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SADC Integracao e Desafios
SADC Integracao e Desafios
Julho 2016
Aline Silva Machado Ramos
Julho 2016
ÍNDICE
INTRODUÇÃO .........................................................................................................................3
CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 13
BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................... 15
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INTRODUÇÃO
Para atingir estes objectivos, em primeiro lugar, será traçado um breve histórico do
desenvolvimento das relações entre os países da África Austral, destacando os factores históricos
de cooperação e solidariedade mútuas, além dos mecanismos de continuidade entre períodos
históricos. Em segundo lugar, serão apontados os desafios actuais à integração regional, na opinião
da autora.
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1. Factores de Integração Regional
A história da unidade na África Austral remete às migrações bantu do século III e IV, quando
este povo, proveniente das actuais regiões dos Camarões e do Sudeste da Nigéria, penetrou os
territórios dos hodiernos países de Angola, África do Sul, Botswana, República Democrática do
Congo, Lesotho, Namíbia, Moçambique, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe em sucessivas vagas de
migrações. Posteriormente, atingiram também as regiões de Madagáscar, Seychelles e Maurícias
através de migrações e comércio de escravos. Neste processo, a cultura bantu1 suplantou as
autóctones e hoje forma a maioria étnica dos países que fazem parte da SADC. (MATUSSE, 2009).
Uma segunda onda de migração levou os povos bantu a ocuparem a região entre os rios
Zambeze e Limpopo. Destaca-se, aqui, a tribo Chona, origem do posterior Império de
Monomotapa.
Finalmente, uma terceira vaga fixou tribos bantu nos actuais territórios do Botswana e da
África do Sul (Cabo e Natal). Os Zulus, localizados na província de Natal, originaram o grande
império que seria o motor de profundas transformações na própria região e a Norte.
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Aqui um esclarecimento torna-se importante. O termo “bantu” refere-se ao conjunto de etnias com uma mesma raiz
linguística e cultural, como o sistema de crenças, rituais e costumes.
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Sua propensão à fixação, devido aos seus meios de subsistência – agricultura e pastorícia –,
aliada ao domínio da metalurgia, deu-lhes uma grande vantagem frente aos grupos autóctones
destas regiões, normalmente colectores e caçadores, que foram assimilados ou expulsos.
A causa das migrações bantu não estão esclarecidas, entretanto, suas consequências são
bastante significativas.
Um dos mais importantes Reinos bantu foi o Império Zulu, talvez o mais importante de todos
em termos de impacto sócio-político-cultural na África Austral. A expansão deste império
provocou o fenómeno denominado Mfecane (em língua nguni) ou difacane (em língua sotho-
tswana), que foi “uma série de fugas, migrações e guerras dos anos vinte e trinta em território
nguni e sotho-tswana” (GENTILI, 1999, p. 99). De acordo com Matusse (op. cit.), o Mfecane é,
ao lado e como consequência das penetrações bantu, um dos principais factores que favorecem a
unidade dos povos da África Austral.
O processo de conquista do Império Zulu fez com que os grupos derrotados procurassem
refúgio em terras distantes. Desta maneira, Mshoeshoe seguiu para o monte Thaba Bosiu onde,
através de conquistas, alianças e acordos diplomáticos, inclusive com a Grã-Bretanha, deu origem
ao Reino do Lesotho. Da mesma maneira, Zwangendaba fundou um estado nguni entre os lagos
Niassa e Tanganica e Sobhuza, do povo ngwane, fundou o Reino Swazi, que mais tarde tornou-se
na actual Swazilândia.
O mesmo fenómeno do Mfecane fez com que Soshangane fundasse no actual Moçambique,
entre os rios Zambeze e Maputo, o Império de Gaza. Deste poderoso império descende o lendário
rei Gugunhana, famoso pela sua resistência anticolonial no século a seguir.
Matusse (op. cit.) refere, ainda, que esta unidade entre os povos da África Austral pré-
colonial reflecte-se nas relações políticas e sociais actuais. Exemplo disso é a lealdade
demonstrada pelos países e respectivos chefes de Estado aos soberanos dos antigos reinos, como
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é o caso de Kalonga Gawa Undi, rei dos Chewa, sediado na Zâmbia, e a quem três presidentes de
países da SADC, Armando Emílio Guebuza, de Moçambique, Levy Patrick Mwanawasa, da
Zâmbia e Bingu wa Mutharika, do Malawi, prestaram tributo, em 2007, na cerimónia de Kulamba,
que marca a reiteração de lealdade pelos súbditos do rei, que prestam-lhe contas sobre as suas
actividades governativas, sobre os progressos económicos e sociais nas suas zonas de jurisdição e
fazem-lhe oferendas.
