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Aline Silva Machado Ramos

SADC – Integração e Desafios

Mestrado em Ciências Políticas e Estudos Africanos

Universidade Pedagógica - Delegação da Beira

Julho 2016
Aline Silva Machado Ramos

SADC – Integração e Desafios

O presente trabalho, referente à conclusão


do módulo de História Comparada dos
Blocos Regionais Africanos, será entregue
à Professora Doutora Maria Amida
Maman.

Universidade Pedagógica - Delegação da Beira

Julho 2016
ÍNDICE

INTRODUÇÃO .........................................................................................................................3

1. Factores de Integração Regional...........................................................................................4

1.1. O Período Pré-Colonial...................................................................................................4

1.2. O Período Colonial..........................................................................................................6

1.2.1. Breve Histórico da Conquista Colonial na África Austral ...........................................6

1.3. O Período Pós-Colonial...................................................................................................8

1.3.1. Desafios económicos e sociais ....................................................................................8

1.3.2. Mecanismos de integração e cooperação regional .......................................................9

2. Desafios actuais à integração económica regional .............................................................. 10

CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 13

BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................... 15

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INTRODUÇÃO

A Southern African Development Community (em português Comunidade para o


Desenvolvimento da África Austral) nasceu da SADCC, um órgão de cooperação entre os Estados
independentes da África Austral com o objectivo de proteger suas soberanias e economias contra
os regimes de minoria branca ainda persistentes na região, nomeadamente a Rodésia do Sul e a
África do Sul. A sua mudança para mecanismo de integração da região ocorreu aquando da
integração deste último país, após a queda do regime do apartheid, como Estado-membro.

Ora, enquanto a cooperação mantém a totalidade da soberania dos Estados, a integração


pressupõe que os Estados abdiquem, intencionalmente, de parte da sua soberania em favor de uma
entidade supranacional que regulará os fluxos comerciais, laborais e/ou financeiros. Esta
transformação, de organismo de cooperação, para um bloco de integração económica, trouxe
grandes transformações no seio da entidade, além de grandes desafios.

Desenvolvido como um dos requisitos avaliativos do módulo de História Comparada dos


Blocos Regionais Africanos, no âmbito do Mestrado em Ciências Políticas e Estudos Africanos da
Universidade Pedagógica – Campus Beira, este trabalho pretende fazer uma rápida análise dos
factores que favorecem e/ou desfavorecem a integração regional na África Austral, no âmbito da
SADC.

Para atingir estes objectivos, em primeiro lugar, será traçado um breve histórico do
desenvolvimento das relações entre os países da África Austral, destacando os factores históricos
de cooperação e solidariedade mútuas, além dos mecanismos de continuidade entre períodos
históricos. Em segundo lugar, serão apontados os desafios actuais à integração regional, na opinião
da autora.

A conclusão do trabalho deverá ser capaz de relacionar os mecanismos de integração


históricos com os desafios actuais, além de fazer algumas recomendações pessoais da autora.

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1. Factores de Integração Regional

1.1. O Período Pré-Colonial

A história da unidade na África Austral remete às migrações bantu do século III e IV, quando
este povo, proveniente das actuais regiões dos Camarões e do Sudeste da Nigéria, penetrou os
territórios dos hodiernos países de Angola, África do Sul, Botswana, República Democrática do
Congo, Lesotho, Namíbia, Moçambique, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe em sucessivas vagas de
migrações. Posteriormente, atingiram também as regiões de Madagáscar, Seychelles e Maurícias
através de migrações e comércio de escravos. Neste processo, a cultura bantu1 suplantou as
autóctones e hoje forma a maioria étnica dos países que fazem parte da SADC. (MATUSSE, 2009).

Em uma primeira vaga de migração, os povos bantu estabeleceram-se no Norte do actual


Moçambique, especificamente na região entre os rios Rovuma e Zambeze. No século XIV, os
bantófonos Mbale fixaram-se nas terras altas de Phoka, estabelecendo boas relações com os povos
nativos Mzembe e Chiluba, que garantiam o aprovisionamento de géneros agrícolas e carvão para
aqueles.

