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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA ___ª VARA

DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE SÃO PAULO (CAPITAL), DO ESTADO DE SÃO


PAULO

XXXXXXXXXX, brasileiro, solteiro, desempregado, com RG de nº XXXX


(doc. 01), inscrito no CPF/MF sob o nº XXXXXXX, residente e domiciliado na Rua XX, nº XX,
Vila Mercedes, CEP XXXX, XXXX/SP (doc. 02), vem, respeitosamente, perante Vossa
Excelência, por intermédio da Defensoria Pú blica do Estado de Sã o Paulo, por seu ó rgã o de
execuçã o que esta subscreve, dispensada da apresentaçã o de procuraçã o, nos termos do
disposto no artigo 128, da Lei Complementar 80/94, propor a presente

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS


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em face do ESTADO DE SÃO PAULO, pessoa jurídica de direito pú blico
interno, com sede na capital do Estado, a ser intimado, nos termos do art. 12, inciso I do
Có digo de Processo Civil, na pessoa do Procurador Geral do Estado, cujo domicílio fica em
Sã o Paulo/SP, na Rua Pamplona, 227, 7º andar, pelas razõ es de fato e de direito a seguir
aduzidas:

1. DOS FATOS

Na noite de 15 de dezembro de 2013, o autor XXXX, entã o com 17 anos


de idade, ouvia mú sica proveniente de um carro em frente a uma festa em que estava a
convite de um amigo, nas proximidades da rua Aparício Rodrigues, no Parque Jandaia,
município de Carapicuíba; quando viu a chegada de uma viatura da Força Tá tica da qual
desceram dois policiais que, sem qualquer sinalizaçã o ou tentativa de negociaçã o com os
moradores, passaram a desferir tiros de arma de fogo de elastô mero contra uma
aglomeraçã o de pessoas que se encontrava na rua e, em seguida, lançaram bombas de
efeito de moral. Já na primeira bomba lançada pelos policiais militares, o autor foi
atingido.

A bomba atingiu um veículo que estava estacionado no local e em


seguida explodiu, atingindo o rosto do autor. HEITOR, ao perceber que estava ferido,
aproximou-se dos policiais e pediu socorro. Entretanto, os policiais, quando viram que o
supercílio do autor estava cortado, entraram na viatura e se retiraram do local. Só apó s os
policiais se retirarem é que os moradores se sentiram seguros para socorrer Heitor.

Pessoas que estavam no local informaram que apó s a fuga da viatura da


Força Tá tica o policiamento comum chegou ao local. Versã o que é confirmada pelo
depoimento dos pró prios policiais de policiamento comum e mesmo da Força Tá tica, como
se mostrará adiante.

Heitor foi levado ao Pronto Socorro da Vila Dirce, onde permaneceu


durante um dia. Nesse interim, sua mãe, ao ser avisada da agressã o, se dirigiu ao hospital
onde viu funcioná rios ligando para polícia comunicando a entrada de uma vítima de
bomba, porém nenhum policial apareceu no hospital para tomar alguma providência.

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A ficha de urgência e emergência de XXX ainda no pronto Socorro da
Vila Dirce, aponta no resumo clínico: “Explosão de bomba de efeito moral jogado pelos
policiais que atingiu o olho direito”. (DOC. 07)

Heitor foi transferido para o Hospital das Clínicas, onde ficou 8 dias, até
ser operado, no dia 22 de dezembro de 2013, quando uma ultrassonografia acusou
descolamento de cororide e de retina – CID 10 - H33 (Descolamentos e defeitos da retina).
O atestado de afastamento de HEITOR indica trauma ocular em olho direito pós
explosão de artefato. (DOC. 08)

O relató rio DAM/L/N°1380/14, assinado pelo Dr. Marcio Biczyk do


Amaral, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, diagnosticou ferimento
perfurante escleral (S05.4), descolamento de retina (H33.2) e catarata traumá tica (H26.1).
(DOC. 08)

O laudo de lesã o corporal N° 15010/2014-GLD descreve atrofia do


globo ocular direito em embranquecimento da có rnea com cicatrizes nas pá lpebras e
conclui que a vítima sofreu lesões corporais de natureza GRAVÍSSIMA, pela
deformidade estética permanente. (DOC. 09)

Inú meros sã o os casos de operaçõ es policiais desastrosas nas


comunidades e periferias em que a polícia, cumprindo aquilo que já conhece o senso
comum, atira primeiro e pergunta depois, seja com armais letais ou de controle de
multidã o. 1

Na mesma ocasiã o em que o autor foi vitimado pela açã o da Polícia


Militar do Estado de Sã o Paulo, há notícia de outras pessoas foram feridas.

Entre essas pessoas, o colega de Heitor, Gustavo, atingido no abdome


por uma bala de borracha. Entretanto, apó s uma diligência da Força Tá tica à casa de
Gustavo, este ficou incomunicá vel. O autor acredita que o amigo tenha se afastado por
medo da polícia.

Ainda durante a mesma operaçã o, o adolescente Marcio Leite de Souza


Jú nior, entã o com treze anos, testemunhou a chegada de policiais em uma Blazer e sua
descida do veículo, quando passaram a atirar bombas de efeitos moral, entre elas a que

1
http://sao-paulo.estadao.com.br/blogs/sp-no-diva/o-estado-e-culpado-por-cegar-alex-sergio-e-dayane-
com-bala-de-borracha/
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veio a lhe atingir. O laudo de lesã o corporal N°224331/2013-GDL descreve “ferimento
corto contuso em face anterior de coxa esquerda (3 lesõ es) medindo cerca de 1 a 2 cm de
diâ metro cada”, “duas outras lesõ es similares localizadas em face anterior de coxa direita e
1 em joelho direita (SIC)”, “lesã o corto contusa em suturada em regiã o supra pú blica”,
vá rios ferimentos corto contusos puntiformes em ambas penas e coxas além de 2
escoriaçõ es em coxa direita e 2 em joelho direito”; concluindo por lesõ es corporais de
natureza leve (Fls. 126). Os inquéritos que investigavam as violências sofridas por Marcio
e Heitor acabaram sendo apensados.

Outros casos emblemá ticos exemplificam como a prá tica dos policiais é
recorrente nas periferias de Sã o Paulo.

Como o ocorrido em de janeiro de 2013, no bairro de Paraisó polis, Zona


Sul de Sã o Paulo, quando a jovem Dayane de Oliveira Magalhães, ao retornar para sua casa
com seu namorado e seu irmã o, viu a chegada da Polícia Militar que, sem qualquer
sinalizaçã o, passou a jogar bombas e desferir tiros de arma de fogo de elastô mero contra
uma aglomeraçã o de pessoas que se encontrava na rua, para dispersá -la. Com medo,
Dayane permaneceu na calçada tentando esconder-se, mas uma das bombas lançadas caiu
perto de seus pés. Devido ao efeito do gá s lacrimogêneo, Dayane perdeu por alguns
instantes os sentidos, momento em que sentiu um forte impacto em seu olho esquerdo,
perdendo os sentidos completamente. Quando recobrou a consciência estava toda
ensanguentada e com o olho perfurado. A ficha de atendimento médico concluiu que o que
perfurou o globo ocular de Dayane foi uma bala de elastô mero. 2

De maneira muito semelhante, em 2016, na Favela do Marcone, Zona


Norte de Sã o Paulo, Douglas Santana3, na época com 12 anos de idade, foi atingido
tragicamente por estilhaços de bomba de efeito moral lançados pela Polícia Militar sem
qualquer aviso enquanto estava em uma festa de aniversá rio que acontecia em uma
lanchonete. Douglas teve os primeiros socorros negados pela Polícia Militar e, ainda
criança, sofreu uma lesã o irreversível no olho esquerdo que ocasionou sua cegueira.

