços eram determinados principalmente pela quantidade de mão de obra usada
durante a produção. No entanto, reconheceu que os custos de capital, dessa
forma, também influenciaram os preços e que o efeito de um aumento nos
salários sobre os preços relativos dependia da proporção desses dois fatores de
produção nas diversas commodities. Com o aumento dos salários, os bens
intensivos em capital tornaram-se mais baratos do que os bens de uso intensivo
de mão de obra, com consequente mudança na demanda e produção em favor do
primeiro.
Sua principal contribuição foi o princípio dos rendimentos decrescentes,
devido à renda das terras. Tentou deduzir uma teoria do valor a partir da aplicação
do trabalho. Outra contribuição foi a Lei do Custo Comparativo, que demonstrava
os benefícios advindos de uma especialização internacional na composição das
commodities do comércio internacional. Este foi o principal argumento do livre
comércio aplicado pela Inglaterra, durante o século XIX, exportando manufaturas
e importando matérias-primas.
Na teoria do comércio internacional, Ricardo declarou explicitamente, pela
primeira vez, a lei dos custos comparativos. Esta teoria da vantagem comparativa
pode ser mais bem ilustrada através do exemplo de dois países produzindo duas
commodities, sapatos (produto A) e azeite (produto B). Se o custo relativo dos
sapatos e do azeite é o mesmo em ambos os países, então não haverá comércio,
porque não há ganhos a serem obtidos pela troca de azeite (ou sapatos) para
sapatos (ou azeite) produzidos no exterior em relação aos produzidos em casa.
O comércio terá lugar onde existirem diferenças de custos. Estas podem ser
de dois tipos. Primeiro, se o azeite é barato na Espanha (país 1) e os sapatos na
Itália (país 2), a Espanha se especializará em azeite e Itália em sapatos, e a troca
terá lugar em sua vantagem mútua. Em segundo lugar, a teoria da vantagem
comparativa estabelece a condição em que o comércio ocorrerá, mesmo que
ambas as commodities possam ser produzidas de forma mais barata em um
país do que em outro.

73
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O modelo de Ricardo supõe que um dos países consegue produzir ambos os


produtos a custos mais baixos que o outro e que ainda assim é possível haver
comércio, se for consideração a noção de eficiência relativa na produção de cada
item. Vejamos um exemplo:

Custo de Produção

  Produto A Produto B

País 1 20 40

País 2 30 50

Para o país 1, a relação entre os custos relativos de produção de A e de B é


igual a 20/40 = 1/2 = 0,5. Para o país 2, a relação é de 30/50 = 3/5 = 0,6. Portanto,
é relativamente mais barato para o país 1 especializar-se na produção e
exportação do produto A.
Para o país 2, a relação de B e de A é de 50/30 = 5/3 = 1,67. No país 1, essa
relação é de 40/2 = 2. Portanto, é mais barato para o país 2 especializar-se na
produção e exportação do produto B.
É importante ressaltar que para compreensão da teoria das vantagens
comparativas, utilizamos poucas variáveis e ceteris paribus. Como por exemplo, a
taxa de câmbio entre os países é de 1:1.
Em nosso exemplo de dois produtos e ceteris paribus, fica mais simples
identificar o padrão provável de consumo. Entretanto, com milhares de produtos
comercializados é um pouco mais complicado visualizar o padrão.
Para tratar esta questão, o economista Béla Balassa, complementou David
Ricardo, e sugeriu a teoria das “vantagens comparativas reveladas”,
demonstrando uma estimativa da razão entre as exportações de um produto X por
um país Y e as exportações totais de Y, em comparação com essa mesma razão
para o total mundial. Se a participação percentual de X nas exportações do país
for maior do que o que se observa no total mundial, isso indicará que o país tem
vantagens comparativas na produção e exportação de X.

4.3 Fronteira de Possibilidade de produção/consumo.


Como todas as economias têm recursos limitados, existem restrições ao que
cada uma pode produzir e sempre existem dilemas; para produzir mais de um
bem, a economia deve sacrificar alguma produção de outro bem.
Essas opções são apresentadas graficamente por uma fronteira de
possibilidade de produção, que mostra a quantidade máxima de vinho que pode
ser produzida, uma vez que a decisão de produzir uma determinada quantidade
de queijo tenha sido tomada, e vice-versa.

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Quando há apenas um fator de produção, a fronteira de possibilidade de


produção da economia é simplesmente uma linha reta. Considere Q V a produção
de vinho da economia e QQ sua produção de queijo. Então o trabalho utilizado na
produção de vinho será aLVQV e o trabalho utilizado na produção de queijo será
aLQQQ.A fronteira de possibilidades de produção é determinada pelos limites dos
recursos da economia, que neste caso é o trabalho. A oferta total de trabalho
desta economia é L. Então isso significa que:

aLVQV + aLQQQ.A ≤ L

Quanto a fronteira de possibilidade de produção é uma linha reta, o custo de


oportunidade do queijo em termos de vinho é constante.
Como já sabemos, o custo de oportunidade é o sacrifício que será feito, por
conta da escolha adotada. No exemplo, a quantidade de vinho que deixará de ser
produzida para que a produção de queijo aumente. Assim, para produzir um quilo
a mais de queijo, seriam necessárias aLQ horas de trabalho.
Cada uma dessas horas de trabalho poderia ser utilizada para produzir 1/aLV
litros de vinho. Assim o custo de oportunidade do queijo em termos de vinho é
aLQ/aLV.
Quando há apenas um fator de produção, o gráfico é uma reta, contudo este
é um modelo teórico para entendimento da teoria. Na prática, as economias
possuem mais um de fator de produção e mais de dois produtos.
Isso faz com o gráfico seja uma curva, conforme abaixo, mas as análises
continuam as mesmas.

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Bananas

A curva representa todas as possibilidades de produção que podem ser


atingidas com os recursos e tecnologias existentes.
Nos eixos estão representados os dois produtos produzidos pela economia e
a curva representa todos os pontos de produção possíveis. É o resultado do
impacto de recursos, fatores de produção.
Podemos colocar todos os recursos para produzir X ou Y ou ambos. A curva
representa por isso os pontos de eficiência de produção: os pontos em que os
fatores de produção estão no ponto máximo de utilização.
Os pontos interiores, representados por D, à curva são pontos ineficientes,
pois existem recursos que poderiam ser utilizados para produzir mais. Ou seja, é
possível alocar os recursos de modo a produzir mais Bananas e mais Peixe.
Os pontos eficientes, representados por A e B, todos os que estão sobre a
curva, representam os pontos em que qualquer alteração feita levará sempre a
perder um bem. Se quiser produzir mais Bananas será necessário abdicar de
Peixe e vice-versa.
Os pontos exteriores, indicados por C, à curva são precisamente os pontos
impossíveis, na condição atual da economia, uma vez que não existe nenhuma
combinação de recursos possível que me permita produzir nesses pontos. Os
pontos exteriores são possíveis se houve um crescimento da produção geral, ou
seja, um crescimento da economia provocado, por exemplo, por novas
tecnologias possibilitem ao aumento da eficiência e da produção.
Até aqui conhecemos o conceito da fronteira de possibilidade produção e
utilizamos exemplos onde um país decidia sobre sua própria produção. Bem na
verdade, o conceito de Fronteira de Possibilidade de Produção é um vem da
microeconomia, onde as empresas utilizam tal comparação para decidirem se
devem ou não reduzir a produção de um item para aumentar de outro. Da mesma
forma este conceito pode ser utilizado no comercio internacional.

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5 EVOLUÇÃO DA ECONOMIA INTERNACIONAL


5.1 Padrão Ouro
O padrão ouro teve sua origem no uso de moedas de ouro como meio de
troca, unidade de conta e reserva de valor. Embora o ouro tenha sido utilizado
dessa maneira no passado, o padrão ouro como instituição legal surgiu em 1819,
na Inglaterra. Posteriormente, a Alemanha, o Japão e outros países também
adotaram o padrão ouro.
Naquela época, a Inglaterra era a potência econômica líder, e outras nações
pretendiam alcançar um sucesso econômico parecido, imitando as instituições
inglesas. Os Estados unidos adotaram o padrão ouro em 1879 quando vincularam
ao ouro os papéis “verdes” emitidos durante a Guerra Civil. Dado o destaque da
Inglaterra no comércio internacional e o desenvolvimento acelerado de suas
instituições financeiras, Londres se tornou o centro do sistema monetário
internacional com base no padrão ouro.
O período do padrão ouro entre 1827 e 1914 baseou-se em ideias sobre
política macroeconômica internacional muito diferente daquelas que formaram a
base dos acordos monetários internacionais após se Segunda Guerra Mundial. No
entanto, este período é interessante porque nos mostra as tentativas de reforma
do sistema monetário internacional com base nas taxas de câmbio fixas, como
tentativas de fortalecer o padrão ouro, ao mesmo tempo em que evitava seu
enfraquecimento.
Sob o padrão ouro, cada país fixa o preço da sua moeda em termos de ouro,
estando pronto para trocar moeda doméstica por ouro sempre que necessário,
visando à defesa do preço oficial. Isso servia para evitar a diferença inerente em
um padrão de reserva de moeda, onde cada país considerava que sua moeda
valeria mais que a do outro, assim, nenhum país ocuparia posição privilegiada no
sistema, pois cada um era responsável por atrelar o prelo de sua moeda ao ativo
de reserva internacional oficial.
Como os países relacionam suas moedas ao ouro, as reservas internacionais
oficiais tomam a forma de outro. As regras do padrão também exigem que cada
país não impeça as importações e exportações de ouro através de suas fronteiras.
Sob esses argumentos, o padrão ouro, assim como o sistema de moeda de
reserva, resulta em taxas de câmbios fixas entre todas as moedas.
Por exemplo: se o preço em real do ouro é cotado em R$ 35 por onça pelo
Banco Central, enquanto que em dólar é cotado a US$ 14,58 por onça pelo
Federal Reserve, a taxa de câmbio real/dólar deve ser constante em (R$ 35 por
onça) ÷ (US$ 14,58 por onça) = R$ 2,40 por dólar.
O mesmo sistema de arbitragem que mantém as taxas de câmbio cruzadas
fixas sob o sistema de moeda de reserva também mantém as taxas de câmbio
fixas sob o padrão ouro.
Por causa do equilíbrio inerente ao padrão ouro, nenhum país no sistema
ocupa posição privilegiada de estar desobrigado do compromisso de intervir.
Considerando os efeitos internacionais de uma compra de ativos domésticos por
um banco central, vejamos um exemplo de como a política monetária atua sob o
padrão outro.
Suponha que o Banco Central do Brasil decida aumentar sua oferta de moeda
por meio de um compra de ativos domésticos. O aumento inicial da oferta de
moeda no Brasil pressionará para baixo a taxa de juros brasileira e tornará os
ativos em moedas estrangeiras mais atrativas do que os ativos brasileiros. Os
investidores com depósitos em reais tentarão vendê-los, para buscar