Uma segunda onda de migração levou os povos bantu a ocuparem a região entre os rios
Zambeze e Limpopo. Destaca-se, aqui, a tribo Chona, origem do posterior Império de
Monomotapa.

Finalmente, uma terceira vaga fixou tribos bantu nos actuais territórios do Botswana e da
África do Sul (Cabo e Natal). Os Zulus, localizados na província de Natal, originaram o grande
império que seria o motor de profundas transformações na própria região e a Norte.

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Aqui um esclarecimento torna-se importante. O termo “bantu” refere-se ao conjunto de etnias com uma mesma raiz
linguística e cultural, como o sistema de crenças, rituais e costumes.

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Sua propensão à fixação, devido aos seus meios de subsistência – agricultura e pastorícia –,
aliada ao domínio da metalurgia, deu-lhes uma grande vantagem frente aos grupos autóctones
destas regiões, normalmente colectores e caçadores, que foram assimilados ou expulsos.

A causa das migrações bantu não estão esclarecidas, entretanto, suas consequências são
bastante significativas.

Estas primeiras sociedades bantu evoluíram em chefaturas e reinados que posteriormente


tornaram-se em Estados de administração centralizada, com organização política e social mais
complexa, exércitos melhor estruturados, administração pública, justiça e gestão de cerimónias
religiosas e rituais de poder a cargo do soberano, com poder absoluto.

Um dos mais importantes Reinos bantu foi o Império Zulu, talvez o mais importante de todos
em termos de impacto sócio-político-cultural na África Austral. A expansão deste império
provocou o fenómeno denominado Mfecane (em língua nguni) ou difacane (em língua sotho-
tswana), que foi “uma série de fugas, migrações e guerras dos anos vinte e trinta em território
nguni e sotho-tswana” (GENTILI, 1999, p. 99). De acordo com Matusse (op. cit.), o Mfecane é,
ao lado e como consequência das penetrações bantu, um dos principais factores que favorecem a
unidade dos povos da África Austral.

O processo de conquista do Império Zulu fez com que os grupos derrotados procurassem
refúgio em terras distantes. Desta maneira, Mshoeshoe seguiu para o monte Thaba Bosiu onde,
através de conquistas, alianças e acordos diplomáticos, inclusive com a Grã-Bretanha, deu origem
ao Reino do Lesotho. Da mesma maneira, Zwangendaba fundou um estado nguni entre os lagos
Niassa e Tanganica e Sobhuza, do povo ngwane, fundou o Reino Swazi, que mais tarde tornou-se
na actual Swazilândia.

O mesmo fenómeno do Mfecane fez com que Soshangane fundasse no actual Moçambique,
entre os rios Zambeze e Maputo, o Império de Gaza. Deste poderoso império descende o lendário
rei Gugunhana, famoso pela sua resistência anticolonial no século a seguir.

Matusse (op. cit.) refere, ainda, que esta unidade entre os povos da África Austral pré-
colonial reflecte-se nas relações políticas e sociais actuais. Exemplo disso é a lealdade
demonstrada pelos países e respectivos chefes de Estado aos soberanos dos antigos reinos, como

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é o caso de Kalonga Gawa Undi, rei dos Chewa, sediado na Zâmbia, e a quem três presidentes de
países da SADC, Armando Emílio Guebuza, de Moçambique, Levy Patrick Mwanawasa, da
Zâmbia e Bingu wa Mutharika, do Malawi, prestaram tributo, em 2007, na cerimónia de Kulamba,
que marca a reiteração de lealdade pelos súbditos do rei, que prestam-lhe contas sobre as suas
actividades governativas, sobre os progressos económicos e sociais nas suas zonas de jurisdição e
fazem-lhe oferendas.

1.2. O Período Colonial

1.2.1. Breve Histórico da Conquista Colonial na África Austral

O início do período colonial foi marcado por guerras de conquista e operações de


“pacificação”. As potências coloniais empreenderam uma exploração económica de seus
territórios que muitas vezes tomou a “forma de uma pilhagem pura e simples” (M’BOKOLO,
2007, p. 341).