A ocorrência narrada, que vitimou HEITOR, é prova clara do uso


descontrolado de armas não letais (que, como se verá adiante, podem até mesmo

2
https://ponte.org/operacao-da-pm-sp-em-paraisopolis-esmagou-o-olho-esquerdo-de-moradora-de-
paraisopolis/
3
https://www.vice.com/pt_br/article/fluxo-marcone-baile-de-favela-douglas-santana-policia-militar-cega-
crianca
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ter potencial letal), especialmente munição de elastômero e bomba de gás
lacrimogêneo, por policiais sem a devida capacitaçã o técnica, notadamente, sendo que
nã o foi seguida normativa que determina a prestaçã o de contas quando fazem uso deste
tipo de armamento.

Além disso, a ocorrência revela a intolerância do Estado para com


qualquer aglomeração de pessoas em regiões periféricas, mesmo em atividades
recreativas.

Tragicamente, XXX, que estava pró xima ao local do “pancadã o” no


momento da açã o brutal da polícia, acabou perdendo a visã o do olho direito em razã o da
imperícia dos agentes estatais.

O autor havia acabado de concluir o ensino médio na época do ocorrido,


tinha planos de fazer a faculdade, tanto que já havia feito o Exame Nacional do Ensino
Médio – ENEM para concorrer a uma vaga no ensino superior (DOC. 02). Entretanto o
ocorrido interferiu drasticamente em seus planos. Desde entã o Heitor ficou mais retraído
e abalado, sofre com crises nervosas e abandou o sonho de estudar.

Repita-se: HEITOR perdeu a visã o simplesmente porque a Polícia Militar


entende que pessoas nã o podem ficar aglomeradas em espaço pú blico. Não há, contudo,
qualquer amparo legal para tal tipo de restrição e para o modus operandi da PM.

No caso concreto, como se demonstrará , o Estado deve indenizar a


família por todos os danos causados, bem como fornecer todo o tratamento médico
necessá rio à reparaçã o da saú de de HEITOR.

2. DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO

Excelência, é importante atentar-se à redaçã o do §6º do art. 37 de nossa


Constituiçã o Federal:

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“§6º - As pessoas jurídicas de direito pú blico e as de direito privado
prestadoras de serviços pú blicos responderã o pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de
regresso contra o responsá vel nos casos de dolo ou culpa”.

A primeira premissa a ser colocada é esta. O Estado é objetivamente


responsável pelos danos causados a indivíduos por seus agentes. A
responsabilidade, portanto, independe da existência de dolo ou culpa por parte do
agente estatal.

No caso concreto, HEITOR faz jus a uma indenizaçã o pelos danos


materiais, estéticos e morais que sofreu, oriundos da açã o da Polícia Militar.

Todos os requisitos necessá rios para que restasse caracterizada a


responsabilidade objetiva do Estado estã o presentes: i) consumaçã o do dano; ii) açã o
praticada por agente estatal; iii) vínculo causal entre o evento danoso e o comportamento
estatal e iv) ausência de qualquer causa excludente de que pudesse eventualmente
decorrer a exoneraçã o da responsabilidade do Estado.

A consumaçã o do dano e a açã o praticada por agente estatal sã o


facilmente constatadas.

HEITOR sofreu lesões corporais de natureza gravíssima, inclusive


perdendo a visão do olho direito, por conta de estilhaços de bomba de efeito moral,
lançadas por policial militar do Estado de São Paulo.

Segundo a Portaria de Inquérito Policial Militar N° 33BPMM-


027/060/13 – no qual a agressã o à Marcio Leite de Souza Jú nior é investigada – no dia 13
de dezembro de 2013, por volta das 20:00 horas, pela rua Aparício Rodrigues, pró ximo ao
n° 242, Parque Jandaia – Carapicuíba/SP, a equipe da viatura prefixo n° M-33012, recebeu

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uma designaçã o para atendimento de ocorrência có digo C-99, correspondente à
“pancadã o”, sendo esta coordenada pelo CGP-I do 33°BPM/M, 3°Sgt PM 923777-1 Carlos
José Machado Rocha, em açã o conjunta com as demais viaturas de sua equipe. (Fls. 02 do
IPM N°33BPMM-027/060/13)

Os inquéritos policiais IPM N° 33BPMM-027/060/13 e IPM N°


33BPMM-37/060/14, referentes à s violências contra os adolescentes Má rcio e Heitor,
respectivamente, perpetradas pelos militares quando da operaçã o, dã o conta de ampla
presença policial na regiã o no momento dos fatos, o que é corroborado pelas declaraçõ es
dos pró prios policiais.

Os depoimentos dos policias, como se verá em seguida,


convergem com a versã o de HEITOR de que uma viatura Blazer da Força Tá tica adentrou a
rua Aparício Rodrigues dispersando os moradores que ali se reuniam em um momento de
lazer. Militares de policiamento comum atestam em seus depoimentos que ao se
aproximarem do local dos fatos, puderam presenciar uma viatura Blazer da Força Tá tica
deixando o local, e os moradores, assustados, já em fuga, inclusive alguns desses policiais
testemunharam terem ouvido barulhos de explosã o e sentido cheiro de gá s lacrimogênio
no local.

O 3° Sgt. PM Carlos José Machado Rocha, afirmou que na data dos


fatos exercia a funçã o de CGP-I do 33° BPM/M na viatura M-33103, e foi acionado pelo
COPOM, sendo informado de que havia uma ocorrência de “Pancadã o” no local. O
declarante determinou que “fosse pago talã o” para a viatura M-33102, e se dirigiu ao local
juntamente com as viaturas de prefixo M-33102, M-33117, M-33113, M-33111,
juntamente com a sua viatura de prefixo M-33103, nenhuma dessas viaturas do tipo
Blazer ou munida com armas de contençã o de multidã o. O policial militar declarou que
ao chegar ao local “observou, de pronto, várias pessoas correndo, bem como
motocicletas que saiam em disparada” e ao se dirigir a 1ª Cia PM, recebeu uma
ligação telefônica do CFP, 2° Tem PM CORADI, questionando se havia utilizado
granada na ocorrência relacionada a Baile Funk, o que negou, já que as citadas viaturas
nã o sã o equipadas para tal fim. (Fls. 09 e 10 do IPM N°33BPMM-027/060/13)