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investimentos mais interessantes, mas nenhum comprador privado se mostrará


interessado em um primeiro momento. Com taxas de juros flutuantes, o real seria
desvalorizado em relação às moedas estrangeiras até que a paridade dos juros
fosse reestabelecida. Mas essa desvalorização não pode ocorrer quando todas as
moedas estão convertidas em ouro. O que ocorre é que pelo fato de os bancos
centrais serem obrigados a trocar suas moedas por ouro, os investidores em
ativos brasileiros podem vendê-los ao Banco Central em troca de ouro, vender o
ouro para outros bancos centrais em troca de suas moedas e usá-las para efetuar
investimentos que oferecem taxas de juros mais elevadas do que a taxa de juros
em reais. Portanto, o Brasil experimenta um fluxo de saída de capital privado e os
países estrangeiros experimentam um fluxo de entrada de capital privado.
Esse processo mantém o equilíbrio no mercado de câmbio. O Banco Central
do Brasil perde reservas internacionais, uma vez que é obrigado a comprar reais e
vender ouro para manter o preço do ouro em reais fixo. Os bancos centrais
estrangeiros ganham reservas à medida que compram ouro com suas moedas.
Os países compartilham igualmente a carga do ajuste do balanço de
pagamentos. Como as reservas internacionais oficiais estão diminuindo no Brasil
e aumentando em outros países, a oferta de moeda brasileira está diminuindo,
fazendo com que a taxa de juros brasileira aumente, e como as ofertas
internacionais de moeda estão aumentando, os juros internacionais serão
forçados para baixo. Assim, as taxas de juros serão novamente postas em
igualdade entre os países, os mercados de ativos estarão novamente em
equilíbrio e não existirá uma tendência posterior de o Banco Central brasileiro
perder reservas, ouro.
Este exemplo demonstra a natureza equilibrada do ajuste monetário
internacional com o padrão ouro. Sempre que um país está perdendo reservas e
vendo sua oferta de moeda diminuindo, em contrapartida, os países estrangeiros
estão ganhando reservas e vendo suas ofertas de moeda em expansão. Contudo,
o ajuste monetário sob um sistema de moeda de reserva é altamente
desequilibrado, pois os países podem ganhar ou perder reservas se induzir
nenhuma mudança na oferta de moeda doméstica. Somente o país originário da
moeda utilizada como reserva, tem capacidade de influenciar as condições
monetárias próprias e internacionais.
Os defensores do padrão ouro argumentam que ele não tem outra finalidade
além da de assegurar o equilíbrio. Como os bancos centrais de todos os países
são obrigados a fixar o preço do ouro em sua moedas domésticas, eles não
poderão permitir que sua ofertas de moedas aumentem mais rapidamente do que
a demanda real de moeda, uma vez que tal crescimento monetário rápido eleva
os preços de todos os bens e serviços, incluindo o ouro. O padrão ouro, portanto,
estabelece limites automáticos pelo fato de que os bancos centrais podem
aumentar os níveis de preços nacionais através de políticas monetárias
expansionistas. Esses limites tornam os valores reais das moedas nacionais mais
estáveis e previsíveis.
Não existem tais limites à criação de moeda sob o sistema de moeda de
reserva, o país da moeda de reserva não tem nenhuma barreira automática para
criação ilimitada de moeda.
Mas o padrão ouro apresenta algumas desvantagens, vejamos algumas:
a) Estabelece alguns limites indesejáveis no uso da política monetária no
combate ao desemprego.
b) Um sistema de pagamentos internacionais baseado em ouro é
problemático porque os bancos centrais não podem aumentar seus
estoques de reserva internacionais conforme suas economias crescem, a
não ser que haja continuamente novas descobertas de minas de ouro.

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c) Os países com grande quantidade de minas de ouro teriam,


potencialmente, grande capacidade de influenciar as condições
macroeconômicas mundiais, através da venda do ouro no mercado.

Por conta dessas desvantagens, poucos economistas são a favor do retorno


ao padrão ouro. Em 1923, John Maynard Keynes classificou o ouro como uma
“relíquia bárbara” de um sistema monetário internacional do passado. Embora a
maioria dos bancos centrais continue mantendo ouro como parte de suas reservas
internacionais, o preço do ouro atualmente não tem nenhum papel especial para
influenciar as políticas monetárias dos países.
A relevância dos objetivos da política interna aumentou após a I Guerra
Mundial como resultado da instabilidade econômica mundial dos anos entre as
guerras, 1918 e 1939, e as limitações impostas pelo padrão ouro tornaram-se
inaceitáveis.

5.2 Os anos entre guerras (1918-1939)


Os governos efetivamente suspenderam o padrão ouro durante a I Guerra
Mundial e financiaram parte de seus gastos militares emitindo moeda. Também, a
força de trabalho e a capacidade produtiva haviam sido muito reduzidas por meio
das perdas da guerra. Como resultado, os níveis de preços estavam mais
elevados em todos os lugares ao final da guerra em 1918.
Vários países passar por um processo inflacionário, a medida que seus
governos tentavam auxiliar no processo de reconstrução por meio de aumentos
de gatos públicos. Esses governos financiavam suas compras simplesmente
emitindo mais moeda do que necessitavam, assim como fizeram durante a guerra.
O resultado foi um grande aumento na oferta de moeda e nos níveis de preços no
mundo todo.
O episódio mais discutido sobre a inflação no período entre as guerras foi a
hiperinflação alemã, durante a qual o índice de preços na Alemanha aumento de
um nível de 262 em janeiro de 1919 para 126.160.000.000.000 em dezembro de
1923.
O Tratado de Versailles que encerrou a I Guerra Mundial deixou a Alemanha
com um grande volume de pagamentos de indenizações aos Aliados. Em vez de
elevar os impostos para realizar os pagamentos, o governo alemão optou por
emitir mais moeda. A inflação acelerou em janeiro de 1923 quando a França,
acusando a falta de obediência alemã aos termos do Tratado, enviou suas tropas
para região industrial da Alemanha, o Ruhr. Os trabalhadores alemães entraram
em greve em protesto à ocupação francesa e o governo alemão apoiou a atitude
dos trabalhadores emitindo mais moeda para paga-los. Em um ano, o nível de
preços aumentou 452.998.200 vezes, as pessoas perderam o interesse em reter a
moeda alemã e esta ficou sem utilidade. A hiperinflação terminou no final de 1923,
quando o governo instituiu uma reforma monetária e obteve alguma diminuição da
carga de indenizações e seguiu um orçamento equilibrado.
Os Estados Unidos voltaram para o padrão ouro em 1919. No início dos anos
de 1920 muitos países desejavam a estabilidade financeira relativa da era do
padrão ouro. Em 1922, um grupo de países, incluindo Inglaterra, França, Itália e
Japão, firmou um acordo, em Gênova – Itália, de retorno geral para o padrão ouro
de cooperação entre os bancos centrais. Reconhecendo que a disponibilidade do
ouro poderia ser inadequada para atender às demandas dos bancos centrais por
reservas internacionais, o acordo permitiu o padrão de troca parcial do ouro, no
qual países menores poderiam reter como reservas internacionais as moedas de
vários países grandes cujas próprias reservas internacionais consistissem
totalmente em ouro.

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2018

A Inglaterra voltou ao padrão ouro em 1925, mas atrelou a libra ao ouro pelo
preço de antes da guerra, na busca de recuperar a confiança mundial nas
instituições financeiras inglesas. Para que o preço voltasse ao nível de antes da
guerra, o banco central inglês, Bank of England, era forçado a seguir políticas
monetárias contracionistas, o que contribuía para o aumento do desemprego,
levando a economia à estagnação que acelerou o declínio de Londres como
centro financeiro de maior relevância no mundo. O enfraquecimento da Inglaterra
tornou-se problemático para estabilidade do padrão ouro, uma vez que, pelo
acordo de Gênova, muitos países mantinham suas reservas internacionais em
libras, moeda inglesa. As reservas inglesas em ouro tornaram-se limitadas e a
estagnação persistente do país inspirou a desconfiança de a Inglaterra manter em
dia suas obrigações internacionais. O início da Grande Depressão em 1929 foi
acompanhado por falências de bancos em todo o mundo e em 1931 a Inglaterra
foi forçada a entrega seu ouro, quando os grandes detentores de libras perderam
totalmente a confiança no compromisso inglês de manter o valor de sua moeda.
Durante a Grande Depressão, inúmeros países renunciaram às obrigações do
padrão ouro e passaram a manter a flutuação de suas moedas no mercado de
câmbio. Os EUA deixaram o padrão ouro em 1933, mas voltaram a ele em 1934,
após elevarem o preço do ouro em dólares de US$ 20,67 para US$ 35 por onça.
Vários outros países que aderiram ao padrão outro sem desvalorizar suas
moedas, aumentam o preço do ouro, sofreram mais durante a Grande Depressão.
Pesquisas recentes atribuem boa parte da culpa pela propagação mundial da
depressão ao padrão ouro.
O principal prejuízo econômico foi feito por restrições ao comércio e
pagamentos internacionais, que proliferavam conforme os países tentavam
diminuir as importações manter a demanda agregada restrita ao mercado
doméstico. Uma medida que eleva o bem-estar doméstico é denominada “política
de empobrecimento do vizinho” quando ela beneficia somente o país doméstico
porque piora as condições econômicas no exterior. Durante a Depressão, tarifas e
outras políticas de empobrecer o vizinho provocaram retaliações estrangeiras e
frequentemente deixaram todos os países em pior situação econômica.
A incerteza sobre as políticas de governo levou a grandes movimentos de
reservas nos países com taxas de câmbio fixas e grandes movimentos da taxa de
câmbio naqueles com taxas flutuantes.
As barreiras ao comércio e a deflação nas economias industrializadas da
América e da Europa levaram ao repúdio de dívidas externas, particularmente dos
países da América Latina, cujos mercados de exportações estavam
desaparecendo. A economia mundial desintegrou0se em unidades nacionais
autossuficientes no início dos anos 1930.
Uma agitação considerável nos mercados mundiais perdurou até o início da II
Guerra mundial em 1939. Vários países haviam resolvido os problemas de
desequilíbrio interno e externo, causados pela Depressão, cortando relações
comerciais com o resto do mundo e eliminando a possibilidade de qualquer
desequilíbrio externo significativo.
Mas esta opção, que reduzia os ganhos do comércio, impunha custos
elevados à economia mundial e contribuía para recuperação lenta da Depressão,
que até 1939 ainda estava incompleta em vários países. Todos os países
estariam melhores em um mundo com comércio internacional mais livre, uma vez
que a cooperação mundial ajudaria a cada país a preservar seu equilíbrio externo
e a estabilidade financeira sem sacrificar as metas da política interna. Esse
reconhecimento inspirou o esquema do sistema monetário internacional após a II
Guerra Mundial, descrito no acordo de Bretton Woods.