Esta economia de predação consistia em expropriações maciças, concessão de direitos de


soberania a companhias concessionária e instituição, por algumas autoridades coloniais, da
pilhagem e da rapina como métodos de exploração e ocupação de territórios.

Fosse para fugir da opressão colonial, fosse para buscar melhores condições de subsistência,
as populações empreenderam vagas de migração, na sua maioria com destino às minas e plantações
sul-africanas e rodesianas. Esta dinâmica significou o desenvolvimento dos países receptores da
mão-de-obra mas, por outro lado, também foi factor de empobrecimento dos países provedores
desses recursos humanos. Visto como uma possibilidade de aumento de receitas para os países e
comunidades exportadoras de mão-de-obra, através da entrada de libras esterlinas em suas
economias, logo tornou-se em um factor de envelhecimento da sociedade, uma vez que os
imigrantes eram os homens jovens que, quando não podiam mais trabalhar, eram repatriados,
tornando-se um fardo para a família e para o Estado/comunidade.

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Os países receptores de mão-de-obra foram a África do Sul, a Niassalândia, a Rodésia do
Sul e a Tanganica, enquanto os fornecedores foram o Botswana, o Lesotho, a Namíbia,
Moçambique, Swazilândia e Rodésia do Norte.

As péssimas condições de trabalho e de tratamento nas minas e plantações fizeram surgir


uma consciência de irmandade entre os trabalhadores emigrantes, o que, na luta contra a opressão
e a exploração, motivou, em última instância, movimentos de resistência anticoloniais, plasmados
em partidos nacionalistas fundados fora dos seus países de origem. É o caso da União Democrática
de Moçambique, fundada na Rodésia do Sul, da União Nacional de Moçambique, fundada na
Tanzânia e da União Nacional do Moçambique Independente, criada no Malawi.

Desta maneira, tendo como objectivo a obtenção de lucro, a dominação estrangeira, por outro
lado, através da exploração do trabalho migratório, acabou por criar condições ao florescimento
da consciência de nação e da unidade entre os povos da África Austral.

Apesar da opressão e das barreiras colocadas pelas autoridades coloniais, as populações


nativas alcançaram algum grau de desenvolvimento económico e social, proporcionado, muitas
vezes, pelas missões religiosas. A educação formal foi fonte de conscientização política da unidade
nacional e da necessidade de autodeterminação política e independência dos países. Outro factor
de conscientização política foi o movimento pan-africanista, cuja principal aspiração era a união
entre os africanos, de forma a articularem os seus interesses no continente africano e no mundo.

Dos debates gerados por este movimento, nasceram movimentos como o Pan-African
Movement for East and Central Africa, criado na Tanganica em 1958 e que tinha como objectivo
coordenar as actividades políticas em curso para o alcance dos países independentes dessas
regiões. Em 1962, esta organização muda seu nome para Pan-African Freedom Movement of East,
Central and Southern Africa, para acomodar, além de Quénia, Malawi, Tanzânia, Uganda e
Zanzibar, países fundadores, o Burundi e o Ruanda. Moçambique é integrado quando solicita a
adesão, aquando do primeiro Congresso da FRELIMO. Este movimento desaparece com a criação
da Organização da Unidade Africana, em 1963, que tinha os mesmos ideais do PAFMECSA e
abrangia a totalidade dos países africanos que buscavam a liberdade do continente.

Na Casa dos Estudantes do Império, em Portugal, frequentada por africanos originários das
colónias portuguesas, nasceu o Movimento Anticolonialista e da Frente Revolucionária para a

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Independência Nacional das Colónias Portuguesas, origem da CONCP – Conferência das
Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas – fundada em 1961 por movimentos
nacionalistas angolanos, são-tomenses, guineenses, goeses, cabo-verdianos. Mais tarde, a
FRELIMO de Moçambique viria a solicitar a sua adesão.