O Soldado PM Joã o Marcos de Souza, encarregado da viatura M-


33113 na data dos fatos, declarou que quando chegou ao local do “Pancadã o”, com giroflex
e sirenes acionadas, “notou que muitos dos populares que estavam pela via já
estavam correndo em dispersão, de alguma situação que ocorria fora do raio de
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ação das viaturas da 1° Cia PM” e “percebeu que havia um leve cheiro de gás
lacrimogênio no ar”. (Fls. 141 e 142 do IPM N°33BPMM-027/060/13)

O Soldado PM Ewerton Henrique Aleixo da Silva, encarregado da


viatura M-33117 na data dos fatos, declarou que quando começou a descer a via sentido
“Pancadã o” “notou que muitos dos populares que estavam pela via já estavam
correndo em dispersão, em direção aos policiais, de alguma situação que ocorria
fora do raio de ação das viaturas da 1° Cia PM”. (Fls. 145 e 146 do IPM N°33BPMM-
027/060/13)

A Soldada PM Janaína Matos Ferreira, encarregada da viatura M-


33111 na data dos fatos, declarou que “antes, bem já próximo ao local do encontro com
as demais viaturas, a declarante visualizou uma viatura Blazer sair da Rua Aparício
Rodrigues sem nenhuma luz obrigatória ou de emergência acessa (SIC) (faróis ou
giroflex), e ainda que “essa viatura quase se chocou com a viatura da declarante
devido a velocidade de essa empreendia (SIC), motivo pelo qual a declarante não
sabe informar o prefixo dessa viatura Blazer , tampouco algum policial que
compunha a equipe da viatura”, e também viu pessoas em dispersã o ao chegar ao local.
(Fls. 148 e 149 do IPM N°33BPMM-027/060/13).

A declaraçã o do Soldado PM Flá vio Alexandre Nunes, motorista da


viatura M-33111 na data dos fatos, ratifica o que foi dito pela soldada Janaína. (Fls. 151 e
152 do IPM N°33BPMM-027/060/13)

A ampla presença de policiais da Força Tá tica em viaturas Blazers


munidas de armamento de controle de multidã o, na hora e regiã o dos fatos, é confirmada
pelo depoimento dos policiais: Soldado PM Vagner de Souza Monteiro, motorista da
viatura M-33025; Soldado PM Fá bio Rodrigues da Silva, segurança da viatura M-33010; 3°
Sargento PM Nilton Cipriano da Silva, encarregado da viatura M-33010; Soldado PM Joã o
Eduardo de Oliveira, motorista da viatura M-33010. (Fls. 170 a 181 do IPM N°33BPMM-
027/060/13)

O Soldado PM Ricardo dos Santos Barros, segurança da


viatura M-33323, uma Blazer, munida de armamento de controle de multidão,
declarou que “estavam patrulhamento pela Avenida Marginal do Ribeirã o, sentido
bairro/centro, quando escutou via rede-rá dio, ocorrência se C-99 (“Pancadã o”) sendo paga
para a viatura 1° Cia PM pela Rua Aparício Rodrigues, QUE estavam pró ximos ao local,

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sendo que a viatura do declarante adentrou na Rua Aparício Rodrigues pela Avenida
Marginal do Ribeirão” (Fls. 185 e 186 do IPM N°33BPMM-027/060/13) (Fls. 16 do IPM
N° 33BPMM-037/060/14)

De acordo com o Relató rio de IPM, “Pela extensã o do logradouro e


dinâ mica da situaçã o narrada pelo Sd PM Barros (fls. 185 à 186), tudo indica que foi sua
viatura, modelo Blazer, que passou mais próxima dos fatos constantes na Portaria
deste IPM”.

O 3° Sargento PM Aquiles Rodolfo Coelho de Oliveira, comandante


de equipe na viatura M-33323, declarou que na data dos fatos “ouviu pela rede de rá dio a
ocorrência C-99, pela Rua Aparício Rodrigues sendo despachada à viatura da 1° Cia, que
estava pró ximo e chegou a adentrar a referida Rua, visualizando à aproximadamente 200
(duzentos) metros uma aglomeraçã o de pessoas que começaram a se dispersar”. (Fls. 41
do IPM N° 33BPMM-037/060/14)

Ou seja, quando a viatura M-33323 - Blazer da Força Tá tica


abastecida com armamento de contençã o de multidã o – chegou ao local, conforme o
depoimento dos Policiais Militares Ricardo e Aquiles, os cidadã os que ali estavam ainda
gozavam de seu momento de lazer, e apó s a passagem da viatura, coincidentemente,
alguma coisa ocasionou sua dispersã o. O que condiz com o que foi narrado pelas vítimas
da desastrosa açã o policial.

É indubitá vel, portanto, que o dano, consubstanciado nas lesõ es


corporais gravíssimas sofridas por HEITOR, tenha sido causado por agente estatal.

Por outro lado, dú vidas nã o há com relaçã o ao nexo de causalidade


entre a açã o do agente estatal e o evento danoso.

A vítima sofreu as lesõ es e perdeu a visã o do olho direito (evento


danoso) em decorrência de estilhaços de bomba de efeito moral lançada por agente
estatal. A relaçã o causal entre a açã o do agente (lançamento de muniçõ es químicas) e o
dano (lesõ es em DOUGLAS) é clara, dispensando maiores digressõ es.

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Ademais, nã o há qualquer indício de causa excludente de ilicitude da
responsabilidade objetiva.

Dessa forma, preenchidos os requisitos e caracterizada no caso concreto


a responsabilidade civil objetiva do Estado, de rigor a procedência da demanda.

Além disso, nã o restam dú vidas de que esse armamento foi usado para
conter uma confraternizaçã o de indivíduos na rua – o “pancadã o” em questã o –, em total
desacordo com qualquer prá tica de controle de distú rbios civis, ficando clara a
desproporcionalidade no uso desse armamento, mas adentraremos melhor esse assunto
no tó pico seguinte.

Apesar da ampla presença de policias militares na regiã o dos fatos,


inclusive policias da Força Tá tica em viatura Blazer, munidos com armas de contençã o de
multidã o, que confirmam terem entrado na Rua Aparício Rodrigues antes do policiamento
comum no mesmo momento em que “algo” dispersou a reuniã o pacífica de moradores,
fato confirmado por militares do policiamento comum e que corrobora a versã o da vítima
e conforme está admitido no pró prio relató rio “com todo o largo conjunto probatório
amealhado ao presente inquérito, comprovou-se desde sempre a materialidade da
ação delituosa”. (Fls. 215 do IPM N°33BPMM-027/060/13), concluiu-se “nã o ser o
suficiente para apontar-lhes o cometimento de ilícito penal militar” (Fls. 214 do IPM
N°33BPMM-027/060/13),

2.1. Do uso da força pelas forças policiais

O uso da força pela polícia, conforme dispõ e a legislaçã o


internacional sobre o tema e a doutrina, deve pautar-se pela moderaçã o, excepcionalidade,
necessidade e proporcionalidade.

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Neste sentido, dispõ e o art. 3º do Có digo de Conduta para
Policiais4, da ONU, que “os policiais só podem empregar a força quando tal se apresente
estritamente necessá rio, e na medida exigida para o cumprimento do seu dever”.