80
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5.3 Bretton Woods


Em julho de 1944, os representantes de 44 países se reuniram em Bretton
Woods, New Hampshire, planejaram e assinaram os Artigos do Acordo do Fundo
Monetário Internacional (FMI), definindo como seriam tratadas as necessidades
econômicas mundiais após a guerra.
Com a lembrança, ainda ativa, dos eventos desastrosos do período entre as
guerras, eles esperavam planejar um sistema monetário internacional que levasse
ao pleno emprego e à estabilidade dos preços, embora permitisse que os países
obtivessem equilíbrio externo sem a imposição de restrições ao comércio
internacional.
Também, em Bretton Woods, foi estabelecida uma segundo instituição, o
Banco Mundial, que deveria auxiliar a reconstrução das economias arrasadas e
auxiliar os territórios colonizados anteriormente a desenvolver e modernizar suas
economias.
O sistema elaborado pelo acordo estabeleceu taxas de câmbio fixas em
relação ao dólar norte-americano e um preço em dólares do ouro invariável de
US$ 35 por onça. Os países membros mantinha suas reservas internacionais
oficiais em grande parte na forma de ativos em ouro ou dólares e tinham o direito
de vender dólares para o Federal Reserva (FED) em troca de ouro ao preço
oficial. O sistema padrão câmbio-ouro, com o dólar como sua principal moeda de
reserva.
As políticas macroeconômicas dos Estados Unidos no final da década de
1960 auxiliaram o desmantelamento do sistema de Bretton Woods no início de
1973. A política fiscal superexpansionista dos EUA contribuiu para a necessidade
de uma desvalorização do dólar no início dos anos 1970, e os temores de que
isso poderia ocorrer distanciaram os fluxos de capital especulativos do dólar, que
causavam um grande aumento das ofertas de moeda estrangeiras. O maior
crescimento monetário dos EUA fomentava a inflação dentro do país, tornando os
governos estrangeiros relutantes em continuar importando a inflação norte-
americana por meio das taxas de câmbio fixas. Uma séria de crises internacionais
iniciando no segundo trimestre de 1971 levou ao abandono tanto da relação do
dólar com o ouro como das taxas de câmbio ficas em relação ao dólar para os
países industrializados.

5.4 FMI
Os Artigos de Acordo do FMI foram influenciados pela experiência entre as
guerras da instabilidade financeira e dos níveis de preços, do desemprego e da
desintegração econômica internacional. Os artigos tentavam evitar a repetição de
tais eventos mediante uma mistura de disciplina e flexibilidade.
O principal requisito do gerenciamento monetário era que as taxas de câmbio
fossem fixadas ao dólar, que, por sua vez, estaria relacionado ao ouro. Se um
banco central, exceto o FED, tivesse uma expansão monetária excessiva,
perderia reservas internacionais e se tornaria incapaz de manter a taxa de câmbio
de sua moeda fixa em dólar. Uma vez que um elevado crescimento monetário dos
EUA levaria os bancos centrais estrangeiros ao acúmulo de dólares, o FED estava
restrito em sua política monetária pela obrigação de resgatar aqueles dólares em
troca de ouro. As taxas de câmbio fixas eram consideradas mais do que um
artifício de imposição da disciplina monetária nos sistema. Certa ou errada, a
experiência do período entra as guerras havia convencido os criadores do FMI de
que as taxas de câmbio flutuantes eram uma causa da instabilidade especulativa
e eram prejudiciais ao comércio internacional.

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2018

A experiência do período entre as guerras também havia mostrado que os


governos nacionais pretenderiam manter o livre comércio e as taxas de câmbio
fixas ao preço do desemprego doméstico no longo prazo. Após a Grande
Depressão, os governos eram vistos como responsáveis por manter o pleno
emprego. O acordo do FMI, tentava incorporar flexibilidade suficiente para permitir
que os países obtivessem o equilíbrio externo de modo a não sacrificar os
objetivos internos ou as taxas de câmbio fixas.
Duas características principais dos Artigos do Acordo do FMI auxiliaram a
promoção dessa flexibilidade no ajuste externo:
a) Facilidade de Crédito do FMI. O Fundo dispunha-se a emprestar moedas
estrangeiras para os países membros, suprindo-lhes durante períodos nos
quais suas contas correntes estivessem em déficit e um aperto das
políticas monetária e fiscal trouxessem um efeito adverso sobre o nível de
emprego doméstico. Uma contribuição de ouro e moedas dos membros
supriu o FMI com recursos a serem usados nessas operações de
empréstimos.
Como funcionavam os empréstimos? Ao integrar o FMI, o novo membro
obtinha uma cota, que determinava sua contribuição ao fundo de reserva
e seu direito de obter recursos do FMI. Cada membro contribuía para o
Fundo com uma quantidade de ouro igual em valor a um quarto de sua
cota. Os três quartos restantes tomavam a forma de uma contribuição de
sua própria moeda nacional. Um membro podia usar sua própria moeda
para comprar temporariamente ouro ou moedas estrangeiras do Fundo,
limitados ao valor em ouro depositado. Até um limite, mais ouro e moedas
estrangeiras podiam ser emprestados ao Fundo, mas apenas sob
supervisão crescentemente reforçada pelo Fundo sobre as políticas
macroeconômicas dos devedores.
b) Paridades ajustáveis. Apesar de a taxa de câmbio de cada país estar fixa,
ela poderia ser mudada se o FMI concordasse que o balanço de
pagamentos do país estava em uma situação de “desequilíbrio
fundamental”. Esse termo não foi definido nos Artigos do Acordo, mas a
cláusula significava uma cobertura aos países que sofriam mudanças
internacionais adversas permanentes na demanda d seus produtos. Sem
uma desvalorização, tal país teria mais desemprego e um déficit mais
elevado na conta corrente, até que o nível de preços doméstico caísse o
suficiente para restabelecer o equilíbrio interno e externo. Por outro lado,
uma desvalorização poderia melhorar simultaneamente o nível de
emprego e conta corrente, evitando, portanto, um ajuste grande e difícil
durante o qual as reservas internacionais de qualquer maneira seriam
escoadas. Lembrando-se da experiência da Inglaterra com uma moeda
supervalorizada após 1925, os fundadores do FMI apoiaram-se na
flexibilidade das mudanças da taxa de câmbio. Entretanto, essa
flexibilidade não estaria disponível para o dólar norte-americano.

5.5 Mudanças na Economia internacional : fortalecimento EUA.


Os Estados Unidos definem a política externa como a forma pela qual o país
interage com as nações estrangeiras e estabelece padrões de interação para suas
organizações, corporações e cidadãos.
Seus objetivos, mencionados na Agenda de Política Externa do
Departamento do Estado, são “construir e sustentar um mundo mais democrático,
seguro e próspero em benefício do povo americano e da comunidade
internacional” (UNITED STATES DEPARTMENT OF STATE, 2016, p. 20). Além

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disso, o Comitê de Relações Exteriores dos Estados Unidos declara como


um de seus objetivos: controles de exportação, incluindo a não proliferação de
tecnologia nuclear e hardware nuclear, medidas para promover a interação
comercial com nações estrangeiras e proteger negócios americanos no exterior,
acordos internacionais sobre commodities, educação internacional e proteção de
cidadãos americanos no exterior e expatriação (UNITED STATES DEPARTMENT
OF STATE, 2016).
Política externa dos Estados Unidos: uma breve história
Uma função central do governo dos EUA é se relacionar com as quase 200
outras nações do mundo. Uma nação é um país soberano e, como tal, possui
autoridade máxima sobre seus territórios. Todos os Estados soberanos são
teoricamente iguais.
A política externa determina como os Estados Unidos se relacionam com os
outros países. Ela é projetada para promover determinados objetivos e procura
assegurar a segurança e a defesa dos Estados Unidos. Além disso, ela procura o
poder de proteger e projetar os interesses nacionais estadunidenses em todo o
mundo.
O interesse nacional molda a política externa e abrange uma ampla gama de
preocupações políticas, econômicas, militares, ideológicas e humanitárias.
A política externa dos Estados Unidos mudou ao longo do tempo, refletindo a
mudança em seu interesse nacional. Como uma nova nação após a Guerra
Revolucionária, o principal interesse nacional dos Estados Unidos era manter sua
independência de países europeus mais poderosos. Protegido pelo Oceano
Atlântico, sua principal política externa, como caracterizada pela Doutrina Monroe,
foi limitar as tentativas europeias de colonização adicional do hemisfério ocidental.
Através do século XIX, os Estados Unidos se concentraram na criação de
uma nação que atravessava o continente e evitava enxames estrangeiros. Uma
vez industrializado e mais próspero, começou a procurar mercados e colônias
estrangeiras. Na virada do século XX, os Estados Unidos tornaram-se um
pequeno poder imperial, lutando uma guerra com a Espanha, Cuba e as Filipinas,
e anexando o Havaí e vários outros territórios. A Primeira Guerra Mundial
concentrou os Estados Unidos em assuntos europeus, mas depois a guerra uma
onda de sentimento isolacionista varreu o país.
Recusando a adesão à Liga das Nações, os Estados Unidos se voltaram para
si mesmos. Absorvidos pela prosperidade da década de 1920 e pela Grande
Depressão da década de 1930,deixaram sua força militar se erodir. Não estavam
preparados para a guerra quando os japoneses atingiram sua frota em Pearl
Harbor, no final de 1941.
Surgindo da Segunda Guerra Mundial como a potência econômica mais
poderosa da Terra, os Estados Unidos mudaram radicalmente sua política
externa. Assumiram a liderança na fundação das Nações Unidas e investiram
bilhões de dólares através do Plano Marshall para ajudar a fortalecer as
democracias europeias devastadas pela guerra. Criaram um sistema de alianças,
incluindo a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Central na política externa dos Estados Unidos no período pós-guerra foi a
contenção da União Soviética e do comunismo. Durante a Guerra Fria, os Estados
Unidos e seus aliados competiram com a União Soviética e seus aliados militar,
econômica e ideologicamente. Ambos os lados criaram forças militares maciças e
enormes estocagens de armas nucleares. Embora as duas superpotências nunca
tenham ido à guerra, a política de contenção levou os Estados Unidos às
sangrentas guerras coreanas e vietnamitas.
A Guerra Fria terminou quando a União Soviética, economicamente exausta
de competir com o Ocidente, desintegrou-se. Isso deixou os Estados Unidos como

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a única superpotência restante em um mundo já não governado pela lógica de


conter a União Soviética.
Com o tempo, vários princípios e valores constitucionais moldaram a política
externa americana. Esta favoreceu a autodeterminação das nações para a
independência: com base no compromisso com o governo constitucional, muitas
vezes os Estados Unidos apoiaram nações que praticam a democracia. Esses
princípios, no entanto, às vezes estão em conflito com os objetivos de segurança
nacional, economia ou as realidades da política internacional. Em certos casos, os
Estados Unidos apoiaram governos ditatoriais ou intervieram para reduzir os
movimentos políticos populares.