Em 1979, depois das independências, estes países tornaram-se membros fundadores dos
PALOP’s (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), que tem como objectivo “resgatar a
sua base político-ideológica comum para os desafios que o sistema internacional lhes impunha e a
necessidade de continuarem a articular os seus interesses e posições político-diplomáticos, no
concerto das nações, numa voz comum” (MATUSSE, op. cit., p. 56).

1.3. O Período Pós-Colonial

1.3.1. Desafios económicos e sociais

Apesar do ano de 1960 ser considerado o “Ano de África”, pelo alcance da independência
de 18 de seus países, muitos outros ainda continuavam sob o domínio colonial. Este factor, aliado
aos diversos desafios que os novos dirigentes tiveram de enfrentar na administração de seus países,
levou a diversos problemas sociais, económicos e regionais.

Os desafios internacionais passavam pela necessidade de posicionamento perante a


bipolarização mundial causada pela guerra-fria, além da redefinição de relações com as antigas
metrópoles, com as quais possuíam laços culturais desenvolvidos ao longo do período colonial e
principalmente económicos. Regionalmente, estavam comprometidos em reafirmar as relações de
solidariedades nutridas durante as lutas pela emancipação.

Num segundo momento, tiveram também de enfrentar o processo da globalização, que


mudou completamente o cenário mundial, tanto política como economicamente.

De uma maneira ou de outra, os países independentes da África Austral buscaram obter a


sua autonomia financeira com relação às antigas metrópoles e aos outros países ocidentais.

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Entretanto, a dependência da exportação de poucas matérias-primas, as diferenças económicas e
sociais entre regiões e áreas rurais e urbanas, a fraca escolarização e a dependência total de
tecnologias e meios de produção estrangeiros, estruturas herdadas do colonialismo, fizeram com
que a integração no mercado mundial dos novos países fosse marcada pela progressiva
marginalização económica do continente.

As crises políticas e económicas, aliadas a desastres naturais como as secas, levaram a que
vários países da África Austral cedessem a Programas de Reajustamento Estrutural, que obedeciam
a preceitos do Fundo Monetário Internacional e eram controlados pelo Banco Mundial.

1.3.2. Mecanismos de integração e cooperação regional

O objectivo dos dirigentes dos recém-independentes Estados africanos, encabeçados por


Kwame Nkrumah, era a união total de todo o continente. Esta ideia foi abandonada na Conferência
da Unidade Africana de Adis Abebba, na qual os chefes de Estado africanos optaram por uma
cooperação na qual não precisassem abrir mão de parte de suas soberanias em favor da União.
Mais tarde, na Declaração de Monróvia, datada de 1979, os Estados-membros da União Africana
comprometeram-se a promover o desenvolvimento económico e social e a integração das suas
economias. Para que estes objectivos sejam alcançados, a UA adoptou uma política de integração
entre as regiões africanas.

A SADCC é a resposta dos países da Linha da Frente2 à criação da CONSAS – Confederation


of Southern African States – que visava a subordinação dos Estados independentes de África ao
regime sul-africano. Sendo assim, a Southern African Development Coordination Conference
tornou-se um mecanismo de coordenação para a mobilização de recursos junto aos parceiros

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Fórum informal integrado por Angola, Botswana, Moçambique, Tanzânia, Zâmbia e movimentos de libertação da
Namíbia (SWAPO), África do Sul (ANC) e do Lesotho e Nigéria, mais tarde acrescido do Zimbábue, após a conquista
da sua independência. Tinha por objectivos combater as guerras de desestabilização feitas pelos regimes racistas da
África do Sul e Zimbábue contra os países recém-independentes da região e assessorar os movimentos de libertação
do Zimbábue e da Namíbia.

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internacionais e para a sua aplicação em projectos concretos que contrariassem a CONSAS e
promovessem o desenvolvimento da África Austral.

Estes países assinaram a Declaração de Lusaka, onde os chefes de Estado comprometiam-se


à construção de uma comunidade regional. O objectivo primeiro desta organização eram a adopção
de uma estratégia para reduzir a dependência dos Estados-membros em relação à África do Sul do
apartheid. A Namíbia, após sua independência e a África do Sul, depois da queda do regime do
apartheid, passaram a integrar a SADCC. O mesmo aconteceu à República Democrática do Congo
e às Seychelles em 1977.