Já os Princípios Bá sicos para Uso da Força e de Armas de Fogo 5,


também da ONU, dispõ e que “no cumprimento das suas funçõ es, os responsá veis pela
aplicaçã o da lei devem, na medida do possível, aplicar meios não-violentos antes de
recorrer ao uso da força e armas de fogo. O recurso à s mesmas só é aceitá vel quando os
outros meios se revelarem ineficazes ou incapazes de produzirem o resultado pretendido”
(art. 4º). Este é o princípio da necessidade associado, ainda, a uma regra de
subsidiariedade.

O mesmo diploma dispõ e que “sempre que o uso legítimo da


força e de armas de fogo for inevitá vel, os responsá veis pela aplicaçã o da lei deverã o: (a)
Exercer moderaçã o no uso de tais recursos e agir na proporçã o da gravidade da infraçã o e
do objetivo legítimo a ser alcançado; (b) Minimizar danos e ferimentos, e respeitar e
preservar a vida humana; (c) Assegurar que qualquer indivíduo ferido ou afetado receba
assistência e cuidados médicos o mais rá pido possível; (d) Garantir que os familiares ou
amigos íntimos da pessoa ferida ou afetada sejam notificados o mais depressa possível”
(Art. 5º).

Dispõ e, ainda que nã o se usará armas de fogo, “exceto em casos de


legítima defesa pró pria ou de outrem contra ameaça iminente de morte ou ferimento
grave; para impedir a perpetraçã o de crime particularmente grave que envolva séria
ameaça à vida; para efetuar a prisã o de alguém que represente tal risco e resista à
autoridade; ou para impedir a fuga de tal indivíduo, e isso apenas nos casos em que outros
meios menos extremados revelem-se insuficientes para atingir tais objetivos. Em qualquer
caso, o uso letal intencional de armas de fogo só poderá ser feito quando estritamente
inevitá vel à proteçã o da vida” (art. 9º).

4
Disponível em http://www.camara.gov.br/sileg/integras/931761.pdf
5
Disponível em http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de-
apoio/legislacao/segurancapublica/principios_basicos_arma_fogo_funcionarios_1990.pdf
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Como se vê, diversas balizas sã o colocadas ao policial, que deve
resguardar ao má ximo a integridade física de todos.

Aliá s, a pró pria Polícia Militar de Sã o Paulo adota em suas fileiras


de formaçã o o chamado “Método Giraldi”, ou “Tiro Defensivo na Preservaçã o da Vida”, o
qual expressamente admite o princípio da subsidiariedade: “tudo aquilo que for possível
solucionar sem disparos, sem bombas, sem “invasã o” (entrada), sem necessidade do uso
da força, assim o será ”6.

A liberaçã o do aparato repressor, mormente o disparo de armas


de fogo (ainda que com o uso de balas de borracha) e o uso de bombas de efeito moral só é
autorizado em caso de legítima defesa, jamais quando ocorram atos (ainda que
generalizados) de violência contra o patrimô nio, pú blico ou privado. Por fim, sendo
necessá rio o uso de força, é imprescindível que haja o prévio aviso à populaçã o civil, como
forma de tentar contornar a situaçã o a partir do diá logo. Ainda assim, deve haver o uso
proporcional da força, o que afasta, por conseguinte, o lançamento de bombas de gá s
lacrimogênio e de efeito moral no centro de aglomeraçõ es ou em direçã o a indivíduo
específico, nã o pode ser admitida.

2.2. Do uso de armas de menor potencial ofensivo

Para que fique ainda mais claro o ato ilícito (indenizá vel)
praticado pelo Estado, é preciso enfrentar outro tema: qual deve ser o padrão de
comportamento das tropas policiais no contexto de conter tumultos em
aglomerações populares?

A questã o ora posta tem duplo objetivo. Em primeiro lugar,


afastar qualquer possibilidade de escusa estatal nos fatos apresentados nesta
demanda. É que, mesmo que se conclua que o Estado policial poderia ter atuado
6
www.esmp.sp.gov.br/eventos/passados/giraldi_atuacaopolicia.doc
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neste caso narrado, ficará claro que foram desrespeitadas todas as orientaçõ es
técnicas sobre o comportamento das tropas policiais no contexto de aglomeraçã o
de pessoas.

De acordo com a visã o clá ssica, ainda adotada no Brasil,


especialmente pela Polícia Militar do estado de Sã o Paulo, as massas sã o vistas
como irracionais, perigosas e tendentes à violência. A partir dessa premissa, a
conduta das tropas é informada pela Doutrina da Força Progressiva, a qual foi
muito adotada nos países com alto nível de desenvolvimento econô mico e social, a
partir de 1960. Por essa abordagem, pequenos atos de violência, que inclusive no
caso descrito nã o ocorreram, precisam ser duramente reprimidos, para
demonstrar à massa uma noçã o de força da lei e ordem pú blica.

Rapidamente percebe-se como é essa a forma de atuaçã o das


tropas paulistas. Assim, a comum prá tica de postar a Tropa de Choque aos olhos de
todos, com escudos, cassetetes, uniformes escuros, traduz a intençã o de transmitir
aos indivíduos a sensaçã o de que serã o duramente reprimidos caso haja desordem,
crendo, equivocadamente, que isso servirá para amenizar o â nimo em
aglomeraçõ es de pessoas.

Mais do que isso. Vê-se com nitidez que pequenos atos de


violência (v.g: um indivíduo isolado exaltado que joga uma garrafa na via publica,
sem pretender acertar qualquer pessoa, mas apenas causar uma pequena
desordem) sã o tratados como verdadeiros “crimes hediondos”, ocasionando
severa repressã o policial, muitas vezes indiscriminada.

Sucede que esse tipo de abordagem, preconizada pela


Doutrina da Força Progressiva, foi superada entre 1970 e 1980 nos países onde já
se estudou a fundo sobre o tema.

Deveras, concluiu-se que em aglomeraçõ es de pessoas a açã o


com violência policial, feita com o emprego de uma força progressiva, propicia

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sentimento de profunda revolta nos que protestam ou simplesmente exercem seu
direito de reuniã o, levando a uma escalada de violência.

Atualmente, nos países de maior renda per capita, adota-se a


Doutrina da Gestão Negociada. Assim, a partir das desastrosas açõ es policiais lá
verificadas, concluiu-se que seria mais produtivo colaborar com a massa, ao invés
de posicionar-se contra ela. Sob essa abordagem, o objetivo da polícia é proteger
os direitos e facilitar (e não frustrar, dificultar) as manifestações e o
encontro de pessoas. Assim, perturbaçõ es decorrentes dessas aglomeraçõ es (v.g:
o excesso de barulho) sã o toleradas e a força só é usada em ú ltimo caso, de forma
moderada.

A chave mestra dessa nova filosofia é a adoçã o de


comunicação, negociação, cooperação, informação e ações policiais
preventivas. Tudo isso se traduz em prá ticas bem concretas, que serã o adiante
apresentadas.