84
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2018

6 O BRASIL E A GLOBALIZAÇÃO
6.1 Globalização e atividade econômica
Houve muita discussão sobre a globalização – o nome dado à integração
mais próxima de todas as nações através do aumento do nível de comércio e
fluxos de capital. Também se refere ao movimento trabalhista, transferência de
tecnologia através das fronteiras internacionais, bem como questões culturais e
políticas que estão além do escopo deste tema.
A globalização é o resultado do processo tecnológico, principalmente nas
áreas de tecnologia da informação, telecomunicações, energia, transportes e
biotecnologia, bem como uma mudança nas políticas econômicas. Desde a
Segunda Guerra Mundial tem havido uma tendência crescente na remoção de
barreiras comerciais e de investimento. A globalização não é um fenômeno novo,
o mundo já atravessou um processo de globalização antes, ainda no século XVI e,
mais recentemente, no início do século XX, antes que as barreiras comerciais e
de investimento fossem erguidas após a Primeira Guerra Mundial e a Grande
Depressão.
O raciocínio para uma economia de mercado é o aumento da eficiência
através da concorrência e da especialização dos fatores de produção. Os
mercados globais apresentam maiores oportunidades para que os países tenham
acesso a mais recursos financeiros, know-how, importações mais baratas e
mercados de exportação maiores.
Mas também é verdade que os benefícios dessa eficiência aumentada não
são igualmente compartilhados. Nem todos os países compartilharam igualmente
o notável crescimento de renda durante a segunda metade do século XX.
A diferença entre os países ricos e os países pobres cresceu. O produto
interno bruto (PIB) per capita nos países ricos aumentou seis vezes durante o
século, enquanto o dos países pobres aumentou menos de três vezes. Ao mesmo
tempo, nem todos os países em desenvolvimento seguiram o processo de
globalização no mesmo ritmo. Os países que seguiram políticas orientadas para o
exterior e com crescimento liderado pelas exportações, como os do Leste
Asiático, conseguiram se integrar mais rapidamente à economia global e
experimentaram um crescimento notável. Por outro lado, muitos países da
América Latina e da África seguiram políticas orientadas para o interior e de
substituição de importações com resultados desastrosos: estagnação, alta
inflação e pobreza.
Um aspecto significativo da globalização é o crescimento do comércio.
Tradicionalmente, a atenção se concentrou no comércio de bens (serviços,
até certo ponto, são considerados itens não negociados) como um mecanismo
para a integração da atividade econômica internacional e um mecanismo de
transmissão significativo de distúrbios ou choques econômicos entre as
economias nacionais.
o comércio mundial continuou a crescer mais rapidamente do que a produção
mundial após um aumento dramático dos padrões de vida, embora não igualitário,
uma redução substancial nos custos de transporte, melhoria contínua da
tecnologia e redução progressiva das barreiras comerciais.
Existem agora “produtos mundiais”. As grandes empresas em uma economia
globalizada têm subsidiárias em muitos países e competem em mercados globais,
não em mercados nacionais segmentados.
A nacionalidade dos bens e serviços não é facilmente identificável, já que
muitos produtos são montados a partir de peças feitas em diversos países. As

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pequenas e médias empresas estão cada vez mais levando em consideração as


oportunidades e restrições globais de suas decisões de investimento. Essa maior
integração da economia internacional exigiu o desenvolvimento de políticas
comerciais.
A OMC fornece um local para acordos comerciais e resolve disputas nessa
área.
Do ponto de vista dos países em desenvolvimento, a remoção de barreiras
comerciais é vista como atendendo aos interesses dos países avançados, que
continuam a subsidiar setores como a agricultura e os têxteis e, por isso,
dificultam que os países em desenvolvimento possam explorar suas vantagens
comparativas nesses setores. Os Estados Unidos e a União Europeia têm um
sistema de acordos comerciais preferenciais com os países em desenvolvimento,
nos quais estes têm acesso aos mercados americanos e europeus. No entanto,
como já mencionado, à medida que os mercados mundiais são abertos para
países desenvolvidos, estes não retribuem plenamente e ainda tentam proteger
certos setores, como agricultura e têxteis, que são de particular importância para
os países em desenvolvimento.
A teoria do comércio internacional nos diz que o comércio livre permite que
cada país se beneficie explorando sua vantagem comparativa. Embora seja
verdade que o comércio livre prejudica certos setores na medida em que perdem
partes de mercado para concorrentes de baixo custo, a longo prazo, os benefícios
totais geralmente superam as perdas. Não obstante, uma vez que aqueles que
estão em pior situação não são geralmente compensados, sempre haverá
clamores contra a remoção de barreiras comerciais, a menos que seja possível
encontrar maneiras de se beneficiar.
O problema torna-se mais agudo para os países pobres em desenvolvimento,
em que o desemprego é alto e há escassez de capital. A remoção de barreiras
comerciais pode agravar a situação, uma vez que a perda de postos de trabalho
pode ser rápida e o investimento necessário tende a ser muito baixo para permitir
que eles explorem sua vantagem comparativa. Pode-se argumentar que a
migração de fatores de produção de setores de baixa a alta produtividade
aumentará os rendimentos. Contudo, também se argumenta que o desemprego
em setores de baixa produtividade reduzirá os rendimentos. A menos que sejam
tomadas medidas para ajudar esses países a aumentar seus rendimentos e
permitir que eles explorem sua vantagem comparativa, a reação contra a
globalização continuará.
O aumento do comércio e os fluxos de capital como resultado da globalização
exigem a presença de instituições internacionais para regular esses fluxos.
Existem três instituições internacionais desse tipo: a OMC, responsável pelos
acordos comerciais internacionais e pela resolução de disputas comerciais; o FMI,
que apoia a estabilidade financeira mundial, fornecendo assistência financeira às
economias em desenvolvimento e em transição em tempos de crise; e o Banco
Mundial, cujo principal escopo é a promoção do desenvolvimento econômico
mediante a concessão de empréstimos de longo prazo a países pobres.

6.2 Regras Básicas do Comércio Internacional


Política comercial
De todas as regras que afetam a conduta de negócios internacionais, as
regras de comércio são, talvez, as mais óbvias. Como o comércio atravessa tão
claramente as fronteiras de diversos países e pode afetar profundamente uma
economia nacional, os governos quase sempre tentaram controlar a economia
comercial e moldar o desempenho das empresas comerciais. Embora o recente

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progresso de instituições internacionais, como o GATT e a OMC, tenha


desencadeado alguns dos instrumentos mais nítidos da política comercial, os
Governos mantêm um considerável arsenal de ferramentas políticas: eles criam
regras que afetam direta e indiretamente a capacidade das empresas de competir
através das fronteiras.
Em algum nível de abstração, praticamente qualquer política econômica
empreendida pelo Estado exerce influência no comércio. Qualquer política que
afete os custos relativos, a demanda ou o mercado de trabalho pode mudar o
ambiente comercial internacional, favorecendo algumas empresas à custa de
outras.
Mas abaixo desse amplo nível macro há uma série de políticas que visam
diretamente à conduta do comércio. Os Estados usam essas políticas para
diferentes fins e com diferentes intensidades. Às vezes, seu objetivo é
explicitamente aumentar o desempenho competitivo das empresas de base
nacional; outras vezes, a vantagem competitiva é totalmente tangível aos
objetivos políticos do Estado.
Sempre que essas políticas estão em vigor, no entanto, as empresas que
contemplam uma relação comercial ou um investimento estrangeiro precisam
investigar o impacto comercial dessas regras de negociação. Três tipos de regras
exigem atenção especial: controles de exportação, protecionismo e política
comercial estratégica.

Controles de exportação
Os controles de exportação são os principais instrumentos de política
comercial.
Desde os primeiros dias do comércio mercantilista, os Estados tentaram
limitar, de tempos em tempos, os bens que os produtores podem enviar por suas
fronteiras.
Ocasionalmente, esses controles servem a um objetivo econômico, isolando a
economia doméstica do impacto inflacionário causado pelo excesso de demanda
externa. Mais frequentemente, no entanto, os controles servem a um propósito
claramente político: são projetados para evitar que um Estado rival obtenha
acesso a recursos e tecnologia-chave, ou para punir um Estado por alguns erros
percebidos. Em ambos os casos, os controles de exportação são empregados
como uma “força curta de guerra”, uma maneira do Estado para melhorar seus
objetivos geopolíticos sem ter que arriscar um confronto militar.
Normalmente, os controles de exportação se enquadram em uma das duas
categorias relacionadas. Às vezes, eles fazem parte de uma política padronizada
de restrição: um governo irá compor uma lista de bens “estratégicos”
(computadores ou códigos de criptografia, ou, em um caso, botões) e uma lista
correspondente de países para os quais é proibida a exportação desses produtos.
Tal era a estrutura do Comitê de Coordenação, uma organização informal dos
Estados Unidos e seus aliados no pós-guerra que regulamentava a exportação de
tecnologias militares e recursos estratégicos para os países do bloco soviético.
Em outros casos, os Estados impõem sanções ou embargos específicos para
protestar contra as ações de um Estado rival. Durante o período de apartheid, por
exemplo, muitos países proibiram suas empresas de exportar para a África do Sul.
Sanções politicamente motivadas também foram aplicadas ao Chile (1970-
1973), El Salvador (1977-1981), Irã (1979-1981) e uma série de outros países.
Idealmente, o objetivo das sanções ou dos controles de exportação é forçar o
país-alvo a mudar seu comportamento. Porém, no processo essas políticas
afetam diretamente as condições comerciais – no país-alvo, no país de envio e
nos países periféricos.

87
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2018

As importações estratégicas são suscetíveis de desaparecer do mercado,


deixando os importadores e as empresas dependentes das importações em
prejuízo, ao mesmo tempo em que aumentam enormemente a demanda por
substitutos disponíveis localmente. Os exportadores dos países emissores,
entretanto, enfrentarão um declínio imediato nas vendas e a perda potencial de
relacionamentos de longo prazo. Quando os Estados Unidos impuseram sanções
contra a União Soviética no início da década de 1980, por exemplo, os
agricultores americanos sofreram um declínio acentuado nas exportações de
grãos e a General Electric perdeu um contrato de US$ 175 milhões para fornecer
rotores a um gasoduto soviético planejado. Essas perdas, no entanto, podem ser
claramente uma benção para as empresas nas nações periféricas; quando a GE e
outras empresas dos EUA foram forçadas a sair do acordo de pipeline, os
concorrentes europeus entraram rapidamente.
Felizmente, as sanções são um fenômeno relativamente raro. Mas para as
empresas afetadas, seu impacto pode ser dramático. As empresas precisam,
portanto, manter uma vigilância cuidadosa sobre eventos políticos que possam
levar a sanções ou outros controles de exportação. Se lida com bens estratégicos
ou vendem para países altamente voláteis, elas precisam pensar cuidadosamente
sobre como proteger suas operações e o que fazer se sanções forem impostas.
Caso contrário, é provável que sejam surpreendidas, assim como o Conoco
(empresa petrolífera), em 1995, quando o presidente Clinton citou preocupações
de segurança nacional para bloquear um acordo de US$ 1 bilhão para
desenvolver campos de petróleo iranianos.
As empresas também precisam estar cientes das forças políticas e das regras
particulares que impulsionam a política de sanções: em meados da década de
1990, várias empresas canadenses se viram violando a lei dos EUA devido às
suas atividades comerciais com Cuba.
Uma situação absurda, talvez, mas também altamente desconfortável.
Finalmente, se as empresas forem apanhadas por sanções ou buscarem se
beneficiar delas, precisam avaliar a provável longevidade dos controles. Um curto
episódio de “sinalização” merece uma resposta muito diferente daquela de um
longo período de tensão comercial e política.