Fosse para fugir da opressão colonial, fosse para buscar melhores condições de subsistência,
as populações empreenderam vagas de migração, na sua maioria com destino às minas e plantações
sul-africanas e rodesianas. Esta dinâmica significou o desenvolvimento dos países receptores da
mão-de-obra mas, por outro lado, também foi factor de empobrecimento dos países provedores
desses recursos humanos. Visto como uma possibilidade de aumento de receitas para os países e
comunidades exportadoras de mão-de-obra, através da entrada de libras esterlinas em suas
economias, logo tornou-se em um factor de envelhecimento da sociedade, uma vez que os
imigrantes eram os homens jovens que, quando não podiam mais trabalhar, eram repatriados,
tornando-se um fardo para a família e para o Estado/comunidade.
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Os países receptores de mão-de-obra foram a África do Sul, a Niassalândia, a Rodésia do
Sul e a Tanganica, enquanto os fornecedores foram o Botswana, o Lesotho, a Namíbia,
Moçambique, Swazilândia e Rodésia do Norte.
Desta maneira, tendo como objectivo a obtenção de lucro, a dominação estrangeira, por outro
lado, através da exploração do trabalho migratório, acabou por criar condições ao florescimento
da consciência de nação e da unidade entre os povos da África Austral.
Dos debates gerados por este movimento, nasceram movimentos como o Pan-African
Movement for East and Central Africa, criado na Tanganica em 1958 e que tinha como objectivo
coordenar as actividades políticas em curso para o alcance dos países independentes dessas
regiões. Em 1962, esta organização muda seu nome para Pan-African Freedom Movement of East,
Central and Southern Africa, para acomodar, além de Quénia, Malawi, Tanzânia, Uganda e
Zanzibar, países fundadores, o Burundi e o Ruanda. Moçambique é integrado quando solicita a
adesão, aquando do primeiro Congresso da FRELIMO. Este movimento desaparece com a criação
da Organização da Unidade Africana, em 1963, que tinha os mesmos ideais do PAFMECSA e
abrangia a totalidade dos países africanos que buscavam a liberdade do continente.
Na Casa dos Estudantes do Império, em Portugal, frequentada por africanos originários das
colónias portuguesas, nasceu o Movimento Anticolonialista e da Frente Revolucionária para a
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Independência Nacional das Colónias Portuguesas, origem da CONCP – Conferência das
Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas – fundada em 1961 por movimentos
nacionalistas angolanos, são-tomenses, guineenses, goeses, cabo-verdianos. Mais tarde, a
FRELIMO de Moçambique viria a solicitar a sua adesão.
Em 1979, depois das independências, estes países tornaram-se membros fundadores dos
PALOP’s (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), que tem como objectivo “resgatar a
sua base político-ideológica comum para os desafios que o sistema internacional lhes impunha e a
necessidade de continuarem a articular os seus interesses e posições político-diplomáticos, no
concerto das nações, numa voz comum” (MATUSSE, op. cit., p. 56).
Apesar do ano de 1960 ser considerado o “Ano de África”, pelo alcance da independência
de 18 de seus países, muitos outros ainda continuavam sob o domínio colonial. Este factor, aliado
aos diversos desafios que os novos dirigentes tiveram de enfrentar na administração de seus países,
levou a diversos problemas sociais, económicos e regionais.
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Entretanto, a dependência da exportação de poucas matérias-primas, as diferenças económicas e
sociais entre regiões e áreas rurais e urbanas, a fraca escolarização e a dependência total de
tecnologias e meios de produção estrangeiros, estruturas herdadas do colonialismo, fizeram com
que a integração no mercado mundial dos novos países fosse marcada pela progressiva
marginalização económica do continente.
As crises políticas e económicas, aliadas a desastres naturais como as secas, levaram a que
vários países da África Austral cedessem a Programas de Reajustamento Estrutural, que obedeciam
a preceitos do Fundo Monetário Internacional e eram controlados pelo Banco Mundial.
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Fórum informal integrado por Angola, Botswana, Moçambique, Tanzânia, Zâmbia e movimentos de libertação da
Namíbia (SWAPO), África do Sul (ANC) e do Lesotho e Nigéria, mais tarde acrescido do Zimbábue, após a conquista
da sua independência. Tinha por objectivos combater as guerras de desestabilização feitas pelos regimes racistas da
África do Sul e Zimbábue contra os países recém-independentes da região e assessorar os movimentos de libertação
do Zimbábue e da Namíbia.
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internacionais e para a sua aplicação em projectos concretos que contrariassem a CONSAS e
promovessem o desenvolvimento da África Austral.
Os factores internos que motivaram a sua criação foram a derrota do exército da África do
Sul em Angola e a independência da Namíbia, além da queda do regime do apartheid na África
do Sul. Externamente, a criação desta Comunidade foi motivada pela resolução de 1991 da União
Africana de basear a Comunidade Económica Africana nas Comunidades Económicas Regionais.
Além disso, também colaboraram para a intenção de integração regional a tendência mundial a
esta cooperação interestatal após a glasnost e a perestroika na URSS e o fim da guerra-fria.