De qualquer forma, a gestão negociada entende que grupos


realmente sã o distintos de indivíduos, mas que aqueles nã o sã o necessariamente
irracionais e adotam posturas aleató rias. Os grupos reagem de acordo com uma
ló gica pró pria, que depende de uma série de fatores externos, dos quais o principal
é a forma como são tratados pelas autoridades.

O fato de existir uma massa de pessoas na via pú blica se


divertindo nã o demonstra, a priori, qualquer necessidade de intervençã o
truculenta como a ocorrida no presente caso.

Como conclusã o, enquanto a Força Progressiva dá uma


ênfase para a “proteçã o da lei e da ordem”, a Gestã o Negociada tem seu foco na
“preservaçã o da paz”. Há notá vel diferença entre essas premissas. Basta ver que,
na primeira, autoriza-se o uso da força para demonstrar autoridade legal,

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enquanto na segunda essa autorizaçã o só é permitida para casos de legítima defesa
(pró pria ou de terceiros).

Pois bem. Ao longo de toda a exposiçã o fá tica foi possível


perceber, com nitidez, que a Polícia Militar do estado de São Paulo ainda adota
a doutrina da força progressiva, ao invés da gestã o negociada. Essas prá ticas
policiais sã o tã o anacrô nicas que, nos grandes protestos de 2013, ganharam
repulsa da opiniã o pú blica. E, por isso, foram suspensas as muniçõ es de elastô mero
e as bombas de gá s lacrimogêneo, por certo período. Contudo, essas técnicas de
repressã o ressurgiram, armas de fogo (ainda que com muniçõ es de elastô mero) e
bombas de efeito moral sã o utilizadas indistintamente, com disparos a esmo,
apenas para “liberar a via”, “dispersar” ou “demonstrar a força da lei”; em poucos
casos sã o utilizadas em situaçõ es de legítima defesa.

É importante esclarecer que a opçã o por uma abordagem ou


outra nã o decorre simplesmente de opçã o política, mas se trata, antes de tudo, de
uma escolha técnica, amparada por estudos de psicologia e sociologia com densos
fundamentos teó ricos e empíricos.

Ainda que se tratasse de caso em que o uso da força


aparecia como estritamente necessário, há orientações técnica precisas, as
quais, infelizmente, também foram negligenciadas pelos agentes estatais no
caso concreto.

O primeiro elemento a ser analisado nesta nova situaçã o é a


ordem de dispersã o, a ser proferida pelo Comandante do Policiamento. Em relaçã o
a ela, dois problemas têm sido observados na prá tica nacional, ambos, uma vez
mais, conflitantes com orientaçõ es internacionais: (i) a fiscalizaçã o da legalidade
da ordem e (ii) a comunicaçã o com aqueles que sofrerã o as consequências da
ordem de dispersã o.

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A ordem de dispersã o é claramente um ato administrativo
dotado, ao mesmo tempo, de hipó tese causal excessivamente discricioná ria, e de
consequências deveras severas. Confere-se um poder demasiado a uma ú nica
pessoa, que deve tomar uma decisã o baseada em fatores abertos (conversã o da
reuniã o ou evento em motim ou tumulto generalizado), em questõ es de minutos e
sob intenso estresse, a qual ocasionará a liberaçã o de força repressiva brutal.

É o que constata Relató rio da ONU:

Apesar de atuarem dentro de um parâmetro legal, a polícia


tem consideráveis poderes discricionários, especialmente
quando decisões precisam ser tomadas rapidamente e sob
pressão. É justamente nessa hora que toda a pré-
compreensão do policial aparece.

Também é essa a compreensã o da doutrina:

Saliente-se, a este propó sito, que tal como sucede com o artigo 1º,
este artigo 5º concede uma ampla discricionariedade aos agentes
administrativos, no momento da definiçã o, na prá tica, dos limites
do exercício desse direito. Ora, tal revela-se contrá rio à reserva de
lei que impera nessa á rea, como já nos referimos. Na verdade,
Vieira de Andrade salienta que ‘os termos concretos da
intervençã o administrativa nesta matéria devem, portanto,
constar da lei e nã o é legítimo que dependam de um juízo de
oportunidade e conveniência da pró pria autoridade
administrativa que nã o é previsível ou mensurá vel pelos
particulares nem controlá vel (senã o negativamente) pelos
Tribunais. (...) Já afirmava CAETANO, Marcello, que ‘a polícia deve
actuar sobre o perturbador da ordem e nã o sobre aquele que
legitimamente use seu direito. (...) Os poderes da polícia nã o
devem ser exercidos de modo a impor restriçõ es e a usar de
coacçã o além do estritamente necessá rio. A acção da polícia
deve medir a sua intensidade e extensão pela gravidade dos

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actos que ponham em risco a ordem social (...). O emprego
imediato de meios extremos contra ameaças hipotéticas ou
mal desenhadas constitui abuso de autoridade’7.

Como nesses momentos agudos de tomada de decisã o vêm à


tona todos os pré-conceitos dos policiais, é preciso que todo o corpo policial tenha
constante treinamento e capacitaçã o.

Também por isso, surge o primeiro problema: a aferiçã o da


legalidade e legitimidade do ato administrativo. Deveras, nã o há dú vidas de que a
ordem de dispersã o é claro ato administrativo, que possui, portanto, todos seus
conhecidos elementos. Ocorre que, justamente por ocorrer no calor dos
acontecimentos (e talvez também para dificultar a fiscalizaçã o), o ato nã o é
divulgado ou publicizado. Nã o se nega que já hoje deve ser ele formalizado a
posteriori, mediante relató rio policial consistente em Boletim de ocorrência da
polícia militar ou qualquer documento semelhante. Contudo, isso nã o cumpre a
exigência de publicidade e fundamentação.

Assim, em regra, a ordem de dispersã o simplesmente não é


comunicada aos indivíduos, que sã o literalmente surpreendidos com bombas
de efeito moral, disparos de arma de fogo (muniçã o de elastô mero), entre outros
artefatos.

Ora, parece ó bvio que a ordem de dispersã o deve ser


comunicada aos seus destinatá rios, conferindo a eles (ou a alguns deles, pelo
menos) ao menos a possibilidade de acatarem a ordem e evadirem. Aliá s, o pró prio
Manual de Controle de Distú rbios Civis da Polícia Militar determina, quanto à
ordem de dispersã o, que “sempre que possível o Cmt da tropa de CDC deve, através
de amplificadores de som, alto-falantes das viaturas ou utilizando megafones,
incitar os indivíduos a abandonarem pacificamente o local. Essa proclamaçã o deve
ser feita de modo claro em termos positivos e incisivos. Os indivíduos nã o devem
7
OLIVEIRA RAMOS, Maria Lídia de. O Direito de Manifestação. Disponível em:
http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/6419.pdf
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ser repreendidos, desafiados ou ameaçados, mas devem sentir firmeza da decisã o
de agir da tropa, caso nã o seja atendida a ordem de dispersã o.”8

Exige-se a utilizaçã o de megafone ou instrumento


semelhante para que o Comandante do policiamento informe aos indivíduos as
medidas a serem tomadas, notadamente a dispersã o do tumulto que se verificou.