Protecionismo
As políticas protecionistas são uma característica comum da economia
internacional. Todas as nações empregam o protecionismo de uma forma ou
outra; todas as empresas vivenciam seus vários efeitos. O desafio para os
gerentes é entender o mais precisamente possível onde reside o protecionismo e
a melhor forma de evitar ou explorar suas regras. Às vezes, o protecionismo é
flagrante. Na sua forma mais antiga e óbvia, envolve tarifas, cotas e outras
barreiras mecânicas para o comércio.
Por querer proteger seus produtores domésticos das tensões da concorrência
internacional, ou visando nutrir e apoiar a produção doméstica, o Estado impõe
restrições quantitativas ou baseadas em preços. As empresas estrangeiras que
desejam vender no mercado protegido devem se adequar à cota requerida ou
incluir a tarifa correspondente no custo de seu produto. Ambas as respostas,
presumivelmente, prejudicam a competitividade das empresas estrangeiras em
relação aos seus concorrentes nacionais. Um relacionamento semelhante é válido
para formas menos diretas de proteção comercial.
Sob a pressão internacional, para reduzir tarifas e eliminar cotas, muitos
países recorrem a meios mais discretos: oferecem financiamento de pesquisa ou
créditos de exportação para suas próprias empresas, ou impõem condições
regulatórias que prejudicam as empresas estrangeiras contra seus rivais

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2018

domésticos. Tais “barreiras não tarifárias” são inúmeras, e tema de intensa


acrimônia internacional. O “código de saúde” da Alemanha para a cerveja
bloqueia os concorrentes estrangeiros, assim como a definição da Itália de
precisamente o que constitui a massa. A regulamentação do conteúdo cultural do
Canadá limita a penetração das empresas de mídia dos Estados Unidos,
enquanto o sistema de distribuição impenetrável do Japão atua para impedir a
entrada de produtos estrangeiros e lojas de varejo. Mesmo regras que são
inteiramente domésticas em sua intenção podem ter efeitos protecionistas sutis.
No entanto, o protecionismo, por si só, não é necessariamente ruim para as
empresas. Na verdade, muitas vezes apresenta oportunidades distintas de moldar
e empregar as regras para que empresas possam atender a seu próprio interesse
comercial.
Considere o caso de Lenzing AG, um fabricante de rayon austríaco que
estabeleceu uma joint venture com a Indonésia, em 1978. Como muitos países
em desenvolvimento naquela época, a Indonésia seguiu uma política rígida de
industrialização de substituição de importações, levando a tarifas elevadas para
todos os bens importados e, particularmente, para os essenciais – como a roupa –
que esperava desenvolver internamente. Como único produtor doméstico de
rayon, Lenzing foi o feliz beneficiário do protecionismo da Indonésia. Entre 1980 e
1994, suas receitas aumentaram cerca de 15% ao ano. Quando as montadoras do
Japão perceberam uma onda iminente de protecionismo nos Estados Unidos, elas
investiram de forma agressiva e direta no mercado estadunidense, pulando
preventivamente as barreiras tarifárias e aumentando a participação de mercado
total dos EUA. Em casos relacionados, a imposição de cotas nos aparelhos
japoneses de televisão e aço provou ser uma oportunidade inesperada para os
fabricantes coreanos, que aproveitaram a quota de mercado deixada vacante pela
restrição japonesa.

Política comercial estratégica


Essencialmente, a política comercial estratégica é o protecionismo antiquado,
impulsionado a um nível tecnológico e industrial superior. Baseia-se em uma série
de proposições bem formuladas sobre as vantagens nacionais de proteger certas
indústrias importantes e críticas. Nessas indústrias (como semicondutores e
aeronaves), a presença de externalidades e economias de escala significam que
as empresas devem ser globais para competir, e que apenas um punhado de
concorrentes sobreviverá no mercado global. Portanto, o comércio se aproxima de
um jogo de soma zero. Ambos os países promovem o crescimento de suas
próprias empresas ou correm o risco de perder a indústria inteiramente.
Para as empresas, as políticas comerciais estratégicas são diretas. Se
quiserem competir, precisam obter apoio governamental. Na maioria dos casos,
esse apoio implica não apenas em assistência doméstica, mas também na
vontade de lutar e negociar a nível internacional. Assim, o crescimento e a
globalização da indústria de semicondutores observou a formação de uma
poderosa e bem conectada Associação da Indústria de Semicondutores nos
Estados Unidos e a eventual negociação de acordos internacionais que limitam as
vendas japonesas de semicondutores no mercado estadunidense. Da mesma
forma, o crescimento e o sucesso comercial da Airbus Industrie da Europa foram
inegavelmente facilitados pelo crédito governamental, assistência de vendas e
negociações em andamento a nível internacional. Note-se que, em ambos os
casos, empresas de indústrias relacionadas também são significativamente
afetadas: fornecedores de componentes e companhias aéreas sentem o impacto
das políticas da aeronave; e os fabricantes de computadores são influenciados
por restrições nas vendas de semicondutores. Assim como as empresas dos

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2018

setores “estratégicos”, portanto, eles precisam prestar atenção às políticas


comerciais, avaliando as regras que surgirão e respondendo estrategicamente a
elas.

6.3 Integração Econômica. O Brasil e os blocos regionais


6.3.1 Integração econômica
O conceito de “integração econômica” tem crescido em importância nos
últimos 50 anos e foi estabelecido por economistas que investigaram as primeiras
tentativas dos países europeus de combinar economias separadas em regiões
econômicas maiores. Mais especificamente, a integração econômica – também
chamada de “integração regional” – depende da redução discriminatória ou
eliminação das barreiras comerciais entre os países participantes. Isso também
implica o estabelecimento de alguma forma de cooperação e coordenação entre
os participantes, que dependerá do grau de integração econômica, que varia de
áreas de livre-comércio a uma união econômica e monetária.
Especificamente:
Uma área de comércio livre refere-se a um grupo de países onde todas as
barreiras comerciais entre membros são removidas, mas cada país participante
mantém barreiras comerciais a países terceiros. Exemplos incluem a Associação
Europeia de Livre-Comércio (AECL), o NAFTA e a área de comércio livre da
América Latina, o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL).
Uma união aduaneira é semelhante à área de livre-comércio e, além disso, os
países participantes prosseguem relações comerciais externas comuns, pelo que
estabelecem tarifas externas comuns sobre as importações de países não
participantes. O exemplo mais famoso é a CEE – agora União Europeia.
Um mercado comum incorpora uma união aduaneira e também permite a
mobilidade gratuita dos fatores (capital, mão de obra, tecnologia) entre os
participantes. A União Europeia atingiu um estatuto de mercado comum em 1993,
com a criação do mercado único.
Uma união econômica implica não apenas um mercado comum, mas também
a coordenação e unificação das políticas econômicas, de modo a garantir a livre
mobilidade de fatores.
Uma união econômica e monetária incorpora uma união econômica mais uma
união monetária, que se refere a taxas de câmbio fixas irrevogáveis e a
convertibilidade total das moedas dos Estados-membros ou uma moeda que
circule em todos os Estados-membros. Tal união implica uma política monetária
comum e um alto grau de integração das políticas fiscais e outras políticas
econômicas. A União Europeia alcançou esse status em 1º de janeiro de 2002,
com a circulação do euro como moeda comum europeia. Os Estados Unidos e a
unificação da Alemanha Ocidental e Oriental são exemplos de uma união
econômica e monetária completa pela qual os países participantes se tornam uma
nação.

Os benefícios relativos da integração econômica são tratados na literatura


acadêmica em termos de uniões aduaneiras e áreas de comércio livre, mas a
análise se estende implicitamente a outras formas de integração regional. A teoria
das uniões aduaneiras é baseada no trabalho pioneiro de Viner (1950), Meade
(1955) e Johnson (1958). Os efeitos econômicos estáticos da formação da união
aduaneira são medidos em termos de criação e desvio de comércio.
A criação de comércio refere-se aos benefícios do livre-comércio dentro da
união aduaneira à medida que os países-membros se concentram em atividades
econômicas para as quais são particularmente adequados e, como resultado, a

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2018

produção doméstica em um Estado-membro é substituída por importações de


menor custo de outro Estado-membro. Isso traz uma maior eficiência através da
especialização e do aumento da concorrência entre produtores em diferentes
países-membros e um alargamento subsequente da escolha do consumidor, o
aumento da produção, uma vez que o aumento do tamanho do mercado permite a
realização de economias de escala e o poder de barganha aprimorado, atuando
como uma única unidade de negociações comerciais internacionais. Os ganhos
mencionados também são compartilhados por não membros, uma vez que
existem efeitos colaterais e que os aumentos de rendimentos mostram o aumento
das importações longe da aduana.
Por outro lado, o desvio do comércio refere-se a uma situação em que o
comércio entre membros de uma união aduaneira aumenta o custo das
importações de não membros.
Nesse caso, um produto que pode ser fornecido a um custo menor de fora da
união aduaneira é substituído por um produto de custo mais alto de outro país-
membro, em decorrência do tratamento preferencial dado aos membros. O
resultado líquido é o afastamento da eficiência econômica.
No entanto, deve-se enfatizar que os benefícios da formação da união
aduaneira são possíveis ganhos e não há garantia de que estes ganhos serão
realmente alcançados. O grau de sucesso dependerá da natureza e composição
da união e é possível que, se certas condições não forem atendidas, a integração
econômica tenha efeitos negativos.

6.3.2 Mercosul
Com mais de duas décadas de existência, o Mercado Comum do Sul
(MERCOSUL) é a mais abrangente iniciativa de integração regional da América
Latina, surgida no contexto da redemocratização e reaproximação dos países da
região ao final da década de 80. Os membros fundadores do MERCOSUL são
Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, signatários do Tratado de Assunção de
1991.
A Venezuela aderiu ao Bloco em 2012, mas está suspensa, desde dezembro
de 2016, por descumprimento de seu Protocolo de Adesão e, desde agosto de
2017, por violação da Cláusula Democrática do Bloco.
Todos os demais países sul-americanos estão vinculados ao MERCOSUL
como Estados Associados. A Bolívia, por sua vez, tem o “status” de Estado
Associado em processo de adesão.
O Tratado de Assunção, instrumento fundacional do MERCOSUL,
estabeleceu um modelo de integração profunda, com objetivos centrais de
conformação de um mercado comum - com livre circulação interna de bens,
serviços e fatores produtivos - o estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum
(TEC) no comércio com terceiros países e a adoção de uma política comercial
comum.
O livre comércio intrazona foi implementado por meio do programa de
desgravação tarifária previsto pelo Tratado de Assunção, que reduziu a zero a
alíquota do imposto de importação para o universo de bens, salvo açúcar e
automóveis. A União Aduaneira, estabelecida pela TEC, está organizada em 11
níveis tarifários, cujas alíquotas variam de 0% a 20%, obedecendo ao princípio
geral da escalada tarifária: insumos têm alíquotas mais baixas e produtos com
maior grau de elaboração, alíquotas maiores.
O Protocolo de Ouro Preto, assinado em 1994, estabeleceu a estrutura
institucional básica do MERCOSUL e conferiu ao Bloco personalidade jurídica de
direito internacional. O Protocolo consagrou, também, a regra do consenso no
processo decisório, listou as fontes jurídicas do MERCOSUL e instituiu o princípio

