[Debate] Painel Cultural

Cinema em cena
O cinema como atividade pedagógica também requer planejamento
P O R P AT R Í C I A R O M A G N A N I

Quem não se emocionou, refletiu, ima-
ginou, ponderou com cenas apreen-
didas de um filme assistido em algum
determinado momento de sua vida?
Sem medo de cometer uma afirmação
absoluta, muito provavelmente todos já
tiveram essa experiência.
Pois é com base nas inúmeras pos-
sibilidades de desvelamento de saberes,
sentidos e significados que a sétima arte
pode ser desfrutada no espaço escolar. É
importante registrar que os filmes na es-
cola não se constituem em instrumentos
de ensinagem de conteúdos, mas em pos-
sibilidade de ampliação do repertório cul-
tural e fruição que de uma forma indireta
auxilia no processo de aprendizagem.
No entanto, para utilizá-los em sala
de aula, alguns procedimentos são im-
portantes:
Escolha e
1 seleção do filme
A escolha dos filmes deve ser feita com
menos mais de uma vez e investigue os
extras, quando houver, para que possa
estar bem familiarizado com o filme.
O mediador deve ter uma idéia geral
das questões que irá propor para o de-
bate sobre o filme. Quando aparecer um
questionamento sobre um ponto que
não conhece ou não tem certeza para
responder com segurança, o mediador
pode prometer dar uma devolutiva após
pesquisar sobre o assunto.
3 Exibição
Durante a exibição dos filmes, é funda-
mental que o educador motive os alunos
a pensarem com profundidade sobre o tí-
tulo apresentado, analisando os seus va-
riados aspectos, que vão desde a análise
da ficha técnica – como diretor e princi-
pais autores – à qualidade de imagem,
som e interpretação, à sua característica
artística, lembrando de focalizar os des-
taques que se pretende enfatizar.
Quanto mais o professor promover o
entusiasmo do grupo, atentando para sua
intensidade e duração, maior será o apro-
veitamento da sessão. Garantir que os te-
mas abordados tenham significado e re-
levância social são elementos essenciais
para garantir o sucesso desta dinâmica.
4 Debate
Um bom mediador não monopoliza o
debate. Ao invés de impor exclusiva-
mente suas idéias e análises, procura
trazer à luz as idéias dos alunos. O ideal
é agir como um entrevistador, procu-
rando extrair o melhor, o mais interes-
sante e o que há de mais valioso nas
contribuições do grupo. São as relações
que esses estabelecem com o tema em
questão e seus conhecimentos prévios
que produzem saberes essenciais para
outros saberes.

base no interesse mútuo, portanto, DELIMITADOS OS PRINCIPAIS PASSOS, FICA

dos principais protagonistas educati-
vos: professor e alunos. Pode ser defini-
do no início do ano letivo em conjunto
com o grupo de discentes ou, ainda, o
educador pode sugerir outros títulos re-
levantes durante o ano de acordo com
a dinâmica de acontecimentos do real
ou com temas pedagógicos que esteja
desenvolvendo. É importante não se es-
quecer de observar a indicação de faixa
etária sugerida no título.
UMA SUGESTÃO DE FILME QUE PERMITE UMA
ABORDAGEM PEDAGÓGICA INTERESSANTE
A GUERRA DO FOGO (LA GUERRE DU FEU)
1981 (FRANÇA – CANADÁ)
DIREÇÃO: JEAN JACQUES ANNAUD
DURAÇÃO: 100 MIN
Um mergulho no tempo em busca da maior conquista da humanidade: o domínio do
fogo. Filmado nas paisagens da Escócia, da Islândia, do Canadá e do Quênia, este filme
procura recriar o mundo exatamente como era há 80 mil anos.
O homem pré-histórico enfrentando tribos inimigas e feras dentro de um ambiente hos-

2 Planejamento
Elabore um plano antes da exibição do
filme, estimando, inclusive, tempo para
a exibição e posterior debate. Em primei-
ro lugar, é preciso conhecer as temáticas
que envolvem o enredo do título selecio-
nado. É fundamental que o assista ao
til, até o surgimento de seus primeiros sentimentos. Um dos temas que envolve a dis-
cussão sobre a naturalidade da linguagem falada é o que versa sobre a sua origem.
O filme trata de dois grupos de hominídeos pré-históricos: um que cultuava o fogo
como algo sobrenatural e outro que dominava a tecnologia de fazer o fogo. Em termos
de linguagem, o primeiro não está muito longe dos demais primatas, emitindo gritos e
grunhidos quase na totalidade de vocálicos. Já o segundo grupo parece ter uma comu-
nicação mais complexa, com maior número de sons articulados. Há outros elementos
culturais, como habitações e ritos, que denotam um maior grau de complexidade do
segundo grupo com relação ao primeiro.

| setembro 2008 45