Também se verá que essa comunicaçã o, clara e dirigida aos


indivíduos, consta dos protocolos internacionais sobre o tema.

Uma vez dada a ordem de dispersã o, segue, entã o, a maneira


como deverá ser efetivado esse comando administrativo. Aqui é que entram em
cena os guias de necessidade e proporcionalidade. Nesse sentido, a atuaçã o
policial para a dispersã o deve ser necessá ria e proporcional, donde, geralmente,
faz-se o controle a posteriori.

Esse respeito à necessidade e proporcionalidade parece


induvidoso. Sempre devem ser contidos os excessos. Trata-se de orientaçã o
normativa expressa, que dispensa maiores comentá rios.

Importante frisar, contudo, que só neste momento


derradeiro a escusa de atuar dentro da proporcionalidade pode ser conferida ao
Estado. No caso narrado nestes autos, essa versã o defensiva (como se espera que
seja apresentada) pouco efeito terá , já que foram descumpridos todos os demais
protocolos de boas práticas policiais.

Exemplos concretos de desproporcionalidade podem ser


apresentados, para que fique bem claro que esses conceitos, apesar de abertos,
podem ser concretizados e cotejados com o que já foi apresentado. Nesse sentido,
citamos algumas das condutas desproporcionais, todas extraídas da atuaçã o da
Polícia Militar do estado de Sã o Paulo:

8
Item 3.2.3 do Manual de Controle de Distúrbios Civis da Polícia Militar
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- Disparos de arma de fogo, com muniçã o de elastô mero,
contra massa de pessoas, sem alvo específico;
- Disparos de arma de fogo, com muniçã o de elastô mero, a
curta distâ ncia;
- Disparos de arma de fogo, com muniçã o de elastô mero, em
regiõ es vitais (cabeça e tronco);
- Disparos de arma de fogo, com muniçã o de elastô mero,
contra pessoas em fuga, que já estavam atendendo a ordem de
dispersã o;
- Lançamento de bombas de efeito moral no meio de
aglomeraçõ es;

Sã o esses apenas alguns dos exemplos concretos de


desproporcionalidade, todos, uma vez mais, violadores de protocolos
internacionais e de có digos de conduta policial.

As bombas de efeito moral trazem sérios riscos de danos aos


cidadã os. Este risco, rotineiramente acaba transformando-se dano, em razã o do seu
grande potencial lesivo, bem como da imprudência e imperícia dos agentes policiais no
seu uso. Aliá s, há farta quantidade de exemplos de pessoas que sofrem graves ferimentos
em razã o dos estilhaços de bombas de efeito moral.9

Tanto é assim que o caso ora tratado deixa claro o potencial letal
das bombas de efeito moral. HEITOR foi gravemente ferido por estilhaços de munição
considerada menos letal, perdendo definitivamente sua visão do olho direito, o que
reforça a tese de que há o risco de ocorrer graves ferimentos corporais, e de que a
guarnição policial frequentemente emprega armas menos letais em circunstâncias
longe do ideal, atingindo por vezes o rosto dos indivíduos.

9
Vide as reportagens: https://cidadeverde.com/noticias/255712/estilhacos-de-bomba-deixa-feridos-
durante-desfile-em-bom-jesus, que dá conta de ao menos 9 feridos durante evento;
http://www.gp1.com.br/noticias/estilhacos-de-bomba-de-efeito-moral-atinge-estudante-da-ufsc-durante-
confronto-340362.html, em que estudante ferida precisou levar pontos na perna;
https://www.terra.com.br/noticias/brasil/policia/reporter-do-terra-e-ferido-por-bomba-da-pm-durante-
protesto,d92b87f37cfa6410VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html, em que 2 repórteres foram atingidos
durante protesto; e http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc27069811.htm, em que 4 estudantes foram
feridos por estilhaços de bomba de efeito moral.
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Em 2014, foi publicada a Lei nº 13.060/2014, que disciplina o uso
dos instrumentos de menor potencial ofensivo pelos agentes e segurança pú blica no
Brasil. A Lei dispõ e:

Art. 2º. Os ó rgã os de segurança pú blica deverã o priorizar a


utilizaçã o dos instrumentos de menor potencial ofensivo, desde
que o seu uso nã o coloque em risco a integridade física ou
psíquica dos policias, e deverã o obedecer aos seguintes princípios:
I – legalidade;
II – necessidade;
III – razoabilidade e proporcionalidade.

Há uma evidente desproporção entre o emprego desse tipo


de munição e a conduta das pessoas que estavam no local, participando do
“pancadão”. Isto porque os policiais não agiram em legítima defesa própria ou de
outrem contra ameaça iminente de morte ou ferimento grave; para impedir a
perpetração de crime particularmente grave que envolva séria ameaça à vida; para
efetuar a prisão de alguém que represente tal risco e resista à autoridade. Dessa
forma nã o há qualquer justificativa para se ter ocorrido à utilizaçã o de muniçõ es químicas.

A utilizaçã o de muniçã o de elastô mero nã o é cabível em caso de


aglomeraçã o de pessoas, tampouco no caso em questã o, ao ser evidente que ocorreu uma
grande violaçã o aos direitos humanos, desproporcional a gravidade das infraçõ es.

Como se vê, há diretivas simples de serem executadas e


claras para lidar com aglomeraçõ es. Todas elas, contudo, descumpridas pelo
Estado de Sã o Paulo ao permitir que a polícia atue da forma como atuou no caso
em questã o.

2.3. Da proteção integral de crianças e adolescentes

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Nã o bastasse todo o alegado, HEITOR tinha apenas dezessete
anos de idade na época dos fatos. Assim, era beneficiado pelos princípios da proteção
integral e da prioridade absoluta, cunhada na Constituiçã o Federal de 1988:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saú de, à alimentaçã o, à educaçã o, ao lazer, à
profissionalizaçã o, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade
e à convivência familiar e comunitá ria, além de colocá-los a salvo
de toda forma de negligência, discriminaçã o, exploraçã o, violência,
crueldade e opressã o.

Complementa o texto constitucional o Estatuto da Criança e do


Adolescente:

Art. 4º. (...) Pará grafo ú nico. A garantia de prioridade compreende:


a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer
circunstâncias (...)
Art. 7º. A criança e o adolescente têm direito a proteçã o à vida e à
saú de, mediante a efetivaçã o de políticas sociais pú blicas que
permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e
harmonioso, em condições dignas de existência.
Art. 11. É assegurado atendimento integral à saú de da criança e do
adolescente, por intermédio do Sistema Ú nico de Saú de, garantido
o acesso universal e igualitá rio à s açõ es e serviços para promoçã o,
proteçã o e recuperaçã o da saú de. (...)
§ 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente
àqueles que necessitarem os medicamentos, próteses e
outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou
reabilitação. (Grifos nossos).

Observa-se que o ordenamento jurídico brasileiro concede


proteção integral à criança e ao adolescente por conta de sua condiçã o peculiar de
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desenvolvimento e sua consequente hipervulnerabilidade biopsíquica. Violaçõ es de
direitos sofridas durante a infâ ncia e a adolescência podem provocar graves danos e
consequências para toda a vida do indivíduo.