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2018

da vigência simultânea das normas adotadas pelos três órgãos decisórios do


Bloco: o Conselho do Mercado Comum (CMC), órgão superior ao qual incumbe a
condução política do processo de integração; o Grupo Mercado Comum
(GMC), órgão executivo do Bloco; e a Comissão de Comércio do MERCOSUL
(CCM), órgão técnico que vela pela aplicação dos instrumentos da política
comercial comum.
No decorrer do processo de integração, e em grande medida em razão do
êxito inicial da integração econômico-comercial, a agenda do MERCOSUL foi
paulatinamente ampliada, passando a incluir temas políticos, de direitos humanos,
sociais e de cidadania. Os dois marcos na área social e cidadã do MERCOSUL
são, respectivamente, o Plano Estratégico de Ação Social (2011) e o Plano de
Ação para o Estatuto da Cidadania do MERCOSUL (2010).
A agenda política do MERCOSUL abrange um amplo espectro de políticas
governamentais tratadas por diversas instâncias do bloco, que incluem reuniões
de ministros, reuniões especializadas, foros e grupos de trabalho. Os Estados
Partes e Estados Associados promovem cooperação, consultas ou coordenação
em virtualmente todos os âmbitos governamentais, o que permitiu a construção de
um patrimônio de entendimento e integração de valor inestimável para a região.
O MERCOSUL é hoje instrumento fundamental para a promoção da
cooperação, do desenvolvimento, da paz e da estabilidade na América do Sul.
Os membros fundadores (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a
Venezuela, que completou seu processo de adesão em meados de 2012,
abrangem, aproximadamente, 72% do território da América do Sul (12,8 milhões
de km², equivalente a três vezes a área da União Europeia); 69,5% da população
sul-americana (288,5 milhões de habitantes) e 76,2% do PIB da América do Sul
em 2016 (US$ 2,79 trilhões de um total de US$ US$ 3,66 trilhões, segundo dados
do Banco Mundial).
Se tomado em conjunto, o MERCOSUL seria a quinta maior economia do
mundo, com um PIB de US$ 2,79 trilhões. O MERCOSUL é o principal receptor de
investimentos estrangeiros diretos (IED) na região. O bloco recebeu 47,4% de
todo o fluxo de IED direcionado à América do Sul, América Central, México e
Caribe em 2016 (dados da UNCTAD). O bloco constitui espaço privilegiado para
investimentos, por meio de compra, controle acionário e associação de empresas
dos Estados Partes. A ampliação da agenda econômica da integração contribuiu
para incremento significativo dos investimentos diretos destinados pelos Estados
Partes aos demais sócios do bloco.
O MERCOSUL atravessa um processo acelerado de fortalecimento
econômico, comercial e institucional. Os Estados Partes consolidaram um modelo
de integração pragmático, voltado para resultados concretos no curto prazo. O
sentido da integração do MERCOSUL atual é a busca da prosperidade econômica
com democracia, estabilidade política e respeito aos direitos humanos e
liberdades fundamentais.
Os resultados desse novo momento do MERCOSUL já começaram a
aparecer. Entre os muitos avanços recentes, destacam-se:
 aprovação do Protocolo de Cooperação e Facilitação de Investimentos
(2017), que amplia a segurança jurídica e aprimora o ambiente para atração de
novos investimentos na região;
 conclusão do acordo do Protocolo de Contratações Públicas do
MERCOSUL (2017), que cria oportunidades de negócios para as nossas
empresas, amplia o universo de fornecedores dos nossos órgãos públicos e reduz
custos para o governo;
 encaminhamento positivo da grande maioria dos entraves ao comércio
intrabloco;

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2018

 modernização no tratamento dos regulamentos técnicos;


 apresentação dos projetos brasileiros para Iniciativas Facilitadoras de
Comércio e Protocolo de Coerência Regulatória.
 tratamento do tema de proteção mútua de indicações geográficas entre
Estados Partes do MERCOSUL;
 aprovação do Acordo do MERCOSUL sobre Direito Aplicável em
Matéria de Contratos Internacionais de Consumo (2017), que estabelece critérios
para definir o direito aplicável a litígios dos consumidores em suas relações de
consumo.
Ainda há muito avanços necessários para consolidar o Mercado Comum
previsto no Tratado de Assunção, em todos os seus aspectos: a livre circulação
de bens, serviços e outros fatores produtivos, incluindo a livre circulação de
pessoas; a plena vigência da TEC e de uma política comercial comum; a
coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais; e a convergência das
legislações nacionais dos Estados Partes.
Na área institucional, é fundamental tornar o MERCOSUL mais ágil, moderno
e dinâmico. Também há espaço para avançar na racionalização da estrutura
institucional do Bloco, tornando-a mais enxuta, transparente e eficiente.
Nas área de cidadania e das políticas sociais, as metas estão dadas pelo
Estatuto da Cidadania e pelo PEAS.  Entre as prioridades estabelecidas pelo
Brasil, destacam-se a facilitação da circulação de pessoas no MERCOSUL, por
meio da modernização e simplificação dos procedimentos migratórios, e a plena
implementação do sistema de mobilidade acadêmica do MERCOSUL.
O Brasil seguirá trabalhando para que o MERCOSUL dê continuidade à
concretização de uma agenda pragmática, tendo sempre em mente os interesses
dos cidadãos e empresas do bloco no fortalecimento da integração econômica e
comercial, da democracia e da plena observância dos direitos humanos.

6.3.3 BRICS
O que faz o BRICS?
Desde sua primeira Cúpula, em 2009, o BRICS tem expandido
significativamente suas atividades no âmbito da coordenação política, da
cooperação econômico-financeira e da cooperação multissetorial.
Com relação à coordenação política, o BRICS atua na esfera da governança
econômico-financeira e também na de governança política. Na primeira, a agenda
do agrupamento confere prioridade à coordenação no âmbito do G-20, incluindo a
reforma do FMI. Na governança política, o BRICS defende a reforma das Nações
Unidas e de seu Conselho de Segurança, de forma a melhorar a sua
representatividade, em prol da democratização da governança internacional. Em
paralelo, os BRICS aprofundam seu diálogo sobre as principais questões da
agenda internacional.Cabe mencionar que a coordenação política entre os países
se faz e continuará a ser feita sem elementos de confrontação com demais
países. O BRICS está aberto à cooperação e ao engajamento construtivo com
terceiros países, assim como com organizações internacionais e regionais, no
tratamento de temas da atualidade internacional.
A cooperação econômico-financeira foi aquela que apresentou os primeiros
resultados tangíveis, tendo sido assinados dois instrumentos de especial relevo na
VI Cúpula do BRICS (Fortaleza, julho de 2014): os acordos constitutivos do Novo
Banco de Desenvolvimento (NBD) – voltado para o financiamento de projetos de
infraestrutura e desenvolvimento sustentável em economias emergentes e países
em desenvolvimento –, e do Arranjo Contingente de Reservas (ACR) – destinado
a prover apoio mútuo aos membros do BRICS em cenários de flutuações em seus
balanços de pagamentos. O capital inicial subscrito do NBD foi de US$ 50 bilhões

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2018

e seu capital autorizado, US$ 100 bilhões. Os recursos alocados para o ACR, por
sua vez, totalizarão US$ 100 bilhões. No que tange à cooperação multissetorial,
as atividades intra-BRICS já abrangem mais de 30 áreas, como saúde, ciência,
tecnologia & inovação, energia, agricultura, cultura, espaço exterior, think tanks,
previdência social, propriedade intelectual, turismo, entre outras.
As áreas de saúde, ciência, tecnologia & inovação (C,T&I) e energia são
consideradas prioritárias pelo Brasil para o adensamento da cooperação
multissetorial. A coordenação nessas áreas pode produzir resultados tangíveis:
para a melhoria da qualidade de vida da população brasileira; para a inovação do
parque industrial e tecnológico nacional e para a diversificação da matriz
energética do Brasil.Em saúde, pode-se produzir resultados concretos para: a
melhoria da qualidade de vida da população brasileira; para a inovação da
indústria farmacêutica nacional e para o aumento do acesso a medicamentos de
primeira linha. A importância da cooperação em C,T&I deve-se à necessidade de
redução do hiato científico e tecnológico entre o Brasil e países desenvolvidos e
conta com iniciativas relevantes tanto em termos de potencial de intercâmbio de
conhecimento quanto de recursos disponibilizados para projetos de pesquisa. A
temática energética no âmbito do BRICS, embora recente, tem potencial para
tornar-se das mais densas, uma vez que interessa a todos os membros do
agrupamento aperfeiçoar a sustentabilidade de sua matriz energética.

6.3.4 Outros Grupos


Em várias partes do mundo, países unem-se por meio de acordos
intergovernamentais dando origem a blocos interregionais com objetivos políticos
ou sociais. O Brasil participa de vários blocos, confira alguns a seguir:

Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)


Criada em 1996 na I Conferência de Chefes de Estado e de Governo dos
Países de Língua Portuguesa, em Lisboa, a Comunidade é composta por Angola,
Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe
e Timor-Leste, que aderiu ao grupo após sua independência em 2002.
Seu objetivo é aprofundar as relações entre os países-membros, que
possuem laços históricos, étnicos e culturais comuns. Concentra suas ações em
três frentes: a concentração político-diplomática; a cooperação em todos os
domínios; e a promoção e difusão da língua portuguesa. 
O Brasil tem realizado diversas ações de cooperação técnica com os Países
Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Palop) e com o Timor-Leste nas áreas de
formação profissional, segurança alimentar, agricultura, saúde, entre outras.

Agrupamento Brasil-Rússia-Índia-China-África do Sul (Brics)


O acrônimo Bric surgiu de um conceito desenvolvido pelo economista chefe
do banco de investimento Goldman Sachs, Jim O’Neil, em estudo de 2001,
intitulado “Building Better Global Economic Brics”. Nele, o especialista analisou os
países que se destacam no cenário mundial atual em virtude do rápido
crescimento de suas economias: Brasil, Rússia, Índia e China.
Cinco anos mais tarde, em 2006, o conceito deu origem ao agrupamento
desses quatro países. Em 2011, a África do Sul juntou-se ao grupo, que adotou a
sigla Brics.
O Brics não possui uma estrutura formalizada, embora esteja caminhando
nessa direção. Ele funciona como um espaço de ampliação do diálogo,
identificação de convergências em diversas áreas; além de ampliar as
possibilidades de acordos comerciais entre os participantes.

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G-20
O G-20 é um fórum informal que reúne países industrializados e emergentes
para discussão de assuntos-chaves relativos à estabilidade econômica global. Foi
criado como resposta às crises financeiras da década de 1990.
É composto pelos ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais da
África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá,
China, Coréia do Sul, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Rússia,
Turquia, Reino Unido e Estados Unidos. 
A União Europeia também faz parte do grupo, representada pela presidência
rotativa  do Conselho da União Europeia e pelo Banco Central Europeu. O diretor-
gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) e o presidente do Banco Mundial
também participam das reuniões.
O G-20 defende que o fortalecimento da arquitetura financeira internacional e
o diálogo acerca de políticas nacionais, cooperação internacional e instituições
econômico-financeiras são as vias para o crescimento e o desenvolvimento
mundial.
A presidência do Grupo é anual e rotativa dentre os membros. O Brasil
ocupou a Presidência do G-20 em 2008. O México está à frente da instituição em
2012

G-15
O grupo se estabeleceu em setembro de 1989, após a conclusão da IX
Cúpula dos Países Não-Alinhados em Belgrado, na Sérvia, com a finalidade de
reunir um grupo pequeno e representativo de países capazes de tomar posições
unificadas e compatíveis com a perspectiva do mundo em desenvolvimento, frente
a temas da agenda econômica internacional.
Participam 17 países: Argélia, Brasil, Chile, Egito, Índia, Indonésia, Irã,
Jamaica, Malásia, México, Nigéria, Senegal, Sri Lanka, Venezuela, Zimbábue e
Quênia.
Além de contribuir para os debates internacionais, o grupo funciona como um
fórum de promoção da cooperação Sul-Sul.