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Um dos maiores problemas da região são as infra-estruturas de transportes. Heranças do
colonialismo, estas foram desenvolvidas visando o escoamento da produção do interior do
continente para a Europa, portanto, as rodovias e ferrovias estão direccionadas aos portos e
raramente privilegiam as conexões dentro do continente.
Outra questão histórica é a presença do antigo “inimigo”, a África do Sul, na SADC. Apesar
de já não representar um perigo palpável para os países vizinhos, a África do Sul é, ainda a maior
potência económica na região. O trabalho migratório continua deslocando trabalhadores dos
diversos países para as “minas do Rand” e, apesar do desenvolvimento de mecanismos de
protecção social destes trabalhadores, seus países de origem continuam a perder mão-de-obra em
favor da economia sul-africana.
Outro factor que favorece mais a economia sul-africana e pode tornar-se desestabilizador
para as dos outros países é a abertura dos direitos aduaneiros dentro do âmbito da SADC. Esta
iniciativa pode empobrecer os Estados menos industrializados, uma vez que são exportadores
históricos de produtos de base primários, enquanto a África do Sul exporta produtos
industrializados com valor acrescentado. Desta maneira, este país beneficia-se da redução das
barreiras alfandegárias, dinamizando a sua produção industrial, enquanto os pouco ou nada
industrializados vizinhos vêem a sua arrecadação fiscal diminuir, o que colabora com o seu
empobrecimento.
Por outro lado, as independências encontraram os Estados um pouco por toda a África com
suas economias destruídas ou fragilizadas pelo processo de descolonização, o que veio a piorar
com as guerras civis posteriores a este período. Com suas estruturas produtivas parcial ou
totalmente destruídas, os novos países tiveram de lidar com os diversos desenvolvimentos políticos
e económicos mundiais, o que esmagou ainda mais a sua capacidade de desenvolvimento e auto-
sustento, tornando a sua economia muito frágil diante das novas crises financeiras e sociais
mundiais. Excepção a este cenário é feita à África do Sul, cujo desenvolvimento se tem destacado
mundialmente, facto constatável com a sua entrada a organismos de desenvolvimento exteriores à
África, como o grupo BRICS, que identifica as economias emergentes.
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água e o desempenho aquém do desejável quanto ao ensino secundário e superior (MWANSA &
MAYER, 2010). Estes factores impedem a geração de capital humano qualificado.
Outra questão preocupante prende-se à gestão dos recursos naturais e ao sector energético.
No primeiro caso, a maioria dos recursos naturais dos países são explorados por companhias
estrangeiras e o lucro resultante destas explorações é, na sua maior parte, canalizado para os países
financiadores dos projectos de investimento nestes sectores. Quanto ao sector energético, é
essencial que haja uma estabilização e um aumento do fornecimento e que este seja feito de modo
a não comprometer o meio-ambiente.
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CONCLUSÃO
Na África Austral, a integração regional baseia-se na etnia bantu, que se expandiu na região
através de conquistas, primeiramente e, mais tarde, através do chamado Mfecane, que dispersou
este grupo etnolinguístico um pouco por toda a região, tornando-o no grupo dominante
etnicamente.
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Apresenta-se, portanto, a necessidade de acautelar-se a natural tendência imperialista deste país,
potência económica e política da região.
Por outro lado, e visando a libertação da dependência económica, as economias mais frágeis
deverão passar por uma reestruturação de forma a que se desenvolvam estruturas que promovam
o desenvolvimento equitativo por toda a região. Isso passa, na nossa opinião, pela industrialização
dos países mais pobres, além do investimento em sectores economicamente em ascensão, como o
turismo, por exemplo.
Entretanto, para que haja o crescimento esperado, o ponto fulcral é o investimento em infra-
estruturas e a manutenção da paz e da segurança, pontos já inseridos na agenda de desenvolvimento
da SADC. Estes, juntamente com as políticas de desenvolvimento voltadas para a diminuição das
diferenças inter-regionais, são o ponto de partida para o sucesso da pretendida integração.
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BIBLIOGRAFIA
3. KISANGA, Eliawony J.. Industrial and Trade Cooperation in Eastern and Southern
Africa. Aldershot, Avebury, 1991.
4. FAGE, J.D., TORDOFF, William. História da África. Lisboa: Edições 70, 2013.
5. GENTILI, Anna Maria. O Leão e o Caçador. Uma História da África Sub-saariana. Maputo:
Arquivo Histórico de Moçambique, 1999.
7. MATUSSE, Renato. África Austral. Das migrações bantu à integração. Maputo, Imprensa
Universitária, 2009.
8. M’BOKOLO, Elikia. África Negra. História e Civilizações. Do Século XIX aos nossos dias.
Tomo II. 2.ed. Lisboa: Edições Colibri, 2007.
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Indicativo Regional (PIR) no quadro do 10º FED, 2010, disponível em
http://www.europarl.europa.eu/meetdocs/2009_2014/documents/acp/dt/806/806464/806464p
t.pdf, consultado em 25/06/2016.
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