No mesmo sentido, estabelece a Convençã o de Direitos da Criança,


ratificada no ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto nº 99.710, de 21 de novembro
de 1990:

Art. 6º. 2. Os Estados Partes assegurarã o ao má ximo a


sobrevivência e o desenvolvimento da criança.

O Estatuto da Criança e do Adolescente ainda impõ e a


responsabilizaçã o pela violaçã o a direitos fundamentais:

Art. 5º. Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer


forma de negligência, discriminaçã o, exploraçã o, violência,
crueldade e opressã o, punido na forma da lei qualquer atentado,
por açã o ou omissã o, aos seus direitos fundamentais.

O Estatuto reitera esta obrigaçã o em seu artigo 70, ao determinar


tratar-se de “dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da
criança e do adolescente.”

Ademais, o Estatuto da Criança e do Adolescente ainda dispõ e a


respeito do direito à liberdade e ao lazer:

Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:


I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços
comunitários, ressalvadas as restrições legais;
II - opiniã o e expressã o;
III - crença e culto religioso;
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;

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V - participar da vida familiar e comunitária, sem
discriminação;
VI - participar da vida política, na forma da lei;
VII - buscar refú gio, auxílio e orientaçã o.

Assim, os dispositivos legais apresentam um panorama protetivo


e garantista, destinado a reconhecer e a assegurar direitos fundamentais das crianças e
dos adolescentes, em peculiar condiçã o de vulnerabilidade e de desenvolvimento humano.

2.4. Da omissão de socorro

Importa ressaltar que os agentes estatais não só praticaram a


ação que causou lesões corporais de natureza gravíssima em HEITOR, como também
omitiram socorro a ele.

Conforme o depoimento do autor HEITOR (fls. 47 do IPM N°


33BPMM-037/060/14), apó s ser atingido em seu rosto, o mesmo aproximou-se da viatura
e pediu socorro aos Policiais Militares, que lhe disseram para sair de perto e que fosse
embora.

A Lei nº 13.060/2014, que disciplina o uso dos instrumentos de


menor potencial ofensivo pelos agentes de segurança pú blica, em todo o territó rio
nacional, dispõ e:

Art. 6º. Sempre que do uso da força praticada pelos agentes de


segurança pú blica decorrerem ferimentos em pessoas, deverá
ser assegurada a imediata prestação de assistência e socorro
médico aos feridos, bem como a comunicação do ocorrido à
família ou à pessoa por eles indicada.

No caso concreto, os agentes policiais não só omitiram socorro


à HEITOR, como também não comunicaram sua família do ocorrido.

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A mã e de HEITOR, Cá tia Aparecida do Nascimento somente ficou
sabendo da situaçã o de seu filho ao ser avisada por um rapaz que chegou em sua casa
dizendo que Heitor tinha sofrido um acidente e que estava no pronto socorro.

Assim, o Estado deve indenizar a família também pela omissã o de


socorro e pela nã o comunicaçã o do ocorrido, diante das açõ es de seus agentes pú blicos,
sobre as quais tem responsabilidade objetiva.

3. DA INDENIZAÇÃO

Por conta das lesõ es infligidas à HEITOR, já que nã o foram


evitadas, merecem, no mínimo, reparo pelos danos materiais, morais e estéticos
sofridos.

3.1. Danos materiais

Conforme artigo 950 do Có digo Civil de 2002:

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido nã o


possa exercer o seu ofício ou profissã o, ou se lhe diminua a
capacidade de trabalho, a indenizaçã o, além das despesas do
tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença,
incluirá pensã o correspondente à importâ ncia do trabalho para
que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.

Assim, HEITOR faz jus a pensão mensal vitalícia, visto que teve
sua capacidade laborativa restringida pela perda da visã o de seu olho direito.

O Superior Tribunal de Justiça decidiu nesse sentido no Recurso


Especial nº 1.334.703-DF, em que aluna de escola pú blica perdeu a visã o do olho direito

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durante aula de educaçã o física, propondo açã o de indenizaçã o em face do Distrito
Federal. Conforme voto do Ministro Relator Herman Benjamin:

“No que concerne ao valor da pensã o mensal vitalícia, a legislaçã o


civil nã o delimita o campo de abrangência do que se entende por
capacidade laborativa. A lei admitiu ressarcir nã o apenas a quem,
na ocasiã o da lesã o, exerça atividade profissional, mas igualmente
aquele que, muito embora nã o a exercitando, veja restringida a
sua capacidade de futuro trabalho. (...)

Desta forma, apesar de a parte autora não exercer, à época do


fato, atividade remunerada, não exclui o seu direito ao
recebimento da pensão, que foi fixada, razoavelmente, em 1
(um) salário mínimo mensal vitalício. O valor estabelecido
segue os parâmetros desta Corte Superior.”

Menciona, ainda, os seguintes precedentes: REsp 1281742/SP,


REsp 711.720/SP e REsp 519.258/RJ.

Deste modo, a indenização por danos materiais deve ser


fixada em 1 (um) salário mínimo mensal a ser pago à HEITOR, de forma vitalícia .

3.2. Danos morais

HEITOR sofreu uma grande mutilaçã o em seu corpo devido à açã o


policial. É possível perceber que os danos causados em sua aparência e em sua autoestima
foram grandes.

Assim, o reconhecimento e a reparaçã o dos danos morais sofridos


por HEITOR servem, por si só , para minorá -los, embora jamais vá apagá-los; caso os danos
nã o sejam reconhecidos e reparados, ao contrá rio, serã o agravados.
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Por outro lado, o causador dos danos morais, no caso, o réu,
precisa ser responsabilizado pelos atos de seus agentes, responsabilizaçã o que terá o
condã o de ter que refletir sobre o comportamento passado e futuro da corporaçã o e a
absoluta intolerâ ncia da sociedade e do Estado como um todo a eventos como esses.

Sabe-se que o Brasil tem índices alarmantes de violência policial,


tendo sido exposto à comunidade internacional como país marcado por esse tipo de
violência. A cobrança da comunidade internacional para que o Brasil conjugue segurança
pú blica com direitos humanos é reiterada e nã o é de hoje, cabendo notar que em junho de
2010 a ONU lançou relató rio de seguimento sobre execuçõ es sumá rias chamando atençã o
para as taxas ainda “alarmantes” de violência policial, fazendo notar que nenhuma das 33
Recomendaçõ es lançadas pelo Relator Especial da ONU sobre Execuçõ es Sumá rias,
Arbitrá rias e Extrajudiciais, Dr. Philip Alston, apó s visita ao país em 2007 foi integralmente
cumprida.

Tais fatores devem ser levados em conta na composiçã o de um


real valor de desestímulo.

Veja-se que, conforme vimos, as circunstâ ncias primordiais para


decidir o valor da indenizaçã o sã o a análise da conduta de quem praticou o dano e a
extensã o do dano causado.

Ora, a conduta praticada pelo agente do réu é extremamente


reprová vel. A vítima foi atingida com estilhaços de bomba de efeito moral lançada por
policial militar. A sociedade nã o tolera mais a violência policial que a cada ano mais cresce,
o que torna a conduta muito reprová vel.