Cúpula Iberoamericana
Lançada em 1991, a Cúpula Iberoamericana tem o objetivo de consolidar o
processo político, econômico e cultural dos 22 países de língua espanhola e
portuguesa que a compõe. São eles: Andorra, Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia,
Costa Rica, Cuba, Chile, Espanha, República Dominicana, Equador, El Salvador,
Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Portugal,
Uruguai e Venezuela.

Aliança de Civilizações
Lançado em 2005 pelas Nações Unidas, o organismo visa mobilizar a opinião
pública mundial para a superação de preconceitos entre povos com culturas e
religiões diferentes e, assim, evitar conflitos e guerras. Assim, atua nas áreas de
educação, juventude, meios de comunicação e migrações. 
O Brasil participa ativamente da iniciativa e elaborou, em 2010, um Plano
Nacional para a Aliança das Nações que contempla ações de promoção dos
direitos humanos, da cultura de paz e respeito à diversidade.

Cúpula América Latina, Caribe e União Europeia (ALC-EU)


Desde 1999, chefes de Estado e de governo dos países da América Latina,
Caribe e União Europeia reúnem-se periodicamente para tratar de temas de
interesse comum, principalmente projetos e cooperação em Ciência, Tecnologia e

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Inovação. A primeira reunião ocorreu no Rio de Janeiro. Posteriormente, foram


realizadas cúpulas em Madri (2002), Guadalajara (2004), Viena (2006), Lima
(2008) e, novamente, em Madri (2010).

Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul (Ibas)


Em funcionamento desde junho de 2003, quando foi divulgado o primeiro
documento do grupo, a Declaração de Brasília, o Ibas consiste num mecanismo
de coordenção das ações no campo da política internacional. 
A proposta do Fórum decorre do fato de que os três países-membros
possuem características comuns: são emergentes e são democracias multiétnicas
e multiculturais interessadas em contribuir para a construção de uma nova
arquitetura internacional, tomar posições conjuntas frente a problemáticas globais
e aprofundar o relacionamento entre eles.

Cúpula América do Sul – África (ASA)


A ASA surgiu em 2006 do desejo e do interesse das duas regiões em
construírem novos paradigmas para a cooperação Sul-Sul, baseados numa ordem
mais multipolar e democrática.
Foi formalizada durante a I Cúpula América do Sul-África, realizada em Abuja,
na Nigéria. O evento resultou na Declaração de Abuja, no Plano de Ação e na
resolução de criação do Fórum de Cooperação América do Sul-África (Asacof).
Um novo encontro foi realizado em 2009, na Venezuela. 

Fórum de Cooperação América Latina – Ásia do Leste (Focalal)


Nasceu da iniciativa conjunta de Cingapura e do Chile, em 1999, com o
objetivo de estimular interação e conhecimento mútuos, promover maior diálogo
político e intensificar a cooperação, de forma a criar possibilidades de atuação
conjunta nos mais diversos campos. 
Reúne 34 países: 18 da América Latina (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile,
Colômbia, Costa Rica, Cuba, El Salvador, Equador, Guatemala, México,
Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e
Venezuela) e 16 da Ásia do Leste (Brunei, Camboja, China, Cingapura, Coréia do
Sul, Filipinas, Indonésia, Japão, Laos, Malásia, Mongólia, Mianmar, Tailândia,
Vietnã, Austrália e Nova Zelândia).

Cúpula América do Sul-Países Árabes (Aspa)


A Cúpula América do Sul-Países Árabes (Aspa) é um mecanismo de
cooperação interregional e um fórum de coordenação política, cujo objetivo é
aproximar os líderes das duas regiões, que possuem afinidades políticas,
econômicas e culturais. 
Participam 34 países, além do Secretariado-Geral da Liga dos Estados
Árabes (LEA) e a União das Nações Sul-Americanas (Unasul). Pelo lado sul-
americano, são membros: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador,
Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. Os 22 países árabes
membros da ASPA são: Arábia Saudita, Argélia, Bareine, Catar, Comores, Djibuti,
Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Iraque, Jordânia, Kuaite, Líbano, Líbia,
Marrocos, Mauritânia, Omã, Palestina, Síria, Somália, Sudão e Tunísia.
Desde 2005, quando surgiu, já foram realizadas duas reuniões de cúpula,
além de vários encontros temáticos.

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6.4 Organismos Reguladores


A Organização Mundial do Comércio (OMC) é a sucessora do GATT (General
Agreement on Tariffs and Trade – em português, Acordo Geral de Tarifas e
Comércio), que foi assinado em 1947, em Genebra, por 23 países e foi concebido
para fornecer um fórum internacional visando encorajar o livre-comércio entre os
Estados-membros, regulando e reduzindo as tarifas sobre os bens
comercializados e fornecendo um mecanismo comum para a resolução de
disputas comerciais.
O GATT desempenhou um papel importante na liberalização do comércio e
contribuiu grandemente para a expansão dramática do comércio mundial durante
a segunda metade do século XX.
O princípio fundamental do GATT foi o comércio indiscriminado, no sentido de
que os países-membros abririam seus mercados igualmente uns para os outros.
A cláusula da nação mais favorecida significava que um acordo sobre
reduções tarifárias seria automaticamente alargado a todos os outros membros do
GATT. A única exceção foi feita para casos de integração econômica, ou seja,
países que eram membros de acordos comerciais regionais, como a união
aduaneira e os mercados comuns, como a Comunidade Econômica Europeia
(CEE, agora União Europeia), podiam fazer concessões especiais uns aos outros.
Além disso, uma cláusula de escape permitiu que os países signatários
mudassem os acordos existentes em caso de perdas excessivas de setores
domésticos como resultado direto de concessões comerciais.
Em 1965, o GATT introduziu o princípio da não reciprocidade porque os
países em desenvolvimento receberam tratamento comercial preferencial, pelo
qual poderiam se beneficiar de reduções tarifárias sem serem obrigados a
conceder concessões comerciais equivalentes aos países desenvolvidos. O GATT
favoreceu a proteção comercial através de tarifas e procurou remover
contingentes de importação e outras barreiras comerciais quantitativas e não
tarifárias.
Além de realizar negociações sobre certos problemas comerciais envolvendo
produtos específicos, o GATT também realizou várias rodadas de grandes
conferências comerciais sobre reduções tarifárias e outras questões comerciais
importantes.

6.5 Desenvolvimento e crescimento econômico: países desenvolvidos.


Os países desenvolvidos são nações em que o desenvolvimento econômico e
industrial está associado ao um padrão de qualidade de vida elevado. Por esta
definição, percebemos que um país para ser classificado como desenvolvido,
depende de bons indicadores econômicos e sociais e não apenas de um grande
volume de produção industrial e econômica.

Desenvolvimento econômico e social


O elevado grau de industrialização e a reduzida dependência financeira são
as principais características econômicas dos países desenvolvidos. Ter economia
estável e em crescimento distingue estes países dos considerados emergentes.

Embora os indicadores econômicos tenham peso significativo na classificação


dos países quanto ao desenvolvimento, esta não é condição única para colocar
uma nação, no seleto grupo dos países considerados desenvolvidos. Elevada
expectativa de vida e baixas taxas de mortalidade infantil, por exemplo, são
atributos que as nações desenvolvidas devem ter.

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Características dos países desenvolvidos


As nações listadas na categoria de países com alto nível de desenvolvimento,
não revelam o mesmo padrão de vida e nem a mesma condição econômica. No
entanto, existem particularidades comuns à nações desenvolvidas. Vejamos:

 Algumas foram nações colonizadoras, no período de expansão do


capitalismo comercial.
 Significativa parcela do PIB é constituído por atividades econômicas
ligadas à indústria, comércio e serviços.
 Agricultura é especializada e há grande investimento em mecanização e
tecnologia.
 Possuem Balança Comercial favorável – importam produtos agrícolas e
primários e exportam produtos industrializados.
 No cenário global, ocupam posição de dominação econômica – as nações
menos desenvolvidas dependem tecnológica e economicamente desses
países.
 A ciência e tecnologia são prioritárias e por isso, desenvolvidas. Há
investimento público e privado expressivo em pesquisa.
 As redes e serviços de transporte e comunicação são avançados e
eficientes.
 A população é altamente urbanizada e por isso, a concentração de
pessoas nas atividades agropecuárias é reduzida.
 As taxas de escolarização são elevadas e o analfabetismo é reduzido, se
comparados aos países subdesenvolvidos.
 As cidades possuem boa infraestrutura de mobilidade, lazer, moradia e
segurança.
 Com exceção de alguns países, como os Estados Unidos, o crescimento
populacional é bastante reduzido. As taxas de fecundidade também são
baixas.
 Taxas reduzidas de mortalidade infantil e elevadas de expectativa de vida
são típicas desses países com padrão de vida superior.

Quais são os países desenvolvidos


 No continente americano: Canadá e Estados Unidos
 No continente asiático, países como: Japão, Rússia, Singapura, Coreia do
Sul e Taiwan.
 Na Oceania, as ilhas da Nova Zelândia e Austrália.
 Continente Europeu: Países da Europa Ocidental como Inglaterra, França,
Alemanha, Suíça, Áustria, Mônaco, Holanda entre outros.

Embora o título “país desenvolvido” seja designado com base em múltiplos


fatores, nenhum país da América Latina ou do Continente Africano está
classificado no grupo das nações desenvolvidas.

A China possui o segundo maior PIB do mundo – no topo da lista está os


Estados Unidos – mas não é, em geral, colocada na categoria dos países
desenvolvidos por ainda possuir indicadores sociais reduzidos.

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6.6 Política Externa Brasileira


O Brasil tem uma forte tradição diplomática e é reconhecido
internacionalmente por isso. Poucas vezes estivemos envolvidos em guerras e
prezamos pela negociação e diálogo como instrumentos de resolução de conflitos.
Por isso, primeiro, vamos abordar os princípios tradicionais da política externa
brasileira para depois discutir seus principais momentos ao longo da nossa
história.

PRINCÍPIOS POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA


Soberania
O Brasil acredita que cada Estado deve ter autoridade para governar dentro
de seu território e na relação com os demais Estados.

Autonomia
Na mesma linha que a soberania, o Brasil defende que os Estados devem ser
autônomos para tomar decisões e agir por conta própria, sem influência ou
domínio por parte de outros Estados.

Desenvolvimento Nacional
Um dos principais objetivos do Brasil nas relações internacionais é a busca
por acordos ou parcerias que auxiliem na promoção do desenvolvimento nacional.

Não-intervenção
Também relacionado ao princípio de autonomia e soberania, o Brasil acredita
que nenhum país tem o direito de intervir em questões de outro Estado – a
não ser que seja autorizado pela ONU.