A Southern African Development Community – SADC – foi a transição do mecanismo de


cooperação da SADCC para o da integração regional.

Os factores internos que motivaram a sua criação foram a derrota do exército da África do
Sul em Angola e a independência da Namíbia, além da queda do regime do apartheid na África
do Sul. Externamente, a criação desta Comunidade foi motivada pela resolução de 1991 da União
Africana de basear a Comunidade Económica Africana nas Comunidades Económicas Regionais.
Além disso, também colaboraram para a intenção de integração regional a tendência mundial a
esta cooperação interestatal após a glasnost e a perestroika na URSS e o fim da guerra-fria.

No seu estabelecimento, em 1992, em Windhoek, a SADC estabeleceu como pilares da sua


acção o desenvolvimento da região, a promoção das instituições e práticas democráticas e da paz
e o reforço dos laços históricos e culturais entre os povos da região. Os seus objectivos principais
foram definidos como o desenvolvimento de políticas destinadas à eliminação progressiva dos
obstáculos à livre-circulação de pessoas, mão-de-obra, bens e serviços.

2. Desafios actuais à integração económica regional

Os actuais desafios à integração da região da África Austral prendem-se, principalmente, a


factores históricos, resultantes das colonizações e do contexto político regional pós-colonial.

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Um dos maiores problemas da região são as infra-estruturas de transportes. Heranças do
colonialismo, estas foram desenvolvidas visando o escoamento da produção do interior do
continente para a Europa, portanto, as rodovias e ferrovias estão direccionadas aos portos e
raramente privilegiam as conexões dentro do continente.

Outra questão histórica é a presença do antigo “inimigo”, a África do Sul, na SADC. Apesar
de já não representar um perigo palpável para os países vizinhos, a África do Sul é, ainda a maior
potência económica na região. O trabalho migratório continua deslocando trabalhadores dos
diversos países para as “minas do Rand” e, apesar do desenvolvimento de mecanismos de
protecção social destes trabalhadores, seus países de origem continuam a perder mão-de-obra em
favor da economia sul-africana.

Outro factor que favorece mais a economia sul-africana e pode tornar-se desestabilizador
para as dos outros países é a abertura dos direitos aduaneiros dentro do âmbito da SADC. Esta
iniciativa pode empobrecer os Estados menos industrializados, uma vez que são exportadores
históricos de produtos de base primários, enquanto a África do Sul exporta produtos
industrializados com valor acrescentado. Desta maneira, este país beneficia-se da redução das
barreiras alfandegárias, dinamizando a sua produção industrial, enquanto os pouco ou nada
industrializados vizinhos vêem a sua arrecadação fiscal diminuir, o que colabora com o seu
empobrecimento.

Por outro lado, as independências encontraram os Estados um pouco por toda a África com
suas economias destruídas ou fragilizadas pelo processo de descolonização, o que veio a piorar
com as guerras civis posteriores a este período. Com suas estruturas produtivas parcial ou
totalmente destruídas, os novos países tiveram de lidar com os diversos desenvolvimentos políticos
e económicos mundiais, o que esmagou ainda mais a sua capacidade de desenvolvimento e auto-
sustento, tornando a sua economia muito frágil diante das novas crises financeiras e sociais
mundiais. Excepção a este cenário é feita à África do Sul, cujo desenvolvimento se tem destacado
mundialmente, facto constatável com a sua entrada a organismos de desenvolvimento exteriores à
África, como o grupo BRICS, que identifica as economias emergentes.

Há factores sociais que também prejudicam o desenvolvimento da região, como a


prevalência do HIV/SIDA, a desigualdade de género, a falta de acesso a produtos alimentares e

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água e o desempenho aquém do desejável quanto ao ensino secundário e superior (MWANSA &
MAYER, 2010). Estes factores impedem a geração de capital humano qualificado.