Por outro lado, pouco é necessá rio acrescentar quanto à extensã o


do dano. A conduta do agente réu fez com que HEITOR perdesse a visã o do olho direito.

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O fato de HEITOR ter apenas 17 (doze) anos na época do ocorrido
também deve ser levado em conta na fixaçã o da indenizaçã o, assim como a omissã o de
socorro perpetrada pelos policiais militares apó s o dano causado.

Diante disso, é a presente para requerer sejam pagos 300


(trezentos) salários mínimos, ou seja, em valores atuais, R$ 281.100,00 (duzentos e
oitenta e um mil e cem reais) de indenização por danos morais para HEITOR.

3.3. Danos estéticos

Observe-se, ainda, que o Superior Tribunal de Justiça entende que


o dano estético é distinto do dano moral, correspondendo o primeiro a uma alteraçã o
morfoló gica corporal que agride à visã o, causando desagrado e repulsa; e o segundo ao
sofrimento mental – dor da alma, afliçã o e angú stia a que a vítima é submetida. Um é
visível, porque concretizado na deformidade; o outro é de ordem puramente psíquica,
pertencente ao foro íntimo (RSTJ 77/246 e 105/332).

É o que ressalta o Ministro Relator Herman Benjamin, em seu voto


no Recurso Especial nº 1.334.703-DF, anteriormente mencionado:

Quanto à possibilidade de cumulaçã o da indenizaçã o por dano


moral e estético, é assente na jurisprudência desta Corte Superior
pela possibilidade, o que culminou na ediçã o da Súmula 387/STJ,
que assim dispõe em seu texto: "É lícita a cumulação das
indenizações de dano estético e dano moral". (...)

No presente caso, consta na sentença, que a autora sofreu sequela


permanente, consubstanciada numa deformidade física, podendo
vir a sofrer atrofia muscular decorrente do evento (fl. 216, e-STJ).
Assim sendo, é plenamente cabível a fixaçã o de danos estéticos.

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Neste sentido, consoante jurisprudência majoritá ria, para fixar o
quantum, é preciso considerar que a indenizaçã o nã o visa a reparar, no sentido literal, a
dor decorrente da deformaçã o estética, mas aquilatar um valor compensató rio para
amenizá -la. Deve, pois, representar para a vítima uma satisfaçã o, igualmente moral,
psicoló gica, capaz de neutralizar o sofrimento impingido. Ao mesmo tempo, tem de surtir
um efeito pedagó gico, desestimulador, a fim de evitar que o responsá vel reincida no
comportamento lesivo.

Outrossim, para nortear a fixaçã o da indenizaçã o neste caso


concreto, há parâ metro jurisprudencial do Tribunal de Justiça de Sã o Paulo, que decidiu
pela condenaçã o ao pagamento de 50 (cinquenta) salários mínimos a título de danos
estéticos para adolescente que perdeu a visão do olho direito, após ser atingido por
projétil de borracha, disparado por agente de segurança penitenciária, nas
dependências da Fundaçã o CASA, enquanto cumpria medida socioeducativa (TJ-SP, APL:
00014544120098260053 SP 0001454-41.2009.8.26.0053, Rel. Des. Coimbra Schmidt,
julgado em 03/11/2014, 4ª Câ mara Extraordiná ria de Direito Pú blico).

Dessa forma, tendo em vista os elementos acima indicados e o que


mais dos autos consta, é a presente para requerer sejam pagos 300 (trezentos) salários
mínimos, ou seja, em valores atuais, R$ 281.100,00 (duzentos e oitenta e um mil e
cem reais) de indenização por danos estéticos para HEITOR .

4. DO PEDIDO

Ante o exposto, requer-se a citaçã o do réu, na pessoa de seu


representante legal, para, querendo, oferecer resposta, sob pena de revelia.

Ademais, requer-se seja julgada procedente a presente ação,


para condenar o réu:

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a) ao pagamento, a título de danos materiais, do
pensionamento vitalício mensal de 1 (um) salá rio mínimo à HEITOR;

b) seja condenado o réu ao pagamento, a título de danos


morais, da quantia de 300 (trezentos) salá rios mínimos, e a título de danos estéticos, da
quantia de 300 (trezentos) salá rios mínimos à HEITOR, devendo, por sua natureza
alimentar, ser paga de uma só vez;

Outrossim, requer-se:

a) a concessã o aos autores do benefício da assistência judiciá ria


gratuita, por estar caracterizada hipossuficiência econô mica;

b) a sujeiçã o do réu aos ô nus da sucumbência, com reversã o dos


honorá rios advocatícios para o Fundo Especial de Despesas da Escola da Defensoria
Pú blica do Estado, nos termos do art. 3º, inciso II da Lei estadual nº 12793/08;

c) seja concedida a possibilidade de provar o alegado por todos os


meios de prova em direito admitidos, notadamente com os documentos que instruem a
presente inicial, a expediçã o de ofício à Secretaria de Segurança Pú blica para que venha
aos autos o Procedimento Operacional Padrã o utilizado em distú rbios civis, o depoimento
pessoal dos autores e com a oitiva das testemunhas arroladas – que deverã o ser
pessoalmente intimadas a depor em juízo – e todos os necessá rios ao deslinde da questã o,
inclusive com provas periciais, matérias jornalísticas e vídeos;

d) com amparo no artigo 128, inciso I, da Lei Complementar


Federal nº 80/94, que a Defensoria Pú blica seja pessoalmente intimada através de seus
ó rgã os de execuçã o de todos os atos praticados no feito, contando-se-lhe em dobro os
respectivos prazos.

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Requer-se, ainda, que o feito tramite em Segredo de Justiça em
razã o dos prontuá rios médicos juntados aos autos.

Com base no artigo 425, inciso VI, do Có digo de Processo Civil,


declara-se que sã o autênticas as có pias dos documentos que instruem a presente açã o.

Atribui-se à causa o valor de R$ 573.444,00 (quinhentos e setenta


e três mil, quatrocentos e quarenta e quatro reais).

Termos em que
pede deferimento.

Sã o Paulo, 17 de janeiro de 2018.

Defensor(a) Pú blico(a)
Unidade de XXXXXXXXXXX

ROL DE TESTEMUNHAS

1. X

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E-MAIL
RG nº x

CPF nº x

Endereço: Rua x, nº x, bairro x, CEP x

ROL DE DOCUMENTOS

Doc. 01 – Cédula de identidade do autor XXXX;

Doc. 02 –Comprovante de residência e inscriçã o do Exame Nacional do Ensino Médio –


ENEM de 2013;

Doc. 05 – Inquérito Policial Militar Nº 33BPMM-027/060/13;

Doc. 06 – Inquérito Policial Militar Nº 33BPMM-037/060/14;

Doc. 07 – Prontuá rio de atendimento / relató rio de médico e documentaçã o clínica de


HEITOR fornecida pela Prefeitura de Carapicuíba;

Doc. 08 – Prontuá rio médico de XXXX do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
de Sã o Paulo;

Doc. 09 – Laudo de lesã o corporal N° 15010/2014.

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