Esses princípios, ou valores, são tradicionais da Política Externa Brasileira,


pois pautam grande parte das ações e iniciativas brasileiras no exterior desde o
final do século XIX. Essa postura coerente e duradoura nos garante uma boa
reputação diplomática entre os demais países.
Apesar da coerência, seria errado considerar que a política externa do Brasil
não se altera ao longo do tempo. É importante lembrar que, como política pública,
a Política Externa reflete interesses da sociedade brasileira em determinado
tempo e espaço e tende a ser influenciada por fatores históricos, sociais e
culturais.

Principais momentos da história da PEB.


O BARÃO DO RIO BRANCO E A DIPLOMACIA BRASILEIRA NOS
TEMPOS DA REPÚBLICA VELHA
Considerado o “pai da diplomacia brasileira”, José Maria da Silva Paranhos
Júnior, o Barão do Rio Branco, foi advogado, jornalista, político e diplomata
brasileiro, entre os séculos XIX e XX. Sua gestão à frente do Ministério das
Relações Exteriores, no início da República (entre 1902 e 1912), é marcada por
grandes feitos, como a negociação para o estabelecimento das fronteiras
territoriais e uma arquitetura política relativamente estável e mais amistosa com os
países vizinhos da América do Sul.
O Barão é também reconhecido por iniciar uma aproximação estratégica
com os Estados Unidos e a inserção internacional do Brasil moderno de modo
geral, quebrando com a política externa voltada para a Europa, que marcou época
no Império. Não à toa, a escola preparatória de diplomatas leva o seu nome: o
Instituto Rio Branco.

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A atuação do Barão do Rio Branco e a transferência do centro diplomático


brasileiro de Londres para Washington marcaram a PEB no período da
chamada República Velha (1889-1930). As ações externas do Brasil
foram direcionadas para a maior inserção do país na política e na economia
internacionais, orientada principalmente pelos interesses dos cafeicultores e do
setor agroexportador.
A Primeira Guerra Mundial reafirmou essa nova posição da política externa
brasileira. O Brasil participou ao lado dos Estados Unidos no conflito contra a
Alemanha, após as forças alemãs torpedearem navios mercantes brasileiros. Ao
fim da guerra, o Brasil assumiu o assento rotativo no conselho da recém-
instituída Liga das Nações, firmando sua posição – e reconhecimento –
internacional para além das Américas.

GETÚLIO VARGAS E A II GUERRA MUNDIAL


O plano de industrialização e modernização inaugurado por Getúlio Vargas –
o nacional-desenvolvimentismo – trouxe impactos importantes para a PEB, a
partir de 1930. A atuação internacional do Brasil se voltou para esses objetivos –
modernizar e industrializar –, prezando por relações com países que ajudassem
na industrialização e desenvolvimento do país. Um desses países era a
Alemanha, que exportava para o Brasil bens manufaturados e material bélico, em
troca de produtos primários, como algodão e café. Essa aproximação entre
Alemanha e Brasil preocupava os EUA nos anos que antecederam a Segunda
Guerra Mundial (1939-1945), que forçavam um acordo bilateral com o governo
brasileiro. O governo Vargas passou a considerar esse momento como uma
oportunidade e direcionou os esforços de política externa a fim de obter o máximo
possível das negociações, tanto com a Alemanha nazista, quanto com os Estados
Unidos. Esse movimento “pendular” da PEB – ora se aproximando da Alemanha,
ora dos EUA – é conhecido como equidistância pragmática, termo cunhado pelo
historiador Gerson Moura.
Em 1942, o Brasil declarou apoio aos países aliados (Estados Unidos,
Império Britânico, China e União Soviética). A decisão se deu por uma série de
fatores, dentre eles o ataque japonês a Pearl Harbor e o torpedeamento de navios
brasileiros por submarinos alemães. Além de contribuir com o fornecimento de
materiais estratégicos, militares brasileiros foram enviados para combater as
forças do Eixo na Itália. Em contrapartida, o Brasil recebeu dos EUA investimentos
e auxílio para a modernização das Forças Armadas Brasileiras e para a criação da
primeira usina siderúrgica nacional.
A participação do Brasil na Segunda Guerra também reflete o esforço do
governo Vargas em ampliar o espaço de atuação internacional do país. O Brasil
não apenas participou das conferências de paz, como obteve assento rotativo no
Conselho de Segurança da recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU).
É interessante notar que a política externa do período impactou diretamente a
política interna, já que evidenciava uma contradição entre o caráter autoritário do
chamado Estado Novo de Getúlio Vargas e o apoio às forças aliadas na Segunda
Guerra, que lutavam em prol da liberdade e da democracia. Não obstante, Vargas
foi deposto em outubro de 1945.

POLÍTICA EXTERNA NA NOVA REPÚBLICA: ALINHAMENTO


VERSUS AUTONOMIA (1945-1961)
São comuns leituras que dizem que a PEB da Nova República (1945-1961) é
marcada por movimentos ora de alinhamento, ora de distanciamento e maior
autonomia em relação aos Estados Unidos. A política externa brasileira do pós-
guerra, por exemplo, é um dos principais momentos de aproximação, considerado

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como um “alinhamento automático” em relação à grande potência. É importante


ter em mente que, no período, os países europeus estavam destruídos pela
Segunda Guerra e o governo brasileiro – refletindo os interesses das elites – se
pautava pelo anticomunismo. Acreditava-se que o Brasil poderia ser o aliado
especial dos EUA na América do Sul, aliança que se traduziria em ganhos
econômicos e comerciais.
A agenda internacional estadunidense, no entanto, estava voltada para a
reconstrução da Europa e contenção do avanço da União Soviética. Por isso,
pouca atenção foi de fato direcionada ao Brasil nesse período. Nesse sentido,
alguns governos afirmavam a importância de ampliar as parcerias e ganhar maior
autonomia no cenário internacional, mas sem que isso significasse uma ruptura
em relação aos EUA.

POLÍTICA EXTERNA INDEPENDENTE (1961-1964)


O movimento de maior autonomia do Brasil em relação aos EUA ocorreu
durante os governos de Jânio Quadros (1961) e João Goulart (1961-1964), com
a chamada Política Externa Independente: uma estratégia de ação externa do
governo brasileiro para ampliar seu poder de barganha no cenário internacional,
por meio da ampliação de parcerias econômicas e políticas para além das
grandes potências.
Esse novo paradigma da PEB – mais globalista ou universalista –,
acompanhou as mudanças que ocorriam em âmbito internacional, como a
independência dos países africanos e o deslocamento do eixo político entre Leste
e Oeste para o Norte-Sul. Também havia uma necessidade de adaptação à nova
realidade econômica e social do país, buscando mercados não apenas para
produtos primários, mas também para manufaturados. Nesse sentido, o Brasil
buscou assumir uma posição de neutralidade, ou não alinhamento, em relação
às questões da Guerra Fria. A intenção era se aproximar dos países recém-
independentes e também do bloco socialista, prezando pelo multilateralismo,
mas sem perder o contato com países-parceiros tradicionais.

POLÍTICA EXTERNA NA DITADURA MILITAR (1964-1985)


Não é possível dizer que houve uma política externa própria da
ditadura militar, no sentido de que as diretrizes da PEB não foram contínuas
durante os vinte e um anos de regime (1964-1985). Inclusive, talvez esse seja o
período em que seja mais visível o movimento pendular de aproximação-
distanciamento em relação aos EUA.
Se, num primeiro momento, a ideia de aliado especial da grande potência
– americanismo, conforme colocado pela autora Letícia Pinheiro – pautava a
maior parte das ações brasileiras do exterior, após meados da década de 1970 –
principalmente após o governo do general Geisel (1974-1979) – a ideia
de universalismo volta à pauta da agenda externa brasileira, em consonância
com um projeto de desenvolvimento nacional.
Vale lembrar que o contexto era de crise, devido aos choques do petróleo.
Foram retomadas, assim, algumas das ações e diretrizes da Política Externa
Independente, principalmente tendo em vista a diversificação de parceiros
comerciais para as exportações brasileiras. A esse movimento é atribuída a ideia
de pragmatismo da Política Externa. Desse modo, é possível compreender a
aproximação do governo militar com a China, países da África e do Oriente Médio.

POLÍTICA EXTERNA NOS ANOS DO NEOLIBERALISMO


Os anos 1990 marcam um novo momento da PEB. Enquanto na década de
1980 a política externa esteve em segundo plano na agenda política brasileira, por

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causa da crise econômica e social que atingiu o país, na década seguinte a


agenda externa foi marcada pela busca de credibilidade no cenário internacional,
principalmente no que diz respeito à questão econômica e financeira.
As ações do Brasil no exterior são marcadas pela ampliação da
participação em organizações internacionais e outros foros multilaterais, além
da adesão aos mais variados tipos de tratados e acordos internacionais, a fim
de garantir uma boa imagem do país em nível global. É nesse sentido, por
exemplo, que podemos compreender o Brasil ter assinado o Tratado de Não
Proliferação de Armas Nucleares (TNP), após trinta anos de recusa em assiná-
lo.
Essa nova postura da PEB se encaixava no contexto de instauração de
um projeto neoliberal no país. Grande importância passou a ser atribuída às
instituições internacionais, principalmente as financeiras: Fundo Monetário
Internacional (FMI) e Banco Mundial. Ainda que seja difícil afirmar que houve um
alinhamento direto com os EUA, as relações com parceiros tradicionais e grandes
potências predominaram no período. No entanto, maior atenção foi direcionada
para o âmbito regional e aos países vizinhos, sobretudo em oposição à proposta
de formação da Área de Livre Comércio das Américas, a ALCA. O Mercosul
também surgiu nesse contexto, em 1991.

POLÍTICA EXTERNA DOS ANOS 2000


A política externa brasileira nos anos 2000 é marcada pelo retorno de alguns
princípios da Política Externa Independente. O crescente descontentamento com
o projeto neoliberal e a ascensão de movimentos de esquerda não só no Brasil,
mas na América do Sul em geral, permitiu que alguns aspectos do projeto
desenvolvimentista fossem retomados, impactando consideravelmente a atuação
brasileira no exterior.
De modo semelhante à Política Externa Independente, a PEB dos anos 2000
esteve voltada para a diversificação de parcerias comerciais e políticas.
Grande prioridade foi dada aos países vizinhos e à integração regional, além de
ser ampliada a aproximação com os países do Sul político – sob a ideia de
Cooperação Sul-Sul – e com países em desenvolvimento, como China, Rússia,
Índia e África do Sul. É nesse contexto que arranjos políticos como os BRICS,
o IBAS e a Unasul são criados.
Os anos 2000 foram marcados pela atuação constante e assertiva do Brasil
no plano internacional, tanto no que diz respeito à participação em organizações
internacionais e foros multilaterais, como em relações bilaterais.
A agenda externa brasileira, normalmente voltada para questões
comerciais também foi consideravelmente ampliada. A liderança do braço militar
da Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (MINUSTAH) e a
iniciativa em negociar, junto à Turquia, a questão do programa nuclear do Irã são
exemplos dessa atuação ativa do Brasil no plano externo.

6.4-Comparações com as economias dos países capitalistas e avançados

6.10-Evidências recentes da economia internacional (reestruturação produtiva,


globalização, macrotendências, etc)

6.11-O Papel do Estado frente à evolução da Mundialização do capital

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BIBLIOGRAFIA
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