Outra questão preocupante prende-se à gestão dos recursos naturais e ao sector energético.
No primeiro caso, a maioria dos recursos naturais dos países são explorados por companhias
estrangeiras e o lucro resultante destas explorações é, na sua maior parte, canalizado para os países
financiadores dos projectos de investimento nestes sectores. Quanto ao sector energético, é
essencial que haja uma estabilização e um aumento do fornecimento e que este seja feito de modo
a não comprometer o meio-ambiente.

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CONCLUSÃO

A cooperação e solidariedade entre os africanos é muito antiga, anterior mesmo à chegada


dos europeus ao continente. As interpenetrações e os grandes movimentos de populações geraram
contactos que resultaram, muitas vezes, em alianças que poderiam ser consideradas “regionais”
para a época.

Na África Austral, a integração regional baseia-se na etnia bantu, que se expandiu na região
através de conquistas, primeiramente e, mais tarde, através do chamado Mfecane, que dispersou
este grupo etnolinguístico um pouco por toda a região, tornando-o no grupo dominante
etnicamente.

Durante o período colonial, a conquista, baseada na exploração económica e na opressão da


população autóctone, aliada ao trabalho migratório, em parte decorrente mesmo da colonização,
fez nascer nos campos de trabalho e nas minas a consciência de nação e da necessidade de união
dos povos em torno da causa da libertação. Em acréscimo a este facto, o Pan-africanismo,
movimento nascido fora da África e fundado por descendentes de africanos nascidos na América,
fez nascer os movimentos nacionalistas na diáspora e nos pontos de encontro comuns dentro de
África, como os países acolhedores de mão-de-obra.

As independências, nascidas dos movimentos nacionalistas, uniram novamente os novos


países em torno dos desafios económicos e sociais comuns, como a luta contra os regimes racistas
da África do Sul e da Rodésia do Sul.

Dito isto, podemos verificar que há um sistema de continuidades entre as relações de


cooperação inter-regionais na África Austral que inicia no período pré-colonial e estende-se até
aos dias actuais, com a formação da SADC.

A criação da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral enfrenta,


hodiernamente, grandes desafios para atingir o seu objectivo de integração regional. A superação
destas questões passa pela resolução de problemas históricos de subdesenvolvimento e
dependência política e económica, tanto dos países ocidentais quanto da parceira África do Sul.

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Apresenta-se, portanto, a necessidade de acautelar-se a natural tendência imperialista deste país,
potência económica e política da região.

Por outro lado, e visando a libertação da dependência económica, as economias mais frágeis
deverão passar por uma reestruturação de forma a que se desenvolvam estruturas que promovam
o desenvolvimento equitativo por toda a região. Isso passa, na nossa opinião, pela industrialização
dos países mais pobres, além do investimento em sectores economicamente em ascensão, como o
turismo, por exemplo.

Entretanto, para que haja o crescimento esperado, o ponto fulcral é o investimento em infra-
estruturas e a manutenção da paz e da segurança, pontos já inseridos na agenda de desenvolvimento
da SADC. Estes, juntamente com as políticas de desenvolvimento voltadas para a diminuição das
diferenças inter-regionais, são o ponto de partida para o sucesso da pretendida integração.

Sendo assim, consideramos, finalmente, que a integração regional na África Austral é um


projecto ambicioso, cuja concretização passa, em primeiro lugar e principalmente, pela
compreensão e minimização das desigualdades regionais, além da manutenção da paz e da
segurança, sem as quais qualquer processo de desenvolvimento torna-se impossível.

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BIBLIOGRAFIA

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mimeografado.

2. CARDOSO, Fernando Jorge. A África do Sul e a Metamorfose das Relações Regionais.


disponível em http://www.e-
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Universitária, 2009.

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Tomo II. 2.ed. Lisboa: Edições Colibri, 2007.

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conclusões para o Documento de Estratégia Regional (DER) para SADC e o Programa

15
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http://www.europarl.europa.eu/meetdocs/2009_2014/documents/acp/dt/806/806464/806464p
t.pdf, consultado em 25/06/2016.

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